Aventura no escuro
OLIVEIRA, Dirceu
Tudo começou quando Rafa viu na TV que cachorros vêem tudo em preto e
branco, muito preocupado com a forma que sua cachorra Frida vê o mundo quis saber
mais sobe o assunto. Seu pai lhe disse. Não se preocupe, os cães sempre enxergaram
desse jeito não sente falta. Em matéria de enxergar você vai aprender um bocado essa
semana. Sabe quem vem passar alguns dias aqui em casa? Seu primo Leandro. – O
ceguinho? - Deficiente visual filho. – Mas será que Leandro vai me reconhecer? Ele não
me vê, faz tempo. Aliás, ele nunca me viu! E nem nunca vai me ver! Ai meu Deus, como
é que a gente brinca com alguém que não enxerga? - Calma Rafa deficiência física limita
a pessoa, mas não acaba com a vida dela. Sempre tem um jeito de vencer esse tipo de
problema. Eu vou te dar uns toques de como agir com ele, para que vocês possam
brincar juntos numa boa. E depois vai dormir porque ele chega logo cedo. Dormir? Com
tantas coisas para pensar. Imagina que Frida não liga de não enxergar colorido... E o
primo Leandro? Como pode reconhecer alguém pelo tato, pela voz, até o cheiro, como o
pai falou? E como vive sem TV, sem ver vídeo games, sem ver livros e gibis... Sem
ver??? Na noite do dia seguinte Rafa já estava bem à vontade com o Primo. Fizeram um
passeio pela casa, fazendo um reconhecimento do lugar. Leandro foi identificando a
posição dos móveis, das portas da direção de cada cômodo... Brincar não foi nada
problemático: Deu para jogar dominó, dama, até para montar quebra cabeça. Não há
diferença na imaginação dos dois e viver aventuras com miniaturas dos heróis da TV que
todos reconheciam com as mãos, mas ninguém tão rápido como Leandro – foi para lá de
divertido. Ouviram música e histórias narradas em disco fitas e CD... Ah! E os livros em
braile do primo? com os dedos ele ia traduzindo os pontinhos em voz alta. Até prometeu
ensinar a linguagem de braile, para que os dois pudessem trocar carta futuramente.
O Rafa até que se saiu um bom guia, o máximo que tinha que fazer era avisar
quando, surgiram degraus, buracos, móveis objetos ou coisas do gênero... De vez em
quando ele se atrasava em passar informações, mas Leandro acostumado a outros
guias ainda fazia piada: - opa não vi o degrau... Quem foi que foi que apagou a luz?
Pregava uma peça atrás da outra: dava trombada de propósito com o Rafa e perguntava
se ele não enxergava por onde andava, lia gibi de ponta cabeça; penteava se em frente
ao espelho e se vangloriava do visual, com pinta de galã...
No dia seguinte saíram pelo bairro guiado por Frida foram parar em um lugar
desconhecido e abandonado.
Se você visse o que eu to vendo... Parece cenário de filme de terror. Um
terreno abandonado grama alta... Um velho galpão de janelas quebradas. – Hum.. Pela
discrição parece armazém ou depósito abandonado. É de dar calafrio. Fuçaram tudo.
Andaram por todo o subterrâneo, tateando no quase escuro. O quase era representado
pela única luz que restava: A da porta onde terminara a escada por onde desceram.
Estava justamente pensando nisso quando,... Bam! ... E o breu total. – que isso? Lê to
cego também! To cego também! Socorro! - Cego, mas como? – fez um barulhão eu to
com os olhos abertos, mas não enxergo nada! – então foi à porta batendo! Ta cego coisa
nenhuma.... Ta é tudo escuro. Ufá é mesmo só pode ser, mas como vamos sair daqui.
O... Coloque a mão no meu ombro eu to mais acostumado à escuridão, deixe que eu
guie a gente, vem por aqui. Pise devagar, experimente o chão. Estique a outra mão, vai
sentido o que tem na frente, dos lados. - Que isso, um robô congelado??? Ponha a mão,
Leandro. Tem cabeça, nariz, boca, olhos, tudo... Será um cadáver embalsamado? Ta em
cima de alguma coisa fria... Mármore... TÚMULO! É UM TÚMULO... Teve que esperar
pela resposta, pois Leandro não conseguia parar de rir. O ombro dele pulava de tanto
que ele ria. È uma estatua, meu. E está em cima de um pedestal de mármore... Foi bom,
você ter achado o figurão ai, porque me lembro que tinha uma estatua bem a esquerda
da porta, que, portanto está aqui. Rafa já estava abraçando o primo pulando e gritando
de alegria.