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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE VETERINÁRIA
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA VETERINÁRIA
(PATOLOGIA E CIÊNCIAS CLÍNICAS)
CONTRIBUIÇÃO AO DIAGNÓSTICO CLÍNICO DA DISFUNÇÃO
COGNITIVA CANINA
LILIANE NARCISO PANTOJA
Sob a orientação do Professor Doutor
João Telhado Pereira
Dissertação submetida como requisito
parcial para obtenção do grau de
Mestre em Medicina Veterinária, no
Curso de Pós-Graduação em Medicina
Veterinária, Área de Concentração em
Ciências Clínicas
Seropédica, RJ
Fevereiro de 2010
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UFRRJ / Biblioteca Central / Divisão de Processamentos Técnicos
636.7
P198c
T
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Pantoja, Liliane Narciso, 1982-
C
ontribuição ao Diagnóstico Clínico
da Disfunção Cognitiva Canina/ Liliane
Narciso Pantoja – 2010.
54 f.: il.
Orientador: João Telhado Pereira
.
Dissertação (mestrado) – Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro, Curso
de Pós-Graduação em Medicina
Veterinária.
Bibliografia: f. 38-41.
2
1. Cão - Teses. 2. Envelhecimento -
Teses. I. Pereira, João Telhado, 1960-
.
I
I. Universidade Federal Rural do Rio
de Janeiro. Curso de Pós-Graduação em
Medicina Veterinária. III. Título.
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AGRADECIMENTOS
Agradeço sobretudo à Deus, bem como aos benfeitores, mentores e amigos que
encontram-se ao Seu lado, por terem me dado tudo o que me foi necessário para que eu
chegasse até esta etapa da jornada.
Agradeço à minha família e aos meus amigos, por toda torcida e apoio que me deram
ao longo do caminho.
Em especial à minha querida companheira de jornada Analu, por todo carinho,
incentivo, apoio e compreensão por todo o tempo em que esteve presente na minha vida, em
especial nos momentos mais difíceis desta caminhada do Mestrado.
Ao meu orientador João Telhado, bem como aos demais professores do curso de
mestrado, por todos os ensinamentos e ajuda que me deram ao longo deste curso.
Em especial aos professores Paulo Botteon, por toda a ajuda com a estatística do
presente trabalho e Rita de Cássia Botteon, por toda ajuda na formulação inicial de idéias que
levaram à presente dissertação.
Ao querido colega de mestrado Leandro Nogueira e Silva, por todos os artigos que me
ajudou a conseguir e por todas as vezes que cuidou sozinho do Setor de Comportamento
Animal do HVPA – UFRRJ enquanto eu cuidava da dissertação.
Aos demais colegas de mestrado, bem como a todos os colegas de profissão e demais
pessoas que de alguma forma contribuíram para a realização deste trabalho.
À todos os animais que já estiveram e que hoje estão presentes em minha vida, me
ensinando a amá-los e respeitá-los cada dia mais e me incentivando a continuar trilhando os
passos desta bela mas nem sempre fácil profissão. Este trabalho é dedicado à eles, na
esperança de que possa de alguma forma contribuir para sua qualidade de vida e bem estar.
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RESUMO
PANTOJA, Liliane Narciso. Contribuição ao Diagnóstico Clínico da Disfunção Cognitiva
Canina. 2010. 54p Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária, Ciências Clínicas).
Instituto de Veterinária, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ, 2010.
O aumento na expectativa de vida dos cães de companhia vem trazendo novos desafios à
medicina veterinária. Dentre eles, encontra-se a dificuldade na diferenciação do
envelhecimento normal e patológico. Uma das principais alterações comportamentais
encontrada em cães idosos e associada a um envelhecimento patológico consiste na disfunção
cognitiva canina (DCC), decorrente de alterações neurodegenerativas similares às
encontradas na doença de Alzheimer (DA) em humanos, e caracterizada por alterações na
orientação, interação social-ambiental, ciclo de sono-vigília, treinamento higiênico e outras
atividades realizadas pelo cão. Há grande dificuldade no diagnóstico da DCC, uma vez que
não há marcadores biológicos nem testes considerados padrão ouro, o mesmo ocorrendo em
relação à DA. Com isso, há grande divergência entre a prevalência de casos de DCC relatada
por diferentes autores e, até o presente, não foram encontrados estudos publicados sobre este
assunto na literatura brasileira. Por isso, o presente trabalho buscou desenvolver um
questionário de simples aplicação clínica para diagnóstico sintomatológico de DCC para
estimativa do número de casos em uma amostra de cães idosos, correlacionando os resultados
obtidos com a escala DCARI (Distúrbios Cognitivos e Afetivos Relacionados à Idade), já
previamente submetida a uma correlação entre seus resultados e achados histopatológicos.
Além disso, buscou-se estudar a possível influência de diversos fatores na ocorrência de sinais
de DCC, o quanto os sinais de DCC atrapalham na convivência dos cães com seus
proprietários e o quanto estes estão dispostos a tratarem seus animais. Houve correlação
significativa entre os resultados dos dois questionários. Houve 37,66% de casos sugestivos de
DCC na amostra de 77 cães idosos incluídos no estudo. Os fatores significativamente
associados à ocorrência de sinais de DCC foram: aumento da idade, ocorrência de doenças
concomitantes, convivência com outros animais na mesma casa (incluindo cães) e castração
em machos. A percepção dos proprietários do quanto os sinais de DCC atrapalham na
convivência com os cães foi variável, mas a maioria deles mostrou-se disposta a tratar os
cães, mesmo que por toda a vida do animal. O questionário elaborado revelou-se de fácil
aplicação e capaz de fornecer informações relevantes para o diagnóstico presuntivo de DCC.
O percentual de cães afetados, o relato de diversos proprietários de que os sinais de DCC
atrapalham na convivência com seus cães e sua disposição em tratá-los ressaltam a
importância da conscientização de proprietários e veterinários para a ocorrência desta
condição de envelhecimento patológica e a necessidade da buscar de mais informações acerca
deste assunto, através de estudos mais aprofundados.
Palavras-chave: cães, disfunção cognitiva, envelhecimento
4

ABSTRACT
PANTOJA, Liliane Narciso. Contribution to Clinical Diagnosis of Canine Cognitive
Dysfunction. 2010. 54p Dissertation (Master´s Degree in Veterinary Medicine, Clinical
Sciences). Veterinary Institute, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ,
2010.
The increase in life expectation in companion dogs is bringing new challenges to veterinary
medicine. One of them is the difficulty in differentiating normal from pathological aging.
One of the main behavioral changes found in old dogs that is associated with pathological
aging is canine cognitive dysfunction (CCD), resulting from neurodegenerative changes
similar to the ones found in Alzheimer´s disease (AD) in humans, and characterized by
changes in orientation, social and environmental interaction, sleep-wake cycle, house training
and other activities. There is great difficulty to diagnose CCD, once there are no biological
markers nor standardized tests, the same found with AD. As a consequence, there is great
variability concerning the prevalence of CCD described by different authors and, so far, no
brazilian studies were found about this subject. Therefore, the objectives of the present study
were to develop a questionnaire easy to use in clinical environments for the clinical diagnosis
of CCD, to estimate de number of cases in an elderly dog sample, to correlate the results
found with results obtained with ARCAD scale (Age-Related Cognitive and Affective
Disorders), that has previously had its results compared with histopathological findings.
Besides, we studied the possible influence of several factors in the occurence of CCD signs,
how these signs interfered in the relationship between dogs and owners and how far were
these owners willingness to treat these dogs. There was a significant correlation between the
results of the two questionnaires. We found that 37,66% of the 77 old dogs included in the
study had signs of CCD. The factors significantly associated with the occurrence of signs of
CCD were: increased age, concomitant diseases, presence of other animals in the house
(including dogs) and male castration. The perception of owners of how CCD signs affected
the relationship with their dogs was variable, however most of them were willing to treat their
dogs, even if this treatment was for the rest or their lives. The percentual of dogs affected, the
worsening of the relationship with the dogs reported by several owners and their s willingness
to treat their dogs show the importance of making veterinarians and owners aware of this
pathological aging condition and the necessity of searching more information about this
subject, through other studies.
Keywords: dogs, cognitive dysfunction, aging
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 7
2 REVISÃO DE LITERATURA 8
2.1 Caracterização do Envelhecimento 8
2.2 Caracterização da Disfunção Cognitiva Canina (DCC) 8
2.3 Neuropatologia 12
2.4 Diagnóstico 16
2.4.1 Diagnóstico de disfunção cognitiva em humanos 16
2.4.2 Diagnóstico de disfunção cognitiva em cães 17
2.4.3 Diagnóstico diferencial 21
2.5 Tratamento 21
2.6 Outras considerações 25
3 METODOLOGIA 27
3.1 Tipo de Abordagem e População Estudada 27
3.2 Questionários 27
3.3 Avaliação dos Dados 27
3.4 Análise Estatística 28
4 RESULTADOS 29
4.1 Resultados Gerais 29
4.2 Cães sem Sinais de DCC 29
4.3 Cães com Sinais de DCC 30
4.3.1 Cães com sinais de DCC leve (alterações em uma categoria) 30
4.3.2 Cães com sinais de DCC severa (alterações em duas ou mais categorias) 31
4.4 Correlação entre os Questionários 31
4.5 Fatores Contribuintes para Ocorrência de Sinais Sugestivos de DCC 31
5 DISCUSSÃO 33
6 CONCLUSÕES 36
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS 37
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 38
8 ANEXOS 42
ANEXO A Questionário 1 43
ANEXO B Questionário 2 46
ANEXO C - Atribuição de pontos do questionário 2, de acordo com a opção assinalada 48
ANEXO D - Quadro 1 - Resultados gerais 50
ANEXO E - Quadro 2 – Resultados obtidos com os questionários 1 e 2 52
ANEXO F -Quadro 3 – Cães com doenças previamente diagnosticadas, recebendo
ou não tratamento, e sua relação com a ocorrência de sinais de
6
disfunção cognitiva canina (DCC) 54
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1 INTRODUÇÃO
As alterações de comportamento em animais idosos que durante muito tempo foram
consideradas como normais, são agora reconhecidas como mórbidas. A linha tênue que existe
entre o que é natural e o que é mórbido no envelhecimento animal é uma das fronteiras do
conhecimento médico veterinário que ainda precisa ser desbravada.
Dentre os distúrbios comportamentais identificados em cães idosos, muitos são
decorrentes da disfunção cognitiva canina (DCC), caracterizada por processos
neurodegenerativos no cérebro, similares aos observados em pacientes humanos com doença
de Alzheimer (DA), sendo a DCC indicada como o modelo animal mais próximo da DA.
Assim como nos humanos, os pacientes caninos com DCC evoluem para a total perda de
contato com o meio que os cerca. A não detecção do problema desde os primeiros estágios
limita as possibilidades terapêuticas para retardar o processo, além de ter como conseqüência
a deterioração da relação humano-animal, o que culmina em muitos casos com o descarte do
cão.
Um dos grandes problemas da DCC é o seu diagnóstico, que semelhante à DA é difícil
de estabelecer de forma precoce e precisa, sendo feito por exclusão de outros quadros
mórbidos que podem afetar o desempenho cognitivo do paciente. O diagnóstico definitivo só
é possível através do exame histopatológico do tecido cerebral (obtido por biópsia ou post-
mortem).
As tentativas de se obter um diagnóstico in vivo da DCC têm seguido duas grandes
linhas de pesquisa baseadas no uso de questionários com listas de sinais clínicos ou na
realização de testes cognitivos. Os testes cognitivos se mostram impraticáveis no ambiente
clínico, sendo reservados ao ambiente experimental, em estudos realizados em colônias de
cães, em geral da raça Beagle. Os questionários têm sido o método preferencial de diagnóstico
no dia a dia clínico veterinário, mesmo com todas as deficiências inerentes ao método, que
resultam na discordância, entre os autores, quanto à prevalência da DCC na população canina
idosa.
Diante da disponibilidade de dados de prevalência de DCC apenas em literatura
estrangeira e da percepção de casos sugestivos de DCC na rotina clínica comportamental
veterinária do HVPA da UFRRJ através da avaliação clínica e por vezes do relato espontâneo
de proprietários de animais idosos, surgiu o interesse por um estudo da ocorrência de casos
sugestivos de DCC nos cães idosos que tem contato com nossa equipe.
Os objetivos do presente trabalho são:
1- Desenvolver um questionário para o diagnóstico da DCC de fácil aplicação na
rotina clínica e adaptado à realidade brasileira;
2- Avaliar a frequência de casos sugestivos de DCC em uma amostra de cães com
idade a partir de 8 anos por meio de questionários de checagem de sinais clínicos;
3- Avaliar o grau de associação entre os resultados obtidos em diferentes tipos de
questionários usados no diagnóstico da DCC.
4- Avaliar possíveis fatores que colaboram para a ocorrência da DCC;
5- Avaliar a percepção dos proprietários quanto às alterações na convivência com
cães com sinais sugestivos de DCC, bem como a disponibilidade dos proprietários
tratarem estes animais.
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8
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Caracterização do Envelhecimento
Devido aos avanços nos cuidados médicos, nutrição e ao aumento de cuidados por
parte dos proprietários de animais de companhia nos últimos anos, tem-se observado um
aumento na expectativa de vida destes animais (NEILSON et al., 2001). Com isso, novos
desafios médicos vem surgindo para os veterinários e cuidadores de animais idosos (FRANK,
2002). Dentre estes desafios, está a dificuldade na diferenciação do envelhecimento normal e
patológico por veterinários e médicos que cuidam de pacientes geriátricos (HEAD, 2001).
O envelhecimento consiste em um processo biológico complexo caracterizado por
modificações progressivas nos tecidos e células do organismo, levando a uma perda gradual
da capacidade adaptativa (OSELLA et al., 2007).
Os cães são considerados idosos a partir dos 8 anos de idade, baseando-se em
evidências da redução da função cerebrovascular a partir desta idade (HEAD, 2001). Porém,
se levarmos em conta o porte e a raça, esta definição pode variar (HEAD, 2001),
considerando-se idosos cães a partir de 5 anos de idade (raças grandes e gigantes) ou a partir
de 7 anos de idade (raças pequenas ou médias) (FREITAS et al., 2006).
Com o envelhecimento, diversas alterações podem ser encontradas, como: redução
gradual de todas as funções fisiológicas (metabolismo, secreção de hormônios, nível de
atividade), redução na capacidade de aprendizado e memória, diminuição da competência
imune (com consequente aumento da predisposição para doenças infecciosas e neoplásicas),
alterações degenerativas em vários sistemas (cardiovascular, músculo-esquelético, visual,
auditivo, renal) e problemas comportamentais (NEILSON et al., 2001; FREITAS et al., 2006;
OSELLA et al., 2007).
2.2 Caracterização da Disfunção Cognitiva Canina (DCC)
Muitos dos problemas comportamentais encontrados nos animais idosos são
decorrentes de alterações degenerativas do sistema nervoso central, resultando em alterações
de memória e aprendizado (NEILSON et al., 2001). Um dos principais problemas
comportamentais que se enquadram nesta categoria é a disfunção cognitiva canina (DCC),
uma desordem neurodegenerativa progressiva caracterizada por mudanças comportamentais
com deterioração gradual de funções cognitivas, que não podem ser atribuídas completamente
a condições médicas ou às disfunções sensoriais/motoras relacionadas ao envelhecimento
(RUEHL; HART, 1998; FRANK, 2002; LANDSBERG, 2005; LANDSBERG et al., 2005).
Assim, um sério comprometimento dos processos cognitivos deve ser distinguido de um leve
decréscimo na atividade psicomotora, podendo ser considerado como “envelhecimento
patológico” (OSELLA et al., 2007).
A DCC assemelha-se ao que ocorre na doença de Alzheimer (DA) em humanos,
caracterizada por perda gradual da memória, redução na habilidade para realizar tarefas
rotineiras, desorientação, dificuldade de aprendizado, perda de habilidades da linguagem,
capacidade de julgamento, habilidade de planejar e alterações de personalidade (INGRAM;
WILLIAMS, 2002). Uma leve disfunção cognitiva em humanos é considerada um estágio
transitório entre o envelhecimento bem sucedido e a demência, portanto pacientes nesta
categoria devem ser alvo de uma intervenção precoce, devido à possibilidade de um melhor
prognóstico (OSELLA et al., 2007).
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9
O termo cognição refere-se aos processos mentais como memória, aprendizado,
consciência, tomada de decisão e percepção, que não podem ser mensurados diretamente
(RUEHL; HART, 1998; FRANK, 2002; HEIBLUM et al., 2006). A cognição permite ao
animal, através dos sentidos, obter informações sobre o ambiente, processar, reter e decidir
sobre como agir (SHETTLEWORTH, 2001; FRANK, 2002). Pode-se dizer ainda que a
cognição refere-se a associações complexas que permitem ao animal apresentar respostas a
partir de abstrações baseadas em aprendizados anteriores, ou seja, uma nova resposta é
apresentada sem ser resultado de um reforço direto (NEILSON et al., 2001). Os processos
cognitivos têm um papel importante na escolha dos parceiros, busca de alimentos e muitos
outros comportamentos (SHETTLEWORTH, 2001). Comportamentos que envolvem
orientação espacial, memória, aprendizado, treinamento higiênico, reconhecimento e reação
aos familiares são manifestações externas de cognição (RUEHL; HART, 1998) que podem
ser avaliadas objetivamente.
O córtex pré-frontal é fundamental para um bom funcionamento da parte cognitiva,
sendo necessário para o aprendizado de tarefas que requerem o uso da memória de trabalho.
Em cães e humanos, sabe-se que esta área cerebral só completa seu desenvolvimento após o
nascimento, o que faz com que filhotes e crianças tenham mais dificuldades em aprender
tarefas que exijam uma resposta com atraso (“delayed response”) (STUDZINSKI et al.,
2006).
De acordo com a variabilidade de performance cognitiva de cães idosos, estes animais
podem ser classificados como cognitivamente não afetados, levemente afetados ou
severamente afetados, assemelhando-se à classificação utilizada para humanos como
envelhecimento bem sucedido, leve disfunção cognitiva e demência, respectivamente (HEAD,
2001; INGRAM; WILLIAMS, 2002; LANDSBERG, 2005). Em alguns casos, as alterações
cognitivas nos cães podem ser tão severas a ponto de fazer com que se tornem incapazes de
exercer sua função como animal de companhia de forma adequada (CUMMINGS et al.,
1996).
Os sinais clínicos de DCC refletem déficits de memória e aprendizado, sendo
agrupados em quatro categorias: desorientação, mudanças na interação social e ambiental,
mudanças no ciclo de sono/vigília e perda do treinamento higiênico (HEAD, 2001; FRANK,
2002; HEATH, 2004; LANDSBERG et al., 2005). Dentre os sinais de desorientação, há
relatos de cães que se perdem dentro de sua própria casa ou quintal, olham fixo no espaço,
ficam presos em quinas, vão para a porta errada ou o lado errado da porta na hora de sair,
andam sem propósito aparente. As mudanças na interação social e ambiental incluem
redução na frequência e/ou intensidade da interação do cão com os membros da família e não
reconhecimento de membros da família (FRANK, 2002). Diversos proprietários relatam uma
diminuição da afetividade nos cães idosos (HEAD et al., 1997). As mudanças no ciclo de
sono / vigília ficam aparentes em cães que passam a dormir mais durante o dia e ficar
acordados à noite, podendo chorar, vocalizar, vagar, arranhar o chão e até mesmo acordar os
proprietários. Os sinais de perda de treinamento higiênico incluem urinar / defecar em
locais inapropriados, mesmo na presença dos proprietários, sem ter havido mudanças no
ambiente nem haver problemas médicos que justifiquem o comportamento (CUMMINGS et
al., 1996; FRANK, 2002). As alterações no ciclo de sono/vigília são as mais difíceis de serem
relacionadas a déficits na memória ou aprendizado, porém são também observadas em
humanos com DA e sugere-se que sejam decorrentes de uma ruptura no ciclo circadiano
(NEILSON et al., 2001). Alguns autores consideram ainda uma quinta categoria, que seria
redução nas atividades (HEAD et al., 1997; RUEHL; HART, 1998; LANDSBERG et al.,
2005). Desta forma, em alguns casos usa-se o acrônimo DISHA para descrever as categorias
da DCC (Disorientation, altered Interactions with people and other pets, Sleep-wake cycle

10
alterations, House soiling, altered Activity level) (LANDSBERG, 2005), que em português
poderia ser substituído por DISTA (Desorientação, mudanças na Interação com o proprietário
ou outros animais, alterações no ciclo de Sono-vigília, perda do Treinamento higiênico,
alterações no nível de Atividades). Outros sinais que podem ocorrer incluem aumento da
ansiedade, alterações de apetite, redução nos cuidados com a higiene, aumento da vocalização
/ latidos, intolerância ao exercício, dificuldade para subir escadas, aumento da irritabilidade,
surgimento de novos medos e fobias e comportamentos destrutivos (FRANK, 2002;
LANDSBERG, 2005). Todavia, isto está longe de ser uma lista completa dos sinais clínicos
que podem estar associados com envelhecimento cerebral (LANDSBERG et al., 2005).
Em um estudo realizado por Siwak et al. (2001), observou-se diferenças no
comportamento exploratório e locomotor ao serem comparados cães jovens, cães idosos sem
alterações cognitivas e cães com DCC. Estes comportamentos parecem depender de uma
integridade do circuito pré-frontal córtico-estriatal-palidal e de conexões entre os lobos
frontais e o cerebelo, que podem estar danificados em cães com DCC, levando a uma ruptura
dos mecanismos de controle normal do comportamento. Em apoio à esta hipótese, os cães
com DCC apresentaram maiores níveis de atividade que os demais cães idosos, porém de
forma aleatória e não direcionada, tendendo a comportamentos estereotipados, com perda de
comportamentos exploratórios mesmo frente à novos estímulos (brinquedos, pessoas).
Comportamentos não direcionados e estereotipados podem ser resultantes de deficiências no
funcionamento dos sistemas cerebrais acima mencionados. Os cães com DCC apresentaram
ainda um maior tempo de reação ao seu reflexo no espelho, similar ao que ocorre em
humanos com graus avançados de DA, em que os pacientes são incapazes de reconhecerem a
si mesmos no espelho, supostamente devido a uma degeneração acentuada do lobo frontal
direito, que pode ser o mesmo mecanismo encontrado nos cães. Cães idosos sem alterações
cognitivas apresentaram menores níveis de atividade que os cães jovens, possivelmente pela
redução esperada da força, resistência e coordenação que ocorre com o envelhecimento,
porém apresentaram respostas similares quando expostos à novos estímulos, apenas com
menor intensidade. Acredita-se que esta menor intensidade se deva ao fato dos cães mais
velhos terem mais experiência com estímulos novos, ocorrendo um processo de
dessensibilização ao longo da vida.
Um decréscimo no comportamento exploratório e locomotor relacionado à idade foi
também relatado em gatos, ratos e camundongos (HEAD et al., 1997). Todavia, no estudo
realizado por Head et al. (1997) fatores como raça, genética, condições de criação e estrutura
física pareceram exercer influência sobre estes comportamentos em cães idosos.
Na medicina humana, tem-se observado a ocorrência de sinais motores em pacientes
com disfunção cognitiva leve e também com Alzheimer, incluindo rigidez, instabilidade
postural, letargia e, raramente, tremores. Estes sinais foram correlacionados com um aumento
no risco de desenvolvimento de DA e um pior prognóstico em pacientes com DA já
estabelecida. Em um estudo piloto realizado com 21 cães (GOLINI et al., 2009), observou-se
que a ocorrência de anormalidades neurológicas em cães idosos com sinais de DCC foi quase
duas vezes maior do que em cães cognitivamente normais. Estas alterações foram
identificadas em 9 cães, havendo principalmente o envolvimento de neurônio motor inferior
(redução de reflexos, diminuição da propriocepção) e tremores posturais em membros
pélvicos, com apenas 1 cão apresentando comprometimento de função do V par de nervos
cranianos.
Apesar da DCC só ter sido caracterizada recentemente (RUEHL; HART, 1998), um
estudo realizado nos anos 80, citado por Frank (2002), já demonstrava que as queixas
principais de proprietários de cães idosos eram comportamentos destrutivos, vocalização
excessiva e urinar / defecar em locais inapropriados, alterações diagnosticadas na época como
“ansiedade de separação de início em idade avançada” ou “perda do treinamento higiênico”.

11
Hoje reconhece-se que estes animais poderiam apresentar na verdade sinais de DCC. A
condição descrita por alguns autores como “depressão involutiva” tem também diversas
características clínicas comuns à DCC (FRANK, 2002). O que ocorre é que a abordagem
européia para alterações comportamentais em animais é diferente da escola americana, e desta
forma, as alterações comportamentais que ocorrem em cães idosos, segundo a abordagem
européia, são descritas como: hiperagressividade em cães idosos, síndrome confusional de
cães idosos, e distúrbios tímicos de cães idosos (depressão involutiva ou distimia). Destas, a
que mais se assemelha à DCC é a síndrome confusional de cães idosos, porém as outras
alterações incluem sinais que podem ser comuns à DCC, como perda do treinamento
higiênico, alterações nas interações sociais e distúrbios do sono nos distúrbios tímicos e
aumento na frequência de comportamentos agressivos na hiperagressividade em cães idosos
(LANDSBERG et al., 2005). Assim sendo, estas alterações devem ser avaliadas
criteriosamente, observando-se todos os sinais manifestados para uma melhor abordagem
diagnóstica e terapêutica.
É difícil determinar em que idade o cão começa a manifestar os sinais de disfunção
cognitiva, porém alguns estudos demonstram que mais de 50% dos cães com idade superior a
11 anos têm pelo menos um sinal de declínio cognitivo (LANDSBERG et al., 2005). Em um
estudo citado por Cummigs et al. (1996), realizado com cães de 7 a 19 anos de idade,
observou-se que alterações na parte cognitiva eram raras em cães com idade inferior a 9 anos,
porém a maioria dos cães com idade mais avançada apresentaram diversas alterações, com
46% tendo 11 ou mais parâmetros alterados em uma avaliação de 15 itens. Em um outro
estudo, realizado por Neilson et al. (2001), com 180 cães, a percentagem de cães com 11 – 12
anos com sinais de disfunção cognitiva foi de 27,5%, enquanto que a de cães com 15 – 16
anos foi de 67%. Neste estudo ainda é citado que cães com sinais de disfunção cognitiva
reavaliados dentro de um período de 6 a 18 meses tiveram piora significativa da sua condição
(NEILSON et al., 2001), demonstrando que a prevalência da DCC aumenta com o avançar
dos anos, sendo a expectativa de vida após o diagnóstico de cerca de 1,5 a 2 anos (RUEHL;
HART, 1998; HEIBLUM et al., 2006).
Em um estudo mais recente, realizado por Azkona et al. (2009), através de entrevistas
telefônicas à proprietários de cães idosos, dos 325 cães com idades entre 9 e 17 anos, 22,5%
apresentaram sinais sugestivos de DCC, sendo 14,1% com DCC leve (alterações em uma
categoria), 6,2% com DCC moderada (alterações em duas categorias) e 2,2% com DCC
severa (alterações em três ou quatro categorias). As principais categorias em que houve
alterações foram interações sociais e treinamento higiênico e aprendizado, com 37,7% cada.
Houve aumento no percentual de casos de DCC e de casos mais severos conforme o avançar
da idade, com 14,8% dos cães com idade de 9 a 11 anos afetados (nenhum deles com DCC
severa), aumentando para 29,5% dos cães com idades entre 12 e 14 anos (3,3% com DCC
severa) e finalmente para 47,6% dos cães entre 15 e 17 anos de idade (14,3% com DCC
severa). Neste estudo houve também diferença com relação ao sexo dos animais que
apresentaram DCC, sendo as fêmeas significativamente mais afetadas, principalmente as
ovariohisterectomizadas, sugerindo uma influência hormonal nas funções cognitivas. No caso
dos machos, apesar do número de animais castrados com DCC ter sido percentualmente maior
(26,3% castrados x 13,4% inteiros), a diferença não foi estatisticamente significativa.
Enquanto o diagnóstico clínico em cães de companhia pode não ser viável em idade
inferior a 11 anos, cães que recebem treinamento para tarefas específicas, como cães-guia de
cegos, cães de agility e cães que auxiliam na detecção de bombas podem ter um declínio
cognitivo percebido muito mais precocemente (LANDSBERG, 2005). Apesar dos cães de
raças grandes / gigantes terem uma expectativa de vida menor, possivelmente em decorrência
de um envelhecimento mais rápido dos sistemas cardiovascular, músculo-esquelético e

12
endócrino, não parece haver uma progressão mais rápida dos sinais de DCC nestes animais
(NEILSON et al., 2001).
Muitos proprietários encontram grandes dificuldades em lidar com cães com sinais de
DCC, especialmente quando as alterações comportamentais envolvem a perda do treinamento
higiênico ou o despertar noturno, ou ainda no caso de alterações capazes de transformar uma
relação antes próxima e positiva em uma relação mais distante ou até negativa. Com isso, os
laços entre cão-proprietário podem ficar enfraquecidos ou até se romperem (LANDSBERG,
2005). Um agravante é que muitos proprietários não discutem o aparecimento de alterações
comportamentais em seus cães idosos com os veterinários por acreditarem que estas
alterações são aspectos indesejáveis porém intratáveis do envelhecimento, o que faz com que
muitas vezes a prevalência da DCC na população de cães idosos seja subestimada (OSELLA
et al., 2007; AZKONA et al., 2009). Estas informações ressaltam a importância da busca de
maiores informações acerca desse assunto. Assim, a DCC deixará de ser considerada uma
alteração normal no envelhecimento e passará a ser vista como uma condição patológica
(FRANK, 2002) para a qual devemos procurar terapias eficazes.
2.3 Neuropatologia
Diversas alterações degenerativas que ocorrem no cérebro de cães idosos podem se
associar aos sinais comportamentais da síndrome de disfunção cognitiva, mas uma relação de
causa e efeito clara com a síndrome clínica ainda não foi estabelecida (LANDSBERG et al.,
2005). Estudos vêm sendo realizados para elucidar os mecanismos cerebrais envolvidos no
surgimento da DCC (HEAD, 2001). Uma outra razão que tem levado a um aumento nos
estudos dos processos de envelhecimento canino, incluindo a DCC, é o esforço que tem sido
empregado no desenvolvimento de diversos modelos de envelhecimento de mamíferos para
permitir a investigação dos mecanismos e doenças crônicas decorrentes deste processo, bem
como a avaliação e desenvolvimento de possíveis intervenções (INGRAM; WILLIAMS,
2002).
Com os estudos realizados até o presente, apenas sabe-se que a DCC se manifesta
devido a uma série de alterações físicas e químicas que ocorrem no cérebro durante o
envelhecimento (HEIBLUM et al., 2006), incluindo alterações em neurônios,
neurotransmissores, no metabolismo, na parte vascular e na bioquímica cerebral (NEILSON
et al., 2001), como: fibrose das meninges cerebrais, calcificação meníngea , desmielinização,
lipofuscinose, aumento no tamanho e no número de células gliais, redução do número de
neurônios, corpúsculos apoptóticos, degeneração axonal, grânulos contendo ubiquitina na
substância branca, alterações vasculares e dilatação dos ventrículos por atrofia do córtex
(CUMMINGS et al., 1996; RUEHL; HART, 1998; BORRÀS et al., 1999; LANDSBERG et
al., 2005; HEIBLUM et al., 2006).
A deposição de substância beta-amilóide é a alteração mais significativa nos cães com
DCC, podendo levar à formação de placas (RUEHL; HART, 1998; HEIBLUM et al., 2006),
que possuem correlação positiva com a gravidade da doença, ou seja, quanto maior a
formação de placas, maior a gravidade da DCC (CUMMINGS et al., 1996; RUEHL; HART,
1998; HEAD, 2001; INGRAM; WILLIAMS, 2002; LANDSBERG et al., 2005). Os cães
naturalmente acumulam beta-amilóide com o avançar da idade (HEAD, 2001). Esta
substância é oriunda da quebra de uma proteína conhecida como proteína precursora de
amilóide (HEAD, 2001; INGRAM; WILLIAMS, 2002) e há evidências de que esta produção
ocorre dentro dos neurônios, com posterior transporte para o meio extra-celular através dos
axônios (CUMMINGS et al., 1996). Há indícios de que o stress e outros estímulos que afetem
os neurônios podem causar um aumento na produção da proteína precursora de amilóide, com

13
conseqüente acúmulo ou alteração no processamento da substância beta-amilóide, que pode
formar depósitos e resultar em alterações funcionais dos neurônios (CUMMINGS et al.,
1996). Os depósitos ocorrem não apenas nos vasos, mas em diversas áreas do tecido cerebral.
Além da deposição em placas, podem ocorrer depósitos de forma difusa (INGRAM;
WILLIAMS, 2002). A deposição em diferentes áreas corticais levará a diferentes sinais
(LANDSBERG et al., 2005).
A substância beta-amilóide é neurotóxica e pode levar ao comprometimento da função
neuronal, dos canais iônicos, dos potenciais sinápticos e do metabolismo neuronal, levando a
degeneração sináptica, perda neuronal induzida por apoptose e esgotamento de
neurotransmissores (CUMMINGS et al., 1996; RUEHL; HART, 1998; BORRÀS et al., 1999;
LANDSBERG et al., 2005). Entretanto, pelas observações de Cummings et al. (1996), a
neurotoxicidade da substância beta-amilóide ocorre quando esta se encontra em sua forma
pregueada, havendo evidências de que tenha propriedades neurotróficas quando em sua forma
solúvel. No estudo de Colle et al. (2000), observou-se que há diferença nas isoformas de beta
amilóide (Aβ) (referentes ao número de aminoácidos que as compõem) presentes nos
depósitos em diferentes partes do cérebro canino, sendo os depósitos vasculares compostos da
isoforma Aβ40 (possivelmente associada à conformação pregueada) e os depósitos no
parênquima compostos por Aβ42.
Há uma grande semelhança entre humanos com DA e cães no que se refere ao
acúmulo de beta-amilóide, a começar pelo fato de que a sequência de aminoácidos é idêntica
(COLLE et al., 2000; HEAD, 2001; INGRAM; WILLIAMS, 2002). A distribuição dos
depósitos de substância beta-amilóide em cães idosos é também semelhante ao observado nos
cérebros de humanos nos primeiros estágios de DA, ocorrendo com frequência no hipocampo
e córtex frontal, que são áreas envolvidas no comportamento cognitivo (NEILSON et al.,
2001). Foi observado que o início da deposição de beta-amilóide no córtex pré-frontal do
cérebro de Beagles inicia-se por volta dos 8 anos de idade (STUDZINSKI et al., 2006).
Posteriormente, ocorrem depósitos no hipocampo ou córtex parietal e, mais tardiamente, no
córtex occipital (HEAD, 2001).
Em humanos, vem-se estudando a ocorrência de famílias com manifestação precoce da
DA, decorrente de mutações nos cromossomos 1, 14 e 21, levando à uma mutação ou um
aumento da expressão da proteína precursora de amilóide. Sugere-se que possa existir uma
predisposição genética também à DCC, baseado na similaridade da extensão de depósitos de
amilóide em cães de uma mesma ninhada de Beagles (CUMMINGS et al., 1996; HEAD,
2001).
Em relação às alterações neuroanatômicas, podemos citar a redução no volume
cortical e dilatação ventricular (CUMMINGS et al., 1996; BORRÀS et al., 1999; HEAD,
2001; INGRAM; WILLIAMS, 2002). Em humanos idosos, estas alterações foram
relacionadas à perda de neurônios corticais (BORRÀS et al., 1999). Nos cães, ainda que não
haja estudos suficientes que comprovem esta hipótese, há registros de perda neuronal em
áreas neocorticais específicas, redução da árvore dendrítica, gliose astrocítica em diversas
áreas e degeneração da substância branca central (INGRAM; WILLIAMS, 2002), além de
satelitose e neuronofagia, esta última alteração caracterizando a perda neuronal, sendo
encontrada principalmente no córtex frontal e tálamo dorsal (BORRÀS et al., 1999). Há
registros também de perda neuronal no córtex frontal, no temporal e no occipital
(CUMMINGS et al., 1996). A perda ou reorganização sináptica resultante da perda neuronal
pode contribuir para os distúrbios comportamentais observados em cães idosos (CUMMINGS
et al., 1996). Cães com mais de 11,5 anos de idade apresentam uma redução de volume total
cerebral significativa quando comparados com cães mais jovens (STUDZINSKI et al., 2006).
Em um estudo com 20 cães idosos (BORRÀS et al., 1999), 60% deles apresentaram dilatação
ventricular.
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Encontra-se também espessamento de leptomeninges, com fibrose e áreas de
calcificação de meninges e plexo coróide, podendo estas alterações serem benignas,
relacionadas à idade e sem repercussões clínicas, porém metaplasia óssea dural da medula
espinhal em cães idosos pode induzir à alterações neurológicas em alguns casos (BORRÀS et
al., 1999).
Os corpúsculos de poliglucosano, classificados como corpúsculos de Lafora por suas
características ultraestruturais, foram um achado frequente nos cérebros de cães idosos
estudados (BORRÀS et al., 1999), sendo a sua contribuição para a DCC ainda desconhecida.
Entretanto, sugere-se a realização de estudos mais aprofundados, uma vez que uma desordem
similar à doença de corpúsculos de Lafora em humanos tem sido descrita em cães jovens,
especialmente Beagles, com antecedentes de epilepsia, depressão e sonolência.
Os corpúsculos de ubiquitina foram um achado frequente na substância branca de
cérebros de cães idosos estudados (BORRÀS et al., 1999), sendo encontrados por vezes
também na substância cinzenta (CUMMINGS et al., 1996), com correlação positiva entre a
densidade dos corpúsculos e a idade do cão. Sugere-se uma desordem primária da mielina
levando à um aumento no nível de proteínas anormais ou diminuição na taxa de proteólise
para justificar a presença destes corpúsculos. A ubiquitina promove a proteólise não
lisossomal dependente de ATP, tendo função no reparo do DNA, controle do ciclo celular e
respostas ao stress. Grânulos imunorreagentes à ubiquitina ocorrem tanto no envelhecimento
normal quanto em doenças como Parkinson, Alzheimer e doenças do neurônio motor em
humanos (BORRÀS et al., 1999).
Em relação às alterações gliais, podemos citar a hipertrofia astrocítica e, em menor
escala, uma astrocitose, que pode ser uma reação ao dano neuraxonal ou um efeito primário
do envelhecimento. Estas alterações foram encontradas principalmente na substância branca
(BORRÀS et al., 1999).
Dentre as alterações metabólicas e neuroquímicas, encontramos redução no fluxo
sanguíneo cerebral, diminuição no metabolismo cerebral de glicose e diminuição na ligação
dos receptores de glutamato, que torna-se uma alteração importante uma vez que a
neurotransmissão do glutamato tem sido relacionada a processos de aprendizado e memória
(INGRAM; WILLIAMS, 2002).
Um estudo recente realizado por Pugliese et al. (2005) demonstrou alterações nos
níveis de diversas substâncias no líquor de cães idosos com disfunções cognitivas leves e
severas, quando comparados à cães jovens. Observou-se maiores níveis de piruvato, lactato e
potássio no líquor de cães com disfunções severas, bem como maiores variações nos níveis de
glicose, sugerindo uma disfunção do metabolismo oxidativo cerebral de glicose, que pode ser
ao menos em parte responsável pela disfunção cognitiva clinicamente observada. Observou-
se também maiores níveis de proteínas em animais com disfunções leves e severas, que
podem estar relacionados ao processo inflamatório decorrente da presença de placas de beta-
amilóide nestes cães, associado a um aumento da permeabilidade da barreira hemato-
encefálica e produção intra-tecal de imunoglobulina do tipo G (IgG) decorrente de processos
relacionados ao envelhecimento.
Sugere-se uma correlação entre hipóxia cerebral e DCC em animais idosos, com
intensificação do processo neurodegenerativo devido à insuficiência vascular. O cérebro do
animal idoso está sujeito à hipóxia nos casos em que há redução do débito cardíaco, anemia,
hiperviscosidade sanguínea, hipercoagulabilidade plaquetária e hipertensão (devido a
diabetes, nefropatias, insuficiência respiratória). Além disso, o esgotamento colinérgico e um
aumento no tônus noradrenérgico também podem comprometer o fluxo sanguíneo cerebral,
por um efeito vasoconstrictor (LANDSBERG et al., 2005).
As alterações vasculares e perivasculares podem incluir micro-hemorragias ou infartos
em vasos periventriculares e também ateroesclerose por fibrose das paredes vasculares,
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15
proliferação endotelial, hialinização, mineralização e deposição de beta-amilóide
(LANDSBERG et al., 2005). A ocorrência de macrófagos ativados perivasculares pode
dever-se a uma alteração primária da barreira hemato-encefálica, tendo sido proposta uma
desordem primária de mielina para explicar esta alteração (BORRÀS et al., 1999).
Dentre as alterações nos neurotransmissores podemos citar uma diminuição ou desequilíbrio
nos níveis de: acetilcolina, serotonina, norepinefrina e dopamina (RUEHL; HART, 1998;
HEIBLUM et al., 2006). Estes neurotransmissores estão envolvidos em uma série de funções
cerebrais importantes, como memória, comportamento e humor (RUEHL; HART, 1998).
Os sistemas noradrenérgicos cerebrais apresentam-se bastante sensíveis à degeneração
relacionada à idade, podendo o seu comprometimento levar à alterações de aprendizado, uma
vez que já foi demonstrado o papel da norepinefrina no aprendizado e memória (MILGRAM
et al., 2000).
Um declínio no número de receptores de glutamato NMDA, principalmente nas áreas
do córtex e hipocampo, foi demonstrado no cérebro de cães idosos. Estudos avançados
demonstraram ainda uma redução significativa de fatores neurotróficos como BDNF (Brain
Derived Neurotrophic Factor – Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro) e NGF (Nerve
Growth Factor – Fator de Crescimento Nervoso) (OSELLA et al., 2007).
O aumento da atividade da enzima monoamino-oxidase B (MAOB) é também uma
alteração funcional do cérebro em envelhecimento, podendo resultar na liberação de radicais
livres oxigenados, que danificam as membranas celulares (LANDSBERG et al., 2005). O
aumento nos níveis de radicais livres (RLs) deve-se também a uma diminuição na função
mitocondrial, resposta inflamatória de macrófagos e neutrófilos e exposição à fontes exógenas
(radiação ionizante, carcinógenos, poluentes aéreos), associados à uma redução nos níveis de
enzimas antioxidantes endógenas, com conseqüente aumento dos danos oxidativos ao cérebro
(LANDSBERG et al., 2005).
Sinais de stress oxidativo, similares aos observados em cérebros de humanos com DA,
detectados por colorações específicas, foram encontrados em neurônios, paredes vasculares e
nas proximidades das placas de beta-amilóide (INGRAM; WILLIAMS, 2002). Observa-se
também uma redução significativa das enzimas antioxidantes no cérebro de cães idosos
(HEAD, 2001).
A deposição neuronal de lipofuscina, um pigmento lipídico composto de lipídeos
peroxidizados e proteínas, não tem seus efeitos metabólicos bem compreendidos.
Inicialmente, a deposição pode ser encontrada nos núcleos hipoglosso e óculo-motor. Estes
depósitos são encontrados em crianças e cães jovens, porém sua deposição em quantidades
cada vez maiores e distribuição cada vez mais ampla conforme o avançar da idade em cães,
sugere que possa haver efeitos deletérios por esta deposição. Esta hipótese é reforçada ao se
considerar que a lipofuscinose ceróide, uma doença lisossomal hereditária descrita em
diversas raças caninas, tem como base de sua patogênese o depósito de lipofuscina, levando a
alterações visuais e comportamentais como depressão, inquietação e perda de
comportamentos aprendidos, sinais estes que também podem ser observados na DCC
(BORRÀS et al., 1999). Sugere-se ainda que a lipofuscinose ceróide possa ser considerada
um marcador de stress oxidativo, quando encontrada em cérebros de cães idosos (INGRAM;
WILLIAMS, 2002).
Maiores estudos são ainda necessários para elucidar os marcadores patológicos que
diferenciam o envelhecimento normal do patológico em cães, bem como em humanos
(HEAD, 2001). Além disso, sugere-se que possa haver diferenças na susceptibilidade à
alterações neuropatológicas decorrentes da idade entre diferentes raças de cães (CUMMINGS
et al., 1996).
As alterações neuropatológicas anteriormente descritas assemelham-se àquelas
encontradas tanto em humanos com envelhecimento normal quanto àqueles com doenças
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neurodegenerativas, confirmando que os cães idosos podem servir como bom modelo animal
para o estudo do envelhecimento normal e também de doenças neurodegenerativas (BORRÀS
et al., 1999), especialmente no que se refere à correlação entre as alterações observadas em
alguns cães idosos e humanos com demência, sugerindo que os cães com DCC representam
bons modelos para estudo da demência em humanos (HEAD, 2001; NEILSON et al., 2001),
principalmente da DA.
O fato de cães e humanos terem sistemas cardiopulmonares semelhantes, estarem sob
as mesmas influências ambientais, demonstrarem patologias cerebrais semelhantes e dos cães
terem períodos de vida relativamente mais curtos pode ser valioso no estudo das possíveis
causas de doenças relacionadas ao envelhecimento nas duas espécies (CUMMINGS et al.,
1996; SIWAK et al., 2001; TROJANOWSKI et al., 2008). Além disso, cães apresentam um
sofisticado repertório de comportamentos e correlação significativa entre achados
neuropatológicos e declínio cognitivo (HEAD, 2001).
Uma das vantagens do uso de cães para estudo da etiologia da DA é que não há
registros da formação de novelos neurofibrilares, uma das marcas registradas do Alzheimer,
nos cérebros de cães com DCC. Estes novelos são causadores de disfunção neuronal e são
formados por agregados de proteína tau hiperfosforilada, sendo esta proteína responsável pela
formação do citoesqueleto neuronal (CUMMINGS et al., 1996; COLLE et al., 2000; HEAD,
2001; FRANK, 2002; INGRAM; WILLIAMS, 2002). Isto possibilita o estudo do papel da
substância beta-amilóide isoladamente na doença. Entretanto, no cérebro de alguns cães
idosos observa-se outros sinais de alterações no citoesqueleto (CUMMINGS et al., 1996) e
em alguns nota-se um aumento de proteína tau hiperfosforilada, o que pode sugerir os eventos
iniciais na formação dos novelos neurofibrilares (HEAD, 2001; INGRAM; WILLIAMS,
2002). Uma das possibilidades para o não desenvolvimento destes novelos é o fato da
sequência da proteína tau dos cães ser diferente da dos humanos, o que talvez impeça a
formação de filamentos pareados helicoidais e posteriormente de novelos (HEAD, 2001).
No que se refere ao uso de cães em experimentos laboratoriais sobre alterações neurológicas
relacionadas ao envelhecimento, eles apresentam ainda vantagens como acessibilidade,
facilidade no manejo e alta motivação (MILGRAM et al., 2003).
2.4 Diagnóstico
2.4.1 Diagnóstico de disfunção cognitiva em humanos
Uma das principais dificuldades no diagnóstico da DCC, assim como na DA, consiste
na ausência de marcadores biológicos da doença (HEAD, 2001). Na medicina humana, não
existe ainda um teste que possa ser considerado “padrão ouro” para o diagnóstico de
Alzheimer (BUSTAMANTE et al., 2003). Desta forma, o diagnóstico é feito através do
exame clínico (excluindo-se os possíveis diagnósticos diferenciais através de exames
complementares) e confirmado por avaliação neuropsicológica que demonstre um déficit
progressivo de memória e o comprometimento de pelo menos uma outra função cognitiva,
com gravidade suficiente para interferir de modo significativo nas atividades profissionais ou
sociais do indivíduo (NITRINI et al., 2005). Dentre as alterações cognitivas que podem ser
encontradas, temos: afasia (deterioração da linguagem), apraxia (inabilidade para executar
movimentos precisos), agnosia (falha no reconhecimento, principalmente de pessoas) e
disfunção das funções executivas (habilidade de planejar, organizar, prestar atenção)
(FRANK, 2002). Alterações de memória também podem estar presentes em indivíduos com
disfunção cognitiva leve, que encontram-se em maior risco de desenvolvimento de DA
(HEAD, 2001). Como auxílio na avaliação destes pacientes, o que vem se mostrando mais

17
efetivo é a combinação de instrumentos de avaliação cognitiva à escalas de avaliação
funcional, sem desprezar a necessidade de uma avaliação objetiva do indivíduo
(BUSTAMANTE et al., 2003; NITRINI et al., 2005).
Enquanto os testes neuropsicológicos avaliam linguagem, função visual-espacial e
funções executivas, testes funcionais ou comportamentais avaliam dificuldades em tarefas
diárias, podendo-se utilizar listas de checagem com itens como: confusão, desorientação,
perda de interesse em atividades / apatia, tristeza incomum / depressão, falta / excesso de
apetite, acordar cedo, problemas para dormir ou troca dos padrões de sono/vigília, falta de
higiene pessoal, agressividade e incontinência (HEAD, 2001).
O teste cognitivo mais estudado e utilizado mundialmente na medicina humana tem
sido o Mini-Exame do Estado Mental (MMSE), porém seu desempenho sofre influência de
diversos fatores sócio-culturais, e por isso vem-se buscando desenvolver instrumentos
adequados à realidade brasileira, para possibilitar a realização de estudos consistentes e
diagnóstico precoce da doença, momento em que a instituição terapêutica pode ser mais
eficaz (BUSTAMANTE et al., 2003). Em relação às escalas de avaliação funcional, estas
geralmente são aplicadas aos familiares ou informantes dos idosos, envolvendo questões
sobre o desempenho do idoso em diversas atividades da vida diária. As mais usadas são o
“Questionário ao Informante sobre Declínio Cognitivo do Idoso” (“Informant Questionnaire
of Cognitive Decline in the Elderly” - IQCODE) e a Escala Bayer de Atividades da Vida
Diária (B-ADL) (NITRINI et al., 2005).
2.4.2 Diagnóstico de disfunção cognitiva em cães
À semelhança do que ocorre com humanos, o diagnóstico da DCC é feito
primariamente por exclusão, através do questionamento dos proprietários acerca de sinais
apresentados por seus cães compatíveis com DCC, o que pode ser realizado através do
preenchimento de formulários ou listas de checagem, tentando-se descartar a possibilidade da
ocorrência de outros quadros mórbidos que possam causar alterações de comportamento
(RUEHL; HART, 1998; HEAD, 2001; FRANK, 2002; LANDSBERG, 2005; LANDSBERG
et al., 2005; HEIBLUM et al., 2006). Este é atualmente o único meio prático de se detectar a
DCC (LANDSBERG, 2005). É importante também a obtenção de um histórico detalhado,
pois a ocorrência de traumas cranianos ou de um histórico familiar de desordens neurológicas
pode ser relevante (HEAD, 2001). Vale ressaltar que outros quadros mórbidos podem estar
ocorrendo concomitantemente com a DCC, agravando sua apresentação (FRANK, 2002). Na
verdade, muitas vezes é o efeito combinado da doença e do envelhecimento na saúde física e
mental do animal que resulta em desordens comportamentais em cães idosos (OSELLA et al.,
2007). Em Neilson et al. (2001) é citado ainda um estudo que demonstrou que os sinais de
disfunção nas categorias orientação, interação social, treinamento higiênico e ciclo de sono-
vigília não são tipicamente consequência de desordens médicas que não a degeneração
cerebral.
Recentemente, desenvolveu-se uma escala na tentativa de obter uma avaliação mais
objetiva para o diagnóstico de distúrbios cognitivos e afetivos relacionados à idade (DCARI),
(COLLE et al., 2000; LANDSBERG et al., 2005; OSELLA et al., 2007). Esta escala foi
elaborada com base nas escalas usadas em humanos (MMSE e B-ADL), possibilitando coletar
dados sobre as principais alterações comportamentais identificadas no cão. Houve correlação
positiva entre as maiores pontuações obtidas na escala e a deposição de beta-amilóide,
principalmente referindo-se a comportamentos como alimentação, ingestão de líquidos,
comportamento auto-estimulatório (lambeduras, perseguição da cauda), comportamento de
eliminação e padrões de sono, não havendo correlação com comportamentos específicos

18
aprendidos (comandos, treinamentos), auto-controle (dificuldades em se acalmar,
hiperatividade / indiferença, generalização de experiências aversivas), comportamento social
aprendido (mordeduras sem aviso, retenção de objetos roubados, não submissão quando
repreendido) e capacidades adaptativas (comportamento frente à mudanças / novos estímulos)
(COLLE et al., 2000).
Todavia, no teste elaborado por Pugliese et al. (2005), comportamentos como
alimentação, latidos, ingestão de líquidos, auto-controle, agressividade, comportamento auto-
estimulatório e comportamento social aprendido mostraram-se inadequados para detecção
apropriada de modificações cognitivas. Os comportamentos que mostraram-se relevantes
nesta avaliação foram avaliação do andar do cão, postura / expressão emocional,
comportamento eliminatório, comportamento em relação ao sono, comportamento de
brincadeiras, comportamento exploratório, comportamentos específicos aprendidos,
capacidades adaptativas, interação com outros animais e com os proprietários. Neste estudo,
houve correlação entre os resultados obtidos no teste e a análise de líquor quanto aos níveis de
glicose, piruvato, lactato, potássio e proteínas.
O mesmo questionário preenchido pelos proprietários para o diagnóstico da DCC pode
ser usado ao longo do tratamento, para avaliar a resposta do animal (RUEHL; HART, 1998;
LANDSBERG et al., 2005).
Em um estudo realizado por Osella et al. (2007) com cães a partir de 7 anos de idade
para detecção de casos sugestivos de DCC através de questionários preenchidos pelos
proprietários, dos 102 cães incluídos no estudo, 75 apresentaram sinais de DCC, sendo que 42
cães apresentaram sinais em uma categoria (a maioria com alterações na interação socio-
ambiental – 59,52%) e 33 cães apresentaram sinais em duas ou mais categorias. Todavia,
observou-se que cães com sinais em apenas uma categoria não necessariamente apresentavam
uma disfunção cognitiva leve, bem como cães com sinais em duas ou mais categorias não
necessariamente apresentavam uma disfunção cognitiva severa, o que demonstra a
necessidade de uma avaliação comportamental mais aprofundada nos animais suspeitos. Da
mesma forma, sugere que a distinção para demência usada tradicionalmente em humanos
pode não se aplicar diretamente aos cães enquanto não se realizar maiores experimentos para
correlacionar sinais comportamentais, emocionais e cognitivos com marcadores biológicos e
análise de lesões cerebrais post-mortem.
O exame clínico de animais com suspeita de DCC deve incluir exame físico completo,
exame neurológico (com atenção principalmente à função de nervos cranianos e reflexo
perineal, especialmente em cães com distúrbios de eliminação) e exames laboratoriais –
hemograma completo e perfil bioquímico (função renal e hepática) (RUEHL; HART, 1998;
FRANK, 2002; GOLINI, 2009). É importante realizar também uma avaliação articular e um
exame prostático (LANDSBERG et al., 2005). Outros testes que podem ser realizados são
urinálise e avaliação endócrina (função de tireóide e adrenal). Em alguns casos pode ser
necessária a realização de eletrocardiograma ou exames de imagem (radiografia,
ultrassonografia, ressonância magnética ou tomografia) (RUEHL; HART, 1998). A
ressonância magnética é útil para avaliação de lesões intracranianas, atrofia cerebral e
coleções de fluido cerebroespinhal na cisterna cerebelo-medular, sendo o último passo para
descartar a ocorrência de outras afecções neurológicas que possam mimetizar a DCC, como
afecções neoplásicas, inflamatórias ou infecciosas (GOLINI, 2009). Achados como atrofia
cortical, entretanto, não permitem diferenciar um envelhecimento normal de um patológico.
O que se tem sugerido é uma avaliação da velocidade da atrofia em indivíduos
assintomáticos, ao invés de uma única avaliação (HEAD, 2001).
É necessário ainda buscar o desenvolvimento de critérios clínicos mais sistemáticos
para o diagnóstico da DCC, pois diversos sinais atualmente identificados podem ter outras
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19
causas, como ocorre na medicina humana, em relação à DA. Um acompanhamento criterioso
da progressão da DCC faz-se também necessário (HEAD, 2001).
Cães com sinais de DCC estáveis ou melhores e sem doenças concomitantes devem ser
reexaminados a cada 3 ou 6 meses, já que cães idosos geralmente manifestam novos
problemas médicos dentro deste período. Cães com outras doenças concomitantes podem
necessitar reavaliações mais freqüentes, de acordo com a gravidade da doença (RUEHL;
HART, 1998).
Na medicina veterinária atualmente tenta-se desenvolver testes cognitivos para cães
que possibilitem a detecção precoce da doença, já que muitos testes padronizados para
humanos são de difícil extrapolação por incluírem testes como “teste do desenho do relógio” e
“teste de fluência verbal”. Estes testes visam uma avaliação mais objetiva do grau de
disfunção cognitiva, sendo mais sensíveis do que as avaliações subjetivas dos proprietários,
uma vez que avaliam alterações no aprendizado e memória ao invés de observações clínicas
(LANDSBERG, 2005). Os testes para cães usam alimentos como recompensa, sem a
necessidade de privação alimentar antes das sessões (HEAD, 2001; INGRAM; WILLIAMS,
2002). São selecionadas tarefas que requerem o funcionamento de circuitos corticais e/ou
regiões cerebrais específicos para possibilitar a mensuração de diversos tipos de aprendizado
e habilidades de memória, similar ao que é feito em relação à DA (HEAD, 2001).
De uma forma geral, objetos são apresentados sobre uma bandeja aos cães que se
encontram dentro de uma “gaiola especial” para testes. O cão deve deslocar com seu focinho
o objeto correto, que encobre a recompensa alimentar. A localização do objeto é determinada
de forma aleatória, por um programa de computador. No teste de aprendizado de
discriminação visual, por exemplo, o cão deve aprender qual diferente objeto encobre a
recompensa. Este teste geralmente não apresenta diferença de resultados entre cães jovens ou
idosos, a não ser quando estão sendo testados cães bem idosos (mais que 12 anos); todavia,
quanto mais habilidade cognitiva é exigida para execução do teste, maiores são as diferenças
nas performances de cães de diferentes idades. Assim, essas diferenças começam a ser
notadas em testes que requerem funções mediadas pelo córtex pré-frontal, como o de
aprendizado reverso, no qual ao ser apresentado a uma bandeja com dois diferentes objetos,
o cão deve parar de responder ao objeto que previamente encobria a recompensa para buscar a
recompensa sob o objeto que anteriormente não encobria nada, requerendo o uso de
habilidades como inibição de resposta e mudança de estratégia. Diferenças ainda maiores são
observadas quando são executados testes que requerem o uso da memória, desenvolvidos para
uso em primatas não humanos e análogos aos usados em humanos, como “teste reverso de
memória de reconhecimento de objeto” (“delayed nonmatching to sample” - DNMS) e
“teste reverso de memória visual-espacial” (“delayed nonmatching to position” -
DNMP), nos quais os cães devem se lembrar sob qual objeto ou em que posição,
respectivamente, estava a recompensa para buscá-la sob um novo objeto ou uma nova posição
da próxima vez que a bandeja lhes é apresentada, sendo que a apresentação da bandeja com os
objetos e recompensas é feita com intervalos de tempo cada vez maiores. Os cães idosos
muitas vezes apresentam uma dificuldade tão grande no teste DNMS que não são capazes
sequer de atingir os critérios mínimos de aprendizado do teste (CUMMINGS et al., 1996;
HEAD, 2001; INGRAM; WILLIAMS, 2002; LANDSBERG, 2005).
Em suma, em relação ao desempenho dos cães nos testes cognitivos, é possível
observar um declínio cognitivo substancial com o aumento da idade, através dos resultados
obtidos nos testes de memória de reconhecimento de objetos, memória visual-espacial,
aprendizado discriminatório e aprendizado discriminatório reverso. Cães mais idosos
apresentam maior dificuldade principalmente nos testes que requerem aprendizado reverso,
quando comparados aos cães jovens (MILGRAM et al., 2003).

20
A deterioração das funções cognitivas em cães idosos, entretanto, apresenta grande
variedade e nem todas as habilidades se deterioram por igual com a idade (STUDZINSKI et
al., 2006). Enquanto os sinais clínicos de disfunção cognitiva geralmente tornam-se evidentes
em cães a partir dos 11 anos de idade, sugere-se que os testes cognitivos podem detectar
declínio cognitivo em animais a partir de 6 anos de idade em animais institucionalizados
(LANDSBERG, 2005; LANDSBERG; ARAUJO, 2005). Isto assemelha-se à doenças
neurodegenerativas em humanos, em que pacientes que realizam testes cognitivos
regularmente são diagnosticados muito antes do surgimento de sinais clínicos observados no
dia-a-dia (LANDSBERG, 2005). Alterações no aprendizado visual-espacial e memória, por
exemplo, são detectados antes da observação de outras alterações cognitivas, servindo de
indicadores precoces de distúrbios da memória como disfunção cognitiva e Alzheimer em
humanos. Estas alterações também são observadas em cães, podendo ser avaliadas através do
teste DNMP, tendo este se mostrado eficaz para detecção de alterações em cães a partir de 6
anos de idade, cerca de 2 anos antes da observação de outros déficits cognitivos
(STUDZINSKI et al., 2006). É importante ressaltar, no entanto, que nem todos os cães idosos
apresentam alterações nos testes (HEAD, 2001).
Existe uma correlação positiva entre um pior desempenho nos testes cognitivos e o
acúmulo de beta-amilóide no hipocampo e córtex frontal (HEAD et al., 1997). Entretanto, o
fato dos testes cognitivos detectarem alterações cognitivas em cães a partir de 6 anos de idade,
ou seja, 2 anos antes de ser usual detectar depósitos de beta-amilóide no cérebro canino
(considerados característica chave na neuropatologia da demência), sugere que outras
alterações neuropatológicas podem contribuir para os déficits cognitivos encontrados, como
stress oxidativo ou diminuição colinérgica (STUDZINSKI et al., 2006).
Uma das vantagens dos testes cognitivos é possibilitar uma avaliação objetiva em
estudos controlados para avaliar os efeitos de intervenções terapêuticas no tratamento da DCC
(LANDSBERG, 2005).
Entretanto, ainda que estes testes venham apresentando resultados interessantes, a
maioria deles foi desenvolvida para avaliação de disfunção cognitiva em primatas não
humanos, utilizando a visão como principal sentido para identificação dos objetos, o que
sugere a necessidade do desenvolvimento de testes mais específicos para cães, como testes
que usem o olfato como principal sentido, por exemplo (INGRAM; WILLIAMS, 2002). O
uso do olfato torna-se bastante interessante, uma vez que sabe-se que deficiências olfativas
ocorrem em humanos idosos e naqueles com desordens neurodegenerativas, tendo esta
deficiência também sido demonstrada em um teste preliminar realizado com cães idosos
(CUMMINGS et al., 1996).
É importante ressaltar também que estes testes ainda estão restritos ao uso em
laboratórios, pois requerem uma série de utensílios padronizados e acompanhamento diário da
evolução dos animais nos testes praticados por longos períodos de tempo, havendo a
necessidade do desenvolvimento de testes mais prontamente utilizáveis na rotina clínica diária
(HEAD, 2001; FRANK, 2002). Além disso, não há uma confirmação de que os métodos
usados nos testes para avaliação de aprendizado e memória tenham correspondência com as
alterações comportamentais clinicamente observadas (LANDSBERG, 2005; OSELLA et al.,
2007), não se sabendo, por exemplo, se os circuitos cerebrais avaliados no teste cognitivo de
memória espacial são os mesmos responsáveis por sinais clínicos de DCC como
desorientação (HEAD, 2001).
Um teste mais prontamente utilizável na rotina clínica é o teste de curiosidade, no
qual diversos brinquedos são disponibilizados para que os cães os examinem e brinquem com
eles. Este teste leva apenas 10 minutos e não requer nenhum aparato específico nem
treinamento prévio. Visa avaliar a reação dos cães a objetos novos e seu comportamento
exploratório. Em geral, cães jovens exploram mais e buscam mais contato com os objetos

21
novos do que os cães idosos. Estes, por sua vez, quando apresentam disfunção cognitiva, se
locomovem mais, porém apresentando menor comportamento exploratório (LANDSBERG,
2005).
O diagnóstico definitivo da DCC, entretanto, pode apenas ser firmado mediante
confirmação das alterações no exame histopatológico, a partir de amostras obtidas por biópsia
cerebral ou colhidas na necrópsia (HEIBLUM et al., 2006; RUEHL; HART, 1998). O mesmo
ocorre na DA, sendo necessária a ocorrência de novelos neurofibrilares e placas senis (de
beta-amilóide), ainda que estas alterações não sejam exclusivas da DA, podendo ser
encontradas em outras formas de demência e também no envelhecimento normal (HEAD,
2001).
2.4.3 Diagnóstico diferencial
Dentre as doenças que devem ser descartadas antes de se considerar um diagnóstico de
DCC, podemos citar: falência de órgãos, tumores, outras afecções degenerativas, doenças
autoimunes, déficits sensoriais, distúrbios que cursem com dor, outras doenças que afetem o
sistema nervoso central ou sua circulação, endocrinopatias, problemas no trato gastro-
intestinal e problemas urinários, pois podem ter efeitos profundos no comportamento dos
animais (FRANK, 2002; HEATH, 2004; LANDSBERG et al., 2005). Convulsões ocorrem
em apenas 45% dos cães com tumores cerebrais, portanto a ausência de convulsões não
descarta a possibilidade destes tumores (FRANK, 2002). Déficits sensoriais como
diminuição da visão ou da audição são achados comuns em cães idosos e este último
certamente pode contribuir para um sono mais profundo, aparente desatenção e inabilidade
em localizar a origem de determinados sons (FRANK, 2002).
2.5 Tratamento
Uma vez que a DCC decorre de alterações neurodegenerativas progressivas, quanto
antes os proprietários relatarem alterações comportamentais em seus animais, antes poder-se-á
buscar a causa destas alterações, possibilitando uma intervenção precoce, momento em que
geralmente há maiores chances de sucesso terapêutico ou ao menos redução da progressão da
doença, melhorando a qualidade de vida e até mesmo a longevidade do animal
(LANDSBERG, 2005; OSELLA et al., 2007).
Se outras causas foram descartadas e há um diagnóstico presuntivo de DCC, um
tratamento direcionado para tal deve ser implementado (LANDSBERG et al., 2005). É
importante ressaltar, porém, que similar ao que ocorre na DA, não basta a observação de
apenas um sinal clínico para que seja iniciada uma intervenção farmacológica, devendo haver
mais de uma habilidade cognitiva afetada (memória, habilidades visuais-espaciais). Contudo,
avaliações para acompanhamento devem ser realizadas em animais suspeitos, devido à
possibilidade do aparecimento de alterações cognitivas, bem como a piora de sinais já
existentes (HEAD, 2001). Todavia, em uma outra análise, uma vez que testes laboratoriais
detectam alterações de memória e aprendizado antes das manifestações clínicas de DCC e
estes testes ainda estão indisponíveis para cães de proprietários, Landsberg (2005) sugere que
o tratamento em cães idosos com medicamentos e suplementos pode ser iniciado mesmo
antes do surgimento de sinais clínicos.
O tratamento da DCC tem 2 objetivos principais: repor os níveis de
neurotransmissores que se encontram diminuídos / facilitar seu metabolismo e reduzir /
reverter a progressão da doença (RUEHL; HART, 1998).

22
A selegilina (L-deprenil) foi a primeira droga aprovada para o tratamento da DCC
(LANDSBERG, 2005), tendo se mostrado eficaz em 69 a 75% dos pacientes, em estudos
controlados com placebo (LANDSBERG et al., 2005). É usada na dose de 0,5 a 1mg/Kg, por
via oral, pela manhã, e muitos proprietários relatam sinais de melhora dentro das duas
primeiras semanas de tratamento (FRANK, 2002). Caso não haja melhora significativa dentro
de 30 dias, pode-se reajustar a dose e observar os efeitos nos 30 dias subseqüentes
(LANDSBERG, 2005).
Foi desenvolvida como um inibidor seletivo e irreversível da MAO B para o aumento
de disponibilidade de monoaminas nas sinapses para o tratamento de depressão (INGRAM;
WILLIAMS, 2002; LANDSBERG, 2005), mas também promove aumento nos níveis de
dopamina e melhora do seu metabolismo, liberação de noradrenalina e inibição de sua
recaptação, efeitos neuroprotetores sobre neurônios dopaminérgicos, noradrenérgicos e
colinérgicos, aumento nos níveis cerebrais de 2-feniletilamina (um neuromodulador que
potencializa a ação da dopamina, das catecolaminas - melhorando a transmissão do impulso
nervoso - e melhora a função cognitiva), produção de metabólitos (l-anfetamina e l-
metanfetamina) que intensificam a função cognitiva, e possivelmente promove a liberação ou
síntese de fatores de crescimento neuronal (RUEHL; HART, 1998; LANDSBERG, 2005;
LANDSBERG et al., 2005). Tem também efeito antioxidante (HEAD, 2001) tanto
promovendo uma redução direta na quantidade de radicais livres quanto aumentando a ação
de enzimas que possuem esta função, como a catalase e superóxido desmutase, além de
promover uma diminuição na produção dos radicais livres devido à inibição da MAO B
(LANDSBERG, 2005).
Os efeitos neuroprotetores da selegilina são relevantes, uma vez que está demonstrado
que esta droga é capaz de reduzir a progressão da doença de Parkinson e Alzheimer em
humanos, e não apenas promover alívio sintomático (RUEHL; HART, 1998; INGRAM;
WILLIAMS, 2002).
Em um estudo realizado por Ruehl et al. (1997), cães que receberam selegilina na dose
de 1mg/Kg durante dois anos e dez semanas apresentaram um aumento na longevidade, o que
já havia sido demonstrado em outras espécies. O mecanismo envolvido neste processo não
está claro, mas acredita-se que tenha relação com seus efeitos antioxidantes, neuroprotetores e
por aumentar o nível de atividade dos neurônios catecolaminérgicos (por aumento da
liberação de catecolaminas mediada por propagação de impulso), além de possível melhora
no funcionamento de outros sistemas como renal, endócrino e imune.
Seu uso na dose de 0,5 a 1mg/Kg levou a uma melhora na performance de cães no
teste “DNMP”, ainda que com grande variação individual, e em cães com problemas
relacionados à demência (INGRAM; WILLIAMS, 2002).
Dentre as outras drogas que podem ser utilizadas no tratamento da DCC, há os
vasodilatadores cerebrais, como propentofilina, pentoxifilina e nicergolina. A nicergolina é
um antagonista alfa-adrenérgico, que promove aumento do fluxo sanguíneo cerebral,
intensifica a transmissão neuronal e tem efeito neuroprotetor sobre as células nervosas. Pode
ainda aumentar a renovação de dopamina e noradrenalina e inibir a agregação plaquetária. A
dose recomendada é de 0,25 a 0,5mg/Kg/dia, pela manhã, por 30 dias e, posteriormente,
mantida, se eficaz. A propentofilina aumenta o suprimento de oxigênio para o sistema
nervoso central sem aumentar a demanda de glicose. Acredita-se que ela inibe a agregação
plaquetária e a formação de trombos, torna os eritrócitos mais flexíveis e aumenta o fluxo
sanguíneo. A dose usada é de 3mg/Kg, duas vezes ao dia. Na América do Norte, onde esta
droga não está disponível, há alguns relatos de melhora com o uso da pentoxifilina, que
também pode ter efeitos no fluxo sanguíneo e nas inflamações (LANDSBERG et al., 2005).
Há também as drogas adrafinil e modafinila, que intensificam o sistema noradrenérgico,
ajudando a manter a vivacidade mental, vigília, atenção, memória, aprendizado e a

23
neuroproteção (LANDSBERG et al., 2005). O adrafinil promove estimulação
comportamental, aumentando a atividade locomotora, sem induzir movimentos
estereotipados. Seu principal mecanismo de ação consiste em atuar como agonista alfa-1
adrenérgico central, sem produzir efeitos simpáticos periféricos, porém acredita-se que haja
outros mecanismos de ação. Esta droga é capaz de produzir um aumento no estado de vigília,
sendo usada em humanos idosos para esta finalidade, levando a uma melhora da parte
cognitiva relacionada à atenção, concentração, motivação e vigília. Em um estudo realizado
com cães da raça Beagle, aqueles que receberam adrafinil na dose de 20mg/Kg diariamente
apresentaram melhor desempenho em testes de aprendizado discriminatório, demonstrando a
promoção de uma melhora na função cognitiva, levantando a possibilidade de benefícios do
seu uso em cães e humanos com alterações cognitivas (MILGRAM et al., 2000).
Os inibidores da colinesterase (tacrina, donepezil, rivastigmina) aumentam a
disponibilidade sináptica da acetilcolina por inibir sua degradação, amplamente usados em
humanos com DA por neurônios colinérgicos encontrarem-se em menor número em estudos
post-mortem e parecerem bastante vulneráveis na patogênese do Alzheimer (HEAD, 2001;
INGRAM; WILLIAMS, 2002). Estas drogas melhoram o status cognitivo de humanos com
DA, porém possuem efeitos modestos no geral e nem todos os indivíduos apresentam boas
respostas (HEAD, 2001). Além disso, não possuem estudos controlados em cães. Sabe-se
que a função colinérgica cerebral está associada à déficits de memória também em animais,
havendo deficiências na memória de trabalho de cães com alterações na transmissão
colinérgica (LANDSBERG, 2005). Os agonistas colinérgicos citicolina (intermediário na
biossíntese da fosfatidilcolina, um dos principais fosfolipídeos da membrana neuronal
(INGRAM; WILLIAMS, 2002)) e carbacolina e o inibidor de acetilcolinesterase fenserina
estão sendo estudados em cães, parecendo ter bons efeitos sobre memória e aprendizado, com
possível aplicação para cães com DCC (LANSBERG, 2005).
A fosfatidilserina é um fosfolipídeo presente na constituição da membrana celular,
associado às proteínas da membrana que regulam a fluidez das membranas neurais, que
podem estar bastante comprometidas em cérebros de animais idosos. Sua suplementação
levou a uma melhora na memória e no aprendizado de humanos e cães com disfunção
cognitiva. A fosfatidilserina facilita os processos neuronais dependentes da membrana, como
transdução de sinais, liberação de vesículas secretoras e manutenção do meio interno, além de
auxiliar na manutenção dos níveis de neurotransmissores (aumenta a liberação de acetilcolina
e inibe a acetilcolinesterase cerebral, aumenta a síntese e liberação da dopamina), inibir a
perda decorrente da idade de receptores NMDA, receptores colinérgicos muscarínicos e
receptores NGF do hipocampo, normalizar a densidade do fator de crescimento neurotrópico e
aumentar sua síntese e liberação (LANDSBERG, 2005; OSELLA et al., 2007).
Estudos com o extrato de gingko biloba sugerem seus efeitos na estimulação dos
sistemas colinérgicos, serotoninérgicos, noradrenérgicos e glutaminérgicos em animais
idosos, além de promover inibição reversível da MAO A e B , aumentando os níveis de
dopamina. Também sugere-se uma proteção dos neurônios da apoptose induzida pela
substância beta-amilóide, possivelmente por seus efeitos antioxidantes, promoção de um
aumento do metabolismo cerebral, retenção a curto prazo de memória espacial e atividade
coadjuvante à fosfatidilserina (OSELLA et al., 2007; SHI et al., 2010).
No estudo piloto conduzido por OSELLA e colaboradores (2007), um composto
contendo fosfatidilserina, gingko biloba, piridoxina e d-alfa-tocoferol levou a uma melhora
dos sinais clínicos associados à DCC em 8 cães idosos com alterações em duas ou mais
categorias.
O uso de estrógenos e testosterona na terapêutica da DCC, bem como da DA, baseia-
se em estudos que mostram que os níveis de hormônios sexuais podem influenciar na
ocorrência de distúrbios cognitivos em humanos e em animais (AZKONA et al., 2009).
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24
Estudos em humanos demonstraram benefícios na reposição de estrógenos em
mulheres pós-menopausa, levando a uma proteção de funções cognitivas, sugerindo que esta
reposição possa reduzir a incidência ou retardar o aparecimento de DA nestes casos
(MOFFAT et al., 2002; LANDSBERG et al., 2005; AZKONA et al., 2009). Sugere-se que os
estrógenos possam ter efeitos antiinflamatórios, antioxidantes e que possam levar a um
aumento do fluxo sanguíneo cerebral (LANDSBERG, 2005; LANSBERG et al., 2005).
A testosterona parece ter também um efeito neuroprotetor, conforme sugerido em
diversos estudos em humanos e animais, mostrando melhor desempenho de homens com
maiores níveis sanguíneos de testosterona livre em testes cognitivos (BARRETT-CONNOR
et al., 1999; MOFFAT et al., 2002), retardo na progressão de uma disfunção cognitiva leve
para uma severa em cães não castrados (LANDSBERG et al., 2005; AZKONA et al., 2009) e
melhora no desempenho cognitivo de camundongos com baixos níveis plasmáticos de
testosterona que receberam reposição hormonal (BIALEK et al., 2004).
O papel dos hormônios sexuais no desenvolvimento de disfunções cognitivas e o
possível benefício de sua reposição para prevenir estes quadros, todavia, não foi ainda
totalmente elucidado (MOFFAT et al., 2002; BIALEK et al., 2004; AZKONA et al., 2009).
Em cães, por exemplo, fêmeas tratadas com estrógenos cometeram menos erros em um teste
de aprendizado reverso de tamanho, porém fêmeas idosas tratadas com estrógenos cometeram
mais erros em testes de memória espacial (LANDSBERG, 2005; LANSBERG et al., 2005).
Portanto, se uma suplementação hormonal for considerada nestes casos, deve ser feita em
níveis fisiológicos, pois altos níveis podem ser tóxicos (LANDSBERG et al., 2005;
LANDSBERG, 2005).
Um estudo recente realizado por Rème et al. (2008) mostrou melhora dos sinais
relacionados ao declínio cognitivo em um grupo de cães idosos com o uso de um suplemento
de S-adenosilmetionina, quando comparado com cães que receberam placebo, sendo que
resultados similares já tinham sido obtidos em estudos com humanos.
Outras substâncias de uso em humanos ou que ainda não possuem estudos controlados
/ suficientes em cães incluem: valeriana, melatonina, memantina (antagonista de receptores
NMDA), florais de Bach, antiinflamatórios (ibuprofeno reduziu o acúmulo de beta-
amilóide em estudo com ratos (HEAD, 2001)), antidepressivos e ansiolíticos
(LANDSBERG, 2005).
O uso de antioxidantes suplementares na dieta de cães com DCC é preconizado e visa
melhorar as defesas antioxidantes endógenas e diminuir os efeitos dos radicais livres. Seu uso
pode, desta forma, retardar o declínio cognitivo e melhorar os sinais comportamentais
associados com a DCC (LANDSBERG et al., 2005). O cérebro é particularmente sensível
aos efeitos dos radicais livres por apresentar uma alta taxa de metabolismo oxidativo, alto
conteúdo lipídico e uma capacidade de regeneração limitada, tendo sido identificados danos
oxidativos generalizados, alta produção de radicais livres e redução nos níveis de vitamina E
nos cérebros de cães com demência (LANDSBERG, 2005).
Estudos citados por Milgram et al. (2003) mostram que a suplementação com vitamina
E pode retardar a necessidade de institucionalização de humanos com DA e o uso de dietas
com antioxidantes melhora o desempenho de Beagles em testes de aprendizado
discriminatório. Alguns dos suplementos antioxidantes que já se mostraram eficazes incluem:
vitamina E, vitamina lipossolúvel que protege as membranas celulares de danos oxidativos;
vitamina C, com ação complementar à vitamina E; vitaminas do complexo B, que além de
efeitos antioxidantes e neuroprotetoras possuem a habilidade de normalizar os níveis de
neurotransmissores, tendo a pirodixina (vitamina B6) efeito sinergístico com a fosfatidilserina
e gingko biloba; ácido alfa-lipóico, co-fator para as enzimas respiratórias mitocondriais e
antioxidante; L-carnitina, envolvida no metabolismo lipídico mitocondrial; ômega 3, que
auxilia na manutenção da integridade da membrana celular e possui efeito anti-inflamatório;
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25
frutas e vegetais, ricos em flavonóides, carotenóides e outros antioxidantes. Seus efeitos
podem ser por ação antioxidante direta ou indireta, através de uma melhora do metabolismo
mitocondrial, com aumento sua eficiência e redução da produção de radicais livres. Pode
haver ainda uma ação sinergística dos antioxidantes com os co-fatores enzimáticos
mitocondriais, aumentando a fluidez da membrana mitocondrial por um aumento na proteção
contra danos oxidativos. Atualmente, existe a ração Hill´s canine b/d
®
, disponível
comercialmente nos Estados Unidos, mas ainda indisponível no Brasil, enriquecida com
antioxidantes e com eficácia comprovada no tratamento de cães com DCC através de testes
neuropsicológicos (MILGRAM et al., 2003; LANDSBERG, 2005).
Há também evidências de que a estimulação prolongada através de jogos, brincadeiras,
treinamentos e exercícios pode ajudar a manter a função cognitiva em cães, tal qual ocorre em
humanos (LANDSBERG et al., 2005), e o uso de protocolos de enriquecimento cognitivo
pode melhorar a função cognitiva em cães idosos (STUDZINSKI et al., 2006). Com
estimulação adequada, cães idosos podem se empenhar em comportamentos exploratórios
tanto quanto cães jovens (HEAD et al., 1997).
O enriquecimento ambiental para animais idosos pode ser feito através de
treinamentos, brincadeiras, exercícios, oferta de brinquedos novos, manutenção de uma rotina
diária para evitar ansiedade, mudanças graduais no ambiente e na rotina, quando necessárias,
proporcionar atividades durante o dia para que o cão durma à noite, e adição de odores, sons e
diferentes sensações táteis (tapetes, carpetes) para cães com redução da acuidade auditiva,
visual, sensorial e cognitiva, inclusive para facilitar a identificação de ambientes
(LANDSBERG, 2005).
No estudo realizado por Milgram et al. (2003) com cães idosos, utilizou-se um
protocolo de exercícios extras, enriquecimento comportamental, estimulação social e
enriquecimento cognitivo, sendo que todos estes itens já haviam se mostrado efetivos em
estudos anteriores. O enriquecimento comportamental consistiu no alojamento de cães aos
pares, caminhadas com coleira por 30 minutos duas vezes por semana, e disponibilidade de
brinquedos em seus canis, sendo estes trocados semanalmente. O enriquecimento cognitivo
consistiu em treinamentos de aprendizado discriminatório. Estudos com humanos
demonstraram que experiência cognitiva prévia, como maior nível educacional, retarda o
declínio cognitivo em fases avançadas da vida. Acredita-se que o enriquecimento cognitivo
possa aumentar a flexibilidade comportamental, modulando o declínio cognitivo decorrente
da idade, ou possa afetar a estrutura cerebral, com aumento do número de sinapses. Até então
sabia-se que modificações ambientais precoces podiam afetar o aprendizado canino em fases
posteriores da vida, porém o protocolo utilizado melhorou o desempenho dos cães idosos nos
testes cognitivos, demonstrando que o enriquecimento comportamental pode ser efetivo,
mesmo quando iniciado em uma idade mais avançada. Todavia, o que se mostrou mais
efetivo foi a combinação do protocolo de enriquecimento comportamental associado a uma
dieta com suplementos antioxidantes, sugerindo efeito sinérgico desta associação.
2.6 Outras Considerações
Há cerca de 32 milhões de cães e 16 milhões de gatos no Brasil, de acordo com a
Associação Nacional dos Fabricantes de Alimentos para Animais de Estimação, e estima-se
que cerca de 10% dos proprietários destes animais os consideram como membros da família,
de acordo com pesquisas da fabricante de alimentos Evialis, sendo que este percentual chega a
30% na Europa e nos Estados Unidos (MARTHE, 2009).
Considerando-se este grande número de cães de companhia, sua estreita relação com
os proprietários e seu progressivo aumento na expectativa de vida, o investimento em

26
pesquisas para o desenvolvimento de tratamentos eficazes para DCC e intervenções que
retardem os processos de envelhecimento em geral serão benéficos não só para os cães, mas
também para os seus proprietários. Melhores métodos para o diagnóstico da DCC
possibilitarão a identificação de indivíduos que possam se beneficiar de intervenções precoces
para melhorar sua qualidade de vida (INGRAM; WILLIAMS, 2002).
Uma das dificuldades ainda encontradas para a realização de ensaios clínicos com
opções de tratamento para doenças do envelhecimento em cães consiste em um menor
incentivo financeiro das indústrias farmacêuticas para estudos veterinários quando
comparados aos estudos em humanos. Há que se considerar, entretanto, que muitos
proprietários de cães estão dispostos a deixarem seus animais participar de estudos clínicos,
sendo observadores atentos e estando dispostos a preencher longos questionários sobre o
comportamento de seus cães. Além disso, os estudos realizados com animais têm se mostrado
bastante elucidativos no que se refere à patogênese e possibilidades de tratamento para
doenças em humanos (TROJANOWSKI, 2008).
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27
3 METODOLOGIA
3.1 Tipo de Abordagem e População Estudada
Optou-se por uma abordagem qualitativa que foi realizada de maio a dezembro de
2009 através de questionários aplicados a proprietários de cães a partir de 8 anos de idade,
independente de raça, sexo e histórico clínico, atendidos no Hospital Veterinário da
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, na Policlínica Veterinária da Universidade
Estácio de Sá, em outras clínicas veterinárias particulares e através de e-mail, após
consentimento livre e esclarecido.
3.2 Questionários
Foram utilizados dois questionários qualitativos, semi-estruturados, com questões
abertas e fechadas (Anexos A e B). Ambos versaram sobre dados gerais de identificação do
animal (nome, idade, raça, sexo) e do proprietário, sendo que o primeiro questionário indagou
também sobre informações gerais de manejo, ocorrência de enfermidades e sinais de DCC,
tendo sido elaborado por nossa equipe, com base nos questionários e informações dos
trabalhos de outros autores (NEILSON et al., 2001; LANDSBERG et al., 2005; OSELLA et
al., 2007); enquanto que o segundo é uma adaptação da escala DCARI (encontrada em Colle
et al., 2000; Landsberg, 2003; Landsberg et al., 2005) para a forma de questionário, para
facilitar o seu preenchimento pelos proprietários, indagando sobre parâmetros afetivos /
emocionais e parâmetros cognitivos, tendo sido incluída no estudo para permitir uma
comparação com os resultados obtidos com o primeiro questionário, uma vez que seus
resultados já foram correlacionados com achados histopatológicos (COLLE et al., 2000).
Apesar dos questionários terem sido entregues para livre preenchimento pelos
proprietários, havia sempre um dos membros de nossa equipe ou, no caso dos questionários
enviados por e-mail, a disponibilidade de um e-mail / telefone para contato para esclarecer
eventuais dúvidas.
No questionário 1 (Anexo A), os sinais clínicos apontados na questão 7 estão
enquadrados dentro das seguintes categorias: desorientação (itens de 1 a 5); mudanças no
ciclo de sono/vigília (itens de 7 a 9); perda do treinamento higiênico (itens de 10 a 13);
mudanças na interação social e ambiental (itens de 14 a 24); atividades gerais (itens de 25 a
28). O item 6 desta questão, perguntando se o cão parece incapaz de ouvir sons baixos, visa
identificar uma possível perda de acuidade auditiva que justifique comportamentos como não
responder quando chamado ou aumento de irritabilidade, não sendo então estes sinais
considerados como contribuintes para caracterizar a DCC.
3.3 Avaliação dos Dados
Questionário 1 - Foram considerados como apresentando disfunção em uma categoria
os cães cujos proprietários informaram pelo menos duas alterações dentro da categoria,
contanto que estes sinais só tivessem se manifestado a partir dos 8 anos de idade ou tivessem
apresentado piora desde então.

28
Considerou-se uma disfunção leve quando houve disfunção em apenas uma categoria
e disfunção severa quando houve disfunção em duas ou mais categorias, seguindo-se o
sistema de avaliação do estudo realizado por Neilson et al. (2001).
A partir dos dados obtidos, foi feita uma análise da idade, raça e sexo dos animais com
sinais compatíveis com DCC, bem como se houve correlação entre o tipo de moradia,
presença de outros animais no ambiente, tempo que o animal fica sozinho, prática de
exercícios, doenças pré-existentes e uso de medicamentos e a ocorrência destes sinais.
Foi ainda avaliado o impacto destes sinais na interação do cão com a família e o
quanto os proprietários estão dispostos a tratarem seus cães.
Questionário 2 – De acordo com a opção assinalada, foram atribuídos pontos, e o
somatório destes pontos foi interpretado, conforme demonstrado no Anexo C.
Ainda que nas possibilidades de interpretação de resultados da escala DCARI original
não conste a DCC, quadros como distimia e depressão involutiva, apontados como resultados
para cães com pontuações a partir de 22, caracterizam-se por diversas alterações cognitivas,
sugerindo que estes animais podem ser cães com DCC. Assim, para fins deste estudo, serão
considerados cães com envelhecimento normal (pontuação até 15), passíveis de reavaliação
em 6 meses (pontuação de 16 a 21) e com anormalidades no envelhecimento (pontuação a
partir de 22).
3.4 Análise Estatística
Todas as análises estatísticas foram realizadas utilizando o programa BioEstat 5.0 para
Windows.
Os resultados obtidos nos dois questionários foram comparados, para avaliar se houve
correlação entre eles, através do Coeficiente de Correlação de Spearman.
A possível influência da idade, sexo, estado reprodutivo (animais castrados ou
inteiros), tipo de moradia, presença de outros animais na casa, o fato de ficar ou não sozinho
em casa, a prática de exercícios ou passeios, o uso de medicamentos e a ocorrência de outras
doenças previamente diagnosticadas sobre a ocorrência de sinais sugestivos de DCC foi
avaliada pelo teste de qui-quadrado, individualmente.
Posteriormente, uma análise de regressão logística múltipla foi aplicada,
considerando-se a ocorrência de DCC como variável dependente e os demais quesitos acima
descritos como variáveis independentes. Uma variável foi considerada como sendo
positivamente associada à ocorrência de DCC quando o odds ratio (OR) foi maior do que 1 e
negativamente quando o OR foi menor do que 1.
Os resultados dos testes foram considerados significativos quando apresentaram
p<0,05.
Os proprietários foram contactados por telefone ou e-mail sempre que houve dúvida
ou incompletude das informações fornecidas nos questionários e, nos casos de cães com sinais
de DCC, foram alertados para tal e convidados para nova entrevista a fim de permitir uma
avaliação mais detalhada do cão e para serem instruídos quanto às possibilidades terapêuticas
(medicamentosas e de manejo).

29
4 RESULTADOS
4.1 Resultados Gerais
Foram coletados dados referentes a 77 cães (Anexo D), pertencentes a 63 proprietários
(sendo 57 proprietários com 1 cão, três proprietárias com 2 cães, duas proprietárias com 3
cães e uma proprietária com 8 cães). Dos 77 animais, 47 (61%) eram fêmeas (22 inteiras e 25
castradas) e 30 (39%) eram machos (15 inteiros e 15 castrados). A idade dos cães variou de 8
a 17 anos, com média de 10,83 anos, sendo 37 cães (48,05%) com idade entre 8 e 10 anos, 29
(37,66%) com idade entre 11 e 13 anos, 10 (12,99%) com idade entre 14 e 16 anos e apenas 1
cão (1,30%) com 17 anos de idade. Em relação às raças, houve maior número de cães sem
raça definida (SRD), somando 21 no total (27,30%), seguidos de cães da raça Poodle (18 cães
– 23,38%) e Teckel (10 cães – 12,99%), havendo ainda 6 Labradores (7,79%), 5 Cocker
Spaniels (6,49%), 2 Golden Retrievers (2,60%), 2 Pinschers (2,60%) e 1 representante (1,30%
cada) de cada uma das seguintes raças: Akita, Bichón Frise, Boxer, Chow chow, Dálmata,
Dog Alemão, Fox Paulistinha, Husky Siberiano, Lhasa Apso, Maltês, Pit Bull, Rottweiler e
Yorkshire Terrier.
Em relação à procedência dos cães (Anexo D), 1 cão foi proveniente do estado de São
Paulo, de São José dos Campos, bairro de Vista Verde, e os 76 restantes foram provenientes
do estado do Rio de Janeiro, sendo 1 de Mangaratiba, 2 de Niterói, 1 de Nova Iguaçu, 1 de
Petrópolis, 1 de Queimados, 1 de São Gonçalo, 1 de Seropédica, 3 de Volta Redonda e os
demais 65 do município do Rio de Janeiro, distribuídos pelos seguintes bairros: Bangu (1),
Barra da Tijuca (10), Botafogo (6), Campo Grande (6), Cascadura (1), Copacabana (1),
Estácio (1), Flamengo (1), Grajaú (1), Ilha do Governador (1), Jacarepaguá (13), Leblon (2),
Olaria (1), Oswaldo Cruz (1), Penha (1), Recreio dos Bandeirantes (4), Sulacap (1), Tijuca
(1), Vargem Grande (8), Vargem Pequena (1), Vila da Penha (1) e Vila Isabel (2). Em relação
ao tipo de moradia onde viviam, 27 viviam em apartamentos, sendo que 1 vivia em
apartamento com cobertura, e 50 viviam em casa, sendo que 48 viviam em casas com quintal /
jardim e apenas 2 em casas sem quintal / jardim.
4.2 Cães sem Sinais de DCC
Dos 77 cães, 48 (62,34%) não apresentaram sinais compatíveis com DCC, sendo
pertencentes a 37 diferentes proprietários (incluindo 7 dos 8 cães pertencentes a uma mesma
proprietária). Destes, 29 eram fêmeas (15 inteiras e 14 castradas) e 19 eram machos (11
inteiros e 8 castrados), com idade variando de 8 a 16 anos, média de 10,37 anos, sendo 25
com idade entre 8 e 10 anos (32,47% do total, 67,57% dos nesta faixa etária), 19 com idade
entre 11 e 13 anos (24,68% do total, 65,52% dos nesta faixa etária) e 3 com idade maior que
13 anos (3,90% do total, 27,27% dos nesta faixa etária) (Figura 1). Com relação às raças, a
maioria dos cães (16) eram sem raça definida, seguidos de cães das raças Poodle (10), Teckel
(8), Labrador (4), Golden Retrievier (2) e 1 cão de cada uma das seguintes raças: Akita,
Bichón Frise, Boxer, Chow chow, Dálmata, Fox Paulistinha, Husky Siberiano e Rottweiler.

25
10
2
20
4
5
3
3
5
0
5
10
15
20
25
30
35
40
No DE CÃES
8 a 10 ANOS 11 a 13 ANOS MAIS QUE 13
ANOS
IDADE
IDADE X SINAIS DE DCC
DCC SEVERA
DCC LEVE
S/ DCC
Figura 1 – Relação idade versus sinais de DCC, em caninos a partir de 8 anos de idade,
atendidos no Hospital Veterinário da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, na
Policlínica Veterinária da Universidade Estácio de Sá e em outras clínicas veterinárias
particulares e através de e-mail. UFRRJ, Seropédica 2010.
4.3 Cães com Sinais de DCC
Dos 77 cães do estudo, 29 (37,66%) apresentaram sinais compatíveis com DCC, sendo
17 cães (22% do total; 58,62% dos com DCC) com disfunção leve e 12 cães (15,58% do total;
41,38% dos com DCC) com disfunção severa (Figura 1).
Dos 29 proprietários destes cães com sinais de DCC, 14 relataram que os sinais
apresentados por seus cães não atrapalhavam em nada a convivência com seus animais (8 cães
com sinais de DCC leve; 6 cães com sinais de DCC severa), mas ainda assim 13 proprietários
disseram que estariam dispostos a tratar seus cães, e apenas 1 destes 13 relatou que não faria
um tratamento se este fosse por toda a vida do animal. Seis proprietários relataram que os
sinais de DCC atrapalhavam pouco a convivência com seus cães (5 com sinais de DCC leve,
1 com sinais de DCC severa), estando todos dispostos a realizar um tratamento disponível,
mesmo que se estendesse por toda a vida do animal. Quatro proprietários relataram que os
sinais de DCC atrapalhavam razoavelmente a convivência com os cães (3 com sinais de DCC
leve; 1 com sinais de DCC severa), estando todos dispostos a tratar os animais, porém um dos
proprietários não faria o tratamento se este fosse por toda a vida do cão (proprietário do cão
número 63 – Anexos D e E). Os 5 proprietários restantes relataram que os sinais de DCC
atrapalhavam muito a convivência com os cães (1 com sinais de DCC leve, 4 com sinais de
DCC severa), todos estando dispostos a realizar um tratamento, mesmo que por toda a vida do
animal (proprietários dos cães de número 3, 4, 59, 66, 69 – Anexos D e E).
4.3.1 Cães com sinais de DCC leve (alterações em uma categoria)
Dos 17 cães que apresentaram sinais compatíveis com DCC leve, 10 eram fêmeas (5
inteiras e 5 castradas) e 7 eram machos (3 inteiros e 4 castrados). A idade dos cães variou de
8 a 15 anos, média 10,82 anos, sendo 10 com idade entre 8 e 10 anos (12,99% do total,
27,03% dos nesta faixa etária), 4 com idade entre 11 e 13 anos (5,19% do total, 13,79% dos
30

31
nesta faixa etária) e 3 com idade maior que 13 anos (3,90% do total, 27,27% dos nesta faixa
etária) (Figura 1). Com relação às raças, a maioria dos cães (4) eram sem raça definida,
seguidos de cães das raças Poodle (3), Cocker Spaniel (3) e 1 cão de cada uma das seguintes
raças: Dog Alemão, Labrador, Lhasa Apso, Maltês, Pinscher, Pit Bull e Yorkshire Terrier.
Em relação às categorias de sinais de DCC, 7 cães apresentaram mudanças na
interação social / ambiental, 4 apresentaram alterações nas atividades gerais, 3 apresentaram
mudanças no ciclo de sono-vigília, 2 apresentaram sinais de perda do treinamento higiênico e
apenas 1 apresentou sinais de desorientação.
4.3.2 Cães com sinais de DCC severa (alterações em duas ou mais categorias)
Dos 12 cães que apresentaram sinais compatíveis com DCC severa, 8 eram fêmeas (2
inteiras e 6 castradas) e 4 eram machos (1 inteiro e 3 castrados). A idade dos cães variou de 8
a 17 anos, média 12,58 anos, sendo 2 com idade entre 8 e 10 anos (16,67% do total, 5,40%
dos nesta faixa etária), 5 com idade entre 11 e 13 anos (41,67% do total, 17,24% dos nesta
faixa etária) e 5 com idade maior que 13 anos (41,67% do total, 45,45% dos nesta faixa etária)
(Figura 1). Com relação às raças, a maioria dos cães (5) eram da raça Poodle, seguidos de
cães das raças Cocker Spaniel (2), Teckel (2) e 1 cão de cada uma das seguintes raças:
Labrador, Pinscher e SRD.
Em relação às categorias de sinais de DCC, 11 cães apresentaram mudanças na
interação social / ambiental, 4 apresentaram alterações nas atividades gerais, 6 apresentaram
mudanças no ciclo de sono-vigília, 8 apresentaram sinais de perda do treinamento higiênico e
4 apresentaram sinais de desorientação. Sete cães apresentaram alterações em 2 categorias
(média de idade 12 anos), um cão apresentou alteração em 3 categorias (média de idade 14
anos) e quatro cães apresentaram alterações em 4 categorias (média de idade 13,25 anos).
4.4 Correlação entre os Questionários
Houve correlação altamente significativa (coeficiente de correlação de Spearman,
p<0,0001) entre os resultados obtidos nos questionários 1 e 2 quanto à ocorrência de sinais
sugestivos de DCC e alterações do envelhecimento, respectivamente. O grau de associação
entre estes resultados, todavia, foi moderado (coeficiente = 0,5).
4.5 Fatores Contribuintes para Ocorrência de Sinais Sugestivos de DCC
Ao ser realizado o teste do qui-quadrado comparando-se cada variável com a
ocorrência ou não de sinais de DCC, as comparações que apresentaram valores significativos
foram idade, com aumento no número de casos suspeitos de DCC com o avançar da idade
(p=0,01), ocorrência de doenças (Anexo F), com maior número de animais com doenças já
diagnosticadas apresentando sinais de DCC (p=0,02), presença de outros animais na casa
(incluindo pelo menos mais 1 cão) associada a um maior número de cães com sinais de DCC
(p<0,01) e estado reprodutivo de machos, com maior ocorrência de casos suspeitos de DCC
entre machos castrados (p=0,01).
Realizando-se uma Análise de Regressão Logística Múltipla, o teste como um todo
não foi significativo (p=0,07), porém as variáveis idade (p=0,035; OR 1,32) e ocorrência de
doenças (p=0,33; OR 5,33) foram positivamente associadas à ocorrência de sinais de DCC,
sugerindo que a chance do cão apresentar sinais de DCC é 1,3 vezes maior conforme o
avançar da idade e 5,3 vezes maior quando há uma doença concomitante. Outras variáveis

32
que se mostraram positivamente associadas à ocorrência de sinais de DCC, porém com
valores não estatisticamente significativos foram presença de outros animais na casa (p=0,7;
OR 1,28), o fato do animal ficar sozinho em casa (p=0,5; OR 1,39) e o fato do animal ser
castrado (p=0,7; OR 1,16). As demais variáveis também não apresentaram valores
estatisticamente significativos, porém mostraram-se negativamente associadas à ocorrência de
sinais de DCC, sendo elas: o fato de viver em moradia com quintal / jardim (p=0,3; OR 0,54)
e o fato de ir à rua / praticar exercícios (p=0,2; OR 0,44). Estes resultados foram confirmados
executando-se uma Regressão Logística Simples com cada variável separadamente, com
ligeiras mudanças nos valores de p e OR.

33
5 DISCUSSÃO
O questionário 1 utilizado no presente estudo foi confeccionado com base nos sinais
clínicos de DCC reportados em outros trabalhos (NEILSON et al., 2001; LANDSBERG et al.,
2005; OSELLA et al., 2007), porém não foi ainda validado para o seu diagnóstico específico.
Ainda assim, quando comparado com os resultados obtidos pela escala DCARI, que já teve
seus resultados correlacionados com achados histopatológicos, apresentou correlação
altamente significativa, ainda que o grau de associação entre os resultados tenha sido
moderado, o que se justifica pelo fato de serem estilos diferentes de questionários, que não
apresentam equivalência direta entre suas possibilidades de resultados.
O percentual de cães com sinais de DCC encontrados neste estudo (37,66% - 29/77)
foi intermediário ao valor encontrado em outros estudos - 22,5% (73/325) no estudo de
Azkona et al. (2009); 73,97% (75/102) no estudo de Osella et al. (2007). Em relação ao
percentual de animais com sinais em uma ou mais categorias, os valores encontrados foram
também intermediários, quando comparados aos valores encontrados em estudos similares,
sendo 22% dos cães com alterações em uma categoria (14,1% em Azkona et al., 2009;
41,18% em Osella et al., 2007) e 15,58% dos cães com alterações em duas ou mais categorias
(8,4% em Azkona et al., 2009; 32,35% em Osella et al., 2007).
Similar ao relatado por Azkona et al. (2009), houve um decréscimo no número de
animais incluídos no estudo conforme o aumento da idade, porém corroborando com os
resultados de outros autores, houve um aumento no percentual de casos sugestivos de DCC
severa conforme o avançar da idade (NEILSON et al., 2001; OSELLA et al., 2007; AZKONA
et al., 2009).
A principal categoria afetada foi a que engloba mudanças na interação social /
ambiental, sendo esta categoria também bastante afetada nos estudos de Osella et al. (2007) e
Azkona et al. (2009), não sendo possível uma comparação de igual para igual dos percentuais
encontrados em cada categoria afetada por haver algumas divergências entre as categorias e
os sinais englobados dentro de cada categoria, de acordo com os diferentes autores.
Não foi possível relacionar a ocorrência de casos suspeitos de DCC com as diferentes
raças de cães nem com os locais de procedência, uma vez que houve pequeno número de cães
representando diversas raças e locais. Todavia, a forma como foram distribuídos os
questionários e a grande variedade de locais de procedência dos animais sugere que tenhamos
conseguido obter dados referentes a animais bastante heterogêneos, criados por proprietários
de diferentes poderes aquisitivos e submetidos a diferentes tipos de criação.
No presente estudo não foram excluídos os animais que apresentavam doenças
previamente diagnosticadas, inclusive as falências de órgãos e as endocrinopatias, que foram
critérios de exclusão nos estudos de outros autores (OSELLA et al., 2007; AZKONA et al.,
2009). Encontramos, proporcionalmente, um maior número de animais com doenças já
diagnosticadas apresentando sinais de DCC, com diferença estatisticamente significativa, o
que poderia significar uma falha no estudo, com superestimação do número de casos suspeitos
de DCC, quando na verdade os sinais encontrados poderiam ser consequência das doenças
apresentadas pelos cães, porém já foi demonstrado que outras doenças podem estar ocorrendo
junto com a DCC, até mesmo agravando sua apresentação, sendo muitas vezes o efeito
combinado da doença e do envelhecimento físico e mental que resulta nas desordens
comportamentais encontradas, mas os sinais encontrados dentro das diferentes categorias não
são tipicamente consequência destas doenças, a não ser que haja o envolvimento de
degeneração do sistema nervoso central (NEILSON et al., 2001; FRANK, 2002; OSELLA et
al., 2007).

34
As observações de nosso estudo estiveram de acordo com as afirmações anteriormente
citadas, uma vez que 24 cães com doenças previamente diagnosticadas não apresentaram
diagnóstico presuntivo de DCC (Anexo F), ainda que houvesse casos de doenças
cardiorrespiratórias (3 cães), osteoarticulares (8 cães), endocrinopatias (4 cães) e 1 cão que já
tinha apresentado três episódios de convulsão, quadros estes comumente incriminados de
causarem sinais equivalentes aos encontrados na DCC. De forma semelhante, dos 22 cães
que já apresentavam doenças diagnosticadas no momento do estudo e apresentaram
diagnóstico presuntivo de DCC (Anexo F), muitos dos sinais encontrados não poderiam ser
justificados pelas doenças apresentadas, como necessidade de contato constante em dois cães
com doenças cardiorrespiratórias e sinais de desorientação em um cão com doença
periodontal. Entretanto, em outros casos havia uma possível relação entre os sinais
encontrados e as doenças diagnosticadas, como perda do treinamento higiênico em um cão
com insuficiência renal e alterações no ciclo de sono-vigília em cães com doenças
cardiorrespiratórias, ainda que na maioria dos casos não fosse possível relacionar todos os
sinais apresentados por estes animais com as doenças diagnosticadas. Estas últimas
observações corroboram que há necessidade de uma avaliação comportamental mais
aprofundada dos animais suspeitos (OSELLA et al., 2007) e da busca de critérios clínicos
mais sistemáticos para o diagnóstico diferencial da DCC, além de se realizar um
acompanhamento criterioso de sua progressão (HEAD, 2001), até mesmo para avaliar o
possível surgimento de novas desordens médicas ou agravamento de condições já existentes
(RUEHL; HART, 1998). É preciso ainda realizar maiores experimentos para correlacionar
sinais comportamentais, emocionais e cognitivos com marcadores biológicos e análise de
lesões cerebrais post-mortem (OSELLA et al., 2007).
O fato da presença de outros animais (incluindo outros cães, em todos os casos) na
casa ter sido associada a um maior número de cães com sinais de DCC inicialmente foi
surpreendente, visto que jogos, brincadeiras, estimulação social e exercícios parecem ajudar a
manter a função cognitiva em cães (MILGRAM et al., 2003; LANDSBERG et al., 2005).
Este raciocínio explicaria o fato do animal ficar sozinho em casa ter sido positivamente
associado à ocorrência de sinais de DCC, assim como o fato de viver em moradia com quintal
/ jardim e o fato de ir à rua / praticar exercícios terem sido negativamente associados aos
sinais de DCC, ainda que esta correlação não tenha sido significativa. Desta forma, seria
esperado que um cão que possui a companhia de outro tivesse maior estimulação social, com
maior possibilidade de brincar e se exercitar. Uma hipótese para explicar esta aparente
discordância é que a relação entre o cão estudado e os outros animais na casa seja de alguma
forma estressante, muitas vezes levando a um isolamento social do cão. Ainda que este
parâmetro tenha sido significativo apenas pelo teste do qui-quadrado e não pela regressão
logística, nesta também sugeriu-se uma associação positiva entre a presença de outros animais
e a ocorrência de sinais de DCC.
O achado de uma maior ocorrência de casos suspeitos de DCC entre machos castrados
pelo teste do qui-quadrado sugere um possível efeito neuroprotetor da testosterona, o que já
foi especulado por outros autores, em estudos com humanos e animais (BARRETT-
CONNOR et al., 1999; MOFFAT et al., 2002; BIALEK et al., 2004; LANDSBERG et al.,
2005; LANDSBERG, 2005), ainda que este não tenha sido um achado em estudos similares
(NEILSON et al., 2001; AZKONA et al., 2009), tendo-se apenas observado que machos
castrados foram significativamente mais afetados que fêmeas castradas no que se refere à
alterações na orientação (NEILSON et al.; 2001). Quando considerados animais castrados
versus animais inteiros, no geral, houve associação positiva da castração com a ocorrência de
sinais de DCC pela regressão logística múltipla, porém não significativa, o mesmo relatado
por Azkona et al. (2009).

35
As variáveis que apresentaram valores divergentes nos testes de qui-quadrado e na
regressão logística merecem estudos mais aprofundados, com um maior número de animais.
A percepção por parte dos proprietários do quanto os sinais de DCC atrapalham na
convivência com seus cães variou de “nada” a “muito”, não sendo possível estabelecer uma
relação direta entre a gravidade da DCC e uma pior convivência com o cão, possivelmente em
decorrência da diferente relação destes cães com seus proprietários e da sensibilidade
individual dos proprietários. Entretanto, dos cinco proprietários que relataram que os sinais
de DCC atrapalhavam muito na convivência com seus animais, quatro eram proprietários de
cães com DCC severa. Estas informações estão de acordo com as afirmações de Landsberg
(2005), de que muitos proprietários encontram dificuldades para lidar com cães com sinais de
DCC, podendo haver um enfraquecimento ou mesmo ruptura dos laços entre o cão e seu
proprietário, transformando uma relação próxima e positiva em uma relação distante e até
negativa.
Durante o preenchimento dos questionários ou os posteriores contatos com os
proprietários para eventuais esclarecimentos de dúvidas sobre as respostas fornecidas, muitos
proprietários relataram que só então estavam percebendo as alterações comportamentais
apresentadas por seus cães ou então que não sabiam que as alterações encontradas poderiam
ser patológicas no envelhecimento. Isto vai de acordo com as observações de outros autores,
que relatam que muitas vezes os proprietários não discutem com os veterinários de seus cães
estas alterações comportamentais por acreditarem ser processos intratáveis e irreversíveis
decorrentes do envelhecimento (OSELLA et al., 2007; AZKONA et al., 2009). Assim,
ressalta-se a importância da realização de um esforço para que a DCC deixe de ser
considerada uma alteração normal no envelhecimento e passe a ser vista como uma condição
patológica (FRANK, 2002).
Dos 29 proprietários de cães com sinais compatíveis com DCC, 28 mostraram-se
dispostos a tratar seus animais, sendo que 26 deles fariam o tratamento mesmo que fosse por
toda a vida do animal. Estas informações demonstram a importância destes cães para seus
proprietários, que muitas vezes os consideram como membros da família, e também sugerem
que o desenvolvimento de tratamentos eficazes para DCC ou retardo dos processos de
envelhecimento em geral podem beneficiar não apenas os cães, mas também os seus
proprietários, melhorando a qualidade de vida de ambos, conforme observado por outros
autores (INGRAM; WILLIAMS, 2002; MARTHE, 2009). Pela participação em nosso
estudo, estes proprietários já demonstraram ser observadores atentos de seus cães e estarem
dispostos a preencher questionários, mesmo que extensos, sobre o comportamento deles. Pela
sua disponibilidade em tratar seus animais, pode-se especular ainda que estejam dispostos a
deixar seus animais participarem de estudos clínicos, conforme sugerido por Trojanowski
(2008), o que poderia contribuir para o estudo da patogênese e possibilidades de tratamento
não só para DCC, mas também para doenças similares em humanos, como o Alzheimer
(TROJANOWSKI, 2008).

36
6 CONCLUSÕES
1- O questionário apresentado foi coerente com o DCARI
2- O questionário elaborado no presente estudo (questionário 1) mostrou-se de fácil
aplicação e forneceu informações relevantes para triagem de casos suspeitos de DCC,
podendo ser aplicado na rotina clínica veterinária, com a possibilidade de ser
preenchido até mesmo pelos proprietários que estão aguardando atendimento ou a
execução de algum tipo de exame.
3- A frequência de casos sugestivos de DCC foi de 37,66% em cães com mais de 8 anos
4- São fatores predisponentes a idade, a presença de outros quadros mórbidos, a
convivência com outros animais, e a castração em machos
5- Os proprietários de animais com DCC gostariam de tratar o quadro mórbido, sendo
que a maioria daqueles com cães com DCC severa vêem o quadro mórbido como um
empecilho para uma boa convivência entre eles.

37
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Uma próxima etapa do trabalho aqui apresentado deverá consistir em um aumento no
número de cães incluídos na pesquisa e uma tentativa de correlacionar as alterações
comportamentais encontradas com alterações cerebrais avaliadas em um exame post-mortem.

38
1.
2.
3.
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
42
9 ANEXOS
ANEXO A Questionário 1
ANEXO B Questionário 2
ANEXO C Atribuição de pontos do questionário 2, de acordo com a opção assinalada
ANEXO D Quadro 1 - Resultados gerais
ANEXO E Quadro 2 – Resultados obtidos com os questionários 1 e 2
ANEXO F Quadro 3 – Cães com doenças previamente diagnosticadas, recebendo ou não
tratamento, e sua relação com a ocorrência de sinais de disfunção cognitiva
canina (DCC)

43
ANEXO A
QUESTIONÁRIO1
A expectativa de vida dos cães tem sido cada vez maior e, com o envelhecimento, aumenta o risco de
desenvolvimentodeproblemasfísicose comportamentais.Àsvezes,condiçõesconsideradasnormaisparaaidadepodem
serproblemasdecomportamentonãodiagnosticados,quepoderiamsertratadosparaproporcionarumamelhorqualidade
devidaaocãoemelhorarsuarelaçãocomseuproprietário.
Para saber se o seu cão tem chance de ser um desses animais em que o diagnóstico de um distúrbio de
comportamentoaindanãofoifeito,favorpreencheroquestionárioabaixo:
Datadehoje:____/_____/__________
Dadosdoproprietário:
Nome:________________________Tel(res):_____________Celular:____________Bairro:_____________________
Email:________________________________
Moradia:()Casacomquintal/jardim ()Casasemquintal/jardim()Apartamento
Dadosdoanimal:
Nome:_________________Sexo:_____Raça:_____________Idade:_______
Castrado(a)?()NÃO()SIMquantotempo?____________Motivo:_____________________________
1quantotempovocêestácomoseucão?
__________________________________________
2Quantosanimaisnacasanototal?Edequeespécieelessão(cães,gatos,pássaros...)?
__________________________________________
3Oseuanimalficasozinhoemcasa?
()Não ()Sim.Porquantotempo?_________________________________________________________
4Oseuanimalvaiàrua/praticaexercícios?
()Não ()Sim.Comquefreqüência?_______________________________________________________
5Oseuanimalfazusodealgummedicamento?
()Não ()Sim.Qual(is)?___________________________________________________________________
6Oseuanimalapresentaalgumadoençadiagnosticadapeloveterinário?
()Não ()Sim.Qual(is)?___________________________________________________________________

44
7Assinalecasooseucãoapresentealgumdoscomportamentosabaixo:
Houvepioradesdeque
identificouaalteração?
Comportamento SIM NÃO quantotempo?
(meses/anos)
SIM NÃO
1)Perdeseemlocaisfamiliares 
2) Vai para a porta errada / o lado errado da porta
parasair

3)Empacaaoinvésdedesviardeobstáculos 
4)Andasemparar,sempropósitoaparente 
5)Olhafixonoespaço 
6)Pareceincapazdeouvirsonsbaixos
7)Apresentainquietaçãoduranteosono 
8)Acordaduranteanoiteeficaagitado 
9)Dormemaisduranteodiadoqueanteriormente
10) Evacua / urina dentro de casa, em local
inapropriado

11) Evacua / urina na frente dos proprietários, em
localinapropriado

12)Evacua/urinanaáreadedormir 
13) Sai de casa e evacua / urina dentro de casa, na
volta

14)Demonstramenosinteresseemcarinho/contato
15)Deixadecumprimentarquandoalguémchega
16)Temdificuldadeparareconhecerpessoas/animais
familiares

17)Briga/evitacontatocomoutrosanimais 
18) Tem necessidade de contato constante /
superdependente

19)Deixaderesponderquandochamado 
20)Serecusaabrincar/passear 
21)Parecesempreirritado 
22)Seirritaquandomanipulado 
23)Ficaotempotodoinquieto/agitado 
24) Fica mais choroso / ansioso / triste quando
deixadosozinho

25)Late/choramaisqueodecostume 

45
Houve piora desde que
identificouaalteração?
Comportamento SIM NÃO quantotempo?
(meses/anos)
SIM NÃO
26) Esquece comandos / tarefas anteriormente
aprendidas

27)Pareceincapaz/lentoparaaprendernovastarefas 
28) Se lambe / morde excessivamente, sem motivo
aparente

Aspróximasquestõesdeverãoserrespondidassomentesealgumdositensdaquestãoanteriortiversidoassinaladocom
“SIM”:
8Oquantoestessinaisatrapalhamnasuaconvivênciaoudesuafamíliacomoseuanimal?
()Muito ()Razoável ()Pouco ()Nada
9Sehouvesseumtratamentoparamelhoradessessinais,vocêgostariadefazêlo?
()Não ()Sim
10Mesmoqueessetratamentofosseparaorestodavidadoanimal,vocêfaria?
()Não ()Sim
Obrigadapelasuaparticipação!Casoseuanimalapresenteindíciosdeproblemacomportamental,entrareiemcontato.
Atenciosamente,LilianeNarcisoPantojaMédicaVeterináriaCRMVRJ7448

46
ANEXO B
QUESTIONÁRIO2
A expectativa de vida dos cães tem sido cada vez maior e, com o envelhecimento, aumenta o risco de
desenvolvimentodeproblemasfísicose comportamentais.Àsvezes,condiçõesconsideradasnormaisparaaidadepodem
serproblemasdecomportamentonãodiagnosticados,quepoderiamsertratadosparaproporcionarumamelhorqualidade
devidaaocãoemelhorarsuarelaçãocomseuproprietário.
Para saber se o seu cão tem chance de ser um desses animais em que o diagnóstico de um distúrbio de
comportamentoaindanãofoifeito,favorpreencheroquestionárioabaixo:
Datadehoje:____/_____/__________
Dadosdoproprietário:
Nome:___________________________Tel(res):_____________Celular:__________Bairro:_____________________
Email:________________________________
Dadosdoanimal:
Nome:____________________Sexo:_____Raça:______________Idade:_________
Castrado(a)?()NÃO()SIMquantotempo?___________Motivo:_______________________________
1Quantoàingestãodealimentos,seucão:
a)()Comemuitoe/ouapressadamente
b)()Comepouco/temfaltadeapetite
c)()Alternaentrecomermuito/apressadamenteecomerpouco/faltadeapetite
d)()Regurgitaoalimentoevoltaaingerilo
e)()Apresentaapetitenormal
2Quantoàingestãodelíquidos,seuanimal:
a)()Bebemuitolíquido
b)()“Mastiga”aágua,semingerila
c)()Bebelíquidosnormalmente
3Quantoaocomportamentodecuidadoscomocorpo,seucão:
a)()Apresentamovimentosrepetidosdelambeduras,mordidas
b)()Perseguee/oumordeacaudademaneirarepetidaefreqüente
c)()Apresentalambedurasemordidasembuscadeatenção(sóofaznapresençadepessoas)
d)()Cuidadoprópriocorponormalmente
4Quantoaocomportamentodeevacuação/micção,ocão:
a)()Defecaeurinaondeestiver(incluindoaáreadedormir)
b)()Defecaeurinaondeestiver(poupandoaáreadedormir)
c)()Defecaeurinaempequenasquantidadesespalhadas
d)()Nãoapresentaalteração
5Quantoaosono,seuanimal:
a)()Apresentainquietaçãonahoradedormir
b)()Outemdificuldadesparadormir(insônia)oudormedemais,principalmenteduranteodia(hipersonia)
c)()Dormemaisque15horaspordia
d)()Nãoapresentaalteração
6Comrelaçãoàcomportamentosespecíficosaprendidos(comandos,treinamentos),seucão:
a)()Praticamentenãorespondemaisaeles
b)()Àsvezesresponde,àsvezesnão
c)()Nãoapresentaalteração

47
7Emrelaçãoaoautocontrole,ocão:
a)()Tendeageneralizarexperiênciasaversivas
b)()Édifícildeacalmarapósumeventoestressante
c)()Alternaperíodosdehiperatividadeeindiferença
d)()Nãoapresentaalteraçõesaparentes
8Quantoaocomportamentosocialaprendido,seuanimal:
a)()Roubaeretémosobjetosroubados
b)()Mordesemaviso
c)()Nãosesubmetequandorepreendido
d)()Nãoapresentaalteração
9Emrelaçãoàscapacidadesadaptativas,ocão:
a)()Olhacomindiferençaparaalterações
b)()Éincapazdetolerarmudançasnarotina
c)()Fogedesituaçõesnovas
d)()Apresentainteressenormalfrenteàsalterações
Obrigadapelasuaparticipação!Casoseuanimalapresenteindíciosdeproblemacomportamental,entrareiemcontato.
Atenciosamente,LilianeNarcisoPantojaMédicaVeterináriaCRMVRJ7448

48
ANEXO C
Atribuição de pontos do questionário 2, de acordo com a opção assinalada
PARÂMETROSAFETIVOSOUEMOCIONAIS
1Quantoàingestãodealimentos,seucão:
a)()Comemuitoe/ouapressadamente5pontos
b)()Comepouco/temfaltadeapetite3pontos
c)()Costumaingerirobjetosnãocomestíveis3pontos
d)()Regurgitaoalimentoevoltaaingerilo2pontos
e)()Apresentaapetitenormal1ponto
2Quantoàingestãodelíquidos,seuanimal:
a)()Bebemuitolíquido4pontos
b)()“Mastiga”aágua,semingerila3pontos
c)()Bebelíquidosnormalmente1ponto
3Quantoaocomportamentodecuidadoscomocorpo,seucão:
a)()Apresentamovimentosrepetidosdelambeduras,mordidas 5pontos
b)()Perseguee/oumordeacaudademaneirarepetidaefreqüente 3pontos
c)()Apresentalambedurasemordidasembuscadeatenção 2pontos
(sóofaznapresençadepessoas)
d)()Cuidadoprópriocorponormalmente1ponto
4Quantoaocomportamentodeevacuação/micção,ocão:
a)()Defecaeurinaondeestiver(incluindoaáreadedormir) 5pontos
b)()Defecaeurinaondeestiver(poupandoaáreadedormir) 4pontos
c)()Defecaeurinaempequenasquantidadesespalhadas 3pontos
d)()Nãoapresentaalteração1ponto
5Quantoaosono,seuanimal:
a)()Apresentainquietaçãonahoradedormir5pontos
b)()Temdificuldadesparadormir(insônia)oudormedemais,principalmente 3pontos
duranteodia(hipersonia)
c)()Dormemaisque15horaspordia2pontos
d)()Dormenormalmente1ponto
PARÂMETROSCOGNITIVOS
6Comrelaçãoàcomportamentosespecíficosaprendidos(comandos,treinamentos),seucão:
a)()Praticamentenãorespondemaisaeles5pontos
b)()Àsvezesresponde,àsvezesnão3pontos
c)()Respondenormalmente1ponto
7Emrelaçãoaoautocontrole,ocão:
a)()Tendeageneralizarexperiênciasaversivas5pontos
b)()Édifícildeacalmarapósumeventoestressante2pontos
c)()Alternaperíodosdehiperatividadeeindiferença3pontos
d)()Nãotemalteraçõesaparentes1pontos
8Quantoaocomportamentosocialaprendido,seuanimal:
a)()Roubaeretémosobjetosroubados5pontos

49
b)()Mordesemaviso3pontos
c)()Nãosesubmetequandorepreendido4pontos
d)()Nãoapresentaalteração1ponto
9Emrelaçãoàscapacidadesadaptativas,ocão:
a)()Olhacomindiferençaparaalterações5pontos
b)(incapazdetolerarmudançasnarotina3pontos
c)()Fogedesituaçõesnovas2pontos
d)()Apresentainteressenormalfrenteàsalterações1ponto
INTERPRETAÇÃODEACORDOCOMOTOTALDEPONTOS
INTERPRETAÇÃO VALOR
Envelhecimentonormal 9a15
Reavalieem6meses 16a21
Distimia(alteraçãodohumor) 22a30
Hiperagressãodocãoidoso 18a30*
Depressãoinvolutiva 31a44
*Comumvalorde3ou4paraaprendizadosocialede3paraautocontrole.Nestescasos,deveseavaliaroanimalcom
umaescaladeavaliaçãodeagressividade

50
ANEXO D
Quadro 1 - Resultados gerais (continua)
Proprietário Raça Sexo Castrado? Idade (anos) Bairro Moradia
1 I Cocker F S 11 Vila Isabel Casa com quintal
2 II Cocker F S 13 Olaria Casa com quintal
3 III Poodle F S 15 Barra Apartamento
4 IV Cocker M S 14 Leblon Apartamento
5 V Poodle F S 12 Campo Grande Casa sem quintal
6 VI Poodle M S 11 N. Iguaçu Apto com área (cobertura)
7 VII Labrador M S 8 Copacabana Casa com quintal
8 VIII Poodle M N 12 Volta Redonda Casa com quintal
9 IX SRD M N 13 Botafogo Casa com quintal
10 IX SRD M N 13 Botafogo Casa com quintal
11 X Husky F S 13 Campo Grande Casa com quintal
12 XI Teckel M S 10 Campo Grande Casa com quintal
13 XII Labrador M S 10 Barra Apartamento
14 XIII Teckel F N 8 Campo Grande Casa com quintal
15 XIV Bichón Frise F S 9 Vila da Penha Apartamento
16 IX SRD F S 14 Botafogo Casa com quintal
17 XV Cocker M N 10 Centro - Mangaratiba Casa com quintal
18 XVI Golden M N 10 Jacarepagua Casa com quintal
19 XVI Golden M N 10 Jacarepagua Casa com quintal
20 XVII SRD F S 10 Volta Redonda Casa com quintal
21 XVIII Chow chow F S 8 Tijuca Apartamento
22 XIX SRD M N 14 Leblon Apartamento
23 XX Pinscher F S 14 Sulacap Casa com quintal
24 XXI SRD F S 8 Campo Grande Casa com quintal
25 XXII Boxer F N 10 Bangu Casa com quintal
26 XXIII Poodle F S 11 Barra Apartamento
27 XXIV Teckel F N 12 Seropédica Casa com quintal
28 XV Teckel F S 9 São Gonçalo Casa com quintal
29 XVI Akita F N 8 S. José dos Campos - SP Casa com quintal
30 XVII Poodle M S 8 Ilha do Governador Apartamento
31 XVIII Dálmata F S 11 Jacarepagua Casa com quintal
32 XXIX Poodle F N 10 Jacarepagua Apartamento
33 XXX Poodle F N 11 Barra Apartamento
34 XXXI SRD M N 14 Oswaldo Cruz Casa com quintal
35 XXXII Maltês F S 8 Barra Casa com quintal
36 XXXIII Labrador M S 8 Cascadura Casa com quintal
37 XXXIV Teckel M S 14 Campo Grande Casa com quintal
38 XXXV Yorkshire F S 11 Barra Apartamento
39 XXXVI Poodle F N 8 Vila Isabel Apartamento
40 XXXVII SRD F S 9 Flamengo Apartamento
41 XXXVIII Poodle M N 11 Grajaú Apartamento
42 XXXIX Teckel F N 7 Jacarepagua Casa com quintal
43 XL Teckel F N 8 Recreio Apartamento
44 XLI Teckel M S 11 Barra Apartamento
45 XLII Pit Bull F N 9 Jacarepagua Casa com quintal
46 XLIII SRD F N 9 Jacarepagua Casa com quintal
47 XLIV Poodle F N 11 Recreio Apartamento
48 XLV Labrador F N 11 Jacarepagua Casa com quintal
49 XLVI Labrador F S 13 Botafogo Casa com quintal
50 XLVI Teckel M N 8 Botafogo Casa com quintal
51 XLVI Teckel F S 11 Botafogo Casa com quintal
52 XLVII Fox Paulistinha F S 11 Itaipava Casa com quintal
53 XLVIII Rottweiler M S 10 Jacarepagua Casa com quintal
54 XLVIII SRD M N 12 Jacarepagua Casa com quintal
55 XLIX SRD M S 10 Jacarepagua Apartamento
56 L Cocker F N 10 Penha Casa com quintal
57 LI Poodle F S 16 Niterói Apartamento
58 LI Poodle F S 14 Niterói Apartamento
59 LII Poodle M N 8 Barra Apartamento
60 LIII SRD F S 11 Estácio Apartamento
61 LIV Labrador M N 10 Jacarepagua Apartamento
62 LV Poodle M N 12 Jacarepagua Casa com quintal

51
Proprietário Raça Sexo Castrado? Idade (anos) Bairro Moradia
63 LVI Poodle M S 13 Vargem Pequena Casa com quintal
64 LVII Lhasa Apso M N 10 Recreio Casa sem quintal
65 LVIII SRD F N 8 Queimados Casa com quintal
66 LIX Pinscher F N 12 Volta Redonda Apartamento
67 LX Poodle F S 17 Barra Apartamento
68 LXI Poodle M S 15 Barra Apartamento
69 LXII Dog Alemão M S 9 Recreio Casa com quintal
70 LXIII SRD F S 12 Vargem Grande Casa com quintal
71 LXIII SRD F N 10 Vargem Grande Casa com quintal
72 LXIII SRD M S 12 Vargem Grande Casa com quintal
73 LXIII SRD F N 10 Vargem Grande Casa com quintal
74 LXIII SRD F N 11 Vargem Grande Casa com quintal
75 LXIII SRD F N 11 Vargem Grande Casa com quintal
76 LXIII SRD F N 10 Vargem Grande Casa com quintal
77 LXIII SRD F N 9 Vargem Grande Casa com quintal
SRD = Sem Raça Definida; F = Fêmea; M = Macho; S = Sim; N = Não.

52
ANEXO E
Quadro 2 – Resultados obtidos com os questionários 1 e 2 (continua)
Raça Sexo Castrado? Idade (anos) Questionário 1 Questionário 2
1 Cocker F S 11 DCC Severa R
2 Cocker F S 13 DCC Leve R
3 Poodle F S 15 DCC Severa A
4 Cocker M S 14 DCC Severa A
5 Poodle F S 12 DCC Severa A
6 Poodle M S 11 Sem DCC EN
7 Labrador M S 8 Sem DCC R
8 Poodle M N 12 Sem DCC R
9 SRD M N 13 Sem DCC EN
10 SRD M N 13 Sem DCC R
11 Husky F S 13 Sem DCC EN
12 Teckel M S 10 Sem DCC EN
13 Labrador M S 10 DCC Leve EN
14 Teckel F N 8 Sem DCC EN
15 Bichón Frise F S 9 Sem DCC EN
16 SRD F S 14 DCC Severa R
17 Cocker M N 10 DCC Leve A
18 Golden M N 10 Sem DCC EN
19 Golden M N 10 Sem DCC EN
20 SRD F S 10 DCC Leve R
21 Chow chow F S 8 Sem DCC EN
22 SRD M N 14 Sem DCC EN
23 Pinscher F S 14 DCC Leve R
24 SRD F S 8 Sem DCC A
25 Boxer F N 10 Sem DCC EN
26 Poodle F S 11 Sem DCC A
27 Teckel F N 12 Sem DCC EN
28 Teckel F S 9 Sem DCC R
29 Akita F N 8 Sem DCC EN
30 Poodle M S 8 Sem DCC A
31 Dálmata F S 11 Sem DCC R
32 Poodle F N 10 DCC Severa A
33 Poodle F N 11 DCC Leve A
34 SRD M N 14 DCC Leve EN
35 Maltês F S 8 DCC Leve R
36 Labrador M S 8 Sem DCC EN
37 Teckel M S 14 DCC Severa R
38 Yorkshire F S 11 DCC Leve A
39 Poodle F N 8 Sem DCC EN
40 SRD F S 9 Sem DCC A
41 Poodle M N 11 Sem DCC A
42 Teckel F N 7 Sem DCC A
43 Teckel F N 8 Sem DCC A
44 Teckel M S 11 DCC Severa A
45 Pit Bull F N 9 DCC Leve R
46 SRD F N 9 Sem DCC EN
47 Poodle F N 11 Sem DCC EN
48 Labrador F N 11 Sem DCC A
49 Labrador F S 13 DCC Severa A
50 Teckel M N 8 Sem DCC EN
51 Teckel F S 11 Sem DCC EN
52 Fox Paulistinha F S 11 Sem DCC EN
53 Rottweiler M S 10 Sem DCC EN
54 SRD M N 12 Sem DCC EN
55 SRD M S 10 Sem DCC EN
56 Cocker F N 10 DCC Leve R
57 Poodle F S 16 Sem DCC A
58 Poodle F S 14 Sem DCC EN
59 Poodle M N 8 DCC Severa A
60 SRD F S 11 Sem DCC R
61 Labrador M N 10 Sem DCC EN

Raça Sexo Castrado? Idade (anos) Questionário 1 Questionário 2
62 Poodle M N 12 Sem DCC EN
63 Poodle M S 13 DCC Leve A
64 Lhasa Apso M N 10 DCC Leve R
65 SRD F N 8 DCC Leve R
66 Pinscher F N 12 DCC Severa A
67 Poodle F S 17 DCC Severa R
68 Poodle M S 15 DCC Leve R
69 Dog Alemão M S 9 DCC Leve R
70 SRD F S 12 Sem DCC A
71 SRD F N 10 Sem DCC EN
72 SRD M S 12 Sem DCC EN
73 SRD F N 10 Sem DCC EN
74 SRD F N 11 Sem DCC EN
75 SRD F N 11 Sem DCC EN
76 SRD F N 10 Sem DCC EN
77 SRD F N 9 DCC Leve R
Quadro 2 - Continuação
SRD = Sem Raça Definida; F = Fêmea; M = Macho; S = Sim; N = Não; DCC = Disfunção Cognitiva Canina;
EN = Envelhecimento normal; R = Passível de reavaliação em 6 meses; A = Com anormalidades no envelhecimento
53

54
ANEXO F
Quadro 3 – Cães com doenças previamente diagnosticadas, recebendo ou não
tratamento, e sua relação com a ocorrência de sinais de disfunção cognitiva canina
(DCC)
Tipo de doença Número de cães Em tratamento e
com sinais de DCC
Em tratamento e
sem sinais de DCC
Sem tratamento e
com sinais de DCC
Sem tratamento e
sem sinais de DCC
Alergia Alimentar 1 0 0 1 0
Ansiedade 1 0 1 0 0
Desordens
Cardiorrespiratórias
7 3 3 1 0
Endocrinopatias 5 1 3 0 1
Glaucoma 1 1 0 0 0
Hematozoários 1 0 1 0 0
Neoplasias 3 0 3 0 0
Desordens
Osteoarticulares
11 2 5 1 3
Doença Periodontal 2 0 0 1 1
Sequela de cinomose 2 0 0 2 0
Desordens do trato
genito-urinário e
reprodutivo
3 0 1 2 0
Múltiplas afecções 9 7 1 0 1
TOTAL 46 14 18 8 6

UFRRJ
INSTITUTO DE VETERINÁRIA
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA
VETERINÁRIA
(PATOLOGIA E CIÊNCIAS CLÍNICAS)
DISSERTAÇÃO
Contribuição ao Diagnóstico Clínico da Disfunção
Cognitiva Canina
Liliane Narciso Pantoja
2010
55
Livros Grátis
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