16
roubada ao escritor gaúcho Álvaro Moreyra
4
, que
em suas memórias As Amargas Não, através de
parágrafos independentes, cola num painel suas
lembranças. Moreyra relembra Qorpo Santo:
Há um poeta esquecido demais
no Brasil. Chamou-se José Joaquim de
Campos Leão Qorpo Santo. Eu vi as Obras
Completas dele, em grossos e altos volumes.
Guardei na memória algumas das páginas.
Durante a revolução contra o passadismo,
a ninguém ocorreu dar ao colega de 1880
e de Porto Alegre, o título de precursor da
poesia moderna.
5
Realizei, também, um mapeamento
de montagens pioneiras e recentes das peças de
Qorpo-Santo que permitem verifi car possíveis
leituras, em diferentes momentos e com
encenações heterogêneas, para entender como a
dramaturgia do autor antropofagiza elementos
de vocação vanguardista.
Organizei a chuva de folhetos
sugerida por Machado de Assis para construir
uma anatomia dramatúrgica tirada das peças
que compõem a obra teatral de Qorpo Santo,
incluída no volume IV da sua Ensiqlopédia ou
4 Nascido em Porto Alegre, em 1888, e morto no Rio de Janei-
ro, em 1964. Como homem de teatro desempenhou um papel
relativamente importante nos anos que seseguiram à Semana de
Arte Moderna.(...) Sua peça Adão, Eva e Outros Membros da Fa-
mília (1925) e o Teatro de Brinquedo são iniciativas e demons-
tram, nos anos 192, que os ventos da renovação modernist a
atingiram o teatro, mas que também não era fácil quebrar com
a resist ência das velhas formas. FARIA, João Roberto, Álvaro
Moreyra:Poesia e Teatro no Modernismo. In O Teatro na Est ante:
est udos sobre dramaturgia brasileira e est rangeira. São Paulo: Ate-
liê Editorial, 1998. pp. 17-112.
5 MOREYRA, Álvaro, As amargas, não... : (lembranças). Rio de
Janeiro: Lux, 1954. pp. 126-127.
Seis Meses de uma Enfermidade
6
, impressas na
Tipografi a Qorpo Santo. Procurei elaborar um
projeto gráfi co semelhante à da Ensiqlopedia
de Qorpo Santo (§26). Uma forma de ajuntar
diversas informações que possam auxiliar na
elaboração de um roteiro e em seguida um story
board
7
sobre o autor em estudo, um indivíduo
verborrágico em sua escrita desgovernada.
Em 1978 Martin Esslin já salientava
que:
O drama mecanicamente
reproduzido dos veículos de comunicação de
massa (o cinema, a televisão, o rádio), muito
embora possa diferir consideravelmente
em virtude de suas técnicas, também é
fundamentalmente drama, obedecendo
aos mesmos princípios da psicologia da
percepção e da compreensão das quais se
originam todas as técnicas da comunicação
dramática.
O drama como técnica de
comunicação entre seres humanos partiu
para uma fase completamente nova de
desenvolvimento, de signifi cação realmente
secular em uma era que o grande crítico
alemão Walter Benjamin caracterizou
como sendo a da reprodutividade técnica
da obra de arte.
8
6 Essa Ensiqlopedia, na curiosa forma de revisão ortográfi ca
propost a pelo dramaturgo, compunha-se de nove volumes, uma
espécie de súmula de seu pensamento e de suas idéias.(...) Há
dois volumes que, contudo, envolvem temática específi ca: o de n.
IV, com sua dramaturgia, e o de n. IX, no qual propõe uma re-
leitura dos evangelhos. FRAGA, Eudinyr, Um Corpo que queria
ser Santo. In LEÃO, José Joaquim de Campos (Qorpo Santo),
Teatro Completo. São Paulo: Editora Iluminuras, 21. pp. 7-8.
7 Story Boards são cenas “imóveis” para fi lmes, pré-planejadas e
dispost as em quadros pintados ou desenhados. (...) Não são des-
tinadas à “leitura”, mas antes para fazer a ponte entre o roteiro
do fi lme e a fotografi a fi nal. EISNER, Will, Quadrinhos e arte
seqüencial. São Paulo: Martins Fontes, 1999. p. 143.
8 ESSLIN, Martin, Uma Anatomia do Drama. Rio de Janeiro:
Zahar Editores, 1978. p. 14-15.