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ESCOLA SUPERIOR DE TEOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TEOLOGIA
OSVALDO CIPRIANO DA SILVA FILHO
EDUCAÇÃO CRISTÃ NA IGREJA EM CÉLULAS:
ANÁLISE CRÍTICA DA CONCEPÇÃO DE ENSINO NO MODELO DE
TREINAMENTO DO MINISTÉRIO IGREJA EM CÉLULAS NO BRASIL
São Leopoldo
2010
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OSVALDO CIPRIANO DA SILVA FILHO
EDUCAÇÃO CRISTÃ NA IGREJA EM CÉLULAS:
ANÁLISE CRÍTICA DA CONCEPÇÃO DE ENSINO NO MODELO DE
TREINAMENTO DO MINISTÉRIO IGREJA EM CÉLULAS NO BRASIL
Trabalho Final de
Mestrado Profissional
Para obtenção do grau de
Mestre em Teologia
Escola Superior de Teologia
Programa de Pós-Graduação.
Linha de Pesquisa: Educação
Comunitária Com Infância e
Juventude
Orientadora: Laude Erandi Brandenburg
Segunda Avaliadora: Gisela Isolde Waechter Streck
São Leopoldo
2010
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Ficha elaborada pela Biblioteca da EST
S586e Silva Filho, Osvaldo Cipriano da
Educação cristã na igreja em células: análise crítica
da concepção de ensino no modelo de treinamento do
Ministério Igreja em células no Brasil / Osvaldo Cipriano
da Silva Filho ; orientadora Laude Erandi Brandenburg ;
co-orientadora: Gisela Isolde Waechter Streck . – São
Leopoldo : EST/PPG, 2010.
137 f. : il.
Dissertação (mestrado) – Escola Superior de
Teologia. Programa de Pós-Graduação. Mestrado em
Teologia. São Leopoldo, 2010.
1. Igreja Presbiteriana – Educação. 2. Educação
cristã. 3. Trabalho de grupos na Igreja. I. Brandenburg,
Laude Erandi. II. Streck, Gisela Isolde Waechter. III.
Título.
OSVALDO CIPRIANO DA SILVA FILHO
EDUCAÇÃO CRISTÃ NA IGREJA EM CÉLULAS:
ANÁLISE CRÍTICA DA CONCEPÇÃO DE ENSINO NO MODELO DE
TREINAMENTO DO MINISTÉRIO IGREJA EM CÉLULAS NO BRASIL
Trabalho Final de
Mestrado Profissional
Para obtenção do grau de
Mestre em Teologia
Escola Superior de Teologia
Programa de Pós-Graduação.
Linha de Pesquisa: Educação
Comunitária Com Infância e
Juventude
Laude Erandi Brandenburg - Doutora em Teologia - Escola Superior de
Teologia
Gisela Isolde Waechter Streck - Doutora em Teologia - Escola Superior de
Teologia
AGRADECIMENTO
A meu Deus, o Senhor dos céus e da terra, por tudo, a quem dedico este título de
mestre.
À minha esposa, pela dedicação e grande paciência, e aos meus queridos filhos
Alessandro e Renata, pelas suas complacências em relação às minhas ausências.
À minha orientadora, Profa. Dra. Laude Erandi Brandenburg, pela dedicação, amor e
esmero com os quais me orientou, contribuindo para a qualidade desta produção
acadêmica.
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo a análise da concepção de ensino da Igreja
em Células, à luz do modelo de Ralph W. Neighbour Jr., adotado pelo Ministério de
Igrejas em Células no Brasil, sob a perspectiva da formação cristã continuada na fé
da Igreja Reformada. A visão da Igreja em Células é de que a estrutura e os valores
da igreja tradicional não observam o modelo de igreja do Novo Testamento. Em
“novo odre”, a educação perdeu a importância, e o ensino, em sua concepção
pedagógica, voltou-se a ciclos de estudo e treinamento chamados de “trilhos” e
“finais de semanas”, para formação de discipuladores e líderes, com foco na
multiplicação das células e crescimento da Igreja. A escola bíblica, nesse ambiente,
perdeu a importância, e a formação continuada na fé foi descaracterizada. O
membro tornou-se apenas reprodutor de si mesmo. Neste estudo, adotou-se o
método de pesquisa bibliográfica a partir da revisão das principais obras sobre o
assunto, com ênfase na exploração das fontes existentes sobre o conteúdo em
exame. O trabalho está estruturado em quatro partes. A primeira parte aborda
panoramicamente a educação cristã a partir da reforma protestante, destacando os
aspectos históricos gerais da formação cristã da Igreja Presbiteriana do Brasil. A
segunda parte incursiona pelo conceito de educação cristã e pelos aspectos teóricos
dos Quatro Pilares da Educação. Tais concepções teóricas alinham-se à proposta
pedagógica de ensino cristão da Igreja Presbiteriana do Brasil, como identidade de
escola calvinista a partir de seu fundamento evangélico. Na sequência, aborda a
escola bíblica como práxis pedagógica de formação cristã na igreja tradicional,
destacando a Presbiteriana, com ênfase na educação como ministério da Igreja. A
Terceira parte analisa a concepção pedagógica adotada pela igreja em células à luz
da práxis de ensino cristão concebido por Neighbour Jr. e adotado pelo Ministério
Igreja em Células no Brasil. O exame parte do estudo da formação da igreja em
células e dos pressupostos eclesiológicos e teológicos. A quarta e última parte
examina o estudo da práxis instrucional dos trilhos de treinamentos de
discipuladores e líderes na Igreja em Células. Em seguida, apresenta as
características e as considerações críticas do exame realizado e sugestão de
proposta de modelo pedagógico de formação cristã continuada na para igrejas
tradicionais que migrem para o modelo de igreja em células, cuja concepção
privilegia a formação de discipuladores e líderes. Conclui-se no sentido de que a
prática pedagógica da igreja em células não é um instrumento de educação cristã
continuada e integral na fé. Não visa tratar o indivíduo e formá-lo como um todo para
a vida e atua na desconstrução da escola bíblica.
Palavras-chave: Educação cristã. Igreja em Células. Escola blica. Formação
continuada e integral na fé.
ABSTRACT
The present research aim to analyze the conception of teaching of the Cell Church,
according to Ralph W. Neighbour Jr.’s model, used by the Cell Church Ministry in
Brazil, under the perspective of the continuous Christian education in conformity to
the faith of the Reformed Church. The understanding of the Cell Church is that the
structure and values of the traditional church do not observe the church model of the
New Testament. In a “new leather bottle” the education lost its significance and the
teaching, in its pedagogic conception, returned to the study cycles and training,
named “trails” and “weekends”, to the formation of leaders and disciple makers,
concentrating the forces on the multiplication of the cell and in the growth of the
church. In this environment, the biblical school lost its significance and the
continuous education on faith was uncharacterized. The member became just a self
reproducer. In this study the method of bibliographical research has been chosen
starting from the reading of the main works on the subject, emphasizing the
exploration of existent sources on the content. The present study is structured in four
parts. The first part approaches widely the Christian education starting from the
Protestant Reform, highlighting the general historical aspects of the Christian
formation of the Presbyterian Church of Brazil. The second part walks through the
concept of Christian education and the theoretical aspects of the Four Pillars of
Education. Such theoretical conceptions join to the pedagogic proposal of Christian
education of the Presbyterian Church of Brazil as identity of Calvinist school starting
from its evangelical foundation. As too approaches the biblical school as pedagogic
praxis of Christian formation in the traditional church, featuring the Presbyterian
Church and the education as Church Ministry. The third part analyzes the pedagogic
conception adopted by the cell church according the Christian education ideated by
Neighbour Jr. and used by the Cell Church Ministry in Brazil. The research starts
from the Cell Church formation and ecclesiological and theological presuppositions.
The fourth and last part the study analyzes the formation praxis of training and
disciple makers’ “trails” by the Cell Church. The last part also presents the
characteristics and critics of this research and the proposal of pedagogic model of
continuous Christian education on faith for traditional churches which decide to
migrate to the cell church model whose conception privileges the disciple makers’
and leaders’ formation. The present study concludes that the pedagogic praxis of the
cell church is not an instrument of continuous and integral Christian education on
faith. It does not seek to treat the individual and prepare him or her for living and it
acts in the deconstruction of the biblical school.
Keywords: Christian education. Cell Church. Biblical school. Continuous and integral
education on the faith.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO............................................................................................................ 9
1 PANORAMA HISTÓRICO DO DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO CRISTÃ . 13
1.1 Na Reforma Protestante.................................................................................. 13
1.2 Após a Reforma Protestante ........................................................................... 17
1.3 Na Igreja Presbiteriana.................................................................................... 20
1.3.1 Breve histórico: os reformados.................................................................. 21
1.3.2 Formação cristã presbiteriana................................................................... 25
2 EDUCAÇÃO CRISTÃ: ASPECTOS GERAIS ........................................................ 29
2.1 Definição ......................................................................................................... 29
2.2 Os Quatro Pilares da Educação ...................................................................... 31
2.2.1 Aprender a conhecer................................................................................. 32
2.2.2 Aprender a fazer ....................................................................................... 33
2.2.3 Aprender a viver juntos ............................................................................. 34
2.2.4 Aprender a ser .......................................................................................... 36
2.3 Escola Bíblica: Práxis Pedagógica de Formação Cristã.................................. 37
2.3.1 Objetivo..................................................................................................... 38
2.3.2 Educações continuada e integral .............................................................. 38
2.3.3 Ministério da Igreja.................................................................................... 39
3 FORMAÇÃO CRISTÃ NA VISÃO PEDAGÓGICA DA IGREJA EM CÉLULAS...... 43
3.1 Igreja em Células............................................................................................. 43
3.1.1 Origem ...................................................................................................... 43
3.1.2 O que é Igreja em Células ........................................................................ 46
3.2 Eclesiologia e Teologia: pressupostos ............................................................ 47
4 PLANO PEDAGÓGICO DE ENSINO E FORMAÇÃO NA IGREJA EM CÉLULAS 56
4.1 Práxis formativa: Trilhos de Treinamento........................................................ 57
4.1.1 Dos aspectos taxionômicos....................................................................... 57
4.1.2 Apresentação............................................................................................ 60
4.2 Formação de líderes........................................................................................ 67
4.3 Considerações acerca da análise realizada.................................................... 68
4.4 Proposta de modelo pedagógico..................................................................... 76
CONCLUSÃO........................................................................................................... 79
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 82
ANEXO A: Modelo pedagógico de Escola Bíblica Dominical da Primeira Igreja
Presbiteriana de Taguatinga..................................................................................... 85
8
ANEXO B: Modelo pedagógico de Escola blica Dominical da Igreja Presbiteriana
do Lago Sul............................................................................................................... 98
ANEXO C: Modelo pedagógico de Escola Bíblica Dominical da Igreja Presbiteriana
de Manaus.............................................................................................................. 120
ANEXO D: Diagrama do projeto pedagógico.......................................................... 134
ANEXO E: Pirâmide que ajuda ilustrar incrédulos tipo “A” e tipo “B”...................... 135
ANEXO F: Parábola da Igreja de Duas Asas.......................................................... 136
INTRODUÇÃO
A educação é parte da vida. Surgiu com o ser humano. E sempre esteve
presente nos primórdios da humanidade. É inata ao ser humano, é natural porque é
da natureza humana aprender, fazer, criar e construir.
A educação como ideia, uma elaboração intelectual, uma concepção, é o
combustível na formação de culturas e de saberes, propicia o desenvolvimento do
ser humano e da comunidade, seja um grupo, uma tribo ou uma sociedade mais
complexa. Assim, ela é de importância ímpar na formação do indivíduo, processando
constante renovação de conhecimentos, formando bases, alicerces para a vida, de
forma contínua e permanente. Na exigência ontológica, a educação assume o papel
de formar e favorecer o crescimento da personalidade, de forma plena e contínua,
corroborando para o progresso sociocultural, moral, ético e religioso do indivíduo,
porquanto, enquanto ser, o ser humano sempre necessitou dela para aperfeiçoar as
dimensões do corpo, da alma e do espírito, de dentro para fora.
Nessa visão, a História da Educação é a história da humanidade. Onde ela
estiver, per si, a educação também estará. No curso da vida, a educação é marcada
e construída não pela cultura, nos aspectos antropológicos e sociológicos, mas
também pela religião, com influência, sobretudo, na formação da personalidade
humana. As bases da educação foram construídas, desde os tempos antigos, sob
pressupostos religiosos do ser humano na busca do transcendente.
Com outro olhar, as transformações ideológicas, especialmente aquelas
ocorridas na transição da era moderna para a pós-moderna, têm contribuído para a
perda da visão bíblica de paideia por parte da Igreja contemporânea. Esse fato,
possivelmente resultante do baixo crescimento vegetativo do rol de membros e
frequentadores das igrejas, tão característicos nesses dois momentos, aliado às
alterações dos valores morais, éticos e culturais da sociedade, e da incapacidade de
deglutir tais mudanças, tem levado a Igreja a reinventar-se fora de si mesma. Nesse
contexto, a evangelização, por exemplo, cuja ênfase deveria ser a de proclamar as
“boas novas” da salvação genuína e transformadora do indivíduo pecador,
concentrou-se no propósito de recuperar números de pessoas para encher templos
vazios.
10
A Igreja em Células é tida como exemplo do reflexo dessa transição no seio
da Igreja Contemporânea. Ela parte do pressuposto de que a Igreja Tradicional atual
não segue o modelo deixado pela Igreja do Novo Testamento e que sua estrutura e
valores se desviaram daqueles vividos pela Igreja Primitiva. Sob esse ponto de vista,
a Igreja em Células defende o retorno do modo de vida da igreja atual à comunidade
de base, alegando que “vinho novo” precisa de “odres novos”. Por isso, idealizando
um novo modelo de Igreja, redesenhou a estrutura da igreja tradicional e
desenvolveu um novo modelo estrutural celular ao qual denominaram de “Estrutura
de Odres”. Na transição, a educação cristã perdeu sua ênfase, o ensino se voltou
para a aplicação das Escrituras às necessidades básicas de alcançar o pecador e de
relacionamentos entre os membros da célula e seus “oikos”. Os esforços foram
direcionados para a multiplicação das células que a constituem. Em que pese esse
fato, o método de evangelização adotado revela-se uma estratégia com resultados
extraordinários.
Deslumbradas com tal visão, igrejas tradicionais têm migrado para o modelo
em células, buscando o crescimento do rol de membros. Nesse processo, elas têm
se afastado da percepção pedagógica da igreja primitiva, perdendo a centralidade e
os parâmetros conceituais da paideia bíblica. Os ensinamentos de caráter cristão
deixaram de formar o ser humano e o cidadão a exemplo de Atos 2.42. A educação
cristã voltada à formação do indivíduo para a vida perdeu a importância. A
pedagogia de ensino cristão tradicional foi substituída por ciclos de estudos e
treinamentos chamados de “trilhos” e de “finais de semanas” ou congêneres. A
Escola Bíblica perdeu a importância no contexto da Igreja em Células como
instrumento de formação cristã integral e continuada dos membros. Nesse processo,
a filosofia de treinamento cristão adotada pela Igreja em Células direcionou-se,
basicamente, para a formação de discipuladores e de líderes, em um ciclo
permanente, visando gerar indivíduos multiplicadores de células para o crescimento
da igreja.
Com novos olhares, o presente trabalho tem como objetivo a análise da
concepção de ensino da Igreja em Células à luz do modelo de Ralph W. Neighbour
Jr., adotado pelo Ministério de Igrejas em Células no Brasil, com base na formação
cristã continuada na fé da Igreja Reformada.
11
O método de pesquisa adotado foi o bibliográfico a partir da revisão das
principais obras sobre o assunto, consultando-se os documentos primários e
secundários, tais como, respectivamente, arquivos, artigos, periódicos, livros e
produções acadêmicas sobre o assunto. Metodologicamente, a pesquisa se
configura como documental a nível exploratório das fontes existentes sobre o
conteúdo de estudo. A sistematização dos dados foi feita pela análise do conteúdo,
com fichamento, por ordem de assunto, de acordo com a proposta de composição
das partes do trabalho final.
O presente trabalho está estruturado em quatro seções. A primeira parte
aborda, panoramicamente, a educação cristã a partir da Reforma Protestante,
destacando os aspectos históricos gerais da formação cristã da Igreja Presbiteriana
do Brasil.
A segunda parte trata do conceito de educação cristã e dos aspectos
teóricos dos Quatro Pilares da Educação baseados no Relatório para a UNESCO da
Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI, coordenada por
Jacques Delors.
A proposta pedagógica do ensino cristão da Igreja Presbiteriana do Brasil,
com identidade de escola calvinista a partir do seu fundamento evangélico, alinha-se
à visão de educação integral e permanente recomendada no Relatório para a
UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI.
A terceira parte aborda a Escola Bíblica como práxis pedagógica de
formação cristã na igreja tradicional, com destaque para a Igreja Presbiteriana do
Brasil. Um ponto importante ressaltado nessa seção é a educação cristã como
ministério da Igreja atual que foi vivida pela Igreja Primitiva.
A título de exemplo de práxis pedagógica de educação cristã na Igreja
Reformada, citam-se dois modelos de ensino cristão em Escola Bíblica dominical de
duas Igrejas Presbiterianas e de uma terceira Igreja Presbiteriana, que migrou para
a forma de igreja em células.
A quarta e última parte analisa a concepção pedagógica adotada pela Igreja
em Células à luz da práxis de ensino cristão concebido pelo pastor Ralph W.
Neighbour Jr. e adotado pelo Ministério Igreja em Células no Brasil. O exame parte
do estudo da formação – nascimento – da Igreja em Células e de seus pressupostos
12
eclesiológicos e teológicos. Em seguida, analisa a práxis instrucional dos “trilhos de
treinamentos” de discipuladores e líderes da Igreja em Células.
A última parte do trabalho relaciona as características e as considerações
críticas do exame realizado durante o estudo e uma proposta de modelo pedagógico
de formação cristã continuada na fé para igrejas tradicionais que migrem para o
modelo de igreja em células, cuja concepção privilegia a formação de discipuladores
e líderes.
1 PANORAMA HISTÓRICO DO DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO CRISTÃ
É apresentada, neste capítulo, uma retrospectiva histórica da educação
cristã, a partir da Reforma Protestante, abordando os eventos que mais
influenciaram o desenvolvimento do ensino cristão de caráter reformado.
1.1 Na Reforma Protestante
No processo da Reforma Protestante, alguns acontecimentos históricos do
século XVI propiciaram o florescimento da educação cristã. Martinho Lutero, ao
enfrentar o poder político da Igreja Católica Romana, valorizou a educação do
indivíduo ao resgatar os ideais cristãos. Na sequência histórica, João Calvino,
insigne teólogo e professor, estabeleceu as bases da teologia do Calvinismo e
sistematizou os princípios básicos do ensino cristão reformado em Genebra, que
deu origem a uma das mais respeitadas universidades da Europa, a Universidade de
Genebra.
Marcada por grandes mudanças no mundo do século XVI, a Renascença foi
um período de grandes descobertas e invenções. Segundo Nichols, a natureza
humana como que desabrochou e muitas faculdades humanas, antes adormecidas,
foram despertadas. Nicolau Copérnico, ao tirar, com sua teoria, a Terra do centro do
Universo e colocar o Sol, abriu novos horizontes para o estudo do Universo, e
propiciou o avanço das ciências náuticas com resultados na descoberta de “novos
mundos”, novos mercados, alterando, assim, a geografia mundial. A invenção da
imprensa por Gutemberg (1450), aliada às descobertas marítimas, permitiu grandes
empreendimentos. Esse conjunto de acontecimentos que caracterizou o período
renascentista foi o catalisador do êxito da Reforma Protestante.
Na lição de Nichols, do ponto de vista cultural, o incremento no contato com
a civilização greco-romana promoveu um reavivamento da cultura, até então pouco
conhecida das nações europeias durante a Idade Média.
1
O pensamento clássico, a
filosofia, a literatura e as artes deslumbram o povo europeu. Este fato contribuiu para
a mudança de atitude religiosa da época, o Novo Testamento passou a ser lido no
idioma em que foi escrito originalmente. As mentes deslumbradas e jubilosas
1
NICHOLS, Robert H. História da Igreja Cristã. 11. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2000. p. 150-151.
14
fizeram estudos profundos e descobriram o ideal divino para a igreja cristã,
destacando-se, segundo Nichols,
2
homens como Erasmo e João Colet, conhecidos
humanistas.
Todos esses acontecimentos concorreram para uma grande inquietação
social. No aspecto religioso, segundo Nichols, dois fatores fomentaram a agitação
popular: primeiro, o ódio nutrido aos sacerdotes por causa de suas extorsões; e,
segundo, a recusa dos padres em apoiar as causas das classes oprimidas. Nesse
cenário de inconformismo e de grandes transformações intelectual, religiosa e
política, a Reforma Protestante encontrou um ambiente propício.
Martinho Lutero, motivado por sua formação acadêmica, doutor em Teologia
pela Universidade de Wittenberg, em que veio a ser professor, resgatou a instrução
das Escrituras Sagradas. De acordo com Nichols, as preleções de Lutero na
Universidade de Wittenberg consistiam em explicações das Escrituras e aplicação
da verdade bíblica à vida de seu tempo.
3
Nos primeiros anos da Reforma Luterana, a partir de 1520, os ensinos
reformados dominaram a Alemanha. Segundo Nichols, o povo alemão passou a ter
amplo acesso à Bíblia e ao ensino do reformador por meio de grande número de
tratados. Lutero, por meio de seus ensinamentos, produziu em seu povo um forte
reavivamento religioso. O grande desejo de Martinho Lutero era a educação dos
filhos de seu povo. Por isso, conforme Nichols, as igrejas nasciam organizando
escolas com ministros fiéis e instruídos.
4
No ambiente secular, a educação tomou novo impulso com o Renascimento.
Escolas e manuais para alunos e professores proliferam. Educar, para Maria Lúcia
de Arruda Aranha, “tornava-se questão de moda e uma exigência, conforme a nova
concepção de ser humano”.
5
No meio religioso, a educação cristã dos membros das igrejas tornou-se um
instrumento de grande relevância para a divulgação da Reforma. Lutero, junto com
Melanchthon, empenhava-se em implantar escolas primárias para todos os cidadãos
da Alemanha, defendendo uma educação universal e pública, cuja criação
2
NICHOLS, 2000, p. 150-151.
3
NICHOLS, 2000, p. 158.
4
NICHOLS, 2000, p. 162 e 166.
5
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da educação e da pedagogia: geral e Brasil. 3. ed. São
Paulo: Moderna, 2006. p. 125.
15
acreditava ser tarefa e competência do Estado.
6
Nessa linha, Aranha conta que “ao
dar iguais condições de leitura e interpretação da Bíblia a todos, a educação tornou-
se importante instrumento de divulgação da reforma”.
7
Além disso, Lutero, de acordo
com essa autora, defendia no currículo de ensino a inclusão de jogos, exercícios
físicos, músicas, história, matemática.
A Reforma, sob o ponto de vista da educação, foi necessária, porque a
Igreja carecia, na visão da autora Inez Augusto Borges, de uma radical
transformação, “para que a educação cristã voltasse a cumprir sua missão
transformadora”.
8
Ainda segundo essa autora, na Reforma renasce a
conscientização da necessidade do processo educacional para a formação da
personalidade do ser humano. Para a implantação dos ideais da Reforma, era da
maior importância que cada pessoa aprendesse a ler e a entender as Escrituras.
Para essa autora, a educação assume um lugar de destaque. A Bíblia, mais tarde
traduzida no vernáculo de cada povo da Europa, torna-se base para a alfabetização
pública, especialmente na Alemanha ao ser traduzido o Novo Testamento na língua
alemã. De acordo com Borges, Lutero, ao valorizar sobremaneira a educação,
considerou a vocação para o ensino apenas inferior à vocação de pregador da
Palavra. Assim, os ensinos reformados ocuparam rapidamente a Alemanha.
Aranha relata que, enquanto essa revolução religiosa e educacional ocorria
na Alemanha de Lutero, a Igreja Católica reagia com a Contra-Reforma. Na área da
educação, o catolicismo enveredou-se no estudo dos antigos autores greco-romanos
com olhares religiosos e com o propósito de adaptá-los aos dogmas da fé. De
acordo com essa autora, “estudavam Platão e Aristóteles sob o viés cristianizado de
Santo Agostinho e Santo Tomás”.
9
Nesse sentido, de acordo com essa autora, os
jesuítas retomaram a visão de educação da Idade Média baseada no objetivo de
desenvolver as potencialidades do ser humano, inclusive adotando o mesmo
processo pedagógico medieval no mundo colonizado por Portugal, Espanha e
França, especialmente durante o período do Brasil Colônia.
6
ARANHA, 2006, p. 127.
7
ARANHA, 2006, p. 126-127.
8
BORGES, Inez Augusto. Educação e personalidade: a dimensão sócio-histórica da educação
cristã. São Paulo: Mackenzie, 2002. p. 44.
9
ARANHA, 2006, p. 134.
16
João Calvino (1509-1564) surge mais tarde no cenário da educação cristã
reformada. Teólogo francês, ele exerceu atividade em seu país e em Genebra, na
Suíça. É reconhecido, em todos os meios religiosos, que sua atuação como teólogo,
escritor e professor teve um tremendo impacto tanto para a Reforma do século XVI
quanto para as reformas no processo educacional, comenta Borges.
Calvino revolucionou a visão da educação cristã desde Lutero. De acordo
com Wilson Castro Ferreira,
10
Calvino entendeu que a Igreja não é somente uma
comunidade de fé e adoração ao Senhor, mas também uma comunidade
educacional, de ensino, uma escola por excelência, guiada e instruída pelo Espírito
Santo. No entendimento desse reformado, a educação e a teologia andam juntas:
“não há distinção ou hierarquia de valores entre o estudo de línguas, história,
ciências ou religião, porque todo ensino visa o aperfeiçoamento do ser humano para
o cumprimento de sua vocação”.
11
No campo da educação, Calvino não distinguia conhecimentos humanos
tidos como sagrados e/ou profanos, “pelo contrário, todo conhecimento tende a
dirigir o ser humano para a contemplação do Criador”.
12
A pedagogia calvinista
visava a busca do conhecimento e a formação integral da pessoa, para melhor servir
a Deus e ao semelhante. A igreja e a escola, de mãos dadas, visando bem servir ao
ser humano e glorificar a Deus.
13
Calvino, sem sombra de dúvida, tornou-se ícone organizador e consolidador
da Reforma Protestante. A Igreja virou uma sala de aula, e a educação um ideal. De
acordo com Wilson Castro Ferreira, Calvino compreendia a escola em um plano
mais elevado, o a via apenas como ferramenta para lapidar a sociedade, mas
como um meio para alcançar a finalidade da vocação humana, a glória de Deus: “por
isso, cuida com carinho da educação nos seus diferentes graus, de modo que
pudesse aqui na terra preparar para uma vocação que transcende às finalidades
puramente terrenas”.
14
10
FERREIRA, Wilson Castro. Calvino: vida, influência e teologia. Campinas: Luz para o caminho,
1990. p. 184.
11
FERREIRA, 1990, p. 184.
12
BORGES, 2002, p. 47-48.
13
FERREIRA, 1990, p. 185.
14
FERREIRA, 1990, p. 188.
17
Veem-se, em Lutero e Calvino, homens que buscaram incansavelmente a
valorização e a sistematização do ensino. Propuseram modelos educacionais e se
empenharam na implantação de escolas em todos os lugares possíveis. Na lição de
Borges,
15
por seus empenhos, os ideais da Reforma penetraram em todos os
setores da vida humana e permearam os séculos seguintes, fazendo da educação
um instrumento da graça Divina da Salvação e de humanização do ser humano.
1.2 Após a Reforma Protestante
Na sequência, será visto o rumo da educação cristão, especialmente no
contexto reformado, nos séculos que se seguiram à Reforma Protestante, cujos
ideais religiosos mudaram na medida em que o mundo passava por transformações
drásticas, tanto culturais quanto filosóficas.
De acordo com os historiadores, no século XVII, no vigor da Idade Moderna,
que se estende a 1789, data da Revolução Francesa, ocorreram grandes
alterações na Europa. Inaugura-se uma nova visão de mundo fundada nas teorias
políticas e econômicas do liberalismo. É o século que se caracteriza pelo cuidado
com o método na filosofia, na ciência e na educação, com enorme repercussão nas
teorias pedagógicas. É o tempo do método e do saber em contraponto ao
dogmatismo da religião.
Segundo Aranha,
16
a visão reformada de universalização do ensino
elementar como forma de propagar a religiosa encontrou nesse ambiente um
terreno propício, que, inclusive, foi de inspiração para projetos de educação pública.
Na visão de Aranha, destacou-se, nesse período, João Amós Comênio (1592-1670),
que tinha como proposta “ensinar tudo a todos”. Ele foi considerado o maior
educador e pedagogo do século XVII. Seu principal livro é Didática Magna. Sua
proposta era de ensinar não apenas o que tinha valor para a escola, como também o
que servia para a vida. Nessa visão, tinha o propósito de buscar atingir o ideal da
pansofia (do grego pan, “tudo”, e sophia, “sabedoria”), ou seja, sabedoria universal,
de modo que o aluno alcançasse um saber geral e integrado, desde o ensino básico.
15
BORGES, 2002, p. 49.
16
ARANHA, 2006, p. 155.
18
Entendia que “só assim haveria um progresso intelectual, moral e espiritual capaz de
aproximar o indivíduo de Deus”.
17
O protestantismo, no ensino ainda de Aranha, a despeito de um ambiente de
colonização, em que a Igreja Romana encontrou um campo promissor de propagar
sua fé, não teve uma consciência missionária, ignorou o dever de cada cristão de
evangelizar os demais povos, e restringiu-se ao campo europeu, preocupado com a
sobrevivência. Só no século XVIII é que veio a alcançar a visão missionária.
O século XVIII é tido como a era da razão ou século das luzes. É um novo
tempo na Europa com reflexo na América. Segundo Aranha, foi um período em que
a razão liderou o espírito humano em todos os aspectos da vida e todas as coisas
passariam pelo crivo da racionalidade para serem aceitas. As ideias iluministas
foram difundidas e estimuladas e o mundo se tornou liberal e laico.
Os dogmas religiosos foram colocados na peneira da razão. Na lição de
Aranha, as ideias que não passassem por esse crivo eram rejeitadas. A religião
seria aquela firmada na razão, concebendo como correta aquela que viria a ser
conhecida como religião natural, de modo que foi rejeitada a crença na revelação
divina na Bíblia. Nichols conta, nesse sentido:
quanto à religião, o espírito dessa era firmou o princípio de que para as
necessidades humanas seria suficiente apenas uma religião alcançada ou
criada pela própria razão. Certas idéias como a existência de Deus, a lei
moral, um estado futuro de castigos ou recompensas, dizia-se, tinham de
ser provadas antes de ser aceitas como verdadeiras. Julgava-se que, como
religião, bastava aquilo que veio a ser conhecido como religião natural.
Pensava-se e ensinava-se que não era necessária a crença na revelação
divina da Bíblia.
18
A educação, por sua vez, foi fortemente influenciada por essas ideias do
século das luzes. Fortaleceu-se, conforme Aranha,
19
o ideal de uma educação liberal
e laica, vislumbrando-se novos meios para a aprendizagem e a liberdade do
educando. A educação cristã sofreu um revés. De modo que, os ensinos cristãos,
tanto da igreja romana quanto da protestante, não suportariam a prova da razão. O
racionalismo enfraqueceu a vida religiosa e a educação de cunho confessional.
17
ARANHA, 2006, p. 157.
18
NICHOLS, 2000, p. 215.
19
ARANHA, 2006, p. 171.
19
A escola deveria ser leiga e livre sem estar atrelada à religião. A educação
cristã restringiu-se, como dito, às escolas confessionais, e quando permitidas pelo
Estado, a exemplo de Portugal durante a reforma pombalina, o ensino limitava-se à
religião católica. Aranha ensina que nesse período da razão destacaram-se as ideias
iluministas de Rousseau, com sua pedagogia naturalista e educação negativa; e de
Kant, com a pedagogia idealista.
O século XIX, ainda segundo essa autora, representou a consolidação das
reformas operadas no século XVIII, especialmente com respeito àquelas ocorridas
no contexto da Revolução Industrial. Na educação, o Estado conseguiu intervir nas
escolas particulares, impondo seus métodos, mediante legislação que, segundo
Aranha, “buscava uniformizar o calendário escolar, o controle do tempo, o currículo,
os procedimentos, criando os ‘sistemas educativos nacionais’”.
20
A educação mudou
de foco: se antes tinha um caráter geral e universal, nesse tempo, segundo comenta
ainda Aranha,
21
passou a ter como objetivo formar a consciência nacional e
patriótica do cidadão.
Nesse século, assim como no culo anterior, pouco ou nada se tem a
respeito do desenvolvimento da educação cristã reformada. Os relatos dizem muito
mais respeito à fomentação da religião, especialmente nos países europeus de
vanguarda, como Inglaterra, Alemanha e Portugal, nos quais entraram em crise,
inclusive de identidade, e na América, onde ainda se buscava afirmação no cenário
religioso e político. Segundo Cambi, esse fato, entretanto, é explicado pelo
nascimento da escola moderna desde o século XVII.
22
No entanto, surgem no cenário desse século nomes ilustres no campo da
educação, dentre outros, como Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827). As
concepções pedagógicas de Pestalozzi são influenciadas pelas ideias de Rousseau
de educação segundo a natureza, conforme explicita Cambi na obra citada, bem
como da educação familiar e da finalidade ética da educação. Sua grande obra foi o
romance Leonardo e Gertrude, de 1870.
No cenário da educação cristã, destacou-se o reverendo Robert Raikes
(1735-1811) com a implantação de uma “escola dominical”, em 1780, na cidade de
20
ARANHA, 2006, p. 201.
21
ARANHA, 2006, p. 201.
22
CAMBI, Franco. História da Pedagogia. São Paulo: EdUNESP, 1999. p. 304-305.
20
Gloucester, para os pobres, na qual ensinava a ler e escrever por meio da Bíblia.
23
No geral, como comentado, pouca expressividade da educação cristã nesse
século.
O século XX, para Borges, é tido como uma era dramática e conflituosa.
Suas radicais inovações influenciam sobremaneira a vida social, tanto nos aspectos
econômicos, políticos, como nos comportamentos e na cultura. A educação, por sua
vez, ao final desse século, começou a assumir cada vez mais intensamente valores
seculares. A pedagogia, antes voltada às mentes cristãs, deixou a seara da teologia
e da eclesiologia, havendo a separação entre o intelecto e a vida espiritual, de modo
que se tornaram duas esferas humanas sem inter-relacionamento. Segundo Borges,
“a escola tornou-se, então, contrária à igreja e os ensinos das duas instituições
passaram a ser antagônicos”.
24
Há uma clara divisão entre espiritual e secular. Esse
fato, segundo Borges, deveu-se a duas vertentes que caminharam juntas na era
moderna, uma relacionada à Reforma Protestante e a outra, aos ideais iluministas.
25
Na atualidade, não é diferente dessa época. A secularização tomou conta do
processo educacional. Os currículos das escolas patrocinadas pelo Estado, inclusive
as privadas de cunho não-confessional, distanciam-se profundamente do ensino
cristão. O processo pedagógico forma pessoas tecno-existencialistas voltadas para
o “ter” em detrimento do “ser”, frutos de uma sociedade descompromissada com
Deus, em que não referenciais nem valores morais e éticos absolutos. As
convicções e os valores cristãos, tidos por alguns educandos, são desvalorizados e
considerados espúrios. Nisso, a vida cristã é banalizada,
26
e tem afetado
grandemente a formação do próprio cristão, que, como se tem visto, transita pelas
igrejas com personalidade fragmentada e estruturas moral e emocional disformes e
sem consistência.
1.3 Na Igreja Presbiteriana
O tópico anterior deteve-se no estudo da histórica da educação cristã desde
a Reforma Protestante até o século XX, contemplando uma visão panorâmica de
várias épocas. Neste, todavia, o exame contemplará a formação cristã na Igreja
23
CAMBI, 1999, p. 440-441.
24
BORGES, 2002, p. 183.
25
BORGES, 2002, p. 185.
26
Esta expressão é usada por Borges na obra citada.
21
Presbiteriana, a começar do contexto da Reforma Protestante, com Calvino, e,
depois, no da Igreja Presbiteriana do Brasil, até os dias atuais.
1.3.1 Breve histórico: os reformados
O presbiterianismo tem raízes na Reforma Protestante com João Calvino. É
comum no estudo da história da Reforma Protestante atribuir como reformados
todos que, de alguma forma, assumiram os ideais protestantes do século XVI. No
entanto, não é bem assim. A história demonstra haver dois movimentos vinculados
ao mesmo evento.
Inicialmente, tem-se a Reforma Protestante liderada pelo monge alemão
Martinho Lutero a partir de 1517, cujos seguidores passaram a ser conhecidos como
“luteranos”. Mais tarde, na cidade de Zurique, na Suíça, surge um segundo
movimento de Reforma Protestante liderado pelo sacerdote Ulrico Zuínglio (1484-
1531), denominado de “Segunda Reforma”. Zuínglio, segundo o historiador
presbiteriano Alderi Souza de Matos, pretendia “reformar a igreja de maneira mais
profunda que o movimento de Lutero”.
27
Esse movimento passou a ser conhecido
como reformado, e, os seguidores, como reformados. As igrejas daí originadas
denominaram-se Igrejas Reformadas.
Na lição de Matos, o movimento reformado após a morte de Zuínglio passou
a ter João Calvino como novo líder, cuja influência, estudos e obras, principalmente
a concepção de um completo sistema articulado de teologia cristã, contribuiu para
difundir esse movimento além das fronteiras suíças, por toda a Europa, notadamente
na França, na Alemanha, Países Baixos e nas Ilhas Britânicas. O arcabouço
doutrinário de Calvino passou, posteriormente, a ser conhecido como calvinismo.
Segundo ainda Matos, “esse sistema incluía normas específicas, retiradas das
Escrituras, acerca da doutrina, do culto e da forma de governo das comunidades
reformadas”,
28
cuja estrutura eclesiástica se organizava no governo das
comunidades pelos presbíteros e grupos de igrejas em presbitérios regionais e em
sínodos nacionais.
27
MATOS, Alderi Souza de. História do presbiterianismo. Disponível em:
<http://www.mackenzie.br/7061.html>. Acesso em: 18 ago. 2008b.
28
MATOS, Alderi Souza de. Origens históricas do presbiterianismo. Disponível em:
<http://www.mackenzie.br/7062.html>. Acesso em: 18 ago. 2008c.
22
O calvinismo propiciou o surgimento do termo presbiteriano. De acordo com
Matos, a expressão foi admitida pela primeira vez pelos reformados nas Ilhas
Britânicas (Escócia, Inglaterra e Irlanda), que, até então, devido ao momento
político-religioso em que o protestantismo chegou nessa região, prevalecia o sistema
episcopal, em que o Estado tinha amplo controle da Igreja. Dessa região, o
presbiterianismo foi para os Estados Unidos da América e daí para o Brasil.
Historicamente, as igrejas presbiterianas sediadas na América do Norte
surgiram de três vertentes de mesma origem reformada. Hurlbut ensina que a
primeira “veio da igreja presbiteriana da Escócia, reformada por John Knox em 1560,
e reconhecida como a igreja oficial nesse país”.
29
A segunda descendeu do noroeste
da Irlanda de origem escocesa. A terceira originou-se do movimento puritano da
Inglaterra, ao longo do reinado de Tiago I, que no reinado de Carlos II foi perseguido
e, em sua maioria de ideias presbiterianas, expulsa de seus campos. Ainda,
segundo Hurlbut, esses três grupos formaram a Igreja Presbiteriana Americana.
Posteriormente, devido a questões doutrinárias, as igrejas até então pertencentes a
um único vínculo presbiterial no âmbito dos Estados Unidos, tempo depois da
Guerra da Independência, dividiu-se, formando, basicamente, em duas alas: a do sul
e a do norte.
No Brasil, a história relata algumas tentativas protestantes, visando
estabelecer um campo missionário na América Latina. Matos relata que a primeira
foi com os franceses na Guanabara (1555-1567). No final de 1555, uma expedição
francesa, comandada pelo Vice-Almirante Nicolas Durand de Villegaignon, aportou
na Baía de Guanabara. A missão era fundar a “França Antártica”, com apoio do
huguenote Gaspar de Coligny, posteriormente morto no massacre do dia de São
Bartolomeu, em 24 de agosto de 1572.
Calvino e a Igreja de Genebra, a pedido de Villegaignon, enviaram um grupo
de crentes ao Brasil sob a liderança dos pastores Pierre Richier e Guillaume
Chartier, em 1557. Conta Matos, em a História do presbiterianismo,
30
que em 10 de
março de 1557 eles celebraram o primeiro culto evangélico no Brasil. Essa tentativa
não deu certo, pois, logo em seguida, de acordo com o relato de Matos, Villegaignon
29
HURLBUT, Jesse Lyman. História da Igreja cristã. ed. rev. e atual. São Paulo: Vida, 2007. p. 254-
255.
30
MATOS, 2008b.
23
iniciou um conflito com os calvinistas e os expulsou do local em que se
encontravam. De modo que o grupo, meses depois, embarcou para a França.
Alguns, em torno de cinco pessoas, devido à ameaça de naufrágio, voltaram e foram
presos e mortos posteriormente, com a exceção de Lafon, o alfaiate, que teve a vida
poupada.
A segunda tentativa ocorreu com os holandeses no Nordeste durante o
período de 1630 a 1654. Os holandeses eram calvinistas e vieram com o cunho de
conquistar e colonizar os territórios da Espanha nas Américas. Nesse tempo, de
acordo com Matos, Portugal estava sob o controle da Espanha, a chamada “União
Ibérica” (1580-1640), abrindo, assim, espaço para os holandeses, em 1624,
tomarem Salvador, a capital do Brasil. Sendo expulsos no ano seguinte, tomaram
Recife e Olinda e boa parte do Nordeste, em 1630.
Eles, sob a liderança do príncipe Maurício de Nassau-Siegen, que governou
o nordeste de 1637 a 1644, estabeleceram a Igreja Reformada como oficial, criando,
segundo Matos, “vinte e duas igrejas locais e congregações, dois presbitérios
(Pernambuco e Paraíba) e até um sínodo, o Sínodo do Brasil (1642-1646)”.
31
Antes
de completarem dez anos de instalação no Nordeste, foram expulsos, indo para o
Caribe.
Daí para frente, passou-se mais de 150 anos sem a presença protestante no
Brasil. Uma nova abertura ocorreu com a vinda da família real portuguesa para o
território brasileiro, notadamente em 1810 com o Tratado de Comércio e Navegação,
firmado entre Portugal e Inglaterra, em que concedia tolerância religiosa aos
emigrantes protestantes. Desse tempo em diante, especialmente após a
Constituição Imperial de 1824, houve várias incursões protestantes no território
brasileiro, especialmente de cunho presbiteriano.
No Brasil, segundo relato de Matos,
32
a Igreja Presbiteriana resultou do
pioneirismo do Reverendo Ashbel Green Simonton (1833-1867). De origem norte-
americana, nascido na Pensilvânia, veio para o Brasil por meio da Junta de Missões
da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos, em 12 de agosto de 1859, data em que
desembarcou na cidade do Rio de Janeiro, com 26 anos de idade. Em 1862, de
acordo com Matos, fundou a Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro. Em seguida,
31
MATOS, 2008b.
32
MATOS, 2008b.
24
auxiliado por outras pessoas, fundou o primeiro jornal evangélico, em 1864,
denominado de Imprensa Evangélica. Em 1865, criou o primeiro presbitério e, em
1867, organizou o primeiro seminário. Morreu em 1867, com 34 anos de idade,
vitimado de febre amarela. Sua esposa, Helen Murdoch, havia também falecido
três anos antes.
Nos anos seguintes, de acordo com Matos, a novíssima Igreja Presbiteriana
caminhou para a consolidação entre os anos de 1869 a 1888. Simonton e seus
amigos de ministério eram da Igreja Presbiteriana do norte dos Estados Unidos
(Presbyterian Church in the United States of América - PCUSA). Dois anos mais
tarde, em 1869, vieram os missionários George N. Morton e Edward Lane da Igreja
Presbiteriana do sul (Presbyterian Church in the United States - PCUS), firmando
residência e campo em Campinas, região em que havia muitas famílias norte-
americanas do pós-Guerra Civil de seu país (1861-1865).
O grupo da PCUS foi para as regiões de Mogiana, oeste de Minas, o
Triângulo Mineiro e o Sul de Goiás, em que se destacou o Reverendo John Boyle.
Tal grupo foi responsável pela fundação de trabalhos missionários no Nordeste e
Norte do Brasil, de Alagoas até a Amazônia. Destacando-se, segundo Matos,
33
John
Rockwel Smith, fundador da igreja em Recife (1878), Delacey Wardlaw, em
Fortaleza, o Dr. George W. Butler e ainda o Rev. Belmiro de Araújo César. Em outra
vertente, o grupo missionário da igreja do norte dos Estados Unidos (PCUSA), com
o acréscimo de novos colegas, fundou os principais campos na Bahia, em Sergipe e
no Rio Grande do Sul, onde trabalhou o Reverendo Emanuel Vanorden, um judeu
holandês.
Até então, a Igreja Presbiteriana no Brasil era formada por esses dois grupos
de igrejas presbiterianas americanas. Ela somente veio a alcançar sua autonomia
em setembro de 1888, com a criação do Sínodo Presbiteriano, desligando-se
formalmente daquelas igrejas-mães. O Sínodo era formado pelos Presbitérios do Rio
de Janeiro, Campinas-Oeste de Minas e Pernambuco, compondo-se de vinte
missionários, doze pastores nacionais e 59 igrejas, segundo relata o historiador
Alderi de Souza Matos, em a História do Presbiterianismo.
33
MATOS, 2008b.
25
Posteriormente, entre os anos de 1892 e 1903, segundo Matos, surgiu “uma
crise em torno das questões missionária, educativa e maçônica que resultou em
divisão, surgindo a Igreja Presbiteriana Independente”.
34
Os anos seguintes foram
anos de estruturação e de organização. Em 1937, foi aprovada e entrou em vigor a
Constituição da Igreja, sendo criado o Supremo Concílio. Uma nova Constituição foi
instituída em 1950, vindo depois o Código de Disciplina e os Princípios de Liturgia.
De acordo com Matos, novos seminários foram sendo criados para dar conta do
crescimento da igreja ante o chamado de novas vocações para o ministério pastoral.
Outro evento importante, segundo relatado por Matos, diz respeito à eleição
do Reverendo Boanerges Ribeiro como presidente do Supremo Concílio, em 1966,
em Fortaleza, cujo mandato destacou-se por uma grande perseguição a pastores,
igrejas e concílios: “as principais preocupações do período foram a ortodoxia, a
evangelização e a rejeição do ecumenismo. Multiplicaram-se os processos contra
pastores, igrejas locais e concílios”.
35
Assim, tais fatos constituem a história panorâmica da Igreja Presbiteriana do
Brasil, cujo início e organização, como serão vistos, caminhou paralelamente com as
questões da educação cristã, inclusive pelo pioneiro Ashbel Green Simonton, dentre
outros como Robert Reid Kalley (1809-1888), que, em 19 de agosto de 1855,
juntamente com a esposa, Sarah Poulton Kalley (1825-1907), fundou a primeira
escola dominical permanente do país, e também James Cooley Fletcher (1823-
1901).
1.3.2 Formação cristã presbiteriana
Este ponto apresenta um breve histórico da atuação da Igreja Presbiteriana
na educação cristã, especialmente no Brasil, com a criação da Escola Bíblica, cujos
princípios básicos foram legados do calvinismo trazidos pela Igreja Presbiteriana
Americana, destacando-se o pioneirismo de Ashbel Green Simonton, Robert Reid
Kalley e esposa, Sarah Poulton Kalley, e James Cooley Fletcher.
A Reforma Protestante, segundo os relatos anteriores, renovou o interesse
pela educação, porquanto havia uma necessidade crescente de alfabetização das
34
MATOS, 2008b.
35
MATOS, Alderi Souza de. Breve história do protestantismo no Brasil. Disponível em:
<http://www.mackenzie.br/6994.html>. Acesso em: 18 ago. 2008a.
26
pessoas para que pudessem ler a Bíblia. A educação cristã tornou-se, assim, um
instrumento de comunicação da e de firmar os fiéis em suas convicções. Por sua
vez, a Segunda Reforma, aliada a essa convicção protestante, também primou pela
formação das pessoas. Por isso, com base nessa visão, as ações missionárias
reformadas foram acompanhadas de ensino da Bíblia, criando escolas nos campos
em que se instalavam.
João Calvino foi um árduo defensor da educação cristã no seio da igreja. Na
Suíça, ao elaborar a constituição da Igreja Reformada de Genebra, no documento
intitulado Ordenança Eclesiástica, incluiu, entre certos cargos da igreja, as pessoas
que deviam estudar e ensinar as Escrituras. Segundo Matos,
36
a ênfase na
educação na teologia calvinista foi muito forte, de tal modo que Calvino criou a
Academia de Genebra, em 1559, nos níveis primário, secundário e superior. Essa
escola visava a educação da infância e da juventude, além de preparar líderes das
igrejas reformadas. De tal modo que, onde se estabelecia uma Igreja Presbiteriana
de doutrina Calvinista havia a instituição de uma educação cristã reformada. Os
Presbiterianos e a Educação estavam intimamente ligados. Essa relação ou esse
binômio: calvinismo e educação decorre, em grande parte, segundo Matos, da
teologia reformada. A concepção de Deus, do ser humano e das Escrituras, segundo
esse historiador, levou os reformados a valorizarem a educação cristã ou religiosa.
37
Nesse sentido, desenvolveu-se no seio da Igreja Presbiteriana o interesse
pela educação cristã, pois, aderindo à visão calvinista, passaram a incentivar a
alfabetização e a educação, não somente na igreja local, mas também em uma
esfera mais ampla. De modo que, as escolas reformadas se multiplicaram em todos
os países de calvinista, tais como França, Holanda, Alemanha, Hungria,
Inglaterra, Escócia e Irlanda.
Na América do Norte, de acordo com os informes de Matos, a educação
cristã reformada foi implantada pelos Puritanos da Nova Inglaterra por volta de 1636.
Eles fundaram o Harvard College, em Massachusetts, hoje uma universidade com o
mesmo nome. Em Connecticut, segundo ainda Matos, os puritanos “criaram o Yale
College, hoje a grande universidade sediada em New Haven”.
38
Na outra parte do
36
MATOS, Alderi Souza de. Os presbiterianos e a educação. Disponível em:
<http://www.mackenzie.br/10243.html>. Acesso em: 18 ago. 2008e.
37
MATOS, 2008e.
38
MATOS, 2008e.
27
país, os calvinistas de origem escocesa e irlandesa fundaram, em 1746, o Colégio
de Nova Jersey, hoje Universidade de Princeton.
No Brasil, os presbiterianos americanos trouxeram consigo a visão calvinista
de educação e evangelização. Matos relata que “o binômio ‘evangelização e
educação’ sempre caracterizou a obra presbiteriana no Brasil, desde os seus
primórdios”.
39
Em decorrência, algumas escolas foram fundadas em várias regiões
do Brasil, tanto pelos missionários da Igreja Presbiteriana do Norte dos Estados
Unidos (PCUSA), quanto pelas missões da Igreja Presbiteriana do Sul dos Estados
Unidos (PCUS). Matos destacou as seguintes iniciativas por parte dessas duas
igrejas americanas:
40
1. Pela Igreja do Norte: Escola Americana de São Paulo (1870), Escola Evangélica
de Botucatu (1886), Escola Americana de Laranjeiras, em Sergipe (1887), Colégio
de Dois Córregos, do Rev. John B. Howell (1892), Escola Americana de Curitiba
(1903), Escola Americana de Florianópolis (1906), Colégio Evangélico de Buriti,
Mato Grosso (1928), dentre outros;
2. Pela Igreja do Sul: Colégio Internacional de Campinas (1893), Instituto Evangélico
de Lavras, mais tarde Instituto Gammon (1895), Colégio Americano de Natal
(1904), Colégio Americano de Pernambuco, hoje Colégio Agnes Erskine (1908),
Instituto Bíblico Eduardo Lane, em Patrocínio/MG (1933), dentre muitos outros.
A Escola Americana de São Paulo transformou-se em Mackenzie College
em 1885. Hoje, mantida pelo Instituto Presbiteriano Mackenzie, engloba, em uma
mesma instituição, o Colégio Presbiteriano Mackenzie e a Universidade
Presbiteriana Mackenzie. Entretanto, mesmo ainda pertencente à Igreja
Presbiteriana do Brasil, o Mackenzie secularizou-se, perdendo no tempo a intenção
dos fundadores de ser uma instituição com orientação cristã e evangélica, em que
propunham, segundo Matos, ministrar uma educação integral do indivíduo.
41
Na visão de Alderi Souza de Matos, a educação presbiteriana tem buscado,
como propósito maior, dar aos discentes “uma visão cristã da existência”,
42
compreendendo “reverência para com Deus, valorização própria e dos semelhantes,
senso de responsabilidade social e cívica, e espírito de altruísmo e serviço ao
39
MATOS, 2008e.
40
MATOS, 2008e.
41
MATOS, Alderi Souza de. O Colégio Protestante de São Paulo. Disponível em:
<http://www.mackenzie.com. br/10283.html>. Acesso em: 18 ago. 2008d.
42
MATOS, 2008e.
28
próximo”.
43
A visão de educação presbiteriana se mostrou muito presente na Igreja
com a criação de escolas dominicais voltadas para o ensino cristão dos membros e
visitantes. A escola bíblica dominical, nas igrejas locais, tem um currículo formado
por várias disciplinas voltadas às diversas faixas etárias, funcionando aos domingos
pela manhã como uma escola de perfil tradicional, cujas matérias têm seguimento e
conteúdos destinados à formação cristã continuada na fé do indivíduo.
Além desse aspecto, em consulta ao sítio da Igreja Presbiteriana do Brasil
(IPB), verifica-se a manutenção de seminários destinados à formação de pastores
em quase todas as regiões do Brasil. Os seminários formam oficialmente teólogos
confessionais. Os vocacionados ao Sagrado Ministério Pastoral são identificados
pelas igrejas locais e submetidos ao exame do Presbitério ao qual estão vinculados.
Logo depois, sendo aprovados, são enviados ao Seminário Presbiteriano mais
próximo para cursarem teologia por um período de em torno de quatro a cinco anos.
O seminário não somente forma o pastor, ministro do Evangelho, mas um teólogo,
líder eclesiástico, de curso superior, e agente do Reino, habilitado para administrar a
igreja e conduzir o rebanho aos mistérios do Evangelho, em Cristo Jesus.
Os fatos revelam que, a despeito das rias interferências de princípios
educacionais seculares no meio cristão, a Igreja Presbiteriana, convicta da visão da
teologia calvinista, tem primado pela manutenção do caráter confessional e espiritual
da educação, sem ofender os diferentes, respeitando a liberdade de consciência e
de filiação religiosa.
O próximo capítulo sededicado ao estudo de alguns aspectos gerais da
educação cristã e, em particular, dos quatro pilares do conhecimento tratado no
Relatório para UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século
XXI, produzido por Jacques Delors, sob o título Educação: um tesouro a descobrir.
43
MATOS, 2008e.
2 EDUCAÇÃO CRISTÃ: ASPECTOS GERAIS
Perfilado ao objeto deste trabalho, o propósito deste capítulo é,
primeiramente, apresentar uma definição de educação cristã a partir da
compreensão do termo “educação”, para, em seguida, incursionar sobre os aspectos
tratados por Jacques Delors, no relatório produzido para a UNESCO, sob o título
Educação: um tesouro a descobrir, em que são abordados os quatro pilares da
educação.
2.1 Definição
De início, é preciso entender o termo educação. Educação, de per si, tem
origem no latim educatio, que deriva do verbo educare, significando instruir, fazer
crescer, criar.
44
O dicionário Aurélio define como o “processo de desenvolvimento da
capacidade física, intelectual e moral da criança e do ser humano em geral, visando
à sua melhor integração individual e social”.
45
Edgar Morin, na obra A cabeça bem-feita, ao tratar da aprendizagem cidadã,
ensina que a “educação deve contribuir para a autoformação da pessoa (ensinar a
assumir a condição humana, ensinar a viver) e ensinar como se tornar um
cidadão”.
46
A autoformação da pessoa, sob essa visão de Morin, implica não
somente conduzir o indivíduo à compreensão de sua condição humana, mas
igualmente levá-lo a aprender a relacionar-se com o cosmo, com a criação e com os
seus semelhantes. Nesse sentir, a ideia básica de Morin assenta-se à visão de
educação baseada nos “Quatros Pilares da Educação”, que será tratado
oportunamente neste trabalho.
Na concepção de Borges, a educação é “um processo de desenvolvimento
das características tipicamente humano”.
47
E, nesse sentido, aliada à ideia de Morin,
teria a função básica e implícita de formar a personalidade humana. Ora, se busca a
formação da personalidade do indivíduo, logo se refere também ao aspecto
44
MACHADO, Nílson José. Educação: projetos e valores. 6. ed. São Paulo: Escrituras, 2006. p. 20.
45
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, [s.d.]. p. 499.
46
MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. 11. ed. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2005. p. 65.
47
BORGES, 2002, p. 215.
30
transcendente ou espiritual do ser humano. Pois, afinal, o ser humano não é
somente formado de corpo, matéria, mas também de espírito. Daí toda pessoa
inclinar-se, de algum modo, para o transcendente, o sobrenatural, independente da
forma de como ela venha a cumprir essa religiosidade natural. De modo que, a
educação visa formar o ser humano integralmente, pois sem essa formação de todo
o ser, ela estaria incompleta, teria uma meia-educação.
Tudo isso posto, permite introduzir a educação cristã a partir de um enfoque
humanista, firmada no pensamento contemporâneo de Edgar Morin, para mostrar
que, no fundo, a educação, em essência, tem na bagagem a visão divina, mesmo
que, na perspectiva conceitual humana, se abstraia o aspecto teológico. Então, a
educação cristã como poderia ser definida?
Borges, autora da obra Educação e personalidade, no capítulo “Pedagogia
da transcendência”, define educação cristã “como toda e qualquer prática educativa
que considera o ser humano do ponto de vista do Evangelho”.
48
Em seguida, afirma
que “será legitimamente cristã a educação que se preocupa seriamente em ser
Cristocêntrica, tendo Cristo como referencial e centro de toda teoria e de toda
prática”.
49
Downs, outro autor, conceitua educação cristã como “o ministério de levar o
crente à maturidade em Jesus Cristo”.
50
E acrescenta que o “foco do ministério
educacional é servir ao corpo de Cristo por meio do ensino”.
51
Além de que a
educação cristã tem início a partir do momento da conversão, dada por meio da
proclamação do Evangelho, visando à maturidade espiritual e à formação da
personalidade.
Na visão psicocultural, à luz das instruções do apóstolo Paulo em suas
epístolas, o ensino cristão visaria igualmente dar continuidade à transformação do
ser humano de dentro para fora depois do momento da conversão.
Assim, diante desses enfoques, a educação cristã pode ser definida como
um processo de formação contínua e permanente do indivíduo para a vida à luz da
Palavra de Deus. Por conseguinte, é, a juízo, o modo operante de o Senhor integrar
48
BORGES, 2002, p. 175.
49
BORGES, 2002, p. 175.
50
DOWNS, Perry G. Ensino e crescimento: introdução à Educação Cristã. São Paulo: Cultura Cristã,
2001. p. 17.
51
DOWNS, 2001, p. 17.
31
o ser humano ao contexto espiritual da nova vida em Cristo, como luz e sal, e ao
contexto da comunidade, como agente de transformação, no aspecto cultural e
religioso.
2.2 Os Quatro Pilares da Educação
Este tópico, Os Quatro Pilares da Educação, foi inspirado do Relatório para
UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI, produzido
por Jacques Delors, sob o título Educação: um tesouro a descobrir.
52
Embora o foco central deste trabalho seja estudar a educação cristã na
igreja em células, no contexto da Igreja Reformada, a função desta abordagem, a
princípio de formação educacional secular, é altamente necessária face alinhar-se à
proposta cristã reformada de uma educação contínua e integral para toda vida.
Ademais, como já falado neste trabalho, a educação, por si só, tem raízes em
Deus, abrangendo, assim, todas as áreas da vida e do conhecimento humano. Logo,
é natural considerar, com base na cosmovisão calvinista, que tudo é religião.
Delors trata de quatro pilares do conhecimento. Segundo a visão da
Comissão da UNESCO, a educação deve se organizar em torno deles, pois são
fundamentais para cada indivíduo ao longo de toda a vida. De modo que, segundo
esse autor, eles são: (1) aprender a conhecer; (2) aprender a fazer; (3) aprender a
viver juntos; e (4) aprender a ser.
Desde o início dos trabalhos, os membros da Comissão compreenderam ser
indispensável, para enfrentar os desafios do próximo século, assinalar novos
objetivos à educação e, portanto, mudar a ideia que se tem de sua utilidade. Uma
nova concepção ampliada de educação devia fazer com que todos pudessem
descobrir, reanimar e fortalecer seu potencial criativo revelar o tesouro escondido
em cada um de nós. Isto supõe ultrapassar a visão puramente instrumental da
educação, considerada como via obrigatória para obter certos resultados (saber-
fazer, aquisição de capacidades diversas, fins de ordem econômica), e considerá-la
em toda sua plenitude: realização da pessoa que, na sua totalidade, aprende a ser.
53
52
DELORS, Jacques. Educação: um tesouro a descobrir. 4. ed. São Paulo: Cortez; Brasília: MEC:
UNESCO, 2000.
53
DELORS, 2000, p. 90.
32
2.2.1 Aprender a conhecer
Aprender a conhecer é dominar os instrumentos do conhecimento. Esse tipo
de aprendizagem o visa que a pessoa adquira os saberes de todas as ciências,
mas que seja competente em poucas disciplinas e possuidora de uma cultura geral.
Em outras palavras, como resumido por Delors, é aprender a aprender, visando uma
educação ao longo de toda a vida. Essa primeira etapa seria a base para os demais
conhecimentos e realização completa do ser humano.
Na visão desse autor, o domínio dos instrumentos do conhecimento tem o
propósito de, ao mesmo tempo, ser meio e finalidade na formação humana. Meio, no
sentido de que cada pessoa torne-se apta a ter uma percepção clara do mundo que
a cerca, vez que lhe é indispensável “para viver dignamente, para desenvolver as
suas capacidades profissionais, para comunicar”.
54
E finalidade, no sentido de ter
autonomia na capacidade de discernir, mediante o prazer de compreender, de
conhecer e de descobrir, à medida que os saberes aumentam, resultando, por
consequência, a curiosidade intelectual, o senso crítico e a compreensão da
realidade. Nesse sentido, a cultura geral na formação da pessoa desde pequena é
importante, pois lhe permite, não somente abertura a outras linguagens e a outros
conhecimentos, conforme colocado por Delors, mas também comunicar-se.
O pilar no âmbito da educação cristã tem várias implicações. Uma delas é a
natureza de sua importância para a missão da Igreja na condição de agente do
Reino. A tarefa de pregar o Evangelho requer discípulos capazes de gerar
discípulos. No seio da Igreja, aprender para conhecer (aprender a aprender) é a
base de formação do cristão e do discípulo. Não se forma ou se torna um verdadeiro
cristão, apto para toda boa obra, se não se domina bem os instrumentos do
conhecimento, seja da Palavra de Deus ou das ciências. E, nesse sentido, a escola
bíblica, organizada e pedagogicamente estruturada, é o competente instrumento de
formação cristã. Ela deve ser capaz de transmitir ao neófito o estímulo e as bases
para que continue a aprender ao longo da vida, na igreja, mas também fora dela.
À luz desse raciocínio, compreender o mundo é fundamental no processo de
desenvolvimento da personalidade, que não somente envolve o aspecto físico
(material), mas também o espiritual. A formação da personalidade passa pela fase
54
DELORS, 2000, p. 91.
33
de aprender a conhecer o Criador, Deus. E, como consequência, conhecer-se a si
mesmo, sua formação, sua natureza, bem assim o estado em que se encontra. É um
processo interior, com reflexos externos, que leva à compreensão do outro, do
semelhante, sujeito às mesmas limitações e avanços. Logo, nesse processo de
crescimento, reside a verdadeira espiritualidade humana, que torna o indivíduo
capaz de comunicar-se e de relacionar-se.
A supressão dessa fase da aprendizagem da formação cristã conduz ao
isolamento pessoal para as alteridades e para as relações interpessoais fora do
âmbito da igreja. Em vez de moldar um indivíduo apto, estruturado, convicto e
alicerçado em boa doutrina, pensando por si mesmo, forma-se uma pessoa limitada
bitolada fisiologista e proselitista, massa de manipulação de líderes e
incompetente na defesa da e das convicções, pois he falta base, o aprendeu a
aprender. Porquanto, a educação cristã, ao andar de mãos dadas com o ensino das
ciências e da cultura em geral, capacita o indivíduo para a vida, cuja base em Deus
molda o caráter e a personalidade da pessoa.
2.2.2 Aprender a fazer
Aprender a fazer é consequência do aprender a conhecer. O pilar está
associado a como pôr em prática os conhecimentos e seus instrumentais. Resulta,
pois, de um processo do aprender a aprender, vez que sem essa aprendizagem não
competência pessoal. Delors define essa fase da aprendizagem como aquisição
de competências “que tornem a pessoa apta a enfrentar numerosas situações e a
trabalhar em equipe”.
55
Tais competências implicam também a capacidade de
alternar-se no âmbito social e do trabalho, quer seja na função de comunicar-se, de
trabalhar com os outros, ou de resolver conflitos. De acordo com Delors, a relação
entre matéria e técnica deve ser completada com estáveis relações interpessoais.
A inversão dessa fase torna defeituoso o processo de crescimento da
pessoa, a falta de um compromete os demais pilares. Aprender técnicas sem levar
em conta uma formação básica, sem o domínio dos instrumentos do conhecimento,
produz uma pessoa incapaz e incompetente para a vida. A pessoa é desprovida de
conteúdo e de ferramentas adequadas para sua missão. Um ensino cristão, em cujo
55
DELORS, 2000, p. 101.
34
processo pedagógico esteja ausente o primeiro pilar do conhecimento, gera pessoas
inábeis, aptas apenas para certa tarefa mecânica, robotizada, operários de colmeia,
limitados.
Focar-se apenas no aprender a fazer perde o aspecto qualitativo, a
formação cristã deixa de ser uma experiência global, que, em vez de formar, pende
por deformar a personalidade humana, tanto no aspecto físico, quanto no espiritual.
O reflexo desse fato é eliminar do âmbito eclesiástico a visão reformada de ensino
cristão. A escola bíblica perde o foco e a importância como instrumento de formação
da personalidade humana. A visão de educação cristã resume-se à formação de
operários do Reino inaptos a toda boa obra. Veem-se apenas multiplicadores, robôs
programados para realizar certas tarefas pré-estabelecidas, cerceados dos
instrumentos do conhecimento.
Porquanto, o ser discípulo é muito mais do que ser um neófito cristão cheio
do desejo de converter outras pessoas. Ser discípulo de Cristo implica ser e fazer.
Ser, na condição de uma pessoa nascida da água e do Espírito, consciente de sua
condição e obediente. Fazer, no sentido de essa pessoa estar preparada para
ensinar, no exercício de competências obtidas no aprender a conhecer, com domínio
dos instrumentos dos saberes, do preparo para boa obra, do conhecimento de Deus
e de si mesmo, e do estudo da Palavra. Diferente disso, a pessoa não consegue agir
sobre o meio envolvente por lhe faltar os instrumentos da compreensão. Por
conseguinte, não exercita o desenvolvimento do ser ao longo de toda vida. Como
dito, são operários de colmeia.
2.2.3 Aprender a viver juntos
O terceiro pilar é aprender a viver juntos. Para Delors, é o desenvolvimento
da “compreensão do outro e a percepção das interdependências realizar projetos
comuns e preparar-se para gerir conflitos no respeito pelos valores do pluralismo,
da compreensão mútua e da paz”.
56
É a fase de aprender a viver com os outros em
harmonia e bem-estar. Sugere-se a capacidade da pessoa de se relacionar com o
56
DELORS, 2000, p. 102.
35
meio em que vive e com suas diferenças, com a finalidade de “participar e cooperar
com os outros em todas as atividades humanas”.
57
Aprender a viver juntos se manifesta mais apropriadamente na capacidade
de a pessoa ter a competência de se relacionar, em que a formação educativa esteja
no desenvolvimento do conhecimento dos outros, de suas culturas, de sua
espiritualidade. Ou seja, é uma educação da interação e da alteridade em um
contexto igualitário com objetivos e projetos comuns. O indivíduo que desenvolve
essa competência relaciona-se com o meio sem perder sua identidade e convicções.
Segundo Delors, para que isso possa acontecer, um processo de duas vias
complementares. A primeira seria a descoberta progressiva do outro, e a segunda, a
participação em projetos comuns ao longo de toda a vida.
Nesse caso, na descoberta do outro, a Comissão Internacional sobre
Educação para o Século XXI entende que a missão da educação seria, “por um
lado, transmitir conhecimentos sobre a diversidade da espécie humana e, por outro,
levar as pessoas a tomar consciência das semelhanças e da interdependência entre
todos os seres humanos do planeta”.
58
Esse deve ser um processo patrocinado não
somente pela escola, mas também pela família e comunidade desde a mais tenra
idade do indivíduo. De modo que a descoberta do outro, na visão de Delors,
passaria, de per si, pela descoberta de si mesmo, e “por dar à criança e ao
adolescente uma visão ajustada do mundo”.
59
assim, entende esse autor, essas
pessoas poderão, de fato, pôr-se no lugar dos outros e compreender suas atitudes.
Nesse ensino, a participação em projetos comuns favorece o comum em detrimento
das diferenças. Por isso, projetos cooperativos, por exemplo, seja na escola, seja na
comunidade, desde a infância, estimula o relacionamento interpessoal e favorece o
desaparecimento das desigualdades, seja racial, econômica ou social, de modo que
tais atividades permitem, positivamente, a formação da personalidade da pessoa
humana.
Na educação cristã, sua aplicação é altamente sadia. Vai ao encontro do
ensino de Jesus do amor ao próximo, ou seja, amar ao próximo como a si mesmo,
ver o outro como seu semelhante, colocar-se no lugar do outro para desenvolver a
57
DELORS, 2000, p. 90.
58
DELORS, 2000, p. 99.
59
DELORS, 2000, p. 98.
36
empatia e a socialização, visando a harmonia e a paz entre os povos e as nações.
De forma que, aprender a viver com os outros está intimamente atrelado ao ensino
cristão, ou seja, ao ensino baseado na Palavra de Deus, na Bíblia, como base
formativa do ser humano para relacionar bem e proveitosamente em qualquer
ambiente. E isso é missão da Igreja. Mesmo que haja espaço na escola, cumpre à
organização eclesiástica, herdeira do legado Divino, propiciar ao indivíduo tal
formação, a qual, nos tempos atuais, deveria ser ministrada na escola bíblica, à luz
de um currículo interdisciplinar e desprovido de preconceito, no qual se vise uma
educação universal, ensinando tudo a todos, e para toda a vida.
2.2.4 Aprender a ser
O quarto pilar do conhecimento é aprender a ser. É a soma dos três
primeiros. No entendimento de Delors, as quatro vias do saber constituem apenas
uma, pois são interativas e constitutivas.
Desde a sua primeira reunião, a Comissão reafirmou, energicamente, um
princípio fundamental: a educação deve contribuir para o desenvolvimento
total da pessoa espírito e corpo, inteligência, sensibilidade, sentido
estético, responsabilidade pessoal, espiritualidade.
60
Essa fase da aprendizagem é a da formação do ser, em que se reveste a
modelagem do novo ser humano capaz de compreender a si mesmo e ao mundo
que o rodeia. E, como esclarecido por Delors, de se comportar nele como ator
responsável e justo. É o senso ou a ideia da “pessoa que é”, que aprendeu a ser,
expressa no seguinte postulado da Comissão:
assim a Comissão adere plenamente ao postulado do relatório Aprender a
ser: ‘O desenvolvimento tem por objeto a realização completa do homem,
em toda a sua riqueza e na complexidade das suas expressões e dos seus
compromissos: indivíduo, membro de uma família e de uma coletividade,
cidadão e produtor, inventor de técnicas e criador de sonhos’. Este
desenvolvimento do ser humano, que se desenrola desde o nascimento até
à morte, é um processo dialético que começa pelo conhecimento de si
mesmo para se abrir, em seguida, à relação com o outro. Neste sentido, a
educação é antes de mais nada uma viagem interior, cujas etapas
correspondem às da maturação contínua da personalidade.
61
60
DELORS, 2000, p. 98.
61
DELORS, 2000, p. 101.
37
Ao que parece, essa proposta da Comissão Internacional da UNESCO para
a Educação do Século XXI amolda-se à proposta da educação cristã reformada,
ensinada por Jesus, vivida pela Igreja Primitiva, resgatada na Reforma Protestante,
inicialmente por Lutero e, depois, por Calvino, de educação universal para toda a
vida. De modo que é desde o nascimento até a morte, em uma contínua
reformulação e renovação das competências, que tem início a partir do
conhecimento de Deus. E deve ser vista como um processo encadeado de fases
interativas e interdependentes de transformação do ser de dentro para fora. Nessa
visão, a formação de discípulos não se limita ao simples treinamento, que visa tornar
alguém apto para o desempenho de determinada tarefa, tirando dele o direito de
aprender a ser, de se realizar completamente, à medida que passa pela maturação
contínua e permanente da personalidade, pela via dos quatro pilares da educação,
tornando-o capaz de ser também ator dessa metamorfose junto a outros de seu
grupo ou universo de relacionamento. A igreja é a responsável por proporcionar à
comunidade homens com competências para aprender a ser, aprendendo a
conhecer, a fazer e a viver juntos, em um ambiente plural e relativista, sem perder a
visão de si mesmo e de sua responsabilidade. A escola bíblica, por sua vez, é o
meio de que o sistema eclesiástico dispõe para esse fim, com projetos pedagógicos
adequados abertos à comunidade.
O tópico seguinte incursiona panoramicamente pela natureza e pelos
aspectos históricos da escola bíblica como práxis de formação cristã da igreja
reformada, ressaltando a educação como ministério da igreja que tem por objetivo a
formação integral e continuada do indivíduo para a vida.
2.3 Escola Bíblica: Práxis Pedagógica de Formação Cristã
O foco deste capítulo é lançar olhares sobre a natureza e a importância da
escola bíblica como prática de formação cristã da Igreja Reformada. Não se
pretende adentrar minuciosamente nos aspectos históricos, mas destacar, como
pano de fundo, a educação como ministério relevante da Igreja na formação de
homens, à luz da práxis de formação cristã patrocinada pela Igreja Primitiva de
formação integral e continuada.
38
2.3.1 Objetivo
No objetivo deste capítulo, o presente tópico abordará, em rápidas
incursões, o surgimento da escola bíblica, visando destacar sua importância no
campo da educação, especialmente, no contexto cristão.
A escola bíblica dominical desde o princípio visou o ensino da Bíblia. No
início do movimento, em 1870, em Gloucester, Inglaterra, com Robert Raikes, teve
como objetivo alfabetizar meninos e meninas da rua, utilizando a Bíblia como texto
central. O movimento teve uma grande repercussão no mundo daquela época. João
Wesley, pastor metodista, ao visitar as escolas bíblicas de Raikes, adotou-as
também como escolas para cristãos, sob a alegação de ser um dos trabalhos mais
eficientes para o ensino da Bíblia.
No Brasil, a escola bíblica surgiu em Petrópolis (RJ), em 1855, com o casal
de missionários escoceses, Robert e Sarah Kalley. Naquele momento, a escola
bíblica teve o propósito de ensinar a Bíblia às crianças pobres da região com a
intenção de alfabetizá-las, ao tempo em que eram evangelizadas. Com o passar do
tempo, o grupo aumentou com o ingresso de jovens e de adultos. Tornando-se,
então, a partir desse período, um instrumento eficaz para o crescimento espiritual da
igreja evangélica brasileira. Nesse sentido, vislumbrando a ênfase do ensino cristão
firmado na Reforma Protestante, a Escola Dominical, apesar da finalidade precípua,
firmou-se, no mundo cristão protestante, como instrumento eclesial de ensino,
evangelismo e formação integral e permanente do homem, ser humano.
2.3.2 Educações continuada e integral
Nos primórdios do cristianismo, a Igreja Primitiva conviveu por longos anos
com a cultura e a língua grega. A ideia de educação grega estava presente no
contexto sociopolítico do Novo Testamento. Havia uma relação entre a cultura grega
e a incipiente religião cristã. Segundo Barros, na obra Cristianismo Primitivo e a
Paideia Grega, na cultura helenística o termo educação estava intimamente
associado à palavra Paideia.
62
62
BARROS, Gilda Naécia Maciel de. Cristianismo primitivo e a paidéia grega. Disponível em:
<http://www.hottopos.com/vdletras2/gilda.htm>. Acesso em: 12 ago. 2008.
39
Na época de Jesus, paideia, na língua grega, de paidos (criança),
significava a cultura formada a partir da educação. A instrução formaria o indivíduo
como ser humano completo, consoante com o ideal educativo grego de formação
geral, no sentido de construir o homem como ser humano e como cidadão. No
tempo, passou também a assinalar o propósito do processo educativo além dos
anos de escola, ou seja, por toda vida.
63
Esses fatos revelam, por si só, a ideia de que o termo educação é muito
mais abrangente no contexto da igreja primitiva do que supõem alguns. Nesse tino,
o ensino cristão não se limitava apenas aos princípios básicos da doutrina apostólica
ou a capacitar obreiros à pregação evangelística ou à liderança da Igreja. A
educação pretendia desenvolver a vida integral do homem. E, em todos os aspectos
inerentes à construção do indivíduo, propunha a formação permanente da
humanidade: o ser humano está em contínuo desenvolvimento e aprendizado, na
condição de criado à imagem e à semelhança de Deus. A Educação Cristã não foge
à regra. Por seu turno, sugere a mesma ideia de instrução contida na palavra grega
paideia.
64
Algo mais do que uma simples transmissão de conhecimento. O
aprendizado, de caráter progressivo, produziria uma metamorfose na vida e no
ambiente do ser humano, como pessoa e como cidadão. Um ser, por natureza,
ecológico e cosmopolita.
A Escola Bíblica, por sua vez, como instrumento da Igreja de educação
cristã, segue a mesma visão pedagógica da paideia, de educação continuada e
integral. Seu modelo tem sido utilizado pelas igrejas cristãs evangélicas para a
formação da identidade cristã de seus membros desde a Reforma Protestante.
2.3.3 Ministério da Igreja
De tudo visto até agora, pode-se inferir que o ensino cristão é um imperativo
divino para o ser humano. O Antigo Testamento deixa explícita essa ordem. Ela está
nos registros dos momentos da relação de Deus com o povo judeu. O livro de
63
PAIDEIA. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Paid%C3%A9ia>. Acesso em: 12 ago. 2008.
64
No contexto deste trabalho, toma-se a liberdade de traduzir a ideia desse parágrafo na expressão
“paideia bíblica”.
40
Deuteronômio é uma dessas ocasiões. De modo que, nesse tópico, será tratada a
educação cristã como relacionada à missão da Igreja.
No capitulo 4 do livro de Deuteronômio, Javé estipulou os princípios básicos
do arcabouço da educação cristã, constituído pelos estatutos, juízos e
mandamentos. Essa doutrina tinha por fim a formação contínua e integral na fé do
povo em todos os aspectos da vida (vs. 1-2; 5-8). A estrutura religiosa, judicial,
política, social e filosófica da nação estavam baseadas nesse sistema pedagógico.
Todo o sistema visava o cumprimento da vontade de Javé de tornar a jovem
nação judaica luz aos olhos dos demais povos e nações circunvizinhas (missão
centrípeta).
65
Por isso, os referidos estatutos, juízos e mandamentos deveriam ser
guardados e praticados para tornar a nação bia e entendida aos olhos dos outros
povos (v. 6). As sinagogas tornaram-se a “casa de ensino”. O conhecimento
aprendido, segundo Downs, no livro Ensino e crescimento, deveria ser demonstrado
por uma mudança de atitude e de comportamento.
66
Havia ainda, na interpretação
desse autor, uma progressão no aprendizado nos elementos adicionais oferecidos
no texto de Deuteronômio 31.
No Novo Testamento, a tônica não é diferente. O ministério de Jesus
baseou-se na educação e no ensino. Em Mateus 5, Jesus reiterou a educação cristã
na vida da Igreja (v. 19). A ênfase dada ao ensino deixou clara a relevância para a
vida cristã, a ponto de ser tido como grande no Reino dos céus aquele que
ensinasse e cumprisse a orientação divina. Naturalmente, a educação foi decisiva na
vida e no ministério de Cristo. Foi o centro. Ele pretendia nada menos do que
transformar a natureza humana e o relacionamento humano, porquanto os
discípulos foram preparados para serem agentes de mudança e de transformação.
E, na missão de fazer novos educandos, deveriam ser o sal da terra e a luz do
mundo (Mt 5.13-16).
No ministério de Paulo não foi diferente, refletiu a instrução de Jesus. Nas
epístolas, o apóstolo sempre enfatizou a mesma visão de proclamar e ensinar o
65
Quando se aborda o tema missão centrípeta no Antigo Testamento, está-se falando da missão de
Israel de, em sendo o resplendor da glória de Deus, atrair para si (centro) todos os povos com o
propósito de mostrar e ensinar acerca do único Deus vivo. Nos dias de Salomão, temos o
testemunho em que todas as nações da terra vinham até Israel para conhecer seu Deus (1Rs 1-
11; 1Cr 28-29; 2Cr 1-9).
66
DOWNS, 2001, p. 31.
41
Evangelho.
67
Em sua mente, a instrução deveria ser integral, contínua e condutora
do ser humano à maturidade, pois buscava “a perfeita varonilidade, a medida da
estatura da plenitude de Cristo” (Ef 4.13). O objetivo era apresentar a Deus uma
Igreja perfeita, madura e completa, em Cristo Jesus.
Por isso, em qualquer ambiente, a Igreja, como instituição, é a responsável
pela aplicação do modelo pedagógico bíblico orientado na formação continuada na
do indivíduo, com foco na maturidade no Reino e no bom relacionamento na vida
hodierna. Nesse mesmo pensamento, Borges comenta que a proposta de ensino do
cristianismo: “é todo voltado para a mudança de vida como consequência da
mudança do modo de pensar”, de modo que a educação deve ser “transformadora
do caráter, da personalidade e das relações de todo tipo, quer sejam familiares,
sociais ou espirituais”.
68
Essa autora, ao reportar-se aos estudos de Comenius,
ensina que o exame das Escrituras revela o ser humano antes da queda, dotado de
excepcional capacidade para aprender, mas limitado no conhecimento. De forma
que, devido a esse fato, “a educação seria necessária e nunca concluída, visto que o
ser humano jamais saberia e experienciaria, de modo total e definitivo, todas as
grandiosas maravilhas do Universo”.
69
Downs afirma que “o ensino é central no
plano do Senhor, indicando sua centralidade na vida da igreja”.
70
O autor, ao se
reportar à educação cristã, assevera o seguinte: “propriamente entendida, a
Educação Cristã é um meio decisivo de manter a vida da igreja e levar a igreja para
frente. Foi decisiva na vida do Senhor e tornou-se decisiva na vida da igreja”.
71
A Igreja é responsável pela Educação Cristã e não pode se furtar à tamanha
tarefa. Nos tempos idos, a tarefa de educar, à luz dos parâmetros de conduta e de
relacionamento divinos, foi atribuída ao povo judeu (Deuteronômio 4.5-6). Na época,
a educação se firmava como instituto velado por Javé. Nesse cenário, ressalte-se
a natureza do chamado da nação judia para ser igreja de Deus, tanto que a
organização eclesiástica da época era formada pela casta dos sacerdotes. A igreja
primitiva compreendeu perfeitamente essa missão nos ensinos de Cristo e dos
apóstolos. A eleição, a separação e a habilitação, no poder do Espírito Santo, foram
67
Conforme constam, dentre outros textos, em Rm 15.4; 1Tm 3.2; 2Tm 1.11; 2Tm 2.2; 1Co 9.22; e
Cl 1.25-29.
68
BORGES, 2002, p. 37.
69
BORGES, 2002, p. 65.
70
DOWNS, 2001, p. 31.
71
DOWNS, 2001, p. 31.
42
as premissas para o exercício desse ministério sacerdotal. De modo que, ao longo
da trajetória de vida, a igreja continuou dando ênfase ao ensino.
Conclui-se que a educação é da natureza da Igreja. E, com efeito, assume
um lugar de destaque. Demais, é o meio de manter a vida e o crescimento. É uma
ferramenta divina para moldar e desenvolver holística e permanentemente todo ser
humano. Logo, a Escola Bíblica é o instrumento na Igreja de cumprimento do
mandato divino.
O próximo capítulo aborda o estudo da práxis pedagógica da Igreja em
Células, baseada no modelo de Ralph W. Neighbour Jr., adotado pelo Ministério
Igreja em Células no Brasil, inicialmente, com incursões panorâmicas sobre a
origem, a eclesiologia e a teologia do Movimento Celular.
3 FORMAÇÃO CRISTÃ NA VISÃO PEDAGÓGICA DA IGREJA EM CÉLULAS
A adoção do modelo pedagógico de Neighbour Jr. como objeto de estudo
deste trabalho justifica-se no fato de que, nas últimas décadas, esse instrumento
tem sido disseminado, por meio do Ministério Igreja em Células no Brasil, no âmbito
das igrejas reformadas, que têm migrado para o modelo celular, em contraposição à
práxis de educação cristã reformada, desestruturando a Escola Bíblica Dominical,
com consequências para a educação continuada na dos membros. Nesse passo,
a ênfase dada é de exame crítico da ferramenta de ensino denominada Trilhos de
Treinamento, sem a pretensão de exauri-la.
3.1 Igreja em Células
A visão celular não somente determina a estrutura e os valores da Igreja em
Células como também o modelo de ensino cristão. Com base nessa realidade, o
propósito deste tópico é propiciar uma incursão nos meandros do arcabouço
doutrinário em que está estribada a visão celular, para melhor compreensão do
modelo adotado de ensino cristão, que é objeto de exame neste capítulo, de modo
que, para isso, de início, buscar-se-á conhecer a origem e os pressupostos
eclesiológicos e teológicos da Igreja em Células.
3.1.1 Origem
Os dados acerca da origem da Igreja em Células são parcos. Não muitas
informações que privilegiem uma descrição sistemática devido ao fato de o ser
ainda objeto de estudo nessa dimensão. Entretanto, algumas fases podem ser
identificadas nas obras pesquisadas.
Joel Comiskey, no livro Crescimento explosivo da Igreja em Células,
72
credita a origem às ações evangelísticas nas igrejas que se reuniam nas casas no
Novo Testamento. E, nessa mesma obra, refere-se ao fato de que “a rápida
multiplicação das igrejas nas casas do primeiro culo espalhou a chama do amor
de Deus a todo o mundo”.
73
A história da Igreja Cristã registra a Igreja Primitiva ou
72
COMISKEY, Joel. Crescimento explosivo da Igreja em Células: levando seu grupo a crescer e
multiplicar. 3. ed. Curitiba: Ministério Igreja em Células, 2008.
73
COMISKEY, 2008, p. 25-26.
44
neotestamentária reunindo-se de casa em casa com o propósito de repartir o pão
(ceia ágape), ter comunhão, orar, instruir e ensinar. Na maioria das vezes, ocorria
nos templos por meio da ministração dos apóstolos.
74
Nesse período de crescimento
e enlevo espiritual, em meio às lutas, a igreja resistiu às intenções circunstanciais do
Estado de destruí-la, desde perseguição política e privação econômica até
sublevação social e heresia interna. Depois de 300 anos, a partir do reinado de
Constantino, por volta do ano de 312 d.C, ela recebeu o reconhecimento do Estado.
E, com isso, Comiskey afirma que as pequenas comunidades (células ou grupos
pequenos) passaram a reunir-se nos templos, mudando o foco e as relações no
meio delas (adoração, liderança e estrutura organizacional e física), de modo que o
evangelismo foi sistematicamente abandonado e a igreja centrou-se na edificação
cristã e no crescimento espiritual, com exceção de alguns “grupos monásticos e as
equipes missionárias dos morávios, que espalharam a mensagem do evangelho por
meio de grupos pequenos”.
75
Em que pese tais fatos apresentados por Comiskey, no Antigo Testamento
verifica-se que a instrução do povo hebreu não somente estava intimamente
relacionada à evangelização como também à formação de indivíduos, tornando-os,
por sua vez, aptos a falar a cerca de Javé, a cumprir seus mandamentos e
ordenanças e a serem bons cidadãos, contribuindo, assim, no crescimento pessoal e
espiritual de cada um e da nação. E, à luz da Reforma Protestante, Lutero,
compreendendo perfeitamente essa missão nos ensinos de Cristo e dos apóstolos,
retomou e propagou o ensino cristão, a despeito de incentivar as reuniões nas
casas. A mesma percepção foi tida por Calvino, que se mostrou um árduo defensor
da educação cristã, especialmente nas escolas de formação geral.
Nos ensinos de Comiskey, os grupos pequenos somente vieram a ser
retomados no final do século XVIII com John Wesley e o Metodismo. Wesley, então,
foi o pioneiro em grupos pequenos. Ele, de acordo com esse autor, “desenvolveu
mais de 10.000 células (denominadas classes). Centenas de milhares de pessoas
participaram do seu sistema de grupos pequenos”.
76
Wesley focalizava o discipulado
e as reuniões nas classes serviam para o evangelismo, cujo processo levava à
74
Atos dos Apóstolos no capítulo 2 registra esse processo de crescimento e vida da igreja nos
primeiros séculos.
75
COMISKEY, 2008, p. 26.
76
COMISKEY, 2008, p. 26.
45
multiplicação. Wesley, então, é tido como o precursor moderno de células. As
células, conforme comentário de Comiskey citando Hunter, “serviam melhor como
grupos de recrutamento, como portas de entrada para pessoas novas e para
envolver as pessoas avivadas com o evangelho e com poder”.
77
Para Comiskey, o
princípio da multiplicação praticado por Wesley lançou o fundamento para a
moderna igreja em células.
78
No século XX, o pastor David Yonggi Cho introduziu o modelo de grupos
pequenos. Em 1958, ele deu início ao atual sistema de igreja em células na Coreia
do Sul, tornando-se referência no mundo todo, segundo registra Joêr Corrêa Batista
e outros.
79
Cho fundou a Igreja do Evangelho Pleno Yoido em Seul, considerada a
maior do mundo. Segundo dados de Comiskey, a “igreja cresceu até 23.000 células
e os sete cultos dominicais atraem aproximadamente 153.000 fiéis toda semana”,
80
cujo crescimento é creditado ao sistema de células.
81
Enquanto o movimento de grupos pequenos florescia na Coreia do Sul, nos
Estados Unidos da América, segundo Batista e outros, “o Dr. Ralph W. Neighbour Jr.
iniciava seu ministério com células, e se propunha na implantação de grupos
pequenos”,
82
cuja base “de trabalho era equipar todos os crentes para evangelizar
incrédulos, e as células eram o seu método”.
83
Neighbour é um dos principais
consultores de igrejas em células, contando com 25 anos de experiência no pastorei
e na implantação de pequenos grupos (células), além de ser autor de vários livros
sobre esse tema, como por exemplo, Manual do líder de célula.
No Brasil, a Igreja em Células tomou corpo com o Ministério Igreja em
Células no Brasil, presidido pelo pastor metodista Robert Michael Lay, representante
do ministério do Pastor Neighbour Jr., com sede na cidade de Curitiba-PR. Robert
M. Lay é Pastor Geral da Igreja Evangélica Irmãos Menonitas de Curitiba. Discípulo
de Neighbour, ele tem sido o principal divulgador de suas obras e da visão celular.
As referidas obras têm sido utilizadas no treinamento das células, com destaque
para os manuais aplicados no treinamento (Trilhos de Treinamento) dos membros
77
COMISKEY, 2008, p. 26.
78
COMISKEY, 2008, p. 26.
79
BATISTA, Jôer Corrêa; SAHIUM, Leonardo; BATISTA, Jocider Corrêa. G12: história e avaliação.
Goiânia: Seminário Presbiteriano Brasil Central – SPBC, 2000. p. 17.
80
COMISKEY, 2008, p. 27.
81
COMISKEY, 2008, p. 27.
82
BATISTA; SAHIUM; BATISTA, 2000, p. 17.
83
BATISTA; SAHIUM; BATISTA, 2000, p. 17.
46
das células, visando formar discipuladores e líderes. Tais ferramentas de
evangelização serão estudadas na sequência deste capítulo. Lay, segundo
informação obtida no website oficial, tem se destacado no trabalho de evangelismo
por amizade, no Brasil e na Alemanha, bem assim na pregação da Bíblia e, ainda,
no acompanhamento e aconselhamentos individuais, das igrejas e suas células. A
instituição entende, segundo esse espaço na internet, que “a organização de uma
Igreja em células é um retorno à comunidade cristã de base, descrita no novo
testamento: ‘Cada casa uma igreja, cada membro um ministro, vivendo em
Cristo de casa em casa e na grande congregação’”.
84
3.1.2 O que é Igreja em Células
Igreja em Células pode ser definida como uma comunidade cristã evangélica
estruturada em grupos pequenos ou células ou comunidades cristãs de base. Esta
definição está amparada neste conceito de Comiskey: “uma igreja que coloca os
grupos pequenos no centro do seu ministério. As igrejas em células posicionam os
seus grupos pequenos para evangelismo e constante multiplicação”.
85
Robert M.
Lay, com base nos ensinamentos de Neighbour, apresenta uma definição multiforme
de igreja em células:
A IGREJA EM CÉLULAS É: uma estratégia para um programa voltado para
pessoas e para a comunidade. [...] A IGREJA EM CÉLULAS É: uma
estrutura com departamentos que dão apoio ao sistema de células. [...] A
IGREJA EM CÉLULAS É: um sistema de células, congregações e
celebração. [...] A IGREJA EM CÉLULAS É: um movimento orientado pela
visão de pessoas vivendo em comunidade cristã de base.
86
Ao final, Lay define Igreja em Células como uma igreja de duas asas, que se
desenvolve na “celebração do grupo grande e na comunidade de pequenos
grupos”,
87
na qual as pessoas experimentam a grandeza e a intimidade de Deus.
Nesse particular, o modelo de igreja celular contrasta com o modelo de igreja
tradicional. A primeira, na visão desse autor, “edifica sua eclesiologia nos princípios
do Novo Testamento”.
88
A segunda, “incorpora as células aos seus programas”.
89
84
IGREJA EM CÉLULAS. Disponível em: <http://www.celular.com.br>. Acesso em: 25 fev. 2010.
85
COMISKEY, 2008, p. 32.
86
LAY, Robert Michael. O ano da transição: vamos mostrar como fazer. Curitiba: Ministério Igreja em
Célula no Brasil, 2005. Módulo 1, p. B.5-B.6.
87
LAY, 2005. Módulo 1, p. B.1, B.7.
88
LAY, 2005. Módulo 1, p. B.3.
47
A compreensão do que é uma igreja em células transita pelo entendimento
do que são células. As células, na visão eclesiológica dos defensores desse modelo
de igreja (Neighbour, Comiskey e Lay) são definidas nestes termos:
as células são grupos pequenos abertos focalizados no evangelismo que
estão embutidos na vida da igreja. Elas se reúnem semanalmente para que
os seus participantes se edifiquem uns aos outros como membros do Corpo
de Cristo, e para anunciar o evangelho àqueles que não conhecem Jesus.
O objetivo principal de cada célula é multiplicar-se à medida que o grupo
cresce por meio do evangelismo e das conversões que seguem. Dessa
maneira os novos membros são acrescentados à igreja e ao Reino de Deus.
Os membros das células também são encorajados a participar do culto de
celebração da igreja inteira, quando as lulas se encontram para
adoração.
90
A unidade de célula, portanto, é uma comunidade cristã de base e constitui
“o bloco básico de construção na edificação da igreja”,
91
tendo à frente um líder de
célula e um auxiliar de líder de célula. O líder, por sua vez, é visto como pastor dos
membros da célula. Ela, composta por até 15 pessoas, reúne-se toda semana na
casa de um dos membros, ajudando a formar uma relação especial entre eles.
O próximo tópico versará sobre a eclesiologia e a teologia da igreja em
células, que, como explicado, servirá para a melhor compreensão do modelo de
ensino de Ralph W. Neighbour Jr.
3.2 Eclesiologia e Teologia: pressupostos
A Igreja em Células tem uma origem e um fundamento teológico. É uma
igreja evangélica. Nessa vertente, é fruto da Reforma Protestante, como todas
aquelas tidas como pentecostal e/ou neopentecostal, apesar de a práxis distanciar-
se da ortodoxia reformada. William A. Beckham, autor do livro A segunda Reforma,
92
considera a igreja em células um “movimento” e a tem como a segunda Reforma,
que deu origem ao título da obra. E parte do ponto de vista de “uma igreja com seu
principal ministério por meio de grupos pequenos”.
93
A visão é de que a estrutura e
valores da igreja tradicional não constituem o modelo de Igreja contemplada no
89
LAY, 2005. Módulo 1, p. B.3.
90
COMISKEY, 2008, p. 20.
91
MANUAL do auxiliar de célula: o caminho para uma liderança bem-sucedida. 5. ed. Curitiba:
Ministério Igreja em Células, 2004. p. 31.
92
BECKHAM, William A. A segunda Reforma: a Igreja do Novo Testamento no século XXI. Curitiba:
Ministério Igreja em Células, 2007.
93
BECKHAM, 2007, p. 13.
48
Novo Testamento, inclusive vivido intensamente pela Igreja Primitiva. Nessa
percepção filosófica e teológica, defende o retorno do modo de vida da Igreja atual à
comunidade de base do Novo Testamento: “cada casa uma igreja, cada membro um
ministro”.
94
Nos materiais bibliográficos pesquisados, não se encontram tópicos ou
capítulos que tratam especificamente da eclesiologia da igreja em células. As
informações aqui apresentadas resultam das informações extraídas das referências
examinadas que, de alguma forma, remetem ou dizem respeito à doutrina ou à
forma de organização do movimento, na qual está alicerçada a visão celular. Assim,
de acordo com a proposta deste trabalho, tomando por base as obras citadas, a
doutrina pode ser resumida nestes fundamentos: células (grupos pequenos);
evangelismo; e multiplicação.
As células constituem a igreja nas casas. A fundamentação bíblica está
centrada basicamente nos capítulo 2, versículos 45-47, e 20, versículos 20-21, de
Atos dos Apóstolos. Tudo gira em torno da comunidade de base. Ela é o centro. A
vida da Igreja está nas células, são os odres novos criados para o vinho novo
(Evangelho). Beckham, citando Neighbour, compara a natureza das células às do
corpo humano, destacando estas menções:
o corpo humano é composto por milhões de células, a unidade básica da
vida. Semelhantemente, as células formam a unidade básica da igreja em
células. Os crentes procuram ativamente relacionamentos com Deus, uns
com os outros e com os não crentes em células de cinco a quinze pessoas.
Esses relacionamentos estimulam cada membro a alcançar a maturidade na
adoração, na edificação mútua e no evangelismo. Isso é comunidade... [...]
Portanto, a vida da igreja está nas células, não em um prédio (santuário). A
igreja é um ser dinâmico, orgânico e espiritual que pode ser vivenciado
na vida dos crentes em comunidade.
95
Beckham, citando o teólogo J. B. Libâneo, assevera serem os grupos
pequenos a renovação da igreja, o sinal do reino e a própria Igreja.
96
E, ainda,
segundo esse autor, toda a estrutura eclesiástica “existe para apoiar as células.
Tudo está relacionado com a comunidade básica da célula”,
97
de modo que a célula
tem uma vida e uma dinâmica peculiar.
94
BECKHAM, 2007, p. 13.
95
BECKHAM, 2007, p. 39.
96
BECKHAM, 2007, p. 43-44.
97
BECKHAM, 2007, p. 44.
49
De acordo com o Manual do auxiliar de células, editado pelo Ministério Igreja
em Células no Brasil, a célula tem dois ministérios: a edificação e o evangelismo.
98
A
edificação “acontece enquanto os membros cuidam uns dos outros, usando seus
dons espirituais e se beneficiando dos sistemas de apoio. Cada célula está numa
missão. Ela está constantemente em contato com os não-alcançados servindo a
eles”.
99
O evangelismo ocorre na formação dos grupos de amizade. Constituem uma
extensão evangelística da célula, “uma sub-comunidade de alcance dos perdidos”
100
e tem a função de agregar pessoas para a multiplicação.
101
Nesse sentido, segundo
a mesma referência, ela tem como propósito e razão de ser: “cumprir o maior de
todos os mandamentos, ‘amar uns aos outros’”,
102
que se manifesta de duas formas:
“amar uns aos outros dentro: a célula precisa ministrar (edificação). Amar uns aos
outros fora: a célula precisa se multiplicar (evangelização)”.
103
A célula (grupo pequeno) possui uma dinâmica interna que são os estágios
da reunião, chamados de quatro “Es”, com duração de 90 e 120 minutos. Eles são
na ordem de acontecimento: Encontro (quebra-gelo); Exaltação (adoração);
Edificação (edificação); e Evangelismo (compartilhamento da visão). Cada um
desses momentos tem sua razão de ser. Entretanto, por não estar nos propósitos
deste trabalho, não serão examinadas tais etapas da reunião celular. As células, de
per si, funcionam para proporcionar o crescimento da Igreja em Células. Elas
servem como ferramenta de evangelismo. Os líderes e os membros são treinados
para a evangelização. Cada membro tem seu papel. No treinamento, essas pessoas
tomam conhecimento de estratégias voltadas para alcançar os não-crentes,
classificados de “incrédulos do tipo Ae “incrédulos do tipo B”.
104
No tópico seguinte
deste trabalho, serão apresentadas as diferenças entre tais estratégias de
evangelização. A despeito do que foi visto, na prática, a célula tem a missão de se
multiplicar, promover o crescimento quantitativo da Igreja. Logo, os membros são
estimulados a ser discipuladores, depois de treinados, para que, no prazo de três a
seis meses, a célula cresça em número de membros.
98
MANUAL, 2004, p. 33.
99
MANUAL, 2004, p. 33.
100
MANUAL, 2004, p. 33.
101
MANUAL, 2004, p. 33.
102
MANUAL, 2004, p. 40.
103
MANUAL2004, p. 40.
104
NEIGHBOUR Jr., Ralph W. Manual do líder célula: fundamentação espiritual e prática para líderes
de células. 4. ed. Curitiba: Ministério da Igreja em Células, 2004. p. 105.
50
O evangelismo pode ser tido como o segundo fundamento da eclesiologia da
Igreja em Células. É o coração do ministério baseado em células.
105
A
fundamentação são os versículos 18-20 de Mateus 28, conhecido como a “Grande
Comissão”, o IDE de Jesus, e os versos 1-7 do capítulo 5 de Lucas, bem assim, em
alguns casos são citados Atos 8.1 e 4 e Atos 5.42. Constitui, assim, a razão de ser e
de sobrevivência do grupo pequeno e da Igreja. Sem a ação evangelística, que parte
do seio das células, a Igreja deixa de cumprir o IDE e morre. A evangelização,
comentada, não acontece a esmo. Ela tem estratégia e propósito, e faz parte do
planejamento de crescimento da Igreja em Células. Nada acontece por acaso.
Neighbour ensina dois métodos de evangelizar os o-alcançados. O primeiro diz
respeito a alguém que se interessou em participar da célula ou foi trazido por um
membro do grupo. O segundo corresponde àquelas pessoas que não têm acesso
diretamente à célula. Nesse caso, a evangelização ocorre por meio dos Grupos de
Amizade e Grupos de Interesse, os quais são formados para evangelizar as pessoas
sem relação direta com a igreja evangélica.
106
Cada um tem propósito e estratégia.
Não é o objetivo deste trabalho o exame minucioso da eclesiologia e da teologia da
Igreja em Células.
No primeiro método, a evangelização se no contato com a pessoa e
depois com o seu oikos”.
107
Neighbour, no livro Manual do líder de célula, relaciona
uma série de procedimentos para alcançar aqueles abertos ao Evangelho.
108
O
segundo método, de acordo com Neighbour, consiste de grupos de amizade e de
interesse.
109
O grupo de amizade, segundo esse autor, “se forma a partir de
incrédulos que pertencem aos oikos dos cristãos que integram a equipe”.
110
o
grupo de interesse “visa alcançar pessoas que não são do círculo dos conhecidos da
105
COMISKEY, 2008, p. 24.
106
NEIGHBOUR Jr., 2004, p. 103.
107
Oikos. Palavra grega citada diversas vezes no Novo Testamento. Geralmente traduzida por “casa”
ou todos os familiares de uma casa. Ou Oikos: o grupo primário dos relacionamentos de alguém.
“Cada um de nós tem um grupo primário de amigos: pessoas que se relacionam diretamente
conosco por meio da família, do serviço, de atividades recreativas e passatempos, ou por serem
da mesma vizinhança. Para que façam parte do um grupo primário do meu oikos -, deverão ser
pessoas com as quais eu falo, me relaciono, compartilho [...] por nada menos que uma hora por
semana”. NEIGHBOUR Jr., 2004, p. 103.
108
NEIGHBOUR Jr., 2004, p. 87-88.
109
NEIGHBOUR Jr., 2004, p. 102, 104.
110
NEIGHBOUR Jr., 2004, p. 102, 104.
51
equipe”.
111
Nas páginas referenciadas, Neighbour apresenta a metodologia e os
elementos de formação desses grupos.
Comiskey, no livro Crescimento explosivo da igreja em células, reserva dois
capítulos para tratar do tema evangelização. Esse fato denota a importância deste
fundamento para a Igreja em Células na condição de mantenedora de sua estrutura
eclesiástica e teológica. Em ambos os capítulos, o autor enfatiza estratégias de
evangelismo semelhantes às propostas por Neighbour. Ao tratar da “Parceria no
Evangelismo em Grupo”, comenta o seguinte acerca da importância desse pilar na
vida da igreja: “o evangelismo em grupo é a pulsação do ministério de células”.
112
Cada membro é treinado em como compartilhar sua fé. E então as células trabalham
juntas, puxando em conjunto as redes da grande pescaria. “O alvo bem definido do
grupo é crescer até o ponto da multiplicação”.
113
Esse autor compara o
evangelismo no grupo pequeno à pesca com rede. Na pesca com rede, acrescenta,
a produtividade é maior. A célula é uma rede lançada pelos cristãos, que se
organizam para apanhar centenas e milhares de peixes.
114
O terceiro fundamento seria, portanto, a multiplicação. Assim como o
evangelismo é a razão da vida igreja, também o é a multiplicação. A multiplicação,
da mesma forma que a evangelização, ocorre no seio da célula. É seu alvo, meta e
razão de ser. Uma célula que não se reproduz está fadada naturalmente à morte ou,
em última instância, à eliminação pelos pastores das congregações. O fundamento
bíblico está baseado em Atos 13.2-3 e João 16.21-22. De igual modo, Comiskey
reservou na referida obra um capítulo para tratar desse tema. E, nesse sentido,
comenta que “os líderes de células e os auxiliares que conduziram suas células à
multiplicação devem ser valorizados e elogiados em público diante de toda a
igreja”.
115
A razão da multiplicação, segundo a defesa dos autores referenciados neste
trabalho, está relacionada ao cuidado e à edificação de cada membro. Justifica
Comiskey que uma célula grande perde a capacidade de um edificar e cuidar do
outro, destacando o fato de que “a ênfase de cada lula em evangelismo e no
111
NEIGHBOUR Jr., 2004, p. 102, 104.
112
COMISKEY, 2008, p. 106.
113
COMISKEY, 2008, p. 106.
114
COMISKEY, 2008, p. 108.
115
COMISKEY, 2008, p. 127.
52
crescimento de incrédulos ao grupo impulsiona o crescimento da célula. Esse
crescimento contínuo impulsiona a célula a multiplicar-se para manter-se eficaz”.
116
Além disso, acrescenta que “a célula não pode estagnar e regredir. Os membros
recebem uma nova visão ao serem integrados em células dinâmicas e que se
multiplicam”.
117
Entretanto, a multiplicação em uma Igreja em Células, a despeito de
relacioná-la ao cuidado e à edificação do membro, perpassa esses aspectos para
um patamar prioritário de sustentabilidade da instituição na sociedade: é uma
questão de vida ou morte. Esta preocupação está implícita no seguinte comentário
de Comiskey: “os pastores de Bethany deixam muito claro aos líderes de célula:
‘Não permita que as pessoas do seu grupo pensem que irão ficar juntas para
sempre’. Em vez disso, eles ensinam que a multiplicação da célula é a norma e que
Deus coloca em tudo a habilidade de reprodução”.
118
E ainda enfatiza que o alvo da
célula é a reprodução, cujo fruto é o crescimento da igreja.
119
A teologia, por sua vez, confunde-se com a eclesiologia. Como esta, não
tem um vasto alicerce bíblico. Não uma confissão de fé nem um conjunto de
doutrina bíblica sistematizada, em que se possa apoiar. A principal base teológica
está “no fato de que Deus nos moldou para viver em comunidade”.
120
A
fundamentação consiste no seguinte:
DEFINIÇÃO DE COMUNIDADE: ‘Vida em parceria com outros’.
. Pessoas que prestam contas umas ÀS outras.
. Pessoas que se tornam responsáveis umas PELAS outras.
A COMUNIDADE É DECISIVA!
. O sério erro existente na igreja baseada em programas (I.B.P) é a sua
cegueira em relação à importância de ser uma COMUNIDADE, em que as
pessoas se tornam responsáveis umas pelas outras e prestam contas umas
às outras.
1. DEVEMOS COMEÇAR COM A TRINDADE
. Por que uma Trindade?
. Se Deus fosse UMA pessoa, poderia haver PODER...
. Se Deus fosse DUAS pessoas, poderia haver AMOR...
. Mas Deus é TRÊS... e com a Trindade, agora há COMUNIDADE.
121
116
COMISKEY, 2008, p. 127-128.
117
COMISKEY, 2008, p. 134.
118
COMISKEY, 2008, p. 148.
119
COMISKEY, 2008, p. 24-25.
120
LAY, 2005. Módulo 1, p. C.1.
121
LAY, 2005. Módulo 1, p. C.1.
53
Beckham entende esse princípio como da “comunidade encarnada” ou
“Cristo em você”, designando de teologia dos grupos pequenos, cujos argumentos
baseiam-se no princípio da “presença de Cristo em cada cristão e em cada grupo
pequeno”, com base no texto bíblico que afirma “onde se reunirem dois ou três em
meu nome, ali eu estou no meio deles”,
122
de modo que conclui: “a teologia dos
grupos pequenos agora tem seu foco na presença permanente do Pai, na vida
encarnada de Cristo, o Filho, e na plena habitação do Espírito Santo na vida de
grupo pequeno”.
123
Esse autor enfoca ainda “o sacerdócio universal dos crentes” e
“a célula como a vida da igreja” como princípios teológicos, firmado no princípio de
que “todos os cristãos são ministros e que a obra do ministério deveria ser realizada
por todos os cristãos”.
124
Outro ponto teológico importante, ao qual esse autor dedicou os capítulos 8
a 11, é o princípio da igreja de duas asas, que, segundo defende, corresponde à
estrutura básica da igreja do primeiro século do Novo Testamento. Na visão de
Beckham, a igreja de duas asas reflete a natureza da transcendência e da
imanência de Deus. A transcendência, em resumo, diz respeito à grandeza de Deus;
e a imanência, à intimidade de Deus. Para o autor, a doutrina bíblica da imanência e
da transcendência se aplica à forma de ser da igreja em células e se dá nas
celebrações dos grupos grandes, em que todo o corpo está reunido, e na vida dos
membros nas células, na condição de Cristo em nós (grupos pequenos).
125
A teologia de Lutero, para Beckham, privilegiava a igreja em células. Citando
o prefácio à The German mass and order of service (A missa alemã e sua ordem de
culto), Beckham comenta que Lutero identificou três tipos de culto ou de adoração.
O terceiro, identificado pelo reformador, referia-se àquele de ordem evangélica que
deveria ser realizado em uma casa, “para orar, para ler, para batizar, para receber
sacramentos e para fazer outras obras cristãs”.
126
A ntese de tudo isso está no que a Igreja em Células chama de “visão”. E
corresponde a estes princípios. O primeiro é a visão de alcançar os perdidos. O
segundo é a visão de fazer da célula (grupo pequeno) a vida da Igreja, ou seja, o
122
BECKHAM, 2007, p. 19.
123
BECKHAM, 2007, p. 19.
124
BECKHAM, 2007, p. 39.
125
BECKHAM, 2007, p. 118-119.
126
BECKHAM, 2007, p. 137-138.
54
coração e a alma, o centro em que tudo converge. O terceiro é a visão de que cada
membro consagre-se completamente ao senhorio de Cristo. O quarto é a visão de
que cada cristão é um ministro (o sacerdócio universal dos crentes) e cada casa,
uma igreja.
A estrutura funcional está baseada no arquétipo da “igreja de duas asas”. De
um lado, a “asa da comunidade” e, do outro, a “asa corporativa”.
127
Na verdade,
essa ideia constitui o modelo em que se organiza institucionalmente a Igreja em
Células, contrapondo-se ao modelo de igreja tradicional, chamada pelos adeptos do
movimento celular de igreja de programas. Na visão desse movimento em células, a
igreja tradicional movimenta-se apenas com uma asa, “a corporativa”. A parábola da
igreja de duas asas contada por Beckham sintetiza esse ponto
128
e os princípios que
estão por trás.
129
Comungando com Beckham, Lay complementa dizendo que a
Igreja em Células possui uma asa corporativa e uma asa de comunidade, enquanto
que a igreja tradicional possui apenas a asa corporativa.
130
Para Lay, a asa de
comunidade é a congregação de base, ou seja, as células, vivenciando o IDE
(Mateus 28). A asa corporativa é formada por uma estrutura de apoio à asa de
comunidade, suas atividades existem em função dessa outra. No entanto, a igreja
tradicional não tem a mesma função e estrutura. A igreja vive em função de uma
estrutura voltada essencialmente para programas.
Tudo isso exposto revela a natureza da Igreja em Células, em que se
vislumbra a inclinação na valorização do treinamento de membros com o fim
precípuo de crescimento quantitativo em detrimento do qualitativo. A taxionomia,
tanto ao nível de organização eclesiástica, quanto ao nível de vida cristã, fundada na
ideia orgânica e biológica de célula, remete à necessidade vital de multiplicação,
caso contrário sucumbe.
Pautando-se sob a égide do IDE e no princípio de evangelização em massa,
por meio das referidas estratégias evangelísticas, a Igreja em Células se amolda a
uma máquina de produção em série de deres, em um sistema de feedback
127
LAY, 2005. Módulo 1, p. B.7-B.8.
128
Anexo F.
129
BECKHAM, 2007, p. 37-38.
130
LAY, 2005. Módulo 1, p. B.7-B.8
55
(input/output),
131
cuja preocupação resume-se, sem nenhuma crítica negativa, na
busca da eficácia da produtividade.
Bezerril
132
defende a tese de que o movimento celular carece de fundamento
bíblico em seu modelo eclesiológico. Segundo ele, a estrutura da Igreja em Células
nunca foi um modelo proposto pelos apóstolos ou conhecida pela Igreja Primitiva.
Igualmente, assevera que o método de evangelização defendido por esse
movimento é estranho à evangelização apostólica. O grande crescimento da Igreja
Primitiva em sua época decorreu unicamente, segundo esse autor, da pregação no
Templo e na sinagoga, para grandes multidões, e não nos lares. As reuniões nos
lares, por sua vez, deveram-se à perseguição política do Estado. Além disso, cita
que o método apostólico possuía apenas a pregação. Os textos bíblicos usados
pelos proponentes do movimento são apenas para referendar suas falas sem
nenhuma análise fundamentada. Por fim, ele conclui ser a Igreja em Células apenas
um modelo secular de gerenciamento de empresas e megaempresas.
Por fim, tendo em conta tudo isso, a eclesiologia e a teologia determinam a
visão da igreja e a forma de interagir com os fiéis e com a comunidade. A visão do
movimento Igreja em Células reflete, assim, o estilo eclesiástico, teológico e
organizacional. Essa forma de governo da vida da Igreja revela seu foco principal de
expansão aumento do número de membros ante o método de evangelismo em
massa, que encontra no grupo pequeno sua poderosa instrumentalidade.
131
Feedback, em Administração, é o procedimento que consiste no provimento de informação a uma
pessoa sobre o desempenho, conduta ou eventualidade executada por ela e objetiva reprimir,
reorientar e/ou estimular uma ou mais ações determinadas, executadas anteriormente.
132
BEZERRIL, Moisés C. Igreja em células: uma ameaça à eclesiologia reformada e ao pastorado
apostólico. Disponível em: <http://www.monergismo.com/textos/igreja/igreja-celula-bezerril.pdf>.
Acesso em: 18 ago. 2008. p. 1-4.
4 PLANO PEDAGÓGICO DE ENSINO E FORMAÇÃO NA IGREJA EM CÉLULAS
A Igreja em Células, fundada na visão do Ministério Igreja em Células no
Brasil, adota o projeto pedagógico elaborado por Ralph Neighbour Jr. Sua intenção é
a multiplicação de célula por meio da formação de discipuladores e líderes de
grupos pequenos, cuja prática formativa vai de encontro à da formação cristã
tradicional herdada da Igreja Primitiva. Nesse modo de ver, o presente item tem
como escopo o exame desse processo de ensino cristão e a contribuição à
educação cristã de formação integral e continuada na fé, a partir do estudo da práxis
formativa dos Trilhos de Treinamento, destacando a taxionomia e o conteúdo de
cada parte constituinte, de uma rápida incursão sobre a formação de líderes e da
apresentação de uma conclusão sobre os elementos anteriormente analisados.
Antes de prosseguir, mostra-se fundamental apresentar a distinção entre
educação e Treinamento. Em uma rápida abordagem, educação, no contexto deste
capitulo, refere-se à definição introduzida no capítulo dois deste Trabalho Final no
sentido de ser um processo de formação contínua para desenvolver a personalidade
integral do ser humano. E tem sido confundida com treinamento. A educação está
direcionada para o desenvolvimento do ser da pessoa, tanto no aspecto cognitivo,
quanto social.
133
Treinamento, por sua vez, é um processo para adquirir habilidades
e competências em uma determinada área. De acordo com Bertan e Liberati
134
, está
voltado para habilidades na tarefa a ser executada, para o bom desempenho
profissional.
Isto é, visa formar a pessoa para que domine o modus operandi de
determinada tarefa.
Educação tem haver com o termo educar, ou seja, ministrar educação a
alguém, segundo o dicionário Aurélio
135
. Ou melhor, formar o ser humano em toda a
sua plenitude, que de acordo com Delors
136
, é a realização da pessoa que aprende a
ser.
No entanto, treinar não tem esse sentido. Assim, é transformar alguém em um
executor, que não precisa ter tido educação. Nesse sentido, o ser humano aprende
técnicas sem levar em conta uma formação básica, sem dominar os instrumentos do
conhecimento, gerando pessoas inábeis, mecânicas, robotizadas e limitadas.
133
MORIN, 2005, p. 65.
134
BERTAN, Levino; LIBERATI, Maria José. Educação e Informática. Disponível em:
<http://www.abmp.org.br/textos/148.htm>. Acesso em: 13 abr. 2010.
135
FERREIRA, [s.d.], p. 499.
136
DELORS, 2000, p. 101.
57
4.1 Práxis formativa: Trilhos de Treinamento
Com base nessa proposta, este tópico está dividido em duas partes. A
primeira, visando conhecer a priori os Trilhos de Treinamento, examina o método de
ensino a partir de sua taxionomia, expondo a constituição (estrutura), as
fases/etapas de capacitação e os conteúdos curriculares. Na segunda parte, depois
de compreendida a dinâmica desse projeto de ensino, são estudados os elementos
constituintes, destacando as categorias de conteúdos de cada material de estudo
previsto no trilho externo.
4.1.1 Dos aspectos taxionômicos
O objetivo desse projeto de ensino consiste em um conjunto de ações
pedagógicas voltadas à formação de habilidades atitudinais
137
dos membros de
células para o exercício do discipulado e da liderança no seio do grupo pequeno. Os
membros serão os agentes responsáveis, em última instância, pelo crescimento da
igreja no todo. A instrução proposta é sistêmica, baseada em métodos e técnicas de
ensino-aprendizagem.
O plano pedagógico está estruturado em fases de capacitação, métodos e
metodologia de ensino e conteúdos curriculares de treinamento exponenciais. É
intitulado por Neighbour de “Roteiros para o seu ministério” ou “Sua jornada para
uma vida de ministério”.
138
O treinamento visa o membro da célula para alcançar o
seu “oikos” e liderar uma célula. O modelo está representado no diagrama abaixo:
139
137
Atitudinais porque possuem o componente cognitivo (conhecimentos e crenças), o componente
afetivo (sentimentos e preferências) e o componente de conduta (ações manifestas e
declarações de intenções).
138
NEIGHBOUR Jr., Ralph W. Roteiro para o seu ministério: mantendo seu crescimento. 5. ed.
Curitiba: Ministério Igreja em Células, 2005. Livro 2, p. 14.
139
NEIGHBOUR Jr., 2005. Livro 2, contracapa.
58
É constituído de dois Trilhos de Treinamento: o externo e o interno. Os
trilhos representam o currículo de treinamento e os respectivos componentes,
correspondendo à caminhada que a pessoa faz ao longo de seus estudos. Cada
trilho é formado de etapas chamadas de estações.
140
As etapas correspondem ao
estágio de cada membro da célula em sua jornada. Juntas refletem o objetivo de
cada trilho de treinamento. Cada estação, por sua vez, corresponde a um livrete. O
livrete é formado pelos componentes curriculares previstos para cada estação ou
etapa e seus conteúdos programáticos. É o plano de ensino. O manual, por sua vez,
é elaborado por unidade, de acordo com o conteúdo programático, reunindo ações,
métodos e técnicas, visando a aprendizagem atitudinal do aluno.
A visão de Neighbour é simples: a pessoa ao entrar em uma célula é um
discípulo. O primeiro passo é torná-lo um discipulador.
141
Se, de um lado, é alvo
prescrito nos Evangelhos, especialmente fundado no capítulo 28 de Mateus, por
outro, é uma necessidade no âmbito da dinâmica da vida celular. A ausência de
crescimento da célula redunda, na maior parte, na morte. O discipulador é o
evangelista, é a “ovelha gerando ovelha”, é o construtor de relacionamentos. Essa é
sua função e meta. Segundo Neighbour, discipular corresponde à seguinte
descrição:
tornar-se discipulador é importante para seu próprio crescimento espiritual.
Para poder crescer como cristão você precisa aprender a dar de si mesmo
após se beneficiar do cuidado dos outros. Além disso, ser discipulador é
140
COMISKEY, Joel. Multiplicando a liderança: preparando líderes para fazer a colheita. Curitiba:
Ministério Igreja em Células, 2002. p. 148.
141
NEIGHBOUR Jr., 2005, Livro 4, p. 120.
59
vital para a célula, que é sustentada pelos relacionamentos construídos
entre seus membros. O discipulado garante que haverá acompanhamento
automático quando um membro está ausente, em necessidade, ou em
pecado.
Quando você sente necessidade de ajuda ao ministrar ao seu discípulo,
você encontrará seu próprio discipulador do seu lado, ajudando-o nessa
missão.
SER DISCIPULADOR NÃO EXIGE QUE VOCÊ ENSINE
construir um relacionamento é a tarefa primordial do discipular. Não é
preciso ser um instrutor apenas um amigo preocupado. Deve haver um
encontro regular entre o discipulador e o discípulo. Esse encontro não deve
ser feito na hora da reunião da lula. Escolha a hora e o lugar mais
conveniente para vocês dois. Mantenha contato por telefone, conforme a
necessidade.
142
O currículo do trilho externo é formado de sete manuais de estudo,
numerados de 1 a 7. Para Neighbour, tem a função de organizar a vida e os valores
do novo-convertido no Reino de Deus,
143
a fim de prepará-lo “para alcançar
incrédulos abertos ao evangelho e também aqueles mais difíceis de serem
alcançados para Cristo”.
144
O objetivo geral dessa ferramenta é de treinar o novo-
convertido a uma vida de ministério (alvo), que consiste em torná-lo um discipulador
e/ou líder de grupo pequeno proativo.
Cada manual corresponde a uma estação e diz respeito ao estágio em que
se encontra a pessoa em sua jornada de maturidade cristã.
145
A estação, além
disso, serve para indicar o objetivo específico associado ao manual de estudo
indicado no modelo. A primeira estação é chamada de “Começando a caminhada”. A
segunda, “Entendendo o mapa de sua jornada”. A terceira, “Aprendendo a assumir
compromissos”. A quarta, “Repensando o meu sistema de valores”. A quinta, “Final-
de-semana aprendendo a ser um discipulador”. A sexta, “Final-de-semana
aprendendo a usar João 3.16”. E a última, “Final-de-semana introdução ao grupo
de interesse/amizade”.
146
O trilho interno, intitulado de “Conhecendo a minha Bíblia”, está vinculado às
estações do trilho externo, e currículo corresponde ao estudo dos livros do Antigo e
do Novo Testamento. Metologicamente, o conteúdo está dividido em quatro partes,
142
NEIGHBOUR Jr., 2005, Livro 4, p. 120.
143
NEIGHBOUR Jr., 2005, Livro 4, p. 118.
144
NEIGHBOUR Jr., 2005, Livro 4, p. 118.
145
NEIGHBOUR Jr., 2005, Livro 2, p. 3.
146
COMISKEY, 2002, p. 145.
60
de acordo com a natureza dos livros da Bíblia: Pentateuco, História, Poesia, Profetas
Maiores, Profetas Menores, Evangelhos, Atos, Cartas de Paulo e Apocalipse.
147
4.1.2 Apresentação
Diante dessa visão panorâmica, o plano pedagógico de Neighbour apresenta
uma concepção de ensino-aprendizagem bem definida. A metodologia adotada
revela-se concebida para propiciar um ano de treinamento, com o fito de tornar o
membro da célula apto para uma vida de ministério no grupo pequeno. O ano de
treinamento corresponde ao currículo básico desse projeto pedagógico. Todos os
membros da célula obrigatoriamente passarão por este currículo.
Depois de concluída as estações, a pessoa será convidada a participar de
uma segunda etapa de acordo com seu perfil e realizações, chamada de avançada,
para formação de líderes. Esta fase não está prevista no presente modelo de
estudo, mas é a continuidade do programa de treinamento e o alvo da Igreja em
Célula para todos os membros do grupo pequeno. A metodologia desse processo
será vista na sequência deste estudo. No momento, será analisado o conteúdo do
trilho externo.
O trilho externo é ministrado metodologicamente em duas etapas
interativas.
148
A primeira etapa é chamada de “Passos sicos”. A segunda, de
“Discipulado”. As etapas são interdependentes, com duração de 12 a 18 meses.
149
Os passos básicos são formados pelos conteúdos dos livretes: Manual para
uma vida bem-sucedida, Roteiro para o seu ministério e Firmando compromissos,
correspondendo aos materiais 1, 2 e 3 do diagrama de Neighbour. O Discipulado é
constituído pelos livretes Bem-vindo à família, Tocando corações um guia prático,
Guia do discipulador e Construindo pontes abrindo corações: introdução ao Grupo
de Interesse/Amizade, referentes, respectivamente, aos manuais 4, 5, 6 e 7. Além
disso, o modelo prevê dois todos de ministração dos conteúdos. As quatro
primeiras estações são feitas mediante o método de estudos semanais um a um,
que ocorre fora das reuniões da célula. Cada novo-convertido da célula “recebe um
147
NEIGHBOUR Jr., 2005, Livro 2, p. 18.
148
NEIGHBOUR Jr., 2005, Livro 2, p. 18.
149
NEIGHBOUR Jr., Ralph W.; EGLI, Jim. Firmando o compromisso: entrando no Reino de Deus. 5.
ed. Curitiba: Ministério Igreja em Células, 2005. Livro 3, p. 5.
61
discipulador (membro da célula ou o líder). Com a ajuda do discipulador, o novo-
convertido passa pelos vários níveis do treinamento, chamados ‘estações’”.
150
Nesse
processo, o “discipulador treina o discípulo para se tornar um discipulador de
outro”.
151
O segundo todo de ministração, referentes às demais estações
previstas no currículo do ano de treinamento, é realizado em retiro de final de
semana, que suplementam o treinamento de célula,
152
por um grupo de líderes, que
inclui aqueles que completaram a fase anterior.
O trilho interno, Conhecendo minha Bíblia, uma visão de todos os 66
livros das Escrituras.
153
É complemento ao treinamento do trilho externo. O objetivo
é que cada convertido passe por toda a Bíblia,
154
de Gênesis a Apocalipse. O estudo
desses livros não é obrigatório em conjunto com o trilho externo. Verifica-se ser
apenas uma sugestão visando aprofundar a vida espiritual do fiel. A metodologia
consiste de ser visto em 52 semanas, incluindo cinco minutos diários de mensagens
gravadas de áudio. A cada intervalo de seis semanas, o líder da célula ou a
liderança da igreja deve realizar uma noite de perguntas e respostas para todos os
participantes do curso.
155
Outro esquema pode ser adotado no qual o discipulador
na fase de treinamento do discípulo, paralelamente ao treinamento do trilho externo,
faz o acompanhamento individual desse estudo. O quadro seguinte apresentado por
Comiskey no livro Multiplicando a liderança explica esse processo.
156
150
COMISKEY, 2002, p. 147.
151
COMISKEY, 2002, p. 148.
152
COMISKEY, 2002, p. 146.
153
NEIGHBOUR Jr., Ralph W. Bem-vindo à família: um guia para sua jornada no Reino. 5. ed.
Curitiba: Ministério Igreja em Células, 2005. Livro 4, p. 118.
154
COMISKEY, 2002, p. 151.
155
COMISKEY, 2002, p. 152.
156
COMISKEY, 2002, p. 151.
62
Trilho de Discipulado de Ralph Neighbour
UMA JORNADA PARA UMA VIDA DE MINISTÉRIO
Pentateuco
Livros históricos/poéticos
Profetas maiores/profetas menores
Evangelhos
Atos
Epístolas paulinas/Epístolas gerais
Apocalipse
l
Repensando meu sistema de valores
l
Aprendendo a ser um discipuladores
l
Aprendendo a usar o diagrama João 3.16
l
Trazendo incrédulos ‘tipo A’ para Cristo
l
Sendo equipado para o ministério e para a
batalha espiritual
l
Aprendendo a conduzir Grupos de interesse
e amizade
l
Aprendendo a penetrar em novos oikos
Por fim, o quadro abaixo resume o modelo de Neighbour exposto até agora.
Ano de Treinamento de Ralph Neighbour: Roteiro para seu ministério
Comiskey mostra esta relação entre os livretes do modelo de Neighbour e a
dinâmica da célula:
. A pessoa que não conhece a Jesus recebe instruções específicas pelo
livrete Manual para uma vida bem-sucedida.
. O incrédulo toma a decisão de seguir a Jesus e recebe o livrete Bem-vindo
à sua vida transformada. Se ele não tem ainda um discipulador, o líder
sugere alguém da célula para acompanhá-lo.
. O líder da célula ou um membro maduro faz contato com o convertido e
lhe entrega o Roteiro para seu ministério. O líder indica um discipulador e
programa uma visita.
. O líder da célula e o discipulador visitam e planejam a agenda do ‘ano de
treinamento’. O discipulador define os horários dos encontros.
. Discipulador e discípulo se encontram cinco semanas usando o Firmando
o compromisso (antigo Estação do novo-convertido).
63
. Discipulador e discípulo se encontram 11 semanas usando o Bem-vindo à
família.
. Depois disso o discípulo é encorajado a tornar-se um discipulador por meio
do manual Guia do discipulador, ajudando novos membros da célula.
. Concluindo essa fase do treinamento, o discípulo aprende a ganhar
incrédulos de baixa resistência (Tocando corações) e de alta resistência
(Trilogia Abrindo corações).
157
Em resumo, o projeto de ensino da igreja em células consiste de dois
momentos: (1) o ano de treinamento de células e (2) a formação de líderes. Esse
último consolida o alvo para uma vida de ministério. E tem sido o instrumento usado
para conduzir a célula à multiplicação. Ressaltando-se que a formação de líderes
ocorre fora dos trilhos, em um nível de treinamento avançado, para membros com
perfis de liderança, apesar de que a visão é de que cada membro da célula seja um
líder.
A seguir, as categorias de conteúdos de cada material previsto no trilho
externo serão melhores explicadas para subsidiar a reflexão acerca desse programa
de treinamento da Igreja em Células. Para efeito didático, será adotada aquela
divisão metodológica já vista no Ano de Treinamento: Passos básicos e Discipulado.
a) Passos básicos
Livrete 1. O Manual para uma vida bem-sucedida,
158
a despeito de fazer
parte do trilho externo e corresponder à primeira estação, é uma fase que antecede
o ingresso do incrédulo na célula. Este livrete inicia o processo de evangelização do
não-crente pertencente ao “oikos” do membro da célula. É uma ferramenta poderosa
de evangelização. O objetivo é apresentar o plano de salvação. O conteúdo está
dividido em 14 capítulos. Do capitulo 1 ao 12, é estudado o plano de salvação e o
caminho para uma vida bem sucedida.
159
Os demais apresentam ao novo-convertido
uma visão geral do que é uma célula e os passos da vida cristã. O conteúdo do
livrete é pedagogicamente trabalhado, passo a passo, para levar o incrédulo a tomar
a decisão de entregar a vida para Jesus. Esse processo é acompanhado
periodicamente pela pessoa que o presenteou com o manual. No caso da decisão
por Jesus, o novo-convertido firma o compromisso pessoal impresso nas últimas
157
COMISKEY, 2002, p. 147.
158
NEIGHBOUR Jr., 2005. Livro 1.
159
NEIGHBOUR Jr., Ralph W. Manual para uma vida bem-sucedida: iniciando a jornada.. 2. ed.
Curitiba: Ministério Igreja em Células, 2005. Livro 1, p. 42.
64
páginas do livrete,
160
que o habilita a prosseguir na jornada. Destaquem-se no
compromisso pessoal estas expressões:
eu vou me unir a uma célula e considerá-la a minha Comunidade cristã de
base. [...] Sabendo que a célula pode ser um marco de mudança total na
minha vida e na vida de outras pessoas, comprometo-me a colocar a
participação e o ministério na célula entre minhas prioridades máximas.
161
Livrete 2. Na sequência, o novo-convertido recebe o livrete Roteiro para o
seu ministério.
162
Este material, como dito em sua terceira página,
163
é um guia que
vai determinar os passos que o neófito deve dar para crescer na maturidade cristã.
Esse processo é realizado ao final do material com o líder da célula, que, em tese,
estabelecerá um roteiro de treinamento com o fito de conduzir a pessoa a uma vida
de ministério para Deus. O principal conteúdo está no estudo das fortalezas e nas
novas instruções acerca da vida na célula. Nesse último, a pessoa aprende sobre a
necessidade e sobre a obrigatoriedade de, como membro da célula, sujeitar-se pelo
menos ao ano de treinamento básico.
164
Destaque-se o modelo de como preparar o
testemunho pessoal.
Livrete 3. Firmando o compromisso
165
é a terceira estação do trilho externo
de treinamento. Tem o propósito de fortalecer o novo-convertido na , com
orientações de crescimento diário. O método utilizado nas lições consiste de
perguntas e respostas à medida que expõe o conteúdo. Foi elaborado para ser
estudado em cinco semanas com acompanhamento do discipulador. Ao final, dispõe
de uma guia do discipulador com orientações práticas para os encontros semanais
com o discípulo para cada unidade.
166
Estas páginas são instruções práticas de
como discipular com esse material e outros, constando de todos de proceder e
ministrar o treinamento.
Livrete 4. Bem-Vindo à família.
167
Este é o último módulo da primeira fase
(Passos Básicos) do trilho externo. Aqui termina o treinamento do novo-convertido
(discípulo) e inicia as primeiras lições para torná-lo um discipulador. O manual inclui
160
NEIGHBOUR Jr., 2002, Livro 1, p. 41.
161
NEIGHBOUR Jr., 2002, Livro 1, p. 41.
162
NEIGHBOUR Jr., 2005, Livro 2, p. 03.
163
NEIGHBOUR Jr., 2005, Livro 2, p. 03.
164
NEIGHBOUR Jr., 2005, Livro 2, p. 14.
165
NEIGHBOUR Jr.; EGLI, 2005, Livro 3.
166
NEIGHBOUR Jr., 2005, Livro 3, p. 50-61.
167
NEIGHBOUR Jr., 2005, Livro 4.
65
uma unidade para esse fim. O discípulo é encorajado a prosseguir o treinamento
ingressando na segunda fase (Discipulado), com instruções sobre as novas
estações. Além disso, o livrete agrega diversos conteúdos: nova família (oikos), novo
nascimento, hábitos, orações, quarto de escuta, fortalezas, guerra espiritual,
sistemas de valores, bem assim o ensino de que o discípulo é um “ministro”
(sacerdote).
b) Discipulado
Livrete 5. Guia do Discipulador.
168
É o primeiro módulo do discipulado, com
11 lições. É um guia prático de como tornar-se um discipulador. Neste módulo não
se ensina como compartilhar o Evangelho. Seu propósito é desenvolver no treinando
habilidades relacionais, que incluem desde lições de como iniciar uma parceria,
como preparar os encontros, até lidar com áreas problemáticas, prestação de
contas, etc.
169
Livrete 6. Tocando corações: um guia prático.
170
Este material de estudo tem
o propósito de preparar o discípulo no treinamento de discipulador para alcançar
incrédulo tipo “A”. É um método desenvolvido por Neighbour com estratégias para
evangelizar pessoas que apresentam certo perfil, ou seja, incrédulos que estão
abertos para a mensagem e se dispõem a estudo bíblico e a vir para as reuniões da
célula. São aquelas pessoas facilmente alcançadas.
171
É um material prático que
ensina a fazer, proporcionando orientações básicas ministradas em retiros de finais
de semana. O manual está dividido em três partes. A primeira parte é um seminário
realizado no final de semana chamado de “Tocando corações”. A parte dois são
orientações diárias para o crescimento da pessoa relacionadas à visão doutrinária
da Igreja em Células, como também o ensino do método de evangelização “João
3.16”, e à colocação de questões práticas que o treinando vai se deparar na
evangelização de incrédulos. Por fim, a terceira parte são instruções de como levar
ao conhecimento da célula pessoas do tipo “A” que estão sendo evangelizadas.
168
NEIGHBOUR Jr., Ralph W. Guia do discipulador: o ano de treinamento. 2. ed. Curitiba: Ministério
Igreja em Células, 2004. Livro 5.
169
NEIGHBOUR Jr., 2004, Livro 5, p. 5-53.
170
NEIGHBOUR Jr., Ralph W. Tocando corações, um guia prático: alcançando incrédulo tipo A.
Curitiba: Ministério Igreja em Células, 2005. Livro 6.
171
NEIGHBOUR Jr., 2005, Livro 6, p. 10.
66
Livrete 7. Construindo pontes, abrindo corações.
172
O objetivo deste manual
é treinar o discipulador para alcançar pessoas que o têm interesse pelas coisas
espirituais – classificadas como do tipo “B”. O incrédulo tipo “B” são as pessoas não-
alcançadas, precisando de preparo (cultivo) e apresentam estas características: tem
consciência, mas não é receptivo e/ou não tem conhecimento do Evangelho.
Segundo Neighbour, elas são objeto de evangelização mediante grupos de amizade
ou interesse, uma vez que, de alguma forma, são abertas para o mensageiro
173
e
constituem o maior desafio na vida de um cristão. O material é usado durante o
retiro de treinamento de evangelismo. E está dividido em três etapas.
174
A primeira,
Construindo pontes, é teórico e dura 7 semanas. O discipulador aprende como
alcançar os incrédulos do tipo “B”, que são convidados a participar do grupo de
interesse. No retiro, é ensinado “como fazer”, mediante processo de três fases
(cultivar, semear, colher), cuja ênfase é o relacionamento e o aprendizado de
técnicas de comunicação e persuasão.
175
A segunda é formando grupos. É a etapa
prática do treinamento, com duração de 10 semanas. Nesse momento, o
discipulador, junto com mais dois, inicia um grupo de interesse com a participação
de incrédulo tipo “B”, com reuniões que ocorrem uma vez por semana. Nesse
momento, será usado um novo manual Construindo grupos. A terceira,
Despertando a consciência, dá-se logo após o término das 10 semanas. É um
momento de consolidação daqueles que participaram do grupo de interesse. A
equipe concentrará esforços para conhecer os familiares e amigos daquelas
pessoas. “Ao expandir a consciência dessas pessoas, algumas delas serão atraídas
a Cristo por meio da mensagem do seu amor por elas”.
176
É o que Neighbour chama
de “pescar com redes”. A fase seguinte consiste em levar essas pessoas para o
grupo de amizade e depois para as reuniões da célula. Na célula, como membros no
processo de evangelização, serão submetidas aos trilhos de treinamento e assim
inicia-se todo o processo de treinamento previsto nos trilhos.
172
NEIGHBOUR Jr., Ralph W. Construindo pontes, abrindo corações: alcançando incrédulo tipo B.
Curitiba: Ministério Igreja em Células, 2002. Livro 7.
173
NEIGHBOUR Jr., 2005, Livro 6, p. 10-11.
174
NEIGHBOUR Jr., 2002, Livro 7, p. 6-7.
175
NEIGHBOUR Jr., 2002, Livro 7, p. 90-113.
176
NEIGHBOUR Jr., 2002, Livro 7, p. 7.
67
4.2 Formação de líderes
A formação de líderes é o alvo da Igreja em Células, assumindo, assim, um
papel importante na vida ministerial e formativa do membro do grupo pequeno. A
despeito desse fato, como discorrido neste capítulo, não faz parte da concepção
do plano pedagógico dos trilhos de treinamento, constituindo-se uma etapa à parte e
sucessiva à sua conclusão. Por isso, não sendo objeto deste trabalho, neste
momento apenas será dada, em linhas gerais, uma visão dos critérios e dos
componentes.
A formação de líderes nesse modelo se a partir dos trilhos de
treinamentos. Estes constituem um das condições para o ingresso nessa etapa de
preparação para o ministério de líder de lula. Entretanto, não basta ter concluído
os trilhos de treinamentos, é imperativo que, como participante de uma célula, tenha
apresentado os seguintes comportamentos: (1) aprendido a ganhar incrédulo “tipo A”
e “tipo B” para Cristo; (2) sido responsável por pelo menos uma pessoa; (3) visto
pelo menos uma pessoa aceitar a Jesus e participado da célula que participa; (4)
experimentado o poder de Deus, etc; (5) indicado pelo líder da célula.
177
O candidato a líder de célula, no programa de treinamento, inicia o curso na
condição de auxiliar de célula, inicialmente, orientado pelo líder da lula na qual
participa. Observada sua aptidão, é indicado para o treinamento. O treinamento é
realizado em duas etapas. A primeira etapa obedece a programação para o fim de
semana do auxiliar e é realizada durante dois dias.
178
É ministrada pelo pastor da
igreja, supervisor de área, pastor de área ou líder de célula mais experiente. As
sessões simularão reunião de grupo pequeno e as instruções são em duplas ou em
grupos (atividades práticas). A segunda etapa corresponde a um treinamento de oito
semanas, com tarefas práticas e de leituras.
179
O objetivo dessa etapa é
proporcionar ao treinamento “experiências nas áreas de pastoreio, organização,
preparo e reforço da visão”.
180
Essa etapa obedece a roteiro de estudo para cada
encontro com “objetivo e ênfase no aspecto prático do aprendizado”.
181
O curso
utiliza três livros básicos de estudo: Manual de auxiliar de célula, Manual do líder de
177
MANUAL, 2004, p. 07.
178
MANUAL, 2004, p. 11-12.
179
MANUAL, 2004, p. 148-161.
180
MANUAL, 2004, p. 21.
181
MANUAL, 2004, p. 146.
68
célula, e Ponha ordem no seu mundo interior. Ao final dessa etapa, o auxiliar de
célula será avaliado e habilitado para a formatura.
182
Formado, ele estará habilitado
para liderar uma célula, partindo do pressuposto que tenha iniciado uma antes de
seu ingresso no curso de formação.
4.3 Considerações acerca da análise realizada
Posto isso, este item visa apresentar a conclusão do estudo feito nos tópicos
anteriores deste capítulo do plano pedagógico utilizado pela Igreja em Células como
instrumento de educação cristã. Antes, convém ressaltar estas considerações. O
movimento Igreja em Células inovou o modo de evangelização. Em função desse
modus operandi, reflexo da visão eclesiológica e teológica,
183
foi sendo desenvolvido
no cenário evangélico um modelo de ensino-aprendizagem cristão. Em vez da forma
de educação cristã praticada pelas igrejas tradicionais, denominadas pelos adeptos
do movimento celular como igreja de programas, adotou-se uma prática formativa
que desvaloriza a formação cristã continuada na fé e desconstrói a Escola Bíblica.
Visto isso, abordam-se na sequência as conclusões dessa reflexão.
Do exame realizado, destacam-se estes pontos merecedores de particulares
comentários. Primeiro ponto: a adoção de um sistema peculiar de treinamento
voltado para o membro da célula tem a precípua função de equipar a pessoa para o
ministério, formando discipuladores e líderes de células comprometidos com a visão
celular. O sistema é fechado, não se abre para a formação geral do membro. É um
ciclo que se repete em suas sucessivas etapas previsto nos trilhos de treinamento,
uma vez que visa formar indivíduos à execução de tarefas previamente
estabelecidas: aprendem a ser e a fazer o que lhes são propostos. O grupo pequeno
tornou-se meio e ambiente para alcançar esse alvo (fórum para o ministério,
treinamento e evangelismo). Nesse particular, todo arcabouço pedagógico gira em
torno da principal função de multiplicação da célula ou grupo pequeno, de forma
que, nesse processo, a proposta de ensino resulta em um conjunto de ações
tendentes à formação de indivíduos restritos à visão ideológica da Igreja em Células.
182
MANUAL, 2004, p. 164.
183
Principalmente os princípios de que “cada casa, uma igreja” e do “sacerdócio universal dos
crentes”.
69
Segundo ponto: inexistência de uma proposta de ensino que propicie
desenvolvimento integral e continuado do indivíduo. A ideia de Paideia cristã é
ausente desse projeto de educação cristã, sem a perspectiva de formação cristã
integral para a vida, ou seja, de uma educação universal que tem por tarefa construir
o ser humano como pessoa e como cidadão. Não se tem em mente que todo
nascido de novo o novo convertido –, à luz dos ensinamentos de Hebreus e do
Apóstolo Paulo (Hebreus 4.5-12; 1 Coríntios 3.2), é uma criança. E como tal,
primeiro, necessita de leite, e depois, de alimento mais sólido, permitindo, assim,
que a pessoa atinja o estado de plenamente desenvolvido, tendo aflorado toda sua
espiritualidade, a do cristão tornado realmente cristão. Revela-se, assim, um sistema
fechado, entrópico. De forma que, os princípios inerentes à educação cristã
estudada ao longo deste trabalho não se vislumbram nessa concepção de ensino.
Para Morin, o papel da educação cristã é ensinar o indivíduo a viver, ou seja,
aprender a ser em todos os aspectos da vida. Essa ideia firma consenso com a de
Borges de formar a personalidade humana.
184
Naturalmente, a visão celular é
contrária a esse pensamento, que em sua idealização de ensino cristão, baseada
em sua eclesiologia, não concebe uma formação integral e continuada na fé.
Sobressai nesse modelo a ideia de “uma vida de ministério”, com viés espiritual, cujo
significado traduz-se em o membro da célula tornar-se um operador do Evangelho,
ora discipulador, ora líder, em constante construção de relacionamentos. À luz de
Calvino, a educação cristã não se restringe à formação espiritual, mas igualmente às
demais relações do ser humano, como ser social e relacional, no âmbito da
existência, porquanto foca o ser humano como um todo, integral. De modo que,
levar um membro do grupo pequeno a “uma vida de ministério” é, de forma oposta à
visão celular de ensino, conduzir o neófito e o mais antigo na a uma formação
contínua e integral para toda vida. Em suma, o se vislumbra o aprendizado, de
caráter progressivo, capaz de produzir uma metamorfose na vida e no ambiente do
ser humano, como pessoa e cidadão.
Terceiro ponto: o modus operandi de ensino-aprendizagem restrito à
formação de competências atitudinais. Esse mecanismo revela-se uma
característica importante na concepção pedagógica dessa metodologia de ensino
cristão. Nesse processo, destaca-se a primazia do componente da conduta em
184
BORGES, 2002, p. 215.
70
detrimento dos cognitivo e afetivo, mostrando-se importante na formação do membro
da célula. É ele, contrario sensu, que vai imprimir na pessoa algo relacionado à
responsabilidade e ao dever de ser efetivamente um semeador do Evangelho. Ao
tempo que, por um lado, é algo bom, por outro, é um elemento opressor, causador
de culpa naquele membro que não consegue atingir a meta imposta pelo líder, que,
invariavelmente, é alcançar e trazer pessoas para a célula, com o intuito de
multiplicá-la. Ademais, a ideia contraria os ensinos de Comenius de formação do
homem cristão baseada em uma educação universal, respeitando-se os estágios de
desenvolvimento no processo de aprendizagem e na construção do conhecimento,
que deveria perseguir as seguintes ações de ensino: “coerência de propósitos
educacionais entre família e escola, desenvolvimento do raciocínio lógico e do
espírito científico e a formação do homem religioso, social, político, racional, afetivo
e moral”.
185
Na verdade, o membro da célula, tanto quanto o discipulador ou líder, é
um robô programado com ações e atitudes preestabelecidas, que têm apenas um
propósito de ser e existir. Sob esse ponto, cabe destacar o fato de que a educação
cristã, nesse sentido, deve ser capaz de estimular a pessoa ao aprendizado ao
longo da vida, em Cristo. A limitação leva, nas devidas proporções, à miopia,
ilhamento às alteridades e às relações interpessoais, dentro e fora da igreja,
deformando a personalidade do ser. Porquanto, não é missão da Igreja de Deus
produzir operários programados para executarem certas tarefas pré-estabelecidas
como em uma colmeia, com a função de multiplicar, assim como fisiologista,
proselitista e massa de manipulação. Ao contrário, deveria formar cristão capaz e
fundado em uma boa doutrina, com ideias próprias, apto a toda boa obra, não
apenas como espectador, mas, além disso, como ator. A consequência de tudo isso,
é abstrair do ser o direito de aprender a ser, mediante o trânsito pelos pilares do
conhecimento.
Quarto ponto: não levam em conta as etapas do desenvolvimento humano,
inclusive da . O modelo, conceitualmente, centra-se apenas no primeiro pilar do
conhecimento: aprender a aprender. Na implementação dos trilhos de treinamentos,
não se vislumbra a ideia de o aluno vir a alcançar o próximo estágio do
conhecimento humano. O que, por sua vez, provoca sérias consequências para o
desenvolvimento do caráter e da personalidade da pessoa. A práxis formativa se
185
COMENIUS. Disponível em: <http://www.centrorefeducacional.com.br/comenius.htm>. Acesso em:
27 ago. 2009.
71
distancia da proposta de educação preconizada pela Comissão da UNESCO de que
a educação deve se organizar em torno dos quatro pilares do conhecimento. Na
medida em que são fundamentais para o indivíduo ao longo de toda a vida, a
educação praticada pelo movimento celular deixa de ser considerada em toda a sua
plenitude, ou seja: “realização da pessoa que, na sua totalidade, aprende a ser”.
186
Vê-se, então, a deficiência dessa ferramenta: em sua limitação, não tem a
competência de modelar o recém-convertido à compreensão de si mesmo e do
mundo. Com base nesse fato, a proposta de educação da Igreja em Células sedia-
se no primeiro pilar do conhecimento: aprender a conhecer. Visto que, contrapondo-
se ao princípio norteador desse pilar ensinado por Delors: aprender a aprender,
mirando um desenvolvimento ao longo da vida, como base para novos
conhecimentos e realização completa do indivíduo, forma, assim, pessoas sem
competências para os demais aspectos da vida cristã, seja da Palavra de Deus, seja
das ciências. Contrário, portanto, ao princípio da vida cristã que visa crescimento,
não se resumindo à evangelização, a ser discípulo e discipulador: Jesus Cristo é o
parâmetro. E sendo o parâmetro, vai além da visão celular de o formação
continuada e integral do ser humano. Recordando as lições de Downs, em Ensino e
crescimento, o ensino, desde o início da jovem nação judaica, no Antigo
Testamento, pautava-se na progressão do aprendizado.
187
Segundo, para Fowler, o
ser humano tem um passado.
188
E esse passado é formado por acontecimentos,
pessoas e experiências que moldaram a sua razão de ser. E tudo isso dá sentido à
vida e orienta a existência, que, por sua vez, não se amolda ao novo padrão de vida,
a cristã. A pessoa, nessa fase de desenvolvimento, está em um estágio de fé que na
conversão foi reorientada, mas que, em Cristo, requer novo construto,
redirecionamento das virtudes da fé, da “nova identidade em relação a novo centro
de valor, novas imagens de poder e nova estória mestra”.
189
E esse processo leva
tempo, normalmente, uma vida inteira. Por isso, a visão de ensino celular não se
presta nessa competência de formar a identidade de Cristo no cristão, que navega
nas águas do desenvolvimento da fé, cujo processo é lento, progressivo, e envolve,
por vez, a reconstrução dos estágios indicados por Fowler, agora com conteúdo de
186
DELORS, 2000, p. 90.
187
DOWNS, 2001, p. 31.
188
FOWLER, James W. Estágios da : a psicologia do desenvolvimento humano e a busca de
sentido. São Leopoldo: SINODAL, 1992.
189
FOWLER, 1992, p. 238.
72
imagens, valores e compromissos diferentes, para formar a nova personalidade.
190
Norbert Mette, citando G. Bussmann, no tópico “Aprender a no decorrer da vida”,
comenta que o desenvolvimento da é um processo que se completa “‘durante a
vida inteira sobre experiências críticas, da primeira infância à madura idade adulta, e
que abrange todo o desenvolvimento da personalidade’”, bem assim “dirige-se de
uma progressiva descentralização da visão de mundo, ainda egocêntrica na primeira
infância, até a formação de um ponto de vista universal”.
191
Por último, cabe destacar a visão de Neighbour acerca do discipulador. A
ideia do plano de ensino é tornar o membro discipulador sem que antes possa ser
um discípulo. Tudo acontece rápido, o tempo de ser discípulo é de apenas duas
estações (livretes 2 e 3). Este aspecto é notado na lição de Neighbour quando revela
sua visão de discipulador, cujo trecho foi mencionado neste trabalho.
192
Não
tempo para o indivíduo se desenvolver e amadurecer enquanto recém-convertido.
Isto remete aos conceitos desenvolvidos por Fowler referentes aos estágios da fé.
Uma vez que ser discípulo de Jesus perpassa a visão de discipulado da visão
celular, envolve ser e fazer. Ser, na condição de nascido de novo, novo ser humano,
consciente dessa condição e obediente. Fazer, no sentido, como visto em pico
anterior deste trabalho, de estar preparado para ensinar, o que necessita de
competências, aprendidas no aprender a conhecer, no aprender a viver juntos,
dominando os instrumentos dos saberes, conhecedor de Deus, de si mesmo, ante o
estudo da Palavra e nela capacitado. Tudo isso, contrário ao ensinado pelo
movimento celular, amolda-se à proposta de educação cristã reformada, ensinada
por Jesus e vivenciada pela Igreja Primitiva, de formação universal para toda a vida.
A educação cristã, portanto, não é vista como um processo com fases encadeadas e
interativas e interdependentes de transformação do ser de dentro para fora.
En passante, a Igreja é parte desse processo. Ela é responsável por uma
educação nesse patamar. É a doadora, por excelência, de pessoas à comunidade
com competências conseguidas através dos referidos pilares capazes de conviver
em um ambiente plural e relativista, sem perder de vista: a missão maior,
evangelização; a natureza do ser humano; e a visão de si mesmo, como agência do
190
Os estágios da descritos por Fowler são: primeira fé, fé intuitivo-projetiva, mítico-literal,
sintético-convencional, fé individuativo-reflexiva, fé conjuntiva e fé universalizante.
191
METTE, Norbert. Pedagogia da religião. Petrópolis: Vozes, 1997. p. 168.
192
NEIGHBOUR Jr., 2005, Livro 4, p. 120.
73
Reino. A história da igreja cristã é uma prova de todos esses fatos. Eis então estes
elementos.
No Antigo Testamento, o ensino e o aprendizado estavam voltados para a
obediência na vontade de Deus e para o entendimento de como viver. Segundo
Downs,
193
os professores não estavam somente preocupados em passar a
informação, mas inculcar o povo à obediência aos mandamentos de Deus. O
conhecimento seria uma consequência da prática de vida, que, em última instância,
revelava o temor do Senhor. Esse autor elucida que “aprender a Lei de Deus não
era algo divorciado da vida, mas antes algo que controlaria toda a vida”.
194
No Novo Testamento, o ensino cristão não se mostrou diferenciado das
diretrizes divinas do Antigo Testamento. Jesus Cristo inaugura a era cristã e
estabelece fundamentos de uma Igreja com base na educação. Seus ensinos
modelaram o que viria a ser a Igreja Apostólica nos três primeiros séculos de nossa
era. Os discípulos foram os primeiros alunos que, formados mestres, tinham a
missão de dar continuidade ao projeto pedagógico estabelecido por Jesus, que
visava o fortalecimento e o crescimento da Igreja, tanto sob o aspecto quantitativo
quanto qualitativo. A base pedagógica estava fundamentada na educação judaica,
que se baseavam nos escritos da Lei e dos Profetas.
Jesus inicia um projeto de educação diferenciado dos demais de sua época.
Seu programa educacional é universal e destinado a homens e mulheres
indistintamente, independente de cor de pele, nação, raça/etnia e status social.
Borges, quando se reporta à pedagogia cristã, conta que a proposta do cristianismo
é transformar a personalidade da pessoa de dentro para fora e as relações de todos
os tipos e em todas as áreas da vida humana.
195
Jesus vislumbrava não a
transformação da pessoa, mas igualmente torná-la agente de transformação, capaz
de influenciar tudo e todos em sua volta, na condição de luz do mundo e sal da terra.
No primeiro século, o ensino cristão era ocupado por oficiais da igreja,
conhecidos como apóstolos, profetas e mestres. Eles tinham, segundo Nichols, a
incumbência de ensinar o Evangelho. Seu ofício não se dava pela indicação de
qualquer autoridade, mas por revelar estarem habilitados pelos dons do Espírito
193
DOWNS, 2001, p. 27.
194
DOWNS, 200, p. 26.
195
BORGES, 2002, p. 37.
74
Santo.
196
Tomando o povo judeu como exemplo, as sinagogas, além dos lares,
foram muito usadas como centro de educação de jovens e adultos.
Nos séculos seguintes, a forma de instrução não mudou muito, não há
relatos contrários. A Igreja Antiga ou Primitiva assumiu a instrução de seus adeptos
ao molde da concepção judaica influenciada pelos conceitos de educação grego-
romana. A Igreja passou a ter uma organização eclesiástica mais definida e formal.
Nesse período, o cristianismo alcançou progresso e com ele surgiram missionários,
que ensinavam a fé, e apologistas ou defensores intelectuais do cristianismo e de
sua doutrina. Estes realizaram o trabalho de mestres nas igrejas e foram importantes
personagens no desenvolvimento do cristianismo naqueles dias. Dentre os mais
populares, destacaram homens como Justino, o Mártir, Tertuliano e Orígenes.
Entretanto, as transformações ideológicas pelas quais o mundo foi
influenciado, especialmente no transcurso da modernidade para a pós-modernidade,
vêm desviando a igreja contemporânea da concepção pedagógica da Igreja
Primitiva. Ela perdeu a visão “bíblica de Paideia”. Possivelmente, o baixo
crescimento quantitativo do rol de membros e frequentadores, perceptível no
decurso da modernidade à pós-modernidade, diante das alterações dos valores
morais, éticos e culturais da sociedade, e da incapacidade de deglutir tais
mudanças, tenha levado a Igreja a reinventar-se fora de si mesma. Logo, a
evangelização desviou-se da ênfase de proclamar as boas novas de salvação
genuína e transformadora do indivíduo para a recuperação de números de pessoas
com o propósito de encher os templos vazios.
Ao longo das últimas décadas, a instrução cristã, praticada em algumas
igrejas protestantes, que migraram para o modelo em células, tem-se afastado da
percepção pedagógica da Igreja Primitiva, perdendo a centralidade e os parâmetros
conceituais da “Paideia bíblica”. Os ensinamentos de caráter cristão deixaram de
formar o ser humano e o cidadão a exemplo de Atos 2.
A vida cristã da Igreja Primitiva descrita em Atos 2.42 deve ser interpretada
no conjunto dos eventos, e não isoladamente dos fatos históricos e teológicos da
conversão das pessoas, com o consequente crescimento dos fiéis, depois de
Pentecostes. O ingresso na família de Deus conduzia o neófito a experimentar não
196
NICHOLS, 2000, p. 35.
75
uma transformação interna, do velho para o novo ser humano, mas externa, de
mudança de vida a níveis profundos de comportamento e relacionamento com Deus
e com o mundo, rumo à maturidade em Cristo, patrocinada pela interação dos
meios: ensino, comunhão, adoração e comunidade.
Segundo explicita Downs, a instrução, a comunhão, a adoração e a
comunidade foram usadas como meios de edificação dos neófitos.
197
Todos os
meios levavam o novo convertido a uma vida madura, como discípulo e líder, à
medida da plenitude de Cristo. O conjunto favorecia e conduzia a um resultado
positivo e esperado por Jesus e pelos apóstolos para o crescimento quantitativo e
qualitativo da agência do Reino de Deus.
Hoje, entretanto, a igreja tradicional vem perdendo a visão desse conjunto. A
ênfase se voltou para a comunidade e a adoração. O ensino tornou-se treinamento
de liderança em última análise. A unidade desse conjunto se rompeu, e a Instrução
integral e continuada na fé foi descaracterizada, porque, como exposto, a instrução,
a comunhão, a adoração e a comunidade deixaram de ser vistos como meios
interdependentes. Uma vez que, isolados, de per si, ou ausentes, não produzem o
resultado visto e experimentado pela igreja de Atos dos apóstolos. A falta de um
componente prejudica a fórmula, a reação em cadeia não acontece com exatidão. E,
consequentemente, surgem os efeitos colaterais: crescimento quantitativo sem o
qualitativo; pessoas sem aperfeiçoamento, vacilantes e inconstantes, “nuvens sem
água, levadas pelo vento” (Jd 12).
Nesse contexto, massificados pelo padrão sociocultural da pós-
modernidade, os infantes e adolescentes sofrem um enorme prejuízo no processo
de formação de suas identidades. Gisela Streck, em o artigo publicado no IV
Simpósio de Ensino Religioso, ao tratar sobre o adolescente e a identidade nessa
etapa de metamorfoses e conflitos, alerta sobre a importância dos valores e das
crenças na formação da personalidade do indivíduo como ser humano.
198
Por fim, à luz da análise realizada do projeto pedagógico da Igreja em
Células, baseado na concepção de ensino de Ralph Neighbour Jr. O movimento
celular, por natureza, resume-se em um sistema de ensino cristão com ênfase no
197
DOWNS, 2001, p. 31.
198
STRECK, Gisela I. W. Adolescência e identidade: desafios educacionais em tempos de pós-
modernidade. In: KLEIN, Remi; WACHS, Manfredo C.; BRANDENBURG, Laude E. IV Simpósio de
Ensino Religioso. São Leopoldo: SInodal, 2007. p. 203-204.
76
treinamento de deres e na formação de discípulos geradores de discípulos, em
detrimento a uma educação cristã de formação integral e continuada dos fiéis. Por
consequência, a escola bíblica é desprezada e descaracterizada, uma vez que,
como ferramenta de ensino cristão da igreja cristã tradicional, não é vista como
adequada ao modelo eclesial de crescimento quantitativo. Apesar de o grupo
pequeno, na forma concebida pelo movimento celular, ser uma grande ferramenta
de evangelismo, conclui-se, em razão dos argumentos colocados neste estudo, que
o ensino cristão propiciado pela Igreja em Células não constitui uma ferramenta
capaz de contribuir, em seus estágios e metodologias, a uma educação cristã de
formação integral e continuada na fé. Pelo contrário, essa concepção se contrapõe à
práxis e à cultura educacional cristã da igreja reformada. Sua mudança desvaloriza e
desconstrói a escola bíblica, que busca tratar o indivíduo e formá-lo como um todo
para a vida. Todavia, em que pese tudo isso, a proposta pedagógica de Neighbour
traduz-se em uma excelente ferramenta didática para promover um ciclo ininterrupto
de novos obreiros capazes de conduzir a célula e a igreja à multiplicação. E tal
aspecto não deve ser perdido de vista.
4.4 Proposta de modelo pedagógico
No pano de fundo dos primeiros séculos do cristianismo, a igreja de Atos, ao
assumir o papel de agente educadora do Reino no molde bíblico, não via a
educação como algo opcional, mas como uma ordenança divina. Nesse ambiente, o
ensino bíblico surge como resposta à necessidade da igreja de cumprir sua missão
centrífuga
199
e seu papel de agente de transformação do Reino, ainda que, diante de
uma tarefa clara e definida, careceria de meios humanos para conduzir o neófito à
mudança integral e permanente de vida. Lutero e Calvino o entenderam
diferentemente. A literatura da história da igreja cristã relata a importância da
instrução nas vidas, nas obras e nos ministérios desses reformadores. Escolas e
universidades, à luz da pedagogia bíblica, foram criadas para formar todas as
199
A ideia de missão centrífuga é aplicada à Igreja do Novo Testamento. É contrária à missão
centrípeta de Israel no Antigo Testamento. A Igreja do Novo Testamento tinha como missão
afastar do centro, de si, para a comunidade. As nações e povos já não mais viriam até a Igreja, ao
contrário, ela agora iria ao encontro de todas as nações e povos para lhes tornar conhecido Deus,
em Cristo Jesus, visando a salvação dos perdidos. A expansão da Igreja presenciada em Atos dos
Apóstolos é um exemplo de missão centrífuga. No contexto, enquanto a incipiente igreja tendia a
voltar para si mesma (centrípeta), permanecendo em Jerusalém, Deus enviou perseguições sobre
ela para que se espalhasse por toda Judeia, Samaria e a os confins do mundo, a fim de
proclamar o Evangelho e fazer discípulos (IDE de Mateus 28).
77
pessoas.
200
A Reforma continuou primando pelo caráter divino da educação.
201
De
modo que, nesse sentir, apresenta-se neste trabalho uma proposta de modelo
pedagógico que privilegia tanto a ideia de grupos pequenos como a de escola bíblica
de formação continuada e integral do cristão para a vida, favorecendo o conjunto
instrução, comunhão, adoração e comunidade, para aquelas igrejas tradicionais que
migrem para o modelo de Igreja em Células.
A proposta é simples. Consiste em aliar a concepção de Neighbour de
treinamento de discipuladores e líderes, imprescindível à metodologia de
evangelismo proposta pelo movimento celular, ao modelo de escola bíblica praticada
pela igreja tradicional, inserida em uma estrutura curricular programática
transdisciplinar e transversal. Contrário ao que se imagina, esta junção não se
mostra antagônica. Nessa visão, os trilhos de treinamentos, adaptados à estrutura
da igreja reformada, seriam inseridos no contexto da escola bíblica. O modelo de
ensino da Igreja Presbiteriana de Manaus assemelha-se a esse aspecto.
As etapas previstas nos trilhos seriam mantidas e com a mesma
metodologia de ensino, obedecendo ao seguinte esquema. O trilho externo teria este
formato: (1) Os passos básicos (livretes 1, 2 e 3) manteria a mesma metodologia; (2)
o discipulado (livretes 4, 5, 6 e 7) seria inserido na estrutura da escola bíblica, como
disciplina. O trilho interno, Conhecendo minha blia, obedecido o mesmo conteúdo,
igualmente, seria incorporado como disciplinas, com pré-requisito, à estrutura da
escola bíblica, obrigatória para todos os membros, depois de feito o trilho externo.
Os retiros de finais de semanas não mudariam e permaneceriam como programação
de consolidação daqueles ingressos aos pequenos grupos na fase dos passos
básicos. O grupo pequeno continuaria com a mesma função, sendo equipado para o
evangelismo e a multiplicação. A etapa de formação de líderes, igualmente, seguiria
as mesmas instruções e requisitos propostos por Neighbour, mas como disciplinas
pertencentes à estrutura da escola bíblica. As demais disciplinas (classes) da escola
200
NICHOLS, 2000.
201
Ressalte-se, todavia, que a Escola Dominical de nossos dias somente nasceu no ano de 1780 em
Gloucester, Inglaterra, com Roberts Raikes, jornalista e homem de negócio preocupado com os
problemas sociais de seu tempo. Até então os ensinos cristãos eram praticados nas sinagogas,
lares, espaços eclesiais. Foi com João Wesley que esse movimento, inicialmente ligado às
atividades fora da Igreja, tornou-se um ministério educacional cristão. No Brasil, a Escola
Dominical foi trazida pelos primeiros missionários, Dr. Robert Reid Kalley e Sarah Kalley, sua
esposa, em 19 de agosto de 1855. A partir de então, tornou-se uma ferramenta eficiente e eficaz
de formação cristã da igreja brasileira.
78
bíblica seriam articuladas e integradas de forma a dar continuidade, com temas
transdisciplinares e transversais, à formação continuada na e integral dos
membros, contemplando a infância, a juventude e os adultos, bem como a terceira
idade. No Anexo D é apresentado o diagrama do protótipo desse projeto
pedagógico.
CONCLUSÃO
Nas últimas décadas, tomou corpo no Brasil as chamadas Igrejas em
Células, cuja concepção de evangelismo revelou-se contrária à prática e à cultura
das diversas comunidades religiosas tradicionais, especialmente reformadas. De
início, o evangelismo baseia-se no relacionamento, buscando alcançar não a
pessoa-alvo como também parentes e amigos, o “oikos”. A pesca com redes em vez
de com anzol. A inovação na evangelização introduziu também novidades no
modelo de ensino cristão. A forma de instrução das igrejas tradicionais da reforma
protestante foi substituída pela práxis pedagógica da Igreja em Células, que
desvaloriza a escola bíblica e a formação continuada na fé.
Então, o estudo desenvolvido neste trabalho permite estas conclusões
referentes à práxis de instrução cristã adotada pela Igreja em Células. Primeiro,
verifica-se um desvio da concepção pedagógica de educação cristã da Igreja
Reformada de caráter universal e continuado, perdendo a visão blica de paideia,
sendo substituída por ciclos de treinamento chamados de “trilhos” e de “finais de
semana”. Segundo, a concepção de ensino de Ralph Neighbour Jr. resume-se a um
sistema com ênfase no treinamento de discipulador e líder de célula ou grupo
pequeno, com prejuízo à formação continuada e integral dos fiéis. Terceiro, a escola
bíblica, com base na visão dogmática da Igreja em Células (eclesiológica e
teológica), é desprezada e descaracterizada, uma vez que, como instrumento de
ensino da Igreja Reformada, capaz de propiciar o desenvolvimento e o caráter do
cristão ao longo da vida, não é vista como adequada ao modelo eclesial de
crescimento quantitativo. Quarto, por outro lado, o modelo estudado é uma
excelente ferramenta para promover um ciclo ininterrupto de novos obreiros capazes
de conduzir a célula e a igreja à multiplicação, mediante crescimento quantitativo,
sem o aspecto qualitativo. Em resumo, a concepção de ensino proposto e praticado
pela Igreja em Células não corresponde a um instrumento que patrocine uma
educação cristã continuada e integral na fé, nos moldes da praticada pela Igreja
Primitiva, que visa tratar o indivíduo e formá-lo como um todo para a vida. Senão
vejamos.
Segundo demonstrado neste estudo, o membro da célula não tem a
oportunidade de uma formação continuada na para crescimento pessoal e para
80
formação integral, como é propiciada na Escola Bíblica da igreja tradicional e
reformada. O plano de formação, focado no modelo de Ralph Neighbour Jr., é
estanque, de modo que, em função de sua concepção, tende a reiniciar o processo
de treinamento, usando os capacitados para treinar os ingressos de novos
convertidos. Nesse sentido, o referido modelo de ensino da Igreja em Células,
disseminado pelo Ministério de Igreja em Células no Brasil, atua como instrumento
de desconstrução da educação cristã de caráter continuado na fé, além de, com
base em sua eclesiologia, descaracterizar a Escola Bíblica como instrumento da
igreja para formação cristã de crianças, jovens e adultos. E, ainda, ao adotar uma
metodologia de treinamento de líderes e discípulos, com foco no crescimento da
igreja, por meio dos grupos pequenos, contrapõe-se à concepção pedagógica da
Igreja Protestante de visão reformada de formação continuada na fé, de
desenvolvimento cristão para a vida, restringindo os aspectos formativos da
integralidade e da maturidade do ser humano.
Nesse sentido, abstrai da igreja a responsabilidade de educar para a vida,
pois, como foi abordado neste trabalho, cabe a ela, em todas as épocas e situações,
manter a instrução cristã concebida e ministrada por Cristo Jesus. De forma que, a
concepção pedagógica da visão “bíblica de paideia” deve permear os programas
educacionais das igrejas, com currículos integrados capazes de submeter o ser
humano aos mistérios de Cristo e apresentá-lo perfeito, maduro e completo. Em tal
processo, a Escola Bíblica assume um papel relevante, tornando-se a ferramenta de
modelação e de construção do ser humano. Sua eficácia está na formação integral
da pessoa para conduzi-la à maturidade, “à perfeita varonilidade, à medida da
estatura da plenitude de Cristo” (Ef 4.13). O ensino cristão, por natureza, é contínuo
e integral, para que se cumpra o propósito de Jesus de que seus seguidores sejam
sal da terra e luz do mundo. Por isso, um modelo pedagógico de educação cristã,
em qualquer âmbito, social, político ou institucional, não pode prescindir de uma
estrutura de ensino-aprendizagem curricular que contemple a formação holística e
continuada na fé e, ainda, convirja à maturidade do indivíduo no Reino e no mundo e
ao bom relacionamento na sociedade hodierna. Qualquer atitude diferente dessa
visão desconstrói o modelo ensinado por Jesus de educação para o Reino, para a
Igreja, e para a criação.
81
Assim, com base no exposto, a igreja contemporânea necessita
urgentemente resgatar a centralidade da Educação Cristã vivenciada pela Igreja
Primitiva e, com novos olhares e novas perspectivas, retomar o ensino bíblico na
visão teológica reformada de instrução para a formação continuada na fé. Downs
nos ensina que “a igreja deveria progredir por meio da evangelização e da
educação. Esses temas gêmeos são a parte essencial do ministério da igreja.
Ambos são importantes para o crescimento e a saúde da igreja”.
202
E, por sua vez,
as igrejas tradicionais emigrantes para o modelo da Igreja em Células precisam
restaurar a proposta de concepção pedagógica à visão bíblica de Educação Cristã
continuada na fé, como ferramenta de ensino e formação integral do indivíduo para
uma vida madura. Porquanto, a visão de educação centrada na concepção
pedagógica de instrução dos “trilhos” e “finais de semana” e/ou equivalentes, para
formar discípulos e lideres, para o crescimento vegetativo da Igreja, contradiz a
instrução de Jesus de apresentar a Deus uma Igreja perfeita, madura e completa, ou
seja, integral.
De tudo isso, não se pode olvidar: (1) uma sociedade transformada e
transformadora, liberta e libertadora é possível com pessoas perfeitas, completas
e maduras,
203
em Jesus Cristo; (2) a educação cristã é para o mundo. Não está
limitada à Igreja; (3) a Igreja é o meio de propagação desse instrumento de
transformação de vida, personalidade e caráter do ser humano. Integralidade,
continuidade e maturidade é a Educação Cristã.
202
DOWNS, 2001, p. 33.
203
São virtudes aos olhos do ser humano. É um processo de formação contínua na e jamais
alcançável neste mundo na totalidade, porém, desejável, árdua, e de permanente busca.
REFERÊNCIAS
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Brasil. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2006..
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educação cristã. São Paulo: Mackenzie, 2002.
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crescer e multiplicar. 3. ed. Curitiba: Ministério Igreja em Células, 2008.
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83
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<http://www.mackenzie.br/7062.html>. Acesso em: 18 ago. 2008c.
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ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.
84
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5. ed. Curitiba: Ministério Igreja em Células, 2005.
______. Construindo pontes, abrindo corações: alcançando incrédulo tipo B.
Curitiba: Ministério Igreja em Células, 2002.
______. Guia do discipulador: o ano de treinamento. 2. ed. Curitiba: Ministério Igreja
em Células, 2004.
______. Manual do líder célula: fundamentação espiritual e prática para líderes de
células. 4. ed. Curitiba: Ministério da Igreja em Células, 2004.
______. Manual para uma vida bem-sucedida: iniciando a jornada.. 2. ed. Curitiba:
Ministério Igreja em Células, 2005.
______. Roteiro para o seus ministério: mantendo seu crescimento. 5. ed. Curitiba:
Ministério Igreja em Células, 2005.
______. Tocando corações, um guia prático: alcançando incrédulo tipo A. Curitiba:
Ministério Igreja em Células, 2005.
NEIGHBOUR Jr., Ralph W.; EGLI, Jim. Firmando o compromisso: entrando no Reino
de Deus. 5. ed. Curitiba: Ministério Igreja em Células, 2005.
NICHOLS, Robert H. História da Igreja Cristã. 11. ed. São Paulo: Cultura Cristã,
2000.
PAIDEIA. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Paid%C3%A9ia>. Acesso em:
12 ago. 2008.
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de pós-modernidade. In: KLEIN, Remi; WACHS, Manfredo C.; BRANDENBURG,
Laude E. IV Simpósio de Ensino Religioso. São Leopoldo: Sinodal, 2007.
ANEXO A: Modelo pedagógico de Escola Bíblica Dominical da Primeira Igreja
Presbiteriana de Taguatinga
86
87
88
89
90
91
92
93
94
95
96
97
ANEXO B: Modelo pedagógico de Escola Bíblica Dominical da Igreja
Presbiteriana do Lago Sul
99
100
101
102
103
104
105
106
107
108
109
110
111
112
113
114
115
116
117
118
119
ANEXO C: Modelo pedagógico de Escola Bíblica Dominical da Igreja
Presbiteriana de Manaus
121
122
123
124
125
126
127
128
129
130
131
132
133
ANEXO D: Diagrama do projeto pedagógico
FACILITADOR
PROJETO
TREINAMENTO
( 1 )
OFICINA DA
PALAVRA
( 3 )
MINISTÉRIOS
( 2 )
GRUPOS
1.1 CRIANÇAS
(FAIXA
ETÁRIA)
1.2 JOVENS
ADOLESCENTES
1.3 ADULTOS
(FAIXA
ETÁRIA)
MEMBROS
- NO
GRUPO
- RETIROS (6,7)
MANUTENÇÃO
REPRODUÇÃO
1.GRUPO
AMIZADE 2.GRUPO
INTERESSE
NOVO MEMBRO
CONVERTIDO
(TRILHO)
NOVO
CONVERTIDO
(TRILHO)
O CONVERTIDO
(TRILHO)
1ª ETAPA:
VISÃO DA
CRUZ
4
SEMANAS
2ª ETAPA:
FORMAÇÃO 1:
CAMINHO DE
EMAÚS
TRILHO
CONHECENDO E ESTUDANDO AS
FERRAMENTAS
3ª ETAPA:
FORMAÇÃO 2:
IDE
(4 SEMANAS)
BÁSICO:
VISÃO GRUPO
LIVRO 2
LIVRO 3
SICO:
VISÃO GRUPO
LIVRO 2
LIVRO 3
SICO:
LIVRO 1
LIVRO: BEM
VINDO À UMA VIDA
TRANSFORMADA
LIVRO 2 e 3
DISCIPULADO:
LIVRO 4
LIVRO 6
LIVRO 7
(3 ETAPAS)
DISCIPULADO:
LIVRO
4 LIVRO
6 LIVRO
7 (3
ETAPAS)
DISCIPULADO:
LIVRO 4
LIVRO 6
LIVRO 7
(3
ETAPAS)
2.2 AVANÇADO
(f
ACILITADORES)
DISCIPULADORES
(
LIVRO 5
2 DIAS - RETIRO)
2.1 BÁSICO
PROTÓTIPO
T1
ASA 1
ASA 2
ANEXO E: Pirâmide que ajuda ilustrar incrédulos tipo “A” e tipo “B”
Compromisso
Vem para a célula
Estudo Bíblico
Aberto para a
MENSAGEM
Grupo de
amizade ou
de interesse
Aberto para o
MENSAGEIRO
TEM CONSCIÊNCIA, MAS NÃO É RECEPTIVO
Dois problemas: conhece ou não conhece um cristão
NÃO TEM CONHECIMENTO DO EVANGELHO
“Cristão ou Budista – diferentes caminhos para o mesmo lugar!”
Incrédulo “Tipo A”
Incrédulo “Tipo B
ANEXO F: Parábola da Igreja de Duas Asas
O Criador um dia criou uma igreja com duas asas: uma asa era o grupo
grande da celebração e a outra asa representava a comunidade do grupo pequeno.
Usando as duas asas, a igreja podia voar alto para os céus, entrar na sua presença
e fazer a sua vontade em toda a terra.
Depois de alguns séculos voando por toda a terra, a igreja de duas asas
começou a questionar a necessidade da asa do grupo pequeno. A perversa
serpente invejosa que não tinha asa alguma, aplaudiu essa ideia efusivamente. No
decorrer dos anos, asa do grupo pequeno tornou-se cada vez mais fraca por falta de
exercício até que virtualmente não tinha mais força alguma. A igreja de duas asas
que havia voado a os céus era agora, para todos os propósitos práticos, uma
igreja de uma asa só.
O Criador da igreja estava muito triste. Ele sabia que o projeto de duas asas
tinha permitido que a igreja voasse até a sua presença e fizesse a sua vontade.
Agora, com apenas uma asa, conseguir sair do chão exigia uma tremenda energia e
esforço. E se a igreja conseguia alçar voo, estava inclinada a voar em círculos,
perder seu senso de direção e não se afastar muito do seu ponto de partida. Ao
gastar mais e mais tempo na segurança e conforto do seu habitat, ela acabou se
satisfazendo com a sua existência presa à terra.
De tempo em tempo, a igreja sonhava em voar aa presença do Criador e
fazer a sua obra sobre toda a terra. Mas agora, a asa forte do grupo grande
controlava cada movimento da igreja e a condenava a uma existência terrena.
Na sua compaixão, o Criador finalmente estendeu a sua mão e remodelou a
sua igreja para que ela pudesse usar as duas asas. Mais uma vez o Criador possuía
uma igreja que podia voar até a sua presença e planar bem alto sobre toda a terra,
cumprindo seus propósitos e planos.
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