transmitidos pelos pais conservam sua importância constituindo
barreiras à introdução de uma nova tecnologia. Todavia, à medida
que evolui o meio, há mudanças desta situação e os pais se
apercebem da necessidade de confiar seus filhos a orientadores mais
competentes, como forma de complementação indispensável à
educação do lar.
105
Para a Extensão Rural, a educação do jovem pelos pais não vinha ao encontro das
necessidades do estágio em que a agricultura adentrou. O choque cultural entre aquilo que o
saber costumeiro contém e os valores que se pretendeu introduzir precisou ser amenizado.
Primeiramente na estratégia da ACARESC, tornou-se necessário desqualificar tal saber
costumeiro para, em seguida, legitimar-se enquanto responsável pelo ensino dos jovens
rurais. Aqui poderíamos discutir sobre a idéia de “des-envolvimento”.
106
Desenvolver
significa tirar do invólucro, desligar-se, ultrapassar os limites impostos pela natureza. O
conhecimento tradicional é marcado por um grande respeito a esses limites. Com a ajuda
dos agrotóxicos, adubos químicos e maquinário, acreditavam os arautos da Revolução
Verde que estes limites poderiam ser ultrapassados. Assim, também se tornou preciso “des-
envolver” o jovem de sua cultura tradicional.
Os Clubes 4-S constituíram-se, enfim, enquanto “trabalho educativo, realizado em
grupos mistos, que dá aos jovens a oportunidade de aprender fazendo, através dos projetos
individuais e de atividades em conjunto.”
107
Dentro das atividades desenvolvidas pela
Extensão Rural, o grupo misto, que reunia meninos e meninas, também compartimentava
os saberes. Afinal, os meninos têm noções sobre o trabalho na lavoura, aprendem a lidar
com os fertilizantes, entre outras atividades “masculinas”, tal como o trabalho “pesado” na
roça. Já com as meninas, além da lida com a roça, as hortas, também recebem uma
educação voltada ao lar, relacionada, por exemplo, a modos de preparar tortas, doces,
compotas, além de cuidar de ferimentos. Faz-se necessário informar que, apesar de meninos
e meninas participarem das reuniões, as atividades práticas dos meninos eram orientadas
pelo extensionista rural, e com as meninas, a orientação dava-se por parte da
extensionista social. A equipe de trabalho da Extensão Rural era constituída por um
105
ESTADO DE SANTA CATARINA. Plano diretor de extensão rural. 1970. p. 72.
106
Ver SACHS, Ignacy. O desenvolvimento enquanto apropriação dos direitos humanos. Estudos
Avançados, São Paulo, v. 12, n. 33, p. 149-156, 1998, e SHIVA, Vandana. Abrazar la vida. Mujer,
ecología y supervivencia. Madrid: Horas y Horas, 1995.