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índios já tinham uma inclinação natural para a música e para a
dança, e daí ao teatro estaria próximo. Os jesuítas utilizavam
no teatro elementos indígenas, tirados da fauna e da cultura
indígena e unia aos santos da igreja. (BARROS, 2008, p.2).
O cenário para as representações era quase sempre natural,
principalmente nas aldeias em que as peças eram
representadas ao ar livre, tendo como fundo a floresta. Na
representação havia um deslocamento no espaço (também se
dava nas festividades indígenas), com diálogos nem sempre
relacionados entre si; as figuras simbólicas, às vezes não
sacras; a comunicação proporcionada pela música e dança, e
pelos instrumentos indígenas de sopro e percussão; e
principalmente a visão do teatro como um aspecto lúdico,
entendido como jogo, brincadeira. As vestimentas eram
aparatosas e cheia de penas (BARROS, 2008, p.2).
O teatro indígena foi utilizado para a realização dos autos, por Anchieta,
que desenvolveu um esquema que costumava ser repetido: uma introdução ou
um ato inicial lírico; a parte central dialogada (que às vezes tinha dois atos) e a
despedida (acompanhada de músicas, cantos e danças). O público era
formado por colonos, índios e, às vezes, visitantes. Os atores eram escolhidos
entre os mais extrovertidos fossem eles brancos, índios ou mamelucos. Os
recursos utilizados eram mínimos e simples, segundo aponta Côrrea (1994).
A estrutura do teatro anchietano era feita de forma que a representação
não coubesse apenas em palco, mas também em torno dos aldeamentos e
perto das igrejas. As peças duravam horas e eram feitas como dito
anteriormente, de canto, danças e diálogos.
Os diálogos teatrais utilizavam personagens da vida social indígena e a
sua língua para que seu espectador entendesse sobre “a maneira boa de viver”
(modo português de se viver) e o que é “mau” (os rituais e costumes
indígenas): criava-se desta forma um teatro evidentemente pedagógico, no
sentido em que também eram autos religiosos e de moralidades (BARROS,
2008).
Ainda segundo a autora, Anchieta (1977) utilizou muito da fala no teatro,
por saber o sagrado significado que ela representaria para o espectador
indígena: a fala para os indígenas era de extrema importância, dado que eles
não escreviam e assim toda a sua história era transmitida, como em boa parte
até os dias de hoje, sob forma oral. A palavra falada não era apenas um
instrumento para a transmissão de pensamentos, mas sim, um instrumento