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regulamento elaborado por Luiz José de Carvalho e Mello (1764-1826), Visconde da
Cachoeira, sem aplicação por força da ausência de eficácia do decreto imperial. Seja
como
for, o regulamento inadimplido contribuiu para a elaboração de estatuto
destinado à instituição dos cursos jurídicos no Brasil, (Decreto Imperial de 23 de
março de 1825), com influência seguinte nos currículos e programas dos cursos de
ensino jurídico, subsequentes a esta tentativa frustrada da iniciação do ensino de
direito no país.
456
Os debates prosseguiram até q
ue
, em 11 de agosto de 1827, foi publicada a
Lei Imperial que criou os dois cursos de Direito no Brasil, sendo um deles em Olinda,
instalado em 15 de maio de 1828, no Mosteiro de São Bento
457
, depois transferido
para Recife (1854). O outro curso em São Paulo, estabelecido em 1º de março de
1828, no Convento de São Francisco
458
.
456
Nesse ínterim, “após 1825 iniciou-se uma segunda tentativa de fundação dos cursos jurídicos no
Brasil,
que foi apresentada, por meio de um novo projeto de lei à Assembléia Geral Legislativa, em
5 de julho de 1826, para criação de um curso jurídico no Rio de Janeiro. E em 5 de agosto de 1826
foi apresentada uma emenda, propondo que o curso jurídico o fosse estabelecido em São Paulo.
Travou
-se ligeiro debate a respeito da localização, assunto sempre fértil em dissensões naquela
Assembléia (VAMPRE, 1977, p. 21). O projeto de Lei de Januário da Cunha Barbosa e José
Cardoso Pereira de Melo, de 5 de julho de 1826, designava a cidade do Rio de Janeiro para sediar
o curso jurídico, mas tal hipótese não se concretizou, ficando apenas no papel. E em 8 de agosto
do mesmo ano, Francisco de Paula Souza e Melo apresentou uma emenda substituindo a cidade
do Rio de Janeiro pelas cidades de Olinda e São Paulo (VAMPRE, 1977, p.22-23).” (Revista
HISTEDBR On-line, Campinas n. 25, p. 86-105, mar. 2007, da autoria de Claudiceia L. A. Bezerra,
p.
94)
457
Segundo João Gualberto de Oliveira (História dos órgãos de classe dos advogados, p. 209) “a
inauguração do Curso de Olinda revestiu-se de grande solenidade, à qual compareceram
autoridades civis, militares e eclesiásticas da época. A guarnição militar local formou, em
continência, dando salvas de artilharia; a Câmara Municipal mandou celebrar solene ‘Te Deum’ em
ação de graças e iluminou a cidade durante três noite consecutivas.”
458
Do mesmo modo João Gualberto de Oliveira, na obra citada, págs. 157/8, narra que “a inauguração
da Academia, na pequena urbe, em 1º . de março de 1828, assinal
ou
-se como um dia de
verdadeira festa cívica e religiosa. Era presidente da província Tomás Xavier Garcia de Almeida
(1792
-1870). Antes mesmo da hora marcada para a cerimônia (quatro da tarde), havia intenso
movimento de gente no Largo de São Francisco, tomado por inúmeros carros com cocheiros de
libré conduzindo graves e circunspectos cidadãos de redingote, autoridades, professores e
estudantes. Assim, o velho convento de São Francisco, edificado dois séculos antes, abria as
veneráveis portas para se celebrar sob suas arcada, até então silenciosas e sombrias, um dos
maiores eventos da História Política, Social e Cultural de São Paulo e do Brasil. Apesar de as
instalações serem acanhadas para acomodar a novel Academia, eram, em todo caso, as do vestuto
mos
teiro as mais indicadas ao fim colimado. Para o acesso no referido cenóbio, estudantes e fiéis
utilizavam
-se da entrada principal, que aliás era uma só, servindo simultaneamente a uns e outros
para estudar e rezar. O sino era também de uso comum, e se utilizava tanto para anunciar as
festividades litúrgicas como os começos ou finas de aula, surgindo em conseqüência não poucos
atritos entre o diretor da Academia, o tenente-general José Arouche de Toledo Rendon (1756-
1834), e o guardião do convento, ‘a respei
to dos toques’. E o litígio entre ambas as partes chegou a
tornar
-se tão agudo, que o presidente da Província se viu obrigado a intervir no caso, estipulando
‘horário para os toques’. Essa querela aliás deu ensanchas também para a primeira e jocosa
manifes
tação do indefectível espírito universitário, que iria enriquecer as crônicas da escola: um dia
o sino, objeto de azedumes entre o diretor da Academia e o guardião do convento, emudeceu,
como que por encanto! E até hoje não se descobriu o autor da façanha! O fato entretanto, como