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Por último, porém mais importante para esta dissertação, quando a decisão
do leitor for a de considerar intactas as leis da realidade e quando admite novas leis
da natureza para explicar os fenômenos, surge o maravilhoso. Nesse sentido, o
maravilhoso se caracteriza pela existência exclusiva de fatos sobrenaturais, sem
implicar nas reações provocadas nas personagens. É o que explica Marinho:
Dessa maneira, a inspiração em Todorov - situando o maravilhoso
como gênero literário - foi o ponto de partida para que pudéssemos
ampliar essa noção para gênero narrativo, com base numa leitura
comparativa entre a capacidade de narrar histórias nos seus variados
substratos, abrigadas sob o manto do maravilhoso. Entendemos que
a noção de gênero está aqui diretamente relacionada à produção de
linguagem que se direciona para uma tipologia assentada sobre o
eixo estrutural. A retomada dos estudos de gênero - que caiu num
certo esquecimento na primeira metade do século XX – se deve aos
interesses estimulados pelas pesquisas dos estruturalistas e da
“nova crítica”. Além de uma marca estrutural, a linguagem se
caracteriza por várias formas de discurso. Dessa maneira, o
maravilhoso, enquanto gênero, constitui-se essencialmente como
uma linguagem, caracterizando todo um modo específico de narrar
que se aloja dentro de uma estrutura muito específica e se
circunscreve em torno de um tipo de sobrenatural, característica essa
que fundamenta sua essência, determinando uma lógica interna da
narrativa que está totalmente divorciada da lógica que rege a
realidade cotidiana. (MARINHO,2009,p.12-13)
Diante dessa explanação, é compreensível que os demais estudiosos tenham
deixado de lado a denominação de subgênero e optado por gênero, uma vez que o
maravilhoso nada mais tenha do fantástico e se trate de um elemento puro, já que
não causa nenhuma hesitação, ou seja, não tenha indícios daquilo que é a marca
principal do gênero. Portanto, embora outros assim já tenham procedido, considera-
se justificada a terminologia “gênero maravilhoso” adotada nesta pesquisa.
Em seus estudos, Rodrigues (1988) explica o maravilhoso a partir da
etimologia, já referida por Le Goff e citada no início deste capítulo, como proveniente
do latim Mirabilia, um nominativo neutro, plural de Mirabilis, que se refere a ato,
pessoa ou coisa admirável, ou ainda a prodígio. Na Literatura, essa origem responde