ALMEIDA F. O. B Alfabetização de Jovens e Adultos Saberes Docentes em uma Escola Municipal de Ananindeua-PA 90
ao ministrar aulas particulares em sua própria casa, por não ter com quem deixar os
filhos para trabalhar. Em seguida foi trabalhar como professora voluntária em uma
escolinha de centro comunitário. E, por fim, na condição de professora leiga e, já
decidida a seguir carreira no Magistério, habilitou-se no exercício da profissão por
meio do Projeto Gavião II.
O que mudou em relação à visão da sociedade sobre a profissão de
professor?
Sobre esta questão, a Profª. Maria ressalta a dificuldade do trabalho do
professor em relação à avaliação:
[...] em relação ao professor, eu achei que mudou muita coisa sim [...]
Porque naquela época lá [refere-se à sua época de estudante] não tinha
trabalho nenhum pra ajudar o aluno. Tu tinha que estudar [...] não tinha
nada de trabalho. [...] Tinha que decorar [...] pra você responder na sua
prova. E hoje não. [...] está facilitado muito. E o aluno não se dedica. Então,
por isso que [...] o estudo antigo valeu mais, que hoje tem tanta regalia e o
aluno não se esforça. Por que [...] há tanta repetência? É por causa da
mudança que houve, [...] Eu fui de castigo várias vezes. [...] E hoje a gente
pode fazer isso? [...] se eu fizer isso com um aluno dentro de sala o que é
que vai acontecer comigo? [...] Eu vou perder o meu emprego. [...] Por que
[...] muitas mães quando vem aqui que vê que o filho fica reprovado, [...],
vem diz assim: “[...] Eu não troco o meu estudo antigo por esse agora e o
meu filho está tendo tudo isso e não sabe valorizar aquilo que tem”. [...]
Agora mudou muita coisa, [...], mas esses alunos [...] tem preguiça de ler,
[...], eles querem que o professor já dê a prova só pra eles engolirem. [...]
Eles [...] não sabem aproveitar a nova metodologia de ensino que estão
dando. [...].
No depoimento a seguir, a Profª. Socorro destaca a questão do (des)respeito
do aluno e da sociedade em geral para com o professor:
Eu até acho que era até mais valorizada, na época em que eu entrei, sabe.
Eu vejo assim: o aluno respeitava mais o professor. O que a gente falava
pra eles [...] às vezes era até lei [...]. A gente sabe que hoje está mudado,
que eles estão mais questionadores [...] Mas, eu vejo assim: a gente era
mais valorizado até pela própria comunidade, pelos próprios pais, pelos
próprios alunos. Ah, ser professor, na época que eu entrei, ainda era
maravilhoso! Hoje, a gente sabe que a nossa profissão é difícil, que hoje
não sei se vai chegar algum dia que alguém vai querer ser professor por
tudo isso que está acontecendo [...].
A Profª. Beija-flor, por sua vez, afirma que:
[...] Antes, a gente sentia que o professor em termos de tratamento pessoal
e até em termos também de obediência de aluno, o professor, ele era mais
valorizado. [...] Ainda tinha assim um certo respeito do aluno com o
professor. [...] Hoje, o professor, ele já não é mais visto assim. “É
professor?” [...] Ninguém liga pra isso. Mas, por outro lado, [...] se nós
comparamos a situação do professor hoje com aquela época você vê que
em relação a salário, apesar das dificuldades, apesar da indiferença de
padrão de vida que tem hoje praquela época também, mas hoje eu sinto
que o professor, ele é um pouco mais valorizado. Posso até estar
enganada, mas a minha visão é essa [...] Hoje, surgem novas
oportunidades pra ele. Professor querendo hoje ele faz um curso superior.