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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Angelo Alecsandro Dal Col
METROSSEXUALIDADE E RETÓRICA: O HOMEM COMO
PRODUTO
Mestrado em Língua Portuguesa
SÃO PAULO
2010
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Angelo Alecsandro Dal Col
METROSSEXUALIDADE E RETÓRICA: O HOMEM COMO
PRODUTO
Dissertação apresentada à Banca Examinadora
da Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo, como exigência parcial para obtenção
do título de MESTRE em Língua Portuguesa,
sob orientação do Professor Doutor Luiz
Antonio Ferreira.
SÃO PAULO
2010
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Banca Examinadora
_________________________________________
_________________________________________
_________________________________________
Àqueles a quem em mim
acreditaram, e, pacientemente,
suportaram a minha ausência. Todos, aqui,
representados na figura de meu querido pai. (In memorian)
AGRADECIMENTOS
À Secretaria da Educação do Estado de São Paulo pela concessão da bolsa,
sem da qual eu não teria tido a oportunidade de concluir mais esta etapa de minha
vida acadêmica.
Aos Professores Doutores do Programa de Estudos Pós-Graduados em
Língua Portuguesa da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP),
sempre prontos para auxiliarem nos momentos de minhas dificuldades, e que muito
contribuíram para o meu aprimoramento pessoal e profissional. Em especial, aos
que tive a oportunidade e alegria de conviver: Dino Fioravante Preti, Jarbas Vargas
Nascimento, João Hilton Sayeg de Siqueira, Luiz Antonio Ferreira e Vanda Maria da
Silva Elias.
Novamente, ao Professor Doutor João Hilton Sayeg de Siqueira, e ao
Professor Doutor Sandro Luís da Silva da Universidade Federal de Lavras (UFLA),
ambos, componentes da banca examinadora, pelas valiosas e enriquecedoras
observações, e pela delicadeza no apontamento de minhas inadequações.
Às pessoas que, de algum modo, contribuíram para a concretização deste
estudo.
E, ao meu orientador, o Professor Doutor Luiz Antonio Ferreira, pela
orientação na formulação e desenvolvimento de meu tema, pela paciência e fino
trato no apontamento de minhas falhas, pelas valiosas observações, e confiança em
mim depositada.
RESUMO
O presente estudo analisa a natureza discursiva da publicidade e suas implicações
retóricas para a transformação do homem em um objeto de consumo a partir da
aparição do termo metrossexual na publicidade. Para tal análise, uma amostra da
revista masculina Men’s Health, que trata da vaidade sem, no entanto, rotular o
homem como metrossexual, será utilizada. Para o estudo da natureza discursiva da
publicidade, tomamos como referencial teórico a Retórica de Perelman & Tyteca
(2005) e Reboul (2004), devido ao vasto aparato teórico/metodológico por eles
oferecido. Para o estudo específico da metrossexualidade, cujo criador é o jornalista
e escritor inglês Mark Simpson (1994), recorremos a diversos artigos, matérias e
pesquisas contidos em sites, jornais eletrônicos e revistas, entre elas, a Veja, a
Época e a ISTOÉ. Ao longo do estudo, diversos outros estudiosos contribuíram para
a nossa fundamentação teórica e reflexões desenvolvidas. A inserção do termo
metrossexual na publicidade ocorreu, principalmente, para persuadir o homem
contemporâneo a consumir objetos para suprir, sobretudo, a própria vaidade, um
fato que, sem feminizá-lo, muito o aproxima de aspectos significativos e
característicos do universo feminino. Ressalte-se importante diferencial: a
masculinidade não é apoiada na beleza (como ocorre a feminilidade), mas na posse
de bens e no status que tais objetos dão ao homem.
Palavras-chave: Discurso; Retórica; consumo; publicidade; homem;
metrossexualidade.
ABSTRACT
The present study analyses the discursive nature of advertising and its implications
to the man’s changing into an object of consumption as of the appearance of the
metrosexual term at advertising. To this analysis, a sample from the magazine Men’s
Health, that discusses about vanity without, however, designate man as a
metrosexual, will be used. To study the discursive advertising aspects, we took as
theoretical referential Perelman & Tyteca (2005) and Reboul’s (2004) Rhetoric,
because of the vast theoretical/methodological display offered by them.To the
metrosexuality study, whose creator is the journalist and writer Mark Simpson (1994),
we searched many articles, subjects and researches from sites, e-papers and
magazines, like Veja, Época and ISTOÉ. Along of the study, many other authors had
contributed to our theoretical basis and developed thoughts. The insertion of the
metrosexual term at advertising, mainly, happened to persuade contemporary man to
consume objects that provides for, above all, his own vanity, a fact that, without
changing man in a female, approaches him a lot to significant and characteristic
aspects from feminine world. We emphasize an important differential: masculinity is
not supported by beauty (as the femininity), but by getting goods and the status
which they give to man.
Key-words: Discourse; Rhetoric; Consumption; Advertising; Man; Metrosexuality.
SUMÁRIO
Considerações Iniciais................................................................................................10
CAPÍTULO I RETÓRICA E PUBLICIDADE...........................................................15
1.1. Publicidade, Retórica e persuasão..................................................................15
1.2. Estudos contemporâneos sobre o ethos.........................................................26
1.3. O movimento das paixões...............................................................................29
1.4. Características argumentativas: os lugares retóricos e as ligações que
fundamentam a estrutura do real.....................................................................31
1.4.1. Os lugares retóricos...............................................................................31
1.4.2. As ligações que fundamentam a estrutura do real................................34
CAPÍTULO II De publicidades e Retóricas: DO MACHO AO
UBERSEXUAL...........................................................................................................37
2.1. A vaidade através da história: o homem em foco............................................37
2.2. História da publicidade para homens..............................................................40
2.3. Homem, mídia e sensualidade........................................................................44
2.4. O metrossexual e outros termos midiáticos.....................................................49
2.5. Revista Men’s Health.......................................................................................68
CAPÍTULO III A RETÓRICA DA TRANSFORMAÇÃO..........................................74
3.1. Categoria analítica...........................................................................................74
3.2. Amostra de análise..........................................................................................74
3.3. Análise.............................................................................................................76
Considerações Finais.................................................................................................90
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................................96
ANEXOS....................................................................................................................99
GLOSSÁRIO............................................................................................................104
10
Considerações Iniciais
O presente estudo possui como tema de pesquisa a natureza discursiva da
publicidade e suas implicações retóricas, quando o fim a que se destina é
transformar o ser humano em um objeto de consumo. um novo produto no
mercado: o homem metrossexual.
Na publicidade, de mero consumidor, o homem torna-se um produto em
constituição que, sob novos moldes sociais, preocupa-se, sobretudo, com a vaidade
e com o consumo de produtos que, sem feminizá-lo, muito o aproxima de aspectos
significativos e característicos do gênero feminino.
Para a solidificação desse novo modo de masculinidade, o discurso
publicitário, por meio dos valores e da formação de opinião de que é capaz de
instaurar na sociedade, inicia uma revolução no discurso social a fim de convencer o
homem de que, em uma sociedade capitalista e cada vez mais competitiva, o ato de
cuidar da própria aparência é de suma importância àqueles que desejam ascender
social e profissionalmente.
Para tal convencimento, a publicidade utiliza-se de recursos oferecidos pela
própria língua que lhe serve de veículo, como dos argumentos que, neste estudo,
advêm da retórica. Manipula os lugares retóricos tradicionais, cria novas
necessidades, e, para vender novos comportamentos, movimenta o discurso
dominante para, com isso, criar novos “gêneros humanos”.
Como consequência, a publicidade passa a exaltar não mais as qualidades
reais dos objetos que anuncia, e sim as sensações causadas pelo seu consumo no
auditório, tendo em vista que tais produtos são vinculados a um estilo de ser e não
apenas de viver, em que o status é bem marcado; o objetivo é fazer sonhar.
11
A partir do exposto, objetivamos, pois, analisar em uma amostra da revista
masculina Men’s Health, doravante MH, como a publicidade da revista destrói o
discurso instituído para vender o homem como um produto; as marcas retóricas que
transformam o gênero masculino em um produto comercial denominado
“metrossexual”; os recursos argumentativos utilizados para este fim, e, em que
medida, trazer o termo metrossexual para a publicidade contribuiu para persuadir o
homem a cuidar, sobretudo, da própria vaidade, a partir da exposição de modelos
masculinos, cuja função é vender comportamentos do novo gênero masculino
presente no mercado.
Justifica-se o nosso estudo, haja vista o discurso publicitário exercer
importante papel nas decisões e mudanças sociais vigentes, pelas questões
relacionadas ao discurso, à Retórica e à persuasão, que se fazem presentes a cada
dia de forma mais acentuada no cotidiano do ser humano, em diversos aspectos:
comerciais, sociais, religiosos, acadêmicos, profissionais. Enfim, para a apreensão
dos aspectos envolvidos na construção de discursos de convencimento, como o da
publicidade.
É importante ressaltar que, embora de toda a revolução no discurso
midiático/publicitário para o recebimento do homem sob um novo molde social, até,
pouco tempo, de contornos pouco delineados, não podemos subentender que a
figura do homem-provedor tenha perdido força na sociedade atual, tanto que, para
fazer o homem consumir, a publicidade ancora o seu discurso neste antigo papel
social masculino. Diferentemente da mulher que tem sua feminilidade apoiada na
beleza, o homem tem a sua masculinidade apoiada na posse de bens e no status.
12
Os procedimentos metodológicos adotados, neste estudo, seguiram três
etapas fundamentais: 1) a delimitação do tema de estudo; 2) a constituição da
fundamentação teórica, que se iniciou a partir do imbricamento entre a publicidade e
a Retórica Perelmaniana, quando destinada à construção de discursos,
implicitamente, persuasivos, e 3) a escolha da amostra de análise que seguiu os
seguintes passos: a) seleção de três edições do ano de 2009 da revista MH:
Setembro, 41; Outubro, 42, e Novembro, 43; b) observação, nas revistas
selecionadas, de matérias, cujo tema fosse a vaidade, das quais, posteriormente, foi
selecionada a que melhor representou o modo utilizado pela publicidade da MH para
persuadir o homem a consumir a própria vaidade, e c) constituído o corpus,
cruzamos o seu conteúdo com a nossa fundamentação teórica, a fim de verificarmos
se a amostra selecionada dar-nos-ia subsídios para a comprovação dos
pressupostos levantados em nosso estudo.
Para o estudo da natureza discursiva da publicidade, tomamos, como
referencial teórico, a Retórica de Perelman & Tyteca (2005) e Reboul (2004), devido
ao vasto aparato teórico/metodológico, por eles, oferecido, para o entendimento dos
processos envolvidos na construção de discursos persuasivos que visam à
identificação com o auditório, como é o da publicidade.
Para o estudo específico da metrossexualidade, cujo criador foi o escritor
inglês Mark Simpson (1994), como, até o momento, foi pouco estudada no meio
acadêmico, recorremos, principalmente, a diversos artigos, matérias e pesquisas
contidos em sites, jornais eletrônicos e revistas, entre elas, a Veja, a Época e a
ISTOÉ.
Ao longo do estudo, diversos outros estudiosos contribuíram para a nossa
fundamentação teórica e reflexões desenvolvidas.
13
Está dissertação está, além da introdução, dividida em:
Capítulo I RETÓRICA E PUBLICIDADE contém a fundamentação teórica
que nos serviu para o fomento do estudo e das reflexões desenvolvidas, do ponto de
vista da retórica e seu imbricamento com a publicidade;
Capítulo II De publicidades e Retóricas: DO MACHO AO UBERSEXUAL
remonta os principais aspectos históricos que comprovam que a vaidade masculina
sempre esteve presente nas mais distintas sociedades, e o percurso histórico da
evolução mercadológica do homem aa aparição do novo gênero masculino o
metrossexual que fez com que o homem ganhe, na publicidade, um destaque
jamais antes visto. também a abordagem de outros termos que designam o
homem, pois, embora, às vezes, pareçam substituir o termo metrossexual, na
verdade, ampliam o seu significado e, por isso, fazem parte deste estudo.
Finalmente, por acharmos pertinente ao nosso estudo, incluímos uma seção
sobre a sensualidade presente na publicidade e seu cruzamento com a
masculinidade, tendo em vista que, na sociedade, o homem é, naturalmente, mais
associado às questões sexuais, enquanto a mulher é mais associada à fragilidade.
O capítulo contém também uma última parte destinada à descrição das
principais seções contidas na revista MH;
Capítulo III A RETÓRICA DA TRANSFORMAÇÃO contém a análise do
corpus, cujo maior intuito é revelar/comprovar que o discurso da MH é persuasivo,
de constituição verossímil, ancorado nas práticas discursivas sociais, e que visa o
apagamento, pelo menos, discursivo do preconceito, ainda, presente na sociedade,
14
de associar o cuidado masculino com a aparência, como sendo um comportamento
ligado à homossexualidade.
Finalizamos com as considerações finais, em seguida, as referências
bibliográficas, os anexos, e um glossário dos gêneros masculinos apresentados
neste estudo.
15
CAPÍTULO I RETÓRICA É PUBLICIDADE
1.1. Publicidade, Retórica e persuasão
A publicidade revela-se, nos dias de hoje, como uma forma de comunicação
dirigida, que persuade o auditório
1
a partir do uso de técnicas da argumentação
retórica. Persuadir é mais que convencer. Convence-se pela razão; persuade-se
pela emoção. Persuadir é levar o outro a aceitar uma ideia, valor ou preceito; é,
sobretudo, a busca de adesão a uma tese. Em outros termos, pode-se dizer,
conforme a própria etimologia da palavra, que persuadir (per+suadere) é o mesmo
que aconselhar.
O discurso publicitário conserva da argumentação retórica apenas o que ela
tem de mais sumário, e para a sedução do auditório, por meio de jogos de palavras
capazes de lhe instigar as paixões, oferece como termos de escolha apenas objetos.
Desse modo, o discurso publicitário, pela manipulação dos signos, reaviva
arquétipos coletivos ocultos, mas fundamentais para fazer consumir, e como não se
dirige a ninguém específico, cria a ilusão de se dirigir a cada um dos indivíduos que
compõem o auditório. Enfim, a publicidade instiga o consumo pela sensação de
individualidade criada no (in)consciente coletivo. (Cf. CARVALHO, 2004, p. 17)
Visto como um instrumento de controle social, o discurso publicitário, para
realizar tal função, simula igualitarismo ao remover da estrutura de superfície os
indicadores de autoridade e poder, e, para alcançar a sua eficácia persuasiva e
impor valores, mitos, ideias e várias outras elaborações simbólicas, utiliza-se de
1
Na argumentação retórica, entende-se por auditório o conjunto de pessoas a quem se deseja persuadir.
Ele está longe de abranger todos os seres humanos, pelo contrário, visa o particular especifico. (Cf.
PERELMAN & TYTECA, 2005, p. 18).
16
inúmeros recursos estilísticos e argumentativos próprios da língua que lhe serve de
veículo: trocadilhos, rimas, alusões, ambiguidades, recursos fonéticos, léxico-
semânticos e morfossintáticos.
Para Reboul (2004), tanto a propaganda como a publicidade pertencem à
comunicação de massa
2
. Segundo o autor, a massa é: “um número indefinido,
geralmente imenso, de indivíduos cujo único elo é receber a mesma mensagem”.
(Cf. REBOUL, op. cit., p. 85)
Para existir a comunicação de massa são necessários meios de comunicação
modernos, de grande difusão, como o cartaz ou anúncio de televisão. A
comunicação de massa é sempre indireta, pois inexiste o contato frente a frente; é
breve e limitada no tempo e no espaço.
A principal diferença entre a massa e a multidão está no poder de refutação
desta última. Enquanto a multidão, conjunto de pessoas reunidas, pode
imediatamente reagir à mensagem que recebe, a massa não tem voz nem rosto. (Cf.
REBOUL, op. cit., p. 85)
Para leigos, comumente, os termos, propaganda e publicidade, costumam ser
apreendidos como sinônimos. Contudo, o primeiro termo traz, em seu bojo, um
maior caráter político, religioso, institucional e militar.
Aos propósitos deste estudo, tomaremos a ideia contida no termo publicidade,
visto que ele é mais relativo às mensagens comerciais, tendo em vista que, como
postula Carvalho (op. cit., p.10): [...] a publicidade comercial explora o universo dos
desejos, um universo particular; [...] é mais “leve”, mais sedutora [...]”.
2
Por vezes, neste estudo, poderemos nos referir à massa e ao auditório como termos sinônimos. (Nota
do autor).
17
Aspectos que se coadunam e ao mesmo tempo se ampliam com as ideias de
Martins (1997, p. 38), para quem, “o papel primordial da publicidade é produzir
anúncios que provoquem mudanças de opinião e de sentimentos no auditório, bem
como persuadi-lo a assumir comportamentos novos”.
Em contrapartida, devido à livre concorrência, para singularizar as marcas e
distingui-las das demais, a publicidade tornou-se um tanto prolixa a respeito das
qualidades do que vendia. (Cf. CHARAUDEAU, 2008, p. 307)
Do aspecto prolixo de que se revestiu o discurso publicitário após a livre
concorrência, Chauí (2006, p.39) argumenta:
[...] a propaganda comercial foi deixando de apresentar o produto
propriamente dito (com suas propriedades, qualidades, durabilidade)
para afirmar os desejos que ele realizaria: sucesso, prosperidade,
segurança, juventude eterna, beleza, atração sexual, felicidade. Em
outras palavras, a propaganda ou publicidade comercial passou a
vender imagens e signos e não as próprias mercadorias.
Assim, manipular os desejos do auditório e, até mesmo, criar tais desejos
passam a ser estratégias fundamentais de persuasão.
Em sua fase atual, a publicidade fala de si mesma e mostra-se como o
verdadeiro produto a ser possuído. Seu discurso é autoritário e age sobre o auditório
como um todo, tendo em vista que, durante o ato comunicativo, inexiste o
movimento dialógico eu-tu-eu, uma vez que o tu (auditório), ao receber as
informações pelos meios de difusão, assume o papel de receptor passivo, sem
direito ao debate ou refutação diretos.
18
Para Citelli (2005, p. 43), o discurso autoritário é persuasivamente desejoso
de aplainar as diferenças, fazendo com que verdades de uma instituição expressem
a verdade de todos”, e acrescenta:
É um discurso exclusivista, pouco afeito a aceitar mediações ou
ponderações. O signo se fecha e irrompe a voz da autoridade‟ sobre
o assunto [...]. O discurso autoritário lembra um circunlóquio: como
se alguém falasse para um auditório composto por ele mesmo. Citelli
(op. cit., p 52)
A linguagem publicitária não visa à reciprocidade, mas a exclusão da crítica
do que anuncia; ela será eficaz quando for capaz de incitar as paixões do auditório e
instigá-lo a consumir.
Sobre a publicidade, Carvalho (op. cit., p. 10) argumenta:
O papel da publicidade [...] é tão importante na sociedade atual,
ocidentalizada e industrializada, que ela pode ser considerada a mola
mestra das mudanças verificadas nas diversas esferas do
comportamento e da mentalidade dos usuários/receptores.
Contudo, embora o discurso publicitário seja um dos mais ativos e eficazes
em ditar regras de consumo e comportamentos novos, ele precisa ir ao encontro dos
valores e crenças sociais vigentes, ter originalidade, objetividade, e ser adequado ao
tipo de auditório a que se destina, a fim de aumentar o nível de adesão do auditório.
Para tal adesão, a publicidade forma comportamentos, hábitos ou
necessidades novas; reforma, quando os hábitos e pontos de vista existem, e
conforma, ao reiterar o existente, e, com isso, manter a fidelidade do auditório às
marcas, produtos e serviços, consagrados e vivamente presentes na memória
coletiva do auditório. Juntos, os atos de formar, reformar e conformar, permitem à
19
publicidade manter os produtos que anuncia no top of mind
3
do auditório. (Cf.
CITELLI, op. cit., p. 44-7)
A publicidade, enquanto forma de dominação simbólica a serviço da ideologia
de consumo, torna necessidades básicas em um Ideal da existência.
Lefort (apud CHAUÍ, op. cit., p. 75) diz:
A ideologia contemporânea é invisível porque não parece construída
nem proferida por um agente determinado, convertendo-se em um
discurso anônimo e impessoal, que parece brotar espontaneamente
da sociedade como se fosse o discurso social. [...] O rádio, a
televisão, o cinema, os jornais e as revistas de divulgação tornam
viáveis sistemas de representação que seriam impossíveis sem eles.
Ressalte-se: não interpretação sem a presença da ideologia que é sócio-
historicamente-constituída. Althusser (1971 apud FAIRCLOUGH, 2001, p. 52)
argumenta: “a ideologia funciona pela constituição („interpelação‟) das pessoas em
sujeitos sociais e sua fixação em „posições‟ de sujeito, enquanto ao mesmo tempo
lhes dá a ilusão de serem agentes livres”.
Fairclough (op. cit., p. 121) argumenta também que “as ideologias surgem nas
sociedades caracterizadas por relações de dominação com base na classe, no
gênero social, no grupo cultural, e assim por diante [...]”
Como a linguagem é materializada na ideologia, e todo dizer é marcado por
ela, simples palavras do cotidiano chegam até s carregadas de sentido. Todavia,
nem sempre os efeitos dessas ideologias o perceptíveis a todos os indivíduos que
constituem o auditório.
3
Estar vivo na memória, ser o mais lembrado. (Tradução nossa).
20
Por seu turno, Orlandi (2005, p.95-6) enfatiza:
É a ideologia que torna possível a relação palavra/coisa. Para isso
têm-se as condições de base, que é a língua, e o processo, que é
discursivo, onde a ideologia torna possível a relação entre o
pensamento, a linguagem e o mundo. Ou, em outras palavras, reúne
sujeito e sentido. Desse modo o sujeito se constitui e o mundo se
significa pela ideologia.
Em um sentido mais sociológico, Reboul (1975, p.117) argumenta que ele “vê
na ideologia o conjunto das ideias, crenças, símbolos, mitos pelos quais um grupo
social justifica sua existência e suas práticas fundamentais”.
Em função do exposto, na sociedade capitalista, meros objetos de consumo
são apresentados, pela publicidade, como indispensáveis à vida, aspecto que,
inconscientemente, leva o auditório a crer que, consumindo tais objetos, ele terá
prestígio e status social. Não raro, na linguagem publicitária, para reforçar a
persuasão do auditório masculino, muitos objetos que têm o status de representar
na sociedade a masculinidade são anunciados como se fossem uma extensão do
homem, sua força, potência e virilidade.
A partir da ideia de que para se colocar/ existir no mundo o indivíduo precisa
consumir, reflexo da ideologia capitalista presente na sociedade moderna, a
publicidade cria, a fim de instigar o consumo, o universo do eu-egoísta.
Neste universo, em que para suprir as necessidades de consumo, qualquer
sacrifício é válido, o prazer do único e do individual é sempre exaltado.
21
Carvalho (op. cit., p. 13) reforça a ideia acima, ao afirmar:
[...] a linguagem publicitária se caracteriza pelo reforço do
individualismo. Ao concentrar o receptor em si próprio,
egoisticamente ou, quando muito, nos “seus” [...] A mensagem quer
persuadir o receptor a realizar uma ação predeterminada e para isso
usa uma linguagem autoritária, na qual se destaca o uso do modo
verbal imperativo.
De fato, cabe à publicidade atribuir aos objetos que anuncia qualidades que
os tornam verdadeiros sonhos de consumo da grande massa. Mas um
problema, pois diferente do sonho que é lúdico e perfeito, muitas vezes, sem a aura
publicitária, o objeto anunciado está aquém das funcionalidades prometidas, o que
pode, facilmente, levar o auditório à frustração e ao descontentamento.
Sobre tais aspectos, Carvalho (op. cit., 12-3) argumenta:
Possuir objetos passa a ser sinônimo de alcançar a felicidade: os
artefatos e produtos proporcionam a salvação do homem,
representam bem-estar e êxito. Sem a auréola que a publicidade lhes
confere, seriam apenas bens de consumo, mas mistificados,
personalizados, adquirem atributos da condição humana.
Evidencia-se, portanto, que o discurso publicitário não espelha a realidade,
pelo contrário, pode até fabricá-la, pois é de constituição verossímil e, por isso, pode
apresentar o verdadeiro, o falso e o possível ou, em outras palavras, cria sua própria
realidade, que possui um efeito de verdade. Tudo aquilo em que a confiança é
presumida é verossímil.
22
Como argumenta Charaudeau (op. cit., p. 119):
O sujeito anunciante praticamente não tem a necessidade de
mostrar-se crível, pois o desafio dessa situação de comunicação é
desencadear no consumidor potencial um desejo de crer; e não é
preciso que a promessa se realize, basta que ela faça sonhar.
Entretanto, Chauí (op. cit., p 38) ressalta:
Para ser eficaz, a propaganda deve realizar duas operações
simultâneas: por um lado, deve afirmar que o produto possui os
valores estabelecidos pela sociedade em que se encontra o
consumidor [...] e, por outro, precisa despertar desejos que o
consumidor não possua e que o produto não só desperta como,
sobretudo, satisfaz (donde o slogan “sua satisfação garantida ou seu
dinheiro de volta”).
Pelos elementos, até aqui, arrolados, é perceptível que o poder de persuasão
da publicidade advém tanto da sociedade que homologa o seu discurso, como da
retórica, que, enquanto arte de persuadir, engloba uma grande quantidade de
objetivos que são condensados no tipo de discurso proposto, conforme argumenta
Meyer (1993, p. 22):
1. Persuadir e convencer, criar o assentimento; 2. Agradar, seduzir,
ou manipular, justificar (por vezes, a qualquer preço) as nossas
ideias para as fazer passar por verdadeiras, porque o são ou porque
acreditamos nelas; 3. Fazer passar o verosímil, a opinião e o
provável com boas razões ou argumentos, sugerindo inferências ou
tirando-as por outrem; 4. Sugerir o implícito através do explícito; 5.
Instituir um sentido figurado, a inferir do literal, a decifrar a partir dele,
e para isso utilizar figuras de estilo, <<histórias>>; 6. Utilizar uma
linguagem figurada e estilizada, o literário; 7. Descobrir as intenções
daquele que fala ou escreve, conseguir atribuir razões para o seu
dizer, entre outras coisas através do que é dito.
23
Guimarães (2004, p. 149) reúne argumentos que reforçam o caráter
manipulador de que se reveste a escrita publicitária que, para fazer consumir, apela
à emoção do auditório e à credibilidade do orador:
Essa feição de liberdade de que se impregna a Retórica concretiza-
se no fato de as palavras matéria e instrumento da argumentação
não encerrarem, contudo, uma significação estrita, univocamente
definida. Comportam, tomadas em si mesmas ou integradas no
contexto de um discurso, uma plasticidade, uma pluralidade de
significação capazes de comunicar intenções diferentes e algumas
vezes opostas.
A publicidade utiliza-se muito mais da linguagem midiática/mercadológica que
dos objetos em si. Ao valer-se de recursos da própria língua que lhe serve de
veículo, a publicidade acaba por desenvolver certa personalidade aos produtos que
veicula. Esta personalidade está sempre atrelada ao que se pretende suscitar no
auditório, e é conseguida por meio das qualidades que se agregam a tais produtos,
a fim de destacá-los dos demais. Estas qualidades são reforçadas no (in)consciente
coletivo, por meio das provas, que podem ser extrínsecas ou intrínsecas.
As provas extrínsecas servem para reforçar a adesão à tese defendida, pois
trabalham com o que se sabe do objeto cujo elogio se faz. Elas o dadas, mas
podem ser posteriormente manipuladas pelo orador.
Segundo Tringali (1988, p. 68), as provas extrínsecas
Não pertencem à Retórica [...], são dadas, mas depois de dadas, se
manipulam pelo orador. Elas têm sua fonte num fato, numa
circunstância externa, são eventuais e variáveis e dependem de
outras esferas de conhecimento.
24
Em contrapartida, as provas intrínsecas são criadas pelo orador e dependem
de seu método e talento pessoal. o provas lógicas (silogismos e exemplos) e
psicológicas (éticas e patéticas), que não dependem de outras áreas do
conhecimento, pois fazem parte da Retórica.
Sobre esses aspectos, Tringali (op. cit., p. 69) argumenta: As provas
intrínsecas ou são raciocínios (silogismos) ou exemplos, ou resultam da exploração
da afetividade.
Deve-se entender o silogismo como um raciocínio, uma forma de argumentar,
em que dadas as premissas, o auditório pode chegar a uma conclusão. É um
argumento baseado em premissas prováveis, que é dedutivo e passa por três fases:
premissa maior, a exposição do fato; premissa menor, o desejo que tal exposição
provoca, e a conclusão, que é retirada do cruzamento entre as premissas maior e
menor. Em retórica, o silogismo também pode ser chamado de entimema
(Aristóteles), que, etimologicamente, denota toda a concepção do espírito.
A partir da exposição destas provas, necessita-se, pois, levar em
consideração que na relação entre o orador e o auditório a liberdade de escolha é
limitada, visto que o debate é posto em tal nível que, na verdade, não há debate.
Paralelamente, exaltar as qualidades do produto e a credibilidade do
anunciante passa a ser fundamental em publicidade, a fim de, com isso, suscitar no
auditório a emoção. Para a exaltação de tais qualidades, cria-se o slogan, cujo
significado não é preciso e pode variar de autor para autor, entretanto, o relevante, a
saber, é que sua eficácia está na sua concisão, em seu poder de sugestionar, e,
acima de tudo, fixar na mente do auditório a associação entre a marca e seu
argumento persuasivo, cujo papel é instigar o consumo.
25
Carrascoza (apud QUINTANILHA, 2007, p. 24) argumenta: “o slogan deve
resumir a essência de uma marca, um produto ou uma campanha”.
O slogan deve tratar de um único objeto, mas, na maioria das vezes, faz
inferências autorizadas a outros textos pelo uso da polifonia
4
. Pela polissemia
5
, o
slogan pode provocar o riso ou, por seu final inusitado, certo estranhamento ao
auditório.
Sobre o uso do slogan, Reboul (1975, p. 87- 8) postula:
A eficácia do slogan esno que ele não diz, o que pode parecer
negativo, pois como o não-dito do slogan opera concretamente? A
partir das pressuposições levantadas pelo próprio receptor que se
encarrega pelo não-dito; é ele que diz para si mesmo o que o slogan
se limita a sugerir. Daí a conclusão de que é o inconsciente que fala.
O slogan sempre acompanha uma ilustração ou texto argumentativo, mas a
posição de destaque é sempre dele. Como, geralmente, evoca a marca do produto,
que é um tipo de nome próprio, o slogan permite identificar de maneira direta o seu
referente.
Enfim, para provocar o desejo e ditar regras de consumo, a publicidade
articula elementos argumentativos e visuais para instigar (in)conscientemente o
auditório a consumir, ao engendrar em seu discurso diversos artifícios
linguísticos/retóricos que se coadunam em prol da empreitada persuasiva, conforme
podemos observar na mídia impressa e televisiva atuais.
4
Em linguística, basicamente, a polifonia é, segundo Bakhtin, a presença de outros textos dentro de um
texto, causada pela inserção do autor em um contexto, que inclui previamente textos anteriores que
lhe inspiram ou influenciam. (Descrição nossa).
5
Polissemia: multiplicidade de significados de uma palavra. (Idem).
26
1.2. Estudos contemporâneos sobre o ethos
Aristóteles define os meios discursivos que influenciam o auditório em três
tipos de argumentos ou categorias, no sentido generalíssimo de instrumentos de
persuadir, as pisteis: ethos e pathos que são de ordem afetiva, e, portanto, permitem
emocionar, e o logos que pertence ao domínio da razão, e torna possível convencer.
O ethos, caráter moral e “ético”, verdadeiro ou não, é ligado ao orador; o
pathos, conjunto das paixões, ao auditório, e o logos à razão presente em todo ato
argumentativo.
O ethos é o que permite ao orador parecer digno de fé e de credibilidade; ele
é o caráter que o orador deve assumir para inspirar confiança no auditório e suscitar
suas emoções, paixões e sentimentos. Com esse intento, o orador deve se utilizar
tanto do logos, a parte racional do discurso, como da psicologia.
O sentido moral de que o ethos é revestido não nasce de uma atitude interior
ou de um sistema de valores abstratos; ao contrário, ele se produz pelas escolhas
competentes, deliberadas e apropriadas do orador. (Cf. EGGS, 2005, p. 37)
Para argumentar, o orador necessita de um conjunto de condições, como a
existência de uma linguagem comum, e de uma técnica que possibilite a
comunicação e o acordo prévio com o auditório. Mas isto não basta. É preciso ter
apreço pela adesão do auditório, pelo seu consentimento e participação mental. (Cf.
PERELMAN & TYTECA, op. cit., p 17-18)
Desse modo, como princípio básico da argumentação, considerar o outro
como capaz de reagir e de interagir diante das propostas e teses que lhe são
apresentadas é fundamental. (Cf. MOSCA, 2004, p. 17)
27
Essas regras devem ser sempre respeitadas, pois, como argumenta Reboul
(2004), pode-se fazer de tudo para conquistar a adesão do auditório, mas não por
quaisquer meios, tendo em vista que o ato de ludibriar e a transgressão das regras
lógicas podem, de súbito, destruir a empreitada persuasiva, o que evidencia a suma
importância de se conhecer ou, ao menos, presumir aqueles a quem se pretende
persuadir. (Cf. REBOUL, op. cit., p.30)
Perelman & Tyteca (op. cit., p. 26-7) postulam: O importante, na
argumentação, não é saber o que o próprio orador considera verdadeiro ou
probatório, mas qual é o parecer daqueles a quem ele se dirige.
O ethos deixa para trás o seu caráter estritamente moral, para assumir outro
mais psicológico, a partir do que Aristóteles define sobre a psicologia das diversas
paixões cólera, medo, piedade etc. e dos diversos caracteres do auditório,
segundo sua idade e condição social. (Cf. REBOUL, op. cit., 48)
Como argumenta Amossy (2005, p. 09),
Todo ato de tomar a palavra implica a construção de uma imagem de
si. Para tanto, não é necessário que o locutor faça seu auto-retrato,
detalhe suas qualidades nem mesmo que fale explicitamente de si.
Seu estilo, suas competências linguísticas e enciclopédicas, suas
crenças implícitas são suficientes para construir uma representação
de sua pessoa.
Para apreender o ethos, o auditório acaba por levar em consideração o que
observa e conhece previamente do orador e também da imagem que ele constrói a
partir de seu discurso, para então decidir se se filiará ou não ao que lhe é proposto
por ele durante o ato argumentativo.
28
Sobre o exposto, Charaudeau argumenta:
De fato, o ethos, enquanto imagem que se liga àquele que fala, não é
uma propriedade exclusiva dele; ele é antes de tudo a imagem de
que se transveste o interlocutor a partir daquilo que diz. O ethos
relaciona-se ao cruzamento de olhares: olhar do outro sobre aquele
que fala, olhar daquele que fala sobre a maneira como ele pensa que
o outro vê. Ora, para construir a imagem do sujeito que fala, esse
outro se apóia ao mesmo tempo nos dados preexistentes ao discurso
o que ele sabe a priori do locutor e nos dados trazidos pelo
próprio ato de linguagem. Charaudeau (op. cit., p. 115)
É fundamental, para o entendimento do ethos, perceber a identidade do
orador desdobrada em duas componentes: a primeira, em que o sujeito mostra-se
com a sua identidade social de locutor, e uma segunda, em que esse sujeito constrói
para si uma figura daquele que enuncia, uma identidade discursiva de enunciador
que se atém aos papéis que ele se atribui em seu ato de enunciação. (Cf.
CHARAUDEAU, op. cit., p. 115)
Sob o olhar do outro, o orador é constituído de duas identidades: uma social e
outra psicológica, que são mostradas mediante a identidade discursiva construída
para si no/pelo discurso. Sob esse ponto de vista, o ethos é o resultado de uma
dupla identidade, que termina por se fundir em uma única que engloba o sujeito
discursivo e social.
Como dissemos, para persuadir, o orador precisa criar um efeito de
verdade para o seu enunciado. Em contrapartida, como o orador é dependente do
auditório, cujas expectativas variam segundo a idade, competência e nível social, ele
deve, pois, preencher um mínimo de credibilidade, mostrar-se sensato, sincero e
simpático; enfim, ser crível, características que não são necessariamente
verdadeiras. (Cf. REBOUL, op. cit., p. 48)
29
A credibilidade não é uma qualidade ligada à identidade social do orador, mas
o resultado da construção discursiva que ele realiza de modo a convencer o
auditório a julgá-lo digno de crédito
É preciso também respeitar os tóπoi (lugares), que veremos adiante, e os
saberes comuns, o que implica que o orador mostre um ethos apropriado à sua
idade e condição social e adapte o seu discurso aos hábitos de seu auditório.
O peso das três provas: ethos, pathos e logos, é relativo, e sua maior ou
menor utilização dependerá das habilidades argumentativas do orador, do gênero
oratório ou, em uma linguagem mais moderna, do tipo de texto a que se destinam.
Em contrapartida, como a identidade do sujeito está presa à ideologia social
vigente, para persuadir o auditório, o orador precisa adequar o seu ethos ao que lhe
é permitido pelas representações sociais do imaginário coletivo. É daí que advém a
ideia/imagem de homogeneidade discursiva entre o ethos do orador e o pathos do
auditório.
1.3. O movimento das paixões
As paixões são como as ventanias que sopram as velas dos navios,
fazendo-os navegar; outras vezes podem fazê-lo naufragar, mas, se
não fossem elas, não haveria viagens, nem aventuras, nem novas
descobertas. Voltaire
As paixões, aqui tomadas, não devem ser compreendidas como virtudes ou
vícios permanentes, mas como situações transitórias provocadas no auditório pela
competência argumentativa do orador. Segundo Aristóteles, as paixões são divididas
em catorze: cólera, calma, temor, segurança (confiança, audácia), inveja,
30
impudência, amor, ódio, vergonha, emulação, compaixão, favor (obsequiosidade),
indignação e desprezo
As paixões operam como imagens mentais e refletem as representações que
fazemos dos outros, considerando-se o que eles são para nós, realmente, ou no
domínio da razão. As paixões, vistas deste modo, são todos aqueles sentimentos
capazes de causar mudanças no auditório, e que fazem variar os seus julgamentos.
Elas estão intimamente ligadas ao prazer e ao sofrimento, sentimentos, que
desestabilizam o homem.
Como argumenta Meyer (2003, XXXVIII): “as paixões formam um reservatório
de ditos espirituosos em que se juntam o particular e uma certa forma de
universalidade, o bom senso ou o senso comum.
Para Aristóteles (2003, XLII): “dá-se o nome de paixões a tudo o que,
acompanhado de dor e de prazer, provoca tal mudança no espírito que, nesse
estado, observa-se uma notável diferença nos julgamentos proferidos”.
Por sua vez, Meyer (op. cit., XLVII) argumenta: “as paixões são ao mesmo
tempo modos de ser (que remetem ao ethos e determinam um caráter) e respostas a
modos de ser (o ajustamento ao outro)”.
Além disso, Meyer (op. cit., XXXVIII) esclarece: “as paixões servem para
classificar os homens e descobrir se o que sentem é necessário para que quem quer
convencê-los aja sobre eles”, e argumenta:
A paixão é decerto uma confusão, mas é antes de tudo um estado de
alma móvel, reversível, sempre suscetível de ser contrariado,
invertido; uma representação sensível do outro, uma reação à
imagem que ele cria de nós, uma espécie de consciência social
inata, que reflete nossa identidade tal como esta se exprime na
relação incessante do outrem. Meyer (op. cit., XXXIX)
31
Enfim, para Meyer (op. cit., XLVII):
1) As paixões são representações e, mesmo, representações de
representações.
2) Visam a definir a identidade do sujeito relativamente a outrem.
3) A referência ao outro varia se ele é visto como superior, igual ou
inferior em seus atos. [...]
4) Mas também a imagem que outra pessoa forma de si mesma
em relação a nós: portanto, aquela que tem de nós e não somente a
que concerne ao que ela é. [...]
Finalmente, Meyer (2007, p. 38) argumenta: “a paixão é, portanto, um
poderoso reservatório para mobilizar o auditório em favor de uma tese. Isso reforça
a identidade dos pontos de vista, a diferença em relação à tese que procuramos
afastar”.
Cabe ao auditório, principalmente, nas deliberações, atentar-se não
exclusivamente para o discurso, e sim colocar a si mesmo e o orador em certas
disposições e, assim deixar-se ou não persuadir.
1.4. Características argumentativas: os lugares retóricos e as ligações que
fundamentam a estrutura do real
1.4.1. Os lugares retóricos
Em termos gerais, os lugares premissas de ordem muito geral são
argumentos prontos para serem utilizados pelo orador durante a empreitada
persuasiva. Eles servem para reforçar a adesão a uma tese, principalmente, se ela
for fundada sobre os lugares mais gerais e aceitos por todos. (Cf. PERELMAN &
TYTECA, op. cit., p.94)
32
Para Perelman & Tyteca (op. cit., p. 95), “[...] os lugares formam um arsenal
indispensável, do qual, de um modo, ou de outro, quem quer persuadir outrem
deverá lançar mão”. Quando servem para caracterizar uma imensa gama de
generalidades, os lugares são chamados de lugares-comuns.
Para Cícero (apud REBOUL, op. cit., p. 52), “os lugares (...) são como
etiquetas dos argumentos, sob as quais vamos buscar o que há para dizer num ou
noutro sentido”.
Cabe ao orador fazer as escolhas certas, a fim de que tais argumentos lhe
deem suporte para a justificativa de suas escolhas, tendo em vista que os lugares
servem, basicamente, para mexer com as emoções do auditório, principalmente, ao
fazerem menção à qualidade, ao bem-estar, à infância, à juventude, entre outras
infinitas possibilidades.
Enfim, os lugares servem para persuadir o auditório a partir do que está
implícito na argumentação, mas é, facilmente, inferido pelo contexto. Eles variam
conforme as culturas.
Os lugares são divididos em: da quantidade, da qualidade e da essência. (Cf.
PERELMAN & TYTECA, op. cit., p. 97-108). Servem, porém, aos propósitos deste
estudo:
a. Lugares da qualidade
Os lugares da qualidade fazem-se presentes na argumentação quando a
virtude do número é contestada. Valoriza-se o único.
33
Como argumentam Perelman & Tyteca (op. cit., p. 102):
O valor do único pode exprimir-se por sua oposição ao comum, ao
corriqueiro, ao vulgar. Estes seriam a forma depreciativa do múltiplo
oposto ao único. O único é original, distingue-se, por isso é digno de
nota e agrada mesmo a multidão.
b. Lugares da essência
Os lugares da essência fundam-se no fato de concederem um valor superior
aos indivíduos que representam bem as melhores características de sua classe ou,
em outras palavras, é a comparação entre indivíduos concretos, em que se verifica
qual é o melhor representante de sua classe.
Dos lugares da essência fundam-se alguns lugares derivados do valor da
pessoa que, geralmente, estão vinculados à sua dignidade, ao seu mérito ou
autonomia, e também no que é único e original em relação à personalidade humana.
(Cf. PERELMAN & TYTECA, op. cit., p. 106)
Para o orador determinar se a escolha de um lugar será melhor do que outra
antes ele precisa conhecer a situação argumentativa, e para quem ele se dirigirá. Se
o auditório será composto por jovens ou por intelectuais.
Sobre esse fato, Perelman & Tyteca (op. cit., p. 111) argumentam:
A sistematização dos lugares, sua concepção em função dos lugares
considerados fundamentais, confere-lhes aspectos variáveis e que
ao mesmo lugar, a mesma hierarquia, podem, em virtude de outra
justificação, redundar numa visão diferente do real.
34
Os aspectos variáveis referenciados pelos autores, e, ocorridos, a partir da
sistematização dos lugares, atingem maior ou menor grau de variação, conforme a
intenção e habilidades do orador.
Além dos lugares, por nós citados, há muitos outros, cujos significados são
bastante limitados e por tal motivo não farão parte deste estudo.
1.4.2. As ligações que fundamentam a estrutura do real
Dos diversos tipos de argumentos tratados por Perelman & Tyteca (2005),
servem aos propósitos deste estudo as ligações que fundamentam a estrutura do
real, cujo principal papel é fazer com que apareçam entre as coisas nexos antes
nunca vistos ou suspeitados.
Abordaremos aqui apenas as ligações (argumentos) de maior visibilidade na
amostra de nossa análise, conforme a seguir:
a. Argumentação pela ilustração
A argumentação pela ilustração tem por função reforçar a adesão a uma regra
conhecida e aceita, ao fornecer casos particulares para o esclarecimento do
enunciado geral, e aumentar a presença na consciência do auditório. A ilustração
pode até ser duvidosa, contudo, precisa ser capaz de impressionar vivamente a
imaginação do auditório. (Cf. PERELMAN & TYTECA, op. cit., p. 407)
35
Para Perelman & Tyteca (op. cit., p. 410),
Como a ilustração visa aumentar a presença, concretizando uma
regra abstrata por meio de um caso particular, é comum a tendência
de nela ver uma imagem [...]. [...] a ilustração é muitas vezes
escolhida pela repercussão afetiva que pode ter.
Enfim, o intento maior da argumentação pela ilustração é facilitar a
compreensão da regra a partir de algo que seja indiscutível, caso contrário, ela
poderia constituir uma forma de ironia.
b. Argumentação pelo modelo
Na argumentação pelo modelo, pessoas ou grupos, cujo prestígio valoriza os
atos, podem servir de modelo. O valor da pessoa, reconhecido, previamente,
constitui a premissa da qual se tirará uma conclusão. Não se imita qualquer um;
para servir de modelo, é preciso um mínimo de prestígio. O modelo é apresentado
como algo digno de imitação, e isso o distingue do exemplo. (Cf. PERELMAN &
TYTECA, op. cit., p. 414)
O modelo tem de ser capaz de indicar uma conduta ou servir de apoio à
conduta adotada. Àquele que for considerado o modelo para os demais, pesará uma
obrigação que será algo bastante determinante para a sua conduta, visto que ele
precisa ser digno de ser copiado e seguido. Como ressaltam Perelman & Tyteca (op.
cit., p. 415), “o modelo deve vigiar sua conduta, pois o menor de seus deslizes
justificará milhares de outros, [...]”.
36
c. Argumentação pelo antimodelo
Na argumentação pelo antimodelo, podemos aplicar tudo o que se diz do
modelo, mas com um importante diferencial: há o incentivo a se distinguir de alguém
sem que, nem sempre, seja possível inferir precisamente a sua conduta.
Além disso, o antimodelo, muitas vezes, é representado de modo falso, pois
a intenção de se causar um efeito de repulsa no auditório, e, por conseguinte,
aumentar a adesão à tese defendida. (Cf. PERELMAN & TYTECA, op. cit., cit., p.
417-8)
Para Perelman & Tyteca (op. cit., p. 418-9),
[...] a introdução do antimodelo, em vez de visar simplesmente a um
efeito repulsivo, pode servir de início para uma argumentação a
fortiori, representando o antimodelo um número abaixo do qual é
indecente descer.
37
CAPÍTULO 2 De publicidades e Retóricas: DO MACHO AO UBERSEXUAL
6
2.1. A vaidade através da história
7
: o homem em foco
A vaidade, um dos sete pecados capitais, é considerada a estima exagerada
de si mesmo ou, em outros termos, ela é a busca pela afirmação da própria
identidade.
Um fato que nos serve de alicerce para a nossa explanação sobre como se
deu o culto à vaidade masculina atual é recorrermos à história Greco-romana, tendo
em vista que, tanto para os gregos, como para os romanos, o culto à beleza e
formas masculinas era uma constante.
Segundo o historiador francês Georges Vigarello
8
, da Universidade Paris V,
especialista na representação do físico e do esporte através do tempo,
Para os gregos e romanos o corpo belo era forte e vigoroso. Jogos e
exercícios ao ar livre não só preparavam o físico para guerras e lutas
como mostravam o valor social dos indivíduos. As olimpíadas, no
mundo antigo, eram eventos de celebração e devoção.
Os gregos consideravam o homem o maior exemplo de perfeição da
natureza, e a forma física perfeita era tida como a exteriorização de um estado
interno de felicidade. Ter a musculatura bem definida, como a representada na
escultura do deus Hermes, era um ideal de beleza, sobretudo, para os atenienses.
6
“O rótulo”, Roberta Salomone. Revista Veja, edição 1919, 24/08/2005, p. 112. Pela similaridade com
os demais termos, achamos conveniente adequar o termo übersexual (do alemão über, “acima”, “além
de”) à grafia de Língua Portuguesa.
7
Sobre a vaidade, ver: Souza (Introdução, 2008, p. 13-5).
8
Revista GALILEU Novembro/2009 nº 220, p. 64-5.
38
Os homens tinham por hábito depilar-se com óleos e ceras em relaxantes
banhos termais, cuidar dos cabelos e do tônus muscular. Usavam cremes e
maquiagem no dia-a-dia, pintavam as unhas, tomavam banhos de lama com fezes
de crocodilo e clareavam os cabelos.
Alexandre, o Grande, era um consumidor de cosméticos e, por tal motivo,
criou um jardim botânico em Alexandria para produzir produtos para suprir à própria
vaidade.
No Egito antigo, a vaidade também era bem marcada. Fórmulas de perfumes
e cosméticos eram um mistério. Os Faraós, para impor respeito, cultuar as
divindades e a própria vaidade, usavam um delineador verde, o kohl, e batom azul-
escuro que, muitas vezes, eram também utilizados para proteger os olhos dos
efeitos do sol ou para curar infecções. De tão apreciados, os egípcios levavam para
o túmulo, os cosméticos que usavam em vida. Até os viris vikings usavam um
produto semelhante ao kohl egípcio.
Havia também cremes para a pele feitos à base de óleo de oliva ou gergelim,
e à base de ervas, como o tomilho, a menta, e o rosmarim
9
; de flores, como a
camomila, a lavanda, o lírio, e as rosas; de plantas, como a alvera; de cascas de
árvores, como as do cedro, e de mirra
10
, uma espécie de resina vegetal.
Mais adiante, com o Cristianismo presente nas sociedades ocidentais, a
vaidade foi condenada e, embora da inexistência de registros na Bíblia, a igreja
passou a considerá-la um pecado capital.
A partir daí, ocorre a ruptura entre os produtos considerados cosméticos dos
medicinais, e hábitos comuns de beleza passaram a ser considerados como coisas
9
Erva aromática semelhante ao alecrim. (Descrição nossa).
10
Resina vegetal de cheiro adocicado usada como incenso e em perfumaria. Dicionário Caldas Aulete
(2004).
39
do diabo, fato que perdurou até meados do século XVI, quando a vaidade foi
retomada pela corte.
No reinado de Elizabeth I, homens e mulheres usavam acessórios dos mais
diversos, sempre requintados e extravagantes. Lavavam seus cabelos com água de
rosmarim, banhavam-se em uma mistura à base de vinho, óleo e sempre-vivas,
clareavam os dentes com artemísia
11
, usavam na face máscaras feitas à base de
ovo e mel, e também maquiagem. Para clarear a pele, o de arsênico
12
era
utilizado, e, com o intuito de se disfarçar a calvície, perucas eram utilizadas. Tudo
em nome da vaidade.
em nossa cultura, temos as civilizações indígenas que, para cultuarem as
divindades ou participarem de ritos de passagem e cura, usavam e ainda usam
sobre a pele tintas extraídas do urucum, adornos feitos a partir de penas e sementes
das mais variadas formas e cores, e também de presas e peles de animais. Os
índios acreditavam que aqueles que usassem os elementos extraídos de tais
animais adquiririam a sua força e habilidades.
A confecção de tais adornos era feita exclusivamente pelos homens e suas
formas e cores obedeciam aos tipos de ritos ocorridos: caça, coleta, entre outros.
Não obstante, além de satisfazerem à vaidade, esses adornos representavam
também mensagens sobre sexo, idade, clã, e posição social. O uso de adornos
plumários era restrito aos homens, principalmente, nas cerimônias, aspecto que lhes
confere um maior destaque em relação às mulheres da tribo.
Com este breve panorama histórico sobre a vaidade, torna-se perceptível o
fato de que ela sempre esteve presente nas mais distintas sociedades e afeta
indistintamente homens e mulheres.
11
Espécie de planta herbácea ou arbustiva, e rica em óleo. (Idem).
12
Composto químico muito venenoso. Dicionário Caldas Aulete. (2004).
40
Atualmente, a sociedade capitalista, do mesmo modo, valoriza a beleza, mas
com objetivos bastante distintos, pois a forma física perfeita, do modo que é
abordada hoje, exprime certo status e prestígio social àqueles a quem a possui.
Assim, muitas vezes, para fazer consumir, a mídia vende um ideal de beleza
inatingível, mas que é bastante rentável, como a inexistente perfeição ofertada pela
indústria da cirurgia plástica.
2.2. História da publicidade para homens
Na década de 20 do século XX, com a influência do cinema Hollywoodiano e
da explosão das indústrias de cosméticos, das revistas femininas e da publicidade, a
beleza e a moda figuravam como ingredientes indispensáveis na construção da
feminilidade. A aparência corporal passou a ter com isso grande importância para a
mulher, mas pouco para o homem que se contentava com o papel de provedor da
família e voyeur
13
. (Cf. LIMA, 2008, p. 01)
No papel de provedor da família, a vida do homem era muito simples. Ele
sustentava a casa e, em reconhecimento a tal atribuição, a sociedade dava-lhe o
direito quase divino de mandar na mulher e nos filhos. Tudo isso ruiu.
A revolução de costumes detonada, na década de 60, com a invenção da
pílula deu visibilidade a uma nova mulher mais livre para concretizar os seus desejos
existenciais, profissionais e sexuais.
A sociedade, até então, altamente machista, acabou por aceitar a
emancipação da mulher, e seu ingresso no mercado de trabalho foi uma questão de
tempo.
13
Termo francês para designar quem é dado ao voyeurismo: excitação sexual pela visão de cenas ou
imagens eróticas. Dicionário Cegalla (2005).
41
Na década de 70, com a instituição do divórcio no Brasil, a família,
indissolúvel ao momento, perdeu o caráter de “constituída para todo o sempre, e
a frase: “até que a morte os separe”, perdeu força.
Depois, a rebeldia dos filhos e para completar o quadro caótico de mudanças
que o homem seria obrigado a se adaptar, perdeu também sua hegemonia
14
no
mercado de trabalho, visto que, cada vez mais, as mulheres passaram a ocupar
importantes cargos de chefia
15
. Era o fim do monopólio social masculino.
Com a invenção da pílula, instituição do divórcio e ingresso das mulheres no
mercado de trabalho, pouco a pouco, o homem perdeu seu papel de macho da casa,
para receber outro de contornos pouco claros.
Para a mulher foi possível tomar a iniciativa sexual e decidir quando
engravidar, sem repressões, fato abordado em uma recente reportagem da revista
ISTOÉ
16
: “Elas decidem como e quando ser es”, por Cláudia Jordão, em que se
argumenta que cada vez mais as mulheres têm recorrido a bancos de sêmen para
engravidar, um grande avanço, segundo a psicóloga Rosa Maria Macedo referindo-
se à invenção da pílula na década de sessenta.
Até aqui, foi possível verificamos algumas das principais razões pelas quais o
papel do homem tradicional passou por transformações que muito influenciaram o
comportamento do homem contemporâneo, principalmente, a partir dos anos 90,
com a criação de uma nova nomenclatura para definir um tipo
17
de homem que
14
A masculinidade hegemônica diz respeito à existência de um grupo masculino dominante cujas
representações e práticas constituem o padrão de vivência masculina legitimado socialmente. Esse tipo
de masculinidade seria marcado por uma espécie de heterossexualidade compulsória, forçada e exigida
pela sociedade. Ver: Lima (2008, p. 07).
15
“O homem em nova pele”. Revista Veja, edição 1822, 01/10/2003, p. 66.
16
Revista ISTOÉ, edição 2075, 19/08/2009, p. 64.
17
Ao tratarmos das diversas rotulações atribuídas ao comportamento masculino atual, nos utilizaremos
ora do termo “tipo” ora do termo “gênero”, sem que, no entanto, haja grandes distinções entre o uso de
um e de outro termo. (Nota do autor).
42
gosta de se cuidar e percebe que tal atitude é fundamental para o seu próprio bem-
estar e conquistas de um modo geral.
Para esse novo homem, vivenciar o dia-a-dia da família e o crescimento dos
filhos, antes, tarefas consideradas exclusivas da mulher, passam a ser de extrema
importância para ele.
Por outro lado, se for mais bem observado, o homem contemporâneo,
efetivamente, começa a refletir tais transformações apenas no início do século XXI,
com a chegada do capitalismo moderno e o grande avanço tecnológico por ele
trazido, quando a publicidade, até então, voltada em sua maioria à mulher, passa a
ver no homem um consumidor em potencial.
Desde então, mais do que nunca, passa-se a exigir do homem um modo de
ser e o apenas de viver, que muito o aproxima do universo feminino, uma
cobrança que as mulheres já têm sofrido, há décadas.
Em síntese, para fazer o homem consumir, a publicidade transcodificou o
discurso social e habilmente moldou outro, cuja ênfase é o culto à própria vaidade.
Vale ressaltar que o homem exercia o papel social de consumidor, mas,
sobretudo, para a família. Seu vestuário era básico e restringia-se apenas a um bom
tecido e corte.
Como nas mais distintas sociedades o status de um homem sempre foi
medido pelas suas posses, na argumentação publicitária, a vaidade masculina
transcendeu o cuidado físico para assumir proporções muito maiores, como
observado nas atuais publicidades de automóveis.
Enfim, a vaidade masculina é, antes de tudo, suprida pela posse material, e
dessa posse advém as suas conquistas: mulher, carreira, status.
43
Beleli (2007, p. 202) reforça a tese, por nós, defendida, ao ressaltar: “ainda
que as imagens de homens estejam também pautadas por um padrão de beleza,
não é na beleza que se apóia a masculinidade, mas na posse de bens”.
Se considerarmos que a publicidade legitima a dominação da elite,
observaremos que seu discurso, para reafirmar, legitimar e tornar desejável o papel
de consumidor para o homem, nada fez além de apresentar bens de consumo da
sociedade capitalista à grande massa, como se tais objetos fossem acessíveis a
todos os homens. (Cf. CARVALHO, op. cit., p.17)
A elite é o modelo: homens bem sucedidos, cuidados, bem vestidos e com
conteúdo intelectual. Fazer parte deste universo, que é muito mais amplo que o da
beleza, passou a fazer parte dos desejos do homem em geral.
Em pouco tempo, o homem do século XXI, passou de mero coadjuvante a
ator principal nas principais campanhas publicitárias, e como nas campanhas
voltadas para o sexo feminino, em que a figura da mulher é central, o mesmo
ocorreu nos anúncios voltados para o público masculino, conforme podemos
observar nas publicidades das grifes italianas Dolce & Gabanna (D&G) e Versace,
respectivamente:
01. Imagem da internet. 02. MH Ago./09, nº 40, p. 13.
44
A comunicação com esse público passa a ser cada vez mais direta, e
diversas revistas, principalmente, as americanas, passaram a conter inúmeras dicas
de estilo e cuidados pessoais para o público masculino, conforme veremos mais
adiante.
Em contrapartida, pesquisas e estatísticas mostram que a vaidade masculina
ganhou outras proporções e vai muito além do cuidado com os cabelos ou forma
física. Como argumenta Alon Gratch
18
, psicólogo e estudioso americano, e autor do
livro: Se os homens falassem,
O que está acontecendo, no fundo, é uma incursão masculina pelo
universo feminino em quase todos os seus domínios. O mais visível
deles, obviamente é o da aparência. Mas a transformação é mais
profunda.
O novo homem, do século XXI, se sente mais à vontade com as suas
preferências estéticas, valoriza muito mais o contato com a família e com os amigos,
e admite ter emoções e sentimentos e os esconde cada vez menos.
2.3. Homem, mídia e sensualidade
Em nosso tempo, como a publicidade intenta conquistar o homem e fazê-lo
consumir, e também devido a um maior grau de permissividade da sociedade para a
abordagem de uma temática cada vez mais sexual, anúncios dos mais singelos
trazem em sua essência certo erotismo e sensualidade, abordagens mais sutis do
sexo.
18
Revista Veja, edição 1822, 01/10/2003, p. 63.
45
Abaixo, por exemplo, a publicidade de perfumes da Dolce & Gabanna, em
que a sensualidade é bem marcada:
03. MH Dez./09, nº 44, p. 4-5.
O fenômeno é explicado se for levado em conta que, além do sexo ser
inerente ao ser humano, e constituir um traço marcante da personalidade e
identidade do indivíduo, naturalmente, nas diversas sociedades, sempre se associou
o homem à força viril e sexual, e a mulher à beleza sedutora e ao sexo frágil. (Cf.
LIMA, op. cit., 01)
Como argumenta Pinto (1999, p. 62), “a sexualidade se refere ao erotismo, à
sedução, à sexualidade e ao ato sexual como um continuum na vida do ser humano
e, desse modo, vai fazer parte de todo o discurso que permeia a sociedade”.
Além disso, talvez, esta maior propensão em associar o homem às questões
sexuais, deve-se ao fato de que a sociedade, embora de todo o seu progresso,
ainda mantenha traços do machismo de outros tempos internalizados a partir da
ideologia social vigente, o que também poderia ser, aqui, arrolado, como um forte
indicativo do porquê de tantos anúncios serem ancorados na sensualidade.
46
Sob outro ponto de vista, a constante presença da sensualidade na
publicidade pode estar atrelada à ideia defendida por Beleli (2007), em que a
masculinidade é necessariamente lica, o que nada tem a ver com o órgão sexual
em si, mas ao poder simbólico a ele atribuído, pois, mesmo passado o tempo, o
homem ainda tem o prestígio social de representar o poder nas mais distintas
sociedades, reflexo da hegemonia masculina de outros tempos. (Cf. BELELI, op. cit.,
p. 204)
Na mídia atual, anúncios dos mais diversos segmentos, como os de
automóveis e cerveja, têm se ancorado em uma sensualidade, às vezes, exagerada,
que é conseguida pela frequente aparição de corpos em exposição, possivelmente,
porque em publicidade o erotismo é associado ao prazer de consumir.
Sobre a exposição do corpo na publicidade, Pinto (1999, p. 130-1) argumenta:
O corpo é a base da identidade, é a partir dele que começa a noção
de eu, e é por seu intermédio que esse processo continua pela vida
afora. Percebemos o mundo pelo corpo, exploramos o mundo pelo
corpo, nos damos conta de quem somos e do que queremos pelo
contato com o corpo. [...] O corpo é a base do prazer, [...]
Atente-se que além dos efeitos ideológicos e dos traços hegemônicos, a
publicidade busca a identificação com o auditório. Como argumenta Iasbeck (2002),
para que haja identidade
19
, é preciso que pelo menos dois elementos entrem em
comparação. A identidade é o resultado de uma tradução interpretante, da afinação
entre o discurso e a imagem. Para o autor, como paradigma, a identidade total é
inatingível, visto que o discurso jamais será a sua perfeita tradução. (Cf. IASBECK,
2002, p. 182-3)
19
Neste estudo, a identidade deve ser apreendida como os processos utilizados pela publicidade para o
estabelecimento de uma identificação entre o seu discurso e o auditório. (Nota do autor).
47
A menos que se intente causar outras reações no auditório, os modelos
expostos na mídia precisam representar os ideais da coletividade, a fim de
conquistarem a adesão. Paralelamente, imbricam-se diversos fatores: o modelo que
deveria ser a representação do que é aceito pela sociedade, passa, implicitamente,
a ditar regras de como os membros que compõem tal sociedade devem agir para
que sejam aceitos pelos demais.
Se levarmos em consideração o fato de que a publicidade é o meio de
comunicação de massa mais eficiente, no sentido de ditar regras de consumo e da
construção de arquétipos de que é capaz, verificaremos que é imposto,
implicitamente, ao auditório que, para se colocar no mundo, ele necessita ser e agir
como o modelo que lhe é apresentado, algo que, na prática, é impossível, tendo em
vista que a publicidade trabalha com um ideal de beleza inatingível, pois ele é
inexistente.
Para tal feito, a publicidade, com o uso de diversos artifícios, como o
photoshop
20
, manipula as imagens, a fim de construir um mundo perfeito e ideal,
mas longe da realidade. E não nos esqueçamos de que este é apenas um dos
recursos utilizados pela publicidade para a persuasão do auditório.
Em suas mais variadas roupagens: sensualidade, desejo e erotismo, o sexo
ainda provoca discussões sobre o que é ético, moral ou imoral, de bom ou mau
gosto, erótico ou debochado. Embora de sua maior aceitação pela sociedade, o
sexo ainda é tabu e provoca surpresa e desconforto a alguns, seja em sua forma
mais sutil ou explicitamente pornográfica, e sua maior ou menor utilização é
dependente do que a mídia pretende suscitar no auditório. Ainda assim, o bom
senso é fundamental. Abaixo, outra publicidade da Dolce & Gabanna parece refletir
20
Software amplamente utilizado pela publicidade para acentuar qualidades ou atenuar imperfeições.
(Descrição Nossa).
48
o tema abordado neste parágrafo, e levar à reflexão sobre a questão do tabu na
sociedade, tendo em vista que esta publicidade parece-nos de conteúdo
homoerótico:
04. Imagem da internet.
Sobre as inter-relações sócio-históricas entre a sexualidade e a censura moral
daí os problemas com a pornografia e os tabus morais Strathern (2003, p. 68),
ao comentar os três volumes da História da sexualidade de Paul-Michel Foucault,
afirma:
[...] A sexualidade é tão central em nossa evolução que proibições
são encontradas nas mais primitivas sociedades. [...] o único lugar da
sociedade em que a sexualidade sempre foi inteiramente livre da
censura moral é a fantasiosa mente adolescente. [...]
A publicidade, enquanto espelho da sociedade, sempre mobiliza elementos
que provoquem os sentidos, os instintos, o erotismo ou o prazer hedonista do
auditório, para assim vender mais, e, como a sensualidade ajuda a vender tanto
quanto o status e a autoestima, a sua aparição na publicidade é uma constante.
49
2.4. O metrossexual e outros termos midiáticos
Até aqui, expusemos as principais transformações sociais pelas quais o
homem tradicional passou até chegar aos novos moldes comportamentais do
homem contemporâneo, bem como a influência ora direta ora indireta da publicidade
para tais transformações.
Passaremos, agora, a descrever os novos termos que surgiram para a
definição dos diversos perfis comportamentais do homem contemporâneo. Ressalte-
se que, embora permeiem a publicidade, estes novos termos, não pertencem a ela.
O foco principal deste estudo é o termo metrossexual, cuja introdução na
publicidade ocorreu com a finalidade única de persuadir o homem a consumir,
sobretudo, a própria vaidade. É importante para este estudo, contudo, imbricar o
termo metrossexual com outros termos que, embora, às vezes, pareçam substituí-lo,
na verdade, ampliam a sua significação.
O termo metrossexual
21
foi criado pelo jornalista e escritor inglês Mark
Simpson
22
que, originalmente, falou sobre a metrossexualidade em um jornal inglês
impresso, The Independent, em 15 de Novembro de 1994. O termo ficou na
obscuridade, por um longo período, até ser resgatado no início do culo XXI, em
2002, pela revista eletrônica Salon, e posteriormente popularizado pela mídia.
Antes de definirmos o termo metrossexual, a explicação de seu termo oposto,
o retrossexual
23
, se faz necessária. Este foi criado por Mark Simpson em 2003, e é
imbuído de um sentido anti-metrossexual. Este termo serve para rotular o homem
heterossexual de senso estético pouco desenvolvido que não se preocupa com a
21
Do termo original inglês: metrosexual.
22
Diversos artigos do escritor podem ser encontrados na revista eletrônica Salon.
<http://www.salon.com>.
23
Do termo original inglês: retrosexual. “Beckham the virus”, Mark Simpson. 28/06/2003.
<www.salon.com>.
50
aparência ou estilo de vida, e gasta o menos possível em coisas que, a seu ver,
pertencem ao universo feminino.
O termo metrossexual, por sua vez, serve para rotular o homem também
heterossexual, com idade entre 25 e 45 anos, que tem um alto poder aquisitivo. É
urbano e vaidoso, cujos hábitos de consumo envolvem roupas de grife, carros
luxuosos, cremes antiidade e tratamentos de beleza, mas não admite o rótulo de
gay. Preocupação um tanto homofóbica, pois, como ressalta Simpson, na verdade, o
termo metrossexual não designa apenas o homem heterossexual vaidoso, mas o
homem hiper-narcisista, o que nada tem a ver com sua orientação sexual
24
.
Constituído a partir da contração entre as palavras heterossexual e
metropolitano, o termo metrossexual é aplicado a todo homem que vive nos grandes
centros urbanos, que aceita e faz questão de exibir um lado mais sensível, sem, no
entanto, assumir uma postura feminina.
Com a internet e o avanço na área dos transportes, homens que vivem fora
dos grandes centros, mas têm acesso à mídia, caso apresentem características
típicas dos metrossexuais, também são enquadrados no grupo.
Atualmente, classificar o metrossexual por sua idade também é
desimportante, pois com os hábitos mais saudáveis e os tratamentos
médicos/estéticos, a velhice tem sido adiada, como ressaltam duas matérias da
revista Veja: “A vida começa aos cinqüenta
25
, e A geração sem idade
26
.
Segundo uma matéria do jornal Folha
27
, 2003 é o ano que marca o
aparecimento do termo metrossexual na mídia, uma designação fashion-
mercadológica para o homem das grandes cidades que gasta mais de 30% de seu
24
“Entrevista – Mark Simpson”. Revista Veja Especial Homem, edição 34, Agosto/2004, p. 22.
25
Revista Veja, edição 2068, 09/07/2008, p. 88-100.
26
Revista Veja, edição 2121, 15/07/2009, p. 62-110.
27
Folha Ilustrada. < www.1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u40099.shtml>. 22/06/2009.
51
salário em cosméticos e roupas. Frequenta manicures, aprecia bons vinhos, adora
shoppings, e é mais que simpatizante da cultura gay, mas totalmente heterossexual,
frisa o jornal.
Um seriado americano estreado no mesmo ano pode ter contribuído para
reforçar o uso do termo nos Estados Unidos, que depois o difundiu para o mundo
afora: Queer Eye for the Straight Guy
28
, uma espécie de Reality Show, misto de
humorístico e prestação de serviço, que transforma um homem careta (retrossexual)
em um metrossexual, e conta, para isso, com a ajuda de cinco homossexuais, auto-
denominados: “Fab 5”
29
, especialistas em moda, decoração, cultura, comida e
vinhos. No Brasil, o programa é exibido pela Sony Entertainment TV.
Após o alastramento do termo metrossexual na mídia, principalmente,
americana e européia, um grande volume de revistas se voltou para este tipo de
homem, como as bem-sucedidas e consideradas bíblias do metrossexualismo:
Details, GQ (Gentlemen’s Quartely) e Vanity Fair, que dividem, em igual número,
suas capas entre homens e mulheres bonitos. Abaixo, respectivamente, as capas
das três revistas:
05. Daniel Radcliffe. Internet. 06. Robert Pattinson. Internet. 07. David Beckham. Internet.
28
Um Olhar Gay para o Cara Hétero. (Tradução nossa). “Toque de frescor”, Marcelo Marthe. Revista
Veja, edição 1827, 05/11/2003, p. 136-7.
29
De fabulous (fabulosos, maravilhosos). (Tradução nossa).
52
O sucesso da Details, segundo Dan Deres
30
, o editor da publicação, em chat
do jornal Washington Post, foi produzir uma revista voltada para o homem não
hétero, não gay mas simplesmente para o homem.
No mesmo ano, além de revistas específicas para o homem metrossexual, um
guia de estilo foi lançado: The Metrosexual Guide to Style: A Handbook for the
Modern Man
31
, de Michael Flocker.
Também em 2003, o termo metrossexual começa a aparecer no discurso da
mídia brasileira, mas em publicações ainda pouco específicas, como nos editoriais
das revistas: Playboy e Vip, que embora contivessem tópicos sobre cuidados
pessoais e estilo, tinham como foco principal a nudez feminina, seu chamariz de
vendas.
32
Em entrevista para a revista Veja Especial Homem
33
, Simpson ressalta que
no sujeito metrossexual o que menos importa é sua orientação sexual, e acrescenta
que ele pode ser gay, bissexual ou heterossexual, mas isso é absolutamente
desimportante, visto que o metrossexual tem a si mesmo como seu objeto de amor.
Comparativamente, o culto exacerbado à própria aparência poderia levar o
homem metrossexual a agir como Narciso, figura mítica da Mitologia Grega, ícone
da beleza singular, associado à vaidade, ao mundo das aparências, ao fascínio pelo
mundo material e ao culto exagerado à aparência física, elementos que, juntos,
levaram-no à perdição.
Para Mark Simpson, a ideia de que o homem metrossexual é sempre
heterossexual e que seu cuidado com a aparência tem o objetivo de atrair as
30
Folha Ilustrada. < www.1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u40099.shtml>. 22/06/2009.
31
Guia de Estilo do Metrossexual: Um Manual para o Homem Moderno. (Tradução nossa).
32
Folha Ilustrada. (Idem).
33
Revista Veja Especial Homem, edição 34, Agosto/2004, p. 22-3.
53
mulheres é uma invenção da publicidade, visto que o termo serve apenas para
rotular o homem que se cuida ao extremo.
A justificativa de Simpson, para tal invenção, seria a preocupação da
publicidade em dissociar o termo da ideia preconceituosa de que o homem que se
cuida é homossexual, algo que poderia dificultar na identificação do homem
heterossexual com o novo comportamento trazido pela metrossexualidade, o que do
ponto de vista cultural-comercial é irrelevante.
O jornalista afirma que a metrossexualidade rompe com alguns padrões de
masculinidade, e isso é positivo, pois todos os digos oficiais de masculinidade
inculcados nos últimos 100 anos foram desfeitos, e o homem heterossexual está
perdendo a vergonha de ser vaidoso, de cuidar da aparência.
Em contrapartida, ressalta que o culto à própria imagem e a exacerbação do
egocentrismo, fruto do capitalismo e hiper-consumismo, não são comportamentos
saudáveis. Comportamentos, muitas vezes, instigados ou amplificados por heróis
dos metrossexuais que são, em geral, homens famosos mais por seu visual e estilo,
do que por suas conquistas políticas ou intelectuais.
Ícone do metrossexualismo e seu precursor, o atacante britânico, David
Beckham (34 anos), de apelido Becks, do Milan da Itália, pinta as unhas, faz as
sobrancelhas e muda a cor dos cabelos como ninguém. Gasta milhares de libras em
joias, produtos de beleza, roupas caras e extravagantes, e carros esportivos. O
jogador até confessou ter usado, algumas vezes, as calcinhas da mulher, a ex-
Spice Girl
34
, Victoria. Abaixo Beckham em diversas fases da carreira:
34
Banda pop inglesa de muito sucesso, composta por 05 garotas, que se apresentou de 1993 a 2000.
(Nota do autor).
54
08. Imagens da internet.
Beckham, que tem seguidores pelo mundo afora, admite não se incomodar
com o assédio dos fãs e da mídia. Ele gosta de ser admirado disse e não se
importa se essa admiração vem de uma mulher ou de um homem.
Mais recentemente, o futebolista português Cristiano Ronaldo (25 anos), do
Real Madrid, aumentou o time dos metrossexuais famosos. Ele é conhecido pela
sua ecentricidade quanto às roupas e acessórios que usa, e pelos tratamentos
estéticos a que se submete.
O jogador, que tem uma vasta lista de ex-namoradas famosas,
frequentemente, tem sua vida pessoal exposta pela mídia, que, às vezes, coloca em
xeque a sua orientação sexual. Abaixo, duas publicidades, da grife italiana, Giorgio
Armani, estreladas por Cristiano Ronaldo:
09. Imagem da Internet. 10. Imagem da internet.
55
A partir do exposto, para persuadir o homem tradicional a se tornar um
metrossexual, e com isso criar uma identificação comportamental com o público
masculino, diversas campanhas publicitárias têm sido estreladas por astros do
futebol, possivelmente, pela grande aceitação e proximidade masculina mundial com
o esporte. Abaixo, três recentes publicidades da MH, respectivamente, estreladas
por Michael Owen, Kaká e Cristiano Ronaldo:
11. MH Nov./09, n.43, p.31. 12. Idem, p. 61. 13. MH Fev./10, n.46, p.15.
Implicitamente, tais publicidades transmitem a seguinte mensagem ao
auditório: tenha estilo, mostre seu status, aja e seja como os jogadores:
metrossexuais, ricos, famosos, bem-sucedidos, e, principalmente, idolatrados pelas
mulheres, artimanhas do discurso publicitário para instigar o consumo.
Para o cirurgião plástico carioca José de Gervais
35
, que tem 20% de homens
em sua carteira de pacientes, o homem comum, ao saber que um famoso
representa algo tão novo como o metrossexualismo, ajuda a quebrar tabus, e faz
com que ele sinta-se mais à vontade para seguir o exemplo.
Tais informações vão ao encontro do fenômeno Beckham na mídia; ele é a
própria mídia, e, ao que parece, ele nada faz para isso, se não fosse exceto pela
35
“Olha o creme escondido na maleta”. Revista Veja Especial Homem, edição 1826, Outubro/2003, p.
62-5.
56
atenção que coloca sobre si ao, por exemplo, encenar publicidades um tanto
eróticas e extravagantes, conforme podemos observar, abaixo, em três publicidades
da Giogio Armani:
14. Armani. Internet. 15. Idem. 16. Idem.
Em outras palavras, Beckham é o esportista que quer ser tratado como
celebridade, digamos, hollywoodiana e conseguiu e o que a publicidade fez foi
simplesmente trazê-lo para si, a fim de persuadir a grande massa a se identificar
com este novo modo de masculinidade da metrossexualidade.
Devido à influência do esporte na mídia, algo que reflete diretamente na
sociedade, Mark Simpson criou, em 2006, outro termo específico para designar
esportistas em evidência na publicidade o sporno
36
que é o resultado da
combinação entre as palavras inglesas sport (esporte) e porno (pornô).
Segundo Mark Simpson contou à revista gay americana Out, o termo sporno
foi criado na tentativa de definir a estética homossexual ligada ao esporte que
invadiu principalmente a Europa e a Austrália, tendo em vista que muitos jogadores
de futebol, principalmente, os mais jovens, querem ser objetos sexuais, algo que é
posterior à estética metrossexual.
36
<http://www.marksimpsom.com/blog/2006/06/20/spornowhere-sport-and-porn-meet-and-produce-a-
huge-money-shoot>,<http://out.com/detail.asp?id=18728>,e
<http://www.correiodobrasil.com.br/noticia.asp?c=112031>. 25/06/09.
57
Abaixo, no calendário anual Dieux Du Stade
37
, dos jogadores franceses de
Rugby
38
, é possível observarmos a estética homossexual presente no esporte atual
e difundida pela publicidade:
17. Imagens da internet.
Simpson cita também a aproximação existente entre esportistas, como David
Beckham e o jogador sueco Fredrik Ljungberg, com os fãs homossexuais, e ressalta
que é o mercado publicitário que impulsiona as estrelas sporno, fenômeno que, na
verdade, complementa o seu anterior, o metrossexual.
Mais uma vez, David Beckham é tido como a definição perfeita de um astro
sporno, pois apesar de seu baixo rendimento em campo, ele é o jogador mais bem
pago do Reino Unido e o que mais tem estrelado campanhas das grandes grifes.
Outras duas campanhas da Dolce & Gabanna são bons exemplos de como o
esporte influencia a publicidade, que, para vender mais, se utiliza das estrelas
sporno, conforme observamos, abaixo, nas publicidades, respectivamente,
estreladas por cinco jogadores do time Milan, e por cinco nadadores, todos, da Itália:
37
Deuses do estádio. (Tradução nossa). O calendário teve sua primeira edição em 2001. Nele, estrelas
do time francês de rugby posam nus ou seminus em fotos eróticas e, às vezes, homoeróticas, que,
geralmente, são em preto e branco. É voltado para os públicos feminino e homossexual masculino.
(Nota do autor).
38
Esporte coletivo de intenso contato físico originário da Inglaterra. Por ter sido inicialmente
concebido como uma variação do futebol foi chamado anteriormente de futebol-rúgbi ou futebol-
râguebi. É um esporte, cuja popularidade só é superada pela do futebol. (Idem).
58
18. Jogadores do Milan. Imagem da internet. 19. Nadadores Italianos. Imagem da internet.
Para designar o homem que apresenta todas as características do
metrossexual, mas é um aficionado por tecnologia, os famosos gadgets
39
, outro
termo foi criado: o tecnossexual
40
ou para os mais inspirados: tecno-macho ou
tecno-homem.
O autor do revolucionário termo é Ricky Montalvo, físico e matemático
americano, amante de computadores. O termo, empregado pela primeira vez por
intelectuais em 1970, servira para fazer referência à atração sexual do homem por
máquinas, andróides e robôs.
Atualmente, Montalvo redefiniu o termo que não mais determina um tipo de
orientação sexual, mas um conceito universal em que se define um estilo de vida
baseado no que de mais moderno em relação à tecnologia, e acrescenta que o
tipo de homem que mais define o tecnossexual é o adepto das práticas esportivas,
preocupado com a alimentação, e com o corpo, mas que, diferentemente, do
metrossexual, rejeita o uso de cosméticos e cirurgias plásticas para atingir uma
forma física ideal.
39
Eletrônicos portáteis ou mais comumente traduzido, no Brasil, como quinquilharia eletrônica.
(Tradução nossa).
40
Do termo original inglês: technosexual. <http://modaterra.com.br/interna/0,,OI504466-
EI1119,00.html>. 30/07/2009. Todos os aspectos e implicações do termo podem ser encontrados no
site: <http://www.technosexual.org>.
59
Com a aparição do tecnossexual, qualquer traço de feminilidade no
comportamento masculino é eliminado. Assim, nada que possa ser identificado
como próximo da sensibilidade gay permeia seu universo.
A grife francesa Louis Vuitton lançou diversos acessórios para solucionar os
problemas do tecnossexual para carregar seus inúmeros gadgets, fato que
comprova que as novas tendências geram transformações sociais que ajudam a
publicidade a vender ainda mais.
No quesito de melhor representante do termo tecnossexual, o fenômeno
metrossexual David Beckham parece ter sido destronado pelo, citado, futebolista
sueco, Fredrik Ljungberg (32 anos), do time Seattle Sounders FC, dos Estados
Unidos, que, além de cuidar de sua aparência física, não fica para trás no quesito
moda tecnológica.
Em 2008, Ljungberg protagonizou uma sensualíssima campanha para a grife
americana Calvin Klein, conforme podemos observar nas três publicidades abaixo:
20. Calvin Klein. Internet. 21. Idem. 22. Idem.
Como aponta uma matéria da revista ISTOÉ Dinheiro
41
, de cosméticos a
veículos, de imóveis a refeições, uma imensa indústria se movimentando para
41
<www.terra.com.br/istoedinheiro/312/negocios/312_metrossexuais2.htm#>. 23/06/2009.
60
satisfazer os desejos dos homens que estão cada vez mais independentes e
conscientes de que cuidar da própria aparência é uma questão de bem-estar e
sucesso, o que explica os setores de saúde e beleza movimentarem bilhões de
dólares por ano, no Brasil, segundo a empresa de consultoria 2B Brasil Research.
Dóris Hexsel
42
, coordenadora do Departamento de Cosmiatria da Sociedade
Brasileira de Dermatologia (SBD), ressalta: “o homem sabe que cultivar uma boa
aparência é demonstração de cuidados com a saúde e com a qualidade de vida” e,
como explica, Sandra Márcia Lager
43
, psicóloga organizacional do Instituto Nacional
de Pós-Graduação (INPG): “o homem que se apresenta bem consegue uma
avaliação inicial melhor e conquista a confiança alheia”.
Outro fato que segundo a revista ISTOÉ Dinheiro
44
ajudou a alavancar o
aumento das vendas de artigos para o público masculino é que os homens
descobriram que se vestir bem não se resume apenas a usar roupas com bons
tecidos, mas com cortes desconfortáveis, explica André Brett, gerente geral da filial
brasileira da Giorgio Armani.
Enfim, com a metrossexualidade em alta, o homem contemporâneo tem,
como nunca antes, a liberdade de ousar em sua vestimenta, misturar ou criar estilos,
mas sem perder o conforto e bem-estar.
Em outros setores, como no segmento dos cosméticos, por exemplo, o
aumento no consumo não é diferente, e é bastante significativo, pois conforme disse
à revista ISTOÉ Dinheiro
45
, Jean François Pascal, diretor de marketing da Nívea: “os
homens não aceitam mais usar os produtos femininos”, conforme podemos observar
em três publicidades da revista MH abaixo:
42
<http://epoca.globo.com/especiais_online/2003/09/01_homem/vaidade.htm>. 02/07/2009.
43
Idem.
44
<www.terra.com.br/istoedinheiro/312/negocios/312_metrossexuais2.htm#>. 23/06/2009.
45
Idem.
61
23. MH Nov./09, nº 43, p. 21. 24. Idem, p. 41. 25. MH, Fev./10, nº 46, p. 9.
Quanto ao setor de alimentação light/diet que está ainda a galgar seu espaço
em um mercado no qual o setor de cosméticos, , muito, ingressou, sabe-se por
pesquisas encomendadas pelo setor que entre 10% e 20% do orçamento de um
metrossexual é consumido neste item
46
.
Como podemos observar, o que a publicidade tem feito para reforçar as
vendas para o público masculino é vender modelos que seus pais não tiveram, fato
comprovado pela grande mudança no segmento de serviços que, cada vez mais,
oferece produtos exclusivos para os homens, como as inúmeras clínicas estéticas
que não param de surgir nos grandes centros.
Como disse a publicitária Marian Salzman
47
, diretora executiva de estratégia
da agência européia de comunicação da Euro RSCG Worldwide em Londres: “Cada
vez mais homens comuns estão começando a apresentar qualidades metrossexuais
mesmo sem saber”.
Marian Salzman
48
coordenou, junto com as também publicitárias Amy O‟Reilly
e Ira Matathia, um estudo sobre o comportamento masculino que resultou, em 2005,
46
<www.terra.com.br/istoedinheiro/312/negocios/312_metrossexuais2.htm#>. 23/06/2009.
47
<http://www1.folha.uol.com.br/folha/equilíbrio/noticias/ult263u2621.shtml>. 23/06/2009.
48
Revista Veja, edição 1919, 24/08/2005, p. 112.
62
no livro: The Future of Men
49
, que lista outros termos, nem tão populares como o
metrossexual, para rotular o homem contemporâneo, dos quais nos interessa,
principalmente, o termo ubersexual que, para as publicitárias, representaria uma
versão mais avançada do homem metrossexual, cujo melhor representante é o ator
americano George Clooney.
Para Marian Salzman
50
, “o ubersexual é a volta das características
masculinas mais positivas, como força, decisão e imparcialidade, sem a insegurança
comum aos dias de hoje”, ou seja, o ubersexual é a ressurreição do exemplar do
sexo masculino mais cobiçado pelas mulheres o homem sensível mas não
muito, vaidoso, mas, na medida certa, e o principal heterossexual.
Segundo o estudo das publicitárias, que ouviu 519 britânicos e o mesmo
número de norte-americanos, 49% deles acham perfeitamente normal um homem
fazer limpeza de pele e manicure e 39% aprovam a cirurgia plástica masculina,
motivos que justificam a corrida dos diversos setores em se adequarem a esse novo
público que é inclusive mais exigente.
Outro estudo da Euro RSGC Worldwide
51
apontou, como fenômeno social,
nas maiores capitais do Hemisfério Norte, que é significativo o mero de homens
que usam cremes antiidade, fazem compras em butiques e ase submeteram à
cirurgia plástica ou a algum tratamento estético. A agência descobriu também que
na Madison, uma exclusiva Avenida de Nova Iorque, nos anos 80 existiam apenas
duas grandes lojas de roupas de grife para homens, mas que após a aparição do
fenômeno metrossexual, na mídia, o número de lojas femininas e masculinas
49
O futuro dos Homens. (Tradução nossa).
50
Revista Veja, edição 1919, 24/08/2005, p. 112-3.
51
Revista Veja, edição 1822, 01/10/2003, p. 64.
63
equiparam-se. No Brasil o número de cirurgias plásticas feitas por homens pulou de
10% para 30% em cinco anos.
Embora grande parte dos homens admita nas pesquisas que se preocupa
com a aparência, muitos temem ser “confundidos”, e apavoram-se com a ideia de
que, ao assumirem a própria vaidade, mostrem aos amigos que sua masculinidade
não é mais a mesma, pelo menos, é o que mostra um levantamento feito pelo
Instituto Gallup/Allergan
52
, que revelou que 75% dos brasileiros se preocupam com a
aparência, e a maioria deles afirma que gostaria de aparentar idade menor que a
real.
Sobre isso, a antropóloga Mirian Goldenberg
53
, da Universidade Federal do
Rio de Janeiro, argumenta:
O modelo tradicional de masculinidade está em crise, e a ele estão
sendo incorporados outros valores, como a beleza. Isso não significa
que o status e o dinheiro tenham perdido importância, apenas
deixaram de ser os únicos pilares da masculinidade.
Outro levantamento realizado pela, já citada, 2B Brasil Research
54
, revela que
os homens sempre se preocuparam com a boa forma e aparência, tanto que 82%
deles acham importante ter a pele bem cuidada; 80% gastam mais de cinco minutos
diários com a aparência; 78% acham importante ter o corpo esbelto; 72% se pesam
regularmente; 68% acham certo fazer cirurgia plástica somente por estética; 25%
fizeram dieta, e 05% já fizeram cirurgia plástica.
52
Revista Veja Especial Homem, edição 1826, Outubro/2003, p. 62.
53
Idem, p. 64.
54
Fonte: 2B Brasil Research & Consulting, com homens entre 25 e 64 anos, em São Paulo. Revista
Veja, edição 1822, 01/10/2003, p. 65.
64
Como dissemos, anteriormente, o livro The future of Men
55
lista outros termos
para rotular o homem contemporâneo que, para o conhecimento de nossos leitores,
trouxemos para este estudo, como o novo machão, que tem as características
típicas do machão, mas não problema em chorar na frente dos outros; o
metrogay, que é o gay que tem traços masculinos; o metro-hétero, heterossexual
com atitudes gays; o snag, neologismo formado a partir das iniciais de sensitive
new-age guy
56
, que tem sensibilidade apurada e entende perfeitamente as
mulheres; o homem verdadeiro, que reúne o melhor do homem atual, é participativo
em casa, mas faz o que quer e quando quer; o emoboy
57
, que é extremamente
sensível e vulnerável, e o new bloke
58
, que é liberalíssimo e acha que homens e
mulheres são absolutamente iguais.
A última tendência nos Estados Unidos, que não faz parte do estudo das
publicitárias, é o macho beta
59
, termo da Biologia, que é o oposto do macho alfa,
líder do grupo. Esse tipo de homem não teme assumir as fraquezas, não liga para
poder ou aparência. Não depila o peito, não briga na rua, e muito menos se olha no
espelho o tempo todo. Não sofre por não ser o melhor em tudo ou engana a
companheira por diversão. Tobey McGuire, o ator que interpreta o Homem-Aranha
no cinema, é seu melhor representante.
Como vimos, até aqui, os novos comportamentos muito influenciaram o
homem, e sua figura ganhou grande visibilidade na publicidade. Entretanto, para
persuadir o homem, não é na beleza que a publicidade apóia o seu discurso, mas no
status.
55
Revista Veja, edição 1919, 24/08/2005, p. 112-3.
56
Cara sensível da nova era. (Tradução nossa).
57
Garoto emotivo. (Tradução nossa).
58
Novo Sujeito. (Idem).
59
“A vingança do macho beta”, Martha Mendonça. Revista ÉPOCA, edição 480, 27/07/2007.
65
Como disse Gratch
60
à revista Veja:
O que se define agora como metrossexualismo é apenas a ponta de
lança de uma mudança maior. Ela é resultado da exploração
corajosa que alguns homens fazem de seu lado feminino sem serem
gays e sem medo de serem confundidos com gays.
Assim como a revolução feminina arrastou-se por um século até permitir às
mulheres votar, fumar em público, escolher o próprio marido, exigir prazer na cama e
dirigir automóveis, a libertação masculina também vai tomar tempo a sua
emancipação.
Gratch discorda da existência de uma guerra dos sexos deflagrada e vencida
pelas mulheres, defendida por alguns estudiosos do comportamento humano, em
que os homens agora simplesmente se ajeitam no espaço social que lhes sobrou.
Fala-se, aqui, apenas de uma libertação masculina de costumes tão radicais quanto
foi a das mulheres. Segundo ele, uma armadilha do universo feminino precisa ser
evitada: a excessiva valorização de si mesmo.
Como escreveu a redatora da revista eletrônica Salon.com, Sheerly Avni
61
,
em um artigo sobre a metrossexualidade, em compensação a tudo que ocorreu, o
homem foi ganhando a liberdade de fazer outras coisas que pareciam privilégio das
mulheres, entre elas o direito de se valer de todo arsenal estético para ficar mais
bonito e adiar a velhice, grande ironia para quem passou os últimos quarenta anos
conquistando o mundo masculino.
60
Revista Veja, edição 1822, 01/10/2003, p.65.
61
Idem, p.66.
66
Em contrapartida, conforme Barney Brawer
62
, psicólogo-chefe de um projeto
denominado: Boys Project
63
, da Universidade Tufts, nos Estados Unidos, se for
apenas levada em consideração as mudanças estéticas ocorridas a partir do
fenômeno metrossexual, o homem assim descrito representaria o lado mais
mercadológico de uma transformação que é também mental, pois por razões
culturais específicas, a humanidade escapou da lei biológica, segundo a qual o
macho é o fator ornamental da espécie. Em quase todos os animais superiores, o
macho, mesmo quando não é maior, é mais colorido e ornamentado que a fêmea.
Alguns estudiosos, como Brawer, acreditam que o homem substituiu esse
“pavonismo”
64
exterior pela sua capacidade verbal para impressionar as fêmeas,
assim como os bichos utilizam suas penas e jubas.
Se vistas apenas de relance, as novas definições comportamentais parecem
apenas rótulos, mas, em um olhar mais atento, perceberemos que, na verdade, elas
são o reflexo dos avanços ocorridos na sociedade, e no mundo, afinal com a
globalização, comportamentos surgidos nas grandes metrópoles americanas e
européias ganham o mundo, a publicidade, o marketing, a cultura.
Para assumir a própria metrossexualidade, recaiu sobre o homem, todo o
significado de que o termo é imbuído, em que no não dito, também se diz, ou seja, o
conjunto de preconceitos e oposições nele contidos: é homem e não mulher; jovem
e não velho; bonito e não feio; rico e não pobre, padrões amplificados, diariamente,
pelo discurso publicitário que intenta fazer consumir.
62
Revista Veja, edição 1822, 01/10/2003, p. 66-7.
63
O projeto de Brawer estuda a diferença entre meninos e meninas, que os avalia e compara em
milhares de variáveis.
64
Neologismo, do léxico pavão. Ato de se mostrar como o pavão que abre sua cauda para atrair a
fêmea. (Descrição nossa).
67
Mesmo com todas as mudanças comportamentais e os novos valores
agregados ao termo homem na contemporaneidade, o fato não autoriza a
subentender que o status e o dinheiro tenham perdido importância como
marcadores/indicadores da masculinidade perante a sociedade, principalmente, se
trouxermos para a reflexão a antiga ideia da hegemonia masculina, pois, como
dito, foi pelo seu status e não beleza, pelo menos a princípio, que o homem ganhou
visibilidade publicitária, e passou a figurar campanhas de grande circulação mundial.
Agregar à publicidade os termos que designam os novos comportamentos
masculinos, embora, à primeira vista, tenha parecido apenas marketing, na verdade,
foi um tanto positivo para o homem moderno que agora pode se mostrar de uma
forma menos intimista e com maior liberdade para expressar as suas próprias
preferências estéticas. O antigo modelo masculino não faz mais sentido em uma
sociedade em que os valores são outros.
Para Luiz Cuschnir
65
, psiquiatra paulista e o maior estudioso brasileiro da
psicologia masculina, “desvestir a fantasia de super-herói infalível é um alívio para a
maioria dos homens e não uma perda de poder”, visto que muitos deles criticam a
maneira como foram educados.
Como argumenta o sociólogo e escritor alemão Dieter Otten
66
, e autor do
livro: Fracasso Masculino A Relação dos Sexos no século XXI, a predominância
desse novo modo de masculinidade leia-se mais sensível é muito benéfica para
toda a humanidade, tendo em vista que, ao longo da história, as maiores atrocidades
foram de responsabilidade quase que exclusiva dos homens.
As mudanças sofridas pelos homens vão muito além da aparência física; elas
são também mentais. A beleza tem padrões, entretanto, tais padrões não estão
65
Revista Veja, edição 1822, 01/10/2009, p. 68.
66
Idem, p. 67-8.
68
fixados no tempo e no espaço, e variam conforme a sociedade em que eles estão
inseridos, fato que nos faz pressupor que muitas mudanças estão ainda por vir.
Cuidar de si não descaracteriza o homem, apenas o torna melhor e moderno.
O único problema é se houver o exagero. A sociedade avançou, o homem também.
Os principais países a estudarem o impacto das transformações pelas quais
os homens estão passando são: Alemanha, França e Estados Unidos
67
.
O homem contemporâneo tem se cuidado como nunca antes, e por não ter
tempo a perder, comumente, busca tratamentos rápidos, eficientes, e sempre prima
pela discrição. O homem até aceita os benefícios da cirurgia plástica, mas o
resultado final do procedimento precisa ser o mais natural possível e,
diferentemente, das mulheres, dificilmente, partilha a experiência com os amigos.
2.5. Revista Men’s Health
Entre as revistas brasileiras interessadas no homem da nova era, o público
masculino pode contar com a MH
68
, revista de origem americana, e presente em
mais de 40 países, com copyright da Rodale International. É publicada no Brasil, há
mais de 04 anos, pela Editora Abril. Seu slogan é: “viver melhor é fácil”.
Ao que parece, a revista caiu no gosto dos brasileiros, pois, como aponta o
site de publicidade da Editora Abril
69
, as vendas da revista não param de crescer,
fato comprovado pela média de vendas por edição, do ano de 2008, com circulação
líquida de 119.378, dividida em 52.961 exemplares em assinaturas, e 66.416 em
vendas avulsas
70
.
67
Revista Veja, edição 1822, 01/10/2009, p. 68.
68
Saúde masculina. (Tradução nossa).
69
<http://publicidade.abril.com.br/homes.php?marca=71>. 11/08/2009.
70
Fonte: IVC média por edição 2008.
69
O site aponta um total de 337.000
71
de leitores, dos quais:
a. 69% têm entre 20 e 39 anos;
b. 77% são homens e 23% são mulheres;
c. 32% são leitores da classe A, 50% são da classe B, e 16% são da classe C.
No site oficial da publicação
72
, com audiência total de 690.901 acessos, e a
seção newsletter, com 20.540 usuários, dados de Outubro de 2007, observamos que
a revista é posta como o instrumento fundamental para o homem que busca
qualidade de vida e equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal.
No site, além das principais matérias abordadas pela revista, há também
dicas práticas e objetivas de saúde, fitness, nutrição, relacionamento, sexo, estilo e
carreira.
A MH é uma publicação pós o fenômeno metrossexual, cujo discurso explora,
por meio de procedimentos retóricos, o estilo de vida saudável e sofisticado para a
conquista e transformação do homem tradicional em outro que, do modo em que é
referenciado pela revista, gosta de se cuidar e sabe que deste cuidado resultará
suas conquistas pessoais, profissionais e sexuais.
Além disso, a persuasão do auditório para que ele assuma comportamentos
do novo gênero masculino, acontece a partir da exposição de modelos
socialmente aceitos e construídos a partir de uma ideologia que é a capitalista.
Ressalte-e, todavia que, em nenhum momento, a revista faz referência ao termo
metrossexual. Modelos que, sobretudo, têm como principal função a representação
de homens elitizados, e inseridos em universos ímpares, tendo em vista que, o estilo
71
Fonte: Projeção Brasil de Leitores com base nos Estudos Marplan e IVC consolidado 2008.
72
<http://menshealth.abril.com.br>.
70
de vida, os ambientes e as vestimentas apresentadas são caras e sofisticadas,
artifícios publicitários para instigar o auditório que é o masculino a se tornar, mesmo
sem saber, metrossexual, conforme podemos observar, abaixo, em duas
publicidades da revista:
26. MH Out./09, nº 42, p.11. 27. MH Nov./09, nº 43, p. 29.
Implicitamente, para a construção de um novo comportamento que exige
mudanças de hábitos e opiniões, a revista prega para o seu público que, para se
alcançar a felicidade, ser saudável é essencial, aspecto que, na retórica da revista,
significa ter um corpo atlético e estar com a vaidade em dia, pois só assim a
realização nos distintos níveis: pessoal, social, sexual, pode ser alcançada. Como
diz a psicóloga Valéria Carvalho
73
(PE), em publicidade, “muito se fala em corpo
sadio, não como uma forma de vaidade, mas sim de saúde”, e é assim que a revista
persuade ainda mais os seus leitores.
Uma matéria da revista Pronews
74
argumenta que nas campanhas atuais
muito se utiliza do endeusamento ao corpo perfeito ou corpolatria, que ao da letra
significa idolatria ao físico, e isto não é diferente na revista MH, cujo discurso é de
73
Uma pitadinha de pimenta nas propagandas”, Juliana Reis. Revista Pronews.
<www.revistapronews.com.br/edicoes/77/capa.html>. 28/05/2009.
74
Idem. Revista Pronews. <www.revistapronews.com.br/edicoes/77/capa.html>. 28/05/2009.
71
constituição bastante semelhante ao contido nas revistas femininas de mesmo
segmento.
Com esse intento, as matérias da revista sempre são respaldadas pela
opinião de especialistas renomados, pesquisas e depoimentos, possivelmente, para
que o leitor tenha a percepção da seriedade da revista no tratamento dos assuntos
abordados.
Embora de toda a cientificidade de que as matérias são revestidas, ressalte-
se, entretanto, que o conteúdo da revista é descontraído na medida certa, e muito se
aproxima do bate-papo informal masculino.
Finalmente, como a intenção da revista é vender um novo modelo
comportamental para o homem, suas capas exploram a exposição do corpo
masculino, em um molde comportamental, jamais, antes visto, pelo menos em
edições brasileiras e, principalmente em revistas, pretensamente, voltadas para o
homem heterossexual, como podemos observar abaixo:
28. MH Jan./10, nº 45. 29. MH Fev./10, nº 46.
Sob outro ponto de vista, a revista parece ser mais um manual de como
transformar o macho comum em um metrossexual, pois como em uma receita, todas
as dicas dadas, trazem um passo a passo.
72
O conteúdo da revista é dividido em diversas seções, e varia conforme as
edições. Para o conhecimento de nossos leitores, abaixo, uma breve explanação
das principais seções que compõem a revista MH
75
:
Carta do editor, por Airton Seligman objetiva levar à reflexão. Nesta seção, a
revista é posta, implicitamente, como um meio para se alcançar o equilíbrio;
Colaboradores, consultores e especialistas são os profissionais envolvidos
tanto na elaboração como na consultoria das matérias da revista;
Diga pra gente, Gil, o garçon, Pergunte à Men’s Health e Pergunte à vizinha,
por Carol Toledo respectivamente, visam à interatividade com o leitor;
Mixer traz uma prévia de tudo o que será abordado no conteúdo geral da
revista, como: fitness, saúde, nutrição, perda de peso e comportamento;
Vamos nessa é destinada à entrevista de celebridades masculinas,
geralmente, do esporte;
Sexo, Saúde e Nutrição respectivamente, sugerem aos leitores uma mudança
saudável de comportamento;
rie pôster contém séries de exercícios para o aprimoramento,
condicionamento e manutenção da forma física;
MH Prazer, MH Fitness, MH Sabedoria, Boletim sexo e Boletim fitness
abordam como os leitores podem alcançar seus objetivos, nas mais diversas
áreas: sexual, pessoal, profissional;
Especial do mês dicas de cuidados pessoais, estilo, e equipamento, entre
outros assuntos relevantes;
75
Revista MH, edição de Setembro/2009, nº 41.
73
Dropes assuntos dos mais corriqueiros são tratados de maneira engraçada e
irreverente;
Garota Men´s Health destina-se à entrevista de celebridades femininas;
Na ponta do lápis aborda, de maneira divertida e descontraída, os temas mais
variados.
74
CAPÍTULO 3 A RETÓRICA DA TRANSFORMAÇÃO
3.1. Categoria Analítica
A análise proposta neste estudo se aterá, primordialmente, ao que trata do
discurso de convencimento presente em uma matéria da revista MH, cujo discurso,
para fazer consumir, prega a transformação do homem tradicional em outro, o
metrossexual, sem, em nenhum momento, rotulá-lo como tal, ao impor
implicitamente ao auditório que mudanças das mais distintas ordens lhe trarão
sucesso, dinheiro, e status.
Para tanto, serão observados os aspectos discursivos da escrita publicitária,
e os tipos de argumentos utilizados para o convencimento do auditório: os lugares
da qualidade, da essência, e da juventude; os argumentos que fundamentam a
estrutura do real: antimodelo, modelo e ilustração; ethos, pathos e logos; a definição
oratória, e a figura de presença e seu valor retórico.
Para a comprovação dos pressupostos de nossa análise, tomaremos como
ponto de partida a Retórica de Perelman & Tyteca (2005) e Reboul (2004), e
diversos outros estudiosos que, embora, nem todos, tratem a publicidade do ponto
de vista da retórica, muito contribuíram para este estudo.
3.2. Amostra de análise
A amostra, composta por quatorze páginas, trata da vaidade masculina. Seu
título é: “Um especial com a sua cara 100 ideias para dar um upgrade na fachada,
75
por Gabriela Comis
76
. Para a nossa análise, contudo, nos ateremos apenas as
partes a seguir:
30. MH Out./2010, nº 42, p.100 e 105.
31. Idem, p. 101-4.
76
Revista MH, edição de Outubro/2009, 42, p. 100-113. As partes ampliadas da matéria se
encontram nos anexos.
76
3.3. Análise
O slogan da MH é: “Viver melhor é fácil”. Como argumenta Carrascoza (apud
QUINTANILHA, 2007, p. 24): “o slogan deve resumir a essência de uma marca, um
produto ou uma campanha”, e isso acontece com a MH, cujo discurso é construído
de modo a parecer ser um guia de estilo e vida saudável para que o homem se
bem, social, profissional e sexualmente. Esse aspecto da MH é reforçado na seção
“Carta do editor”, por Airton Seligman.
Observa-se no slogan uma hierarquia entre os termos: “melhor e fácil”,
ambos, adjetivos que expressam valores, e faz-nos inferir a mensagem implícita: “É
fácil viver melhor, basta consumir a MH”, que contribui para reforçar o acordo entre a
MH e o auditório.
Segundo Perelman & Tyteca (2005), o vínculo admitido entre esses valores
pode variar, pois as vivências e pontos de vista dos indivíduos que compõem o
auditório, a quem se pretende persuadir, podem variar. Daí a necessidade do orador
de conhecer, previamente, aqueles a quem ele pretende persuadir. (Cf. PERELMAN
& TYTECA, 2005, p. 92)
Para facilitar o acordo e conquistar a adesão, a MH utiliza-se das provas
extrínsecas e intrínsecas, e dos lugares, argumentos prontos para serem utilizados
pelo orador durante a empreitada persuasiva.
As provas extrínsecas são dadas, mas podem ser posteriormente
manipuladas pelo orador, como no trecho a seguir: “O contemporâneo Esta figura
está acima de qualquer suspeita: usa cosméticos com a mesma naturalidade que
cuida da carreira, dos hobbies e do corpo (provas dadas). É o cara antenado, que
77
sabe que cuidados pessoais são um trampolim para o sucesso social, profissional
e sexual!” (provas manipuladas). (MH, p. 104, grifos nossos)
As provas intrínsecas, segundo Tringali (1988, p. 69), [...] ou são raciocínios
(silogismos) ou são exemplos, ou resultam da exploração da afetividade”. Elas são
criadas pelo orador e dependem de seu método e talento pessoal.
No excerto: “[...] neste caderno especial feito para o cara contemporâneo e o
que quer ser contemporâneo: você!” (MH, p. 100), infere-se o seguinte silogismo:
Premissa maior: O homem contemporâneo cuida da aparência, pois sabe que os
cuidados pessoais vão ajudá-lo nas conquistas no campo: social, profissional e
sexual; Premissa menor: O auditório é ou gostaria de ser/agir como o homem
contemporâneo; Conclusão: Para ser como o homem contemporâneo, do modo em
que ele é referenciado na MH: bem sucedido, antenado e com alto poder aquisitivo,
o auditório precisa consumir as dicas dadas pela revista.
Na amostra de análise selecionada, os principais lugares utilizados para
persuadir o auditório a consumir é o da essência, dos quais se fundam alguns
lugares derivados do valor da pessoa que, geralmente, estão vinculados à sua
dignidade, ao seu mérito ou autonomia, e também no que é único e original em
relação à personalidade humana, visto que a matéria faz um comparativo entre os
gêneros masculinos presentes na sociedade, e os prós e contras de ser/agir como
cada um deles. (Cf. PERELMAN & TYTECA, 2005, p. 106)
Os lugares da essência fundam-se na concessão de um valor superior aos
indivíduos que melhor representam as características de sua classe ou, em outras
palavras, são um tipo de comparação entre indivíduos concretos, em que se é
verificado qual é o melhor representante de sua classe.
78
Para exemplificarmos esse tipo de argumento, selecionamos, na amostra de
análise, o termo extremo oposto ao termo contemporâneo, presente
figurativamente em uma ilustração da linha evolutiva masculina, o “ogro”
77
, para a
comprovação da exaltação daquele e sua importância para revista, a partir do
excerto a seguir: O Ogro É o primeiro ser da nossa linha evolutiva. Digno
representante dos mais primitivos, mal sabe que não precisa afirmar sua
masculinidade com pelos de sobra nas costas, no nariz, na orelha...” (MH, p. 101,
grifos nossos).
Percebe-se, no excerto acima, uma importante oposição de ideias entre os
termos: “digno e primitivos”, ambos, adjetivos, cuja finalidade principal é impor
valores ao auditório, ao desvalorizar essa “espécie” de homem o “ogro” que é
imbuído de significados totalmente opostos aos contidos no termo contemporâneo:
“é feio e não bonito, solitário e não requisitado, relaxado e não cuidado, enfim,
argumentos para ressaltar as qualidades do seu extremo oposto, o
contemporâneo”, que é: “[...] o cara antenado, que sabe que cuidados pessoais são
um trampolim para o sucesso social, profissional e sexual. (MH, p. 104, grifo
nosso), tendo em vista que o termo “digno”, cuja significação remete a honra e
decência, se confrontado ao termo “primitivo”, no sentido de ser o primeiro da
espécie: “[...] Digno dos mais primitivos, [...]” (MH, P. 101, grifos nossos), faz-nos
inferir que ser/agir como este tipo masculino é inadmissível para o homem
contemporâneo, pois “o ogro”: “[...] mal sabe que não precisa afirmar sua
masculinidade com pelos de sobra nas costas, no nariz, na orelha...” (MH, p. 101,
grifo nosso). Inferência que é amplificada pela presença do advérbio de intensidade
“mais”, cuja finalidade é reforçar que o termo “ogro” é a representação do homem
77
Personagem monstruoso de histórias infantis, papão. Dicionário Caldas Aulete. (2004).
79
primitivo ao extremo leia-se do modo em que é referenciado por Mark Simpson
(2003): retrossexual, pouco preocupado com a própria aparência ou estilo de vida. O
termo é imbuído de um sentido anti-metrossexual.
também, na MH, a exaltação dos lugares da qualidade: “[...] Aqui estão
produtos e sacadas que vão tornar sua aparência mais sedutora, mais expressiva,
menos vulnerável(MH, p. 100, grifo nosso), e, finalmente, os lugares da juventude:
“Trata-se [...] de curtir estar vivo e de querer viver mais e melhor”. (MH, p. 100, grifos
nossos), que remetem o auditório ao prazer de viver bem e melhor. Os lugares
utilizados não remetem às qualidades dos objetos, e sim aos benefícios que serão
alcançados ao utilizá-los, um aspecto que vai ao encontro do que argumenta Chauí
(2006, p. 39): “[...] a propaganda comercial foi deixando de apresentar o produto
propriamente dito [...] para afirmar os desejos que ele realizaria [...]”.
Para vender tais desejos, a MH utiliza-se das repetições, que fazem parte das
figuras de presença, e, sobretudo, visam sugerir distinções para aumentar a
presença do objeto na consciência do auditório (Cf. PERELMAN E& TYTECA, 2005,
p. 198), conforme podemos observar no excerto: Não se trata aqui apenas de
vaidade [...]. Trata-se de sucesso, [...]. Trata-se de bem-estar, [...]. Trata-se [...] de
curtir estar vivo e de querer viver mais e melhor (MH, p. 100, grifos nossos). Ou
seja, pelo uso das repetições, a MH institui um discurso que visa convencer o
auditório de que o consumo não é uma consequência da vaidade, e sim da
necessidade de conquistas diversas: “Sucesso, bem estar, autoestima, auto-
valorização, viver mais e melhor. (MH, p. 100)
Para inspirar a confiança no auditório, o ethos de sério é assumido no
discurso da MH, que argumenta sobre o seu conteúdo: São 13 páginas, 100 dicas,
80
[...]”, e fundamento das informações: “[...] muita pesquisa [...]”. (MH, p. 100, grifos
nossos)
Seguir as dicas da MH não é a garantia para uma vida perfeita, todavia, criar
um efeito de verdade para persuadir o auditório faz-se necessário, e é isso que
acontece na MH, cujo discurso é construído de modo a convencer o auditório a
julgá-la uma revista digna de crédito, ao mencionar as razões de ser uma fonte de
informações confiável e assim ressaltar o logos, a parte racional de seu discurso:
“Este especial foi feito com tudo o que você mais preza: inspiração, informação
confiável, estilo e humor. (MH, p. 100, grifo nosso)
O logos é exaltado na referência à “informação confiável”, presente no excerto
do parágrafo anterior, por meio de um argumento de autoridade, tendo em vista que
as matérias da MH sempre são respaldadas pela opinião de especialistas no
assunto, e por pesquisas de renomadas universidades, geralmente, internacionais.
também os depoimentos, e para a diversificação do conteúdo da publicação,
inúmeros profissionais, muitas vezes, independentes, participam da elaboração das
matérias da publicação.
Como argumenta Carvalho (2004, p. 10), “[...] a publicidade comercial explora
o universo dos desejos, um universo particular”. Logo, para fazer consumir, o
pathos, que é o conjunto das paixões, é de ordem afetiva, e ligado ao auditório,
precisa sempre ser exaltado.
Na amostra analisada, as emoções, paixões e sentimentos do auditório são
exaltados pela MH por meio da definição oratória, uma figura de escolha, cuja
função é servir como justificativa para o porquê da necessidade de se cuidar, ao
impor ao auditório a ideia de que o sucesso e as conquistas advêm de tal cuidado:
Não se trata aqui apenas de vaidade [...]. Trata-se de sucesso, de conquistas no
81
campo social, profissional, sexual. Trata-se de bem estar, de autoestima. (MH, p.
100, grifos nossos).
Oferece-se, por conseguinte, argumentos que convençam o auditório de que
tal mudança é benéfica e livre de preconceito, conforme se observa no excerto: São
13 páginas, 100 dicas, muita pesquisa e nenhum preconceito. [...](MH, p. 100, grifo
nosso), e reforça o seu assentimento ao argumentar sobre o ato de se cuidar: Não
se trata aqui apenas de vaidade de qualquer forma um item liberado na agenda
do homem moderno. (MH, p. 100, grifo nosso)
Cumpre à definição oratória, o papel de destacar certos aspectos de algo que
correria o risco de ficar em último plano na consciência do auditório. Seu papel é
diferente do da definição, cujo papel é fornecer o sentido de uma palavra. (Cf.
PERELMAN & TYTECA, 2005, P. 195-6)
Para a exaltação do pathos, a MH impõe valores ao auditório, a partir da
exposição de comportamentos do metrossexual: uso de cosméticos; cuidados com
o corpo.” (MH, p. 104, grifos nossos), principalmente, ao argumentar que os
cuidados com a aparência trazem benefícios diversos: Não se trata aqui apenas de
vaidade [...]. Trata-se de sucesso, de conquistas no campo social, profissional,
sexual(MH, p. 100, grifos nossos), e assim aumentar a presença na consciência
dele sobre a necessidade de mudanças no seu comportamento.
Estimula-se, para tanto, no discurso da MH, a confiança, pois, conforme se
observa no excerto um distanciamento do que é temível: “[...] Identifique seus
pontos fracos nestes elos perdidos da sua trajetória e saiba melhorá-los (MH, p.
101, grifos nossos), visto que a MH intenta persuadir o auditório a mudar os seus
comportamentos, a partir de fatos passados: [...] pontos fracos nestes elos perdidos
da sua trajetória [...]”; sugere reparações: “[...] Identifique seus pontos fracos [...] e
82
saiba melhorá-los”, e proteção: [...] nestes elos perdidos [...] (MH, p.101, grifos
nossos), “elos” em que o auditório pode encontrar informações para ajudá-lo na
resolução de suas inseguranças com a aparência: a própria MH, cuja matéria está
contida. (Cf. ARISTÓTELES, 2003, p. 35)
Por outro lado, a imposição destes valores é implícita, pois, em nenhum
momento, a publicação rotula o homem contemporâneo como sendo metrossexual.
Todavia, tal inferência torna-se possível, no discurso da MH, quando se observa os
argumentos dados em relação aos comportamentos do homem contemporâneo: “[...]
usa cosméticos [...], [...] cuida do corpo [...] É o cara antenado, que sabe que
cuidados pessoais são um trampolim para o sucesso social, profissional e sexual!”
(MH, p. 104, grifos nossos), informações que se forem confrontadas com os
argumentos dados pelo criador do termo metrossexual, o jornalista e escritor inglês
Mark Simpson (1994), para quem a metrossexualidade é uma característica inerente
ao homem contemporâneo, que se cuida e gosta de se cuidar, e, sobretudo, tem a si
mesmo como seu objeto de amor, as intenções da MH tornam-se totalmente
explícitas.
Infere-se, a partir do modo em que a amostra analisada é apresentada que,
como já dito, faz uma espécie de referência à evolução masculina: “[...] elos perdidos
da sua trajetória [...]” (MH, p. 101, grifo nosso), desde o que chamam de ogro.
Passa, então, pelos outros gêneros masculinos: o sico, o atleta, o boêmio, o
ripongo, o natural, o workaholic
78
, até o contemporâneo (MH, p. 101-4), que a
MH, ao apresentar o modo de ser e de viver dos supostos antecessores do
“contemporâneo”, intenta, antes de tudo, reforçar na consciência do auditório que
muitos dos hábitos de vida destes gêneros são prejudiciais à saúde, à longevidade,
78
Termo inglês, cujo significado remete à pessoa que trabalha demais ou que é demasiadamente ligada
à carreira. (Descrição nossa).
83
à aparência, entre outras coisas, exaltando-se, com tal atitude, o modo de viver do
homem contemporâneo. Referimo-nos, neste parágrafo, a tais gêneros como sendo
“supostos antecessores” do “contemporâneo”, guiados pela ideia contida no discurso
da MH, cuja exposição faz parecer que tais gêneros estão em perigo de extinção,
mas que, na verdade, todos os gêneros referenciados na amostra de nossa análise
fazem parte da sociedade moderna.
Desse modo, para impor valores da instituição como comum a todos os
membros que compõem o auditório, de modo lúdico, na amostra selecionada, a MH,
por meio da polifonia, faz referência ao Darwinismo, ao apresentar no final do que
chamam [...] elos perdidos de sua trajetória [...] (MH, p. 101-4, grifo nosso), após
todas as transformações sociais (de ordens diversas) ocorridas, o melhor
representante da “espécie”: o homem contemporâneo.
Se pensarmos nos modelos de masculinidade apresentados pela MH, nos
cenários em que estão inseridos e no estilo de vida que representam, podemos
inferir que, a partir do ato de agradar/aguçar (delectare) os sentidos do auditório,
uma das principais paixões suscitadas pela MH é a emulação: “[...] para o cara
contemporâneo e o que quer ser contemporâneo: você!” (MH, p. 100) leia-se
bem sucedido, e com alto poder aquisitivo. Enfim, a MH apresenta bens de consumo
da sociedade capitalista como se tais bens fossem acessíveis a todos os homens.
(Cf. CARVALHO, 2004, p. 17)
Pela emulação, a MH suscita no auditório não o desejo pela destruição do
outro, o que seria, então, a inveja, e sim o desejo e a vontade de querer as
qualidades do outro, suas conquistas; tudo, pela admiração que tal ser (modelo) lhe
causa pela proximidade de semelhança. (Cf. ARISTÓTELES, 2003, p. 71)
84
Paralelamente, embora de toda a leveza de que o discurso da MH é
revestido: escolha lexical (uso de termos gírios), que faz com que ele pareça
despojado, informal, e próximo do discurso masculino cotidiano: “Aqui estão
produtos e sacadas [...]. [...]. A sua cara, meu chapa.” (MH, p. 100, grifos nossos), e
o uso do pronome pessoal “você”, para parecer ser dirigido a cada um dos
indivíduos que compõe o auditório: [...] para o cara contemporâneo e o que quer ser
contemporâneo: você! (MH, p. 100); “Evolua! Você certamente [...]” (MH, p. 101,
grifos nossos), ele é autoritário, pois a MH intenta expressar as verdades da
instituição como sendo as de todos. (Cf. CITELLI, 2005, p. 43)
Por tal motivo, o discurso da MH muito se utiliza de verbos modalizados no
imperativo: Evolua! [...]”; Não caia [...]”; “[...] decifre [...]”; Refresque-se [...]”;
Chegue [...]; Comande [...]”. (MH, p. 100, grifos nossos), e é parafrástico ao, como
dito, anteriormente, utilizar-se das repetições para reforçar a presença na
consciência do auditório e impor suas verdades.
Seguir o estilo de vida e consumir os produtos oferecidos pela MH não
garante ao auditório conquistar uma aparência mais sedutora, mais expressiva e,
muito menos, sucesso e conquistas no campo social, profissional e sexual (MH, p.
100). Tudo é hipotético, mas no discurso da MH, tais hipóteses são postas como
verdadeiras e acessíveis a todos. Este fato o é um problema, em publicidade, de
ética ou falta dela, nem em retórica, que é amoral.
A propensão da publicidade em agir da forma acima descrita decorre devido à
ideologia capitalista que, como argumenta Orlandi (2005, p. 95), “[...] torna possível
a relação palavra/coisa”. Só podemos pensar na força persuasiva da ideologia
quando estivermos diante de sociedades, cujas bases são fixadas nas relações de
dominação de classe, no gênero social e daí por diante. (Cf. FAIRCLOUGH, 2001, p.
85
121). Tais ideologias nem sempre são perceptíveis a todos os indivíduos que
constituem o auditório.
Consequentemente, no discurso publicitário que é instituído a partir da
ideologia capitalista, necessidades básicas, como o ato de se cuidar, tornam-se um
ideal da existência, quando, habilmente, a publicidade apresenta os objetos que
anuncia como fórmulas mágicas para a resolução de problemas, ao suscitar no
auditório, por meio de argumentos que o convençam de verdades, na realidade,
inexistentes: lugares do sonho, do sucesso e da retórica do verossímil, que
comportam o verdadeiro, o falso e o possível, para reforçar o assentimento do
auditório, conforme podemos observar nos trechos selecionados: [...] encontre a
beleza em seu elo perdido”, e [...] decifre embalagens e se bem”. (O seu guia
está aqui, MH, p. 100, grifos nossos).
Melhorar a aparência é possível. Transformar o feio em belo, não. Logo, o
simples ato de decifrar as embalagens não torna o feio em belo ou atraente
(função conotativa). Meros objetos de consumo, pois, são apresentados como itens
indispensáveis à vida, como podemos observar na vasta lista de produtos para os
cuidados do homem presente na matéria de nossa análise.
Para Reboul (2004), o aceite da verossimilhança não ocorre pela ignorância
ou incompetência do auditório, mas pelo próprio objeto em que a confiança é
presumida. (Cf. REBOUL, op. cit., p. 95)
A MH forma hábitos, ao dizer que se cuidar é fundamental para o homem
contemporâneo: É o cara antenado, que sabe que cuidados pessoais são um
trampolim para o sucesso social, profissional e sexual!(MH, p. 104, grifos nossos);
reforma, ao dizer que este tipo de homem está em posição segura e privilegiada:
Esta figura está acima de qualquer suspeita: usa cosméticos com a mesma
86
naturalidade que cuida da carreira, dos hobbies e do corpo”. (MH, p. 104, grifos
nossos), e conforma, ao reiterar comportamentos existentes, ao dizer, a partir do
uso dos lugares da essência, que a matéria foi feita com tudo que é aceito pelo
homem: “Este especial foi feito com tudo o que você mais preza: inspiração,
informação confiável, estilo e humor”. (MH, p. 100, grifo nosso). (Cf. CITELLI, 2005,
p.44-7)
Para instituir um discurso que, sobretudo, visa à persuasão, a MH utiliza-se,
na amostra selecionada, de inúmeros argumentos, dos quais, o selecionado, neste
parágrafo, visa o apagamento na consciência do auditório sobre o preconceito social
(in)consciente que se o homem se cuida é porque ele é gay: O contemporâneo
Esta figura está acima de qualquer suspeita [...]” (MH, p. 104), um fato que explica o
porquê de mesmo com toda a revolução social ocorrida, muitos homens que se
cuidam temerem ser confundidos como sendo gays e, por tal motivo, escondem, a
mesmo dos amigos, os tratamentos estéticos realizados, uma atitude que denota
certo preconceito contra si mesmos.
Chegamos à parte final de nossa análise destinada aos argumentos que
fundamentam a estrutura do real presentes na amostra selecionada: antimodelo,
modelo e ilustração.
Como já comprovamos no decorrer de nossa análise, a MH, a partir do uso de
inúmeros recursos retórico-argumentativos, apresenta um discurso instituinte para
fazer o auditório crer que a “metrossexualidade” é uma das qualidades do homem
“contemporâneo” e, para reforçar esta ideia, apresenta um antimodelo: O ogro É
o primeiro ser da nossa linha evolutiva. Digno representante dos mais primitivos, mal
sabe que já não precisa afirmar sua masculinidade com pelos de sobra nas costas,
no nariz, na orelha...” (MH, p. 101, grifos nossos), em que a ênfase de suas
87
qualidades negativas, conforme observado no excerto acima, para a exaltação do
outro: o “contemporâneo.
O antimodelo, como argumento, muitas vezes, é apresentado de modo falso
para causar certa repulsa no auditório a quem se pretende persuadir, e assim
reforçar a adesão à tese defendida. Não raro, é por referência implícita ao modo de
ser do antimodelo que ocorre tal afastamento. (Cf. PERELMAN & TYTECA, 2005, p.
417-8)
Para instaurar uma argumentação pela ilustração, a MH apresenta entre o
“antimodelo” e o “modelo” os seguintes gêneros masculinos: O básico [...] na
cabeça dele, para lavar o cabelo basta um xampu, perfume para disfarçar a
nhaca [...]”; O atleta [...] estilo de vida agitado e bastante exigido [...]”; O boêmio
[...] seu estilo de vida, regado a esbórnia, falta de sono e balada, causa grande
estrago na aparência.”; O ripongo Paz, amor e zero de rotina [...].”; O natural
[...] o cara natural acha que a mãe natureza é sábia o suficiente para cuidar de seu
corpo e de sua cabeça. Engano.”; O workaholic Se faltam minutos para cuidar de
tantos compromissos, o que dirá dedicar tempo ao próprio corpo (MH, p. 101-4,
grifos nossos). Ao apresentar o comportamento de cada um destes gêneros
masculinos, como sendo inadequado, e o efeito de tal comportamento: na aparência,
na vida, nas conquistas, a MH reforça, mais uma vez, o modo de ser do homem
“contemporâneo”.
A argumentação pela ilustração serve para reforçar a adesão a uma regra
conhecida e aceita. Ela pode ser duvidosa, mas deve ser capaz de impressionar
vivamente a imaginação do auditório (Cf. PERELMAN & TYTECA, 2005, p. 407), e
como se pode observar, no que a MH chama de: “Elos perdidos da sua trajetória”
(MH, p. 101-4), os modelos que servem aos propósitos da argumentação pela
88
ilustração prestam-se bem a este fim, pois além de fazerem a ligação entre o
“antimodelo” e o “modelo”, reforçam, gradativamente, no discurso da MH, que a
melhor escolha a ser feita pelo auditório é ser/agir como o homem contemporâneo:
“[...] para o cara contemporâneo e o que quer ser contemporâneo: você!” (MH, p.
100), e “[...] está acima de qualquer suspeita: usa cosméticos [..] cuida do corpo”.
(MH, p. 104)
Algumas pressuposições são inferidas nos excertos acima: a) o único modelo
digno de ser copiado é o “contemporâneo”, pois ele está acima de qualquer
suspeita; b) o antimodelo é primitivo demais para fazer parte da sociedade atual; o
auditório precisa, pois, evitar o seu modo de ser/agir; c) os modelos que servem
para a argumentação pela ilustração reforçam a adesão ao modelo; d) o modelo é a
escolha certa àqueles que desejam ter sucesso: na vida, na carreira, nas conquistas,
pois ele agrega as melhores características dos demais, além de ser bem sucedido,
com alto poder aquisitivo e ter status.
O modelo é apresentado como algo digno de ser imitado, e tem de ser capaz
de indicar uma conduta e servir de apoio à conduta adotada (Cf. PERELMAN &
TYTECA, 2005, p. 414-5), fato ocorrido com o modelo masculino apresentado na
MH: “Está figura está acima de qualquer suspeita: usa cosméticos com a mesma
naturalidade que cuida da carreira, dos hobbies e do corpo. É o cara antenado, que
sabe que cuidados pessoais são um trampolim para o sucesso social, profissional
e sexual!. (MH, p. 104, grifos nossos)
Propomos abaixo um organograma, cujo intuito é reforçar para os nossos
leitores, a trajetória adotada no discurso da MH (na amostra selecionada) para a
imposição/solidificação desse novo modo de masculinidade trazido pela
metrossexualidade que, embora seja despercebida à maioria dos homens, na
89
verdade, mesmo sem saber, muitos deles apresentam traços peculiares desse novo
gênero masculino:
32. Organograma
ANTIMODELO
MODELO
ODELO
o básico”; “o atleta”; “o boêmio”; “o ripongo”; “o natural”; “o workaholic”
“O OGRO”
“O CONTEMPORÂNEO”
ILUSTRAÇÃO
OPOSIÇÃO
Linha
evolutiva
Efeito: Reforço à tese
defendida, a partir da
exposição do modo
de ser desses tipos
de homem.
Efeito: causar
repulsa no
auditório.
Efeito: reforçar a
adesão ao modelo.
Efeito: solidificar
um novo modo de
masculinidade: a
metrossexualidade.
90
Considerações Finais
Retomando as perguntas norteadoras de nosso estudo, verificamos que a
MH, para destruir o discurso instituído de que o cuidado com a aparência é de suma
importância para a mulher, mas de pouca importância para homem, cuja
masculinidade é apoiada, até os dias de hoje, na posse de bens e no status que tais
objetos proporcionam a quem os possui, e vender o homem como se este fosse um
produto midiático/mercadológico, nada fez além da inserção de modelos masculinos,
em posição segura e privilegiada a MH em universos ímpares e elitizados. Ou
seja, para reafirmar, legitimar e tornar desejável o papel de consumidor para o
homem, a MH oferece bens de consumo da sociedade capitalista como acessíveis a
todos os homens, um aspecto que demonstra que a publicidade legitima a
dominação da elite.
Instiga-se com a oferta de tais produtos, principalmente, o pathos, conjunto de
emoções, sentimentos e paixões do auditório que, como demonstramos em nossa
análise, é levado a crer pelo discurso da MH que consumir é preciso, não em
consequência da vaidade, e sim pela necessidade de melhorar a aparência e a
confiança, para com isso alcançar a realização nos diversos campos: social,
profissional, sexual. Um discurso facilmente homologado em uma sociedade
capitalista, onde a concorrência é cada vez maior e o status, que o consumo de
determinados objetos dão ao homem, é bem marcado.
Há, pois, no discurso da MH, que é autoritário e parafrástico, uma
manipulação disfarçada de signos que, sobretudo, movimenta o pathos do auditório,
para impor-lhe a ideia de que o ato de consumir objetos é fundamental para ressaltar
a sua masculinidade. Uma construção discursiva que demonstra a tentativa da
91
publicidade em reafirmar, pelo menos no imaginário coletivo, a força social
hegemônica masculina do passado, datada da década de 70 do século XX, quando
a mulher oprimida, até então, conquistou diversas posições, antes, masculinas.
Prega-se, por conseguinte, no discurso da MH que, para a felicidade ser
alcançada, ter um corpo belo e atraente é fundamental, aspecto que remonta a
importância que os gregos davam à forma física perfeita, pois acreditavam que, ao
cuidarem do corpo, estariam mais próximos dos deuses.
Na MH, contudo, a exposição do corpo perfeito denota um aspecto mais
mercadológico, e que visa a outros fins, tendo em vista que, como dissemos, os
modelos apresentados servem de chamariz aos demais, sobretudo, para instigá-los
a consumir. Além disso, na sociedade capitalista atual, a forma física perfeita
exprime, por si só, certo status e prestígio social àqueles a quem a possui, aspecto
que explica a imposição da mídia de um ideal de beleza, não raro, inatingível.
O ethos de sério da MH é assumido, a partir de um argumento de autoridade,
quando são apresentadas provas ao auditório, a fim de convencê-lo sobre a
veracidade das informações da revista: pesquisas de renomadas universidades
internacionais, a opinião de especialistas no assunto, e, finalmente, depoimentos,
que muito colaboram para a aproximação entre o ethos da MH e o pathos do
auditório. Infere-se, por conseguinte que, de um lado, os modelos masculinos
apresentados nos moldes estabelecidos pelo discurso da MH, e do outro, o
auditório, cujo desejo é alcançar o modo de ser e de viver ofertado pela revista.
A visibilidade do termo metrossexual na mídia (2003), que o encerra em si
toda a sua significação, visto que novos termos, antes de substituí-lo, na verdade,
ampliam a sua significação, e a exaltação das qualidades inerentes à
92
metrossexualidade, muito contribuíram para a persuasão do homem que, cada vez
mais, tem assumido suas próprias preferências estéticas.
Qualidades, muitas vezes, amplificadas por meio da argumentação pelo
modelo, em que pessoas ou grupos, cujo prestígio valoriza os atos, podem servir
aos propósitos deste tipo de argumentação, como é o caso do ícone da
metrossexualidade, o atacante britânico, David Beckham (primeiro metrossexual
midiático/mercadológico), atualmente, no Milan da Itália; mais recentemente, o
jogador português, Cristiano Ronaldo do Real Madrid, que aumentou o time dos
metrossexuais famosos, e celebridades de Hollywood, como o ator Brad Pitt. Todos
conhecidos muito mais pelo seu estilo do que pelos seus feitos pessoais.
A importância de tais modelos para a publicidade advém da influência que
exercem sobre o homem comum, pois mesmo que passe despercebida à maioria
dos homens, a exposição midiática/mercadológica desses ícones, principalmente, se
do esporte mais aceito mundialmente: o futebol, leva o auditório a crer (in)consciente
que tal atitude é natural e, se homologada pela sociedade, livre de preconceito.
Enfim, o fato que efetivamente tornou aceitável para o homem cuidar da
própria vaidade foi a mídia, a partir de um o discurso instituinte pautado em
inúmeros recursos retórico-argumentativos, implicitamente, solidificar na sociedade
(in/consciente coletivo) a ideia de que a metrossexualidade faz parte do modo de ser
do homem contemporâneo, ao incutir no auditório masculino, por meio de
publicidades específicas, que o hábito de se cuidar é, antes de tudo, um ato inerente
ao ser humano, que não vai feminizá-lo e, muito menos, destituí-lo de sua
masculinidade.
A partir deste novo modo de masculinidade instituído pela mídia/publicidade,
ao homem foi dada a oportunidade de assumir a própria vaidade e tomar o seu lugar
93
na frente do espelho. Por outro lado, na sociedade moderna, muitos homens, à
primeira vista, pouco interessados em cuidar da própria vaidade, mesmo sem saber,
têm apresentado qualidades/características da metrossexualidade.
A MH para reforçar a presença na consciência do auditório de que o ato de se
cuidar é muito mais amplo que o universo da vaidade, bastante se utiliza da força
dos argumentos: as repetições, que pertencem às figuras de presença; as provas
extrínsecas e intrínsecas, e a definição oratória. Exploram-se também os lugares
retóricos da essência, da qualidade, da juventude e do sonho; a retórica do
verossímil; os argumentos de autoridade, e os argumentos que fundamentam a
estrutura do real: o antimodelo, modelo, e ilustração. Juntos, todos esses
argumentos muito auxiliam no convencimento do homem do por que da necessidade
de se cuidar, principalmente, no discurso da MH, em que não são apresentadas as
qualidades reais dos produtos anunciados, e sim as sensações e as conquistas
ocasionadas pelo seu consumo ao auditório.
Para a transformação do “macho” comum em metrossexual, como se pôde
observar na amostra selecionada, a MH, para facilitar a adesão do auditório à tese
de que o homem contemporâneo, incontestavelmente, é o tipo masculino que
melhor representa o comportamento masculino atual, muito se utilizou da oposição
antimodelo/modelo, para reforçar, com tal atitude, as qualidades do
“contemporâneo”, que é o de maior valor comercial para a revista, tendo em vista
que, em seu discurso instituído, ele “naturalmente” agrega inúmeros
comportamentos do metrossexual e, assim como este último, tem alto poder
aquisitivo. Entre a oposição antimodelo/modelo, um contraponto é oferecido pela
MH, a partir da utilização da argumentação pela ilustração em que, a partir da
94
exposição de outros gêneros masculinos, gradativamente, reforça para o auditório o
modelo que deve ser por ele seguido.
É desta maneira que a MH vende a metrossexualidade sem, em nenhum
momento, rotular o homem, atitude que facilita na persuasão dos outros (auditórios)
tipos masculinos presentes na sociedade. Em contrapartida, infere-se que, a partir
do uso de uma metáfora, a MH propõe a fusão entre o termo “contemporâneo” e o
termo “metrossexual”. Desta suposta fusão, propomos, neste estudo, uma nova
denominação: o homem “metro-contemporâneo”.
A sensualidade, muito exaltada no discurso da MH, também é um modo
encontrado pela publicidade da revista para reforçar o acordo com o auditório que é
levado a crer que ter um corpo saudável é um meio para se ter mais sexo.
Cultivar o hábito de se cuidar é uma atitude saudável, que demonstra a
maneira como o indivíduo encara a própria vida. É preciso apenas tomar o cuidado
para não agir como Narciso, figura mítica da Mitologia Grega, e ícone da beleza
singular, cujo culto exacerbado à própria aparência física levou-o à perdição.
A relevância deste estudo para o ensino de Língua Portuguesa advém da
premente necessidade do alunado em apreender a retórica e o amplo leque de
argumentos por ela oferecido, tendo em vista que tais conhecimentos muito auxiliam
na recepção, compreensão ou construção de discursos persuasivos, entre eles, o da
publicidade que é ancorado nas ordenações sociais, e, implicitamente, dita regras de
consumo.
Após a nova proposta curricular da Secretaria da Educação do estado de São
Paulo, em vigor, cerca de três anos, foi desenvolvido um material, denominado,
comumente, como o “caderno do aluno”, que visa à unificação do currículo das
escolas da rede pública estadual paulista. No referido material, embora já seja
95
abordado o tema publicidade na área de códigos e linguagens, o estudo discursivo
da publicidade do ponto de vista da retórica se mantém, até o momento, na
obscuridade, não neste novo material, como nos livros didáticos, já, de longa
data, utilizados.
Este estudo não teve a pretensão de minar todas as possibilidades analíticas
oferecidas pela amostra analisada, que poderá vir a ser utilizada em estudos futuros.
96
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99
ANEXOS
100
101
102
103
104
GLOSSÁRIO
EMOBOY: homem extremamente sensível e vulnerável. O termo foi criado pelas
publicitárias Marian Salzman, Amy O‟Reilly e Ira Matathia, a partir de um estudo
sobre o comportamento masculino, que resultou no livro “The Future of Men”.
HOMEM VERDADEIRO: homem que reúne o melhor do homem atual. É
participativo em casa, mas faz o que quer e quando quer. Criação: vide as
autoras do termo emoboy.
MACHO BETA: homem que não teme assumir as próprias fraquezas, não liga para
poder ou aparência, e não quer ser o primeiro em tudo. Não briga na rua, não depila
o peito e não se olha no espelho o tempo todo. Cuida da casa e jamais vai enganar
a companheira por diversão. O termo, advindo da Biologia, serve para designar
exatamente o oposto do macho alfa, líder do grupo.
METROGAY: homem homossexual com traços e jeito de homem leia-se não
afeminado. Criação: vide as autoras do termo emoboy.
METRO-HÉTERO: homem heterossexual com atitudes gays. Criação: vide as
autoras do termo emoboy.
METROSSEXUAL: homem urbano e vaidoso, com idade entre 25 e 45 anos. Tem
alto poder aquisitivo, e seus hábitos de consumo envolvem moda, roupas e
acessórios. O termo advém da contração das palavras heterossexual e
metropolitano, e foi criado pelo escritor inglês Mark Simpson (1994).
NEW BLOKE: homem liberalíssimo que acredita na igualdade entre os sexos.
Criação: vide as autoras do termo emoboy.
105
NOVO MACHÃO: homem com características típicas do machão, mas que não
problema em chorar na frente dos outros. Criação: vide as autoras do termo
emoboy.
RETROSSEXUAL: homem tradicional pouco preocupado com a própria aparência
ou estilo de vida. O termo é imbuído de um sentido anti-metrossexual. Criação: Mark
Simpson (2003).
SPORNO: termo criado para tentar designar a estética homossexual ligada ao
esporte, principalmente, europeu e australiano, algo que é posterior à estética
metrossexual. O termo resulta da combinação entre as palavras inglesas sport
(esporte) e porn (pornô). Criação: Mark Simpson (2006).
SNAG: homem de sensibilidade apurada e que entende perfeitamente as mulheres.
O termo é um neologismo formado a partir das inicias de “sensitive new-age Guy”.
Criação: vide as autoras do termo emoboy.
TECNOSSEXUAL, TECNO-MACHO OU TECNO-HOMEM: designa o homem que
apresenta todas as características do metrossexual, mas é um aficionado por
tecnologia. Diferentemente, do metrossexual, o tecnossexual rejeita o uso de
cosméticos e cirurgias plásticas para atingir uma forma física ideal. O tipo de homem
que mais define o comportamento do tecnossexual é o adepto das práticas
desportivas, preocupado com a alimentação e estilo de vida saudável, mas sem
exageros. O termo, criado em 1970 por Ricky Montalvo, inicialmente, era utilizado
por intelectuais para fazer referência à atração sexual do homem por máquinas,
andróides e robôs.
106
UBERSEXUAL: o termo serve para designar a versão mais avançada do
metrossexual. O ubersexual é considerado a ressurreição do exemplar do sexo
masculino mais cobiçado pelas mulheres, o homem sensível, mas não muito,
vaidoso, mas na medida certa. Criação: vide as autoras do termo emoboy.
OBSERVAÇÃO: Os termos contidos neste glossário, raras as exceções, o
designam orientação sexual.
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