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situações da perspectiva, estou pensando no modo como se relaciona com todos
estes dados. A luz então é uma coisa primordial, ela é a natureza da imagem, ela
é a fonte de tudo o que vemos, e a luz e a sombra estão relacionadas com a
origem da pintura, as silhuetas, enfim, toda esta história é a história da
representação, que eu não encaro como a verdade, mas como uma pergunta.
Este trabalho para Vitória [ instalação para o Museu da Vale do Rio Doce], por
exemplo, é para um espaço muito grande e tem uma entrada muito forte de luz e
serão colocadas umas portas falsas que irão obliterar esta luz, e este trabalho
será só a entrada de luz como se não houvesse a parede, como se existisse um
buraco e esta luz entrasse forte por esta abertura e se chamará “Vaza luz”. Uma
das portas é a real, onde se vê a paisagem, mas vou colocar um vidro para as
pessoas não passarem e será um vidro com controle de luz. Ela vai ser uma vista
igual à esta [mostra na maquete] e esta vista será feita como um backlight da
imagem da paisagem e as outras portas serão como cópias, todas elas serão
como réplicas da porta real e terá estas projeções perspectivadas da luz no chão
por gobos, como se fossem reais. Isso vai criar toda uma falsidade da visão.
A luz que passa pela porta real também será controlada?
Vai ser controlada também, a passagem das pessoas também, porque as pessoas
não poderão passar por esta porta, e eu acho que a luz também, porque estou
gostando da idéia de usar um artifício na frente da porta, porque é claro que a luz
natural vai mudar o ambiente, vai ficar dia, noite, vai chover. Mas eu ainda não sei
se eu quero isso ou se quero que seja como um motivo, como vista, por isso eu
tenho que pôr um vidro e deixá-la emoldurada. Assim as pessoas irão vê-la como
um motivo, apesar dos outros pontos de vista da paisagem externa. E lá na outra
parede lateral, aquela escada não existe e a porta também não, é uma parede
cega, eu vou mandar construir uma escada igual àquela [mostra na maquete] que
abre para um espaço cego, este lugar está cheio de espaços cegos, e lá nesta
porta é que se origina um filme, será uma ação que ocupará toda essa parede de
10 metros, onde sairá o dia pela porta depois a porta engole o dia e sai a noite.
Então tudo se relaciona com o que está lá fora e entra, vaza para dentro do
edifício, por isso o nome “Vaza luz”, mas a exposição toda se chama “Ficções”,
são ficções da luz.
Então é este trabalho que eu estou descrevendo agora, porque ele tem que ser
apresentado para a produção, isso são hipóteses de realização, porque nada
disso está feito ainda, tudo existe como anotação. Essa é uma imagem que eu
tomei quando estive lá, a outra imagem do dia saiu de uma projeção anterior sobre
uma empena de um trabalho chamado “Mil dias em uma noite” de 2003 [“Mil e Um
Dias em Uma Noite” de 2003 foi uma projeção de 26 x 10 metros, realizada sobre
a fachada lateral (empena) do Hospital Matarazzo, na cidade de São Paulo], então
é uma retomada deste trabalho que só foi mostrado durante uma noite e os outros
são novos e nascem da provocação do lugar ou seja, daquilo que me interessou
mais no lugar e para fazer vencer toda essa grande extensão. A única coisa que
tem perspectiva são as luzes, que estão representadas em perspectiva no chão do
espaço. É com a luz que começam as estratégias que são as últimas coisas que
eu tenho feito e que tem me implicado, como no Palácio Cristal em Madrid, que no
caso da perspectiva em si, só tinha perspectivado a palavra “luz” que foi no domo.