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descrições e formula resultados de experiências, não possibilita contato legítimo com a
teologia, como já foi dito, o discurso metafísico é, logo de início, um lugar de diálogo pos-
sível com a teologia. Porque quando se fala da realidade, da verdade, etc. não se pode
eludir a questão de sua origem, de seu fundamento último. A teologia diz,
efetivamente, certo número de coisas sobre esse assunto. Assim, é possível
estabelecer-se um diálogo fecundo entre os discursos científicos e o teológico, sob a
condição de que sejam mediatizados pela metafísica.
166
Para Lambert ‘’as ciências não apresentam, em nenhum caso, as questões de
sentido. Ou reduzem o sentido de um conteúdo científico à rede de relações que elas
mantêm com outros conteúdos, conceitos e teorias.’’
167
No entanto, se as ciências não podem captar o sentido, elas não podem
impedir-se de sugerir questões de significação, de interpretação. Qual é o sentido
dessa unidade que a biologia toma manifesta no ser vivo e que a teoria das
partículas elementares, ligada à cosmologia, exibe a partir do mundo
material? Como devemos interpretar a singularidade inicial, o Big Bang? Que
interpretação devemos fazer da mecânica quântica? Que significação tem a
vida? Que interpretação se pode fazer da complexidade crescente no phylum
humano? Aí estão tantas perguntas, como que subentendidas pelas próprias
ciências, sem que estas possam, sozinhas, dar respostas inteiramente
satisfatórias. Há, portanto, em ciência, uma espécie de tensão hermenêutica,
provocada por uma busca de significação que permanece insatisfeita. A
resolução dessa tensão poderia se realizar por meio de uma cosmologia
filosófica, uma filosofia da natureza, ou melhor, uma hermenêutica da
natureza.
168
Lambert afirma que essa hermenêutica não é uma teologia da natureza, pois
a Revelação não intervém nela diretamente. O que ela faz é prolongar o movimento
de busca de sentido que começa no centro do caminhar epistêmico, mas que não
termina nele. A partir dessa interpretação dos conteúdos científicos, poderiam,
então, ser formuladas questões homogêneas ao discurso teológico
160
.
Partindo deste pressuposto Lambert diz:
Há, pois, um caminho racional das ciências para a teologia, mas esse
caminho exige a passagem pela mediação hermenêutica que assegura, por
sua consistência própria, a distinção dos dois níveis de linguagem, evitando
todo concordismo epistemológico.
Todos esses dados são interessantes, mas não são, de início, transferíveis
para um discurso teológico. Seria ilegítimo dizer, desde logo, que isso
"prova" que o Universo é atravessado por uma intenção divina: fazer
aparecer o homem. Na verdade, essa interpretação não é direta; ela precisa
ser elucidada filosoficamente. De fato, a partir desses dados, poder-se-ia
dar a interpretação seguinte: as leis fundamentais da física e da química são
tais.
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166
LAMBERT, 2002, p.102.
167
LAMBERT, 2002, p.103.
168
LAMBERT, 2002, p.103.
169
LAMBERT, 2002, p.104.
170
LAMBERT, 2002, p.104.