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KASSANDRA NUNES AMARO
INTERVENÇÃO MOTORA PARA ESCOLARES COM
DIFICULDADES NA APRENDIZAGEM
FLORIANÓPOLIS-SC
2010
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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA - UDESC
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE E DO ESPORTE - CEFID
MESTRADO EM CIÊNCIAS DO MOVIMENTO HUMANO
KASSANDRA NUNES AMARO
INTERVENÇÃO MOTORA PARA ESCOLARES COM
DIFICULDADES NA APRENDIZAGEM
Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em
Ciências do Movimento Humano pelo Centro de
Ciências da Saúde e do Esporte da Universidade do
Estado de Santa Catarina, para obtenção do título de
Mestre em Ciências do Movimento Humano.
Orientador: Prof. Dr. Francisco Rosa Neto
FLORIANÓPOLIS-SC
2010
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KASSANDRA NUNES AMARO
INTERVENÇÃO MOTORA PARA ESCOLARES COM
DIFICULDADES NA APRENDIZAGEM
Dissertação aprovada para obtenção do grau de Mestre em Ciências do Movimento
Humano do Centro de Ciências da Saúde e do Esporte da Univesidade do Estado de
Santa Catarina.
Banca Examinadora:
Orientador: ____________________________________________
Prof. Dr. Francisco Rosa Neto
Universidade do Estado de Santa Catrina – UDESC
Membro: ____________________________________________
Profa. Dra. Ana Márcia Silva
Universidade do Federal de Goiás - UFG
Membro: ____________________________________________
Profa. Dra. Giovana Zarpellon Mazo
Universidade do Estado de Santa Catrina – UDESC
Membro: ____________________________________________
Profa. Dra. Nádia Cristina Valentini
Universidade do Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS
Florianópolis, 25 de fevereiro de 2010.
À minha mãe e ao meu pai.
AGRADECIMENTOS
A minha família e ao meu namorado, por toda força que sempre me deram e por
terem passado comigo momentos difíceis durante este processo.
Ao meu querido orientador, pela oportunidade e confiança.
Aos membros da banca examinadora por aceitarem o convite e contribuírem com
meu trabalho.
A minha amiga, parceira e colega Cau, por ter abraçado carinhosa e
comprometidamente este desafio de interferir positivamente na vida dessas
crianças, junto comigo. Obrigada pela ajuda desde o princípio até o final.
As minhas amigas e companheiras: Rê, Aninha e Joaninha, por terem
acompanhado e colaborado nas coletas de dados desta pesquisa, por todos os
momentos de estudo e descontração no LADEHU, pelos artigos científicos que
pudemos desenvolver juntas, enfim, por tudo que vivemos em comum neste
período.
Claro que não poderia deixar de agradecer a todos os colegas do mestrado e alunos
especiais, aos colegas do LADEHU e aos amigos do LAPE, com os quais tive a
oportunidade de conviver e aprender, afinal todos aprendemos uns com os outros.
Ao meu colega, amigo e sócio, Rica que tive o prazer de conhecer durante o
mestrado. O Rica sempre estava ali do lado, literalmente. Valeu.
Aos professores do Mestrado em Ciências do Movimento Humano do Centro de
Ciências da Saúde e do Esporte, os quais contribuiram de maneira significativa
para meu crescimento acadêmico e desenvolvimento deste trabalho.
A direção, supervisão pedagógica, corpo docente e funcionários da Escola Básica
João Gonçalves Pinheiro que me acolheram carinhosamente como parte da equipe
e que possibilitaram a facilitaram todas as ações desenvolvidas nesta pesquisa.
Aos funcionários e técnicos do Centro de Ciências da Saúde e do Esporte –
UDESC, por sua colaboração no que foi preciso.
Um agradecimento especial à Solange e à todo pessoal da Pós-Graduação.
Aos proprietários e colegas da Superação Academia, por compreenderem e
permitirem esta minha busca por qualificação.
As minhas amigas e colegas de profissão, Dessa e Paty, pois juntas crescemos,
aprendemos, ensinamos, superamos. Sempre estávamos lá uma para as outras.
E, acima de tudo à Deus, por me dar saúde, força e determinação para ir atrás de
meus sonhos e objetivos.
É infinitamente gratificante saber que você pode de alguma maneira interferir
positivamente na vida de uma criança que precisa de seu trabalho; saber que algo
que você ensinou esta criança a fazer ou algo que você disse, pode mudar a vida
dela.
RESUMO
Título: Intervenção Motora para Escolares com Dificuldade na Aprendizagem
Autora: AMARO, Kassandra Nunes.
Orientador: ROSA NETO, Francisco.
O objetivo deste estudo foi verificar o efeito de um programa de intervenção
motora nos aspectos motores, psicossociais e acadêmicos de escolares com dificuldades
na aprendizagem matriculados do 1
o
ao 4
o
ano de escola básica municipal de
Florianópolis/SC. Após triagem realizada pelos professores de classe para identificar os
alunos com dificuldades na aprendizagem (escrita, leitura, cálculo) ou com problemas
de conduta, aplicou-se nestes o Questinário de Hábitos de Vida e a Escala de
Desenvolvimento Motor – EDM, sendo que esta última foi realizada antes e depois de
34 intervenções motoras de 45 minutos, realizadas na própria escola, em horário de
aula. Para fins de análise estatística a amostra de 38 escolares com dificuldade na
aprendizagem foi pareada em dois grupos de acordo com sexo e idade: G1 – escolares
com QMG < 80 e G2 – escolares com QMG > ou = 80. Os dados foram armazenados no
programa estatístico SPSS. Para análisados utilizou-se este e o programa Excel. Foi
utilizada estatística descritiva e inferencial, esta última para comparar as médias intra-
grupos pré e pós-teste (Teste t para amostras independentes ou Wilcoxon) e entre grupos
(Teste t para uma amostra), com nível de significância p< 0,05. Quanto às dificuldades
na aprendizagem, quase 70% da amostra apresenta problemas na escrita, na leitura, no
cálculo e problemas de comportamento associados, sendo que a dificuldade mais
frequente foi no cálculo, atingindo 89,5% destes escolares. Quanto aos hábitos de vida
verificou-se que pertencem a um nível sócioeconômico baixo e que seus pais
apresentam baixo nível de esoclaridade. A maioria não participa de atividade
sociocultural nem esportiva extracurricular, poucos estudam ou lêm quando estão em
casa. Quanto ao desenvolvimento motor, o quociente motor geral (QMG) do grupo foi
81,26 que o classifica como normal baixo. As áreas de maior déficit foram o esquema
corporal, a organização espacial e a organização temporal. Mais de 30% da maostra
apresentou lateralidade completa indefinida. Para G1, a melhora após o tratamento foi
significativa para o QMG, e para as áreas de motricidade fina, esquema corporal,
organização espacial e organização temporal. No caso de G2, o QMG se manteve e não
houve melhora significativa em nenhuma das áreas. Este estudo mostra que 2 sessões
semanais de intervenção motora focadas nas reais dificuldades dos escolares e inseridas
no ambiente escolar, podem melhorar significativamente o desenvolvimento motor,
acadêmico e psicossocial de escolares com dificuldade na aprendizagem.
Palavras-chave: Intervenção Motora, Dificuldade na Aprendizagem, Desenvolvimento
Motor
Universidade do Estado de Santa Catrina – UDESC
Centro de Ciências da Saúde e do Esporte – CEFID
Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano
Florianópolis/SC
ABSTRACT
Title: Motor intervention for students with learning disabilities
Author: AMARO, Kassandra Nunes
PI: ROSA NETO, Francisco
The aim of this study was to investigate the effect of an intervention program in motor aspects of
motor, psychosocial and academic students with learning disabilities enrolled in 1st to 4th year
of primary school hall of Florianopolis. After screening conducted by classroom teachers to
identify students with learning disabilities (reading, writing, arithmetic) or conduct problems, we
applied these next surveys on Life Style and Motor Development Scale - EDM, and the latter
was performed before and after 34 to 45 minutes driving interventions, carried out at school and
in class hours. For statistical analysis the sample of 38 students with learning difficulties was
paired in two groups according to sex and age: G1 - students with the general motor quotient
(GMQ) <80 and G2 - students with GMQ > or = 80. Data were stored in SPSS. Analysis used to
this and the Excel program. It was used descriptive and inferential statistics, the latter to
compare mean intra-group pre-and post-test (t test for independent samples or Wilcoxon) and
between groups (t test for one sample), with significance level p < 0.05. As for learning
difficulties, almost 70% of the sample has trouble writing, reading, measurement and behavior
problems associated with the difficulty was more frequent in the calculation, reaching 89.5% of
these schools. Regarding life habits found that belong to a low socioeconomic level and that
their parents have low esoclaridade. Most do not participate in sociocultural activity or
extracurricular sports, studying or just lem when they are home. As to motor development, the
GMQ group was 81.26 that ranks as low normal. The major areas of deficit were the body
scheme, spatial organization and temporal organization. Over 30% of maostra showed laterality
track indefinitely. For G1, the improvement after treatment was significant for both GMQ and for
areas of fine motor skills, body scheme, spatial organization and temporal organization. In the
case of G2, the GMQ has remained and there was no significant improvement in either area.
This study shows that 2 weekly sessions of motor intervention focused on the real difficulties of
the students and incorporated in the school environment, can significantly improve motor
development, academic and psychosocial students with learning difficulties.
Key-words: Motor Intervention, Learning Disorders, Motor Development.
State University of Santa Catarina – UDESC
Center for Health Sciences and Sports – CEFID
Post-Graduate Program in Human Movement Sciences
Florianópolis/SC
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
LADEHU Laboratório de Desenvolvimento Humano
CEFID Centro de Ciências da Saúde e do Esporte
UDESC Universidade do Estado de Santa Catarina
EDM Escala de Desenvolimento Motor
IC Idade Cronológica
IMG Idade Motora Geral
QMG Quociente motor geral
QM1 Quociente motor da motricidade fina
QM2 Quociente motor da motricidade global
QM3 Quociente motor do equilíbrio
QM4 Quociente motor do esquema corporal
QM5 Quociente motor da organização espacial
QM6 Quociente motor da organização temporal
SPSS Statistical Package for the Social Sciences
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Distribuição de G1 e G2 conforme idade e sexo .................... 20
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Frequência e percentual de nível de escolaridade dos
pais/responsáveis .............................................................................
27
Tabela 2. Frequência e percentual de participação em atividades
sócioculturais ...................................................................................
29
Tabela 3. Análise descritiva do desenvolvimento motor de G1 pré e pós-
teste .................................................................................................
31
Tabela 4. Análise descritiva do desenvolvimento motor de G2 pré e pós-
teste .................................................................................................
32
Tabela 5. Médias dos QMGs, diferença e valores de p da análise
comparativa intra grupos pré e pós-teste ........................................
34
Tabela 6. Análise comparativa inter-grupos do QMG de G1 e G2 ................ 35
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1: Perfil motor de G1 pré e pós-teste ................................................. 30
Gráfico 2: Perfil motor de G2 pré e pós-teste ................................................. 30
Gráfico 3: Classificação do desenvolvimento motor de G1 pré e pós-teste ... 32
Gráfico 4: Classificação do desenvolvimento motor de G2 pré e pós-teste ... 33
Gráfico 5: Distribuição da lateralidade de G1 no pré e pós-teste ................... 33
Gráfico 6: Distribuição da lateralidade de G2 no pré e pós-teste ................... 34
LISTA DE ANEXOS
ANEXO I Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da UDESC
ANEXO II Ficha de Rendimento Escolar
ANEXO III Ficha técnica da Escala de Desenvolvimento Motor - EDM
ANEXO IV Folha de resposta EDM
ANEXO V Formulário EDM no programa Excel
ANEXO VI Questionário de Hábitos de Vida
LISTA DE APÊNDICES
APÊNDICE I Perfil do Programa de Intervenção Motora para Escolares com
Dificuldade na Aprendizagem
APÊNDICE II Distribuição das áreas enfatizadas em cada intervenção motora
APÊNDICE III Protocolo de Intervenção Motora
APÊNDICE IV Programa de Intervenção Motora para Escolares com Dificuldade na
Aprendizagem - 2009
APÊNDICE V Diário de Campo
APÊNDICE VI Parecer Descritivo do Professor
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................... 1
1.1 O PROBLEMA E SUA JUSTIFICATIVA .............................................. 1
1.2 OBJETIVO GERAL ................................................................................. 4
1.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ................................................................... 4
1.4 HIPÓTESES ............................................................................................. 5
1.5 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO ............................................................... 5
1.6 LIMITAÇÕES DO ESTUDO .................................................................. 6
1.7 DEFINIÇÃO DE TERMOS ..................................................................... 6
2 REVISÃO DE LITERATURA .............................................................. 8
2.1 O DESENVOLVIMENTO MOTOR E AS DIFICULDADES NA
APRENDIZAGEM ...................................................................................
8
2.2 INTERVENÇÃO MOTORA ................................................................... 13
3 MÉTODO ................................................................................................ 19
3.1 TIPO DE PESQUISA ............................................................................... 19
3.2 POPULAÇÃO .......................................................................................... 19
3.3 AMOSTRA ............................................................................................... 19
3.4 INSTRUMENTOS ................................................................................... 21
3.5 PROCEDIMENTOS ................................................................................. 22
3.6 TRATAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS ......................................... 26
4 RESULTADOS ....................................................................................... 27
5 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ...................................................... 41
6
CONCLUSÃO ......................................................................................... 53
REFERÊNCIAS ..................................................................................... 56
ANEXOS ................................................................................................. 64
APÊNDICES ........................................................................................... 72
1 INTRODUÇÃO
1.1 O PROBLEMA E SUA JUSTIFICATIVA
O foco principal do desenvolvimento da criança a partir dos 6 anos é o processo de
aprendizagem formal por meio da aquisição das habiliades de leitura, escrita e cálculo, sobre
as quais se apoiarão todos os conhecimentos a serem incorporados posteriormente, desta
forma a escola passa a ser o espaço privilegiado de aprendizagem. Para Tonelotto et al.
(2005), o desempenho escolar da criança têm-se constituído como motivo de estudos de
profissionais de diversas áreas, preocupados com o processo ensinar-aprender.
Segundo Freire e Goda (2008), a realidade revela que nunca tantas crianças estiveram
matriculadas nas escolas brasileiras, entretanto um percentual significativo delas chegam no
4
o
ano de escolarização considerando ler e escrever as tarefas mais difíceis. Estudos citados
por Capovilla et al. (2006/2007), verificam que os problemas na aquisição da leitura e escrita
atingem, de forma severa, cerca de 10% das crianças em idade escolar. Para estes as
dificuldades na aprendizagem são entendidas como obstáculos encontrados por algumas
crianças no processo de escolarização e podem ser passageiras ou duradouras, muitas vezes
levando o aluno ao baixo rendimento, à reprovação e até mesmo ao abandono da escola.
Por outro lado, um grande número de alunos apresentam dificuldades na aprendizagem
nas séries iniciais sem que, muitas vezes, se investiguem suas reais habilidades e
potencialidades (MEDINA, ROSA e MARQUES, 2006 e MÓL e WECHSLER, 2008).
Pesquisadores e estudiosos consideram o fracasso escolar como um processo seletivo das
camadas mais pobres, destacando seu aspecto social, econômico e cultural como um
fenômeno educacional alarmante no país, um a vez que o número de crianças inaptas para
aprender assume caráter epidêmico e que os padrões de comportamento considerados
perturbadores no contexto da sala de aula, são os mais frequentes apontados pelos professores
quando encaminham seus alunos com suspeita de dificuldades de aprendizagem (PACHECO,
2005).
Ao encontro disso, estudo de Rossini e Santos (2001) e de Mól e Wechsler (2008),
chamam atenção para o fato de que os professores procuram soluções para as dificuldades na
aprendizagem na área médica, mas o fato é que na maioria das vezes, apresentam em comum
serem originárias de classe econômica baixa, indicando que suas dificuldades na
aprendizagem estão associadas a fatores ambientais e não se relacionam sobremaneira à
problemas orgânicos ou neurológicos.
A respeito do desenvolvimento motor e sua relação com as dificuldades na
aprendizagem, estudos destacam que os esquemas e as coordenações corporais são base para
a aprendizagem e que alterações da coordenação motora, do equilíbrio, da relação espaço-
temporal, entre outras, podem interferir na aprendizagem escolar e na conduta geral da criança
(SILVA et al., 2006). Estudos citados por Pazin (2001), concordam que a coordenação
motora, o equilíbrio, a relação espacial e temporal, dentre outros aspectos, podem interferir na
aprendizagem escolar e na conduta geral da criança, pois as limitações quanto ao
desenvolvimento físico e motor podem afetar as experiências que a criança pode ter, afetando
assim seu desenvolvimento intelectual e social.
Alguns autores destacam que os problemas motores geralmente estão relacionados às
aprendizagens e para os quais uma das áreas motoras mais refletidas nestas crianças, são as
noções de esquema corporal e de sequência espaço-temporal (BARRETO, 2000 PAZIN,
2001; e FERREIRA, 2007). De acordo com este último, as estruturas gramaticais se
relacionam com o conhecimento do espaço e a linguagem, necessita de noções de tempo,
antes e depois.
Por sua vez, o desenvolvimento motor abaixo do normal também não está vinculado,
obrigatoriamente, à comorbidade com alterações neurológicas ou estruturais, ou seja,
qualquer criança pode apresentar comprometimento em algumas áreas de seu
desenvolvimento motor. Neste sentido, crianças com desenvolvimento motor com riscos de
atraso, merecem atenção e ações específicas, já que frequentemente associam-se a prejuízos
secundários de ordem psicológica e social, como baixa autoestima e dificuldades na
aprendizagem escolar (WILLRICH e FERNANDES, 2008).
De acordo com Rosa Neto (2002), estudos na área da motricidade humana, indicam a
importância da avaliação do desenvolvimento motor da criança com dificuldades na
aprendizagem, para diagnosticar seus déficits e procurar intervir com atividades inseridas no
seu processo de escolarização, uma vez que as crianças quando ingressam no ambiente
escolar se deparam com situações que lhes exigem certas habilidades motoras, e por isto
devem possuir um repertório de habilidades motoras capaz de ajudá-las com as exigências
desse ambiente.
Outros estudos, citados por Ferreira et al. (2006), apontam que cerca de 5 a 10% das
crianças nos primeiros quatro anos escolares, apresentam problemas no desenvolvimento
motor. Geralmente esses problemas no desenvolvimento motor só são diagnosticados quando
estão interferindo significativamente nas atividades acadêmicas ou cotidianas. Esses poblemas
de ordem motora podem acontecer de forma isolada ou associados a outras dificuldades,
como a dificuldade de ler ou de escrever, problemas de linguagem, comportamento, etc, sendo
que estas crianças ainda podem apresentar níveis de ansiedade mais elevados, entre outros
distúrbios afetivos e psicossosiais.
Inúmeros problemas, que podem ser cognitivos, perceptivos, emocionais,
psicomotores, linguísticos, entre outros, se vinculam e comprometem a aprendizagem em
crianças que possuem bom potencial intelectual. Isso diferencia seu estilo e ritmo de
aprendizagem, exigindo estratégias pedagógicas que atendam à suas necessidades específicas
(NEVES E MARINHO-ARAÚJO, 2006). Para Braga et al. (2009), há uma certa carência de
estudos de caráter interventivo destinados a investigar de que forma as estratégias de
intervenção podem influenciar o aprimoramento das capacidades e habilidades motoras,
apesar das pesquisas apontarem para o fato de ser a infância a melhor oportunidade para o
aprimoramento destas habilidades. O ensino é fundamental para o desenvolvimento motor,
visto que as dificuldades nesse processo contínuo de mudanças vêm comumente atreladas à
falta de experiência motora ou à falta de instrução adequada, à falta de oportunidades práticas
diversificadas ou à falta de fatores motivacionais.
Acreditando que a motricidade e a inteligência se desenvolvam e dependam da
interação de fatores genético, ambientais, culturais e afetivos, Campos et al. (2008) enfatiza a
importância de avaliar o perfil da criança, principalmente no que diz respeito ao
desenvolvimento psicomotor, para a partir daí poder programar sua intervenção. Coloca que a
organização do sistema nervoso é estimulada pela interação com o meio, o que proporciona
sensações de origem interoceptiva, proprioceptiva e exteroceptiva mas que no entanto, se esta
integração com o meio não oferecer estímulos adequados talvez a motricidade apresente
desenvolvimento insatisfatório. Sugere que a intervenção no sentido de reeducação motora, é
benéfica no ambiente escolar, onde se encontram tanto crianças expostas a fatores de risco
como crianças com desenvolvimento normal.
Neste sentido, estudos confirmam que programas de intervenção motora ou
psicomotora excercem contribuição importante no desenvolvimento de criança expostas à
fatores de risco como hiperatividade, pré-escolares, escolares com dificulade no cálculo e
crianças de baixo nível sócioeconômico (FREIRE, 2005; CAMPOS et al., 2008).
Brêtas et al. (2005), destaca que a investigação do processo evolutivo da criança e a
identificação precoce de problemas relacionados ao desenvovimento, possibilitam intervenção
específica nos atrasos evolutivos e a implementação de programas de estimulação ou apenas
o enriquecimento do ambiente estimulador para crianças com algum distúrbio de
desenvolvimento, como por exemplo as dificuldades na aprendizagem escolar, problemas de
comportamento ou atraso do desenvolvimento motor.
Neste sentido, sabendo-se que a motricidade está intrinsecamente ligada à
aprendizagem, revelando-se fundamental para o desenvolvimento acadêmico e social da
criança, tendo em mente que o processo de aprendizagem não ocorre apenas em sala de aula,
mas em todos os ambientes que a criança frequenta, busca-se novas possibilidades de
intervenção através de estimulação motora específica voltada para áreas do desenvolvimento
motor. Embora o assunto já tenha sido tratado por muitos autores e sob diversos aspectos,
ainda há a necessidade de uma proposta pedagógica que integre a educação e a educação
física, na implementação de uma ação educativa adequada aos reais deficits motores,
dificuldades na aprendizagem e demandas sociais de cada escola. Nesta perspectiva, formula-
se o seguinte objetivo.
1.2 OBJETIVO GERAL
Investigar a influência de um programa de intervenção motora nos aspectos motores,
acadêmicos e sociais de escolares com dificuldades na aprendizagem matriculados do 1
o
ao 4
o
ano do ensino básico de uma escola municipal de Florianópolis/SC.
1.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Identificar os escolares com dificuldade na aprendizagem da escrita, da leitura e/ou do
cálculo ou com problemas comportamento, dentre todos os escolares de 1
o
ao 4
o
ano
do ensino básico de uma escola municipal de Florianópolis;
Investigar, descrever e analisar os hábitos de vida dos escolares que compõe a amostra
no pré-teste;
Identificar, descrever e analisar quais dificuldades na aprendizagem são mais
frequentes nos escolares que compõe a amostra, no pré e pós-teste e se há
comorbidade entre estas dificuldades;
Avaliar, descrever e analisar o desenvolvimento motor da amostra, no que se refere à
idade cronológica, à idade motora geral, à idade negativa e aos quocientes motores
geral e específicos de cada área, sendo elas: motricidade fina, motricidade global,
equilíbrio, esquema corporal, organização espacial, organização temporal da amostra
no pré e pós-teste;
Identificar, descrever e analisar a dominância lateral completa dos escolares, no pré e
pós-teste; e,
Comparar os resultados intra e inter grupos (G1 e G2), no que se refere aos quocientes
motores geral e específicos de cada área, no pré e pós-teste.
1.4 HIPÓTESES
Acredita-se que o desenvolvimento motor deste grupo estará abaixo da normalidade
ou bem próximo do seu limiar;
Acredita-se que as áreas motoras de maior déficit nos escolares com dificuldades na
aprendizagem serão o esquema corporal, a organização espacial e a organização
temporal;
Acredita-se que as intervenções motoras minimizem os déficits motores encontrados
em G1;
Acredita-se que nos escolares de G2, a idade motora e os quocientes motores não
sofrerão alterações significativas, podendo até diminuir.
1.5 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO
Este estudo implantou um programa de intervenção motora para escolares do 2
o
ao 4
o
ano do ensino fundamental com dificuldades na aprendizagem da leitura, da escrita, do
cálculo ou com problemas de comportamento em sala de aula. Para verificar sua influência
sobre estes escolares, foi aplicado em escolares com dificuldade na aprendizagem,
matriculados em uma escola municipal de Florianópolis/SC, em duas sessões semanais de 45
minutos, por um período de 6 meses (34 intervenções) nas dependências da própria escola, em
horário de aula. Os escolares com dificuldades na aprendizagem forão identificados pelos
professores de classe. Aqueles que apresentarem pelo menos uma dificuldade na
aprendizagem, forão avaliados, antes e após as intervenções com a Escala de
Desenvolvimento Motor – EDM (ROSA NETO, 2002). Destes os que tiveram seu
desenvolvimento motor classificado como Inferior ou Muito Inferior, participaram das
interevenções motoras.
1.6 LIMITAÇÕES DO ESTUDO
Não retorno do termo de consentimento livre e esclarescido e do questionário de
hábitos de vida;
Falta de espaço específico para as intervenções motoras – como o programa iniciou
depois do ano letivo o quadro de horários do ginásio e sala de lutas já estava definido,
então em alguns horários não tínha-se nem um nem outro, apenas o pátio. Em alguns
casos tínha-se que adaptar as atividades planejadas em função do vento ou da chuva.
Ter crianças de turmas diferentes no mesmo horário, às vezes as crianças de uma sala
não podiam sair pois era atividade em grupo ou prova, mas as da outra turma podiam.
Então uma ou duas vezes repetiu-se intervenção que considerou-se importante realizar
com aquelas crianças que não puderam estar na intervenção anterior;
Freqüência – várias crianças faltaram muito às aulas. Justificavam por não conseguir
se deslocar para escola nos dias de chuva. Também em várias outras ocasiões faltavam
sem um motivo plausível;
Pouco controle de variáveis intervenientes (atividade física).
1.7 DEFINIÇÃO DE TERMOS
Dificuldades “na” aprendizagem - na concepção educacional, ou seja, para os professores,
relacionam-se à habilidade imperfeita de escutar, pensar, ler, escrever, soletrar e fazer
cálculos (MÓL E WECHSLER, 2008). Nesta abordagem se encaixam escolares com
dificuldades “de” aprendizagem, termo específico, que se referem a um grupo heterogêneo de
transtornos que se manifestam por dificuldades na aquisição da fala, leitura, escrita,
raciocínio, e que estas se referem às dificuldades intrínsecas ao indivíduo, ou seja, as
dificuldades de aprendizagem são entendidas como disfunções do sistema nervoso central
(PACHECO, 2005). E também outro subgrupo de crianças em que as dificuldades se referem
às influências extrínsecas, como as diferenças culturais, instruções inapropriadas ou
insuficientes, pois segundo a referida autora, o aspecto neurológico não se aplica.
Desempenho escolar ou rendimento escolar – também designado como rendimento escolar,
o desempenho escolar pode ser compreendido como uma maneira de analisar os aspectos
quantitativos e qualitativos, a capacidade da criança em acompanhar os conteúdos propostos
pela escola (TONELOTTO et al., 2005).
Fracasso escolar – Freire (2005) considera como fracasso escolar não apenas reprovação,
mas a aprendizagem insuficiente.
Desenvolvimento motor (psicomotor): aquisição de funções motoras cada vez mais
complexas, através da integração e da maturação do sistema nervoso central. Está relacionado
com as etapas evolutivas. Tem como elementos básicos: motricidade fina, motricidade global,
equilíbrio, esquema corporal, organização espacial, linguagem/organização temporal e
lateralidade (ROSA NETO, 2002).
Idade Motora Geral (IMG): obtida através da soma dos resultados positivos das provas
motoras, dividida por 6 (ROSA NETO, 2002).
Quociente Motor Geral (QMG): obtido através da divisão entre a idade motora geral e a
idade cronológica, multiplicado por 100 (ROSA NETO, 2002). A bateria de testes utilizada
nesta pesquisa para verificar os dados relativos ao desenvolvimento motor foi a “Escala de
Desenvolvimento Motor – EDM” (ROSA NETO, 2002).
2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 O desenvolvimento motor e as dificuldades na aprendizagem
A motricidade da criança justifica sua própria existência no mundo e encontra-se
influenciada por uma série de limitações de diversas naturezas, gerando desequilíbrio entre os
corpos físico, cognitivo, afetivo e social.
Dentro do aspecto físico, o desenvolvimento motor caracteriza-se como um processo
dinâmico no qual ocorrem alterações no nível de funcionamento do indivíduo, cada vez mais
capaz de controlar seus movimentos o que ocorre e se refina pela interação entre a tarefa
desenvolvida, a biologia do sujeito, suas experências anteriores e o ambiente. Assim como
Caetano, Silveira e Gobbi (2005), Bessa e Pereira (2002), acreditam que o desenvolvimento
da criança depende da variação das condições constitucionais e ambientais que, em diferentes
combinações e a cada momento, interferem em sua evolução. Para Nacarato (2001) , o
trabalho motor privilegia o ato físico, associado ao trabalho mental, pois para descrever o ato
motor deve-se escutar, interpretar, imaginar, organizar, representar e finalmente transformar
em ato motor. Esta evolução do abstrato para o concreto, forma uma base imprescindível ao
aprendizado formal.
Há décadas diversos estudos apontam para a relação do desenvolvimento motor com a
aprendizagem e que, se as habilidades motoras forem desenvolvidas adequadamente então
podem contribuir de forma significativa sobre as aprendizagens escolares, pois o movimento
permite à criança encontrar um conjunto de relações necessárias a seu desenvolvimento,
aprendendo a interacionar experiências motoras e cognitivas (Tani et al. ,1988; Freire, 1997 e
Mattos, 1999). A capacidade de movimentar-se das crianças é essencial para que esta possa
interegir adequadamente com o meio ambiente e por ser a infância uma fase de grandes
mudanças comportamentais, de acordo com Santos, Dantas e Oliveira (2004), profissionais de
muitas áreas, como pediatria, psicologia, pedagogia e educação física, vêm se interessando
pelo estudo do desenvolvimento motor, sobretudo por seus paralelos com o desenvolvimento
neurológico e pelo papel dos padrões motores no desenvolvimento humano e suas
implicações na educação. Barreto (2000), cita vários fatores que interferem na aprendizagem,
tais como: desenvolvimento motor pobre, principalmente má organização espaço-temporal e
problemas de lateralidade, imaturidade, fundo emocional, condições físicas (deficiência visual
e auditiva, desnutrição) e desenvolvimento mental.
Em acordo com a abordagem piagetiana e vários estudos da década de 1980, Zabaleta
(1996) ressalta a dimensão motriz na conduta intelectual, ao considerar que os mecanismos
cognitivos repousam na motricidade. Suas investigações apontam na direção de que no
intelecto há uma base motriz e que o desenvolvimento da motricidade pode melhorar diversos
atributos humanos. O corpo e suas capacidades se constroem antes do nascimento, mas a
noção de sua existência não nasce conosco, isto é, o descobrimento e a tomada de consciência
sobre o corpo são resultantes de um processo evolutivo.
A motricidade é a interação de diversas funções motoras - perceptivomotoras,
neuromotoras, psicomotoras e neuropsicomotoras - tendo como elementos básicos:
motricidade fina, motricidade global, equilíbrio, esquema corporal, organização espacial,
organização temporal e a lateralidade Sua estimulação é fundamental no desenvolvimento da
criança pois será através das explorações motoras que a criança desenvolverá consciência de
si mesma e do mundo exterior (ROSA NETO, 2002 e ROSA NETO et al. 2004). As
habilidades motoras irão ajudar na conquista de sua independência e em sua adaptação social
através do conhecimento do corpo, do espaço e do tempo. De acordo com Medina, Rosa e
Marques (2006), essas habilidades irão constituir um domínio básico tanto para as
aprendizagens motoras quanto para as atividades de formação escolar.
Para Caetano, Silveira e Gobbi (2005), o desenvolvimento motor é um processo de
alterações no nível de funcionamento do indivíduo, sendo que a capacidade de controlar e
aperfeiçoar os movimentos vai sendo adquirida ao longo do tempo. Este desenvolvimento se
dá pela interação das exigências motoras do dia-a-dia, a biologia do indivíduo, fatores sócio-
ambientais, caracterizando a dinamicidade deste processo. Nesta perspectiva Brêtas et al.
(2005), expressa que a motricidade é a base do desenvolvimento biopsicossocial da criança,
desde o equilíbrio gravitacional à motricidade global e desta para a motricidade fina. A
organização motora engloba entre outros fatores a propriocepção, a organização do plano
motor, a socialização, a automatização, o ritmo, o espaço, a linguagem e a percepção do
corpo. Para alfabetização é necessário que a criança tenha vivido experiências de cor,
expessura, longitude, profundidade, tempo, espaço, entre outras. Desta forma, a educação
motora deveria ser considerada, educação de base na pré-escola e escola fundamental. Afinal,
toda percepção do mundo é uma percepção espacial na qual o corpo é o ponto de referência, o
espaço e o tempo formam um todo indissociável, uma vez que todo e qualquer ato se
desenrola num dado tempo e espaço (ALVIM e BORGES, 2004).
Na diversidade de comportamentos que as crianças com dificuldade na aprendizagem
desenvolvem surgem vários outros problemas que comprometem cada vez mais a
aprendizagem. De acordo com Neves e Marinho-Araújo (2006), revisando estudos clássicos
sobre as dificuldades na aprendizagem, citam que essas dificuldades podem ser cognitivas,
perceptivas, emocionais, psicolinguísticas, psicomotoras, de atenção, de memória e que as
dificuldades na aprendizagem mais comuns são: assimilação e compreensão; raciocínio
lento, dificuldade de memória, déficits de racicínios numéricos, linguagem oral e escrita.
Por outra ótica, estudos comprovam que crianças com dificuldade na aprendizagem possuem
bom potencial intelectual apesar de manifestarem problemas em algumas funções cognitivas,
o que diferencia seus ritmos de aprendizagem e acaba exijindo recursos e estratégias
pedagógicas diferentes que possam atender ás suas necessidades específicas.
Na mesma perspectiva, Gomes e Pavão (2001), destacam que as dificuldades na
aprendizagem se originam de fatores removíveis e não de causas orgânicas, verifica-se
também que não há ligação com casos de deficiência mental, sendo que muitos fatores podem
estar associados à fatores específicos de cada aluno. Na área da psicologia escolar, estudos
constatam que os problemas na aprendizagem não estão apenas centrados no aluno, mas
relacionam-se com problemas de ordem psicopedagógica e/ou sócio-culturais. Na mesma
linha, Scortegagna e Levandowski (2004), apontam a dificuldade na aprendizagem como um
sintoma que pode ser determinado por fatores psicológicos, fatores ambientais como a família
e a escola, fatores orgânicos e fatores específicos da criança que não podem ser determinados
por fatores orgânicos mas que se manifestam na área da linguagem, da organização espacial e
temporal, entre outros.
Ao encontro disto, Beresford, Queiroz e Nogueira (2002), enfatizam que os
componentes da aprendizagem motora exercem influência significativa na aquisição das
habilidades de aprendizagem cognitiva, particularmente na noção corporal, de tempo e
espaço. Nos anos que antecedem a idade escolar, estas habilidades revelam-se importantes,
principalmente quando são solicitadas no processo de aprendizagem escolar da leitura e da
linguagem escrita. A exploração de movimentos e o aumento do seu repertório motor são
importantes ao desenvolvimento motor, cognitivo, social e afetivo.
De acordo (BARRETO,2000) com este último, são condições necessárias para a
aprendizagem da leitura, aos 5 ou 6 anos que a criança já tenha uma linguagem correta, desejo
de ler e aprender, noções de seriação, transposição da esquerda para direita, capacidade de
organização espaço-temporal, reversibilidade do pensamento, postura equilibrada, controle
respiratório, entre outros. Tudo isto depende do auto-conhecimento de seu corpo e de suas
possibilidades vivenciados através do movimento. As crianças com dificuldades ou
transtornos na aprendizagem são aquelas que saem da norma e apresentam uma discrepância
entre seu rendimento escolar e seu potencial intelectual estimado. Incluem alterações nos
processos de pensamento, conceitualização, memória, concentração, linguagem (dislalia,
atraso da linguagem e ecolalia), atenção, percepção, conduta emocional (falta de motivação,
autoestima, hiperatividade, inibição...), leitura (dislexia), escrita (disgrafia), cálculo/raciocínio
lógicomatemático e coordenação motora (ROSA NETO, 1997).
Para Ferreira et al. (2006), os problemas motores podem manifestar-se precocemente
ou somente ao ingressar na escola, quando em atividades específicas de destreza manual, por
exemplo, a criança tenha dificuldade de escrever ou cortar com a tesoura. As crianças
identificadas com déficits motores tanto podem apresentá-los em apenas uma área, como o
controle manual, por exemplo, quanto em diversas áreas, como equilíbrio e coordenação
motora global. Algumas pesquisas apontam para a co-ocorrência de déficits motores
específicos e as dificuladades na aprendizagem, já que essas encontraram resultados
educacionais inferiores para aqueles que apresentaram problemas motores severos.
Sabe-se que o desenvolvimento de uma motricidade global harmoniosa até as séries
iniciais do ensino fundamental é importantíssimo, pois desenvolve na criança uma percepção
adequada de si mesma, compreendendo suas possibilidades e limitações. Para Bessa e Pereira
(2002), entre as causas ambientais que perturbam o desenvolviemento motor da criança,
podemos citar, como da maior importância, a falta de estimulação adequada.
Limitações no desenvolvimento físico e motor podem afetar as experiências que a
criança tem, e desse modo afetar o desenvolvimento intelectual e psicossocial.
Para Mascaratti
(1999), a alteração da coordenação motora e equilíbrio, da relação espaço-temporal dentre
outros aspectos, podem interferir na conduta geral da criança e na aprendizagem escolar.
Por outro lado, Freitas (2008), coloca que a representação que a criança possui do seu
próprio corpo é um elemento indispensável na formação de sua personalidade pois esta
representação envolve uma trama conceitual que integra cérebro, movimento, sensação,
percepção,visão dentre outros órgãos e processos. O espaço do corpo é diferente do espaço
exterior, o copro não é homogêneo.
Essa noção do corpo, para a psicologia moderna é definido como esquema corporal e
são de sua responsabilidade o reconhecimento do corpo, de sua postura correta e do
posicionamento dos seus segmentos corporais. O esquema corporal está voltado para a
atividade motora, se revela pelo movimento e no movimento, é resultado da reunião de várias
informações recolhidas nas diversas experiências corporais, pelo tato e pela visão, que nos
informam forma, conscistência, distância...); pelas propriocepções que nos informam nossa
atividade e nossa posição no espaço; pela audição da própria voz e de dos ruídos corporais
que provocamos (ZABELETA, 1996).
De acordo com Barreto (2000), a estruturação do esquema corporal é a pedra
fundametal para a prevenção de futuros distúrbios na aprendizagem e caso não haja uma boa
estruturação deste e da percepção espacial, a criança terá grande possibiliade de ter
problemas na aprendizagem da leitura, da escrita e do cálculo. Por outro lado, o espaço e o
tempo estão intimamente ligados. A estruturação temporal pode-se dar através de ritmos,
corridas, conceitos de duração, intervalo,continidade, simultaenidade, sucessão à nível lúdico,
desportivo e expr essivo. O autor sustenta o som é um elemento fundamental no
desenvolvimento da estimulação temporal e que por meio deste ela experimenta situações de
duração, velocidade, cadência, alternância, entre outros e ratifica a importância da aquisiçào
de noções como antes, depois, agora, hoje, mês, ano, ontem, enfim.
A aprendizagem da escrita se dá através de um processo perceptivo-motora, uma vez
que as letras são dispostas de maneira organizada, obedecendo leis de tempo e espaço. Na
habilidade da escrita deve-se respeitar a sucessão dos sinais que compõesm as palavras e
frases, exigindo precisa e complexa orientação espaço-temporal (AJURIAGUERRA, 1988).
Os problemas de escrita, por exemplo, que aparecem principalmente na fase de alfebetização
podendo perdurar nos anos seguintes, podem estar relacionados ao desenvolvimento da
motricidade fina, da estruturação temporal e definição da lateralidade. Para Barreto (2000),
crianças com letra feia, agitadas, dispersas, desorganizadas ou que se esbarram em tudo,
deveriam ser encaminhadas precocemente a um trabalho de estimulação motora, pois as
experiências infantis influenciam de forma decisiva no desenvolvimento das células nervosas,
especificamente na quantidade de conexões neuronais que existirão entre elas, sendo assim o
movimento, questão de saúde.
A estruturação espaço-temporal pode ser considerada uma das habilidades motoras
que merecem maior destaque na aprendizagem da escrita (LOFIEGO, 1995). A adaptação
espacial é parte integarnte de nossa vida e é impossível dissociá-la dos outros dois elementos
fundamentais da motricidade: o corpo e o tempo. BRÊTAS et al. (2005), concorda ao afirmar
que a adaptação espacial depende da consciência corporal, certo senso de lateralidade e
direção, e também do tempo.
À respeito da leitura, Tonelotto et al. (2005), apontam para o fato desta ser uma das
principais deficiências do estudante brasileiro sendo que cerca de 55% dos alunos cursando o
quarto ano do ensino fundamental, apresentam desempenho crítico ou muito crítico, sendo
que para estes, por volta dos 5 anos de idade a criança já tem as habilidades necessárias à
leitura e à escrita e que as habilidades necessárias para a aquisição do cálculo associam-se as
capacidades de compreensão da linguagem, capacidade de leitura e escrita.
Atualmente, as crianças com dificuldade na aprendizagem têm sido estudadas sob
diversos aspectos como memória, pensamento, raciocínio, percepção, linguagem,
comportamento, desenvolvimento motor, entre outros. Neste sentido Neves e Marinho-Araújo
(2006), ratificam a necessidade de se considerar e se promover estratégias de ensino “tão
diversificadas quanto forem as possibilidades de interativas de aprendizagem”. Considerando
que diversos estudos têm indicado a necessidade de intervenções e medidas preventivas em
todos os níveis envolvidos com o desempenho acadêmico, acredita-se que um programa de
intervenção motora em que a criança aprenda com o corpo e aprenda brincando, seja bem
vindo na pré-escola e nos anos iniciais do ensino fundamental, como prevenção e
recuperação dos déficits motores apresentados.
2.2 Intervenção Motora
Acredita-se ser a estimulação motora um fator crucial no desenvolvimento
biopsicossocial da criança, pois a atividade motora é primordial para o desenvolvimento
global de qualquer indivíduo. Um ambiente rico em estímulos, vivências corporais variadas e
direcionadas podem possibilitar à criança a potencialização não só de suas capacidades
motoras e físicas, mas também cognitivas, afetivas e sociais. De acordo com Poeta e Rosa
Neto (2007), vários estudos evidenciam que o treinamento de um movimento controlado pode
resultar em modificações cerebrais, comprovando a estreita relação entre treinamento motor e
performance cognitiva.
Acreditava-se que as mudanças no comportamento motor refletiam diretamente as
alterações maturacionais do sistema nervoso central, porém atualmente sabe-se que o
processo de desenvolvimento motor ocorre de maneira dinâmica e é suscetível aos inúmeros
estímulos externos. Desta maneira, diversos fatores podem colocar em risco seu
desenvolvimento normal, como as condições biológicas ou ambientais que aumentam a
probabilidade de déficits no desenvolvimento neuropsicomotor da criança
Nesta perspectiva, Trautwein e Nébias (2006), enfatizam a teroia interacionista de
Vigotsky, que concebe o homem como ser biológico e social. Para tal, toda criança é capaz de
aprender, o que varia é sua história de vida e sua interação social uma vez que as interações
permitem a aprendizagem e impulsionam o desenvolvimento da criança.
Na mesma linha utiliza-se também os pressupostos teóricos como os de Jean Piaget
(1896-1980) que apontava para o construtivismo sequencial no qual o desenvolvimento se dá
em etapas e os seres humanos passam por uma série de mudanças ordenadas e previsíveis,
onde a interação com o ambiente faz com que construa estruturas mentais e adquira maneiras
de fazê-las funcionar. E ainda, Le Boulch, que de acordo com Enumo, Ferrão e Ribeiro (2006)
preconizava o uso da motricidade como prevenção das dificuldades na aprendizagem, pois
acreditava que a criança através de seu próprio corpo e de seu movimento, utilizava mais ou
menos de maneira uniforme, as funções motoras, cognitiva, perceptiva, afetiva e sociomotora,
construindo seu intelecto a partir do movimento.
Nota-se que as teorias do desenvolvimento humano são unânimes sobre a importância
dos estímulos, da interação com o meio, das experiências corporais e da linguagem
(PACHECO, 2003). À luz destas teorias, considera-se que a intervenção motora possa ter
grande influência no desenvolvimento motor, cognitivo e social de crianças com dificuldade
na aprendizagem, pois o essencial é estimular-se motora e psicossocialmente as crianças,
como caráter reeducativo e preventivo às dificuldades na aprendizagem.
Em concordância, Díaz et al. (1993) enfatizam a importância da educação física como
agente na formação integral da criança, tendo como agente fundamental o exercício físico. A
formação e educação da criança depende da interrelação dos domínios: cognitivo, onde se
integram aspectos do conhecimento, capacidade de análise e síntese, criatividade; afetivo, nos
quais situamos as relações sociais, necessidades pessoais, cooperação, oposição; e o domínio
motor: onde se encaixam as atitudes físicas, capacidades motoras, comunicação verbal, enfim.
No planejamento da educação física, os objetivos deveriam atender à estes três âmbitos, ou
seja, através da execução do movimento, o âmbito motor (psicomotor); através de dados
expostos, conceitos, problemas a serem solucionados corporalmente, o âmbito cognitivo; e,
atitudes, valores, princípios e regras, o âmbito afetivo. Em qualquer situação educativa em
educação física, estão implícitos estes domínios, existindo sempre uma interrelação entre eles.
Para Harrow (1983), o grande objetivo da educação física na infância seria aumentar o
desenvolvimento perceptivo da criança, usado com efeito como base para o desenvolvimento
posterior de destrezas motoras. A tarefa de qualquer educador, interessado nos
comportamentos do domínio psicomotor é aumentar a eficiência de execução de tarefas
motoras a partir de movimentos naturais locomotores, não-locomotores e manipulativos,
inerentes ao homem, tais como: correr, pular, subir, levantar, carregar, pendurar-se, lançar,
enfiar, entre outros. Sob outro ponto de vista, quando a criança desempenha movimentos
intencionais ela está coordenando os domínios cognitivo, psicomotor e afetivo.
No mesmo sentido, para Zabaleta (1996), sobre movimento e inteligência, destaca que
ao chegar na idade escolar, a criança se move impulsionada por instintos, impulsos sensoriais
ou por consciência primária. Para este o programa de educação física infantil deveria implicar
na tomada de consciência voluntária regendo os atos motores, ou seja, através de atividades
motoras específicas, surge a assimilação, automatização e novos ajustes a situação do
momento. Na execução do ato motor dirigido há a intercorrência de vários processos como a
regulagem da força, o tempo necessário para a reação, a planificação da ação dos músculos
envolvidos no movimento exigido. Por outro lado, o autor coloca que para esta tomada de
consciência voluntária, o movimento que se deseja que a criança realize, deve estar de acordo
com o nível de desenvolvimento motor no qual ela se encontra. Assim esta vivência pode ser
significativa no seu desenvolvimento.
Esta significância somada à adaptação ao meio geram motivação que em contrapartida
desencadeia a criatividade e a investigação de novos movimentos, que reforçam por sua vez
os padrões motores básicos. Através da consciência voluntária a criança pode aprender a
realizar tarefas novas, com dificuldade de acordo com seu nível e o esforço para solucionar
estes problemas, a farão forte em suas atitudes, autoestima e personalidade. Por fim, de
acordo com o referido autor, a prática educativa embasada no desenvolvimento
neuropsicomotor se mostra mais eficaz, com menor intervenção e com maior rapidez.
Em contrapartida, Negrine apud Ferreira (2007), registra que muitas criaças chegam à
escola sem o desenvolvimento de determinados aspectos essenciais como as noções de seu
corpo e sua lateralidade, a coordenação óculo-motriz e alguns automatismos, motores
importantes para as aprendizagens escolares. A presença destes comportamentos motores
defasados deve ser observada e se necessário estimulada em termos de intervenção motora
sem qualquer forma de pressão.
Para Willrich e Fernandes (2008), para o planejamento de uma adequada intervenção
motora torna-se necessária uma avaliação criteriosa para a identificação precoce de desvios no
desenvolvimento infantil. Os testes de avaliação do desenvolvimento motor utilizam critérios
de seleção variados, como idade e área a ser avaliada (força, agilidade, coordenação motora
fina, coordenação motora global, fala) que facilitam o planejamento de ações precoces. Estes
permitem a elaboração de propostas adaptadas à situação de cada criança, visto que estudos
demonstram haver melhora da aquisição de habilidades motoras em crianças que recebem
estimulação precoce.
Sobre a formulação de objetivos, remete-se à Mager (1976): um ensino eficaz é
aquele que consegue modificar os alunos em direções desejáveis, isto é, quando eles alcançam
aqueles objetivos previamente estabelecidos. Em primeiro lugar devemos verificar se há
necessidade de intervenção, neste caso, realizar a avaliação motora para identificar se há
déficits motores; depois especificar de forma clara quais os objetivos, ou seja, quais áreas do
desenvolvimento motor precisam ser estimuladas; selecionar e organizar as atividades, isto é,
a estruturação do programa de intervenção motora segundo princípios dessa aprendizagem
(fundamentação teórica) e, por fim, reavaliar os alunos conforme os objetivos estabelecidos.
Para o referido autor os objetivos de ensino descrevem um resultado que se pretende alcançar
em termos de desempenho do aluno no momento em que finda o período de estimulação, em
que você deixa de influenciá-lo.
Autores citados por Braga et al. (2009), salientam que não é um programa de
intervenção motora que automaticamente irá fazer o desempenho motor do escolar melhorar.
Para que seja efetivo e propicie melhora significativa no desempenho motor, os profissionais
envolvidos devem estar atentos sobre o que deve ser melhorado, quais as áreas que precisam
ser estimuladas ou o que deve ser ensinado primeiro.
No mesmo sentido, Medina, Rosa e Marques (2006), colocam que para que a
intervenção motora traga resultados positivos, é necessário conhecer o sujeito e para tal é
fundamental avaliá-lo com instrumento adequado e, a partir daí, estruturar as intervenções.
Sabe-se que há diversas maneiras de avaliar o desenvolvimento motor na infância, no entanto,
nenhuma é perfeita, nem engloba todas as áreas do desenvolvimento. Em concordância,
Cabral apud Amaro et al. (2009), coloca a importância de um apoio precoce dirigido às
perturbações do desenvolvimento motor e acima de tudo da avaliação precoce de maneira a
estabelecer o perfil da criança, quantificando suas diferentes competências de maneira a
destacar as áreas que merecem atenção. Os autores ainda citam que por ser a segunda infância
caracterizada por rápidos progressos na aprendizagem, quanto menor for a idade das crianças,
maior será o efeito positivo da estimulação.
Para Neves e Marinho-Araújo (2006), a atmosfera no trabalho com crianças com
dificuldade na aprendizagem deve ser lúdica, afetiva, e relacional, onde a interação e a
comunicação se desenrolam favoravelmente. As autoras se reportam a autores clássicos para
ratificar que o trabalho com estas crianças deve basear sua aprendizagem nos seus sucessos,
centrando a mudança de comportamento pelo enriquecimento dos seus pontos fortes, ou seja,
o ambiente deve ser encorajador. Indicam apertinência de se trabalhar com a promoção de
qualidades positivas, tais como satisfação, esperança, otimismo, sensibilidade, dentre outras.
artísticas sempre devem ser incluídas nas propostas pedagógicas dessas intervenções.
De acordo com Freire e Goda (2008), o ambiente didático deve ser rico, bonito, e
diversificado, de maneira a aumentar as possibilidades de formação de conhecimentos de base
como aprender a pensar, aprender a fazer, aprender a se relacionar e a construir regras, enfim.
Para os autores, a educação física deve proporcionar um ambiente de “jogo” em espaços de
movimentação livre, ambientação lúdica com cenários, de preferência, coloridos e
diversificados, onde se desnvolvam atividades que abordem relações sociais, motricidade,
moralidade, afetividade, sensibilidade e estética.
Ao encontro disso Barreto (2000), coloca que para eficiência da reeducação motora,
ela deve ser voltada para o aspecto relacional, dando ênfase aos jogos, ao aspecto lúdico e as
atividades musicais. Além do que, os interventores devem ter conhecimentos teóricos
suficientes para proporcionar à criança experiências sequenciadas, simplificadas e
multifacéticas, em situação de conscientização e atenção, através de um trabalho em cima do
concreto.
Reportando-se novamente a Barreto (2000), a organização do esquema corporal ocorre
através das percepções cinestésicas e vestibulares experimentadas nas vivências motoras
como se arrastar, correr, engatinhar..., podendo ser realizados como movimentos livres,
brincadeiras, jogos perceptivo-motores enfim, a estimulação deve ser feita de maneira lúdica.
Ao brincar com o prórpio corpo a criança estimula as toma consciência deste, de suas partes,
das suas posturas e atitudes. A partir dessa percepção do corpo, vai acontecendo
invariavelmente a percepção do espaço e das relações espaciais (posição espacial –
localização no espaço, relação espacial – a posição de um objeto em relação a outro,
adequação espacial – noção de volume e quantidade, e direção – para direita, para cima...).
Uma boa percepção espacial só é possível a partir da estruturação do esquema corporal.
Trautwein e Nébias (2006), enfatizam o trabalho de ludoterapia (terapia do jogo) ou o
atendimento psicomotor (estimulação motora) no trato com crianças que apresentam queixa
de dificuldade na aparendizagem e colocam a necessidade da escola questionar suas relações
pedagógicas e buscar novas metodologias que possam servir de instrumento para lidar com as
dificulades na aprendizagem.
Para elaborar um programa de intervenção psicomotora, Campos et al. (2008),
primeiramente traçou um perfil psicomotor das crianças com quem ia intervir, a partir daí
definiu quais atividades poderiam favorecer o aprimoramento das dificuldades detectadas.
Neste programa de intervenção psicomotora, com duração de 3 meses, sendo realizado em 2
sessões semanais, cada sessão era dividida em 3 partes: preparação (10min), onde realizava
alongamentos gerais; atividades mototras (40min), onde incluía-se jogos individuais ou em
grupo, retorno à condição de repouso (10 min), quando explorava o controle tônico e
emocional, melhorando a concentração e auto-imagem.
Conforme Braga et al. (2009), estudos interventivos realizados atualmente apresentam
grande variação quanto ao formato, tempo e ao objetivo. Estudos revisados por estes, apontam
para a importância da forma como a prática motora é organizada, pois se bem palnejadas
aumentam a probabilidade de desempenho bem sucedido do aprendiz, o planejamento
interfere na qualidade e na quantidade de informações, percebidas, processadas e geradas.
Ratificam ainda a importância da variabilidade das experiências práticas, de preferência
inseridas no contexto em que o aprendiz vive.
Freire (2005), pesquisador que também procura na educação física um meio
alternativo e eficaz de trabahar as dificuladdes na aprendizagem, em estudo com escolares que
apresentavam problemas de raciocínio lógico-matemático, ratifica um programa de educação
física escolar, no qual as atividades devem ser metodologicamente orientadas para que os
alunos vivam situações de contradição, de modo que tenham que se concentrar no pontos de
conflito. Estes obstáculos provocam uma atitude de busca, nos meios de ação, pelas maneiras
de se chegar ao êxito, o que significa mergulhar nos mecanismos mais centrais da ação, sair
da superfície e recuar da periferia para o centro da ação.
Por outro lado, além da intervenção, psicólogos escolares que atuam com escolares
com dificuldade na aprendizagem, consideram importante promover um espaço de
interlocução com os professores e com os pais, possibilitando-lhes, inclusive, novas práticas
educativas e pedagógicas (NEVES E MARINHO-ARAÚJO, 2006).
Para Willrich e Fernandes (2008), o ambiente para ser positivo e agir como facilitador
do desenvolvimento normal, deve possibilitar a exploração e interação com o meio. Mesmo
porque, de acordo com Braga et al. (2009), após comparar vários estudos sobre as habilidades
motoras, notou que crianças brasileiras, no geral, ingressam no 1
o
ano do sistema escolar
apresentando um desempenho das habilidades locomotoras abaixo do nível esperado para sua
idade. Vão além ao afirmar que as habilidades motoras não emergem por si só, é necessário
propiciar às crianças instrução adequada, métodos sistemáticos e consistentes de ensino. Estes
autores citam estudos sobre os fatores motivacionais e sugerem que quando observa-se níveis
muito pobres de motricidade em crianças na fase escolar, devem ser implementados climas
motivacionais nas atividades, os quais irão repercutir mais significativamente na aquisição de
padrões motores mais eficientes.
Então, o objetivo formal de qualquer intervenção precoce deve ser reduzir os efeitos
negativos de uma história de alto risco proveniente de vivências empobrecidas no meio
familiar e em ambientes como as creches e escolas.
3 MÉTODO
Neste capítulo são apresentados os procedimentos metodológicos utilizados nesta
pesquisa: caracterização da pesquisa, população e amostra, instrumentos de medidas,
procedimentos da coleta, e armazenamanto e análise dos dados.
3.1 Tipo de Pesquisa
Esta é uma pesquisa do tipo quase-experimental, pois de acordo com Thomas e Nelson
(2002), apesar de ter um rigor considerável, estabelecendo comparações entre grupos não
equivalentes ou com os mesmos sujeitos antes e após o tratamento, não controla todas as
variáveis.
3.2 População
A população foi constituída por 280 escolares do 1
o
ao 4
o
ano no ensino básico do ano
letivo de 2009, de ambos os sexos, matriculados em uma escola municipal de
Florianópolis/SC, localizada na região sul da ilha. Por situar-se em um bairro de classe média
e baixa, os escolares são provindos de famílias de baixo poder aquisitivo e baixo nível de
escolaridade, convivem muitas vezes em ambientes de desorganização familiar, violência e
falta de estímulos.
3.3 Amostra
A amostra foi selecionada de forma intencional não-probabilística, pois fizeram parte da
amostra escolares que apresentaram algum indicador positivo de dificuldade na aprendizagem
(escrita, leitura, cálculo ou problemas de conduta), sendo estas identificadas pelos professores
de classe.
Para triagem dos escolares com dificuldades na aprendizagem foi utilizada a Ficha de
Rendimento Escolar (ANEXO II): onde cada professor de classe, deveria avaliar seus alunos
assinalando em quais quesitos cada um teria dificuldade na aprendizagem, sendo estes:
leitura, escrita, matemática e/ou problemas de conduta. Para cada ítem destes o professor
podería escolher entre duas opções: normal ou com dificuldade. Este protocolo tem como
objetivo a triagem de escolares com indicadores positivos de dificuldades na aprendizagem e
foi desenvolvido por Rosa Neto (1997), de acordo com os transtornos específicos de
aprendizagem do DSM-IV.
Num primeiro momento, foram selecionados 83 escolares. Destes, 10 foram excluídos
por falta de consentimento livre e esclarecido ou por incapacidade física, mental ou sensorial
de realizar os testes motores. Então 73 escolares foram avaliados pela Escala de
Desenvolvimento Motor, sendo que destes 44 apresentaram desenvolvimento motor dentro da
normalidade (classificados como Normal Baixo ou superior a isto) e 29, desenvolvimento
motor abaixo do esperado para sua idade (classificados como Inferior ou Muito Inferior).
Estes últimos foram encaminhados ao Programa de Intervenção Motora, enquanto o outro
grupo não recebeu tratamento.
De acordo com os objetivos deste estudo, escolheu-se alguns escolares de cada grupo
de forma que os dois grupos ficassem pareados em relação à idade e ao sexo. Então a amostra
foi composta por dois grupos:
G1 = 19 escolares com indicadores positivos de dificuldade na aprendizagem e com
desenvolvimento motor classificado como inferior ou muito inferior, ou seja, quociente motor
geral até 79. Grupo com tratamento.
G2 = 19 escolares com indicadores positivos de dificuldade na aprendizagem e com
desenvolvimento motor classificado como normal baixo ou superiores a este, ou seja,
quociente motor geral igual ou maior a 80. Grupo sem tratamento.
A composição de cada grupo em relação a distribuição por idade e sexo, apresenta-se no
quadro abaixo.
Quadro 1. Distribuição de G1 e G2 conforme idade e sexo.
G1 e G2
Fem. Masc.
7 anos 1 1
8 anos 0 3
9 anos 3 4
10 anos 4 3
Total 8 11
Critérios de inclusão
Para fazer parte da amostra:
Deveria estar matriculado no ano de 2009, no 1
o
, 2
o
, 3
o
ou 4
o
ano do ensino
básico, apresentar um ou mais indicadores positivos de dificuldades na
aprendizagem (leitura e/ou escrita e/ou cálculo e/ou conduta).
Para participar das intervenções motoras:
Deveria estar matriculado no ano de 2009, no 1
o
, 2
o
, 3
o
ou 4
o
ano do ensino
fundamental, apresentar um ou mais indicadores positivos de dificuldades na
aprendizagem (leitura e/ou escrita e/ou cálculo e/ou conduta) e também
apresentar desenvolvimento motor classificado pela Escala de
Desenvolvimento Motor (ROSA NETO, 2002), como Inferior ou Muito
Inferior.
Critérios de exclusão
Foram excluídos da amostra escolares que apresentaram deficiência física ou mental,
transtornos sensoriais importantes (visuais e auditivos) e alterações neurológicas importantes,
pela impossibilidade de realizar alguns procedimentos da avaliação motora e das intervenções
motoras.
Não participaram do estudo os escolares que estavam matriculados no 4
o
ano e que
tinham idade superior a 11 anos e 6 meses. Também não participaram do estudo aqueles que
não quiseram realizar as avaliações e intervenções ou porque seus pais/responsáveis não
permitiram sua participação.
3.4 Instrumentos
Escala de Desenvolvimento Motor (ANEXO III e IV) - Para mensurar o nível de
desenvolvimento motor dos alunos foi utilizada a Escala de Desenvolvimento Motor –
E.D.M. (ROSA NETO, 2002), que destina-se a avaliação de pré-escolares e escolares com
dificuldades na aprendizagem escolar; atrasos no desenvolvimento neuropsicomotor;
problemas na fala, na escrita e em cálculo; problemas de conduta; alterações neurológicas,
mentais, sensoriais, etc. Esta escala avalia crianças de 2 a 11 anos de idade, nas seis principais
áreas da motricidade: motricidade fina, motricidade global, equilíbrio, esquema corporal,
organização espacial e organização temporal. A partir da pontuação final de cada bateria de
testes, classifica-se o desenvolvimento motor geral ou específico de cada área, em: muito
superior (quociente motor acima de 130), superior (quociente motor de 120 a 129), normal
alto (quociente motor de 110 a 119), normal médio (quociente motor de 90 a 109), normal
baixo (quociente motor de 80 a 89), inferior (quociente motor de 70 a 79) ou muito inferior
igual (até 69). Estes resultados são calculados diretamente em um formulário em arquivo do
programa Excel (ANEXO V).
Questionário de Hábitos de Vida (ANEXO VI) - para investigar os hábitos de vida
utilizou-se Questionário de Hábitos de Vida adaptado à realidade brasileira por Torres
(1998). É composto de 14 questões, agrupadas em quatro categorias: indicadores para a
caracterização socioeconômica (questões 1-5), organização do cotidiano (questões 6-9),
participação sociocultural (questões10-12) e prática esportiva (questões 13-14).
Diário de Campo (APÊNDICE V) – ao final de cada intervenção foi redigido um
diário de campo com percepções sobre a participação dos escolares nas intervenções, no que
diz respeito ao comportamento e atitudes durante as mesmas, dificuldades e facilidades ao
realizar as atividades, observações dos professores de classe e orientação pedagógica sobre a
evolução em sala de aula, e alguns comentários dos próprios escolares sobre as atividades,
atitudes e comportamentos.
Parecer descritivo do professor (APÊNDICE VI) – o professor de classe comenta
livremente sobre os alunos de G1 e G2, observando seu desenvolvimento relação de acordo
com dificuldades na aprendizagem e no comportamento citados na ficha de rendimento
escolar preenchida na triagem para o pré-teste.
3.5 Procedimentos
Estudo piloto com 3 escolares que frequentavam o Programa de Intervenção
Motora para Escolares com Dificuldade na Aprendizagem, oferecido pelo Laboratório de
Desenvolvimento Humano (LADEHU) em 2008, como parte de uma ação de extensão
desenvolvida por este laboratório no Centro de Ciências da Saúde e do Esporte
CEFID/UDESC.
Definição do Perfil do Programa de Intervenção Motora (APÊNDICE I) a ser
seguido e a distibuição das áreas a serem enfatizadas em cada sessão (APÊNDICE II).
Definição do Protocolo de Intervenção Motora (APÊNDICE III) a ser
utilizado. Este foi baseado no modelo utilizado no Programa de Intervenção Motora para
Escolares com Dificuldade na Aprendizagem, oferecido pelo (LADEHU).
Contato com a Escola e Secretaria Municipal de Educação.
Encaminhamento do projeto de pesquisa ao Comitê de Ética em Pesquisas com
Seres Humanos da UDESC, processo número 2793/2009.
Reuniões com a direção e a supervisão pedagógica da escola, na qual a foi
apresentado o projeto de pesquisa (objetivos e metodologia) e definiu-se que:
1) As avaliações e intervenções ocorreriam em horário escolar, diminuindo as chances
das crianças não comparecerem;
2) O local das avaliações e data de início das mesmas;
3) As pesquisadoras compareceriam à entrega de boletins e ficaria à disposição dos pais
para esclarecimentos sobre a realização das avaliações e a possível participação no
Programa de Intervenção Motora;
4) A supervisão pedagógica reuniria os professores do 1
o
ao 4
o
ano do ensino
fundamental para informar-lhes sobre a realização do projeto e sua importância
como complemento do processo de aprendizagem escolar, bem como informar-lhes
que sa pesquisadoras iriam, em horário de aula, retirar os alunos de sala por um
período de 45 minutos para as avaliações motoras e o período em que estas seriam
realizadas;
5) As intervenções motoras seriam realizadas em horários que não coincidissem com os
horários da educação física e que as crianças seriam agrupadas por ano que
frequenta (1
a
turma – 2
o
e 3
o
ano e 2
a
turma – 4
o
ano, tanto no período matutino
como vespertino), em virtude da escolha das atividades e da própria linguagem
utilizada;
6) As intervenções iniciariam assim que as avaliações terminassem; e que,
7) As pesquisadoras se responsabilizariam por entregar um relatório de cada aluno
avaliado, para a escola e para os pais, bem como estaria disponível na 2
a
entrega de
boletins para explicar aos pais e professores o resultado das avaliações.
Coleta de Dados
Com o projeto aceito pelo comitê de ética em pesquisa (aprovação n
o
67/2009 –
ANEXO I) , a pesquisadora encaminhou para os professores de classe a ficha do rendimento
escolar das crianças com um ou mais indicadores positivos de dificuldades na aprendizagem
(leitura e/ou escrita e/ou cálculo e/ou conduta).
Termo de consentimento livre e esclarescido e Questionário de Hábitos de Vida – as
pesquisadoras compareceram à 1
a
entrega de boletins e explicaram pessoalmente aos pais o
que seria avaliado, quem participaria do Programa de Intervenção Motora e o que seria
trabalhado neste. Uma vez esclarescido e autorizado, os pais preencheram os questionários
com o auxílio das pesquisadoras.
Avaliação motora - A primeira coleta de dados ocorreu na 2
a
quinzena do mês de maio
de 2009, no período matutino e vespertino. Participaram da coleta de dados quatro avaliadoras
devidamente treinadas para aplicar a Escala de Desenvolvimento Motor - EDM (ROSA
NETO, 2002). As avaliações aconteceram em uma sala bem ampla e tranquila da escola.
Foram montadas 4 ilhas de avaliação, uma em cada canto da sala de maneira que uma criança
ficasse de costas para a outra. Então uma das avaliadoras ia até uma sala de aula e chamava 4
crianças das quais já tinha o termo de concentimento livre e esclarecido. Conduzia as crianças
até a sala de avaliação explicando algumas tarefas motoras que seriam realizadas, com o
intuito de despertar o interesse em realizar a avaliação. Ao chegar na sala apresentava cada
criança para uma avaliadora e iniciava-se o processo. Cada criança que terminava de ser
avaliada, já era levada de volta à sala de aula pela pessoa que tinha lhe avaliado, para evitar
que esta ficasse interferindo nas outras avaliações. Cada avaliação levou em média 40
minutos.
Após o término das avaliações, foi entregue aos pais (quando houve a 2
a
entrega de
boletins) e à escola (em seguida que acabaram as avaliações), um relatório descritivo de cada
criança avaliada, encaminhando-a ou não para o Programa de Intervenção Motora.
Intervenção motora - Estando definidas as turmas, iniciaram-se as intervenções. Estas
foram elaboradas e ministradas pela pesquisadora em conjunto com uma bolsista de iniciação
científica do curso de Bacharelado em Educação Física – CEFID/UDESC, que realiza
pesquisa com a mesma amostra, e que também já havia atuado, durante um semestre, com as
avaliações e intervenções motoras realizadas pelo LADEHU no CEFID/UDESC, enquanto
bolsista de extensão.
As duas intervenções motoras semanais foram realizadas, dependendo das atividades a
serem desenvolvidas e dos locais disponíveis, às vezes em sala de aula (sala reserva da
escola), na sala destinada à dança e ao judô, no pátio e muitas vezes, no ginásio. Para estas
dispunha-se de material pedagógico da própria escola e com material do CEFID/UDESC
(com a devida autorização para utilização e saída de material). As intervenções motoras
ocorreram em horário de aula, com a duração de 45 minutos, para a qual a pesquisadora ia nas
salas buscar e levar os alunos enquanto a bolsista de iniciação científica organizava o espaço e
o material.
As intervenções motoras foram registradas em um protocolo de intervenção motora
(APÊNDICE III), o qual apresentava o nome do programa, o objetivo geral e os objetivos
específicos de cada intervenção motora, os materiais a serem utilizados, a descrição
minuciosa das atividades a serem desenvolvidades em 3 momentos: 1
a
parte da aula, que tinha
como objetivo a recaptulação de alguma atividade da intervenção anterior (5-10min); 2
a
parte,
na qual desenvolvia-se atividades de acordo com o objetivo principal (30-35min); e na 3
a
parte, alongamentos que explorassem questões de equilíbrio, esquema corporal e organização
espacial (5min). O Programa de Intervenção Motora 2009 (APÊNDICE IV) aplicado foi
composto por 34 intervenções motoras, enfatizando-se as áreas de esquema corporal,
organização espacial e organização temporal, sendo que estas áreas sempre foram trabalhadas
através de atividades que estimulassem também ou a motricidade fina ou a motricidade global
e o equilíbrio. A proposta pedagógica deste “Programa de Intervenção Motora para
Escolares com Dificuldade na Aprendizagem” fundamenta-se em concepções que destacam o
interacionismo organismo-meio como eixo central do desenvolvimento. Durante o programa
foi escrito um diário de campo (APÊNDICE V), onde colocáva-se as observações sobre as
atitudes e comportamentos, facilidade ou dificuldade para executar as tarefas propostas,
entrosamento com a pesquisadora e com os colegas.
Após cada intervenção, foi apontado em um diário as impressões sobre as atividades
realizadas, a atuação, o comportamento e a resposta dos alunos às atividades. Procurou-se
descrever o interesse dos alunos pelas atividades, suas dificuldades perante as tarefas
propostas, seu comportamento e relacionamento com os colegas, enfim tudo que foi
considerado importante.
Encerramento do Progama de Intervenção motora - Antes do final do Programa de
Intervenção Motora, a pesquisadora, a bolsista de iniciação científica e mais 5 integrantes do
Grupo de Estudos Sobre Avaliação e Intervenção Motora de 3 a 10 Anos vinculado ao
LADEHU- CEFID/UDESC, organizaram um circuito de atividades motoras (atividades de
motricidade fina, motricidade global, equilíbrio, esquema corporal e organização espaço-
temporal) para todas as crianças do 1
o
ao 4
o
ano. Isto aconteceu na semana da criança, no mês
de outubro, em uma tarde no horário das 13:00 às 17:00, no ginásio da escola. Com apoio das
professoras de classe, diretora e superviora, o grupo da UDESC promoveu uma tarde de
brincadeiras, lanche especial oferecido pela direção e muita alegria.
Conclusão do Progama de Intervenção motora - Ao final do programa de intervenção
motora a pesquisadora e a bolsista, reuniram-se novamente com a supervisão para definir a
segunda avaliação motora na qual novamente participaram 4 avaliadoras (as mesmas que
participaram da 1
a
avaliação). Foram avaliadas as 73 crianças, as que participaram das
intervenções e as que não participaram do programa mas que tinham sido avaliadas na 1
a
coleta também.
Parecer descritivo do professor – no final do programa foi pedido aos professores de
classe que redigissem livremente, um parecer descritivo (APÊNDICE VI) sobre os alunos de
G1 e G2, contendo comentários sobre sua evolução em relação ao aspecto acadêmico e
comportamental, durante os 6 meses de tratamento.
3.6 Tratamento e análise dos dados
Todos os dados coletados foram armazenados e analisados no programa estatístico
SPSS versão 13.0.
Para caracterizar o perfil motor da amostra, foi utilizado o programa informático
Excel, no qual preenche-se um formulário (ANEXO V) com os dados dos testes motores e o
prórpio programa apresenta os resultados e os gráficos referentes às idades motoras e aos
quocientes motores.
Num primeiro momento, serão expostas a distribuição de frequência e os percentuais
relacionados às dificuldades na aprendizagem e às características socieconômicas, atividades
diárias e a participação em atividades socioculturais e esportivas dos 38 escolares
selecionados.
Para os dados referentes à idade cronológica, idade motora e idade negativa, serão
apresentados os valores médios de G1 e G2 no pré e pós-teste. Quanto aos quocientes motores
gerais e específicos, será utilizada estatística descritiva, mediante média, desvio-padrão, valor
mínimo, valor máximo e mediana. A classificação do desenvolvimento motor (geral e
específico) e a lateralidade destes escolares, também serão descritos através de distribuição de
frequência simples e percentuais.
Para análise comparativa entre-grupos (G1 x G2), utilizou-se o Teste t para amostras
pareadas quando os dados se mostraram simétricos, ou Teste de Wilcoxon, quando os dados
apresentaram assimetria. Para análise comparativa inter-grupos (G1 x G1 e G2 x G2),
utilizou-se o Teste de Mann-Whitney quando os dados se mostraram assimétricos e Teste t
para amostras independentes quando os dados apresentaram simetria. O nível de significância
adotado foi de 5% (p < 0,05). A distribuição dos dados quantitativos foi verificada pelo teste
de normalidade Shapiro-Wilk, para os dados de G1 e G2.
As percepções contidas no Diário de Campo e no Parecer Descritivo do Professor,
serão colocadas nos resultados de maneira comparativa ou complementar e na discussão dos
resultados, sempre que necessário, confrontando-as com os resultados encontrados e o que foi
encontrado na literatura.
4 RESULTADOS
Num primeiro momento será colocada a distribuição em relação às dificuldades na
aprendizagem apresentadas pelo grupo e em seguida serão expostas as características
socieconômicas, atividades diárias e a participação em atividades socioculturais e esportivas
dos 38 escolares. Logo após serão apresentados os resultados do desenvolvimento motor
destes escolares e a análise comparativa dos resultados intra e entre grupos. Por último serão
colocadas algumas impressões retiradas do diário de campo e do parecer decritivo.
Rendimento Escolar
De acordo com a ficha de triagem respondida pelos professores de classe, 68,4% (26)
dos 38 escolares desta amostra, apresentavam dificuldade na escrita; 63,2% (24), dificuldade
na leitura; 89,5% (34), dificuldade no cálculo; e, 34,2% (13) apresentavam problemas de
comportamento em sala de aula, sendo que destes, apenas 5,3% (2), um de G1 e outro de G2)
apresentavam apenas esta indicação para ser avaliado. Em 68,5% (26), dos 38 escolares estas
dificuldades apareceram combinadas, prevalecendo a concomitância das dificuldade na
escrita, na leitura e no cálculo.
Hábitos de Vida
Caracterização Socioeconômica
Esta parte do Questionário de Hábitos de Vida foi respondida por 28
pais/responsáveis. Observa-se na tabela 1, que 46,5% (13) pais/ responsáveis não
completaram o 1
o
grau de ensino.
Tabela 1. Frequência e percentual de nível de escolaridade dos pais/responsáveis.
f %
Nunca estudou ou não completou o ensino básico
Não completou o ensino fundamental
Não completou o 2
o
grau
Não completou o 3
o
grau de ensino
3
o
grau completo
Total
5
8
4
9
2
28
17,9
28,6
14,3
32,1
7,1
100
Em relação aos bens materiais, em todas as casas tem banheiro todos têm televisão e
geladeira, 24,1% (7) destes não têm aparelho DVD e 20,7% (6) não possuem rádio, entretanto
71,1% (27) possuem lavadora de roupa. A maioria das famílias, 65,5% (19), são compostas
por 4 ou 5 pessoas, 44,8% (13) não têm carro e 96,6% (28) não dispõe de serviço de diarista
ou mensalista.
Organização do cotidiano
Dos 31 pais, 81,6% dos responsáveis pelos escolares da amostra, responderam a esta
parte do questionário, informando que, a maioria dos escolares dorme e acorda em horário
normal e sobre as tarefas que costumam fazer quando estão em casa, 58,1% (18) vê TV
muitas vezes mas entretanto, 74,2% (23) diz que nunca ou quase nunca, joga vídeo game.
Apenas 74,2% (8) dizem ler poucas vezes ou nunca; 38,7% (12) escutam música muitas
vezes e o restante, nunca ou quase nunca; e sobre o hábito de estudar, 48,4% (15) dizem
estudar muitas vezes em casa, porém 45,2% (14) estudam poucas vezes e e 6,4% (2) nunca
estudam. A maioria ajuda nas tarefas domésticas, sendo 77,4% (24) e 25,8% (8) ajudam a
cuidar de outras crianças.
Sobre as atividades praticadas fora de casa, 58,1% (18) escolares, gosta de conversar
com os amigos; 45,2% (14) diz passear muito a pé enquanto que 41,9% (13) passeia muito de
carro. Em relaçào as atividades relacionadas à prática esportiva livre, 61,3% (19) afirma andar
de bicicleta; 67,7% (21) jogam bola; por outro lado, 74,2% (23) e 93,5% (29) nunca andam de
skate ou patins, respectivamente.
Em concordância com estes resultados, referindo-se aos brinquedos e materiais que
possuem para prática esportiva, 74,2% (23) e 90,3% (28) não possuem skate ou patins,
respectivamente; enquanto que 74,2% (23) possuem bicicleta e 54,8% (17) possuem bola de
futebol. Dentre outros tipos de bola, 51,6% (16) possui bola de plástico; 29,0% (9) têm bola
de vôlei e 16,1% (5), bola de basqueste. Nenhum possui bola de handebol. Entre os locais
preferidos para o lazer, estão o pátio de casa, mas a maioria escolheu mais de uma opção,
como a rua, o parque ou o pátio da escola.
Participação Sociocultural
À respeito da participação em atividades socioculturais, verifica-se na tabela 2, que
grande percentual de escolares não frequenta nenhum tipo de atividade extracurricular.
Tabela 2. Frequência e percentual de participação em atividades sócioculturais*.
f %
Clube
Grupo de dança
Atividade religiosa
Centro comunitário
Outros
Mais de um
Nenhum
1
4
5
1
6
1
13
3,2
12,9
16,1
3,2
19,4
3,2
41,9
* Quetão de múltipla escolha
Prática Esportiva
Sobre à prática esportiva, dos 31 pais que responderam se seu filho praticava de forma
regular algum esporte, 61,3% (19), responderam que não. Do restante, 9,7% (3) praticam
futebol, 16,1% (5) praticam lutas e 13,0% (4) praticam outras atividades esportivas. Destes 12
que praticam alguma atividade física orientada, 41,7% (5) o fazem a mais de um ano e 66,7%
(8), com frequência semanal de duas vezes.
Escala de Desenvolvimento Motor
Primeiramente serão apresentados os resultados do pefil motor de G1 e G2 no pré e
pós-teste, seguidos da análise descritiva das variáveis do desenvolvimento motor, sendo elas:
Quociente Motor Geral (QMG), Quociente Motor da Motricidade Fina (QM1), Quociente
Motor da Motricidade Global (QM2), Quociente Motor do Equilíbrio (QM3), Quociente
Motor do Esquema Corporal (QM4), Quociente Motor da Organização Espacial (QM5) e
Quociente Motor da Oragnização Temporal (QM6). E por último, a distribuição da
lateralidade da amostra.
Perfil Motor
Ao analisar o gráfico 1, observa-se melhora no perfil motor de G1, pois houve um
aumento de 17 meses na idade motora geral, enquanto que a idade cronológica aumentou
apenas 6 meses (período de intervenção motora). Desta maneira ocorreu a diminuição da
idade negativa deste grupo.
Gráfico 1. Perfil motor de G1 pré e pós-teste.
Perfil Motor
85
114
102
120
18
29
0
50
100
150
Idade Motora Geral Idade Cronológica Idade Negativa
Meses
Pré-teste Pós-teste
Para G2, de acordo com o gráfico 2, nota-se que a idade cronológica aumentou 5
meses eqnuanto que a idade motora geral, aumentou apenas 2 meses. Ao contrário de G1,
para G2 a idade negativa aumentou, ou seja aumentou o déficit motor deste grupo.
Gráfico 2. Perfil motor de G2 pré e pós-teste.
Perfil Motor
99
113
14
101
118
17
0
20
40
60
80
100
120
140
Idade Motora Geral Idade Cronológica Idade Negativa
Meses
Pré-teste Pós-teste
Quocientes Motores e Classificação do Desenvolvimento Motor
Em relação ao desenvolvimento motor, neste estudo nenhuma criança atingiu
classificações normal alto, superior ou muito superior. A classificação do quociente motor
geral médio dos 38 escolares foi normal baixo (QMG = 81,26). Os maiores déficits motores
do grupo foram as áreas de esquema corporal, organização espacial e organização temporal
classificados como normal baixo (QM = 80,79), inferior (QM = 73,53) e muito inferior (QM
= 67,5), respectivamente.
Para G1, verifica-se na tabela 3 que houve aumento do quociente motor geral e de
todos os quocientes motores específicos. Reportando-se à classificação do desenvolvimento
motor, descrita na página 40, afirma-se que tanto para o desenvolvimento motor geral, como
para as áreas específicas de motricidade fina e esquema corporal, sua classificação de
Inferior, passou a Normal Baixo. Em relação à organização espacial, de Muito Inferior para
Normal Baixo; à organização temporal, classificada primeiramente como Muito Inferior
melhorou para Inferior; e a Motricidade Global que de Normal Baixo foi para Normal Médio.
Tabela 3. Análise descritiva do desenvolvimento motor de G1 pré e pós-teste.
Média Mediana Moda Desvio
Padrão
Variância Valor
Mínimo
Valor
Máximo
74,53 74,00 74 3,580 12,819 67 79 QMG
86,05 86,00 69 11,448 131,053 68 105
78,11 76,00 73 12,192 148,655 60 111 QM1
89,84 93,00 98 16,681 278,251 61 113
88,68 90,00 91 13,524 182,895 58 112 QM2
94,74 96,00 96 12,160 147,871 74 113
83,74 84,00 56 16,589 275,205 56 111 QM3
88,58 93,00 65 16,443 270,368 62 113
73,16 71,00 61 7,946 63,140 61 93 QM4
85,42 84,00 98 12,281 150,813 65 106
64,37 61,00 50 10,986 120,690 50 90 QM5
80,47 80,00 53 18,641 347,485 48 107
60,84 60,00 50 8,520 72,585 50 80 QM6
76,84 68,00 53 21,019 441,807 53 113
Pré-teste Pós-teste
Observando-se os dados dos quocientes motores de G2, encontrou-se resultados um
pouco diferentes dos encontrados para G1. Nota-se na tabela abaixo que houve diminuição do
quociente motor geral (QMG) e dos quocientes motores específicos de 3 das 6 áreas avaliadas
(QM1 – motricidade fina; QM2 – motricidade Global; QM3 – Equilíbrio). Sendo que o
desenvolvimento motor geral manteve-se no nível Normal Baixo, a Motricidade Global
manteve-se Normal Médio, mas a Motricidade Fina e o Equilíbrio, de Normal Médio
passaram a Normal Baixo. As áreas de Organização Espacial e Organização Temporal, apesar
de terem aumentado um pouco seu quociente motor, mantiveram-se nos níveis Normal Baixo
e Inferior, respectivamente. Então para G2, houve visível melhora, apenas no Esquema
Corporal, que de Normal Baixo passou à Normal Médio.
Tabela 4. Análise descritiva do desenvolvimento motor de G2 pré e pós-teste.
Média Mediana Moda Desvio
Padrão
Variância Valor
Mínimo
Valor
Máximo
88,00 86,00 84 6,540 42,778 81 106 QMG
86,05 85,00 79 7,137 50,942 75 103
90,32 87,00 68 16,670 277,895 65 121 QM1
86,05 85,00 84 13,049 170,275 62 111
99,42 96,00 88 11,997 143,924 83 129 QM2
91,47 89,00 84 10,788 116,374 79 121
92,89 94,00 94 11,733 137,655 68 114 QM3
86,68 86,00 84 14,365 206,339 62 110
88,42 88,00 80 17,280 298,591 43 118 QM4
92,37 94,00 80 10,479 109,801 74 112
82,68 80,00 77 11,776 138,673 65 115 QM5
84,32 81,00 74 15,723 247,228 47 110
74,16 66,00 59 19,259 370,918 55 118 QM6
75,37 67,00 60 19,508 380,579 55 111
Pré-teste Pós-teste
Quanto à distribuição da classificação do desenvolivmento motr, no gráfico 3,
observa-se que no pré-teste de G1, todos foram classificados como Inferior ou Muito Inferior,
já no pós-teste apareceram percentuais significativos de escolares classificados como Normal
Baixo e até Normal Médio.
Gráfico 3. Classificação do desenvolvimento motor de G1 pré e pós-teste.
00
21,1%
(4)
78,9%
(15)
15,8%
(3)
10,5%
(2)
26,3%
(5)
47,4%
(9)
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
Normal Médio Normal Baixo Inferior Muito Inferior
Pré-teste Pós-teste
Ao contrário, para G2 houve um decréscimo do percentual de escolares classificados
como Normal Médio e Normal Baixo do pré para o pós-teste e como consequência o
aperecimento de escolares classificados como Inferior.
Gráfico 4. Classificação do desenvolvimento motor de G2 pré e pós-teste.
31,6%
(6)
00
68,4%
(13)
26,3%
(5)
52,6%
(10)
21,1%
(4)
0
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Normal Médio Normal Baixo Inferior Muito Inferior
Pré-teste Pós-teste
Lateralidade
Quanto a lateralidade, o que chama a atenção no G1 é o grande percentual de escolares
com lateralidade Indefinida no pré-teste. Dos 6 escolares com lateralidade Indefinida, 1 estava
com 7 anos, 2 com 8 a 3, com 9 anos. No pós-teste, 5 destes escolares apresentaram definição
da lateralidade, sendo que 2 apresentaram lateralidade Cruzada e 3, Destra.
Gráfico5. Distribuição da lateralidade de G1 no pré e pós-teste.
42,1%
(8)
26,3%
(5)
31,6%
(6)
52,6%
(10)
36,8%
(7)
10,5%
(2)
0
10
20
30
40
50
60
Destra Cruzada Indefinida
Percentual
Pré-teste Pós-teste
Para G2, dos 3 escolares com lateralidade Indefinida no pré-teste, 1 estava com 7 anos
e 3 com 10 anos. Destes 4, dois definiram sua lateralidade ao longo dos seis meses, 1 passou
para lateralidade Destra e outro para Cruzada.
Gráfico 6. Distribuição da lateralidade de G2 no pré e pós-teste.
26,3%
(5)
52,6%
(10)
21,1%
(4)
42,1%
(8)
42,1%
(8)
15,8%
(3)
0
10
20
30
40
50
60
Destra Cruzada Indefinida
Percentual
Pré-teste Pós-teste
Análise Comparativa
Ao observar a diferença das médias intra-grupos, no quadro 1, verifica-se que houve
diferença estatisticamente significativa para o QMG e para a maioria das áreas motoras,
indicando que houve melhora no desenvolvimento motor geral e específico, com exceção das
áreas de motricidade global e do equilíbrio, para os quais a diferença não foi significativa. Ao
contrário, para G2 não observou-se diferença estatística em nenhuma área específica nem no
desenvolvimento motor geral.
Tabela 5. Médias dos QMGs, diferença e valores de p da análise comparativa intra
grupos pré e pós-teste.
Nota: para o QM6 de G1 e para o QMG, QM2 e QM6 de G2, foi utilizado teste estatístico
Wilcoxon. No restante foi aplicado teste t para amostras pareadas.
G1 G2
pré pós dif
p
pré pós dif
p
QMG 74,53 86,05 - 11,53 ,000* 88,00 86,05 1,95 ,226
QM1 78,11 89,84 - 11,74 ,001* 90,32 86,05 4,26 ,241
QM2 88,68 94,74 - 6,05 ,116 99,42 91,47 7,95 ,126
QM3 83,74 85,42 - 1,68 ,664 92,89 92,37 0,53 ,881
QM4 73,16 85,42 - 12,26 ,001* 88,42 92,37 - 3,95 ,268
QM5 64,37 80,47 -16,11 ,010* 82,68 84,32 - 1,63 ,696
QM6 60,84 76,84 - 16,00 ,003* 74,16 75,37 - 1,21 1,000
Para análise comparativa entre-grupos (G1 e G2), utilizou-se o Teste de Mann-
Whitney para o QMG pré-teste e Teste t para amostras independentes no pós-teste. De acordo
com estes testes nota-se na tabela abaixo que no pré-teste, havia diferença significativa entre a
média do QMG de G1 e do QMG de G2. O que chama atenção nesta tabela é que no pós-teste
esta diferença não ocorre uma vez que as médias dos QMGs dos dois grupos se equiparam.
Tabela 6. Análise comparativa inter-grupos do QMG de G1 e G2.
QMG de G1 QMG de G2
p
Pré-teste 74,00 88,00 0,000*
Pós-teste 86,05 86,05 1,000
Diário de Campo e Parecer Descritivo
Através destes dois instrumentos pôde-se verificar várias mudanças positivas nas
atitudes, nos relacionamentos e também nas dificuldades na aprendizagem dos escolares de
G1. Nesta parte serão apresentadas percepções da pesquisadora, autora desta pesquisa,
retiradas dos diários de campo, confrontadas com as percepções tomadas com os professores
de classe, ao final do Programa de Intervenção Motora, através do parecer descritivo.
Torna-se importante iniciar esta parte com algumas percepções dos escolares e de seus
professores sobre a realidade em que emergem suas dificuldades na aprendizagem, como os
problemas de ordem familiar, por exemplo:
“...sabe professora, meu pai levou um tiro. Foi um traficante.” (pesquisadora)
“...o J. tem muita dificuldade, mas penso que muito seja porque mora só com o
pai, sente muita falta da mãe... não estuda em casa, ninguém lhe ensina”.
(professora de classe do 3
o
ano)
“... ah, coitado! A mãe passa com uma cerveja na mão!” (orientadora
pedagógica)
Dificuldades comportamentais foram constatadas em muitas ocasiões, nas quais os
alunos mostravam-se agressivos com os colegas, se chutavam o tempo inteiro, utilizavam
palavras pesadas e obscenas para tratar os colegas e as garotas. Este tipo de comportamento
foi mais observado nos meninos e pela fala deles, percebia-se que eram coisas que estavam
bem acostumados a escutar.
Problemas de comportamento também foram observados durante as intervenções: na
chegada na sala ou ginásio, pareciam estar atônitos, corriam sem parar, brigavam uns com os
outros. Nas turmas de crianças mais velhas (9, 10 e 11 anos) se insultavam com palavras
obscenas e mexiam em tudo sem parar, se o material estava arrumado... estava arrumado.
Outro comportamento observado foi a falta de vontade e de encorajamento para realizar as
atividades propostas. Sobre esta situação, um dos professores do 4
o
ano colocou sobre uma
aluna:
“...ela precisa de auxílio/estímulo direto do professor nas atividades de
pesquisa, realiza leitura somente para o professor, nunca lendo para o grupo
todo. Procura atrapalhar a turma... precisa de carinho e atenção para se
envolver nas atividades.”
A respeito desta menina, também observava-se o mesmo comportamento nas
intervenções. Ela só participava quando as pesquisadoras intercediam diretamente com ela,
chamando-a com carinho, ajudando-a nas tarefas. Mostrava-se muito envergonhada nas
tarefas em que precisava ler para o grupo. Contatou-se que isso ocorria porque tinha muita
dificuldade na leitura. Ao contrário, também ocorreram casos em que o professor não
observou mudança nenhuma.
“...com baixo rendimento escolar, é muito desmotivado. Em todas as tentativas
de participação diz que não sabe.” (professor de classe do 2
o
ano)
No decorrer das intervenções, observou-se que o menino ao qual o professor se referia,
nunca queria fazer as atividades pois dizia-se incapaz, “burro”. Como as pesquisadoras
sempre o incentivavam, ajudando-o nas atividades mais “difíceis” e encorajando-o nas tarefas
que apresentavam-se como desafio, com o passar das intervenções foi mostrando-se mais
participativo, comunicativo e corajoso. Ao final do programa realizava as atividades com
alegria e entusiasmo.
É visto que para grande parte dos escolares deste grupo as dificuldades pernaceram as
mesma s após as intervenções motoras, mas por outro lado, em alguns casos observou-se
progressos no seu rendimento escolar mesmo que suas dificuldades tenham se mantido, como
é o caso de uma garota do 2
o
ano, pois de acordo com relato de sua professora:
“... hoje a aluna apresenta interesse nas atividades propostas, copiando do
quadro, mas ainda tem bastante dificuldade na escrita”.
A respeito de G2, sentiu-se falta nos relatórios dos professores de comentários
positivos, como para G1. Apesar de não ter tido ganhos do desenvolvimento motor, avaliado
como muito inferior, antes e após as intervenções no decorrer do programa verificou-se que
esta menina progrediu no que diz respeito à comunicação com os professores e colegas e
quanto à sua participação. No início não queria participar da maioria das atividades motoras
propostas, isolava-se e ficava fazendo rabiscos no quadro negro ou movimentos corporais
aleatórios. Nas atividades globais era bem participativa e realizava-as com alegria,
apresentava algumas noções espaciais de tamanho, cor, quantidade, porém apresentava severa
dificuldade nas atividades de raciocínio lógico. Cabe aqui ressaltar que ficou a nítida
impressão de esta criança apresenta alguma disfunção do SNC ainda não investigada.
Sobre outra garota da mesma turma, a professora comentou:
“... está mais motivada, mas precisa treinar a leitura, tem muita dificuldade na
matemática.”
Nas intervenções sempre se mostrou muito participativa e interessada. Em uma das
atividades propostas de organização espacial, em que eles recebiam três conjutos de caixas em
três tamanhos e cores diferentes cada conjunto, sendo que cada uma das três caixas de cada
conjunto deveriam se encaixar perfeitamente. Os professores separavam os conjutos e o aluno
deveria montá-los novamente obedecendo a sequência de tamanhos sem repetir a cor. Nesta
atividade de raciocínio lógico, que trabalha noções de profundidade e tamanho, a referida
aluna mostrou grande dificuldade na solução deste problema lógico. Conseguiu solucionar o
problema com auxílio e dicas das pesquisadoras. Em outra atividade de relacionar números à
formas geométricas e calcular seus pontos de acordo com as formas que havia pego.
“N. pega círculos grandes e pequenos enquanto A. pega triângulos amarelos e
círculos azuis e C. Todas as formas amarelas que conseguir”.
A partir daí as pesquisadoras faziam alguns questionamentos do tipo:
“quem tem mais círculos grandes?”; “conte agora quantos quadrados você
tem.”; “você tem mais quadrados grandes ou pequenos?”; “quantas formas
geométricas você tem?...e se você tirar os triângulos quantas sobram?”.
Nesta atividade, averiguou-se que à princípio as crianças conseguiam chegar à
resposta com muita dificuldade ou precisavam de ajuda, ao que as pesquisadoras davam
pistas, do tipo:
“primeiro separe as por semelhanças, agora tente solucionar o problema.”; “se
esse é o círculo grande e aquele é o pequeno, este à nossa frente é? (Resposta
esperada do aluno: médio, intermediário)”.
Outra atividade em que atibuia-se valores às formas geométricas (triângulo = 1,
quadrado = 2 e círculo = 3), pedia-se aos alunos que pegassem aleatoriamente algumas peças.
Isso inclusive nas primeiras intervenções foi terrível, pois era um desespero, eles avançavam
nas formas, ou nos brinquedos/materiais, dependendo das intervenções. Com o tempo foram
se acostumando a não ser tão gananciosos, a esperar sua vez de pegar, ou de jogar. A partir
daqui o próximo passo era fazer-lhes perguntas do tipo:
“conte quantos triângulos, círculos e quadrados você pegou... agora conte
quantos pontos você tem no total, some os valores.”; “se você só contar os
círculos quantos pontos você tem?”
Foi bastante difícil este tipo de atividade, tanto é que só foi realizada pelas crianças
maiores, do 3
o
e 4
o
ano, as do 2
o
e as menores do 3
o
, era semelhante, porém sem valores
atribuídos. Contavam, somavam, subtraíam e dividiam com as formas geométricas. Pondera-
se que com o transcorrer do programa de intervenção motora, os escolares foram conseguindo
responder com mais facilidade e com mais rapidez à essas questões de associação, seriação e
classificação.
Nas atividades ritmicas, à princípio tinham muita dificuldade de imitar sons, por
exemplo. O professor com dois tacos de madeira na mão, fazia um som do tipo, duas batidas
seguidas, pausa e outra batida. O aluno deveria imitar o número de batidas e o espaço entre
elas. Não conseguiam. Observava-se que muitas vezes era por distração, não conseguiam se
concentrar e prestar atenção no que estavam escutando, consequentemente não conseguiam
reproduzir. Em outros casos notava-se que a dificuldade era realmente de organização
temporal. Nestas atividades ritimadas, musicadas e cantandas, também observou-se notável
progresso no grupo como um todo. Ao final do Programa conseguia-se até criar-se certa
melodia utilizando sons diferentes como palmas, assovios, batidas de mãos e pés no chão,
enfim.
Observou-se nas intervenções motoras que muitos deles, principalmente as crianças de
9, 10 e 11 anos, tinham grande dificuldade de coordenação motora global em atividades como
executar o polichinelo por exemplo, ou de pular corda com os pés alternados (um depois o
outro). Quanto ao equilíbrio, nos alongamentos do início da aula realizados com o propósito
de melhorar o equilíbrio estático, o esquema corporal e a organização espacial, diria-se que
todos, no princípio, tinham grande dificuldade de equilibrar-se. Ficavam balançando-se
demasiadamente, ou deixavam o pé cair (nos alongamentos em que é necessário ficar num pé
só), ou só conseguiam realizar segurando-se em algo ou alguém. Então nas primeiras
intervenções, realizava-se estas atividades com apoio na barra ou no colega, a pesquisadora
procurava dar dicas do tipo:
“... olhe para frente e se concentre, veja se vai ser mais fácil de se equilibrar.”
Já nas atividades de equilíbrio dinâmico como correr, correr e chutar, pareciam com
ótima desenvoltura. Infelizmente no relato dos alunos, soube-se que nas aulas de educação
física a atividade praticada é o futebol livre e atividades livres, que os próprios alunos
escolhem, inclusive não fazer nada se esta for sua escolha.
Observou-se nas intervenções que os escolares de G1, colocavam muita força ao pintar
ou escrever, com a tesoura não conseguiam recortar exatamente nas margens certas e também
apresentavam muita dificuldade nas atividades de enfiar. Por outro lado, mostravam sempre
muito prazer em desenvolver este tipo de atividade.
Em relação ao esquema corporal o que pôde-se observar no decorrer das intervenções
é que à princípio, os escolares de G1, tinham certa dificuldade de reconhecer certas partes do
copro como cotovelo, ombro, diferenciar coxa de perna ou braço de ante-braço, nas atividades
em espelho tinham dificulade de situar adequadamente seu corpo e seus segmentos no espaço.
Porém via-se alegria o interesse nas atividades de expressão corporal, em realizar as
representações, geralmente em atividades em duplas ou trios, onde lhes era dada um a
situação do dia-a-dia eles deveriam representar para os colegas e estes por sua vez deveriam
advinhar o que aqueles estavam representando.
Um ponto positivo observado foi a boa frequência do grupo nas intervenções.
Acredita-se que isto deva-se ao fato das intervenções motoras serem no mesmo período de
aula. Ao contrário, o professores de classe, colocaram em seus pareceres descritivos que
acharam inconveniente este horário, pois atapalhava o andamento normal das aulas já que de
cada turma, saíam apenas algumas crianças.
Dos escolares com menor frequência, notou-se que eram aqueles que apresentavam
dificuldades na aprendizagem e nas intervenções motoras, mais acentuadas. Certa vez,
perguntou-se à um dos escolares porque será que seu colega (um dos que apresentavam
grandes dificuldades na aprendizagem) faltava tanto, ao que este respondeu:
“F. não gosta de vir para a escola.”
Considerando-se todos os resultados observados pelas pesquisadoras e pelos relatados
pelos professores de classe, duarante as 34 intervenções, considera-se que os escolares
tenham sido beneficiados tanto no âmbito motor, como no âmbito social quanto no
acadêmico. Desta maneira o resultado do Programa de Intervenção Motora foi positivo.
5 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Sobre a identificação precoce das perturbações do desenvolvimento, seja acadêmico,
motor, social ou afetivo, Cabral apud Amaro et al. (2009), ratifica sua importância pois
parece que o prognóstico depende da idade da intervenção. Estudos citados por Ferreira
(2007), destacam o senso comum de se identificar e prevenir o mais precocemente possível as
dificuldades na aprendizagem, de preferência, ainda na pré-escola. Também aponta para as
relações das dificuldades na aprendizagem com as alterações motoras, uma vez que a
motricidade também depende da maturação do SNC, sendo assim é compreensível que os
problemas motores sejam evidenciados em crianças com dificuldade de aprendizagem.
Em estudo de Ferreira (2007), com escolares da então 1
a
série de três escolas
municipais de São José/SC, encontrou proporção de meninos com dificuldade na
aprendizagem semelhante ao estudo atual, ficando em torno de 60%. Aqueles escolares
estavam repetindo a 1
a
série de ensino, perfazendo um total de 12,5% dos alunos matriculados
nesta série.
Nesta pesquisa, observa-se que o percentual de alunos identificados com dificuldade
na aprendizagem, aumentam com o passar dos anos letivos, ou seja, há mais alunos com este
problema no 4
o
ano do que no 3
o
, e da mesma forma, no 3
o
do que no 2 ano. Sobre isto Freire
(2005), considera que, com a nova lei de ensino a partir dos 6 anos (Lei n
o
11.274 de
06/02/2006), as crianças são aprovadas mesmo não sabendo o suficiente sendo que, no estudo
atual uma professora do 3
o
ano constata justamente isto ao referir-se a um aluno com
dificuldade severa na aprendizagem:
“... F. deveria estar no 1
o
ano, no máximo no 2
o
, ele não lê, não escreve e não
calcula.O que ele fará no 4
o
ano?!” (professor do 3
o
ano)
Ao encontro disso Neto et al. (2003), ressalta que a presença de alunos analfabetos ou
mal afabetizados nas séries/anos avançados do ensino fundamental, é um dos problemas
educacionais mais graves. Neste contexto é necessário entender a importância da interação do
corpo no contexto escolar, é preciso entender que o fracasso escolar relacionado a escrita e a
linguagem pode estar ligado ao ato motor. Segundo Barreto (2000), as dificuldades no
cálculo, muitas vezes são um problema de ordem emocional ou de estruturação espacial.
Em função disto, Cabral apud Amaro et al. (2009), enfatisa que deve ser feito um
rastreamento dirigido às situações mais frequentes observadas em crianças com dificuldade na
aprendizagem, como: ansiedade, alterações do comportamento, perturbações específicas como
problemas na leitura ou escrita, sinais de déficits de socialização, dificuldade na coordenação
motora, entre outros, pois vários fatores influenciam-na.
Em pesquisa sobre os aspectos emocionais dos escolares com dificuldade na
aprendizagem, Enumo, Ferrão e Ribeiro (2006), encontraram estudos considerando o
componente afetivo primário do desempenho na escola, o qual estaria relacionado às
emoções, às atitudes e aos interesses e por outro lado, associando as disfunções
comportamentais e sociais às dificuldades na família, na escola e nas relações com os pares.
Pôde-se observar em algumas situações deste estudo as dificuldades na família e as
dificuldades sociais na fala dos alunos, como citado no capítulo anterior no tópico Diário de
Campo e Parecer Descrito.
Scortegagna e Levandowski (2004), ao estudar os motivos dos encaminhamentos dos
escolares de Caxias de Sul ao setor de psicologia do Programa VinculAÇÃO, observaram que
dos 92 escolares do 1
o
ao 4
o
ano que foram encaminhados, 16 apresentaram dificuldades de
aprendizagem realcionadas à disfunções do SNC, 89 apresentaram problemas de
comportamento, 73, problemas emocionais. Neves e Marinho-Araújo (2006), em artigo de
atualização, apontam estudo realizado em 8 unidades de saúde na região sudoeste de São
Paulo em que encontraram problemas escolares em 71% dos encaminhamentos ao
atendimento psicológico, sendo que destes, 50% referiam-se a problemas de aprendizagem e
21% a problemas de comportamento. Em concordância com esta pesquisa, nota-se que os
probleams de comportamento, aparecem com frequência nos históricos dos escolares com
dificuldade na aprendizagem.
Em estudo citado por Pacheco (2005), que analisou 70 prontuários de crianças
atendidas em ambulatórios de distúrbios de aprendizagem, o fato que mais chamou a atenção
foi que a clientela apresentava em comum ser de uma classe socioeconômica baixa. Pondera
que crianças não adaptadas existem em todas as classes e ambientes, mas destacam-se por seu
número e gravidade nas camadas mais baixas da sociedade. Para Neves e Marinho-Araújo
(2006), é preciso averiguar a camada social a qual o escolar com dificuldade na aprendizagem
pertence e qual grau de instrução têm seus responsáveis.
Segundo Campos et al. (2008), estudos advertem que os fatores socioculturais podem
exercer influência negativa sobre o desenvolvimento da criança, destacando a baixa condição
socioeconômica da família o aspecto mais marcante. Vai além ao citar que o ambiente
influencia negativamente na função vestibular, na integração visomotora, na força manual e
na praxia em si, afetando o desenvolvimento psicomotor da criança.
Os resultados apontados no capítulo anterior, no tópico Hábitos de Vida indicam
justamente isso: baixa condição socioecômica, baixo nível de escolaridade dos pais, ambiente
pobre em estímulos, muito tempo gasto à frente da televisão, pouca prática esportiva orientada
e regular, participação sociocultural baixa, enfim.
A respeito do nível de escolaridade dos pais, Ferreira (2007), em seu estudo com
escolares repetentes encontrou que 71,1% dos pais dos escolares, só possuíam o ensino
fundamental. Afirma ainda que 15% dos brasileiros estudam de um a três anos e mais de 30%
entre quatro e sete anos, demonstrando que 60% da população não conclui o 1
o
grau de
ensino. Em relação ao tempo assistindo televisão, Pereira e Barros (2004) apontam que um
maior tempo gasto nesta atividade está diretamente relacionado com o baixo nível
socioeconômico.
Sobre a prática de atividade física livre, muito citada pelos escolares deste estudo,
assim como na amostra de Soares, Kroeffe e Oelke (2007) com crianças entre 10 a 12 anos, na
rede municipal de ensino de Joinville, o local preferido para estas práticas de lazer é o pátio
de casa, seguido da rua. Conforme Ferreira Neto (2004), a exploração do ambiente pela
criança, por meio de atividades motoras de forma livre, resultaria em modificações com
relação ao seu desenvolvimento físico, perceptivo-motor, moral e afetivo. Desta forma esta é
uma caracterísctica positiva apresentada pelos escolares da pesquisa atual. De acordo com
Bessa e Pereira (2002), a criança tem necessidade de movimentação mas que no entanto a
motricidade da criança é, muitas vezes pouco explorada, gerando alterações em seu
desenvolvimento motor.
Por outro lado, relativo à prática de atividade física orientada, Braga et al. (2009) em
revisão sobre padrões motores de escolares de outras nacionalidades, verificou superioridade
no desempenho de alguns testes motores em relação aos brasileiros, porém ressaltam que
todos os escolares portugueses avaliados praticavam alguma atividade esportiva
extracurricular. Neste sentido, concordam com a literatura ao considerar como fator
primordial para o aprimoramento das habilidades motoras, a oportunidade de prática e que
para isto o melhor caminho é o engajamento das crianças em práticas motoras além do horário
escolar.
Opondo-se a este estudo, em pesquisa com 40 escolares provenientes de uma escolar
particular, Fonseca, Beltrame e Tkac (2008), encontraram 75% de particpação em algum
esporte. O que, de certa forma, pode explicar essa diferença é o fato de que nesse estudo está
subtendido um nível socioeconômico melhor que possibilita às crianças a participação de
diferentes esportes orientados, diferente do presente estudo em que as crianças são de escola
pública e apresentam um nível socioeconômico baixo.
Bracco et al. (2006) também sugere que a inatividade física de escolares esteja relacionada
com o baixo nível socioeconômico.
Para Scortegagna e Levandowski (2004), há a necessidade de se conhecer a razão da
criança ser encaminhada à um programa de intervenção, para que se possa refletir sobre as
causas relacionadas às suas dificuldades na aprendizagem. O que impede e as vezes dificulta o
desenvolvimento de habilidades e capacidades necessárias a um bom desempenho escolar é o
fato da criança vir de um ambiente familiar e social desestruturado, pobre de estímulos, de
contatos afetivos, de interesse dos adultos pelo destino das crianças.
Comprovando isto, em estudo com 25 escolares do 1
o
ano do ensino fundamental,
Sanches et al. (2004), verificaram em sua amostra que todos os alunos que apresentavam
rendimento escolar classificado como “c” (pior nível de classificação) pois apresentaram as
maiores dificuldades na linguagem oral, na linguagem escrita e no raciocínio lógico, eram os
que tinham as mais baixas condições socioeconômicas e também os que mais apresentavam
problemas familiares. Em relação a motricidade, verificou que seus padrões motores estavam
dentro da normalidade, porém bem mais baixo do que as crianças do grupo sem dificuldade
escolar, sem problemas familiares e com boa condição socioeconômica. Por outro lado,
Medeiros e Teixeira (2000) afirmam que crianças de baixa renda não apresentam déficit
cognitivo individual, porém apresentam um desenvolvimento cognitivo diferente daquele
apresentado por crianças mais bem favorecidas socieconômicamente.
Estudos apontados por Ferreira (2007), sugerem um aprofundamento sobre os
conhecimentos biopsicossociais do escolar com dificuldade na aprendizagem, pois estas
podem estar refletindo circunstâncias onde a criança está inserida, e desta maneira o que se
passa de novo no ambiente se torna invisível para ela. Sob outro ponto de vista, Campos et al.
(2008) coloca que para crianças de baixo nível socieconômico, o desenvolvimento das suas
capacidades e habilidades motoras via intervenção promovem ainda sua inclusão social,
contribuindo para reduzir as barreiras sociais que interferem em seu desenvolvimento.
Da mesma forma, Willrich e Fernandes (2008), citam estudo realizado em creches
públicas que observou influências negativas dos fatores de risco ambientais na aquisição de
habilidade motoras. No mesmo sentido, Perrotti e Manoel (2001), afirmam ser o
comportamento motor um fenômeno complexo influenciado e constituído pelos domínios
cognitivo, afetivo, social e motor, que interagem no comportamento. Dependendo do
comportamento e da intenção do indivíduo, há uma predominância de um dos domínios sobre
os demais. No estudo do desenvolvimento, seja ele cognitivo, afetivo, social ou motor, deve
se levar em conta que o indivíduo se encontra inserido num ambiente, numa sociedade, numa
cultura. Por isto no estudo do desenvolvimento motor, precisamos contemplar que as
mudanças observadas possam ser resultantes de múltiplas causas.
A importância dada aos problemas na aprendizagem se deve ao fato de que o sucesso
do indivíduo, depende de um bom desempenho escolar. De acordo com estudos revisados por
Amaro et al. (2009), muitas destas crianças com transtornos na aprendizagem, apresentam
dificuldade de concentração, imaturidade motora e desatenção. Para Silveira (2004), crianças
agitadas ou desatentas sempre causam preocupação, por isso é importante observá-las, pois há
uma série de componentes sociais que levam-nas a manifestar-se de modo não convencional.
Estas crianças muitas vezes são excluídas das vivências lúdicas, jogos ou brincadeiras,
deixando de avançar na socialização com o próprio grupo e isto pode acarretar prejuízos não
só nas relações sociais mas também no rendimento escolar.
Há uma diversidade de conceituação entre os especialistas sobre as dificuldades na
aprendizagem, de acordo com Pacheco (2005), o único consenso entre os autores pesquisados
por ele, é a característica de que há uma discrepância ‘severa’ entre o que é esperado
academicamente do aluno e o nível de desempenho apresentado. A autora ainda sugere que os
efeitos das desigualdades sociais e econômicas possam desencadear as dificuldades na
aprendizagem, o que talvez possa estar acontecendo com a amostra deste estudo uma vez que
as crianças são de uma classe econômica bem baixa, pertencendo à famílias, na sua maioria,
desetruturadas; crianças que no dia-a-dia convivem com carências econômicas, culturais,
drogas, alcoolismo, desemprego, violência, favorecendo o surgimento das dificuldades na
aprendizagem.
A respeito do desenvolvimento motor, Willrich E Fernandes (2008), colocam que
dentre as principais causas de atraso motor estão, baixo peso ao nascer, doenças
cardiovasculares, respiratórios e neurológicos, infecções neonatais, desnutrição, baixas
condições sócioeconômicas, nível educacional baixo dos pais e prematuridade. Por isto
suspeita-se que os atrasos motores desta amostra, também possam ser decorrentes das baixas
condições sócioeconômicas e do baixo nível de escolaridade dos pais, o que acaba
influenciando os hábitos de vida das crianças. São crianças que lêm pouco, escutam pouca
música, quando brincam, no geral jogam bola ou andam de bicicleta, não participam de
atividades esportivas ou culturais, ou seja, seu ambiente parece ser pobre em estímulos.
Confirmando a 1
a
e a 2
a
hipótese de pesquisa, para este grupo de escolares com
dificuldade na aprendizagem, o desenvolvimento motor mostrou-se como normal baixo, e as
áreas de maior déficit foram a organização temporal seguida da organização espacial e do
esquema corporal. Já no estudo de Pazin (2001), com escolares de 8 e 9 anos de escolas
municipais de São José-SC, para os 30 escolares com dificuldade escolar o quociente motor
geral foi classificado como inferior, também apresentando maior déficit na organização
temporal seguida da organização espacial. Ao contrário, para os 30 escolares com rendimento
escolar normal, o quociente motor foi normal médio. No mesmo sentido se apresentou o perfil
motor do grupo com dificuldades na aprendizagem estudado por Ferreira (2007), onde as
áreas de esquema corporal, organização espacial e organização temporal, também foram as
mais atrasadas, classificadas como normal baixo, para o esquema corporal e inferior para as
outras duas.
Ao contrário, Rosa Neto et al. (2005) em estudo sobre desenvolvimento motor e
desempenho cognitivo com uma criança com altas habilidades, encontrou QI muito superior e
quociente motor geral muito superior, sendo que as áreas de maior destaque foram a
motricidade fina, organização espacial e organização temporal.
Rosa Neto et al. (2007), em avaliação do desenvolvimento motor de 31 escolares de 6
a 13 anos, de escola da rede municipal de Florianópolis, encontrou que 74,3% dos escolares
foram classificados como normal médio e normal baixo, sendo que a média quociente motor
geral amostra de 89,4 e que 16% apresentaram atraso motor, classificados como inferior ou
muito inferior. Assim como no atual estudo as áreas de maior déficit foram o esquema
corporal, a organização espacial e a organização temporal. No quesito lateralidade, os autores
encontraram 51,6% de crianças destras, 38,7% com lateralidade cruzada, o restante
indefinida.
Ao contrário deste estudo, Batistella (2001) com 200 escolares de 6 a 10 anos, de 1
a
a
4
a
série da rede pública de um município gaúcho, encontrou em sua amostra 7,5% de
escolares classificados pela EDM como normal alto, 67% como normal médio, 24% como
normal baixo e apenas 1,5% como inferior, sendo que nenhum aluno apresentou
desenvolvimento motor muito inferior. Da sua amostra, 54% destras 37% cruzada e apenas
6,5 indefinidas. Para a amostra atual, quanto à lateralidade, houve uma distribuição
proporcional no que diz respeito à lateralidade destra, cruzada e indefinida, na faixa dos 30-
35,0% e que a proporção de crianças com lateralidade sinistra foi ínfima. Fato marcante pois
surpreendentemente, mais de 1/3 da amostra apresentou lateralidade indefinida.
Na pesquisa atual, a grande proporção de escolares com a lateralidade indefinida
pode estar associado ao fato das pobres experiências motoras que a amostra parece ter.
Maforte et al. (2007), cita estudos que sugerem que o estado socioeconômico pode influenciar
diretamente no desenvolvimento motor das crianças e que isto pode estar associado à falta de
oportunidades, muito tempo na TV, à violência nas ruas, dentre outros fatores que restringem
as formas de brincar e por conseguinte as experiências motoras. Por outro lado, para Barreto
(2000) a falta de dominância completa pode acarretar em má vivência corporal, com grandes
possibilidades de chegar a uma determinada problemática relacional ou operacional-
instrumental, na escola ou no trabalho, mais tarde.
Sobre a lateralidade, Gallahue e Ozmun, Vieira e Cavalli, apud Sarmento et al. (2008),
afirmam que poucas crianças possuem lateralidade definida antes dos 6 anos, sendo que a
partir desta idade ocorre um evolução considerável, com sua culminância por volta dos 10
anos. A lateralidade revela a sensação de que temos dois lados corporais diferentes e que
usamos um deles com mais facilidade. Isto é o início da discriminação entre direita e
esquerda, sendo que a internalização deste aprendizado corporal ocorrerá entre 6 e 7 anos. A
respeito da reversibilidade, ou seja, reconhecer o lado direito ou esquerdo no outro (pessoa à
sua frente), Brêtas et al. (2005) afirma não ser possível antes dos 6 anos.
A importância de se conhecer a diferença de direita e esquerda pode ser ilustrada por
atividades de nosso cotidiano e o reconhecimento e distinção dos lados direito e esquerdo do
corpo e sua referência à ele prórpio e ao outro (reversibilidade) estão intimamente
relacionados às orientações espaciais. A respeito disso, durante as avaliações antes das
intervenções, observou-se que grande parte dos escolares, não reconheciam qual era sua mão
direita ou esquerda, o que é solicitado no teste relativo à 6 anos da bateria de organização
espacial da EDM. Consequentemente foi maior ainda o percentual de escolares que não
conseguiram distinguir isto no outro à sua frente, os lados direito e esquerdo, prova relativa à
8 anos da mesma bateria da EDM.
A respeito da motricidade fina, Pereira e Tudella (2008), afirmam que na idade
escolar, a partir dos 6 anos a criança já deveria conseguir amarrar os sapatos, recortar
desenhos, pintar, entre outras atividades. Neste estudo para G1 a motricidade fina estava
abaixo da normalidade e melhorou com as intervenções, ao contrário, para G2 estava dentro
da normalidade porém piorou após os seis meses. Esperava-se melhora para os dois grupos,
ou pelo menos a manutenção para G2, considerando-se que nos anos iniciais de escolarização
desenvolvam-se muitas atividades de motricidade fina.
Sobre as áreas de motricidade global (QM1) e equilíbrio (QM3), classificadas como
normal baixo no pré-teste de G1 e normal médio no pré-teste de G2, observou-se melhora dos
quocientes motores das duas áreas para G1, provocando mudança na sua classificação para
normal médio. Já para G2, o quociente motor das duas áreas diminuiu, o equilíbrio passou à
normal baixo. Esperava-se que estas áreas pelo menos se mantivessem nos dois grupos, pois
as atividades praticadas no seu tempo livre e as atividades praticadas na educação física,
abrangem predominantemente estas.
Sobre o equilíbrio, Sarmento et al. (2008), coloca que este é essencial no
desenvolvimento psineurológico da criança, sendo a chave para todas as ações coordenadas e
intencionais, que no fundo são alicerces dos processos humanos de aprendizagem. Melhorias
na aprendizagem são esperadas em função da boa evolução para este fator. Pereira e Tudella
(2008), consideram que aos 6 e 7 anos, idade de ingresso na escola, o crescimento muscular e
esquelético das crianças progridem e as habilidades motoras se aperfeiçoam tornando-as
capazes de pular corda, jogar bola, andar de bicicleta ou skate, equilibrar-se no meio fio,
executar polichinelo, enfim, são capazes de realizar tarefas que exijam coordenação e
dissociação dos segmentos, pois nesta fase estão mais rápidas e bem coordenadas.
Para o esquema corporal, os dois grupos apresentaram ganhos, apesar de não terem
sido significtaivo para G2. Acredita-se que isto possa estar ligado ao fato que do 1
o
ao 4
o
ano
do ensino básico, os professores de classe também desevolvem várias atividades que
exploram esta área da motricidade.
Houve melhora ainda na organização espacial (QM5) e na organização temporal
(QM6), que evoluiram de muito inferior para normal baixo e inferior respectivamente, para
G1, sendo que para G2, mantiveram-se normal baixo e inferior. No desenrolar das atividades
de organização espacial, procurou-se estimular o máximo os processos de raciocínio lógico
durante as atividades de associação, agrupamento ou classificação com formas geométricas,
trabalhando por cor, tamanho ou forma.
De acordo com Freire (2005), propostas que podem desenvolver noções de seriação,
classificação e conservação são benvindas no trabalho com as dificuldades na aprendizagem,
pois são elementos que integram cálculos matemáticos ou redação de texto. Em estudo com
24 crianças com dificuldade para resolver determinados problemas lógicos, o autor obteve
êxito com este tipo de atividade, uma vez que 80% de sua amostra melhorou na resolução
destes problemas. Sobre a organização temporal, área de maior déficit nos dois grupos, houve
melhora significativa para G1, o que era esperado sendo que foi uma das áraeas mais
estimuladas. Em praticamente todas as intervenções desenvolvia-se uma atividade pelo
menos, no início ou no fim, de organização temporal. Atividades ritmicas, atividades
cantadas, de percepção de duração e intervalo, enfim.
O fato do desenvolvimento motor de G2 ter piorado em duas áreas e se mantido nas
outras, indica que nos casos do desenvolvimento motor ser classificado como normal baixo,
deve-se estudar caso a caso. Ao verificar que o quociente motor está nos limites entre a
normalidade e o atraso motor, diria-se que entre 80 e 85, já seria necessário intervenção, pois
constitui zona de risco, uma vez que neste estudo observou-se que dos escolares que estavam
nesta “zona de risco”, decaíram para menos de 80, enfatisando a importância da intervenção
motora como prevenção e não só como recuperação. A respeito disso cita-se então diversos
estudos interventivos, que assim como este alcançaram resultados bem positivos.
Sarmento et al. (2008), em estudo com o intuito de alterar os comportamentos motores
de crianças hiperativas, citam alguns estudos que usam como ferramenta básica a
psicomotricidade, pois sabem que atua diretamente na organização das emoções, percepções e
nas cognições, visando respostas adaptativas previamente planejadas e programadas. Em seu
estudo com criança com transtorno do déficit de atenção (TDAH), encontrou melhora no
perfil motor com 6 meses de 2 intervenções por semana.
Em estudo de psicopedagogia Silveira (2004), utilizando também a Escala de
Desenvolvimento Motor - EDM, depois de 30 intervenções psicopedagócicas lúdicas (2
semanais), assim como no estudo atual, encontrou crescimento na aprendizagem escolar, no
desenvolvimento motor e na conduta de crianças de 3 a 6 anos que apresentavam indicadores
positivos para TDAH.
Freire (2005) propôs um programa de educação física para dois grupos de 24 crianças
que apresentavam dificuldades na resolução de problemas lógicos. Em 24 deles aplicou um
programa de educação física cuja intenção era recuperar as dificuldades evidenciadas, que
envolviam noções de seriação, conservação e classificação. Com o outro grupo, seriam
desenvolvidas atividades aleatórias. Nas duas turmas a metodologia adotada era de gerar
contradições e conflitos, de maneira que colocavam os conhecimentos do aluno em conflito
com os conhecimentos novos que iam vivenciando. O autor coloca que os resultados não
deixaram dúvidas a respeito do êxito obtido pelos alunos, sendo que houve melhora em 80%
na resolução de problemas levantados nos testes de seriação, conservação e classificação
realizados antes e após o programa de educação física, para o grupo que realizou as atividades
específicas e 20 % para o grupo que apenas praticou as atividades aleatoriamente. Concluindo
o autor argumenta que um programa de educação física com referência na geração de
conflitos durante as atividades pode ser muito eficiente a ponto de transformar ações motoras
em compreensão intelectual.
Também com base nas dificuldades detectadas em sua amostra Campos et al. (2008),
em estudo com 6 crianças de 10 a 12 anos de baixo nível socioeconômico, todas do sexo
masculino, encontrou diferença significativa no desenvolvimento motor após 16 sessões de
intervenção psicomotora de 1 hora, realizadas 2 vezes por semana. As áreas em que observou
aumento significativo foram, predominantemente no equilíbrio, organização espacial,
motricidade global e na motricidade fina, sugerindo que o programa beneficiou o desempenho
psicomotor destas crianças.
Braga et al. (2009), averiguou que em todos os estudos inteventivos, nacionais e
internacionais que pesquisou, os resultados encontrados demonstraram que após o período de
implementação do programa interventivo, os participantes do programa apresentaram melhora
significativa no desempenho motor ao passo que os grupos que não participaram do
programa, não obtiveram melhoria.
Para Campos et al. (2008), a implementação deste tipo de programa deve ser
considerada já a partir da pré-escola e que crianças típicas também podem se benificiar da
intervenção. De acordo com os referidos autores, na década de 80, Kelly et al. (1989),
conseguiu ganhos significativos nas habilidades motoras fundamentais de 21 pré-escolares,
após 12 semanas de educação física instrucional, como o autor afirma.
pois de acordo com Braga et al. (2009), quanto maior for o período de prática, com boa
instrução e equipamento apropriado, maior será a probabilidade da criança melhorar sua
competência motora.
Sobre o comportamento e a participação nas intervenções, observa-se que às
atitudes emocionais descompensadas (necessidade de atenção, agressividade, ansiedade,
insegurança, baixa tolerância a frustração, resistência às tarefas, etc.) somavam-se à situações
sociais conflitivas. Por isso, Neves e Marinho-Araújo (2006) ratificam a importância de uma
atmosfera lúdica, afetiva e relacional, nas intervenções, para que a integração e a
comunicação se desenrolem favoravelmente. A esse respeito notou-se um maior interesse por
parte das criaças nas atividades em que a ludicidade mostrava-se estampada. Porém mesmo
nestas atividade alguns escolares resistiam em participar, pois achavam-se incapazes, então
aos pesquisadoras precisavam interferir indivdualmente, estimulando-os e encorajando-os a
participar.
Para estes autores, crianças com dificuldade na aprendizagem acabam se
convencendo que não aprenderão apesar de seus esforços, acarretando implicações em seu
autoconceito e no desenvolvimento das expectativas do “eu”, gerando assim desequilíbrios
emocionais que podem afetar não só a aprendizagem como o desenvolvimento global da
criança. No desenrolar das intervenções observou-se que os escolares estavam mais
participativos, confiantes e seguros. Seu comportamento também estava bem melhor,
esperavam sua vez de brincar, não se agrediam tanto, os meninos respeitavam mais as
meninas, enfim, o desenrolar das intrevenções motoras estava mais harmônico. Sobre estas
mudanças observadas após o programa, Campos et al. (2008), coloca que além da expansão
das habilidades motoras promovidas pelas intervenções, ocorre também um efeito importante
nos fatores psicossociais da criança. Por outro lado colocam que as próprias dificuldades
mortoras apresentadas na infância podem desencadear prejuízo no auto-conceito, baixa auto-
estima e percepção de competência, problemas comportamentais e desajuste social.
Poeta (2005) em pesquisa de avaliação e intervenção motora com 31 escolares de 7 a
10 anos, com transtorno do déficit de atenção/hiperatividade encontrou resultados positivos
depois do programa, constatando mudança de nível no desenvolvimento motor. Entretanto,
mais do que isso, a autora conclui que as intervenções motoras além de promoverem avanços
no desenvolvimento motor, também produzem melhorias na atenção, concentração , no
relacionamento e no rendimento escolar.
Collet et al. (2008), o aprimoramento da coordenação motora em geral, torna-se
imprescindível durante a infância, pois além de sua importância na vida como um todo,
torna-se fundamental para o desempenho de habilidades básicas. Na medida em que ocorre o
crescimento há a necessidade de acompanhar seu desenvolvimento, servindo de base para
sugerir medidas de intervenção para corrigir os déficits detectados.
Para Neves e Marinho-Araújo (2006), ao tratar das dificuldades na aprendizagem
deve-se buscar explicações nos inúmeros fatores determinantes, como os fatores neurológicos,
psicológicos, funcionais, sociais, culturais, pedagógicos, familiares entre outros, ao que
acrescenta-se os fatores ligados à motricidade. Para entender e poder interferir no processo
histórico do aluno é necessário entender as múltiplas interações sociais que ocorrem no
contexto no qual se insere.
Acredita-se fundamental ainda, o diagnóstico das características socioeconômicas e
dos hábitos de vida, das dificuldades na aprendizagem e o que pode estar influenciando
negativamente neste processo como o desenvolvimento motor, por exemplo. Há um
somatório de fatores fatores interrelacionados que interferem no processamento de
informações e no uso social da linguagem, como o nível educacional dos pais, o estresse
familiar, o grau de estimulação no lar, a eficácia das mães no ensino de seus filhos, as
limitações econômicas, a saúde, as oportunidades disponíveis para os pais, o apoio familiar,
enfim, como Pacheco (2005) bem coloca, uma rede complexa de interações sociais que devem
ser consideradas quando se discute as dificuldades de aprendizagem.
Uma das formas do ser humano se relacionar com o ambiente e interagir no meio em
que vive é através do movimento. O fato do ser humano estar sempre se movimentando, torna
o movimento uma atividade comum, entretanto essa capacidade de movimentar-se varia ao
longo da vida de acordo com o nível de desenvolvimento motor. Segundo Maforte et al.
(2007), este nível depende das experiências que a criança vai tendo ao longo do seu
desenvolvimento e isto determinará que tipo de adulto se tornará. É preciso considerar que o
desenvolviemnto ocorre por meio da interação organismo, meio e tarefa, o que lhe dá uma
perspectiva dinâmica, pois os padrões motores emergem das possibilidades de interação.
Ferreira et al. (2006), apontam para a co-ocorrência de dificuldades na aprendizagem e
os déficits no desenvolvimento motor, e consequentemente, vários problemas sociais e
afetivos. Segundo estes, estudos realizados até então não permitem assegurar o que seria
causa e o que seria consequência dos problemas motores, ou concluir se ele ocorre de forma
isolada ou se corresponde a um padrão de debilidade. O que parece perceptível é que há
frequentemente co-ocorrência com as áreas acadêmica, atlética, afetiva e social.
Por outro lado Monteiro, Pick e Valentini (2008), enfatizam que por meio de
atividades lúdico-recreativas a criança internaliza significados que colaboram para a
construção das suas identidades e nesse processo, internaliza normas, valores, atitudes,
saberes e habilidades qua a tornam apta para viver em sociedade. A atividade física é de
extrema importância para o processo de socialização da criança, proporcionando-lhe melhor
desenvolvimento físico, motor, cognitivo, afetivo e social, pois possibilitam à criança
oportunidades para suas próprias descobertas.
Para Capellini e Conrado (2009), nesta realidade educacional em que nos
encontramos, ainda há uma lacuna entre o diagnóstico competente e assertivo das dificuldades
na escrita, leitura e cálculo, e o uso do mesmo não como rótulo, mas como auxílio na
minimização destas dificuldades.
6 CONCLUSÃO
A identificação precoce das dificuldades na aprendizagem, parece que é de certo modo
fácil, pois os professores identificam com facilidade aqueles que apresentam rendimento
escolar abaixo do esperado para sua idade. O que não parece tão fácil assim é lidar com estes
problemas, pois são algumas crianças no meio de muitas e o que a escola pode ofecer às vezes
são apenas as classes de reforço.
De acordo com o referido na literatura na área da educação, da psicologia e da
psicopedagogia, o número de escolares com dificuldade na aprendizagem, na escola em
questão, é procupante pois quase 1/3 dos alunos matriculados do 1
o
ao 4
o
ano, apresentam
pelo menos uma dificuldade (escrita, leitura ou cálculo) ou ainda apresenta problemas de
conduta. Dentre as dificuldades mais frequentes encontra-se a dificuldade no cálculo,
entretanto a maioria apresentou dificuldade tanto na escrita quanto na leitura como no cálculo
e destes, a maioria apresentou também problemas de conduta.
Conforme o que foi exposto sobre os hábitos de vida da amostra, considera-se que as
dificuldades na aprendizagem apresentadas bem como os déficits motores encontrados,
possam estar relacionados especificamente às condições culturais e socioeconômicas. Sendo
assim, a identificação dos fatores deficitários e quais são suas prováveis causas, devem ser
sempre o primeiro passo para traçar objetivos e estratégias de intervenção direcionadas à
população em questão, seja para fins de reeducação ou prevenção.
Este estudo mostra que 2 sessões semanais de intervenção motora bem planejadas e
orientadas, com atividades lúdicas variadas, dispostas de maneira progressiva e encadeadas
(nível de dificuldade), nas quais estejam presentes raciocínio lógico, tomada de consciência,
desafios, regras, apsectos morais, tomada de decisão, entre outras, e acima de tudo, focado nas
reais dificuldades das crianças, inseridas no ambiente escolar, pode melhorar
significativamente o desenvolvimento motor, acadêmico e psicossocial de escolares com
dificuldade na aprendizagem.
O “Programa de Intervenção Motora para Escolares com Dificuldade na
Aprendizagem” influenciou de maneira significativa o desenvolvimento motor do grupo
experimental, ficando evidente a importância da frequência no programa, pois acredita-se ter
sido fator determinate nos resultados. Por outro lado, os resultados do grupo que não recebeu
tratamento, evidenciaram que nos casos de desenvolvimento em risco, tabém torna-se
necessária a intervenção motora como prevenção.
As intervenções motoras mostraram influência também para além do âmbito motor
pois promoveu efeitos positivos também no rendimento escolar e no comportamento dos
escolares que participaram do programa. A respeito do rendimento escolar, verificou-se
melhora nos dois grupos, assim como teve casos contrários, deve-se levar em consideração
que muitos deles receberam intervenção pedagógica (reforço) durante o mesmo período, desta
maneira não deve-se considerar que os ganhos acadêmicos devam-se unicamente às
intervenções motoras, pois como foi visto a criança está em constante aprendizado, em todos
os ambientes, em todas as situações.
Em concordância com a literatura acredita-se que o desenvolvimento motor está
intimamente ligado às aprendizagens escolares e que se for devidamente estimulado pode
além de melhorar as capacidades e habilidades motoras da criança, pode também influenciar
no seu desenvolvimento cognitivo, social e afetivo. Desta maneira apresenta-se essencial o
papel da educação física no ensino fundamental, porém é necessário trabalhar em conjunto
com o professor de sala de aula, frequentemente trocando informações sobre os alunos e as
atividades desenvolvidas.
Há muito ainda a refeltir e acrescentar a respeito das dificuldades na aprendizagem e
como a educação física escolar pode auxiliar na minimização deste problema. Assim este
trabalho não se encerra por si mesmo, pois teve como resultado proporcionar um espaço para
reflexão sobre as práticas profissionais de educação física do 1
o
ao 4
o
ano do ensino
fundamental.
Sugere-se a realização de outros estudos com esta população no sentido de obter mais
informações e procurar entender até que ponto os fatores cognitivos, motores, afetivos e
sociais se entrelaçam e influenciam-se entre si.
Considerando que o “Programa de Intervenção Motora para Escolares com
Dificuldade na Aprendizagem” terá continuidade no 1
o
semestre letivo de 2010, a respeito da
amostra as sugestões são as seguintes:
a) Os escolares de G1 que no pós-teste apresentaram QMG igual ou acima de 85, devem
ser encaminhados a atividades esportivas extracurriculares, pois receberam alta do
Programa;
b) Os escolares de G1 que no pós-teste apresentaram QMG abaixo de 85, devem
continuar no Programa;
c) Os escolares de G1 que passaram para o 5
o
ano, devem ser encaminhados a atividades
esportivas extracurriculares, uma vez que “Programa de Intervenção Motora para
Escolares com Dificuldade na Aprendizagem” abrange do 1
o
ao 4
o
ano;
d) Os escolares de G2 que tinham QMG igual ou acima de 85 no pré-teste mas no pós
ficaram abaixo de 85, devem ser encaminhados ao Programa; e que,
e) Outros escolares que por ventura, a partir de março de 2010, sejam identificados com
algum tipo de dificuldade na aprendizagem, sejam encaminhados à avaliação motora
para verificar a necessidade deencaminhamento ao “Programa de Intervenção Motora
para Escolares com Dificuldade na Aprendizagem” que continua sendo oferecido
naquela escola.
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ZABALETA, J. F. J. A. Desarrollo de la inteligencia motriz como base para la evolución
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Zaragoza, Zaragoza/España, 1996.
ANEXO I
PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA ENVOLVENDO SERES
HUMANOS - UDESC
ANEXO II
FICHA DE RENDIMENTO ESCOLAR
Nome completo da criança: ________________________________________
RENDIMENTO ESCOLAR GERAL
( ) Normal ( ) Dificuldade
LEITURA
( ) Normal ( ) Dificuldade
ESCRITA
( ) Normal ( ) Dificuldade
MATEMÁTICA
( ) Normal ( ) Dificuldade
CONDUTA
( ) Normal ( ) Dificuldade
ANEXO III
Ficha de Técnica da Escala de Desenvolvimento Motor – EDM
FICHA TÉCNICA
Nome Original Escala de Desenvolvimento Motor - EDM
Autor Francisco Rosa Neto
Centro Universidade de Zaragoza - Espanha
Administração Individual
Duração 30-45 minutos
População Alunos matriculados na pré-escola e ensino fundamental
e educação especial
Indicação Crianças com dificuldade de aprendizagem escolar;
atrasos no desenvolvimento neuropsicomotor; problemas
na fala, na escrita e no cálculo; problemas de conduta;
alterações neurológicas, mentais, sensoriais, etc.
Áreas Avaliadas Motricidade fina, motricidade global, equilíbrio,
esquema corporal, organizaçào espacial, organização
temporal e lateralidade (mãos, olhos e pés).
Variáveis Idades motoras, quocientes motores, escala motora e
perfil motor.
Profissionais Saúde e educação.
Material Kit EDM – manual, folha das respostas, instrumentos
para aplicação dos testes, programa EXCEL e ficha
modelo.
ANEXO IV
FOLHA DE RESPOSTA DA EDM
ESCALA DE DESENVOLVIMENTO MOTOR
NOME :
SOBRENOME :
SEXO:
NASCIMENTO:
EXAME:
IDADE:
DIAGNÓSTICO:
RESULTADOS
TESTES/ANOS 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
1. Motricidade fina:
2. Motricidade global:
3. Equilíbrio:
4. Esquema corporal / Rapidez:
5. Organização espacial:
6. Linguagem / Organização temporal:
RESUMO DE PONTOS
IDADE MOTORA GERAL (IMG): IDADE POSITIVA (+):
IDADE CRONOLÓGICA (IC): IDADE NEGATIVA (-):
QUOCIENTE MOTOR GERAL (QMG): ESCALA DE DESENVOLVIMENTO
IDADES MOTORAS (IM) QUOCIENTES MOTORES (QM)
]MOTRICIDADE FINA (IM1): ESQUEMA CORPORAL (IM4):
MOTRICIDADE GLOBAL (IM2): ORGANIZAÇÃO ESPACIAL (IM5):
EQUILÍBRIO (IM3): ORGANIZAÇÃO TEMPORAL (IM6):
LATERALIDADE MÃOS
OLHOS PÉS
PERFIL MOTOR
11
· · · · · ·
10
· · · · · ·
09
· · · · · ·
08
· · · · · ·
07
· · · · · ·
06
· · · · · ·
05
· · · · · ·
04
· · · · · ·
03
· · · · · ·
02
· · · · · ·
IDADE
CRONOLÓGICA
Motricidade
Fina
Motricidade
Global
Equilíbrio Esquema
Corporal
Organização
Espacial
Organização
Temporal
ANEXO V
FORMULÁRIO DA EDM NO PROGRAMA EXCEL
ANEXO VI
QUESTIONÁRIO DE HÁBITOS DE VIDA
APÊNDICE I
PERFIL DO PROGRAMA DE INTERVENÇÃO MOTORA PARA ESCOLARES
COM DIFICULDADE NA APRENDIZAGEM
APÊNDICE II
DISTRIBUIÇÃO DAS ÁREAS ENFATISADAS EM CADA INTERVENÇÃO.
APÊNDICE III
PROTOCOLO DE INTERVENÇÃO MOTORA
APÊNDICE IV
PROGRAMA DE INTERVENÇÃO MOTORA 2009
APÊNDICE V
DIÁRIO DE CAMPO
APÊNDICE VI
PARECER DESCRITIVO DO PROFESSOR
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