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PONTÍFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
JACILÉIA CADETE ABREU
RELAÇÕES SOCIAIS DE GENÊRO E POLÍTICA
PARTIDÁRIA: INSERÇÃO PARTIDÁRIA DAS MULHERES
NA POLÍTICA MARANHENSE
MESTRADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS
SÃO PAULO
2010
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PONTÍFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
JACILÉIA CADETE ABREU
RELAÇÕES SOCIAIS DE GENÊRO E POLÍTICA
PARTIDÁRIA: INSERÇÃO PARTIDÁRIA DAS MULHERES
NA POLÍTICA MARANHENSE
MESTRADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS
Dissertação apresentada à Banca Examinadora da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
como exigência parcial para a obtenção do título de
MESTRE em CIÊNCIAS SOCIAIS (área de
concentração: Ciências Políticas) sob a orientação
da profª. Doutora Vera Lúcia Michalany Chaia.
SÃO PAULO
2010
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Errata.
1) Faltaram considerações finais que devem ser lida ao final do terceiro capítulo.
Considerações finais
O conceito de gênero foi muito proveitoso, para que eu pudesse compreender que
existe todo um processo sociocultural que determina e define as identidades dos
sujeitos, transformando-os em homens ou mulheres, destinando-lhes saberes,
comportamentos, práticas de relacionamento, aos quais são agregados conotões de
valores que distinguem esses sujeitos em graus de superioridade e de inferioridade. O
ponto maior deste meu trabalho foi a conversação com as mulheres narradoras. De seus
relatos, apreendi algumas reflexões que me tocaram no sentido do confronto de pontos
de vista diferentes. As referências ao prazer, ao amor, à generosidade e à dedicação,
destacaram-se no conjunto das falas das mulheres como um “bem” que foi agregado na
sua formação e que elas têm possibilidades de disponibilizar nos relacionamentos com
sua família. Seu papel de gerente e de executora das atividades, no âmbito da casa e da
família foi destacado, tal como nos apontaram os autores como papéis poticos. Se
pensarmos a potica, pelo viés que Foucault nos mostra, as mulheres a exercem no
cotidiano, dedicando e influenciando estrategicamente no dia-a-dia de suas vidas.
Algumas, como a Narradora II, pareceram mais entusiasmadas com a sua
profissão, com os projetos que realiza, colocando-os em plano relevante e articulando-
os com as suas funções na família. Certamente, uma boa estrutura financeira lhe
possibilita isto, mesmo tendo duas filhas pequenas. Observa-se, porém, que as demais
narradoras referiram ter dado prioridade a um afastamento maior do trabalho para cuidar
dos filhos pequenos, tendo dado impulso à sua atuação na potica, somente quando
estes estavam mais crescidos. Tendo estas narradoras a média de idade entre 29 e
aproximadamente 70 anos, pode-se pensar, pelo viés da “geração”, que sua socialização
foi marcada pela condição feminina”, na qual o casamento e a maternidade eram as
responsabilidades primeiras e o lugar de prazer das mulheres. É nesse sentido que
constatamos nas narrativas o lugar de destaque que é dado à família. Na fala de uma das
narradoras, principalmente, se destacaram as dificuldades que têm as mulheres para
responderem a todas as demandas que lhes são colocadas, por terem que atuar dentro e
fora de casa com todas as responsabilidades que lhes são atribuídas. Tendo dito das
dificuldades, as mulheres, entretanto, não deixam de valorizar, em suas narrativas, a sua
própria competência, referindo sempre que, as mulheres, quando assumem uma ou
rias responsabilidades, elas dão conta. E, a mulher é capaz de transformar as dadas
dificuldades em desafios, sendo esse é o grande diferencial da mulher. Outra
constatação significativa na fala das narradoras vem reafirmar a concepção de que o
poder deve estar referido somente à ação dos homens ou do Estado, como se entendia
nas explicações mais clássicas sobre a potica. Em alguns momentos, foi possível fazer
através destas mulheres a ligação entre responsabilidade, poder e satisfação pessoal,
sendo que o poder aparece circulando em todas as instâncias de atuação destas
mulheres.
A Igreja apareceu em suas narrativas como uma forte influência para a
formação da vida na família e, até mesmo, na ão política. Na fala das Narradoras II,
IV e VI que são evangélicas, somente Deus tem lhes dado o suporte para enfrentar as
lutas do cotidiano, da família e do trabalho. O cotidiano das narradoras emerge nas suas
falas como uma colagem de várias tarefas e funções que se sobrepõem em jornadas
intermiveis, frutos da divisão de trabalho nas relações de nero. Considerando as
observações de Michelle Perrot, de que o acesso das mulheres ao poder político sempre,
e em toda parte, foi difícil, entendemos que isso se aplica quando pensamos no conjunto
das mulheres, em geral. No caso em que focalizamos as mulheres neste trabalho,
percebe-se que aquelas que têm marido, pai e outros parentes em posições relevantes
na potica, têm também maiores condições de mobilidade e acesso à ocupação desse
espaço. Para a maioria dessas mulheres, fora a figura masculina quem as iniciou na
política, através de seus trabalhos de secretária, de assessora e de organizadora de
campanhas eleitorais, ou de cargos nas prefeituras. Essas mulheres disseram que têm um
gosto que vai crescendo à medida que elas atuam na potica, o que as levou até os
partidos políticos. O marido, o pai lhes representa o incentivo a ter esse gosto. De certa
forma, não é considerado papel ou função dos homens iniciarem as mulheres na vida?
Um outro ponto que foi percebido é que duas dessas mulheres entraram na potica sem
ser através dos maridos. Eles sempre estiveram presentes nas campanhas eleitorais
delas, estão acompanhando de perto os seus mandatos, dando apoios de que elas
precisam para desenvolverem um bom trabalho. À vista disso, leva-nos a aventar que,
possivelmente, elas estão preparando os seus maridos para que possam desenvolver um
gosto pela política partidária e, futuramente, virem a ser candidatos. Assim sendo,
configurar-seuma outra história da força da mulher. Uma outra questão destacada nas
narrativas é o que nos permite confirmar que as mulheres sempre estiveram participando
das mais importantes lutas sociais. Como mostraram estas mulheres, desde a sua
formação escolar, já se inserem nas questões e enfrentamentos do meio onde vivem.
O que também foi constatado é que, mesmo sendo mulheres, não quer dizer
que entraram na potica para representarem essa categoria ou defenderem projetos
específicos para o público feminino, pois elas têm que cumprir os programas dos
próprios partidos e, a maioria desses partidos, no seu interior, não prioriza as questões
de nero. Foi também possível constatar que, no campo da potica, é bastante
complicado se obter sanções de certos projetos, já que as picuinhas politiqueiras,
traições, contradições, mentiras impedem a boa prática da potica, o que causa na
maioria delas insatisfações, descontentamentos com determinadas ações políticas.
Assim, para que se tenha projetos outorgados, é preciso, como foi demarcado na fala de
algumas das pesquisadas, muitas das vezes, saber fazer o jogo político, os conchavos,
conhecer as regras desse jogo. Aqui, não se trata de atribuir o bem ou o mal a esses
modos de viver, ou de fazermos relações de causas e efeitos; mas, sim, de expormos os
movimentos e as formas de articulação das mulheres no âmbito das relações de nero,
destacando sua atuação na potica e constatando que os espaços, considerados distintos,
o público e o privado, interpenetram-se, através destes seus movimentos. Apesar dos
avanços significativos na participação potica das mulheres já registrados, estamos
conscientes de que muito ainda há para se apontar e transformar para que essas relações
possam não apenas ser de maior igualdade, mas também que venham a ser promotoras
da felicidade pessoal e coletiva dos homens e das mulheres. Esta pesquisa contribui no
preenchimento das lacunas de estudos sobre a história da inserção das mulheres
maranhenses na potica partidária e a atuação das mesmas nas instâncias de poder e
decisão, que ainda é pouco estudado no Maranhão, já que quase não se tem registros
dessa história construída pelas mulheres. Dado esse fato, é que se faz necessária a
continuidade dessa pesquisa.
2) Faltou agradecimento ao Programa Internacional de Bolsas da Fundação Ford e à equipe
da Fundação Carlos Chagas, que coordena esse programa no Brasil, pelo financiamento
desta pesquisa sem o qual seria impossível a realização da mesma.
Folha de aprovação
São Paulo, _____/_____/______
BANCA EXAMINADORA
....................................................................................
Professora Drª. Vera Lúcia Michalany Chaia
(Orientadora)
......................................................................................
Professora Drª Rachel Meneguello
........................................................................................
Professora Drª Carla Cristina Garcia
........................................................................................
Professor Drº Paulo Edgar de Almeida Resende
........................................................................................
Professora Drª Andrea Reis
Ao meu amor Ricardo, pelo grande apoio e a nossa
amada filha Inaê, que é a razão do meu viver.
À minha mãe e ao meu pai, pelo amor e dedicação.
Á minha tia Aglaia (Gaitex), pelos incentivos e
companheirismo durante vários da minha vida.
Ás minhas irmãs Jacimar, Irauline, Forenita e Adelice,
pela força e carinho que sempre me deram.
Aos meus irmãos Carlos César e Iraulino, pelo amor e
respeito.
Ao meu primo Jo Ribamar (Seu-r) e a sua esposa
Olga Cristina, pela confiança.
AGRADECIMENTOS:
A Deus pela existência.
Á minha orientadora professora Vera Lúcia M. Chaia pela dedicação, paciência,
compreensão e pela cumplicidade nos vários percalços enfrentados
Ás professoras da Banca de qualificação Carla Cristina Garcia e Raquel Meneguello pelas
preciosas dicas feitas na qualificação.
Aos meus pais, Iaraulino e Maria Joana, pela credibilidade, compreensão e carinho ao longo
dessa jornada.
Às minhas tias, especialmente Aglaia (minha gaitex) e Naina.
Ás minhas grandes amigas Nadja Coelho, Regimeire Maciel, Cida Duarte, Flavinha,
Jeferson (pela transcrição das entrevistas) Carlinha Messias, pelos apoios.
Ás professora Sandra Souza e Diomar Motta, pelo material de pesquisa disponibilizado.
Ás Deputadas Estaduais, a vereadora e a ex-chefe de Estado pelas entrevistas a mim
concedidas.
RESUMO
Este trabalho focaliza as vivências de mulheres que atuam na política partidária em São Luís
do Maranhão. Por meio das narrativas dessas mulheres, buscou-se perceber e apontar as
estratégias e os capitais utilizados por elas para adentrarem e se manterem no espaço político
que, tradicionalmente, é ocupado em sua maioria por homens.
O campo empírico da pesquisa é os espaços de atuação política de um conjunto de mulheres
na cidade de São Luís, nos anos de 2000 a 2004 e de 2004 a 2008, períodos decisivamente
marcados por movimentos que evidenciam o fortalecimento dos direitos de participação
política da mulher, após décadas de silenciamentos e interdições de maior participação
feminina nos espaços políticos.
O referencial teórico empregado nesta pesquisa se encontra nos conceitos de capital social,
trajetórias, estratégias e habitus desenvolvidos ao longo da obra do sociólogo francês Pierre
Bourdieu. Esse aporte conceitual permitiu o desenvolvimento da pesquisa possibilitando o
mapeamento do movimento das parlamentares investigadas em sua inserção nos espaços
políticos, sem perder de vista as articulações elaboradas por elas para administrarem a vida
pública e a privada.
A história de vida forneceu os elementos necessários para apreender as estratégias utilizadas
por essas mulheres em suas trajetórias políticas que são abrigadas por campo social
específico. Desta forma, utilizou-se de entrevistas não estruturadas como procedimento para
coleta de dados.
A consecução deste trabalho permitiu constatar, entre outros, que no caso das mulheres
investigadas, suas inserções no mundo da política partidária se dão por uma série de razões,
entre estas, geralmente, por partes de figuras masculinas (maridos, pais ou cunhados, etc.)
que as encaminham para a atividade política. Outra constatação importante é que o trabalho
apontou que as investigadas percebem a política como uma “missão”, como espaço de
generosidade, solidariedade, como um apostolado, afastando, assim, da representação da
política como um espaço por excelência da vocação política.
Palavras-chave: Mulheres e política; política partidária; estratégias; gênero.
ABSTRATC
This paper focuses on the women experiences working in partisan politics in São Luís do
Maranhão. Through their narratives, we sought to understand and point out the strategies
and capital used by them to step into and remain in the political space, which has
traditionally been occupied mostly by men.
The empirical field of research is the space of political action of a women’s group in the city
of São Luis in the years 2000-2004 and 2004-2008, periods decisively marked by moves that
highlight the strengthening of the women’s rights for political participation after decades of
closures and silences of greater female participation in political spheres.
The theoretical framework employed in this research lies in the concepts of social capital,
trajectories, strategies, and habitus developed during the work of French sociologist Pierre
Bourdieu. This contribution allowed the development of research enabling the mapping of
movement of the parliamentary investigated in their inclusion in political spaces, without
losing sight of the plots prepared for them to manage the public and private lives.
Life story provided the information necessary to understand the strategies used by these
women in their political trajectories that are sheltered by specific social field. Thus, we used
unstructured interviews as a procedure for data collection.
The achievement of this work allowed understand, among others things, that in the case of
investigated women, their insertion into the world of partisan politics occur because a
number of reasons, among them, generally by parts of the male figures (husbands, parents or
in-laws, etc.) that lead them to the political activity; another important finding is that the
work indicated that the investigated people perceive politics as a "mission", as a place of
generosity, solidarity, as a ministry, thus removing the representation of politics as an area
par excellence of political vacation.
Keywords: Women and politics; Partisan Politics; Strategies; Gender.
SUMÁRIO
Introdução ............................................................................................................................ 8
A presença feminina na política partidária .............................................................. 8
Algumas referências sobre relações de gênero e política partidária ........................ 13
Referencial teórico – metodológico18
CAPÍTULO 1: Os papéis exercidos por mulheres nos partidos políticos nos de
1980
..... 21
1.1. Os movimentos de mulheres para se inserirem na política partidária .......................... 21
1.2. A democracia nos partidos políticos depois das cotas .................................................. 40
CAPÍTULO 2: A história das mulheres no campo da política partidária em São Luís
Maranhão ............................................................................................................................. 43
2.1. As estratégias e os diferentes tipos de capitais que são utilizados pelas mulheres para
adentrarem e se manterem na política partidária em São Luís Maranhão ........................... 43
CAPÍTULO 3: Público e privado: o trânsito das mulheres nesses espaços da política e do
poder em São Luís Maranhão .............................................................................................. 58
3.1. Movimentação das parlamentares maranhenses entre o público e o privado ............... 58
3.2. As dificuldades enfrentadas pelas mulheres parlamentares no Estado do Maranhão na
aprovação de seus projetos nos espaços de decisão ............................................................ 63
Referências bibliográficas ................................................................................................... 80
Anexos (entrevistas, Lista de siglas) .................................................................................. 83
8
INTRODUÇÃO
RELAÇÕES SOCIAIS DE GENÊRO E POLÍTICA PARTIDÁRIA
Este estudo sistematiza a investigação sobre modos de inserção das mulheres na
esfera político-partidária em São Luís do Maranhão, procurando-se perceber as estratégias e
os diferentes tipos de “capitais” que são utilizados para adentrarem e se manterem neste
espaço, que durante muito tempo tem sido socialmente legitimado como de domínio dos
homens.
O campo empírico será constituído pelos espaços de atuação política na cidade de
São Luís, nos anos 2000 a 2004 e de 2004 a 2008, períodos notadamente marcados por
movimentos que sinalizam um maior revigoramento dos direitos de participação política,
após anos de ausências e silenciamentos quanto a estes direitos para os cidadãos brasileiros.
A Presença feminina na política partidária brasileira
No Brasil, as mulheres lutaram pelo voto antes mesmo da proclamação da
República. Embora a Constituição de 1891 não excluísse o voto feminino, as mulheres
ainda tiveram que lutar por mais de quarenta anos para conquistarem esse direito, o que
começou em 1910 com a criação do Partido Republicano Feminino, por Leolinda Daltro e
outras feministas do Rio de Janeiro. Obtiveram vitória em 1932 no governo de Getúlio
Vargas, quando foi promulgado, através do Código Eleitoral Provisório (Decreto
21.0760), o direito de voto apenas às mulheres casadas que tivessem a autorização dos
maridos, e algumas solteiras ou viúvas, desde que tivessem renda própria. Em 1934, a
Assembleia Nacional Constituinte reafirmou o direito assegurado no Código Eleitoral,
eliminando as restrições existentes, mas tornando o voto obrigatório apenas àquelas
mulheres que exercessem funções remuneradas em cargos públicos. Somente na
Constituição de 1946 foi instituída a obrigatoriedade plena do voto para todas as mulheres.
Em alguns países, essa conquista se deu alguns anos mais cedo e, em outros, mais tarde,
como ocorreu com a Inglaterra e os Estados Unidos.
Até por volta dos anos de 1950, grande parte das mulheres que atuavam na política
9
partidária, constantemente, registravam que exerciam papéis secundários, de apoio aos seus
companheiros, sendo excluídas do processo de debates políticos mais importantes e de
processos decisórios, até mesmo naqueles partidos que se diziam “progressistas”.
Nas eleições federais para a câmara dos deputados no período de 1965 a 1982,
houve um pequeno e considerável avanço na participação das mulheres em cargos eletivos,
a exemplo da tabela a seguir:
Ano Candidatas Eleitas
1965
13
6
1970
4
1
1974
4
1
1978
-
4
1982
58
8
Fonte: Tribunal Superior Eleitoral, dez. 2000
É importante lembrar que esses anos ainda são bastante marcados pela instabilidade
política vivida, a partir do período de 1964, com a quebra do Período Democrático
Representativo e a instauração do Regime de Governo Militar, a partir do qual foram
impostas fortes restrições à atuação política no país, cassando diversos segmentos da
população de alguns dos apanágios de participação conquistados anteriormente. Somente
depois de 1974 esses espaços foram sendo retomados progressivamente, ainda com as
limitações de direitos políticos.
Como pôde ser observado, nas eleições dos anos de 1978, na tabela que destacamos
anteriormente, houve um acréscimo em relação às candidatas eleitas nos dois últimos
pleitos, de mais ou menos 300%. Em 1982, foram registradas cinquenta e oito candidaturas
femininas, havendo um aumento de 1350% em relação às anteriores. Em relação às
candidatas eleitas, o aumento foi de 100%; em 1986 foram 166 candidatas, um aumento de
aproximadamente 186, 3% em relação às de 1982, e as eleitas foram, 26, havendo um
aumento de 225%. em 1990 não foi encontrado registro do número de candidatas, mas
foram 29 eleitas, tendo um aumento de aproximado de 11,54% em relação ao período
anterior (1986). Esses índices crescem um pouco mais em 1994, com 189 candidaturas
femininas, com um aumento de aproximadamente 13, 86% em comparação com as dos
anos de 1990 e, com um pequeno, porém relativo aumento de aproximadamente 10,35%.
Segue neste mesmo ritmo de aumento as de 1998, com 352 mulheres candidatas, o que
10
significa um aumento de aproximadamente 86,25%, tendo uma redução no número de
eleitas de aproximadamente 9,38%, sendo 29 as eleitas. Assim também a eleição de 2002 é
estatisticamente pouco expressiva, com apenas 8,2% de representação feminina em relação
ao ano anterior.
Nas eleições de âmbito estadual, (2002), a representação feminina foi 12,5%; nas de
2006, foram registradas 3.134 candidaturas masculinas, sendo eleitos 31 deputados
estaduais e 493 candidaturas femininas, deste total apenas 6 foram eleitas. Neste mesmo
ano, as de âmbito nacional, como pode ser observado, foram 19 candidaturas femininas a
cargos de deputadas federais, deste total somente 1 foi eleita; em contrapartida, com a
masculina, foram 1.412, sendo 15 o total de eleitos. Houve o pressuposto de que estas
eleições estaduais foram mais acessíveis às mulheres por estarem em seus próprios nichos
políticos. Enfim, as representações sociais destacam que elas poderiam conciliar suas
atividades nos espaços públicos e privados. Neste caso, os impedimentos à sua atuação
seriam mais amenizáveis.
A inserção das mulheres no métier político no Maranhão não ocorre de forma
diferente daquela que se no âmbito nacional. Elas também vêm participando ativamente
de todas as lutas sociais pelo reconhecimento dos direitos que regem os princípios da
igualdade e da justiça social. Ainda no século XIX, tivemos quatro mulheres que se
sobressaíram pelo desempenho de funções relevantes na sociedade maranhense de sua
época: Martinha Alonso Veado Alvarez de Castro Abranches, Emília Pinto Magalhães
Branco, Anna Joaquina Jansen Pereira e Maria Firmina dos Reis, sendo esta última
escritora que exerceu um papel importante na luta pela abolição da escravatura no Brasil.
Essas mulheres romperam com os valores do sistema ao adotarem posturas diferenciadas
dos padrões ideais daquela conjuntura, dominada pelo conservadorismo nas relações de
gênero. Sobre a atuação dessas mulheres, será abordado com mais detalhes no primeiro
capítulo desta dissertação.
Segundo Ferreira (2001), ainda nestas últimas décadas tem crescido muito o número
de candidatas a cargos eletivos, o que para ela reflete as ações desencadeadas pelo
movimento organizado de mulheres que, constantemente, denuncia e propõe novas
mudanças, chamando a atenção para a ausência das mulheres nesses espaços de decisões e
poder. É muito significativo para a autora, que o Maranhão, desde a primeira eleição, em
11
1932, tenha contado com a participação expressiva das mulheres, havendo uma presença
feminina marcante nesse espaço. Nas eleições de 1934, duas maranhenses foram eleitas:
Hildenê Gusmão Castelo Branco e Zuleide Fernandes Bogéa.
Nos anos noventa, novos avanços foram sendo registrados no métier político das
mulheres brasileiras. Em 1995, foi instituído o sistema de cotas para mulheres, por
iniciativa da deputada federal Marta Suplicy, filiada ao Partido dos Trabalhadores.
Inicialmente, foi reservado um percentual de 20%. Em 1998, cresceu para 25% (Lei 9.504/
97), e, posteriormente, chegou a 30% do número de vagas por partido ou coligação. A
partir das eleições de 1996, essa lei citada entra em vigor, beneficiando a candidatura das
mulheres. No Maranhão, especificamente São Luís, em algumas instâncias de poder, a
exemplo a Câmara de Vereadores, não havia sequer nenhuma representação feminina, e,
com o vigor dessa Lei, a possibilidade da entrada da mulher na política partidária tornou-se
viável, como afirma Ferreira (2007, p.49):
[...], elegeram-se, em 1996, duas vereadoras, o que pode ser considerado um
avanço, já que nas eleições de 1992 não foi eleita qualquer representante para a
Câmara Municipal. Em se tratando do legislativo estadual, na eleição de 1998 o
número de mulheres subiu de três para oito, evidenciando a importância desta
Lei.
Contudo, nas eleições de âmbito nacional, ainda pouca candidatura feminina
quando se compara com as de âmbitos municipais e estaduais, dada a uma série de questões
anteriormente apresentadas.
Em 1998, na Assembleia Legislativa Maranhense, foram dez as parlamentares, que
representavam quase 30% dos Deputados Estaduais. Com o aumento das cotas de 20%, em
1996, para 25%, em 1998, sessenta e oito mulheres se candidataram, sendo dez as eleitas,
aumentando em mais de 150% o número de deputadas no Estado.
As eleições de 2000 na Câmara Municipal de São Luís contam com vinte e um
vereadores, possuindo apenas uma vereadora – Helena Castro
1
. Nas eleições de 2004 foram
eleitas duas mulheres Marília Mendonça e Helena Castro (esta última neste pleito foi
reeleita), ambas do PDT, e uma na vice-prefeitura Sandra Torres. nas últimas eleições
1
A vereadora Helena Castro foi afastada do cargo de vereadora no pleito de 2000 para ocupar cargo de Secretária
Municipal de Saúde na prefeitura de São Luís-MA.
12
(2008) foram 105 candidaturas femininas, enquanto que as masculinas somam um total de
383 candidatos. Nesta, repete-se o cenário das eleições do ano de 2000, ou seja, foi eleita
somente uma vereadora Roseane Sales da Silva Moreira (Rose Sales), pertencente ao PC
do B, e uma vice-prefeita – Helena Duailibe filiada ao PSB.
Ferreira (2001) considera importante que seja dado destaque ao fato de termos
contado com mulheres exercendo os cargos de prefeita, governadora, secretárias de Estado
e de gerentes regionais que, de certa forma, têm tido sua trajetória política marcada na
maioria das vezes pelos apoios efetivos de pai, marido, irmãos, primos e/ou cunhados, que,
geralmente, têm maior poderio no contexto local em que aspiram a cargos eletivos. Por
exemplo, a primeira governadora do país, Roseana Sarney, a então senadora da República,
nas eleições de 1990, quando iniciou sua carreira política como Deputada Federal, foi
inserida nesses cargos através do pai, o qual teve presença marcante no seu primeiro
mandato de governadora (1994 a 1998). No seu segundo mandato (1998 a 2002) afirma ter
se desprendido da figura do pai, o que tem sido questionado em alguns estudos.
Constatou-se que o número de deputados estaduais, trinta e cinco, é bem superior ao
de deputadas estaduais, sete. É relevante ressaltar que o Maranhão nas eleições de 1998 foi
o segundo Estado que possuía o maior número de mulheres na Assembleia Legislativa, dez,
sendo o Rio de Janeiro o primeiro colocado, com quatorze deputadas. Atualmente, na
Assembleia Legislativa do Maranhão foram eleitas oito mulheres. Destas, uma foi eleita
prefeita de Lago da Pedra – interior do Estado do Maranhão.
Este percurso social, no qual se evidenciam mobilizações e transformações nesse
campo de atuação, nos instiga a fazer algumas indagações, que “Nada é evidente. Nada é
garantido. Tudo é construído”, de acordo como que nos lembra Gaston Bachelard, em sua
obra A formação do espírito científico (1996).
Pierre Bourdieu (1998, p. 34) compartilha deste mesmo raciocínio, argumentando
que:
[...] construir um objeto científico é, antes de mais nada e, sobretudo, romper
com o senso comum, quer dizer, com representações partilhadas por todos, quer
se trate dos simples lugares-comuns da existência vulgar, quer se trate das
representações oficiais, freqüentemente inscritas nas instituições, logo ao mesmo
tempo na objectividade das organizações iniciais, intencionando uma primeira
aproximação em relação ao objeto de investigação.
13
Desta forma,
algumas questões merecem ser destacadas, tais como: Quem são essas
mulheres que tendo, desde cedo, instalado o “seu lugar” nas relações de gênero, nos moldes
considerados tradicionais, optaram por situar-se em “um outro lugar”, considerado de
dominância masculina, como tem sido pensado o espaço da política partidária? Suas
histórias de vida apontariam para diferenças significativas da conduta orientada para o
papel de esposa, dona de casa, mãe de família, alheia às “coisas do mundo”? Esse momento
de redemocratização do país teria mobilizado essas mulheres rumo aos partidos políticos e
cargos eletivos de grande responsabilidade? É possível visibilizarmos outros elementos
históricos e, ainda, estratégias pessoais, apoios e incentivos dos familiares, especialmente
dos homens, para suas candidaturas a cargos eletivos? É possível apreendermos os “tipos de
capitais” usados para favorecer a ocupação de tal espaço?
Destas primeiras indagações, surgem muitas outras que vão adentrando os meandros
das relações de gênero no sentido de questionar-se a atuação que vêm exercendo essas
mulheres nesses espaços de poder político. Enfrentam dificuldades, conflitos, tensões frente
às perspectivas dos homens nesse contexto? Têm tido uma perspectiva feminista,
considerando as relações de gênero como relações assimétricas em termos de hierarquias,
discriminações e, até mesmo, de injustiças sociais? Nesse sentido, quais os projetos em prol
do público feminino? É possível percebermos algumas das articulações que constantemente
são feitas para manterem-se nesses espaços?
Além destas questões, sabemos que outras poderão ser desdobradas, na perspectiva
de que estamos lidando com temas de muita complexidade na dinâmica social das relações
de gênero.
Algumas referências sobre relações de gênero e política partidária
Para discutir a política como espaço de atuação das mulheres, destaco algumas
discussões feitas por autoras como Perrot (1998), que analisa a inserção das mulheres na
política partidária, com uma dificuldade, citando que a exclusão das mulheres das arenas de
discussão e poder tem uma trajetória histórica bem ampla na sociedade ocidental. Na
Europa, por exemplo, mais localizadamente, na França de 1789, esta autora chama a
14
atenção para o fato de que: “A legitimidade republicana foi afirmada porque reforçou
ainda mais a exclusão das mulheres”.
A França, apesar de ser um país em que as reivindicações por igualdade, fraternidade
e liberdade decorram de lutas marcantes, foi aquele que mais tardou a emancipar os direitos
políticos das mulheres. Ainda segundo Perrot (1998, p.118):
O exercício do poder mostra-se um pouco mais aberto às mulheres na Inglaterra
e no conjunto das democracias do Norte, pois, o acesso das mulheres ao poder
político sempre e em toda parte foi difícil. A cidade grega, primeiro modelo da
democracia, as excluía radicalmente.
Perrot (1998, p.129-130) analisa essa dificuldade, citando que:
A entrada das mulheres na política não é normal em nenhum lugar, quer se trate
dos partidos, do legislativo ou do executivo. A política é uma profissão de
homens concebida e organizada no masculino. Em seus ritos, em seus horários,
em suas formas de sociabilidade, em sua apresentação de si, que molda também
a expectativa do público, eventualmente decepcionado por ser representado por
uma mulher, porque tem a sensação de ser desvalorizado ou menos representado
[...].
Embora tenha havido muitas mudanças, resíduos desse conservadorismo na
política podem ser também detectados nesta expressão: “E por que não um ministério de
tricô?” (DE GAULLE apud PERROT,1998).
Na base dessa distinção, segundo a qual o definidos os cargos eleitorais públicos e
as decisões amplas de poder, está a construção artificial de que as mulheres seriam menos
capazes de exercer tais atividades. Seu intelecto não teria condições “apropriadas”, ou
então, a sua vocação mais “natural” seria a dedicação ao lar, aos filhos, como cita Giddens
(1993), ressaltando a perspectiva tradicional da condição social das mulheres. Tudo isso
referendava, no século XVIII, a legitimidade atribuída às esferas públicas e privadas
como instâncias distintas em que se colocava a atuação dos homens e das mulheres.
Para Perrot (1998, p. 7) ainda, “[...] A mulher pública constitui a vergonha, a parte
escondida, dissimulada, enfim, sem individualidade própria”. Está designada a ela a família
e as coisas domésticas. Foi criada para isso. O homem público desempenha um papel
importante e reconhecido; sujeito eminente da cidade, deve encarnar a honra e a virtude.
Ele tem e pode exercer o poder.
Essas duas categorias “masculino” e “feminino”, dentro deste contexto, designam
pessoas aparentemente diferenciadas por sua condição biológica ou por sua “vocação
natural”. Os homens seriam “naturalmente” vocacionados para as atividades que requeiram
15
força, domínio de expressão, boa oratória e as mulheres para as atividades que exijam
docilidades, fluência dos sentimentos, discrição, entre outras que lhes barram o acesso à
vida pública.
No Brasil, também o trabalho como o de Lúcia Avelar (1989, p.37) ressalta que:
A assimilação das mulheres no interior das organizações partidárias é
obviamente difícil. As resistências aumentam na medida em que passa dos níveis
mais baixos da hierarquia aos mais altos, dos diretórios locais aos regionais e
nacionais. Essa desigualdade tem suas causas inclusive nos papéis diferenciados
por sexo, o que traz como conseqüência os obstáculos sociais e psicológicos que
incidem sobre a motivação feminina para superar as barreiras seculares que
bloqueiam seu acesso ao poder.
As autoras Moema Toscano e Fanny Tabak (1982, p.57) analisam essa dificuldade
revelando que as mulheres, principalmente, as pertencentes às classes menos favorecidas,
sempre tiveram o acesso à política partidária mais difícil porque:
A história universal, antiga ou contemporânea, oferece inúmeras descrições de
famílias cuja vida se converteu em verdadeira tragédia pelos descaminhos da
política. Desamparos, fugas, solidão, dificuldades financeiras, eis resumida, para
a mulher comum, a expectativa face à atuação política do homem.
Ferreira (2003) enfatiza que o modelo de democracia liberal tem privilegiado a
participação masculina, reforçando os esteriótipos do passado e as práticas conservadoras
que prejudicam o acesso das mulheres aos cargos eletivos.
Autores como Perrot (1998), Saffioti (1992; 1990), Butler (2003), Scott (1990)
colocam como questões fundamentais a construção de discurso normativos nos quais
homens e mulheres têm papéis específicos, distintos, no que se refere à atuação social e, de
um modo bem geral, deixam entrever a complexidade dos estudos de gênero, por onde se
vislumbra processos sociais de desigualdade e discriminação que, historicamente, têm tido
para as mulheres efeitos de exclusão de uma participação influente e mais efetiva. Deixam
entrever, também, que com o uso analítico da categoria gênero podemos realizar um
trabalho de interpretação crítica que submete processos e efeitos a uma possível
desconstrução de polaridades de um sistema de relações que conhece sentidos opostos
e/ou complementares.
Scott (1990, p. 12), diz que “[...] o gênero é um elemento constitutivo de
relações sociais baseado nas diferenças percebidas entre os sexos; por outro lado, o gênero
é uma forma primeira de significar as relações de poder”. Tanto o gênero quanto o sexo são
construções sociais. Neste contexto, não podemos restringir nenhuma dessas duas
16
categorias somente à reprodução, ou então, ao elemento biológico.
Segundo Saffioti (1992, p. 188):
O tornar-se mulher e o tornar-se homem, porém, constituem obras das
relações de gênero [...] Sente-se o sexo como individual ou, pelo menos,
privado, mas estes sentimentos sempre incorporam papéis, definições,
símbolos e significados dos mundos nos quais eles são construídos.
Nesse sentido, entende-se o gênero como uma atribuição de significado que não se
define somente na existência do corpo, mas, sobretudo nas interpretações e nos sentidos
atribuídos às atividades exercidas por mulheres e homens, em seus contextos.
Saffioti (1992) ainda ressalta o movimento relacional do poder, de modo a retirar
das ações dos indivíduos a polaridade dominante versus dominado, o que nos permite
perceber que as mulheres têm cavado brechas nessas relações assimétricas, exercendo ação
política em todos os espaços sociais.
Judith Butler (2003) vem fazendo, atualmente, uma crítica radical à noção de sujeito
da ação política, que arbitrariamente foi constituído como o sujeito masculino, configurado
em discursos legitimadores de uma “natureza humana”, universal, que dispõe da
“complementaridade homem mulher” em um sistema binário de relações. Em seus
primeiros movimentos, as feministas teriam feito a mesma interpretação ao tomar a mulher
como elemento subordinado nessa relação, supondo todas as mulheres nessa mesma
condição. Os argumentos de Butler incidem na possibilidade de esclarecermos a
diversidade contida em trajetórias e experiências que podem dar sentidos diversos à atuação
das mulheres na política.
Por sua vez, Arendt (1997) esclarece que é no espaço público, espaço visível e do
que se faz ouvir, que se rompe com o confinamento histórico e universal, imposto às
mulheres como parte do processo de dominação patriarcal.
Para Hannah Arendt, (2001), sem a liberdade, a política perde seu sentido, isto
sendo entendido positivamente como um espaço que pode ser produzido por muitos,
onde cada qual se move entre iguais. A política constitui-se como uma esfera que promove
a participação de muitos e para muitos, ou seja, de todos os seres humanos sem qualquer
distinção, que liberdade e igualdade estejam ligadas à política.
Foucault (1979, p.10), ao discutir a política, o faz destacando que o poder não faz
parte do grande Estado. Não existe em Foucault uma teoria geral do poder, o que
17
significa dizer que suas análises não consideram o poder como realidade que possua uma
natureza, uma essência, que ele poderia definir por suas características universais. Não
existe algo unitário e global chamado poder, mas unicamente formas díspares,
heterogêneas, em constante transformação.”O poder não é um objeto natural, uma coisa: é
uma prática social e, como tal, constituída historicamente”. (FOUCAULT, 1979, p.10)
Porém, não se trata de minimizar o papel do Estado nas relações de poder existentes em
determinada sociedade. O que suas análises pretendem é rebater a ideia corrente de que o
Estado seria o órgão central e único de poder, ou de que a inegável rede de poderes das
sociedades modernas seria uma extensão dos efeitos do Estado, um simples prolongamento
ou uma simples difusão de seu modo de ação, o que seria destruir as especificidades de
poderes difusos contidos nas micro-relações.
Por ocasião da irradiação do feminismo como movimento social de massa nos
anos de 1970 e 1980, no Brasil, o conceito de política foi focalizado para ser formulado, no
sentido mais próximo das análises de Foucault, na perspectiva de que não existe somente o
poder localizado nas esferas institucionais formais, mas configuram-se constelações de
poderes em todas as relações sociais, na esfera do cotidiano, o que implica em ver a relação
amorosa, profissional, ou qualquer outra, como relações permeadas por contradições e
ambiguidades, mediante as quais se expressa o poder. Ao tentarmos apreender as
estratégias, modos de atuação e inserção política das mulheres nos espaços de poder
político-partidário, consideramos que esta será uma excelente perspectiva ao olhar crítico e
à análise acurada.
As questões que formulamos no início, com o propósito de constituição deste objeto
de estudo a análise dos modos de inserção de mulheres que atuam na política partidária -
não foram feitas a partir de uma concepção na qual às questões formuladas seguir-se-iam
respostas simples e fechadas. Foram, antes de tudo, feitas no sentido de trabalhar numa
perspectiva questionadora e crítica a respeito de algumas das relações de poder que são
constituídas em espaços socialmente privilegiados, possibilitando a reprodução de relações
de gênero automatizadas, em sentido único de ação, ou, ao contrário, em complexos jogos e
mecanismos de poder que podem modificar um sistema dual e rígido na hierarquia do
gênero. Nesse sentido, considero que estas referências de estudo são o ponto de partida, que
pode vir a sugerir outras análises e outro referencial.
18
Referencial teórico – metodológico
Para que esta investigação seja realizada, duas operações básicas serão necessárias:
a primeira se constituirá da consolidação de uma fundamentação teórica que venha fornecer
bons recursos de análise. Conforme Pereira de Queiroz (1992, p. 17), “[...] as Ciências
Sociais possuem um corpus de teorias pré-existentes ao pesquisador, que este necessita
abarcar na maior amplitude possível, tanto no que diz respeito à compreensão das diversas
posturas teóricas fundamentais, quanto também às teorias especificamente ligadas ao
problema que pretende estudar’’. Desta forma, a literatura existente direta ou
indiretamente sobre o tema será de fundamental importância para a realização do
trabalho. Nesse ínterim, os trabalhos das autoras citadas como Michelle Perrot (1998;
1992), Scott (1990), Saffioti (1990), Arendt (1999), Foucault (1979), entre outros, serão
sempre que necessário utilizados para elucidação das questões levantadas pela pesquisa.
No entanto, como o intuito deste trabalho é apontar as estratégias que ajudaram um
conjunto de mulheres adentrarem e permanecerem no meio político, utilizaremos mais
detidamente a noção de trajetória, estratégia, habitus, e o conceito de capital social
presente nos estudos de Bourdieu.
Bourdieu (2007) entende a trajetória como um determinado ponto de partida e de
chegada. É na trajetória enquanto ponto de partida e ponto de chegada que o indivíduo
efetua um processo de aquisição de vários capitais (capital social, capital cultural). Isto é,
na trajetória pode ser verificada “a relação entre o capital de origem e o capital de chegada
ou, se preferirmos, entre as posições original e atual no espaço social”. (BOURDIEU, 2007,
p.103).
E é no interior da trajetória que o sujeito inculca determinada visão de mundo, estilo
de vida a que Bourdieu (1983, p. 94) chama de habitus:
Sistema de disposições adquiridas pela aprendizagem implícita ou explícita que
funciona como um sistema de esquemas geradores de estratégias que podem ser
objetivamente afins aos interesses objetivos de seus autores sem terem sido
expressamente concebidos para este fim.
a ideia de estratégia está, segundo Bourdieu (1983), associada às diversas ações
empreendidas pelos agentes sociais com o intuito de superar as adversidades que
19
eventualmente os separam de seus objetivos. Nesse sentido, o autor alerta que essas
estratégias não são necessariamente conscientes, mas que geralmente estão afinadas a um
determinado fim.
O capital social, por sua vez, é entendido por Bourdieu (2008, p. 67), como um:
conjunto de recursos atuais ou potenciais que estão ligados à posse de uma rede
durável de relações mais ou menos institucionalizadas de interconhecimento e
inter-reconhecimento ou, em outros termos, à vinculação a um grupo, como
conjunto de agentes que não
somente são dotados de propriedades comuns
(passíveis de serem percebidas pelo observador, pelos outros ou por eles
mesmos), mas também são unidos por ligações permanentes e úteis.
Na segunda operação, será feita a aproximação com mulheres que
adentraram no métier político, em São Luís, nos anos de 2000 a 2004 e de 2004 a 2008,
períodos considerados significativos, especialmente os anos de 2000, 2002 e os seguintes,
por serem anos que são posteriores à permanência da política de cotas nos partidos
políticos. E, também, porque foram marcados pela construção dos direitos de igualdade
social da população, após o Regime Militar.
Utilizaremos como fontes privilegiados estudos sobre política e participação de
mulheres, projetos políticos partidários, censos políticos e discursos de mulheres políticas.
Entretanto, pretendemos colocar ênfase nos procedimentos de entrevistas e histórias de vida
dessas mulheres políticas para registrar suas experiências nos partidos políticos, no
parlamento, nos seus contextos familiares, enfim, nas suas maneiras de viver ou de
construir e transformar as relações de gênero e práticas políticas. No entanto será ocultado
o nome das entrevistadas, utilizando-se o termo narradoras I, II, III, IV, V e VI para
denominá-las quando se fizer referências às falas das mesmas.
O trabalho com história de vida é, sobretudo, um trabalho do sujeito realizado
através da memória, sendo da maior importância, no sentido de conduzir as pessoas aos
seus grupos de origem e à conjuntura político-histórica de sua sociedade. (HALBWACHS,
1990). Nesse sentido, apropriar-nos-emos desta forma de abordagem e, também, de outras
modalidades de técnicas para que possamos fazer um trabalho com mulheres que atuaram e
atuam na política em São Luís.
20
Desta forma, foi utilizado o tipo de entrevista não estruturada, isto é, foi feito um
conjunto de perguntas de forma aberta onde as entrevistadas podiam responder livremente
sem a minha interferência, pois, segundo Marconi e Lakatos (2008, p. 82), na entrevista
despadronizada ou não estruturada:
O entrevistado tem liberdade para desenvolver cada situação em qualquer direção
que considere adequada. É uma forma de poder explorar mais amplamente uma
questão. Em geral, as perguntas são abertas e podem ser respondidas dentro de
uma conversação informal.
Neste sentido, foram realizadas entrevistadas com seis mulheres que atuam e
atuaram em cargos eletivos na política partidária e/ou na executiva do governo, enfim,
estando, de uma forma ou de outra, inseridas em cargos que demandam poder e decisão em
São Luís - Maranhão. Os cargos exercidos pelas entrevistadas são: deputada estadual
foram quatro entrevistadas; vereadora uma; e no executivo estadual também, uma, que
atualmente é ex Chefe de Estado.
Assim, o trabalho será dividido da seguinte forma:
No primeiro capítulo, serão discutidos os papéis exercidos por mulheres nos partidos
políticos nos anos 1980 A “democracia” nos partidos políticos depois das cotas, e, se
convier, faremos apontamentos de falas das entrevistadas.
O segundo irá tratar da inserção de algumas mulheres maranhenses, mais
localizadamente em São Luís, na política partidária; Estratégias e os diferentes tipos de
“capitais” que são utilizados para adentrarem e se manterem na política (informações
obtidas por meio de entrevistas); uso de entrevistas.
O terceiro tratará da política como espaço de poder; Entrevistas; movimentos que as
mulheres que têm a política como profissão fazem entre o público e o privado.
21
CAPÍTULO 1:
Os papéis exercidos por mulheres nos partidos políticos nos
anos de 1980
1.1. Os movimentos de mulheres para se inserirem na política partidária
No Brasil, em meados dos anos 1970 o movimento feminista reaparece nos principais
centros urbanos com mais vigor, tendo como objetivo garantir e ampliar os direitos sociais,
econômicos e políticos das mulheres. Esse movimento tem algumas características dos
movimentos feministas que surgiram nos anos 1960 nos Estados Unidos e na Europa. No
ano de 1960, o Brasil ainda estava sob o governo militar, que não deu acesso à ação de
liberação inflexível desse movimento feminista que tinha as mesmas peculiaridades dos
movimentos feministas dos referidos países citados anteriormente, com percursos,
indagações e inquietações semelhantes.
Contudo, para Soares (1998) esta situação favoreceu o nascimento do feminismo no
âmago das militantes pertencentes aos partidos de esquerda e de mulheres empenhadas na
luta pela democracia no Brasil, pois esse movimento feminista engajado nas lutas
democráticas e pela conquista da cidadania de categorias marginalizadas como mulheres,
crianças, idosos, povos indígenas, negros etc, mostrou-se bastante politizado.
O ano de 1975 foi decretado pelas Nações Unidas, a Década da Mulher. Isso
porque enquanto muitas vozes divergentes do autoritarismo dessa época eram silenciadas
pelos militares, os movimentos feministas subversivos às Leis ditadas pelo governo militar,
romperam o silêncio e, contou com o apoio das Nações Unidas para legalizar demandas
principiantes de igualdade entre os sexos, isto é, entre homens e mulheres. Então, neste
momento as mulheres aproveitaram a brecha e organizaram uma série de eventos voltados
para as relações sociais de gênero, dentre outras questões que eram discutidas nas grandes
cidades, sobretudo nas capitais do sudeste brasileiro, especificamente, São Paulo e Rio de
Janeiro. Dessas ações resultaram diversas comemorações públicas, a exemplo o Dia
Internacional da Mulher que é comemorado no dia 08 de março, que se tornou
imprescindível para a organização de seminários, fóruns das mulheres e articulação de
protestos públicos denunciando vários tipos de violência contra mulheres, negros, povos
indígenas e várias outras categorias tidas como “minorias”. Da mesma forma, articulam
22
protestos contra a discriminação de sexo e colocam em pauta diversas reivindicações,
solidificando umaão conjunta de mulheres que propicia um elo de solidariedade. E,
atualmente, esta comemoração do dia 08 de março se expandiu e acontece em diversos
estados brasileiros (SOARES, 1998). Nessa época, alguns pontos referentes à teoria e à
prática do fazer político foram discutidos pelas feministas que ampliaram esse debate com
as esquerdas e também com as forças progressistas, sinalizando possibilidades de combater
e reformar o estado patriarcal e/ou capitalista patriarcal, assim como a dominação
masculina, a hierarquização das lutas, a sexualização das práticas nos meios públicos, ou
seja, toda a estrutura patriarcal.
Essas lutas levaram muitas mulheres a reunir condições de questionar as relações de
gênero, suas relações de desigualdades com seus esposos, famílias e grupos de base. A
partir da ação política para melhorar a qualidade de vida das mulheres pertencentes às
classes menos favorecidas e de seus familiares, elas se legitimaram como protagonistas
públicas e transformavam as normas tradicionais que as restringiam ao recinto privado do
lar. Contudo, estas mulheres ainda não podem transformar no essencial a profunda
separação sexual existente na sociedade capitalista patriarcal, assim como também
modificar a direção dos planos sociais, embora elas tenham, de uma certa forma,
conseguido se emancipar e ter saído do ciclo doméstico (SOARES,1998).
Neste contexto, Avelar (1987, p. 63) aponta:
A nossa hipótese é que o rompimento com as normas dos papéis femininos
tradicionais tem revertido em maior autonomia individual e maior progressismo
político por parte das mulheres. Resta saber se esse progressismo tem sido
acompanhado de valores também autônomos ou se, ao nível da prática política
em organizações institucionalizadas, ele é redefinido em função das leis
antifeministas das instituições políticas.
Neste ínterim, compreende-se que a participação das mulheres na política formal
foi de suma importância para a desconstrução de pensamentos que viam a condição da
mulher como algo natural, por isso não teriam aptidões para desenvolver a política. Um
outro fato também importante foi a conquista dessas mulheres pela cidadania que viabilizou
o acesso de vários outros segmentos da sociedade em demais espaços sociais de poder.
Todavia, ainda não são isentas de colocações e ações machistas com o intuito de excluí-las
desses espaços públicos de poder e decisão, como denota a preocupação de Avelar no final
da citação anterior.
23
A diversificação do feminismo (SOARES, 1998) na década de 1980 possibilitou a
articulação de outros segmentos do movimento, tal como a organização própria das
mulheres negras que reivindicavam reconhecimento das profundas diferenças culturais
dessas mulheres. Esse movimento favoreceu a articulação das categorias: classe, gênero e
raça para um entendimento mais completo da exclusão feminina dos diversos níveis de
poder público. As mulheres negras também exigiram que fosse levada em consideração a
heterogeneidade da condição e da insubordinação dessas mulheres, isso por que essas
mulheres não eram vistas pelo feminismo branco, elitizado, de classe média, porém sem
deixar cair numa imensa fragmentação. Assim como as mulheres negras, as trabalhadoras
rurais também não estavam representadas por este feminismo. Portanto, assim como as
mulheres negras construíram as suas formas próprias de se organizar, as trabalhadoras
rurais também o fizeram, participando expressivamente do processo de organização, com
reivindicações específicas: cidadania, visibilidade e respeito enquanto trabalhadoras rurais,
melhores condições de trabalho e produção para quem vive no campo e dali tira o seu
sustento e da família, salários, direitos sociais que englobam mulheres e homens do campo.
Essas mulheres vêm modificando o cenário político e social da agricultura deste país.
O feminismo (AVELAR, 2001) foi e é muito importante na busca da equidade de
gênero, mesmo com sua complexidade, heterogeneidade e lacunas, porém centrou-se em
atividades mais concretas e especializadas. Ele contribuiu e vem contribuindo nas
transformações sociais, econômica e política das mulheres, mudando a história do cotidiano
feminino; dando visibilidade às ações políticas e politizadoras vividas pelas mulheres que
construíram e constroem os seus espaços, enquanto cidadãs, numa sociedade em que ainda
há resquícios do patriarcalismo.
A década de 1980, como está aludida na introdução deste trabalho, foi marcada pela
reconstrução dos apanágios da população: reorganização partidária, reelaboração da
Constituição Brasileira, as Diretas Já, eleições para diversos cargos, movimentos sociais
etc. Também assinala uma crescente inserção das mulheres nos meios políticos, tais como:
sindicatos, associações de bairro, movimentos de mulheres, enfim, várias outras
organizações em que exerciam funções de chefias, militância etc. Mais precisamente, em
1983 aparecem diversas comissões de mulheres ou departamentos nos sindicatos, nas
centrais sindicais, secretarias de mulheres que se constituem espaços de reflexão e estímulo
24
para que possam expor seus medos, as aflições, os anseios e legitimar uma representação
feminina em um território político considerado masculino, rompendo com o silêncio que
lhes foi dado durante várias décadas.
Ainda nesta década de 1980, no dia 26 de agosto de 1986 foi publicada a “Carta das
Mulheres” com reivindicações específicas nas esferas da família, trabalho, saúde, educação
e cultura, com o intuito de direcionar as políticas públicas para a efetivação do princípio da
igualdade. Da mesma forma, garantir os exercícios plenos da cidadania que, para as
mulheres, significa ter o direito à representação, à voz e vez na vida pública, direito à
educação, à saúde.
Foi no período da ditadura militar que as mulheres construíram esses espaços. Elas
estiveram à frente de movimentos populares de oposição, lutando ativamente por direitos
sociais, justiça econômica e por democracia; foram às ruas em defesa de seus direitos e
necessidades, pela melhoria da qualidade de vida, realizaram manifestações de denúncias
das desigualdades. Elas também batalharam pela anistia a presos políticos. Deste modo,
foram construindo as suas próprias formas de organização. Como sinaliza Soares (1998,
p.34): “A presença das mulheres na arena política foi, assim, construída no período da
ditadura, a partir dos anos 60, sendo um dos elementos que contribuíram para os processos
no regime político; [...].”
Porém, nos partidos políticos, Abreu (2002) tem-se uma acepção mais comum que
as mulheres desempenhavam papéis secundários de apoio, assessorando os seus
companheiros. Eram excluídas das arenas de discussão política, isto é, da política
institucionalizada, até mesmo naqueles partidos que defendiam a “democracia”. Embora
nesses anos houvesse uma maior abertura à participação, ainda havia baixa credibilidade
no desempenho político da mulher, isso por ainda se ter visível o peso do condicionamento
cultural de que a mulher atuaria com mais destreza nas funções mais ligadas aos cuidados
com a arrumação, organizações de eventos políticos, ou com a secretaria dos comitês. E,
essa exclusão é até mesmo justificada pelos fundadores dos princípios da tradição liberal,
tais como: Rousseau e Hegel que consideravam as mulheres como incapaz politicamente,
isto por que se baseavam nas explicações biológicas que classificavam as mulheres como
seres irracionais, inconscientes, impulsionadas pelas emoções (FERREIRA, 2006). Esses
teóricos que defendiam a cidadania enfatizavam em seus discursos que as mulheres não
25
eram aptas a exercer a cidadania por estarem ligadas ao cleo familiar, exercendo a sua
própria função de mãe e esposa.
Essas ideias conservadoras de que o espaço privado é mais adequado às mulheres,
enquanto que a rua, o poder, as decisões fazem parte do mundo masculino têm sido
discutidas por diversas estudiosas feministas, tais como Scott (2001), Perrot (1998), dentre
outras.
Outra dificuldade enfrentada pelas mulheres, assim como para a maioria do povo
brasileiro, segundo Avelar (2001), era a falta de acesso à informação política, que reduzia a
participação política das mulheres enquanto candidatas, principalmente as pertencentes às
classes menos favorecidas. Da mesma forma, as responsabilidades no cumprimento das
tarefas domésticas, os arranjos necessários para o desempenho profissional, a falta de
tempo e outras variáveis mostram-se como aspectos árduos de seu cotidiano que as
impedem de assumir candidaturas, até porque, para o desenvolvimento da ação política,
precisa-se de disponibilidade, de envolvimento político, e supostamente haverenúncias
de alguns interesses pessoais para a realização da ação política que demanda tempo.
Assim também, o papel do Legislativo que era desacreditado por estar nas
condições de um regime bastante autoritário, evidentemente, naquele momento, colaborava
para desestimular a participação política feminina. Além do mais, os partidos não
encorajam e nem proporcionam a candidaturas de cargos eletivos das mulheres, a menos
que percebam que elas tenham capacidade de “levar votos” para o partido. Como pode ser
observado na entrevista feita em São Luís Maranhão em fevereiro de 2009, com a deputada
estadual que denomino de narradora I (PSDB): [...] acho que eles olham o valor político
de cada pessoa, de cada político... Eu imagino que em todo partido é a pessoa que tem um
peso político maior deverá ser ou deveria ser bem mais beneficiada”.
Embora para os partidos, como afirmado pela deputada, pese o “valor político de
cada pessoa”, as candidatas do sexo feminino têm maiores dificuldades de serem
absorvidas pelos partidos políticos, não obstante, como foi aludido, elas terem direitos a
determinadas cotas de candidaturas.
Neste sentido, os partidos políticos exercem um papel de obtenção e escolha de
lideranças, talvez seja a sua mais importante função. “As hierarquias dentro dos partidos
também contribuem para a relutância da não candidatura feminina” (TABAK &
26
TOSCANO, 1982, p.45). Um outro aspecto visível nesta fala é que, na visão dessa
narradora, os benefícios devem ser direcionados àquelas pessoas que têm mais chances de
se eleger, que se destacam no cenário da política, que possam elevar a legenda do partido,
portanto, deve haver uma atenção especial a essas pessoas. E, geralmente, em são os
homens, ou àquelas poucas mulheres que possuem ou correspondem a esse “valor político”
dado por determinados partidos. Neste ponto de vista, as mulheres estão sempre em
desvantagem em relação aos homens e àquelas mulheres que detêm algum tipo de capital,
apesar de terem a mesma disposição de conteúdo. Neste contexto, PERROT (1998, p. 131),
chama a atenção de que “não se escolhe qualquer mulher. Escolhem-se as mulheres
particularmente enérgicas, aptas a enfrentar as tempestades. Mulheres que superariam os
homens no plano da autoridade”. Desta forma, a preferência dos partidos pela candidatura
de homens é atenuada quando mulheres que representam maiores possibilidades de
votos.
Até meados dos anos de 1980, os partidos políticos mantinham-se fechados às
representações femininas. “Os segmentos femininos” proliferavam-se nos partidos,
verdadeiros guetos de mulheres cujo objetivo era excluí-las do poder político. “À medida
que se ia construindo novos espaços políticos no Brasil, espaços esses de esquerda, a
mulher tinha cada vez mais o seu posicionamento ideológico mais nítido” (AVELAR,
2001, p. 20). Iam cavando brechas para ocuparem cargos na direção dos partidos em que
estavam inseridas. estudos, como de Avelar (2001), que nos informa que, aqui no
Brasil, ainda é limitado o número de mulheres nas cúpulas partidárias, principalmente nos
partidos de centro e de direita, especialmente os maiores. A representação feminina tem
mais abertura para ocupar esses espaços nos partidos de esquerda, em que as tendências
ideológicas são mais próximas.
Através de suas lutas reivindicatórias por respeito e dignidade, as mulheres
conseguiram em 1985 implantar a primeira Delegacia Especial da Mulher. Assim, outras
conquistas foram demarcando os seus espaços na sociedade. Essas reivindicações se
fortalecem (FERREIRA, 2007) nos anos 1990, com a ampliação dos movimentos de
mulheres; sobretudo, com a corroboração do movimento feminista, teve-se um considerável
aumento na participação feminina na concorrência aos cargos eletivos, como medidas para
superar a quase ausência das mulheres nas direções de espaços institucionais.
27
Ainda no decorrer desta década (1980), percebe-se o surgimento de grandes e
importantes articulações femininas, que vão dando visibilidade às lutas e conquistas que as
mulheres conseguiram ao longo do tempo, embora não havendo muitos registros na
história. A história das lutas políticas das mulheres era silenciada. Todavia, nos partidos
políticos, elas ainda tinham que buscar estratégias para entrarem no jogo da política e fazer
visíveis as suas potencialidades. Isso por que, como foi dito anteriormente, os partidos
buscam para compor os seus quadros pessoas que possam representar os seus objetivos,
seus anseios, e, na visão da maioria dos partidos políticos brasileiros, as mulheres estariam
mais aptas a exercerem atividades políticas mais voltadas para o social, a programas
beneficentes, por estarem acostumadas a zelar pela família, a ter cuidados com os filhos.
Ou seja, voltadas a uma atividade política mais generosa, em vez de uma disputa mais
acirrada pelo poder.
Feito essa apresentação da presença das mulheres na política brasileira, é importante
pontuar, de modo específico, a presença das mulheres maranhenses na política do
Maranhão. Com efeito, a política maranhense traz em seu bojo especificidade que deve ser
ressaltada, uma vez que a mesma compõe o contexto político no qual estão inseridas as
investigadas. É nesse sentido que falar da política maranhense significa falar também da
presença “dinástica” que a família Sarney exerce nessa política. Porém, antes de entrar
propriamente nesses preâmbulos, é fundamental abordar a presença histórica de mulheres
na política maranhense. É o que será feito a seguir. (Aqui eu sugiro separar. Colocar em
outra seção com um outro subtítulo: Ex.: As mulheres na política maranhense)
Desde o século XIX, como já fora citado na introdução, o Maranhão sempre contou
com a presença marcante de mulheres no comando da sociedade desse estado. A saber, as
mulheres que estiveram à frente ao poder, entre elas estão a senhora Ana Joaquina Jansen
Pereira Leite, ou ‘Ana Jansen’, ‘Nhá Jansa’ ou simplesmente Donana ‘como era
conhecida. Esta mulher, entre as décadas de 30 à de 60 do século anteriormente citado,
assumiu e exerceu poderes inconcussos, Moraes (2007), pois tinha uma personalidade forte,
determinação, agia por sua vontade, era enérgica e financeiramente muito rica; rompeu com
convenções sociais então vigentes e muito arraigadas. Foram designados a ela diversos
fatos, reais e lendários, que estão até hoje ativados na memória coletiva das/os maranhenses
28
sobre o poder e a forte influência que exercia na política maranhense. Segundo Moraes
(2007, p. 11), “[...] Ana Jansen tudo enfrentou no meio em que poderia ser aniquilada, mas
onde conquistou seguidores, reuniu adeptos, liderou partidários e se firmou com o poder
que lhe conferiu o cognome de ‘Rainha do Maranhão’’’.
Nesse mesmo século, também esteve na liderança política do Maranhão, a senhora
Martinha Alonso Veado Alvarez de Castro, natural da Espanha. Esta, segundo Abranches
(1941), apesar do brio congênito, era dócil, delicada, cortez e comunicativa. Casada com o
capitão francês Garcia de Abranches que, como ela, foi também expatriado para o Brasil.
Não se tem informações de maiores envolvimento de D. Martinha na política partidária do
Maranhão, no entanto, revela Abranches (1941, p. 62) que houve uma “[...] coincidência
curiosa, quando Dona Martinha partira de São Luís para Portugal”, que está relacionada
com o início do movimento nacionalista de 1831, cujo nome era Setembrada que foi
liderado pelo seu enteado Frederico Magno, com José Candido, Egydio Launé, João Lisboa
e demais jovens revolucionários maranhenses. Ao retornar ao lar no final do ano de 1838,
volta a acontecer esse mesmo episódio, ou seja, um novo motim foi iniciado pela mesma
corrente de liberais exaltados. Coincidência ou não, o fato é que, considerando o perfil
contestatório de D. Martinha, pode se supor que ela tenha participado sim dessa insurreição.
A base dessa suposição nos é sugerida pela postura crítica e combativa dessa mulher, como
nos permite constatar através de uma carta que ela escreve para o esposo, que se encontrava
em Portugal nesse período de insurreição, onde faz críticas severas contra a escravização
dos negros no Maranhão:
Quando affirmaste, meu marido, no teu Espelho Crítico que a moléstia social,
que devorava os maranhenses, era ochlocracia, prognosticaste bem o que os
aguardava no futuro. O mal agora se aggravou muito mais com a intromissão
ostensiva da gente de cor na vida política e privada desta infeliz província. Tu
mostraste o erro tremendo de se ter substituído o captiveiro cruento dos índios
pela escravisação violenta dos negros da Costa d’Africa. E lastimaste, como
sociologo e christão, que se não pudesse desde logo, não só abolir tão nefando
trafico, mas também restituir immediatamente à liberdade essas miseras machinas
humanas obrigadas a golpe de azorrague e a desbravarem as matas selvaticas
desta parte da America. Esqueceste, porém, de demonstrar que infortunadas
creaturas mais cedo ou mais tarde teriam de vir influenciar sobre a sociedade que
suppuséra exploral-as apenas como bestas de carga. Surgiram os cruzamentos
desiguaes. Os amôres de senzala. As ligações escusas. [...] Para mim, já te tenho
dito e repetido, a liberdade não é sentimento, é instincto. Esse instincto fez nascer
o odio, que ahi está, não ao branco em si, mas ao antigo colono uzurpador. [...]
29
Ainda sobre a D. Martinha, Abranches (1941, p. 69) diz que ela:
concluía as suas curiosas observações lembrando ao esposo que, infelizmente, tão
dura lição não aproveitára às inditosas victimas da cobiça humana. Continuaram
os captivos no seu durissimo jugo a ser explorados pelos demagogos e
aventureiros politicos. [...].
O instincto da liberdade, rematava D. Martinha essa sua carta ao Censôr, fez do
escravo um cidadão brazileiro: os governantes terão de reconhecel-os como tal,
seja como fôr ou seja quando for [...]
Abranches (1941, p. 102), referindo-se novamente à D. Martinha, cita que para ela
‘[...]. “O Cangaço é a alma bravia dos sertões. E as almas bravias não se dominam pela força; dominam-se
pelas influxo do ensino e da Fé!”’ [...]. “[...] Luzes, luzes, meu marido, é o que se precisa dar a esta gente...”
Esse mesmo autor ainda cita que para a D. Martinha:
[...]. “O chamado cangaço já era para ella nesse tempo um phenomeno social bem
grave na formação da nacionalidade brazileira. [...]”. Pois, esta “fidalga
hespanhola acabára por fundar um collegio, destinado à educação das jovens
filhas da terra, para onde o destino a conduzira e onde deveria fixar-se até ao fim
dos seus dias...”
[...] a influencia espiritual de D. Martinha começára a exercer-se em S. Luiz sobre
o seu próprio marido. Até se concorciar-se com Ella em 1820, Garcia de
Abranches, apezar do seu talento, illustração e prestigio social, não havia escripto
um unico livro. Passava por ser a cabeça mais notavel dentre os seus compatriotas
lusos, mas nada tinha produzido. Foi a sua nobre consorte quem lhe inspirou as
paginas memoraveis de psychologia social do seu Espelho critico e político da
Provincia do Maranhão, publicado em fins de 1821. nesse tempo Ella dava
lições gratuitas a diversas senhoras da a sociedade, mas que não sabiam lêr
nem escrever. [...], dominaram sempre a ilustre fidalga hespanhola até à sua
morte em 1855: o combate ao analphabetismo e a abolição do trabalho escravo.
(Abranches, 1941,p.103-108)
Também faz parte dessa conjuntura a senhora D. Emília Pinto Magalhães; este era o
seu nome de família. Filha de pai e mãe portugueses, ela também nasceu em Lisboa em
1818. Quando adolescente, partiu para São Luís do Maranhão, onde se aperfeiçoou nas
línguas estrangeiras e cultivou a música e a pintura. Ela sobressaiu às jovens do seu tempo.
Porém, segundo Abranches (1941), foi forçada a se casar com um caixeiro português, pois
era lei entre os portugueses de todas as classes sociais casarem as filhas com os seus
compatriotas.
Se algumas dessas moças desobedecessem a essa lei, eram cruelmente
castigadas,
como cita Abranches (1941, p.147-148):
30
[...]. E, se as pobres victimas ousavam revoltar-se contra esses editos paternos,
mantiam-se em surras como perfeitas escravas ou eram postas na rua como
indignas e perversas. Esses castigos tocaram certas vezes à proporções de
crudelissimos assassinios.
“Não escapei eu também, disse-me D. Emilia, a esse verdadeiro trafico de
esposas brancas reduzidas a objectos de mercancia entre socios, interesados e
caixeiros, para consolidarem casas mercantis, perpetuarem firmas commerciaes,
garantirem heranças e successões e não diminuírem capitães realisados. [...]”.
A D. Emilia lutou contra esse casamento forçado; ela fez de tudo para não se casar
com um homem que, segundo Abranches (1941), era cruel, perverso, violento,
concupiscente, usava uma linguagem chula, palavrões indecorosos; o comportamento dele
não condizia com o dela, educada em rígidos princípios morais, recatada e cuidadosamente
instruída. Como conta Abranches (1941, p. 149), as narrativas da D. Emília, que:
[...].”Até às vesperas do casamento, fiz tudo para desmanchal-o. Foram inuteis
lagrimas e supplicas: a obediencia e a submissão estavam acima de tudo.” E
proseguio a respeitavel senhora com dolorido sarcasmo:
“O mais não sei de nojo como o conte, na phrase celebre dos Lusiadas. Esse
marido, imposto à força de ameaças e castigos, fez logo de mim uma pobre
escrava, brutalisando-me de momento a momento. Assignava-se elle Antonio
Joaquim Branco, appellido que não herdára dos seus Paes [...], mas que me servio
de infamante ferrete pois que, até hoje, ninguem mais me chamou pelo nome de
familia, e só, e só, e por Emilia Branco. Como sua esposa, fiz tudo o que uma
mulher intelligente e compassiva poderia fazer para adoçar-lhe o genio feroz e os
costumes pervertidos e depravados. Anciei pelo nascimento de minha filha na
esperança de que se mostrasse um bom pae. Esse facto, ao contrario, aggravou os
ultrajes que já me fazia com uma negra boçal e tinhosa, com quem passou quasi a
cohabitar dahi por diante. E certo dia em que ousei chamar-lhe a attenção para
esse procedimento escandaloso, foi tão violento na réplica e maltratou-me tanto
que sahi como louca pela porta afóra indo abrigar-me na casa de uma família
amiga.”
A partir dessa ousadia, dessa coragem de romper com um casamento sofrido, a D.
Emília, na sociedade ludovicense, passou a ser perseguida pelas injúrias, repressão,
ameaças e até mesmo tentaram tirar-lhe a vida, enviando-lhe por diversas vezes doces
envenenados em nome de suas amigas que foi reduzida após esse lastimável episódio. Pois,
quiseram arrancá-la à força da casa onde se encontrava hospedada; as melhores famílias de
São Luís não quiseram mais vê-la, mesmo sem nunca as ter procurado; a partir daí passou a
viver trancafiada em um quarto, sem querer ser vista por pessoas estranhas. “O seu gesto
foi tido e havido como o maior escândalo aentão rebentado na sociedade maranhense!”
(ABRANCHES, 1941, p. 150).
31
Por fim, ainda faz parte desse conjunto de mulheres, a senhora Maria Firmina dos
Reis, que nasceu no ano de 1825 em São Luís do Maranhão; era filha não legítima,
integrante de uma família bastante extensa, composta por muitas mulheres (avó, irmãs, mãe
e tia materna). Tinha como profissão o magistério, quando no ano de 1847 prestou concurso
estadual para professora, sendo a única aprovada para exercer a instrução primária no
interior do Maranhão, chamado, na época, Vila de Guimarães, onde fixou residência. A tia
materna, segundo Telles (2004, p. 410):
[...] possuía alguns recursos e era proprietária de alguns poucos escravos, ali [Vila
de Guimarães] construíra uma casa de alvenaria, igual a tantas que ainda hoje
existem pelo interior do Brasil, para as férias de veraneio da família. Mais tarde, a
casa se tornou moradia permanente.
A professora morava e lecionava em casa, como era de costume. Era conhecida
como Mestra Régia, o que na época significava professora formada e concursada
em contraposição à professora leiga.
Esta mesma autora (2004, p. 411) informa que:
Um ano antes de se aposentar, com trinta e quatro anos de magistério público
oficial, Maria Firmina dos Reis fundou, a poucos quilômetros de Guimarães, em
Maçaricó, uma aula mista e gratuita para alunos que não pudessem pagar. Estava
com 54 anos. Toda manhã, subia em um carro de bois para dirigir-se a um
barracão de propriedade de um senhor de engenho, onde lecionava para as filhas
do proprietário. Levava consigo alguns alunos, outros se juntavam. Um
experimento ousado para a época.
A mestra Maria Firmina foi descrita por uma ex-aluna em depoimento de 1978,
citado por Telles (2004, p. 412), como sendo uma pessoa enérgica, voz baixa, não
aplicava castigos corporais nem ralhava, aconselhava”. Era querida não pelos alunos
como por toda população daquela vila. Era mida, porém de fácil acesso; quando havia
alguma mobilização do povo da Vila, este parava em sua porta. Saudavam-na com vivas, e
ela improvisava um discurso como forma de agradecimento.
Em 1859 foi anunciado, pelos jornais de São Luís, o romance Úrsula, de autoria de
Maria Firmina dos Reis. Nesta obra, a autora como abolicionista que era, trata da questão
do escravo não o escravo de um modo geral, abstrato de um modo individualizado
através de personagens, discorrendo sobre o africano de modo diferente, sobre as relações
familiares e a posição da mulher branca naquela sociedade. Esta obra, segundo Telles
(2004), atualmente foi considerada o primeiro romance de uma autora brasileira.
32
Maria Firmina, segundo Telles (2004, p. 412), participou da vida intelectual
maranhense, colaborando na imprensa local, publicando livros, participando de antologias.
Foi também música e compositora. [...].”
No ano de 1887, Maria Firmina escreve um conto intitulado A escrava que foi
publicado pela Revista Maranhense nesse mesmo ano. Neste conto, ela descreve, segundo
Telles (2004, p.415
):
[...] uma participante ativa na causa abolicionista, a rede, de São Luís ao Rio de
Janeiro, de abolicionistas organizados que escondiam escravos fugidos e, rápida e
legalmente, compravam-lhes a liberdade. [...]
Vinte e oito anos depois de Úrsula, Maria Firmina dos Reis, que sempre havia
sido abolicionista, pôde explicar, um ano antes da Abolição, as redes
abolicionistas para a libertação dos escravos que então haviam se generalizado
pelo território do Império. [...].
Foram encontradas algumas anotações feitas pela própria Maria Firmina dos Reis, em
1863, em que ela se autodescreve, assim nos revela Telles (2004, p.412):
De uma compleição débil, e acanhada, eu não poderia deixar de ser uma criatura
frágil, tímida, e por conseqüência, melancólica.
Uma espécie de educação freirática, veio dar remate a estas disposições naturais.
Encerrada na casa materna, eu só conhecia o céu, as estrelas e as flores que minha
avó plantava com esmero...
Estudo como o de Telles (2004) revela que por detrás dessa pessoa serena, dócil, de
fácil aproximação, ela era uma mulher angustiada. Sonhara com um futuro fulgurante e
esplêndido, todavia as desilusões chegaram e conduziram-na ao sofrimento. “O mundo um
espelho impassível, cruel”, desfez sonhos, apagou o ardor da mente, matou esperança. A
vida lhe foi bem penosa e os desejos jamais satisfeitos.” (TELLES, 2004, 412).
Maria Firmina não foi uma pessoa feliz, assim informa Telles (2004, p.412):
Amo a noite, o silêncio, a harmonia do mar, amo a hora do meio-dia, o
crepúsculo mágico da tarde, a brisa aromatizada da manhã [...] amo o afeto de
uma mãe querida, as amigas [...] e amo Deus; e ainda assim não sou feliz, porque
insondável me segue, me acompanha, esse querer indefinível [...]
Maria Firmina, desde muito cedo, diz Telles (2004, p. 416):
não aceitara alguns costumes comuns que implicavam o uso de escravos. Conta-
se quando foi admitida no magistério, aos 22 anos de idade, a mãe queria que
fosse de palanquim receber a nomeação, mas ela exclamou: “ Negro não é animal
33
para se andar montado nele”. E foi a pé. Morreu, cega e pobre, aos 92 anos, na
casa de uma ex-escrava, Mariazinha, mãe de um dos seus filhos de criação.
Assim como foi pertinente a questão da escravidão para essa escritora abolicionista,
foi também de igual importância a cultura européia com a cultura indígena nativa, que foi
vista, por essa escritora, de forma diferente. Isso está marcado num conto intitulado Gupeva
que narra um embate impetuoso entre as raças. Segundo Telles (2004, p. 417),
“[...] A história se desenvolve a partir de um episódio das legendas brasileiras, o
batizado de Paraguaçu, a princesa do Brasil. [...], o que essa história nos conta é a
impossibilidade de um encontro harmonioso entre as raças. [...].”
Esta subversão dessas mulheres marcou aquele século, sendo de grande importância
para a construção da história da atuação das mulheres maranhenses. Por conseguinte, no
século XX, outras mulheres maranhenses também se revelaram contra a hierarquia e a
dominância masculina daquela província; tiveram participação significativa na Ação
Integralista Brasileira – AIB no Maranhão. Segundo Caldeira
(1999, p. 57):
As mulheres tinham uma representação significativa entre os integralistas
maranhenses, correspondendo a 18% do total de inscritos em São Luís. A
inscrição dessas mulheres na AIB deriva sobretudo do seu propósito de atuar em
partido que tendia a lhes conceder maior participação na política oficial.
Corroboram essa observação, por exemplo, a existência da Ala Feminina
Integralista e a posição das mulheres no movimento como blusas verdes, como
atribuições específicas, como a prática das assistências social e educacional, entre
outras.
Nesta Ala Feminista da AIB maranhense, teve como chefe Lilah Lisboa de Araújo,
pertencente a uma família muito influente no Maranhão, casada com o funcionário público
José Cândido de Araújo. Foi professora secundarista. Nas eleições de 1934, ela foi a única
candidata maranhense a disputar o cargo de deputada federal, e que, no entanto, não
conseguiu ser eleita.
Também concorreram às eleições de 1934, para deputada estadual, três
maranhenses: Hildenê Gusmão Castelo Branco, que era pertencente ao Partido
Republicano, a professora Zuleide Fernandes Bogéa ligada à União Republicana
Maranhense e a, também, professora Rosa Castro, que era igualmente pertencente à União
34
Republicana Maranhense; esta perdeu por um voto para a professora Zuleide Bogéa, que
venceu essas eleições juntamente com Hildenê Branco (MOTTA, 2003).
A professora e política Zuleide Bogéa (MOTTA, 2003) era uma mulher enérgica,
que foi reconhecida através dos trabalhos sérios e honrados que desenvolveu tanto na
educação quanto na política. Na política, ela integrava a um grupo de deputados que se
declarou opositores levando o Estado do Maranhão à crise política, como informa Buzar
(apud MOTTA, 2003, p. 28):
O grupo de deputados, integrado pela professora que se tornou oposicionista,
recusou o projeto de Constituição de autoria da comissão de Constituição da
Assembléia, promulgou seu próprio projeto, recusou o Diário Oficial e elegeu O
Imparcial, como jornal oficial do Estado. A crise política no Maranhão na qual
esse grupo era um dos atores conduziu o Estado a ter dois governadores, duas
Assembléias. Essa crise foi agravada pelo rompimento da URM com o Governo,
devido não cumprimento do acordo celebrado no Rio de Janeiro, segundo o qual
a Prefeitura de São Luís seria ocupada pelo “grevista” Francisco Costa
Fernandes. Em vez de nomeá-lo, o então governador Aquiles Lisboa, escolheu o
“marcelinista” Manoel Azevedo fazendo Genésio Rego cerrar fileiras na
oposição.
Ela se sobressaiu na política por ser uma deputada atuante que, segundo Castro
(apud MOTTA, 2003, p. 29), “[...] havia concorrido com muitos homens. Tinha sido eleita
deputada e fora atuante melhor do que muitos homens!”
Esta deputada, cita Motta (2003, p.29) “Recebeu a Medalha do Mérito Timbira e a
Medalha do Centenário de Graça Aranha, outorgadas pelo Governo do Estado do
Maranhão.” Na educação, elaborou várias cartilhas educativas e no ano de 1920 fundou o
Colégio São Luís Gonzaga (MOTTA, 2000). Zuelide sempre foi uma mulher determinada,
combatente e obstinada na conquista de seus objetivos.
Ainda no século XX, outras maranhenses também estiveram nessa batalha de se
inserirem na política partidária daquele Estado. No qual fazia parte a senhora D. Joana dos
Santos Rocha, conhecida popularmente como D. Noca. Esta senhora esteve durante quase
duas décadas na administração municipal de São João dos Patos (interior do Maranhão),
sua terra natal, onde exerceu com fortes influências o cargo de prefeita. Ela foi a primeira
prefeita do Maranhão, sendo eleita em 1934, logo após a conquista do voto em 1932.
Ferreira (2006, p. 84) informa que, quando o pai da D. Noca faleceu, foi ela quem
assumiu os negócios da família, e foi em 1934, aos trinta e dois anos de idade, que foi
convidada pelo interventor a assumir a administração da cidade. Este convite veio a ser
35
feito após ela ter ido procurar o interventor para reclamar da situação política do município
de São João dos Patos.
D. Noca foi uma prefeita imbatível, agindo de acordo com as suas convicções, ou
seja, acreditava que era possível mudar o rumo da política desse município; e o fez
construindo estradas, fazendo melhorias nas ruas, pôs em boa ordem o município,
promoveu o ensino, suspendeu prédios, enfim, arrumou aquele local, (QUEIROZ, 1950). E
a partir dessas ações políticas que se tornou forte o seu prestígio naquela região, como
afirma Queiroz (1950, p. 122) “[...] Tão forte é o seu prestígio naquela terra, que de 1934
para podem mudar as situações políticas do país e do Estado, mas D. Noca não muda.
Continua na chefia do município inalteravelmente.”
Também compôs esse quadro, a senhora Maria Dalva Bacelar, pertencente a uma
família de comerciante tradicional do município de Coelho Neto (interior do Maranhão). O
seu pai, o senhor Raimundo de Mello Bacelar, ficou conhecido como Duque Bacelar. Em
decorrência dessa popularidade, no ano de 1954 foi criado um município com o nome de
Duque Bacelar para homenageá-lo.
Dalva Bacelar, como é conhecida na região, segundo Ferreira (2006, p. 87),
[...] concluiu seus estudos em 1942 e, logo em seguida, é nomeada prefeita de
Coelho Neto pelo então interventor Saturnino Belo, iniciando, assim, sua vida
pública. “Era uma época que moça o saia sozinha”, enfatizava Dalva Bacelar.
Para administrar os negócios da prefeitura, a prefeita viajava para São Luís,
muitas vezes acompanhada de seu irmão mais jovem.
No ano de 1947 foi indicada, dentre muitos homens, para fazer parte da elaboração
da Constituição Estadual. Ferreira (2006, p. 86) informa que:
o Partido Proletário Brasileiro (PPB), controlado por Vitorino Freire, elege
Sebastião Archer da Silva como governador. Ele indica vinte representantes para
elaborar a Constituição do Estado, dentre as quais Maria Dalva Bacelar,
representante dos municípios de Coelho Neto, Buriti e Chapadinha, e única
mulher eleita nesse período. É também a mais jovem deputada, eleita apenas com
vinte e dois anos.
Dalva Bacelar também se destacou na administração municipal. Estavam sob a sua
direção não o município de Coelho Neto, como também os de Buriti e Chapadinha. Foi
deputada constituinte Maranhense; enfrentou os preconceitos da época em que a presença
36
da mulher na política era muito restrita e mal vista. Ela foi insistente na busca de realizar os
seus objetivos, como afirma Ferreira (2006, p. 87):
Decididos os apoios, Dalva se encontra com o grupo político do qual fazia parte,
cujo dirigente era o senador Vitorino Freire. “Mas estava sobrando candidato! Eu
não sei o que fazer”, dizia Vitorino Freire. E eu insistia: “Quero ser candidata!
Vim aqui para sair candidata!”.
Essa decisão em se tornar candidata, provocou o convite que foi feito a ela por
Alexandre Colares Moreira; este era filiado ao Partido Republicano Brasileiro e também
antigo aliado de Vitorino Freire. Sobre esse incidente,
Buzar (2005, p.3)
relata:
O recado de Colares Moreira chegou no momento certo aos ouvidos de Vitorino
Freire, que imediatamente mandou chamá-la para tomar conhecimento da solução
encontrada pela cúpula palaciana: o jovem Ivar Saldanha aceitara o convite para
dirigir a Caixa Econômica Federal, cedendo a vaga a Dalva para concorrer ao
pleito.
Depois de eleita, Dalva teve que lutar contra os preconceitos vindos de colegas
deputados; um destes, é o deputado Fernando Viana que a chamou de “Sinhá Moça”,
referindo-se aos cuidados que ela tinha de andar sempre muito bem trajada. Quando
prefeita, na sua administração, Ferreira (2006, p. 85) conta que ela:
[...] priorizou a organização fundiária do município, em virtude de litígios com a
Igreja Católica que já duravam anos. Por esta razão, enfrentou a oposição do
Padre Alfredo Bacelar, que se tornou grande adversário da família da prefeita. Foi
dele o comentário jocoso quando a prefeita se dirigia a cavalo para dar expediente
na prefeitura: ‘”A prefeita está tão convencida que vai querer ser deputada’. Eu
disse: ‘Padre Alfredo, o senhor me deu uma idéia, pois vou ser deputada! ’”
(Dalva Bacelar, ex-prefeita e ex-deputada maranhense).
Estudos como o de Ferreira (2007) apontam que no Maranhão, na década de 1970,
as mulheres também estavam se organizando em movimento, associação de bairro, lutando
contra diversas mazelas sociais, injustiças, enfrentaram vários embates, tal como a luta pela
moradia. No final dessa década, a maioria dos bairros de São Luís se formou em um
processo de ocupação; este fato é dado por falta de política agcola e também pelos
grileiros que expulsam da terra os lavradores. Estes, sem terem condições de trabalho e
moradia, vão em busca de sobrevivência nas grandes capitais, sobretudo, em São Luís. Essa
obra de Ferreira que está aludida anteriormente coloca que as mulheres estavam à frente
37
dos movimentos pela moradia para garantir a posse dessas áreas, enquanto que os homens
ficavam na espreita, quiçá por estarem mais expostos à ação da polícia.
No decorrer da década de 1980 no Maranhão, o processo de organização do
movimento feminista, de movimento de mulheres, também se deu em torno dos mesmos
eixos que impulsionaram as demais organizações de mulheres ao nível nacional, como foi
colocado no início deste capítulo. Ou seja, as maranhenses envolvidas nessas organizações,
teceram discussões sobre os seguintes temas, segundo Ferreira (2007, p. 96): “participação
política, dupla jornada de trabalho, saúde, sexualidade, maternidade”, enfim, sobre a
situação na qual se encontrava as mulheres na sociedade. A priori, essas discussões ficaram
restritas somente no âmbito da capital maranhense. Da mesma forma, fazia parte da agenda
desses movimentos a preocupação com a esterilização desenfreada de um considerável
número de mulheres em idade fértil (de 15 a 49 anos). Esses índices altíssimos de
esterilização foram constatados em 1991 pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI)
onde foi revelado que os estados do Maranhão e Goiás eram os principais estados
brasileiros com o maior número de mulheres esterilizadas na idade fértil CONGRESSO
(Apud FERREIRA, 2007, p. 98). Essa preocupação que o Grupo de Mulheres da Ilha
manifestava desde início da década de 1980, passou a ser do Estado na década de 1990;
isso por que esse grupo juntamente com outros movimentos de mulheres, principalmente o
Grupo de Mulheres Negras Mãe Andresa, fizeram fortes pressões junto ao governo para
redução da prática de esterilização que, na época, só no Maranhão apresentava 79,9% desse
método contraceptivo em mulheres de 15 a 54 anos de idade. E, geralmente, entre estas
mulheres esterilizadas, a maioria era negra e muito jovem, segundo denúncia do Grupo de
Mulheres Mãe Andresa (Apud Ferreira, 2007, p. 145).
Posteriormente, foram surgindo vários grupos maranhenses, tais como, salienta
Ferreira (2007), o Grupo de Mulheres da Ilha, sendo este o pioneiro a se organizar e o mais
combatente, entre os demais, Grupo 8 de Março, União de Mulheres, Espaço de Mulher,
Viva Maria, Grupo de Mulheres Negras Mãe Andresa, núcleos de partidos; enfim, ao longo
desta década de 1980 foram surgindo outros núcleos de mulheres relacionados a sindicatos
de bancários, comerciários e ferroviários. Depois, foi criado o núcleo de mulheres da CUT
(Central Única dos Trabalhadores); assim também as trabalhadoras rurais se articulavam
tanto no interior dos sindicatos quanto fora deles.
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No pleito eleitoral do ano de 1990, as integrantes do Grupo de Mulheres da Ilha
elaboraram e enviaram para a Frente de Oposição Popular documentos que continham
propostas relacionadas à educação, saúde, violência, dentre outras questões mais gerais.
Nesses documentos, elas chamaram a atenção para a responsabilidade que tinham de
compartilhar da construção de novos caminhos para a sociedade maranhense, sobretudo nas
questões que concernem o público feminino. Essas contribuições apresentadas por esse
grupo eram consideradas importantes e deveriam ser inseridas na campanha, assim como na
agenda estadual de governo (FERREIRA, 2007).
Pode-se sugerir que todas essas organizações têm objetivo comum de denunciar e
combater todo e qualquer tipo de discriminação contra a mulher e outras categorias que são
tidas como “minorias”, de reivindicar respeito, direito de igualdade, vez e voz, de ter uma
vida digna. Além disso, também tem como foco romper a tradicional situação em que
foram postas as mulheres, traçando, assim, novos rumos e publicando as verdadeiras
protagonistas da história que, até então, são apenas sombras tênues.
A luta da mulher maranhense pela inserção na política partidária não cessou por ai,
muito pelo contrário: essa batalha vem se fortalecendo frequentemente para que possa ser
garantida a presença feminina no Parlamento, Câmara, Vice Prefeitura, Prefeituras, enfim,
nas diversas estâncias de poder deliberativo dessa região. Vemos, então, que o Maranhão
sempre contou com a presença marcante da mulher em seu contexto político. No entanto, a
sub - representação feminina nesse Estado se apresenta em todos os cargos eletivos.
Atualmente, na Assembleia Legislativa, existe um total de 42 parlamentares, entre estes 7
são mulheres, a maioria engajada em partidos tradicionais. na Câmara Municipal totaliza
21 vereadores, no qual apenas 1 mulher; esta filiada ao PC do B, que fez parte desta
pesquisa, dando-me uma entrevista.
Entre essas 7 mulheres parlamentares, 4 destas concederam-me entrevistas, assim
como, a ex-chefe de Estado e a vereadora, que constituem o pilar da minha pesquisa. Desta
forma, é extremamente oportuno apresentar, mesmo que de forma breve, alguns elementos
que podem ser considerados marcas específicas da política maranhense. Isto é, estamos
falando da família Sarney na configuração da política maranhense, onde estão inseridas as
nossas pesquisadas.
39
A força da família Sarney na política maranhense, como atestam os estudos de
Gonçalves (2000; 2008), é tão significativa que é difícil definir o seu alcance. Pois, esta
família é proprietária do Sistema Mirante de Comunicação, rádios, televisões e o jornal “O
Estado do Maranhão”, que são usados de modo estratégicos para se promoverem
politicamente, assim como para ajudar os seus aliados. E, sobretudo, construiu ao longo dos
anos, com base numa rede de parentesco, uma presença maciça em várias estâncias de
poder no Maranhão, o que garante a perpetuação no comando da política desse Estado.
Nas assertivas de Gonçalves (2008, p. 80):
São diversas as instâncias que abrangem essa rede de parentela, perpassando a
ocupação de cargos de direção nos partidos políticos – José Sarney Filho, líder do
PV na Câmara dos Deputados –; nas instâncias do poder judiciário a
desembargadora do TJ-MA, Nelma Sarney, cunhada de José Sarney –; em órgãos
do poder executivo e do poder legislativo Roseana Sarney Murad, senadora da
República pelo PFL/MA, [atualmente DEM], filha de José Sarney, José Sarney
Filho, deputado federal, Carlos Muniz Filho, deputado estadual pelo PFL/MA e
ex-genro de Roseana Sarney Murad, Albérico França Filho, deputado federal pelo
PMDB/MA e primo paterno de José Sarney, Evandro Sarney, conselheiro
aposentado do TCE/MA, Álvaro França Ferreira, primo paterno de José Sarney,
atual vice-presidente do TCE/MA.
Na esfera econômico-administrativa, Fernando Macieira Sarney e Tereza Murad
Sarney, ele, Presidente do Conselho de Administração e ela, presidente do
Sistema de Comunicação Mirante, [retransmissora da Rede Globo], filho e nora
de José Sarney, respectivamente; no campo intelectual e burocrático Evandro
Sarney, membro da AML e conselheiro aposentado do TCE/MA; no campo
jornalístico – Ivan Sarney, irmão paterno de José Sarney. [...].
A trajetória da Roseana Sarney Murad talvez seja o mais contundente exemplo da
força política que essa família possui no cenário da política maranhense, assim como no
nacional. Com efeito, a Roseana Sarney Murad começou a carreira política com o cargo de
deputada federal em 1990. Nas eleições de 1994, foi eleita governadora do Estado do
Maranhão. Em 1998, foi reeleita governadora do Maranhão. Em meados de 2001 e início
de 2002, foi pré-candidata do extinto PFL às eleições presidenciais, porém, desistiu,
forçosamente, por estar envolvida no chamado “escândalo Lunus” (GONÇALVES, 2008).
Já em 2002 foi eleita Senadora da República por este mesmo partido.
Esse poderio exercido por esta família fez com que Roseana Sarney Murad se
tornasse a primeira mulher a governar um Estado Brasileiro, entrando, assim, para a
História do Brasil, o que marca a legitimação política de Roseana Sarney Murad.
40
1.2. A democracia nos partidos políticos depois das cotas
Não se pode falar de democracia sem falar em participação política, porque estes
fenômenos são estreitamente relacionados, e a qual relação é complexa e sensível. Nesta
ótica, a participação política aponta ser a trilha para a democratização. Embora se percebe
que nem todas as democracias aduzem considerados níveis de politização em sua vida
social, assim também nem todo ativismo realmente significa que é uma luta por direitos.
Em relação à ideia de democracia no Brasil nos anos pós-ditadura militar, Avelar
(2007) supõe o envolvimento dos cidadãos nos mais diversificados ativismos políticos.
Essas atividades políticas podem ir desde as mais elementares, tais como conversas com
parentes e amigos sobre diferentes acontecimentos políticos em várias localidades etc, até
aquelas mais complexas como votar e ser votado, inserir-se nos mais altos escalões do
governo, associar-se nos movimentos que lutam por uma prática política mais ética e
transparente, fazer parte de grupos que reivindicam o direito de cidadania etc. Isto por que
se compreende a participação política como um instrumento de legitimação e
fortalecimento das instituições democráticas e de ampliação dos direitos de cidadania.
Todavia, através desta organização política foi possível para um conjunto de pessoas
organizadas politicamente lutar contra os valores que justificavam as estruturas sociais de
enormes desigualdades.
Neste propósito, a consolidação da ideia de um Estado de soberania popular
possibilita a cada cidadão, sem fazer distinção da posição desses cidadãos na sociedade
civil, a garantia de reivindicar os seus direitos, para que possa superar a sua desigualdade
diante daqueles que sempre usufruíram certos privilégios sociais e políticos.
Além do mais, a extensão da participação, paulatinamente, foi se constituindo nas
instituições políticas.
As acepções de Avelar (2007) mostram que, durante o século XX, os partidos
políticos e os movimentos sociais, sobretudo os movimentos de mulheres, foram os
protagonistas pelo avanço da democracia, tornando-se exemplos de ampliação propícios à
democratização política, assim também do alargamento da participação e fortalecimento da
sociedade organizada. Não obstante, nos dias de hoje, é comum se vê naquelas “sociedades
onde ainda existem ões clientelísticas e acentuadas desigualdades sociais, práticas
41
cometidas por partidos políticos dos séculos XVIII e XIX que mantinham contato com a
população somente nas circunstâncias eleitoral” (AVELAR, 2007, p. 263).
Neste contexto, a cidadania passou a ser entendida como direito de qualquer
cidadão, sem nenhuma distinção de pertencimento, em essencial, a condição social e
econômica, mesmo havendo consideráveis distanciamentos entre os direitos formais e os
reais (AVELAR, 2007).
De fato, com a efetivação da democracia, os partidos políticos tiveram maior
abertura com a Constituição de 1988, que propiciou o surgimento de vários partidos;
também garantiu aos pequenos partidos políticos o acesso gratuito aos meios de
comunicação, isto é, à televisão para a propaganda política eleitoral. Os direitos políticos
adquiriram amplitude nunca antes atingida, como também a amplitude das candidaturas de
mulheres aceita pelos órgãos institucionalizados; essas, dentre outras importantes
conquistas que resultaram de árduas batalhas da sociedade organizada, foram construindo o
processo de democracia no país e as práticas democráticas se fortaleceram muito mais.
Nos anos 1990, com a implantação da lei de cotas nos partidos, houve nas eleições
parlamentares de 1998, um pequeno aumento sobre as candidaturas femininas para a
Câmara Estadual. A prática de democratização favoreceu inegavelmente este fato, no
entanto, nos partidos políticos, assim como em outras instâncias de discussões e vias de
acesso aos poderes públicos decisivos, a democracia ainda é bastante tímida, para não dizer
ineficiente, ou, talvez, inexistente para determinados segmentos da sociedade.
Observa-se que em algumas sociedades capitalistas, como o caso da brasileira, o
processo da democracia participativa caminha a passos lentos. Além disso, o sistema de
uma democracia representativa exclui a participação direta do povo das arenas de tomadas
de decisões.
A democracia nos partidos políticos, segundo Avelar (2001), até agora ainda é
muito complexa, mesmo com o progressivo amadurecimento democrático que pode ser
observado na evolução partidária, pois pode se vê os reflexos dessa complexidade na
dificuldade que as mulheres candidatas m em competir em mesmas condições de
igualdade com os homens. A desigualdade de gênero neste sistema representativo faz com
que as muitas mulheres partidárias não se sintam amparadas da mesma forma que os
homens nesse sistema democrático. Embora haja a aquisição das cotas nos partidos, estes
42
não potencializam de forma pragmática a representação feminina nas cúpulas partidárias e
nos parlamentos.
Essa diferença de tratamento que os partidos dispensam às mulheres, apesar do
sistema de cotas e de todo um discurso democrático, aponta que estes enquanto instituição
política não deixa de assimilar os dilemas sociais existentes na nossa sociedade, como as
representações de inferioridade que permeiam as relações entre os homens e mulheres. Ou
seja, as representações de subalternidade atribuídas às mulheres estão fortemente presentes
nos partidos políticos: os homens enquanto candidatos são mais valorizados politicamente
do que as mulheres. Este sistema democrático brasileiro precisa ser repensado, porque não
há realmente paridade entre as representações.
43
CAPÍTULO 2:
A história das mulheres no campo da política partidária em São Luís
Maranhão
2.1. As estratégias e os diferentes tipos de capitais que são utilizados pelas
mulheres para adentrarem e se manterem na política partidária em São Luís
Maranhão.
Como foi exposto no capítulo anterior, na parte que trata da história das mulheres na
política maranhense, sua entrada se através de vários embates, pois, as análises das
entrevistas feitas com as parlamentares maranhenses, em fevereiro de 2009, revelaram
que as mesmas lançaram mão de uma série de estratégias visualizadas pela utilização de
capital social que as possibilitou a entrada e/ou a permanência na política partidária
maranhense.
Dado à peculiaridade, como foi colocado no capítulo anterior, é visível quando se
analisa a trajetória das narradoras, o peso significativo que tem o capital social. Podemos
observar, então, a exposição da narradora V (PSDB):
[...] Então a minha mãe conseguiu com alguns amigos da
família, é evidente, me ajudar. no interior tal, ela ligava pra um
amigo, como ela faz política a vida inteira, tem uma história
longa, então ela conhece como deve atuar neste meio. Aí ela ligava
e dizia: ‘fulano você tem compromisso?’ - “Não!” Pois, então,
ajude a minha filha que ela é candidata. E por ai foi, foi, foi [...]
aquela coisa! [...]. Mas na minha eleição mesmo, ajuda? Ajuda
dos amigos. De alguns amigos da família e amigos meus que eu
construí ao longo da minha vida. Então foi isso ai, eu não tive,
como eu diria, eu não fui deputada em cima de nenhum esquema,
não tive essa história, não tenho voto de curral. Meus votos não
são de curral, é ruim falar nisso, né? Porque voto de curral é
como se o povo não soubesse votar, mas infelizmente ainda a gente
encontra isso, não pra ser hipócrita e dizer que num estado
como o Maranhão, de 5 milhões de habitantes [...] pobre, muito
44
pobre, você não vai dizer que não vai encontrar voto de curral,
porque você encontra. Não é nem porque o povo quer, é porque o
povo não teve a oportunidade de poder escolher, não aprendeu a
escolher porque infelizmente a estrutura de poder que foi criada
ao longo de muitos anos, não fez com que eles tivessem essa
oportunidade. Então a gente ainda tem muito isso no Maranhão,
infelizmente [...], ( São Luís, 11/02/09).
Nota-se no início deste relato como é emblemática a fala desta narradora sobre a
utilização da estratégia do capital social. Assim, fica explícito que ela contou com o
apoio incondicional da família, em especial da mãe dela, e de amigos influentes para
ajudá-la. É filha de um dos políticos muito influente na política maranhense, que esteve
e está atuando em vários campos da política local e nacional.
Assim também se evidencia o uso deste capital social como estratégia para o
ingresso na política maranhense, o que podemos observar pelo relato da narradora I
(PSDB):
Com a eleição do meu marido para prefeito de Caxias
5
, ele deixou de
ser deputado estadual e agora precisa eleger seu representante para a
Assembléia Legislativa. Consultando todos os líderes caxienses, o
prefeito conseguiu unanimidade em torno do meu nome para esta
grande missão. Todos os vereadores, lideranças comunitárias e
políticas afirmaram que o meu nome une as lideranças, tenho
capacidade política, tenho história de vida pessoal, familiar,
profissional e política extraordinária [...], (São Luís, 05/02/09).
Neste relato, fica visível que é bem mais interessante que o marido dessa narrado
abdique do seu cargo de deputado estadual e vá para o Executivo Municipal. Desta
forma, acredita que manterá a aproximação mais diretamente com o seu eleitorado,
sendo assim, terá mais possibilidades de fazer a sua esposa sua sucessora no Legislativo
Estadual maranhense e, com isso, permanecerá no domínio e comando da política deste
interior.
5
Caxias – cidade do interior do Maranhão, fica aproximadamente a 360km da capital São Luís, com
população de 148.072 mil habitantes. Segundo estimativa do IBGE (2009), está situada na mesorregião leste
maranhense.
45
Estas representações políticas vão se reproduzindo e afirmando a circulação de
demais membros da família, tais como: esposa, irmãos, cunhados, filhos, tios etc., assim
também como de seus correligionários. Essa prática é cometida pela maioria das
famílias maranhenses que estão inseridas na política partidária, como está visivelmente
posto no relato da narradora V:
[...] sou filiada ao PSDB partido que meu pai também é filiado [...]
a minha família é de políticos, quer dizer, o meu pai faz política
muitos anos, começou como deputado federal, muito jovem com 30
anos de idade, teve quatro mandatos como deputado; foi
governador do Maranhão aos 40 anos; foi senador e agora é
prefeito de São Luís. A minha mãe foi a primeira mulher eleita
prefeita de São Luís [...], (São Luís, 11/02/09).
O que pode ser observado nesta colocação, é que, geralmente, eles escolhem
partidos com perspectivas semelhantes para que talvez no futuro possam vir a se
coligarem, ou, então, para que possam se fortalecer mutuamente. Esta ação não deixa de
ser uma estratégia de utilização do capital social usada por um determinado grupo para
ampliar e permanecer nessas relações políticas. Com efeito, Bourdieu (2008, p.67) coloca
que: “[...] os efeitos sociais [...] não são redutíveis ao conjunto das propriedades
individuais possuídas por um agente determinado [...]” Ou seja, entende-se nessa
colocação de Bourdieu, que os resultados do acúmulo de capital social não se reduzem às
particularidades de um único indivíduo, e sim de um grupo que obtêm e pode mobilizar
esse volume de capital social.
Isso se manifesta também na fala da narradora anterior, quando ela cita a maneira
especial e respeitosa dispensada às “mulheres” do seu partido. A seguir, temos o
depoimento da narradora V (PSDB):
[...] Eu, por exemplo, aqui eu sou a secretária geral do partido, da
executiva. Tudo bem que é evidente, não dá pra negar que há
influência do meu pai, porque ele é do PSDB, este lugar estaria à
disposição dele e eu assumi naturalmente [...], (São Luís,
11/02/09).
46
Cabe ressaltar um outro ponto importante que o pode passar despercebido na fala
dessa narradora, é a forma de como ela vê a intervenção do pai para lhe garantir o cargo de
secretária geral do partido, da executiva. Intervenção essa que é vista por ela como algo
natural, dado. Todavia, no cenário político maranhense, esta prática não ocorre somente
com esta narradora, mas sim com um considerável número de pessoas que têm, de certa
forma, parentes influentes que possuem certos privilégios e, consequentemente, um
acúmulo significativo de capital social. Esta ação é o que Bourdieu (2008, p.11) chama de
estratégia ideológica, que segundo ele, tais estratégias, “[...] por sua vez, visam legitimar os
privilégios, naturalizando-os [...]”.
Nesta mesma perspectiva, a narradora I (PSDB) também se refere ao lugar que ela
ocupa na Assembleia Legislativa, como sendo uma sucessão, um direito naturalizado à
família dela, ou ao grupo político do marido. Podemos observar o seu depoimento:
[...] eu o poderia deixar esse espaço que meu marido tinha
conseguido por quatro (04) mandatos em aberto [...] e ai foi que
eu me decidi a ocupar esse espaço que foi dele, que era de um
grupo político dele [...]. (São Luís, 05/02/09)
Na colocação desta narradora, vê-se como ela define o espaço na Assembleia
Legislativa como sendo um lugar registrado que só pode ser ocupado por alguém da família
ou do mesmo grupo político. Na ótica de Bourdieu (2008, p.11) essa prática é definida
como “[...] As estratégias sucessórias têm por fim a transmissão do patrimônio, com a
menor possibilidade de degradação, de uma geração a outra [...]”.
Uma outra estratégia favorável para o ingresso das narradoras I e V neste campo,
como elas asseguraram nas entrevistas, quando lhes foi perguntado quais foram os apoios
no sentido de incentivo, encorajamento e financeiro que tiveram para adentrarem na
política partidária, elas responderam que foi também a condição econômica das mesmas;
como afirmaram que advém de famílias que possuem uma certa condição financeira, isso
possibilitaria a inserção delas em tal espaço, como está registrado nas suas falas, que serão
apresentadas a seguir. Comecemos pela narradora I que, além de médica, era proprietária de
um hospital. A seguir, temos o seu relato:
47
Na verdade eu sou médica 30 anos, tenho um serviço médico
muito vasto, grande [...]. Fui proprietária de um hospital que foi
referência no Maranhão; hoje em dia tenho um centro de
hemodiálise que atende mais de 200 pacientes por mês; tenho uma
clínica ambulatorial com tomográfico, com ultrassonografia, com
tudo que deve ter, e o meu marido foi deputado com quatro (04)
mandatos [...] Mas, sendo muito sincera, ajuda? Ajuda a gente
tem, mas não foi uma ajuda porque nós temos uma história, e
quem tem uma história é mais fácil, viu? Pois com certeza é mais
fácil [...]. (São Luís, 05/02/09)
Continuando, ela ressalta:
[...] junto com outros profissionais alugamos instalações para
montar um hospital e alguns anos depois construímos a Casa de
Saúde e Maternidade de Caxias que se tornou a grande referência de
saúde em todo Maranhão [...]. As pessoas faziam filas para disputar
uma consulta, uma cirurgia ou uma internação no nosso hospital,
meu e do meu marido [...]. A nossa fama como médico crescia na
cidade e na região. Admirados como médicos, conquistamos o
respeito como empresários. Cumprindo rigorosamente todos os
nossos compromissos que fazíamos, inclusive com pessoas ilustres
visitando o hospital, tais como o então ministro do STJ, Edson
Vidigal e o saudoso senador Alexandre Costa [...]. (São Luís,
05/02/09)
Este fator também pode se evidenciar na fala da narradora V (PSDB), que também
possui certa condição financeira, embora ela não explicite isso, mas está claro em sua fala,
quando enfatiza que pertence à família de políticos, como foi aludido anteriormente, que
o pai dela ocupou e continua ocupando diversos e altos cargos na política maranhense e
brasileira, e que a mãe dela já foi prefeita da capital ludovicense. O capital político do pai e
da mãe dessa narradora favoreceu o seu ingresso ao campo político, como podemos
observar, a seguir:
48
[...] meu pai era deputado, deputado federal, senador [...]; minha
mãe foi prefeita de São Luís [...] eu já fui filha de governador [...].
(São Luís, 11/02/09)
O fato dessa narradora ser filha de políticos, viver a política dentro de casa,
favoreceu a sua entrada neste campo, o que podemos observar pelo seu relato a seguir:
[...] vivo a política em casa, enfim, desde garota, uns 08, 09 anos
de idade, eu vivia isso na minha casa... A minha relação, a gente
convivia, isto é, eu morava em Brasília e a gente se relacionava
muito com filhos de políticos, aquela coisa, e ai eu na realidade eu
cresci nesse meio. E a gente acaba que, eu não diria que filhos de
políticos têm que ser políticos, não existe essa regra pra nada, mas
às vezes, você pensa: essa coisa no sangue. Então, a política
na minha vida há muitos anos [...]. (São Luís, 11/02/09)
Um elemento que merece ser destacado na exposição anterior é que ao contrário do
que a narradora fala, que filhos de políticos não necessariamente têm que ser políticos,
parece que no caso específico dela, que é filha de políticos, que conviveu com filhos de
políticos, enfim, viveu desde a mais tenra idade no meio político, ajudou a desenvolver nela
um habitus políticos. Habitus que é definido por Bourdieu (2007, p.164) como:
Estrutura estruturante que organiza as práticas e a percepção das práticas, o
habitus é também estrutura estruturada: princípio de divisão em classes lógicas
que organiza a percepção do mundo social é, por sua vez, o produto da
incorporação da divisão em classes sociais [...].
Além disso, o habitus, enquanto um estilo de vida, uma visão de mundo é
transmitido pela família, neste sentido, Bonnewitz (2003, p. 79, grifos nossos) situa que:
[...] É assim que o habitus pode ser considerado como um mecanismo de
interiorização da exterioridade. Interiorizamos as propriedades ligadas à posição
de nossos pais no espaço social. Sujeitos situados em condições sociais
diferentes vão adquirir disposições diferentes.
Neste sentido, o habitus é transmitido pela família, é uma herança familiar que a
pessoa recebe desde a infância, desta forma: “Entre todas as ações pedagógicas que
sofremos, as mais decisivas são as mais precoces, as que sofremos durante a infância, e que
49
tiveram como resultado inculcar-nos um habitus primário”. (BONNEWITZ, 2003, p. 78).
Nessas assertivas deste autor, esse habitus primeiro é transmitido de forma tão decisiva que
a pessoa que recebe chega a pensar que certos gostos ou preferências que têm, são coisas
que estão no sangue, como a narradora V afirmou anteriormente que: essa coisa no
sangue. Quiçá, por ela compreender isso, é que, talvez, preferiu a política à profissão de
arquiteta que, segundo ela, foi uma escolha pessoal.
De acordo com Bonnewitz (2003), o habitus primário é recebido pela pessoa no seu
meio familiar desde a infância, e é esse processo que parece ter ocorrido com a narradora V
que cresceu no âmbito familiar de políticos.
Decidiu-se apresentar essas falas das narradoras I e V (ambas filiadas ao PSDB),
porque se constatou que elas possuíam boas condições econômicas, permitindo-nos aventar
que as mesmas podem ter também utilizado dessa condição para viabilizar suas vidas
políticas.
O que é central na exposição dessas narradoras é que devido a determinadas
circunstâncias, elas puderam construir um forte capital social. O caso da narradora I é
emblemático nesse sentido. Isto é, o fato de ela ser médica, assim como o marido, e ter um
hospital, a colocavam em contato com uma rede ampla de pessoas; segundo ela: [...] em
Caxias construí uma ampla rede de amigo. É provável que a mesma utilizasse dessa
condição favorável, na qualidade de médica e de possuir um hospital, para encaminhar as
suas expectativas de inserir-se na vida política caxiense. Um outro elemento fundamental é
que o marido da narradora I, também médico, que, junto com ela, é dono de um hospital
como foi mencionado, estava inserido na vida política de Caxias, uma vez que o
mesmo era vereador desse município. Assim, a carreira política dele contribuiu para que as
expectativas políticas dessa narradora se realizassem, como fica explícito em sua
exposição. A seguir, a narradora I diz:
O nosso sucesso profissional e pessoal levou ao nosso sucesso
político [...]. O meu marido se torna em 1988, vereador, e dois
anos depois, deputado estadual por Caxias [...]. Em 2002, ele se
reelege deputado estadual com maior votação de Caxias. Em
2004, o povo [...] elege o 14 para dirigir os destinos da cidade
[...]. Eu optei por dirigir a Secretaria de Ação Social para cuidar
50
ainda melhor das pessoas mais pobres e abandonadas de nossa
terra [...]. (São Luís, 05/02/09)
O interessante é que a narradora I ao comentar sua entrada na política local parece
querer demonstrar que ela por si mesma não tinha nenhuma ambição, o interesse de entrar
na política e que só o fez atendendo os rogos do povo. Segundo ela, o povo caxiense a tinha
em alta conta pela sua competência profissional e que devido a isso, eles, a despeito dela
não fazer questão, a queria no governo. A seguir, ela comenta:
[...] assumi novamente a direção da Casa de Saúde. A Câmara dos
Vereadores reconheceu o meu trabalho que fiz enquanto médica, e
me concedeu o título de cidadã caxiense, que recebi em meio a
grandes amigos. Então, a minha vida era repleta de realizações!
[...].Tinha uma filha e um filho, uma profissão encantadora, então,
o que mais poderia querer? (risos). O povo de Caxias queria mais
para mim. Em 1999, assumi o cargo de vice- prefeita da Cidade
[...]. Simultaneamente, exerci a função de secretária de saúde do
município [...]. (São Luís, 05/02/09)
Prossegue a narradora I, falando da sua não pretensão de ingresso na política
partidária. Segundo ela:
[...] A cassação do prefeito abre a possibilidade para mim me
tornar prefeita da cidade. Diante do ambiente político tenso e
tumultuado, eu preferi voltar para os meus pacientes e viabilizar
uma solução de compromisso que ao presidente da Câmara a
cadeira de prefeito de Caxias. Esse meu desprendimento político é
elogiado por todos. Abri mão do principal cargo político da cidade
para unir as correntes políticas dessa cidade [...]. (São Luís,
05/02/09)
Esse desprendimento político da narradora nada mais é do que uma perspicácia dela
e, talvez, do seu grupo político, para transformá-lo em estratégia, e deixar que aquele
momento tenso e tumultuado se tornasse rarefeito, para que ela pudesse mostrar realmente
o seu autêntico interesse em ingressar na vida pública daquele lugar. Assim, ela
51
conquistaria apoios não do grupo político em que ela está inserida, como também de
outras correntes políticas locais. E, como está exposta ainda nessa narrativa, ela deixa claro
as articulações feitas para viabilizar o seu acesso ao cargo, não de prefeita da cidade, mas
sim de deputada estadual. Essa atitude mostra a sagacidade que a maioria das pessoas que
estão nesse campo de força precisam ter.
No entanto, ao analisar as entrevistas, constata-se que nem todas elas possuem o
mesmo volume de capital exposto anteriormente, isto é, de capital social presente nas
relações influentes construídas pelas famílias e também pelas próprias narradoras aludidas
anteriormente. As narradoras de que agora lhes faço referência, embora tendo utilizado
capital social expresso nas relações familiares para adentrarem na política partidária, não
contaram com o mesmo acúmulo deste capital. Isto por que o seu cleo familiar não
contou e nem estava inserido numa ampla rede de relações de pessoas influentes no campo
da política, as quais elas poderiam mobilizá-las. Desta forma, o capital social construído
por estas narradoras está intimamente ligado às relações que elas estabeleceram dentro dos
movimentos sociais dos quais faziam parte, como é o caso da narradora II (PPS) que contou
com ajuda dos amigos desses movimentos, sobretudo, do de cunho religioso, como a
mesma nos conta no seu relato, a seguir:
Acima de tudo, eu tenho na verdade, um apoio muito grande da
família [...] Contei mesmo com ajuda de amigos dos movimentos
sociais de cunho religioso [...]. [...] Então, o apoio financeiro se
deu individual. Do meu trabalho, do meu marido, dos meus
irmãos, da minha mãe, do meu pai, dos meus tios, dos meus
amigos mais próximos que se juntaram todos e cada um...Um
pagou o cartaz, um pagou a cola, um pagou o combustível, um
pagou...Estrutura realmente necessária que foi preciso pra que nós
fizéssemos, levássemos adiante a nossa mensagem [...]. (São Luís,
09/02/09)
Também é o caso da narradora VI (PCdoB) que nos informa que:
[...] Nós não tivemos uma ajuda financeira [...]. [...] O que
necessariamente o partido nos ajudou indiretamente como a todos
os homens, através de santinhos, através de cartazes, só. Então a
52
nossa candidatura teve um... Foi muito árdua a nossa trajetória.
Muito árdua. [...] não tinha estrutura financeira; sou de origem
popular; sou funcionária pública municipal e estadual, [...] e
presto também consultoria. Então, financeiramente nós não
tínhamos dotação para isso. Através de empréstimo, através de
trabalho voluntário de amigos que estavam conosco formando a
equipe, através de voluntários que estavam ali também na fileira,
de corpo a corpo foi quem nos ajudou; um grupo de pessoas que
nos ajudou também a construir todo um projeto político [...]. (São
Luís, 11/02/09)
Continua a narradora:
[...] desde menina acompanhei o meu pai na luta comunitária, ou
seja, o movimento comunitário pra ele era algo que era o sentido
da luta social. Então o meu pai chegou aser vereador de São
Luís, a partir de todo um reconhecimento popular do trabalho
dele, o vereador Hugo Reis, e, eu estava ali, lado a lado com ele
nos embates do movimento comunitário. Ali nasceu hoje o fruto,
ali foi implantado todo esse fruto que é o nosso projeto político
[...] a minha história de vida é de nascer num bairro carente de
tudo, Cruzeiro do Anil. De ver o meu pai, a minha família com
sérias dificuldades, inseridas naquele palco também comunitário
e, lado a lado com ele eu fui assimilando que não se pode quietar
em meio à realidade [...] Depois de meu pai ter falecido [...]
mesmo assim eu permaneci. Permaneci com trabalho [...]
eminentemente comunitário e também [...] missionário [...]
houveram dois lançamentos de candidaturas minhas pelo próprio
bairro Cruzeiro do Anil, várias lideranças comunitárias pediam,
requisitavam a minha candidatura[...]. (São Luís, 11/02/09)
Um dos elementos importantes na fala dessa narradora é o fato de que ela herdou e
potencializou a seu favor, a teia de relações construída pelo próprio pai. Um outro elemento
53
também importante é a sua história de vida, de ser pertencente à classe menos favorecida;
isto nos permite aventar que a sua condição social deve-lhe ter gerado dificuldades de
acesso ao campo político. Com efeito, as autoras Tabak e Toscano (1982) chamam a
atenção, como fora aludido na introdução deste trabalho, para as dificuldades que a
“mulher comum” tem para adentrar no campo da política partidária, e, uma destas
dificuldades, dentre tantas outras, são as dificuldades financeiras que, de uma certa forma,
acabam sendo uma condicionante para o descaminho dessa política e, dada essa condição, a
maioria dessas mulheres pertencentes às classes desprivilegiadas acaba sendo mera
expectadora deste campo de discussão e de tomada decisória.
A trajetória da narradora III (PT) indica como o seu envolvimento nos movimentos
sociais, de cunho religioso, foi vital para ela se candidatar. O interessante, como será visto
na fala dela que será apresentada a seguir, é que essa narradora consegue se eleger,
realmente, após sua maior participação nos movimentos sociais. Isso ocorre somente depois
de sua aposentadoria do cargo de promotora de justiça.
Esse é um dado relevante porque mostra como foi fundamental na trajetória dessa
narradora o capital social construído no interior dos movimentos sociais. De fato, enquanto
ela exercia o cargo de promotora, ela concorreu às eleições dos anos de 1985, 1986, 1988 e
1990 sem obter grandes êxitos. No entanto, assim que ela se aposenta e com isso ela pôde
se inserir mais efetivamente nos movimentos sociais, a mesma consegue ocupar o cargo de
vereadora nas eleições do ano de 1996. A seguir, temos a exposição desta narradora:
[...] Eu estar na política: eu sempre considero, me entendi,
me conheci... Mais ou menos com algumas inquietações do
mundo... E vivências sempre era provocativo [...] e tive durante
muito tempo a militância não nessa perspectiva do que está ao
meu redor, conhecer a realidade e me inquietar e aos poucos
cheguei num determinado momento que o Golpe, a Ditadura
Militar e depois eu entrei no Ministério Público, sofri as restrições
pra militância político - partidária, vivi. Eu me aposentei, até pra
ficar mais livre para tirar as teias que me impediam de certas
atividades como a prática da advocacia e a militância nos partidos
políticos [...]. A militância é muito mais do que sendo candidata ou
54
tendo um mandato, [...], a militância política se faz no sindicato,
se faz em casa, faz na rua e nas organizações dos movimentos
sociais. Em 85, 86, 88 e 90 eu estava registrada em partidos
políticos e enfrentei candidaturas, mas não me sentindo bem à
vontade porque terminada a eleição, eu ficava proibida da
militância porque ainda estava ativa no ministério público [...]
Com a aposentadoria eu voltei a me candidatar em 96 para
vereadora [...] fruto de todo um sentimento coletivo que ia desde
setores jovens a setores mais amadurecidos pelo tempo... e com
eixo de atuação [...]. Foi uma candidatura que tinha sua base de
sustentação nos movimentos sociais, e, o que eu considero de
maior relevância... o desafio de ser Igreja no mundo, inclusive,
sobretudo, o desafio terrível que é no mundo da política. Então,
isso é que foi a grande sustentação. (São Luís, 05/02/09)
Um outro dado importante nesse relato anterior que a narradora faz é que a mesma
viveu as proibições impostas pela Ditadura Militar. Ela teve o seu ativismo político
partidário inibido, assim como a maioria da população brasileira, como está aludido no
capítulo I; viveu naquela época. Ela foi impedida de realizar, como ela mesma coloca,
certas atividades que julga de suma importância em uma trajetória política construída nas
bases comunitárias, no âmago dos movimentos sociais.
Continuando, ela destaca:
[...] Então até 90 eu me candidatava, mas na hora que terminava a
eleição, caia fora. Não participava de nada da atividade
partidária. (São Luís, 05/02/09)
Embora nos anos 1990 não houvesse mais as fortes restrições de participação
políticas impostas pelo Governo Militar, essa narradora ainda era impossibilitada pelo
exercício de sua função, de não poder mais continuar vinculada às ações político
partidárias.
Ainda neste contexto de contar com apoios para suas candidaturas aos cargos de
representatividades em tais espaços, foi-lhe perguntado, com base no que ela havia dito que
55
contou com ajuda de determinados movimentos sociais para o seu ingresso na vida pública,
se ela vem de movimentos, de lideranças nos movimentos sociais; a mesma diz que:
Eu não tenho um sindicato, eu não tenho um prefeito, eu não tenho
uma prefeita, eu não tenho esse patrocinador. A votação é muita
diluída, então isso me reforça até o município em que tive um voto,
ele é parte desse mandato tanto quanto. (São Luís, 05/02/09)
está explícito que mesmo suas candidaturas sendo apoiadas, sustentadas nesses
movimentos, ela não os tem em seu total domínio. Ela também não está atrelada a nenhum
desses órgãos, às prefeituras ou vice-versa. O fato de ter o capital social adquirido nesses
movimentos, contudo, não faz desses movimentos oportunismo.
Ainda dentro deste mesmo contexto, voltamos a fazer referência à narradora V
(PSDB), como foi aludido na fala dela no início deste capítulo, quando a mesma nos
informou que ela não teve votos de curral, embora isso seja uma prática comum no
Maranhão, assim como em outros estados brasileiros, sendo que na região nordeste,
segundo ela, é pior e mais frequente. Com base nesta informação, entende-se que
candidatos que se elegem através dessa concentração de votos, como está marcado no relato
da narradora em questão, como podemos observar a seguir:
[...] A gente tem deputado que foi eleito aqui no nosso estado que
teve votação concentrada de 20 mil votos ali, 15 mil ali, 10 mil
ali, uma coisa assim, louca! E que ninguém conhece, ninguém
conhece. Não tem serviço prestado, mas isso não é aqui no
Maranhão, a gente tem isso em outros estados, infelizmente. Mas,
isso aqui no nordeste é pior, é mais frequente. (São Luís,
11/02/09)
Neste mesmo eixo sobre o cenário político maranhense, a narradora IV (PSDB)
comenta a conduta de alguns políticos que praticam ações ilícitas como a compra de votos
para chegarem e/ou se manterem no poder. Essas práticas se renovam a cada pleito
eleitoral, tornando-se a um modelo de campanha que está cada vez mais comum no
Brasil, assim ela diz:
[...] aquele que tem muito [recurso] ele passa a fazer a campanha
comprando votos, fazendo trocas, e isso no Brasil se perpetuou
56
como um modelo de campanha. Mesmo a Lei Eleitoral proibindo
dizendo não tem mais camisas, não tem mais show, é exatamente
por não ter mais as apresentações de show, de camisas, de brinde;
o brinde é direto, escondido, oculto, subterfúgio. Então você chega
numa comunidade ela diz, voto se me der isso. Essa troca se
perpetua nas campanhas políticas. Quem não tem o dinheiro pra
fazer troca tem que dar o seu... Ou usa o seu papel de campanha,
seus objetos, no convencimento, na persuasão, dizer olha eu trago é
uma nova proposta de mudança da sua realidade, pra que eu possa
legislar sob uma nova proposta de cidadania, mas ainda pesa muito
a miséria, a falta do alimento, a falto do transporte, e as famílias
querem se for por troca. Isso vem se perpetuando em todas as
campanhas. Então essa é a grande dificuldade. o campanha
limpa [...] a prática é essa. (São Luís, 10/02/09)
Novamente sobre o quadro político do Maranhão, a narradora VI (PC do B) também
faz referência a certos candidatos que tentam tirar proveitos para si próprios do período
eleitoral, tais como votos para que possam entrar e/ou permanecer nessa esfera de poder.
Contudo, pelo menos nesta última eleição municipal, o povo ludovicense reagiu a esse tipo
de ação desses prováveis políticos, renovando os seus representantes na Câmara de
Vereadores. Desta forma, ela relata que:
[...] São Luís cansada daquela velha política de tentar conseguir
abocanhar votos e tirar usufruto meramente pessoal, de poder
estar sentado num espaço que demanda poder e voltar daqui a
quatro anos pra este mesmo espaço de poder e voltar pra aquele
mesmo espaço de base popular pra conquistar de novo o voto. São
Luís está cheia disso. Tanto é que a Câmara Municipal de São
Luís foi renovada em quase sessenta (60%) por cento. (São Luís,
11/02/09)
Enfim, o que foi discutido, neste capítulo, sobre as estratégias que essas mulheres
usaram ou usam para ingressarem e/ou permanecerem nesses espaços de poder, mostrou-
57
nos que apesar de algumas das entrevistadas contarem com um volume maior de capital
social e outras com um volume menor desse capital, pode ser constatado que o capital
social foi ou é fundamental na construção das trajetórias políticas das narradoras.
No próximo capítulo, será analisado como estas mesmas mulheres articulam o
público e privado, ou seja, o trânsito delas nesses espaços da política e do poder.
58
CAPÍTULO 3: Público e privado: o trânsito das mulheres nesses espaços da política e
do poder em São Luís Maranhão
3.1. Movimentação das parlamentares maranhenses entre o público e o privado
Este capítulo tratará das experiências vivenciadas pelas mulheres parlamentares
maranhenses que buscam mecanismos para conciliar o exercício da vida pública com o da
vida privada. Como foi exposto no primeiro capítulo, é ainda muito recorrente a ideia de
que o lugar mais apropriado para as mulheres é o espaço privado do lar, pois durante muito
tempo elas viviam confinadas ao reduto doméstico. Como situa Rago (2004), que durante o
século XIX o espaço privado das mulheres foi definido como o lugar natural, ela seria a
responsável pelo lar aconchegante, de cuidar do doméstico, ao passo que caberia aos
homens o espaço público, ocuparem cargos de tomadas decisórias. Atualmente, elas vêm
demarcando presença na esfera pública, sobretudo no mundo da política, embora ainda seja
tímida a representação feminina neste círculo se comparada com a masculina.
No entanto, elas ainda buscam alternativas para tentarem conciliar as esferas pública
e privada que socialmente, até então, ainda são separadas. Na tentativa de aliar esses dois
campos, a narradora II (PPS) comenta sobre essa dificuldade que ela enfrenta para dar
conta de atuar nesses ambientes:
Não é fácil, né? Imagine o que é ser mãe de duas garotas, uma de
três anos e a outra de quatro anos. Eu tenho que ser esposa, estar
dando acompanhamento pro esposo como auxiliar, como
companheira, como parceira, como sócia e ao mesmo tempo
conduzir o mandato [...]. [...], a minha segunda filha de três
aninhos, quando ela nasceu eu estava em plena campanha política,
então eu tinha que levá-la do lado mamando. Então tinha que
amamentá-la e discursar. Terminava de amamentar e tinha alguém
pra segurar pra eu subir pra discursar. Então eu fiz isso inclusive
aqui na Assembleia no primeiro momento que a gente chegou aqui
na casa a minha filha teve que vir um período pra Assembleia,
59
também pra eu ficar mais próximo dela, porque era muito
pequenininha, mas não é fácil, mas a gente consegue. Acho que
essa é a grande virtude da mulher. A mulher, ela é versátil, a
mulher é polivalente, a mulher consegue conciliar as coisas e eu
consegui realmente conciliar isso: conciliar meus filhos com o meu
trabalho [...]. (São Luís, 09/02/09)
Prosseguindo, ela diz que:
[...] eu faço de tudo pra meio-dia ir buscar na escola, porque
quando elas me olham elas vêm correndo com os olhinhos
brilhando, me abraçar, me beijar porque eu tive um horário pra ir
buscá-las na escola e deixá-las na escola, mas não é fácil. Porque
nem sempre pra fazer isso [...]. Tem que trazer pro trabalho, às
vezes tem que viajar com elas, e eu lhe confesso: confesso que
deixei compromissos importantíssimos por conta delas, mas
também lhe confesso que omiti qual foi a justificativa porque às
vezes não se compreende. Você diz não vim porque eu tive que
ficar com as minhas filhas”. Passa que você é irresponsável, passa
que você é displicente, passa que você é descompromissada.
Porque infelizmente a sociedade convencionou isso, mas eu fiz
isso sim [...]. (São Luís, 09/02/09)
Avelar (1989, p.86) cita que, “[...] passar da atividade privada para a vida pública –
e esta em arenas diversas envolve uma análise de custos que, no caso das mulheres, deve
ser vista sob a ótica dos papéis sociais e dos valores subjacentes a eles. [...]”.
E isso está evidente nas narrativas da narradora quando fala dos arranjos que precisa
fazer para poder dedicar-se às “suas” responsabilidades de mãe, esposa e também de uma
profissional da política; ela deixa claro que às vezes precisa fazer escolhas entre as
atividades da política que tem como profissão e a familiar que acredita ser a sua base,
porque lhe é cobrada a sua presença permanente nesses dois espaços, sendo assim, quando
se faz necessário, ela precisa omitir alguns dos motivos que a levaram a não cumprir
determinadas tarefas em defesa de outras.
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Nesta perspectiva Rago (2004, p. 39) cita que:
[...] a situação da mulher brasileira melhorou muito nas últimas décadas, também
cresceram enormemente seus encargos e atribuições, com a duplicação da jornada
de trabalho e o aumento das pressões por excelentes resultados em seu
desempenho profissional, intelectual e pessoal, muito acima do que se exige dos
homens. [...].
De acordo com essa citação, aos homens quase sempre não são exigidos bons
resultados no desempenho de suas funções profissionais, porque eles foram orientados para
viverem nas arenas de discussões, são eminentemente da polis, enquanto às mulheres ainda
são investidas das responsabilidades domésticas que as divide entre arranjos necessários ao
desempenho profissional e ao cotidiano. Com isso, elas ainda precisam evidenciar os seus
malabarismos para mostrarem que são capazes de lidar com qualquer tipo de situação
surgida no interior de tais espaços.
Retomando a entrevista da narradora II, nota-se outro aspecto importante nas suas
narrativas, quando a mesma diz que:
[...] E as minhas filhas são assim, elas choram pra eu não sair de
casa. Mas é um desafio. Às vezes você não tem como, você
realmente tem que sair, mas quando pra eu dar uma escapulida
eu sempre dou e disfarço qualquer coisa; fico à tarde com elas
brincando, vou ao shopping, vou brincar e é um momento
prazeroso total, realmente as minhas filhas. E é isso. A gente
consegue levar. A mulher é pra isso. A gente... Esse é o grande
diferencial da mulher. (São Luís, 09/02/09)
Nesta perspectiva Avelar (2001, p. 30) coloca que:
[...]. Embora a estrutura da família tenha mudado, [...] apresentado uma enorme
diversidade famílias tradicionais, famílias gays, famílias de um só cônjuge,
famílias de amigos –, as tarefas de socialização dos filhos continuam sendo feitas
pelas mulheres, e este é o princípio corrente para o desempenho de outras tarefas.
Um outro aspecto interessante na colocação da narradora em questão é a inovação
construída pelas mulheres quando assumem papéis nas esferas pública e privada: a
dinâmica que elas m de transformar determinados “aprisionamentos” do âmbito
doméstico em desafios, como está exposto na fala dessa narradora em que há momentos
61
que ela fica dividida entre cuidar das filhas e cumprir com suas funções de parlamentar. E
isso é visto por ela como positivo, como um grande diferencial que a mulher tem.
Para Rago (2004, p.37):
As inúmeras e pouco comentadas inovações [...] políticas que vêm sendo
construídas pelas mulheres em suas múltiplas áreas de atuação nas
universidades, na ciência, na educação, nas artes, na saúde, no trabalho e na casa
têm revelado a emergência de novos modos de ver, de novas possibilidades de
interpretação, de ressignificação e de problematização que, sem dúvida, não
beneficiam apenas as mulheres, [...], já que forçam também os homens a se
perceberem como sujeitos particulares e socialmente localizados.
Das seis entrevistadas, três (narradoras I (PPS), III (PT) e IV (PSDB)) não têm mais
filhos pequenos, contudo, não são isentas de cobrança da responsabilidade com os cuidados
da casa, dos filhos, dos netos, do marido, enfim, da organização do lar e do bom andamento
da família, e na mesma proporção lhes são exigidos bons resultados no desempenho de sua
profissão.
Dentro desse conjunto, as narradoras V(PSDB) e VI (PC do B) não têm filhos. A
narradora V decidiu por não casar e nem ter filhos, pois assim, segundo ela, não tem essa
dificuldade, e, desta forma, dispõe de mais tempo para dedicar-se à política. A seguir,
temos o depoimento da narradora V:
Eu não tenho essa dificuldade. Eu não tenho filhos, então, na
realidade eu sou dona da minha vida. Dona, assim, entre aspas,
porque quando a gente parte pra uma função pública, a gente deixa
de ser dona da vida da gente. [...] mas do ponto de vista de família
[...] eu sou muito família, sou muito ligada à minha família ou mãe,
avó, pai, mas a gente não tem essa coisa de filhos. Eu não tive
filhos, optei por não tê-los, então pra mim é tranquilo, acho até que
sobra mais tempo pra mim me dedicar [...] a política [...]. (São
Luís, 11/02/09)
Pode ser observado nesta colocação, como é visto por esta narradora, a vida
conjugal sendo um cárcere de si mesmo, em que a pessoa, em especial a mulher, deixa de
ter vida própria e de ser dona de si, em defesa de zelar por outras vidas. Todavia, quando
ela ingressa na vida pública também não é mais dona de si, mas talvez ela pode se furtar do
exercício das atividades exigidas no interior da esfera privada. Neste caso, ressalta Avelar
62
(1989, p.87), “[...]. Uma mulher, ao tornar-se mãe, assume responsabilidades que a fixam
no âmbito doméstico, com demandas que irão perdurar por um longo período de sua vida.
[...]”. Talvez seja esse tipo de responsabilidade que a citada narradora não quis para si
mesma.
Já a narradora VI (PC do B) é casada, porém ainda não tem filhos. Embora o marido
dela seja muito presente no seu mandato, ele cobra a presença dela no recinto do lar.
Temos, a seguir, o seu depoimento:
Olha só Jaciléia, eu sou casada, eu não tenho filhos ainda. [...] meu
marido é muito presente. Ele compartilha da visão política, ele
constrói essa visão política comigo, conosco, com a equipe, mas ele
me cobra também muito. Porque eu to vivendo tudo isso com muita
intensidade, como tudo que eu vivo. Eu vivo com intensidade. Todo
o projeto eu procuro dar o melhor, fazer da melhor forma possível
pra ter o melhor resultado. Então, também sou muito cobrada pra
estar mais presente, de estar mais junto. Construi essa semana a
rotina e na rotina botei no domingo, espaço de manhã após o
culto botei lá: atividade familiar, porque eu to sendo muito
cobrada, mas não tiro as razões dele também. [...]. (São Luís,
11/02/09)
Observamos que a mulher ainda precisa fazer articulações para poder conta do
público e do privado, coisa que o homem, seja ele empresário, político, professor, ou de
qualquer outra profissão, homem de modo geral não precisa fazer esse tipo de conciliação.
Por isso, obviamente, não se pergunta a ele como o mesmo faz para aliar tais esferas,
porque não lhe é exigido a sua presença no âmbito doméstico; muito pelo contrário, a ele é
cobrada, e até de certa forma elogiada, a sua permanência fora de casa, na rua, nos lugares
de debates e deliberativos. A ausência dele dentro de casa é vista como ação, compromisso,
responsabilidade, dedicação à família.
Mesmo que essas mulheres repassem as responsabilidades do trabalho doméstico a
outras mulheres desprivilegiadas economicamente, ainda assim não são eximidas de cuidar
da administração do lar; cobram-lhes a sua marcante frequência em casa.
63
3.2. As dificuldades enfrentadas pelas mulheres parlamentares no Estado do
Maranhão na aprovação de seus projetos nos espaços de decisão
Neste tópico, serão mostrados os projetos e os mecanismos exercidos pelas
parlamentares entrevistadas que atuam nos espaços políticos em São Luís, para terem
sanções dos seus projetos apresentados na Câmara de Vereadores e na Assembleia
Legislativa Maranhense, isto é, busca-se perceber o grau de dificuldade que elas enfrentam
para obterem tal aprovação, e, se elas relacionam essa dificuldade ao fato de serem
mulheres.
Com base nos depoimentos das parlamentares que compõem este trabalho,
conhecemos mais de perto os projetos e as suas lutas dentro da Assembleia para tê-los
aprovados, que, na maioria das vezes, não os são, como está marcado nos relatos das
entrevistadas. Vejamos o que nos diz a narradora I (PSDB) sobre os seus projetos
apresentados na Assembleia Legislativa Estadual:
Na verdade, a gente apresentou alguns projetos, mas nós somos
amarrados, nós somos empilhados porque na verdade nós
poderíamos fazer de verdade indicação porque o artigo 43 da
Constituição diz o seguinte: “que o Poder Legislativo não pode
onerar o Governo Executivo, não pode criar cargo”, então na
verdade eu vejo alguns deputados cheios de projetos, mas projetos
que eles sabem que não vão ter aprovação porque estão exatamente
mexendo na Constituição Federal, e o governador veta. Então, na
verdade, a gente faz muita indicação. O que é indicação? “É o
pedido que é pro governador fazer”, e vem de lá pra cá e não daqui
pra . Eu tenho alguns projetos, pensava que alguns fossem
merecer por parte do governo a resposta sim, mas até agora não
foram, [...]. O governo é poderoso, ele tem... Ele é o executivo, é o
direito dele. [...]. Mas é... Eu tenho... Alguns projetos [...]: De
irrigação [...] esse projeto que foi até matéria do Assembleia em
64
Ação, na TV Senado, como importante. Onde a gente pede que o
governador, o governo um subsídio ao pequeno agricultor [...].
Que seria uma coisa muita prática, que também seria uma
compensação do IPMF da CEMAR, pois quem paga é o governo, e
na verdade, até agora não foi aceito, né?A gente também teve um
outro projeto que também não foi ainda assinado,[...]. Esse projeto
é de cadastro de deficiente. Porque já existe o Sine – que é o
Serviço Nacional de Emprego, mas um serviço nacional de
emprego para deficiente... Então, a gente quer correr atrás esse
ano mais uma vez, que é o projeto pra deficiente. [...]. Porque você
às vezes pela lei que tem, você tem que colocar deficiente, mas você
não tem uma agenda aonde buscar. [...] você tem que ter um
cadastro e, também até agora, não foi. E por aí vai, né?! Pode citar
inúmeras coisas, indicações várias, mas na verdade a gente fica
atrelada pela caneta do governador. (São Luís, 05/02/09)
Está marcado na fala dessa narradora que essa dificuldade não é somente as
mulheres que a tem, mas sim a maioria das/os parlamentares, isso porque a Constituição
vigente no país fortalece o poder do Executivo. E, além do mais, o fazer política no
Maranhão é bastante difícil, porque neste estado ainda predomina o mando e o desmando
da “oligarquia” Sarney, como foi mostrado no primeiro capítulo. Mas, segundo a
narradora, para os homens parlamentares existe um diferencial, pois assim ela confessa:
[...]. O que existe na verdade e eu não quero ofender o sexo
masculino, mas o que eu acho é que: nós mulheres somos mais
recatadas. Se a gente o consegue, a gente fala, a gente diz. E o
político do sexo masculino ele é mais “desenvolto” de dizer as
coisas que às vezes não conseguiu, mas que às vezes fala como se
tivesse conseguido. Acho que a grande diferência é essa. Nós
mulheres somos mais recatadas, nós queremos falar de fato o
que a gente conseguiu e, na verdade, o homem é mais aberto, mais
tranquilo, às vezes ele falando, nem conseguiu, mas
falando. Não creio que seja porque é mulher. Apenas a mulher tem
65
mais compreensão mais correta, se eu sei que não posso fazer um
projeto de lei que vai onerar o governo, então eu não faço. Já o
homem, ele peita mais, pela própria cultura dele, né? Pela história
dele. [...]. E o homem é mais ousado, mais atrevido, ele vai! E às
vezes chega até a colher. [...]. (São Luís, 05/02/09)
Apesar de essa narradora não conseguir relacionar os entraves da sanção de seus
projetos na Assembleia Legislativa Estadual, com relação ao gênero, ela diz que o homem é
mais desenvolto, mais ousado, mais atrevido, intrépido, ele peita mais, por isso ele
consegue alcançar mais êxitos na política do que as mulheres, estas, na visão da
narradora, são mais recatadas, menos destemidas, mais compreensivas, enfim não ousam,
são temerosas, mais cautelosas, portanto, conseguem bem menos êxitos neste campo de
disputa que demanda força e garra. Tomando por base essa colocação desta narradora,
pode-se entender que a mulher na política maranhense atua de maneira ainda muito tímida,
reafirmando a ideia social de que a mulher é e deve ser sempre compreensiva, cautelosa; se
não é pra fazer, então ela não o faz, ou seja, a mulher obediente, cumpridora de ordens
geralmente dadas por homens. E esta colocação também reafirma o conservadorismo
político Abreu (2002), que as mulheres no Maranhão, na maioria das vezes, são inseridas
na política para ocuparem e manterem um reduto eleitoral geralmente construído pelos
maridos ou por parentes masculinos, quando estes vão ocupar outros cargos na política.
A narradora III (PT) também informa a dificuldade que enfrenta na tentativa de
aprovar os seus projetos, como podemos observar a seguir nas suas próprias colocações:
[...]. Temos uma preocupação de prestar contas. lutamos na
Assembleia pra que fosse uma obrigação de todo deputado...
Projeto de resolução já apresentado duas vezes ou três e é
rechaçado. Prestamos conta colocando na internet que aplicamos
os recursos de verba de gabinete e verba parlamentar pra que
todos possam saber em que é que o seu deputado está gastando,
quanto gasta em cada rubrica, mas isso vem sendo rejeitado
também. Temos investido em demandas anualmente a lei
66
orçamentária naquilo em que constitui as demandas que vem
desses movimentos, lamentavelmente nem os governos ditos
democráticos, tanto na prefeitura como na minha experiência de
deputada com relação ao governo, tem entendido que o direito a
formular emendas é um direito, uma prerrogativa dos
parlamentares para que se torne democrática essa lei
orçamentária, toda administração pública ela fica presa na mão
do Executivo. [...] eu tenho até colocado na tribuna que essas
picuinhas politiqueiras aqui no nosso Estado têm influência a
nisso. [...]. Aqui a Câmara de São Luís [...] a democracia ainda
não é muito apurada. (São Luís, 05/02/09)
Os lamentos dessa narradora revelam a pouca influência que o Legislativo exerce
nas decisões governamentais; ele, o legislativo não tem liberdade para legislar e
possibilidade de fiscalizar as ações do Executivo para que possa ter conhecimento dos maus
administradores, e, assim, responsabilizá-los pelos seus atos. Um outro ponto que vale
assinalar, e que a narradora chama atenção, é para as rixas politiqueiras que dentro do
Estado do Maranhão, que é muito forte, talvez seja um fator que impossibilita a aprovação
de determinados projetos apresentados por representantes ligados a partidos de esquerda, ou
por quem está na oposição; isso causa grandes entraves que sobre cai na sociedade,
essencialmente naquela que se encontra em situação economicamente desfavorável.
Mesmo que essas desavenças sejam cometidas em vários outros estados brasileiros,
porém, no Estado do Maranhão é pior, porque a política nesse estado é permeada por
relações de parentesco e de compadrio como coloca Gonçalves (2008, p.80):
O conjunto de relações estabelecidas no Maranhão Dinástico, prática de poder
reinventada por José Sarney em 1966, quando governador do Estado do
Maranhão, tem a sua complexidade sedimentada no vasto número de parentes
consanguíneos e sociais, que compõe a cartografia do parentesco social
ampliado.
Essas relações acabam sendo um fator determinante para a manutenção e
reprodução na distribuição do poder, que na vertente de Gonçalves (2008, p. 80) é:
A principal estratégia de manutenção e de reprodução das práticas de poder
dinástico é a distribuição dos parentes consanguíneos, parentes por alianças,
parentes por afinidades e relações de compadrio nos cargos e postos das diversas
instituições sociais e políticas no Maranhão.
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Depois, esta mesma narradora que está citada anteriormente, faz referência sobre
alguns projetos que ela está tentando buscar apoio para que os torne em leis. Desta forma,
ela coloca:
O que a gente tentou é dentro daqueles eixos. Por exemplo: a luta
em defesa da dignidade da mulher. A luta para que o direito à
saúde seja realmente de todos, mas que não se possa deixar de dar
prevalência ao direito da saúde da mulher. Por que isso?
diferenças? É porque a mulher quem vai, quem se bate mais, é uma
questão de gênero. Dificilmente você vê um companheiro numa fila
pra marcar uma consulta. É a mulher que lá. [...]. Na Câmara,
na Assembleia a gente lutou pelo cartão de saúde da mulher. Hoje
talvez, alguns possam dizer: não necessidade. Eu continuo
achando que há, porque se a companheira chegar no serviço
público para ser atendida, a fila muito grande. Luto tanto para
que isso se torne lei tanto no município quanto no Estado, no
serviço público. E o trabalhador da saúde, o médico, o enfermeiro
vão logo querer passar um remédio, mas não vai saber se ela é
hipertensa, se ela é diabética, como foram os partos... e o cartão de
saúde da mulher tem tudo anotado oficialmente de tudo que você
enfrentou e facilita o atendimento. [...]. (São Luís, 05/02/09)
A seguir destaca:
[...]. A luta é permanente em relação à preservação do meio
ambiente. Assegurando às quebradeiras de côco o direito a ter
acesso aos babaçuais, como prioridade. E as quebradeiras de coco
estão dando um show, ajudando a melhorar a economia aqui no
Estado do Maranhão. [...]. Nós temos aqui interesse muito grande
de fazer cumprir a lei que proíbe a derrubada de palmeira de
babaçu. É uma luta que estamos enfrentando na Assembleia com o
projeto que alarga mais as exceções e mesmo com a lei em vigor, a
derrubada continua acintosamente no nosso Estado. Eu posso
destacar também, a questão da valorização da juventude, lei nossa
68
que é a carteira fornecida pelas escolas e pelas universidades,
tenha pública pra evitar todo esse sofrimento do jovem que tem
que ter não sei quê e nem mais o quê pra poder ter direito à meia
passagem, vamos assegurar a meia passagem e a meia entrada, é
lei municipal e estadual também. [...]. (São Luís, 05/02/09)
Já a narradora IV não está inserida no Legislativo Estadual e nem Municipal, mas já
exerceu cargos eletivos (foi vereadora de São Luís, teve dois mandatos consecutivos de
deputada estadual; em 2002 era deputada estadual, concedeu-me entrevista para o meu
trabalho de conclusão de curso) ; ela concorreu às últimas eleições ao cargo de deputada
federal, todavia não conseguiu êxitos, ficando como segunda suplente do seu partido
PSDB. Então, foi convidada, em 2007, pelo ex - governador Jackson Lago (PDT) para
fazer parte do Poder Executivo, assumindo a função de secretária de Estado das Cidades
que, posteriormente, esta secretaria veio a ser chamada de Secretaria das Cidades de
Desenvolvimento Regional Sustentável e Infra Estrutura (SESID), visando desenvolver
projetos sociais, sobretudo, na área de habitação. Segundo a narradora IV, ela não teve
nenhuma dificuldade em ter os seus projetos aprovados, como podemos observar na sua
exposição a seguir:
[...] o governador Jackson Lago sabendo da minha trajetória
também profissional, eu sou engenheira urbanista, com várias
especialidades, ele me indicou para ser a secretária de Estado das
Cidades. [...] desenvolvi um projeto urbano, de urbanização, de
inclusão social, de habitação que foi aprovado pelo ministério das
cidades como um dos projetos de maior expressão [...] entre os
projetos apresentados no ministério das cidades [...]. Esse projeto é
uma iniciativa minha porque muitos anos eu venho trabalhando
com São Luís, com a malha social, tratando dessas questões e
quando obtive essa oportunidade foi o primeiro trabalho, [...]. [...].
O projeto custa duzentos e quarenta e oito milhões, são cento e
quarenta e quatro milhões do governo federal e cento e quarenta e
quatro milhões do governo estadual. É um projeto de parcerias
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iguais, cinquenta por cento do estado, cinquenta por cento do
governo federal. Está dentro dos projetos do PAC.[...]. Eu fiz o
projeto, o governador ficou muito maravilhado! Aprovado o
projeto! Hoje, a realidade é que é um dos projetos mais
importantes do PAC no Brasil, é o projeto Rio Anil do Estado do
Maranhão, desenvolvido por essa secretaria através da minha
pessoa e de minha equipe. [...]. (São Luís, 10/02/09)
Observamos nesse depoimento como o Poder Executivo Estadual tem força
decisiva; geralmente quem executa altos cargos nessa instância administrativa não tem
grandes problemas de obter sanções dos seus projetos. Isso porque numa visão mais
generalizada, o governo é poderoso, ele tem... Ele é o executivo como foi marcado na fala
anterior da narradora I. E este poderio dentro do Estado não é só pelo volume de dinheiro
que controlam, como está exposto na fala anterior da narradora, como também por serem
esferas por primazia implementadoras de políticas.
As narradoras II (PPS), V(PSDB) e VI (PC do B) não falaram se elas têm ou não
entraves nos projetos apresentados durante sessões realizadas tanto na Assembleia
Legislativa de Deputados Estaduais quanto na Câmara de Vereadores com o objetivo de
aprovar ou não tais projetos. Todas elas fizeram apenas referências sobre alguns eixos
voltados para algumas questões que pretendem defender nas assembleias, tais como: fóruns
e encontros comunitários de jovens, meio ambiente, terceira idade, saúde da mulher, maus
tratos de crianças e adolescentes, incentivo à leitura, cursos de qualificação profissional etc.
Vale mostrar os depoimentos que elas fazem em relação a essas intenções de trabalho.
Atentamos, a seguir, para o relato da narradora II:
[...]. Então em 2009 nós vamos estar fazendo um foco voltado para
a juventude. Trabalhando programas de políticas públicas para a
juventude, criando alguns projetos que venham estar contemplando
a juventude do Estado do Maranhão. Eu acredito que a gente vai
estar fazendo um grande trabalho, participando de fóruns,
participando de encontro de jovens do Estado e levantando a
bandeira de que a juventude realmente pode fazer um grande
trabalho e que a juventude tem como desenvolver um grandioso
70
trabalho aqui no Estado do Maranhão. Nesse primeiro plano para
2009 é isso, nós estaremos com a nossa equipe técnica de trabalho,
levantando dados voltados para a participação do jovem e da
jovem, do homem e da mulher jovem, no Estado do Maranhão. [...],
fazendo encontros e audiências públicas na Assembléia Legislativa
de forma bimestral e fazendo com que acima de tudo que a gente
possa mostrar o valor da mulher jovem, o valor do homem jovem,
tocando essa potencialidade, essa capacidade hoje que a juventude
tem. (São Luís, 09/02/09)
Assim também a narradora V expõe a sua intenção que, segundo ela, se
provavelmente desenvolvida por ela na Assembleia Estadual. Registra, então:
Jaciléia, eu estou procurando colher informações de vários
segmentos da sociedade primeiro para eu poder o que eu vou
legislar aqui. Eu não vou fazer aqui uma coisa da minha cabeça,
claro que tenho algumas ideias, sim. Eu tenho interesse pela área
do meio ambiente que é super importante, porque ai envolve a
saúde, não de uma maneira geral, mas especificamente a saúde
preventiva; meio ambiente é saúde preventiva. [...]. O meu
interesse aqui é muito nessa área mesmo, na área da saúde em
algumas questões que eu acho que são fundamentais, e a questão
da política, por exemplo, da mulher, eu acho que ela tem que ser
voltada muito nessa área da saúde pra que as mulheres tenham
uma atenção maior na área da saúde, na área do respeito mesmo, a
questão dos maus tratos não com a mulher, mas com a criança,
com o idoso é uma coisa que tem que ser muito bem vigiada a
forma como se trata o idoso neste país, [...]. Então a gente precisa
cuidar muito bem dessa política com relação ao idoso, à mulher, à
criança e ao adolescente que são bem desprotegidos, [...]. (São
Luís, 11/02/09)
Deste mesmo modo, a narradora VI tece comentários sobre as solicitações que ela
fez na Câmara de Vereadores, e alguns projetos que também vem desenvolvendo antes
71
mesmo de ser vereadora; agora, ela pretende ampliá-los, tal como está registrado nas suas
narrativas:
Bem, os projetos de quem eu falara são projetos que nós
realizamos e com o mandato nós iremos ampliar, nós fazemos
esses projetos. Por exemplo, o projeto de formação comunitária,
nós temos o Programa Sonhos do Futuro. É o nosso programa que
agrega vários projetos. Nós temos, por exemplo, o projeto de
formação comunitária onde a gente chega com toda a estrutura de
recursos humanos, de materiais em diferentes espaços, sejam
espaços da comunidade ou da igreja. [...]. Então, a gente chega e
apresenta as ofertas de cursos que nós temos e realizamos os
cursos. Promovemos também nesse momento não geração,
ajudando a construir um instrumental pra gerar trabalho e renda,
mas também de fazer a interação social dos participantes. [...].
Então por exemplo, a gente faz o curso de artes em chinelos, arte
em palitos, nós fazemos biscuit, fazemos tapeçaria. São vários
cursos e agora estamos ampliando com a qualificação mais
técnica, de forma mais ousada e pra toda o Luís. (São Luís,
11/02/09)
Ela destaca ainda:
[...]. Estamos correndo agora atrás de uma qualificação mais
técnica, estamos atrás de parceiros, fazer curso de pintor,
ladrilheiro, carpinteiro; criar realmente uma qualificação
profissional, agora. [...] São vários projetos: são os de idosos o
projeto Arte Idade Dourada. Então a gente leva oficinas, leva
qualidade de vida, leva aceitação da feminilidade, leva ao convívio
social. Então o muitas ações que a gente faz. [...]. Com crianças,
a gente também promove ações de cidadania, de incentivo à leitura.
A Prática Cultural Ler Livro e Ler o Mundo é um dos projetos que
a gente faz o incentivo ao gosto do despertar pra leitura. A leitura
como uma ferramenta de emancipação social. [...]. Aqui na
72
Câmara Parlamentar, criamos a Comissão de Reconhecimento dos
Direitos da Mulher; já solicitamos audiência pública com a
Secretaria de Segurança e com o comandante geral pra discutir a
situação de violência que São Luís se encontra. [...]. (São Luís,
11/02/09)
Por muito tempo, ela continua abordando as solicitações que fizera enquanto
vereadora, o que podemos observar a seguir:
[...]. solicitamos a cobertura do centro de comércio informal de
São Luís, o famoso camelódromo, que hoje está lá na Magalhães
de Almeida, está sem as mínimas condições. [...]. Solicitamos a
revisão de todos os pontos de ônibus de São Luís, o povo
esperando o ônibus na chuva. [...] e a instalação de novos pontos
de forma padronizada. Nós estamos solicitando a realocação do
posto de saúde do Anil que tem uma demanda muito grande de
atendimento, não tem condições estruturais, não tem condições de
instalações, está à frente de um posto de gasolina, enfim. Nós
estamos solicitando aqui a segurança pros terminais de
integração, porque estão também ali vulneráveis. São várias
demandas, ”n’s” demandas que a gente a cada dia vai
apresentando a partir do contato, da interlocução direta com a
população. [...]. Daqui a alguns dias não vai ser uma vereadora
que chegou pra representar a mulher; eu não cheguei pra
representar as mulheres, eu cheguei pra representar o povo de
São Luís, que a gente quer construir a cada dia. (São Luís,
11/02/09)
Cabe ressaltar, nessas intenções de projetos das narradoras II (PPS), V (PSDB) e VI
(PC do B), que a maioria dos tópicos, que segundo elas constituirão futuros projetos, são
relativos a questões sociais mais amplas e pouco se relacionam com as questões ligadas aos
problemas vividos pelas mulheres na sociedade. Desta forma, a maioria das entrevistadas
não apresenta nenhum projeto específico para oblico feminino, com exceção para o item
“saúde das mulheres” que elas mencionam vagamente. Suas falas, quando elas se referem
73
às mulheres, não contemplam, como se viu, temáticas ligadas às lutas das mulheres como
ampliação do mercado de trabalho para mulheres, equiparação de salário entre homens e
mulheres que exercem a mesma função, enfim, não defendem políticas mais embatentes.
Exceto a narradora III que afirma nas suas colocações que trava lutas na Assembleia
Legislativa Estadual em defesa da dignidade da mulher, dar prevalência ao direito da
saúde da mulher; Assegurando às quebradeiras de côco o direito a ter acesso aos
babaçuais, como prioridade.
Esse comportamento assumido por essas mulheres, isto é, de expressar intenções
que englobam no geral propostas ligadas a problemas sociais mais amplos, como os que
dizem respeito aos idosos, adolescentes, crianças etc. e a certo afastamento das intenções
relacionadas às reivindicações e interesses das mulheres, difundidos pelas ideias feministas,
também foi constatado por Tabak (apud Avelar, 1989, 45) que:
[...] um pequeno número dentre elas atua na perspectiva dos interesses
difundidos pela ideologia feminista. A maioria defende os programas dos
partidos que incluem pontos como assistência ao menor, à velhice desamparada,
etc. Nesse sentido, pode-se dizer que ou atuam como donas-de-casa na política,
ou apóiam genericamente os interesses partidários, numa clara demonstração de
que vivem papéis sociais conflitantes (papéis profissionais, políticos e
familiares).
E por outro lado, essa atitude assumida por essas mulheres nos leva a repensar a
ideia corrente de que para um determinado grupo tenha seus interesses resguardados, não
precisa ter necessariamente um representante deste grupo, é suficiente que alguém, ou
organizações partidárias etc. independentemente de sua origem, pode ser complacentes com
suas causas e defendê-las.
Dentro deste contexto, essas narradoras em questão, assim como a maioria dos
profissionais da política, estão representando e defendo o programa de seus partidos. A
maioria dos partidos políticos define em suas agendas projetos e programas de caráter
assistencialistas, de cunho emergencial que possam garantir a eles um eleitorado.
Um último elemento que foi constatado e que merece ser ressaltado é o
desencantamento político que a maioria das entrevistadas manifestou. Pois, entre as seis
entrevistadas, quatro revelaram o descontentamento que têm com a ação parlamentar que
elas desenvolvem. Todavia, duas desse conjunto (narradoras IV (PSDB) e VI (PC do B),
74
disseram que estão satisfeitas com a realização das atividades. A seguir, temos o relato da
narradora IV:
Quando eu fui vereadora nós fizemos um grande trabalho em São
Luís. Alcancei os objetivos. Fomos duas vezes deputada estadual,
oito anos, o meu trabalho foi reconhecido. Eu sai de treze mil e
novecentos e um votos na primeira eleição pra deputado estadual e
fui pra trinta e cinco mil novecentos votos na segunda eleição a
deputado estadual, tive trinta e nove mil novecentos e um votos, dez
vezes mais. E como deputada federal eu tive setenta e dois mil
votos, quer dizer, sempre crescente. Tudo demonstra que a
população reconheceu o meu trabalho. Então, alcancei os
objetivos. [...]. A gente tem trabalhado e eu tenho alcançado todos
os objetivos traçados nos programas, a gente tem alcançado, a
gente tem aferido isso. [...]. (São Luís, 10/02/09)
Por sua vez, a narradora VI expõe que:
[...] a atividade parlamentar ela está correspondendo ao projeto
político que a gente vinha construindo como cidadã. E isso
uma magnitude ao trabalho e aos impactos sociais. Então isso nos
motiva. [...], eu creio que a gente caminhando dentro da
expectativa, dentro daquilo que a gente pensava construir como
projeto político e estamos conseguindo desbravar outras vitórias.
[...], nós vamos inaugurar domingo agora a quarta rua feita por
nós e a comunidade no sistema de mutirão, levantando a vida
comunitária, o ânimo, revificando a vida em comunidade. Então a
gente entra com os materiais e eles entram com a mão de obra e
compromisso de estar dando conta do que é seu. E a solidariedade
também vai sendo ativada porque vem muitos de outra rua pra
ajudar o outro dessa rua, pra melhorar a sua realidade. O
exercício de mandato ele está acontecendo dentro daquilo que a
gente construiu até aqui. E a aqui, quem tem nós ajudado é o
Senhor na visão, provisão, na capacidade, em tudo e em
75
levantando o povo conosco. Então é esse tripé. Ele ta mediando e
ao mesmo tempo Ele na base. Então eu estou muito feliz [...].
(São Luís, 11/02/09)
Ao contrário dos depoimentos das narradoras anteriores, verifica-se que as
entrevistadas: I (PSDB), II (PPS), III (PT) e V (PSDB) apresentam relatos marcados
fortemente por descontentamentos com a atividade parlamentar. Começamos pela narradora
I:
Mãezinha, o ser humano que disser que está realizado, está
mentindo ou o sabe o que estar falando. Na verdade eu queria
muito mais; eu quero muito mais do que eu consegui. Eu preciso
demais e, eu não vou dizer que estou contente com o que eu
consegui né? Exatamente porque eu queria conseguir mais. Acho
que o povo precisa de mais coisas. Eu acho que mais coisas
poderiam ser dadas e, há um entrave burocrático, há um entrave de
documento, um entrave de canetada que atrapalha muito. [...] e
outra coisa grave que acontece na política, é que pessoas
importantes, também políticos esquecem que entre ele e eu tem o
povo, às vezes pensa que está perseguindo a figura do político da
oposição, e na verdade, está perseguindo é o povo carente. Então, o
político não consegue entender que existe uma comunidade
necessitada entre os dois: a situação e a oposição. [...]. (São Luís,
05/02/09)
Nesse depoimento, as duas razões pelas quais ela não se sente satisfeita com o
trabalho de parlamentar revelam como muitas das vezes a burocracia e as rivalidades
políticas se tornam obstáculos para a operacionalização das atividades parlamentares.
A narradora II também expõe a insatisfação que tem com a demora dos resultados
da prática política, pensou que obteria de imediato os resultados de suas ações. Podemos
observar a sua verbalização:
[...] você sempre espera fazer um grande trabalho e a gente jovem,
a gente se frustra muito porque você vem na ansiedade, você quer
um milhão de coisas ao mesmo tempo, porque você quer resultados
76
muito imediatos. Mas os resultados eles o saem de forma
imediata, eles são um processo e eles saem ao longo do processo,
mas o que a gente... se tu disser: voestá satisfeita? ...eu acho que
não. Acho que poderia tá melhor. Eu acho que a gente poderia ter
trabalhado mais. A gente poderia ter apresentado muito mais
programa e muito mais projetos para o Estado. Mas dentro da
limitação burocrática que nós temos, dentro da limitação que nós
temos, parlamentar, dentro da limitação que nós temos de atuação,
eu acho que nós temos feito um trabalho bom, [...].(São Luís,
09/02/09)
Diante dessa colocação, essa narradora deixa evidente que faltou mais desempenho
da parte dela, trabalhar mais, apresentar mais programas e projetos para o governo. E, além
disso, as limitações dadas pela administração governamental anularam as suas expectativas;
contudo, faz uma avaliação positiva da realização dos trabalhos.
Também a narradora III conta-nos os seus sofrimentos à frente dos empecilhos de
sua atuação na Assembleia Legislativa Estadual. Atentamos para a sua exposição:
É sempre aquilo... Alguma incoerência, essa contradição. Eu posso
dizer que eu gosto da atividade parlamentar. Gosto do bom debate.
Agora uma dificuldade muito grande quando você pensa que
nada adiantou, quando o seu projeto é rejeitado, quando o projeto
passa, mas o governador veta e não vira lei, quando o projeto
passa, o governador sanciona e a lei não é levada em
consideração. dói mais ainda. a gente fica sofrida, mas ao
mesmo tempo a gente acha que é porque não se lutou o suficiente, é
porque a pressão não tá sendo suficiente. [...]. (São Luís, 05/02/09)
Também a narradora V revela:
Desapontamento na política a gente sempre tem, é muito difícil não
tê-los, porque a gente lida com ser humano, em qualquer área, é
muito imprevisível, né? Então a gente se depara em situações
constrangedoras, você de repente defende ali, ali num trabalho
árduo, de repente você é pega de uma maneira desleal, a política
77
tem muito disso. A política seria mais fácil se as pessoas fossem
mais autênticas, todas. De maneira autêntica, definitivas no que
pensa, na sua forma de ser. Seria mais fácil pra todo mundo, mas
infelizmente às vezes você lida com pessoas muito dissimuladas, é
difícil isso, [...]. Até colegas meus que têm um comportamento usam
dois pesos e duas medidas, é triste isso! [...], na política a gente
muitas vezes é traído e a traição é a pior coisa, não tem coisa pior
do que a traição, obviamente tem exceções. Eu prefiro que as
pessoas... Eu digo sempre: olha, o amigo é aquele que diz sempre
as verdades, o amigo não é aquele pra dizer aquilo que a gente
quer ouvir, não é aquele pra jogar confete, amigo é aquele pra
dizer o que pensa. E na política às vezes quando se numa
posição confortável, você tem gente do seu lado querendo dizer
coisas boas, e não exatamente o que pensam, e quando você
muda de posição, e tem gente que não está acostumada a isso,
(risos)..., mas eu... a minha vida desde criança já vivia um pouco de
tudo isso, eu vi em casa o meu pai ganhar muitas eleições e
perder tantas outras [...], então, eu acho que a política tem dessas
coisas, o legal é você saber transitar pelo poder, esse é o grande
lance[...]. (São Luís, 11/02/09)
A narradora continua falando por muito tempo sobre o aspecto negativo da política,
as disputas, os jogos de poder e a traição que são uma constante nesse terreno. E isso levou
a mãe dessa narradora, não obstante havia construído carreira política como prefeita de
São Luís (1985), e que teve uma administração muito conturbada, cheia de revoltas por
parte da população, foi enfática ao aconselhá-la a não ingressar na vida pública por conta
dessas questões negativas que envolvem a política.
Desta forma, a narradora V comenta a fala de sua mãe:
“Minha filha será que é isso mesmo que você quer? Eu acho que
você pode seguir um outro rumo, você é uma moça que se
preparou, você tem toda uma estrada pela frente, pra ser enfim...,
78
ter uma profissão, pra ser uma profissional liberal com
tranquilidade, viver sem sobressaltos”. (São Luís, 11/02/09)
Para a narradora, sua mãe a aconselha a ter prudência na sua opção em seguir
carreira política devido aos sobressaltos que essa escolha implica. Pois, segundo a
narradora V:
[...] os políticos às vezes são muito incompreendidos, mal
interpretados, então, os bons políticos pagam pelos maus políticos
[...], aqui no nordeste principalmente por ter uma cultura de
coronéis, de oligarcas [...]. (São Luís, 11/02/09)
De fato, a mãe da narradora enquanto política, enquanto pessoa que conhece os
meandros internos da política, não com bons olhos o desejo da filha de ingressar na
política. Essa postura da e reflete de certa forma os vários estereótipos negativos que se
tem da política. Tabak e Toscano (1982, p.58), ressalta algumas das ideias preconceituosas
que existem contra a política.
Outra face do preconceito contra a política que nos parece importante realçar é a
que aponta sua prática como algo não muito limpo, pervertido, desonesto e
perigosamente solvente dos mais legítimos valores morais. A própria expressão
“meter-se em política” tem uma conotação bastante próxima de envolver-se em
lamaçal, mergulhar na imundície [...].
Por fim, o que sobressai nos relatos que nos ajuda a entender as razões que explicam
a desilusão com a política apontada pelas narradoras, é o fato delas perceberem a política
como burocrática, permeada por rivalidades políticas, “picuinhas politiqueiras”, traição,
mentira, dentre outros. Além disso, a política na região nordeste, particularmente no
Maranhão, como já foi dito anteriormente, é fortemente entremeada por laços familiares, ou
seja, uma única família dominando um estado, nesse caso, a família Sarney, como foi
aludido no primeiro capítulo, vem dominando esse estado mais de quarenta anos, o que
começou em 1966 com a candidatura de José Sarney para governador do Estado do
Maranhão até os dias de hoje com o retorno da sua filha biológica, Roseana Sarney na
Administração do Estado. Gonçalves (2008, p. 81), analisando a presença da família Sarney
no Maranhão afirma que:
O conjunto de relações no campo converte centrifugamente para a ocupação de
postos nos diversos campos de poder que são considerados relevantes para a
produção e reprodução do trabalho de dominação política, para o controle social
79
de instâncias chaves de poder político, tais como: os Tribunais, a Assembleia
Legislativa, a Câmara Municipal e as Prefeituras Municipais. É uma estratégia
prioritária de manutenção do poder dinástico.
E isso torna as relações políticas no Estado do Maranhão extremamente
complicadas, fragilizando, na maioria das vezes, as práticas das /os representantes de
partidos de oposição, tanto nas Câmaras Municipais quanto na Assembleia Legislativa, a
realizarem atividades para as quais foram eleitas/os, tornando, lastimavelmente, o Estado
do Maranhão num verdadeiro feudo.
80
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83
ANEXOS
84
Entrevista
Narradora I: Deputada Estadual.
Partido: Partido da Social Democracia Brasileira – PSDB
Idade: 62 anos
Profissão: Médica
Local da entrevista: São Luís – Maranhão.
Data: 05/02/09
Perguntas:
P.: Fale um pouco da sua inserção na política partidária. Como foi que a senhora
entrou na política partidária? Qual foi o apoio que a senhora contou de amigos,
família, partido. Eu quero que a senhora fale um pouco sobre a sua inserção na
política.
Narradora I: Bom, primeiramente, eu não sou daqui. Sou de Salvador Estado da Bahia,
nesta cidade estudei medicina na Universidade Federal da Bahia, onde conheci o meu
marido, éramos colegas de faculdade, quando recebi dele, na época éramos noivos, o
convite para ir para a cidade de Caxias (interior do Maranhão) que é terra dele, então em
1971 fui conhecer a cidade onde o meu futuro marido queria realizar o sonho de ser médico
para cuidar de sua gente. Fiquei balançada, lembrei-me de Salvador com suas praias,
cinemas, teatros, televisão, livrarias, telefones e os bens de consumo disponíveis na época e
achei que não dava pra ficar longe de tudo isso, até porque a Caxias de 35 anos atrás,
tinha energia elétrica até meia noite. Televisão, telefone, restaurante, livrarias então nem
pensar. Para mim que era jovem, achei um pouco estranho. E, além disso, tinha um estágio
seguro em Salvador como anestesista e a alternativa de iniciar residência de obstetrícia
em Brasília. a dúvida veio: ficar com minha paixão sentimental ou desenvolver, em
grandes centros, minha realização profissional? Foi quando o romântico Dr. que não queria
me perder e nem o seu sonho de trabalhar juntos para ajudar o povo de Caxias, e, sabendo
que eu era também apaixonada por música ( naquele momento, o meu pai me fazia priorizar
os estudos e impedia que tocasse violão), e vendo que estava em dúvida sobre o seu projeto,
ele comprou um violão e me deu de presente e pediu-me em casamento... E, eu toda
sentimental e apaixonada, chorei e vi que a minha vida poderia ser completa ao lado do
homem que amava. Então, Caxias passou a ser a minha nova terra para iniciar uma vida
repleta de sucessos e felicidades. Nós naquele momento iniciamos uma história de grandes
realizações pessoais, profissionais, políticas e sociais.
Nós dois começamos a trabalhar no hospital Miron Pedreira, mas as instalações dessa
instituição nos frustraram. Logo depois, junto com outros profissionais alugamos
instalações para montar um hospital e alguns anos depois construímos a Casa de Saúde e
Maternidade de Caxias que se tornou a grande referência de saúde em todo Maranhão. s
revolucionamos o sistema de Saúde na cidade. A Casa de Saúde foi o primeiro hospital do
Maranhão a realizar um transplante de rim...As pessoas faziam filas para disputar uma
consulta, uma cirurgia ou uma internação no nosso hospital, meu e do meu marido. Como
todo sucesso atrai admiradores e também invejosos, passamos a ser perseguidos pelos
85
políticos e poderosos da época. Mas nós enfrentamos e vencemos todas as perseguições
com muito trabalho, dedicação e reconhecimento popular. A nossa fama como médicos
crescia na cidade e na região. Admirados como médicos, conquistamos o respeito como
empresários. Cumprindo rigorosamente todos os compromissos que fazíamos, inclusive
com pessoas ilustres visitando o hospital, tais como o então Ministro do STJ, Edson Vidigal
e o saudoso Senador Alexandre Costa. A casa de Saúde chega a ter 500 funcionários, 60
médicos e 250 leitos. Era um hospital completo.
Em 1975 tive o meu primeiro filho. Um sonho acalentado desde o início do meu
casamento, mas que biologicamente era impossível realizá-lo. A minha realização
profissional, o amor pelo marido se completava com a paixão pelo meu pequeno filho que
veio enriquecer ainda mais a nossa vida. O menino cresceu bonito e sadio. Sociável,
integrava-se aos meninos de Caxias com quem convivia sem fazer distinção social.
O nosso sucesso profissional e pessoal levou ao sucesso político. O meu marido se torna
em 1988 vereador, e dois anos depois Deputado Estadual por Caxias. Em 1991 eu me
mudei para São Luís acompanhando o meu marido que precisa morar na capital para
exercer seu mandato de deputado. Na ilha de São Luís, exerci a medicina no Hospital
Universitário Presidente Dutra; ajudei a realizar o I Congresso de Obstetrícia e Ginecologia
do Maranhão e fui eleita vice presidente da Sociedade das Mulheres Médicas da Cidade de
São Luís. Com saudades de Caxias que aprendi a amar e onde construí uma ampla rede de
amigos, voltei para a cidade e assumi novamente a direção da Casa de Saúde. A Câmara
dos Vereadores reconheceu o meu trabalho que fiz enquanto médica, e me concedeu o
título de cidadã Caxiense, que recebi em meio a grandes amigos. Então, a minha vida era
repleta de realizações! Em 1987, tinha realizado parto em mais de 10 mil gestantes
Caxienses. Mas um grande sonho seria realizado no dia 08 de junho daquele ano: chegou a
minha tão ansiada filha...A chegada dela encheu ainda mais a nossa casa de felicidade. Uma
filha e um filho, uma profissão encantadora. Então, o que mais poderia querer? (risos). O
povo de Caxias queria mais para mim. Em 1999, assumi o cargo de vice prefeita da Cidade.
Simultaneamente exerci a função de Secretária de Saúde do município, que encontrei
totalmente destruída. Recuperei o sistema de saúde, com a municipalização, organizei os
hospitais públicos e comecei dar uma nova saúde pública para os caxienses. Mas a política
em Caxias estava cheia de reviravoltas. A cassação do prefeito, abre a possilibidade para
mim me tornar prefeita da cidade. Diante do ambiente político tenso e tumultuado, eu
preferir voltar para os meus pacientes e viabilizar uma solução de compromisso que ao
presidente da Câmara a cadeira de prefeito de Caxias. Esse meu desprendimento político é
elogiado por todos. Abri mão do principal cargo político da cidade para unir as corrente
políticas dessa cidade. Mas tinha outra explicação para esse episódio: Eu e o meu marido
queríamos governar a cidade através do voto direto do povo. O que aconteceria em 2005.
Em 2000, Dr. Humberto se candidata a prefeito, e como nas eleições de deputado, eu estava
ao lado dele. O povo de Caxias escolheu outra candidata que rapidamente se mostrou
incapaz de resolver os problemas da cidade. Mesmo incompetente, a administração de
Caxias no período de 2001 2004 se mostrou muito capaz para perseguir os adversários. E
são as perseguições da então prefeita e do seu marido, ex-prefeito, que inviabilizava a Casa
de saúde que é transferida ao Governo do Estado para construção da primeira Faculdade de
Medicina e Enfermagem de Caxias, conquista do então Deputado. Porém, continuamos na
luta pela saúde caxiense e ampliamos o Centro de Hemodiálise (que hoje atende cerca de
185 pacientes) e também ampliamos a unidade ambulatorial onde são realizadas consultas
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das mais diversas especialidades exames de auxílio diagnósticos. Cerca de 48 cidades
procuram nossos serviços.
Em 2002, ele se reelege deputado estadual com maior votação de Caxias. Em 2004, o povo
cansado de tanta incompetência na prefeitura, elege o 14 para dirigir os destinos da cidade.
Junto com tantas conquistas, comemoramos a chegada da nossa primeira neta, filha do meu
filho que em 2005 nos o segundo neto. No governo de Todos, eu estruturei a área da
saúde e juntamente com o secretário de saúde, montamos a estrutura que deu a Caxias o
título de cidade com a melhor saúde pública do Maranhão e uma da 12 melhores do Brasil.
Eu optei por dirigir a Secretaria de Ação Social para cuidar ainda melhor das pessoas mais
pobres e abandonadas de nossa terra. Eu encontrei a Secretaria totalmente abandonada. Mas
fui corajosa, arregacei as manga, e como Secretária de Ação Social recuperei as creches,
regularizei a situação das crianças do PETI, amparo aos cidadãos da terceira idade,
regularizei o sistema Bolsa Família que aumentou os rendimentos de cerca de 20 mil
famílias, empreendi uma cruzada contra a violência sexual das crianças e adolescentes.
Encantei a todos com minha alegria, simplicidade, e compromisso com os mais pobres.
Promovi o carnaval e o São João da terceira idade. Implementei o CRAS (Centro de
Referência da Assistência Social) em 4 regiões da cidade. Promovi a distribuição de peixe
na semana Santa. Em parceria com a Secretaria de Educação, viabilizei a ida de 35 mil
estudantes ao Circo Beto Carrero World, um presente que os pequenos caxienses jamais
vão esquecer. Fiz parcerias com organizações não governamentais e entidades privadas
para levar serviços e apoio às comunidades carentes...Em diversos programas sociais como
o rodamoinho..., resgate da cidadania..., projeto Agente Jovem... Enfim, sempre
trabalhando pelo povo e fortalecendo os laços familiares, festejei as bodas de diamantes dos
meus sogros nonagenários, unindo ainda mais as nossas famílias. Considero-me uma
pessoa humana, festeira, alegre e gosto de unir as pessoas. Sou um forte elo de união da
família, dos filhos, dos amigos e dos parceiros políticos.
Com a eleição do meu marido para prefeito de Caxias, então, Caxias deixou de ter um
deputado estadual e agora precisa eleger seu representante para a Assembleia Legislativa.
Consultando todos os líderes caxienses, o prefeito conseguiu unanimidade em torno do meu
nome para esta grande missão. Todos os vereadores, lideranças comunitárias e políticas
afirmaram que o meu nome une as lideranças, tenho capacidade política, tenho história de
vida pessoal, familiar, profissional e política extraordinária. Eles vêem em mim a
capacidade de levar para todo Maranhão o sucesso da política de saúde implementada em
Caxias e o compromisso social que resgatou a dignidade e o bem estar de milhares de
caxienses que hoje têm amparo do poder público municipal.
P.: Deputada, gostaria de saber quais são os seus projetos apresentados aqui na
Assembléia?
Narradora I: Na verdade, a gente apresentou alguns projetos, mas nós somos amarrados,
nós somos empilhados porque, na verdade nós poderíamos fazer de verdade indicação
porque o artigo 43 da Constituição diz o seguinte: que o Poder Legislativo não pode onerar
o Governo Executivo, não pode criar cargo, então na verdade eu vejo alguns deputados
cheios de projetos, mas projetos que eles sabem que não vão ter aprovação porque estão
exatamente mexendo na Constituição Federal, e o governador veta. Então, na verdade a
gente faz muita indicação. O que é indicação? É o pedido que é pro governador fazer e,
vem de pra e não daqui pra lá. Eu tenho alguns projetos, pensava que alguns fossem
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merecer por parte do governado a resposta sim, mas até agora não foram, e a queixa na
assembléia que é em todo Brasil é a mesma, né? O governo é poderoso, ele tem... Ele é o
executivo, é o direito dele. Mas, é participar, eu acho muito importante porque o nordeste é
uma zona ainda que vive da agricultura, e nós temos lavradores que não conseguem ter a
sua cultura pra vender, as agriculturas pra vender porque não podem pagar a irrigação.
Então esse projeto que foi até matéria do Assembleia em Ação, do Senado, na TV Senado,
como importante, aonde a gente pede que o governador, que o governo dê um subsídio ao
pequeno agricultor que usa a energia para a irrigação. Que seria uma coisa muita prática
que seria uma compensação do IPMF da CEMAR quem paga é o governo, e na verdade, até
agora não foi aceito, né?A gente também teve um outro projeto que também não foi ainda
assinado, e a gente quer correr atrás esse ano mais uma vez, que é o projeto pra deficiente,
porque fui secretária de ação social e vi como o deficiente tem que ter vez!... E a gente fez
esse projeto, realmente, fazendo que existisse uma...Porque já existe o Sine que é o
Serviço Nacional de Emprego, mas um serviço nacional de emprego para deficiente, por
quê? Porque você às vezes pela lei que tem, você tem que colocar deficiente, mas vonão
tem uma agenda aonde buscar. Eu quero um deficiente pra ser telefonista, ele não pode ser
surdo, mas ele pode ser paraplégico; eu quero um deficiente. E assim sucessivamente, você
não tem um cadastro e, também até agora, não foi. E por vai, né?! Pode citar inúmeras
coisas, indicações várias, mas na verdade a gente fica atrelada pela caneta do governador.
P.: Deputada, isso ocorre com vocês mulheres, ou no geral? Ou seja, a senhora
percebe que essa dificuldade os deputados homens também têm, ou eles têm um pouco
mais de acesso? Como a senhora vê isso?
Narradora I: Não. Eu não acho. O que existe na verdade e, eu não quero ofender o sexo
masculino, mas o que eu acho: é que nós mulheres somos mais recatadas. Se a gente não
consegue, a gente fala, a gente diz. E o político do sexo masculino ele é mais “desenvolto”
de dizer as coisas que às vezes não conseguiu, mas que às vezes fala como se tivesse
conseguido. Acho que a grande diferença é essa. s mulheres somos mais recatadas, nós
queremos falar de fato o que a gente conseguiu e, na verdade, o homem é mais aberto, é
mais tranqüilo, às vezes ele ta falando, nem conseguiu, mas ta falando. Não creio que
seja porque é mulher. Apenas a mulher tem a compreensão mais correta, se eu sei que não
posso fazer um projeto de Lei que vai onerar o governo, então eu não faço. Já o homem, ele
peita mais, pela própria cultura dele, né? Pela história dele. Não creio que seja... Na
verdade, termina sendo nós mulheres e homens diferentes porque a mulher se recata mais,
ela vai pelo caminho...se o caminho é esse: eu vou por aqui, não vou por ali. E o homem é
mais ousado, mais atrevido, ele vai! E às vezes chega até a colher. Por que, né? quem não
pode não consegue.
P.: Deputada, a senhora tem algum projeto específico para o público feminino?
Narradora I: Não. Específico não. Eu sou casada com o prefeito de Caxias –, uma cidade
de 150 mil habitantes e, eu com muito orgulho digo: que a minha cidade sob a gestão do
meu marido e eu ajudando ele na política, nós fomos a primeira cidade a fazer Conselho
para deficiente; a primeira cidade do interior a ter o Conselho da Mulher. Agora mesmo nós
estamos inaugurando no dia dezenove (19) de fevereiro a Secretaria de Política para a
Mulher, então a gente tem procurado, e eu acho que não precisa ser específico, se nós
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mulheres procurarmos realmente viabilizar os programas federais na nossa cidade e correr
atrás dos projetos, dos programas, das verbas, do trabalho sério, a gente consegue muita
coisa, porque se ninguém conseguiu ainda ter o que tem no governo federal, imagine se
fazer um, especificamente! Então, nós temos o CREAM em Caxias que é o Centro de
Referência Especial de Atendimento a Mulher. E criamos agora a Secretaria da Mulher que
vamos inaugurar no dia dezenove (19) e, você está convidada se quiser ir. Tem o Conselho
da Mulher. Nós temos então, um trabalho vasto, grande. E eu acho que não tem que ser
específico. Eu não gosto daquela mulher..., não aprovo que é a coitadinha. A mulher tem
que lutar! Pela luta ela consegue. Eu sou médica, sou de família pobre, humilde...e sou
médica, sou deputada, entendeu? Fui gestora hospitalar, secretária de saúde, então a gente
não é coitadinha. Tem que lutar igual aos homens ou mais do que eles, (risos).
P.: Deputada, quais os apoios que a senhora teve para se candidatar a esse cargo?
Falo no sentido de incentivo, encorajamento e, também financeiro, se teve alguém que
lhe disse conte com o meu financiamento? Quais foram as estratégias que a senhora
utilizou?
Narradora I: Na verdade eu sou médica 30 anos, tenho um serviço médico vasto,
grande, que muito me orgulho dele. Fui proprietária de um hospital que foi referência no
Maranhão; hoje em dia tenho um centro de hemodiálise que atende mais de 200 pacientes
por mês, tenho uma clinica ambulatorial com tomográfico, com ultrassonografia, com tudo
o que deve ter e, o meu marido foi deputado com quatro (04) mandatos, e, eu sempre fiz
política por causa dele, né? e ele passou a ser prefeito e ficou esse hiato, né? essa coisa
vaga. E a gente aprendeu que política é muito importante pra você continuar levando
benefício pra comunidade. E quando o meu marido foi prefeito a primeira vez, eu não quis
ser dondoca. Eu quis ir para a secretaria de Ação Social, não sabia nem o como era! E isso
me surpreendeu de modo positivo porque eu passei... eu via antes as pessoas como
doentes, como saúde, que saúde era mais importante para as pessoas, e ali eu vi que a saúde
era uma das coisas também importante. Tem que ter casa, tem que ter educação, tem que ter
apoio social, tem que ter dinheiro, tem que ter bolsa família tem que ter, e isso abriu minha
cabeça e me fez ver que eu não poderia deixar esse espaço que meu marido tinha
conseguido por quatro (04) mandatos em aberto. Foi que aprendi quanto eu podia fazer pelo
povo sem ser somente médica. Eu poderia aproveitar a minha experiência médica, claro né?
Com o povo, aliado a minha vivência como mulher de político, que a gente trabalha muito,
e ai foi que eu me decidi a ocupar esse espaço que foi dele, que era de um grupo político
dele. Todos aceitaram, eu fui a segunda deputada bem mais votada do Maranhão; eu fui a
primeira deputada do PSDB, nós somos oito (08), e... aqui trabalhando, tentando! Mais
sendo muito sincera. Ajuda? A gente tem, mas não foi uma aajuudaa...Porque nós temos
uma história, e quem tem uma história é mais fácil, viu? Pois com certeza é mais fácil. Eu
não vou dizer que não tenha tido, mas só o fato das pessoas confiarem em mim, pra mim já
ta valendo muito. E tô aqui tentando corresponder. (risos)
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P.: Deputada, agora me diga: no partido tem alguma diferenciação entre homens e
mulheres na divisão de recurso? Na distribuição de santinhos, cartazes etc., a senhora
percebe que os homens recebem mais que as mulheres, ou, não? Como é que é?
Narradora I: Não. Não chegou ao meu conhecimento que houvesse isso, não. Acho que
não. Acho que eles olham mais o valor político de cada pessoa, né? De cada político. Não
tenho assim uma resposta pra lhe dar. É só que imagino, porque...é ...o nosso grupo é muito
forte, então essas questões nunca foram resolvidas por mim, mas o que chega ao meu
conhecimento é que era tudo igual. Eu imagino que em todo partido é a pessoa que tem um
peso político maior deverá ser ou deveria ser bem mais beneficiada, mas isso é o que
penso, não é o que passei. O que passei eu não devo responder realmente porque não é uma
fase que eu me detive para analisar. Então, a senhora não percebe que essa
diferenciação no seu partido, entre homens e mulheres? Não, não. Então, todos
são tratados iguais? - isso. Ao contrário, ao contrário...nas reuniões nós somos ouvidos de
maneira igual, né? Claro, que sempre aquele carinho com a mulher que tem que ter, e ai
eu me orgulho disso. E as propostas que a gente faz que não são bem aceitas eles
respondem com mais fidalguias, dão não mais delicado...que isso ai é normal do nosso
gênero, mas nada que desabone, não! não vejo, não vi.
P.: Deputada, até agora no momento, a senhora acha que está cumprindo com seus
objetivos? Quais são as suas expectativas?
Narradora I: Mãezinha, o ser humano que disser que está realizado, está mentindo ou
então não sabe o que é que estar falando, na verdade eu queria muito mais; eu quero muito
mais do que eu consegui. Eu preciso demais, o povo precisa demais e, eu não vou dizer que
estou contente com o que eu consegui, né? Claro, que eu consegui muita coisa, consegui...é
na cidade que me elegeu, ajudar, mas face à carência mundial, no nordeste por excelência,
eu acho que meu povo merece mais. E, por conseqüentemente eu pedi, que peço às vezes a
gente não consegui mesmo.
P.: A senhora não está contente por quê?
Narradora I: Exatamente porque eu queria consegui mais. Acho que o povo precisa de
mais coisas. Eu acho que mais coisas poderiam ser dadas, e um entrave burocrático,
um entrave de documento, um entrave de canetada que atrapalha muito. E a pessoa...
outra coisa grave que acontece na política, é que pessoas importantes, também políticos
esquecem que entre ele e eu tem o povo, às vezes pensa que está perseguindo a figura do
político da oposição, e na verdade, está perseguindo é o povo carente. Então, o político não
consegue entender que existe uma comunidade necessitada entre os dois: a situação e a
oposição. Tem algumas pessoas que não medem nada pra poder conseguir a oposição ou
vice versa, e o povo perde. E isso ai não se vai resolver a curto prazo, é a longo prazo, com
certeza.
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P.: Deputada, a senhora deseja falar mais alguma outra coisa?
Narradora I: Não. quero agradecer a você por este importante trabalho que é dar
visibilidade ao papel da mulher no meio político daqui do nosso Estado. Meu muito
obrigada. E sucesso na sua carreira.
P.: Obigada a você por ter disponibilizado um pouco do seu precioso tempo para
colaborar com esta pesquisa.
Narradora I: Se caso precisar retornar, estou à vontade.
P.: Obrigada.
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Entrevista
Narradora II: Deputada Estadual.
Partido: Partido Popular Socialista
Idade: 29 anos
Profissão: Jornalista
Local da entrevista: São Luís – MA.
Data: 09/02/10
Perguntas:
P.: Fale um pouco da sua inserção na política partidária. Como foi que a senhora
entrou na política partidária? Quais foram os apoios que a senhora contou? de
amigos, família, partido. Eu quero que a senhora fale um pouco sobre a sua inserção
na política.
Narradora II: Acima de tudo, eu tenho na verdade um apoio muito grande da família.
Minha família apóia de forma incondicional esse projeto político, porque a prioridade na
verdade do nosso mandato é uma prioridade voltada pra justiça social, pra inclusão social
no nosso Estado. E você sabe que infelizmente é um Estado que capitania a desigualdade
social no Brasil. Capitania os piores índices, infelizmente de exclusão social que o Brasil
tem hoje, infelizmente estão aqui no Estado. E a nossa aspiração inicial vem desde a
juventude especialmente, desde a adolescência, esse pensamento na universidade. Eu
estudei no ramo, no campo das ciências sociais, eu estudei jornalismo na universidade
Federal do Maranhão, e dentro da universidade nós trabalhávamos alguns grupos de
conscientização política, alguns voltados pro campo cristão, o MEP - Movimento
Evangélico Progressista e outros movimentos - ABU, e outros movimentos que nos levam
na verdade a uma discussão mais aprofundada do papel do cidadão na sociedade e ao
mesmo tempo o papel do agente público na sociedade. Então a gente vem fazendo essa
discussão especialmente no campo ideológico, trabalhando movimentos que trabalham essa
questão da inclusão social, envolvendo todos os setores da sociedade. vai universidade,
movimento da sociedade civil organizada, movimentos sociais de cunho religioso que são
os movimentos evangélicos, os movimentos carismáticos, os movimentos católicos e acima
de tudo pressionando os poderes públicos constituídos: o poder Executivo, o poder
Legislativo. De que forma na verdade esses agentes públicos podem estar contribuindo para
essa mudança social que todos nós na verdade almejamos. Então, dentro da universidade
nós montamos esses núcleos básicos de discussão ideológica e também levando pra
comunidade. Nós sentamos em vários momentos com a cidade e com a juventude da
cidade, de escola secundária e trabalhamos essa questão dessa conscientização. E ainda
na universidade...a aspiração política. Desde os 24, 25 anos, começamos a traçar esse
perfil e esse projeto de como nos inserir na política. Porque entendemos que é na política
que nós temos uma instrumentalização muito maior de mudança social. E nós fomos
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eleitas deputada estadual com 29 anos de idade. Eu acho que foi um grande avanço. Esse é
o nosso primeiro mandato. Nós estamos com dois anos de mandato, sabemos que
acima de tudo nós precisamos continuar com esse pensamento, o pensamento da justiça
social, o pensamento da inclusão social, o pensamento de que os movimentos organizados
juntos podem sem dúvida nenhuma ser fundamentais para a mudança do Maranhão, para a
mudança de nosso Estado; ouvindo a comunidade, ouvindo a base, ouvindo realmente a
juventude, ouvindo o adolescente, ouvindo a criança, ouvindo a mulher. Eu acho que a
mulher...e nós no nosso primeiro ano viemos assumir aqui a presidência da comissão de
direitos da mulher na casa e nós tivemos em todo o ano de 2007 ouvindo, sentando e
discutindo. A gente falava isso na assembléia agora, parlamento. Então a gente fazia essa
discussão, a gente sempre fez realmente essa discussão e acho que foi um ano realmente
muito salutar, lutando pra que a mulher possa estar muito mais presente na sociedade, possa
estar presente no mercado de trabalho, possa estar muito mais presente dentro da classe
política do Estado. Nós temos na assembléia 42 deputados, dos quais, dos 42, 7 são
mulheres. Eu acho que é uma participação tímida, porém muito avançada se você considera
a proporção nacional. A proporção nacional, hoje o Brasil, meu tio fez um levantamento, o
Brasil infelizmente está comparado a países orientais, do ponto de vista da participação
realmente social, do ponto de vista da participação social da mulher. Então, eu acho que
precisamos avançar ainda mais na política parlamentar, com vereadoras, com mais
deputadas e mais senadoras e também do ponto de vista do executivo, com mais prefeitas,
mais governadores e quem sabe um dia alcançando, o sonho das mulheres do Brasil que é
ter uma presidente, um presidente realmente feminino, uma presidenta. Mas a gente
realmente tem trabalhado e avançado, tentando fazer jus e honrar o que o povo do
Maranhão quer de nós que é um grande mandato.
P.: Deputada, quais os apoios que a senhora teve para se candidatar a esse cargo?
Falo no sentido de incentivo, encorajamento e, também financeiro, se teve alguém que
lhe disse conte com o meu financiamento? Quais foram as estratégias que a senhora
utilizou?
Narradora II: Infelizmente se convencionou muito na sociedade que pra entrar na política
você tem que ter dinheiro. Tem que ter estrutura financeira. Quando da minha campanha eu
recebi o apoio incondicional da minha família, a credibilidade da minha família e nós
chegaríamos lá. Minha família se juntou no projeto, participou, foi pra rua, colar cartaz na
rua. Foi realmente um envolvimento com a mão na massa. Mas ao mesmo tempo havia uma
descredibilidade do ponto de vista da estrutura financeira. “Diziam puxa vida! uma menina
nova, numa campanha ainda com 28 anos de idade. Uma menina nova sem ter estrutura
financeira o suficiente pra isso”, “mulher”. Quer dizer, tem todos os fatores desfavoráveis
pra não poder chegar lá. Você sabe que juventude é confundida com inexperiência, com
incapacidade, eu diria assim. Então, se juntou a incapacidade, a não inclusão por ser
mulher, a falta de estrutura financeira. Então havia essa descrença geral de que a gente
pudesse alcançar essa grande honra que é a detenção de um mandato. Então isso era muito
natural, mas eu recebia não somente como algo, não como algo de desistir. Eu recebia
acima de tudo como um incentivo. “Puxa vida! todo mundo dizendo que não vai, então
vai sim, vamos mostrar que é possível, vamos mostrar que a mulher tem espaço, vamos
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mostrar que os jovens têm espaço”. Então, o desistirmos que por ventura acontecia por
conta desse inconsciente coletivo de que a juventude não é ainda o seu momento, de que a
mulher não tem ainda espaço, na verdade pra mim foi combustível mesmo e a gente
realmente conseguiu chegar lá. O PPS na verdade é o nosso partido, Partido Popular
Socialista. O PPS tem uma ideologia extremamente forte. Eu acho que é um dos partidos
que ainda resgata esse ideal ideológico. Então o PPS é um partido que tem trabalhado a
inclusão feminina. Aqui em São Luis eu sou presidente do diretório municipal e a gente tem
trabalhado com muita freqüência a inserção realmente dessa juventude, mas o PPS
valoriza isso por natureza. Ele valoriza a inclusão da mulher, ele valoriza a participação
realmente feminina e o partido sempre tem acreditado em nós, o partido sempre tem
apoiado as nossas atividades e as nossas ações. Então o apoio financeiro se deu individual,
do meu trabalho, do meu marido, dos meus irmãos, da minha mãe, do meu pai, dos meus
tios, dos meus amigos mais próximos que se juntaram todos e cada um...Um pagou o
cartaz, um pagou a cola, um pagou o combustível, um pagou...Estrutura realmente
necessária que foi preciso pra que nós fizéssemos, levássemos adiante a nossa mensagem.
Eu acho que o resultado da nossa campanha foi a demonstração clara de que a juventude
pode. A demonstração clara de que a mulher pode. A demonstração clara de que nós
podemos quando nós queremos. Eu acho que as barreiras e as dificuldades que aparecem ao
longo da vida da gente, as dificuldades elas precisam ser transformadas em oportunidades e
nós conseguimos fazer isso. Eu acho que foi uma grande vitória. Me considero uma pessoa
muito vitoriosa em ter conseguido o mandato com legitimidade, sem recurso, um mandato
sem recurso exorbitante mas com recurso mínimo considerável. Nós realmente
conseguimos e fizemos o que todo o ser humano precisa fazer, trabalhar no mandato não
com dinheiro, trabalhar no mandato não com mega estrutura, mas trabalhar no mandato
com a mensagem, trabalhar o mandato com um ideal.
P.: Deputada, agora me diga: no partido tem alguma diferenciação entre homens e
mulheres na divisão de recurso? Na distribuição de materiais, tais como: santinhos,
cartazes etc., a senhora percebe que os homens recebem mais que as mulheres, ou,
não? Como é que é?
Narradora II: Do ponto de vista ideológico, a ideologia partidária é essa: A ideologia
partidária é tratamento igual e a gente tem trabalhado isso. Agora você sabe que o partido é
composto de pessoas, de homens e de mulheres, de seres humanos que às vezes até nem
primem pela determinação ideológica que o partido realmente tem. Então às vezes um ou,
outro, outro acolá, vem e diz, porque a Eliziane?, e tal, será que vai?.. Esse tipo de coisa,
mas são posições isoladas, são posições realmente isoladas que eu acho que existe em
qualquer lugar, qualquer lugar que a gente possa realmente estar inserido. Agora, do ponto
de vista macro do partido, o partido tem trabalhado isso. Tem trabalhado a participação
igualitária. Eu me sinto hoje contemplada pelo meu partido, o partido tem valorizado o
nosso mandato, tem honrado realmente o nosso mandato e a gente tem honrado o partido. O
mandato, que por determinação hoje judicial, ele faz parte do partido. A gente tem honrado
e o partido tem honrado a nós enquanto mulher, enquanto agente realmente político. Eu me
sinto hoje do ponto de vista de participação partidária, eu me sinto muito bem contemplada
com o partido.
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P.: Deputada, como é que a senhora faz para conciliar o espaço público com o
privado? Isto é, a família com o seu mandato de deputada? Pois, a senhora me falou
que é casada. Então quais são as estratégias que a senhora utiliza pra fazer essa
conciliação?
Narradora II: Não é fácil né. Imagine o que é ser mãe de duas garotas, uma de três e outra
de quatro anos. Eu tenho que ser esposa, estar dando acompanhamento pro esposo, como
auxiliar, como companheira, como parceira, como sócia e ao mesmo tempo conduzir o
mandato. É muito natural, acho que pela própria natureza humana a criança, o filho ele se
apegar à figura feminina, a figura da mãe. Então é natural que esteja muito mais próxima,
tem a dependência e, você sabe que nós temos que amamentar por exclusividade seis meses
de vida. Então, é a minha segunda filha de três aninhos, quando ela nasceu eu estava em
plena campanha política, então eu tinha que levá-la do lado mamando. Então tinha que
amamentá-la e discursar. Terminava de amamentar e tinha alguém pra segurar pra eu subir
pra discursar. Então eu fiz isso inclusive na assembléia, no primeiro momento que a gente
chegou aqui na casa a minha filha teve que vir um período pra assembleia, também pra eu
ficar mais próxima dela, porque era muito pequenininha, mas não é fácil, mas a gente
consegue. Acho que essa é a grande virtude da mulher. A mulher ela é versátil, a mulher é
polivalente, a mulher consegue conciliar as coisas e eu consegui realmente conciliar isso,
conciliar meus filhos com o trabalho, mais às vezes ela vinha aqui me ajudar né (risos). Às
vezes ela vem me dar uma força aqui no gabinete, Deus sabe como fica depois que ela
sai. Mas é extremamente gratificante. Um dos momentos mais felizes da minha vida, se
alguém perguntar hoje o que me faz feliz? É chegar em casa e ver as duas correndo de
bracinho aberto pra mim, pra me abraçar e eu faço de tudo pra meio-dia ir buscar na escola,
porque quando elas me olham elas m correndo, com os olhinhos brilhando, me abraçar,
me beijar porque eu tive um horário pra ir buscá-las na escola e deixá-las na escola, mas
não é fácil. Porque nem sempre pra fazer isso. Mas o momento de maior felicidade de
uma mãe, é o momento de estar com seus filhos e eu com minhas filhas, mas a gente
batalha, luta e a gente consegue chegar lá, a gente consegue! Tem que trazer pro trabalho,
às vezes tem que viajar com elas, e eu lhe confesso: confesso que deixei compromissos
importantíssimos por conta delas, mas também lhe confesso que omiti qual foi à
justificativa porque às vezes não se compreende. Você diz não vim porque eu tive que ficar
com as minhas filhas. Passa que você é irresponsável, passa que você é displicente, passa
que você é descompromissada. Porque infelizmente a sociedade convencionou isso. Mas eu
fiz isso sim. Às vezes eu saio e minha filha começa a chorar, pega no meu pescoço e eu
digo: ta bom, não pude ir, tive um compromisso mais importante e o compromisso mais
importante é ficar com minhas filhas em casa, porque dói, corta o seu coração, várias vezes
eu já sai de casa chorando porque elas choram mesmo, pegam no meu pescoço. E as minhas
filhas são assim, elas me seguram mesmo pra eu não sair de casa. Mas é um desafio. Às
vezes você não tem como, você realmente tem que sair, mas quando dá pra eu dar uma
escapulida eu sempre dou e disfarço qualquer coisa, fico à tarde com elas brincando, vou
pro shopping, vou brincar e é um momento prazeroso total, realmente as minhas filhas. E é
isso. A gente consegue levar. A mulher é pra isso. A gente...Esse é o grande diferencial da
mulher.
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P.: Deputada, e o seu marido? A senhora conta com o apoio dele? Ou é daqueles que
cobra a senhora enquanto esposa, enquanto mãe, como é que é?
Narradora II: O meu marido me apóia, o meu marido realmente me apóia de forma
incondicional. Ele no período da nossa campanha política ele deixou tudo e veio pra dentro
da campanha. Foi rodar comigo, foi viajar comigo, foi trabalhar realmente comigo. Ele me
ajuda, até recentemente eu lembrava, o meu marido tem muitos defeitos, mas ele tem um
defeito...Ele tem uma qualidade que é uma grandiosa qualidade que ele trabalha durante
o dia, sete horas da noite no Máximo ele esem casa. Então eu sei que à noite ele chega
cedo em casa e ta lá ao lado das crianças e eu acho uma contribuição formidável realmente
que ele me dá, é me ajudando, me auxiliando, sabendo que eu realmente com trabalho e
que ele compensa essa presença como pai, como homem ao lado das minhas filhas. Então
eu acho que é um apoio considerável que ele me como marido. Mas tenho o trabalho
dele, tenho o auxilio dele...tem o trabalho dele e ele não pode ta comigo sempre, realmente
muito do meu lado, mas no momento em que ele está, que ele pode, ele está comigo, me
ajuda e eu acho que soma e contribui realmente muito comigo né.
P.: Deputada, gostaria de saber quais são os seus projetos apresentados aqui na
Assembléia?
Narradora II: No primeiro ano nós assumimos a comissão dos direitos da mulher, no
segundo ano a comissão dos direitos humanos e agora, este ano, nós estaremos assumindo,
deveremos estar assumindo porque a gente toma posse daqui a alguns dias ainda, a
comissão de juventude da casa. Então em 2009 nós vamos estar fazendo um foco voltado
para a juventude. Trabalhando programas de políticas públicas para a juventude, criando
alguns projetos que venham estar contemplando a juventude do Estado do Maranhão. Eu
acredito que a gente vai estar fazendo um grande trabalho, participando de fóruns,
participando de encontros de jovens do Estado e levantando a bandeira de que a juventude
realmente pode fazer um grande trabalho e que a juventude tem como desenvolver um
grandioso trabalho aqui no Estado do Maranhão. Nesse primeiro plano para 2009 é isso,
nós estaremos com a nossa equipe técnica de trabalho levantando dados voltados para a
participação do jovem e da jovem, do homem e da mulher jovem, no Estado do Maranhão.
Participando do conselho estadual da juventude com os órgãos como o fórum permanente
da juventude do Estado...bem organizado, o conselho estadual, as secretarias estaduais e as
secretarias municipais de juventude do Estado do Maranhão. Então, está fazendo rum de
forma bimestral, fazendo encontros e audiências públicas na assembléia legislativa de
forma bimestral e fazendo com que a cima de tudo que a gente possa mostrar o valor da
mulher jovem, o valor do homem jovem, tocando essa potencialidade, essa capacidade hoje
que a juventude tem.
96
P.: Deputada, até agora no momento, a senhora acha que está cumprindo com seus
objetivos? Quais são as suas expectativas?
Narradora II: Eu acho que se eu fosse realmente fazer uma avaliação...é aquela história,
você sempre espera fazer um grande trabalho e a gente jovem, a gente se frustra muito
porque você vem na ansiedade, você quer fazer um milhão de coisas ao mesmo tempo,
porque você quer resultados muito imediatos. Mas os resultados eles não saem de forma
imediata, eles são um processo e eles saem ao longo do processo, mas o que a gente...se tu
disser: você está satisfeita?..eu acho que não. Acho que poderia ta melhor. Eu acho que a
gente poderia ter trabalhado mais. A gente poderia ter apresentado muito mais programa e
muito mais projetos para o Estado. Mas dentro da limitação burocrática que nós temos,
dentro da limitação que nós temos parlamentar, dentro da limitação que nós temos de
atuação, eu acho que nós temos feito realmente um trabalho bom, nós temos feito um
trabalho realmente satisfatório. Muito embora a gente saiba que a gente precisa trabalhar
ainda mais, que a gente precisa ampliar ainda mais, alargar ainda mais as tendas. Mas nós
fizemos na medida do possível um trabalho voltado para o combate à tortura no Estado do
Maranhão, nas prisões do Estado, em todos os setores do Estado, aqui. No ano anterior nós
fizemos um trabalho na inclusão feminina, como eu te coloquei, agora em 2009 nós vamos
estar trabalhando um projeto voltado pra juventude. Então eu acho que nós fizemos
realmente um trabalho satisfatório, mas eu quero fazer um trabalho ainda melhor, muito
mais atuante em 2009, e um trabalho ainda melhor e ainda muito mais atuante do que 2009
em 2010. Eu acho que nós precisamos estar crescendo ainda mais, precisamos estar
avançando ainda mais, temos que estar numa cadeia de crescimento né. E a minha
satisfação ela é ilimitada. Nós poderíamos e nós podíamos fazer ainda mais do que nós
fizemos até agora.
P.: Deputada, a senhora deseja falar mais alguma outra coisa?
Narradora II: Quero agradecer muito obrigada também a você e você como mulher
também quero lhe parabenizar pelo seu trabalho de mestrado e lhe desejar realmente
também muito sucesso tá.
P.: Deputada, muito obrigada pela sua participação. Quero desejar felicidades,
sucesso aí nessa caminhada que sei que é uma caminhada muito árdua e que a
senhora consiga realizar seus objetivos.
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Entrevista
Narradora III: Deputada Estudual.
Partido: Partido Dos Trabalhadores - PT
Idade: 70 anos
Profissão: Promotora de Justiça (aposentada)
Local da entrevista: São Luís – Maranhão
Data: 05/02/09
Perguntas:
P.: Deputada, eu gostaria que nós continuássemos o nosso trabalho que fizemos em
2002, a senhora enquanto também deputada naquela época. Pois, gostaria que
relembrasse um pouco a sua inserção na política partidária, como que a senhora
entrou na política?
Narradora III: Quando saímos do interior (Grajaú), a gente veio para São Luís, o trio
pai, mãe e filha (eu) era filha única. A nossa vinda para São Luís alterou toda a minha
vida, ocasionando-me grandes mudanças. O meu pai era uma pessoa extremamente
simples e quando chegamos aqui a gente foi morar numa casa ali na rua da saúde, num
sobradão de azulejo amarelo, ainda hoje está lá, era casa da dona Oneide - , que recebia
pessoas vindas do Interior que vinham passar temporada; e ali era um centro também de
oposição ao Vitorinismo. Hospedavam oposicionistas do Interior do Maranhão. Meu pai
apesar de ter sido eleito, naquele tempo não era exigido domicílio eleitoral, integrava uma
força ligada ao Vitorinismo, logo depois rompeu com isso, momento em que começam a se
formar as oposições coligadas aqui. Então eu sempre convivi com a política, com o entra e
sai das pessoas em casa isso era constante, eu me inquietava, me indignava com muitas
questões sociais e, vendo a atuação do meu pai nesse meio, acredito que isso me
influenciou. Quando viemos para cá, eu tinha concluído o então Ginasial, no Interior,
onde antes morávamos. Aí eu ingressei no Científico, no Colégio Santa Tereza. Um
colégio freqüentado por pessoas das classes médias e da elite ludovicense. Mesmo no Santa
Tereza tinha um movimento estudantil razoável,. Eu fui intérprete por uns anos, mais
tinha os congressos secundaristas. Comecei a dar pitacos e também a editar o jornal do
grêmio. Então, eram experiências de uma ação política dentro do meio estudantil. a
gente já convive nos congressos. Era um negócio extraordinário. Nós iríamos transformar o
mundo depressinha: tinha a luta pelo Petróleo é Nosso; o combate ao Acordo de Bombaré.
Eu vim para cá, com a intenção de ser jornalista, nesta época era um horror mulher ser
jornalista, quando muito era prá ser colunista social, mas eu fui trabalhar na redação do
Jornal do Povo (meu primeiro emprego) uma grande trincheira, de luta da oposição e,
também como eu sempre digo: era uma escola de comunicação; pertencia ao Neiva
Moreira. Ele saiu em 1949 e, eu chego ao jornal em 1960. Convivi com figuras como:
Bandeira Tribuzzi este era muito forte, era o Editor do Jornal. Neiva vivia aqui e em
Brasília, nessa época o movimento era aqui e no Rio. Depois da luta na greve de 51 lutei
com essas oposições, trabalhei também no Jornal Correio do Nordeste, com Zuzu Nahuz e
98
no Jornal do Dia, que posteriormente se transformou nos anos 70 no Estado do Maranhão –
Sarney o adquiriu. Tudo isso fortaleceu a disposição que tinha com essa profissão.
Eu constituí família, fui muito feliz, tive cinco filhos. Quando a primeira filha nasceu, em
1964, sob o Golpe Militar, eu estava fazendo o quarto ano de Faculdade de Direito,
terminei no final de 64; em 1965 tive o segundo filho, e no começo de 1966, fui nomeada
Promotora de Justiça. Quando os filhos estavam pequenos eu não participava da política, eu
cuidava deles e escovava cachorro. O meu marido era Juiz no Interior na fase em que eu era
Promotora. Em 85 eu aceitei depois de relutar muito, uma candidatura que foi para a
eleição de Prefeitos, primeira eleição de Prefeitos das Capitais, depois da ditadura de 64.
Antes era como se fosse Secretário, os Prefeitos eram nomeados pelo Governador. Aceitei
me filiar junto ao PMDB e concorrer junto com Haroldo, nós achávamos um negócio meio
complicado, pois, a rigor no Ministério Público era permitido atividade político-
partidária sendo para disputar o mandato. Era um grande desafio, um momento de luta e de
resistência. O PMDB naquela época, aqui no Maranhão, ainda era uma resistência; mas
quando menos de um ano o PMDB foi se entregando aos fascínios da estrutura de poder
oficial Sarney passa a ser o Presidente e, eu me afastei do partido, e eu me envolvi na
luta pela Constituinte. Soberana bem prática, popular aceitei ser candidata até mesmo
motivada pela Igreja, a atuação do cristão no mundo da política. Então me filiei ao PDT
para concorrer a uma vaga na Constituinte. Não sei se era pensando a chegar à Constituinte,
mas para ter um espaço a mais para discussão da importância deste grande debate popular.
Valeu! Foi uma experiência muito rica.
P.: Deputada, fiquei sabendo que a senhora foi reeleita agora nessa última eleição de
2006. Então, gostaria que a senhora falasse sobre as estratégias que utiliza para se
manter na política? Quais foram as dificuldades, as conquistas? Fale desde do seu
primeiro mandato quando foi vereadora até este presente pleito.
Narradora III: Primeiro só arrumando um pouco as idéias. Eu estar na política: eu sempre
considero me entendi, me conheci...mais ou menos com as inquietações do mundo...e
vivências, sempre era provocativo. Eu sempre gostei de ler jornal...numa fase de minha
infância em que eu vivia aqui em São Luis, e tive durante muito tempo a militância não
nessa perspectiva do que está ao meu redor, conhecer a realidade e me inquietar e aos
poucos cheguei num determinado momento que o Golpe, a Ditadura Militar e depois eu
entrei no ministério público e sofri as restrições pra militância político-partidaria, vivi.
Ainda hoje tenho gratas lembranças e foi uma experiência muito rica que me ajudou
inclusive a formar essa minha consciência ético-juridica no ministério público, mas tão
logo eu completei o tempo pra me aposentar, eu me aposentei, até pra ficar mais livre para
tirar as teias que me impediam de certas atividades como a prática da advocacia e a
militância nos partidos políticos. (telefone). Então eu enfrentei algumas candidaturas sem
chegar à vitória nas urnas, mas foram momentos já de participação política, político-
partidária. A militância é muito mais do que sendo candidata ou tendo mandato, não, a
militância política se faz no sindicato, se faz em casa, faz na rua, e nas organizações dos
movimentos sociais. Em 85, 86, 88 e 90 eu estava registrada em partido político e enfrentei
candidaturas, mas não me sentindo bem à vontade porque terminada a eleição eu ficava
proibida da militância porque ainda estava ativa no ministério público. Mas foram ricas em
termos de aprendizado, conhecimento...Eu conheci a São Luis toda, e depois quase que
todo o Maranhão toda nas suas dificuldades, suas belezas, nas suas riquezas também. Então
99
até 90 eu me candidatava, mas na hora que terminava a eleição caia fora, não participava de
nada da atividade partidária. Com a aposentadoria eu voltei a me candidatar em 96 pra
vereadora. Foi uma candidatura muito bonita mesmo; fruto de todo um sentimento coletivo
que ia desde setores jovens a setores mais amadurecidos pelo tempo...e com eixo de
atuação: questão do meio ambiente, a causa da mulher, da criança e do adolescente,
transparência administrativa e a construção da democracia mesmo; daí entra a luta em
respeito da dignidade de todos e de todas, inclusive dos negros e negras, enfim, foi uma
candidatura que tinha sua base de sustentação já nos movimentos sociais e o que eu
considero da maior relevância...o desafio de ser igeja no mundo, inclusive, sobretudo, o
desafio terrível que é no mundo da política. Então isto é que foi a grande sustentação. Fui
eleita aí em 98 teve eleição pra deputado estadual, presidente da república, governo,
deputado federal e senado...fui candidata dentro dessa abertura mais da experiência que a
gente tava vivenciando em termos apenas do município. Não fui eleita na primeira hora,
mas fiquei como primeira suplente. Então demos continuidade ao exercício do mandato que
terminou em 31 de dezembro de 98, mas na eleição de outubro foi eleito prefeito em 2000 o
companheiro deputado Jeomar Fernandes que foi eleito quando eu fiquei como suplente,
ele foi eleito deputado assumiu a prefeitura no interior do Estado e abriu-se a vaga. Então
eu sai da câmara de vereadores e no dia seguinte fui assumir na assembléia. Então eu
cumpri parte da legislatura que foi eleita em 98. Passei dois anos e me candidatei
novamente em 2002 e 2006 sempre com esse perfil, esse norte, nesse meio das duas...das
candidaturas eu fui candidata a prefeita de São Luis em 2000; candidatura pelo partido dos
trabalhadores e em 2004. As duas, claro, não recebi o resultado final que todos nós
desejávamos...e a história do mundo que teria me dado ruim...não houve, mas serviu de
fortalecimento e de reforço desses compromissos que tem caracterizado nosso mandato
parlamentar. É isso. Estamos no final dessa legislatura, eleita em 2006 com o mesmo clima,
o mesmo ritmo, o mesmo entusiasmo, o que não quer dizer que necessariamente serei
candidata em 2010 ou não. Estamos num permanente movimento de discussão pra saber
qual é...de uma candidatura minha ou de outros companheiros e companheiras levando essa
experiência. Pode-se fazer política diferente daquilo que muitos pensam e pode ser também
nessa dimensão ético-político.
P.: Deputada, então a senhora fala, como foi visto no trabalho anterior, e a senhora
está reforçando agora, que vem de movimentos, vem de lideranças, é isso?
Narradora III: Eu não tenho um sindicato, eu não tenho um prefeito, eu não tenho uma
prefeita, eu não tenho esse patrocinador. A votação ela é muito diluída, então isso me
reforça até o município em que eu tive um voto ele é parte desse mandato tanto quanto.
P.: Então quer dizer que a senhora recebe apoio desses movimentos, dessas pessoas
companheiras que...(ela cortou a pergunta)
Narradora III: Eu não digo o apoio, mas a participação, a participação no mandato. Tanto
que a gente tem...a gente diz: participe do mandato através das demandas. No que é
necessariamente seja no eleitor e além, mas ele é um cidadão e tem um mandato que
reforça o exercício da cidadania.
100
P.: Certo deputada. Então fale um pouco como é que a senhora vem se mantendo na
política durante todos esses anos com mandatos. Quais o as estratégias que a
senhora utilizou e utiliza para manter as campanhas? Falo no sentido de incentivos,
de apoios financeiros que a senhora teve nas suas campanhas desde quando a senhora
ingressou na política?
Narradora III: É complicado... É extremamente complicado mesmo. Eu quero dar um
outro destaque em termos do mandato, a prioridade que se dentre várias estratégias,
ações do mandato é a valorização da comunicação como algo imprescindível e permanente.
A comunicação pra nós passa a ser algo de campanha. Mas o mandato é esse retorno que
nós temos que dar permanentemente pra sociedade...através da boa informação; e é por isso
que a gente tem o olho vivo no parlamento que é uma coisa assim...eu tava conversando
com Cleber agora...é uma gravação que se faz, vai pra estúdio pra ser colocada em auto-
falante, não em São Luis como em algumas cidades do interior que os companheiros
votam e entendem a importância, ou em rádios comunitárias também...colocando em dez
minutos as atividades da semana, às vezes se atrasa um pouco, mas se dá um retorno. O que
se está fazendo, tem o informativo dessa luta e vale a pena e o jornalzinho que às vezes
diminui a saída, a produção. O ideal era que todas as pessoas do Maranhão recebessem,
mas aí vai esbarrar naquele ponto que você se preocupa: os custos. Cada vez mais os custos
são mais elevados. A gente tem, claro, recursos pra o exercício do mandato e como isso faz
parte do exercício do mandato: ajuda de gabinete, ajuda parlamentar, mas é muito pequena
pra atender. A rubrica é muito pequena. Então como a gente faz? Não pra fazer milagre.
Não pra fazer leilão ou bingo pra aglutinar. Não dá! Então nós estamos investindo mais
atualmente na Internet, o informativo eletrônico que torna mais simples, mais rápido e
atinge. Mas não atinge o Zé, o Antonio, a Maria que não têm ainda computador, não m
acesso à Internet. É por isso que a gente vive em lutas com políticas de governo, também
fortalecendo que todos possam ter acesso à Internet, como algo vital mesmo. Não lazer
como pra formação. Essa consciência critica nossa poderá ser passada através do bom uso
da Internet. Eu digo até mesmo pra estudantada toda ficar....com tanta competência e
capacitação, qualificação; o tempo que estiver batendo papo ...muito maior que a
Internet pode proporcionar pra todos nós de todas as idades. Então deixar bem claro a
comunicação permanente passa bem no eixo de nossas preocupações e... Eleição, ela é
cansativa, ela é complicada em todos os aspectos. Até mesmo os compromissos pessoais,
domésticos e tudo, o ser mulher dentro da política é tão desafiador quanto ser igreja no
mundo da política também. Mas tem o aspecto lúdico. Coisas que você não faria em um
outro momento, quando você pensa que não você faz. O envolvimento é tanto que você
nem sente cansaço... pois a gente vai como puder e faz a atividade, faz a ... Eu acho que nós
inovamos muita coisa quando eu vejo a turma do setor eu me lembro que a gente investia
no retorno mesmo e pouca gente. Sempre me preocupo com a militância que é algo
fundamental. As pessoas contratadas são todas heróicas que fazem muita coisa, mas não
tem aquele desejo maior que o militante tem. E nós investimos na militância, fortalecendo e
é um vai-vem, o militante inclusive nos anima. Ah! não vai dá? Por que não vai dá? São
poucas pessoas, mas pessoas que acreditam na luta e na causa. É isso ai. Claro que às vezes
as pessoas tão precisando até de um transporte, de um vale transporte para poder se
deslocar e isso a própria legislação admite. Mas isso não produz risco, é carona, pegar
carona com quem tem carro, e aqueles que m carro se com prometem em panfletar mais
101
longe. Então passa muito por essa questão dos recursos. Ter um mínimo de um
papelzinho, um panfleto. O panfleto é muito bom pra chegar até bem mais longe. Saber
aproveitar o período de propaganda eleitoral com simplicidade, mas as pessoas querem ver.
Isso ta em todo lugar. O eleitor é muito exigente. Ele gosta de ver o candidato, de ver, de
chegar perto. Tem o aspecto mitológico que passa nessa relação. E a gente tenta nas nossas
possibilidades. Eu cheguei a um ato terrível, eu faço uma campanha muito grande que é
fruto do medo com relação ao a moto. Eu acho que a juventude ta morrendo porque esse
trânsito maluco, as motos estão sendo parte de muita causa de jovens que morrem. Mas eu
cheguei numa campanha quando eu virei eu tava numa moto, porque era a única forma
de chegar naquele local dada a dificuldade mesmo que nós sabemos que é uma outra
mudança, os jumentos, os burros, os cavalos estão sendo substituídos pelas motos, que
eram também uma forma de acesso, ou então, não ia chegar tão cedo aos companheiros que
estavam a nossa espera. mostrando como se pode com criatividade enfrentar as
dificuldades. É criatividade, convicção, coerência e um grupo que acredita nisso, que não
está ali apenas porque não teve nada pra fazer naquele dia.
P.: Deputada, esse grupo que a senhora fala, são grupos de amigos e também do seu
partido?
Narradora III: O partido é fundamental. O partido, sobretudo, nos seus princípios, ou seja,
transparência, participação popular e inversão de prioridades. Eu aprendi isso, luto pra que
ninguém se esqueça disso e brigo eternamente no partido. Tem muitas dificuldades
partidárias mesmo, mas isso vai ajudando a fortalecer esse compromisso nosso e é essa a
tarefa nossa: fazer democracia inclusive dentro do partido é extremamente desafiador, todo
mundo sabe disso, mas é com todos esses vai-e-vens que estamos nesse momento em clima
de celebração pelos 29 anos do PT, partido que nasce da luta concreta, real das mulheres,
dos homens e de todas as categorias que num determinado momento, no final da ditadura,
se descobriu que o sindicato tem um papel fantástico pra classe trabalhadora, mas chega
num determinado momento que as tomadas de decisão não se dão apenas ou no próprio
sindicato. É numa outra esfera de exercício de poder, é com isso que surgiu o PT como um
instrumento de luta da classe trabalhadora e a gente tem tentado fazer com que o mandato
que é do PT representado pela minha pessoa seja um instrumento da classe trabalhadora. Ás
vezes correndo o risco de em determinados momentos até não ser bem isso que alguns do
PT estão defendendo, mas a gente tenta manter viva essa luta, essa forma de fazer valer
tudo o que foram os sonhos e utopias, tudo o que pensaram o PT lá no fim dos anos 70.
P.: Deputada, agora para terminarmos a nossa conversa, pois não quero tomar
muito o seu tempo, eu gostaria de saber quais o as suas expectativas durante todos
esses anos que a senhora está na política, se a senhora conseguiu ou estar conseguindo
realizar os seus objetivos? A senhora está satisfeita em estar neste campo como a
senhora mesmo falou que é muito difícil? Eu gostaria que a senhora falasse um pouco
sobre isso.
Narradora III: É sempre aquilo....alguma incoerência essa contradição. Eu posso dizer que
eu gosto da atividade parlamentar. Gosto do bom debate. Agora uma dificuldade muito
grande quando você pensa que nada adiantou, quando o seu projeto é rejeitado, quando o
projeto passa, mas o governador veta e não vira lei, quando o projeto passa o governador
102
sanciona e a lei não é levada em consideração. é que dói mais ainda. a gente fica
sofrida, mas ao mesmo tempo a gente acha que é porque não se lutou o suficiente, é porque
a pressão não ta sendo o suficiente. Eu acredito ainda que tudo deve passar pela pressão
popular, mas uma pressão popular séria, que venha do sentimento do cidadão e da cidadã e
passe a ser um sentimento coletivo. Eu não acredito nas improvisações ou no querer o
próprio poder oficial querer manipular os sentimentos do povo, o povo não está com aquele
sentimento, em outras palavras, fazer do povo ou dos movimentos massa de manobra,
cooptar. Aceito que possa até estar juntos, mas mantendo a liberdade e as convicções
daqueles que, numa dimensão de serviço, possam estar colaborando na administração
pública, mantendo os seus compromissos e a sua razão da luta. uma diferença da
cooptação. Cooptação é você ficar calado batendo palma e às vezes até o cooptado sofre
até por determinada situação. E eu não sei conselho, mas até uma sugestão: será que
você não se reencontraria tentando fazer outra coisa, outro tipo de atividade? Não sei. Não
estou censurando nem estou julgando, nem condenando, mas como possibilidade da gente
não se deixar perder tudo o que se tem construído e tudo vier água a baixo. Eu tenho medo
da cooptação. Quando eu vim de Recife, de um estudo da pedagogia da libertação, a
cooptação já estava na pedagogia do próprio cristo.
P.: Deputada, para encerrar, eu gostaria que a senhora falasse um pouco sobre os
seus projetos apresentados aqui na assembléia? Tem algum específico para o público
feminino?
Narradora III: O que a gente tentou é dentro daqueles eixos. Por exemplo: a luta em
defesa da dignidade da mulher. A luta para que o direito à saúde seja realmente de todos
mas que não se possa deixar de dar prevalência ao direito da saúde da mulher. Por que isso?
diferenças? É porque a mulher quem vai, quem se bate mais, é uma questão de gênero.
Dificilmente você um companheiro numa fila pra marcar uma consulta. É a mulher que
ta lá. É ela que enfrenta essas dificuldades do parente, do amigo, do vizinho e a dela
também. Na câmara, na assembléia, a gente lutou pelo cartão de saúde da mulher. Hoje
talvez alguns possam dizer: não necessidade. Eu continuo achando que há, porque se a
companheira chegar no serviço público para ser atendida a fila ta muito grande. Luto tanto
para que isso se torne lei tanto no município quanto no Estado, no serviço público, e o
trabalhador da saúde, o médico, o enfermeiro vão logo querer passar um remédio, mas não
vai saber se ela é hipertensa, se ela é diabética, como foram os partos...Que ela tem
acumulado, e o cartão de saúde da mulher tem tudo anotado oficialmente de tudo que você
enfrentou e facilita o atendimento. Se você chegar desacordada como é que o
atendimento de emergência ou de urgência vai logo saber? Sem antes que joga uma glicose,
você é diabética vai está anotado no cartão saúde todo o diagnóstico anterior dela,
entendendo? Lamentavelmente mesmo quando os médicos estão à frente ou no município
ou no estado não se sensibilizam para fazer um diagnóstico completo. A luta é permanente
em relação à preservação do meio ambiente. Assegurando às quebradeiras de coco o direito
a ter acesso aos babaçuais, como prioridade. E as quebradeiras de coco estão dando um
show, ajudando a melhorar a economia aqui no Estado do Maranhão. Que luta tanto por
trabalho e renda e se quer destruir um espaço de trabalho que cada vez está maior, não
envolvendo mulheres...Eu não sei porquê, mas homem não sabe quebrar coco; a mulher é
que tem esta competência, mais é porque eles não se animam em aprender, eu acredito que
também dariam um show muito grande. Este é um espaço de atuação maior das mulheres,
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isso é tão importante: o shampoo, sabonetes, óleo para outros paises, tudo fruto do babaçu
possa oferecer. Nós temos aqui um interesse muito grande de fazer cumprir a lei que proíbe
a derrubada de palmeira de babaçu. É uma luta que nós estamos enfrentando na assembléia
com o projeto que alarga mais as exceções e mesmo com a lei em vigor, a derrubada
continua acintosamente no nosso Estado. Eu posso destacar também a questão da
valorização da juventude, lei nossa e que é a carteira fornecida pelas escolas e pelas
universidades, tenha pública pra evitar todo esse sofrimento do jovem que tem que ter
não sei quê e nem mais o quê pra poder ter direito à meia passagem, vamos assegurar a
meia passagem e a meia entrada é lei municipal e é lei estadual também. Poderíamos até
trazer a acessoria pra nos passar aqui todas as leis. O projeto de lei que a gente tem batido
às portas que inclusive facilitaria mais pra ti.... Temos uma preocupação de prestar contas.
Já lutamos na assembléia pra que fosse uma obrigação de todo deputado...projeto de
resolução apresentado duas vezes ou três e é rechaçado. Prestamos conta colocando na
Internet que aplicamos os recursos de verba de gabinete e verba parlamentar pra que todos
possam saber em que é que o seu deputado está gastando, quanto gasta em cada rubrica,
mas isso vem sendo rejeitado também. Temos investido em emendas anualmente, a lei
orçamentária naquilo em que constitui as demandas que vem desses movimentos.
Lamentavelmente nem nos governos ditos democráticos, tanto na prefeitura como na minha
experiência de deputada com relação ao governo, tem entendido que o direito a formular
emendas é um direito, uma prerrogativa dos parlamentares para que se torne democrática
essa lei orçamentária, toda administração pública ela fica presa na mão do executivo.
Temos lutado acrescentando emendas anualmente, voltado para as mulheres, para a questão
do hospital Aldenora Bello...eu tenho até colocado na tribuna que essas picuinhas
politiqueiras aqui do nosso Estado tem influência até nisso. E como o poder, o poder
público enquanto possa haver um hospital de referência com relação ao câncer, possa
investir no hospital Aldenora Bello que bem ou mau é quem ainda ta agüentando as pessoas
doentes de câncer. Temos também projetos voltados todos nesse eixo; a questão da
transparência. Então eu vou pedi pra te passar o quanto antes. E dentro dessa linha de
prestação de contas, estamos anualmente fazendo relatório de todas as atividades e
pronunciamentos; a nossa página na Internet ta disponibilizada, você pode olhar os
projetos, estão ali todos, desde o primeiro mandato está lá nos arquivos. E quando você tem
um perfil a mais no que é que nós...não digo perdemos mas devemos às noites e às manhãs
nós nos encontramos em termo de acessoria pra discutir o mandato. Sexta-feira a acessoria
se reúne aí. Quem menos vem sou eu porque está fazendo as outras coisas que durante a
semana não se tem como fazer, mas é a forma do mandato ser partilhado, todos os
acessores estão convidados a estar aqui para planejarmos as nossas demandas, e temos a
experiência de que ta muito tímida agora, no ano passado pessoas com problemas de saúde
na família... É a realização de conselhos políticos onde são convidados os movimentos,
com pessoas de qualquer credo ou partido político pode participar tranqüilamente pra
avaliar o mandato e fazer sugestão. Isso é uma riqueza muito grande e que nós temos que
reabilitar os conselhos políticos no nosso mandato. E temos um outro que a gente faz, tenta
fazer mensalmente uma seção de estudo sobre quais as demandas da sociedade, em cima de
determinadas causas ou tema. Saco vazio não se põe em pé. Precisamos nos abastecer
eternamente senão vamos pro bate boca que não constrói e que não é pra isso que as
pessoas elegem os seus deputados ou as suas deputadas. Nós temos um projeto onde as
pessoas se inscrevem e ela vai ali como cidadão engajado em algum movimento levar suas
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denúncias e reivindicações. Algumas maras no interior têm. Aqui a câmara de São Luis
não conseguiu...a democracia ainda não é muito apurada.
P.: Deputada muito obrigada.
Narradora V: Eu que agradeço, vou te dar o mero do meu telefone se alguma coisa que
você quiser tirar alguma dúvida de colocação ou alguma outra informação, tu entras em
contato comigo.
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Entrevista
Narradora IV: Secretária da Secretaria de Estado e Infra Estrutura - SESID
Partido: Partido da Social Democracia Brasileira - PSDB
Idade: 52 anos
Profissão: Engenheira Civil
Local da entrevista: São Luís – MA
Data: 10/02/09
Perguntas:
P.: Senhora secretária, eu gostaria que nós continuássemos o nosso trabalho que
fizemos em 2002, a senhora enquanto deputada naquela época. Pois, gostaria que
relembrasse um pouco a sua inserção na política partidária, como que a senhora
entrou na política?
Narradora IV: Sou uma pessoa da classe média de São Luís. Meus pais eram evangélicos
e criaram nove filhos. O meu pai era servidor público, trabalhou na antiga “Prensa do
Estado”, uma empresa de energia elétrica. E a minha mãe era autodidata, criou uma escola
de datilografia, que funcionou por muitos anos em São Luís. Tenho uma grande admiração
e respeito pelos meus pais, em especial, pela minha mãe, que foi uma servidora pública
federal concursada, em idade avançada. Meu pai tinha o dom da oratória, era
constantemente chamado para auxiliar nas campanhas políticas de candidatos a Prefeitos e
outros cargos eletivos, naquela época. Sou formada em Engenharia Civil, também com
Bacharelado e Licenciatura Plena, hoje, eu curso Direito, porque sinto necessidade de uma
maior formação para as minhas atividades públicas. Durante mais de trinta anos tenho sido
servidora municipal e já trabalhei com mais de dezenove Prefeitos, em cargos de Secretaria
e Assessoria, que fizeram a minha maior formação. Eu adentrei na política, em 1995; foi
entretanto, na Assembleia de Deus que fui convidada pelo pastor Estevão para ser
representante da Igreja no Parlamento. No primeiro momento eu fiquei relutante, mas ele
me mostrou que eu teria condições de representá-lo bem, era uma graça de Deus. Pois ele
teve um sonho: o Senhor me chamando para cumprir essa missão. Aí, eu entrei na política
partidária, porque até então eu fazia uma política executiva. A Prefeita com a qual
trabalhava concedeu que eu me afastasse para me eleger. Então eu atendi a esse chamado e
me candidatei. Fui eleita para o cargo de vereadora como a mais bem votada da Ilha.
Fizemos um grande trabalho em São Luís. Em 1998, estava exercendo o cargo de deputada
estadual, fiquei por dois mandatos. Agora vou te dizer, foi difícil conciliar a vida política a
partir dessa hora, como mãe, esposa e como serva de Deus. Eu trabalho como ministra de
Deus, ensinando para os casais, recuperação de lares, trabalho também com jovens,
recuperação de vidas difíceis. A minha experiência na política, eu digo que foi um
momento de muita tensão e conflitos. Me senti muitas vezes num turbilhão. Foi um modo
de ser muito agressivo na minha vida. Eu tinha uma vida muito particular e passei a ter uma
vida pública, mudou tudo na minha vida e eu tive muitos conflitos. Eu tenho três filhos,
tenho netos, em 2002 a filha tinha dezesseis anos que na época do meu ingresso na política
106
tinha dez anos, entrando na adolescência com muita carência afetiva, e a minha ausência no
lar criou muitos questionamentos para ela. Essas funções de mãe, de profissional, de dona
de casa ainda são todas importantes e não devem ser desvalorizadas ou secundarizadas por
nenhuma mulher. Elas devem ser prioridade em qualquer atividade que a mulher exerça.
Para que eu possa exercer todas essas funções, eu tenho como suporte o apoio de Deus, que
me ouve, entende e me orienta. Fez com que um filho quase morto, ressuscitasse, e o meu
marido se libertasse das drogas e da prostituição. O meu marido é muito tradicional quanto
aos papéis do marido e da esposa. É machista, não foge às regras estabelecidas para os
homens. É ele que marca essa posição dizendo que “ao chegar à porta da minha casa eu
devo ser a esposa dele”, cumpro todas as tarefas de cuidar das coisas da casa, levo a
toalha do banho, organizo as roupas dele. Ele insiste que na casa não devo trabalhar para os
outros, não deve ser uma extensão do gabinete da Assembleia. Intervenho, neste
momento, para lhe perguntar se não se como uma mulher submissa nesse papel,
não, faço por prazer, a minha família tem que ter prioridade. Todos se admiram quando
chegam em minha casa e me vêem na cozinha. Se espantam ao me ver desempenhando o
papel de dona de casa, “mais doutora a senhora cozinhando?” eu sendo uma política. Eu
tento conciliar, com a compreensão do marido, dos meus filhos e o apoio de Deus, eu
consigo. Minha filha, naquela época com dezesseis anos, já demonstrava ter um certo gosto
pela política, é crítica, me mostra coisas que eu não vejo, ela é uma grande assessora que eu
tenho. Eu não secundarizo nenhum dos meus deveres de esposa e de mãe. Eu largo tudo em
prol da minha família. A minha família está em primeiro lugar, porque é nela que eu choro,
que eu encontro ombro amigo, é no seio da minha família que eu encontro lealdade, análise
crítica firme. Lá não há falsidade, hipocrisia, puxar o tapete que nem aqui, no meio político.
pessoas que usam de estratégias mesquinhas e debilitárias no Parlamento, isso fere os
meus princípios. As relações entre homens e mulheres no Parlamento, a concorrência entre
mulheres Deputadas é mais acirrada até mesmo, que entre Deputadas e Deputados. Pois, o
preconceito da mulher com a mulher é mais forte que entre os homens e as mulheres. Não é
que não haja discriminação dos homens. A gente percebe que há , a gente nas próprias
comissões. Na composição das comissões, tanto das especiais quanto das outras se eles
puderem botar só homens, eles botam só homem. Na maioria das vezes, os homens não dão
conta, porque eles não têm um compromisso, e as mulheres quando têm uma
responsabilidade, ou muitas, elas assumem. falta de solidariedade das mulheres entre si,
quando estas se encontram no terreno da política. As mulheres poderiam se unir mais e
realizar algumas ações conjuntas, mas preocupam-se com quem vai aparecer mais, uma
quer ter um brilho maior que o das outras pessoas, mas isso é uma das mazelas humanas,
ter ciúme e inveja das pessoas ao redor. Isto por que as pessoas estão presas ao lado
material das coisas, isso é falta de espiritualidade. As relações de gênero no partido são
problemáticas, discriminatórias. A própria direção do partido privilegia mais os homens
como candidatos, dando a eles mais recursos, mais santinhos, cartazes. Privilegia mais
homens em detrimento da mulher com a mesma disposição de conteúdo. Aconteceu isso
comigo várias vezes, vendo colegas candidatos a Vereador levarem mais santinhos, mil,
três mil cartazes e, eu apenas quinhentos, então, por que isso?
107
P.: Agora está como secretária? A senhora pode me explicar qual é o seu cargo nesta
secretaria? Quais são os trabalhos que a senhora estar desenvolvendo como
secretária?
Narradora IV: É uma prazer recebê-la novamente para darmos continuidade a essa
trajetória política que Deus tem me concedido. Nós temos sido reconhecidos pelo nosso
trabalho e hoje eu deixei o legislativo para assumir uma cadeira no executivo, na equipe do
governador Jackson Lago. Em 2006 eu concorri às eleições para deputada federal, pela
própria conjuntura política da época em que o meu partido, o PSDB solicitou que eu
concorresse à Federal. Nessa peleja política, naqueles dias nós tivemos um trabalho
belíssimo em todo o Maranhão, uma instância de poder maior, com maior desenvoltura pela
experiência de ter sido vereadora em São Luis, ter sido duas vezes deputada estadual pelo
Estado, eu concorri agora para uma esfera maior, mas uma experiência também maior. Não
fomos exitosos no primeiro momento porque eu fiquei como segunda suplente do PSDB
com setenta e dois mil votos adquiridos nas urnas, não foi o suficiente para que eu
ingressasse no grupo de primeiro escalão eleito para deputados federais no Maranhão.
Nessa disputa nós tivemos muitos embates, muitas dificuldades financeiras, como mulher
também. Porque as mulheres sofrem nessas disputas políticas ainda no país, uma certa, eu
vou dizer pra você, preconceito. Ainda um preconceito muito grande da mulher na
política e desenvolturas, consagradoras de várias mulheres brasileiras ainda não foram
suficiente para evitar que o preconceito na política, nas disputas partidárias, nas eleições
estejam presentes. Então diante de tantos óbices de uma eleição ainda a gente encontra no
Brasil, no Maranhão principalmente ainda, essa dificuldade, esse preconceito, essa cultura
de que a mulher na política ainda é realmente uma coisa nova. Por outro lado, dentro dos
próprios partidos essa disputa ainda é muito desigual. O machismo, vamos dizer assim, e a
masculinização da política deixa sempre que nós mulheres que participamos desses
processos eletivos, dentro do partido, partidariamente, sempre somos relegadas. Se é ajuda
a gente sempre recebe uma menor parcela, tanto parcela financeira que quase a gente nem
recebe, como também a parcela de contribuição dos retratos, dos impressos. Sempre a
maioria, a maior quantidade, preferencialmente são primeiro os homens. Esse já é um
processo dentro do partido, e fora, a própria cultura popular ela impõe ainda um certo
preconceito. Sabemos que o trabalho de reconhecimento em todo o Estado que temos feito
nos deu setenta e dois mil votos que eu sou muito grata ao povo do Maranhão por isso.
Primeira vez que disputei uma federal e já saí...muitos forma eleitos com até quarenta e três
mil votos em outros partidos menores e eu estava numa grande legenda PSDB, não
consegui o êxito de primeiro lugar mas fiquei como segunda suplente e o governador
Jackson Lago sabendo da minha trajetória também profissional, eu sou engenheira
urbanista, com várias especialidades, ele me indicou para ser a secretária de Estado das
Cidades. A primeira secretaria foi essa. A competência da secretaria na área da habitação,
política habitacional, execução da política habitacional do Estado e, eu logo nos primeiros
dias de janeiro de 2007, na secretaria das cidades, SESID, desenvolvi um projeto urbano, de
urbanização, de inclusão social, de habitação que foi aprovado pelo ministério das cidades
como um dos projetos de maior expressão e de, vamos dizer, de expressão social, de
inclusão social, de sustentabilidade, entre os projetos apresentados no ministério das
cidades, e o Estado do Maranhão foi contemplado com um projeto de três mil e quinhentas
108
habitações numa área palafitada de São Luis. Uma área oriunda da fundação de São Luis,
que compõe quinze bairros, a margem esquerda do rio Anil, que nós chamamos de projeto
Rio Anil. Esse projeto é uma iniciativa minha porque muitos anos eu venho trabalhando
com São Luis, com a malha social, tratando dessas questões e quando obtive essa
oportunidade foi o primeiro trabalho, logo, eu sou mulher de prancheta, eu gosto de ta
trabalhando, concebendo projetos, propostas urbanas. Eu fiz o projeto, o governador ficou
muito maravilhado; aprovado o projeto. Hoje a realidade é que é um dos projetos mais
importantes do PAC no Brasil, é o projeto Rio Anil do Estado do Maranhão, desenvolvido
por essa secretaria através da minha pessoa e de minha equipe. E nós estamos aí entregando
para as primeiras famílias palafitadas, as primeiras moradias. São três mil e quinhentos
apartamentos. Nós estamos a um ano trabalhando, eu vou entregar agora os primeiros
apartamentos. Temos dez mil moradias que estão sendo recuperadas, melhoradas, em
reforma. As piores moradias em solo firme foram escolhidas, cadastradas e hoje abrimos
mil e quinhentas moradias completamente reformadas. Uma área muito pobre em toda
São Luis. Uma área que foi oriunda do inicio da fundação de São Luis, vai antes da
Camboa, em Deus, Liberdade, Alemanha e hoje as famílias ali estão recebendo esse
benefício do governo. O projeto custa duzentos e quarenta e oito milhões, são cento e
quarenta e quatro milhões do governo federal, e cento e quarenta e quatro milhões do
governo estadual. É um projeto de parcerias iguais, cinqüenta por cento do Estado,
cinqüenta por cento do governo federal. Está dentro dos projetos urbanos do PAC, e nós
estamos desenvolvendo isso com a maior assim, aprendendo a fazer com a população,
porque trabalhamos em parceira com as comunidades. O projeto todos, todas as decisões,
não só do projeto técnico, como do projeto social, como projeto cultural, como o projeto de
sustentabilidade é feito junto com a comunidade, concebido com eles. Eles aprovam, nós
temos audiências públicas quase todo o mês com eles. E hoje nós estamos numa realidade
nova. A população está extasiada e eu já to com os prédios pra entregar dia 20 de fevereiro
eu entrego os primeiros prédios as primeiras casas, e mil e duzentas casas já foram
recuperadas. Quer dizer, uma realidade, o projeto ta acontecendo e, além desse projeto nós
temos outros. Nós temos hoje doze mil habitações prontas em todo o Estado, estamos
concluindo mais oito mil, são vinte mil habitações, nós estamos concluindo agora mais oito
mil habitações em todo Estado. E o governador com seis meses que eu estava na secretaria,
houve um escândalo na secretaria de infra estrutura do Estado, com prisões de engenheiro
de um secretário, um grande escândalo e o governador me liga uma noite, eu estava
trabalhando, porque eu trabalho três turnos, porque é muito trabalho, Maranhão precisa de
muito trabalho, e ele me ligou umas dez e meia da noite, no dia vinte e nove de maio, de
junho, me ligou e disse: doutora a senhora está sendo convocada pra assumir a secretaria de
infra estrutura amanhã de manhã. E eu sem saber, mas porque governador? Ele disse
porque eu preciso da sua ajuda. A senhora vai assumir as duas secretarias por pelo menos
vinte e quatro horas, porque aconteceu uma coisa muito séria, eu preciso informar que é a
senhora que vai assumir enquanto se resolve esse problema. Ai no outro dia houve prisões
de todo esse povo envolvido no escândalo, eu assumi a secretaria. Inicialmente eram vinte e
quatro horas, depois o governador me chamou e disse que queria que eu assumisse as
duas secretarias, e, para isso, eu não poderia assumir as duas secretarias...Ele fundiu as duas
secretarias: a secretaria de habitação com a secretaria de infra - estrutura e hoje é a mesma
SESID, mas o nome é Secretaria das Cidades de Desenvolvimento Regional Sustentável e
Infra Estrutura. Então hoje nos temos a execução de toda a política habitacional, sob a
minha gestão e equipe, toda política de desenvolvimento sustentável do Estado e toda a
109
política de obras do Estado. Obras viárias estão sob a nossa responsabilidade. É uma
tríplice competência. Nós temos que exercer... É diuturno, eu trabalho três turnos, todos os
dias, de domingo a domingo, além das obras que têm que ser visitadas, fiscalizadas. A
equipe é pequena, são poucos os que querem fazer. Muitos querem receber dinheiro, mas
poucos querem fazer. E fazer com competência, lealdade, fidelidade ao povo do Maranhão.
O Maranhão é um Estado pobre porque se perpetuou essa crendice de pobreza, de miséria.
Mas é um Estado rico em recursos naturais, rico porque tem um capital humano, um povo,
uma cidadania exemplar, mas precisava haver um governo comprometido com esse povo,
com as causas públicas, com as questões do povo. Esse governo é o governo Jackson Lago
e nós estamos fazendo tudo para que a nossa passagem por aqui que foi notória na
secretaria das cidades por seis meses que nos fez o governador nos conduzir pra cá. A
assembléia legislativa, eu sou política que ta aqui. A nossa classe política é respeitada, o
povo é respeitado, nós zelamos pela cidadania desse povo. Estamos criando condições de
sustentabilidade com vários projetos de desenvolvimento sustentável para que não se faça
somente habitação, mas se faça habitação e se conceda plena cidadania para aquelas
famílias através de cursos de capacitação, de programas, de projetos de sustentabilidade
econômica e financeira para as famílias. Então todo o projeto habitacional corresponde a
um programa de sustentabilidade. Tem que ter. Então nós criamos esse, essa dentro da
secretaria, esse tipo de programa e hoje nós estamos ai vendo a hora pra ser inaugurado,
entregues muitas casas. Eu creio que estamos fazendo o Máximo para cobrir e reduzir o
déficit habitacional para pagar as dividas que os governos têm com o povo do Maranhão, e
estamos com esse foco. Hoje eu não estou com o foco partidário, hoje nós estamos
trabalhando nesse processo premente pela necessidade do povo, pra recuperar o tempo
perdido e trazer melhores condições de tráfego, estradas de qualidade, estradas sinalizadas,
cuidando da manutenção de todo esse patrimônio estradal. Recebemos o Estado com
praticamente todas as pontes em condições de instabilidade e insegurança, de risco pleno.
Estamos recuperando pontes: ponte José Sarney em São Luis, ponte Bandeira Tribuzzi,
ponte do Caratatiua, ponte em Piracema, ponte de concreto em Grajaú, em vários locais do
Estado. Estamos com mais de cinco mil casas, cinco mil quinhentos e cinqüenta e duas
casas concluindo pra completar vinte mil casas, é a meta. E estamos trabalhando com o
projeto Rio Anil que é um desafio diário. A tessitura social desses bairros é muito diversa.
Nós temos palafitados que vivem e que estão sob o comércio do tráfico de drogas, famílias
destruídas por isso. Trabalhamos com essas famílias. Temos a família que tem um
universitário de classe média na região, temos a família intermediária oriunda dos
quilombolas, temos todo o estrato social tão diverso que nos traz uma riqueza por causa
disso, uma riqueza cultural e surpreendente. nessa área nós encontramos embutido,
escondido, cento e oitenta e três entidades culturais, com manifestações culturais as mais
diversas, afrodescendentes. Essa área é a maior quilombola de quilombos urbanos do país.
Nós estamos trabalhando nesse universo com projetos. Então tem sido pra mim uma
experiência tremenda e nós temos sido citados a nível internacional. A Venezuela esteve
conosco, o governo da Venezuela, e nós estamos transferindo a expertise aplicada nas mais
diversas áreas do projeto do Rio Anil para o mesmo projeto na cidade de Maturin, na
Venezuela. Um acordo, intercâmbio internacional porque eles vieram verificar, porque eles
estão com uma situação parecida, mas tão transferindo as tecnologias, expertise sociais
encontradas para cada caso e estamos surpreendendo porque trabalhamos. Nós não temos a
verdade absoluta. Nós temos construindo isso coletivamente, as soluções com a
comunidade, com o tecnicismo, no aspecto cientifico, usamos as universidades do
110
Maranhão pra nos ajudar, vários parceiros na área do saber, do conhecimento cientifico.
Temos hoje um processo de dragagem através do aterro hidráulico. Temos a construção de
pontes, viadutos, porque o sistema viário todo é um novo sistema viário na região. Toda a
parte de saneamento sico, drenagem, água, abastecimento d’água. Toda parte de infra-
estrutura lógica para essa nova urbanização; estamos construindo três mil e quinhentos
apartamentos que foi a solução para atender três mil e quinhentas famílias palafitadas dessa
região. O projeto é considerado um projeto padrão no Brasil, do PAC do Brasil e por isso
nós fomos chamados para apresentar o projeto para o presidente Lula e toda a equipe de
ministros. E esse projeto ta sendo um projeto referência nacional pela objetividade, pelas
metas alcançadas, pelo cronograma cumprido e pelo alcance social que o projeto tem.
P.: Certo secretária. A senhora falou no inicio, retomando um pouco sobre os
apoios financeiros de campanha que, a senhora ainda observa que isso nos partidos
ainda uma desigualdade entre homens e mulheres. Então eu gostaria de saber
quais foram os apoios financeiros e de incentivo que a senhora teve nas suas
campanhas desde quando a senhora ingressou na política?
Narradora IV : Devido aos partidos se omitirem...O meu partido não teve ajuda
financeira, nenhum santinho. Eu tive ajuda da minha família que o projeto é da família
quando ele sai o projeto passa a ser do povo e s fizemos empréstimos mesmo, fui pro
SPC; eu paguei a minha campanha até dezembro de 2007. Eu hipotequei algumas coisas
que eu tinha. Pra recuperar eu tive que fazer todo um projeto de despesas muito sério. Na
verdade a eleição é cara. Devido a um processo, vamos dizer assim, aquele que tem muito
ele passa a fazer a campanha fazendo...comprando votos, fazendo trocas e isso no Brasil
se perpetuou como um modelo de campanha. Mesmo a proibição da lei eleitoral dizendo
não tem mais camisa, não tem mais show, é exatamente por não ter mais as apresentações
de show, de camisa, de brinde, o brinde é direto, escondido, oculto, subterfúgio. Então você
chega numa comunidade ela diz só venho se me der isso. Essa troca se perpetua nas
campanhas políticas. Quem não tem o dinheiro pra fazer troca tem que dar o seu...ou usa o
seu papel de campanha, seus objetos, no convencimento, na persuasão dizer olha eu trago é
uma proposta de mudança da sua realidade pra que eu possa legislar sob uma nova proposta
de cidadania, mas ainda pesa muito a miséria, a falta do alimento, a falta do transporte, e as
famílias só querem se for por troca. Isso vem se perpetuando em todas as campanhas. Então
essa é a grande dificuldade. Não uma campanha limpa. Por mais que os ministérios, as
entidades se levantem contra a corrupção, mas essa é uma corrupção social mesmo. Então a
gente enfrenta muito isso, quer dizer, quem tem muito dinheiro, vai e compra na última
hora e acabou e isso ainda é muito presente. Então você termina fazendo, eu digo assim,
que a campanha dos desiguais. Muito dinheiro, uns têm entram...tem gente ...eu gastei
um milhão e meio na minha campanha. Meu Deus e eu tivesse um milhão e meio...Isso é
um valor que surpreende: gastei cinco milhões...se tu não tiver cinco milhões não adianta
nem tu ta. São valores que a gente precisa repensar numa proposta de se fazer campanhas
partidárias de forma, através de propostas que venham a mudar a realidade social do povo e
não de comprar a consciência. E como ainda falta muito essa...divulgar que é preciso que o
povo se alerte pra ver que projeto, que propostas o candidato tem que vai mudar sua
realidade. Por mais que a gente possa querer colocar isso junto à comunidade, mas há uma
resistência: não trouxe nada! então não vou votar. A prática é essa. Mas eu creio que a
gente não pode desistir. Não podemos desistir de buscar que o povo se conscientize que o
111
melhor candidato não é aquele que o dinheiro, que dar a farra, que dar o transporte, que
dar um milheiro de tijolo. Para isso eu acredito que só a educação possa despertar a
consciência de um povo que tem sido escravizado por falta do conhecimento, da educação,
de conhecer mais através da educação; dele poder ter um senso de valor que ainda não
existe, ta faltando essa conscientização através da educação mesmo pra que a comunidade,
as pessoas possam receber o candidato e ter um senso de valor do que é que aquele
candidato ta apresentando como proposta.
P.: Certo secretária, muito bem colocado. Agora eu gostaria de saber quais são as
estratégias que a senhora utiliza para que possa se manter na política, manter essa
mulher firme que a senhora é.
Narradora IV: Eu digo assim em tudo: digo que minha força...Eu sou muito perseverante
nas coisas. Deus me deu esse caráter, eu sou perseverante. Quanto mais vem um desafio, o
pessoal diz assim, parece mais que tu tem força, realmente, é em Deus que eu encontro as
forças para resistir aos embates, pra ir pra cima dos desafios. Eu conto muito em Deus, eu
sou muito ligada à oração, peço sabedoria, à graça de Deus. E buscar sempre respeitar o
espaço das pessoas, os direitos, recuar quando é preciso, pedir perdão quando erro, sabe?
Esse comportamento de valor que meus pais me ensinaram, esse valor de respeito, saber o
espaço até onde devo ir, às vezes o governador diz: cadê a doutora Telma, ela não está aí?
Porque eu sento quando me mandam sentar. Eu não sou de ta passando sem respeitar a
hierarquia, por isso eu quero ser respeitada. O meu espaço eu brigo por ele, porque eu sei
respeitar o espaço dos outros. Daí eu exijo, claro, que meu espaço seja respeitado. Tanto
politicamente com na vida mesmo pessoal, familiar. Eu aprendi isso na minha
família...meus pais em vida. E eu creio que isso tem dado certo porque eu exijo respeito, as
pessoas me respeitam porque eu respeito às pessoas. Essa garra de ir pra cima já é própria
mesmo de quem não pode desistir porque tenho projeto, eu tenho um projeto, um projeto de
vida e a gente realinha, faz um termo de realinhamento de conduta durante a trajetória, mas
são pra buscar alcançar os objetivos. Então eu sou muito perseverante.
P.: Muito bem secretária. Agora para terminarmos a nossa conversa, pois não
quero tomar muito o seu tempo, eu gostaria de saber quais são as suas expectativas
durante todos esses anos que a senhora está na política, se a senhora conseguiu
realizar os seus objetivos? Isso desde a sua entrada na política e agora aqui nessa
secretaria. Eu gostaria que a senhora falasse um pouco sobre isso.
Narradora IV: Quando eu fui vereadora nós fizemos um grande trabalho em São Luis.
Alcancei os objetivos. Fomos duas vezes deputada estadual, oito anos, o meu trabalho foi
reconhecido. Eu sai de treze mil e novecentos e um votos na primeira eleição pra deputado
estadual e fui pra trinta e cinco mil e novecentos votos na segunda eleição a deputado
estadual, tive trinta e nove mil novecentos e um votos, dez vezes mais. E como deputada
federal eu tive setenta e dois mil votos, quer dizer, sempre crescente. Tudo isso demonstra
que a população reconheceu o meu trabalho. Então alcancei os objetivos. Nós aqui na
secretaria temos lutado pra que todos os objetivos sejam alcançados. Nós temos visto
pelo reconhecimento não do trabalho que a gente mesmo vem fazendo, aferir, ta correto,
tenho avaliação. Eu faço avaliação a todo tempo. Faz isso, vamos avaliar; de certo; é isso
aqui? Não, corrige; esse monitoramento via avaliação por resultado, a gente trabalha assim.
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E eu creio que a gente tenha chegado, tenha alcançado, tenha sido gratificante esse
trabalho. É um trabalho que surpreende, que todo o dia tem o novo pra fazer. Agente tem
alcançado. Pelo menos o governador e a equipe uma possibilidade de eu assumir a vaga
como deputada federal, porque o deputado federal foi eleito, nós estamos numa questão
jurídica de assumir, mas o governador não quer que eu fique lá, quer que eu volte. Então
isso é reconhecimento. A gente tem trabalhado e eu tenho alcançado todos os objetivos
traçados nos programas, a gente tem alcançado, a gente tem aferido isso. Eu creio que a
nossa equipe ta dando certo e os objetivos alcançados e muita coisa tem ainda que se fazer,
falta muita coisa. Eu digo assim: meu Deus o tempo já passou eu sinto que eu não fiz quase
nada (risos).
P.: Muito bom secretária. Então muito obrigada mais uma vez pela sua colaboração.
Eu desejo sucesso, que a senhora seja sempre esta mulher que não tem medo de
arregaçar as mangas e ir fazer o que colocam como propósito.
Narradora IV: Eu quero agradecer a você por mais essa oportunidade da gente divulgar o
trabalho e dizer que estamos a disposição com o propósito maior de nessa função não
trazer uma nova expectativa de vida para a população do Maranhão, como alcançar os
objetivos para os quais essa secretaria foi criada, que nos trabalhamos com uma
competência tríplice, mas essas competências estão todas concatenadas, elas são alinhadas
e complementares. Nós trabalhamos com a área de infra-estrutura, obras civis, rodoviárias e
viárias com o transporte de todo Estado, com a habitação e com a cidadania. Então isso
tudo humaniza com certeza a gestão da secretaria e nós estamos com o propósito nesse ano
de fazermos o projeto maior que é de fazer com que a comunidade do Estado, através da
forma como o governador faz, os fóruns populares, participem das políticas publicas e da
execução dessas políticas de maneira mais forte, mais presente, isto é, que o controle social
sobre esses programas seja mais efetivo. Eu acho que esse é o nosso passo agora, pra que
eles mesmos possam ter um processo de avaliação do nosso trabalho.
Obrigada.
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Entrevista
Narradora V: Deputada Estadual.
Partido: Partido da Social Democracia Brasileira - PSDB
Idade: 47 anos
Profissão: Arquiteta
Local da entrevista: São Luís – Maranhão
Data: 11/02/09
Perguntas:
P.: Fale um pouco da sua inserção na política partidária. Como foi que a senhora
entrou na política partidária? Quais foram os apoios que a senhora contou? de
amigos, família, partido. Eu quero que a senhora fale um pouco sobre a sua inserção
na política.
Narradora V: Bom, eu estou na política desde garota, não na política partidária. Pois, na
política partidária eu entrei quando me filiei, em 1996, ao PSDB meu primeiro e único
partido. Mas eu estou na política desde de menina, porque a minha família é de políticos,
quer dizer, o meu pai faz política muitos anos, começou como deputado federal muito
jovem, com 30 anos de idade e teve 4 mandatos como deputado; foi governador do
Maranhão aos 40 anos; foi senador e agora é prefeito de São Luís. A minha mãe teve um
único mandato, foi a primeira mulher prefeita eleita em São Luís, em 1985, no auge da
Nova República. Na ocasião nós enfrentamos aqui o presidente que era um maranhense, o
José Sarney, o candidato dele que era candidato também do governador da época e do
prefeito e mais seis candidatos homens, e, ela foi a primeira prefeita eleita de São Luís. E
naquela ocasião eu estava fazendo arquitetura em Brasília, pois eu morava em Brasília, mas
vivo a política em casa, enfim desde garota uns 08, 09 anos de idade, eu vivia isso na minha
casa, o meu pai era deputado, então, eu convivia com políticos durante... A minha relação, a
gente convivia, isto é, eu morava em Brasília e a gente se relacionava muito com filhos de
políticos, aquela coisa e, ai eu na realidade eu cresci nesse meio. E a gente acaba que, eu
não diria que necessariamente filhos de políticos têm que ser políticos, não existe essa regra
pra nada, mas às vezes você pensa: essa coisa ta no sangue. Então a política ta na minha
vida há muitos anos. Eu, apesar da primeira tentativa minha, a primeira vez que entrei numa
eleição foi em 2002 pelo PSDB, foi como candidata a deputada estadual, na ocasião eu
obtive quase 16mil votos, foi a minha primeira eleição em 2002, mas não me elegi, fiquei
como a segunda suplente porque o meu partido é muito grande, me faltaram 900 votos para
chegar à eleição. E continuei! Assumi naquela ocasião, passei aqui 4 meses por ocasião um
colega meu se licenciou, passei esses 4 meses na assembléia, foram bem produtivos, não
foram mais porque foi um tempo curto. Mais eu venho participando de todas as campanhas.
Eu tive um período longe, distante da política, assim distante fora daqui porque foi o
período que eu passei em Brasília, eu morei a vida quase toda em Brasília, voltei pra
quando o meu pai foi governador, mas eu era muito jovem, tinha 17anose eu não fiquei
aqui porque queria fazer arquitetura e aqui não tinha faculdade de arquitetura, e então voltei
pra Brasília, engressei na faculdade de arquitetura na UnB e ai me formei e na ocasião
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mamãe foi candidata à prefeita, aqui, então eu vim pra pra convenção em junho de 85, e
depois acabei que resolvi trancar um semestre da faculdade para coordenar um grupo de
jovens aqui na campanha dela. E ai foi assim que eu fiz, tranquei a faculdade e fiquei aqui
em São Luís coordenando um grupo que fazia campanha pra ela. E a experiência foi muito
boa, ela ganhou a eleição, e eu inclusive voltei pra lá, conclui meu curso e não participei da
administração, não voltei pra cá, depois fui pro Rio; trabalhei como arquiteta durante uns
anos; fiz duas especializações, uma na minha área e a outra na área de administração e
finanças, e ai então decedi por um período que fiquei distante daqui, distante assim..., mas
com a total ligação, né? Eu resolvi voltar pra cá de vez e ai em torno disso tudo, eu retornei
pra em 94, e em 2002 me envolvi, sai candidata a deputada estadual, a experiência foi
muito boa; frustrante porque a gente sempre entra querendo ganhar, mas valeu apena! Ai
em 2006 novamente me candidatei pelo mesmo partido; eu cresci mais 40% na minha
votação. A minha votação ela é o quê? Na ocasião, 2002 eu tinha obtido quase 16 mil
votos, uns 15.781 votos, 8mil e pouco aqui em São Luís que é a minha cidade e a outra
metade pulverizada em todo interior. A minha votação concentrada é aqui, eu não tenho
votação no interior, é toda pingadinha, né? E ai, em 2006 eu cresci para 22 mil 760 votos,
mesmo assim eu ainda não me elegi, fiquei como primeira suplente, porque o partido
cresceu mais ainda. Eu disputei a eleição com colegas todos aqui deputados, prefeitos,
prefeitas colegas que tinham uma estrutura que eu não tinha, e ai eu fiquei como primeira
suplente. Eu tinha sido a segunda em 2002 e em 2006 eu passei a ser a primeira suplente do
partido com 22 mil 760 votos, inclusive se fosse pela ordem de votação, eu estaria aqui
dentro tranqüilamente porque tem colegas que chegaram aqui com 11 mil, 12 mil, 14 mil,
17 mil, eu tinha obtido quase 23 mil votos, mas felizmente um colega nosso de partido,
Soliney se elegeu prefeito de Coelho Neto (interior do Maranhão), e eu tomei posse no dia
08 de janeiro. Então, eu consegui depois de uma luta de 6 anos chegar à assembléia pelo
menos por 2 anos de forma definitiva. Então a minha experiência na política partidária
começou com a minha filiação no PSDB em 96, mas vim disputar uma eleição em 2002,
e a segunda em 2006, mas viver mesmo na política eu vivo desde garota, eu via isso desde
menina. Isso é uma coisa contagiante, política, você vê, a gente luta pra entrar, mas você
tem uma certa dificuldade quando isso faz parte do teu dia a dia, da tua história, da tua vida.
Então, é meio que isso. Agora, a experiência é muito positiva, a gente sente que ainda
uma certa, eu diria discriminação em relação à mulher, ao papel da mulher na política, por
mais que os homens digam: não, não existe! Mais até inconscientemente, involuntariamente
eles acham que a mulher pode esperar, que a mulher não tem... quer dizer, como se ela não
tivesse os mesmos prerrogativos. E quando ela tem os mesmos prerrogativos e
normalmente ela exerce qualquer função que a ela é enfim outorgada, né? No caso a gente é
mandatário do povo, nós recebemos uma procuração e, tem validade essa procuração, ela
não é sem validade. E eu acredito que a mulher desempenha de forma muito criteriosa e
muito eu diria, cuidadosa o que lhe é atribuído. É claro que os homens também m sua
importância, eu acho que os dois são fundamentais, um completa o outro, afinal de contas,
são biótipos diferentes, enfim... Agora a mulher é muito mais intuitiva, ela é mais sensível,
ela tem mais eu diria a percepção mais aguçada, então geralmente quando a gente as
mulheres na política...elas têm uma missão importante. E a gente luta! Eu acho que a
mulher tem cada vez mais que lutar para ocupar este espaço, não na política, mas em
todos os segmentos da sociedade, na administração pública, enfim, em tudo, não tem
sentido ter regras. Até eu acho interessante essa história de dizer que tem que ter no mínimo
30% de candidatas mulheres, eu acho que deveria ter mais, eu acho que 30 é pouco, deveria
115
ser no mínimo 50% porque isso seria uma forma de mobilizar mais e de dar mais incentivo
e valorizar o gênero feminino.
P.: Deputada, a senhora teve apoio da família, de amigos quando a senhora decidiu
ingressar na política partidária?
Narradora V: Olha, eu tive assim: a minha mãe no primeiro momento dizia: minha filha
será que é isso mesmo que você quer? Eu acho que você pode seguir um outro rumo, você é
uma moça que se preparou, você tem toda uma estrada pela frente, pra ser enfim..., ter uma
profissão, pra ser uma profissional liberal com tranqüilidade, viver sem sobressaltos.
Porque os políticos às vezes é muito incompreendido, muito mau interpretado; então, os
bons políticos pagam pelos maus políticos, isso ta comum, isso aqui no nordeste
principalmente por ter uma cultura de coronéis, de oligarcas, as coisas estão muito
estigmatizadas, muito rotuladas, mais quando eu disse pra ela que era isso mesmo que eu
queria, que era uma opção que eu tinha pelo menos viver isso, vivenciar isso porque se
assim eu não fizesse, estaria sendo covarde, eu nunca ia saber realmente se era isso ou não.
Ai ela me respeitou e disse: não, tudo bem! Se é isso que você quer de fato, você conte
comigo. o meu pai, ele nunca me questionou, ele até acho que no fundo ele achou
interessante: bom se você quer, ótimo! Conte comigo. E os amigos de uma maneira geral,
os poucos amigos que a gente tem, que a gente cresceu juntos, todos sempre me deram o
total apoio, foram muitos solidários comigo nessa luta, que é uma luta difícil. É uma luta
realmente que eu digo o seguinte: pra fazer política no sentido lato, no sentido mesmo,
maior do que é política, tem que gostar. Não basta querer. Tem gente que faz política, mas
tem política e política. Tem gente que diz que é militante da política, mas não é bem assim,
o que move algumas figuras são outros interesses, né? O político não... o político mesmo no
sentido lato, o político que gosta da política na verdadeira razão de ser, ele é mais eu diria
que ele é muito mais verdadeiro, mais desprendido e...Mas tem que de fato gostar muito
que, aliás, Jaciléia, tudo que agente faz com prazer, a gente faz bem feito, é por ai. Quando
a gente faz uma coisa que meio que por qualquer uma outra razão que não seja a vontade de
fazer, o querer fazer, você faz sempre pela metade, vonão faz por inteiro, você se dar
por inteiro naquilo que você gosta e acredita, pra te motivar e te dar estimulo, é isso.
P.: Deputada, agora me diga: no partido tem alguma diferenciação entre homens e
mulheres na divisão de recurso? Na distribuição de santinhos, cartazes etc., a senhora
percebe que os homens recebem mais que as mulheres, ou, não? Como é que é?
Narradora V: Olha no PSDB eu não vejo essa desigualdade, muito pelo contrário, acho
que as mulheres são muito respeitadas e valorizadas, até aonde eu sei, não conheço história
das mulheres no partido de serem discriminadas, elas têm oportunidades iguais, direitos
iguais, a gente tem várias mulheres. O PSDB é um partido de muitos quadros no Brasil
todo, aliás, o que mais acho interessante no PSDB, claro que sou suspeita pra falar, é meu
partido por opção, foi por escolha pessoal. Mais desde do Rio Grande do Sul até São Luís
aqui no Maranhão que ta aqui já no limite da linha do Equador, nós temos quadros
excelentes no PSDB, inclusive de mulheres, nós temos pessoas aguerridas, pessoas
comprometidas, lutadoras. No Rio Grande do Sul nós temos hoje a governadora que é do
nosso partido, a Yêda Crusius que foi uma excelente parlamentar e que eu acho que ela
deve ta tendo de certa forma, alguma dificuldade porque a gente sabe que o gaúcho é muito
116
conservador e muito machista, imagina o Rio Grande teve vários homens governadores e,
teve essa senhora que é a primeira governadora, acho que Porto Alegre nunca teve uma
mulher prefeita, até aonde eu sei. Então, acho até que São Luís é muito vanguardista, São
Luís tem uma história muito forte. São Luís teve duas mulheres prefeitas eleitas, pelo
menos. A primeira foi a minha mãe e a segunda foi a doutora Conceição Andrade, que foi
deputada e advogada de formação. Então, o Maranhão teve uma governadora, evidente
que em um outro contexto, a gente sabe ai, enfim..., mas a gente tem que também fazer
referência porque foi a primeira governadora, foi a primeira governadora do Maranhão, não
diria que a gente, quer dizer é... sem fazer nenhuma referência de como ela chegou lá, essa
é uma outra história, mas chegou! No primeiro momento, ela foi levada por uma estrutura
de comunicação de total domínio, né? E se reelegeu porque a reeleição é um instrumento
desigual, eu digo isso, a reeleição é pesada, é uma coisa difícil pra quem estar no poder
perder o poder. Governou o Maranhão, aliás por quase oito anos, que foi a Roseana Sarney,
mas ai tem uma outra história, uma história de muitos anos de mandonismo no Estado, a
gente conhece, o Brasil inteiro conhece, mas isso não tira o rito dela ter sido a
governadora e foi a única que o Maranhão teve. E o PSDB tem figuras como Zulaê Câmara
que foi deputada em o Paulo, brilhante! Tem figuras como Marilza Serrano que foi
senadora, é uma figura aguerrida, tem figuras como Telma de Oliveira mulher do Ganti no
Mato Grosso, tem mulheres em todo Brasil representando. Tem nas prefeituras, nas
câmaras de vereadores, tem nas assembléias, enfim... Então o PSDB, eu acho que ele tem
uma maneira especial e muito respeitosa de tratar as mulheres. Eu por exemplo, aqui eu sou
a secretária geral do partido, da executiva. Tudo bem que é evidente, não dá pra negar que a
influência do meu pai, porque ele é do PSDB, este lugar estaria à disposição dele e, eu
assumi naturalmente, mas independente dele, eu teria condições de assumi este lugar de
secretária geral no partido, até por que sou muito fiel ao partido, aos ideais do partido, foi o
meu único partido, entendeu? Espero que seja, porque eu acho que essa coisa de partido é
meio que, eu diria que é mais sério do que casamento.Que casamento você está lidando
com pessoa e às vezes a coisa entra num nível que não dá pra permanecer, e a gente não
pode também ficar engessado, nem mesmo no partido, mas o partido é uma coisa mais
fácil, porque o partido não muda, quem muda é você. E o partido quando você entra, você
conhece, vai ler o programa, você vai ver o que é o que não é; como é a postura do
partido e ai você entra porque quer, eu sou assim. E não por conveniência, eu não entrei no
PSDB por nenhuma conveniência, eu entrei porque quis entrar, porque acreditava no
partido e respeitava e, continuo acreditando, entendeu? Tenho um carinho todo especial. É
evidente que em qualquer partido pluralidade, divergência mais isso é normal, isso é
saudável. Não quer dizer que a gente do mesmo partido não pense diferente, a gente pensa
diferente sobre alguns temas, evidente. Mas isso é normal e a linha maior tem que ser
respeitada. Então, acho que o PSDB não tem esse problema de discriminar mulheres, acho
que ele valoriza as mulheres.
P.: Deputada, e aqui na assembléia a senhora percebe que existe alguma diferença
entre homens e mulheres? Isto é, os homens têm algum tipo de privilégios, mais
projetos aprovados em relação às mulheres?
Narradora V: Jaciléia, eu estou chegando aqui agora de fato, então eu ainda estou me
familiarizando, isso ai vou ter observar aqui ao longo desses dois anos, eu não posso te dar
essa idéia agora porque talvez se eu fosse te dar essa opinião nesse momento, eu poderia
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me equivocar. Vejo aqui as colegas, elas são muito...Estão ai presentes, marcando presença,
marcando posições, mas eu cheguei agora, então é importante que eu tenha essa
convivência maior pra ter uma avaliação, pra formar um juízo, mais eu vejo que não tem
problema nenhum. Claro, que a gente sente às vezes a questão das comissões, ah! Mais
acho que pior do que a discriminação à mulher é a discriminação quando a gente chega na
Casa, parece que você fica meio que sem acolhida. Acredito que na câmara federal deve
ser bem pior quando você chega lá, você leva tempo para poder aprender as coisas, um
outro tempo pra fazer realmente, pra ter mais participação na administração da Casa, enfim,
nas comissões que são muito importantes. Ai eu acho que a coisa não é nem o fato de ser
mulher, é mais o fato de você ta chegando, eu cheguei aqui agora e me perguntaram: qual a
comissão que a senhora gostaria de participar? Ai eu disse: olha, eu gostaria de participar
da comissão de constituição de justiça. Ah! Mais essa ai é complicada. Certamente porque
cheguei aqui agora, se tivesse antes, quer dizer são essas coisas, mas como eu acabei de
chegar vou...não eu sou calma, sou paciente, eu vou aprendendo, na próxima eu vou para a
comissão de constituição de justiça (risos), vou brigar por isso, vou fazer valer isso, vou
negociar isso de uma maneira descente, é claro. Não como fazem por ai, então eu vejo
assim. Pelo menos eu não tenho esse juízo formado, mas acho que não há nenhuma
discriminação em relação à mulher, eu diria que a coisa é mais forte com relação aos
novatos, a quem chega, ao marinheiro de primeira viagem, pelo menos na casa. Não que eu
seja de primeira viagem, porque eu conheço ai...; estou na política muito tempo do que
muitos que estão aqui, não na política partidária, na política do dia a dia, de vivência nas
campanhas, né? Tem uns que chegaram aqui que nunca... como tem deputados federais que
a gente sabe que nunca fizeram política na vida e de repente ganham mandato com laço de
fita, enrolado num papel de presente. O meu caso eu...eu não tive essa... Eu acho bom
porque as coisas boas quando realmente são conquistadas, quando a gente conquista a gente
valoriza e faz bem feito.
P.: Deputada, como a senhora me informou que é novata a esta casa, mas obviamente
a senhora deve ter algum projeto elaborado para o Maranhão, ou, pelo menos para
São Luís, pois eu gostaria que a senhora falasse sobre os seus projetos. Se tem algum
projeto especifico para o público feminino?
Narradora V: Jaciléia, eu estou procurando colher informações de vários segmentos da
sociedade primeiro para eu poder o que eu vou legislar aqui. Eu não vou fazer aqui uma
coisa da minha cabeça, claro que tenho algumas idéias, sim.Eu tenho interesse pela área do
meio ambiente que é super importante, porque ai envolve a saúde, não só a saúde de uma
maneira geral, mas especificamente a saúde preventiva; meio ambiente é saúde preventiva.
O nosso maior problema é a falta de saúde preventiva, então a saúde nesse país ela acaba
sendo muito mau conduzida porque não se faz saúde preventiva e, para se fazer saúde
preventiva tem que ser cuidado tudo o que envolve o nosso meio ambiente. O meu interesse
aqui é muito nessa área mesmo, na área da saúde em algumas questões que eu acho que são
fundamentais, e a questão da política, por exemplo, da mulher, eu acho que ela tem que ser
voltada muito nessa área da saúde pra que as mulheres tenham uma atenção maior na área
da saúde, na área do respeito mesmo, a questão dos maus tratos não com a mulher, mas
com a criança, com o idoso é uma coisa que tem que ser muito bem vigiada a forma como
se trata o idoso neste país, que não é uma forma elegante, não é uma forma decente; o idoso
às vezes é muito discriminado, desrespeitado, não um trabalho de conscientização, de
118
educação de que pra lá todos nós vamos. Que na realidade estas figuras que hoje são figuras
da melhor idade como se diz, são figuras que ajudaram a construir o nosso país, o nosso
estado, a nossa cidade. Então a gente precisa cuidar muito bem dessa política com relação
ao idoso, à mulher, à criança e ao adolescente que são bem desprotegidos, então essas
figurinhas serão os homens que vão amanhã provavelmente irão conduzir as nossas
estruturas administrativas, o nosso estado, o nosso país. A gente ai que tem tanta gente
que de repente um dia teve uma infância completamente sem oportunidade, mas que lutou,
lutou e hoje ta ai fazendo muita coisa boa por este país a fora. Então acho que a gente, o
parlamentar ele deve ter pelo menos, uma coisa muito importante, que é ouvir exatamente o
que o cidadão pensa, ouvir o que pensa a sociedade civil organizada, ele tem que ter esta
escuta permanente e fazer essa troca o tempo todo e a partir daí atuar aqui no parlamento
sempre trazendo pra as reivindicações do povo e tentando realizar de forma positiva e
objetiva que é através das leis colocar isso em prática. A gente sabe que muita coisa que
nós temos, temos um ordenamento jurídico grande, mas que é pouco cumprido, então nós
também temos que ter cuidado de fazer valer isso porque a nossa responsabilidade aqui é
grande, quem paga a gente é a sociedade, nós somos servidores públicos, então, nós temos
que no mínimo fazer bem feito o dever de casa, no mínimo, por que senão não tem sentido
a gente ta aqui e não dar conta do recado.
P.: Deputada, durante esse período que a senhora esna política, quais são as suas
expectativas? teve algum desapontamento? Os seus objetivos estão sendo
cumpridos?
Narradora V: Desapontamento na política a gente tem sempre, é muito difícil não tê-los,
porque a gente lida com ser humano e o ser humano, em qualquer área, é muito
imprevisível, né? Então a gente se depara em situações constrangedoras, vode repente
defende ali, ta ali num trabalho árduo, de repente você é pega de uma maneira desleal, a
política tem muito disso. A política seria mais fácil se as pessoas fossem mais autênticas,
todas. De maneira autêntica, definitivas no que pensa, na sua forma de ser, seria mais cil
pra todo mundo, mas infelizmente às vezes você lida com pessoas muito dissimuladas, é
difícil isso, volidar com quem voconhece é mais fácil. Até colegas meus que têm um
comportamento usam dois pesos e duas medidas, é triste isso! Eu acho que é mais
importante na questão do político, do cidadão ou qualquer profissional que seja ou até
mesmo da política, ou seja, o que for, é assumir suas posições. A gente tem que assumir as
posições da gente, eu vejo isso em tudo na vida. Quem assume suas posições e as define,
será sempre bem respeitado, pode ser o radical de direita ou de esquerda, mas ele tem que
ter coerência, então a pior coisa na política são os políticos incoerentes que discursam de
uma forma, suam a retórica e a prática é outra. Eu acho que, Jaciléia, é dissabores a gente e
terá sempre na vida e o é só na política, mais na vida porque a vida é feita de coisas boas
e de outras coisas que não são boas. E decepção a gente tem, e na política a gente muitas
vezes é traído e a traição é pior coisa, não tem coisa pior do que a traição, obviamente tem
exceções. Eu prefiro que as pessoas... Eu digo sempre: olha, o amigo é aquele que diz
sempre as verdades, o amigo não é aquele pra dizer aquilo que a gente quer ouvir, o é
aquele pra jogar confete, amigo é aquele pra dizer o que pensa. E na política às vezes
quando se ta numa posição confortável, você tem gente do seu lado querendo dizer
coisas boas, e não exatamente o que pensam, e ai quando você muda de posição e tem
muita gente que não está acostumada a isso (risos), mais eu... a minha vida desde de criança
119
vivia um pouco de tudo isso, eu vi em casa o meu pai ganhar muitas eleições e perder
tantas outras, então isso pra gente é normal, eu vi ele... quer dizer, eu fui filha de
governador, isso pra mim não significou absolutamente nada, passou e tudo é passageiro na
vida, a gente está sempre em alguma função que a gente é e não o que a gente está
ocupando, então eu acho que a política tem dessas coisas, o legal é você saber transitar pelo
poder, esse é o grande lance. É você saber estar aqui hoje sentada aqui nesta mesa e amanhã
estar do outro lado como cidadã comum, e a vida continua e você vai ter a mesma
dignidade, então eu acho que o político ou qualquer profissional que seja, advogado,
médico, ou qualquer cidadão ele tem que ter uma coisa, coerência. Se ele tiver coerência ele
já tem muito, ou seja, ele já tem pelo menos uma boa parte do que um bom cidadão precisa
ter. É assumir suas posições que poucos assumem, e isso de uma maneira geral até na sua
vida pessoal, as pessoas criam situações que às vezes te ridicularizam, subestimam os
outros e chegam aqui com um discurso tão diferente da prática fora que você fica sem
entender: mas gente? Que coisa! Esse cara aqui vai pra tribuna e diz pá, pá, pá, pá e ele age
tão diferente por ai a fora. Então eu acho que a gente tem que se fazer respeitar pra poder
ter respeito, e para isso, tem que ter coerência. Sem coerência você não vai a lugar nenhum,
chega uma hora que você não consegue mais enganar todo mundo, essa máscara um dia cai.
Como diz um determinado filósofo ai: “você engana todo mundo por muito tempo, você
pode enganar alguns por algum tempo, mas não vai enganar todos o tempo inteiro”. É, eu
nem sei se é assim este pensamento, mas é mais ou menos isso: você engana alguns por
todo tempo, mas não engana o tempo todo, tem uma hora que a coisa vem, a coisa a flora,
acontece, então é isso. A gente tem que ter coerência, tem que ter transparência, dizer o que
pensa, né? E a gente pode dizer o que pensa de uma maneira mais respeitosa não tem
nenhum problema, como a gente tem que saber dizer sim, assim também como saber dizer
não, tudo é uma questão da forma de colocar e abordar as coisas.
P.: Deputada, eu gostaria de saber se a senhora é casada, se tem filhos, como é que a
senhora faz esse movimento entre o privado e o público? Como a senhora faz para
conciliar esses dois espaços? Se tem marido, se ele é daqueles que cobra a presença
da senhora em casa, ou, se a senhora conta com a ajuda dele? Eu gostaria de saber
um pouco.
Narradora V: Eu não tenho essa dificuldade. Eu não tenho filhos, então, na realidade eu
sou dona da minha vida. Dona assim, entre aspas, porque quando a gente parte pra uma
função pública, a gente deixa de ser dona da vida da gente. Em alguns momento eu vou ta
em algumas missões que não poderei me furtar mesmo, além disso eu também não quero,
porque faz parte do métier, mas do ponto de vista de família, eu tenho... eu sou muito
família, sou muito ligada à minha família ou mãe, avó, pai, mais a gente não tem essa coisa
de filhos. Eu não tive filhos, optei por não tê-los, então pra mim é tranqüilo, acho até que
sobra mais tempo pra mim me dedicar, às vezes isso é até meio complicado porque, quando
você estar fazendo isso, você não faz outra coisa a não ser política, política, política
daqui a pouco você vai sentar numa mesa o assunto é política e ai digo, meu Deus! Tenho
que parar um pouco com isso porque cansa. Então tem hora que eu tenho que sair. Eu
descobri uma coisa, que eu só consigo parar de falar em política quando eu estou fora daqui
do Maranhão, quando eu vou pra um outro lugar completamente diferente, bem diferente
mesmo; que tenha outras pessoas que a gente possa falar besteira, enfim, descontrair,
porque aqui é política, política, política, política se eu vou pra Barreirinha eu encontro
120
não sei quem, ai é política, política, política, se eu vou ali, gente! consigo parar de falar
de política quando estou fora daqui desta cidade é quando eu me controlo, mas daqui a
pouco quando me vejo estou falando em política, mesmo no final de semana, quando a
gente se já ta no mesmo assunto, é assembléia, é não sei o quê, é isso, é aquilo. É muito
complicado. É uma coisa que é contagiante!
P.: Deputada, quais os apoios que a senhora teve para se candidatar a esse cargo?
Falo no sentido de incentivo, encorajamento e, também financeiro, se teve alguém que
lhe disse conte com o meu financiamento? Quais foram as estratégias que a senhora
utilizou?
Narradora V: Olha, Jaciléia, eu quando na minha primeira eleição em 2002, eu fui
candidata a deputada estadual e o meu pai foi candidato a federal. Ele foi o mais votado do
estado, e eu não me elegi, então ai você que foram campanhas... Ele fez a dele e eu fiz a
minha. Eu muitas vezes, na maioria das vezes levava o nome dele pra onde eu ia, raríssimos
municípios que eu tinha outros colegas fazendo dobradinha, mas ele não podia levar o meu
nome porque era uma ciumeira louca. Eu fiz minha campanha com um grupo de amigos,
evidente. Quem me ajudou mesmo naquele primeiro momento foi a minha mãe porque mãe
é mãe, né? Mãe é aquela historia, ninguém pode reclamar que ela está ali fazendo
campanha pra mim. Então ela conseguiu ai com alguns amigos da família, é evidente, me
ajudar. no interior tal, ela ligava pra um amigo, como ela faz política a vida inteira,
tem uma história longa, então ela conhece como deve atuar neste meio. Ai ela ligava e
dizia: fulano você tem compromisso? Não! Pois então ajude a minha filha que ela é
candidata; e por ai foi, foi, foi aquela coisa, e eu viajando, né? Peguei uma caminhonete
andei muito, andei pelo interior, fiz o que pude. E obtive ai nessa minha primeira eleição
quase 16 mil votos, mas trabalhei muito! Na segunda eleição, trabalhei mais ainda, tive
40% a mais, mas também já havia crescido, né? Mas na minha eleição mesmo, ajuda, ajuda
dos amigos, de alguns amigos da família e Amigos meus que eu construí ao longo da minha
vida. Então foi isso ai, eu não tive como eu diria, eu não fui deputada em cima de nenhum
esquema, não tive essa história, não tenho voto de curral, meus votos não são de curral, é
ruim falar nisso, né? Porque voto de curral é como se o povo não soubesse votar, mas
infelizmente ainda a gente encontra isso, não dar pra ser hipócrita e dizer que num estado
como o Maranhão, de 5milhões de habitantes, um Brasil de tantas diferenças, de tantas
desigualdades e num estado imenso como esse, pobre, muito pobre, vonão vai dizer que
não vai encontrar voto de curral porque você encontra, não é nem porque o povo quer, é
porque o povo não teve a oportunidade de poder escolher, não aprendeu a escolher porque
infelizmente a estrutura de poder que foi criada ao longo de muitos anos, não fez com que
eles tivessem essa oportunidade. Então, a gente ainda tem muito isso no Maranhão,
infelizmente. A gente tem deputado que foi eleito aqui no nosso estado que teve votação
concentrada ai de 20 mil votos ali, 15 mil ali, 10 mil ali, uma coisa assim louca! E que
ninguém conhece, ninguém conhece. Não tem serviço prestado, mas isso não é só aqui no
Maranhão, a gente tem isso em outros estados, infelizmente. Mais isso aqui no nordeste é
pior, é mais freqüente. Eu torço muito para que isso mude, a minha maior felicidade vai ser
um dia mesmo eu velhinha, eu no Maranhão uma coisa diferente, eu assim alguma
figura realmente na política, fazendo política com méritos próprios, porque construíram,
como o Lula que construiu a sua história. Eu não voto nele, não votei mas eu respeito
porque ele construiu a sua história, ele não caiu de pára-queda, ele lutou muitos anos pra ser
121
presidente, não foi do nada. Ele não foi colocado por um grupo, um grupo não chegou e
disse: olha vou te dar um mandato de presidente, ou você vai ser meu deputado, quanto é
que custa? Custa tanto? Então é isso ai que nós temos que acabar com tudo isso. São os
representantes da ocasião, isto ainda acontece muito, infelizmente. Tem gente que se diz
extremamente preparada, vanguardista, que é representante da ocasião, não tem
compromisso com nada, a não ser consigo próprio. Isto é que eu espero um dia ver
diferente. E isso acontece no Brasil todo porque uns têm dinheiro, tem isso, tem aquilo, mas
acho que isso acontece no mundo, tem alguns locais que isso faz parte de uma minoria,
no nordeste isso faz parte de uma maioria.
P.: Deputada, deseja falar mais alguma coisa, acrescentar algo na sua fala?
Narradora V: Não, não Jaciléia. Muito obrigada por este importante trabalho de mestrado,
realmente precisamos mostrar a mulher na política aqui no nosso estado é ainda é muito
discriminada.
P.: Obrigada deputada pela sua entrevista, desejo-lhe muito sucesso! Que a senhora,
como uma novata na política faça uma política diferente da que ai estar. uma
atenção especial para o público feminino que merece a sua atenção.
Narradora V: Eu que agradeço a você Jaciléia, espero ter contribuído para esse seu
trabalho.
122
Entrevista
Narradora VI: Vereadora da Câmara Municipal de São Luís.
Partido: Partido Comunista do Brasil – PcdoB.
Idade: 38 anos
Profissão: Pedagoga
Local da entrevista: São Luís – MA
Data: 11/02/09
Perguntas:
P.: Fale um pouco da sua inserção na política partidária. Como foi que a senhora
entrou na política partidária.
Narradora VI: Bem eu...A minha história de vida me levou a entrar na política, na
verdade. Eu desde muito jovem, desde menina acompanhei meu pai na luta comunitária, ou
seja, o movimento comunitário pra ele era algo que era o sentido de luta social. Então o
meu pai chegou até a ser vereador de São Luis, a partir de todo um reconhecimento popular
do trabalho dele, o vereador Hugo Reis e, eu estava ali, lado a lado com ele nos embates do
movimento comunitário. Ali nasceu hoje o fruto, ali foi implantado todo esse fruto hoje que
é o nosso projeto político. E também uma outra coisa que movimentou de uma forma
bastante intensa a minha vida pra que eu chegasse aqui com esse veio político tão forte,
com todo esse compromisso, um projeto político já bem planificado foi a minha rica
experiência na antiga Legião Brasileira de Assistência -, LBA, em que eu fazia implantação
e acompanhamento de programas e projetos sociais nos interiores maranhenses e também
em São Luis. Isso desde os meus 16 anos. Isso me marcou muito. Aos 16 anos eu estava
aqui, em São Luis e depois, a partir dos 17 anos eu comecei a viajar nos interiores do
Maranhão. Então as realidades mais adversas me fizeram cada dia me certificar que esse
era o caminho, o caminho de trabalhar a transformação social pela mobilização das pessoas,
pela participação, pelo comprometimento. Isso norteou minha vida. Eu sou pedagoga,
formada pela Universidade Federal do Maranhão. Como educadora, eu afunilei bem minha
atuação na educação de jovens e adultos que é uma modalidade que requer um cuidado
sócio-politico muito grande. Trabalhei e trabalho ainda prestando formação a educadores e
coordenadores pedagógicos e também prestando consultoria. Trabalho prestando
consultoria na área de projetos de revitalização social, na área também de revitalização
organizacional. Mas a minha história de vida é de nascer num bairro carente de tudo,
Cruzeiro do Anil. De ver meu pai, a minha família com sérias dificuldades inserida naquele
palco também comunitário e lado a lado com eles eu fui assimilando que não pode se
inquietar em meio a realidade. Nós precisamos estar ali compondo a mudança como atores
sociais. Isso eu vivi na minha vida, mexeu comigo, marcou meu ser. Eu trabalho hoje, todo
o meu trabalho e o projeto político que realizo é por identidade. Por isso que eu realizo de
forma intensa. Por isso que eu realizo com um sentido de ser. Eu não entrei na política, não
foi isso. É fruto de uma história de vida. Depois de meu pai ter falecido, faz sete anos,
mesmo assim eu permaneci. Permaneci com trabalho, fortalecendo entidades comunitárias
123
que nos procuravam; ões sócio-comunitárias na própria comunidade que eu resido, o
Cruzeiro do Anil. Então tudo isso, Jaciléia, fortaleceu a minha identidade, construiu,
modelou a minha identidade com o trabalho social, trabalho de luta social. Um trabalho
eminentemente comunitário também. Com o passar do tempo outros passos de luta foram
surgindo e algo que mexe com a vida do homem que é o trabalho também missionário. Eu
sou evangélica e isso tem também enriquecido toda minha trajetória. Eu fazia tudo isso
como cidadã, nunca projetando um cargo político. Eu nunca me projetei pra ser política. Eu
nunca projetei para mim um cargo político. Apesar de que houveram dois lançamentos de
candidatura minha pelo próprio bairro, Cruzeiro do Anil, várias lideranças comunitárias
pediam, requisitavam a minha candidatura, mas eu sempre fugi; me esquivei de assumir um
compromisso porque eu considerava que era muito mais fácil, mais simples mesmo. O que
eu estava fazendo estava bom pra dimensão minha como cidadã. Eu me projetava como
alguém que pudesse ter um cargo político eletivo. E isso aconteceu também na minha vida
não mais pelo indicativo dos homens, mas quando Deus trabalhou o meu coração, a
minha vida e disse que...Ele queria isso da minha vida. Eu estou aqui, estou cumprindo
também uma missão de Deus. Então duplamente eu vivo com intensidade tudo isso. Pela
identidade que foi construída ao longo da minha vida em relação ao trabalho social e
comunitário e também, acima de tudo, porque hoje eu estou aqui por um desígnio de Deus.
Eu não pedi nem nunca me trabalhei pra ser candidata, pra ser uma mulher que estivesse à
frente de um cargo eletivo.
P.: Vereadora, com base no que a senhora falou, dentro partido tem alguma
diferenciação entre homens e mulheres na divisão de recurso? Na distribuição de
materiais, tais como: santinhos, cartazes etc., a senhora percebe que os homens
recebem mais que as mulheres, ou, não? Como é que é?
Narradora VI: Eu sou do PC do B, e eu fui pra porque o PC do B na sua concepção
política-ideologica tem tudo haver com minha história de luta social e o projeto político que
a gente tem construído. No partido nós mulheres somos assim...falando desse último
processo eleitoral, nós fomos cerca de umas oito candidatas. O partido coligou com o PT,
seu um montante de 42 candidatos. Agora no partido mesmo foram seis a oito candidatas e
uma desistência, não to bem certa agora do número. Mas não temos privilégios, mas nós
não temos também retaliações. O partido tem se esforçado pra reconhecer a necessidade da
equiparação de gênero, desse respeito a nós como sujeitos que somos também iguais aos
homens que constroem toda essa dinâmica social com igual valor, com igual importância,
com igual contribuição. O partido tem se esforçado, mas a gente sabe que os reflexos da
sociedade...e isso se expande em todos os espaços, inclusive também nos espaços do
partido. Nós precisamos conquistar ainda um espaço muito mais afirmado, muito mais
organicamente arranjado pra ter essa representação mais forte de mulher. Isso no interior do
partido e eu creio que é quase uma leitura em relação aos demais partidos também. Nós não
tivemos financeiramente uma ajuda melhor que o outro. O que necessariamente o partido
nos ajudou indiretamente como a todos os homens através de santinhos, através de cartaz,
só. Então a nossa candidatura teve um...foi muito árdua a nossa trajetória. Muito árdua. Ser
mulher ele ainda tem uma leitura muito equivocada socialmente de um ser frágil, tão frágil
e tão impossibilitado de chegar, aonde quer que seja, não é o espaço de poder aqui
124
tratado, o parlamento municipal; onde quer que seja. Ainda está muito internalizado os
ranços de um país patriarcal, escravagista e que nós fomos relegadas ao secundário de tudo.
Então isso reflete também na política, na escolha de mulheres. Eu senti isso não pela
minha falta de estrutura financeira, não tinha estrutura financeira; sou de origem popular,
sou funcionária pública municipal e estadual, concursada pela secretaria de educação e
presto também consultoria. Então financeiramente nós não tínhamos dotação pra isso.
Através de empréstimo, através de trabalho voluntário, de amigos que estavam conosco
formando a equipe, através de voluntários que estavam ali também na fileira, de corpo-a-
corpo foi o que nos ajudou; um grupo de pessoas que nos ajudou também a construir todo
um projeto político. No nosso trabalho com a experiência de educador e consultor
procuramos fazer, em conjunto com a equipe que tinha também esse mesmo olhar, foi fazer
um trabalho planificado, organizado, com estratégia, bem afinado. O que é o projeto
político? É gerar o desenvolvimento social e humano, indistintamente pra diferentes setores
e segmentos sociais, organizações, enfim, aonde a gente for chamado. Então nós pensamos
como praticamente construir isso. Nós fizemos articulações políticas com lideranças
comunitárias. Nunca negociando voto, mas fazendo um trabalho pra que houvesse um
reconhecimento do valor do nosso projeto político pra aquela massa de coletivos. Seja lá da
comunidade, seja lá...., seja da própria comunidade que de uma forma mais intensa foi
que deu toda sustentação eleitoral pra nós, foi o Cruzeiro do Anil. Nós tivemos também
adesão de amigos, familiares, educadores. Mas aonde a gente foi...estou hoje desatrelada de
qualquer dependência política com qualquer espaço ou organização. Porque primeiramente
eu sabia que ia ser eleita não pelo projeto político, mas sabia que o projeto político Deus ia
aprovar nos corações porque havia sido constituído primeiro no Seu coração, no coração de
Deus, então eu tinha essa certeza da eleição a partir daí. E tinha convicção da equipe que
estava comigo e do que a gente estava a cada dia trilhando era um trabalho identitário com
tudo isso que estava sendo construído. Por isso a gente fazia e faz com afinco, com
destemor, com muita perseverança, com muita coragem..., ousadia, combatitividade, e isso
agregou. Nos diferentes espaços agregou. Foi sendo percebido nosso diferencial. Foi sendo
reconhecido que São Luis está em ares de mudança. Quer mudança, quer fazer esse
sufrágio, mas com a consciência de construir uma outra São Luis cansada daquela velha
política de tentar conseguir abocanhar voto e tirar usufruto meramente pessoal, de poder
estar sentado num espaço que demanda poder e voltar daqui a quatro anos pra este mesmo
espaço e voltar pra aquele mesmo espaço de base popular pra conquistar de novo o voto.
São Luis está cheia disso. Tanto é que a câmara municipal de São Luis foi renovada em
quase sessenta por cento. Então eu tenho feito um chamamento pra esse parlamento
municipal, pra que nós venhamos conjugar forças e fazer um trabalho correspondente, mas
independente disso eu tenho a cada dia me esforçado, e nós temos nos esforçados enquanto
equipe e mostrar o nosso diferencial. Nós estamos permanentemente na base, fazendo ações
através de mutirões, fazendo implantação de projetos sociais que gerem participação
popular, mobilização popular, e isso nos anima quando a gente o povo ir conosco, falar
junto, repensar juntos, lutar também juntos. Então isso nos fortalece. Eu sei que isso vai
gerar muitos frutos. Muitas outras mulheres virão a partir de nós. Numa primeira ão
nossa enquanto parlamentar foi criar a comissão de defesa e direitos e protagonização da
mulher. Não existia nesse parlamento. E nós criamos essa comissão conseguimos
praticamente a aprovação, porque tem quatorze assinaturas; ela está cumprindo o projeto
de resolução que contém a criação da comissão, está apenas cumprindo um trâmite, está na
comissão de justiça. Tivemos na sexta-feira passada, no dia 6 de fevereiro a primeira
125
reunião com os diferentes grupos organizados de mulheres de São Luis e também mulheres
que estão na base comunitária. Foi muito enriquecedor. Nós tivemos uma representação
grande. As mulheres atenderam o chamado, o convite. Reconheceram e nem eu sabia que
tinha sido isso um marco pra elas, porque nunca tinha havido no parlamento essa discussão,
nessa instância. Amanhã nós faremos e você está convidada pra segunda reunião com as
mulheres. Estamos construindo uma agenda de luta, uma agenda de trabalho pra gente
visualizar conquistas ao final de 2009. Estamos fazendo também uma agenda de
manifestações. Então uma série de ações que estão sendo intercambiadas e discutidas nesse
coletivo bem diverso de mulheres que estão lado a lado conosco, caminhando. Então a
trajetória está começando, em termos da vida parlamentar aqui oficialmente. Mas desde
quando a gente se elegeu, a gente continua no mesmo ritmo, nas bases comunitárias, nos
nossos projetos que nós temos sociais, diferentes segmentos: nós temos projetos com
idosos, com crianças, com adolescentes, cada qual sendo respeitado na sua singularidade,
nas suas demandas coletivas. E é isso que a gente quer, expandir pra São Luis cada vez
mais e queremos a partir da nossa atuação parlamentar, desconstruir também todo e
qualquer olhar negativo que tenha em relação a nós mulheres, no espaço de poder, no
parlamento municipal em especifico. Porque a gente sabe que nós incomodamos muito.
Onde quer que a gente esteja nós incomodamos sim, pelo que somos, pela singularidade do
que compõe o ser mulher. Isso incomoda e socialmente nós precisamos ajudar a ser
desconstruido o olhar, o olhar como falei de fragilidade e até restrições em relação à
possibilidade de termos competência ou não para tal. Isso a gente ta tentando desconstruir
também no coletivo. Sozinha nós não vamos conseguir desconstruir nem essa leitura
equivocada, nem também as inquietudes que o povo tem em relação aos seus
representantes.
P.: Vereadora, a senhora falou dos projetos sociais para mulheres, jovens e idosos.
Esses projetos eles foram apresentados aqui na mara? A senhora teve alguns
destes aprovados ou está em processo de aprovação? Como é que são recebidos esses
seus projetos aqui na câmara municipal?
Narradora VI: Bem, os projetos de quem eu falara são projetos que nós realizamos e
com o mandato nós iremos ampliar, nós já fazemos esses projetos. Por exemplo, o projeto
de formação comunitária, nós temos o Programa Sonhos do Futuro. É o nosso programa
que agrega vários projetos. Nós temos pro exemplo, o projeto de formação comunitária
onde a gente chega com toda a estrutura de recursos humanos, de materiais em diferentes
espaços, sejam espaços da comunidade ou da igreja. Não importa onde seja chamado. E a
igreja quando eu falo, eu não to falando a igreja evangélica; não importa. Nós estamos
tratando aqui da pessoa humana, então pode ser igreja católica....aonde a gente é chamado.
Então a gente chega e apresenta as ofertas de cursos que s temos e realizamos os cursos.
Promovemos também nesse momento não só geração, ajudando a construir um instrumental
pra gerar trabalho e renda, mas também de fazer a integração social dos participantes.
Despertar pro exercício da cidadania, tem vários incrementos nessa atuação nossa. Então
por exemplo, a gente faz o curso de artes em chinelos, arte em palitos, nós fazemos biscuit,
fazemos tapeçaria. São vários cursos e agora nós estamos ampliando com uma qualificação
mais técnica, de forma mais ousada e pra toda São Luis. A gente faz....de forma rotativa,
aonde a gente é chamado a gente vai. Nós estamos criando um espaço aonde vai está
materializado fisicamente, um espaço pra gente executar todos os nossos projetos e as
126
pessoas poderem vir da onde quiserem, se matricularem e terem acesso. Estamos correndo
agora atrás de uma qualificação mais técnica, estamos atrás dos parceiros, fazer curso de
pintor, ladrilheiro, carpinteiro; criar realmente uma qualificação profissional, agora. Não
a iniciação, a qualificação que nós fazemos, mas uma qualificação profissional que
oportunize a inserção no mercado de trabalho, que abra as portas para o mundo do trabalho
e que possibilite também um despertar de visão social, de participação social, porque aonde
a gente vai, a gente ta plantando um novo olhar em relação à atuação social de cada
individuo que ta aqui. São vários projetos: são os idosos, o projeto Arte Idade Dourada.
Então a gente leva oficinas, leva qualidade de vida, leva aceitação da feminilidade, leva ao
convívio social. Então são muitas ações que a gente faz. Agora mesmo a gente ta
conseguindo ingressar um grupo para a unit, fazer com que seja ingressado na unit” um
grupo de idosos que não tinham nenhuma margem, nenhuma expectativa de inserção. Nós
estamos caminhando pra ampliar tudo que nós fazemos. Com as crianças, a gente também
promove ações de cidadania, de incentivo à leitura. A Prática Cultural Ler Livro e Ler o
Mundo é um dos projetos que a gente faz o incentivo ao gosto do despertar pra leitura. A
leitura como uma ferramenta de emancipação social. Então nós levamos isso para as
comunidades e no momento também nós fazemos entretenimento, utilizamos o teatro pra
despertar o gosta da leitura, fazemos oficina, fazemos uma série de coisas. É o
entrelaçamento de nossa experiência também educacional que vai agregando. Então,
Jaciléia, são vários projetos que nós temos. Aqui na câmara parlamentar criamos a
Comissão de Reconhecimento dos Direitos da Mulher; solicitamos audiência pública
com a secretaria de segurança e com o comandante geral pra discutir a situação de violência
que São Luis se encontra. Nós tentamos tematizar e, a partir daí, nós vamos estar saindo...é
um painel na verdade, nós vamos estar saindo com as linhas mestras e é essa nossa
requisição pra construir um plano de combate à violência em São Luis em que tenha aceito
diferentes setores e órgãos afins. solicitamos a cobertura do centro de comércio informal
de São Luis, o famoso camelódromo, que hoje está na Magalhães de Almeida; está
sem as mínimas condições. É alarmante a forma como os comerciantes estão ali. Muitos
abandonaram; 77% não tem cobertura, chuva caindo, as bancas encharcam de água, não
tem como eles venderem os seus produtos. Solicitamos a revisão de todos os pontos de
parada de ônibus de São Luis, o povo ta esperando o ônibus na chuva. Então, nós já
pedimos a revisão desses pontos de ônibus e a instalação de novos pontos de forma
padronizada. Nós estamos solicitando a realocação do posto de saúde do Anil que tem uma
demanda muito grande de atendimento, não tem condições estruturais, não tem condições
também de instalação, está à frente de um posto de gasolina, enfim. Nós estamos
solicitando aqui a segurança pros terminais de integração, porque estão também ali
vulneráveis. São várias demandas, “n’s” demandas que a gente a cada dia vai apresentando
a partir do contato, da interlocução direta com a população. Então é por que a gente ta
construindo o mandato, e eu creio muito também, que o olhar em relação à minha pessoa
como vereadora... Daqui a alguns dias não vai ser uma vereadora que chegou pra
representar a mulher; eu não cheguei pra representar só as mulheres, eu cheguei pra
representar o povo de São Luis, que a gente quer construir a cada dia.
127
P.: Vereadora, eu gostaria de saber se a senhora é casada, se tem filhos, como é que a
senhora faz esse movimento entre o privado e o público? Se tem marido, se ele é
daqueles que cobra a presença da esposa em casa, ou, se a senhora conta com a ajuda
dele? Eu gostaria de saber um pouco.
Narradora IV: Olha Jaciléia, eu sou casada. Eu não tenho filhos ainda. Por falar nisso,
eu gostaria até de falar algo. Olha como nós temos um olhar, têm algumas pessoas na
sociedade, a grande parte até, tem olhar tão marginalizado ao ser mulher, que distorceram a
minha fala na entrevista e disseram que o meu projeto como vereadora era ter um filho. A
representação que eu vinha fazer na câmara municipal era ter um filho. Eu não tenho filhos.
Mas isso é um projeto, mas não o projeto da vereadora, é da mulher Rose. Então pra ti ver
como tentam desconfigurar, descredenciar melhor dizendo, o ser mulher no espaço de
poder. Bem, sou casada e meu marido é Muito presente. Ele compartilha da visão política,
ele constrói essa visão política comigo, conosco, com a equipe, mas ele me cobra também
muito. Porque eu to vivendo tudo isso com muita intensidade, como tudo que eu vivo. Eu
vivo com intensidade. Todo o projeto eu procuro dar o melhor, fazer da melhor forma pra
ter o melhor resultado. Então, também sou muito cobrada pra estar mais presente, de estar
mais junto. Construir essa semana a rotina e na rotina botei no domingo, espaço de
manhã, após o culto botei lá: atividade familiar, porque eu to sendo muito cobrada, mas não
tiro as razões dele também. Mas eu tenho essa liberdade de atuação e eu primo também
pela minha autonomia e pela autoridade também em construir tudo isso. Mas tudo é feito de
forma muito concensuada, intercalada, mas eu sei que também ele como homem às vezes
fica incomodado em eu ser mulher e ser mulher na política. Fica incomodado. E ele tenta
realmente também trabalhar tudo isso. É natural, ele é homem social, como homem social
ele tem um reflexo desse ranço todo histórico, mas eu não tenho dificuldades. São coisas
que a gente vai apenas melhorando, mas não tenho nenhuma dificuldade. Meu marido é
muito presente e atuante, lado a lado comigo em todos os projetos, graças a Deus. Isso
também nos fortalece e fortalece inclusive a identidade do olhar social em torno de nós. Eu
sei que teria um outro olhar, eu percebo isso se eu fosse uma mulher solteira. Então nós
temos muito o que lutar Jaciléia (risos).
P.: Vereadora, até agora no momento, a senhora acha que está cumprindo com seus
objetivos? Quais são as suas expectativas?
Narradora IV: Jaciléia, eu creio em algo. Deus nos prepara pra viver tudo. Deus te
preparou. Você vivenciou coisas, você no seu subjetivo, pra você ter condições pra está
fazendo isso aqui. Ele foi agregando a tua vida à condição de você fazer isso aqui hoje. Não
é? E Ele agregou a minha vida às condições pra eu ser vereadora, entendeu? Então, a
expectativa eu acho que eu frustrei. Até a equipe eu acho que eu frustrei. Em um aspecto:
As pessoas achavam muito assim, às vezes, que ia gerar uma anciosidade, que ia gerar
embaraços, que ia realmente...como é que vai lhe dar com tudo isso? Eu me tranqüilizo no
Senhor. Eu me tranqüilizo na capacitação que Deus me a cada dia. A cada dia eu venho
revestida de forças, de condições, de desbravar, não pra mim, mas pra aqueles que não são
vistos, não são lembrados, nem são ouvidos. Então, está acontecendo aquilo que eu sabia
que ia acontecer. Nós estamos conseguindo exercer com autonomia, com relevância social,
128
nosso mandato. Por exemplo, nós estamos a quase duas semanas investidas do cargo. Na
semana passada, olha que semana frutífera, nós colocamos pautas importantes em
discussão, nós conseguimos criar esta comissão que pra mim foi uma vitória e pra nós
mulheres foi uma vitória política muito grande que é o Conselho de Defesa e de Direito e
Tratado de Ação da Mulher. Fizemos a primeira reunião com um grupo muito ampliado,
isso no exercício de mandato que eu estou dizendo. Essa semana nós fizemos o segundo
encontro de formação pedagógica de educadores comunitários de São Luis, e, que é uma
categoria esquecida na maioria de mulheres que estão lá. É uma categoria esquecida que
fica na invisibilidade social e que dão uma sustentabilidade tamanha a o Luis, porque a
modalidade de educação infantil em quase 80% ela não é universalizada, que são as
crianças da camada popular, elas são atendidas é nas escolas comunitárias. Então foi o
segundo encontro que nós fizemos. Ainda não tivemos parceria, foi com recursos próprios.
E esse ano ele foi mais ampliado. Deus nos coragem pra ousar. Então a gente fez o
segundo encontro. Nós conseguimos fazer um encontro com quase 120 educadores
comunitários de São Luis. Beneficiar quase cerca de cinco mil crianças a partir da formação
pedagógica que elas tiveram nesses dias, com direito a almoço, material didático,
profissionais de alto gabarito, apostilas, todos os recursos didáticos. Uma ação pedagógica
voltada pra práxis, pra revisão da práxis, da ação, da reflexão, da ação e do fazer educativo
nas escolas comunitárias. O olhar político foi ativado porque esse processo aconteceu lá, foi
riquíssimo. Então eu fechei o sábado com esse encerramento. Então a atividade parlamentar
ela está correspondendo ao projeto político que a gente já vinha construindo como cidadã.
E isso uma magnitude ao trabalho e aos impactos sociais. Então isso nos motiva. Se
alguém pudesse me olhar por dentro...a cada dia eu to assim, e vai e vai e vai eu não gosto
de parar, e às vezes eu acho até que eu sobrecarrego a equipe porque eu quero ir...e..., bora
bora e eu quero resultado, e bora fazer isso...mas graças a Deus a equipe tem muita
identidade com tudo isso e faz porque acredita, e faz porque gosta, faz porque quer
construir uma nova São Luis também. Então, eu creio que a gente ta caminhando dentro da
expectativa, dentro daquilo que a gente pensava construir como projeto político e estamos
conseguindo desbravar outras vitórias. Então como eu te disse, nós vamos inaugurar
domingo agora a quarta rua feita por nós e a comunidade no sistema de mutirão, levantando
a vida comunitária, o ânimo, revificando a vida em comunidade. Então a gente entra com os
materiais e eles entram com a mão-de-obra e compromisso de estar dando conta do que é
seu. E a solidariedade também vai sendo ativada porque vem muitos de outra rua pra ajudar
o outro dessa rua, pra melhorar a sua realidade. Então nos fortalece na trajetória tudo isso.
O exercício de mandato ele está acontecendo dentro daquilo que a gente construiu até aqui.
E até aqui quem tem nos ajudado é o Senhor na visão, na provisão, na capacidade, em tudo
e em ta levantando o povo conosco. Então é esse tripé. Ele ta mediando e ao mesmo tempo
Ele ta na base. Então eu estou muito feliz e eu sei que a gente es incomodando
muito...as retaliações. disseram que entrei o ano de carro novo, uma mulher que vivia
a pão e água. Porque é a mulher que vive a pão e água. Como profissional, como mulher
correta, honesta, como profissional. O meu carro ainda continua na oficina...ainda to de
carro emprestado com minha cunhada. Então eles tentam buscar a fragilidade. Todo mundo
faz defesa de seus pleitos aqui na Casa. Todo mundo faz defesa de seus pleitos. Ai ontem
na imprensa disseram que eu acho que ainda estou no palanque, quando eu vou fazer a
defesa dos pleitos eu falo muito. Eu falo o tempo que achar que devo. O parlamento é livre.
O parlamento é livre e eu costumo fazer desse parlamento que eu tenha a mesma liberdade.
Então assim, na verdade, a gente sabe que vamos buscando subterfúgios pra tentar
129
desconfigurar e desacreditar o nosso fazer político. Mas a gente tem algo que é muito
favorável, nós somos do povo, temos origem popular e a gente sabe que o movimento se
constrói é com movimentação popular. O movimento que eu falo, a dinâmica, a
transformação é na movimentação popular. Então, é eles que constroem comigo e eles
mesmo atestam. A leitura pra mim é essa que vale a cada dia.
P.: Muito obrigada vereadora. Eu desejo muitos sucesso, que a senhora caminhe cada
vez mais, que não pare por aqui e que até mesmo para uma esfera maior,
representando o povo, principalmente, a categoria que eu trabalho e a mulher, e, a
negra por também ser negra. Então eu desejo muita sorte pra senhora com toda a sua
equipe. Muito obrigada!
Narradora VI: Eu quero agradecer a oportunidade, porque quando a gente tem a
possibilidade de verbalizar, a gente consegue mais uma vez refletir o fazer. Então assim,
sempre é bom a gente ta falando pra ta revisando a própria ação também. Então pra mim foi
um momento rico...a gente ta falando do que a gente faz, mas é bom falar do que faz, a
gente reflete sobre o que faz. Então pra mim foi rico esse momento. Eu quero agradecer a ti
Jaciléia e te parabenizar também porque você ta no embate muito grande por ser mulher,
por ser negra, não sei se é de origem popular também, então estamos empatadas nesses
condicionantes. Então você está de parabéns por estar desbravando também um território
quase inacessível pra nós que é o espaço cientifico, de pesquisa. Na UFMA eu também
atuava dentro da pesquisa, PIBIC/CNPq. Ali também cresci muito, cresci pra caramba
dentro da pesquisa cientifica. Então eu quero te parabenizar e dizer que tu mesmo,
continue no fronte porque deus vai te capacitar a cada dia, abrir portas pra onde possa não
haver e tirar aquela que não vai ser conveniente a tua vida, mesmo que tu penses que seja.
Então ele vai te abençoar a te dar a capacitação múltipla pra ti não terminar o mestrado,
mas ir pro doutorado e PhD, não importa pra onde, mas estar contribuindo pra tua nação.
Tudo de bom pra ti.
Ok! Da mesma forma.
130
LISTA DE SIGLAS
PSDB – Partido da Social Democracia Brasileira
PPS – Partido Popular Socialista
PT – Partido dos Trabalhadores
PC do B – Partido Comunista do Brasil
IPMF – Imposto Provisório sobre Movimentação Financeira
CEMAR – Central Elétrica do Maranhão
Sine – Sistema Nacional de Emprego
CREAM – Centro de Referência da Assistência Social
CREAM – Centro de Referência Especial de Atendimento a Mulher
STJ – Superior Tribunal de Justiça
MEP – Movimento Evangélico Progressista
PAC – Programa de Aceleração do Crescimento
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
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