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Capítulo
Capítulo Capítulo
Capítulo 4
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4: A Mística do MST como Ação C
: A Mística do MST como Ação C: A Mística do MST como Ação C
: A Mística do MST como Ação Coletiva
oletivaoletiva
oletiva
No MST há uma ação coletiva
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que conjuga, em sua estruturação,
cantos de contestação, religiosos, músicas regionais; danças (em geral danças
típicas de cada região); rituais (procissões, caminhadas etc.); encenações
(performances que, em geral, representam um personagem importante da
história de luta social); símbolos do movimento (bandeira, boné, camiseta entre
outros), símbolos da luta pela terra (ferramentas, frutos da terra), discursos
políticos (em geral com conteúdo marxista), orações e preces religiosas. A
esse tipo de ação coletiva o MST denomina mística.
Não existe uma ortodoxia imposta pelo MST para se ter um único
modelo de mística, não há um cânone, como, por exemplo, o da missa católica
que segue o mesmo padrão em qualquer parte do mundo. Dessa maneira,
essa ação coletiva realizada no movimento se estrutura com contornos
específicos, dependendo dos objetivos do movimento e do grupo, realidade
local em que é feita e, principalmente, se estrutura a partir das características
das pessoas que participam da mística.
Mas a mística também evoca a materialização (geralmente simbólica)
deste sentimento na beleza da ambientação dos encontros, nas
celebrações, na animação proporcionada pelo canto, pela poesia, pela
dança, pelas encenações de vivências que devem ser perpetuadas na
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Ação coletiva é um conceito bastante utilizado na análise de movimentos sociais para demonstrar a
ação que representa os objetivos, recursos e limites do movimento construídos por meio de relações
sociais, e essas também servem para ativar e reatualizar as próprias relações assim como para prover
sentido aos objetivos e também ao agir comum do movimento. Nesse sentido, Melucci (2001:46), nos diz:
“A ação coletiva é um sistema de ação multipolar que combina orientações diversas, envolvendo atores
múltiplos e implica um sistema de oportunidades e de vínculos que dá forma às suas relações. Os atores
produzem a ação coletiva porque são capazes de definir-se e de definir a sua relação com o ambiente
(outros atores, recursos disponíveis, possibilidades e obstáculos). A definição que os atores constroem
não é linear, mas produzida por meio da interação, da negociação, da oposição entre orientações
diversas. Os atores formam um ‘nós’ colocando em comum e ajustando laboriosamente três orientações:
aquelas relativas aos fins da ação (isto é, do sentido que a ação tem para o ator). O sistema multipolar da
ação de um ator coletivo se organiza, por isso, em torno de três eixos (fins, meios, ambiente), que devem
ser considerados como um conjunto de vetores interdependentes e em tensão entre eles”.