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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
INSTITUTO DE ARTES
Mestrado em Artes
EXPRESSIVIDADE E ENERGIA VITAL
NA DANÇA FLAMENCA
ROGÉRIO ALENCAR NEGRÃO CASERTA
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Artes
do Instituto de Artes da Unicamp, como requisito parcial
para a obtenção do grau de Mestre em Artes, sob a
orientação da Prof
a
. Dr
a
. Verônica Fabrini Machado de
Almeida.
CAMPINAS
2008
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2
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA
BIBLIOTECA DO INSTITUTO DE ARTES DA UNICAMP
Caserta, Rogério Alencar Negrão.
C268e Expressividade e Energia Vital na Dança Flamenca / Rogério
Alencar Negrão Caserta Campinas, SP: [s.n.], 2008.
Orientador: Prof
a
Dr
a
Verônica Fabrine M. de Almeida.
Dissertação(mestrado) – Universidade Estadual de Campinas,
Instituto de Artes.
1. Arte e Dança. 2. Saúde. 3. Expressão Corporal.
I. Almeida, Verônica Fabrini M. de. II. Universidade Estadual
de Campinas. Instituto de Artes. III. Título.
(em/ia)
Titulo em inglês: “Expression and Vital Energy in Flamenco Dance”
Palavras-chave em Inglês (Keywords): Dance and art; Helth; Corporal expression.
Titulação: Mestre em Artes
Banca Examinadora:
Profa. Dra. Verônica Fabrine Machado de Almeida.
Profa. Dra. Márcia Maria Strazzacappa Hernandes.
Profa. Dra. Elizabeth Bauch Zimmermann
Prof. Dr. Adilson Nascimento de Jesus (suplente).
Profa. Dra. Sara Pereira Lopes (suplente).
Data da Defesa: 26-02-2008
Programa de Pós-Graduação: Artes.
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4
DEDICATÓRIA
Para minha família, que me incentivou com seu amor infinito...
Sem vocês nada seria possível.
Mãe, querida e amada, este texto é seu também...
5
AGRADECIMENTOS
À minha mãe, pois, sem sua dedicação e seu amor imensurável, nada aqui se realizaria.
À memória de meu pai, que está sempre presente comigo em pensamento.
Ao meu irmão e à sua família, pelo incentivo derramado.
A toda a família de colegas de Campinas, São Paulo e Avaré, que me ajudaram com seus
exemplos e conselhos a seguir na Arte Flamenca.
A todos os professores e colegas de Técnicas Terapêuticas como Expressões Terapêuticas
da escola SENAC – SP.
Aos queridos professores de dança da minha tão querida UNICAMP, com os quais aprendi
a importância da ética e do respeito profissional, tão necessário nessa profissão.
Aos alunos queridos de Dança Flamenca de quem tive a honra de ser professor.
Aos corretores deste texto, que foram inúmeros.
Aos meus alunos e colegas atuais na ETEC de Ipaussu, pela paciência com este professor,
que aprende mais a cada dia com eles.
À minha querida orientadora, que foi uma “bússola” precisa nos caminhos a serem tomados
nesta pesquisa.
A Jesus Cristo, fonte inesgotável de energia vital para minha existência.
MUITO OBRIGADO.
6
RESUMO
Esta dissertação tem como objetivo relacionar os conteúdos da “Medicina Tradicional
Chinesa” (M.T.C.), focada nas manobras de acupressão existentes no “Auto Tui-ná
escolhidas especialmente para a atuação de bailarinos flamencos, que potencializam o
desbloqueio da “Energia Vital” (Qi), para a qualidade expressiva e poética dessa dança,
além de prevenirem lesões corporais possíveis nesse estilo de dança.
Palavras-chaves: Medicina Tradicional Chinesa; Auto Tui-ná; Dança Flamenca.
7
ABSTRACT
The goal of this text is to associate with the contents of the “Traditional Chinese Medicine”
(T.C.M), its focus being the acupressure movements from the “Self Tui-Na” that were
especially chosen for Flamenco dancers` performances, so that it can potentialize the
disobstruction of the “Vital Energy”(Qi) and the expressive and poetic qualities of this
dance, besides preventing injuries common to this dance style.
Key-words: Traditional Chinese Medicine, Self Tui-na, Flamenco Dance.
8
9
SUMÁRIO
DEDICATÓRIA ....................................................................................... 4
AGRADECIMENTOS ............................................................................. 5
RESUMO ................................................................................................... 6
ABSTRACT ............................................................................................... 7
SUMÁRIO .................................................................................................. 9
INTRODUÇÃO ......................................................................................... 10
I. O Flamenco ........................................................................................... 19
1. Cante .......................................................................................... 31
2. Toque ........................................................................................ 35
3. Baile .......................................................................................... 38
II. Expressividade na Dança Flamenca .................................................. 41
III. Energia Vital ....................................................................................... 53
IV. Procedimentos de Auto-Tuiná ............................................................ 64
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................... 80
BIBLOGRAFIA ........................................................................................ 84
ANEXO I – Terminologia do Flamenco................................................... 93
ANEXO II – Palos de Cante – Origens e Tipos........................................ 101
ANEXO III – Palos de Baile...................................................................... 102
ANEXO IV – O Lian Gong: Ginástica Terapêutica Chinesa................. 103
10
INTRODUÇÃO
Em 1989, entrei na Universidade Estadual de Campinas no curso de “Matemática
Aplicada e Computacional”. Naquele tempo, descobri que havia uma “imprevisibilidade”
no Universo, da qual se ocupava uma área da ciência denominada de “Ciência do Caos”.
A partir dessa ciência, perseguia-me a idéia de que o corpo do bailarino tamm
poderia ser visto como um exemplo desse fenômeno, pois as equações ditas não-lineares”
demonstravam que a maioria dos sistemas existentes na natureza possuía um
comportamento, de certo modo, “imprevisível”. Até o próprio batimento cardíaco de uma
pessoa não era exato, pois variava devido a fatores múltiplos: sexo, idade, peso,
alimentação, sentimentos, etc.
Nesse contexto, tudo estava em contínua transformação, dinamicamente interagindo
com inúmeros fatores, os quais eram impossíveis de quantificar de maneira exata. Ou seja,
acreditava-se que tudo que era previsto. Mas, se alimentássemos periodicamente um certo
fenômeno com novos dados e fatores, seria possível se ter um controle nimo sobre seu
comportamento.
Tal constatação, levada para o universo de um bailarino, significava a
impossibilidade de daar de maneira exata uma coreografia, apesar de o bailarino ensaiá-la
extenuantemente por dias, meses ou anos, pois até ele seria participante de todo esse
processo “caóticouniversal. Pois, se o corpo humano é composto de inúmeros sistemas
que interagem dinamicamente, pode ser submetido a esse tipo de análise. Essa ilusão
utópica de tentar controlar e entender tudo, da busca de um rigor absoluto, esbarra
eternamente em irregularidades não previstas.
Mas, como equilibrar o desejo da “exatidão” com a consciência da
“imprevisibilidade”? É um dilema sem solução, ou pelo menos, se for considerado de forma
11
exata, cartesiana, sob a regência do “ou isto ou aquilo”, ela não existe. Ela é uma
probabilidade de existência que está em um tempo e um espaço desconhecido.
Mas, quando um bailarino adoece mortalmente, por que a ciência ou a matemática
conseguem dar veredicto aproximado? “Você tem no máximo seis meses se vida!”... e
ele continua vivendo até hoje! ... Onde estão os erros ... as brechas ... as possíveis falhas de
um diagnóstico “científico”? A vida parece ser algo poeticamente perigoso, delicioso,
incerto e imprevisível de se praticar. Um fragmento de minha própria experiência de vida
parece conter a origem das reflexões que busco desenvolver nesta dissertação.
Quando adoeci pela primeira vez de câncer cerebral, era uma pessoa extremamente
cheia de verdades, de dogmas, os quais me deixavam, de certa maneira, confortável, pois
acreditava na ciência” dos médicos.
Mas, após a quinta operação, percebi que um algo mais havia passado despercebido
a mim, apesar de todos os meus estudos na matemática e na dança. Enquanto a dança
“integrava” o meu corpo com algo além de uma simples análise de movimento, a
matemática separava-o em partes, fracionando a vida. Mas, havia uma coisa em comum:
elas descreviam de maneira diferente um mesmo fenômeno, a vida e o Universo.
Freqüentando uma grande Universidade, tive a oportunidade de conhecer pessoas de
cursos diferentes, com visões de mundo diferentes. Notei que tais vies entrelaçavam-se de
maneira surpreendente e misteriosa. Cada um tinha uma verdade a perseguir e, no meu
caso, fui aos poucos percebendo que a “minha verdade” estava nos movimentos do meu
corpo.
Essas “verdades” entrelaçavam-se de forma misteriosa e caótica, principalmente,
quando tive contado com o grupo de alunos de uma disciplina extracurricular da Faculdade
de Educação sica da Unicamp: Tae Kown Do (Caminho dos pés e das mãos) uma arte
marcial coreana.
12
Essa atividade proporcionou-me um contato com um grande número de alunos da
Universidade que se encontravam para praticar essa arte marcial. Parecia-me que a maioria
deles tinha objetivos em comum: trabalhar os movimentos do corpo e descansar o intelecto
durante uma hora do seu dia na Universidade; “mexer” o corpo para amenizar o estresse
intelectual dos estudos: “descansar a cabeça”...
Era instigante estar em contato com tantas visões de mundo entrelaçadas pelo fluxo
do movimento corporal nas Artes Marciais, pois parecia que elas integravam surprendente
mente por meio de caminhos diferentes. Mas, se o Do dessa arte marcial significava
caminho”... Restava-me encontrá-lo ou, pelo menos, tentar entendê-lo!
Inconscientemente, sempre necessitei desse Do para ordenar o fluxo de minha vida.
Pois, na “Dança de Rua”, que pratiquei na adolescência e na juventude, sentia algo que me
motivava e fluía pelo meu corpo dando-me prazer. Esse sentimento intuitivo parecia ser
trazido pelos movimentos imprevisíveis e espontâneos deste de estilo daa. Na prática,
sentia algo que me integrava, gerando uma sensação de grande liberdade.
Na prática do Tae Kwon Do”, sentia os mesmos efeitos, assim como os
experimentados com a Dança de Rua”, ou seja, a sensação agradável de “fluxo” de
movimentos no meu corpo, porém, vinda de fontes aparentemente diferentes. Como se o
“imprevisível” desse estilo de expressão se encontrasse com o “rigore a “exatidão” dessa
arte marcial coreana, harmonizando-me.
Atualmente, vejo que estas fontes de um fluxo de movimentos, geram este tipo
especial de energia, não eram tão diferentes como eu pensava na época. Em cada um dos
casos, os caminhos” geradores da energia no meu corpo funcionavam de formas
diferentes, mas eram os mesmos, apenas com intenções corporais e emoções focadas
diferentemente.
Além do Tae Kwon Do” que praticava, desde a época de minha graduação em
“Matemática Aplicada e Computação”, busquei um curso que me satisfizesse a necessidade
13
do estudo do movimento de forma técnica apurada e artística”. Lembrei-me de ter visto
nas madrugadas da televisão um filme em que havia essa dança. Esse filme era “Carmen”,
do diretor espanhol Carlos Saura (1983), baseado na novela de Prosper Mérimée (1847) e
tema da ópera de Georges Bizet (1875). Reconheci a força e a beleza da expressividade da
Dança Flamenca e, então, comecei a praticá-la.
No decorrer dos anos, senti a dificuldade de dançar algo com um conteúdo tão
complexo quanto a Dança Flamenca. Os movimentos não fluíam pelo meu corpo, de
maneira que eu pudesse senti-los, tão facilmente quanto havia sentido na Dança de Rua.
Concluí que levaria tempo para compreendê-la, pois a subjetividade do ato de dançar aquela
arte passava por um estudo acurado de uma cultura de corpo estranha à minha: a cultura
espanhola.
Lembro-me de quão era difícil entender a rítmica e a corporeidade exigida pela
Dança Flamenca e comparava esse gasto energético ao que tinha no estudo dos teoremas da
matemática, que nesse período ainda cursava. Curiosamente, essa comparação acontecera
pelo fato de encontrar poucos pontos de intersecção entre a ciência da matemática e a arte
da dança, naquele período.
Aos poucos, tomei consciência da dificuldade em perceber que a matemática e a
dança eram linguagens” diferentes que necessitavam de muito estudo e que buscavam,
cada uma à sua maneira, traduzir os fenômenos naturais do mundo, como os sentimentos, as
emoções e tudo que concerne à natureza humana no universo.
Portanto, a Dança Flamenca e a Matemática Aplicada eventualmente teriam uma
coisa em comum, eram extremamente complexas: as duas traziam uma “poética” na
descrição dos fenômenos da natureza arte e ciência unidas através dos meus movimentos,
emoções e sentimentos.
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Percebi que meu corpo era suscetível de gerar “imprevisibilidades” e “incertezas”,
das quais a ciência matemática se ocupa e, assim, percebi, no meu corpo, a união da ciência
e da arte.
Dessa união, a paixão pela dança se sobrepôs, pois decidi entrar na Graduação em
Dança, em 1996. As experiências vividas no meu corpo com a Dança de Rua, a Dança
Flamenca e, intelectualmente, com a Matemática Aplicada, possibilitavam uma resposta
sobre as conexões ocultas na sinestesia do meu viver e do meu saber.
Diversas vezes, sentia a poesia intrínseca nas equações matemáticas que descreviam
os femenos naturais, como o comportamento caótico da atmosfera, estudado pela
Matemática Aplicada na Ciência do Caos, e comparava ao movimento incerto das saias
dentro da expressividade feminina da Dança Flamenca, por exemplo.
Aos poucos, fui percebendo que necessitava desenvolver uma visão poética de
mundo mais acurada. o podia mais permitir a separação entre os saberes e os sentidos.
Lembrei-me de que, quando era criança, tive dificuldade para equilibrar-me na
primeira bicicleta. Cai muitas vezes até descobrir que era necessário pedalar continuamente
para que, naquele desequilíbrio e equilíbrio constantes, conseguisse misteriosamente
manter-me em cima, para continuar em frente, apesar das quedas.
Não tenho mais uma bicicleta, mas tento equilibrar-me nas múltiplas visões de
mundo que a contemporaneidade traz de forma misteriosa, descontínua e dinamicamente
incerta. Meu corpo e minha alma, fazem parte desse processo indissociável de minha
existência física e energética, inserido no Universo de múltiplas e insondáveis
interpretações e interações.
Aprendi na daa e na matemática que nada é certo e tudo é provável, apesar do
incômodo que esse novo paradigma poderia provocar nas pessoas e em mim mesmo. O
físico alemão Albert Einstein, com sua equação da Teoria de Relatividade, demonstrou que
15
matéria e energia m igualdades de valores equivalentes, executam uma dança cósmica
no palco do tempo e do espaço, mudando de lado constantemente em sua característica
existencial. Pela arte, pela dança, podia intuir certa compreensão sinestésica desses
princípios.
Portanto, ao adentrar no Bacharelado em Dança, assumi uma busca existencial nessa
profissão de fé, que é ser bailarino e, além disso, ser artista: trazer o devir, uma poética
existencial através do fluxo de movimentos e sensações do meu corpo, buscando transmitir
minhas emoções e meus pensamentos através de meus movimentos, de forma mais
harmônica e equilibrada, na busca utópica de verdades, ou fragmentos de verdades próprias,
que poderiam estar inseridas numa significação universal. Atualmente, sei que esse
equilíbrio buscado por mim dar-se-á no desenvolvimento de uma sensibilidade poética para
o bailarino Flamenco, acompanhada de uma sensibilidade poética para o humano, no
sentido mais amplo do termo.
Depois de três anos nesse caminho, adoeci. A velocidade do ritmo de minha vida e a
relação que tinha com meu universo interno e externo era incompleta. Pois eu era um
matemático que dançava, buscando explicações lógicas e científicas para tudo,
equilibrando-me na ansiedade utópica da busca de uma a perfeição técnica, no meu estilo de
dança. Afastado da Universidade para me tratar, tive tempo para refletir sobre alguns dos
erros cometidos e retornar para continuar minha dança, minha vida.
Finalmente, formado na Graduação em Daa, busquei aprofundar o sentido do
equilíbrio das energias que regem meu corpo, como métodos de autoconhecimento. As a
graduação em dança, fiz um curso de Pós-Graduação (Lato Sensu) denominado Dinâmicas
Corporais como Expressões Terapêuticas”, no SENAC SP, em que desenvolvi o tema: A
Dança como Fenômeno do Caos: uma integração energética para a saúde do bailarino",
visando à necessidade de integração dos estudos da ciência do Caos (Matemática Aplicada)
à expressividade da arte na dança.
16
Nesse curso, aprofundei-me no estudo de técnicas energéticas terapêuticas, como a
Eutonia e o Lian Gong, no intuito de prevenir mais desequilíbrios e obter instrumentos para
auxiliar outras pessoas na busca de um corpo saudável. Daí a importância do
desenvolvimento de um equilíbrio das energias que regem o corpo humano e sua relação
com o Universo. Por meio de processos de autoconhecimento do corpo, da psique, das
interações sociais e das energias do corpo humano. Observei que os fundamentos e a prática
desses métodos estavam alinhados com as novas abordagens da relação entre ciência e arte.
A Filosofia Oriental entrelaçada à visão da Física Quântica e da Ciência do Caos,
comentada por Fritjot Capra em seus livros “Tao da Física”, “O Ponto de Mutação”, e
“Conexões Ocultas”, foi capaz de trazer uma nova luz na compreensão dos fenômenos do
universo para a ciência, perante uma nova visão de mundo.
Dessa forma, possibilitou a ligação poética entre a conceituação da energia e da
matéria, da cognição, da intuição, da sinestesia e a técnica da daa. Pois, esses elementos
parecem ser faces complementares de um universo dinâmico, probabilístico e caótico. Ao
menos assim se deu, de forma contundente, na minha experiência de vida, que agora
compartilho, por meio dessa dissertação.
O ponto de equilíbrio do bailarino, inserido nesse contexto, não participa mais de
verdades absolutas, de divies cartesianas de estilos, técnicas e espaços. Nessa nova
consciência, as técnicas de equilíbrio devem ser dinâmicas, fazem-se necessárias para
ampliar a autoconsciência do bailarino e ajustar suas potencialidades, de maneira harmônica
e natural.
Nesta investigação de mestrado, aprofundei-me no estudo "Auto Tui-ná",
procedimento de automassagem oriundo da medicina tradicional chinesa, e suas possíveis
aplicações no contexto do ensino e da prática da Dança Flamenca. Tomei contato com o
Tui-ná ainda como aluno na graduação em dança (seguindo meus estudos durante a pós-
graduação), por meio dos ensinamentos trazidos para o Brasil pela profa. Maria Lúcia Lee,
17
do Departamento de Artes Corporais do Instituto de Artes da Universidade Estadual de
Campinas.
Atualmente, costumo dizer que a Dança Flamenca me condenou e também me
salvou”. Mas essa é uma maneira simplista de descrever um fenômeno, com significados
profundos na minha vida e na maneira como vejo a arte da Dança Flamenca. A medicina
tradicional chinesa trouxe uma colaboração enorme para compreensão de fenômenos, antes
inexplicados aos meus olhos (e, quem sabe, aos olhos cartesianos ocidentais). O principal
deles é o conceito da energia vital, base da compreensão para este trabalho, pois o fluxo de
energia que sentia na Dança de Rua, no Tae Kwondo do e na Dança Flamenca seria o
mesmo, apenas direcionado pela necessidade que meu corpo tinha de expressar-se através
de movimento “Corpo-em-vida”.
O problema do ncer, que fez com que eu quase perdesse a vida, serviu para
mostrar a necessidade contínua de percorrer um caminho harmonioso no cultivo e no livre
fluxo da energia vital, ou ainda, perceber na Dança Flamenca a própria fluidez dessa
energia de forma poética e criativa, tornando a arte uma fonte de saúde, de vitalidade.
Nesta pesquisa, considerar-se o corpo do bailarino flamenco como um todo íntegro
e dinâmico ao dançar, visando mobilizar essa energia vital, denominada poeticamente de
Qi”, ou “sopro vital”, mobilizando uma “força interna” (Nei Jing) para obter a
expressividade harmônica dos movimentos por meio da geração da Verdadeira Energia
Vital(Zen Qi) termos poéticos da Medicina Tradicional Chinesa, mas que ajudam no
entendimento fisiológico de certos fenômenos trazidos a luz do ocidente.
O fluxo dessa energia pelo corpo potencialmente direcionado pela intenção (yi) das
emoções e dos sentimentos do bailarino é transmitido por uma rede energética de pontos
denominada meridianos (Jing Lou), podendo levá-lo a expressividade inicialmente
planejada. Para que isso aconteça de forma potente e saudável, propondo uma estimulação
de forma dirigida, por meio das manobras do Auto Tui-ná, em pontos específicos do corpo.
18
Esses pontos são denominados acupontos, ou seja, pontos de cavidade”, onde as manobras
são aplicadas, objetivando-se estimular o fluxo da energia vital, onde ela estiver estagnada.
Dessa forma, torna-se possível o ganho de expressividade harmônica e pessoal para
a Dança Flamenca, bem como um aumento e uma harmonização da expressividade do
bailarino, além de prevenir lesões corporais, que o estilo dessa dança possa trazer.
O uso consciente de uma poética corporal, geradora da expressividade do estilo de
uma dança, traz duas questões que serão abordadas no decorrer do texto:
se a Dança Flamenca é fonte geradora desse Qi em sua expressividade
nos seus momentos, por que usar as manobras do Auto Tui-ná para
direcioná-las?
o uso das dimicas da medicina tradicional chinesa (em especial o Auto
Tui-ná) pode ajudar na potencializarão dessa energia”, em casos em que
elas parecem não estar presentes na expressividade necessária à Dança
Flamenca?
Para que esse todo investigativo da energia vital no processo poético da
expressividade da Dança Flamenca seja realizado, apresenta-se quatro capítulos:
Um estudo das características históricas e estruturais do flamenco;
A expressividade da Dança Flamenca;
A conceituação de energia vital na Medicina Tradicional Chinesa;
A possibilidade do uso de manobras do Auto Tui-, (Medicina Tradicional
Chinesa), como recurso preparatório para o aumento da qualidade da
produção criativa do bailarino flamenco, harmonizando suas energias,
mentais, espirituais e físicas.
19
20
“Uma das razões pela qual a
Espanha de hoje nos exerce um enorme
fascínio é o fato de que em suas terras se
desenvolveu uma cultura extremamente
rica, fruto do convívio de três grandes
culturas – cristã, judaica e árabe.
Salah Al-Madi
1
Muitas vezes, o praticante do Flamenco um dia se perguntou por que gosta tanto
dessa arte. Em entrevistas realizadas nos encontros de praticantes, três palavras vieram à
tona: força, beleza e vida. Muitos dizem que não apenas faço, mas vivo o Flamenco, ele é
uma arte viva”. O Flamenco para muitas pessoas não é somente uma dança, um tipo de
sica, mas uma filosofia de vida.
Dessa forma, o flamencologista americano Don E. Pohren colabora afirmando que
“Flamenco o é simplesmente uma música do sul de Espanha, como normalmente se
acredita. Mais do que isso, ele é uma maneira de vida que influencia as atividades do dia-a-
dia de muitos espanhóis do sul da Espanha. Não é necessário ser um performer Flamenco
para ser um Flamenco: ser Flamenco é para qualquer um que está envolvido
emocionalmente, e ativamente com sua filosofia única. Por essa razão, nenhum livro é
completo em se tratando da arte do Flamenco sozinho; para a arte do Flamenco é
meramente uma expressão superficial do modo de vida Flamenco. O leitor também
necessita entender algo sobre seus criadores e perpetuadores, e suas filosofias, atitudes,
costumes, crenças gostos e desgostos. É necessário não-somente entender o que é
Flamenco, mas o porquê de ele ser o que é.”(POHREN, 1990. p. 15.).
Logo, um olhar sobre a hisria e o contexto dessa arte se faz necessário. “As
pesquisas sobre a história do Flamenco são freqüentemente contradirias e divergentes”
(LEITE. 1994. p. 3).
1
Diretor de Música e Artes no Ministério de Educação da Tunísia [s.n.t.]
21
Dentre vários autores, buscou-se fazer uma análise comparativa das diversas obras a
respeito do tema. As experiências são fundamentadas em dezesseis anos de estudo e prática
do Flamenco, participando de cursos de baile, ritmo, palestras, encontros nacionais e
internacionais, assistindo a aulas de vários professores brasileiros e espanhóis vindos ao
Brasil. Por meio dessas vivências, pude colher muitas informações e indicações
bibliográficas a respeito deste tema.
Para a profa. Geórgia Gugliota: “Sem vida o Flamenco é algo mais que uma
manifestação folclórica do povo da Andaluzia (sul da Espanha). A personalidade dos cantes
(cantos) e bailes (danças) é efetivamente uma manifestação singular. Essa arte supõe a
exteriorização de um determinado estado de ânimo e também um peculiar congênito de
vida. Todo esse processo expressivo converte-se numa espécie de catarse, em que as
próprias experiências pessoais e a síntese de velhas culturas que se fundiram na Andaluzia,
bem como as próprias experiências pessoais podem ser liberadas pelo intérprete.”
A Espanha, em tempo da dominação árabe (séc. VIII d.C. até c. XV d.C.), foi
palco de um importante desenvolvimento cultural na maioria dos campos do conhecimento
humano: Medicina, Astrologia, Filosofia, Agronomia, Direito, Música, Matemática, entre
outros. Todo esse conhecimento, trazido do oriente pelos árabes, chegou à Europa via
Espanha, e graças a ele o ocidente de sair da escuridão em que se encontrava no período
medieval.
Nesse sentido, as fontes pesquisadas relataram que as cidades onde o Flamenco se
desenvolveu originalmente estão localizadas nas províncias do sul da Espanha, tais como
Almería, Algeciras, Cádiz, Córdoba, Granada, Huelva, Jerez de La Frontera, Sevilla. Isso
nos leva a crer que o Flamenco tem fortes ligações culturais com os povos que passaram
por aquela região desde o ano 1.000 a.C., formando uma mescla cultural rica, desde a sua
chegada à Península Ibérica. Cronologicamente, foram estes os povos envolvidos com o
Flamenco (GRANDE, 1996, p. 46): judeus (1.000 a.C.); celtas (séc. VI a.C.); gregos (séc.
V a.C.); romanos (séc. III a.C.); povos bárbaros (séc. V d.C.); árabes, mulçumanos, mouros
e islâmicos (séc. VIII d. C.); ciganos (séc. XV d.C.).
22
Esses povos e raças, que conviveram ao longo dos séculos, influíram com suas
culturas, histórias e artes na formação do Flamenco. Apesar de serem marginalizados pela
sociedade espanhola durante vários culos, fatos levam a crer que os ciganos-indianos
foram os últimos a influenciarem esse processo; mas, nem por isso, deixaram de ter uma
participação forte na formação do que foi essa arte no seu início.
Porém, o Flamenco se deu como um fenômeno cultural no séc. XVIII; portanto,
três séculos de influências principalmente das culturas judia, árabe, cigana e andaluza. Até a
própria origem da palavra “Flamenco” é controversa. Pois, parece não haver um consenso
sobre a palavra Flamenco entre os pesquisadores. As opiniões são muito divergentes, tanto
em livros como em palestras e conversas dentro das academias, em torno da etimologia da
palavra.
Uma delas defende que os judeus espanhóis que imigraram a Flandres (Bélgica),
ao cantar seus cânticos, esses cânticos eram chamados de Flamencos pelos espanhóis. Outra
teoria defende que a palavra Flamenco, provavelmente, seja derivada de outra palavra de
origem árabe: Felagenkun”, ou ainda, Felah Men Encun’ que quer dizer “canto dos
lavradores”.
Outra teoria defende que a palavra Flamenco é uma gíria germânica, e deriva de
Flamancia”, ligado ao temperamento impulsivo e quente dos ciganos. (LIBÂNEO,
1999,
p. 27). Portanto, não há comprovação histórico-científica exata.
Além disso, nada se pode afirmar com certeza sobre a evolução do Flamenco, pois
numerosas fontes divergem a esse respeito, até sobre o próprio significado da palavra
Flamenco, que não possui uma origem clara, uma vez que O Flamenco é uma mescla de
culturas que atravessaram a Andaluzia durante séculos, entre elas: árabe, judia, hindu-
paquistanesa e bizantina, que foram se modificando em suas raízes populares. Portanto,
antecedendo o Flamenco, havia uma musicalidade de forte heraa oriental, mas com
personalidade e expressões próprias.” (GUGLIOTA, 1990. p. 2).
23
Conforme consta historicamente, os ciganos foram a última etnia a compor esse
caldo culturalde formação do Flamenco, pois relata-se que vieram expulsos da Índia, por
não se adaptarem ao sistema de castas”. Possivelmente, os ciganos atravessaram a Ásia
Oriental em direção à Europa, deixando várias tribos no trajeto, as quais não desenvolveram
o Flamenco, de modo que, só os ciganos andaluzes foram responsáveis por parte da sua
construção.
Quando se fixaram na Andaluzia, foram perseguidos pelo fato de não serem
católicos, tornando-se marginalizados. Mas, o mesmo acontecia com judeus e árabes, fato
que forçosamente levou essas etnias a viverem escondidas para se protegerem da Inquisição
na Espanha. Mesmo assim, nessa convivência forçada, germinou o Flamenco.
Por meio de relatos como esse, pode-se concluir que a formação étnica da Península
Ibérica, por sua história, está constitda por um conjunto de civilizações que foram
deixando sedimentos antagônicos, formando o que é chamado de Flamenco. Para a
pesquisadora Roberta Ferreira Leite: “De certa forma podemos dizer que as linhas atuais do
Flamenco foram traçadas no c. XVIII e incubadas nos dois séculos anteriores, o que o
quer, dizer de modo algum, que este tenha sofrido inovações e que vá ainda tomar novos
rumos...” (LEITE, 1994. p. 14).
Uma das fontes mais antigas sobre o Flamenco no Brasil é o trabalho realizado
pelas profas. Débora Nefussi e Daniela Nefussi, diretoras da Cia Raies
2
Teatro e Dança
(SP). Segundo as pesquisadoras, o Flamenco se formou principalmente a partir de quatro
etnias. No espetáculo denominado ETNIAS”
3
, realizado no Teatro Imprensa no festival de
2
Coordenado por Deborah Nefussi e Daniela Nefussi, o espaço RAIES DANÇA TEATRO reúne
profissionais com o mesmo objetivo: a harmonização entre movimento e expressão, integrando a arte
flamenca a outras atividades artístico-culturais. O espaço Raies foi inaugurado em março de 1998, dando
continuidade ao trabalho da Kompanhia de Teatro Dança e Arte Flamenca – Raies, grupo com grande
destaque no cenário da arte flamenca no Brasil, atuante desde 1992.
3
Palestra apresentada na sede Kompanhia de Teatro Dança e Arte Flamenca nos dias 18/19/20 e 21 de julho
de 2005. O especulo foi apresentado em no dia 18 de dez. 2005.
24
final de ano (2005)
4
essas etnias formadoras do Flamenco foram ilustradas com o toque da
guitarra, do canto, da percussão e do baile Flamenco.
O texto acerca desse espetáculo ilustrou essa mescla cultural e está transcrito
abaixo, para se ter uma idéia resumida do Flamenco:
Etnias: As Sementes do Flamenco. As sementes não se parecem com as árvores,
mas têm ambas a mesma essência comum. O Flamenco é como uma árvore que se
diferencia das sementes étnicas que o semearam. Foi da convivência de certas etnias,
durante diferentes períodos de tempo, que nasceu a arte flamenca. Mas sempre num mesmo
lugar, a Andaluzia. Muitos povos se instalaram no sul da Espanha, dividindo o espaço e
misturando suas culturas: culinária, ciências, músicas, cantos religiosos, poemas e
instrumentos musicais. As províncias da Andaluzia são: Huelva, Cádiz, Sevilla, Córdoba,
Jaén, Málaga, Almeria e Granada. Nessas proncias, quatro etnias foram as mais
influentes:
os árabes dominaram a sul da Espanha por 800 anos, criando um reino
chamado Alandaluz. O estilo de cantar dos mouros influenciou a formação
de alguns ritmos Flamencos. Ex.: Fandangos de Heulva e os Tarantos;
os judeus migraram para a Espanha e foram expulsos diversas vezes; não
há uma ligação direta entre arte judaica e a flamenca, mas a capacidade de
expressar as tristezas, através do cantar é a maior afinidade entre os
judeus. Ex.: o Martinete e a Syguirya;
os ciganos chegaram à Andaluzia em 1492, vindos do norte da Índia. A
cultura cigana é a que mais influenciou a formação do Flamenco. Ex.: os
Tientos, a Soleá por Buleria, e os Tangos;
os andaluzes foram a quarta etnia, que já estava fixada na terra onde nasce
o Flamenco (Granada, Allambra, Sevilla e Cádíz). Ex.: a Alegrias, a
Rondeña, e a Sevillana.”
4
Participei como bailarino na coreografia Rondenãs .
25
Cabe esclarecer que, quando se fala dos “Andaluzes”, as duas realizadoras desse
citado espetáculo estão se referindo historicamente ao povo que já vivia nessa região, antes
de a arte flamenca aparecer como ela é atualmente, com essas influências étnicas
apresentadas.
Mesmo que o Flamenco o seja uma criação exclusiva dos ciganos andaluzes,
deve-se considerá-los como os mais eficientes formadores dessa herança musical
acumulada durante séculos na Andaluzia. Mas sofreram a hostilidade dos povos do meio
rural europeu, que consideravam os ciganos como foras-da-lei.
Tal hostilidade, com o passar dos séculos, diminuiu permitindo aos poucos a
permanência das famílias ciganas em povoados da Andaluzia, o que ajudou a mesclar
diferentes povos, que posteriormente participaram na formação da Arte Flamenca.
Portanto, esse começo ganha grande difusão a partir do séc. XIII, mas ainda com
muito preconceito social, porque o que era do Flamenco estava associado à marginalidade.
As dificuldades de comércio e de obter empregos eram grandes, devido aos hábitos e modo
de vidamade, e alguns tiveram que se adaptar para sobreviver.
Os ciganos nômades agrupavam-se em clãs familiares para poder manter a liberdade
e seu estilo de vida, não adotando os costumes de outras famílias espanholas, subsistindo do
comércio de animais, da venda de antiidades e de shows artísticos.
Porém, o Flamenco conquistou grande parte da Espanha, tendo seu apogeu no c.
XIX, com a difusão dos Cafés Cantantes (ou de variedades), espalhando-se por grande
parte do país, dando emprego aos artistas flamencos. Mas, se por um lado a Arte Flamenca
expandia-se, para muitos era uma corrupção dos ritos tradicionais da cultura hermética das
famílias, pois novas formas de arte foram se agregando ao espetáculo flamenco nos Cafés
Cantantes.
26
Tal fato influenciou até a maneira de ser da cultura espanhola aflamencando-a”,
numa via de duas mãos. Pois, esse enlace entre a cultura cigana do Flamenco, e a cultura
popular da Andaluzia influenciavam-se mutuamente.
Essa simbiose durou duas décadas e meia, quando então o declínio fez com que os
Cafés Cantantes praticamente acabassem. A Arte Flamenca retornou às suas raízes do
ambiente familiar. Mas uma coisa ficou dessa experiência: o fato da união entre o baile
flamenco e estéticas teatrais.
Na década de cinenta, houve um movimento de retorno às rzes da Arte
Flamenca. Esta, renascendo mais pura, resgatando formas antigas e voltando a suas raízes,
propiciou o surgimento de uma produção cultural bibliográfica, fonográfica,
cinematográfica e intelectual, impulsionando o Flamenco à frente no equilíbrio. com duas
vertentes, uma conservadora e outra inovadora.
Hoje o Flamenco é uma arte praticada e conhecida por grande parte da população
mundial. Ele está além das suas origens, pois está amplamente disseminado em quase
todos os países do mundo, por sua beleza artística através de expoentes internacionais
como: a guitarra flamenca de Paco de Lucia; o grupo musical Gipsy King's; os filmes do
diretor Carlos Saura (“Carmem” e “Bodas de Sangre”), e dos bailaores Antonio Gades,
Cristina Hoyos, Antonio Canales, Sara Baras, Eva Yerbabuena, além de muitos outros
ícones que vêm ao Brasil periodicamente.
Na área do ensino e da divulgação do Flamenco, existem sites onde estão à
disposição deos e livros pedagógicos de baile, toque e cante (dança, violão, canto) que
podem ser adquiridos, proporcionando a disseminação em larga escala dessa arte pelo
mundo. Atualmente, existe uma vasta cultura “globalizada” a respeito dessa arte, pois, nas
páginas de procura do Google Internaciona,l existem aproximadamente vinte e um miles
e quinhentos mil sites relacionados com a Dança Flamenca de variadas nações, entre os
27
quais o Brasil, onde existem aproximadamente cento e sete mil sites somente com
referências às academias
5
.
Uma quantidade crescente de cursos de baile, toque e cante para estudantes
internacionais é oferecida na Espanha e em outros países, tais como no Brasil,
possibilitando o aperfeiçoamento e a disseminação dessa arte em seus países de origem.
Essa tendência foi confirmada em entrevista com Adrián Galia, um dos maiores expoentes
internacionais da nova geração do Flamenco: ... em suas viagens pela Europa, América e
Ásia, já vem encontrando matizes do que um dia será, em suas palavras, um Flamenco
brasileiro, outro francês, outro japonês, etc.” (LIBÂNEO, 1999,
p. 65).
Esse assunto é muito controverso, bem como a maioria dos conceitos existentes no
Flamenco, pois os brasileiros e os espanhóis entrevistados divergem muito da opinião de
Adrián GaIia.
Comprovando a tendência crescente do interesse pelo Flamenco no Brasil, pode-se
ter em uma amostra desse fenômeno nas duas ultimas versões do “Festival Internacional de
Flamenco”, na cidade Jodos Campos (SP), onde estavam presentes, aproximadamente,
trezentos bailarinos flamencos. Participantes da maioria dos estados brasileiros foram ao
festival e participaram de aulas e palestras de cante, baile e guitarra, ocorrendo
simultaneamente em três salas com cem pessoas cada uma.
Um dos fenômenos recorrentes da Arte Flamenca no Brasil é que aspectos da
cultura brasileira têm se misturado à cultura espanhola, pois a América Latina, durante sua
história de colonização, sofreu influências dessa cultura por séculos. Nesse sentido, o
guitarrista flamenco Ricardo Schwingel e a bailarina Tatiana Hass, em entrevista dada,
declaram que a mistura entre aspectos da Arte Flamenca e outras culturas é muito comum
historicamente no Brasil e no mundo.
5
Segundo pesquisa realizada no site de consulta da Empresa Google. (http://www.google.com.br, Acesso, 8
set. 2006)
28
Um exemplo disso foi a apresentação do espetáculo “Luzes e Sombras”, do
bailarino Fábio Rodrigues, mesclando a capoeira e a música do berimbau com o Flamenco,
mostrando como pode ser rica a mistura desses estilos e dessas culturas para arte brasileira e
a cultura do Flamenco. Como relata nesta entrevista, Estive ligado à capoeira diretamente
por quase oito anos consecutivos, aprendendo a história, técnicas, cantigas e instrumentos
musicais. Existem diversas semelhanças entre as linguagens. Primeiro, que é muito forte a
ligação de ambos no canto, no toque e no baile (ginga, dança), elementos que, quando
atuam juntos, deixam tudo mais completo, mais harmônico, bonito. No Flamenco, tamm
há a Juerga tradicional que pode ser associada com a Roda de Capoeira por inúmeros
aspectos. Outro grande fato é que são culturas geradas a partir de povos perseguidos,
oprimidos e pobres, que trazem no seu histórico a dor, o lamento, o grito... e também a
alegria, a liberdade e as festas... Esses são alguns fatores entre muitos. Claro que, quando
fazemos um espetáculo, vamos melhorando com o tempo e mudamos o que não certo,
como tudo na vida, mas me serviu de experiência para um próximo trabalho mais
consciente e amadurecido...
6
Em 1990, quando iniciado este estudo da dança flamenca, não havia informações
como há hoje, tudo era muito dicil. Existiam poucos professores de flamenco no Brasil e
não se tinha acesso a bibliografias específicas, discos, fitas, roupas, acessórios, shows e
cursos de professores espanhóis. Portanto, nesses aspectos, o conhecimento do Flamenco
melhorou muito desde essa época.
Na contramão dessa expansão do Flamenco, poucos trabalhos acadêmicos nas
universidades brasileiras; entre eles estão: a dissertação de mestrado da pedagoga e
bailarina flamenca profa. Ms. Daniela Leonardi Libâneo: “Ensinando Dança Flamenca”, o
texto do trabalho de conclusão de curso lato-sensu da bailarina prof. esp. Cadica Borquetti,
da PUC do Rio Grande do Sul: “Resgate da Identidade da Dança Flamenca”, que elaborou
também o livro “O Flamenco Gaúcho”.
6
Entrevista dada ao site FLAMENCO NEWS. (http://Flamenconewsbrasil.zip.net/index.html, Acesso em:8
set. 2006).
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Esses são alguns exemplos do começo dessa tendência acadêmica do estudo dessa
arte. Acredita-se ser importante o estudo dessa arte no âmbito acadêmico para sua evolução
e disseminação no Brasil, no intuito de desenvolver elementos que ajudem os profissionais
dessa área em seus grupos e academias.
Porém, parece existir de baile não dão-se ao trabalho de explicar de onde provém
cada tipo de baile para o aluno iniciante, bem como o significado singular para cada um
deles. O aluno, em geral, adquire um conhecimento superficial do baile dado, fato bastante
redutor em qualquer estilo de dança étnica como é o caso da Daa Flamenca, pois o
aprendizado do contexto cultural dessas danças é fundamental para a compreensão de sua
poética, e fundamental para a não-fragmentação da formação do bailarino.
Em sentido análogo, comenta a Profa. Graziela E. F. Rodriguez: “A fragmentação
do corpo freqüentemente é apresentada no bailarino como uma conseqüência de sua
formação... A tradição dualista de Platão, corpo alma, reverbera na Dança.”(Rodriguez
1997. p. 23.)
Há professores que simplesmente ensinam a “técnica” e desprezam os porquês
desta. Mas a transcendência à técnica está em viver o Flamenco: descobrindo significações
pessoais – pois, caso contrário, o diálogo entre a música flamenca e seus sentimentos
perante esta não fluem adequadamente, quebrando o diálogo corporal e a significação das
festividades apropriadas para cada baile. Os bailes
7
contêm uma gama de interpretações
que vão dos temas mais alegres, apaixonados, até os mais trágicos, como os de perda e
morte.
O ato de bailar o Flamenco está além de uma simples dança. Ele é também uma
válvula de escape de sentimentos e de vivências necessárias ao seu intérprete, estando ele
triste, alegre, apaixonado, angustiado, ou seja, vivo. Nas significações de cada música
flamenca, um turbilhão de emoções passando pelo corpo do intérprete.
7
A terminologia utilizada para designar a Dança Flamenca é baile.
30
Também perece que existe um significado pessoal para cada tipo de baile, sejam
estes: tristes, apaixonados, soturnos, ou mesmo de alegria e de regozijo. A tradição
interpretativa do cante traz norteamentos gerais para cada tipo de expressão, não perfazendo
regras absolutas.
Portanto, o que não se modificará tão cedo é o coração da Arte Flamenca cante
(canto), pois, de suas formas originais, brotou o que ele é hoje. A partir das significações
poéticas e históricas de suas letras, ele nasceu mostrando os rumos e as energias necessárias
para sua interpretação artística e criativa. O Flamenco, como arte viva, é mutante, pois
muitas das suas expressões originais têm-se modificado até hoje.
Um pequeno estudo do cante é imprescindível para o entendimento dessa arte, pois a
partir de seus temas para cada baile (dança) e toque (violão) nasce a inspiração necessária
para a completude da expressão do Flamenco.
31
1. O Cante.
O percussionista Alessandro Gonçalves
8
, que no II Workshop de Dança Flamenca,
disse em palestra que a evolução do Flamenco começou com o cante judaico, sem
acompanhamento; depois, com a convivência dos árabes e dos mouros, o violão (guitarra)
9
foi introduzido. Os cantes primitivos foram sendo mesclados, aparecendo nas festas dos
ciganos e no convívio dessas outras etnias, durante séculos, na Andaluzia, forjando o que é
denominado Flamenco.
Dessa maneira, leva-se a crer que a Arte Flamenca nasceu do cante, como forma de
lamento, com letras que retratavam a realidade daquelas pessoas: “Sabemos que o cante
flamenco apareceu por volta de 1870 entre os ciganos da baixa Andaluzia numa pequena
região entre Sevilla, Lucena e Cádiz. Do que antes havia sido, não se sabe nada de certo. É
um assunto que está na esfera dos mistérios e das possibilidades...”(RUIZ, 1972. p. 65)
.
Os cantes são derivados de canções religiosas de origens judaica, mulçumana, cristãs,
indo-paquistanesas, provavelmente, como tamm aqueles derivados de origens céltica,
árabe, andaluza, cigana, latino-americanas, etc.
Os cantes latino-americanos são denominados de ida” e “vuelta”, pois foram para a
América, sofreram mudanças e, ao retornarem para Espanha, foram assimilados pelo
Flamenco.
Possivelmente, os cantes mais primitivos eram executados sem acompanhamentos, de
forma recitativa e sem instrumentos musicais. Eram puramente uma expressão vocal de
sentimentos de povos que geraram a matriz dos cantes conhecidos até hoje.
8
O “II Encontro de Arte Flamenca, Raies – Dança e Teatro. Clube Paineiras, São Paulo (SP), 2006
9
A guitarra flamenca é semelhante ao violão brasileiro tendo também seis cordas, mas difere na construção
do instrumento e nas madeiras utilizadas.
32
A energia e a significação poética do cante parecem ser divididas em três categorias:
Cante Jondo, Intermédio e Chico. Mas, tratando-se de uma arte viva, qualquer classificação
seria apenas aproximada.
O Cante Jondo parece estar está ligado à dor, ao lamento, ao amor, à tristeza e à
morte. Ele engloba as músicas e as danças de caráter solene, de gravidade emocional, e é
carregado de certa fatalidade.
Nesse estilo, encontram-se as formas musicais mais antigas, como as Soleares, as
Siguiryas, os Martinetes, etc. O cante grande, ou jondo, parece ser derivado em sua grande
parte de canções religiosas. Geralmente, são os mais difíceis de serem interpretados devido
à necessidade de um donio expressivo e uma vivência dramática, exigindo uma técnica
vocal acurada. Para os ouvidos de pessoas o acostumadas ao cante desse tipo, pode
causar alguma estranheza, pois se assemelha muito a um pranto.
O Cante Intermédio estaria entre o Cante Chico e o Cante Jondo, pois teria
características expressivas entre elementos de expressivos de um e de outro, podendo
transitar de um para outro na temática escolhida. Alguns exemplos são os Tientos, as
Granadinas, as Peteneras, etc. O Cante Intermédio possibilita uma intensidade dramática
múltipla e intermediária, pois é mais ornamentado em sua interpretação.
O Cante Chico, geralmente, apresenta-se leve, alegre e sedutor, como as Sevillanas, as
Bulerias, e os Tangos.o mais comuns de serem interpretados, seja por seu caráter
interpretativo mais leve e sua energia elevada, pois são jocosos, frívolos e festivos, assim
demonstrando uma dinâmica de compassos rítmicos bem demarcados, de forma crescente
em sua intensidade. Além disso, podem denotar uma duração menor de tempo de execução
perante outros tipos de palos.
Parece ser comum um crescimento evolutivo de energia e da intenção na maioria dos
três tipos de intenção de palos, bem como paradas bruscas (cortes, arremates ou cierres), o
33
que, na maior parte do tempo podem passar uma impressão de que o cante, baile ou toque
acabaram, renasce para demarcar somente uma mudança da intenção interpretativa.
Não é comum uma diminuição da intensidade do palo em meio a uma estrutura de
palo, tal como um ralentar, mas pode acontecer, dependendo do jogo de elementos pré-
combinados entre os elementos que comem um quadro flamenco (músicos e bailarinos).
Poeticamente, os versos assim descrevem a bailaora andaluza (MELO NETO, 1975,
p.132):
De arrancar-se de si mesmo
numa primeira faísca
nessa que, quando ela quer,
vem e acende-a fibra a fibra,
Que somente ela é capaz
de incendiar-se estando fria,
de incendiar-se com nada,
de incendiar-se sozinha”
Os cantes chicos, caracterizando que os cantes mais festivos têm preponderância,
refletem sua natureza de maior facilidade de execução e de expressão vocal. Alguns palos
não possuem o cante, outros não possuem o baile, outros possuem o baile e o cante, outros,
baile, e outro,s o toque e o baile.
As temáticas dos versos cantados remetem às suas origens territoriais; portanto
trazem consigo as histórias desses povos, seus lamentos, festividades e sua visão filofica
do mundo em que vivem ou viveram. Isso é fato comum nas manifestações de origem
popular, mas o diferencial é a origem, o tipo de aplicabilidade de cada palo.
O Flamenco, como mescla das culturas árabe, judia, andaluza e indiana, parece ter,
na temática ligada a terra, seu “motor” primordial sua secura ou sua abunncia, sua
localização, sua posse ou sua saudade, de forma aparentemente muito comum a um
significado universal de valoração e posse de território incrustado na alma do ser humano.
34
De forma poética (MELO NETO, 1975, p.130):
“...
Ela não pisa na terra
como que quem a propicia
para que lhe seja leve
quando se enterre, num dia.
Ela a trata com a dura
e muscular energia
do camponês que cavando
sabe que a terra amacia...”
Entre os versos do Flamenco, existem temas ligados ao amor, à conquista, à
desilusão amorosa, à perda de um ente querido ou à sua saudade. Esse caldeirão vivo de
emoções traz ao intérprete do Flamenco infinitos temas expressivos que, quando
combinados e interiorizados na carne e na alma do intérprete Flamenco, trazem à tona sua
beleza significativa.
35
2. Toque
O toque da guitarra (violão) acompanha o cante, dando-lhe apoio musical e rítmico,
mas o guitarrista pode solar (falseta) independentemente do palo que executa, pois pode
acontecer que a intenção daquele tipo de palo seja para o toque sem cante.
Os palos, mesmo sem o acompanhamento de cante e de baile, são executados com
freqüência no mundo do Flamenco por guitarristas renomados mundialmente, fato que
tornou o toque da guitarra um capítulo à parte nesta arte.
O toque dos palos na guitarra flamenca também é classificado, como no cante,
como toques do tipo: jondo, intermédio e chico. Apesar da mesma tipificação, nem sempre
pode ser relacionado com a mesma energia do cante ou do baile. Esse contraponto é
comum, pois as três artes que compõem o fenômeno Flamenco trazem intenções
expressivas com interpretões entrelaçadas.
A guitarra (vioo) flamenca (toque) é um instrumento muito semelhante ao vioo
brasileiro, mas a forma de tocar é diferente, pois apóia o polegar da mão direita e trabalha
os outros dedos de forma descendente e ascendente. “A guitarra originariamente era um
instrumento de acompanhamento. Ela é de derivação oriental, considerada como uma
descendente da Kitara (Cítara Grega), um antigo instrumento de cordas”. o é muito
claro como ela foi introduzida na Europa, pela Espanha, por um famoso cantor árabe e pelo
sico Ziryab no século XI d.C.” (POHREN, 1990. p. 73).
Esse músico era também chamado Abu-l-Hasán ibn Nafi, que significa um “pássaro
que possui a pele negra” (fazendo uma alusão a sua tez morena), chegou à Espanha vindo
da antiga Mesopotâmia (Iraque), e foi responsável por um grande desenvolvimento da
sica na Espanha e na Europa nessa época. O maior legado de Ziryab foi a sua música,
pois fundou o primeiro conservatório de música no Mediterrâneo, na cidade de Córdoba,
além de introduzir o uso do alaúde de cinco cordas, antecedente da guitarra. Ziryab teve
grande importância, uma vez que foi por seu intermédio que as tradições musicais do
Oriente floresceram e influenciaram o Flamenco.
36
Dessa maneira, a guitarra flamenca foi evoluindo com os passar dos séculos até
chegar ao formato que tem hoje. Segundo palestra de Alessandro Gonçalves
10
, o famoso
guitarrista Paco de Lucia
11
, considerado o maior nome mundial quando se trata desse
assunto, juntamente com outros guitarristas de sua época, redefiniu o formato do toque da
guitarra. Antigamente, tocavam a guitarra de pé, o que dificultava os movimentos dos
dedos. Paco de Lucia começou a apoiar a guitarra na perna para liberar a mão esquerda.
Hoje a grande maioria toca a guitarra na posição sentada, com o instrumento apoiado no
colo, liberando seu peso e dando sustentação para seus acordes rápidos e precisos.
A guitarra flamenca traz sustentação à poesia rítmica e melódica através de seus
acordes e rasqueados”, detonando os movimentos dos bailarinos, criando um clima
diferenciado em cada baile, que vai do trágico ao frívolo, contrapondo a temática ou,
muitas vezes, em sintonia com ela, nos versos e na voz do cantor flamenco.
Pode-se evocar uma semelhança ao repente nordestino”, em que canto, versos,
guitarra e baile trazem um jogo mágico e poético de contrapontos e uníssonos, num jogo
aparentemente imprevisível entre cada um dos elementos. Essa confusão aparente traz em
seu todo um beleza coerente, única e inconfundível.
O jazz americano é outro campo de semelhança passível de ser evocado, visto ter este
um tipo de estrutura de improvisos dirigidos. Um exemplo concreto é o guitarrista flamenco
Paco de Lucia, que parece ter reconhecido tal fato ao trabalhar com renomados sicos
desse estilo em espetáculos e em gravações no decorrer de sua carreira.
Tal semelhança poderia ser feita, respeitando as devidas difereas, quanto à
musicalidade do jogo da capoeira brasileira, como é o caso do bailarino flamenco e
capoeirista Fábio Rodrigues e de Cadica Boeghetti, em seu estudo sobre a dança gaúcha.
10
O “II Encontro de Arte Flamenca, Raies – Dança e Teatro. Clube Paineiras, São Paulo (SP), 2006.
11
Denominado de Francisco Sanchez mez, é um dos principais expoentes vivos da Arte da Guitarra
Flamenca. Influenciou, com seu estilo de tocar, grande parte do guitarristas atuais, mesclando sua arte ilo ao
jazz e à world music.
37
Outra aproximação (e derivações) pode ser feita em relação aos filmes de Carlos
Saura, no qual a linguagem do Flamenco toca profundamente a linguagem do cinema e das
artes cênicas, mesclando-as, difundindo essa arte além de sua origem folclórica, ampliando
suas significações, atingindo graus de universalidade dos sentimentos evocados.
38
3. Baile
“O Flamenco é um sentimento profundo. Um modo de
viver, a partir do qual se sente e se interpreta. Não é uma
manifestação folclórica de uma determinada etnia, e sim uma
emoção universal, que se aninha em todos os povos.”
Antonio Canales
12
Dentro da evolução pela qual passou a Arte Flamenca, o baile foi o último a ser
desenvolvido, aparentemente. Em suas origens incertas e multifacetadas, o baile seguiu o
mesmo caminho, evoluindo através da história com múltiplas inflncias dos povos que o
forjaram por caminhos tortuosos e incertos.
Com relação ao significado de cada baile “As coreografias flamencas, em geral, não
têm outra narrativa dratica que não seja a sua própria história implícita a história do
Flamenco, seu caráter visceral e telúrico e a maneira como a bailarina interpreta para si
própria, a partir de sua história pessoal de sua vida e de sua personalidade. Visceral, porque
o Flamenco, dizem os Flamencos”, quando é verdadeiro, vem de dentro das vísceras, e
telúrico, por ser expressão da terra da Andaluzia.” (LIBÂNEO, 1999, p. 54).
Dessa forma, essa narrativa visceral dos bailes nem sempre têm a mesma tipificação
expressiva relacionada com o cante e o toque, pois alguns deles om a mesma qualidade
expressiva (chico, intermédio ou jondo) demandada por eles, às vezes divergindo na
intenção originária do cante e do toque. Por exemplo: o palo de Alegrías tem um toque e
cante chicos e um baile intermédio, gerando um contraponto de intenção.
Observe a existência de palos que não são todos “bailáveis”
13
, pois, dependendo do
tema, da poesia, de sua evolução histórica, só o cante, ou só há o toque, ou os dois juntos
sem o baile.
12
Programa do espetáculo “Torero” do corgrafo Antonio Canales, no Brasil.
13
Ver Tabela III: Palos de Baile
39
Esse fato demonstra ser transitório, uma vez que a Arte Flamenca parece estar em
constante mutação, tanto na sua origem, como nas expressões étnicas que a abraçam como
forma de expressão. Fato aparentemente recorrente dentro da cultura desta arte.
A interpretação corporal na Dança Flamenca, além de ser um conjunto de
movimentos, pode trazer uma história corporal única a cada pessoa que interpreta aquele
tipo de palo, pois a escolha da temática a ser bailada transita pelas intenções e pelos
sentimentos desejados pelo interprete no decorrer de sua execução.
O corpo e a alma dos bailarinos reverberam seus sentimentos a partir do tipo de clima,
de um todo, conjuntamente com os componentes musicais que estão a sua disposição.
Elabora-se num jogo de perguntas e respostas a esses estímulos, gerando e recebendo
sentimentos e motivações que levam ao fenômeno da Arte Flamenca.
Essa alquimia em que o instrumento corporal ao mesmo tempo é matéria
transformada em energia, e vice-versa, parece ser o que é denominado poeticamente no
Flamenco de Aire (“ar”), algo que não é exatamente definido como material, mas que flui
pelo corpo e pelo ambiente.
Aparentemente, nesse momento, sente-se como se estivessem “sendo bailados”
conceitos vistos tais como a Matemática Aplicada, da Relatividade, da Física Quântica e da
Ciência do Caos: onde tempo e espaço, público e palco, bailarinos e músicos, céu e terra,
tornam-se “um” estranho integrado às múltiplas facetas. Cada molécula do corpo parece
vibrar em uníssono, trazendo um fenômeno chamando de Aire no Flamenco, que pode ser
definido como um estado alterado de consciência.
O conceito do Duende é relativo ao Aire, mas é distinto deste, pois, para uns, Duende
é uma sensação inebriante de vitalidade trazida pelo ritmo da música. Para outros, pode ser
um transe momentâneo. Observa-se que esse estado não é uma folclórica entidade
sobrenatural como se conhece no Brasil.
40
Durante o início da minha trajetória no Flamenco, tive aulas com a prof.
a
Tereza
Artigas, do “Raies, Kompahia de Teatro Dança e Arte Flamenca”, e, durante uma
conversa informal na sala de aula, ela declarou que havia sentido tal fenômeno em uma de
suas viagens para a o sul da Espanha com outras professoras relatando que havia ido ao
uma cueva
14
(literalmente caverna) para assistir a um espetáculo de Flamenco. Durante
certo ponto do ápice de uma apresentação flamenca, sentiram algo inexplicável e forte que
fluía inexplicavelmente pelo ambiente, provocando uma comoção geral na platéia e no
palco. O grupo e suas companheiras de viagem comaram a chorar muito e todas as
pessoas a sua volta também. Refeitas dessa experiência, chegaram à conclusão que elas
haviam experimentado um estado de consciência alterado denominado Duende.
Aparentemente, somente determinadas pessoas que têm a capacidade de se
entregar totalmente ao femeno do Flamenco são capazes de compreender esse estado,
seja cantando, dançando, tocando ou mesmo assistindo a uma apresentação do gênero.
Fazendo um paralelo com a cultura afro-brasileira, um exemplo é o candomblé, sobre
o qual existem relatos de fenômenos semelhantes a esses, mais comuns nos terreiros de
umbanda.
Tais fenômenos parecem estar sob um véu obscuro para a ciência, mas que, vistos
pela ótica da arte, podem apresentar-se de forma mais sensível e natural. Nas realidades dos
praticantes brasileiros de Flamenco, isso parece distante e mostra-se bem diferente do
universo espanhol.
Dessa forma, buscar métodos e técnicas que ajudem na mobilização de algo que
além da necessária técnica, mobilizando, despertando, sentindo, moldando, cuidando,
desenvolvendo uma forma de energia que complemente a expressividade do bailarino
flamenco, parece ser necessário. Mas é salutar o respeito aos limites e às intersecções da
ciência, na arte e na religião de cada pessoa. Sobre essa perspectiva energética, trata o
próximo capítulo.
14
Cavernas onde se apresentam espetáculos de integrantes de famílias flamencas tradicionais na Espanha.
41
42
“A dança integra o f
ísico, o psíquico, o intelecto e o
emocional. Pode ser considerada não só um estímulo para
imaginação, mas como um constante desafio para o
intelecto e um cultivo do senso de apreciação.”
Profa. Dra. Inaicyra Falcão dos Santos.
15
“... As bases da arte e,
conseqüentemente, do belo, são
fundamentadas na ciência, é, portant,o
necessário que se estabeleçam leis,
princípios e critérios da análise e
construção estética.”
Rafael Madureira.
16
A observação e à análise dos movimentos observados nas aulas de dança e nos
espetáculos, ajudaram na compreensão do significado de cada gesto nesta arte para esta
pesquisa. Durante a Graduação em Dança e a s-Graduação em Artes na Unicamp, foi
possível, entrar em contato com diversos estudos sobre a expressividade do corpo e
possíveis análises sobre o movimento expressivo na dança.
Dentre os quais as análises de François Delsarte, que ficou conhecido como teórico
do gesto, desenvolvendo uma gama de teorias sobre a expressão humana e, devido aos seus
estudos, ele ...é o precursor da dança moderna. A ciência de Delsarte: a Estática, a
Dinâmica e a Semiótica. A obra de Delsarte se propagou pelos Estados Unidos.” (BARIL,
1977, )
Fato curioso, levando em conta esta investigação, é que François Alexandre Nicolas
Chéri Delsarte, filho de Jean Nicolas Toussaint Delsarte (1811-1871) e Albertine Rolland,
tinha uma ir, Aimée, que se casou com Adolphe Bizet, cujo filho Georges foi o
compositor da ópera “Carmem”, que narra a história de uma bela cigana infiel que é morta
pelo amante, um oficial espanhol. Transformada em ópera por Bizet, em 1875, concentra
sua trama e sua expressividade poética com a força da cultura espanhola e sua inflncia
cigana. “Carmem” foi também inspiração para o filme homônimo, dirigido por Carlos
Saura, filme que incentivou muitos à praticada da Dança Flamenca.
15
Inaicyra Falcão dos Santos. Uma proposta pluricultural de dança-arte-educação. Ed. EDUFBA, Salvador,
2002. p. 25.
16
JoRafael Madureira. François Delsarte: Personagem de uma Dança (Re) Descoberta. 2003. Dissertação
(mestrado). Unicamp. Campinas. p. 54.
43
A história da ópera Carmen” foi inspirada em pesquisas de Prosper rimée, em
visita a Sevilha, onde ficou impressionado com a figura do rei e de sua amante, “muito
populares no imaginário local”, como nos contos em que o rei de Espanha, Don Pedro de
Castella, enfeitiçado por uma cigana chamada Maria Padilla, apaixonou-se perdidamente
por ela, tornando-a sua principal amante.
A ópera “Maria Padilha” foi apresentada uma única vez no Brasil (Rio de Janeiro),
em 1856, no Teatro rico Fluminense (MEYER, 1993, p. 141-171). Além de tal
curiosidade, a figura de Maria Padilha é de uma “Pomba Gira” nos terreiros de umbanda,
que, incorporada, está vestida de bailarina flamenca no sincretismo religioso da cultura
brasileira. Pois a Maria Padilla não é ao mesmo tempo amante de um Rei de Castella,
personagem de cancioneiro europeu e pomba gira de umbanda...Onde termina a Europa,
onde começa o Brasil?” (SOUZA, 1960, p. 14).
A partir desse caldo cultural (e pessoal), a Dança Flamenca possibilitou intersecções
poéticas” nesta pequisa. o estudo minucioso do gestual humano feito por Delsarte,
trouxe elementos propícios para a análise e o entendimento desse estilo dança, no que se
refere à expressividade.
Um exemplo de aplicação desses estudos diz respeito ao comportamento dos
ombros, punho e polegares, que, de forma curiosa, relevam os estados emocionais de uma
pessoa:
Os ombros: paixão e sensibilidade;
Os dedos polegares: vitalidade e persistência;
Os cotovelos: vontade.
Na Dança Flamenca, os ombros, geralmente, são posicionados na parte mais
posterior do tronco, como que deslocados para traz, trazendo um sentido de enfrentamento
ou de altivez, em algumas palos. Em outros momentos, isso pode ou não acontecer, como
44
no caso de danças com temas mais tristes em que os ombros, colocados à frente, podem
denotar tristezas, sentimentos de perda.
De uma maneira diferente, como nas bulerías (que vem de “burla”, brincadeira), o
jogo dos ombros traz um significado de jocosidade, ou mesmo desprezo. Um exemplo de
baile em que sensação de perda e tristeza é o palo das soleares. Em contraponto, nas
bulerías, o caráter festivo e de júbilo, os ombros expressam diferentemente a mensagem ao
público acerca dos sentimentos do intérprete. Dessa forma, apenas com o posicionamento
dos ombros e sua movimentação, o bailarino flamenco pode demonstrar diversos
sentimentos e paixões humanas, na diversidade dos bailes.
O trabalho dos punhos (munhecas), das mãos, dedos e polegares trazem um gestual
muito característico na Dança Flamenca, pois, além de serem utilizados de maneira
extremamente minuciosa, detalhada, trazem significações quase insondáveis, possivelmente
ligadas às origens trazidas pelas etnias formadoras desse estilo de expressão, como as
danças pertencentes aos folclores indiano e árabe.
Os trabalhos da movimentação desses elementos podem denotar vitalidade e força,
como é o caso dos cortes e arremates, a partir dos quais se realiza uma finalização do baile.
Em outro sentido, o trabalho dos punhos, das mãos, dedos e polegares são passíveis de
denotar fluidez e sensualidade, como ocorre frequentemente em bailes de conotação
feminina (ex.: guarijas), primos do gestual árabe e indiano. Porém, é importante notar que
tal aspecto pode variar de interprete para intérprete, visto a grande pessoalidade que o
bailarino imprime em sua performance.
Os cotovelos, apontando para fora, e as os apoiadas na cintura, sobre os ossos do
quadril (ílios), podem trazer uma significação de força e expansão da figura do intérprete,
ampliando o tronco do bailarino. Os cotovelos o projetados para fora da linha medial do
corpo, modificando o formato da figura do bailarino dinamicamente, expandindo e
contraindo seu formato, volume e percepção espacial, em espirais conntricas e
45
excêntricas, ao redor e ao longo do tronco. Dessa forma, amplia sua kinesfera, causando
percepções expressivas, relativas, quânticas e caóticas.
Desta forma, parece que a essência da vida de uma sintonia expressiva é:
relativa, pois a energia e a matéria, alma e corpo, transitam de um estado
para outro estado continuamente e parecem indissociáveis, pois para ... A
essência do ser humano é necessária para todas as artes do movimento, para
que não sejam apenas gestos mecanicamente realizados, mas movimentos
que expressem verdadeiramente os mais profundos sentimentos da alma
humana...”
17
;
quântica, palavra (do latim, quantum) quer dizer quantidade, pois a
mensuração incerta da repetição exata de movimentos probabilisticamente é
uma utopia;
caótica, pois movimentos e sentimentos são virtualmente imensuráveis,
gerando variações pequenas que, no decorrer do tempo, podem mudar um
resultado drasticamente, necessitando para isso de uma harmonização.
Um corolário desass idéias é que “As emoções são, para o ator, o mesmo que os
sculos para o atleta, devem saber usá-las tomando consciência de seu mundo afetivo...”
(AZEVEDO, 2002, 326 p. 21), Considerando que o ator, aqui, é o bailarino flamenco, a
mesma reflexão cabe a ele.
Essas características estão presentes de forma clara na Dança Flamenca, sendo
capazes de trazer, potencialmente, uma liberdade expressiva de significados múltiplos, na
percepção dos estímulos de uma vivência estésica existente em cada pessoa, perante
estados emocionais, durante sua vida.
17
Carolina Romano de Andrade. François Ddelsarte e a Dança Moderna. Revista Digital “Conexão Dança”.
O gestual humano e o Barroco Mineiro: uma ótica de François Delsarte. Orientação: Profa. Marilia Vieira
Soares. Unicamp.
(http://www.conexaodanca.art.br/imagens/textos/artigos/Fran%E7ois%20Delsarte%20e%20a%20dan%E7a%
20moderna.htm, Acesso, 23 ago. 2006)
46
Dessa forma, as células formadoras da poética de cada tipo de palo são classificadas
como expressivamente de jondo, intermédio e chico (Tabela 2).
A liberdade expressiva de cada performer capacita-o a uma faixa variável e pessoal
de interpretação. Portanto, “Precisamos, pois, de um novo paradigma uma nova visão da
realidade, uma mudança fundamental em nossos pensamentos, percepções e valores. Os
primórdios dessa mudança, da transferência da concepção mecanicista para a holística da
realidade, são visíveis em todos os campos e suscetíveis de dominar a década atual.”
(CAPRA 1982, p. 14), o que afetaria em adotar modelos corporais ou gestuais fechados.
Mas, de uma forma mais ampla, o fenômeno da Dança Flamenca perfaz um ciclo
hostico, no qual o som do cante e do toque geram poesia estésica para o movimento
corporal, e o baile, por sua vez, devolve ao cante e ao toque a beleza poética realimentando
esse ciclo, até um desfecho sentido pelos componentes do fenômeno dessas artes.
Às vezes, um elemento dos elementos pode vir separadamente do outro elemento em
alguns palos específicos, mas a real integridade da beleza estética dessa arte parece
acontecer de uma forma potencial quando os três elementos estão juntos.
Atualmente, existe a tendência de valorizar a intensidade física dentro do baile,
desprezando-se o significado sensorial e pessoal do praticante, pois “A falta de inteligência
e a estupidez que reina entre os bailarinos tem origem na má educação que recebem
normalmente. Para que nossa arte atinja este grau de sublimidade de que peço e desejo, é
indispensavelmente necessário que os dançarinos dividam seu tempo e seus estudos entre o
espírito e o corpo e que ambos sejam objetos de suas reflexões: mas, lamentavelmente, tudo
se atribui ao último e tudo se recusa ao primeiro.(AZEVEDO apud NOVERRE, 2002, p.
52). Dessa forma, deve-se observar para que o baile não se transforme simplesmente numa
atividade física.
47
No baile, o movimento de cabeça exige muito da coluna cervical, pois é realizado de
maneira brusca e rápida, mantendo a altivez, a assertividade, numa intenção de
enfrentamento, gerando uma interpretação forte. Aliado a esse aspecto, o trabalho de foco
dos bailarinos flamencos busca ser exato, pois as posições altivas de suas cabeças trazem
certa qualidade de certeza e de força. Até mesmo nos bailes que buscam expressar
sentimentos de perda, saudade ou tristeza, a linha do tronco não se volta ao solo. A cervical,
alongada, tende a acompanhar a altivez do tronco. O orgulho do bailarino flamenco,
geralmente o faz um combatente dos sentimentos de tristeza, os quais demonstram. Pom,
não há um sentido de entrega claro nesses momentos.
O rosto do bailarino flamenco pode transmitir uma gama variada de emoções no
baile, buscando a procura harmônica entre os sentimentos internos e aqueles adequados ao
tipo de palo escolhido. Alunos iniciantes nessa arte normalmente tendem a fixar seu foco
nos pés; isto é normal, pois a preocupação grande com o taconeo leva a tal comportamento.
O mestre deve estar atento a isso, pois pode se tornar um vício postural da cabeça,
prejudicando o equilíbrio corporal e expressivo do baile, no qual a posição da cabeça é
parte fundamental de sua poética expressiva.
No Flamenco a expressão do rosto é normalmente forte e fechada como nos bailes
de morte e tristeza profunda (jondos). Dependendo da energia do baile, ela pode vir a ser
mais alegre. Nas escolas de baile o trabalho da face é importante para adequação do
intérprete aos seus sentimentos pessoais perante o palo proposto.
Em linhas gerais, a expressividade da face no baile pode ser descrita em semblantes
tristes e fechados; mas, nos palos com uma temática alegre, a expressão do rosto é
usualmente leve, aberta e feliz. É importante salientar que o performer tem livre arbítrio
para expressar suas emoções, desde que adequadas ao contexto da letra cantada no palo e
das modificações sensórias e evolutivas que a poética dos versos traduz em semblantes
emocionalmente adequados.
48
Como exemplo disso, pode-se citar os palos chicos, tais como as sevillanas, nos quais
o rosto geralmente traduz alegria, pois as letras do cante trazem uma energia expressiva
condizente a esse tipo de sentimento; mas, caso isso não ocorra, gera um contraponto de
significado oposto. Daí a importância de se conhecer a letra da música para poder bailá-la
de forma expressiva adequada.
Mas, novamente, nenhuma dessas afirmações a respeito das expressões da Dança
Flamenca são certezas absolutas (assim como as emoções não são certezas”). Aliás,
certezas não fazem parte do vocabulário desta pesquisa. No recorrer de um baile, o
bailarino é estimulado a colocar-se de modo pessoal, levando em conta o universo de
emoções diferentes que um determinado palo pode suscitar.
Nas bailarinas, o colo à mostra dos vestidos decotados denota também uma
sensualidade forte. Nos homens, a expansão do torso indica possivelmente poder, vontade e
enfrentamento. Notadamente durante alguns bailes, tanto bailaores como bailaoras batem
com as os abertas, com grande velocidade nessa região do colo, dos ombros e das
pernas. Mas, dependendo da velocidade e da intenção desejadas, pode levar as
interpretações variadas, pois, se a bailarina utiliza-se desse recurso com leveza, denota
graciosidade; já o bailarino, se o fizer da mesma forma, pode significar um deboche.
Atualmente, a função do torso foi ampliada no baile. Nele, parece estar ... a origem
do movimento em seu constante pulsar, inspiração e expiração, contração e relaxamento.
(AZEVEDO, 2002, p. 74), que as influências de outros estilos de dança, como a Dança
Moderna, têm mudado a linha de trabalho na Dança Flamenca. Nas linhas mais antigas de
postura de baile flamenco, a postura masculina trazia significados expressivos de
imobilidade relativa do torso, podendo refletir sua masculinidade. Mas isso é muito
relativo, tanto para o baile masculino, quanto para o feminino. O que se hoje é uma
fusão de características masculinas e femininas no ensino e nas performances.
A coluna vertebral atua executando torções laterais contrapostas à posição da cintura
pélvica. No baile atual, o trabalho de contrações da coluna é muito comum. A caixa
49
torácica move-se a partir do centro pélvico, que tem uma leve movimentação espiralada,
requisitando o grupo muscular dessa região. Os bailaores vêm estudando outro estilo de
dança e têm adaptado uma maior variedade de movimentos em seus bailes, rompendo com
muitas das regras, o que pode ser considerada uma abertura dessa arte.
O centro de gravidade do bailarino comumente é trabalhado no abdome, de forma
consciente, na maioria do tempo. Sem essa consciência, o bailarino perde o equilíbrio da
força adequada para o controle da matisse sonora do seu taconeo e, conseqüentemente, a
base de sua postura. Forças dinâmicas e complexas, constantemente, trocam de sentido,
gerando organicidade dos movimentos e coesão corporal, na busca de uma integridade
expressiva do corpo.
Nos movimentos de torção do tronco, os braços costumam instalarem-se mais
próximos do corpo, assumindo uma imagem comum no baile. O corpo do performer
trabalha com rotões de tronco a partir da bacia, dando mobilidade à coluna vertebral, bem
como à utilização de contrações e giros a partir desse princípio.
Quando se trabalha com essas rotações exntricas e concêntricas formando-se
espirais da coluna, acontecem as vueltas (giros) e os braceos (movimento de braços).
Portanto, necessita-se que o sistema muscular da região da cintura pélvica e escapular
estejam muito bem tonificados e alinhados, reforçando a intenção expressiva desejada dos
movimentos desse estilo de dança.
Cabe observar que a báscula exagerada da cintura pélvica pode levar a lombalgias
quando se executa o braceo, o que deve ser evitado no intuito de manter o equilíbrio
sculo-esquelético do performer nessa rego. Portanto, a prevenção disso parece ser
necessária. Tal fato parece ser comum em iniciantes do baile, que muitas vezes exageram a
projeção do tronco para trás, podendo gerar uma lombalgia crônica.
50
O movimento de mãos é realizado em círculos, a partir do eixo dos punhos (las
muñecas), formando um movimento circular completo, com os dedos de cada mão
trabalhando separadamente ou em conjunto.
As palmas percutem na forma de palmeios, no intuito de acompanhamento do
compasso do baile (a compás), bem como na utilização de estalar de dedos (pitos) para
essa função também. Dessa forma, leva-se a crer que o trabalho das os tem importância
clara e necessária para a completude da beleza estética do baile e deve ser estudado com
tanto afinco quanto o sapateado (taconeo).
Os trabalhos de mãos do baile são possivelmente remanescentes das origens dos
povos árabes e indianos (BARBA e SARAVESE, 1995. p. 136), bem como o sapateado.
O movimento das os é muito expressivo e foi utilizado por povos para a comunicação e
a expressão de sentimentos e histórias desses povos, como é o caso da ... dança hindu
contém cerca de 57.000 posições de mãos catalogadas, cada uma possuindo um especifico
valos de uma palavra ou explicitamente e distintamente um significado. São danças
narrativas, onde a linguagem manual é universal...” (MADUREIRA, 2003, p. 89). Na Índia,
esses sinais de mão são denominados de mudhras (sinais), referindo-se aos gestos das
os, cada um com significados específicos dentro de sua expressividade.
O baile pode ter sofrido influências dessa daa, pois alguns mudras se assemelham
aos movimentos das mãos, principalmente quando são fotografados. Mas não há uma
significação direta como nas danças indianas aqui citadas com o baile, apesar da grande
influência que este teve da cultura cigana dos indianos.
Comumente, parece que o bater os pés no chão, até para uma criança, pode ser
representativo do querer, da posse, indiferentemente de gênero e etnia. Nesse sentido, um
ditado popular, no qual o ato de bater os pés no chão, como indicativo de certeza, de posse,
de convicção é aplicado: “Firmar o pé”. Ou seja, na língua inglesa: Put your feet down!!! .
Encontra-se, tal hábito em outras culturas, essa mesma atitude, podendo ou não ter o
mesmo significado cultural e expressivo. Pois, “Muitas danças valorizam os pés como foco
51
da narrativa, como centro da expressão. As danças espanholas, por exemplo, o Flamenco,
que é uma dança muito viril e forte, utiliza-se freqüentemente dos calcanhares, com fortes e
rimadas batidas no solo. O balé, sempre sustentado pelas pontas, expressa a busca pelo
imaterial, pelo incorpóreo, uma dança excessivamente racionalizada, convencional”
(MADUREIRA, 2003, p. 83).
Tais afirmações, unidas à própria experiência sinestésica, levam a crer que
sapateado “puxa” de baixo uma energia telúrica, ao passo que os movimentos do tronco e
dos braços puxam algo celestial, harmônico, até mesmo, divino. Dessa forma gerando duas
espirais energético-musculares antagônicas centradas na pelve (abdome).
A força do taconeo vem “por trás”, pela musculatura posterior, e na maioria das dos
tipos de sapateados da Dança Flamenca, corroborando sua característica de aterramento. “A
partir de uma intensa relação com a terra, o corpo se organiza para a dança. A capacidade
de penetração dos pés em relação ao solo, num profundo contato, permite que toda a
estrutura sica se edifique a partir de sua base. A imagem que temos do alinhamento é de
que o corpo possui rzes.” (RODRIGUEZ 1997. p. 43.). Dessa forma, pode-se traçar um
paralelo com a corporeidade do folclore brasileiro: “Através da posão paralela dos pés,
segue-se o alinhamento de toda a estrutura óssea e a musculatura é trabalhada
acompanhando o seu próprio desenho em espiral. No alinhamento, aprendemos a respeitar
os espaço articular de cada uma das articulações.” (RODRIGUEZ, 1997. p. 44) de forma
semelhante ao taconeo.
Fenômeno desse estilo de expressão, nascida da ênfase em oposições, é passível de
liberar grande quantidade de potencial energético-corporal. Seguindo o paralelo com as
danças brasileiras: “Alguns batuques chegam a aproximar-se da dança flamenca em muitos
aspectos, principalmente em alguns sapateios....” (RODRIGUES, 1997, p. 31) alguns
aspectos parecem se justificar.
52
Para completar, essa imagem do taconeo não é uma tarefa simples e demanda
vivência continua, pois o som do taconeo e suas matizes sonoras, tão diferenciadas,
parecem trazer uma energia e uma sonoridade rítmica necessária para a Dança Flamenca.
Um dos objetivos deste trabalho é apresentar procedimentos práticos que possam ser
úteis para professores e intérpretes da Dança Flamenca, proporcionando saúde corporal,
criativa e expressiva. Dessa forma, o próximo capítulo foi elaborado propondo uma visão
energética do baile, bem como técnicas e estudo de técnicas energéticas oriundas da
Medicina Tradicional Chinesa (M.T.C.), buscando trazer elementos que auxiliem a
ampliação da expressão criativa dentro destilo de dança.
53
54
A Dança Flamenca é uma atividade artística que pode vir a beneficiar-se de uma
preparação energética capacitando melhor seus bailarinos, antes e durante suas carreiras
profissionais. Podendo, auxiliar na dinamização e na harmonização de seus aspectos
expressivos. Além de ser capaz de suscitar naturalmente essas energias, pela forma
apaixonada e plena de vitalidade, que quando bailada se faz presente em algumas pessoas.
Tal dialética é o que se procura mostrar neste trabalho.
Na experiência, com esta arte, percebem-se pessoas que não necessitavam uma
preparação específica. Pois elas podem trazer, de forma natural, uma energia expressiva tão
clara, que pouca, ou nenhuma intervenção, parecem ser necessários para que uma
expressividade iluminada ocorra.
Um exemplo disso é o improsivo de bulerías, nas quais participavam “flamencos
natos” e brasileiros. Via-se uma diferença expressiva de um fluxo energético na
corporeidade dos primeiros e, nos brasileiros, algo faltava, algo não se completava. Claro
que muitos brasileiros são artistas flamencos, parecem dançar de maneira inspirada e com
uma energia muito parecida com a dos nativos flamencos espanhóis.
Seriam as raízes desse povo que provocariam tal diferença? Sem dúvida que sim.
Seria necessário admitir que nosso Flamenco é diferente? Erram aqueles que querem dançar
exatamente com a mesma expressividade dos flamencos espanhóis? Ou o Flamenco é uma
arte que pode ser considerada portadora de significados universais, trazendo em si os
mesmos sentimentos humanos? Outras culturas, em o contato com corporeidade flamenca,
fariam aflorar tais sentimentos afins? Tais questões são polêmicas, mas de um valor
reflexivo importante e presente na vida dos estudiosos do Flamenco no Brasil e em outros
países.
Segundo a pomba-gira Maria Padilha diz: “A vida e a dança são dádivas de Deus,
cada um deve saber conduzi-las.”(Rodrigues, 1997). Tal declaração faz retornar ao início
deste texto, quando se trata da motivação para a Dança Flamenca e faz-se indagar ainda o
porquê da escolha da dança para as pessoas.
55
Seria só a influência do filme “CARMEN”, ou algo além de um entendimento
consciente, racional? Pois, “A tradição dualista de Platão, corpo e alma, reverbera na
dança”
(Rodrigues 1997. p. 23). A busca de respostas cabais para tais influências e
motivações desse tipo de expressão viva, reverbera em meu corpo e, possivelmente, em
outros bailarinos flamencos. Possivelmente sendo, transiria, sinestésica, dinâmica, caótica
e relativa, chegando às raias de um ato religioso.
Retomando os temas iniciais deste texto em que foram apresentadas as temáticas do
cante e seus significados viscerais para o Flamenco, pois na ...dança exerce a função de
unificar a memória, construindo-se a partir dos próprios sentidos da festividade. Isso porque
a festividade é um período reservado pela expressão de sentimentos, admitindo inclusive o
elemento trágico. Uma afirmação de vida e alegria a despeito dos fatos de fracasso e morte.
Reconhecimento de alegrias e superação de realidades negativas.”( RODRIGUES, 1997. P.
23).
Portanto, ao dançar o Flamenco existe uma busca de algo unificador de tantas
influências deixadas pelo cerne de suas raízes étnicas que, possivelmente, vai além do fato
do significado do movimento, da expressividade e de sua pátria originária. Seria algo que
poderia ser classificado como energético e universal? Mas como reconhecer e usar de
maneira substancial tal energia?
A espanhola de oito anos de idade, Maria Moreno, antes de se apresentar num
programa de variedades, na Espanha, foi entrevistada e declarou que não sabia por que
bailava o Flamenco, se era um sentimento que vinha de seu estômago, ou seja, algo de
visceral que a levava a bailar. Nesse sentimento visceral esteve presente na maioria das
vezes nas quais sentia um fluxo de energia que saía do meu estômago e se propagava pelo
resto do corpo.
Coincidentemente, nas aulas na Unicamp com a profa. Maria Lúcia Lee de “Artes
Corporais do Oriente”, na graduação em dança, ela chamava esse centro energético do
corpo humano de tan-tien (ventre ou barriga). Ele pode ser traduzido literalmente como
56
"campo de cinábrio": o sentido dessa expressão é relacionado com a alquimia chinesa. O
termo cinábriorelaciona-se aos processos de transmutação dos elementos e, segundo a
medicina tradicional chinesa, ele seria capaz de converter a energia celeste” que entra pela
cabeça, e a energia telúrica”, que entra pelos s. Quando essas duas correntes dinâmicas
se encontram, criam um redemoinho” de força vital que se espalha pelo corpo.
Tal conceito aplicado ao baile pode trazer interpretações simlicas com relação à
visão energética do corpo na expressividade dessa dança, pois o braceo, o tronco, as mãos,
em suma, a parte superior do corpo teria características forjadas por uma “energia celeste”,
enquanto do quadril até os pés, a expressividade seria forjada por uma “energia telúrica”,
similar a tal conceito: “No Batuque, a sensualidade e a conquista são bem definidas e
expressas pelos pés em suas polaridades, feminino e masculinos: enquanto os pés da
mulheres ciscam igual escovinha, igual ao movimento da dança flamenca... os pés dos
homens ora deslizam, ora executam um insistente sapateo...”(RODRIGUES 1997. 179 p.),
criando uma analogia com as algumas tradições folclóricas brasileiras.
A “energia celeste” seria os movimentos superiores de expansão, como “galhos
que bem fixados em suas “raízes” se movem harmoniosamente ao sabor da música dos
ventos que, passando por eles, trazem uma beleza ao tentarem tocar o céu, ao mesmo tempo
buscando a luz, fonte de energia, como a melodia trazida pelas guitarras e o cante, que
motivam os sentimentos para a harmonia do braceo e a força do taconeo.
O redemoinho gerado por essas energias antagônicas no centro (tan tien) do corpo
do bailarino flamenco, braceo e taconeo, traz interpretações poéticas para a expressividade
desse estilo, mas são passíveis de serem sensórias e ligadas à uma visão de novos
paradigmas de mundo, em que os limites da ciência e da arte podem vir a ser também los
para um novo entendimento das energias que geram vida.
O conceito de energia vital” justifica um olhar mais aprofundado nesta
investigação, na busca de ferramentas para auxiliar no aperfeiçoamento e na preparação do
57
baile, no intuito de fortalecê-lo expressivamente e prevenir desequilíbrios que possam levá-
lo às lesões físicas e articulares na dança, possibilitando também uma amplitude maior e
mais consciente de seu poder expressivo pessoal.
Assim, o autoconhecimento do próprio corpo, de seus sentimentos, de suas
capacidades físicas, expressivas e energéticas é “...a capacidade que tem todo corpo de
produzir através de seu sistema muscular, em funcionamento ideal, o que lhe permite
atingir o máximo de rendimento com o nimo de desgaste;...” (MORETTI, 2003. p. 20).
Dessa forma, poderia capacitar os praticantes da Dança Flamenca para a busca da
necessidade vital do equilíbrio dinâmico entre o sentimento pessoal e a expressão
característica de cada tipo de palo, suscitando as energias corporais e psíquicas necessárias
para tal atividade poética.
A questão é: como mobilizar essa energia vital de forma a contribuir para a poética
expressiva desse estilo de Daa Flamenca? Pois: “...Foram-lhe dados mitos nomes: na
Índia é ‘prana’; no Havaí, ‘mana’; na Alemanha, Reichenbach o batizou de ‘od’; na
Áustria, Mesmer a chamou de ‘magnetismo animal’; e, na América, Reich a chamou de
‘orgônio’. Na união Soviética, Inyushin chamou-a de ‘bioplasma’.”(MOSS, 1979. p. 107.);
mas a evidência que mais se aproxima do Flamenco é o conceito de Aire; este parece ser
correlato aos apresentados acima, corroborando para o entendimento dessa Energia Vital.
Esta, quando levada para as características do Flamenco, poderia ajudar bailarinos ao
dançarem de forma expressiva, significante e com mais “alma”.
Segundo a Medicina Tradicional Chinesa, O Qi é invisível e inatingível, não é
matéria nem é energia, é um elemento etéreo que potencialmente pode se transformar tanto
em matéria quanto em energia, na medida em que é canalizado para uma outra finalidade...
Portanto, o Qi é definido pelo efeito de sua atuação.” (LEE, 1997, p. 117), fluindo pelo
corpo humano por caminhos denominados meridianos (Jing Luo).
Jing, poeticamente, significa linhas de um tecido, enquanto Lou, fios que se
conectam. Portanto, o fluxo do Qi nessas “linhas” seria passível de modificar a
58
expressividade do bailarino flamenco, influenciando na qualidade de suas performances e
no se Aire. .
Alguns mestres de baile utilizam um método chamado de Treinamento de Aire”,
em suas aulas e ensaios. Isso acontece quando os alunos seguem livremente os
movimentos do professor, tentando seguir o fluxo gestual e as posições corporais, sem se
importarem demasiadamente com erros ou acertos, apenas para tentar captar a intenção dos
movimentos.
Claro que tal todo tem valor e, em alguns aspectos, é eficaz. Mas, se esse exercício
fosse precedido de uma dinâmica que mobilizasse o fluxo de sua energia vital, através da
mobilização dos meridianos específicos de seu corpo. Será que isso mobilizaria uma
expressividade mais eficaz na Dança Flamenca, para atingir uma meta expressiva desejada?
Uma resposta possível seria a intenção (yi) do movimento na Dança Flamenca. Pois:
Que a intenção (yi) lidere o Qi, que esse dê origem à força interna (nei jing), e que a força
interna alcance as quatro extremidades.” (LEE
1997. p. 117.); assim. essa forma nascesse a
partir dos estímulos sensoriais (poesia do cante e toque do vioo,) provocando sentimentos
que geram uma força interna (nei jing) que é mobilizada caminhando através dos
movimentos do braceo, do taconeo, etc.
Essa intenção Yi significaria o “som do coração”, em seus ideogramas chineses, e,
trazidos à luz da Dança Flamenca, pode mostrar a importância existente em mobilizar
forças sicas e emoções profundas para expressar com efetiva inspiração um determinado
palo. Na M.T.C.: ...A força interna preside a força muscular do bailarino, e é oposta à
força muscular, pois, enquanto nasce do músculo, ela é limitada, a força interna que nasce
do zhen qi(qi verdadeiro) é limitada, precede e preside a força muscular. Estas duas forças
opostas interagem e se complementam uma à outra.
(LEE, 1997. p. 117)
Quando tal fato acontece, capacitaria que os movimentos corporais não somente
dependessem somente dos aspectos técnicos desse estilo, mas também dos sentimentos
59
suscitados naquela expressão. Possivelmente, nesse momento, o ato da dança transcenda
seus limites técnicos e expressivos, levando a algo além de uma compreensão terrena.
O Aire flamenco seria reconhecido verdadeiramente na Daa Flamenca? Restaria
saber se os bailarinos estariam abertos para senti-lo, reconhecê-lo, aceitá-lo e deixarem-se
levar no fluxo de energia que alimentaria o baile.
Dessa forma, questionamentos das práticas energéticas, aplicadas no dia-a-dia do
baile, possibilitariam novos caminhos de movimento para o aluno, pois, diferentemente de
decorar coreografias prontas, inverter-se-ia o processo: primeiro se mobilizaria o fluxo da
energia vital do corpo dos bailarinos e, depois, num segundo momento, ela seria aplicada
na expressividade.
Durante o desenvolvimento desta pesquisa, foi observado que alguns dos alunos de
baile reconheciam princípios da energia vital subjetivamente, pois comparavam os
movimentos do exercício de Aire com práticas orientais, fato que se tornou cada vez mais
recorrente.
No decorrer dos anos, graças aos estudos de técnicas de energização aprendidas com
o prof. Dr. Eusébio Lobo, a profa. Maria Lúcia Lee e a profa. Dra. Marília Vieira Soares na
Graduação em Dança, foi possível tomar contato com os conteúdos e as práticas energéticas
orientais voltadas para o âmbito da dança.
Por ocasião do curso de Pós-graduação em Dinâmicas Corporais como Expressões
Terapêuticas da Faculdade de Ensino em Saúde do Senac (SP), a percepção de vida
transformada após cinco operações do câncer cerebral. Foi quando realmente comecei a
sentir o fluxo de energia vital de forma mais clara no meu organismo, principalmente ao
bailar a Dança Flamenca. Finalmente, na Pós-Graduação em Artes, neste atual mestrado,
conscientizei-me do conteúdo energético de suas fundamentações.
60
Se a utilização de tal recurso demonstrasse viabilidade, seria capaz de orientar a
conscientização dos profissionais de baile, para questões relativas à manutenção e ao uso
dessa consciência energética aplicada à criação artística. Para isso, o aprofundamento e o
resgate dos conceitos e das práticas da Medicina Tradicional Chinesa fazem-se necessários.
Portanto, a movimentação corporal dentro do baile poderia estar interligada a vários
conceitos estudados com o prof. Dr. Eusébio Lobo, a profa. Maria Lúcia Lee e a profa. Dra.
Marília Vieira Soares na Graduação em Dança. De fato, senti que o Qi fluía pelo meu
corpo, através de uma extensa, complexa e dinâmica rede energética de meridianos,
podendo ser capaz até de afetar minha expressão corporal.
O sico quântico Fritjof Capra corrobora nesse sentido: “Os filósofos chineses viam
a realidade, a cuja essência primária chamavam Tao, como um processo de contínuo fluxo e
mudança. Na concepção deles, todos os fenômenos que observamos participam desse
processo cósmico e são, pois, intrinsecamente dinâmicos.... “(CAPRA 1982, p.32). Pois, na
conceituação da Medicina Tradicional Chinesa, nesse fluxo de energia vital, existiriam duas
forças opostas, presentes e interdependentes, equilibrando-se dinamicamente, denominadas
de yin e yang.
O corpo humano possui uma rede, uma teia energética complexa, composta por
essas duas polaridades, as quais se comportam com padrões dinamicamente mutáveis. Pois,
quando uma região do corpo tem uma polaridade, esta pode o ser estática, mudando-se
em outra no decorrer do tempo.
Tudo o que tem forma possui o seu lado materno, que é a natureza terrestre, e o seu
lado paterno, a natureza celeste. O yin e o yang são símbolos poéticos, energéticos e
fisiológicos utilizados para explicar essa visão dialética, na qual tudo o que tem forma, e é
percebido pelos sentidos, submete-se às leis que regem a interação desses conceitos.
Essa conceituação o é uma classificação absoluta, nem mesmo a localização exata
no corpo. Pois, o Qi teria os dois estados que se distribuem através de canais com pontos
61
onde essas duas energias antagônicas, contrapostas, relativas e interdependentes, atuariam
num movimento dinâmico de crescimento e de diminuição mútuos, analogamente ao
funcionamento de uma roda d’água”. Isso aconteceria porque o yang está dentro do yin e
vice-versa. O físico quântico Fritjof Capra colabora nessa conceituação: “Na cultura
chinesa, o yin e o yang nunca foram associados a valores morais. O que é bom não é yin ou
yang, mas o equilíbrio dinâmico entre ambos; o que é mal ou nocivo é o desequilíbrio entre
os dois” (CAPRA, 1982. p. 33).
Observa-se que essa filosofia dialética pode ser vista aos olhos da expressividade da
Dança Flamenca também. Um exemplo seria no embate relativo entre a poética e a técnica,
a improvisação e a coreografia, o braceo e o taconeo, pois uma não viveria sem a outra,
pois são complementares.
Para a M.T.C., o yang representaria, poeticamente, a natureza celeste, com leveza,
firmeza, expansão, claridade, serenidade e criatividade. Para a expressividade flamenca,
estaria representado pelos movimentos da região superior do corpo, como por exemplo, no
gestual do trabalho de dedos, mãos, punhos, cotovelos, ombros, e cabeça. Enquanto, o yin
representaria a natureza terrestre, onde estariam os movimentos dos membros inferiores,
onde haveria o trabalho de taconeo, ao paseo e a marcaje, ou seja, de natureza telúrica e
material.
Dessa forma, no baile, a energia vital seria potencializada por manobras específicas
que poderiam fluir dinamicamente por uma relação de pontos existentes ao longo dos
meridianos do corpo, em formas de yin ou yang, e aplicadas para a expressividade da
Dança Flamenca, gerando uma integridade poética dessas duas polaridades.
De posse desses conhecimentos, poder-se-iam utilizar características do
comportamento intrínseco dessas polaridades, através de manobras de equilíbrio energético,
tais como as manobras de automassagens em certos pontos ou em certas áreas especiais da
superfície do corpo (pele, músculos, articulações, e tecidos conjuntivos), mobilizando o
62
fluxo dessa energia vital, e de suas polaridades intrínsecas, podendo ajudar na
expressividade do baile.
Essa matéria, polarizada na forma dos tecidos dos óros do corpo humano e de sua
homeostase, tende a se desequilibrar e equilibrar dinamicamente. Como manter esse
equilíbrio?
Poeticamente, o conceito dessa Dança Cósmica” de energias antagônicas aplicadas
ao corpo do bailarino flamenco pode ser representado com o conceito do Tao. Tao significa
caminho”, mas é um conceito quepode ser apreendido por intuição. O Tao não é só um
caminho sico e espiritual; é identificado com o “Absoluto” que, por divisão, gerou os
opostos/complementares Yin e Yang, a partir dos quais todas as coisas que existem no
Universo foram criadas.
Nessa conceituação, todos os fenômenos que observamos participam desse processo
smico” e são, pois, intrinsecamente dinâmicos. “A principal característica do Tao é a
natureza cíclica de seu movimento incessante; a natureza, em todos os seus aspectos – tanto
os do mundo sico quanto os dos domínios psicológicos e sociais – exibe padrões cíclicos.”
(CAPRA, 2002. p. 32).
Na prática, o equilíbrio das polaridades poderia representar uma “senóide”
matemática perfeita, a qual faz uma analogia entre o corpo humano e um tanque de água
aquecido, numa faixa constante de variação de temperatura em torno dos 37
o
C. Pois, o
corpo humano é composto de água, entre 70 e 75%, os órgãos com mais água são os
pulmões (mesmo se vivem cheios de ar) e o fígado (86%). Paradoxalmente, eles têm mais
água do que o próprio sangue (81%). O cérebro, os músculos e o coração são constituídos
por 75% de água. Desta forma, o equilíbrio do yin e do yang representaria uma analogia a
um processo de aquecimento da água no corpo humano. Essa analogia foi feita para ilustrar
a temperatura de uma pessoa que pode abaixar ou subir diferentemente durante um dia, pois
o corpo humano tem na sua composição uma grande percentagem de água a 37
o
C.
63
Quando tomada a temperatura durante períodos, realizado um gráfico de tempo e
temperatura, nota-se que a amplitude aumenta ou sua freqüência diminui harmonicamente
como uma senóide matemática, representada numa amplitude e freqüência relativas e
praticamente constantes. Mas, se a temperatura alterar-se além de uma faixa de
normalidade de mais pode representar uma patologia. Ou seja, que indica desequilíbrio da
homeostase do corpo por algum motivo.
Desta forma semelhante, o bom funcionamento (saúde) dependeria do equilíbrio
entre essas duas forças; porém, sua oposição criaria um equilíbrio dinâmico para a
Medicina Tradicional Chinesa. A desarmonia entre o yin e o yang poderia ser causada no
corpo por motivos exógenos (excesso de frio ou calor, alimentação inadequada, acidentes,
poluição, etc.) ou endógenos (raiva, preocupação, pensamento excessivo, pesar, medo,
tristeza, etc.).
Mas, quando, onde e como, esses fatores e essas polaridades estariam ligados na
manutenção do equibrio dinâmico da expressividade do bailarino flamenco, afetando-o?
64
65
Uma resposta para a questão levantada no final do capitulo anterior seria aplicar
técnicas de harmonização da energia vital, utilizando-se de características energéticas
existentes na complexidade bioelétrica da pele, representadas pelos meridianos e seus
acupontos.
18
A atividade nervosa elétrica da pele pode ser registrada através da oscilosgrafia, em
que a pressão, o tato, o frio, o calor, a vibração e a dor podem ser mensurados. Os pontos da
pele por onde passariam os meridianos teriam funções definidas. Cada acuponto faria parte
de uma rede energética ligada a óros específicos do corpo e, quando estimulados, esses
impulsos caminhariam dos terminais nervosos da pele até o sistema nervoso autônomo da
medula espinhal, levando o sinal ao tálamo.
Dessa forma, os cientistas atuais podem documentar a reação da estimulação dos
pontos nos meridianos através de padrões do eletroencefalograma (E.E.G.), pois os
estímulos da pele liberam, na medula espinhal, sinais para o sistema nervoso central,
gerando neurotransmissores reguladores produzidos pelo próprio corpo.
Cabe aqui ressaltar que, quando um meridiano está com a sua energia vital estagnada,
a circulação do sangue será diminuída e, devido à interdepenncia desses dois conceitos,
eles se apoiariam mutuamente. Um corolário dessa constatação seria a necessidade da
adoção das dinâmicas corporais terapêuticas.
Portanto, a adoção de manobras como as do Auto Tui-chinês foi uma escolha
viável, para os objetivos desta pesquisa. Pois, ao gerar a sensação de dor azeda” (Suan
Tun), ou mesmo o “intumescimento ácido”, em locais específicos do corpo, onde as
manobras são aplicadas possa ser modificada e ocorra o desbloqueio do fluxo do Qi e do
sangue em locais específicos do copo do performer flamenco. Tal sensação pode ser
similar quando se executa uma performance de baile e se mobiliza uma “força interna” (Nei
Jing) que tem um sentido poético diferenciado do conceito de força muscular.
18
Acupontos significam, poeticamente, na M.T.C., pontos de cavidade.
66
O movimento expressivo do baile nasce de uma a intenção (Yi), que, corretamente
aplicada ao fluxo de energia vital do movimento, pode mobilizar um Qi verdadeiro (Zen
Qi). Tal fato, parece traduzir-se numa completude expressiva do baile e determinaria a
qualidade expressiva dessa dança.
Segundo a M.T.C. (Medicina Tradicional Chinesa), são oito os “meridianos
extraordinários” que regulam os doze “meridianos principais” que, por sua vez, ramificam-
se em menores e mais finos denominados de “meridianos colaterais”. Portanto, essa rede
leva a Qi e o sangue pelo corpo do bailarino flamenco.
Tamm, nos meridianos, existem os acupontos distribuídos em duas categorias,
regulares” e extraordinários”, perfazendo um total de trezentos e sessenta e um pontos.
Os “extraordinários”: “Vaso Governador” (VG) e “Vaso Concepção (VC)” são
experimentais, pois ainda não possuem uma eficácia médica comprovada; os “regulares”,
por terem um histórico médico milenar na M.T.C., parecem demonstrar grande eficácia nas
manobras a serem utilizadas no Auto Tui-ná, relacionadas com a atividade desta pesquisa,
focada nas características expressivas da Dança Flamenca.
Os doze meridianos “principais” estão distribuídos simetricamente em cada lado do
corpo por sua linha anatômica medial. os meridianos “extraordinários” do “Vaso
Concepção” (VC) e, na sua porção posterior, com o “Vaso Governador” (VG) em sua
porção anterior, coincidem com a linha medial anatômica do corpo humano, dividindo-o
em duas metades iguais.
Esses meridianos principais” teriam um fluxo de Qi na superfície da pele do corpo e
seguiriam por uma ordem cíclica de transmutação dessa energia bipolar, ora yin, ora yang.
Os doze meridianos “principais” caminham pela superfície da pele, ramificando-se e
seguindo uma ordem de fluxo energético: do tronco para as mãos; das mãos para cabeça; da
cabeça para os pés; dos pés para o tronco. E esse o ciclo se repetiria quase sempre, caso não
houvesse alguma estagnação (LEE, 1997, p. 118-121).
67
Na Dança Flamenca, energeticamente abordada, ao se iniciar um palo, poder-se-ia
exemplificar tal fenômeno dessa maneira, pois o fluxo de Qi percorreria pelo tronco do
bailarino de uma forma telúrica e visceral, inspirado por suas emoções e seus sentimentos,
levados ao coração dentro do peito do bailarino, trazendo energia sinestésica suscitada pela
musicalidade do Flamenco.
Essa energia seria capaz de provocar o braceo e o trabalho das mãos, pois estaria
ligado aos três meridianos classificados yin” (pulmão, pericárdio e coração), o que tem
início nas palmas das mãos, ligando-se os três meridianos yang” do dorso das mãos
(intestino grosso, triplo aquecedor e intestino delgado), subindo pelos braços até cabeça e
percorrendo a face do bailarino.
Dessa forma, traz para ele expressões que, na maioria das vezes, lembram dor, choro
e desespero, tão característicos dos palos jondos da mais difícil e acurada expressividade
dessa arte.
Mas, nesse ponto, o ciclo continuaria, arrefecendo o calor das trágicas emoções,
descarregando-as com um taconeo forte e preciso, possivelmente corroborado à ligação
dos três meridianos yang (estômago, vesícula e bexiga), que iniciam esse caminho da
cabeça, descendo até os dedos dos pés, onde se ligam aos três meridianos “yin” (baço,
fígado e rins), subindo novamente pela cavidade abdominal e torácica, encontrando
novamente os três meridianos “yin” das mãos, continuando o ciclo.
Dessa forma, possibilita gerar uma expressividade cíclica e espiralada de forças,
vista no capítulo anterior, muito semelhante ao estudo das características expressivas do
baile . Mas agora apoiadas no comportamento do fluxo do Qi, através de suas
características de oposição, relatividade, bipolaridade, interdepenncia, intertransformação
e equilíbrio dinâmico entre crescimento e diminuição do yin e do yang traria múltiplas
expressões aplicadas sob um olhar artístico para compor uma ponte perante a execução dos
movimentos na Dança Flamenca e o comportamento da energia vital (Qi).
68
Tal ponte é construída no alicerce sinestésico da prática constante de autociência de
forças sutis que ligam efetivamente o fluxo de um sentimentos gerados por essa arte aos
objetivos expressivos de harmonização da busca de uma expressividade verdadeira de
sentimentos e movimentos verdadeiros, gerando uma qualidade necessária de interpretação
do baile denominada de Aire. Nesse ponto, gera-se um ciclo contínuo de fluxo de Qi, no
corpo do bailarino flamenco, realimentando a intenção (Yi), gerando um moto contínuo de
fluxo enérgico durante o baile. Mas, quando tal ideal expressivo não acontece, que métodos
de dinâmicas corporais teriam eficácia nessa tarefa?
A resposta mais próxima seria adotar o todo do Auto Tui-ná da M.T.C., agindo de
forma direta na ativação do fluxo de Qi através de manobras direcionadas de acupressão
nos acupontos, realizadas pelo bailarino flamenco em seu próprio corpo como uma
automassagem.
Tal método atuaria por meio do estímulo obtido pela manipulação da própria pessoa,
desbloqueando acupontos existentes em meridianos específicos. Dessa forma, o Qi fluiria
pelo corpo, tonificando ou relaxando acupontos específicos.
Com a adoção desse procedimento, notei que os praticantes de baile passavam a sentir
um agradável calor pelo corpo. E, para alguns, ajudava na provocação das emoções
19
, de
forma a se atingir um objetivo expressivo, requerido para um tipo de palo, ou mesmo, para
acordar” sentimentos próprios do intérprete, buscando, de uma maneira global, modificar
o seu estado expressivo para vários palos a serem realizados no Flamenco.
No início de cada preparação das aulas, dos shows e das performances, realizo uma
seqüência respiratória lenta, levantando os dois braços pelas laterais do corpo, com as
palmas para cima, aspirando longamente pelas narinas (uma respiração natural, sem forçar
ou conduzir) e descendo pelo centro do corpo até a altura do abdome, com as palmas para
baixo, soprando lentamente.
19
O significado de emoção equivale a “por em movimento.
69
Tal seqüência, repetida algumas vezes nas práticas de exercícios chineses, é chamada
de tu-na, ou seja, soprar e espirar: “Aspirar (na) o ar puro e soprar (tu) o ar viciado” (LEE,
1997, p. 27).
Nas aulas do DACO (UNICAMP) e da escola de Via 5 (São Paulo), esse exercício,
era utilizado no início das aulas e era chamado, poeticamente, pela profa. Maria Lúcia Lee
(DACO-UNICAMP) de “Harmonizar Céu e Terra”, sendo tamm o “Segundo Exercício:
Expirar, Inspirar o Qi” da prática do I Qi Gong – Continuação do Lian Gong
20
.
Nesse procedimento, sentia que os alunos e os bailarinos que estavam mais tensos
iam se acalmando. Esse simples exercício, além de aumentar a capacidade do diafragma,
oxigena o sangue, a cada repetição. Apesar do incômodo inicial para alguns alunos, a
20
Ver Anexo IV: O Lian Gong
70
prática repetida em cada aula mostrou ser eficaz, harmonizando o ambiente nas aulas de
Flamenco.
Na aplicação do Auto Tui-ná, busca-se aumentar a vitalidade, fortalecer tendões e
ossos, alisar e lubrificar as articulações. Porém, é necessário evitar aplicá-lo caso o
bailarino possua inflamações crônicas. É igualmente importante instr-lo para adequar a
força para cada biótipo de pessoa, idade, sexo, conformação muscular, evitando a fadiga
extrema e, de preferência, não ingerir alimentos uma hora antes de realizar as dinâmicas.
O Auto Tui-ná está baseado em manobras através de acupressão da superfície da
pele em determinados acupontos. O Auto Tui-ná é um ramo da ortopedia da M.T.C. que
busca o transporte do Qi e do sangue para manter as funções normais dos órgãos, das
vísceras, dos músculos e das articulações.
Tal prática busca um sentimento de “intumescimento”, ou mesmo, uma “dor azeda”
na rego de aplicação da uma manobra escolhida, que deverá ser aplicada com precisão
nos pontos dolorosos da região em questão, e sentida quando os acupontos são realmente
ativados, chamados de pontos Ashi, ou seja, é aqui” mesmo que acontecem.
O objetivo é a automobilização das membranas sinoviais, dos nervos, dos tendões e
dos músculos dos bailarinos flamencos e é de suma importância para objetivos quando se
visa à expressividade desejada, podendo vir a ser um método facilitador no propósito de
criar um Aire flamenco de maneira mais eficaz.
Faz-se necessário, aqui, tipificar as manobras aplicadas com esse fim. Elas podem
ser leves para tonificar, ou pesadas para dissolver, isso no caso da constatação da existência
de uma tensão maior em determinada região como, por exemplo, a musculatura das
pernas, dos ombros e das costas, onde geralmente existem problemas de tensão demasiada
em alguns bailarinos.
71
As manobras de ritmo rápido podem soltar tendões e músculos contraídos, enquanto
aquelas, para dissolver a região tensa, podem ir do rápido, para soltar músculos contraídos,
ao lento, com duração de um a dois minutos, como no caso do alívio de câimbras no
sculo do gastroequimio das pernas, que podem ser geradas pelo acúmulo de tensão
devido ao trabalho do taconeo. Nesse caso, a manobra deve ser forte, homogênea e ritmada,
até mais profunda, utilizando-se as pontas dos dedos para aplicá-la.
É prudente começar com toques que vão do leve para o pesado, do lento para o
rápido, do superficial para o profundo, lembrando-se de aquecer as próprias mãos,
esfregando uma contra a outra, para “energizá-lasantes de começar o Auto Tui-ná.
As a realização da massagem em um lado do corpo, os bailarinos são instruídos a
repetir o mesmo procedimento no lado oposto, para que a energia fique equilibrada.
As principais manobras, ou métodos (fa), utilizadas no intuito de preparar o corpo
seriam: Tui = empurrar (dedos, palmas e punhos); Na = beliscar; Quan = rolamento; Rou =
amassamento; Cuo = esfregar; Ji = percutir; Pai = tapotagem; An = pressionar (polegar); Ba
Shen = alongar e esticar (ex.: pescoço); Ca = friccionar; Dian = pressionar (com a ponta do
dedo); Tan = tanger (puxar o músculo ou tendões repetidamente) Yao = balançar e
rotacionar os músculos.
Dentre esses métodos (fa), só alguns foram escolhidos para ativar o fluxo de energia
vital, pelos meridianos e acupontos, do corpo do bailarino de Dança Flamenca. Isso não
quer dizer que uma manobra teria mais eficácia que a outra. O estudo da variabilidade
dessas manobras não pode ser feito de uma maneira fechada, pois é necessário sentir o
momento da real necessidade de aplicação, conforme a intuão de cada pessoa, seus
sentidos e suas respostas sensoriais, perante uma prática continuada.
Há, basicamente, três maneiras de atuar sobre o sistema energético durante a
realização da automassagem: a tonificação, a sedação (ou dispersão) e a harmonização.
Para a expressividade da Dança Flamenca, escolhi alguns acupontos para manobras do
72
Auto Tui- visando à tonificação de músculos e tenes relativos às características citadas
no capítulo anterior, com o objetivo de ativar o zen qi (energia vital “verdadeira”) nessas
regiões.
O tempo de aplicação da massagem é breve e as pressões são intermitentes, leves,
rítmicas e rápidas, superficiais, empregando-se métodos de tonificação para a preparação da
atividade da Dança Flamenca comuns no trato de estados de deficiência energética, tais
como: frio, flacidez, hipoestesia, hipotensão, suor frio, hipotonicidade, torpor, inatividade.
Portanto, a partir da escolha das manobras que geram a tonificação, escolhi
algumas que correspondessem aos objetivos desta pesquisa, pois as pratico desde 1996, em
academias, shows e performances na preparação energética e corporal do baile. Dentre as
manobras mais utilizadas, estão Ji (pancadinhas ou percussões), por um período de um a
três minutos na parte a ser tonificada, a qual recebe batidas rítmicas com o dorso da mão,
formando um punho oco”, ou com a raiz da palma da o, ou o centro da palma, com ou
a ponta dos dedos, ou a proeminência tênar menor da mão. Isso pode ser usado na região do
dorso lombar e nos membros e nos grandes sculos das pernas, como a panturrilha, por
exemplo.
Cada pessoa tem conformidade e necessidades físicas diferentes; assim, a variação
dessas manobras pode seguir as necessidades da busca do intumescimento ácido (Suan
Tun), também chamada de “dor azeda”. Caso isso não ocorra, a manobra ou os acupontos
devem ser readequados.
As fotos, a seguir, ilustram, em seqüência, algumas manobras possíveis para este
estudo, mencionando a região de acupontos, com suas numerações referentes aos
meridianos.
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1. Massagear o rosto : a. (dian fa) E4; b. (dian fa) IG 20 e 19;c.(dian fa) B1; d.
(dian fa) B2; e.(dian fa) Extra; f. e g. (rou fa) os pontos do rosto.
2. Deslizar (rou fa) as mãos pela linha medial crânio: VG 24 à 16. Apoiar as mãos e empurrar e amassar (Tu
ifa): VB 20.
3. Esfregar (Cuo Fa) as orelhas: TA 21 à 17, ID 19, VB 20
4. Friccionar o pescoço (Ca): B 10,
TA
16, SJ 17,
VB 20.
74
5. Pancadinhas no pulmão (ji fa)- P 1.
6. Pancadinhas na posição vacina (ji fa) – TA
13 e IG 14.
7. Pancadinhas perto da dobra do cotovelo
(Ji fa) – IG 11
8. Pancadinha nos punhos (Ji fa) - PC 9 e PC 7 e virando os
braços -SJ 4 e IG 4.
75
9. Pancadinha nos ombros (Ji fa) - TA 15.
10. Pancadinhas em forma de peixe (ji fa) IG 4.
76
11. Palmadas na lombar com as mãos
abertas (ji fá) - B 23 até B 34.
12. Esfregar (Cuo fá) os joelhos: E 35
13. Palmadas atrás dos joelhos (ju fa):
R 10, B 39 e B 40.
14. Esfregar (cuo fa) as pernas: B 35à 40, BP 9,
VB 30 á 35.
15. Massagear os tornozelos (rou fa) B 60, B
62 e VB 40 e beliscar o tornozelo (na fa) E 41.
16. Amassar (Rou) os pés: R1, R2, E 45, B 67.
77
A seqüência apresentada acima não engloba todas as possibilidades de manobras
sugeridas, pois, dependendo da situação, é possível uma grande variabilidade no uso de
diferentes manobras. Se, no corpo, existem trezentos e sessenta acupontos regulares, mais
os extraordinários (descobertos recentemente), além dos pontos Achi (reflexos, locais
doloridos e o-fixos), as combinações das manobras são inúmeras e não se pode afirmar
com exatidão se esta ou aquela é errada ou certa. Cabe, portanto, o bom senso do praticante
e a sua atenção nas respostas do corpo.
Para a prática da Dança Flamenca, propõe-se as manobras fotografadas a seguir
como exemplo para harmonizar o fluxo do Qi e do sangue nos tecidos corporais em
questão:
1. melhorar a expressão rosto, deixando-o mais harmônico, evitando as “caretas”
exageradas provindas de uma grande força na musculatura da região;
2. prevenir cervicalgias desta área (músculo trapézio e músculo
esternocleidomastóideo, esplênio da cabeça, levantador da escápula) para as
miradas (olhares) rápidos;
3. ativar a região de audição, útil para sentir o som do taconeo, do toque e do
cant;.
4. aquecer a região da cervical, evitando torcicolos;
5. harmonizar a capacidade respiratória nos palos mais longos (jondos), médios
(intermédios) e curtos (chicos);
6. evitar as bursites (inflamação da bolsa sinovial do ombro) pela utilização
demasiada de braceos;
7. evitar dores nos cotovelos, como bursite crônica nos braceos;
8. melhorar a movimentação dos punhos, evitando a L.E.R. (Lesão por Esforço
Repetitivo) devido à rotação incessante dos punhos durante a dança;
9. evitar cervicalgias e bursites para os braceos;
10. evitar a tenossinovite dos dedos no trabalho de os e dedos, bem como na
prática das castanholas;
11. aquecer a lombar, evitando lombalgias devido à postura de lordose que pode vir
a ocorrer nesse estilo de dança;
78
12. aquecer os joelhos, evitando artrites, reumatismos crônicos e osteofitoses
(calcificação) dos tecidos dessa região, pois o taconeo exige muito da
mobilidade dessa articulação;
13. idem ao item anterior;
14. evitar as cãibras e as torções provindas de uma atividade intensa de taconeo;
15. evitar a fadiga e o desgaste articular de tenes, músculos e fáscias dos
tornozelos, calcanhares, plantas e dedos, na multiplicidade de tipos de sons que
o taconeo necessita;
16. idem ao item anterior.
Mas, a M.T.C. leva a caminhos aproximados, dimicos, mutantes e dialéticos, em
que não existem verdades fixas. Caminhos, por vezes, inusitados, como demonstra a
aplicação do Auto Tui-ná na expressividade do baile. Isso, possivelmente, se no
dinamismo dos los antagônicos (yin e yang) presentes nessa visão bipolar de corpo e do
universo, onde o bailarino flamenco está inserido.
79
Nas palavras de Lao Tsé
21
:
“Só temos consciência do belo
Quando conhecemos o feio.
Só temos consciência do bom
Quando conhecemos o mau.
Porquanto o Ser e o Existir
Se engendram mutuamente.
O fácil e o difícil se completam.
O grande e o pequeno são complementares.
O alto e o baixo formam um todo.
O som e o silencio formam a harmonia.
O passado e o futuro geram o tempo.
Eis por que o sábio age
Pelo não-agir.
E ensina sem falar.
Aceita tudo que lhe acontece.
Produz tudo e não fica com nada.
O sábio tudo realiza – e na considera seu.
Tudo faz – e não se apega à sua obra.
Não se prende aos frutos da sua atividade
Termina a sua obra
E está sempre no princípio.
E por isto a sua obra prospera.”
21
Lao-tsé. Tao Te Ching: O livro que revela Deus. Trad. Huberto Rohden. São Paulo: Ed. Martin Clatet,
2007. p. 30
80
81
A tarefa insólita de escrever sobre temas tãospares e amplos, como o Auto Tui-ná
e a Dança Flamenca, buscando um diálogo entre ambos, foi possível graças a uma
vivência aprofundada em cada um desses universos, no desenvolvimento contínuo de
minha prática artística e de história de vida.
Escrever sobre a Daa Flamenca é uma tarefa de tradução de sentimentos, origens
e caminhos múltiplos, passando pela minha história pessoal e acadêmica. A sua veracidade
e a sua força estão entranhadas em minhas vísceras e de cada pessoa que se dedica a ela,
independentemente de etnia, país, condições financeiras, idade ou corporeidade.
O Flamenco pode fazer aflorar significados artísticos, existenciais, singulares e
universais. Pois, os temas de cada cante, sua poesia, sua musicalidade, sua expressividade
corporal, da beleza de cada palo, da vitalidade dos taconeos, geram uma potencialidade
artística de forma dinâmica, relativa e caótica. Analisá-lo com objetividade científica seria
uma utopia.
Cada bailarino, músico, cantor, professor, aluno, livro, espetáculo com os quais eu
tive contato ao longo de dezoito anos da minha vida dentro dessa arte, ensinaram-me como
é imprescindível o equilíbrio entre técnica e o devir artístico, contido no Flamenco,
capacitando uma experiência única de integridade, prazer, força, comunicabilidade,
expressividade e paixão, além de tudo, de vida. Portanto, considerar o Flamenco uma “arte
vivaé parece ser correto e adequado.
Para alguns estudiosos, o Flamenco tem bases sólidas e precisas de nascimento e
desenvolvimento. Mas, quando essa arte ganhou o mundo, sofreu, e ainda sofre inflncias
de cada povo e de suas corporeidades, transformando essa arte em algo mutante. Levando
em conta a origem mestiça e marginal do Flamenco, não seria estranho que tal fenômeno
continue a acontecer.
82
Apesar desse movimento para o mundo”, tamm, frequentemente, um
movimento de retorno às origens dessa arte, como se houvesse a necessidade de beber em
sua fonte novamente, para fortalecê-la, tornando-a íntegra e viva cada vez mais.
Essa força de vida, que a Dança Flamenca traz, é cheia de significados universais
representativos, tais como: o amor a terra, as relões amorosas, as paixões frustradas e as
histórias folclóricas de um povo marginalizado, que são cantados em verso e prosa nessa
arte. Demonstrando na sua expressão cantada, tocada e corporal uma forma de expressar as
dificuldades de seu viver. Essa energia vital que a Dança Flamenca traz pode vir a ser uma
forma para enfrentar as agruras do viver.
Ser flamenco é permitir-se chorar e sorrir ao mesmo tempo da vida. Sempre com
altivez e a coragem de continuar vivo, deliciando-se a cada momento.
A sabedoria das filosofias milenares do oriente veio a ser parte deste trabalho, pela
minha vivência nesta área, demonstrando haver muitas semelhanças entre as características
do baile e as características do fluxo de Qi.
Portanto, pela visão de mundo apoiada na complementaridade de forças opostas do
yang e yin, e a necessidade do fluxo dessa energia na dinâmica dos movimentos da Dança
Flamenca, há em apoio mútuo. A visão do oriente e da Dança Flamenca come um
exemplo de como estabelecer novos paradigmas que aproximam a ciência e a arte (e, quem
sabe, integrar meu lado “matemático” com meu lado “bailarino”!).
Nesse contexto, o recorte utilizado dentro da prática da medicina tradicional
chinesa, o Auto Tui-ná, gerou a ponte necessária para ajudar a criar um corpo discursivo
que potencializa a expressividade no baile, onde acontece o desenvolvimento do Aire, tão
buscado pelos praticantes desse estilo de dança. Pois a mobilização do Qi através de
determinadas manobras nos acupontos existentes nos meridianos seria um caminho, ao
mesmo tempo, lógico e intuitivo, para meus objetivos de harmonizar o fluxo de energia
vital, gerando o Aire necessário para a expressividade na Dança Flamenca.
83
Possivelmente, o tecnicismo exagerado e o apego à forma, a padrões solidificados e
considerados únicos e corretos (existentes nessa arte por parte de alguns coreógrafos e
professores) pode ser decorrente de uma visão cartesiana de mundo, tolhendo a liberdade
criativa e expressiva necessária a essa arte. Mesmo que seja inusitado buscar afinidades
entre o Flamenco e a visão de mundo presente na M.T.C. nos procedimentos do Auto Tui-
, essa busca mostrou-se eficaz.
Este trabalho, enfim, justifica-se pela necessidade de uma releitura de
procedimentos que ajudem o fluxo da energia vital essencial tanto para a performance
quanto para a saúde do bailarino possibilitando a abertura de uma criatividade expressiva
do baile, libertando-o.
Como afirma o poema de abertura da obra “El amor brujo”, do compositor
espanhol Manuel de Falla (1876-1964):
“Libre como el aire
Libre como el viento
22
Como las estrellas
En el firmamento”
¡Ole!
22
“Livre como o ar/Livre como o vento/Como as estrelas/No firmamento
84
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93
ANEXO I: Terminologia do Flamenco
A
A COMPÁS: cante ou baile que é interpretado seguindo fielmente o ritmo ou cadência do
estilo correspondente.
A PALO SECO: cante interpretado sem o acompanhamento da guitarra, à capella.
ABANDOLAOS: cantes ou fandangos típicos de Málaga.
AFICIONADO/A: pessoa entusiasta da arte flamenca. Também denomina o intérprete de
qualquer das facetas do Flamenco (toque, baile ou cante), que não o exerça como
profissional.
AFILLA: tipo de voz dentro do cante Flamenco, rouca e rasgada.
AFLAMENCARSE: fenômeno pelo qual uma estrofe ou canção de qualquer gênero
adquire características flamencas.
AL AIRE: Guitarra. tocar sem cejilla.
ALANTE: (cante de) cante que se executa para ser ouvido.
ALBOREÁ: cante Flamenco. Pertence ao grupo dos cantes influenciados pela Soleá.
Comum nos casamentos de ritual “gitano”.
ALEGRÍAS: cante e baila flamencos de compasso misto. Próprio de Cádiz.
ARPEGIADO: guitarra. Técnica de toque empregada para interpretar acordes com notas
consecutivas e não-simultâneas. A primeira das cordas se toca com o polegar e, as
restantes, com os demais dedos alternados.
ARRANCARSE: começar a execução de um cante ou baile.
ATRÁS(cante de): cante que se executa para ser bailado.
B
BAILAOR/A: artista que baila Flamenco.
BAILE: o Flamenco é um baile vivo e em constante evolução, mas suas características
básicas se cristalizaram entre 1869 e 1929, a chamada idade do ouro do Flamenco.
BAMBERA: cante. Sua copla é de quatro versos octassílabos, ainda que algumas vezes
segue um esquema diferente. É um estilo folclórico aflamencado.
94
BRACEOS: movimentos do baile flamenco executado com os braços.
BULERÍAS: cante e baile flamencos de compasso misto e ritmo vivo.
C
CABALES: (1) arremate das Siguiryas. (2) Pessoas entendidas em cante flamenco.
CAFÉ CANTANTE: local onde serviam bebidas e ofereciam recitais de cante, baile e
guitarra. Durante seu apogeu, na segunda metade do séc.XIX, contribuíram para difundir a
pratica profissional do Flamenco.
CAÍDA: final de um cante.
CAMPANILLEROS: cante. Sua copla é de 6 versos. É um cante aflamencado que se
originou de canções religiosas andaluzas que eram entoadas no Rosário de la Aurora.
CANTAOR: artista que canta Flamenco.
CANTE: utilizado como abreviação de Cante Flamenco”, denomina o conjunto de
composições musicais em diferentes estilos que surgiram entre o último terço do séc. XVIII
e a primeira metade do séc.XIX, devido à justaposição de modos musicais e folclóricos
existentes na Andaluzia.
CANTE CHICO: expressão subjetiva que denomina os cantes menos solenes e mais
apropriados para o baile.
CANTE FESTERO: assim são chamados os estilos alegres e agitados, como as alegrias, as
rumbas e os tangos.
CANTE JONDO: expressão subjetiva que denomina os cantes mais solenes, primitivos,
profundos e com força expressiva. Sinônimo de cante puro.
CANTES DE IDA Y VUELTA: expressão que designa o conjunto de estilos aflamencados
procedentes do folclore hispano americano.
CANTIÑAS: cantes próprios de Cádiz, de compasso misto, entre os quais se destacam:
Caracoles, Mirabrás, Alegrias, Romeras e Cantiñas propriamente ditas.
CAÑA: cante flamenco muito antigo.
CARACOLES: cante flamenco do grupo das Cantas de Cádiz.
CARCELERAS: cante do grupo das Tonäs. É interpretada sem guitarra (a palo seco). A
copla é de quatro versos octossílabos.
CARTAGENERA: cante flamenco do grupo dos Cantes de Levante, de execução livre.
CEJILLA: peça que se fixa sobre o braço da guitarra para subir o tom.
95
COLOMBIANAS: cante flamenco do grupo dos Cantes de Ida Y Vuelta.
COMPÁS: medida de uma frase musical com sua acentuação correspondente.
COPLA: (1) canção popular. (2) Estrofe de quatro versos octossílabos com rima assonante
nos pares.
CUADRO FLAMENCO: conjunto de interpretes de baile, cante e toque flamencos.
D
DECIR: cantar. Em especial, cantar com um estilo peculiar, conferindo ao cante
intensidade e comunicação plenas.
DESPLANTE: baile. Golpes fortes dados contra o solo que se emprega como arremate de
outros passos, correspondendo na guitarra aos rasgueios simples que vão ao final da
melodia.
DUENDE: encanto misterioso e inefável do cante. É uma expressão poética que dá nome à
magia intrínseca do Flamenco. Segundo alguns autores, há uma ligação entre o termo
duende e os ritos dionisíacos, onde se vivia uma espécie de transe coletivo.
F
FALSETAS: execuções com a guitarra para completar os espaços entre os tercios do cante.
FANDANGO: cante flamenco procedente do folclore, com muitas formas e variações em
toda a Andaluzia.
FARRUCA: cante de origem folclórica andaluza que se “aflamencou”.. Alguns autores o
consideram um dos Cantes de Ida Y Vuelta.
FLAMENCO: termo com o qual se designa o conjunto de cantes e bailes formado pela
fusão de certos elementos do orientalismo musical andaluz dentro dos peculiares modos
expressivos gitanos. O Flamenco é uma manifestação cultural que se originou na
Andaluzia, com uma existência de aproximadamente dois séculos. A origem do nome
Flamenco em seu significado atual, que aparece documentado já ao final do séc. XVIII, está
ainda sem resolver.
G
GARROTÍN: cante de origem folclórica andaluza que se “aflamencou”.
GITANOS: povo nômade que chegou à Península Ibérica por volta do séc. XV.
96
GRANAÍNA: cante flamenco. É o Fandango de Granada. De execução livre, é costume
arrematá-lo com a Media Granaína.
GUAJIRA: cante fcom influência do folclore cubano, pertence ao grupo dos Cantes de Ida
Y Vuelta.
J
JABERA: cante flamenco do grupo dos Cantes Abandolaos (Cantes de Málaga).
JALEAR: ato de acompanhar e animar o baile, cante e guitarra com palmas e exclamações.
JONDO: adjetivo que se aplica ao cante flamenco mais puro.
JUERGA: festa ou reunião de aficionados e interpretes em um ambiente ineo para a
melhor manifestação do baile, cante e guitarra.
L
LAÍNA: tipo de voz fina do cante flamenco.
LIVIANAS: cante flamenco do grupo das siguiriya.
M
MACHO: estribilho de alguns cantes.
MALAGUEÑAS: cante flamenco livre próprio da região de Málaga, expressão flamenca
do Fandango com mesmo nome.
MARIANA: cante flamenco que se origina do aflamencamento de uma canção andaluza.
Compasso semelhante ao dos Tientos.
MARTINETE: cante flamenco do grupo das Tonas (a palo seco) que pode levar o
acompanhamento de “ yunque y martillo” (bigorna e martelo).
MELISMA: grupo de notas sucessivas cantadas sobre a mesma sílaba, como adorno ou
floreio da voz.
MILONGAS: cante flamenco de origem hispanoamericana, do grupo dos Cantes de Ida Y
Vuelta.
MINERA: cante com copla de quatro ou cinco versos octossílabos que, provavelmente,
apareceram nos meados do séc.XIX. Pertence ao grupo dos Cantes de Levante e, dentro
dele, como seu nome indica, pertence aos chamados Cantes de las Minas, com uma
97
modulação tão definida e marcada como a da Taranta. Sua vertente mais conhecida é das
Minas de La Unión, em Murcia.
MIRABRÁS: cante flamenco do grupo das Cantiñas de Cádiz.
N
NATURAL: uma classe de voz própria do cante flamenco. Voz de peito.
O
ÓPERA FLAMENCA: espetáculo flamenco de cante, baile, e guitarra que proliferou nos
anos de1920 a 1936 por toda a Espanha, organizado por empresários profissionais, e
apresentado quase sempre em praças de toros e grandes teatros.
P
PALMAS: forma de acompanhar o cante. Existem vários tipos: abafada (sorda), dobrada
(redoblás), natural.
PALO: nome que recebe cada estilo de cante.
PALO SECO: cantes sem o acompanhamento da guitarra.
PELLIZCO: comoção que produzem determinados cantes ou bailes no ânimo das pessoas
que os escutam ou presenciam.
PEÑAS FLAMENCAS: entidades constitdas em forma de associação por aficionados
pela arte flamenca, para a exaltação e difusão do cante, baile e toque flamencos. Tiveram
seu apogeu a partir do início dos anos 60 em toda a Andaluzia, estendendo-se por toda a
Espanha e diversos países estrangeiros. Nas Peñas, a arte flamenca é o tema contínuo das
reuniões e dos recitais, tanto de intérpretes consagrados como de novas promessas.
PETENERA: cante flamenco, provavelmente oriundo de Paterna de La Rivera (Cádiz).
PLAYERAS: nome antigo dos cantes por siguiriya.
POLO: cante flamenco muito antigo, próximo da Caña.
Q
QUEJÍOS: ayes (ais) que se executam no cante ao princípio, meio e final.
98
R
ROMANCE: cante. Chamado também de corrido ou corrida, originou-se de uma entonação
especial dos romances populares andaluzes. É interpretado sem acompanhamento e, por
isso, é considerado por muitos o estilo mais primitivo do Flamenco, de onde procederam as
Tonás. Existe uma variante criada por Antonio Mairena ao compasso de Soleá por Bulerias.
ROMERA: cante flamenco do grupo das Cantas de Cádiz.
RONDEÑA: cante flamenco do grupo dos Cantes Abandolaos (Málaga).
RUMBAS: cante aflamencado do grupo dos Cantes de Ida Y Vuelta.
S
SAETA: cante de origem religiosa e popular que se interpreta na Semana Santa durante as
procissões.
SALÍA: começo do cante.
SERRANAS: cante flamenco do grupo das Siguiryas.
SEVILLANAS: cante e baile folclórico aflamencados de origem andaluza.
SEGUIRIYA: cante flamenco, trágico e triste, que a princípios levava o nome de Playera.
SOLEARES: no singular, Soleá. Cante flamenco com compasso misto. Possui muitas
variantes.
SON:aacompanhamento do cante ou baile mediante palmas, e ou castanholas, nudillos,
golpes, etc.
T
TABLAO: cenário para atuação dos artistas.
TANGOS: cante flamenco ao compasso de 4/4, rítmico e alegre que provavelmente teve
sua origem nas Américas.
TANGUILLO: tango de Carnaval ou tango de Cádiz. Cante que os coros interpretam no
carnaval. Compasso de 4/4.
TARANTAS: cante flamenco do grupo dos Cantes de Levante ou de Las Minas. Execução
livre.
TARANTOS: cante flamenco que pertence ao grupo dos Cantes de Levante. Compasso 4/4.
TEMPLE: cantiñeos que o cantaor utiliza para encontrar o tom que a guitarra lê da.
99
TEMPORERAS: cante flamenco do tipo Laboral Campesino.
TERCIO: cada um dos versos que constam em uma copla de cante.
TIENTOS: cante. Com copla de 4 versos octossílabos, seguidos geralmente por um ou
vários estribilhos de 3 versos, de medida uniforme. São conhecidos desde a metade do
século passado, atribuídos a Enrique el Mellizo e divulgados por Manuel Torre. Procede
dos tangos e tem o compasso igual a este, ainda que mais lento, solene e complicado. Em
Cádiz, era chamado tango tiento, ou seja tango lento. Mais tarde, em Sevilla, a expressão se
reduziu a tientos. É um cante bailável, com letras sentimentais e comovedoras.
TOCAOR: guitarrista flamenco.
TONÁS: cante flamenco sem guitarra, pertence ao grupo dos Martinetes, Deblas,
Carceleras.
TOQUE: ação e efeito de tocar a guitarra flamenca.
TRILLERAS: cante flamenco de origem andaluza, que se cantava nos trabalhos no campo.
Também chamado Cantes de Trilha.
V
VERDIALES: cante flamenco aparentado com o folclore, pertence ao grupo dos
Abandolaos.
VOZ AFILLÁ: denominação que se aplica ao tipo de voz rouca, grave e rasgada, por
alusão ao cantaor El Fillo, que, segundo a tradição oral, possuía esse tipo de voz.
VOZ LAÍNA: designa a voz de tom agudo, fino.
Z
ZAMBRA: festa mourisca com música e algazarra. Posteriormente, festa dos gitanos
andaluzes. Ainda hoje, cultiva-se a Zambra Granadina nas Cuevas Del Sacromonte,
formada por três bailes de caráternimo: la Alboreá, La Cachucha, e la Mosca, que
simbolizam três momentos da boda gitana. Essa mímica, refletida na dança, pretende
preservar uma antiga tradição do baile.
ZAPATEADO: baile. Consiste em um baile sóbrio de grande presença flamenca, que surge
a meados do séc. XIX. É uma combinação rítmica de sons executados com a planta, salto e
ponta do pé, e é interpretado por homens. Quando dançado por mulheres, estas usam traje
100
masculino. Atualmente, o Zapateado Flamenco se intercala na maioria dos estilos, tanto por
homens como por mulheres, muitas vezes ficando a guitarra em silêncio, para ressurgir
junto com os demais elementos de acompanhamento no momento de sua maior intensidade
ou arremate.
101
ANEXO II: Palos de Cante – Origens e Tipos.
Nesta tabela, está proposta a origem e o acompanhamento de cada palo (tipo de
sica) do Flamenco, conforme a sua caracterização em chicos, intermédios, grandes ou
jondos:
Palos
Origem
Cante
Acompanhamento
Campanilleros
Religiosa (Cristã)
Chico
Cante/Toque
Caracoles
Gitano (Madri)
Chico
Cante
/
Toque
Rondeñas
Gitano (Ronda)
Chico
Cante
/
Toque
Alboreá
Gibano
Chico
Cante
/
Toque
Alegrías
Gitano (Cadiz)
Chico
Cante
/
Toque
Bambera
Gitano
Chico
Cante
/
Toque
Bulerías
Gitano (Jerez)
Chico
Cante
/
Toque
Cantiñas
Gitano (Jeres/ Cádis/Sevilla)
Chico
Cante
/
Toque
Casaleras
Gitano
Chico
Cante
Colombianas
Ida e Volta (Amé
rica do Sul)
Chico
Cante
/
Toque
Chuflas
Cádiz (Madri)
Chico
Cante
/
Toque
Danza Mora
Moura
Chico
Toque
Fandangos de Huelva
Andaluz (Huelva)
Chico
Cante
/
Toque
Fandanguillos
Andaluz (Huelva)
Chico
Cante
/
Toque
Farruca
Asturiano (Asturias)
Chico
Toque
Gar
rotín
Asturiano (Asturias)
Chico
Cante
/
Toque
Guajiras
Ida e Volta (Cuba)
Chico
Cante
/
Toque
Jaleos
Portuária (Cádiz)
Chico
Cante
Malagueñas
Andaluz (Málaga)
Chico
Cante
/
Toque
Marianas
Gitanos (Nômades)
Chico
Cante/Toque
Milongas
Argentina (Ida e vuelt
a)
Chico
Cante/Toque
Nanas
Andaluz
Chico
Cante
Roas
Gitano
Chico
Cante
/Toque
Romeras
Gitano (Cádiz)
Chico
Cante
/Toque
Rumba
Gitano (Ida e Volta
-
Cuba)
Chico
Cante
/Toque
Sevillanas
Andaluz (Sevilla)
Chico
Cante
/Toque
Tangos
Gitano
Chico
Cante
/
Toque
Tanguillo
Andaluz (Cádiz)
Chico
Cante
/Toque
Temporeras
Gitano (Córdoba)
Chico
Cante/Toque
Trilleras
Campeiro
Chico
Cante/Toque
Vito, el
Gitano
Chico
Cante
/Toque
Verdiales
Andaluz (Málaga)
Chico
Cante
/Toque
Zambra
Gitano (Granada)
Chico
Cante
/Toque
Zo
rongo
Gi
tan
o
Chico
Cante
/Toque
Zapateado
Clássico
Chico
Toque
Tarantas
Gitano (Almería)
Intermedio
Cante/Toque
102
Tarantos
Gitano (Almería)
Intermedio
Cante
/Toque
Tientos
Gitano
Intermedio
Cante
/Toque
Rosas
Gitano
Intermédio
Cante
/Toque
Cartageneras
Gi
tano (Cartagena)
Intermédio
Cante/Toque
Granadinas
Gitano (Granada)
Intermédio
Cante/Toque
Jabera
Camponeses (Málaga)
Intermédio
Cante/Toque
Média Granaína
Gitano (Granada)
Intermédio
Cante
/Toques
Mineras
Gitano (Almería)
Intermédio
Cante
Mirabrás
Gi
tano (Minas)
Intermédio
Cante
/Toque
Palmares
Gitano
Intermédio
Cante
Peteneras
Judaica
Intermédio
Cante
/Toque
Tiranas
Gitano
Intermédio
Cante
Caña
Gitano
Jondo
Cante/Toque
Carceleras
Gitano
Jondo
Cante
Corridos
Gitanos
Jondo
Cante
Debla
Jondo
Can
te
Livianas
Gitanos (Andaluz)
Jondo
Cante/Toque
Martinete
Gitanos (Minas)
Jondo
Cante
Policaña
Gitano
Jondo
Cante
Saetas Religioso (Paixão de Cristo) Jondo Cante
Serranas
Andaluz
Jondo
Cante/Toque
Serranas Andaluz Jondo Cante/Toque
Tonás
Gitano (
Extremadura)
Jondo
Cante
Soleares Gitano Jondo Cante/Toque
Playera
Gitano (Morte)
Jondo
Cante
/Toque
Siguiriyas
Gitano
Jondo
Cante
/Toque
Fandangos Grandes
Árabe (Málaga)
Jondo
Cante/Toque
Murcianas
Cartagena (Múrcia)
Origem Incerta
Cante
Tabela I.
103
ANEXO III: Palos de Baile
Os bailes também são classificados a partir do cante e do toque.
Palos de Bailes
Origem
Classificação
Alboreá
Gitano
Chico
Bulerías
Gitano (Jerez)
Chico
Chuflas
Cádiz (Madri)
Chico
Colombianas
Ida e Volta (América do Sul)
Chic
o
Danza Mora
Moura
Chico
Fandangos de Huelva
Andaluz (Huelva)
Chico
Farruca
Asturiano (Asturias)
Chico
Garrotín
Asturiano (Asturias)
Chico
Guajiras
Ida e Volta (Cuba)
Chico
Jaleos
Portuária (Cádiz)
Chico
Malagueñas
Andaluz (Málaga)
Chico
Roas
Gita
no
Chico
Romeras
Gitano (Cádiz)
Chico
Rondeñas
Gitano (Ronda)
Chico
Rumba
Gitano (Ida e Volta
-
Cuba)
Chico
Sevillanas
Andaluz (Sevilla)
Chico
Tangos
Gitano
Chico
Tanguillo
Andaluz (Cádiz)
Chico
Verdiales
Andaluz (Málaga)
Chico
Vito, el
Gitano
Chic
o
Zambra
Gitano (Granada)
Chico
Zorongo
Gi
t
ano
Chico
Livianas
Gitanos (Andaluz)
Jondo
Martinete
Gitanos (Minas)
Jondo
Serranas
Andaluz
Jondo
Serranas Andaluz Jondo
Soleares Gitano Jondo Jondo
Siguiriyas
Gitano
Jondo
Jondo
Tientos
Gitano
Jondo/Jon
do
Tarantos
Gitano (Almería)
Intermedio
Zapateado
Clássico
Intermedio
Alegrías
Gitano (Cadiz)
Intermedio
Bambera
Gitano
Intermedio
Caracoles
Gitano (Madri)
Intermedio
Mirabrás
Gitano (Minas)
Intermedio
Peteneras
Judaica
Interme
dio
Fandanguillos
An
daluz (Huelva)
Misto
Cantiñas
Gitano (Jere
z
Cádis
Sevilla)
Variável
Tabela II.
104
ANEXO IV: O Lian Gong – Ginástica Terapêutica Chinesa
O Lian Gong significa treinar e exercitar, num trabalho pesistente. O Lian Gong
em 18 Terapias” é uma técnica que une medicina terapêutica e cultura física. Foi
desenvolvido a partir de quarentena anos de prática médica do Dr. Zhuang Yuan Ming;
segundo ele ...O exercício fortalece os músculos respiratórios, ativa a circulação interna
do Qi correto (Zheng Qi) e melhora a circulação de sangue no pulmões, elevando suas
funções...” (MING, 2000. p. 50-51).
Na visão da medicina tradicional chinesa, o corpo humano é nutrido pelo sangue e
pelo "Qi". O Lian Gong em 18 terapiasé uma técnica que une medicina terapêutica
chinesa e cultura física, que, para os chineses, significa: o fortalecimento harmonioso do
corpo, permitindo o pleno funcionamento e a utilização dos músculos, dos tenes e dos
ossos.
Tal técnica é fruto das manobras de massagens (Tui-na), aplicadas aos pacientes da
Universidade de Shangai, na China, durante quarenta anos, onde o Dr. Zhuang clinica.
Essa técnica foi trazida para o Brasil pela profa. Maria Lucia Lee, em 1987, professora de
filosofia e artes corporais orientais do Departamento de Artes Corporais da Unicamp,
obtendo grande interesse e aceitação pelos alunos de dança.
O Lian Gong come-se de três partes:
a primeira trata de desequilíbrios e dores no corpo e previne o seu
aparecimento;
a segunda trata as tenossinovites e disfunções dos óros internos;
a terceira trata de bronquite crônica e enfraquecimento das funções do
coração e do pulmão.
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