Com a Sinfonia Fantástica de Berlioz (1830), um rico e produtivo simbolismo
cresceu ao redor da melodia gregoriana do Dies Irae, envolvendo reflexões sobre a
morte, medo das coisas sobrenaturais e até mesmo opressão política.
Liszt visitou Pisa em 1839 com a condessa D`Agoult e apreciou o afresco do
“Último Julgamento”, de Orcagna. Foi essa inspiração, mais pictórica do que literária,
que o levou a escrever, dez anos mais tarde, Totentanz ( Dança da Morte), dedicada ao
então genro Hans Von Büllow, escrita em 1849, e executada pela primeira vez em
1865, em Haia. Nesta obra orquestral com solo de piano, o Dies Irae gregoriano tem
presença abundante e destacada.
Em meados do século XVIII, coincidentemente ou não, a prática da execução do
canto gregoriano, que havia caído tanto em qualidade como em quantidade, vislumbra
entretanto, um processo de restauração fundamentado em dois pontos: a descoberta do
manuscrito Montepellier
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H 159, do século XI, em 1847, e a determinação de
monges de Solesmes em pesquisar de maneira aprofundada outros códices (Laon, do
séc. X ; S. Martial de Limoges, do séc. X-XI ; Saint-Gall, do séc. XI e Las Huelgas, do
séc. XIII) espalhados por toda a Europa.
Como resultados iniciais daquela pesquisa, o monge Joseph Pothier publicou Les
Melodies Grégoriennes (1880) e depois, seu Líber Gradualis (1883). O movimento
promovido pelo papa Pio X, através de MOTU PRÓPRIO de 22 de novembro de 1903,
restabeleceu o Canto Gregoriano na Igreja e culmina com a publicação do Graduale
Romanum (1908) e do Antiphonale Romanum (1912) reconduzindo assim o Gregoriano
às suas fontes mais puras e ao seu primitivo esplendor.
Após tão feliz restauração porém, bastaram algumas poucas décadas, para que
a própria Igreja, no Concílo Vaticano II limitasse o espaço e a prática do Canto
Gregoriano, embora ainda hoje o reconheça como Canto Oficial da Igreja. Talvez a
explicação para este “mecanismo limitador” seja a seguinte: com a finalidade de
estimular a língua vernácula em cada localidade, as liturgias acabaram por
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O manuscrito de Montpellier é um Tonário (livro de cânticos), copiado por São
Benigno de Dijon, cuja descoberta proporcionou um grande avanço no estudo dos
neumas, pois neste manuscrito, entre as linhas paralelas do texto e os neumas, corre
uma linha de letras de “a” a “p” com a indicação precisa da altura dos sons e neumas.
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