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Na seqüência do xirê, as cantigas e os toques cumprem funções
específicas sinalizando aos participantes quais as condutas a serem seguidas. O
trecho a seguir, expõe isso com clareza, através de declarações de dois exímios
instrumentistas ligados ao terreiro:
1. (Marcos) Queto a gente faz o xirê, de Exu até... vamos fazer aqui assim Iemanjá ou
Xangô aí nessa seqüência aí, dependendo do que for, aí vai cantar uma roda de
Xangô pra virar, ou então você vira em Iemanjá mesmo o povo, dependendo do que
for: obrigação, iaô, ou então se for uma festa comum, tem vários tipos de virar o
povo. Aí virou esse povo de santo, para, toca uma ramunha para que eles entrem
para vestir esses santos. Aí se dá um intervalo ou então continua com uns dois ou
três orixás que fica aqui, se dá rum. Rum significa cantar... a gente canta uma
seqüência de sete, oito cantigas ou mais pra cada um e vai colocando para dentro.
Até sair tudo. Pro santo dançar, a evolução. Aquele negócio todo. A gente vai
colocando cada um com sua cantiga pra dentro. Todo orixá tem a sua cantiga pra ir
embora.
2. (Maninho) Pra levar o santo pra dentro. A mesma coisa pra sair também.
3. (Marcos) Pra chamar e pra ir embora. (perg.- quem faz isso...?) É quem canta. É
quem canta. E todo orixá sabe a cantiga que é pra ir embora.
4. (Man.) É quem tá cantando candomblé. E pode ser ogã, pode ser pai-de-santo
velho.
5. (Marcos) Tudo já tem uma seqüência. A gente já tem a seqüência até aonde a
gente vai cantar, aquela hora para, porque aí vai virar o povo, aí vai cantar, tem a
cantiga pra virar o povo.
6. Às vezes acontece, de virar um orixá antes, a gente para, dobra, coloca aquela
pessoa lá pra dentro. Pra virar consecutivamente naquele horário onde canta pra
virar todos orixás. São os orixás que vão participar da festa. Aí, virou os orixás,
parou. Uma ramunha, eles entram, aí aguarda depois... aí tem a cantiga para tirá-
los.
7. (Man.) O santo já vem vestido, já vem...
8. (Marcos) Já tudo vem vestido, paramentado, com suas roupas, suas ferramentas,
então por ordem, aqui assim...
9. (Man.) Do mais velho pro mais novo.
10. (Marcos) Do mais velho pro mais novo. Então sempre o mais velho na frente. Os
outros afastam, sentam, o mais velho vai dançar, a gente vai cantar, ele vai
dançar, fazer suas evoluções ali. Acabou, parou: encosta. Aí vem o outro, sendo o
mais velho daquela seqüência, a mesma coisa.
11. (Man.) Até chegar o mais novo. Aí no final é cantado pra Oxalá, dependendo...
12. (Marcos) Dependendo da casa se canta pra Oxalá. Porque, às vezes tem coisas
que não fizeram ainda, as pessoas deixam pra fazer no outro dia, vão levantar as
coisas que fizeram, as oferendas que fizeram... Então tem casas que se canta pra
Oxalá no final.
13. (Man.) Aí é o encerramento do xirê. É Oxalá” (Marcos e Maninho, 2007)
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Entrevista concedida pelos alabês Marco Antonio Augusto Barbosa – o Ogã Marcos de Xangô
da Casa de Idã, de Oxumarê e Maninho, da casa de Róbson, de Oxóssi. Em 29/março/2007.