Download PDF
ads:
i
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
INSTITUTO DE ARTES
Policordes:
Sistematização e Uso na Música Popular
Adriano Fagundes Oliveira Lima
CAMPINAS – 2006
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
ii
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
INSTITUTO DE ARTES
Mestrado em Música
POLICORDES:
SISTEMATIZAÇÃO E USO NA MÚSICA POPULAR
ADRIANO FAGUNDES OLIVEIRA LIMA
Dissertação apresentada ao Curso de
Mestrado em artes do Instituo de Artes
da UNICAMP como requisito parcial
para a obtenção do título de Mestre
em Música sob a orientação do Prof.
Dr. Antônio Rafael Carvalho dos
Santos
ads:
iii
CAMPINAS –2006
FICHA CATALOGRÁFICA
Lima, Adriano Fagundes Oliveira.
L629p Policordes: sistematização e uso na música popular. /
Adriano Fagundes Oliveira Lima. – Campinas, SP: [s.n.], 2006.
Orientador: Antônio Rafael Carvalho dos Santos.
Dissertação(mestrado) - Universidade Estadual de Campinas.
Instituto de Artes.
1. Harmonia(Música). 2. Música popular. 3. Policordes.
I. Santos, Antonio Rafael Carvalho dos. II. Universidade
Estadual de Campinas.Instituto de Artes. III. Título.
.
iv
AGRADECIMENTOS
A Rafael dos Santos, orientador e amigo, pela paciência e conselhos indispensáveis
para realização desse trabalho. Aos colegas Budi Garcia, pela co orientação extra oficial cujo
auxílio suntuoso ajudou imensamente na concretização dessas idéias, Zé Alexandre Carvalho por
dividir as agruras da realização acadêmica e pelas dicas inestimáveis e a Edmundo Cassis,
Vinícius Dorim e Fernando Corrêa pelas conversações em torno dos policordes , sempre
esclarecedoras.
Ao mestre e amigo Hilton Valente, o Gogô, por ainda nos tempos da graduação ter
me chamado a atenção para as possibilidades policordais, e por sua sempre inestimável
contribuição para a expansão do meu conhecimento musical , fornecendo referências
bibliográficas e “dicas” ao pé do piano sobre o fazer harmônico.
Aos colegas, funcionários e professores do IA pelo convívio em torno do aprendizado
musical.
Aos amigos Sizão Machado, Claudio Faria e Deuler Andrade pela acolhida em
momento tão difícil da vida.
A minha mulher Maria pela confiança , companhia e inspiração nesses anos vividos
juntos e a todos os colegas, inúmeros e importantes em igual medida , pelo convívio musical, em
Campinas e São Paulo.
Ao meu tio, Álvaro Moreira , por me apresentar à boa música, e aos mestres, Jobim,
Donato, Ivan Lins, Dori, Toninho Horta, entre tantos, que inspiraram esse trabalho.
v
vi
RESUMO
Policordes; Sistematização e uso na Música Popular
O presente trabalho ocupa-se em pesquisar os policordes, formações acordais
compostas pela sobreposição de uma ou mais tríades ou tétrades sobre uma base simples ou
composta, discutindo as diferentes formas como são encontrados e oferecendo uma proposta de
sistematização. Por tratar-se de uma linguagem relativamente nova, procurou-se primeiramente
investigar como eles são apresentados conceitualmente e graficamente nos trabalhos de diversos
autores e sugerir uma sistematização baseada nessas informações. Em seguida, buscou-se
identificar, com base nesta proposta de sistematização, sua utilização no repertório de música
brasileira.
vii
ABSTRACT
This work is concerned in researching the polychords, chordal structures formed by
the superimposition of one or more triads or thetrads over a simple or complex base, discussing
the different ways they are found and proposing a system for it’s use. Being such a new language,
primarily this work searches for how they are presented both conceptually and graphically in
different works of several authors and suggests a system based upon these informations.
Secondly, this work tries to identify, based upon this system proposal, the use of the polychords
in popular music.
viii
SUMÁRIO
Introdução ............................................................................................................................... 9
Capítulo 1 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................... 11
1.1 Melodic Structures (Jerry Bergonzi) …………………………………………..
13
1.2 Expansions (Gary Campbell) ….………………..................................………..
14
1.3 The Advancing Guitarrist (Mick Goodrick) …….……….…………………….
15
1.4. Popular and Jazz Harmony (Daniel A. Ricigliano) …...........….........………...
17
1.5 Armonia del Siglo XX (Vincent Persichetti) ..
..........................................………..
19
1.6 Sax/ flute lesson with the greats (Mishkit, Bruce) …. ……….............………..
20
1.7 The Jazz theory Book (Mark Levine) …...………......................…......………..
21
1.8 A chromatic approach to jazz harmony and melody (David Liebman) …….… 23
1.9 Arranjo – Método Prático (Ian Guest) ...............................................................
.
1.10 Pesquisa em sítios da internet ...........................................................................
1.10.1 Cell Notation (Steve Coleman) …………..……........…….…….……..
25
1.10.2 Learn Jazz piano (Scot Ranney) …........................................…….........
27
1.10.3 Classic Internet Guitar Lessons (Kevin Morgan) ........................….......
28
1.10.4 Jazz improvisation Primer (Marc Sabatella) .......................................... 29
1.10.5.
Polychords – The basic (Autor Desconhecido) ..................................... 32
1.10.6 Theory on Tap – Lesson11: Polychords (Vance Gloster) ................…..
33
1.10.7
Jazz Arranging Tutorial: Extensions – Polychords
(Autor desconhecido) .............................................................................
33
Capítulo 2 – PROPOSTA DE SISTEMATIZAÇÃO .............................................................. 35
2.1 Policorde Simples ............................................................................................... 37
2.2 Policorde Composto ........................................................................................... 38
2.3 Policorde Implícito ............................................................................................. 41
2.4 Policorde Explícito ............................................................................................. 42
2.5 Modos Policordais .............................................................................................. 43
2.6 Policordes e Tonalismo ...................................................................................... 45
ix
Capítulo 3 – OCORRÊNCIA NO REPERTÓRIO BRASILEIRO ......................................... 55
3.1 “Amor” ............................................................................................................... 59
3.2 “Mountain Flight” (Tema dos Piriás) ................................................................. 63
3.3 “Jogral” ............................................................................................................... 65
3.4 “Se todos fossem iguais a você” ......................................................................... 68
3.5 “The Island” ( Começar de Novo ) ................................................................... 71
Considerações Finais ............................................................................................................... 77
Referências .............................................................................................................................. 78
Bibliografia .............................................................................................................................
Documentos disponíveis em meio eletrônico .........................................................................
1
INTRODUÇÃO
As tentativas de representação gráfica na música popular tomaram de empréstimo
recursos encontrados na música tradicional. Técnicas como a do baixo cifrado, entre outras,
acabaram desaguando no sistema hoje conhecido como cifra, que podemos definir como um
sistema de apresentação gráfica que representa uma tríade fundamental e suas tensões. Após a
popularização dos song books, esse sistema foi cada vez mais se aperfeiçoando. A própria
transformação da música popular também contribuiu para esse processo dinâmico, de certo modo
empírico, e ainda não encontrou uma sistematização definitiva. O emprego cada vez maior do
número de tensões em um acorde obrigou esse sistema a transformar-se de modo a representar
graficamente esses acordes cada vez mais complexos. Essas estruturas são atualmente
denominadas Policordes. Os avanços tecnológicos, principalmente a interferência dos
computadores pessoais e seus programas de edição de partituras também contribuíram para
algumas das transformações ainda em curso. Essa representação gráfica pode variar de autor para
autor, editora para editora, programa para programa. Essa problemática toda está no centro da
investigação desse trabalho. Ao apresentar a teoria sobre os policordes, tentamos trazer essa falta
de sistematização para o centro das discussões, apresentando primeiramente a visão de diferentes
autores para o tema dos policordes e num segundo momento o trabalho propõe uma
sistematização para o assunto.
Apesar dos esforços até aqui empregados, sabemos que nada é definitivo quando o
assunto é a representação gráfica de um acorde. A investigação aqui realizada visa propor
primeiramente uma reflexão sobre o papel dos policordes na harmonia atual, e depois, sugere
uma sistematização que acredita não ser nem definitiva e muito menos perfeita.
Ainda no corpo do trabalho são destacadas algumas ocorrências dos policordes na
música brasileira, tentando apresentá-los da maneira mais simples e dinâmica possível, inserindo-
os num contexto ainda em transformação da harmonia brasileira, mas que já faz uso da técnica
dos policordes.
2
Capítulo 1 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A representação gráfica dos policordes, assim como a própria cifragem, transformou-
se ao longo do tempo e vários são os modelos hoje utilizados para se representar uma formação
acordal baseada nessa técnica.
Das formações mais simples ( tríade sobre fundamental ) às mais complexas ( duas ou
mais tríades sobre tétrade ), passando por técnicas alternativas ( cell notation ), todos os modelos
fornecem, de algum modo, uma sugestão de apresentação gráfica que difere em poucos detalhes
uns dos outros. Geralmente restritos à tríade de base e suas tensões sobrepostas na forma de
tríades ou tétrades, os modelos de policordes pesquisados diferem em alguns aspectos formais
que não os tornam tão díspares no conteúdo: formações acordais complexas obtidas a partir da
somatória de tríades ou tétrades a uma fundamental, fundamental e sétima, fundamental e terça,
ou tríade ou tétrade de base.
Embora a sistematização dos policordes esteja ainda em curso ( como a própria
cifragem ) existem alguns pontos em comum em todas técnicas pesquisadas:
- A maioria dos autores trata da aplicação dos policordes principalmente
em acordes do tipo dominante;
- Salvo algumas exceções ( cell notation, David Liebman ) todos eles
utilizam técnicas tradicionais de cifragem aplicadas à técnica dos
policordes;
- Alguns autores ( Mishkit, Campbell ) trabalham com conceitos
derivados dos policordes, como os modos policordais e os pares de
tríades.
Fez-se uma revisão bibliográfica ( incluindo alguns sítios da internet ) que trata do
assunto dos policordes, apresentando brevemente a visão de alguns autores sobre essa técnica e a
nomenclatura, em alguns casos, que utilizam para definirem os policordes e suas variações.
3
Dos livros pesquisados para o presente trabalho, podemos destacar:
Livro Autor
1.1
Melodic Structures
Jerry Bergonzi
1.2
Expansions
Gary Campbell
1.3
Advancing Guitarrist, The
Mick Goodrick
1.4
Popular and Jazz Harmony
Daniel A. Ricigliano
1.5
Armonia del Siglo Vinte
Vincent Persichetti
1.6
Sax/Flute lessons with the Greats
Bruce Mishkit
1.7
Jazz Theory Book, The
Mark Levine
1.8
A Chromatic Approach to Jazz Harmony and Melody
David Liebman
1.9
Arranjo – Método Prático vol. 3
Ian Guest
1.1 Melodic Structures (Jerry Bergonzi)
Em sua série de livros intitulada Inside improvisation, o saxofonista norte americano
J. Bergonzi destaca o papel dos policordes como tensões de um acorde dominante e os classifica
como tríades das camadas superiores de um acorde. Apesar de não entrar em muitos detalhes
sobre a aplicação do conceito dos policordes, fornece alguns exemplos de tríades que podem ser
entendidas como tensões de um acorde dominante e destaca individualmente cada uma de suas
notas de acordo com as tensões (ou nota básica ) que geram.
Ex.1 Tríades maiores sobre acorde dominante
4
Ex.2 Tríades menores sobre acorde dominante
A visão pragmática e direta de Bergonzi esclarece a atuação dos policordes quando
confrontados com a harmonia tradicional, resumindo-se em uma espécie de manual de aplicação,
sem comentar sua origem ou outras implicações. Alguns autores trabalham com outros conceitos,
como os policordes oriundos de pares de tríades, como veremos a seguir.
1.2 Expansions (Gary Campbell)
Dentre as propostas apresentadas por Gary Campbell em seu livro, destaca-se o
entendimento dos policordes como pares sobrepostos de tríades. Assim como no caso das tríades
comuns, o sistema proposto por Campbell para os pares de tríades funciona através da adição de
duas unidades que, combinadas, acabam resultando em acordes tradicionais com várias tensões.
1.2.1 Duas tríades maiores, separadas por um trítono, que podem ser aplicadas sobre acordes
dominantes, sendo as aplicações mais óbvias ( por conterem, na tônica dos acordes, notas das
tríades que compõem o policorde ) nos casos dos acordes de C7(b5,b9) e F#7(b5,b9), e menos
óbvias ( por não conterem, na tônica dos acordes, notas das tríades que compõem o policorde )
nos acordes Eb7(13,b9,#9) e A7(13,b9,#9).
Ex. 3 Dó maior e Fá sustenido maior ( As vezes chamadas de escalas tritônicas )
5
1.2.2 Duas tríades maiores separadas por um tom, que podem ser aplicadas sobre os acordes de
C7M(#11) ou C7(#11), F#7(b9,b13,b5), Em7(b5), D7sus4, Am(7M) e Bb7M(#5)
Ex. 4 Dó maior e Ré maior
1.2.3 Uma tríade maior e uma tríade menor, separadas por um tom descendente, que podem ser
aplicadas sobre os acordes de C7sus(b9), G7sus(b5,#9), Eb7(b9) , Db7M(#11)
Ex.5 Dó maior e Si Bemol Menor
1.2.4 Duas tríades maiores separadas por meio tom, que podem ser aplicadas aos acordes de
Db7M, C7M, Eb7sus4, Eb7(13,b9) e Fm(7M)
Ex.6 Dó maior e Ré bemol maior
6
A técnica proposta por Campbell é bem esclarecedora, embora parta de uma visão
personalista. Suas considerações são melhores aplicadas às diferentes técnicas de improvisação
utilizadas nos dias de hoje por diferentes instrumentistas. Outro autor que tem uma visão
particular sobre os policordes e os apresenta dentro de um esquema padronizado é o guitarrista
Mick Goodrick, como veremos a seguir.
1.3 The Advancing Guitarrist (Mick Goodrick)
Em seu método para guitarristas, Mick Goodrick fornece uma esclarecedora
possibilidade de tratamento dos policordes, aos quais chama de tríades sobre uma fundamental, e
fornece uma longa tabela de exemplos aplicáveis segundo sua proposição para o tema. Ele lista
várias possibilidades de tríades sobre uma fundamental, sendo que algumas são apenas tríades
com uma de suas notas repetidas na fundamental do acorde, sendo então desprezadas. Usando a
nota Dó como referência, os policordes redundantes seriam:
Além dessas situações redundantes ( notas que se repetem na fundamental do
policorde em questão ), temos a repetição de alguns casos, uma vez que as doze tríades
aumentadas existentes são na verdade quatro tríades, sendo que a tríade de Dó (C,E,G#) e seus
pares correspondentes, formados pelo conjunto (C,E,G#), foi eliminada acima pela sua
redundância, e as nove tríades remanescentes são na verdade apenas três e serão descritas da
seguinte maneira:
C , Cm , C+, Cdim , E+ , F , Fm , F#dim , Ab , Ab+ , Am , Adim
C C C C C C C C C C C C
Db+ (F+,A+) , Bb+ (F#+,D+) , B+ (Eb+,G+).
7
Desse modo, das muitas possibilidades existentes, apenas algumas são de fato
policordes formados por quatro notas diferentes. Abaixo, alguns exemplos dos policordes criados
a partir da técnica sugerida por Goodrick:
Essas possíveis estruturas triádicas ou policordes podem ser categorizadas em três tipos,
cujos alguns exemplos são transcritos a seguir:
Db , Dbm , Dbdim , D , Dm , Ddim , Eb , Ebm , Ebdim
C C C C C C C C C
Db+(F+,A+) , Bb +(F#+,D+) , B+(Eb+,G+),
C C C
1.3.1 Acordes com sétima redundantes
Eb = Cm7 ; Ebm = Cm7(b5) ; Ebdim = Cdim7
C C C
G+ ( B+; EB+ ) = Cm(7M) ; E = C(7M,#5) Em = C7M ; B = tônica diminuta
C C C C
1.3.2 Acordes com sétima menos óbvios
Db = Db7M ; Dbm = Dbm(7M) ; Dbdim = D tônica diminuta
C C C
D = D7 ; Dm = Dm (F6) ; Ddim = Dm7(b5) Fm6
C C C
Db+ (F+; A+) = Db+(7M)
C
8
1.3.3 Estruturas Híbridas
Ainda como tentativa de aproximar a linguagem dos policordes à harmonia
tradicional, o autor menciona que essas formações acordais sugerem acordes de décima terceira
incompletos.
Interessante notar que Goodrick refere-se apenas aos policordes em seu formato
simples, ou seja, tríades sobre uma fundamental. Outros autores preferem entender os policordes
em diferentes formatos, como Ricigliano, que analisaremos a seguir.
Fdim ; F# ; F#m ; G ; Gm ; Gdim ; Abm ; Abdim .
C C C C C C C C
1.4 Popular and Jazz Harmony (Daniel A. Ricigliano)
Em seu método de harmonia, Ricigliano utiliza, graficamente, uma barra transversal
para apresentar o policorde, o que demonstra a ausência de uma sistematização para essa técnica.
Na verdade, embora não usual, a barra transversal funciona como a horizontal, ou seja, indica
uma tríade ou tétrade nas vozes superiores sobre um tétrade ( com a quinta suprimida, nos casos
dos acordes do tipo dominante ) construída sobre uma fundamental. Ele classifica os policordes
como acordes superpostos. Na sua apresentação dos modelos de policordes, ele prefere as
estruturas triádicas sobre tétrades dominantes, uma vez que afirma serem nesses tipos de acordes
( dominantes ) que melhor se aplica essa técnica. Cita também, na página 147 que “pensando em
termos de dois acordes sobrepostos, ao invés de um acorde com muitas tensões, facilita-se tanto a
escrita quanto a execução desses acordes”.
A seguir, uma lista dos exemplos apresentados pelo autor, dando preferência aos
acordes dominantes.
9
Ex.7 Tétrade diminuta e tríades maiores sobre tétrades dominantes
Ex. 8 Tríades maiores e menores sobre tétrades maiores com sétima maior, menores
com sétima e menores com sétima e quinta diminuta
Curioso notar a total diferença nas abordagens praticadas pelos diferentes autores
quando tratam dos policordes. Entre Goodrick e Ricigliano há uma clara divergência quanto à
base dos policordes. Outros autores levam essa linguagem a patamares muito mais complexos,
como no caso de Persichetti, a seguir.
1.5 Armonia del Siglo XX (Vincent Persichetti)
Em seu complexo modo de classificar os policordes, Persichetti os define como “a
combinação simultânea de dois ou mais acordes de diferentes áreas harmônicas, sendo seus
segmentos considerados como unidades acordais”. E completa:
10
Existem quatro tipos de policordes com três unidades ou mais: aqueles cujas
unidades superiores são construídas sobre a terça e a quinta da tríade de base
(raramente sobre a fundamental), aquelas cujas unidades superiores são
construídas sobre harmônicos ( em qualquer oitava ) da terça e da quinta da
tríade de base, aqueles cujas unidades superiores são construídas sobre a
fundamental, terça ou quinta de tríades que não são a de base e aquelas que são
construídas sobre harmônicos de harmônicos da terça e quinta da tríade de base.
A seguir, alguns exemplos de policordes fornecidos por Persichetti:
Ex. 9 Unidades de duas tríades
No exemplo acima, Persichetti afirma que “os harmônicos resultantes de um som
fundamental podem produzir uma poliharmonia”.
Após essa introdução, o autor apresenta uma análise aprofundada dos efeitos
acústicos dos policordes e sua relação com a série harmônica e suas implicações que transporta
essa linguagem a um patamar de complexidade o qual o presente trabalho não pretende
investigar, estando mais voltada à música clássica, citando ocorrências em obras de autores como
Béla Bartok ( Quarteto de cordas número 5 ), Charles Ives ( Sonata para Piano número 2 ) e Igor
Stravinsky ( The Rake’s Progress ).
1.6 Sax/ flute lesson with the greats (Mishkit, Bruce)
Em seu método, onde compila alguns ensinamentos de instrumentistas famosos como
Lenny Picket, Joe Lovano, Paquito D’Rivera, Ernie Watts, Davie Liebman e Hubert Laws, Bruce
Mishkit apresenta em seu último capítulo um resumo sobre policordes que ele chama de “Upper
Structures” ( estruturas superiores ) e os sugere como ferramenta útil para se desenvolver novos
padrões de improvisação.
11
O autor afirma ainda que se trata de uma técnica utilizada principalmente por
pianistas, que têm por hábito utilizar esse processo devido à facilidade visual que o próprio
instrumento propicia.
Apresenta também a hipótese de um pianista que tem na mão esquerda as notas Mi e
Si bemol ( terça maior e sétima menor de um acorde de Dó com sétima ), ter à sua disposição
várias tríades em sua mão direita que produziriam diferentes alterações nesse acorde dominante.
Existem, afirma, cinco tríades maiores e seis menores que podem ser usadas dentro dessa técnica.
A seguir, alguns exemplos:
Ex. 10 Tríades Maiores sobre base dominante ( terça maior e sétima menor )
Ex.11 Tríades Menores sobre base dominante ( terça maior e sétima menor )
Nos exemplos anteriores, Mishkit destaca os acordes dominantes ( pela cifragem
convencional ) com suas tensões relacionados aos policordes formados pela sobreposição das
tríades maiores e menores sobre as bases dominantes.
Assim como Campbell, Mishkit adota os policordes basicamente como ferramentas
aplicáveis a improvisos, não destacando sua origem ou a técnica empregada em sua obtenção.
12
1.7 The Jazz theory Book (Mark Levine)
Em seu método sobre a teoria do Jazz, Levine chama os policordes de “acordes com
barras” ( slash chords ) e os define como uma tríade sobre uma fundamental. Prefere também
trabalhar com as tríades em sua segunda inversão ( quinta, fundamental e terça ) por entender que
nessa inversão soam mais fortes e lista uma série cromática de tríades sobre a mesma
fundamental, tecendo alguns comentários sobre as mesmas.
Ex.12 Tríades cromáticas sobre fundamental
A seguir, o autor comenta cada caso individualmente.
C/C Mesma tríade da fundamental
Db/C Tríade meio tom acima da fundamental
D/C Tríade um tom acima da fundamental
Eb/C Tríade uma terça menor acima da fundamental
E/C Tríade uma terça maior acima da fundamental
F/C Tríade uma quarta justa acima da fundamental
Gb/C Tríade um trítono acima da fundamental
G/C Tríade uma quinta justa acima da fundamental
Ab/C Tríade uma sexta menor acima da fundamental
A/C Tríade uma sexta maior acima da fundamental
Bb/C Tríade uma sétima menor acima da fundamental
B/C Tríade uma sétima maior acima da fundamental
13
C/C é uma cifra inútil e quase nunca surge como tal, sendo praticamente sem
utilidade.
Db/C é na verdade um acorde de Db7M com a sétima como base ( Db/C ). Bud
Powell utilizou essa cifra em sua composição “Glass Enclosure”. Apesar dos policordes terem
sido mais largamente usados a partir da década de 60, Powell fez uso dessa técnica já em 1953,
quando gravou “Glass Enclosure”. O mesmo acorde ainda pode ser visto como um acorde de
dominante C7sus(b9,b13) embora esse tipo de cifragem seja mais incomum.
Ex.13 Db/C funcionando como acorde dominante
D/C soa como um acorde lídio, ou C7M(#11).
Eb/C é , na verdade , um acorde de Cm7. Esse tipo de cifragem policordal poderá
aparecer apenas quando esse acorde fizer parte de uma série de outros acordes do mesmo tipo,
como na canção “Green Dolphin Street” ( B. Kaper ).
Ex.14 Eb/C em “Green Dolphin Street”
/C pode ser entendido como uma cifragem diferenciada para o acorde de C7M(#5),
ou Lídio Au
versão.
E
mentado, oriundo da escala Menor Harmônica.
F/C é na verdade uma tríade de Fá na segunda in
14
Gb/C e Ab/C são tríades muito utilizadas em acordes dominantes , pois geram
tensões bastante utilizadas nesses tipos de acorde. Gb gera as tensões #11, b7 e b9 e Ab gera as
tensões b13 e #9. Essas duas tríades são oriundas da escala de Dó Alterada.
G/C segundo Levine é pouco utilizada por conter a 5ª justa, 7ª maior e 9ª de um
acorde de C7M, sendo essa última preferida em relação à primeira cifra.
A/C é usualmente utilizada como substituta de um acorde de C7(b9).
Bb/C é um modo alternativo para a cifra de C7sus.
B/C funciona como um bom exemplo da funcionalidade do sistema de cifragem por
policordes. Numa cifragem convencional, o acorde de B/C seria cifrado C7M(#11,#9), que é
muito mais complexo de ser decifrado do que B/C,e esse acorde geralmente funciona como
substituo de um acorde do I grau.
Também bastante pragmática, a visão de Levine resume-se aos policordes simples.
Um autor que extrai mais possibilidades dessa técnica é David Liebman, como veremos a seguir.
1.8 A chromatic approach to jazz harmony and melody (David Liebman)
Talvez o mais completo método sobre os policordes, nesse livro seu autor, o
saxofonista Dave Liebman, leva a teoria dessa técnica a um nível de complexidade que ultrapassa
os efeitos desejados por esse trabalho. Dono de um estilo próprio, pode-se dizer que esse livro é
quase um tratado sobre uma nova técnica de se pensar a harmonia e a melodia ( Cromatismo
Tonal ), aplicando conceitos bastante contemporâneos que ainda carecem de reconhecimento pelo
ouvido mediano não acostumado às possibilidades que o emprego dessa nova técnica possibilita.
Sua proposta caminha mais em direção ao bi-tonalismo, ou politonalismo, abrindo
possibilidades pouco exploradas pelo universo das canções, que é mais próximo dos objetivos do
presente trabalho.
Quanto aos policordes, Liebman os descreve como acordes de estruturas superiores (
upper structure chords ) e define:
Essa é uma categoria onde a terminologia é usada para ajudar a ouvir e criar
respostas não ortodoxas aos acordes comuns. Utilizando-se a simbologia dos
policordes para se descrever um acorde alterado, torna-se possível o emprego de
duas escalas. As estruturas superior e inferior do policorde podem ser
visualizadas como se cada uma delas representasse uma escala ou tônica
15
específica, através das quais uma linha melódica pode transitar refletindo as duas
tonalidades simultaneamente.
Usando o acorde de C7 como referência, ela cita uma tabela de exemplos de
terminologia de estruturas superiores ( policordes ):
Ex.15 Vários acordes de centro tonal Ré sobre C7
D = C7(9,13,#11) D7M(#5) = C7(9,b9,#11) Dm(7M) = C7(9,b9,11,13)
C7 C7 C7
Dm = C7(13,11) D7(b5) = C7(#11,b13) D (#5) = C7(#11)
C7 C7 C7
D7 = C7(13,#11 Dm7(b5) = C7(11,b13) D7M(#5) = C7(9,b9,11,b13)
C7 C7 C7
D7(#5) = C7(9,#11) D7M(b5) = C7(9,b9,#11,13) D7M = C7(9,b9#11,13)
C7 C7 C7
Dm7 = C7(11,13) Dm(7M,b5) = C7(9,b911,b13)
C7 C7
Com base nos acordes gerados pelos exemplos acima, podemos notar que de fato
Liebman estende essa técnica a um patamar muito superior ao desejado pelo presente trabalho.
Acordes como o de C7(9,b9,11,13), que são abordados em vários momentos por ele ( a
coexistência da nona menor com a nona maior ) são muito pouco usuais nas harmonias analisadas
até aqui.
Noutro momento, o autor sugere uma possível evolução dos policordes, apresentando
o seguinte modelo:
16
Ex.16 Evolução dos policordes segundo David Liebman
ale a pena ressaltar a opção de Liebman pela cifragem onde diferencia base simples
( Ab ) e b
1.9 Arranjo – Método Prático (Ian Guest)
m seu completo método de arranjo, o húngaro Ian Guest ( radicado no Brasil desde
1957 ) apr
Tríade de estrutura superior ( TES ) é estrutura triádica maior ou menor (
V
ase triádica ( Abtr.). Nos dois últimos exemplos também sugere que as notas mais
graves devam ser tocadas primeiramente e depois sustentadas pelo pedal de modo que se possa
ouvir o som completo do policorde em questão.
E
esenta uma clara definição dos policordes, desde duas técnicas de extração a sua
aplicação, fornecendo exemplos e tabelas que tornam mais fácil a compreensão desse sistema.
Em sua definição, o autor acrescenta:
aumentada só é disponível na falta de tríade Maior ou menor, como é o caso da
escala de tons inteiros ), em posição cerrada ( fechada ) e qualquer inversão.
Consiste em notas da escala do acorde, incluindo no mínimo uma nota de tensão.
Quanto mais notas de tensão ( T ) mais rico o seu som. A estrutura geral do
acorde compreende duas seções: a TES e a estrutura inferior. A estrutura inferior
consta do som básico do acorde. As duas seções são separadas pelo intervalo de
4J ( quarta justa ), pelo menos.
17
Ex.17 Tríade de Estrutura Superior segundo Ian Guest
Temos no exemplo acima claramente identificadas cada nota tanto da tríade que
compõem a estrutura superior ( G tes ) como a estrutura inferior ( F7 ), que o autor chama
também de som básico. No exemplo anterior, ele sobrepõe uma tríade de sol na segunda inversão
sobre uma estrutura inferior composta pela fundamental, sétima menor e terça do acorde de F7.
Em seguida, o autor fornece uma tabela onde discorre sobre o modo de construir essas estruturas
e como é feita a seleção das tríades disponíveis.
1.9.1 Modo de construir
a) Determine a escala do acorde do momento;
b) Procure todas as tríades maiores e menores que a escala oferece, que incluam a
nota da melodia ( 1
a
voz );
c) Selecione a tríade com maior número de tensões ( T ) para maior riqueza de som;
d) Monte a tríade de cima para baixo, em posição cerrada, a partir da 1
a
voz;
e) Faça a estrutura inferior representar o som básico do acorde, omitindo a nota que
já se encontra na estrutura superior ( dobramento de uma nota possível, embora
mais aceitável a 6 ou mais vozes );
f) A estrutura inferior deve estar separada da superior pelo intervalo de quarta justa,
no mínimo, ou oitava justa, no máximo.
18
1.9.2 Como é feita a seleção de tríades disponíveis
g) Determine as 3 tríades maiores e as 3 tríades menores onde a nota melódica pode
ser 1 ( Fundamental ), terça ou quinta;
h) Entre essas 6 tríades, elimine as que incluam nota(s) evitada(s) ou não
diatônica(s) à escala de acorde disponível;
i) Entre as tríades restantes, escolha a que tiver o maior número de notas de tensão;
j) Extensão ideal para a 1º voz:
Ex.18 Aplicação do sistema proposto por I. Guest
No exemplo anterior, temos, na segunda figura, 3 tríades maiores e 3 menores. As
tríades eliminadas são as de Db ( ré bemol e lá bemol fora da escala ), Bbm ( ré bemol fora da
escala ) e Fm ( lá bemol fora da escala ). As disponíveis são as de Bb ( sem nenhuma tensão ),
Dm ( uma tensão ) e F, escolhida como a mais indicada por possuir duas tensões ( lá e dó ).
Ainda em seu completo modo de análise dos policordes ( ou TES, como prefere o
autor ) I. Guest divide seu sistema em tríade de estrutura superior a 6, 4 e 3 vozes, fornecendo
para cada uma delas uma extensão ideal para a primeira voz e um modo particular de construção.
19
1.9.3 Tríade de estrutura superior a 6 vozes
Modo de construir: procedimento igual ao descrito anteriormente ( 5 vozes ). Na
estrutura inferior haverá, agora, 3 vozes, podendo enriquecer o acorde com nota de tensão não
usada na TES ( evitando a. #5 ou b13 b. violação do limite de intervalos graves real ou com
baixo assumido c. o indevido b9 vertical ). A última voz pode ser a fundamental, dando maior
clareza harmônica. O uso persistente da nota fundamental na última voz, durante um trecho, leva
à técnica da posição espalhada. Dobrar uma das vozes ou usar nota branda ( não-dissonante )
pode ser bom, para beneficiar o perfil na montagem do acorde.
Extensão ideal para a 1º voz:
1.9.4 Tríade de Estrutura Superior a 4 vozes
Modo de construir: os melhores resultados são alcançados quando a TES está na
Segunda inversão e é suportada por uma nota do acorde de 4º abaixo:
Ex.19 TES a 4 vozes
20
Isso pode não funcionar. O melhor programa de trabalho:
a) Construa a TES;
b) Coloque a nota de acorde na 4º voz, procurando obter estrutura de quartas ;
quando não há essa possibilidade, procure a nota de suporte a outro intervalo;
c) Uma das notas características do acorde pode faltar na montagem.
Ex.20 TES a 4 vozes – acordes do tipo dominante
Extensão ideal para 1º voz:
1.9.5 Tríade de Estrutura Superior a 3 vozes
Com apenas três vozes disponíveis para formar os policordes, elas formarão a tríade
de estrutura superior, deixando o som básico do acorde por conta do acompanhamento
harmônico.
Como a TES a 3 vozes não dispõe de estrutura inferior no naipe, a extensão ideal para
a 1º voz não é definida.
21
1.9.6 Efeito e Emprego
Como o texto de I. Guest é mais voltado aos arranjadores, ele ainda acrescenta
algumas sugestões quanto à aplicação e o efeito das TES na escrita harmônica:
Mesmo as harmonias mais simples ganham riqueza notável com o emprego de TES.
É autêntica na linguagem jazzística/dissonante.
a) TES em seqüência, durante um trecho;
b) É recomendado que o trecho escolhido para TES seja o clímax do arranjo, e só
por tempo limitado. É próprio a momentos de grande riqueza harmônica e
melodia não muito ativa;
c) Onde cada nota melódica recebe acorde diferente, TES é indicada combinada com
a posição espalhada (presença fundamental no naipe);
d) Em contracantos passivos ou percussivos;
e) TES em pontos ou fragmentos isolados;
f) Pontos de predomínio vertical;
g) Combinada com a técnica em quartas onde o perfil de quarta justa não funciona
(acordes diminutos, Dom7(13,b9));
h) Como ênfase no ponto alto da frase;
i) Final de música
Ex.21 TES em final de música maior, trocando I Jônico por escalas que produzem
TES de sonoridade rica
22
Ex.22 TES em final menor, acréscimo de 6 em Im7 formando TES
Ex.23 TES aplicada à melodia em arpejo
TES são mais bem aplicadas em dois naipes com ritmos independentes. A estrutura
inferior é tocada a 2 ou 3 vozes em forma de fundo harmônico ou notas sustentadas ( em posição
espalhada ou não ) e a melodia, mais ativa, é harmonizada com TES, nota por nota. É trabalhoso,
mas resulta em sonoridade extremamente rica e sofisticada. A distância mínima de quarta justa
entre as duas estruturas não precisa ser observada, em divisões independentes.
1.10 Pesquisa em sítios da internet
Alguns sítios da internet foram pesquisados, entre eles: learnjazzpiano, m-base,
cyberfret, outsideshore, lycosukguitarportal, scroom, e jazzarrangingtutorial. Em todos eles, a
apresentação dos policordes é semelhante àquela encontrada nos livros: alguns sítios têm
métodos semelhantes, outros utilizam o mesmo processo embora apresentem um padrão de
cifragem diferente. Em todos eles, a técnica é basicamente a mesma: tríades ou tétrades
23
acrescentadas a uma base dominante formada por uma fundamental, tríade , tétrade ou ainda base
dominante ( tônica e sétima ou tônica e terça ou terça e sétima ).
1.10.1 Cell Notation (Steve Coleman)
Liderado pelo saxofonista Steve Coleman, o sítio apresenta os princípios que
norteiam a música feita pelo grupo com o mesmo nome. A partir de bases jazzísticas, o grupo
desenvolve um estilo musical cuja principal característica é a liberdade e inventividade
harmônica , explorando novas possibilidades no tratamento dos acordes, tendo desenvolvido uma
técnica particular de notação que faz uso de estruturas semelhantes aos policordes. Esse curioso
sistema de notação harmônica é chamado de Cell Notation, que poderia ser traduzido por Células
de Cifragem, e é definido como um sistema utilizado para descrever estruturas melódicas e
harmônicas, usuais ou não. Esse sistema faz uso de uma notação próxima da dos policordes,
porém mais complexa, pois procura decifrar a ordenação das vozes na montagem do acorde.
Coleman afirma:
O termo célula é usado para descrever um pequeno grupo de notas ( geralmente
formado de duas a cinco vozes ) que pode ser usado como uma entidade
separada ou como base, sobre a qual se montarão estruturas mais complexas.
Sua vantagem é a de poder demonstrar estruturas sonoras em sua totalidade,
mostrando exatamente a ordenação das vozes até mesmo de estruturas pouco
usuais ( muito em voga nos dias de hoje ) assim como ser um sistema muito
mais fácil de ser utilizado ( uma vez aprendido).
O padrão de cifragem adotado é pouco usual, e sua leitura, mais complexa.
Ex. 24 Célula de Cifragem Composta
24
No exemplo acima, temos G# representando a base da célula; o símbolo 1+
representa a nota lá, uma oitava acima ( o símbolo + representa uma oitava ) e a linha acima do
G# indica o fim de uma célula em particular . A próxima célula descreve a estrutura ( de baixo
pra cima ) E-F-A-Bb. Os números acima da nota de referência da segunda célula ( E ) indicam
quantos semitons acima as próximas notas estarão, como no exemplo abaixo:
Ex. 25 Célula de Cifragem Simples
O mínimo de três notas também pode ser representado pelas Células de Cifragem,
como no exemplo a seguir:
Ex.26
Célula de Cifragem com poucas notas
Mais uma vez, temos a nota base em relação à qual os números estão relacionados em
ordem de semitons. Diferentemente dos policordes, a nora referencial não é necessariamente a
fundamental do acorde, uma vez que a técnica das Células de Cifragem trabalha com um conceito
mais livre em relação à harmonia tradicional.
25
1.10.2 Learn Jazz piano (Scot Ranney)
Outro exemplo de tentativa de nomenclatura encontrado para os policordes é a
abordada pelo educador Scot Ranney
Em seu sítio, há a proposta de se entender os policordes ( aqui restritos aos acordes
dominantes ) como “Chords on Dominant Tensions”, que poderíamos traduzir como acordes
sobre tensões de dominantes. O esquema é semelhante em tese com os demais vistos até então,
apenas sua tentativa de abordagem e nomenclatura se diferem. Temos por exemplo, a cifra vii
LYD, que significaria modo escalar construído sobre o sétimo grau do modo lídio, ou iii MAJ,
modo escalar construído sobre o terceiro grau do modo maior ( jônico ).
O autor prefere trabalhar com o conceito de tétrades sobre tétrades, dividindo-as entre
tétrades maiores sobre tétrades dominantes e tétrades menores sobre tétrades dominantes. Em
todos os casos, trabalha com policordes do tipo dominante.
Ex. 27 Tétrades maiores sobre tétrades dominantes
Ex. 28 Tétrades menores sobre tétrades dominantes
Importante notar que em alguns casos, Ranney trabalha com tétrades com tensões
adicionadas na estrutura superior dos policordes.
26
1.10.3 Classic Internet Guitar Lessons (Morgan, Kevin)
Nesse sítio, mais voltado aos guitarristas, há um artigo de Kevin Morgan onde ele
define os policordes como um encontro, literal e harmonicamente, de dois acordes adjacentes em
uma tonalidade.
Apresenta a problemática das possíveis análises às quais os policordes estão sujeitos,
como no caso de uma tríade de Dó sobre uma de Ré, C/D, que poderia ser analisado como uma
inversão de D13, onde as tensões 7, 9, 11 são tocadas nas vozes inferiores e a tríade básica 1, 3, 5
nas vozes superiores, ou ainda um acorde de Dó como nona, décima primeira e décima terceira
acrescentadas, sem sétima, o que resultaria numa cifragem complexa e de difícil compreensão (
Cadd9,add11,add13,omitt7), ou ainda podendo ser cifrada simplesmente como um acorde de
C13.
Ex 29 Tríade de Ré sobre tríade de Dó
Cita ainda a possibilidade dos policordes serem analisados como tríades nas camadas
superiores, sendo que a base do acorde é sempre uma tríade ( maior , menor ou aumentada ),
tendo acrescida em sua camada superior outra tríade que representa suas tensões.
Lista uma forma diferente de extração dos policordes, utilizando a cifragem relativa
ao papel das tríades em determinado campo harmônico, como por exemplo:
I/II II/III III/IV IV/V V/VI VI/VII VII/I
Além das sugestões de extração dos policordes em um campo harmônico, Kevin
Morgan em seu ensaio, sugere a aplicação dos policordes na invenção de “lead lines”, ou linhas
melódicas de condução ( no caso de acompanhamento de guitarristas em uma canção) , e que essa
27
linguagem pode sugerir novos saltos melódicos na construção de frases para improvisos,
composições e arranjos.
1.10.4 Jazz improvisation Primer (Marc Sabatella)
Nesse sítio, seu coordenador, Marc Sabatella estabelece um interessante comparativo
entre os policordes e as escalas que eles geram. Os define como a adição de duas tríades e
demonstra, a partir do policorde gerado por essa adição, quais as escalas que eles descrevem.
Começa apresentando o exemplo de D/C, e afirma que pode encaixar-se nas escalas
de Dó lídio e Do lídio dominante, e que pode ser aplicado a quaisquer aberturas de acordes dessa
escala.
Afirma ainda que “se experimentarmos outras tríades sobre a tríade de Dó maior,
encontraremos várias combinações que soam bem e descrevem escalas bem conhecidas”.
Mesmo que alguns desses policordes apresentem notas repetidas, e são geralmente
evitados por esse motivo, o autor lista alguns exemplos aplicáveis e as escalas que eles produzem.
Ex. 30 Escalas de Dó Dominante diminuta e Dó Mixolídia
Ex. 31 Escalas de Dó Jônica ou Mixolídia e Escala de Dó Dominante diminuta
28
Ex. 32 Escala de Dó Dominante Diminuta e escala de Dó Lídia
odos os casos listados acima tratam de tríades maiores na base. A seguir, alguns
exemplos a
x. 33 Escalas de Dó Frígia e Dó Dórica
x. 34 Escalas de Dó Menor Eólia e Dó Dominante Diminuta
T
presentados por Marc Sabatella para tríades menores na base dos policordes e as
respectivas escalas às quais estão relacionados
E
E
29
Ex. 35 Escala de Dó Menor Dórica e Dó Menor Frígia
A seguir o autor trata de outras possibilidades policordais com bases dominantes
(fundamental e sétima menor) acrescidas de tríades nas vozes superiores. Esse tratamento é em
parte utilizado para se evitar a repetição de notas na formação acordal e ao mesmo tempo não
restringir os policordes apenas àquelas que não repitam notas.
Mais uma vez, essa técnica é bastante aplicada aos acorde dominantes.
Alguns exemplos são listados a seguir.
Ex. 36 Relação Policordes Compostos – Acordes Tradicionais gerados pela
sobreposição de tríades maiores e menores sobre bases dominantes ( fundamental e sétima,
fundamental e terça e terça e sétima ).
1.10.5 Polychords – The basic (Autor Desconhecido)
De autor desconhecido, o texto apresentado nesse sítio relaciona os policordes aos
acordes com grande número de tensões. Seu autor descreve a formação dos policordes sempre os
relacionando com os acordes tradicionais, e lista um número de ocorrências desses modelos,
diferindo dos outros autores por fazer uso de tríades diminutas e não apenas maiores e menores
como na maioria dos casos analisados até aqui.
30
Sugere exatamente o uso dos policordes como facilitadores da compreensão, análise e
uso de acordes tradicionais que tenham muitas tensões.
Assim como os outros sites, neste, o autor também procura relacionar os tipos de
acordes tradicionais dos quais derivam os policordes, fornecendo uma lista com alguns exemplos.
Ex. 37 Acordes tradicionais x Policordes
O autor também ressalta a praticidade da técnica dos policordes na orquestração, uma
vez que é possível, numa formação orquestral de grandes proporções, dividir entre famílias de
instrumentos ou naipes uma tríade de dó e uma de mi bemol, que soando simultaneamente
formariam um acorde de C7(#9). Curioso notar que assim como Campbel, esse desconhecido
autor trabalha com a técnica de pares de tríades para a obtenção dos policordes.
1.10.6 Theory on Tap – Lesson11: Polychords (Vance Gloster)
Com uma análise bastante semelhante ao último sítio analisado, Vance Gloster
compara os policordes aos acordes tradicionais com a diferença de sobrepor tríades maiores e
menores a uma fundamental apenas, sempre relacionando os policordes obtidos aos acordes
tradicionais.
Nesse sítio, também mais voltado aos guitarristas, Gloster define os policordes como
acordes construídos sobre uma nota ou grupo de notas que não são a tônica do acorde. Diz ainda
que são usados como ferramenta para definir formações acordais mais complexas, como as
usadas no Jazz .
A seguir, lista alguns exemplos do que chama policordes mais usados:
31
Ex. 38 Policordes Simples x Acordes Tradicionais
1.10.7 Jazz Arranging Tutorial: Extensions – Polychords (Autor desconhecido)
Também de autor desconhecido, o texto desse sítio, voltado para arranjadores, define
os policordes como a adição de uma tríade à outra ou à sua extensão, que inclui sétimas, nonas,
décimas primeiras e décimas terceiras e sua alterações. Afirma ainda que saber trabalhar a
extensão de formações acordais é crucial para a escrita jazzística. Abaixo, lista algumas regras
para essa técnica:
k) Use intervalos de sétima maior ou sua inversão. Nonas aumentadas (#9) devem
ser usadas sobre terças maiores e décimas terceiras (13) sobre sétimas (7);
l) Evite nonas menores. Isso acontece quando não se observa as regras do item 1;
m) Não escreva as tensões nas vozes inferiores dos acordes, use-as geralmente acima
do Fá que está abaixo do Dó central;
n) Muitas vezes, pensar nos acordes estendidos como sendo policordes pode ser útil.
Há ainda uma boa referência à problemática da nomenclatura: “algumas vezes os
acordes não são facilmente compreendidos quando descritos pela cifragem convencional. Nesses
casos a notação dos policordes deve ser usada. Os policordes são escritos usando-se uma linha
horizontal que separa dois acordes, indicando que ambos devem ser tocados simultaneamente.
Isso difere da cifragem de acordes invertidos, que utilizam uma barra diagonal que indica uma
nota que não a tônica no baixo”.
32
Ex.39 Cifragem tradicional x Cifragem Policordal
Os métodos e sítios analisados contém semelhanças e diferenças na apresentação e
compreensão da linguagem dos policordes. Diferem também quanto ao grau de complexidade
que trafegam: alguns fornecem apenas exemplos construídos sobre bases dominantes e
funcionam como instrumental para improvisos, outros apresentam a técnica utilizada na obtenção
dessas estruturas e são bem mais complexos. O que se tem, ao final dessa pequena análise, é um
resumo de diferentes formas de se apresentar essa linguagem que embora careça de uma
sistematização definitiva, já dá seus primeiros passos no sentido de firmar-se como uma
possibilidade de tratamento harmônico que de fato sugere novas possibilidades para
compositores, improvisadores e arranjadores.
33
Capítulo 2 – PROPOSTA DE SISTEMATIZAÇÃO
A técnica dos policordes está intimamente ligada à linguagem das cifras
(representação gráfica de uma formação acordal com no mínimo 3 notas), que , desde a técnica
do baixo cifrado, vem transformando-se ao longo do tempo, incorporando novas dissonâncias
cada vez mais distantes das notas básicas do acorde (fundamental, terça e quinta). Segundo
Schoenberg:
Baixo cifrado, ou numerado, uma espécie de taquigrafia musical que se usou
antigamente para dar ao cravista o esqueleto harmônico da obra, cuja sonoridade
ele, improvisando, completava por meio do acréscimo de harmonias. Para esse
objetivo colocavam-se, sob a voz do baixo, cifras que esquematicamente
significavam a distância dos demais sons do acorde em relação ao som mais
grave ( o baixo ) sem levar em conta se o intervalo referia-se à mesma oitava ou
a uma oitava superior.
Desse modo, incorporada pela musica popular, a linguagem de representação gráfica
de um acorde sofreu ( e ainda sofre ) inúmeras transformações, não apenas fruto da
transformação teórica dessa linguagem, mas da introdução de novas tecnologias como a
computação e seus programas de música, que, de certa forma, passaram a adotar padrões de
cifragem e impuseram certos modelos que obrigatoriamente passaram a ser utilizados quando
trabalhados esse ou aquele programa.
A situação atual em relação aos padrões de cifragem é uma verdadeira “babel “
musical, com vários modelos aceitos e utilizados, dependendo da editora, dos autores e da época
em que foram publicadas as partituras ( no caso das reedições).
Em relação ao tratamento dado aos policordes, mesmo uma edição conceituada,
relativamente recente como“ The New Real Book”, da Sher Music Co. com todos os avanços
introduzidos ( clareza das partituras, letras de ensaio, adoção de acordes complexos antes
ignorados e/ou não adotados ) ainda se confunde na forma de sua apresentação gráfica. Na
canção “ The Island” ( Começar de Novo ), de Ivan Lins e Vitor Martins, temos, nos compassos 3
e 4 , os acordes D7M/E – E13, e no compasso 40 C#9sus - C#13 . Analisando as duas passagens,
temos:
34
Ex. 40 Diferença de cifragem policordes x harmonia tradicional
No exemplo anterior, temos, apesar da diferença de cifragem e de algumas notas entre
os acordes, basicamente o mesmo processo: uma cadência sub dominante – dominante. Nos dois
primeiros compassos, a cifra apresenta claramente o policorde em questão ( D7M/E); e, no
segundo caso, ( C#9sus ) o policorde está presente, mas não evidenciado pela cifra.
Uma situação típica de utilização dos policordes em diferentes versões, sendo
explícito o primeiro caso e implícito o segundo.
2.1 Policorde Simples
Um policorde simples é, por definição, aquele cuja estrutura acordal é formada pela
sobreposição de tríades ou tétrades sobre uma nota apenas. Podem ocorrer nas funções
harmônicas dominante, sub dominante e tônica.
E
X. 41 Policorde Simples
35
No exemplo acima podemos observar modelos de dois policordes simples formados
pela sobreposição de uma tríade ( F/G) e uma tétrade ( F7M/G). Não se deve confundir o
policorde simples com a sobreposição de tríades, que formaria um policorde composto. No
primeiro caso, temos a barra transversal que separa a tríade sobreposta da nota base e, no
segundo, temos uma barra horizontal que indica a sobreposição de duas tríades. A seguir, um
exemplo que apresenta a diferença entre os dois casos.
Ex.42 Policorde Simples x Sobreposição de Tríades
E
X.43 Cadência de Policordes simples - funções sub dom – dom - tônica
2.2 Policorde Composto
Diferentemente do Policorde Simples, o Policorde Composto apresenta, em sua base,
uma estrutura formada por duas ou mais notas, podendo ser fundamental e terça, fundamental e
sétima, fundamental terça e sétima, terça e sétima, tríade ou tétrade. Essa multiplicidade de
opções nos leva a um impasse: como traduzir na cifragem cada um desses diferentes exemplos de
policordes compostos? Em resposta a essa questão, o presente trabalho optou por adicionar à nota
36
da base do policorde, números que ajudassem a compreender a formação do policorde. Assim,
um policorde formado por fundamental e terça seria assim representado: X1-3, onde X representa a
fundamental do policorde e os números 1-3 indicam haver, além dessa fundamental( 1 ), sua terça
( 3 ). O mesmo caso ocorre nas outras possibilidades, a saber: X
1-7, quando, além da fundamental,
houver sua sétima menor ( 7 ) e X
3-7 quando a base do policorde for composta pela terça e sétima
menor de uma fundamental. Quando a sétima for maior, será apresentada no formato 7M.
Abaixo, alguns exemplos que apresentam esse novo modelo proposto de cifragem para os
policordes compostos.
E
X.44 Policordes Compostos
Ex 44 Policorde Composto com base fundamental – terça – sétima
Os exemplos acima tratam de policordes com base dominante. A seguir alguns
exemplos com base fundamental e sétima maior, terça e sétima maior e tétrade maior com sétima
maior.
37
Ex. 45 Policordes compostos com base fundamental e sétima maior, terça e sétima
maior e tétrade com sétima maior
s exemplos com tríade sobre base fundamental e terça e tríade sobre tríade são
ambíguos e
iores sobre tríade menor
x.47 Policordes compostos –tríades menores sobre tríade menor
s mesmos exemplos acima também são possíveis com base fundamental e terça,
fundamenta
O
podem ser confundidos quanto à sua função, não constando pois, do exemplo acima.
A real distinção da função desses policordes depende do contexto harmônico em que se
encontram e sua função geralmente é definida de acordo com sua posição em uma cadência.
A seguir, alguns exemplos de policordes compostos com base menor.
Ex.46 Policordes compostos - tríades ma
E
O
l e sétima, terça e sétima e tétrade.
38
EX.48 Policordes compostos – base fundamental e terça
x.50 Policordes compostos – base tétrade
critério adotado para a escolha das tríades que compõem os policordes acima é
baseado na
Ex.49 Policordes compostos – base fundamental e sétima
E
O
tentativa de se evitar a repetição de duas ou mais notas na tríade superior que já
existam na base. Assim tríades como a de Fá ( tríade maior sobre o terceiro grau menor ) foram
evitadas, por conterem duas notas em comum com a base ( fá e lá ). A tríade de Dó menor,
embora não usual, foi incluída por ser aplicável em casos em que a harmonia esteja situada total
ou parcialmente no modo Frígio, que contém essa tensão. Sua utilização, no entanto , é restrita a
39
esse caso, uma vez que a terça menor da tríade superior ( no caso mi bemol ) forma uma nona
menor tornando sua aplicação mais complexa em casos que não do modo Frígio.
2.3 Policorde Implícito
A tentativa de sistematização proposta pelo presente trabalho procura trabalhar com
alguns conc
termo policorde implícito se refere àquelas estruturas acordais
apresentada
x 51 Tabela de policordes simples implícitos x policordes simples explícitos
eitos, dentro da técnica dos policordes e sugere alguns termos para melhor definir e
diferenciar suas aplicações.
Dessa forma, o
s por cifras que não indicam a presença de uma formação policordal ( tríade ou
tétrade sobre fundamental ou fundamental Terça e/ou sétima ou ainda sobre tríade ou tétrade ).
Muitas vezes, embora não apresentado na cifragem, o acorde em questão é formado por uma
estrutura policordal, que só é visualizada quando analisada nota por nota, como no exemplo
abaixo.
E
40
Em todos os exemplos anteriores, temos a presença de policordes simples. A seguir ,
alguns exem
x 52 Policordes compostos implícitos x policordes compostos explícitos
os exemplos acima descritos, temos formações acordais idênticas, apresentadas nas
duas formas mais freqüentemente encontradas de policordes ( explícitos e implícitos ). Pode-se
notar, num
2.4 Policorde Explícito
dos Policordes Implícitos , os policordes explícitos são aqueles que
apresentam , em sua cifragem , elementos que tornam clara a existência de uma estrutura acordal
composta p
plos de policordes compostos.
E
N
a primeira impressão, que no caso dos policordes explícitos, a leitura das notas que
compõem sua formação acordal é mais fácil do que a dos policordes implícitos, uma vez que no
caso dos explícitos a cifra fica mais clara, e conseqüentemente mais simples de ser
compreendida.
Ao contrário
or tríades ou tétrades sobre fundamental, fundamental e terça, fundamental e sétima
ou tríade. Da mesma maneira que acontece nos policordes implícitos, temos nos policordes
implícitos os casos de policordes simples e compostos.
41
Ex 53 Policordes simples explícitos
Ex 54 Alguns policordes compostos explícitos
Ex 55 Alguns policordes compostos explícitos com tétrades
No exemplo anterior, temos exemplos compostos por tríades maiores sobre tétrades .
A seguir, alguns policordes formados por tríades menores sobre tétrades.
42
Ex 56 Outros policordes compostos explícitos com tétrades na base
2.5 Modos Policordais
Os modos policordais são escalas ( pentatônicas, em sua maioria ) produzidas através
da adição de tríades da camada superior já vistas em alguns policordes
à fundamental, terça e
sétima menor de acordes dominantes. Podem ser entendidos como um resumo das tensões
encontradas nesse tipo de acorde, e são muito úteis para a improvisação, posto que as tensões
geradas pelas tríades sobrepostas à base dominante são exatamente as que dão maior colorido ao
acordes dominantes fortemente alterados ou não.
Ex. 57 Modos Policordais construídos a partir de tríades maiores
43
Ex. 58 Modos Policordais construídos a partir de tríades menores
Alguns dos modos apresentados acima se assemelham a algumas escalas conhecidas,
por vezes diferindo delas pela ausência de algumas notas apenas .Essa correlação existente entre
os modos policordais e mesmo os policordes implícitos, explícitos , simples ou compostos será
mais bem analisada a seguir.
2.6 Policordes e Tonalismo
As ocorrências policordais se dão geralmente, nas três principais funções do
tonalismo: dominante, sub-dominante e tônica. Dos três casos, com certeza, a função dominante é
a que mais apresenta variações. Muitas das tríades ou tétrades que se sobrepõem à bases simples
ou compostas são extraídas de modos dominantes já consagrados do tonalismo, notadamente as
escalas com várias alterações ( tensões ) como a Escala Alterada, Dominante Diminuta, Lídio
Dominante, etc. Em vários casos, os policordes de caráter dominante tornam-se mais
compreensíveis e funcionais quando apresentados em sua forma composta ( fundamental e
sétima, principalmente), pois alguns policordes simples não tem caráter ou função definida por
apresentarem repetição da fundamental em sua estrutura superior . É mais freqüente a ocorrência
44
de policordes compostos por tríades sobre base dominante do que tétrades. No caso da função
tônica, há uma tendência de se adotar como modo principal o modo lídio ao invés do jônico de
modo a se evitar o intervalo de trítono que descaracteriza essa função. Desse modo, elevando-se o
quarto grau do modo jônico, quebra-se a existência do trítono, deixando o modo sem “nota
evitável “. A função sub dominante geralmente ocorre com a substituição do II grau menor por
um acorde sus7 quinta acima ( policorde implícito ) na cadência II-V-I.
2.6.1 Policordes e Funções Harmônicas
a) Função dominante
Como já foi dito, nos acordes com função dominante ocorrem o maior número de
possibilidades policordais, sejam na forma dos policordes explícitos, implícitos, simples ou
compostos. O caso dos policordes simples é mais complexo, uma vez que por serem construídos
sobre uma base simples, podem ter funções ambíguas ou mal definidas, que só revelam sua real
função quando analisados dentro de um contexto harmônico mais definido, como no caso de uma
cadência ao invés de uma ocorrência isolada.
Ex. 59 Policorde simples isolado x Policorde simples numa cadência
No exemplo acima podemos notar que o policorde D/C, quando isolado, fora de um
contexto harmônico, não apresenta sua função, podendo ser entendido como acorde de função
tônica, ou dominante. Já no segundo caso, quando aparece como integrante de uma cadência do
tipo II-V-I, funciona claramente como V grau da tonalidade de Fá, sendo portanto, uma acorde
com função dominante, embora, na construção desse policorde D/C, não haja a presença do
trítono.
45
Algumas escalas dominantes propiciam a formação de policordes. Dentre elas,
podemos destacar
Ex. 60 Escala Dominante Diminuta
Ex. 61 Policordes simples extraídos da escala Dominante diminuta
Os mesmos policordes apresentados no exemplo 55, podem surgir também como
policordes compostos, ou como tétrades sobre base simples ou base composta. Assim temos:
Ex. 62 Policordes simples da escala Dominante Diminuta – tétrades sobre
fundamental
46
Todos os exemplos citados de policordes simples podem ser vertidos para policordes
compostos simplesmente adotando-se uma base composta, que pode ser por fundamental e
sétima, fundamental, terça e sétima e terça e sétima.
Outra escala que propicia alguns policordes é a escala alterada ( também conhecida
como dom-dim – tons inteiros, ou super lócria ).
Ex.63 Escala Dó Alterada
Ex. 64 Policordes simples extraídos da escala alterada.
Ex. 65 Escala de Dó Mixolídio
47
Ex.66 Policordes extraídos da escala de Dó Mixolídio
Ex. 67 Escala de Dó Mixolídio com o quarto grau elevado
Ex. 68 Policordes extraídos da escala de Dó Mixolídio com quarto grau elevado
Os exemplos acima extraídos evitam as tríades aumentadas e diminutas, por serem
mais complexas e de sonoridade muito característica, o que torna seu emprego na linguagem dos
policordes comprometido.
48
b) Função Sub Dominante
Diferentemente da função dominante, onde ocorrem várias possibilidades de
formações acordais, na função sub dominante o emprego dos policordes é mais restrito. Suas
variações se dão mais ao nível de diferentes “aberturas “ de acordes, ou seja, várias possibilidades
sonoras com acordes do mesmo tipo obtidas através da técnica dos policordes. Sua presença é
mais bem percebida também quando parte integrante de uma cadência do tipo II V I, onde pode
aparecer com diferentes tipos de cifragem:
Ex. 69 Diferentes cifras para o acorde do tipo sub dominante
Dos três tipos de cifras apresentados acima, podemos chamar os dois primeiros de
policordes implícitos, sendo o último um policorde explícito e que melhor apresenta o emprego
da técnica dos policordes nesse tipo de acorde. Ainda sobre o exemplo acima, temos que lembrar
que o policorde no caso está substituindo o acorde de Dm7, antecipando o V grau da cadência .
Ex. 70 Policordes de função sub dominante numa cadência do tipo II V I
49
Ex. 71 Escala de Dó menor natural
Ex. 72 Policordes extraídos da escala de Dó menor natural ( Modo Eólio )
Dos policordes gerados pela escala de Dó menor natural, evitamos aqueles
construídos a partir de Ré, Fá , Lá bemol e Si bemol devido à presença da nota Lá bemol em sua
estrutura, o que implicaria num acorde menor com o sexto grau rebaixado, que é pouco usual e
raramente é empregado em acordes dessa função.
Ex. 73 Escala de Dó menor melódica
50
Ex. 74 Policordes extraídos da escala de Dó menor Melódica
Evitamos incluir, no exemplo acima, policordes que contivessem a nota dó em sua
formação acordal pelo fato de que alguns casos podem ser confundidos com inversões de
acordes, como nos casos dos policordes de F7/C ( quinta no baixo ) Am7(b5)/C ( terça no baixo )
e assim por diante.
Ex. 75 Escala de dó menor harmônica
Ex. 76 Policordes extraídos da escala de Dó menor harmônica
51
Evitamos, no exemplo acima, todos os policordes que tivessem a nota Ab, por suas
formações acordais resultarem em acordes menores com 13
º menor, que são pouco usuais.
Todos os exemplos apresentados no item B, aparecem na forma de policordes
simples. Esses mesmo exemplos podem aparecer com base fundamental e terça, fundamental e
sétima ou terça e sétima.
c) Função Tônica
As ocorrências policordais nos acordes do tipo tônico são variadas e de certa forma se
relacionam com a harmonia modal, uma vez que determinados tipos de tríades sobrepostas a
fundamentais simples ou compostas desse policordes adicionam notas características de modos
extraídos da escala maior (Jônica ). Embora o estudo dos policordes não tenha se aprofundado na
harmonia modal por entender que dessa maneira poderia criar múltiplas interpretações dessa
técnica que mais confundiriam do que ajudariam a compreendê-la, é preciso que tenhamos
cuidado em não descaracterizar totalmente a ocorrência de períodos modais em determinadas
formações acordais resultantes dos policordes. Muitas vezes, pelo fato dos acordes terem tido
acrescidas às suas formações acordais mais simples um número cada vez maior de tensões, não
estamos necessariamente, transitando num determinado modo quando temos um acorde
fortemente alterado e com notas características desse modo em questão. Alguns policordes de
função tônica não apresentam, às vezes, suas notas principais, como terça e sétima, mas na
maioria das vezes, devido ao contexto harmônico em que estão inseridos, torna claro sua função
naquele momento.
A seguir, alguns exemplos de policordes de função tônica e os modos aos quais se
relacionam.
52
Ex. 77 Policordes de função tônica – tríades maiores
Lídio Lídio Aum. Jônico Diminuto Auxiliar
Sobre o exemplo anterior, no caso do primeiro policorde (D/C), quando apresentado
em sua forma simples ( com base fundamental apenas ), pode ser confundido com o mesmo
policorde de função dominante. Nesse caso, sua função tônica fica melhor compreendida e
explicitada quando apresentado na forma policordal composta, seja com fundamental e sétima ou
terça e sétima.
Ex. 78 Policordes D/C
Nos exemplos anteriores, podemos notar a diferença entre os policordes formados por
base simples, base fundamental e sétima menor e fundamental e sétima maior. No primeiro
exemplo, existe a dúvida em relação à função do acorde; já nos dois casos subseqüentes, fica
claro, uma vez apresentada a sétima, se o acorde é tônico ( sétima maior) ou de dominante (
sétima menor).
53
Ex. 79 Policordes de função tônica – tríades menores
Todos os policordes de função tônica (assim como os gerados nas outras funções) não
estão de todo distantes das formações acordais tradicionais e apresentam sonoridades semelhantes
a esses acordes., porém com um tipo de cifragem que está mais ligada à técnica dos policordes.
Existe ainda um tipo de análise que pode ser feita em relação aos policordes e sua
correlação modal. Através da formação de policordes sobre base simples das 12 possibilidades
existentes, podemos relacioná-los ao tipo de modo em que melhor se encaixam. Assim , temos:
Ex.80 12 Policordes e suas relações modais
Esse trabalho não tem por objetivo pesquisar detalhadamente as possibilidades
policordais na música modal, uma vez que os desdobramentos possíveis nesse caso são inúmeros.
Alguns autores nacionais como Milton Nascimento e Wagner Tiso, entre outros nomes ligados ao
Clube da Esquina ( movimento musical liderado por Milton iniciado na década de 60 )
54
desenvolveram essas possibilidades a um nível de sofisticação que por si só justificaria uma
pesquisa exclusiva sobre o assunto.
33
Capítulo 3 – OCORRÊNCIAS NO REPERTÓRIO DA MÚSICA BRASILEIRA
A técnica de harmonização pelos policordes tem sido utilizada na música brasileira
especialmente a partir de 1960. Intuitivamente ou não alguns compositores passaram a utilizar as
formações policordais primeiramente na forma de arpejos, passando depois a serem incorporadas
como disposições das vozes de um acorde. Suas primeiras manifestações ocorreram em acordes
de dominante fortemente alterados, principalmente aqueles que passaram a utilizar escalas como
a Diminuta e suas correlatas ( dom-dim e alterada ). Custódio Mesquita ( “Tapera” ) Ary Barroso
( “Camisa Amarela” ) entre outros autores época de ouro do samba brasileiro já faziam uso do
arpejo de acordes diminutos em algumas de suas melodias. Tais transformações podem ter
acontecido quando se passou a acrescentar uma nona menor ( como próxima tensão ) a um acorde
de dominante, que gera por sua vez, um acorde diminuto. A mesma técnica já é conhecida na
harmonia tradicional, quando há o emprego do acorde de dominante sem fundamental acrescido
de nona menor.
Ex. 81 Provável transformação policordal - acordes dominantes
No exemplo 81 temos o que seria o segundo estágio na transformação de uma
cifragem convencional numa cifragem policordal. Através da adição de uma terceira tensão (
primeiro sétima, depois nona e então décima primeira ) a uma fundamental e sua terça, (que
como vimos, também pode ser omitida em alguns casos ), chegamos a uma formação acordal
policordal, com sua cifra já indicando a existência de uma terça maior juntamente com a
fundamental na base do acorde.
34
Ex. 82 Provável transformação policordal – acordes com sétima maior
Também temos no exemplo anterior , inicialmente a presença da sétima maior como
primeira tensão adicionada à tríade da base, depois a nona maior, que juntamente com a sétima e
a quinta justa formam uma tríade de sol, gerando daí o policorde G/C.
Adicionando-se mais uma tensão ao policorde G/C ( fá sustenido), temos:
Ex. 83 Provável transformação policordal – acordes com sétima maior
No caso dos acordes menores, provavelmente o caminho percorrido tenha sido um
pouco mais longo. Um acorde menor pode ter sua estrutura acordal construída de diferentes
maneiras. O contexto musical e o grau de conhecimento teórico/prático do harmonizador também
influem no sonoridade final desse acorde. No Jazz, por exemplo, essa evolução é bem destacada.
David Liebman descreve a transformação das formações acordais através dos estilos no Jazz no
exemplo a seguir:
35
Ex.84 Transformação da estrutura acordal – acordes menores ( Gm7 )
exemplo oitenta e quatro apresenta diferentes formações acordais de um acorde de
x.85 Provável transformação policordal – acordes menores
antecipação do acorde dominante numa cadência de II-V-I é uma das maneiras
mais comu
O
sol menor com sétima ( Gm7 ) utilizadas por pianistas consagrados do Jazz. O período coberto
por essa transformação vai de meados de 1930 até provavelmente o início dos anos 70.
E
A
ns da utilização da técnica dos policordes. Esse tipo de movimento do baixo também
pode ser compreendido como uma cadência suspensa. Ainda, segundo Sérgio Freitas “ O acorde
de V7sus4 possui a capacidade funcional de assumir o papel de subdominante em uma cadência
tipo Subdominante- Dominante – Tônica”. De qualquer forma, a cadência do tipo II-V-I
entendida sob a ótica policordal fornece uma visão mais facilitada desse processo.
36
Ex. 86 Cadência II-V-I com cifra policordal
A seguir, passaremos a analisar alguns exemplos de situações harmônicas que
apresentem formações policordais.
3.1 “Amor” (Ivan Lins e Vitor Martins)
1
1
Conforme transcrição do The Latin Real Book.
37
No trecho anterior, temos algumas situações policordais explícitas e implícitas. No
sexto compasso de A, temos a seqüência A13sus A13, que como vimos anteriormente, pode ser
entendida como uma substituição de II V e cifrada como:
Ex. 87 Policordes implícitos
emos no exemplo 87, no primeiro compasso, a cifra como apresentada na partitura,
com a repre
esmo trecho, temos, no oitavo compasso de A, a cifra F#/D. Analisando o
acorde, tem
x.88 Acorde de sétima maior com quinta aumentada
T
sentação do acorde A13sus4 como policorde implícito; no segundo compasso, a cifra
apresenta a harmonia que de fato ocorre no trecho, ou seja, uma cadência típica de II V , com o
acorde A13sus4 substituindo o acorde de Em7; e no terceiro compasso, a cifra como policorde
explícito, demonstrando claramente a existência de um acorde de Sol com sétima maior
sobreposto a uma fundamental Lá. Nesse tipo de cadência, conforme comentado anteriormente, é
bem comum o emprego dos policordes e esse caso aparecerá com bastante freqüência nos
exemplos analisados.
Ainda no m
os:
E
38
O exemplo anterior apresenta um acorde de sétima maior com quinta aumentada,
cifrado com
, encontramos
a mesma s
x. 83 Policordes implícitos
a mesma canção, temos, no sexto compasso de B, E9sus E7, que é o mesmo caso
dos exemplos analisados em A, só diferindo na forma da apresentação da cifra . Temos, então, 3
casos de ci
o policorde explícito ( F#/D ). Por termos na mesma canção policordes implícitos e
explícitos podemos comprovar a falta de padronização na cifragem dos policordes.
No compasso seguinte, temos a cifra F#/G# e G#9. Analisando o trecho
ituação do primeiro exemplo: uma cadência de II V, só que dessa vez cifrada
diferentemente do primeiro caso, com o mesmo tipo de substituição ( acorde sus substituindo o
acorde menor ), só que como policorde explícito ( F#/G# ).
E
N
fragem para o mesmo tipo de acorde, tendo sempre a mesma função na cadência , ou
seja, uma acorde sus substituindo o II grau numa cadência II V.
Ainda na mesma canção, temos, em B:
39
Ex. 90 Diferentes cifragens para o acorde sus (reduzidos à mesma fundamental para
efeito de comparação)
casos vistos acima, temos os acordes basicamente com a mesma
configuração acordal, apenas tendo o primeiro uma nota a mais, que não descaracteriza sua
s outro caso de policorde explícito atuando num
aior com sétima maior) cifrado
como um policorde explícito ( E/A ) e na maneira tradicional ( A7M ). Analisando sua formação
acordal, podemos notar que no caso do policorde explícito temos a presença da nona maior e a
ausência da terça maior e no caso do acorde com cifra tradicional, há a presença da terça maior e
a ausência da nona maior.
Nos três
função no trecho.
No sétimo compasso de B, temo
outro tipo de acorde ( com sétima maior):
Ex.91 Policorde explícito - acorde com sétima maior
No exemplo 91 temos o mesmo tipo de acorde ( m
40
3.2 “Mountain Flight” [ Tema dos Piriás ] ( Toninho Horta )
Temos, no segundo e terceiro compassos de B, cifrados como policordes implícitos,
acordes que formam as mesmas cadências II V com substituição, como nos casos vistos na
temos a mesma cadência ( II V )
apresentada na forma policordal explícita, nos dois acordes:
Ex. 92 Cadência II V com policorde explícito
orde extraído da escala dom-dim, e
funciona como um acorde dominante com décima terceira e nona menor, com terça omitida. Nos
terceiro e q ifrados da maneira tradicional.
canção “Amor” de Ivan Lins. Já no compassos 9 e 10 de B,
No exemplo 92 temos a cadência II V com policordes explícitos. No primeiro
compasso, como já visto anteriormente, o acorde de B7M/C# substitui ao G#m7(9); no segundo
compasso, temos a cifra Bb/C#. Trata-se do caso do polic
uarto compassos temos os mesmos policordes c
41
Na mesma canção, temos ainda outras ocorrências policordais.
No segundo compasso de C, há a cadência Bb7sus4(13) - Bb13 que apresenta um
policorde implícito já visto em outros casos. Há, entretanto, um novo exemplo de policorde.
Temos, no oitavo compasso de C, a cifra F/B.
Analisando a formação acordal desse policorde explícito, temos:
Ex. 93 Policorde explícito – função dominante
No exemplo 93, no primeiro compasso podemos ver um policorde explícito
funcionando como acorde dominante com quinta diminuta e nona menor, sem terça; e no segundo
compasso o acorde com praticamente a mesma formação acordal ( acrescida da terça maior )
apresentado na cifragem tradicional.
42
3.3 “Jogral” ( Djavan, J. Neto e Filó Machado )
Nessa canção encontramos vários trechos que utilizam os policordes implícitos, em
passagens h
cifra do quarto compasso apresenta uma acorde de G7(#5,#9). Se analisarmos sua
formação a ode ser entendido como um policorde
B7M(#11)/G
Ex.94 Policorde implícito em acorde dominante com quinta e nona alteradas
armônicas semelhantes aos exemplos das canções analisadas.
A
cordal, podemos notar que esse mesmo acorde p
43
Temos, no sexto compasso, a cifra F13(b9). Esse mesmo acorde pode ser entendido
Ex.95 Policorde implícito em acorde dominante com décima terceira e nona menor
No décimo compasso de A, temos a cifra A7(b5,b9), que pode ser entendida como o
policorde Eb/A.
como o policorde D/F7.
Ex. 90 Policorde implícito em acorde dominante com quinta e nona bemóis.
44
Já na parte B, temos algumas ocorrências também de policordes implícitos, não
restrita apenas aos acordes dominantes, e sim como substituições em cadências do tipo II V,
repetindo o mesmo processo analisado anteriormente nas canções “Amor” e “Tema dos Piriás”.
o segundo compasso de B, temos:
Ex. 91 Policorde implícito substituindo o acorde II numa cadência do tipo II V
Ainda na parte B, temos no quarto compasso D9sus e D7(#5,#9) que podem ser
entendidos como:
N
45
Ex. 92 Policordes implícitos em acordes dominantes
3.4 “Se Todos Fossem iguais a você”, de A. C. Jobim e V. de Moraes
Nessa canção, Jobim utiliza, em dois momentos , os policordes tanto em funções já
conhecidas como em um novo modelo.
tonalidade é Lá Maior.
A
Temos, na parte B :
al, temos:
No compasso de número 21 de B, temos a cifra A(add9)/C#. Analisando sua
configuração acord
46
Ex. 99 Policorde com nona acrescentada substituindo acorde menor
acorde maior com baixo na terça e nona acrescentada ( Aadd9/C# ), pode estar, na
verdade, su ) . Por estar a
fundamental de acorde ( F#) ausente, esse acorde pode ser lido também como F#m7(11)/C#. O
exemplo ac
acorde F#m7(11). Sua escolha como exemplo de uso dos
policordes se deve, no entanto, pelo fato de abordar um caso diferente dos outros vistos até agora,
mas que f so quando utiliza as notas de um acorde tradicional (
F#m7(11)) que, através da leitura de uma cifragem policordal ( A(add9)/C# ), acaba privilegiando
uma sonoridade distinta da usual.
No mesmo trecho, temos ainda as cifras C13sus e C13, que funcionam como uma
cadência de II V, sendo, portanto:
Ex. 94 Policorde implícito substituindo II grau de uma cadência II V
inda , no mesmo trecho, temos a repetição do mesmo processo, cifrado
diferentemente:
O
bstituindo um acorde do VI grau ( F# ) da tonalidade original ( A
ima é um pouco mais distante dos até então analisados. Pode ser inclusive entendido
apenas como uma segunda inversão do
az uso do mesmo proces
A
47
Ex. 95 Policorde implícito substituindo II grau de uma cadência II V
3.5 A seguir, apresentaremos a canção “Começar de Novo” ( “The Island” ), de Ivan Lins e V.
Martins, qu
e por si só já apresenta inúmeros exemplos de policordes explícitos e implícitos.
Depois, a mesma canção vertida em sua quase totalidade para a linguagem dos policordes. Os
acordes menores com sétima, que poderiam ser vertidos também para a linguagem policordal,
foram mantidos em sua cifragem original de modo a facilitar sua leitura.
48
49
50
50
51
52
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A cifragem de policordes tem seduzido improvisadores, arranjadores e compositores,
entre outros, por facilitar a escrita e a realização de acordes complexos. Sua sonoridade tem sido
utilizada pelos principais compositores brasileiros nos últimos quarenta anos e ainda carece de
investigações que contribuam para seu melhor entendimento.
Todos os exemplos apresentados e analisados nesse trabalho contém policordes
grafados de maneira implícita ou explícita, tornando-se evidente a falta de uma padronização.
Várias tentativas tem sido feitas nesse sentido, mas sua constante transformação torna difícil
chegar-se a um consenso. Entretanto, como mostramos nesse trabalho, é possível apontarem-se
algumas soluções gráficas que facilitam a leitura dos policordes ocorrentes no repertório de
música popular.
52
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A cifragem de policordes tem seduzido improvisadores, arranjadores e compositores,
entre outros, por facilitar a escrita e a realização de acordes complexos. Sua sonoridade tem sido
utilizada pelos principais compositores brasileiros nos últimos quarenta anos e ainda carece de
investigações que contribuam para seu melhor entendimento.
Todos os exemplos apresentados e analisados nesse trabalho contém policordes
grafados de maneira implícita ou explícita, tornando-se evidente a falta de uma padronização.
Várias tentativas tem sido feitas nesse sentido, mas sua constante transformação torna difícil
chegar-se a um consenso. Entretanto, como mostramos nesse trabalho, é possível apontarem-se
algumas soluções gráficas que facilitam a leitura dos policordes ocorrentes no repertório de
música popular.
76
REFERÊNCIAS
BERGONZI, Jerry. Inside Improvisation Rottenburg , Advance Music , 1992.
CAMPBELL, Gary. Expansions St. Lebanon , Houston Publishing, 1988.
CAMPOS, Augusto. Balanço da Bossa e outras Bossas São Paulo, Ed. Perspectiva, 1968.
FREITAS, Sérgio. Teoria da Harmonia na Música Popular: uma definição das relações de
combinação entre os acordes na harmonia tonal. Dissertação de Mestrado, IA/UNESP,1995.
GOODRICK, Mick. The Advancing Guitarist. Mikwaukee, Hal Leonard Books, 1987.
GUEST, Ian. Arranjo Método Prático, vol. 3. Rio de Janeiro, Lumiar Editora, 1996.
LEVINE, Mark. The Jazz Theory Book. Pentaluma, Sher Music Co., 1995.
LIEBMAN, David. A chromatic approach to jazz harmony and melody. Rottenburg,
Advance Music, 1991.
MISHKIT, Bruce. Sax / Flute Lessons with the greats. Miami, Manhattan Music Inc. 1994.
PERSICHETTI, Vincent. Armonia del siglo XX Madri, Real Musica, 1985. ( trad. Alicia S.
Santos)
RICIGLIANO, Daniel. Popular and jazz harmony. New York, Donato Music Publishing
Company, 1967.
SHER,Chuc ( Ed.). The New Real Book vols. 1 a 3. Petaluma, 1988.
_______________. The Latin Real Book. Petaluma,1997.
SCHOENBERG, Arnold. Harmonia. São Paulo, Editora Unesp 1992.
77
BIBLIOGRAFIA
BAKER, D. Advanced Improvisation. Chicago: Maher Pub., 1974.
_________. Jazz Improvisation. revised edition. (cidade): Frangipanni Press, 1983.
CABRAL, Sérgio. Antonio Carlos Jobim, uma biografia. Rio de Janeiro: Lumiar, 1997.
_________. No tempo de Ari Barroso. Rio de Janeiro: Lumiar, 1993.
_________. A mpb na era do rádio. São Paulo: Moderna, 1996.
CANÇADO, Tânia Maria Lopes - O fator atrasado na música brasileira. Belo Horizonte , Per
Musi, 2000.
CASTRO, Ruy. Chega de saudade: a história e as histórias da bossa nova São Paulo , Cia das
Letras, 1990.
COSMO, Emille de. The woodshedding source book Milwaukee, Hal Leonard Corp. , 1997.
GARCIA, Walter - Bim Bom A contradição sem conflitos de João Gilberto . São Paulo, Paz e
Terra, 1999.
JOBIM, Helena.- Antonio Carlos Jobim, um homem iluminado. Rio de Janeiro, N. Fronteira,
1996.
MESSIAN, Olivier. Technique de mon langage musical. Paris, Alphonse Leduc Editions
Musicales, s/ data.
MINTZER, Bob . - 14 Jazz and Funk Etudes. New York, Warner Music, 1994.
RICKER, Ramon, - Technique development in fourths for jazz improvisation
_________________ Pentatonic Scales for jazz improvisation. St Lebanon, Studio Books,
1975.
RUSSEL, George. - The lydian chromatic concept of tonal organization for improvisation.
New York, Concept Publishing Company 1959.
VÁRIOS AUTORES, - Enciclopédia da Música Brasileira erudita, folclórica e popular. 2
vols. São Paulo, Art, 1977
CHEDIAK, A (Ed.). Songbook Bossa nova vols. 1 a 5. Rio de Janeiro,1994
__________________Song Book Edu Lobo Rio de Janeiro,1992.
78
__________________ Song Book João Donato Rio de Janeiro, 1999.
__________________ Song Book Chico Buarque vols. 1 a 4. Rio de Janeiro, 1999.
__________________ Song Book Ary Barroso vols.1e2. Rio de Janeiro, 1994.
__________________ Song Book Noel Rosa vols. 1 a3 Rio de Janeiro,1991.
__________________ Song Book Tom Jobim vols.1 a 3 Rio de Janeiro,1990.
__________________ Song Book Djavan vols.1 e 2 Rio de Janeiro,1997.
__________________ Song Book Dorival Caymmi vols.1 e 2. Rio de Janeiro,1991
DOCUMENTOS DISPONÍVEIS EM MEIO ELETRÔNICO
COLEMAN, Steve. Cell Notation. Disponível em: <http://www.m-base.com/cells.html>. Acesso
em: 24 fev. 2004.
GLOSTER, Vance. Theory on Tap – Lesson11: Polychords. Disponível em:
<http://www.sroom.com/mus_lessons/tot.11.htm>. Acesso em: 23 jun. 2003.
JAZZ ARRANGING TUTORIAL: EXTENSIONS – POLYCHORDS. Disponível em:
<http://www.webpages.charter.net/dbristol14/tutorial.harmexte.htm>. Acesso em: 23 jun. 2003.
MORGAN, Kevin. Classic Internet Guitar Lessons. Disponível em:
<http://www.cyberfret.com/classic/polychords.htm>. Acesso em: 11 jul. 2003.
POLYCHORDS – THE BASIC. Disponível em:
<http://members.lycos.co.uk/guitarportal/guitar_lessons/chords/chords_polychords_basic.html>.
Acesso em: 24 fev. 2004.
RANNEY, Scot. Learn Jazz piano. Disponível em:
<http://www.learnjazzpiano.com/index.mv?screen=msg&mid=9523>. Acesso em: 29 fev. 2004.
SABATELLA, Marc. Jazz improvisation Primer. Disponível em
<http://www.outsideshore.com/primer/ms-primer-6-1-1-3.html>. Acesso em: 23 jun. 2003.
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo