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ambiente doméstico, do ambiente religioso, a ligação com Jesus. Quando chegou os 15
anos, uma fase de rebeldia, de uma série de coisas ligadas a adolescência, eu passei a ser um
pouco mais cético em relação a isso, mas, mesmo nesse ceticismo, aí com uns 15, 16 anos,
eu conheci a obra do Castañeda e comecei a ler. Li vários livros dele: Uma estranha
realidade, Viagem a Ixtlan, Erva do Diabo, e o que era um pouco a história da
transcendência dos estados alterados de consciência. E isso, de certa forma, foi um momento
que também, dentro do ambiente que eu cresci, que eu me desenvolvi, do meu momento.
Eu, durante alguns anos, comecei a fazer o uso de drogas, de alteração de consciência,
buscando... Mas eu tinha, eu sempre dizia entre os amigos que eu tinha na época, que alguns
haviam usado drogas por uma fuga, uma fuga dos seus problemas, uma fuga das suas
limitações, até poderia dizer assim. E outros, que eu me identifico com umas pessoas na
época, estavam numa busca de ver um mundo transcendente. Na verdade eu com 50 anos,
eu nasci dentro de um regime autoritário militar. Lembro em 1964 era toda uma situação de
medo. Logo depois teve a guerra do Vietnã e todas aquelas coisas de violência que se via. E
parecia que esse mundo, que quem tem uma ligação espiritual, num mundo de paz estava
cada vez mais distante. Então foi uma época de muita busca. A busca da libertação. E muito
dessa busca da libertação passou pelo uso de drogas. De 18 com 19 anos resolvi fazer uma
viagem, fiquei seis meses viajando pela Bolívia, Peru, depois voltei pela Amazônia. Fiquei
seis meses viajando. E lá em Cusco, eu conheci uma pessoa que era um líder espiritual. Na
época, também eu era vegetariano e ele tinha um restaurante em Cusco, e lá naquele
momento ele falou que existia na Terra, um pólo material, que era pólo norte e o pólo sul,
mas existia um pólo espiritual. O pólo espiritual ligava o Himalaia e o Chuchucaca. Eram os
pólos espirituais onde havia a emergência da espiritualidade na humanidade e que o pólo
espiritual masculino, ligado a Era de Peixes, que era do Himalaia, havia, ou estava mudando
a sua polaridade para um pólo predominantemente feminino, e que provinha dos Andes, da
região do Chuchucaca. E aquilo ficou gravado para mim naquele momento. E até aquela
vivência que eu tive naquele momento, até me fez eu me afastar das drogas. Acabei ainda
até usando algumas outras vezes, mas com pouca freqüência. O que a gente mais usava na
época era maconha. Mas, lá no Peru eu tive a oportunidade de conhecer cocaína, essas
outras coisas que haviam naquela época. E eram vendido livremente na rua. Daí, eu comecei
a para de usar, já não achei mais tão interessante, eu já era uma pessoa que tinha uma busca,
uma procura de vida mais saudável, era vegetariano e tudo. Então eu comecei a me afastar
disso. E aí, quando eu voltei, eu comecei a entrar em grupos mais ligados a meditação. Em
79 eu fiz a formação na meditação transcendental. Depois, na década de 80 me liguei mais
com o movimento, que eu nunca fui parte do movimento, mas tinha uma ligação com o
movimento, com o pessoal que era ligado ao movimento hoje chamado Osho, na época o
Rajnish, nós fazíamos meditação, dinâmica, estudei um pouco de bioenergética, li a obra de
Willian Raich e outras coisas do gênero. Então em 1989 para 90 eu tinha terminado a
faculdade, tinha feito faculdade de agronomia, eu vim para Porto Alegre para fazer o
mestrado em Ciências Sociais. Uma vez eu vivia com a minha ex-mulher e eu encontrei um
amigo que vinha na União do Vegetal e ele era uma pessoa que era assim muito amiga, até
era amigo do meu irmão, mas a gente já se conhecia há muitos anos lá de Caxias e ele disse:
“Estou freqüentando uma religião, um lugar muito legal, as pessoas vão lá e bebem um chá
e aí tem um mestre que conduz lá o trabalho”. Até então eu não sabia o que era o chá e
aquele ambiente, não sabia que o chá era um alterador de consciência ou coisas do gênero.
Eu estava fazendo mestrado e durante o mestrado, dizem que o mestrado é uma viagem
interior também. A gente viaja exteriormente, mas acaba viajando interiormente. Estás
vivendo isso, tu deve saber um pouco disso né. E eu comecei a entrar dentro de uma viagem.
Porque essa pessoa que pelos 18 anos eu fui viajar, fomos viajar juntos. Acabou se
transformando em minha companheira na época. Na época em que nós não queríamos casar,
só vivê juntos era o suficiente. Aí quando comecei a beber o vegetal eu comecei a entrar em
contato com muita coisa, muita coisa minha, em valores que eu estava querendo preservar.
E aí foi uma crise, digamos assim, existencial que envolveu minha separação conjugal
naquele momento. Mas, assim, um processo de introspecção, de reflexão pessoal muito
profundo. E eu comecei a ver muitas coisas, que eu percebi dentro da sessão, dentro da
burracheira. Então era um momento muito rico, muito profundo. Eu passava, mesmo tendo
assim os efeitos dentro da burracheira. Como era uma pessoa que sempre fui ligado, desde a
época da faculdade, do momento estudantil, aos movimentos sociais. Eu quando cheguei
nós não tínhamos a estrutura que temos hoje. Nós éramos em 20 pessoas na cozinha de um
sitio de uma irmã. Aí eu era um cético, achava as pessoas, era uma pessoa que já tinha feito