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Porém, é importante entender que a fronteira não é uma rotura rígida e
intransponível. A partir do conceito derridariano differance conforme trata
Woodward (2000) e Hall (2001) assumimos a posição de que a fronteira,
definidora da identidade, é fluída, o que implica em tornar qualquer percepção
que o grupo tem de si, como mutante. A differance adia uma significação
absoluta porque o processo diferenciador manifesta esquemas diferentes que
respondem a contingências de determinados grupos em momentos diversos. O
caráter essencial definidor de um grupo é um construto que só existe na
subjetividade do mesmo, tecido através de uma narrativa identitária, ancorada
nas necessidades e no esquema das relações de poder que envolve o grupo
em uma situação pluricultural
.
havendo semelhanças culturais pode haver identidades distintas – como caso dos Pathans. A
crítica nesse ponto recai, portanto, na impossibilidade de correspondência entre unidade
cultural e identidade étnica; 02 – Acreditar que o isolamento geográfico e social esteja na base
da diversidade étnica. A crítica de Barth pontua que as fronteiras étnicas persistem apesar do
fluxo de pessoas que as atravessam. Além disso, as fronteiras assumem importância vital, para
a manutenção da identidade étnica. Dessa forma, “A interpenetração e a interdependência
entre os grupos não devem ser vistas como dispersões das identidades étnicas, mas como
condições de sua perpetuação” (POUTIGANT & FERNAT, 1998, p.62). No estudo de um grupo
devemos evitar percepções isolacionistas (isolat social), defendido pela antropologia cultural
estadunidense, em favor de considerá-los como parte de um sistema mais amplo que inclui
vizinhos; 03 – Roto étnico igual um modo de vida igual um grupo real de pessoas. Critica-se
aqui a atitude do estudioso em reproduzir a percepção que o grupo estudado tem de si
enquanto grupo singular marcado por hábitos próprios, tais como a língua e outros
comportamentos. Esses critérios assumem o papel de delimitadores da substância ou essência
que define um grupo. O estudioso acaba desenvolvendo cumplicidade com certo sentimento de
homogeneidade e singularidade cultural. A crítica combate a idéia de que uma identidade
implica no somatório de atributos culturais, desconsiderando a circunstâncialidade dessa
identidade. Em geral, Poutignat e Streiff-Fenart afirmam que a ênfase analítica dos estudos
identitários recai sobre aspectos dinâmicos e contrastivos ao invés de preocupações do tipo
“substâncialismo cultural”. A forma toma lugar da essência, “processo mais importante que
estrutura” (POUTIGNAT & STREIFF-FENART, 1998, p.62-64).
Katryn Woodward aponta que relação fixa entre significado e significante defendido por
Saussure e Strauss foi questionada por autores como Derrida. O significado deixa de ser
estático: “ a relação entre significado e significante não é algo fixo (...) O significado é
produzido por meio de um processo de deferimento ou adiamento. O que parece determinado
é, na verdade, fluído e inseguro, sem nenhum ponto de fechamento (WOODWARD, 2000,
p.53). Tomamos a identidade como representação que constrói categorias, portanto
significados, amparadas em uma lógica binária. Nesse sentido, compreendemos que a relação
com a outridade e o processo diferenciador sofre transformações que não nos permite albergar
a identidade étnica japonesa ou qualquer outra expressão identitária em termos
substancialistas. Assim, a percepção dos sujeitos sobre si mesmos deve ser analisada
enquanto construto mutante. Se as fronteiras e a lida com o outro estão condicionados à
contingências, a identidade, como o significado, é maleável. Woodward nos diz que em vez de