nos Buritis-Altos, lugar que fica na altura de um córrego
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ou cabeceira de vereda. Sua
imagem nos remete à lentidão ou fixidez do elemento terra, que, aliada à imagem de água,
mostra-se como uma escultura de argila nos moldes simétricos de uma beleza de donzela,
ao contrário de seu terceiro objeto de amor dotado de beleza romântica e sertaneja,
Nhorinhá. Ao lembrar desse terceiro amor, Riobaldo revelaria um ponto que consideramos
muito importante para a composição das metáforas ígneas que também amalgamam sua
personagem: ele muda constantemente – “No passado, eu, digo e sei, sou assim:
relembrando minha vida para trás, eu gosto de todos, só curtindo desprezo e desgosto por
minha mesma antiga pessoa.” (ROSA, 1986, p.120) As suas constantes mudanças fizeram
com que ele reunisse um grande número de desafetos, sendo todos eles ele mesmo,
Riobaldo, fincado no passado como mourão de sucupira em cercas que cercam os outros
Riobaldos que ficaram para trás em cada hora que foi sua experiência.
O ex-jagunço relembra que Medeiro Vaz pôs fogo em sua própria casa antes de sair
como justiceiro no sertão e que, como o grande chefe, ele, Riobaldo, ao retornar de sua vida
jagunça também teve que queimar muitas casas que, a nosso ver, trancafiavam, em seu
interior as muitas pessoas que foi – a legião que foi: o rapazinho “Baldo” (ROSA, 1986,
p.96), o moço “Professor” (ROSA, 1986, p.73), o jagunço “Cerzidor” (ROSA, 1986, p.140), o
jagunço “Tatarana, lagarta-de-fogo” (ROSA, 1986, p.140), o jagunço “Tatarana, pêlos
bravos” (ROSA, 1986, p.217), o “Cobra voadeira...” (ROSA, 1986, p.296) e o chefe jagunço
“Urutu Branco” (ROSA, 1986, p.296). Segundo Ana Maria Machado, “nenhum Nome se fixa
nele, pois nunca é o mesmo, está sempre em transformação” (MACHADO, 1991, p.33),
porque, apesar de ter a água como elemento predominante no nome, Riobaldo é também
regido pelo caráter constantemente modificador do elemento fogo e, por isso, não se fixa
numa só forma, pegando sempre, como uma água ígnea, magma do Grande Sertão, a
forma do recipiente/nome que nele colocam.
Saindo dessa digressão sobre o real, o destino e o amor, Riobaldo relata que rumou
para “perto do Arraial do Bró” (ROSA, 1986, p.142) com o bando sob comando do chefe
Titão Passos no transporte da munição que os jagunços faziam disfarçados de tropeiros. No
caminho, Riobaldo relembra que se não fosse a mulher casada e Malinácio, ele não teria
reencontrado o Menino. Ficou alegre e triste ao mesmo tempo e, depois disso, colocou em
seu narrar essas belas imagens extraídas de metáforas elementares e que remetem à figura
brumosa do Menino, Reinaldo, Diadorim
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: “Eu vi a neblina encher o vulto do rio, e se estalar
da outra banda a barra da madrugada. Assaz as seriemas para trás cantaram.” (ROSA,
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Ela vive num lugar perto de uma nascente de córrego ou rio.
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“Diadorim é a minha neblina...” (ROSA, 1986, p.16)