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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
FACULDADE DE VETERINÁRIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS VETERINÁRIAS
TEREZA D’ÁVILA DE FREITAS AGUIAR
RISCO DE TRANSMISSÃO PARA O HOMEM DO VÍRUS DA RAIVA
ORIUNDO DE SAGUIS (Callithrix jacchus) NA REGIÃO
METROPOLITANA DE FORTALEZA, CEARÁ
FORTALEZA – CEARÁ
2010
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1
TEREZA D’ÁVILA DE FREITAS AGUIAR
RISCO DE TRANSMISSÃO PARA O HOMEM DO VÍRUS DA RAIVA
ORIUNDO DE SAGUIS (Callithrix jacchus) NA REGIÃO
METROPOLITANA DE FORTALEZA, CEARÁ
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação
em Ciências Veterinárias da Faculdade de Veterinária da
Universidade Estadual do Ceará, como requisito parcial
para a obtenção do grau de Mestre em Ciências
Veterinárias.
Área de Concentração: Reprodução e Sanidade Animal.
Linha de Pesquisa: Reprodução e sanidade de carnívoros,
onívoros, herbívoros e aves.
Orientadora: Profa. Dra. Maria Fátima da Silva Teixeira.
FORTALEZA – CEARÁ
2010
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2
A282r Aguiar, Tereza D’Ávila de Freitas
Risco de transmissão para o homem do vírus da raiva
oriundo de saguis (Callithrix jacchus) na região metropolitana
de Fortaleza, Ceará / Tereza D’Ávila de Freitas Aguiar .
Fortaleza, 2010.
113 p.; il.
Orientadora: Profª. Drª. Maria Fátima da Silva Teixeira.
Dissertação (Programa de Pós-Graduação em Ciências
Veterinárias) Universidade Estadual do Ceará, Faculdade de
Veterinária.
1. Raiva transmissão. 2. Sagui . 3. Callithrix jacchus. I.
Universidade Estadual do Ceará, Faculdade de Veterinária.
CDD: 616.9
3
TEREZA D’ÁVILA DE FREITAS AGUIAR
RISCO DE TRANSMISSÃO PARA O HOMEM DO VÍRUS DA RAIVA
ORIUNDO DE SAGUIS (Callithrix jacchus) NA REGIÃO
METROPOLITANA DE FORTALEZA, CEARÁ
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Ciências Veterinárias da
Faculdade de Veterinária da Universidade
Estadual do Ceará, como requisito parcial para a
obtenção do grau de Mestre em Ciências
Veterinárias.
Aprovada em: 23/07/2010
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________
Profª. Drª. Maria Fátima da Silva Teixeira (Orientadora)
Universidade Estadual do Ceará – UECE
______________________________________________
Profª. Drª. Valeska Shelda Pessoa de Melo
Universidade Federal do Paraíba – UFPB/ Areia
______________________________________________
Profª. Drª. Lúcia de Fátima Lopes dos Santos
Universidade Estadual do Ceará – UECE
______________________________________________
Profª. Drª. Ana Kelen Felipe Lima (Suplente)
Universidade Estadual do Ceará – UECE
4
Dedicatória
A Deus, pela minha vida e por ser o
responsável por tudo acontecer da melhor
forma.
Aos meus pais, Maria Jesus Batista de
Freitas Aguiar, melhor mãe - pai do
mundo, e, Amilton Melo de Aguiar (
in
memorian
), pela minha vida, amor
incondicional, ensinamentos, orientação e
apoio.
A minha irmã, Maria Princesa de Freitas
Aguiar, pelo amor, dedicação,
ensinamentos e apoio.
Aos meus queridos cachorrinhos, Bobby (
in
memorian
) e Che Guevara, pelo
companheirismo e grande amor.
5
Agradecimentos
A Universidade Estadual do Ceará por ser um porto seguro e por propiciar a realização deste
trabalho. Fazer parte dessa realidade acadêmica é antes de tudo um privilégio e uma
conquista.
Ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias (PPGCV) por também propiciar a
realização deste trabalho.
À CAPES pelo apoio financeiro concedido, em forma de bolsa, a qual sem dúvida, foi
imprescindível para a realização desta pesquisa.
Ao Laboratório de Virologia da UECE, por abrir seus braços por me receber de volta à
família e pela execução deste projeto.
À Secretaria de Saúde do Estado do Ceará pelo apoio técnico e de recursos humanos.
À professora doutora Maria Fátima da Silva Teixeira por ser um exemplo de fibra, guerreira,
por ter sido uma mão amiga apesar das atribulações do seu cotidiano. Obrigada por me
oferecer a oportunidade de desenvolvimento acadêmico. Valeram o aprendizado, a
convivência e a liberdade para buscar soluções.
À professora doutora Lúcia de Fátima Lopes dos Santos, por ser essa pessoa tão doce, muito
cativante e por ter contribuído nessa pesquisa, fazendo parte da minha banca desde a
qualificação.
À professora doutora Valeska Shelda Pessoa de Melo pela sua amizade, pelos inúmeros
conselhos nos caminhos de casa, na época que ainda era “só” doutora, e por sempre ter
contribuído nessa pesquisa de forma crucial.
À doutora Ana Kelen Felipe Lima pela amizade, por fazer parte das “gatinhas”, pela
companhia super alto astral em muitos rockzinhos e pela contribuição no trabalho.
A minha mamãe, Maria Jesus, por ser tudo na minha vida, ser meu ego auxiliar, me dar
cobertura, fonte de inspiração, porto seguro e maior amor infinito. Obrigada mãezinha por ser
6
a melhor mãe do mundo!
A minha irmã, Maria Princesa, por todos os ensinamentos, amizade e amor. Apesar de ser
chatinha comigo eu entendo e te amo muito!
Ao meu namorado, Carlos Henrique de Andrade Teles, por seu grande carinho e amor, pelos
meus inúmeros apelidos (baba, babinha, nojentinha, nenen, dadá, mo, mozinho, …) e por
sempre agradecer a Deus por estarmos juntos.
À toda minha família, que mesmo distante na maioria dos dias, me apoiou demais nessa
escolha e sempre me deu força para seguir em frente.
A minha família LABOVIR: Taninha (faz falta demais no Lab, fundamental! Ninguém
NUNCA vai conseguir substituir, pq a Taninha é insubstituível. Amo demais!) Valeskinha,
Jean Berg (meu pai quando eu era IC!), Suzana (parte da minha banca na qualificação), esses
sempre serão do labovir, Edmara (escritora do labovir, meu braço direito na elaboração da
dissertação), Júnior Júnior, Carlos, Luís, Ronaldo, Aryana, Neilson, Cinthinha (minha amiga
que sinto muita falta no lab. Amo muito!), Iguinho (pelos abraços de tudo bom, quase todos
os dias), Gabrielle, Alfredo, Esmaile e a todos que passaram pelo nosso laboratório, pelo
apoio, incentivo e convívio. Obrigada por tornarem a caminhada menos árdua. Muito
obrigada pela amizade de vocês, que fica para sempre. Agradeço ao Júnior Júnior, Carlos,
Gabi e Edmara pela ajuda direta na execução de parte da pesquisa.
À Equipe da Raiva do LABOVIR, Neilson, Edmara, Dra. Phylis, Nélio e Profa. Fátima, pelas
reuniões inesperadas (hehehe) e por todo apoio nesse projeto de pesquisa. Um agradecimento
especial à Edmara e Neilson pelas dores de cabeça compartilhadas e que graças à Deus e à
vocês tiveram ótimas soluções. Sem vocês esse projeto de pesquisa não existiria!
A minha sogrinha, Maria Alvina, pela ajuda na estatística do trabalho e pelo grande carinho.
À grande amiga Henna Roberta Quinto pelo convívio, quase todos os almoços juntas,
irmandade, amor, conselhos e apoio, sempre. Obrigada por ser a irmã que pude escolher e
também por ter tanta paciência em minhas inúmeras indecisões básicas.
7
Aos meus amigos Márcio Araripe, Débora Castelo Branco e Vitor Luz por compartilharem
comigo algumas fases dessa jornada, pela amizade e por ter me dado apoio para seguir em
frente.
A minha sempre amiga Natália Pereira Paiva pelo amor, amizade, carinho e que mesmo na
distância me dá muita força para seguir em frente.
Ao meu amigo Leonel Praciano Matos por sua amizade, amor e dedicação, que, mesmo a
20km de distância, sei que está sempre comigo, né, Leozinho?
A minha amiga Aaanja por sua amizade verdadeira.
Ao casal Cinthinha e Samuel pela amizade e companhia nas viajens e saidinhas importantes.
Ao casal Gabi e Ismael por toda ajuda nas manutenções do meu computador, que me
proporcionou vários momentos de desespero, e, graças a vocês, deu tudo certo. Muito
obrigadaaa mesmo!
As minhas amigas-irmãs Jaqueline Freitas e Kercyanne Freitas pelo carinho e amor de irmã.
A todas as “gatinhas”, Aaanja, Helena, Bebequita, Ana Kelen, Lívia, por sempre compartilhar
minhas alegrias e tristezas quando mais precisei, mesmo que pelo MSN messenger.
Ao meu cachorrinho Che Guevera de Freitas Aguiar pelo companheirismo e por sempre
querer brincar e pedir carinho e dessa forma me distrair um pouco nos momentos mais
estressantes em casa.
Aos professores do PPGCV por compartilharem seus conhecimentos e experiências, por
estimularem nossa curiosidade e nos apresentarem as ferramentas para construção de novos
saberes.
Aos funcionários (as) do PPGVC, especialmente, Adriana e Cristina, pela dedicação, simpatia
e empenho que dedicam ao trabalho e aos alunos.
Ao funcionário da Secretaria de Saúde do Estado do Ceará, Estevão, pelo apoio técnico
durante a realização da pesquisa.
Aos criadores de sagüis da região Metropolitana de Fortaleza, Ceará, pela participação nesse
estudo, pela receptividade em suas residências durante as entrevistas. Sem vocês essa
pesquisa não se tornaria realidade!
A todos aqueles que, mesmo à distância, direta ou indiretamente, contribuíram para a
realização deste trabalho, meus sinceros agradecimentos.
8
RESUMO
Uma nova variante do vírus da Raiva foi identificada em associação a casos de Raiva
humanos, no estado do Ceará, transmitidos por saguis (Callithrix jacchus), primatas
freqüentemente criados como animais de estimação. Essa variante não apresenta proximidade
antigênica ou relação genética com as variantes do vírus encontradas em morcegos e
mamíferos terrestres das Américas. O objetivo do estudo foi avaliar os fatores de risco de
transmissão do vírus da Raiva oriundo de sagui (Callithrix jacchus), criado como animal de
estimação, para o homem na Região Metropolitana de Fortaleza, Ceará. Para tanto, foi
aplicado um questionário estruturado a 19 criadores de saguis, residentes nos municípios de
Aquiraz e Maranguape, Ceará, enfocando o manejo e a interação desses primatas com
humanos. Para avaliação da ocorrência de antígenos rábicos, através do teste de
Imunofluorescência Direta (IFD), foram coletadas amostras de saliva dos saguis domiciliados
e semidomiciliados. Com base nos resultados obtidos desses espécimes foram analisadas
amostras de Sistema Nervoso Central (SNC). Na análise dos questionários, observou-se a
proximidade dos criadores de saguis durante o manejo desses animais nos domicílios, bem
como, seus conhecimentos limitados sobre a Raiva, demonstrando haver risco quanto a
transmissão do vírus. De 29 amostras de saliva de saguis reavaliadas, uma (3,45%) apresentou
reação de IFD positiva. De 11 amostras de SNC, três (27,3%) apresentaram positividade. Os
dados laboratoriais estão de acordo com os achados dos questionários, confirmando haver
risco da transmissão do vírus da Raiva devido a convivência de humanos com saguis (C.
jacchus) no Estado do Ceará.
Palavras-chave: Sagui. Callithrix jacchus. Vírus da Raiva. Transmissão. Humanos.
9
ABSTRACT
A new variant of the rabies virus was identified, associated with cases of human rabies, in the
state of Ceará, transmitted by common marmosets (Callithrix jacchus), which are frequently
kept as pets. This variant does not present antigenic proximity or genetic relationship to the
variants of the virus, found in bats and terrestrial mammals from the American continent. The
present study aimed at evaluating the risk factors of transmitting rabies virus from common
marmosets (C. jacchus), kept as pets in the Metropolitan Region of Fortaleza, Ceará, Brazil,
to human beings. For such, a questionnaire that focused on animal management and
interaction between humans and primates was applied to 19 peoples who kept marmosets in
the municipalities of Aquiraz and Maranguape. In order to evaluate the presence of rabies
antigens, through direct immunofluorescence test (DIF), samples of saliva were collected
from domiciliary captive marmosets. Based on the detection of rabies antigens, samples of
central nervous system (CNS) were analyzed. After questionnaire analysis, it was found that
there is a close relationship between humans and their pet marmosets, especially during
management practices. Additionally, these people showed to have little knowledge on rabies,
which represents a greater risk of infection. Out of 29 evaluated saliva samples, one (3.45%)
was positive for DIF reaction and, out of 11 CNS samples, three (27.3%) were positive.
Laboratory data are in accordance with the questionnaire findings, which confirm the
increased risk of rabies virus transmission because of the close relationship between humans
and marmosets (C. jacchus) in the State of Ceará.
Key words: Common Marmoset. Callithrix jacchus. Rabies virus. Transmission. Humans.
10
LISTA DE FIGURAS
Figura 01
Forma e dimensões dos vírus da Raiva...........................................................
21
Figura 02
Proteínas do genona dos vírus da Raiva..........................................................
22
Figura 03
Genoma dos Rhabdovírus................................................................................
22
Figura 04
Trajeto dos vírus da Raiva a partir do ponto de inoculação...........................
23
Figura 05
Ciclos epidemiológicos da Raiva....................................................................
24
Figura 06
Principais espécies de animais responsáveis pela transmissão da Raiva
silvestre à humanos no Estado do Ceará. A – Callithrix jacchus; B
Procyon cancrivorus.......................................................................................
25
Figura 07
Dois representantes do gênero Callithrix. A Callithrix jacchus, de tufos
brancos e B – Callithrix penicillata, de tufos pretos......................................
27
Figura 08
Prova de imunofluorescência direta (IFD)......................................................
33
Figura 09
Inoculação intracerebral..................................................................................
33
CAPÍTULO 01.....................................................................................................................
38
Figura 1
Distribuição percentual da ocorrência de contato entre os criadores e o
sagui (Callithrix jacchus)...............................................................................
59
Figura 2
Contato direto de um criador com o sagui (Callithrix jacchus) domiciliado
(A e B).............................................................................................................
60
Figura 3
Reações de IFD positivas para antígenos da Raiva em amostras de saliva e
SNC de sagui (Callithrix jacchus). A - Amostra de saliva; B Amostra de
SNC. Objetiva 40x. Fonte: LABOVIR - UECE, 2010....................................
62
CAPÍTULO 02.....................................................................................................................
63
Figura 01
Saguis (Callithrix jacchus) sendo criados tanto em domicílio (dentro da
gaiola) quanto em semidomicílio (fora da gaiola), em uma das residências
do estudo. Ceará, Brasil, 2009.........................................................................
73
Figura 02
Estágio de vida em que o sagui (Callithrix jacchus) chegou à residência.
Ceará, Brasil, 2009..........................................................................................
74
Figura 03
Sagui (Callithrix jacchus) mantido em gaiola em um domicílio. Destaque
no recipiente exclusivo do animal dentro da gaiola. Ceará, Brasil, 2009........
77
11
Figura 04
Hábito de passear com o sagui (Callithrix jacchus). Ceará, Brasil, 2009......
78
Figura 05
Contato direto de uma criança com o sagui (Callithrix jacchus), mantido
em gaiola, em um dos domicílios visitados no município de Maranguape,
CE. Ceará, Brasil, 2009...................................................................................
79
12
LISTA DE TABELAS
CAPÍTULO 01.....................................................................................................................
38
Tabela 01
Distribuição da quantidade de saguis (Callithrix jacchus) e de domicílios,
segundo o modo de criação dos saguis............................................................
58
Tabela 02
Distribuição do grau de escolaridade, segundo o conhecimento da raiva,
pelos criadores de sagui (Callithrix jacchus)..................................................
61
CAPÍTULO 02.....................................................................................................................
63
Tabela 01
Frequência de limpeza do ambiente onde vive o sagui (Callithrix jacchus)
domiciliado nas residências. Ceará, Brasil, 2009............................................
75
Tabela 02
Distribuição de criadores quanto a forma de depositar o alimento oferecido
aos saguis (Callithrix jacchus). Ceará, Brasil, 2009.......................................
76
Tabela 03
Classificação dos outros animais também criados na residência. Ceará,
Brasil, 2009......................................................................................................
80
13
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
% - Percentagem
a.C. – Antes de Cristo
ABLV - Australian Bat Lyssavirus
Art° - Artigo
CEP - Comitê de Ética em Pesquisa
CEUA - Comissão de Ética para o Uso de Animais
cm – Centímetro
d.C. – Depois de Cristo
DUVV - Vírus Duvenhage
EBLV-1 - European Bat Lyssavirus 1
EBLV-2 - European Bat Lyssavirus 2
EPI’s - Equipamentos de proteção individual
FUNASA – Fundação Nacional de Saúde
g - Grama
IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
IC – Intracerebral
IFD – Imunofluorescência Direta
Kg - Quilograma
LBV - Vírus Lagos Bat
mg - Miligrama
MOKV - vírus Mokola
nm – Nanômetro
n
o
– Número
o
C – Graus Celsius
OIE – Organização Internacional de Epizootias
PBS - Phophate Buffered Saline. Sigla em inglês para Tampão Fosfato-Salino.
pH- potencial hidrogeniônico
RNA – Ácido Ribonucléico
RNP – Ribonucleoproteína
RT-PCR - Reação em Cadeia da Polimerase utilizando a enzima transcriptase reversa
SECTAM – Secretaria de Estado de Ciência, de Tecnologia e Meio Ambiente.
14
SNC – Sistema Nervoso Central
UECE - Universidade Estadual do Ceará
WHO – World Health Organization. Sigla na língua portuguesa: OMS - Organização Mundial
de Saúde
µl -– Microlitro
15
SUMÁRIO
1
INTRODUÇÃO......................................................................................................
17
2
REVISÃO DE LITERATURA.............................................................................
19
2.1
A Raiva...................................................................................................................
19
2.2
Histórico da Raiva.................................................................................................
19
2.3
Perfil Etiológico do Vírus da Raiva.....................................................................
20
2.4
Epidemiologia.........................................................................................................
24
2.4.1 Imporncia dos sais (Callithrix jacchus) na epidemiologia da Raiva no
Ceará......................................................................................................................
26
2.4.2 Histórico dos casos de Raiva oriundos de saguis (Callithrix
jacchus)......................................................................................................................
30
2.5
Diagnóstico...............................................................................................................
32
2.6
Prevenção e Controle..............................................................................................
34
3
JUSTIFICATIVA....................................................................................................
34
4
HIPÓTESES CIENTÍFICAS.................................................................................
36
5
OBJETIVOS............................................................................................................
37
5.1 Objetivo geral......................................................................................................
37
5.2 Objetivos específicos.........................................................................................
37
6
CAPÍTULO 01........................................................................................................
38
7
CAPÍTULO 02........................................................................................................
63
8
CONCLUSÕES.......................................................................................................
81
9
PERSPECTIVAS....................................................................................................
82
10
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS…………………………………………..
83
APÊNDICES............................................................................................................
89
APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO ESTRUTURADO............................................
90
APÊNDICE B - TERMO DE CONSENTIMENTO.................................................
92
APÊNDICE C – FOLHETO EDUCATIVO.............................................................
93
ANEXOS....................................................................................................................
95
ANEXO A DECLARAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA DA
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ...........................................................
96
16
ANEXO B - DECLARAÇÃO DA COMISSÃO DE ÉTICA PARA O USO DE
ANIMAIS DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ.................................
97
ANEXO C – AUTORIZAÇÃO PARA ATIVIDADES COM FINALIDADE
CIENTÍFICA – IBAMA............................................................................................
98
ANEXO D – COMPROVANTE DE SUBMISSÃO DO PRIMEIRO ARTIGO .....
101
17
1 INTRODUÇÃO
A Raiva é uma doença infecto-contagiosa, que acomete todos os animais de
sangue quente, é causada por vírus neurotrópicos que atuam no sistema nervoso central
(SNC), provocando uma encefalomielite aguda e quase sempre fatal, resultante
principalmente da transmissão do vírus pela mordedura do animal infectado (TORDO et al.,
1998).
De acordo com dados recentes, fornecidos pela Organização Mundial de Saúde,
estima-se, no mundo, que 55.000 óbitos humanos sejam registrados, anualmente, sendo 99%
deles na Ásia e África e em menor escala, na América Latina, onde o cão, ainda, é o principal
transmissor (WHO, 2004).
Na saúde pública, a Raiva é tida como uma grave zoonose, sendo classificada
conforme seu ciclo epidemiológico e seu mecanismo de transmissão, em Raiva urbana,
silvestre e rural. A Raiva envolvendo animais silvestres é um perigo constante para o homem
e para os animais domésticos. Quando são acometidos pela Raiva, os animais silvestres se
aproximam das habitações e podem agredir o ser humano e animais domésticos (ACHA;
SZYFRES, 1986). Os principais reservatórios silvestres dos vírus da Raiva no Brasil
determinam quatro vertentes de maior relevância para a saúde pública, na atualidade, com
respeito à Raiva silvestre. Esses reservatórios incluem a raposa (Cerdocyon thous), o sagui
(Callithrix jacchus), o morcego hematófago (Desmodus rotundus) e outras 35 espécies de
quirópteros (KOTAIT et al., 2007).
Apesar das restrições determinadas por lei para a criação de animais silvestres em
cativeiro, atualmente vem crescendo nos grandes centros urbanos brasileiros, o hábito de se
criar animais selvagens como animais de estimação e, dentre os mamíferos, os saguis são
exemplares muito cobiçados, o que é possível de constatação pela presença frequente desses
animais nas campanhas de vacinação anti-rábica destinadas somente a cães e gatos
(ANDRADE, 1999).
O sagui do tufo branco, Callithrix jacchus, é um pequeno primata de hábitos
diurnos que se alimenta de insetos, pequenos vertebrados, frutas, ovos e exsudato de plantas
(SÁ, 2004). Membros dessa espécie tem sido, anos, atração popular em circos e
zoológicos, por sua semelhança comportamental e física com o homem, e tornaram-se
também, populares como animais de estimação. Porém, são transmissores de diversas
enfermidades e o seu convívio com o ser humano é extremamente arriscado, pois são animais
18
susceptíveis a doenças comuns ao homem e, assim, representam risco potencial para a saúde
pública (KIRK, 1984; FOWLER, 1986).
No Estado do Ceará, é comum a identificação de saguis criados como animais de
estimação, tendo sido registrados inúmeros casos de agressões, sendo esses animais
responsáveis por oito casos de Raiva humana no período de 1991 a 1998. Em associação a
estes casos notificados de Raiva humana, foi identificada uma nova variante do vírus da
Raiva, sem proximidade antigênica ou qualquer relação genética conhecida com as variantes
do vírus da Raiva encontradas em morcegos ou mamíferos terrestres das Américas
(FAVORETTO et al., 2001). Assim, a manutenção do ciclo da Raiva entre sagüis do tufo
branco, Callithrix jacchus, no Estado do Ceará é um tema importante para as autoridades
regionais de saúde pública e que necessita de maiores estudos.
19
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 A Raiva
A Raiva é uma doença infecto-contagiosa, causada por vírus neurotrópicos que
atuam no SNC, produzindo uma encefalomielite aguda e quase sempre fatal, decorrente de
sua replicação, com consequente destruição de células do sistema nervoso (TORDO et al.,
1998), provocando frequentemente alterações comportamentais e motoras, tais como:
inquietação, fúria, agressividade, paralisia dos membros posteriores, da mandíbula e da
epiglote (PENA, 1998).
Os primeiros relatos sobre a Raiva humana ocorreram no século XXIV a.C.,
tornando-se rapidamente conhecida por sua apresentação clínica e letalidade, porém, os
primeiros estudos científicos sobre o agente datam do início do século XVII com a
demonstração da natureza infecciosa da saliva de animais raivosos. Ainda nesse século, Louis
Pasteur realizou importantes descobertas sobre a doença e sua prevenção mediante protocolo
de vacinação. Desde então, a doença tem sido exaustivamente estudada, permitindo assim, o
desenvolvimento de medidas eficientes de prevenção e controle (MORENO, 2002).
2.2 Histórico da raiva
A Raiva tornou-se rapidamente conhecida em todo o mundo pelo sofrimento
causado à pessoas acometidas e pela certeza de sua invariável evolução para a morte
(ROLIM, et al., 2006). Através dos séculos foram registradas várias descrições da doença,
inclusive, tratamentos aplicados a humanos doentes, assim como, medidas básicas de
prevenção e controle (SILVA, 2000).
Acredita-se que, aproximadamente no ano 500 a.C., Democritus foi o primeiro
estudioso a relatar um caso de Raiva canina. no século I da era cristã, um estudante
romano, Aulus Cornelius Celsus, foi o primeiro a descrever corretamente a doença, ao
estendê-la a um imenso número de espécies que seriam susceptíveis à infecção. Celsus e seus
contemporâneos reconheciam a saliva como lócus de agentes venenosos. No século XV d.C.,
o italiano Girolamo Francastoro estabeleceu o princípio de incurável ferida (i.e., a doença é
sempre letal) (STEELE, FERNANDEZ, 1991; PLOTKIN, KOPROWSKI, 1994).
20
A partir de 1800, propagou-se um extenso surto de Raiva silvestre em raposas nos
Alpes Ocidentais, com agressões à pessoas, cães, suínos e outros animais, dispersando-se para
a França Ocidental, Alemanha, Suíça, Itália, Noruega e Rússia. As raposas, com facilidade,
transmitem Raiva aos cães, tanto que em 1803, o Peru registrou o primeiro surto de Raiva, o
qual se estendeu de Norte a Sul por todo país, ocasionando a morte de 42 pessoas. Como
medida de controle, a autoridade da saúde de sua capital Lima, adotou o sacrifício dos cães, e,
assim, salvou a cidade de uma epidemia (SILVA, 2000). Nesse mesmo período, a Raiva
canina passou às Américas, causando muitos casos em vários países (STEELE,
FERNANDEZ, 1991).
No entanto, foi somente no início do século XIX, em 1804, que o cientista alemão
Zinkie comprovou a natureza transmissível da saliva infectada, coletando amostras de cães
raivosos e inoculando-as em cães sadios. Em 1856, ocorreram vários surtos de Raiva humana
na Áustria, Hungria e Turquia, todos precedidos de Raiva canina. Em 1869, Armand
Trousseau descreveu os sintomas da Raiva e levantou a hipótese da doença ser causada por
um vírus específico e transmitida somente pela mordedura de animais raivosos (STEELE,
FERNANDEZ, 1991; RUPPRECHT, HANLON, HEMACHUDHA, 2002).
Em 1879, Victor Galtier adaptou experimentalmente a doença ao coelho, e esse
modelo foi, mais tarde, utilizado pelo cientista francês Louis Pasteur e outros colaboradores,
que comprovaram que os centros nervosos constituíam o principal sítio de replicação do vírus
(STEELE, FERNANDEZ, 1991; RUPPRECHT, HANLON, HEMACHUDHA, 2002).
No início do século XX (1906 a 1908), em Santa Catarina, Brasil, houve a
primeira notificação de Raiva em herbívoros. Um médico do Instituto Pasteur de São Paulo,
Carini, estudando esse episódio identificou o agente causador e levantou a hipótese da Raiva
ser transmitida por morcegos hematófagos (PARREIRAS, FIGUEIREDO, 1911; CARINI,
1911; MARCOVISTZ et al., 2005).
No ano 2000, através de estudos de análise molecular foi, pela primeira vez,
identificada uma população de vírus da Raiva em primatas não humanos (FAVORETTO et
al., 2001).
2.3 Perfil Etiológico do Vírus da Raiva
O agente etiológico da Raiva consiste em um vírus envelopado, pertencente à
ordem Mononegavirales, família Rhabdoviridae e gênero Lyssavirus (FENNER, 1993). Esse
21
gênero inclui o vírus rábico protótipo e os relacionados com o vírus da Raiva. Mediante
provas sorológicas, demonstraram-se relações antigênicas entre distintos vírus, permitindo a
classificação em quatro sorotipos (KING, TURNER, 1993; OLIVEIRA, 1994), mas
igualmente adaptados à replicação no Sistema Nervoso Central de mamíferos (RUPPRECHT,
HANLON, HEMACHUDHA, 2002; FOOKS, 2004).
O sorotipo 1 compreende o vírus da Raiva tipo “clássico” (de rua) e as cepas
vacinais. Os demais representantes do gênero Lyssavirus são o vírus Lagos Bat (LBV,
sorotipo 2 / genótipo 2), o vírus Mokola (MOKV, sorotipo 3 / genótipo 3), o vírus Duvenhage
(DUVV, sorotipo 4 / genótipo 4), o European Bat Lyssavirus 1 (EBLV-1, sorotipo 4 /
genótipo 5), o European Bat Lyssavirus 2 (EBLV-2, sorotipo 4 / genótipo 6) e o Australian
Bat Lyssavirus (ABLV, sorotipo 1 / genótipo 7) (TORDO, 1996; FOOKS, 2004).
O agente viral apresenta uma morfologia característica em forma de bala de
revólver, diâmetro de 75 nm e comprimento de 100 a 300 nm (FIGURA 01) (KAPLAN,
TURNER, WARREL, 1986; TORDO, POCH, 1988; TORDO, 1996), variando de acordo
com a amostra considerada. É também composto por um envoltório formado por uma dupla
membrana fosfolipídica na qual emergem espículas de aproximadamente 9 nm, de
composição glicoprotéica. Esse envoltório envolve o nucleocapsídeo de conformação
helicoidal, composto de um filamento único de RNA de polaridade negativa e não
segmentado (TORDO, POCH, 1988).
FIGURA 01. Forma e dimensões dos vírus da raiva. Fonte: Tordo, 2006. Instituto Pasteur, Paris.
O genoma, com aproximadamente 12.000 bases, codifica cinco proteínas
estruturais: a glicoproteína (G), a fosfoproteína (P), a nucleoproteína (N), a proteína da matriz
(M) e a polimerase (L) (FIGURA 02) (SHIMIZU et al., 2007).
22
FIGURA 02 - Proteínas do genona dos vírus da raiva. Fonte: Tordo, 2006. Instituto Pasteur, Paris.
As proteínas N, P e L compõem o complexo ribonucleoproteína (RNP) junto com
a molécula de RNA genômico que está firmemente associada à nucleoproteína (N). A
proteína N se liga ao RNA viral para constituir um molde funcional à transcrição e replicação,
enquanto as proteínas P e L são responsáveis por atividades enzimáticas. A proteína M, por
sua vez, localiza-se na superfície interna do envelope e está envolvida na montagem da
progênie de vírions. A proteína G apresenta-se ancorada no envelope e participa da ligação
com os receptores, fusão da membrana e indução da síntese de anticorpos neutralizantes
(FIGURA 03) (SHIMIZU et al., 2007).
FIGURA 03 Genoma dos Rhabdovírus. Fonte: Tordo, 2006. Instituto Pasteur, Paris.
23
O vírus rábico é inativado por diversos agentes físicos como radiação ultravioleta,
raios X, calor, luz solar, dessecação, pasteurização, e agentes químicos como detergentes e
sabões, álcalis, bicloreto de mercúrio, desoxicolato de sódio, fenol, éter, acetona, álcool,
compostos iodados, formol, ácidos com pH < 3 e bases com pH > 11. A forma ideal de
conservar os vírus consiste em armazená-los nas preparações que contêm 2% de proteína do
soro normal ou 0,75% da fração V da albumina bovina, preparações essas que devem ser
liofilizadas e mantidas a - 70°C (VERONESI, FOCACCIA, 1997).
A transmissão do vírus da Raiva ocorre, comumente, por meio de mordeduras e
contato de mucosas e/ou pele lesada com a saliva de um animal infectado. O período de
incubação varia entre três a doze semanas, podendo chegar a anos, dependendo,
principalmente, da concentração do inóculo viral, da maior ou menor distância do trajeto
neural que vai do ferimento ao cérebro e da espécie acometida. O vírus pode alcançar
diretamente as terminações nervosas sensoriais e/ou motoras, ou permanecer algumas horas
nas células musculares estriadas, onde acontece uma amplificação viral, que propiciará a
infecção dos nervos periféricos. O genoma viral é transportado no interior do axoplasma dos
neurônios, centripetamente, provocando, posteriormente, um quadro clínico característico de
encefalomielite aguda. Com a progressão do quadro clínico, ocorre a disseminação para
vários órgãos e a morte do indivíduo (FIGURA 04) (DULBECCO, GINSBERG, 1980;
COSTA et al., 2000; XAVIER, 2005; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006).
FIGURA 04 – Trajeto dos vírus da Raiva a partir do ponto de inoculação Fonte: Bingham, 2002
24
2.4 Epidemiologia
A Raiva representa um problema na maioria dos países do mundo. A cada dez a
quinze minutos alguém morre de Raiva no planeta. Mais da metade da população mundial
vive em áreas de risco da doença (BELLOTO, 2001). A epidemiologia da Raiva depende
claramente da passagem do vírus de um indivíduo infectado a outro susceptível. A
transmissão predominantemente é através da saliva, mas a via aérea pode ser importante em
certas áreas, principalmente cavernas densamente povoadas por morcegos infectados
(KAPLAN, 1985).
Todos os mamíferos são sensíveis ao “vírus de rua”, ainda que esta sensibilidade varie
de acordo com a espécie (CORRÊA, CORRÊA, 1992). Para fins didáticos, as espécies são
classificadas de acordo com a sua susceptibilidade, ou seja, espécies de alto risco (cães, gatos
e animais silvestres), médio risco (bovinos, caprinos, ovinos, suínos e equinos) e de baixo
risco (coelhos e roedores), não sendo conhecidos casos humanos transmitidos por esse último
grupo (VERONESI, FOCACCIA, 1997).
De acordo com a Fundação Nacional de Saúde - FUNASA (1998), a Raiva está
presente em todos os continentes, e por falhas na adoção de medidas de prevenção e controle,
apresenta-se de forma endêmica na maioria dos países da África e Ásia. A Raiva é tida como
uma grave zoonose, na saúde pública, sendo classificada conforme seu ciclo epidemiológico e
seu mecanismo de transmissão, em Raiva urbana, silvestre e rural (ROLIM et al., 2006)
(FIGURA 05). Por ser considerado como primeiro, o ciclo silvestre pode ter originado os
demais (PALÁCIO, 2003; KOTAIT et al., 2007), mas o mais preocupante é o ciclo urbano,
onde o cão se destaca como principal transmissor da doença aos seres humanos (ROLIM, et
al., 2006).
Figura 05. Ciclos epidemiológicos da raiva. Fonte: Instituto Pasteur, SP, 2002.
25
No entanto, a Raiva silvestre apresenta uma importância emergente em todo o
Brasil. O aumento do número de casos de Raiva pode resultar no acometimento de diversas
espécies animais, dentre silvestres e domésticas, e até mesmo humanas, além de acarretar em
grandes prejuízos econômicos (ARAUJO et al., 2008). A Raiva silvestre assumiu grande
importância devido aos hábitos sinantrópicos dos animais selvagens, que alcançaram as áreas
urbanas e de transição, em consequência da maior oferta de alimentos existente nestas áreas e
ao impacto ambiental provocado pela ação humana em seus habitats naturais (KOTAIT et al.,
2007).
No ciclo silvestre, que acomete principalmente animais silvestres e de criação, os
animais que atuam como reservatórios e transmissores variam com a região. Na América
Latina, os morcegos hematófagos (Desmodus rotundus) são os principais responsáveis pelo
ciclo silvestre, se caracterizando como importantes transmissores da Raiva humana. Outras
espécies de animais silvestres também podem atuar como reservatórios do vírus, sendo
inclusive responsáveis pelo acometimento de seres humanos. No Estado do Ceará, esses
animais apresentam uma importância emergente, sendo as espécies Procyon cancrivorous
(guaxinim) e Callithrix jacchus (sagui) relacionadas como transmissores da Raiva para seres
humanos (FIGURA 06) (ARAUJO et al., 2008).
FIGURA 06. Principais espécies de animais responsáveis pela transmissão da Raiva silvestre à humanos no
Estado do Ceará. A – Callithrix jacchus; BProcyon cancrivorus. Fontes:
http://1.bp.blogspot.com/_iybZZycKiU8/SYCPjKkWfLI/AAAAAAAAAIs/ymHjIwvalvY/s400/guaxinim-
ranca-toco.jpg; http://farm3.static.flickr.com/2243/2446896482_536cc74582.jpg.
Com o processo de urbanização, os sagüis (Callithrix jacchus) estão se
deslocando do seu habitat natural para a região metropolitana, estando os mesmos bastante
susceptíveis ao risco de infecção (MORAIS, 2003; VERONA, PISSINATTI, 2006).
26
Além do acometimento de seres humanos, a transmissão dos vírus rábico entre
animais silvestres e cães pode originar novas variantes virais, sendo que a variante viral
isolada de Callithrix jacchus é apontada como responsável por um ciclo epidemiológico
independente da enfermidade (ARAUJO et al., 2008).
O Ceará apresenta três principais populações variantes de vírus da Raiva, sob o
aspecto genético: a variante 2 de cão (identificada em cães, animais silvestres terrestres e
humanos), a variante 3 de morcego Desmodus rotundus (identificada em bovinos), e um
terceiro grupo de amostras isoladas de saguis e humanos (FAVORETTO et al., 2002).
2.4.1 Importância dos sagüis (Callithrix jacchus) na epidemiologia da Raiva no Ceará
Dentre os diferentes grupos da classe Mammalia, Primates é considerada a
primeira ordem na classificação zoológica, dada a ser a mais evoluída do Reino Animal.
Praticamente todos os indivíduos dessa ordem encontram-se em terras tropicais ou
semitropicais, próximas a linha equatorial (COIMBRA-FILHO et al., 1983). Os primatas
compartilham uma história evolutiva comum e são classificados em grupos que refletem esse
relacionamento evolutivo. O primeiro grupo compreende os platirrinos ou primatas do Novo
Mundo, que inclue as famílias Callitrichidae e Cebidae e o segundo grupo compreende os
catarrinos ou primatas do Velho Mundo, que inclue as famílias Cercopithecidae, Hylobatidae,
Pongidae e Hominidae (BROWN, 1997; ROWE, 1996; VERONA, PISSINATTI, 2006).
Dentre os platirrinos, a família Callitrichidae é composta por cinco gêneros, sendo
que Callithrix e Leontopithecus habitam o ecossistema da Mata Atlântica e com um
representante no Cerrado (Callithrix penicillata), ao passo que Mico, Cebuella e Saguinus são
exclusivos do ecossistema Amazônico (VERONA, PISSINATTI, 2006).
Os representantes do gênero Callithrix são os saguis, popularmente conhecidos
por soins no Estado do Ceará. São os menores macacos que existem, pesam entre 200 e 400g
e medem entre 20 e 30 cm. Apresentam pelagem longa, densa, de coloração cinza rajada com
tufos nas orelhas de cor preta (C. penicillata) ou branca (C. Jacchus) (FIGURA 07)
(MORAIS, 2003). São encontrados nas selvas da América do Sul e Central, desde a Zona do
Canal, no Panamá, até o Estado do Paraná. Os grandes centros de distribuição das espécies
são a floresta amazônica e a floresta atlântica. Vivem nas regiões do Nordeste, Centro Oeste e
Norte de São Paulo (MORAIS, 2003).
27
FIGURA 07. Dois representantes do gênero Callithrix. A – Callithrix jacchus, de tufos brancos e BCallithrix
penicillata, de tufos pretos. Fontes: http://www.sciencedaily.com/images/2005/10/051025080057.jpg;
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/86/SAGUI-DE-TUFOS-BRANCOS_2.jpg.
Os saguis são onívoros, alimentam-se tanto de produtos de origem animal quanto
de origem vegetal. Na natureza, os calitriquídeos alimentam-se de insetos, pequenos
vertebrados (aves, répteis, roedores), frutas, ovos, grãos, tubérculos e flores. Possuem
dentição e mordeduras diferenciadas, possuindo caninos inferiores curtos e incisivos
inferiores estreitos e longos, lateralmente compressos e providos na parte dianteira de grossa
camada de esmalte e resistentes ao desgaste, o que favorece a busca de gomas e exsudatos,
sendo capazes de perfurar a casca e fazer buracos em troncos e galhos de árvores. São animais
inteligentes, com expressões faciais e muito ágeis (WISSMAN, 1999; SÁ, 1999, 2004;
VERONA, PISSINATTI, 2006). Em vida livre, os sagüis vivem em grupos familiares,
normalmente com uma fêmea reprodutora, um ou mais machos, dois a quatro subadultos e
dois juvenis, e são animais migratórios, sujeitos a sazonalidade alimentar (VERONA,
PISSINATTI, 2006).
Um fator inerente à Raiva silvestre, diz respeito ao hábito de criar animais
selvagens como animais de estimação, mesmo sendo proibido por lei, e o sagui é a principal
espécie considerada, tendo em vista sua fácil verificação em residências e sítios (MORAIS,
2003). Em regiões brasileiras, o hábito da manutenção de animais da fauna silvestre como
animais de estimação é observado com freqüência (GOMES, 2004; RODRIGUES, 2006;
ZAGO, 2008). O termo “animal de estimação” é utilizado para traduzir “pets” do inglês
(NOVO MICHAELIS, 1983) podendo-se utilizar de forma sinonímia o termo “animal de
companhia”, referindo-se a animal que foi domesticado para convívio com seres humanos por
questões de companheirismo ou convivência (WIKIPÉDIA, 2010).
De acordo com a SECTAM (2002) é considerado crime se a origem do animal
criado em domicílio, não puder ser comprovada, sobretudo se for animal adquirido de
28
traficantes ou contrabandistas, em estradas, depósitos, feiras - livres, através de encomendas
ou similares.
Conforme o Art. 13º da Lei 5.197 de 03 de janeiro de 1967, regulamentada pela
Portaria 117-N, de 15 de outubro de 1997, a compra ou aquisição de animais da fauna
silvestre só pode ser feita em criadouros cadastrados pelo IBAMA (BRASIL, 1967). O
IBAMA não legaliza ou regulariza a posse de animais sem origem conhecida ou que tenham
sido adquiridos em desacordo com o que foi estabelecido pela Lei 5197/67, Lei 9605/98.
Quem tem um animal silvestre em cativeiro deve primeiramente cuidar bem desse animal,
fornecendo a ele alimento e acomodação adequados e, sobretudo, não adquirí-lo sem a devida
permissão, autorização ou licença do IBAMA. O infrator tem a opção de procurar
voluntariamente o IBAMA para entregar o animal sem sofrer penalidades. Porém, caso opte
por manter o animal sem origem legal, e havendo denúncias contra ele, estará sempre sujeito à
aplicação da lei de crimes ambientais (IBAMA, 2010).
Frente aos problemas ambientais devido à manutenção ilegal de animais silvestres
em cativeiro, se faz necessária à educação ambiental na escola sendo que a mesma:
...deve girar em torno de problemas concretos e ter um caráter interdisciplinar. Sua
tendência é reforçar o sentido de valores, contribuir para o bem-estar geral e
preocupar-se com a sobrevivência da espécie humana. Deve, ainda, aproveitar o
essencial da força da iniciativa dos estudantes e de seu empenho na ação, bem como
inspirar-se nas preocupações tanto imediatas quanto futuras (UNESCO, 1997).
A lei 9.795, de 27 de abril de 1999, institui a Política Nacional de Educação
Ambiental (BRASIL, 1999). No capítulo 1, Art° 1, conceitua que:
“entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e
a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e
competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem como de uso
comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade”.
Antes de comprar ou adquirir um animal silvestre é preciso refletir sobre sua
natureza e seus hábitos. Quem adquire um animal da fauna silvestre nativa não sabe qualquer
informação sobre a origem ou o estado de saúde do mesmo, podendo estar sujeito a contrair
um vírus, além de expor o animal a enfermidades (ZAGO, 2008).
Todo animal, independente de ser silvestre ou doméstico, pode ser portador de
zoonoses ou antropozoonoses, além de ser potencialmente defensivo, ou seja, podendo
29
morder e/ou arranhar quando provocado. O ideal é que o animal seja respeitado em suas
características físicas e comportamentais, esteja sob a supervisão de um médico veterinário e
que as pessoas estejam conscientes da existência dos riscos físicos e em relação às doenças,
suas vias de transmissão e contágio (IBAMA, 2010).
No Estado do Ceará, os sagüis representam o maior problema em relação a Raiva
silvestre. Devido a afinidade que as pessoas têm por esses animais, elas os tiram da mata e os
levam para casa, adotando-os como animais de estimação. Muitas vezes, os sagüis são criados
soltos, ou seja, passeiam na mata e, depois, retornam aos domicílios, aumentando
significamente, o risco de disseminação dos vírus da Raiva (MORAIS, ROMIJN, 2004). A
manutenção de sagüis em cativeiro é bastante difundida e antiga, provavelmente devido ao
seu pequeno porte e sua natureza inteligente (WISSMAN, 1999).
Segundo Queiroz, 1998, em sua publicação “100 Animais Brasileiros”, na qual é
incluído o sagui (C. Jacchus), o relato de que este animal é oferecido à venda como marca
registrada os tufos brancos nas orelhas, apesar da proibição. Esses pequenos animais são
facilmente domesticáveis, quando filhotes acostumam-se bem com pessoas de casa. Os
filhotes podem morder por medo, defesa ou brincadeira. Por outro lado, ao chegar à
maturidade sexual, os saguis tornam-se territorialistas, agressivos e poderão morder pessoas
estranhas e até mesmo os proprietários (WISSMAN, 1999).
Quando ao manuseio com qualquer animal de sangue quente que tenha tendência
a morder, a Raiva deve ser considerada. Claramente os macacos se enquadram nessa
categoria. Em primatas não humanos, a Raiva pode manifestar-se sob as formas furiosa e
paralítica. Os sintomas da enfermidade nesses animais são caracterizados principalmente por
hidrofobia e paralisia, mas um animal pode se tornar agressivo e morder, se provocado. A
forma paralítica se caracteriza principalmente pela presença de sintomas clínicos de salivação,
automutilação e paralisia ou morte súbita (FIENNES, 1972; FOWLER, 1986; FENNER,
1993; NIEVES, KESSLER, BERCOVITCH, 1996; ANDRADE et al., 1999).
No Ceará, a presença dos saguis é observada em vários pontos geográficos,
apresentando uma maior concentração populacional em áreas litorâneas (MORAIS, 2003). De
acordo com Morais (2003), o Callithrix jacchus é a principal espécie encontrada nesse
Estado, onde a maioria dos acidentes com esses animais ocorre pela tentativa de capturá-los
no interior das matas ou por imprudência das crianças quando procuram brincar com os
mesmos e acabam sendo atacadas. Esse tipo de acidente é caracterizado como exposição
grave, para a qual é recomendada a prescrição da profilaxia anti-rábica completa, com soro e
30
vacinação (NORMA TÉCNICA DE TRATAMENTO PROFILÁTICO ANTI-RÁBICO
HUMANO, 2002).
Pessoas agredidas por mamíferos silvestres, incluindo os saguis, mesmo em casos
de acidentes leves, como arranhadura superficial, lambedura em pele lesada e/ou mordedura
única ou superficial em tronco ou membros (com exceção de mãos ou pés) devem ser
submetidas a protocolo de vacinação anti-rábica. Em episódios de exposição grave deve-se
iniciar o mais precocemente a imunoprofilaxia, com o esquema vacinal completo, com a
administração do soro e da vacina. Os animais silvestres são considerados de alto risco para a
transmissão do vírus da Raiva, portanto existe essa grande preocupação quanto a profilaxia
pós-exposição (SECRETARIA MUNICIPAL DA SAÚDE, 1994; MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 1995; SECRETARIA DE SAÚDE DO ESTADO, 1999; FUNASA, 2001).
2.4.2 Histórico dos casos de Raiva oriundos de saguis (Callithrix jacchus)
Segundo a Secretaria de Saúde do Estado do Ceará, os primeiros casos de Raiva
humana transmitidos por saguis ocorreram nos municípios de Maranguape, no ano de 1981, e
Itapipoca, em 1984. Agravando-se em 1991, com a notificação de quatro óbitos no litoral
leste do Estado transmitidos por esses pequenos primatas, nos município de Cascavel,
Beberibe e Chorozinho (MORAIS, ROLIM, 1991). Entre o período de 1990 e 2005 foram
relatados 25 casos de Raiva em saguis (Callithrix jacchus). Nesse mesmo período, 13 de 40
casos humanos de Raiva relatados no Estado do Ceará tiveram como fonte de infecção
animais selvagens (FAVORETTO et al., 2006).
Ao longo da década de 90, os casos de Raiva em saguis foram diagnosticados
laboratorialmente, quando levantou-se a hipótese de que a Raiva nesses animais seria causada
por uma variante do vírus que circulava entre esses animais, podendo ocasionalmente ser
transmitido a outras espécies, inclusive ao homem. Sobre essa perspectiva, instaurou-se a
necessidade de se estabelecer estudos filogenéticos (MORAIS, ROLIM, 1991).
No ano de 1998, no litoral Norte do Estado do Ceará, nos municípios de Acaraú,
Camocim e Barroquinha, foram registrados três casos de Raiva humana transmitidos por
saguis. Através de dados levantados pelo Centro de Saúde do município de Acaraú, houve
nesse mesmo ano o atendimento de 152 pessoas agredidas por animais, dos quais 18,4% das
agressões foram provocadas por saguis. O caso humano ocorrido em Acaraú, em 1998, teve
como animal transmissor um sagui, que se encontrava na região próxima à residência da
31
vítima, sendo capturado por crianças da localidade. Alguns dias após a captura uma menor de
17 anos resolveu passear com o animal, colocando-o em seu ombro, sendo vítima então de
uma agressão pelo animal com uma mordida única na orelha. O animal foi mantido em
cativeiro, mas em seguida conseguiu se libertar para as matas com destino indeterminado. De
acordo com a investigação epidemiológica, o animal agressor apresentava sintomatologia
clínica compatível com a Raiva. Contudo, a vítima não buscou atendimento médico para
receber profilaxia anti-rábica pós-exposição, provavelmente, por desconhecer que animais
como sagui podem ser transmissores potenciais da Raiva, e então chegou a óbito (MORAIS,
1998).
Ainda no mesmo ano, o município de Acaraú, registrou também uma agressão por
sagui a uma criança de 12 anos de idade. A criança foi submetida ao esquema de vacinação
anti-rábica completo e não desenvolveu a enfermidade. O animal agressor foi eutanasiado e
amostras do SNC foram enviadas ao laboratório de diagnóstico da Raiva para serem
analisadas. Foram então obtidos resultados positivos (SESA-CE, 2003).
Ainda no ano de 1998, foi registrado outro caso de Raiva humana transmitida por
sagui, no município de Camocim, região litorânea do Estado do Ceará.. A vítima foi agredida
pelo animal quando estava em seu peridomicílio. O animal agressor encontrava-se em
arbustos, vindo ao encontro da vítima e atacando-a no músculo da panturrilha, em várias
mordeduras. A vítima procurou profilaxia anti-rábica, mas não a recebeu. Por estar grávida, a
atendente do posto de saúde confundiu sua procura por vacinas, julgando tratar-se de
vacinação do pré-natal. Esse ato de imperícia condenou à morte a mãe e o feto 42 dias após o
ocorrido (ROLIM, MORAIS, 1998).
Em 2008, ocorreu outro caso de Raiva humana transmitida por sagui, em
Camocim. A vítima foi uma menor de 12 anos, que, brincando com outras crianças, tentou
capturar um sagui que estava em uma árvore em frente a sua residência. Durante a captura o
animal agrediu a criança com uma mordedura no pulso. Em seguida, antes do sagui conseguir
se libertar para as matas próximas, foi oferecido alimentação e água ao mesmo e este os
recebeu bem, o que não condiz com sintomas da Raiva. A menor não recebeu profilaxia anti-
rábica, por desconhecimento da transmissão por estes animais, e foi, então, internada, com
sintomas compatíveis à Raiva, 60 dias após o ocorrido, chegando a óbito. A suspeita do
diagnóstico de Raiva foi confirmada através da técnica de Imunofluorescência Direta,
realizada no laboratório de diagnóstico da Raiva da Secretaria de Agricultura (Dados não
Publicados).
32
Amostras de SNC oriundas dos dois casos de Raiva humana transmitidas por
saguis e do caso de Raiva em sagui descritos acima, ocorridos no ano de 1998 no litoral Norte
do Ceará, foram submetidas ao processo de análise molecular. A avaliação genética dessas
amostras foi realizada a partir do sequenciamento do gene que codifica a proteína N
(nucleoproteína) e então comparados sua relação filogenética com as outras variantes
conhecidas do vírus oriundos de morcegos ou mamíferos terrestres das Américas,
demonstrando haver segregação em um ramo independente da árvore filogenética.
Comparadas entre si, as amostras apresentaram um alto grau de homologia dos nucleotídeos e
não foi encontrada relação genética entre as variantes mantidas por outros reservatórios da
Raiva conhecidos das Américas e as amostras em estudo. Nesse contexto, foi identificada
uma nova variante do vírus rábico, sem nenhuma relação antigênica ou genética com outras
variantes rábicas conhecidas de morcegos ou mamíferos terrestres das Américas, em
associação a casos humanos de Raiva transmitidos por sagui (Callithrix jacchus)
(FAVORETTO et al., 2001).
2.5 Diagnóstico
A Raiva é uma doença de notificação compulsória, cuja confirmação é feita
através do diagnóstico laboratorial. Na maioria dos países do mundo, a raiva em animais e
seres humanos continua sendo diagnosticada com base em sinais e sintomas clínicos (WHO,
2004, apud MORENO, 2007).
O diagnóstico da Raiva pode ser feito clinicamente através da sintomatologia e do
tempo de evolução até a morte do animal, sendo necessários, testes laboratoriais para a
confirmação da doença (KING, TURNER, 1993).
O diagnóstico clínico nos animais torna-se às vezes difícil, existindo casos em que
cães raivosos são considerados não-infectados, podendo também, antes dos primeiros sinais e
sintomas, apresentar vírus nas glândulas salivares e serem liberados junto com a saliva,
aumentando a situação de risco para seres humanos. Nestes, o diagnóstico também pode ser
confundido com outras doenças que apresentam sinais paralíticos (OMS, 1992).
Para realizar o diagnóstico laboratorial da Raiva, o material escolhido é o SNC
(HEUSCHELE, 1987; FISHBEIN, ROBINSON, 1993). Germano et al. (1998), analisando a
disseminação viral por diferentes órgãos, verificaram positividade por Imunofluorescência
Direta (IFD) utilizando-se medula espinhal, cérebro e músculo língual de animais infectados,
enquanto Silva et al. (1973), apud Rolim (2007), observaram presença de antígenos virais na
33
saliva e sua ausência no encéfalo.
De acordo com a Organização Panamericana de Saúde (1983 e 2005), e, até o
presente momento, adotado no Brasil, as técnicas de imunofluorescência direta (IFD)
(FIGURA 08) e Inoculação intracerebral (IC) (FIGURA 09) são utilizadas como provas de
rotina para o diagnóstico laboratorial para Raiva.
FIGURA 08 – Prova de imunofluorescência direta (IFD). Fonte: Rolim, 2007.
FIGURA 09 – Inoculação intracerebral (IC). Fonte: Rolim, 2007.
O diagnóstico laboratorial da Raiva é de fundamental importância, e seus
resultados subsidiam a vigilância epidemiológica para que possam ser definidas as ações de
prevenção e controle da doença (ROLIM et al., 2006).
34
2.6 Prevenção e controle
Uma das principais ações de controle da Raiva concentra-se na aplicação de
vacinas, como forma de imunizar os animais susceptíveis, e desta forma prevenir a raiva
nestes. Dessa forma, é possível evitar o surgimento de casos humanos, ou tentar diminuir a
patamares epidemiologicamente aceitáveis os casos em animais domésticos (MORAIS,
2003).
Programas de vacinação não do homem como também de cães e gatos mantêm
o ciclo urbano da Raiva sob controle. No entanto, a Raiva silvestre está cada vez mais
preocupante no Brasil, pois, ainda não vacinações destinadas aos animais silvestres
(MORAIS, ROMIJN, 2004).
A profilaxia da Raiva humana em um indivíduo potencialmente infectado deve ser
rigorosamente executada. Essa profilaxia pode ser feita pré e pós exposição ao vírus. A
profilaxia pré-exposição, realizada com vacinas, é indicada para pessoas que, por força de
suas atividades profissionais, estejam expostas permanentemente ao risco de infecção pelo
virus da raiva, tais como profissionais e estudantes das áreas de Medicina Veterinária e de
Biologia, profissionais e auxiliares de laboratório de virologia e/ou anatomopatologia para a
raiva (MORAIS, 2003).
A profilaxia pós exposição é indicada para as pessoas que acidentalmente se
expuseram ao virus. Combina a limpeza criteriosa da lesão e a administração da vacina contra
a Raiva, isoladamente ou em associação com o soro ou a imunoglobulina humana anti-rábica.
É o único meio disponível para evitar a morte do paciente infectado, desde que adequada e
oportunamente aplicada (COSTA et al., 2000)
A integração dos serviços de atendimento médico e médico veterinário, a análise
do tipo e das circunstâncias da exposição, a avaliação do animal, da espécie animal
potencialmente transmissora do vírus e do risco epidemiológico da Raiva, na região de sua
procedência, são fatores decisivos para a adoção da conduta adequada (COSTA et al., 2000).
35
3 JUSTIFICATIVA
O presente estudo justifica-se devido a identificação da nova variante do vírus da
Raiva, isolada de sagui, que trouxe à tona o reconhecimento de um grave problema para os
seres humanos, pois o fato de também serem primatas, teoricamente, possibilitaria a
ocorrência da replicação dessa variante de forma viável em células humanas, evento esse
comprovado pela ocorrência de casos humanos (FAVORETTO et al., 2001). Por outro lado, a
freqüente criação desses primatas como animais de estimação no Estado do Ceará constitui
um potencial comportamento de risco para a transmissão dessa variante do vírus da Raiva.
Além disso, o fato de se tratar de uma nova cepa resulta na escassez de estudos
científicos que contribuam para a tomada de decisões no âmbito da saúde pública. Sendo,
assim, de grande relevância o conhecimento das variáveis de risco para a transmissão do vírus
da Raiva relacionadas à criação de saguis, principalmente, no que tange a interação do homem
com animais silvestres. Obtendo-se, assim, subsídios para um controle sanitário eficaz, no
sentido de impedir a difusão da Raiva para o homem quando do seu contato com saguis
infectados, bem como, visando o estabelecimento de um melhor status de segurança em saúde
pública.
36
4 HIPÓTESES CIENTÍFICAS
A criação conjunta de saguis com o homem constitui um potencial risco de transmissão
do vírus da Raiva;
Saguis criados em ambiente doméstico na Região Metropolitana de Fortaleza são
portadores do vírus da Raiva.
37
5 OBJETIVOS
5.1 Objetivo geral
Avaliar os fatores de risco de transmissão do vírus da Raiva oriundo de sagui
(Callithrix jacchus), criado como animal de estimação, para o homem na Região
Metropolitana de Fortaleza no Estado do Ceará, Brasil.
5.2 Objetivos específicos
Verificar o perfil biosociodemográfico dos criadores de saguis da Região
Metropolitana de Fortaleza, estado do Ceará e as variáveis de risco de transmissão
do vírus rábico relacionadas à criação de saguis como animais domésticos;
Analisar a presença de antígenos específicos do vírus da Raiva em amostras de
saliva e sistema nervoso central (SNC) de saguis, domiciliados e
semidomiciliados, através da técnica de Imunofluorescência Direta.
38
6 CAPÍTULO 01
Risco de transmissão do vírus da Raiva oriundo de sagui (Callithrix jacchus),
domiciliado e semidomiciliado, para o homem na Região Metropolitana de Fortaleza,
Estado do Ceará, Brasil
Risks of transmitting rabies virus from captive domiciliary common marmoset
(Callithrix jacchus) to human beings, in the Metropolitan Region of Fortaleza, Ceará,
Brazil
Periódico: Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (Submetido em Maio de
2010)
39
Risco de transmissão do vírus da Raiva oriundo de sagui
(Callithrix jacchus), domiciliado e semidomiciliado, para o homem
na Região Metropolitana de Fortaleza, Estado do Ceará, Brasil
Risks of transmitting rabies virus from captive domiciliary
common marmoset (Callithrix jacchus) to human beings, in the
Metropolitan Region of Fortaleza, Ceará, Brazil
Titulo corrente: RiscodetransmissãodovírusdaRaivadesaguiparaohomememFortalezaCeará
Tereza D’ávila de Freitas Aguiar
1
, Edmara Chaves Costa
1
, Benedito
Neilson Rolim
1
, Phyllis Catharina Romijn
2
, Nélio Batista de Morais
1
,
Maria Fátima da Silva Teixeira
1
1
Laboratório de Virologia (LABOVIR), Universidade Estadual do Ceará, Ceará.
2
Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio de Janeiro, PESAGRO – RIO, Rio de janeiro, RJ.
Apoio financeiro: CAPES – Bolsa de Mestrado; FUNCAP.
Endereço para correspondência: Tereza D’ávila de Freitas Aguiar. Av. Paranjana, 1700, Campus
do Itaperi, 60742000, Fortaleza, CE.
Tel: 85 31019849; Fax: 85 31019849
e-mail: labovirfavetuece@yahoo.com
40
RESUMO
Introdução: Uma nova variante do vírus da Raiva foi identificada em associação a casos de
Raiva humanos, no estado do Ceará, transmitidos por saguis (Callithrix jacchus), primatas
freqüentemente criados como animais de estimação. Essa nova variante não apresenta
proximidade antigênica ou relação genética com as variantes do vírus encontradas em
morcegos e mamíferos terrestres das Américas. O objetivo do estudo foi avaliar os fatores de
risco de transmissão do vírus da Raiva oriundo de sagui (Callithrix jacchus), criado como
animal de estimação, para o homem na Região Metropolitana de Fortaleza, Ceará. Métodos:
Foi aplicado um questionário estruturado aos criadores de saguis, residentes nos municípios
de Aquiraz e Maranguape, Ceará, enfocando o manejo e a interação desses primatas com
humanos. Para avaliação da ocorrência de antígenos rábicos, através do teste de
Imunofluorescência Direta (IFD), foram coletadas amostras de saliva dos saguis domiciliados
e semidomiciliados. Com base nos resultados obtidos desses espécimes foram analisadas
amostras de Sistema Nervoso Central (SNC). Resultados: Na análise dos questionários,
observou-se a proximidade dos criadores de saguis durante o manejo desses animais nos
domicílios, bem como, seus conhecimentos limitados sobre a Raiva, demonstrando haver
risco quanto a transmissão do vírus. De 29 amostras de saliva de saguis reavaliadas, uma
(3,45%) apresentou reação de IFD positiva. De 11 amostras de SNC, três (27,3%)
apresentaram positividade. Conclusões: Os dados laboratoriais estão de acordo com os
achados dos questionários, confirmando haver risco da transmissão do vírus da Raiva devido
a convivência de humanos com saguis (C. jacchus).
Palavras-chave: Sagui. Callithrix jacchus. Vírus da Raiva. Transmissão. Humanos.
ABSTRACT
Introduction: A new variant of the rabies virus was identified, associated with cases of
human rabies, in the state of Ceará, transmitted by common marmosets (Callithrix jacchus),
which are frequently kept as pets. This new variant does not present antigenic proximity or
genetic relationship to the variants of the virus, found in bats and terrestrial mammals from
the American continent. The present study aimed at evaluating the risk factors of transmitting
rabies virus from common marmosets (C. jacchus), kept as pets in the Metropolitan Region of
Fortaleza, Ceará, Brazil, to human beings. Methods: A questionnaire that focused on animal
management and interaction between humans and primates was applied to people who kept
marmosets in the municipalities of Aquiraz and Maranguape. In order to evaluate the presence
41
of rabies antigens, through direct immunofluorescence test (DIF), samples of saliva were
collected from domiciliary captive marmosets. Based on the detection of rabies antigens,
samples of central nervous system (CNS) were analyzed. Results: After questionnaire
analysis, it was found that there is a close relationship between humans and their pet
marmosets, especially during management practices. Additionally, these people showed to
have little knowledge on rabies, which represents a greater risk of infection. Out of 29
evaluated saliva samples, one (3.45%) was positive for DIF reaction and, out of 11 CNS
samples, three (27.3%) were positive. Conclusions: Laboratory data are in accordance with
the questionnaire findings, which confirm the increased risk of rabies virus transmission
because of the close relationship between humans and marmosets.
Keywords: Common Marmoset. Callithrix jacchus. Rabies virus. Transmission. Humans.
INTRODUÇÃO
A Raiva é uma doença infecto-contagiosa, que acomete todos os animais de sangue
quente, é causada por vírus neurotrópicos que atuam no sistema nervoso central (SNC),
provocando uma encefalomielite aguda e quase sempre fatal, resultante principalmente da
transmissão do vírus pela mordedura do animal infectado
1
.
Na saúde pública, a Raiva é tida como uma grave zoonose, sendo classificada
conforme seu ciclo epidemiológico e seu mecanismo de transmissão, em Raiva urbana,
silvestre e rural
2
. A Raiva envolvendo animais silvestres é um perigo constante para o homem
e para os animais domésticos. Quando são acometidos pela Raiva, os animais silvestres se
aproximam das habitações e podem agredir o ser humano e animais domésticos
3
. Os
principais reservatórios silvestres dos vírus da Raiva no Brasil determinam quatro vertentes de
maior relevância para a saúde pública, na atualidade, com respeito à Raiva silvestre. Esses
reservatórios incluem a raposa (Cerdocyon thous), o sagui (Callithrix jacchus), o morcego
hematófago (Desmodus rotundus) e outras 35 espécies de quirópteros
4
.
Apesar das restrições determinadas por lei para a criação de animais silvestres em
cativeiro, atualmente vem crescendo nos grandes centros urbanos brasileiros, o hábito de se
criar animais selvagens como animais de estimação e, dentre os mamíferos, os saguis são
exemplares muito cobiçados, o que é possível de constatação pela presença freqüente desses
animais nas campanhas de vacinação anti-rábica destinadas somente a cães e gatos
5
.
O sagui de tufo branco, Callithrix jacchus, é um pequeno primata de hábitos diurnos
que se alimenta, na natureza, de insetos, pequenos vertebrados, frutas, ovos e exsudato de
42
plantas
6
. Membros dessa espécie tem sido, anos, atração popular em circos e zoológicos,
por sua semelhança comportamental e física com o homem, e tornaram-se também, populares
como animais de estimação. Porém, são transmissores de diversas enfermidades e o seu
convívio com o ser humano é extremamente arriscado, pois são animais susceptíveis a
doenças comuns ao homem e, assim, representam risco potencial para a saúde pública
7
.
No Estado do Ceará, é comum a identificação de saguis (Callithrix jacchus) criados
como animais de estimação, tendo sido registrados inúmeros casos de agressões, sendo esses
animais responsáveis por oito casos de Raiva humana no período de 1991 a 1998. Em
associação a esses casos notificados de Raiva humana, foi identificada uma nova variante do
vírus da Raiva, sem proximidade antigênica ou qualquer relação genética conhecida com as
variantes do vírus da Raiva encontradas em morcegos ou mamíferos terrestres das Américas
8
.
No período de 1990 e 2005 foram relatados 25 casos de Raiva em saguis (Callithrix
jacchus). Nesse mesmo período, 13 de 40 casos humanos de Raiva relatados no Estado do
Ceará tiveram como fonte de infecção animais selvagens, incluindo o sagui
9
. Nesse estado, os
saguis representam grande problema em relação a Raiva silvestre
10
.
Portanto, nesse trabalho, os autores tiveram como objetivo avaliar os fatores de risco
de transmissão do vírus da Raiva oriundo de sagui (Callithrix jacchus), criado como animal
de estimação, para o homem na Região Metropolitana de Fortaleza no Estado do Ceará,
Brasil.
MATERIAL E MÉTODOS
Fase Exploratória
Foram identificadas residências onde o sagui (Callithrix jacchus) era criado como
animal doméstico, através de um boletim de cadastro de criadores de animais silvestres
fornecido pela Secretaria de Saúde do Estado do Ceará
11
. O contato com os estabelecimentos
identificados se deu por meio de visitas. As áreas inclusas na pesquisa foram os municípios de
Aquiraz e Maranguape na Região Metropolitana de Fortaleza, Estado do Ceará.
Os sujeitos da pesquisa foram proprietários de saguis, estabelecendo-se uma amostra
não probabilística do tipo intencional. Os critérios de inclusão dos participantes compreendeu
a criação desses animais de interesse e a concordância em tomar parte da entrevista, enquanto
o critério de exclusão baseou-se na discordância em participar da pesquisa.
O instrumento de investigação foi um questionário estruturado constituído por perguntas
referentes aos dados gerais dos informantes e sobre o modo de criação do sagui como animal
43
doméstico, enfocando a forma de manejo desse animal e se o mesmo tem contato próximo
com humanos.
O questionário passou pelo pré-teste, visando-se identificar falhas metodológicas
passíveis de existir nesse tipo de instrumento. O pré-teste foi executado com dois
proprietários de saguis, sendo um residente em cada município do estudo. Após a tabulação, o
questionário foi reformulado, “tendo em vista o seu aprimoramento e o aumento de sua
validez”
12
. Os resultados definitivos dos questionários foram compilados em um banco de
dados do programa EXCEL, organizados e apresentados na forma de gráficos e tabelas, sendo
agrupados para a realização de análise descritiva dos elementos sobre investigação.
Foram considerados nessa pesquisa, os referenciais básicos da Bioética, baseados nos
pressupostos da autonomia, não-maleficência, beneficência e justiça, de observância
obrigatória, nos casos de investigações de cunho científico com participantes humanos. Por
ocasião da entrevista foi apresentado aos participantes o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido, cujo teor abrange esclarecimentos a cerca da natureza da pesquisa,
voluntariedade da participação e garantia do sigilo concernente às informações coletadas.
Esse pesquisa passou pela apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade Estadual do Ceará (CEP/UECE), sendo aprovado, sob o número do processo
09230145-2, estando de acordo com as disposições da Resolução 196 de 10 de outubro de
1996 do Conselho Nacional de Saúde
13
, responsável pela deliberação de diretrizes e normas
aplicadas à pesquisa com seres humanos.
Metodologia para trabalhar com os animais
As manipulações realizadas com os saguis seguiram as normas determinadas pelos
órgãos competentes, havendo autorização do IBAMA para coleta de amostras biológicas. A
metodologia para trabalhar com os animais foi baseada nas diretrizes ministradas em
treinamentos de Vigilância da Raiva Silvestre, realizados anualmente entre 2002 e 2006.
O presente trabalho passou pela apreciação da Comissão de Ética para o Uso de
Animais da Universidade Estadual do Ceará (CEUA/UECE) e foi aprovado, registrado sob o
número 09230147-9/63, estando de acordo com os Princípios Éticos de Experimentação
Animal.
44
Coleta das amostras
Para a coleta das amostras de saliva, os saguis (Callithrix jacchus) foram imobilizados
tanto física como quimicamente. Os saguis foram manipulados com luvas de raspa de couro e,
os membros da equipe presentes durante a coleta, utilizaram todos os equipamentos de
proteção individual (EPI’s), conferindo-lhes maior segurança. Para a contenção física dos
saguis semidomiciliados foram utilizadas gaiolas-armadilha e puçás.
Para a imobilização química foi utilizado o isômero levógiro da cetamina na dose de
0,2 mg/kg para analgesia e até 5 mg/kg para indução anestésica por via intramuscular. Em
alguns animais foi necessário a utilização da associação com o cloridrato de xilazina, na dose
de 0,5 mg/kg, por via intramuscular
14
.
Amostras de saliva
Foram coletadas amostras de saliva de saguis (Callithrix jacchus) domiciliados e
semidomiciliados nos municípios de Aquiraz e Maranguape na Região Metropolitana de
Fortaleza no Estado do Ceará. Para a coleta foram utilizados swabs e foi realizada a raspagem
do assoalho da cavidade bucal do animal, sendo em seguida armazenado em tubos eppendorf
contendo TRIzol®.
A coleta de saliva dos saguis foi realizada em dois momentos. No primeiro, as
residências referentes ao estudo foram visitadas para a realização da coleta.
O segundo momento, cinco meses após o primeiro, se deu com o maior objetivo da
execução da fase exploratória do estudo, onde todas as residências foram revisitadas. Foi
então aproveitado o momento para realizar novamente a coleta de saliva dos saguis.
Amostras de SNC
Com base nos resultados da análise das amostras de saliva dos saguis, positivas para a
Raiva no teste de Imunofluorescência Direta (IFD), os respectivos animais foram recolhidos
por funcionários treinados da Secretaria de Saúde do Estado do Ceará com o objetivo de
realizar a confirmação da positividade, sendo eutanasiados para a coleta de amostras de SNC
e análise para a presença de antígenos da Raiva através da técnica de IFD.
O material coletado, tanto de saliva quanto de SNC, foi embalado de acordo com as
normas de biossegurança
15
, e transportado, sob refrigeração de 2 a 8ºC, em veículo exclusivo
45
da Secretaria de Saúde do Estado, ao Laboratório de Virologia da Universidade Estadual do
Ceará.
Chegando ao laboratório, as amostras foram armazenadas a -20°C, em freezer
exclusivo para diagnóstico da Raiva e, posteriormente, foram analisadas, através da técnica de
Imunofluorescência Direta.
Imunofluorescência Direta
Os procedimentos que foram empregados no preparo e leitura das lâminas, tanto das
amostras de saliva quanto de SNC, submetidas ao teste de IFD, seguiram, basicamente, as
diretrizes preconizadas por DEAN e cols.
16
com as alterações no período de incubação do
conjugado propostas por ROEHE e cols.
17
, ao invés da incubação por meia hora, foi utilizado
um período maior, de duas horas. O intuito foi o de se obter uma fluorescência de intensidade
sensivelmente maior em relação à metodologia padrão recomendada, bem como, possibilitar,
segundo os autores, uma completa inibição da fluorescência sobre os controles.
A leitura da reação foi executada no microscópio binocular de imunofluorescência da
marca Zeiss, equipado com uma lâmpada de vapor de mercúrio HBO 50, filtro excitador VGI
e filtro barreira Zeiss 43, no aumento de 400X em campo escuro.
Cada impressão foi examinada independentemente e classificada por dois
observadores sob sistema duplo-cego, considerando-se a modalidade de controle de “bias” de
mensuração
18
. Na ocorrência de desacordo frente aos critérios de classificação, os respectivos
casos foram reexaminados no intuito de se estabelecer um consenso.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Perfil biossóciodemográfico dos criadores de sagui (Callithrix jacchus)
A partir do boletim de cadastro de criadores de animais silvestres, foram identificadas
19 residências onde o sagui (Callithrix jacchus) era criado como animal de estimação,
distribuídas quase que homogeneamente entre os municípios de Aquiraz (47%) e Maranguape
(53%) na Região Metropolitana de Fortaleza no Estado do Ceará. A escolha da região
metropolitana se deu por ser a área de maior concentração populacional do estado, sendo
selecionados municípios com registro de casos de Raiva silvestre
19
.
Foram realizadas entrevistas com os 19 chefes de família dos domicílios, utilizando
como instrumento de trabalho um questionário estruturado. Nenhuma residência da pesquisa
possuía menos de três habitantes e a presença do sagui criado como animal de estimação foi
46
mais freqüente nos domicílios que possuía três a cinco habitantes 11/19 (57,89%). O número
médio de habitantes por residência foi de cinco habitantes. Esses dados estão de acordo com
Rodrigues
20
, que observou uma maior freqüência da criação de animais silvestres em
domicílios contendo de três a cinco moradores. Os criadores de animais silvestres em
cativeiro, provavelmente o fazem, para que seus filhos os tenham como mascote, uma vez que
em habitações contendo três a cinco moradores é mais freqüente a existência desses animais
20
.
Mais da metade dos domicílios 10/19 (52,63%) apresentava crianças. Essa questão é
importante devido a maior facilidade de contato de crianças com os saguis, normalmente, na
procura de diversão, representando um fator a mais de risco. Conforme Morais
21
, quanto a
Raiva, os acidentes envolvendo saguis ocorrem em sua maior parte na tentativa de captura no
interior das matas ou por lazer de crianças, que buscam brincar com os mesmos e acabam
sendo mordidas.
Durante a entrevista, foi questionado qual o maior grau de escolaridade dentre os
habitantes de cada domicílio do estudo. Na maior parte dos domicílios os criadores de saguis
apresentavam baixo grau de instrução, sendo os mesmos analfabetos ou tendo apenas cursado
o ensino fundamental incompleto, perfazendo 31% (6/19) e 53% (10/19), respectivamente.
Um pequena minoria, 16% (3/19), tinha concluído o ensino médio. Esses dados corroboram
com os achados de Ferreira e cols.
22
e Nunes e cols.
23
, que observaram que a baixa
escolaridade implica no hábito da manutenção de animais silvestres em cativeiro.
A maioria das residências do estudo estava localizada em zona urbana (74%) e todas
situavam-se em áreas periféricas. Esses achados estão de acordo com os resultados de
Rodrigues
20
onde foi observado que a maioria (79,78%) dos domicílios que possuía animais
silvestres em cativeiro estava localizado na região periférica. Com base nos resultados do
presente estudo e de pesquisas realizadas
20,24
, pode-se inferir que os animais silvestres estão
cada vez mais atingindo o perímetro urbano, ultrapassando a barreira entre zona rural e zona
urbana. Assim, a medida que a urbanização desses animais vai aumentando, dificulta-se a
classificação dos ciclos da Raiva, entre urbano e silvestre.
Particularidades quanto a criação do sagui (Callithrix jacchus)
Mais da metade das habitações, 11/19 (57,89%), mantinha os saguis (Callithrix
jacchus) somente em domicílio, enquanto que 36,84% (7/19) mantinha em semidomicílio.
47
Dentre as residências, 1/19 (5,26%) mantinha saguis tanto de forma domiciliada quanto
semidomiciliada. Esse caso mereceu destaque, devido a facilidade de contração de doenças
pelos saguis dessa residência. O fato dos saguis semidomiciliados viverem em “vida livre” e
se aproximarem dos saguis domiciliados, por serem animais altamente sociáveis e estarem
sempre à procura de alimento
25
, aumenta a probabilidade da transmissão de doenças, em
destaque a Raiva.
Na tabela 01, podemos evidenciar que dentre os saguis criados em domicílio a
presença de apenas um animal foi mais freqüente, sendo observada em 58,33% (7/12) dos
domicílios. A quantidade média de saguis domiciliados por residência foi dois animais. Os
participantes da pesquisa que criavam saguis no semidomicílio disseram a quantidade
aproximada dos mesmos, perfazendo um total de 23 animais. A quantidade média de saguis
semidomiciliados por habitação foi três saguis. Destaca-se o caso do domicílio que mantinha
os saguis de ambas as formas de criação, pois o mesmo apresentou a maior quantidade de
saguis, 11 domiciliados e vários outros semidomiciliados. Possibilitando, assim, reforçar a
preocupação em relação ao grande risco da transmissão de zoonoses aos habitantes por tais
animais.
O tempo médio de criação dos saguis nos domicílios foi aproximadamente 10 anos. De
acordo com esse dado, nota-se que a criação de saguis em cativeiro no Estado do Ceará não é
um hábito recente.
Dentre as diversas formas de obtenção dos saguis domiciliados, a captura pelos
próprios criadores foi observada com maior freqüência, seguida da doação por amigos ou
parentes, perfazendo 50% (6/12) e 25% (3/12), respectivamente. Esses dados corroboram com
os achados de Rodrigues
20
que observou que a captura de animais silvestres em Brejo Grande
do Araguaia é a forma de aquisição mais freqüente por criadores (57,05%). Mas difere dos
achados de Firmino & Seixas
26
, onde observaram que a maioria dos animais silvestres
mantidos em cativeiro em Campo Grande foi doado (39,57%), seguido da captura na natureza
pelos seus próprios criadores (33,19%).
Todos os criadores de saguis domiciliados do estudo estavam em desacordo com a
legislação nacional de crime ambiental
27
, uma vez que os mesmos não possuíam licença do
IBAMA para a criação dos animais e os mesmos terem sidos capturados da natureza.
Das diferentes formas de manutenção dos saguis domiciliados, a resposta mais
observada foi em gaiola e solto, em associação, perfazendo uma porcentagem de 41,67 (5/12),
no entanto, as outras formas de manutenção, apenas em gaiola e apenas solto, também foram
48
freqüentes, obtendo-se uma porcentagem de 33,33 (4/12) e 25 (3/12), respectivamente. Em
um estudo realizado com mamíferos silvestres mantidos em cativeiro, foi observado que 60%
dos animais eram mantidos acorrentados, 20% mantidos soltos e 20% em cercados, como em
gaiola
20
; nesse estudo, o índice de mamíferos silvestres presos por corrente foi mais elevado,
provavelmente devido a maioria dos mamíferos inclusos no trabalho ser de grande porte,
impossibilitando ou dificultando sua manutenção em cercados.
O tipo de alimentação fornecida aos saguis pelos criadores na maioria dos casos foi
frutas combinadas com comida caseira e/ou industrializada, 73,68% (14/19). A classificação
comida caseira refere-se à alimentação a base de arroz e feijão. em relação à comida
industrializada algumas citadas merecem destaque, como: biscoito, iogurte, pão com leite,
água com açúcar e bombom. Animais silvestres são extremamente exigentes, quando
mantidos em cativeiro e para manter sua saúde em boas condições é necessário que se
mimetize ao máximo o habitat de cada animal, havendo exigências específicas quanto a
alimentação de cada espécie; os calitriquídeos necessitam de dieta variada e rica em
proteínas
25
. Nota-se que os animais em questão não receberam alimentação que suprisse suas
necessidades nutricionais, podendo, assim, interferir no seu comportamento. Segundo Verona
& Pissinatti
25
, o manejo e a alimentação de macacos e saguis em cativeiro favorece alterações
comportamentais, devido a ausência de contatos sociais, bem como de variações sazonais do
processo alimentar e nutricional extremamente diversificado na natureza.
Mais da metade (58,33%) dos criadores de saguis domiciliados afirmaram que os
respectivos animais mantinham contato com outros saguis que viviam em “vida livre”. Como
já mencionado, esse fato contribui para aumentar o risco de contrair doenças por esses
animais, pois saguis em “vida livre” podem alcançar ambientes e/ou animais infectados, e sua
aproximação com saguis domiciliados aumenta a probabilidade da transmissão de doenças.
Quase todos os criadores de saguis, 16/19 (84%), mantinham outra espécie animal em
seu domicílio. Apenas 16% (3/19) dos criadores afirmou não possuir outro tipo de animal na
residência, com a presença somente dos saguis como animais de estimação. Todos os
criadores 16/16 (100%) que afirmaram possuir outros animais de estimação, além do sagui,
tinham ou o cão e/ou o gato como representantes, sendo observado em 50% (8/16) a presença
de ambas as espécies. Essa questão é importante, pois cães e gatos são animais domésticos
que normalmente interagem com seus donos e o contato direto desses animais com os
habitantes é normalmente observado. No entanto, o contato direto também dos saguis com
animais domésticos é provável de ocorrer, devido a alta sociabilidade dos saguis, provocando
49
interações com cães e gatos, em “brincadeiras”, e ao potencial defensivo de todos os animais,
com a possibilidade de ocorrer mordidas, arranhaduras, entre outros, quando provocados.
Nesse contexto entra a Raiva, doença transmitida principalmente pela mordedura de animais a
outros animais e/ou a humanos. O sagui infectado com o vírus da Raiva pode se tornar
agressivo, se provocado
28
, podendo, assim, transmitir o vírus diretamente aos humanos e/ou
aos seus animais domésticos
Do total dos criadores que responderam ter outras espécies de animais em sua
residência, além do sagui, 56,25% (9/16) afirmou que o sagui mantinha contato com esses
outros animais. Desses, a maioria dos criadores referenciou que seus cães e/ou seus gatos
costumavam brincar com os saguis.
Um outro questionamento do estudo, foi se o sagui havia fugido ou desaparecido do
domicílio. Essa questão enfatiza o fato do maior risco desses animais contrair doenças,
inclusive a Raiva, e as transmitir aos humanos e/ou a seus animais domésticos. Os criadores
de saguis semidomiciliados não estão inclusos nesse questionamento pelo fato desses animais
rotineiramente desaparecer e reaparecer em seus domicílios. Mais da metade dos criadores de
saguis domiciliados 7/12 (58%) responderam que o animal havia fugido alguma vez, e, o
mesmo, permaneceu desaparecido por no mínimo um dia.
Depois do desaparecimento, após a chegada do sagui ao domicílio, 41,67% (5/12) dos
criadores afirmaram notar alguma alteração no animal. As alterações citadas foram “trauma”,
“tristeza” e/ou “fraqueza”. Dois criadores referiram que o animal retornou “triste” e entrou em
óbito pouco tempo após seu reaparecimento, contudo não foi enviado material para a
realização de diagnóstico laboratorial. Segundo a Secretaria da Saúde do Estado de São
Paulo
29
, todos os mamíferos silvestres que morrerem ou forem encontrados mortos são
suspeitos de Raiva e devem ser encaminhados para diagnóstico laboratorial da Raiva.
A ocorrência do contato entre humanos e saguis é um fator de risco de grande
relevância no tocante à Raiva. Dentre os criadores entrevistados, a grande maioria (84,21%)
afirmou que já teve contato com os animais (Figura 1). Esse fato indica quão próximos são os
saguis de seus criadores (Figura 2a,b) e a partir dessa interação aumenta a probabilidade da
ocorrência de agressões e da transmissão de doenças, incluindo o vírus da Raiva.
A interação entre homens e animais de estimação baseia-se em aspectos afetivos e
emocionais podendo funcionar como fator de proteção à saúde, especialmente psíquica.
Contudo, os riscos existem e se materializam como zoonoses e agressões, assim, deve-se levar
em consideração o equilíbrio entre os ganhos advindos dessa relação e a ocorrência de danos à
50
saúde dos seres humanos e não humanos
30
. Mais da metade dos entrevistados, 11/19 (58%),
afirmou a ocorrência de agressões provocadas pelos saguis criados como animais de
estimação a humanos e/ou a outra espécie animal. A maioria das agressões envolveram
humanos, perfazendo um total de 73% (8/11). Os primatas não humanos são reservatórios de
várias zoonoses, entre as quais a Raiva, doença mortal. Um estudo realizado sobre o
envolvimento de macacos em acidentes com humanos e tratamentos profiláticos para a Raiva
no Estado de São Paulo, mostrou que as principais espécies responsáveis por agressões foram
Cebus sp. (macaco-prego) e Callithrix sp. (sagui)
31
.
A maioria dos indivíduos agredidos por sagui criado como animal doméstico, no
Ceará, não procurou profilaxia anti-rábica pós-exposição, perfazendo um total de 75% (2/8).
Essa falta da procura de profilaxia provavelmente ocorreu devido o conhecimento limitado
sobre a doença, principalmente no que diz respeito à transmissão do vírus da Raiva pelos
saguis.
A população, em geral, sabe que cães e gatos podem transmitir a Raiva. Porém,
desconhecem que morcegos, raposas, saguis e outros animais silvestres também são
transmissores da doença. Por isso, ao serem mordidas por esses bichos, elas não procuram
assistência médica e, assim, correm sério risco de ser vítimas da doença
10
.
No Brasil, foram notificados 873 casos de Raiva em humanos, na década de 1980 a
1989, dos quais 4 (0,5%) casos foram transmitidos por macacos; no período de 1990 a 1999
se registrou uma significativa queda na incidência de Raiva em humanos com 408 casos, dos
quais o macaco foi o transmissor em 9 (2,2%) casos. O macaco é a quarta espécie
transmissora da Raiva a humanos, sendo superada apenas pelos cães, morcegos e gatos
32
.
Foi questionado aos criadores sobre o conhecimento da doença e sua forma de
transmissão. Relativo ao conhecimento da Raiva, situou-se a maioria dos criadores no
conhecimento limitado da doença (68%), 21% afirmou não conhecer e 47% apenas ouviu
falar da doença. Quanto à forma de transmissão da Raiva, mais da metade dos criadores
(58%) afirmaram não conhecer a maneira como a mesma é transmitida. Diante do exposto,
emerge a hipótese de não haver riscos, quanto a Raiva, oriundos da convivência e interação
dos humanos com saguis, sendo esta uma associação preocupante quando se imagina que os
conhecimentos de um indivíduo funcionam, de fato, como um guia para a ação
30
. Os
resultados observados nessas questões demonstram que, devido o conhecimento limitado dos
criadores sobre o tema, pode haver comprometimento na tomada de decisões quanto aos
51
cuidados com os saguis, bem como, em situações de risco, relativas a convivência com esses
animais silvestres, que impliquem em sua saúde, sendo essa uma informação significativa
para o trabalho.
A tabela 02 apresenta a correlação do nível de escolaridade dos criadores de sagui,
segundo o conhecimento da Raiva. Esse cruzamento de dados permite avaliar se o nível de
escolaridade dos criadores está relacionado com o conhecimento sobre a Raiva. Diante dos
dados observados, nota-se que o baixo nível de escolaridade interfere no conhecimento da
doença, visto que dos 16 criadores, que apresentavam baixo nível de escolaridade (analfabeto
ou nível fundamental incompleto), apenas 19% (3) afirmou conhecer a Raiva. Por outro lado,
todos os criadores (3/3), que tinham concluído o nível médio, afirmaram conhecer a doença.
A quase totalidade dos criadores de saguis (94%), que também possuíam cães e/ou
gatos em seu domicílio, declararam levar seus animais domésticos às campanhas de
vacinação anti-rábica promovidas pela Secretaria de Saúde. No entanto, poucos criadores
(13%) relataram levar os saguis às campanhas de vacinação anti-rábica, destinadas somente à
imunização de cães e/ou gatos e afirmaram que os mesmos nunca foram vacinados.
Programas de vacinação não do homem como também de cães e gatos mantêm o
ciclo urbano da Raiva sob controle. No entanto, o combate à Raiva silvestre ainda é
deficiente
10
. A vacina anti-rábica de cultivo celular foi testada em saguis, obtendo eficácia
na imunização desses animais, com a produção de títulos suficientes para conferir proteção
aos mesmos
5
. No entanto, não existe ainda no Brasil a produção de vacinas anti-rábicas com a
finalidade de imunizar saguis em campanhas, provavelmente pelo fato de ser um animal
silvestre proibido por lei de ser criado em ambiente doméstico e a vacinação desses animais
poderia estimular esse hábito, uma vez que dessa forma os criadores estariam mais seguros
quanto a profilaxia da doença envolvendo tais animais.
Detecção do vírus da Raiva pela técnica de Imunofluorescência Direta (IFD)
Amostras de saliva
Referente ao primeiro momento da coleta, um total de 52 amostras de saliva de saguis
foram coletadas sendo destas, 29 amostras provenientes de animais domiciliados e 23 de
semidomiciliados. Na análise pela técnica de IFD todas as amostras (52/52) foram negativas
para a presença de antígenos específicos do vírus da Raiva. no segundo momento, foram
52
novamente coletadas amostras de saliva dos 29 saguis domiciliados. Nesse momento só foram
coletadas amostras dos animais domiciliados devido a maior facilidade de acesso aos
mesmos. Das 29 amostras analisadas, uma (3,45%) apresentou fluorescência positiva com a
presença de antígenos específicos do vírus da Raiva no teste de IFD (Figura 3a).
Durante a imobilização dos saguis para as coletas de saliva não foi observada qualquer
sintomatologia suspeita da Raiva nos animais.
Muitas vezes o diagnóstico clínico da Raiva nos animais torna-se difícil, havendo casos
em que animais raivosos são considerados não-infectados, podendo também, antes dos
primeiros sinais e sintomas, apresentar vírus nas glândulas salivares e serem liberados junto
com a saliva, aumentando a situação de risco para seres humanos
33
.
A confirmação da Raiva somente é realizada através de diagnóstico laboratorial
34
. A
técnica de IFD também já foi utilizada para diagnóstico laboratorial da Raiva anti-mortem, em
espécimes ricas de elementos neurais, como por exemplo em folículos pilosos da região da
nuca, mucosa bucal, esfregaços de córnea e de saliva, obtendo-se resultados positivos para
antígenos da Raiva
35, 36
.
Segundo Fekadu
37
a eliminação de partículas virais da Raiva na saliva depende do
estágio em que a doença se encontra no indivíduo, podendo esta eliminação ocorrer alguns
dias antes do aparecimento da manifestação clínica, mas ocorre de forma intermitente em
indivíduos aparentemente saudáveis. Em estudos realizados com amostras de saliva de
animais raivosos tem-se obtido excelentes resultados positivos, através da biologia molecular,
com a técnica de Reação em Cadeia da Polimerase utilizando a enzima transcriptase reversa
(RT-PCR)
38,39
.
Amostras de SNC
A partir do resultado positivo para a Raiva no teste de IFD na amostra de saliva de um
sagui, a respectiva residência foi novamente visitada para o recolhimento do animal.
Chegando à residência foi observado que o caso em questão estava dentre 11 saguis
domiciliados e, devido a impossibilidade de identificação do mesmo, todos os animais (11)
foram recolhidos para a confirmação da positividade através da análise de amostras de SNC.
Das 11 amostras de SNC analisadas, 3/11 (27,3%) apresentaram fluorescência positiva com a
presença de antígenos específicos do vírus da Raiva na técnica de IFD (Figura 3b).
O teste padrão ouro, aprovado tanto pela WHO como pela OIE, para o diagnóstico
laboratorial da Raiva é o teste de IFD em amostras de tecido cerebral, realizado post-
53
mortem
16,35
. É de grande importância a investigação epidemiológica após obtenção de
resultado positivo para antígenos da Raiva a partir de amostra de saliva. os resultados
negativos a partir do mesmo espécime não podem ser considerados conclusivos, sendo
necessário um teste de confirmação do diagnóstico, pois a presença de partículas virais da
Raiva na saliva normalmente ocorre de forma intermitente. Segundo Kasempimolporn e
cols.
40
, amostras de saliva podem ser utilizadas como uma alternativa no diagnóstico
laboratorial da Raiva. No entanto, é necessário um teste de confirmação do diagnóstico,
devido à baixa carga viral na saliva quando comparada ao tecido cerebral e devido à
eliminação de partículas virais da Raiva na saliva ocorrer de forma descontínua.
CONCLUSÕES
A baixa escolaridade está diretamente relacionada ao hábito de manter saguis
(Callithrix jacchus) em ambiente doméstico no Estado do Ceará, sendo os domicílios locais
inadequados para a criação de saguis, pois não propiciam bem-estar ao animal, podendo
ocasionar alterações comportamentais nos mesmos.
Os saguis (Callithrix jacchus) representam risco, quanto a transmissão da Raiva,
às pessoas que mantêm esses animais em domicílio ou em semidomicílio.
Os dados laboratoriais estão de acordo com os achados da análise dos
questionários aplicados aos criadores de saguis (Callithrix jacchus) e confirmam o risco da
convivência de humanos com esses animais no Estado do Ceará.
A educação ambiental associada à educação em saúde devem ser usadas como
ferramentas para o desestímulo da prática da criação de saguis em cativeiro.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos à Secretaria de Saúde do Estado do Ceará pelo apoio técnico e de recursos
humanos. À CAPES pela ajuda financeira mediante a concessão de Bolsa de Mestrado e a
FUNCAP pelo suporte financeiro.
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58
TABELA 1
Distribuição da quantidade de saguis (Callithrix jacchus) e de domicílios, segundo o modo
de criação dos saguis. Ceará, Brasil (2009).
Modo de criação
Quantidade de
saguis
Quantidade de
domicílios
Nº total de saguis
1
7 (58,33%)
7
2
2 (16,66%)
4
3
1 (8,33%)
3
Domiciliado
4
1 (8,33%)
4
Domiciliado e
semidomiciliado
11*
1 (8,33%)
11
Subtotal
-
12 (100%)
29
Semidomiciliado
Vários
7
23
Subtotal
-
7
23
Total
-
19
52
Fonte: Pesquisa direta
* Os 11 animais referidos na tabela eram mantidos de forma domiciliada. O criador não soube
aproximar a quantidade de saguis que mantinha em situação semidomiciliada, portanto, esses o
foram contabilizados no estudo.
59
FIGURA 1
Distribuição percentual da ocorrência de contato direto entre os criadores e o sagui (Callithrix jacchus). Ceará,
Brasil (2009).
60
FIGURA 2
Contato direto de um criador com o sagui (Callithrix jacchus) domiciliado (A e B). Ceará, Brasil (2009).
61
TABELA 2
Distribuição do grau de escolaridade, segundo o conhecimento da Raiva, pelos criadores de sagui (Callithrix
jacchus). Ceará, Brasil (2009).
Conhecimento da doença da Raiva
Sim
Não
Já ouviu falar
Total
Grau de
escolaridade
Abs.
Rel.
Abs.
Rel.
Abs.
Rel.
Abs.
Rel.
Analfabeto
2
33,33
2
50,00
2
22,22
6
31
Fundamental
1
16,67
2
50,00
7
77,78
10
53
Médio
3
50,00
-
0,00
-
0,00
3
16
Total
6
100,00
4
100,00
9
100,00
19
100,00
Fonte: Pesquisa direta
62
FIGURA 3
Reações de IFD positivas para antígenos da Raiva em amostras de saliva e SNC de sagui (Callithrix jacchus). A
- Amostra de saliva; B – Amostra de SNC. Objetiva 40x. Fonte: LABOVIR - UECE, 2010.
63
7 CAPÍTULO 02
RISCO DE TRANSMISSÃO DA RAIVA PELO CONTATO COM SAGUIS (Callithrix
jacchus) NO ESTADO DO CEARÁ.
RISK OF RABIES TRANSMISSION BY HUMAN CONTACT WITH MARMOSETS
(Callithrix jacchus) IN CEARÁ
RIESGO DE TRANSMISION DE RABIA POR EL CONTACTO CON SAGUIS
(Callithrix jacchus) EN EL ESTADO DE CEARÁ.
Periódico: Revista Veterinária e Zootecnia (Em fase de finalização para submissão)
64
RISCO DE TRANSMISSÃO DA RAIVA HUMANA PELO CONTATO COM SAGUIS
(Callithrix jacchus) NO ESTADO DO CEARÁ
Tereza D’ávila de Freitas Aguiar
3
Rosivaldo Quirino Bezerra Júnior
1
Edmara Chaves Costa
1
Benedito Neilson Rolim
1
Phyllis Catharina Romijn
4
Nélio Batista de Morais
3
Maria Fátima da Silva Teixeira
4
RESUMO
Uma nova variante do vírus da Raiva foi identificada em associação a casos de Raiva
humanos, no estado do Ceará, transmitidos por saguis (Callithrix jacchus), primatas
frequentemente criados como animais de estimação. O objetivo do estudo foi fazer um
levantamento dos fatores de risco de transmissão da Raiva humana pelo contato com saguis
(Callithrix jacchus) domiciliados e semidomiciliados na região metropolitana de Fortaleza,
Ceará. Foi aplicado um questionário aos criadores de saguis (C. jacchus), residentes nos
municípios de Aquiraz e Maranguape, Ceará, enfocando o manejo da criação desses animais,
dando ênfase à probabilidade de seu contato próximo com o homem. Foram identificadas 19
residências onde mantinham saguis (C. jacchus) como animais de estimação. A análise dos
questionários mostrou a proximidade dos criadores com os saguis, durante o manejo desses
primatas nos domicílios. Os saguis (C. jacchus) representam risco, quanto a transmissão da
Raiva, às pessoas que mantêm esses pequenos primatas em ambiente doméstico.
Palavras-chave: Sagui, Callithrix jacchus, humanos, risco, Raiva.
3
Aluno do Programa de Pós-graduação em Ciências Veterinárias da Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza -
Ceará.
4
Pesquisadora da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio de Janeiro, PESAGRO – RIO, Rio de janeiro, RJ.
3
Aluno da Rede Nordeste de Biotecnologia (RENORBIO) da Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza -
Ceará.
4
Professora Doutora do Programa de s-graduação em Ciências Veterinárias da Universidade Estadual do
Ceará, Fortaleza - Ceará.
Apoio financeiro: CAPES – Bolsa de Mestrado; FUNCAP.
Local de execução: Universidade Estadual do Ceará. Av. Paranjana, 1700, Campus do Itaperi, 60742000,
Fortaleza, CE.Tel: 85 31019849; Fax: 85 31019849.
e-mail: labovirfavetuece@yahoo.com (endereço para correspondência)
65
RISK OF RABIES TRANSMISSION BY HUMAN CONTACT WITH MARMOSETS
(Callithrix jacchus) IN CEARÁ
ABSTRACT
A new variant of the Rabies virus was identified, associated with cases of human rabies, in the
state of Ceará, transmitted by common marmosets (Callithrix jacchus), which are frequently
kept as pets. The present study aimed at evaluating the risk factors of transmitting of human
Rabies by contact with domiciliary captive common marmosets (C. jacchus) in the
metropolitan region of Fortaleza, Ceará. A questionnaire that focused on animal management
and interaction between humans and primates was applied to people who kept marmosets in
the municipalities of Aquiraz and Maranguape. 19 residences were identified where they had
common marmosets (C. jacchus) as pets. After questionnaire analysis, it was found that there
is a close relationship between humans and their pet marmosets, especially during
management practices. The common marmosets (C. jacchus) represent risk, as the
transmission of Rabies, to people who keep these small primates in the home environment.
Keywords: Common Marmoset, Callithrix jacchus, contact, humans, Rabies.
RIESGO DE TRANSMISION DE RABIA HUMANA POR EL CONTACTO CON
SAGUIS (Callithrix jacchus) EN EL ESTADO DE CEARÁ.
RESUMEN
Una nueva variedad de virus de rabia fue identificado y asociado a casos de rabia en humanos
en el estado de Ceará, transmitidos por sagüis (Callithrix jacchus), primate frecuentemente
criado como animal de estimación. El objetivo de este estúdio fue hacer un levantamiento de
los factores de riesgo de transmisión de Rabia humana por el contacto con sagüis (C. jacchus)
domiciliados y semiomiciliados en la región metropolitana de Fortaleza, Ceará. Fue aplicada
una encuesta a los criadores de sagüis (C. jacchus), residentes de los municipios de Aquiraz y
Maranguape, Ceará, enfocada al manejo de la crianza de estos animales, dando énfasis a la
probabilidad de su contacto próximo con el hombre. Fueron identificadas 19 residencias
donde mantenían sagüis (C. jacchus) como animales de estimación. El análisis de las
encuestas mostró la proximidad de los criadores con los sagüis, durante el manejo de estos
primates en los domicilios. Los sagüis (C. jacchus) representan un riesgo en cuanto a la
66
transmisión de rabia para las personas que mantienen estos pequeños primates en ambiente
domestico.
Palabras claves: Sagüi, Callithrix jacchus, Humanos, Riesgo, Rabia.
INTRODUÇÃO
A Raiva é uma doença infecto-contagiosa, que acomete todos os animais de
sangue quente, é causada por vírus neurotrópicos que atuam no sistema nervoso central
(SNC), provocando uma encefalomielite aguda e quase sempre fatal, resultante
principalmente da transmissão do vírus pela mordedura do animal infectado (1).
O agente etiológico da Raiva consiste em um vírus envelopado, pertencente à
ordem Mononegavirales, família Rhabdoviridae e gênero Lyssavirus (2), apresenta uma
morfologia característica em forma de bala de revólver, diâmetro de 75 nm e comprimento de
100 a 300 nm (3, 4, 5), variando de acordo com a amostra considerada.
Na saúde pública, a Raiva é tida como uma grave zoonose, sendo classificada
conforme seu ciclo epidemiológico e seu mecanismo de transmissão, em Raiva urbana,
silvestre e rural (6). No Estado do Ceará, os animais silvestres apresentam uma importância
emergente quanto à Raiva, sendo as espécies Procyon cancrivorous (guaxinim) e Callithrix
jacchus (sagui) relacionadas como transmissores da Raiva para seres humanos (7). Nesse
estado é comum a identificação do Callithrix jacchus em ambiente doméstico, tendo sido
registrados muitos casos de agressões com notificações de casos de Raiva humana. Em
associação a estes casos, foi identificada uma nova variante do vírus da Raiva, sem
proximidade antigênica ou qualquer relação genética conhecida com as variantes do vírus da
Raiva encontradas em morcegos ou mamíferos terrestres das Américas (8). Dessa forma, o
presente artigo tem por objetivo fazer um levantamento dos fatores de risco de transmissão da
Raiva humana pelo contato com saguis (Callithrix jacchus) domiciliados e semidomiciliados
na região metropolitana de Fortaleza, Ceará.
MATERIAL E MÉTODOS
Foi aplicado um questionário estruturado, destinado à criadores de saguis (Callithrix
jacchus), enfocando o manejo de criação desses animais, dando maior ênfase à probabilidade
de seu contato próximo com o homem. O contato com os estabelecimentos se deu por meio de
visitas. As áreas inclusas na pesquisa foram os municípios de Aquiraz e Maranguape da
região metropolitana de Fortaleza, Estado do Ceará.
67
Um questionário estruturado é aquele onde as perguntas são previamente formuladas e
tem-se o cuidado de não fugir a elas (9). O principal motivo deste zelo é a possibilidade de
comparação com o mesmo conjunto de perguntas e que as diferenças devem refletir
diferenças entre os respondentes e não diferença nas perguntas (10).
Por ocasião da entrevista foi apresentado aos participantes o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido, cujo teor abrange esclarecimentos a cerca da natureza da pesquisa,
voluntariedade da participação e garantia do sigilo concernente às informações coletadas.
Essa pesquisa passou pela apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade
Estadual do Ceará (CEP/UECE), sendo aprovada sob o número do processo 09230145-2 no
ano de 2009.
Os resultados definitivos dos questionários foram compilados em um banco de dados
do programa EXCEL, organizados e apresentados na forma de gráficos e tabelas, sendo
agrupados para a realização de análise descritiva dos elementos sobre investigação.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram identificadas 19 residências onde o sagui (Callithrix jacchus) era criado como
animal de estimação, distribuídas quase que homogeneamente entre os municípios de Aquiraz
(47%) e Maranguape (53%) na Região Metropolitana de Fortaleza no Estado do Ceará. A
escolha da região metropolitana se deu por ser a área de maior concentração populacional do
estado, sendo selecionados municípios com registro de casos de Raiva silvestre (11).
Mais da metade das habitações, 11/19 (57,89%), mantinha os saguis (Callithrix
jacchus) somente em domicílio, enquanto que 36,84% (7/19) mantinha em semidomicílio.
Dentre as residências, 1/19 (5,26%) mantinha saguis tanto de forma domiciliada quanto
semidomiciliada (FIGURA 01). Esse caso mereceu destaque, devido a facilidade de
contração de doenças pelos saguis dessa residência. O fato dos saguis semidomiciliados
viverem em “vida livre” e se aproximarem dos saguis domiciliados, por serem animais
altamente sociáveis e estarem sempre à procura de alimento (12), aumenta a probabilidade da
transmissão de doenças, em destaque a Raiva.
Mais da metade dos saguis criados como animais de estimação foram adquiridos ainda
filhotes (57,89%) e uma minoria no estágio adulto (5,26%) (FIGURA 02). A classificação
“filhote, jovem e adulto” diz respeito aos saguis semidomiciliados, por serem animais que
vivem em grupos familiares, perfazendo 36,84% dos saguis. Os dados encontrados são
68
análogos aos de Rodrigues (13), em um estudo realizado em Brejo Grande do Araguaia, onde
65,77% dos animais silvestres criados em cativeiro foram adquiridos ainda filhotes ou jovens.
Segundo Wissman (14), os saguis (C. jacchus) tem um forte potencial para a
domesticação. Quando filhotes acostumam-se bem com seres humanos, mas podem morder
por medo, defesa ou brincadeira e, ao chegar à maturidade sexual, tornam-se territorialistas,
agressivos e poderão morder pessoas estranhas e até mesmo os proprietários.
Todos os criadores afirmaram realizar alguma limpeza no ambiente em que mantinha
o sagui (Callithrix jacchus) domiciliado. A partir da tabela 01 pode-se notar que a maioria
dos criadores realizava a limpeza diariamente (58%). Com relação aos saguis
semidomiciliados, todos os criadores (100%) afirmaram que os respectivos animais não
possuíam local específico na residência, ficavam no terreno da casa, geralmente, em cima de
árvores, por tal motivo esses criadores não foram inclusos nessa categoria.
Dentre as diversas formas de depósito do alimento fornecido ao sagui pelos criadores,
as que mais chamam atenção são as que mostram o contato direto dos humanos com esses
animais, como exemplos, os criadores que colocam o alimento acondicionado em recipiente
dentro da gaiola, perfazendo um percentual de 31,58% dos criadores, e um único criador
(5,26%) que coloca o alimento em recipiente tanto dentro quanto fora da gaiola (TABELA
02). Essa atenção é devida ao grande perigo de acidentes envolvendo humanos e saguis, pois
esses animais apresentam um alto potencial de transmissão de zoonoses, em particular a
Raiva. Todos os criadores afirmaram que os recipientes utilizados para fornecimento do
alimento ao sagui eram de uso exclusivo do animal (FIGURA 03). Os demais criadores que
forneciam o alimento solto, sem recipiente, o fazia em cima de árvores, telhas, tábuas, dentre
outros.
De acordo com a figura 04, observa-se que a maioria dos criadores (68%) afirmou não
ter o hábito de passear com o sagui e apenas 32% apresentou esse hábito. A ocorrência do
costume de passear com esses animais é de grande relevância, pois representa um importante
fator de risco, devido a maior exposição do sagui, que é transmissor de diversas doenças
comuns ao homem, à vizinhança do domicílio. É sempre importante destaque à Raiva, por
ser uma zoonose gravíssima e o sagui se apresentar como importante reservatório do vírus.
Quanto às formas de como os criadores costumavam passear com o sagui, 50% deles afirmou
passear com o animal solto e 50% afirmou passear pelas calçadas com o animal mantido
dentro da gaiola.
69
A ocorrência do contato entre humanos e saguis é um fator de risco de grande
relevância no tocante à Raiva. Dentre os criadores entrevistados, a grande maioria (84,21%)
afirmou que teve contato com os animais. Esse fato indica quão próximos são os saguis de
seus criadores (FIGURA 5) e a partir dessa interação aumenta a probabilidade da ocorrência
de agressões e da transmissão de doenças, incluindo o vírus da Raiva.
Cabe aqui rememorar que a noção de risco suplanta a abordagem estritamente
quantitativa da epidemiologia. Como discute Castiel (15), a noção “risco” muda de forma
com freqüência podendo envolver aspectos econômicos, ambientais, relativos a condutas
pessoais, dimensões interpessoais e “criminais”.
Quase todos os criadores de saguis (84%) mantinham outra espécie animal em seu
domicílio. Apenas 16% dos criadores afirmou não possuir outro tipo de animal na residência,
com a presença somente dos saguis como animais de estimação.
Todos os criadores (100%) que afirmaram possuir outros animais de estimação além
do sagui tinham o cão e/ou o gato como representantes, sendo observado em 50% a presença
de ambas as espécies (TABELA 3). Outros animais, como (papagaio, jumento, cabra,
pássaro, galinha, pato e porco) foram citados na coleta dos dados sendo contabilizados como
outros. Por terem menos relevância devido a pouca proximidade com os habitantes, quando
comparados com o cão e/ou gato. No entanto, vale ressaltar que todos os mamíferos são
susceptíveis ao vírus da Raiva (1), impossibilitando a exclusão desses animais do estudo.
Quanto aos mamíferos silvestres que vivem nas matas, em vida livre, é bem verdade
que, pelo menos por enquanto, não como implementar a vacinação desses animais. O uso
de vacinas orais, por meio de iscas, têm sido utilizadas nos Estados Unidos e na Europa.
Estas, lançadas regularmente por aviões sobre as matas, permitiriam imunizar mamíferos
silvestres. Essas iscas, quando ingeridas pelos animais, podem estimular a produção de
anticorpos contra os vírus da Raiva. Nos Estados Unidos, essa estratégia não tem funcionado
bem, mas, em alguns países europeus, ela tem produzido resultados satisfatórios (16).
No Brasil, como as matas são fechadas, é provável que as iscas fiquem presas às copas
das árvores e, assim, os mamíferos não tenham acesso às vacinas orais. A melhor solução para
controlar a Raiva silvestre no país ainda é investir em educação e no monitoramento dos
animais envolvidos nesse ciclo da doença (16).
Ações de Educação em Saúde
Os altos índices de doenças transmissíveis no Brasil levam ao necessário
70
desenvolvimento de ações eficazes para a sua prevenção, controle e, se possível, eliminação.
A educação em saúde é um campo multifacetado, para o qual convergem diversas
concepções, das áreas tanto da educação, quanto da saúde, as quais espelham diferentes
compreensões do mundo, demarcadas por distintas posições político filosóficas sobre o
homem e a sociedade. O foco da educação em saúde esta voltado para a população e para a
ação. De uma forma geral seus objetivos são encorajar as pessoas a: a) adotar e manter
padrões de vida sadios; b) usar de forma judiciosa e cuidadosa os serviços de saúde colocados
à sua disposição, e c) tomar suas próprias decisões, tanto individual quanto coletivamente,
visando melhorar suas condições de saúde e as condições do meio ambiente (17).
Durante a segunda visita às residências que mantinham saguis como animais de
estimação, nos municípios de Aquiraz e Maranguape, foram realizadas ações de Educação em
Saúde, esclarecendo aos criadores sobre a proibição por lei, n° 5.197/67 Art°1, (18) da
criação de animais silvestres como animais domésticos e os riscos que tais animais podem
trazer ao ser humano. Em cada residência foi entregue um folheto educativo com informações
sobre a Raiva, enfocando a enfermidade em animais silvestres, em particular o sagui
(Callithrix jacchus).
CONCLUSÃO
Os saguis (Callithrix jacchus) representam risco, quanto a transmissão da Raiva, às
pessoas que mantêm esses pequenos primatas em ambiente doméstico. Ademais, cabe
evidenciar que a forma de manejo dos saguis nos domicílios pode ocasionar uma maior
exposição dos criadores a eventos como agressões, aumentando o potencial risco de
transmissão de zoonoses, incluindo a Raiva.
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73
FIGURA 01
Saguis (Callithrix jacchus) sendo criados tanto em domicílio (dentro da gaiola) quanto em semidomicílio (fora
da gaiola), em uma das residências do estudo. Ceará, Brasil, 2009.
74
FIGURA 02
Estágio de vida em que o sagui (Callithrix jacchus) chegou à residência. Ceará, Brasil, 2009.
75
TABELA 01
Freqüência de limpeza do ambiente onde vive o sagui (Callithrix jacchus) domiciliado nas residências. Ceará,
Brasil, 2009.
Frequência
Frequência de limpeza
Absoluta
Relativa (%)
Todo dia
7
58
Uma vez na semana
5
42
Total
12
100,00
Fonte: Pesquisa direta
76
TABELA 02
Distribuição de criadores quanto a forma de depositar o alimento oferecido aos saguis (Callithrix jacchus).
Ceará, Brasil, 2009.
Frequência
Forma de depositar o alimento
Absoluta
Relativa (%)
Coloca acondicionado em recipiente dentro da
gaiola com a presença do animal
6
31,58
Coloca acondicionado em recipiente fora e dentro das gaiolas, na
presença do animal
1
5,26
Coloca solta no peridomicílio, sem recipiente
8
42,11
Coloca acondicionado em recipiente solto no interior da residência sem
o contato direto com o animal
4
21,05
Total
19
100,00
Fonte: Pesquisa direta
77
FIGURA 03
Sagui (Callithrix jacchus) mantido em gaiola em um domicílio. Destaque no recipiente exclusivo do animal
dentro da gaiola. Ceará, Brasil, 2009.
78
FIGURA 04
Hábito de passear com o sagui (Callithrix jacchus). Ceará, Brasil, 2009.
79
FIGURA 05
Contato direto de uma criança com o sagui (Callithrix jacchus), mantido em gaiola, em um dos domicílios
visitados no município de Maranguape, CE. Ceará, Brasil, 2009.
80
TABELA 03
Classificação dos outros animais também criados na residência. Ceará, Brasil. 2009.
Frequência
Animal
Absoluta
Relativa (%)
Cão
4
25,00
Gato
4
25,00
Cão e gato e/ou outros
8
50,00
Total
16
100,00
Fonte: Pesquisa direta
81
8 CONCLUSÕES
A baixa escolaridade está diretamente relacionada com o hábito de manter saguis
(Callithrix jacchus) em ambiente doméstico no Estado do Ceará;
Os domicílios são locais inadequados para a criação de saguis (Callithrix jacchus) e
não propiciam bem -estar ao animal, podendo ocasionar alterações comportamentais
nos mesmos;
Os saguis (Callithrix jacchus) representam risco, quanto a transmissão da Raiva, às
pessoas que mantêm esses animais em domicílio ou em semidomicílio;
Os dados laboratoriais confirmam o risco da convivência de humanos com saguis
(Callithrix jacchus) no Estado do Ceará.
82
9 PERSPECTIVAS
Os resultados obtidos quanto ao risco de transmissão do virus da Raiva oriundo de
sagui (Callithrix jacchus) para o homem indicam a necessidade da tomada de medidas
profiláticas no âmbito da saúde pública no Estado do Ceará.
Dentro desse mesmo contexto, a frequente observação desses primatas em ambiente
domiciliar junto ao conhecimento limitado da Raiva pelos criadores, indicam uma associação
preocupante quando se imagina que os conhecimentos de um indivíduo funcionam como um
guia para a ação. Assim, a educação ambiental associada à educação em saúde deve ser
utilizada como ferramenta para o desestímulo à prática da criação de animais silvestres em
cativeiro.
Essa pesquisa surge como um iniciativa para a realização de estudos mais
aprofundados quanto ao tamanho amostral e o instrumento de trabalho.
83
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Universidade Federal de Santa Maria , RS, Janeiro, 2008.
89
APÊNDICES
90
APÊNDICE I
QUESTIONÁRIO ESTRUTURADO
Universidade Estadual do Ceará – UECE
Faculdade de Veterinária
Programa de Pós Graduação em Ciências Veterinárias
QUESTIONÁRIO Data:
Nome do proprietário:______________________________________________________________
Endereço:________________________________________________________________________
Telefone(s) para contato: ______________________________
1- Quantos saguis cria?_________
( )Domiciliado
( )Semidomiciliado
2- Quantas pessoas moram na residência?
________________________________________________________________________________
3- Tem criança em casa? Quantas? ( ) sim __________ ( ) não
4- Qual o maior grau de escolaridade dentre os habitantes do domicílio?
( ) nível superior
( ) nível médio (até o terceiro ano do segundo grau)
( ) primário
( ) sem escolaridade
5- A residência é localizada em zona rural ou zona urbana? ( ) rural ( ) urbana
6- Há quanto tempo cria sagui (soin) em sua residência? ___________________________________
7- Como foi obtido o animal?
( ) comprado. Onde?_______________________________________________________________
( ) doado por alguém desconhecido
( ) doado por algum amigo ou parente
( ) capturado
( ) o animal entrou na casa, e resolveu adotá-lo
( ) o animal sempre aparece na casa e apenas o alimenta
8- Qual o estágio de vida quando o animal chegou na residência?
( ) filhote ( ) jovem ( ) adulto ( ) todos os estágios
9- De que forma é mantido o animal?
( ) solto na casa
( ) solto no quintal
( ) em gaiola dentro de casa
( ) em gaiola no quintal
( ) em gaiola e solto
( ) no peridomicílio
10- A limpeza do local onde é mantido o sagui (soin) é realizada com que freqüência?
( ) todo dia ( ) uma vez na semana ( ) de 15 em 15 dias ( ) uma vez no mês ( ) outros ________
11- De que os saguis (soins) se alimentam?
( ) frutas
( ) comida caseira e/ou industrializada
( ) ambos
CÓD.001
91
12- Como é realizada a alimentação desses animais?
( ) coloca acondicionada em recipiente no interior da residência sem o contato direto com o animal
( ) coloca acondicionada em recipiente no peridomicílio
( ) coloca em recipiente dentro da gaiola com a presença do animal
( ) coloca acondicionada em recipiente no peridomicílio e dentro da gaiola com a presença do animal
13- Os recipientes de água e comida destinados aos saguis (soin) são exclusivos? ( ) sim ( ) não
14- Outros saguis que não vivem na residência mantêm contato com o sagui domiciliado?
( ) sim ( ) não ( ) não sabe informar
15- Costuma sair ou passear com o sagui (soin)? Solto, com coleira ou na gaiola?
( ) sim. _________________________________________________________________________
( ) não
16- São criados outros animais na residência? Quantos e quais?
( ) sim. _________________________________________________________________________
( ) não
17- O sagui (soin) já teve ou tem contato com outros animais também criados na casa? Que espécie(s) animal?
( ) sim. _________________________________________________________________________
( ) não
18- O sagui (soin) já fugiu ou desapareceu alguma vez? Por quanto tempo?
( ) sim. _________________________________________________________________________
( ) não
19- Depois do desaparecimento, após a chegada desse animal na residência foi notado alguma alteração de
comportamento no mesmo? Que tipo de alterações? Algum sagui entrou em óbito após o reaparecimento?
( ) sim ( ) sim_________________________________________________________________________
( ) sim ( ) não ________________________________________________________________________
( ) não ( ) sim
( ) não ( ) não
20- O animal já teve ou tem contato com humanos? ( ) sim ( ) não
21- Já houve algum ataque destes animais à outros animais e/ou humanos? ( ) sim ( ) não
22- Em caso de ataque, houve agressões ou mordidas? ( ) sim ( ) não
23- O (s) humano (s) exposto (s) ao ataque recebeu profilaxia anti-rábica? ( )sim ( ) não
24- Você conhece a doença Raiva? ( ) sim ( ) não ( ) já ouviu falar
25- Você sabe como se pega a Raiva? ( ) sim ( ) não
26- Você leva seus animais domésticos para a campanha de vacinação anti-rábica semestral?
( ) sim ( ) não ( ) não tem*
27- Você leva o sagui para as campanhas de vacinação anti-rábica ? ( ) sim ( ) não
28- O sagui (soin) já foi vacinado nessas campanhas? ( ) sim ( ) não
92
APÊNDICE II
TERMO DE CONSENTIMENTO
Universidade Estadual do Ceará
Faculdade de Veterinária
Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias
Av. Paranjana, 1700 – CEP: 60.740-000 – Fortaleza – CE
Fone: (085) 3101.9860 – Fax: (085) 3101.9840 E-mail: pgvet@uece.br
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
O senhor(a) está sendo convidado(a) para participar, como voluntário(a), em uma pesquisa. Após ser
esclarecido(a) sobre as informações a seguir, no caso de aceitar fazer parte do estudo, assine ao final deste
documento. Em caso de recusa você não será penalizado(a) de forma alguma.
INFORMÕES SOBRE A PESQUISA:
Título do Projeto: Risco de trnasmissão do vírus rábico oriundo de sagui (Callithrix jacchus) domiciliado
para o homem na Região Metropolotana de Fortaleza, Ceará.
Pesquisadores Responsáveis: M.V. Tereza D'ávila de Freitas Aguiar e Dra. Maria tima da Silva Teixeira
(orientadora)
Telefone para contato (inclusive ligações a cobrar): Celular: (085) 8897.8182 – Residencial: (085) 3267.1005
Pesquisadores participantes: Dra. Phillis Catharina Romjin, Ms. Edmara Chaves Costa, Ms. Benedito Neilson
Rolim e Ms. Nélio Batista de Morais.
Telefones para contato: (085) 3101.9860 (Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias – PPGCV)
Objetivo da Pesquisa: Fazer um levantamento do risco de transmissão do vírus rábico oriundo de sagui
(Callithrix jacchus) domiciliado para o homem na Região Metropolitana de Fortaleza, Ceará.
Coleta dos dados: O instrumento de investigação consiste no questionário semi-estruturado composto por
perguntas sobre o modo de criação de saguis (Callithrix jacchus) como animal doméstico, enfocando a forma de
manejo desse animal e se o mesmo mantêm contato próximo com humanos.
O presente estudo não implica riscos ou prejuízos aos participantes.
Os benefícios advindos da pesquisa abrange a contribuição para a manutenção de um melhor status de
segurança em saúde pública.
Aos participantes será garantido o anonimato e o sigilo sobre as informações prestadas, tendo os mesmos o
direito de retirar o consentimento a qualquer momento.
Nome e Assinatura do pesquisador:
______________________________________________
TEREZA D'ÁVILA DE FREITAS AGUIAR
Médica Veterinária – CRMV 2074
----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
CONSENTIMENTO DA PARTICIPAÇÃO
Eu, _____________________________________, abaixo assinado, concordo em participar do estudo Risco de
trnasmissão do vírus bico oriundo de sagui (Callithrix jacchus) domiciliado para o homem na Região
Metropolotana de Fortaleza, Ceará. Fui devidamente informado e esclarecido pelo sobre a pesquisa, os
procedimentos nela envolvidos, assim como os possíveis riscos e benefícios decorrentes de minha participação.
Foi-me garantido que posso retirar meu consentimento a qualquer momento, sem que isto leve à algum
penalidade.
Local e data ____________________________________________________________________________
Nome e Assinatura do participante: _________________________________________________________
93
APÊNDICE III
FOLHETO EDUCATIVO
94
95
ANEXOS
96
ANEXO I
DECLARAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA DA UNIVERSIDADE
ESTADUAL DO CEARÁ
97
ANEXO II
DECLARAÇÃO DA COMISSÃO DE ÉTICA PARA O USO DE ANIMAIS DA
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ
98
ANEXO III
AUTORIZAÇÃO PARA ATIVIDADES COM FINALIDADE CIENTÍFICA - IBAMA
99
100
101
ANEXO IV
COMPROVANTE DE SUBMISSÃO DO PRIMEIRO ARTIGO
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
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