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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
INSTITUTO DE FÍSICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FÍSICA
Amplitudes de espalhamento na
Cromodinâmica Quântica em altas
energias no formalismo de dipolos
João Thiago de Santana Amaral
Tese de Doutorado realizada sob orientação da Profes-
sora Dra. Maria Beatriz Gay Ducati e apresentado ao
Instituto de Física da UFRGS em preenchimento dos re-
quisitos para a obtenção do título de Doutor em Física.
Porto Alegre
2008
Trabalho financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
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Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
Este trabalho é dedicado
A Maria Carmelita, minha mãe.
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Agradecimentos
Nos últimos anos tenho usado menos as palavras, porém não posso deixar de fazer alguns
agradecimentos:
Primeiramente agradeço a Maria Carmelita, minha mãe, a quem dedico esta tese. Uma
mãe formidável, exemplo de força, luta e amor. Obrigado por fazer de mim o que sou.
Agradeço a minha amada irmã Camila, amiga e companheira, por todos esses anos de
convivência, paciência e carinho. Vocês são as mulheres da minha vida. Agradeço ao meu
pai João pelo amor e apoio em todos os momentos, aos meus avós, tios e primos, seres que
tanto amo e que são o que tenho de mais importante na vida.
Agradeço a Maria Beatriz, minha orientadora, pelos ensinamentos, pela amizade e pela
paciência durante esses anos de doutorado. As discussões, as conversas de meio ou fim de
tarde, as reuniões, os seminários, as confraternizações, todos esses momentos foram e são
sinônimos de grande aprendizado para toda a vida. Obrigado pelas oportunidades e temas
de pesquisa oferecidos e pelo ambiente científico construído no GFPAE, favorável em todos
os aspectos.
Agradeço a Stoian Ivanov Zlatev, meu orientador de mestrado, que ajudou a tornar real
a minha vinda a Porto Alegre, não palavras para agradecer pela força incrível que ele
me deu.
Agradeço à minha namorada Cacyara que eu adoro, um anjo que apareceu na minha
vida neste ano. Obrigado pelo seu sorriso, pelo seu olhar, pelo seu carinho, pela paciência,
especialmente neste ano tão decisivo e repleto de em oções. Obrigado por me fazer tão bem
e feliz.
Agradeço a Alan e Samuel, amigos e irmãos, sempre do meu lado na alegria e na tristeza,
desde o início dessa jornada. Simplesmente referências de amizade. Sem eles, tudo seria
muito mais difícil. Agradeço a todos os amigos que fiz no IF, Aninha, Karen (grandes
amores...), as famílias das salas M204 e M208, quantos felizes momentos dos quais sinto
tanta falta, "‘mermão"’ Fábio Bemfica, enfim, todos aqueles que cruzaram meu caminho de
forma tão bela. Agradeço também aos amigos e companheiros do Movimento da Quarta,
nossa, quantas saudades!
Agradeço a todos os colegas e amigos do GFPAE, que contribuíram tanto, e de tantas
maneiras, para a consolidação deste trabalho: Cristiano, Eduardo, Emmanuel, Gustavo,
iv
Mairon, Magno, Victor, Thunder e Werner. Agradeço especialmente ao amigo Marcos
André, um cara fantástico que sempre me apoiou muito desde os primeiros contatos e com
quem aprendi bastante. Um exemplo de amizade e caráter.
Agradeço a todos os que iluminaram de forma tão maravilhosa os cinco meses que passei
na França: os inesquecíveis Alex, Milena, Thalita, Juliano, Marcelo Napa, Stephi, a grande e
também inesquecível Família Lotecolim que tanto alegrou os meus dias, assim como Marie,
a bela, m eiga e iluminada garotinha ruiva. Agradeço a Gregory Soyez, grande amigo e
colaborador, grande companheiro nos bons e maus momentos, e a Edmond Iancu, com
quem aprendi tanto em tão pouco tempo, um ser ímpar e uma mente brilhante.
Agradeço de forma bastante especial a Verinha, uma amiga, um a irmã... o mundo seria
mais feliz se todos fossem metade do que Verinha é. Ela representa muito para mim, e será
assim por toda a vida. Devo a ela a oportunidade de ter conhecido uma turma fantástica
de biólogos, especialmente os amigos para toda a vida, Mateus, Manoel e Lu.
Agradeço aos amigos Célia e Márcio, meus afilhados e (felizmente) amigos inseparáveis.
Sou muito feliz por tê-los ao meu lado. Doze anos de amizade e cumplicidade em todos os
momentos. Amo vocês.
Agradeço a Nisse, Alex, Mauro e Lucas, grandes amigos com quem morei durante alguns
bons anos, não palavras para expressar o quanto foi bom compartilhar o dia-a-dia com
vocês. Nisse, saudades das conversas na cozinha! Não posso esquecer de Michel, grande
parceiro e, assim como eu, grande de Carga Pesada.
Agradeço a Leandro, amigo e parceiro em todas as empreitadas em qualquer hora do
dia, um cara a quem se pode confiar a própria vida. Muito obrigado, meu amigo! Agradeço
também a Adri, mulher de muita força e garra, sempre cuidando dos que estão à sua volta.
Fui muito feliz dividindo o apê com os dois. Aliás, agradeço a Leandro duplamente, pois
além de tudo me trouxe dois presentes: Cacy, minha musa, e Mari, sua alma gêmea, uma
amiga mais que especial, sempre trazendo emoções para as nossas vidas. Beijo, menina!
Agradeço a Domingos, Kátia e Lu Adam, amigos especiais que, apesar dos contatos não
muito frequentes, sempre estão na minha mente e no meu coração.
Agradeço aos meus estudantes pelos desafios e pela grande oportunidade de aprender
com eles.
Agradeço a todos os amigos de Aracaju, todos mesmo. Vocês são a minha base, são
parte de mim. Obrigado por existirem.
Naturalmente, muito obrigado também aos professores e funcionários do IF, que permi-
tiram sempre um ambiente de trabalho formidável. Agradeço também ao CNPq e à CAPES
pelo apoio financeiro.
Obrigado a todos os que passaram pela minha vida, seja por alg uns minutos, seja por
anos. Vocês são parte da minha história.
Resumo
Numa colisão hadrônica em altas energias, a densidade de quarks e glúons dentro do
hádron cresce rapidamente, o que leva também ao crescimento das seções de choque. Esse
comportamento, previsto pela Cromodinâmica Quântica (QCD) , foi revelado experimen-
talmente pela primeira vez através das medidas do es palhamento profundamente inelástico
(DIS) elétron-próton, o processo mais simples que descreve as propriedades da QCD no
regime de altas energias.
No formalismo de dipolos, as seções de choque do DIS p odem ser expressas em termos
da amplitude de espalhamento dipolo-próton, cuja evolução com a energia é descrita pela
QCD perturbativa por meio de equações de evolução não-lineares. A mais simples dessas
equações é a equação de Balitsky-Kovchegov (BK), que consiste em uma aproximação de
campo médio das equações de Balitsky-JIMWLK e cujas principais propriedades são extraí-
das no espaço de momentum. A partir dessas propriedades, desenvolvemos o modelo AGBS
para a amplitude de espalhamento dipolo-próton no espaço de momentum. Esse modelo fe-
nomenológico é utilizado para descrever medidas do espalhamento profundamente inelástico
(DIS) da função de estrutura do próton F
2
. A descrição dos dados mais recentes do DIS é
realizada através do procedimento de ajuste e inclui a contribuição de quarks pesados. Uma
análise similar, usando o mesmo modelo e o mesmo conjunto de dados de F
2
, inclui o efeito
das flutuações no número de glúons, cuja importância foi descoberta apenas recentemente.
Devido à complexidade das equações da QCD para as amplitudes, alguns mo delos sim-
ples de partículas têm sido desenvolvidos com o objetivo de compreender melhor a evolução
e o espalhamento na QCD em altas energias. Na segunda parte da tese, desenvolvemos
um desses modelos, um modelo estocástico (1+1)-dimensional, que reproduz a evolução e
espalhamento na QCD em altas energias, no caso com parâmetro de impaco fixo. Uma das
dimensões corresponde à rapidez, enquanto a outra corresponde ao logaritmo do inverso do
tamanho transversal de um dipolo. O modelo exibe um mecanismo de saturação similar à
saturação gluônica na QCD, assim como todas as características qualitativas esperadas na
QCD, t anto em relação aos aspectos de campo médio como aos efeitos de flutuações com
parâmetro de acoplamento fixo. O modelo se encontra na classe de universalidade do pro-
cesso de reação-difusão, como também esperado para a QCD. As e quações de evolução para
as amplitudes geradas por este modelo aparecem como uma extensão natural das equações
Balitsky-JIMWLK da QCD, nas quais o alvo e o projétil são tratados simetricamente.
Abstract
In a high energy hadron collision the density of quarks and gluons inside the hadron
grows fast , which leads to the growth of the cross sections. This behaviour, predicted by
Quantum Chromodynamics (QCD), was experimentally revealed for t he first time through
the measurements of electron-proton deep inelastic scattering (DIS), the simplest process
which describes the properties of QCD in the high energy regime.
Within the dipole picture, the DIS cross sections can be expressed in terms of the dipole-
proton scattering amplitude, whose evolution with energy is described by perturbative QCD
through nonlinear evolution equations. The simplest of them is the Balitsky-Kovchegov
(BK) equation, which consists in a mean field approximation of the Balitsky-JIMWLK equa-
tions and whose main properties are extracted in momentum space. From these prop erties,
we develop the AGBS model for the dipole-proton scattering amplitude in momentum space.
This phenomenological model is used to describe measurements of deep inelastic scattering
(DIS) of the F
2
proton structure function. The description of the most recent DIS data
is done by the fitting pro cedure and includes heavy quark contribution. A similar analy-
sis, using the same model and the same data set, includes the effect of the gluon number
fluctuations, whose importance has been only recently discovered.
Because of the complexity of the QCD equations for the amplitudes, some simple particle
models have been developed aiming to better understand the evolution and scattering in
QCD at high energies. In the second part of the thesis, we develop one of these models, a
(1+1)-dimensional stochastic model, which reproduces the QCD evolution and scattering
at high energies at fixed impact parameter. One of the dimensions corresponds to rapidity,
while the another corresponds to the logarithm of the inverse of the size of a dipole. The
model exhibits a saturation mechanism similar to the gluon saturation in QCD, as well as
all the qualitative features expected in QCD, concerning both mean field aspects and the
effects of fluctuations at fixed coupling. The mo del appears to be in the universality class
of the reaction-diffusion process, as also expected for QCD. The evolution equations for
the amplitudes generated by the model appear a natural extension of the QCD Balitsky-
JIMWLK equations, in which the target and the projectile are symmetrically treated.
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1. J. T. de Santana Amaral, M. A. Betemps, M. B. Gay Ducati and G. Soyez, Phys.
Rev. D 76, 094018 (2007).
2. E. Basso, M. B. Gay Ducati, E. G. de Oliveira, J. T. de Santana Amaral, Eur. Phys.
J. C58, 9 (2008).
3. E. Iancu, J. T. de Santana Amaral, G. Soyez and D. N. Triantaf yllopoulos, Nucl. Phys.
A 786, 131 (2007).
Artigos publicados em anais de eventos
1. E. Basso, M. B. Gay Ducati, E. G. de Oliveira, and J. T. de Santana Amaral, Braz.
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2. J. T. de Santana Amaral, M. B. Gay Ducati, M. A. Betemps and G. Soyez, Int. J.
Mod. Phys. E 16, 2818 (2007).
3. J. T. de Santana Amaral, Int. J. Mod. Phys. E 16, 2814 (2007).
4. J. T. de Santana Amaral, M. A. Betemps, M. B. Gay Ducati and G. Soyez, Braz. J.
Phys. 37, 648 (2007).
Conteúdo
1. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
2. A Cromodinâmica Quântica no limite de altas energias . . . . . . . . . . . 7
2.1 Propriedades da QCD . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
2.2 O espalhamento profundamente inelástico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
2.3 A função de estrutura F
2
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
2.3.1 O modelo de pártons . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
2.3.2 F
2
na QCD: o referencial de momentum infinito . . . . . . . . . . . . 15
2.3.3 O regime de altas energias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
3. Evolução das amplitudes de espalhamento na QCD . . . . . . . . . . . . . 22
3.1 Colisão entre dois hádrons em altas energias . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
3.1.1 Cinemática da colisão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
3.1.2 Descrição da colisão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
3.1.3 Intervalo de rapidez . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
3.2 Espalhamento dipolo-hádron . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
3.3 O formalismo de dipolos e a equação BFKL . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
3.4 A equação JIMWLK . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
3.5 Hierarquia de Balitsky . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
3.6 A equação BK . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
3.7 Para além das equações de Balitsky-JIMWLK: as flutuações . . . . . . . . . 42
3.7.1 As equações de laços de pomeron . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
3.7.2 Resultados a partir da sFKPP e conseqüências para a QCD . . . . . 47
3.7.3 O escalamento difusivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
4. Fenomenologia aplicada ao DIS: formalismo de dipolos . . . . . . . . . . . 51
4.1 DIS no referencial de dipolo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
4.2 Seção de choque σ
dip
: fenomenologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
4.2.1 O modelo GBW . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
4.2.2 O modelo IIM . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
Conteúdo ix
4.3 O modelo AGBS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
4.3.1 A parametrização para
˜
T . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
4.4 Descrição dos dados para γ
p . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
4.4.1 Conjunto de dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
4.4.2 Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
4.5 O efeito das flutuações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
4.5.1 Conjunto de dados e resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
5. Um modelo unidimensional para a QCD a altas energias . . . . . . . . . . 70
5.1 Construção do modelo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
5.2 Equações de evolução para os observáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
5.2.1 Densidades de número de partículas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
5.3 O limite para o contínuo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
5.3.1 Amplitudes de espalhamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
5.4 Resultados analíticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
5.4.1 Evolução BFKL do modelo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
5.4.2 Correções de unitariedade na aproximação de campo médio . . . . . . 85
5.4.3 Flutuações no número de partículas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
5.5 Resultados numéricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
6. Conclusões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
A. Equivalência entre as equações BK e FKPP . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
B. A função de estrutura F
2
no espaço de momentum . . . . . . . . . . . . . 100
C. Evolução de observáveis no modelo unidimensional para a QCD . . . . . 109
C.1 Densidades de partículas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110
C.2 Amplitudes de Espalhamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112
Capítulo 1
Introdução
A Cromodinâmica Quântica (QCD) é uma teoria de gauge não Abeliana que descreve as
interações fortes em termos de partículas de spin 1/2 chamadas quarks e de partículas de
spin 1 chamadas glúons; tanto os quarks como os glúons são também chamados de pártons
e portam um número quântico adicional, a chamada carga de cor. Essa consiste em uma
das principais diferenças da QCD em relação à Eletrodinâmica Quântica (QED), na qual
a partícula mediadora da interação eletromagnética, o fóton, não possui carga elétrica. O
grupo de gauge da QCD é o SU(N
c
), onde N
c
= 3. Os quarks possuem N
c
valores distintos
para sua carga de cor enquanto os glúons possuem N
2
c
1 valores. Essa teoria possui duas
propriedades fundamentais: a liberdade assintótica e o confinamento: quando investigamos
os fenômenos descritos pela QCD em distâncias cada vez menores (ou transferências de
momentum cada vez maiores), menor é o parâmetro de acoplamento α
s
. Por outro lado,
quando a investigação é realizada em grandes distâncias, α
s
torna-se grande e as observações
mostram que os estados ligados da teoria são os hádrons (prótons, nêutrons, mésons, etc.).
Em pequenas distâncias, as interações são descritas em termos dos estados próprios da teoria
livre, ou seja, os pártons.
A investigação da estrutura dos hádrons é realizada experimentalmente através de coli-
es e, naturalmente, quanto maior a energia de uma colisão hadrônica, maior a possibilidade
de investigação dessa estrutura. No regime no qual o acoplamento é forte, caracterizado
por uma escala de energia Λ
QCD
200 MeV, a capacidade de realizar cálculos é limitada; a
física neste regime é chamada de não perturbativa. Algumas colisões, no entanto, envolvem
transferências de momentum muito grandes em relação a Λ
QCD
. Em tal regime, dito pertur-
bativo, as colisões podem ser descritas através de colisões microscópicas entre pártons e as
seções de choque podem ser calculadas a partir do Lagrangeano da QCD. Como nesse caso
o acoplamento é fraco, α
s
1, tais cálculos são realizados usando a teoria de perturbações
com respeito a α
s
.
No entanto, a partir de cálculos na QCD, verifica-se que as seções de choque hadrônicas
crescem com o aumento da energia. Mais especificamente, elas crescem com uma potência
de s, o quadrado da energia de centro de massa do processo, o que corresponde a uma
Capítulo 1. Introdução 2
violação do limite de Froissart, que determina que as seções de choque totais, em altas
energias, devem crescer como ln
2
s. Esse comportamento é comprovado experimentalmente,
por exemplo, nas medidas do espalhamento profundamente inelástico (DIS) elétron-próton
[1–3]. A partir destas, observa-se que a densidade part ônic a, especialmente de glúons,
cresce com o aumento da energia. Assim, no limite de altas ene rgias, a QCD envolve altas
densidades partônicas.
Naturalmente, as seções de choque hadrônicas não podem crescer indefinidamente e em
algum ponto é necessário lidar com a recombinação gluônica e espalhamentos múltiplos para
que a unitariedade seja restaurada.
O processo mais simples que apresenta as principais características da QCD no limite de
altas energias é o DIS. O DIS elétron-próton é descrito pela r eação e p e X, ou seja, um
elétron e um próton interagem, tendo como resultado o elétron e um estado hadrônico X.
Tal interação é mediada por um fóton virtual γ
com momentum (momentum transferido)
q
µ
. Esse processo depende de duas variáveis cinemáticas: a virtualidade do fóton Q
2
q
2
,
que mede a resolução com a qual o fóton sonda o próton, e o chamado x de Bjorken, que
está relacionado à energia do centro de massa s = Q
2
/x, significando que o limite de altas
energias corresponde ao limite de pequeno x. Usualmente introduz-se a variável chamada
rapidez definida por Y = log(1/x).
Na figura 1.1 é possível visualizar de forma esquemática a configuração típica do pró-
ton em diferentes regiõe s do espaço de fase. Consideremos inicialmente o próton no caso
quando tanto a virtualidade Q
2
quanto a energia (e portanto Y ) são p equenas. O próton é
representado por três pártons (quarks). Se a energia for mantida fixa e a virtualidade Q
2
for aumentada, aumentará também a resolução com a qual o fóton invest iga a estrutura do
próton, o número de pártons cresce, mas a área ocupada por eles diminui. Particularmente,
o número de pártons cresce logaritmicamente enquanto seus tamanhos típicos diminuem
com 1/Q
2
, de modo que o próton torna-se cada vez mais diluído. Este tipo de evolução é
descrita na QCD pelas equações de Dokshitzer-Gribov-Lipatov-Altarelli-Parisi, chamadas
equações DGLAP [4–6].
Consideremos agora outro tipo de evolução, que consiste em manter Q
2
fixo e aumentar
a energia (ou Y ), ou seja, uma evolução na direção de pequeno x de Bjorken. Neste caso,
observa-se um crescimento rápido da distribuição de pártons, mais especificamente glúons,
porém estes ocupam aproximadamente a mesma área. Esta evolução é descrita pela equa-
ção linear de Balitsky-Kuraev-Fadin-Lipatov, chamada equação BFKL [7–9]. As equações
DGLAP e BFKL prevêem, contudo, um crescimento indefinido das distribuições partônicas
à medida que a energia aumenta, ou seja no regime de pequeno x. Em particular, a solução
da equação BFKL leva a seções de choque que crescem como uma potência da energia, o que
indica que informações físicas importantes que não estão presentes na equação BFKL.
Capítulo 1. Introdução 3
Non perturbative
log(Q
2
)
log(1/x)
DGLAP
BFKL
Q = Q
s
(Y )
Fig. 1.1: Represe ntação esquemática do próton no espaço de fase definido pelas variáveis
do DIS, Q
2
e Y = log(1/x)
A compreensão do regime de grande densidade gluônica nos espalhamentos em altas
energias tem sido um dos maiores desafios da QCD perturbativa. Devido ao tamanho finito
do próton, o crescimento das distribuições partônicas, e conseqüentemente, as seções de
choque, não podem crescer indefinidamente. Espera-se, então que os pártons comecem a
se sobrepor e efeitos de recombinação e de espalhamentos múltiplos tornem-se importantes
no regime de pequeno x. A física que descreve a interação entre pártons que se sobrepõem
é chamada física da saturação partônica [10–15] e a escala que separa os regimes diluído e
saturado, é chamada de escala de saturação, Q
s
(x), que é uma função crescente da energia.
A física da saturação foi introduzida por Gribov, Levin e Ryskin [10], que consideraram
o mecanismo de recombinação partônica (gluônica) na evolução na QCD em altas energias,
resultando em uma equação de evolução com termos não lineares, a equação GLR. Outro
formalismo, desenvolvido por Ayala Filho, Gay Ducati e Levin [13–15], estende o tratamento
da QCD perturbativa até o início do regime de altas densidades partônicas através do cálculo
da distribuição gluônica que é solução de uma equação não linear, a equação AGL. Esta inclui
múltiplos espalhamentos da partícula virtual que prova o núcleo ou núcleon, na chamada
aproximação de duplo logaritmo dominante (DLLA), levando à unitarização da distribuição
gluônica no regime de pequeno x.
Mais recentemente, foi desenvolvido o formalismo denominado Color Glass Condensate
(CGC) [16–23]. O resultado central desse formalismo é uma equação de evolução funcional,
Capítulo 1. Introdução 4
a equação de Jalilian-Marian-Iancu-McLerran-Weiger-Leodinov-Kovner ( JIMWLK) [16–24],
que é equivalente a uma hierarquia infinita de equações para as funções de correlação dos
campos clássicos de cor. Quando aplicada à amplitude de espalhamento entre um projétil
simples e um CGC, a evolução JIMWLK reproduz as equações de Balitsky para as am-
plitudes de espalhamento [25–27], e por esse motivo estas são usualmente referidas como
equações de Balitsky-JIMWLK. No limite de grande número de cores N
c
e efetuando uma
aproximação de campo médio, chega-se a uma única equação não linear determinística, ori-
ginalmente derivada por Kovchegov [28, 29], re ferida como equação de Balitsky-Kovchegov
(BK). A BK é a equação mais simples que descreve a QCD no limite de altas energias, e
corresponde à equação (linear) BFKL, mas com um termo adicional não linear, responsável
pela diminuição do crescimento da densidade de glúons, incluindo, assim como o formalismo
AGL, correções de unitariedade através de efeitos (não lineares) de múltiplos espalhamentos.
Foi mostrado recentemente [30–32] que a equação BK se encontra na classe de equiva-
lência da equação diferencial parcial não linear de Fisher-Kolmogorov-Petrovsky-Piscounov
(FKPP) [33], a qual admite as chamadas soluções de ondas progressivas. Em termos de
variáveis da QCD, este fato traduz-se no chamado escalamento geométrico [34]. O esca-
lamento geométrico foi observado no colisor ep HERA, nas medidas do espalhamento γ
p
inclusivo [35]. Est a característica fenomenológica do espalhamento profundamente inelás-
tico (DIS) é expressa como uma propriedade de escalamento da seção de choque fóton
virtual-próton
σ
γ
p
(Q
2
, Y ) = σ
γ
p
Q
2
Q
2
s
(Y )
, (1.0.1)
onde Q
2
s
= 1/x
λ
e λ 0, 3. Ou seja, a seção de choque depende da variável de escalamento
τ = Q
2
/Q
2
s
(Y ) ao invés de Q
2
e Q
2
s
(Y ) separadamente (ver Figura 1.2). Como veremos, o
escalamento geométrico é equivalente à formação de soluções de ondas progressivas para a
equação BK.
Grande parte do progresso recente no campo da QCD em altas energias tem aparecido
da gradual compreensão das analogias entre a evolução gluônica na QCD em altas energias
e um processo estocástico, similar ao processo de reação-difusão A AA [36, 37]. Estas
analogias levam à conclusão que as propriedades das amplitudes de espalhamento da QCD
em muito altas energias, inclusive na vizinhança do limite de unitariedade, são fortemente
influenciadas p elas flutuações no número de glúons no regime diluído, e portanto não podem
ser calculadas corretamente a partir de aproximações de campo médio como a equação BK.
Foi verificado [38] que as flutuações relevantes não são levadas em conta p elas equações
de Balitsky JIMWLK, e então novas equações foram propostas [38–41], levando a uma ge-
neralização da hierarquia de Balitsky-JIMWLK que abrange tanto saturação quanto efeitos
de flutuações, no limite de grande N
c
. Estas novas equações são chamadas de equações de
Capítulo 1. Introdução 5
Fig. 1.2: Dados de HERA para a seção de choque para o DIS γ
p na região x < 0, 01 e
Q
2
< 450 GeV
2
versus a variável de escalamento Q
2
/Q
2
s
(x) [35].
laços de pomerons. Estas, no entanto, são equações muito complexas, e tendo em vista esta
complexidade, muitos autores têm investigado modelos mais simples com um número de
dimensões transversais menor que na QCD real [42– 47]. Esses modelos permitem estudos
mais diretos da saturação e unitarização com o crescimento da energia.
Esta tese é organizada da seguinte maneira:
O Capítulo 2 é devotado à descrição do DIS elétron-próton. Descrevemos a cinemática
do processo e introduzimos a função de estrutura do próton F
2
(x, Q
2
), relacionada com as
funções de distribuição de quarks e antiquarks dentro do próton, e diretamente proporcional
à seção de choque σ
γ
p
. Descrevemos o referencial de momentum infinito, no qual fica
explícito que o experimento do DIS fornece informação específica sobre distribuição de
quarks no próton, e discutiremos o comportamento das funções de distribuição partônicas
no limite de altas energias.
No Capítulo 3 apresentamos uma revisão das equações de evolução não lineares da QCD
Capítulo 1. Introdução 6
para as amplitudes de espalhamento. Após a descrição de uma colisão entre partículas ha-
drônicas genéricas, consideramos a colisão entre um projétil simples, um dipolo, e um alvo
suficientemente energético. Vemos de forma breve como esse alvo é descrito pelo CGC e
apresentamos a equação JIMWLK. Como aplicação da equação JIMWLK, apresentamos a
equação de evolução para a amplitude de espalhamento dipolo-hádron, resultando na hie-
rarquia de Balitsky-JIMWLK, no formalismo de dipolos. Na aproximação de espalhamento
fraco (alvo diluído), obtém-se a equação BFKL e realizando a aproximação de campo médio
tem-se como resultado a equação BK. A equação é apresentada e as propriedades assintóti-
cas de suas soluções são revisadas. O capítulo é finalizado com uma revisão dos efeitos das
flutuações no número de glúons, que não são incluídos na hierarquia de Balitsky-JIMWLK
e completamente desprezados pela equação BK.
No Capítulo 4 tratamos da aplicação do formalismo de dipolos à fenomenologia do DIS
através de modelos para a seção de choque de dipolos. Com estes, é possível reproduzir
as medidas do DIS para F
2
. Descrevemos dois dos principais modelos no espaço de coor-
denadas presentes na literatura e desenvolvemos o modelo AGBS, um novo e mais recente
modelo que exprime a seção de choque de dipolos em termos da amplitude de espalhamento
dipolo-próton no espaço de momentum, o primeiro da literatura. Duas abordagens distin-
tas são realizadas: a primeira dentro do formalismo de campo médio, através das soluções
assintóticas da equação BK e a segunda com a inclusão das flutuações. Os resultados ex-
perimentais são reproduzidos com sucesso e verificamos que não evidência de efeitos das
flutuações no DIS em HERA, dentro do formalismo de tal modelo.
No Capítulo 5 desenvolvemos um modelo unidimensional para a QCD em altas energias.
Nesse modelo estocástico de partículas, a rapidez Y corresponde à dimensão temporal e
a dimensão espacial é a posição de uma partícula em um eixo unidimensional infinito, e
está associada com o tamanho de um dipolo na QCD. O modelo reproduz as características
da evolução da QCD em altas energias e generaliza as equações de Balitsky-JIMWLK da
QCD para as amplitudes de espalhamento, incluindo naturalmente as flutuações. Todas as
propriedades esperadas através das equações resultantes são confirmadas pelos resultados
numéricos, o que torna o modelo interessante para a investigação de novas estruturas na
própria QCD. Este modelo foi completamente idealizado e desenvolvido durante o período
no qual eu realizei um doutorado sanduíche, financiado pela CAPES, no Institut de Physique
Théorique, Saclay, França, entre Junho e Outubro de 2006.
Capítulo 2
A Cromodinâmica Quântica no limite de
altas energias
Neste Capítulo, após uma breve introdução à Cromodinâmica Quântica, apresentamos o
espalhamento profundamente inelástico, o experimento que revelou pela primeira vez a
estrutura hadrônica no limite de altas energias. Introduzimos, nesse contexto, a função
de estrutura F
2
do próton, grandeza mensurável experimentalmente e cuja fenomenologia
tem sido intensamente investigada. Discutimos o comportamento de F
2
, bem como da
distribuição de glúons, no limite de interesse, o de altas energias.
2.1 Propriedades da QCD
O Lagrangeano da QCD, que descreve a interação de quarks e glúons é (como usual, índices
repetidos são somados)
L =
1
4
F
a
µν
F
µν,a
+
sabores
¯
ψ
i
(
µ
D
µ
m)
ij
ψ
j
. (2.1.1)
Antes de descrevermos os componentes desse Lagrangeano, é importante explicarmos algu-
mas notações:
(i) Índices do alfabeto grego (α, β, . . . , µ, ν, . . .) são índices de Lorentz.
(ii) i, j, k, l são índices de cor dos quarks (i, j, k, l = 1, 2, 3).
(iii) a, b, c, d, e são índices de cor dos glúons (a, b, c, d, e = 1, . . . 8).
(iv) N
c
, como dito na Introdução, é o número de cores.
No Lagrangeano, ψ corresponde ao campo de quarks e F
a
µν
é o tensor associado com o
campo de glúons A
a
µ
, e é construído a partir destes como
F
a
µν
=
µ
A
a
ν
ν
A
a
µ
g
s
f
abc
A
b
µ
A
c
ν
, (2.1.2)
Capítulo 2. A Cromodinâmica Quântica no limite de altas energias 8
onde g
s
é a constante de acoplamento forte, expressa em termos de α
s
por meio da equação
α
s
=
g
2
s
4π
, (2.1.3)
e f
abc
são as constantes de estrutura do grupo de cor SU(N
c
), que são antissimétricas sob
a troca de quaisquer de dois índices e satisfazem a identidade de Jacobi
f
abe
f
ecd
+ f
cbe
f
aed
+ f
dbe
f
ace
= 0 (2.1.4)
A derivada covariante D
µ
possui a forma
(D
µ
)
ij
=
µ
δ
ij
+ ig
s
(t
a
A
a
µ
)
ij
(2.1.5)
quando atua nos campos de quarks e
(D
µ
)
ab
=
µ
δ
ab
+ ig
s
(T
c
A
c
µ
)
ab
(2.1.6)
quando atua nos campos de glúons. t
a
e T
a
são os geradores de SU(N
c
) nas representações
fundamental e adjunta, respectivamente. Seus comutadores são
[t
a
, t
b
] = if
abc
t
c
, (2.1.7)
[T
a
, T
b
] = if
abc
T
c
, (T
a
)
bc
= if
abc
. (2.1.8)
Os geradores t
a
são normalizados como
Tr(t
a
t
b
) =
1
2
δ
ab
(2.1.9)
e obedecem as relações
t
a
ij
t
a
kl
=
1
2
δ
il
δ
jk
1
N
c
δ
ij
δ
kl
, (2.1.10)
t
a
ij
t
a
jl
= C
F
, C
F
=
N
2
c
1
2N
c
. (2.1.11)
para os geradores T
a
, temos
Tr(T
a
T
b
) = f
acd
f
bcd
= C
A
δ
ab
, C
A
= N
c
. (2.1.12)
Capítulo 2. A Cromodinâmica Quântica no limite de altas energias 9
i
j
a, µ
ig
s
(t
a
)
ji
γ
µ
(a)
b, β
q
p
r
c, γ
a, α
g
s
f
abc
[(p q)
γ
g
αβ
+ (q r)
α
g
βγ
+ (r p)
β
g
γα
]
(p + q + r = 0)
(b)
a, α
b, β
c, γ
d, δ
+f
eab
f
ecd
[g
αγ
g
βδ
g
αδ
g
βγ
]
+f
ead
f
ebc
[g
αβ
g
γδ
g
αγ
g
βδ
]
ig
2
s
f
eac
f
ebd
[g
αβ
g
γδ
g
αδ
g
βγ
]
(c)
Fig. 2.1: Regras de Feynman para os vértices da QCD.
Capítulo 2. A Cromodinâmica Quântica no limite de altas energias 10
O anticomutador dos geradores t
a
é
t
a
, t
b
=
1
N
c
δ
ab
1 + d
abc
t
c
, (2.1.13)
onde d
abc
são antissimétricos sob a troca de quaisquer de dois índices e satisfazem as relações
d
abb
= 0, d
acd
d
bcd
=
N
2
c
4
N
c
, (2.1.14)
f
abe
d
ecd
+ f
cbe
d
aed
+ f
dbe
d
ace
= 0. (2.1.15)
Como descrito na Introdução, a QCD possui a propriedade chamada liberdade assintó-
tica, o que significa que para processos que envolvem grandes transferências de momentum,
o parâmetro de acoplamento α
s
torna-se muito pequeno e a teoria de perturbações é apli-
vel. Levando em conta correções de um laço no propagador do glúon, tem-se a seguinte
expressão para o acoplamento variável
α
s
(Q
2
) =
12π
(33 2n
f
) log(Q
2
/Λ
2
QCD
)
, (2.1.16)
onde n
f
é o número de sabores. As regras de Feynman para os vértices da QCD são
resumidas na Figura 2.1.
2.2 O espalhamento profundamente inelástico
O espalhamento profundamente inelástico (DIS) é o espalhamento de um lépton–carregado
ou neutro–com um núcleon com grande transferência de momentum. Es te processo pode
ser expresso por
l(k) + N(P ) l
(k
) + X(P
X
) (2.2.17)
e é representado na figura 2.2. Se considerarmos o caso de corrente neutra, o lépton, que
inicialmente possui quadri-momentum k
µ
interage com o núcleon, cujo quadri-momentum
é P
µ
, através da troca de um bóson de gauge (γ
, Z
0
). No estado final, tem-se o lépton
com quadri-momentum k
µ
e um estado hadrônico X. Aqui, consideramos o DIS inclusivo,
caracterizado pela detecção, no estado final, apenas do lépton. No caso de corrente neutra,
onde o lépton pode ser um elétron ou um múon, o DIS é dominado pela troca de um fóton.
A reação representada em (2.2.17) é descrita por três variáveis cinemáticas. Uma delas,
fixada pelas condições experimentais, é a energia E do lépton incidente, ou, alternativa-
mente, o quadrado da energia do centro de massa W = (k + P )
2
. As outras duas variáveis
independentes são escolhidas entre os seguintes invariantes:
Capítulo 2. A Cromodinâmica Quântica no limite de altas energias 11
X
Fig. 2.2: Espalhamento profundamente inelástico
(i) O quadrado do momentum transferido
q
2
Q
2
= (k k
)
2
(2.2.18)
onde Q
2
> 0 é a chamada de virtualidade do bóson de gauge.
(ii) O quadrado da energia do centro de massa do sistema fóton-núcleon
s = (P + q)
2
, (2.2.19)
que é a massa invariante do estado hadrônico X.
(iii) A variável
ν =
P · q
m
N
=
s + Q
2
m
2
N
2m
N
, (2.2.20)
onde m
N
é a massa do núcleon, que, no referencial de repouso do alvo, é igual a ν =
EE
, onde E e E
são as energias do elétron no estado inicial e final, respectivamente.
(iv) A variável chamada x de Bjorken, definida por
x =
Q
2
2P · q
=
Q
2
Q
2
+ s m
2
N
. (2.2.21)
(v) A variável chamada de inelasticidade
y =
P · q
P · k
=
s + Q
2
m
2
N
W m
2
N
(2.2.22)
Capítulo 2. A Cromodinâmica Quântica no limite de altas energias 12
que no referencial de repouso do núcleon é a fração de energia do lépton no estado
inicial, carregada pelo fóton y = ν/E.
Como s m
2
N
, x possui valores no intervalo entre 0 e 1. O limite de altas energias no
qual estamos interessados corresponde a valores de s Q
2
, o que, da Eq.(2.2.21) implica
em x 0. Assim, o regime de altas energias corresponde a um regime de pequeno x de
Bjorken,
s , x
Q
2
s
0 (2.2.23)
Como é de nosso interesse, consideremos o DIS elétron-próton, ou seja, o caso especial no
qual o lépton é um elétron e o núcleon é um próton de massa m
N
= M. Assim, estamos
interessados no processo inclusivo ep eX e a estrutura do próton em pequenas distâncias
é sondada por um fóton virtual.
No referencial de repouso do próton, a seção de choque diferencial para o processo é
dada por
d σ
d E
d
=
α
2
em
2MQ
4
E
E
L
µν
W
µν
, (2.2.24)
onde α
em
é a constante de acoplamento da interação eletromagnética, (θ, φ) é o ângulo
sólido que caracteriza a direção do elétron no estado final,
L
µν
=
1
m
2
[k
µ
k
ν
+ k
ν
k
µ
(k · k
)g
µν
] (2.2.25)
é o tensor leptônico e W
µν
é o tensor hadrônico, que pode ser parametrizado como
1
2M
W
µν
=
g
µν
+
q
µ
q
ν
q
2
W
1
(ν, Q
2
)
+
1
M
2
P
µ
P · q
q
2
q
µ
P
ν
P · q
q
2
q
ν
W
2
(ν, Q
2
).
(2.2.26)
Na equação acima, W
1
e W
2
são as chamadas funções de estrutura e, em termos destas, a
seção de choque para o DIS é dada pela expressão
d σ
d E
d
=
4α
2
em
E
2
Q
4
2W
1
sin
2
θ
2
+ W
2
cos
2
θ
2
. (2.2.27)
Introduz-se as funções de estrutura adimensionais [48]
F
1
(x, Q
2
) MW
1
(ν, Q
2
) (2.2.28)
F
2
(x, Q
2
) νW
2
(ν, Q
2
) (2.2.29)
Capítulo 2. A Cromodinâmica Quântica no limite de altas energias 13
Em termos destas e das variáveis x e y, obtém-se
d σ
d x d y
=
4πα
2
em
W
Q
4
xy
2
F
1
(x, Q
2
) +
1 y
xyM
2
W
F
2
(x, Q
2
)
. (2.2.30)
É possível relacionar as funções de estrutura às seções de choque totais de foto absorção
virtual, tendo como resultado
σ
γ
p
L
=
4π
2
α
em
Q
2
(F
2
2xF
1
) (2.2.31)
σ
γ
p
T
=
4π
2
α
em
Q
2
2xF
1
(2.2.32)
onde σ
γ
p
L,T
são as seções de choque de foto absorção longitudinal e transversal, re spectiva-
mente. Definindo as funções de estrutura longitudinal e transversal como
F
L
= F
2
2xF
1
(2.2.33)
F
T
= 2xF
1
(2.2.34)
tem-se
σ
γ
p
L,T
=
4π
2
α
em
Q
2
F
L,T
(x, Q
2
) (2.2.35)
Como F
2
= F
L
+ F
T
, a seção de choque de foto absorção virtual σ
γ
p
é proporcional a F
2
σ
γ
p
=
4π
2
α
em
Q
2
F
2
(x, Q
2
). (2.2.36)
Se o próton fosse uma partícula carregada pontual, assim como o elétron, a seção de choque
de foto-absorção seria simplesmente
σ
γ
e
=
4π
2
α
em
Q
2
δ(x 1), (2.2.37)
onde a função delta corresponde à conservação de momentum. De fato, como as partículas
incidentes encontram-se na camada de massa, tem-se exatamente que x =1. Isso mostra
que a função de estrutura F
2
(x, Q
2
) é uma medida da estrutura do próton relativa à de um
elétron pontual.
Capítulo 2. A Cromodinâmica Quântica no limite de altas energias 14
2.3 A função de estrutura F
2
2.3.1 O modelo de pártons
Antes do advent o da QCD, Bjorken [49,50] e Feynman [51] formularam o chamado modelo
de pártons, que é baseado na suposição de que o fóton virtual espalha com os constituintes
do próton, que são tratados como partículas livres. A Figura 2.3 representa o DIS descrito
pelo modelo de pártons. O fóton virtual espalha com um dos pártons (os quarks de valência)
que compõem o próton, que depois da colisão contribui para a formação do estado hadrônico
X no estado final.
Fig. 2.3: O modelo de pártons.
Dentro deste modelo, no qual um próton é tratado como constituído por partículas
puntuais, obtém-se que as funções de estrutura F
1
e F
2
dependem apenas da variável x, e
não de x e Q
2
separadamente. Mais especificamente, essas funções são relacionadas,
F
2
(x) = 2xF
1
(x) =
q
e
2
q
x f
q
(x), (2.3.38)
onde a soma é realizada sobre os sabores dos quarks e f
q
(x) são as funções de distribuição
dos quarks. A relação acima é chamada de relação de Callan-Gross [52].
O escalamento em x acima, que é uma conseqüência do modelo de pártons, foi previsto
por Bjorken; ele sugeriu que, em energias muito altas, a dependência das funções de estrutura
em Q
2
desaparece, e elas se tornam funções de x apenas. Mais precisamente, isso ocorre no
limite
ν, Q
2
, x =
Q
2
2Mν
fixo, (2.3.39)
que é o chamado escalamento de Bjorken, que foi de fato identificado no DIS elétron-próton
no SLAC [53].
Capítulo 2. A Cromodinâmica Quântica no limite de altas energias 15
2.3.2 F
2
na QCD: o referencial de momentum infinito
O modelo de pártons é apenas a aproximação de mais baixa ordem à realidade, pois os
constituintes partônicos dos hádrons não são objetos livres. Eles são descritos pela QCD,
a teoria da interação de quarks e glúons. De acordo com essa teoria, novos subprocessos
podem contribuir para a seção de choque do DIS elétron-próton.
O diagrama que representa o modelo de pártons, Figura 2.3, corresponde à contribuição
para a seção cho que de ordem O(α
em
). No entanto, o quark de valência pode emitir um
glúon, antes ou depois de interagir com o fóton, o que leva aos processos representados
pelos diagramas da Figura 2.4. também as contribuições gluônicas, representadas pelos
diagramas da Figura 2.5, nos quais um glúon, emitido, por exemplo, pelo quark de valência,
flutua em um par quark-antiquark (quarks de mar), e um deles interage com o fóton virtual.
Todos os diagramas descritos acima contribuem para a seção de choque com termos de ordem
O(α
em
α
s
).
γ
q
g
q
+
γ
q
Fig. 2.4: Contribuições adicionais (de ordem O(α
em
α
s
)) para o processo ep eX.
Na QCD os quarks e glúons podem irradiar quanta virtuais (quarks ou glúons) e in-
teragir uns com os outros através da troca desses quanta. Surge então a questão sobre a
possibilidade de existir, na QCD, uma descrição partônica para processos hadrônicos.
As excitações virtuais dentro dos hádrons podem ter energias e momenta arbitrariamente
grandes, e assim as interações associadas podem ter escalas de tempo arbitrariamente peque-
nas. Torna-se complicado, então, separar as interações que ocorrem dentro do alvo daquelas
com o projétil (o fóton virtual no DIS). Devido à liberdade assintótica, flutuações com mo-
menta muito grandes ocorrem com baixa probabilidade, o que permite cálculos em teoria
de perturbações. Assim, torna-se possível desenvolver uma representação partônica para os
Capítulo 2. A Cromodinâmica Quântica no limite de altas energias 16
+
γ
g
¯q
q
γ
g
¯q
q
Fig. 2.5: Contribuições adicionais (de ordem O(α
em
α
s
)) para o processo ep eX.
processos em pequenos tempos, ou com grandes momenta transferidos. O tratamento de
tal representação, no entanto, depende da escolha do referencial no qual os processos são
vistos.
Um referencial especial é o chamado referencial de momentum infinito (IMF), que fornece
uma maneira de separar as flutuações hadrônicas das flutuações de vácuo que possuem
mesmo tempo de vida e mesmos momenta. O IMF consiste em realizar uma transformação
de Lorentz para um referencial no qual o hádron (de massa M) possui um momentum
longitudinal muito grande, P
z
M. O quadri-momentum do hádron é P
µ
= (P, 0, 0, P),
onde definimos P
z
P .
Consideremos uma flutuação de um quark dentro do hádron, e assumamos, por sim-
plicidade, que esse quark possua momentum longitudinal P . Todos os quanta envolvidos
nessa flutuação possuem momenta longitudinais grandes e é possível calcular o tempo de
vida da flutuação gluônica com momentum longitudinal k
µ
= (k
0
, k
1
, k
2
, k
z
), onde k
z
= ζP
com 0 ζ 1 e k
=
k
2
1
+ k
2
2
ζP . O tempo de vida pode ser estimado pelo princípio
de incerteza
t
1
E
, (2.3.40)
onde E é a diferença de energia entre os est ados final e inicial no vértice de emissão
Capítulo 2. A Cromodinâmica Quântica no limite de altas energias 17
gluônica(as massas dos pártons são desprezadas):
E =
ζ
2
P
2
+ k
2
+
(1 ζ)
2
P
2
+ k
2
P
= ζP
1 +
k
2
ζ
2
P
2
1/2
+ (1 ζ)P
1 +
k
2
(1 ζ)
2
P
2
1/2
P
ζP +
k
2
2ζP
+ (1 ζ)P +
k
2
2(1 ζ)P
P
=
k
2
2ζP
+
k
2
2(1 ζ)P
=
k
2
(1 ζ + ζ)
2(ζ ζ
2
)P
k
2
2ζP
(2.3.41)
Assim, tem -se que t 2ζP/k
2
e essa estimativa deve ser comparada com o tempo de vida
para uma flutuação de vácuo, t
vac
1/k
z
. Como k
ζP ,
t
2ζP
k
2
t
vac
1
ζP
, (2.3.42)
o que diz que, no IMF, as flutuações hadrônicas típicas são bem separadas das flutuações
de vácuo, e portanto a representação partônica faz sentido.
Veremos que o tempo de vida do quark da flutuação é muito maior que o tempo de colisão.
Assim, esse quark e stá praticamente na camada de massa antes e depois do espalhamento.
Se k
µ
(ζP, 0, 0, ζP ) denota seu quadri-momentum original, a conservação de energia
implica em
0 (k + q)
2
= Q
2
+ 2ζP · q = 2xP · q + 2ζP · q = 2(x ζ)P · q ζ x, (2.3.43)
ou seja, o espalhamento seleciona um quark com fração do momentum longitudinal ζ igual
ao x de Bjorken. Isso confirma que no DIS em altas energias, sondamos os constituintes do
próton que possuem ζ 1.
Para obtermos o tempo de colisão, consideremos um IMF específico, o chamado referen-
cial de Breit, no qual o fóton virtual possui momentum longitudinal zero, q
µ
= (q
0
, q
1
, q
2
, 0).
Como P ,
q
0
=
P · q
P
0 (2.3.44)
e pode-se deduzir que, nesse referencial, o momentum do fóton virtual é principalmente
transversal: q
0
q
e Q
2
q
2
. Assim, variando experimentalmente a virtualidade Q
2
,
controla-se a resolução do fóton virtual no plano transversal. O tempo de colisão p ode ser
Capítulo 2. A Cromodinâmica Quântica no limite de altas energias 18
estimado por
t
col
1
q
0
=
P
P · q
=
2P x
Q
2
. (2.3.45)
Para que uma flutuação de um quark seja capaz de absorver o fóton virtual, seu tempo de
vida deve ser maior que o tempo de colisão. Essa condição, juntamente com as equações
(2.3.42) e (2.3.45), implicam em que os pártons que participam no DIS possuem momentum
transversal k
2
<
Q
2
. Pelo princípio da incerteza, esses pártons estão localizados em uma
área 1/Q
2
no plano transversal.
A partir do que foi discutido na seção anterior, pode-se concluir que o DIS é um experi-
mento que analisa a distribuição de quarks no próton. O fóton virtual contabiliza o número
de quarks e antiquarks que possuem uma fração de momentum longitudinal x e que ocupam
uma área transversal da ordem de 1/Q
2
. Isso motiva escrever a seguinte fórmula para a
função de estrutura F
2
:
F
2
(x, Q
2
) =
f
e
2
q
x[f
q
(x, Q
2
) + f
¯q
(x, Q
2
)]. (2.3.46)
f
q
(x) e f
¯q
(x) são as funções de distribuição dos quarks e dos antiquarks, respectivamente.
2.3.3 O regime de altas energias
A Eq.(2.3.46) apresenta, para F
2
, uma dependência em ambos x e Q
2
, ao contrário do que é
previsto pelo modelo de pártons. Essa violação do escalamento de Bjorken é um exemplo de
evolução quântica na QCD: as funções de estrutura variam com Q
2
e x, e tal variação é in-
duzida através de processos radiativos na própria teoria quântica de campos. O escalamento
de Bjorken, confirmado no primeiro experimento do DIS no SLAC, aparece apenas como
uma propriedade aproximada dos dados, e em um regime cinemático limitado. A partir
da discussão anterior, espera-se que o número de pártons (quarks e glúons) intervenientes
cresça com o aumento de Q
2
, pois o espaço de fase para a radiação é aumentado, o que pode
ser traduzido como um crescimento de F
2
com Q
2
para x fixo.
Na Figura 2.6, onde são mostrados os resultados para F
2
com os dados mais recentes
obtidos em HERA [1–3]. O crescimento citado acima é claramente visível para valores pe-
quenos de x (essencialmente, F
2
cresce como uma potência de 1/x). Fisicamente, aumentar
Q
2
é como aperfeiçoar a resolução de um microscópio: com seu aumento, é possível discri-
minar pártons que estão cada vez mais localizados no espaço transversal e cujo tempo de
vida é cada vez menor. Essa é a base para as equações DGLAP [4–6], que descrevem a
evolução das funções de estrutura com o aumento de Q
2
.
Estamos, no entanto, especialmente interessados na evolução para o regime de altas
energias, que é responsável pelo crescimento rápido de F
2
quando x decresce. Embora não
Capítulo 2. A Cromodinâmica Quântica no limite de altas energias 19
0
1
2
3
4
5
6
1 10 10
2
10
3
10
4
10
5
ZEUS
Q
2
(GeV
2
)
F
em
-log
10
x
2
ZEUS 96/97
Fixed Target
NLO QCD Fit
Fig. 2.6: A função de estrutura F
2
medida pelo experimento ZEUS, como uma função de
Q
2
para diferentes valores de x [3].
seja diretamente medida pelo DIS, é o rápido crescimento da densidade de glúons que domina
a evolução em pequeno x. Para que esse fato seja melhor compreendido, consideremos um
párton na camada de massa que emite um glúon suave que carrega uma pequena fração do
seu momentum longitudinal, x 1 e um momentum transversal pequeno. A probabilidade
diferencial para que isso ocorra é:
dP
brem
α
s
C
R
π
2
d
2
k
k
2
dx
x
(2.3.47)
onde C
R
= C
F
se o párton original é um quark, e C
R
= C
A
se o párton é um glúon (ver Seção
2.1). O aumento logarítmico nos momenta transversais em (2.3.47) ocorre tanto para quarks
ou glúons emitidos. No entanto, o aumento logarítmico em pequeno x está relacionado ao
fato de que a partícula suave emitida é um glúon (a probabilidade de emissão de um quark
suave não é singular em x 0). A radiação gluônica é, portanto, ampliada se comparada
Capítulo 2. A Cromodinâmica Quântica no limite de altas energias 20
com a radiação de quarks na evolução quântica com a diminuição de x. Assim, no regime
de pequeno x do DIS, o quark sondado pelo fóton virtual é tipicamente produzido pela
dissociação de um glúon.
Na ordem mais baixa da teoria de perturbações, tem-se
F
2
(x, Q
2
)
ln Q
2
α
s
3π
q
e
2
q
xG(x, Q
2
), (2.3.48)
onde xG(x, Q
2
) é a função de distribuição de glúons. Usando a equação acima, é possível
extrair a distribuição de glúons a partir da função de estrutura F
2
medida em HERA e
alguns resultados são mostrados na Figura 2.7, a distribuição de glúons é comparada com a
distribuição de quarks de valência e de mar em um próton. Nesse gráfico, xG é multiplicada
por 0, 05, o que confirma o fato de que, em pequeno x, a evolução gluônica é dominante.
ZEUS
0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
10
-3
10
-2
10
-1
1
(a)
ZEUS NLO QCD fit
α
s
(M
Z
2
) = 0.118
tot. error
uncorr. error
Q
2
=10 GeV
2
xu
v
xd
v
xg(× 0.05)
xS(× 0.05)
x
xf
Fig. 2.7: As distribuições de quarks (xu
v
, xd
v
), glúons (xG) e quarks de mar (xS) em um
próton como medidas em HERA. A distribuição de glúons é multiplicada por
0, 05 [54].
Nesta tese, não trataremos diretamente com a função de distribuições de glúons, mas
Capítulo 2. A Cromodinâmica Quântica no limite de altas energias 21
com amplitudes de espalhamento e sua evolução na direção do regime de altas energias.
Como veremos, a compreensão da evolução das amplitudes tem conseqüências imp ort antes
no estudo dos processos em altas energias, incluindo a fenomenologia do DIS elétron próton.
Capítulo 3
Evolução das amplitudes de
espalhamento na QCD
Neste Capítulo, apresentaremos a cinemática de uma colisão entre dois hádrons em termos
das chamadas coordenadas de cone de luz. A variável rapidez, diretamente relacionada com
a energia da colisão, e escolhida como o parâmetro da evolução na QCD em altas energias, é
introduzida. Consideramos o espalhamento de um projétil simples, um dipolo, e um hádron
energético. As equações de evolução para as amplitudes de espalhamento são apresentadas,
bem como as principais propriedades das suas soluções.
3.1 Colisão entre dois hádrons em altas energias
3.1.1 Cinemática da colisão
Para descrever a cinemática de uma colisão em altas energias, é conveniente utilizar as
chamadas variáveis de cone de luz. Para um quadri-vetor arbitrário v
µ
= (v
0
, v
1
, v
2
, v
3
),
onde v
3
= v
z
, essas variáveis são definidas como
v
µ
(v
+
, v, v
), v
±
1
2
(v
0
± v
3
), v (v
1
, v
2
), (3.1.1)
o que implica na seguinte forma para o produto escalar de dois quadri-vetores:
v
µ
v
µ
= v
0
v
0
+ v
1
v
1
+ v
2
v
2
+ v
3
v
3
=
1
2
(v
+
+ v
)(v
+
+ v
′−
)
1
2
(v
+
v
)(v
+
v
′−
) v · v
= v
+
v
′−
+ v
v
+
v · v
. (3.1.2)
A fim de verificarmos a utilidade destas definições, consideremos uma partícula que se
move com velocidade próxima à da luz no eixo z, no sentido de z positivo. Sua trajetória
Capítulo 3. Evolução das amplitudes de espalhamento na QCD 23
encontra-se ao longo do cone de luz p ositivo ( z t) e a partícula está em x
0 enquanto
nos referimos a x
+
2t como o tempo do cone de luz. Naturalmente, para uma partícula
que se move rapidamente no sentido de z negativo (z t), os papéis de x
+
e x
se
invertem: x
2t faz o papel de tempo e x
+
0 é a coordenada longitudinal. De
agora em diante, usaremos a terminologia associada com a partícula (mais especificamente,
o hádron) que se m ove para a direita (z positivo), ou seja, nos referiremos a x
+
como o
tempo e a x
como a coordenada longitudinal.
Consideremos a colisão entre duas partículas hadrônicas e escolhamos o eixo longitudinal
de colisão de modo que ele coincida com o eixo z. Chamaremos de projétil a partícula que
se move no sentido de z negativo, denotaremos seu momentum longitudinal por Q
3
= Q
z
e sua massa por M
P
, e chamaremos de alvo a partícula que se move no sentido de z positivo,
denotando seu momentum longitudinal por P
3
= P
z
e sua massa por M
A
.
Os quadri-momenta do projétil e do alvo, são dados, resp ectivamente, por
P
µ
=
P
+
, 0,
M
2
A
2P
+
, Q
µ
=
M
2
P
2Q
, 0, Q
(3.1.3)
Para partículas que se movem com velocidades próximas à da luz, de modo que P
z
M
A
e Q
z
M
P
, temos P
+
2P
z
, P
0, Q
2Q
z
, Q
+
0, e a energia da colisão é
s (P
µ
+ Q
µ
)(P
µ
+ Q
µ
) 2P
+
Q
.
Uma colisão em altas energias produz muitas partículas no estado final. Sejam m
f
e k
µ
f
a massa e o quadri-momentum de uma dessas partículas, respectivamente. Definimos uma
variável bastante conveniente para caracterizar as partículas emitidas, a chamada rapidez
y:
y
1
2
ln
k
+
f
k
f
(3.1.4)
Usando a Eq.(3.1.2), temos que 2k
+
f
k
f
= k
2
f
+ m
2
f
, e portanto
y =
1
2
ln
2(k
+
f
)
2
k
2
f
+ m
2
f
= ln
2k
+
f
k
2
f
+ m
2
f
= ln
k
2
f
+ m
2
f
2k
f
. (3.1.5)
Diante da definição de rapidez (3.1.4), é possível identificar três situações:
(i) Uma partícula é emitida perpendicularmente ao eixo de colisão. Neste caso, k
3
f
= 0 e
k
+
f
= k
f
e y = 0.
(ii) Uma partícula é emitida na região de z positivo. Neste caso, k
3
f
> 0 e k
+
f
> k
f
e a
partícula possui rapidez positiva y > 0.
Capítulo 3. Evolução das amplitudes de espalhamento na QCD 24
A
+
P
Fig. 3.1: Colisão entre o projétil P e o alvo A. Os pártons de valência são acompanhados
por conjuntos coerentes de pártons virtuais.
(iii) Uma partícula é emitida na região de z negativo. Neste caso, k
3
f
< 0 e k
f
> k
+
f
e a
partícula possui rapidez positiva y < 0.
Seja θ o ângulo de emissão da partícula em relação ao eixo dos z positivos e consideremos
o caso no qual a massa da partícula é nula. O resultado obtido é que a rapidez é igual à
pseudo-rapidez η, que é uma grandeza facilmente medida experimentalmente. Fazendo
m
f
= 0 em (3.1.4), temos
η =
1
2
ln
k
0
f
+ k
3
f
k
0
f
k
3
f
=
1
2
ln
1 + cos θ
1 cos θ
= ln tan(θ/2). (3.1.6)
3.1.2 Descrição da colisão
A colisão em altas energias entre um projétil P e um alvo A hadrônicos é representada na
Figura 3.1.2. Assintoticamente antes da colisão, esses hádrons são constituídos apenas por
seus pártons de valência. À medida que projétil e alvo evoluem até o instante da colisão,
os pártons de valência são acompanhados por um conjunto coerente de pártons virtuais.
Formalmente, isso corresponde a decompor os estados iniciais em superposições de estados
de Fock de quarks e glúons. Por exemplo, se um dos hádrons envolvidos for um próton,
tem-se
|próton = |q
v
q
v
q
v
+ |q
v
q
v
q
v
g + ··· + |q
v
q
v
q
v
g ···ggq¯qgg (3.1.7)
A colisão ocorre, portanto, entre as partículas vestidas e os pártons liberados pela colisão
formam as partículas do estado final.
Capítulo 3. Evolução das amplitudes de espalhamento na QCD 25
A população de pártons virtuais que vestem os pártons de valência é composta principal-
mente de glúons. Como veremos a seguir, a probabilidade de que o um dos participantes da
colisão esteja vestido de um glúon é inversamente proporcional ao momentum longitudinal
do glúon k
+
, o que, para pequenos momenta longitudinais, leva a divergências logarítmi-
cas após a integração sobre k
+
. No entanto, como estes glúons virtuais possuem momenta
longitudinais muito pequenos, eles não podem ser transformados em partículas reais, ou
seja, não realizam nenhum papel na colisão. Assim, pode-se considerar que o momentum
longitudinal dos glúons que vestem o alvo (ou o projétil) é limitado inferiormente. Este li-
mite é determinado pela cinemática da colisão e no regime de altas energias torna-se muito
pequeno.
Seja z
A
P
+
o limite inferior dos momenta longitudinais relativos ao alvo e z
P
Q
o limite
correspondente para o projétil (z
A
, z
P
< 1). Na colisão projétil-alvo, as partículas liberadas
vêm das colisões elementares entre os pártons virtuais. As únicas colisões possíveis são
aquelas que implicam em partículas com suficiente momenta longitudinais para poder dar
lugar a uma massa invariante positiva,
z
A
z
P
s = k
2
0
, (3.1.8)
onde k
0
é o momentum transversal típico das partículas no estado final, k
2
f
+ m
2
f
k
2
0
.
Notemos que o tratamento perturbativo se justifica quando
k
0
Λ
QCD
α
s
(k
0
) 1, (3.1.9)
onde Λ
QCD
é uma escala característica do regime não perturbativo da QCD e vale aproxi-
madamente 200 MeV. É p ossível ver que, no limite de altas energias (s grande) os valores
de z
A
ou de z
P
, ou mesmo dos dois, são muito pequenos.
3.1.3 Intervalo de rapidez
Analisemos agora algumas propriedades importantes das partículas virtuais que vestem o
projétil e o alvo e que são liberadas na colisão entre eles, mais especificamente no que diz
respeito à variável rapidez, a qual, como vimos tem uma grande importância no estudo de
colisões em altas energias:
(i) A rapidez máxima em uma colisão é y
max
= ln(
2P
+
/k
0
) e corresponde a uma
partícula que vestia o alvo com um momentum longitudinal máximo P
+
. A menor rapidez
possível para uma partícula proveniente do alvo é ln(
2z
A
P
+
/k
0
) e o intervalo de rapidez
no qual as partículas do alvo são emitidas é Y
A
= ln(1/z
A
).
(ii) A rapidez mínima é y
min
= ln(
2Q
/k
0
) e corresponde a uma partícula que
Capítulo 3. Evolução das amplitudes de espalhamento na QCD 26
vestia o projétil com um momentum longitudinal máximo Q
. A maior rapidez possível
para uma partícula que provém do projétil é ln(
2z
P
Q
/k
0
) e o intervalo de rapidez no
qual as partículas do projétil são emitidas é então Y
P
= ln(1/z
P
).
As partículas emitidas ocupam, portanto, um intervalo total de rapidez
y
max
y
min
= ln(
2P
+
/k
0
) + ln(
2Q
/k
0
)
= ln(2P
+
Q
/k
2
0
) = ln(s/k
2
0
) Y. (3.1.10)
Assim, tem-se que Y = ln(1/z
A
z
P
) = Y
A
+ Y
P
. Por abuso de linguagem, chamamos Y de
rapidez total da colisão. Seja y
a rapidez que define o limite entre os intervalos Y
A
e Y
P
,
ou seja, a rapidez definida por
y
= y
max
Y
A
= y
min
+ Y
P
. (3.1.11)
Com esta definição, tem-se que as partículas finais com rapidez y > y
provém do alvo e
aquelas com y < y
provém do projétil. O valor de z
P
pode ser escolhido arbitrariamente
entre k
2
0
/s e 1, o que impõe o valor de z
A
, e vice-versa. Em ter mos da rapidez, isso consiste
em escolher uma maneira de dividir a rapidez total Y em duas partes, escolhendo Y
P
e
conseqüentemente Y
A
. Tal liberdade pode ser considerada como uma escolha de referen-
cial para descrever a colisão. A partir de agora e nos próximos capítulos, trataremos de
referenciais tais que Y
P
0 e portanto Y
A
Y .
3.2 Espalhamento dipolo-hádron
Definida a cinemática e descrita a colisão entre dois hádrons genéricos, podemos partir para
o estudo do espalhamento e da evolução na QCD em altas energia s, tendo como principal
objetivo apresentar as equações de evolução (em termos da rapidez Y ) para a amplitude de
espalhamento de um projétil com um hádron energético.
Consideremos inicialmente um quark–por exemplo, um quark de valência da função de
onda de um hádron–que se move rapidamente com momentum longitudinal p
+
. Existe uma
probabilidade dP deste quark emitir um glúon macio (com pequeno x) com momentum
longitudinal no intervalo de k
+
a k
+
+ dk
+
, com k
+
= xp
+
p
+
, tal que
dP α
s
dk
+
k
+
. (3.2.12)
Esta emissão está representada de forma diagramática na Figura 3.2(a). Se x é suficien-
temente pequeno e devido ao acoplamento de três glúons da QCD, o glúon com fração do
momentum x pode ser gerado pela emissão intermediária de um ou mais glúons que possuem
Capítulo 3. Evolução das amplitudes de espalhamento na QCD 27
seus momenta longitudinais fortemente ordenados o que implica em
x x
n
··· x
1
1 (3.2.13)
A Figura 3.2(b) mostra o diagrama que leva em conta correções radiativas de mais baixa
ordem e que descreve a emissão de um glúon adicional, com momentum longitudinal k
+
<
p
+
1
< p
+
. A contribuição relativa para este processo pode ser estimada como
α
s
N
c
π
p
+
k
+
dp
+
1
p
+
1
=
α
s
N
c
π
ln
p
+
k
+
= ¯α
s
ln
1
x
. (3.2.14)
p
+
k
+
p
+
p
+
p
+
1
2
n
p
+
1
p
+
2
p
+
n
k
+
p
+
1
k
+
(a)
(b)
(c)
Fig. 3.2: (a) Emissão de um glúon com pequeno x por um párton rápido; (b) a correção
radiativa de mais baixa ordem; (c) uma cascata de glúons.
No caso de emissões intermediárias de n glúons, tem-se formada uma cascata gluônica,
representada pelo diagrama na Figura 3.2(c). A ordem relati va para a contribuição de tal
cascata é
¯α
n
s
1
x
dx
1
x
1
. . .
x
n1
x
dx
n
x
n
=
1
n!
¯α
s
ln
1
x
n
, (3.2.15)
onde o termo fatorial surge do ordenamento em p
+
. Se x é muito pequeno, ¯α
s
ln(1/x) 1,
ou seja, em altas energias, a rapidez Y , definida como ln(1/x), pode comp ensar o pequeno
valor do acoplamento ¯α
s
. Assim, torna-se necessário realizar uma ressoma de todos esses
termos aumentados de (¯α
s
Y )
n
e esta leva ao surgimento do chamado pomeron BFKL.
Imaginemos agora que desejamos medir a distribuição de glúons de um hádron ener-
gético genérico. Uma forma de fazer isso é sondar o hádron com um pequeno dipolo de
cor, constituído por um quark, cuja coordenada transversal é x, e por um antiquark, cuja
Capítulo 3. Evolução das amplitudes de espalhamento na QCD 28
2
2
n
x
y
1
2
n
x
y
n
Dipolo
Dipolo
Alvo
Alvo
Fig. 3.3: Pomeron BFKL.
coordenada transversal é y. Se r = |x y| é o tamanho deste dipolo, ele sondará os com-
ponentes gluônicos do hádron com momenta tais que k 1/r Λ
QCD
. Como veremos no
Capítulo 4, essa descrição de uma colisão em termos de dipolos pode ser bem compreendida
no DIS elétron-próton: em um referencial especial, o fóton virt ual possui energia suficiente
para se dividir em um par quark-antiquark, o qual interage com o próton.
Assume-se que o hádron (o alvo, que se move para a direita) é energético o suficiente,
de modo que uma descrição partônica de sua função de onda seja possível, e que o dipolo (o
projétil, que se move para a esquerda) é lento o suficiente, de modo que sua decomposição
em estados de Fock possua apenas uma componente, um par q ¯q em um estado singleto de
cor. A interação entre o dipolo e o hádron é ilustrada na Figura 3.3. À esquerda temos o
diagrama de mais baixa ordem, no qual a interação ocorre por meio da troca de dois glúons.
À direita, é mostrada a situação na qual o glúon com pequeno x que interage com o dipolo
é gerado por uma cascat a gluônica. A soma sobre a cascata representa o chamado pomer on
BFKL ou, equivalentemente, os componentes com pequeno x da função de onda hadrônica.
É importante notar que a figura corresponde ao quadrado de um diagrama em teoria de
perturbações, que o interesse principal é a determinação da probabilidade de encontrar
um dado modo na função de onda do hádron.
3.3 O formalismo de dipolos e a equação BFKL
Em vez de realizar a ressoma de diagramas, pode-se equivalentemente estudar a evolução
da função de onda do alvo ou da amplitude de espalhamento após um acréscimo Y em
Capítulo 3. Evolução das amplitudes de espalhamento na QCD 29
rapidez. Mais ainda, pode-se ver o último glúon suave como sendo emitido pelo dipolo,
que é um objeto simples e portanto possui uma evolução que pode ser facilmente estudada.
Nesta tese, trabalharemos num limite bastante especial, que é o limite de grande número
de cores, ou seja, de grande N
c
. Neste limite, um glúon de coordenada transversal z
pode ser considerado como um par quark-antiquark no ponto z. Assim, o estado final é
composto de dois dipolos (x, z) e (z, y), ou seja, ao invés de considerarmos uma função
de onda composta por quarks, antiquarks e glúons, é suficiente considerar um onium, que
é um sistema de dipolos q¯q brancos (sem cor). Este é o chamado formalismo de dipolos
introduzido por Mueller [55–57]. Na Figura 3.4 temos a representação da evolução de um
dipolo à medida que a rapidez (energia) aumenta. Emissões sucessivas de glúons suaves
podem ser consideradas como independentes. No formalismo de dipolos, os glúons emitidos
são substituídos por dipolos, ou seja, a emissão gluônica é equivalente à divisão de dipolos.
Fig. 3.4: Passos consecutivos da evolução de um dipolo no limite de grande N
c
.
A probabilidade diferencial de um dipolo (x, y) se dividir em dois dipolos (x, z) e (z, y)
é
dP =
¯α
s
2π
(x y)
2
(x z)
2
(z y)
2
d
2
z dY
¯α
s
2π
M
xyz
d
2
z dY (3.3.16)
Denotemos por T
xy
a amplitude de espalhamento para um dipolo composto por um quark
de coordenada transversal x e um antiquark de coordenada transversal y. A notação ·
denota a média sobre todas as realizações do campo de cor do alvo, e pode ser entendida
como o valor médio para o operador da m atriz T sobre a função de onda do alvo. Se uma
transformação de Lorentz (boost) é realizada no dipolo, aumentando sua rapidez de Y para
Y +δY , esse dipolo pode se dividir em dois dipolos (x, z) e (z, y), e cada um desses dipolos
Capítulo 3. Evolução das amplitudes de espalhamento na QCD 30
pode interagir com o alvo, o que leva à seguinte equação linear:
Y
T
xy
Y
=
¯α
s
2π
d
2
zM
xyz
T
xz
Y
+ T
zy
Y
T
xy
Y
.
=
¯α
s
2π
z
M
xyz
T
xz
Y
+ T
zy
Y
T
xy
Y
. (3.3.17)
Esta é a versão, na linguagem de dipolos, da equação BFKL [7–9]. O último termo do
integrando de (3.3.17) é a contribuição virtual (o dipolo original interage antes de se dividir).
Na linguagem diagramática, a evolução BFKL é representada na Figura 3.5.
x
y
δY
x
y
z
x
y
z
x
y
z
Fig. 3.5: Evolução BFKL.
O fato desta equação ser linear leva à expectativa de que sua solução cresça exponenci-
almente. De fato, se considerarmos independência do parâme tro de impacto, ou seja, uma
solução homogênea do tipo T (r = |x y|)
Y
, obtemos, realizando uma transformada de
Mellin,
T (r)
Y
=
C
2
T
0
(γ; r
0
)e
¯α
s
χ(γ)Y γ log(r
2
0
/r
2
)
, (3.3.18)
onde χ(γ) corresponde aos auto-valores do núcleo BFKL no espaço de Mellin, mostrados na
Figura 3.6,
χ(γ) = 2ψ(1) ψ(γ) ψ(1 γ), ψ(γ) d ln Γ(γ)/dγ, (3.3.19)
T
0
(γ; r
0
) descreve transformada de Mellin da condição inicial em Y = 0,
T
0
(γ; r
0
) =
0
d
2
r
r
2
r
2
0
r
2
γ
T
0
(r), (3.3.20)
e r
0
é uma escala de referência arbitrária introduzida por razões dimensionais. Independen-
temente da forma da condição inicial T
0
(r), ela deve satisfazer a condição de transparência
de cor, se anula com r
2
quando r 0, e satura em um valor constante quando r 1/Q
0
,
com Q
0
sendo o corte infravermelho nas condições iniciais.
A integral na Eq.(3.3.20) é absolutamente convergente para 0 < Re < 1. Assim, o
Capítulo 3. Evolução das amplitudes de espalhamento na QCD 31
γ
χ(γ)
10.90.80.70.60.50.40.30.20.10
14
12
10
8
6
4
2
0
Fig. 3.6: Os autovalores do núcleo BFKL.
contorno para a integração complexa na Eq.(3.3.18) pode ser escolhida como
C = {γ = γ
1
+
2
; −∞ < γ
2
< ∞},
com 0 < γ
1
< 1.
Para um tamanho de dipolo fixo, é possível obter o comportamento em altas energias
através da expansão em torno do ponto de sela γ = 1/2, e o resultado é
T (r)
Y
r
r
0
exp
ω
P
Y
log
2
(r
2
0
/r
2
)
2χ
′′
(1/2)¯α
s
Y
, (3.3.21)
onde ω
P
= 4¯α
s
π ln 2. Esta expressão possui dois problemas principais:
(i) O crescimento exponencial da amplitude com a rapidez Y , que leva a um crescimento
da seção de choque com uma potência da energia, o que viola a unitariedade da amplitude
de espalhamento, T 1 e, conseqüentemente, o limite de Froissart, que afirma que o
crescimento das seções de choque totais com a energia, em valores assintóticos de energia,
é limitado por
σ
const
m
2
π
ln
2
s (3.3.22)
(ii) Difusão para uma região não perturbativa: à medida que a rapidez aumenta, mesmo
que uma condição inicial seja centrada em torno de um pequeno valor de r, a amplitude pode
sofrer difusão para grandes tamanhos de dipolos, ou seja, para a região não perturbativa.
Nesta, os momenta transversais de alguns dipolos tornam-se da ordem de Λ
QCD
, levando
a uma constante de acoplamento α
s
(Λ) 1 e, p ortanto, invalidando a aplicação da QCD
perturbativa, ou seja, a própria evolução BFKL.
Capítulo 3. Evolução das amplitudes de espalhamento na QCD 32
Devido a tais problemas, vê-se que a equação BFKL não é ideal para a descrição da
evolução em altas energias, e neste regime efeitos não lineares tornam-se importantes. Como
veremos a seguir, tais efeitos surgem quando, por exemplo no caso do espalhamento de um
único dipolo com um hádron, é considerada a situação na qual os dois dipolos resultant es
da separação do dipolo original interagem com o hádron simultaneamente, resultando em
um diagrama adicional, que descreve a fusão de glúons, ou fusão de pomerons, ou ainda,
na linguagem de dipolos, a fusão de dipolos. Nas próximas seções, veremos como essas não
linearidades se refletem nas equações de evolução das amplitudes de espalhamento.
3.4 A equação JIMWLK
O método que descreve a fusão de pomerons é o Condensado de Vidros de Cor (CGC),
cuja evolução é dada pela chamada equação JIMWLK [16–24]. O CGC é uma teoria efetiva
na QCD e cujo nome corresponde a algumas de suas características básicas: Condensado
representa a grande densidade de glúons que pode atingir valores da ordem O(1
s
), Vidros
diz respeito a uma separação clara de escalas de tempo entre os graus de liberdade suaves
e rápidos na função de onda e Cor representa a carga de cor portada pelos glúons.
A motivação essencial para a formulação do CGC é a separação de escalas nos m omenta
longitudinais entre os pártons rápidos e os glúons suaves emitidos. Denotando p or p
µ
e k
µ
os correspondentes quadri-momenta no cone de luz, tem-se que k
+
p
+
, o que por sua
vez leva a uma separação análoga no que diz respeito às energias, pois k
= k
2
/2k
+
p
+
.
Tem-se, como conseqüência, uma separação também na escala de tempo: o tempo de vida
x
+
1/k
dos glúons suaves é muito menor se comparado à escala de tempo típica
1/p
para a dinâmica dos pártons rápidos. Assim, embora estes párt ons rápidos sejam na
realidade flutuações virtuais, eles aparecem para os glúons macios como uma fonte estática
(independente de x
+
) randômica, à qual está associada a densidade de carga de cor ρ
a
(x
, x).
Esta está localizada próxima ao cone de luz x
0 e a corrente correspondente possui apenas
uma componente +, que pode ser representada por J
µ
a
(x
, x) = δ
µ+
ρ
a
(x
, x).
Os glúons macios correspondem aos campos de cor determinados pela equação de Yang-
Mills na presença dessa corrente, ou seja,
(D
ν
F
νµ
)
a
(x) = δ
µ+
ρ
a
(x
, x). (3.4.23)
Em certos gauges, pode-se resolver esta equação clássica e obter o campo de gauge A[ρ] como
uma função de uma dada fonte. Os observáveis de interesse na QCD em altas energias, por
exemplo o número de ocupação de glúons ou a amplitude de um dipolo externo com o hádron,
podem ser expressos como operadores construídos com as componentes A
+
do campo de
Capítulo 3. Evolução das amplitudes de espalhamento na QCD 33
W
Y
[ρ]
ρ
Y + YY
ρ
+
Y
=
W
Y +∆Y
[ρ]
Y + Y
ρ
ρ
Y + Y
Fig. 3.7: Evolução da distribuição de probabilidade de cargas de cor.
gauge no alvo. Para qualquer operador O[α] que representa o observável, seu valor médio é
dado pela integral funcional
O[ρ]
Y
DαO[ρ]W
Y
[ρ], (3.4.24)
onde W
Y
[ρ] serve como um peso e fornece a densidade de probabilidade de haver uma
distribuição ρ em uma dada rapidez Y . Tal interpretação probabilística está baseada no
fato da fonte ser randômica, pois corresponde à carga de cor vista pelos glúons suaves no
período curto de suas flutuações virtuais; isto ocorre em um tempo arbitrário e é instantâneo
comparado ao tempo de vida da própria fonte. Nas duas equações acima, não nada
relacionado com a dinâmica da QCD em pequeno x, a qual deve estar incluída na distribuição
W
Y
[ρ], que esta é a única quantidade da Eq.(3.4.24) que depende da rapidez Y . Vejamos,
então, como se procede a evolução dessa distribuição.
Lembremos que Y = ln(1/x) = ln(P
+
/k
+
), onde P
+
é o momentum longitudinal total
do hádron. Está claro que, em qualquer valor de rapidez, todos os modos com momenta
longitudinais muito maiores do que k
+
devem ser incluídos na fonte. Se a rapidez do
hádron for aumentada de Y para Y + Y , alguns modos que anteriormente eram suaves
necessariamente tornam-se rápidos e, p ortanto, devem ser integrados para serem incluídos
na fonte, o que levará a uma modificação na distribuição de probabilidade. A teoria nesta
nova escala Y +Y é novamente definida pelas Eqs.(3.4.23) e (3.4.24) simplesmente fazendo
Y Y + Y . A Figura 3.7 mostra uma interpretação simples da evolução em rapidez.
Nesta, o glúon com rapidez Y
é representativo dos modos semi-rápidos que são integrados,
ou seja, Y Y
Y + Y .
A derivação da equação de evolução para W
Y
[ρ] não será apresentada aqui, p orém pode
ser encontrada nos artigos originais [16, 17,20–22, 24], bem como em [19,58]. O resultado
mais importante para nós é que esta equação pode ser escrita em uma formulação Hamil-
toniana em uma forma mais compacta, não em termos de ρ, mas em termos do campo de
cor α
Y
(x
, x) A
+
(x
, x). O resultado é a equação JIMWLK (Jalilian-Marian, Iancu,
Capítulo 3. Evolução das amplitudes de espalhamento na QCD 34
McLerran, Weigert, Leodinov, Kovner) na forma Hamiltoniana
Y
W
Y
[α] = HW
Y
[α]
1
2
xy
δ
δα
a
Y
(x)
χ
ab
(x, y)
δ
δα
b
Y
(y)
W
Y
[α], (3.4.25)
com
χ
ab
(x, y) =
1
π
d
2
z
(2π)
2
K
xyz
(1 +
˜
V
x
˜
V
y
˜
V
x
˜
V
z
˜
V
z
˜
V
y
). (3.4.26)
Na equação acima,
K
xyz
(x
i
z
i
)(y
i
z
i
)
(x z)
2
(z y)
2
(3.4.27)
e
˜
V
x
=
˜
V (x) = P exp
ig
dx
α
a
(x
, x)T
a
(3.4.28)
corresponde a uma linha de Wilson expressa na representação adjunta.
Naturalmente, nesta representação-α, o valor médio do operador O é obtido através da
integral
O[α]
Y
DαO[α]W
Y
[α]. (3.4.29)
Para que se obtenha a evolução do observável, efetua-se a derivação da expressão acima
com respeito a Y . Como a única quantidade do integrando que depende da rapidez é a
distribuição de probabilidade W
Y
[α], usa-se a Eq.(3.4.25) e o resultado é
Y
O
Y
= HO
Y
1
2
xy
δ
δα
a
Y
(x)
χ
ab
(x, y)
δ
δα
b
Y
(y)
O
Y
. (3.4.30)
3.5 Hierarquia de Balitsky
Consideremos um projétil que consiste em um par quark-antiquark, um dipolo que se pro-
paga no campo de cor do alvo hadrônico. A matriz S correspondente é obtida como a média
em cor do produto das matrizes S individuais para o quark (com coordenada transversal x)
e o antiquark (com coordenada transversal y):
S(x, y; A
+
) =
1
N
c
tr(V
x
V
y
). (3.5.31)
Aqui,
V
x
= P exp
ig
dx
A
+
a
(x
, x)t
a
(3.5.32)
onde o símbolo P denota o ordenamento em x
das matrizes de cor A
+
a
(x
, x)t
a
no expoente,
da direita para a esquerda na ordem crescente dos seus argumentos x
. A Eq.(3.5.32) é
Capítulo 3. Evolução das amplitudes de espalhamento na QCD 35
uma linha de Wilson (na representação fundamental), ordenada na trajetória, representada
pela trajetória do dipolo.
A matriz S para o espalhamento dipolo-hádron é obtida efetuando a média sobre todos
os campos de cor no alvo, o que fornece
S
xy
S(x, y)
Y
=
1
N
c
tr(V
x
V
y
)
. (3.5.33)
Para obtermos sua evolução com a energia, substituímos O = S
xy
na Eq.(3.4.30) e o resul-
tado é
Y
S
xy
Y
=
¯α
s
2π
x
M
xyz
S
xy
Y
+ S
xz
S
zy
Y
, (3.5.34)
onde
M
xyz
(x y)
2
(x z)
2
(y z)
2
(3.5.35)
e ¯α
s
= α
s
N
c
. Esta equação não é uma equação fechada, mas a primeira equação de uma
hierarquia infinita, a chamada hierarquia de Balitsky, pois a evolução da função de dois
pontos das linhas de Wilson está acoplada à evolução da função de quatro pontos, que por
sua vez está acoplada à de seis pontos e assim por diante. Tomemos, por exemplo, a segunda
equação desta hierarquia, satisfeita p ela função de 4 pontos no lado direito da Eq.(3.5.34).
Ela tem a forma
Y
S
xz
S
zy
Y
=
¯α
s
2π
w
M
xzw
(S
xz
Y
+ S
xw
S
wz
) S
zy
Y
+
¯α
s
2π
w
M
zyw
S
xz
S
zy
Y
+ S
zw
S
wy

Y
+
1
N
2
c
¯α
s
2π
w
[M
xyz
M
xzw
M
zyw
] Q
xzwy
+ Q
xwzy
Y
,(3.5.36)
onde
Q
xzwy
1
N
c
tr(V
x
V
z
)V
w
V
y
)V
z
V
w
)) tr(V
x
V
y
))
(3.5.37)
é o operador de quadrupolo, que torna a segunda equação da hierarquia bastante com-
plicada. Contudo, como vemos, este termo possui um fator 1/N
2
c
, e portanto é suprimido
no limite de grande N
c
. Assim, neste limite, esta equação é reduzida aos termos das duas
primeiras linhas da Eq.(3.5.36).
É importante notar que a hierarquia descrita acima foi obtida considerando a evolução
do alvo (o CGC), mas também pode ser interpretada em termos da evolução do projétil, o
que foi feito originalmente por Balitsky [25–27,59]. A evolução é implementada realizando
uma transformação de Lorentz (boost) no projétil, que evolui através da radiação de glúons
(com pequeno x). No limite de grande N
c
no qual o projétil é uma coleção de N dipolos, sua
Capítulo 3. Evolução das amplitudes de espalhamento na QCD 36
evolução consiste na separação destes dipolos em dois novos dipolos, seguida pela interação
do sistema final de N + 1 dipolos com o alvo.
(a)
(b)
(c)
(d)
(e)
(f)
Fig. 3.8: Diagramas para o espalhamento de um único dipolo: (a) contribuição de árvore;
(b,c,d) um passo na evolução do projétil; (e,f) um passo na evolução do alvo.
Nesta tese, estamos particularmente interessados na evolução da amplitude de espalha-
mento, ao invés da matriz S. Assim, usando T
xy
= 1 S
xy
, a primeira equação de Balitsky
para a amplitude de espalhamento tem a forma:
Y
T
xy
Y
=
¯α
s
2π
x
M
xyz
T
xy
Y
+ T
xz
Y
+ T
zy
Y
T
xz
T
zy
Y
. (3.5.38)
Na Figura 3.8, são mostrados diagramas de Fe ynman que ilustram os processos contidos na
Capítulo 3. Evolução das amplitudes de espalhamento na QCD 37
Eq.(3.5.38) na perspectiva da evolução do projétil. O proce sso de espalhamento é tomado na
ordem mais baixa da teoria de perturbações. O espalhamento entre o dipolo e o alvo começa
com a troca de dois glúons, como mostrado na Figura 3.8(a). Os diagramas 3.8(b) e (c)
representam as contribuições presentes na evolução BFKL (o termo virtual e o espalhamento
de um dos dipolos com o alvo, respectivamente) e o diagrama 3.8(d) descreve o espalhamento
simultâneo dos dois dipolos com o alvo, representado pelo termo quadrático na eq.(3.5.38).
Os diagramas 3.8(e) e (f) ilustram o espalhamento do ponto de vista da evolução do alvo,
ou seja do CGC, e correspondem aos diagramas 3.8(c) e (d), respectivamente.
Observemos que o termo de espalhamento múltiplo é da ordem dos outros quando T T
T , ou seja, quando T 1. Assim, este termo é uma contribuição obrigatória próximo ao
limite de unitariedade e deve, portanto, ser levado em conta. No regime no qual as energias
são relativamente baixas, o alvo consiste em um sistema diluído e temos o caso no qual o
espalhamento é fraco. Isto que implica em T 1 e, portanto, T T T 1. Neste caso,
o termo que corresponde ao múltiplo espalhamento da Eq.(3.5.38) torna-se desprezível e a
equação para a amplitude de espalhamento dipolo-hádron reduz-se à equação linear BFKL.
3.6 A equação BK
A equação de Balitsky (3.5.38) não é uma equação fechada para T
xy
, mas a primeira
equação de uma hierarquia infinita. Para que seja obtida uma equação fechada para a
amplitude de espalhamento de um dipolo, pode-se considerar que o alvo é suficientemente
grande e homogêneo. Neste caso, considera-se a aproximação de campo médio T
xz
T
zy
Y
=
T
xz
Y
T
zy
Y
na Eq.(3.5.38). Chamando N
Y
(x, y) T
xy
Y
, tem -se como resultado a
equação abaixo:
Y
N
Y
(x, y) =
¯α
2π
d
2
z M
xyz
[N
Y
(x, z) + N
Y
(z, y) N
Y
(x, y) N
Y
(x, z)N
Y
(z, y)]
(3.6.39)
Esta expressão é a equação de Balitsky-Kovchegov (equação BK) [25–29], que é a equação
mais simples que pode ser obtida na QCD perturbativa que inclui tanto as contribuições
BFKL em altas energias como as correções de unitariedade.
Consideremos o caso no qual a amplitude N
Y
(x, y) independe do parâmetro de impacto
b = (x + y)/2 e depende apenas do tamanho do dipolo r = |x y|. Após a integração da
parte angular, e após ser realizada a transformada de Fourier
N
Y
(k) =
d
2
r
2π
e
ik·r
r
2
N
Y
(r)
=
0
dr
r
J
0
(kr)N
Y
(r), (3.6.40)
Capítulo 3. Evolução das amplitudes de espalhamento na QCD 38
obtém-se a equação BK no espaço de momentum para a amplitude N
Y
(k = |k|)
Y
N
Y
(k) =
¯α
π
d
2
k
(kk
)
2
N
Y
(k
)
k
2
k
2
+ (k k
)
2
N
Y
(k)
¯α N
2
Y
(k). (3.6.41)
Esta equação pode ser reescrita de maneira compacta [29]
Y
N = ¯αχ(
L
)N ¯αN
2
, (3.6.42)
onde χ é dado pela Eq.(3.3.19) e L = ln(k
2
/k
2
0
), k
0
sendo uma escala fixa. O núcleo (3.3.19)
é um operador integro-diferencial que pode ser definido por meio da expansão em série
χ(
L
) = χ(γ
0
)1 + χ
(γ
0
)(
L
γ
0
1) +
1
2
χ
′′
(γ
0
)(
L
γ
0
1)
2
+
1
6
χ
(3)
(γ
0
)(
L
γ
0
1)
3
+ . . . (3.6.43)
para um γ
0
entre 0 e 1.
Recentemente Munier e Peschanski [30–32] mostraram que a equação BK encontra-
se na classe de universalidade da equação de Fisher-Kolmogorov-Petrovsky-Piscounov (F-
KPP) [33]. Esta é uma equação conhecida na física estatística de não equilíbrio e sua
dinâmica é utilizada para descrever muitos sistemas de reação-difusão na aproximação de
campo médio, e tem sido bastante estudada mais de 60 anos.
Esta redução da equação BK foi obtida ao se aplicar uma aproximação de ponto de sela
(conhecida também como aproximação difusiva) ao núcleo (3.3.19), ou seja, ao considerar a
expansão (3.6.43) até a segunda ordem na derivada
L
, em torno de γ
0
=
1
2
, após a qual a
equação BK fica
Y
N = ¯α¯χ(
L
)N ¯αN
2
, (3.6.44)
com
¯χ(
L
) = χ
1
2
+
1
2
χ
′′
1
2
L
+
1
2
2
. (3.6.45)
A mudança de variáveis
t = Y, x L, u(x, t) N
Y
(k), (3.6.46)
resulta na equação FKPP para u(t, x) (ver Apêndice A):
t
u(t, x) =
2
x
u(t, x) + u(t, x) u
2
(t, x). (3.6.47)
Sabe-se que esta equação admite ondas progressivas como soluções assintóticas, ou seja,
Capítulo 3. Evolução das amplitudes de espalhamento na QCD 39
a solução u(x, t) para a equação (3.6.47) adquire a forma u(x v
c
t) de uma frente viajante
para grandes valores de t a uma velocidade crítica v
c
, sem deformação (ver figura 3.9). A
seguir, faremos uma breve revisão dos principais resultados proveniente s da Eq.(3.6.47) e
em seguida abordaremos os aspectos relevantes relativos à equação BK (3.6.42).
t = 0
t
1
X(t
1
)
2t
1
X(t
2
)
3t
1
X(t
3
)
x
0
1
u(x, t)
Fig. 3.9: Comportamento de ondas progressivas de u(t, x), solução de (3.6.47)
A solução da Eq.(3.6.47) corresponde a uma superposição linear de ondas [30–32]:
u(t, x) =
C
2
u
0
(γ) exp {−γ(x
fo
+ vt) + ω(γ)t}, (3.6.48)
onde ω(γ) é a transformada de M ellin do núcleo da equação, ou seja,
2
x
+ 1, e define a
relação de dispersão da equação linearizada, x
fo
= x vt é a posição relativa da frente de
onda. Cada onda parcial cujo número de onda é γ possui uma velocidade de fase
v
ϕ
(γ) =
ω(γ)
γ
(3.6.49)
obtida pela imposição de que o fator exponencial na Eq.(3.6.48) seja independente do tempo.
A velocidade de grupo é definida pelo ponto de sela γ
c
do fator de fase exponencial:
v =
γ
c
v
g
. (3.6.50)
Basicamente, a verdadeira velocidade da frente depende da competição entre as singularida-
des de u
0
(γ) (a transformada de Mellin da condição inicial u(t = 0, x)) e o ponto de sela do
fator de fase. Supõe-se que u(t = 0, x) seja uma função monotônica que conecta de forma su-
ave 1 e 0 quando x vai de −∞ até , com comportamento assintótico u(t = 0, x)
x→∞
e
γ
0
x
.
No caso onde γ
0
γ
c
, tem-se que a solução é levada ao comportamento crítico corres-
Capítulo 3. Evolução das amplitudes de espalhamento na QCD 40
pondente a ondas progressivas para tempos grandes,
u(t, x)
t→∞
e
γ
c
x
fo
(3.6.51)
e o expoente crítico γ
c
corresponde a uma onda que possui uma velocidade de fase mínima
igual à velocidade de grupo
v
c
=
ω(γ
c
)
γ
c
=
γ
c
. (3.6.52)
Esta discussão pode ser traduzida em termos da QCD através da equação BK. Aqui,
assim como em todos os capítulos seguintes, nos concentraremos apenas no caso no qual
a constante de acoplamento forte ¯α
s
é fixa. Como vimos anteriormente na discussão da
equação BFKL, a solução da parte linear da Eq.(3.6.42) é dada por
N
Y
(k) =
C
2
N
0
(γ)e
γL+ ¯α
s
χ(γ)Y
, (3.6.53)
onde L faz o papel da variável espacial x. Para a determinação da quantidade análoga à
velocidade de grupo v
g
, pode-se comparar a Eq.(3.6.53) com (3.6.48) e vê-se que a relação
de dispersão é dada por
ω(γ) = ¯α
s
χ(γ). (3.6.54)
A velocidade de fase possui um mínimo em γ
c
. A partir das Eqs.(3.6.50) e (3.6.52), γ
c
é a
solução da equação implícita
γ
c
χ
(γ
c
) = χ(γ
c
), (3.6.55)
o que implica em γ
c
= 0, 6275.... Neste ponto, deve-se analisar a condição inicial N
0
(γ),
que deve ser tal que N(Y = 0, k) k
2
para grandes valores de L, ou seja, deve satisfazer
a propriedade de transparência de cor. Isso corresponde a γ
0
= 1. Assim, tem-se que
γ
c
γ
0
e, portanto, uma situação similar à discutida anteriormente para o comportamento
assintótico de u(t, x) da equação FKPP. A velocidade crítica da frente de onda é
v
c
= ¯α
s
χ(γ
c
)
γ
c
, (3.6.56)
o que corresponde à seleção da onda mais lenta possível. Para o núcleo de ordem dominante
(3.3.19), obtém-se v
c
= 4.88¯α
s
. Usando-se a aproximação difusiva para o núcleo BFKL,
descrita anteriormente, é possível chegar a uma expressão para a solução assintótica para
a equação BK independente do parâmetro de impacto. Em particular, para a cauda da
Capítulo 3. Evolução das amplitudes de espalhamento na QCD 41
amplitude, obtém-se
N (k, Y )
kQ
s
k
2
Q
2
s
(Y )
γ
c
log
k
2
Q
2
s
(Y )
exp
log
2
(k
2
/Q
2
s
(Y ))
2¯αχ
′′
(γ
c
)Y
, (3.6.57)
Na expressão acima, Q
s
(Y ) é a escala de saturação, a qual mede a posição da frente de onda.
Mais precisamente, é L
s
(Y ) = log(Q
2
s
/k
2
0
) = v
c
Y que mede a posição da frente. Um cálculo
mais detalhado permite a extração de duas correçõ es subdominantes adicionais, resultando
na escala de saturação [30–32]
Q
2
s
(Y ) = k
2
0
exp
v
c
Y
3
2γ
c
log(Y )
3
γ
2
c
2π
¯αχ
′′
(γ
c
)
1
Y
. (3.6.58)
log(k
2
)
T
4035302520151050-5
10
1
0.1
0.01
0.001
1e-04
1e-05
Fig. 3.10: Comportamento de onda viajante da equação BK através de uma simulação
numérica [60] para valores de rapidez Y = 0, 5, 10, 15, 20, 25.
É importante saber que, na realidade, a utilização da aproximação difusiva é apenas
uma m aneira mais direta de verificar essas propriedades da equação BK [60], pois é possível
provar a existência de ondas progressivas mesmo para equações mais complicadas que a
FKPP, com cleos mais complicados que
2
x
+ 1. Na figura 3.10 é apresentado o resultado
de uma simulação numérica da evolução em rapidez da equação BK [60]. Pode-se ver que
a amplitude de espalhamento apresenta um comportamento ass intótico similar ao represen-
tado na Figura 3.9 para u(x, t): para valores assintóticos da rapidez ela viaja para valore s
cada vez maiores de L, mantendo a sua forma.
Consideremos agora o limite de nosso interesse, ou seja, o de altas energias, que corres-
Capítulo 3. Evolução das amplitudes de espalhamento na QCD 42
ponde a valores muito grandes da rapidez Y . Neste limite, o expoente em (3.6.57) tende a
zero e portanto a exponencial tende a 1, levando a uma amplitude
N (k, Y )
Y →∞
= N
k
2
Q
2
s
(Y )
kQ
s
=
k
2
Q
2
s
(Y )
γ
c
log
k
2
Q
2
s
(Y )
. (3.6.59)
a expressão acima mostra que, para valores assintóticos da rapidez, a amplitude N(k, Y )
deixa de depender separadamente de k e Y e apresenta uma dependência apenas na variável
de escalamento k
2
/Q
2
s
(Y ).
A equação (3.6.59) possui uma propriedade interessante. Ela mostra que a amplitude,
em altas energias, não depende separadamente das variáveis k e Q
s
, mas apenas da razão
entre elas, ou seja, apresenta o escalamento geométrico. Essa propriedade expressa o fato
de que quando se move ao longo da linha de saturação, o comportamento das amplitudes
de espalhamento permanece invariável.
A saturação introduz naturalmente a escala Q
s
que fornece um corte infravermelho que
resolve o problema de instabilidade no infravermelho da equação BFKL. As correções subdo-
minantes em (3.6.57) também possuem um papel importante. O último termo introduz uma
dependência explícita da rapidez Y e, portanto, viola o escalamento geométrico. Contudo,
este termo pode ser desprezado quando
log
2
(k
2
/Q
2
s
(Y ))
2¯αχ
′′
(γ
c
)Y
< 1.
Isto significa que o escalamento geométrico é obtido para
log
k
2
/Q
2
s
(Y )
2χ
′′
(γ
c
)¯αY ,
ou seja, em uma janela que estende-se
Y acima da escala de saturação. Assim, em altas
energias, as conseqüências da saturação podem ser observadas arbitrariamente longe, na
cauda diluída, onde N
Y
(k) é muito menor que 1.
3.7 Para além das equações de Balitsky-JIMWLK: as
flutuações
3.7.1 As equações de laços de pomeron
Vimos nas seções anteriores que as equações da hierarquia de Balitsky, também chamadas
de equações de Balitsky-JIMWLK, para as amplitudes de espalhamento são obtidas quando
é considerado o espalhamento entre um dip olo e um alvo denso, cuja função de onda é
Capítulo 3. Evolução das amplitudes de espalhamento na QCD 43
descrita pelo formalismo do CGC. Como foi observado, essas equações (ver por exemplo,
Eq.(3.5.38)) p ossuem uma ampla região de validade, desde o regime diluído, no qual T
1, onde temos o domínio da evolução BFKL, até o regime de altas densidades, no qual
T 1 e os efeitos não lineares (efeitos de saturação ou correções de unitariedade) tornam-
se importantes. Entretanto, as equações de Balitsky-JIMWLK não incluem as chamadas
flutuações no número de glúons, cuja importância foi apenas recentemente descoberta [38,
61–63]. Basicamente, a equação JIMWLK, em sua essência, não leva em conta as divisões de
pomerons (apenas fusão), importantes no limite de densidade pequena, ou seja, no regime
diluído.
Diante da constatação da importância das flutuações na evolução para o regime de altas
energias, concluiu-se que as equações de Balitsky-JIMWLK est ão incompletas. As novas
equações, obtidas por Iancu e Triantafyllopoulos [38], incluem tanto fusão como a divisão
de pomerons, e por isso são chamadas de Equações de Laços de pomeron.
Para entendermos essas novas equações, consideremos o espalhamento entre um alvo
denso e um projétil composto por 2 dipolos. Alguns diagramas relativos a esse espalha-
mento são mostrados na Figura 3.11. A partir da Eq.(3.5.36), é fácil ver que a evolução
de
T
(2)
envolverá termos de mesma ordem e termos não lineares, ou seja, amplitudes de
espalhamento para 3 dipolos
T
(3)
. Tais termos são representados, respectivamente, pe-
los diagramas 3.11(b) e (c) (evolução do projétil) ou 3.11(d) e (e) (evolução do alvo). O
diagrama 3.11(a) corresponde à contribuição do tipo árvore.
Nas Figuras 3.11(f) e (g) são mostrados dois diagramas de mesma ordem em α
s
que
os diagramas para evolução linear (Figuras 3.11(b) e (d)). O diagrama 3.11(f) é correta-
mente incluído na versão completa das equações de Balitsky-JIMWLk, porém, no limite de
grande N
c
torna-se uma contribuição subdominante. O diagrama de flutuação 3.11(g), que
corresponde a uma divisão de pomeron, ou fusão de pomeron, dependendo da perspectiva
na qual enxergamos a evolução, não está presente no formalismo de Balitsky-JIMWLK. Na
linguagem de dipolos, esse diagrama pode ser obtido a partir da divisão de dipolos dentro
do alvo (diluído), como mostrado na Figura 3.12. Naturalmente, essas flutuações no alvo
são completamente ignoradas quando é realizada uma aproximação de campo médio, ou
seja, quando consideramos a equação BK, válida quando o número de partículas no alvo é
muito grande.
Na aproximação de grande N
c
e no nível de tr oca de dois glúons, o novo termo, re-
presentado pelo diagrama acima, foi calculado por Iancu e Triantafyllopoulos [38] e aqui
apresentaremos alguns dos principais passos [60]. É importante frisar que esp era-se que as
flutuações sejam importantes quando o alvo é ainda diluído, o que é sempre o caso para
dipolos com tamanhos suficientemente pequenos. Nesse caso, o alvo pode ser considerado
como uma superposição de dipolos e o glúon no canal s no diagrama de flutuação pode ser
Capítulo 3. Evolução das amplitudes de espalhamento na QCD 44
(a)
(b)
(c)
(d)
(e)
(f)
(g)
Fig. 3.11: Diagramas para o espalhamento de um par de dipolos: (a) contribuição de
árvore; (b, c) um passo na evolução do projétil; (d, e) um passo na evolução do
alvo; (f) um diagrama suprimido para grande N
c
; (g) o diagrama que falta, de
ordem dominante tanto em α
s
como em N
c
.
considerado como emitido através de uma divisão de dipolo no alvo, como representado na
Figura 3.12. Como é considerada a aproximação de troca de dois glúons, a amplitude de
Capítulo 3. Evolução das amplitudes de espalhamento na QCD 45
x
1
y
1
x
2
y
2
u
z
v
Fig. 3.12: Para um alvo diluído, o diagrama de flutuação pode ser obtido a partir da divisão
de um dipolo no alvo.
espalhamento está relacionada com a densidade de dipolos através da fórmula
T
xy
= α
2
s
uv
A
0
(xy|uv) n
uv
. (3.7.60)
onde A
0
é a amplitude de dipolo-dipolo no nível de troca de dois glúons
A
0
(xy|uv) =
1
8
ln
2
(x u)
2
(y v)
2
(x v)
2
(y u)
2
. (3.7.61)
Essa relação pode ser invertida e obtém-se
n
xy
= α
2
s
2
x
2
y
T
xy
.
a nova contribuição para a evolução de
T
(2)
x
1
y
1
;x
2
y
2
é, portanto,
Y
T
(2)
x
1
y
1
;x
2
y
2
flut
=
1
2
¯α
s
2π
α
s
2π
2
(3.7.62)
uvz
M
uvz
A
0
(x
1
y
1
|uz)A
0
(x
2
y
2
|zv)
2
u
2
v
T
uv
+ (1 2),
que se torna da mesma ordem que a contribuição BFKL quando T
2
α
2
s
T , ou T α
2
s
,
ou seja, no regime diluído. Embora isso pareça irrelevante para a física de saturação, é
importante lembrar que, devido à transparência de cor, a amplitude se torna arbitrariamente
pequena para tamanhos pequenos de dipolos. Assim, mesmo para alvos densos, sempre
uma região do espaço de fase na qual o sistema é diluído e sua evolução governada por
efeitos de flutuações.
Nossa discussão tem sido até agora centrada na equação de evolução para
T
(2)
, mas,
como tem-se uma hierarquia infinita de equações, é importante generalizar um pouco e con-
siderar a evolução de
T
(j)
, que é a amplitude de espalhamento de um projétil que contém
j dipolos. Essa evolução contém três contribuições: um termo linear BFKL proporcional a
Capítulo 3. Evolução das amplitudes de espalhamento na QCD 46
T
(j)
, um termo negativo de saturação proporcional a
T
(j+1)
e um termo de contribui-
ção das flutuações, proporcional a
T
(j1)
. De uma maneira mais simples, sua estrutura
(suprimindo as coordenadas transversais) tem a forma
T
(j)
Y
= j ¯α
s
T
(j)
j ¯α
s
T
(j+1)
+
j(j 1)
2
¯α
s
α
2
s
T
(j1)
. (3.7.63)
O ponto crucial nessa discussão é que é possível mostrar [38, 60, 64] que essa hierarquia
infinita para as amplitudes médias pode ser reescrita como uma única equação de Langevin:
1
¯α
s
T
xy
Y
=
1
2π
z
M
xyz
[T
xz
+ T
zy
T
xy
T
xz
T
zy
]
+
α
s
2π
1
2π
uvz
A
0
(xy|uz)
|u v|
(u z)
2
2
u
2
v
T
uv
ν
uvz;Y
, (3.7.64)
onde ν
uvz;Y
é um ruído branco Gaussiano, que satisfaz
ν
uvz;Y
= 0 (3.7.65)
ν
u
1
v
1
z
1
;Y
ν
u
2
v
2
z
2
;Y
= δ
u
1
v
2
δ
v
1
u
2
δ
z
1
z
2
δ(¯α
s
Y ¯α
s
Y
) (3.7.66)
e todas as outras correlações se anulam.
A nova hierarquia gerada pela inclusão do termo de flutuação possui uma dependên-
cia do plano transversal muito mais complicada que a hierarquia de Balitsky-JIMWLK. É
possível simplificar o problema realizando uma aproximação local na amplitude do espalha-
mento dipolo-dipolo A
0
. Assume-se que dois dipolos interagem apenas se tiverem o mesmo
tamanho e se seus centros de massa são suficientemente próximos de modo a permitir uma
sobreposição dos dois dipolos, tem-se
T
xy
= κα
2
s
|x y|
4
n
xy
,
onde κ é um fator de ordem 1. Uma segunda aproximação possível se refere à dependência
no parâmetro de impacto [38]. Após uma transformada de Fourier do tamanho do dipolo
r = |x y| para o momentum k e considerando independência no parâmetro de impacto, a
hierarquia toma uma forma simplificada. Para as duas primeiras equações, tem-se
Y
T
k
= ¯α
s
χ(
ρ
) T
k
¯α
s
T
(2)
k,k
,
Y
T
(2)
k
1
,k
2
= ¯α
s
χ(
ρ
1
)
T
(2)
k
1
,k
2
¯α
s
T
(3)
k
1
,k
1
,k
2
+ (1 2)
+ ¯α
s
κα
2
s
k
2
1
δ(k
2
1
k
2
2
) T
k
1
,
Capítulo 3. Evolução das amplitudes de espalhamento na QCD 47
onde ρ
i
= log(k
2
i
/k
2
0
). Essa forma simplificada da hierarquia de equaçõ es para as amplitudes
de espalhamento também pode ser reescrita na forma de uma equação de Langevin
Y
T (ρ) = ¯α
χ(
ρ
)T (ρ) T
2
(ρ) +
κα
2
s
T (ρ)η(ρ, Y )
, (3.7.67)
onde η é um termo de ruído que satisfaz
η(ρ, Y ) = 0,
(3.7.68)
η(ρ
1
, Y
1
)η(ρ
2
, Y
2
) =
4
¯α
δ(ρ
1
ρ
2
)δ(Y
1
Y
2
).
Esse termo, sendo local, é mais simples do que aquele para o caso geral, (3.7.64). A equação
acima é estocástica e descreve um formalismo evento-por-evento. Cada realização do termo
de ruído corresponde a uma evolução particular do alvo e pode-se mostrar que, após a média
sobre todas elas ser efetuada, a hierarquia para a evolução de
T
k
é recuperada.
É importante observarmos que, formalmente, a Eq.(3.7.67) é a equação BK com um
termo de ruído adicional. Se, da mesma maneira que para a equação BK pura, for realizada
a aproximação difusiva descrita na Seção anterior, e uma mudança de variáveis (ver Apêndice
A), chega-se à equação FKPP estocástica (sFKPP) [37, 65], que consiste em adicionar um
termo de ruído à equação FKPP, que surge quando deve-se considerar efeitos de discreteza:
t
u(x, t) =
2
x
u(x, t) + u(x, t) u
2
(x, t) +
2
N
u(x, t) η(x, t).
Quando o número de partículas N torna-se muito grande (o que na QCD corresponde a
α
2
s
0), a aproximação de campo médio é justificada e a equação FKPP (não estocástica)
é válida.
3.7.2 Resultados a partir da sFKPP e conseqüências para a QCD
A equação sFKPP tem sido bastante estudada no que diz respeito a problemas em física
estatística, tanto p or métodos numéricos como analíticos, com resultados que descreveremos
de forma breve e adaptaremos ao nosso problema relacionado com a QCD.
Um dos resultados mostrados pelas simulações numéricas é qu e, para um número N
de partículas grande (e finito), a frente gerada se propaga com uma velocidade assintótica
v
N
que é menor do que a velocidade correspondente v
0
para a equação FKPP. Além disso,
quando N cresce, a convergência de v
N
para v
0
é extremamente lenta: v
0
v
N
1/ ln
2
N
quando N 1. Para o problema correspondente da QCD isso implica na seguinte depen-
Capítulo 3. Evolução das amplitudes de espalhamento na QCD 48
dência em Y da escala de saturação:
v
c
lim
Y →∞
s
(Y )
dY
v
c
C
ln
2
(1
2
s
)
quando α
s
1, (3.7.69)
Assim, quando α
s
diminui, o exponente de saturação v
c
converge apenas lentamente para
seu respectivo valor de campo médio (3.6.56).
Devido às flutuações inerentes no termo de ruído, realizações diferentes da mesma evolu-
ção levam a um conjunto de frentes que possuem a mesma forma, mas são deslocadas umas
das outras ao longo do eixo ρ. Isso quer dizer que a posição ρ
s
ln(Q
2
s
/k
2
0
) da frente é uma
variável aleatória, caracterizada por um valor médio ρ
s
(Y ), o qual, para Y grande, cresce
de acordo com a Eq. (3.7.69) (já que esse é o comportamento assintótico comum a todas as
frentes do conjunto), e também por uma dispersão σ
2
ρ
2
s
ρ
s
2
, a qual espera-se que
cresça linearmente com Y : σ
2
(Y ) ¯α
s
DY . A partir de simulações numéricas, mostrou-se
que o coeficiente de difusão D escala como 1/ ln
3
N quando N 1. Para a QCD, isso
implica em:
D
fr
D
ln
3
(1
2
s
)
quando α
s
1 , (3.7.70)
que se anula, como esperado, quando α
s
0, mas apenas muito lentamente.
Os resultados da equação sFKPP são consistentes com estudos dos modelos estocásticos
de partículas cuja aproximação de campo médio é a equação FKPP. Nesse contexto, Brunet
e Derrida [66] explicaram o escalamento 1/ ln
2
N da correção da velocidade da frente v
0
v
N
para grande N, permitindo o cálculo do coeficiente C. Traduzindo para a QCD, tem-se:
v
c
v
c
π
2
γ
c
χ
′′
(γ
c
)
2 ln
2
(1
2
s
)
, quando α
s
1. (3.7.71)
Na QCD, o coeficiente C = π
2
γ
0
χ
′′
(γ
0
)/2 é numericamente grande, C 150.
3.7.3 O escalamento difusivo
Vimos anteriormente que, devido às flutuações, diferentes realizações do alvo levam a fren-
tes com posições ρ
s
distintas. É importante frisar que essas frentes, mesmo na presença
de flutuações, apresentam padrão de ondas progressivas, ou seja, apresentam escalamento
geométrico, assim como as soluçõ es da equação BK. Veremos, no entanto, que quando efetu-
amos uma média sobre todas as realizações, o que agora significa uma média sobre todas as
posições das frentes de onda, o comportamento assintótico da amplitude de espalhamento
T (ρ) torna-se completamente diferente.
Consideremos a amplitude de um único evento, T e trabalhemos numa notação no espaço
de coordenadas, de modo que ρ = ln(1/r
2
k
2
0
). Essa amplitude, para uma dada realização,
Capítulo 3. Evolução das amplitudes de espalhamento na QCD 49
possui um momentum de saturação ρ
s
(Y ) e satura ao valor T = 1 na região atrás da frente
formada. Além disso, a partir de resultados provenientes da equação FKPP [67], a amplitude
toma a forma de escalamento T (ρ, Y ) e
γ
c
(ρρ
s
)
em um intervalo finito em ρ ρ
s
adiante
da frente, ou seja, a frente é compacta, diferentemente da solução da frente da equação BK,
que estende-se até distâncias ρ ρ
s
Y (janela de escalamento geométrico), e portanto,
sua espessura cresce com a rapidez.
Para o que virá adiante, é suficiente descrever o comportamento de T através da seguinte
interpolação:
T (ρ, ρ
s
) =
1 para ρ ρ
s
exp [γ
c
(ρ ρ
s
)] para ρ ρ
s
.
(3.7.72)
Recentemente, Marquet, Soyez e Xiao [68] mostraram que os valores de ρ
s
são distribuídos,
com uma boa aproximação, de acordo com uma densidade de probabilidade Gaussiana
P
Y
(ρ
s
)
1
πσ
2
exp
(ρ
s
ρ
s
)
2
σ
2
, (3.7.73)
onde ρ
s
v
c
Y e σ
2
D ¯α
s
Y , como visto anteriormente. A amplitude média T é, então,
determinada através da fórmula
T (ρ, ρ
s
) =
−∞
s
P (ρ
s
) T (ρ, ρ
s
). (3.7.74)
Usando as Eqs.(3.7.72) e a Eq.(3.7.73) pode-se mostrar que
T =
1
2
Erfc
z
σ
+
1
2
exp
γ
2
c
σ
2
4
γ
0
z
2 Erfc
z
σ
γ
c
σ
2

, (3.7.75)
onde z ρ ρ
s
e Erfc(x) é a função erro complementar:
Erfc(x) =
2
exp(x
2
)
πx
para x 1
1 para x = 0
exp(x
2
)
πx
para x 1.
(3.7.76)
O primeiro termo do lado direito da Eq.(3.7.75) vem da parte de saturação da Eq.(3.7.72)
enquanto o segundo termo vem da parte descrita pelo decaimento exponencial da mesma.
Consideremos duas situações interessantes:
(i) Baixas energias, ou σ 1
c
. Neste caso, a amplitude mantém o perfil de um único
Capítulo 3. Evolução das amplitudes de espalhamento na QCD 50
evento, exceto no pequeno intervalo |z|
<
σ, onde ela é mais suave:
T (z) =
1 para z σ
e
γ
c
z
para z σ.
(3.7.77)
Nesse regime, o escalamento geométrico se manifesta no nível das amplitudes médias, si-
tuação similar à aproximação de camp o médio, exceto pelos fa tos de que a frente agora é
compacta e possui uma velocidade menor.
(ii) Altas energias, ou seja, σ 1
c
. Neste caso, o primeiro termo da Eq.(3.7.75)
domina em todas as regiões, exceto a distâncias extremamente grandes adiante da frente,
tais que z
>
γ
c
σ
2
. Por exemplo, no intervalo σ z γ
c
σ
2
, no qual a amplitude média é
pequena, obtém-se
T (z)
1
2
π
σ
z
1 +
2z
γ
c
σ
2
e
z
2
2
. (3.7.78)
Por outro lado, para valores muito grandes de ρ, tais que z σ
2
, a contribuição dominante
para a amplitude média vem da segunda parte da Eq.(3.7.72), ou seja, da cauda exponencial
em (3.7.75). Tem-se, assim,
T (z) exp(γ
c
z) exp
γ
c
σ
2
4
. (3.7.79)
A expressão para a amplitude média toma, em altas energias, a seguinte forma:
T (z) =
1
2
Erfc(z) para −∞ < z γ
c
σ
2
e
z
para γ
c
σ
2
z.
(3.7.80)
Nessa última expressão, consideramos um perfil mais realístico, de modo que a cauda ex-
ponencial, para muito grandes valores de z, seja determinada pela parte de transparência
de cor. A partir da expressão acima, tem-se que, quando z γ
c
σ
2
, o perfil da amplitude
média não possui nenhum vestígio de γ
c
e muito menos do escalamento geométrico. Em
vez disso, ela obedece um novo tipo de escalamento: escala como uma função de z, o
chamado escalamento difusivo.
Neste Capítulo foram revisadas algumas das principais propriedades da evolução das
amplitudes de espalhamento no formalismo de dipolos. Nos próximos capítulos essas propri-
edades serão utilizadas em aplicações fenomenológicas, mais especificamente ao DIS elétron-
próton, e abordadas novamente em um outra perspectiva, a de um modelo unidimensional
para o espalhamento na QCD em altas energias.
Capítulo 4
Fenomenologia aplicada ao DIS:
formalismo de dipolos
Neste capítulo abordaremos algumas aplicações fenomenológicas ao DIS, mas especifica-
mente ao DIS no referencial de dipolo, o qual permite que o processo seja escrito de forma
fatorizada. Dentro deste formalismo, faremos uma breve revisão de alguns modelos para
a seção de choque de dipolo e desenvolveremos o modelo fenomenológico AGBS, o mais
recente proposto na literatura, que permite escrever a seção de choque de dipolo através
de uma análise no espaço de momentum. Compararemos nossos resultados com os obtidos
pelos outros modelos, todos desenvolvidos no espaço de coordenadas.
4.1 DIS no referencial de dipolo
Consideremos a colisão entre um fóton virtual e um próton em altas energias, ou seja pe queno
x. Vimos que, em p equeno x, o fóton virtual sonda um quark que é tipicamente um quark
de mar que é emitido pelos glúons com pequeno x no próton. É conveniente separar es sa
emissão de quarks da função de onda do próton através de uma mudança de referencial
no qual vemos o processo. Este novo referencial–chamado de referencial de dipolo– pode
ser obtido realizando uma transformação de Lorentz (boost), de modo que a maior parte
da energia ainda é carregada pelo próton, mas o fóton possui energia suficiente para se
dissociar, bem antes do espalhamento, em um par quark-antiquark q¯q, um dipolo de cor, o
qual então interage com o próton. Este processo é representa do na Figura 4.1.
Mais especificamente, esse referencial é descrito, usando as co ordenadas do cone de luz,
por
P
µ
= (
2P, 0, 0), q
µ
= (
Q
2
2q
, 0, q
) (4.1.1)
onde q
z
Q, mas com α
s
ln(q/Q) 1. Pode-se mostrar que o tempo de vida do par q¯q é
muito maior que o tempo de colisão, de modo que suas coordenadas transversais permanecem
’congeladas’ durante a interação com o próton.
Capítulo 4. Fenomenologia aplicada ao DIS: formalismo de dipolos 52
Fig. 4.1: Ilustração da transformação de Lorentz levando do referencial de Breit para o
referencial de dipolo.
Chamando de κ e κ
os quadri-momenta do quark e do antiquark do par, respectivamente,
tem-se
κ
µ
=
κ
2
2zq
, κ, zq
, (4.1.2)
κ
µ
=
κ
2
2(1 z)q
, κ, (1 z)q
, (4.1.3)
onde z e (1 z) são as frações de momentum do fóton carregadas pelo quark e antiquark,
respectivamente. Para calcular o tempo de formação do dipolo t
form
, deve-se calcular a
diferença de energia entre o par q¯q e o fóton virtual. A energia do par é
E
q¯q
=
(κ + κ
)
+
+ (κ + κ
)
2
=
1
2
q
+
κ
2
2z(1 z)q
, (4.1.4)
e a energia do fóton virtual é obtida analogamente,
E
γ
=
q
+
+ q
2
=
1
2
q
Q
2
2q
. (4.1.5)
Assim,
E = E
par
E
γ
=
1
2
κ
2
2z(1 z)q
+
Q
2
2q
(4.1.6)
Capítulo 4. Fenomenologia aplicada ao DIS: formalismo de dipolos 53
Para κ
2
<
z(1 z)Q
2
[48],
E
Q
2
2q
. (4.1.7)
Usando
x =
Q
2
2Mν
, ν =
P · q
M
=
2P q
M
, (4.1.8)
tem-se que
E
Q
2
2q
=
P Q
2
Mν
= 2P x. (4.1.9)
Finalmente, o tempo de formação do par é estimado através da fórmula
t
form
1
E
1
2P x
. (4.1.10)
Como x 1, temos que o tempo de formação do par é muito maior que o tempo da colisão,
t
form
t
col
1
P
. (4.1.11)
Equivalentemente, pode-se dizer que o dipolo viaja uma longa distância l 1/2P x antes
do espalhamento com o alvo.
Esta representação física é expressa numa fórmula fatorizada para as seções de cho-
que σ
γ
p
T,L
(e portanto, para a seção de choque total σ
γ
p
). Estas são dadas pela seguinte
convolução:
σ
γ
p
T,L
(Q
2
, Y ) =
d
2
r
1
0
dz
Ψ
T,L
(r, z; Q
2
)
2
σ
dip
(r, Y ), (4.1.12)
onde |Ψ
T,L
(r, z; Q
2
)|
2
são as funções de onda do fóton (transversal e longitudinal) que forne-
cem as densidades de probabilidade para um fóton se separar em um dipolo com tamanho
transversal r. Estas podem ser calculadas na Eletrodinâmica Quântica (QED) perturba-
tiva [69,70] e suas formas explícitas são
|Ψ
T
(r, z; Q
2
)|
2
=
2N
c
α
em
4π
2
q
e
2
q

z
2
+ (1 z)
2
¯
Q
2
q
K
2
1
(
¯
Q
q
r) + m
2
q
K
2
0
(
¯
Q
q
r)
(4.1.13)
|Ψ
L
(r, z; Q
2
)|
2
=
2N
c
α
em
4π
2
q
e
2
q
4Q
2
z
2
(1 z)
2
K
2
0
(
¯
Q
q
r)
(4.1.14)
onde
¯
Q
q
= z(1 z)Q
2
+ m
2
q
, m
q
é a massa do quark com sabor q e K
0,1
são as funções de
McDonald de ordem zero e um, respectivamente.
A função σ
dip
é a seção de choque total da interação dipolo-próton, e é dada, através do
Capítulo 4. Fenomenologia aplicada ao DIS: formalismo de dipolos 54
Q
2
z
1z
b
r
Fig. 4.2: Representação do DIS no referencial de dipolos em termos das variáveis envolvi-
das: o tamanho do dipolo r, o parâmetro de impacto b e as frações de momentum
carregadas pelos constituintes do dipolo.
teorema óptico, por
σ
dip
(r, Y ) = 2
d
2
b T (r, b)
Y
, (4.1.15)
onde T (r, b)
Y
é a amplitude de espalhamento para um dipolo cujo tamanho transversal
é dado pelo vetor r = x y, em um dado parâmetro de impacto b =
x+y
2
. A Figura 4.2
ilustra a interação do dipolo com o próton, apresentando as variáveis envolvidas no processo.
4.2 Seção de choque σ
dip
: fenomenologia
Como as formas explícitas das funções de onda do fóton virtual são conhecidas, resta-nos ter
uma expressão para a seção de choque dipolo-próton. Diferentes modelos têm se mostrado
muito eficientes na descrição dos dados do DIS.
Aqui, faremos uma breve revisão de dois destes modelos, o chamado modelo GBW
[71,72], e sua extensão à análise DGLAP, resultando no modelo de saturação BGBK [73,74],
e o modelo IIM [75] (ou ajuste CGC). Em seguida descreveremos em detalhes o modelo
AGBS [76], o foco deste capítulo. Outros modelos que também descrevem com sucesso os
dados do DIS podem ser encontrados na literatura. Estes incluem o modelo de Forshaw e
Shaw [77–79], baseado nas idéias da teor ia de Regge combinadas com a idéia de saturação,
o modelo de McDermott, Frankfurt, Guzey e Strikman [80], bastante próximo ao modelo
BGK, e a análise feita por Kowalski, Motyka e Watt [81], que leva em conta o problema da
dependência no parâmetro de impacto da amplitude de espalhamento.
Os modelos GBW e IIM consideram que a amplitude de espalhamento não depende do
parâmetro de impacto b, o que é uma suposição razoável em altas e nergias. Neste caso, o
próton é tratado como um disco homogêneo de raio R
p
e a seção de choque dipolo-próton em
Capítulo 4. Fenomenologia aplicada ao DIS: formalismo de dipolos 55
(4.1.12) torna-se proporcional à amplitude de espalhamento através da relação (r = |x y|)
σ
γ
p
dip
(r, Y ) = 2πR
2
p
T (r)
Y
. (4.2.16)
Vimos na Seção anterior que a função de estrutura do próton F
2
pode ser escrita em termos
da seção de choque γ
p através da fórmula
F
2
(x, Q
2
) =
Q
2
4π
2
α
em
σ
γ
p
T
(x, Q
2
) + σ
γ
p
L
(x, Q
2
)
,
Assim, através das equações (4.1.12), (4.1.13), (4.1.14) e (4.2.16), é possível expressar F
2
em termos da amplitude de espalhamento T (r)
Y
:
F
2
(x, Q
2
) =
Q
2
R
2
p
2πα
em
d
2
r
1
0
dz
|Ψ
T
(z, r)|
2
+ |Ψ
L
(z, r)|
2
T (r)
Y
(4.2.17)
É importante observar que a amplitude de espalhamento depende do tamanho r do dipolo,
ou seja, é expressa no espaço de coordenadas. Esta é uma característica comum aos m odelos
GBW e IIM, descritos a seguir.
4.2.1 O modelo GBW
O modelo de saturação desenvolvido por Golec-Biernat e Wüsthoff, ou modelo GBW [71,72],
é um modelo fenomenológico que incorpora de uma maneira simples elementos básicos da
física de sat uração. Este modelo está contido na seguinte parametrização para a seção de
choque de dipolo:
σ
dip
(x, r) = σ
0
T (r)
Y
= σ
0
1 e
r
2
Q
2
s
(x)/4
, (4.2.18)
onde Q
s
(x) = Q
2
0
(x
0
/x)
λ
, Q
0
= 1 GeV e σ
0
, x
0
e λ são parâmetros livres, extraídos a partir
do ajuste aos dados de HERA para F
2
em pequeno x.
A Eq.(4.2.18) interpola entre o regime de transparência de cor (σ
dip
r
2
) para pequenos
tamanhos de dipolos e limite de disco negro (σ
dip
σ
0
) para grandes tam anhos de dipolos,
com a tr ansição entre estes regimes ocorrendo em uma escala r 1/Q
s
(x). Contudo, o
modelo ignora algumas propriedades da evolução na QCD tanto no regime diluído, onde
ele falha em descrever a violação do escalamento de Bjorken, como na transição para a
saturação, onde a transparência de cor é modificada pela evolução BFKL para pequenos
dipolos r < 1/Q
s
(x).
O modelo GBW fornece um ajuste muito bom aos primeiros dados de HERA para
σ
γ
p
para x < 0.01 e para valores pequenos e intermediários de Q
2
(até em torno de 100
GeV
2
). Os valores dos parâmetros obtidos a partir do ajuste original são σ
0
= 23 milibarns,
Capítulo 4. Fenomenologia aplicada ao DIS: formalismo de dipolos 56
λ = 0.288 e x
0
= 3.04 × 10
4
[71, 72]. Tanto para a função de estrutura F
2
como para a
função de estrutura difrativa F
D
2
este modelo reproduziu os dados de HERA com bastante
sucesso.
Com o advento de dados de HERA mais precisos, este modelo precisou ser aperfeiçoado
para fornecer uma descrição melhor de F
2
em valores de virtualidade do fóton Q
2
> 20
GeV
2
. Isto foi feito por Bartels, Golec-Biernat e Kowalski [73,74], incorporando ao modelo
de saturação uma densidade de glúons que evolui de acordo com as equações de evolução
DGLAP, o que aperfeiçoa a parte de pequeno r da seção de cho que de dipolo. Esta é dada
por
σ
dip
= σ
0
1 exp
π
2
r
2
α
s
(µ
2
)xg(x, µ
2
)
3σ
0

, (4.2.19)
o que recupera o resultado conhecido na QCD perturbativa que para dipolos com tamanhos
pequenos a seção de choque de dipolo é proporcional à distrib uição de glúons com a escala
µ
2
1/r
2
. A distribuição de glúons evolui com a escala de acordo com as equações DGLAP
em ordem dominante. O comportamento da seção de choque (4.2.19) em grande r não é
modificada em relação ao modelo GBW.
O modelo BGBK foi utilizado para a descrição dos dados de HERA para a função de
estrutura F
2
, bem como para fazer predições para as contribuições de quar ks pesados F
c¯c
2
e
F
b
¯
b
2
. Foram obtidas boas descrições para os dados, bem como apresentadas predições para
a função de estrutura longitudinal F
L
e função de estrutura difrativa.
4.2.2 O modelo IIM
O modelo proposto por Iancu, Itakura e Munier [75], também chamado de modelo IIM ou
ajuste CGC, foi originalmente utilizado para reproduzir os dados de F
2
no regime cinemático
x < 0.01 e Q
2
< 50 GeV
2
. Os parâmetros livres neste modelo são exatamente os mesmos
do modelo GBW, ou seja, σ
0
= 2πR
2
p
, x
0
e λ.
A amplitude de espalhamento dipolo-próton, que entra na Eq.(4.2.16), é expressa da
seguinte maneira,
T (r)
Y
=
T
0
rQ
s
2
2
[
γ
c
+
ln(2/rQ
s
)
κλY
]
para rQ
s
2
1 e
a ln
2
(brQ
s
)
para rQ
s
> 2.
(4.2.20)
A primeira expressão de (4.2.20) é obtida a partir da análise da equação BFKL com
uma condição de contorno na linha de saturação, enquanto a segunda expressão é obtida a
partir da equação BK [82–84] ou mesmo a partir do formalismo do Condensado de Vidros
de Cor (CGC) [23]. Os parâmetros a e b são fixos de modo a garantir que a amplitude e
sua derivada sejam contínuas em rQ
s
= 2 e, no artigo original, γ
c
e κ = χ
′′
(γ
c
)χ(γ
c
) foram
Capítulo 4. Fenomenologia aplicada ao DIS: formalismo de dipolos 57
fixados nos seus valores obtidos a partir do núcleo BFKL em ordem dominante, γ
c
0.6275
e κ 9.9. A amplitude T
0
foi variada entre os valores 0.5 e 0.9, o valor 0.7 fornecendo
bons resultados do ajuste. Na análise original, o ajuste aos dados de HERA não incluem
contribuições dos quarks pesados. Apenas recentemente [85] o modelo IIM foi aperfeiçoado
com a inclusão dos quarks pesados (charm e bottom).
A parametrização do modelo IIM para a amplitude de espalhamento, e conseqüentemente
para a seção de choque de dip olo, também foi usada para outras aplicações fenomenológicas,
tanto para a física de HERA como de RHIC (Relativistic Heavy Ion Collider).
4.3 O modelo AGBS
Tanto o modelo GBW como o IIM incorp oram comportamentos esperados para a seção
de choque de dipolos. Em particular, o modelo IIM fornece uma parametrização para a
amplitude de espalhamento completamente baseada na QCD perturbativa, reproduzindo o
seu comportamento nos regimes diluído e saturado.
Como vimos no Capítulo 3, o comportamento assintótico das soluções da equação BK é
naturalmente expresso no espaço de momentum, es pecialmente no regime diluído, obtido a
partir das soluçõ es de ondas progressivas da equação BK. Isto nos motivou para desenvolver-
mos um modelo de dipolos para expressar a seção de choque σ
γ
p
em termos da amplitude
neste espaço, a qual designaremos por
˜
T (k, Y )
1
. Chamamos este modelo de AGBS [76],
como referência aos nomes dos autores (Amaral-Gay Ducati-Betemps-Soyez). Este modelo
é o primeiro da literatura desenvolvido em espaço de momentum no formalismo de dipolos.
Para compreendermos este modelo, iniciamos observando que, realizando a transformada
de Fourier
T (r, Y ) = r
2
d
2
k
2π
e
ik·r
˜
T (k, Y )
= r
2
0
dk kJ
0
(kr)
˜
T (k, Y ) (4.3.21)
para a amplitude de espalhamento, podemos reescrever a função de estrutura F
2
em termos
de
˜
T (k, Y ). Após algumas manipulações algébricas (ver Apêndice B), podemos reescrever
a expressão (4.2.17) e chegamos à seguinte expressão para F
2
:
F
2
(x, Q
2
) =
Q
2
R
2
p
N
c
4π
2
0
dk
k
1
0
dz |
˜
Ψ(k
2
, z; Q
2
)|
2
˜
T (k, Y ), (4.3.22)
1
A partir de agora, omitiremos a notação ·.
Capítulo 4. Fenomenologia aplicada ao DIS: formalismo de dipolos 58
onde a função de onda do fóton é agora expressa no espaço de momentum,
|
˜
Ψ(k
2
, z; Q
2
)|
2
=
q
4
¯
Q
2
q
k
2
+ 4
¯
Q
2
q
2
e
2
q
×
z
2
+ (1 z)
2
4(k
2
+
¯
Q
2
q
)
k
2
(k
2
+ 4
¯
Q
2
q
)
arcsinh
k
2
¯
Q
q
+
k
2
2
¯
Q
2
q
2
¯
Q
2
q
(4.3.23)
+
4Q
2
z
2
(1 z)
2
+ m
2
q
¯
Q
2
q
k
2
+
¯
Q
2
q
¯
Q
2
q
4
¯
Q
4
q
+ 2
¯
Q
2
q
k
2
+ k
4
¯
Q
2
q
k
2
(k
2
+ 4
¯
Q
2
q
)
arcsinh
k
2
¯
Q
q
.
O modelo AGBS consiste em propor uma parametrização para
˜
T (k, Y ), a primeira no es-
paço de momentum da literatura, e tal proposta não consiste em usar diretamente soluções
numéricas da equação BK como entrada, mas sim utilizar nossos conhecimentos das pro-
priedades de suas soluções a fim de apresentar uma expressão analítica para
˜
T (k, Y ). Esta
parametrização para a amplitude será então inserida em (4.3.22) com o objetivo de repro-
duzir medidas experimentais recentes obtidas para F
2
. Como veremos, a reprodução de tais
medidas é realizada com sucesso.
4.3.1 A parametrização para
˜
T
A expressão (3.6.57) apenas a descrição da chamada ’cauda’ diluída da frente de onda
˜
T (k, Y ) 1 (k Q
s
). Para descrever a frente de maneira completa, precisamos também
das expressões para
˜
T na vizinhança da escala de saturação e na própria região de saturação.
Na região de infravermelho, pode-se mostrar, por exemplo, calculando a transformada de
Fourier da função Heaviside T (r) = Θ(rQ
s
1), que a amplitude comporta-se como
˜
T
k
Q
s
(Y )
, Y
kQ
s
= c log
k
Q
s
(Y )
(4.3.24)
onde c é uma constante que não possui um valor fixo.
As parametrizações (3.6.57) e (4.3.24) descrevem completamente o comportamento as-
sintótico da amplitude. Falta obter a transição entre estes dois regimes, ou seja, sermos
capazes de descrever o comportamento da amplitude em torno da escala de saturação. Em
princípio, a maneira mais simples de fazê-lo seria usar (3.6.57) para k > Q
s
e (4.3.24)
para k < Q
s
e determinar a constante c assumindo uma distribuição contínua. Contudo,
tal definição por partes pode introduzir oscilações em T (r, Y ) no espaço de coordenadas
levando mesmo a amplitudes negativas. Portanto, a melhor maneira de obter a descrição da
transição para a saturação é realizar um procedimento de ajuste através de uma interpolação
Capítulo 4. Fenomenologia aplicada ao DIS: formalismo de dipolos 59
analítica entre os dois comportamentos assintóticos.
A fim de obter tal m odelo de interpolação que descreve a transição do regime diluído
para o de saturação, construímos o último a partir do primeiro. Inicialmente, deixemos de
lado o termo logarítmico em ambas (3.6.57) e (4.3.24), que a interpolação entre eles é
uma tarefa mais simples. Partimos então de uma função monotonicamente decrescente de
L que reproduz (a menos do fator logarítmico) a expressão para a c auda da frente de onda,
Eq.(3.6.57). Chamaremos esta função de
˜
T
dil
:
˜
T
dil
= A exp
γ
c
log
k
2
Q
2
s
(Y )
L
2
log
2
(2)
2¯α
s
χ
′′
(γ
c
)Y
, (4.3.25)
onde
L = log
1 +
k
2
Q
2
s
(Y )
. (4.3.26)
e a escala de saturação
Q
2
s
(Y ) = k
2
0
exp (v
c
Y ), v
c
= ¯α
s
χ
(γ
c
) (4.3.27)
A amplitude é unitarizada por meio de uma eikonal, ou seja, T
unit
= 1 exp(T
dil
), e a
expressão final para
˜
T (k) é obtida após reinserirmos os comportamentos logarítmicos nos
domínios infravermelho e ultravioleta. A expressão precisa para realizar a unitarização
consiste puramente em um artifício matemático e não em uma escolha fisicamente moti-
vada. Vale ressaltar que testamos outras escolhas, por exemplo, T
dil
/(1 + T
dil
), e obtivemos
resultados similares. Optamos pela forma eikonal por causa de sua simplicidade.
Entre alguns fatores logarítmicos testados, uma escolha que nos forneceu bons resultados
foi
˜
T (k) =
log
k
Q
s
+
Q
s
k
+ 1
(1 e
T
dil
) (4.3.28)
As equações (4.3.25)–(4.3.28) compõem o modelo AGBS para a amplitude de espalhamento
e será utilizada para descrever, a função de estrutura F
2
dada por (4.3.22).
4.4 Descrição dos dados para γ
p
4.4.1 Conjunto de dados
O procedimento de ajuste foi realizado utilizando as últimas medidas de HERA, de H1
[1] e ZEUS [2, 3], da função de estrutura do próton F
2
. Como nosso método pretende
descrever o comportamento a pequeno x, mas considerando valores não tão grandes de Q
2
Capítulo 4. Fenomenologia aplicada ao DIS: formalismo de dipolos 60
Massas k
2
0
(10
3
GeV
2
) v
c
χ
′′
c
R
p
(GeV
1
)
m
q
= 50 MeV, m
c
= 50 MeV 3.782 ± 0.293 0.213 ± 0.004 4.691 ± 0.221 2.770 ± 0.045
m
q
= 50 MeV, m
c
= 1.3 GeV 7.155 ± 0.624 0.193 ± 0.003 2.196 ± 0.161 3.215 ± 0.065
m
q
= 140 MeV, m
c
= 1.3 GeV 3.917 ± 0.577 0.161 ± 0.005 2.960 ± 0.279 4.142 ± 0.167
Tab. 4.1: Resultados do ajuste aos dados de F
2
. Os valores dos parâmetros com seus
respectivos erros são indicados.
Massas χ
2
/nop
m
q
= 50 MeV, m
c
= 50 MeV 0.960
m
q
= 50 MeV, m
c
= 1.3 GeV 0.988
m
q
= 140 MeV, m
c
= 1.3 GeV 1.071
Tab. 4.2: Valores de χ
2
por ponto para distintos valores para as massas dos quarks.
(o que significaria incluir correções DGLAP), nossa análise é aplicável ao seguinte regime
cinemático:
x 0.01,
0.045 Q
2
150 GeV
2
.
(4.4.29)
Isto nos um total de 279 pontos. Os dados de H1 devem ser reescalados por um fator
1,05 que se encontra na incerteza de normalização.
No que diz r espeito aos parâmetros, mantemos γ
c
= 0.6275 and ¯α = 0.2 fixos e, para a
convolução com a função de onda do fóton, assumimos situações diferentes para as massas
dos quarks: o valor da massa para os quarks leves m
q
foi escolhido como sendo 50 ou 140
MeV enquanto usamos m
c
= m
q
ou m
c
= 1.3 GeV para a massa do charm. Assim, nossos
parâmetros livres são v
c
, χ
′′
c
, k
2
0
e R
p
.
4.4.2 Resultados
Os parâmetros obtidos a partir do ajuste são mostrados juntamente com o χ
2
por número de
pontos nas Tabelas 4.1 e 4.2. Plotamos também a com paração com os resultados experimen-
tais para F
p
2
na Figura 4.3, bem como prediçõe s para a função de estrutura d e charm F
c
2
na
Figura 4.4. Para ambos os casos, as curvas correspondem a m
q
= 50 MeV e m
c
= 1.3 GeV.
Verifica-se uma boa concordância com as medidas para F
p
2
devido ao pequeno valor de χ
2
fornecido pelo ajuste. Além disso, a F
c
2
prevista pela parametrização está em concordância
razoável com os resultados experimentais, o que mostra a robustez do modelo AGBS.
No nosso método, a escala de saturação Q
s
corresponde à escala na qual a amplitude de
espalhamento de dip olo é T (k = Q
s
(Y ), Y ) = [1+log(2)](11/e) 1.07. Vale observar que,
Capítulo 4. Fenomenologia aplicada ao DIS: formalismo de dipolos 61
10
-1
1 10
1
10
2
Q
2
10
-3
10
-2
10
-1
σ
γ
*
p
/ (2
i
)
0.01
10
-1
1 10
1
10
2
Q
2
10
-3
10
-2
10
-1
σ
γ
*
p
/ (2
i
)
0.0061
10
-1
1 10
1
10
2
Q
2
10
-3
10
-2
10
-1
σ
γ
*
p
/ (2
i
)
0.0037
10
-1
1 10
1
10
2
Q
2
10
-3
10
-2
10
-1
σ
γ
*
p
/ (2
i
)
0.0022
10
-1
1 10
1
10
2
Q
2
10
-3
10
-2
10
-1
σ
γ
*
p
/ (2
i
)
0.00135
10
-1
1 10
1
10
2
Q
2
10
-3
10
-2
10
-1
σ
γ
*
p
/ (2
i
)
8.2 10
-4
10
-1
1 10
1
10
2
Q
2
10
-3
10
-2
10
-1
σ
γ
*
p
/ (2
i
)
5 10
-4
10
-1
1 10
1
10
2
Q
2
10
-3
10
-2
10
-1
σ
γ
*
p
/ (2
i
)
3 10
-4
10
-1
1 10
1
10
2
Q
2
10
-3
10
-2
10
-1
σ
γ
*
p
/ (2
i
)
1.8 10
-4
10
-1
1 10
1
10
2
Q
2
10
-3
10
-2
10
-1
σ
γ
*
p
/ (2
i
)
1.1 10
-4
10
-1
1 10
1
Q
2
10
-3
10
-2
10
-1
1
σ
γ
*
p
/ (2
i
)
6.7 10
-5
10
-1
1 10
1
Q
2
10
-3
10
-2
10
-1
1
σ
γ
*
p
/ (2
i
)
4 10
-5
10
-1
1 10
1
Q
2
10
-3
10
-2
10
-1
1
σ
γ
*
p
/ (2
i
)
2.5 10
-5
10
-1
1 10
1
Q
2
10
-3
10
-2
10
-1
1
σ
γ
*
p
/ (2
i
)
1.5 10
-5
10
-1
1 10
1
Q
2
10
-3
10
-2
10
-1
1
σ
γ
*
p
/ (2
i
)
9 10
-6
10
-1
1 10
1
Q
2
10
-3
10
-2
10
-1
1
σ
γ
*
p
/ (2
i
)
5.5 10
-6
10
-1
1 10
1
Q
2
10
-3
10
-2
10
-1
1
σ
γ
*
p
/ (2
i
)
3.3 10
-6
10
-1
1 10
1
Q
2
10
-3
10
-2
10
-1
1
σ
γ
*
p
/ (2
i
)
2 10
-6
10
-1
1 10
1
Q
2
10
-3
10
-2
10
-1
1
σ
γ
*
p
/ (2
i
)
1.2 10
-6
10
-1
1 10
1
Q
2
10
-3
10
-2
10
-1
1
σ
γ
*
p
/ (2
i
)
7.5 10
-7
Fig. 4.3: Resultados para o ajuste da seção de choq ue fóton virtual-próton. Os pontos e
o ajuste são mostrados como uma função de Q
2
para valores diferentes de x. O
sinal de mais cor responde aos pontos de ZEUS e a cruz aos de H1 [1–3].
Capítulo 4. Fenomenologia aplicada ao DIS: formalismo de dipolos 62
10
-4
10
-3
10
-2
0
0.1
0.2
0.3
0.4
Q
2
=2.0
10
-4
10
-3
10
-2
Q
2
=4.0
10
-4
10
-3
10
-2
0
0.1
0.2
0.3
0.4
Q
2
=7.0
0
0.2
0.4
0.6
Q
2
=11.0 Q
2
=18.0
0
0.2
0.4
0.6
Q
2
=30.0
10
-4
10
-3
10
-2
0
0.1
0.2
0.3
0.4
Q
2
=60.0
10
-4
10
-3
10
-2
Q
2
=130.0
10
-4
10
-3
10
-2
x
10
-4
10
-3
10
-2
0
0.1
0.2
0.3
0.4
F
2
c
ZEUS
H1
Fig. 4.4: Predições para as medidas de H1 [86, 87] e ZEUS [88] da função de estrutura do
charm. Para cada sub gráfico, o valor de Q
2
é dado em GeV
2
.
Capítulo 4. Fenomenologia aplicada ao DIS: formalismo de dipolos 63
Parametrização Massas dos quarks nop χ
2
/nop
GBW [71] m
q
= 140 MeV, m
c
= 1.5 GeV 372 1.5
IIM [75] m
q
= 140 MeV, sem charm 156 0.81
BGBK [74] m
q
= 0 MeV, m
c
= 1.3 GeV 288 1.06
AGBS m
q
= 50 MeV, m
c
= 1.3 GeV 279 0.988
Tab. 4.3: Comparação entre os resultados das parametrizações em [71,74,75] e resultados
obtidos através do modelo AGBS.
quando trabalha-se no espaço de momentum, o comportamento logarítmico da amplitude no
infravermelho permite que esta tome valores maiores que um, o que não é uma contradição
com a unitariedade.
Para o ajuste correspondente a m
q
= 50 MeV e m
c
= 1.3 GeV, obtemos Q
s
= 0.206
GeV para x = 10
4
e Q
s
= 0.257 GeV para x = 10
5
. Embora estes valores pareçam
muito pequenos, devemos enfatizar que estes correspondem a valores maiores de T . Se, no
entanto, extrairmos a escala de saturação a partir da condição T = 1/2 quando k = Q
s
,
obtemos Q
s
= 0.296 (resp. Q
s
= 0.375) GeV para x = 10
4
(resp. x = 10
5
). Estes últimos
valores são ainda um tanto menores que as escalas de saturação observada em estudos
anteriores (Q
s
1 GeV para x 10
5
) e, portanto, confirmam a tendência da escala de
saturação decrescer quando efeitos de quarks pesados são le vados em conta. Assim, a janela
de escalamento geométrico é deslocada para menores valores de Q
2
, o que significa que as
correções de saturação possuem menos importância do que esperado a partir da análise sem
efeitos de quarks pesados, especialmente na vizinhança da escala de saturação. Observemos,
no entanto, que para Q
2
Q
2
s
a amplitude é completamente saturada em ambos os casos
e, portanto, a predição para F
2
permanece a mesma.
Neste ponto, é interessante c omparar nossos resultados com os obtidos em métodos ante-
riores na literatura. Na última década alguns modelos de dipolo do DIS a pequeno-x foram
propostos e foram bem sucedidos na descrição dos dados experimentais. Entre estes, nossas
comparações serão focadas particularmente nos modelos GBW e IIM e desenvolviment os
recentes em relação ao modelo BGBK, que como vimos consiste no modelo GBW aprimo-
rado com a inclusão de uma densidade de glúons que evolui de acordo com a equação de
evolução DGLAP. Alguns resultados destes modelos são mostrados na Tabela 4.3.
Primeiramente, deve-se lembrar que os modelos citados acima foram desenvolvidos no
espaço de coordenadas e não no espaço de momentum. Nossa escolha de trabalhar neste
último está diretamente motivada pela análise da equação BK no espaço de momentum
levando a resultados assintóticos universais nos quais nos baseamos. Embora a maioria dos
outros métodos consiga reproduzir F
2
com um bom χ
2
, nosso modelo pode ser diferenciado
dos anteriores em dois aspectos principais. Por um lado, nossa análise baseia-se na equação
Capítulo 4. Fenomenologia aplicada ao DIS: formalismo de dipolos 64
BK para considerar efeitos de unitariedade. Assim, espera-se que nosso método seja mais
preciso que o usado em [71, 72] e [74], especialmente no domínio de pequeno-x e baixo Q
2
sob investigação. Por outro lado, ao incluirmos o charm massivo nós aprimoramos o modelo
IIM, embora, numa análise um pouco distinta da apresentada aqui [85], este tenha sido
aperfeiçoado com a inclusão de quarks pesados. Além disso, em ambos modelos GBW e
IIM, algumas dificuldades são encontradas após realizar-se suas respectivas transformadas
de Fourier. Estes aspectos foram analisados em detalhe em [89]. No caso do mo delo GBW,
a transformada de Fourier da seção de choque de dipolo apresenta um comportamento
perturbativo não realístico, enquanto no modelo IIM ela apresenta valores não positivos.
Estas dificuldades inexistem em nosso modelo, que a transformada de Fourier (amplitude
de espalhamento no espaço de coordenadas) permanece entre 0 e 1. Além disso, a seção de
choque resultante apresenta a propriedade de transparência de cor, i.e. σ
dip
r
2
quando
r 0 e a propriedade de saturação, i.e. σ
dip
σ
0
para grande r.
Estas características associadas com a boa descrição dos dados e χ
2
pequeno mostram
que a amplitude de espalhamento proposta neste capítulo pode ser uma boa parametrização
para investigar as propriedades dos observáveis em energias de RHIC e LHC, considerando o
modelo de dipolos. No que diz respeito à arbitrariedade do modelo AGBS, embora os resul-
tados não dependam significativamente da escolha feita para a unitarização da amplitude,
é interessante para estudos futuros verificar se é possível obter mais informações analíticas
diretamente a partir da equação BK.
4.5 O efeito das flutuações
Os modelos GBW e IIM foram recentemente utilizados para investigar se as flutuações
estão presentes nas medidas do DIS em HERA. Kozlov, Shoshi e Xiang [90] usam as duas
parametrizações GBW e IIM e consideram as expressões correspondentes para T (r, Y ) como
amplitudes de espalhamento para um único evento. Assim, a inclusão formal das flutuações
consiste em efetuar a média sobre todas as posições das frentes de onda individuais, dada
pela Eq.(3.7.74). A amplitude média é, e ntão, inserida na expressão para a função de
estrutura F
2
e o procedimento de ajuste aos dados é realizado.
Em [90] os autores fazem o ajuste aos dados de HERA para F
2
, usando os últimos dados
da colaboração H1 [1], num regime cinemático mais restrito, com x < 0.01 e Q
2
max
= 50
GeV
2
. O parâmetro livre adicional é o co eficiente de difusão D e os resultados dos ajustes
são mostrados nas tabelas abaixo, que apresentam os parâmetros extraídos e o valor do
χ
2
/n.d.p. para os casos com e sem flutuações.
A partir destas tabelas, temos que, para os dois modelos, os ajustes são melhorados
quando as flutuações são incluídas, especialmente para o caso do modelo GBW. Os valores
Capítulo 4. Fenomenologia aplicada ao DIS: formalismo de dipolos 65
χ
2
χ
2
/d.o.f x
0
(×10
4
) v
c
R(fm) D
266.22 1.74 4.11 0.285 0.594 0
173.39 1.14 0.0546 0.225 0.712 0.397
Tab. 4.4: modelo GBW: Os parâmetros da amplitude evento por evento (segunda linha) e
da amplitude dia (terceira linha) [90].
χ
2
χ
2
/d.o.f x
0
(×10
4
) v
c
R(fm) D
150.45 0.983 0.5379 0.252 0.709 0
122.62 0.807 0.0095 0.198 0.812 0.325
Tab. 4.5: modelo IIM: Os parâmetros da amplitude evento por evento (segunda linha) e da
amplitude dia (terceira linha) [90].
obtidos para o expoente de saturação v
c
também são consistentes com as predições da QCD
perturbativa, e os valores obtidos para o coeficiente de difusão são similares aos valores
obtidos na literatura. Os resultados, contudo, são inconclusivos: o melhoramento no ajuste
no caso do modelo IIM não é tão expressivo quando para o caso do modelo GBW, e isso
pode ser devido ao fato deste não incluir, na sua parametrização para a amplitude de
espalhamento, termos de violação do escalamento geométrico, originalmente presentes no
modelo IIM. Assim, por meio dessa análise, não é possível afirmar se as flutuações existem
ou não em HERA.
Realizamos, então, uma análise similar à descrita acima, mas no espaço de momentum,
através do modelo AGBS. Em termos de unidades logarítmicas, o modelo pode ser reescrito
como
˜
T
AGBS
(ρ, Y ) = L
F
1 e
T
dil
, (4.5.30)
onde
T
dil
= exp
γ
c
(ρ ρ
s
)
L
2
log
2
(2)
2¯αχ
′′
(γ
c
)Y
, (4.5.31)
L = ln
1 + e
(ρρ
s
)
com Q
2
s
(Y ) = k
2
0
e
v
c
Y
, (4.5.32)
e
L
F
= 1 + ln
e
1
2
(ρρ
s
)
+ e
1
2
(ρρ
s
)
. (4.5.33)
Como foi dito, para incluir as flutuações, consideramos a parametrização acima como a
expressão para a amplitude para um único evento, e a amplitude média é obtida através da
Capítulo 4. Fenomenologia aplicada ao DIS: formalismo de dipolos 66
integração abaixo:
˜
T
AGBS
Y
(ρ, ρ
s
)
=
+
−∞
s
P
Y
(ρ
s
)
˜
T
AGBS
Y
(ρ, ρ
s
). (4.5.34)
Esta é a expressão que deve ser inserida em (4.3.22) para reproduzir os dados do DIS
para a função de estrutura F
2
com as flutuações corretamente incluídas.
4.5.1 Conjunto de dados e resultados
Nesta análise, assim como a realizada no trabalho original do modelo AGBS, todos os
últimos dados das medidas de HERA de F
2
das Colaborações H1 e ZEUS [1–3] são ajustados,
considerando o regime cinemático (4.4.29), o que também corresponde a 279 pontos.
No que diz respeito aos parâmetros, mantemos fixos ¯α = 0.2, e γ
c
= 0.6275, cujo valor
corresponde ao obtido a partir do núcleo BFKL em ordem dominante. Os outros parâmetros
da amplitude, v
c
, k
2
0
e χ
′′
(γ
c
), s ão deixados livres, assim como o raio do próton R
p
, que fixa
a normalização da seção de choque dipolo-próton em relação à amplitude de espalhamento,
e o coeficiente de difusão D, que é o único novo parâmetro em relação à análise de campo
médio. Consideramos apenas quarks leves e os valores para suas massas são m
u,d,s
= 50 e
140 MeV.
χ
2
/n.d.p
k
2
0
(×10
3
) v
c
R(GeV
1
) χ
′′
(γ
c
) D (×10
2
)
0.949 3.79 ± 0.30 0.213 ± 0.003 3.576 ± 0.059 4.69 ± 0.23 0
0.949 3.79 ± 0.30 0.213 ± 0.003 3.576 ± 0.059 4.69 ± 0.23 0.0 ± 1.1
Tab. 4.6: Parâmetros extraídos do ajuste aos dados de H1 e ZEUS para F
2
no caso onde
m
u,d,s
= 50 MeV, tanto da amplitude de evento por evento (segunda linha) e da
amplitude dia (terceira linha).
χ
2
/n.d.p k
2
0
(×10
3
) v
c
R(GeV
1
) χ
′′
(γ
c
) D (×10
3
)
0.942 1.69 ± 0.16 0.176 ± 0.004 4.83 ± 0.12 6.43 ± 0.29 0
0.942 1.69 ± 0.16 0.176 ± 0.004 4.83 ± 0.12 6.43 ± 0.29 0.0 ± 9.6
Tab. 4.7: Parâmetros extraídos do ajuste aos dados de H1 e ZEUS para F
2
no caso onde
m
u,d,s
= 140 MeV, tanto da amplitude de evento por evento (segunda linha) e da
amplitude dia (terceira linha).
As Figuras 4.5 e 4.6 mostram a função de estrutura F
2
como uma função de x para
valores pequenos e moderados de Q
2
, respectivamente. As Tabelas 4.6 e 4.7 apresentam os
valores dos parâmetros obtidos do ajuste nos casos sem flutuações (primeira linha) e com
flutuações (segunda linha). O primeiro caso corresponde ao valor D = 0 para o coeficiente
de difusão.
Capítulo 4. Fenomenologia aplicada ao DIS: formalismo de dipolos 67
É possível verificar, a partir das tabelas com os parâmetros e das figuras com os gráficos,
que os dados de F
2
são reproduzidos com sucesso tanto no caso com flutuações, como no caso
sem flutuações. Isto é mostrado pelos bons valores do χ
2
/n.o.p. e pelas curvas nas Figuras
4.5 e 4.6. Se compararmos os resultados para ambos os casos (ver Tabelas 4.6 e 4.7), vemos
que o valor do χ
2
/n.d.p. não é sensível à inclusão das flutuações, e portanto não varia em
relação ao caso sem flutuações, e o mesmo pode ser dito para os parâmetros. Especialmente
para o coeficiente de difusão D, seu valor obtido na presença de flutuações é muito pequeno,
mais especificamente muito próximo do seu valor de campo médio, D = 0. Assim, no
formalismo do modelo AGBS, não nenhuma evidência da presença das flutuações no DIS
nas energias de HERA. Isto indica que o tratamento de campo médio, com parâmetro de
acoplamento fixo (¯α
s
fixo), é suficiente para investigar a fenomenologia da QCD em altas
energias, pelo menos para as energias de HERA.
0
0.2
0.4
10
6
10
3
Q
2
=0.3
F
2
x
10
6
10
3
Q
2
=0.4
F
2
x
10
6
10
3
Q
2
=0.5
F
2
x
10
6
10
3
Q
2
=0.65
F
2
x
0
0.1
0.2
0.3
Q
2
=0.11
F
2
x
Q
2
=0.15
F
2
x
Q
2
=0.2
F
2
x
Q
2
=0.25
F
2
x
0
0.1
Q
2
=0.045
F
2
x
Q
2
=0.065
F
2
x
Q
2
=0.085
F
2
x
Fig. 4.5: Predições para os dados de H1 e ZEUS para a função de estrutura F
2
versus x
para pequenos valores de Q
2
, dados em GeV
2
. O ajuste foi realizado com massas
dos quarks leves m
u,d,s
= 140 MeV.
É importante compararmos nossos resultados com os obtidos na Ref. [90]. Como foi
dito no início desta Seção, embora esta análise resulte em uma boa descrição dos dados de
HERA, ela não é conclusiva em relação à presença de flutuações. Em particular, o valor de
D extraído do ajuste está de acordo com os valores previstos na literatura [47,91], ou seja,
um número de ordem O(1), o que indica que as flutuações poderiam estar presentes em
Capítulo 4. Fenomenologia aplicada ao DIS: formalismo de dipolos 68
0
0.5
1
1.5
10
4
10
3
10
2
Q
2
=70
F
2
x
10
4
10
3
10
2
Q
2
=90
F
2
x
10
4
10
3
10
2
Q
2
=120
F
2
x
10
4
10
3
10
2
Q
2
=150
F
2
x
0
0.5
1
1.5
Q
2
=27
F
2
x
Q
2
=35
F
2
x
Q
2
=45
F
2
x
Q
2
=60
F
2
x
0
0.5
1
1.5
Q
2
=18
F
2
x
Q
2
=20
F
2
x
Q
2
=22
F
2
x
Q
2
=25
F
2
x
0
0.5
1
1.5
Q
2
=8.5
F
2
x
Q
2
=10
F
2
x
Q
2
=12
F
2
x
Q
2
=15
F
2
x
0
0.5
1
1.5
Q
2
=3.5
F
2
x
Q
2
=4.5
F
2
x
Q
2
=5
F
2
x
Q
2
=6.5
F
2
x
0
0.5
1
1.5
Q
2
=1.5
F
2
x
Q
2
=2
F
2
x
Q
2
=2.5
F
2
x
Q
2
=2.7
F
2
x
Fig. 4.6: Predições para os dados de H1 e ZEUS para a função de estrutura F
2
versus x
para valores moderados de Q
2
, dados em GeV
2
. O ajuste foi realizado com massas
dos quarks leves m
u,d,s
= 140 MeV.
HERA. No entanto, deve-se observar novamente que em [90] o ajuste é realizado utilizando
apenas os dados de ZEUS, ou seja, não inclui os dados de H1, e em um regime cinemático
mais restrito.
Na realidade, se repetirmos a análise feita em [90]–mesmo conjunto de dados (apenas
ZEUS) e mesmo regime cinemático–usando o modelo AGBS, os resultados obtidos são bas-
Capítulo 4. Fenomenologia aplicada ao DIS: formalismo de dipolos 69
χ
2
/n.d.p k
2
0
(×10
3
) v
c
R(GeV
1
) χ
′′
(γ
c
) D
0.788 4.26 ± 0.43 0.214 ± 0.005 3.497 ± 0.068 4.34 ± 0.28 0
0.782 4.02 ± 0.56 0.190 ± 0.030 3.64 ± 0.21 3.84 ± 0.21 0.92 ± 1.16
Tab. 4.8: Parâmetros extraídos do ajuste aos dados de ZEUS para F
2
, no caso onde
m
u,d,s
= 50 MeV.
χ
2
/n.o.p
k
2
0
(×10
3
) v
c
R(GeV
1
) χ
′′
(γ
c
) D
0.778 1.97 ± 0.22 0.177 ± 0.006 4.68 ± 0.14 5.95 ± 0.94 0
0.768 1.38 ± 0.12 0.120 ± 0.010 5.459 ± 0.043 5.46 ± 0.55 1.78 ± 0.38
Tab. 4.9: Parâmetros extraídos do ajuste aos dados de ZEUS para F
2
, no caso onde
m
u,d,s
= 140 MeV.
tante similares, como pode ser visto na Tabela 4.9, com valores do χ
2
/n.d.p. melhores.
Nossa análise é, portanto, mais completa, pois inclui todos os últimos dados de HERA para
o DIS e considera um regime cinemático mais amplo.
Nossos resultados e nossas principais conclusões parecem esclarecer alguns dos principais
aspectos da investigação dos efeitos das flutuações em HERA e confirmar a robustez do
modelo AGBS na descrição de processos nos quais o formalismo de dipolos pode ser aplicado.
Para valores de energia muito maiores que as de HERA, será possível verificar se as flutuações
estão presentes em um futuro não muito distante, nos experimentos realizados no LHC. Mais
especificamente, verificaremos se estas realmente afetam fortemente a evolução na QCD ou
se são suprimidas pela variação do acoplamento forte α
s
, como foi recentemente sugerido por
desenvolvimentos recentes realizados no contexto do modelo unidimensional que reproduz
com bastante sucesso as principais características do espalhamento e da evolução na QCD
em altas energias [47,92], que será descrito no próximo Capítulo.
Capítulo 5
Um modelo unidimensional para a QCD
a altas energias
Como vimos nos capítulos anteriores, as equações de laços de pomerons são as principais
candidatas para descrever a evolução das amplitudes de espalhamento em direção ao limite
de altas energias. Contudo, estas equações possuem uma estrutura muito complicada, o
que torna difícil uma análise detalhada do espalhamento na QCD em altas energias, prin-
cipalmente no que diz respeito às soluções dessas equações. Após certas aproximações
para simplificar a estrutura não local das equações de laços d e pomeron, vimos que estas
reduzem-se a uma equação de Langevin, confirmando as recentes descobertas associadas
com a correspondência entre a QCD em altas energias e os processos de reação-difusão
da física estatística. Diante desta correspondência, nos últimos anos alguns autores têm
se voltado para o desenvolvimento de modelos estocásticos de partículas que apresentam
características do espalhamento e da evolução na QCD em altas energias. Neste capítulo,
apresentamos em detalhes um desses modelos.
5.1 Construção do modelo
Nesta seção, formularemos o modelo estocástico de partículas para evolução em altas ener-
gias e espalhamento na QCD. Como explicado na Introdução, este é um modelo (1+1)-
dimensional onde uma das dimensões refere-se à rapidez Y (o logaritmo da energia), que
realiza o papel de tempo para a evolução em altas energias, enfuando a outra é uma di-
mensão espacial–a posição da partícula ao longo de um eixo unidimensional infinito. Em
analogia com a QCD, deve-se ter em mente que essa dimensão espacial corresponde a um
tamanho, mais precisamente o logaritmo do inverso do tamanho transversal de um dipolo.
Primeiramente, descreveremos a versão discreta do modelo, na qual a dimensão espacial
é associada a uma rede unidimensional cujos pontos são identificados por i. Obviamente,
essa versão é a mais adequada para implementação numérica que será discutida em seções
Capítulo 5. Um modelo unidimensional para a QCD a altas energias 71
posteriores.
Um sistema de partículas é caracterizado pelo número de partículas n
i
(ou números de
ocupação) em todos os sítios da rede (alguns destes podem estar vazios). A composição
do sistema varia de forma randômica à medida que a rapidez aumenta, e esta variação é
realizada através da dissociação de partículas (uma partícula se divide em duas) de acordo
com uma lei a ser especificada nos próximos parágrafos. A distribuição de partículas é,
portanto, estocástica, e o estado do sistema na rapidez Y é descrito pela probabilidade
P ({n}, Y ) de encontrar uma dada configuração {n} {. . . , n
i
, n
i+1
, . . . } de partículas.
A fim de tratar do problema de espalhament o, a primeira suposição é a de que o elemento
de matriz–S médio para o espalhamento elástico é dada pela seguinte forma fatorizada:
S
Y
=
{n},{m}
P
R
({n}, Y Y
0
) P
L
({m}, Y
0
) S({n}, {m}), (5.1.1)
onde Y é a separação total em rapidez entre os dois sistemas de partículas, de tipos direita,
de índice R, e esquerda, de índice L. Estes índices referem-se ao fato de que, em um
espalhamento real, os dois sistemas que colidem propagam-se em direções opostas ao longo
do eixo de colisão. A rapidez total é dividida entre o alvo (R), que possui rapidez Y Y
0
,
e o projétil (L), que possui rapidez Y
0
(com Y
0
> 0), e as respectivas distribuições de
probabilidades P
R
({n}, Y Y
0
) e P
L
({m}, Y
0
) descrevem os respectivos sistemas no momento
do espalhamento. A quantidade S({n}, {m}) é a matriz–S para o espalhamento elástico
entre duas dadas configurações {n} e {m} do alvo e, respectivamente, do projétil. A soma
na equação (5.1.1) é realizada sobre todas as configurações possíveis dos dois sistemas.
A matriz–S deve ser independente da rapidez divisora Y
0
, ou seja, independente da
escolha de um referencial de Lorentz, o que implica em
0 =
d S
dY
0
=
{n},{m}
P
R
(Y Y
0
)
P
L
(Y
0
)
Y
0
+
P
R
(Y Y
0
)
Y
0
P
L
(Y
0
)
S({n}, {m}) . (5.1.2)
Esta condição, que relaciona propriedades do espalhamento com as da evolução com Y ,
representa um vínculo ainda maior na última, e pode ser usado para fixar a estrutura da
lei de evolução sob suposições adicionais. Enumeraremos aqui as principais suposições nas
quais nos basearemos no que diz respeito à evolução:
(i) Espalhamentos múltiplos na aproximação eikonal. Denotemos por σ
ij
= 1 τ
ij
a
matriz–S que descreve o espalhamento entre duas partículas elementares com posições
i e j, e τ
ij
é a matriz–T correspondente, a qual assumimos que seja real. Cada partícula
do alvo pode interagir com todas as partículas do projétil e diferentes partículas do
alvo interagem independentemente umas das outras. Assim, a matriz–S para dadas
Capítulo 5. Um modelo unidimensional para a QCD a altas energias 72
configurações do alvo e do projétil é dada por
S({n}, {m}) =
i,j
σ
n
i
m
j
ij
. (5.1.3)
(ii) Uma emissão de partícula por passo na evolução. Assumiremos que, quando a rapidez
cresce em um passo (Y Y + dY ), a evolução consiste na emissão de uma única
partícula adicional, com uma probabilidade que em geral depende de todos os números
de ocupação no sistema.
Essas duas suposições são naturais sob a perspectiva da QCD perturbativa em altas
energias: a aproximação eikonal é o méto do padrão para ressom ar espalhamentos múltiplos
na QCD em altas energias, tanto para glúons [16–22, 25–27] quanto para dipolos [55, 56,
93, 94]. Além disso, a evolução na QCD em altas energias na aproximação de logaritmo
dominante consiste na emissão de um glúon no canal s em cada passo da evolução. Ao
contrário de outros modelos na literatura [42–45], nosso modelo não inclui um mecanismo
para recombinação de partículas, o que concorda com o fato de que não recombinação de
glúons ou dipolos no canal s na aproximação de logaritmo dominante. Ainda, como veremos
a seguir, a saturação ocorre através de efeitos de altas densidades na taxa de emissão, similar
ao que acontece com a saturação gluônica no formalismo da evolução JIMWLK [23].
(iii) Após um passo na evolução, a configuração do sistema é modificada apenas pela adição
de uma nova partícula em um sítio arbitrário. Assim, a configuração permanece igual
à anterior à evolução, exceto pela presença da partícula adicional. Esta suposição é
um vínculo ainda mais forte que a suposição (ii), a qual permitiria qualquer estado
final com uma partícula adicional.
A partir dessas condições, é possível obter a equação de evolução para as distribuições
de probabilidade na forma genérica
P ({n}, Y )
Y
=
i
f
i
(. . . , n
i
1, . . . ) P (. . . , n
i
1, . . . , Y ) f
i
({n}) P ({n}, Y )
, (5.1.4)
onde f
i
({n}), que é a taxa de depósito a probabilidade por unidade de rapidez de encontrar
uma partícula extra no sítio i após um passo na evolução, partindo de uma configuração
original {n}. O termo positivo no lado direito da Eq.(5.1.4) mostra que para atingir uma
configuração final {n} após um passo na evolução, é preciso iniciar com uma configuração
com uma partícula a menos no sítio i, onde i é arbitrário. O termo negativo é necessário
para a conservação da probabilidade.
Capítulo 5. Um modelo unidimensional para a QCD a altas energias 73
A fim de completar a construção do modelo, é preciso deduzir uma forma explícita para
a taxa de depósito f
i
({n}), o que é obtido explorando a condição de invariância de Lorentz,
ou seja, inserindo a equação (5.1.4) em (5.1.2). Obtemos
i
[f
i
({n}) t
i
({m}) f
i
({m}) t
i
({n})] = 0, (5.1.5)
onde definimos
t
i
({n}) = 1
j
σ
n
j
ij
, (5.1.6)
que formalmente é igual à amplitude para o espalhamento de uma partícula do projétil no
sítio i com um alvo com uma configuração {n}. A solução mais geral para a Eq.(5.1.5)
possui a forma
f
i
({n}) =
j
c
ij
t
j
({n}) com c
ij
= c
ji
, (5.1.7)
onde c
ij
independe dos números de ocupação. Convém escolher c
ij
δ
ij
, que tal escolha
leva a um modelo intuitivo e relativamente simples que possui ainda uma estrutura rica,
como veremos mais adiante. Em particular, fixaremos este modelo escolhendo
c
ij
=
τ
δ
ij
, (5.1.8)
onde τ τ
ii
e é o espaçamento da rede ao longo do eixo espacial discretizado. O fato
de c
ij
ser proporcional a é natural, pois a densidade f
i
/ será bem definida no limite
contínuo 0. Escolher c
ij
proporcional a 1 também é natural, pois no limite de baixa
densidade f
i
deve ser da ordem O(1) quando medida em unidades de τ . De fato, quando
os n
j
’s são relativamente pequenos, tais que n
j
τ
ij
1, a amplitude de espalhamento t
i
na
equação (5.1.6) é reduzida a t
i
j
τ
ij
n
j
e portanto a dependência paramét rica de c
ij
em
τ exibida acima é claramente necessária para que essa condição seja satisfeita.
A forma explícita para a taxa de depósito é, portanto, dada pela expressão
f
i
({n})
=
1
j
σ
n
j
ij
τ
=
t
i
({n})
τ
, (5.1.9)
que, a menos de um fator de normalização, é simplesmente a amplitude para o espalhamento
entre a nova partícula produzida no s ítio i e as partículas pré-existentes no sistema, a partir
Capítulo 5. Um modelo unidimensional para a QCD a altas energias 74
das quais a nova partícula foi emitida.
Para compreendermos melhor o conteúdo físico da fórmula acima, é necessário conhecer
um pouco mais sobre a amplitude de espalhamento elementar τ
ij
. Nas próximas seções,
apresentaremos um modelo explícito para essa quantidade, também baseado na analogia com
a QCD. Por enquanto, mencionaremos apenas que τ
ij
depende da separação |ij| e decresce
rapidamente quando esta separação aumenta. Em particular, τ τ
ii
é independente de i e é
considerada pequena: τ 1 (a quantidade análoga na QCD é de O(α
2
s
)). Temos, portanto,
τ
ij
1 para qualquer par (ij).
Consideremos agora alguns casos-limite da Eq.(5.1.9), que apresentam a similaridade
entre este modelo e a QCD no limite de altas energias:
(i) Quando os números de ocupação são relativamente p equenos, de mo do que n
j
1
ij
, é possível expandir σ
n
j
ij
1 n
j
τ
ij
. Neste caso, a densidade da taxa de depósito para
um sítio i se torna proporcional aos números de ocupação em todos os sítios:
f
i
({n})
j
τ
ij
τ
n
j
quando n
j
1
ij
para qualquer j, (5.1.10)
o que descreve uma situação na qual a partícula extra em i é emitida incoerentemente por
qualquer partícula pré-existente no sistema. Quando a aproximação (5.1.10) é válida para
qualquer sítio i, fala-se em um regime diluído ou linear. Como τ
ij
é uma função decrescente
da separação |i j|, o regime diluído é realizado quando todos os números de ocupação
obedecem a condição n
j
1. O formalismo de dipolos em QCD [55,56] é o meio correto
de comparação para nosso modelo nesse regime; de fato, se o análogo da taxa de depósito é
calculado neste formalismo, o resultado encontrado é que este comporta-se linearmente com
a densidade de dipolos [94].
(ii) Quando pelo menos um dos números de ocupação n
j
torna-se tão grande que
σ
n
j
ij
1 (isto exige n
j
<
1
ij
), a taxa de depósito em i satura em seu valor máximo de
O(1) :
f
i
({n})
1
τ
quando n
j
>
1
ij
para algum j. (5.1.11)
Em particular, uma condição suficiente para ter saturação em um dado sítio i é que o
número de ocupação respectivo n
i
satisfaça n
i
>
1. Isto também é similar à situação na
QCD, onde a taxa de emissão de glúons na equação JIMWLK satura quando os números
de ocupação são suficientemente grandes.
Antes de prosseguirmos, é interessante realizarmos uma discussão física da evolução
descrita pela Eq.(5.1.4). Para isto, imaginemos um mecanismo microscópico esp ecífico que
leva a esta evolução. É natural assumir que o processo que leva à produção da partícula
extra em um passo da evolução é a divisão de uma partícula em duas partículas novas.
Capítulo 5. Um modelo unidimensional para a QCD a altas energias 75
Para que tal mecanismo seja consistente com a Eq.(5.1.4), uma suposição adicional é no
entanto necessária: pelo menos uma das duas partículas produzidas após tal divisão deve
permanecer no mesmo sítio da rede que a partícula que a originou. Introduzindo a taxa de
emissão g
jji
({n}) parra uma partícula no sítio j se dividir em duas partículas em j e i,
respectivamente, com i arbitrário, chegamos à seguinte equação
P ({n}, Y )
Y
=
ij
g
jji
(. . . , n
i
1, . . . ) P (. . . , n
i
1, . . . , Y ) g
jji
({n}) P ({n}, Y )
,
(5.1.12)
que leva à Eq. (5.1.4) após a identificação f
i
({n}) =
j
g
jji
({n}). O processo na Eq.(5.1.12)
é bastante peculiar no sentido que a partícula que se divide não desaparece no estado final,
mas é substituída por uma nova partícula no mesmo sítio (incidentalmente, esta discussão
também mostra que uma generalização natural deste modelo seria permitir a divisão mais
geral i jk com i, j, e k genéricos, e com uma taxa g
ijk
({n})). Na analogia com a QCD
na qual as posições das partículas correspondem a tamanhos de dipolos isto corres-
ponderia a um processo no qual um dipolo de tamanho j se divide em dois dipolos, um com
o mesmo tamanho j e o outro com um tamanho arbitrário i. Isto é bastante diferente da re-
presentação (BFKL) da divisão de dipolos na QCD para N
c
grande [55,56], onde os dipolos
resultantes p ossuem tamanhos genéricos, que são tipicamente comparáveis ao tamanho do
dipolo original. Contudo, apesar dessa dissimilaridade explícita no nível de inter pretação
física, a evolução gerada pelas Eqs.(5.1.4) e (5.1.9) possui muitas características em comum
com a evolução na QCD em altas energias, como se tornará claro nas seções subseqüentes.
Observemos que podemos expressar o modelo na forma Hamiltoniana
P ({n}, Y )
Y
=
τ
i
1 exp
n
i

1 exp
j
n
j
ln σ
ij

P ({n}, Y )
H P ({n}, Y ), (5.1.13)
onde o operador diferencial exp (/∂n
i
) é o op er ador de translação que reduz o número
de ocupação no sítio i por um: exp (/∂n
i
) F (. . . , n
i
, . . . ) = F (. . . , n
i
1, . . . ) para uma
função genérica F({n}). Isto torna explícito o fato de que o Hamiltoniano que determina
a evolução do modelo é ‘auto–dual’, ou seja, é invariante sob a transformação de auto–
dualidade [95] que neste modelo consiste em efetuar a troca
n
i
j
n
j
ln σ
ij
, (5.1.14)
e então reverter a ordem dos operadores. Es ta auto–dualidade é a expressão da restrição
Capítulo 5. Um modelo unidimensional para a QCD a altas energias 76
de invariância de transformações de Lorentz (boosts) na estrutura do Hamiltoniano da
evolução [95,96]. Assim, esta condição é automaticamente satisfeita neste modelo, no qual
a invariância de Lorentz está presente em sua construção. Além disso, a presença de
dois tipos de exponenciais uma envolvendo número de ocupação de partículas e a outra
envolvendo a derivada com respeito a ele na Eq.(5.1.13) é remanescente dos dois t ipos de
linhas de Wilson que aparecem no Hamiltoniano da QCD proposto nas Referências [97,98].
Nesse caso,
j
n
j
|ln σ
ij
| é substituído pelo campo de cor produzido pelos glúons no canal–s
e /∂n
i
pela derivada funcional com respeito à densidade de carga de cor destes glúons.
É também interessante considerar a versão aproximada da equação acima, que formal-
mente é obtida através da expansão do operador exp (/∂n
i
) em ordem linear na derivada:
P ({n}, Y )
Y
i
n
i
f
i
({n}) P ({n}, Y )
. (5.1.15)
Menos formalmente, este é simplesmente o limite no qual a diferença entre os dois termos no
lado direito da Eq.(5.1.4) é assimilada com uma derivada em relação a n
i
, o que faz sentido
quando n
i
1 para qualquer i. Este é o limite de grandes números de ocupação, no qual
as flutuações associadas com a discreteza do número de partículas torna-se desprezível.
Neste limite, obviamente a auto–dualidade da evolução é perdida, que a propriedade
do sistema ser denso depende do referencial. Além disso, deve ser intuitivamente claro que,
qualquer que seja o sistema que escolhamos, o sistema não pode ser denso em todos os sítios.
De fato, sendo o eixo espacial infinito, haverá sempre um número infinito de sítios nos quais
os números de ocupação são zero ou pequenos, de ordem O(1), e isto para qualquer Y .
Assim, a Eq.(5.1.15) é meramente uma aproximação formal, que para uma dada rapidez
Y tem, no máximo, um intervalo de validade em x limitado ela se refere à evolução do
conjunto das partículas em uma região com grande ocupação.
Esta discussão é remanescente da equação JIMWLK na QCD, que foi estabelecida [16–
22] para sistemas com uma densidade de glúons relativamente alta e que ignora as flutuações
nos números de glúons [38]. E de fato pode-se reconhecer a equação (5.1.15) como uma
versão da equação JIMWLK neste modelo.
Esta analogia foi discutida no contexto do modelo em zero dimensões na Referên-
cia [46]. Para resumir, este modelo unidimensional que nós intr oduzimos reduz-se a versões
unidimensionais do formalismo de dipolos no regime diluído e, respectivamente, ao for-
malismo JIMWLK no regime de grande ocupação, e em geral fornece uma interpolação
auto–dual entre os dois formalismos, como é necessário para invariância de Lorentz.
Capítulo 5. Um modelo unidimensional para a QCD a altas energias 77
5.2 Equações de evolução para os observáveis
Consideremos um observável genérico O. Por observável designaremos uma quantidade cujo
valor evento-por-evento O{n} depe nde da configuração {n} das partículas no sistema. Seu
valor médio na rapidez Y , que é uma quantidade mensurável, é dado por
O
Y
=
{n}
P ({n}, Y ) O({n}). (5.2.16)
Se diferenciarmos em relação a Y e realizarmos a mudança n
i
1 n
i
nas contribuições
que surgem a partir do termo de ganho (sinal positivo) na Eq.(5.1.4), é fácil obter a equação
de evolução para O
Y
(ver Apêndice C):
O
Y
Y
=
i
f
i
({n})
O(. . . , n
i
+ 1, . . . ) O({n})

Y
. (5.2.17)
Com esta equação para um observável genérico, obteremos as equações de evolução para
dois tipos de observáveis nos quais estaremos interessados, as densidades de partículas e
as amplitudes de espalhamento para projéteis que contém um dado número de partículas.
Demonstraremos que o limite contínuo destas equações é bem definido e as compararemos
com as equações correspondentes na QCD.
5.2.1 Densidades de número de partículas
Entre os observáveis a serem estudados, o mais simples é o número de ocupação médio em
um dado sítio i, n
i
Y
. Usando a Eq.(5.2.17) e substituindo O = n
i
, obtemos
n
i
Y
Y
=
∆(1
j
σ
n
j
ij
)
τ
Y
= f
i
({n})
Y
, (5.2.18)
que possui uma interpretação física bastante natural: a taxa de variação no número de
médio de partículas em um sítio i dado é igual ao valor médio da t axa de depósito nesse
sítio. dois casos-limite da Eq.(5.2.18) que são particularmente interessantes, os quais
correspondem aos dois casos-limite de f
i
discutidos na seção anterior, são eles:
(i) Se o sistema é relativamente diluído em torno do sítio i–significando que, para as
configurações típicas, temos n
i
1 e também n
j
1 para todos os sítios j que não
estão tão distantes de i–podemos linearizar f
i
Y
com respeito aos números ( médios) de
Capítulo 5. Um modelo unidimensional para a QCD a altas energias 78
ocupação e portanto obter:
n
i
Y
Y
τ
j
τ
ij
n
j
Y
. (5.2.19)
Neste regime, a ocupação de partículas no sítio i e nos sítios vizinhos passa por uma evolução
linear, levando a um crescimento rápido (exponencial em Y ) nos respectivos números médios
de ocupação. Este crescimento rápido é análogo ao crescimento BFKL na distribuição de
glúons (ou dipolos) na QCD no regime diluído [7–9].
(ii) Se, por outro lado, o s istema é denso em i, significando que a taxa de depósito
f
i
Y
satura em seu valor máximo, o crescimento do número (médio) de ocupação em i é
consideravelmente reduzido:
n
i
Y
Y
τ
. (5.2.20)
Esta equação mostra que, quando o número de ocupação em i torna-se de O(1), seu cres-
cimento subseqüente com Y é muito lento, linear em Y . Este é o mecanismo de saturação
neste modelo, e é similar à saturação gluônica na QCD, onde os números de ocupação para
os modos saturados também crescem linearmente com Y [23, 99,100]
Deve-se notar que a Eq.(5.2.18) não é uma equação fechada para n
i
Y
, mas a primeira
de uma hierarquia: se expandirmos σ
n
j
ij
= exp{n
j
ln σ
ij
} em potências de n
j
, geramos
correlações dos números de ocupação com qualquer k 1. Isto nos leva a considerar as
equações de evolução satisfeitas pelos números de ocupação gerais, ordenados de forma
normal, definidos como
n
(k)
i
1
...i
k
n
i
1
(n
i
2
δ
i
1
i
2
) . . . (n
i
k
δ
i
1
i
k
··· δ
i
k1
i
k
). (5.2.21)
O ordenamento normal se refere à subtração de funções-δ, que são necessárias para garan-
tir que, ao construirmos n
(k)
, contamos apenas conjuntos de k partículas que são todas
diferentes umas das outras. A equação de evolução correspondente é
n
(k)
i
1
i
2
...i
k
Y
Y
=
k
j=1
f
i
j
({n}) n
(k1)
i
1
i
2
/
i
j
...i
k
Y
, (5.2.22)
onde a notação
/
i
j
significa que a variável i
j
deve ser omitida.
Capítulo 5. Um modelo unidimensional para a QCD a altas energias 79
5.3 O limite para o contínuo
Nesta seção, discutiremos o limite contínuo deste modelo. Claramente, este limite é obtido
pela substituição i x
i
= i e então fazer 0, de modo que x
i
x, com x sendo a
variável espacial contínua. Portanto, uma soma em i é convertida em uma integração em x:
i
F
i
dx F (x), (5.3.23)
enquanto uma soma sobre todas as configurações possíveis da função de onda do onium
(coleção de dipolos) torna-se uma integral de trajetória, ou seja,
{n}
[Dn(x)]. (5.3.24)
As densidades de ocupação de k corpos (ordenadas de forma normal) são obtidas a partir
dos números de ocupação correspondentes após dividirmos por
k
e depois fazermos 0.
Por exemplo, a densidade de 2 corpos é dada por
n
(2)
(x, y) = lim
0
n
i
n
j
2
δ
ij
n
i
= n(x) n(y) δ(x y) n(x), (5.3.25)
enquanto a taxa de depósito pode ser imediatamente obtida a partir da Eq. (5.1.9):
f(x) = lim
0
f
i
({n})
=
1 exp
dz n(z) ln σ(x|z)
τ
t(x)
τ
. (5.3.26)
É possível, então, expressar as equações de evolução para as densidades de partículas no
limite contínuo. Por exemplo, a densidade de 1 e 2 corpos são dadas, respectivamente, por
n(x)
Y
Y
= f(x)
Y
(5.3.27)
n
(2)
(x, y)
Y
Y
= f(x)n(y) + f(y)n(x)
Y
(5.3.28)
É importante observar que a Eq.(1.3.24) não possui singularidades quando y = x, graças à
subtração da função–δ na definição (5.3.25) da densidade de 2 corpos.
5.3.1 Amplitudes de espalhamento
Consideremos agora o problema de espalhamento assumindo que o projétil consiste em
uma única partícula localizada em i. Em QCD isso corresponderia a um projétil com um
Capítulo 5. Um modelo unidimensional para a QCD a altas energias 80
único dipolo de tamanho r
i
exp(x
i
/2). Isto, por sua vez, implicitamente significa que
trabalhamos em um referencial no qual quase toda a rapidez Y é carregada pelo projétil,
cuja função de onda evolui de acordo com a Eq.(5.1.4), enquanto a rapidez do projétil é tão
baixa que sua evolução pode ser desprezada. Substituindo m
j
δ
jk
em (5.1.3) obtém-se
s
k
({n}) =
i
σ
n
i
ik
. Usando Eq. (5.2.17), obtém-se a seguinte equação
s
i
Y
Y
=
j
∆(1 σ
ij
)
τ
s
i
s
j
s
i
Y
, (5.3.29)
que não é uma equação fechada–o elemento de matriz S médio para um projétil de uma
partícula está relacionado ao elemento para um projétil com posto por duas partículas–mas
apenas à primeira equação de uma hierarquia infinita. A equação geral desta hierarquia pode
ser obtida estudando o espalhamento de um projétil composto por m partículas, em dadas
posições i
1
, i
2
, . . . i
m
. Para uma dada configuração {n} do alvo, a matriz S correspondente
é
s
i
1
. . . s
i
m
=
j
1
σ
n
j
1
i
1
j
1
···
j
m
σ
n
j
m
i
m
j
m
=
j
(σ
i
1
j
. . . σ
i
m
j
)
n
j
(5.3.30)
e então a Eq.(5.2.17) implica em
s
i
1
. . . s
i
m
Y
Y
=
j
∆(1 σ
i
1
j
. . . σ
i
m
j
)
τ
s
i
1
. . . s
i
m
s
j
s
i
1
. . . s
i
m
Y
. (5.3.31)
Embora obtida aqui pela evolução do alvo, estas equações podem ser facilmente reinter-
pretadas como descrevendo a evolução no projétil. Para isso, é imp ortante observar que o
núcleo na equação acima, ou seja, a quant idade à frente do valor médio no lado direito é
precisamente f
j
({m}), a taxa de depósito no sítio j calculada para uma dada configuração
{m} do projétil. Assim, a equação acima pode ser interpretada da seguinte maneira: uma
separação ocorre no projétil, levando a um sistema com m + 1 partículas. em seguida este
novo sistema espalha com o alvo, surgindo assim o primeiro termo da equação, enquanto o
segundo termo (com sinal negativo) corresponde à possibilidade de que nenhuma partícula
extra foi criada.
O conteúdo físico dessa hierarquia pode ser discutido na sua versão contínua,
s
x
1
. . . s
x
m
Y
Y
=
z
f
z
({m}) s
x
1
. . . s
x
m
s
z
s
x
1
. . . s
x
m
Y
, (5.3.32)
Neste ponto é instrutivo comparar essas equações com as equações de Balitsky-JIMWLK e
também com as equações mais completas, as equações de laços de pomeron apresentadas
Capítulo 5. Um modelo unidimensional para a QCD a altas energias 81
no Capítulo 3..
Lembremos que a hierarquia de Balitsky em QCD foi obtida realizando evoluções dife-
rentes no projétil e no alvo: assume-se que o projétil é diluído e que evolui de acordo com o
formalismo de dipolos (nos restringimos à versão com grande N
c
da hierarquia de Balitsky,
mais apropriado para comparação com o presente modelo), enquanto o alvo é denso e evolui
de acordo com a equação JIMWLK. Diante destas suposições, as equações de Balitsky são
formalmente invariantes sob transformações de Lorentz (boosts), mas o todo o esquema
parece incompleto, pois um projétil que evolui eventualmente torna-se denso e, mesmo um
alvo que parece denso em uma escala de resolução (para moment a relativamente pequenos)
necessariamente possui uma cauda diluída em momenta transversais grandes, que dirige a
sua evolução [63]
Este problema é superado, por construção, no presente modelo, no qual o alvo e o
projétil são tratados simetricamente, e é interessante ver como isto se reflete na estrutura
das equações de evolução. A primeira equação da hierarquia (5.3.32),
s
x
Y
=
z
τ
xz
τ
s
x
s
z
s
x
, (5.3.33)
é formalmente similar à equação de Balitsky correspondente, da qual ela difere apenas pela
substituição do núcleo de dipolo (a taxa para a separação de dipolos em QCD) pela ampli-
tude de espalhamento reduzida τ
x
z, que realiza o papel da taxa de separação elementar
no modelo. Observemos que a separação é mais restrita no mo delo do que na QCD, que
um dos dipolos resultantes x e z está restrito a ter o mesm o tamanho x do dipolo original.
Parece, portanto, natural identificar a separação elementar x xz, com taxa τ
x
z
neste modelo, com a separação de dipolos em QCD. Com esta identificação, as diferenças
entre a hierarquia gerada neste modelo e as equações de Balitsky tornam-se visíveis nas
equações de ordens mais altas. Consideremos a segunda equação:
s
x
s
y
Y
=
z
τ
xz
+ τ
zy
τ
xz
τ
zy
τ
s
x
s
y
s
z
s
x
s
y
. (5.3.34)
A respectiva equação de Balitsky envolveria apenas os dois termos positivos, τ
xz
e τ
zy
no
numerador do núcleo, que descrevem as separações independentes das partículas em x e em
y, respectivamente. O termo adicional negativo, τ
xz
τ
zy
, corresponde a efeitos de saturação
na evolução do projétil, refletindo o fato de que as duas separações não são realmente
independentes. E ste termo é formalmente suprimido por uma potência de τ com respeito
aos termos anteriores, mas como veremos a seguir, ele realiza um papel essencial na evolução.
Esta discussão pode ser facilmente generalizada para as equações de mais altas ordens
Capítulo 5. Um modelo unidimensional para a QCD a altas energias 82
na hierarquia: as análogas às equações de Balitsky podem ser obtidas a partir das equações
gerais (5.3.32) substituindo o núcleo f
z
({m}) por sua versão linearizada
f
z
({m})
m
i=1
τ(x
i
|z)
τ
, (5.3.35)
que descreve a separação independente x
i
x
i
z de qualquer das m partículas do projétil.
Isto é claramente similar à QCD, que isto corresponde a dizer que o projétil evolui de
acordo com a aproximação diluída (5.1.10) para a equação mestre (5.1.4). Também como
na QCD, pode-se checar que o mesmo conjunto de equações seria obtido evoluindo o alvo
de acordo com a versão da equação JIMWLK dentro deste modelo, Eq.(5.1.15)
Portanto, claramente a hierarquia do modelo vai além das equações de Balitsky-JIMWLK
incluindo efeitos de saturação na evolução do projétil, ou, equivalentemente, flutuações no
número de partículas na evolução do alvo. É interessante, então, entender melhor o papel fí-
sico do termo adicional, como por exemplo o termo negativo do núcleo na Eq.(5.3.34). Para
isto e para facilitar a comparação com as equações de laços de pomerons da QCD, é conve-
niente reescrever as equações acima em termos das amplitudes de espalhamento t
x
1 s
x
.
As duas primeiras equações são
t
x
Y
=
z
τ
xz
τ
t
z
t
x
t
z
(5.3.36)
e
t
x
t
y
Y
=
z
τ
xz
τ
(t
z
t
x
t
z
)t
y
+
τ
yz
τ
(t
z
t
y
t
z
)t
x
+
τ
xz
τ
yz
τ
t
z
(1 t
x
)(1 t
y
)
. (5.3.37)
Observemos que t
x
t
y
= (1 s
x
)(1 s
y
) é a amplitude para o espalhamento simultâneo
de duas partículas no projétil. A hierarquia também admite o ponto fixo t = 1, o que
sugere que as soluções correspondentes saturam no limite de disco negro (que corresponde a
absorção total) em altas energias: t
x
t
y
t
z
··· 1 as Y . Este comportamento limite
será visto nas simulações numéricas nas próximas seções.
Podemos facilmente reconhecer, neste modelo unidimensional, as análogas das equa-
ções BFKL e BK: a primeira é obtida desprezando o termo não linear no lado direito da
Eq.(5.3.36); a segunda corresponde a tr atar este termo em um a aproximação de campo mé-
dio que assume a fatorização t
x
t
z
t
x
t
z
. Esta fatorização é, contudo, inconsistente
com as equações de ordens mais altas na hierarquia, começando pela Eq.(5.3.37). Essa que-
bra da aproximação de campo médio está associada com a presença de termos de flutuação,
como o último termo τ
xz
τ
zy
. Esse termos são importantes, pois geram as correlações no
Capítulo 5. Um modelo unidimensional para a QCD a altas energias 83
regime diluído.
Consideremos o regime no qual o alvo é tão diluído que a amplitude de espalhamento
média é muito fraca: t
<
τ. Isto corresponde à cauda diluída da distribuição do alvo para
grandes valores de x, onde o número médio de ocupação é n
<
1. Neste regime, o último
termo no lado direito da Eq.(5.3.37) pode ser aproximado como (τ
xz
τ
yz
), que é comparável
ou mesmo maior que os termos BFKL, como (τ
xz
) t
z
t
y
. Isto mostra que, neste regime
diluído, a amplitude de duas partículas tt é ainda muito pequena, mas é obtida a partir
da amplitude de uma partícula t, através do último termo na Eq.(5.3.37). Vale notar que
no regime diluído pode-se escrever
t
x
t
y
Y
fluct
z
τ
xz
τ
yz
τ
t
z
z
τ
xz
τ
yz
τ
w
τ
zw
n
w
z
τ
xz
τ
yz
n
z
Y
, (5.3.38)
De acordo com esta e quação, a variação na amplitude de duas partículas em um passo da
evolução pode ser interpretada como a seguinte evolução no alvo: primeiro, uma partícula
nova é criada em z, através do processo de separação w wz, para qualquer w; então, a
nova partícula do alvo espalha simultaneamente com as duas partículas do projétil em x e
y.
Vemos então que a correlação de duas partículas t
x
t
y
t
x
t
y
é obtida a partir de
flutuações do alvo através de espalhamento múltiplo, mecanismo que é bastante similar ao
identificado no contexto da QCD [38], e que inspirou a extensão da hierarquia de laços de
pomeron. Sua estrutura geral é realmente similar àquela para as amplitudes de espalhamento
no modelo, no sentido de incluírem termos BFKL, termos não lineares responsáveis por
unitarização e termos de flutuações que geram correlações no regime diluído.
5.4 Resultados analíticos
Para realizar um estudo analítico da evolução descrita por este modelo, é necessário especifi-
car a forma da amplitude elementar de espalhamento partícula-partícula τ (x|z). Inspirados
pela analogia com a QCD, na qual esta quantidade corresponde à amplitude para o espa-
lhamento dipolo-dipolo, escolhemos
τ(x|z) = τ exp(−|x z|). (5.4.39)
A origem, na QCD, para esta fórmula pode ser reconhecida da seguinte m aneira: após
traduzirmos para as notações da QCD, ou seja, x ln(r
2
0
/r
2
) com r sendo o tamanho
do dipolo atual e r
0
uma escala arbitrária de referência, Eq.(5.4.39) torna-se equivalente a
τ(r
1
|r
2
) = τ r
2
<
/r
2
>
, onde r
<
= min(r
1
, r
2
) e r
>
= max(r
1
, r
2
) [63]. Com a identificação adi-
Capítulo 5. Um modelo unidimensional para a QCD a altas energias 84
cional τ = α
2
s
, temos uma boa aproximação para a amplitude que descreve o espalhamento
central entre dois dipolos elementares na QCD. Por central queremos dizer uma colisão que
ocorre em parâmetro de impacto relativo igual a ze ro. Está subentendido também que é
tomada a média sobre as orientações dos vetores bidimensionais r
1
e r
2
.
5.4.1 Evolução BFKL do modelo
Iniciaremos com a versão linearizada da Eq.(5.3.36), que aqui faz o papel da equação BFKL.
Com a forma específica de τ(x|z) dada acima, temos
t
x
Y
=
dz exp(−|x z|) t
z
(5.4.40)
onde assumimos que as médias estão implícitas. Definindo a transformada de Mellin com
respeito a exp(x)
˜
t(γ, Y ) =
−∞
dx exp(γx) t(x, Y ), (5.4.41)
obtemos
˜
t(γ, Y ) =
˜
t(γ, Y = 0) exp [χ(γ)Y ], onde a função característica é a transformada
de Mellin do núcleo na Eq.(5.4.40) e tem a forma
χ(γ) =
1
1 γ
+
1
1 + γ
. (5.4.42)
Assim, a solução geral da Eq.(5.4.40) é
t(x, Y ) =
C
dγ
2πi
˜
t(γ, 0) exp[χ(γ)Y γx] , (5.4.43)
onde o contorno de integração C é paralelo ao eixo imaginário e com parte real tal que
|Re(γ)| < 1. Da Eq.(5.4.41), vemos que
˜
t(γ, 0) é a transformada de Mellin da amplitude de
espalhamento em Y = 0. Por definição, assumiremos que o alvo é inicialmente composto de
um único dipolo de tamanho r
0
= exp(x
0
/2), e neste caso temos
˜
t(γ, 0) = τ χ(γ) exp(γx
0
).
Analisemos agora alguns limites especiais da equação acima, à qual nos referiremos
usando uma terminologia inspirada na QCD:
(i) O limite de altas energias Y para x fixo. No plano cinemático (Y, x), isto
corresponde à evolução ao longo de um eixo vert ical. Neste limite, a integral é dominada
pela região em torno do ponto γ
P
que satisfaz χ
(γ
P
) = 0. Facilmente encontramos γ
P
= 0
Capítulo 5. Um modelo unidimensional para a QCD a altas energias 85
e χ(γ
P
) = 2, e realizando a integração Gaussiana em torno deste ponto de sela, obtemos
t(x, Y ) =
τ
2πY
exp
2Y
(x x
0
)
2
8Y
. (5.4.44)
A dependência em Y da amplitude é similar ao que ocorre na QCD, que em ambos os
casos ela cresce exponencialmente com Y . No entanto, a analogia não é completa, pois
a amplitude acima é independente do tamanho r do dipolo do projétil. Em contraste, a
amplitude respectiva na QCD é proporcional a r, o que no entanto é uma dependência
relativamente fraca comparada com o resultado correspondente em ordem fixa na teoria
de perturbações, t(r) r
2
(transparência de cor). Observemos também a dependência
Gaussiana da Eq.(5.4.44) em x x
0
, o que descreve difusão com um raio Y
1/2
. Isto é
novamente similar à conhecida difusão BFKL na variável logarítmica ln(1/r
2
).
(ii) Aproximação de duplo logaritmo (DLA): Esta é a evolução ao longo de uma dire-
ção no plano (Y, x) tal que a diferença x x
0
entre os tamanhos dos dipolos cresce mais
rapidamente que a rapidez Y . Quando x x
0
Y , a integral é dominada por um valor de
γ que é perto de 1. O ponto de sela ocorre em γ
DLA
= 1 [Y /(x x
0
)]
1/2
e chegamos em
t(x, Y ) =
τ
2
π
[(x x
0
)Y ]
1/4
exp
(x x
0
) +
4(x x
0
)Y
. (5.4.45)
Este é exatamente correspondente ao resultado na QCD, o que não deveria ser uma surpresa:
no limite de duplo logaritmo da QCD, um dos dipolos que surgem tem um tamanho igual
ao do dipolo original, uma caraterística que está na construção do nosso modelo. Em
particular, o resultado acima mostra transparência de cor, ou seja, t(x) exp[(x x
0
)],
numa completa analogia com o comportamento, na QCD, t(r) r
2
para valores muito
pequenos de r
5.4.2 Correções de unitariedad e na aproximação de campo médio
Como ficou explícito na análise anterior, a evolução em altas energias descrita pela Eq.(5.4.40)
leva a uma amplitude de espalhamento que cresce rapidamente com Y , e portanto eventual-
mente viola o limit e de unitariedade t 1. Assim, para estudar o comportamento em altas
energias, é necessário incluir os termos não lineares responsáveis pelas correções de unitari-
edade. Faremos isto primeiramente na aproximação de campo médio t
x
t
y
t
x
t
y
, na
qual Eq.(5.3.36) é reduzida a apenas uma equação não linear
t
x
Y
=
dz exp(−|x z|) (t
z
t
x
t
z
) (5.4.46)
Capítulo 5. Um modelo unidimensional para a QCD a altas energias 86
que é a versão do modelo análoga à equação BK. Tal analogia não é apenas formal, mas cobre
muitos aspectos essenciais: (a) Assim como a equação BK, Eq.(5.4.46) é consistente com
unitariedade e, além disso, sua solução se aproxima ao limite de unitariedade em grande Y
(t = 1 é um ponto fixo); (b) No limite de espalhamento fraco t 1, Eq.(5.3.36) é reduzida
a uma equação linear que descreve um crescimento exponencial com Y e difusão em x.
Juntas, essas propriedades implicam na Eq.(5.4.46) estar na classe de universalidade da
equação FKPP, assim como a equação BK, o que também implica na evolução em direção
à saturação ser dirigida pela dinâmica linear no regime diluído–a forma precisa dos termos
não lineares não é importante desde que forneçam saturação. Portanto, é fácil adaptar a
análise da equação BK das referências [23, 30–32,101] para a Eq.(5.4.46) com os resultados
descritos abaixo.
Para valores suficientemente grandes de Y (para que se perca a memória da condição
inicial e o comportamento universal seja alcançado), a solução t(x, Y ) é uma onda viajante,
ou seja, uma frente que interpola entre t = 1 para valores negativos grandes de x e t 0
para valores positivos grandes e que se propaga na direção de valores maiores de x à medida
que Y cresce. A p osição x
s
(Y ) desta frente define a linha de saturação, a direção de evolução
no plano (Y, x) ao longo da qual a amplitude de espalhamento é constante e de O(1). Como
mencionado antes, a localização dessa linha pode ser inferida a partir da solução da equação
linearizada (BFKL) (5.4.40). Retornamos então a esta solução, Eq.(5.4.43) e consideramos
uma terceira direção no plano (Y, x), correspondente à linha de saturação.
(ii) A linha de saturação: Quando a rapidez cresce ao longo desta linha, a posição x
(o inverso do tamanho do dipolo) deve também crescer para que a amplitude permaneça
constante. Para Y grande o suficiente, pode-se usar a aproximação de ponto de sela na
Eq.(5.4.43). A condição de ponto de sela
χ
(γ
s
)Y x
s
= 0, (5.4.47)
juntamente com a condição de que o expoente se anula (para que a amplitude seja rigoro-
samente constante) ao longo da linha de saturação
χ(γ
s
)Y γ
s
x
s
= 0, (5.4.48)
determinam unicamente o valor do ponto de sela de saturação γ
s
e a linha x
s
(Y ) (a menos
de uma constante aditiva), que nesta aproximação é simplesmente uma linha reta: x
s
(Y )
λ
s
Y . Obtemos
χ
(γ
s
) =
χ(γ
s
)
γ
s
γ
s
=
1
3
, e λ
s
=
χ(γ
s
)
γ
s
= 3
3 . (5.4.49)
Capítulo 5. Um modelo unidimensional para a QCD a altas energias 87
É possível ainda melhorar a estimativa para λ
s
levando em conta mais apropriadamente os
efeitos não lineares. Obtém-se, assim [101]
λ
s
dx
s
(Y )
dY
χ(γ
s
)
γ
s
3
2γ
s
Y
= 3
3
3
3
2Y
, (5.4.50)
que concorda com os resultados a partir da equação FKPP [37]. A amplitude na vizinhança
da linha de saturação pode ser obtida através de uma expansão em torno do ponto de sela
de saturação, o que implica em
t(x, Y ) = c
1
τ(x x
s
+ c
2
) exp
γ
s
(x x
s
)
(x x
s
)
2
2χ
′′
(γ
s
)Y
. (5.4.51)
Isto é válido estritamente para 1 x x
s
2χ
′′
(γ
s
)Y , que corresponde uma larga ja-
nela para grande Y . Na Eq.(5.4.51), c
1
e c
2
são constantes desconhecidas de ordem O(1),
χ
′′
(γ
s
) = 27.
Observemos que na região x x
s
2χ
′′
(γ
s
)Y , onde o termo de difusão no expoente
pode ser desprezado, a amplitude exibe escalamento geométrico, ou seja, depende de x e
Y apenas através da combinação x x
s
(Y ). Isto é o que significa uma onda progressiva:
uma frente que, quando Y cresce, é simplesmente deslocada para valores maiores de x, sem
distorção na sua forma.
Também é instrutivo traduzir o cenário descrito acima para um mero médio de par-
tículas no alvo, n(x, Y ). Na cauda da frente em x x
s
(Y ), na qual t 1, temos
t(x, Y )
dz τ(x|z)n(z, Y ), onde a integração em z tem um pico em z = x. Assim,
um dipolo pequeno (com grande x), espalha com dipolos do alvo com tamanho similar
(z x), e o fato de a interação ser fraca corresponde ao fato de que o alvo parece di-
luído nessa escala de resolução: n(x, Y ) 1. Quando Y cresce neste regime diluído, n
cresce muito rapidamente, exponencialmente com Y , assim como t. Em torno da posição
da frente (x x
s
(Y )), temos t O(1) e portanto n O(1): nesta escala de resolução,
o alvo é denso. Finalmente, atrás da frente, onde t satura em 1, o número de ocupação
não satura, mas permanece crescendo com Y , embora apenas lentamente (ver Eq.(5.2.20)):
n(x, Y ) (Y Y
c
), onde Y
c
ln(1) é a rapidez crítica para que a saturação seja al-
cançada na taxa de depósito em x: f(x) = 1 para Y > Y
c
. O valor preciso de Y
c
depende
de x e das condições iniciais em Y = 0.
5.4.3 Flutuações no número de partículas
Como discutido em seções anteriores, as equações de evolução envolvem termos de flutua-
ções, que refletem o aspecto discreto do número de partículas e são inconsistentes com a
Capítulo 5. Um modelo unidimensional para a QCD a altas energias 88
aproximação de campo médio. Como os números de ocupação são grandes na saturação,
pode-se esperar que os efeitos de tais flutuações sejam relativamente pequenos e possam ser
tratados em teoria de perturbações em torno dos resultados de campo médio. No entanto,
como foi recentemente entendido na QCD [38,61–63], a evolução em altas energias é de fato
dramaticamente sensível a flutuações, e a razão física para isso está implícita na discussão
da seção anterior: a evolução é dirigida pelo crescimento e pela difusão BFKL na cauda
diluída da frente, onde os números de ocupação são pequenos (da ordem de um) e portanto
os efeitos de flutuações no número de partículas são realmente importantes.
A análise das aproximações linear e de campo médio sugere que o modelo em considera-
ção encontra-se na classe de universalidade do processo de reação-difusão, e esta conclusão
será reforçada pela análise numérica na próxima seção. Portanto, é possível fiar-se na
correspondência com a física estatística a fim de caracterizar os aspectos universais da
dinâmica na presença de flutuações. Estes são em sua maioria qualitativos e referem-se ao
comportamento em tempo grande (aqui, grande Y ) em acoplamento fraco (aqui τ 1).
Abaixo são enumerados os principais aspectos qualitativos da dinâmica na presença das
flutuações:
(i) Para uma dada condição inicial em Y = 0, a evolução estocástica até Y gera um
conjunto estatístico de frentes (ao invés de uma única frente para a dinâmica determi-
nística na aproximação de campo médio), com as distintas frentes no conjunto dife-
rindo por suas respectivas posições de frente. Portanto, x
s
(Y ) (a linha de saturação)
torna-se agora uma variável aleatória.
(ii) Em uma boa aproximação, a distribuição de x
s
em Y é uma Gaussiana, com um valor
médio x
s
e uma dispersão σ
2
(Y ) = x
2
s
x
s
2
que crescem linearmente com Y :
x
s
= λ
s
Y e σ
2
(Y ) = D
f
Y .
(iii) O valor assintótico da velocidade dia λ
s
é significativamente menor que sua predição
na aproximação de campo médio
χ
(γ
s
) =
χ(γ
s
)
γ
s
γ
s
=
1
3
, e λ
s
=
χ(γ
s
)
γ
s
= 3
3 . (5.4.52)
onde
χ(γ) =
1
1 γ
+
1
1 + γ
. (5.4.53)
O respectivo desvio é conhecido analiticamente no limite formal de acoplamento fraco
[66], com um resultado que, quando adaptado a este modelo fica
λ
s
χ(γ
s
)
γ
s
π
2
γ
s
χ
′′
(γ
s
)
2 ln
2
τ
= 3
3
9
3 π
2
2 ln
2
τ
, (5.4.54)
Capítulo 5. Um modelo unidimensional para a QCD a altas energias 89
válido quando ln
2
τ 1. No mesmo limite, o coeficiente de difusão da frente D
f
comporta-se como D
f
1/ ln
3
(1) [102], e então se anula, como esperado, quando
τ 0. Deve-se notar, contudo, a convergência lenta, logarítmica em τ, destes resul-
tados para seus respectivos limites de campo médio, o que reflete a forte sensibilidade
da evolução às flutuações.
(iv) Quando Y cresce, o valor assintótico de λ
s
é rapidamente alcançado (exponencialmente
em Y ), ao contrário da lenta convergência prevista pelo resultado de campo médio
(5.4.50).
(v) As frentes individuais no conjunto exibem escalamento geométrico, mas apenas em
uma região compacta: para cada frente, apenas uma distância finita x x
s
x
g
,
com x
g
(1
s
) ln(1), além da frente, onde a amplitude escala como t(x)
e
γ
s
(xx
s
)
, com γ
s
= 1/
3. Em contraste, na amplitude de campo médio a janela de
escalamento x x
s
Y cresce com Y , e portanto pode tornar-se arbitrariamente
grande.
(vi) Observáveis físicos, como a amplitude de dipolo dia t(x)
Y
, são obtidos realizando
a média sobre o conjunto. Nesta média, a propriedade de escalamento geométrico
desaparece por causa da dispersão nas posições das frentes [62,63], e é eventualmente
substituída, em valores de Y suficientemente grandes, por um novo tipo de escala-
mento [38,63], conhecido como escalamento difusivo [103]. Especificamente, t(x)
Y
é
estimada como
t(x)
Y
1
2
Erfc
x x
s
2D
f
Y
, (5.4.55)
Essa aproximação de escalamento difusivo é válida quando D
f
Y 1 e em uma grande
região em torno da linha de saturação média x
s
Y
, tal que |x x
s
| γ
s
D
f
Y .
Ela também interpola suavemente na direção do limite de disco negro t(x) = 1
quanto x −∞. Para distâncias maiores x x
s
>
γ
s
D
f
Y , o comportamento de
transparência de cor é recuperado, t(x) exp[(x x
s
)], com um pré-fator que é
sensível às flutuações (ver Refs. [38,103] para detalhes).
5.5 Resultados numéricos
Nesta seção, apresentamos alguns resultados da investigação numérica do modelo unidimen-
sional descrito neste capítulo.
Consideremos primeiramente a evolução de um único evento, Figura 5.1. A formação do
padrão de onda viajante o corre por meio de dois mecanismos distintos:
Capítulo 5. Um modelo unidimensional para a QCD a altas energias 90
x
T
80706050403020100-10
1
0.1
0.01
0.001
(a)
x
T
100806040200
1
0.1
0.01
(b)
Fig. 5.1: Evolução evento-por-evento da amplitude de espalhamento: (a) Evolução em ra-
pidez da amplitude para um único evento. (b) Amplitude para 10 eventos (linhas
tracejadas) e amplitude dia (linha sólida) para Y = 5, 12.5, e 20.
partículas são produzidas em sít ios ocupados. Esta evolução é basicamente gover-
nada pela dinâmica de campo médio e resulta na formação de uma frente de onda;
às vezes uma flutuação rara surge bem adiante da extremidade da frente, na região
que era anteriormente desocupada. A evolução subseqüente é, portanto, uma compe-
tição entre o crescimento BFKL, local, daquela flutuação particular e o crescimento e
progressão da frente de onda de campo médio. Quando um conjunto de eventos, tais
flutuações levam a uma dispersão crescente na posição das frentes (ver gráfico direito
da Figura 5.1).
Efetuando a média sobre um grande número de eventos (N
ev
= 10
5
), obtém-se as distri-
buições médias mostradas na Figura 5.2. À esquerda são observadas grandes flutuações no
número médio de partículas por sítio quando n 10
5
= 1/N
ev
. Essas correspondem a
flutuações raras (apenas poucos eventos possuem número de ocupação não nulos nos res-
pectivos sítios) na cauda diluída da frente. No que diz respeito à amplitude média, embora
seja possível notar um padrão de onda viajante no gráfico à direita na Figura 5.2, a forma
da frente média na realidade varia com Y sua inclinação diminui com Y o que reflete a
violação do escalamento geométrico por meio das flutuações.
Para estudar a violação do escalamento geométrico mais detalhadamente, é necessário
primeiro estudar a estatística da posição da frente (a escala de saturação x
s
) como uma
função da rapidez. Para um dado evento t(x, Y ), a posição da frente é determinada por
t(x = x
s
(Y ), Y ) = t
0
, com t
0
sendo um número constante que escolhemos t
0
= 0.1. Espera-
Capítulo 5. Um modelo unidimensional para a QCD a altas energias 91
x
n
100806040200
1000
100
10
1
0.1
0.01
0.001
1e-04
1e-05
(a) Número de partículas por sítio
x
T
100806040200
1
0.1
0.01
0.001
1e-04
1e-05
(b) Amplitude de espalhamento
Fig. 5.2: Evolução das quantidades dias obtidas após 10
5
eventos. Os resultados são
apresentados como uma função de x para, da esquerda para a direita, Y =
0, 2, 4, . . . , 20.
mean field
τ = 0.01
Y
speed
20181614121086420
5.5
5
4.5
4
3.5
3
(a) Velocidade média da frente viajante
D
diff
= 1.2 24
Y
σ
2
20151050
25
20
15
10
5
0
(b) Dispersão na posição das frentes
Fig. 5.3: Estatística da posição da frente (ou escala de saturação) x
s
. Tanto a posição
dia como a dispersão ao quadrado crescem linearmente com a rapidez.
Capítulo 5. Um modelo unidimensional para a QCD a altas energias 92
se que tanto o valor médio de x
s
(Y ) quanto a dispersão associada cresçam linearmente com
Y . Para o valor médio isto é verificado no gráfico à esquerda na Figura 5.3, que exibe
os resultados numéricos para
Y
x
s
(Y ). Este gráfico mostra que o valor assintótico em
grande Y da velocidade é atingido muito rapidamente e, além disso, este é significativamente
menor que a correspondente predição da aproximação de campo médio, λ
s
= 3
3. Para
a dispersão, σ
2
= x
2
s
x
s
2
, os resultados são mostrados no gráfico à direita na Figura
5.3. Esta é bem fitada por um crescimento linear, σ
2
D
f
Y , com um coeficiente de difusão
da frente D
f
= 1.224. Assim, a estatística da escala de saturação segue realmente o padrão
esperado para um processo de reação-difusão.
limit
Y = 20
Y = 16
Y = 12
Y = 8
Y = 4
(x x
s
(Y ))(Y )
T
6420-2-4-6
1
0.9
0.8
0.7
0.6
0.5
0.4
0.3
0.2
0.1
0
Fig. 5.4: A amplitude dia re presentada como uma função da variável de escalamento
difusivo. Quando a rapidez cresce, o resultado assintótico (5.4.55) (indicado na
figura por limit) é de fato obtido.
Consideremos novamente a análise da forma da amplitude média a fim de verificar outra
predição importante do problema de reação-difusão: o surgimento do escalamento difusivo
em grande Y (ver Eq. (5.4.55)). Para isso, a amplitude média foi plotada, a partir das
simulações numéricas, como uma função da variável de escalamento esperada, (x x
s
),
com x
s
e σ
2
obtida da análise anterior (Figura 5.3) para vários valores da rapidez Y . Como
manifestado na Figura 5.4, a amplitude média realmente converge para a curva assintótica
esperada, Eq. (5.4.55), quando Y cresce. Assim, a propriedade de escalamento difusivo é
completamente satisfeita pelo nosso modelo.
Capítulo 6
Conclusões
Nesta tese, foram abordados alguns dos principais aspectos da evolução e do espalhamento
na QCD no regime de altas energias. A partir das propriedades do DIS, é possível com-
preender com o ocorre a evolução na direção do limite de altas energias e a importância dos
efeitos não lineares que levam a uma provável saturação partônica. Esses efeitos levam ao
surgimento de equações de evolução não lineares para as amplitudes de espalhamento. Em
particular, para o espalhamento dipolo-hádron, as amplitudes de espalhamento podem ter
sua evolução descrita pelas equações de laços de pomeron, que basicamente consistem nas
equações de Balitsky-JIMWLK levando em conta, não apenas a fusão de pomerons, mas a
divisão de pomerons, ou seja, levando em conta as flutuações do número de glúons (ou dipo-
los). No regime no qual as energias não são muito altas, a equação linear BFKL é recuperada
e, considerando uma aproximação de campo médio, obtém-se a chamada equação BK, que é
a mais simples equação de evolução para a amplitude de espalhamento dipolo-hádron. Por
ser mais simples, é também a equação mais estudada e as propriedades (assintóticas) de
suas soluções são bem conhecidas.
Usando essas propriedades da equação BK, realizamos uma análise de suas implicações
fenomenológicas no espalhamento profundamente inelástico (DIS) [76]. Propusemos uma
expressão para a amplitude de espalhamento no espaço de momentum, o modelo AGBS, que
interpola entre o comportamento da amplitude dipolo-próton no regime de saturação e as
amplitudes de ondas progressivas, previstas pela QCD perturbativa no regime ultravioleta a
partir da equação BK. Esta expressão foi usada para calcular a função de estrutura do próton
F
2
(no formalismo de dipolos) e testada através de ajustes aos resultados experimentais
de HE RA. Obtivemos bons ajustes com massas de quarks leves m
u,d,s
= 50, 140 MeV e
massa do charm m
c
= 1.3 GeV. Embora haja outros modelos na literatura que conseguem
reproduzir F
2
com um bom χ
2
, nosso modelo pode ser diferenciado principalmente nos
seguintes aspectos:
(i) A análise baseia-se na equação BK para considerar efeitos de unitariedade. Assim,
espera-se que nosso método seja mais preciso que os modelos no espaço de coordenadas
Capítulo 6. Conclusões 94
na literatura, em particular GBW e IIM, especialmente no domínio de pequeno-x e
baixo Q
2
sob investigação;
(ii) Em ambos modelos GBW e IIM, algumas dificuldades são encontradas após realizar-se
suas respectivas transformadas de Fourier. No primeiro, a transformada de Fourier da
seção de choque de dipolo apresenta um comportamento perturbativo não realístico,
enquanto no segundo ela apresenta valores negativos. Estas dificuldades inexistem
em nosso modelo, que a transformada de Fourier (amplitude de espalhamento no
espaço de coordenadas) permanece entre 0 e 1.
Essas características associadas com a boa descrição dos dados e χ
2
pequeno mostram
que a amplitude de espalhamento proposta neste capítulo é uma boa parametrização para
investigar as propriedades dos observáveis em energias de RHIC e LHC que podem ser
descritos dentro do formalismo de dipolos.
Neste sentido, realizamos uma nova aplicação do modelo AGBS [104], a fim de investigar
os efeitos das flutuações no DIS nas energias de HERA. Tal análise foi feita no espaço de
coordenadas utilizando os modelos GBW e AGBS e os resultados foram inconclusivos no que
diz respeito à presença de flutuações em HERA. A análise apresentada nesta tese, através
do modelo AGBS, mostra que não evidência da presença de flutuações nas medidas da
função de estrutura do próton F
2
, o que é representado pelo valor muito pequeno, próximo
a zero, do coeficiente de difusão D. Foi possível chegar a essa conclusão realizando o ajuste
a todos os dados de HERA (H1 e ZEUS) para as medidas do DIS, ao contrário do que foi
feito no outro estudo envolvendo os modelos GBW e IIM, que utilizou apenas dados de H1.
O estudo apresentado aqui, portanto, é mais completo.
O Capítulo 5 desta tese foi dedicado a apresentar um trabalho de natureza puramente
teórica, mas que certamente possui conseqüências profundas no que diz respeito à feno-
menologia da QCD em altas energias. Este foi realizado durante o doutorado sanduíche
que realizei no SPhT, Saclay, França, financiado pelo Programa de Estágio de Doutorando
no Exterior da CAPES. Esse est ágio foi realizado sob a responsabilidade do Dr. Edmond
Iancu e teve uma duração de cinco meses, tendo como resultado outra publicação científica
Referência [47].
O trabalho consiste na construção de um modelo estocástico de partículas (1+1)-dimensional
que reproduz a evolução e o espalhamento em altas energias na QCD em parâmetro de im-
pacto fixo. O modelo mostra-se interessante em vários aspectos:
(i) Sua estrutura é consistente com princípios físicos gerais que são válidos na QCD:
invariância de Lorentz, espalhamentos múltiplos e evolução através da emissão de
uma partícula adicional por unidade de rapidez;
Capítulo 6. Conclusões 95
(ii) O modelo exibe um mecanismo de saturação similar à saturação gluônica: as novas
partículas criadas pela evolução são emitidas coerentemente a partir das partículas
pré-existentes, com uma taxa de emissão que satura em alta densidade devido aos
espalhamentos múltiplos entre a partícula adicional e as que a originaram.
(iii) O modelo encontra-se na classe de universalidade do processo de reação-difusão, como
também esperado em QCD, e exibe todas as características qualitativas esp eradas na
QCD em parâmetro de impacto fixo, no que diz respeito tanto aos aspectos de campo
médio (crescimento BFKL no regime diluído, a formação de uma frente de saturação
com escalamento geométrico) como os efeitos das flutuações (dispersão nas posições
das frentes, quebra do escalamento geométrico na descrição estatística, convergência
para escalamento difusivo em altas energias).
(v) O modelo é suficientemente simples para permitir investigações numéricas detalhadas.
(vi) Os aspectos estruturais do modelo são particularmente interessantes, que estes po-
dem inspirar buscas por estruturas corresp ondentes na QCD. Em particular, as equa-
ções de evolução para as amplitudes de espalhamento neste modelo aparecem como
uma generalização natural (dentro dos limites do modelo) das equações de Balitsky–
JIMWLK, com o projétil e o alvo tratados simetricamente: para cada um desses
dois sistemas, as equações incluem flutuações e múltiplos espalhamentos tanto com as
partículas internas ao sistema (efeitos de saturação) quanto com as do outro sistema
(correções de unitariedade).
Diante dessas características, é natural que esse modelo unidimensional inspire buscas
por novas estruturas na QCD. Na realidade, um importante passo nesse sentido foi rea-
lizado na Referência [92], onde o modelo foi considerado no caso no qual o parâmetro τ (o
análogo de α
s
da QCD) não é fixo, e sim variável, com uma dependência explícita da variável
espacial x (na QCD o logaritmo do inverso do tamanho transversal do dipolo). O principal
resultado desse estudo é que o efeito das flutuações no número de glúons é suprimido pelo
efeito da variação do parâmetro de acoplamento. Isso implica, para as energias de interesse
da fenomenologia da QCD (mesmo nas energias do LHC), o tratamento de campo médio
(equação BK), com acoplamento variável, ser suficiente para descrever o espalhamento e a
evolução.
Diante desse resultado, surgem boas perspectivas da continuidade do trabalho desenvol-
vido até então. Evidentemente, é interessante realizar aplicações do modelo unidimensional
para o estudo de observáveis físicos. O primeiro passo neste sentido é a descrição de pro-
cessos difrativos dentro do formalismo do modelo em questão. Tal descrição foi realizada
no formalismo da QCD em [103], onde nos limites da aproximação de grande N
c
, os autores
Capítulo 6. Conclusões 96
estabeleceram o comportamento em altas energias das seções de choque difrativa e inclusiva
para o DIS em parâmetro de impacto e parâmetro de acoplamento α
s
fixos. Esse estudo
entrará num projeto para a realização de um pós-doc e os primeiros rascunhos foram
iniciados.
Apê ndice A
Equivalência entre as equações BK e
FKPP
Neste Apêndice, explicitaremos os cálculos que levam ao resultado importante obtido por
Munier e Peschanski [30], a equivalência entre as equações BK e FKPP.
Após a aproximação difusiva realizada no núcleo BFKL, a equação BK toma a forma
Y
N = ¯α
s
¯χ(
L
)N ¯α
s
N
2
= ¯α
s
χ
1
2
+
χ
′′
(1/2)
2
(
L
+ 1/2)
2
N ¯α
s
N
2
= ¯α
s
χ
1
2
N + ¯α
s
χ
′′
(1/2)
2
(
L
+ 1/2)
2
¯α
s
N
2
= ¯α
s
χ
1
2
N + ¯α
s
χ
′′
(1/2)
2
(
2
L
+
L
+ 1/4)N ¯α
s
N
2
= ¯α
s
χ
1
2
N + ¯α
s
χ
′′
(1/2)
2
2
L
N + ¯α
s
χ
′′
(1/2)
2
L
N + ¯α
s
χ
′′
(1/2)
8
N ¯α
s
N
2
(A.0.1)
Deve-se primeiramente introduzir a notação
ω = χ
1
2
, D = χ
′′
(1/2) (A.0.2)
e definir
¯γ = 1
1
2
1 + 8
ω
D
. (A.0.3)
Efetuando a mudança de variáveis
t =
¯α
s
D
2
(1 ¯γ)
2
Y, x = (1 ¯γ)
L +
¯α
s
D
2
Y
u(t, x) =
2
D(1 ¯γ)
2
N
2t
¯α
s
D(1 ¯γ)
2
,
x
1 ¯γ
t
(1 ¯γ)
2
, (A.0.4)
Apêndice A. Equivalência entre as equações BK e FKPP 98
é possível chegar à equação FKPP para a função u(t, x).
Primeiramente, temos, na nova notação,
Y
N = ¯α
s
χ
1
2
N +
¯α
s
D
2
2
L
N +
¯α
s
D
2
L
N +
¯α
s
D
8
N ¯α
s
N
2
(A.0.5)
Consideremos termo a term o da equação acima. A derivada no lado esquerdo pode ser
escrita como:
Y
N = (
t
N)
t
Y
+ (
x
N)
x
Y
=
¯α
s
D
2
(1 ¯γ)
2
t
D(1 ¯γ)
2
2
u(t, x)
¯α
s
D
2
(1 ¯γ) +
x
D(1 ¯γ)
2
2
u(t, x)
Y
N = ¯α
s
D
2
(1 ¯γ)
4
4
t
u(t, x) + ¯α
s
D
2
(1 ¯γ)
3
4
x
u(t, x) (A.0.6)
O primeiro termo do segundo membro:
¯α
s
ωN = ¯α
s
ω
D(1 ¯γ)
2
2
u(t, x) (A.0.7)
O segundo termo:
¯α
s
D
2
2
L
N =
¯α
s
D
2
L
(
L
N)
=
¯α
s
D
2
L
(
x
N)
x
L
=
¯α
s
D
2
L
[(
x
N)(1 ¯γ)]
= ¯α
s
D(1 ¯γ)
2
L
(
x
N)
= ¯α
s
D(1 ¯γ)
2
2
2
x
N
= ¯α
s
D
2
(1 ¯γ)
4
4
2
x
u(t, x) (A.0.8)
O terceiro termo do segundo membro:
¯α
s
D
2
L
N = ¯α
s
D(1 ¯γ)
2
x
N
= ¯α
s
D
2
(1 ¯γ)
3
4
x
u(t, x) (A.0.9)
O quarto termo:
¯α
s
D
8
= ¯α
s
D
2
(1 ¯γ)
2
16
u(t, x) (A.0.10)
Apêndice A. Equivalência entre as equações BK e FKPP 99
Por fim, o quinto termo:
¯α
s
N
2
= ¯α
s
D
2
(1 ¯γ)
4
4
u
2
(t, x) (A.0.11)
Reunindo todos os termos
¯α
s
D
2
(1 ¯γ)
4
4
t
u(t, x) + ¯α
s
D
2
(1 ¯γ)
3
4
x
u(t, x) =
¯α
s
ω
D(1 ¯γ)
2
2
u(t, x) + ¯α
s
D
2
(1 ¯γ)
4
4
2
x
u(t, x) + ¯α
s
D
2
(1 ¯γ)
3
4
x
u(t, x)
+ ¯α
s
D
2
(1 ¯γ)
2
16
u(t, x) ¯α
s
D
2
(1 ¯γ)
4
4
u
2
(t, x) (A.0.12)
Multiplicando a equação acima por
4
¯α
s
D
2
(1¯γ)
4
,
t
u(t, x) +
1
1 ¯γ
x
u(t, x) =
2ω
D(1 ¯γ)
2
u(t, x) +
2
x
u(t, x)
+
1
1 ¯γ
x
u(t, x) +
1
4(1 ¯γ)
2
u(t, x) u
2
(t, x)
t
u(t, x) =
2
x
u(t, x) u
2
(t, x) +
8ω + D
4D(1 ¯γ)
2
u(t, x)
t
u(t, x) =
2
x
u(t, x) u
2
(t, x) +
8ω
D
+ 1
4(1 ¯γ)
2
u(t, x)
t
u(t, x) =
2
x
u(t, x) u
2
(t, x) + u(t, x)
t
u(t, x) =
2
x
u(t, x) + u(t, x)(1 u(t, x)), (A.0.13)
que é a equação FKPP para u(t, x).
Apê ndice B
A função de estrutura F
2
no espaço de
momentum
Neste Apêndice, explicitamos os cálculos que levam à expressão (4.3.22) para a função de
estrutura F
2
do próton, ou seja,
F
2
(x, Q
2
) =
Q
2
R
2
p
N
c
4π
2
0
dk
k
1
0
dz|
˜
Ψ(k
2
, z; Q
2
)|
2
˜
T (k, Y )
onde
|
˜
Ψ(k
2
, z; Q
2
)|
2
=
q
4
¯
Q
2
q
4
¯
Q
2
q
+ k
2
2
e
2
q
[z
2
+ (1 z
2
)]
4(k
2
+
¯
Q
2
q
)
k
2
(k
2
+ 4
¯
Q
2
q
)
asinh
k
2
¯
Q
q
+
k
2
2
¯
Q
2
q
2
¯
Q
2
q
+
4Q
2
z
2
(1 z)
2
+ m
2
q
¯
Q
2
q
k
2
+
¯
Q
2
q
¯
Q
2
q
k
4
+ 2k
2
¯
Q
2
q
+ 4
¯
Q
4
q
¯
Q
2
q
k
2
(k
2
+ 4
¯
Q
2
q
)
asinh
k
2
¯
Q
q
e
¯
Q
2
q
= z(1 z)Q
2
+ m
2
q
. (B.0.1)
Revisando as fórmulas necessárias, temos primeiramente que a função de estrutura F
2
é
dada por
F
2
(x, Q
2
) =
Q
2
4π
2
α
em
[σ
γ
p
T
+ σ
γ
p
L
] (B.0.2)
onde σ
γ
p
T
(x, Q
2
) (σ
γ
p
L
(x, Q
2
)) são as seções de cho que para o espalhamento de um fóton
virtual transversal (longitudinal) e o próton, dadas por
σ
γ
p
T,L
(Q
2
, Y ) =
d
2
r
1
0
dz
Ψ
T,L
(r, z; Q
2
)
2
σ
γ
p
dip
(r, Y ), (B.0.3)
Apêndice B. A função de estrutura F
2
no espaço de momentum 101
onde σ
γ
p
dip
(r, Y ) é a seção de choque dipolo-próton, que, considerando indep endência do
parâmetro de impacto, é proporcional à amplitude de espalhamento T (r, Y ) através da
relação
σ
γ
p
dip
(r, Y ) = 2πR
2
p
T (r, Y ),
onde R
2
p
é o raio do próton. Ψ
T,L
(z, r) são as funções de onda que descrevem o fóton virtual
que se divide em um par q¯q, cujas formas explícitas são
|Ψ
T
(r, z; Q
2
)|
2
=
2N
c
α
em
4π
2
q
e
2
q

z
2
+ (1 z)
2
¯
Q
2
q
K
2
1
(
¯
Q
q
r) + m
2
q
K
2
0
(
¯
Q
q
r)
(B.0.4)
|Ψ
L
(r, z; Q
2
)|
2
=
2N
c
α
em
4π
2
q
e
2
q
4Q
2
z
2
(1 z)
2
K
2
0
(
¯
Q
q
r)
. (B.0.5)
Aqui, m
q
denota as massas dos quarks e K
0
e K
1
são funções de McDonald de ordem zero e
um, respectivamente. Usando as expressões acima, a função de estrutura é dada, no espaço
de coordenadas, por
F
2
(x, Q
2
) =
Q
2
R
2
p
2πα
em
d
2
r
1
0
dz
|Ψ
T
(z, r)|
2
+ |Ψ
L
(z, r)|
2
T (r, Y ). (B.0.6)
A fim de simplificar a notação, escrevemos o termo que contém as funções de onda como
Φ(r, z) = Φ
T
(r, z) + Φ
L
(r, z), (B.0.7)
onde
Φ
T,L
(r, z) = |Ψ
T,L
(r, z)|
2
. (B.0.8)
Assim, podemos escrever
F
2
(x, Q
2
) =
Q
2
R
2
p
2πα
em
d
2
r
1
0
dz Φ(r, z) T (r, Y ). (B.0.9)
Agora, realizamos a transformada de Fourier
T (r, Y ) = r
2
d
2
k
2π
e
ik·r
˜
T (k, Y ))
= r
2
0
dk kJ
0
(kr)
˜
T (k, Y ). (B.0.10)
Apêndice B. A função de estrutura F
2
no espaço de momentum 102
A transformação inversa é
T (k, Y ) =
d
2
r
2πr
2
e
ik·r
T (r, Y ))
=
0
dr
r
J
0
(kr)T (r, Y ). (B.0.11)
O mesmo pode ser feito para Φ(r, z). Escrevemos
Φ(r, z) =
1
r
2
d
2
ke
ik·r
˜
Φ(k, z) (B.0.12)
e sua inversa é facilmente obtida:
˜
Φ(k, z) =
d
2
r
(2π)
2
e
ik·r
r
2
Φ(r, z). (B.0.13)
Usando (B.0.10) e (B.0.12) em (B.0.9), obtemos
F
2
(x, Q
2
) =
Q
2
R
2
p
2πα
em
d
2
r
1
0
dz
1
r
2
d
2
ke
ik·r
˜
Φ(k, z) × r
2
d
2
k
2π
e
ik
·r
˜
T (k
, Y ))
=
Q
2
R
2
p
2πα
em
1
0
dz
d
2
k
d
2
k
2π
˜
Φ(k, z)
˜
T (k
, Y ))
d
2
re
i(kk
)·r
=
Q
2
R
2
p
2πα
em
1
0
dz
d
2
k
d
2
k
2π
˜
Φ(k, z)
˜
T (k
, Y ))(2π)
2
δ(k k
)
=
Q
2
R
2
p
α
em
1
0
dz
d
2
k
˜
Φ(k, z)
˜
T (k, Y )
=
Q
2
R
2
p
α
em
1
0
dz
d
2
k
d
2
r
(2π)
2
e
ik·r
r
2
Φ(r, z)
˜
T (k, Y )
=
Q
2
R
2
p
4π
2
α
em
1
0
dz
d
2
k
d
2
r r
2
e
ik·r
Φ(r, z)
˜
T (k, Y )
=
Q
2
R
2
p
4π
2
α
em
1
0
dz
d
2
k
˜
T (k, Y )
d
2
r r
2
e
ik·r
Φ(r, z)
=
Q
2
R
2
p
4π
2
α
em
1
0
dz
d
2
k
˜
T (k, Y )
0
dr r
3
2π
0
e
irk cos θ
Φ(r, z)
=
Q
2
R
2
p
2πα
em
1
0
dz
d
2
k
˜
T (k, Y )
0
dr r
3
J
0
(kr)Φ(r, z) (B.0.14)
e portanto
F
2
(x, Q
2
) =
Q
2
R
2
p
α
em
1
0
dz
0
dk k
0
dr r
3
J
0
(kr)Φ(r, z)
˜
T (k, Y ) (B.0.15)
Apêndice B. A função de estrutura F
2
no espaço de momentum 103
Usando (B.0.7), (B.0.8) e as formas explícitas para as funções de onda, temos
F
2
(x, Q
2
) =
Q
2
R
2
p
α
em
·
2N
c
α
em
4π
2
q
e
2
q
1
0
dz
0
dk k
×
0
dr r
3
J
0
(kr)
[z
2
+ (1 z)
2
]
¯
Q
2
q
K
2
1
(
¯
Q
q
r) + m
2
q
K
2
0
(
¯
Q
q
r)
+
0
dr r
3
J
0
(kr)[4Q
2
z
2
(1 z)
2
K
2
0
(
¯
Q
q
r)]
˜
T (k, Y )
=
Q
2
R
2
p
N
c
2π
2
q
e
2
q
1
0
dz
0
dk k
×
[z
2
+ (1 z)
2
]
¯
Q
2
q
0
dr r
3
J
0
(kr)K
2
1
(
¯
Q
q
r)
+ [4Q
2
z
2
(1 z)
2
+ m
2
q
]
0
dr r
3
J
0
(kr)K
2
0
(
¯
Q
q
r)
˜
T (k, Y )
=
Q
2
R
2
p
N
c
2π
2
q
e
2
q
1
0
dz
0
dk k
[z
2
+ (1 z)
2
]
¯
Q
2
q
1
+ [4Q
2
z
2
(1 z)
2
+ m
2
q
]Ω
2
˜
T (k, Y ). (B.0.16)
Aqui,
1
0
dr r
3
J
0
(kr)K
2
1
(
¯
Q
q
r) (B.0.17)
e
2
=
0
dr r
3
J
0
(kr)K
2
0
(
¯
Q
q
r) (B.0.18)
Obviamente, para obtermos as formas explícitas para
1
e
2
, devemos realizar as integra-
ções em r. Estas podem ser feitas usando Mathematica e os resultados são
1
=
2
3
¯
Q
4
q
2
F
1
2, 3;
5
2
;
k
2
4
¯
Q
2
q
(B.0.19)
e
2
=
1
15
¯
Q
6
q
5
¯
Q
2
q
2
F
1
2, 2;
5
2
;
k
2
4
¯
Q
2
q
2k
2
2
F
1
3, 3;
7
2
;
k
2
4
¯
Q
2
q

(B.0.20)
Apêndice B. A função de estrutura F
2
no espaço de momentum 104
onde
2
F
1
é uma função hipergeométrica. A função de estrutura toma a forma
F
2
(x, Q
2
) =
Q
2
R
2
p
N
c
2π
2
q
e
2
q
1
0
dz
0
dk k
×
[z
2
+ (1 z)
2
]
2
3
¯
Q
2
q
2
F
1
2, 3;
5
2
;
k
2
4
¯
Q
2
q
+ [4Q
2
z
2
(1 z)
2
+ m
2
q
]
1
15
¯
Q
6
q
5
¯
Q
2
q
2
F
1
2, 2;
5
2
;
k
2
4
¯
Q
2
q
2k
2
2
F
1
3, 3;
7
2
;
k
2
4
¯
Q
2
q

˜
T (k, Y ) (B.0.21)
As funções hipergeométricas podem ser simplificadas através das seguintes equações [105]:
2
F
1
2, 2;
5
2
; w
=
3
4w(1 w)
1
1 2w
w(1 w)
arcsin(
w)
, (B.0.22)
2
F
1
2, 3;
5
2
; w
=
3
16w(1 w)
2
1 + 2w
1 4w
w(1 w)
arcsin(
w)
, (B.0.23)
2
F
1
3, 3;
7
2
; w
=
15
64w
2
(1 w)
2
3 8w + 8w
2
w(1 w)
arcsin(
w) 3(1 2w)
.
(B.0.24)
Aplicaremos essas simplificações para obtermos Eq.(4.3.22). Primeiro, chamamos a
2
=
¯
Q
2
q
para simplificar a notação. Assim,
F
2
(x, Q
2
) =
Q
2
R
2
p
N
c
2π
2
q
e
2
q
1
0
dz
0
dk k
[z
2
+ (1 z)
2
]
2
3a
2
2
F
1
2, 3;
5
2
;
k
2
4a
2
+ [4Q
2
z
2
(1 z)
2
+ m
2
q
]
1
15a
6
5a
2
2
F
1
2, 2;
5
2
;
k
2
4a
2
2k
2
2
F
1
3, 3;
7
2
;
k
2
4a
2

˜
T (k, Y ) (B.0.25)
Calcularemos termo a termo da expressão acima. Para isso, a relação arcsin(ix) = iarcsinh(x)
Apêndice B. A função de estrutura F
2
no espaço de momentum 105
será útil. Iniciaremos com a função hipergeométrica do primeiro termo:
2
F
1
2, 3;
5
2
;
k
2
4a
2
=
=
3
16
k
2
4a
2
1 +
k
2
4a
2
2
1 + 2
k
2
4a
2
1 4
k
2
4a
2
k
2
4a
2
1 +
k
2
4a
2
arcsin
k
2
4a
2
=
3
16k
2
4a
2
1 +
k
2
4a
2
2
1
k
2
2a
2
1 +
k
2
a
2
i
k
2
4a
2
1 +
k
2
4a
2
arcsin
i
k
2a
=
3a
2
4k
2
k
2
+4a
2
4a
2
2
1
k
2
2a
2
1 +
k
2
a
2
i
k
2
4a
2
1 +
k
2
4a
2
i arcsinh
k
2a
=
3a
2
4k
2
16a
4
(k
2
+ 4a
2
)
2
k
2
+ a
2
a
2
k
2
4a
2
1 +
k
2
4a
2
arcsinh
k
2a
1 +
k
2
2a
2
=
48a
6
4k
2
(k
2
+ 4a
2
)
2
k
2
+ a
2
a
2
4a
2
k
2
(k
2
+ 4a
2
)
arcsinh
k
2a
+
k
2
2a
2
2a
2
=
48a
6
4k
2
(k
2
+ 4a
2
)
2
4(k
2
+ a
2
)
k
2
(k
2
+ 4a
2
)
arcsinh
k
2a
+
k
2
2a
2
2a
2
2
3a
2
2
F
1
2, 3;
5
2
;
k
2
4a
2
=
16a
4
2k
2
(k
2
+ 4a
2
)
2
4(k
2
+ a
2
)
k
2
(k
2
+ 4a
2
)
arcsinh
k
2a
+
k
2
2a
2
2a
2
(B.0.26)
Apêndice B. A função de estrutura F
2
no espaço de momentum 106
A primeira função hipergeométrica do segundo termo pode ser escrita como
2
F
1
2, 2;
5
2
;
k
2
4a
2
=
=
3
4
k
2
4a
2
1 +
k
2
4a
2
1
1 2
k
2
4a
2
k
2
4a
2
1 +
k
2
4a
2
arcsin
k
2
4a
2
=
3a
2
k
2
1 +
k
2
4a
2
1
1 +
k
2
2a
2
i
k
2
4a
2
1 +
k
2
4a
2
i arcsinh
k
2a
=
12a
4
k
2
(k
2
+ 4a
2
)
k
2
+ 2a
2
2a
2
4a
2
k
2
(k
2
+ 4a
2
)
arcsinh
k
2a
1
=
12a
4
k
2
(k
2
+ 4a
2
)
2(k
2
+ 2a
2
)
k
2
(k
2
+ 4a
2
)
arcsinh
k
2a
1
1
15a
6
5a
2
2
F
1
2, 2;
5
2
;
k
2
4a
2
=
4
k
2
(k
2
+ 4a
2
)
2(k
2
+ 2a
2
)
k
2
(k
2
+ 4a
2
)
arcsinh
k
2a
1
=
4a
4
a
4
k
2
(k
2
+ 4a
2
)
2
2(k
2
+ 2a
2
)(k
2
+ 4a
2
)
k
2
(k
2
+ 4a
2
)
arcsinh
k
2a
(k
2
+ 4a
2
)
=
4a
4
k
2
(k
2
+ 4a
2
)
2
1
a
2
2(k
2
+ 2a
2
)(k
2
+ 4a
2
)
a
2
k
2
(k
2
+ 4a
2
)
arcsinh
k
2a
k
2
+ 4a
2
a
2
=
8a
4
k
2
(k
2
+ 4a
2
)
2
1
a
2
(k
2
+ 2a
2
)(k
2
+ 4a
2
)
a
2
k
2
(k
2
+ 4a
2
)
arcsinh
k
2a
k
2
+ 4a
2
2a
2
=
8a
4
k
2
(k
2
+ 4a
2
)
2
1
a
2
k
4
+ 6a
2
k
2
+ 8a
4
a
2
k
2
(k
2
+ 4a
2
)
arcsinh
k
2a
k
2
+ 4a
2
2a
2
=
8a
4
2k
2
(k
2
+ 4a
2
)
2
1
a
2
2k
4
+ 12a
2
k
2
+ 16a
4
a
2
k
2
(k
2
+ 4a
2
)
arcsinh
k
2a
k
2
+ 4a
2
a
2
(B.0.27)
Apêndice B. A função de estrutura F
2
no espaço de momentum 107
A segunda função hipergeométrica do segundo termo é dada por:
2
F
1
3, 3;
7
2
;
k
2
4a
2
=
=
15
64
k
4
16a
4
1 +
k
2
4a
2
2
3 8
k
2
4a
2
+ 8
k
4
16a
4
k
2
4a
2
1 +
k
2
4a
2
arcsinh
k
2a
3
1 2
k
2
4a
2

=
15a
4
4k
4
1 +
k
2
4a
2
2
3 +
2k
2
a
2
+
k
4
2a
4
1
4a
2
k
2
(k
2
+ 4a
2
)
arcsinh
k
2a
3
1 +
k
2
2a
2
=
15a
4
4k
4
16a
4
(k
2
+ 4a
2
)
2
12a
2
+ 8k
2
+
2k
4
a
2
k
2
(k
2
+ 4a
2
)
arcsinh
k
2a
3
1 +
k
2
2a
2
=
15a
8
k
4
4
(k
2
+ 4a
2
)
2
12a
2
+ 8k
2
+
2k
4
a
2
k
2
(k
2
+ 4a
2
)
arcsinh
k
2a
3
k
2
+ 2a
2
2a
2
2k
2
15a
6
2
F
1
3, 3;
7
2
;
k
2
4a
2
=
8a
2
k
2
(k
2
+ 4a
2
)
2
12a
2
+ 8k
2
+
2k
4
a
2
k
2
(k
2
+ 4a
2
)
arcsinh
k
2a
3
k
2
+ 2a
2
2a
2
=
8a
2
k
2
(k
2
+ 4a
2
)
2
12a
2
+ 8k
2
+
2k
4
a
2
k
2
(k
2
+ 4a
2
)
arcsinh
k
2a
3k
2
+ 6a
2
2a
2
=
8a
2
k
2
(k
2
+ 4a
2
)
2
12a
4
+ 8a
2
k
2
+ 2k
4
a
2
k
2
(k
2
+ 4a
2
)
arcsinh
k
2a
3k
2
+ 6a
2
2a
2
=
8a
4
k
2
(k
2
+ 4a
2
)
2
1
a
2
12a
4
+ 8a
2
k
2
+ 2k
4
a
2
k
2
(k
2
+ 4a
2
)
arcsinh
k
2a
3k
2
+ 6a
2
2a
2
=
8a
4
2k
2
(k
2
+ 4a
2
)
2
1
a
2
24a
4
+ 16a
2
k
2
+ 4k
4
a
2
k
2
(k
2
+ 4a
2
)
arcsinh
k
2a
3k
2
+ 6a
2
a
2
(B.0.28)
Subtraindo (B.0.28) de (B.0.27), obtemos
8a
4
2k
2
(k
2
+ 4a
2
)
2
1
a
2
2k
2
+ 2a
2
a
2
8a
4
+ 4a
2
k
2
+ 2k
4
a
2
k
2
(k
2
+ 4a
2
)
arcsinh
k
2a
=
16a
4
2k
2
(k
2
+ 4a
2
)
2
1
a
2
k
2
+ a
2
a
2
4a
4
+ 2a
2
k
2
+ k
4
a
2
k
2
(k
2
+ 4a
2
)
arcsinh
k
2a
].
(B.0.29)
Apêndice B. A função de estrutura F
2
no espaço de momentum 108
A função de estrutura toma a forma
F
2
(x, Q
2
) =
Q
2
R
2
p
N
c
2π
2
q
e
2
q
16a
4
2k
2
(k
2
+ 4a
2
)
2
1
0
dz
0
dk k
[z
2
+ (1 z)
2
]
×
4(k
2
+ a
2
)
k
2
(k
2
+ 4a
2
)
arcsinh
k
2a
+
k
2
2a
2
2a
2
+
4Q
2
z
2
(1 z)
2
+ m
2
q
a
2
k
2
+ a
2
a
2
4a
4
+ 2a
2
k
2
+ k
4
a
2
k
2
(k
2
+ 4a
2
)
arcsinh
k
2a
˜
T (k, Y )
(B.0.30)
ou ainda
F
2
(x, Q
2
) =
Q
2
R
2
p
N
c
4π
2
q
e
2
q
4a
2
k
2
+ 4a
2
2
1
0
dz
0
dk
k
[z
2
+ (1 z)
2
]
×
4(k
2
+ a
2
)
k
2
(k
2
+ 4a
2
)
arcsinh
k
2a
+
k
2
2a
2
2a
2
+
4Q
2
z
2
(1 z)
2
+ m
2
q
a
2
k
2
+ a
2
a
2
4a
4
+ 2a
2
k
2
+ k
4
a
2
k
2
(k
2
+ 4a
2
)
arcsinh
k
2a
˜
T (k, Y )
(B.0.31)
Na notação original, obtemos finalmente
F
2
(x, Q
2
) =
Q
2
R
2
p
N
c
4π
2
q
e
2
q
4
¯
Q
2
q
k
2
+ 4
¯
Q
2
q
2
1
0
dz
0
dk
k
[z
2
+ (1 z)
2
]
×
4(k
2
+
¯
Q
2
q
)
k
2
k
2
+ 4
¯
Q
2
q
arcsinh
k
2
¯
Q
q
+
k
2
2
¯
Q
2
q
2
¯
Q
2
q
+
4Q
2
z
2
(1 z)
2
+ m
2
q
¯
Q
2
q
k
2
+
¯
Q
2
q
¯
Q
2
q
4
¯
Q
4
q
+ 2
¯
Q
2
q
k
2
+ k
4
¯
Q
2
q
k
2
k
2
+ 4
¯
Q
2
q
arcsinh
k
2
¯
Q
q
˜
T (k, Y )
(B.0.32)
que é exatamente a Eq.(4.3.22).
Apê ndice C
Evolução de observáveis no modelo
unidimensional para a QCD
Aqui, explicitaremos os cálculos necessários para a obtenção da evolução de observáveis no
formalismo do modelo unidimensional para a QCD em altas energias, descrito no Capí-
tulo 5, mais especificamente a evolução das densidades de partículas e das amplitudes de
espalhamento.
Primeiramente, obteremos a equação de evolução (5.2.17), para o valor médio de um
observável O arbitrário. Para isso, partimos da Eq.(5.2.16),
O
Y
=
{n}
P ({n}, Y ) O({n}). (C.0.1)
Derivando-a em relação a Y , temos
O
Y
Y
=
{n}
P ({n}, Y )
Y
O({n})
=
{n}
i
[f
i
(··· , n
i
1, ···)P (··· , n
i
1, ··· , Y ) f
i
({n})P ({n}, Y )] O({n}),
(C.0.2)
onde usamos a equação (5.1.4). Fazendo n
i
n
i
+1 para o primeir o termos entre colchetes,
obtemos
O
Y
Y
=
{n}
i
f
i
({n}) P ({n}, Y ) [O(··· , n
i
+ 1, ···) O({n})]
=
i
{n}
P ({n}, Y )f
i
({n}) [O(··· , n
i
+ 1, ···) O({n})]
=
i
f
i
({n})
O(. . . , n
i
+ 1, . . . ) O({n})

Y
. (C.0.3)
Apêndice C. Evolução de observáveis no modelo unidimensional para a QCD 110
C.1 Densidades de partículas
Para obtermos a evolução das densidades de partículas, podemos usar Eq.(5.2.17) direta-
mente, mas aqui efetuaremos um cálculo mais detalhado e clar o, para fins de aprendizado.
Primeiramente, consideremos o número médio de ocupação no sítio i. Substituindo O = n
i
em (5.2.16), temos
n
i
Y
=
{n}
P ({n}, Y ) n
i
(C.1.4)
A evolução em Y :
n
i
Y
Y
=
{n}
P ({n}, Y )
Y
n
i
=
{n}
j
[f
j
(··· , n
j
1, ···)P (··· , n
j
1, ··· , Y ) f
j
({n})P ({n}, Y )] n
i
,
(C.1.5)
Fazemos, na soma sobre todas as configurações, n
k
n
k
+ 1 para todo k. Para todos os
termos da soma em j, as contribuições dos termos de ganho e perda se cancelam, exceto
para o caso quando j = i. Assim, temos
n
i
Y
Y
=
{n}
P ({n}, Y )f
i
({n})(n
i
+ 1 n
i
)
=
{n}
P ({n}, Y )f
i
({n})
= f
i
({n})
Y
, (C.1.6)
que é exatamente Eq.(5.2.18).
Apêndice C. Evolução de observáveis no modelo unidimensional para a QCD 111
Para o número médio de ocupação de 2 corpos:
n
(2)
ij
Y
Y
=
{n}
P ({n}, Y )
Y
n
i
(n
j
δ
ij
)
=
{n}
k
[f
k
(··· , n
k
1, ···)P (··· , n
k
1, ··· , Y )
f
k
({n})P ({n}, Y )] n
i
(n
j
δ
ij
),
=
{n}
P ({n}, Y ) [f
i
({n})(n
i
+ 1)(n
j
δ
ij
) f
i
({n})n
i
(n
j
δ
ij
)
+f
j
({n})n
i
(n
j
+ 1 δ
ij
) f
j
({n})n
i
(n
j
δ
ij
)] (C.1.7)
=
{n}
P ({n}, Y )
f
i
({n}) [n
i
n
j
δ
ij
+ n
j
n
i
n
j
+ δ
ij
]
+f
j
({n}) [n
i
n
j
+ n
i
n
i
δ
ij
n
i
n
j
+ n
i
δ
ij
]
=
{n}
P ({n}, Y )
f
i
({n})n
j
+ f
j
({n})n
i
n
(2)
ij
Y
Y
= f
i
({n})n
j
+ f
j
({n})n
i
Y
(C.1.8)
Apêndice C. Evolução de observáveis no modelo unidimensional para a QCD 112
De maneira análoga, obtemos, finalmente, para o número médio de ocupação de k corpos:
n
(k)
i
1
i
2
···i
k
Y
Y
=
{n}
j
f
j
(. . . , n
j
1, . . .)P (. . . , n
j
1, . . . , Y ) f
j
({n})P ({n}, Y )
× n
i
1
(n
i
2
δ
i
1
i
2
)(n
i
3
δ
i
1
i
3
δ
i
2
i
3
) ··· × (n
i
k
δ
i
1
i
k
. . . δ
i
k1
i
k
)
=
{n}
P ({n}, Y )
f
i
1
({n})(n
i
2
δ
i
1
i
2
) ···(n
i
k
δ
i
1
i
k
. . . δ
i
k1
i
k
)
+f
i
2
({n})n
i
1
(n
i
3
δ
i
1
i
3
δ
i
2
i
3
) ···(n
i
k
δ
i
1
i
k
. . . δ
i
k1
i
k
)
+f
k
({n})n
i
1
(n
i
2
δ
i
1
i
2
) ··· × (n
i
k1
δ
i
1
i
k1
. . . δ
i
k2
i
k1
)
n
(k)
i
1
i
2
···i
k
Y
Y
=
k
j=1
f
i
j
({n}) n
(k1)
i
1
i
2
/
i
j
...i
k
Y
, (C.1.9)
que é exatamente Eq.(5.2.22)
C.2 Amplitudes de Espalhamento
Como vimos, a matriz S que descreve o espalhamento no qual o projétil consiste em uma
única partícula no sítio i é
s
i
({n}) =
jk
σ
n
j
δ
ki
jk
=
k
j
σ
n
j
jk
δ
ki
=
j
σ
n
j
ji
(C.2.10)
e o seu valor médio é
s
i
({n})
Y
=
{n}
P ({n}, Y )
k
σ
n
k
ki
. (C.2.11)
Sua equação de evolução:
s
i
Y
Y
=
{n}
P ({n}, Y )
Y
k
σ
n
k
ki
=
{n}
j
[f
j
(··· , n
j
1, ···)P (··· , n
j
1, ··· , Y ) f
j
({n})P ({n}, Y )]
×
k
σ
n
k
ki
Apêndice C. Evolução de observáveis no modelo unidimensional para a QCD 113
=
{n}
P ({n}, Y )
j
f
j
({n}) [σ
ij
1]
k
σ
n
k
ki
=
τ
{n}
P ({n}, Y )
j
1
u
σ
n
u
ju
[σ
ij
1]
k
σ
n
k
ki
=
τ
{n}
P ({n}, Y )
j
[s
j
1] [1 σ
ij
] s
i
=
{n}
P ({n}, Y )
j
(1 σ
ij
)∆
τ
(s
i
s
j
s
i
)
s
i
Y
Y
=
j
∆(1 σ
ij
)
τ
s
i
s
j
s
i
Y
. (C.2.12)
Para um projétil compost o por m partículas, a matriz S é
s
i
1
s
i
2
···s
i
m
=
j
1
σ
n
j
1
i
1
j
1
× ··· ×
j
m
σ
n
j
m
i
m
j
m
=
j
(σ
i
1
j
× ··· × σ
i
m
j
)
n
j
(C.2.13)
e seu valor médio
s
i
1
s
i
2
···s
i
m
Y
=
{n}
P ({n}, Y )
j
(σ
i
1
j
× ··· × σ
i
m
j
)
n
j
(C.2.14)
Derivando em relação a Y , obtemos
s
i
1
s
i
2
···s
i
m
Y
Y
=
{n}
k
[f
k
(. . . , n
k
1, . . .)P (. . . , n
k
1, . . . , Y )
f
k
({n})P ({n}, Y )]
j
(σ
i
1
j
× ··· × σ
i
m
j
)
n
j
=
{n}
P ({n}, Y )
k
f
k
({n}) [σ
i
1
k
× ··· × σ
i
m
k
1]
×
j
(σ
i
1
j
× ··· × σ
i
m
j
)
n
j
Apêndice C. Evolução de observáveis no modelo unidimensional para a QCD 114
=
{n}
P ({n}, Y )
k
τ
1
u
σ
n
u
ku
[σ
i
1
k
× ··· × σ
i
m
k
1]
×
j
(σ
i
1
j
× ··· × σ
i
m
j
)
n
j
=
{n}
P ({n}, Y )
k
τ
(1 σ
i
1
k
× ··· × σ
i
m
k
)
×[s
i
1
s
i
2
···s
i
m
s
k
s
i
1
s
i
2
···s
i
m
]
=
k
τ
(1 σ
i
1
k
× ··· × σ
i
m
k
) s
i
1
s
i
2
···s
i
m
s
k
s
i
1
s
i
2
···s
i
m
Y
=
j
τ
1
m
k=1
σ
i
k
j
s
i
1
s
i
2
···s
i
m
s
k
s
i
1
s
i
2
···s
i
m
Y
s
i
1
s
i
2
···s
i
m
Y
Y
=
j
f
j
({m}) s
i
1
s
i
2
···s
i
m
s
k
s
i
1
s
i
2
···s
i
m
Y
, (C.2.15)
que é exatamente a Eq.(5.3.31).
Tomando o limite contínuo, as equações de evolução para projéteis comp ostos por uma
e duas partículas tomam as formas dadas pelas Eqs.(5.3.33) e (5.3.34), respectivamente:
s
x
Y
=
z
τ
xz
τ
s
x
s
z
s
x
, (C.2.16)
e
s
x
s
y
Y
=
z
τ
xz
+ τ
zy
τ
xz
τ
zy
τ
s
x
s
y
s
z
s
x
s
y
. (C.2.17)
Desejamos obter essas equações em termos das amplitudes de espalhamento, ou seja, as
Eqs.(5.3.36) e (5.3.37). Para isso, tomemos a primeira equação acima. Substituindo s =
1 t, obtemos
1 t
x
Y
=
z
τ
xz
τ
(1 t
x
)(1 t
z
) (1 t
x
),
t
x
Y
=
z
τ
xz
τ
1 t
z
t
x
+ t
x
t
z
1 + t
x
,
t
x
Y
=
z
τ
xz
τ
t
z
t
x
t
z
. (C.2.18)
Apêndice C. Evolução de observáveis no modelo unidimensional para a QCD 115
Para obtermos a equação para tt, procedemos de maneira similar:
(1 t
x
)(1 t
y
)
Y
=
z
τ
xz
+ τ
zy
τ
xz
τ
zy
τ
×(1 t
x
)(1 t
y
)(1 t
z
) (1 t
x
)(1 t
y
)
t
x
t
y
Y
=
t
x
Y
+
t
y
Y
z
τ
xz
+ τ
zy
τ
xz
τ
zy
τ
×(1 + t
x
t
y
t
x
t
y
)(1 t
z
) 1 + t
x
+ t
y
t
x
t
y
=
z
τ
xz
τ
t
z
t
x
t
z
+
τ
yz
τ
t
z
t
y
t
z
+
τ
xz
+ τ
zy
τ
xz
τ
zy
τ
1 t
z
+ t
x
t
y
t
x
t
y
t
z
t
x
+t
x
t
z
t
y
+ t
y
t
z
1 + t
x
+ t
y
t
x
t
y
=
z
τ
xz
τ
t
z
t
x
t
z
+
τ
yz
τ
t
z
t
y
t
z
+
τ
xz
+ τ
zy
τ
xz
τ
zy
τ
−t
z
t
x
t
y
t
z
+ t
x
t
z
+ t
y
t
z
(C.2.19)
Reagrupando os termos, obtemos
t
x
t
y
Y
=
z
τ
xz
τ
t
y
t
z
t
x
t
y
t
z
+
τ
yz
τ
t
x
t
z
t
x
t
y
t
z
τ
xz
τ
yz
τ
t
x
t
z
+ t
y
t
z
t
z
t
x
t
y
t
z
(C.2.20)
O terceiro termo do integrando pode ser reescrito:
τ
xz
τ
yz
τ
t
x
t
z
+ t
y
t
z
t
z
t
x
t
y
t
z
=
τ
xz
τ
yz
τ
t
z
(t
x
+ t
y
1 t
x
t
y
)
=
τ
xz
τ
yz
τ
t
z
[t
x
(1 t
y
) (1 t
y
)]
=
τ
xz
τ
yz
τ
t
z
(t
x
1)(1 t
y
)
= +
τ
xz
τ
yz
τ
t
z
(1 t
x
)(1 t
y
) (C.2.21)
Apêndice C. Evolução de observáveis no modelo unidimensional para a QCD 116
Assim, obtemos finalmente
t
x
t
y
Y
=
z
τ
xz
τ
t
y
(t
z
t
x
t
z
) +
τ
yz
τ
t
x
(t
z
t
y
t
z
)
+
τ
xz
τ
yz
τ
t
z
(1 t
x
)(1 t
y
). (C.2.22)
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