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É como se dois corpos sociais, artesão e artista, fossem levados num movimento paralelo
no sentido da emancipação para um e da liberdade total para o outro. Quanto mais o
artesão de livra de coerções, mais o artista alarga os limites das coerções da arte,
incluindo aquelas de técnicas, convenções, gêneros, referências culturais, etc., e
chegando a criticar as bases espiritualistas e idealistas da arte, rejeitando-as por meio das
práticas da anti-arte e pós-arte, ou mesmo abandonando a arte.
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Provavelmente por esse motivo, valorizaram-se intensamente o Construtivismo, De Stijl, Bauhaus,
entre outros movimentos. Realmente, por um longo tempo, o espaço vital inspirou os artistas e eles nunca
perderam a oportunidade de tomar emprestadas novas técnicas. Por outro lado, na área da arte, os valores
utilitários e funcionais nunca cruzaram a fronteira do mundo dos valores liberais.
As primeiras décadas do século XX foram marcadas por grandes transições políticas, sociais e
culturais, principalmente na Europa. Os sistemas monárquicos davam lugar a sistemas democráticos,
socialistas e comunistas. Os cavalos e carruagens cediam espaço para os automóveis movidos por motores
de combustão. Nos céus, aviões começavam a traçar grandes rotas. Jornais, revistas e livros eram
impressos em grande escala. O cinema se consolidava como uma nova diversão para a população, trazendo
movimento à imagem fotográfica, até então estática. O rádio se tornara o grande veículo de comunicação de
massa. A tecnologia invadia, irremediavelmente, a vida nos grandes centros urbanos.
Dentro desse contexto, Henry van de Velde funda em 1912, em Weimar, na Alemanha, um grupo de
estudos de artes aplicadas, que anos mais tarde, em 1919, fundiu-se com a escola de artes aplicadas
dirigida por Walter Gropius, formando assim a Staatliche Bauhaus Weimar
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A finalidade primordial era recompor o vínculo entre a arte e a indústria produtiva. Para isso, Walter
Gropius, seu primeiro diretor, convocou os artistas mais avançados da época para seu corpo docente, entre
. A Bauhaus foi o ponto de
partida para o grande desenvolvimento do design. A proposta inicial se aproximava muita à proposta de
William Morris, onde procurava oferecer condições de ensino para tornar o aluno um artista completo, que
dominasse desde o artesanato até a arquitetura. Um artista munido dos recursos das artes clássicas e
aplicadas, que integrasse recursos e possibilidades industriais.
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DARRAS, 2007, p. 12 (It is as if two social bodies, artisan and artist, were taken in a parallel movement towards emancipation
for one and total freedom for the other. The more the artisan frees himself from constraints, the more the artist pushes the limits of
the constraints of his art, including those of technique, conventions, genres, cultural references, etc. and going as far as criticizing
the idealistic and spiritualist basis of art, rejecting them through practices of anti-art and post-art, or even by abandoning art)
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Casa da Construção Estatal de Weimar.