BANDEIRA G. C. M. Rituais Associados à Colheita de Milho-verde na Aldeia dos Índios Gavião Kỳikatêjê 75
né e tornou falar de novo pra tirar milho, e tiraram o milho e trouxe, botaram
do mermu jeito, lá no meio.
Aí foi o “gavião” agora que fizeram as peteca pros da turma dele não joga,
vai lá entregar na mão, aí começa a jogar. Aí com isso termina.
Quando terminar aí que vem, aí ele falou assim: nós vamo inventar agora.
Rapaz, nós vamo inventar agora é “brincadeira de peixe”, que três tora né, é
mais bonito. Tudo bem!
Aí começa, aí de manhã cedo todo mundo vai pro garapé. É frio! Aí nós
vamos banhar, aí ele chega, aí ele falou: olha pessoal vocês divide “peixe”,
“raia” e “lontra”, e não pode se misturar, é uma disputa, tem que correr
mermu. Quem ganhou, ganhou, quem perdeu, perdeu!
Aí eles vão correr né, com torinha pequena. Eles chegam e vão tirar a palha
de côco [babaçu], aí vão fazer quatro casa [estilo tapiri] no centro da aldeia
– quem nem aqui tem o pátio [fez um rabisco em papel], aí vão fazer uma
aqui, outra aqui, outra aqui e outra bem aqui, são quatro casa que eles faz.
Aí de tarde eles começam a cantar, cortam varinha desse tamanho [fez um
gesto com as duas mãos mostrando o tamanho aproximado de
comprimento das varinhas], aí tira três e deixa. Aí vão cantar e dançar
também, e começa a corrida dentro do pátio... com varinha mermu.
Aí quando termina aí tem aquele tora de najá que chama, é, aí eles
começam fazer, aí vão pro mato só um dia, quando chegar vão dá caça pra
fazer berarubu, aí vão comer depois da corrida. Aí disso aí termina, isso é
só um.
Aí terminou, aí falou aí pronto, agora é com uma semana aí alguém cortar
tora dessa altura aqui [fez o gesto com a mão esquerda, mostrando a altura
da tora], chama sumaúma que chama. Aí derriba uma, aí vão cortar três. Aí
vai cavar, deixa tudo pronto! [...]três pedaço. Aí que vão buscar essa palha
que eu tava falando! Aí ele disse, já corto a tora, aí nós vamo caçar palha
primeiro! Aí vai todo mundo, se num dá né, vai ter que ir pelo menos cinco,
dez pessoa buscar palha. Dái traz, daí as pessoa começa a fazer assim
[apontou para os desenhos que tínhamos feito anteriormente, das máscaras
Tep Krã]. Aí ele pergunto, ta tudo pronto? Aì ta tudo pronto!
Aí nós vamo pro mato, aí quando chegar vamo tirar palha lá no mato,
quando chegar começa a fazer, que é palha de bacaba que é mais fácil né.
Aí vamo caçar, aí passado uma semana eles chegam, aí já vem trazendo a
palha de bacaba. Aí eles chega e começa a pintar.
Aí quando termina tudinho a pintura, aí cada homem vai pegar carne de
caça pra dividir pra dá pra muié fazer berarubú, aí vão dá. Aí quando
terminar, aí já pega a máscara e já vou sair com ela, pra dançar... aí todo
mundo vai pegar sua máscara, só que eu vou ficar lá no centro [ele é
Lontra] e “peixe” e “raia” fica dançando ao redor assim.
É como eu tava falando, de primeiro o pessoal aqui não tinha horário, mas
aqui pelo horário né eu tiro uma base, de começar das sete, aí termina dez
hora.
Aí das dez tem mais uma dança, com maracá as pessoa dançam também,
dança de “peixe” mesmo”.
Aí depois o cacique manda as muié pra roça. É mais com as muié a parte
da roça. Aì vai tirar batata, inhame, banana, macaxeira, tudo... mudubim,
milho,... Aí nós, homi, ele manda, diz: Pessoal vão pro mato, vão caçar,
matar porco né, viado, jabuti... aí a gente traz. Aí as pessoa vai fazer
berarubú, muié vai fazer berarubú, assar batata, inhame também.
Aí as muié vão juntar tudinho e vão botar em cada casa, porque quando é
na época do verão o garapé seca, aí a gente vai pra pegar peixe e tem
aquele poraquê lá na beira, e não deixa nós pegar peixe, é assim.
Aí então a gente pega batata, caça , tudo... aí vamos botar em cada casa.
Aí elas vão pintar com urucu, cortar cabelo, pra ficar tudo pronto, né. Aí nós
começa a cantar bem cedo, aí as coisa ficam reservado, aí nós faz fogo
grande e começa a cantar direto, só pára pra comer, sem dormir. Aí dança a
noite todinha, até de manhã.