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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
GUILHERME DAUDT BARON
A INFLUÊNCIA DO PLANEJAMENTO INTEGRADO COM FOCO
NA GESTÃO DE ESTOQUES NO VALOR ECONÔMICO
AGREGADO: ESTUDO DE CASO EMBRACO
Florianópolis
2009
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Catalogação na fonte pela Biblioteca Universitária da Universidade Federal de Santa Catarina
B265i Baron, Guilherme Daudt
A influência do planejamento integrado com foco na gestão de
estoques no valor econômico agregado: estudo de caso Embraco
[dissertação] / Guilherme Daudt Baron ; orientadora, Mirian Buss
Gonçalves. - Florianópolis, SC, 2009.
115 p. : fig., grafs., quadros.
Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa
Catarina, Centro Tecnológico. Programa de s-Graduação em
Engenharia de Produção
Inclui referências
1. Engenharia de produção. 2. Valor econômico agregado. 3
Gestão de Estoques. 4. Custos de Estoques. 5. Planejamento de
Vendas e Operações. I. Gonçalves, Mirian Buss. II.Universidade
Federal de Santa Catarina. Programa de Pós-Graduação em
Engenharia de Produção. III. Título.
CDU: 658.5
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GUILHERME DAUDT BARON
A INFLUÊNCIA DO PLANEJAMENTO INTEGRADO COM FOCO
NA GESTÃO DE ESTOQUES NO VALOR ECONÔMICO
AGREGADO: ESTUDO DE CASO EMBRACO
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduão em Engenharia de
Produção da Universidade Federal de
Santa Catarina como requisito parcial
para a obtenção do título de Mestre em
Engenharia de Produção.
Orientadora: Mirian Buss Gonçalves, Drª.
Florianópolis
2009
GUILHERME DAUDT BARON
A INFLUÊNCIA DO PLANEJAMENTO INTEGRADO COM FOCO
NA GESTÃO DE ESTOQUES NO VALOR ECONÔMICO
AGREGADO: ESTUDO DE CASO EMBRACO
Esta dissertação foi julgada e aprovada para a obtenção do título de
Mestre em Engenharia de Produção na área de concentração Logística e
Transportes no Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção
da Universidade Federal de Santa Catarina
Florianópolis, 11 de dezembro de 2009.
____________________________________
Prof. Antônio Cezar Bornia, Dr.
Coordenador do Programa de Pós-Graduação
em Engenharia de Produção
____________________________________
Profª. Mirian Buss Gonçalves, Drª.
Orientadora
BANCA EXAMINADORA
______________________________________
Prof. Antônio Galvão Novaes, Dr.
_____________________________________
Profª Mônica Maria Mendes Luna, Drª.
______________________________________
Prof. Álvaro Guillermo Rojas Lezana, Dr.
Aos meus pais e aos meus irmãos que,
estando ao meu lado, sempre, me
incentivaram e proporcionaram todas as
condições para que eu chegasse onde
estou.
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, a quem amo e admiro simplesmente por serem pessoas
maravilhosas, e aos meus irmãos, por compreenderem a minha ausência
nesta etapa da minha vida.
Ao André da Costa Perez e ao Fábio Osiro, que me instigaram a iniciar
o Mestrado e me deram suporte durante o período de curso das
disciplinas.
À Professora Mirian, que sempre acreditou no meu trabalho e soube,
com idéias maravilhosas e muita serenidade, conduzir o
desenvolvimento desta dissertação.
Aos amigos Felipe Alberto Simas Donato, Emilio Della Bruna Junior,
Jorge Louzada e Gregori Daminelli, por terem participado da geração de
idéias para os temas abordados.
Ao Neimar Follmann, por sua amizade e pela preocupação com minha
caminhada durante o mestrado.
A todos os professores da Universidade Federal de Santa Catarina, por
fazerem desta instituição um excelente ambiente de aprendizado e de
oportunidades.
A todos da Embraco, empresa em que foi desenvolvido o estudo de
caso, que me receberam de braços abertos desde o meu primeiro dia de
trabalho. E especialmente ao Rodrigo Spricigo e ao Nuno Leite, pelos
dados fornecidos.
A todos da Petrobras, pelo estímulo durante a fase de conclusão do
mestrado, em particular ao Eduardo Ladeira Ávila, à Paula da Cruz
Trindade e ao Henri Olivier Diniz.
A minha mãe, Maria Virginia, e a minha grande amiga Jandira Spalding,
por sua magnífica contribuição.
Aos membros da banca que aceitaram de prontidão avaliar este trabalho.
E a Deus, por ter me cercado de todas estas pessoas maravilhosas.
A todos, o meu muito obrigado!
RESUMO
BARON, G. D. A influência do planejamento integrado com foco na
gestão de estoques no valor econômico agregado: estudo de caso
Embraco, 2009. 115f. Dissertação (Mestrado) Curso de Engenharia de
Produção, Departamento de Engenharia de Produção e Sistemas,
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2009.
Sem dúvida, os custos de estoque são inerentes a sua existência.
Dependendo do negócio e do tipo de estratégia produtiva, podem
representar até 37% do custo logístico total (BOWERSOX et al., 2006).
As maiores razões para se manter estoques são a distância e o tempo
entre os pontos de suprimento e de consumo, a produção e o transporte
em escala, a incerteza associada à demanda e aos suprimentos e os
estoques planejados, que em sua maioria têm a função de aproveitar
oportunidades de mercado e se precaver para o atendimento em períodos
de pico de demanda. Alguns destes custos podem ser reduzidos com a
finalidade de melhorar os indicadores financeiros. Uma possibilidade de
aumentar o giro de estoques e o valor econômico agregado (EVA) é
associar a gestão de estoques, definida pela política de estoques, ao
planejamento de médio e de curto prazo. É comum encontrar na
literatura metodologias de classificação de estoques ABC e multi-
critério. A classificação de estoques baseada em responsabilidades,
proposta por Donato, Baron e Perez (2007), é aplicada no estudo de caso
deste trabalho apresentando conseqüências interessantes.
Nesta dissertação se estabelece uma relação entre gestão de estoques
(focada principalmente na classificação), planejamento de curto e médio
prazo e resultados financeiros, em especial o EVA, descrevendo as
constatações em estudo de caso realizado na Embraco (Whirlpool S.A.
Unidade Compressores). É mostrado que em um período de três anos,
houve uma redução de 32% nos dias de cobertura de estoques acabados
e 27% no seu valor. Com a diminuição dos custos de capital e de
estoques obteve-se uma melhora no EVA equivalente a 5,2% do lucro
operacional.
Palavras-chave: Gestão de Estoques, Custos de Estoques, Planejamento
de Vendas e Operações, Valor econômico agregado, Classificação de
estoques.
ABSTRACT
Baron, G. D. The influence of the integrated planning with inventory
focus on Economic Value Added Case Embraco. 2009. 115p.
Dissertação (Mestrado) Curso de Engenharia de Produção,
Departamento de Engenharia de Produção e Sistemas, Universidade
Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2009.
Without a doubt inventory costs are an intricate factor of production and
supply. Inventory costs can account for up to 37% of total logistics costs
depending on supply chain strategy and industry (BOWERSOX et al.,
2006). Stocks exist to mitigate time and distance constraints between
production and consumption points, between production and
transportation on scale and vacillations associated with supply and
demand patterns. In addition, inventory may be used to achieve market
opportunities. As an effort to improve financial results, stocks must be
reduced to the minimum levels necessary without compromising service
levels, thus, revenue expectations and opportunities. A well established
and managed Sales & Operations planning process helps organizations
link any supply chain system or strategy with operational excellence
execution. Inventory turnover and economic value added (EVA) may
be optimized by combining inventory policies with short and medium
term planning approaches. Methodologies to classify stock are widely
spread in the literature. As an example, ABC and multi-criteria analysis
are common practices utilized by logistics professionals. Donato, Baron
e Perez (2007) executed a methodology in which stock classification
was based on its accountability. This methodology was tested and
demonstrated promising results. Consequently, present research aims to
establish the relationship between inventory management, short and
medium term planning and financial outcomes. In order to do so, a case
study was done at Embraco (Whirlpool S.A. Compressors Unit) and
the application of the methodology resulted in a 32% reduction of
finished goods, measured in days of coverage. Conclusive was the
reduction of stocks and its impact on working capital brought a positive
impact on EVA equivalent to 5.2% of operational profit of company
studied.
Key-words: Inventory Management, Inventory Cost, Sales & Operations
Planning, Master Production Scheduling, Inventory Classification.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Sistema de Planejamento e Controle da Produção ................ 23
Figura 2 - Os quatro fundamentos do S&OP......................................... 27
Figura 3 - Processo mensal de planejamento de vendas e operações .... 29
Figura 4 - A programação mestre da produção no sistema de PCP ....... 34
Figura 5 - Modelo de gerenciamento de estoques hierárquico .............. 43
Figura 6 - Balanço Patrimonial ............................................................. 47
Figura 7 - Demonstração do resultado do exercício .............................. 48
Figura 8 - Influência das decisões logísticas no EVA ........................... 59
Figura 9 - Distribuição Global de Volume de Vendas .......................... 65
Figura 10 - Centros Produtivos da Embraco ......................................... 67
Figura 11 - Fluxos de produto acabado ................................................. 68
Figura 12 - Horizonte de Planejamento ................................................. 69
Figura 13 - Balanceamento entre demanda, estoques e produção ......... 71
Figura 14 - Passos do Processo do S&OP ............................................. 73
Figura 15 - Exemplo de Calendário do S&OP ...................................... 74
Figura 16 - Orientação para definição de tipologia ............................... 83
Figura 17 - Planejamento do Order Fulfillment .................................... 86
Figura 18 - Classificação agrupada de estoques .................................... 89
Figura 19 - Relatório de itens bloqueados ............................................. 90
Figura 20 - Classificação dos produtos de baixo giro ........................... 92
Figura 21 - Segmentação do estoque planejado .................................... 93
Figura 22 - Variações no período firme ................................................ 95
Figura 23 - Impacto da evolução de estoques no EVA ....................... 104
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Conflitos no gerenciamento de estoques ............................. 38
Quadro 2 - Formas de cálculo de giro de estoques ............................... 51
Quadro 3 - Retorno sobre os Ativos ...................................................... 52
Quadro 4 - Impacto da redução dos estoques no ROA ....................... 101
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - As dez maiores iniciativas da cadeia de suprimentos ......... 26
Gráfico 2 - Evolução de dias de cobertura ............................................ 99
Gráfico 3 - Evolução do valor do estoque ........................................... 100
Gráfico 4 - Evolução da quantidade de compressores em estoque ...... 102
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ATO - Assemble to Order
BP - Balanço Patrimonial
DRE - Demonstração do Resultado do Exercício
ETO - Engineer to Order
EVA - Economic Value Added
MPS - Master Production Scheduling
MRP - Material Requirements Planning
MTO - Make to Order
MTS - Make to Stock
OEM - Original Equipment Manufacturer
OF - Order Fulfillment
OV - Ordem de Venda
PCP - Planejamento e Controle da Produção
PMP - Programação Mestre da Produção
ROA - Return over assets
S&OP - Sales and Operations Planning
SCM - Supply Chain Management
SKU - Stock Keeping Unit
SPM - Strategic Profit Model
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................ 15
1.1 JUSTIFICATIVA ................................................................... 16
1.2 OBJETIVOS .......................................................................... 17
1.2.1 Objetivo Geral ............................................................ 17
1.2.2 Objetivos Específicos ................................................. 17
1.3 METODOLOGIA .................................................................. 17
1.4 LIMITAÇÕES ....................................................................... 18
1.5 ESTRUTURA ........................................................................ 18
2 SISTEMA DE PLANEJAMENTO E CONTROLE DA
PRODUÇÃO - PCP ............................................................................. 21
2.1 ESTRATÉGIAS BÁSICAS DE PRODUÇÃO ...................... 24
2.2 PLANEJAMENTO DE VENDAS E OPERAÇÕES S&OP25
2.3 PROGRAMAÇÃO MESTRE DA PRODUÇÃO - PMP ....... 31
3 GESTÃO DE ESTOQUES ...................................................... 37
3.1 DEFINIÇÃO .......................................................................... 37
3.2 OBJETIVOS DA GESTÃO DE ESTOQUES ....................... 38
3.3 ORIGEM DOS ESTOQUES.................................................. 39
3.4 CLASSIFICAÇÃO DOS ESTOQUES .................................. 41
4 ESTOQUES NA CONTABILIDADE ..................................... 45
4.1 DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS ................................. 46
4.1.1 Balanço Patrimonial .................................................... 46
4.1.2 Estoques nas Demonstrações de Resultado de Exercício
DRE..... .................................................................................... 47
4.2 ABORDAGEM GERENCIAL DOS ESTOQUES COMO
ATIVOS ........................................................................................... 48
4.3 GIRO DE ESTOQUES .......................................................... 50
4.4 INDICADOR DE RETORNO SOBRE OS ATIVOS - ROA 52
4.5 CUSTOS DE ESTOQUES ..................................................... 53
4.5.1 Custos de Oportunidade de Capital ............................ 54
4.5.2 Custos de serviços de estoques seguros e impostos . 55
4.5.3 Custos de espaço para armazenagem ......................... 55
4.5.4 Custos de riscos de estoques ....................................... 55
4.5.5 Custos ocultos ............................................................. 57
4.6 VALOR ECONÔMICO AGREGADO EVA ..................... 58
5 ESTUDO DE CASO Whirlpool S.A. Unidade
Compressores (Embraco) ................................................................... 61
5.1 A EMPRESA ......................................................................... 61
5.1.1 Produtos ...................................................................... 62
5.1.2 Cadeia de suprimentos e de distribuição .................... 64
5.2 PLANEJAMENTO E CONTROLE DA PRODUÇÃO
PCP.... .............................................................................................. 69
5.3 PLANEJAMENTO DE VENDAS E OPERAÇÕES S&OP70
5.3.1 Passos do Processo de S&OP ..................................... 73
5.3.2 Desdobramento Red Meeting Cotas de Vendas .... 78
5.3.3 Benefícios do S&OP................................................... 78
5.4 POLÍTICAS DE ESTOQUES ............................................... 79
5.4.1 Tipologia da Política de Estoques .............................. 80
5.4.2 Cobertura da política de estoques de itens MTS e
ATO........ .................................................................................... 85
5.5 PLANEJAMENTO DE CURTO PRAZO - OF ..................... 85
5.6 CLASSIFICAÇÃO DOS ESTOQUES .................................. 88
5.6.1 Estoques obsoletos e bloqueados ................................ 89
5.6.2 Estoques com baixo giro ............................................ 90
5.6.3 Estoques planejados.................................................... 93
5.6.4 Estoques em excesso .................................................. 96
5.7 RESULTADOS ALCANÇADOS ......................................... 96
5.7.1 Planejamento Integrado S&OP ................................ 96
5.7.2 Balanceamento de estoques ........................................ 98
5.7.3 Redução dos ativos e geração de caixa ....................... 99
5.7.4 Redução de Custos de Estoques ............................... 102
5.7.5 Impacto em finanças EVA ..................................... 103
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................. 105
REFERÊNCIAS ................................................................................ 109
15
1 INTRODUÇÃO
Neste trabalho busca-se observar a relação entre o planejamento
de vendas e produção e os principais indicadores financeiros, sob o
ponto de vista de estoques. Estes são comuns em empresas de
manufatura, mais especificamente quando as mesmas utilizam
estratégias de produção nivelada. Neste tipo de ambiente faz-se
necessário balancear demanda e capacidade produtiva com o objetivo de
se obter uma projeção de estoques adequada que atenda
simultaneamente diversas áreas da empresa, entre elas, produção,
vendas, materiais, desenvolvimento de produto e marketing.
Cada área da empresa visualiza os estoques de produtos acabados
de maneira distinta. É freqüente solicitações de vendas de estoques altos
e de todos os produtos com o intuito de alavancar novas oportunidades
de mercado e garantir o nível de serviço. Ao mesmo tempo o
departamento de produção prefere a manufatura de maiores lotes que
podem permitir a redução de custos produtivos. Isto implica em altos
volumes de estoques, mas de uma pequena variedade de produtos. A
área de finanças, por outro lado, cobiça estoques mínimos a fim de
evitar custos de capital e de estoques, o que influencia positivamente
nos indicadores financeiros.
O processo de planejamento provoca o fluxo de comunicão
entre as áreas e permite a construção de cenários corporativos onde as
grandes compensações entre as áreas tronam-se visíveis. Isto possibilita
chegar a um consenso para os diversos pontos de atrito, em especial
quanto aos níveis de estoques mais adequados a todas as áreas.
Altos ou baixos, os estoques representam uma parcela
significativa dos ativos em empresas de manufatura de bens de
consumo, o que provoca impacto nos indicadores financeiros.
Fundamentalmente, a distribuição dos ativos dentro de uma empresa
depende do tipo de negócio com que esta opera. Empresas com parque
industrial normalmente apresentam alto valor de ativos fixos e de
estoques quando comparadas a empresas prestadoras de serviços.
De maneira bem simples, uma empresa se torna mais atrativa aos
acionistas quando apresenta criação de valor, ou seja, valor econômico
agregado (Economic Value Added - EVA). Em geral este indicador
financeiro melhora com o aumento do lucro, que por sua vez se pela
diferença entre receitas e despesas.
Para aquilatar o valor econômico agregado, deve-se buscar o
maior lucro possível com o menor capital empregado. É por isso que a
16
gestão foca muito a redução de ativos sejam eles fixos ou circulantes
conforme ensinam Faria e Costa (2005).
A redução dos ativos pode ser diretamente proporcional ao
desenvolvimento dos processos produtivos. A execução de um
gerenciamento adequado dos recursos possibilita o aperfeiçoamento dos
procedimentos e conseqüente baixa de estoques na cadeia de
suprimentos e de distribuição. Deste modo, a empresa ganha de duas
maneiras. Primeiramente, ao diminuir os ativos, acresce o retorno sobre
eles. Em seguida, ao deduzir os custos relacionados aos estoques,
aumenta o lucro com a correspondente majoração do retorno.
Assim, cabe as empresas explorar seus os custos de estoque a fim
de conhecê-los para que sejam considerados no planejamento, na
tomada de decisões e no gerenciamento das organizações com a
finalidade de se conseguir melhores resultados financeiros.
1.1 JUSTIFICATIVA
Em 2005, o autor participou ativamente do redesenho e da
implantação do sistema de planejamento e controle de produção na
Whirlpool S.A. Unidade Compressores (Embraco) onde os
processos de planejamento de médio e curto prazo foram revistos e se
tornaram um dos grandes focos da empresa juntamente com a definição
das políticas de estoques. Como desdobramento disto, implantou-se o
planejamento de vendas e operações, denominado Sales & Operations
Planning (S&OP), no modelo proposto por Wallace (2004), a
Programação mestre da Produção (PMP), dentro da metodologia do
Order Fulfillment (OF), e as poticas de estoques de produtos acabados,
onde o autor exerceu a coordenação. Foram acompanhadas as atividades
decorrentes deste trabalho a 2007, com foco no planejamento e
controle dos estoques através da interação com as atividades de
Planejamento e Controle da Produção (PCP).
Como resultado deste projeto obteve-se redução tanto dos ativos
da empresa, na sua forma de produtos acabados, quanto de custos de
estoque. Em geral, o valor de estoque de produtos acabados de empresas
com atividades industriais pode representar a 37% dos ativos
(BOWERSOX et al., 2006). Ao se analisar o impacto que o valor dos
ativos tem no retorno sobre o investimento fica fácil perceber sua
importância para a sobrevivência do negócio. Reduções de ativos na
ordem de 5% podem representar um aumento de retorno sobre o
investimento de até 3%.
17
1.2 OBJETIVOS
A seguir apresenta-se o objetivo geral e os objetivos específicos
da dissertação.
1.2.1 Objetivo Geral
Avaliar a influência do planejamento de médio e curto prazo,
com foco na gestão de estoques, nos resultados financeiros em uma
organização de manufatura de dimensão global.
1.2.2 Objetivos Específicos
Analisar as abordagens teóricas sobre planejamento de
vendas e operações de médio e de curto prazo;
Identificar na literatura os modelos de classificação de
estoques, os custos de estoque e os principais indicadores
que relacionam estoques e resultados financeiros;
Analisar, através de um estudo de caso na Whirlpool
Unidade Compressores (Embraco), a implantação de um
modelo de planejamento de vendas e operações, a
classificação de estoques utilizada na empresa e a
influência na evolução dos estoques nos resultados
financeiros.
1.3 METODOLOGIA
Segundo a forma de classificação de pesquisas sintetizada por
Carlos (2008), essa pesquisa é classificada como tanto como Qualitativa
tanto como Quantitativa. Em sua fase inicial o consideradas a revio
bibliográfica e a descrição do problema. Em suas etapas seguintes seus
resultados podem ser quantificáveis o que significa traduzir em números
os resultados alcançados.
Quanto à natureza a dissertação é dada como Aplicada porque
tem como objetivo gerar conhecimentos para aplicação prática dirigidos
à solução de problemas específicos. Nesse contexto estão envolvidos
verdades notoriamente difundidas e interesses locais.
Com relação aos objetivos é rotulada como Exploratória porque
visa proporcionar maior familiaridade com o problema com vistas a
torná-lo explícito fazendo uso de levantamento bibliográfico.
18
É tamm uma pesquisa Descritiva porque objetiva descrever as
características de determinado fenômeno (como é realizado o
planejamento de médio e curto prazo e classificação de estoques), no
qual a coleta de dados foi feita pelo próprio autor nos três anos em que
participou como integrante da equipe da empresa.
Com base nos procedimentos adotados a pesquisa pode ser
enquadrada como Estudo de Caso. É considerada porque envolve o
estudo na Whirlpool Unidade Compressores (Embraco), onde se
explora o processo de planejamento, a classificação dos estoques, seus
indicadores e os impactos financeiros.
1.4 LIMITAÇÕES
O estudo limita-se a empresas de manufatura que trabalham com
estratégia de produção nivelada e itens fabricados para estoque, ainda
que não sejam os únicos produzidos. Restringe-se à análise dos estoques
como produtos acabados ou semi-acabados, onde o plano de produção é
feito uma vez por mês e a programação mestre da produção é revisada
semanalmente. Trata-se de um sistema empurrado de produção e não
tem como pretensão detalhar o cálculo dos estoques operacionais e de
segurança uma vez que o mesmo é bastante difundido na literatura. Por
fim, a análise financeira se limita a abordar os estoques como única
variável assumindo que todas as demais permaneçam constantes.
1.5 ESTRUTURA
Este trabalho está estruturado em seis capítulos. O primeiro é
composto pela introdução ao tema, justificativa da dissertação, seus
objetivos e metodologia, suas limitações e estrutura.
O sistema de Planejamento e Controle da Produção, enfocando
estoques de produtos acabados, é delineado no segundo catulo.
Os dois próximos referem-se a estoques. No terceiro, são
apresentadas sua gestão, classificação e origem, sendo o subseqüente
destinado à descrição de sua ligação com os principais indicadores
financeiros de uma companhia e a relação entre os custos de estoque e
os resultados financeiros nas organizações.
No quinto capítulo é exposto e analisado um estudo de caso que
aborda um sistema de planejamento em funcionamento e os resultados
financeiros alcançados em decorrência da gestão de estoques
implantada.
19
E finalmente, o sexto capítulo é dedicado à explanação das
conclusões do trabalho desenvolvido e recomendações para trabalhos
futuros.
20
21
2 SISTEMA DE PLANEJAMENTO E CONTROLE DA
PRODUÇÃO - PCP
A estratégia nas empresas representa a intenção de como elas
pretendem se posicionar no mercado a longo prazo. A estratégia
corporativa inicia com uma definição muito clara dos objetivos da
corporação com um implícito entendimento de quais são as suas metas
mais importantes: realização de lucros, retorno sobre o investimento,
participação no mercado ou crescimento, ensina Ballou (2006).
Para Porter (1998), ela é a criação de valor de uma maneira única,
na qual busca alinhar as atividades da empresa de tal forma que esta
integração possa levá-la a alcançar seus propósitos. Uma boa estratégia
exige considerar quatro componentes básicos: clientes, fornecedores,
concorrentes e a empresa propriamente dita.
Sob o ponto de vista logístico, o planejamento estratégico auxilia
no alcance mais rápido e eficiente das estratégias das empresas, pois
permite proporcionar-lhes vantagens competitivas.
Sendo uma visão de longo prazo, o planejamento estratégico
precisa ser desdobrado em planejamento de médio e curto prazo, que no
dia-a-dia se transformam em ações.
Inicialmente neste capítulo é apresentada, em síntese, uma visão
simplificada do sistema de Planejamento e Controle da Produção, com
ênfase no planejamento agregado de vendas e operações e na
programação mestre da produção.
Dentro do contexto do gerenciamento da cadeia de suprimentos, a
criação de valor e o alinhamento entre os processos ocorrem ao se
integrar as atividades organizacionais e coordenar os processos
(STADTLER e KILGER, 2005).
O sistema de Planejamento e Controle da Produção, que é parte
da cadeia de suprimentos, está organizado segundo Arnold (1999), em
cinco níveis principais:
Plano estratégico de negócios;
Plano de produção;
Master production schedule (MPS);
Material requirements plan (MRP);
Controle da atividade de compras e de produção.
Conforme ensina o autor acima mencionado, o Planejamento
estratégico de negócios é uma declaração dos principais objetivos e
metas que a empresa espera atingir no horizonte de dois a dez anos,
período em que se dá o direcionamento amplo da empresa e mostra com
22
que tipo de negócios ela pretende atuar no futuro, definindo produtos,
mercados e clientes.
Referente a entregas, Tubino (2000) afirma que o planejamento
estratégico busca maximizar os resultados das operações e minimizar os
riscos nas tomadas de decisões das empresas. Para ele, o efeito de
decisões de longo prazo incide sobre a natureza e as características das
empresas no sentido de garantir o atendimento de sua missão. Ao se
planejar estrategicamente, levando-se em consideração oportunidades e
ameaças, surge a possibilidade de melhorar a vantagem competitiva em
relação ao ambiente concorrencial.
O plano estratégico deve fornecer alinhamento entre os planos de
marketing, de produção, de finanças e de engenharia. A
responsabilidade do desenvolvimento do plano estratégico é da diretoria
da empresa e, por ter um horizonte longo, possui um nível de
detalhamento muito pequeno. Estando mais relacionado com requisitos
gerais de mercado e de produção é construído normalmente em valores
monetários e não em unidades. Vollmann et al. (2006) explicam que a
tomada de decisões neste nível deve considerar estudos sobre
capacidades, tanto produtiva, incluindo novas instalações e compra de
máquinas e equipamentos, quanto a de fornecedores, recursos humanos,
tecnologia e posicionamento geográfico.
Assim, o plano estratégico integra os planos de todos os
departamentos e é atualizado geralmente uma vez por ano. À medida
que o tempo avança, são necessários adequação e um detalhamento
destes com as últimas previsões e condições econômicas. Isto é
realizado no médio prazo pelo Plano de Produção, tamm chamado de
Plano de Vendas e Operações, Planejamento Agregado de Vendas e
Operações, Sales and Operations Planning (S&OP), ou ainda
planejamento de médio prazo. Para Tubino (2000), o plano de produção
serve como base para equacionar os níveis de produção, estoques,
recursos humanos, máquinas e instalações necessárias para atender a
demanda prevista de bens e serviços. É realizado em consonância com
vendas e marketing, envolvendo negociões com os recursos
financeiros. Por hora basta esclarecer que o S&OP tem uma freqüência
de planejamento em geral mensal com um nível de detalhamento maior
que o plano estratégico e seu objetivo é direcionar as ações de médio
prazo para que venham a coincidir com os planos estabelecidos para o
longo prazo, cujo detalhamento é apresentado no item 2.2
O planejamento de curto prazo tamm tem diferentes
denominações. Para Arnold (1999), que estabeleceu cinco níveis no
sistema de Planejamento e Controle da Produção, é tido como Master
23
Production Schedule (MPS), ou ainda Programação Mestre da Produção
(PMP) tanto por Tubino (2000) quanto por Vollmann et al. (2006). O
planejamento de curto prazo requer detalhamento no nível de produto,
pois tem como finalidade a fabricação dos mesmos. Assim, como o
nome define, ele estabelece o que será produzido em um horizonte de
tempo em geral de dias ou semanas permitindo que a empresa conheça
quais matérias-primas devem ser compradas e que componentes devem
ser produzidos. Neste horizonte, segundo Vollmann et al. (2006), é
importante considerar tamm a gestão da demanda e o planejamento de
capacidade bruta. No item 2.3 este assunto será visto com mais
pormenores.
A Figura 1 representa a interação dos planos de longo, médio e
curto prazo proposta por Vollmann et al. (2006).
Figura 1 - Sistema de Planejamento e Controle da Produção
Fonte: Adaptado de Vollmann et al. (2006)
O planejamento de curto prazo (OF) seabordado no contexto
do desdobramento do planejamento de vendas e operações sendo ambos,
sob a ótica dos estoques.
Quanto ao S&OP, no contexto deste trabalho será tratado com
enfoque nas estratégias de nivelamento de produção e balanço de
estoques. O próximopico traz uma breve explicação sobre elas.
24
2.1 ESTRATÉGIAS BÁSICAS DE PRODUÇÃO
Este tópico tem como objetivo referir os diversos tipos de
estratégias básicas de produção para melhor explanar o modelo adotado
no estudo de caso.
A projeção de estoques e o desenho da cadeia de suprimentos
dependem em grande parte do tipo da estratégia de planejamento de
produção adotado pela empresa, denominado por Arnold (1999) como
Estratégias Básicas. Para ele, o contexto de planejamento de produção
normalmente envolve:
Um horizonte de planejamento de 12 meses com atualizações
periódicas;
Uma demanda de fabricação consistindo em poucas famílias de
produtos ou unidades comuns;
Uma demanda flutuante ou sazonal;
Uma planta produtiva com equipamentos com capacidades
limitadas dentro de um período de planejamento;
Diversos objetivos da administração, como estoques baixos,
operações eficientes, bons serviços ao consumidor e boas
relações de trabalho.
Em decorrência destes itens, pode-se escolher, basicamente, entre
três tipos de estratégia. A primeira, estratégia de Acompanhamento da
Demanda, propõe que se produzam exatamente as quantidades
demandadas a qualquer tempo considerado. Este tipo é indicado, por
exemplo, para o serviço postal, para fazendeiros, para restaurantes, ou
seja, setores que não podem estocar ou guardar seus produtos ou
serviços e devem atender a demanda quando ela ocorrer. Exige
contratações para os períodos de pico e geralmente o maquinário fica
ocioso uma boa parte do tempo. A vantagem é que os estoques podem
ser mantidos nos seus níveis mínimos.
Outra estratégia, denominada Nivelamento da Produção, consiste
em produzir continuamente uma quantidade para igualar a média da
demanda. Quando esta é menor que a capacidade produtiva, pode-se
fazer a construção dos estoques a serem utilizados nos períodos de pico
de demanda. A sua vantagem é a manutenção da produção ao longo do
ano, o que evita custos de alteração dos níveis de produção, entre eles
contratações por pequenos períodos, treinamentos e demissões. A
desvantagem é que o estoque irá crescer em épocas de baixa demanda e
isto acarreta uma preocupação de gerenciamento e um custo a ser
mantido. Neste tipo é necessário que exista um planejamento de médio
25
prazo que permita uma visão de projeção de vendas e estoques. Este é o
foco do item 2.2.
A terceira estratégia é a Subcontratação, na qual a empresa pode
procurar fornecimento externo. Um ponto fraco é que este costuma
representar custos acima dos internos de produção e a vantagem é a
possibilidade de manutenção da produção e de utilização contínua das
máquinas.
2.2 PLANEJAMENTO DE VENDAS E OPERAÇÕES S&OP
As decisões relacionadas às áreas de vendas e de operações, em
uma empresa de manufatura, afetam os resultados financeiros, a
eficiência produtiva e o nível de serviço. Para Wahlers e Cox (1994)
tradicionalmente, estas duas áreas tendem a tomar decisões em separado
ou apenas com um nível muito pequeno de interação. Enquanto que as
ações de vendas estão em princípio interessadas em volumes e em
margens de contribuição, as de produção consideram principalmente os
custos produtivos, a utilização de equipamentos e dos recursos humanos.
Ambas, vendas e operações, m em sua natureza diferentes
responsabilidades e indicadores. Por esta rao não é raro que cada uma
destas áreas procure focar em melhorias locais dando pouca ênfase ao
retorno financeiro da empresa como um todo. Através de uma
metodologia integrativa vem o planejamento de vendas e operações
(S&OP) que objetiva diminuir essa deficncia atingindo o balanço entre
demanda e capacidade produtiva.
Em novembro de 2004, a revista Supply Chain Management
Review publicou os resultados da pesquisa Global Survey of Supply
Chain Progress realizada em parceria com a Computers Sciences
Corporation durante o segundo semestre de 2004 (POIRIER e QUINN,
2004). Das 209 empresas que responderam as oito páginas do
questionário, 125 estão localizadas na América do Norte, 36 na Europa e
as demais nos outros continentes. Entre diversos questionamentos foi
avaliado se possuem projetos em andamento ou concluídos com relação
à cadeia de suprimentos. O Gráfico 1 ilustra os resultados.
26
Gráfico 1 - As dez maiores iniciativas da cadeia de suprimentos
Fonte: Supply Chain Management Review (2004)
Como se pode observar, em primeiro lugar tem-se iniciativas de
Suprimento estratégico de materiais diretos e logo em seguida as de
Planejamento de vendas e operações (S&OP). A primeira delas destaca-
se pela imporncia em que os materiais diretos representam no custo
final dos produtos manufaturados.
Uma das razões pelas quais o S&OP, segundo colocado, está
sendo muito utilizado, conforme explicam Vollmann et al. (2006) é por
sua capacidade de fornecer elos chave de comunicação para a alta
gerência coordenar várias atividades da empresa de maneira
colaborativa. Por exemplo: a iniciativa de marketing de lançar um novo
produto no mercado pode ser coordenada com um aumento de
capacidade produtiva e, ao mesmo tempo, ter suporte financeiro,
planejamento de estoques e fornecimento de matéria-prima. Em outra
situação, sob a perspectiva de produção, o S&OP fornece a base para
adaptar os recursos de produção de forma a atingir os objetivos
estratégicos do negócio.
27
O Aberdeen Group (2004) define S&OP como um processo de
planejamento tático mensal que, liderado pela gerência da empresa, tem
como objetivo balancear a demanda e os suprimentos, incluindo, então,
disponibilidade de materiais, recursos produtivos, compras e expedição,
observando sempre os resultados financeiros para assegurar que todas as
atividades do negócio estão direcionadas e alinhadas com o
planejamento estratégico. É deste modo, um processo integrado que
capta todos os planos de diferentes áreas e unidades funcionais, os
avalia, revisa e traz para a discussão os conflitos existentes, com o
intuito de elaborar um plano único para conduzir as atividades da
companhia.
O Apics Dictionary (2002) identifica três elementos básicos do
S&OP. O primeiro é uma integração do processo tático de planejamento
que busca a integração de clientes, vendas, marketing, desenvolvimento
de produtos, manufatura, suprimentos e finanças. O segundo sugere que
o processo facilita a coordenação hierárquica com a programação da
produção e apóia o planejamento estratégico. E o terceiro, coloca o
S&OP como um processo de planejamento contínuo que revisita e
avalia o horizonte de um a dois anos.
Independente da definição adotada, Wallace e Stahl (2005) e
Vollmann et al. (2006) identificam quatro fundamentos do planejamento
de vendas e operações, ilustrados na Figura 2.
Figura 2 - Os quatro fundamentos do S&OP
Fonte: Wallace e Stahl (2005)
28
Quando a demanda excede os suprimentos, e não existe um
planejamento de estoques apropriado, o nível de serviço é afetado, pois
a manufatura não consegue fornecer o volume de produtos solicitado
pelos clientes. Isto pode provocar custos não planejados de produção
decorrentes de horas extras, tarifas de fretes de urgência e problemas de
qualidade. Por outro lado, quando o suprimento excede a demanda
ocorre aumento dos estoques o que pode gerar outros custos, resultar em
cortes nas taxas de produção, redução de preços e descontos. Portanto,
um dos pontos chave para se manter um negócio equilibrado é o balanço
dos fundamentos demanda e suprimentos. Em relação aos fundamentos
volume e mix, necessitam ser tratados separadamente. O volume diz
respeito às grandes decisões como o quanto produzir, o quanto vender e
o quanto estocar. As decisões de mix envolvem a definição de produtos
individuais a serem produzidos, clientes a serem atendidos e seqüência
de lançamento destes produtos.
Segundo Vollmann et al. (2006) é comum que as empresas
considerem os volumes apenas uma vez por ano e voltem suas
preocupações para o mix que se apresenta de forma prioritária devido à
pressão dos clientes. Para esses autores isto é um erro, pois tratando os
volumes adequadamente fica muito mais fácil resolver situações de mix,
uma vez que a capacidade produtiva e os estoques encontram-se
balanceados.
Em relação a este balanceamento, Ling e Goddard (1988)
complementam o conceito de S&OP fazendo uma abordagem relativa
aos estoques, ensinando que o planejamento de vendas e o de produção
determinam a necessidade produtiva e o nível de estoques projetados
que interferem de forma acentuada no resultado financeiro e no nível de
serviço.
Desta dualidade entre vendas e produção surgem duas estratégias
comentadas por Krajewski e Ritzman (1996). A primeira, chamada de
estratégia agressiva”, tenta modificar a demanda, adequando-a, eno,
aos recursos produtivos; e a segunda, denominada estratégia reativa”,
procura transformar esses para atender àquela. Em ambas as estratégias,
a finalidade é o equilíbrio para que se possa manter um nível de
estoques adequado e evitar, assim, custos extraordinários.
Alguns estudos também apontam a aplicação do S&OP dentro do
contexto da cadeia de suprimentos para a criação de valor uma vez que o
mecanismo é capaz de integrar a previsão de vendas com flexibilidade
de suprimentos, marketing, manufatura, compras, logística e finanças.
Para Cecere et al. (2006), deve-se buscar alinhar a rentabilidade com o
29
planejamento da demanda e com os suprimentos de acordo com as
estratégias do negócio.
Por fornecer um diálogo direto e consistente à alta gerência sobre
os resultados financeiros e operacionais como um todo, o S&OP permite
as grandes compensações. Para Vollmann et al. (2006) isto acontece
dado o fato de que o S&OP possibilita construir diversos cenários em
que uma ou outra área é desfavorecida sem que se perca a visão do todo.
Em um ambiente não colaborativo, as decisões individuais de cada área
não necessariamente seriam a melhor para a companhia.
No livro Sales & Operations Planning The How-To Handbook,
Wallace (2004) define o S&OP de maneira muito similar aos outros
autores, e explica seus benefícios e dificuldades, apresentando a
aplicação da metodologia. Ele propõe que o planejamento siga cinco
passos, delineados na Figura 3:
Figura 3 - Processo mensal de planejamento de vendas e operações
Fonte: Adaptado de Wallace (2004)
O processo inicia com a atualização das previsões de vendas
oriundas do mercado, da percepção dos vendedores, de indicadores, de
previsões estatísticas ou, ainda, de uma combinação destas fontes de
informações.
No Planejamento da Demanda os números de vendas são
observados de forma agregada e ocorre uma validação pelas equipes de
vendas e marketing para todo o horizonte de planejamento.
30
O terceiro passo tem como objetivo o atendimento do plano de
vendas através do balanceamento entre produção e estoques. São
observadas as restrições de capacidade produtiva e os níveis de estoques
projetados e suas discrepâncias entre estes e os estoques máximos e
mínimos definidos por sua política.
É neste passo que os volumes de estoques são planejados. Para
estratégias de produção de nivelamento, ocorre o planejamento de
estoques de antecipação seja na projeção de seu consumo ou de sua
construção. Para tal, o observados os movimentos de entrada e saída
do portfólio de produtos bem como os riscos dos produtos se tornarem
obsoletos ou perecerem. Ocorre, tamm, nesta etapa, a valorização de
um ou mais cenários de vendas, produção e estoques que serão levados
para discussão durante a próxima etapa.
Nesta, a reunião de Pré-S&OP, que conta com a participação de
gerentes de vendas, marketing, produção, materiais, desenvolvimento de
produtos e finanças, tem como foco a análise dos cenários e um deles
será o selecionado para indicação.
No passo cinco, a Reunião de S&OP com a diretoria executiva,
os cenários são apresentados e apreciados. O eleito no passo anterior é
recomendado e o escolhido tornar-se a meta a ser perseguida para
todas as áreas da companhia.
Entre os principais benefícios do S&OP, Wallace (2004) destaca:
Demanda e produção balanceadas;
Melhor visibilidade e aumento da comunicação na empresa;
Trabalhos colaborativos entre vendas, operações, finanças e
desenvolvimento de produtos;
Melhor nível de atendimento aos clientes;
Maior estabilidade da produção e diminuição de horas-extras de
mão-de-obra, elevando a produtividade;
Maior trabalho em equipe entre as gerência de vendas,
operações, finanças e desenvolvimento de produtos;
Menor nível de estoques;
Menor lead times de entrega aos clientes.
A estes pontos, Dwaraknath et al. (2009) adicionam o
envolvimento da alta gerência no direcionamento da empresa dentro de
um rigoroso calendário de processo e reuniões e a definão de metas de
faturamento associada ao levantamento de indicadores de desempenho.
Em suma, o planejamento de vendas e operações é uma
ferramenta de gerenciamento dos negócios da diretoria e da alta gerência
uma vez que ele tem a capacidade de fornecer a visibilidade das
31
interações críticas entre vendas, marketing, produção, desenvolvimento
de produtos e finanças. Para Vollmann et al. (2006), uma vez aprovado
um plano de S&OP, todas as áreas da empresa devem segui-lo, o que
possibilita a eliminação de diversas divergências entre as áreas como,
por exemplo, a do volume adequado de estoques de produtos acabados.
importante ligação com o S&OP é o Planejamento e Controle
da Produção de curto prazo o qual tem, entre suas funções, o
detalhamento do planejamento de produção agregado no nível de
produtos acabados, indicando o que e quanto deverá ser produzido para
o atendimento da demanda e do planejamento de estoques. Este é o tema
do próximo tópico.
2.3 PROGRAMAÇÃO MESTRE DA PRODUÇÃO - PMP
Após a definição do planejamento da produção, o próximo passo
é preparar a programão mestre da produção. Conforme ensina Arnold
(1999), a PMP é a programação para a produção de itens finais
individuais que deve atender a demanda total do produto e tem como
principais objetivos: conservar o nível de serviço aos clientes, mantendo
o estoque de mercadorias acabadas ou programando-as para satisfazer as
exigências de entregas, fazer a melhor utilização de material, mão-de-
obra e equipamentos e manter o investimento em estoques nos níveis
exigidos.
A PMP constitui uma área comum entre os departamentos de
vendas e de produção, fornecendo um plano com base na qual
promessas realistas de entrega podem ser feitas aos clientes após os
ajustes necessários. As principais funções da PMP são:
Formar o elo entre o planejamento da produção e o que é feito
pela produção;
Planejar as necessidades de capacidade no curto prazo uma vez
que a PMP determina a capacidade exigida;
Planejar as necessidades de materiais orientando o MRP;
Manter válidas as prioridades sendo que a PMP é uma
programação de prioridades para a produção;
Ajudar nas promessas do pedido dado que o MPS planeja o que
e quando será produzido informando ao departamento de
vendas a previsão de disponibilidade dos produtos;
Ser um contrato entre as áreas de marketing e de produção,
tratando-se de um plano consensual.
32
Assim, a PMP é a base de comunicação entre a área de vendas e
produção consistindo em um elo vital no sistema de planejamento da
produção uma vez que forma a ligação entre o planejamento da
produção (S&OP) e o que a produção realmente realizará.
Tubino (2000) ensina que a PMP distingue-se do plano de
produção principalmente por dois aspectos: o nível de agregação dos
produtos e a unidade de tempo em questão. Enquanto que o plano de
produção trata de produtos agregados em termos de famílias ou grupos
de produtos, aquela se preocupa com produtos individuais na forma
como serão fabricados. Em relação à unidade de tempo, a PMP emprega
em geral semanas e o plano de produção utiliza a base de meses ou
trimestres. Para o autor, na elaboração da PMP devem estar envolvidas
todas as áreas ligadas a manufatura, quer como fornecedores, quer como
clientes.
A área de finanças coordenará investimentos com estoques,
horas-extras, compra de matéria prima e recursos necessários para a
produção. A área de engenharia fornecerá os padrões atuais de tempos e
consumos de materiais para a execução das tarefas. A área de produção
analisará restrições de capacidade e de instalações e a área compras
fornecerá informações à logística sobre necessidades de fornecimento
externo. Tubino (2000) ainda explica que por ser um processo
interativo, ao final da elaboração da PMP, é elaborada com a
participação de diversas áreas e representará os anseios dos variados
atores do processo de planejamento. Finanças terá suas necessidades de
capital atendidas, marketing terá seu plano de vendas com datas
adequadas de entregas, compras poderá negociar seus contratos de
fornecimentos, recursos humanos terá como se planejar em caso de
contratação e treinamento e a produção se programará conforme as
atividades necessárias.
Vollmann et al. (2006) enfatizam que a PMP é uma declaração de
produção futura que especifica os produtos que serão completados, o
momento de sua finalização e as quantidades que serão produzidas o que
não pode ser confundido com a demanda. Assim, a PMP especifica, não
a demanda propriamente dita, mas como ela será atendida.
Quanto ao ambiente de negócios, entende-se que engloba a
abordagem de produção utilizada, a variedade de produtos
manufaturados e os mercados servidos pela empresa. Vollmann et al.
(2006) citam três ambientes básicos de produção: produção para
estoque, produção sob pedido e montagem sob pedido. Cada um deles
influencia de algum modo a formação da PMP.
33
No ambiente produção para estoques, em geral o cliente não
admite esperar o período entre o pedido e a entrega. A empresa é
obrigada a adotar uma postura em que produz para estocar
disponibilizando então, imediatamente, os produtos solicitados. Neste
caso, é comum a produção em lotes que ocorre em sua maioria na
configuração final sendo freqüente nos produtos para consumo. Este
sistema de produção é comumente denominado Make to Stock (MTS).
A produção sob pedido é dirigida no ambiente Make to Order
(MTO) no qual os produtos não o mantidos no estoque e o
fabricados apenas a partir de uma ordem de vendas ou de um pedido
formal. Esta modalidade é muito utilizada quando existe um grande
número de configurações possíveis de produção o que torna difícil
antecipar a produção de um item procurando antever as vendas. Neste
tipo de ambiente, o tempo de atendimento aos clientes costuma ser mais
longo, e os mesmos acabam se adaptando a este modelo de negócios.
A montagem sob pedido, utilizada para itens nomeados Assemble
to Order (ATO), é mais comum em ambientes onde, embora o número
de configurações finais dos produtos seja muito grande, todas estas
configurações são feitas a partir de itens básicos e em ambientes onde o
tempo de entrega aos clientes é freqüentemente mais curto do que o
tempo de produção. Assim, a montagem sob pedido procura manter a
entrega rápida e um abrangente portfólio de produtos colocando-os em
montagem a partir de componentes básicos pré-fabricados.
Arnold (1999) ainda cita uma outra estratégia de fabricação,
denominada Engineer to Order (ETO), que significa que as
especificações do cliente requerem um projeto de engenharia único, ou
mesmo uma personalização customizada. Nestes casos, o período de
entrega do produto é muito longo uma vez que envolve projetar,
comprar, fabricar, montar e enviar. As matérias-primas para o ETO
serão adquiridas para serem utilizadas no momento da produção.
As empresas não necessariamente precisam escolher entre um e
outro ambiente de produção visto que, dependendo das características do
negócio, a PMP pode comportar a programação de itens MTS, MTO e
ATO. Num ambiente MTS, os pedidos dos clientes são atendidos pelo
estoque, enquanto que, num ambiente MTO ou ATO a demanda é
satisfeita pela capacidade produtiva. Qualquer que seja o caso, os
departamentos de vendas e o de distribuição precisam saber o que estará
disponível para programar as entregas aos clientes. Em um ambiente
misto, à medida que os pedidos são recebidos, eles podem consumir
tanto os estoques quanto a capacidade produtiva disponível. Em
34
qualquer caso, a PMP é capaz de planejar as disponibilidades produtivas
indicando a previsão de entrega das mercadorias.
Em se tratando de ligação com outras atividades da empresa, a
Figura 4 ilustra o esquema com os principais envolvidos no processo.
Figura 4 - A programação mestre da produção no sistema de PCP
Fonte: Vollmann et al. (2006)
O bloco de gerenciamento da demanda representa as atividades
de previsão de vendas, entrada de pedido e promessa de pedido.
Vollmann et al. (2006) ensinam que:
o gerenciamento da demanda coleta dados em todas
as fontes de demanda por capacidade de produção:
pedidos dos clientes, previsões de pedidos futuros de
clientes, reabastecimento de armazéns, transferências
interplantas, requisitos de peças de produção e assim
por diante. Estas previsões são coletadas, resumidas
e enviadas para o planejamento de vendas e
operações. Ao mesmo tempo, os pedidos dos clientes
são registrados e fornecidos para a programação
mestre da produção.
Assim, o ciclo de planejamento da PMP inicia com os dados do
gerenciamento da demanda que é composto de pedidos de clientes,
previsões de vendas e ordens de produção para estoques.
Durante a construção da PMP são analisados alguns importantes
aspectos tais como:
Avaliação da realização dos planos de venda e de produção
estipulados no ciclo do S&OP;
Contratação de horas extras e ampliação dos recursos gargalo;
35
Priorização de alguns clientes caso nem todos possam ser
atendidos;
Escolha dos itens e observância dos volumes que serão
produzidos para estoque;
Utilização do estoque de antecipação para concretizar
oportunidades de mercado.
Arnold (1999) lembra que a PMP deve ser realista e ter por base a
verdadeira capacidade de produção. Com isto pode-se evitar a
sobrecarga ou ociosidade dos recursos da fábrica, os programas não
confiáveis, os altos níveis de estoques em processo e ainda a perda da
credibilidade do sistema de planejamento.
Uma vez que os planos de médio e curto prazo estão
constantemente considerando o balanço entre vendas e operações, eles
influenciam diretamente o volume de estoques projetados. A
programação dos planos de produção, de médio ou curto prazo, a
previsão de vendas e o atendimento dos pedidos influenciam
diretamente na dimensão de estoques futuros e no nível de serviço.
Qualquer decisão que envolva volume de vendas ou de produção
tem desdobramento sobre os estoques. O ideal é mantê-los conforme o
plano estabelecido no S&OP, que atende os clientes com o aporte
financeiro adequado.
A definição de quanto e para quem produzir interfere nas
projeções de estoques, as quais devem ter acompanhamento da gestão de
estoques, que é o tema do próximo capítulo.
36
37
3 GESTÃO DE ESTOQUES
Neste capítulo, inicialmente, aborda-se de maneira sucinta as
definições e objetivos da gestão de estoques. Em seguida explora-se a
natureza dos mesmos explicando as principais razões de sua existência e
por fim mostram-se suas diversas formas de classificação.
3.1 DEFINIÇÃO
Gestão de estoques é definida por Ching (2006) como o
planejamento do estoque, seu controle e sua retroalimentação sobre o
planejamento.
Esta consiste na determinação dos valores que o estoque assumirá
e os volumes de entradas e saídas em cada período. O controle engloba
tanto o registro dos estoques, quanto a comparação dos dados de
controle com os dados de planejamento, a fim de constatar seus desvios
e determinar suas causas.
Moura (2004) complementa ao afirmar que gerenciar estoques
significa ter um conhecimento amplo das necessidades da empresa
colocando a gestão de estoques com uma nova visão e derrubando
antigos conceitos de controle de almoxarifado que recebe ordens de
compras e as coloca em prateleiras. Para a autora a gestão de estoques
deve levar em conta a trajetória e os pontos das aquisições, o
armazenamento e expedição de produtos acabados além de outras
informações que possam ser úteis ao gerenciamento e que devem ser
analisadas com certa freqüência.
Assim, o gerenciamento de estoques transcende os conceitos de
armazenar e controlar. Para Moura (2004),
o estoque é que impulsiona, de forma correta ou não,
a vida de uma empresa, e seu perfeito gerenciamento
é o que viabiliza a empresa de se tornar competitiva.
O estoque tem importância vital para o bom
desempenho da empresa, pois as operações são
movimentadas por ele e contribuem para a satisfação
do cliente.
A grande arte do gerenciamento de estoques está em achar o
ponto de equilíbrio entre os estoques mínimos, o nível de serviço e os
custos totais. Segundo Wanke (2003), a decisão de nível de serviço pode
ser baseada na relação entre os custos de oportunidade decorrente da
falta de estoques e os custos de excesso.
38
3.2 OBJETIVOS DA GESTÃO DE ESTOQUES
Os objetivos dos estoques, tema presente na literatura, tem
consenso entre muitos autores. Para a maioria, os estoques englobam
objetivos de custos e objetivos de nível de serviço, ou seja, buscam
atender as necessidades dos clientes a um custo razoável para gerar
lucro à empresa. Este é o objetivo do gerenciamento dos estoques
definido por Ballou (1993), Arnold (1999), Chiavenato (2005), Mercado
(2008), Ching (2006) e Garcia (2006). Para eles, a redução de custos de
estoques não se sustenta sem que se observe o atendimento aos clientes.
É comum reduzir estoques para se reduzir custos e aumentar estoques
para melhorar o nível de serviço. Assim, custos e nível de serviço
podem-se apresentar conflitantes no que tange o nível de estoques.
Dias (2009) é um pouco menos enfático na questão do nível de
serviço, mas mesmo assim segue a mesma linha de pensamento ao
afirmar:
a função da administração de estoques é maximizar o
efeito lubrificante no feedback de vendas e o ajuste
do planejamento da produção. Simultaneamente,
deve minimizar o capital investido em estoques, pois
ele é caro e aumenta continuamente, uma vez que o
custo financeiro aumenta.
Alguns autores exploram o conflito gerencial entre diversas áreas
a respeito das políticas de estoque. O Quadro 1, formulado por Dias
(2009) mostra alguns pontos de discussão entre departamentos de
compras, financeiro e de produção.
Matéria-prima
(estoque alto)
Desconto sobre as quantidades a
serem compradas
Capital investido e juros
perdidos
Matéria-prima
(estoque alto)
Nenhum risco de falta de material
e grandes lotes de fabricação
maior risco de perdas e
obsolescência e aumento do
custo de armazenagem
Produto Acabado
(estoque alto)
Entregas rápidas e boa imagem e
melhores vendas
Capital investido e maior custo
de armazenagem
Quadro 1 - Conflitos no gerenciamento de estoques
Fonte: Dias 2009
A área de vendas, por meio de seus canais de distribuição,
gostaria de atender a seus clientes e para isto procura disponibilizar
39
volume e diversidade de estoques abundantes próximo aos pontos de
venda. O departamento de produção tem a intenção de cumprir o plano
de produção e assim busca ter a seu dispor estoque farto de matéria-
prima e produtos em processo. Isto permite produção de grandes lotes
sem a necessidade de set-up e a redução de custos unitários de produção.
A produção de lotes grandes de certa forma impede que o atendimento
de vendas aconteça de forma mais ágil, pois a produção de um item
qualquer necessário para vendas depende da finalização de lotes em
processo produtivo. O departamento de compras, por sua vez, quer
realizar sua atividade a baixos custos e isto muitas vezes é possível
através da compra de grandes volumes acumulando estes produtos como
estoques de matéria-prima. Faria e Costa (2005) afirmam que manter
altos níveis de estoque para todas as áreas pode incidir em baixo giro
deles e uma redução nos índices de lucratividade da empresa. Por isso, o
departamento financeiro procura fazer pressão sobre as áreas da empresa
para diminuir os estoques.
A seguir, são tratadas as razões da existência de estoques e por
que eles o necessários ou mesmo oportunos para as atividades das
empresas.
3.3 ORIGEM DOS ESTOQUES
Ryzin (2001) inicia uma abordagem de causas de estoque
afirmando que os estes se originam do desbalanceamento entre demanda
e suprimentos acumulados.
Para ele, é mais comum pensar em estoques como um valor
positivo que ocorre quando a demanda acumulada é menor do que os
suprimentos acumulados, mas o autor tamm explica que os estoques
podem ocorrer na forma negativa quando existem mais pedidos
(demanda) do que os suprimentos disponíveis para um determinado
momento. Neste caso, as ordens de demanda não atendidas são
denominadas backorders.
É ainda Ryzin (2001) que agrupa as causas de estoques em quatro
grandes conjuntos: Desbalanceamentos Planejados, Tempo e Distância,
Economia de Escala e Incertezas de Demanda e Suprimentos.
No grupo denominado Desbalanceamentos Planejados, os
estoques são planejados e desejados pela empresa. Eles podem ser
utilizados para cobrir a demanda em épocas de pico de mercado, para
aproveitar oportunidades de mercado ou ainda para se prevenir contra
ameaças de greve. Exemplos clássicos deste grupo são a produção de
chocolates antecipada para a época de páscoa e a produção de bebidas
40
para datas festivas. No quesito oportunidades de mercado, o estoque é
planejado e visa a usufruir de descontos ou preços de operações
comerciais. Para algumas operações de mercado, volumes maiores
permitem reduzir o preço unitário dos itens. Estes métodos de compras
são muito utilizados por grandes supermercados e lojas de
departamentos conforme expõe Arnold (1999).
A segunda grande causa dos estoques é a distância e o tempo que
normalmente separam o ponto de suprimentos e o de demanda. Ao
atender um mercado do outro lado do oceano, por exemplo, é preciso
enviar os produtos por avião ou por navio. A operação de transportes
pode levar dias para que seja concluída. Este tipo de estoque,
denominado em trânsito, é implícito à compra, à fabricação ou à
comercialização de produtos e, geralmente, pode ser previsto e
planejado. Neste grupo, tamm se enquadra a categoria de Demanda de
Mercado, abordada do mesmo modo por Mercado (2008), ao afirmar
que alguns itens devem estar disponíveis nas prateleiras para consumo
imediato nos pontos de vendas à espera dos consumidores sob pena da
não realização do negócio.
Em relação à economia de escala, os estoques podem colaborar
para evitar custos de set-up e reduzir fretes consolidando embalagens e
cargas. Assaf Neto (2008) ensina que a aplicação de capital em estoques
pode permitir um incremento do nível de produção como forma de
baratear o custo unitário dos produtos acabados. As diminuições nos
custos são explicadas em razão da possibilidade de introduzir uma
economia de escala no planejamento da produção, ou seja, os custos e
despesas fixas, inalteráveis por definição, decrescem por unidade
adicional produzida.
Para Ryzin (2001), a última causa dos estoques está ligada à
incerteza tanto da demanda como da cadeia de suprimentos e
distribuição. É desejável manter um volume de estoques disponível caso
a demanda efetiva seja maior do que a demanda esperada, quando o
atendimento a ela é possível através de um estoque de segurança.
Este tamm é utilizado, para que o atendimento dos clientes não seja
prejudicado quando ocorrer variabilidade na cadeia de suprimentos
como atrasos, demorando mais do que o esperado para entregar um lote
de produção. Para que o atendimento dos clientes não seja prejudicado,
utiliza-se tamm o estoque de segurança. A tendência, para este caso é
procurar reduzir não o lead time, como principalmente, a
variabilidade da demanda e da cadeia de suprimentos.
As causas de estoque tamm podem ser denominadas funções
dos estoques. Arnold (1999) define-as como: Estoque de Antecipação,
41
Estoque de Transporte, Estoque de Tamanho do Lote, Estoque de
Flutuação e Estoque Hedge. As funções de estoques para este autor o
basicamente as causas de Ryzin (2001) sendo que a última, o Estoque de
Hedge, está incluída nos Desbalanceamentos Planejados.
3.4 CLASSIFICAÇÃO DOS ESTOQUES
De certa forma, as funções do estoque podem estar ligadas à sua
classificação. Nesta parte do trabalho, a proposta é abordar as diversas
formas de classificação de estoques propostas na literatura.
Em uma linha mais próxima da classificação contábil, Chiavenato
(2005) propõe uma classificação dos estoques em:
Estoques de matérias-primas;
Estoques de matérias em processamento;
Estoques de materiais semi-acabados;
Estoques de materiais acabados;
Estoques de produtos acabados.
Ele ainda propõe a classificação ABC, também denominada
Curva de Pareto, feita com base nos valores monetários de estoques e
que aborda que o maior volume monetário está investido em um
pequeno número de itens em estoque. Com esta classificação, a maior
parte da atenção da empresa passa a ser concentrada nos itens A, cujo
valor monetário é muito significativo.
A classificação ABC é uma das mais citadas pelos autores, e,
entre outros, se encontram Ballou (1993), Arnold (1999), Moura (2004)
e Dias (2009). Na mesma linha Cohen e Ernst (1988) explicam que a
forma mais comum de esquema de classificação ABC é aquela feita a
partir do consumo anual em valor monetário dos itens em estoque. A
desvantagem desta metodologia é restringir a classificação a um critério
único no agrupamento dos itens conforme esclarecem Tsai e Yeh
(2008).
Garcia (2006) explana que o ABC o precisa limitar a
classificação dos estoques somente por seus valores monetários,
podendo empregar critérios diversificados como giro, consumo de
recursos e criticidade das operações.
Ao se utilizar mais de um critério para a classificação dos itens
tem-se a forma denominada multi-critério. Uma das mais conhecidas é a
de Flores e Whybark (1986) que busca focar a atenção na categoria de
itens A” para aumentar a efetividade do gerenciamento ao se aplicar
uma matriz que une a metodologia ABC e características desejadas
42
pelos usuários. O método permite que seja incluída uma gama de
critérios na classificação de acordo com o desenvolvimento das políticas
de inventário almejadas pela empresa.
Uma proposta mais recente é apresentada por Liiv (2006) e se
baseia na classificação dos itens considerando a demanda de cada um
deles associada à de outros. A construção do modelo considera que itens
que são freqüentemente comprados, utilizados, montados ou vendidos
juntos, devem pertencer à mesma classe e devem ter regras de políticas
de estoques semelhantes. Segundo o autor do artigo, a metodologia
permite que as regras possam ser aplicadas, na maioria dos casos, a
grupos específicos, englobando maior quantidade de itens e um menor
esforço de gerenciamento.
Em relação aos estoques, uma premissa é a que afirma que
diferentes tipos de produtos requerem diversificados tipos de
gerenciamento e de controle. Com base nela, Mercado (2008) propõe
algumas formas de classificar o estoque de maneira diversa da
tradicional. Para ele pode-se classificar os estoques quanto a:
Estágio no processo produtivo (matéria prima, materiais em
inspeção, materiais em processo, componentes, produtos
acabados e peças de reposição);
Responsabilidade (estoques consignados, estoques fora das
dependências da companhia);
ABC Valor anual de uso.
Outra, proposta por Donato, Baron e Perez (2007) é a que
classifica os estoques de produtos acabados simultaneamente conforme
o tempo de permanência dos produtos em estoques e a responsabilidade
que as áreas da empresa têm sobre cada item. As classes o ilustradas
na Figura 5 a seguir:
43
Figura 5 - Modelo de gerenciamento de estoques hierárquico
Fonte: Donato, Baron e Perez (2007).
No modelo proposto, o estoque regular é a camada formada por
produtos queo normalmente vendáveis e estão de acordo com o
volume estabelecido pela política de estoques da companhia. É onde se
encontra a maior parte dos estoques e o aqueles planejados e
desejados pela empresa. Nas demais camadas se encontram os estoques
indesejados. A camada excesso é composta por produtos normalmente
vendáveis que estão com volume estocado acima do planejado,
resultante de variações de mercado e de suprimentos, e que podem ser
eliminados apenas com a manutenção de vendas. A camada relativa ao
estoque de baixo giro consiste em produtos parados em estoque e que
apresentam dificuldades de comercialização. Provocam esta situação
fatores como produção em lotes, cancelamentos de pedidos, problemas
temporios de qualidade e mudanças no padrão da demanda de
produtos MTS e ATO. Os produtos pertencentes à camada de estoques
de baixo giro demandam esforços extraordinários da empresa para
serem vendidos, e por isto a responsabilidade é atribuída à área de
vendas. A camada dos estoques obsoletos é composta por produtos o
vendáveis, por serem ultrapassados e não possuírem mais aplicação. Em
geral, a ação sobre estes produtos é o sucateamento e sua
responsabilidade recai sobre a fábrica.
Este modelo apresenta uma peculiaridade importante que é a de
atribuir a responsabilidade de cada camada de estoque a uma área ou
responsável. A maior vantagem desta classificação é direcionar esforços
de aumento de giro de acordo com as características de cada camada.
44
No próximo capítulo explora-se os estoques sob o ponto de vista
financeiro e suas conseqüências para os resultados contábeis e
operacionais.
45
4 ESTOQUES NA CONTABILIDADE
No início deste capítulo, os estoques são tratados sob a ótica da
contabilidade na qual o balanço patrimonial e a demonstração de
resultado de exercício são comentados sucintamente. Em seguida, se
examina como os estoques e resultados financeiros se relacionam a
partir de dois indicadores e identificam-se quais são os custos de
estoques existentes. Na conclusão do capítulo discute-se como o
indicador de valor econômico agregado (EVA) considera no seu cálculo
tanto o custo de capital quanto o de estoques.
Sob o ponto de vista da contabilidade, Marion (1998) explica que
os estoques de uma empresa representam um percentual do capital que
está investido em matéria-prima, produtos em processo e produtos
acabados que por sua vez compõem uma parcela dos ativos. É comum,
segundo ele, a utilização do termo inventário ao se referir a estoques
unicamente no seu sentido restrito.
Em uma vio menos contábil e mais gerencial, Bowersox et al.
(2006) explicam que o resultado financeiro de uma empresa é
influenciado pelos estoques de maneira positiva ou negativa de
diferentes formas, das quais destaca-se duas neste trabalho. A primeira
está relacionada às despesas operacionais decorrentes dos custos de
estoques e a segunda, ao valor que eles representam nos ativos da
companhia.
Para entender como os estoques são considerados pela
administração das empresas, é oportuno discorrer brevemente sobre as
demonstrações financeiras e contábeis impostas pela legislação às
companhias brasileiras. A idéia aqui não é aprofundar o assunto, mas
somente expor o necessário para compreender como os estoques estão
posicionados nos demonstrativos, a fim de que se possa perceber como
eles influem nos resultados financeiros.
Segundo Faria e Costa (2005), duas vertentes relacionadas à
contabilidade: a Contabilidade Financeira e a Contabilidade Gerencial.
A Financeira, tamm denominada Societária, é regida pela Lei das
Sociedades por Ações (Lei das S.A. 6.404/76) e existe para atender
órgãos externos, como os órgãos governamentais.
Em relação à contabilidade Gerencial, facultativa, o foco é a
análise de informões úteis e cabíveis que possibilitem a visualização
de oportunidades para facilitar a tomada de decisões. Estas duas áreas
estão bastante conectadas e se deve procurar fazer com que se auxiliem
no desempenho de suas funções. Por exemplo, o cálculo do giro dos
46
estoques é uma atribuição da área contábil para elaboração do balanço
patrimonial, e ao mesmo tempo, o gestor de estoques deve conhecer esta
metodologia para poder melhorar o giro e reduzir os excessos (Moura,
2004).
A seguir, uma abordagem focada na contabilidade, acrescida
posteriormente de comentários de cunho gerencial sobre os indicadores,
custos de estoques e valor econômico agregado.
4.1 DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS
As demonstrações contábeis brasileiras são regidas pela Lei
6.404/76 e complementos. Por força do Decreto-lei 1.598/77, aquela
se aplica não às sociedades por ações, como tamm àquelas sujeitas
à tributação do imposto de renda com base no lucro real. Portanto, as
sociedades anônimas, as sociedades por quota de responsabilidade
limitada e as sociedades civis tamm estão subordinadas a esta
legislação.
As demonstrações contábeis sicas exigidas pela legislação
referida são:
Balanço Patrimonial (BP);
Demonstrações das mutações patrimoniais ou demonstração dos
lucros ou prejuízos acumulados;
Demonstrações do Resultado do Exercício (DRE);
Demonstrações das Origens e Aplicações de recursos.
Entre estes quatro itens, os estoques se relacionam mais
fortemente com o Balanço Patrimonial e com a Demonstração do
Resultado do Exercício que são tema dos próximos assuntos.
4.1.1 Balanço Patrimonial
No Brasil, ensina Assaf Neto (2008), o Balanço Patrimonial está
dividido em quatro grandes tópicos: ativo, passivo exigível a longo
prazo, resultados de exercício futuros e patrimônio líquido. No BP os
estoques se encontram dentro dos ativos no grupo circulante. Este,
segundo Moura (2004), é composto, além dos estoques, tamm por
itens de curto prazo a serem convertidos em dinheiro nos dozes meses
seguintes, como disponibilidades, aplicações financeiras e clientes.
Para a contabilidade, os estoques são formados por matérias-
prima, produtos em processo e produto acabado como ilustra a Figura 6.
47
Figura 6 - Balanço Patrimonial
Fonte: Adaptado de Assaf Neto (2008)
Na revisão bibliográfica do presente trabalho busca-se dar
enfoque aos estoques de produtos acabados como parte dos ativos da
empresa. Nas empresas de manufatura aqueles contribuem
substancialmente na composição destes, o que em geral é um ponto de
atenção no planejamento e no gerenciamento logístico das companhias.
4.1.2 Estoques nas Demonstrações de Resultado de Exercício - DRE
Para Marion (1998), a DRE basicamente informa se a entidade
apresentou, durante um determinado período, um resultado positivo ou
negativo, ou seja, se as receitas o superiores ou não a todas as
despesas em um dado intervalo.
Em sua estrutura, conforme a ilustração da Figura 7 adaptada de
Assaf Neto (2008), a DRE apresenta as receitas de produtos ou de
serviços. Quando subtraídos os impostos sobre vendas, as devoluções e
os descontos comerciais obtêm-se a receita líquida. O lucro bruto é o
que resulta ao diminuir dela os custos dos produtos e dos serviços
vendidos. Com a dedução das despesas de vendas, administrativas
financeiras líquidas e outras despesas operacionais, chega-se ao lucro
operacional. O lucro líquido do exercício é obtido a partir das
considerações de despesas e receitas não operacionais, provisões para
imposto de renda e participação de debêntures, empregados e
administradores.
48
Figura 7 - Demonstração do resultado do exercício
Fonte: Adaptado de Assaf Neto (2008)
Para o escopo deste trabalho, basta assimilar como os custos de
estoque, exceto os de oportunidade, contribuem para o aumento do custo
dos produtos vendidos ou para o aumento das despesas de vendas e
influenciam nos resultados das mesmas reduzindo o lucro líquido. Os
custos de oportunidades de capital não são considerados nos
demonstrativos contábeis e por isto são incluídos no indicador de valor
econômico agregado abordado no final deste capítulo.
4.2 ABORDAGEM GERENCIAL DOS ESTOQUES COMO
ATIVOS
Na administração de estoques, segundo Assaf Neto (2008), deve-
se dar grande ênfase à fixação de políticas de compras, à definição de
critérios de controle e tamm à análise dos ativos como reflexo de
decisões financeiras de investimentos. A opção por comprar ou produzir
algo implica em investir em estoques, sejam estes de matérias-primas,
produtos em processo ou produtos acabados e, por conseguinte, em
aumentar o ativo da empresa reduzindo-se o caixa disponível.
O autor na referida obra ainda complementa:
especial atenção deve ser atribuída aos estoques
mais caros de produtos acabados, não no que se
refere a seus custos de produção como também as
condições mais onerosas que devem existir para
49
mantê-los armazenados. Investimentos mais elevados
em estoques supõem uma demanda maior por fontes
de financiamento, as quais podem exercer influências
negativas no risco e na rentabilidade da empresa.
Evidentemente este fator deve-se associar, ainda, a
liquidez dos produtos. Os produtos de maior
liquidez, mesmo que caros, poderão ser suportados
em níveis mais elevados nos estoques.
No momento em que o estoque é comprado sob a forma de
matéria-prima, ele é registrado como um estoque do ativo circulante,
conforme aborda Arnold (1999). Ao entrar em produção, ele passa a ser
registrado como estoque de produtos em processo e, quando é
processado, seu valor aumenta pela quantia de mão-de-obra direta a ele
aplicada e pelos custos diretos e indiretos atribuídos. Diz-se que o
material absorve os custos de produção. Ao longo do ciclo de
manufatura ocorre o ciclo financeiro que se inicia com a compra de
matéria-prima, avança com a transformão e finaliza com a venda de
fato, o que implica no retorno do dinheiro ao caixa que fora investido no
inicio do ciclo.
A conversão de caixa em estoques representa, na maioria dos
casos, uma redução daquele. Para Huang e Wang (2009), existem três
grandes razões para se manter um nível adequado de caixa dentro das
companhias. A primeira é que manter caixa pode evitar custos fixos e
variáveis de transações ao se converter ativos físicos em caixa, o que
está relacionado com as operações drias das empresas. A segunda
razão relaciona-se com a necessidade de caixa para transações futuras
decorrentes de novos projetos. Se a empresa espera investir uma
quantidade significativa de dinheiro em um período de tempo próximo,
pode ser melhor evitar a busca de capital externo a altos custos. E por
último, manter caixa pode ser importante para o equilíbrio de
financiamentos atuais no futuro. Geralmente, no momento em que mais
se necessita de um aporte capital é que as taxas de juros aumentam
rapidamente.
Moura (2004) ensina que o principal ponto da visibilidade de
estoques como ativos concentra-se em quanto de dinheiro está associado
a cada item. Assim ela sugere que é melhor manter mais estoques de
produtos acabados do que de matéria-prima justificando que quanto
mais matéria-prima houver, mais tempo levará para transformá-la em
dinheiro novamente. Para ela as mercadorias acabadas são as mais
seguras sob o ponto de vista financeiro, pois possuem maior liquidez.
50
Dias (2009) apresenta uma vio um pouco diversificada de onde
manter os estoques ao longo do ciclo produtivo ao sugerir que,
dependendo do ramo de atividade, deve-se evitar estoques de produtos
acabados. Esta afirmação se baseia no fato de que os custos de produção
são agregados aos estoques ao longo da fábrica, o que aumenta ainda
mais o valor dos ativos ao se aproximar de produtos acabados. Ele
sugere que exista a reflexão entre produzir para estocar e reduzir a
atividade produtiva evitando custos adicionais de energia elétrica,
insumos e mão-de-obra.
Manter estoques em matéria-prima ou produtos acabados é uma
decisão que depende muito da natureza das operações, dos produtos, dos
clientes e das características da cadeia de suprimentos e distribuição. De
qualquer forma é importante levar em consideração a visão financeira.
Bowersox et al. (2006) enfocam a gestão de ativos a partir de
indicadores, afirmando a maneira mais comum de se medir o
desempenho dos estoques é através da taxa de giro de invenrio, da taxa
de giro de estoques, ou ainda da rotatividade de estoques.
4.3 GIRO DE ESTOQUES
O giro de estoques é um dos indicadores mais comuns como
medida de desempenho das empresas. Ele foi a ferramenta escolhida por
Hyer e Brown (1999) para avaliar seus trabalhos em empresas de
manufatura de telefones celulares. Demeter (2003) mostra a importância
do giro de estoques como aferição do nível de competitividade entre
empresas. Ainda, o indicador foi utilizado como métrica contábil para
mostrar os benefícios do Just in Time (JIT) em pesquisas realizadas por
Huson e Nanda (1995) e para monitoramento do controle de estoques
conforme expõem Watts et al. (1994). Em um estudo de nível de serviço
realizado por Zeng e Hayya (1999), o giro de estoques enfoca a
efetividade do gerenciamento e Schonberger (2003) argumenta que o
indicador está fortemente relacionado ao desempenho das empresas.
Segundo Bowersox et al. (2006), este indicador é tratado como
uma medida crucial não só da gestão de estoques como tamm da
gestão logística como um todo e há três formas conhecidas para a
realização do cálculo. O Quadro 2 mostra cada uma delas, nas quais o
fator tempo respeita sempre o mesmo período. As variações referem-se
a vendas, ou seja, custo dos produtos, faturamento ou número de
unidades.
51
1ª Forma
=
Custos dos produtos vendidos em determinado período
Custo do inventário médio do mesmo período
2ª Forma
=
Faturamento de vendas em determinado período
Preço do inventário médio no mesmo período
3ª Forma
=
Número de unidades vendidas em determinado período
Inventário médio no mesmo período
Quadro 2 - Formas de cálculo de giro de estoques
Fonte: Adaptado de Bowersox et al. (2006)
A primeira, comum à maioria das empresas, utiliza para calcular
a taxa de giro do inventário, a divisão dos custos dos produtos vendidos
em um determinado período de tempo pelo inventário médio do mesmo
período avaliado com base no seu custo. Uma segunda maneira de
cálculo é a divisão do faturamento de vendas pelo inventário médio
avaliado pelo preço de venda. A terceira forma é conhecida ao dividir o
número de unidades vendidas pela média unitária no inventário. A
primeira e a segunda maneira trazem resultados muito semelhantes uma
vez que uma se baseia em custos de produtos e outra em preços de
venda, sendo a diferença entre elas basicamente a margem bruta. A
terceira é mais aplicável a produtos que m variações significativas de
valores em curtos períodos, pois neste caso ao se considerar somente
volumes e não valores é possível ter uma visão melhor da eficiência do
planejamento logístico.
Assaf Neto (2008) afirma que, como regra geral, quanto maior o
giro, melhor o resultado financeiro. A redução dos estoques amortiza os
ativos que por sua vez aumentam o giro. Entretanto, ela não pode ser
aleatória, pois então prejudicaria o nível de serviço ou implicaria em
custos adicionais de compras, produção, transporte ou expedição. Dado
que os estoques representam uma parcela significativa dos ativos da
empresa, e que são de rápida liquidez, a gerência freqüentemente é
pressionada para reduzi-los ou explicar a necessidade de sua existência.
Wanke (2003) coloca que a quantidade e qualidade dos estoques estão
ligadas ao nível de serviço proporcionado aos clientes. Estoques baixos
tendem a prejudicar o nível de serviço enquanto que estoques altos
tendem a prejudicar o giro dos ativos sem que o nível de serviço
necessariamente melhore. Estoques altos tamm podem resultar em
estoques obsoletos e com baixo giro o que gera custos adicionais.
52
Lambert (1998) cita que: o total de ativos cresce à medida que o
investimento em estoques cresce, reduzindo o giro dos ativos. O
resultado é a redução do retorno do capital e tamm o retorno sobre os
ativos líquidos”.
Assim, o giro dos estoques está associado ao giro total dos ativos,
e para Gitman (2004), este indica a eficiência com que a empresa utiliza
seus ativos para gerar vendas. Segundo Christopher (1997), muitas
empresas m percebendo que ao invés de aumento das margens de
lucro, uma opção para melhorar os resultados é uma alta produtividade
dos ativos.
O giro de estoques tamm pode ser apresentado no seu formato
de dias de cobertura. Na visão gerencial logística e de planejamento o
indicador de dias de estoque dá um pouco mais de sensibilidade no
cotidiano do que o giro de estoques.
4.4 INDICADOR DE RETORNO SOBRE OS ATIVOS - ROA
O Retorno sobre o Ativo (ROA Return Over Assets), o Retorno
sobre o investimento, o Retorno sobre o Patrimônio quido e a
Rentabilidade das Vendas são alguns dos indicadores, expostos por
Assaf Neto (2008), ao se referir à rentabilidade financeira. Entre eles, o
ROA é o que está mais relacionado aos estoques, porquanto engloba a
totalidade dos ativos. Por definição, o ROA é o resultado do lucro
gerado pelos ativos (operacionais) dividido pelo ativo total médio e ele
mede, conforme Gitman (2004), a eficácia geral da administração de
uma empresa em termos de geração de lucros com os ativos disponíveis.
Segundo Bowersox et al. (2006), embora proprierios e
investidores estejam mais interessados no retorno sobre o patrimônio
líquido, o ROA oferece uma medida de quão bem está se gerenciando e
utilizando os ativos para se obter lucro. A fórmula do indicador é
expressa na Quadro 3 a seguir:
ROA
=
Lucro Líquido
Ativos
Quadro 3 - Retorno sobre os Ativos
Fonte: Bowersox et al. (2006)
Este indicador, em seu denominador representa os ativos da
empresa e pode ser melhorado com a diminuição deles. Isto é possível,
53
através da um melhor balanceamento de estoques que contribua para a
sua redução. Seu numerador traz o lucro, presente na demonstração do
resultado do exercício. Entre diversos custos de uma empresa estão os
custos de estoque que influenciam tamm nos custos totais e por isto
devem ser contemplados nas tentativas diretivas e operacionais de
aumento do ROA.
O próximo pico ilustra como os custos de estoques ocorrem e
como são identificados, o que permite melhorar o seu controle a fim de
que reduzidos, de forma consciente, aumentem o lucro das empresas e
assim o ROA.
4.5 CUSTOS DE ESTOQUES
Uma pesquisa sobre custos logísticos realizada em 2004 pela
Associação Européia de Logística aponta que os custos de inventário
representam aproximadamente 13% dos custos totais logísticos
(KEARNEI, 2004). Outro estudo efetivado nos Estados Unidos pela
Establish In com a mesma abordagem assinala o valor de 22%. Os
custos de inventário, portanto, representam uma parcela significativa dos
custos totais logísticos e por isto merecem atenção no seu
gerenciamento.
Como explanado anteriormente, em geral os custos de estoques
podem contribuir para o aumento das despesas totais das empresas
reduzindo o lucro líquido. Considerando que os custos de estoques
aumentam à medida que se aumenta o seu volume e que são diretamente
proporcionais ao volume armazenado, conclui-se que quanto maior o
volume de estoque, maior será o custo do mesmo. De acordo com
Bornia (2002) e Assaf Neto (2008), o lucro de uma empresa se pela
diferença entre receita e despesas. Assim, estoques obsoletos e em
excesso tendem a corroer o lucro de uma companhia uma vez que
podem incidir no aumento dos custos totais, sejam eles fixos ou
variáveis. A tendência é que as empresas procurem maximizar o lucro
enfocando a redução dos custos e se ocupem menos com os preços de
venda, pois estes são, quase sempre, determinados pelo mercado.
Esta é mais uma razão da importância de se manter um
gerenciamento adequado com níveis de estoques próximos ao ideal visto
que os mesmos, controlados ou não, representam custos para qualquer
empresa.
Para Holsenback e McGill (2007), os custos de estoque podem
ser agrupados em categorias associadas aos custos de oportunidade de
capital, custos de armazenamento, taxas, seguros, custos de embalagens
54
e outras pequenas variáveis. Os autores definem custos de estoques
como custos de se manter estoques” (inventory holding costs) e
afirmam que é comum o seu cálculo como um percentual do valor de
um item e que na realidade poucas empresas sabem o valor exato dos
mesmos. É por esta razão que se pretende explorar um pouco mais este
assunto, custos de estoques, nos próximos tópicos.
4.5.1 Custos de Oportunidade de Capital
Toda pessoa que disponha de uma quantidade significativa de
capital pode investi-lo com o intuito de obter um retorno financeiro.
Caderneta de poupança, aplicações de renda fixa, ações, bens móveis e
imóveis e constituição de empresas são exemplos de investimentos. As
oportunidades oferecem maior ou menor retorno e apresentam maior ou
menor risco. Em geral, o risco é diretamente proporcional ao retorno
oferecido.
Para Moura (2004), uma das maneiras de se investir o capital é
em estoques. O montante neles investido corresponde ao desembolso
feito pela empresa na aquisição de materiais, mão-de-obra direta e
custos variáveis em relação ao volume de produção. No momento em
que uma firma ou uma pessoa decide investir em estoques, ela renuncia
momentaneamente a qualquer outro tipo de investimento e à taxa de
retorno do mercado. Entende-se, portanto, que a remuneração oferecida
pelo mercado corresponde ao custo de oportunidade de capital.
Para melhor determinar a taxa de oportunidade é preciso entender
quais o as fontes de recursos de uma determinada empresa que estão
registradas no Balanço Patrimonial, podendo ser capital próprio ou
capital de terceiros. Determina-se o custo do capital de terceiro
conforme as taxas contratadas com instituições financeiras, fornecedores
e credores. Para Faria e Costa (2005) o custo do capital próprio está
ligado à expectativa que os sócios ou acionistas têm sobre o
investimento.
Dias (2009) ensina que o custo de oportunidade é um grande
motivador da melhoria nos processos produtivos que por sua vez
reduzem lead times, aproximam clientes e fornecedores e melhoram
toda a cadeia produtiva, gerando ganhos que vão além da redução de
estoques.
Assim sendo, o valor da taxa de oportunidade aplicado está
ligado às oportunidades que a empresa teria se o capital não estivesse
investido nos estoques.
55
4.5.2 Custos de serviços de estoques seguros e impostos
Caso os estoques de uma determinada empresa estejam
segurados, o valor do seguro deve ser considerado como um custo,
determinado com base no montante segurado, no tempo em que o
estoque permanece sob proteção e nas suas taxas de risco de exposição.
De acordo com Bowersox et al. (2006), o risco de exposição depende
entre outros fatores da natureza do produto e das características do
armazém. Os seguros de estoque em trânsito tamm são considerados
custos, mas estes em geral são atribuídos ao frete e não ao estoque.
Os custos de impostos sobre os estoques o comuns nos Estados
Unidos e ainda não existem no Brasil. São os valores taxados sobre as
mercadorias armazenadas. Segundo Ballou (1993), “estas taxas variam
desde percentuais muito pequenos até 25% do valor e são aplicadas
normalmente sobre o valor estocado em uma data determinada”.
Para dimensionar facilmente os custos, tanto de impostos como
de seguros, Lambert (1998) sugere que, a partir dos dados do ano
anterior, se estabeleça uma relação percentual entre o valor gasto com
seguros e impostos e o valor médio do estoque, aplicando-se, então, esta
taxa para a projeção.
4.5.3 Custos de espaço para armazenagem
Segundo Lambert (1998), “apenas as cobranças do armam
público devem ser incluídas nos custos de manutenção de estoques, uma
vez que se trata de cobranças de armazenagem pública que variarão com
o nível de estoques.”
Assim, os custos que variam em função do espaço de
armazenagem, onde o custo é calculado de acordo com a área utilizada,
devem ser considerados como custo de manutenção de estoques.
No caso de armazenagem própria, ou mesmo terceirizada, em que
não exista variação em função do volume estocado, são considerados
fixos e não devem compor os custos de manutenção dos estoques.
Portanto, os custos de manter estoques, estão diretamente
relacionados com a área ocupada por eles, decorrente do volume
propriamente dito e suas variações (Bowersox et al., 2006).
4.5.4 Custos de riscos de estoques
Os custos de risco de estoques são relacionados com
obsolescência, avarias, perdas e custos de realocação, afirma Lambert
56
(1998). O primeiros está relacionado com o ciclo de vida dos produtos.
Produtos obsoletos são aqueles pelos quais o mercado não tem interesse
por estarem tecnicamente superados ou por terem saído de moda.
Alguns autores consideram obsoletos tamm os produtos perecíveis,
como alimentos, que podem se deteriorar, perder suas características
iniciais, ficando impedidos de serem comercializados.
Para Bowersox et al. (2006), o cálculo dos custos de
obsolescência pode ser baseado em experiências do passado para
produtos que saíram do mercado, foram eliminados ou destruídos. Eles
tamm ensinam que estes custos podem ser incluídos como perdas de
marketing quando o produto se torna obsoleto quanto ao design.
Entende-se que o mesmo se aplica a perdas de engenharia, quando o
produto se torna obsoleto em termos de funcionamento.
Bowersox et al. (2006) e Lambert (1998) endossam que os custos
de estoques obsoletos podem ser estimados em termos de percentuais
dos estoques médios de uma determinada companhia. Ainda que esta
metodologia não forneça um resultado preciso, é capaz de quantificar a
ordem de grandeza deste tipo de estoques provendo uma boa base para a
tomada de decisões de planejamento.
O custo de obsolescência é a diferença entre o custo original de
uma unidade e seu valor residual, ou entre o preço de venda original e
seu valor reduzido. Em geral, estes custos estão ocultos no item custos
de bens manufaturados ou no item de mercadoria vendida, e, portanto,
os gerentes podem ter dificuldade de estabelecer esta cifra.
As avarias estão relacionadas a danos que os estoques podem
sofrer durante o seu manuseio, transporte ou armazenagem e devem ser
considerados aqui somente aqueles que variam conforme o nível de
estoques. As avarias inerentes à movimentação são entendidas como
custos de processamento e não como custos de risco. Normalmente elas
são identificadas após uma reclamação e o seu custo está relacionado ao
valor necessário para restituir ou substituir o dano.
As perdas resultam de controles ineficientes, de expedições
indevidas de produtos, e, em sua grande maioria, de roubos ou furtos de
estoques. Quase sempre irrecuperáveis, precisam ser computadas como
custos.
Os gastos com medidas de segurança devem figurar nesta
categoria de custos e de forma geral, dependem muito mais do número
de armazéns do que do nível de estoques, conforme analisa Lambert
(1998). Assim, o custo total desta categoria de estoques pode ser obtido
com o somatório do valor do estoque perdido e do valor gasto com
segurança.
57
Dado que o ambiente é dinâmico e a demanda sempre sofre
variações, muitas vezes se faz necessário movimentar mercadorias para
evitar falta de produtos, para garantir o nível de serviço ou mesmo para
impedir que se tornem obsoletas. Todos os custos derivados deste
procedimento são denominados custos de realocação, podendo incluir os
referentes ao transporte, aos descontos, aos pedidos e ao seguro.
4.5.5 Custos ocultos
No artigo Inventory Driven-Costs publicado na Harvard Business
Review, Callioni et al. (2005) apontam que am dos custos de estoques
mais conhecidos, deve-se estar atento ao que definem como os custos
ocultos de estoques:
Custos de desvalorização dos componentes;
Custos de proteção de preço;
Custos de retorno dos produtos na cadeia logística.
O primeiro diz respeito à diferença de valor de um item entre o
momento da compra e o momento da sua utilização. Manter produtos
em estoque que se desvalorizam em curtos períodos é altamente
dispendioso, uma vez que o valor investido está se depreciando. Os
custos de proteção de preço podem ocorrer em mercados competitivos
em que existem freqüentes promoções e reduções de preços de vendas
para produtos já expedidos e ainda não vendidos aos consumidores
finais que têm o seu preço de venda reduzido. Neste caso, alguns
fabricantes reembolsam os clientes em função da diferença entre o preço
de expedição e o novo preço de venda ocorrendo uma despesa
identificada como custo de estoque.
Em relação aos custos de retorno dos produtos na cadeia
logística, os mesmos são decorrentes de devoluções de produtos dos
pontos de vendas para o fabricante. Neles se inclui o valor total do
produto em questão adicionado aos custos logísticos de movimentação,
expedição e armazenamento. É comum existirem contratos de vendas
onde os produtos permanecem em consignação e o vendedor pode optar
por devolvê-los caso tenha mantido estoques em excesso.
Como comentado, os custos de estoque são capazes de influenciar
negativamente nos resultados das empresas. Um dos indicadores
afetados é o valor econômico agregado, abordado no próximo tópico.
58
4.6 VALOR ECONÔMICO AGREGADO EVA
Durante muito tempo economistas como Hamilton (1777) e
Marshall (1890) afirmaram que, para as empresas criarem valor de fato,
a riqueza gerada por elas deve ser maior do que as despesas e do que o
ônus de capital somados. No século vinte, este conceito foi utilizado
sob algumas denominações, entre elas o lucro residual” e tem sido
recomendado como indicador interno e externo de desempenho de
negócios como prescrevem Solomons (1965) e Anthony (1973).
O lucro residual tem sido definido como o resultado incremental
de uma empresa ou unidade de negócio após deduzir o custo de capital,
baseado no valor do investimento em ativos. Portantoo se trata de um
índice, mas de um valor resultante do lucro operacional menos o custo
do capital investido no negócio.
Nos últimos quarenta anos, o conceito se difundiu rapidamente e
uma, entre suas variações mais conhecidas, é o economic added value
(EVA) ou valor econômico agregado. Criado por Stewart (1991) tem
sido defendido pela Stern Stewart & Company como um indicador único
a ser utilizado para medir o desempenho de empresas tanto interna
quanto externamente. Ele é descrito por Assaf Neto (2008) como o
resultado excedente à remuneração mínima exigida pelos proprietários
de capital, indicando se a empresa está construindo ou destruindo valor.
Segundo Johnson e Soenen (2003), o EVA é uma ferramenta
financeira que enfatiza a importância de garantir lucros reais acima dos
custos de capital. É considerado por Walbert (1994), como uma medida
única integrante de todas as outras e oferecendo uma ligação excelente
entre a criação de valores e os acionistas.
Seguindo uma linha mais gerencial e com enfoque um pouco
menos financeiro, Wallace (1997) sugere que os gerentes tomem suas
decisões também baseadas no EVA e não somente em lucro, pois, o
impacto de algumas delas pode ser constatado no EVA. Esta idéia é
bastante semelhante à de Drucker (1999), quando explica que “ao medir
o valor adicionado sobre todos os custos, inclusive os de capital, o EVA
mede, de fato, a produtividade de todos os fatores de produção.
Complementa Oliveira (2008) que as estratégias conduzidas pelo
dirigente da logística podem influenciar no EVA de rias maneiras
como, por exemplo:
Aumento de vendas através do nível de serviço;
Redução do custo de vendas por melhorias de transporte e
armazenagem;
Aumento do fluxo de capital através da melhoria do giro;
59
Redução dos custos de produção com utilização de lotes;
Redução dos custos de estoques;
Melhoria na gestão de ativos e bens de capital.
E complementa Assaf Neto (2008):
o EVA é capaz de revelar inúmeras outras
oportunidades de ganhos econômicos, como as
provenientes de uma melhor gestão do risco, escolha
da melhor estrutura de capital, maio giro, entre
outras, não vislumbradas pelos indicadores
financeiros tradicionais... o sucesso do EVA está
atrelado ao envolvimento de todo o pessoal da
empresa, avaliando e remunerando cada função
operacional com base no valor criado e identificado
nos direcionadores de valor selecionados para as
diversas atividades.
O teor da influência das decisões logísticas sobre o EVA é
demonstrado por Faria e Costa (2005) no modelo ilustrado pela Figura
8:
Figura 8 - Influência das decisões logísticas no EVA
Fonte: Adaptado de Faria e Costa (2005)
A facilidade de sua leitura e simplicidade com que resume o
desempenho do capital empregado e o relacionamento com os custos
imprime um grande valor ao modelo.
60
Neste, pode-se perceber que o nível de serviço melhora as
possibilidades de o cliente permanecer fiel garantindo ou mesmo
expandindo as receitas. Em relação aos custos operacionais, uma
vantagem do modelo é a evidência de como a variação dos custos
logísticos, inclusive os de estoques, podem influenciar no lucro líquido
e, portanto, no EVA. Em se tratando de capital de giro, um aumento do
giro de estoques é capaz de liberar caixa para outros investimentos, ou
seja, a diminuição do lead time da cadeia de suprimento e distribuição
em dias possibilita a melhoria do fluxo de caixa e minoração das
necessidades de capital de giro.
A redução do tempo da cadeia de suprimentos, a redução nos
volumes e valores de estoque e a redução dos custos de estoque
contribuem para o aumento do lucro líquido.
Por fim, o EVA, além de fornecer uma visão clara de retorno
sobre os investimentos tamm possibilita um entendimento sobre como
as decisões operacionais incidem nos resultados de qualquer empresa.
61
5 ESTUDO DE CASO Whirlpool S.A. Unidade
Compressores (Embraco)
O estudo de caso foi realizado com dados no período de 2005 a
2007 em Joinville na Whirlpool S.A. Unidade Compressores que atua
no setor metal-mecânico que tem sua sede administrativa localizada em
Joinville, no estado de Santa Catarina onde o autor atuou na implantação
do S&OP, como analista de demanda e analista de inventários de
produtos acabados da companhia. A empresa e sua cadeia logística são
apresentadas neste capítulo, onde tamm são descritos a elaboração do
planejamento de curto e médio prazo, a definição das políticas de
estoques e por fim, os resultados alcançados.
Observa-se que a mudança organizacional ocorreu em grande
parte em 2005 e 2006, se estabilizando em 2007, e mantendo-se nos
anos de 2008 e 2009.
5.1 A EMPRESA
A Embraco (Empresa Brasileira de Compressores) foi fundada
em 10 de março de 1971 com o objetivo de fornecer compressores
herméticos ao mercado brasileiro de refrigeradores. Desde maio de
2006, atua, sob a razão social Whirlpool S.A., em decorrência da sua
junção com a Multibrás S.A. Eletrodomésticos. Mesmo assim, devido à
especialidade de suas atividades, a Embraco continua operando de forma
operacionalmente independente. Para facilitar a leitura, utilizar-se-á
apenas a denominação Embraco.
A Empresa tem como missão: "oferecer soluções inovadoras
para uma melhor qualidade de vida"; e como visão: "ser, em todos os
mercados, o fornecedor preferencial de soluções para refrigeração".
Seus valores são: comprometimento, excelência, inovação, integridade,
respeito e espírito de vitória.
Atualmente, ela é líder na sua área de atuação e detém
aproximadamente 22% do mercado mundial. Contribuiu para tal, a
adoção de uma estratégia de longo prazo de investimentos em tecnologia
aliada à preocupação com a qualidade dos seus produtos (EMBRACO,
2009).
A partir de 1982, a Embraco tem firmado convênios de
cooperação tecnológica com a Universidade Federal de Santa Catarina
focados em pesquisas e projetos nas áreas de vibração, transmissão de
calor, mecânica dos fluídos, materiais e eletrônica. Graças a essa e
62
tamm a parcerias com outras universidades do Brasil, desde 1987,
seus produtos são feitos com tecnologia 100% nacional. Mais de 550
cartas patentes em âmbito mundial posicionam a Embraco como uma
das empresas brasileiras líderes em depósito de patentes (EMBRACO,
2009).
A forte preocupação com a qualidade dos seus produtos fez com
que conseguisse obter, ao longo do tempo, as certificações ISO 9001
(qualidade), ISO 14001 (meio-ambiente), OHSAS 18001 (saúde e
segurança) e a QC 080000 (gestão de substâncias nocivas).
Além da fábrica de Joinville, responsável por aproximadamente
68% do volume de compressores produzidos no mundo, a companhia
possui outras na Itália, Eslováquia e China e uma unidade de negócios e
de distribuição em Atlanta, nos Estados Unidos.
No Brasil, a EECON Embraco Electronic Controls e a
Embraco Fundição em Joinville estão estrategicamente posicionadas
próximas à matriz em Joinville para suprir as necessidades da fábrica, no
que diz respeito a sistemas eletrônicos e de peças fundidas. Em
Itaiópolis, SC, a empresa possui uma manufatura de componentes e
realiza a montagem de unidades condensadoras e unidades seladas.
5.1.1 Produtos
A maior receita da empresa está ligada à comercialização de
compressores herméticos, unidades condensadoras e unidades seladas.
Componentes eletrônicos, mecânicos e peças fundidas representam
apenas uma pequena fração das vendas.
Os compressores o o principal componente de sistemas de
refrigeração como geladeiras, freezers, bebedouros e maras frias. Sua
função é fazer com que o gás refrigerante circule no sistema de
refrigeração com a pressão especificada pelo projeto técnico, para o que
utiliza a eletricidade como fonte de energia. Quando o gás é comprimido
e é forçado através do capilar do sistema de refrigeração, ocorre uma
queda de pressão repentina o que provoca uma brusca diminuição de
temperatura. Fazendo-se uma analogia do sistema de refrigeração com o
corpo humano, pode-se dizer que o compressor é o coração do sistema
que bombeia o fluído de refrigeração através dos seus componentes.
As unidades condensadoras e unidades seladas, além do
compressor, trazem consigo os tubos de transmissão do gás refrigerante
e os trocadores de calor queo responveis pela transferência de calor
do sistema com o ambiente externo. Aquelas duas falias permitem
que a empresa tenha a possibilidade de agregar mais valor aos
63
compressores e oferecer uma gama mais diversificada de soluções em
refrigeração.
A aplicação de compressores, unidades condensadoras e seladas
está condicionada à necessidade de refrigeração dos sistemas. Os
compressores fabricados pela Embraco com maior capacidade de
refrigeração são aqueles utilizados em ambientes comerciais como, por
exemplo, supermercados, postos de abastecimento de combustível,
padarias, farmácias, hospitais, açougues e peixarias. Compressores com
pequena capacidade de refrigeração fazem parte principalmente de
bebedouros e frigobares. A maior quantidade de compressores vendidos
caracteriza-se por uma capacidade intermediária de refrigeração e
abrange o mercado denominado linha branca, equipando principalmente
freezers e geladeiras domésticas. Na Embraco este mercado é
denominado Household.
Outra importante característica dos sistemas de refrigeração é a
eficiência, ou seja, o quanto de calor o sistema é capaz de retirar do
ambiente dado um determinado consumo energético. O
desenvolvimento tecnológico na construção de soluções deste tipo tem
evoluído no sentido de possibilitar principalmente o aumento de
eficiência e a redução de custos de fabricação. A primeira está
condicionada às características de fabricação, como sistemas mecânicos,
configuração do motor elétrico e às peculiaridades dos fluídos de
lubrificação e do gás de refrigeração. Em geral, soluções com alta
eficiência utilizam tecnologia de ponta e materiais de última geração. Já
as que utilizam tecnologia não tão recente ou ainda componentes com
um valor de mercado mais acessível, são de baixa eficiência. A
crescente preocupação dos governos de diversos países com o meio
ambiente e com a escassez da energia elétrica no cenário mundial
obriga, através de rígidas normas ambientais, as empresas do setor a
oferecerem soluções com baixíssimo consumo energético e alto poder
de refrigeração.
Além de ajustar o produto à necessidade de refrigeração e à
eficiência energética, é preciso adaptar o sistema elétrico do compressor
às características da rede elétrica do local onde será utilizado. Por
conseguinte, hoje são fabricados produtos para pelo menos quatro
grupos de tensões (100V, 110V, 220V e 360V) e duas freqüências
(50Hz e 60Hz).
Existe ainda, como estratégia de mercado, a construção de
soluções personalizadas para os clientes. Isto engloba configurações
particulares de tubos externos, de óleos de lubrificação e de gás
refrigerante.
64
Todos os compressores e unidades condensadoras quando
vendidos são acompanhados de um kit elétrico externo que tem a
finalidade de auxiliar na partida ou no funcionamento do compressor.
Dependendo da política de estoques adotada, estes componentes o
acoplados aos produtos, ou logo após o processo de fabricação, ou
somente no momento da venda.
Cada segmento do mercado de refrigeração exige que o portfólio
de produtos ofereça diversas soluções de refrigeração com variações de
capacidade, eficiência, características de tensão e voltagem e
configurações de óleo, gás refrigerante e conexões externas.
Todas estas combinações se desdobram em mais de mil opções de
refrigeração. Portanto, com o objetivo de atender adequadamente os
clientes e respectivas necessidades, é imperativo que se tenha uma
cadeia de suprimentos muito bem organizada e integrada nos níveis
estratégico, tático e operacional.
5.1.2 Cadeia de suprimentos e de distribuição
Segundo Bowersox et al. (2006), o principal objetivo da cadeia
de suprimentos é o atendimento dos clientes de acordo com a
quantidade, qualidade e tempo acordados. Para entender como es
organizada a cadeia da Embraco, faz-se necessário conhecer os clientes
quanto a seu posicionamento geográfico e suas particularidades.
Em termos de volumes de vendas, a maior parte dos compradores
de produtos está localizada na América do Norte e representa
aproximadamente 37% do total de vendas da empresa. Em segundo e
terceiro lugar, encontram-se a Europa com 27% e a América Central e
do Sul com 24%. As outras regiões detêm os 12% restantes.
A Figura 9, a seguir, demonstra a distribuição global de volume
de vendas da Embraco:
65
Figura 9 - Distribuição Global de Volume de Vendas
Fonte: Whirlpool S.A Unidade Compressores
Nota-se que dada à presença mundial da empresa, é preciso um
planejamento e uma estrutura logísticas muito bem delineados para
suprir adequadamente as reges de vendas.
5.1.2.1 Clientes
Em relação aos clientes, a Embraco possui seis grandes grupos. O
grupo para o qual se realiza o maior volume de comercialização
denomina-se global appliances manufacturers e caracteriza-se por
negociações anuais de volumes e preços. Estes clientes fornecem
previsão de vendas com lead time suficiente para fabricação e expedição
para a maioria dos produtos que consomem. Os produtos destinados a
este grupo, por serem altamente personalizados, são fruto de muito
estudo e desenvolvimento compartilhado entre os parceiros de negócio.
O segundo grupo denomina-se regional appliances
manufacturers e é composto por clientes com um volume menor que os
do grupo anterior, mas mesmo assim são deres regionais. As
negociações com estes clientes tamm o anuais e m maior
flexibilidade de volume e preço. A Embraco procura desenvolver
produtos específicos para estes clientes quando isto é viável ou
necessário.
O planejamento da companhia nem sempre espera uma ordem de
vendas para fabricar produtos destinados a estes dois primeiros grupos.
Para eles, é comum a produção para estoque, decorrente de um profundo
66
estudo sobre o volume e mix feito dentro da política de estoques com a
participação do analista de inventários, dos planejadores e dos
vendedores.
O grupo denominado appliances tem particularidades estratégicas
e alguns clientes deste grupo possuem enorme potencial de crescimento.
Por não fornecerem nenhum tipo de previsão de vendas são
acompanhados de uma maneira muito particular e todos os atendimentos
são feitos frente a uma ordem de vendas. Não existe regularidade nem
na freqüência e nem no volume de vendas e, portanto, produzir para
estoque para estes clientes seria muito arriscado.
Estes três primeiros grupos são consumidores de compressores de
média ou baixa capacidade de refrigeração e fabricam produtos de uso
doméstico. Por conseguinte, são denominados clientes household.
Os próximos dois grupos compram, na sua grande maioria,
produtos com alta capacidade de refrigeração para aplicações
comerciais, e por isto são chamados de commercial. O primeiro,
nominado large OEMs (Original Equipment Manufacturers), tamm
tem um volume de vendas importante, ainda que menor que os clientes
do regional appliances manufacturers. Realiza negociações anuais de
volumes e fornece previsões com razoável nível de acurácia de forma
que é possível produzir para estoque para seu atendimento.
O outro grupo de clientes comerciais é o small OEMs para o qual
as vendas são feitas com volume e freqüência irregulares e as previsões
geralmente o feitas pelos vendedores sem comprometimento dos
clientes. Estes, na maioria das vezes o atendidos com produtos
fabricados sob pedido.
O último é o grupo de clientes responsável pela reposição de
peças de mercado, denominado Aftermarket. Procurando produtos mais
antigos utilizados para substituão de compressores danificados,
possuem uma característica regular de vendas e de freqüência, ainda que
o volume seja pequeno quando comparado aos demais grupos. Embora
não forneçam previsão de vendas, o uso da previsão estatística
acompanhada pela análise do planejamento funciona muito bem para
compra de matéria-prima e produção para estoque.
5.1.2.2 Principais fluxos físicos de produtos acabados
Com o intuito de suprir o mercado de refrigeração
competitivamente, a Embraco dispõe de quatro centros produtivos
posicionados pelo planeta conforme a Figura 10 especifica sua
participação.
67
Figura 10 - Centros Produtivos da Embraco
Fonte: Whirlpool S.A Unidade Compressores
A fábrica do Brasil, de Joinville, é responsável por 68% do
volume produzido. Em segundo lugar, está a Eslováquia, com 15% e em
terceiro a China, com 10%. A planta da Itália detém apenas 7% da
produção.
Considerando o volume de vendas e a produção de cada
continente, constata-se uma discrepância e, portanto, o mercado local
não é necessariamente atendido pela fábrica instalada próximo a ele.
O mercado norte-americano é abastecido pelas fábricas do Brasil,
da Eslováquia e da China, e o europeu é suprido pelas mesmas plantas, e
tamm pela da Itália. as Américas do Sul e a Central recebem os
produtos das fábricas do Brasil e da Eslováquia.
O fato de o mercado ser atendido por produtos de diversas
regiões se por duas razões: primeiramente, por a planta produtiva da
área não ter capacidade volumétrica suficiente para atendê-lo ou por não
existir uma fábrica na região, o que é o caso da América do Norte. A
segunda razão provém das características de cada parque fabril,
especializado em determinados tipos de produtos e, portanto, não sendo
capaz de produzir o portfólio completo de soluções que uma região
específica exige. Desta forma, considerando a maneira como as fábricas
estão dispostas no cenário mundial e suas características produtivas, a
transferência de produtos entre os continentes torna-se inevitável.
68
Na Figura 11, são apresentados os principais fluxos de produtos
para que seja possível o atendimento do mercado a partir dos centros
produtivos.
Figura 11 - Fluxos de produto acabado
Fonte: Whirlpool S.A Unidade Compressores
Uma peculiaridade da Embraco é o aproveitamento máximo da
sua capacidade produtiva. Em geral, o planejamento é feito para utilizar
o parque fabril muito próximo dos 100%. Sob certa óptica isto é bom,
pois se consegue reduzir os custos fixos e aumentar a margem dos
produtos. Por outro lado, este uso reduz a flexibilidade das linhas de
produção em termos de aumento de volume inesperado. Tal fato obriga
a empresa a manter estoque de antecipação para o suprimento do
mercado durante as épocas de maior demanda, uma vez que o seu
comportamento é sazonal. Isto influencia em tomadas de decisões sobre
quanto e onde estocar a produção da baixa estação para ser consumida
durante a alta.
Costumeiramente, a venda das mercadorias está ligada a uma
negociação em nível tático que acontece anual ou semestralmente com
acordos de preço, produto, volumes e avaliações da solução de
refrigeração oferecida, bem como condições e prazos de entrega. No
nível operacional, a entrega está condicionada a um pedido denominado
ordem de venda. Este é o evento que dispara a expedição do produto
para o cliente que pode ser atendido diretamente do estoque ou a partir
69
de uma ordem de fabricação seguida da fabricação propriamente dita e
da entrega efetiva. Neste caso, o lead time é mais longo uma vez que
depende da disponibilidade da planta produtiva e das restrições próprias
da cadeia de suprimentos.
Em geral, uma ordem de vendas de produtos em estoque é
expedida em menos de dois dias e uma ordem de vendas de produtos a
serem fabricados pode demorar cerca de quatro semanas entre
planejamento, fabricação e expedição.
5.2 PLANEJAMENTO E CONTROLE DA PRODUÇÃO - PCP
Um dos pontos que deve ser levado em consideração para que a
organização atinja sua missão e sua visão é o sistema de Planejamento e
Controle da Produção (PCP), o qual apóia as decisões de curto, médio e
longo prazo. Segundo Stadtler e Kilger (2005), o nível de planejamento
é classificado em três níveis que se diferenciam basicamente pelo
horizonte e detalhamento.
Realizado a cada ano, o Planejamento Estratégico na Embraco
contempla uma visão de futuro de aproximadamente dez anos eo
consideradas a evolução do cenário mundial, a projeção de vendas
baseadas em indicadores econômicos, os desenvolvimento tecnológico
dos produtos, a construção de novos centros produtivos e de
distribuição. Neste contexto o tomadas decisões relacionadas ao
desenho e à estrutura da cadeia de suprimentos. A Figura 12 ilustra a
denominação e o horizonte dos níveis de planejamento da Embraco.
Figura 12 - Horizonte de Planejamento
Fonte: Própria
O planejamento tático ou de médio prazo utilizado pela Embraco
é o Sales & Operations Planning (S&OP) e abrange um horizonte de
70
seis a dezoito meses. Revisado mensalmente tem um detalhamento
maior que o planejamento estratégico e um período menor. São
consideradas as previsões de vendas por grupo de produtos
denominados famílias de compressores, previsões estas baseadas em
informões de clientes e dos vendedores. O comportamento da
demanda tem certa sazonalidade sendo mais forte nos meses que
antecedem o verão.
A decisão de agrupar os produtos facilita a análise de um cenário
completo com volumes balanceados. Não cabem na sua construção
informações demasiadamente detalhadas uma vez que perdem o sentido
quando analisadas de forma segregada e dificultam a tomada de
decisões.
É recomendável priorizar os estudos de volumes antes de se
examinar o mix neste nível de planejamento. A elaboração de um plano
volumétrico assertivo de médio prazo induz ao acerto do mix no curto
prazo. Ao contrário, a preocupação excessiva com o mix torna bem mais
complexo servir o cliente se houver uma grande discrepância de
volumes entre planejado e realizado.
No S&OP tamm é concebido um plano de produção adequado
para manter o inventário de produtos acabados dentro da política de
estoques a fim de atender a previsão de vendas com o melhor resultado
financeiro para a companhia. As decisões de contratação de pessoas,
aumento da capacidade de recursos produtivos específicos, construção
de estoques de antecipação, eliminação de gargalos produtivos e
logísticos, na maioria dos casos, acontecem nesta esfera.
No nível operacional, o planejamento é denominado Order
Fulfillment (OF) e abrange um horizonte de quatro a oito semanas,
revisado semanalmente. O seu produto é o plano de produção da fábrica
contendo a especificação do que será produzido, onde e quando. Neste
momento são avaliados a disponibilidade de matéria-prima e os recursos
produtivos necessários para o atendimento das ordens de vendas.
5.3 PLANEJAMENTO DE VENDAS E OPERAÇÕES S&OP
O planejamento de médio prazo tem em vista conectar o plano
estratégico e o operacional, buscando eliminar os gargalos e levantar os
recursos necessários para a sua realização.
Na execução do S&OP da Embraco, a premissa prioritária é o
equilíbrio entre vendas, estoques e produção, esquematizado na Figura
13.
71
Figura 13 - Balanceamento entre demanda, estoques e produção
Fonte: Adaptado de Wallace 2004.
Dadas as características de centros produtivos, sua localização, o
comportamento sazonal da demanda do mercado de refrigeração e a
cultura local, constantemente é necessário fazer ajustes no plano de
produção com o intuito de adequar o balanceamento de estoques e
antecipar a sua construção nos períodos de baixa demanda.
Como comentado, uma vez que o planejamento de médio prazo é
feito para um horizonte que varia entre seis e dezoito meses, em geral
não existe a necessidade de planificação no nível de produto. Para
facilitar este plano, os produtos são agrupados em famílias formadas por
produtos com características semelhantes de fabricação e que
compartilham os mesmos recursos operacionais.
A proposta do planejamento de médio prazo é elaborar um plano
de produção de forma a garantir baixo custo de transformação sempre
considerando como premissa a manutenção do quadro de funcionários,
evitando então não só a necessidade de horas extras como tamm,
principalmente admissão e demissão de pessoas ao longo do ano.
Contratar exige preparação e certificação de funcionários para a
produção; os desligamentos freqüentes geram estresse no chão de
fábrica. A variação constante no volume de colaboradores incorre em
custos elevados de inserção, exoneração e treinamento além da redução
da produtividade. No caso da Embraco, a sustentação de um volume de
produção aproximadamente estável ao longo do ano para suprir um
mercado com características sazonais requer uma política de estoques
muito bem definida. A visibilidade da demanda de médio prazo,
característica do S&OP, permite que sejam feitos ajustes nos planos
72
produtivos a fim de manter volume de estoques em patamares saudáveis
para atender os clientes com os menores custos posveis.
Durante o planejamento de vendas e operações o analisadas as
necessidades de diversos setores da empresa. Inicialmente deve-se
considerar o plano de vendas projetado onde são ponderados os volumes
agregados nas famílias bem como a introdução de novos produtos e
exclusão dos obsoletos, sugeridos tanto pelos vendedores como pela
área de desenvolvimento tecnológico e de novos produtos.
A satisfação dos clientes está ligada ao nível de serviço
percebido, que pode ser influenciado pela quantidade de estoques
disponíveis. Assim como os interesses de vendas devem ser satisfeitos
para assegurar o serviço aos clientes, os interesses de produção devem
ser considerados para garantir os menores custos de transformão,
aspecto importante tamm para o resultado financeiro. Observa-se que
diversos são os pontos de atrito entre as áreas da empresa.
Para a escolha do melhor plano a ser seguido por toda a empresa,
são construídos vários cenários com premissas específicas para cada um.
Ao final do ciclo mensal de planejamento do S&OP eles são
comparados e é escolhido o mais adequado aos interesses da diretoria
executiva.
Uma grande vantagem desta metodologia de planejamento é a
chance de vislumbrar, ao mesmo tempo, várias possibilidades e envolver
os principais setores da empresa e seus propósitos locais no
planejamento e na execução de um plano único. O melhor para cada um
nem sempre o é para todos. Assim sendo, tem-se a oportunidade de
analisar o que é mais indicado para todas as áreas simultaneamente e
com a decisão final fica claro o papel de cada setor através dos produtos
do S&OP: o plano de vendas, o plano de estoques, o plano de produção
e o plano financeiro.
O processo completo é repetido mensalmente, sendo os planos
revisados e reelaborados com o envolvimento das áreas interessadas.
Um dos requisitos do S&OP é a existência de confiança entre os
atores da cadeia de suprimentos, sejam eles internos ou externos à
companhia. Aos poucos, se atinge a maturidade do processo e a
estabilização da metodologia de planejamento o que gera maior solidez
no processo, sendo possível a redução dos níveis de estoques sem
alteração no nível de serviço.
73
5.3.1 Passos do Processo de S&OP
A área de S&OP da Embraco é composta por 10 pessoas que
gerenciam todo o processo de planejamento. Entretanto, as áreas de
vendas, de produção e de tecnologia são os verdadeiros responsáveis
pelas informações geradas. À equipe do S&OP fica atribuída a
responsabilidade de andamento do processo, consolidação das
informações, balanceamento da demanda, definição da política de
estoques. A Embraco segue o modelo proposto por Wallace (2004) o
qual prevê que o ciclo de S&OP seja construído através da
concretização de cinco passos principais:
Passo 1 - Previsão de vendas;
Passo 2 - Gestão da demanda;
Passo 3 - Planejamento da produção;
Passo 4 - Reunião Pré-S&OP;
Passo 5 - Reunião executiva de S&OP.
A Figura 14 ilustra os passos do Processo de S&OP com algumas
de suas características.
Figura 14 - Passos do Processo do S&OP
Fonte: Adaptado de Wallace (2004).
O ciclo mensal inicia geralmente entre o quarto e o sexto dia útil
de cada mês com o passo de Previsão de Vendas, no qual é analisada a
demanda irrestrita do mercado, ignorando se ela poderá ou não ser
74
atendida. Nesta primeira etapa, ocorrem encontros do S&OP com os
vendedores dos diversos segmentos de vendas e com os responsáveis
pela manutenção do portfólio de produtos. o denominados Reuniões
de Consenso, em que é acordado um novo plano de vendas para o
período de planejamento para cada mercado. Este plano considera tanto
o atendimento aos clientes como a prospecção de novos clientes e é
detalhado por segmento, rego, família e volume de vendas. Nele é
considerado ainda o lançamento de novos produtos que servem tamm
para a substituição dos já obsoletos.
A Figura 15 ilustra os passos do S&OP em um calendário ao
longo de um mês típico.
Figura 15 - Exemplo de Calendário do S&OP
Fonte: Própria
No segundo passo, Gestão da Demanda, a gerência é envolvida a
fim de validar e oficializar os números gerados nas reuniões de
consenso. Como principal produto deste passo tem-se um Plano de
Vendas criticado pela gestão da empresa, representando a demanda total
de forma realista frente aos novos sinais do mercado. Neste ponto o
plano sofre a monetarização de seus volumes e valores e seu impacto
financeiro é avaliado.
Vale lembrar que os dois primeiros passos podem sugerir mais de
um cenário de vendas para a empresa. o é rara a necessidade de se
valorizar cenários com novas oportunidades de vendas ou mesmo com
reduções de volume em situações de descontinuidade de clientes. Não
75
uma regra para o número de valorizações, mas é comum encontrar
duas ou três situações para serem valorizados financeiramente, a cada
rodada do ciclo de S&OP.
Constantemente, os novos cenários de previsão de vendas são
comparados àquele validado no mês anterior e ao de previsão anual, que
é enviado aos acionistas em novembro de cada ano. Com isto é possível
se ter uma idéia do impacto das variações nos estoques e nos planos de
produção.
A etapa seguinte, denominada Planejamento da Produção,
acontece entre o 12º e o 18º dia do mês. O objetivo deste terceiro passo
é analisar a exeqüibilidade dos planos de vendas frente à projeção de
estoques e à capacidade produtiva.
Nesta ocasião, busca-se equilibrar o plano de vendas e de
estoques, ajustando o plano de produção ao mesmo tempo em que se
avalia a disponibilidade de recursos e se identifica a maneira de eliminar
restrições produtivas e operacionais.
É comum a constatação de que o plano de produção validado no
cenário do mês anterior não se encontra balanceado. Isto ocorre em
função das variações dos volumes de vendas nos períodos e nas falias
de produtos dadas as novas realidades de mercado.
Ainda são analisadas as projeções de estoques e políticas de
inventário e, conseqüentemente, as necessidades de aumento e redução
dos volumes de produção para cada família de compressores.
O planejamento de estoques geralmente antecede o planejamento
da produção. O cálculo das necessidades de estoques é feito sempre a
partir do volume e mix do plano de vendas. A partir destas informações
é estabelecido um estoque mínimo de atendimento para cada mercado e
para cada período dentro de todo o horizonte de planejamento. Este
limite tem a função de garantir um bom atendimento aos clientes nos
momentos mais críticos de estoques, ou seja, quando eles estão mais
baixos.
Os níveis mínimos são calculados pelas políticas de estoques da
Embraco e na maioria das famílias, o definidos em dias de cobertura.
Esta atividade de planejamento se inicia antes da fase de planejamento
da produção e na companhia existe uma pessoa dedicada a esta função,
denominada analista de inventários, integrante do time de S&OP.
Ao mesmo tempo em que se avalia o estoque mínimo, preocupa-
se com os limites máximos que estão relacionados às restrições de
armazenamento de produtos. Embora eles o precisem ser estudados
por famílias, podendo ser vistos como um todo quando o enfoque for a
capacidade de estocagem, esta análise é importante, pois ao se ter
76
coberturas muito altas, como por exemplo, mais de sessenta dias, os
produtos estocados podem se tornar obsoletos.
Esta é uma das razões pelas quais o analista de estoques deve
estar em sintonia com os vendedores, com a área de desenvolvimento de
produtos e com os planejadores de produção. Balizados os limites
mínimos e máximos por família, é hora de ajustar o volume do plano de
produção. Nesta fase, os analistas trabalham juntos, observando,
volumes de produção e de estoques projetados para cada período e
família. O planejamento de produção deve respeitar não somente as
condições de fábricas e de recursos humanos como tamm as restrições
impostas pelas políticas de estoques, de limites máximos e mínimos
projetados.
Em casos de aumento inesperado de demanda pode-se chegar à
conclusão de que a empresa não tem capacidade produtiva de atender o
mercado irrestrito com recursos próprios. Isto geralmente ocorre devido
entrada de novos clientes com grandes volumes de compra ou com
oportunidades de vendas em famílias de produtos que já estão em seu
limite. Se a companhia aceitar estes novos volumes, os estoques serão
projetados abaixo dos limites mínimos prejudicando o nível de serviço
ou mesmo o atendimento nos períodos de pico. Nestes casos, o S&OP é
obrigado a renegociar os volumes com a área de vendas explicando as
limitações do parque fabril e da cadeia logística a fim de que se possa
construir um cenário de vendas, produção e estoques viável. Não
ocorrendo nenhum acordo prévio entre as áreas, um cenário o
exeqüível é levado à reunião de Pré-S&OP na qual serão tomadas as
decisões de ajuste de demanda ou de capacidade produtiva.
Da mesma maneira que o plano de vendas é confrontado com o
cenário do mês anterior, compara-se a evolução mensal do plano de
produção em relação ao do mês anterior. Para manter os estoques
balanceados, venda e produção ficam diretamente relacionadas e o
aumento ou redução de vendas causa o mesmo efeito na produção.
Ao final da fase de Planejamento de Produção, tem-se um plano
de vendas, um plano de estoques e um plano de produção com vio
detalhada sobre as restrições de fábrica, nos quais foram avaliados
diversos pontos críticos como produção para estoque de antecipação,
alteração da capacidade (horas extras, aberturas e fechamento de
turnos), corte de demanda, paradas de fábrica e períodos de férias.
Pode-se, a partir deste momento, solicitar a avaliação financeira
completa dos cenários para que se dê início à Reunião de Pré-S&OP,
quarto passo, que acontece entre os dias 20 e 25 de cada mês e da qual
participam os gerentes de vendas, de produtos, de produção, de logística
77
e da área financeira. São apresentados os cenários construídos bem
como suas peculiaridades e suas divergências acompanhados do
respectivo resultado financeiro projetado. o discutidos as alternativas
e os esforços que cada área terá que realizar decorrentes da aprovação de
cada um deles.
Este tamm é o momento de medir qualitativamente os cenários
que foram valorizados financeiramente. Nem sempre aquele com o
melhor resultado financeiro é o recomendado à diretoria. Quando o
resultado financeiro dos cenários é muito parecido, opta-se por sugerir
aquele que exige menor sacrifício ou menor risco para sua efetivação.
Tamm não é incomum levar para a reunião simulações
incompletas, ou seja, cenários que carecem de alguns ajustes para
tornarem-se exeqüíveis. Como exemplo, cenários com reduções do
volume de produção em determinadas famílias ou períodos, ou com
oportunidades de vendas não cobertas pela capacidade produtiva das
fábricas. Nestes casos, o objetivo da reunião prioriza a discussão entre
os interessados para ajuste dos cenários e a mesma se conclui com
tomadas de decisões tais como: cortes de produção, aumentos de
capacidade, ajustes na demanda, buscas de oportunidades de vendas,
eliminação de gargalos logísticos entre outras.
De acordo com a metodologia, esta reunião é proposta com um
objetivo muito importante, nem sempre salientado e explicitado aos
atores do processo que, ao participarem de cada passo do S&OP, estão
se comprometendo com as atividades que lhes competem. As metas o
estão sendo impostas pela diretoria, mas construídas pelas próprias
ações dos analistas e dos gerentes. Na reunião de Pré-S&OP, os gerentes
estão validando todos os passos anteriores, incorporando instintivamente
a responsabilidade pelo seu trabalho e ainda fazendo uma recomendação
à diretoria da empresa, quando mais uma vez, sem imposição, se
predispõem a buscar as métricas do cenário proposto. A área de vendas
fica vinculada com o volume e com o mix. A área de produção, com o
volume de produção nos períodos e famílias acordados e a área de
logística com a cadeia de suprimentos e de distribuição para a realização
das vendas conforme o planejado.
O quinto e último passo denomina-se Reunião de S&OP e nela os
cenários são apreciados pela diretoria. Entre eles existe um que recebeu
o aval dos gerentes na reunião de Pré-S&OP.
O cenário aprovado pela diretoria, na reunião de S&OP,
converte-se em uma referência e deve ser seguido por todos,
indistintamente. Transforma-se em metas para a companhia, detalhadas
nos planos de vendas, estoques, produção e financeiro. Um dos pontos
78
altos da reuno é a definição das cotas de vendas. O plano de vendas é
detalhado por segmento, região e falia e cada responsável pelo seu
mercado e região deve atingir a venda da sua cota. Esta é levada para o
cenário operacional de curto prazo e será sempre observada no dia-a-dia
da empresa devendo ser respeitada, procurando-se não ultrapassar nem
ficar aquém do volume planejado.
5.3.2 Desdobramento Red Meeting Cotas de Vendas
A Red Meeting ocorre após a reunião de S&OP com o objetivo de
disseminar o cenário aprovado. É um marco dentro do planejamento,
pois todos os seus detalhes o informados aos participantes e
interessados e são esclarecidas as dúvidas que surgirem. A reunião é
conduzida por um analista ou der do S&OP e dela participam os
principais representantes da força de vendas, produção, finanças,
tecnologia de produtos e planejadores.
Com este encontro espera-se que todos os envolvidos saibam
exatamente qual o seu papel para a concretização do cenário aprovado.
Tem-se assim um só cenário, um só plano, uma só direção.
5.3.3 Benefícios do S&OP
Entre os principais benefícios percebidos, merece atenção
especial a redução de ruído e de estresse no planejamento. A
metodologia coloca ordem, orienta os atores do processo e define o que
é esperado de cada um.
Em geral, os participantes se envolvem no processo e assumem a
responsabilidade pelos planos elaborados sem necessidade que a
diretoria exerça qualquer pressão.
O nível agregado em famílias proposto pelo S&OP facilita a
apreensão global em cada um de seus passos. Esta visão é entendida por
todos facilitando a comunicação entre as diversas áreas da empresa e a
diretoria.
Os resultados advindos do processo são muito mais significativos
do que os esforços financeiros investidos. O S&OP com sua
metodologia pode ser inserido na companhia a um custo baixo e é
possível perceber em poucos meses seus benefícios.
79
5.4 POLÍTICAS DE ESTOQUES
Pode-se afirmar que a prioridade da política de estoques da
Embraco é o atendimento aos clientes, cujas características estabelecem
como será a localização dos estoques na cadeia de suprimentos, quanto
deveser estocado em cada centro de expedição e como é iniciado o
processo de entrega. Todas elas combinadas ditam a velocidade com que
o cliente poderá ser atendido, ou seja, o lead time de atendimento.
Na Embraco, o nível de serviço é determinado pelo atendimento
das ordens de venda. Esta especifica a data, a quantidade e os produtos
que devem ser entregues. Se a empresa cumprir o estabelecido na ordem
de venda, então se entende que o nível de serviço daquele pedido é de
100%. Se em 100 pedidos a empresa conseguir entregar 98, com os
produtos especificados na quantidade e no prazo acordado, então o nível
de serviço é de 98%.
Para manter um adequado nível de serviço a empresa dispõe de
três maneiras para iniciar a entrega de seus produtos. O cliente pode ser
atendido diretamente a partir do estoque, sem que necessite esperar todo
o período de planejamento e fabricação do produto solicitado. Neste
caso, os produtos devem estar disponíveis no estoque e fazem parte do
grupo Make to Stock (MTS), ou seja, o produto foi previamente
fabricado, sem que existisse uma ordem de vendas e encontra-se
disponível no estoque com os componentes eletrônicos montados e
prontos para expedição a fim de atender rapidamente os clientes.
Em se tratando de sazonalidade, nos períodos em que a fábrica
está produzindo mais do que o volume de vendas ocorre o aumento de
estoques e os produtos MTS são os escolhidos para serem
manufaturados. Em geral, são produtos que apresentam alta freqüência
de vendas, grandes volumes e pequenos erros de previsão de vendas.
Com isto, pode-se produzir grandes volumes com apenas uma pequena
chance de que estes produtos não venham a ser vendidos nos momentos
de alta demanda.
A segunda maneira de atendimento aos clientes é a partir do
planejamento e da produção do produto solicitado denominado Make to
Order (MTO), o que quer dizer que o produto para ser vendido terá que
passar por todo o processo de planejamento, fabricação e montagem de
elétricos, o que acontece a partir de uma ordem de vendas.
O tempo de atendimento para esta modalidade, aproximadamente
três semanas, é, portanto, mais longo do que o atendimento de produtos
MTS uma vez que a nova ordem de vendas pode ser planejada fora
do período firme que é de duas semanas.
80
Nesta estratégia de produção e vendas, não é permitida a
fabricação de um produto sem que exista uma ordem de vendas para o
item. A chance de ter um produto MTO obsoleto ou de baixo giro no
estoque é muito pequena quando comparada aos produtos MTS.
A terceira maneira de atendimento dos clientes, denominada
Assemble to Order (ATO), caracteriza-se por um tempo médio de
atendimento entre as modalidades MTS e MTO. Aqui o compressor
está fabricado e disponível no estoque de uma forma “quase” pronta
para venda, ou seja, sem os componentes eletrônicos. Neste caso, o
recebimento da ordem de venda inicia o processo de montagem de
componentes elétricos e da embalagem. A vantagem é ter menor
quantidade de produtos finais armazenados. Assim estoca-se, um
produto base, o compressor sem os componentes elétricos, e se faz a
montagem com os acessórios solicitados pelo cliente de acordo com a
ordem de vendas. Esta montagem final não depende de longos períodos
de planejamento nem de grandes períodos firmes. O acoplamento dos
acessórios elétricos e o preparo para embarque é feito em 3 ou 4 dias,
uma vez que os compressores estão fabricados e prontos no estoque,
apenas esperando uma ordem de vendas para que seu processo de
montagem seja concluído.
A seguir, são expostos os critérios considerados na escolha de um
produto como MTS, MTO ou ATO. Esta escolha, na Embraco é
definida como tipologia.
5.4.1 Tipologia da Política de Estoques
A definição da tipologia, coordenada pelo analista de estoques e
definida juntamente com os vendedores e os planejadores de produção, é
decorrente da análise conjunta de quatro características de vendas: erro
de previsão, freqüência, volume e o lead time de atendimento exigido
pelos clientes.
A vantagem de se fazer um estudo de tipologia baseada nestes
critérios é que se reduz a possibilidade de fabricação de produtos que
podem se tornar obsoletos.
5.4.1.1 Erro de previsão de vendas
Produtos com altos erros de previsão de vendas, jamais o
considerados como MTS. Ao se produzir um item para estoque, deve-se
ter uma boa garantia de que será vendido tão logo houver a necessidade
ou a oportunidade de uma venda. Os produtos MTS precisam algum tipo
81
de garantia de que serão vendidos, a qual pode ser em decorrência de um
baixo erro de previsão de vendas ou mesmo de acordos feitos com os
clientes onde se negociem volumes e modelos a serem mantidos em
estoques para vendas de longo prazo.
Aqui é importante o envolvimento dos vendedores e dos clientes,
pois a responsabilidade do estoque fica dividida entre planejamento,
vendas e clientes. A inclusão das partes interessadas traz o
comprometimento e reduz o risco de que os produtos venham a ficar
esquecidos no estoque.
Produtos programados para serem substituídos por modelos mais
novos, tamm não devem permanecer com a tipologia MTS. O
segundo passo do planejamento de S&OP, onde o analisadas entradas
e saídas de produtos no portfólio da companhia, serve como fonte de
informações para a definição e revisão da tipologia.
Assim, produtos com baixos erros de previsão de vendas são
eleitos como MTS e aqueles com erros de previsão moderados e altos
devem ser MTO, ou seja, manufaturados sob a entrada de uma ordem
de vendas do cliente.
Caso o erro de previsão de vendas seja muito alto no produto
final, ainda se pode analisar o erro de previsão nos compressores sem os
acessórios elétricos montados. Se o erro de previsão destes produtos for
baixo, existe uma boa possibilidade que estes produtos sejam definidos
como ATO, ou seja, que o compressor seja fabricado e fique disponível
para venda, faltando apenas os acessórios elétricos para a expedição, os
quais serão definidos apenas a partir de uma ordem de vendas.
5.4.1.2 Freqüência de vendas
A freqüência de vendas é outra importante característica a ser
considerada na definição da tipologia. Produtos com alta freqüência de
vendas tendem a ser caracterizados como produtos MTS. É bom para o
cliente e para a programação de produção que aqueles com alta taxa de
saída estejam sempre disponíveis em estoque, pois isto tende a aumentar
o nível de servo, reduzir o lead time de entrega e evitar que sejam
feitos set-ups sem necessidade.
A constância de embarque por mês classifica os produtos em três
tipos: alta, média e baixa freqüência. Os primeiros são os que têm quatro
ou mais embarques; pelo menos um embarque/mês caracteriza os de
média freqüência: e, inferior a isso ficam os de baixa freqüência, os
quais devem ser preferencialmente MTO. Se fossem MTS se estaria
82
arriscando a manter em estoque produtos durante um longo período até
que viessem a ser vendidos.
5.4.1.3 Volume de vendas
Em geral produtos com alto volume de vendas são aqueles que
apresentam uma alta freqüência de vendas. Entretanto, não serve de
regra geral para todos e por este motivo, am da freqüência, o volume
de vendas tamm deve ser avaliado na definição da tipologia. Produtos
com grande volume de vendas, alta freqüência e baixo erro de previsão
de vendas são os candidatos ideais para serem classificados como MTS.
Pom, vendas de grandes volumes de produtos para clientes específicos
que não apresentam uma freqüência constante ou tem uma freqüência
muito baixa, devem ser tratadas como MTO, ou seja, pedem fabricação
sob demanda uma vez que se arriscaria muito tentar mantê-los no
estoque. Um dos casos mais graves de erro no planejamento é atribuir a
tipologia MTS a um produto que teve uma venda única de grande
volume. Os cálculos de estoque mínimo indicariam a necessidade de se
manter em estoque uma quantidade significativa de produto que não se
sabe o momento em que será vendido. Isto prejudica demasiadamente o
giro dos estoques e os produtos parados podem vir a se tornar obsoletos
com o passar do tempo.
Estas três primeiras características de vendas combinadas podem
dar uma boa idéia de como deveria ser a tipologia dos produtos,
conforme mostra a Figura 16.
83
Figura 16 - Orientação para definição de tipologia
Fonte: Própria
Em um extremo, estão os produtos com alto erro de previsão de
vendas, com baixo volume e com baixa freqüência, que são típicos
MTO. No outro extremo, os produtos com alto volume, com alta
freqüência e com baixo erro de previsão que deveriam ser
preferencialmente MTS. Entre estas duas pontas tem-se a possibilidade
de classificar como produtos ATO aqueles que permitem uma
finalização para serem então embalados no momento do pedido.
5.4.1.4 Lead-time
Para que se conclua a definição da tipologia ainda é necessária a
abordagem de uma quarta característica, o lead time, que em alguns
casos pode funcionar como uma exceção.
Na Embraco o período entre colocação de uma ordem de vendas
e expedição é de aproximadamente três semanas, abrangendo o tempo
de planejamento, fabricação e preparação de entrega e é abordado com
maiores detalhes no item 5.5 Planejamento de Curto Prazo.
Alguns clientes têm um sistema de planejamento organizado e
conseguem enviar seus pedidos à Embraco com antecedência suficiente
para que os produtos sejam planejados, produzidos e entregues. Outros,
84
com peculiaridades distintas, não aceitam estas regras de negócio e
exigem que seus pedidos sejam processados e entregues em questão de
dois ou três dias. A Embraco estaria sob risco de perder esta fatia de
mercado se o fosse capaz de atendê-los com a rapidez necessária. Por
isto, os produtos que eles compram precisam ser do tipo MTS ou ATO,
não podendo ser MTO.
O lead time exigido pelo comprador é uma particularidade o
especial que, às vezes, a empresa opta por classificar na política de
estoques um produto que tem pequeno volume e baixa freqüência como
MTS ao invés de MTO como seria o óbvio.
Estas exceções podem ocorrer por razões distintas. A primeira se
quando um cliente importante faz compras de vários produtos que
são entregues através de um mesmo despacho. Opta-se por manter o
item MTS mesmo com volume pequeno de vendas para que seja
possível alavancar a venda para o cliente como um todo. Outra situação
é quando existe uma estratégia de penetração de mercado. Faz-se
necessário um estoque disponível para se iniciar vendas de um novo
produto com a expectativa que este volume cresça no futuro.
Nestes casos em que o lead time tende” a classificar o produto
fugindo às características de freqüência, volume e erro de previsão,
trabalha-se fortemente com a substituição de produtos envolvendo a
força de vendas.
Estas características funcionam como orientadoras para a
definição da política de estoques. Entretanto, cada caso deve ser
analisado em seu contexto, com suas particularidades, para que os itens
sejam definidos de forma a alcançar os mais altos objetivos da cadeia de
suprimentos, o atendimento ao cliente.
5.4.1.5 Passos para classificação dos produtos
segundo a tipologia
A atividade de definição da tipologia é feita na Embraco
aproximadamente três vezes ao ano, sob a liderança do analista de
inventários global, com a participação de planejadores e,
principalmente, de vendedores. Seu desenrolar acontece através de cinco
passos.
O primeiro consiste em buscar a tipologia definida anteriormente
e dados históricos de vendas de aproximadamente 12 meses para se
analisar erros de previsão, freqüência e volume. O objetivo é construir
uma tabela classificando todos os produtos acabados quanto a estas
características.
85
O segundo passo é determinar o lead time de cada produto
vendido, a partir da identificação de um ou mais clientes que o
compram.
O terceiro passo inclui a análise de ciclo de vida dos produtos,
definindo quais se pretende substituir por modelos mais novos. Os
antigos, que tendem a se tornar obsoletos são reclassificados como MTO
e os novos são incluídos na análise considerando-se um volume previsto
ao invés de um volume histórico de vendas.
O quarto passo da definição da tipologia é realizado com o
auxilio dos vendedores, que, conhecendo as características dos seus
mercados, podem dar informações valiosas sobre as características de
vendas - casadas, por exemplo - e penetração em mercados estratégicos.
É uma análise detalhada de todos os produtos, um a um, para
avaliar a tipologia sob duas ópticas: produto acabado com componentes
montados e produto acabado sem componentes montados.
Em um quinto passo são diagnosticados quais produtos estão
fugindo às características sugeridas pela metodologia e então o
propostas alternativas de substituição ou modificação da tipologia em
decorrência de peculiaridades no planejamento.
5.4.2 Cobertura da política de estoques de itens MTS e ATO
Por suas características, os itens classificados como MTO,
manufaturados e vendidos a partir de uma ordem de vendas não o,
portanto, produzidos para estoque. É claro que durante o período de
preparo para expedição, transporte e entrega aos clientes, estes produtos
encontram-se em estoque operacional ou de trânsito, assim definidos
pela Embraco, dependendo de onde estão no momento da classificação.
Para os itens MTS e ATO, é necessário estabelecer uma
quantidade de estoque a ser mantida para atendimento aos clientes. Esta
definição segue referências bibliográficas e é tratada com mais detalhes
no item 5.6.3 Estoques planejados.
5.5 PLANEJAMENTO DE CURTO PRAZO - OF
O planejamento de curto prazo possui um nível de detalhamento
maior que o de médio prazo, pois aborda o plano dos produtos finais
para expedição e possui um horizonte menor, que é de dois meses.
Como objetivos principais têm-se o atendimento aos clientes no nível de
serviço desejado pela empresa e o cumprimento das metas estabelecidas
86
no S&OP, com relação aos planos de estoques, de vendas, de produção e
de finanças.
No Order Fulfillment (OF), como é denominado o planejamento
de curto prazo que elabora a Programação Mestre da Produção (PMP),
os planos com agregação mensal do S&OP são detalhados em semanas e
dias, para que se possa fazer o planejamento diário de produção visando
o atendimento aos clientes.
A freqüência de planejamento do OF é semanal, sendo feita uma
reavaliação, a cada semana, dos planos de vendas, de produção e de
estoques com bases nas previsões e pedidos dos clientes, análise tanto
de capacidades de fábrica e expedição quanto da situação dos estoques.
Ao final desta revisão planeja-se com maiores detalhes a terceira semana
que será congelada.
A Figura 17 ilustra como as atividades de planejamento
realizadas na semana de 6 a 10 estão congelando a semana de 27 a 31 do
mesmo mês.
Figura 17 - Planejamento do Order Fulfillment
Fonte: Whirlpool S.A Unidade Compressores
O planejamento semanal inicia todas as segundas-feiras com a
entrada das Ordens de Venda (OV) como se pode constatar na Figura
17. Nesta etapa, os vendedores inserem os pedidos dos clientes no
sistema incluindo dados como nome, código dos produtos, quantidades,
datas e locais de entregas.
87
As ordens de vendas são compostas de itens MTS, ATO e MTO
definidos na política de estoques sendo que a necessidade de produção
dos itens MTO e reposição dos itens MTS e ATO surge durante a
rodada da programação mestre da produção que considera a projeção de
estoques dentro das regras de estoques mínimos a partir da Semana 3, a
ser congelada no final do ciclo de OF.
No final do dia 06 ou durante a noite, é rodada a PMP que ao
considerar os estoques disponíveis e projetados calcula as necessidades,
tanto de produção para atendimento das ordens de vendas até então
inseridas quanto de reposição de estoques. O resultado da PMP, que é
um plano de produção irrestrito, será analisado juntamente com as cotas
de vendas. Neste momento a PMP não está restrita às capacidades da
manufatura.
Com o resultado da rodada da PMP, inicia-se o gerenciamento
das cotas de vendas no dia 07 cujo objetivo é avaliar a realização do
cenário de vendas frente aos planos definidos nos cenários de médio
prazo o que é feito durante a Reunião de Blue Meeting que ocorre nas
terças-feiras pela manhã.
Nas análises realizadas na Blue Meeting são duas as situações que
ocorrem com freqüência. A primeira é o caso de vendas realizadas além
da cota para uma ou mais famílias de produtos.
Nesta situação são ponderadas as possibilidades de se atender aos
pedidos e quais os impactos resultantes do descolamento do plano de
vendas acordado no S&OP. Algumas vezes estes apenas são demandas
pontuais agrupadas em poucos dias do mês, o que não implica
necessariamente em grandes divergências em relação aos planos de
médio prazo. Em outros casos, se o mercado estiver realmente aquecido
e as cotas de vendas estiverem estouradas deve-se examinar
cautelosamente o atendimento aos clientes e os impactos na projeção de
estoques de médio prazo. A construção de estoques para o futuro pode
ficar prejudicada tornando penoso o atendimento durante os períodos de
pico, caso os estoques de antecipação não tenham atingido seu nível
adequado.
As cotas, definidas por família e por cliente, m a função de
garantir que o plano gerado no médio-prazo seja cumprido.
A segunda situação que pode surgir durante a Blue Meeting é a
percepção de que as cotas de vendas não estão sendo alcançadas, ou que
existe capacidade produtiva ociosa ou mesmo ambas. Assim é preciso
decidir o que será produzido para estoque para se ocupar a capacidade,
ou, se for o caso, reduzir o volume de produção e não utili-la
totalmente. Na primeira hipótese ocorre um aumento do nível de
88
estoques, uma redução no giro e uma piora no fluxo de caixa. Ainda há
que considerar que os estoques em níveis mais altos que o normal
tendem a ser mais custosos e correm maiores riscos de se tornarem
obsoletos. A política de estoques auxilia a mitigar estes aspectos
negativos recomendando limites máximos de cada produto a ser
produzido e indicando, baseado no estudo da tipologia, quais produtos
devem ser produzidos para estoque.
Na segunda hipótese em que se produz um volume aquém da
quantidade planejada observa-se que os custos fixos serão rateados por
uma quantidade menor de produtos, o que implicará em uma piora do
lucro operacional e reduzirá o lucro da empresa como um todo.
Definidas as necessidades de produção e de formação de
estoques, inicia-se a etapa de seqüenciamento, na qual elas tornar-se-ão
firmes e adequadas às capacidades de produção, à disponibilidade de
matérias-prima e à disponibilidade dos recursos gargalo. A existência de
um período congelado se deve à importância de manter a manufatura
estável e garantir que os estoques das matérias-primas de alto custo e
que possuem lead time menor do que três semanas possuam baixos
níveis de estoques.
O encerramento do ciclo de OF se com a rodada do Materials
Resource Planning (MRP) que gera a necessidade de produção de
componentes e compra de matéria-prima baseada no plano de produção
acordado na Blue Meeting.
5.6 CLASSIFICAÇÃO DOS ESTOQUES
Para a tomada de decisões adequadas tanto durante o
Planejamento de dio Prazo como no Planejamento de Curto Prazo, é
fundamental que se conheça muito bem os estoques da empresa, sua
qualidade e os limites máximos e mínimos.
Faz parte do gerenciamento de inventários a análise da qualidade
dos estoques, que devem ser examinados tanto agrupados quanto
segmentados. Vistos no todo, percebe-se os valores investidos e os
espaços que serão ocupados o que auxilia no planejamento financeiro,
de movimentação e de armazenamento. Quando segmentado, no seu
nível de detalhe mais elementar, o Stock Keeping Unit (SKU),
possibilita fazer a análise de disponibilidade. No planejamento de
estoques é preciso identificar os produtos que estão prontos para vendas,
aqueles com problemas de qualidade, os que mesmo prontos para
comercialização apresentam dificuldades de mercado, quais os que estão
em trânsito e os operacionais. Paralelamente à implantação do ciclo do
89
S&OP, foi criada na Embraco uma classificação de estoques com o
principal objetivo de assessorar a definição dos limites mínimos e
máximos e, a partir da análise de cada camada atribuir responveis e
definir ações. A Figura 18 expõe a classificação adotada.
Figura 18 - Classificação agrupada de estoques
Fonte: Adaptado de Donato, Baron e Perez (2007)
As camadas da pirâmide, os critérios e os objetivos da
classificação estão detalhados a seguir.
5.6.1 Estoques obsoletos e bloqueados
No topo da pirâmide, na camada de estoques obsoletos e
bloqueados encontram-se dois tipos de produtos acabados. Uma razão
para que eles estejam nesta posição é a impossibilidade de serem
vendidos no mercado devido à sua obsolescência, ou seja, tecnologia
ultrapassada. Já foram oferecidos durante pelo menos dois anos, ao
mundo todo, e, não sendo encontrada uma possibilidade de venda
razoável, o classificados como obsoletos para que se tomem as ações
necessárias. E, nos estoques bloqueados estão aqueles que possuem
problemas relacionados com qualidade. Estes produtos apresentam
defeitos de fabricação ou de funcionamento identificados durante a
produção, em inspeções de qualidade ou em inspeções visuais. A
Embraco procura manter a imagem no mercado associada à alta
90
qualidade dos seus produtos, e, portanto, sempre que existe uma
inconformidade, eles são imediatamente bloqueados.
Os estoques deste tipo são acompanhados a partir de relatórios
semelhantes ao exposto na Figura 19 onde fica claro o motivo do
bloqueio, a localização, a quantidade e o departamento responsável pelo
bloqueio.
Figura 19 - Relatório de itens bloqueados
Fonte: Daminelli (2008)
Tanto os bloqueados como os obsoletos encontram-se em uma
categoria de produtos não vendáveis, ou seja, o há nada que a área de
vendas possa fazer para eliminar esta porção indesejada de
compressores, principal razão para estarem na mesma categoria.
As ações, a eles relacionadas, envolvem as áreas de qualidade,
expedição e fabricação. A qualidade pode indicar que os compressores
sejam re-manufaturados e, tendo corrigido seus problemas, saiam desta
categoria e sendo desbloqueados possam ser vendidos. Caso isto não
seja possível ou economicamente viável, os compressores serão
desmontados e sucateados.
5.6.2 Estoques com baixo giro
Encontram-se nesta camada, os produtos em estoque com
dificuldade de vendas. São compressores ou unidades condensadoras
que, por alguma razão, não foram vendidos. A partir do momento em
que ficam no estoque por mais de três meses sem que sejam vendidos,
eles o considerados produtos de baixo giro e entram para a lista de
91
estoques deste tipo. O objetivo é que recebam da área de vendas uma
atenção especial para serem negociados evitando posterior
sucateamento.
Ao final de cada mês, acompanhando o ciclo de S&OP, é feita
uma avaliação dos estoques da empresa e os produtos o classificados
nas camadas da pirâmide. Identificam-se os novos itens da lista de baixo
giro e observa-se a posição dos que estavam na lista do mês anterior
registrando quantos foram vendidos e quantos tiveram reduzido o seu
volume.
O trabalho é feito em sincronia com a área de vendas que, pelo
seu empenho, está sempre a par da redução e verifica quais produtos
ficaram sem vendas no último trimestre.
Ao mesmo tempo em que a lista é confeccionada se faz uma
provisão de perda para os itens que apresentam maiores dificuldades de
vendas. Esta atividade cumpre uma exigência da lei americana
Sarbanes-Oxley Act of 2002, de 30 de Julho do mesmo ano, que obriga
os ativos das empresas serem avaliados em relação ao seu verdadeiro
valor de mercado. Pela aplicação desta lei os compressores e unidades
seladas e condensadoras, com problemas de comercialização, possuem
um valor de mercado deteriorado.
Por isto, na Embraco, da mesma forma como é feito em diversas
empresas, foi adotado o critério de tempo de permanência, sem vendas,
de um produto na lista. Quanto mais tempo ficar parado no estoque, sem
comercialização, menor deve ser o valor a ele atribuído, e, portanto,
maior será a provisão de perda. Em função disto os produtos o
classificados em SM1, SM2, SM3, SM4 e SM5 e obsoletos, onde a sua
provisão de perda aumenta proporcionalmente ao tempo de permanência
no estoque. O critério está ilustrado na Figura 20:
92
Figura 20 - Classificação dos produtos de baixo giro
Fonte: Whirlpool S.A Unidade Compressores
A provisão possibilita aos vendedores efetuarem negócios a preço
de custo ou a preço abaixo de custo, tendo na coluna Valor de
comercialização” a informação dos limites mínimos autorizados pela
área financeira.
Tem-se tomado enorme cuidado com os limites mínimos de preço
praticados para estes produtos. Considerando-se somente uma visão
financeira, eles seriam um valor próximo à receita do sucateamento do
produto. Entretanto, aplicando-se inteligência de mercado, a venda de
produtos Embraco a preços bastante baixos poderia não denegrir a
imagem da empresa como canibalizar a venda de um produto com uma
boa margem. Assim, muitas vezes é preferível sucatear o produto em
detrimento de uma venda com grande.
A última linha da Figura 20, em amarelo, refere-se aos produtos,
que saindo do estoque de baixo giro serão incluídos na camada de
estoques obsoletos. Quando chegam nesta categoria, entende-se que
todos os esforços de vendas foram realizados e assume-se que não é
mais possível efetivar uma venda.
A eliminação de itens de baixo giro que se encontram nesta
camada da pirâmide depende unicamente da força de vendas em acordo
com a área financeira no que tange à provisão de perdas e com o analista
de inventários em relação à identificação de itens e organização de
informações de produtos.
93
Além da importância da definição destas duas camadas para a
definição de ação para redução destes estoques indesejados, é
importante calcular quanto de estoque elas representam de produtos não
vendáveis ou produtos que requerem esforços para serem vendidos para
que se possa fazer um planejamento de médio prazo adequado. Estes
estoques não garantem contribuições para aumento do nível de serviço e
por isto devem ser considerados com cautela na elaboração dos planos
de estoque do S&OP.
5.6.3 Estoques planejados
Na Embraco, o estoque planejado é exatamente aquele definido
pela política e calculado para atender o nível de serviço da empresa.
Este está ligado diretamente ao atendimento aos clientes e a imagem da
Empresa depende tamm da correta definição dos seus volumes e
qualidade. Todos os inventários que estiverem fora deste segmento o
os não planejados e devem ser eliminados.
Esta parcela representa a maior parte do total de produtos
acabados, aproximadamente 76%, e é planejada em quatro níveis, com
funções distintas, conforme revela a Figura 21 a seguir.
Figura 21 - Segmentação do estoque planejado
Fonte: Própria
94
O estoque de antecipação auxilia a empresa a manter a produção
em uma taxa constante ao longo do ano. Dadas às características de
mercados sazonais, esta parcela do estoque é construída nos momentos
de baixa demanda para atendê-la quando for alta. Além de auxiliar a
empresa a manter a taxa de produção mais constante, ela tamm é
responsável pelo suprimento do mercado durante os períodos de férias
coletivas da fábrica. Sempre que possível a empresa procura dar férias
aos funcionários durante o mês de janeiro no hemisfério sul e durante o
mês de agosto no hemisfério norte. Quando a fábrica se encontra parada,
o mercado continua demandando produtos que são supridos a partir do
estoque de antecipação.
O volume do estoque de antecipação é planejado mensalmente
por família de produtos durante a realização do S&OP na fase de
Planejamento da Produção onde se define o plano de estoques. Os itens
a serem produzidos o aqueles definidos na política de estoques como
MTS ou ATO e a quantidade e mix são detalhados durante as reuniões
de Blue Meeting do Order Fulfillment.
Para evitar que os estoques de antecipação venham a se tornar
excesso ou de baixo giro, em função de sua quantidade expressiva,
procura-se estabelecer através de um acordo com os vendedores um
limite máximo em volume ou em dias de cobertura para cada SKU em
questão.
Por estoque em trânsito entende-se aquele que se encontra
indisponível em processo de deslocamento. Sendo uma empresa com
dimensões globais e com posicionamento de fábricas distantes de seus
mercados consumidores, a Embraco é obrigada a manter uma grande
parcela dos seus produtos se movimentando entre os continentes para
atendimento dos clientes e penetração em mercados. Em geral o
transporte marítimo, lento, demora entre 25 e 55 dias dependendo da
origem e do destino e inclui burocracia de exportação e importação,
preparação das mercadorias, expedição, transporte e recebimento. Todo
o estoque que não se encontra dentro das fábricas ou nos centros de
distribuição da Embraco é considerados estoque em trânsito.
Define-se como estoques operacionais aqueles inerentes ao
processo produtivo da Embraco. A empresa fabrica seus produtos em
linhas de montagem e a cada fração de tempo uma unidade nova
fabricada. Assim que o produto passa pelos testes de qualidade no final
da linha é apontado no sistema como estoque. Isto não significa que está
pronto para deixar a empresa em direção ao cliente. Antes disso, é
necessário realizar a embalagem, a movimentação até o departamento de
expedição, a composição do pedido para expedição, a montagem de
95
componentes eletrônicos quando é o caso, e finalmente, a expedição.
Estas atividades somadas demoram em média três ou quatro dias úteis
dependendo da família de compressores e da linha de produção em
questão. Assim, define-se estoque como operacional aquele que não está
pronto para expedição em função dos processos de embalagem,
movimentação para área de expedição e junção de componentes
eletrônicos.
Os estoques denominados como estoques de segurança são
planejados para todos os itens MTS e ATO e sua função básica é cobrir
variações de tempo de reposição e variações da demanda durante o
período firme. Dependendo do item, o estoque de segurança pode ser
calculado em dias de cobertura ou em volumes mínimos sendo neste
caso reposto por ponto de pedido. Aqui entra tamm o conceito de
nível de serviço. Define-se a faixa das variações que se pretende cobrir
com os estoques de segurança e para ela atribui-se uma cobertura.
A Figura 22 ilustra as variações do tempo de reposição na curva
normal na horizontal e as variações de previsões de vendas na curva
normal à direita. Estas ocorrem durante o mês corrente (M1) e durante
todo o mês seguinte (M2).
Figura 22 - Variações no período firme
Fonte: Donato (2008)
As variações devem ser calculadas para o período firme que
depende não da tipologia dos produtos como tamm do seu local de
entrega. Para cada local específico se tem um esquema dos tempos
logísticos e de reposição.
96
5.6.4 Estoques em excesso
Denomina-se estoque em excesso aquele composto por produtos
que são vendidos normalmente e que reúnem algumas características.
Não se encontram bloqueados, não o de baixo giro e excedem as
quantidades planejadas para o seu volume, o que inclui a soma de
estoques operacionais, de antecipação, em trânsito, e de segurança.
Esta segmentação da pirâmide, apesar de indesejada, é a mais
fácil de ser eliminada. Para que os volumes de excesso se reduzam,
busca-se ajustar os níveis aos estabelecidos, simplesmente evitando-se
que os itens sejam produzidos e garantindo que continuem sendo
vendidos. Estes estoques estão sob a responsabilidade da área de
planejamento, que na maioria dos casos, lidera ações de redução
referidas, sendo desnecessário o envolvimento da área de vendas,
finanças e qualidade.
5.7 RESULTADOS ALCANÇADOS
Ao longo da implantação do planejamento integrado e sua
utilização foram observadas melhorias tanto de natureza qualitativa,
envolvendo mudança comportamental e organização dos processos da
empresa, como quantitativa, verificadas através dos dias de cobertura
dos estoques, geração de fluxo de caixa, ROA e EVA.
5.7.1 Planejamento Integrado S&OP
Realizada a reuno de S&OP, encerrando-se o ciclo de
planejamento, e escolhido um cenário de vendas, produção, estoques e
finanças, a organização teve um objetivo comum claramente alinhado.
Todas as áreas e pessoas envolvidas sabiam quais eram os seus papéis e
quais metas deveriam ser alcançadas.
O cenário de S&OP definia qual o plano de vendas a ser buscado
pela área de vendas e marketing da companhia. Neste, se estabelecia a
quantidade e o mix de produtos que cada vendedor deveria buscar em
seu mercado de atuação. Embora possa parecer estranho, em um
primeiro momento, vender além do plano poderia ser uma péssima
idéia, pois comercializar sem um suporte de planejamento logístico
quanto à entrega das mercadorias significaria uma promessa não
cumprida. Ainda que ocorresse um aumento momentâneo da receita
acima do planejado, os efeitos talvez fossem negativos para a logística e
para as operações. Da mesma forma, vender produtos distintos daqueles
97
que foram planejados implicaria em uma grande dificuldade de se
produzir algo para o qual a fábrica não estivesse preparada ou não
existisse matéria-prima disponível.
De outra forma, vender menos do que fora planejado também se
mostraria inadequado. Pelo fato de a fábrica obedecer ao seu plano de
produção, a ocorrência de um decréscimo de vendas resultaria num
aumento de estoque e custos com conseqüente diminuição do fluxo de
caixa. Como os planos de vendas e de produção são igualmente
importantes e sua consecução foi perseguida. Produzir a menos que o
planejado implicaria em uma redução de estoques. Isto até poderia ser
bom em um primeiro momento dado que o fluxo de caixa melhoraria.
Entretanto, um volume produzido abaixo do esperado acarretaria um
aumento dos custos unitários dos produtos e uma redução do resultado
operacional. Os problemas de um volume de produção reduzido não se
limitavam aos financeiros e podiam transcender as fronteiras da
companhia. Um descompasso entre vendas e produção, mantendo
aquelas e baixando esta, provocaria uma minoração dos níveis de
estoque da empresa e poderia implicar em perdas de vendas, diminuição
dos níveis de serviço e insatisfação dos clientes. Esta questão, em casos
mais extremos, provocaria a quebra de contrato de negócios e
conseqüentes multas.
Para sustentação das vendas e realização do plano financeiro
sempre foi preciso manter um estoque em volume e qualidade
saudáveis. Para isto ser alcançado os planos de produção e de vendas
foram perseguidos à risca. O planejamento integrado reduziu questões
de destaques individuais e isolados como superação das metas de
produção e de vendas. As ações deslocadas de algumas áreas foram
escancaradas no momento em que divergiam dos planos previamente
estabelecidos pelo S&OP e os impactos dos desvios afloravam para toda
a organização.
Foi muito interessante a mudança de cultura organizacional
observada com a implantação deste processo. Os vendedores, que
costumavam estabelecer metas conservadoras para sempre superá-las e
se destacarem começaram a ter problemas de falta de produto, pois a
empresa o havia se preparado para suprir tal mercado em quantidades
maiores que as planejadas. Reativamente a este fato, os mesmos
vendedores passaram a sinalizar um mercado maior do que é de fato
para garantir produtos para vendas. Eno a empresa se planejava para
suprir um mercado super dimensionado e aumentava sua capacidade de
produção. No momento em que este não respondia às previsões, os
produtos sobravam nos estoques e novamente os vendedores se
98
destacavam, mas então de maneira negativa, é claro. A companhia o
desejava manter estoques para um volume reduzido de vendas e a área
financeira e a operacional rapidamente reclamavam uma vez que a
receita não correspondia ao planejado e o fluxo de caixa se reduzia
rapidamente. Não restou alternativa à área de vendas e marketing, senão,
seguir o planejamento e buscar previsões realistas.
Através do cumprimento do plano de vendas, a produção foi
capaz de suprir os estoques que se conservaram em veis adequados
para garantir o suprimento dos mercados com custos de inventários
reduzidos e com o apropriado capital investido.
O S&OP, portanto, com sua metodologia, originou um
planejamento integrado para toda empresa que, seguido por todas as
áreas e por todas as pessoas, permitiu que se alcançassem os resultados
financeiros pré-estabelecidos.
5.7.2 Balanceamento de estoques
O S&OP proporcionou à Embraco uma visão de longo prazo mais
assertiva. Antes do seu uso, a empresa era obrigada a ter altos níveis de
estoque para se proteger de possíveis grandes variações no mercado ou
de grandes variações de suprimentos. E esta falta de visibilidade se
traduzia em altos volumes de estoques.
Com o passar dos meses, este processo começou a ganhar
credibilidade na companhia possibilitando fazer uma projeção menos
arriscada do que deveria se manter em estoques. Ao mesmo tempo, as
políticas de estoques foram sendo definidas e acordadas internamente,
entre as áreas de vendas e planejamento. Assim, pôde-se ajustar o plano
de produção de modo a assegurar um nível de estoques mais adequado
às necessidades financeiras, logísticas e de vendas. Então, foi possível
que o estoque fosse gradualmente sendo reduzido sem afetar o nível de
serviço.
Os dados apresentados nos próximos tópicos são dados médios de
estoques oriundos dos vários centros de distribuição da empresa
localizados em diversos países.
O Gráfico 2 mostra a evolução da cobertura de estoque de
produtos acabados em dias a cada trimestre durante a implantação do
S&OP ocorrida a partir de Janeiro de 2005.
99
Gráfico 2 - Evolução de dias de cobertura
Fonte: Whirlpool S.A Unidade Compressores
Nota-se, a partir dos dados do gráfico, que a cobertura de
estoques foi aumentando até atingir um nível de 119 dias no terceiro
trimestre de 2005. A partir da implantação do planejamento integrado de
vendas, houve um decréscimo durante o ano de 2006 e os estoques
começaram a apresentar uma estabilização em 2007.
Em Janeiro de 2005, foram definidas as políticas de estoque
corporativas da empresa e o balanceamento entre produção e demanda
passou a ser balizado pelos níveis de estoque planejados.
Com o passar dos meses, a política de estoques começou a dar
resultados e o sistema de planejamento, com credibilidade, possibilitou
mudanças nos níveis de estoques. Partindo da linha entre 110 e 120 dias,
uma redução gradual e consistente aconteceu durante o ano de 2006,
atingindo ao final o patamar de 79 dias, patamar este que se manteve, de
forma mais ou menos estável, durante todo o ano de 2007. Portanto, em
um período de dois anos houve uma diminuição de aproximadamente 36
dias, ou ainda, 32% do estoque habitual.
5.7.3 Redução dos ativos e geração de caixa
Os ajustes de estoque entre 2005 e 2007 trouxeram
conseqüentemente impactos significativos no fluxo de caixa. Em janeiro
100
de 2005, o valor investido em produtos acabados era de US$ 165
milhões. E decorridos dois anos, houve uma queda de cerca de 27%,
ficando em 2007 ao redor de US$ 126 milhões. O Gráfico 3, a seguir,
ilustra a evolução ao longo do peodo.
Gráfico 3 - Evolução do valor do estoque
Fonte: Whirlpool S.A Unidade Compressores
Durante o ano de 2005, os estoques chegaram ao seu valor
máximo de US$ 180 milhões no mês de junho, e foram se reduzindo
gradativamente a dezembro, quando representavam US$ 139
milhões, ou seja, US$ 27 milhões a menos que no início do ano. Esta
diminuição se manteve consistente e foi sustentada até o equilíbrio em
2006, resultado este obtido entre outras coisas em decorrência da adoção
das políticas de estoque e da implantação do S&OP.
Ao final de 2006, os estoques de produtos acabados se
estabilizaram na média de US$ 126 milhões. Nestes dois anos a empresa
gerou a quantia de aproximadamente US$ 46 milhões em fluxo de
caixa.
Tal valor, que no início de 2005, encontrava-se imobilizado como
ativos nos estoques, passou a estar disponível no caixa da empresa ao
final de 2006. Antes disso, sem a política de estoques e sem o
planejamento integrado, necessitava-se manter altos volumes de
101
estoques e o capital ficava aplicado em produtos acabados. Com a
transformação este ficou livre para outros investimentos.
Em relação aos ativos totais da empresa, estes US$ 46 milhões
representaram uma redução de aproximadamente de 4,6%. Para se ter
idéia do que isto significa em termos de melhoria de rentabilidade da
empresa, o Quadro 4 abaixo compara dois cenários: o primeiro não
considera os ganhos gerados pelo planejamento integrado enquanto que
o segundo ilustra os resultados reais da empresa ao assumir que o lucro
operacional tivesse se mantido constante em 2006.
Milhões (USD)
Resultado 2007 sem
planejamento
Resultados reais em
2007
EOP = Lucro
Operacional
110
110
Ativos
1046
1000
Rentabilidade
10,52%
11,00%
Redução nos Ativos
46
Melhoria no ROA
0,49%
Quadro 4 - Impacto da redução dos estoques no ROA
Fonte: Própria
Como se pode constatar, a geração de fluxo de caixa de US$ 46
milhões trouxe para a companhia uma melhora na rentabilidade de
0,49% no ano de 2007 quando comparado ao de 2005, resultados
decorrentes principalmente da implantação do S&OP, do OF e da
política de estoques.
O aumento do valor do estoque no ano de 2007, quando
comparado ao ano de 2006 deve-se em parte ao aumento das
commodities que impactam na valorização do estoque. Observando-se a
permanência de cerca de 77 dias de cobertura de estoque durante o ano
de 2007 pode-se perceber que a melhora oriunda do processo aplicado
em 2005 foi permanente uma vez que mostra-se mantida neste período.
102
5.7.4 Redução de Custos de Estoques
A redução do número de dias de cobertura de estoque de produtos
acabados e do seu valor contábil, previamente apresentados, é
decorrente da variação da quantidade destes produtos na empresa.
Em Janeiro de 2005, existiam no estoque da Embraco
aproximadamente 4,7 milhões de compressores. Ao longo de 2005,
2006 e 2007 houve uma redução de cerca de 2,1 milhões de
compressores, o que traduz uma diminuição de 44% em seu volume,
conforme ilustra o Gráfico 4.
Estoque de Produtos Acabados
(Quantidade x 1.000)
4.739
5.058
3.864
3.721
3.045
2.742
2.742
2.282
2.441
2.786
3.097
2.732
-
1.000
2.000
3.000
4.000
5.000
6.000
Trim.
2005
Trim.
2005
Trim.
2005
Trim.
2005
Trim.
2006
Trim.
2006
Trim.
2006
Trim.
2006
Trim.
2007
Trim.
2007
Trim.
2007
Trim.
2007
Gráfico 4 - Evolução da quantidade de compressores em estoque
Fonte: Whirlpool S.A Unidade Compressores
Como exposto anteriormente, esta minorão ocorreu devido à
implantação do S&OP e do OF associada à gestão de estoques que
ajustaram os volumes de produção para atender o mercado ao mesmo
tempo em que balancearam dos estoques de acordo com as políticas
estabelecidas.
É certo que esta evolução no volume de produtos armazenados
trouxe uma significativa redução dos custos de estoques, entre eles de
oportunidade de capital, de armazenagem, de serviços e seguros e de
riscos, conforme visto na revisão bibliográfica. Infelizmente tais custos
não o bem definidos, uma vez que não existe um sistema de custeio
preciso para sua apuração isoladamente. A contabilidade considera-os
103
juntamente com os custos de montagem de componentes, movimentação
de produtos e despesas diversas.
Para fazer uma avaliação quantitativa do custo de estoque dentro
da empresa, optou-se por realizar uma análise simplificada e
conservadora, assumindo-se neste momento somente os custos de
armazenagem.
A metodologia utilizada foi a de custos de armazenagem em
armazém geral, proposta por Faria e Costa (2005), que considera a
cobrança um valor de servo por área de estocagem, semelhante ao
aluguel do espo físico utilizado. Esta é a prática adotada pela Embraco
na América do Norte e na Europa.
Em armazéns externos é comum se cobrar separadamente pela
área de estocagem e pela movimentação dos produtos. No cálculo foram
levados em conta somente os custos relacionados à área. Os custos de
movimentação acontecem independente do volume de estoque uma vez
que são inerentes ao processo de expedição e não variam de forma linear
com a redução de estoques.
A prospecção orçamentária solicitada pela própria Embraco
apontou que o custo de armazenagem anual de uma unidade de
compressor é ao redor de US$ 0,35 por ano.
Assim sendo, dado uma queda de volume de 2.135 mil unidades
entre 2005 e 2007, se estima uma redução de custos de armazenagem de
US$ 737 mil anuais.
Este valor representou um significativo abatimento nas despesas
como um todo, contribuindo diretamente para o aumento do lucro
líquido.
5.7.5 Impacto em finanças EVA
Conforme explorado na revisão bibliográfica, o valor econômico
agregado (EVA) é resultado da combinação de diversas variáveis e
computa em seu cálculo tanto o lucro líquido quanto o custo de capital.
No caso da Embraco, constata-se que houve uma redução nos
custos de estoques de US$ 737 mil anualizados comparando 2005 e
2007. Assumindo-se que todas as outras variáveis tivessem permanecido
constantes, este valor representou uma queda nas despesas e um
aumento de lucro na mesma ordem de valor.
Considerando-se esta premissa, neste mesmo período, a redução
de produtos acabados provocou uma diminuição nos ativos da empresa
de aproximadamente US$ 46.250 mil. A um custo de capital de 11% ao
104
ano, praticado por ela, este montante implicou em uma retração nos
custos de capital de US$ 5.088 mil.
A Figura 23 mostra em destaque como a variação do estoque
influenciou no resultado do EVA da companhia.
Figura 23 - Impacto da evolução de estoques no EVA
Fonte: Própria
A redução de custos de armazenagem teve o mesmo efeito nas
despesas majorando-se o lucro líquido operacional. Ao mesmo tempo, a
diminuição de produtos acabados interferiu nos inventários aumentando
o capital de giro e amortizando a sua necessidade de capital eliminando
seus custos.
Portanto, admitindo que todas as outras variáveis tivessem
permanecido constantes, somadas, as reduções de custos de capital e de
estoques proporcionaram um aumento de US$ 5.824 mil no EVA da
companhia, correspondente a um incremento de 5,2% do lucro líquido
do período em estudo.
105
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo geral do trabalho, avaliar como o planejamento
integrado pode balancear os estoques de produtos acabados e melhorar o
resultado financeiro em uma organização de manufatura de dimensão
global” foi alcançado através de uma revisão bibliogfica e de um
estudo de caso desenvolvido na Whirlpool S.A. Unidade
Compressores (Embraco) e fundamentado na análise de dados e
indicadores financeiros fornecidos pela companhia.
Inicialmente, o tema estudado foi o Planejamento e Controle da
Produção de médio e curto prazo, seguindo com pesquisas sobre
gerenciamento, origem e classificação dos estoques e com uma
exploração destes sob o ponto de vista financeiro, tanto como ativos
quanto como custos. Por fim, foram examinados os indicadores de giro
de estoques, o retorno sobre os ativos e o valor econômico agregado -
EVA, por ter sido constatado serem indicadores com forte
relacionamento com estoques.
Através da revisão bibliográfica, foi possível esclarecer os temas
de estratégia de organizações, planejamento de médio prazo (S&OP) e
planejamento de curto prazo (OF), reconhecer as origens e funções dos
estoques, analisar as estratégias de gerenciamento de estoques com base
em suas origens e funcionalidades e descrever quais são os custos de
estoques dentro de uma organização.
O estudo de caso tratou do modelo de Planejamento e Controle da
Produção aplicado na Embraco, Unidade Compressores da Whirlpool
entre 2005 e 2007, bem como da utilização das ferramentas de Sales and
Operations Planning e Order Fulfillment juntamente com o
gerenciamento de estoques. Especular as diversas teorias de
gerenciamento de estoques, no seu sentido mais amplo, evidenciou que
se precisava de um enfoque diferente quanto à sua tipologia. A partir
desta constatação, foram feitas projeções e equipe do autor construiu
uma classificação baseada na responsabilidade sobre os estoques
(DONATO, BARON e PEREZ, 2007), que completou de forma
eficiente as peculiaridades detectadas.
Ela foi aplicada no gerenciamento e proporcionou à empresa uma
melhora qualitativa e quantitativa no sistema de planejamento e nos
resultados financeiros.
Quanto aos qualitativos, os maiores benefícios referem-se à
fluência e entendimento entre as diversas áreas, à comunicação entre os
níveis hierárquicos da empresa, à participação da gerência na elaboração
106
e nas decisões do planejamento, à ligação entre as áreas resultante de um
plano único de S&OP, à visibilidade através da ampliação do horizonte
de planejamento e à coneo entre as camadas dos estoques e os
respectivos responsáveis.
As melhorias quantitativas puderam ser observadas pela evolução
dos estoques durante os três anos analisados e por seu impacto nos
indicadores financeiros. A política de estoques contribuiu para uma
redução nos dias de cobertura de produtos acabados de 120 em seu pico
para 79 dias, o que corresponde a uma diminuição de 44% no seu valor.
Com a redução dos estoques, seus custos de armazenagem tamm
minoraram e a empresa deixou de gastar cerca de US$ 737 mil por ano.
Admitindo-se que todas as outras variáveis tenham se mantido
iguais e considerando uma taxa de oportunidade de capital em torno de
11% ao ano, as ações de melhoria possibilitaram um aumento no EVA
de aproximadamente US$ 5,8 milhões. Este incremento representa 5,2%
do lucro da companhia.
Neste estudo de caso pode-se constatar que a aplicação de
modelos de planejamento juntamente com um gerenciamento adequado
de estoques, envolvendo políticas, classificações e foco em redução de
custos, tem grande potencial de contribuição para os resultados nas
empresas de manufatura, conforme apresentado no decorrer deste
trabalho.
Salienta-se que, quando comparado a outras metodologias, o
S&OP em geral apresenta baixo custo de implantação e rápido retorno.
Pelo fato do autor estar inserido no ambiente empresarial, tendo
sob sua responsabilidade a coordenação das políticas de estoques, é
possível afirmar que pode ser proveitosa a aplicação desta metodologia a
outras empresas com características semelhantes.
Vale destacar, que a classificação de estoques baseada em
responsabilidades deste estudo de caso, foi desenvolvida pela nossa
equipe no início da implantação do S&OP contribuindo decisivamente
para a consecução dos resultados.
Durante o relato do estudo de caso, foram detectados alguns
pontos o abordados neste trabalho, mas que merecem ser estudados,
tais como o comportamento das pessoas no decorrer do processo, a
priorizão do processo como meta da companhia, o apoio incentivador
da diretoria e a implantação acompanhada de um estudo de gestão da
mudança. Assim, pesquisas relacionadas à gestão de mudanças
organizacionais, focadas na implantação de novos processos, mostram-
se pertinentes no sentido de ampliar o tema do trabalho. A maioria das
107
mudanças inclui o envolvimento de pessoas e a colaboração destas é
determinante para o desenvolvimento dos processos.
Sugere-se ainda o desenvolvimento de indicadores para as
diferentes camadas de classificação dos estoques. Com isto entende-se
que pode haver um maior controle de acompanhamento e estes podem
se tornar uma ferramenta importante no gerenciamento dos estoques
auxiliando a mudança de conduta dos envolvidos com os estoques de
produtos acabados. Este mesmo indicador pode vir a servir como
critérios de premiação para aqueles que mais contribuírem na redução.
Uma das limitações abordadas.
Por fim, acredita-se tamm, que estudo de caso possa ser
aplicado, não somente a produtos acabados, mas tamm aos estoques
de matéria-prima e produtos em processo, principalmente no que diz
respeito à classificação de estoques.
108
109
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