Download PDF
ads:
ANÁLISE DE SINAIS ESTABILOMÉTRICOS EM TESTES COM ESTÍMULOS
SONOROS
Míriam Raquel Meira Mainenti
DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO DOS
PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE
FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS
NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS EM
ENGENHARIA BIOMÉDICA.
Aprovada por:
________________________________________________
Prof. Jurandir Nadal, D.Sc.
________________________________________________
Profa. Líliam Fernandes de Oliveira, D.Sc.
________________________________________________
Prof. Márcio Nogueira de Souza, D.Sc.
________________________________________________
Prof. Marco Antônio de Melo Tavares de Lima, D.Sc.
RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL
AGOSTO DE 2005
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
ii
MAINENTI, MÍRIAM RAQUEL MEIRA
Análise de Sinais Estabilométricos em
Testes com Estímulos Sonoros [Rio de
Janeiro] 2005
VI, 72 p. 29,7 cm (COPPE/UFRJ,
M.Sc., Engenharia Biomédica, 2005)
Dissertação Universidade Federal do
Rio de Janeiro, COPPE
1.Controle Postural; 2.Estabilometria;
3. Reflexos Vestibulares
I. COPPE/UFRJ II. Título ( série )
ads:
iii
Agradecimentos
O primeiro agradecimento é a Deus, por ter me acompanhado por toda a minha
vida e, em especial, durante o período do Curso de Mestrado em Engenharia Biomédica,
na COPPE, me apresentando o que é realmente essencial para o êxito como ser humano.
Aos meus pais (Jorge Mainenti e Maria Mainenti), meu irmão (Marcos
Mainenti) e meu namorado (Pablo Motta), que me apoiaram desde as primeiras
disciplinas até a conclusão da dissertação. Sem eles esse momento não seria possível.
Aos meus amigos de turma, com os quais aprendi e compartilhei horas de
dificuldade, também agradeço pelos diversos momentos de crescimento que me
proporcionaram. Aos demais amigos também é preciso agradecer, por entender
determinadas ausências e preocupações relacionadas ao curso. Todos contribuíram para
que eu mantivesse sempre a tranqüilidade e empenho necessários.
Aos meus orientadores Jurandir Nadal e Líliam Fernandes de Oliveira, pelos
conselhos, aprendizados e disponibilidade. Gostaria de guardar comigo todos os
momentos de correção de projeto, tese, conversas, que me fizeram crescer pessoal e
profissionalmente.
Ao colaborador Dr. Marco Antônio de Melo Tavares de Lima, Professor da
Faculdade de Medicina da UFRJ, que esteve presente em toda a etapa experimental e
muito auxiliou na tomada de importantes decisões. Muito obrigada por estar sempre
disponível a ajudar e ensinar!
Não poderia esquecer de agradecer a todo o corpo de funcionários e alunos do
Laboratório de Biomecânica, em especial aos Professores Luís Aureliano Imbiriba e
Marco Antonio Garcia Cavalcanti e ao Funcionário José Magalhães, pela constante
disponibilidade para discutir assuntos da tese, auxiliar na preparação dos experimentos e
captar voluntários. Vocês foram grandes amigos!
Para finalizar essa sessão, gostaria de agradecer aos 80 voluntários que
participaram dos experimentos, alguns desconhecidos, outros amigos de longa data. Que
cada um de vocês também encontre pessoas em suas vidas que queiram simplesmente
ajudar, sem esperar coisas grandiosas em troca!
iv
Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos
necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.)
ANÁLISE DE SINAIS ESTABILOMÉTRICOS EM TESTES COM ESTÍMULOS
SONOROS
Míriam Raquel Meira Mainenti
Julho/2005
Orientador: Jurandir Nadal
Programa: Engenharia Biomedica
O controle postural é mediado pela integração entre informações provenientes
dos sistemas visual, somatossensorial e vestibular e órgãos efetores (moto-neurônios e
músculos). A identificação de sinais que sofrem influência dos dois primeiros sistemas
citados já está bem documentada na literatura. Pela dificuldade de uma estimulação
específica e independente do sistema vestibular, pouco se encontra a respeito da relação
entre sinais estabilométricos (mensuração objetiva da estabilidade) e estimulações
vestibulares. O presente trabalho buscou se aprofundar nesse aspecto, propondo
promover estimulações nos receptores vestibulares através de sons de alta intensidade,
baseando-se em estudos de potencial miogênico evocado vestibular. Setenta voluntários
se submeteram a variadas condições de estimulação sonora (tons puros, cliques e bursts)
enquanto permaneciam de pé numa plataforma de força. Uma análise de variância foi
aplicada aos valores obtidos para cada variável. Os resultados confirmam a influência
da privação visual na variável velocidade média do centro de pressão (velmed), tanto
para deslocamentos laterais, quanto para ântero-posteriores. Nenhuma diferença
estatística foi encontrada ao serem comparadas condições sem e com apresentação
sonora, para qualquer tipo de som, numa mesma condição visual. Apenas tendências
(não significativas) da variável deslocamento lateral médio foram observadas. Esse
resultado motiva futuros experimentos utilizando maiores intensidades e registros de
eletromiografia dos músculos posturais (verificando uma possível resposta após a
estimulação sonora), bem como outras formas de estímulo que atinjam os receptores
vestibulares (direta ou indiretamente), buscando a identificação de alterações específicas
no sinal estabilométrico.
v
Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the
requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.)
STABILOMETRIC SIGNAL ANALYSIS IN TESTS WITH SOUND STIMULI
Míriam Raquel Meira Mainenti
July/2005
Advisor: Jurandir Nadal
Department: Biomedical Engineering
Posture control is mediated by the integration between the environment
information (coming from the visual, somatossensitive and vestibular systems) and the
efferent organs (motoneurons and muscles). The identification of balance signals that
are influenced by the first two cited systems is already documented in the literature.
Few studies are focused in the relationship between stabilometric signals (objective
measure of stability) and vestibular stimulation, due the difficulty to achieve a specific
and independent stimulation of this system. The present study sought to examine this
aspect, proposing high intensity sounds as a way to perturb the vestibular system, based
on vestibular evoked myogenic potentials. Seventy volunteers were submitted to a
variety of sound stimulation conditions (pure tones, clicks and bursts) while they stayed
in upright position on a force platform. Values obtained in each variable were treated by
an analysis of variance. Results confirmed the influence of visual system in the mean
velocity of center of pressure (velmed), in both lateral and anterior-posterior
displacements. No statistic difference was found when conditions with and without
sound stimulation were compared at the same visual condition with any kind of sound.
Only the variable mean lateral displacement showed tendencies through visual graphic
observations (no significant). This result encourage future experiments setting louder
intensities and electromyography of posture muscles (verifying a possible answer after a
sound stimulation), as well as other sources of stimulus that could achieve vestibular
receptors (direct or indirectly), searching the identification of specific modifications in
the stabilometric signal.
vi
Índice
Capítulo Página
I. Introdução
I.1. Objetivos
01
03
II. Revisão de Literatura
II.1. Sistema Visual
II.2. Sistema Somatossensorial
II.3. Sistema Vestibular
II.4. Sistema Auditivo
II.5. Mecanismo de Transdução Sensitiva na Orelha Interna
(Cóclea e Órgãos Vestibulares).
II.6. Relação entre os Sistemas Vestibular e Auditivo
II.7. Estabilometria
04
04
05
06
10
13
15
20
III. Materiais e Métodos
23
IV. Resultados
30
V. Discussão
47
VI. Conclusão e Trabalhos Futuros
58
Referências Bibliográficas
59
Apêndices
A. Ficha de Anamnese (Experimento 1)
B. Ficha de Anamnese (Experimento 2)
C. Folha de Consentimento (Experimento 1)
D. Folha de Consentimento (Experimento 2)
E. Seqüências de Teste do Experimento 1
F. Seqüências de Teste do Experimento 2
67
67
68
69
70
71
72
1
CAPÍTULO I
INTRODUÇÃO
O equilíbrio postural ortostático é uma capacidade importante do ser humano,
representando um fator relevante de seu desenvolvimento como espécie dominante. O
controle do equilíbrio envolve a integração de diferentes sistemas sensoriais, levando
informações ao Sistema Nervoso Central (SNC) de como o corpo está posicionado em
relação ao meio ambiente. Os sistemas visual, somatosensorial e vestibular são
responsáveis por suprir o SNC das informações sobre o ambiente e sobre o
posicionamento relativo do corpo, as quais provêem de exoentradas (informações
externas, como a que distância se encontra determinado objeto) e endoentradas
(informações internas, como tensão muscular).
A técnica objetiva utilizada para avaliar a estabilidade corporal é a
estabilometria, a qual permite a medida de valores sucessivos do centro de pressão
exercida pelos pés na plataforma. O centro de pressão (CP), como o próprio nome
revela, é a média ponderada das cargas transferidas pelos pés do examinado sobre a
plataforma de força, e corresponde à projeção do centro de gravidade no equilíbrio
postural ortostático. A movimentação do corpo causa variação na distribuição do peso
nos pontos de suporte na plataforma, permitindo que as oscilações corporais sejam
identificadas.
Vários estudos têm possibilitado relacionar alterações das informações visuais
com as oscilações do CP (Gandra et al, 2003; Vuillerme et al, 2001; Schieppati et al,
1999; Nardone et al, 1998 e 1997; Tarantola et al, 1997; Le Clair e Riach, 1996). A
variável estabilométrica Velocidade Média do deslocamento do CP mostrou-se
particularmente sensível à modificação na condição visual (olhos abertos-olhos
fechados) (Gandra et al, 2003). Outras variáveis também afetadas incluem a área de
oscilação e o deslocamento total do CP ou percurso da oscilação (Nardone et al, 1998;
Le Clair e Riach, 1996).
Outros estudos buscaram identificar como alterações nas informações
somatosensoriais interferiam na manutenção do equilíbrio (Mello et al, 2003; Madeleine
et al, 1998; Nardone et al, 1998 e 1997). Observou-se, por exemplo, que a fadiga
2
muscular causada por exercício intenso também interfere na magnitude das oscilações
corporais (Mello et al, 2003; Nardone et al, 1997).
Investigar o que ocorre com o CP após estimulações vestibulares é uma tarefa
mais complexa porque a estimulação de um receptor vestibular se faz mais internamente
e menos especificamente do que a dos demais receptores. Com isto, diferentes manobras
aplicáveis para se desencadear um potencial nos receptores vestibulares promovem
interferências indesejáveis em outros receptores que também emitem informações para
o controle do equilíbrio. Por exemplo, ao se realizar a rotação do pescoço, os canais
semicirculares do labirinto são estimulados, mas os receptores musculares, articulares e
visuais também o são. Assim, não se consegue relacionar uma resposta obtida após esse
tipo de estimulação a apenas um dos sistemas.
Alguns estudos já mostraram modificações posturais em condições de estimulação
vestibular através de corrente galvânica aplicada aos processos mastóideos (Marsden et
al, 2002; Scinicariello et al, 2001, Cauquil et al, 2000; Cauquil et al, 1997).
Outras pesquisas apresentaram o comportamento dos sinais estabilométricos após
estimulações auditivas. Easton et al (1998), Sakellari e Soames (1996), Soames e Raper
(1992), Raper e Soames (1991) submeteram indivíduos a exames de estabilidade sob
diversas formas de campos auditivos gerados através de auto-falantes. As análises
revelaram um aumento nas oscilações corporais nas condições de estímulo, tendo alguns
estudos identificado, inclusive, a prevalência de movimentação na direção da fonte
sonora (Raper e Soames, 1991). Entretanto, não parece haver consenso, nem certeza,
entre os autores a respeito do mecanismo de ativação dessa resposta.
Este trabalho traz a proposta da estimulação sonora como possível ativadora do
sistema vestibular, testando uma nova forma de acionamento desse sistema. A tentativa
de se estimular os receptores vestibulares através do som e verificar o que ocorre com as
oscilações corporais nesse trabalho surgiu a partir da idéia de pesquisadores de potencial
miogênico evocado vestibular, no qual se obtém respostas elétricas nos músculos do
pescoço após inúmeros estímulos sonoros (ativação muscular através do reflexo
vestíbulo-cólico). Essa técnica será explicada com detalhes posteriormente.
Com essas dificuldades, a literatura especializada possui uma lacuna na
abordagem da contribuição específica do sistema vestibular. O presente estudo traz os
resultados dos reajustes posturais após quatro tipos diferentes de estimulação sonora
(tom puro 500 Hz, tom puro 4000 Hz, clique e burst 500 Hz). Estudar mais
profundamente as relações entre os estímulos auditivos e as reações vestibulares através
3
das medidas estabilométricas, com técnicas de processamento de sinais, pode
representar, então, uma alternativa para melhor entender a influência das estimulações
vestibulares no equilíbrio postural.
I.1. Objetivos
O objetivo geral do presente estudo é investigar e quantificar as modificações no
sinal estabilométrico após uma estimulação auditiva unilateral em adultos saudáveis.
Os objetivos específicos são: compreender melhor a relação entre os sistemas
auditivo e vestibular; detectar que variáveis estabilométricas são mais sensíveis às
estimulações vestibulares e verificar o comportamento do sinal no domínio do tempo e
da freqüência após as estimulações sonoras todos eles considerando indivíduos sem
comprometimento auditivo.
4
CAPÍTULO II
REVISÃO DE LITERATURA
Para a manutenção do equilíbrio, o indivíduo integra informações oriundas dos
sistemas visual (incluindo o sistema oculomotor), somatosensorial e vestibular para
promover os reajustes posturais através do envolvimento do cerebelo, do tronco
encefálico e do córtex.
II.1. Sistema Visual.
A retina humana contém dois tipos de fotorreceptores: os cones e os bastonetes.
Os cones são responsáveis pela visão diurna (possuem baixa sensibilidade em
ambientes escuros) e possuem melhor resolução espacial por dois motivos: primeiro,
não há convergência de vias nervosas aferentes, “cada célula bipolar (que transmitirá os
potenciais ao nervo óptico) recebe informações de um único cone” (Kandel et al, 2000);
segundo, porque esses receptores estão concentrados na fóvea, local onde a imagem
visual é menos distorcida.
Os bastonetes são especializados na visão noturna: têm alta sensibilidade à luz
em ambientes escuros, pois possuem um sistema mais convergente (em relação às vias
nervosas ascendentes) e cada estímulo pequeno que chega a um desses receptores se
soma a outros em vias superiores. Dessa forma, seu limiar de ativação é menor
comparando com o dos cones: “um único fóton pode evocar resposta elétrica em um
bastonete; em contraste, dezenas ou centenas de fótons devem ser absorvidos para um
cone evocar uma resposta similar” (Kandel et al, 2000).
Esse mesmo grupo de autores descreve o caminho neural percorrido pelas
informações visuais que são reconhecidas pelos fotorreceptores da retina: o estímulo
luminoso é transduzido em estímulo elétrico pelos receptores, chegando até as células
bipolares locais. Essas transmitirão o estímulo para o nervo óptico (iniciando pelos
neurônios ganglionares da retina), chegando ao núcleo geniculado lateral do tálamo,
córtex visual primário e áreas extra-estriadas de maior ordem (Kandel et al, 2000).
Semir Zeki (apud Kandel et al, 2000) propõe que existem áreas especializadas no córtex
para processamento de diferentes tipos de informação visual como movimento, forma e
cor: “em humanos normais há evidência por uma segregação da função visual entre
5
áreas, com a região parietal (posterior) sendo mais relacionada com representações
espaciais, e a região temporal (inferior) com reconhecimento do objeto”.
Em testes estabilométricos, comparando as condições de testes de olhos abertos
e fechados, observa-se que as oscilações posturais são maiores nessa última condição
(Gandra et al, 2003; Vuillerme et al, 2001; Schieppati et al, 1999; Nardone et al, 1997,
Tarantola et al, 1997; Le Clair e Riach, 1996). Esse fato demonstra como o
processamento do sistema visual é importante para a manutenção da postura. Kandel et
al (2000) apresentam um exemplo de David VanEssen (1994) para ilustrar como grande
parte do cérebro está envolvida na atividade visual: macacos (espécie macaco do velho
mundo) utilizam mais de 50% do neocórtex no processamento dessas informações.
Sistema óculo-motor ou optocinético - Além das informações externas, o
sistema visual possui também receptores nos músculos dos olhos, informando a direção
visual. Assim, o sistema nervoso central está sempre com uma “cópia” do movimento
anteriormente realizado pelas musculaturas extra-oculares, o que ajuda a promoção de
contrações específicas dessa musculatura, de forma reflexa, com a finalidade de
reajustar a posição dos olhos e, conseqüentemente, da cabeça e do corpo. Existe também
uma grande relação entre esses reajustes com as vias vestibulares, para que, contando
com um maior número de aferências, as respostas sejam mais eficazes na manutenção
da postura desejada. Por exemplo, quando os canais semicirculares horizontais são
estimulados na rotação da cabeça, os músculos reto lateral e reto medial se contraem
para manter o foco visual, movimentando os olhos no sentido oposto ao movimento da
cabeça (Kandel et al, 2000). A todo esse processo, deve-se acrescentar o processamento
em regiões mais superiores (bulbo, córtex, cerebelo).
II.2. Sistema Somatosensorial.
Este sistema conta com os proprioceptores, como o fuso muscular e o Orgão
Tendinoso de Golgi (OTG), os receptores articulares e os receptores cutâneos.
O fuso muscular é sensível a um estiramento muscular. Ao ser estimulado, há o
envio, por via reflexa, de um estímulo de contração para o mesmo músculo. O fuso
localiza-se internamente ao músculo, relacionando-se o número de fibras fusais em
função de quão refinado é o movimento daquele músculo. Músculos da mão e da face,
por exemplo, possuem fusos com maior número de fibras intrafusais do que grandes
grupamentos musculares. Os músculos do pescoço são os que possuem a maior
6
concentração desses fusos (Berne e Levy, 1992), detectando de forma mais fina os
movimentos da cabeça para reajuste da postura.
O OTG é sensível à tensão, e se encontra nas extremidades dos músculos,
também atuando através de uma via reflexa. Com o estímulo de uma grande tensão,
envia uma informação para a musculatura antagonista para que esta se contraia,
reequilibrando o sistema.
Os receptores articulares, que se situam tanto na cápsula articular quanto nos
ligamentos, informam ao SNC as posições das articulações e auxiliam a representação
do esquema corporal nos centros superiores.
Os receptores cutâneos são sensíveis a estímulos de pressão, tato e dor, e se
distribuem por toda superfície corporal. Os mais importantes para a manutenção da
postura ortostática são os receptores cutâneos da sola dos pés. Devido a essa
importância, Zhang et al (1991), Rys e Konz (1994), Madeleine et al (1998), Hansen et
al (1998) e Cham e Redfern (2001) investigaram os efeitos da interface entre pés e
superfície da plataforma de força, encontrando, por exemplo, um aumento da percepção
de desconforto em superfícies mais duras, rígidas (Cham e Redfern, 2001).
II.3. Sistema Vestibular.
O labirinto (Figura 1) é um órgão que se situa no osso temporal, formado pela
cóclea, pelos canais semicirculares e pelo vestíbulo, que possui a função principal de
regular o equilíbrio. Por isso, pode-se afirmar que este é órgão do equilíbrio por
essência. É sensível a estímulos de aceleração angular da cabeça, através de estruturas
sensoriais (cílios específicos) localizadas nos canais semicirculares, que percebem
prioritariamente os movimentos rápidos. Esses receptores estão dispostos
ortogonalmente entre si, representando, aproximadamente, os três planos no espaço,
sendo, portanto, receptores de aceleração angular (Guyton, 1989).
Os canais semicirculares são preenchidos por endolinfa produzida na escala
média da cóclea (Berne e Levy, 1992). Essa região da cóclea se liga ao sáculo e aos
canais através do ducto reuniens (Kandel et al, 2000). O espaço endolinfático de cada
canal é interrompido por um diafragma gelatinoso, a cúpula, que se estende por toda a
luz do canal na porção mais larga deste, uma dilatação chamada ampula. A cúpula é
fixa na luz do canal em um dos lados, mas no lado oposto se liga fracamente a feixes de
cílios de células ciliadas (Kandel et al, 2000).
7
Figura 1 Labirinto Humano: três canais semicirculares, utrículo, sáculo e
cóclea. Traduções: Mócula = Mácula; Cresta Ampolar = Crista da Ampula; os demais
termos são escritos da mesma forma no português. Figura retirada da página
www.iladiba.com.co/upr/2000/no072000/imagenes/fig1vert.jpg em 21/05/2005.
O labirinto é também sensível a estímulos de aceleração linear, com movimentos
mais lentos, os quais são percebidos por estruturas (otólitos) localizadas no utrículo e no
sáculo. O utrículo possui cílios dispostos mais horizontalmente, que informam
movimentos ântero-posteriores e látero-laterais. O sáculo, por sua vez, possui cílios
dispostos verticalmente (Berne e Levy, 1992; Guyton, 1989; Parker, 1980) e responde a
movimentos crânio-caudais e vice-versa (como a força da gravidade). Em posição
ortostática, possivelmente estes sensores são os mais ativados, uma vez que se esperam
oscilações mais lentas (Gagey e Weber, 2000; Tarantola et al, 1997). Experimentos
relatados por Gagey e Weber (2000) não conseguiram atingir o limiar de ativação dos
canais semicirculares em alguns testes de estabilidade estática, sugerindo que tais
estruturas não interferem no controle desse tipo de postura. No entanto, os canais devem
representar um papel mais relevante em movimentos rápidos como marcha,
desequilíbrios, escorregões, tropeços e tombos.
Segundo Guyton (1989) e Kandel et al (2000), as células ciliadas são
estimuladas em direção e sentido específicos, tanto para os canais quanto para utrículo e
sáculo. Portanto, o Sistema Nervoso Central (SNC) recebe informações coerentes, com
cada conjunto de células ciliadas informando sobre movimentos em um sentido
8
determinado. Com o movimento das células ciliadas, inicia-se um padrão de disparos de
potencial de ação nas fibras nervosas conectadas às células ciliadas estimuladas. Na
rotação da cabeça, a descarga das vias nervosas do canal semicircular horizontal
ipsilateral ao movimento aumenta, enquanto que as fibras contralaterais têm sua taxa de
disparos diminuída (Kandel et al, 2000).
Esse estímulo é conduzido pelo nervo Vestíbulo-Coclear até os núcleos
vestibulares no tronco cerebral (porção dorsal do bulbo) e o cerebelo (região cerebelo
vestibular; Parker, 1980). Existem quatro grandes núcleos vestibulares em cada lado do
tronco cerebral: superior, descendente (ou inferior), medial e lateral. Cada núcleo recebe
aferências predominantemente de um órgão vestibular e possuem, por isso, diferentes
ações controladoras (Tabela 1).
TABELA 1 Núcleos vestibulares e suas funções
NÚCLEO
PRINCIPAL
AFERÊNCIA
PRINCIPAL
EFERÊNCIA
AÇÃO
Superior Canais Semicirculares
Fascículo longitudinal
medial até centros
oculomotores e medula
espinhal
Reflexos que
controlam o
olhar
(inibitórios)
Medial Canais Semicirculares
Fascículo longitudinal
medial até centros
oculomotores e medula
espinhal
Reflexos que
controlam o
olhar
(excitatórios)
Lateral
Canais Semicirculares e
órgãos otólitos
Trato vestíbulo-espinhal
lateral
Reflexos
posturais
Inferior
(Descendente)
Órgãos otólitos
Cerebelo, Formação
Reticulada, núcleos
contralaterais e medula
espinhal
Integração dos
sinais
vestibulares
com sinais
motores
centrais
Adaptado de Kandel et al, 2000, p.810-812
A partir da Tabela 1, pode-se perceber que os núcleos superiores e mediais estão
majoritariamente envolvidos com o controle do olhar, enquanto que os demais (laterais
e inferiores), com integração dos sinais sensoriais para manutenção da postura.
Informações sensoriais com o mesmo significado, mas oriundas dos receptores visuais e
musculares cervical, convergem igualmente no nível dos núcleos vestibulares
(Maudonnet, 1999).
9
No bulbo, o sistema nervoso inicia uma ação reflexa para controlar as
oscilações, a partir da integração dos estímulos das diversas vias aferentes: vestibulares,
visuais e somatosensoriais. Algumas fibras nervosas transmitem esse estímulo do bulbo
e cerebelo até o córtex. As informações que chegam ao córtex estão “fortemente
envolvidas na percepção espacial, bem como na atualização da representação interna da
posição e movimento do corpo no espaço e na consolidação da memória espacial”
(Guldin e Grüsser, 1998).
Segundo Kandel et al (2000), os neurônios vestibulares disparam tonicamente
(quando não há movimento, apenas uma posição mantida constante), sinalizando o grau
de inclinação da cabeça; e fasicamente (em resposta aos movimentos), se relacionando
com a velocidade da movimentação da cabeça.
O estudo das sensações vestibulares é difícil porque o aparelho vestibular é
apenas uma fonte de informação para um sistema multimodal de controle de equilíbrio e
orientação, posto que o sistema responsável pelo controle postural também recebe
estímulos visuais e dos receptores somatosensoriais (Parker, 1980). Além disso, o
sistema multimodal de equilíbrio e orientação é adaptável: se o aparato vestibular está
prejudicado, o sistema pode aprender a funcionar sem ele (compensando com os demais
aparatos). Em condições experimentais, o mesmo pode acontecer. O sistema visual e o
somatosensorial também podem estar prejudicados e serem compensados; entretanto,
nessas situações, o indivíduo apresenta sinais perceptíveis para o
clínico/experimentador. No sistema vestibular, não há uma resposta direta como escutar
ou não um determinado estímulo sonoro, enxergar ou não um estímulo visual, perceber
ou não a forma de um objeto etc. Por isso, avaliar déficits vestibulares se torna mais
complexo do que déficits visuais e somatosensoriais.
Ao tentar responder as questões que envolvem o sistema vestibular, os
otorrinolaringologistas fazem uso de alguns recursos, tais como: observação da marcha
do paciente com olhos abertos e fechados, avaliação objetiva do nistagmo (atividade
reflexa da musculatura ocular a uma estimulação vestibular) através da
eletronistagmografia ENG após movimentação rítmica da cabeça ou movimentos
numa cadeira giratória; avaliação objetiva do nistagmo após a inserção de água quente
ou fria no canal auditivo (Maudonnet, 1999), e a avaliação da integridade do Potencial
Miogênico Evocado Vestibular (VEMP, conceito melhor detalhado posteriormente)
após uma estimulação sonora (tanto pela via aérea, quanto pela via óssea som ou
vibração, respectivamente) (Colebatch e Halmagyi, 1992; Colebatch et al, 1994;
10
Sheykholeslami et al, 2001a e 2001b; Sheykholeslami e Kaga, 2002; Sheykholeslami et
al, 2004; Sartucci e Logi, 2002). Essas duas últimas alternativas são melhores para
diagnosticar mais precisamente a lesão, pois solicitam um labirinto isoladamente do
outro. A última forma parece ser a mais facilmente aplicável durante testes de
estabilidade em posição ortostática sobre uma plataforma de força.
II.4. O Sistema Auditivo.
“Para o físico, o som é uma forma de energia vibratória que se propaga em
meios elásticos (...) Ao fisiologista interessa a maneira pela qual o som caminha pelas
vias auditivas até atingir o cérebro” (Lichtig e Carvalho, 1997). Uma onda sonora é
mecânica porque necessita de um meio material para propagar-se (não o fazendo no
vácuo) e sua fonte precisa ser capaz de vibrar (Lichtig e Carvalho, 1997). Essa onda é
capaz de produzir perturbações no meio ao seu redor e, assim, o sistema auditivo
consegue sentir e perceber os vários estímulos sonoros que chegam até a orelha.
A neurofisiologia do sistema auditivo é muito semelhante àquela do sistema
vestibular. Suas células receptoras são ciliadas e geram potencial de ação através da
movimentação desses cílios. A condução das informações até o córtex acontece por um
mesmo nervo: o oitavo par craniano, chamado de Nervo Vestíbulo-Coclear. “Embora
unidas em um tronco comum, as vias neurais (do sistema auditivo e do vestibular) têm
origem, funções e conexões centrais diferentes” (Machado, 1985). A localização dos
receptores também é anatomicamente próxima: tanto os receptores auditivos, situados
na cóclea, quanto os receptores vestibulares, situados nos canais semicirculares, no
utrículo e no sáculo, estão no labirinto, na região temporal do crânio, bilateralmente
(Figura 1).
O sistema auditivo pode ser dividido em três regiões: orelha externa, média e
interna. Na parte externa, localizam-se o meato acústico externo e o canal auditivo, que
recebem e conduzem a vibração sonora. A membrana timpânica, com nove milímetros
de diâmetro (Kandel et al, 2000), é o limite entre a orelha externa e a média. Na região
média, o estímulo mecânico é transmitido pelos ossículos (Bigorna, Martelo e Estribo)
até a orelha interna (Katz, 1999), que contém a cóclea e os órgãos vestibulares. Uma
função importante da orelha média é a proteção para sons de alta intensidade através da
contração reflexa dos músculos tensor do tímpano e estapédio (Kandel et al, 2000),
principalmente em freqüências menores que 450 Hz (Lichtig e Carvalho, 1997).
Segundo essas autoras, intensidades acima de 70 a 90 dB Nível de Sensação (acima do
11
limiar auditivo) entre as freqüências de 450 e 4.000 Hz geram uma rotação do estribo
em torno de seu eixo longo, diminuindo a pressão transmitida para a cóclea.
Por outro lado, a cadeia ossicular também atua como amplificador em
intensidades moderadas: “(...) a pressão exercida pelo estribo sobre a janela oval é 22
vezes maior do que aquela que atinge a membrana timpânica” (Lichtig e Carvalho,
1997). Esse processo é de suma importância, pois ao penetrar na orelha interna, devido
à diferença entre a impedância dos fluidos cocleares (maior) e do ar contido na orelha
média (menor), a onda sonora é quase totalmente refletida, implicando uma perda de
transmissão de aproximadamente 30 dB (Nível de Audição - NA) (Lichtig e Carvalho,
1997).
A física explica esse comportamento através do conceito de casamento de
impedância: a transmissão sonora será mais efetiva quando as impedâncias dos dois
meios forem iguais, casadas (Rodrigues, 1982). No caso da orelha média, através da
alavanca constituída pelos três ossículos, há um rearranjo para amplificar (intensidade
sonora moderada) ou abafar (intensidade sonora elevada) a onda que chega à membrana
timpânica, através de um reajuste da impedância local.
A onda sonora chega até a cóclea e, nessa estrutura, é transduzida em estímulo
elétrico, através do Órgão de Corti, situado em sua escala média (Berne e Levy, 1992;
Guyton, 1989). Além dessa, a cóclea possui também a escala vestibular (superior) e a
timpânica (inferior) (Kandel et al, 2000). A escala média separa as demais escalas até
uma porção denominada helicotrema, no ápice coclear. Existem duas membranas
importantes na cóclea: a membrana de Reissner (entre as escalas média e vestibular) e a
membrana basilar (entre as escalas média e timpânica) (Kandel et al, 2000).
A escala média é preenchida por endolinfa. Assim, quando há um estímulo
mecânico, o líquido interno é deslocado, sem extravasamento, mas com um
abaulamento desse canal (Kandel et al, 2000).
Quando a onda sonora chega ao Órgão de Corti, localizado na membrana basilar,
há uma movimentação dos cílios das suas células (através do deslocamento do líquido).
Esse órgão contém células ciliadas internas e externas. As internas são responsáveis
especificamente pela transdução sonora e se localizam entre a membrana basilar e a
tectorial, um pouco mais superior. Quando há um movimento dessa última membrana
para cima, ocorre uma despolarização das células. Por outro lado, quando o movimento
é inferior, há uma hiperpolarização (Kandel et al, 2000).
12
Uma importante característica da membrana basilar é não ser uniforme ao longo
de seu comprimento, apresentando propriedades mecânicas diversas. A estimulação
com um tom puro gerará um movimento complexo e particular da membrana (Kandel et
al, 2000), havendo uma ressonância para cada região. Dessa forma, para um
determinado tipo de estímulo, a membrana irá vibrar de forma diferente. A partir dessa
característica da membrana, percebe-se a existência de um mapa tonotópico ao longo da
cóclea: as freqüências mais baixas, até 20 Hz, estimulam, principalmente, a região do
ápice da cóclea, onde os feixes ciliados são mais longos, e as freqüências mais altas,
próximas de 20 kHz, estimulam a base da cóclea, onde os feixes são mais curtos
(Kandel et al, 2000). A faixa de audição humana está compreendida entre a área de
freqüências de 20 a 20.000 Hz (Berne e Levy, 1992;Guyton, 1989; Lichtig e Carvalho,
1997).
Essa tonotopia persiste nos neurônios aferentes do nervo coclear, chegando até
as regiões corticais e subcorticais. Por isso, a freqüência de um determinado som é
percebida através da especificidade da célula estimulada. A intensidade é graduada
através da taxa de disparo de potencial nas células: a codificação da pressão sonora para
o sistema nervoso está relacionada, então, a essa taxa (Kandel et al, 2000).
O movimento gerado pela vibração sonora estimula as fibras nervosas
conectadas às células ciliadas, gerando o impulso elétrico. Para Guyton (1989), o
impulso percorre o trajeto neural chegando aos gânglios espirais, nervo coclear (porção
coclear do oitavo nervo craniano), bulbo, tálamo e córtex.
Kandel et al (2000) detalham melhor o percurso neural, ressaltando que há um
complexo de núcleos cocleares no bulbo chamados de: dorsal, ântero-ventral e póstero-
ventral. Na ponte tem-se outro complexo de núcleos auditivos, o olivário superior, que
recebe informações bilaterais. São eles: oliva superior lateral, oliva superior medial e
núcleo do corpo trapezoidal.
As fibras provenientes do complexo olivário superior ascendem, mantendo sua
característica de organização tonotópica, até o núcleo do lemenisco lateral (na ponte),
mas a grande maioria das vias prossegue diretamente para o colículo inferior (no
mesencéfalo).
No tálamo, a estrutura que participa no processamento das informações auditivas
é o núcleo geniculado medial, que também recebe aferências dos sistemas visual e
somatosensorial. Kandel e colaboradores (2000) explicam que essa região pode ser
dividida ainda em três sub-regiões, das quais o núcleo principal é mais envolvido na
13
audição, enquanto que as demais recebem projeções multimodais. É importante ressaltar
que, como nas estruturas anteriores, o tálamo mantém uma organização tonotópica.
As fibras do geniculado medial terminam no córtex auditivo primário, no giro
temporal superior (Área A1 ou Áreas 41 e 42 de Brodmann), mantendo o mapa
tonotópico.
Todos os sinais, dos receptores da orelha até os núcleos cocleares no bulbo, são
resultantes apenas de um estímulo ipsilateral. Desse estágio para áreas mais superiores,
tem-se informações binaurais (vindas das duas orelhas), pois as fibras aferentes oriundas
dos núcleos cocleares têm trajetos ipsi- e contra-laterais (Kandel et al, 2000).
Com isso, observa-se que lesões em vias nervosas de condução auditiva mais
superiores comprometerão a percepção sonora de ambos os lados. Outra conclusão
determinada por essa organização é que o primeiro estágio no qual há informação
bilateral (complexo olivário superior) será de grande importância para a localização do
som, através da diferença de tempo e de intensidade dos estímulos provenientes de cada
lado. A oliva superior medial está envolvida com a localização sonora através da
diferença de latência da chegada do estímulo, processo mais utilizado para baixas
freqüências. A oliva superior lateral é mais sensível à diferença da taxa de disparos
(codificador de intensidade) em freqüências mais altas (Kandel et al, 2000).
Para a caracterização da intensidade do som, é utilizada a pressão que a onda
sonora exerce na superfície timpânica da orelha. Lazzarini (1998) afirma que “O Nível
de Pressão Sonora (NPS) é a medida mais usual quando se fala da amplitude das ondas
sonoras (...) e, por causa das características da audição humana, o nível de pressão
também é expresso em escala logarítmica. Ela é baseada na razão entre a pressão sonora
real e o limiar de audição a 1 kHz (20mPa)” (instituído de zero decibéis), e é medida em
N/m
2
(Newton/m
2
) ou Pa (Pascal).
A cada unidade “x” que se acrescenta em decibéis, são acrescentados na pressão
sonora cerca de 10
x/20
unidades. Em conseqüência, mínimas diferenças podem ser
discriminadas (Kandel et al, 2000).
II.5. Mecanismo de Transdução Sensitiva na Orelha Interna (Cóclea e
Órgãos Vestibulares).
Kandel et al (2000) descreveram bem as características das células ciliadas e
como elas são estimuladas pelas ondas sonoras (no caso do sistema auditivo) ou pelos
movimentos da cabeça (no sistema vestibular). A célula ciliada é cilíndrica, embebida
14
por endolinfa e contém um feixe de cílios. Dentre esses cílios há um maior, chamado
kinocílio. Os estereocílios (todos os que não são o kinocílio) são mais finos na base para
aumentar a sensibilidade dos movimentos no seu topo.
Pedagogicamente se ensina que quando o feixe é estimulado no sentido do
kinocílio, há uma despolarização, ocorrendo uma hiperpolarização no sentido contrário.
Entretanto, o kinocílio não é responsável pelo disparo do estímulo, mas apenas indica o
lado da estimulação: “O kinocílio não é essencial para a transdução mecano-elétrica; a
transdução persiste in vitro, depois de sua remoção de células ciliadas vestibulares”
(Kandel et al, 2000).
A transdução do estímulo mecânico para elétrico ocorre da seguinte forma: a
estimulação mecânica promove uma diminuição da resistência oferecida pela membrana
aos íons pela abertura de alguns canais. A corrente através desses canais altera o
potencial de membrana, iniciando a liberação de neuro-transmissores. Em cada célula
ciliada há uma organela chamada de corpo denso. A função do corpo denso pré-
sináptico ainda não está tão clara, mas segundo Kandel e colaboradores (2000), parece
estar envolvida com a liberação de vesículas, principalmente quando é solicitada uma
alta taxa de liberação (estímulos de alta intensidade). Para esses mesmos autores, o
Glutamato parece ser o neuro-transmissor principal desse processo. Quando esses
alcançam o neurônio aferente da célula ciliada em questão, há a propagação de
potenciais de ação que codificam as características da estimulação oferecida (Kandel et
al, 2000).
Pode-se observar que os canais são abertos por estímulos mecânicos, o que não é
muito comum nos demais receptores do organismo humano. A grande maioria responde
com a variação no potencial de membrana ou com a ligação de alguma substância. A
grande vantagem da transdução sem um segundo mensageiro é a rapidez com que ela
ocorre. A responsividade das células ciliadas a altas freqüências de estimulação
necessita que canais de transdução sejam abertos bem rapidamente. Para isso ocorrer, as
células ciliadas devem ser capazes de detectar ondas acústicas com resolução de
microsegundos (Kandel et al, 2000).
Há algumas evidências sugerindo que a abertura e o fechamento dos canais são
regulados por uma tensão em estruturas elásticas no feixe ciliado. Essa afirmativa pode
ser verdadeira, pois é possível medir um componente de rigidez do feixe ciliado
associado à transdução mecano-elétrica (Kandel et al, 2000). O modelo é o conjunto de
dois cílios conectados por uma ligação apical no cume dos estereocílios. Com a
15
estimulação mecânica, a ligação apical é tensionada e abre os canais do estereocílio
superior (ver Figura 2)
Figura 2 Abertura dos canais iônicos na transdução mecano-elétrica das
células ciliadas (extraída do livro Principles of Neuroscience de Kandel et al, 2000, p.
618).
Com esse arranjo, empurrar um feixe no sentido positivo vai alongar o
componente elástico e promover abertura dos canais. Uma estimulação no sentido
oposto irá encurtar esse componente elástico e proporcionar o fechamento dos canais.
Assim fica mecanicamente comprovado porque estímulos oferecidos no sentido do
kinocílio, o mais alto dos cílios, são propagados e codificados e aqueles oferecidos no
sentido oposto não o são.
II.6. Relação entre os Sistemas Vestibular e Auditivo.
Uma questão pertinente é: havendo uma especificidade tão grande da condução
vestibular e auditiva, como um estímulo auditivo poderia gerar respostas vestibulares?
Todas as informações que chegam ao SNC através dos sistemas aferentes acima
citados são integradas e provocam resposta pelas vias eferentes. Tais respostas
compreendem as ações voluntárias e os reflexos, que ajudam no reajuste da posição do
corpo, da cabeça, dos membros, com finalidade de restaurar o equilíbrio. Um deles é o
16
reflexo vestíbulo-cólico: os estímulos originados dos receptores vestibulares que
chegam aos núcleos vestibulares medial e lateral geram respostas numa via descendente
através do trato vestíbulo-espinhal, que enerva musculaturas do pescoço e do resto do
corpo, contraindo-as (Berne e Levy, 1992). Colebatch et al, 1994, relembram que esse
reflexo possui a habilidade de estabilizar a posição da cabeça no espaço em resposta a
deslocamentos imprevisíveis.
Baseados na teoria do reflexo vestíbulo-cólico, alguns pesquisadores começaram
a investigar qual seria a resposta em músculos do pescoço, dado um determinado
estímulo auditivo, o que se chamou de potencial miogênico evocado vestibular (VEMP
Vestibular evoked myogenic potential). David e Colafêmina (2002) explicam que
“Esses potenciais são respostas miogênicas adquiridas por promediação, ativadas por
estimulação sonora, por meio de cliques de alta intensidade que ativam a mácula
sacular, o nervo vestibular inferior e as vias vestíbulo-espinhais descendentes,
registradas por eletromiografia de superfície sobre a musculatura cervical”. A maioria
dos estudos utiliza o músculo esternocleidomastoideo para a aferição do potencial
evocado (McCue e Guinan, 1997; Sheykholeslami et al, 2000, 2001a e 2001b; Todd et
al, 2000; Welgampola, 2003). Para Colebatch et al (1994), essa intensidade a que se
referem David e Colafêmina (2002), deve ser em torno de 95 a 100dB (NPS) acima do
limiar auditivo.
As respostas podem ser separadas em dois componentes: primários e tardios
(Colebatch et al, 1994, Wang e Young, 2004). Os primários compreendem dois picos
(Figura 3): um positivo com latência média de 13 ms (p13) e um negativo com latência
média de 23 ms (n23). Os tardios ocorrem em 34 ms (negativo n34) e 44 ms (positivo
p44).
17
Figura 3 Potencial miogênico evocado vestibular nos músculos
esternocleidomastoideos direito (superior) e esquerdo (inferior), mostrando os picos
p13, n23, n34 e p44 (Figura adaptada de Colebatch e colaboradores, 1994, p. 191).
A grande maioria dos pesquisadores que utiliza o VEMP discute os seus
componentes primários, já que os tardios ainda não se mostraram consistentes (Wang e
Young, 2004). Colebatch et al (1994) propõem que os picos p13 e n23 são de origem
sacular, enquanto que p33 e n 43 são de origem coclear. Em seus experimentos, esses
pesquisadores verificaram que “a resposta p13-n23 era extinta em pacientes que se
submeteram a uma secção seletiva do nervo vestibular, mas era preservada em sujeitos
com perda auditiva neurosensorial”. Os componentes p33-n43 não dependiam da
integridade do sistema vestibular, e por isso provavelmente se originaram na cóclea.
Colebatch e Halmagyi (1992) verificaram que o reflexo mensurado pela
atividade muscular no pescoço após estimulação auditiva com cliques é dependente da
integridade do nervo vestibular ipsilateral ao estímulo. Esses pesquisadores utilizaram
registros do VEMP antes e depois do seccionamento do nervo vestibular direito em um
paciente com doença de Menière. Essa doença, segundo Kandel et al (2000), é
caracterizada por vertigens intermitentes, presença de ruído nos ouvidos e audição
distorcida. Antes da deaferentação, ao se estimular o lado direito, os picos p13 e n23
apareciam nos esternocleidomastóideos dos dois lados, com maior amplitude no
músculo direito. Depois da cirurgia, esses picos estavam presentes apenas no lado
esquerdo (onde não houve secção nervosa), confirmando a origem vestibular do reflexo.
Sheykholeslami e Kaga (2002) realizaram um experimento em pacientes com diversas
18
anomalias da orelha interna envolvendo a cóclea e os canais semicirculares, e seus
achados puderam indicar que para qualquer tipo de anomalia, o VEMP ainda era
evocado caso o sáculo estivesse preservado.
Os autores da área concordam em afirmar que o órgão estimulado e responsável
pelo reflexo que gera esse tipo de onda evocada nos músculos do pescoço após ser dado
um estímulo auditivo é o sáculo (McCue e Guinan, 1997; Sheykholeslami et al, 2001b;
Todd et al, 2000; Murofushi e Curthoys, 1997). “(...) teste clínico em humanos no qual
respostas miogênicas no músculo esternocleidomastóideo são evocadas por cliques de
alta intensidade é provavelmente um teste clínico do caminho sáculo-cólico em
humanos” (Murofushi e Curthoys, 1997).
Essa hipótese pode ser suportada porque: 1) em alguns animais, esse órgão está
ligado a funções do sistema auditivo (Vuilherme et al, 2001) (sugerindo que nos seres
humanos o sáculo pode ter guardado algumas características dos componentes desse
sistema); 2) há proximidade física e uma conexão anatômica do sáculo com a cóclea
(Guyton, 1989 e Todd et al, 2000), por onde ocorre o transporte de endolinfa produzida
pela cóclea até o aparato vestibular. Além desta, há também conexões entre o sáculo e o
utrículo e entre o utrículo e os canais semicirculares (Guyton, 1989).
Outros experimentos se certificaram experimentalmente da participação do
sáculo no VEMP. Cazals e colaboradores (1983) comprovam a sensibilidade do sáculo
aos sons nos mamíferos. Em animais com o órgão de Corti totalmente destruído
(provocado experimentalmente), pequenas variações na intensidade eram discriminadas
por detecção de reflexos no oitavo nervo craniano em níveis similares aos animais não
lesionados, sendo esse processo originado de uma recepção acústica do sáculo. Os
pesquisadores utilizaram uma variedade de estímulos em diversas freqüências (como
por exemplo 16, 8, 4, 2 e 1 kHz), sempre com taxa de estimulação de 10 Hz.
Esses achados são confirmados por Murofushi e Curthoys (1997), que defendem
a relação direta da ausência do VEMP com o comprometimento do nervo vestibular
inferior ou das estruturas que dão origem a esse nervo nos mamíferos. Em seus
experimentos eles puderam observar que as áreas neurais marcadas (por uma substância
específica para determinar ativação neural) após a estimulação auditiva e o surgimento
do VEMP se localizavam próximo ou no gânglio do nervo vestibular inferior, bem
como na divisão posterior do nervo vestibular superior. Essas áreas fazem parte dos
caminhos neurais das vias aferentes do sáculo, o que levou os referidos autores à
19
seguinte conclusão: “Esses resultados sugerem que neurônios sensitivos a cliques se
originam da mácula do sáculo”.
Murofushi et al (1996) continuam nessa linha de pesquisa, se aprofundando nos
caminhos neurais do VEMP em humanos. Eles propõem a existência de um arco de três
neurônios: aferência vestibular primária (nervo vestibular), neurônio vestíbulo-cólico e
motoneurônios da musculatura do pescoço. Colebatch e colaboradores, 1994,
concordam que a rede neural envolvida nesse reflexo não pode ser extensa pela rapidez
da resposta: “A latência das respostas primárias registradas aqui (nos registros de
VEMP em adultos normais) implica uma condução rápida e caminhos di-sinápticos”.
Todd et al (2000) mostraram que a freqüência do estímulo auditivo responsável
pela maior amplitude do potencial miogênico evocado vestibular no músculo
esternocleidomastóide em seres humanos está entre 300 a 350 Hz, sendo esses estímulos
de 10 ms seqüenciados (1 ms de fase ascendente e descendente e 8 ms de platô). Os
mesmos autores afirmam que estímulos contínuos, a uma freqüência entre 50 e 800 Hz e
intensidade aproximada de 90 dB, geram resposta contínua no nervo do sáculo.
Pesquisadores do Japão compararam VEMPs evocados por cliques e tons curtos
(burst), verificando que a resposta tem maior amplitude para tons de 500 Hz (Seo et al,
1999 apud David, 2002).
McCue e Guinan (1995) verificam, em gatos, que as freqüências mais
sensibilizantes variam entre 400 e 800 Hz. Além disso, eles também detectam que a
intensidade está diretamente relacionada com a amplitude do sinal, alcançando valores
máximos em 120 dB Nível de Pressão Sonora (NPS). Colebatch et al, 1994, afirmam
que a estimulação vestibular por som não ocorre somente em estados patológicos (como
no Fenômeno de Tullio - síndrome na qual a estimulação acústica produz sintomas e
sinais de ativação vestibular (Watson et al, 2000) predominantemente pela presença de
uma fístula coclear), mas as intensidades necessárias para excitar o aparelho vestibular
normal são mais altas do que as encontrados na vida diária. Eles utilizaram em seu
protocolo uma intensidade de 95 ou 100 dB (NPS) acima do limiar auditivo, uma vez
que o limiar para aparecimento do VEMP foi de 75 dB (NPS), também por eles testado
nesse estudo.
Wu e Murofushi (1999) estudaram o efeito da taxa de repetição do estímulo e
verificaram que as taxas de 1 Hz, 5 Hz e 10 Hz eram capazes de gerar o potencial em
todos os indivíduos testados, mas as amplitudes dos potenciais miogênicos geradas após
20
estímulos de 1 Hz e 5 Hz eram maiores do que as decorrentes de estímulos de 10 Hz, 15
Hz e 20 Hz.
Essas constatações motivam o presente estudo, em que se pretende determinar se
estímulos auditivos com características iguais àqueles geradores de VEMP modificam o
padrão das oscilações corporais numa plataforma de força, considerando que, em
condições de teste sem nenhum estímulo, os órgãos do sistema vestibular enviam ao
SNC informações sobre um determinado estado da posição da cabeça e do corpo. Em
particular, pretende-se verificar se um potencial gerado no sáculo por meio de estímulos
auditivos contínuos e intermitentes (tipos de estímulo sonoro: tom puro, clique, burst,
que serão explicados posteriormente) pode perturbar o equilíbrio postural pelos reflexos
causados nas musculaturas mantenedoras da postura ortostática, considerando que são
capazes de gerar um potencial miogênico, previamente relatado, em musculatura
mantenedora da posição da cabeça.
II.7. Estabilometria
A intenção de mensurar a capacidade do equilíbrio em seres humanos existe há
mais de um século. Historicamente, as primeiras tentativas foram qualitativas: o
examinador propunha algumas provas funcionais, além de observar os movimentos
corporais na postura ortostática em algumas condições (olhos abertos, olhos fechados,
unipodal, pés unidos, pés afastados, dentre outros) e, juntamente com outros sintomas,
poderia diagnosticar uma patologia. Entretanto essa medida ainda era muito subjetiva e
se verificou a necessidade de quantificá-la, para ter a possibilidade de observar
alterações sutis no controle da postura (Gagey e Weber, 2000; Oliveira, 1993).
O termo mais correto da grandeza física estudada, apesar de não muito utilizado
pelos próprios pesquisadores da área, é estabilidade. O ser humano nunca está em
perfeito equilíbrio (quando o somatório das forças que atuam sobre um corpo é zero),
mas sempre promovendo ações musculares para retomar posições mais eficientes e
próximas ao ponto de equilíbrio. A esse intento de retornar o corpo à sua posição de
equilíbrio chama-se estabilidade.
A estabilometria (a medida da estabilidade), já mencionada previamente nessa
dissertação, é a técnica objetiva utilizada para medir e registrar as oscilações corporais
(Duarte, 2000). Também pode ser chamada de estatocinesiografia ou posturografia
computadorizada (Oliveira, 1993), e permite a “avaliação do equilíbrio através da
21
quantificação das oscilações ântero-posteriores e latero-laterais do corpo na plataforma
de força” (Oliveira, 1996).
Para esse registro já foram utilizados alguns equipamentos distintos, mas
atualmente se utiliza uma plataforma de força, que armazena dados do centro de pressão
aplicado nesse instrumento. O Centro de Pressão (CP) é um ponto resultante de todas as
forças que agem na superfície de suporte (Duarte, 2000), representando, com menos de
5% de erro, a projeção do Centro de Gravidade do corpo no solo (Gagey e Weber,
2000).
A movimentação do corpo causa variação na distribuição do peso nos pontos
suporte na plataforma, permitindo que as oscilações corporais sejam identificadas.
Essa percepção exata do CP só é possível pela existência de células de carga nas
extremidades da plataforma, usadas como transdutores de pressão em sinal elétrico, que
será digitalizado. “Através de cálculo de momento de força é definida a posição do
ponto resultante das forças aplicadas sobre a plataforma (CP), em relação às
coordenadas x (latero-lateral) e y (ântero-posterior)” (Oliveira,1996).
Na avaliação da estabilidade, todos os parâmetros analisados são originados do
CP: “A eficiência do controle motor é monitorada pela medida do centro de pressão do
corpo agindo numa superfície” (Carrol e Freedman, 2002).
O deslocamento do CP pode ser visto graficamente através do
estatocinesiograma e do estabilograma.
O estatocinesiograma (Figura 4) inscreve as posições sucessivas amostradas do
centro de pressão, representando o seu deslocamento na superfície e apresentando os
pontos no plano (x,y).
-4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4
-8
-6
-4
-2
0
2
4
6
x (mm)
y (mm)
Estatocinesiograma
22
Figura 4 Exemplo de um Estatocinesiograma, gerado através de dados de uma
voluntária de um dos experimentos, para a condição olhos abertos sem estimulação.
O estabilograma é a representação isolada para cada coordenada por unidade de
tempo. Portanto, existem dois gráficos para cada sinal (Figura 5): um para o eixo x
(movimentos latero-laterais) e outro para o eixo y (movimentos antero-posteriores). Um
exemplo de estabilograma está representado na figura 5.
Figura 5 Exemplo de Estabilogramas. No gráfico superior tem-se o deslocamento do
CP no eixo lateral e no inferior, no eixo antero-posterior. O tempo é medido em
segundos e o deslocamento em milímetros. Os Estabilogramas foram gerados através
de dados de uma voluntária de um dos experimentos, para a condição olhos abertos
sem estimulação.
0 10
20
30
40
50
60
-4
-2
0
2
4
Deslocamento látero-lateral do COP
segundos
0
10
20
30
40
50
60
-10
-5
0
5
Deslocamento ântero-posterior do COP
Tempo (segundos)
Deslocamento
(mm)
Deslocamento
(mm)
23
CAPÍTULO III
MATERIAIS E MÉTODOS
Foram recrutados 36 voluntários (Tabela 2) saudáveis da Escola de Educação
Física e Desportos (EEFD) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), de
ambos os sexos, para participarem do experimento no Laboratório de Biomecânica
dessa unidade (Experimento 1). Outro grupo de 30 pessoas da mesma universidade
(Tabela 2) participou do experimento no Serviço de Métodos Especiais (SME), Setor de
Otorrinolaringologia, no 3
o
andar do Hospital Universitário da UFRJ (Experimento 2).
Para esse recrutamento foram colocados cartazes em diversos locais da Escola e
divulgação através de correio eletrônico para alunos de pós-graduação da UFRJ.
Tabela 2 - Massa Corporal, Altura e Idade dos Voluntários
Experimento I (n=36) Experimento II (n=30)
Massa (kg)* 67,9 + 15,4 64,5 + 13,7
Altura (m)* 1,70 + 0,10 1,67 + 0,11
Idade (anos)* 24,0 + 4,3 23,8 + 4,4
* Os valores estão apresentados como média + desvio padrão.
Antes da realização do experimento, os indivíduos preencheram uma ficha de
anamnese (Apêndice A e Apêndice B), que reunia informações para que fosse possível
controlar outras variáveis e excluir aqueles que apresentassem problemas ósteo-mio-
articulares graves, passado otológico recente (otites, labirintite) ou algum distúrbio
neurológico. Todos os voluntários também assinaram um documento expressando o seu
consentimento em participar do experimento, no qual havia as devidas explicações do
estudo (Apêndice C e Apêndice D).
Em seguida, foi verificado o limiar auditivo de cada ouvido com o audiômetro,
em cada freqüência e tipo de estímulo sonoro, para determinar a intensidade na hora do
experimento. Para essa verificação, foi utilizada uma metodologia descendente: a
apresentação dos sons se iniciava por estímulos de intensidade média e a
experimentadora decrescia 10 dB gradativamente (re: 20 µPa). Quando o voluntário não
escutava mais, uma confirmação do limiar era feita variando 5 dB ascendente ou
descendentemente. A presença de limiar sensitivo de um dos ouvidos maior ou igual a
50 dB (re: 20 ?Pa) foi um critério de exclusão.
24
Foram utilizados os seguintes equipamentos durante o experimento:
1. Plataforma de força AccuSway Plus (AMTI), portátil, com conversor A/D
interno de 12 bits e interface RS-232 para comunicação com o computador
(Figura 6) (Experimento 1 e 2)
Figura 6 Plataforma de força AMTI AccuSway Plus
2. Audiômetro para diagnóstico Dicton, modelo CAT 42 (Centro Auditivo
Telex), com faixa de freqüência de 125 a 8.000 Hz para estimulação da
via aérea, na faixa de intensidade de -10 a +110 dB, utilizando um fone de
ouvido TDH-39 (Telephonics). O audiômetro é compactado numa maleta em
fibra, com armação metálica, com as dimensões: 45 X 32 X 13 cm e peso de 7,0
kg (Figura 7) (Experimento 1).
Figura 7 Audiômetro Dicton CAT-42 com o fone de ouvido TDH 39
3. Sistema para exames de potencial evocado auditivo Amplaid modelo mk15,
alocado no SME de Otorrinolaringologia 3
o
andar do Hospital Universitário
Clementino Fraga Filho (UFRJ), utilizando um fone de ouvido TDH-39.
Nenhum potencial foi registrado, sendo utilizado apenas o gerador de sons
(Figura 8) (Experimento 2).
25
Figura 8 Aparelho para exames de Potencial Evocado Auditivo Amplaid mk15
4. Laptop Toshiba Satellite 2060CDS para armazenamento dos sinais
(Experimento 1 e 2).
Protocolo Experimental:
Os voluntários permaneceram de pé na plataforma de força, com os pés
afastados (10 cm) e com pequena rotação externa dos membros inferiores (30
o
), com os
braços relaxados ao longo do corpo, olhos fixos num ponto na parede a 2 metros do
voluntário (quando de olhos abertos). As bordas posteriores dos calcanhares eram
posicionadas em um local padrão na plataforma para todos os sujeitos. A partir dessa
posição inicial foram propostas as seguintes condições:
Experimento 1 Para os testes com tom puro, realizados no Laboratório de
Biomecânica da EEFD, UFRJ:
1) Permanecer na posição inicial, olhos abertos, sem o fone, sem estimulação? 30s.
2) Permanecer na posição inicial, olhos abertos, com o fone, sem estimulação? 30s.
3) Permanecer na posição inicial, olhos abertos, com o fone, estimulando o lado
direito? 15s + 15s sem estímulo (recuperação da última estimulação).
4) O mesmo para o lado esquerdo? 15s + 15s sem estímulo.
26
Os voluntários foram expostos a várias condições, considerando todas as
combinações que puderam ser feitas entre condição visual (olhos abertos e olhos
fechados) e freqüência do tom puro (0,5 e 4 kHz). A ordem de apresentação do
estímulos era pseudo-aleatória (Apêndice E) para se controlar as variáveis habituação
(aprendizado) e fadiga geral no mecanismo de regulação da postura, visto que o tempo
total de teste era de aproximadamente 6 minutos.
Experimento 2 Para os testes com Clique e Burst, realizados no SME do HUCFF,
UFRJ:
1) Permanecer na posição inicial, olhos abertos, com o fone, sem estimulação? 30s.
2) Permanecer na posição inicial, olhos abertos, com o fone, estimulando o lado
direito? 30s + 30s sem estímulo (recuperação da última estimulação).
3) O mesmo para o lado esquerdo? 30s + 30s sem estímulo.
Tempo total de teste (considerando apenas a estabilometria) aproximadamente 11
minutos.
Os voluntários foram expostos a várias condições, considerando todas as
combinações que puderam ser feitas entre condição visual (olhos abertos e olhos
fechados) e tipo de estímulo sonoro (clique e burst) (ver Apêndice F).
O clique gerado pelo aparelho é um pulso sonoro de curta duração (100 µs), que
no domínio da freqüência apresenta energia numa larga faixa de freqüência (e, por isso,
estimula uma grande porção da cóclea). A taxa de estimulação escolhida foi de 7 Hz,
baseada na bibliografia de VEMP (para se tentar reproduzir o mesmo estímulo sonoro
gerador de potenciais em musculatura de pescoço) e ajustada, de acordo com as
possibilidades do aparelho, para estimulação aproximada de 30 s (200 cliques por
condição experimental). O burst gerado pelo aparelho é um estímulo sonoro de 250 ms,
com as fases ascendente e descendente durando 25 ms e um platô de 200 ms. Possui
uma banda estreita de freqüência (estimula uma região mais específica na cóclea), que
pode ser selecionada pelo experimentador. As características escolhidas foram 500 Hz e
taxa de estimulação de 7 Hz, pelas mesmas razões citadas para cliques, também
somando um total de 200 disparos por condição de teste.
A intensidade foi 70 dB acima do limiar auditivo para uma determinada
freqüência e um determinado tipo de som. Essa intensidade também foi escolhida a
partir do que se tem como base nos protocolos experimentais para geração de VEMP.
27
Tom puro e Burst eram graduados em nível de audição, enquanto que o Clique em nível
de pressão sonora.
Carroll e Freedman (1992) verificaram que o sinal do centro de pressão dos pés
apresenta uma grande variabilidade nos primeiros 20 s, principalmente nos dados do
eixo ântero-posterior, sugerindo desconsiderá-los para uma observação do sinal sem os
primeiros transientes. Por isso, na primeira condição de teste realizada pelo voluntário a
aquisição se iniciava aproximadamente 20 s após a sua subida na plataforma. A mesma
conduta era adotada quando se iniciavam as aquisições com olhos fechados.
Nos testes realizados no hospital universitário (Experimento 2), entre as
seqüências de estimulação com clique e burst, havia um descanso de dois minutos em
que os voluntários se sentavam numa cadeira imediatamente atrás da plataforma, de
forma que a base de sustentação se mantinha a mesma.
Durante todo o tempo, os responsáveis pelo experimento estavam próximo ao
voluntário, acionando o dispositivo no audiômetro que promove o estímulo sonoro e
ajustando a intensidade para cada ouvido, bem como controlando a aquisição do sinal
(Figuras 9 e 10). Também estavam atentos caso algum voluntário sentisse algum
desconforto ou decidisse desistir do teste.
Figura 9 Disposição dos equipamentos e responsáveis pelo experimento no
momento do teste no Laboratório de Biomecância EEFD UFRJ (Experimento 1).
28
Figura 10 Disposição dos equipamentos e responsáveis pelo experimento no
momento do teste no Hospital Universitário UFRJ (Experimento 2).
No momento do teste, foram minimizados os ruídos que pudessem desviar a
atenção dos voluntários: os telefones do laboratório, os celulares e a campainha do
laboratório foram desligados; cartazes na entrada do laboratório informavam aos
visitantes que estava acontecendo um teste; as atividades locais que pudessem interferir
no teste eram interrompidas.
Todos os testes foram realizados na presença de um médico do hospital e
professor da faculdade de medicina. Caso o voluntário sentisse alguma tontura,
vertigem ou qualquer outro sintoma, o teste seria instantaneamente encerrado, sendo o
voluntário auxiliado pelo médico, o que não ocorreu em nenhum teste.
O protocolo experimental foi submetido ao Comitê de Ética do Hospital
Universitário Clementino Fraga Filho (UFRJ) e aprovado com o número 018/04.
Análise dos Dados:
Dados obtidos através da plataforma de força revelaram o deslocamento do
centro de pressão dos pés. Os sinais estabilométricos eram armazenados a partir do
Programa Balance Clinic, da própria plataforma de força, e exportados posteriormente
para que pudessem ser lidos pelo Programa Matlab versão 5.3 (The Mathworks). A
freqüência de amostragem em ambos os experimentos foi de 50 Hz.
4
1
2
5
Legenda:
1 – Audiômetro
2 – Laptop
3 – Plataforma Portátil
4 – Ponto Fixo
5 - Responsáveis
3
5
29
Rotinas desenvolvidas no Programa Matlab, e já empregadas em testes de
estabilidade através da plataforma de força geraram onze variáveis estabilométricas para
cada condição experimental: Velocidade Média, Freqüência Média, Posição Média,
Deslocamento Médio e Desvio Padrão (dos valores do Centro de Pressão do trecho
registrado) todas nos eixos lateral e ântero-posterior, além da Área de Oscilação.
No Experimento 1, cada condição consistia de 30 s, e os sujeitos eram
submetidos a 12 condições, sendo assim obtidos 12 grupos de dados de 1500 amostras
para cada voluntário testado. Foram criadas planilhas (uma para cada variável
estabilométrica) no aplicativo Statistica versão 6.0 (StatSoft) com os dados dos 36
sujeitos para as 12 condições de teste, sendo que os dados das 8 condições de
estimulação foram divididos em dois blocos (15 segundos iniciais fase de estimulação
e 15 segundos finais fase de “recuperação”). Assim, o número final de condições
para comparação foi de 20.
No segundo experimento, cada uma das 18 condições experimentais durava 30s,
sendo também geradas planilhas no Statistica para cada variável estabilométrica. A fase
de estimulação durava 30 s, tempo igual ao da fase de recuperação e às condições sem
estimulação.
As condições finais de comparação (20 para o Experimento 1 e 18 para o
experimento 2) de cada variável foram analisadas com o teste ANOVA para medidas
repetidas e o teste HSD (honest significant difference) de Tukey para verificar onde
estavam as diferenças, considerando sempre um nível de significância de 0,05.
30
CAPÍTULO IV
RESULTADOS
IV.1. Experimento 1
Para todas as variáveis, a comparação direta entre condição sem estímulo com
fone e sem fone não apresentou diferença estatística, mas nas demais comparações, as
duas condições de teste não se comportavam da mesma forma. Esse fato reforça a idéia
de só comentar nesse documento as comparações realizadas entre condições que
utilizavam sempre o fone, com ou sem estimulação, mesmo tendo registrado, para todos
os sujeitos, situações sem fone (olhos abertos e olhos fechados). A Tabela 3 apresenta
um resumo com todas as diferenças estatisticamente significativas do Experimento 1
para cada variável estabilométrica estudada.
Área de Oscilação, Posição Média Lateral, Posição Média Ântero-Posterior
Nenhuma diferença foi encontrada para essas variáveis.
Desvio Padrão Lateral (Dpx)
Não foram encontradas diferenças que pudessem ser interpretadas com respeito à
condição sonora. Uma observação geral apontou que a condição de olhos abertos com
estimulação sonora direita de 4000 Hz foi estatisticamente diferente das condições olhos
fechados sem estimulação (p = 0,049) e olhos fechados com estimulação sonora
esquerda de 4000 Hz (p = 0,044), sendo maiores os valores de Dpx nos períodos de
privação visual. Entretanto, todas as diferenças relatadas anteriormente não trazem
informações relevantes quanto à estimulação sonora.
31
Desvio Padrão Ântero-Posterior (Dpy)
A condição de olhos abertos com estimulação sonora direita de 4000 Hz foi
estatisticamente diferente de três condições de olhos fechados: sem estimulação (p =
0,0003), com estímulo esquerdo de 500 Hz (p = 0,0152), e na condição de resposta ao
estímulo direito de 4000 Hz (p = 0,0258). Olhos fechados sem estímulo também foi
diferente de olhos abertos com estímulo esquerdo de 4000 Hz (p = 0,049). As diferenças
aqui encontradas também não revelam informações relacionando o controle postural
com a condição sonora.
Velocidade Média Lateral (Velmedx)
A condição de olhos fechados com estimulação esquerda de 500 Hz foi
estatisticamente diferente de seis condições de olhos abertos: sem estimulação (p =
0,0164), com estímulo direito de 4000 Hz (p = 0,0083), com estímulo esquerdo de 4000
Hz (p = 0,0205) e nas condições de resposta a estímulos do lado esquerdo de 500 Hz e
4000 Hz (p = 0,037; 0,0077) e direito de 4000 Hz (p = 0,0075).
Velocidade Média Ântero-Posterior (Velmedy)
A condição Olhos Abertos sem estimulação foi diferente de qualquer condição
de olhos fechados (para ilustrar: p = 0,0005, comparando com privação visual sem
estímulo sonoro), confirmando a importância da integridade do sistema visual ao
analisar a variável velocidade média. Além disso, inúmeras diferenças foram
encontradas entre as várias condições de olhos abertos e olhos fechados. Esse efeito não
foi observado na velocidade média lateral possivelmente pela posição afastada dos pés.
Freqüência Média de Oscilação Lateral (Freqmedx)
Essa variável apresentou diferença entre a condição de olhos fechados sem
estímulo e quatro momentos de olhos abertos: condição de estimulação esquerda com
4000 Hz (p = 0,039), recuperação após estímulos de 500 Hz direito (p = 0,016), 4000
Hz direito (p = 0,014) e esquerdo (p = 0,021).
32
Freqüência Média de Oscilação Ântero-Posterior (Freqmedy)
Para a freqüência média de oscilação ântero-posterior, foram encontradas
diferenças entre a condição sem estímulo de olhos abertos e 3 condições de olhos
fechados: estimulação esquerda de 4000 Hz (p = 0,0027), recuperação de estímulo
esquerdo de 500 Hz (p = 0,0004) e direito de 4000 Hz (p = 0,0174). Além disso, a
recuperação de estímulo direito de 500 Hz com olhos abertos foi estatisticamente menor
do que a recuperação de estímulo esquerdo de 500 Hz com olhos fechados (p = 0,0285).
Os resultados (sintetizados na Tabela 3) encontrados para as variáveis
velocidade média, freqüência média e desvio padrão (tanto lateral quanto ântero-
posterior) não contribuíram na identificação de mudanças posturais em situações de
estimulação sonora.
Para observar melhor o comportamento de cada variável estabilométrica nas
várias condições de teste, foram gerados gráficos do tipo Box plots para todas as
variáveis nas quatro seqüências separadamente (ver Apêndice E) ou incluindo todos os
dados juntos. As Figuras 11 e 12 apresentam as variáveis estabilométricas Posição
Média do Centro de Pressão para a seqüência 4 e a Velocidade Média de Oscilação para
todos os dados. Observa-se que não há informações claras que possam ser extraídas
através de uma análise visual a respeito de diferenças entre as condições ou tendências,
o que ocorreu para todas as variáveis.
Posição Média do Centro de Pressão em y
Seqüência 4
mm
-40
-30
-20
-10
0
10
20
30
OFCF
OF4000D
ROF4000D
OF4000E
ROF4000E
OF500D
ROF500D
OF500E
ROF500E
OACF
OA4000E
ROA4000E
OA4000D
ROA4000D
OA500E
ROA500E
OA500D
ROA500D
OASF
OFSF
Máx não-outlier
Mín não-otlier
75%
25%
Mediana
Figura 11 Box Plot da Posição Média do Centro de Pressão para os
voluntários da Seqüência 4. Os valores estão apresentados em mínimo
(desconsiderando outlier), primeiro quartil (25%), mediana, terceiro quartil (75%) e
máximo (desconsiderando outlier). As siglas estão explicadas na Tabela 3.
33
Tabela 3 Diferenças estatisticamente significantes do Experimento 1
Variável
Diferença entre: Valor de p
Área
Nenhuma --x--
Posição Média (x)
Nenhuma --x--
Posição Média (y)
Nenhuma --x--
OA4000D e OFSEM EST 0,049
Desvio Padrão (x)
OA4000D e OF4000E 0,044
OA4000D e OFSEM EST 0,0003
OA4000D e OF500E 0,0152
OA4000D e ROF4000D 0,0258
Desvio Padrão (y)
OFSEMEST e OA4000E 0,049
OF500E e OASEMEST 0,0164
OF500E e OA4000D 0,0083
OF500E e OA4000E 0,0205
OF500E e ROA500E 0,037
OF500E e ROA4000E 0,0077
Velocidade Média (x)
OR500E e ROA4000D 0,0075
OASEMEST e OFSEMEST 0,0005
Velocidade Média (y)
OASEMEST e Qualquer
condição de privação visual
p<0,05
OFSEMEST e OA4000E 0,039
OFSEMEST e ROA500D 0,016
OFSEMEST e ROA4000D 0,014
Freqüência Média (x)
OFSEMEST e ROA4000E 0,021
OASEMEST e OF4000E 0,0027
OASEMEST e ROF500E 0,0004
OASEMEST e ROF4000D 0,0174
Freqüência Média (y)
ROA500D e ROF500E 0,0285
? Os valores sublinhados são os estatisticamente maiores.
? Siglas: caso venha um R na frente, é momento de recuperaç
ão; em
seguida vem a condição visual (OA - olhos abertos ou OF -
olhos
fechados); o número é a freqüência de estimulação (500 Hz ou 4000
Hz);
e a última letra é o lado da fonte sonora (E - esquerda ou D - direita).
34
Velocidade Média do Centro de Pressão em y
nas Várias Condições Experimentais
mm/s
3
5
7
9
11
13
OASF
OFSF
OACF
OA500D
ROA500D
OA500E
ROA500E
OA4000D
ROA4000D
OA4000E
ROA4000E
OFCF
OF500E
ROF500E
OF500D
ROF500D
OF4000E
ROF4000E
OF4000D
ROF4000D
Máx não-outlier
Mín não-outlier
75%
25%
Mediana
Figura 12 Box Plot da Velocidade Média Antero-Posterior incluindo todos os
dados coletados. Os valores estão apresentados em mínimo (desconsiderando outlier),
primeiro quartil (25%), mediana, terceiro quartil (75%) e máximo (desconsiderando
outlier). As siglas estão explicadas no último gráfico. Observar a diferença entre os
valores de olhos abertos e olhos fechados.
Como as variáveis estabilométricas não apresentaram resultados claros (quer
pelos valores objetivos, quer pelos gráficos), os sinais do centro de pressão foram
analisados visualmente de diversas formas, considerando cada seqüência
separadamente.
A primeira análise foi feita observando os sinais do deslocamento do Centro de
Pressão de todos os voluntários por seqüência em todas as condições de teste. Para o
deslocamento ântero-posterior e lateral não foram identificadas nenhum padrão
modificado na presença do som. A Figura 13 exemplifica esse rastreamento visual dos
sinais, apresentando dois gráficos: o deslocamento lateral sem estimulação (à esquerda)
e o outro com estimulação direita com 4000 Hz na seqüência 2 (à direita). Observa-se
que os sinais no momento de estimulação não apresentaram nenhum tendência coletiva.
35
0 5 10 15 20 25 30
-6
-5
-4
-3
-2
-1
0
1
2
3
4
0 5 10 15 20 25 30
-4
-3
-2
-1
0
1
2
3
4
OASEMEST OA4000D
Tempo (segundos) Tempo (segundos)
Figura 13: Deslocamento Látero-Lateral do Centro de Pressão de todos os
indivíduos submetidos à Seqüência 2. Gráficos da esquerda: olhos abertos sem
estimulação; Gráficos da direita: com estimulação direita de 4000 Hz.
A segunda análise do sinal bruto apresenta uma média dos voluntários para cada
condição do deslocamento do Centro de Pressão em cada seqüência, colocando todas as
condições no mesmo gráfico para visualizar a evolução do comportamento do Centro de
Pressão nos eixos lateral e ântero-posterior. A Figura 14 apresenta essa média nos
voluntários que se submeteram à Seqüência 2, exemplificando o que foi realizado para
todas as seqüências. Não foram encontrados padrões consistentes no deslocamento do
Centro de Pressão após uma estimulação sonora, para qualquer seqüência.
Deslocamento (mm
)
Desloc
amento (mm)
36
Figura 14 Média do Deslocamento do Centro de Pressão lateral (superior) e
ântero-posterior (inferior) dos Voluntários da Seqüência 2. As marcações (linhas
verticais pretas) delimitam as condições experimentais.
Foram aplicados filtros Butterworth passa baixas, passa altas e passa banda de
segunda ordem nos sinais. Como as principais informações de um sinal estabilométrico
se encontram em freqüências até 0,5 Hz (Gagey e Weber, 2000), primeiramente foi
escolhido um filtro passa baixas com freqüência de corte justamente em 0,5 Hz.
Observando os sinais, foi verificada uma componente lenta nítida, que revelava uma
oscilação constante, não relacionada à estimulação. Por isso, em seguida, foi sugerido
um filtro passa banda, passando freqüências maiores do que 0,05 Hz e menores que 0,5
Hz. O novo sinal filtrado se encontra na Figura 15, para a mesma seqüência 2.
0
50 100
150 200
250 300 350 400
-12
-10
-8
-6
-4
-2
0
Deslocamento medio-lateral
0
50 100
150 200
250 300 350 400
-4
-2
0
2
4
6
Deslocamento ântero-posterior
Tempo (segundos)
SEQUENCIA 2 -
Média do Grupo em Tempo Corrido
Deslocamento (mm)
Deslocamento (mm)
37
Figura 15: Média dos Deslocamentos do Centro de Pressão filtrados (passa-
banda 0,05 Hz a 0,5 Hz) lateral (superior) e ântero-posterior (inferior) dos Voluntários
da Seqüência 2. As marcações (linhas verticais pretas) delimitam as condições
experimentais.
A velocidade instantânea foi calculada para todo o período de teste com o intuito
de observar se esta variável sofria modificações com as diversas condições do
experimento, separadamente para cada seqüência. A Figura 16 apresenta a velocidade
instantânea dos sujeitos da seqüência 2 (média), exemplificando o que foi feito para as
demais seqüências. Nessa seqüência, em especial, observa-se claramente o efeito da
visão na velocidade de oscilação no eixo ântero-posterior: o sinal apresenta velocidade
num nível menor nas primeiras condições, justamente as de olhos abertos, enquanto nas
de olhos fechados, a velocidade se eleva a um nível maior e se estabiliza nele até que as
condições nessa condição visual se acabem (ver gráfico inferior da Figura 16).
0
50
100
150
200
250
300
350
-3
-2
-1
0
1
2
3
Média do deslocamento lateral com filtro PBb(0,05-
0,5)
0
50
100
150
200
250
300
350
-4
-2
0
2
4
Média do deslocamento ântero-posterior com filtro PBb(0,05-0,5
Tempo (segundos)
Deslocamento (mm) Deslocamento (mm)
38
Figura 16 Média das Velocidades de Oscilação Instantâneas dos Voluntários
submetidos à seqüência 2 (essa análise foi feita também para as outras seqüências mas
não está apresentado nessa dissertação). As marcações (linhas verticais pretas)
delimitam as condições experimentais.
IV.2. Experimento 2
Os dados de 30 voluntários também foram analisados nas nove variáveis
estabilométricas, sendo que para posição média do centro de pressão em x e em y o
cálculo se deu de forma diferente. Foi calculado o deslocamento médio, dado pela
diferença entre valores de posição média de duas condições. Primeiramente serão
expostos os resultados das sete variáveis calculadas da mesma forma que para o
experimento 1 e, em seguida, os resultados do deslocamento médio. Em cada variável
foram excluídos os valores considerados outliers: aqueles que eram maiores do que
[Terceiro Quartil + (1,5 vezes o intervalo interquartil)] ou menores do que [Primeiro
Quartil - (1,5 vezes o intervalo interquartil)]. A Tabela 4 apresenta um resumo das
mm/smm/s
0
50 100 150 200 250
300
350
400
0
2
4
6
8
10
Velocidade lateral
0
50 100
150
200
250 300 350 400
0
2
4
6
8
10
12
Velocidade ântero-posterior
SEQUENCIA 2
Tempo (segundos)
Velocidade (mm/s)
Velocidade (mm/s)
39
diferenças estatisticamente significativas do experimento 2 para as 7 variáveis
estabilométricas estudadas de forma idêntica às do experimento 1.
Tabela 4 Diferenças estatisticamente significativas do Experimento 2
Variável Diferença entre: Valor de p
OASEMEST e ROFCLIE 0,0239
OASEMEST e ROFBUE 0,0011
OACLID e ROFCLIE 0,0167
OACLID e ROFBUE 0,0007
ROACLID e ROFCLIE 0,0089
ROACLID e ROFBUE 0,0003
OACLIE e OFCLID 0,0303
OACLIE e ROFCLID 0,0288
OACLIE e ROFCLIE 0,00003
OACLIE e ROFBUD 0,0027
OACLIE e ROFBUE 0,00003
ROACLIE e ROFCLIE 0,0269
ROACLIE e ROFBUE 0,0013
ROFCLIE e ROABUE 0,0005
ROFBUE e OABUD 0,0405
ROFBUE e ROABUD 0,0093
ROFBUE e OABUE 0,0088
Área (n=22 sem outliers)
ROFBUE e ROABUE 0,00004
ROFBUE e OASEMEST 0,0025
ROFBUE e OACLID 0,0289
ROFBUE e ROACLID 0,0409
ROFBUE e OACLIE 0,0002
ROFBUE e ROACLIE 0,0013
Desvio Padrão (x)
(n=25 sem outliers)
ROFBUE e ROABUE 0,0012
OACLID e ROFCLIE 0,0049
OACLID e ROFBUD 0,0383
OACLID e ROFBUE 0,0014
ROACLID e ROFCLIE 0,0205
ROACLID e ROFBUE 0,0069
OACLIE e ROFCLID 0,04
OACLIE e ROFCLIE 0,0009
OACLIE e ROFBUD 0,0093
OACLIE e ROFBUE 0,0002
ROFCLIE e ROABUE 0,0082
Desvio Padrão (y)
(n=21 sem outliers)
ROABUE e ROFBUE 0,0025
40
Tabela 4 Diferenças estatisticamente significativas do Experimento 2 (Continuação)
OASEMEST e OFSEMEST 0,0297
OASEMEST e ROFBUD 0,0497
OASEMEST e ROFBUE 0,0016
OACLID e ROFBUE 0,0055
ROACLID e OFSEMEST 0,0319
ROACLID e ROFBUE 0,0018
OACLIE e OFSEMEST 0,0101
OACLIE e ROFBUD 0,0179
OACLIE e OFBUE 0,0188
OACLIE e ROFBUE 0,0004
ROACLIE e OFSEMEST 0,0093
ROACLIE e ROFBUD 0,0166
ROACLIE e OFBUE 0,0174
ROACLIE e ROFBUE 0,0004
OFSEMEST e ROABUDI 0,0086
OFSEMEST e ROABUES 0,0008
ROABUD e ROFBUD 0,0155
ROABUD e OFBUE 0,0162
ROABUD e ROFBUE 0,0004
OABUE e ROFBUE 0,0226
ROABUE e OFBUD 0,0244
ROABUE e ROFBUD 0,0016
ROABUE e OFBUE 0,0017
Velocidade Média (x)
(n=23 sem outliers)
ROABUE e ROFBUE 0,00005
OASEMEST e OFCLID 0,0266
OASEMEST e OFBUD 0,00009
OASEMEST e ROFBUD 0,0007
OASEMEST e OFBUE 0,0242
OASEMEST e ROFBUE 0,00004
OACLID e OFCLID 0,0062
OACLID e OFCLIE 0,0205
OACLID e OFBUD 0,00004
OACLID e ROFBUD 0,0001
OACLID e OFBUE 0,0056
OACLID e ROFBUE 0,00003
ROACLID e OFCLID 0,0285
ROACLID e OFBUD 0,0001
ROACLID e ROFBUD 0,0007
ROACLID e OFBUE 0,0258
ROACLID e ROFBUE 0,00004
OACLIE e OFCLID 0,0166
Velocidade Média (y)
(n=22 sem outliers)
OACLIE e OFCLIE 0,0491
41
Tabela 4 Diferenças estatisticamente significativas do Experimento 2 (Continuação)
OACLIE e OFBUD 0,00007
OACLIE e ROFBUD 0,0004
OACLIE e OFBUE 0,015
OACLIE e ROFBUE 0,00004
ROACLIE e OFBUD 0,0029
ROACLIE e ROFBUD 0,0182
ROACLIE e ROFBUE 0,0007
OFCLID e ROABUD 0,0359
OABUD e OFBUD 0,0009
OABUD e ROFBUD 0,0065
OABUD e ROFBUE 0,0002
ROABUD e OFBUD 0,0001
ROABUD e ROFBUD 0,001
ROABUD e OFBUE 0,0327
ROABUD e ROFBUE 0,00005
OABUE e OFBUD 0,0066
OABUE e ROFBUD 0,0357
OABUE e ROFBUE 0,0016
ROABUE e OFBUD 0,0006
ROABUE e ROFBUD 0,0042
Velocidade Média (y)
(n=22 sem outliers)
ROABUE e ROFBUE 0,0001
Freqüência Média (x)
Nenhuma
Freqüência Média (y)
Nenhuma
? Os valores sublinhados são os estatisticamente maiores.
? Siglas: caso venha um R na frente, é momento de recuperação; em seguida
vem a condição visual (OA - olhos abertos ou OF - olhos fechados); o tipo de
estímulo é identificado pelas primeiras letras: burst (BU) e clique (CLI); e a
última letra é o lado da fonte sonora (E - esquerda ou D - direita).
Área de Oscilação
A condição de estimulação direita com clique e olhos abertos foi
estatisticamente menor do que duas condições: a mesma forma de estimulação, mas
com olhos fechados (p = 0,0303), e a recuperação dessa última condição (p = 0,0288).
As condições com olhos fechados de recuperação de clique esquerdo e burst esquerdo
apresentaram área muito maior do que várias condições sem privação visual (Tabela 4).
Desvio Padrão Lateral (Dpx)
Para essa variável, a recuperação da estimulação com burst esquerdo e olhos
fechados foi maior do que seis condições com olhos abertos, incluindo uma com a
mesma especificação de estímulo, mas sem privação visual (p = 0,0012) (Tabela 4).
42
Desvio Padrão Ântero-Posterior
do Centro de Pressão
mm
0,5
1,5
2,5
3,5
4,5
5,5
OASEMEST
OACLIDI
ROACLIDI
OACLIES
ROACLIES
OFSEMEST
OFCLIDI
ROFCLIDI
OFCLIES
ROFCLIES
OABUDI
ROABUDI
OABUES
ROABUES
OFBUDI
ROFBUDI
OFBUES
ROFBUES
Max
Min
75%
25%
Mediana
Desvio Padrão Antero-Posterior (Dpy)
A recuperação da estimulação com burst esquerdo e olhos fechados foi maior do
que outras quatro condições com olhos abertos, incluindo (como em Dpx) uma com a
mesma especificação de estímulo, mas com olhos abertos (p = 0,0025). Outras
diferenças foram encontradas entre condições com e sem privação visual (Tabela 4).
Como exemplo, tem-se a comparação entre a estimulação direita com clique e olhos
abertos e a recuperação da estimulação direita com burst e olhos fechados (p = 0,0014).
Através da análise do boxplot para essa variável, pode-se observar que houve
uma tendência para valores de Dpy sempre maiores nas fases de recuperação de uma
determinada estimulação, apresentada na Figura 17 pelas setas. As setas vazias
representam as diferenças menos evidentes, enquanto que as setas preenchidas, as mais
evidentes.Todas essas diferenças apontadas não são significativas (todas com p > 0,89).
Figura 17 Box Plot do Desvio Padrão Antero-Posterior do Centro de Pressão.
Os valores estão apresentados em mínimo (desconsiderando outlier), primeiro quartil
(25%), mediana, terceiro quartil (75%) e máximo (desconsiderando outlier). As siglas
estão explicadas na Tabela 4. Observar que os valores tendem a aumentar sempre após
o término de uma estimulação, destacado nesse gráfico pelas setas. Setas vazias
diferenças menos evidentes; setas preenchidas diferenças mais evidentes. É
importante ressaltar que nenhuma dessas diferenças apontadas é significativa, apenas
uma tendência através da análise visual.
43
Velocidade Média Lateral (Velmedx)
A diferença esperada entre as condições com olhos abertos e olhos fechados sem
estimulação foi confirmada nesse experimento (p = 0,0297). A condição sem
estimulação com olhos fechados foi estatisticamente maior do que várias com olhos
abertos, incluindo a estimulação esquerda com clique (p = 0,0101). Na Tabela 4 estão
descritas todas as diferenças estatisticamente encontradas para Velocidade Média
Lateral.
Velocidade Média antero-Posterior (Velmedy)
Um total de 39 diferenças foram encontradas para a velocidade média antero-
posterior nas várias comparações que podiam ser feitas entre as condições (todas
evidenciadas na Tabela 4). Entre elas, três mostram, novamente, a influência do sistema
visual na variável em questão, com valores maiores sempre em situações de privação
visual para um mesmo tipo e lado de estimulação: estimulação direita com clique (p =
0,0062), estimulação direita com burst (p = 0,0009) e estimulação esquerda com clique
(p = 0,0491).
Além disso, pode-se observar através da Figura 18, que em todas as condições
com olhos fechados há valores perceptivelmente aumentados de velocidade (ilustrado
no gráfico pela marcação OF), comparados com os de condições de olhos abertos
(demarcadas por OA).
44
Velocidade Média Ântero-Posterior
do Centro de Pressão
mm/s
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
OASEMEST
OACLIDI
ROACLIDI
OACLIES
ROACLIES
OFSEMEST
OFCLIDI
ROFCLIDI
OFCLIES
ROFCLIES
OABUDI
ROABUDI
OABUES
ROABUES
OFBUDI
ROFBUDI
OFBUES
ROFBUES
Max
Min
75%
25%
Mediana
OA
OA
OF
OF
Figura 18 Boxplot da Velocidade Média Antero-Posterior do Centro de Pressão. Os
valores estão apresentados em mínimo (desconsiderando outlier), primeiro quartil
(25%), mediana, terceiro quartil (75%) e máximo (desconsiderando outlier). As siglas
estão explicadas na Tabela 4. Observar a diferença visual (confirmada
estatisticamente) entre condições de olhos abertos e fechados. As barras com a sigla
OA demarcam as condições de olhos abertos, as quais possuem menores valores de
velocidade. As barras com a sigla OF demarcam as condições de olhos fechados, que
possuem valores maiores.
Freqüência Média Lateral e Freqüência Média Ântero-Posterior (Freqmedx e
Freqmedy)
Nenhuma diferença estatística foi encontrada para essas duas variáveis.
Para a verificação das próximas duas variáveis foi realizado um cálculo simples
da diferença entre as médias de dois sinais de centro de pressão em condições
experimentais diferentes.
45
Deslocamento Lateral Médio (Deslxmed)
Os valores absolutos do deslocamento lateral médio estão expostos na Tabela 5.
Tabela 5 - Deslocamento Lateral Médio do Centro de Pressão
Clique olhos abertos Clique olhos fechados
DESL
1-2
DESL
2-3
DESL
1-4
DESL
4-5
DESL
6-7
DESL
7-8
DESL
6-9
DESL
9-10
1,86 -0,50 -0,66 1,55 1,38 -0,27 0,07 -0,15
Burst olhos abertos Burst olhos fechados
DESL
1-11
DESL
11-12
DESL
1-13
DESL
13-14
DESL
6-15
DESL
15-16
DESL
6-17
DESL
17-18
1,50 -2,45 2,16 -1,04 -0,52 -0,12 -0,70 -0,12
* Os números dos deslocamentos se referem às condições experimentais, na ordem
proposta nos gráficos anteriores. Assim, DESL 6-15, por exemplo, significa
deslocamento entre a condição de olhos fechados sem estímulo e estimulação direita
tipo burst com olhos abertos.
* O sinal positivo significa um deslocamento para a direita, enquanto que um sinal
negativo, para esquerda.
Nas condições de olhos abertos que envolviam estímulos com clique, os valores
do deslocamento revelaram um comportamento repetitivo: no momento do estímulo
sonoro, o deslocamento ocorreu para o lado do som, enquanto que quando ele foi
extinto, houve um deslocamento de retorno, isto é, contralateralmente ao som. Esse fato
pode ser observado no gráfico da Figura 19. Quando foi dado o estímulo direito com
clique e olhos abertos, houve um deslocamento para a direita de 1,86 mm (DESL 1-2).
Para a condição na qual não havia mais o som (3), a posição média foi deslocada para a
esquerda (como um retorno à perturbação anterior) (DESL 2-3: -0,50 mm). O mesmo
tipo de estímulo, mas para o lado esquerdo, proporcionou um deslocamento de 0,66 mm
(DESL 1-4) e, como no estímulo direito, ao se encerrar levou a um deslocamento
contralateral (para direita) de 1,55 mm (DESL 4-5).
46
Deslocamento Lateral Médio
Estímulos com Clique e Olhos Abertos
0
1,86
-0,50
-0,66
1,55
-1
-0,5
0
0,5
1
1,5
2
ZERO DESL 1-2 DESL 2-3 DESL 1-4 DESL 4-5
mm
Figura 19 Gráfico do Deslocamento Lateral Médio nas condições envolvendo
estimulação com clique e olhos abertos. Observar o deslocamento positivo (direita)
entre condições sem estímulo e com estímulo direito (DESL 1-2: 1,86 mm); e o
deslocamento negativo (esquerda) entre condições sem estímulo e com estímulo
esquerdo (DESL 1-4: -0,66).
Estímulos com clique e olhos fechados não geraram comportamentos no
deslocamento lateral médio exatamente iguais aos de olhos abertos. Com o estímulo
direito, também houve uma movimentação do centro de pressão para a direita (DESL 6-
7: 1,38 mm), com o retorno em seguida (DESL 7-8: -0,27 mm). Entretanto, os valores
para as respostas ao som vindo do lado esquerdo foram opostas àquelas que surgiram
com olhos abertos (DESL 6-9: 0,07 mm e DES 9-10: -0,15 mm). Os valores estão
apresentados em forma de gráfico na Figura 20.
47
Deslocamento Lateral Médio
Estímulos com Clique e Olhos Fechados
0
1,38
-0,27
0,07
-0,15
-0,4
-0,2
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
1,4
1,6
ZERO DESL 6-7 DESL 7-8 DESL 6-9 DESL 9-10
mm
Figura 20 - Gráfico do Deslocamento Lateral Médio nas condições envolvendo
estimulação com clique e olhos fechados. Observar o deslocamento positivo (direita)
entre condições sem estímulo e com estímulo direito (DESL 6-7: 1,38 mm); e o
deslocamento também positivo entre condições sem estímulo e com estímulo esquerdo
(DESL 6-9: 0,07 mm).
É importante enfatizar que não houve diferença estatística em nenhuma dessas
condições, sempre com p > 0,80.
Deslocamento Médio Antero-Posterior (Deslymed)
O deslocamento médio no eixo ântero-posterior não apresentou um
comportamento aproximadamente padrão para as formas de estimulação (ver tabela 6).
Tabela 6 - Deslocamento Ântero-Posterior Médio do Centro de Pressão
Clique olhos abertos Clique olhos fechados
DESL
1-2
DESL
2-3
DESL
1-4
DESL
4-5
DESL
6-7
DESL
7-8
DESL
6-9
DESL
9-10
0,06 -0,56 -0,51 -1,11 -0,88 -0,65 0,06 -1,51
Burst olhos abertos Burst olhos fechados
DESL 1-
11
DESL
11-12
DESL 1-
13
DESL
13-14
DESL 6-
15
DESL
15-16
DESL 6-
17
DESL
17-18
-0,62 0,61 -1,02 0,94 0,69 0,22 0,78 -0,25
* Os números dos deslocamentos se referem às condições experimentais, na ordem
proposta nos gráficos anteriores. Assim, DESL 17-18, por exemplo, significa
deslocamento entre a condição de olhos fechados com estímulo esquerdo tipo burst
e a condição de recuperação desse mesmo estímulo.
* O sinal positivo significa um deslocamento para a direita, enquanto que um sinal
negativo, para esquerda.
48
Para clique com olhos abertos, a variável em questão revelou um deslocamento
para frente no momento da estimulação direita (DESL 1-2: 0,06 mm), com uma
movimentação para trás na fase de recuperação (DESL 2-3: -0,56 mm). No período de
estímulo esquerdo o valor também foi negativo, mostrando um deslocamento
novamente para trás (DESL 1-4: -1,11 mm). Entretanto, a recuperação dessa última
estimulação também ocorreu trás (DESL 4-5: -1,11 mm). A Figura 21 apresenta
graficamente esses dados.
Deslocamento Ântero-Posterior Médio
Estímulos com Clique e Olhos Abertos
0
0,06
-0,56
-0,51
-1,11
-1,2
-1
-0,8
-0,6
-0,4
-0,2
0
0,2
ZERO DESL 1-2 DESL 2-3 DESL 1-4 DESL 4-5
mm
Figura 21 - Gráfico do Deslocamento Ântero-Posterior Médio nas condições
envolvendo estimulação com clique e olhos abertos. Observar o deslocamento positivo
(frente) entre condições sem estímulo e com estímulo direito (DESL 1-2: 0,06 mm); o
deslocamento negativo (trás) entre condições sem estímulo e com estímulo esquerdo
(DESL 1-4: -0,51mm); e o deslocamento também para trás na diferença entre a posição
média da condição 4 e da 5 (DESL 4-5: -1,11 mm).
Novamente, nenhuma condição foi estatisticamente diferente de zero, sempre
com valores de p > 0,90.
49
Limiares Auditivos
Os limiares auditivos médios da amostra para cada orelha e tipo de estimulação
estão na Tabela 7 (os valores estão apresentados como média + desvio padrão). O
sistema para exames de potencial evocado auditivo utilizado para gerar os sons clique e
burst do experimento 2 apresenta os cliques em decibéis nível de pressão sonora (NPS)
e os bursts em decibéis nível de audição (NA). Esse é um dos motivos para maiores
valores nos limiares de clique, posto que 0dB NA significa aproximadamente 45 dB
NPS (Colebatch et al, 1994; Welgampola e Colebatch, 2001).
Tabela 7 - Limiares Auditivos
Experimento 1 (n=36) Experimento 2 (n=30)
Tipo Som
Orelha
Direita*
Orelha
Esquerda*
Tipo
Som
Orelha
Direita*
Orelha
Esquerda*
Tom Puro
500 Hz
27,1 + 6,1
dB
27,3 + 6,6
dB
Clique
42,3 + 4,3
dB 45,3 + 5,7 dB
Tom Puro
4000 Hz
9,3 + 10,2
dB
11,0 + 9,8
dB
Burst
500 Hz
28,8 + 4,3
dB
32,8 + 11,9
dB
* Os valores estão apresentados como média + desvio padrão. Tons Puros e Burst 500
Hz expressos em decibéis nível de audição. Clique expresso em decibéis nível de
pressão sonora.
50
CAPÍTULO V
DISCUSSÃO
As análises realizadas nesse estudo, tanto para o sinal em si do deslocamento do
Centro de Pressão, quanto para as variáveis estabilométricas calculadas a partir do sinal,
não apresentaram diferenças significativas entre períodos sem estímulo e qualquer
estimulação auditiva, para uma mesma condição visual.
No experimento 1, o tipo do estímulo sonoro era tom puro em duas freqüências:
500 Hz (mais grave) e 4000 Hz (mais aguda). Raper e Soames (1991) também
utilizaram tons puros (250 Hz) em seu estudo observando oscilações posturais. As
fontes de som eram auto-falantes posicionados a 50 cm do voluntário e todas as
condições de estimulação geraram maiores oscilações do que o período de silêncio.
Além deles, outros grupos de pesquisadores utilizaram auto-falantes como fonte
do estímulo em avaliações estabilométricas. Skellari e Soames (1996) realizaram uma
pesquisa submetendo os voluntários a vários tipos de estimulação auditiva (em
freqüência e intensidade) e puderam observar que no eixo antero-posterior os estímulos
com freqüência entre 2.320 e 3.700 Hz (independente da intensidade) provocaram
maiores oscilações. Já para oscilações no eixo lateral, apenas o aumento na intensidade
gerou oscilações maiores. Nem mesmo a privação visual influenciou as oscilações
laterais. No experimento 1 do presente estudo também foi observado uma diferença
entre olhos abertos e olhos fechados na variável velocidade média no eixo antero-
posterior, mas não no lateral (Figura 12), o que pode ter se devido, em parte, ao tipo de
base adotada no momento do teste (pés afastados).
A similaridade na não ocorrência da diferença em x entre condições de olhos
abertos e olhos fechados não se estendeu nas alterações no deslocamento do centro de
pressão encontradas pelos autores citados anteriormente após estímulos com intensidade
elevada. Um motivo, dentre outros que serão descritos posteriormente, é a intensidade
não tão alta empregada no presente experimento.
Esses e os demais estudos que apresentam respostas nas variáveis
estabilométricas após estimulação sonora encontrados na literatura (Easton et al, 1998;
Soames e Raper, 1992) não realizaram o experimento com fone de ouvido e sim com
caixas de som posicionadas ao lado dos voluntários. Assim, as modificações posturais
desses estudos podem ter acontecido, possivelmente, em conseqüência do
51
processamento central da localização do som que ocorre através da diferenciação
temporal e de intensidade do estímulo percebido nas duas orelhas ou por um desvio de
atenção.
Tanaka et al (2001) observaram o equilíbrio postural em condições de estímulo
auditivo móvel e não verificaram nenhuma diferença significativa entre condições com
e sem estímulo auditivo, para um mesmo tipo de superfície de suporte. Como no
presente estudo, foram utilizados fones de ouvido. Uma possível causa das maiores
oscilações em condições de estimulação sonora em testes com auto-falantes é a
influência mecânica que uma onda sonora amplificada (com alta potência) pode exercer
diretamente no corpo dos participantes.
No intuito de melhor interpretar os sinais, algumas intervenções foram feitas,
como os filtros (explicados na sessão de resultados) e o cálculo da velocidade
instantânea. Mesmo filtrados, os sinais não revelaram informações importantes a
respeito das diversas condições de teste, para qualquer seqüência do experimento 1. O
mesmo ocorreu com a velocidade instantânea: não houve um padrão ou tendência geral
para essa variável nos momentos de estimulação comparados aos de não estimulação
(Figura 16).
Após a realização e processamento dos sinais do experimento 1, percebeu-se a
importância de efetuar novos testes que utilizassem sons de características específicas.
O estudo mais aprofundado da origem e do caminho neural percorrido pelo VEMP
(vestibular evoked myogenic potential - potencial miogênico evocado vestibular) e do
fenômeno de Tullio auxiliou na determinação de uma nova metodologia de teste.
Watson et al (2000) definem o fenômeno de Tullio como uma síndrome na qual
a estimulação acústica produz sintomas e sinais de ativação vestibular, independente de
qual parte do aparelho vestibular está sendo estimulada (sáculo, utrículo ou canais
semicirculares), geralmente pela presença de uma fístula na cóclea. Fries et al (1993)
realizam um estudo de caso no qual a presença desses sinais e sintomas (por exemplo,
vertigem, desequilíbrio postural) não acontece para qualquer estimulação sonora, mas
sim para uma freqüência específica (no paciente em questão, 490 Hz e 95 dB nível de
audição na orelha esquerda provocou uma oscilação corporal em diagonal registrada
pelo estabilômetro: para frente e para a esquerda, para trás e para a direita). Ambos os
grupos de autores utilizam estimulação intermitente: Fries et al (1993) com tons puros e
taxa de repetição de 0,1 até 0,2 Hz e Watson et al (2000) com cliques (taxa de repetição
não explicitada no artigo).
52
Os estudo com VEMP, já relatados na revisão bibliográfica, em conjunto com os
dados de Harris (1972) (publicou que a energia acústica tinha um efeito nos receptores
vestibulares e que a taxa de intermitência deve ser uma variável importante para
estimular o sistema vestibular) justificaram (junto aos estudos do fenômeno de Tullio) a
aplicação de uma segunda bateria de testes (experimento 2) com cliques e bursts:
estímulos sonoros intermitentes utilizados na estimulação vestibular em pacientes do
fenômeno de Tullio e nos exames de VEMP.
No experimento 2, a variável Dpx se mostrou bastante sensível à privação
visual, apresentando diferenças entre algumas condições de olhos abertos e olhos
fechados. Esse resultado certifica a importância dessa variável estabilométrica na
avaliação da estabilidade corporal. Imbiriba et al (2002) ratificam a validade do desvio
padrão lateral por também terem observado as alterações na estabilidade corporal
através das diferenças encontradas nessa variável.
O desvio padrão em y revelou uma tendência visual (não confirmada
estatisticamente) apresentada na Figura 17. Todas as médias das condições de
recuperação de um estímulo (período de 30 s após o término da estimulação) eram
maiores visualmente do que o período de estimulação em si. O trabalho de Easton et al
(1998) apresentou, da mesma forma, menores oscilações nas condições de exposição ao
som. Entretanto é importante lembrar a diferença na fonte sonora (fone de ouvido x
auto-falante).
Ao contrário do experimento 1, o experimento 2 apresentou diferença
significativa entre olhos fechados e olhos abertos (ambos sem estimulação) para a
velocidade média lateral. A velocidade ântero-posterior revelou (Figura 18) diferenças
bem demarcadas entre essas duas condições visuais.
Uma confirmação da importância da privação visual para a velocidade média é a
diferença encontrada entre a condição sem estimulação e olhos fechados e a estimulação
esquerda com clique e olhos abertos. A diferença entre olhos abertos e olhos fechados
sem estimulação já é conhecida na literatura, mas esse dado vem confirmar que estar de
olhos fechados é um fator mais desestabilizador do que a apresentação sonora com
clique de olhos abertos dos lados esquerdo e direito. Para o lado direito, não houve uma
diferença significativa, mas sim uma tendência com a probabilidade bastante próxima
do valor crítico: 0,0751.
Os resultados da variável velocidade média levando em consideração o estado
visual concordam com os demais dados da literatura (Gandra et al, 2003; Le Clair e
53
Riach, 1996; Nardone et al, 1997 e 1998; Schieppati et al, 1999; Tarantola et al, 1997;
Vuillerme et al, 2001). Observando a Tabela 4, muitas foram as diferenças
estatisticamente encontradas. Todavia, nenhuma diferença relatada para a variável área
de oscilação, Dpx, Dpy, Velmedx e Velmedy revelou informações coerentes com a
proposta do trabalho.
Das duas últimas variáveis estabilométricas calculadas nesse trabalho
(deslocamento lateral médio e deslocamento antero-posterior médio), os valores de
Deslxmed apresentaram graficamente (e não estatisticamente), para certos tipos de
estimulação e condição visual, tendência de deslocamento no sentido da fonte sonora.
Esses resultados podem ser observados nas Figuras 19 e 20.
A Figura 19 (exposição dos resultados para deslocamento lateral médio, olhos
abertos e clique como estímulo sonoro) apresenta um deslocamento para a direita na
condição de estimulação para esse lado. Quando o estímulo cessa, há um deslocamento
no sentido oposto, como se o estímulo anterior estivesse deixando de exercer sua
influência. No período de estímulo do lado esquerdo, o deslocamento da amostra ocorre
também para esse lado. Ao seu término, um deslocamento para o lado oposto acontece
(novamente como se o estímulo não estivesse mais exercendo a influência de atração do
centro de pressão).
A Figura 20, que contém os resultados gráficos do deslocamento lateral médio,
olhos fechados e clique como estímulo sonoro, não expõe o mesmo padrão visual de
percurso do centro de pressão da figura anterior. Apenas o estímulo direito e sua
recuperação obteve deslocamento no sentido do estímulo com movimentação do centro
de pressão no sentido oposto para o momento de recuperação. Para clique esquerdo e
sua recuperação não se observou esse mesmo padrão.
Essas tendências se comportam de forma semelhante aos resultados de Raper e
Soames (1991), os quais apresentaram uma movimentação do centro de pressão dos
voluntários no sentido da fonte sonora.
Com potencial miogênico evocado vestibular (VEMP) também ocorre da mesma
forma. Como já foi dito anteriormente, a musculatura de esternocleidomastóideo (a mais
usada para a aferição do potencial miogênico após estimulações auditivas) ipsilateral ao
estímulo sonoro apresenta potenciais de maiores amplitudes após a apresentação do
clique ou do burst. Dentro dessa teoria do reflexo vestíbulo-cólico, Wu e Murofushi
(1999) sugeriram que o caminho neural do VEMP é oligosináptico. O som ativa os
neuroreceptores do sáculo, que conduz o estímulo através das vias aferentes vestibulares
54
até os núcleos vestibulares (no tronco cerebral), que envia a informação para o núcleo
motor do músculo citado e, finalmente, através das vias eferentes, surge o potencial.
Se esse percurso pudesse ser extrapolado não apenas para os músculos do
pescoço (reguladores da posição da cabeça), mas também para aqueles mantenedores da
postura ortostática (gastrocnêmio, solear, tibial anterior, quadríceps, isquiotibiais,
eretores da espinha, dentre outros), a resposta postural esperada seria justamente no
sentido do estímulo, o que ocorreu nas análises visuais do deslocamento lateral médio
com cliques e olhos abertos.
Presmoselli et al (2001) são adeptos da hipótese de que os estímulos auditivos
podem gerar estimulação vestibular. Na discussão dos resultados de seu estudo que
investigava a síndrome de Pusher (tendência do hemiplégico de inclinar a sua postura
no sentido do lado comprometido), os autores sugerem a hipótese das aferências
auditivas tomarem parte do sistema de integração multisensorial que produz reações de
postura corporal contra a gravidade. O embasamento teórico para essa hipótese seria
que, como os caminhos neurais vestibulares e auditivos estão anatomicamente
relacionados, é possível supor que cada vez que um sistema está sobrecarregado de uma
determinada informação, o outro não funciona de maneira normal, mas sim patológica.
A classe e o tipo de receptores para os sistemas vestibular e auditivo descritas
por Kandell (2000) são os mesmos (classe de receptores: mecanoreceptores; tipo de
receptores: células ciliadas). A codificação do fenômeno e a faixa de freqüência
perceptível são diferentes. Entretanto, segundo esse mesmo autor: “Sob circunstâncias
normais, cada neurônio sensitivo é principalmente sensível a um tipo de estímulo.
Entretanto, a sensibilidade de uma fibra nervosa sensitiva a um tipo particular de
estímulo não é absoluta; se um estímulo é forte o suficiente, ele pode ativar vários tipos
de fibras nervosas”. É esse o conceito que conceberá a estimulação do sáculo através do
som. Murofushi e Curthoys (1997) acrescentam que cliques são tipos de som que ativam
os receptores do sáculo e suas aferências possivelmente porque os receptores do sáculo
estão bem próximos à platina do estribo e assim irão provavelmente ser ativados
preferencialmente pelos movimentos abruptos do estribo para dentro da janela oval.
Visualizando a estimulação do sáculo dessa forma, pode-se entender que a
freqüência que estimula o sáculo não é a freqüência do estímulo sonoro em si, mas a
taxa de repetição do clique/burst, pois esta sim está próxima às freqüências das
perturbações da cabeça (que estimulam diretamente os receptores vestibulares), que
variam entre 0,5 a 5 Hz (Leight e Zee, 1991, apud Wu e Murofushi, 1999). Wu e
55
Murofushi (1999) demonstram em seu estudo que as amplitudes dos potenciais geradas
por estímulos de 1 Hz e 5 Hz eram maiores do que as apresentadas após estímulos de 10
Hz, 15 Hz e 20 Hz. Entretanto com 10 Hz ainda eram geradas amplitudes capazes de
caracterizar o VEMP.
Os estímulos sonoros clique e burst geram respostas reflexas na musculatura de
pescoço (já comprovado através da revisão bibliográfica apresentada anteriormente) de
origem vestibular. A não observação de alterações através da estabilometria pode ter
acontecido por algumas razões:
1 - Essa resposta reflexa pode não existir nas musculaturas mantenedoras da
postura ortostática para estímulos sonoros (apenas com estímulos
genuinamente vestibulares);
2 - A intensidade dos estímulos sonoros necessária para evocar respostas na
musculatura do pescoço pode ser menor do que para gerar respostas nas
musculaturas posturais;
3 - Os estímulos sonoros utilizados podem ter gerado reflexos nas
musculaturas posturais, mas insuficientes para representar diferenças
significativas através da técnica da estabilometria;
Almejando resolver a razão 1 para a não ocorrência de alterações no centro de
pressão em testes de estabilidade com apresentação sonora, pode-se trocar a forma de
estimulação pela inserção de ar em temperaturas adequadas para gerar percepção de
rotação da cabeça (usado por otorrinolaringologistas para a avaliação da presença ou
não de patologias do sistema vestibular). Entretanto, é importante estudar a fundo esse
mecanismo e realizar bastantes testes pilotos no intuito de preservar a integridade dos
voluntários, uma vez que médicos da área alertam que o relato de sensação dos
pacientes é de muita desorientação espacial.
Outra forma de tentar gerar respostas especificamente do sistema vestibular é
através de um estímulo infra-sônico, isto é, ondas de freqüência menor do que 20 Hz
(limite inferior da audição humana). Assim, não haveria uma estimulação auditiva em si
(pois o som não seria percebido), mas apenas sonora, em faixas de freqüência
sintonizadas às freqüências dos receptores vestibulares.
Além das duas alternativas anteriores para solucionar a razão 1 exposta, uma
possibilidade é utilizar o recurso da freqüência de batimento, que é um estímulo sonoro
gerado por 2 tons puros de freqüências diferentes (mas próximas), gerando uma terceira
56
(de baixa freqüência, sendo a diferença entre as duas primeiras). Submetendo esse sinal
a um filtro passa-baixas (com freqüência de corte ligeiramente acima da freqüência da
onda gerada pelo batimento), o resultado final será apenas a onda gerada.
Na tentativa de resolver a razão 2, futuros estudos podem aperfeiçoar o
protocolo experimental, aumentando a intensidade de estimulação. Mesmo sendo a
intensidade dos estímulos do presente experimento baseada em alguns estudos de
VEMP (Murofushi e Curthoys, 1997; Sheykholeslami et al, 2001 (c); Watson e
Colebatch, 1998; Wang e Young, 2003; Wang e Young, 2004; Todd et al, 2000 e
Matsuzaki e Murofushi, 2002), um grupo de pesquisadores que muito publica a respeito
desse potencial, utilizaram em seu protocolo uma intensidade de 95 ou 100 dB (NPS
nível de pressão sonora) acima do limiar auditivo, uma vez que o limiar para
aparecimento do VEMP com cliques foi de 75 dB (NPS), também por eles testado nesse
estudo (Colebath et al, 1994). Trabalhando na mesma linha desses pesquisadores,
Murofushi et al (1996), Wu e Murofushi, (1999), Welgampola e Colebatch (2001),
Sartucci e Logi (2002) e Colebatch e Halmagyi (1992) utilizaram intensidades maiores
do que as propostas no presente experimento.
Como exemplo, pode ser citado o achado de Wang e Young (2004), que
apresentaram limiar de ativação das vias nervosas no VEMP em seres humanos na
intensidade de 85dB (NA) utilizando bursts.
A média de estimulação com bursts no presente estudo foi de 100 dB (NA
nível de audição). Considerando essa média, os estímulos bursts do presente
experimento foram inclusive mais intensos do que o limiar encontrado por Wang e
Young (2004). Entretanto, a intensidade de 70 dB (NPS) acima do limiar para os cliques
foi menor do que o limiar encontrado por Colebatch et al (1994) limiar de 75 dB
(NPS) e utilização de estímulos de 95 ou 100 dB de sensação em NPS.
A taxa de estimulação poderá ser mantida ou diminuída para resultados mais
consistentes, baseado nos experimentos de Wu e Murofushi, 1999.
O tipo de estímulo poderá ser tanto o clique quanto o burst, já que ambos geram
o potencial miogênico evocado vestibular: Todd et al (2000), Wang e Young (2003),
Wang e Young (2004), Sheykholeslami et al (2001(c)) e Sheykholeslami et al (2004)
utilizaram o burst, enquanto que Colebatch et al (1994), Matsuzake e Murofushi (2002),
Cazals et al (1983), Watson e Colebatch (1998), Sartucci e Logi (2002), Colebatch e
Halmagyi (1992) e Welgampola e Colebatch (2001) utilizaram o clique. Os
57
pesquisadores Sheykholeslami e Kaga, 2002 fizeram uso dos dois tipos de estímulo em
seus experimentos, encontrando o potencial miogênico em ambas as circunstâncias.
A base de sustentação pode interferir de maneira importante na verificação (ou
não) dos deslocamentos. Tarantola et al (1997) obtiveram resultados maiores do
deslocamento do centro de pressão quando o indivíduo se mantinha com pés unidos,
comparando com períodos com pés afastados 10 cm. Uma vez que a base escolhida para
o presente experimento foi a de pés afastados, essa conduta pode ter diminuído a
sensibilidade para deslocamentos laterais, deslocamentos esses que poderiam suscitar as
informações mais coerentes com as apresentações unilaterais dos estímulos.
Para tentar resolver a razão 3 da não ocorrência de alterações no centro de
pressão em testes com estímulos sonoros, uma forma de verificar se o estímulo está
gerando algum potencial, mesmo que sutil, na musculatura postural é acrescentar ao
protocolo experimental a mensuração da atividade muscular elétrica (eletromiografia).
Dessa forma, poder-se-á determinar se houve ou não uma ação reflexa que poderá ser
observada ou não através da estabilometria.
58
CAPÍTULO VI
CONCLUSÃO E TRABALHOS FUTUROS
Os resultados encontrados no presente experimento demonstram que não é
qualquer tipo de estímulo sonoro que irá provocar reajustes posturais significativos.
Tons puros de 500 Hz e de 4000 Hz, Cliques de 0,1 ms e taxa de repetição de 7 Hz e
Bursts de 250 ms, 500 Hz e taxa de repetição de 7 Hz, todos com intensidade de 70 dB
acima do limiar auditivo para cada tipo de estímulo, não produzem alterações no
deslocamento do centro de pressão perceptíveis estatisticamente.
Sugestões para trabalhos futuros: a) aumento da intensidade de estimulação (80 a
100 dB acima do limiar auditivo); b) posicionar os pés unidos na plataforma de força no
momento da aquisição do sinal; c) utilizar estimulação pela inserção de ar no canal
auditivo em temperaturas adequadas para gerar percepção de rotação da cabeça; d)
utilizar freqüência de batimento (citada na discussão); e e) utilizar estímulos infra-
sônicos.
O interesse pela interação entre os sistemas vestibular e auditivo e suas ações no
reajuste postural deve ser mantido, uma vez que já se rompeu a idéia de que somente
estímulos de movimentação de cabeça são capazes de estimular os receptores
vestibulares. A onda sonora, estímulo de natureza mecânica, pode ser um importante
meio para se detectar alterações vestibulares, mas a forma como ela realmente irá
interferir no controle postural deve ser mais investigada. Assim, a ciência estará
contribuindo na busca para diagnosticar com mais precisão patologias tão desagradáveis
para os pacientes.
59
REFERÊNCIAS
BERNE, R., LEVY, M. (1992), Physiology, 3
a
ed., Missouri: Mosby Year Book.
CARROLL, J.P., FREEDMAN, W. (1992), “Nonstationary properties of postural
sway”, Journal of Biomechanics, v. 26, n. 4/5, pp. 409-416.
CAUQUIL, A., BOUSQUET, P., SALON, M-C, DUPUI, P., BESSOU, P. (1997),
“Monaural and Binaural galvanic vestibular stimulation in human dynamic
balance function”, Gait and Posture, v. 6, pp. 210-217.
CAUQUIL, A., MARTINEZ, P., OUAKNINE, M., TARDY-GERVET, M. (2000),
“Orientation of the body response to galvanic stimulation as a function of the
inter-vestibular imbalance”, Experimental Brain Research, v. 133, pp. 501-505.
CAZALS, Y., ARAN, J-M, ERRE, J-P. (1993), “Intensity difference thresholds
assessed with eighth nerve and auditory cortex potentials: Compared values from
cochlear and sacular responses”, Hearing Research v. 10, pp. 263-268,.
CHAM, R., REDFERN, M. (2001), “Effect of flooring on standing comfort and
fatigue”, Human Factors, v. 43, n. 3, pp. 381-391.
COLEBATCH, J., HALMAGYI, G. (1992), “Vestibular evoked potentials in human
neck muscles before and after unilateral vestibular deafferentation”, Neurology,
v. 42, pp. 1635-1636, August.
COLEBATCH, J., HALMAGYI, G., SKUSE, N. (1994), “Myogenic potentials
generated by click-evoked vestibulocollic reflex”, Journal of Neurology,
Neurosurgery, and Psychiatry, v. 57, pp. 190-197.
DAVID, R, COLAFÊMINA, J. (2002), “Potenciais miogênicos evocados vestibulares
(VEMP): uma revisão bibliográfica”, Revista Brasileira de Otorrinolaringologia,
v. 68, n. 1, pp. 113-117.
60
DUARTE, M. (2000), Análise Estabilográfica da Postura Ereta Humana Quase-
Estática, Tese apresentada à Escola de Educação Física e esportes da USP em
concurso para docência, São Paulo.
EASTON, R., GREENE, A., DIZIO, P., LACKNER, J. (1998), “Auditory cues for
orientation and postural control in sighted and congenitally people”, Experimental
Brain Research v.118, pp.541-550
FRIES, S., DIETERICH, M., BRANDT, T. (1993), “Otolith contributions to postural
control in man: short latency motor responses following sound stimulation in a
case of otolithic Tullio phenomenon”, Gait & Posture, v. 1, pp. 145-153.
GAGEY, P., WEBER, B. (2000), Posturologia. Regulação e Distúrbios da Posição
Ortostática, 2
a
ed., São Paulo: Manole.
GANDRA, V., OLIVEIRA, L., NADAL, J. (2003), Efeito da visão no controle
postural ortostático em testes estabilométricos de longa duração”. In Anais do X
Congresso Brasileiro de Biomecânica, v. 2, pp. 430-433, Ouro Preto, MG, 3 a 6
de junho.
GULDIN, W. O., GRÜSSER, O. J. (1998), “Is there a vestibular cortex?” Trends in
Neuroscience, v. 21, n. 6, pp. 254-259.
GUYTON, A. (1989), Tratado de Fisiologia Médica 7
a
ed Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan.
HANSEN, L., WINKEL, J., JORGENSEN, K. (1998), “Significance of mat and shoe
softness during prolonged work in upright position: based on measurements of
low back muscle EMG, foot volume changes, discomfort and ground force
reactions” Applied Ergonomics, v. 29, n. 03, pp. 217-224.
61
IMBIRIBA, L., CRUZ, C., MAINENTI, M., MAGALHÃES, J., OLIVEIRA, L.,
NADAL, J. (2002), Modificarion in the postural control during long-term
standing”, In: Proceedings of the IV
th
World Congress of Biomechanics, p. 116
(abstract), Calgary, Canada, July.
KANDEL, E., SCHWARTZ, J., JESSEL, T. (2000), Principles of Neural Science, 4
th
edition, New York: McGraw-Hill.
KATZ, J. (1999), Tratado de Audiologia Clínica, 4ª edição, São Paulo: Manole.
LAZZARINI, V. (1998), Apostila “Elementos da Acústica” da disciplina Laboratório
de Música Eletroacústica do Curso de Música da Universidade Estadual de
Londrina - PR.
LE CLAIR, K., RIACH, C. (1996), “Postural stability measures: What to measure and
for how long”, Clinical Biomechanics, v. 11, pp. 176-178.
LICHTIG, I., CARVALHO, R. (Organizadoras) (1997), Audição Abordagens atuais.
São Paulo: Pró-fono.
MACHADO, A. (1985), Neuroanatomia Funcional, Rio de Janeiro: Atheneu.
MADELEINE, P., VOIGT, M., ARENDT-NIELSEN, L. (1998), “Subjective,
physiological and biomechanical responses to prolonged manual work perfomed
standing on hard and soft surfaces”, European Journal of Applied Physiology and
Occupational Physiology, v. 77, pp.1-9.
MARSDEN, J., CASTELLOTE, J., DAY, B. (2002), “Bipedal distribution of human
vestibular- evoked postural responses during assymetrical standing”, Journal of
Physiology, v. 542, Pt. 1, pp. 323-331.
62
MATSUZAKI, M., MUROFUSHI, T. (2002), “Click-evoked potentials on the neck of
the guinea pig”, Hearing Research, v. 165, pp. 152-155.
MAUDONNET, O. (1999), Avaliação Otoneurológica,. São Paulo: BYK.
MCCUE, M.P., GUINAN, J.J. (1995), “Spontaneous activity and frequency selectivity
of acoustically responsive vestibular afferents in cat”, Journal of
Neurophysiology, v. 74, n. 4, October.
MCCUE, M.P., GUINAN, J.J. (1997), “Sound-evoked activity in primary afferent
neurons of a mammalian vestibular system”, American Journal of Otology,
v. 18, n. 3, pp. 355-360.
MELLO, R., OLIVEIRA, L., NADAL, J. (2003), “Antecipação da atividade mioelétrica
às oscilações posturais e influência da fadiga”, In: Anais do X Congresso
Brasileiro de Biomecânica, v. 1, pp. 62-65, Ouro Preto, MG, 3 a 6 de junho.
MUROFUSHI, T., HALMAGYI, G., YAVOR, R., COLEBATCH, J. (1996), “Absent
vestibular evoked myogenic potentials in vestibular neurolabyrinthitis”, Archives
of Otolaryngology - Head and Neck Surgery, v. 122, pp. 845-848, August.
MUROFUSHI, T., CURTHOYS, I. (1997), “Physiological and anatomical study of
click-sensitive primary vestibular afferents in the guinea pig”, ACTA Oto-
laryngologica (Stockholm), v. 117, pp. 66-72.
NARDONE, A., TARANTOLA, J., GIORDANO, A., SCHIEPPATI, M. (1997),
Fatigue effects on body balance”, Eletroencephalography and Clinical
Neurophysiology, v. l 105, pp. 309-320.
NARDONE, A., TARANTOLA, J., GALANTE, M., SCHIEPPATI, M. (1998), Time
course of stabilometric changes after a strenuous treadmill exercise”, Archives of
Physical Medicine and Rehabilitation, v. l 79, pp. 920-924.
63
OLIVEIRA, L. (1993), “Estudo de revisão sobre a utilização da estabilometria como
método diagnóstico clínico”, Caderno de Engenharia Biomédica, v. 9, n. 1.
OLIVEIRA, L. (1996), Análise Quantitativa de Sinais Estabilométricos na Avaliação
do Equilíbrio de Gestantes, Tese de D.Sc., Programa de Engenharia Biomédica,
COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro.
PARKER, D. E. (1980), “The Vestibular Apparatus”, Scientific American, v. 243, n. 5,
pp. 98-11.
PREMOSELLI, S., CESANA, L., CERRI, C. (2001) , “Pusher syndrome in stroke:
clinical, neuropsychological and neurophysiological investigation”, Europa
Medicophysica, v. 37, pp. 143-51.
RAPER, S., SOAMES, R. (1991), “The influence of stationery auditory fields on
postural sway behaviour in man”, European Journal of Applied Physiology and
Occupational Physiology, v. 63, pp. 363-367.
RODRIGUES, W. (1982), Apostila da Disciplina Elementos de Telecomunicações, do
Curso de Eletrônica do CEFET MG. Acessada pela internet
(http://www.jdbte.com.br/wjrteleco/unit06.pdf) em 05/09/2005.
RYS, M., KONZ, S. (1994), “Standing”, Ergonomics, v. 37, n. 4, pp. 677-687.
SAKELLARI, V., SOMAES, R. (1996), “Auditory and visual interactions in postural
stabilization”, Ergonomics, v. 39, n. 4, pp. 634-648.
SARTUCCI, F., LOGI, R. (2002 ), “Vestibular-evoked myogenic potentials: A method
to assess vestibule-spinal conduction in multiple sclerosis patients”, Brain
Research Bulletin, v. 59, n. 1, pp. 59-63.
SCHIEPPATI, M., TACCHINE, E., NARDONE, A., TARANTOLA, J., CORNA, S.
(1999), “Subjective perception of body sway”, Journal of Neurology,
Neurosurgery and Psychiatry, v. 66, n. 3, pp. 313-322.
64
SCINICARIELLO, A., EATON, K., INGLIS, T. e COLLINS, J. (2001), “Enhancing
human balance control with galvanic stimulation”, Biological Cybernetics, v. 84,
pp. 475-480.
SHEYKHOLESLAMI, K., MUROFUSHI, T., KERMANY, MH, KAGA, K. (2000),
“Bone-conducted evoked myogenic potentials from the sternocleidomastoid
muscle”, Acta Oto-Laryngologica, v. 120, n. 6, pp. 731-734.
SHEYKHOLESLAMI, K., KERMANY, M., KAGA. K. (2001a), “Bone-conducted
vestibular evoked myogenic potentials in patients with congenital atresia of the
external auditory canal”, International Journal of Pediatric Otorhinolaryngology,
v. 57, p. 25-29.
SHEYKHOLESLAMI, K., KERMANY, M., KAGA. K. (2001b), “Frequency
sensitivity range of the saccule to bone-conducted stimuli measured by vestibular
evoked myogenic potentials”, Hearing Research, v. 160, pp. 58-62.
SHEYKHOLESLAMI, K., MUROFUSHI, T., KAGA, K. (2001c), “The effect of
sternocleidomastoeid electrode location on vestibular evoked myogenic
potential”, Auris Nasus Larynx, v. 28, pp. 41-43.
SHEYKHOLESLAMI, K., SCHMERBER, S., KERMANY, M., KAGA, K. (2004),
“Vestibular-evoked myogenic potentials in three patients with large vestibular
aqueduct”, Hearing Research, v. 190, pp. 161-168.
SHEYKHOLESLAMI, K., KAGA, K. (2002), “The otolithic organ as a receptor of
vestibular hearing revealed by vestibular-evoked myogenic potentials in patients
with inner ear anomalies”, Hearing Research, v. 165, pp. 62-67.
SOAMES, R., RAPPER, A. (1992), “The influence of moving auditory fields on
postural sway behaviour in man”, European Journal of Applied Physiology and
Occupational Physiology, v. 65, pp. 241-245.
65
TANAKA, T., KOJIMA, S., TAKEDA, H., INO, S., IFUKUBE, T. (2001) “The
influence of moving auditory stimuli on standing balance in healthy Young adults
and the elderly”, Ergonomics, v.44, n.15, pp.1403-1412.
TARANTOLA, J., NARDONE, A., TACCHINI, E., SCHIEPPATI, M. (1997), “Human
stance stability improves with the repetition of the task; effect of foot position and
visual condition”, Neuroscience Letters, v. 228, pp. 75-78.
TODD, N., CODY, F., BANKS, J. (2000), “A saccular origin of frequency tuning in
myogenic vestibular evoked potentials?: implications for human responses to loud
sounds”, Hearing Research, v. 141, pp. 180-188.
VUILLERME, N., NOUGIER, V., PRIEUR, J. (2001), Can Vision compensate for a
lower limbs muscular fatigue for controlling posture in humans?”, Neuroscience
Letters, v. 308, pp. 103-106.
WANG, C-T, YOUNG, Y-H. (2004), “Earlier and later components of tone burst
evoked myogenic potentials”, Hearing Research, v. 191, pp. 59-66.
WANG, S-J, YOUNG, Y-H. (2003), “Vestibular evoked myogenic potentials using
simultaneous inaural acoustic stimulation”, Hearing Research, v. 185, n. 1-2, pp.
43-48.
WATSON, S., COLEBATCH, J. (1998), “Vestibular-evoked electromiographic
responses in soleus: a comparison between click and galvanic stimulation”,
Experimental Brain Research, v. 119, pp. 504-510.
WATSON, S., HALMAGYI, G., COLEBATCH, J. (2000), “Vestibular hypersensitivity
to sound (Tullio phenomenon): Structural and functional assessment”, Neurology
v. 54, n. 3, pp. 722-728.
WELGAMPOLA, M., COLEBATCH, J. (2001), “Vestibulocollic reflexes: normal
values and the effect of age”, Clinical Neurophysiology, v. 112, pp. 1971-1979.
66
WELGAMPOLA, M., ROSENGREN, S., HALMAGYI, G., COLEBATCH, J. (2003),
“Vestibular activation by bone conducted sound”, Journal of Neurology,
Neurosurgery and Psychiatry, v. 74, n. 6, pp. 771-778.
WU, C-H, MUROFUSHI, T. (1999), “The effect of click repetition rate on vestibular
evoked myogenic potential”, ACTA Oto-laryngologica (Stockholm), v. 119,
pp. 29-32.
ZHANG, L., DRURY, C., WOOLLEY, S. (1991), “Constrained standing: Evaluating
the foot/floor interface”, Ergonomics, v. 34, n. 2, pp. 175-192.
67
APÊNDICES
Apêndice A - Anamnese para testes realizados na Escola de Educação Física e
Desportos
(EEFD-UFRJ) Experimento 1
Número: Nome dos Arquivos: Data:
1) Dados Pessoais
Nome: Tel:
Curso: Período:
2) Dados Físicos
Estatura: Peso: Idade: Sexo: ( )M ( )F
Caso seja do sexo feminino, quando foi o início do último ciclo menstrual?
__________________
3) Pratica alguma atividade física?
( ) SIM ( ) NÃO
4) Dados Clínicos:
Você bebe? Qual a freqüência semanal?
Você fuma? Qual a freqüência diária?
Utiliza drogas? Qual a freqüência semanal?
Utiliza algum medicamento? Qual?
Utiliza algum hormônio? Qual?
Apresenta distúrbio neurológico? Qual?
Apresenta problema ósteo-mio-articular? Qual?
Já teve otite? Quando foi a última crise?
Tem Labirintite?
Tem passado cirúrgico? Onde?
5) Audiometria (preenchido pela pesquisadora):
Para tom puro 500 Hz:
Limiar sensitivo da orelha direita: _____db (NA) Limiar sensitivo da orelha esquerda: _____db (NA)
Para tom puro 4000 Hz:
Limiar sensitivo da orelha direita: _____db (NA) Limiar sensitivo da orelha esquerda: _____db (NA)
6) Observações gerais do teste:
?
Qual? ______________________
?
Freqüência Semanal:___________
? Duração da Sessão:____________
?
Quando praticou pela última vez?
___________________________
??
Já praticou? __________________
?? Qual? _______________________
?? Por quanto tempo? _____________
?? Há quanto tempo parou? ________
68
Apêndice B - Anamnese para testes realizados no Hospital Universitário
Clementino Fraga Filho (HUCFFUFRJ) Experimento 2
Número: Nome dos Arquivos: Data:
1) Dados Pessoais
Nome: Tel:
Curso: Período:
2) Dados Físicos
Estatura: Peso: Idade: Sexo: ( )M ( )F
Caso seja do sexo feminino, quando foi o início do último ciclo menstrual?
__________________
3) Pratica alguma atividade física?
( ) SIM ( ) NÃO
4) Dados Clínicos:
Você bebe? Qual a freqüência semanal?
Você fuma? Qual a freqüência diária?
Utiliza drogas? Qual a freqüência semanal?
Utiliza algum medicamento? Qual?
Utiliza algum hormônio? Qual?
Apresenta distúrbio neurológico? Qual?
Apresenta problema ósteo-mio-articular? Qual?
Já teve otite? Quando foi a última crise?
Tem Labirintite?
Tem passado cirúrgico? Onde?
5) Audiometria (preenchido pela pesquisadora):
Para clique:
Limiar sensitivo do ouvido direito: _____db (NPS)Limiar sensitivo do ouvido esquerdo: _____db (NPS)
Para burst 500 Hz:
Limiar sensitivo do ouvido direito: _____db (NA) Limiar sensitivo do ouvido esquerdo: _____db (NA)
6) Observações gerais do teste:
?
Qual? ______________________
?
Freqüência Semanal:___________
? Duração da Sessão:____________
?
Quando praticou pela última vez?
___________________________
??
Já praticou? __________________
?? Qual? _______________________
?? Por quanto tempo? _____________
?? Há quanto tempo parou? ________
69
Apêndice C - Consentimento para testes realizados na Escola de Educação Física e
Desportos (EEFD-UFRJ) Experimento 1
Eu, _____________________________________, voluntariamente, consinto
em participar de uma pesquisa sobre equilíbrio postural no Laboratório de
Biomecânica da Escola de Educação Física e Desportos da Universidade Federal do
Rio de Janeiro.
O estudo consistirá do registro das oscilações corporais sobre uma plataforma de
força (estabilometria) em postura ereta, durante aproximadamente 10 minutos com
alguns estímulos sonoros gerados por um audiômetro. Anteriormente ao teste, far-se-
ão 1) preenchimento da ficha de anamnese com a máxima sinceridade; 2) medidas
antropométricas de peso e estatura; 3)medidas dos limiares sensitivos de cada orelha
do indivíduo. Para a realização do teste, devo seguir as seguintes recomendações:
não ter feito refeição excessiva ou consumir bebida alcoólica previamente, assim
como não ter feito nenhum exercício físico extenuante; não portar objetos como
pulseiras, anéis, cordões ou relógios muito apertados; desligar celular; retirar
calçados e meias; não ter tido crise de otite no último mês; não ter labirintite. Estou
ciente de que a qualquer momento deverei avisar sobre algum desconforto, como
enjôos, vertigens, etc. no decorrer do experimento.
As informações a serem obtidas durante o estudo ficarão restritas a fins
científicos, tendo garantida minha privacidade.
Li e compreendi estas informações, tomando ciência do objetivo do estudo já
discutido com o pesquisador. Se, a qualquer momento durante o teste, novas dúvidas
e perguntas surgirem, disponho de total liberdade para me dirigir ao responsável pelo
mesmo, afim de esclarecê-las. Além disso, tenho direito garantido de desistir a
qualquer momento.
Tendo em vista minha contribuição para o andamento da citada pesquisa,
declaro estar de acordo com os procedimentos do experimento.
Assinatura do (a) voluntário (a):
________________________________________
Assinatura da responsável pelo experimento:
_____________________________
Data: __/__/____.
Caso surjam demais dúvidas entrar em contato com a responsável pelo
experimento, Míriam Mainenti, pelo telefone (21) 9644-7951.
70
Apêndice D - Consentimento para testes realizados no Hospital Universitário
Clementino Fraga Filho (HUCFFUFRJ) Experimento 2
Eu, _____________________________________, voluntariamente, consinto
em participar de uma pesquisa sobre equilíbrio postural no Hospital Clementino
Fraga Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
O estudo consistirá do registro das oscilações corporais sobre uma plataforma de
força (estabilometria) em postura ereta, durante aproximadamente 10 minutos com
alguns estímulos sonoros gerados por um audiômetro. Anteriormente ao teste, far-se-
ão 1) preenchimento da ficha de anamnese com a máxima sinceridade; 2) medidas
dos limiares sensitivos de cada orelha do voluntário. Para a realização do teste, devo
seguir as seguintes recomendações: não ter feito refeição excessiva ou consumir
bebida alcoólica previamente, assim como não ter feito nenhum exercício físico
extenuante; não portar objetos como pulseiras, anéis, cordões ou relógios muito
apertados; desligar celular; retirar calçados e meias; não ter tido crise de otite no
último mês; não ter labirintite. Estou ciente de que a qualquer momento deverei
avisar sobre algum desconforto, como enjôos, vertigens, etc. no decorrer do
experimento.
As informações a serem obtidas durante o estudo ficarão restritas a fins
científicos, tendo garantida minha privacidade.
Li e compreendi estas informações, tomando ciência do objetivo do estudo já
discutido com o pesquisador. Se, a qualquer momento durante o teste, novas dúvidas
e perguntas surgirem, disponho de total liberdade para me dirigir ao responsável pelo
mesmo, afim de esclarecê-las. Além disso, tenho direito garantido de desistir a
qualquer momento.
Tendo em vista minha contribuição para o andamento da citada pesquisa,
declaro estar de acordo com os procedimentos do experimento.
Assinatura do (a) voluntário (a):
________________________________________
Assinatura da responsável pelo experimento:
_____________________________
Data: __/__/____.
Caso surjam demais dúvidas entrar em contato com a responsável pelo
experimento, Míriam Mainenti, pelo telefone (21) 9644-7951.
71
Apêndice E - Seqüências de Teste do Experimento 1
Seqüência 1:
OA sem estímulo sem fone
OF sem estímulo sem fone
OA sem estímulo com fone
OA estímulo direito 500 Hz
OA estímulo esquerdo 500 Hz
OA estímulo direito 4000 Hz
OA estímulo esquerdo 4000 Hz
OF sem estímulo
OF estímulo esquerdo 500 Hz
OF estímulo direito 500 Hz
OF estímulo esquerdo 4000 Hz
OF estímulo direito 4000 Hz
Seqüência 2:
OA sem estímulo
OA estímulo direito 4000 Hz
OA estímulo esquerdo 4000 Hz
OA estímulo direito 500 Hz
OA estímulo esquerdo 500 Hz
OF sem estímulo
OF estímulo esquerdo 4000 Hz
OF estímulo direito 4000 Hz
OF estímulo esquerdo 500 Hz
OF estímulo direito 500 Hz
OA sem estímulo sem fone
OF sem estímulo sem fone
Seqüência 3:
OA sem estímulo sem fone
OF sem estímulo sem fone
OF sem estímulo
OF estímulo direito 500 Hz
OF estímulo esquerdo 500 Hz
OF estímulo direito 4000 Hz
OF estímulo esquerdo 4000 Hz
OA sem estímulo
OA estímulo esquerdo 500 Hz
OA estímulo direito 500 Hz
OA estímulo esquerdo 4000 Hz
OA estímulo direito 4000 Hz
Seqüência 4:
OF sem estímulo
OF estímulo direito 4000 Hz
OF estímulo esquerdo 4000 Hz
OF estímulo direito 500 Hz
OF estímulo esquerdo 500 Hz
OA sem estímulo
OA estímulo esquerdo 4000 Hz
OA estímulo direito 4000 Hz
OA estímulo esquerdo 500 Hz
OA estímulo direito 500 Hz
OA sem estímulo sem fone
OF sem estímulo sem fone
Legenda: OA Olhos Abertos; OF Olhos Fechados
72
Apêndice F - Seqüências de Teste do Experimento 2
Seqüência 1
OA sem estímulo
OA estímulo clique direito
OA estímulo clique esquerdo
OF sem estímulo
OF estímulo clique direito
OF estímulo clique esquerdo
2 minutos de descanso sentado numa cadeira posicionada imediatamente posterior à
plataforma
OA estímulo burst direito
OA estímulo burst esquerdo
OF estímulo burst direito
OF estímulo burst esquerdo
Seqüência 2
OA sem estímulo
OA estímulo burst direito
OA estímulo burst esquerdo
OF sem estímulo
OF estímulo burst direito
OF estímulo burst esquerdo
2 minutos de descanso sentado numa cadeira posicionada imediatamente posterior à
plataforma
OA estímulo clique direito
OA estímulo clique esquerdo
OF estímulo clique direito
OF estímulo clique esquerdo
Seqüência 3
OF sem estímulo
OF estímulo burst direito
OF estímulo burst esquerdo
OA sem estímulo
OA estímulo burst direito
OA estímulo burst esquerdo
2 minutos de descanso sentado numa cadeira posicionada imediatamente posterior à
plataforma
OF estímulo clique direito
OF estímulo clique esquerdo
OA estímulo clique direito
OA estímulo clique esquerdo
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo