RESUMO
Conhecimento etnofarmacobotânico de plantas medicinais utilizadas por comunidades
tradicionais do Distrito Nossa Senhora Aparecida do Chumbo, Poconé, Mato Grosso, Brasil.
Bieski, I. G. C. Dissertação submetida à Coordenação De Programas de Pós-Graduação em Medicina
da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Federal de Mato Grosso, como requisito parcial
para a obtenção do título de Mestre em Ciências da Saúde. Orientador: Domingos Tabajara de Oliveira
Martins. Co-Orientador: Mariano Martinez Espinosa.
O conhecimento e o uso de plantas medicinais vêm se perpetuando ao longo da história e renasce
fortemente no final do século XX, amparados nos avanços da medicina e da química modernas e no
rápido desenvolvimento da biotecnologia e da biologia molecular, propiciando o lançamento de novos
bioprodutos fitoterápicos e/ou fitofármacos. O mosaico do Pantanal não só se caracteriza pela sua rica
biodiversidade, como também pela exuberante etnocultura que durante séculos vivem em harmonia
com a diversidade geográfica constituído por um grande complexo vegetacional medicinal. O objetivo
dessa pesquisa foi realizar levantamento das espécies vegetais utilizadas como medicinais pelas
comunidades do Distrito Nossa Senhora Aparecida do Chumbo (DNSAC), em Poconé - MT. Tratou-
se de um estudo etnofarmacobotânico, de corte transversal, envolvendo 262 informantes de 37
comunidades tradicionais do DNSAC, com idade ≥ 40 anos e que residiam no Distrito há pelo menos
5 anos. Utilizou-se questionário semi-estruturado que propiciou a descrição e as análises de dados
sócio-demográficos, etnobotânicos e farmacológicos, aplicado aos moradores (um por domicílio),
sorteados aleatoriamente, no período de novembro de 2009 a fevereiro de 2010. Observou-se maior
representatividade do sexo feminino (69%), com predominância na faixa etária de 40-59 anos, 99,0%
afirmaram utilizar plantas medicinais no autocuidado à saúde, 68% eram naturais de Poconé, 18%
nascidos no DNSAC, com tempo de habitação ≥ 20 anos (62%), possuindo de 0-4 anos de
escolaridade (89%), renda de 1-5 salários-mínimo (59%), trabalhadoras do lar (45%), mestiços (45%),
casados (77%), com 1 a 5 filhos (58%) e católicos (89%). As mulheres citaram mais plantas que os
homens resultando em uma listagem de 409 diferentes espécies pertencentes a 285 gêneros e 102
famílias, (24,0%) das espécies identificadas, com maior representatividade para Fabaceae (10,2%),
Asteraceae (7,8%) e Lamiaceae (4,89%). 61,85% das espécies foram nativas e 38,5% exóticas, com
predominância de hábitos herbáceos (47,66%). A folha a parte mais usada (49,7%), no estado fresco
(43,2%) e na forma de chás (71,6%), obtidas principalmente nos quintais (50%), nos estágios
adulto/jovem (49,3%) e adulto (43,9%). As espécies foram usadas no tratamento de 18 categorias de
doenças da CID-10, com destaques para I, XI, XVIII, XIV, XIX, distribuídas entre 11 espécies com
maiores forças medicinais (CUPc > 40%) abrangendo 15 categorias de doenças do CID-10, em 5
categorias principais, com 3 espécies utilizadas nas doenças do aparelho digestório - Plectranthus
barbatus, Vernonia condensata e Lafoensia pacari; 1 na atividade hematocatártica (depurativa do
sangue) - Macrosiphonia longiflora; 3 do aparelho geniturinário - Palicourea coriacea,
Stryphnodendrom adstringens e Costus spicatus; 1 nas doenças infecciosas e parasitárias -
Chenopodium ambrosioides; 3 nas lesões cutâneas e algumas outras conseqüências de causas externas
- Scoparia dulcis, Solidago microglossa e Myracrodruon urundeuva; 52 (12,5%) espécies foram
referidas por 19,5% dos informantes por apresentarem 35 diferentes efeitos maléficos à saúde, com
maiores freqüências para sonolência (17,07%), náuseas e problemas no estômago (9,75%) e tonturas
(7,31%). Os resultados indicam expressiva relevância da biodiversidade vegetal medicinal e
etnocultural existente no DNSAC, servindo como banco de dados para futuros estudos da cadeia de