Download PDF
ads:
ESCOLA SUPERIOR DE TEOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TEOLOGIA
VALDIR STEPHANINI
ASSIM NASCE UMA IGREJA:
A MULTIPLICAÇÃO DAS COMUNIDADES CRISTÃS INDEPENDENTES
NO MUNICÍPIO DA SERRA, ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
São Leopoldo
2010
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
2
VALDIR STEPHANINI
ASSIM NASCE UMA IGREJA:
A MULTIPLICAÇÃO DAS COMUNIDADES CRISTÃS INDEPENDENTES
NO MUNICÍPIO DA SERRA, ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
Dissertação de Mestrado para obtenção
do grau de Mestre em Teologia
Escola Superior de Teologia
Programa de Pós-Graduação
Área de concentração: Teologia Prática
Orientador: Prof. Dr. Valério Guilherme Schaper
São Leopoldo
2010
ads:
3
ASSIM NASCE UMA IGREJA:
A MULTIPLICAÇÃO DAS COMUNIDADES CRISTÃS INDEPENDENTES
NO MUNICÍPIO DA SERRA, ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
Dissertação de Mestrado para obtenção
do grau de Mestre em Teologia
Escola Superior de Teologia
Programa de Pós-Graduação
Área de concentração: Teologia Prática
Data: 22 de Janeiro de 2010
Banca Examinadora :
PROF. DR. VALÉRIO GUILHERME SCHAPER
(PRESIDENTE)
PROF. DR. RODOLFO GAEDE NETO
(EST)
PROF. DR. JOSÉ IVO FOLLMANN
(UNISINOS)
4
AGRADECIMENTOS
A Deus, a quem tributo toda a Honra, Glória e Louvor;
À minha esposa Genilza, amada companheira de todas as horas e em todos os
desafios;
Ao meu filho Rodrigo e minha filha Stella, que foram compreensivos e participativos,
sempre encorajadores nesta caminhada;
Aos meus irmãos, pelo apoio e presteza em me receber em Porto Alegre;
Ao meu orientador, Prof. Dr. Valério Guilherme Schaper, sempre pronto a orientar e
encorajar;
Aos colegas de MINTER, pelo privilégio das trocas durante a jornada acadêmica;
Aos professores/as e funcionários/as da Faculdade EST e Faculdade Unida de Vitória,
pela dedicação e bom atendimento.
Aos pastores e membros das igrejas que tão carinhosamente me receberam e
participaram da pesquisa, autorizando a gravação das entrevistas.
À Primeira Igreja Batista da Cidade da Serra, uma comunidade marcada pelo amor, por
me apoiar e possibilitar a realização deste projeto.
5
RESUMO
Assim nasce uma Igreja : A multiplicação das Comunidades Cristãs Independentes no
Município da Serra, Estado do Espírito Santo é um trabalho que visa identificar os
fatores que têm desencadeado o nascimento de novas Igrejas Cristãs, sem vínculo com
comunidades históricas, no município da Serra, bem como a repercussão deste
fenômeno nas Igrejas Protestantes Históricas, notadamente nas Igrejas Batistas, tanto
em seus benefícios como nos prejuízos. No primeiro capítulo, situa-se a pesquisa
geográfica e teoricamente, através de um mapeamento religioso do município da Serra
e uma apresentação da tipologia utilizada no trabalho. O segundo capítulo traz uma
síntese histórica, mostrando como as Igrejas Cristãs nasceram, desde o período do
Novo Testamento até os dias atuais, com ênfase nas Igrejas do Cristianismo Primitivo,
Grande Cisma, Movimento Reformador do Século XVI e Movimento Pentecostal. No
terceiro capítulo são identificados os fatores externos e internos que tem desencadeado
o nascimento de novas igrejas. O quarto capítulo apresenta os benefícios e os prejuízos
que a fragmentação do Cristianismo produz para as Igrejas Cristãs Históricas e para o
Reino de Deus.
Palavras chaves : Igreja, Igrejas Cristãs Históricas, Comunidades Cristãs
Independentes, Igrejas Batistas, multiplicação.
6
ABSTRACT
Thus was born a church: the rise of the Christian Independent
communities
in the city
of Serra, Espírito Santo is a work that aims to identify the factors that has triggered the
birth of new Christian churches, not related to historical communities in the municipality
of Serra, as well as the impact of this phenomenon in Historical Protestant Churches,
especially in Baptist Churches, in both its benefits and the losses. In the first chapter,
the geographical search is located and theoretically, through a mapping of the religious
city of Serra and a presentation of the typology used in this work. The second chapter
provides a brief history, showing how the Christian churches were born from the New
Testament period to the present, with emphasis on early Christianity Churches, Great
Schism, the Reform Movement of the XVI century, and in the Pentecostal movement.
The third chapter identifies the external and internal factors that have triggered the birth
of new churches. The fourth chapter presents the benefits and losses that the
fragmentation of Christianity creates to the Historic Christian Churches and the
Kingdom of God.
Keywords : Church, Historic Christian Churches, Christian Independent
Communities
, Baptist Churches, rise.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 10
1 O CAMPO DA PESQUISA ....................................................................................... 16
1.1 Serra : Contexto Geográfico – Religioso – Histórico ......................................... 16
1.1.1 Síntese Histórica ........................................................................................ 16
1.1.2 Religiosidade Histórica .............................................................................. 17
1.1.2.1 Festa de São Benedito .................................................................. 18
1.1.2.2 Bandas de Congo .......................................................................... 18
1.1.2.3 Revolta de Queimados .................................................................. 19
1.1.2.4 Protestantismo na Serra ................................................................ 20
1.1.3 Religiosidade Atual .................................................................................... 20
1.1.3.1 Igrejas Protestantes ....................................................................... 21
1.1.3.2 Igrejas Batistas .............................................................................. 21
1.1.3.3 Igrejas Cristãs Independentes ....................................................... 21
1.2 Campo Religioso: Tipologias .............................................................................. 22
1.2.1 Religião ...................................................................................................... 22
1.2.2 Igreja e seita .............................................................................................. 24
1.2.2.1 O Praticante .................................................................................... 25
1.2.2.2 O Peregrino .................................................................................... 26
1.2.2.3 O Convertido .................................................................................. 28
1.2.3 Denominação ............................................................................................ 31
1.2.4 Movimento e Instituição ............................................................................. 32
1.2.5 Religião Popular ........................................................................................ 34
2 O NASCIMENTO DAS COMUNIDADES CRISTÃS INDEPENDENTES NO
DECORRER DOS SÉCULOS ....................................................................................... 37
2.1 No Período do Novo Testamento ...................................................................... 37
2.2 Na História do Cristianismo ............................................................................... 42
2.2.1 Comunidades Cristãs Perseguidas ......................................................... 42
2.2.2 Sob a Proteção do Império Romano ....................................................... 44
2.2.3 O Grande Cisma ...................................................................................... 48
2.2.4 A Reforma Religiosa do Século XVI ........................................................ 51
2.2.4.1 Reforma Luterana ........................................................................ 56
2.2.4.2 Reforma Reformada ..................................................................... 57
2.2.4.3 Reforma Radical .......................................................................... 57
2.2.4.4 Reforma Anglicana ....................................................................... 59
2.3 O Cristianismo no Brasil .................................................................................... 62
8
2.3.1 O Catolicismo Romano ............................................................................ 62
2.3.2 Os Protestantismos Brasileiros ................................................................ 64
2.3.2.1 Protestantismo de Imigração ...................................................... 64
2.3.2.2 Protestantismo de Missão ........................................................... 65
2.3.3 O Movimento Pentecostal ........................................................................ 67
2.3.3.1 Os antecessores ........................................................................ 67
2.3.3.2 O Avivamento da Rua Azusa ...................................................... 70
2.3.3.3 O Pentecostalismo no Brasil ....................................................... 71
2.3.3.3.1 A Primeira Onda .......................................................... 73
2.3.3.3.1.1 Congregação Cristã do Brasil ................... 74
2.3.3.3.1.2 Assembléia de Deus ................................. 75
2.3.3.3.2 A Segunda Onda ......................................................... 76
2.3.3.3.2.1 Igreja do Evangelho Quadrangular ........... 77
2.3.3.3.2.2 Igreja Evangélica o Brasil para Cristo ....... 78
2.3.3.3.2.3 Igreja Pentecostal Deus é Amor ............... 79
2.3.3.3.3 A Terceira Onda .......................................................... 80
2.3.3.3.3.1 Igreja Pentecostal de Nova Vida .............. 82
2.3.3.3.3.2 Igreja Universal do Reino de Deus............ 83
2.3.3.3.3.3 Comunidade Evangélica Sara a Nossa
Terra ........................................................ 86
2.3.3.3.3.4 Igreja Internacional da Graça .................... 87
2.3.3.3.3.5 Igreja Apostólica Renascer em Cristo ....... 88
2.3.3.3.3.6 Igreja Mundial do Poder de Deus ............. 89
3. FATORES QUE TEM DESENCADEADO A MULTIPLICAÇÃO DE IGREJAS ..... 94
3.1 Fatores Externos .............................................................................................. 94
3.1.1 O Contexto Social .................................................................................... 94
3.1.1.1. A Pós-Modernidade ................................................................... 94
3.1.1.1.1 O Individualismo ......................................................... 97
3.1.1.1.2 O Secularismo ...........................................................100
3.1.2 O Contexto Religioso ..............................................................................104
3.1.2.1 O Pluralismo Religioso .............................................................. 104
3.1.2.2 O Declínio Institucional ............................................................. 111
3.2 Fatores Internos .............................................................................................. 114
3.2.1 Conflitos de Gerações: Descontinuidade ............................................... 114
3.2.2 Questões sócio-político-econômicas ..................................................... 117
3.2.3
Questões teológicas .............................................................................. 119
9
3.2.4 O denominacionalismo .......................................................................... 124
3.2.5 Questões Administrativas ...................................................................... 127
3.2.5.1 Personalismo ............................................................................ 127
3.2.5.2 Liderança .................................................................................. 128
3.2.5.3 Liturgia ...................................................................................... 129
3.3 Fatores Apontados pelos entrevistados ......................................................... 130
3.3.1 Fatores apontados pelos Praticantes .................................................... 130
3.3.2 Fatores apontados pelos Peregrinos ..................................................... 132
3.3.3 Fatores apontados pelos Convertidos .................................................... 135
4. CONSEQÜÊNCIAS DA MULTIPLICAÇÃO DE COMUNIDADES CRISTÃS
INDEPENDENTES PARA AS IGREJAS CRISTÃS HISTÓRICAS LOCALIZADAS NO
MUNICÍPIO DA SERRA ..............................................................................................139
4.1. Prejuízos ........................................................................................................ 139
4.1.1. Individualismo religioso ......................................................................... 139
4.1.2 Competição e Isolamento .......................................................................144
4.1.3 Escândalo para o mundo ....................................................................... 147
4.1.4 Abuso Espiritual ..................................................................................... 149
4.1.5 Mercantilização da fé ............................................................................. 153
4.2. Benefícios ....................................................................................................... 156
4.2.1 Renovação das Igrejas Históricas ......................................................... 157
4.2.2 Reconsideração da filosofia de ministério ............................................. 159
4.2.2.1 Rede Ministerial ........................................................................ 159
4.2.2.2 Ministério Igreja em Células ..................................................... 160
4.2.2.3 Igreja com Propósito ................................................................. 161
4.2.2.4 Desenvolvimento Natural da Igreja .......................................... 162
4.2.3 Reflexão Teológica ................................................................................ 164
4.2.4 Reação das igrejas históricas ................................................................ 169
CONCLUSÃO ............................................................................................................. 172
REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 175
ANEXO A .................................................................................................................... 182
ANEXO B .....................................................................................................................196
ANEXO C .................................................................................................................... 212
10
INTRODUÇÃO
No ano 2000 o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizou um
censo que pesquisou todo o território nacional. Uma das perguntas feitas ao povo
brasileiro foi: “Qual a sua religião”? A esta pergunta, foram catalogadas 35 mil respostas
diferentes evidenciando o tamanho da diversidade e o grau de complexidade religiosa
que se estabelece em solo brasileiro.
1
O “trânsito religioso”, ou seja, a mudança de uma
religião para a outra, apresenta números significativos. “Uma em cada quatro pessoas
mudou de religião no Brasil nos anos 1990; e uma em cada três na Grande São Paulo,
nos anos 2000.”
2
Campos descreve com precisão o que está acontecendo no campo religioso,
sobretudo no Brasil. Segundo ele, “o momento atual é de efervescência religiosa e de
explosão de manifestações ligadas ao sagrado, sejam elas místicas ou
fundamentalistas, formando uma realidade incômoda, presente em todos os lados para
onde dirigimos nosso olhar”.
3
um consenso [....] entre pesquisadores que trabalham com esse tema, de
que o campo religioso no Brasil e no mundo deixou para trás, de uma forma
definitiva, os períodos relativamente estáveis dos monopólios e de coexistência
pacífica entre os grupos e instituições, predominando agora, nesse cenário, um
clima de turbulência, pluralismo e realinhamento institucional.
4
Em função desta realidade, este trabalho se propõe a analisar o fenômeno da
multiplicação de comunidades independentes no município da Serra, estado do Espírito
Santo, que certamente é um retrato do que acontece em todo o Brasil e no mundo
inteiro, com maior ou menor intensidade.
A pesquisa se propõe a identificar os fatores que ocasionam o surgimento destas
comunidades nos últimos dez anos e até que ponto este fenômeno tem repercutido, isto
1
TEIXEIRA, Faustino; MENEZES, Renata (Org.). As religiões no Brasil : continuidades e rupturas.
Petrópolis : Vozes, 2006, p. 8.
2
TEIXEIRA; MENEZES, 2006, p. 7.
3
CAMPOS, Leonildo. As mutações do campo religioso: os novos movimentos religiosos e seus desafios
à religião instituída no Brasil. Caminhando, São Bernardo do Campo, Ano VII, n. 9, p. 97, 2002.
4
CAMPOS, Leonildo Silveira. Teatro, templo e mercado : organização e marketing de um
empreendimento neo-pentecostal. 2. ed. Petrópolis, São Paulo, São Bernardo do Campo : Vozes,
Simpósio, UMESP, 1999. p. 17.
11
é, tem trazido prejuízos ou benefícios para o Cristianismo Histórico, tomando como
referência as Igrejas Batistas da Convenção Batista do Estado do Espírito Santo
localizadas no município da Serra, reconhecidas como igrejas protestantes históricas.
O objetivo geral é investigar o fenômeno do surgimento de Novas Comunidades
Cristãs Independentes no município da Serra e avaliar suas causas bem como
conseqüências em relação às Igrejas Cristãs Históricas localizadas no município,
notadamente as Igrejas Batistas.
Especificamente, o que se visa é mapear a realidade religiosa do município da
Serra, identificar os fatores que tem desencadeado o nascimento de Comunidades
Cristãs Independentes e apontar as conseqüências deste fenômeno para as igrejas
cristãs históricas localizadas no município, tomando como referência as Igrejas Batistas.
Justifica-se a pesquisa, em função da realidade já aludida nos primeiros
parágrafos deste trabalho, com o surgimento de grande número de novas comunidades
cristãs, sem vínculo algum com as igrejas históricas, muitas das quais sendo formadas
por membros egressos destas comunidades.
A importância de se analisar este fenômeno é contribuir para amenizar a
fragmentação do cristianismo contemporâneo, além de contribuir para que as igrejas
históricas conheçam os fatores que tem desencadeado tal fenômeno e tomem as
medidas cabíveis para evitar a perda de seus membros.
O autor se identifica com o assunto, por ser ele pastor de uma Igreja Batista
filiada à Convenção Batista do Estado do Espírito Santo, reconhecida como histórica, e
vivenciar de perto a problemática relacionada com o fenômeno, além de exercer a
docência cerca de 18 anos em curso de teologia que visa a formação de pastores
para a liderança de Igrejas Batistas.
A pergunta central, cujas respostas serão perseguidas durante a pesquisa é :
Que fatores tem desencadeado o surgimento de Comunidades Cristãs Independentes
no município da Serra, estado do Espírito Santo, Brasil e qual a repercussão deste
fenômeno sobre as igrejas cristãs históricas, notadamente as Igrejas Batistas do
município da Serra?
12
Muito embora se reconheça que este fenômeno não é novo, pois está presente
desde a origem do próprio Cristianismo, levantam-se como hipóteses principais para
responder a estas duas questões fatores que saem de dentro das próprias Igrejas
Batistas Históricas e outros que estão presentes na sociedade e que forçam de fora
para dentro o surgimento de movimentos cismáticos. Como fatores internos as
principais hipóteses são o conflito de gerações, ou seja, a dificuldade de transmitir para
as novas gerações os conteúdos herdados das gerações anteriores, questões
teológico-doutrinárias e questões mais de cunho administrativo. De fora para dentro
pode-se imaginar que a realidade social vigente neste início de novo milênio, conhecida
como pós-modernidade, sobretudo no que tange à globalização e massificação do
mercado, acabe pressionando o surgimento de novas igrejas que visem atender as
demandas da humanidade atual.
A pesquisa terá como referencial teórico as figuras do Peregrino e do Convertido
utilizadas pela socióloga francesa Daniele Hervieu-Léger para descrever a realidade
religiosa, a partir dos fenômenos de construção e transmissão das identidades
religiosas na Modernidade, acrescidas da do Praticante, figura implícita nos trabalhos
da referida autora. Será utilizada também a teoria da troca de bens simbólicos proposta
por Pierre Bourdieu para auxílio na compreensão do fenômeno da fragmentação do
Cristianismo e mercantilizarão da fé. Para o mapeamento religioso do município da
Serra valerá a experiência do brasileiro Carlos Rodrigues Brandão que desenvolveu um
amplo estudo sobre a religiosidade popular na cidade de Itapira, estado de São Paulo.
A pesquisa se bibliográfica e social. Seguindo o caminho percorrido por
Brandão, será feito um mapeamento religioso do município da Serra, incluindo parte de
sua história e do quadro atual no que tange à religiosidade do povo serrano, com
ênfase nas comunidades cristãs existentes neste município. Baseado nas figuras do
Praticante, Peregrino e do Convertido, cunhadas por Hervieu-Léger e na teoria do
mercado de bens simbólicos desenvolvida por Pierre Bourdieu será feita uma análise
na realidade religiosa da Serra, sobretudo no que tange ao surgimento de
Comunidades Cristãs Independentes, tentando identificar as causas e apontar as
conseqüências de tal fenômeno. Outros teólogos e sociólogos serão consultados,
13
sobretudo na área da eclesiologia, a fim de apontar pistas na direção da compreensão
da fragmentação do Cristianismo no mundo, a partir do município da Serra.
Neste trabalho serão usadas como sinônimas as palavras Igrejas e
Comunidades, entendendo-se com elas agrupamentos organizados de crentes que
esposam as mesmas doutrinas, seguindo a definição dos irmãos Stegemann :
O conceito neotestamentário mais importante para as comunidades crentes em Cristo, a
palavra grega ekklesía, é utilizado para comunidades domésticas individuais, para
comunidades locais constituídas eventualmente por diversas comunidades domésticas e
para todos os crentes em Cristo. A sua tradução para o português varia: comunidade,
reunião comunitária, igreja.
5
Foi feita também uma pesquisa de campo, na qual cinco comunidades cristãs
protestantes históricas e cinco novas comunidades cristãs foram pesquisadas. A
pesquisa social é qualitativa e realizada por meio de entrevistas com membros das
novas comunidades, obedecendo os seguintes critérios: um pastor e um membro de
cada Igreja Batista Histórica, os quais denominamos nesta pesquisa de Praticantes e
um pastor de cada Igreja Independente, aqui chamados de Peregrinos e um membro de
cada nova comunidade, chamado neste trabalho de Convertidos. Foram entrevistadas
pessoas do sexo masculino e do sexo feminino e das mais diferentes idades, como
pode ser constatado no conteúdo das entrevistas anexadas a este trabalho.
Segundo Neto, o trabalho de campo se apresenta como uma possibilidade de
conseguirmos não só uma aproximação com aquilo que desejamos conhecer e estudar,
mas também de criar um conhecimento, partindo da realidade presente no campo.”
6
O
propósito da pesquisa de campo foi buscar nas próprias Igrejas as informações e as
percepções sobre o fenômeno pesquisado.
Optou-se pela técnica das entrevistas semi-estruturadas e gravadas, com horário
previamente agendado e com o conteúdo das perguntas previamente compartilhado
com os participantes, a fim de tornar a experiência mais agradável e bem descontraída.
Segundo Neto, “a entrevista é o procedimento mais usual no trabalho de campo.
5
STEGEMANN, Ekkehard W., STEGEMANN, Wolfgang. História social do protocristianismo : os
primórdios no judaísmo e as comunidades de Cristo no mundo mediterrâneo. Tradução de Nélio
Schneider. São Leopoldo : Sinodal, São Paulo : Paulinas, 2004, p. 297.
6
NETO, Otávio cruz. O trabalho de campo como descoberta e criação. In: MINAYO, Maria Cecília de
Souza (Org.). Pesquisa social : teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes, 1994, p. 52.
14
Através dela, o pesquisador busca obter informes contidos na fala dos atores sociais
[...] sendo entendida como uma conversa a dois com propósitos bem definidos”
7
A entrevista com os pastores e membros das igrejas pesquisadas foi gravada e,
posteriormente, transcrita. Buscou-se fazer uma transcrição com boa qualidade e
mantendo a forma de expressão de cada personagem entrevistado. O total do conteúdo
das entrevistas está registrado nos Anexos A - Praticantes, B - Peregrinos e C -
Convertidos. Esta tipologia foi inspirada no livro de Daniele Hervieu-Léger, que serve de
referencial teórico para esta pesquisa, sem contudo corresponder exatamente ao que
expressa a referida autora, como poderá ser constatado mais adiante. Neste trabalho,
os tipos Praticante, Peregrino e Convertido serão iniciados com letra maiúscula e em
itálico. Como parte do acordo feito com os participantes da pesquisa de campo, os
nomes das pessoas são fictícios, caracterizados pelas categorias tipológicas e o nome
de suas igrejas e cidades permanece no anonimato.
Gomes entende que a análise dos conteúdos de uma pesquisa de campo presta-
se a dois propósitos básicos:
Verificação de hipóteses e/ou questões, ou seja, através da análise do
conteúdo, podemos encontrar respostas para as questões formuladas e
também podemos confirmar ou nãos as afirmações estabelecidas antes do
trabalho de investigação. A outra função diz respeito à descoberta do que está
por trás dos conteúdos manifestos, indo além das aparências do que está
sendo comunicado.
8
A sistematização dos dados segue a orientação da pesquisa social, a análise do
conteúdo das entrevistas e o resultado da pesquisa social será relacionado com o
embasamento teórico proveniente da pesquisa bibliográfica. Optou-se por apresentar
os resultados da pesquisa mesclando-os com as considerações teóricas, distribuindo-as
por todo o desenvolvimento da dissertação.
Para este trabalho, como Igrejas Protestantes Históricas entende-se as Igrejas
que resultaram do movimento Protestante do Século XVI, sendo às vezes chamadas de
7
NETO, 1994, p. 57.
8
GOMES, Romeu. A análise de dados em pesquisa qualitativa. In: MINAYO, Maria Cecília de Souza
(Org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes, 1994, p. 74.
15
denominações. Destas, o trabalho destaca as Igrejas Batistas, objetos da pesquisa de
campo.
Como Comunidades Cristãs Independentes entende-se as novas Igrejas Cristãs
Evangélicas, sem vínculo com as Igrejas Protestantes Históricas, muitas vezes surgidas
dentro destas e à revelia da sua liderança. Estas também são investigadas através da
pesquisa de campo e se constituem no principal objeto de análise deste trabalho. São
também chamadas de Igrejas Cristãs Independentes ao longo do trabalho.
O primeiro capítulo está organizado em duas partes. Na primeira, é feito um
mapeamento religioso do município da Serra, estado do Espírito Santo, campo
geográfico onde a pesquisa de campo é realizada. Na segunda parte são apresentados
alguns dos principais itens do campo religioso, tipologias integrantes do quadro teórico
da pesquisa.
O segundo capítulo apresenta uma síntese histórica, apontando o nascimento de
igrejas cristãs desde o período do Novo Testamento, com ênfase em três momentos
cruciais na história do cristianismo. O grande cisma, que rachou o Cristianismo pelo
meio; o movimento reformador do século XVI, de onde nascem diversas igrejas,
denominadas protestantes; e o movimento pentecostal, nascido no século XX, que
fragmenta ainda mais o Cristianismo já extremamente dividido.
O terceiro capítulo levanta os fatores que ocasionam tais divisões, tanto os que
se apresentam dentro das próprias Igrejas Históricas, como também aqueles que
nascem fora das Igrejas Cristãs, na sociedade onde as igrejas estão inseridas,
pressionando o surgimento de movimentos cismáticos.
O quarto e último capítulo aponta para a repercussão desta fragmentação do
Cristianismo, nas Igrejas Cristãs Históricas, notadamente nas Igrejas Batistas, que são
o principal objeto desta pesquisa, tanto nos aspectos que beneficiam como naqueles
que prejudicam estas comunidades já estabelecidas e o Cristianismo de um modo
geral.
16
1 O CAMPO DA PESQUISA
1.1 Serra : Contexto Geográfico – Religioso - Histórico
1.1.1 Síntese Histórica
Localizado no Estado do Espírito Santo, Sudeste do Brasil, o município da Serra
faz parte da região metropolitana da Grande Vitória. Possui 553.254 km² de extensão
territorial e uma população estimada em 330 874 hab, segundo o Censo 2000 realizado
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
9
Segundo Borges “a história da catequização e colonização da Serra é envolvente
com características especiais e próprias, que os primeiros habitantes foram os índios
Temiminós que não eram do Espírito Santo e sim, do Rio de Janeiro”.
10
Conforme
predominância em todo o estado do Espírito Santo, o território foi desbravado pelos
catequizadores Jesuítas, pertencentes à Igreja Católica.
Estabelecidos na região, os Jesuítas, liderados pelo padre Braz Lourenço,
receberam, posteriormente, um grupo de Temiminós, do Grupo Tupi, alojando-os entre
o Morro da Serra e o rio Santa Maria. No dia 8 de Dezembro de 1556
11
, com a
celebração de uma missa, foi fundada a aldeia de Nossa Senhora da Conceição de
Maracajaguaçu, nome este colocado em homenagem ao chefe da tribo indígena
proveniente do Rio de Janeiro. Posteriormente a aldeia recebeu o nome de Nossa
Senhora da Conceição da Serra, tendo sido, mais tarde, abreviado para povoado de
Conceição da Serra e, finalmente, simplesmente Serra. Segundo Borges
12
o lugar
recebeu este nome em decorrência de sua localização, próximo a um “imponente
maciço, com rios morros geminados, a Montanha do Mestre Álvaro, que de uma
única estrutura na base, possui no alto várias pontas que se assemelham a vários
Morros, ou seja, a uma cadeia de Montanhas, uma Serra”.
A aldeia da Serra passou à condição de Vila a 2 de abril de 1822, vindo a se
tornar município, desmembrado de Vitória em 2 de Abril de 1833 e a vila da Serra
9
BORGES, Clério José. História da Serra. Serra : Editora do CTC, 2009, p. 15.
10
BORGES, 2009, p. 15.
11
BORGES, 2009, p. 16.
12
BORGES, 2009, p. 16.
17
adquire a condição de cidade no dia 06 de Novembro de 1875, vindo a instalação
solene, com festas, acontecer no dia 02 de Dezembro de 1875.
13
Inicialmente a população da aldeia da Serra era composta dos índios Temiminós,
procedentes do Rio de Janeiro. Posteriormente os colonizadores Portugueses se
estabeleceram na região, com seus engenhos, trazendo consigo seus escravos negros
para o trabalho braçal.
Hoje é um dos municípios que mais cresce no Espírito Santo, com um Centro
Industrial de grande porte, contando também com duas grandes mineradoras:
Companhia Siderúrgica de Tubarão e Companhia Vale do Rio Doce. Por outro lado, é
um dos municípios mais violentos do Brasil, ocupando um dos primeiros lugares em
termos de homicídios, muito em função do tráfico de drogas que é largamente praticado
no município.
1.1.2 Religiosidade Histórica
Borges sintetiza a religiosidade serrana dizendo que “a Cultura Popular Serrana
é composta de um conjunto de mitos, crenças, histórias populares, lendas, tradições e
costumes que são transmitidos de geração em geração.”
14
É interessante notar a
leitura que este escritor serrano faz de sua própria história. Ele afirma: “Desta
miscigenação surge o povo serrano, que dos Portugueses herdou a religiosidade, dos
negros um rico folclore e um grandioso gosto pelas festas e dos índios, a paixão pela
liberdade”.
15
Claro que esta é uma leitura parcial da história religiosa da Serra. Como
em várias outras regiões do Brasil, a Serra também foi um território ocupado por três
povos, ameríndios, portugueses e africanos, cada um com suas marcas e identidade
religiosas. O sincretismo foi inevitável, mas a predominância do Catolicismo deu-se, não
por acaso, mas pelo fato de ser a religião daqueles que detinham o poder por ocasião
da colonização.
13
BORGES, 2009, p. 74.
14
BORGES, 2009, p. 118.
15
BORGES, 2009, p. 16.
18
1.1.2.1 Festa de São Benedito
Uma tradição religiosa que se mantém no município da Serra é conhecida como
“Festa de São Benedito”, que acontece anualmente, por ocasião do aniversário do
município, no dia 26 de Dezembro. As festividades acontecem durante todo o mês de
Dezembro, culminando com três dias muito intensos, com diversas manifestações
religiosas. Como afirma Borges, “a padroeira da Serra é Nossa Senhora da Conceição,
todavia é São Benedito quem recebe as mais efusivas e expressivas manifestações de
carinho do povo Serrano, que realiza a festa desde 1856”.
16
A origem da festa tem várias versões diferentes. A mais popular afirma que se
em função de um suposto milagre que São Benedito teria feito no município. A lenda,
que vem sendo contada de geração em geração pelo povo serrano, afirma que
um navio negreiro teria naufragado nas proximidades de Nova Almeida, em
1856, salvando-se 25 escravos agarrados ao mastro que se soltou do navio. Na
hora pediram proteção a São Benedito. [...] Por terem sido atendidos, os negros
escravos resolveram comemorar a data com festejos de louvor a São
Benedito.
17
Na festa o que se é um misto de religiosidade sincrética, em que o congo,
representando as religiões afro-brasileiras, oferece o ritmo, o povo se agarra a uma
tradição lendária com uma série de rituais que duram três dias, arrastando o barco
puxado por uma corda pelas ruas da cidade, dentre outras coisas.
1.1.2.2 Bandas de Congo
Outra marca distintiva da religiosidade serrana são as bandas de congo. “Banda
de Congo é um grupo de pessoas que tocam instrumentos, dançam e cantam velhas e
tradicionais cantigas, de melodias simples e de caráter sentimental, religioso ou de
brincadeira”.
18
Muito embora existam bandas de congo pelo Brasil a fora, Serra é a
capital do congo no Espírito Santo. Aqui nasceu a primeira banda de congo do estado,
16
BORGES, 2009, p. 118.
17
BORGES, 2009, p. 120.
18
BORGES, 2009, p. 127.
19
foi organizada uma associação de bandas de congo, instalada uma casa de congo,
que, além de contar a história do congo no município, expõe todos os aparelhos
utilizados para as apresentações das bandas, além de fotos e outros materiais ligados
ao congo.
19
1.1.2.3 Revolta de Queimados
Queimado é um distrito do município da Serra e foi palco de um dos eventos
mais marcantes da história religiosa da Serra. Borges descreve assim o que aconteceu.
“Em março de 1849, Queimado foi palco de uma Revolta de negros escravos.
Trezentos Escravos envolvidos numa das mais sangrentas Revoltas com pouco mais
de 20 negros mortos e feridos, perseguidos como verdadeiros animais pelos Capitães
do Mato e voluntários da região”.
20
Conhecida como a “Insurreição de Queimados”, o
acontecimento marcou de maneira dramática a história religiosa da Serra.
Frei Gregório José Maria de Bene, Missionário Capuchinho Italiano, que não
admitia a escravidão [...] convocou os negros da região para a construção de
uma grande Igreja na povoação de Queimados, com a promessa de que
posteriormente intercederia junto aos Senhores para que fosse dada a alforria
de cada um dos negros que ali trabalhassem. [...] No dia 19 de Março, foi
programada uma grande Missa, com festa no Queimado. Embora não tivesse
completamente pronta, a Igreja foi considerada pronta, que faltavam apenas
alguns pequenos detalhes para o término da obra. [...]Elisiário, João e Chico
Prego pretendiam na hora da Missa, com o apoio do padre, exigir dos Senhores
presentes que cada um assinasse a declaração tornando-os livres. O padre
estava rezando a Missa, às 3 horas da tarde, quando a multidão de escravos,
com ânimos exaltados, invadiu a Igreja aos gritos de Liberdade. O templo viveu
momentos de confusão e o Frei Gregório acabou por abandonar o altar, sem
terminar a Missa fechando-se na sacristia da Igreja, sem qualquer comunicação
com os escravos.[...] Sem apoio do padre e aproveitando a grande
concentração de negros, Elisiário, João e Chico Prego saem da Igreja e
decidem continuar com o Movimento, percorrendo armados, as casas dos
senhores obrigando-os a assinar as declarações de Alforria’. [...] Comprova-se
que houve o confronto e feridos dos dois lados.
21
Autoridades foram acionadas e o motim foi debelado, não sem derramar muito
sangue e perseguições por todos os lados. Padre Gregório foi preso e expulso do país
19
BORGES, 2009, p. 127-131.
20
BORGES, 2009, p. 32.
21
BORGES, 2009, p.134, 135, 136.
20
por ser acusado de apoiar os escravos. Vários negros foram mortos na perseguição e
outros presos e julgados. Destes, cinco foram condenados à morte, dentre os quais um
dos líderes mais destacados do Movimento, Francisco de São José, o “Chico Prego”,
que foi condenado a morrer na forca. “Chico Prego foi executado na sede da Vila de
Nossa Senhora da Conceição da Serra, no dia 11 de Janeiro de 1850, nas
proximidades da Igreja, para servir de exemplo”
22
Próximo ao local onde ocorreu o
enforcamento está localizada hoje uma praça e nela foi construída uma estátua em
homenagem à Chico Prego.
Todos os anos celebra-se um culto ecumênico em homenagem aos heróis da
“Insurreição de Queimados”, com a presença e a participação de Católicos,
Protestantes e representantes de Religiões Afro-descendentes.
1.1.2.4 Protestantismo na Serra
Com hegemonia absoluta do Catolicismo, Religiões Afro-descendentes e
Indígenas, por cerca de quatrocentos anos, o Protestantismo demorou chegar no
município. A primeira igreja protestante a se instalar no município da Serra foi a Igreja
Evangélica Assembléia de Deus, fundada oficialmente no dia 06 de setembro de 1933,
pelo Pr. João Pedro da Silva, na localidade de Uma Grande, distrito de Queimados,
transferindo-se depois para a sede do município, onde permanece até os dias atuais.
Esta igreja conta hoje com sessenta e duas congregações espalhadas por todo o
município da Serra.
23
1.1.3 Religiosidade Atual
Hoje, além da Igreja Católica Romana, imponentemente plantada no local de
maior destaque da cidade da Serra, vários centros espíritas e locais de expressão de
religiosidade afro-descendentes, o município abriga uma infinidade de igrejas
protestantes, desde as consideradas históricas, ou seja, igrejas com raízes na Reforma
22
BORGES, 2009, p. 140.
23
Informações prestadas verbalmente pelo Pr. Délio Nascimento, atual pastor da Igreja Evangélica
Assembléia de Deus da Serra, no dia 15 de Dezembro de 2009.
21
Religiosa do Século XVI, como também um grande número de pequenas igrejas
independentes, que tiveram origem no próprio município ou na região da Grande
Vitória.
1.1.3.1 Igrejas Protestantes
Esta é uma história que precisa ser escrita, pois o que se sabe é muito mais por
ouvir dizer do que se encontra em registros oficiais sobre a religiosidade serrana.
Atualmente, além da Igreja Evangélica Assembléia de Deus, fazem-se presentes
no município da Serra as principais denominações protestantes, como Igrejas Batistas,
Igreja Congregacional, Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Igreja
Presbiteriana Unida, Igreja Presbiteriana Independente, Igreja Metodista Wesleiana,
Igreja do Evangelho Quadrangular, Igreja Pentecostal Deus é Amor, Igreja Universal do
Reino de Deus, Igreja Internacional da Graça de Deus, Igreja Mundial do Poder de
Deus etc.
1.1.3.2 Igrejas Batistas
A Primeira Igreja Batista a ser organizada no município da Serra teve seu início
em 1972, vindo a ser organizada em 1979 no Conjunto Residencial Laranjeiras, um dos
bairros do município. Em 1982, entretanto, organiza-se a Primeira Igreja Batista da
Cidade da Serra, a primeira a se instalar na sede do município. Atualmente são 46
Igrejas Batistas filiadas à Convenção Batista do Estado do Espírito Santo, instituição de
cooperação entre os batistas capixabas, com cerca de 6.270 membros arrolados.
24
1.1.3.3 Igrejas Cristãs Independentes
Das Igrejas Cristãs Independentes que nasceram no município da Serra não se
tem um mero exato, mas as maiores são a Igreja Evangélica Vida, com mais de
24
ASSEMBLÉIA ANUAL DA CONVENÇÃO BATISTA DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO. Livro do
Mensageiro. Cachoeiro de Itapemirim: CONVENÇÃO BATISTA DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO,
2009, 185p.
22
1.000 membros arrolados e a Igreja Evangélica Catedral dos Milagres, com cerca de
500 freqüentadores, além de uma infinidade de pequenas igrejas que se espalham
pelos bairros do município, a maioria sem registro na prefeitura nem alvará para
funcionamento.
1.2 Campo Religioso: Tipologias
1.2.1 Religião
Para Pierre Bourdieu,
a aparição e o desenvolvimento das grandes religiões universais estão
associadas à aparição e ao desenvolvimento da cidade, sendo que a oposição
entre a cidade e o campo marca uma ruptura fundamental na história da religião
e, concomitantemente, traduz uma das divisões religiosas mais importantes em
toda a sociedade afetada por esse tipo de oposição morfológica. Tendo
observado que ‘a grande divisão do trabalho material e do trabalho intelectual
consiste da separação entre a cidade e o campo.
25
Reblin afirma que o campo religioso é, da mesma forma que outros campos
como Pierre Bourdieu tão bem descreveu um campo de forças e um campo de lutas
entre agentes e instituições, entre agentes e agentes e entre agentes e fiéis”.
26
Pierre Bourdieu compreende a religião como um sistema simbólico e como um
sistema de pensamento que organiza a sociedade, concedendo-lhe uma ordem
lógica sobre a qual ela possa se estruturar e reconhecer tanto o mundo natural
quanto o mundo social como pertencentes a uma mesma ordem cósmica. A
religião estrutura o mundo de uma forma muito próxima, senão idêntica, a
linguagem e é responsável, nesse ínterim, pela produção de sentido que
possibilita a própria existência humana. [...] Essa nova perspectiva acerca da
religião está construída sobre três noções elaboradas por Bourdieu: a noção de
trabalho religioso, a noção de campo religioso e a ‘relação entre especialistas e
consumidores de bens religiosos’.
27
25
BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. Introdução, organização e seleção Sergio
Miceli. 6. ed. São Paulo : Perspectiva, 2007 (Coleção estudos), p. 62.
26
REBLIN, Iuri Andréas. Poder & intrigas, uma novela teológica: considerações acerca das disputas de
poder no campo religioso à luz do pensamento de Pierre Bourdieu e de Rubem Alves. Protestantismo em
revista. Revista Eletrônica de Estudos e Pesquisa do Protestantismo (NEPP) da Faculdade EST,
v.14, set.-dez. 2007. Disponível em < http://www3.est.edu.br/nepp>. Acesso em: 20 Jan. 2009. p. 17-18.
27
REBLIN, 2007, p. 18.
23
Baseado no pensamento de Bourdieu, Reblin afirma que “o trabalho religioso é
uma produção discursiva ou uma prática envolta numa aura sagrada que supre ‘a uma
necessidade de expressão de um grupo ou classe social’ e que se torna socializada e
enraizada nesse mesmo grupo.”
28
Segundo ele, este trabalho religioso pode ser uma
produção autônoma e coletiva ou uma produção especializada.
Por outro lado, “a noção de campo religioso está baseada sobre a idéia da
divisão social do trabalho. O campo religioso compreende o conjunto das relações que
os agentes religiosos mantêm entre si no atendimento à demanda dos ‘leigos’”.
29
A instituição religiosa é, portanto, a uma organização humana composta por
agentes produtores e consumidores de capital simbólico religioso, participantes
de um campo religioso que abarca conflitos de poder. uma elite pensante na
instituição religiosa, eleita arbitrária, autoritária ou consensualmente, que, por
sua vez, detém o poder sobre o capital simbólico religioso e é capaz de
legitimar e de qualificar, bem como de deslegitimar ou desqualificar
determinados agentes produtores de capital simbólico, bem como o próprio
capital simbólico por eles produzido, a fim de manter o controle do campo.
30
Aplicando este conceito para o Cristianismo, a Igreja Católica Apostólica Romana,
por ser a mais antiga, entende-se possuidora do monopólio do capital religioso
ensinado por Cristo e por seus apóstolos. No entanto, no decorrer dos séculos, esta
hegemonia Católica vem sendo minada por grupos que tem rompido com a Igreja,
dando origem a outras igrejas independentes. Entretanto, segundo Bourdieu
toda prática ou crença dominada está fadada a aparecer como profanadora na
medida em que, por sua própria existência e ausência de qualquer intenção de
profanação, constitui uma contestação objetiva do monopólio da gestão do
sagrado e, portanto, da legitimidade dos detentores deste monopólio. [...] Em
função de sua posição na estrutura da distribuição do capital de autoridade
propriamente religiosa, as diferentes instâncias religiosas, indivíduos ou
instituições, podem lançar mão do capital religioso na concorrência pelo
monopólio da gestão dos bens de salvação e do exercício legítimo do poder
religioso.
31
28
REBLIN, 2007, p. 19.
29
REBLIN, 2007, p. 19.
30
REBLIN, 2007, p. 20.
31
BOURDIEU, 2007, p. 45, 57.
24
Monopólio da gestão do sagrado. Isso talvez seja o que incomoda o Cristianismo
clássico, organizado em torno de Igrejas Cristãs Históricas, acostumado a manter o
controle das questões religiosas através de suas estruturas estabelecidas séculos e
que agora se vêem ameaçadas com os novos movimentos religiosos emergentes.
1.2.2 Igreja e seita
Hervieu-Léger utiliza-se da tipologia estabelecida por Max Weber, que faz
diferenciação entre igreja e seita. Segundo ele, “igreja é a comunidade natural no seio
da qual se nasce, e seita é um agrupamento voluntário de crentes no qual se entra
após uma conversão pessoal.”
32
Dentre outras características distintivas entre ambas,
Hervieu-Léger afirma que
em oposição à ação ‘extensiva’ que caracteriza a Igreja, a seita é caracterizada
pela intensidade do engajamento cotidiano que ela requer dos seus membros
[...] Fora de qualquer compromisso com o mundo profano, a seita afirma, à
margem da sociedade, a radicalidade da exigência evangélica.
33
Niebuhr cita e analisa a tipologia clássica, estabelecida por Max Weber e Ernst
Troeltsch em que apontam as diferenças na estrutura sociológica dos grupos religiosos
e sua importância para a determinação de suas doutrinas. Dentre outras diferenças
algumas podem ser destacadas:
Os membros da Igreja nascem nela; os membros das seitas devem aderir a ela.
As igrejas são instituições inclusivas, frequentemente de âmbito nacional e
acentuam o universalismo do Evangelho; as seitas são de caráter exclusivo,
apelam para elementos individualistas do cristianismo e ressaltam as exigências
éticas. [...] A Igreja institucional atribui, naturalmente, grande importância aos
meios de graça que administra, ao sistema de doutrinas que formulou e à
administração oficial dos sacramentos e do ensino por intermédio do clero
oficial. [...] A seita atribui importância especial à experiência religiosa que seus
membros teriam tido antes de entrar para o grupo, ao sacerdócio de todos os
fiéis, e os sacramentos como símbolos de comunhão dos crentes e
compromisso de fidelidade. [...] Na história protestante a seita tem sido sempre
filha de minorias proscritas, nascendo de revoltas religiosas de pobres ou dos
que não tem representação efetiva na Igreja ou no Estado, e que formam seus
32
HERVIEU-LÉGER, Danièle . O peregrino e o convertido: a religião em movimento. Tradução de João
Batista Kreuch. Petrópolois – RJ: Vozes, 2008. p. 166.
33
HERVIEU-LÉGER, 2008, p. 167.
25
conventículos e dissidentes através do único caminho aberto para eles nos
padrões associativos democráticos.
34
Neste sentido, o fenômeno a ser analisado por esta pesquisa, ou seja, o
nascimento e a multiplicação de igrejas independentes poderiam identificá-las mais
como seitas, porém preferiu-se optar por igrejas ou comunidades, entendendo que a
tipologia weberiana não mais condiz com a compreensão que se tem de tais
comunidades. Ainda assim, aplica-se para a realidade brasileira a descrição de Hervieu-
Léger sobre a realidade do cristianismo francês:
A perda de força da observância, o desenvolvimento de uma religião ‘a La
carte’, a proliferação das crenças combinadas a partir de várias fontes, a
diversificação das trajetórias de identificação religiosa, o desdobramento de
uma religiosidade peregrina: todos estes fenômenos são indicadores de uma
tendência geral à erosão do crer religioso institucionalmente validado. [...] É a
legitimidade da autoridade religiosa que se acha atingida em seu fundamento
[...] Uma tendência que trabalha as instituições religiosas e as transforma
profundamente ao mesmo tempo em que provoca uma reorganização global da
paisagem religiosa. [...] Elas devem enfrentar, ao mesmo tempo, interna e
externamente, a pluralização dos pequenos regimes da validação comunitária
que opõem ao movimento precedente de ‘modelos fortes’ da verdade
partilhada.
35
Bourdieu afirma que “toda seita que alcança êxito tende a se tornar Igreja,
depositária e guardiã de uma ortodoxia, identificada com suas hierarquias e seus
dogmas, e por esta razão, fadada a suscitar uma nova reforma”.
36
Hervieu-Léger faz menção de três figuras típicas que compõem o cenário
religioso mundial atual, sobretudo no contexto cristão, ou seja, o Praticante, o Peregrino
e o Convertido.
1.2.2.1 O Praticante
Muito embora não mereça destaque por parte de Hervieu-Léger, o Praticante é
descrito como sendo uma “figura estável e claramente identificável”, tornando-se
34
NIEBUHR, H. Richard. As origens sociais das denominações cristãs. Tradução de Antonio Gouvêa
Mendonça. São Paulo: ASTE, Instituto Ecumênico de Pós-Graduação em Ciências da Religião, 1992. p.
19, 20.
35
HERVIEU-LÉGER, 2008, p. 170, 171.
36
BOURDIEU, 2007, p. 60.
26
referência para a definição da paisagem religiosa, muito embora vivendo numa
sociedade em “movimento, caracterizada pela dispersão das crenças, da mobilidade
das pertenças, da fluidez das identificações e da instabilidade dos agrupamentos”.
37
A
partir da figura do Praticante, pode-se identificar os Praticantes regulares, Praticantes
ocasionais, Praticantes festivos e os não Praticantes.
O Praticante regular é figura cada vez mais escassa, muito embora
extremamente desejada pela Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR) e pelas Igrejas
ou Denominações Protestantes Históricas. “O modelo do praticante revela, assim,
claramente, a realidade de um mundo diferenciado onde a capacidade de influência da
Igreja sobre a sociedade, bem como sobre os seus próprios membros, é
questionada”.
38
Por sua vez,
no caso do protestantismo, em que a afirmação de uma pessoal e interior,
em princípio, faz parte apenas secundariamente da observância cultural, a
figura do praticante fica ofuscada, parcialmente, por detrás do ‘protestante
engajado’, que freqüenta as associações e sustenta as obras.
39
O resgate do cristão Praticante passa a ser um desafio permanente para as
Igrejas Cristãs Históricas, sejam elas de vertente Católica ou Protestante.
Na tipologia utilizada para a pesquisa de campo, são chamados de Praticantes
os pastores e membros das Igrejas Batistas Históricas entrevistados, cujos
depoimentos estão no Anexo A deste trabalho. Optou-se por esta terminologia apenas
para identificar os personagens que foram mantidos no anomimato, tendo-se
consciência de que os referidos personagens não correspondem exatamente à figura
dos Praticantes na conceituação de Hervieu-Léger.
1.2.2.2 O Peregrino
Segundo Hervieu-Léger, “o peregrino emerge como uma figura típica do religioso
em movimento. [...] A condição de peregrino se define essencialmente a partir do
37
HERVIEU-LÉGER, 2008, p. 81.
38
HERVIEU-LÉGER, 2008, p. 82.
39
HERVIEU-LÉGER, 2008, p. 84.
27
trabalho de construção biográfica efetuado pelo próprio indivíduo.”
40
Trata-se de uma
pessoa religiosa, que tem a liberdade de fazer uma bricolagem que lhe permita ajustar
as suas crenças à luz de sua própria experiência espiritual. Portanto, “essa
religiosidade peregrina individual, se caracteriza, antes de tudo, pela fluidez dos
conteúdos que elabora, ao mesmo tempo que pela incerteza das pertenças
comunitárias às quais pode dar lugar”.
41
Este indivíduo está a caminho, em movimento, em busca de satisfação para a
sua vida. Neste processo, experimenta” da água de várias fontes, entenda-se, passa
por várias igrejas, à procura daquela que lhe preencha o vazio e lhe faça sentir-se bem.
Caso não encontre nenhuma que se adéqüe ao seu perfil, a solução é iniciar uma do
seu jeito, de acordo com a sua visão de Igreja. Como poderá ser constatado no
decorrer desta pesquisa, a grande maioria dos líderes fundadores de novas igrejas
passou por várias delas e não encontrou nenhuma que lhe satisfizesse. Então tais
líderes decidiram iniciar algo novo, uma igreja à sua imagem e semelhança, que seja
capaz de satisfazer os seus anseios mais profundos.
O Peregrino pode pertencer a qualquer religião e a qualquer Igreja Cristã. “No
campo Católico, o Padre Amazino foi proibido de exercer seu ministério. Abriu uma
igreja própria, registrou-a como entidade de direito público e continua católico, uma
referência identitária genérica”.
42
Dusilek entende que
não há figura melhor do que a do peregrino para descrever a conduta do cristão
e da igreja enquanto no mundo. Suas raízes são sempre voltadas ‘para cima’. O
solo da vontade de Deus é o único solo em que tais raízes podem firmar-se. [...]
Sua jornada é mais determinada pelo alvo ou destino de que pelo ponto de
partida. Seu compromisso maior é com o futuro, tornando-se ele, por isso
mesmo, um profeta ou ‘porteiro de amanhã. Não se escraviza às estruturas,
mas se coloca sempre à disposição do destino de sua caminhada para
‘experimentar a vontade de Deus pela renovação do entendimento.
43
40
HERVIEU-LÉGER, 2008, p. 89.
41
HERVIEU-LÉGER, 2008, p. 89, 90.
42
BENEDETTI, Luiz Roberto. Religião: trânsito ou indiferenciação? In: TEIXEIRA; MENEZES, 2006,
p.131.
43
DUSILEK, Darci. Oásis no deserto. Missão. Rio de Janeiro, ano 1, n.1, p. 27-28, 1985
28
Na verdade, “o peregrino, na história religiosa, aparece, de fato, bem antes do
praticante regular. Ele perpassa a história de todas as grandes religiões”.
44
Neste
trabalho, utiliza-se a tipologia do Peregrino especialmente como alguém que está
caminhando em busca de algo que lhe satisfaça, sobretudo em termos de religiosidade.
“Às vezes parece que todos estão à procura de alguma coisa, mas que eles próprios
não sabem muito bem o que é”.
45
Nesta busca, mudar de Igreja é uma questão natural,
que faz parte da caminhada do Peregrino.
Na tipologia utilizada para a pesquisa de campo, são chamados de Peregrinos os
pastores das Comunidades Cristãs Independentes entrevistados, cujos depoimentos
estão no Anexo B deste trabalho. Tais figuras não correspondem aos Peregrinos, de
Hervieu-Léger.
1.2.2.3 O Convertido
Trata-se de alguém que está buscando e de repente encontra o que procurava,
no que tange à sua espiritualidade. Segundo Hervieu-Léger, “de uma maneira bastante
surpreendente o fim do século XX, marcado pelo enfraquecimento do poder regulador
das instituições religiosas, se caracterizou por uma notável retomada das
conversões”.
46
Numa sociedade que supervaloriza a autonomia e o individualismo, o direito à
liberdade de escolha em todas as áreas, inclusive religiosa, espiritual, é algo
inegociável. Na sociedade contemporânea está em alta “a autonomia do indivíduo-
sujeito, capaz de ‘fazer’ o mundo do qual ele vive e construir ele mesmo as
significações que dão sentido à sua própria existência”.
47
Hervieu-Léger utiliza-se de três modalidades de Convertidos. A primeira é do
indivíduo que “muda de religião”. Refere-se à pessoa que abdicou da religião que
herdou de seus pais, opta por uma nova religião a partir de uma experiência individual
com a divindade ou por motivos particulares como namoro, casamento ou outro
44
HERVIEU-LÉGER, 2008, p. 87.
45
HERVIEU-LÉGER, 2008, p. 93.
46
HERVIEU-LÉGER, 2008, p. 107.
47
HERVIEU-LÉGER, 2008, p. 32.
29
interesse pessoal. Os números ilustram como este fenômeno está em alta. “Um em
cada quatro paulistanos está em religião diferente da que nasceu; sete em cada dez
convertidos mudaram de filiação religiosa no período de dez anos. É uma migração que
exige que se recoloque em termos novos o problema da conversão”
48
Pensando em
termos de Brasil, os números são idênticos. “Uma em cada quatro pessoas mudou de
religião no Brasil nos anos 1990”.
49
A segunda modalidade citada por Hervieu-Léger é da pessoa que vem do grupo
dos “sem religião”, ou seja, o indivíduo que não pertencia a religião nenhuma e de
repente descobre uma que lhe parece ideal e se converte. Numa sociedade em que
aumenta o número dos “sem religião” e dificulta-se a cada dia o processo de
transmissão de princípios religiosos por parte das famílias, este tipo de Convertido
passa a ser digno de atenção.
A terceira modalidade da figura do Convertido é a do “re-filiado”, ou seja, do
“convertido de dentro”, “aquele que redescobre uma identidade religiosa que
permanecera até então formal, ou vivida a mínima, de maneira puramente
conformista”
50
, ou seja, a conversão de um cristão nominal, que freqüentava a igreja pro
- forma, mas que agora sim, passa por uma experiência de conversão pessoal. está
um tipo de religiosidade totalmente compatível com a modernidade, na qual se entende
que “uma identidade religiosa ‘autêntica’ tem que ser uma identidade escolhida”
51
, cuja
decisão é tomada pela própria pessoa, mas por obra de Deus em sua vida.
Rubem Alves, escrevendo sobre conversão na década de 70, descreve com
detalhes o processo que leva à experiência de conversão. Depois de falar de
desintegração e aguda crise, Alves afirma que
inesperadamente, entretanto, um milagre acontece. O momento de crise e
desestruturação da personalidade encontra uma solução. A consciência
ressuscita, transfigurada, como uma nova estrutura em que tanto os conteúdos
emotivos quanto os cognitivos são radicalmente novos. A experiência tem o
caráter de milagre porque parece impossível descobrir um nexo entre o seu
antes e o seu depois. O homem se sente possuído por uma inebriante
sensação de paz e alegria. As tensões são resolvidas. Sem saber como isto
48
BENEDETTI, 2006, p. 130.
49
TEIXEIRA; MENEZES, 2006, p. 7.
50
HERVIEU-LÉGER, 2008, p. 111.
51
HERVIEU-LÉGER, 2008, p. 116.
30
ocorreu, descobre-se transportado do Nada para o Ser, das Trevas para a Luz,
do Fim para o Princípio, da Morte para a Vida. Encontrou a salvação.
52
Hervieu-Léger, por sua vez, diz que converter-se é, em princípio, abraçar uma
identidade religiosa em sua integralidade”.
53
Isso, naturalmente, tem profundas
implicações em toda a mobilidade eclesiástica. A autora advoga que
as Igrejas deveriam até, logicamente, empenhar-se em provocar conversões
para realizar sua missão salvífica, como o fazem, com formidável eficácia, as
correntes evangélicas e neopentecostais.[...] É completamente significativo,
desse ponto de vista, que as comunidades chamadas ‘novas’ se tenham
dedicado ativamente a esse desafio catecumenal definindo-se a si mesmas
como locais privilegiadas de ‘retomada do caminho’.
54
As igrejas de linha “conversionista”, ou seja, que enfatizam a conversão em sua
mensagem, certamente levam vantagem no que tange ao crescimento e agregação de
membresia. As que tem uma didática mais formal e acreditam na adesão por tradição
familiar ou por conscientização através do ensino paulatino das Escrituras, certamente
acabam perdendo a oportunidade de ver mais pessoas integrando-se em seu rol de
membros.
Retomando a definição de Igreja, é relevante fazer menção dos cinco sinais que
Martinho Lutero apontou, para identificar uma igreja, em relação às seitas e outros
agrupamentos religiosos. Palavra de Deus, Batismo, Ceia do Senhor, Confissão e
absolvição de pecados (ofício das chaves), Ministério da Igreja. Enfatizando a Palavra
de Deus como sinal da verdadeira Igreja de Jesus Cristo, Lutero afirma: “Você ouve tal
palavra e que ela é pregada, crida, confessada e cumprida. Então você não precisa
ter dúvida de que certamente está uma verdadeira santa Igreja Católica, um santo
povo específico, mesmo que seu número seja muito pequeno”.
55
Na pesquisa de campo, foram chamados de Convertidos os membros das Novas
Comunidades Cristãs Independentes, que não correspondem aos Peregrinos descritos
por Hervieu-Léger.
52
ALVES, Rubem. O enigma da religião. 2. ed. Petrópolis : Vozes, 1979. p. 84,85.
53
HERVIEU-LÉGER, 2008, p. 116.
54
HERVIEU-LÉGER, 2008, p. 133, 134.
55
LUTERO, Martim, Como reconhecer a igreja: Dos Concílios e da Igreja parte. São Leopoldo:
Sinodal, Concórdia, 2001, p. 18-19.
31
1.2.3 Denominação
Aurélio define denominação como sendo “nos países anglo-saxônios,
designação geral das congregações eclesiásticas, seitas, etc.”
56
Trata-se do nome
dado a um grupo de igrejas, ligadas entre si institucionalmente, por afinidade teológico-
doutrinária e por interesses cooperativos.
O teólogo e historiador Richard Niebuhr empreendeu um trabalho pioneiro,
procurando analisar a origem das denominações protestantes e as causas de seu
nascimento. Intitulado “As Origens Sociais das Denominações Cristãs” o livro de
Niebuhr descreve como surgiram as denominações, sobretudo nos Estados Unidos.
Niebuhr defende a tese de que as denominações surgiram, não tanto por questões
teológicas, mas como conseqüência de conflitos de classes, ou seja, por questões
sócio-econômicas.
57
Segundo Niebuhr,
o denominacionalismo representa o fracasso moral do cristianismo. A menos
que a ética da fraternidade supere o divisionismo do corpo de Cristo, será inútil
esperar que vença o mundo. Mas, antes que a Igreja possa esperar superar sua
falta de divisão, deve aprender a reconhecer e admitir o caráter secular de seu
denominacionalismo.
58
A tese de Niebuhr, que será desenvolvida mais adiante, neste trabalho, é de que
as denominações constituíram-se numa fragmentação nociva para o Cristianismo,
ocorrida mais por questões de ordem sócio-econômicas do que teológicas.
Bruce, citado por Campos, afirma que
a religião no mundo atual tanto expressa um processo de esvaziamento
institucional do estilo ‘cathedrals’ como também aponta para o surgimento de
cultos mais apropriados aos novos tempos. [...] As denominações religiosas
tradicionais não mais podem ‘produzir melodias que excitam as massas’.
59
56
DICIONÁRIO da Língua Portuguesa, Novo Aurélio Século XXI. São Paulo: Nova Fronteira
57
STARK, Rodney; BAINBRIDGE, William Sims. Uma teoria da religião. Traduzido por Rodrigo Inácio
Ribeiro Sá Menezes, Rodrigo Wolff Apolloni, Frank Usarski. São Paulo : Paulinas, 2008, p.155 (Coleção
repensado a religião)
58
NIEBUHR, 1992, p. 23.
59
CAMPOS, 1999, p. 33.
32
Isso leva a crer que, em função desta dificuldade das Igrejas Cristãs Históricas
em manterem-se relevantes para a sociedade, acaba facilitando o surgimento de novas
comunidades, com propostas mais adequadas aos tempos pós-modernos.
1.2.4 Movimento e Instituição
Em trabalho desenvolvido recentemente Andreas Klaus Stange, mestre em
teologia pela EST (Escola Superior de Teologia de São Leopoldo), cuja dissertação
abordou o tema “As Relações entre a Missão Evangélica União Cristã e a Igreja
Evangélica de Confissão Luterana numa Perspectiva Sócio-Teológica” estabelece
interessante diferenciação entre movimento e instituição. Segundo ele, “ao longo da
história da Igreja a questão do relacionamento entre ‘Movimento’ e ‘Instituição’ sempre
esteve presente”.
60
Segundo Brunner, a Igreja de Jesus Cristo nasce como um movimento, um
conjunto de comunidades que se relacionam com Cristo e em Cristo. Paulatinamente, a
Igreja foi se estruturando e se tornando uma instituição. Segundo ele, “o
institucionalismo é produzido pelo sacramentalismo”, quando a figura do bispo se
destaca em função dos sacramentos.
61
Stange afirma que “instituições se tornam necessárias quando um grupo de
pessoas decide organizar e regulamentar seus relacionamentos. Acordos, diretrizes e
estatutos normativos de uma Instituição garantem a continuidade dos processos para
um período mais longo”.
62
Movimentos surgem como reação ao que está posto. Falando sobre a relação
entre Movimento e Instituição, Stange descreve:
em meio e ao lado das Instituições constituídas, sempre de novo surgiram
movimentos de protesto [...] Movimentos se propõem a ser contraponto frente
às Instituições. Em seu meio reina um espírito de inquietação [...] sensíveis para
60
STANGE, Klaus Andreas. As relações entre a missão evangélica união cristã e a igreja evangélica
de confissão luterana numa perspectiva sócio-teológica. 2003. 153f. Dissertação (Mestrado)
Instituto Ecumênico de Pós-Graduação em Teologia, Escola Superior de Teologia, São Leopoldo, 2003,
p. 24.
61
BRUNNER, Emil. O equívoco sobre a Igreja. Tradução de Paulo Arantes. São Paulo : Novo Século,
2000. p. 84.
62
STANGE, 2003, p. 24.
33
‘sentir o pulso’ do seu tempo. São capazes de aferir o que está latente no ar,
percebem déficit, prevêem anseios. Fermentam onde descontentamentos.
Protestam contra o que está estabelecido, o tom crítico domina a cena. Clamam
por mudanças e apresentam alternativas. Olham com criatividade além do
próprio horizonte. Um movimento trabalha a partir de projetos, de tal modo que
os envolvidos com a causao chamados a envolverem-se objetivamente, com
empenho e alegria [...] sempre tende para o lado prático das coisas, quer
concretizar o seu anseio; procura por oportunidades. um zelo missionário,
pois procura ganhar outros para seu ponto de vista, para os seus objetivos.
Enquanto que a instituição tem seu ponto forte na continuidade e confiabilidade,
o movimento o tem no seu potencial inovador. Movimentos clamam por
mudanças. Seus portadores são abertos para mudanças. Nos Movimentos vibra
o espírito do pioneirismo. O provisório e a espontaneidade definem o ambiente
e ditam o tom.
63
É nesta direção que esta pesquisa vai trabalhar, mostrando que cada nova
comunidade cristã independente, inicia como um movimento, mas acaba caminhando
na direção da institucionalização, a partir do momento que cresce e se estrutura. Por
outro lado, na medida em que se institucionaliza perde o vigor, a liberdade e o
engajamento que é característico nos movimentos.
Boff refere-se à Igreja-instituição. Ele a entende como sendo
não a comunidade dos que crêem e testemunham, no meio do mundo, a
presença do Cristo ressuscitado como evento antecipador e cheio de sentido da
ressurreição do homem e do cosmo; entendemos a organização desta
comunidade dos fiéis com a Hierarquia, com os seus poderes sagrados, com os
seus dogmas, com os seus ritos, com os seus cânones e com a sua tradição.
[...] Nenhuma comunidade subsiste sem um mínimo de instituição que lhe
confira unidade, coerência e identidade [...] A instituição caracteriza-se pela
duração, pela estabilidade e pelas regras de jogo que estabelece entre os
membros. [...] Toda a instituição de poder tem a tendência para ontocratizar,
quer dizer, se transformar em sistema de poder e de repressão contra a
criatividade e a crítica. A instituição tem sempre a ver com o poder.
64
Daí o ciclo vicioso e interminável a que está submetida a Igreja de Jesus Cristo.
Movimentos de libertação tem surgido no decorrer da história, mas rapidamente se
organizam e se transformam em novas instituições, herdando todos os vícios destas,
como é o caso das Igrejas Cristãs Independentes.
63
STANGE, 2003, p. 25-26.
34
1.2.5 Religião Popular
Carlos Rodrigues Brandão desenvolveu interessante estudo sobre religião
popular, analisando detalhadamente o comportamento religioso de uma cidade, no
interior de São Paulo. Ele entende que
talvez a melhor maneira de se compreender a cultura popular seja estudar a
religião. Ali ela aparece viva e multiforme e, mais que em outros setores de
produção de modos sociais da vida e de seus símbolos, ela existe em franco
estado de luta acesa, ora por sobrevivência. [...] Talvez a melhor maneira de se
estudar a religião seja não descrever nenhuma delas, ou descrevê-las todas ao
mesmo tempo. [...] Após tantos estudos sobre o assunto, é lícito desconfiar que
a menor unidade social do sagrado pode não ser uma igreja ou uma confissão;
mas, antes, o campo definido pelas trocas políticas entre as religiões e
unidades religiosas.[...] A religião nomes a todas as coisas, e até torna o
incrível possível e legítimo.
65
Brandão não fornece uma definição de religião popular, pois sua abordagem é
descritiva, mas descreve com detalhes impressionantes o que acontece no âmbito da
religiosidade popular, independente da corrente doutrinário-teológica. Brandão afirma
que
em uma ordem social de dominância institucional de classe, a religião sempre
quer fugir da igreja e ver-se livre de sua cadeia erudita, nem que seja criando
outras, mas de preferência pela via da reconstrução do sistema difuso sob
controle comunitário de frações de classes subalternas à margem da
dominância; ou ainda pela via da sectarização, através da dissidência e
concisão de confrarias de controle na pessoa única de um fundador carismático
de vida curta.
66
Usando a cidade de Itapira, estado de São Paulo, como campo de pesquisa, o
autor descreve detalhadamente o que acontece no campo religioso. Divide o campo
religioso em três níveis: O de Domínio erudito, no qual estão localizadas as religiões
que contam com líderes formados, compostas por pessoas mais ricas, desde a Igreja
Católica dominante, passando pelas protestantes Presbiteriana e Batista e alcançando
os Centro Espíritas. Numa posição central estão as religiões de domínio de mediação,
contando com o Catolicismo popular voltado para serviços prestados à burguesia,
64
BOFF, Leonardo. Igreja: carisma e poder. Lisboa: Inquérito. 1991, p. 76,77.
65
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Os deuses do povo: um estudo sobre a religião popular. 3. ed.
ampliada com depoimentos. Uberlândia – EDUFU, 2007, p. 19-20.
66
BRANDÃO, 2007, p. 240.
35
Igrejas Pentecostais Históricas, Adventistas e Testemunhas de Jeová, Centros de
Umbanda e Candomblé. Na linha de baixo do gráfico encontram-se as religiões de
domínio popular, com o Catolicismo popular voltado para agentes camponeses, negros
iletrados e serviços restritos a sujeitos subalternos. Situam neste nível as Igrejas
Pentecostais Independentes, O Som da Palavra e Boas Novas de Alegria. Na ponta
estão os Terreiros de Sarava, Agentes Autônomos de Possessão.
67
Falando dos conflitos entre os grupos, Brandão afirma que ”sobretudo nos casos
mediúnico e evangélico, eles colocam frente a frente os sacerdotes dos grupos de
mediação, uns contra os outros, e todos juntos contra os agentes populares, qualquer
que seja sua área confessional”.
68
Na descrição da religiosidade popular Brandão destaca algumas características,
que observou em Itapira : “Os trabalhos do sagrado são medidos ali com as palavras
mais vulgares do cotidiano: ‘toca’, ‘mexe’, ‘faz’. [...] O milagre é um acontecimento
necessário, acessível, rotineiro e reordenador. [...] ”.
69
No que tange às questões éticas,
Brandão afirma que “para quase toda a gente pobre do lugar, a religião e suas agências
de serviços do sagrado oscilam entre artifícios de uso e o compromisso de vida, [...]
onde ser firme na fé’ é uma coisa, com múltiplos significados, e ser fiel a uma igreja é
outra coisa, e rara”.
70
Outro dado interessante apresentado por Brandão é que “ninguém nos bairros
rurais e quase ninguém nos bairros ‘de baixo’ se define como ‘sem-religião’”.
71
A
religião para esta camada da sociedade, tanto para “’o crente fiel’, o devoto católico’ ou
‘filho de fé’, a religião é mais para usar do que para servir e, em muitos casos, para
seguir”.
72
Segundo ele, é possível equacionar o alto índice de pessoas que tem religião,
são firmes na fé, mas não necessariamente fiéis a uma igreja. Daí a vigência do
fenômeno de migração, em todas as camadas sociais, mas, sobretudo, no contexto da
religiosidade popular.
67
BRANDÃO, 2007, p. 240.
68
BRANDÃO, 2007, p. 241.
69
BRANDÃO, 2007, p. 256, 265.
70
BRANDÃO, 2007, p. 259, 270.
71
BRANDÃO, 2007, p. 270.
72
BRANDÃO, 2007, p. 271.
36
Brandão acredita que
é quase impossível imaginar que possa existir uma religião e apenas um tipo
preferencial de agência de emissão de trabalho e ideologia religiosa,
oferecendo, de modo uniforme, diferenciado e adequado, às demandas de
todos os tipos de sujeitos todas as respostas a perguntas feitas ao sagrado em
uma formação social como a brasileira.
73
Acredita-se que isso seja assim em função da matriz religiosa brasileira,
extremamente rica e favorável para o surgimento de novas comunidades, aproveitando-
se de princípios e doutrinas teológicas provenientes de diversas fontes.
Neste capítulo tentou-se localizar geográfica e teoricamente a pesquisa. A partir
de uma localização histórica e geográfica do município da Serra, fez-se um
mapeamento religioso e uma definição dos principais termos da tipologia utilizada como
referencial teórico para a pesquisa. No próximo capítulo será feita uma abordagem
histórica do nascimento das Igrejas Cristãs.
73
BRANDÃO, 2007, p. 277.
37
2 O NASCIMENTO DAS COMUNIDADES CRISTÃS INDEPENDENTES NO
DECORRER DOS SÉCULOS
Nos vinte séculos de Cristianismo, houve um número enorme de novas
comunidades cristãs, surgidas de movimentos localizados em várias partes do mundo,
desde os clássicos como a Reforma Religiosa do Século XVI, os grandes avivamentos
do Século XVIII, até o pentecostalismo, tanto em sua versão tradicional como renovada.
Rubem Alves faz uma citação de Hegel, em que afirma: “o homem, em sua
própria natureza, está destinado a ser livre”
74
. Justamente em função desta liberdade
de exame e de consciência é que o Cristianismo tem produzido uma pluralidade de
comunidades, desde a sua origem e, muito especialmente, nos últimos cinco séculos.
Este capítulo se propõe a identificar os principais cismas, rupturas e divisões de
igrejas, durante os vinte séculos de história da Igreja de Jesus Cristo, a partir do
surgimento das comunidades no período em que o Novo Testamento foi escrito, com
especial atenção ao período da reforma religiosa do século XVI e ao movimento
pentecostal e pós-pentecostal. A partir daí, é necessário identificar os fatores que tem
levado a esses rompimentos e qual é a repercussão disso sobre a realidade do
Cristianismo, sobretudo sobre as comunidades existentes, neste trabalho
denominadas históricas, notadamente as Igrejas Batistas.
A grande questão a ser perseguida é: que fatores tem ocasionado o pluralismo
cristão, ou seja, o surgimento de comunidades cristãs autônomas, independentes, com
características diversas, e qual a sua repercussão para o reino de Deus. Além disso,
esta fragmentação fortalece o Cristianismo ou o enfraquece?
2.1 No Período do Novo Testamento
Existem muitos estudos que analisam o surgimento das primeiras comunidades
cristãs, cada um com uma abordagem diferente, mas todos se referindo a um mesmo
evento, o nascimento e a institucionalização da Igreja de Jesus Cristo.
74
ALVES, Rubem Azevedo. Liberdade e ortodoxia: opostos irreconciliáveis? In: Tendências da
teologia no Brasil . São Paulo: ASTE, 1977. p. 8.
38
David J. Bosch defende a tese de que “Jesus não tinha a intenção de fundar uma
nova religião”
75
. Segundo ele, os seguidores de Jesus não receberam nada que os
distinguisse dos grupos existentes, nem nome, nem corpo doutrinário, nem rituais
específicos, nem um local de reuniões. Para Bosch,
a comunidade em torno de Jesus deveria funcionar como uma espécie de pars
pro toto, uma comunidade no interesse de todas as outras, um modelo a ser
seguido pelas outras e para se questionar. Jamais, entretanto, essa
comunidade deveria separar-se das outras.
76
Entretanto, acabou se separando, não das outras comunidades existentes,
mas foi abrindo novas frentes, com características semelhantes, dando origem às
igrejas mencionadas nos próprios textos do Novo Testamento.
Deixou de ser um movimento e transformou-se numa instituição. [...]
Percebemos algo dessa diferença entre uma instituição e um movimento se
comparamos a comunidade cristã de Jerusalém com a de Antioquia, na década
de 40 do século 1 d.C. O espírito pioneiro da igreja de Antioquia ocasionou uma
inspeção por parte de Jerusalém. Estava claro que a preocupação do partido de
Jerusalém não era a missão, e sim a consolidação; não a graça, e sim a lei; não
cruzar fronteiras, e sim fixá-las; não a vida, e sim a doutrina; não o movimento,
mas a instituição.
77
Outra observação relevante feita por Bosch é de que na medida em que
iniciativas foram sendo tomadas com o propósito de organização das comunidades
locais, “as igrejas ficavam cada vez mais institucionalizadas e menos preocupadas com
mundo fora de seus muros”.
78
Jürgen Roloff anda na mesma direção de Bosch, em sua argumentação,
afirmando resignadamente que “certamente teremos de conformar-nos definitivamente
com o fato de que a tradição de Jesus tida como autêntica não contém a palavra
ekklesia, nem qualquer referência a uma atuação de Jesus diretamente voltada para
fundação de uma igreja”.
79
Rolloff cita uma palavra do modernista católico A. Loisy, de
75
BOSCH, David J. Missão transformadora: mudanças de paradigma na teologia da missão. Tradução
de Geraldo Korndörfer, Luis M. Santder. 2. ed. São Leopoldo, RS : EST, Sinodal, 2007. p. 74.
76
BOSCH, 2007. p. 74.
77
BOSCH, 2007. p. 75.
78
BOSCH, 2007. p. 75.
79
ROLOFF, Jürgen. A Igreja no Novo Testamento. Tradução de Nélio Schneider. São Leopoldo:
Sinodal; EST; Centro de Estudos Bíblicos 2005. p. 13-14.
39
que “Jesus anunciou o reino, e o que veio foi a igreja”.
80
Com isso, Loisy quis dizer que
a Igreja não era o tema principal da proclamação de Jesus e sim a implantação do reino
de Deus. “Ele pretendia, antes, apontar para o fato de que a proclamação do reino de
Deus por Jesus situava-se no início de um processo histórico que levou ao surgimento
da igreja”.
81
Roloff analisa as concepções de Igreja presentes nos escritos do Novo
Testamento, a partir das compreensões posteriores ao evento da páscoa e do
Cristianismo que se desenvolveu à luz dos escritos de Paulo e demais autores do Novo
Testamento. Para Roloff, “Jesus não foi o fundador, mas é o fundamento da igreja”.
82
Os irmãos Stegemann falando sobre o conceito das comunidades de crentes em
Cristo usam a expressão ekklesia e traduzem como sinônimas as palavras comunidade
reunião comunitária e igreja.
83
Assim sendo, a ekklesia de Jesus tanto pode se referir à
reuniões de discípulos de Jesus Cristo que aconteciam nas casas ou em determinados
outros lugares, como também significa a comunhão existente entre os crentes,
apontando para vínculos existentes entre eles fora e além dos encontros, transmitindo a
idéia de grupo que se relaciona e interage continuamente. Entendem os referidos
autores que estes grupos tiveram quatro modelos nos quais se basearam ao se
organizarem : “a assembléia popular, a economia doméstica antiga ou a família nuclear,
as associações voluntárias e as sinagogas da diáspora”.
84
Assim sendo, parece óbvio
que, em se tratando do surgimento de novas comunidades, iam acontecendo inspirados
em modelos sociais existentes, porém com contornos próprios à luz dos
ensinamentos de Jesus e dos seus apóstolos.
Falando sobre a natureza da Igreja de Jesus Cristo, Emil Brunner afirma:
Como Corpo de Cristo nada tem a ver com uma organização e nada tem do
caráter institucional sobre ela [...] A Ecclesia é o que é através da presença de
Cristo morando dentro dela [...] por esta razão a sociedade cristã em si mesma
é um milagre. Portanto, em verdade, ela é ininteligível sob o ponto de vista
puramente sociológico.
85
80
ROLOFF, 2005, p. 16.
81
ROLOFF, 2005, p. 16.
82
ROLOFF, 2005, p. 347
83
STEGEMANN; STEGEMANN, 2004, p.297.
84
STEGEMANN; STEGEMANN, 2004, p.310
85
BRUNNER, 2000. 15-16.
40
Brunner acredita que “a Última Ceia foi a ocasião quando o Mestre, à vista da
aproximação de seu fim, revelou para si próprio seu verdadeiro significado como a
comunidade do Novo Pacto [...] Ele, o Senhor presente através do Espírito, é o princípio
de vida da Ecclesia”.
86
O Dr. Roberto Zwetsch concorda com a centralidade do evento pascal na tomada
de consciência dos discípulos de Jesus Cristo a respeito de sua Igreja. Ele afirma que:
O evangelho começou a se espalhar pelo mundo greco-romano após o evento-
fonte da ressurreição do Senhor, constituindo comunidades a partir de
sinagogas e casas particulares, muitas delas dirigidas por mulheres [...] no meio
urbano, o evangelho foi constituindo grupos comunitários, que iriam receber o
nome de ekklesia, palavra que, originária do mundo profano, recebeu uma nova
significação a partir da fé. A ekklesia passou a ser a assembléia ou reunião das
pessoas que criam naquele Jesus de Nazaré, chamado Cristo. A partir desses
pequenos grupos e rculos foi gradativamente se configurando a Igreja de
Jesus Cristo.
87
O evento pascal é colocado como ponto de referência para o surgimento das
primeiras comunidades cristãs, muito embora se saiba que Jesus havia iniciado o seu
movimento três anos, desde o momento em que aceitou ser batizado por João
Batista e iniciou a chamada dos primeiros seguidores.
Com essa idéia concorda Bosch: “É só por causa da Páscoa que os evangelhos
foram escritos. Sem a Páscoa eles não fazem sentido. [...] Para a comunidade de
Jesus, a ressurreição de Cristo e a vida no Espírito são prova tangível do já do reinado
de Deus”.
88
Por sua vez, Reynaldo Purim defende a tese de que “foi na vinda do Espírito
Santo no Pentecostes que a Igreja de Jesus Cristo teve a sua origem histórica ou
visível”
89
. Entendendo que o embrião da Igreja havia se desenvolvido a partir do
batismo de Jesus, Purim acredita que “a obra de Jesus junto aos seus discípulos não
chegou a formar a Igreja. Eles ainda não estavam preparados para isto”.
90
Segundo ele,
86
BRUNNER, 2000, p. 28.
87
ZWETSCH, Roberto E. Missão: testemunho do evangelho no horizonte do reino de Deus. In:
SCHNEIDER-HARPPRECHT (org) Teologia prática no contexto da América Latina. 2. ed. São
Leopoldo: Sinodal, ASTE, 1998, p. 198.
88
BOSCH, 2007. p. 62-63.
89
PURIM, Reynaldo. A igreja de Jesus Cristo. Rio de Janeiro: JUERP, 1980, p. 17.
41
pela vinda do Espírito Santo sobre eles, os discípulos tornaram-se um grupo, ou
comunidade, ao qual foram agregados os que se converteram naquele dia pela
pregação de Pedro e os outros que se converteram depois [...] a Igreja é obra
do Espírito Santo, glorificando ou realizando o significado de Cristo naqueles
que nele creram.
91
Partindo de Jerusalém, os discípulos de Jesus Cristo levaram a mensagem do
Evangelho para outras partes do mundo, tendo como resultado disso, o surgimento de
novas comunidades cristãs em outras cidades e países. Foi assim que surgiu a Igreja
de Antioquia da Síria, conforme relata o livro de Atos, capítulo 13.
Geo W. McDaniel escreveu um livro colocando tudo no plural, a partir do próprio
nome, falando das Igrejas do Novo Testamento. Defende a tese de que não se pode
falar da Igreja do Novo Testamento no singular e o faz a partir do seu próprio conceito
de Igreja.
Uma Igreja do Novo Testamento é um grupo organizado, de crentes batizados,
com iguais deveres e privilégios, administrando os seus negócios sob a direção
de Cristo, unidos na fé que ele ensinou, ligados pelo pacto de fazer o que ele
mandou, cooperando com outras agremiações semelhantes e nos
empreendimentos para a extensão do seu reino.
92
MacDaniel classifica a aplicação do termo ekklesia em três grupos, a saber:
como instituição, com 14 incidências, como congregação local, 93 incidências e como
reunião de todos os redimidos, com 2 incidências. Partindo deste princípio, o autor
analisa 17 igrejas diferentes, a partir da Igreja-mãe, em Jerusalém, culminando com as
sete igrejas da Ásia, que receberam destaque no livro de Apocalipse.
93
Outro autor que defende a tese da pluralidade das comunidades cristãs
primitivas é Ebenezer Soares Ferreira. Segundo ele,
O romanismo é o culpado pela concepção que se arraigou no povo de “A Igreja”,
como se houvesse uma [...] à luz do Novo Testamento, no entanto, tal pretensão
não acha guarida, pois são muitos os textos que mostram o uso do plural do vocábulo:
as igrejas de Cristo (Romanos 16:16), as igrejas de Deus (Romanos 16:4), as igrejas
dos santos (I Coríntios 14:33), as igrejas da Macedônia (II Coríntios 8:1), as igrejas da
90
PURIM, 1980, p. 15.
91
PURIM, 1980, p. 18-19.
92
MACDANIEL, Geo. W. As igrejas do novo testamento. Traduzido por F.M. Edwards. 5. ed. Rio de
Janeiro: JUERP, 1989. p. 14.
93
MACDANIEL, 1989, p. 10
42
Judéia (Gálatas 1:22), as igrejas da Galácia (Gálatas 1:2), as igrejas da Ásia (I
Coríntios 16:19).
94
Muito embora a abordagem de Ferreira seja mais pragmática, suas observações
são relevantes no escopo deste trabalho, visto que será observado que a pluralidade
cristã está presente desde a gênese do Cristianismo, não sendo, por conseguinte, um
fenômeno meramente contemporâneo.
Falando sobre a pluralidade de Igrejas no Novo Testamento, Roloff afirma:
Hoje não é mais possível dirigir-se ao Novo Testamento com a expectativa de
nele encontrar uma doutrina uniforme sobre a igreja que, por corresponder à
Escritura, pudesse como tal ser transposta diretamente para a nossa situação
atual. E isto é bom assim, pois na prática esse procedimento geralmente
resultou em que se encontrasse no Novo Testamento apenas a confirmação
daquelas concepções sobre natureza e forma da igreja que eram determinantes
para a própria tradição confessional.
95
Isso não significa, conforme o autor destaca com bastante propriedade, que
possamos ir ao Novo Testamento em busca de um modelo de Igreja a fim de
transplantarmos para a nossa realidade, mas dos modelos encontrados no Novo
Testamento, deve-se encontrar princípios que se aplicam à realidade das comunidades
cristãs de todos os tempos, segundo suas características próprias.
2.2 Na História do Cristianismo
2.2.1 Comunidades Cristãs Perseguidas
A cidade de Jerusalém hospedou a primeira Igreja Cristã. Lá havia uma só igreja.
O crescimento do Cristianismo foi o crescimento desta igreja. A ela agregavam-se
aqueles que iam sendo alcançados com a pregação do evangelho, pelos discípulos de
Jesus Cristo. Segundo Purim,
o cristianismo passou a se propagar fora de Jerusalém como resultado do
trabalho dos crentes dispersos pelas perseguições. Este foi o trabalho de leigos
94
FERREIRA, Ebenézer Soares. Manual da igreja e do obreiro. Rio de Janeiro: JUERP. 2002. p. 43.
95
ROLOFF, 2005, p. 344.
43
que tinham sido doutrinados e cujas atividades já tinham aparecido também em
Jerusalém, como por exemplo, de Estevão e outros [...] A princípio a
propagação fora de Jerusalém estava relacionada com a igreja em Jerusalém
ou sendo acompanhada com seu interesse.
96
Na interpretação de Bosch, a preocupação da igreja de Jerusalém com a nova
comunidade cristã de Antioquia da Síria “não era a missão, e sim a consolidação; não
era a graça, e sim a lei; não cruzar fronteiras, e sim fixá-las; não a vida, e sim a
doutrina; não o movimento, mas a instituição”.
97
A Igreja de Antioquia fora fruto, mais da
perseguição religiosa movida contra os cristãos em Jerusalém do que pela visão
missionária daquela comunidade fundante. Mas a igreja de Antioquia nasceu com outra
perspectiva. Dela saíram missionários que se movimentaram por várias partes do
mundo, levando a mensagem salvadora do Evangelho e plantando novas igrejas.
Várias iniciativas foram tomadas pelas novas comunidades, tanto no sentido de definir
suas doutrinas, como no de cooperar no atendimento das necessidades de
comunidades que passavam por situações difíceis, sobretudo diante das perseguições
implementadas pelo Império Romano.
O historiador Earle E. Cairns afirma que
o cristianismo tem sempre enfrentado problemas internos e externos em todos
os períodos de sua história. A Igreja teve que enfrentar o sério problema interno
da heresia e resolve-lo, entre 100 e 313, além de ter, ao mesmo tempo, que
resolver problema externo da perseguição movida pelo estado romano [...] A
idéia de Tertuliano de que o sangue os mártires é a semente da Igreja se
transformou numa terrível realidade para muitos cristãos.
98
Primeiro por Nero, depois por Domiciano e vários outros imperadores romanos,
as comunidades cristãs dos três primeiros séculos sofreram duras perseguições. Ainda
assim, o compromisso dos cristãos com os princípios do evangelho, sobretudo de ser
fiel testemunha de Jesus Cristo, fez com que houvesse um rápido e constante
crescimento neste período. Segundo Justo L. González, o evangelismo tinha lugar nas
cozinhas, nas oficinas e nos mercados. Mestres famosos como Justino e Orígenes
sustentavam disputas em suas escolas, ganhando alguns convertidos ao Cristianismo
96
PURIM, 1980, p. 37.
97
BOSCH, 2007, p. 75
98
CAIRNS, Earle E. O cristianismo através dos séculos: uma história da igreja cristã. Traduzido por
44
entre os intelectuais. Além disso, a firmeza e gozo demonstrados pelos mártires
também acabaram atraindo pessoas à fé em Jesus Cristo.
99
Quanto aos problemas internos, sobretudo com o surgimento de heresias que
ameaçavam a unidade da cristã, as igrejas responderam com a definição do cânon
do Novo Testamento, o credo apostólico, entre outras medidas. Mais tarde, os concílios
seriam os grandes aliados da ortodoxia cristã.
Por outro lado, a institucionalização foi burocratizando as igrejas, causando
descontentamento e saída de grupos que sempre se movimentaram à margem do
Cristianismo oficial. Emil Brunner descreve as mudanças de um Cristianismo vivo, com
comunidades de discípulos de Jesus que desfrutavam de íntima comunhão e apreço,
para um Cristianismo engessado. Segundo ele, “o desenvolvimento eclesiástico da
comunidade de Jesus Cristo é tão difícil quanto um quebra-cabeça, precisamente
porque a mudança ocorreu em pequeninos, mas contínuos estágios”
100
. Então Brunner
menciona a sacramentalização, colocando a eucaristia e o batismo no centro, a
clericalização, estabelecendo distinção entre sacerdócio e laicato como dois eixos que
conduzem o cristianismo definitivamente à institucionalização, trazendo desconforto
para aqueles que desejavam a expansão do reino de Deus mais do que o império do
Cristianismo. Segundo Brunner (2000: 82) diante deste novo quadro, “a pluralidade de
igrejas que se reúnem nas casas, necessariamente precisa desaparecer, o princípio
‘um lugar, uma única congregação’ é formulado. A comunidade local surge como uma
pedra na construção do todo maior, a Igreja Católica”.
101
2.2.2 Sob a Proteção do Império Romano
Quando Constantino assumiu o poder, o quadro começa a mudar para os
cristãos. Antes perseguidos, agora passam a ser protegidos pelo mesmo império.
Segundo Gonzalez “o impacto da conversão de Constantino sobre a vida da igreja foi
Israel Belo de Azevedo. São Paulo: Vida Nova, 1992. p. 70.
99
GONZALEZ, Justo L. Uma história ilustrada do cristianismo: a era dos mártires. São Paulo: Vida
Nova, 1980. p.156-157. 1.v.
100
BRUNNER, 2000, p. 28.
101
BRUNNER, 2000, p. 82.
45
tão grande que se fará sentir até os nossos dias”.
102
Com o apoio de Constantino aos
cristãos, acabam-se as perseguições movidas pelo Império Romano. O culto cristão
começou a sentir a influência do protocolo imperial. De muito simples, as cerimônias
passaram a ser pomposas, com os líderes utilizando vestimentas ornamentadas.
O distanciamento entre o clero e o povo foi visível. Templos foram construídos e
várias práticas do Antigo Testamento foram implementadas no culto cristão. Houve um
atrelamento entre a Igreja e o Estado, que em muitas partes do mundo perdura até os
nossos dias, com o favorecimento do Estado à Igreja, seja na isenção de impostos,
subsídios para conclaves, como os grandes concílios, e outras medidas de apoio à
Igreja Católica.
A reação a tudo o que aconteceu com o apoio de Constantino foi variada. Alguns
cristãos “deslumbrados com o favor que Constantino evidenciava em relação a eles, se
empenharam em provar que Constantino era um eleito de Deus e que a sua obra era a
consumação da história da igreja”.
103
Outros, entretanto, seguiram direção totalmente
oposta, entendendo que os acontecimentos decorrentes do apoio de Constantino era o
começo de uma grande apostasia. Destes, alguns não queriam sair da Igreja e então se
isolaram nos desertos, dedicando-se a uma vida ascética. Nasceu daí o monasticismo,
primeiro o individual, também chamado de anacoreta, que significa retirado e depois o
coletivo, também chamado de cenobita, ou seja, vida comum, causando grande êxodo
para o deserto do Egito e da Síria.
104
Ao abordar o surgimento do monasticismo, Bosch afirma:
Durante mais de sete séculos, do século 5 ao 12, o monasticismo foi não o
centro da cultura e da civilização, mas igualmente da missão. Em um mundo
dominado pelo amor a si mesmo, as comunidades monásticas representavam
um sinal visível e a concretização de um mundo governado pelo amor de Deus
[...] O objetivo único do monasticismo era viver em pureza e morrer em paz e
evitar tudo o que pudesse perturbar, molestar, deprimir, excitar, cansar ou
intoxicar a alma.
105
102
GONZALEZ, 1980, p.35. 2 v.
103
GONZALEZ, 1980, p. 35. 2. v.
104
GONZALEZ, 1980, p. 61-69. 2 v.
105
BOSCH, 2007, p. 284-285.
46
Muito embora se mantendo dentro da Igreja Católica, os monges procuravam
viver de acordo com os valores do reino de Deus, primando por uma vida simples, pura
e dedicada ao serviço ao Senhor e uns aos outros, longe dos privilégios do Estado.
Outro destaque que precisa ser registrado é o surgimento das igrejas
dissidentes, como resultado das decisões conciliares oficiais da Igreja Católica. As
diversas controvérsias teológicas deixaram suas marcas e vários grupos dissidentes
continuaram, por muitos anos, professando a fé cristã fora dos moldes da maioria.
Gonzalez faz menção
das igrejas que rejeitaram o concílio de Éfeso, chamadas de igrejas
nestorianas, as que rejeitaram o concílio de Calcedônia, chamadas de
monofisitas, apesar de elas mesmas não se darem estes títulos, com que o
restante dos cristãos os chama pejorativamente.
106
Segundo Gonzalez os Nestorianos na Pérsia, permaneceram por muito tempo
andando separados da religião oficial do Império Romano. Cidades como Antioquia e
Edessa se destacaram neste período.
Em 410 eles se constituíram em uma igreja autônoma, dando ao bispo Ctesifom
o título de patriarca [...] A partir da Pérsia, o cristianismo nestoriano se estendeu
até a Ásia Central, Índia e Arábia [...] Além disto aqueles cristãos nestorianos
continuaram proclamando sua fé em lugares distantes, de tal modo que, graças
à obra do missionário Alopem chegou a haver cristãos nestorianos na China, e
as Escrituras foram traduzidos pela primeira vez à língua deste país[...] seu
núcleo atual es no Iraque, Irã e Síria. [...] Muitos deles imigraram para a
América do Norte, onde organizaram algumas igrejas nestorianas.
107
Neste caso, longe de enfraquecer a força missionária do Cristianismo, a “divisão”
na Igreja Cristã oficial tornou-se num vigor missionário novo, pelo menos para o grupo
dissidente.
Bosch também exalta a relevância do trabalho missionário dos nestorianos,
igreja dissidente.
Sobretudo os nestorianos se tornariam a principal força missionária na Ásia
não-romana. Quando Nestório foi condenado pelo Concílio de Éfeso (431 d.C.)
e expulso para o Egito, seus adeptos fugiram para a Pérsia, onde um
monasticismo vigoroso, uma teologia eminente e uma atividade missionária
imponente logo testemunharam a força do movimento. Essas três dimensões
106
GONZALEZ, 1978, p. 115. 3 v.
107
GONZALEZ, 1978, p. 117-130. 3 v.
47
do nestorianismo monasticismo, teologia e missão - eram interdependentes e
fizeram com que a igreja nestoriana se tornasse a igreja missionária por
excellence no contexto geral do cristianismo medieval.
108
Outro grupo de cristãos independentes, existentes neste período, são os
monofisitas da Armênia. Localizada no extremo norte da fronteira entre o Império Persa
e o Impero Romano, este país foi palco de histórias inspiradoras, relacionadas com o
Cristianismo. Gonzalez destaca a história de Gregório, o iluminador, que conheceu o
Cristianismo em Roma e o levou para a Armênia, pregando-o com fervor. Por conta
disso, foi encarcerado por 15 anos, pelo seu parente, Tirídates, que mais tarde também
se converteria ao Cristianismo. Com a conversão do rei, houve um movimento de
conversão em massa, chegando a alcançar até alguns sacerdotes pagãos e seus filhos,
que aderiram à fé cristã. Como não foram auxiliados pelos romanos quando mais
precisaram, diante dos ataques dos persas, declararam-se monofisitas, acusando os
cristãos romanos de traidores e hereges. Posteriormente foram duramente perseguidos
pelos muçulmanos. Alguns foram mortos, outros acabaram imigrarando para outras
partes do mundo e alguns ainda permaneceram e mantiveram suas tradições naquele
país.
109
Os cristãos da Etiópia, Egito e Síria também rejeitaram as decisões do Concílio
de Calcedônia pela sua aproximação da escola de Alexandria e de seus teólogos, vindo
a ser chamados de cristãos monofisitas e também coptas, em referência à antiga língua
dos egípcios. Na Síria, por sua vez, a Igreja foi chamada de Jacobita, em virtude de seu
líder mais proeminente, Jacobo Baradeo.
110
Em virtude do objeto de nosso estudo, ou seja, as Comunidades Cristãs
Independentes, é de grande relevância a menção destas cinco igrejas dissidentes, que
perduram até os nossos dias, originadas nos concílios de Éfeso e Calcedônia.
Por outro lado, a Igreja Católica continuava atrelada ao Império Romano e
fazendo muitas vítimas. Zwetsch descreve isso com muita propriedade ao afirmar:
108
BOSCH, 2007, p. 254.
109
GONZALEZ, 1992, p. 121-127 .3 v.
110
GONZALEZ 1992, p. 121-127. 3 v.
36
ZWETSCH, 2005, p. 199-200.
48
Muita coisa havia mudado depois dos primeiros séculos. A característica desse
cristianismo imperial foi o uso das armas e da força como meios de missão.
Eusébio, famoso escritor cristão contemporâneo de Constantino, chegou a ver
no imperador o próprio ‘poder do Verbo de Deus, Jesus Cristo, agindo em todo
o mundo’. De Igreja perseguida o cristianismo passou a ser, tristemente, uma
Igreja que perseguiu e utilizou a força para se impor aos povos não-cristãos.
Isto aconteceu por um longo tempo. Reis e papas da Idade Média fizeram
missão por meio das armas. As Cruzadas e as injúrias e torturas praticadas
pela Santa Inquisição nesse período o exemplos da distorção a que se pôde
chegar. A cruz, símbolo da riqueza e do amor misericordioso de Deus, tornou-
se símbolo dos elmos dos soldados, da tomada de posse de terras estranhas.
Em suma, símbolo do poder político-militar da cristandade ocidental. Por isso
precisamos redescobrir constantemente o evangelho como boa nova dos
pobres e oprimidos.
111
À luz do relato acima, pode-se dizer que de alguma forma os grupos dissidentes
dos concílios da Igreja Oficial, mantiveram acesa a chama do ardor missionário,
buscando, de fato, a expansão do reino de Deus através de suas ações.
2.2.3 O Grande Cisma
Dentre outros desenvolvimentos na estrutura da Igreja Católica, pode-se
destacar o surgimento do papado. Isso também foi um processo lento e longo, que
remonta o terceiro século. Segundo Gonzalez, nos primeiros séculos, o centro numérico
do Cristianismo estava no Oriente, por isso os bispos de cidades como Antioquia e
Alexandria tinham muito mais importância do que o bispo de Roma. No Ocidente, por
outro lado, a maior influência do Cristianismo vinha da África com teólogos como
Tertuliano, Cipriano e Agostinho. Tudo começou a mudar quando o Império aceitou a
cristã. A partir de então, a Igreja localizada na capital do império, Roma, passou a ter
proeminência e o seu bispo maior influência sobre os demais. Seguindo por este
caminho, chegou-se à liderança do bispo de Roma como conseqüência natural e com a
queda do Império Romano, a Igreja sob o comando do Papa, veio a ser a guardiã do
que restava da velha civilização, recebendo o papa grande prestígio e autoridade.
112
112
GONZALEZ, 1980, p. 62, 2 v.
49
Como reação a tudo o que vinha acontecendo, a partir do favorecimento de
Constantino e mais tarde o surgimento do papado, alguns simplesmente romperam a
comunhão com os demais cristãos, sendo estes chamados de cismáticos.
Falando sobre o movimento cismático. Emil Brunner afirma que:
A Igreja Católica Romana sofreu uma série de interrupções, das quais surgiram
igrejas não romanas de vários tipos. Estas igrejas podem ser divididas em dois
grupos principais: aquelas que aparecem antes e as que apareceram depois da
mudança decisiva do catolicismo primitivo para o neo-catolicismo.
113
Segundo Brunner, vários pequenos cismas aconteceram, sem muito significado
para o Cristianismo, como o de Fotius, em 858, até culminar com o grande cisma,
ocorrido em 1054, ocasião em que houve a separação entre a Igreja Católica Apostólica
Romana, forma latina de Cristianismo e a Igreja Católica Ortodoxa Grega, forma grega
de Cristianismo.
114
Os motivos da separação são muitos. Cairns menciona a
providência de Constantino em transferir sua capital para Constantinopla como a
gênese da divisão. Ele afirma: “Ao transferir sua capital para Constantinopla em 330,
Constantino pavimentou a rodovia da separação política e, depois, eclesiástica da
Igreja em duas grandes seções”.
115
O grande cisma foi acontecendo aos poucos, até se
consumar em 1054, com o rompimento definitivo entre o Oriente e o Ocidente.
Várias foram as incompatibilidades entre as duas alas da Igreja. A visão
intelectual dos dois lados era diferente. Enquanto os Ocidentais eram mais
pragmáticos, os Orientais primavam por soluções teológicas mais filosóficas. Os
Orientais não aceitam o celibato como imposição para os seus sacerdotes, enquanto
Roma não abre mão deste quesito para os seus líderes. Questões relacionadas à
veneração de ídolos também dividiam as duas igrejas, sendo que os Orientais sempre
tiveram reservas quanto a isso, enquanto os romanos não vêem dificuldades em
venerar imagens de escultura como símbolos de sua fé. Muito mais que isso, pesaram
as questões políticas, que certamente foram as mais determinantes. Com a queda do
Império Romano, a Igreja e o papa acabam preenchendo a lacuna de autoridade e
113
BRUNNER, 2000, p. 101.
114
BRUNNER, 2000, p. 101-102.
115
CAIRNS, 1992, p. 165.
50
poder que se abre no Ocidente. Todas as tentativas de Roma para anular este cisma
tem fracassado, haja vista que os Católicos romanos julgam-se a Verdadeira Igreja
Católica, totalmente dependente do papado e seus contornos, o que nunca foi aceito
pelos cristãos orientais.
116
As consequências do grande cisma são de grandes proporções, deixando
rachaduras que vem ocasionar outros cismas até culminar com a reforma protestante,
do Século XVI. Um dos resultados foi o grande distanciamento entre as duas igrejas.
Falando sobre isso, Cairns assim se expressa:
Qualquer movimento ecumênico se tornou muito difícil depois dos amargos
acontecimentos que separaram a Igreja do Oriente e a Igreja do Ocidente. O
movimento ecumênico moderno que visa a reunião das igrejas da Cristandade
não tem apoio da Igreja Católica Romana e apenas um pequeno apoio da Igreja
Ortodoxa Grega. O movimento tem sido fundamentalmente protestante.
Nenhuma das duas igrejas deseja qualquer igreja ecumênica exceto em seus
próprios termos, embora a Igreja do Oriente tenha se disposto a conferenciar
com as Igrejas protestantes acerca da reunião.
117
Muito embora este quadro tenha sofrido algumas mudanças nas últimas
décadas, é relevante a observação de Cairns, mostrando como o cisma do XI Século
abalou profundamente a unidade das comunidades cristãs e certamente contribuiu
decisivamente para a fragmentação do Cristianismo.
Cada uma das Igrejas seguiu o seu próprio curso, com enfoques diferentes.
Bosch afirma que:
Para os ortodoxos, o Grande Cisma de 1054 teve profundas conseqüências.
Enquanto que a Igreja Católica continuou seu empreendimento missionário sem
interrupção, sobretudo depois do século 15, e as igrejas e agências
missionárias protestantes encetaram seu próprio esforço no sentido de chegar
às pessoas que viviam além dos limites da cristandade histórica, os ortodoxos
não poderiam facilmente agir da mesma forma. Quando se rompeu a unidade, a
Igreja Ortodoxa viu sua missão cambiar do evangelismo para a procura pela
unidade cristã. [...] Como a igreja é o corpo de Cristo, e existe apenas um
corpo, a unidade da igreja é a unidade de Cristo, mediante o Espírito, com o
Deus triuno; Qualquer divisão de cristãos representa, logo, um escândalo e um
impedimento para o testemunho unido da igreja. Tragicamente, segundo os
ortodoxos, demasiadas vezes não convertemos pessoas para essa igreja una, o
corpo de Cristo, mas para nossa própria denominação, infundindo-lhes, ao
mesmo tempo, o ‘veneno da divisão’.
118
116
CAIRNS, 1992, p. 166.
117
CAIRNS, 1992, p. 167.
118
BOSCH, 2007, p. 258-259.
51
Na análise feita por Bosch, o pluralismo cristão, afetou negativamente o potencial
de expansão do reino de Deus, que deveria ser promovido pelo Cristianismo através de
uma Igreja unida, e não dividida.
2.2.4 A Reforma Religiosa do Século XVI
Além do Grande Cisma, que abalou definitivamente a unidade do Cristianismo, o
Islamismo vinha conquistando espaço a quatro séculos, ocupando cidades e
alcançando pessoas para os seguidores de Maomé.
Desde os tempos de Agostinho, com seu ensino da “guerra justa”, vinha se
pavimentando uma estrada que levaria às chamadas guerras santas, ou “guerras
missionárias”
119
, a saber, as cruzadas, que visavam reconquistar os espaços cedidos
para os muçulmanos.
Gonzalez resume os objetivos das cruzadas dizendo que “era derrotar os
muçulmanos que ameaçavam Constantinopla, salvar o Império do Oriente, unir de novo
a cristandade, reconquistar a Terra Santa, e em tudo isto ganhar o céu”.
120
Foram
duzentos anos com esta obsessão de que se deveria conquistar os muçulmanos e
reconquistar os cristãos heréticos, pelo uso da força. Muito embora os resultados
missionários tivessem sido poucos, houve certos benefícios neste contato com a cultura
(filosofia, ciências e a literatura) que foi levada para a Europa e impactou os
escolásticos, “que tentaram fazer uma síntese entre este saber e a revelação cristã”.
121
Durante todo o período conhecido como Idade Média houve um monopólio dos
bens simbólicos no campo da religião cristã por parte da Igreja Católica Apostólica
Romana. Bourdieu afirma que
a concentração de capital religioso nunca foi talvez tão forte como na Europa
medieval. A Igreja, organizada segundo uma hierarquia complexa, utiliza uma
linguagem quase desconhecida do povo e detém o monopólio do acesso aos
instrumentos do culto, textos sagrados e sobretudo os sacramentos.[...] Em tal
119
BOSCH, 2007, p. 274-278.
120
GONZALEZ, 1981, p.47. 4 v.
121
CAIRNS, 1992, p.181.
52
situação, o campo religioso recobre o campo das relações de concorrência que
se estabelecem no próprio interior da Igreja.
122
Entretanto, as disputas internas, tanto em questões teológicas como na busca e
manutenção de poder eclesiástico, somadas a outros fatores externos, como a
invenção da imprensa e as empreitadas de conquistas de novas terras, acabou
gestando a reforma religiosa do século XVI, nascedouro de muitas novas igrejas cristãs.
Bosch caracteriza a Europa deste período afirmando:
Nessa época a Idade Média Alta a estrutura da sociedade humana estava
estabelecida de forma final e permanente, e a ninguém era permitido modificá-
la. Na ordem da realidade constituída e sancionada por Deus, as diferentes
classes sociais tinham que manter-se em seus lugares. Era a vontade de Deus
que os servos fossem servos, e os senhores, senhores. Uma “lei natural”
imutável e outorgada por Deus governava todas as pessoas e coisas. Tudo e
todos possuíam seu lugar designado. Qualquer pessoa sensata era cristã
católica, e não questionava o monopólio da igreja, inclusive em relação a
assuntos seculares. Não havia mais “pagãos” na Europa, embora existissem, ali
e acolá, grupos isolados de “hereges” ou “cismáticos”.
123
Tudo parecia sob o controle da Igreja Católica, mas nem todos aceitavam
passivamente o monopólio autoritarista de um Cristianismo cujas práticas eram
altamente questionáveis. Muito antes de irromper a grande reforma religiosa do século
XVI, várias pessoas se levantaram para pregar e defender um estilo de Cristianismo
diferente daquele que oficialmente era aceito. Alguns, com suas idéias, deram origem a
movimentos e também a comunidades que professaram a sua fé, à margem do
Cristianismo oficial. Dentre estas pessoas e movimentos, pode ser mencionado Pedro
Valdo.
CAIRNS descreve o nascimento do movimento deflagrado por Pedro Valdo,
afirmando:
Em 1176, Pedro Valdo, um rico comerciante de Lion, leu uma tradução do Novo
Testamento e ficou impressionado com os ensinos de Cristo que abandonou
todos os seus bens, exceto os necessários para o sustento de sua família.
Organizou, então, um grupo conhecido como os ‘Pobres de Espírito’. Valdo e
seus seguidores desejavam pregar como leigos, mas o papa os proibiu de fazê-
lo. Em 1184, foram excomungados por sua recusa de parar de pregar.
124
122
BOURDIEU, 2007, p. 62.
123
BOSCH, 2007, p. 278.
124
CAIRNS, 1992, p.185-186.
53
Ao invés de obedecer a ordem do papa, Valdo e seus discípulos se dedicaram
ainda mais a este ministério, entendendo que todas as pessoas deveriam ter a Bíblia
em sua própria língua, devendo ser ela a autoridade final para a fé e para a vida. Viviam
e se vestiam com simplicidade. O grupo tinha o seu próprio clero, com bispos
sacerdotes e diáconos. Em muitos aspectos se anteciparam aos paradigmas
protestantes. Ainda existem e continuam seu ministério, especialmente no Norte da
Itália.
Outro personagem que se destacou neste período foi João Wycliffe. Ele nasceu
na Inglaterra em 1328, estudou e ensinou em Oxford a maior parte de sua vida.
Segundo Cairns em princípio Wycliffe trabalhou para reformar a própria igreja. Quando
vieram as objeções aos seus intentos, escreveu uma obra na qual “atacou a autoridade
do papa em 1382, dizendo que Cristo e não o papa era o chefe da Igreja, a Bíblia e não
a Igreja era a autoridade única para o crente e que a Igreja Romana deveria se modelar
segundo o padrão do Novo Testamento”.
125
Traduziu todo o Novo Testamento para o
inglês e iniciou a tradução do Antigo Testamento, vindo a ser concluída por um de seus
seguidores, colocando as Escrituras em língua inglesa, ao alcance do povo.
A tradução da bíblia para o inglês e as idéias de Wycliffe foram condenados pela
Igreja Oficial, mas fomentaram o surgimento de um grupo de pregadores leigos,
denominados “lolardos”, posteriormente condenados veementemente pela Igreja. De
acordo com Gonzalez, quando Wycliffe morreu, em 1384, ainda mantinha comunhão
com a igreja, por isso foi sepultado em terra consagrada. “Anos depois, porém, quando
o concílio de Constança o condenou, seus restos foram exumados e queimados, e suas
cinzas lançadas no rio Swift”.
126
João Wycliffe morreu, porém suas idéias e ideais
permaneceram vivos e foram herdados por seus discípulos que deram continuidade aos
seus esforços reformadores. Mais uma camada significativa de pavimento foi colocada
na estrada da grande reforma que aconteceria menos dois séculos mais tarde.
Um dos estudiosos da época, que aderiram às idéias reformadoras de Wycliffe
foi o João Huss, que nasceu na Boemia e estudou em Praga, vindo a ser o reitor da
Universidade daquela cidade. Leu e aderiu às idéias de Wycliffe e logo se pôs a
125
CAIRNS, 1992, p. 205.
126
GONZALEZ, 1986, p. 85, 5 v.
54
reformar a Igreja. Mesmo com o apoio das autoridades locais, acabou sendo
condenado e queimado vivo, depois de ter sido preso e pressionado a se retratar, sem
ter cedido.
127
. Cairns afirma: “Os perseguidores podem destruir os corpos dos homens,
mas não podem destruir idéias, e as de Huss foram disseminadas por seus seguidores.
[...] rejeitaram tudo na fé e na prática, da Igreja Romana que não se encontrasse na
Bíblia”
128
.
Cairns faz uma resenha interessante da influência que Huss exerceu no
movimento que viria desembocar na reforma religiosa do século XVI, e até os dias
atuais. Ele afirma:
Embora a Igreja Romana tirasse a sua vida, ela não pode destruir a influência
de João Huss. A Igreja Moravia tornou-se mais tarde numa das igrejas de mais
visão missionária da História da Igreja Cristã. Jan Amos Comenius (1592-1670),
o grande educador evangélico, foi um dos Irmãos, ele escreveu o Grande
Didático. Pode-se dizer que Huss influenciou indiretamente a Wesley, porque
foram os Morávios que ajudaram a Wesley encontrar a luz, em Londres. Os
ensinos e o exemplo de Huss foram uma inspiração para Lutero que enfrentou
problemas semelhantes na Alemanha de seus dias.
129
Como pode ser observado, há um fio condutor, que se estende por toda a
história da Igreja Cristã, através da qual Deus levanta pessoas e movimentos a fim de
manter acesa a chama do Evangelho nos corações daqueles que desejam servir a
Deus com sinceridade.
Um grande movimento reformador estava para acontecer. Além das idéias,
pessoas e movimentos já abordados neste trabalho, o mundo passava por mudanças
em todos os níveis, e Deus preparava o ambiente para que uma grande revolução
viesse a acontecer a partir do início do Século XVII.
O Século XVI é conhecido como o século da grande reforma religiosa, vivenciado
pela humanidade, sobretudo pelo mundo cristão. Depois de um grande período de
efervescência, dentro e fora da Igreja Católica, o movimento reformista chega ao seu
apogeu, deixando marcas profundas que se estenderam nestes últimos cinco séculos.
Como fatores que desencadearam a grande reforma religiosa do Século XVI:
127
CAIRNS, 1992, p. 206.
128
CAIRNS, 1992, p. 206.
129
CAIRNS, 1992, p. 207.
55
A relutância da Igreja Católica Romana medieval em aceitar as mudanças
sugeridas por reformadores sinceros como os místicos, Wycliffe e Hus, os
líderes dos concílios reformadores e os humanistas; o surgimento das nações-
estados, que se opuseram ao poderio universal do papa e a formação da classe
média, que se revoltou contar a remessa de reservas para Roma. Sua fixação
ao passado, clássico e pagão, indiferente às forças dinâmicas que estavam
formando uma nova sociedade, a italiana, da qual o papado fazia parte, adotou
uma forma de vida corrupta, sensual e imoral, embora ilustrada.
130
Na verdade, a reforma religiosa se deu em meio a diversas outras reformas que
aconteceram no campo político, geográfico, econômico, social e intelectual. O mundo
todo estava em ebulição e as novas idéias sobre o Cristianismo acabaram encontrando
solo fértil na Europa, muito especialmente na Alemanha. Muitas pessoas passaram a
defender a tese de que, ao invés de se ter apenas uma igreja universal, detentora de
todo o poder, deveria haver igrejas nacionais e igrejas livres. A partir destas idéias,
como escreve Cairns
A uniformidade religiosa medieval deu lugar, no início do século XVI, à
diversidade religiosa. A túnica inconsútil da Igreja Católica Romana,
internacional e universal, estava rasgada de novo, como acontecera em 1054,
pelos cismas que resultaram na formação de igrejas protestantes nacionais.
Estas igrejas, especialmente a anglicana e a luterana, estavam em geral sob o
controle dos governos das nações-estados. depois de 1648 é que as
denominações e a liberdade religiosa surgiram.
131
Pode ser constatado, a partir destas considerações de Cairns, que o pluralismo
cristão ganhou fôlego, a partir da reforma luterana, muito embora em séculos
anteriores, vários movimentos já andavam paralelos ao cristianismo oficial;
Depois de falar de vários pré-reformadores, Pereira afirma:
O espaço limitado desta obra não nos permite falar de muitos outros mais que,
na Idade Média, esforçaram-se por seguir o cristianismo do Novo Testamento e
não acompanharam as inovações de Roma. Não podemos contara a história de
homens como Arnaldo de Bréscia, João Wessell, Jerônimo de Praga, Marsílio
de Pádua, dos chamados irmãos da vida comum e de muitos outros, em
diferentes lugares da Europa, que reagiram contra as corrupções romanistas e
se esforçaram, com as luzes que tinham, para um retorno ao cristianismo
primitivo.
132
130
CAIRNS, 1992, p. 221.
131
CAIRNS, 1992, p. 223.
132
PEREIRA, José dos Reis. Breve história dos batistas. 2. ed. Rio de Janeiro : JUERP, 1979, p. 44.
56
2.2.4.1 Reforma Luterana
É totalmente impossível e desnecessária, para os interesses deste trabalho, uma
abordagem mais ampla sobre a reforma luterana. Visto por vários ângulos o
controvertido monge Martinho Lutero levantou a bandeira da reforma religiosa ao fixar,
na porta da Igreja do castelo de Wittenberg, na Alemanha, 95 teses que eram um
convite à reflexão e ao debate teológico. Nestas teses, Lutero acusava o Catolicismo
Romano de exploração do povo, através da venda de indulgências e de outras medidas
que contrariavam os ensinos das Escrituras. As teses foram copiadas e distribuídas por
toda a Alemanha, vindo a chegar em Roma. Lutero foi forçado a se retratar, o que se
negou a fazer. Protegido por políticos alemães, Lutero levou adiante as suas idéias
através da publicação de panfletos e traduziu o Novo Testamento para o alemão,
colocando-o nas mãos do povo, para que ele mesmo conferisse as verdades que
pregava. Questionou o poder absoluto do papa e da hierarquia católica, colocando a
bíblia como a autoridade final em termos doutrinários. Questionou também sistema
sacramental de Roma, reduzindo-os em dois, o batismo e a ceia do Senhor. Sua
doutrina da justificação pela fé, à luz de sua própria experiência ao estudar Romanos
1:17, foi um dos fundamentos de sua teologia. Questionou também o sacerdócio
restrito ao clero, defendendo o sacerdócio de todos os crentes como resultado da fé
pessoal em Cristo.
133
Coube, porém, a Felipe Mellanchton, um professor de grego, grande conhecedor
das línguas clássicas e do hebraico, atuar como sistematizador da teologia luterana,
organizando as idéias de Lutero e dando forma à Igreja luterana.
134
Com o apoio de
Lutero, Mellanchton elaborou a Confissão de Augsburg, apresentando-a à Dieta,
documento que veio a se transformar em credo oficial da Igreja Luterana.
135
Mesmo sem a pretensão de iniciar uma nova igreja, Lutero acabou rompendo
com a Igreja Católica Romana, dando início a uma série de outras rupturas e o
surgimento de novas comunidades, que posteriormente vieram a ser conhecidas como
protestantes.
133
CAIRNS, 1992, p. 232-242.
134
CARINS, 1992, p. 238.
135
CAIRNS, 1992, p. 240.
57
2.2.4.2 Reforma Reformada
Na Suíça, Huldreich Zwínglio(1484-1531), deu início à uma reforma, que veio a
ser conhecida como reforma reformada, com bases e em período semelhantes aos de
Lutero na Alemanha, com algumas diferenças, que foram suficientes para que
houvesse rompimento entre os dois reformadores.
136
Zwínglio acreditava e ensinava que a Bíblia é a única autoridade em termos de
definições doutrinárias, de que a salvação acontece unicamente pela fé, Cristo é
supremo na Igreja, os sacerdotes têm direito ao casamento. Por outro lado, acreditava
que a Ceia era um memorial da morte de Cristo e que as comunidades cristãs devem
ter autonomia, através de um governo eleito que desenvolve suas ões com base na
autoridade da Bíblia.
137
João Calvino (1509-1564) nasceu, estudou e se converteu na França, migrando
depois para Basiléia e depois Genebra, na Suíça, onde se tornou um ícone da Reforma
reformada. Calvino
acentuava a totalidade da depravação humana, entendendo que o homem
herdou a culpa do pecado de Adão e nada pode fazer por sua salvação, uma
vez que a sua vontade está totalmente corrompida. Calvino ensinava que a
salvação é um assunto de eleição incondicional e independente do mérito
humano ou da presciência de Deus; a eleição é fundamentada na soberania da
vontade de Deus, havendo uma predestinação dupla, para a salvação e para a
perdição.
138
Zwinglianos e calvinistas conjugaram seus esforços nas Igrejas Reformadas da
Suíça, através do acordo de Zurique, em 1549.
139
Daí é tecida a reforma reformada,
uma das mais importantes fontes de novas comunidades, que se espalharam pela
Europa e pelo resto do mundo, muito influente no Cristianismo contemporâneo.
2.2.4.3 Reforma Radical
O movimento anabatista, também conhecido como reforma radical, teve início no
norte da Suíça, ligado ao movimento zwingliano. A partir daí chegou à Moravia,
136
CAIRNS, 1992, p. 238.
137
CAIRNS, 1992, p. 245.
138
CAIRNS, 1992, p. 253.
139
CAIRNS, 1992, p. 246.
58
Holanda, e outras regiões, sendo os ancestrais espirituais diretos das Igrejas Menonitas
e Batistas.
140
. Por seu radicalismo, conceito de Igreja, que deveria ser separada do
estado e formada por pessoas convertidas e pela prática do batismo de adultos, foram
duramente perseguidos, tanto na Suíça como na Alemanha e em várias outras partes
da Europa.
141
Muito embora seja difícil identificar uma unidade doutrinária, pois foram
vários grupos dentro do movimento, os anabatistas
insistiam na autoridade da blia como regra final e infalível de e prática;
muitos lhe davam uma interpretação literal. Criam que a verdadeira igreja era
uma associação dos regenerados e não uma igreja oficial de que participavam
até não-salvos. Praticavam o batismo de crentes, de início por afusão ou
aspersão e, depois, por imersão. Por sua oposição ao batismo infantil, tido
como anti-bíblico, e por sua insistência no rebatismo receberam o nome de
anabatistas. A maioria acentuava a completa separação entre Igreja e Estado e
não mantinha vínculos com as igrejas estatais [...] O seu conceito de igrejas
livres influenciou os Puritanos Separatistas, Batistas e Quacres.
142
É inegável que a reforma radical um passo a mais na reforma religiosa,
quando restringe a membresia da Igreja a pessoas que, conscientemente, professam
sua fé em Jesus Cristo e separa a Igreja do Estado. Estes dois fatores certamente iriam
radicalizar a idéia da liberdade religiosa de cada indivíduo e desencadear o surgimento
de novas comunidades independentes, sem estarem atreladas às Igrejas que
mantinham sua ligação com os estados. Não é de se estranhar a grande oposição que
este movimento sofreu, tanto da parte de Católicos Romanos como de Protestantes
Luteranos e Calvinistas.
143
Falando sobre estas particularidades e suas conseqüências, na anabatista,
Justo L. Gonzalez afirma:
Muitos anabatistas eram igualitários, Muitos se tratavam entre si de “irmãos”, Na
maioria dos seus grupos as mulheres tinham tanto direito como os homens. E
pelo menos na teoria, os pobres e os ignorantes eram tão importantes como os
ricos e os sábios. Tudo isso causava um efeito altamente subversivo para a
Europa do século XVI e, portanto, logo começaram as perseguições aos
anabatistas [...] o número de mártires foi enorme, provavelmente maior do que
todos os que morreram durante os três primeiros séculos da história da Igreja
140
CAIRNS, 1992, p. 248.
141
CAIRNS, 1992, p. 248
142
CAIRNS, 1992, p. 250.
143
CAIRNS, 1992, p. 248–250.
59
[...] com cruel ironia, em alguns lugares se condenavam os anabatistas a
morrerem afogados. Outras vezes eram queimados vivos, segundo o costume
estabelecido séculos antes. Porém não faltaram casos nos quais eles foram
mortos em mio a torturas incríveis, como a de serem esquartejados ainda vivos.
[...] e o notável é que, quanto mais se lhes perseguiam, mais crescia o
movimento.
144
2.2.4.4 Reforma Anglicana
O quarto suporte da grande reforma religiosa cristã do século XVI foi a Reforma
Anglicana, ocorrida na Inglaterra e demais países anglo-saxões. Muito embora tenha
nascido mais por motivos políticos, a reforma anglicana passou para o campo
eclesiástico e alcançou dimensões significativas na mudança do quadro religioso cristão
no final da idade média. As idéias reformistas estavam presentes por toda a Europa.
Estudiosos como William Tyndale e Miles Coverdale, que tinham traduzido a Bíblia para
o Inglês, também queriam reformar a Igreja. Os escritos de Lutero circulavam pela
Inglaterra, mesmo com a ressalva das autoridades. O nacionalismo que se instalara na
Europa constituía-se numa motivação sempre presente para que as nações se
libertassem das exigências de Roma.
145
Por interesses políticos e sentimentais, Henrique VIII conduziu a Inglaterra ao
rompimento com Roma, tornando a Igreja Cristã da Inglaterra uma Igreja independente
de Roma, muito embora se mantivesse Católica em seu conteúdo doutrinário. Seu filho
Eduardo VI, assessorado por teólogos, empreendeu várias mudanças, inclusive a
adoção do Livro de Oração Comum nas celebrações, o que foi tornando a Igreja
Anglicana com características próprias. Elizabeth assumiu o poder e consolidou a
reforma anglicana na Inglaterra.
146
A Igreja Anglicana inglesa teve ainda de enfrentar a fúria dos puritanos, que
queriam tornar a Inglaterra Presbiteriana ou Congregacional. Do movimento puritano,
que em princípio queria purificar a Igreja Anglicana, surgiram outros grupos, de
144
GONZALEZ, 1986, p. 100-101, v. 6.
145
CAIRNS, 1992, p. 267.
146
CAIRNS, 1992, p. 269-270.
60
cunho separatista, dentre os quais surgiram os Congregacionais e os Batistas. Estes
grupos praticavam o batismo de adultos e se dividiam entre calvinistas e arminianos.
147
Deste ponto em diante, será constatada uma verdadeira multiplicação de
Comunidades Cristãs Independentes, ocasionando um verdadeiro pluralismo cristão,
com o nascimento de muitas novas igrejas. Muito embora isso não signifique,
necessariamente, expansão do reino de Deus, não se pode negar que a quebra da
hegemonia católica, radicalizada pelos anabatistas e pelos separatistas anglicanos,
contribuiu de alguma forma para que a mensagem do Evangelho de Jesus Cristo
alcançasse regiões longínquas, muito embora ocasionasse também uma verdadeira
fragmentação do Cristianismo.
Brunner descreve com precisão a evolução da reforma:
A Reforma aconteceu, primeiro a de Lutero, a seguir de Calvino a qual em
fundamentos tinha começado com Zuínglio ao mesmo tempo que o movimento
de Lutero – e a partir destas duas correntes, surgiram diferentes tipos de igrejas
que daí em diante pregam o Evangelho cristão de forma poderosa e criativa, e
molda a vida de seus membros de acordo com seu entendimento de Cristo [...]
surgiu a diversidade de igrejas pós-reforma e daquelas estruturas que são
chamadas de seita pela igreja, mas que consideram-se como congregações ou
comunidades.
148
Entretanto, segundo Bosch,
seria um equívoco afirmar que a Reforma rompeu com o paradigma católico
medieval em todos os aspectos. Alguns elementos do protestantismo, mesmo
que renovados, representaram, em verdade, uma continuação daquilo que
caracterizava o modelo católico. Primeiro, o protestantismo, como o catolicismo
(se não mais), insistia na correta formulação doutrinária. Tornou-se importante,
sobretudo para as gerações subseqüentes, manter os credos da Reforma
absolutamente inalterados e inalteráveis, atribuindo-lhes uma validade
extensiva a todos os tempos e contextos e usando-os tanto para excluir certos
grupos quanto para incluir aqueles considerados ortodoxos na fé, enquanto se
descartava a possibilidade de qualquer desdobramento doutrinário futuro. Em
segundo lugar, a Reforma, excetuada sua manifestação anabatista,
efetivamente não abandonou a compreensão medieval da relação entre igreja e
Estado.
149
147
CAIRNS, 1992, p. 273.
148
BRUNNER, 2000, p.103.
149
BOSCH, 2007, p. 294.
61
O teólogo brasileiro, Rubem Alves, afirma que
existe uma imensa afinidade entre o espírito deste Protestantismo
150
e o espírito
do Catolicismo Medieval. Tanto um quanto o outro lutam com um mesmo
problema. Protestantes e católicos constroem os seus mundos a partir de uma
mesma pergunta: ‘Que devo fazer para ser salvo? Não vejo formas de evitar a
contundente conclusão de Ernest Troeltsch: ‘O protestantismo... foi, antes de
mais nada, uma simples modificação do Catolicismo, na qual a formulação
católica dos problemas foi mantida, enquanto que uma resposta diferente lhes
era oferecida’.
151
Por sua vez, Bosch enumera cinco traços da Reforma Protestante que
representa uma grande contribuição para a compreensão de missão: Justificação pela
é o ponto de partida para a teologia; as pessoas tem que ser avaliadas
primordialmente a partir da Queda, como perdidas e incapazes de fazer qualquer coisa
para sarar essa situação; ênfase à dimensão subjetiva da salvação; sacerdócio de
todas as pessoas crentes em Jesus Cristo; centralidade das Escrituras na vida
eclesiástica.
152
Falando sobre a reforma do Século XVI, Gonzalez afirma que em pouco menos
de um século, o edifício da cristandade medieval começou a desmoronar. O velho ideal
de uma igreja com o papa como cabeça, que nunca tinha sido aceito no Oriente,
perdeu também sua vigência no Ocidente. A partir daí, o Cristianismo Ocidental viu-se
dividido em várias tradições que, apesar de posteriormente se aproximarem entre si,
refletiam enormes diferenças.
153
Pode-se dizer que nem a Igreja Católica foi a mesma a partir destas mudanças.
Empreendendo uma Contra-Reforma, que “provocou uma renovação interna e a
reforma da igreja, além de uma reação externa em oposição ao protestantismo [...] O
catolicismo da Contra-Reforma foi levado por missionários ao Quebec, à América Latina
e ao sudeste da Ásia”.
154
150
O autor analisa um tipo específico de Protestantismo, ao qual denomina Protestantismo da Reta
Doutrina (PRD)
151
ALVES, Rubem Azevedo. Protestantismo e repressão. São Paulo: Ática, 1979. p. 268.
152
BOSCH, 2007, p. 295-296
153
GONZALEZ, 1986, p. 216. v. 6.
154
CAIRNS, 1992, p. 280.
62
2.3 O Cristianismo no Brasil
2.3.1 O Catolicismo Romano
É inegável que o movimento da reforma religiosa do Século XVI despertou o
gigante adormecido, chamado Igreja Católica, que passou a se mobilizar, não no
que se refere à auto-defesa, como também na repressão ao protestantismo e na
expansão missionária, em busca de novas terras a serem conquistadas. Aliás, como
afirma Cairns:
As missões no século XVI foram quase que exclusivamente obra da Igreja
Católica Romana. Poderíamos dizer que os protestantes estavam
demasiadamente ocupados com sua própria sobrevivência, para pensarem
muito em missões [...] os missionários católicos alcançaram o mundo todo,
especialmente, mas não exclusivamente, as Américas.
155
Sabemos que os interesses nas novas conquistas não tinham como prioridade a
expansão do reino de Deus e sim os reinos de Portugal e Espanha. Como afirma
Zwetsch : “Os europeus que aqui chegaram logo tornaram-se conhecidos por suas
verdadeiras intenções : conquistar terras, gentes, mas, sobretudo riquezas”.
156
E um
altíssimo preço foi pago para possibilitar estas conquistas. Como exemplo, o Dr.
Zwetsch menciona o extermínio das populações indígenas. Segundo ele, “dos 5
milhões que se estima seria a população indígena nos inícios do séc. XVI, chegou-se
em meados do séc. XX a 155 mil pessoas. Um verdadeiro genocídio.[...] Hoje a
população indígena está em torno de 300 mil pessoas, correspondendo a 170
etnias.”
157
Os missionários portugueses vinham a reboque dos colonizadores, muitas vezes
defendendo interesses contraditórios. Também não é possível dizer que os primeiros
missionários católicos vieram para o Brasil a fim de expandir o reino de Deus e sim
implantar o Catolicismo Romano em terras brasileiras, independente do custo que isso
representasse. Na compreensão de Dreher:
155
CAIRNS, 1992, p. 292.
156
ZWETSCH, 2005, p. 204.
157
ZWETSCH, 2005, p. 205.
63
A aceitação do cristianismo era garantia de sobrevivência. [...] Favorecido pelo
clima de medo e terror, formou-se um “catolicismo ostensivo”, no qual se
cuidava em usar determinadas fórmulas. A ortodoxia devia ser comprovada. A
forma era importante. O conteúdo, porém, não podia ser controlado nem
julgado. Surgiu, dessa maneira, um sincretismo singular. Judeus, negros e
indígenas aprenderam a encenar religião. [...] O catolicismo se impôs,
especialmente onde a vida pública o exigia.
158
Nestes primeiros quatro séculos de colonização do solo brasileiro o Catolicismo
Romano reinou soberano, com algumas incursões protestantes sem repercussão. Sua
preocupação maior era de cristianizar o povo brasileiro, nem que para isso fosse
necessário violentar a cultura dos indígenas que eram os verdadeiros donos destas
terras, ou dos negros escravos, que passaram a ser trazidos da África para atender a
demanda de mão de obra nas lavouras de café e cana de açúcar.
Sem condições de dar uma assistência adequada, o que surgiu foi o que se
convencionou chamar de catolicismo popular.
A falta crônica de sacerdotes, acrescida da concentração dos mesmos nas
cidades e vilas, nas missões indígenas ou nas capelas dos latifúndios, propiciou
a reunião dos leigos em irmandades, nas quais surgiu um cristianismo devocional
que o carecia de sacerdote. Nessas irmandades adquiriam-se prestígio e
reconhecimento; auxilio em tempo de dor, sepultamento. Construídas segundo
critérios étnicos e sociais, os pontos altos dessas irmandades eram as festas e
procissões, nas quais resplandeciam os adornos feitos de tecido e metais
preciosos. A estes festejos foram acrescidas tradições indígenas e africanas. Era
um cristianismo devocional. Cruzes, oratórios, ermidas, igrejinhas, peregrinações,
irmandades, festas, procissões, quase nada de padres, perfaziam esse
cristianismo.
159
O Catolicismo reinou soberano em terras brasileiras, por três séculos e meio,
sem ser importunado pelos protestantes. Neste período, sempre atrelado ao Estado, a
Igreja Católica deteve absoluta hegemonia sobre o povo, no que tange a questões
religiosas.
158
DREHER, Martin N. A Igreja Latino-Americana no contexto mundial. São Leopoldo: Sinodal, 2007,
p. 29, (Coleção história da igreja, v. 4)
85
DREHER, 2007, p. 30.
64
2.3.2 Os Protestantismos Brasileiros
Segundo Mendonça, desde que o Brasil passou a ser colonizado pelos
portugueses, houve duas tentativas de implantação do protestantismo no Brasil, porém
sem sucesso. O primeiro foi com a chegada da expedição de Villegaignon, em 1555,
proveniente da França, que tentava construir um refúgio onde os huguenotes pudessem
praticar livremente o culto reformado. Cinco anos depois, Villegaignon tinha sido
expulso do país e a colônia destruída. A outra tentativa aconteceu entre 1630 a 1645,
ocasião em que holandeses reformados ocuparam parte do Nordeste brasileiro. Na
primeira década do Século XVII, os franceses tentaram ocupar um espaço no Brasil,
desta vez no Maranhão. Muito embora a expedição não fosse religiosa, havia entre os
expedicionários, bom contingente de huguenotes. Não há notícias de qualquer atividade
religiosa pública deste grupo.
160
Existe uma grande dificuldade para falar de protestantismo, no singular. Se
nosso objeto de pesquisa é o pluralismo cristão, é necessário que se diga, entretanto,
que também um pluralismo protestante. Como Rubens Alves expressou com muita
propriedade : “A história coloca à nossa frente uma pluralidade de Protestantismos. E
não vejo uma forma de reduzi-los a um denominador comum”.
161
Para organizar as várias expressões de protestantismo no Brasil, será utilizado
apenas o critério da chegada, ou seja, por ordem cronológica como o protestantismo foi
sendo implantado no Brasil.
2.3.2.1 Protestantismo de Imigração
Em meados do Século XIX, começam a ser efetivados os primeiros grupos
protestantes, com a organização de pequenas comunidades com o propósito de
atender os imigrantes que traziam consigo sua religiosidade. Luteranos no Sul do
Brasil, Anglicanos, Metodistas, Presbiterianos e Batistas em Santa Bárbara do Oeste,
160
MENDONÇA, Antonio Gouvêa. O celeste porvir: Inserção do protestantismo no Brasil. São Paulo:
Associação Evangélica e Literária Pendão Real, ASTE, Instituto Ecumênico de Pós-Graduação em
Teologia e Ciências da Religião. 1995. p. 23-24.
161
ALVES, 1979, p. 27.
65
no Estado de São Paulo. Começa a mudar o quadro religioso no Brasil. Agora estes
imigrantes precisam ser assistidos religiosamente e começa a organização das igrejas
protestantes, entre eles.
162
Segundo Émile G. Leonard, que ainda consegue usar o termo Protestantismo
Brasileiro no singular,
o dia 11 de junho de 1858 é considerado a data da fundação da Igreja
Evangélica, chamada mais tarde Fluminense, primeira comunidade protestante
do Brasil, que possuía então catorze membros : o Dr. Kalley e sua esposa, três
norte-americanos, oito portugueses e um brasileiro, Pedro Nolasco de
Andrade.
163
Outras Igrejas já haviam sido organizadas, porém não persistiram em suas
atividades, vindo a ser extinguidas. Martin N. Dreher faz uma observação muito
interessante sobre o impacto causado na sociedade brasileira, com a chegada dos
protestantes:
Com a vinda do imigrante, foi importante a discussão dos direitos de cidadania.
Com essa discussão, porém, fez-se necessário discutir o lugar da Igreja
Católica e de outros grupos cristãos na sociedade brasileira. Nesta mesma
época, discutiram-se liberdade para os escravos, registro civil de nascimento,
casamento civil e equiparação de cultos. Estavam em discussão as liberdades.
[...] Os imigrantes alteraram profundamente o rosto da religião do Brasil. O
Século XIX traz, pela primeira vez, permanentemente, luteranos, anglicanos,
batistas, presbiterianos.
164
Note-se que a hegemonia da Igreja Católica nos três séculos e meio, desde a
colonização do Brasil, inibiu discussões extremamente relevantes para a vida em
sociedade, o que veio a ser resgatado com a chegada de “outras” comunidades cristãs.
2.3.2.2 Protestantismo de Missão
Roberto E. Zwetsch classifica o século XIX como o grande século da missão
Cristã,
caracterizado por um intenso movimento de renovação espiritual. Grupos,
associações e sociedades missionárias da Europa e América do Norte iriam se
encarregar de expandir a evangélica em diversas partes do mundo ainda não
162
MENDONÇA, 1995, p. 30.
163
LÉONARD, Émile G. O protestantismo brasileiro. Tradução de Linneu de Camargo Schützer. 3. ed.
São Paulo : ASTE, 2002. p. 57.
164
DREHER, 2007, p. 214.
66
atingido pelo cristianismo [...] o movimento missionário mundial ganhou novo
vigor, novas igrejas cristãs foram implantadas nos diferentes continentes. [...]
Com o tempo, porém um novo espírito foi se formando nos campos de missão.
As igrejas jovens passaram a reivindicar autonomia em três áreas: auto-
governo, auto-propagação e auto-sustentação. É a “tríplice autonomia” que deu
margem a um segundo momento nesse novo movimento missionário.
165
Neste embalo missionário, o Brasil passa a ser alvo de missões estrangeiras,
sobretudo dos Estados Unidos da América, que “chegaram ao final do século como
potência mundial emergente. A ideologia do ‘Destino Manifesto’ confirmava a histórica
vocação puritana, segundo a qual os Estados Unidos seriam uma nação eleita por Deus
para a civilização do mundo”
166
. Por ideologia ou por vocação, o fato é que a obra
protestante no Brasil tem grande impulso com a chegada desses missionários
estrangeiros, que são enviados ao país a fim de não dar assistência aos imigrantes
que aqui vivem, mas plantar novas igrejas e alcançar a população brasileira com a
mensagem do Evangelho.
Em 1835 começam a chegar ao Brasil missionários Metodistas, Presbiterianos,
Batistas, Congregacionais e outros que se estabelecem no país, com muitas
dificuldades com a língua, com a cultura brasileira e sofrendo grande oposição do
Catolicismo, aqui estabelecido quase 4 séculos, com hegemonia absoluta. Depois
de algumas tentativas, o trabalho foi se consolidando. Oficialmente, entretanto, havia
abertura para a chegada e a implantação do protestantismo no país.
167
Mendonça afirma que os protestantes foram aproveitando as oportunidades que
o clima de tolerância oferecia e, no final do século XIX, já estavam praticamente
implantadas no Brasil todas as denominações clássicas do protestantismo”.
168
Cada
denominação implantando o seu sistema, com eclesiologias e corpo doutrinários
distintos, mas todos debaixo do manto do protestantismo. Também no protestantismo
de missão, uma das marcas mais evidentes é a fragmentação.
Como aconteceu com a Igreja Católica, por ocasião da colonização do solo
brasileiro, questiona-se se estas missões estrangeiras tinham motivação meramente
espiritual, de expansão do reino de Deus ou se havia também interesses imperialistas
165
ZWETSCH, 2005, p. 207.
166
ZWETSCH, 2005, p. 208.
167
MENDONÇA, 1995, p. 28-29.
168
MENDONÇA, 1995, p. 27.
67
movendo as empresas missionárias. Este é um assunto que tem ocupado espaço nas
discussões entre teólogos e historiadores e deve continuar rendendo artigos e livros a
fim de que seja devidamente esclarecido. Entretanto, independente do que motivou a
chegada das missões estrangeiras, o fato é que o protestantismo veio pra ficar,
trazendo uma bagagem que compartilha com o povo brasileiro.
2.3.3 O Movimento Pentecostal
No início do século XX o protestantismo brasileiro também foi impactado por um
movimento que se verificou em praticamente todo o mundo. Segundo Aldari Souza de
Matos, um historiador presbiteriano brasileiro,
o moderno movimento pentecostal é considerado por muitos estudiosos o
fenômeno mais revolucionário da história do cristianismo no século 20, e talvez
um dos mais marcantes de toda a história da igreja. Em relativamente poucas
décadas, as igrejas pentecostais reuniram uma imensa quantidade de pessoas
em praticamente todos os continentes, totalizando hoje, segundo cálculos de
especialistas, cerca de meio bilhão de adeptos ao redor do mundo. Mais do que
isso, o pentecostalismo acarretou mudanças profundas no panorama cristão,
rompendo com uma série de padrões que caracterizavam as igrejas
protestantes alguns séculos e propondo reinterpretações muitas vezes
bastante radicais da teologia, do culto e da experiência religiosa.
169
Com todo este potencial de multiplicação, o pentecostalismo tem sido um
fenômeno devastador para a unidade da igreja cristã, comprometida pelos cismas e
divisões sofridas durante os séculos anteriores, especialmente com o surgimento do
denominacionalismo, depois da reforma religiosa do século XVI. O pentecostalismo, por
sua vez, tem sido uma fonte inesgotável de novas comunidades.
2.3.3.1 Os antecessores
O movimento pentecostal é fruto de uma série de acontecimentos que marcaram
a Europa e a América do Norte, especialmente no século XVIII.
169
MATOS, Aldari Souza de. O movimento pentecostal: reflexões a propósito do seu primeiro
centenário. Fides Reformata, São Paulo, Ano 11, n. 2, p. 24, 2006.
68
Assim como ocorre em outras religiões, o Cristianismo tem, ao longo da sua
história, testemunhado muitas vezes em suas fileiras a ocorrência de manifestações de
entusiasmo religioso, em especial os movimentos chamados carismáticos,
170
com forte
ênfase na utilização dos dons espirituais nas celebrações.
Começando pela igreja de Corinto, ocorrido nos dias apostólicos, passando por
movimentos como os montanistas, surgido na Frígia, Ásia Menor, na parte posterior do
século (década de 170) cujo fundador, Montano, s e dizia porta-voz do Espírito Santo,
vários outros movimentos foram aparecendo no decorrer da história, sempre com a
reprovação e a condenação da Igreja Cristã Oficial. Como exemplos destes grupos
podem ser mencionados os cátaros, os begardos e beguinas, e o apocalipticismo de
Joaquim de Fiore, no século 12.
171
No século 16, os reformadores protestantes se defrontaram repetidamente com
pessoas e grupos, que apelavam para revelações diretas de Deus e tendiam a
relativizar a importância das Escrituras. Esses indivíduos receberam rótulos como
“entusiastas”, “libertinos”, “fanáticos” e “espiritualistas”, sendo objeto de alguns dos
escritos mais contundentes de Lutero, Calvino e outros líderes.
172
O fato é que o protestantismo, devido à sua insistência em direitos como o livre
exame das Escrituras, o sacerdócio de todos os cristãos e a liberdade de expressão e
associação, sem querer abriu um espaço para o surgimento dessas manifestações,
como os quacres ingleses (século 17), com sua ênfase na “luz interior”, os avivamentos
dos séculos 18 e 19, tanto na Europa quanto na América do Norte, e o ministério de
Edward Irving (século 19), um pastor presbiteriano escocês que trabalhou em Londres e
é considerado o precursor do moderno movimento carismático.
Apesar dos seus
problemas, esses movimentos com freqüência revelavam insatisfações legítimas com a
igreja oficial e o desejo de uma espiritualidade mais profunda.
173
Segundo Matos,
o movimento pentecostal surgiu no ambiente religioso altamente dinâmico e
volátil dos Estados Unidos no século 19. O cenário religioso das colônias
inglesas da América do Norte havia sido relativamente estável até meados do
século 18. Todavia, com o passar do tempo as influências do pietismo alemão,
170
MATOS, 2006, p. 27.
171
MATOS, 2006, p. 27.
172
MATOS, 2006, p. 27.
173
MATOS, 2006, p. 27.
69
do puritanismo e do movimento metodista se somaram para produzir mudanças.
Nas décadas de 1730 e 1740, a ocorrência do Primeiro Grande Despertamento
trouxe revitalização às igrejas protestantes, mas, ao mesmo tempo, produziu
um tipo diferente de cristianismo, mais emocional, mais independente das
antigas estruturas e tradições, mais desejoso de novas formas de experimentar
o sagrado.
174
Como se pode ver, as raízes do pentecostalismo estão bem fincadas no Primeiro
Grande Despertamento americano, vindo a se intensificar com o passar do tempo.
Essas ênfases se intensificaram em muito com o surgimento do Segundo
Grande Despertamento, ocorrido na região da fronteira oeste durante as
primeiras cadas do século 19. Sob a influência de pregadores como Charles
G. Finney (1792-1875), houve um progressivo questionamento da teologia
reformada tradicional, com seu enfoque na soberania de Deus, e uma ênfase
crescente na liberdade, iniciativa, capacidade de decisão e experiência pessoal,
em sintonia com a nova cultura americana que então se consolidava. [...]
Apesar da possibilidade de influências como o puritanismo e o pietismo, a
maioria dos autores considera que a origem básica do movimento pentecostal
se encontra no metodismo wesleyano, e especificamente na doutrina mais
característica de João Wesley: a ‘inteira santificação’ ou ‘perfeição cristã’, um
conceito que ele também descrevia em termos de ‘a mente de Cristo’, ‘plena
devoção a Deus’ ou ‘amor a Deus e ao próximo’.
175
E foi um pregador metodista, influenciado pelo movimento de santidade, Charles
Fox Parham (1873-1929), quem criou um instituto bíblico na cidade de Topeka, Estado
do Kansas, em 1900, onde ensinaria que a glossolalia falar em línguas
desconhecidas ou estrangeiras – devia acompanhar esse batismo no Espírito Santo tão
popular nos círculos holiness. Foi o primeiro teólogo a considerar o “falar em línguas”
como a evidência inicial do batismo no Espírito Santo. Foi essa característica que se
tornou a marca distintiva do movimento pentecostal.
176
Ao adentrar num novo século, o pentecostalismo nascente se espalhou pelo
mundo a fora e acabou alcançando o Brasil, que contava com a presença dos
protestantes de imigração e de missão, provenientes da Europa e dos Estados Unidos.
174
MATOS, 2006, p. 28.
175
MATOS, p. 29.
176
MATOS, p. 30.
70
2.3.3.2 O Avivamento da Rua Azusa
Tem sido apontado como um marco no surgimento do movimento pentecostal o
fenômeno denominado de o avivamento da Rua Azuza. Matos descreve com detalhes o
que aconteceu:
Em 1905, Charles Parham mudou-se para o Texas e iniciou uma escola bíblica
em Houston. Um dos estudantes atraídos por essa escola foi um exgarçom
negro e pregador holiness, William Joseph Seymour (1870-1922). Era o período
da discriminação racial no sul dos Estados Unidos e Parham era simpatizante
desse sistema. Seymour assistia às aulas sentado em uma cadeira no corredor
ao lado da sala. Algumas semanas mais tarde, ele recebeu o convite para
visitar um pequeno grupo batista em Los Angeles. Esse grupo de
afroamericanos, pastoreado por uma mulher, Julia Hutchins, havia sido expulso
de sua igreja por esposar doutrinas holiness. Seymour, então com trinta e cinco
anos, era filho de escravos, tinha pouca cultura, limitados dotes de oratória e
era cego de um olho. Escolheu o texto de Atos 2.4 para o seu primeiro sermão
em Los Angeles, embora ele mesmo nunca tivesse falado em línguas. A
pastora não gostou do seu ensino, mas ele, acompanhado por boa parte do
grupo, passou a fazer as reuniões na casa onde estava hospedado. Quando
esta se tornou pequena, foram para outra um pouco maior, na Rua Bonnie
Brae, onde o avivamento começou no dia 9 de abril de 1906.
177
Desde os seus primórdios, o movimento pentecostal demonstra sua
despreocupação com as estruturas estabelecidas e opta por uma ruptura consciente da
tradição crisem termos de liturgia e teologia. Matos continua descrevendo as origens
do movimento pentecostal.
Com o passar dos dias, várias pessoas começaram a falar em línguas, primeiro
negros, depois brancos, e finalmente o próprio Seymour teve essa tão sonhada
experiência (12 de abril). Nesse mesmo dia, a varanda da frente dessa
residência desabou devido ao peso da multidão. Com isso, os deres alugaram
um rústico edifício de madeira na Rua Azuza, perto do centro de Los
Angeles.[...] As reuniões eram eletrizantes e barulhentas. Começavam às 10
horas da manhã e prosseguiam por pelo menos doze horas, muitas vezes
terminando às 2 ou 3 da madrugada seguinte. Não havia hinários, liturgia ou
ordem de culto. Os homens gritavam e saltavam através do salão; as mulheres
dançavam e cantavam. Algumas pessoas entravam em transe e caiam
prostradas. Até setembro, 13.000 pessoas passaram pelo local e ouviram a
nova mensagem pentecostal. Um bom número de pastores respeitáveis foi
investigar o que estava ocorrendo e muitos deles acabaram se rendendo ao
que presenciaram.
178
.
177
MATOS, 2006, p. 32.
178
MATOS, 2006, p. 32.
71
O que aconteceu na Rua Azuza foi um foco que se espalhou pelo mundo afora,
dando origem ao que conhecemos hoje de pentecostalismo. Nos Estados Unidos, as
primeiras denominações pentecostais foram, entre outras: a Igreja de Deus de Camp
Creek (Carolina do Norte), a Igreja de Deus de Cleveland (Tennessee), a Igreja da
Apostólica (Portland, Oregon) e as Assembléias de Deus (Hot Springs, Arkansas). Um
líder extremamente importante foi William H. Durham, de Chicago, cidade que teve
grande influência na internacionalização do movimento.
179
Pode-se dizer que o movimento pentecostal tem dois fundadores: Charles
Parham e William Seymour. Parham foi o primeiro a fazer a afirmação fundamental de
que o falar em línguas era a evidência visível e bíblica do batismo com o Espírito Santo.
A importância de Seymour, o discípulo de Parham, reside no fato de que sob sua
liderança, através do Avivamento da Rua Azusa, o pentecostalismo se tornou um
fenômeno internacional e mundial a partir de 1906.
180
É relevante afirmar, por causa da natureza deste trabalho que, desde o seu
início, o movimento pentecostal foi muito diversificado, apresentando uma grande
variedade de manifestações e ênfases. Isso não é de admirar, visto que o
pentecostalismo por sua própria natureza podia, a partir das premissas básicas,
assumir um grande número de configurações, motivadas principalmente pelos muitos
líderes independentes que iam surgindo. Portanto, quase desde o início uma série de
controvérsias abalou o movimento.
181
2.3.3.3 O Pentecostalismo no Brasil
Até aqui o que se vê, em grande medida, é uma reprodução dos modelos
protestantes da Europa e Estados Unidos, ainda provenientes da reforma religiosa do
Século XVI, com contornos adquiridos no decorrer da história. Agora, porém, chega
algo realmente novo, que vai revolucionar o cenário religioso no Brasil.
Originários de movimentos de santidade que irromperam nos Estados Unidos no
final do Século XIX, os pentecostais chegaram ao Brasil no início do Século passado.
179
MATOS, 2006, p. 33.
180
MATOS, p. 33.
181
MATOS, 2006, p. 34.
72
Em São Paulo, 1910, estabelece-se a Congregação Cristã do Brasil e em 1911, em
Belém do Pará, estabelece-se a Assembléia de Deus, introduzindo no Brasil um novo
tipo de igreja e de experiência religiosa
182
.
Passados cem anos do início do pentecostalismo no Brasil, Bobsin afirma que o
movimento “hoje compreende aproximadamente 10% da população brasileira, estando
subdividido em muitas tendências e igrejas que competem entre si. O processo
sucessivo de rupturas constantes também favorece o crescimento desse fenômeno
religioso.”
183
Com dificuldades para sistematizar o movimento, como a grande maioria
dos estudiosos do assunto, uma vez que apresenta grande diversidade interna, Bobsin
enumera algumas de suas características básicas :
Forte tradição oral, com destaque para a experiência religiosa emocional em
detrimento da racionalidade ocidental; desenvolvimento em contextos urbanos,
alcançando camadas pobres da população; espontaneidade litúrgica,
enfatizando o canto e a música, com ritmos populares; nas primeiras gerações,
forte socialização dos meios de produção simbólicos; ênfase no Batismo do
Espírito Santo, que distribui dons, destacando-se a glossolália e a cura como
selos de sua presença; desempenho de funções terapêuticas; ênfase na
segunda vinda de Cristo e um suposto desinteresse pela política, embora
apoiando quase sempre os setores políticos conservadores, principalmente
suas grandes lideranças que divergem sempre mais de posturas da base;
bastante hierárquico no plano institucional, compensando este verticalismo com
uma ‘democracia’ dos dons no plano espiritual; marcadamente anti-ecumênico,
desferindo ataques contra o catolicismo santorial e o papa, além da
concorrência entre iguais – concorrência intrapentecostal.
184
Chegando depois que todas as igrejas cristãs históricas haviam se
estabelecido no Brasil, o pentecostalismo se expandiu de maneira extraordinária e
impressionante, em um século de história. Em função disso e tendo em vista a grande
diversidade no movimento, torna-se difícil estabelecer qualquer tipologia para
sistematizar a sua expansão. Como afirma Siepiesrki, a irrupção dessa pluralidade de
pentecostalismos tornou as tipologias existentes inadequadas. No presente, falta uma
182
CESAR, Waldo; SHAULL, Richard. Pentecostalismo e futuro das igrejas cristãs: promessas e
desafios. Petrópolis, RJ: Vozes, São Leopoldo: Sinodal, 1999. p. 19.
183
BOBSIN, Oneide. Correntes religiosas e globalização. 2. ed.São Leopoldo - CEBI; Curitibanos :
Pastoral Popular Luterana - PPL; São Leopoldo : Instituto Ecumênico de Pós-Graduação em Teologia –
IEPG. 2006, p. 65.
184
BOBSIN, Oneide. Correntes religiosas e globalização. 2. ed.São Leopoldo - CEBI; Curitibanos :
Pastoral Popular Luterana - PPL; São Leopoldo : Instituto Ecumênico de Pós-Graduação em Teologia –
IEPG. 2006, p. 67.
73
tipologia que permita a distinção, no nimo, dos grupos majoritários e suas
características principais”
185
Ainda assim, para uma sistematização didática, este
trabalho opta pela tipologia do sociólogo Paul Freston, mesclando com outras, também
interessantes, ainda que não totalmente precisas. Freston organiza o pentecostalismo
brasileiro em três ondas.
186
2.3.3.3.1 A Primeira Onda
Segundo Oliveira, “a primeira onda corresponde ao chamado período do
pentecostalismo clássico, de 1910 a 1950, correspondendo também ao momento da
origem e da expansão mundial do movimento pentecostal”.
187
Segundo Siepierski,
o pentecostalismo brasileiro, em suas primeiras décadas, não obstante sua
acentuada expansão geográfica, apresentou uma formidável uniformidade
doutrinária. Nem mesmo a fragmentação institucional ocorrida a partir dos anos
50 conseguiu romper essa uniformidade doutrinária, pois o cerne da mensagem
pentecostal manteve-se intacto, apesar das acomodações ocorridas em termos
de expressão dessa mensagem.
188
Por esta uniformidade, este tipo de pentecostalismo é tido como pentecostalismo
clássico, que se tornou referência para estudos sobre pentecostalismos. Este tipo de
pentecostalismo sintetiza o protestantismo através da cristocentricidade, biblicismo,
união da fé com a ética, acrescentando os elementos típicos do pentecostalismo:
emoção, ritos de possessão, participação coletiva.
189
Duas igrejas se destacaram neste período: A Congregação Cristã do Brasil e a
Igreja Evangélica Assembléia de Deus, as duas primeiras a se estabelecerem no país.
Essas igrejas dominaram amplamente o campo pentecostal durante quarenta anos.
190
185
SIEPIERSKI, Paulo D. Contribuições para uma tipologia do pentecostalismo brasileiro. In:
GUERRIERO, Silas (Org.) O estudo das religiões: desafios contemporâneos. São Paulo: Paulinas,
2003, p. 71. (Coleção estudos da ABHR).
186
MATOS, 2006, p. 38.
187
OLIVEIRA, Estevam Fernandes. Conversão ou adesão: uma reflexão sobre o neopentecostalismo no
Brasil. Rio de Janeiro: Proclama Editora, 2004. p. 28.
188
SIEPIERSKI, 2003, p. 71.
189
SIEPIERSKI, 2003, p. 72.
190
MATOS, 2006, p. 38.
74
2.3.3.3.1.1 Congregação Cristã do Brasil
A Congregação Cristã do Brasil (CCB), primeira igreja pentecostal a nascer no
Brasil, tem raízes no movimento de santidade norte-americano. Segundo Matos,
as duas igrejas pioneiras do pentecostalismo brasileiro tiveram sua origem em
Chicago, através do ministério de William H. Durham (1873-1912), que fundou
em 1907 a Missão da Avenida Norte (North Avenue Mission). Um dos seus
discípulos foi o italiano Luigi Francescon (1866-1964), que havia emigrado para
os Estados Unidos em 1890. Em Chicago, ele se converteu ao evangelho e foi
um dos fundadores da Igreja Presbiteriana Italiana daquela cidade. Em 1903, foi
batizado por imersão e passou a reunir-se com um grupo holiness, até
descobrir a mensagem pentecostal na igreja do pastor Durham. Foi batizado
com o Espírito Santo em 1907 e recebeu uma profecia de Durham para que
levasse a mensagem pentecostal aos seus patrícios. Em 1909 ele e Giacomo
Lombardi foram a Buenos Aires, onde abriram uma igreja. No início do ano
seguinte, Francescon visitou São Paulo e a pequena Santo Antônio da Platina,
no Paraná. Numa segunda visita à capital paulista, em junho de 1910, ele criou
a Congregação Cristã, que resultou em parte de um cisma na Igreja
Presbiteriana do Brás, constituída em boa parte de italianos. O fundador nunca
chegou a residir no Brasil, mas fez onze visitas entre 1910 e 1948, totalizando
uma estada de quase dez anos.
191
Adotando uma postura bastante conservadora, a CCB resiste ao processo de
modernização, negando-se em utilizar os modernos meios de comunicação para
proclamar o evangelho, preferindo o contato pessoal como estratégia evangelizadora.
Evitam também a pregação do evangelho em locais públicos e não tem pastores na
liderança de suas comunidades, ficando o pastoreio a cargo de anciãos, que são
membros da igreja o remunerados que se dedicam a este ministério. Adota também
uma atitude ascética de “isolamento do mundo”, mas incentiva e promove muito contato
entre os membros da igreja.
192
Possui fortes elementos sectários, não se considerando
uma igreja protestante e não mantendo ligações com outros grupos.
193
Talvez em função destes posicionamentos e estratégias adotadas pela CCB,
muito embora sendo a primeira igreja pentecostal a nascer no Brasil, não experimentou
um crescimento significativo, como as outras igrejas, que nasceram posteriormente. Em
191
MATOS, 2006, p. 40.
192
OLIVEIRA, 2004. p. 28.
193
MATOS, 2006, p. 40-41.
75
1930, a Congregação Cristã tinha sete membros para cada três da Assembléia de
Deus; todavia, em fins dos anos 40 foi ultrapassada pela sua rival.
194
2.3.3.3.1.2 Assembléia de Deus
A Assembléia de Deus (AD) foi a segunda igreja pentecostal a instalar-se no
Brasil; Teve início com a chegada de dois suecos, Daniel Berg e Gunnar Vingrem,
provenientes dos Estados Unidos. Eles eram de origem batista e haviam sido
influenciados pelo pentecostalismo americano. Chegaram ao Brasil em 1911 e
localizaram-se na cidade de Belém, Estado do Pará. Enquanto oravam com um patrício,
este profetizou que deveriam ir para um lugar chamado Pará.
195
Os dois obreiros
fixaram-se em Belém,
onde passaram a freqüentar a Igreja Batista, cujo pastor, Erik Nilsson ou Eurico
Nelson, também era sueco. Alguns meses depois, a mensagem pentecostal de
Vingren e Berg produziu uma divisão na igreja, surgindo assim o primeiro grupo
da nova denominação, que inicialmente foi chamado “Missão de Apostólica”,
um dos nomes dos primeiros grupos pentecostais dos Estados Unidos.
alguns anos mais tarde foi adotado o nome Assembléia de Deus.
196
Nascia assim mais uma igreja cristã no Brasil, gestada dentro de uma
comunidade histórica, com a participação de cristãos que tinham raízes batistas, mas
que saíram em busca de um modelo de igreja que fosse mais compatível com suas
experiências com o Espírito Santo.
A AD tornou-se uma igreja bastante conservadora quanto à moral, usos e
costumes, proibindo as mulheres de cortar os cabelos, usar calça comprida, jóias e
maquiagem pesada e os homens de andar sem camisa, usar bermuda, etc.
197
Atualmente, entretanto, estas práticas tem sido alteradas, com maior flexibilização na
maioria das igrejas AD.
Quanto às peculiaridades da igreja, Freston aponta para o seu sistema de
governo oligárquico e caudilhesco”, que seria fruto da influência cultural
nordestina. Exemplo disso são os diferentes “ministérios”, nem sempre
194
MATOS, 2006, p. 40.
195
MATOS, 2006, p. 41.
196
MATOS, 2006, p. 41-42.
197
OLIVIRA, 2004, p. 29-30.
76
amistosos entre si, e a grande autoridade exercida pelo “pastor presidente”,
verdadeiro bispo de uma cidade ou região, sendo essa posição geralmente
atingida após uma lenta ascensão.[...]
A maior crise enfrentada pela igreja foi o
cisma que deu origem à Convenção Nacional das Assembléias de Deus de
Madureira
198
Diferente da sua concorrente direta nos primeiros anos de sua história,
Congregação Cristã do Brasil, que não dispõe de literatura própria, a AD publica, desde
1930, um periódico oficial, um jornal denominado Mensageiro da Paz e conta hoje com
uma editora de grande expressão, com tradução e publicação de obras clássicas de
teólogos protestantes. Muito embora no início de sua história, a AD não se preocupasse
com a formação teológica dos seus líderes, hoje isso mudou, tendo ela se preocupado
com a formação intelectual e teológica de seus obreiros, criando cursos de teologia em
diversas cidades do Brasil.
199
A Igreja AD, a segunda igreja pentecostal a nascer no Brasil, foi, sem dúvida, a
que mais se expandiu e cresceu, espalhando-se pelo Brasil a fora, a partir de sua sede
em Belém do Pará até 1930 e Rio de Janeiro a partir de então.
200
“Atualmente, a
Assembléia de Deus é a maior denominação evangélica da América Latina”.
201
Dado interessante para este trabalho é que os pentecostais começaram a pregar
dentro de duas igrejas protestantes históricas, ou seja, Presbiteriana, em São Paulo e
Batista em Belém. Como interpretavam a Bíblia de maneira diferente que a do
Protestantismo histórico sobre o batismo do Espírito Santo, foram expulsos destas
igrejas e acabaram dando origem às Igrejas Cristã do Brasil e Assembléia de Deus.
202
2.3.3.3.2 A Segunda Onda
Segundo Oliveira, “segunda onda pentecostalista teve início no Brasil nos anos
50. Este período também marca a emergência de uma nova sociedade urbana com o
198
MATOS, 2006, p. 41-42.
199
MATOS, 2006, p. 43.
200
OLIVEIRA, Estevam Fernandes. Conversão ou adesão: uma reflexão sobre o neopentecostalismo no
Brasil. Rio de Janeiro: Proclama Editora, 2004. p. 30.
201
BITTENCOURT FILHO, José. Matriz religiosa brasileira: religiosidade e mudança social. Petrópolis:
Vozes, Rio de Janeiro: Koinonia, 2003. p. 117.
202
MATOS, 2006, p. 42.
77
processo de migração em massa para os grandes centros, especialmente São Paulo e
Rio de Janeiro”.
203
Bittencourt Filho concorda com esta análise e acrescenta que
Após a segunda guerra mundial, o Brasil passou a vivenciar um êxodo rural e
um significativo crescimento urbano e industrial acompanhado pelas
transformações correspondentes. O Pentecostalismo adaptou-se muito bem a
esse novo quadro e passou a desempenhar a função de integrar seus adeptos
aos percalços da transição da sociedade ‘tradicional’ para a ‘moderna, por
intermédio da criação de novas denominações autóctones, que mais tarde, com
outras tantas, irão compor o conjunto que apelidamos Pentecostalismo
Autônomo.
204
Também chamado de pentecostalismo de transição, a segunda onda de
nascimento de igrejas pentecostais foi ainda mais fértil em termos de fragmentação do
Cristianismo. Os missionários americanos Harold Williams e Raymond Boatreight
promoveram e lideraram o que ficou conhecida como “Cruzada Nacional de
Evangelização”, com ênfase na pregação centrada na cura divina e difundida pelo
rádio, concentrações públicas em ginásios de esportes e estádios de futebol, tendas
armadas especialmente para as conferências, alçando milhares e milhares de
pessoas.
205
Deste movimento nasceram e se desenvolveram muitas novas igrejas, sendo as
mais importantes a Igreja do Evangelho Quadrangular (IEQ), Igreja Evangélica o Brasil
para Cristo (BPC) e Igreja Pentecostal Deus é Amor(IPDA).
2.3.3.3.2.1 Igreja do Evangelho Quadrangular
Muito embora tenha iniciado no Brasil, em São João de Boa Vista, São Paulo,
em 1951, só foi estruturada como Igreja do Evangelho Quadrangular (IEQ) em 1955. De
origem norte-americana, a IEQ é vista como o único caso dentre as igrejas pentecostais
brasileiras, que pode ser considerada uma filial da congênere norte-americana, muito
embora as outras também tivessem sido iniciadas por estrangeiros. Desde a sua
plantação, esta igreja tem crescido constantemente, sendo uma de suas peculiaridades
203
OLIVEIRA, 2004. p. 31.
204
BITTENCOURT FILHO, 2003. p. 116.
205
OLIVEIRA, 2004. p. 31.
78
a forte ênfase dada ao ministério feminino, tendo sido fundada nos Estados Unidos por
uma mulher, a canadense Aimeé Semple McPherson.
206
Surgiu inspirada numa visão
da missionária que relacionou os quatro querubins de Ezequiel com quatro ângulos do
ministério de Jesus: o salvador, o batizador com o Espírito Santo, o grande médico e o
rei que há de voltar.
207
Com este slogan, Cristo salva, Cristo batiza, Cristo cura e Cristo voltará, esta
igreja tem sido perseverante no trabalho evangelístico, divulgando a Bíblia, mantendo
programas de rádio, organizando institutos bíblicos para formação de pastores e
pastoras.
2.3.3.3.2.2 Igreja Evangélica o Brasil para Cristo
A Igreja Evangélica o Brasil para Cristo (BPC) foi fundada pelo pernambucano
Manoel de Mello, em 1955, filho de pai católico e mãe assembleana.
208
Segundo Matos,
um dos primeiros pastores da Igreja Quadrangular brasileira foi Manoel de
Mello, um ex-evangelista da Assembléia de Deus. Em 1955, ele separou- se da
Cruzada Nacional de Evangelização e organizou a campanha “O Brasil Para
Cristo”, da qual surgiu a igreja com o mesmo nome, a Igreja Evangélica o Brasil
para Cristo.
209
Note-se a figura do Peregrino presente na gênese desta igreja. Seu fundador,
Manoel de Mello passa de ex-evangelista da AD a pastor da IEQ para fundador da
Igreja o Brasil para Cristo (BPC). Como afirma Hervieu-Léger, “o peregrino emerge
como uma figura típica do religioso em movimento”.
210
Uma nota de destaque para a igreja BPC é que, por iniciativa de seu fundador e
líder maior, esta igreja fez parte do Conselho Mundial de Igrejas (CMI)
211
de 1969 até
1986.
212
206
MATOS, 2006, p. 43.
207
LEITE FILHO, Tácito da Gama. Seitas neopentecostais. 2. ed. Rio de Janeiro : JUERP, 1991, p. 33.
(seitas do nosso tempo, v. 3).
208
OLIVEIRA, 2004. p. 33.
209
MATOS, 2006, p. 44.
210
HERVIEU-LÉGER, 2008, p. 89.
211
O Conselho Mundial de Igrejas (CMI) é um órgão ecumênico criado em 1948 em Amsterdã - Holanda
212
MATOS, 2006, p. 44.
79
A Igreja BPC foi a primeira igreja pentecostal puramente brasileira, ou seja,
fundada por um brasileiro para alcançar os brasileiros, cuja palavra de ordem era
“Ganhar o Brasil para Cristo”. Carismático que era, Manoel de Mello conseguia encher o
Estádio Pacaembu, em São Paulo, com concentrações chamadas de tarde da bênção
com grande ênfase em milagres e curas divinas.
213
E 1979 a Igreja BPC inaugurou o seu enorme templo, na Lapa, São Paulo,
considerado na época o maior templo evangélico do mundo, com capacidade para 25
mil pessoas sentadas.
214
A Igreja cresceu e se espalhou pelo Brasil e alguns países
vizinhos, mas desagregou-se com a morte de seu líder em 1990.
215
2.3.3.3.2.3 Igreja Pentecostal Deus é Amor
A exemplo da Igreja BPC, a Igreja Pentecostal Deus é Amor (IPDA) também foi
fundada por um brasileiro, em 1962. Trata-se de
David Miranda, nascido em 1936, filho de um agricultor do Paraná. Vindo para
São Paulo, ele se converteu numa pequena igreja pentecostal e em 1962
iniciou sua própria igreja na Vila Maria. Pouco depois a igreja transferiu-se para
o centro da cidade, sendo em 1979 adquirida a sede mundial” da Baixada do
Glicério, onde poucos anos foi construído um dos maiores templos
evangélicos do Brasil. A Igreja Deus é Amor até hoje não utiliza a televisão,
mas é proprietária de uma rede de emissoras de rádio e transmite os seus
programas para toda a América Latina. Destaca-se como a mais rígida e
legalista de todas as igrejas pentecostais. Sua direção continua firmemente nas
mãos do missionário fundador.
A iniciativa de fundar igrejas passa a se tornar uma prática muito comum a partir
da década de 50. E cada líder institui as regras de acordo com sua visão de
cristianismo. A IPDA, por exemplo, é radical nas questões éticas e espirituais. Segundo
Oliveira, ainda hoje, proíbe a prática de jogos e uso de métodos anticoncepcionais.
Proíbe também seus membros de cursarem seminários teológicos e até mesmo de
estudarem qualquer instrumento musical, por entender que tanto a teologia como a
arte desviam o homem dos caminhos do Senhor.
216
213
OLIVEIRA, 2004. p. 34.
214
LEITE FILHO, 1991, p. 35.
215
OLIVEIRA, 2004. p. 35.
216
OLIVEIRA, 2004. p. 35.
80
A IPDA focou seu alvo e ficou restrita a pessoas mais humildes e de classes
sociais mais baixas, tomando o caminho do sectarismo e na não modernização.
217
Usa
estratégia de fazer proselitismo entre outros grupos pentecostais.
Analisando as origens do movimento pentecostal, tanto nos Estados Unidos
como no Brasil, chega-se à conclusão de que o seu núcleo está numa interpretação
diferente sobre a atualidade da ação do Espírito Santo na vida dos crentes, que Shaull
chama de “No reino do Espírito: Poder para viver aqui e agora”
218
. Examinando esta
nova hermenêutica pentecostal relacionada à ação do Espírito Santo, ele indaga:
Como é que lendo a Bíblia por tantos anos não percebemos algo que se
distingue de modo tão claro e central na história blica, do começo ao fim?
Sejam Moisés ou os profetas, Jesus ou Paulo o centro da nossa atenção, não
podemos escapar ao fato de que todos eles são pessoas essencialmente
ligadas ao reino do Espírito e que nele tem a fonte de sua vida e poder
219
.
Shaull propõe uma releitura da Bíblia, a fim de que se possa desfrutar da abundância
de vida no Espírito, a exemplo dos cristãos pentecostais, entendendo ser esta a grande
contribuição que o movimento trouxe para o protestantismo histórico e para o
Cristianismo de um modo geral.
2.3.3.3.3 A Terceira Onda
A terceira onda do pentecostalismo brasileiro é também chamada de
neopentecostal, pentecostalismo autônomo e pós-pentecostal. Inicia-se na década de
70 empurradas pela “modernização autoritária do país, principalmente na área das
comunicações; a sociedade é marcadamente urbana e o milagre econômico está
chegando ao fim”.
220
Segundo Matos, “o acontecimento mais marcante das últimas décadas no âmbito
religioso do Brasil foi o surgimento do neopentecostalismo, notadamente sua expressão
217
OLIVEIRA, 2004. p. 35.
218
CESAR; SHAULL, 1999. p. 201.
219
CESAR; SHAULL, 1999. p. 209.
220
OLIVEIRA, 2004. p. 36.
81
mais espetacular, a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD).
221
Por sua vez, Oliveira afirma que
em sua grande maioria, as igrejas neopentecostais são autóctones, formadas
de sólidas lideranças, geralmente avessas ao ecumenismo e marcadas também
por imensa oposição às religiões afro-brasileiras e ao catolicismo. Elas têm forte
organização empresarial e adotam técnicas de marketing para difusão de sua
mensagem através do uso de meios de comunicação de massa.
222
Siepierski prefere o termo pós-pentecostalismo entendendo que um
afastamento do pentecostalismo clássico, tendo como cerne a teologia da prosperidade
e o conceito de guerra espiritual, além de um abandono do pré-milenarismo e um
retorno ao pós-milenarismo, no que tange à escatologia.
223
Bittencourt Filho, por sua vez, utiliza o termo pentecostalismo autônomo dizendo
que
por apresentarem peculiaridades doutrinárias e práticas religiosas singulares,
bem como por não reivindicarem vínculos históricos explícitos, chamamos esse
conjunto de Pentecostalismo Autônomo. Uma particularidade importante deste
agrupamento denominacional é que o seu rol não se esgota. Em razão de
divisões internas e cisões, novas denominações estão surgindo e surgirão no
futuro.
224
O fato é que se vive um momento novo no protestantismo brasileiro,
efervescente, com influências mútuas, mas com mudanças significativas, tanto na
liturgia das igrejas, como também no teor das mensagens proclamadas nos púlpitos,
muito mais voltados para o suprimento das necessidades das pessoas. Segundo
Matos, “esse novo pentecostalismo se adapta muito bem à moderna cultura urbana
influenciada pela televisão e pela ética do capitalismo de consumo”.
225
Campos afirma que
as siglas e nomes fazem parte de uma listagem interminável, alimentadas por
novas cisões, cuja maioria se mais por questões administrativas e
organizacionais do que teológicas, o param de acontecer, exigindo dos
221
MATOS, 2006, p. 44.
222
OLIVEIRA, 2004. p. 36-37.
223
SIEPIERSKI. 2003, p. 78-79.
224
BITTENCOURT FILHO, 2003, p. 122.
225
MATOS, 2006, p. 45.
82
analistas a elaboração de enormes coleções de nomes e tendências
‘pentecostais’.
226
Como exemplo destas inúmeras novas igrejas, que tem abalado o mundo cristão,
especialmente no Brasil, menciona-se as que tem tido maior expressão no cenário
nacional. Igreja de Nova Vida, Igreja Renascer em Cristo, Igreja Internacional da Graça
de Deus, Comunidade Evangélica Sara a Nossa Terra, Igreja Mundial do Poder de
Deus e Igreja Universal do Reino de Deus.
2.3.3.3.3.1 Igreja Pentecostal de Nova Vida
Esta igreja nasceu na década de 1960, tendo seu templo sido inaugurado em
1970, no bairro Botafogo, um bairro da zona sul do Rio de Janeiro, por iniciativa de um
pastor canadense, Walter Robert McAlister. Este pastor nasceu e estudou no Canadá,
filho de pastor pentecostal, dedicou-se a escrever e a percorrer o mundo realizando
campanhas evangelísticas, sobretudo de libertação espiritual dos demônios.
227
A Igreja Pentecostal de Nova Vida (IPNV) surgiu com o propósito de alcançar
uma camada da sociedade que o pentecostalismo ainda não havia conseguido atingir.
“Sua membresia é formada de pessoas de classe média. Sua organização é episcopal
e por isso difere daquelas voltadas para as camadas mais pobres da sociedade. É uma
Igreja que pensa e faz teologia, constrói templos, ganha almas para o Reino”.
228
Dado muito importante é que a IPNV desempenhou um papel marcante no neo-
pentecostalismo brasileiro, como formadora e provedora de quadros de liderança das
duas maiores igrejas neo-pentecostais do país. Edir Macedo e Romildo Ribeiro Soares,
que fundaram juntos a Igreja Universal do Reino de Deus e depois este último que
fundou a Igreja Internacional da Graça de Deus são frutos da formação da IPNV.
229
Outro dado importante é que as principais doutrinas neo-pentecostais foram gestadas
no seio destra igreja: valorização da prosperidade financeira, ausência do rigor
226
CAMPOS, 1997, p. 50.
227
LEITE FILHO, 1991. p. 37.
228
LEITE FILHO, 1991, p. 37.
229
OLIVEIRA, 2004. p. 40.
83
legalista e combate ao espiritismo em suas várias expressões, especialmente as
religiões afro-brasileiras”.
230
Precisa ser destacado também que a IPNV foi uma das igrejas pioneiras no uso
da mídia, especialmente rádio e da televisão, para a divulgação de sua mensagem
sendo proprietária da Radio Relógio, além de ter editora própria.
2.3.3.3.3.2 Igreja Universal do Reino de Deus
O nascimento da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) é tido como um dos
mais importantes acontecimentos do século XX no campo religioso latino americano.
Talvez não seja, em número de adeptos, a mais importante das novas igrejas
surgidas no Terceiro Mundo ao longo do século XX, mas ela o é,
incontestavelmente, por outros motivos: de um lado, por seu caráter
multinacional e, de outro, por sua grande habilidade com os aparelhos da mídia,
em especial a televisão. [...] No Brasil a Igreja Universal transformou-se no mais
surpreendente e mais considerável fenômeno religioso das duas últimas
décadas.
231
Tem sido alvo de inúmeros estudos e pesquisas por parte de estudiosos tanto na
área da teologia como também da sociologia e outras ciências que investigam
fenômeno de tal envergadura.
A IURD nasceu no dia 9 de Julho de 1977, na Avenida Suburbana, bairro
Abolição, zona norte da cidade do Rio de Janeiro, por iniciativa do bispo Edir Bezerra
Macedo, juntamente com Romildo Ribeiro Soares, Roberto Augusto Lopes e Carlos
Rodrigues.
232
Seu fundador converteu-se ao pentecostalismo aos 18 anos, na Igreja
Pentecostal de Nova Vida onde permaneceu por 11 anos. Contrariado pelo elitismo da
IPNV, desligou-se da mesma, dando origem à Cruzada do Caminho Eterno e depois
Igreja Universal do Reino de Deus.
233
230
OLIVEIRA, 2004. p. 40
231
ORO, Ari Pedro; CORTEN, André; DOZON, Jean-Pierre (Org.). Igreja Universal do Reino de Deus:
Os novos conquistadores da fé. São Paulo: Paulinas, 2003, p.13-14. (Coleção religião e cultura).
232
OLIVEIRA, 2004. p. 45
233
MARIANO, Ricardo. A Igreja Universal no Brasil. In: ORO, Ari Pedro; CORTEN, André; DOZON, Jean-
Pierre (Org.) Igreja Universal do Reino de Deus : Os novos conquistadores da fé. São Paulo: Paulinas,
2003 p. 53-54. (Coleção religião e cultura).
84
Ricardo Mariano analisa o surgimento da IURD procurando contextualizá-lo a fim
de entender um pouco melhor as razões de seu rápido crescimento e expansão
Segundo ele:
O contexto socioeconômico, cultural, político e religioso no qual a Universal
surgiu e prosperou lhe foi assaz favorável. Basta atentar, no decorrer deste
período, para: a agudização das crises social e econômica brasileiras; o
elevado aumento do desemprego; o recrudescimento da violência e da
criminalidade; a ‘destradicionalização’ e modernização sociocultural; a vigência
de plena liberdade religiosa e de um mercado religioso pluralista; a baixa
regulação estatal da religião; o enfraquecimento religioso, a secularização e o
declínio numérico da Igreja Católica; a larga e contínua expansão pentecostal
em todo o território brasileiro desde a década de 1950; a extensa difusão dos
meios de comunicação de massa e a relativa facilidade de acesso a eles; a
ampla aceitação pelos estratos populares da oferta de crenças e práticas
religiosas (sobretudo as de origem e tradição cristãs) de cunho mágico,
terapêutico e taumatúrgico.
234
Note-se que o nascimento da IURD, bem como desta nova modalidade
pentecostal, não aconteceu num vácuo, mas dentro de um quadro bem definido e
propício. Por sua vez, é preciso reconhecer que seus organizadores tiveram a
percepção da realidade e se aproveitaram da situação para entrar com uma proposta
revolucionária.
Leonildo Silveira Campos desenvolveu um dos trabalhos mais completos sobre a
IURD. Ele entende que a IURD está inserida num
pentecostalismo tardio, cuja especificidade esjustamente em adequar a sua
mensagem às necessidades e desejos de um determinado público. Trata-se de
uma Igreja que atua dentro de um quadro de pluralismo religioso, cuja
estratégia e localizar nichos de pessoas insatisfeitas, provocando nelas
estímulos diferenciados a fim de atraí-las para novas experiências religiosas.
235
Depois de analisar o momento sócio-político-econômico vivido pelo Brasil no final
dos anos 70, destacando o processo acelerado de urbanização e as suas
conseqüências como problemas sociais com a violência e o desemprego, que são
intensificados com o fim do milagre econômico, Oliveira faz menção dos milhares de
excluídos que precisam encontrar uma solução para a solidão que enfrentam, a perda
234
MARIANO, 2003, p. 53.
235
CAMPOS, 1999, p. 52.
85
de referenciais simbólicos como a família e a tradição religiosa. É neste contexto que
surge e se apresenta a IURD. Segundo ele:
A IURD é, pois, uma igreja essencialmente urbana, cuja mensagem é voltada
para alcançar os excluídos da cidade, tanto os de natureza econômica, em
virtude do processo produtivo e que estão desempregados, à espera de um
milagre econômico, como também os excluídos dos templos, cheios de
necessidades espirituais, à procura do milagre da fé.
236
Outros detalhes relevantes em termos de estratégias utilizadas pela IURD e mui
especialmente pelo seu líder, é destacado por Matos ao afirmar que
Macedo residiu nos Estados Unidos de 1986 a 1989. Quando voltou para o
Brasil, transferiu a sede da igreja para São Paulo e adquiriu a Rede Record de
Televisão. À medida que construía um império econômico e de comunicações,
a igreja também se preocupou em buscar sustentação política, elegendo em
1990 três deputados federais, e outros mais em anos posteriores. Em 1992,
Macedo esteve preso por doze dias sob a acusação de estelionato,
charlatanismo e curandeirismo.
237
Neste curto período de tempo, 32 anos, a IURD se multiplicou a ponto de estar
presente em praticamente todos os países do mundo.
Hoje tem quarenta luxuosas catedrais, mais de 4.700 templos e quase 10 mil
pastores no Brasil. Em média, a cada quinze dias, a Igreja Universal do
Reino de Deus constrói um templo e transfere um dos seus obreiros para fora
do país. É a maior distribuidora de Bíblias e uma das maiores locatárias do país
(paga o aluguel de 8.806 imóveis). Já se estabeleceu em quase todos os países
do globo e em alguns faz tanto sucesso como no Brasil. Na Argentina, a igreja
tem cinco catedrais, mais de 150 templos, trezentos núcleos, duzentos pastores
e 66 horas de programas de televisão por semana, além do jornal El Universal,
com tiragem de 170 mil exemplares. A catedral de Guayaquil, no Equador, tem
7.500 metros de área construída e custou 8 milhões de dólares. A de Soweto,
na África do Sul, ficou por 20 milhões. Em Portugal estão sendo construídas
duas catedrais, uma em Lisboa e outra no Porto. Macedo pretende construir a
mais arrojada catedral da Universal em um quarteirão de 28 mil metros
quadrados no bairro do Brás, na cidade de São Paulo. Orçado em 200 milhões
de reais, o templo terá dezoito andares e acomodará 13 mil fiéis assentados.
238
Note-se uma expansão extraordinária que tem sido referência para muitos
cristãos, tanto católicos como de linha protestante histórica e pentecostal, que,
inspirados na experiência de Edir Macedo e a IURD, tem se aventurado na abertura de
236
OLIVEIRA, 2004, p. 19.
237
MATOS, 2006, p. 46.
86
novas igrejas, sendo eles mesmos seus principais protagonistas. Conforme afirmam
Oro, Cortez e Dozon,
neste contexto de mudança, a Igreja Universal, organização gigantesca, está
acompanhada por uma miríade de pequenas igrejas. São literalmente dezenas de
milhares, entre as quais várias centenas de igrejas transnacionais de pequeno, médio
e grande porte. O movimento penetra hoje também a Ásia Correia, Filipinas,
Malásia, Indonésia, Timor Oriental, Burma, Índia servindo, às vezes, como meio de
identificação étnica
.
239
Assim sendo, pode-se observar como o nascimento de uma igreja inspira o
nascimento de muitas outras, o que vem acontecendo de maneira desordenada e
descontrolada ao redor do mundo, mas particularmente no Brasil.
2.3.3.3.3.3 Comunidade Evangélica Sara a Nossa Terra
Uma das poucas igrejas de expressão nacional, desta onda” pentecostal, que
nasceu fora do eixo Rio - São Paulo, a Comunidade Evangélica Sara a Nossa Terra
(CESNT) nasceu em Goiânia em 1973, vindo a ser oficializada em 1976 fundada por
Robson Rodovalho. Com formação kardecista, por influência da mãe, Rodovalho
“cresceu freqüentando sessões de mesa branca, na casa da avó, e festas e giras de
umbanda nas tendas da fazenda da família, onde tinham empregados vindos da
Bahia.”
240
Converteu-se num retiro espiritual da Igreja Presbiteriana, freqüentou a
Mocidade para Cristo e depois fundou sua própria igreja.
A ênfase da CESNT está na prática do louvor, onde, através de cânticos e hinos
espirituais as pessoas vão recebendo a cura e a libertação dos problemas, pela ação
do Espírito Santo. A grande estratégia da comunidade é a organização de pequenos
grupos familiares e grupos de estudo bíblico. Sobretudo no centro-oeste do país,
existem milhares destes grupos, que servem para a edificação dos seus membros e a
proclamação de sua mensagem.
241
238
ULTIMATO. Viçosa- MG : Editora Ultimato, a. XLI, n. 313, jul./ago. 2008. p. 20-21.
239
ORO; CORTEN; DOZON; 2003, p. 18.
240
OLIVEIRA, 2004. p. 44.
87
2.3.3.3.3.4 Igreja Internacional da Graça
Inicialmente andando lado a lado com seu cunhado Edir Macedo, o missionário
Romildo Ribeiro Soares (R.R.Soares) desligou-se da IURD em 1980 para dar origem à
Igreja Internacional da Graça de Deus (IIG), com muitas marcas da anterior, entretanto
com menor repercussão.
242
Filho de mãe Católica e pai presbiteriano, R.R.Soares teve também influência da
Igreja Batista, à qual freqüentou em sua mocidade, fazendo parte depois da Igreja
Pentecostal de Nova Vida, Cruzada do Caminho Eterno e Universal do Reino de Deus,
tendo sido ordenado pastor na Casa de Bênção.
243
Note-se mais um genuíno
peregrino, que recebe várias influências religiosas e que segundo Hervieu-Léger,
corresponde a uma forma de sociabilidade religiosa em plena expansão que se
estabelece, ela mesma, sob o signo da mobilidade e da associação temporária.
A condição moderna se caracteriza pelo imperativo que se impõe ao indivíduo
de produzir ele mesmo as significações de sua própria existência através da
diversidade das situações que experimenta, em função de seus próprios
recursos e disposições. [...] Ora a ‘condição de peregrino’ se define
essencialmente a partir desse trabalho de construção biográfica efetuado pelo
próprio indivíduo. [...] Se insere nas operações de bricolagem que permitem ao
indivíduo ajustar suas crenças aos dados de sua própria experiência. Cada um
assume a responsabilidade pessoal de dar forma à referência à linhagem com a
qual se identifica. Essa ‘religiosidade peregrina individual, portanto, se
caracteriza, antes de tudo, pela fluidez dos conteúdos de crença que elabora,
ao mesmo tempo que pela incerteza das pertenças comunitárias às quais pode
dar lugar.
244
A IIG possui editora e gravadora próprias, através das quais publica as inúmeras
obras de R.R. Soares e grava os mais diferentes CDs com mensagens e músicas deste
e de outros cantores e cantoras estilo gospel. Utiliza-se também, com propriedade, da
televisão, possuindo um canal de televisão e ocupando vários espaços em outras
emissoras, inclusive em canais por assinatura. Possui também uma Faculdade de
Teologia, na qual oferece preparo para os seus pastores.
241
OLIVEIRA, 2004, p. 44.
242
MARIANO, 2003, p. 54.
243
OLIVEIRA, 2004. p. 41.
88
2.3.3.3.3.5 Igreja Apostólica Renascer em Cristo
A Igreja Apostólica Renascer em Cristo (IARC) nasceu em 1986, na cidade de
São Paulo, por iniciativa do pastor Estevam Hernandes Filho, hoje apóstolo, e de sua
esposa Sônia Hernandes, hoje bispa. Ele é de origem pentecostal e ela, filha de um
pastor presbiteriano.
245
Com sua mensagem mais voltada para a teologia da prosperidade e na batalha
espiritual, visão de que existe uma luta constante entre o bem e o mal, entre forças
diabólicas e o próprio Deus, na condução dos destinos do mundo e do nosso dia-a-dia,
a IARC utiliza-se muito da dia para a divulgação de sua mensagem. Usa muito a
música, o que lhe ocasionou a criação da sua própria gravadora, a Gospel Record. Tem
também a sua própria emissora de rádio, a Rádio Nacional Gospel 92.0, dentre outras,
através das quais divulga seus programas musicais, utilizando ritmos bem populares
como rock, rap, funk, samba, tocados por bandas da própria igreja.
246
Outro detalhe importante é que “em setembro de 1990, a igreja foi transformada
em Fundação Renascer, cujo objetivo era a melhor administração dos seus bens e
maior captação de recursos financeiros e também donativos”.
247
Segundo Matos, “a Igreja Renascer exemplifica um pentecostalismo de classe
média e tem forte apelo junto à juventude e a celebridades do esporte e da mídia.”
248
Como exemplo disso pode-se mencionar o jogador da seleção brasileira Kaká, que tem
sido o “garoto propaganda” da IARC.
Na área financeira, entretanto, é que a IARC tem sido mais questionada,
sobretudo diante das altas doações do jogador Kaká, da Seleção Brasileira e dos
escândalos envolvendo o casal Estevam e Sônia, quando tentaram entrar nos Estados
Unidos com dólares não declarados. O casal permaneceu por um tempo preso naquele
país e acaba de retornar para o Brasil.
244
HERVIEU-LÉGER, 2008, p. 89-90.
245
OLIVEIRA, 2004. p. 41.
246
OLIVEIRA, 2004. p. 42
247
OLIVEIRA, 2004. p. 42
89
2.3.3.3.3.6 Igreja Mundial do Poder de Deus
A Igreja Mundial do Poder de Deus (IMPD) é a mais recente e mais crescente
dentre as igrejas neo-pentecostais de grande expressão de no Brasil. Foi organizada no
dia 9 de março de 1998, pelo apóstolo Valdemiro Santiago. Ele e sua esposa, bispa
Franciléia, com um pequeno grupo de pessoas, todos provenientes da IURD, onde
Valdemiro era bispo e recebeu a formação ‘pastoral’, inauguraram o primeiro templo
desta igreja localizado em Sorocaba a 90 quilômetros da cidade de São Paulo.
249
O próprio Valdemiro, em entrevista para a Revista Eclésia, descreve como
nasceu a IMPD. Ele afirma:
É até difícil explicar como começou, mas foi pela vontade de Deus. Durante 18
anos, fiz parte de outro ministério. Mas comecei a discordar da forma como
essa igreja estava agindo. Na minha opinião, já não pregava a Bíblia e ensinava
o Evangelho como aprendemos. A Palavra de Deus é simples demais e sempre
procurei pregá-la dessa maneira. o via isso na igreja. Cheguei na minha
esposa e disse a ela que não me sentia bem, pois não pregávamos mais a
verdade. Mas era obrigado a obedecer à direção. Oramos a Deus e ele colocou
em nosso coração para que saíssemos. Nada foi planejado. As pessoas
souberam de nosso desligamento, estranhavam, perguntavam por que
estávamos saindo e o que iríamos fazer. Eu apenas dizia que queria pregar o
Evangelho de Jesus. Queriam saber como se chamaria a nova igreja. Eu o
dizia. Falar o quê? o havia parado para pensar nisso. Mas uma vez estava
no carro, quando um amigo fez a pergunta e disse de supetão “Mundial do
Poder de Deus”. Não estava preocupado com isso, veio de repente.
250
Note-se que é comum aos fundadores de igreja atribuir isso à vontade de Deus.
Dificilmente alguém assume que foi intencional a saída de determinado grupo visando a
organização de nova igreja.
Relatando como foi o primeiro encontro da sua nova igreja, Valdemiro destaca:
Antes da primeira reunião, passamos a semana inteira evangelizando. Até
estava acostumado com multidões. Na África, em menos de dois anos,
batizamos quase 50 mil pessoas. Por isso, os primeiros resultados foram
desanimadores. No horário da reunião, não havia ninguém. Atrasei meia hora e,
248
MATOS, 2006, p. 47.
249
Informações retiradas no site da IMPD. Disponível em: <http://www.impd.com.br> Acesso em : 02
nov. 2009.
250
SANTIAGO, Valdemiro.
Líder da Igreja Mundial do Poder Deus fala sobre sua vida e discute o
que faz com que sua denominação seja a que mais cresce hoje no Brasil. Entrevista concedida a
Revista Eclésia. Disponível em: <http://www.eclesia.com.br/
> Acesso em: 02 nov. 2009.
90
mesmo assim, havia 16 pessoas. Contando com minha esposa, filhas e três
ou quatro pastores. Mas era Deus trabalhando, amassando e moldando o barro.
Com muito trabalho, o número de freqüentadores foi aumentando e, em dois
meses, precisamos mudar pela primeira vez de salão, pois aquele em que
estávamos havia se tornado pequeno. Hoje, a cada reunião, há 2 a 3 mil
pessoas novas toda vez. Nossa preocupação é que venha também o
crescimento espiritual.
251
Falamos sobre suas estratégias, afirma serem a pregação pura e simples da
Palavra de Deus e uma prática de intensa oração que se constituem no segredo do seu
êxito ministerial. Ele afirma:
Creio que se vemos curas e maravilhas em nosso meio, em grande parte é
devido a essa busca. Eu não posso dar aquilo que não tenho, que não recebi. E
recebo se buscar. É a lei da semeadura: só colhe quem planta. Se Jesus
buscava nas madrugadas, ia aos montes para orar, por que não seguimos seu
exemplo? Muita gente costuma me criticar porque vou ao monte, dizendo que
isso não existe mais, que é perigoso. Não critico essas pessoas e não quero
saber desse tipo de crítica em relação a mim. Eu, um pecador, não deveria ir,
deveria morar no monte, viver em vigílias. O importante é o resultado. E cada
vez mais gente que segue este exemplo vem nos procurar feliz, liberta, salva,
cheia da presença de Deus.
252
Um dos segredos é orar no monte, segundo o próprio Valdemiro, também
atestado pelo site da IMPD:
No começo era muito difícil devido a pouca divulgação do trabalho, que era feita
por meio de panfletos e algumas fitas cassetes dos testemunhos. Mas apesar
da falta de recursos, tínhamos a certeza que iríamos evangelizar o mundo. As
dificuldades eram apenas o caminho para glorificar o nome de Jesus. Vimos
como valeram a pena as madrugadas de orações, nossas idas ao monte e os
jejuns, lembrando que esses sacrifícios são contínuos na vida de um homem de
Deus.
253
Indagado sobre o atual estado da igreja evangélica brasileira, Valdemiro
expressa sua visão de maneira bem objetiva:
Infelizmente, temos de admitir que está enferma. Mudamos, modificamos certas
regras, buscamos nos modernizar. O pastor quer acompanhar as mudanças na
sociedade. O que não falta é gente sugerindo: você precisa mudar, acompanhar
os novos tempos, evoluir, adaptar-se ao mundo, fazer política. A política é de
Deus, embora alguns crentes tenham deixado a desejar. Mas não posso me
confundir: sou um pastor. Em nossa igreja, Deus chamou pessoas para mexer
com política. Se eu começar a negociar acordos, vou desvirtuar o Evangelho. A
251
SANTIAGO,V. Disponível em: <http://www.eclesia.com.br/>. Acesso em: 02 nov. 2009.
252
SANTIAGO,V. Disponível em: <http://www.eclesia.com.br/>. Acesso em: 02 nov. 2009.
253
Disponível em: http://www.impd.com.br>. Acesso em: 02 nov. 2009.
91
mesma coisa acontecerá se quiser dirigir a igreja como uma empresa. Não sou
empresário. Tenho políticos e empresários na igreja e nós os abençoamos. A
meu ver, muitas autoridades espirituais, grandes homens de Deus estão
divididos entre serem pastores e políticos ou empresários. Atribuo essa
fraqueza à falta de ensino e à falta de tempo das lideranças para dedicar à
pregação da Palavra. Se os deres das grandes igrejas fizessem isso,
descessem do pedestal, ficando em seus lugares aos pés de Cristo –,
experimentaríamos um avivamento de fato no Brasil e não somente de
números.
254
Perguntado sobre as razões porque tanta rotatividade na membresia das
igrejas evangélicas hoje, o apóstolo apresenta a sua solução:
A Bíblia trata o líder, o pastor, como um construtor. Aquele que é prudente
precisa ver que materiais vai usar e como lançará o alicerce. Se, após verificar
o solo, fará uma fundação superficial ou outra, mais profunda, mas que também
ofereça mais segurança. Não sou engenheiro ou arquiteto, mas sei que sem
trabalho, nada se faz. Trazendo para o lado espiritual, a mesma regra vale para
a pregação. Nunca preguei milagres. Não é necessário falar de um cego
dois mil anos, se posso mostrar o cego curado hoje. A não ser quando a
pregação fala da atitude daquele que foi curado: o cego que seguiu Jesus,
aquele dentre os dez leprosos que voltou para agradecer. O material
empregado é a Palavra de Deus. Nossa pregação e ensinos são ministrados
nos cultos e em programas de televisão. Igrejas que normalmente fazem
grandes movimentos, não têm tempo para pregação e ensino. Apenas realizam
campanhas. As pessoas recebem às vezes, não recebem, porque sem eles é
difícil para receber e Jesus é apresentado a elas como o dono do
supermercado, do depósito, ao qual o interessado vai para comprar. Garanto
que não temos problema de grande rotatividade. Atribuo isso à pregação.
Ensino que o principal não pode ser o milagre físico ou financeiro, mas a
salvação. Senão, quando estiver no deserto, sem milagres, o crente corre o
risco de ficar igual aos hebreus no deserto e murmurar. Para permanecer na
presença de Deus, temos que nos agradar dele como diz o Salmo 37 e nunca
atribuir a Deus seus fracassos ou problemas. Com quem nos identificamos?
Com ou com sua esposa? nçãos e milagres são conseqüências da
comunhão que temos com ele.
255
Atualmente a IMPD possui aproximadamente 1300 templos localizados em todos
os estados do Brasil e em 7 países : Japão, Moçambique, Portugal, Argentina, Uruguai,
Paraguai e Colômbia. A sede está localizada em São Paulo numa construção
denominada Grande Templo dos Milagres, localizada no Brás, construída sobre uma
área de 43.000m².
256
254
SANTIAGO,V. Disponível em: <http://www.eclesia.com.br/>. Acesso em: 02 nov. 2009.
255
SANTIAGO,V. Disponível em: <http://www.eclesia.com.br/>. Acesso em: 02 nov. 2009.
256
Informações retiradas no site da IMPD. Disponível em: <http://www.impd.com.br> Acesso em : 02 nov.
2009.
92
O neo-pentecostalismo tem se expandido como um mar pelo país, utilizando-se
maciçamente dos meios de comunicação de massa, sobretudo a televisão. Falando
sobre a funcionalidade do neo-pentecostalismo, representado pela IURD, Dreher afirma
que esta é “uma igreja episcopal, uma igreja de necessidades, uma igreja de mercado,
uma igreja super-mercado”.
257
Dreher afirma também que “enquanto o pentecostalismo
é caracterizado por uma estrutura fortemente congregacional, desde o ponto de vista
eclesiológico, a IURD tem uma estrutura centralizada em torno de seu fundador e
primeiro bispo”.
258
Já Leonildo Silveira Campos entende que o neo-pentecostalismo
praticado pela Igreja Universal do Reino de Deus, Igreja Internacional da Graça
de Deus, Igreja Renascer em Cristo, entre outras, elabora um discurso centrado
na oferta de sonhos de prosperidade, saúde, bem-estar, ascensão social às
pessoas situadas no ‘fundo do poço’, isto é, sem muitas chances de resolverem
as suas aflições.
259
Dando um passo além do que o pentecostalismo havia dado, resgatando todo
um sistema simbólico que se acha no imaginário do povo brasileiro, o neo-
pentecostalismo tem alcançado as massas e seus objetivos. Por outro lado, tem
ocasionado o surgimento de inúmeras pequenas igrejas, espalhadas pelo Brasil e pelo
mundo, objetos deste estudo. A grande maioria das novas e pequenas igrejas que tem
surgido são de linha neo-pentecostal.
Entre a própria liderança pentecostal e neo-pentecostal, percebe-se uma
preocupação com “a fragmentação do pentecostalismo em muitos grupos e igrejas e
com a forte concorrência entre si. Tal preocupação se torna visível na expressão
corrente entre pentecostais: No céu não haverá placa de igreja’”.
260
Mas aqui na terra
as placas de igrejas se multiplicam, com nomes e molduras das mais estranhas,
agravando muito o problema da fragmentação do Cristianismo. Novamente é preciso
que se diga que o fenômeno de divisões entre os cristãos, com o nascimento de novas
igrejas independentes, existe muito antes do movimento pentecostal, mas é preciso que
se reconheça que este movimento tem acentuado grandemente o divisionismo cristão.
257
DREHER, 2007, p. 244.
258
DREHER, 2007, p. 244.
259
CAMPOS, 1999. p. 438.
260
BOBSIN, 2006, p. 78, 79.
93
A multiplicação de Igrejas Cristãs nasceu junto com o próprio Cristianismo.
Nestes dois mil anos, o fenômeno foi se acentuando, na medida em que a própria
sociedade foi se diluindo. No próximo capitulo haverá uma tentativa de identificação dos
fatores que desencadearam este fenômeno.
94
3. FATORES QUE TEM DESENCADEADO A MULTIPLICAÇÃO DE IGREJAS
3. 1 Fatores Externos
3.1.1 O Contexto Social
3.1.1.1 A Pós-Modernidade
Pós-modernidade é um termo usado para identificar a sociedade do tempo
presente. Embora exista polêmica acerca desta realidade, o fato é que se fala dela no
mundo inteiro, tendo sido alvo de muitos estudos acadêmicos nas últimas décadas.
Conforme acentua Mary Rute Gomes Esperandio, há alguns estudiosos que
negam o pós-modernismo, como Jürgem Habermas, afirmando que o projeto
racionalista da modernidade ainda não se completou.
261
O sociólogo polonês Zygmunt Bauman, por sua vez, usou o termo pós-
modernidade por algum tempo, mas admite que não é o mais adequado. Passou,
então, a usar a expressão “modernidade líquida” para referir-se à contemporaneidade,
enfatizando com isso a “fluidez” ou “liquidez” dos tempos atuais. Segundo Bauman, o
conceito de “modernidade líquida” evita a equivocada interpretação de que a
modernidade tenha acabado, como sugere o prefixo “pós”, usado na expressão “pós-
modernidade”. Para ele, somos tão, senão mais, modernos quanto nossos pais e avós.
“Estamos numa fase da história da modernidade caracterizada por uma liquidez que é
experimentada como permanente movimento, flexibilidade e inconstância de formas,
uma impertinência geral das coisas”.
262
Bauman ainda afirma que:
A virtude que se proclama servir melhor aos interesses do indivíduo não é a
conformidade às regras (as quais, em todo caso, são poucas e contraditórias),
mas a flexibilidade: a prontidão em mudar repentinamente de táticas e de
estilo, abandonar compromissos e lealdades sem arrependimento e buscar
261
ESPERANDIO, Mary Rute Gomes. Para entender pós-modernidade. São Leopoldo: Sinodal,
2007, p. 6.
262
ESPERANDIO, 2007, p. 46.
95
oportunidades mais de acordo com sua disponibilidade atual do que com as
próprias preferências.
263
Para o filósofo italiano Gianni Vattimo, “a pós-modernidade começou justamente
quando se perdeu a crença na existência de uma linearidade na história do
progresso”.
264
O mesmo filósofo usa também a expressão “sociedade da modernidade
tardia ou pós-modernas, e enfoca o niilismo detectado por Nietzsche como uma das
principais características da contemporaneidade.
265
Esperandio alerta quanto à compreensão de modernidade. Segundo ela,
compreende-se como modernidade, não um período histórico, mas uma visão
de mundo, um ideário relacionado ao projeto de um mundo moderno. Esse
ideário traz implicações importantes no campo das ciências e da vida social
(econômica, política, etc.) e está fundado em uma episteme que lhe
sustentação. A episteme moderna funda-se na razão como lócus privilegiado
para a construção da verdade e do conhecimento sistemático e como base
para o contínuo progresso do conhecimento e da sociedade.
266
A pesquisadora acima aludida entende que, as diversas abordagens sobre a
pós-modernidade contribuem para a conclusão de que,
as mais diversas perspectivas se constituem exatamente nisso : não em
verdades totais e absolutas. São verdades perspectivas, que evidenciam o que
somos capazes de construir hoje. Neste sentido, trata-se de verdades
limitadas, frágeis, temporárias, permanentemente criadas e recriadas, que
possibilitam, por isso mesmo, o enfraquecimento de nossa própria constituição
subjetiva e nos ajudam a construir estratégias de luta no processo de
afirmação criativa da vida.
267
Para exemplificar as descontinuidades da modernidade, Esperandio menciona o
declínio das metanarrativas e a fragmentação da verdade; o presentismo e a contração
do tempo e do espaço; a relação entre ética, estética e consumo, capitalismo,
globalização e trabalho.
268
Por fim, Esperandio entende que pós-modernidade
263
BAUMAN, Zygmunt. Tempos líquidos. Tradução de Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Ed., 2007, p. 10.
264
ESPERANDIO, 2007, p. 45.
265
ESPERANDIO, apud Vattimo, 2007, p. 47.
266
ESPERANDIO, 2007, p. 30.
267
ESPERNADIO, 2007, p. 47.
96
é uma interpretação da contemporaneidade que emerge como expressão de
uma nova forma de pensar, compreender e traduzir o capitalismo, a
globalização, a produção de subjetividade, as lutas empreendidas pelos
movimentos sociais, etc., cujas implicações teórico-práticas ainda estão por ser
desenhadas.
269
Ayres, por sua vez, entende a pós-modernidade como um momento de grande
confusão. Ele afirma:
O ser humano contemporâneo está fragmentado em suas convicções, inseguro
quanto a seu futuro, ideologicamente decepcionado, órfão dos valores da
religião. Perdido e esfomeado diante das múltiplas e variadas opções que lhe
são oferecidas, morre de inanição, como o asno que morreu de fome em meio
a vários montes de feno, por não saber qual deles comer.
270
Infelizmente Ayres não está sozinho nesta percepção complicada da sociedade
deste tempo. Bauman descreve a sociedade atual como sendo:
Uma população heterônoma, infeliz e vulnerável, confrontada e possivelmente
sobrepujada por forças que não controla nem entende totalmente; uma
população horrorizada por sua própria vulnerabilidade, obcecada com a
firmeza de suas fronteiras e com a segurança dos indivíduos que vivem dentro
delas – enquanto é justamente essa firmeza de fronteiras e essa segurança da
vida dentro delas que geram um domínio ilusório e parecem ter a tendência de
permanecer como ilusões enquanto o planeta for submetido unicamente à
globalização negativa. [...] A vida social se altera quando as pessoas vivem
atrás de muros, contratam seguranças, dirigem veículos blindados, portam
porretes e revólveres, e freqüentam aulas de artes marciais. O problema é que
essas atividades reafirmam e ajudam a produzir o senso de desordem que
nossas ações buscam evitar.
271
Seria possível multiplicar autores que abordam a questão da pós-modernidade,
entretanto, estes mencionados servem de indicativos para uma reflexão mais
aprofundada sobre a sociedade atual, berço propício para a gestação e nascimento de
novas comunidades cristãs, no município da Serra e em todo o mundo.
268
ESPERANDIO, 2007, p. 47-48.
269
ESPERANDIO, p. 80.
270
AYRES, Antônio Tadeu. Como entender a pós-modernidade: o desafio de conduzir a igreja
segundo os princípios bíblicos. São Paulo: Vida, 1998, p. 6.
97
3.1.1.1.1 O Individualismo
Dentre as muitas características da pós-modernidade, que contribuem
diretamente na multiplicação de igrejas, pode ser destacado o individualismo, que se
manifesta na falta de lealdade ao grupo e dificuldade para compromissos duradouros.
Prandi descreve como isso acontece no campo religioso:
As mais díspares religiões, assim, surgem nas biografias dos adeptos como
alternativas que se podem pôr de lado facilmente, que se podem abandonar a
uma primeira experiência de insatisfação ou desafeto, a uma mínima decepção.
São inesgotáveis as possibilidades de opção, intensa a competição e entre
elas, fraca a sua capacidade de dar a última palavra. A religião de hoje é a
religião da mudança rápida, da lealdade pequena, do compromisso
descartável.
272
Hervieu-Léger analisa a realidade da Europa e América do Norte, mas
certamente podem-se aplicar suas observações também para o contexto latino
americano. Ela afirma que nossa sociedade é “marcada pela difusão do crer
individualista, pela disjunção das crenças e das pertenças confessionais e pela
diversificação das trajetórias percorridas por crentes passeadores”
273
ou seja, crentes
que saem a esmo, passeando ou perambulado sem destino. Isso, entretanto, não
significa que os indivíduos se mantenham sozinhos na expressão de sua fé. Segundo a
autora,
como o aparato das grandes instituições religiosas se mostram cada vez menos
capazes de regular a vida de fiéis que reivindicam sua autonomia de sujeitos
que crêem, assiste-se a uma efervescência de grupos, redes e comunidades
dentro das quais indivíduos trocam e validam mutuamente suas experiências
espirituais.
274
O individualismo, que se manifesta em todas as esferas da sociedade, repercute
diretamente naquilo que as pessoas entendem ser um direito nato, ou seja, sua
liberdade de consciência. Como diz Hervieu-Léger:
271
BAUMAN, 2007, p. 13 e 15.
272
PRANDI : 2000, p. 34
273
HERVIEU-LÉGER, 2008. p. 28.
98
Nas sociedades modernas, a crença e a participação religiosa são assunto de
opção pessoal’: são assuntos particulares, que dependem da consciência
individual e que nenhuma instituição religiosa ou política podem impor a quem
quer que seja. Inversamente, a pertença religiosa de um indivíduo e suas
crenças não podem constituir um motivo válido para excluí-lo da vida social,
profissional ou política, na medida em que elas não põem em questão as regras
de direito que regem o exercício dessas diferentes atividades. Esta distinção
dos domínios se insere na separação entre a esfera pública e a esfera privada
que é a pedra angular da concepção moderna de política.
275
Tanto na Europa, na América do Norte e em todo o mundo, inclusive no Brasil, é
evidente que as pessoas, mais do que nunca, estão fazendo uso de sua liberdade de
escolha, para definir suas práticas religiosas, para permanecer sem religião ou iniciar
uma igreja nova. Segundo Hervieu-Léger, os indivíduos fazem valer sua liberdade de
escolha, cada qual retendo para si as práticas e as crenças que lhe convêm”.
276
O
resultado inevitável é a fragmentação e a proliferação de igrejas.
Em matéria religiosa, como em tudo o mais na vida social, o desenvolvimento
do processo de pulverização individualista produz paradoxalmente a
multiplicação de pequenas comunidades fundadas nas afinidades sociais,
culturais e espirituais de seus membros.
277
Vários membros de novas comunidades entrevistados fizeram menção do
princípio de liberdade de consciência e de liberdade religiosa como argumento
favorável para iniciar uma nova comunidade. Os princípios da competência do
indivíduo, livre exame e livre interpretação das escrituras e liberdade religiosa, três
pilares fundamentais dos Batistas no decorrer de toda a sua história, tornam-se
argumentos bem sólidos para o individualismo no que tange às decisões no campo
religioso. Conforme afirma Landers:
O batista não passa uma procuração de todos os poderes apara o cuidado de
sua alma à sua igreja ou ao seu pastor. Ele participa da igreja e é sujeito à sua
disciplina, mas em última análise o batista é responsável por si mesmo perante
Deus. Ele tem o dever de ler sua blia e chegar às suas próprias conclusões,
274
HERVIEU-LÉGER, 2008, p. 28.
275
HERVIEU-LÉGER, 2008, p. 34-35.
276
HERVIEU-LÉGER, 2008, p. 43.
277
HERVIEU-LÉGER, 2008, p. 51.
99
porque ele é um indivíduo competente. Ele não pode delegar esta
responsabilidade a nenhuma instituição e a nenhum sacerdote.
278
Pode-se notar, por esta abordagem, que o fundamento para o surgimento de
novos movimentos e igrejas cristãs está nos próprios princípios que algumas igrejas
protestantes históricas abraçaram e defenderam durante toda a sua existência,
podendo ser citado como exemplo os próprios batistas que sempre defenderam o
princípio da competência do indivíduo para interpretar a bíblia e tomar suas decisões
em todos os sentidos, inclusive nas questões religiosas e espirituais, de acordo com
sua consciência.
Paul Freston entende que
somente existiu unidade da igreja em algum lugar quando a religião estava
aliada a Estado. Se acreditamos na liberdade confessional, não somente para
nós, mas para todos, inclusive para aqueles dos quais não gostamos, a
conseqüência é uma pluralidade religiosa muito grande, dentro e fora do
protestantismo.
279
O sociólogo da religião, José Bitencourt Filho, entretanto, alerta para as
conseqüências de um individualismo exacerbado. Ele afirma:
Em algumas expressões da condição pós-moderna, adota-se um individualismo
radical, no qual cada um se volta para si mesmo, uma vez que fora de si nada
seria seguro nem objetivo. A hipertrofia da subjetividade, em detrimento da
objetividade, pode, em alguns casos, conduzir a um divórcio entre as esferas
privada e blica, com forte desprestígio desta última, isto é, das noções de
representatividade e de participação política. Tal modalidade de individualismo
pode também produzir uma identidade fragmentada e uma percepção social
desprovida de qualquer historicidade, ou seja, pragmaticamente situada no
‘presente’
280
É evidente que este individualismo radical afeta o ser humano em todas as
dimensões e relacionamentos. Achando-se livre para tomar suas decisões seguindo
278
LANDERS, John. Teologia dos princípios batistas. Rio de Janeiro: Junta de Educação Religiosa e
Publicações, 1986. p. 39.
279
FRESTON, PAUL. Nenhuma igreja está parada no tempo. Revista Ultimato, Viçosa, Ano XLII, n.319,
p. 38-41, 2009.
280
BITENCOURT FILHO, José. Matriz religiosa brasileira: religiosidade e mudança social. Petrópolis:
Vozes; Rio de Janeiro: Koinonia, 2003. p.187.
100
apenas os ditames de sua consciência, sem o senso de responsabilidade coletiva por
suas decisões, de prestar contas de suas decisões e ações à um segmento religioso
ou denominacional, muitos tem se sentido liberados para iniciar novas igrejas, de
acordo com os ditames de sua própria consciência, muitas vezes no ideal de iniciar um
movimento que alcance proporções mundiais.
3.1.1.1.2 O Secularismo
Outro elemento que teve início na modernidade e se estendeu até os nossos
dias é o fenômeno conhecido como secularização ou secularismo. Segundo EVANS,
secularismo é
o sistema de crença, atitude ou estilo de vida que nega ou ignora a existência
de Deus. Termo derivado de um vocábulo que significa ‘mundano’ o
secularismo destaca a ordem natural das coisas como realidade final.
Incrivelmente, porém, o secularismo pode ser encarado como uma atitude que
afeta até mesmo quem afirma crer em Deus e no sobrenatural. Grande parte da
cultura moderna pressiona as pessoas a viver de forma a marginalizar Deus e a
torná-lo insignificante em relação à vida cotidiana.
281
Por sua vez, Boice conceitua secularismo como sendo
um termo que abrange uma variedade de outros ‘ismos’, tais como humanismo,
relativismo, materialismo e pragmatismo. Mas secularismo, mais do que
qualquer outra palavra, descreve convenientemente a estrutura mental e de
valores das pessoas de nossa época.
282
Podemos entender a secularização como o processo pelo qual os segmentos
mais distintos da sociedade se libertaram da influência da religião. Ela neutraliza a
influência cultural e social da religião. Falando sobre o assunto, João Batista Libâneo
afirma que
a Ilustração, com sua forte crítica à religião, anunciava seu lento, mas constante
e implacável desaparecimento. Movimento que se processava a partir das
classes letradas em direção às classes populares tradicionais, passando pela
rápida e forte secularização das classes operárias [...] Tal onda cresceu ainda
mais depois da Segunda Guerra Mundial, que mexeu profundamente com os
281
EVANS, C. Stephen. Dicionário de Apologética e Filosofia da Religião. Tradução de Rogério
Portella. São Paulo: Vida, 2004. p. 125.
282
BOICE, James Montgomery. O evangelho da graça: a aventura de restaurar a vitalidade da igreja
com as doutrinas bíblicas que abalaram o mundo. Tradução de Meire Portes Santos. São Paulo (SP):
Cultura Cristã, 2003. p. 41.
101
valores da cultura européia, afetando diretamente a prática religiosa. O avanço
espetacular da tecnologia, o bem-estar social promovido pelos ‘milagres
econômicos’ arrematavam um processo de desgaste das instituições religiosas,
que pareciam ancoradas no mundo da pré-modernidade.
283
Karl Marx chegou a dizer que “a abolição da religião enquanto felicidade ilusória
do povo é necessária para sua felicidade real”.
284
E tudo parecia caminhar nesta direção,
chegando ser reconhecido até mesmo por teólogos cristãos de grande influência como
Dietrich Bonhöffer que, da prisão lamentou: “passou o tempo da religião [...] marchamos
para uma época sem religião alguma”.
285
A impressão que se tinha, no auge da
secularização, na década de1960
286
era que a religião tinha tomado um caminho sem
volta. A impressão que se tinha era de que a “morte de Deus”
287
havia ocasionado
também a “morte da religião”. Assim caminhou a humanidade por algum tempo, como se
Deus tivesse realmente morto e a religião desaparecido do mapa da sociedade.
No início da década de 1970, entretanto, surge um novo interesse da parte de
sociólogos da religião, procurando olhar com mais cuidado o fenômeno religioso.
Passou-se a observar que longe de desaparecer, a religião tomava novos contornos.
Como afirmou Hervieu-Léger, “a crença não desaparece, ela se desdobra e se
diversifica, ao mesmo tempo em que rompem com maior ou menor profundidade, de
acordo com cada país, os dispositivos de seu enquadramento institucional”.
288
Ainda
assim, é digno de nota que o fenômeno religioso recebe influência da secularização.
Para a socióloga francesa,
é necessário ter entendido que a secularização não é, acima de tudo, a perda da
religião no mundo moderno. É o conjunto dos processos de reconfiguração das
crenças que se produzem em uma sociedade onde o motor é a não satisfação
das expectativas que ela suscita, e onde a condição cotidiana é a incerteza
ligada à busca interminável de meios de satisfazê-las.
289
Para usar expressões de Hervieu-Léger, longe de estar “perdida”, a “religiosidade
está em toda a parte”. Ela afirma:
283
LIBÂNIO, João Batista. A Religião no Início do Milênio. Petrópolis: Loyola, 2002. p. 15.
284
MARX, 1979 apud LIBANIO, 2002, p. 17.
285
BONHÖFFER, 1968 apud LIBANIO, 2002, p. 16.
286
LIBÂNIO, 2002. p. 15.
287
Expressão cunhada por Nietzsche
288
HERVIEU-LEGER, 2008, p. 44.
289
HERVIEU-LEGER, 2008, p. 41.
102
A secularização dessas sociedades não se resume unicamente, já sabemos
disso, ao encolhimento de uma esfera religiosa diferenciada. Ela se faz notar,
igualmente, na disseminação dos fenômenos de crença, que confere uma
pertinência imprevista à formula aplicada classicamente às sociedades não-
modernas : ‘a religiosidade es em toda parte’. Religiões ‘à la carte’,
religiosidade ‘flutuante’, crenças ‘relativas’, novas elaborações sincréticas : a
religiosidade ‘vagante’, de que falava um dia J. Séguy, está situada, em sua
indeterminação específica, no centro de toda reflexão sobre a religião nas
sociedades modernas.
290
Isso havia sido previsto, por dois autores americanos que, pautados por inúmeras
pesquisas, apresentavam para o mundo as dez mega-tendências para a humanidade
no Século XXI, tendo como nona tendência o reaparecimento do religioso : Com a
proximidade do ano 2000, há sinais de um redespertar religioso mundial em todas as
frentes”.
291
O dado infeliz neste momento da história da humanidade, foi que, além de dar
origem à toda a sorte de expressão religiosa, multiplicando o número de Comunidades
Cristãs Independentes, houve também a explosão dos fundamentalismos religiosos,
ocasionando tragédias como a destruição das Torres Gêmeas nos Estados Unidos,
atentados terroristas ao redor do mundo, invasões no Afeganistão e no Iraque, causando
morte, destruição e muita violência em nome de Deus.
292
Entre nós, os brasileiros,
entretanto,
a explosão religiosa manifesta-se, por uma multiplicação exuberante de novas
denominações religiosas. O Censo do IBGE de 1991-1995 apontou para o
surgimento de 4 mil que o Censo de 1980 não identificara. Entre 1990-1992, 627
novas igrejas foram criadas somente no Estado do Rio de Janeiro, numa dia
de cinco novas igrejas por semana, uma por dia útil. A imensa maioria são
pentecostais.
293
Brandão constata esta virada, analisando detalhadamente a realidade religiosa de
uma cidade paulista, Itapira. Ele afirma que
quando as forças e a ordem do secular pareciam haver chegado, de uma vez,
para substituírem as da religião, houve em Itapira momentos de um, pelo menos,
relativo, processo inverso. [...] uma progressiva revitalização do setor religioso,
290
HERVIEU-LEGER, 2008, p. 25.
291
NAISBITT, ALBURDENE, 1983, apud LIBANIO, 2002, p. 22.
292
LIBÂNIO, 2002. p. 22-24.
293
LIBANIO, 2002, p. 24.
103
acompanhada de uma reconquista parcial do seu poder de incutir valores sacrais
nas ideologias da sociedade.
294
O nascimento de novas igrejas e o aparecimento de muitos credos improvisados,
em muitos casos, é em decorrência do processo de secularização, tanto da sociedade
como da igreja. que se considerar duas realidades existentes: muitos formam novas
comunidades devido ao inconformismo, tentando fugir da secularização da igreja,
procurando resgatar os valores do reino de Deus; outras novas comunidades se formam
seguindo as ondas da secularização, com práticas adaptadas ao liberalismo religioso da
era vigente. Isto é o que constata Cavalcanti,
em artigo escrito para a revista ultimato:
um império dominando o mundo, impondo uma idéia única, fechando a
história, desqualificando as utopias. Há massificação, desinformação, pressão
e tentação em direção ao hedonismo compremos e curtamos, que aman
morreremos - ao materialismo prático do consumismo, que separa o templo
do tempo, o individualismo do discipulado. louvorsões de baixos conteúdos
teológicos; sermões de rasos conteúdos bíblicos; showscultos em vez de
liturgia; astros em vez de profetas.
295
Estes elementos entrando em igrejas estabelecidas tem ocasionado rompimentos,
dando origem a novos grupos.
Por sua vez, Bitencourt Filho entende que a secularização não é o causador do
surgimento de novas religiões, mas possibilitou a sua manifestação. Segundo ele,
o propalado processo de secularização não produziu, como acreditavam
muitos, mas sim, ensejou o aparecimento de sistemas substitutivos. Novos
entes sagrados, travestidos em propostas seculares, que em seu bojo
introduzem novas mitologias, tais como a do “progresso ilimitado”. Tal qual as
religiões totalitárias da Antiguidade, as novas propostas religiosas globalizantes
e substitutivas, cuidam de impor suas respectivas mundividências e disseminam
‘dogmas’ capazes de inspirar tanto a submissão de muitos, quanto a admiração
de outros. Acresce que tais propostas alcançam elevados níveis de adesão, na
proporção em que elegem inimigos e adversários reais ou imaginários que
apenas podem ser convertidos ou rejeitados.
296
Outro “ismo” a ser citado, dentro da secularização é o materialismo, que permeia
o mundo religioso, sobretudo no Ocidente. Se a visão da igreja for quantidade em
294
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Os deuses do povo: um estudo sobre a religião popular. 3ª ed.
Ampliada com depoimentos. Uberlândia: EDUFU, 2007. p.107.
295
CAVALCANTE, Robinson. Revista Ultimato. Viçosa, set – out, p. 39 , 2006.
296
BITENCOURT FILHO, 2003. p. 210.
104
detrimento da qualidade, templos cheios ao invés de relacionamentos duradouros,
imediatismo no lugar da solidez, conforto no lugar de expansão missionária e as coisas
ocupando o lugar das pessoas a igreja se conformou com o mundo, ao invés de
transformá-lo, segundo imperativo bíblico expresso em Romanos 12:1-2.
3.1.2 O Contexto Religioso
3.1.2.1 O Pluralismo Religioso
Outra marca da pós-modernidade é o pluralismo, que se manifesta em todos os
níveis e segmentos da sociedade. Tamayo e Fariñas afirmam:
O pluralismo não é um conceito novo, apesar do destaque que tem recebido da
mídia nos últimos anos, como consequência das diferenças endógenas e
exógenas que estão experimentando as sociedades atualmente. A concepção
plural da natureza humana e da natureza social tem sido destacadas
reiteradamente por antropólogos, sociosemióticos, historiadores e sociólogos,
desmistificando a pretendida metafísica de uma ‘natureza humana universal’.
(tradução nossa)
297
/
298
Os autores fazem uma distinção entre pluralismo e pluralidade, afirmando que:
Uma sociedade queo fosse pluralista e sim monista, poderia aceitar a
presença de uma pluralidade provinda de opções pessoais e individuais
amparadas por um único super-sistema ou uma super-estrutura unificadora e
excludente, porém não aceitaria jamais a presença de outros pontos de vista
além dos seus, nem sequer a possibilidade do surgimento de outras opções
diferentes ou antagônicas. (tradução nossa).
299
/
300
297
El pluralismo no es un concepto nuevo, a pesar de La centralidad mediática que ha adquirido en los
últimos os, como consecuencia de las diferenciaciones endógenas y exógenas que están
experimentando las sociedades actuales. La concepción plural de la naturaleza humana y de la
naturaleza social han sido puestas de manifesto reiteradamente por antropólogos, sociosemióticos,
historiadores y sociólogos, desmitificando la pretendida existencia metafísica de una ‘naturaleza humana
universal’.
298
TAMAYO, Juan José; FARIÑAS, Maria José. Culturas y religiones em diálogo. Madrid: Sintesis
S.A., 2008. p. 106.
299
Uma sociedad no pluralista sino monista, podría aceptar La presencia de una pluralid provisional de
opciones personales e individuales amparadas todas ellas bajo un único supersistema o una
superestructura unificadora y excluyente, pero no aceptaría jamás la presencia de otros universales
contrapuestos a los suyos, ni siquiera la posibilidad de desarrollar otras opciones diferentes o
antagónicas.
300
TAMAYO; FARIÑAS, 2008. p. 107.
105
Deixam claro, os autores, que o pluralismo deve ser entendido
seja do tipo que for, como oposto a qualquer tipo de monismo idealista. O
pluralismo faz referência à existência de várias concepções intelectuais,
culturais, religiosas ou jurídicas diferentes e até mesmo contrapostas entre si.
Por isso, um contexto de pluralismo implica assumir a existência de
fundamentos ou universais diferentes ou contrapostos e até mesmo
mutuamente excludentes entre si. (tradução nossa)
301
/
302
Os pluralismos se desdobram em diversas categorias como pluralismo cultural,
que representa cosmovisões éticas e estéticas diferentes, pluralismo político, que
legitima a democracia representativa e o pluralismo jurídico, reconhecendo rios
sistemas jurídicos simultaneamente.
303
Schaper afirma que
as questões levantadas pelo tema da diferença, da diversidade, da pluralidade
apontam para um amálgama gigantesco de motivações religiosas, étnicas,
culturais, sexuais, econômicas, políticas que se cruzam num mosaico
assustador, cuja imagem se nega terminantemente a entregar-se a qualquer
forma superficial de compreensão.
304
Ao desenvolver o tema, Schaper faz uma apologia da tolerância, a solidariedade
e o reconhecimento como elementos indispensáveis para a criação de uma cultura da
paz, inclusive no âmbito religioso.
Entretanto, a impressão que se tem é que parece ser inevitável que contextos de
pluralismos sejam marcados por muita complexidade e conflitos, que precisam ser
encarados com maturidade. Tamayo e Fariñas dizem que
um dos riscos de todo o contexto de pluralismo, seja do tipo que for, é a
presença inevitável de conflitos e tensões entre opções diferentes. Por isto a
convivência no pluralismo costuma ser complicada e requer um esforço
recíproco para não se impor condições absolutas a si mesmo, porque o
301
Sea del tipo que sea, como opuesto a cualquier tipo de monismo idealista. El pluralismo hace
referencia a la existencia de varias concepciones intelectuales, culturales, religiosas o jurídicas diferentes
o, incluso, contrapuestas entre si. Por eso, um contexto de pluralismo implica asumir la existencia de
fundamentos o universales diferentes o contrapuestos e, incluso, mutuamente excluyentes entre si.
302
TAMAYO; FARIÑAS, 2008. p.106
303
TAMAYO; FARIÑAS, 2008. p.106
304
SCHAPER, Valério Guilherme. A tolerância entre solidariedade e reconhecimento: Idéias para
repensar o conceito de tolerância. In: SCHAPER, Valério Guilherme, OLIVEIRA, Kathlen Luana de;
Reblin, Iuri Andréas (Org.) A teologia contemporânea na América Latina e no Caribe. São Leopoldo:
Oikós; EST, 2008. p. 339.
106
autêntico pluralismo é algo muito mais complexo de focalizar do que o mero
perspectivismo ou a mera situação de uma pluralidade de opções pessoais. O
pluralismo se refere às idéias e, portanto, à pluralidade de formas de entender o
mundo. Os ‘grandes relatos’ estão em crise, pois o pluralismo é o pano de
fundo do nosso tempo. (tradução nossa)
305
/
306
Em virtude do escopo deste trabalho, estarão sendo focados apenas os
pluralismos no campo da religião, divididos em pluralismo religioso, de um ponto de
vista geral e pluralismo cristão, ou seja, entendendo-o aqui no sentido corrente de
diversidade de igrejas cristãs, destacando-se o surgimento de novas igrejas e
expressões religiosas no Brasil, como um processo acentuado na atualidade.
Teixeira e Menezes apresentam um dado colhido pelo censo 2000, que é
extremamente revelador. Eles escrevem:
Nota-se também um processo de ‘pluralização religiosa’, isto é de multiplicação
das opções religiosas existentes, com a liberdade do indivíduo escolher aquela
que considerar mais adequada. No censo 2000, em resposta à pergunta aberta
‘qual a sua religião?’, apareceram nada menos do que 35.000 posicionamentos
diferentes, o que expressa a forma variada pela qual o brasileiro é capaz de
definir sua adesão religiosa.
307
Antes, porém, de entrar na análise do pluralismo religioso brasileiro, tão evidente
na atualidade, mencione-se que a própria Bíblia, a Escritura judaico-cristã, é marcada
por pluralidade. O teólogo Clodovis Boff relaciona alguns destes: Já nas primeiras
páginas da Bíblia pode-se constatar que existem dois relatos da criação, sabe-se de
pelo menos quatro grandes tradições relacionadas ao pentateuco, existem quatro
evangelhos que falam do mesmo Cristo, sua vida, seus ensinos, suas obras, existem
múltiplas cristologias no Novo Testamento.
308
305
Uno de los rasgos de todo contexto de pluralismo, sea del tipo que sea, es la presencia inevitable de
conflictos y tensiones entre opciones diferentes. Por eso la convivencia en pluralismo suele ser
complicada y requiere un esfuerzo recíproco para no imponer condiciones absolutas a la misma, porque
el auténtico pluralismo es algo mucho más complejo de enfocar que el mero perspectivismo o la mera
situación de una pluralidad de opciones personales. El pluralismo se refiere a las ideas y, por tanto, a la
pluralidad de formas de entender el mundo. Los ‘grandes relatos’ están en crisis, por eso el pluralismo es
el transfondo básico de nuestro tiempo.
306
TAMAYO; FARIÑAS, 2008. p. 107.
307
TEIXEIRA, Faustino; MENEZES, Renata (org). As religiões no Brasil: Continuidades e rupturas.
Petrópolis: Vozes, 2006.p. 8.
308
BOFF, Clodovis. Teoria do método teológico. Petrópolis - RJ: Vozes, 1998. p. 495.
107
Note-se, então, que o pluralismo religioso não é um fenômeno exclusivo da
sociedade contemporânea, muito embora tenha se tornado muito mais evidente nas
últimas décadas.
Falando sobre o tema, Panasiewicz defende que
a questão do pluralismo religioso emerge no começo do Século XXI como tema
central da teologia das religiões. Compreender essa realidade desafia, cada vez
mais, a mente dos teóricos das religiões. E mais, elaborar uma teologia do
pluralismo religioso é uma demanda da atual sociedade plural. A teologia cristã,
que durante séculos viveu protegida numa redoma pela filosofia metafísica de
cunho aristotélico (teórico e especulativo), vê-se, num primeiro momento,
questionada pela cultura moderna que, em meio a várias suspeitas, duvida
também da existência de Deus. [...] Emerge o segundo questionamento à
reflexão teológica cristã: o pluralismo religioso. É o que se convencionou
chamar de ‘retorno do sagrado’ ou ‘reencantamento do mundo’. Irrompe na
teologia cristã a consciência da pluralidade religiosa. Essa variedade de
religiões provoca a reflexão teológica cristã, pois convicções religiosas e
verdades consideradas absolutas passam a ser desafiadas e, quando não
contrapostas, apresentadas de maneira diferente.
309
Como se vê, o pluralismo religioso, característica marcante do início do Século
XXI, certamente evidencia as mais diferentes maneiras das religiões interpretarem o
sagrado, a humanidade e seus relacionamentos.
Vattimo associa a hermenêutica com as várias possibilidades religiosas:
A hermenêutica abre, por sua vez, o caminho para escutar os muitos mitos
religiosos da humanidade; mas em termos substanciais, de ligação entre
ontologia niilista e Kenosis de Deus significa encontrar também os problemas
de reinterpretação do sentido do cristianismo para nossa cultura. [...] a maioria
das vezes, a hierarquia eclesiástica reivindica o significado autêntico da
mensagem cristã contra as interpretações que lhe parecem secularizantes,
atualizantes e até demasiado mórbidas e conciliadoras.
310
Por iniciativa própria ou por força das circunstâncias, o Cristianismo é levado a
dialogar com outras religiões que se fazem presentes na sociedade contemporânea,
muitas das quais em franco processo de crescimento. Brakemeier afirma que
309
PANASIEWICZ, Roberlei. Pluralismo religioso contemporâneo: Diálogo inter-religioso na teologia
de Claude Feffré. São Paulo: Paulinas; Minas Gerais: PUC Minas, 2007. p. 11.
310
VATTIMO, Gianni. Para além da interpretação: o significado da hermenêutica para a filosofia.
Traduzido por Raquel Paiva. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1999. p. 77.
108
a pluralização do mundo global constitui um processo irreversível. É ilusório
sonhar com a reversão do quadro. Simpática ou não, importa acostumar-se à
idéia da sociedade plurirreligiosa e aprender a viver com ela. Doravante será
este o contexto da teologia e da prática eclesial. A identidade cristã deverá
articular-se em comparação explícita com outros credos. Nenhuma religião tem
reais perspectivas de se impor às outras e de uniformizar o universo da fé [...]
Em todos os casos, plurirreligiosidade será signo permanente do mundo
global.
311
Walter Altmann fala da consciência deste pluralismo, sobretudo no contexto da
América Latina, que muitas vezes foi vista como de exclusividade cristã.
hoje na América Latina, longe de constituir um Continente homogêneo do
ponto de vista religioso ou seja, católico romano -, uma crescente consciência
de nossa pluralidade étnica e cultural. Uma de suas facetas é também o
crescente pluralismo religioso, que representa um desafio especial ao
ecumenismo e à missão. [...] A América Latina se converte hoje em um
continente plural, no sentido étnico, cultural e religioso.
312
O pluralismo religioso é uma realidade no mundo todo, desde os tempos mais
remotos, fenômeno que vem se multiplicando a partir do início da modernidade. E,
dentro deste universo de pluralidade religiosa, pode-se observar um pluralismo dentro
do próprio Cristianismo.
Brakemeier contextualiza o fenômeno que viria se transformar num grande
dilema hermenêutico, vivido pelos cristãos nos últimos séculos. Ele afirma que
durante séculos a Bíblia não sofreu contestação de conteúdo. Era tida como
inquestionável Palavra de Deus, verdadeira e confiável, distinguindo-se
fundamentalmente de qualquer outra obra literária. O primeiro abalo a esta
confiança acontece quando a teologia se confronta com a filosofia não-crisde
Aristóteles. Isto na Idade Média. Pela primeira vez se chocam a e a razão.
Mas o abalo pode ser aparado, pois a teologia escolástica situa ambas em
níveis distintos. A razão situar-se-ia no nível do natural, a no nível do
sobrenatural. [...] Isso muda no Século XVII, mais precisamente com a filosofia
de R. Descartes (1596-1650). Ele faz da dúvida o início da filosofia do
conhecimento. O potencial exclusivo, capaz de superar a dúvida, é a razão.
Unicamente porque eu penso é que tenho certeza de que de fato existo. É o
que expressa o afamado ‘cogito, ergo sum’. Decisivo e central é o sujeito
pensante, que se sabe separado do objeto, ou seja, do mundo das ‘coisas’.
Com Descartes inicia o ‘racionalismo’, que vai sujeitar todas as coisas à crítica
311
BRAKEMEIER, Gottfried. cristá e pluralidade religiosa: onde es a verdade. Estudos
Teológicos, ano 42, n. 2, p. 23-47, 2002, p. 31.
312
ALTMANN, Walter. O pluralismo religioso como desafio ao ecumenismo na América Latina.
In.:Sarça ardente:Teologia na América Latina : Prospectivas. SUSIN, Luiz Carlos (organizador). São
Paulo: Paulinas, 2000. p. 395-396.
109
racional. Sua filosofia exige demonstrações matemáticas, portanto exatas.
Descartes de modo algum é ateu. Mas está claro que Deus perdeu a
centralidade no universo do saber. Tem início o que veio chamar-se ‘ciência
exata’, para a qual o ‘sobrenatural’, respectivamente a ‘metafísica’ se torna
suspeita.
313
A maneira como o cristianismo situa a Bíblia nesta questão é desencontrada. O
Protestantismo, com sua teologia acadêmica, sujeita a Bíblia ao mesmo tipo de análise
como qualquer outro documento histórico, optando, majoritariamente pela interpretação
crítica. O Catolicismo manteve sua posição tradicional, apelando para sua autoridade
na definição de questões religiosas. De uma forma ou de outra, “o advento do
Iluminismo inaugurou o fim do domínio da Igreja sobre o mundo secular, abalou a
confiança na verdade bíblica e exigiu redefinição da religião na sociedade.
314
muitos indícios de que a pluralidade cris está ligada à questões
hermenêuticas. Observe-se o que Hans Küng afirma:
O cânon neotestamentário está na base da pluralidade das confissões. Nisso se
deve concordar com Käsemann, porque: a) existem diversas confissões cristãs;
b) as diferentes confissões cristãs se reportam ao non neotestamentário e
atribuem sua existência a ele; c) essas diversas referências ao cânon
neotestamentário têm um fundamento real na complexidade indicada,
pluralidade e oposição de concepções teológicas do próprio Novo Testamento.
Nesse sentido, portanto, o cânon neotestamentário está na base da diversidade
das confissões.
315
Na verdade, não é o cânon em si, mas a seleção de temas e de textos que
servem como base hermenêutica para as definições teológico-doutrinárias das Igrejas
Cristãs que se constituíram em motivos para o nascimento de novas igrejas.
Panasiewicz trabalha o diálogo inter-religioso, na perspectiva do teólogo Católico
francês, Claude Geffré. Ele afirma que,
contrapondo-se ao modelo teológico dogmático, Geffré propõe o modelo
teológico hermenêutico. Este será ‘um novo paradigma, um novo modelo, uma
nova maneira de fazer teologia’. Afirma que o termo hermenêutica evoca
movimento de pensamento teológico que, pondo em relação viva o passado e o
presente, expõe-se ao risco de interpretação nova do cristianismo para hoje’. E
313
BRAKEMEIER, Gottfried. A autoridade da bíblia: controvérsias, significado, fundamento. 2. ed. São
Leopoldo : Sinodal, Centro de Estudos Bíblicos, Escola Superior de Teologia, 2007. p .45.
314
BRAKEMEIER, 2007, p. 46.
315
KÜNG, HANS. Teologia a caminho: fundamentação para o diálogo ecumênico. Traduzido por Hans
Jörg Witter. São Paulo: Paulinas. 1999. p. 97.
110
prossegue dizendo que ‘esta hermenêutica da teologia nos leva a uma
concepção não tradicional da tradição e uma noção plural da verdade cristã.
316
Muito embora o foco de Geffré esteja no diálogo entre as religiões, ele fala de
uma noção plural da verdade cristã, o que dá margem para compreensão de um
Cristianismo multifacetado, ou seja, um pluralismo cristão.
Libânio menciona um estudo feito por Antoniazzi que analisa este fenômeno
religioso brasileiro e afirma: “A grande tendência das últimas décadas ou da
modernidade, no campo religioso é a diversificação e a fragmentação”.
317
Esta fragmentação do Cristianismo vem abrindo lacunas que tem distanciado
muitos cristãos, dando-se a entender que se trata de várias religiões dentro do
Cristianismo. A brecha entre as Igrejas Cristãs é visível e desconfortável para aqueles
cristãos que entenderam que Jesus Cristo é Senhor comum a todos os cristãos.
Para tornar as relações cristãs inter-eclesiásticas ainda mais conturbadas, em
setembro de 2000 a Igreja Católica Romana publicou a Declaração denominada
Dominus Iesus, da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, na qual “a Igreja
católica romana é considerada Igreja em ‘sentido pleno’, não podendo as demais
‘comunidades eclesiais’ ser consideradas ‘Igrejas irmãs’, pois a Igreja católica romana é
a ‘Mãe’ das Igrejas”.
318
E a previsão de Altmann, neste contexto de pluralismo religioso é que: “o
Continente será, no futuro, menos católico, mais pentecostal, com espaços
significativos para a religiosidade indígena e africana, e com uma incidência real, ainda
que modesta, do protestantismo histórico”.
319
Diariamente nascem novas Comunidades Cristãs Independentes, muitas das
quais em virtude de interpretações divergentes de textos das Escrituras Sagradas,
ampliando cada vez mais a realidade do pluralismo cristão no mundo, muito
especialmente em solo brasileiro.
316
PANASIEWICZ, 2007, p. 79.
317
LIBÂNIO, 2002, p. 25.
318
ALTMANN, 2000, p. 405.
319
ALTMANN, 2000, p. 400.
111
3.1.2.2 O Declínio Institucional
Faustino Teixeira, apresentando o livro ‘O peregrino e o convertido’, de Daniele
Hervieu-Léger afirma que “o que caracteriza o tempo atual não é a mera indiferença
com respeito à crença, mas a perda de sua ‘regulamentação’ por parte das instituições
tradicionais, produtoras de sentido”.
320
Escrevendo com Menezes, depois de ter mencionado a grande diversidade de
religiões presentes no Brasil, Faustino afirma:
Percebe-se ainda que as religiões passam por um processo de
‘desinstitucionalização’. Esse processo, que não ocorre apenas no Brasil, pois é
encontrável em grande parte do Ocidente, significa o ‘esvaziamento’ de
instituições religiosas tradicionais, mais formais, como a Igreja Católica e as
Igrejas protestantes históricas, paralelo ao crescimento de formas menos
convencionais de religião, tais como grupos de Nova Era, filosofias com
conotação mística, tradições esotéricas, etc.
321
Este é um dos campos mais estudados por Daniele Hervieu-Léger. É tese sua
que as instituições regulamentam cada vez menos as expressões religiosas que tem
surgido na atualidade. E vai além ao dizer que,
a gestão dessas formas inéditas e renovadas de congregações espirituais
coloca problemas temerários às instituições religiosas, ao emergirem de dentro
delas. Ela questiona também o poder público, pouco equipado para lidar com
estes fenômenos que saem do quadro jurídico habitual das relações entre o
Estado e as Igrejas [...] Identidades religiosas ‘históricas’ que deixam de ser
reguladas, novos movimentos espirituais que proliferam, incertezas jurídicas e
políticas na gestão pública das religiões: todos os países ocidentais precisam
encarar hoje esses problemas mobilizando os recursos jurídicos e culturais que
historicamente possuem. Na França, esta redistribuição das cartas na esfera
religiosa afeta o país que descobre, não sem inquietação, que se tornou um
país multicultural e multireligioso.
322
Na observação de Hervieu-Leger, o mundo passa por um processo de
‘laicização’, o que implica em que “a vida social não é mais, ou torna-se cada vez
320
HERVIEU-LÉGER, 2008, p. 9.
321
TEIXEIRA; MENEZES, 2006, p. 8.
112
menos, submetida a regras ditadas por uma instituição religiosa”.
323
Segundo a
socióloga francesa, um forte indício do enfraquecimento institucional é a existência,
dentro das religiões históricas, de ‘crentes não praticantes’. Segundo ela,
a ruptura entre a crença e a prática constitui o primeiro índice do
enfraquecimento do papel das instituições guardiãs das regras da fé. Mas o
aspecto mais decisivo desta ‘perda de regulamentação’ aparece principalmente
na liberdade com que os indivíduos ‘constroem’ seu próprio sistema de fé, fora
de qualquer referência a um corpo de crenças institucionalmente válidos.
324
Citando outros exemplos europeus além da França, como Suécia e Béliga, onde
o índice de ‘crentes não praticantes’ é muito grande, Hervieu-Léger afirma que existem
múltiplos sinais de que a sociedade passa de uma “religião instituída” a uma “religião
recomposta”.
325
Esta questão dos crentes não praticantes’ é sintomática também entre os
protestantes do Brasil, tanto de linha histórica como pentecostal. O sociólogo Paul
Freston afirma que “alguns estudiosos falam numa crise do pentecostalismo. Esta
crise seria de estagnação numérica, de falta de prática (um alto índice de pentecostais
não-praticantes) e de apostasia (muita gente deixando as igrejas)”.
326
Segundo ele, o
fenômeno dos “crentes não praticantes” é mais acentuado no Chile, mas certamente o
Brasil não fica longe desta realidade.
Freston não é o único a demonstrar preocupação com a dicotomia entre a teoria
e a prática, nas igrejas protestantes. O teólogo batista colombiano Harold Segura, que
atuou como observador não Católico na V Conferência Geral do Episcopado Latino-
americano e Caribenho, realizada em Aparecida, em Maio de 2007, comentando sobre
o “catolicismo nominal” expressa sua preocupação dizendo que
é importante ressaltar que o protestantismo evangélico no continente começa a
viver uma situação similar. estudos muito bem documentados que mostram
que dentro de nossas fileiras se observam os primeiros sinais do
322
HERVIEU-LÉGER, 2008, p. 27-28.
323
HERVIEU-LÉGER, 2008, p. 34.
324
HERVIEU-LÉGER, 2008, p. 42.
325
HERVIEU-LÉGER, 2008, p. 43.
326
FRESTON, PAUL. Presente e futuro da igreja evangélica no Brasil.. Revista Ultimato, Viçosa, Ano
XLI, n.315, p. 38, 2008.
113
‘protestantismo popular’, de ‘analfabetismo bíblico’ e de separação entre e
ética.
327
Retomando o tema da desregulação como indício de declínio institucional,
convém retornar para Hervieu-Léguer, que afirma ao falar sobre isso:
As crenças se disseminam. Conformam-se cada vez menos aos modelos
estabelecidos. Comandam cada vez menos as práticas controladas pelas
instituições. Tais tendências são os maiores sintomas do processo de
‘desregulação’ que caracteriza o campo religioso institucional no final do século
XX.
328
Libânio analisa o declínio institucional no campo religioso brasileiro,
demonstrando que a desregulação institucional também é realidade por aqui. “Fala-se
também de neocristianismo para designar pessoas que se sentem ligadas aos
princípios fundamentais de Cristo, sem, no entanto, vincular-se a nenhuma
denominação crisinstitucionalizada”.
329
É a busca pelo novo, pelo inédito, além das
formas e normas institucionalizadas, cada um buscando vivenciar em suas vidas
novas maneiras de experimentar sua religiosidade.
Fala-se também num tempo pós-denominacional, período em que as
denominações históricas passam a ser desprestigiadas, em função do nascimento de
igrejas independentes, sem vínculo denominacional. Perguntado sobre as razões
porque deixou a igreja onde era pastor a fim de plantar uma igreja independente,
Peregrino I afirmou categoricamente: porque eu particularmente não acredito mais
nesse modelo. Eu não acredito mais no modelo denominacional”.
330
327
SEGURA, Harold. Não ao analfabetismo bílbico. Revista Ultimato, Viçosa, Ano XL, n. 307, p. 36,
2007.
328
HERVIEU-LÉGER, 2008, p. 50.
329
LIBÂNIO, 2002, p. 27.
114
3.2 Fatores Internos
3.2.1 Conflitos de Gerações: Descontinuidade
Se um mundo marcado pelo pluralismo religioso é, essencialmente conflituoso,
conforme advoga Tamayo e Frariñas
331
pode-se constatar que estes conflitos acabam
escoando para dentro das igrejas, notadamente as que tem uma história mais longa.
Um destes conflitos se exatamente entre as gerações que fazem parte da mesma
comunidade, mas que acabam vivendo uma realidade diferente, em função das rápidas
mudanças pelas quais passa a sociedade.
Um dos conflitos que pode ser constatado por esta pesquisa, é o conflito de
gerações, visto como uma dificuldade existente na sociedade contemporânea de as
gerações mais antigas passarem o bastão para as novas gerações, produzindo assim o
fenômeno da descontinuidade, sobretudo em questões relacionadas à religião.
Niebuhr afirma que “raramente a segunda geração assume as convicções que
herdou com idêntico fervor dos seus pais, que modelaram tais convicções no calor do
conflito e sob o risco do martírio”.
332
Hervieu-Léger, por sua vez, dedica um capítulo
inteiro de sua obra para descrever o que ela chama de “o fim das identidades religiosas
herdadas”.
333
Ela parte do princípio que a transmissão regular de instituições e valores
é indispensável para toda e qualquer sociedade, a fim de que possa sobreviver no
tempo, o que se através da educação, rituais e instituições. Segundo ela,
“continuidade não significa imutabilidade em todas as sociedades, a continuidade é
garantida sempre na e pela mudança”.
334
O que se verifica na sociedade atual é uma
aceleração e aprofundamento demasiados nas mudanças, provocando uma verdadeira
crise nesta transmissão, afetando a escola, a universidade, os partidos políticos, os
sindicatos e particularmente as igrejas. Nem os filhos estão interessados nesta
transmissão, nem os pais têm certeza de que isso é relevante para os filhos. Segundo a
autora, “na França, 4% apenas dos pais conservam a fé religiosa entre as qualidades
330
ANEXO B, p. 181.
331
TAMAYO; FARIÑAS, 2008. p. 107
332
NIEBUHR, 1992, p. 20.
333
HERVIEU-LÉGER, 2008, p. 57-80
115
importantes a serem encorajadas nos filhos”.
335
Assim sendo, filhos de pais Praticantes
tornam-se Peregrinos ou Convertidos e filhos de pais Peregrinos ou Convertidos
tornam-se Praticantes.
Outra questão levantada por Hervieu-Léger, ao abordar a questão da crise da
transmissão é a direta relação existente entre a memória e a religião. Segundo ela, a
crise se agrava nos dias atuais, pois “as sociedades modernas são cada vez menos
sociedades de memória. Ao contrário, são governadas, de um modo mais ou menos
imperioso, pelo paradigma da imediatez”.
336
A autora continua:
Não é por serem idealmente sociedades racionais que as sociedades modernas
são tão a-religiosas: é porque são sociedades amnésicas, nas quais a
crescente importância para manter viva a memória coletiva portadora de sentido
para o presente e orientações para o futuro representa uma fundamental
carência. [...] No âmbito da religião, como nos demais, a capacidade do
indivíduo para elaborar seu próprio universo de normas e de valores a partir de
sua experiência singular, tende a impor-se [...] vencendo os esforços
reguladores das instituições.
337
Assim sendo, o campo está aberto e o terreno fértil para o surgimento de novas
comunidades, a partir de experiências de pessoas que se vêem como portadoras de
mensagens especiais e escolhidas para dar início a novas igrejas. É assim que se vêem
os líderes das novas igrejas, entrevistados para esta pesquisa:
Note-se o que afirma o Peregrino I
Nossa Igreja começou, porque há 12 anos atrás eu fui pastor de algumas
pessoas que estavam dentro dessa comunidade, que durante 3 anos me
ligaram (“pastor, vem nos pastorear”). E eu resisti muito porque eu tinha uma
realidade de vida em ___. Até que um dia eu tive um sonho e nesse sonho
Deus me deu o comando. E a partir desse sonho eu decidi que ____ não era
mais a minha casa, que a minha casa era a cidade onde Deus havia preparado
um rebanho para eu pastorear.
338
O Peregrino II apenas menciona que “houve uma experiência de batismo com o
Espírito Santo”.
339
334
HERVIEU-LÉGER, 2008, p. 57.
335
HERVIEU-LÉGER, 2008, p. 60.
336
HERVIEU-LÉGER, 2008, p. 62.
337
HERVIEU-LÉGER, 2008, p. 63.
338
ANEXO B, p. 179.
339
ANEXO B, p. 185.
116
O Peregrino III acrescenta que “minha saída se deu pelo fato de eu ter passado
uma experiência de renovação espiritual na qual passei a crer na contemporaneidade
dos dons espirituais e também por acreditar em princípios como quebra de maldição,
cura interior e batalha espiritual”.
340
O Peregrino IV, por sua vez, também apela para o sobrenatural ao dizer: Eu
escrevi para o bispo em ___ pedindo a minha saída e acima disso eu tive uma palavra
de Deus. Uma pessoa que eu nunca vi falou comigo que o meu tempo na Igreja ___
tinha terminado”.
341
O Peregrino V, a exemplo de seus companheiros, testifica de um chamado
especial de Deus para dar origem a uma nova Igreja. Era revelação da parte de Deus
por intermédio de um círculo de oração e uma necessidade espiritual de um grupo de
14 fundadores, que entenderam que Deus estava chamando para começar”.
342
Bittencourt observa que “o valor da experiência religiosa é exacerbado,
convertendo-se no critério supremo e determinante na espiritualidade. Dessa maneira,
irracionalidade, espontaneidade e emocionalismo se associam numa dinâmica
religiosa”.
343
A experiência passa a valer mais do que a tradição e os sentimentos mais
que as verdades aprendidas no contexto eclesiástico do protestantismo histórico.
Bastante ligado à questão da experiência, estão as emoções, os sentimentos.
Bittencourt constata que “ganha terreno a religiosidade que se expressa
preferencialmente por meio de sentimentos, intuições, crenças difusas e místicas
capazes de prover, antes de mais nada e acima de tudo, o bem-estar espiritual”.
344
Como afirma Dusilek, “as pessoas deixam de preocupar-se com aquilo que é correto
para preocupar-se com aquilo que estão sentindo.”
345
Estas questões por último mencionadas, ligadas à grande ênfase que tem sido
dada à experiência, às emoções e à busca desenfreada de bem-estar espiritual,
somando-se a dificuldades encontradas para a transmissão dos valores, princípios e
340
ANEXO B, p. 187.
341
ANEXO B, p. 189.
342
ANEXO B, p. 191.
343
BITTENCOURT FILHO, 2003, p. 188.
344
BITTENCOURT FILHO, 2003, p. 189.
345
DUSILEK, Darci. O futuro da igreja no terceiro milênio : Desafios internos e externos que a Igreja
deve enfrentar para ministrar a palavra com fidelidade no terceiro milênio. Rio de Janeiro:Horizonal, 1997,
p. 26.
117
doutrinas de uma geração para a outra, está preparado o ambiente para a multiplicação
de igrejas, que nascem a partir de visões e revelações especiais que determinados
líderes afirmam ter, em detrimento das tradições recebidas de seus antepassados.
3.2.2 Questões sócio-político-econômicas
Desde o nascedouro inicial da Igreja de Jesus Cristo, houve necessidade de
enfrentamento de diferenças de raça, condição social e econômica, para que o povo de
Deus vivesse em comunidade, conforme preconizado por Jesus Cristo. Falando da
experiência das primitivas comunidades de discípulos/as de Jesus Cristo, Niebuhr
destaca:
O comunismo religioso da Igreja de Jerusalém, sua renúncia, no concílio
decisivo, ao inflexível sentimento de casta que barrava o caminho da
fraternidade entre cristãos judeus e gentios, a nova atitude para com os
escravos expressa na carta a Filemon e a eleição dos escravos para
importantes cargos nas congregações cristãs, o sentimento de solidariedade e
igualdade que unia senhores e escravos e fazia os discípulos gentios sacrificar
suas escassas economias em favor dos santos de Jerusalém, a própria refeição
comunitária com seu elevado simbolismo e eficácia prática em superar divisões
humanas – tudo isso falava da realidade da comunhão em Cristo.
346
Esta comunhão tão desejada pelo próprio Senhor da Igreja foi abalada, no
decorrer dos séculos, pelas diferenças sócio-econômicas, causando muitas divisões e
provocando o nascimento de muitas igrejas. É isso que o autor observa ao dizer que
a divisão das igrejas segue de perto a divisão social em castas de grupos
nacionais, raciais e econômicos. Traz a barreira racial para dentro da Igreja de
Deus, promove o desentendimento, a autoglorificação e o ódio próprio do
nacionalista chauvinista, ao alimentar no corpo de Cristo diferenças espúrias
oriundas de lealdades provincianas. Faz ricos e pobres sentarem-se separados
à mesa do Senhor, onde os afortunados desfrutam da abundância que
granjearam enquanto os outros se alimentam das migalhas da sua pobreza.
347
Muito embora a tese do autor reflita uma realidade americana específica, é de se
lamentar que questões sócio-econômicas produzam divisão e fragmentação na igreja
de Jesus Cristo. Como vimos, essa foi uma das causas do nascimento da IURD,
346
NIEBUHR, 1992. p. 14.
118
insatisfeito que estava Edir Macedo com o elitismo da Igreja Pentecostal de Nova Vida,
fato já documentado neste trabalho.
Certa fase do denominacionalismo explica-se por meio de uma interpretação
econômica modificada da história religiosa, pois as divisões das igrejas têm sido
ocasionadas mais freqüentemente pela ação direta ou indireta de fatores
econômicos do que pela influência de qualquer outro interesse humano.
Ademais, é evidente que a estratificação econômica torna-se frequentemente
responsável pela manutenção de divisões que foram originadas em diferenças
de outra natureza.
348
Questões econômicas financeiras foram mencionadas em quase todas as
entrevistas feitas. Dos 10 entrevistados membros de igrejas históricas, só dois deixaram
de mencionar este fator.
Sempre que o cristianismo se torna a religião dos afortunados e cultos
tornando-se ao mesmo tempo filosófico, abstrato, formal e eticamente
inofensivo no processo os estratos inferiores da sociedade sentem-se
religiosamente expatriados por uma fé que não vai ao encontro das suas
necessidades e nem apresentava apelo ético ideal. Em tal situação, um bom
líder tem pouca dificuldade em lançar um novo movimento que, em geral, dará
origem a nova denominação.
349
Niebuhr entende que as denominações, via de regra, nasceram com os pobres,
pessoas mais humildes, leigos, sem instrução, mas que foram progredindo e
abandonando a ênfase do trabalho com estes, na medida em que iam progredindo,
enriquecendo e obtendo mais acesso à cultura e ao poder. Foi assim com os
Anabatistas, Batistas, Quacres, Menonitas, Metodistas, etc... Abandonados, os pobres
e deserdados tinham que ir em busca de outros espaços e movimentos, dando origem
a novas denominações.
350
O conflito Leste e Oeste, vivido com muita intensidade nos Estados Unidos,
sobressai claramente como a maior causa de divisão, e suas conseqüências na Igreja
são também indicativas do caráter mais sociológico do que teológico dos cismas. Três
347
NIEBUHR, 1992, p. 13.
348
NIEBUHR, 1992, p. 25.
349
NIEBUHR, 1992, p. 28.
350
NIEBUHR, 1992, p. 25-53.
119
grandes igrejas de fronteira surgiram neste contexto: Metodista, Batista e Discípulos de
Cristo.
351
Outro fator mencionado pelo autor, como determinante no surgimento das
denominações é o nacionalismo europeu, sobretudo em suas manifestações culturais e
políticas. E tudo começa quando a Igreja se misturou com o Estado Romano, com
Constantino. Segundo o autor:
Não somente o interesse do Estado na Igreja e vice-versa estariam destinados
a produzir cismas eclesiásticos na esteira das divisões políticas, mas também a
acomodação do cristianismo à cultura predominante, que a posição de uma
Igreja privilegiada tornava inevitável, estava fadada a envolver a Igreja em todas
as desintegrações da unidade cultural. [...] Caracteristicamente, as questões
que com mais freqüência constituíram problema entre os grupos conflitantes
foram questões de relacionamento da Igreja com o governo civil, do uso de
salmos ou hinos e da atitude da Igreja diante das sociedades secretas. Ao
mesmo tempo, os graus variáveis de ajustamento ao cenário americano foram
responsáveis pelos cismas do corpo principal do presbiterianismo, que foram
descritos em conexão com a história do cristianismo da fronteira. Portanto, o
primeiro efeito da combinação das diferenças do Velho Mundo com a liberdade
religiosa americana foi tanto entre os escoceses como entre os alemães a
multiplicação de igrejas.
352
Como se vê, as questões de ordem social, política e econômica estão presentes
em grande parte dos divisionismos cristãos, produzindo a multiplicação de igrejas no
decorrer dos quase dois mil anos de história.
3.2.3 Questões teológicas
Conforme foi visto no capítulo dois deste trabalho, no decorrer dos séculos,
desde o período do Novo Testamento, os/as discípulos/as de Jesus Cristo depararam-
se com muitas situações teológicas que colocaram em posições diferentes, pessoas
que criam no mesmo evangelho e serviam o mesmo Deus.
Questões relacionadas com a pessoa de Deus (Trindade), a pessoa de Jesus
Cristo (Deus/Homem) e a pessoa do Espírito Santo (Segunda bênção/dons) causaram
351
NIEBUHR, 1992, p. 96-97.
352
NIEBUHR, 1992, 73-74, p. 136.
120
grandes celeumas, ocasionaram muitos concílios e sínodos e dividiram o Cristianismo
em diversos grupos, provocando o nascimento de muitas igrejas rotuladas como cristãs.
Entretanto, é indispensável que se registre que, em toda a história do
Cristianismo, as questões teológicas funcionaram mais como fachada para as divisões,
que ocorreram por outros motivos, mas que tinham como questão de frente alguns
aspectos teológicos, nem sempre tão relevantes assim. Niebuhr argumenta nesta
direção ao dizer:
Os historiadores estão certamente corretos quando sustentam que as igrejas
nestorianas e monofisitas, os Cristãos de Santo Tomás, as igrejas armênias,
jacobitas rias, coptas e abissínias o eram primariamente seitas heréticas
distintas da grande Igreja do Ocidente pela heteroxia, mas eram igrejas
nacionais conservadoras que protestaram contra as inovações da de
Constantinopla. Estes mais antigos movimentos cismáticos da Igreja
aparentemente tinham as origens sociais nos conflitos entre grupos
provincianos e o Império. Mas, o primeiro grande cisma da Igreja, que dividiu o
Ocidente do Oriente, teve motivos mais políticos e culturais que religiosos e
teológicos. As disputas teológicas a respeito da adição ao credo do inocente
termo filioque ou sobre o uso de pão não levedado na Eucaristia, em sintomas
de rupturas mais profundas entre Ocidente e Oriente, incapazes de serem
superadas pela uniformidade teológica ou pela unidade eclesiástica. As velhas
diferenças culturais entre o Oriente helênico e o Ocidente romano, a divisão do
Império, a barbarização de uma parte dele pela invasão de nórdicos e de outra
por migrantes eslavos e as ambições políticas dos bispos de Roma e
Constantinopla foram as origens mais autênticas do cisma.
353
Niebuhr menciona a denominação das duas igrejas resultantes do cisma, ou
seja, grega e latina, como forte evidência de que questões culturais e políticas
desencadearam a grande divisão, jamais restaurada.
354
Segundo Niebuhr, “a racionalização tem sido usada mais para defender a
discriminação do que para ocultá-la. O dogma que divide as igrejas raciais é, no
conteúdo, antropológico e não teológico.
355
Siepierski, por sua vez, faz uma declaração
relevante sobre esta questão. Ele afirma que as mudanças teológicas na história do
cristianismo raramente são fruto do labor teológico. A teologia é sempre feita a
posteriori, como uma articulação das crenças da comunidade de fé”.
356
Acontece o
rompimento, o cisma, a divisão, por algum outro motivo e então se elabora o sistema
teológico da nova comunidade que nasce, sendo que a grande maioria dos contornos
353
NIEBUHR, 1992, p. 75.
354
NIEBUHR, 1992, p. 75.
355
NIEBUHR, 1992, p. 146.
121
teológicos são praticamente os mesmos da comunidade de origem. Dentre as poucas
exceções desta realidade, pode-se mencionar a Reforma Religiosa do Século XVI, que
trouxe novos contornos teológicos para as igrejas dela nascentes.
Este fenômeno pode ser constatado nas entrevistas realizadas na pesquisa de
campo, perguntados sobre o conceito de Deus, a Igreja e Salvação notou-se pouca
diferenças teológicas entre os conceitos esposados pelos pastores e membros de
Igrejas Históricas e os dos pastores e líderes de novas Igrejas. Exceção pode ser feita
no que diz respeito à obra do Espírito Santo, sobretudo em relação ao Batismo do
Espírito Santo, mencionado por alguns como fator determinante para o nascimento de
algumas novas Igrejas.
Por outro lado, situações em que as questões teológicas estão na base das
divisões e do nascimento de novas igrejas. No caso dos batistas brasileiros, por
exemplo, a divisão inicial, deu-se em função de questões teológicas, relacionadas à
pessoa e à obra do Espírito Santo. A partir de Julho de 1964, iniciou-se um movimento
que ficou conhecido como Movimento de Renovação Espiritual no Brasil que, a partir da
denominação batista, estendeu-se para praticamente todas as denominações
protestantes históricas em solo brasileiro.
357
O Movimento tomou forma e deu origem a
novas instituições como a Convenção Batista Nacional, criada pelas igrejas que foram
desligadas da Convenção Batista Brasileira em Janeiro de 1965, com uma linha
teológica de cunho pentecostal.
358
Dentro do próprio pentecostalismo este é um fenômeno muito comum. Falando
sobre o surgimento da pluralidade de pentecostalismos no Brasil, Siepierski afirma:
A uniformidade doutrinária do pentecostalismo foi rompida, contudo, em
meados dos anos 70, quando vários setores do pentecostalismo clássico
começaram a experimentar mutações em seu conteúdo doutrinário. Essas
mutações provocaram uma diversidade de desdobramentos, alguns bastante
diferentes de sua origem comum, outros nem tanto. Hoje convivem no campo
pentecostal brasileiro uma infinidade de pentecostalismos, diferentes entre si
356
SIEPIERSKI, 2003, p. 82.
357
FERNANDES, Humberto Viegas. Renovação Espiritual no Brasil: Erros e verdades. Rio de Janeiro:
JUERP, 1979, p. 21.
358
PEREIRA, José dos Reis. História dos Batistas do Brasil (1882-1982). Rio de Janeiro: Junta de
Educação Religiosa e Publicações, 1982. p. 193-200.
122
não apenas no comportamento ético-social, como também no campo
doutrinário.
359
O mesmo autor cita Mariano que defende a tese de que “as diferenças teológicas
significativas entre o neo-pentecostalismo e as vertentes pentecostais que o
precederam são a ênfase na guerra espiritual, a teologia da prosperidade e a
eliminação dos sinais externos da santidade”.
360
Muito relevantes são as afirmações de Karl Barth, sobre a pluralidade e a
unidade, aspectos teológicos importantes dentro da eclesiologia. Ele afirma que:
O Novo Testamento conhece uma pluralidade de comunidades, uma
pluralidade de dons e uma pluralidade de pessoas dentro da igreja una. Essas
pluralidades, entretanto, não tem importância autônoma. Elas tem sua origem,
sua razão e seu limite na unidade neste um : em Jesus Cristo como o Filho
único de Deus, como doador do Espírito Santo uno.
361
E Barth acrescenta a importância de se estar focado em Cristo, não em outra
questão qualquer, ainda que esta seja algo tão relevante como unidade da sua igreja.
Nossa intenção não deve ser a idéia de unidade, por mais bela e moral que ela
seja; nossa intenção deve ser ele, quando pretendemos reconhecer e dizer que
a incumbência da igreja implica ser uma igreja. Pois nele e somente nele
recebem e possuem sua vida, seu espaço, sua dignidade, seu direito, sua
promessa aquelas pluralidades eclesiásticas que querem receber e possuir tudo
isto dentro daquela dependência, pertença e subordinação; é como no caso da
natureza humana, por ele aceita, com ele reunida e assim conciliada, à qual,
para seu próprio bem somente cabe essa existência, posição e importância não
autônoma. E nele, somente nele, morrem aquelas pluralidades eclesiásticas
que quisessem fazer uma reivindicação antiga ou nova por autonomia.
362
Se houvesse mais atenção por parte dos cristãos, nesta questão da
centralização de Cristo, ou seja, de uma vida cristã e eclesiástica cristocêntrica,
certamente reduziria muito a incidência de divisões e o surgimento de novas igrejas.
É também nesta direção que Bonhoeffer afirma, ao falar da vida em comunhão,
antídoto para as divisões. Ele afirma que
359
SIEPIERSKI, In: GUERRIERO, 2003, p. 71.
360
MARIANO, 1995 apud SIEPIERSKI, 2003, p. 78.
361
BARTH, 2006, p. 204.
362
BARTH, 2006, p. 205-206
123
Cristo desobstruiu o caminho que leva a Deus ao irmão. Agora os cristãos
podem viver em paz uns com os outros, podem amar e servir uns aos outros,
podem se tornar um. Contudo, também de agora em diante poderão fazê-lo
por meio de Jesus Cristo. Apenas em Jesus Cristo nós somos um, apenas por
meio dele estamos unidos. Ele permanece o único mediador até a
eternidade.
363
Um último aspecto a ser mencionado sobre as questões teológicas como fator
importante no nascimento de novas igrejas, é aquilo que Paegle chama de
desteologização, quando a ênfase na experiência ou no acontecimento em si é mais
relevante para a pessoa do que o conteúdo de sua fé ou do seu corpo doutrinário.
O happening, ou seja, o acontecimento, que neste caso, se refere à experiência
religiosa passa a ser mais valorizado do que a doutrina para o crescimento em
número de fiéis, num processo que chamamos aqui de “desteologização”.
Neste sentido, a doutrina não é importante, mas sim o acontecimento, seja uma
cura, uma bênção recebida, um emprego novo conquistado, ou breves
momentos onde o fiel pode cantar a música do seu cantor gospel favorito.
364
Assim sendo, a partir do momento em que se valoriza mais a experiência do que
o conjunto de doutrinas ou temas teológicos esposados pela igreja ou denominação da
qual faz parte, o caminho está aberto para o nascimento de novas igrejas, de acordo
com a visão do ou dos seus idealizadores, à luz de suas experiências pessoais.
Outro aspecto a se destacar é a ignorância que se tem da Bíblia Sagrada. Feita
uma pesquisa entre os evangélicos da Grande Vitória, estado do Espírito Santo,
constatou-se que cerca de 80% dos entrevistados ainda o leram a Bíblia toda.
365
Assim sendo, tornam-se facilmente influenciados por pessoas que os convencem de
que estão na igreja errada e que precisam experimentar algo novo em suas vidas, ou
seja, fazer parte de um novo projeto, uma nova igreja.
363
BONHOEFFER, Dietrich. Vida em comunhão. Tradução de Ilson Kayser. 3. ed. Ver. São Leopoldo :
Sinodal, p. 14.
364
PAEGLE, Guilherme de Moura. A “Mcdonalidzação” da fé: um estudo sobre os evangélicos brasileiros
- Revista Eletrônica do Núcleo de Estudos e Pesquisa do Protestantismo (NEPP) da Faculdade
EST, v.17, set.-dez, 2008, p. 5.
365
MULULLO, Heliomara, et all. Pesquisa comunhão 2009: Como se comportam e do que gostam os
evangélicos da Grande Vitória. Revista Comunhão, Vitória, ano 12, n. 144, p. 45, 2009.
124
3.2.4 O denominacionalismo
Um exemplo claro disso é o fenômeno do surgimento das denominações,
conhecido como denominacionalismo, a partir da reforma religiosa do século XVI.
No entender de Paul Freston:
o protestantismo nasceu dividido. No próprio século XVI temos diferenças
os luteranos, os calvinistas, os anabatistas. E depois outras divisões vieram.
Não diferença qualitativa entre estarmos divididos em apenas quatro grupos
ou em quatro mil grupos. O princípio é o mesmo. Não quer dizer que não deva
haver esforços de união, se possível até de denominações e também
esforços para criar um organismo representativo.
366
Entretanto é bom que se diga que a reforma religiosa do Século XVI não foi a
primeira ranhura na unidade da igreja latina. Várias outras igrejas nacionais haviam se
organizado, muito embora com certa ligação com Roma”.
367
Foi a partir da grande reforma, deflagrada por Martinho Lutero, que essas
divisões se multiplicaram, fazendo nascer muitas igrejas, algumas das quais chamadas
de denominação. Nos Estados Unidos os regionalismos e as lutas entre Norte e Sul,
Leste e Oeste, ocasionaram muitas divisões e, com o movimento de avivamento
espiritual, vários novos grupos de cristãos acabaram se organizando, dando origem a
diversas denominações.
368
Conflitos diversos aconteceram envolvendo denominações estabelecidas como
Presbiteriana, Congregacional, Anglicana com a religiosidade de fronteira, ocasionando
vários cismas e dando origem a novas denominações. “A ala radical do movimento
reavivalista era constituída por gente rebelde, chamada separatista, que formou igrejas
independentes, de princípios sectários, em muitas partes da Nova Inglaterra”.
369
Convém notar também que, além dos cismas que originaram grupos
denominacionais diferentes, houve também cismas internos, dividindo as
denominações, que, na maioria das vezes manteve o mesmo nome. Como exemplo
366
FRESTON, Paul. Nenhuma igreja está parada no tempo. Revista Ultimato, Viçosa, Ano 42, n.319,
2009, p. 42.
367
NIEBUHR, 1992, p. 78.
368
NIEBUHR, 1992, p. 96-97.
369
NIEBUHR, 1992, p. 87.
125
deste fenômeno pode-se mencionar a denominação batista no Brasil. A Convenção
Batista Brasileira, criada em 1907, com o propósito de unir as igrejas batistas acabou
se dividindo em 1965 dando origem à Convenção Batista Nacional, que se considera
outra denominação, conquanto mantenha o nome Batista.
370
Outras igrejas batistas se
organizaram em torno de outras convenções e algumas vivem isoladamente, sem fazer
parte de nenhuma denominação. Estas igrejas não têm relacionamento entre si, nem no
que diz respeito à transferência de membros, nem no que diz respeito à participação
nas celebrações da Ceia do Senhor.
A própria hermenêutica batista é propícia ao sectarismo, desde a sua origem,
conforme pontua Esperandio:
É importante observar que as cisões nas igrejas batistas, motivadas por
divergências de interpretação bíblica, estão presentes desde sua origem e
acompanha todo o desenvolvimento de sua história, parecendo representar,
desse modo, mais do que um traço que caracteriza esse grupo. A tendência às
cisões estabelece-se como elemento que lhe é constitutivo. A “bibliocracia”,
aliada ao “livre exame das escrituras”, e a forma de governo não hierarquizada,
mas de congregações autônomas, possibilita com relativa facilidade e com
grandes prejuízos à denominação, as incontáveis divisões advindas do
exercício do livre exame das escrituras. Divisões estas, presentes, desde
sempre, em seu processo histórico.
371
Freston afirma também que “o divisionismo protestante no Brasil iniciou-se com
os missionários, fincou o na tradição brasileira de catolicismo leigo e terreiros
concorrentes, e alimenta-se agora da enorme expansão de um público religioso
flutuante”.
372
Segundo Oliveira,
este contexto facilita a tendência aos cismas, sobretudo no pentecostalismo, em
que a flexibilidade é um dos fatores que o capacitam a alcançar as massas e
criar vertentes específicas, adequadas aos contextos sociais mais diferentes. O
universo protestante e formado de imensa diversidade organizacional, litúrgica
370
PEREIRA, 1982. p. 84.
371
ESPERANDIO, Mary Rute Gomes. A identidade batista e o “espírito” da Modernidade. Revista
Eletrônica do Núcleo de Estudos e Pesquisa do Protestantismo (NEPP) das Faculdades EST, v. 06,
jan.-abr, 2005, p.24
372
FRESTON, Paul. Protestantismo no Brasil: Da constituinte ao Impeachment. Campinas: 1993, p.304
Tese Departamento de Ciências Sociais do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade
Estadual de Campinas apud OLIVEIRA, 2004, p. 24.
126
e também política, possibilitando, assim, a qualquer dissidente, a organização
de uma nova igreja, sem abandonar a identidade evangélica original.
373
Segundo Oliveira, “o campo protestante brasileiro não experimentou um
rápido crescimento, mas também vivenciou e, ainda hoje não é diferente, uma grande
fragmentação, originando centenas de grupos autônomos e/ou denominações
protestantes assim chamadas”.
374
Cerveira, falando sobre o denominacionalismo indaga:
É possível perguntar então, se “o denominacionalismo é algo difícil de defender”
e se de fato existe pouco ou nenhuma discussão teológica protestante a seu
favor, por que o protestantismo parece fadado a esta fragmentação
institucional? Fala-se em vinte mil denominações no mundo, quarenta principais
e mais de duzentas menos destacadas somente no Brasil. Em primeiro lugar,
ser protestante não pode ser atrelado a uma unidade teológica fixa mesmo em
seus primórdios. É bastante conhecido o processo desencadeado pelo
movimento luterano ou protestante. Esse movimento não parou na Alemanha.
Logo vieram outros reformadores, Calvino, Zwinglio, Henrique VIII e finalmente
os radicais, entre eles os anabatistas e assim por diante; foram tantas as
variações teológicas, litúrgicas e organizacionais que o termo protestante se
tornou rapidamente quase indefinível.
375
Se o termo “protestante” tornou-se indefinífel, e parece que Cerveira em razão, o
que dizer do termo “evangélico”? Como poderia ser definida uma “Igreja Evangélica” no
Brasil? Trata-se de um termo largamente usado para identificar pequenas e grandes
Igrejas Cristãs fora do Catolicismo, mas que não é capaz de oferecer uma definição
do seu verdadeiro significado. São inúmeras as denominações que se utilizam esta
terminologia.
Falando ainda sobre o denominacionalismo, Cerveira afirma que
a unidade protestante está em um movimento que constantemente se quer
orientar no Evangelho, mas no qual a violenta discussão teológica pela
descoberta da verdade leva à divisão da união. Se o fator comum, “unificador”
do protestantismo, é justamente um elemento desagregador, esse movimento
parece realmente fadado a um “contínuo divisionismo”, como sugere Antônio
Gouveia de Mendonça, que aponta como causa para tal fragmentação o
deslocamento, efetuado pela Reforma Protestante, da fonte de autoridade da
373
OLIVEIRA, 2004, p. 24-25.
374
OLIVEIRA, 2004, p. 24.
375
CERVEIRA, Sandro Amadeu. Protestantismo Tupiniquim, Modernidade e Democracia: limites e
tensões da(s) identidade(s) evangélica(s) no Brasil contemporâneo. Revista de Estudos da Religião,
São Paulo, março, 2008, p. 40.
127
tradição da Igreja e do clero sacerdotal, típica do cristianismo medieval. Essa
fragmentação denominacional que tanto incomoda autores evangélicos,
católicos, ateus, para não falar do senso comum e de jornalistas alarmados com
“o nascimento de uma igreja por dia no Rio de Janeiro”, é a nosso ver uma
conseqüência de se esperar, senão necessária, de um movimento que na
sua gênese não entende a unidade criscomo unidade institucional e que abre
as portas para uma outra epistemologia (relação com a verdade) não mais
atrelada às estruturas rígidas da tradição ou de um colégio apostólico, mas que
enfatiza tanto a liberdade na interpretação dos textos sagrados como a
legitimidade de uma organização não dependente de alguma instituição central,
mas baseada na própria comunidade dos fiéis.
376
O denominacionalismo produziu milhares de igrejas diferentes, com estruturas e
doutrinas diferentes e continua sendo fator preponderante para o nascimento de novas
Comunidades Cristãs Independentes.
3.2.5 Questões Administrativas
3.2.5.1 Personalismo
Quando este trabalho analisou o nascimento de igrejas pentecostais no Brasil,
sobretudo na segunda e na terceira onda, pode-se constatar que o personalismo é fator
que ocasiona o nascimento de novas igrejas. Lideres que não se sujeitam à
liderança de outras pessoas e preferem liderar a sua própria igreja, da maneira como
lhe apraz.
Em algumas das novas igrejas, que tem nascido nos últimos 10 anos, o nome do
líder e até mesmo a foto está diretamente atrelado com a Igreja. Como exemplo disso
pode-se mencionar a Igreja Internacional da Graça de Deus e a Igreja Mundial do Poder
de Deus, que expõe uma enorme foto de seu líder fundador, o missionário Romildo
Ribeiro Soares, conhecido como R.R.Soares e o apóstolo Valdemiro Santiago
respectivamente. Os próprios saíram de outras igrejas por não concordar com suas
respectivas lideranças.
Outro exemplo de personalismo é o que tem acontecido com a Missão
Carismática Internacional. Trata-se de um movimento de caráter carismático, iniciado
em Bogotá, na Colômbia, pelo pastor César Castellanos Dominguez, a partir de 1983.
376
CERVEIRA, 2008, p. 40.
128
Ele visitou a Igreja Yoido do Evangelho Pleno de David Yonggi Cho na Coréia do Sul
em 1986. “Após uma tentativa de utilização de células durante sete anos, o Pastor
Castellanos recebeu uma visão de Deus de que o sistema de células devia ser baseado
no exemplo de Jesus e os seus 12 discípulos.”
377
A partir desta visão, Castellanos
escolheu 12 pastores e passou a se encontrar com eles semanalmente. Cada um
destes 12 pastores escolheu 12 pessoas com as quais multiplica o que recebe de
Castellanos, até alcançar todos os membros da igreja.
Além das células semanais, o modelo prevê a realização de encontros com
ministração da Palavra de Deus de maneira concentrada, além de uma escola de
treinamento de líderes. Um dos problemas é que ao ser transportado para o Brasil o
“ministério” passou por uma série de mutações, agregando, práticas e princípios
sincretistas da religiosidade brasileira, com grande ênfase na experiência pessoal,
emocionalismo, misticismo.
Sendo representado no Brasil, inicialmente, por Renê Terra Nova, Valnice
Milhomens e Roberto Tavares, o movimento experimentou vários rachas, muito em
função do personalismo de sua liderança.
378
Este movimento alcançou de maneira
avassaladora as Igrejas Protestantes históricas e, sendo rejeitado pelas denominações
históricas, causou muitas divisões e o surgimento de novas igrejas, que sendo
desligadas de suas respectivas Convenções, permanecem independentes.
Pastores e líderes das igrejas nascentes mostram-se personalistas, negando-se
em dividir o “poder” com outras pessoas, fazendo questão de manter sua hegemonia na
administração das novas comunidades.
3.2.5.2 Liderança
Lideranças saudáveis, maduras e multiplicadoras são indispensáveis em todas
as instituições, quer sejam elas de natureza política, social ou religiosa. Bill Hybels
afirma que “a grande tragédia da igreja da atualidade tem sido seu fracasso em
377
COMISKEY, 1997, p. 106
378
YAMABUCHI, Alberto Kenji. Uma análise do Movimento G-12: Reflexões de um pastor batista.
Mensagem proferida na reunião mensal da Ordem dos Pastores Batistas do Brasil, Secção do Estado de
São Paulo, no dia 29 de março de 2004.
129
reconhecer a importância do dom da liderança. [...] O dom da liderança é o dom
catalisador que estimula, direciona e potencializa todos os outros dons.”
379
Quando
isso ocorre de maneira saudável, as igrejas se desenvolvem, crescem e se multiplicam
de maneira tranqüila e pacífica. Quando a liderança torna-se problemática, surgem
dificuldades de relacionamento, conflitos administrativos e por fim, acontecem os
rompimentos e conseqüente início de novas igrejas.
Líderes com visões diferentes no que concerne ao exercício do ministério
pastoral têm sido foco de conflitos e divisões nas igrejas, notadamente nas igrejas
protestantes históricas.
3.2.5.3 Liturgia
Tem sido motivo de rompimentos e surgimento de novas igrejas as questões
liturgias. Dusilek afirma que
as igrejas de corte mais histórico deveriam fazer uma auto-análise a fim de
verificar como poderiam responder às necessidades de seus membros que o
estão sendo atendidos no modelo atual. Isto pode implicar em rever sua
estrutura organizacional, seu programa de Educação Cristã, sua forma de
ministrar às pessoas da comunidade e, principalmente, rever e mudar sua
proposta litúrgica. As pessoas desejam uma liturgia onde se sintam próximas
umas das outras. Uma liturgia que respeite os valores de sua cultura. Hinos que
explorem a tremenda musicalidade do povo brasileiro fora dos estereótipos e
paradigmas de uma música sacra importada. Novas formas cúlticas e novos
ritmos para os cânticos e hinos devem ser desenvolvidas e exploradas
.
380
É sabido que o desejo de se ter uma liturgia mais livre, espontânea e
contextualizada, com mais participação do povo, tem produzido divisões e o surgimento
de novas igrejas, que atenda e seja adequada a esta demanda.
379
HYBELS, Bill. Liderança corajosa. Traduzido por James Monteiro dos Reis. São Paulo: Vida. 2002,
p. 67.
130
3.3 Fatores Apontados pelos entrevistados
3.3.1 Fatores apontados pelos Praticantes
O Praticante I faz um desabafo:
A gente se incomoda com isso, mas eu creio que o fator principal a pessoa se
vale da liberdade religiosa que tem e prega de qualquer maneira, e prega
qualquer coisa e vai enganando as pessoas, assim tem muita gente que gosta
de ser enganada. Na minha maneira de ver tem muita gente sendo enganada
com um selo do evangelho que não é o evangelho, aquele negócio que não é o
evangelho real, o sério de Jesus Cristo. Mas o interesse econômico financeiro
também das pessoas. O desemprego é outro fator, se o indivíduo prega
direitinho, fala de Deus com certo carisma, na verdade ele vai criando uma
Igreja ele vai sustentar a família dele, ele vai viver o resto da vida dele. Então
essa questão econômico-financeira também se põe de uma maneira grandiosa
e a facilidade onde as pessoas gostam de ser enganadas facilmente vão atrás
dessas promessas e os grupos o se mantendo, e vão se manter por algum
tempo. Assim em termos gerais eu vejo assim.
381
Liberdade religiosa, barateamento do evangelho, interesse econômico-financeiro,
pessoas que “gostam” de ser enganadas e se deixam manipular, por interesses
pessoais, o os fatores apontados por este Praticante, que é pastor de uma Igreja
Batista histórica.
O Praticante II, que também é pastor de uma Igreja Batista histórica, foi bastante
didático e, sem comentar cada um dos pontos, mencionou doze fatores:
Facilidade para abrir uma igreja; pessoas que querem um negócio; pessoas
que não se submetem a liderança; pessoas que buscam se auto promover; a
necessidade das pessoas; o desconhecimento profundo da palavra de Deus
(analfabetismo); a conivência pessoas que passam da inocência para
tornarem-se coniventes com os seus lideres; aceitar tudo como de Deus;
desconhecimento teológico; descontentamento; obtenção única de poder e
unção de Deus; a busca das pessoas pelo novo e extraordinário;
382
Também na visão deste Praticante, existe a conivência daqueles que se aceitam
fazer parte do projeto de iniciar uma nova Igreja, como pioneiros neste trabalho.
380
DUSILEK, 1997, p. 43, 44.
381
ANEXO A, p. 166.
382
ANEXO A, p. 168.
131
O Praticante III também foi bem específico, mencionando três fatores que são:
O descontentamento de membros da igreja, procurando novas garantias eclesiásticas,
novas alternativas; membros carismáticos que saem em busca de aventura, coisas
novas, bombardeios da dia leva-os em busca de novas experiências
religiosas/espirituais; aproveitadores que vêem no segmento igreja para o ganho fácil.
criam ou entram em uma franquia de uma grande nova igreja e começa a arrebanhar
as pessoas. não se importam se é certo, bíblico ou teológico, só querem saber se vale
a pena e se dá lucro.
383
Este Praticante, que também é líder de uma Igreja Batista histórica consegue
notar um descontentamento em pessoas que fazem parte de uma comunidade
histórica, a exemplo do que percebe o Praticante II.
O Praticante IV, por sua vez, menciona apenas dois fatores, ou seja, “a busca de
solução imediata para os problemas de ordem emocional, de ordem financeira e [...]
uma solução imediata sem ensinar a palavra de Deus corretamente em relação aos
problemas que todos nós vivemos nesse mundo.”
384
O Praticante V, pastor de uma Igreja Batista considerada histórica, aponta
cinco fatores:
Essas pessoas ou se contrariaram com a liderança da sua denominação ou mantém
um forte espírito de independência; revelam um alto grau de soberba espiritual;
procuram auferir promoção ou lucro pessoal; não se submetem a autoridade e senso
comum denominacional; ocultam tudo isso quase sempre com testemunho de
experiência pessoal fantástica de visão e chamamento de Deus.
385
Este Praticante não consegue ver nenhum fator nas comunidades históricas,
colocando o peso exclusivamente nos Peregrinos e nos Convertidos.
Do Praticante VI ao Praticante X são membros de igrejas históricas. Eles
apontam os seguintes fatores:
Praticante VI: O povo está desesperado, à procura de bens materiais, riquezas
e por outro lado pessoas querem facilidades”.
386
383
ANEXO A, p. 169-170.
384
ANEXO A, p. 171.
385
ANEXO A, p. 172.
386
ANEXO A, p. 173.
132
Praticante VII: Nivel de escolariedade baixa entre os membros das igrejas
evangélicas; a condição social das pessoas, criando ilusões sobre o que é e o que não
é o reino de Deus; a facilidade das pessoas de abrirem uma igreja; interpretação da
Bíblia de maneira errônea;”
387
Praticante VIII: “Uns estão fazendo para ganhar dinheiro; outros sabem um
pouquinho e saem para fazer uma igreja para eles, são independentes; alguns fazem
da igreja seu meio de sobreviver”.
388
Praticante IX: “As pessoas procuram um lugar em que se sentem bem; outros
vão em busca de um lugar que atenda seus próprios interesses; pastores sem formação
teológica. Eles tem que ter uma orientação maior. Além de ter um chamado as pessoas
tem que se preparar”
389
Praticante X:
Me parece que o fim deles é faturar dinheiro, lucro financeiro;
muitos vão atrás de milagres, curas etc.”
390
Pode-se observar que os fatores mencionados pelos Praticantes que não são
pastores vão na mesma direção dos seus pastores. Digno de nota é o fator econômico-
financeiro, mencionado por todos os Praticantes, direta ou indiretamente.
3.3.2 Fatores apontados pelos Peregrinos
Os Peregrinos são os pastores das novas comunidades, que estão diretamente
envolvidos no processo de organização das novas igrejas. Todos eles lideraram os
grupos que deram origem às novas comunidades e se mantém como pastores das
mesmas.
O Peregrino I é muito enfático ao responder a esta questão. Observe-se o que
ele diz:
Olha, sinceramente como batista que eu fui, eu até diria para você que
teologicamente sou batista. Eu diria para você que um dos princípios da
doutrina batista é a livre interpretação das Escrituras. Isso é um fator que
determina. Muito especificamente a cerca dos dons espirituais; um outro fator
que determina é a questão de modelos atuais de discipulado que em nada
agridem a doutrina, a doutrina apostólica. E que a estrutura denominacional
387
ANEXO A, p. 174.
388
ANEXO A, p. 175.
389
ANEXO A, p. 177.
390
ANEXO A, p. 178.
133
em algumas vezes como se referiram a mim que a visão era coisa do diabo.
Olha, se é do diabo o diabo se converteu. Porque a única coisa que o diabo faz
é que leva as pessoas a se amarem mais a Deus, a servirem as suas casas
para terem uma célula; eu acho que um terceiro fator que leva muitas novas
comunidades a se abrirem é a falta de um pastorado saudável, de uma
liderança misericordiosa.[...]Por que muitas Igrejas novas existem, nascem?
Porque tem lideres que os pastoreiam na força do homem e não na força do
Senhor.
391
Mais do que apontar fatores que determinam o nascimento de novas Igrejas, o
Peregrino I procura argumentar, se auto-justificar, tanto ao lançar críticas aos líderes
das Igrejas Protestantes históricas, denominacionais como ele afirma, como também
querendo isentar-se de qualquer motivação ilegítima.
O Peregrino II, por sua vez, é mais objetivo. Ele aponta para três fatores:
A estrutura das igrejas tradicionais exige um culto padrão para o exercício do
ministério, o que exclui alguns irmãos que tem um chamado que não tem
liberdade nem reconhecimento (falta de oportunidade). Visão financeira e não
de almas. este ano abriram e fecharam várias igrejas, sem fazer nenhuma
diferença nem deixar marcas na comunidade. Outras se dão bem e ocasionam/
despertam interesse em novas iniciativas; facilidade que existe hoje para abrir
uma nova igreja. É ter um espaço, algumas cadeiras e iniciar o trabalho.
Existe pouca responsabilidade neste processo.
392
Digno de nota é que dois dos três fatores mencionados estão em sintonia com a
visão dos Praticantes. É interessante a consciência que este Peregrino tem das
motivações questionáveis para tal iniciativa.
O Peregrino III, entretanto, também se estende bastante em sua resposta, a
exemplo do Peregrino I: Ele afirma:
No meu entendimento, o surgimento de igrejas independentes se deu por uma
série de fatores ocorridos nos últimos anos, entre os quais podemos destacar:
uma mudança na liturgia do culto completamente diferente dos padrões
históricos; o crescimento em todo o mundo do movimento neo-pentecostal que
entendo como a crença na contemporaneidade dos dons do Espírito e a
revelação bíblica de ensinos novos até então o discutidos pela igreja: quebra
de maldições, cura interior ou das emoções, batalha espiritual e a restauração
dos ministérios de Apóstolo e profeta. Também o nascimento de novos
métodos de trabalhar internamente na igreja sem ser através das sociedades
domésticas através de ministérios e grupos pequenos somaram mais
391
ANEXO B, p. 181.
392
ANEXO B, p. 182-185.
134
insatisfações e contribuíram para o nascimento das igrejas independentes.
Outro fato inegável é que, de um modo geral, as igrejas pentecostais dão muita
ênfase à e menos ao ensino bíblico. Este desequilíbrio entre esses dois
valores tem causado muito desentendimento dentro das igrejas e contínuas
divisões surgem em função de desentendimentos internos. A facilidade jurídica
de se criar igrejas também facilita ainda mais esta iniciativa. Por último, penso
que o município da Serra foi muito afetado por um movimento de grupos
pequenos em célula chamado G12 que causou uma revolução dentro das
igrejas, por causa de sua forma de funcionar, e isso causou o nascimento de
muitas igrejas independentes formando um movimento independente.
393
O Peregrino III é equilibrado em suas considerações. Ao mesmo tempo em que
justifica sua própria experiência e a do grupo que lidera, também menciona alguns
fatores citados pelos Praticantes, demonstrando equilíbrio e tranqüilidade ao tratar do
assunto. Não se sente ameaçado e faz suas colocações de maneira ponderada.
O Peregrino IV aponta apenas dois fatores causadores do nascimento de novas
igrejas. Ele diz:
Eu acho o seguinte, eu vejo que a Igreja de Jesus com o passar dos anos ela
vem perdendo a sua identidade. Eu poderia até usar aqui uma palavra,
degeneração, ela vem se degenerando. A partir daí então, o senhor sabe que
existem muitas carências no meio do povo de Deus e as pessoas estão
correndo de um lado para o outro se apegando a tudo que podem. Uma coisa
que eu acho impressionante, e que o senhor sabe muito bem, é que o povo não
é muito apegado à Palavra de Deus. É a Palavra de Deus que me equilíbrio,
é a Palavra de Deus que me estabilidade. Então como nós temos um
grande número de pessoas que vivem, infelizmente, de movimentos. O senhor
sabe que em todas as Igrejas é assim, em reunião de estudo bíblico o número é
menor, em reunião de oração o número é menor, e, não estudando a Palavra e
não orando nós ficamos bastante vulneráveis a essas comunidades que estão
surgindo, e acontece exatamente esse êxodo, as pessoas deixam suas Igrejas,
muitas vezes Igrejas estabelecidas, bem solidificadas e correm atrás dessa
Igrejas que vão surgindo. Eu vejo assim.
394
O Peregrino IV faz menção de um fator que justifica a saída de grupos das
igrejas históricas, mas ao mesmo tempo, penitencia-se, reconhecendo que a falta de
conhecimento da Bíblia é o grande causador deste fenômeno.
O Peregrino V menciona dois fatores, mas acaba citando quatro. Observe:
Tem vários fatores, mas tem dois (ele mencionou quatro) fatores que a gente
poderia abordar:
393
ANEXO B, p. 188.
394
ANEXO B, p. 190-191.
135
- A maioria das vezes é a inconveniência, às vezes falta de obediência,
líderes, que se dizem líderes, porque acham que tiveram uma oportunidade, e
essas pessoas por ter tido uma oportunidade de alguém, amanhã já está
liderando um grupo e acha que pode ser líder. E tem porque quer ser líder e
não quer mais ouvir o der, e toma uma atitude e todo o grupo com ele. Então
isso é uma das razões porque surgem muitas novas denominações
completamente desorientadas, movidas pela emoção e não pela razão. - E
existem casos, talvez não chegue ao ouvido dos grandes presidentes e fiquem
sabendo, de uma mudança radical dentro do sistema onde a maioria
acostumou a viver anos e anos dentro de um nível e a pessoa de um dia para o
outro quer mudar. Então ele pode causar um transtorno e surgir desse
transtorno um outro grupo, onde vai formar uma nova comunidade. - Como
também existem pessoas que são ordenadas por Deus para estar levantando
um trabalho, pode isso acontecer, direcionadas por Deus, como a gente sabe, a
chegada da Igreja no Brasil e de outros ministérios que hoje estão
expandindo. - E até outros também, por não ter o que fazer, por interesse
financeiro.
395
Os fatores citados pelo Peregrino V também acabam apontando para situações
em que as motivações são questionáveis, fazendo, de certa forma, uma confissão,
muito embora ele mesmo não se veja enquadrado nestes quatro fatores.
Na verdade todos os Peregrinos colocaram-se numa posição de autodefesa e
auto-justificativa, alguns com mais ênfase, até mesmo demonstrando certa amargura,
mas outros com tranqüilidade, mostrando que já superaram aquele impacto inicial e
estão agora desenvolvendo o trabalho que entendem que desejam fazer.
3.3.1 Fatores apontados pelos Convertidos
Como já foi mencionado neste trabalho, os Convertidos são membros das novas
comunidades, a maioria dos quais fizeram parte do movimento inicial, que deu origem à
nova Igreja. Eles responderam aos mesmos questionários que os seus pastores. Os
fatores que eles apontam para a origem das novas Igrejas são:
O Convertido I demonstra bastante serenidade em sua resposta:
Eu lembro que quando eu fazia parte da ___ eu olhava e via que cada dia
nascia uma Igreja. E eu achava que muita gente dentro da ___ por não se
submeter à autoridade, ou por rebeldia, saía e abria uma Igreja. Minha idéia a
princípio era essa, mas acabou que me vi em uma situação semelhante. E até
395
ANEXO B, p. 194.
136
mudei um pouco o modo de pensar. Eu acredito que muitas Igrejas são abertas
por questão de rebeldia mesmo, cisão, desentendimentos em questões
administrativas. Mas eu vejo também muitas Igrejas sendo abertas por um
direcionamento novo de Deus ou uma expansão da pregação ou do ensino da
palavra para atingir outras pessoas. Não que o formato anterior, Igrejas mais
tradicionais, mais históricas, não atinja as pessoas, mas existem milhões de
pessoas a serem atingidas. Então, existem Igrejas constituídas para atingir a
essas pessoas. A pregação da Salvação de Cristo é a mesma, a necessidade
da pessoa receber a Cristo e ser resgatada do inferno. Mas na maioria dos
casos, eu vejo como a necessidade da mudança também de linguagem para
atingir outras pessoas, para que o Evangelho seja mais propagado e
expandido. E acredito que até por isso esse fenômeno do crescimento do
evangelho no Brasil, esse fator seja um dos principais, porque se fosse mantida
aquela linguagem direcionada sempre naquele sentido, alguns tipos de
pessoas não teriam acesso à pregação do evangelho. Mas eu vejo que essa
questão de várias Igrejas, vários ministérios novos surgindo como um dos
fatores, uma estratégia de Deus para alcançar mais.
396
Muito embora reconhecendo que existam situações em que acontecem cismas por
motivações equivocadas, o Convertido I demonstra bastante convicção de que está
envolvido num projeto de Deus para a sua vida e a da nova comunidade a qual ajudou
a fundar.
O Convertido II, por sua vez, demonstra certa dificuldade em enumerar os
fatores:
É uma pergunta difícil de ser respondida pelo fato de ter saído de uma igreja
tradicional para esta igreja que é pentecostal. Alguns irmãos não estão
satisfeitos. As igrejas tradicionais não estão conseguindo satisfazer
completamente muitos de seus membros que acabam saindo e se reunindo
com as novas comunidades. Esta não é uma igreja puramente pentecostal e
também não é tradicional. Temos buscado o equilíbrio. A vaidade e o orgulho
ferido de alguns líderes que almejam o ministério e não conseguem, o
descontentamento com a igreja onde fazem parte. Não vejo mal nisso. Vejo
como beneficio. Quanto mais igrejas menos lugares que seriam ocupados por
bares, clubes, prostíbulos, etc.
397
Coerentemente o Convertido II aponta o fator insatisfação e não vê mal na
atitude de alguém deixar sua Igreja e unir-se a uma nova comunidade. Por outro lado,
tenta justificar-se, como se sentisse culpado por pertencer a uma igreja de linha
pentecostal.
O Convertido III oferece algumas pistas a mais para a questão. Ele diz
396
ANEXO C, p. 197.
397
ANEXO C, p. 199.
137
A gente vai convivendo com pessoas a gente que cada uma tem um modo
de pensar. Vou responder com base em pessoas que passaram por aqui e
não estão mais conosco. Uns já vieram de lá, sabiam como nos éramos,
ficaram conosco algum tempo e foram para outros lugares. Outros ficaram mais
de 5 anos, mais de 7 e depois algum dia resolvem sair. O que gera isso em
uma pessoa é a insatisfação pessoal. Por exemplo, eu me indisponho com o
pastor e eu como pessoa não quero me submeter à liderança dele, daí para
mim é fácil sair e eu saio. E quando isso é feito por outro líder, por alguém que
tenha liderança, naturalmente ele cria uma outra comunidade. Então hoje é
muito fácil se criar essas comunidades independentes. Muitas pessoas que
passam por Igrejas, ficam e acabam saindo levando consigo algumas pessoas
e criam essas comunidades independentes. Eu anão acredito ser esse o nosso
caso. Na época nós saímos em cerca de 70 pessoas, 99% da Igreja. Então, eu
não considero esse o nosso caso. Mas também, nós temos o caso de um casal
que ficou com a gente durante anos e resolveu sair este ano. Mas não foi para
forma outra comunidade, e sim par se integrar em outra Igreja. Ainda não houve
caso de alguém sair desta Igreja para formar outra independente.
398
Neste caso, a pessoa menciona outro fenômeno que é a migração das próprias
novas comunidades para outras ainda. É o trânsito religioso exacerbado, tão bem
destacado pelos teóricos citados neste trabalho.
O Convertido IV inicia a resposta com muito receio. Ele se pergunta:
Será que eu vou pecar se eu falar Jesus? Pastor, tem muitas Igrejas por que
são muito boas para a comunidade. Tem muitas comunidades que tinham mais
bares do que Igreja. Existia muito bandidismo, muita cachaçada. Eu tenho uma
Igreja para tirar o chapéu para ela ali no bairro ___ que é a ___. Porque o bairro
____ era um bairro poluído, cachaças, drogas e hoje a ___ salvou muitas
pessoas desse meio aí, que hoje alguns deles são até presbíteros na Igreja,
pastores na Igreja. E muitas pessoas que já pularam no congo hoje está
pulando na Igreja ___, muitos da nossa Igreja também foram, talvez foi na
sua casa. Porque eles sentiram que o mundo não vale nada e creio eu que eles
estão ganhando gente do mundo através da ida dele para a Igreja evangélica.
Agora, tem muitas que me desculpa, tem muitas que estão olhando o
dinheiro que o pastor vai ganhar. O pastor começa hoje, amanhã está com
seus carrões. Mas acho que tem algumas Igrejas que não ajudam quase nada,
creio eu que seja assim. Não posso criticar muito também não, porque criticar
também é pecado.
399
O Convertido IV tenta justificar, exaltando os benefícios que a proliferação de
Igrejas tem causado, sobretudo em bairros marcados por determinados desvios sociais.
Quando menciona um fator, com medo, menciona a motivação financeira, ou lucro.
398
ANEXO C, p. 201.
399
ANEXO C, p. 203-204.
138
O Convertido V também é sincero. Ele diz:
Em algumas vemos o interesse próprio, financeiro. Em outras, a falta de visão
de alguns que se colocam na liderança e com o tempo perdem a visão da
Palavra. Os líderes das Igrejas históricas mudam o foco, que é a Palavra. Visão
para iniciar um novo ministério. É uma comunidade que está trabalhando de
maneira juridicamente correta, com prestação de contas à membresia da Igreja,
e não fugindo de seu Estatuto.
400
Também o Convertido V acaba mencionando a questão financeira, mas logo se
protege, deixando claro que a sua comunidade não surgiu e o funciona com esta
motivação.
Nota-se que todos os Convertidos colocam-se numa posição defensiva, pois têm
plena convicção de que as comunidades que eles ajudaram a iniciar e da qual fazem
parte hoje, surgiu motivada por fatores positivos, saudáveis, plenamente justificáveis.
Isso é, na verdade, uma questão de coerência.
Neste capítulo foram pontuados alguns fatores que têm desencadeado o
nascimento das novas comunidades cristãs, tanto colhidos da bibliografia como das
entrevistas feitas na pesquisa de campo. No próximo capítulo, encerrando a pesquisa,
serão identificadas algumas consequências deste fenômeno para as Igrejas Cristãs
históricas e para o reino de Deus de uma maneira geral.
400
ANEXO C, p. 205.
139
4 CONSEQÜÊNCIAS DA MULTIPLICAÇÃO DE COMUNIDADES CRISTÃS
INDEPENDENTES PARA AS IGREJAS CRISTÃS HISTÓRICAS LOCALIZADAS NO
MUNICÍPIO DA SERRA
4.1 Prejuízos
4.1.1 Individualismo religioso
O fenômeno do surgimento de novos movimentos religiosos no mundo,
sobretudo o nascimento das novas igrejas cristãs independentes, tem produzido muitos
prejuízos para as Igrejas Cristãs Históricos, muito embora deva se reconhecer que
trouxe também alguns benefícios.
Dentre os muitos prejuízos causados pela multiplicação de igrejas cristãs
independentes, pode-se mencionar o individualismo religioso. Seguindo as figuras do
Peregrino e do Convertido, utilizadas por Hervieu-Léger, chega-se à conclusão que
ambos deságuam no individualismo religioso, tornando a religião uma questão de
interpretação subjetiva e particular.
As duas figuras típicas do ‘peregrino’ e do ‘convertido’ nos permitem descrever
a cena religiosa contemporânea como uma cena em movimento. Elas também
têm a capacidade de destacar que é o indivíduo que, na verdade, está no
centro. Todas as pesquisas confirmam, com efeito. A paisagem religiosa da
modernidade é caracterizada por um movimento irresistível de individualização
e de subjetivação das crenças e das práticas. ‘A modernidade religiosa é o
individualismo’
401
Mesmo reconhecendo que o individualismo religioso não é um fenômeno
totalmente novo, isto é, não é fruto direto da modernidade, constata-se que tem
recebido grande impulso com esta, dando origem a um sem número de novos
movimentos religiosos, dentre os quais novas igrejas cristãs independentes.
Seguindo o raciocínio de Weber, Hervieu-Léger responsabiliza o calvinismo pela
radicalização do individualismo, estabelecendo os alicerces do individualismo moderno
que se consolidou com a espiritualidade sectária da Reforma radical, que advoga a
401
HERVIEU-LÉGER, 2008, p. 139.
140
liberdade de consciência de cada indivíduo, podendo este se unir à comunidade que
quiser e promover uma organização comunitária fundada sobre a livre vontade de cada
um e a afirmar sua independência generalizando a prática da eleição dos pastores.
402
Citando a expressão “nebulosa-místico-esotérica”, usada por F. Champion,
Hervieu-Léger afirma que o individualismo religioso moderno, formado por grupos e
redes espirituais constituídos em torno de editoras, livrarias e centros de estágio,
constitui-se de “uma religiosidade inteiramente centrada no indivíduo e sua realização
pessoal”
403
, em que a prioridade é dada à experiência pessoal que cada um vivencia à
sua própria maneira. Na prática religiosa do individualismo, “não se trata de descobrir e
aderir a uma verdade existente fora de si, mas de experimentar cada um por si sua
própria verdade. Nenhuma autoridade pode, em questão espiritual, definir qualquer
ortodoxia ou ortopraxia impondo-a do exterior do indivíduo”.
404
Alinhado com esta filosofia, as novas Comunidades Cristãs Independentes
negam-se a seguir qualquer orientação ou se submeter a qualquer tipo de autoridade
vinda de fora. Perguntado sobre a razão porque não procurou uma igreja mais antiga
para se unir, ao deixar a sua comunidade anterior, o Peregrino I afirmou
categoricamente:
Porque eu particularmente não acredito mais nesse modelo. Eu o acredito
mais no modelo denominacional, por vários fatores. Um deles é porque o
modelo denominacional é um modelo que historicamente não representa o
sonho blico, apostólico. Ele representa um movimento histórico em um
determinado momento da história em que houve uma organização de pessoas
que geraram uma identidade eclesiástica e teológica e começaram então a
trazer a formatação denominacional. [...] Então, a minha pretensão como Igreja
é cumprir o ensinamento do novo testamento, tornar Jesus Cristo conhecido,
cumprir o Ide, o cumprimento da grande comissão, nada além disso. O sonho e
a visão da nossa Igreja é ver a nossa cidade redimida pelo Evangelho, pelo
Evangelho da Graça que é o Evangelho da Verdade.
405
Por sua vez, o Peregrino II disse que preferiu iniciar uma comunidade totalmente
nova “por não concordar com algumas diretrizes das igrejas tradicionais, que têm uma
estrutura muito rígida que impedem a inclusão de novas idéias”
406
O Peregrino III foi ainda mais contundente sobre esta questão, ao afirmar que
402
HERVIEU-LÉGER, 2008, p. 142.
403
HERVIEU-LÉGER, 2008, p. 143.
404
HERVIEU-LÉGER, 2008, p. 143.
405
ANEXO B, p. 181.
141
na verdade não havia uma igreja histórica confiável que cria nos novos
princípios que eu estava crendo e vivendo. Outro fato importante é que embora
eu creio na importância e no valor das denominações entendo que elas
perderam bastante o seu foco no decorrer dos anos e passaram a uniformizar
seus princípios e valores impedindo que a igreja local tivesse a sua liberdade de
expressão da igreja local em sua região. Por entender que neste momento a
maioria das denominações tem engessado as atividades das igrejas locais
preferi criar uma independente.
407
O Peregrino IV justificou o início de uma nova comunidade ao invés de integrar-
se a uma histórica dizendo que foi praticamente forçado a isso, pelo grupo com o qual
vinha se reunindo para tirar algumas dúvidas sobre a bíblia.
Quando esse pessoal me procurou [...] eu queria passá-lo para uma Igreja
estabelecida, madura, enfim, e ficamos assim por 6 meses mas a gente não
teve assistência. Daí o senhor sabe que para fazer a cabeça do povo para ir
para uma determinada denominação é mais difícil. Daí eu fui obrigado a
assumir essa gente, fomos ao cartório, registramos, enfim, para poder trabalhar
legalmente.
408
O Peregrino V afirmou:
Porque ninguém pode mudar o modo de organização. A organização muda uma
pessoa, mas uma pessoa não muda a organização. Então nós somos o caso
de um grupo de pessoas, não tem só uma pessoa. [...] E quando nós o
procuramos uma Igreja mais sólida porque, na verdade, nós tínhamos tido um
encontro de conhecimento, um encontro com o Senhor Jesus na ocasião dentro
daquela doutrina, daquela forma de pensar, daquela forma de entender a
palavra, que seria difícil no meio da trajetória você voltar trás e começar tudo
de novo de uma outra maneira. [...] Daí nós não procuramos uma Igreja
histórica porque talvez nós não encaixaríamos nosso perfil. [...] E se a gente
fosse para uma Igreja histórica a gente também estaria novamente tendo que
nos submeter, porque aonde você está votem que se submeter à doutrina, o
credo, a maneira de pensar.
409
Percebe-se uma unanimidade, entre os pastores das comunidades
entrevistadas, em se estabelecer a sua própria igreja e ou denominação, com liberdade
administrativa e de credo, sem submeter-se a ninguém de fora, nenhuma organização,
seja ela denominacional ou eclesiástica.
406
ANEXO B, p. 186.
407
ANEXO B, p. 187.
408
ANEXO B, p. 189.
142
Observe-se agora qual a leitura dos convertidos, sobre este assunto.
Respondendo a mesma pergunta, supracitada, o Convertido I afirmou:
Acho que a princípio a gente chegava até a procurar. Eu nasci e fui criado em
uma Igreja Batista e minha família tinha esse perfil, sempre que a gente
mudava, a gente procurava congregar em uma Igreja da região, até pela
facilidade, pela questão de você conseguir ser mais efetivo na ajuda da Igreja,
porque quanto mais longe mais complicado. [...] Mas algumas coisas na Igreja
Batista que eu particularmente ao conhecer outras denominações, outras
linhas, eu acreditava que a Igreja Batista poderia ser menos rígida em algumas
coisas. Oferecer flexibilidade, não flexibilidade em ser permissivas, mas em
modernizar.
410
Este convertido teve uma trajetória numa igreja histórica, obtendo pela nova
comunidade por uma questão de ter mais liberdade para mudanças que ele entende
que sejam necessárias. Numa comunidade nova, a flexibilidade é muito maior e a
possibilidade de implementação de mudanças para se adequar aos novos tempos é
muito mais efetiva. O referencial, entretanto, passa a ser o próprio indivíduo, ou a
individualidade do grupo, sem vínculo com estruturas externas.
Os filhos gostaram da igreja e sentiram desejo de reunir nesta igreja. A família
se reuniu e decidiu ficar numa igreja só, depois de procurar várias igrejas,
visitando, os jovens se identificaram com a igreja por ser composta cerca de
70% de jovens. Espírito evangelístico com pessoas marginalizadas também era
um anseio da família. O compromisso com os princípios bíblicos. O filho não
tinha um compromisso com a igreja. Vindo pra cá, fez compromisso sério,
cumprindo com os requisitos exigidos pela igreja para trabalhar na igreja.
411
Neste caso, o interesse maior foi para o benefício da família. Os jovens se
adéquam com mais facilidade às comunidades novas. Eles são a maioria nas novas
comunidades. Além disso, pessoas que não se integram nas comunidades históricas,
tornam-se Praticantes e comprometidos em novas comunidades, como o filho do
Convertido II.
O Convertido III usou um argumento diferenciado para não se unir a uma
comunidade histórica.
409
ANEXO B, p. 191.
410
ANEXO C, p. 196.
411
ANEXO C, p. 198.
143
Eu penso que, na época nós nhamos uma liderança formada e por isso
ninguém nunca cogitou isso. Porque nós estávamos sob a liderança
justamente de um pastor, [...] Então nós tínhamos toda a parte administrativa,
tanto espiritual quanto administrativa da Igreja vieram tudo então não tinha
porque nós nos juntarmos a uma outra. Nós tínhamos a nossa vida espiritual
própria.
412
Estrutura administrativa, liderança e vida espiritual própria. Estes ingredientes
deram coragem e estabilidade para o início de uma nova igreja, sem a necessidade de
estar ligado a nenhuma instituição de fora.
O Convertido IV, por sua vez foi influenciado pelo tratamento que recebeu. Numa
comunidade histórica, sentiu-se constrangido a se comprometer com a Igreja, na nova
comunidade, sentiu-se livre e bem tratado pelo líder. Ele descreve assim a sua
experiência:
Esse pastor nunca me convidou para aceitar a Jesus na Igreja dele, ele nunca
fez apelo. [...] Todas as vezes que eu converso com ele eu falo, pastor o senhor
é meu pastor e é meu amigo.[...] É o sistema da pessoa te tratar. Eu estava
como visitante junto da minha esposa aqui. Mas teve um dos obreiros que ele
não soube segurar a ovelha. Ele me envergonhou no meio de todos os irmãos,
que inclusive achavam que eu também era um, porque eu sempre andei bem
vestido. E me envergonhou ali no sistema de chega de ser ouvinte, aceita a
Jesus esno tempo seu Gregório”, que me fez talvez não estar na Assembléia
de Deus. O pastor Délio o sabe não. Eu me senti constrangido, daí falei para
minha sobrinha “eu o vou mais congregar nessa Igreja não, eu vou para a
sede”. [...] Se talvez tivesse tido um outro tratamento, um cara bem mais
preparado para chamar uma pessoa para Jesus. Porque é um sistema, coisa de
Deus tem que falar bem calmo, “irmão Gregório”, porque nós somos irmãos,
somos filhos de Deus. Então ele veio com um pouco de grosseria.
413
O Convertido V, por outro lado, foi o único caso das pessoas entrevistadas, que
foi alcançado diretamente pela nova comunidade. Ele não chegou a fazer parte de uma
comunidade histórica. Ele disse: “Meu primeiro contato com a Igreja foi a partir de um
amigo, uma pessoa me convidou para vir aos cultos, e a partir de então eu dei
sequência entrando na Igreja. [...] O ensinamento da palavra, a forma como eles nos
trataram”.
O individualismo religioso pode ser apontado como uma conseqüência negativa
do fenômeno da multiplicação de Igrejas Cristãs Independentes no município da Serra,
o que certamente é um retrato da situação mundial.
412
ANEXO C, p. 200.
413
ANEXO C, p. 202.
144
4.1.2 Competição e Isolamento
Muito parecido com o item anterior, mas com alguns contornos diferenciados,
pode-se citar o espírito de competição entre igrejas, pastores e líderes e o isolamento
denominacional e eclesiástico como resultado desta multiplicação de novas Igrejas.
Quando olhamos para a história do Cristianismo, nos deparamos com muitas
situações em que a própria Igreja, que deveria ser portadora de uma mensagem de
“paz seja convosco”
414
, acabou julgando, condenando e executando milhares de
pessoas, muitas das quais cristãs autênticas, mas que ameaçavam aquilo que era tido
como “verdade” e representavam um risco à unidade ou ao monopólio da Igreja.
No Catolicismo Romano, foram milhares os casos de pessoas queimadas vivas
por não se adequarem aos ensinos da Igreja. Carns menciona um dos instrumentos
mais cruéis de perseguição utilizados pela Igreja Católica, a inquisição.
A Inquisição se originara na luta contra os albigenses no sul da França, nos
primórdios do Século XIII. Foi estabelecida na Espanha por autorização papal
em 1480 para fazer frente ao problema da heresia neste país. Sob Tomás
Torquemada (1420-98), 10.000 pessoas foram executadas, e sob Ximenes,
quase 2.000 foram mortas. Diante da insistência de Caraffa, a Inquisição
Romana foi proclamada por uma bula papal de Paulo III, em 1542, como um
instrumento de combate à heresia em todo o mundo.
415
Merece destaque também o massacre dos huguenotes, nas noites dos dias 23 e
24 de Agosto, em Paris, ocasião em que mais de duas mil pessoas foram brutalmente
assassinadas.
416
Mas certamente os Católicos Romanos, a Igreja majoritária nestes 20
séculos, não foram os únicos a empreender mecanismos de repressão e de opressão
sobre aqueles que se “desviaram” da ortodoxia e acabaram dando início às novas
Igrejas e movimentos reformistas.
Na Europa, por ocasião da Reforma Religiosa, os protestantes empreenderam
perseguição contra aqueles que pensavam diferente. para exemplificar pode ser
414
Foi esta a saudação que Jesus orientou seus discípulos a usarem em sua empreitada missionária,
conforme Lucas 10:5
415
CAIRNS, 1992, p. 284-285.
416
CAIRNS, 1992, p. 257.
145
mencionado o caso do anabatista Felix Manz, que ironicamente foi executado por
afogamento,
417
sendo ele adepto e defensor da doutrina do batismo por imersão.
Rubens Alves, que sofreu repressão por conta de suas idéias e ideais de
liberdade, escreveu:
Na verdade, seria possível interpretar a tendência protestante para as divisões
denominacionais e sectárias como uma expressão de práticas inquisitoriais. É
evidente que as fogueiras não podem mais ser acesas. Entretanto, o fato de os
grupos com pensamento divergente serem forçados a deixar uma certa igreja é
uma evidência da presença de mecanismos de controle de pensamento
extremamente eficazes na igreja de que foram forçados a sair.
418
Por este e por outros depoimentos, chega-se à conclusão de que a repressão
ocorreu em todos os níveis de Cristianismo, sempre contra as pessoas e grupos que
pensaram de maneira divergente do que o da maioria.
O surgimento de novas comunidades cristãs ao longo dos anos tem produzido
um espírito de competição que é colocado neste trabalho como um dos prejuízos deste
pluralismo cristão. O que se tem observado é a utilização do “fogo amigo”
419
, em que
cristãos de diversas confissões acabaram se voltando contra seus próprios “irmãos” na
fé, por não pertencerem ao seu grupo e representarem um risco.
Enquanto se ocupam em defender seus pontos de vista, seus territórios e sua
membresia, as Igrejas Cristãs esquecem-se de olhar para fora de seus muros, a fim de
cumprir o mandamento maior deixado por Jesus, qual seja o de amar: “Um novo
mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei a vós,
que também vós vos ameis uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus
discípulos, se tiverdes amor uns aos outros”.
420
Tempo, esforços e investimentos
econômico-financeiros que poderiam ser gastos na proclamação do Evangelho e no
cumprimento da missão da Igreja, foram e continuam sendo utilizados nas grandes
controvérsias, nos embates teológicos e eclesiológicos, na disputa por espaço e por
seguidores.
417
CAIRNS, 1992, p. 246.
418
ALVES, 1977, p. 11.
419
Expressão utilizada largamente pela imprensa por ocasião da Guerra do Iraque, em que exércitos
amigos acabaram atentando contra forças aliadas.
420
A BIBLIA Sagrada. Tradução de João Ferreira de Almeida. ed. rev. Rio de Janeiro : Imprensa Bíblica
Brasileira, 1987, João 13:34-35.
146
A independência das igrejas locais passa a ser prejudicial quando se confunde
autonomia com auto-suficiência, e foge da interdependência construtiva, doutrinária e
cooperativa com as outras comunidades com identidade semelhante, ou seja, também
cristãs. Nestes casos, a Igreja se isola, torna-se exclusivista e resistente aos apelos
para a comunhão e realização da obra de um modo mais amplo.
Shelly apela para a Bíblia para contestar o isolacionismo. Ele cita o apóstolo
Paulo, que apesar de valorizar e destacar a importância da Igreja Local teve sempre o
cuidado em opor-se a toda e qualquer tendência ao isolacionismo das igrejas que
ajudou a estabelecer. Através de suas cartas, orientou as igrejas a estarem sempre
olhando além de suas próprias fronteiras, levando-as a ter uma visão mais ampla do
Reino de Deus.
421
Como exemplo clássico desta preocupação, pode-se citar a
saudação do apóstolo ao escrever a sua primeira carta à problemática igreja de Corinto.
Ele diz: “Paulo, chamado para ser apóstolo [...] à igreja de Deus que está em Corinto,
aos santificados em Cristo Jesus, chamados para serem santos, com todos os que em
todo lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso”
422
.
Neste contexto o apóstolo condena veementemente qualquer tendência divisionista e
sectarista na Igreja de Jesus Cristo. Mas é o que se verifica em muitas comunidades
cristãs contemporâneas, oportunizando o surgimento de novas igrejas.
William Read, Victor Monterroso e Harmon Johnson fizeram um trabalho
relevante para o protestantismo, sobre o crescimento da Igreja na América Latina.
Nesse trabalho, eles abordam a questão do isolacionismo e o colocam como um fator
de desintegração que emperra o crescimento da Igreja e da Obra de Deus. Afirmam
que as igrejas se isolam, estabelecem seus próprios limites, e produzem sua própria
esterilidade. Igrejas que estabelecem um código de leis tão rígidas, que lhes impedem
de testificar com liberdade e amor, “voltando-se para dentro de suas quatro paredes,
caindo num processo contínuo de introspecção, buscando a auto-satisfação e vivendo
no ‘ghetto’ de sua própria feitura”.
423
São igrejas que se auto-limitam, por seu
421
SHELLY, B. L. A igreja: o povo de Deus. Trad. Neyd Siqueira. São Paulo: Vida Nova, 1989. p. 45.
422
A BIBLIA, 1987, I Coríntios 1:1-2.
423
READ William. et al. O crescimento da igreja na América Latina. Traduzido por João
Marques Bentes. São Paulo: Mundo Cristão, 1969. p. 443.
147
exclusivismo estéril que serve para impedir o seu crescimento e desenvolvimento e
imperram a expansão do reino de Deus.
Eis uma questão muito séria que precisa ser encarada com realismo e
praticidade pelas comunidades cristãs contemporâneas. É inconcebível que
comunidades cristãs vivam isoladas, ou em guerra, em pleno Século XXI. Mas é isso
que se tem visto, sobretudo nas comunidades que surgem com modelo empresarial, em
que “os cultos são negócios que oferecem um produto a seus consumidores e recebem
pagamento em troca”
424
Nestes casos, a disputa pela “clientela” é muito acirrada,
sobretudo através da utilização dos meios de comunicação, especialmente a TV. No
momento, as três grandes igrejas a competirem pelos mesmos “clientes” são a Igreja
Universal do Reino de Deus, Igreja Internacional da Graça de Deus e Igreja Mundial do
Poder de Deus.
4.1.3 Escândalo para o mundo
Um dos grandes prejuízos causados pela fragmentação no Cristianismo é a
repercussão disso junto aos não-cristãos e a dificuldade em testemunhar de um
evangelho que causa tantas discussões e divisões no meio do povo que se diz de
Deus. Falando sobre o assunto, Niebuhr afirma que
o mundo cético nota, divertido quando irreverente e desesperado quando na
busca de uma palavra salvadora, que a organização que louva mais alto a
fraternidade e critica mais intensamente discriminações de raça e de classe é,
em outros âmbitos, o grupo mais desunido de todos, que alimenta em sua
própria estrutura o mesmo espírito de divisão que condena em outras
relações.
425
Esta dificuldade para testemunhar em meio a tantas divisões de igrejas e
denominações inspirou o surgimento do movimento ecumênico, numa tentativa de unir
forças no cumprimento da tarefa de expandir o reino de Deus.
426
Outro teólogo a considerar a divisão de igrejas como um escândalo é Karl Barth.
Ele questiona dizendo:
424
STARK; BAINBRIDGE, 2008, p. 216
425
NIEBUHR, 1992, p. 14-15.
426
BOSCH, 2007, p. 546-557
148
Quanta dispersão das forças espirituais e materiais da missão não significa o
fato de não haver apenas uma igreja, mas muitas. E quão difícil fica ouvir a sua
mensagem, quanta confusão entre os seus ouvintes superficiais, e que
problemas para os seus ouvintes mais atentos, por causa da rixa existente
entre essas igrejas!
427
Por entender a divisão entre as igrejas como um escândalo, Barth entende que
ela deve ser encarada como pecado e não apenas como um fenômeno natural de
diversidade.
Não se deve nem querer explicar a pluralidade das igrejas. Deve-se lidar com
ela como se lida com o pecado próprio e o alheio. Deve-se reconhecê-la como
um fato. Deve-se entendê-la como algo impossível que se intrometeu. Deve-se
entendê-la como culpa que precisamos assumir nós mesmos sem dela nos
podermos livrar nós mesmos. De modo algum deve-se ficar tranqüilo a respeito
de sua realidade. Deve-se rogar para que seja perdoada e afastada. Deve-se
estar pronto a fazer aquilo que, segundo o mandamento de Deus, é a vontade
de Deus em relação a ela. [...] Ou será que existe um jeito de lidar com a
pluralidade das igrejas que não seja aquele com que se lida com o pecado
próprio e alheio?
428
Causou grande impressão a naturalidade com que os membros das novas
comunidades entrevistados encaram o fato de estarem ocasionando mais uma divisão,
aumentando a confusão e o escândalo diante do mundo.
O denominacionalismo representa, assim, o fracasso moral do cristianismo. A
menos que a ética da fraternidade supere o divisionismo do corpo de Cristo, será
inútil esperar que vença o mundo. Mas, antes que a Igreja possa esperar superar
sua falta de divisão, deve aprender a reconhecer e admitir o caráter secular de
seu denominacionalismo.
429
Escândalo, fracasso moral, falta de testemunho cristão. É difícil conscientizar as
pessoas de que isso é uma realidade causada pelas divisões e conseqüente
nascimento de novas igrejas cristãs, sobretudo quando a pessoa se vê como um
iluminado, alguém que foi escolhido por Deus para uma obra específica de plantação
de uma nova igreja ou um novo ministério, como se ouviu nas entrevistas. Entretanto,
não se pode esquecer que
427
BARTH, Karl. Dádiva e louvor: ensaios teológicos de Karl Barth. Tradução de Walter O. Schlupp, Luis
Marcos Sander e Walter Altmann. São Leopoldo: Sinodal/EST, 2006. p. 203.
428
BARTH, 2006. p. 207.
429
NIEBUHR, 1992, p. 13.
149
a fragmentação do corpo de Cristo desacredita o evangelho e corrói a
credibilidade de quem o anuncia. A Igreja cristã deve ao mundo a
demonstração da possibilidade da unidade na pluralidade, conforme ela o prega
e é chamado a viver. Se quisermos a unidade da humanidade, devemos
começar por arrumar a nossa própria casa. Sem a demonstração da unidade
que temos em cristo, será debilitado o esforço por convencer o mundo da
verdade evangélica.
430
Eis um escândalo que precisa ser reparado, mas que ainda marca
profundamente o cristianismo no mundo inteiro, muito especialmente em solo brasileiro.
4.1.4 Abuso Espiritual
O nome de Deus é santo e não deve ser invocado de maneira ilegítima. No
terceiro mandamento, dado por Moisés ao povo de Israel no Monte Sinai é dito
claramente: “Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em o; porque o Senhor não
terá por inocente aquele que tomar o seu nome em vão”.
431
O que se nos últimos
tempos, entretanto, é um abuso na utilização do nome de Deus, sobretudo em
movimentos e novas igrejas, que se dizem portadoras de novas e particulares
revelações de Deus.
Marília de Camargo César, uma jornalista que reside em São Paulo, publicou
recentemente um livro denominado “Feridos em Nome de Deus”, no qual traz o
depoimento de suas próprias experiências e de muitas outras pessoas que, como ela,
se sentiram abusadas espiritualmente por pessoas que as manipularam em nome de
Deus”. “Convertida desde a adolescência e criada em um lar evangélico, eu tinha
freqüentado algumas igrejas tradicionais, como a batista e a presbiteriana”.
432
Aos 35
anos de idade César ingressou numa comunidade carismática. Em crise pessoal,
empolgada com as novas descobertas, passou a se deleitar com a nova espiritualidade,
com bastante ênfase emocional.
430
BRAKEMEIER, Gottfried. Preservando a unidade do Espírito no vínculo da paz: um curso de
ecumenismo. São Paulo: ASTE, 2004. p. 126.
431
A BIBLIA, 1987, Êxodo 20:7.
432
CESAR, Marília de Camargo. Feridos em nome de Deus. São Paulo: Mundo Cristão, 2009, p. 18.
150
Quando, porém, o pastor caiu sob as denúncias de abuso e eu tive de parar a
fim de reavaliar todo aquele roteiro, identifiquei algumas incongruências. Uma
das conclusões a que cheguei foi que esse tipo de culto, fortemente movido
pelas emoções confere enorme poder à liderança. E o poder é uma espada que
poucos manejam com graça. É fácil errar a o. É fácil cair na tentação de
manipular.
433
Diante da conscientização de que estava sendo enganado em nome de Deus,
Cesar passou a investigar a experiência de outras pessoas que haviam chegado à
mesma conclusão. Segundo ela,
a confiança excessiva depositada em seres humanos falíveis, a necessidade de
construir bezerros de ouro, a idealização da imagem do pastor e a conseqüente
decepção, as más teologias, cheias de sutilezas sobre a necessidade de
obedecer à figura da autoridade e honrá-la, todos esses elementos deixaram
marcas profundas na vida desses irmãos.
434
Seu livro passa a ser um dramático depoimento de suas próprias experiências
em que se sentiu lesada espiritualmente, assim como a de pessoas que passaram por
situações semelhantes. Ela entende que tudo acontece porque “pastores
despreparados, donos de um currículo obscuro, perdem-se diante da necessidade de
pregar a mensagem para todos os ouvidos e colaboram com os desvios de rota”.
435
César define abuso espiritual como sendo “o encontro entre uma pessoa fraca e
uma forte, em que a forte usa o nome de Deus para influenciar a fraca e levá-la a tomar
decisões que acabam por diminuí-la física, material ou emocionalmente”.
436
Foi isso
que ela mesma experimentou e ouviu de muitos amigos e amigas que também
experimentaram. Segundo ela, o abuso espiritual ocorre de formas variadas, tanto de
maneira escancarada, aberta, pública, outras vezes de maneira sutil, velada, indireta.
As pessoas são alertadas para o se tornarem insubordinadas por não terem
obedecido a uma ordem pastoral, ou por discordar do pastor. Revelações especiais,
promessas de prosperidade e bênçãos condicionadas a determinadas atitudes de
obediência e fé, relacionamentos desfeitos, inclusive casais que se separam em função
de orientação recebida de líderes que se intitulam e se auto promovem à posição de
433
CESAR, 2009, p. 18.
434
CESAR, 2009, p. 20.
435
CESAR, 2009, p. 16.
151
“gurus” espirituais. Estas e muitas outras estratégias são mencionadas pela autora,
ilustrando com experiências vividas por ela mesma e por outros membros de igrejas,
sobretudo igrejas novas, cujos pastores sentem-se livres para impor sua “visão” de
ministério, sem a responsabilidade de prestar contas de sua vida, práticas e ensinos
para ninguém.
O Praticante II, fala com muito pesar do que tem acontecido com algumas de
suas ovelhas. Perguntado se pessoas tem trocado sua Igreja por uma Comunidade
Cristã independente, Ele afirma:
Com tristeza digo que sim. Apesar de saber que os motivos na maioria das
vezes são escusos, sempre alguém se encanta com o novo. Mas alguns logo
percebem, e até voltam feridos. Essas novas Igrejas machucam muito, causam
muitas feridas. Não verdadeiro pastoreio e as ovelhas se ferem e se
machucam.
437
Em entrevista ao Jornal A Gazeta, publicada no dia 13 de Setembro de 2009,
César afirma que, depois de 10 anos freqüentando determinada igreja, que ela
descreve como “mais avivada, interdenominacional, mais na linha pentecostal”
438
quando o pastor afastou-se por razões de saúde e os membros se sentiram livres para
denunciar a opressão a que vinham sendo submetidos. Segundo ela, as acusações não
estavam relacionadas a dinheiro “mas a abuso emocional, abuso de autoridade. Era a
pessoa que começa a achar que pode mandar na vida dos outros em nome de
Deus.”
439
As consequências disso foram enumeradas pela jornalista. Segundo ela,
em muitos casos, as pessoas entraram em séria crise de identidade. As
pessoas ficam sem saber no que acreditar. Muitos estão tendo que fazer
terapia. também perdas de ordem financeira, pessoas que deixaram um
bom emprego para trabalhar para a igreja, mas na maioria dos casos, a perda
maior é no campo psicológico, emocional. pessoas que chegam a
abandonar a própria família, deixam tudo para seguir a igreja, as orientações do
pastor.
440
436
CESAR, 2009, p. 35.
437
ANEXO A, p. 186.
438
CÉSAR, Marília de Camargo. As pessoas querem entrar em êxtase. Vitória, ES, Jornal A Gazeta,
13 set. 2009. Entrevista concedida a Elisangela Bello, p. 16.
439
CESAR, 2009, p. 16.
440
CÉSAR, 2009, p. 16.
152
Indagada sobre a classe das vítimas, César uma resposta surpreendente. Ela
diz : “A maioria dos que entrevistei são de classe média alta, empresários, profissionais
liberais, que começaram a seguir essas lideranças cegamente, perderam o senso
crítico”.
441
Ela entende que “muitos pastores retomaram a figura dos antigos profetas,
citada no Antigo Testamento, e estão se ‘auto-ungindo’. Eles dizem : ‘é Deus que fala,
não eu’. Eles criticam os católicos pelo poder conferido ao papa, mas esses ‘pastores
papais’ acham que são a voz de Deus na terra.”
442
Na mesma reportagem na qual publica a entrevista com Marília de Camargo
César, o jornal faz menção de vários outros casos em que novas igrejas ditas
evangélicas estão sendo acionadas na justiça por abusos cometidos, dos mais
diferentes tipos. Merece destaque o que está acontecendo com uma destas novas
igrejas, denominada Tabernáculo de Vitória. Segundo o jornal
Em torno da idéia de salvação propagada pela seita liderada pelo pastor,
centenas de fiéis se juntaram num mesmo endereço em Santo Antônio, Vitória,
em 2007. Depois, eles venderam seus bens e doaram à igreja sob a convicção
de que deveriam esperar pela volta de Cristo num sítio, em Ecoporanga, Norte
do Estado, onde a comunidade chamada Recanto das Águias vive dividindo
tudo igualmente. O sonho, no entanto, parece estar se desfazendo aos poucos.
[...] De março até agora, nove ações indenizatória tramitam na Justiça contra o
Tabernáculo, movida por ex-fiéis e parentes decepcionados com a vida em
comunidade e com o comportamento do líder.
443
Como se vê, a multiplicação de igrejas, muitas através e com líderes
despreparados, torna o risco de abuso espiritual com o mau uso do nome de Deus,
uma realidade cada vez mais perigosa. Sem acompanhamento externo, de nenhuma
instituição ou ordem que prime pela qualidade, moral e ética destes líderes, abre-se a
porta para todo o tipo de abusos e patologias.
441
CESAR, 2009, p. 16.
442
CESAR, 2009, p. 16.
443
NOVE processos contra o tabernáculo. A Gazeta, Vitória, 13 set. 2009, Dia a Dia, p. 17.
153
4.1.5 Mercantilização da fé
Questões econômicas são mencionadas pela grande maioria dos entrevistados.
Praticamente todos os pertencentes às comunidades históricas, tanto pastores como
membros da igreja e vários Peregrinos e Convertidos, apontam questões econômico-
financeiras, como um dos principais fatores que tem desencadeado o nascimento de
novas igrejas independentes. O Praticante I afirma:
Eu costumo brincar aqui na minha Igreja que o comércio tem uma época do ano que aqueles
descontos mega, assim que enche as lojas de desconto, 90% de desconto, e algumas Igrejas
dando 98% de desconto entregando o evangelho por qualquer preço. [...] Mas o interesse
econômico financeiro também das pessoas. O desemprego é outro fator, se o indivíduo prega
direitinho, fala de Deus com certo carisma, na verdade ele vai criando uma Igreja ele vai
sustentar a família dele, ele vai viver o resto da vida dele. Então essa questão econômico-
financeira também se e de uma maneira grandiosa e a facilidade onde as pessoas gostam de
ser enganadas facilmente vão atrás dessas promessas e os grupos vão se mantendo, e vão se
manter por algum tempo.
444
O Praticante III também se expressa na mesma direção, apontando o desejo de
lucro como um dos fatores que desencadeiam o nascimento de tantas igrejas
independentes: “Aproveitadores que vêm no segmento igreja para o ganho fácil. Criam
ou entram em uma franquia de uma grande nova igreja e começa a arrebanhar as
pessoas. Não se importam se é certo, bíblico ou teológico, querem saber se vale a
pena e se dá lucro”.
445
Por sua vez, o Praticante VI entende que “o povo está
desesperado, à procura de bens materiais, riquezas e por outro lado pessoas querem
facilidades”.
446
Em última instância, segundo Bourdieu, “a verdade objetiva de toda a relação
entre especialistas religiosos e leigos é de vendedor/cliente”
447
, mas o que se tem
verificado na religiosidade contemporânea, com a competição, sobretudo entre as
novas igrejas é de uma comercialização da de maneira grosseira e escandalosa.
Stark e Bainbridge organizam por modelos diferentes os cultos na formação de
444
ANEXO A, p. 166.
445
ANEXO A, p. 170.
446
ANEXO A, p. 176.
447
447
BOURDIEU, 2007, p. 61.
154
movimentos religiosos inovadores. Falando sobre o modelo empresarial ele faz
afirmações chocantes:
Os cultos são negócios que oferecem um produto a seus consumidores e
recebem pagamento em troca. Os cultos são principalmente um negócio de
vender novos compensadores, ou pelo menos compensadores recém-
acondicionados, parecendo novos. É preciso manufaturar uma oferta de novos
compensadores. Tanto a manufatura quanto a venda são realizadas por
empresários. Estes empresários, como quaisquer outros, são motivados pelo
desejo de lucro, que podem obter trocando compensadores por recompensas.
A motivação para entrar no negócio de cultos é estimulada pela percepção de
que tais negócios podem ser lucrativos, uma impressão que provavelmente foi
adquirida pelo envolvimento prévio em um culto de sucesso.
448
Usando de maneira profissional os recursos disponibilizados pelo marketing e
investindo na mídia, sobretudo na utilização da televisão, os “bens de salvação”. A
disputa por “clientes” é muito grande e a necessidade da criação de novos elementos
de fé coloca uma verdadeira multidão de especialistas fazendo pesquisas para
identificar quais são as necessidades espirituais das pessoas, a fim de que sejam
oferecidos produtos que venham atendê-las.
É preciso reconhecer que a mercantilizarão da não é um fenômeno novo nem
inédito no cristianismo. Campos descreve como este mercado da foi se
estabelecendo a partir da oficialização do Cristianismo pelo Império Romano.
Vários santuários locais foram reconsagrados aos mártires e santos cristãos, e
com o passar dos séculos, um comércio de imagens, ícones e relíquias
sagradas se estabeleceu ao redor deles, práticas essas que constituiriam mais
de mil anos depois, aos olhos dos reformadores, evidências claras da
‘paganizaçãoda Igreja cristã. [...] Com a sua oficialização, o cristianismo se
tornou um produtor hegemônico de símbolos, práticas e rituais religiosos.
449
Como se vê, a utilização de “bens religiosos simbólicos” não é novidade para os
cristãos, mas com o advento do neo-pentecostalismo, houve um verdadeiro
despertamento na utilização destes recursos para o mercado da fé, visando conquistar
novos adeptos e angariar fundos para o sustento dos novos empreendimentos
religiosos.
448
STARK; BAINBRIDGE, 2008, p. 216, 217.
449
CAMPOS, 1997, p.170.
155
Campos utiliza-se dos conceitos de Pierre Bourdieu de “mercado de bens
simbólicos” sendo considerados como bens religiosos a salvação, cura, libertação das
culpas, sentido para a vida e outros mais, sendo produzidos por especialistas de
produção, denominado obreiros, pastores e bispos, comercializando estes produtos.
Segundo Campos, a IURD se especializou neste negócio, descobrindo formas
peculiares para atender a demanda por seus produtos. De maneira sagaz, a liderança
da IURD, seguida agora por uma infinidade de pequenas igrejas independentes,
“percebeu a existência de um desequilíbrio entre ‘produção’ e ‘consumo’ de ‘bens
religiosos’ e que as entidades tradicionais de atendimento da demanda não mais
estavam dando conta dessa situação de privação.”
450
Nos cultos destas igrejas são utilizados objetos com forte teor simbólico como
“rosa abençoada”, “óleo da bênção”, “água orada”, pedras do Sinai”, “pão de Israel”,
“água do rio Jordão”, “areia do Sinai”, “galho de arruda” e uma infinidade de outros
objetos que o utilizados nos diferentes momentos e sobretudo nos rituais de
ofertório.
451
Falando sobre o Pentecostalismo Autônomo, no qual se enquadram muitas das
novas comunidades independentes, Bittencourt menciona a tríplice oferta da cura,
exorcismo e prosperidade, em troca de ofertas sacrificiais. “Além disso, apostam numa
oferta incessante de bens simbólicos e não investem na formação de comunidade. Em
vez de comunidade, o Pentecostalismo Autônomo investe no coletivismo, bem ao modo
da cultura de consumo do ‘mercado total’.”
452
Por sua vez, as igrejas cristãs históricas resistem aos modismos, querendo
manter-se no controle da gestão dos bens religiosos. Como afirma Bourdieu
porque pretende perpetuar-se, a Igreja tende a impedir de maneira mais ou
menos rigorosa a entrada no mercado de novas empresas de salvação (como
por exemplo as seitas e todas as formas de comunidade religiosa
independentes), bem como a busca individual de salvação.
453
450
CAMPOS, 1997, p. 53.
451
CAMPOS, 1997, p. 77.
452
BITTENCOURT FILHO, 2003, p. 196.
453
BOURDEAU, 2007, p. 58.
156
A ratificação da expressão “fora da igreja não salvação”, repetida e renovada
nos documentos da igreja, é um exemplo de como a Igreja Católica Apostólica Romana
continua lutando pela hegemonia no comércio dos bens religiosos.
Entretanto, com a multiplicação de igrejas cristãs, sobretudo de linha neo-
pentecostal, nota-se uma multiplicação de mercadorias da fé” sendo oferecidas e um
contingente cada vez maior de pessoas em busca de melhoria de vida, prosperidade
financeira, troca-troca com Deus, toma lá dá cá, etc, levando a sociedade a concluir que
o surgimento de novas igrejas se dá, basicamente em função de questões financeiras,
busca de lucro. Pior ainda, igrejas que criam mecanismo de defesa contra possíveis
cobranças que alguém possa fazer, caso a bênção prometida não venha. Como afirma
Bobsin, “se o fiel não alcançar a bênção, o problema é dele, e o da própria Igreja.
Afinal, a chave do sucesso está no coração de cada um”.
454
Cabe o alerta paulino para
esta questão.
Se alguém ensina alguma doutrina diversa, e não se conforma com as sãs
palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, e com a doutrina que é segundo a
piedade, é soberbo, e nada sabe, mas delira acerca de questões e contendas
de palavras, das quais nascem invejas, porfias, injúrias, suspeitas maliciosas,
disputas de homens corruptos de entendimento e, e privados da verdade,
cuidando que a piedade é fonte de lucro; e, de fato, é grande fonte de lucro a
piedade com o contentamento. Porque nada trouxemos para este mundo, e
nada podemos daqui levar; Porque o amor ao dinheiro é a raiz de todos os
males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si
mesmos com muitas dores.
455
Estes e muitos outros prejuízos têm sido causados pela multiplicação de igrejas
e a fragmentação cada vez mais ampla e profunda do Cristianismo.
4.2 Benefícios
Conquanto o impacto sobre as igrejas históricas seja prejudicial e até
escandaloso, sem nenhum controle sobre a sua legitimidade, segundo alguns autores,
a multiplicação de novas igrejas cristãs independentes tem também os seus benefícios.
454
BOBSIN, 2006, p. 81.
455
A BÍBLIA, 1987, I Timóteo 6:3-8, 10.
157
4.2.1 Renovação das Igrejas Históricas
O que pode ser observado é que o surgimento de novas comunidades forçou as
já estabelecidas a repensarem vários aspectos de sua realidade.
Como exemplo, pode-se citar o que aconteceu com a Igreja Católica Romana,
por ocasião da Reforma Religiosa do Século XVI. A reação da Igreja, conquanto tenha
tido o seu lado equivocado, em oposição ao protestantismo, através da inquisição, teve
também seu lado positivo. “A Contra-Reforma provocou uma renovação interna”
456
.
Além disso, reacendeu a chama missionária, a muito tempo apagada no Catolicismo.
Se, como Latourette sugeriu, o século XIX foi o grande século das missões
protestantes, pode ser dito que, graças aos Jesuítas, o Século XVI foi o grande
século das missões católicas. Jesuítas espanhóis, portugueses e, mais tarde,
franceses, levaram sua fé à América Latina, Quebec e ao sudeste da Ásia.
457
Por mais paradoxal que isso possa parecer, ao mesmo tempo que o pluralismo
cristão arrefeceu o avanço missionário por longos anos, de alguma forma, em alguns
momentos, acabou servindo de motivação missionária.
Fenômeno interessante surgiu também na segunda metade do século passado,
com a Igreja Católica Brasileira.
No Campo da Igreja Católica Romana, nesses anos surgiram as comunidades
eclesiais de base (CEBs), em cujo espaço as pessoas podiam se reunir e falar
livremente. Com o auxílio de um método muito simples, as pessoas começaram
a ler a Bíblia, fazendo a ponte para os fatos da vida, de modo que uma
iluminava a outra e as pessoas recobravam a esperança. Houve um despertar
da fé enquanto o movimento se espalhou por todo o Continente, com especial
força no Brasil, transcendendo até mesmo os limites confessionais. Leonardo
Boff chegou a falar de ‘eclesiogênese’, para indicar que a Igreja estava sendo
reinventada através desse movimento popular cristão, sobretudo a partir dos
pobres.
458
Algo semelhante têm experimentado as Igrejas Protestantes Históricas no Brasil,
a partir do surgimento do movimento pentecostal. Saindo das Igrejas Protestantes
históricas num primeiro momento, muitos pentecostais se mantêm agora dentro das
456
CAIRNS, 1992, p. 280.
457
CAIRNS, 1992, p. 282.
158
Igrejas Históricas, exercendo influência no processo de renovação espiritual das
comunidades já estabelecidas.
Uma vez que a consciência acerca destes fatos cresce nas igrejas históricas,
podemos perceber uma significativa mudança de atitude. Ao invés de falar dos
pentecostais como expressão de ‘alienação’, ou de refúgio no mundo
justamente por aqueles que mais se sentem nele prejudicados, deveríamos
ouvir mais sobre a necessidade de reconhecer suas contribuições positivas e
fazer esforços para nos relacionarmos com eles a ponto de os vermos como
parceiros.
459
Outra marca perceptível, no pentecostalismo, que deve levar as comunidades
históricas à reflexão é o alto grau de envolvimento do elemento “leigo”, na realização da
obra de Deus. É isso que afirma Peter Wagner, ao analisar o movimento Pentecostal.
Quando quase todos os membros da igreja dedicam-se ativamente a algum tipo
ministério, a igreja só pode crescer. Para a maioria dos pentecostais da América
Latina, ser cristão significa, entre outras coisas, trabalhar para Deus.
Contrastando com igrejas letárgicas, nas quais o pastor e talvez um ou dois
diáconos são virtualmente os únicos membros ativos da igreja, os pastores
pentecostais geralmente fazem o invejável papel de técnico de equipes. São
responsáveis pela liderança e organização, mas a maior parte do trabalho nas
ruas e nos lares é feita pelos ‘soldados rasos’.
460
Quando todos os membros se sentem envolvidos e valorizados, participando no
esforço de cumprir os desafios estabelecidos por Jesus Cristo à sua igreja, certamente
os resultados serão inestimáveis.
Esta é uma das características marcantes das novas comunidades, onde cada
membro sente-se responsável pelo fortalecimento e crescimento da igreja. Impressiona
o entusiasmo e a esperança destes discípulos/as que freqüentam as novas
comunidades e isto tem causado impacto na vida de quem os observa, inclusive
membros de igrejas históricas, que passam a se dedicar mais dentro de suas próprias
comunidades. O exemplo do que acontece dentro das novas comunidades tem
repercutido também nas comunidades históricas, que tem observado um
458
ZWETSCH, 2005, p. 211-212.
459
CESAR, SHAULL, 1999, p. 267.
460
WAGNER, Peter. Porque crescem os pentecostais?: Uma análise do espantoso avanço do
pentecostal na América Latina. São Paulo: Vida, 1994. p. 73.
159
despertamento no que diz respeito ao envolvimento de sua membresia no ministério da
igreja.
4.2.2 Reconsideração da filosofia de ministério
A multiplicação de novas igrejas, ao redor do mundo, mas particularmente no
município da Serra, tem contribuído para que as lideranças das igrejas cristãs
históricas, notadamente as igrejas batistas, reconsiderem a filosofia de seus ministérios.
Isso tem ocasionado a promoção de congressos, conferências, retiros para refletir sobre
o assunto.
Segundo Campos, é indispensável que seja feita “uma avaliação crítica da ação
pastoral e dos mecanismos encarregados de gerar e de manter a fidelidade dos
membros das comunidades protestantes tradicionais”.
461
Em busca deste ideal, igrejas
e líderes têm dado origem a um verdadeiro movimento de renovação em termos
filosofia de ministério, dentro de novos paradigmas eclesiológicos.
Novos modelos eclesiológicos têm sido criados, que significam novas propostas
de ministérios, mais contextualizados, que visam, não só o crescimento numérico,
através do evangelismo, mas também o atendimento da membresia através de um
processo de discipulado dinâmico e criativo, sobretudo com o estabelecimento de
pequenos grupos como estratégia para o exercício da mutualidade cristã, onde cada
membro é cuidado pelo outro, a liderança da igreja é descentralizada, envolvendo
muitos líderes no pastoreio do rebanho. Dentre os tantos movimentos e modelos
propostos, podem ser destacados:
4.2.2.1 Rede Ministerial
Este modelo teve início na Igreja Willow Creek Community Church, em Chicago -
EUA, com o Pr. Bill Hybels. No Brasil o principal representante deste modelo é o Pr.
Armando Bispo, da Igreja Batista Central de Fortaleza. Propõe uma completa
reestruturação da Igreja tomando como referência a idéia da Igreja como o Corpo de
461
CAMPOS, 2002, p. 108.
160
Cristo, onde cada membro tem uma função definida, desempenhada através de uma
rede de ministérios.
A Rede Ministerial tem como alvo auxiliar os crentes a serem frutíferos e
realizados num significativo lugar de serviço. É a estratégia dos oito passos:
Estabelecer relacionamentos íntegros, verbalizar a fé, promover encontros facilitadores,
agregar-se à grande congregação, fazer parte de um grupo pequeno, buscar
aperfeiçoamento prático, servir num ministério significativo e ser um bom mordomo de
Cristo.
462
4.2.2.2 Ministério Igreja em Células
John Wesley foi o pioneiro da evangelização em pequenos grupos nos tempos
modernos. No final do Século XVIII Wesley desenvolveu mais de 10.000 células,
também conhecidas como classes de estudo. Na década de 60, Paul Yonggi Cho, mais
tarde autodenominado David Yonggi Cho, na Coréia do Sul, iniciou uma experiência
fabulosa de reunir Grupos Familiares, utilizando-se especialmente de mulheres como
líderes. Sua experiência foi tão bem sucedida que despertou o interesse e a curiosidade
de líderes do mundo inteiro.
Ralph Neighbour Jr., pastor batista americano, foi um dos curiosos que foi até a
Coréia e passou um período estudando e observando o trabalho realizado pela Igreja
de Evangelho Pleno, ligada às Assembléias de Deus. Ao retornar para seu campo,
utilizando-se das observações que fizera na Coréia, Neighbour Jr., sistematizou aquilo
que hoje se conhece como Ministério Igreja em Células.
Joel Komiskey, orientado por Neighbour, tornou-se o grande teórico da Igreja em
Células, tendo feito pesquisas nas 8 igrejas que mais crescem no mundo e escrito como
decorrência desta pesquisa, os livros “Crescimento Explosivo da Igreja” e “Multiplicando
a Liderança”. O Dr. Robert Lay, da Igreja Irmãos Menonitas em Curitiba, é o
representante do Ministério Igreja em Células no Brasil.
Segundo definem os defensores deste modelo, a Igreja em Células é uma
maneira de ser igreja que resgata valores e práticas das comunidades do tempo do
462
BISPO, Armando et all. Rede ministerial: seminário descoberta. São Paulo: Vida, 1999.
161
Novo Testamento. Segundo eles, a célula é a comunidade cristã de base. Através da
célula os crentes passam a desenvolver um estilo de vida em que vivem comunidade,
recebem treinamento, prestam contas de suas vidas com Deus, são orientados por uma
liderança treinada, evangelizam através de suas amizades e discipulam aqueles que
fazem um compromisso com Deus. A grande estratégia desta filosofia de ministério são
as células, em torno das quais a vida da igreja gira. É a partir das comunidades cristãs
de base que as coisas acontecem e é lá, na base, que os valores e princípios básicos
do Reino de Deus são vivenciados e reproduzidos.
463
4.2.2.3 Igreja com Propósito
Este modelo eclesiológico nasceu com a experiência ministerial de Rick Warren,
na Comunidade Evangélica Saddlebck, Sul da Califórnia. Em 1980 Rick iniciou um
trabalho totalmente novo, com apenas uma família, na sala de estar de sua residência.
Hoje, 29 anos depois, são realizados vários cultos por final de semana, reunindo
milhares de pessoas.
Warren acredita que uma igreja que conhece quais são e segue propósitos
estabelecidos por Jesus para ela, sabe para onde vai e é comprometida com os ideais
bíblicos. Segundo Warren, a Igreja tem basicamente cinco propósitos, ou seja, Amar a
Deus com todo o coração (Adoração), Amar o seu próximo como a si mesmo (Serviço),
ir e fazer discípulos (Evangelismo), batizar os/as discípulos/as de Jesus Cristo
(Comunhão) e ensinar os discípulos a serem obedientes (Discipulado).
464
Rick Warren defende a tese de que “uma declaração de propósito clara
propiciará direção, vitalidade, limites e a força motivadora para tudo o que você faz.
Igrejas com propósitos serão as mais bem equipadas para o ministério durante todas as
mudanças que enfrentaremos no século XXI”.
465
No Brasil uma das Igrejas que está mais avançada na transição para este
modelo é a Primeira Igreja Batista em o José dos Campos, em o Paulo. No
463
COMISKEY, Joel. Crescimento explosivo da igreja em células: como o seu pequeno grupo pode
crescer e se multiplicar. Trad. de Ingrid Neufeld Lima. Curitiba: Ministério Igreja em Células. 1997, p. 152.
464
WARREN, Rick. Uma igreja com propósitos. Traduzido por Carlos de Oliveira. São Paulo : Vida,
1998. p. 127-135.
162
Espírito Santo, as Igrejas Batista de Morada de Camburi, em Vitória e Primeira Igreja
Batista de Aracruz estão mais avançadas neste processo.
4.2.2.4 Desenvolvimento Natural da Igreja
Este modelo nasceu com Christian A. Schwarz, diretor do Instituto para o
Desenvolvimento da Igreja, na Alemanha, um pesquisador que tem tentado provar que
muitos dogmas do movimento de crescimento da igreja não passam de mitos.
Pesquisando mais de 1000 igrejas em 32 países, nos 5 continentes, Schwarz defende
a tese de que o crescimento da Igreja acontece de forma natural sendo necessário
apenas “liberar os mecanismos automáticos de crescimento com que Deus equipou a
Igreja, em vez de tentar fazer tudo por esforços próprios”.
466
No Brasil o material do Desenvolvimento Natural da Igreja é produzido e
divulgado pela Editora Evangélica Esperança, de Curitiba, no estado do Paraná.
Os teóricos deste modelo defendem que não é um método ou estratégia de
crescimento de igreja. Advogam que, como qualquer organismo vivo tem um
desenvolvimento natural, a Igreja como Corpo de Cristo, tem também um
desenvolvimento natural. É preciso que haja liberação dos processos automáticos
(naturais) de crescimento com os quais Deus edificou a Igreja. Tem no desenvolvimento
de sua teoria as oito marcas de qualidade, a estratégia do fator mínimo, os seis
princípios da natureza e o modelo teológico.
É uma busca de princípios para as igrejas, válidos independentemente da
cultura, direção teológica ou denominacional. Procura responder a pergunta : O que
cada igreja e cada cristão deveria fazer para obedecer a Grande Comissão nos dias de
hoje?
Existem muitos outros modelos sendo experimentados e ensinados e muitos
outros vão surgindo, na medida em que as igrejas vão se utilizando das descobertas
das igrejas mencionadas e de outras que com certeza existem. Como exemplos
465
WARREN, 1998. p. 135.
466
SCHWARZ, Christian A. O desenvolvimento natural da igreja : um guia prático para cristãos e
igrejas que se decepcionaram com receitas mirabolantes de crescimento. Traduzido por Valdemar
Kroker. Curitiba: Esperança, 1996. p. 7.
163
destes outros modelos podemos citar “Grupos Familiares” coordenado por David
Kornfield, do Serviço de Evangelização para a América Latina (SEPAL), “A Nova EBD
de Lécio Dornas, da Primeira Igreja Batista de Cuiabá, estado do Mato Grosso, A
Ponte da Fé” de Bobby H. Welch e Doug Willians, “A Vida Total da Igreja” de Darrel W.
Robinson, livro oficial da Convenção Batista Brasileira de 2002, que propõem uma nova
estratégia para a Igreja do Século XXI, dentre outros.
Bosch entende que
os ministérios, as ordens e as instituições eclesiásticas deveriam ser organizadas
de forma que sirvam a sociedade e o alienem o crente da história [...] As
pessoas a serem evangelizadas encontram-se, com outros seres humanos,
sujeitas a condições sociais, econômicas e políticas deste mundo. Há, portanto,
uma convergência entre a libertação de indivíduos e povos na história e a
proclamação do advento final do reinado de Deus.
467
O fato é que o nascimento de tantas comunidades cristãs independentes tem
levado as igrejas históricas e reconsiderar sua filosofia de ministério. A conclusão é de
que se faz necessária uma simplificação das estruturas a fim de privilegiar
relacionamentos e cultivar a comunhão entre os/as discípulos/as de Jesus Cristo,
resgatando o envolvimento mútuo, tão presente e importante nas comunidades cristãs
primitivas.
O surgimento de novas comunidades ocasionou a concepção de uma infinidade
de modelos eclesiásticos, com a versatilidade própria para cada cultura, região ou
tempo. Quando José Miguez Bonino escreveu seu trabalho descrevendo os Rostos do
Protestantismo Latino-americano
468
certamente reconhece um potencial de crescimento
e de transformação em cada expressão protestante no contexto da América Latina. Ao
visitar a história e observa-se que, de alguma forma, a diversidade eclesiástica acabou
favorecendo o acesso de determinadas pessoas ao evangelho.
Brunner faz um destaque interessante ao abordar este tema:
Como é certo o fato que um mero de igrejas competindo representa um
escândalo, igualmente é certo, por outro lado, que a variedade de formas de
comunidades cristãs é uma necessidade. Como Deus nos tempos passados
467
BOSCH, 2002, p. 453.
468
Livro editado pela EST em parceria com a Sinodal, em que são analisados o rosto liberal, evangélico,
pentecostal e étnico, do Protestantismo Latino-americano.
164
falou de diversas maneiras, assim hoje Ele deseja atrair de vários modos os
homens de ltiplos temperamentos. Um homem a quem uma igreja de alto
serviço litúrgico conduz à mais alta medida de bem espiritual é, obviamente, um
tipo de homem muito diferente daquele a quem uma reunião do Exército de
Salvação com o bater palmas e trombones faz o mesmo serviço espiritual. Não
seria o Senhor capaz de estar no meio deles em ambos os casos? Diversidade
de liturgias e outras formas, de modo algum, impedem a unidade em Cristo.
469
Com o surgimento de novas comunidades cristãs, houve também uma
flexibilização na liturgia, criando-se práticas de culto que atendam às necessidades e
peculiaridades do grupo onde a comunidade está inserida. A maioria das igrejas mais
tradicionais, que não observam este princípio, segue um ano litúrgico, determinado pela
tradição e sacramentado por uma cúpula denominacional. O grande problema nesta
prática é a ordem das celebrações, os textos a serem lidos e utilizados nas mensagens
são elaborações de pessoas que têm pouco a ver com as igrejas locais. Isso acaba
proporcionando excesso de formalismo e celebrações descontextualizadas. Nas igrejas
novas, cada comunidade local, através de sua liderança por ela mesma escolhida,
elabora seu próprio calendário de atividades, sua própria ordem dos cultos, de tal forma
a se adequar com a sua realidade.
Segundo Dusilek, “as comunidades de fé, os grupos de comunhão, têm surgido
dentro de um mesmo paradigma doutrinário. Assim, não um cisma doutrinário mas
um cisma na orientação de como deve ser e se estruturar a Igreja em termos de vida e
missão”.
470
Não se pode negar a importância da diversidade, sobretudo quando se pensa na
figura do corpo, favorita do apóstolo Paulo, ao falar da Igreja de Jesus Cristo. A
diversidade é tão necessária quanto à unidade, a fim de que haja a expansão do reino
de Deus, conforme preconizado por Jesus Cristo, o Senhor da Igreja.
4.2.3 Reflexão Teológica
É inquestionável a necessidade de uma reflexão teológica profunda, diante da
multiplicação de igrejas cristãs independentes, o que tem sido feito pelas igrejas
469
BRUNNER, 2000, p. 119.
470
DUSILEK, 1997, p. 43.
165
históricas, desde os tempos do Novo Testamento, mas principalmente depois da
reforma religiosa do século XVI.
Zwetsch menciona as principais correntes presentes hoje na Eclesiologia,
relacionadas à missão: ecumênica, que se expressa no Conselho Mundial de Igrejas;
evangelical, que se reúne em torno do Pacto de Lausanne (1974) e que na América
Latina adquire expressão continental através dos Congressos Latino-Americanos de
Evangelização, da Confraternidade Evangélica Latino-Americana(CONELA), associada
à Aliança Evangélica Mundial (World Evangelical Fellowship –WEF) e da Fraternidade
Teológica Latino-Americana; o catolicismo romano, que, apesar de suas distintas faces
e dos mais variados grupos e linhas internas, mantém certa unidade devido à sua
tradição e a um grande peso institucional; a corrente pentecostal, muito imprecisa em
termos institucionais, mas suficientemente forte e abrangente para despertar o interesse
dos mais variados setores.
471
Pode-se mencionar, por último, a corrente neo-
pentecostal ou pós-pentecostal como preferem alguns teólogos.
Mais recentemente, teólogos e sociólogos da religião têm se debruçado sobre a
questão da multiplicação de igrejas e denominações, buscando indicativos dos fatores
que têm causado ou intensificado este fenômeno. Isso resulta numa reflexão teológica
que acaba beneficiando as igrejas históricas e o cristianismo de um modo geral.
A Igreja Católica Romana (ICAR) deu um grande passo neste sentido, através da
realização do Concílio do Vaticano II, realizado entre os dias 11 de Outubro de 1962 a
08 de Dezembro de 1965, cujas reflexões e decisões trouxeram mudanças significativas
buscando atender às exigências do contexto social, cultural e religioso do
século XX até então, por meio de uma atitude dialógica da Igreja com o mundo.
Isso implicou dar à Igreja uma nova configuração conceitual, fundamentá-la na
Palavra de Deus e na celebração do mistério da e explicitar a necessária
ação da Igreja em relação a si mesma e em relação ao mundo. Ademais, esse
Concílio não foi apenas um acontecimento celebrado e realizado em sua
formulação teológica, mas um evento que teve continuidade nas Igrejas locais
dispersas pelo planeta, mediante um processo clarividente de adaptação.
472
471
ZWETSCH, 2005, p. 212-213.
472
GONÇALVES, Paulo Sérgio Lopes; BOMBONATTO, Vera Ivanise (Orgs) Concílio do Vaticano II:
Análise e prospectivas. São Paulo: Paulinas, 2004. p. 9 (Coleção Alternativas).
166
Certamente este não foi apenas mais um concílio. Trata-se de um evento que
muda a direção da ICAR radicalmente, a partir do seu próprio conceito ou teologia da
igreja, passando de
uma Igreja-Instituição ou de uma Igreja-Sociedade-Perfeita para uma Igreja-
Comunidade, inserida no mundo, a serviço do Reino de Deus; de uma Igreja-
Poder para uma Igreja-Pobre, Despojada, Peregrina; de uma Igreja-Autoridade
para uma Igreja-Serva, Servidora, Ministerial; de uma Igreja Piramidal para uma
Igreja-Povo; de uma Igreja-Pura e sem mancha para uma Igreja-Santa-
Pecadora, sempre necessitada de conversão e de reforma; de uma Igreja-
Cristandade para uma Igreja-Missão, uma igreja toda ela Missionária.
473
Como se pode ver por esta análise comparativa, o Concílio do Vaticano II
procura trazer a Igreja de volta para o meio do povo, de quem tinha se distanciado,
perdida nas estruturas institucionais. Fuellenbach caminha nesta mesma direção, ao
afirmar que “o concílio estava muito preocupado em apresentar uma imagem da Igreja
como ponto de referência para a tarefa de captar sua identidade e sua missão no
mundo de hoje”.
474
Mesmo não fornecendo uma definição específica e objetiva da
Igreja, “encontramos, nos documento sobre a Igreja, um estimulante retorno à
compreensão bíblica de Igreja”.
475
Dois documentos muito importantes sobre a Igreja
resultaram do Concílio do Vaticano II.
Lumen gentium (luz para as nações) define a Igreja como luz para todas as
nações (embora o termo luz se refira, primeira e precipuamente, a Jesus) [...]
Gaudium et spes (Alegria e esperança) procura detalhar a relação da Igreja
com o mundo. Ela descreve a Igreja como uma comunidade cuja missão é a de
proporcionar alegria e esperança para o mundo que com freqüência parece
extremamente sóbrio e desesperado, desprovido de real alegria e ignorante do
caminho a tomar e da direção a seguir.
476
Trata-se de uma reflexão que, certamente visa aproximar a Igreja do povo e inibir
a migração de seus membros para as novas comunidades cristãs independentes que,
ao tempo do Concílio, já se multiplicavam em grande número.
Entre os protestantes também foram realizadas pesquisas e consultas,
analisando que fatores levam as igrejas ao crescimento e à maturidade. Como exemplo
473
GONÇALVES; BOMBONATTO, 2004. p. 7.
474
FUELLENBACH, John. Igreja: Comunidade para o reino. Traduzido por Luís Henrique Dreher. São
Paulo : Paulinas, 2006. p. 63 (Coleção Ecclesia 21)
475
FUELLENBACH, 2006, p. 63.
476
FUELLENBACH, 2006, p. 64-65.
167
pode-se citar uma pesquisa realizada por Christian A. Schwarz que, pelo espaço de dez
anos, investigou mais de mil igrejas espalhadas ao redor do mundo em 32 países,
coletando mais de quatro milhões de respostas cientificamente analisadas por
computadores para oferecer conclusões sólidas e seguras
477
sobre que fatores
determinam o crescimento e o desenvolvimento das igrejas locais, antídotos para o
divisionismo e o nascimento de novas igrejas.
A pesquisa procurou responder à seguinte pergunta: Quais são os princípios de
crescimento de igreja válidos independentemente de cultura, direção teológica ou
denominacional?”
478
As respostas foram tabuladas e sistematizadas naquilo que o
autor denominou de oito marcas de qualidade, quais sejam: Liderança capacitadora,
ministérios orientados pelos dons, espiritualidade contagiante, estruturas funcionais,
culto inspirador, grupos familiares, evangelização orientada para as necessidades e
relacionamentos marcados pelo amor fraternal.
479
Baseados nestas marcas, muitas igrejas históricas acabaram passando por uma
grande renovação, incluindo filosofia, estilo de ministério e estrutura de funcionamento.
Observando-se os demais modelos propostos, vê-se com facilidade alguns pontos que
todos eles apresentam em comum: um retorno aos valores e princípios do Novo
Testamento, muito especialmente ao livro de Atos, as barreiras denominacionais têm
sido ultrapassadas, tanto que os modelos se aplicam a qualquer denominação, uma
grande ênfase na atualidade e na relevância dos dons espirituais para os ministérios da
igreja, enfatiza-se a mudança de paradigmas, os grupos pequenos são considerados
essenciais para que a igreja cumpra sua missão e o evangelismo é orientado para os
relacionamentos e para as necessidades das pessoas.
480
Como pode ser observado, um dos benefícios da multiplicação de igrejas,
sobretudo de linha pentecostal, foi o reestudo sobre a doutrina do Espírito Santo. Se até
meados do século passado as igrejas históricas praticamente ignoravam a
Pneumatologia
481
, a partir de então, passou a ser conteúdo obrigatório nos seminários,
477
SCHWARZ, 1996. p. 3.
478
SCHWARZ, 1996. p.19.
479
SCHWARZ, 1996. p. 15-48.
480
STEPHANINI, Valdir. Curso de Eclesiologia, 2009, p. 25-26 (apostila)
481
Expressão usada pela teologia para o estudo da pessoa e da obra do Espírito Santo.
168
congressos e nas próprias igrejas. O resultado foi uma redescoberta da importância da
utilização dos dons espirituais nos ministérios eclesiásticos.
Emil Brunner aponta para a necessidade de superação do isolacionismo entre as
igrejas cristãs, através do movimento em direção ao ecumenismo cristão. Não pode ser
negado que a divisão da comunhão cristã numa multiplicidade de igrejas simples
permanece em contradição com a própria natureza da Ecclesia’ como o Corpo de
Cristo, e representa um dos maiores obstáculos ao entendimento da mensagem cristã –
um dano que todos os cristãos devem se esforçar para remover.
482
Entretanto, Brunner
alerta para o fato de que esta união não deve ser buscada no campo organizacional e
sim em termos de união de forças para a implantação do reino de Deus, através da
realização da obra missionária. Foi exatamente em torno do ideal missionário que o
movimento ecumênico nasceu e tem se movimentado.
483
Brakemeier concorda que “o movimento ecumênico moderno surge como reação
à fragmentação da Igreja de Jesus Cristo. É sinal de inconformidade com ela. De certa
forma encerra o período confessional, isto é, o da divisão regional do mundo por
‘confissões’”
484
Segundo o autor,
a globalização cultural e a privatização da redundaram numa explosão de
religiosidade quase selvagem. Ela traz em seu bojo forte potencial conflitivo.
Pode produzir o fundamentalismo, ou seja a intransigência fanática de grupos,
por um lado. O diferente cai sob suspeita e sofre demonização. Ou pode acabar
no relativismo que não mais conhece normatividade. A alternativa a esses
dois descaminhos é o ecumenismo, inconformado com o caos religioso e,
todavia, adverso a quaisquer métodos violentos. Na perseguição de suas metas
necessita de estratégias e, sobretudo, da análise do respectivo quadro religioso.
O ecumenismo deve trabalhar em estreita cooperação com a ciência da
religião
.
485
Eis um desafio que as igrejas históricas têm diante de si, dialogar e se relacionar
de maneira amistosa com todos os segmentos religiosos presentes em solo brasileiro,
sem, contudo, confundir as identidades ou cair na tentação do proselitismo. Trata-se de
uma questão de reconhecimento de que a unidade em sua expressão plena,
organizacional, é algo totalmente impossível e que é preciso conviver de maneira
482
BRUNNER, 2000, p. 119.
483
BOSCH, 2007, p. 546-557.
484
BRAKEMEIER, 2004. p. 32.
169
saudável com o diferente, valorizando a diversidade e reconhecendo que a unidade
é possível em Cristo.
Para tanto, é preciso rever todo o sistema educacional que vem sendo praticado
nas igrejas protestantes históricas. Necessário se faz que se entenda a Educação
Cristã, ou seja a Catequese, não tanto como a transmissão de conteúdos apologéticos,
mas como transmissão de vida, dentro da perspectiva do discipulado cristão. Cristo é o
paradigma pedagógico, que serve de exemplo através de sua encarnação, para que se
possa superar as barreiras que separam os cristãos e ao mesmo tempo viver a vida
abundante em comunhão com os/as irmãos/ãs, independente de credo religioso.
4.2.4 Reação das igrejas históricas
Perguntados sobre o que estão fazendo para diminuir a saída de membros de
suas igrejas para fazer parte das novas comunidades, respostas interessantes foram
obtidas. O Praticante I afirmou que está providenciando
muito doutrinamento. Atualmente estão estudando a declaração doutrinária da
Convenção Batista Brasileira na EBD com os novos crentes. Estes recebem
informações sobre todos os grupos religiosos e o porquê de escolherem esta
Igreja, fazendo estudos sérios buscando firmarem compromisso. Trabalham os
4 passos que a pessoa toma ao se tornar membro de nossa Igreja que está de
acordo com o material de vida com propósito. Inclusive na profissão de fé frisam
esses 4 passos.
486
O Praticante II entende que a solução está em
investir na educação cristã, na comunhão, no serviço, trazer as pessoas para
perto de Deus e sua palavra, conduzir o membro a uma verdadeira adoração.
Assistir os membros em suas necessidades. Formar laços fortes de amor entre
os membros e desses com Jesus.
487
Segundo ele, é o que sua igreja tem feito, com bons resultados. O Praticante III,
por sua vez,
Nós temos procurado orientar os membros, alertando sobre o surgimento de
novos grupos. Advertindo sobre os perigos e as conseqüências de deixar sua
485
BRAKEMEIER, 2004. p. 24.
486
ANEXO A, p. 165.
487
ANEXO A, p. 167.
170
família estabelecida e se aventurar a uma família da que não se conhece.
Temos usado todos os ministérios da Igreja, fortalecimento da EBD,
discipulado, pequenos grupos. Esses pequenos grupos nós iniciamos esse ano,
nós fizemos uma adaptação do que a Igreja com propósitos oferece e estamos
fazendo uma experiência. Está dando muito certo. Estamos com 7 grupos,
iniciamos com 2 em abril. Esses são grupos permanentes e o incentivo é de
cada grupo sempre multiplicar. Nós temos nesses grupos os propósitos: a
comunhão, a adoração, o discipulado, o evangelismo e o serviço. E no mais
temos fortificado outros ministérios, como o da música e de ação social.
488
O Praticante IV testemunha: ”Principalmente a pregação da palavra no púlpito, o
ensino da palavra de Deus na EBD e os retiros e encontros que são feitos com grupos
específicos da nossa Igreja para ensinar e tirar dúvidas com relação à vida espiritual,
envolvendo a palavra de Deus”.
489
O Praticante V afirma: “Nós procuramos primar por bom relacionamento de
comunhão, manter bom doutrinamento e cada membro sendo mantido ativo servindo ao
Senhor”.
490
Importante também observar a visão dos membros das igrejas históricas sobre o
que a sua igreja tem feito para inibir a saída de seus integrantes para comporem as
novas comunidades.
O Praticante VI, que é pastoreado pelo Praticante I, afirma que sua igreja tem
“mantido as doutrinas batistas, pregando o Evangelho, sem se deixar iludir”.
491
Por sua
vez o Praticante VII, que é pastoreado pelo Praticante II compartilhou que sua igreja
tem buscado conhecer mais os grupos, fazendo estudos sobre as seitas e as novas
Igrejas. Tem buscado orientar, mostrar tudo que está na bíblia, tudo que se percebe
que está saindo do padrão de Jesus. A Praticante VIII, que é ovelha do Praticante III,
por sua vez, entende que
por enquanto nada. Às vezes a gente alerta um irmão, mas ele se sente melhor
e diz estar gostando. A gente deixa, mas depois que eles estão dentro e
vêem que não é aquilo que eles querem, eles querem voltar. O pastor tem
falado. As pessoas são confrontadas e deixadas à vontade para decidirem.
492
A Praticante IX, que pertence à mesma igreja do Praticante IV diz
488
ANEXO A, p. 169.
489
ANEXO A, p. 170.
490
ANEXO A, p. 172.
491
ANEXO A, p. 173.
492
ANEXO A, p. 174.
171
Recentemente foi feito um retiro de jovens em que foi trabalhado esse sistema
que o próprio mundo da música traz, quantas outras coisas, orientando os
jovens como se comportarem diante dessas novas comunidades. também a
sala de batismo, quando a pessoa se converte, tem orientação falando como é
a Igreja baseando tudo na bíblia. Estudo nos lares. Grupo de comunhão, em
que fazem estudos. Tem grupos que se reúnem entre 15 dias, tem grupo que
se reúne toda semana, divididos por idade e por bairros.
493
o Praticante X, que é pastoreado pelo Praticante V, afirma simplesmente que
ele e a sua igreja “tem aconselhado” os demais membros da igreja para que não a
deixem para se unir às novas comunidades.
Além disso, constata-se que cada vez mais pode-se observar peregrinos e
convertidos voltando às origens, em busca de refúgio e tratamento. Campos advoga:
É necessário desenvolver um ministério terapêutico, que se destine ao
atendimento de “vítimas de seitas” ou de novos movimentos religiosos que
sejam considerados destruidores da sanidade mental de milhares de pessoas,
principalmente de jovens em fase de maturação psíquica. Talvez, nas próximas
décadas, esse venha a ser um dos grandes ministérios das igrejas cristãs mais
consolidadas no Brasil “curar os enfermos” (patologias emocionais e
religiosas) e “expulsar demônios” (criados, nutridos e colocados dentro das
pessoas por lideranças religiosas de tendências “doentias”.
494
Entretanto, para que isso seja possível, é indispensável que as igrejas
cristãs históricas passem por uma genuína renovação que lhes permita ao mesmo
tempo desfrutar de um novo vigor espiritual sem contudo se desfazer dos princípios
herdados, fundamentados nas Escrituras e vivenciados nos últimos dois milênios.
Mas é inegável que as Igrejas Protestantes históricas, notadamente as
Igrejas Batistas, precisam entender que “as pessoas desejam mais contatos, mais
intimidade umas com as outras. Desejam sentir-se mais pessoas e menos número na
multidão. Querem se tocar, se abraçar, quer ser, simplesmente, gente ou povo de Deus
que se reúne na intimidade como em família”.
495
Eis algumas indicações que poderão
ser exploradas em trabalho posterior, a partir dos dados coletados nesta pesquisa.
493
ANEXO A, p. 176.
494
CAMPOS, 2002, p.109.
172
CONCLUSÃO
Investigado o fenômeno do surgimento de novas comunidades cristãs
independentes na história do Cristianismo e, particularmente, no município da Serra,
Estado do Espírito Santo, conclui-se que suas causas são variadas, mas surgem do
lado de dentro e do lado de fora das próprias Igrejas Cristãs históricas.
O município da Serra é um retrato do que acontece no Brasil e no mundo em
termos de religiosidade, abrigando religiões de diversas correntes teológicas. Pensando
em termos de Cristianismo, o Catolicismo é predominante, mas o Protestantismo tem
avançado muito, apesar de se apresentar extremamente fragmentado. O município da
Serra é berço de várias Igrejas, que nascem por diversos motivos, desde a
descontinuidade das tradições religiosas por parte das novas gerações, passando por
questões teológico-doutrinárias, interesses por lucro econômico-financeiro, até
questões mais de cunho administrativo e de supostas revelações especiais de Deus
para que novas igrejas sejam plantadas.
As Igrejas Batistas históricas têm sido afetadas, de maneira prejudicial com a
saída de seus membros para iniciarem novas comunidades ou unirem-se a elas, mas
também de maneira benéfica, na medida em que este fenômeno tem produzido reações
positivas das suas lideranças, no sentido de dinamizar suas atividades, visando
aproximação com sua membresia e o suprimento de suas necessidades.
Por outro lado, é preciso reconhecer que as Igrejas Cristãs estão inseridas num
contexto sócio-enconômico-cultural, que acaba repercutindo sobre elas e refletindo as
principais tendências da sociedade, num mundo globalizado, em que as informações
são amplamente socializadas e disponibilizadas para as pessoas através dos meios de
comunicação de massa.
Não é possível ignorar a grande pressão que o mercado acaba fazendo sobre os
cristãos e as comunidades das quais fazem parte. A oferta de bens simbólicos
495
DUSILEK, 1997, p. 42.
173
disponibilizados em abundância, sobretudo em comunidades cristãs de vertente neo-
pentecostal, tem produzido uma verdadeira mercantilização da fé, tornando-se uma
grande oportunidade para aqueles que se vêem chamados por Deus para explorar tais
necessidades das pessoas, oferecendo-lhes os produtos pelos quais seus corações
anseiam.
Conforme salienta Niebuhr, “cada denominação cristã tenta justificar sua
existência usando um argumento próprio, procurando base nas Escrituras, mas outros
fatores menos dignos, estão na verdadeira raiz de todas as divisões já vividas pelo
cristianismo. São questões de ordem política, econômica, pessoal, etc”
496
Entretanto, é
preciso que cada comunidade se veja como agência do reino de Deus e não como
agência de reinos pessoais. “A Igreja é um evento entre pessoas e não uma autoridade
que discursa para elas, ou uma instituição proprietária dos elementos da salvação, de
doutrinas e ministérios”
497
Além disso,
a igreja precisa ser um lugar em que é possível sentir-se em casa; se, porém,
apenas nós nos sentimos em casa em nossa igreja específica e todas as outras
pessoas são ou excluídas, ou mal acolhidas, ou se sentem completamente
alienadas, então algo deu errado. Por outro lado, podemos ser tentados a
comemorar de forma exagerada um número infinito de diferenças na
emergência de teologias pluralistas locais e reivindicar que não apenas cada
comunidade local de culto, mas inclusive cada pastor e membro da igreja possa
desenvolver sua própria ‘teologia local’. Contra estas posições, é preciso que se
diga que nossas igrejas e comunidades de culto também precisam ser
‘desprovincializadas’. Isso pode acontecer caso se fomente o contato vital
com a igreja mais ampla. Enquanto agimos localmente, temos que pensar
globalmente, em termos da una sancta, combinando a micro e a
macroperspectivas.
498
Nenhuma Igreja é uma ilha. Está inserida num contexto maior da sociedade e
precisa infiltrar-se no mundo para que seja agência de transformação, cumprindo sua
missão de sal da terra e luz do mundo, expressamente enfatizada pelo Senhor da
Igreja, Jesus Cristo.
Permanece para um momento posterior, o desafio de se encontrar diretrizes para
que as Igrejas Protestantes Históricas se mantenham firmes, fortalecidas e relevantes
na sociedade líquida em que se vive no momento, diminuindo a saída de seus
496
NIEBUHR, 1992, p. 16-18.
497
BOSCH, 2002, p. 456.
174
membros, quer seja individualmente, quer seja em grupos, enfraquecendo assim o
surgimento das Novas Comunidades Cristãs Independentes. Outras pesquisas neste
sentido serão muito bem vindas e a esperança é de que os resultados desta que ora
são apresentados, contribuam para que se encontrem os caminhos necessários para
que isso aconteça.
498
BOSCH, 2002, p. 545-546.
175
REFERÊNCIAS
A BIBLIA Sagrada. Tradução de João Ferreira de Almeida. ed. rev. Rio de Janeiro:
Imprensa Bíblica Brasileira, 1987, João 13:34-35.
ALMEIDA, Ronaldo; MONTEIRO, Paula Trânsito Religioso no Brasil. Disponível em:
<http://www.scielo.br> Acesso em: 17 set. 2009.
ALTMANN, Walter. O pluralismo religioso como desafio ao ecumenismo na
América Latina. In.:Sarça ardente:Teologia na América Latina : Prospectivas. SUSIN,
Luiz Carlos (organizador). São Paulo: Paulinas, 2000. 574p.
ALVES, Rubem Azevedo. Liberdade e ortodoxia: opostos irreconciliáveis? In:
Tendências da teologia no Brasil. São Paulo: ASTE, 1977. 152 p.
_________________Protestanismo e repressão. São Paulo: Ática, 1979. 290 p.
_________________O enigma da religião. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1979.169 p.
ASSEMBLÉIA ANUAL DA CONVENÇÃO BATISTA DO ESTADO DO ESPÍRITO
SANTO. Livro do Mensageiro. Cachoeiro de Itapemirim: CONVENÇÃO BATISTA DO
ESTADO DO ESPÍRITO SANTO, 2009, 185p.
BARTH, Karl. Dádiva e louvor: ensaios teológicos de Karl Barth. Tradução de Walter
O. Schlupp, Luis Marcos Sander e Walter Altmann. São Leopoldo: Sinodal/EST, 2006.
432 p.
BAUMAN, Zygmunt. Tempos líquidos. Tradução de Carlos Alberto Medeiros. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007, 119p.
BENEDETTI, Luiz Roberto. Religião: Trânsito ou indiferenciação? In: TEIXEIRA,
Faustino; MENEZES, Renata (Org.). As religiões no Brasil: continuidades e rupturas.
Petrópolis: Vozes, 2006, 264p.
BISPO, Armando et all. Rede ministerial: seminário descoberta. São Paulo: Vida,
1999. 158p.
BITENCOURT FILHO, José. Matriz religiosa brasileira: religiosidade e mudança
social. Petrópolis: Vozes; Rio de Janeiro: Koinonia, 2003. 260p.
BOBSIN, Oneide. Correntes religiosas e globalização. 2. ed. São Leopoldo - CEBI;
Curitibanos : Pastoral Popular Luterana - PPL; São Leopoldo: Instituto Ecumênico de
Pós-Graduação em Teologia – IEPG. 2006, 162p.
BOFF, Leonardo. Igreja: carisma e poder. Lisboa: Inquérito. 1991, 230p. (coleção
perspectivas).
176
BOFF, Clodovis. Teoria do método teológico. Petrópolis - RJ: Vozes, 1998. 758p.
BOICE, James Montgomery. O evangelho da graça: a aventura de restaurar a
vitalidade da igreja com as doutrinas bíblicas que abalaram o mundo. Tradução de
Meire Portes Santos. São Paulo: Cultura Cristã, 2003. 224 p.
BONHOEFFER, Dietrich. Vida em comunhão. Tradução de Ilson Kayser. 3 ed. rev,
São Leopoldo : Sinodal, 1997, 95 p.
BORGES, Clério José. História da Serra. Serra: Editora do CTC, 2009, 292 p.
BOSCH, David J. Missão transformadora: mudanças de paradigma na teologia da
missão. Tradução de Geraldo Korndörfer; Luis M. Santder. São Leopoldo, RS: EST,
Sinodal, 2007. 690p.
BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. Introdução, organização e
seleção Sergio Miceli. 6. ed. São Paulo : Perspectiva, 2007, 361p. (Coleção estudos).
BRAKEMEIER, Gottfried. cristá e pluralidade religiosa: onde está a verdade.
Estudos Teológicos, ano 42, n. 2, p. 23-47, 2002.
____________________ Preservando a unidade do Espírito no vínculo da paz: um
curso de ecumenismo. São Paulo: ASTE, 2004. 130p.
____________________ A autoridade da bíblia: controvérsias, significado,
fundamento. 2. ed. São Leopoldo: Sinodal, Centro de Estudos Bíblicos, Escola Superior
de Teologia, 2007. 90p.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Os deuses do povo: um estudo sobre a religião
popular. 3. ed. ampliada com depoimentos. Uberlândia: EDUFU, 2007. 483 p.
BRUNNER, Emil. O equívoco sobre a Igreja. Tradução de Paulo Arantes. São Paulo:
Novo Século, 2000. 142 p.
CAIRNS, Earle E. O cristianismo através dos séculos: uma história da igreja cristã.
Traduzido por Israel Belo de Azevedo. São Paulo: Vida Nova, 1992. 508 p.
CAMPOS, Leonildo Silveira. Teatro, templo e mercado: organização e marketing de
um empreendimento neopentecostal. 2. ed. Petrópolis, São Paulo, o Bernardo do
Campo :Vozes, Simpósio, UMESP, 1999. 504 p.
_______________________ As mutações do campo religioso: os novos movimentos
religiosos e seus desafios à religião instituída no Brasil. Caminhando, São Bernardo do
Campo, Ano VII, n. 9, p.96-10, 2002.
CAVALCANTE, Robinson. Revista Ultimato. Viçosa, set – out, p. 33-42, 2006.
177
CERVEIRA, Sandro Amadeu. Protestantismo Tupiniquim, Modernidade e Democracia:
limites e tensões da(s) identidade(s) evangélica(s) no Brasil contemporâneo. Revista
de Estudos da Religião, São Paulo, março, p.27-53, 2008.
CESAR, Waldo; SHAULL, Richard. Pentecostalismo e futuro das igrejas cristãs:
promessas e desafios. Petrópolis, São Leopoldo: Vozes, Sinodal, 1999. 316p.
CESAR, Marília de Camargo. Feridos em nome de Deus. São Paulo: Mundo Cristão,
2009, 155p.
COMISKEY, Joel. Crescimento explosivo da igreja em células: como o seu pequeno
grupo pode crescer e se multiplicar. Traduzido por Ingrid Neufeld Lima. Curitiba:
Ministerio Igreja em Células. 1997. 152p.
DREHER, Martin N. A Igreja Latino-Americana no contexto mundial. São Leopoldo:
sinodal, 2007. 256 p. (Coleção história da igreja, v. 4)
DUSILEK, Darci. Oásis no deserto. Missão. Rio de Janeiro, ano 1, n.1, p. 27-38, 1985
_____________. O futuro da igreja no terceiro milênio: Desafios internos e externos
que a Igreja deve enfrentar para ministrar a palavra com fidelidade no terceiro milênio.
Rio de Janeiro: Horizonal, 1997.104p.
ESPERANDIO, Mary Rute Gomes. A identidade batista e o “espírito” da Modernidade.
Revista Eletrônica do Núcleo de Estudos e Pesquisa do Protestantismo (NEPP)
das Faculdades EST, v. 06, jan.-abr. p. 15-28, 2005.
____________________________. Para entender pós-modernidade. São Leopoldo:
Sinodal, 2007, 100p.
EVANS, C. Stephen. Dicionário de Apologética e Filosofia da Religião. Tradução de
Rogério Portella. São Paulo: Vida, 2004. 150p.
FERNANDES, Humberto Viegas. Renovação Espiritual no Brasil: Erros e verdades.
Rio de Janeiro: JUERP, 1979. 195p.
FERREIRA, Ebenézer Soares. Manual da igreja e do obreiro. 11 ed. Rio de Janeiro:
JUERP. 2002. 431p.
FRESTON, Paul. Protestantismo no Brasil: Da constituinte ao Impeachment.
Campinas : 1993, p.304 Tese (Doutorado) Departamento de Ciências Sociais do
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas,
Campinas, 1993.
_______________ Presente e futuro da igreja evangélica no Brasil. Revista Ultimato,
Viçosa, Ano 41, n. 315, p.38-39, 2008.
178
________________ Nenhuma igreja está parada no tempo. Revista Ultimato, Viçosa,
Ano 42, n.319, p.38-42, 2009.
FUELLENBACH, John. Igreja: Comunidade para o reino. Traduzido por Luís Henrique
Dreher. São Paulo: Paulinas, 2006. 357p. (Coleção Ecclesia 21)
GOMES, Romeu. A análise de dados em pesquisa qualitativa. In: MINAYO, Maria
Cecília de Souza (Org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis:
Vozes, 1994, 80p.
GONÇALVES, Paulo Sérgio Lopes; BOMBONATTO, Vera Ivanise (Orgs) Concílio do
Vaticano II: Análise e prospectivas. São Paulo: Paulinas, 2004. p.9 (Coleção
Alternativas).
GONZALEZ, Justo L. Uma história ilustrada do cristianismo: a era dos mártires.
Tradução de Key Yuasa. São Paulo: Vida Nova, 1980. 177p. (v. 1)
_________________ Uma história ilustrada do cristianismo: a era dos gigantes.
Tradução de Hans Udo Fuchs. São Paulo: Vida Nova, 1980. 182 p. (v. 2)
_________________Uma história ilustrada do cristianismo: a era das trevas.
Tradução de Hans Udo Fuchs. São Paulo: Vida Nova, 1981. 181 p. (v. 3)
_________________Uma história ilustrada do cristianismo: a era dos altos ideais.
Tradução de Hans Udo Fuchs. São Paulo: Vida Nova, 1981. 185 p. (v. 4)
_________________Uma história ilustrada do cristianismo: a era dos sonhos
frustrados. Tradução de Hans Udo Fuchs. 2. ed. São Paulo : Vida Nova, 1986. 171 p.
(v. 5)
_________________Uma história ilustrada do cristianismo: a era dos reformadores.
Tradução de Itamir Neves de Souza. São Paulo: Vida Nova, 1986. 219 p. (v. 6)
GUERRIERO, Silas (Org.) O estudo das religiões: desafios contemporâneos. São
Paulo: Paulinas, 2003, p.71-88. (Coleção estudos da ABHR)
HERVIEU-LÉGER, Danièle. O peregrino e o convertido: a religião em movimento.
Tradução de João Batista Kreuch. Petrópolis: Vozes, 2008. 238p.
HYBELS, Bill. Liderança corajosa. Traduzido por James Monteiro dos Reis. São
Paulo: Vida. 2002, 250p.
IGREJA MUNDIAL DO PODER DE DEUS. Disponível em: <http://www.impd.com.br>
Acesso em : 02 nov. 2009.
179
KÜNG, HANS. Teologia a caminho: fundamentação para o diálogo ecumênico.
Traduzido por Hans Jörg Witter. São Paulo: Paulinas. 1999. 300p. (Coleção:
Pensamento teológico)
LANDERS, John. Teologia dos princípios batistas. Rio de Janeiro: Junta de
Educação Religiosa e Publicações, 1986. 144p.
LEITE FILHO, Tácito da Gama. Seitas neopentecostais. 2. ed. Rio de Janeiro:
JUERP, 1991, 192p. (seitas do nosso tempo, v. 3).
LÉONARD, Émile G. O protestantismo brasileiro. Tradução de Linneu de Camargo
Schützer. 3. ed. São Paulo : ASTE. 2002. 388p.
LIBÂNIO, João Batista. A Religião no Início do Milênio. Petrópolis: Loyola, 2002.
LUTERO, Martim, Como reconhecer a igreja: Dos Concílios e da Igreja parte.
São Leopoldo: Sinodal, Concórdia, 2001, 66p. (Lutero para hoje)
MACDANIEL, Geo. W. As igrejas do novo testamento. Tradução de F.M. Edwards. 5.
ed. Rio de Janeiro : JUERP, 1989. 168p.
MATOS, Aldari Souza de. O movimento pentecostal: reflexões a propósito do seu
primeiro centenário. Fides Reformata, São Paulo, Ano 11, n. 2, p. 23-50, 2006.
MENDONÇA, Antonio Gouvêa. O celeste porvir: Inserção do protestantismo no Brasil.
São Paulo : Associação Evangélica e Literária Pendão Real, ASTE, Instituto Ecumênico
de Pós-Graduação em Teologia e Ciências da Religião, 1955. 271p.
MULULLO, Heliomara, et all. Pesquisa comunhão 2009: Como se comportam e do que
gostam os evangélicos da grande vitória. Revista Comunhão, Vitória, ano 12, n. 144,
p. 48-55, 2009.
NETO, Otávio cruz. O trabalho de campo como descoberta e criação. In: MINAYO,
Maria Cecília de Souza (Org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade.
Petrópolis: Vozes, 1994, 80p.
NIEBUHR, H. Richard. As origens sociais das denominações cristãs. Tradução de
Antonio Gouvêa Mendonça. São Paulo: ASTE, Instituto Ecumênico de Pós-Graduação
em Ciências da Religião, 1992. 184p.
NOVE processos contra o tabernáculo. A Gazeta, Vitória, 13 set. 2009, Dia a Dia, p.17.
OLIVEIRA, Estevam Fernandes. Conversão ou adesão: uma reflexão sobre o
neopentecostalismo no Brasil. Rio de Janeiro: Proclama Editora. 2004. 212p.
180
ORO, Ari Pedro; CORTEN, André; DOZON, Jean-Pierre (Org.). Igreja Universal do
Reino de Deus : Os novos conquistadores da fé. São Paulo: Paulinas, 2003. 324p.
(Coleção religião e cultura).
PAEGLE, Guilherme de Moura. A “Mcdonalização” da fé: um estudo sobre os
evangélicos brasileiros - Revista Eletrônica do Núcleo de Estudos e Pesquisa do
Protestantismo (NEPP) da Faculdades EST, v.17, set.-dez, 86-99, 2008.
PANASIEWICZ, Roberlei. Pluralismo religioso contemporâneo: Diálogo inter-
religioso na teologia de Claude Feffré. São Paulo: Paulinas; Minas Gerais: PUC Minas,
2007. 199p.
PEREIRA, José dos Reis. Breve história dos batistas. 2. ed. Rio de Janeiro : JUERP,
1979. 110p.
PEREIRA, José dos Reis. História dos Batistas do Brasil (1882-1982). Rio de
Janeiro: Junta de Educação Religiosa e Publicações, 1982. 370p.
PURIM, Reynaldo. A igreja de Jesus Cristo. Rio de Janeiro: JUERP, 1980. 67p.
READ William. et all. O crescimento da igreja na América Latina. Traduzido por João
Marques Bentes. São Paulo: Mundo Cristão, 1969. 473p.
REBLIN, Iuri Andréas. Poder & intrigas, uma novela teológica: considerações acerca
das disputas de poder no campo religioso à luz do pensamento de Pierre Bourdieu e de
Rubem Alves. Protestantismo em revista. Revista Eletrônica de Estudos e Pesquisa
do Protestantismo (NEPP) da Faculdade EST, v.14, set.-dez. 2007. Disponível em <
http://www3.est.edu.br/nepp>. Acesso em: 20 Jan. 2009. p. 17-18.
ROLOFF, Jürgen. A Igreja no Novo Testamento. Tradução de Nélio Schneider. São
Leopoldo: Sinodal; EST; Centro de Estudos Bíblicos, 2005. 384p.
SANTIAGO, Valdemiro. Líder da Igreja Mundial do Poder Deus fala sobre sua vida e
discute o que faz com que sua denominação seja a que mais cresce hoje no
Brasil. Entrevista concedida a Revista Eclésia. Disponível em:
>http://www.eclesia.com.br< Acesso em: 02 nov. 2009.
SCHAPER, Valério Guilherme. A tolerância entre solidariedade e reconhecimento:
Idéias para repensar o conceito de tolerância. In: SCHAPER, Valério Guilherme,
OLIVEIRA, Kathlen Luana de; Reblin, Iuri Andréas (Org.) A teologia contemporânea
na América Latina e no Caribe. São Leopoldo: Oikós; EST, 2008. 374p.
SCHWARZ, Christian A. O desenvolvimento natural da igreja: um guia prático para
cristãos e igrejas que se decepcionaram com receitas mirabolantes de crescimento.
Traduzido por Valdemar Kroker. Curitiba: Esperança, 1996. 128p.
181
SEGURA, Harold. Não ao analfabetismo bíblico. Revista Ultimato, Viçosa, Ano 50, n.
307, p.34-37, 2007.
SHELLY, Bruce L. A igreja: o povo de Deus. Traduzido por Neyd Siqueira. São Paulo:
Vida Nova, 1989. 142p.
SIEPIERSKI, Paulo D. Contribuições para uma tipologia do pentecostalismo brasileiro.
In: GUERRIERO, Silas (Org.) O estudo das religiões: desafios contemporâneos. São
Paulo: Paulinas, 2003, p.71-88. (Coleção estudos da ABHR)
STANGE, Klaus Andreas. As relações entre a missão evangélica união cristã e a
igreja evangélica de confissão luterana numa perspectiva sócio-teológica. 2003.
153f. Dissertação (Mestrado) Instituto Ecumênico de Pós-Graduação em Teologia,
Escola Superior de Teologia, São Leopoldo, 2003.
STARK, Rodney; BAINBRIDGE, William Sims. Uma teoria da religião. Traduzido por
Rodrigo Inácio Ribeiro Menezes, Rodrigo Wolff Apolloni, Frank Usarski. São Paulo:
Paulinas, 2008, 496p. (Coleção repensando a religião)
STEGEMANN, Ekkehard W., STEGEMANN, Wolfgang. História social do
protocristianismo: os primórdios no judaísmo e as comunidades de Cristo no mundo
mediterrâneo. Tradução de Nélio Schneider. São Leopoldo: Sinodal, São Paulo:
Paulinas, 2004. 596p
.
STEPHANINI, Valdir. Curso de Eclesiologia, 2009, p. 25-26 (apostila).
TAMAYO, Juan José; FARIÑAS, Maria José. Culturas y religiones em diálogo.
Madrid: Sintesis S.A., 2008. 236p.
TEIXEIRA, Faustino; MENEZES, Renata (Org). As religiões no Brasil: Continuidades
e rupturas. Petrópolis: Vozes, 2006. 264p.
VATTIMO, Gianni. Para além da interpretação: o significado da hermenêutica para a
filosofia. Traduzido por Raquel Paiva. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1999. 153p.
ZWETSCH, Roberto E. Missão: testemunho do evangelho no horizonte do reino de
Deus. In: SCHNEIDER-HARPPRECHT (org) Teologia prática no contexto da
América Latina. São Leopoldo: Sinodal; ASTE, 1998. 250p.
WAGNER, Peter. Porque crescem os pentecostais?: Uma análise do espantoso
avanço do pentecostal na América Latina. Traduzido por Wanda Assumpção. São
Paulo: Vida, 1994. 160p.
WARREN, Rick. Uma igreja com propósitos. Traduzido por Carlos de Oliveira. São
Paulo: Vida, 1998. 496p.
182
ANEXO A
CRISTÃOS PRATICANTES
Praticante I
Sexo? Idade? Profissão?
Masculino. 62 anos (34 de ministério pastoral). Pastor.
Nome da igreja?
Primeira Igreja Batista ___
Quando e como surgiu a igreja da qual você faz parte?
Surgiu em um local chamado ___, próximo a ___. A Igreja Batista ___ quem organizou.
Algum membro desta igreja já saiu para fazer parte de uma igreja nova?
Muito raramente. Entretanto, algumas pessoas saíram e foram para a ___, e um casal
foi para a ___.
Como você vê as novas igrejas que estão surgindo em nosso município?
Embora respeitando as pessoas que as fundam, vê como uma maneira de conseguir se
projetar como as grandes em mídia nacional, muitos vão buscando uma maneira de se
obter recursos.
O que você e sua Igreja tem feito para evitar a saída de membros para unirem-se a
comunidades cristãs independentes?
Muito doutrinamente. Atualmente estão estudando a declaração doutrinária da
Convenção Batista Brasileira na EBD com os novos crentes. Estes recebem
informações sobre todos os grupos religiosos e o porquê de escolherem esta Igreja,
fazendo estudos sérios buscando firmarem compromisso. Trabalham os 4 pactos que a
pessoa toma ao se tornar membro de nossa Igreja que está de acordo com o material
de vida com propósito. Inclusive na profissão de fé frisam esses 4 pactos.
Quem é Deus pra vocês?
É um companheiro, amigo, além de criador que a própria palavra traz é pai, diante de
quem podemos nos alegrar, celebrar e podemos chorar.
Qual o seu conceito de Igreja?
O conceito que eu tenho de Igreja há pelo menos 34 anos de vida pastoral e mais 50 de
vida cristã é que é um organismo, um ambiente multiplicador, que deve multiplicar a
celebração, a adoração a Deus, o serviço à comunidade, a proclamação do evangelho.
A Igreja é uma geradora desses propósitos de Deus, ela deve gerar o máximo de
proclamação do evangelho que ela puder realizando missões, gerar adoração,
celebração, serviço, comunhão, gerar discipulado fazendo discípulos.
183
Quais são os elementos essenciais de uma Igreja?
Quanto a um conceito que nós batistas defendemos, a Igreja em lugar precisa ser
cristocêntrica, batizar Cristo, anunciar Cristo e viver Cristo. Mas ela precisa ser
apostólica também, porque nós defendemos que os apóstolos foram doutrinados por
Jesus, vivenciaram a vida com Jesus e expuseram as doutrinas, os ensinos,
desenvolveram a comunhão como crentes em Jesus Cristo. Então a Igreja é
essencialmente discipuladora, vivendo a doutrina dos apóstolos, do novo testamento,
proclamando o evangelho e se preparando como noiva de Jesus Cristo para a grande
celebração das bodas do Cordeiro.
Qual é a missão da Igreja?
Cumprir os propósitos de Deus. A missão da Igreja é procurar descobrir, se aprofundar,
conhecer os propósitos de Deus e divulgá-los, vivenciá-los.
Qual o ensino da Igreja sobre a salvação?
A Igreja como uma serva salva, crendo na salvação eterna que Jesus Cristo conferiu a
Igreja, ela vai continuar divulgando essa salvação eterna que ela crê e se preparando
para um dia viver a realidade da salvação eterna na eternidade. A salvação é eterna,
não podemos abrir mão disso. Aliás, a única salvação que Jesus Cristo tem para dar é
eterna. Ela se em Cristo Jesus, pela graça de Cristo. Ele graciosamente nos confere
a salvação, e só a eterna.
Em sua opinião, que fatores m desencadeado o surgimento das comunidades
cristãs independentes no município da Serra?
Essa é uma questão que a gente às vezes se sente incomodado com o que acontece
ao nosso redor em uma Igreja histórica, uma Igreja Batista. Embora a gente saiba que
nós vivemos em um país que tem liberdade religiosa, mais diversas crenças etc. a
nossa própria Carta Magna defende a liberdade religiosa. A gente fica incomodado, a
gente questiona certos crescimentos assim rápidos demais, o abaixamento do
evangelho. Eu costumo brincar aqui na minha Igreja que o comércio tem uma época do
ano que dá aqueles descontos mega, assim que enche as lojas de desconto, 90% de
desconto, e algumas Igrejas dando 98% de desconto entregando o evangelho por
qualquer preço. A gente se incomoda com isso, mas eu creio que o fator principal a
pessoa se vale da liberdade religiosa que tem e prega de qualquer maneira, e prega
qualquer coisa e vai enganando as pessoas, assim tem muita gente que gosta ser
enganada. Na minha maneira de vem tem muita gente sendo enganada com um selo
do evangelho, que não é o evangelho, aquele negócio que não é o evangelho real, o
sério de Jesus Cristo. Mas o interesse econômico financeiro também das pessoas. O
desemprego é outro fator, se o indivíduo prega direitinho, fala de Deus com certo
carisma, na verdade ele vai criando uma Igreja ele vai sustentar a família dele, ele vai
viver o resto da vida dele. Então essa questão econômico-financeira também se põe de
uma maneira grandiosa e a facilidade onde as pessoas gostam de ser enganadas
facilmente vão atrás dessas promessas e os grupos vão se mantendo, e vão se manter
por algum tempo. Assim em termos gerais eu vejo assim.
184
Praticante II
Sexo?
Masculino, 46 anos, pastor
Nome da igreja?
Primeira Igreja Batista ___
Quando e como surgiu a igreja da qual você faz parte?
Em ___, a Primeira Igreja Batista em ___, decidiu organizar uma Igreja no bairro ___.
O motivo era levar Jesus ao povo deste bairro. A então, ___, se tornou, de verdade, o
primeiro trabalho evangélico do bairro. Verdadeiramente somos a Primeira Igreja ___
Algum membro desta igreja já saiu para fazer parte de uma igreja nova?
Com tristeza digo que sim. Apesar de saber que os motivos na maioria das vezes são
escusos, sempre alguém se encanta com o novo. Mas alguns logo percebem, e até
voltam feridos. Essas novas Igrejas machucam muito, causam muitas feridas. Não
verdadeiro pastoreio e as ovelhas se ferem e se machucam.
Como você vê as novas igrejas que estão surgindo em nosso município?
Vejo com extrema preocupação, pois percebo motivos escusos de alguns lideres. Na
verdade muitos. A maioria não tem preocupação em conduzir as pessoas a Jesus,
querem apenas alcançar seus objetivos pessoais. São pessoas inescrupulosas que
querem se alto promover. Sem nenhum conhecimento teológico, enganam o povo com
mentiras ou com sua própria compreensão da palavra.
O que você e sua Igreja tem feito para evitar a saída de membros para unirem-se a
comunidades cristãs independentes?
Investir na educação cristã, na comunhão, no serviço, trazer as pessoas para perto de
Deus e sua palavra, conduzir o membro a uma verdadeira adoração. Assistir os
membros em suas necessidades. Formar laços fortes de amor entre os membros e
desses com Jesus.
Quem é Deus pra vocês?
Se posso resumir numa palavra diria que ele é meu tudo. Existo, e tudo existe por
causa Dele. Ele é fiel, perdoador, amigo, longânimo, justo, eterno, salvador, amor, justo.
A vida só é vida quando me rendo a vontade Dele. Ele é o autor da vida e a quem
daremos conta do nosso viver. o para viver sem Deus, pois é nele que nos
realizamos. Deus é aquele que investiu em nós, nos fez promessas e deseja
transformar nossa vida implantando em nós seu caráter.
Qual o seu conceito de Igreja?
A Igreja de Jesus é aquela que se submete a Jesus, que executa adoração a Jesus,
que busca ser santa para Jesus, que cumpre a missão deixada por Jesus, que abraça
os feridos lhes mostrando a cruz. A Igreja de Cristo prepara-se para o encontro com
185
seu Dono e Senhor. Compartilha comunhão com os irmãos. A Igreja é aqueles que
foram chamados para fora do pecado para serem corpo de Cristo.
Quais são os elementos essenciais de uma Igreja?
Adoração, Evangelismo, Discipulado, Comunhão, Serviço
Qual é a missão da Igreja?
Fazer Jesus ser conhecido profundamente por todos, ensinando a amá-lo e adorá-lo
como Senhor e Deus.
Qual o ensino da Igreja sobre a salvação?
Só existe salvação em Jesus. Ela, salvação e oferecida gratuitamente por Deus
mediante arrependimento e fé do homem.
Em sua opinião, que fatores têm desencadeado o surgimento das comunidades
cristãs independentes no município da Serra?
1. Facilidade para abrir uma igreja;
2. Pessoas que querem um negócio;
3. Pessoas que não se submetem a liderança;
4. Pessoas que buscam se auto promover;
5. A necessidade das pessoas;
6. O desconhecimento profundo da palavra de Deus ( analfabetismo );
7. A conivência – pessoas que passam da inocência para tornarem-se coniventes com
os seus lideres;
8. Aceitar tudo como de Deus;
9. Desconhecimento teológico;
10. Descontentamento;
11. Obtenção única de poder e unção de Deus;
12. A busca das pessoas pelo novo e extraordinário;
Praticante III
Sexo? Idade? Profissão?
Masculino. 62 anos. Pastor
Nome da igreja?
1ª Igreja Batista em ___
Quando e como surgiu a igreja da qual você faz parte?
A Igreja surgiu como um ponto de pregação com o Pr. ___ e a família, no ano de ___
quando o bairro estava começando. E a Igreja foi organizada no dia ___.
Algum membro desta igreja já saiu para fazer parte de uma igreja nova?
186
Vários membros já saíram durante esses anos em que a Igreja foi organizada. Porém
não grandes grupos, mas alguns membros isolados.
Como você vê as novas igrejas que estão surgindo em nosso município?
As novas Igrejas desempenham papel positivo, mas também um papel negativo.
Positivo porque o que ela acolhe são pessoas que estão procurando o que elas
oferecem. E negativo porque elas arrebanham muitos membros de Igrejas
estabelecidas. Seria proselitismo.
O que você e sua Igreja tem feito para evitar a saída de membros para unirem-se a
comunidades cristãs independentes?
Nós temos procurado orientar os membros, alertando sobre o surgimento de novos
grupos. Advertindo sobre os perigos e as conseqüências de deixar sua família
estabelecida e se aventurar a uma família da que não se conhece. Temos usado
todos os ministérios da Igreja, fortalecimento da EBD, discipulado, pequenos grupos.
Esses pequenos grupos nós iniciamos esse ano, nós fizemos uma adaptação do que a
Igreja com propósitos oferece e estamos fazendo uma experiência. Está dando muito
certo. Estamos com 7 grupos, iniciamos com 2 em abril. Esses são grupos permanentes
e o incentivo é de cada grupo sempre multiplicar. Nós temos nesses grupos os
propósitos: a comunhão, a adoração, o discipulado, o evangelismo e o serviço. E no
mais temos fortificado outros ministérios, como o da música e de ação social.
Quem é Deus pra vocês?
Deus é o Criador e mantenedor de todo o universo.
Qual o seu conceito de Igreja?
A Igreja é composta de seres humanos seguidores de Jesus, discípulos de Jesus que
dão continuidade a missão de Jesus Cristo aqui na terra.
Quais são os elementos essenciais de uma Igreja?
Pessoas comprometidas com Jesus não importando o local onde estejam reunidas. O
que diferencia a Igreja de outro agrupamento de pessoas? A Igreja se reúne para
adorar a Deus e para proclamar o evangelho.
Qual é a missão da Igreja?
A proclamação do evangelho, a realização de missões e evangelismo, a capacitação de
seus membros para a realização de diversos ministérios.
Qual o ensino da Igreja sobre a salvação?
A salvação é pela graça. O pecador precisa ouvir o plano de salvação bíblico,
arrepender-se de seus pecados (quando se reconhece que é pecador e se arrepende
se seus pecados), e crer em Cristo como Salvador e Senhor na posse pela do
sacrifício que Jesus realizou na cruz do calvário.
Em sua opinião, que fatores têm desencadeado o surgimento das comunidades
cristãs independentes no município da Serra?
187
1. O descontentamento de membros da igreja. Procurando novas garantias
eclesiásticas, novas alternativas.
2. Membros carismáticos que saem em busca de aventura, coisas novas. Bombardeios
da mídia leva-os em busca de novas experiências religiosas/espirituais.
3. Aproveitadores que vêem no segmento igreja para o ganho fácil, criam ou entram em
uma franquia de uma grande nova igreja e começa a arrebanhar as pessoas. Não se
importam se é certo, bíblico ou teológico. só querem saber se vale a pena e se dá lucro.
Praticante IV
Sexo? Idade? Profissão?
Masculino. 41 anos. Pastor.
Nome da igreja?
Primeira Igreja Batista de ___
Quando e como surgiu a igreja da qual você faz parte?
A Igreja surgiu a mais de __ anos atrás e está completando __ anos de organização
este ano. Ela surgiu da Igreja Batista em ___. As atividades dessa Igreja, o ponto de
pregação na verdade começou embaixo de uma castanheira ___.
Algum membro desta igreja já saiu para fazer parte de uma igreja nova?
Sim. saíram algumas pessoas daqui para fazerem parte de outras Igrejas de outras
denominações.
Como você vê as novas igrejas que estão surgindo em nosso município?
Eu vejo isso como algo positivo e negativo ao mesmo tempo. Positivo porque se
comparado à taxa de violência urbana, se comparado ao desemprego, aos problemas
sociais, aos problemas de ordem emocionais que tem surgido no meio da população
aqui no município de Serra, essas Igrejas podem trazer algumas coisas boas. Muitas
vezes contribuir na questão social, na questão de evitar que a população se envolva em
violência, em drogas etc. Nesse ponto, portanto, é algo positivo dessas novas Igrejas. E
negativo são as questões relacionadas com as doutrinas, que muitas vezes são
prejudiciais e inclusive às emoções. As Igrejas podem e estão trazendo prejuízo na vida
da pessoa e de sua família em alguns momentos.
O que você e sua Igreja tem feito para evitar a saída de membros para unirem-se a
comunidades cristãs independentes?
Principalmente a pregação da palavra no púlpito, o ensino da palavra de Deus na EBD
e os retiros e encontros que são feitos com grupos específicos da nossa Igreja para
ensinar e tirar dúvidas com relação a vida espiritual, com relação envolvendo a palavra
de Deus.
188
Quem é Deus pra vocês?
Deus é o único criador e sustentador do universo. Deus é aquele que cuida dos seus
filhos, que se relaciona conosco, que está presente na vida de cada um. Deus é aquele
único capaz de nos trazer, através de Jesus, a salvação eterna.
Qual o seu conceito de Igreja?
Gosto do conceito de Igreja como comunidade de salvos que se reúnem com o mesmo
objetivo, com os mesmos sonhos e propósitos, que trabalham juntos, que seguem a
direção da palavra de Deus e que saem para fazer missões.
Quais são os elementos essenciais de uma Igreja?
O principal é o amor que une os membros daquela Igreja, daquela comunidade. A
forma coerente de viver a vida de acordo com a palavra de Deus. E também a
perseverança na sã doutrina que é a palavra.
Qual é a missão da Igreja?
Entendo que a principal missão da Igreja local é fazer missões, fazer discípulos. É
Jesus buscando e salvando os perdidos através da Igreja. Então, missões e
discipulado.
Qual o ensino da Igreja sobre a salvação?
Salvação somente e exclusivamente através de Cristo Jesus. Pela fé, que também
passa pela razão. E pelo voluntarismo em relação a acreditar e querer Jesus como seu
único Salvador.
Em sua opinião, que fatores têm desencadeado o surgimento das comunidades
cristãs independentes no município da Serra?
1. A busca de solução imediata para os problemas de ordem emocional, de ordem
financeira.
2. Essas comunidades, principalmente, tem prometido uma solução imediata sem
ensinar a palavra de Deus corretamente em relação aos problemas que todos nós
vivemos nesse mundo.
Praticante V
Sexo? Idade? Profissão?
Masculino. 47 anos. Pastor.
Nome da igreja?
Igreja Batista em ___
Quando e como surgiu a igreja da qual você faz parte?
No dia ___ foi realizado o culto batista na casa de uma pessoa do bairro. Aos ___ foi
organizada a Igreja Batista em ___ com 63 membros. Fruto do trabalho missionário da
Igreja Batista ___ em ___ e ___
189
Algum membro desta igreja já saiu para fazer parte de uma igreja nova?
Sim. Mas nos últimos 4 anos que estou pastoreando não.
Como você vê as novas igrejas que estão surgindo em nosso município?
Eu vejo como um fenômeno comum dos nossos dias que vem acontecendo em muitos
lugares. Não faço juízo de certo ou errado.
O que você e sua Igreja tem feito para evitar a saída de membros para unirem-se a
comunidades cristãs independentes?
Nós procuramos primar por bom relacionamento de comunhão, manter bom
doutrinamento e cada membro sendo mantido ativo servindo ao Senhor.
Quem é Deus pra vocês?
Deus é o Senhor criador de todas as coisas, que sendo Espírito Eterno se revela ao
homem por Jesus Cristo e pela bíblia, e a natureza e seus atos.
Qual o seu conceito de Igreja?
A Igreja de Jesus Cristo é uma comunidade, uma congregação local de pessoas salvas
por Cristo e biblicamente batizadas, que se reúnem para adorar a Deus, para
comunhão, para a propagação do evangelho e a instrução nos ensinos da bíblia.
Quais são os elementos essenciais de uma Igreja?
A Igreja deve ser formada por pessoas regeneradas e salvas por Jesus e viverem no
ensino da bíblia, adorando, servindo a Deus e ao próximo.
Qual é a missão da Igreja?
Fazer discípulos para Jesus de todos os povos e ensinar a eles os mandamentos de
Jesus.
Qual o ensino da Igreja sobre a salvação?
A salvação é através de Jesus Cristo mediante fé e o arrependimento com conversão
genuína a Cristo.
Em sua opinião, que fatores têm desencadeado o surgimento das comunidades
cristãs independentes no município da Serra?
Aqui como em outros lugares são vários. Observo que essas Igrejas em geral são
organizadas por pessoas que foram líderes em outra Igreja ou denominação.
1. Essas pessoas ou se contrariaram com a liderança da sua denominação ou mantém
um forte espírito de independência.
2. Elas revelam um alto grau de soberba espiritual.
3. Pessoas que procuram auferir promoção ou lucro pessoal.
4. Não se submetem a autoridade e senso comum denominacional.
5. Ocultam tudo isso quase sempre com testemunho de experiência pessoal fantástica
de visão e chamamento de Deus.
190
Praticante VI
Sexo? Idade? Profissão?
Masculino. 50 anos. Zelador.
Nome da igreja?
Primeira Igreja Batista de ___
Quando e como surgiu a igreja da qual você faz parte?
A nossa Igreja surgiu em ___ e foi organizada pela Igreja Batista da ___. Sendo que eu
vim para esta Igreja em 1979.
Algum membro desta igreja já saiu para fazer parte de uma igreja nova?
Alguns saíram para a Igreja ___.
Como você vê as novas igrejas que estão surgindo em nosso município?
Vejo com preocupação. Será que estão pregando o Evangelho verdadeiro ou é apenas
mais uma manobra.
O que você e sua Igreja tem feito para evitar a saída de membros para unirem-se a
comunidades cristãs independentes?
Mantido as doutrinas batistas, pregando o Evangelho, sem se deixar iludir.
Quem é Deus pra vocês?
É o Criador, sustentador do universo, que deu seu filho para salvar o mundo.
Qual o seu conceito de Igreja?
É o povo de Deus, resgatado, comprado pelo sangue de Jesus.
Quais são os elementos essenciais de uma Igreja?
Povo (pessoas e pregação da Palavra de Deus).
Qual é a missão da Igreja?
Pregar o Evangelho, dar testemunho de Jesus.
Qual o ensino da Igreja sobre a salvação?
Crer em Jesus. Ter realmente Jesus como Senhor e Salvador.
Em sua opinião, que fatores têm desencadeado o surgimento das comunidades
cristãs independentes no município da Serra?
O povo está desesperado, à procura de bens materiais, riquezas e por outro lado
pessoas querem facilidades.
191
Praticante VII
Sexo? Idade? Profissão?
Feminino. 40 anos. Secretária.
Nome da igreja?
1ª Igreja Batista ___.
Quando e como surgiu a igreja da qual você faz parte?
É filha da PIB de ___.
Algum membro desta igreja já saiu para fazer parte de uma igreja nova?
Sim. Recorda-se de uma senhora que passou para a ___ e percebendo dificuldades
retornou para a sua Igreja.
Como você vê as novas igrejas que estão surgindo em nosso município?
Muita emoção, tentando saciar uma busca interior do ser humano.
O que você e sua Igreja tem feito para evitar a saída de membros para unirem-se a
comunidades cristãs independentes?
Tem buscado conhecer mais os grupos, fazendo estudos sobre as seitas e as novas
Igrejas. Tem buscado orientar, mostrar tudo que está na bíblia, tudo que se percebe
que está saindo do padrão de Jesus.
Quem é Deus pra vocês?
É o criador de tudo.
Qual o seu conceito de Igreja?
É um local onde se pode adorar a Deus, é um local de abrigo, comunhão, aceitação.
Quais são os elementos essenciais de uma Igreja?
Proclamação da palavra, comunhão, demonstração do amor.
Qual é a missão da Igreja?
Proclamar Jesus, alcançar vidas, suprimento de outras necessidades como ser
humano.
Qual o ensino da Igreja sobre a salvação?
Crer em Jesus, se arrepender dos pecados e viver os princípios de Deus.
Em sua opinião, que fatores têm desencadeado o surgimento das comunidades
cristãs independentes no município da Serra?
1. Nível de escolaridade baixa entre os membros das igrejas evangélicas;
2. A condição social das pessoas, criando ilusões sobre o que é e o que não é o reino
de Deus;
3. A facilidade das pessoas de abrirem uma igreja;
4. Interpretação da Bíblia de maneira errônea;
192
Praticante VIII
Sexo? Idade? Profissão?
Feminino. 57 anos. Secretária.
Nome da igreja?
1ª Igreja Batista em ___
Quando e como surgiu a igreja da qual você faz parte?
Em ___ como Congregação da PIB de ___. começou com o conjunto, reunindo-se
em uma casa com o ___ e família, que era seminarista da Igreja.
Algum membro desta igreja já saiu para fazer parte de uma igreja nova?
Sim. Alguns foram para a Igreja ___, e recentemente uma senhora foi para a Igreja do
___.
Como você vê as novas igrejas que estão surgindo em nosso município?
Tem umas que tem a finalidade que o boas, mas tem outras que são para
escandalizar. Tem uma perto da minha casa que é um escândalo, eles pulam, gritam,
dançam, caem no chão, levantam-se novamente e começam a dançar. Às vezes a
mensagem é até boa, mas na hora do louvor é terrível.
O que você e sua Igreja tem feito para evitar a saída de membros para unirem-se a
comunidades cristãs independentes?
Por enquanto nada. Às vezes a gente alerta um irmão, mas ele se sente melhor lá e diz
estar gostando. A gente deixa, mas depois que eles estão lá dentro e vêem que não é
aquilo que eles querem, eles querem voltar. O pastor tem falado. As pessoas são
confrontadas e deixadas à vontade para decidirem.
Quem é Deus pra vocês?
Deus é o nosso Criador. Tudo o que nós temos, nós temos que agradecer a Ele.
Qual o seu conceito de Igreja?
Igreja somos nós, estamos sempre unidos com outros irmãos, vivendo em comunhão.
Quais são os elementos essenciais de uma Igreja?
O testemunho de Cristo. Não adianta estar reunido com os irmãos aqui e fora ser
outra coisa. Porque daí vão ver aquilo o que eu sou aqui dentro.
Qual é a missão da Igreja?
Evangelizar, pregar o evangelho.
Qual o ensino da Igreja sobre a salvação?
Através do estudo da bíblia. Às vezes a pessoa é salva, mas não procura a bíblia
para ler, para ter mais intimidade. Tem muita gente que se converte lendo a bíblia.
“Crer no Senhor Jesus Cristo e serás salvo. Cristo é o caminho, a verdade e a vida
193
ninguém vem ao pai senão por mim.” (João 14:6). Crer em Jesus Cristo e ler a bíblia
para obter o crescimento.
Em sua opinião, que fatores têm desencadeado o surgimento das comunidades
cristãs independentes no município da Serra?
1. Uns estão fazendo para ganhar dinheiro.
2. Outros sabem um pouquinho e já saem para fazer uma igreja para eles, são
independentes.
3. Alguns fazem da igreja seu meio de sobreviver.
Praticante IX
Sexo? Idade? Profissão?
Feminino. 18 anos. Secretária.
Nome da igreja?
Primeira Igreja Batista de ___
Quando e como surgiu a igreja da qual você faz parte?
Começou com um grupo de irmãos em suas casas. Passou por Congregação e se
tornou uma Igreja, que hoje tem ___anos. Tem poucos membros que estão hoje desde
a fundação.
Algum membro desta igreja já saiu para fazer parte de uma igreja nova?
Sim. Saiu um grupo, para formar uma nova Igreja (não tem certeza).
Como você vê as novas igrejas que estão surgindo em nosso município?
Quando eles abrem essas comunidades novas é procurando atender aos interesses
que eles pensavam antes que a Igreja Batista tradicional não aceitaria. Por exemplo, no
nosso caso, o pessoal busca da forma que eles pensam. E tem situações em que as
pessoas abrem essas entidades pensando no próprio bem delas.
O que você e sua Igreja tem feito para evitar a saída de membros para unirem-se a
comunidades cristãs independentes?
Recentemente foi feito um retiro de jovens em que foi trabalhado esse sistema que o
próprio mundo da música traz, quantas outras coisas, orientando os jovens como se
comportarem diante dessas novas comunidades. também a sala de batismo,
quando a pessoa se converte, tem orientação falando como é a Igreja baseando tudo
na bíblia. Estudo nos lares. Grupo de comunhão, em que fazem estudos. Tem grupos
que se reúnem entre 15 dias, tem grupo que se reúne toda semana, divididos por idade
e por bairros.
Quem é Deus pra vocês?
Deus é pai, é amigo, Ele protege a gente, Ele conduz a gente, Ele nos ama e tem
misericórdia mesmo a gente não merecendo. Eu acho que tudo o que Deus fez por nós
em comparação com tudo o que a gente faz por Ele não é nada.
194
Qual o seu conceito de Igreja?
Igreja para mim são as pessoas, onde a gente tem que ter um apoio, ter amigos. É um
local onde temos que buscar comunhão com os irmãos e com principalmente com
Deus.
Quais são os elementos essenciais de uma Igreja?
Tem que ser uma Igreja de oração. Uma Igreja que em tudo o que for fazer além da
oração tem que pedir sempre orientação de Deus, tem que ter Jesus como cabeça da
Igreja. Tem que ter muita comunhão entre os irmãos quanto com as pessoas que estão
chegando, pensando sempre em evangelizar.
Qual é a missão da Igreja?
Cumprir o ide de Jesus, levar a palavra dele para aquelas pessoas que realmente
precisam.
Qual o ensino da Igreja sobre a salvação?
Todos os cultos de domingo são evangelísticos, os cultos de quarta são mais estudos.
Mas em todas as pregações que tem tido falam da vida de Jesus e o que Ele fez por
nós. Ter Jesus como único Salvador da sua vida, porque ele morreu para nos salvar
dos nossos pecados e quer que sejamos livres, e por isso ele pagou um alto preço na
cruz morrendo em nosso lugar.
Em sua opinião, que fatores têm desencadeado o surgimento das comunidades
cristãs independentes no município da Serra?
1. As pessoas procuram um lugar em que se sente bem;
2. Outros vão em busca de um lugar que atenda seus próprios interesses.
3. Pastores sem formação teológica. Eles tem que ter uma orientação maior. Além de
ter um chamado as pessoas tem que se preparar.
Praticante X
Sexo? Idade? Profissão?
Masculino. 79 anos. Barbeiro.
Nome da igreja?
Igreja Batista em ___.
Quando e como surgiu a igreja da qual você faz parte?
Surgiu no dia ___. Tem ___ anos. Surgiu nas casas dos irmãos e depois armaram uma
tenda. É filha da Igreja Batista ___.
Algum membro desta igreja já saiu para fazer parte de uma igreja nova?
Por enquanto não.
Como você vê as novas igrejas que estão surgindo em nosso município?
195
Alguns trabalham de modo interessante, eles pregam o evangelho de maneira
diferente.
O que você e sua Igreja tem feito para evitar a saída de membros para unirem-se a
comunidades cristãs independentes?
Tem aconselhado.
Quem é Deus pra vocês?
Deus é nosso criador e sustentador, de todo o universo.
Qual o seu conceito de Igreja?
A Igreja somos nós, os membros que fazemos parte desta comunidade.
Quais são os elementos essenciais de uma Igreja?
A Igreja que prega o Evangelho de Cristo, o testemunho dos crentes e membros da
Igreja.
Qual é a missão da Igreja?
Pregar o evangelho.
Qual o ensino da Igreja sobre a salvação?
Não há outro meio de salvação a não ser por Jesus Cristo.
Em sua opinião, que fatores têm desencadeado o surgimento das comunidades
cristãs independentes no município da Serra?
1. Me parece que o fim deles é faturar dinheiro, lucro financeiro.
2. Muitos vão atrás de milagres, curas, etc
196
ANEXO B
CRISTÃOS PEREGRINOS
Peregrino I
Sexo? Idade? Profissão?
Masculino. 39 anos. Pastor.
Nome da igreja?
Ministério ___
Quando e como surgiu esta igreja?
Olha, eu fui pastor na comunidade aqui 12 anos atrás e nesse período de 12 anos
eu perdi completamente, literalmente o contato com a Igreja. Meu discipulador, no
seminário em que fui pastor, ele disse para mim: “O dia em que você sair de uma Igreja,
você saia mesmo, evite até voltar lá. A não ser que você seja convidado pelo pastor da
Igreja”. Então, a única vez em que eu voltei à Igreja ___ da onde eu saí, voltei porque o
pastor me convidou para estar pregando, então voltei sob o convite dele. Nesse
período de 12 anos que eu deixei a Igreja, eu tive uma outra atividade, pastoreei outras
Igrejas. No entanto, no período de aproximadamente 9 para 10 anos depois que eu
tinha deixado a Igreja, um grupo pequeníssimo de irmãos, mas para ser exato, 7
irmãos, em uma reunião comigo disseram do desejo que eles tinham no coração de
começar uma Igreja que tivesse um modelo diferente e que esse modelo fosse um
modelo voltado para a evangelização da cidade. Eu disse para eles que eu tinha um
modelo, e que para mim inclusive era um modelo que eu havia aprendido na cidade
onde eu estava, no caso, ___. Onde durante aproximadamente 7 anos da minha vida
eu freqüentei o ministério ___ de um conhecido ___. eu aprendi a visão chamada
modelo dos 12. Com esses 7 irmãos nós passamos aproximadamente uns 2 anos
orando. Porque eu entendia, primeiro, que eu não tinha um entendimento claro que eu
deveria voltar a ser pastor. Segundo, eu não tinha o entendimento de que eu deveria
voltar a ser pastor na cidade onde eu havia sido pastor. Porque eu sei de toda
complexidade que se gera, desgaste, como seria ruim, seria difícil e eu não tinha a
menor intenção, como eu não tenho a menor intenção de causar danos ao pastor da
Igreja, que pastoreou e que pastoreia a Igreja em que eu fui pastor. Tanto é que vieram
membros da Igreja de lá aqui e me viu fora de sua Igreja. Porque foram pessoas que eu
não ganhei para Cristo, foram pessoas que não foram ganhas para Cristo no período do
meu ministério. Então eu não acho certo nem direito dessas pessoas de virem aqui.
Depois de um período de quase 1 ano em uma etapa que nós estávamos orando
que eu pedi a esses irmãos que eles fossem então falar com o pastor da Igreja e pedir
ao pastor da Igreja que abençoasse para a gente começar o ministério. O pastor
abençoou, eles disseram que ele era o pastor de devia abençoar a pastorear a cidade.
Eles disseram isso a mim, que o pastor abençoou, que depois eu fui com um discípulo
meu ao gabinete do pastor, disse para o pastor que a gente estava começando um
ministério na cidade e que esse ministério não tinha a natureza de ser concorrente, que
esse ministério não tinha a intenção de ser uma disputa. Não era uma disputa de
197
território, não era reino contra reino. Então nós começamos orando. Ele nos abençoou
na oração que ele fez. E daí nós começamos o nosso ministério. Começamos o nosso
ministério com alguma dificuldade, porque eu passo um período de tempo da minha
vida aqui e passo um período de tempo da minha vida em Manaus. Lá e aqui, aqui e lá.
Então eu passo pouco tempo lá, e eu passo pouco tempo aqui. Então na verdade eu
virei uma ponte aérea, vai e volta. E assim começou a nossa Igreja, começamos com 7
pessoas e plantamos a Igreja na visão celular do modelo dos 12. Nesta época eu
conversei com os meus deres em Manaus, com os meus discipuladores. E eles me
disseram então que eles me dariam cobertura para que nós pudéssemos começar uma
Igreja na visão celular do modelo dos 12 aqui em ___ E começamos o ministério sem a
pretensão de estar causando danos a ninguém. Começamos o ministério com a visão
de levar pessoas a Cristo, sendo esse ministério independente.
De que igreja você saiu, para fazer parte desta? O que levou você a sair?
Igreja Batista. O que me levou a sair foi o fato de que eu era pastor batista e lá em ___
eu tive uma oportunidade para começar um empreendimento ___ fora do ministério. Eu
fui ordenado com 21 anos de idade, muito novo, muito garoto. Aos 32 anos de idade eu
estava muito estressado, muito angustiado, eu ainda era um pastor solteiro na época,
eu estava muito cansado, fatigado, eu não tive apoio, não tive relacionamentos entre os
colegas que pudessem me dar uma sustentação de apoio. Pelo contrário, um dos
grandes líderes da denominação me encontrou no aeroporto de ___ em uma das vezes
que eu estava aqui e me disse: “Você deveria aproveitar bem a oportunidade que ___
está te dando, porque aqui no campo você está queimado”. Então essa foi a palavra de
um grande líder da denominação para mim, o que me ensinou a ver como os líderes da
denominação tratava os seus pastores. E depois dessa palavra, que foi uma palavra
muito ruim, eu voltei para ___ e decidi ter um tempo sabático. A minha decisão não era
deixar o ministério, porque você não tem como abrir mão da sua vocação. Na verdade
eu não deixei o ministério, eu me ausentei por um período para que eu pudesse
descansar, foi isso. Nesse período de descanso eu visitei algumas Igrejas em ___,
porque eu comecei a fazer um outro trabalho lá, e em ___ eu conheci a Igreja ___,
que é a Igreja celular da visão do modelo dos 12, aprendi os valores e princípios da
visão, que diga-se de passagem são valores e princípios estritamente relacionados a
célula e discipulado, e eu comecei a compreender que existem 2 modelos de Igreja que
hoje crescem no Brasil. Um modelo de Igreja que cresce no Brasil é o modelo da mídia,
é a Igreja que está na mídia, uma Igreja que explora a televisão, que explora a
radiodifusão. E o segundo modelo de Igreja, que inclusive é o modelo que a sua Igreja
pratica, é a Igreja em célula. Só que as Igrejas da mídia são Igrejas de grande
rotatividade, e as Igrejas em células, elas concentram um melhor resultado porque
existe um monitoramento melhor através da chamada consolidação. Eu aprendi os
princípios, os valores da visão. Entendi que a visão era uma chamada ao discipulado e
quando eu vim para ___, eu vim sem a pretensão de me associar a uma convenção
porque a eclesiologia do novo testamento é apostólica. Como eu disse para você
anteriormente, a Igreja apostólica era um organismo, ela não era uma organização, ela
não tinha escritório, ela não tinha templos, ela tinha um Templo, que era o templo de
Jerusalém. E a grande massificação da massa, sem ser redundante, como está em
Atos 5:42 que diz que eles se reuniam no templo e de casa e casa. De casa em casa é
198
uma linguagem para mostrar a pluralidade do universo onde eles se relacionavam, nas
casas. Então a pluralidade das casas significa que havia uma multidão de casas. Tanto
é que você é um conhecedor de eclesiologia do novo testamento e sabe que muitas
Igrejas do novo testamento, com as viagens missionárias de Paulo, começaram em
casa. A Igreja, por exemplo, de Colossenses começou na casa de Filemom, cujo pastor
era Epafras. Então as Igrejas do novo testamento, até o século, eram Igrejas
exclusivamente apostólicas.
Quando saiu de sua igreja, porque você não procurou uma igreja mais antiga pra
se unir?
Porque eu particularmente não acredito mais nesse modelo. Eu não acredito mais no
modelo denominacional, por vários fatores. Um deles é porque o modelo
denominacional é um modelo que historicamente não representa o sonho bíblico,
apostólico. Ele representa um movimento histórico em um determinado momento da
história em que houve uma organização de pessoas que geraram uma identidade
eclesiástica e teológica e começaram então a trazer a formatação denominacional. Até
hoje, por exemplo, não se sabe se aquele JJJ (João no Jordão em Jerusalém) vem dos
anabatistas. Então, a minha pretensão como Igreja é cumprir o ensinamento do novo
testamento, tornar Jesus Cristo conhecido, cumprir o Ide, o cumprimento da grande
comissão, nada além disso. O sonho e a visão da nossa Igreja é ver a nossa cidade
redimida pelo Evangelho, pelo Evangelho da Graça que é o Evangelho da Verdade.
O que levou você a fazer parte desta igreja?
Respondida na anterior.
Quem é Deus pra vocês?
A bíblia não define Deus, a bíblia o descreve. Então não existe uma definição bíblica.
aquela definição que nós batistas conhecemos muito bem que Deus é Espírito
perfeitamente bom”, mas a bíblia não o define. A única definição bíblica a cerca de
Deus é que Deus é Espírito, mas para fazer uma diferença da sua deidade e da nossa
humanidade. Então a bíblia não define Deus, a bíblia o descreve, e o descreve como
uma pessoa. E 2 coisas caracterizam um pessoa, o que ela fala e o que ela faz. Quem
é Deus? Deus é uma pessoa que tem palavras e atitudes. As palavras de Deus e as
suas atitudes revelam o seu caráter e a sua essência. Nesse aspecto, a bíblia diz lá no
Salmo 107:3 que Deus manifestou os seus caminhos, revelou os seus caminhos a
Moisés. O ser humano em nenhum momento poderia conhecer a Deus, a não ser que
Deus se auto revelasse. E nós aprendemos na teologia que Deus tem atributos
comunicáveis e atributos incomunicáveis. Os atributos comunicáveis são aqueles que
pertencem a Deus e que são referentes a sua Deidade. Tem até aquela música que diz
que o amor é a essência de Deus, teologicamente está errado. A essência de Deus é a
sua Deidade. O apóstolo Paulo em Colossenses 2:9 diz que em Cristo habita
plenamente a plenitude de Cristo. Então foi daí que surgiu a idéia de 100% homem e
100% Deus. Porque nele habita plenamente a plenitude da divindade. Então para mim
Deus é um ser divino, soberano, maravilhoso, que age por misericórdia, graça, justiça,
amor. E os atributos incomunicáveis de Deus são o que estão inerentes a sua Deidade,
são aqueles os quais em Gênesis diz que Ele nos criou à sua imagem e semelhança,
amor, bondade, ternura, misericórdia. O que é o pecado? Qual a minha concepção de
199
pecado? Se o homem foi criado à imagem de Deus, você sabe que lá em Romanos
3:23 diz que todos pecaram e destituídos. A palavra no original ali é descaracterizado.
Porque Deus criou o homem com características, com um DNA espiritual semelhante
ao Seu. O pecado veio e descaracterizou. Então o homem foi criado com caráter santo,
adquiriu o caráter pecaminoso e em Cristo ele adquire o caráter regenerado.
Qual o seu conceito de Igreja?
Igreja para mim, por mais batido que isso seja, por mais falado, para mim Igreja é o
projeto mais maravilhoso que Deus criou na terra. Muito embora que Jones diz que
Igreja é como a arca de Noé, que se não fosse a condenação dos que estão do lado de
fora, ficar do lado de dentro seria insuportável, exatamente por cauda dos sistemas que
foram agregados e agrupados à Igreja do Senhor Jesus, o que os homens estão
fazendo. Porque a Igreja de Jesus hoje você não sabe se ela é um lugar terapêutico ou
se ela é um lugar patológico. Você não sabe se você vai lá para receber cura e graça
ou se você vai para ser explorado e enganado. Eu entendo, eu creio que a Igreja do
Senhor Jesus, essa Eclésia, esses chamados para servir a Deus, eu creio que a Igreja
é o maior projeto do coração de Deus depois da família. Mas, como os homens têm
conseguido destruir a família também tem conseguido contaminar a Igreja. E uma das
coisas que eu lhe diria sem nenhum temor, nenhum problema, nenhum medo, nenhuma
culpa é que uma das causas que geraram essa enfermidade da Igreja é porque ela
deixou de ser apostólica. Porque a Igreja apostólica era uma Igreja que se movia do
sobrenatural. A Igreja apostólica era a Igreja do sobrenatural, da simplicidade, eram os
homens que estavam dispostos a qualquer preço pelo Evangelho. Hoje, os valores
mudaram. As pessoas estão dispostas a qualquer preço pela denominação. Quantos
amigos meus e seus que nós sabemos que foram desligados da denominação porque
tiveram um pensamento diferente da estrutura denominacional? Agora, você nunca vai
ser desligado do reino de Deus porque você tem a mente apostólica, a doutrina bíblica.
Então, essa Igreja é maravilhosa, a Igreja apostólica.
Quais são os elementos essenciais de uma Igreja?
A Igreja de Atos 2. Quero destacar a partir dos princípios bíblicos de Atos, os
fundamentos principais dos quais a visão celular do modelo dos 12 se respalda.
1º: proclamar o Evangelho de Jesus com autoridade e unção a fim de que os homens e
as mulheres venham ao arrependimento e obediência.
2º: a Igreja apostólica praticava a Palavra de Deus, se movia pela Palavra de Deus e
perseverava na doutrina dos apóstolos, ou seja, era uma Igreja bíblica.
3º: a Igreja apostólica era uma Igreja de sinais, prodígios e maravilhas, portanto, era
uma Igreja que se movia no sobrenatural.
4º: a Igreja apostólica era uma Igreja de linguagem estratégica, eles perseveravam
unânime diariamente no templo e de casa em casa. O que eles faziam no templo? Atos
5:42 diz que eles iam ensinar e proclamar a Jesus o Cristo.
Então para mim, o elemento fundamental de uma Igreja não é a adoração, nem mesmo
a oração. Para mim, o elemento fundamental de uma Igreja é tornar Jesus conhecido
por todos como Cristo, como o Messias, como Ieshua, como o enviado de Deus, como
o Evangelho, como o agrado, como as boas novas.
Qual é a missão da Igreja?
Respondida na anterior.
200
Qual o ensino da Igreja sobre a salvação?
O homem é salvo mediante a sua fé em Cristo. A bíblia diz que todo aquele que nele
crer será salvo. A salvação é única por Cristo e através de Cristo. Nós somos salvos
pela graça mediante a fé. Tanto a graça como a fé são atuações do Espírito de Deus no
entendimento humano. Porque a bíblia diz que nele nós nos movemos e existimos. A
salvação é um dom gratuito de Deus, que Ele concede a todos indiscriminadamente.
Nós não cremos que existem uns predestinados para ser salvos e outros predestinados
para ser condenados. Porque a bíblia diz, porque Deus amou o mundo. O amor de
Deus é universal, a salvação é universal. Todos podem estar debaixo do alcance da
salvação. Agora existem princípios para a salvação. O princípio para a salvação é
crer. Fé em Deus é na Palavra dele. Quando a bíblia diz que Abraão caminhou pelo
deserto, caminhou pelo deserto porque ele tinha uma promessa na palavra. Então
quando eu digo que um homem é salvo pela fé, eu estou dizendo que o homem
acredita no Evangelho, que ele crê no Evangelho, que ele recebeu o Evangelho.
Porque Paulo diz em Colossenses, o Evangelho da verdade que chegou entre vós e
está produzindo muito fruto. Então eu creio que o homem pode ser salvo pelo
Evangelho, sem o auxílio total e completo de alguma manifestação pessoal de obras
humanas porque a obra humana anula a graça. Agora, todo salvo opera na via das
boas obras para que veja as vossas boas obras, como disse Jesus em Mateus 5:16, e
glorifica o vosso Pai que estás no céu. O homem é salvo única e exclusivamente pela
graça de Deus. A teologia de Paulo, graça e paz, é uma teologia de salvação. A graça é
ação única e exclusiva de Deus em salvar o ser humano por Cristo Jesus. E a paz,
eirene no grego, é a ação do Espírito no interior do crente, em trazer a ele a paz de que
realmente foi salvo. Quando o crente é salvo ele tem a paz da salvação, por isso graça
e paz, que é a teologia paulina.
Em sua opinião, que fatores tem desencadeado o surgimento das comunidades
cristãs independentes no município da Serra?
1. Olha, sinceramente como batista que eu fui, eu até diria para você que
teologicamente sou batista. Eu diria para você que um dos princípios da doutrina batista
é a livre interpretação das Escrituras. Isso é um fator que determina. Muito
especificamente a cerca dos dons espirituais.
2. Um outro fator que determina é a questão de modelos atuais de discipulado que em
nada agridem a sã doutrina, a doutrina apostólica. E que a estrutura denominacional em
algumas vezes como se referiram a mim que a visão era coisa do diabo. Olha, se é
do diabo o diabo se converteu. Porque a única coisa que o diabo faz é que leva as
pessoas a se amarem mais a Deus, a servirem as suas casas para terem uma célula.
3. E eu acho que um terceiro fator que leva muitas novas comunidades a se abrirem é
a falta de um pastorado saudável, de uma liderança misericordiosa. De pastores que,
você sabe, que nos nossos púlpitos, nos nossos ministérios, muitos colegas fazem
exatamente o contrário. O que está lá em I Pedro 5:2 apascentar o rebanho de Deus.
Essa palavra apascentar significa alimentar, foi a mesma palavra que Jesus usou para
Pedro, alimenta, pastoreia, apascenta. No original é aponomai, que significa a mesma
coisa, alimentar. Daí ele diz assim: alimentar o que? O rebanho de Deus! O problema é
que muitos pastores acham que o rebanho é propriedade sua e não de Deus. Então,
pastoreia o amor de Deus, que aqui é consolidação. Daí ele diz assim: que está entre
201
vós, que fala de relacionamento interpessoal, tendo cuidado dele, do rebanho. Isso aqui
fala de cobertura compartilhada. Ser pastor é um direito, que Deus me de cuidar de
algo que não é meu. A Igreja não é minha, a Igreja é de Cristo. Então eu estou
cuidando. O problema nesse 3º ponto é a mordomia pastoral, é como o líder se
comporta no ministério. Daí ele diz assim: não por força. A palavra força aqui é domínio,
é quando você quer impor. Por que muitas Congregações saem? Por que muitas
Igrejas novas existem, nascem? Porque tem lideres que os pastoreiam na força do
homem e não na força do Senhor. E ele diz ainda assim: mas voluntariamente, não por
torpe ganância, mas de ânimo pronto. Daí ele diz assim: não como tendo domínio sobre
a herança de Deus, olha que palavra tremenda, mas servindo como exemplo do
rebanho. Por que muitas novas Igreja surgem? Porque o pastor é o retrato da
denominação na Igreja local. Quando esse pastor trata o rebanho como coisa, as
pessoas vão procurar um novo modelo, um novo estilo, onde elas vão ser amadas,
amparadas, honradas, abençoadas, cuidadas, onde elas vão ser pastoreadas como
rebanho de Deus. A Igreja em que eu sou pastor hoje, eu tenho plena consciência de
que esse rebanho é de Deus e eu vou prestar contas por esse rebanho a Ele um dia.
Então eu não quero chegar diante de Deus me sentindo dominador, eu não quero
prestar contas porque eu pastoreei na força, por torpe ganância. Você sabe que essa
questão do materialismo que leva muitos dos nossos discípulos e ovelhas a
questionarem realmente o nosso chamado, a vocação. A questão do materialismo
pastoral. pastores que estão mais preocupados com quanto vão ganhar do que com
quantas ovelhas vão batizar. Então eu acho que esses são fatores que determinam
muito a abertura de novas Igrejas. A nossa Igreja não foi aberta por causa disso. O
nosso ministério não começou porque a gente tinha um grupo que estava em de
guerra com o pastor na Igreja local onde eles estavam. Nossa Igreja começou, porque
12 anos atrás eu fui pastor de algumas pessoas que estavam dentro dessa
comunidade, que durante 3 anos me ligaram (“pastor, vem nos pastorear”). E eu resisti
muito porque eu tinha uma realidade de vida em ___. Até que um dia eu tive um sonho
e nesse sonho Deus me deu o comando. E a partir desse sonho eu decidi que ___ não
era mais a minha casa, que a minha casa era a cidade onde Deus havia preparado um
rebanho para eu pastorear. Agora, como eu quero pastorear esse rebanho? 1º, com a
consciência de que esse rebanho não é meu, esse rebanho é do Senhor, é o rebanho
de Deus. 2º, porque Deus me deu o chamado pastoral, é uma cobertura compartilhada,
o rebanho não é meu. 3º, monitorando o rebanho como um bom mordomo. Ele diz:
olhe por ele. Mas ele diz como olhar. Não com força, o por torpe ganância e nem
como dominador. Mas com boa vontade servindo ao Senhor de boa vontade e sendo o
modelo dos mesmos. Pronto, esse é o meu desafio. Esse é o sonho de Deus para
minha vida nesse tempo. Agora, eu estou bem intencionado em Deus, qual é hoje a
minha declaração doutrinária? É o livro de Atos. Creio profundamente, depois de uma
leitura exaustiva, creio no fato de que o crente pode receber o batismo do
arrependimento pela sem ter o sinal do Espírito Santo. Ele vai ser um parasita na
Igreja, como Paulo diz lá em Atos 19 (“você recebeu o Espírito Santo? Nós nem
ouvimos, mas nós nem queremos, nós já estamos até batizados pelo batismo de
João”). Mas nós não temos o Espírito Santo. E a bíblia diz que Paulo então pôs as
mãos sobre eles e eles foram cheios do Espírito Santo e falaram em línguas. Então,
qual é hoje a minha declaração? Eu não tenho uma declaração doutrinária
denominacional. Não tenho e não vou ter. Porque por mais que essa Igreja cresça, e eu
202
espero que cresça em nome de Jesus, e eu digo isso com toda a sinceridade da minha
alma. Sabe, eu quero que essa Igreja cresça, você não imagina o quanto essa cidade
está nas drogas, eu quero que essa cidade conheça o Messias, que conheça o Cristo.
Eu não tenho visão de abrir Congregação, minha visão é formar líderes para que eles
abram células. Dirigir produto, o caráter de Cristo no meio da célula onde eles estão.
Tem um rapaz na nossa Igreja que 6 meses atrás ele foi a um encontro. Ele era
26 anos drogado. Estava morrendo de cheirar crack todos os dias. Esse rapaz se
converteu, hoje ele é um líder de célula. Sábado eu fui em uma colheita na casa dele,
tinha 13 rapazes lá, todos envolvidos com drogas. Isso para mim é maravilhoso. Então,
eu não estou nessa cidade por vaidade humana, não estou nessa cidade para eu me
tornar um problema para os pastores daqui, principalmente para o pastor da Igreja em
que eu fui pastor. Eu já fui em amor. Não sei se ele me recebeu em amor da forma
que eu fui lá. Não falo dele, eu oro por ele. Que Deus o abençoe e que o ministério dele
desate na unção e no crescimento, porque a nossa conquista é o reino de Deus. Agora,
que Deus colocou no meu coração um sonho de conquista para esta cidade, colocou.
Então hoje eu não tenho pretensão em ser denominacional, mas também respeito
quem é e quem desenvolve o seu ministério denominacional. Acho que, as Igrejas
denominacionais históricas têm a sua importância quanto ao respeito que ela impõe
pela seriedade do trabalho que realiza. Você não uma Igreja tradicional, uma Igreja
Batista, Presbiteriana, Assembléia de Deus, por exemplo, ser cravejada na mídia por
escândalos financeiros e de moralidade. Você não isso. Então a Igreja tradicional
tem a sua importância Mas do ponto de vista denominacional eu tenho os meus
questionamentos, porque foge dos parâmetros. Você sabe que tudo isso foi produto da
mente humana do século, onde a Igreja deixou de ser apostólica para ser Igreja
romana. E a partir daí, a Igreja tirou o centro, que era Jerusalém, e tornou o centro
Roma. Tanto é que grandes líderes nossos denominacionais, presidentes de nossas
convenções a nível internacional, mundial já foram lá em Roma dar um beijo na mão do
Papa. Então eu acho particularmente que o grande desafio da Igreja é voltar para
Jerusalém.
Peregrino II
Sexo? Idade? Profissão?
Masculino – 38 anos - Pastor
Nome da igreja?
Igreja ___
Quando e como surgiu esta igreja?
___ 2001. Um grupo de 06 irmãos saíram da Primeira Igreja Batista ___, devido a um
choque doutrinário. O grupo passou a desenvolver um trabalho voltado para
dependentes químicos (os membros do grupo era ex dependente) Houve uma
experiência de batismo com o Espírito Santo.
De que igreja você saiu, para fazer parte desta? O que levou você a sair?
Depois de um tempo de oração e jejum o grupo foi direcionado a fundar a Missão __
203
Quando saiu de sua igreja, porque você não procurou uma igreja mais antiga pra
se unir?
Por não concordar com algumas diretrizes das igrejas tradicionais, que tem uma
estrutura muito rígida que impedem a inclusão de novas idéias.
O que levou você a fazer parte desta igreja?
Queria mais liberdade/ flexibilidade para a implementação de uma visão nova de
trabalho.
Quem é Deus pra vocês?
Deus é o criador de todas as coisas. Pai de Jesus Cristo. Soberano sobre nossas vidas.
Qual o seu conceito de Igreja?
É família, comunhão. Em atos era comum a comunhão, unidade, companheirismo,
preocupação de uns com os outros.
Quais são os elementos essenciais de uma Igreja?
O amor mútuo, a comunhão, a adoração clara e compreensível onde alcança crentes e
não crentes.
Qual é a missão da Igreja?
Levar o homem ao conhecimento de Deus, tem um papel social, fazendo diferença
onde está inserida. Mudar a realidade social da comunidade, trazendo capacitação para
o mercado de trabalho (inglês, espanhol, informática).
Qual o ensino da Igreja sobre a salvação?
É pela que gera o arrependimento que produz regeneração, transformação,
envolvendo tudo, relacionamentos sociais, familiares. Única e exclusivamente através
do sacrifício de Jesus na cruz, tendo como ápice o batismo.
Em sua opinião, que fatores tem desencadeado o surgimento das comunidades
cristãs independentes no município da Serra?
1. A estrutura das igrejas tradicionais exige um culto padrão para o exercício do
ministério, o que exclui alguns irmãos que tem um chamado que não tem liberdade nem
reconhecimento (falta de oportunidade).
2. Visão financeira e não de almas. este ano abriram e fecharam várias igrejas, sem
fazer nenhuma diferença nem deixar marcas na comunidade. Outras se dão bem e
ocasionam/ despertam interesse em novas iniciativas.
3. Facilidade que existe hoje para abrir uma nova igreja. É ter um espaço, algumas
cadeiras e iniciar o trabalho. Existe pouca responsabilidade neste processo.
204
Peregrino III
Sexo? Idade? Profissão?
Masculino – 55 anos - Pastor
Nome da igreja?
Igreja ___
Quando e como surgiu esta igreja?
__ 2000.
De que igreja você saiu, para fazer parte desta? O que levou você a sair?
Saí da igreja ___ Minha saída se deu pelo fato de eu ter passado uma experiência de
renovação espiritual na qual passei a crer na contemporaneidade dos dons espirituais e
também por acreditar em princípios como quebra de maldição, cura interior e batalha
espiritual. Sendo a igreja presbiteriana uma igreja tradicional e não acreditar em alguns
destes princípios, entendi que não daria para caminharmos juntos visto que eu ficaria
em desobediência para com a igreja que eu servia. Também o fato de estar
trabalhando com grupos pequenos e ministérios na igreja e não com sociedades
internas causava bastante divergência.
Quando saiu de sua igreja, porque você não procurou uma igreja mais antiga pra
se unir?
Na verdade não havia uma igreja histórica confiável que cria nos novos princípios que
eu estava crendo e vivendo. Outro fato importante é que embora eu creio na
importância e no valor das denominações entendo que elas perderam bastante o seu
foco no decorrer dos anos e passaram a uniformizar seus princípios e valores
impedindo que a igreja local tivesse a sua liberdade de expressão da igreja local em
sua região. Por entender que neste momento a maioria das denominações tem
engessado as atividades das igrejas locais preferi criar uma independente.
O que levou você a fazer parte desta igreja?
Bom, sou o fundador dessa igreja. Além dos aspectos comentados anteriormente devo
dizer que a criação da igreja ___ foi fruto de cerca de 05 anos de oração procurando
ouvir de Deus uma resposta certa a respeito do nosso desligamento da igreja
Presbiteriana. Além disso, meu desligamento se deu de forma pacífica e sem divisão.
Penso que os frutos dessa igreja em apenas nove anos de existência demonstram a
benção de Deus em sua criação.
Quem é Deus pra vocês?
Fugindo dos conceitos teológicos poderia dizer que Deus é um ser pessoal que se
relaciona com seu povo de forma íntima e real numa relação de pai e filho onde
podemos desfrutar de uma comunhão pessoal que gera segurança, amor, proteção,
vida, obediência, serviço etc.
205
Qual o seu conceito de Igreja?
Igreja é o povo de Deus reunido, é a comunidade dos santos, de todos os verdadeiros
crentes em todos os tempos.
Quais são os elementos essenciais de uma Igreja?
Entendo que os elementos essenciais de uma igreja são a fé em determinados
princípios tais como: Trindade- Deus Pai, Filho e Espírito Santo presentes e atuantes na
igreja; As escrituras como única regra de fé e prática; Compromisso firme com a
oração; uma forma de governo bíblica; os sacramentos; os crentes exercendo uma
missão através de seus dons e vivendo em comunidade a Unidade do corpo de Cristo.
Qual é a missão da Igreja?
Penso que a missão da igreja em geral pode ser baseada em Mateus 28:18-20 que é ir
e pregar o evangelho, fazer discípulos parecidos com Jesus e levar esses discípulos a
viverem os ensinos que Jesus deixou. A missão da igreja Evangélica Vida é proclamar
Jesus, treinar e equipar os crentes para servir no reino, tratar o caráter dos santos para
ser referencial na sociedade e viver a comunhão dos santos através do serviço e da
adoração.
Qual o ensino da Igreja sobre a salvação?
É o ato da livre graça de Deus por meio do qual o homem é liberto da condenação do
pecado, através do sacrifício vicário de Cristo, e recebe pela em Jesus o presente da
vida eterna.
Em sua opinião, que fatores tem desencadeado o surgimento das comunidades
cristãs independentes no município da Serra?
Penso que o surgimento das igrejas independentes é um acontecimento mundial e o
somente no município da Serra. Neste município percebemos isso de forma mais
expressiva até porque ele é o que tem maior índice de evangélicos no Estado.
Mas, no meu entendimento, o surgimento de igrejas independentes se deu por uma
série de fatores ocorridos nos últimos anos, entre os quais podemos destacar: uma
mudança na liturgia do culto completamente diferente dos padrões históricos; o
crescimento em todo o mundo do movimento neo-pentecostal que entendo como a
crença na contemporaneidade dos dons do Espírito e a revelação bíblica de ensinos
novos até então não discutidos pela igreja: quebra de maldições, cura interior ou das
emoções, batalha espiritual e a restauração dos ministérios de Apóstolo e profeta.
Também o nascimento de novos métodos de trabalhar internamente na igreja sem ser
através das sociedades domésticas através de ministérios e grupos pequenos somaram
mais insatisfações e contribuíram para o nascimento das igrejas independentes.
Outro fato inegável é que, de um modo geral, as igrejas pentecostais dão muita ênfase
à fé e menos ao ensino bíblico. Este desequilíbrio entre esses dois valores tem causado
muito desentendimento dentro das igrejas e contínuas divisões surgem em função de
desentendimentos internos. A facilidade jurídica de se criar igrejas também facilita ainda
mais esta iniciativa.
Por último, penso que o município da Serra foi muito afetado por um movimento de
grupos pequenos, em célula, chamado G12 que causou uma revolução dentro das
206
igrejas, por causa de sua forma de funcionar, e isso causou o nascimento de muitas
igrejas independentes formando um movimento independente.
Peregrino IV
Sexo? Idade? Profissão?
Masculino. 50 anos. Pastor, Técnico em Contabilidade, Estatística.
Nome da igreja?
Igreja ___
Quando e como surgiu esta igreja?
Tem 8 anos de vida. Surgiu em uma sala e eram em 3 pessoas. Na verdade eu estava
saindo da Igreja Metodista Wesleyana. Eu fui pastor ____ e escrevi para o meu bispo
pedindo a minha exoneração do cargo de pastor e fique fazendo o eixo ___ x ___ como
itinerante. E no retorno de uma dessas viagens eu recebi um convite para tirar uma
dúvida de um casal da Assembléia de Deus. Marquei uma reunião com eles em um dia
de sábado, o assunto rendeu, sábado, sábado, sábado para frente nós
tínhamos a sala cheia. E a partir daí ganhamos uma terraço para 250 pessoas e daí
não parou mais. Devo confessar ao pastor que eu não tinha a mínima intenção de abrir
nada. que depois eu fui cobrado, porque eu tentei até passar essa gente para o
pastor ___ na ___. O Espírito Santo me cobrou e eu fui obrigado a continuar
trabalhando com esse povo.
De que igreja você saiu, para fazer parte desta? O que levou você a sair?
Algumas coisas que eu não concordava mais, enfim, questionamentos. Eu escrevi para
o bispo em Belo Horizonte pedindo a minha saída e acima disso eu tive uma palavra de
Deus. Uma pessoa que eu nunca vi falou comigo que o meu tempo na Igreja Metodista
Wesleyana tinha terminado.
Quando saiu de sua igreja, porque você não procurou uma igreja mais antiga pra
se unir?
Eu até teria procurado. Eu recebi 2 convites do pastor ___ e nessa época eu estava
como itinerante. Recebi alguns convites e não via nenhum motivo para me escusar
deles. E como eu falei com o senhor, nesses tira dúvidas o número cresceu, tentei
passar esse povo para a ___ da ___ e ficamos debaixo da cobertura do pastor ___ por
6 meses, mas devido aos seus muito compromissos ele não pode nos assumir
verdadeiramente. A gente precisava dele e não podia contar com ele, então nos
reunimos e o pessoal achou por bem a gente continuar e ficamos. Quando eu saí da
Igreja Metodista Wesleyana sai sozinho, eu e minha esposa. Ajudei o pastor ___ na ___
por 1 ano, depois disso gravei um cd, gravei 7 discos, e não trouxe ninguém, nem da
Wesleyana nem das Assembléias de Deus. Tudo começou na verdade nessa reunião
de tira dúvidas com o grupo que foi aderindo. Compareciam a essas reuniões pessoas
das Assembléias de Deus, pessoas da Igreja Dom de Deus (uma Igreja que está em
207
Vista da Serra), Cristo a Verdade que Liberta, e pessoas não evangélicas. Quando esse
pessoal me procurou, como eu te falei, eu queria passá-lo para uma Igreja
estabelecida, madura, enfim, e ficamos assim por 6 meses mas a gente o teve
assistência. Daí o senhor sabe que para fazer a cabeça do povo para ir para uma
determinada denominação é mais difícil. Daí eu fui obrigado a assumir essa gente,
fomos ao cartório, registramos, enfim, para poder trabalhar legalmente.
O que levou você a fazer parte desta igreja?
Respondido na anterior.
Quem é Deus pra vocês?
Deus é o princípio de todas as coisas, criador de todas as coisas e sustentador.
Qual o seu conceito de Igreja?
Igreja é o que está na bíblia. Mateus 16, por exemplo, Jesus em 1º lugar diz que Ele é o
edificador da sua própria Igreja. Em lugar, Jesus diz que a Igreja aqui na terra foi, é,
e será sempre vencedora. Ela tem Ele como o cabeça. É Ele quem dirige a Igreja. Na
verdade Ele resgatou, Jesus comprou a Igreja para nos servir.
Quais são os elementos essenciais de uma Igreja?
Veja bem, um pastor amigo nosso veio de ___ recentemente, e em ___ o pessoal
tem a idéia de que Igreja só é caracterizada a partir de 3 mil membros. Mas Jesus falou
que onde estivessem 2 ou 3 pessoas reunidas em seu nome então Ele estaria li. Então
eu vejo que a partir do momento em que tem um grupo, por menor que ele seja, reunido
no nome de Jesus com o propósito de louvá-lo, adorá-lo e pregar a sua Palavra, ali está
a Igreja de Jesus.
Qual é a missão da Igreja?
A missão da Igreja é evangelizadora. Ela tem uma tarefa muito importante na terra. A
Igreja para mim tem que ser serva. A Igreja foi instituída por Jesus, surgiu no dia de
Pentecostes, uma característica bastante singular, pregar o Evangelho a toda criatura e
assim abreviar o retorno de Jesus Cristo na terra.
Qual o ensino da Igreja sobre a salvação?
Só Jesus salva, mais ninguém. Segundo o apóstolo Paulo nós somos salvos pela graça
por meio da e isso não vem de nós é dom de Deus, nem pelas obras para que
ninguém se glorie. Jesus é o único mediador, o único caminho e ninguém vai chegar ao
céu sem passar por Ele.
Em sua opinião, que fatores tem desencadeado o surgimento das comunidades
cristãs independentes no município da Serra?
Eu acho o seguinte, eu vejo que a Igreja de Jesus com o passar dos anos ela vem
perdendo a sua identidade. Eu poderia até usar aqui uma palavra, degeneração, ela
vem se degenerando. A partir daí então, o senhor sabe que existem muitas carências
no meio do povo de Deus e as pessoas estão correndo de um lado para o outro se
apegando a tudo que podem. Uma coisa que eu acho impressionante, e que o senhor
sabe muito bem, é que o povo não é muito apegado à Palavra de Deus. É a Palavra de
208
Deus que me equilíbrio, é a Palavra de Deus que me estabilidade. Então como
nós temos um grande número de pessoas que vivem, infelizmente, de movimentos.
O senhor sabe que em todas as Igrejas é assim, em reunião de estudo bíblico o número
é menor, em reunião de oração o número é menor, e, não estudando a Palavra e não
orando nós ficamos bastante vulneráveis a essas comunidades que estão surgindo, e
acontece exatamente esse êxodo, as pessoas deixam suas Igrejas, muitas vezes
Igrejas estabelecidas, bem solidificadas e correm atrás dessa Igrejas que vão surgindo.
Eu vejo assim.
Peregrino V
Sexo? Idade? Profissão?
Masculino, 36 anos. Bispo.
Nome da igreja?
Igreja Evangélica ___
Quando e como surgiu esta igreja?
Essa Igreja, ___, surgiu a aproximadamente 10 anos no Município da Serra. Ela surgiu
assim. 1º foi uma revelação da parte de Deus por intermédio de um círculo de oração e
uma necessidade espiritual de um grupo de 14 fundadores, que entenderam que Deus
estava chamando para começar, dentre tantas Igrejas, tantas denominações, começar
um trabalho que traria mais benefício, como a bíblia diz que variedade de
ministérios. E nesse período foi que nós fomos convocados por Deus para começar
este trabalho, que hoje acredito, tenha aproximadamente um pouco mais de 10 anos. É
o 11º aniversário que vamos fazer, ___
De que igreja você saiu, para fazer parte desta? O que levou você a sair?
Na verdade foi o seguinte, nós não saímos, a palavra é até diferenciada. Nós fazíamos
parte da Igreja Cristo Verdade que Liberta, , a quem nós temos o___ maior carinho,
amor, maior respeito, é um eterno líder, líder de honra. E a gente tinha uma questão
doutrinária de ensinamento que ele, nós cedemos seguindo ao ministério em nível
nacional, porque a gente não se desligou de Brasília. Eu fui consagrado a pastor em
Brasília, pela Casa da Benção, conhecida aqui no Estado como Cristo Verdade que
Liberta. E na ocasião, no Estado do Espírito Santo houve uma mudança, a Casa da
Benção no Estado do Espírito Santo não era mais aquela Casa da Benção como nós
aprendemos no início, ela mudou para uma outra filosofia, uma outra maneira de
pensar completamente no sentido doutrinário de ensinamento bíblico que a gente
começou, mudou radicalmente. Então nós entendemos que s não saímos, nós
continuamos, porém, registrados com outro nome por uma questão humana. Nós
entendemos que a Igreja quem saiu de nós, porque nós continuamos, nós nunca
saímos.
Quando saiu de sua igreja, porque você não procurou uma igreja mais antiga pra
se unir?
209
Na verdade, porque quando nós fomos chamados dentro da Casa da Benção Cristo
Verdade que Liberta a quem a gente tem o maior respeito, o maior carinho, maior amor,
quer dizer que nós saímos porque somos melhores, não. Porque ninguém pode mudar
o modo de organização. A organização muda uma pessoa, mas uma pessoa não muda
a organização. Então nós somos o caso de um grupo de pessoas, não tem uma
pessoa. Então quando a Casa da Benção entendeu que ela tinha que mudar com o
estado, suas liturgias, sua maneira de pensar, de ver, nós entendemos também que
elem não tinham que mudar o que eles queriam mudar só por nossa causa. Nós
tínhamos que continuar o que nós aprendemos. E quando nós não procuramos uma
Igreja mais sólida porque, na verdade, nós tínhamos tido um encontro de
conhecimento, um encontro com o Senhor Jesus na ocasião dentro daquela doutrina,
daquela forma de pensar, daquela forma de entender a palavra, que seria difícil no meio
da trajetória você voltar trás e começar tudo de novo de uma outra maneira. Então,
como houve essa mudança, como se fosse da água para o vinho, a gente entendeu
que uma organização nacional não poderia mudar por causa de “x” pessoas, daí nós
não procuramos uma Igreja histórica porque talvez nós não encaixaríamos nosso perfil
pelo que nós aprendemos naqueles dias na Casa da Benção na Igreja Cristo Verdade
que Liberta. O que nós fazíamos, nós nos colocaríamos à mudança, à renovação, ou
inovação vamos dizer do novo ministério que se tornou a Casa da Benção na época. E
a gente entendeu que a gente tinha que continuar, porque não poderia ter uma
mudança do Evangelho. E daí a gente ficou assim um pouco como um peixe fora da
água naqueles dias. E se a gente fosse para um Igreja histórica a gente também estaria
novamente tendo que nos submeter, porque aonde você está você ter que se submeter
à doutrina, o credo, a maneira de pensar.
O que levou você a fazer parte desta igreja?
Respondida na anterior.
Quem é Deus pra vocês?
Deus é a cabeça de tudo, Deus é Supremo, Deus dirige tudo, Deus é o maior. Na
verdade, Ele é a direção de tudo. Ele começou tudo. Sem Ele nós não somos nada. É o
nosso Pai, governa tudo. Nós somos seus eternos servos e seremos servos na
eternidade. Ele é autoridade, é o Príncipe da paz, é o autor da vida, Senhor da Igreja.
Não tem palavra para explicar Deus para nós, Ele está acima de todas as coisas. Se eu
pegasse o meu vocabulário para fazer um livro de pensamentos Deus eu morreria e
não conseguiria fazer. Então na verdade, nós temos Deus como pessoa da
santíssima trindade, Ele coordenou o plano da redenção. Deus está acima de todas as
coisas.
Qual o seu conceito de Igreja?
A Igreja, na minha maneira de ver, é a coisa mais importante. É a menina dos olhos de
Deus, o Senhor Jesus morreu pela Igreja. Na verdade, Igreja não é o ministério, como a
gente começou aqui a entrevista dizendo que na época, 10 anos, Deus permitiu a
gente estar levantando a Catedral dos Milagres. Na verdade, Igreja o é isso. Igreja
somos nós, é o povo de Cristo, é quando a gente está em comunhão com Deus
cumprindo a Palavra, em total harmonia com a Palavra, com o pastor, em obediência. A
Igreja é uma somatória de várias fontes que a compõem. Ela é a Igreja, mas para ser,
210
ela precisa ter uma série de obediência. Então quando você cumpre a Palavra que
Deus manda é isso.
Quais são os elementos essenciais de uma Igreja?
A Igreja verdadeira, a gente até sempre fala que alguns vão reclamar: “Senhor, eu
me sacrifiquei mais e to aqui e o irmão...” Às vezes as pessoas identificam a Igreja de
modo errado, às vezes na maneira de vestir. Mas nem sempre uma maneira de vestir
identifica uma Igreja. Às vezes alguém julga pela maneira de outros se vestirem
também e querem identificar isso em uma Igreja. Na verdade, a maneira de identificar
uma Igreja hoje, da maneira mais concreta, é o nível de obediência da pessoa. Porque
às vezes, com a aparência a gente se engana. Você pode olhar para alguém que tem o
perfil tão bonito, parece cristão, mas não é um cristão. E às vezes, você admire alguém
que não é cristão, julgue aquela pessoa ele tem um nível tão grande de obediência a
Deus que você fica surpreso da vida dele. Então é no nível de obediência à Palavra.
Qual é a missão da Igreja?
A missão da Igreja é ganhar almas, é a formação de pastores, de novos obreiros com
oração para ajudar, como o próprio Senhor Jesus disse que a ceara é grande, que nós
deveríamos rogar, pedir mais, com insistência para que Ele mandasse pessoas para
estar ajudando. Porque cada dia é um dia, cada amanhã é um amanhã. Então o papel
da Igreja, a missão, é muito grande e a gente não conseguiu atingir nada ainda, quando
você olha as multidões sendo arrastadas pelos movimentos profanos. Então a missão
da Igreja aqui na terra é de ganhar almas, é de propagar o Evangelho, de mostrar. Até
porque Paulo dizia: “eu não me envergonho do Evangelho porque ele é o poder de
Deus”. Hoje o mundo hoje está envergonhado, ninguém tem mais moral, poucas
pessoas de moral, a não ser a Igreja. Então a Igreja hoje está mais privilegiada do que
qualquer cargo constituído em nível nacional e mundial. Porque a Igreja é o único
órgão que ainda tem moral para falar. Então a missão da Igreja é muito importante para
libertar as famílias, resgatar os valores e nortear as pessoas.
Qual o ensino da Igreja sobre a salvação?
Na verdade, a salvação a bíblia fala sobre salvação e a gente, por amor que a gente
tem às almas, é até um termo pesado. Se a gente olhar direitinho, quando você começa
a estudar a bíblia e entender algumas coisas que a gente tem que fazer para ser salvo
e a gente que muita gente não está fazendo, daí você acaba condenando um
monte de gente. Mas a salvação é muito importante, porque se s estivermos na
Igreja, participando de uma organização e não se cuidar do que os princípios bíblicos
falam para você ter o direito à salvação, é capaz de estarmos dentro de uma
organização e estarmos fora da salvação. Então eu tenho muito cuidado com o termo
salvação. Tem muita gente pregando, muita gente curando os outros por aí. E quando a
gente lê na bíblia que Jesus disse naquele dia muitos dirão: “Senhor eu fiz, Senhor eu
curei, libertei” o Senhor dirá: “não te conheço” E uma pessoa para não ser nem
conhecida, é porque ela já deixou de cumprir muita coisa. Então eu acho que a gente
tem que cumprir muito a Palavra, obedecer, observar para que a gente não seja
surpreendido com essas falas que a bíblia diz, que ficarão naquele dia muitos pelo lado
de fora por causa de não ter cumprido. Então é um cuidado que a gente tem com a
salvação, porque se a gente estiver dentro de uma Igreja cumprindo tudo que a Igreja
211
exige, o sistema exige, mas não estiver cumprido com o que a blia pede, o diz para
ser salvo, a gente corre o grande risco de não ser salvo.
E se alguém lhe perguntasse o que eu preciso fazer para ser salvo?
Você precisa aceitar o Senhor Jesus como seu único e suficiente Salvador, cumprir a
ordem, se batizar. Porque Jesus disse ide por todo o mundo, aquele que crer e for
batizado será salvo. Aquele que não crer automaticamente está riscado, e seguir ao
Senhor Jesus, obedecer.
Em sua opinião, que fatores tem desencadeado o surgimento das comunidades
cristãs independentes no município da Serra?
Tem vários fatores, mas tem dois (ele mencionou 4) fatores que a gente poderia
abordar:
- A maioria das vezes é a inconveniência, às vezes falta de obediência, líderes, que
se dizem líderes, porque acham que tiveram uma oportunidade, e essas pessoas por
ter tido uma oportunidade de alguém, amanhã já está liderando um grupo e acha que já
pode ser líder. E tem porque quer ser líder e não quer mais ouvir o líder, e toma uma
atitude e todo o grupo com ele. Então isso é uma das razões porque surgem muitas
novas denominações completamente desorientadas, movidas pela emoção e não pela
razão.
- E existem casos, talvez não chegue ao ouvido dos grandes presidentes e fiquem
sabendo, de uma mudança radical dentro do sistema onde a maioria acostumou a
viver anos e anos dentro de um nível e a pessoa de um dia para o outro quer mudar.
Então ele pode causar um transtorno e surgir desse transtorno um outro grupo, onde
vai formar uma nova comunidade.
- Como também existem pessoas que são ordenadas por Deus para estar
levantando um trabalho, pode isso acontecer, direcionadas por Deus, como a gente
sabe, a chegada da Igreja no Brasil e de outros ministérios que hoje estão
expandindo.
4º - E até outros também, por não ter o que fazer, por interesse financeiro.
212
ANEXO C :
CRISTÃOS CONVERTIDOS
Convertido I
Sexo? Idade? Profissão?
Masculino. 42 anos. Funcionário Público.
Nome da igreja?
Ministério ___
Quando e como surgiu esta igreja?
Essa Igreja, a data que nós consideramos como oficial, quando do surgimento foi ___
2008. Acho que para falar como ela surgiu, tenho que falar sobre a experiência pessoal
minha e das pessoas que a começaram. Eu já há algum tempo na minha Igreja anterior,
eu vivia, eu acredito, uma insatisfação pessoal, não uma insatisfação com a estrutura
de Igreja Batista, mas com uma insatisfação pessoal em relação a forma como eu
estava desenvolvendo minha vida cristã. E algum tempo eu me questionava muito
sobre isso. Sobre como que eu estava desenvolvendo minha vida cristã na questão de
me sentir pouco efetivo para a obra, para o serviço de Deus. Eu me lembro que
especificamente no início do ano passado, de 2008, eu cheguei para o meu pastor
auxiliar na época, que era o responsável pela área de evangelismo, eu perguntei para
ele: “pastor, no planejamento da Igreja não tem uma Congregação que a Igreja
pretende abrir, um ponto de pregação?” Porque eu estava sentindo um desejo muito
grande de fazer algo em relação a conquistar pessoas, a ser mais efetivo na pregação,
no testemunho. E dentro de onde eu estava eu não conseguia expandir nessa
característica. Acredito que pelas questões da organização, às vezes quando você
começa a se destacar, você buscar uma vida mais íntima com Deus, essas pessoas
dentro daquele meio ali costuma te olhar de uma forma diferente, mas não como uma
forma positiva e sim de crítica. Então eu não conseguia, dentro de onde eu estava,
obter esse crescimento, estava difícil para mim, e estava me trazendo uma insatisfação
muito grande. Então, eu particularmente cheguei a um momento em que comecei a
entender outras Igrejas, a gente começa a buscar de repente uma outra opção de você
conseguir fazer uma atividade. Mas nunca senti de Deus que era isso que Ele estava
querendo, mas sentia que eu tinha uma necessidade muito grande de expandir. Eu
lembro que teve uma mensagem do nosso pastor na época, eu até falei isso com ele
depois na fase em que a gente pediu para ser desligado da Igreja, eu falei: “olha pastor,
teve uma mensagem que o senhor disse que eu até me preocupava com esta questão,
do serviço dos membros na Igreja. O senhor falou que na Igreja hoje, 5% dos membros
são os que efetivamente trabalham, estão se dedicando. 15% são aqueles que dão
alguma ajuda, mas sem um envolvimento muito grande, e o resto só freqüenta mesmo.”
Daí eu falei que me encaixava nesses 15%. Então a preocupação que eu tinha
aumentou. E por causa disso, por sentir que Deus me chamou para um trabalho mais
efetivo, mas que não é aqui, que eu resolvi seguir este caminho. Tem a história do Pr.
Novaes também que teve um chamado de Deus para dar continuidade na obra, que ele
entende que ele parou por negligência, por desobediência pessoal. E ele compartilhou
essas coisas com a gente na época, e a gente vivia também essa insatisfação, essa
213
necessidade e começamos a orar em relação a isso. Então a partir daí é que surgiu
esta Igreja, dessas questões. Na verdade, na época as necessidades eram mais na
minha família mesmo. E na época, o pastor atual compartilhou o chamado dele, que
sentiu de Deus de fazer uma obra dentro daquilo que ele estava vivendo onde ele
estava, naquele modelo de Igreja. Ele compartilhou com a gente, nós fomos orar em
relação a isso e até o que ele comentou aqui foi mais rápido do que a gente imaginava.
A gente entende que foi até como resposta de oração mesmo, que o momento de Deus
era aquele.
De que igreja você saiu, para fazer parte desta? O que levou você a sair?
De uma Igreja Batista.
Quando saiu de sua igreja, porque você não procurou uma igreja mais antiga pra
se unir?
Acho que a princípio a gente chegava até a procurar. Eu nasci e fui criado em uma
Igreja Batista e minha família tinha esse perfil, sempre que a gente mudava, a gente
procurava congregar em uma Igreja da região, até pela facilidade, pela questão de você
conseguir ser mais efetivo na ajuda da Igreja, porque quanto mais longe mais
complicado. Mas eu cheguei a, eu lembro que esta questão de falar com meu pastor
auxiliar de ter uma outra identificação. Então deixou de ser uma tentativa de continuar
na linha da Igreja Batista, e em outras Igrejas da redondeza aqui eu não tinha uma
identidade assim que me sentisse estimulado a estar. E teve algumas questões na
Igreja Batista que eu também não, ao decorrer do tempo que a gente vê, eu não vejo
como principais desse processo, a gente sempre aprendeu a obediência, a respeitar a
liderança, mas algumas coisas na Igreja Batista que eu particularmente ao conhecer
outras denominações, outras linhas, eu acreditava que a Igreja Batista poderia ser
menos rígida em algumas coisas. Oferecer flexibilidade, não flexibilidade em ser
permissivas, mas em modernizar.
O que levou você a fazer parte desta igreja?
Acredito que vontade imensa de servir a obra de Deus. Graças a Deus eu tenho visto
ótimos resultados. Quando eu compartilho um momento novo, eu falo até com emoção
porque eu nunca imaginei não por mim, mas através de mim, esse desprendimento.
porque aquela insatisfação pessoal esse revertendo em uma gratificação, pelo que
eu vejo Deus fazendo. Principalmente nessa questão de conquistar vidas, eu tenho tido
experiências muito boas nessa área. Antigamente eu não vivi com tanta intensidade em
relação a efetivamente se preocupar, amar o necessitado. Eu tenho orado muito em
relação ao meu trabalho, porque eu estou a 15 anos nessa profissão e ao longo desses
anos eu não consegui nenhuma pessoa a se converter. E nesse ano, depois que eu
rompi ou que eu decidi aceitar esse chamado, teve um colega meu de serviço que se
converteu. A gente trabalha com Igreja em células e nós abrimos uma célula em
casa. Então tem pessoas se convertendo e você ouve o testemunho das pessoas. As
pessoas te agradecendo por você se preocupar com elas e isso é muito gratificante
mesmo, eu fico muito feliz com isso.
Quem é Deus pra vocês?
Deus é meu guia, meu orientador, todo poderoso, aquele que me sustenta.
214
Qual o seu conceito de Igreja?
Igreja como conceito bíblico como eu vislumbro, é o corpo de Cristo, é a representação
do próprio Deus aqui na terra, ou seja, é a sua vontade, que é ser propagadora do
reino.
Quais são os elementos essenciais de uma Igreja?
A unidade no Espírito Santo, a comunhão.
Qual é a missão da Igreja?
Proclamar o Evangelho, fazer Cristo conhecido.
Qual o ensino da Igreja sobre a salvação?
A salvação é pelo arrependimento, confissão dos pecados, através da cruz, o
reconhecimento de Jesus, porque Ele se doou para toda a humanidade.
Em sua opinião, que fatores tem desencadeado o surgimento das comunidades
cristãs independentes no município da Serra?
Eu lembro que quando eu fazia parte da Igreja Batista ___ eu olhava e via que cada dia
nascia uma Igreja. E eu achava que muita gente dentro da Igreja Batista por não se
submeter à autoridade, ou por rebeldia, saía e abria uma Igreja. Minha idéia a princípio
era essa, mas acabou que me vi em uma situação semelhante. E até mudei um pouco
o modo de pensar. Eu acredito que muitas Igrejas são abertas por questão de rebeldia
mesmo, cisão, desentendimentos em questões administrativas. Mas eu vejo também
muitas Igrejas sendo abertas por um direcionamento novo de Deus ou uma expansão
da pregação ou do ensino da palavra para atingir outras pessoas. Não que o formato
anterior, Igrejas mais tradicionais, mais históricas, não atinja as pessoas, mas existem
milhões de pessoas a serem atingidas. Então, existem Igrejas constituídas para atingir a
essas pessoas. A pregação da Salvação de Cristo é a mesma, a necessidade da
pessoa receber a Cristo e ser resgatada do inferno. Mas na maioria dos casos, eu vejo
como a necessidade da mudança também de linguagem para atingir outras pessoas,
para que o Evangelho seja mais propagado e expandido. E acredito que até por isso
esse fenômeno do crescimento do evangelho no Brasil, esse fator seja um dos
principais, porque se fosse mantida aquela linguagem direcionada sempre naquele
sentido, alguns tipos de pessoas não teriam acesso à pregação do evangelho. Mas eu
vejo que essa questão de várias Igrejas, vários ministérios novos surgindo como um
dos fatores, uma estratégia de Deus para alcançar mais.
Convertido II
Sexo? Idade? Profissão?
Masculino – 58 anos – Funcionário Público Municipal
Nome da igreja?
Igreja Evangélica ______
215
Quando e como surgiu esta igreja?
Tem 07 anos. Surgiu de um grupo de 13 irmãos que saíram da PIB ___
De que igreja você saiu, para fazer parte desta? O que levou você a sair?
Primeira Igreja Batista de ___. Eu era presidente do Corpo Diaconal de lá e saímos
traquilos. Algumas questões simples. Distância, filhos que crescem e aumenta a família
dificultando o deslocamento de carro.
Quando saiu de sua igreja, porque você não procurou uma igreja mais antiga pra
se unir?
Os filhos gostaram da igreja e sentiram desejo de reunir nesta igreja. A família se reuniu
e decidiu ficar numa igreja só, depois de procurar várias igrejas, visitando, os jovens se
identificaram com a igreja por ser composta cerca de 70% de jovens.
Espírito evangelístico com pessoas marginalizadas também era um anseio da família.
O compromisso com os princípios bíblicos. O filho não tinha um compromisso com a
igreja. Vindo pra cá, fez compromisso sério, cumprindo com os requisitos exigidos pela
igreja para trabalhar na igreja.
O que levou você a fazer parte desta igreja?
Respondida na anterior.
Quem é Deus pra vocês?
Deus é meu senhor, vivo pra ele, é supremo, é soberano na minha vida, da família,
Deus em lugar. É quem amamos acima de todas as c oisas. Ele é eterno, princípio e
fim de todas as coisas. Por ele e para ele nós vivemos. Ele é tudo para nós. Não temos
outro além dele.
Qual o seu conceito de Igreja?
É o corpo de Cristo, cuja cabeça é o próprio Cristo. É o rebanho de Cristo cujo pastor é
o próprio Cristo. Ele é o nosso eterno pastor.
Quais são os elementos essenciais de uma Igreja?
A fé é a base da igreja, a comunhão com os irmãos, o testemunho diante do mundo. O
mundo nos olha e nos vê como igreja de Cristo. O amor entre os irmãos.
Qual é a missão da Igreja?
Cumprir o ide de Cristo Marcos 16:15-16. Ir por todo o mundo e anunciar as boas
novas de salvação. Jesus é o único caminho (João 4:6) Não existe vida fora de Cristo.
Qual o ensino da Igreja sobre a salvação?
Salvação só em Cristo. Não há salvação em nenhum outro; Ele sdeu a sua vida na cruz
do calvário. O pecado leva a morte mas Cristo deu a sua vida em nosso resgate, pelo
seu infinito amor.
Em sua opinião, que fatores tem desencadeado o surgimento das comunidades
cristãs independentes no município da Serra?
216
É uma pergunta difícil de ser respondida pelo fato de ter saído de uma igreja tradicional
para esta igreja que é pentecostal.
1. Alguns irmãos não estão satisfeitos. As igrejas tradicionais não estão conseguindo
satisfazer completamente muitos de seus membros que acabam saindo e se reunindo
com as novas comunidades.
2. Esta não é uma igreja puramente pentecostal e também não é tradicional. Temos
buscado o equilíbrio.
3. A vaidade e o orgulho ferido de alguns líderes que almejam o ministério e não
conseguem, o descontentamento com a igreja onde fazem parte. Não vejo mal nisso.
Vejo como beneficio. Quanto mais igrejas menos lugares que seriam ocupados por
bares, clubes, prostíbulos, etc.
Convertida III
Sexo? Idade? Profissão?
Feminino. 58 anos. Secretária.
Nome da igreja?
Igreja Evangélica ____
Quando e como surgiu esta igreja?
Esta Igreja surgiu entre outubro e dezembro do ano 2000. E esta busca gerou uma
visão mais ampla de amor, de determinadas partes da bíblia, principalmente a atuação
do Espírito Santo, o mover do Espírito Santo. Toda Igreja tradicional tem uma certa
resistência a essa visão de exaltação, do Espírito Santo, porque uma liberdade
maior de expressão, você fica mais livre pela ação do Espírito Santo de Deus e isso
começou a gerar uma certa imposição por parte da liderança, por parte do conselho,
nós ficamos pressionados e tentamos relevar isso por um pouco mais de 5 anos, na
tentativa de permanecer e conviver na Igreja Presbiteriana histórica. Mas chegou a um
ponto em que não deu mais. Eles queriam que nós retrocedêssemos, que não
houvesse algumas expressões de alegria. Por exemplo, nós batíamos palmas nos
cânticos, levantávamos as mãos. Então chegou um momento em que não deu mais, e
no final do ano de 2000 nós sentimos que aquele seria realmente o período final nosso.
E em uma reunião, em que todas as Igrejas prestam contas, ficou decidido de nos
desligarmos da Igreja, da denominação. E claro houve uma tentativa de que
permanecêssemos, mas nós mantivemos a nossa decisão e resolvemos sair. Nós não
entramos batendo de frente com a denominação. E me lembro que o Pr. ___ disse
assim um dia, que o ajudou ninguém a sair, foi uma decisão do Concilio e ele disse
que “quem decidir ir conosco tem que ir bastante consciente de como nós vamos”. Hoje
nós temos esse prédio, temos um certo conforto aqui. Mas nós não sabíamos para
onde íamos, nós não tínhamos nada. Nós saímos exatamente limpos. A denominação
dividiu conosco alguns móveis. Nós saímos, Deus abriu a porta através de um membro
da Igreja, esse local era um material de construção, e no dia 24 de dezembro de 2000
nós tivemos então nosso 1º local. E assim surgiu a Igreja ___. E esse local era horrível.
217
No material de construção, eles desocuparam uma parte, uma pequena parte lá
embaixo. A outra parte estava todo o material dele de trabalho e nos cederam uma
partezinha, só que era uma parte muito feia, muito velha e muito quente, o suor escorria
pelo corpo inteiro. Era horrível. E era alugado. Mas graças a Deus superamos.
De que igreja você saiu, para fazer parte desta? O que levou você a sair?
Saímos da Igreja Presbiteriana histórica. O grupo saiu para adorar a Deus, servir a
Deus mais livremente como entendia que deveria ser. Entregaram todo o patrimônio à
Igreja histórica.
Quando saiu de sua igreja, porque você não procurou uma igreja mais antiga pra
se unir?
Eu penso que, na época nós tínhamos uma liderança formada e por isso ninguém
nunca cogitou isso. Porque nós estávamos sob a liderança justamente de um pastor,
hoje sob a liderança de 2 pastores, e de um obreiro na época, que hoje é o Pr. ___ Nós
tínhamos 2 pastore e 1 obreiro e todos eles saíram com os pastores. Então nós
tínhamos toda a parte administrativa, tanto espiritual quanto administrativa da Igreja
vieram tudo então não porque nós nos juntarmos a uma outra. Nós tínhamos a nossa
vida espiritual própria.
O que levou você a fazer parte desta igreja?
Justamente por causa da visão espiritual da Igreja. Visto que me afinava com a forma
de pensar do grupo que estava saindo.
Quem é Deus pra vocês?
Deus, eu vou dizer que, Ele é a razão do meu viver. Eu digo sempre para Ele “Senhor,
não me deixes”. A minha vida está na vida de Deus.
Qual o seu conceito de Igreja?
Igreja é a reunião do corpo para adorar a Deus.
Quais são os elementos essenciais de uma Igreja?
Eu acredito que toda Igreja Cristã ela deve estar pautada na blia. O padrão dela
precisa ser a bíblia. E se o padrão dela é a bíblia os membros dessa Comunidade, eles
tem que evidenciar na sua vida, no seu caráter, no seu procedimento, na comunidade,
porque elas têm Deus como padrão da sua vida.
Qual é a missão da Igreja?
A missão da Igreja é fazer Jesus conhecido com palavras e com seu próprio viver,
salvar vidas, anunciar, proclamar.
Qual o ensino da Igreja sobre a salvação?
Mediante a aceitação de Jesus Cristo como o Senhor da sua vida.
Em sua opinião, que fatores tem desencadeado o surgimento das comunidades
cristãs independentes no município da Serra?
218
A gente vai convivendo com pessoas a gente que cada uma tem um modo de
pensar. Vou responder com base em pessoas que passaram por aqui e não estão
mais conosco. Uns vieram de lá, sabiam como nos éramos, ficaram conosco algum
tempo e foram para outros lugares. Outros ficaram mais de 5 anos, mais de 7 e depois
algum dia resolvem sair. O que gera isso em uma pessoa é a insatisfação pessoal. Por
exemplo, eu me indisponho com o pastor e eu como pessoa não quero me submeter à
liderança dele, daí para mim é fácil sair e eu saio. E quando isso é feito por outro líder,
por alguém que tenha liderança, naturalmente ele cria uma outra comunidade. Então
hoje é muito fácil se criar essas comunidades independentes. Muitas pessoas que
passam por Igrejas, ficam e acabam saindo levando consigo algumas pessoas e criam
essas comunidades independentes. Eu anão acredito ser esse o nosso caso. Na época
nós saímos em cerca de 70 pessoas, 99% da Igreja. Então, eu não considero esse o
nosso caso. Mas também, nós temos o caso de um casal que ficou com a gente
durante anos e resolveu sair este ano. Mas não foi para forma outra comunidade, e sim
par se integrar em outra Igreja. Ainda não houve caso de alguém sair desta Igreja para
formar outra independente.
Convertido IV
Sexo? Idade? Profissão?
Masculino. 66 anos. Aposentado (Metalúrgico).
Nome da igreja?
Igreja ___
Quando e como surgiu esta igreja?
Eu tive o prazer de conhecer o pastor ___ aqui. Porque eles eram da Metodista de ___,
depois vieram para a Metodista aqui de ___, depois não sei o que aconteceu entre eles
que ele ficou sem Igreja. Foi convidado pelo pastor ___ para congregar e pastorear a
Igreja Assembléia de Deus e entregou para Jesus. Daí ele começou a se reunir com as
irmãs nas casas em suas casas. Então uma dessas irmãs doou para ele para se
congregar em cima de um terraço na ___, é a casa do ___. E começou assim. Eu
naquela época freqüentava a Assembléia de Deus do pastor ____, frequentava eu e
minha esposa a congregação que tem aqui. Eu não tinha aceitado ainda, eu era um
visitante, mas um visitante com fé. Porque em Eclesiastes fala que para cada coisa
um tempo determinado por Deus. Então não era tempo ainda para eu ter aceitado.
Daí eu comecei a ir para a sede. Quando minha cunhada, a irmã da minha esposa
começou a congregar com o pastor ___ no terraço com esse grupo. Essas irmãs
vieram de algumas Igrejas. Minha cunhada mesmo era da Assembléia, se criou na
Assembléia. E as outras irmãs eram se eu não me engano da Igreja Batista de ___.
Daí começou com aquele grupinho. Quando foi um dia eles me vieram fazer uma visita.
Pastor ___, irmão João, que está na Igreja do pastor ___, e outros irmãos. Ficaram
aqui, foi uma benção, eu gostei e falei pastor domingo vou fazer uma visita na sua
Igreja, e fui, e lá estou até hoje.
De que igreja você saiu, para fazer parte desta? O que levou você a sair?
219
Eu vim de o Paulo. Lá eu congregava a Igreja Cristã do Brasil. Fui batizado na
Católica, minha mãe é católica até hoje, casei na católica. Mas nos domingos a noite eu
sempre ia em Igreja evangélica, e a Crisdo Brasil foi minha Igreja. Depois fui para
a Assembléia de Deus. Quando eu vim de São Paulo para cá já vim com cara de
crente, porque o pessoal aonde eu trabalhava me chamavam de irmão. O que me
levou a sair de lá é porque é como Deus quer. Eu não tinha aceitado ainda na
Assembléia, daí fui fazer essa visita, gostei e com pouco tempo eu aceitei. Nossa Igreja
quase não tem apelo, é na oração e no louvor. E nessa Igreja eu fui curado. Eu tinha
uma enfermidade no nariz que às vezes quase não agüentava. E naquele dia no louvor
eu comecei a chorar, e naquele choro eu senti uma coisa diferente no nariz. Eu peguei
um lenço, limpei e encheu aquilo de sangue. Daí, ali mesmo chorando já aceitei a
Jesus, sem apelo. Hoje, já tem mais de 7 anos. Então eu fui fazer o curso para batismo.
Eu já estava com o papel para o batismo e falei pastor eu não estou me sentido
preparado para me batizar ainda, e ele falou não tem problema não. Naquele batismo
eu não me batizei mas no seguinte eu fui, me batizei e foi uma benção. Então eu aceitei
nessa Igreja e me batizei nessa Igreja.
Quando saiu de sua igreja, porque você não procurou uma igreja mais antiga pra
se unir?
Esse pastor nunca me convidou para aceitar a Jesus na Igreja dele, ele nunca fez
apelo. Ele achava que eu já era evangélico, que tinha aceitado, levantado a mão
porque eu estava todo dia ali. Daí quem me levou foi justamente o homem que a gente
tem, entende como pastor da gente. Ele além de ser um pastor é um amigo. Naquela
época eu estava sem trabalho, a esposa dele era muito amiga da minha filha. Eu fiz
uma coisa muito boa para ele, como pastor e como meu amigo. Todas as vezes que eu
converso com ele eu falo, pastor o senhor é meu pastor e é meu amigo.
Jesus que sabe. O pastor ___ era meu amigo antes dele ser pastor. Ele trabalhava
na Vale do Rio Doce, não tinha carro e como eu tinha carro todo dia dava carona para
ele. Depois ele foi pastorear. Eu estou há 31 anos na Serra. Então ele é meu amigo. Eu
deveria estar na Igreja dele. Eu não aceitei não sei porquê. É o sistema da pessoa te
tratar. Eu estava como visitante junto da minha esposa aqui. Mas teve um dos obreiros
que ele não soube segurar a ovelha. Ele me envergonhou no meio de todos os irmãos,
que inclusive achavam que eu também já era um, porque eu sempre andei bem vestido.
E me envergonhou ali no sistema de “chega de ser ouvinte, aceita a Jesus está no
tempo seu Gregório”, que me fez talvez não estar na Assembléia de Deus. O pastor ___
não sabe o. Eu me senti constrangido, daí falei para minha sobrinha “eu não vou
mais congregar nessa Igreja não, eu vou para a sede”. Foi o que me levou a ir para a
sede, sendo que logo em seguida daqueles tempos eu vim visitar a Batista e até hoje
estou. Se talvez tivesse tido um outro tratamento, um cara bem mais preparado para
chamar uma pessoa Jesus. Porque é um sistema, coisa de Deus tem que falar bem
calmo, “irmão ___”, porque nós já somos irmãos, somos filhos de Deus. Então ele veio
com um pouco de grosseria.
O que levou você a fazer parte desta igreja?
Respondida na anterior.
220
Quem é Deus pra vocês?
Deus para mim é tudo. Deus é meu Pai. Tudo o que eu tenho na minha vida eu
agradeço a Deus, agradeço a minha família, a minha mãe de 86 anos. Todo dia eu me
ajoelho e oro “Jesus visita minha mãe”. Porque Deus é tudo, não tem mais palavras.
Qual o seu conceito de Igreja?
A Igreja é aquilo que quando o senhor chegou encontrou (quando cheguei para a
entrevista, o entrevistado estava conversando com dois senhores que o desacatavam
com palavrões enquanto se afastavam). Se eu não estivesse aqui, se hoje eu não fosse
evangélico o senhor talvez tava encontrando eu e aquele cidadão enrolado no tapa na
rua. Para mim a Igreja nos protege. O inimigo faz de tudo para arrumar esse tipo de
coisa, mas a gente tem que agradecer a Deus por não ter acontecido. Pastor eu nunca
fui uma pessoa do mundo. Eu nasci de família pobre, trabalhadora, e me criei numa
cidade muito perigosa, grande, mas eu nunca fui preso, nunca fui em uma delegacia ser
chamado nem para ser testemunha. Se eu fosse do mundo estava em um caixão ou
preso. Por isso que eu falo, a Igreja é tudo para a gente. Nós que temos filhos vamos
agradecer a Deus por eles estarem na Igreja com a gente.
Quais são os elementos essenciais de uma Igreja?
O essencial de uma Igreja é um bom pastor. É uma boa administração na Igreja, desde
pastor a obreiros, a tesoureiros, a vice-presidente. O essencial da Igreja é isso porque
sendo bem administrada nada de ruim acontece.
Qual é a missão da Igreja?
A missão da Igreja tem várias. Mas a principal missão da Igreja é pregar a palavra de
Jesus, é ganhar almas para Jesus, é ajudar a quem precisa. E é o suficiente.
Qual o ensino da Igreja sobre a salvação?
O ensino da Igreja sobre a salvação na Igreja é uma boa escola dominical, é o senhor
acompanhar bem a bíblia, o que está escrito. Minha resposta seria, se ele lê a bíblia ele
sabe o que fazer, e se não é a gente procurar orientar aquilo que sabe um pouco
para quem não sabe. Para ser salvo, é aceitar a Jesus e fazer o que a bíblia manda.
O dízimo é muito importante para a salvação da gente porque dízimo é blico.
Respeitar a palavra de Deus também.
Em sua opinião, que fatores tem desencadeado o surgimento das comunidades
cristãs independentes no município da Serra?
Será que eu vou pecar se eu falar Jesus? Pastor, tem muitas Igrejas por que são
muito boas para a comunidade. Tem muitas comunidades que tinham mais bares do
que Igreja. Existia muito bandidismo, muita cachaçada. Eu tenho uma Igreja para tirar o
chapéu para ela ali no bairro São Domingos que é a ___. Porque o bairro São
Domingos era um bairro poluído, cachaças, drogas e hoje a ___ salvou muitas pessoas
desse meio aí, que hoje alguns deles são a presbíteros na Igreja, pastores na
Igreja. E muitas pessoas que pularam no congo hoje está pulando na Igreja ___,
muitos da nossa Igreja também já foram, talvez já foi na sua casa. Porque eles sentiram
que o mundo não vale nada e creio eu que eles estão ganhando gente do mundo
através da ida dele para a Igreja evangélica. Agora, tem muitas que me desculpa,
221
tem muitas que estão olhando o dinheiro que o pastor vai ganhar. O pastor começa
hoje, amanhã está com seus carrões. Mas acho que tem algumas Igrejas que não
ajudam quase nada, creio eu que seja assim. Não posso criticar muito também não,
porque criticar também é pecado.
Convertido V
Sexo? Idade? Profissão?
Masculino. 39 anos. Obreiro
Nome da igreja?
Igreja___.
Quando e como surgiu esta igreja?
Surgiu no ano de 2000, e surgiu a partir de uma visão através de uma oração que a
missionária da Igreja estava orando sobre o local aonde iria se iniciar este trabalho,
fundar a ___.
De que igreja você saiu, para fazer parte desta? O que levou você a sair?
O grupo saiu da Igreja Catedral da Benção (Cristo Verdade que Liberta). O que levou a
sair foi a visão da missionária em sua oração.
Quando saiu de sua igreja, porque você não procurou uma igreja mais antiga pra
se unir?
Meu 1º contato com a Igreja foi a partir de um amigo, uma pessoa me convidou para vir
aos cultos, e a partir de então eu dei sequência entrando na Igreja.
O que levou você a fazer parte desta igreja?
O ensinamento da palavra, a forma como eles nos trataram.
Quem é Deus pra vocês?
Deus é aquele que está acima de tudo o que possuo, que realizo.
Qual o seu conceito de Igreja?
Igreja é uma sociedade familiar.
Quais são os elementos essenciais de uma Igreja?
O ensinamento da Palavra, seriedade dos seus líderes perante a sociedade,
honestidade, cumprir as leis e seus estatutos, as leis civis.
Qual é a missão da Igreja?
Propagar o Evangelho, apresentar o plano de Salvação e mostrar o verdadeiro sentido
da família como núcleo social.
Qual o ensino da Igreja sobre a salvação?
222
O ensino da Igreja sobre Salvação é para o ensinamento da Palavra. Eu diria que a
partir do Evangelho e estar falando de qual é a missão, qual o objetivo da Igreja sobre a
missão. Estar focalizando que além dessa vida nós temos uma vida eterna. Mostrando
através da Palavra, do que é a base, do que é a Salvação.
Qual seria esse caminho?
Aceitando ao Senhor Jesus como Salvador de nossas vidas, cumprindo os
mandamentos e ensinamentos de sua Palavra.
Em sua opinião, que fatores tem desencadeado o surgimento das comunidades
cristãs independentes no município da Serra?
1. Em algumas vemos o interesse próprio, financeiro.
2. Em outras, a falta de visão de alguns que se colocam na liderança e com o tempo
perdem a visão da Palavra.
3. Os líderes das Igrejas históricas mudam o foco, que é a Palavra.
4. Visão para iniciar um novo ministério.
É uma comunidade que está trabalhando de maneira juridicamente correta, com
prestação de contas à membresia da Igreja, e não fugindo de seu Estatuto.