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tanto quanto uma série de questões e de sugestões imprevistas, que podem mesmo
guiar-nos a novos lugares, como talvez vejamos a seguir.
Desde as pioneiras que apareceram como artistas nos movimentos de vanguarda,
não restou nenhum movimento, nenhuma mídia, nenhuma tecnologia e nenhum suporte
dos quais as mulheres não tenham feito uso como recurso a ser explorado a fim de
criarem suas obras. Muito além do discurso feminista que, certamente, pode ser
encontrado em muitas das obras e das trajetórias dessas mulheres artistas, sobretudo se
considerarmos que a arte, como um veículo de expressão e até de antecipação do ‘ar do
tempo’ de cada época, não poderia estar imune aos discursos que tanto influenciaram o
século XX – os discursos sobre os corpos e os discursos sobre a mulher, dentre os quais
o feminista, aí incluídos – o que descobrimos no trabalho dessas mulheres é que eles
incluem uma multiplicidade de temas, de modo a não poderem ser qualificados como
uma forma de arte especificamente feminista ou feminina, mas apenas como arte.
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Da
pintura à performance, do design à arquitetura, da fotografia às interfaces de internet, da
escrita às instalações, da música ao vídeo, as artistas mulheres se consagram, desde os
anos 50 e 60 a todas as questões que dizem respeito à arte desde que ela se dobrou sobre
si mesma durante os movimentos das vanguardas.
Em meio a esse universo de artistas mulheres e de artistas que – homens ou
mulheres – discutem o feminino e o corpo em suas obras, escolhi três, sem me deter em
uma coerência temporal, regional nem das tendências artísticas às quais elas se afiliam
ao longo de suas carreiras. Suas diferenças, entre outras: uma é brasileira, outra é
americana e a terceira é sérvia. Uma trabalha com instalações principalmente, outra com
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Recentemente, entre os anos de 2009 e 2010, uma exposição no Centre Georges Pompidou em Paris,
França, denominada elles@centrepompidou, foi realizada com o intuito de discutir e problematizar
precisamente essa questão, sustentando a idéia de que é possível contar uma história da arte a partir de
trabalhos feitos apenas por mulheres, o que as coloca espalhadas por todos os campos, todos os
movimentos e em meio a todas as discussões desse fazer artístico, das vanguardas até nossos dias,
mostrando ser impossível propor uma especificidade de suas produções calcada na idéia de gênero.