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Nesse novo contexto, tem-se, então, o surgimento da obra do médico francês
Philippe Pinel, baseada no isolamento e tendo por finalidade executar regulamentos
de polícia interna e observar a sucessão de sintomas para descrevê-los, pois não
interessava localizar a sede da doença no organismo, mas, simplesmente, atentar
para os seus sinais e sintomas, a fim de agrupá-los segundo a sua ordem natural,
com base nas manifestações aparentes da doença. Sendo assim, o gesto de Pinel,
ao liberar os loucos das correntes, não possibilitou a inserção desses em um espaço
de liberdade, ao contrário, criou práticas centradas no baluarte asilar, estruturando
uma relação entre medicina e hospitalização. Nesse sentido, é preciso evidenciar
que “o internamento adquire credibilidade médica e se torna o destino da loucura,
isolando aquilo que ela representa: perigo social e doença mental” (CORREIA,
2007b, p. 21).
A institucionalização da loucura tornou-se, assim, uma regra a partir do
entendimento de que ela afasta de forma organizada “as influências maléficas,
morbígenas, que causam e agravam a alienação” passando, dessa forma, a ser
vista como o “instrumento de cura” (TORRE, AMARANTE, 2001, p. 75). No entanto,
o problema das instituições psiquiátricas revelava uma questão das mais
fundamentais: a impossibilidade, historicamente construída, de trato com a diferença
e os diferentes (AMARANTE, 1998, p. 48).
O hospício, através do isolamento terapêutico, tinha como objetivo permitir a
um só tempo a possibilidade da cura e do conhecimento da loucura. Esse
isolamento seria, por sua vez, simultaneamente um ato terapêutico (tratamento
moral e cura), epistemológico (ato de conhecimento) e social (louco perigoso, sujeito
irracional), uma vez que:
A história do manicômio mostra como se criou o processo de lidar
com o sujeito alienado, alheio, estrangeiro a si próprio, que não é
sujeito. No manicômio coloca-se em funcionamento a regra, a
disciplina e o tratamento moral para a re-educação do alienado,
através do que se torna possível a construção do conceito de uma
subjetividade alienada, desregrada. Ao mesmo tempo, a instituição
torna-se o lugar de tratamento e a institucionalização, uma
necessidade (TORRE, AMARANTE, 2001, p. 75).
Correia (2007b) afirma que o sujeito uma vez institucionalizado, logo era
diagnosticado, classificado e submetido ao controle e à disciplina determinada pelos
médicos e funcionários que ali atuavam. Ele era vigiado constantemente, devendo