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“viver é achar os meios para realizar o programa que se é. A técnica vai engenhar-se, construir-se para executar a tarefa que é a vida.
Vai conseguir, claro está, em uma ou outra medida, que o programa se realize.” (Ortega y Gasset)
A vivência e a busca desenharam-se em diversas direções. (prática de sumi-ê, tai chi, o grupo de estudo e práticas gurdjiefianas, yoga,
prática com teatro de bonecos, prática do ensino de desenho em atelier, oficina de artes com crianças, leituras e estudos filosóficos, C.
G. Jung, religiosos, a maternidade, a educação dos filhos, a relação conjugal... ).
Alguns anos depois, com relação à orientação e continuidade da minha formação nas artes, fui ao reencontro do Prof. Evandro C Jardim
e do seu ensinamento, no atelier Experimental de Gravura Francesc Domingo, no MAC/USP, e no curso de desenho da Paisagem e da
Figura Humana, na graduação da ECA/ USP.
As informações comunicadas e a metodologia empregada incidiram sobre mim de forma iluminadora e fundamental. Legitimaram e
ajudaram a nomear o intuído e inadequadamente questionado. O valor da dimensão artesanal da arte, do contato íntimo e intenso com a
natureza, da história da Arte, do passado, como fonte variada de valores que repousam dispersos na obra de vários mestres, estudada a
partir do atelier, a partir do olhar de quem faz ou quer fazer, um conhecimento a ser atualizado a cada ato nosso, veículo de uma força
vital que nos alimenta; e principalmente do ouvir-se, do ir ao encontro de si mesmo, da dimensão espiritual desse fazer, enfim.
Definitivamente apresentaram-se como uma bússola no caminho de ampliação da consciência de mim mesma, no meu fazer,
abrangendo questões de todas as ordens, das práticas, instrumentais, operacionais ou metodológicas, às técnicas, históricas,
psicológicas, filosóficas, ontológicas e espirituais. Acrescidas dos títulos que vão decorrendo da bibliografia básica sugerida, fornecem
reiteradamente subsídios para desencadear a prática, refletir sobre ela e incitar nova ação, num processo que se concebe sem limites e
passível de se dar em vários níveis enquanto estivermos disponíveis e atuantes.
Por afinidade coloco-me voluntariamente sob a influência de uma visão que torna o projeto de construir uma obra nas artes plásticas,
que apenas se esboça, muito mais real e tangível para mim, apontando a direção e o caráter dos esforços que necessito empreender
para realizá-lo.