dinâmica, timbre, forma, instrumentação e por decorrência todos os outros elementos.
Schoenberg é o vértice, o ponto final do sistema tonal e o ponto inicial da multiplicidade de
sistemas. Ele foi o « missionário » que fez o triângulo kandinskiano girar no século XX,
colocando em seu alto, não somente o tonalismo livre, dito atonalismo, como toda a
liberdade de criação. Stuckenschmidt aborda o problema de maneira ampla :
« Os primeiros anos do século XX jogaram por terra todas as
convenções admitidas até então, em uma revolta que partiu do
fundo do inconsciente coletivo. A tonalidade, a harmonia, a melodia
e o ritmo repudiavam todos juntos as leis tradicionais que tinham
reinado durante séculos sobre a música ocidental. (…) o termo de
crise convém às maravilhas à evolução musical depois de 1908, na
medida em que tomamos em sua acepção verdadeira de movimento
decisivo.(…) O abandono da tonalidade consagrava de alguma
maneira o desejo que tínhamos de nos livrar de toda imposição, toda
lei. O reino soberano do sentimento, que foi substituído ao da regra,
constitui psicologicamente um fenômeno de super-compensação. E
a intelectualidade que caracteriza, desde o fim do século XIX, os
espíritos criadores vem se confrontar a uma força contrária.(…) Os
primeiros quadros abstratos de Kandinsky, o lirismo de Augusto
Stramm, os lieders de Stefan George, o monodrama de Arnold
Schoenberg, assim como as produções contemporâneas de seus
alunos, enfim, todas essas manifestações ilustram uma nova
concepção do mundo e da arte » (Stuckensmidt : 1969, p.90).
Se a crise atingiu todo o mundo artístico da época, na música ela foi frontalmente
abordada pelas reflexões de Schoenberg. Como compositor e teórico, dedicou-se ao fio de
anos a uma pesquisa intensa e solitária. Sem a novidade de um novo instrumento, como no
caso da relação entre Pierre Schaeffer e o gravador, Schoenberg mergulhou no mundo
musical de sua época e foi buscar nas entranhas da harmonia os recursos para estabelecer
uma nova concepção musical. Paralelamente, no terreno da pintura, o destaque foi de
Kandinsky, apontado como o pai do abstracionismo, pintor e teórico deixou uma grande
contribuição através de sua prática e teoria. E como de fato o que ocorria na época era uma
revolução, proveniente de uma grande crise que afetava todas as áreas, foi também natural
que os dois se encontrassem e trocassem muitas idéias, como veremos mais adiante.
Mussat fala de uma revolução musical no início do século liderada pela
Escola de Viena (Schoenberg, Webern, Berg) elencando alguns itens básicos, além do
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