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Faz-se necessário evidenciar que o Prêmio de Viagem a Europa, concedido no
decurso da Exposição Geral, era único e deveria premiar o artista – pintor, escultor, gravador
ou arquiteto – de maior destaque no certame. Para aqueles artistas que conseguissem pôr em
relevo alguma obra, além daquela de maior monta, eram-lhes conferidas medalhas de menção
honrosa, de bronze, de prata ou de ouro. Cada uma das comissões de júri – pintura, gravura,
escultura, arquitetura, gravura, litografia e artes aplicadas – indicavam ao Conselho Superior
de Bellas-Artes os premiados com medalhas, e, caso fosse pertinente, o artista que estaria apto
a concorrer ao Prêmio de Viagem. Assim sendo, dois indivíduos foram indicados no Salon de
1917: o escultor Francisco de Andrade e o pintor Raymundo Cela
76
. Tal situação foi divulgada
na imprensa local da seguinte maneira:
O julgamento deste anno se reveste, porém, de um particular interesse, devido a
uma serie de circunstancias que nelle ocorrem. Há dois candidatos: um, o Sr.
Francisco de Andrade, apresentado pelo jury da secção de esculptura
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; outro, o Sr.
Raymundo Cela, apresentado pelo jury da secção de pintura.
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O Conselho Superior
de Bellas Artes decidirá hoje, portanto, a qual dos concorrentes deve caber o
prêmio. Ao que se sabe, porém, e ao que dizem alguns mestres, um desses
candidatos se apresenta de uma maneira verdadeiramente magistral.
O seu trabalho reuniu, propositalmente ou não, um conjunto das difficuldades em
que geralmente naufragam artistas feitos: boa composição, movimento, expressão
das figuras, tudo tratado por uma boa fatura de execução.
Mais que isso – a um só côro os alumnos affirman, e com elles vários professores da
Escola, que até hoje não consta da colleção escolar dos premiados com a pensão do
governo, nenhum trabalho feito com igual arrojo e com igual maestria. Pois bem, é
voz corrente no meio artístico, que, em torno dos professores das secções a que
pertencem os dois candidatos, se arregimentam votos para a campanha da decisão
final. [...]. Se há um candidato que supera não somente ao seu concorrente, como a
toda a sua geração, que passou pela mesma prova, por que negar-lhe a
unanimidade em um pleito que, dado o prognostico do talento, seria a primeira
consagração do futuro artista brasileiro? [...]. Seria de bom aviso, portanto, se o
Sr. ministro do interior [Carlos Maximiliano] se decidisse a presidir o julgamento.
S. Ex testemunharia, assim, as paixões ou a serenidade, com que porventura se vão
manifestar os apóstolos officiaes das artes plásticas no Brasil
79
. (grifo meu).
Após explicitar o impasse gerado na XXIV Exposição Geral, assim como aspectos
técnicos da obra que considera merecedora de recompensa, a matéria publicada no jornal O
Paiz, intitulada “O premio de bellas artes”, indica para qual artista o Prêmio de Viagem
76
O premio de bellas artes. O Paiz. Rio de Janeiro, 28 ago., 1917, p. 2.
77
O Júri da secção de Escultura da Exposição Geral de 1917 era formado pelos professores: José Octavio Correa
Lima, A Morales de los Rios, Honório da Cunha e Mello, Joaquim R. Moreira Júnior e Raphael Paixão. cf.
Acervo Arquivístico do Museu Dom João VI EBA/UFRJ. Catálogo da XXIV Exposição Geral de Bellas-Artes,
inaugurada em 12 de agosto de 1917.
78
O Júri da secção de Pintura da Exposição Geral de 1917 era formado pelos professores: João Batista da Costa,
Modesto Brocos, Lucílio de Albuquerque, Benno Treidler e Augusto Petit. cf. Acervo Arquivístico do Museu
Dom João VI EBA/UFRJ. Catálogo da XXIV Exposição Geral de Bellas-Artes, inaugurada em 12 de agosto de
1917.
79
O premio de bellas artes. O Paiz. Rio de Janeiro, 28 ago., 1917, p. 2.