postulada pelo Círculo de Bakhtin
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A terceira perspectiva de leitura, ao imbricar as duas primeiras, acredita na interação
entre leitor e texto, promovendo o diálogo e a construção de uma compreensão e de uma
resposta ativa ao que está exposto.
, definida, também, como forma de interação. Logo,
afirma-se que a substância da língua não se constitui por um sistema abstrato de formas
linguísticas, mas, sim, pelo ato social, por meio de enunciações, haja vista que a interação
verbal é a “realidade fundamental da língua.” (BAKHTIN/VOLOCHINOV, 1992, p. 123). Os
sujeitos são vistos, então, como construtores sociais, pois é através da interação, de diálogos
entre os indivíduos que ocorrem as trocas de experiências e de conhecimentos, estabelecendo-
se as leituras possíveis em função dos contextos determinados pelas enunciações.
No processo de alternância dos sujeitos do discurso – leitor e texto, ou seja, no
dialogismo, verifica-se, segundo os pressupostos do Círculo de Bakhtin
(VOLOCHINOV/BAKHTIN, 1926/1976; BAKHTIN/VOLOCHINOV, 1992; BAKHTIN,
2003), a primeira peculiaridade constitutiva do enunciado, aqui tomado no sentido de texto
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Os primeiros estudos a respeito da responsividade aconteceram no texto Discurso na
vida e discurso na arte, de 1926, publicado em 1976, em versão de língua inglesa, com
tradução não oficial por Carlos Alberto Faraco e Cristóvão Tezza, no Brasil (MENEGASSI,
2008). Nesse texto, vê-se o discurso verbal como algo não autossuficiente, pois nasce de uma
situação pragmática extraverbal e mantém a conexão mais próxima possível com a situação,
ou seja, um enunciado responde ao outro, sendo influenciado, diretamente, pelo contexto
enunciativo e pelas condições de produção, como temática, finalidade, interlocutores, gênero
etc. Desse modo, é necessária a atenção para três elementos: “1) o horizonte espacial comum
dos interlocutores [os saberes de âmbito social]; (...) 2) o conhecimento e a compreensão
,
de modo amplo, como unidade da comunicação discursiva: a possibilidade que os
participantes possuem de responder aos discursos manifestados. Dessa forma, o leitor, no
diálogo com o outro, compreende o que é dito e adota uma atitude responsiva ativa, podendo
concordar ou discordar, completar, adaptar o discurso. Entende-se, então, a compreensão e a
resposta como características do dialogismo nos enunciados concretos.
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Segundo Faraco (2006), o Círculo de Bakhtin referiu-se a um grupo de intelectuais, do qual faziam parte
Bakhtin, Voloshivov e Medvedev, nomes conhecidos no Brasil, além de outros. A escolha pelo nome de Bakhtin
foi atribuída, posteriormente, pelos estudiosos de seu trabalho, pois o próprio grupo não a utilizava. Segundo
Brandist (2006), a visão central do grupo era que a produção linguística é essencialmente dialógica, formada no
processo de interação social (“The key views of the circle are that linguistic production is essencially dialogic,
formed in the process of social interaction”. BRANDIST, 2006, on line), dando origem, assim, à concepção de
linguagem como interação, discutida no país pelos estudos em Línguística Aplicada.
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Neste trabalho, por questão prática, mesmo sabendo das discussões realizadas sobre suas diferenças teórico-
metodológicas, os termos enunciado e texto são considerados correspondentes.