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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
INSTITUTO DE ARTES
Mestrado em Artes
HORIZONTE 360º - CADERNO DE ANOTAÇÕES
MARISA FAVA CARDOSO ALVES
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Artes
do Instituto de Artes da UNICAMP como requisito parcial
para obtenção do grau de Mestre em Artes sob a orientação
da Profa. Dra. Luise Weiss.
Campinas -2006
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Um percurso.
Uma epopéia.
Porque ser herói é ser si mesmo. É realizar o seu desenho, o seu desígnio, o projeto de si mesmo. É construir ou desvelar uma
identidade. É poiesis. É fazer-se continuamente.
“Por mais que eu me seqüestre, aquele rio me retoma
e começa a desenhar-se na lembrança seus contornos imprecisos (...)”. ( E. Santana)
INVOCATIO – A parte em que se invoca proteção.
Invoco, como a cada dia no caminho, a Santa Trindade.
(para colher do ensinamento e de minha própria prática, alegria, sabedoria e força para realizar o meu projeto).
PROPOSITIO onde se declara o que se propõe celebrar. (RESUMO)
Ao longo do processo de resgate e fundamentação teórica de minha prática artística fiz e venho fazendo, uma série de anotações de
aulas, pequenos extratos de leituras, poesias, “definições” de conceitos, coletando algumas imagens, esquemas de reflexões e
associações, enfim... Cadernos de trabalho, de anotações. Um material diante do qual a impressão que se tem é de caos, de desordem,
de excesso de informações, de idas e vindas, repetições e incoerências, de constatações, de conclusões óbvias, mas não tão óbvias até
então, de apropriações lícitas (ou ilícitas?), mas que tem sido fonte preciosa de consulta reiterada e de referência para a continuidade do
estudo e da produção.
O projeto deste caderno (que se pretende em substituição à dissertação de mestrado) nasceu do desejo de pôr, na medida do possível,
algo desse material em ordem e explicitamente em diálogo com a produção prática. Mas como? Em qual ordem? A opção, já que tudo
para mim começou a se organizar a partir da estrutura de um plano básico de trabalho no atelier, sugerido pelo prof. Evandro C Jardim
(o diálogo entre a poética e a técnica através da práxis) foi falar dessa experiência, tentando transpor sob essa própria estrutura o que
pude apreender e desenvolver principalmente a partir de seu ensinamento (naturalmente segundo as qualidades específicas do meu
coração e inteligência), registrando e explicitando assim, a gênese e o sentido da pesquisa em poéticas visuais constituída pelos
desenhos e gravuras que compõem a exposição e a edição deste caderno.
O texto mantém numa certa medida o caráter fragmentário das anotações, mas procura insinuar relações e conexões de sentido que
estabeleci entre as questões de várias ordens que permeiam o trabalho.
Os desenhos e gravuras são investidas em diferentes direções com o intuito de explorar as possibilidades de vivência e representação
da imagem expressa no título do projeto, “Horizonte 360º”, isto é, do entorno, da Paisagem circundante (entendida como tudo o que
forma o mundo exterior num determinado momento da minha percepção, seja o meio natural, artificial ou humano) considerando seus
vários níveis de significado.
PROPOSITION - Where one states what one intends to celebrate. (ABSTRACT)
In the process of describing and setting down the theoretical bases of my work as an artist, I have brought together a series of notes from
classes, excerpts from readings and poems, and "definitions" of concepts. I have also collected a number of images, bases for reflections and
associations, entries in notebooks, and the like. The first impression is one of confusion and chaos, disorder, too much information, coming
and going, repetitions and inconsistencies, as well as perceptions and obvious conclusions. But these conclusions had not been so obvious
until that point, and included licit (or illicit?) appropriations that have been a precious and constant source of consultation and reference for
continued study and production.
The design of this notebook (which is intended as a substitute for a master's thesis) was born of the desire, insofar as is possible, to put at
least part of this material in order and explicitly into dialogue with practical production. But how? In what order?
Conceptually things began taking shape for me due to the structure of a basic working plan in a studio, suggested by Professor Evandro
Carlos Jardim (the dialogue between poetics and technical through praxis). My option for moving ahead, was then to tell about this experience
and attempt to transmit through this structure what I had been able to apprehend and develop, especially on the basis of his own teaching
(naturally blended with the specific qualities of my own heart and intelligence). I thus proceeded to organize and express the genesis and
meaning of my research in visual poetics, consisting of the drawings and engravings that make up the exhibit and the edition of this notebook.
The text retains something of the fragmentary nature of the notes themselves, but there is also an insinuation of relationships and connections
of meaning that I establish among the questions of various orders that permeate the work.
The drawings and engravings are seen from different perspectives in order to explore the possibilities of experience and representation of the
image expressed in the title of the project "Horizonte 360º [Horizon 360º]." They tell of borders and of the surrounding landscape (understood
as everything that shapes the outside world at any given moment of my perception, be it the natural, artificial or human environment), and
take into consideration their various levels of meaning.
ÍNDICE
INVOCATIO
PROPOSITIO / RESUMO
NARRATIO
- APRESENTAÇÃO 13
1- FRAGMENTOS DE UM ENSINAMENTO (grupo de estudos) 19
2- FRAGMENTOS DE UM ENSINAMENTO – sob UM PONTO DE VISTA 23
3- O PROJETO -FRAGMENTOS DE UM HORIZONTE 360º 37
PRIMEIRO ATO: SENSAÇÃO 39
SEGUNDO ATO: IMAGEM 41
TERCEIRO ATO: REPRESENTAÇÃO 43
- ÍNDICE DOS CADERNOS DE DESENHO 69
BIBLIOGRAFIA 71
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NARRATIO (onde se narra o fato vivido)
APRESENTAÇÃO
- “Bom dia, Vossa Senhoria. mando tiro tiro liro. Bom dia, Vossa Senhoria, mando tiro tiro lá.
- Que deseja em minha casa?
- Eu desejo uma de vossas filhas...
- Qual delas é a que lhe agrada?
...e, impreterivelmente, chega a vez de cada um...
- Que ofício lhe daria?...
- O ofício de desenhista...
- Esse ofício lhe agrada! Mando tiro tiro liro, esse ofício lhe agrada, mando tiro tiro lá”!
Esse, e outros tantos ofícios, que usam a mão (princípio, ação, doação e labor) para riscar, desenhar, recortar, costurar, serrar, cavar,
plantar e gravar... agradam! mando tiro tiro liro lá!.
Ofícios que lidam com o gostar das cores, das formas, no mundo e no papel, da matéria (da lã e da linha, da linha do lápis, do giz branco
sobre o quadro negro, do pincel, do papel, do pano, da madeira, da borracha que apaga, do carvão que se pode apagar com a mão e
com o sopro, do vento, da água nas tintas, da terra, do barro...), de imaginar, de antever, de pensar, de arquitetar, de ir atrás de
soluções, do material disponível e de rir ao desvendar o como e o porquê fazer “assim”. Do silêncio... e de ficar só, do recolher-se por
algum tempo. E depois, de compartilhar o realizado.
Indícios de uma predisposição íntima, uma inclinação inata para as artes?
...e então, contente, passávamos para o lado de lá, na “brincadeira do diálogo”, em que a fileira de crianças sob a tutela de uma “mãe”
ia, uma a uma, na medida em que o “interlocutor” descobria os afetos da criança nomeada, passando para o seu “território”. E em roda,
a cada descoberta... “Vamos fazer a festa juntos, mando tiro tiro lá”!
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Um prazer! E com prazer ia-se, procurando responder à indagação, sondando um desejo. Aprendendo a desejar. Não uma coisa
concreta, mas algo inexistente, um vir a ser.
O início de contínuos exercícios de lembrança, de memória, que se propõe a praticar na vida, incluindo a prática artística, para não se
deixar esquecer daquele algo imemorial que não silencia nunca: o projeto de si.
(Particularmente, como background familiar, um ambiente predominantemente voltado às ciências biológicas.)
Pressente-se a necessidade correlata de “saber” desenhar e na direção de atendê-la, dão-se os primeiros passos de vontade, através
dos cursos mais accessíveis.
Na escolha da faculdade, a questão se reapresenta... Em tentativa pragmática, a opção é pelo curso de propaganda na escola de
Comunicações, mas logo, de novo tateando apetites e corrigindo rumos, o curso de graduação em Artes.
Inicia-se o processo de alfabetização visual. Identificação dos elementos e componentes da linguagem visual (o ponto, a linha, a forma,
o tom, a cor, a textura, a direção, a dimensão, a escala, a direção, o movimento), a estrutura, a composição (em algumas regras
simples), e como que a existência de uma gramática.
Amplia-se, para além da pintura e do desenho, o repertório em relação aos meios de expressão. Isto se dá, principalmente, através da
prática, pelo contato com a xilogravura, a gravura em metal, a litografia, a modelagem, a fotografia, o desenho animado, e, com uma
nova e autônoma dimensão do próprio desenho.
Desenvolve-se certa habilidade manual para desenhar objetos e figuras sob observação permeada por certa noção de análise, invenção
imaginativa e de representação. Resvala-se pelas teorias das cores e levemente no lidar com elas. Reúnem-se, em síntese, recursos
mínimos para possibilitar a expressão.
Por outro lado, confronta-se também com o fato de que a escola, em geral, dissocia teoria e prática. Desatenta da reflexão sobre o fazer.
Em geral, inadvertidamente, deixa a distâncias inacessíveis a partir do atelier, as obras do passado e todo o legado de conhecimentos a
elas associados.
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Além disso, impinge tendências (há algum tempo, à arte conceitual e aos recursos dos multi-meios) com as quais naturalmente nem
todos se identificam. Assume assim ares de academia. A referência é colocada fora. Configura-se o tipo de formação enunciada por
Kandinsky, a que se caracteriza por uma assimilação da prática, mas surda à ressonância interior, à necessidade interior, ao contato
eficaz com a alma humana.
Por instinto, instala-se a resistência, o questionamento.
E de repente, em meio a dúvidas, nos vemos prematuramente emancipados.
E agora? O QUE FAZER?
Às voltas com essa e com outras questões da vida pessoal, deixei-me guiar pelo pressentimento, que só mais tarde fui compreender, da
relação entre o fazer com o ser e o saber.
Tem paciência
com tudo não resolvido no seu coração
e
tenta amar as perguntas em ti
como se fossem quartos trancados ou livros escritos em idioma estranho.
Não pesquises em busca de respostas
que não te podem ser dadas,
porque tu não as podes viver, e
trata-se de viver tudo.
Vive as grandes perguntas agora.
Talvez num dia longínquo,
Sem o perceberes,
Te familiarizarás com a resposta. (R. M. Rilke)
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“viver é achar os meios para realizar o programa que se é. A técnica vai engenhar-se, construir-se para executar a tarefa que é a vida.
Vai conseguir, claro está, em uma ou outra medida, que o programa se realize.” (Ortega y Gasset)
A vivência e a busca desenharam-se em diversas direções. (prática de sumi-ê, tai chi, o grupo de estudo e práticas gurdjiefianas, yoga,
prática com teatro de bonecos, prática do ensino de desenho em atelier, oficina de artes com crianças, leituras e estudos filosóficos, C.
G. Jung, religiosos, a maternidade, a educação dos filhos, a relação conjugal... ).
Alguns anos depois, com relação à orientação e continuidade da minha formação nas artes, fui ao reencontro do Prof. Evandro C Jardim
e do seu ensinamento, no atelier Experimental de Gravura Francesc Domingo, no MAC/USP, e no curso de desenho da Paisagem e da
Figura Humana, na graduação da ECA/ USP.
As informações comunicadas e a metodologia empregada incidiram sobre mim de forma iluminadora e fundamental. Legitimaram e
ajudaram a nomear o intuído e inadequadamente questionado. O valor da dimensão artesanal da arte, do contato íntimo e intenso com a
natureza, da história da Arte, do passado, como fonte variada de valores que repousam dispersos na obra de vários mestres, estudada a
partir do atelier, a partir do olhar de quem faz ou quer fazer, um conhecimento a ser atualizado a cada ato nosso, veículo de uma força
vital que nos alimenta; e principalmente do ouvir-se, do ir ao encontro de si mesmo, da dimensão espiritual desse fazer, enfim.
Definitivamente apresentaram-se como uma bússola no caminho de ampliação da consciência de mim mesma, no meu fazer,
abrangendo questões de todas as ordens, das práticas, instrumentais, operacionais ou metodológicas, às técnicas, históricas,
psicológicas, filosóficas, ontológicas e espirituais. Acrescidas dos títulos que vão decorrendo da bibliografia básica sugerida, fornecem
reiteradamente subsídios para desencadear a prática, refletir sobre ela e incitar nova ação, num processo que se concebe sem limites e
passível de se dar em vários níveis enquanto estivermos disponíveis e atuantes.
Por afinidade coloco-me voluntariamente sob a influência de uma visão que torna o projeto de construir uma obra nas artes plásticas,
que apenas se esboça, muito mais real e tangível para mim, apontando a direção e o caráter dos esforços que necessito empreender
para realizá-lo.
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“Serras que vão se destapando para destapar outras serras
têm todas as coisas.
Vivendo se aprende, mas só o que se aprende é a fazer outras maiores perguntas” (João Guimarães Rosa)
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1- FRAGMENTOS DE UM ENSINAMENTO (grupo de estudos)
SER SABER
FAZER
Compreendo algo quando vivencio a conjunção de um saber com um ser.
Quando o saber sobrepuja o ser fica inaplicável à vida, fica teórico, abstrato. Pode até ser nocivo.
Quando o saber predomina sobre o ser, sei, mas não tenho o PODER DE FAZER. É um saber inútil.
Inversamente quando o
ser predomina sobre o saber, tem-se o Poder de Fazer, mas não se SABE O QUE FAZER.
Pode-se saber teoricamente, mas só vamos compreender quando sentirmos e tivermos a sensação daquilo que sabemos.
Compreendo o desenho quando o que sei de desenho se concretiza em desenho.
Em alguns momentos SEI, mas se não desenho o desenho não É.
Noutros momentos, desenho sem “saber”, mecanicamente. O desenho acontece. Mas não tenho o poder de FAZER, um FAZER de
fato.
O exercício, a concretização de DESENHOS, cujas raízes sondam o meu ser, cujos galhos miram e absorvem saberes, carrega a
potencialidade de um FAZER (de fato)
Para SER é preciso estar atento.
SER é observar-se, ter consciência de si e do mundo simultaneamente. É lembrar-se de si ao viver.
Ser é pensar e intuir, sentir, agir.
ASSIM,
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o “SER DESENHO” é SER o registro, a manifestação de um estado de presença, de consciência (em diferentes níveis) no ato do
desenhar.
Desenhar é buscar satisfazer uma necessidade interior.
Para isso lanço mão de recursos mentais (intelectuais e intuitivos), emotivos e sensoriais de que disponho e, reciprocamente, esse fazer
desenho deve prover-me de alimento nessas mesmas três direções.
Fazemos a partir da nossa vontade. A evolução do nosso poder de fazer é igual à evolução da nossa vontade. E a vontade não evolui
involuntariamente. Fazer não pode ser o resultado do que acontece. Fazer é um ato de vontade.
Para desenvolver a vontade devo exercitá-la. Direcionando-a.
E direcionando-as, por exemplo, no sentido da
- freqüência com que trabalho (o trabalho diário, não esporádico)
- duração – disponibilidade do tempo realmente necessário para a realização plena da idéia.
- grau – aprofundamento
Evolui a vontade. Evolui o trabalho.
Em cena a vida Num, flui contínuo, sucede o decorrente
encena o natural. Noutro, o mergulho,
Nos bastidores se trava a luta a coexistência de tempos,
se ensaia o único, o sem igual o nado contra a corrente (M.F.)
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TRÊS MOMENTOS DO PROCESSO ARTÍSTICO QUE PODEM DAR-SE SIMULTANEAMENTE:
(Luigi Pareyson apud Alfredo Bosi)
O EXPRIMIR O CONHECER
Arte é expressão Arte é conhecimento
“Onde o mundo interior e o exterior se tocam, “Sim, eu quero saber. Saber para melhor
aí se encontra o centro da alma” (Novalis) sentir, sentir para melhor saber” (Cézanne)
O FAZER
Arte é construção
“As leis de construção do discurso interior acabam sendo as mesmas
que servem de base para toda a variedade de leis que regem a construção da
forma e da composição das obras de arte” (Eisenstein)
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2- FRAGMENTOS DE UM ENSINAMENTO - sob UM PONTO DE VISTA
(anotações do curso do prof. Evandro Carlos Jardim)
Variantes envolvidas no trabalho de arte (ou no trabalho em geral).
O HOMEM O MUNDO (realidade visível)
Observação e percepção do mundo visível
(abrange a consciência de si e do entorno)
Devemos nos aproximar do “modelo”
(realidade visível) com liberdade (*1) e
Interpretá-lo em vários níveis (*2)
(níveis da sua aventura pessoal)
A OBRA
(contempla a História/ técnica/procedimentos)
(*1) A liberdade de expressão é algo construído. Não existe liberdade sem responsabilidade. Responsabilidade de nos situarmos diante de nós mesmos, do
mundo, de tudo que já foi feito e do que propomos com o nosso fazer.
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(2)PANOFSKY fala de 3 níveis na interpretação do tema e no seu significado:
Nível primário fatual - Um homem de chapéu encostado num poste
expressional - Caráter pesado da pose ou gesto desse homem/ a atmosfera
Descrição pré-iconográfica – trabalha, opera com MOTIVOS artísticos: animal, plantas, figura humana, casa, ferramentas
Nível secundário ou convencional – Doze figuras com atenção a uma figura central= santa ceia
(Análise iconográfica) liga Motivos Artísticos (composições) com assuntos e conceitos
Motivos reconhecidos como portadores de um significado secundário ou convencional = IMAGENS
Combinação de IMAGENS = INVENÇÃO ou alegorias/ estórias
Nível Significado Intrínseco ou Conteúdo – (Interpretação Iconológica) mundo dos valores simbólicos/ época/ classe social, crença religiosa/ filosófica (A Sta
Ceia como um documento da personalidade de Leonardo ou da civilização da Renascença.)
DANTE fala de:
- Sentido literal
- Alegórico
- Moral
- Anagógico (ou místico), o superior, pois expõe o significado espiritual das coisas
NA PINTURA CHINESA fala-se de CATEGORIAS DE GRANDEZA (graus de excelência)
4 níveis na escala de grandeza que correspondem, grosso modo, a 4 níveis distintos da evolução humana:
- Destreza formal (competência)
- Cultura (conhecimento)
- Sabedoria
- Penetração Espiritual (põe de manifesto a insistência chinesa de que “a pintura” é “criação” do homem INTEIRO e assim a grandeza depende da
filosofia de vida que tenha o artista na sua penetração imaginativa da alma da humanidade).
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Plano Básico de trabalho (Evandro C. Jardim)
POÉTICA CNICA
Um vir a ser, devir. Um projeto. A técnica como pressuposto de conhecimento
Atividade de algo que passa do não ser ao ser. É aquisição de conhecimento em diferentes
A poética contém a técnica. graus pela
prática/teoria sem dissociação.
O inverso nem sempre é verdadeiro.
PRÁXIS – é a ação amparada pela poética e pela técnica.
Ação que se justifica nela mesma. Tem começo, meio e fim.
E é preciso saber isso para se ter consciência do fazer.
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Na prática a proposta geral foi associar:
A POÉTICA que CADA UM carrega consigo. O DESENHO DA PAISAGEM às TÉCNICAS DO DESENHO
Os desejos, os sonhos, o projeto A associação é feita considerando as suas respectivas
histórias (a história do desenho e a história da paisagem)
na PRÁTICA
Sair a campo para “UM PASSEIO” “A TRABALHO”
Equilibrando espontaneidade e consciência, vai recolher
aquilo que
considerar significativo.
A metodologia propõe uma postura – estar simultaneamente atento a si, ao mundo e à obra em processo.
Uma atitude meditativa.
Vou ao encontro dessas realidades e ao mesmo tempo diante delas é necessário me recolher, me “retirar”, silenciar, fazer meu espírito
permeável ao que “vejo”, deixar-me penetrar, concentrar-me para criar espaço para que essas realidades falem.
Aproximar-me sem me aproximar
. Manter distância toca a natureza das coisas que são segredo e do respeito exigido por essa área.
A intuição é a via de acesso ao Real.
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Da CAIXA DE DESENHO:
- Penas (caniço, bambu, aves, metal) / tintas (tinta de noz de galha, bistre, sépia, nanquim, e outras)
- Pincel/ tintas (as mesmas incluindo o guache)
- Pontas de metal (ponta de prata, ouro, cobre, chumbo)
- Carvão (seco e oleoso)
- Pedras (negra, vermelha(sangüínea) e branca)
- Crayon e lápis de grafita/ mina de chumbo
- Pastel
- Suportes do desenho (papéis, madeira, pergaminho, tecidos) (considerar formatos)
elejo, por afinidade, por simpatias reconhecidas, os instrumentos. Com eles, as alternativas tanto técnicas quanto estéticas se oferecem.
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O LÁPIS (de grafite)
Deriva da grafita bruta, material friável, pouco resistente, suscetível de finura, traço cinza com reflexos metálicos, pouco mais forte que o
da ponta de chumbo que era, desde o século XVI, mais usado para esboços, pois os traços apagavam facilmente.
A linha feita com ela falhava às vezes durante o uso, criando formas abertas sugerindo a representação da luz, o que vai ser, depois,
usado propositalmente.
Depois de muitos esforços para melhorar a qualidade da grafita, na França, século XVIII, Conte, misturando argila com a grafita em pó e
submetendo a mistura à queima, consegue uma matéria dura, mais resistente, e que produz traço mais negro, mais nítido e menos
reluzente que a grafita bruta. Variando a proporção de argila e temperatura de queima, obtinha-se diferentes graus de dureza e de cor.
Sob essa nova forma, o lápis conhece sucesso no mundo todo, até hoje.
Com lápis macio podemos fazer aparecer o que achamos útil e aproveitável do esboço feito com um lápis mais duro. Esse procedimento
ensina economia de meios –
o que você não faz com pouco não vai fazer com muito.
A PENA
O uso da pena remonta aos primeiros anos da Era Cristã.
As penas foram:
- de caniço (bambu) que tem como característica obedecer mal às pressões. O traço de qualquer forma é
largo e enérgico.
- penas de ganso – traço flexível e fluido
- penas de galo, corvo, cisne – traços mais finos.
- penas de metal – conhecidas desde a Antiguidade mas não como conhecemos agora.
É no século XIX que elas passam a ser fabricadas à máquina, imitando o desenho das outras penas.
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Trabalhar com o lápis e pena, observando suas características específicas, possibilita ver tudo que significam em termos de desenho:
- registros diretos e precisos (captura dos aspectos fugidios da natureza)
- liberdade de pensamento
- presta-se para desenho e escrita
- presta-se para estudos e esboços e para modelar as formas, traduzindo massa, volume (através das hachuras que historicamente
eram primeiro sempre tracejadas no sentido vertical, mais tarde oblíquas e cruzadas, e depois ainda traçadas livremente) e
construindo a forma aberta que representa a luz.
- presta-se para a abordagem visual - do contorno (pureza da forma) e também a uma abordagem mais fluida
- como instrumento de registro rápido
O PINCEL (como instrumento do desenho) aparece na Antiguidade.
Na literatura duas espécies são mencionadas por Cennino Cennini:
1- pêlo de porco - para pintura mural
2- pêlo de esquilo - para desenho
Provavelmente presos nas hastes das penas.
- tosados e em pontas
- são industrializados no século XVII: esquilo / texugo/ doninha/ cão/ cabrito
- são
associados no desenho com a pena, pontas de metal, pedras da Itália, sangüínea etc., ou ainda, usados de
forma independente.
O pincel se associa a três grandes procedimentos do Desenho.
a) lavis ou aguada
b) o desenho em relevo
c) o desenho a pincel
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O Pincel é o instrumento que abre o caminho mais livre para a expressão.
O chato e o redondo (em ponta) (usados molhados ou semi-secos) somados dão a
sintaxe do desenho a pincel. Hachuras e
manchas.
Abordando as questões da linguagem:
Hachuras possibilitam construção engenhosa dos volumes. Tem aspecto superficial interessante. Efeitos óticos.
Manchas possibilitam alargamento do gesto. É mais livre, mais aberta. Pode ser usada como elemento condutor da luz. Como MASSAS
que se relacionam com o horizonte (grande indicador de distância). Podem ser hierarquizadas salientando os pontos de tensão (dentro
da própria mancha, pontos mais fortes e mais fracos) O toque também como gesto.
A aguada é um dos grandes procedimentos gerados pelo uso do pincel.
Substitui o uso da Linha pela Mancha
Com relação aos valores plásticos as características da aguada são:
- “sfumato”
- grandes manchas
- reserva de branco (de fundo) a parte do papel que não é tocada = reserva de luz
- a profundidade da luz e da sombra (intensidade) sobreposição de tons
- as indicações de luz e sombra como elemento construtivo do desenho
- associação de manchas com traços (linhas) Interrelação de temas (contorno/ linhas (hachuras) planos/ manchas). Ordem crescente de
entrada de elementos constitutivos.
- o guache sobreposto como focos de luz
- a ambientação e as grandes tensões
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Historicamente – existe a aguada flamenga
1 - aguada
2 - aguada de dois tons
3 - aguada policromada
4 - aquarela
Na
aguada de dois tons criou-se um SISTEMA.
A associação de pincéis de aguada na construção de diferentes distâncias foi usada principalmente no período seiscentista.
A terra e as árvores de primeiro plano eram trabalhadas em marrom e preto. O céu e os elementos distantes eram trabalhados em azul.
Trabalhava-se no sentido de dar ao olho essa sensação do
ESPAÇO.
(os clássicos usavam a justaposição de quentes e frios).
É curiosa a combinação dessas três cores, a sensibilidade de dosar o marrom, o azul e o preto.
Produz realmente uma sensação ilusória de todo esse espaço.
Pode-se entender, pensar, compreender as
ESTRUTURAS: TONAIS E GRÁFICAS tendo a história como referência ao desenhar.
Vendo, por exemplo, como Rembrandt empregou, com freqüência no mesmo desenho, o bistre e a tinta da China (preto), e ainda um
lavis de sangüínea. Todas cores quentes).
Seghers, tão importante quanto Rembrandt, faz uma mudança para verdes e bistres.
E, entre o quente e o médio, Claude Lorrain, que fez combinações análogas opondo bistre à tinta da China e usando cores: vermelho,
rosa ocre, azul.
A Cor como elemento concreto de organizar espaços.
Porque junto com toda a emoção estamos operando uma construção que tem suas leis para ficar de pé.
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O instrumento determina a qualidade da linha e uma sintaxe linear (o colocar as linhas nos contextos), a qualidade da mancha e da
sintaxe dos valores.
Pincéis estão ligados à
iconografia. Estão ligados ao gesto
Pincel ligado ao gesto.
O toque do pincel como gesto. Dependendo do resultado que se almeja, escolhe-se o pincel adequado.
Um pincel grande e largo exige um só gesto para resolver grande parte do trabalho.
As TINTAS usadas com a pena:
A básica é a tinta de escrever e o NANQUIM.
O nanquim é um composto de negro de fumo (carvão vegetal /fuligem) e água colada (gordura vegetal - cânfora). No nanquim chinês,
cola de peixe mais carvão, em bastões. – tinta magra (Nanquim deve ser temperado com água em até 50%)
Misturada com água = aguadas (lavis)
Tinta de NOZ DE GALHA – tinta produzida com uma hipertrofia da casca do tronco de carvalho em reação a uma ação de uma outra
planta ou de um animal sobre ela. Era raspada, cozida com goma arábica e sulfato de ferro para a fabricação da tinta. Resiste à luz. Foi
usada para documentos.
BISTRE – é de origem vegetal. Cor marrom avermelhado. Fuligem de faya, cozida e diluída na água, provavelmente com alguma cola.
Muitas vezes confundida com SÉPIA, que é de origem animal e tem cor marrom tendente para o amarelo. A luminosidade não se
compara a nenhuma tinta industrial.
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As TINTAS usadas com o pincel:
- Noz de galha
- Tinta da China (Nanquim)
- Bistre
- Índigo-azul profundo
- Sangüínea diluída em água
- AQUARELA
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O suporte: UM CADERNO DE PAISAGENS
O caderno de anotações pessoais – “instrumento da
espontaneidade e da intuição” (Cartier-Bresson)
Estudar a paisagem implica você se colocar no lugar que você está. Nosso lugar é o mundo.
A partir de um
fato visual levá-lo, através de um sistema complexo, a se tornar um fato plástico.
A natureza está aí fora mas a concepção plástica está dentro de cada um.
Esse sistema complexo envolve colocar a Poética em diálogo com a Técnica através da Práxis. Através do trabalho direto com a
própria obra, com a materialidade. O estudo é importante, mas construir com a matéria é a parte mais difícil. É preciso conquistar um
desembaraço com o seu fazer, uma intimidade. Toda vez que tiver uma idéia, um chamado, honrá-lo pelo fazer. É um exercício de
disponibilidade, de vontade. Sabemos o quanto isso é difícil. Porque significa encontrar-se consigo mesmo e enfrentar-se. A tendência é
adiar achando que quando nos decidirmos o trabalho sai. Mas não é assim. É necessário preparar-se para a manifestação poética.
Trabalhando.
É o que queremos. Ninguém nos obriga a isso. Está em nossas mãos – de cada um de nós - tomar consciência.
Vamos caminhar o tempo todo entre o símbolo e o fato. Ambos permeiam toda a construção da paisagem.
O fato é o que você vê. O símbolo é o que você vê com todas as suas atribuições. O símbolo é tudo o que aponta em direção à
verdade.
O símbolo é o meio de transmitir idéias inacessíveis ao pensamento racional.
Vamos traduzir a realidade externa através de três noções básicas primordiais: o contorno, a cor e o valor.
Podemos captar o universo, o
todo, e depois detalhar ou procurar recolher os detalhes que considerarmos significativos dentro do
todo.
Detalhes – são aspectos da natureza factual que se inserem em determinados lugares ou momentos.
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Vamos exercitar a apreensão e a tradução de uma FORMA, VOLUME, LUZ E SOMBRA (deslumbramentos, pois trazem alguma coisa à
luz), ESPAÇO, ATMOSFERA, áreas de COR, através de linhas, linhas e planos (o deslocamento da linha provoca um plano), seus
intervalos significativos (como o que existe entre a linha do horizonte e o fio que corta uma paisagem. O horizonte é uma realidade.), do
contorno ou fluidez da linha, estruturas tonais e gráficas (manchas e hachuras), cor... (todos temas de estudo), e ver o que acontece em
termos de plástica.
Toda a fase de concretização está ligada ao conhecimento dos instrumentos.
Vamos experimentar ainda, nesse passeio, nossa concepção de natureza, que naturalmente é muito pessoal.
Partindo do abstrato (fato visualizado) fazer uma coisa concreta (tradução em valores plásticos). O fato visualizado (abstrato) é absoluto.
O concreto (o registro, a tradução do visto), é relativo.
É interessante deixar o desenho produzido exposto, durante um tempo, na parede para ver o que acontece. Às vezes, olhando, pode
surgir uma resposta ou uma pergunta.
37
3- O PROJETO – FRAGMENTOS DE UM HORIZONTE 360
O
“Ao filósofo cumpre articular conceitos.”
“Ao artista é dado combinar sensações, imagens e representações”. (
Kant apud Alfredo Bosi – Reflexões sobre a Arte)
O desenho é uma atividade avessa, por definição, a qualquer discurso. Cultiva a “eloqüência muda”. O discurso sobre desenho não pode
apreender verdadeiramente o que ele quer significar, pois este não foi feito estruturalmente para ser significado pela linguagem.
(d’ après Jacqueline Lichtenstein coleção Pintura ed 34)
Anos atrás, à época da conclusão da graduação, a prática regular do tai chi chuan (uma arte marcial chinesa, reconhecida como uma
forma de meditação em movimento cujos princípios filosóficos remetem ao taoismo) proporcionou, através da vivência e consciência do
CORPO, uma percepção do espaço em sua polaridade: como ponto fixo e como o lugar do movimento.
Um flash de consciência do lugar a partir de onde se vê o mundo. A SENSAÇÃO apreende a IMAGEM (que abrange não só a dimensão
visual mas qualquer dimensão sensível) – Horizonte 360º (do gr. Horízon, óntos, “que limita”. Subentende-se Kyklos, “círculo” - linha
circular que delimita o campo da nossa atenção) e o vislumbre de que esse horizonte forneceria e/ou despertaria do universo pessoal, os
temas a serem REPRESENTADOS.
39
PRIMEIRO ATO: SENSAÇÃO
O corpo como uma certeza, uma evidência imediata e materialmente sensível.
O Corpo como lugar. Um centro. Com valor privilegiado, a partir do qual me oriento e defino direções.
O lugar como intermédio entre o indivíduo e o mundo.
Aqui se superpõem, dialeticamente, o tempo externo (o eixo das sucessões, cronológico, profano, o tempo horizontal) e o tempo interno
(o eixo das coexistências, onde tudo se funde, o tempo vertical, o tempo sagrado, a inexistência do tempo). O agora.
O corpo não só como centro, mas como uma verticalidade, um
eixo. Símbolo de um alinhamento especificamente humano, de
uma interação de funções: sensações (vindas do exterior ou do interior), emoções e sentimentos, funções mentais (inteligência
intelectiva/ intuitiva).
É a casa, garantia de permanência diante de um mundo em constante mutação, difícil de apreender.
É lugar do olhar, de um ponto de vista a partir do qual se determina o próximo e o distante
É o lugar de um alguém que olha... percebe, elege, seleciona, recolhe fragmentos que se apresentam, organiza-os, significa-os,
desvelando-os e desvelando-se.
O olhar define a intenção e a finalidade da visão. E o “ver” muda de acordo com as mudanças dos estados de consciência.
Ao mesmo tempo o corpo entra em contato com o mundo, faz a intermediação, a troca.
A
brange a possibilidade de um deslocamento sobre uma extensão ilimitada, é viajante, trilha caminhos, é aberto, pronto a partir
em qualquer direção. Direções várias. Todas qualitativamente diferentes. Abrange a possibilidade de transição e de passagem de um
ponto a outro.
É o lugar do observador imparcial. Do observador imanente e transcendente. Da inteligência que transcende o âmbito do particular, do
material sobre o qual versa o conhecimento sensível e pode apreender o universal, o abstrato, a totalidade do real, o espiritual.
Do observador que vê de cima, vê a distância como contigüidade física entre ele próprio e os outros numa mesma extensão, vivendo
com a intensidade de suas inter-relações. É o lugar da ação.
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Eu ando pelo MUNDO prestando atenção em cores...(Adriana Calcanhoto)
Em linhas, formas, ritmos...
“Queria cantar em desenhos... essa terra.”
41
SEGUNDO ATO: Imagem (o que)
Anos depois, a IMAGEM (HORIZONTE 360º) gerada anos antes e alimentada por outras várias vivências (sensações, percepções,
conceitos e intuições) acorre à tão ampla proposta do Estudo da Paisagem através das várias técnicas do Desenho.
A Paisagem é concebida como o entorno. O circundante, a partir de um “ponto fixo, em constante deslocamento”. Tudo o que forma o
mundo exterior num determinado momento da minha percepção (seja o meio natural, artificial ou humano) considerando os seus vários
níveis de significado.
A linha circular que delimita o campo da nossa percepção pode estar a diferentes distâncias. Círculos concêntricos. Em diferentes
níveis, numa espiral.
Cada objeto e o seu contexto é um horizonte. A superfície de cada objeto também é, em certa medida, horizonte.
À IMAGEM do HORIZONTE 360º está implicitamente associada a IMAGEM do EIXO.
Numa primeira aproximação a ela desenvolvi uma série de desenhos e gravuras tendo como referência pontos eleitos no meu entorno,
na cidade, que alinhados como estão, definiam um eixo:
- Horizonte 360º - círculo 10 – Norte “ O HORTO”
- Horizonte 360º - círculo 6 – “A TORRE”
- Horizonte 360º - centro – “marco zero”
- Horizonte 360º - círculo 11 – Sul “ZOO”
Nos desenhos e gravuras que apresento como dissertação de mestrado, a imagem persiste. A aproximação á IMAGEM abrange
representá-la através do registro de vários instantes de constantes e contínuos DESLOCAMENTOS em direções várias.
A IMAGEM É O CAMINHO.
42
O deslocamento espacial, o passeio, a viagem, a peregrinação, é um movimento em busca de um centro, exterior e interior. O meio
entre os dois.
Uma busca que procura singularizar-se como pesquisa artística e produção plástica.
O desenho.
Um lugar de resistência ao ritmo acelerado da vida, à velocidade, via um acréscimo de consciência no agora.
“Estar entre” na vida e no fazer desenho.
As várias seqüências foram colhidas a partir da observação e da memória, espontaneamente e na maioria das vezes em movimento.
Desenhar sob essas circunstâncias redimensiona fronteiras. O contato com a natureza, a quebra da rotina e as exigências de percepção
e apreensão rápidas aumentam a intensidade da experiência.
A prática é um símbolo, suporte e registro de uma viagem interior/exterior.
Cada oportunidade, cada desenho, pode ser auxílio poderoso para esse movimento, seja pela influência espiritual, seja pelas
experiências materiais vivenciadas.
Caminhando e desenhando vivencia-se um processo de significação das coisas no espaço. O mundo interior projetado no exterior. O
mundo exterior impressioando o interior. O mundo se abre inteiramente à nossa interpretação. Caminhando pelo mundo e pela prática,
projeto neles consciência e significado.
A prática do desenho é ascese. A prática do desenho como uma forma de cultivar conscientemente um estado interior de
disponibilidade de abertura para a vivência poética.
43
TERCEIRO ATO: REPRESENTAÇÃO (Como)
Como fazer para representar uma imagem?
Vai-se à fonte. Pela ponte.
O sentimento é a ponte que conduz do imaterial ao material. (Kandinsky).
O pensamento é a ponte que o corpo constrói a fim de che
g
ar ao ob
j
eto do seu dese
j
o.
(
d’aprés Rubem Alves
)
A ponte é a técnica. O conhecimento.
44
A representação é o momento da construção concreta das imagens.
É hora de transformar em ato o que é potência. Dar forma à matéria.
45
Para construir é preciso laborar. Construir traz implícita a noção de intenção (faísca): querer mudar, transformar, e o que é mais
importante, antever. Antes da ação eu imagino. Por exemplo, vou tirar daqui e pôr ali. Avalio as possibilidades. Escolho.
46
Teoria e Prática andam juntas. Quando você pratica não dispensa o teórico. Quando teoriza não abstrai a prática. (
Evandro C Jardim)
47
Desenhar/ Gravar é um ofício. É um trabalho manual.
Representar implica o embate com a matéria.
Lidar com a matéria ensina.
Cada matéria tem um tempo próprio. Impõe limites que é mister respeitar. Não dá pra se impor a ela.
Há que se conversar. Esse diálogo nasce da empatia que se tem com os materiais. O papel amassa, rasga, suja. A pena de caniço
obedece mal à pressão. A argila precisa secar até certo ponto para ser queimada. Precisa ser trabalhada corretamente para se
sustentar... O metal pode amassar ou vincar de forma precisa, exige um tempo determinado para que um mordente determinado escave
nele uma linha... Estamos submetidos à rígida disciplina que essas inexoráveis limitações impõem.
Elejo o eixo em torno do qual vou me mover. A partir do qual vou buscar direções. Uma plataforma a partir da qual me lançar ao contato
com o mundo “sem o risco” de me perder.
48
Inspiro
Expiro
Inspiro
Expiro
Inspiro
Expiro
Agora
Estou aqui...
Não percam o agora.
Porque, se não o sabem, disto é feita a vida, só de momentos.(Jorge Luís Borges)
49
Uma atitude meditativa.
Exponho-me então como observadora, adotando uma postura – a de estar simultaneamente atenta
a mim mesma, ao mundo e à obra em processo.
Vou ao encontro dessas realidades e ao mesmo tempo diante delas é necessário me recolher, me “retirar”, silenciar, fazer meu espírito
permeável ao que “vejo”, deixar-me penetrar, concentrar-me para criar espaço afim de que essas realidades falem.
Aproximando-me sem me aproximar. Mantendo distância toco a natureza das coisas que são segredo com o respeito exigido por elas.
50
O acesso ao
Real é via intuição.
Ele não se entrega à invasão intelectual.
51
O desenho é disciplinador. Não uma disciplina imposta, mas uma disciplina procurada. Não dá pra ficar esperando...
52
Do mundo, o alimento, cada vez mais sutil: comida e água, ar, e
as impressões (sensações, idéias, emoções).
A inteligência do corpo, da mente e do coração trabalha e elabora essa matéria prima. Ilumina-a.
I IMAGINA.
Essa mesma inteligência dirige a ação (o desenhar) para a sua meta, para o seu fim.
(d’aprés Alceu Amoroso Lima/ d’aprés Luiz Jean Lauand d’aprés Tomás de Aquino).
A consciência se amplia.
53
Inspiro impressões.
Expiro desenhos.
Num movimento contínuo.
Num diálogo estabelecido com a natureza.
Numa troca...
“Ela nos dá o que ela tem e nós devolvemos quem somos.” (
Evandro C Jardim)
54
O desenho é gesto – percurso da mão. Imediato reflexo do pensar, do sentir, reflexo corporal.
Registro gráfico do instante, às vezes simultaneamente sentido, percebido, concebido, intuído.
Explicita com nitidez descarada o seu ser: é fusão e coesão, condensação e síntese, que acontece no espírito e se manifesta.
É o recurso mais elementar e imediato para manifestação de estados (silêncio, calma, alegria, atenção...) voluntariamente procurados.
55
A linha, num rápido, irrevogável e irreversível golpe de instrumento (lápis ou pincel...), é elemento de decisão. A seleção de algumas
linhas essenciais é instintiva e/ou intuitiva.
Daí a vitalidade do desenho que me atrai. Nele fica registrada a vida. A vibração da possibilidade de escolha que existe em cada
instante. Cada instante é relativamente indeterminado.(
d´après Ortega y Gasset) A realidade do desenho vacila a cada instante entre
várias possibilidades de ser.
56
A linha transcende o contorno (estático) e tem potencialidade de sugerir movimento (dinâmica). Não só a representação do
movimento
do objeto que se move, como também no sentido estético de possuir um
movimento autônomo próprio. A linha é um rio, flui, tem
sentido e direção, massa, luz, e convenientemente organizadas resultam em
ritmo e proporcionam sentimento rítmico.
57
Ainda, em outra medida, define e sugere
espaço. Desencadeia tensões.
A linha pura, modulada, sugerindo formas; ou as várias linhas traçadas, adensadas em combinações rítmicas, reagem umas às outras e
ao espaço infinito, ilimitado, do papel. O vácuo é preenchido. O caos é organizado.
O desenho avança para assumir o sentido de projeto.
E, ainda além, de desígnio metafísico.
Um percurso.
58
Desenhos expeditivos.
Desenhos escrituras. Uma caligrafia.
“Desenhos são para serem lidos que nem poesias”.
(Mario de Andrade – Do Desenho)
59
O olho, em geral intermediário, guia dos nossos passos, dos nossos movimentos comuns (...) ao desenhar assume um certo comando
alimentado por nossa vontade. O olho deve olhar, deve
querer para ver.
Essa visão deliberada usa o desenho como
meio e tem o desenho como fim. É preciso um esforço de atenção, uma atenção voluntária,
para esvaziar-se do já conhecido, para deslumbrar-se com o que jazia sob a superfície. É essencial ao desenho a vontade continuada,
pois ele exige a colaboração de aparelhos independentes que estão sempre tendendo a resgatar os automatismos que lhe são próprios.
O olho quer vagar, a mão arredondar, tomar a tangente; a cabeça, voar em pensamentos,
(...)pensamento a mil por hora,
tormento a todo momento.
que pensa
(...) sem o meu consentimento (...)
(Arnaldo Antunes)
o coração absorver-se em emoções outras que não as do agora.
Para garantir a
liberdade do desenho, pela qual poderá realizar-se a vontade do desenhista, é preciso se desvencilhar das liberdades
locais. É uma questão de governo... (d’aprés Paul Valery)
“Não se pode ter menor ou maior senhoria do que a senhoria de si mesmo”. (Leonardo Da Vinci)
60
Desenhar requer um estado mais
desperto. A atenção deve supervisionar a cada instante o curso natural dos atos, evitar a
sedução
da curva que se pronuncia... (d’ après Paul Valery)
É preciso manter um
tônus, manter-se desperto, estar atento (ao dentro e ao fora).
61
Assim como para o bem, não há receita para o belo. Uma ética ou estética que imponha reclusão contínua de nosso arbítrio num
sistema fechado de valorações é perversa.
Antes de cada nova ação devemos renovar o contato imediato com o valor estético em si, “em pessoa.”... Para impingir um caráter de
“belo”,
qualidade delicada e volátil, a um ato, à prática artística, ao desenho em questão, é preciso que estejamos exercitando a
intuição viva e sempre nova do “perfeito” (a intuição da plenitude).
(d’aprés Ortega y Gasset)
62
O Desenho é
- Princípio (princípio amoroso, aquele que leva alguém a se afetar, sentir afeto por uma determinada coisa no mundo exterior, aquele
que coloca em diálogo o mundo exterior com o mundo interior, como uma terceira força que coloca dois pólos opostos e
complementares em diálogo)
- Meio (como meio expressivo – instrumentos, procedimentos, técnicas)
- Fim (uma linguagem autônoma, como uma ação que tem um fim em si mesma, como manifestação poética)
“Sendo fim também és
meio e começo,
norte e sul, direito avesso
Você me seduziu desde o início” (Itamar Assunção)
Pegou o pulso
Fundamental
Reproduziu
Batendo junto
batendo igual (Luís Tatit)
63
Desenho gravura.
Desenho.
É também, quando trabalhado através da gravura, estudo mais preciso e detalhado do fato concreto (físico), da realidade (visível ou não)
sob observação. Recorrendo à gravura vejo com mais clareza e precisão os elementos do desenho. Ela impõe um outro tempo. Tudo
pode ser feito em etapas: as linhas, as massas, as hachuras, as sombras ou os volumes sendo construídos, a luz sendo reservada ou
sendo reaberta... Posso pensar e decidir sem pressa, como vou fazer. Possibilita a retomada e o exercício de uma apreensão regular e
mais pausada.
64
Nesse “esforço” de atenção para estar presente, com o olho, com o olhar, com o corpo todo e com a alma, como acessórios, como
órgãos de mira, de regulagem, de focalização... nesse embate, temos vislumbres de quando não haverá mais tempo.
65
E o fim de nossa viagem será chegar ao lugar de onde partimos. E conhecê-lo então pela primeira vez.
(T. S. Eliot apud Rubem Alves O Retorno é Terno)
Porque a linha é um rio, flui, tem sentido e direção.
A linha é um rio e “Por mais que eu me seqüestre, aquele rio me retoma, e começa a desenhar-se na lembrança seus contornos
imprecisos (d´après E. Santana)
66
“Aquilo que é bem dito por outro é meu”. (Sêneca)
67
DESENHO
Quem lhe deu o destino
e a graça de assim ficar
com o tempo da eternidade
assim suspenso (sustentado) no olhar?
Aquele instante divino,
não importa se em tinta ou carvão,
agora em traços transcrito
gesto de amor, pela mão
Não se repete na vida
a hora clara existida
livre de tempo e dor (ipsis literis)
Perpetua-se na matéria, visível,
nacos de mistério, de indizível,
Sobrevive da vida a cor
(d’aprés Cecília Meirelles)
69
HORIZONTE 360º - CADERNO DE DESENHOS
DESLOCAMENTOS
CAMINHO DA PRAIA
RIO PREGUIÇA
PERCURSOS NO INTERIOR I e II
VISTAS DA MONTANHA
LITORAL
CAMINHO DA PRAIA EM CORES
PÉ, PASSO, A PASSO, COMPASSO...
71
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Paulo de 9.7.2005 a 28.8.2005/ Curadoria de Cláudio Mubarac, Apresentação de Marcelo Mattos Araújo, Textos de Cláudio Mubarac, Aracy Amaral e
Alberto Martins, Ensaio fotográfico de João Musa- São Paulo: Pinacoteca do Estado, julho de 2005
Artigo Internet
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Dicionários
BUARQUE DE HOLANDA, Aurélio. AURÉLIO - Dicionário Básico da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1988.
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REY, Alain. – Dictionnaire de la Langue Française. Montréal, Canada: DICTIONNAIRES LE ROBERT, 1998
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