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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA – PROARQ
MESTRADO NA ÁREA DE CULTURA, PAISAGEM E AMBIENTE CONSTRUÍDO
Kathia Corrêa
SISTEMAS COLABORATIVOS PARA A GESTÃO DE PROJETOS
Dissertação submetida ao Programa de Pós-graduação em Arquitetura PROARQ, da
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro FAU /
UFRJ, como parte dos requisitos necessários para obtenção do grau de Mestre em
Arquitetura.
LINHA DE PESQUISA: CULTURA PAISAGEM E AMBIENTE CONSTRUÍDO
ENFOQUE: GESTÃO DE PROCESSO DE PROJETO
Orientadora:
Profa. Dra. Mônica Santos Salgado
FAU/UFRJ
PROARQ
Co-orientador:
Prof. Dr. Nilton Bahlis dos Santos
ICICT
FIOCRUZ
Rio de Janeiro
Abril de 2010
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ii
SISTEMAS COLABORATIVOS NA GESTÃO DE PROJETOS
Kathia Corrêa
Orientadora: Co-orientador:
Profa. Dra. Mônica Santos Salgado Prof. Dr. Nilton Bahlis dos Santos
Dissertação submetida ao Programa de Pós-graduação em Arquitetura PROARQ, da
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro FAU /
UFRJ, como parte dos requisitos necessários para obtenção do grau de Mestre em
Arquitetura.
Aprovado por:
Mônica Santos Salgado, D. Sc.
Professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro
Nilton Bahlis dos Santos, D. Sc.
Fundação Oswaldo Cruz
Paulo Afonso Rheingantz, D. Sc.
Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro
José Ripper Kós, Ph.D.
Professor da Universidade Federal de Santa Catarina
Tereza Cristina Malveira de Araujo, D. Sc.
Fundação Oswaldo Cruz
Rio de Janeiro
Abril de 2010
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iii
CORRÊA, Kathia
Sistemas Colaborativos na Gestão de Projetos.
Gestão de Processo de Projeto / Kathia Corrêa. Rio
de Janeiro: UFRJ / FAU, 2010.
xii, 117p: il.; 1,5 cm
Orientação: Mônica Santos Salgado
Co-Orientação: Nilton Bahlis dos Santos
Dissertação de Mestrado – UFRJ/PROARQ /
Programa de Pós-Graduação em Arquitetura, 2010.
Referências: f. 86 – 93.
1. Gestão de Projetos. 2. Processos 3. Sistemas
Colaborativos. 4. Interação. 5. Emergência
I. Mônica Santos Salgado. II. Nilton Bahlis dos Santos.
III. Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Programa de
Pós – Graduação em Arquitetura, IV. Título (série)
iv
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, agradeço a Deus, a quem dedico este trabalho, porque sem
Ele nada teria sido possível na minha vida.
À filha Flavia, que é meu melhor presente, e quem mais soube entender a minha
ausência.
À preciosa família. Meus pais, Ângelo Corrêa e Maria Ujakova, cujos princípios,
valores, instrução, firmeza e exemplos sempre fizeram a diferença. Minhas irmãs
e cunhados Marúcia, Tamara e Andréa, André, ainda primos, primas e tios, com
os quais, sempre pude contar e compartilhar momentos.
Aos amigos de sempre, Beth Arouca, Victor Utria, Ricardo Silveira, Marcia
Spilberg, João Carlos Oliveira, Rosana Celano, Denise Barroso, Eliane Fonseca,
Carlos Milhomen. Valéria foi vital nos momentos críticos. Também são
fundamentais: Conceição, Martinho e Thadeu. Sem os amigos, não haveria
suporte para vencer os obstáculos desta e de outras jornadas.
À minha orientadora, Mônica Salgado, pela segurança, profissionalismo,
sensibilidade com que me conduziu. É uma excelente incentivadora... Ao meu
orientador, Nilton Santos, pelo entendimento do que deveria ser explorado, pelo
compartilhar o conhecimento neste mundo de informações.
A banca que muito auxiliou com o seu saber. Paulo Afonso Reinghantz, pelo
desprendimento e ótimas recomendações acadêmicas. José s pela empatia
com o trabalho e excelentes sugestões. E Tereza Malveira pela liberalidade com
que compartilhou seus dados, sua sabedoria e seu conhecimento.
Aos profissionais, Ana Carolina Tabach, Celso Girafa, Elizabeth Arouca, Elizabeth
Hirth, Flavio Kelner, João Carlos Bross, João Carlos Oliveira, Luiz Carlos Toledo,
Siegbert Zanettini, Vera Moreira da Rocha e Victor Utria, que dentre outros,
compartilharam com generosidade as suas informações. Muito obrigada!
À equipe do Next. Euclydes, que fez o meio de campo nos momentos críticos.
Bianca, pela parceria. Eide um braço amigo. João, Maria João, Alberto, Aninha,
Rafael, Igor, Breno.
A todos, muito obrigada!
v
RESUMO
SISTEMAS COLABORATIVOS NA GESTÃO DE PROJETOS
Kathia Corrêa
Orientadora: Co-orientador:
Profa. Dra. Mônica Santos Salgado Prof. Dr. Nilton Bahlis dos Santos
Resumo da dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Arquitetura
PROARQ, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de
Janeiro, como parte dos requisitos necessários para obtenção do grau de Mestre em
Arquitetura.
Esta dissertação tem o propósito de analisar a gestão de projetos e os principais
problemas decorrentes da sua complexidade e verificar de que forma os princípios e
propostas da cultura Wiki e da Web 2.0, que estão fundamentadas na interação, na
emergência, na auto-organização, na transparência, e na descentralização, podem
preencher as lacunas deixadas pelos sistemas denominados de colaborativos. As
práticas e ferramentas atualmente utilizadas como sistemas colaborativos na sua maioria
apenas automatizam as rotinas do processo. A Web 2.0 no seu sentido estrito pode ser o
caminho para a criação de um ambiente que estimule o relacionamento e a colaboração.
Estas proposições se aplicam à gestão de projetos de uma forma geral, mas neste
trabalho é feito um recorte para os projetos de AEC (Arquitetura, Engenharia e
Construção). No início do texto, fez-se uma análise do projeto, do processo do projeto e
da sua gestão, e em seguida, procedeu-se ao levantamento das pesquisas que envolvem
tecnologias utilizadas nos escritórios de AEC; o texto prosseguiu com a apresentação e a
avaliação das possibilidades das novas tecnologias de informação e comunicação (TICs)
na gestão de projetos cultura Wiki / Web 2.0 com depoimentos sobre a cultura
colaborativa nos escritórios; e, em seguida, fez-se a análise comparativa da pesquisa de
campo com alguns escritórios de arquitetura, suas formas de gestão, e o modo como eles
se apropriam das tecnologias. Os resultados indicam que a Web esentrando de forma
lenta, mas gradual, nos escritórios de arquitetura, similar ao que ocorre no setor de AEC.
Todavia, as experiências positivas apontam a Web como um caminho para a criação de
ambiente colaborativo capaz de responder às questões colocadas pela gestão de projeto.
Palavras-chave: Gestão de Projetos, Processos, Sistemas Colaborativos, Interação,
Emergência.
Rio de Janeiro
Abril 2010
vi
RESUMEN
SISTEMAS COLABORATIVOS EN LA GESTIÓN DE PROYECTOS
Kathia Corrêa
Orientadora: Co orientador:
Profesora Dra. Mônica Santos Salgado Profesor Dr. Nilton Bahlis dos Santos
Resumen de la tesis de Maestría sometida al Programa de Posgrado en Arquitectura
Proarq de la Facultad de Arquitectura y Urbanismo de la Universidad Federal de Rio de
Janeiro como parte de los requisitos necesarios para obtención del grado de Mestre en
Arquitectura.
Esta tesis tiene como objetivo el análisis de la gestión de proyectos y los principales
problemas que ocurren por su complexidad y verificar de cual manera los principios y
propuestas de la cultura Wiki y de la Web 2.0 en que están fundamentadas en la interacción,
en la emergencia, en la autoorganización, en la transparencia, en la descentralización,
pueden llenar los espacios dejados por los sistemas denominados de colaborativos. Las
prácticas y herramientas actualmente utilizados como sistemas colaborativos en su mayoría
solamente automatizan las rutinas del proceso. La Web 2.0 en su sentido estricto pude ser el
camino para la creación para un ambiente en que sea estimulada la relación y la
colaboración. Estas proposiciones se aplican a la gestión de proyectos de una manera
general pero, en ese trabajo, es hecho un recorte para los proyectos de AEC (Arquitectura,
Ingeniería y Construcción). En el principio del texto se hizo un análisis del proyecto, del
proceso del proyecto y de su gestión y a continuación se procedió al levantamiento de
pesquisa que envuelve tecnologías utilizadas de las oficinas de AEC. El texto siguió con la
presentación y evaluación de las posibilidades de las nuevas tecnologías de información y
comunicación (TICs) en a gestión de proyectos cultura Wiki / Web 2.0 con testimonios
sobre la cultura colaborativa en las oficinas, y entonces se hizo el análisis comparativo en la
pesquisa de campo hecha en las oficinas de arquitectura, sus formas de gestión y del modo
que se apropian de las tecnologías. Los resultados demuestran que la Web se es
introduciendo de manera lenta pero gradual en las oficinas de arquitectura, semejante a lo
que viene ocurriendo en los sectores de AEC. Sin embargo, las experiencias positivas indican
la Web como un camino para la creación de ambiente colaborativo capaz de responder a las
cuestiones puestas por la gestión de proyecto.
Palabras llaves: Gestión de Proyectos; Procesos, Sistemas Colaborativos, Interacción,
Emergencia.
Rio de Janeiro
Abril de 2010
vii
ABSTRACT
COLLABORATIVE SYSTEMS IN DESIGN MANAGEMENT
Kathia Corrêa
Advisor: Co-advisor:
Prof. Mônica Santos Salgado (Ph.D.) Prof. Nilton Bahlis dos Santos (Ph.D.)
Abstract of the thesis presented to the qualification board of the Graduate Program in
Architecture PROARQ of the Federal University of Rio de Janeiro’s School of
Architecture and Urbanism, as part of the requirements for obtaining a Master’s Degree in
Architecture.
This thesis is intended to analyze design management and the main problems resulting
from its inherent complexity and to check how the principles and proposals of the Wiki and
Web 2.0 culture grounded on interaction, emergency, self-organization, transparency,
and decentralization may bridge the gaps left by so-called collaborative systems. The
practices and tools currently used as collaborative systems merely automate process
routines. In its strict sense, the Web 2.0 may be pave the road to creating an environment
that will encourage relationship and collaboration. These propositions apply to project
management in general, but, in this study, they are outlined for AEC (Architecture,
Engineering, and Construction) projects. The initial part of this text provides an overview
of the project, of the project’s process and management; then, an assessment was made
of existing research on technologies used in AEC practices; the text then proceeded with
a presentation and evaluation of potential new information and communication
technologies (ICTs) for design management – Wiki and Web 2.0 culture – with statements
on the collaborative culture in businesses; and then a comparative analysis was made of
the field research with some architecture practices, how they are managed and the way
they encompass these technologies. The results show that the Web is slowly and
gradually coming into architecture practices, similarly to what happens in the AEC sector.
However, positive experiences point the Web as a way to creating a collaborative
environment that might respond to the questions raised by design management.
Key words: Design Management, Processes, Collaborative Systems, Interaction,
Emergence.
Rio de Janeiro
April 2010
viii
SUMÁRIO
LISTA DE TABELAS ............................................................................................. x
LISTA DE GRÁFICOS ........................................................................................... x
LISTA DE QUADROS ............................................................................................ x
LISTA DE FIGURAS ............................................................................................. xi
LISTA DE SIGLAS ............................................................................................... xii
INTRODUÇÃO .................................................................................................... 01
1. O PROJETO ..................................................................................................... 08
1.1. O PROJETO E OS SEUS SIGNIFICADOS ........................................................... 08
1.2. O PROCESSO DO PROJETO .............................................................................. 13
1.3. A GESTÃO DO PROCESSO DE PROJETOS ...................................................... 24
2. TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO NOS ESCRITÓRIOS ................................ 31
2.1. UTILIZAÇÃO DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO ....................................... 31
2.2. CLASSIFICAÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS DOS PACOTES / SOLUÇÕES
CORPORATIVAS ................................................................................................. 35
2.3. A CULTURA COLABORATIVA DOS ESCRITÓRIOS ........................................... 39
2.4. WEB 2.0, SISTEMAS COLABORATIVOS, INTERATIVOS E EMERGENTES ...... 44
3. PESQUISA DE CAMPO EM ESCRITÓRIOS DE PROJETOS ........................ 57
3.1. APRESENTAÇÃO DA PESQUISA ....................................................................... 57
3.2. ANÁLISE COMPARATIVA DA PESQUISA DE CAMPO ....................................... 60
3.2.1. Estrutura das equipes para o processo dos projetos ...................................... 60
3.2.2. Troca de informações entre os componentes da equipe do escritório de
arquitetura ...................................................................................................... 63
3.2.3. Relacionamento com parceiros externos de projetos, consultores e
terceirizados ................................................................................................... 64
3.2.4. Maiores problemas encontrados na elaboração de um projeto ...................... 65
3.2.5. Como se dá a troca de informação entre as equipes ..................................... 66
3.2.6. Utilização de softwares de gestão .................................................................. 67
3.2.7. Utilização de softwares de representação gráfica .......................................... 68
3.2.8. Familiaridade com a web ............................................................................... 69
3.3. COMPARATIVO COM UMA EMPRESA DA ÁFRICA DO SUL ............................. 70
3.4. CONSOLIDAÇÃO DA PESQUISA DE CAMPO .................................................... 76
CONCLUSÃO ...................................................................................................... 80
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 86
ix
ANEXO A – Histórico da Representação Gráfica ............................................ 94
ANEXO B – Dados adicionais da pesquisa de Beber, Scheer, Wille ............. 95
ANEXO C - Alguns aplicativos
atualmente utilizados na
gestão de projetos ... 97
ANEXO D – Google Wave ................................................................................. 100
ANEXO E – Quadros Explicativos de Ferramentas Colaborativas ............... 101
ANEXO F – Experiências na academia com o uso de Ferramentas WEB ... 104
ANEXO G – Roteiro das entrevistas com os escritórios de projeto ............. 105
ANEXO H – Caracterização das Empresas Brasileiras Entrevistadas ......... 107
ANEXO I – Entrevista com a Empresa da África do Sul ............................... 109
ANEXO J – Atestado do Entrevistado da Empresa da África do Sul ........... 117
x
LISTA DE TABELAS:
1 – Mudanças na filosofia de gerência/liderança ............................................. 26
2 – Planilha (parcial) do Google Docs da empresa D para dirimir dúvidas de
detalhamento de projeto – tradução para o português ................................... 74
3 – Planilha (parcial) do Google Docs da empresa D para dirimir dúvidas de
detalhamento de projeto – original em inglês .................................................. 75
4 – Tabela de distribuição de tarefas do projeto de arquitetura executado
com o software Archicad – original em inglês ......................................... 116
LISTA DE GRÁFICOS:
1 – Curvas de aceitação de tecnologias (“hype cycle”) .................................. 34
2 – Linha do Tempo da Representação Gráfica ............................................... 94
3 – Uso de ferramentas nos escritórios de arquitetura ................................... 95
4 – Uso de softwares no escritório de arquitetura........................................... 96
5 – Uso de TI nas atividades dos escritórios de arquitetura x fluxo de
informação e comunicação ......................................................................... 96
LISTA DE QUADROS:
1 – Propostas para subdivisão do processo de projeto ................................. 16
2 – Relação entre assuntos/tópicos da pesquisa com as perguntas do
questionário .................................................................................................. 57
3 – Perfil resumido dos escritórios de arquitetura que participaram da
pesquisa de campo ...................................................................................... 59
4 – Perfil resumido do escritório de arquitetura que atua na África do Sul .. 59
5 – Comparativo da Estrutura das Equipes para o Processo de Projeto ...... 63
6 – Ferramentas de Produtividade .................................................................. 101
7 – Ferramentas de Relacionamento e Comunicação ................................... 102
8 – Ferramentas de Incremento de Serviços .................................................. 103
xi
LISTA DE FIGURAS:
1 – Legenda dos esquemas da estrutura das equipes .................................... 51
2 – Página de uma ferramenta Wiki ................................................................... 51
3 – Esquemas da estrutura das equipes da empresa A .................................. 60
4 – Esquemas da estrutura das equipes da empresa B .................................. 61
5 – Esquema da estrutura das equipes da empresa C .................................... 61
6 – Esquemas da estrutura das equipes da empresa D .................................. 62
7 – Esquema de funcionamento do SADP ........................................................ 97
8 – Página de utilização do Google Wave ...................................................... 100
xii
LISTA DE SIGLAS:
3D – Três dimensões
4D/ND – Integração de desenhos do projeto com o cronograma da obra
AEC – Arquitetura Engenharia e Construção
AJV – Architecture Joint Venture
Alto QI – Sistema CAD
ANSI – American National Standard Institute
BIM – Building information Modeling
CAD – Computer Aided Design
CAU – Conselho de Arquitetura e Urbanismo
CENPES – Centro de Pesquisas da Petrobrás
CTE – Centro de Tecnologia de Edificações
CVS – Sistema de controle de versão de arquivos
DWG – Extensão de arquivos de desenhos de software CAD
FAU-USP – Faculdade de Arquitetura da Universidade de São Paulo
FTP – Filetransfer protocol – protocolo de transferência de arquivos pela Web
GE – Google Earth
GED – Gerenciamento eletrônico de documentos
IAB – Instituto de Arquitetos do Brasil
LACC – Laboratório de Ambientes Colaborativos Computacionais
MSN – Windows Live Messenger
OL – Osmond Lange
OLA – Osmond Lange Architects & Planners (Empresa de Arquitetura / Durban /Africa do Sul
PC – Personal Computer
PDF – Portable Document Format
PMBOK – Project Management Body of Knowledge
PMI – Project Mangement Institute
RSS – Feeds, permite que o usuário seja informado a cada atualizão de conteúdo
SADP – Sistema de armazenamento de dados baseado em protocolos de transferência de
arquivos pela Internet
SISAC – Sistema de Ambientes Colaborativos
SMS – Sistema para envio de mensagens
TI – Tecnologia de Informação
TICS – Tecnologia de informação e comunicação
TQS – Sistema CAD/TQS
UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais
UFRGN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte
UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul
UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro
UNICAMP – Universidade Estadual Campinas
USP – Universidade de São Paulo
WEB – World Wide Web
X-REF – Recurso do autocad que permite referenciar um ou mais arquivos a um
terceiro arquivo
1
INTRODUÇÃO
O pressuposto da Gestão é ter eficiência, utilizar a menor quantidade de recursos no
cumprimento das suas metas de projeto e conseguir o máximo de coordenação entre os
diferentes agentes que nela atuam. Para cumprir este objetivo é necessário que se tenha
a visão mais completa possível de todos os atores, recursos e processos envolvidos, e a
partir daí procurar estabelecer um plano, o mais detalhado possível, procurando prever
todas as possibilidades que se colocarão no curso do trabalho.
O passo seguinte será estabelecer uma cadeia de ações e responsabilidades,
envolvendo os diferentes atores no tempo e no espaço, onde se procurará dar a maior
liberdade possível aos componentes do grupo, mas dentro de limites claramente
definidos, especificados e controlados pelo gestor. A centralização e a hierarquização de
funções e tarefas, assim como a disciplina, dentro desta lógica, são instrumentos
fundamentais para o sucesso desse empreendimento.
Fabrício (2002) acrescenta que as principais tarefas a serem cumpridas pela
coordenação de projetos estão relacionadas à organização e ao planejamento do
processo de projeto planejamento do processo de projeto e à gestão e coordenação
das soluções de projeto desenvolvidas – gestão do processo de projeto.
No entanto, se este procedimento mostra eficiência e cumpre notavelmente os objetivos
em situações e sistemas de pouca complexidade, onde praticamente todas as variáveis
relevantes podem ser previstas, quando a complexidade aumenta, a eficiência começa a
se reduzir. Neste caso, torna-se impossível ter em conta todas as variáveis do processo;
as próprias modificações do cenário influenciam o comportamento dos agentes; e os
recursos são canalizados para suprir necessidades que antes não poderiam ser
previstas, por terem sido geradas pela própria colocação em marcha das ações
concebidas anteriormente. Neste tipo de ambiente o coordenador passa a ter dificuldade
de manter o controle sobre tudo o que ocorre e de manter a disciplina, a hierarquia e a
coordenação do processo (SANTOS, 2009).
A informática e a computação nas últimas décadas do século XX criaram novas
possibilidades para a coordenação de projetos em ambientes mais complexos. No início,
porém, elas procuraram estender os olhos e os braços do planejador e do coordenador,
2
ampliando a informação e a comunicação entre todos os membros da equipe, criando
elementos de controle para sua ação e feedback
1
.
A filosofia dessa geração de ferramentas tinha o objetivo de ampliar o máximo possível a
capacidade e a eficiência do coordenador. Seus programas e dispositivos cumprem a
função de eficientes gerentes e secretárias que, estabelecido o plano, definidas as
responsabilidades e funções, viabilizam a execução e controle de metas, através de um
conjunto de autorizações, permissões e mecanismos de feedback (relatórios). Porém
estes procedimentos, que rotinizam e mecanizam as ações de gestão, embora sejam um
avanço como organização de dados e como instrumentos de análise, não são suficientes
para a gestão de grandes sistemas, em que a complexidade cresce de maneira
exponencial e onde tudo muda constantemente. Para estes grandes sistemas, é
necessário que o conhecimento seja construído coletivamente, o que pode ser
conseguido com a ampliação da informação e o aumento constante da comunicação
entre os entre os colaboradores do projeto.
Hoje, vivencia-se uma nova fase em que são criados sistemas colaborativos, interativos,
descentralizados e emergentes. No caso da Internet, estes sistemas costumam ser
classificados como “Web 2.0”. Estes sistemas modificam os papéis do emissor e do
receptor, abrindo uma nova etapa para a gestão de projetos. Na primeira Web, os
mecanismos de transmissão, privilegiavam a figura do emissor, deixando aos receptores
o papel de espectadores, a exemplo dos sites sem interatividade e programas fechados
que não permitiam a possibilidade de alteração do conteúdo pelo seu usuário.
Na Web 2.0, a transmissão se de muitos para muitos, mesclando os papéis dos
emissores e dos receptores, e proporcionando o desenvolvimento acelerado de soluções,
através da colaboração entre os usuários. Este fato consolida a idéia de que a
informação não é mais considerada um produto que passa de um emissor para um
receptor. A informação é fluida e mutável.
Na Web 2.0, redes sociais, comunidades virtuais, Wikis, comunicadores on-line, sistemas
de compartilhamento de recursos, produção coletiva e sistemas de validação social,
anunciam uma nova era para a gestão de projetos.
1
Sobre esse assunto, Jacoski et al (2005) acrescentam que as ferramentas colaborativas a partir
dos sistemas vêm se incorporando ao processo produtivo do projeto, principalmente em empresas
de dio e grande porte, com o uso dessa tecnologia pelos parceiros de projeto. Desta forma, os
escritórios parceiros, a partir de uma necessidade, sentem a obrigatoriedade de adaptar seus
procedimentos a essa tecnologia.
3
Estas considerações se aplicam à gestão de projetos de maneira geral, como a gestão de
ensino, de indústrias, financeira etc. Neste trabalho, é feito um recorte para a Gestão de
Projetos de AEC (Arquitetura, Engenharia e Construção) e mais precisamente para os
escritórios de arquitetura, como forma de melhor entender as suas particularidades,
questões e evoluções, que podem ter paralelo e aplicabilidade em outras gestões de
projetos.
Alguns desses sistemas colaborativos mencionados começam a chegar aos escritórios
de arquitetura e de planejamento, pois além de
utilizarem a TI
2
para elaborar documentos eletrônicos, através de programas de edição de
texto, planilhas eletrônicas e programas CAD, as empresas de projeto podem usar a TI
como ferramenta de auxílio à coordenação de projetos, por exemplo, através do uso de sites
colaborativos, que representam um grande avanço na comunicação entre os vários
envolvidos no processo de projeto de edificação, possibilitando uma maior rapidez no fluxo
de informações. (SALGADO, 2007)
Problema
Uma das questões mais importantes encontrada na gestão de projetos de AEC
(Arquitetura, Engenharia e Construção) é a dificuldade de comunicação entre os diversos
atores que elaboram o produto, porque cada componente do grupo desempenha
múltiplas tarefas e estas precisam ser sincronizadas em diferentes momentos. A
integridade do projeto fica comprometida quando se trata de ambientes complexos que
envolvem um número muito grande de variáveis, e em constante evolução. Os problemas
gerados pelos sistemas complexos não podem ser solucionados da maneira clássica,
ponto por ponto (cada problema isoladamente). Com o auxílio de uma estrutura matricial,
Chiavenato (2005), pode-se ter uma visão um pouco melhor das interfaces, embora esta
estrutura também apresente limitações, dentre elas, a de não ser suficientemente
transparente para que se possa enxergar todos os problemas e se pensar em todas as
soluções. Em um sistema complexo é preciso entender os problemas por todos os
ângulos, com a ajuda de múltiplos saberes. É necessário um processo de sincronização
para que o processo se torne auto-organizado, transparente e distribuído.
Ou seja, o problema que se depara é que os projetos complexos envolvem muitas
variáveis que interagem, pois são dinâmicas. Isto acarreta a multiplicação de novas
questões, problemas que antes não foram vivenciados e que passam a ocorrer em
2
A Tecnologia da Informação (TI) é uma parte do sistema de informação. Dá-se esta
denominação às tecnologias usadas para introduzir, armazenar, processar e distribuir informações
(SALGADO, 2007).
4
profusão, sem que se possa dar conta de resolvê-los no momento oportuno. É necessário
que se organize um sistema que seja colaborativo, que abarque todas as informações do
projeto para que elas possam ser visualizadas por todos. Um sistema em que todos os
implicados participem e interajam com transparência, que estimule a auto-organização,
para que na força do coletivo aflorem as melhores soluções de forma rápida, eficiente e
eficaz.
Objetivo
O objetivo desta dissertação é confrontar as práticas e ferramentas hoje utilizadas nos
escritórios de AEC com os princípios e propostas da cultura Wiki e da Web 2.0,
estudando os problemas gerados pelo aumento da complexidade da gestão de projetos
de arquitetura.
Objetivos específicos
Mais especificamente, o estudo das potencialidades de sistemas colaborativos que m
sendo criados pela Web 2.0 que podem ser aplicados na gestão de projetos. E ainda a
verificação das formas de implantação das ferramentas e suas culturas interativas nos
escritórios de arquitetura, o que permite apontar as estratégias para a sua implantação
em outros escritórios, de forma geral.
Justificativa
O que justifica este trabalho é a necessidade de responder às questões relacionadas à
gestão de projetos que advêm do aumento da complexidade dos empreendimentos que
trazem problemas e dinâmicas novas que não são respondidas pelas práticas usadas até
o presente. Os projetos atuais, tanto pelas suas dimensões quanto pelas ações
envolvidas, assim como a reatualização periódica e cada vez mais frequente do uso da
construção, torna obrigatória a utilização de um mero cada vez maior de
conhecimentos especializados, e, consequentemente, a participação de especialistas em
todas as fases do projeto, desde a concepção preliminar até a sua execução. Também se
torna necessário encurtar o prazo de concepção, de execução, e de redefinição do uso
das edificações. Não é possível a antecipação de todos estes elementos por uma
coordenação autossuficiente, e torna-se difícil acompanhar a constante evolução das
tecnologias.
Pode-se vislumbrar que as novas tecnologias com seus processos emergentes,
descentralizados, interativos e auto-organizados oferecem uma possibilidade de enfrentar
este problema. Essas tecnologias estão em processo de criação, consolidação e
5
amadurecimento. Por isso foi tomada como referência uma dessas tecnologias que
inaugura a Web 2.0 e que possui um certo amadurecimento e difusão: o Wiki
3
. De
alguma forma, a lógica do Wiki responde aos problemas apontados, em particular no que
diz respeito ao registro, documentação e comunicação, viabilizando a coordenação dos
diferentes agentes de um projeto.
Conforme afirma Salgado (2007), é preciso reconhecer que o projeto é um processo
interativo e coletivo que compreende momentos de análise crítica e de validação das
soluções, sem com isto inviabilizar o trabalho dos especialistas envolvidos. “A excelência
do projeto de um empreendimento passa pela excelência do processo de cooperação
entre seus agentes, que na qualidade de parceiros submetem seus interesses individuais
a uma confrontação organizada.” Bobroff (1999), apud Melhado (2003).
Assim, o levantamento das tecnologias criadas para gestão e colaboração em processos
complexos, pode ser um aporte significativo para as discussões que ora se travam nas
áreas de planejamento e gestão frente às novas realidades de nossa sociedade, não
apenas do ponto de vista operacional como também conceitual.
Metodologia
A metodologia utilizada nesse trabalho partiu da revisão histórica sobre projetos e sua
gestão, por meio de revisão bibliográfica realizada em bibliotecas e na Internet, assim
como de pesquisas realizadas por outros autores em escritórios de AEC, sendo
apresentadas aquelas com dados referentes aos temas abordados no trabalho: uso de
tecnologias em geral e, especificamente, de gestão de projetos em escritórios de
arquitetura; Sistemas Complexos; Web e Web 2.0. Além disso, foram utilizados outros
recursos para a obtenção das informações necessárias à compreensão da incorporação
das tecnologias em escritórios de arquitetura, como contatos e entrevistas informais
usando e-mail, e aplicativos de Webconferência como Skype e Gtalk. A participação na
pesquisa do Núcleo de Experimentação de Tecnologias Interativas do Icict/Fiocruz
colaborou, particularmente, com a experimentação de novas tecnologias de comunicação
e informação disponíveis na Internet, tais como: Moodle (Plataforma de Educação a
Distância), Skype, Gtalk, Google Apps, Comunidades Virtuais e Redes Sociais, inclusive
com a participação na construção de um Wiki; e com uma reflexão teórica sobre a lógica
da Web 2.0.
3
O Wiki apresenta características mais definidas de um sistema colaborativo e emergente, ainda que pouco
utilizado na área de gestão, e na maior parte dos casos sua aplicação ainda é embrionária.
6
O presente trabalho estrutura-se em cinco capítulos, constituindo-se o primeiro, esta
Introdução.
No capítulo 2, “O Projeto” apresenta-se a evolução das funções do arquiteto que passa
da acumulação das funções idealizar/construir, para uma situação em que se separa
“ação e pensamento”, e o desdobramento em especializações, como se configura na
situação atual. Desenvolve-se uma abordagem teórica geral sobre o projeto e seus
significados baseados nas reflexões de diversos autores que m a expectativa de que o
projeto seja interativo, colaborativo, transparente e auto-organizado. Ainda nesse
capítulo, as definições do processo de projeto corroboram para reforçar a interligação, a
continuidade e o caráter finalístico do processo. Neste sentido, o processo é apresentado
sob três óticas. A primeira, sobre as formas de estruturação do processo em etapas,
permitindo-nos avaliá-los criticamente a partir de nossa experiência profissional. Na
segunda, a sistematização dos atributos desejáveis para a qualidade do projeto é
comentada com o intuito de explorar o estado do projeto frente aos requisitos advindos
da complexidade atual. E em terceiro, a evolução da representação gráfica de projeto
motivada pelas tecnologias, da prancheta ao computador, com o uso do CAD, e depois
do BIM, a partir das experiências práticas de uso do software. Continuando, apresentam-
se as definições das funções do projeto e de seus respectivos atores que situam as
especializações dentro da gestão de projetos. Estuda-se também a transição da fase
onde se buscava a compatibilização de projetos para a de projeto simultâneo, que aponta
os requisitos para a implantação deste último.
No capítulo 3, faz-se uma análise das tecnologias da informação, em que se verifica, a
partir de pesquisas empreendidas por outros autores, o grau de penetração das
tecnologias de informação nos escritórios de AEC. Em seguida, é proposta uma nova
classificação para as tecnologias de informação separando rotinas automatizáveis dos
instrumentos de comunicação, que são os que podem efetivamente ser considerados
instrumentos de colaboração. Nesta sequência, estuda-se os depoimentos sobre a
cultura colaborativa dos escritórios. E então apresenta-se as possibilidades das novas
tecnologias na gestão de projetos com as transformações geradas pela cultura Wiki
iniciadora da Web 2.0 e seus sistemas colaborativos, interativos e emergentes.
No capítulo 4, apresenta-se a proposta de validação do trabalho que é a pesquisa de
campo em dois escritórios de arquitetura na cidade do Rio de Janeiro, e dois escritórios
de arquitetura na cidade de São Paulo, que desenvolvem projetos complexos na área de
saúde, de forma a se ter um panorama das maiores metrópoles do país. Em adição, faz-
7
se um paralelo com um escritório de arquitetura na África do Sul que trabalha com
projetos complexos também na área de saúde e grandes projetos como estádios e
aeroportos. A pesquisa foi realizada através de entrevistas com profissionais de
arquitetura, com o objetivo de investigar a incorporação de novas tecnologias e sua
cultura interativa nos escritórios de AEC e as contribuições da lógica da Web 2.0 para a
colaboração e gestão em projetos complexos.
Finalmente, é apresentado o resultado da pesquisa de campo e a conclusão da
dissertação, no capítulo 5, em função das pesquisas empreendidas, que apontam para a
recuperação da unidade entre “ação e pensamento”, nas práticas de gestão de processo
de projetos. Conclui-se que a Web 2.0, com suas dinâmicas interativas, começa a entrar
nos escritórios influenciando diretamente os aplicativos apresentados para AEC e pode
contribuir para responder às questões relativas à gestão de projetos.
8
1. O PROJETO
1. 1. O PROJETO E OS SEUS SIGNIFICADOS
Sousa (2007) relata que no período da Pré-história, as construções utilizavam técnicas
construtivas simples e como não havia “a figura do projeto como instrumento de registro
gráfico” do espaço planejado, “era necessária a presença de quem planejou a
intervenção no canteiro de obras”.
[...] ao lidar com as origens da arquitetura, ou da compreensão do que é arquitetura,
devemo-nos preocupar com a tradição popular as edificações chamadas “primitivas” ou
“vernáculas que sempre constituíram o grosso do ambiente construído e que são
essenciais para quaisquer generalizações válidas e certamente críticas para uma discussão
das origens. (RAPOPORT, 1979: 31)
Segundo Santos (2009), neste período a ação e pensamento ainda não tinham se
separado, ocorriam ao mesmo tempo e no mesmo lugar. Pode-se inferir que a maneira
de viabilizar uma construção era a simples execução do que se tinha em mente, em um
processo de tentativa e erro, desmanchando-se o que se fazia, ou retrocedendo quando
se verificavam problemas.
Para o pensamento clássico, segundo Oliveira (2002), a mimesis
4
era o fundamento da
invenção nas construções, isto porque a originalidade era atribuída à natureza. As
imitações eram, portanto, a forma de exercer a atividade criativa.
Ao longo da história, as técnicas se o como sistemas, diferentemente caracterizadas. É
por intermédio das técnicas que o homem, no trabalho, realiza essa união entre espaço e
tempo. [...] a técnica pode ser fundamento de uma teoria do espaço. As técnicas são
datadas e incluem tempo, qualitativamente e quantitativamente. (SANTOS, 2008: 54)
Uma das formas utilizadas para orientar, ainda hoje, as construções são os modelos e
maquetes. Alberti, segundo Oliveira (2002), no Renascimento, valorizava o desenho e a
maquete para “a definição de uma idéia e para escapar dos imprevistos da obra”. Quanto
mais o modelo consegue reproduzir as idéias, e servir de estudo, em pequena escala,
para verificar a viabilidade construtiva, mais o sucesso da construção é alcançado.
Menegotto, Araújo (2000) consideram, citando Argan (1999), que fica clara através de
Brunelleschi, nos desenhos de projeto para a construção da cúpula da Igreja Santa Maria
4
imitação.
9
del Fiore, na primeira metade do século XV, no período do renascimento, a separação
entre o ato de projetar, e o ato de executar, antes considerados uma única ação,
creditada aos artesãos, que transmitiam na prática o seu ofício.
Nesta mesma direção, o aperfeiçoamento das técnicas de representação gráfica
5
,
técnicas construtivas, e recentemente, informatização, internet, contribuíram, em cada
fase da história da humanidade, para aumentar a complexidade das construções e do
projeto, e colaborar para a separação de ambos
Pode-se também dizer que, além das evoluções de técnicas construtivas, das
descobertas de novos materiais utilizáveis para a construção e do aperfeiçoamento da
representação gráfica, a evolução dos costumes foi um importante acelerador das
transformações das edificações.
[...]
os arquitetos tomam consciência do fato de que a concepção funcional do edifício não
consiste numa dedução lógica simples, efetuada a partir do destino que lhe vai ser dado,
mas sim numa reflexão complexa na qual se conta, de modo indutivo, com as necessidades
complexas e múltiplas do usuário”. (PULS, 2006: 535)
Constata-se, sem dúvida, que o aumento da velocidade de mudanças de costumes hoje
é maior do que no passado, e esse “giro” dos costumes ocasiona a necessidade de
flexibilizar cada vez mais o uso dos espaços e padronizar a construção para facilitar a
sua reutilização e baratear o seu custo.
Isto pode ser explicado pela constatação de que, ao longo dos séculos, as edificações
têm retratado a evolução da sociedade e da sua cultura. E também da sua velocidade de
transformação. No passado, havia maior permanência, as mudanças nos costumes
demoravam décadas para se estabelecer, e o futuro aparecia como mera continuidade do
passado. Santos (2007: 58) nos seus pensamentos observa que “no grupo social
primitivo, na aurora dos tempos” as “mudanças nessa sociedade eram lentas e sobretudo
endógenas”.
Por este motivo as pessoas não se organizavam para intervir no futuro para transformá-
lo, pois este, até onde poderia ser imaginado, não traria grandes mudanças para os
planos e intenções. Nessa época, as construções não necessitavam sofrer grandes
alterações e eram planejadas para durar “para sempre”. E este conceito de “para sempre”
alcançava no mínimo algumas gerações. Não havia a necessidade de se organizar uma
5
Um gráfico com o histórico da representação gráfica, no decorrer dos séculos é apresentado no Anexo A.
10
edificação da forma estruturada como conhecemos hoje, em que o tempo e o espaço são
fatiados em pequenas porções, em um cronograma, para que haja maior clarificação das
intenções da construção e para que se tente prever os resultados esperados e os riscos
inesperados.
Na evolução construtiva, o termo “projeto” surge de maneira regular, no decorrer do
século XV (Boutinet, 2002). Nesse início, ele apresenta conotações de ordem espacial e
um vínculo com a etimologia latina do verbo projicio (lançar para frente, expulsar).
Segundo o autor, o termo apenas se impõe no seu sentido abrangente atual, em que
passa a definir o planejamento não associado à arquitetura, mas ao ensino, à
administração, e a qualquer disciplina, em meados do século XX, após a palavra ter
adquirido um uso flutuante até o século XIX. Projeto é então definido como a antevisão
do que se pretende concretizar, do idealizado. Uma série de condutas orientadas por
finalidades, na verdade, expõem o conflito da negociação entre duas intenções, uma do
objeto futuro (que ainda não existe, a projeção do “devir”) e outra do objeto presente.
As culturas de projeto são referenciadas no plural por Boutinet, pois a palavra projeto tem
significados diferentes conforme a sua utilização nos diferentes grupos sociais e nos
diversos momentos. Essas culturas, que falam cada vez mais sobre o projeto, vão
ampliando também o seu significado. Boutinet (2002) conjectura que hoje, além do
projeto arquitetônico, é comum encontrar outros sentidos como: projeto pedagógico;
projeto técnico-industrial; projeto econômico; projeto social. Ele examina três campos: o
chamado ordenamento espacial, em que se encontra a arquitetura; o da pedagogia; e o
chamado por ele de organização tecnológica, que inclui o project management, a gestão
de projetos empresariais.
Atualmente, também é comum utilizar-se a definição de projeto do guia de práticas
PMBOK (Project Management Body of Knowledge), desenvolvida pelo PMI (Project
Mangement Institute) e adotada pela ANSI (American National Standard Institute), que
conceitua projeto como “um esforço temporário empreendido para criar um produto,
serviço ou resultado exclusivo”.
Esta definição, utilizada inicialmente para designar projetos gerenciais, vem sendo
aproveitada para ampliar o sentido de projeto no gerenciamento das edificações.
Melhado et al. (2005), por exemplo, descrevem as características de um projeto como:
Intangível (não é possível avaliar a qualidade do serviço antes do fechamento do
contrato; Perecível (não é possível estocar); Heterogêneo (um serviço pode indicar várias
11
soluções); Simultâneo (a produção e o consumo ocorrem concomitantemente); Relação
cliente-fornecedor (relação direta entre o cliente e quem executa o serviço).
Cada projeto, como forma de procurar antever as questões que serão colocadas, se
defronta com um problema “que se pretende único, e que deve ser resolvido de forma
inédita” (BOUTINET, 2002). Conforme o autor, para resolver este problema, a gestão de
projetos constituirá um grupo de profissionais para planejar e implantar uma inovação e
depois este grupo será dispersado.
O ato de projetar, para Schön (2000), envolve o mundo virtual, do qual o profissional se
utiliza para testar uma realidade. O mundo virtual serve para testar hipóteses que são
situações limite, inerentes ao mundo de sua prática. A habilidade de construir e de
manipular mundos virtuais é um componente crucial para atuar e experimentar com a
supressão de barreiras que não seriam possíveis na situação atual:
No mundo virtual, eliminam-se as mudanças no ambiente que interromperiam ou
confundiriam o experimento. No desenho, não paradas no trabalho, quebras de
equipamento ou condições de solo que se impeça que se faça uma fundação [...] Os
mundos virtuais são contextos para a experimentação nos quais os profissionais podem
suspender ou controlar alguns impedimentos cotidianos à reflexão-na-ação. Eles são
mundos representativos da prática, no duplo sentido desta. (SCHÖN, 2000)
No processo de um projeto, executamos sequências de atividades, reconhecimentos,
decisões e ajustes, que muitas vezes são corriqueiros. Mas podem existir situações e
resultados inesperados, erros que não se consegue resolver, e mesmo resultados
previstos podem, em dado momento, despertar a necessidade de alterá-los para adequá-
los a uma nova circunstância.
Segundo Schön (2000), todas essas experiências, agradáveis e desagradáveis, contêm
um elemento surpresa. Algo que não está de acordo com as nossas expectativas. A
surpresa, segundo ele, leva à reflexão dentro do presente-da-ação: a reflexão-na-ação.
Uma reflexão crítica sobre o pensamento que nos levou a essa situação difícil ou a essa
oportunidade e podemos, nesse processo, reestruturar as estratégias da ação, as
compreensões dos fenômenos ou as formas de conceber e dar solução aos problemas.
Essas reflexões sobre o significado do projeto, enquanto antevisão do idealizado,
conforme conceitua Boutinet (2002), e mundos representativos na prática, de acordo com
Schön (2000), são as visões decorrentes de nossa sociedade atual, que adotou o projeto
como solução para empreendimentos em que se procura antever todas as situações e
12
possibilidades. Ocorre que, com o aumento progressivo da complexidade, aumenta o
número de variáveis e suas interações, ocasionando a dificuldade de se decompor o
processo, como antes era possível, e de se prever todas as possibilidades.
Na situação atual, em que surgem cada vez mais empreendimentos, com alto grau de
complexidade, alguns autores apontam a instabilidade e a incerteza do projeto, e
apontam a necessidade da participação mais colaborativa e menos hierárquica entre os
atores.
Segundo Boutinet (2002), o projeto só pode ser concebido (hoje) em um ambiente aberto,
capaz de ser explorado e modificado:
Lançar-se em um projeto é, portanto, julgar que, contra todos os determinismos, realizações
são possíveis e, de qualquer forma, realizações sensivelmente diferentes de tudo o que
pôde ser feito até então. (BOUTINET, 2002).
Ou seja, em função da complexidade de um mundo repleto de interconexões entre seus
sistemas, Boutinet (2002) percebe que as ações hierárquicas empreendidas pelos
agentes são menos eficazes do que as que se constroem com a interação entre as
camadas mais simples de atores, com decisões sendo tomadas por um número maior de
pessoas. Outra consideração importante, feita pelo autor nesta mesma linha, é que:
A gestão da complexidade carrega com ela o participativo – bem como o projeto da
empresa. Portanto esse procedimento exprime, a seu modo, o desejo de uma nova
sociabilidade. (BOUTINET, 2002)
A partir desta visão da complexidade do projeto, a possibilidade de existência de projetos
individuais fica comprometida, pois projetar, segundo Boutinet, é antecipar uma ação na
qual compromisso com outros, e, qualquer projeto, até o mais pessoal, é fundado
na lógica da interação. E, desta interação Lévy observa que:
Essa negociação entre atores para fortalecer o seu nível de mobilização pessoal dentro do
projeto tem por função fazer explicitar a regra propiciadora da organização coletiva,
inspirada na ação e fundadora do contrato. (LÉVY, 1977 apud BOUTINET)
Lévy (1977) relaciona a negociação entre os atores do projeto com a organização
coletiva, e Boutinet (2002) acrescenta que o projeto de arquitetura como um trabalho de
invenção é estimulado por uma negociação permanente. Então esta desejável interação,
é estimulada pela negociação entre os participantes.
13
A elaboração do projeto de arquitetura, ainda segundo Boutinet (2002), da mesma forma
que a sua realização, responde a uma contínua dialética do impreciso e do preciso para
gerir a sequência de ensaios e erros que caracterizam qualquer processo. E de uma
forma geral, o projeto, no entendimento do autor, deve ser visto como eternamente
transitório com a possibilidade de haver constante reorientação do seu curso.
E, se cada projeto é resolvido de forma inédita, e um projeto complexo é composto de
inúmeras variáveis que provocam uma grande quantidade de novas questões... Até que
ponto pode-se antever as suas etapas e pensar e controlar os seus processos, sem o
risco de perder as suas melhores soluções?
Esta inquietude, somada às conjecturas teóricas destes diversos autores mostram que a
evolução do projeto e as situações de imprevisibilidade com que hoje o projeto se depara,
assim como o seu confronto com a constante e crescente complexidade da sociedade
atual, apontam para a necessidade de se repensar a gestão dos projetos.
O que implica na redefinição da organização do projeto para que as informações circulem
por todos, para que não haja limitação das possibilidades de soluções. As premissas
destes autores corroboram com a visão de que o projeto deve ser pensado como um
sistema aberto, em que a relação entre os participantes seja horizontal, para que se
aumentem as possibilidades de colaboração frente às novas questões que surgem,
criando assim a sinergia necessária para permitir que aflorem as melhores alternativas e
decisões através da participação coletiva.
1. 2. O PROCESSO DO PROJETO
A análise do processo do projeto, de acordo com os objetivos desta pesquisa, envolve
seus aspectos formais, que discriminam as etapas do processo; os atributos desejáveis
aos processos de projeto que apontam os mecanismos para a obtenção dos resultados
esperados; e o tipo de representação gráfica que se utiliza hoje para traduzir suas
pretensões.
O processo de projeto, e particularmente o projeto de arquitetura, é desdobrado em
etapas com crescentes graus de complexidade. Quando os projetos não envolviam tantas
informações, estas etapas podiam ser resumidas em apenas três: estudo preliminar,
anteprojeto e projeto executivo. Se havia estudos de viabilidades, programas, aprovações
14
em órgãos competentes, detalhamentos, estes eram considerados como elementos
destas três etapas básicas.
Essas etapas, hoje, em alguns casos, ainda podem estar implícitas e dar-se apenas nas
mentes dos seus idealizadores, no caso de um projeto de pequena área no qual não haja
grandes interfaces. Em outros casos, no entanto, elas podem estar extremamente
detalhadas e estratificadas, na construção de um empreendimento planejado nos
mínimos detalhes.
É importante que se elabore um projeto de forma coordenada com as fases seguintes do
empreendimento. Depois do projeto, o acompanhamento da construção, as possíveis
alterações do projeto, a ocupação do empreendimento, a avaliação do ambiente
construído, a sua possível readaptação frente às novas possibilidades de uso e
interesses. A partir daí, novos ciclos são possíveis, também em forma de agregação com
outras construções, demolição parcial, restauração, demolição para nova construção etc.
Hoje o processo do projeto é visto de maneira ampla:
O Processo de Projeto envolve todas as decisões e formulações que visam subsidiar a
criação e a produção de um empreendimento, indo da montagem da operação imobiliária,
passando pela formulação do programa de necessidades e do projeto do produto até o
desenvolvimento da produção, o projeto “as built” e a avaliação da satisfação dos usuários
com o produto. Por esse critério, o processo de projeto engloba não os projetos de
especialidades de produto, mas também a formulação de um negócio, a seleção de um
terreno, o desenvolvimento de um programa de necessidades, bem como o detalhamento
dos métodos construtivos em projetos para produção e no planejamento da obra.
(FABRÍCIO, 2002, apud SALGADO, 2007)
Considerando-se as reformas e reconstruções, esse projeto, que pode ser de uma casa,
de um complexo hospitalar, um centro comunitário, um bairro, está contido em um
processo dinâmico maior que é o da cidade, que está em contínua evolução. Portanto, o
processo de cada projeto é contínuo, flexível, e não se interrompe com a entrega da obra,
apenas se reorganiza frente a novos usos.
Processo “é um conjunto de atividades pré-determinadas desenvolvidas para gerar
produtos/serviços que atendam às necessidades dos clientes” (CTE, 1994, apud
SALGADO, 2007). Segundo Juran (1992) a palavra “processo” tem vários significados, e
a definição mais ampla é “uma série sistemática de ações dirigidas à realização de uma
meta”. E para o uso em projetos, Juran (1992) discorre que “processo” inclui
componentes humanos, bem como as instalações sicas. E satisfaz ao critério de ser
orientado para metas (para planejar para a qualidade precisamos antes estabelecer as
15
metas); e ser sistemático (as atividades que compõem um processo são todas
interligadas através de um conceito coerente).
Anteriormente a estas definições, McGinty (1979) propôs que o projeto fosse decomposto
em três partes, sendo “um estado inicial, um método ou processo de transformação
(desdobrada em iniciação, preparação, confecção da proposta, avaliação, ação), e um
estado futuro imaginado”.
Também Wade (1979: 195) apresentou uma subdivisão do projeto arquitetônico nas
fases de programação (metas e necessidades do cliente); planejamento (desdobramento
do problema geral em problemas padrão) e projeto (proposta, idéia do projeto)
propriamente dito. E expõe a programação arquitetônica como um processo de
programação que utiliza um diagrama de programa computacional, cujos procedimentos
mais importantes são o início do programa; o desenvolvimento do programa; a
preparação do programa; e a apresentação do programa.
McGinty (1979) relata que até a década de 1950, o processo de projeto específico para
arquitetura ainda não havia sido estudado convenientemente. Só na década de 1970, o
“Design Methods” de J.C. Jones (1972) identificou o estudo do processo do projeto como
uma pesquisa de métodos que viesse melhorar a qualidade do projeto. Neste caso, o
que se procurava estudar, prioritariamente, era como se organizava o processo de
concepção arquitetônico.
O mesmo autor expõe que “os métodos e a estratégia racional nos Estados Unidos
podem ser atribuídos a Christopher Alexander. As suas Notes on the Synthesis of Form
(1964) tiveram um grande impacto sobre professores e estudantes”. Esta pesquisa
reduzia as questões do projeto à partículas de informações, que combinadas de maneira
adequada, produziriam as soluções. Isto criou interesse por automatização, dentro da
programação de processos. Depois ele reformula as suas idéias, com o lançamento de
outra teoria que ficou conhecida como a “linguagem dos padrões”, que “se relaciona com
uma variedade de situações, e não com um determinado tipo de construção”. (MCGINTY
1979)
Considerando que as subdivisões do processo do projeto têm sido agrupadas dentro de
etapas sequenciais e evolutivas, Silva (2006) apresenta um quadro comparativo da
adaptação de classificações adotadas por pesquisadores do campo e pela norma atual:
16
PESQUISADOR/AUTOR
MODELO PROPOSTO PARA O PROCESSO DE
PROJETO
MELHADO (1994)
Idealização do produto;
Estudos preliminares;
Anteprojeto;
Projeto legal e projeto básico;
Projeto executivo e projeto para produção;
Planejamento e execução;
Entrega da obra.
NBR 13.531 (1995)
Obs: A NBR 13.532 – “Elaboração de
projetos de edificações – Arquitetura”
estabelece fases correlatas para elaboração
de projeto arquitetônico.
Levantamento;
Programa de necessidades;
Estudo de viabilidade;
Estudo preliminar;
Anteprojeto e/ou pré-execução;
Projeto legal e/ou projeto básico (opcional);
Projeto para execução.
SOUZA et al. (1995)
Levantamento de dados;
Programa de necessidades;
Estudo de viabilidade;
Estudos preliminares;
Anteprojeto;
Projeto legal;
Projeto pré-executivo, projeto básico e projeto
executivo;
Detalhes de execução e detalhes construtivos;
Especificações técnicas;
Coordenação e gerenciamento de projetos;
Assistência à execução;
Projeto As Built.
TZORTZOPOULOS (1999)
Planejamento e concepção do empreendimento;
Estudo preliminar;
Anteprojeto;
Projeto legal e projeto executivo;
Acompanhamento da obra;
Acompanhamento do uso.
ASBEA (2000)
Levantamento de dados;
Estudo preliminar;
Anteprojeto;
Projeto legal;
Projeto executivo (subdividido em pré-
Executivo, projeto básico, projeto de
execução, detalhes de execução);
Caderno de especificações;
Compatibilização / coordenação / gerenciamento dos
projetos;
Assistência à execução da obra;
Serviços adicionais (opcional).
Quadro 1 – Propostas para subdivisão do processo de projeto
Adaptado de Bagatelli (2002) e Fabrício (2004) apud Silva (2006)
Percebe-se que não um senso comum sobre as etapas que compõem o Processo de
um Projeto. Apesar do processo estar intimamente ligado às suas etapas evolutivas, na
prática o desdobramento destas etapas está relacionado à forma com que cada empresa
se estrutura, como distribui a sua força de trabalho e seus outros recursos.
17
Com exemplo, alguns autores não mencionam o programa de necessidades, como uma
das primeiras etapas de um projeto (mesmo que ele esteja implícito no estudo
preliminar). Outras utilizam etapas paralelas, comumente com o projeto básico (que
surgiu por força da lei 8666/93, que instituiu normas para licitações e contratos da
Administração Pública). Pode-se considerar então, que o projeto básico é um requisito
para participar de licitações do governo, e que é uma etapa paralela ao projeto legal, e
também pode ser iniciada junto com o anteprojeto, cujo conteúdo lhe é semelhante.
As subdivisões ou etapas do processo do projeto descritas se relacionam com o aspecto
formal de sua evolução. Outro aspecto importante é o conjunto de atributos considerados
desejáveis a um processo de projeto. O Centro de Tecnologia de Edificações, CTE
(2001) apud Salgado (2007), preconiza que o processo do projeto está relacionado à
obtenção de alguns requisitos para que se tenha garantia da qualidade do
empreendimento.
Estes requisitos, de acordo com o Centro Brasileiro de Edificações (2001), apud Salgado
(2007) são o desenvolvimento de planejamento prévio das atividades em termos de
tempo e recursos necessários; a manutenção de um fluxo contínuo de atividades sem a
incidência de tempos de espera evitáveis; a comunicação eficaz entre os agentes, de
forma a não permitir a ocorrência de erros e retrabalho; o atendimento às necessidades
dos clientes internos; a confiabilidade e rastreabilidade das decisões por meio de
registros e documentação adequada; a análise crítica do projeto; controle da qualidade
durante o desenvolvimento; o controle da qualidade no recebimento do projeto pelo
contratante; a validação do projeto pelo cliente.
O desenvolvimento de planejamento prévio das atividades em termos de tempo e
recursos necessários é o atributo do processo que mais se aproxima de uma descrição
do significado do projeto, que o projeto é um plano para o que se pretende realizar no
futuro.
Neste plano, ou planejamento do projeto, são discriminadas as tarefas; os profissionais
que podem executá-las; a infraestrutura de escritório capaz de prover o suporte
necessário (secretaria, espaço, equipamentos, material) ao staff de projeto; os recursos
financeiros disponíveis para contratação de pessoal, e também para compra, leasing ou
aluguel de equipamentos e materiais, emolumentos e deslocamentos; a estratégia de
trabalho da equipe; as regras internas e os processos de rotina; os documentos que
serão gerados no decorrer do processo e na entrega do projeto; as particularidades do
18
empreendimento que determinam ações específicas; as pesquisas necessárias ao
projeto.
Os custos e as metas que impõem o curto prazo na execução de um empreendimento
são fatores motivadores do início da obra antes que os projetos estejam prontos. Huovila
et. al. (1994), apud Fabrício, destacam que este fato, traz como conseqüência a
sobreposição do projeto à obra, ou seja, execução dos processos de projeto e obra por
uma via rápida (fast tracking). Esta situação é extremamente nociva ao empreendimento,
pois quando não se permite ao projeto o tempo necessário para a sua maturação,
aumentam-se os riscos de falhas na construção.
Ainda que seja necessário que o tempo disponível para o projeto não seja desperdiçado
ou mal programado (com a manutenção de um fluxo contínuo de atividades sem a
incidência de tempos de espera evitáveis, o que pode ser traduzido em um cronograma
bem ajustado), é importante que dentro do cronograma haja também espaço para
situações que não se pode prever, mas que não raro acontecem como as que dependem
de terceiros.
Sobrepondo-se os cronogramas de elaboração do projeto e execução da obra, de forma
indiscriminada, perde-se a possibilidade de se ter um projeto em que todas as partes
implicadas possam contribuir no processo do projeto. As inúmeras variáveis que se inter-
relacionam em um sistema complexo, como este, precisam ser identificadas, para que
sejam tratadas adequadamente.
É preciso considerar que o processo de sincronização das informações de projeto não
acontece, na maior parte das vezes, no mesmo instante, sendo necessário um sistema
que torne estas informações transparentes, e disponíveis em um espaço de tempo para
que sejam então trabalhadas para compor a síntese do projeto.
Mas muito se caminhou na obtenção de mecanismos que permitem melhorar a
comunicação do projeto. Nas últimas décadas, antes do advento da representação
gráfica digital, era mais difícil sincronizar o projeto de arquitetura com os projetos de
estrutura, instalações e outras especialidades.
A administração dos desenhos de projeto, antes da incorporação do CAD nos escritórios,
dependia muito mais da atuação de uma coordenação que tinha o importante papel de
controlar as versões dos desenhos e demais documentos, centralizar todas as
19
informações, promover as reuniões entre as equipes, tomar as decisões do projeto. Pois
a coordenação precisava concentrar todas as informações para que não se perdesse o
controle das informações do projeto.
Com o advento do PC (Personal Computer) na década de 1980, os escritórios de projetos
começaram a digitalizar os seus desenhos e houve então a intensificação da produção
dos desenhos em CAD (Computer Aided Design). E posteriormente, com a popularização
da Internet, no final dos anos 1990, os escritórios que trocavam seus documentos de
projetos também em disquetes, passaram a fazê-lo pela Web.
O desenho tem a sua importância na elaboração de um projeto e é peça de valor na
organização da gestão. Naturalmente, o desenho de arquitetura e de engenharia, embora
não seja o responsável pela qualidade do projeto, é o meio pelo qual ele se expressa. O
desenho é instrumento de planejamento, mas tamm de verificação das intenções e das
coerências de um projeto, bem como a sua resposta aos princípios estabelecidos pelos
solicitantes e pelo conjunto de profissionais que colaboram para a sua elaboração. A sua
clareza e a sua padronização, portanto, são elementos que contribuem para a
comunicação do projeto.
Assim, torna-se fundamental a utilização de uma ferramenta de representação gráfica
que possibilite a melhoria contínua das atividades de gestão (planejar, executar, verificar
e aperfeiçoar) e que seja específica dos projetos denominados de AEC (arquitetura,
engenharia e construção). E ainda, que seja facilitadora das atribuições de conceber,
desenhar, desenvolver o projeto e detalhá-lo para a execução, além de compatibilizar as
diversas disciplinas envolvidas, em etapas evolutivas e em constante interação com os
diversos integrantes do empreendimento.
O desenvolvimento de projetos com o CAD proporcionou dinamismo e rapidez nas
alterações e adaptações de um projeto, pois antes das ferramentas digitais de desenho,
era possível alterar um projeto fazendo-se novamente o desenho, ou “apagando” as
áreas a serem reformuladas (o que demandava muito mais tempo). Também com a
utilização do XREF (External Reference), para uso de arquivos de referência em um
mesmo projeto, as complementações do projeto ficaram muito mais fáceis de ser
gerenciadas.
Entretanto, as práticas de projeto continuam a ser as mesmas. Os softwares gráficos
modificam a elaboração do desenho, e imprimem rapidez ao processo, assim como um
20
editor de texto usado no computador substituiu a máquina de escrever. Mas, a maneira
de trabalhar com o computador e com a Internet é a mesma. Usam-se os novos recursos
apenas para digitalizar os projetos. Um exemplo muito comum é a validação de um
projeto. Na maioria das vezes ela só ocorre a partir das impressões em papel.
Segundo Crespo, Ruschel (2007), as ferramentas que utilizam o sistema Building
Information Modeling (BIM) são uma “nova geração de ferramentas CAD”, desenho
auxiliado por computador, e apesar destas ferramentas ainda não estarem difundidas nos
escritórios de AEC elas se apresentam como promissoras para a atuação no
gerenciamento da construção. Na tecnologia BIM, o projeto é construído a partir de
informações que alimentam um modelo que é gerado em três dimensões.
Mais precisamente, o BIM é definido como uma tecnologia de modelagem e um grupo
associado de processos para produção, comunicação e análise do modelo de
construção, Eastman et al. (2008, p.13) apud Andrade e Ruschel (2009). Segundo as
pesquisadoras, BIM tem como meta a busca por uma prática de projeto integrada, num
sentido em que todos os participantes da AEC convirjam seus esforços para a construção
de ummodelo único” de edifício. Andrade e Ruschel (2009) apontam que a utilização de
BIM pode melhorar o processo do projeto na medida em que integra todas as disciplinas
que fazem parte do projeto e oferece também a integração entre projeto e obra. Como
conseqüência, o BIM auxilia na redução do tempo e do custo da construção.
A modelagem paramétrica e a interoperabilidade são as duas principais diferenças da
tecnologia BIM em relação ao CAD apontadas por Eastman et al., 2008, apud Andrade e
Ruschel (2009). A modelagem paramétrica possibilita a representação dos objetos
projetados por parâmetros e regras relacionados à sua geometria e características e
especificações de projeto. Assim é possível gerar relatórios (incluindo listas de materiais),
compatibilizar as disciplinas de projeto, e acrescentar novas informações ao modelo
inicialmente proposto. A interoperabilidade é a característica que responde pela
integração da informação entre aplicativos computacionais, utilizados por diferentes
profissionais de projeto.
Dito de outro modo, a modelagem paramétrica permite que seja gerado um modelo do
projeto que se quer construir, tal qual uma maquete, a partir da inserção de dados da
equipe de profissionais que precisam estar perfeitamente integrados neste trabalho
colaborativo. Só é possível que um profissional projete a partir da negociação e do
consenso com o restante da equipe de profissionais, pois a ação de um, interfere nos
dados e no espaço do modelo compartilhado.
21
Já a interoperabilidade é a capacidade de transportar os dados do modelo projetado para
outros aplicativos computacionais, de forma a se preservar as informações contidas no
modelo do projeto.
Com o uso pleno do aplicativo, segundo Lamb et al (2009), é possível analisar o
desempenho do projeto; determinar o cronograma da construção; determinar quais os
elementos que podem ser pré-fabricados; definir a listagem de materiais; inferir o custo
do projeto no decorrer do seu desenvolvimento; estimar o custo de operação e
manutenção no seu ciclo de vida.
Essas características, que são diferenças entre o BIM e a representação dos projetos em
duas dimensões, são descritas nas experiências dos (ou pelos) autores com o uso
daquela plataforma. Com o BIM é possível agregar arquitetos, engenheiros e
construtores que tradicionalmente trabalham em separado; proporcionar mais eficiência e
capacidade de compartilhar o modelo em vários locais; ter um único local para todas as
informações do projeto; economizar tempo para encontrar informações sobre o projeto;
visualizar melhor o produto final (maquete 3D); diminuir o tempo de projeto e obra após a
adaptação da equipe. Outra característica é a possibilidade de integrar desenhos,
planilha orçamentária e cronograma de obra.
Para Crespo, Ruschel (2007), a utilização de BIM requer um investimento em
equipamentos, software e treinamento da equipe. As autoras afirmam ser necessária a
maturidade organizacional e metodologias de trabalho, principalmente sob a coordenação
do arquiteto, para a implantação do sistema.
A adaptação da equipe à plataforma BIM é uma das questões que se constituem
barreiras à ampliação do seu uso. Mas Lamb et al (2009) afirmam que o uso da
plataforma BIM atingiu estabilidade de aceitação na comunidade AEC, e que pesquisas
apontam retorno do investimento, em diferentes prazos para as empresas de AEC, em
software, equipamentos e treinamento de pessoal. Outras questões que são chaves para
a adaptação da plataforma nas empresas, também relatadas pelos autores, são a
necessidade de: definir os detalhes do projeto desde o início porque as inclusões
posteriores redefinem o modelo; especificar e detalhar o máximo possível o modelo para
antever os problemas da construção; os parceiros, que são os outros escritórios de
22
projetos, precisam também utilizar o BIM; os aplicativos utilizados pelos parceiros
precisam ser compatíveis entre si, o que é chamado de interoperabilidade
6
.
Na utilização do software Revit, que é o BIM da empresa Autodesk, Crespo, Ruschel
(2007) verificaram que para o uso das equipes de arquitetura e estruturas com os
softwares específicos para estas especializações (Revit Archtecture e Revit Structure,
respectivamente) a primeira medida para os grupos trabalharem em colaboração é a
divisão das equipes em grupos, para a manipulação do modelo.
Com o objetivo de propor a utilização de BIM para a análise de projetos (elaborados por
empresas privadas) no setor público, Romero e Scheer (2009) comparam um projeto que
utiliza a ferramenta CAD, em duas dimensões, com o mesmo projeto formatado com
tecnologia BIM. Esta pesquisa apresenta resultados práticos que podem ser aplicados
em outras instituições que possuem as mesmas atribuições.
A quantidade de cortes e elevações apresentados para análise dos projetos em CAD,
conforme relatam os pesquisadores, muitas vezes não são suficientes para a
visualização de todos os aspectos do projeto, podendo ocultar alguma informação
relevante para a execução da obra. Na modelagem BIM, os autores atestam que é
possível visualizar todos os cortes necessários diminuindo-se a possibilidade de erros na
construção. Da mesma forma, o gerenciamento integrado das informações do BIM gera
um modelo digital em vez de uma série de desenhos, o que facilita a visualização das
elevações do projeto.
Romero e Scheer (2009) afirmam que os projetos em CAD são, em várias situações,
apresentados para análise com cotas de nível e medidas incompletas, ou diferentes dos
desenhos executados, o que ocasiona a demora na análise dos projetos, pois seus
desenhos precisam ser novamente emitidos para que se possa esclarecer as dúvidas
decorrentes de erros e omissões de desenho ou projeto. No BIM, os pesquisadores
mostram que as cotas de nível e as medidas são geradas na criação do modelo, e ao se
clicar no objeto, têm-se todas as informações anteriormente definidas. Outra questão
semelhante é o cálculo de áreas. Quando as áreas são calculadas no CAD, essas
informações podem ser editadas, dificultando a sua conferência, já no BIM pode-se
conferir as áreas com facilidade e precisão.
6
A interoperabilidade é “entendida como a capacidade de identificar os dados necessários para serem
passados entre aplicativos”, Eastman et al.( 2008), apud Andrade, Ruschel (2009).
23
Uma das verificações de incompatibilidades em um projeto em CAD consiste na
sobreposição de pranchas, que, segundo os mesmos autores, podem não permitir esta
checagem devido as informações de projeto não estarem claras. No BIM a análise de
cada pavimento em relação aos adjacentes é facilitada pela modelagem da edificação,
diminuindo a possibilidade de erros de conferência. Essas e outras correções, que
podem ser solicitadas pelo verificador ao projetista, muitas vezes podem acarretar a
alteração de vários elementos de projeto, o que trará como conseqüência a modificação
de várias pranchas de desenho. Na modelagem BIM, Romero e Scheer (2009) observam
que os elementos construtivos são paramétricos, interconectados e integrados, o que
significa a instantânea atualização do modelo. Como resultado obtém-se a diminuição
dos conflitos entre elementos construtivos, a facilitação das revisões e o aumento da
produtividade.
Conforme o exposto, a utilização da tecnologia BIM proporciona a melhoria da
produtividade dos profissionais que planejam, desenvolvem, e analisam projetos. Quanto
aos projetos, estes obtém qualidade pela diminuição das incompatibilidades entre as
disciplinas. E finalmente, a melhor resposta no uso do BIM é a integração que se pode
alcançar entre projeto e obra.
Naturalmente, os resultados esperados com a mudança do aplicativo CAD para o BIM
não surgem instantaneamente. Além do necessário treinamento da equipe, é importante
também que haja mudança nas práticas profissionais, pois o BIM requer que os
profissionais trabalhem cooperativamente na elaboração do modelo.
Além do surgimento dos primeiros aplicativos de representação gráfica auxiliados por
computador, os aplicativos CAD, surgem também os primeiros aplicativos para a gestão
de projetos para AEC. Estes utilizam conceitos de bancos de dados, e oferecem funções
de automatização de serviços juntamente com outros aplicativos comercializados para o
gerenciamento de escritórios. Com a utilização da tecnologia BIM, esses aplicativos de
gestão também passaram a servir como interface suporte a essas plataformas.
24
1.3 A GESTÃO DO PROCESSO DE PROJETOS
A dificuldade de se monitorar a gestão de um projeto por apenas uma pessoa, o que era
o caso quando a construção dos empreendimentos dependia de menor número de
variáveis, e esta função era exercida praticamente e de maneira exclusiva por um
coordenador, fez com que a gestão passasse a ser exercida por três novos atores: o
gerente, o coordenador e o compatibilizador. Estas funções são definidas por alguns
autores:
O gerente de projetos é a figura que concentra a tomada de decisões estratégicas
no nível mais alto da pirâmide. Este profissional tem que reunir características
pessoais bastante específicas para conduzir uma equipe de projetos.
O coordenador de projetos faz parte desse gerenciamento, mas realiza as ações
gerenciais para assegurar que as interfaces (entre projetos e entre estes e o
processo de execução da obra) tenham sido adequadamente trabalhadas para
gerar a solução global no planejamento previsto.
O compatibilizador exerce uma função que é considerada por alguns como
intimamente relacionada com o ato de projetar.Entretanto, considerando que o ato
de projetar pode ser dividido entre uma etapa conceitual e outra dimensional, o
compatibilizador seria o responsável por compreender o raciocínio conceitual e
levar a informação dimensional para a discussão. (FERREIRA, 2001, apud
SALGADO, 2007)
Naturalmente, em um escritório de projetos, muitas vezes estas funções não são gidas,
nem exercidas sempre pelos mesmas pessoas, podendo ser alternadas, principalmente
quando se trata de verificar incompatibilidades em um projeto.
Silva; Souza (2003) também definem as funções no processo do projeto como:
Gestão geral de projeto: identificação de todas as atividades necessárias ao
desenvolvimento do projeto; distribuição dessas atividades no tempo; identificação das
capacitações/especialidades envolvidas segundo a natureza do produto a ser projetado;
planejamento dos demais recursos para desenvolvimento de projeto; controle do
processo quanto ao tempo e demais recursos incluindo as ações corretivas
necessárias; tomada de decisões de caráter gerencial como a aprovação de produtos
intermediários e a liberação para início das várias fases de projeto; e, encaminhamento e
acompanhamento das providências operacionais para o desenvolvimento do projeto.
Coordenação técnica de projeto: identificação e caracterização de interfaces técnicas a
serem solucionadas; estabelecimento de diretrizes e parâmetros técnicos do
empreendimento a partir das características do produto, do processo de produção e das
estratégias da empresa incorporadora/construtora; coordenação do fluxo de informações
25
entre os agentes intervenientes para o desenvolvimento das partes do projeto; análise de
soluções técnicas e do grau de solução global atingida; e, tomada de decisões sobre as
necessidades de integração de soluções.
À medida que o projeto ganha complexidade, é necessário que o coordenador deixe de
ser o único informante e o elo entre as equipes, inclusive o cliente, e passe a distribuir
suas atividades em função da quantidade de informações e de atores envolvidos no
processo.
A compatibilização de projetos, também à partir do aumento da complexidade dos
projetos, passa a ser cada vez mais importante. Cada membro da equipe passa a
assumir uma parte nessa responsabilidade de eliminar as inconformidades do projeto.
Em alguns escritórios, pode, inclusive, haver uma pessoa responsável, que passa a tirar
o encargo do coordenador de verificar a coerência entre o projetado pelas diversas
equipes, e também controlar a padronização das simbologias, escalas, e outros padrões
de desenho do projeto.
Em paralelo, com a complexidade, faz-se necessária a figura do gerente de projetos, cuja
função principal é a de manter o vínculo com os clientes do projeto. Ele passa a ser a
pessoa que apresenta e traduz o projeto para os empreendedores, participa das reuniões
estratégicas com os clientes e stakeholders (as pessoas que influenciam nas decisões do
empreendimento) para definição dos rumos do projeto, atua na gerencia geral e libera o
coordenador de projetos para a administração das equipes.
Ao coordenador, neste contexto, é dada a função de concentrar as informações e de
tomar as decisões técnicas, ou táticas, quanto ao seu desenvolvimento. Além de
coordenar as diversas equipes, processar os requisitos e restrições, traduzir os anseios
dos clientes no formato do projeto executável.
E além da ocorrência do aumento dos personagens, em função do desdobramento de
funções, que são necessárias para dar conta da gestão do projeto, passa a existir uma
mudança de comportamento dos gestores com as suas equipes. Cleland (2007, p. 341)
aponta a figura desse “novo gerente”, que diferente da meta de comandar e controlar, se
ocupa em auxiliar, aconselhar, prover recursos e incentivar as suas equipes, deixando
que elas trabalhem com liberdade e criatividade, porque este novo gerente está certo de
que os seus profissionais são os mais capacitados para realizar as suas tarefas.
26
Esse clima de confiança e motivação em que a hierarquia tradicional perde o sentido,
segundo esse autor, é fruto das mudanças crescentes na sociedade que impactam o
mercado de trabalho tornando os empregos mais voláteis. É possível ter uma visão mais
clara desse novo estilo gerencial acompanhando a tabela a seguir:
ho mundo
comando e controle
O novo mundo
Consenso e consentimento
Acredita no “Ëu estou no comando”
Acredita em “Eu facilito”
Acredita em “Eu tomo as decisões” Acredita na descentralização máxima das decisões
Delega autoridade Delega poder às pessoas
Executa as funções de gerenciamento Acredita que as equipes devem também executar funções
de gerenciamento
Acredita que a liderança deve ser hierárquica Acredita que a liderança deve ser bastante dispersa
Acredita na “Teoria X” Acredita na “Teoria Y”
Exerce a autoridade legal Exercita a autoridade de fato (influência)
Acredita na estrutura hierárquica Acredita em organizações de equipes/matriz
Acredita que as organizações devem ser
organizadas em torno da função
Acredita que as organizações devam ser organizadas em
torno de processos
Segue um estilo autocrático de gerência Segue um estilo participativo de gerência
Enfatiza os papéis individuais do gerente Enfatiza os papéis coletivos
Acredita que o gerente motiva as pessoas Acredita em automotivação
Estabilidade Mudança
Acredita em tarefas de habilidade única Acredita em tarefas de múltiplas habilidades
Acredita em “Eu dirijo” Permite que a equipe tome decisões
- Acredita que um gerente lidera, em vez de dirigir
Desconfia das pessoas Confia nas pessoas
Tabela 1 – Mudanças na filosofia de gerência/liderança
Fonte: CLELAND, D., IRELAND, L., Gerenciamento de Projetos (2007), p. 342
Entende-se que estas mudanças, relatadas por Cleland (2007), não tem ocorrido de
forma radical nas empresas, mas vem pouco a pouco influenciando a forma de se pensar
a gestão. É possível dizer que tanto a filosofia que privilegia o comando e o controle,
quanto a que se pauta no consenso e no consentimento, podem conviver lado a lado.
É importante salientar que uma liderança participativa, que delega poder à equipe, que é
mais preocupada em facilitar as ações do grupo, e incentivar seus membros a encontrar
as soluções, e a tomar decisões, de forma a descentralizar as ações, e ter sempre uma
atitude pró ativa, é capaz de motivar a sua equipe de tal maneira que a necessidade de
controlá-la passa a não ser mais relevante. É esta alternativa de gerenciamento que
oferece um ambiente propício para a colaboração.
Dentro deste contexto, mesmo que se considere que o encargo da compatibilização de
projetos esteja distribuído entre os membros das equipes de projetos, as tecnologias de
informação e comunicação têm importante papel nesta colaboração que ocorre em
equipes com liderança participativa. Com o uso da informatização, particularmente os
desenhos auxiliados pelo computador, houve um grande avanço na compatibilização
entre os projetos de arquitetura, estrutura, instalações e demais especialidades.
27
O trabalho de compatibilização de projetos entre os escritórios, antes do surgimento da
informática, dependia das cópias heliográficas, ou originais dos projetos que eram
elaborados pelos escritórios de cada especialidade. As reuniões para este fim eram pré-
agendadas, e muitas vezes era difícil a adesão por todos os atores necessários. Muitas
vezes, pela dificuldade de promover estas constantes reuniões (pois um projeto necessita
de sucessivos ajustes entre os profissionais de diversas especialidades) a
compatibilização se dava de forma esparsa, o que ocasionava uma série de problemas
para tornar o projeto coerente.
Mas mesmo com a informatização, todas as incoerências de projeto não ficam resolvidas,
se as equipes não estiverem atentas a se auto-ajustar. Sobre esse assunto, Solano
(2005) alerta que muitas vezes “a compatibilização dos projetos (...) é feita ao acaso
durante o desenvolvimento dos projetos e efetivamente durante a execução da obra”. O
autor se refere à falta de sistematização da compatibilização dos projetos durante o seu
desenvolvimento. No momento da elaboração do projeto, algumas incompatibilidades ou
incoerências podem passar despercebidas, entretanto, durante a obra, estas
incoerências ficam patentes, e pode ser tarde para solucioná-las de forma satisfatória, o
que acarretará prejuízo para o empreendimento.
O resultado, quando se elabora projetos sem mútua dependência (considerando a
adaptação a posteriori dos vários projetos elaborados separadamente por equipes
especializadas), são projetos apresentam incompatibilidades e muitas vezes falhas que
são descobertas no momento da execução. Normalmente esta integração a posteriori
envolve tempo e custo, pois as ações para que os projetistas reorganizem os seus
projetos de forma a obter a unidade necessária envolvem o retrabalho das diversas
equipes que estão participando do empreendimento.
Entende-se que com o projeto arquitetônico bem coordenado a função do compatibilizador
de projetos tenderá a não ser mais necessária, considerando que seu surgimento e
crescimento foi em decorrência de erros de projetos, ou ainda de projetos mal coordenados.
(SALGADO, 2007).
O conceito de Projeto Compatibilizado vem dando lugar ao conceito chamado de Projeto
Simultâneo, que é a adequação simultânea desses projetos, ainda na fase conceitual ou
preliminar. O Projeto Simultâneo é a visão atual de Gestão de Projetos, que sugere ações
conjuntas entre os diversos profissionais, e tem como premissa diminuir o prazo de
elaboração dos projetos.
28
A definição de Projeto Simultâneo, proposto por Fabrício (2002), a partir dos conceitos de
Engenharia Simultânea é:
O desenvolvimento integrado das diferentes dimensões do empreendimento, envolvendo a
formulação conjunta da operação imobiliária, do programa de necessidades, da concepção
arquitetônica e tecnológica do edifício e do projeto para produção, realizado por meio da
colaboração entre o agente promotor, a construtora e os projetistas, considerando as funções
subempreiteiros e fornecedores de materiais, de forma a orientar o projeto à qualidade ao longo do
ciclo de produção e uso do empreendimento. (FABRICIO, 2002)
Além destes, deve ser integrado ao empreendimento os consultores de especialidades,
da legislação aplicada, órgãos e instituições que estão ou estarão envolvidos com a
edificação, e todo o contexto relacionado àquele empreendimento.
A engenharia simultânea ou projeto simultâneo, ao contrário do projeto tradicional, prega
que a integração entre os envolvidos é fundamental para um produto final melhor, para um
empreendimento imobiliário. (FABRICIO e MELHADO, 2002)
Esta integração entre os envolvidos é necessária também à gestão do projeto, e sobre
este assunto Melhado (2001), define que a cooperação e a integração na gestão do
projeto necessitam de ajustes nos processos e para isso deve-se proporcionar
possibilidades de “criação coletiva de processos e que fomentem o engajamento dos
agentes frente aos objetivos em comum”.
Cabe observar que sincronizar as diferentes estratégias das disciplinas e todos os
projetos de especialidades, ainda na fase inicial, como requer o Projeto Simultâneo, exige
um sistema muito refinado, pois se torna mais difícil fazer circular o conjunto de
informações que compreende: planejamentos; estudos de viabilidade; legislação;
definição do partido arquitetônico integrado; validação do cliente; ajuste do estudo
preliminar; desenvolvimento integrado de todas as etapas do projeto com as suas
representações gráficas; decisões dos clientes e usuários; limitações dos fornecedores;
agendamentos; gerenciamento de documentos; cronogramas; contratos; pesquisas;
testes; relacionamentos entre profissionais; e outros fatores pertinentes às diversas
disciplinas envolvidas, do que deixar que elas se desenvolvam de forma paralela e
independente.
Laufer (1997) apud Formoso, et al (2007) explora o conceito de simultaneidade na gestão
de empreendimentos, definindo a gestão simultânea (simultaneous management) como
“uma forma de gerenciar empreendimentos complexos, com elevado grau de incerteza e
29
com prazos relativamente reduzidos”. O mesmo autor afirma que, “neste contexto, existe
a necessidade de novas competências na gestão de empreendimentos, uma vez que os
gerentes necessitam lidar com uma ampla gama de informações, interagir com um
grande número de intervenientes, sendo necessárias respostas rápidas a demandas
conflitantes e dinâmicas.”
Quanto maior a quantidade de interações, maior a complexidade do processo de projeto.
E quanto maior a complexidade, melhor deverá ser a forma de interação entre as
disciplinas. Como ideal, a transdisciplinaridade
7
(Piaget, 1972 apud Chaves,1998)
responde melhor à necessidade de se desenvolver um projeto complexo em que uma
parte das situações é prevista, mas outra ocorre de forma inesperada, porque não se
consegue prever todas as variáveis do processo. Para esse projeto complexo, é
necessário que as disciplinas não tenham limites rígidos entre elas, e os diferentes
"especialistas" interajam em um mesmo ambiente, em busca de um objetivo comum.
Embora o conceito de Projeto Simultâneo aparentemente seja fácil de ser entendido, e
aceito, a sua prática é pouco difundida. Alguns autores sugerem algumas medidas para a
implantação do projeto simultâneo que demonstram quão longe ele está de ser uma
prática de gestão de projetos. Casarotto et al (1999) apud Quevedo (2006) indicam
dentre outras necessidades a criação de uma força-tarefa com pessoas de vários setores
das empresas envolvidas e o processamento em paralelo das atividades, o que vai
resultar em uma equipe muito integrada.
Fabrício (2002) entende que para a aplicação do Projeto Simultâneo na construção,
devem ser necessárias três medidas, que são o estabelecimento de uma cultura de
parceria entre os atores; fomentar relacionamento multidisciplinar para o processo do
projeto; utilizar as novas tecnologias de informação “para as tarefas repetitivas de projeto,
e, principalmente, potencializar a comunicação entre os agentes do projeto.”
7
Para melhor entendimento do que é disciplina, multidisciplinaridade, interdisciplinaridade e
transdisciplinaridade, descrevemos os conceitos segundo Piaget (1972) apud Chaves (1998):
“1. Disciplina constitui um corpo específico de conhecimento ensinável, com seus próprios antecedentes
de educação, treinamento, procedimentos, métodos e áreas de conteúdo.
2. Multidisciplinaridade ocorre, segundo Piaget, quando “a solução de um problema torna necessário
obter informação de duas ou mais ciências ou setores do conhecimento sem que as disciplinas
envolvidas no processo sejam elas mesmas modificadas ou enriquecidas”.
3. Interdisciplinaridade ainda segundo Piaget, o termo interdisciplinaridade deve ser reservado para
designar o nível em que a interação entre várias disciplinas ou setores heterogêneos de uma
mesma ciência conduz a interações reais, a uma certa reciprocidade no intercâmbio levando a um
enriquecimento mútuo”.
4. Transdisciplinaridade continuando com Piaget, o conceito envolve não as interações ou
reciprocidade entre projetos especializados de pesquisa, mas a colocação dessas relações dentro de um
sistema total, sem quaisquer limites rígidos entre as disciplinas”.
30
A necessidade de novas competências na gestão de empreendimentos apontada por
Laufer (1997) apud Formoso et al (2007), também deixam claro que ainda há muito o que
fazer para implantar o conceito do projeto simultâneo. Essas competências também
devem ser suficientes para administrar outra questão igualmente importante, referente à
intersubjetividade das pretensões dos agentes, que dificultam o andamento do processo
do projeto.
Os diversos entendimentos quanto ao significado do projeto na construção apontam para
as dificuldades da realização de um projeto total que contemple todas as imbricações
contidas na concepção, produção, utilização e, por que não, na reciclagem (reforma) ou
demolição do edifício. Em geral, cada um dos agentes do empreendimento tende a
privilegiar um ou alguns aspectos que lhe são mais caros, por diversas razões que vão da
formação, dos gostos pessoais, aos interesses econômicos etc. (FABRÍCIO, 2002)
Os interesses diversos dos agentes do empreendimento tornam o projeto mais difícil de
ser gerenciado, uma vez que, quanto maior e mais complexo é o projeto, maior a
quantidade de atores que exprimem os seus interesses. Ou seja, não os projetos
precisam ser elaborados simultaneamente, mas as ações entre os agentes precisam ser
negociadas e relacionadas.
É necessário que haja um processo de sincronização entre as ações dos diversos
participantes desse processo de construção e reconstrução, que dependendo do
momento e do contexto, assumem maior ou menor peso nas decisões do
empreendimento. São eles os futuros (ou presentes) usuários; as comunidades; as
instituições públicas; os promotores; os incorporadores; os analistas de mercado; os
financiadores ou agências de fomento; os gestores de projeto e obra; os gerentes e
administradores; os construtores; os profissionais de marketing; os sociólogos; os
antropólogos; os profissionais de saúde e outros, conforme o caso específico; os órgãos
de aprovação do projeto; além dos profissionais diretamente implicados com a
elaboração da construção (os arquitetos projetos, interiores, urbanismo, paisagismo; os
engenheiros em suas variadas especializações; os profissionais de design, ergonomia; e
os vários consultores de especialidades).
Embora, conforme aponta Fabrício (2002), os diversos interesses dos agentes do
empreendimento dificultem o processo do projeto, talvez a necessidade cada vez maior
de se projetar e de se construir ao mesmo tempo provoque a pressão suficiente para
empurrar os projetos também à simultaneidade.
31
2. A TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO NOS ESCRITÓRIOS
2.1. UTILIZAÇÃO DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO
“Os sistemas tecnológicos são socialmente produzidos. A produção social é estruturada
culturalmente. A internet não é exceção.” (CASTELLS, 2003)
A introdução da Informática nos escritórios dá-se de maneira gradual. De certo modo,
ocorre o mesmo processo de adaptação que acontece em outros setores. No início ela se
verifica na área de secretaria e finanças com o uso de editores de texto e planilhas que
apenas agilizam operações feitas manualmente e melhoram graficamente a comunicação
e a informação.
Com o passar do tempo, são criados softwares voltados especificamente para os
escritórios, com um número maior de recursos, como o registro e atualização de
documentos, mas estes ainda servem para realizar funções executadas anteriormente,
ou seja, funções de arquivamento e secretaria.
Para o setor de AEC, no trabalho especifico de representação gráfica, eles substituem a
prancheta de desenho pelo computador, com os softwares CAD, economizando espaço e
facilitando basicamente a uniformização, a rotinização e as modificações de projeto. Mas
não são usados, por exemplo, para criar interação entre os membros de cada equipe e
também entre equipes.
Até bem pouco tempo, os pacotes para AEC se limitavam quase que exclusivamente a
aplicativos de expressão gráfica dos projetos, os softwares em CAD. Posteriormente, as
plataformas em CAD passaram a incorporar outras funções como as de orçamento.
Mas a partir da década de 1980, surgem os primeiros softwares para modelagem do
edifício, BIM, parametrizados, que vêm possibilitar a colaboração no processo de
concepção e desenvolvimento de projetos do setor de AEC. No entanto, somente a partir
da última década, o BIM passa a ganhar aceitação de maior número de arquitetos e
engenheiros de projetos, que mesmo que ainda utilizem o CAD, começam a avaliar a
possibilidade de migrar para esse aplicativo.
32
Com o advento da Internet e de suas novas tecnologias, várias iniciativas surgiram com o
intuito de consolidar a utilizão dos recursos da informática na grande rede. Estas
iniciativas deram origem a vários softwares e também aos “pacotes” de serviços, que são
aplicativos integrados que procuram responder, de alguma maneira, às necessidades de
gestão dos escritórios, e no caso específico, ao setor de AEC. Chaves et al (2006)
comentam a possibilidade de uso destes aplicativos para dar suporte ao gerenciamento
de projetos.
Contudo, tanto para a gestão de projetos em todos os campos, quanto para o setor de
AEC, estes softwares e “pacotes” continuam com a mesma lógica de aperfeiçoar e tornar
rotineiras as mesmas atividades que eram feitas antes da sua introdução. Eles não
incorporam novas funcionalidades, novas práticas, novas maneiras de agir e novas
culturas.
Para se ter um panorama de como os recursos de comunicação estão sendo usados nos
escritórios de arquitetura fez-se um levantamento das pesquisas realizadas por
estudiosos do assunto. Com isso, pode-se obter informações sobre o grau de penetração
destas ferramentas nos escritórios de AEC.
Beber et al (2007)
8
empreenderam uma pesquisa aplicando um questionário em oito
escritórios de arquitetura da cidade de Curitiba-PR com o objetivo de apresentar as
ferramentas e sistemas utilizados em escritórios de arquitetura para auxiliar na
gestão da comunicação dos projetos. O perfil de profissionais de todos os escritórios
analisados é composto de arquitetos e desenhistas, segundo respostas ao questionário.
1) Uso concomitante de meios de comunicação (chamado na pesquisa de uso de
ferramentas): Em ordem decrescente, é muito utilizado: Email (100%) Telefone (87%)
Fax (75%) Celular (50%) MSN (36%) Palm (12%) & Web Site (12%)
Videoconferência (não utilizada);
2) Uso de softwares (nota-se que alguns são excludentes como AutoCAD e Intelicad): Em
ordem decrescente, é o mais utilizado: Auto CAD (62,50%) Word (50%) Excel
(50%) Arqui 3D (25%) Vectworks (25%) Coreldraw (25%) MS Project (25%)
InteliCAD (12,5%). Com uso pouco expressivo: Studio Viz, Arqui CAD, TQS, Microstation,
Mini CAD, Alto QI, Access, Volare, Primavera e outros;
8
Ver detalhes da pesquisa no Anexo B.
33
3) Uso de TI (email e outras ferramenta não definidas): Em ordem decrescente, é mais
utilizado para: troca de emails com informações sobre projeto (62,50%) troca de
emails com clientes, engenheiros, fornecedores etc. (50% ) troca de emails com a
equipe interna (12,50%).
Beber et al (2007) informam, de acordo com os dados da pesquisa, que nenhum
escritório utiliza Ambientes Colaborativos, embora todos achem que seu uso seria
benéfico para acelerar a troca de informações. Apenas um escritório faz gerenciamento
eletrônico de documentos (GED).
Além dos dados fornecidos pelo autor, pode-se inferir ainda outras observações :
O email ultrapassa o telefone fixo como preferência de comunicação em frequência de
utilização. No uso de TI nos escritórios, o email então lidera a comunicação entre os
profissionais, mais em informações gerais sobre os projetos do que sobre os seus
aspectos cnicos, sendo que MSN e sites ainda são pouco utilizados. Nesta pesquisa,
os softwares aplicativos, tanto os gráficos quanto os de escritório, são analisados em
conjunto e como resultado, o AutoCAD, Word e Excel são os mais utilizados.
Em outra recente pesquisa
9
, Nardelli (2009) apresenta respostas de 69 escritórios de
arquitetura estabelecidos na cidade de São Paulo, relativos à seguinte pergunta: Quais
são os recursos de comunicação digital utilizados pelo escritório para gestão de projetos
e transmissão de documentos?”
Das 69 empresas entrevistadas, 95,7% (66 empresas) fazem uso de email; 37,7% (26
empresas) usam sites de trabalho colaborativo à distância SADP, Buzzsaw,
Construmanager etc.; 14,5% (10 empresas) fazem uso de tecnologia de trabalho à
distância abrigada em servidor próprio; e 30,4% (21 empresas) fazem transferência de
arquivos pelo protocolo FTP
10
. O número de empresas que responderam o questionário é
significativo para ratificar que quase 37,7% das empresas em São Paulo fazem uso de
9
A pesquisa de Nardelli levou em consideração uma amostra equilibrada de escritórios de pequeno, médio e
grande porte da cidade de São Paulo (que executam projetos de edifícios, interiores, desenho urbano, etc.), e
teve como base principal os escritórios registrados na ASBEA Associação Brasileira de Escritórios de
Arquitetura, complementados posteriormente com convites à professores arquitetos da Universidade
Mackenzie e escritórios de arquitetura convidados.
10
“FileTransfer Protocol” – Protocolo de transferência de arquivos pela Web.
34
softwares de gestão e, naturalmente, que o email continua a ser usado na quase
totalidade das empresas de projeto.
Observa-se a partir das duas pesquisas analisadas, empreendidas em Curitiba e em São
Paulo, é que grande parte da comunicação entre os escritórios de projetos é feita de
maneira simplificada, com a utilização de poucos instrumentos para a comunicação.
Percebe-se que o email assume a unanimidade na preferência dos escritórios como
recurso de comunicação.
De uma maneira geral, a informatização dos escritórios, para auxiliar na gestão de
projetos, está ocorrendo de forma gradual, o que corrobora com a constatação de Toledo
(2006) de que “o setor de AEC demora em média 10 anos a mais que outras indústrias
para adotar tecnologias da informação”.
Gráfico 1: Curvas de aceitação de tecnologias (“hype cycle”)
Fonte: Hills (1997), apud SANTOS, E.Toledo (2006)
Crespo, Ruschel (2007) reafirmam esta situação comentando que o BIM também hoje é
pouco difundido se comparado com o AutoCAD, que é o aplicativo mais utilizado pelos
escritórios de projetos.
Hoje
Extranets
de Projeto
CAD 2D
CAD 3D
CAD 4D
100%
50%
0%
1960
1980
2000
2020
35
2.2. CLASSIFICAÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS DOS PACOTES / SOLUÇÕES
CORPORATIVAS
Os pacotes de software são sistemas proprietários, ou de software livre, que procuram
responder, através de um único programa ou plataforma, a uma série de necessidades
que podem ser previstas
11
e se configuram como características que se colocam na
prática dos escritórios. Dentre os pacotes de software estudados estão o SADP, o
Buzzsaw e o Construtivo, que estão em anexo nesta pesquisa
12
.
Para identificar estes aspectos de rotinização, fez-se uma revisão bibliográfica dos textos
publicados sobre aplicativos de gestão, especificamente para o setor de AEC, e se
apresenta neste trabalho os que se colocaram como mais significativos para a análise de
como os seus procedimentos de escritório são automatizados.
Alguns pesquisadores têm sistematizado e identificado as características dos aplicativos
ou softwares de gestão. Estudos de Moekel (2000), Nascimento (2004), Nitithamyong;
Skibniewski (2004), apud Mendes Jr.; Ricardo et al (2005) identifica.m os principais
recursos disponíveis.
De acordo com estes autores, nestes recursos estão o Gerenciamento de documentos,
que envolvem o armazenamento, download e upload dos documentos do projeto
(arquivos CAD, figuras, memorandos, planilhas etc.) no site, e a Visualização de
arquivos do projeto em todos os formatos. Estes sistemas dispõem de um Controle de
revisões com o registro, atualizado pela última versão, de quem enviou e quando foi
recebido um determinado arquivo, além da Notificação por emails, tanto destas
atualizações de revisões, quanto dos uploads de arquivos, impressões efetuadas etc.
um instrumento de Envio de comunicados (de revisão/alteração/indagação) que é
particular do sistema para a comunicação entre seus usuários, com o seu registro no
próprio sistema. O Fluxo de trabalho (Workflow) é o mecanismo que serve para emitir
requisições, alterações e regras específicas do processo de projeto. E ainda, Chats,
Fóruns de discussão, Videoconferência. um serviço de Integração com celular e
smartphones, e, para usuários externos, que estão envolvidos com o sistema
(stakeholders), pode-se ter um recurso de Envio de informações por celular, fax, ou
11
Esses pacotes podem ser padronizados ou customizados, sendo que estes últimos são criados de acordo
com as necessidades específicas da empresa, mas é preciso, naturalmente, um investimento maior para sua
elaboração.
12
Ver detalhes da pesquisa no Anexo C.
36
email para avisos sobre o projeto. O Monitoramento do sistema registra o histórico dos
eventos de inclusão e exclusão de usuários, por exemplo. Para facilitar o encontro das
informações, um Sistema de buscas e também uma Agenda de contatos. A síntese
das ões que ocorrem no sistema (número de mensagens, fluxo de documentos) é
apresentada no recurso que exibe as Estatísticas do projeto.
Coelho (2008) também realizou uma pesquisa sobre os recursos tecnológicos utilizados,
voltados para a comunidade de AEC, e identificou os seguintes sistemas, considerados
por ele como colaborativos, e classificados conforme se segue:
Para a comunicação: email/ Webmail integrado; editoração de páginas; notificação
alertas através de email, SMS, MSN, correio de voz, fax, RSS feeds
13
Para
conferência: bate-papo; fóruns; deoconferência; voip Para coordenação de
projetos: Agenda/calendário; cronograma; fluxo de caixa/ projeções; gestão de risco;
gestão de recursos (monitoramento de atividades e tarefas); gestão de conhecimento
(identificação dos ativos de conhecimento e informações ligadas ao projeto); gestão de
documentos; controle de versão (e revisão); gráfico de gantt; lista de contatos;
gerenciamento de tarefas; workflow (fluxo de tarefas) Para administração do sistema:
relatórios, permissão, notificação, customização de relatórios, backup.
Funcionalidades adicionais: visualização de arquivos; markup (permite a inclusão de
notas em arquivos disponíveis online); conversão normalizada de arquivos (para
padronizar os arquivos do sistema); 4D/nD (integração dos desenhos do projeto com o
cronograma da obra); mobilidade
14
; X-ref (recurso do AutoCAD que permite referenciar
um ou mais arquivos a um terceiro arquivo); integração a Softwares (como o MsProject, e
o Primavera); busca por arquivo; plotagem (envio e controle de requisição);
interoperabilidade (suporte à exportação estruturada das informações para outro
sistema); relatório resumo das atividades; aplicativos desktop (para download/ upload de
arquivos sincronizado com as pastas do sistema).
Considerando as pesquisas de Moekel (2000), Nascimento (2004), Nitithamyong;
Skibniewski (2004), apud Mendes Jr.; Ricardo et al (2005) e Coelho (2008), é proposta
uma nova classificação de acordo com o assunto estudado, com o objetivo de colocar em
evidência a colaboração.
13
Segundo Coelho (2008), feeds” são recursos oferecidos por provedores de serviços, que permitem a
notificação online sobre novas atualizações de sítios ou serviços.
14
Consideramos neste trabalho a integração entre notebooks e smartphones no mesmo nível da integração
entre computadores, que são veículos dos chats, fóruns, vídeo conferências etc.
37
Essa nova classificação considera dois grupos distintos
15
: as funções que podem ser
consideradas de automatização das rotinas de práticas do escritório (funções de arquivo,
secretaria e de apoio ao processo do negócio) e o grupo das funções de comunicação,
que podem potencializar a colaboração entre os parceiros do projeto.
No grupo de automatização das rotinas de práticas do escritório estão as Funções de
arquivo: o gerenciamento/gestão de documentos, o controle de versões e revisões, a
notificação por emails (sobre status dos arquivos), a visualização de arquivos, o
monitoramento do sistema, o sistema de busca, o envio e controle de plotagem, o
arquivamento do projeto; backup Funções de secretaria/administração: a lista de
contatos, a agenda, o envio de comunicados, a visualização das estatísticas do projeto,
geração e customização de relatórios, permissão de acesso; Funções de apoio ao
processo do negócio: Agenda/calendário, cronograma; fluxo de caixa/projeções, gestão
de risco, gestão de recursos (monitoramento de atividades e tarefas), gestão de
conhecimento (identificação dos ativos de conhecimento e informações ligadas ao
projeto), gráfico de gantt, gerenciamento de tarefas, workflow (fluxo de tarefas).
E no grupo das Funções de Comunicação, os aplicativos de: email/ Webmail integrado;
SMS, MSN, correio de voz, fax, RSS feeds, bate-papo; fóruns, vídeoconferência; voip,
editoração de páginas, markup (permite a inclusão de notas em arquivos disponíveis
online para revisão/alteração/indagação).
É significativo ressaltar que os sistemas hoje encontrados no mercado são importantes
para o projeto, pois são instrumentos facilitadores da sua gestão. Entretanto, sob o ponto
de vista da colaboração, eles ainda não incentivam suficientemente os parceiros na
construção coletiva do conhecimento. Um dos motivos pode ser a forma como os pacotes
de gestão são concebidos. Talvez a premissa utilizada de que deve haver segurança de
todos os dados esteja prejudicando a comunicação. Pois à medida que a segurança
passa a ser o foco principal do sistema, as preocupações com o fechamento do sistema
aumentam e diminuem as possibilidades de integração entre as pessoas e os seus
projetos.
15
As Funções adicionais apontadas por Coelho (2008) foram redistribuídas entre os dois grupos propostos
neste trabalho, exceto as funções de integração de desenhos e planilhas (4D/nD) e softwares (MSproject e
Primavera), assim como referências entre arquivos (Xref), e interoperabilidade, que também podem ser
consideradas facilidades destes softwares gráficos.
38
Analisa-se, como exemplo, o SADP, que é um sistema integrado de armazenamento de
dados, cujos projetos são segregados um a um. Deve, portanto, o cliente, ou
responsável(is) e proprietário(s) da conta, permitir o acesso a cada projeto
individualmente. Está claro que a regra é que cada usuário/projetista tem acesso ao
projeto (ou projetos) com o qual esteja diretamente ligado. E isto é colocado de forma
bastante explícita. Segundo a empresa, usuários não podem ver os outros usuários. E
somente o gestor tem acesso a todos os usuários e a todos os projetos.
Entende-se que se privilegia a segurança das informações, no sentido de se preservar o
conhecimento global da atividade fim do escritório de projetos, ou seja, restringir a visão
completa dos conteúdos dos projetos de um escritório.
Nesta premissa de segurança, com a qual foi construído o sistema, em que, a princípio,
cada projetista tem acesso aos projetos com os quais está trabalhando, as
possibilidades de parcerias, transferência de experiências entre projetos, ficam
diminuídas. No ambiente dos escritórios, na prática de projeto, a troca de informações e
experiências entre projetistas de um mesmo projeto e também de projetos diferentes tem
se mostrado extremamente positiva para aumentar a sinergia e permitir que os projetos
se desenvolvam com mais coerência, e criatividade.
Somado a isto, como grande parte dos escritórios trabalha internamente de maneira
colaborativa no processo do projeto, a adoção de ferramentas cujo foco está mais
centrado na segurança dos dados do que na interação tende a modificar a cultura
colaborativa local.
Muito embora se entenda que as permissões de acesso aos pacotes de software de
gestão podem ser liberadas para todos os componentes de um escritório de projetos,
indaga-se por que o desenho de um aplicativo, para o setor de projetos, cuja necessidade
é justamente possibilitar a colaboração, é tão restritivo?
Outra questão analisada diz respeito à própria natureza dos pacotes, aplicativos de
softwares integrados, mas fechados em relação à Web, da qual extraem as suas
ferramentas e funções. Observa-se que esta condição de fechamento restringe também a
colaboração e não se acrescenta no seu sistema a atualização e a dinâmica que seriam
desejáveis para a sua interatividade.
39
Desta forma, entendemos que os pacotes de gestão que se denominam sistemas
colaborativos, na verdade, são eficientes sistemas de automatização de rotinas, para o
difícil encargo de organizar e controlar um projeto. Eles diminuem a necessidade, ou
facilitam o trabalho de secretárias, de arquivistas, de assistentes, de gerentes e
coordenadores, sem que estas ações contribuam efetivamente para a colaboração e a
sincronização dos projetos.
2.3. A CULTURA COLABORATIVA DOS ESCRITÓRIOS
A colaboração entre pessoas e equipes que participam de um projeto e da sua gestão é
função das interações que ocorrem e que resultam na sincronização das ações das
pessoas envolvidas. As ferramentas utilizadas servem apenas como um dos veículos que
podem levar a essa sincronização. “A questão central da equipe de trabalho virtual é a
comunicação e comunicação não é um problema tecnológico, mas sim uma questão
social e organizacional (LINE, 1997 apud ARAÚJO, 2003).
Observa-se também que tradicionalmente os escritórios de elaboração de projetos de
arquitetura exercem a prática colaborativa entre os profissionais da sua equipe. Isto se
deve às características de seu trabalho que depende de vários tipos de informações e
restrições e pode apresentar mais de uma solução arquitetônica para o mesmo problema
(aqui entendido como o conjunto de informações e restrições para a elaboração do
projeto).
A possibilidade de se obter várias alternativas para resolver um projeto instiga a uma
profusão de experimentações, não no sentido aleatório, mas baseadas em dados gerais
e específicos, que são as informações, as restrições, as técnicas, o repertório de
experiências anteriores, a cultura dos participantes, as suposições que se colocam.
Esses dados são trabalhados por quem desenvolve o projeto e as alternativas
encontradas são avaliadas sempre de forma subjetiva, uma vez que não é uma decisão
matemática. Trata-se de escolher, dentre as alternativas consideradas como as mais
promissoras para responder às necessidades daquele projeto, aquela que parece ser a
mais adequada para o caso específico. Este processo não se limita a esta definição, mas
a partir dela surge o estudo preliminar do projeto que vai sendo ajustado e desenvolvido,
ou mesmo substituído, se outros dados e conjecturas surgirem.
40
Portanto, o projeto arquitetônico é trabalhado por equipes que percebem o caráter
subjetivo das alternativas de soluções que são passíveis de ser apresentadas e esta
constatação as induz à troca de ideias entre os profissionais e outras ações de
colaboração para definir, reiterar e mesmo validar entre o grupo a solução que mais se
adequa às premissas daquele projeto que está sendo desenvolvido.
As ferramentas Web começaram a ser incorporadas aos escritórios de AEC, de forma
tímida com a utilização dos emails, navegadores, comunicadores e sistemas de buscas e
mantêm características da WEB 1.0, em que as relações são principalmente de pessoa a
pessoa.
No primeiro momento, elas são levadas para os escritórios a partir de práticas fora deles,
muitas vezes em experiências obtidas em atividades de lazer, busca de serviços ou
estudos. Através delas, as pessoas começam a se familiarizar com as ferramentas, e, até
percebem a possibilidade de solucionar questões profissionais, e no caso de AEC,
desenvolver atividades de gestão de processo de projeto.
Posteriormente, os escritórios de projeto começam a conviver cada vez mais com a
Internet, pois muitos dos serviços que eles utilizam começam a passar por ela (licitações,
consulta a leis, acesso a sistemas financeiros e comerciais, compra de serviços,
equipamentos e materiais etc.). Nestas atividades os profissionais começam a perceber a
possibilidade de uso das ferramentas colaborativas, e o potencial da lógica e da cultura
da Web 2.0.
Em uma análise sobre sistemas colaborativos, Kamei; Ferreira (2000) fazem uma
descrição muito pertinente do uso desses sistemas em dois escritórios de arquitetura
onde são verificadas, inclusive, as interações entre os participantes:
O trabalho colaborativo esbaseado em uma organização horizontal entre os participantes
e não mais vertical. Todos devem contribuir com suas respectivas capacidades para o
sucesso de determinado projeto. E é neste ponto que as ferramentas WEB podem
incrementar este processo de desenvolvimento, pois têm a capacidade de viabilizar a
integração centralizando todas as informações e podendo direcionar as tarefas que cada
componente da equipe tem que realizar de forma liberal. Não é necessário, por exemplo,
que um coordenador receba a informação e a redirecione. Com a centralização qualquer
participante pode interagir com o outro diretamente de forma transparente e rastreável por
toda equipe e principalmente pelo coordenador. É uma evolução. (KAMEI; FERREIRA,
2002)
Conforme as autoras, o resultado a ser obtido pelas empresas que optam por um
ambiente de trabalho colaborativo, é a maior rapidez e qualidade na tomada de decisões,
41
que é baseada em princípios, ao invés de poderes de personalidade. Além de uma
redução no ciclo de tempo e eliminação de trabalho sem valor no processo produtivo,
isso leva a um aumento da capacidade de produção, de retorno dos investimentos, de
controle e da responsabilidade da força de trabalho, incrementando dessa forma a autos-
suficiência da organização na realização de suas metas.
Uma questão que aparece na incorporação das práticas Web 2.0, em comparação aos
pacotes usados em AEC é que a cultura da Web 2.0 é aberta, e em geral seus
dispositivos são criados com software livre e não proprietários. E por serem elas abertas
incorporam, quotidianamente, um sem número de inovações. Isso leva a que sua
velocidade de atualização seja muito maior e muito mais rápida do que os pacotes
fechados. Seus produtos permitem adições, melhorias, transformações, promovidas por
inúmeras pessoas. Estas alterações coletivas, que muitas vezes surgem para responder
a um problema particular de alguém, como são abertas a todos, em pouco tempo são
descobertas por outros que lhes conferem novos usos ou adaptações. Isto leva a que a
transformação dos produtos Web 2.0 seja tão acelerada, que só resta aos pacotes
fechados de software a alternativa de correr atrás tentando se adaptar posteriormente às
novidades oriundas e aperfeiçoadas por ela.
Em outras palavras, os pacotes de ferramentas de colaboração são atualizados por um
grupo reduzido de pessoas enquanto que as ferramentas Web 2.0 são aperfeiçoados
constantemente por incontáveis (às vezes milhares) de colaboradores. Isto leva a que
muitas destas ferramentas comecem com o tempo a se tornar desatualizadas em relação
às inovações que vão chegando ao escritório de fora para dentro.
O próprio uso do software cria novas necessidades, que frequentemente são motivadas
pelo uso diário de outros softwares e pelas novidades que surgem diariamente na
Internet. Este conjunto de fatores só acontece pelas características do ambiente Web.
Um exemplo recente de transformação de uso na Web 2.0 é o Twitter
16
, que começou
centrado nas ações e nos sentimentos do seu usuário e hoje é um valioso e organizado
16
O Twitter, chamado por alguns de microblog” é um exemplo de transformação de uso motivada pela
dinâmica da Web 2.0. O twitter tem a filosofia de ser uma rede social aberta, em que o que se declara em 140
caracteres, pode ser lido por pessoas desconhecidas do autor da frase. Mas a intenção inicial do Twitter era
de que as frases fossem respostas à pergunta: “o que você está fazendo agora?”. Com esta resposta, cada
um exporia apenas um pouco do seu pequeno mundo. E começou desta forma até que a ferramenta passou
a incorporar outras funções. Uma delas foi a de transmitir notícias em primeira mão. Notícias que ainda não
haviam chegado aos meios de comunicação tradicionais. Sua credibilidade começou a aumentar a partir de
que terremotos, revoluções em países fechados, falecimento de celebridades, foram confirmados pelo
Twitter. Usuários da ferramenta começaram a indexar as notícias, com ashtags”, que em função da sua
popularidade ficam expostas a todos como as mais “twittadas”. Notícias geram comentários, e às frases
42
instrumento de opinião coletiva e notícias em primeira mão. É possível criar um twitter e
confiná-lo em um pacote de gestão de projetos, mantendo as suas características atuais.
Porque a lógica que possibilita a sua constante transformação é a liberdade de utilização
deste produto por qualquer pessoa. E nas condições da chamada extranet, um grupo
fechado de usuários, em que atuam poucas pessoas, não é possível obter a mesma
dinâmica que se obtém com o universo de usuários da Internet.
Klinc et al (2009) ponderam que apesar de algumas plataformas de software direcionadas
para AEC tentarem resolver a questão da colaboração para a construção civil, “... essas
plataformas são prejudicadas pela própria tecnologia fechada em si mesma”. Afirmam
que os profissionais de hoje têm “consciência tecnológica”, ou seja, convivem
constantemente com a tecnologia e não estão mais interessados em manter “um conjunto
predefinido de regras e ferramentas”. E completam dizendo que isto é especialmente
crítico no caso de ambientes dinâmicos tal como a indústria de AEC, em que quando se
tem tempo limitado, muitas vezes isso representa a diferença entre o sucesso e o
fracasso.
Uma pesquisa empreendida por Perez (2008) apud Klinc et al (2009) revela que 80% da
geração de trabalhadores chamada de X (pessoas nascidas após 1980) usam
diariamente redes sociais, ferramentas colaborativas da Web e aprovam o uso no
trabalho das ferramentas que já utilizam no seu cotidiano pessoal.
Os autores comentam que as pessoas não estão mais dispostas a dedicar tempo de
aprendizagem nas aplicações tradicionais, para as quais muitas vezes é preciso estudar
literatura, treinamentos, enquanto têm à sua disposição as novas aplicações interativas
da Web, que são amigáveis, e onde o aprendizado é intuitivo.
Por esta razão, também, diversos pesquisadores consideram que começa a ser difícil
manter os profissionais encerrados em intranets dos escritórios porque o mundo está
conectado e eles querem participar disso.
originais, tanto de notícias, quanto de comentários, quando copiadas, é dado o devido crédito ao autor com o
seu apelido no twitter. Parece pouco, mas isto gera uma avalanche de informações organizadas, nas quais
hoje é possível buscar informações e opiniões sobre qualquer assunto. Empresas o usam para se comunicar
com seus clientes, pesquisas de opinião são empreendidas até por emissoras de TV, políticos passam a
interagir com a população. Os twitteiros hoje julgam, promovem e derrubam opiniões pré-concebidas, sem o
controle dos meios de comunicação. E o importante disto tudo são que os usos iniciais pretendidos se
transformaram em algo maior. Seria então possível criar um twitter que mantivesse esta capacidade de
transformação dentro de um pacote de software?
43
Isto tem pressionado empresas que criam pacotes fechados de serviços para escritórios
a tentar incorporar em seus pacotes ferramentas que buscam ser similares às criadas
pela Web 2.0. No entanto, a sua lógica centralizada e hierarquizada tende a encontrar
problemas para levar isto à prática.
Por outro lado, começam a existir tentativas de se criar pacotes com as lógicas Web 2.0,
em que os arquivos e a plataforma estão fora dos servidores e da rede específica da
empresa. É o caso da plataforma, Incite Keystone, descrita por seus criadores como
sendo:
Uma poderosa plataforma on-line de ferramentas de projeto de colaboração que permite
gerir projetos de correspondência, gestão de documentos, processos de negócios, fluxo de
trabalho e relatórios. (Ela) combina colaboração com a flexibilidade para gerenciar e
monitorar o andamento do projeto. A plataforma garante todas as informações,
correspondência, documentos e arquivos relacionados ao projeto são armazenadas e
controladas em tempo real. Qualquer alteração feita será atualizada em todo sistema. O
software foi concebido para gerir todo o volume de informações durante todo o ciclo de vida
do projeto e monitora a contribuição de cada organização para os projetos. Todas estas
características podem ser adaptadas para atender às necessidades de cada projeto e os
objetivos do trabalho desenvolvido. (http://www.incite.com/)
U
ma atualização com estas características ocorreu recentemente com o software de
gestão Construtivo e tende a influenciar outros aplicativos que também estão no
mercado.
A mudança de cultura que está em curso, conforme percebemos não dos relatos
apresentados acima, mas da observação da constante evolução da Web, nos faz
perceber que a comunidade AEC teque adotar uma postura mais proativa e aberta em
relação à cultura criada pela Web 2.0.
Os prazos de projeto e construção estão cada vez menores. Consequentemente, o tempo
que as empresas de AEC têm para se adaptar a uma nova forma de se comunicar com
clientes, equipes, fornecedores, parceiros e o resto do mundo está cada vez menor.
A rápida assimilação das novas tecnologias é uma necessidade cotidiana, ao contrário do
passado. Antes, as chances de experimentar as tecnologias que surgiam eram menores,
os custos mais altos, e as poucas experiências divulgadas e seus resultados não
animavam a muitas iniciativas. Manter-se em processos comprovados era mais sensato e
mais barato, e ainda envolvia riscos menores, e a concorrência fazia o mesmo. Hoje, a
empresa que não procura experimentar para entender como aquele novo produto
tecnológico pode ajudar no seu empreendimento corre o risco de perder mercado,
informação relevante, contato com o cliente e simpatia da comunidade.
44
As ferramentas da Web 2.0, das redes sociais e dos mecanismos de colaboração e
interação estão sendo cada vez mais utilizados pelos softwares de gestão. A partir desta
utilização, passa a ser mais fácil que as empresas incorporem a lógica Wiki de
colaboração e auto-organização, o que possibilitará obter a agilidade necessária para
acompanhar as mudanças constantes colocadas pela complexidade para as práticas de
projeto e sua gestão.
2. 4. WEB 2.0, SISTEMAS COLABORATIVOS, INTERATIVOS E EMERGENTES
Mudanças nas necessidades de negócios, com tarefas e projetos mais complexos e
prazos de execução menores, segundo Santos (2006), vêm demandando alterações na
forma de trabalho das organizações, com a substituição do esforço individual pela
utilização de equipes, interagindo colaborativamente. E é cada vez mais comum que as
equipes de trabalho sejam formadas por pessoas dispersas geograficamente, ou que,
mesmo próximas fisicamente, têm uma flexibilidade de horário, trabalhando em turnos
distintos.
Para que o trabalho em equipe seja eficaz, Santos (2006) pondera que é necessária
cooperação entre os indivíduos envolvidos, facilidades de comunicação, entendimento
dos objetivos e papéis de cada um dentro do grupo, bem como acompanhamento do que
ocorre no âmbito de suas atividades de grupo.
Como dito anteriormente, a tecnologia de informação e comunicação entrou inicialmente
nos escritórios para auxiliá-los nas tarefas de secretaria e arquivamento. Da mesma
forma que a informatização dos escritórios e a Internet vêm alterando a forma de trabalho
em todas áreas, inclusive em AEC, a Web 2.0 vem começando a aparecer nos escritórios
e já começa a influenciar as relações de trabalho neste setor.
Segundo Santos (2002), a Internet tornou possível um “processo de comunicação de
múltiplos agentes e em tempo real”, mas, no início da sua existência, ainda se manteve a
visão da comunicação tradicional, de transmissão de mensagens com a centralização e o
45
controle ainda imperando, assim como os links que eram definidos apenas pelos autores.
Esta comunicação é a chamada sincronização
17
entre os agentes.
A internet, Antoun (2008), passou a ser conhecida do blico em 1984 por intermédio da
BBS, e atingiu a sua popularização a partir de 1995 com a Web. Ela é discutida como um
“modelo centralizado de produção e comunicação massiva”, segundo o autor, neste início
dos anos 1980.
Mas mesmo com a comunicação tradicional, os links começaram pouco a pouco a
subverter a hierarquia pré-estabelecida do modelo centralizado do início da internet. Isto
porque a função dos links é apontar para uma certa informação, não necessariamente em
ordem hierárquica.
Benkler (2006) faz uma análise das redes sob a ótica econômica e pontifica que a
Economia Industrial da Informação vem abrindo espaço para a Economia da Informação
em Rede. Segundo o autor, a Economia Industrial da Informação se caracteriza por
contar com poucos produtores e muitos consumidores passivos; grandes barreiras para a
entrada de produtores; concentração de poder, que acarreta desvios.
Em contraponto, ele caracteriza a Economia da Informação em Rede como aquela em
que as barreiras de acesso são cada vez mais frágeis, pois cada consumidor, que é
potencialmente um produtor de informação, vai assumindo cada vez mais este papel
produtivo, havendo auto-organização espontânea nas interconexões destes
consumidores ativos. Mas não há uma evolução de um sistema para outro, segundo
Benkler, mas sim uma convivência entre a Economia Industrial e a em Rede.
Neste contexto, Benkler (2006) que a produção social, que sempre acompanhou o ser
humano, é impulsionada pela internet, e pela popularização das tecnologias de
informação e comunicação. Grandes recursos, outrora necessários para impressão ou
veiculação por mídias de propriedade de poucos, que selecionam conteúdo, vem dando
lugar à alternativas de comunicação como comunidades virtuais, sites, redes sociais e
blogs, que permitem a publicação barata, e a propagação instantânea. Esta produção
social intermediada pela internet, segundo Benkler, é alheia ao mercado e às hierarquias
17
A sincronização entre os agentes pode ocorrer de duas formas: síncrona e assíncrona. Define-se síncrona
como a comunicação que ocorre no mesmo instante, como em um chat, e assíncrona, a que ocorre em
momentos diferentes, como a comunicação por email.
46
e traz a concentração ou totalização das “contribuições pulverizadas” dos que participam
pela Web. Esta característica dá relevância econômica à produção social.
Esta análise das redes, do ponto de vista econômico, de Benkler (2006), que analisa as
transformações no mercado de alguns bens e serviços, complementa e contrasta a visão
sociológica de Castells (2000) das redes. E coloca no cerne da discussão as
oportunidades que surgem, neste modelo, não só para produções coletivas, mas também
individuais, salientando que todas estas não se prendem ao mercado (non market
production), mas formam um conjunto social que não pode ser ignorado
economicamente.
Na abordagem da produção da informação, o autor também discute a flexibilização da
autoria, neste modelo, através de creative commons, que diferentemente das licenças
de copyright (que dão ao autor todos os direitos reservados”, pelos quais se travam
batalhas sobre direito autoral), tem como alvo a colaboração, a cópia e a divulgação, de
acordo com as regras destas licenças (que permitem “alguns direitos reservados”) de
proteção de autores, mas que prevêem a utilização por outros, sob determinadas
condições.
Neste sentido, Benkler (2006) verifica que a propriedade intelectual tem um peso muito
grande para certas indústrias como a farmacêutica, a cinematográfica e a fonográfica,
embora no conjunto do que se produz de informação e conhecimento, essa exclusividade
autoral seja irrisória.
No entanto, mesmo empresas que administram várias patentes, o da indústria
farmacêutica, têm aberto novos caminhos para a criação de pesquisas colaborativas com
voluntários conectados pela Web
18
, e distribuem assim a autoria do resultado das
pesquisas.
18
Recentemente, a empresa farmacêutica Glaxo SmithKline (GSK) liberou a público os chamados “modelos
de 13.500 componentes químicos que, segundo ela, seriam capazes de inibir o parasita que causa a malária”
na esperança de que cientistas espalhados pelo mundo possam vir a descobrir, pesquisando
colaborativamente, o tratamento da doença.
Esta atitude da empresa, que algum tempo tem adotado parcerias com outras instituições, de utilizar um
modelo de negócio aberto (mesmo que para uma doença disseminada em um país pobre, no qual o remédio
tem baixo retorno financeiro, embora alto retorno social) é importante, pois de alguma forma a mostrar as
vantagens deste modelo colaborativo de negócio.
47
Spyer (2009) relata que o conceito de Web 2.0, foi criado por Tim O’Really em 2004, da
O’Really Media, uma editora e empresa de comunicação e, em seu sentido original, o
termo distingue sites ou aplicativos de baixo custo de desenvolvimento, em que o
conteúdo é criado a partir do relacionamento entre os participantes, de baixo para cima
(bottom-up), ou seja, sem que seja imposto ao usuário. Estes aplicativos, segundo o
pesquisador, podem ser combinados em soluções desenvolvidas pelos usuários e os
seus dispositivos podem ser a mistura de aplicativos e conteúdos de diversos sites para
produzir uma experiência integrada (chamada de “mashup”), ou ainda, uma experiência
customizada.
Antoun (2008) relata que o termo Web 2.0, é um marco de transformação no modelo da
Web que surge na “virada do milênio”. Ao mesmo tempo, ainda segundo o pesquisador,
em que o site Cluetrain Manifest, transformado depois em livro, discute “a mudança na
comunicação e nos negócios a partir do surgimento de um público auto-organizado e
participativo”.
O termo Web 2.0 é uma evolução da Web, na medida em que os aplicativos utilizados
para a sua criação são fracamente fechados (permitem alterações), e, portanto, os
usuários podem modificá-los, de forma a lhes agregar valor. Não é só quanto à facilidade
no desenvolvimento de aplicativos que se caracteriza a Web 2.0, mas também quanto à
participação dos usuários tanto na criação quanto na transformação de conteúdo. Ou
seja, grande evolução na participação dos usuários, com trocas de informações e
colaboração em sites e serviços virtuais. Pode-se dizer então que a Web 2.0 é uma
alteração na forma como a Web é vista por desenvolvedores e usuários.
O’Reilly, 2005, faz um comparativo entre Web 1.0, como sendo a Web inicial, e a Web
2.0, como uma evolução em que se usa a Web colaborativamente. A lista é extensa, e
optou-se por reproduzir alguns itens, de acordo com os assuntos abordados nesta
pesquisa.
Web 1.0
Web 2.0
Britannica Online
Wikipedia
Sites pessoais
Blogues
Especulação com nomes de
domínio
otimização para motores de
busca
publicação
participação
Sistemas de gestão de conteúdo
wikis
diretórios (taxonomia)
tags (“folksonomia”)
48
No site da enciclopédia Britannica online, as informações são selecionadas por uma
equipe técnica e apresentadas aos usuários, que são expectadores deste conteúdo.
na Wikipedia, definida por ela mesma como uma enciclopédia “multilíngüe, online, livre e
colaborativa” - e editada por várias pessoas voluntárias. Dentro deste contexto, o
conteúdo da Wikipédia pode ser transcrito, desde que se preserve os direitos de cópia e
modificações. (Wikipedia).
Os Sites pessoais em que o interlocutor se pronunciava e veiculava as informações que
lhe interessava mostrar à internautas que eram apenas espectadores, deu-se origem aos
Blogues em que os comentários dos internautas são importantes para balizar e até
reformular o seu conteúdo, através dessa interação entre o interlocutor e seus
internautas, agora ativos participantes.
Nas comparações entre enciclopédia Britannica online e Wikipedia, e entre Sites
Pessoais e Blogues, aparece de forma clara a comparação entre uma Web voltada para
a publicação, em que o objetivo do autor está em transmitir a mensagem para os seus
receptores, e outra que aponta para a participação, que a Web como um ambiente
participativo.
Outra evolução percebida é que no início da Web existiam especuladores que
registravam nomes de domínios, ou seja, nomes de marcas consolidadas (pessoais ou
de empresas), com o intuito de posteriormente vendê-las aos seus interessados (ato
considerado por alguns como pirataria). Por outro lado, segundo Benkler (2006),
empresas com marcas conhecidas, que detém os domínios dos seus nomes, tentam
bloquear o acesso dos consumidores às ferramentas de busca para evitar comparação
entre preços e produtos.
Estas práticas deixaram de se estabelecer na medida em que motores de busca
começaram a ser otimizados. Esta otimização, que considera todas as informações dos
internautas que circulam na Web (ou seja, considera a colaboração de todos), trouxe
como resultado um maior refinamento para se encontrar as informações que se procura.
Isto permitiu que marcas consolidadas fossem facilmente encontradas por quem tivesse
este interesse, não havendo mais necessidade de que o proprietário de uma marca
tivesse também o seu domínio, pois passou a ser suficiente digitar o seu nome para que
49
vários links pudessem ser acessados. Este é um fato importante a ser salientado, pois a
divulgação em motores de busca da informação desejada (popularização da marca), que
expressa a lógica da Web 2.0, permitiu a desestabilização da posse (domínio da marca),
como valor de mercado.
De forma semelhante, os sistemas de gestão de conteúdo, que são captadores e
administradores de informação, para consumo de internautas, para que estes continuem
a ter interesse nos sites, vem sendo substituídos por Wikis e sites que utilizam a lógica
Wiki, em que os próprios internautas passam a prover o seu conteúdo. A Web 2.0
começa também a ser chamada de Web participativa.
A taxonomia é definida como o estudo de classificações, muito necessária para a
ordenação e nomeação, dentro de categorias existentes ou novas categorias, de
elementos afetos às diversas áreas do conhecimento humano, como a computação e a
biologia. A folksonomia, palavra atribuída a Thomas Vander Wal, é a mistura da palavra
folk (povo) com taxonomia (classificação), e significa a classificação feita por pessoas, de
forma participativa. A maneira de classificar por categorias da taxonomia, centralizada e
hierarquizada, é substituída por uma forma relacional em que o usuário utiliza uma tag
(etiqueta, identificação, em inglês) para relacionar esta palavra-chave na classificação da
informação.
À primeira vista, pode parecer que estas funções interessam aos programadores,
desenvolvedores e pessoas que se relacionam com muita familiaridade com as novas
tecnologias. Mas na realidade, elas modificam os hábitos e as relações das pessoas que
são apenas usuários dessas tecnologias.
A Web 2.0
19
é a segunda geração de serviços online e caracteriza-se por potencializar as
formas de publicação, compartilhamento e organização de informações, além de ampliar os
espaços para a interação entre os participantes do processo (...) tem repercussões sociais
importantes que potencializam processos de trabalho coletivo, de troca afetiva, de
produção... (PRIMO, 2008: 101)
Hoje, como sabemos, o aprendizado na Internet é muito intuitivo. Ou melhor, o
aprendizado de algumas tecnologias criadas é muito intuitivo e se populariza facilmente
19
O conceito de Web 2.0 gerou outro conceito, o de beta perpétuo”. Os sites, antes da Web 2.0, eram
lançados ou em versão Beta, para a experimentação do público, ou em uma primeira versão que, à medida
que houvesse um conjunto de melhorias, era substituída por uma versão atualizada. Pelo uso constante das
funcionalidades, e pelo fato do aplicativo estar em rede, o feedback de usuários e o constante teste de
funcionalidades torna-se um processo sem interrupção por versões.
50
justamente porque são de fácil aprendizado. Para que uma tecnologia se torne popular,
esta é a condição fundamental. Foi o que aconteceu com a própria Internet, com o uso do
email, com as redes sociais como o Orkut e o Facebook, com os grupos de discussão, e
agora acontece com o Twitter.
Redes Sociais, melhor caracterizadas como Redes Sociotécnicas, são relacionamentos
entre grupos com algum interesse comum. Na Internet elas ganharam ascensão e são
caracterizadas como comunidades virtuais, com as suas particularidades.
Embora as redes tenham existido sempre como forma de organização social, com as
vantagens de ter maior flexibilidade e adaptabilidade que outras formas, elas tinham um
problema inerente: a incapacidade de administrar a complexidade para além de um certo
tamanho crítico. Essa limitação substancial foi superada com o desenvolvimento das
tecnologias da informação. É por isso que a flexibildade pode ser alcançada sem sacrificar a
performance, e é por isso também que, por sua capacidade superior de desempenho, as
redes vão gradualmente eliminando, em cada área específica de atividade, as formas de
organização hierárquicas e centralizadas. (CASTELLS, 1999)
Na teoria Ator-Rede, Latour (1999), apud Alcadipani (2009), busca-se a associação de
elementos heterogêneos (humanos e não-humanos), que se relacionam de forma
aleatória. Esses elementos adquirem seus atributos nesta interação, pois modificam-na e
são modificados por ela. Nestas estruturas, que representam os nossos ambientes
sociais, e nossas comunidades virtuais, não como participar como observador sem
interferir, e sem ser impactado.
Spyer (2009) relata que defensores do termo Web 2.0 dizem que ele identifica sites de
rede social, ferramentas de comunicação, wikis e etiquetagem eletrônica (tags),
baseados na colaboração e que entendem que a natureza da rede é orgânica, social e
emergente. Neste mesmo trabalho, Spyer (2009) ressalta que, atualmente, a Web 2.0 é o
termo mais difundido dentro da indústria de tecnologia como sinônimo de sistemas
colaborativos.
Neste sentido, a mudança que vem acontecendo com a popularização do twitter é a
mostra de como as relações sociais estão se modificando com a Internet. Antes, essas
relações eram intersubjetivas, de pessoa a pessoa, e atualmente passaram, em pouco
tempo, a se estruturar em relações dos grupos (ou listas) de discussão, redes sociais,
como acontece agora com o Twitter. As relações se configuram como abertas ao mundo.
Com a Web 2.0 e a mudança do foco da publicação para a participação, passou-se a
valorizar cada vez mais os espaços para interação mútua: o diálogo, o trabalho
cooperativo, a colaboração e a construção coletiva do comum.
51
A tecnologia Wiki foi uma das primeiras expressões da Web 2.0, recuperando a gica
descentralizada do Hipertexto e superando a separação entre autor e leitor. Separação que
começa a desaparecer quando é possível a qualquer um modificar o texto, ou, a partir de
uma palavra ou imagem, estabelecer relações com outros mundos e informações que lhe for
conveniente, abrindo sua própria janela e colocando o seu modo de ver. (SANTOS, 2009)
Criar uma página Wiki é mais fácil do que criar uma página na Internet. Esta é a razão
pela qual inúmeras pessoas participam do maior trabalho colaborativo de que se tem
notícia, a Wikipédia.
Esta lógica, inaugurada pelos Wikis e que se desenvolve com a Web 2.0, abre a
possibilidade de surgimento de processos emergentes e põem em questão determinados
conceitos e paradigmas.
Figura 2 – Página de uma ferramenta Wiki
Fonte: NEXT, ICICT, FIOCRUZ
Nesse sentido, a cultura Wiki, segundo Santos (2009), começa a unir emissor e receptor
e em decorrência aproxima a “ação” do “pensamento”. O autor ressalta a capacidade do
52
Wiki de “sincronizar a ação de diferentes agentes”, em um processo em que “novas
realidades” surgem de baixo para cima, e viabiliza o processamento de grandes
quantidades de informações.
Em um Wiki
20
, um grupo de pessoas trabalha junto, e às vezes simultaneamente, em um
mesmo arquivo. Conforme Santos (2009), esta é uma característica muito importante dos
Wikis, maior até, segundo o autor do que a “transmissão de mensagens” ou de
“publicação de conteúdo”, que também são suas funcionalidades. Esta construção
coletiva, na ferramenta Wiki original, ainda se sobre a forma de texto, que imagens,
vídeos e sons são incorporados da maneira tradicional, sem que haja interação ou
transformação coletiva do seu conteúdo. No entanto, a lógica Wiki vem se irradiando a
diversos dispositivos e influenciando outras ferramentas como o Google Docs, softwares
de redes sociais e navegadores. Porque ela abriu o caminho para a construção coletiva e
interativa, que caracteriza a Web 2.0.
Primo (2007) aborda a tendência à moderação dos serviços online, com a implantação do
que pode se chamar gestão coletiva no trabalho comum, com a nomeação de
moderadores em rotatividade, como meio de se evitar vandalismos e conflitos
excessivos.
O Google Wave, recentemente lançado, é mais um passo para a ampliação das
possibilidades de construção coletiva, ainda que embrionário nas experiências atuais.
Este produto do Google se caracteriza por permitir a visualização de todos os grupos de
contatos de usuários que podem se relacionar por email de forma instantânea, como em
20
Em "Ferramentas Web 2.0 para iniciantes em Gov 2.0", SAUNDERS, B., encontramos uma descrição do
potencial das ferramentas Web 2.0 para melhorar a qualidade e alcance das conversas entre governos e
cidadãos. Abaixo o texto que se refere a Wikis (http://insightgov20.wikispaces.com/
, acesso em
14/09/2009, tradução nossa):
Wikis são um tipo de software colaborativo em que todos os participantes podem adicionar / editar / excluir
partes de um conteúdo que é compartilhado. Eles estendem o alcance da ação política tradicional,
aproveitando o conhecimento e a criatividade de uma comunidade de participantes para além da pequena
elite que normalmente se envolve no processo político. Este maior engajamento colaborativo pode levar à
resultados de políticas mais participativas e representativas, ao mesmo tempo em que compartilha a
propriedade do conteúdo. Wikis permitem aumentar as formas de participação já que as pessoas podem
escolher quais as participações que lhe são mais atraentes (apoio à pesquisa, elaboração de trabalhos
originais, participação em debates, correção da ortografia e da gramática). Isso tende a elevar a qualidade
das contribuições individuais, pois elas são consequência dos interesses de cada um. Wikis também
armazenam as revisões das contribuições dos participantes proporcionando um avanço significativo em
relação à colaboração de documentos tradicionais. As mudanças entre cada versão original e a versão final
podem ser revistas ordenadas por data ou por contribuição.
As Limitações: Wikis podem ser complicados para quem nunca utilizou. Além disso, os wikis não vêm com
uma estrutura pré-formatada, e é necessário que os moderadores orientem a participação e em algumas
situações demonstrem caminhos. Wikis apresentam uma nova forma de trabalhar e, como tal, podem exigir
apoio à mudança de gestão para aplicação em locais de trabalho mais tradicionais.
53
um Chat. Nesta interação qualquer membro visualiza o email que receberá, no momento
mesmo em que ele está sendo escrito, podendo inclusive alterá-lo.
O mais importante no Google Wave
21
é que é possível alterar e trabalhar conjuntamente
sobre qualquer tipo de arquivo (o que abre novas possibilidades para o setor de AEC cujo
objeto de trabalho são arquivos de diferentes tipos (texto, imagens, tabelas, gráficos,
bancos de dados etc.). O Google Wave aposta nas relações cada vez mais abertas da
Web, e nas suas atividades mais transparentes e dinâmicas.
Na idéia da auto-organização, fundamentada por Prigogine (2003)
22
, e outros autores
23
,
as estruturas existentes estão sempre em constante evolução, em processo contínuo de
adaptação e retroalimentação.
Prigogine, segundo Pellanda (2009), é considerado um integrante do Movimento de
Auto-Organização [...] por seus estudos de reversão da entropia graças ao princípio da
auto-organização ultrapassando as fronteiras do mundo físico-químico”. Seus estudos
sobre a 2ª lei da Termodinâmica foram um dos prenúncios das teorias da Complexidade.
Prigogine (2002: 14-21) avança nos seus estudos sobre o caos (“sempre conseqüência
de fatores de instabilidade”), que consideram a reversão da entropia em estruturas de
não-equilíbrio, também chamadas de dissipativas”. Como relata Bauer (2000) sobre esse
estudo de Prigogine, quando ocorre uma situação de perturbação aleatória (ou ruído)
nestas estruturas, a instabilidade aumenta até o ponto chamado de bifurcação em que a
estrutura se rompe dando origem à um novo equilíbrio, estável, mas gerando uma nova
estrutura mais complexa.
21
As características do Google Wave estão relatadas no Anexo D.
22
É justamente na instabilidade de Bérnard (aquecimento de líquido por baixo,[...] até o
aparecimento de turbilhões [...] em que milhões de moléculas seguem milhões de outras,[...]
fenômeno que se desdobra fora do equilíbrio), que observamos os fenômenos de auto-
organização, os quais mostram que o comportamento da matéria é mais complexo do que
acreditávamos”.(PRIGOGINE, 2003: 24-25)
23
O conceito de auto-organização ganhou outros contornos desde que Maturana e Varela (1997)
desenvolveram a noção de autopoiese para descrever a teia da vida e como os seres vivos
mantêm a identidade de suas espécies. Para eles, os seres vivos seriam sistemas autopoiéticos
porque reproduzem todas as unidades elementares de que se compõem e com isso delimitam as
fronteiras com o ambiente. Os autores chilenos identificam essa propriedade como capacidade de
forjar identidade. Os sistemas vivos passam a ser descritos então como sistemas fechados na sua
auto-referencialidade, orientados, portanto, para a manutenção de sua identidade”.(CURVELLO,
SCROFERNEKER, 2008)
54
Na continuidade das suas pesquisas Prigogine (2002: 29) considera importante o que
chama de paradoxo do tempo:[...] a seta do tempo tem o papel de criar estruturas.
podemos falar de ‘sistemas’ em situações de não equilíbrio. Sem as correlações de longa
duração devidas ao não-equilíbrio não haveria nem vida nem, por mais forte razão,
cérebro”.
Sistemas auto-organizados se caracterizam por serem abertos, mas para que se
transformem é necessário que aconteça uma evolução, ou seja, que aconteça um
fenômeno de emergência.
Weaver, segundo Johonson (2001), no final da década de 1950, descreve os avanços do
último quarto do século, e conjectura que do estudo de sistemas simples (duas ou três
variáveis), para uma segunda fase em que se pesquisam as questões que envolvem a
complexidade desorganizada, que apesar de conterem milhares de variáveis podem ser
solucionadas por métodos estatísticos e probabilidade. Mas uma terceira fase no avanço
era uma cujas variáveis estavam em um intermediário entre poucas (1ª fase) e milhares
(2ª fase) de variáveis, sendo que o componente muito maior de complexidade era dado
pela inter-relação entre essas variáveis.
Muito mais importante do que meramente o número de variáveis é o fato de que todas estas
variáveis estão inter-relacionadas (...) Esses problemas, quando contrastados com
situações desorganizadas das quais as estatísticas podem dar conta, mostram o aspecto
essencial de organização. Vamos, portanto, nos referir a esse grupo de problemas como de
complexidade organizada. (WEAVER apud JOHONSON, 2001)
Santos (2009) diz que, nos sistemas complexos, a interação é a parte mais importante a
ser considerada no processo. E para abordar os sistemas complexos:
(...) precisamos considerar a informação como uma propriedade da relação de sistemas
diferentes, o que é possível se ela for entendida como um processo de interferência, de
informação recíproca entre sistemas diferentes situados em parâmetros espaço-temporais
diversos, mesmo que se ‘encontrem’ e se ‘atualizem’ em um espaço e tempo específicos,
quando ocorre um processo de emergência
24
. (SANTOS, 2009)
Os processos de emergência são estudados por Johnson (2001) e ocorrem em sistemas
onde múltiplos agentes interagindo dinamicamente, sem liderança, mas seguindo regras
24
Atualmente, os estudos sobre emergência de Johnson (2001) influenciam alguns arquitetos nos
estudos de arquitetura emergente: ... a complexidade não é somente uma questão de sobrecarga
sensorial. Há também o sentido de complexidade como um sistema de auto-organização mais
para Instituto Santa do que para Escola de Frankfurt. Tal tipo de complexidade vive em um
nível acima: descreve o sistema da própria cidade e o uma recepção sensorial por parte do
habitante. (JOHNSON, 2001 apud JENCKS; KROPF, 2006).
55
simples e rígidas, são capazes de reagir a estímulos e atingir um nível superior de
inteligência, ou descobrir soluções antes inesperadas, ou executar tarefas e ações
conjuntas superiores às somas das individuais. A ascensão a este status superior é
chamado de emergência.
Nos sistemas emergentes, o todo se faz maior do que a soma das partes, e permite a
aparição de resultados inéditos, que não são frutos de uma instrução superior (top down),
mas da auto-organização e interação dos múltiplos agentes.
Esses padrões, segundo Johnson (2001), são encontrados em vários sistemas, como a
evolução das cidades cuja colaboração intuitiva provoca resultados não planejados; a
colônia de formigas que modifica sua estratégia em função do ambiente; um organismo
semelhante à uma ameba, dictyostelium discoideum, que se auto modifica em resposta à
estímulos externos; o cérebro humano e sua capacidade de adaptação; e a Web “o
maior e mais avançado sistema auto-organizável feito pelo homem” (...) e que agora está
sendo “capaz de representar a verdadeira inteligência coletiva, conforme afirma Johnson
(2003).
A importância dos sistemas emergentes esem eles viabilizarem a resposta a questões
que aparecem com a complexidade, que muitas vezes não podem ser solucionadas pela
gestão tradicional onde a coordenação tem um mando incontestável.
Evidentemente, a imprevisibilidade relativa dos sistemas emergentes dificulta a sua
adoção em empresas de organização hierárquica, conforme observa Johnson (2001),
que completa:
No entanto, os sistemas emergentes podem ser inovadores e brilhantes e tendem a ser
mais adaptáveis a mudanças repentinas do que modelos hierárquicos mais rígidos. Essas
qualidades tornam os princípios da inteligência bottom-up para negócios que lutam para se
manter na ordem do dia com as mudanças do século XXI. (JONHSON, 2001)
Johnson (2001) relata que algumas companhias experimentaram estruturas
organizacionais que utilizam redes neurais (a maior parte são empresas de tecnologia),
em que adotam uma rede mais celular em contraponto a departamentos fechados em si e
em estrutura hierárquica. Esta rede celular geralmente é composta de 12 pessoas (ou
mais) que podem definir os seus objetivos. A alta administração, nestes casos, tem um
papel menos importante e fica mais ocupada com a motivação dos grupos para que eles
tenham condições de gerar idéias.
56
De forma prática, a Web 2.0 pode ser utilizada de forma efetiva nos ambientes de AEC
para permitir a interatividade e a transparência entre todos os agentes do processo do
projeto. A necessidade de cada vez mais pessoas participarem da gestão, que se coloca
em função do aumento da complexidade, pode ser viabilizada através de mecanismos de
interação que viabilizem esses processos emergentes, e de novas soluções, “antes
impensadas”, que possam aflorar na gestão de projetos.
A academia tem feito experiências relevantes no sentido de explorar os recursos da Web,
e nesse contexto, tem havido um passo importante para a incorporação das ferramentas
da Web pelos estudantes e também pelos docentes e pesquisadores. Trabalhos
colaborativos à distância e uso de todas as ferramentas disponíveis na Web, tem se
configurado uma matéria de interesse nas universidades
25
.
A utilização da Web 2.0
26
é ainda embrionária nos escritórios. Mas, as alterações na
forma de se relacionar, proporcionada pela Web 2.0, é de particular interesse para o
estudo dos sistemas colaborativos. Porque assim como as comunidades de AEC vêm
sendo transformadas pela automação e pela Internet, mesmo que lentamente, a Web 2.0,
como expressão mais geral da cultura Wiki, tenderá a se colocar como resposta às
questões advindas da complexidade e da necessidade constante de acelerar os
processos de projeto e de construção.
A utilização da Web 2.0 é ainda embrionária nos escritórios. Mas as alterações na forma
de relacionamento, proporcionada pela Web 2.0, são de particular interesse para o
estudo dos sistemas colaborativos. Porque assim como as comunidades de AEC vêm
sendo transformadas pela automação e pela Internet, mesmo que lentamente, a Web 2.0
como expressão mais geral da cultura Wiki, tende a se colocar como resposta às
questões advindas da complexidade e da necessidade constante de acelerar os
processos de projeto e de construção.
25
Ver alguns exemplos destas experiências no Anexo F.
26
Quadros explicativos de ferramentas colaborativas estão no Anexo E.
57
3. PESQUISA DE CAMPO EM ESCRITÓRIOS DE PROJETOS
3.1. APRESENTAÇÃO DA PESQUISA DE CAMPO
Os problemas da gestão de projetos, decorrentes da sua complexidade que, por conter
inúmeras variáveis, provocam a multiplicação de novas questões, carecem de um
ambiente que estimule a colaboração e a sincronização das informações para que o
projeto possa atingir os seus objetivos de maneira muito mais fácil e eficiente,
considerando os prazos reduzidos e a qualidade requerida. Os princípios e propostas de
interação da cultura Wiki e da Web 2.0 podem proporcionar este ambiente na medida em
que consigam influenciar as relações de trabalho e os seus processos de gestão. Para
verificar de que forma estes benefícios da nova lógica trazida pela Web 2.0 podem ser
incorporados à gestão de projetos é necessário identificar como estas empresas
resolvem os seus problemas de gestão e como elas estão se apropriando das TICs.
A metodologia adotada para a Pesquisa de Campo foram as Entrevistas que se
realizaram com o suporte de um roteiro-questionário
27
de perguntas semi-estruturadas,
para garantir a uniformidade de temas para posterior comparação. As perguntas do
questionário versaram sobre a gestão dos escritórios, a forma de comunicação e
colaboração entre as equipes e agentes do projeto. E sobre as TICs utilizadas e a
familiaridade dos escritórios com a Web.
TÓPICOS ABORDADOS NA
PESQUISA
PERGUNTAS CORRESPONDENTES NO
ROTEIRO-QUESTIONÁRIO
Contexto Geral 1
Estrutura das equipes para o Processo dos
Projetos.
2
Troca de informações entre a equipe do
escritório de arquitetura
2
Relacionamento com parceiros externos de
projetos, consultores e terceirizados
3 e 4
Maiores problemas encontrados na elaboração
de um projeto
5
Como se dá a troca de informação entre as
equipes externas ao escritório
6
Utilização de softwares de gestão 6 e 11 (também 13)
Utilização de softwares de representação
gráfica
7 e 8 (também 13 e 14)
Familiaridade com a Web 9, 10, 11 e 12
Quadro 2 – Relação entre assuntos/tópicos da pesquisa com as perguntas do questionário
Fonte: Autora
27
Ver detalhes sobre o Roteiro das Entrevistas com os Escritórios de Projeto no Anexo G.
58
Os dados e informações coletados nas entrevistas foram resumidos em função da sua
relevância qualitativa nesta pesquisa para a apresentação e análise comparativa neste
capítulo. Posteriormente, estes dados e informações foram analisados e agrupados com
o levantamento bibliográfico e os estudos apresentados nesta pesquisa para a
formulação de sua conclusão.
No contexto das empresas de AEC, dentro do universo dos escritórios de projetos, os
escritórios de arquitetura foram o referencial para a análise mais específica. Ou seja, a
averiguação da forma como estes escritórios se estruturam e como fazem a gestão do
processo dos seus projetos. Como administram os seus recursos (humanos e
ferramentas) para a produção do projeto. E também foram investigados como os
escritórios incorporam as TICs e como a Web 2.0 e a sua cultura estão entrando nos
escritórios e influenciando o seu trabalho.
Os escritórios de arquitetura avaliados na pesquisa de campo foram escolhidos segundo
o critério da complexidade de seus projetos. Todos os escritórios selecionados
desenvolvem projetos complexos para a área da saúde
28
, e também para áreas que
requerem o mesmo nível de complexidade como a de planejamento urbano. São quatro
escritórios de arquitetura de duas metrópoles brasileiras dois escritórios da cidade do
Rio de Janeiro; e dois escritórios da cidade de São Paulo. Em adição a esta pesquisa, foi
feita uma entrevista com um escritório de arquitetura da cidade de Durban, na África do
Sul que serve de comparativo com os escritórios brasileiros analisados.
Para manter a integridade das informações coletadas através das entrevistas, os nomes
das empresas que contribuíram para esta pesquisa de campo foram substituídos por
letras maiúsculas aleatórias (de A a D) sem qualquer relação com a sua denominação.
Também não estão divulgados os dados coletados em campo
28
A caracterização das empresas brasileiras entrevistadas está no Anexo H desta dissertação.
59
EMPRESA DE
ARQUITETURA
SEGMENTOS
DE ATUAÇÃO
ABRANGÊNCIA
GEOGRÁFICA
TEMPO DE
ATUAÇÃO
EQUIPE DO
ESCRITÓRIO
A
Arquitetura da
área de Saúde,
Arquitetura
Corporativa,
Geral e
Planejamento
Urbano
Rio de Janeiro
e parte do
Brasil
40 anos
Em torno de 25
pessoas
B
Arquitetura da
área de Saúde,
Arquitetura
Corporativa,
Geral e
Planejamento
Urbano
Rio de Janeiro
e parte do
Brasil
20 anos
Em torno de 40
pessoas
C
Arquitetura da
área de Saúde,
Arquitetura
Industrial, Geral
e Planejamento
Urbano
São Paulo
e parte do
Brasil
50 anos
Em torno de 30
pessoas
D
Arquitetura da
área de Saúde,
Educação e
Planejamento
Urbano
São Paulo
e parte do
Brasil
50 anos
Em torno de 30
pessoas
Quadro 3 – Perfil resumido dos escritórios de arquitetura que participaram da pesquisa de
campo.
Fonte: Autora
EMPRESA DE
ARQUITETURA
SEGMENTOS
DE ATUAÇÃO
ABRANGÊNCIA
GEOGRÁFICA
TEMPO DE
ATUAÇÃO
EQUIPE DO
ESCRITÓRIO
E
Arquitetura
Aeroportuária,
Esportiva,
Saúde,
Corporativa e
Planejamento
Urbano
Durban,
África do Sul
e parte do
continente
Africano
80 anos
Em torno de
120 pessoas
Quadro 4 – Perfil resumido do escritório de arquitetura que atua na África do Sul
Fonte: Autora
60
3.2. ANÁLISE COMPARATIVA DA PESQUISA DE CAMPO
Tendo como base as entrevistas realizadas com os membros dos escritórios de projetos
de arquitetura, procede-se à análise comparativa destes dados.
3.2. 1. Estrutura das equipes para o Processo dos Projetos
Um dos elementos importantes na análise comparativa entre os escritórios de arquitetura
é a forma como as suas equipes são estruturadas, ou seja, a forma como se distribui a
força de trabalho para elaborar o seu produto, que podem ser os projetos de arquitetura,
os estudos de viabilidade, os planos diretores, as consultorias etc.
Nos escritórios de arquitetura entrevistados, para uniformizar a comparação entre eles,
estudou-se de que forma a equipe interna é estruturada para produzir um projeto de
arquitetura, desde a contratação pelo cliente, até a entrega de um projeto executivo. E
como forma de ilustrar estas situações, mostra-se algumas figuras bastante
esquemáticas da sua estrutura, que podem ser lidas com a legenda abaixo:
coordenador de projetos
arquiteto, que pode assumir a função de líder ou gerente (conforme o caso)
arquiteto
estagiário ou desenhista (conforme o caso)
Na empresa A, para cada projeto, a coordenação de projetos define um líder, dentre os
arquitetos do escritório, e a partir dele são incorporados dois ou três profissionais e
alguns estagiários, que são escolhidos pela coordenação e pelo líder, de acordo com o
perfil do projeto. Esses profissionais ficam responsáveis por todo o projeto, em todas as
suas etapas, e mais profissionais podem ser agregados a esta equipe, se houver
necessidade.
Figura 3 – Esquemas da estrutura das equipes da empresa A
Fonte: Autora
O coordenador de projetos
escolhe o líder
O coordenador de projetos
e o líder escolhem a equipe
(arquitetos e estagiários)
O líder e sua equipe
executam todas as etapas
de um projeto
61
Já na empresa B a estrutura, além dos três sócios, conta com três responsáveis por área
da firma e um coordenador. A equipe de produção é dividida em grupos, e cada grupo
interno é responsável por uma etapa de trabalho (estudo preliminar, anteprojeto, projeto
executivo etc.) para todos os projetos do escritório. Ou seja, os grupos são trocados a
cada nova etapa do projeto. Esta estrutura, que funciona como uma linha de produção,
se organiza a partir do perfil e do interesse dos profissionais, que demonstram mais
desenvoltura e talento para desenvolver uma certa etapa de projeto. Mas é possível que
o profissional troque de grupo, transitória ou permanentemente, se mostrar vontade de
fazê-lo.
Figura 4 – Esquemas da estrutura das equipes da empresa B
Fonte: Autora
Na empresa C são formados macrogrupos, que envolvem grande parte do escritório, em
todas as fases de um projeto de grande porte. Quando estes grandes projetos são
desenvolvidos no escritório, normalmente contratação de mais profissionais para
aquele contrato. Mas sempre existe um grupo do escritório, que não está envolvido no
projeto maior, que fica responsável por outros projetos de menor volume de produção.
Figura 5 – Esquema da estrutura das equipes da empresa C
Fonte: Autora
De outro modo, na empresa D, a coordenação de projetos conta com alguns gerentes, e
com eles, a coordenação define células de trabalho, assim que surge um novo projeto.
Estas células não são fechadas e permitem que todos os gerentes trabalhem com as
células formadas, de forma bastante flexível.
Equipe de desenvolvimento
de projetos executivos
Equipe de desenvolvimento
de estudos preliminares
Equipe de desenvolvimento
de ante-projetos
62
Figura 6 – Esquema da estrutura das equipes da empresa D
Fonte: Autora
Comparando-se as estruturas analisadas percebe-se que nenhum dos escritórios tem a
mesma estrutura administrativa. Estes escritórios têm no máximo 30 profissionais, um
corpo de trabalho que pode ser considerado pequeno, mas um tempo de atuação entre
20 a 50 anos, o que demonstra permanência destas empresas no mercado. Percebe-se
que a organização de cada escritório é fruto das experiências acumuladas e reflete
diretamente a personalidade de seus dirigentes. Ou seja, o fato dos escritórios terem um
corpo de trabalho pequeno favorece à organização mais personalista. Da mesma forma
que o fato destes escritórios terem um tempo razoável de atuação no mercado de
arquitetura favorece a consolidação da estrutura personalista de cada escritório.
Há, no entanto, uma semelhança entre a organização dos grupos de trabalho da
empresa A com a empresa D, pois ambas formam pequenos grupos para desenvolver
cada novo projeto. Mas mesmo neste caso, a opção de criar “células de trabalho” da
empresa D traz um diferencial em relação à empresa A: um profissional da empresa C
pode participar de uma ou mais células, o que significa que o mesmo profissional
participa de mais de um projeto ao mesmo tempo, enquanto que o profissional que
pertence a um grupo de projeto da empresa A trabalha em apenas um projeto, até que
este seja concluído.
A partir da análise das estruturas destes escritórios percebe-se que, com exceção da
empresa B, que possui pouca flexibilidade na formação dos grupos de trabalho, as
empresas A, C e D possuem estruturas de equipes bastante flexíveis, pois a formação
dos grupos é sempre temporária, uma vez que se estabelece a partir de um novo projeto
e se desfaz após a sua conclusão.
Cabe observar que a divisão de uma equipe por etapas de projeto, em que cada grupo
interno desenvolve apenas uma das fases (estudo preliminar, anteprojeto, projeto
O coordenador de projetos
(CP) conta com cinco
gerentes
O CP e um gerente definem
uma nova célula de trabalho
a cada novo projeto
Um profissional pode
participar de mais de uma
lula (e projeto)
63
executivo etc.) de cada projeto do escritório, como é o caso da empresa B, não é comum
nos escritórios de arquitetura. A própria empresa B reiterou este fato na sua entrevista.
Sobre este assunto é possível então inferir que, de maneira geral, os escritórios de
arquitetura apresentam uma estrutura maleável, que independente da forma como são
estruturados, estão atentos às características de suas demandas, ou melhor, às
necessidades que se colocam a cada novo projeto. Pois, quando surge um novo projeto,
a partir do perfil que este apresenta, é escolhido um novo grupo dentro do corpo técnico
do escritório para que este tenha condição de atender melhor aos requisitos do projeto.
EMPRESA
ESTRUTURA DAS EQUIPES
FLEXIBILIDADE
A
Um novo grupo é formado assim
que surge um novo projeto, para
desenvolvê-lo em todas as suas
etapas.
Grande.
A cada novo projeto é definido um
grupo com novos componentes.
B
A empresa está dividida em
grupos, sendo que cada um atua
em apenas uma etapa do projeto
(estudo preliminar, anteprojeto,
proj. executivo, ...) e participa de
todos os projetos do escritório.
Pequena.
Normalmente os componentes dos
grupos (que são especialistas) não
variam.
C
Grande parte da equipe é
mobilizada para um projeto de
maior porte, e o desenvolve do
começo ao fim.
Grande.
Apesar de grande parte da equipe
compor um grande grupo para
desenvolver grandes projetos, os
componentes deste grupo
assumem diversos papéis.
D
Células são formadas para
atender a um determinado projeto,
mas componentes de células
podem atuar em mais de um
projeto.
Grande.
Além dos grupos serem
transitórios, a atuação em mais de
um projeto faz com que haja mais
mobilidade.
Quadro 5 – Comparativo da Estrutura das Equipes para o Processo de Projeto:
Fonte: autora
3.2.2. Troca de informações entre os componentes da equipe do escritório de
arquitetura
Em todos os escritórios entrevistados, os arquitetos gerentes ou dirigentes das empresas
entrevistadas têm o máximo de empenho para que suas equipes participem ativamente
de todos os projetos que circulam nos escritórios. Comentários em tarefas executadas
64
por outros são sempre muito bem-vindos e incentivados, sendo considerados como
enriquecimento dos projetos.
A proximidade física entre os profissionais dos escritórios A, B, C e D, visto que estão
lotados na mesma edificação, favorece muito esta prática de colaboração, entretanto,
este arranjo físico não seria suficiente para fomentar a integração de seus profissionais
caso a política da direção, ou liderança destes escritórios fosse contrária a esta prática de
troca de informações sabido que muitas vezes funcionários que trabalham em vários
segmentos de produção, mesmo estando no mesmo espaço físico, não interagem com os
seus colegas).
Neste sentido, verificou-se nas entrevistas que há, nesses escritórios, um incentivo à
colaboração entre os profissionais, não entre os que estão trabalhando juntos, mas
com outros colegas. Nesses escritórios uma cultura de troca de informações e
sugestões que instiga os profissionais a conhecerem todos os projetos desenvolvidos, e
também os deixa à vontade para opinar e sugerir melhorias. Pode-se destacar, neste
sentido, as reuniões informais que semanalmente ocorrem às sextas-feiras na empresa
D, para comentários livres sobre os projetos do escritório e sobre arquitetura em geral.
Da mesma forma, pode-se considerar importante para a troca de informações o rodízio
de notícias e revistas relevantes para a arquitetura que são incentivadas na empresa C.
Como observado anteriormente, tradicionalmente os escritórios de elaboração de
projetos de arquitetura exercem a prática colaborativa entre os profissionais da sua
equipe. O que foi possível constatar nos escritórios analisados, a respeito deste assunto,
é que existe proximidade entre os dirigentes e as suas equipes. Os coordenadores e
dirigentes trabalham integrados com os outros profissionais, fato que proporciona
abertura para que os mais jovens possam interferir e emitir opiniões sobre os trabalhos
que são desenvolvidos nos escritórios.
3.2.3. Relacionamento com parceiros externos de projetos, consultores e
terceirizados
As quatro empresas de arquitetura brasileiras analisadas (A, B, C, D) costumam trabalhar
com as mesmas empresas de outras especialidades, por terem afinidades com estas
empresas e conhecimento de suas técnicas. Apenas quando os clientes indicam outras
parcerias, o que normalmente acontece em licitações governamentais, estes escritórios
deixam de trabalhar com seus parceiros habituais. Todas as empresas brasileiras são
65
unânimes em declarar que esses parceiros teriam que participar desde o início do
projeto. A empresa B observa que no caso de não haver a contratação dos parceiros
responsáveis pelos projetos de especialidades, no início do desenvolvimento do projeto,
o seu escritório de arquitetura acaba tendo que estimar, no seu projeto, espaços para a
passagem das estruturas e das instalações.
Nas consultorias, a empresa D tem como diferencial possuir duas consultoras da área de
saúde no seu corpo de trabalho profissional. Como esta empresa trabalha
exclusivamente com arquitetura de ambientes de saúde, diferente das outras analisadas
que trabalham também com outros segmentos, ela pode diluir um investimento que
agilidade a seu processo de projeto por todos os projetos do escritório. Por outro lado, a
empresa C conta com a contratação dos laboratórios da USP, e professores desta
universidade, como consultores.
Todas as empresas de arquitetura brasileiras analisadas terceirizam partes de algum
projeto de arquitetura sempre que este exige o aumento de sua mão-de-obra. Neste
caso, as empresas contratantes terceirizam partes do projeto que não exigem a expertise
do seu escritório, como o detalhamento de banheiros, os pequenos espaços
administrativos etc. Também para essa terceirização, as empresas preferem contratar
parceiros arquitetos que já trabalharam nos seus escritórios e agora têm as suas próprias
equipes de trabalho. E justificam esta preferência pelo fato desses profissionais
conhecerem os métodos, a forma de trabalho e o padrão de desenho do escritório.
Em resumo, as empresas analisadas procuram sempre trabalhar com os mesmos
parceiros externos, com o intuito de não ter surpresas de adaptação, o que é
compreensível. Da mesma forma, duas das empresas têm consultores constantes (a
empresa C, que contrata recorrentemente professores da universidade, e a empresa D
que tem na sua equipe duas consultoras da área da saúde). No caso das terceirizações
de projeto também ocorre o mesmo fenômeno, os parceiros escolhidos são arquitetos
que já passaram anteriormente pelos escritórios.
3.2.4. Maiores problemas encontrados na elaboração de um projeto
A empresa A e a empresa D apontam como problema para a elaboração de um projeto
a falta de sincronização desde o início do projeto entre o escritório de arquitetura e os
seus parceiros externos. Neste sentido, a empresa D como maior desafio a interação
de todos os que atuam no projeto, para que as informações possam ser sincronizadas no
66
tempo certo para não prejudicar o andamento do projeto. A empresa A também concorda
com este posicionamento e afirma que seria extremamente desejável a presença de
todos os parceiros de especialidades na primeira reunião do projeto, e ainda acrescenta a
necessidade de cada equipe parceira responsável por especialidades (estruturas,
instalações etc.) procurar conhecer os problemas gerais do projeto no decorrer do seu
desenvolvimento, pois muitos destes problemas são afetos à sua área de atuação.
A empresa B como maior problema para a elaboração de um projeto os custos de
terreno e as restrições de legislação nas metrópoles, pois estas restrições impedem que
um projeto seja solucionado conforme o programa pretendido. E a empresa C coloca o
planejamento inicial do projeto como o responsável pelo seu sucesso, sem apontar outras
questões objetivas que podem dificultar o seu bom andamento.
A empresa A apontou outras questões que também considera muito importantes como a
possibilidade do projeto básico do escritório ser descaracterizado pela construtora,
quando esta fica responsável pela elaboração do projeto executivo. E também que os
parceiros externos nem sempre se preocupam em manter o registro das informações.
Outro problema que prejudica a elaboração de um projeto, segundo a empresa D é o
tempo de execução estipulado, que normalmente é exíguo, e por esta razão prejudica o
maior envolvimento dos profissionais no projeto.
3.2.5. Como se dá a troca de informação entre as equipes externas ao escritório
Todas as empresas têm nas reuniões, com registro em atas, o principal meio de
comunicação entre as equipes. Elas não consideram que os outros mecanismos de
comunicação possam substituir as reuniões com vantagem. Acham que apenas quando
as reuniões não são producentes, como por dificuldades de deslocamento, falta de tempo
geral ou dificuldade de conciliar agendas, devem ser substituídas por outros mecanismos
de comunicação.
Entretanto, em todas as empresas entrevistadas o email tem assumido cada vez mais
uma posição de importância frente ao telefone, como segundo melhor meio de
comunicação, pela vantagem de registrar as informações e os acordos formados fora das
reuniões, muito embora ele seja criticado. Uma das críticas, pela empresa A é que nem
sempre o email é lido, como quando um parceiro não está diretamente envolvido.
Posteriormente, quando surge a necessidade destas informações, o email está “perdido”
junto com outros tantos, ou pode ter sido descartado. Outra crítica feita pela empresa D é
67
que muitas das solicitações de projeto feitas por email não são respondidas e o
solicitante acha que não há necessidade de cobrá-la, já que o email registra o envio.
Como alternativa de comunicação, a empresa B utiliza frequentemente, como substituto
de emails e telefonemas, mensagens pelo celular, inclusive para se comunicar com os
clientes. Ela percebe que ganha em agilidade quando usa o SMS para os contatos que
seriam pessoais, muito embora a ferramenta não seja utilizada para que a equipe do
escritório se comunique com os parceiros externos. Ela serve, na verdade, para marcar
encontros profissionais, dirimir algumas dúvidas, e resolver questões mais operacionais
ou administrativas do escritório.
Apesar do Skype ser mais barato que uma assinatura de telefonia, ele não é a opção
destes escritórios. Qualidade de som regular e vinculação ao computador foram as
maiores barreiras apontadas pela empresa B para a sua utilização. A empresa A não
usa porque não vê necessidade, pois quando lida com parceiros e clientes, fora do Rio de
Janeiro, o faz por meio do telefone. Conferências por telefone são utilizadas pelo
escritório da empresa D. Todavia, as videoconferências raramente são utilizadas nestas
empresas entrevistadas.
3.2.6. Utilização de softwares de gestão
Os softwares de gestão são utilizados pela maioria como complemento das informações
e principalmente como organização, repositório e atualização de arquivos. Todas as
empresas usam ou já experimentaram os softwares de gestão. A empresa A utilizou os
softwares em três ocasiões, ou seja, sempre que o cliente os solicitou, mas atualmente
não os está empregando.
E a empresa D usa atualmente em poucos projetos e apenas quando solicitação do
cliente. O software que tem sido utilizado pela empresa C nestes projetos é o Autodoc.
As empresas B e C utilizam os softwares de gestão regularmente, e as funções mais
apreciadas são a hospedagem de projetos, a natural organização e controle dos
arquivos, e a atualização constante dos arquivos. A empresa B usa o Blooming Labs, e
mesmo que um novo cliente não se interesse pelo serviço, a empresa acha melhor
contratar, pois sai mais em conta a contratação do que não ter a certeza da última versão
dos arquivos, por exemplo. A empresa C emprega os sistemas de gerenciamento de
68
projetos Sadp e o Sigem, software exclusivo do cliente que conta com 78 profissionais
para interagir com a empresa C.
3.2.7. Utilização de softwares de representação gráfica
Para a apresentação do conceito ou estudo preliminar de um projeto as empresas A, B e
D utilizam o Sketchup para definir os volumes do projeto e também para apresentar a
proposta do projeto aos seus clientes. A empresa C usa o 3DMax, o Photoshop, e outros
softwares para que a equipe interna elabore as apresentações. As quatro empresas
entrevistadas (A, B, C e D) lançam mão da terceirização para contratar, com outras
empresas, perspectivas em 3D mais realistas, quando necessitam de uma apresentação
mais elaborada.
Todas empresas entrevistadas (A, B, C e D) utilizam o Autocad, para o desenvolvimento
técnico do projeto, desde que começam o dimensionamento do projeto até a fase do
projeto executivo incluindo todos os detalhamentos. A empresa D faz uso do aplicativo
Autocad com customização de comandos.
A empresa D observa que dificuldades de se trocar informações em desenhos pela
Internet, visto que a precisão do CAD (ao contrário da simplicidade do croquis) e a
quantidade de informações de um desenho, alvo de esclarecimento, não realçam de
maneira eficaz o que se quer salientar, mesmo que este seja assinalado e
complementado com notas explicativas.
Todas as empresas entrevistadas (A, B, C e D) pretendem migrar para um aplicativo
BIM, mas no momento ainda não veem essa possibilidade, seja pelo tempo de
treinamento da equipe, ou pelos custos com os softwares e novos equipamentos que
esta migração envolve. A empresa B chegou a treinar boa parte da equipe
recentemente, mas recuou em iniciar o desenvolvimento de um projeto utilizando o BIM
pois teria que investir em softwares e equipamentos, além de começar o projeto mais
lentamente por adaptação da equipe ao software, o que não seria viável neste momento.
Os entrevistados também estimam que, da mesma forma que aconteceu com a migração
dos desenhos feitos em prancheta para o CAD em computador, os parceiros externos
demorarão mais tempo que os escritórios de arquitetura a migrar do CAD para o BIM.
69
3.2.8. Familiaridade com a Web
O Skype, como visto anteriormente, é experimentado profissionalmente por alguns
integrantes das empresas A e B, mas ainda não é visto como alternativa de comunicação
para esses escritórios.
As empresas D e C têm blogs, e os utilizam para ser um canal de comunicação com a
população e seus clientes. A empresa C informou que também participa de grupos de
discussão para conversas com a sua equipe interna.
As redes sociais, como o MSN e o Orkut, não são permitidas nas empresas B e D, e a
justificativa dos entrevistados é que estas comunicações dispersam a atenção no
trabalho. Mas a empresa A não inibe o seu uso desde que este seja pouco utilizado e não
atrapalhe a atuação do profissional.
O uso de fóruns da Web é muito pouco explorado. A equipe profissional não os usa. Na
empresa D, o único que os utiliza é o profissional de TI.
Todas as empresas entrevistadas (A, B, C e D) usam os mecanismos de busca da Web,
principalmente o Google. Eles são utilizados para procura de catálogos, informações
sobre produtos, serviços, fornecedores, recursos humanos, informações sobre pessoas,
situações, atividades, e outras necessidades.
Também o Google Earth é unanimidade entre as empresas A, B, C e D para
conhecimento prévio de terrenos e simulação de projetos. A opção de serviços para
Arquitetura e Engenharia do Google possibilita a vista aérea da área a ser investigada, a
medição do terreno, a chance de implantação da edificação projetada em 3D e também a
incorporação das outras edificações em 3D projetadas por outros na Web. Nota-se que
esta incorporação é o resultado de um trabalho colaborativo de outras pessoas e
instituições, que desenham em 3D as edificações no Google Earth. Esta iniciativa permite
criar um conjunto virtual de bairros da cidade que pode ser utilizado pelos escritórios de
arquitetura para criar simulações de implantação futura do projeto.
70
3.3. COMPARATIVO COM UMA EMPRESA DA ÁFRICA DO SUL
Entrevista
29
concedida por Victor Utria Arciniegas – Arquiteto e Urbanista, sócio da
Empresa D, na África do Sul. A empresa D é uma empresa de arquitetura e planejamento
urbano, com 80 anos de funcionamento, sediada na África do Sul, com cinco escritórios
localizados em quatro cidades daquele país.
Dentre os projetos recentes da empresa D estão um estádio e dois aeroportos para a
Copa do Mundo de 2010. Para a construção de um dos aeroportos, em Durban, foi
formado um consórcio de empresas denominado de ILEMBE. O Arquiteto entrevistado é
também gestor de projetos de ILEMBE e responsável pelo escritório de projetos que
elabora o terminal de passageiros, localizado em Durban, na África do Sul.
A empresa Osmond Lange (OLA) possui equipes independentes por filial, sendo que a
equipe estudada que desenvolve o terminal de passageiros, do estudo preliminar ao
projeto executivo, tem 32 profissionais. Esta equipe também se ocupou do estudo
preliminar da concepção de todo esse aeroporto.
O Arquiteto Victor Utria informou que o uso do BIM, no aplicativo Archicad, direcionou a
organização da sua equipe que desenvolve o terminal do aeroporto em torno do
modelo. Esta equipe foi dividida em cinco grupos (1°: estruturas; 2°: paredes, elevadores
e escadas; 3°: modelagem de instalações; 4°: fachadas; e 5°: especificações):
Quando se está no grupo que desenvolve as paredes internas, pode-se ver as fachadas,
mas não se pode modificá-las, para isto este grupo depende do grupo das fachadas para
mudar, por exemplo, o vão de uma janela. Mas se pode ver sempre. Você tem toda a
realidade do modelo para ver o relacionamento entre as partes, mas sem alterá-lo. Isto é
importante sob o ponto de vista da colaboração pois você está sempre dependendo do
outro.(VICTOR UTRIA)
Segundo Utria, na estrutura da sua equipe os profissionais exercem funções
simultâneas de projetistas e de arquitetos-administradores de tarefas. Quando uma tarefa
chega ao fim, eles passam a se ocupar de outras que podem ser lideradas por outro
profissional. Ou seja, não só as tarefas são dinâmicas, mas também as funções.
O entrevistado relata que a empresa de arquitetura OLA, da África do Sul, trabalha com
diversas empresas de outras especialidades, de acordo com os contratos dos seus
29
Os dados completos extraídos da entrevista estão no Anexo I desta dissertação.
71
clientes. No projeto da empresa D analisado, todos os parceiros de projeto, e também
consultores trabalham desde o início simultaneamente com o projeto de arquitetura, já
que o projeto e obra ocorrem ao mesmo tempo.
O prazo curto de desenvolvimento do projeto também é visto pelo gestor da empresa D
como um prejuízo para o empreendimento, pois o tempo exíguo, segundo o entrevistado,
separa o usuário do projeto, o que é um risco.
Entretanto, para Utria, gestor de projetos da empresa D, o maior problema de um
projeto é o relacionamento interpessoal, pois o projeto é totalmente dependente das
pessoas, que podem prejudicar ou facilitar o seu desenvolvimento. O fato de cada pessoa
ter que se relacionar com várias outras, e principalmente, depender de cada uma destas
pessoas, que tem tarefas, metas e interesses diversos, adiciona um fator importante na
comunicação e na colaboração, que é o próprio relacionamento em si, cujas afinidades
ou desinteresses provocam soma ou prejuízo no alcance dos objetivos gerais do
empreendimento.
Mas o maior problema é o relacionamento entre as pessoas. O maior problema são as
pessoas e certamente a maior solução são as pessoas. Quanto maior o número de
pessoas maior o problema. Duas pessoas são, digamos, quatro problemas, três pessoas
são nove problemas, existe uma multiplicação, é exponencial. (VICTOR UTRIA)
O gestor de projetos também informou que o consórcio ILEMBE usou como estratégia,
em função do curto prazo de execução, a transferência das diversas equipes de projeto
para a cidade em que se constrói o empreendimento. Mas, mesmo nestes casos, para
envio e recebimento de documentos, o grupo de empresas utiliza um software
específico para comunicação entre os clientes e todos os profissionais do consórcio
ILEMBE, que agrega as diversas empresas de projeto, e ainda a obra. O consórcio
emprega o Aconnect, como controle, registro e armazenagem de documentos, para evitar
que os documentos não cheguem a seu destino no momento exato.
Aconnect é um serviço de controle de documentos e de armazenamentos de dados.
Então eu não entrego um desenho na mão de um construtor, eu entrego os desenhos
em uma Web site na Inglaterra. Essa Web site identifica e registra quando esse desenho
foi recebido: desenho número tal, recebido em tal data, hora, minuto, segundos e
comunica aos usuários desse desenho a sua chegada, e eles m a obrigação de retirar
esses desenhos do Web site. Todas as cartas contratuais, todos os requerimentos, todas
as minutas, todos os desenhos que fazem parte do conjunto de comunicações do projeto
estão lá. (VICTOR UTRIA)
O arquiteto e sua equipe trabalham há três anos com o BIM Archicad. E para implantá-lo
no seu escritório a empresa treinou sua equipe e arcou com os custos de implantação.
No momento, após este período, a equipe incorporou a maneira de trabalhar com o
72
software e nela necessita de ter, na sua rotina, os procedimentos de preservação do
modelo.
Todo software tem limitações. Neste caso, do Archicad, o que limita é o tamanho do
arquivo gerado, o número de polígonos que o desenho contém, e o número de usuários
conectados usando um único arquivo. Não se pode usar ao mesmo tempo por um grupo
de 30 pessoas. Isto tem que ser controlado com muito cuidado, por isto tem-se uma
função que é o CAD manager, que é um arquiteto responsável por fazer o
gerenciamento do arquivo do projeto. Correções e limpezas m que ser feitas
diariamente. (VICTOR UTRIA)
O BIM, ao contrário dos CADs, explica o arquiteto, faz com que todos trabalhem em um
único modelo. Por esta razão, como aponta OLA, muitas vezes, para que um profissional
tenha que cumprir uma tarefa, é necessário que o outro deixe de fazer a sua. É preciso,
neste ponto, que haja uma consciência coletiva do que é mais importante, naquele
momento”, para o empreendimento. Ou seja, é necessário priorizar a estratégia do
empreendimento, em detrimento das metas individuais naquele momento específico.
Colaboração implica deixar de fazer o que você está fazendo para fazer o que o grupo
ou outro usuário precisa. (...) Exemplo: Tenho que terminar a escada amanhã, mas se eu
me concentro fazendo isto, eu não libero uma mudança em uma laje, que outra pessoa
está fazendo. E se ele não terminar estará faltando concreto na obra, segunda-feira.
Para você facilitar o desenvolvimento da obra (objetivo geral) você tem que perder suas
obrigações pessoais de curto prazo. Você tem que perder o seu dead line. Isto é difícil...
Por isso você precisa de comunicação. Cada membro de uma equipe precisa entender
como conciliar os objetivos gerais com os individuais. (VICTOR UTRIA)
A empresa OLA, segundo o arquiteto, também faz uso dos softwares de apresentação
gráfica para a fase inicial da proposta de projeto ao cliente. E mesmo usando o BIM, a
empresa ainda precisa transpor os desenhos em CAD dos parceiros externos para o seu
modelo em Archicad para compatibilizá-los. Em breve seus parceiros deverão usar
também o mesmo aplicativo BIM para trabalhar com o mesmo modelo.
Em relação às tecnologias disponíveis na Web, o gestor de projetos informa que o
Skype é experimentado profissionalmente por alguns integrantes da empresa OLA, mas
ainda não é utilizado como alternativa de comunicação. A empresa OLA não faz objeção
ao uso de redes sociais pelos seus profissionais no horário de trabalho.
Uma iniciativa bastante interessante empreendida por este gestor de projetos e a sua
equipe foi adotar o uso do Google Docs para diminuir a quantidade de reuniões que
eram necessárias para dirimir dúvidas do detalhamento do projeto, entre a equipe de
73
projetos e a construtora. O uso excessivo de reuniões estava causando transtornos no
rendimento do trabalho, pois consumia muito tempo.
Quando se entra numa fase de acabamento do prédio temos muitas perguntas: como se
resolve esse detalhe aqui, qual a sessão que a gente pode utilizar alí e todas essas
perguntas são fundamentais, senão não se termina nada. Nós criamos um arquivo no
Google Docs para fazer um eco de todas as perguntas. Nós tínhamos um sistema de
reuniões anteriormente a isto, que quando começaram, eram na frequência de uma vez
por semana, e nela o construtor apresentava todas as perguntas daquele período.
Depois, a demanda aumentou e tivemos que mudar para reuniões diárias, e então
decidimos construir uma tabela no Google Docs. (VICTOR UTRIA)
Encerrada a entrevista, comenta-se sobre ela que o uso de uma ferramenta colaborativa
da Web 2.0, interativa, como o Google Docs, em que todos podem modificar, podendo-se
voltar a versões mais antigas, que são também as características dos Wikis, imprimiu
velocidade e fidelidade aos registros de projeto. E as pessoas que colaboraram nas
informações do Docs não precisaram estar no mesmo lugar. Com isso, ao mesmo tempo
em que se diminuiu as reuniões, aumentou-se o tempo de trabalho nas funções de
desenvolvimento do projeto, que são a atividade fim do escritório.
Naturalmente que as reuniões presenciais são uma forma de se esclarecer questões de
projeto. Mas o uso do Google Docs por OLA, em substituição às reuniões, mostra como
uma ferramenta pode ser utilizada para substituir uma prática de maneira bem mais
eficiente.
Na sequência das páginas seguintes são apresentadas as tabelas:
Tabela 2 – Planilha parcial do Google Docs da empresa D para dirimir dúvidas de
detalhamento de projeto – tradução para o português
Fonte: Osmond Lange Architects & Planners
Tabela 3 – Planilha parcial do Google Docs da empresa D para dirimir dúvidas de
detalhamento de projeto – original em inglês
Fonte: Osmond Lange Architects & Planners
76
3.4. CONSOLIDAÇÃO DA PESQUISA DE CAMPO
O que se constatou nos escritórios brasileiros entrevistados é que cada um organiza os
seus recursos humanos de forma diversa dos demais, apesar de todos esses escritórios
utilizarem as mesmas etapas de desenvolvimento do projeto (programa de necessidades,
estudo preliminar etc.), e meios de produção semelhantes (recursos físicos, humanos,
equipamentos, softwares etc.). Ou seja, partem de um mesmo conjunto de premissas e
insumos, mas se estruturam de diferentes formas. Isto mostra as possibilidades de
soluções de gestão quando se tem liberdade para criá-las.
Com exceção do escritório da B, os outros três escritórios se organizam de forma
adaptativa de acordo com a demanda dos projetos. Esta autonomia é fruto das
experiências do coletivo de cada escritório e se transforma constantemente. Na maior
parte dos escritórios, a dinâmica de se estruturar as equipes em função das
especificidades dos projetos que surgem, aponta para a flexibilidade de suas estruturas,
que podem inclusive sofrer incremento de profissionais à medida que aumento de
demanda.
Por outro lado, no caso citado do escritório da B, cada grupo desenvolve uma etapa
específica (estudo preliminar, anteprojeto etc.) dos projetos contratados pela empresa.
Estas atividades são realizadas uma após outra (em uma cadeia de produção) de
maneira subsequente. Esta configuração mostra menos interação entre os diferentes
grupos do escritório, do que nos outros escritórios observados. Na implantação da
ferramenta BIM, por exemplo, será necessária uma adaptação mais radical da equipe do
que para os outros escritórios brasileiros analisados. O motivo é que como este escritório
separa a sua equipe em grupos e um mesmo projeto passa por cada um destes grupos
em momentos diferentes, a manipulação do mesmo modelo por várias grupos distintos
não parece viável.
No relacionamento com parceiros externos de projetos, consultores e terceirizados,
percebe-se um clima de cumplicidade em todos os escritórios analisados, pois se procura
trabalhar sempre com os mesmos parceiros, consultores e terceirizados, e quando isto
não é possível, mantêm-se um clima de respeito e camaradagem. Esta situação é um
fator positivo para a gestão do projeto porque permite que nos projetos muito complexos
haja facilidade para mobilizar os parceiros.
Por outro lado, mesmo havendo um bom relacionamento com os parceiros, duas das
quatro empresas entrevistadas apontam como problema para a elaboração de um projeto
77
a falta de sincronização desde o início do projeto entre o escritório de arquitetura e os
seus parceiros externos. A empresa A, por exemplo, complementou a dificuldade dos
parceiros em entender o projeto no seu conjunto para auxiliar nas soluções que afetam a
sua especialidade, e, a empresa D, a demora dos parceiros em responder às
solicitações. Esta é uma fragilidade para a simultaneidade dos projetos entre si e com a
obra.
A troca de informações entre as equipes internas desses escritórios de arquitetura se
da forma mais aberta possível. E pode-se até afirmar que não existe distância no
relacionamento entre os dirigentes e suas equipes, o que pode estar sendo motivado pela
pequena quantidade de profissionais, pois as equipes estudadas não passam de 50
pessoas. Outro motivo pode ser as características da formação do arquiteto (práticas
mais liberais e formação mais abrangente do que em uma série de profissões). Isto de
algum modo gera uma atitude colaborativa, mesmo que informal, que aproxima as
lideranças dos outros profissionais.
que tanto a prática de projeto do arquiteto é compartilhada e o ambiente dos
escritórios é informal e pouco estratificado talvez não se perceba ali a necessidade de se
introduzir tecnologias interativas e de se formalizar e organizar mecanismos mais efetivos
e eficientes de colaboração. Pode ser que esta seja uma das razões para a pouca
penetração das tecnologias Web 2.0 e cultura Wiki nos escritórios de arquitetura.
Como foi possível perceber nas entrevistas, o uso de dispositivos da Web 2.0 é muito
pequeno. Este fato faz sentido quando comparado com um dado, apresentado nesta
dissertação, de estudo de um pesquisador, que o setor de AEC demora mais que as
outras indústrias para adotar as tecnologias da informação. Mesmo em relação aos
softwares aplicativos feitos especialmente para a comunidade. Isto também pode ser
constatado nas entrevistas realizadas, em que os escritórios brasileiros assumem que
precisam migrar do CAD para o BIM, mas não o fazem, apontando como dificuldades o
alto custo do software e o tempo de treinamento de pessoal. Estas alegações sem dúvida
são procedentes (no caso do treinamento em BIM, isto ocorre também devido ao
software ser pouco intuitivo).
Apesar dos escritórios serem simpáticos à ideia de usar a Web, e terem o pensamento de
que a colaboração faz parte do processo de desenvolvimento de qualquer projeto, não há
entre eles clareza de como a Web pode vir a auxiliar os seus processos de projeto.
Provavelmente porque o que esses escritórios esperam da introdução destas tecnologias
é apenas que elas automatizem as rotinas existentes (como os softwares de gestão que
78
existem no mercado) e não que auxiliem na comunicação das suas equipes e nas
soluções dos problemas de projeto, através da geração de dinâmicas descentralizadas,
para uma colaboração mais efetiva.
Quando, nestes escritórios, se deseja aumentar a colaboração entre os profissionais, se
busca aproximá-los fisicamente, como no escritório de D, em que se criam as
convivências de sexta-feira, e nos demais escritórios que promovem reuniões com a
presença de toda a equipe. Amplia-se a colaboração através da aproximação física.
Ainda assim, estes escritórios aprenderam a utilizar na Web, as ferramentas intuitivas,
principalmente as do Google, que começam a ser parte da sua rotina. Dentre elas se
destaca a apropriação de serviços colaborativos, chamados de massa (pois são
desenvolvidos por um sem número de pessoas), como o Google Earth (GE), que oferece
serviços para a comunidade AEC para estudos de viabilidade de terrenos e o
conhecimento do seu entorno.
Hoje, também, boa parte dos escritórios de projetos entrevistados desenha com o
Sketchup, para apresentação de projetos em 3D. Este software do Google tem o seu
espaço nos escritórios de arquitetura, devido à facilidade de uso, riqueza de texturas e
integração com outras ferramentas da Web. Mesmo não sendo um software
extremamente preciso, ele é muito utilizado para apresentações e simulações de projeto.
A facilidade de uso, que prescinde da necessidade de alimentá-lo com muitos
parâmetros, para obter um bom resultado volumétrico com texturas, é provavelmente a
razão para o seu uso frequente pelos arquitetos.
Mesmo não sendo utilizado nos escritórios de projeto brasileiros entrevistados, o Google
Docs, que é utilizado como planilha interativa pelo escritório sul-africano, com o objetivo
de substituir reuniões de projeto, é um bom exemplo das possibilidades geradas pela
cultura Wiki da Web 2.0, na criação de um ambiente essencialmente interativo. Sua
utilização por um escritório de arquitetura é um exemplo de como a colaboração virtual
pode ser usada para o trabalho conjunto, além de economizar tempo e documentar o
projeto.
O fato de um escritório de arquitetura, mesmo fora do Brasil, estar usando com sucesso o
Google Docs aponta um caminho que pode ser trilhado por outros escritórios de
arquitetura, para auxiliá-los nos seus processos de projeto.
79
E consequentemente à popularização de ferramentas da Web 2.0, como o Google Docs,
pelos escritórios de arquitetura, haverá o aumento de demandas pelos arquitetos para a
adaptação das ferramentas às suas necessidades. Isto é o que tem ocorrido com as
ferramentas interativas da Web 2.0 quando as mesmas são utilizadas por algum
segmento de produção (quanto maior o uso, maior a atualização). O uso do Google Docs
pelos arquitetos criará a sua customização para os interesses da comunidade AEC.
Nestes exemplos, pode-se perceber que o uso de novas tecnologias colocadas à
disposição na Web, desvinculadas dos produtos fornecidos pelas empresas de software,
começam a aparecer, ainda timidamente nas empresas de projetos.
Também foi verificado na Pesquisa de Campo, que não são os dirigentes dos escritórios
os principais introdutores dessas novas tecnologias, mas sim os profissionais mais novos
e os aprendizes estagiários, que, com a familiaridade peculiar de sua geração com as
novas tecnologias, vão experimentando e se apropriando delas, e passam a sugerir
novos processos e usos de softwares nos escritórios em que estão trabalhando.
A influência da mais nova geração de profissionais e estudantes na introdução das
tecnologias dos escritórios pode ser entendida como uma emergência, enquanto
processo de atualização das praticas de gestão, que ocorrem de baixo para cima, capaz
de influenciar também, em sequência, os softwares aplicativos utilizados para o setor da
AEC.
Esta embrionária aproximação da Web pelos estagiários e profissionais recém-formados
tenderá a gerar uma massa critica que cedo ou tarde deverá ser capaz de estimular o
surgimento de uma multiplicidade de aplicativos voltados para os escritórios de AEC.
Desta forma, cabe aos escritórios aproveitar as possibilidades de interação à disposição
na Web, para facilitar os seus processos colaborativos de projeto. Pois, onde mais
necessidades são expressas, mais soluções serão encontradas. O uso das ferramentas
da Web pelos arquitetos provavelmente os induzirá à busca de soluções atinentes ao seu
campo específico de atuação, na própria Web, e com isso se estará criando condições
para que elas sejam respondidas.
80
CONCLUSÃO
No objetivo de responder às questões que são importantes para os escritórios de AEC,
no início desta dissertação fez-se considerações sobre a figura do arquiteto que da
antiguidade, que era autor/construtor, cujo pensamento (desejo) / ação (obra) das suas
atividades ocorriam simultaneamente, pois naquele momento o projeto ainda não havia
surgido e o pensamento era colocado imediatamente em prática.
Esta situação vivida pelas primeiras sociedades é requerida nos dias de hoje sob o
aspecto de que a proximidade entre ação e pensamento passou a ser perseguida pela
nossa sociedade atual que anseia por projetos simultâneos, para que se consiga melhor
dê conta do tempo e dos recursos escassos para a realização dos empreendimentos.
Também o papel do autor/construtor, do arquiteto/coordenador que, ao longo do tempo,
foi dando lugar a vários especialistas e a vários tipos de coordenadores, em uma teia
cada vez mais dicil de gerenciar, vem apresentando tendências de cooperação, de
descentralização, e até de auto-organização, que apontam para a criação de um grande
ambiente colaborativo que possa abarcar de forma transparente as soluções que as
equipes de AEC e outros atores forem produzindo.
Buscou-se então, a partir desta percepção, o estudo teórico sobre o projeto, o seu
processo, e a sua gestão, bem como as tecnologias, as práticas, e a cultura,
colaborativas, que vêm sendo utilizadas na gestão dos projetos. E ainda, de maneira
específica, a Web como possibilidade de apresentar um ambiente colaborativo com as
características desejadas.
Sobre os significados que o projeto assume nos dias atuais, foi apresentada a visão de
autores que idealizam esta colaboração, interação, transparência e auto-organização,
como atributos indispensáveis para o desenvolvimento de um projeto.
Também se analisou o processo do projeto contemporâneo que é influenciado pelas
tecnologias atuais e pela complexidade da nossa sociedade, e precisa lidar com
inúmeras variáveis. Estes fatos têm como consequência para o projeto, o aumento do
número de seus requisitos, e naturalmente, o mero de suas etapas, embora também
criem melhores alternativas para as suas soluções (como novos mecanismos de
expressão gráfica, inovação em processos construtivos etc.).
81
Na análise da gestão de projetos verificou-se que a complexidade também ocasiona o
aumento das atribuições de gestão, e em decorrência deste fato, novos personagens
assumem novas funções, como o gerente e o coordenador. Ao mesmo tempo em que
surgem novos personagens, começam a ocorrer mudanças na filosofia de liderança. Sai
o gerente preocupado com o comando e o controle e entra o líder ocupado com o
consenso e o consentimento.
Todas estas questões levantadas corroboraram para o entendimento de que quanto mais
a complexidade aumenta, maior é o mero de pessoas que precisa interagir em um
ambiente colaborativo, para que não se percam informações e se acelere as respostas
que precisam ser fornecidas nestes processos.
Na procura por um ambiente essencialmente colaborativo, fez-se também uma análise de
pesquisas que apresentam as suas classificações para as tecnologias utilizadas nos
escritórios de AEC, e foi proposta uma nova classificação separando rotinas
automatizáveis dos instrumentos de comunicação, que são os que podem efetivamente
ser considerados os instrumentos de colaboração.
Esta nova classificação deixa claro que para se criar um ambiente essencialmente
colaborativo, as pessoas e as ferramentas devem formar uma cultura colaborativa na
qual coexista a expressão de suas idéias, sugestões, identificação de problemas, de
forma colaborativa, interativa e transparente. A automatização de rotinas são apenas
facilitadoras dos profissionais, secretárias, arquivistas e outras funções do setor de AEC.
Neste contexto, foram apresentadas também pesquisas recentes que mostram que os
escritórios de projetos pouco incorporaram as denominadas ferramentas de gestão e,
conseqüentemente, os ambientes que são colaborativos.
Como alternativa para criar esse ambiente colaborativo para a gestão de projetos
baseada na Web, que vai além da automação de rotinas, avaliou-se as possibilidades
das novas tecnologias para a gestão de projetos que têm na cultura Wiki, e em seu
desdobramento na Web 2.0, a possível resposta aos problemas colocados pela gestão
de projetos.
A partir desta proposta e do estudo teórico, empreendeu-se uma pesquisa de campo em
escritórios de arquitetura para estudar sua estrutura de processo de projeto, sua
incorporação de softwares e tecnologias da Web, para entender de que forma a Web está
82
entrando nos escritórios e como estes conceitos podem ser aplicados. Após a análise dos
dados da pesquisa de campo verificou-se que:
O setor de AEC demora mais que as outras indústrias para adotar as tecnologias
da informação.
Constatou-se que a Web está entrando de forma lenta, mas gradual, nos escritórios de
arquitetura, o que é coerente com um estudo de Toledo (2006), apresentado nesta
dissertação. Os escritórios estudados têm interesse em tecnologias da Web, embora as
utilizem pouco.
À semelhança da incorporação das ferramentas CAD nos escritórios de projeto, que
demoraram a ser utilizadas nos escritórios, apesar de serem percebidas como um grande
facilitador, as tecnologias Web também entram de forma muito gradual nos escritórios de
projetos.
O relacionamento dos arquitetos é tradicionalmente colaborativo.
A colaboração que normalmente existe em um escritório de projetos é fruto do incentivo
de seus gestores, que por também serem profissionais da prática de projeto entendem
que um projeto só é possível com o trabalho em equipe.
Pode-se não ver necessidade de se criar mais mecanismos que estimulem a interação,
se os existentes são considerados suficientes. Embora com isto, não se leve em
consideração a melhora na relação com as outras equipes de projeto que interagem com
o escritório.
Há desconhecimento das potencialidades da Web para a gestão de projetos.
As pessoas utilizam a Web no seu dia a dia, mas não se dão conta de que ela pode ser
incorporada na gestão do seu próprio negócio. Como a Web é relativamente nova, suas
aplicações e novos usos vão surgindo e aos poucos vão se solidificando, até que sejam
percebidas e incorporadas profissionalmente.
Assim como o email e os mecanismos de busca foram paulatinamente apropriados pelas
empresas em geral, e pelos escritórios de projeto em particular, também estes e outros
produtos Web podem ser direcionados para serem aplicados na gestão de seus
negócios.
A “Colaboração” informatizada é entendida como uma Automatização de
Processos.”
Normalmente quando se fala em colaboração, o entendimento é um sistema que
automatiza os processos, a gestão de documentos, cria relatórios para facilitar decisões,
83
workflow. Todas estas funções são importantes, mas efetivamente não permitem a
interação das pessoas em torno do projeto. O que faz com que persista a questão inicial:
a gestão de projetos é uma questão de comunicação.
Caso o entendimento da “Colaboração seja uma “Automatização de Processos”, algumas
empresas podem não ter pressa para aderir à esta automatização. Ou porque estão
satisfeitas com sua forma de administração, ou conta com algum software com o qual
está acostumada.
Por outro lado, se as empresas percebem que é possível melhorar a sua comunicação
com as equipes, os diversos profissionais e agentes (que são os atores dos projetos
complexos), elas passam a se interessar por uma forma de comunicação que traga um
ganho real, e já esteja familiarizada entre estes atores e quantos mais surgirem no
decorrer do processo.
Os escritórios de projeto arquitetônicos incorporam mais instrumentos da Web
ligados às suas fases iniciais de projeto como o estudo de viabilidade e o estudo
preliminar.
Os escritórios utilizam ferramentas da Web como mapas (Google Maps) e aerofotos
(Google Earth) para implantação urbana e estudos de viabilidade, e também, ferramentas
gratuitas em três dimensões (como o Sketchup) para estudo do projeto e seu volume.
Estas são as utilizações que normalmente são feitas pelos escritórios nas fases iniciais
de um projeto. A exceção fica por conta do uso dos mecanismos de busca em todas as
fases.
Nas aplicações da Web como os produtos do Google, ferramentas gratuitas,
mecanismos de busca, pouca interação e colaboração direta com equipes
externas ao escritório.
O uso da Web ocorre entre os membros da mesma equipe, e raramente entre os
parceiros. Houve apenas uma experiência relatada, do escritório de arquitetura na África
do Sul, que pode ser considerada decorrente diretamente de um ambiente colaborativo,
que é o uso do Google Docs, para auxiliar clientes e equipe a dirimir dúvidas de
detalhamento de um projeto, em substituição às reuniões. Esta experiência é um exemplo
de que a colaboração virtual e a interatividade são possíveis e podem ser usadas para o
trabalho conjunto, além de economizar tempo e também documentar o projeto.
De uma forma geral, os escritórios de arquitetura estudados não vêem como
problemática as questões geradas na troca de informações como os parceiros
externos.
84
Talvez os problemas que surgem não sejam percebidos como conflitos, mas como algo
normal do dia a dia. Os escritórios podem achar também mais rápido e mais prático
promover mudanças na sua estrutura interna, para solucionar os problemas, do que
sugerir mudanças nos escritórios dos parceiros.
Embora as experiências relatadas na pesquisa de campo em escritórios de arquitetura
mostrem que estas empresas não estão avançando muito na colaboração pela Web, na
velocidade que acontece em outras áreas e até nas experiências acadêmicas no campo
da arquitetura, é perceptível que existe um avanço nesta incorporação da Web. São os
possíveis componentes desta abertura:
Os escritórios estudados não possuem barreiras de entrada às tecnologias da
Web.
Por serem empresas cuja direção está nas mãos de profissionais que dominam o estado
da arte da sua profissão, tanto quanto são responsáveis pela relação com os clientes,
estas incorporam qualquer benefício comprovado à sua atividade fim. A partir do
momento que estas tecnologias são incorporadas em algum projeto com sucesso, elas
passam a fazer parte dos projetos subseqüentes.
A entrada dos profissionais mais novos nos escritórios, que vêm das academias.
Os novos profissionais, ou mesmo aprendizes estudantes universitários que participam
destes escritórios tendem a continuar influenciando estes ambientes de trabalho com as
tecnologias gratuitas da Web, que são de sua familiaridade. Da mesma forma como
esses novos e futuros profissionais têm influenciado as suas universidades
Concluindo esta pesquisa, observa-se que quando houver massa crítica suficiente para a
construção de ambientes colaborativos baseados na Web, os profissionais de arquitetura,
bem como os do setor de AEC, poderão utilizar este ambiente para a troca de
informações, e a partir dele construir em conjunto o seu conhecimento.
Ainda se pode ponderar, quanto à validade destas proposições e tendências de uso da
Web nos escritórios, que no final da década de 1990, no início da popularização da
internet, era pouco provável a utilização navegadores gratuitos. Hoje isto é o usual.
Com o uso da Web na gestão de projetos, a quantidade de informações registradas, que
ficará aberta aos profissionais de forma transparente, dará chance a que se forme uma
emergência, e dela surjam soluções para as questões apresentadas pelos profissionais e
pelos que se relacionam com o empreendimento.
85
A velocidade da resolução das questões do setor de AEC, proporcionada por este
ambiente colaborativo, que será continuamente aperfeiçoado, terá como conseqüência a
simultaneidade entre os projetos.
Também nestes ambientes colaborativos, a gestão de projetos poderá abarcar as
demandas atuais e as novas questões que lhe forem apresentadas, pois contará com os
esforços coletivos para a atualização, a validação e o controle dos processos.
Esta é justamente a maneira com que a Web 2.0 usa para a sua própria evolução. Todas
as suas demandas, tanto as ferramentas quanto as idéias, são discutidas, melhoradas,
atualizadas e apropriadas por milhares (e desconhecidos) usuários, de forma contínua.
Esta atualização e interação constantes são as principais razões que fazem com que a
Web seja considerada hoje o melhor ambiente colaborativo, porque possui velocidade
nas atualizações e conta com validação coletiva. E por isto, vale a pena que esta lógica
seja apropriada para a gestão de projetos.
86
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94
ANEXOS
Anexo A
Histórico da Representação Gráfica
Gráfico 2 – Linha do Tempo da Representação Gráfica
Fonte: SOARES, C. C. P. (2007)
G
e
o
m
e
t
r
i
a
e
M
a
t
e
m
á
t
i
c
a
D
e
s
e
n
h
o
G
e
o
m
é
t
r
i
c
o
Perspectiva Li
n
e
a
r
Complementariedade entre Ichonographia
e Orthographia (rebatimentos)
Aparatos experimentais para a perspectiva
Os Elementos - Geometria Eudidiana
Aplicação consciente da perspectiva
A abstração e o mundo das idéias
A observação e a realidade sensível
Experimentos óticos e perspectivos
A necessidade da expressão visual
para a geometria e a matemática
Explorações da geometria gráfica
Representação do tridimensional
Primeiras regras da perspectiva
Aparatos óticos na pintura
Gráficos na matemática
Projeções ortogonais
na cartografia
Perspectiva intuitiva
Desenho gemétrico
aplicado a projetos
Astronomia e Ótica
Fisiologia da visão
Ptolomeu de Alexandria (85-165)
Villard de Honnecourt (séc. XIII)
Della Francesca (1420-1492)
Thales de Mileto (625-546)
Pitágoras (585-500)
Claudio Ptolomeu (séc. II)
Roger Bacon (1214-1294)
Brunelleschi (1377-1446)
Jan Van Eick (1390-1441)
D’Oresme (1325-1382)
Arquimédes (287-212)
Apolônio (240aC)
Euclides (séc. III)
Masaccio (1401-1429)
Sócrates (470-399)
Platão (428-348)
Aristóteles (384-322)
Sócrates (470-399)
Platão (428-348)
Aristóteles (384-322)
Da Vinci (1452-1519)
Alberti (1404-1472)
Giotto (1266-1337)
Durer (1471-1528)
Vitrúvio (séc. I)
1200 dC
1300 dC
1400 dC
1500 dC
500 aC
00
Geometria Projetiva
Geometria Complexas
Computão
Gráfica
Desenho Técnico
Geometria
Descritiva
Projeção cilíndrica para
a planificação da esfera
Kramer (Mercator) (1512-1594)
Galileu (1564-1642)
Desárgues (1593-1662)
François Derand (1643)
Descartes (1596-1650)
Fermat (1601-1665)
Pascal (1623-1662)
Newton (1642-1727)
Vangnon (1654-1722)
Frézier (1682-1773)
Leonard Euler (1707-1787)
Monge (1746-1818)
Gauss (1777-1855)
bius (1790-1868)
Chasles (1793-1880)
Culmann (1865)
Escher (1898-1970)
1550 dC
1600 dC
1700 dC
1800 dC
1900 dC
2000 dC
Aparatos experimentais para ciência.
Geometria Projetiva
Arquitetura das abóbadas
Coordenadas Cartesianas
Geometria Analítica
Estudo das Cônicas
Mecânica Clássica
Bases Grafostática
Tratado de Estereotomia
Figuras afins/ Homotetia
Geometria Descritiva
Geometria Não-Euclidianas
Homografia
Geometrias complexas
Disciplina Grafoestática
Percepção visual
95
Anexo B
Dados adicionais e quadros da pesquisa de Beber, Scheer, Wille (2007)
Aplicação de um questionário em oito escritórios de arquitetura da cidade de Curitiba-PR,
com o objetivo de apresentar as ferramentas e sistemas que podem ser utilizadas em
escritórios de arquitetura para auxiliar na gestão das comunicações dos projetos.
O perfil de profissionais de todos os escritórios analisados é composto de arquitetos e
desenhistas, segundo resposta do questionário.
Gráfico 3 – Uso de ferramentas nos escritórios de arquitetura
Fonte: Beber, Scheer, Wille (2007)
5- Muito Utilizada
4- Utilizada
3- Pouco utilizada
2- Possui a ferramenta,
mas nunca é utilizada
1- Não possui a
ferramenta
E-mail
100,00%
50,00%
36,00%
75,00%
87,50%
12,50% 12,50%
12,50%
25%
12,50%
12,50%
50%
100 %
75%
12,50%12,50%
12,50% 37,50%
25% 25% 50%
25 %
25 %
Videoconferência
Palm Top
Web site
Skype
Celular
MSN
Fax
Telefone
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
96
Gráfico 4 – Uso de softwares no escritório de arquitetura Fonte: Beber, Scheer, Wille (2007)
Gráfico 5 – Uso de TI nas atividades dos escritórios de arquitetura x fluxo de informação
e comunicação
Fonte: Beber, Scheer, Wille (2007)
No acompanhamento, monitoramento e controle on-line do
desenvolvimento dos projetos
Na venda e marketing dos serviços desenvolvidos no
escritório
Na troca de informações da equipe interna de projetos
No envio e recebimento de informações para clientes
engenheiros, fornecedores, entre outros
No envio e recebimento de e-mails com informações sobre
algum projeto que esteja sendo desenvolvido
Na troca de informões entre a equipe do escritório com
profissionais terceirizados
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
25%
12,50%
62,50%
12,50%
25%
37,50%
50%
12,50%
12,50%
2,5%
12,50%
12,50%
12,50%
12,50%
25,00%
25%
75%
lugar em utilização lugar em utilização
lugar em utilização
lugar em utilização
lugar em utilização
25,00%
25,00%
25,00%
100 %
100 %
100 %
100 %
100 %
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
5- Muito Utilizado
4- Utilizado
3- Pouco utilizado
2- Possui software,
mas nunca é utilizado
1- Não possui o
software
100 %
100 %
12,50%
25,00%
62,50%
25,00%
25,00%
62,50%
62,50%
Primavera
50,00%
50,00%
50%
50%
75%
87,50%
12,50%
12,50%
12,50%
25,00%
25%
25%
37,50%
50%
50%
12,50% 25%
MS Project
InteliCAD
Volare
Excel
Access
Word
Alto QI
Mini CAD
Microstation
TQS
Coreldraw
Vectworks
Studio VIZ
Arqui 3D
Arqui CAD
Auto CAD
97
Anexo C
Alguns aplicativos atualmente utilizados na gestão de projetos
Nossas pesquisas em sites na Internet e a participação em eventos, como o VIII
WBGPPCE 2008, nos levaram ao estudo de três serviços de colaboração on-line (o
SADP, o Buzzsaw e o Construtivo) e de dois sistemas que foram iniciados na academia
(o Sisac/Lacc e o Lampa&Lacaf), que são descritos a seguir:
Figura 7 – Esquema de funcionamento do SADP
Fonte: Autora
O SADP
30
é um sistema de
armazenamento de dados baseado em
protocolos de transferência de arquivos
pela Internet. Ele não trabalha como uma
extranet. A sua intenção é atender aos
usuários internos de uma empresa, no
conjunto de seus projetos e de suas obras.
E cada empresa tem seu próprio site. O
gestor do sistema é o responsável por
definir quem tem acesso a pastas e
arquivos de documentos de um projeto ou uma obra. As informações não estão
disponíveis por um endereço na Internet, pelo SADP. Podem existir vários gestores
(projetos civis, governamentais, qualidade etc.) que selecionarão usuários para gravar
arquivos em pastas próprias de suas especialidades (Arquitetura, Estrutura, Elétrica etc.).
E cada Gestor (Cliente) poderá gerenciar números ilimitados de projetos / obras.
Entretanto, cada usuário gerenciado não pode ver os outros usuários do grupo, nem
todos os projetos. Segundo o SADP “Somente o Gestor tem acesso a todos os usuários e
todos os Projetos”. Ou seja, cabe ao Gestor habilitar cada usuário para que eles tenham
“acesso aos projetos aonde irão trabalhar”.
2) O Autodesk Buzzsaw
31
é um serviço de colaboração on-line que tem notificações
automáticas por e-mail, indexação e pesquisa de conteúdos, e com segurança, possui
visibilidade instantânea do status do projeto. Notifica alterações de reunião, permite
anotações em desenhos e revisão em planilhas remotamente em tempo real, pode utilizar
o Autodesk Buzzsaw para interligar toda a sua equipa de trabalho. Atribui vários níveis de
30
SADP, http://www.sistrut.com.br/sadp/ParaQuem.html Encontrado em 20/01/2010.
31
BUZZSAW, AUTODESK, http://usa.autodesk.com/adsk/servlet/index?siteID=123112&id=2407898.
Encontrado em 02/08/2009.
HABILITAR
USUÁRIO
PARA PROJETO
HTTP:// suaempresa.sadp.com.br
Permises: ler/ gravar /ler + gravar
ler outros níveis: arquitetura / estrutura / etc
Aprovão de arquivos
Gestor / CLIENTE 1 Gestor / CLIENTE 2
Gestor / CLIENTE “n”
98
acesso. Qualquer membro do grupo pode abrir e guardar desenhos do AutoCAD
diretamente para o Autodesk Buzzsaw. No caso em que possuem restrições de alteração
de projetos pode ser utilizado um visualizador e é possível fazer anotações nos desenhos
sem ter que utilizar o AutoCAD. Também pode-se fazer download ou upload de
referências externas.
É um sistema que se propõe a ser autoajustável às necessidades do usuário. Ou seja,
atributos podem ser acrescentados de acordo com a necessidade e o crescimento do
usuário. E apresenta como ponto interessante um serviço de conferência online.
Utiliza também interface para BIM (Revit)
32
. O Buzzsaw é um sistema cujo investimento
não é barato e exige muito esforço de treinamento do usuário. Os valores contratados
são em função do número de usuários e do tráfego de dados.
3) o Construtivo
33
tem como ênfase a organização de documentos; a troca desses
documentos entre a equipe de projetos; o registro das informações; o acompanhamento
do processo; o planejamento das etapas; e coloca como destaque o “registro da
responsabilidade” para quem participa do processo. A lógica está em que a empresa
tenha como rastrear as decisões e competências de cada projetista.
A empresa também oferece suporte ao uso, atualização constante e segurança. As
propostas de produto Construtivo acompanham as exigências do mercado: em 1999 era
um sistema para organizar informações, foi evoluindo e hoje utiliza as plataformas CAD,
Autocad e Civil3D, e recentemente passou a incorporar o BIM. Anuncia que o seu
sistema tem características de Web 2.0, porque não utiliza os servidores dos clientes.
Mas, assim como os outros produtos apresentados, cria uma extranet de projeto, que é a
utilização do produto apenas pelos usuários cadastrados. Subdivide seus produtos em
“viabilidade”, “projetos”, “obras” e “manutenção.
A forma de remuneração dos serviços prestados é uma mensalidade, considerada uma
locação (denominada de ASP) para a utilização do software instalado no servidor da
fornecedora. O valor inclui também os serviços de suporte para manutenção do sistema e
treinamento da equipe.
32
BIM, AUTODESK, http://usa.autodesk.com/company/building-information-modeling. Encontrado em
02/08/2009.
33
CONSTRUTIVO, http://www.construtivo.com.br/parceiros.php . Encontrado em 02/08/2009.
99
A forma de comercialização pode apresentar custos inesperados para os seus usuários,
e a solução para diminuir estes custos pode não ser a ideal para o gerenciamento de
AEC: uma das soluções propostas pela empresa Construtivo para a diminuição de gastos
mensais decorrente do tráfego de dados é transformar os arquivos DWG em PDF.
Entendemos que isto não seria uma solução, e sim um retrocesso, pois a grande
vantagem do sistema colaborativo é a manutenção dos arquivos em uma extensão que
possa permitir a alteração do arquivo, o que não será possível no PDF.
Tanto o sistema Buzzsaw quanto o Construtivo necessitam de uma etapa de treinamento
de usuários, cujo suporte é dado pelas empresas fornecedoras dos sistemas. E esta é
uma etapa que demanda tempo. Mesmo considerando que este custo está incluído no
pacote de serviços fornecido, o cliente continua pagando os salários de seus
funcionários, enquanto eles estão sendo treinados e não estão produzindo para a
empresa.
Outra questão que decorre do tempo gasto em treinamento da equipe usuária é que não
existe compatibilidade entre os sistemas comercializados. Então a empresa que contrata
um serviço fica dependente deste sistema, uma vez que investe bastante tempo,
recursos e mão de obra para colocá-lo em operação. E trocá-lo por outro sistema
colaborativo de outra empresa demandaria treinamento diferente daquele
implementado.
4) O SISAC Sistema de Ambientes Colaborativos, Arantes; Viana; Resende (2009), foi
iniciado na academia, e desenvolvido pelo Laboratório de Ambientes Colaborativos
Computacionais (LACC), da Escola de Engenharia da UFMG, e hoje é um software
comercializado. Salientamos a experiência de adaptação de software livre com uso de
extranet para clientes, projetistas, construtora e parceiros, customizados às necessidades
das empresas de AEC.
Faz parte do sistema a segurança dos dados, que permite o controle de direitos (leitura e
escrita de documentos) pelo coordenador. um banco de dados de documentos e
informações centralizado, utilizadas para indexação, distribuição e discussões do projeto,
bem como o estabelecimento de prazos, aprovações e pendências projetuais.
Utiliza-se e-mail, mensagens, videoconferência, sistema de busca, calendário,
cronogramas, suporte a modelos BIM, CVS (sistema de controle de versão), e outras
funcionalidades adicionais.
100
Anexo D
Google Wave
Figura 8 – Página de utilização do Google Wave
Fonte: Google/ apresentação de maio de 2009
Características principais:
O usuário cria uma onda (wave) e adiciona os contatos;
Na mesma página, email, mensagem instantânea, fotos, mapas;
Todos podem ver e modificar os emails alheios ao mesmo tempo em que estão
sendo construídos;
Características de email e rede social simultâneas;
Editor colaborativo com texto formatado, fotos, vídeos, mapas etc;
Relacionado com o Google Maps;
Utilização de textos, gráficos, feeds de outras fontes na Web;
Textos científicos atualizados por “links” a banco de dados e laboratórios;
Software aberto para desenvolvedores;
Sem anexos, é possível arrastar e soltar o arquivo;
Autocorreção e autotradução de texto;
Uso como gestão de projetos.
101
Anexo E
Quadros Explicativos de Ferramentas Colaborativas
34
Quadro 6 – Ferramentas de Produtividade
NOME ENDEREÇO WEB FINALIDADE APLICAÇÃO
Alertas
Google
www.google.com.br/alerts
Clipping. Seleção de
notícias pesquisadas
em mais de 120
jornais online, por
palavra-chave. As
manchetes e links são
enviadas ao e-mail do
solicitante em
períodos pré-
escolhidos.
Otimizar a aquisição
de informações, de
modo a mantê-lo
atualizado com os
assuntos de sua
especialidade
35
.
Google
Docs
docs.google.com
Editor de texto e de
planilhas de cálculo,
permitindo o
armazenamento e
compartilhamento
online em área
privativa.
Criação de
documentos de
forma colaborativa,
compatíveis aos
padrões adotados
(MS), oferecendo o
acesso remoto aos
arquivos.
SlideShare www.slideshare.net
Repositório de
apresentações/slides,
que permite o
compartilhamento e o
armazenamento em
área pública ou
privativa.
Possibilita a
disponibilização de
apresentações de
treinamentos,
palestras e
seminários, por
exemplo.
YouTube www.youtube.com
Repositório de vídeos
que permite o
compartilhamento e o
armazenamento em
área pública ou
privativa.
Possibilita a
disponibilização de
apresentações de
treinamentos,
palestras e
seminários, por
exemplo.
Picasa www.picasa.com
Editor e repositório de
imagens.
Tratamento e
compartilhamento
de imagens.
Agenda
Google
http://www.google.com/calendar
Serviço de agenda
online, podendo ser
compartilhada.
Agendamento
compartilhado a
qualquer tempo ou
local.
34
Adaptado do site disponível em http://www.docstoc.com/docs/5806207/Ferramentas-Colaborativas---Texto
encontrado em 02 de agosto de 2009.
35
Os Feeds RSS oferecem um recurso semelhante, porém específico para sites de informação não
associados à pesquisa Google. Usado também em relacioname0nto.
102
Quadro 7 – Ferramentas de Relacionamento e Comunicação
NOME ENDEREÇO WEB FINALIDADE APLICAÇÃO
Blogger www.blogger.com
Editor de sites na
Web, de fácil uso e
compreensão,
permitindo a criação
coletiva e o
compartilhamento
público ou privado.
Criação de sites e
gestão de
conteúdos de
interesse de
equipes de trabalho.
Fóruns vários
Discussão de tópicos
específicos, abertos
ou privados,
alimentados pelos
usuários.
Geração de
conhecimento.
Chat vários
Conversas online por
texto, com a
possibilidade de envio
de sinal de áudio e
vídeo, e
compartilhamento de
whiteboards.
Pequenas reuniões
a distância e
suporte a
capacitação.
Skype www.skype.com
Telefonia sob IP,
possibilita
comunicação em
áudio/vídeo/texto e
efetuar chamadas a
telefones fixos e
celulares (pagas).
Para órgãos
descentralizados no
Estado tem
enormes vantagens
no barateamento de
tarifas telefônicas,
que podem chegar a
custo zero.
Feed RSS vários
Em áreas dinâmicas
de um site, permite
que o usuário seja
informado a cada
atualização. Muito
utilizado para notícias.
Tanto na agregação
nos sites das
Secretarias (área de
notícias) quanto em
blogs das equipes.
O portal do governo
já utiliza.
PodCast vários
Arquivos de áudio
online, funciona como
uma rádio, porém
com arquivos
baixados, não
lineares/streaming.
Notícias e
entrevistas. O portal
do governo já utiliza.
103
Quadro 8 – Ferramentas de Incremento de Serviços
NOME ENDEREÇO WEB FINALIDADE APLICAÇÃO
Google
Maps
maps.google.com
Pesquisa e
localização
geográfica de pontos
de interesse,
incluindo guia origem-
destino e a visão
aérea do local.
Permite mixar
(mashup) com
aplicações e bancos
de dados do
governo.
widgets e
integradores
vários
Pequenos aplicativos
que funcionam sem o
browser e podem
aderir à interface do
desktop do usuário ou
ainda, como os
mashups, integrarem-
se a algum serviço.
Neste caso, o
Governo pode ser
criador de widgets e
até mesmo de APIs
abertas para
mashup.
104
Anexo F
Experiências na Academia com o uso de Ferramentas Web
1) Experiências de Araújo; Kós; Rossi
36
, no projeto Acadêmico Arquitetura e dia Digital
II, edição, realizada no semestre de 2004, reúne em um único ateliê virtual, Habitar
a Cidade, pela Internet, com alunos das faculdades de arquitetura da UFRJ, UFMG, USP,
Universidade de Uberaba, UFRGN e UFRGS (Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São
Carlos, Uberaba, Natal e Porto Alegre em trabalhos colaborativos à distância. Utilização
da plataforma Lótus QuickPlace, da IBM, além de MSN.
Na edição de 2004, realizada no semestre daquele ano, participam as faculdades
de arquitetura da UFRJ e UFMG. Nesta edição houve o uso apenas das ferramentas
gratuitas da Internet, e se verificou que elas foram mais rápidas e simples e foram
preferidas pela maioria dos alunos. Criou-se também uma comunidade virtual, e páginas
pessoais que serviram de repositórios de projetos. Foram utilizados o MSN, Skype. O uso
de projetores de alta resolução, com Webcams e chats, aproximaram os diversos grupos.
E apesar da popularidade do Orkut, os alunos optaram pelo portal Multiply, utilizados
para a postagem dos trabalhos.
2) Ruschel; Pina; Pupo (2006), desenvolvem o LAMPA&LACAF Laboratório de
Arquitetura, Metodologia de projeto e Automação & Laboratório de Conforto Ambiental e
Física Aplicada da UNICAMP, que é uma plataforma Acadêmica por excelência.
Destacamos uma experiência das pesquisadoras na implantação da plataforma de
aprendizagem à distância, com alunos dos laboratórios, no Jardim São Francisco,
utilizando todo tipo de produto disponível na Internet para projeto, gerenciamento de
arquivos e comunicação: MSN, Skype com Webcam, Enquetes, Sistemas com
videoconferência, Wiki, Blog, Agenda, Grupos de discussões, 3G fone, Galeria de
imagens, Smart board.
36
ARAÚJO; KÓS; ROSSI, Arquitetura e Mídia Digital II: Um estudo comparativo em DUARTE R. C.,
RHEINGANTZ P. A., AZEVEDO G., BRONSTEIN L. [orgs.] O Lugar do Projeto, Rio de Janeiro, Contra Capa
Livraria, 2007.
105
Anexo G
Roteiro das entrevistas com os escritórios de projeto
ENTREVISTA COM ESCRITÓRIOS DE ARQUITETURA QUE
DESENVOLVEM PROJETOS COMPLEXOS
Código do escritório:de A a D (para não identificar o escritório)
Nome do entrevistado:
Data:
Profissão:
Cargo/função no escritório:
Tempo de experiência:
Segmentos de atuação do escritório:
Tempo de atuação:
1) Dos projetos desenvolvidos no seu escritório, quais você considera complexos, e por
quê?
2) Quantos profissionais da sua equipe e com que qualificação, estão envolvidos nos
projetos considerados mais complexos? Você pode exemplificar algum?
3) Nestes projetos mais complexos, qual a equipe externa contratada – consultores,
terceirizados, parceiros especiais etc.? Exemplo no projeto específico.
4) Na concepção de um projeto, quais os agentes mais importantes para a troca de
informações para a elaboração do programa de necessidades e para a elaboração do
estudo preliminar (além dos itens compulsórios como legislação)?
Enumere em ordem de prioridade de 1 a 10 sendo 1 para a fonte de informações mais
consultada.
( ) clientes, que exercem atividades de..................................................................
( ) consultores, nas especialidades de ...................................................................
( ) projetistas de estruturas
( ) médicos
( ) projetistas das instalações prediais (elétricas e hidrossanitárias)
( ) enfermeiros
( ) projetista das instalações de condicionamento do ar
( ) pacientes (avaliação pós-ocupação)
( ) pesquisa na comunidade, ou aproveitamento de pesquisa existente
( ) outros ...............................................................................................................
5) Quais são os maiores problemas encontrados na elaboração de um projeto (enumerar
por ordem de importância)?
6) Como se dá a troca de informações entre os diversos participantes de um projeto (na
empresa e contratados)?
( ) email ( ) telefone ( ) reuniões ( ) skype/texto ( ) skype/conferência ( ) chats ( ) google
docs ( ) pacote de software de gestão
( ) outro:
...................................................................................................................................
7) Qual o aplicativo utilizado para a representação gráfica? Ele é utilizado a partir de que
etapa do processo do projeto (estudo preliminar etc.)?
Tempo de treinamento?
106
Custo/benefício?
8) Seus parceiros utilizam o mesmo aplicativo que o seu escritório? Em caso negativo,
quais as dificuldades que seus parceiros alegam como empecilho para o uso do mesmo
aplicativo?
9) Em que situação você utiliza a Internet, além do uso de emails. São utilizados o
Google docs, Skype, Agendas, Chats, Fóruns, Grupos de discussão, Orkut, Twitter, Wiki
etc.?
10) Voce tem conhecimento/faz uso da Web para arquivar/controlar/rastrear as
informações trocadas durante o desenvolvimento dos projetos complexos? Como?
11) Você acha que existem boas formas de registrar as informações de projeto para que
sejam reutilizadas no momento oportuno? Quais seriam (considerando pacotes de
empresas e produtos gratuitos da Internet)?
12) A Web 2.0 tem como princípio a colaboração e a interatividade entre os parceiros, o
que possibilita resolver problemas de forma mais rápida, com maior facilidade, utilizando
o maior número de recursos. Para que isto seja possível, é necessário que os registros
de projeto possam ser visíveis por todos, para aumentar a colaboração. Que parte ou
fase de um projeto não pode estar disponível para todas/algumas equipes?
Perguntas Complementares ao Entrevistado:
13) Como foi a evolução do seu escritório em relação à representação gráfica digital e à
Internet?
14) Caso seja utilizado algum aplicativo de gerenciamento de projetos (planilhas de
controle, orçamento, cronogramas etc.), ou de representação gráfica (CAD, BIM), como,
e para que fim, eles são utilizados no seu escritório?
Tempo de treinamento?
Custo/benefício?
15) Uma equipe interna, parceiros e clientes mais sintonizados, e colaborativos, podem
ajudar na elaboração do projeto? Qual seria a situação ideal?
16) Como você vê a questão da autoria do projeto na colaboração entre a equipe e
parceiros?
107
Anexo H
Caracterização das Empresas Brasileiras Entrevistadas
Empresa A (Rio de Janeiro – Brasil)
Entrevistas concedidas por:
Dois Arquitetos Urbanistas, sócios da empresa A
A empresa sediada no Rio de Janeiro, com, estimados, 40 anos de experiência nas
parcerias anteriores, e 23 anos com esta denominação, é especializada em projetos
de arquitetura e planejamento urbano e especialmente reconhecida pelo desenvolvimento
de planos diretores e projetos de urbanização, em particular, de projetos na área de
saúde. O escritório é formado por três sócios e uma equipe de profissionais arquitetos e
estagiários, além de apoio administrativo.
Empresa B (Rio de Janeiro – Brasil)
Entrevista concedida pelo:
Arquiteto e Urbanista, sócio da empresa B
O escritório de arquitetura completou 20 anos e vem desenvolvendo ao longo de sua
trajetória vários projetos na área de saúde, além de corporativos, comerciais e
urbanismo, dentre outros. Três sócios compõem a direção da empresa, que conta ainda
com um arquiteto associado, e uma equipe de arquitetos, urbanistas, designers e
estagiários.
Empresa C (São Paulo – Brasil)
Entrevista concedida pelo:
Arquiteto e Urbanista, diretor geral da empresa C
O escritório de arquitetura teve início mais de 50 anos e tem atuado em várias áreas
como a industrial, a educacional e a comercial. Sua especial atividade hoje são os
projetos na área de saúde e os centros de pesquisa. A equipe é formada por 20
profissionais, na sua maioria arquitetos e projetistas, alguns com mestrado e doutorado.
108
Empresa D (São Paulo – Brasil)
Entrevistas concedidas pelo Arquiteto Urbanista, dirigente da empresa D e pela
Coordenadora de Projetos da empresa
Escritório especializado em arquitetura de ambientes de saúde, com quase 50 anos de
existência. A empresa conta com seu fundador e dois profissionais que coordenam e
dirigem a área de projetos, além da equipe de 30 profissionais entre arquitetos,
projetistas e dois consultores, sendo um em administração hospitalar.
109
Anexo I
Entrevista com a Empresa da África do Sul
Osmond Lange Architects & Planners (Durban África do Sul)
OLA: Osmond Lange Architects & Planners (Durban – Africa do Sul)
http://www.osmondlange.co.za/
Entrevista concedida por:
Victor Utria Arciniegas – Arquiteto e Urbanista, sócio da OLA
Empresa de arquitetura e planejamento urbano, com 80 anos de funcionamento, sediada
na África do Sul, com cinco escritórios localizados nas cidades de Durban, Johannesburg
e East London. Osmond Lange OL possui sete sócios. Recentemente, 54 arquitetos
compunham o seu staff, mas em função da demanda dos novos projetos, o conjunto total
de profissionais passou para 120 pessoas, entre arquitetos, desenhistas e
administrativos. Destacam-se projetos recentes para hospitais, estádio para a Copa do
Mundo de 2010, e dois aeroportos para este mesmo fim. O arquiteto entrevistado é um
dos sócios e o responsável pelo projeto do aeroporto de Durban, desde o estudo
preliminar, e gerenciador dos projetos executivos do consórcio ILEMBE, entre OLA e
outros escritórios, que é exemplificado nesta entrevista.
● A complexidade do programa do aeroporto, cujo planejamento é regulado por questões
de funcionalidade, de segurança, de comunicações, de tecnologia, de normas especiais,
de controle de fronteiras, alternativas de ocupação, e de energia, tem como agravante o
prazo de execução, que é de três anos, e um custo estimado de um bilhão de dólares (1
milhão de dólares por dia). Todos estes fatores fazem com que o projeto e a obra
ocorram ao mesmo tempo.
O empreendimento é executado em “turn key” (desde a elaboração do conceito do
projeto até a entrega do produto pronto para uso), e o cliente deste aeroporto é o próprio
construtor. O consórcio de empresas formado para desenhar e construir o aeroporto se
chama ILEMBE, e Osmond Lange faz parte dele e participa do Ilembe Architecture Joint
Venture AJV que são os grupos de arquitetura, assim como o Ilembe Engeneering
Joint Venture EJV é composto pelos grupos de engenharia. ainda uma empresa
fora deste grupo que executa os projetos e as obras de ar condicionado e ventilação, e
também a companhia de tecnologia e comunicações que atua como consultor e
construtor de todos os equipamentos da Alcatel (empresa global de telecomunicações).
Estrutura das equipes para o Processo dos Projetos
110
AJV é composto de cinco escritórios de arquitetura (sendo um de Osmond Lange),
além de cinco escritórios adicionais de consultores. Na etapa inicial, Osmond Lange,
através do arquiteto entrevistado, ficou responsável pelo desenvolvimento do estudo
preliminar de todo o aeroporto, mas na etapa de projeto executivo, OL como parte de AJV
é responsável pelo terminal de passageiros. As outras quatro empresas, que fazem parte
do consórcio ILEMBE, na AJV, ficaram responsáveis pelo desenvolvimento dos projetos
executivos periféricos que são: (1) o terminal de carga; (2) prédios de manutenção, torre
de controle e outras instalações; (3) prédio de estacionamento ligado a um prédio de
escritórios; (4) terminal (inside core) e também na área de “urban fabric”, que é todo o
terreno não construído, que conecta todos os prédios.
O total de profissionais de AJV está dividido entre arquitetos (50%), desenhistas (40%) e
pessoal administrativo (10%), e é de mais ou menos 120 pessoas.
● Neste contexto, um escritório de arquitetura foi montado por Osmond Lange para, junto
com mais quatro escritórios, participarem do consórcio de AJV. Esta equipe tem 32
profissionais, 80% arquitetos com experiência entre três e 40 anos, e desenvolve
atualmente este único projeto, o terminal de passageiros.
● A equipe desenvolve em conjunto o projeto em um mesmo modelo BIM, da Archicad, e
também funções de apoio que são as de especificação do projeto e área administrativa.
uma coordenação geral que é feita pelo entrevistado, entretanto, a maior parte dos
arquitetos desta coordenação, além de exercer as suas tarefas como projetistas, também
são responsáveis (líderes) por certas atividades. Ou seja, este mesmo componente do
grupo que é projetista pode também ser o arquiteto-administrador daquele serviço. Com
isso, os profissionais tanto lideram quanto são liderados nas suas tarefas. O próprio
coordenador (entrevistado) é liderado em uma atividade, cujo líder é uma arquiteta da
equipe. Ou seja, um intercâmbio de hierarquia e de funções.
(ver planilha TASK-
RESOURCE MATRIX, abaixo com as interfaces entre os profissionais e as tarefas)
Outra característica desta estrutura é que quando uma tarefa termina, o líder e os
liderados naquela tarefa se distribuem para outras novas tarefas, com novas lideranças,
que podem ser exercidas pelos antigos liderados.
Troca de informações entre a equipe do escritório de arquitetura
Esta forma de estruturar a equipe de projetos é responsável por proporcionar um
grande intercâmbio entre os membros da equipe, e distribuir as responsabilidades
equitativamente, na medida em que promove um rodízio de funções e responsabilidades.
Nesta configuração a troca de informações é intensa e transparente e é potencializada
por todos também estarem trabalhando no modelo BIM.
111
Relacionamento com parceiros externos de projetos, consultores e terceirizados
● Além destes escritórios de projetos de arquitetura, há um com outra função, não menos
importante, que é o escritório de arquitetura na obra, que é um grupo que a visita
diariamente, não para supervisioná-la, que é papel do construtor, mas para registrar e
atualizar os desenhos e reportar aos escritórios de arquitetura todas as necessidades do
projeto. É um escritório de comunicação também.
● Como relatado, além dos escritórios de arquitetura, há cinco escritórios de outras
especialidades. Estes escritórios de especialidades são os de: acústica (principalmente
dos prédios críticos que são o terminal de passageiros, a torre de controle, e o terminal
de carga); hidráulica, que normalmente é um dos grupos de engenharia, mas neste caso
precisa estar perto dos grupos de arquitetura; paisagismo, principalmente para o terminal
e para o prédio que servirá às funções protocolares do ministério das relações exteriores;
e luminotécnica interna e externa.
As decisões sobre o empreendimento, com tempo exíguo de execução, são tomadas
por três pessoas, representantes de três grupos: este Arquiteto Gerente (que representa
os arquitetos, e consequentemente, todos os projetistas), o Project Management (gerente
do empreendimento, responsável pelo controle de tempo e de custo) e o Construtor. As
reuniões iniciais desta direção demoravam quase 10 horas por dia, porque os
representantes se reuniam com muitos implicados e circulavam em vários prédios. Ainda
hoje reuniões de 10 horas que fazem que o dia de trabalho tenha 20 horas, pois é
necessário depois mais 10 horas de trabalho de coordenação do escritório, dentre outras
ações. O processo de decisão diluído nestes três grupos limita a chance de que um
destes grupos vete o trabalho depois que ele tenha sido feito.
Neste projeto do aeroporto, a situação é um pouco diferente do cliente tomador de
decisões. Porque o empreendimento foi um concurso, estabelecido por um órgão do
Estado, que contratou especialistas para escrever um documento, as regras estão
estabelecidas neste contrato (numero de pessoas/terminal, por exemplo), portanto quem
define as regras não é o cliente, e as soluções serão dadas pelos arquitetos.
Maiores problemas encontrados na elaboração de um projeto
Segundo o entrevistado, o maior problema encontrado na elaboração de um projeto de
arquitetura são as pessoas e certamente a maior solução também são as pessoas.
Quanto maior o numero de pessoas maior o problema: “Duas pessoas são, digamos,
quatro problemas, três pessoas são nove problemas, existe uma multiplicação, é
exponencial”. Outro problema é a falta de tempo. Para um projeto como este de um
bilhão de dólares, três anos é muito pouco tempo para projetar e construir. E outro
problema em projeto é que separar o usuário do projeto é um risco, não é o ideal.
112
Como se dá a troca de informação entre as equipes externas ao escritório
● A troca de informações está diretamente vinculada à questão do tempo exíguo. Tomou-
se a decisão de centralizar todo o design onde o projeto está sendo construído. 4.000
m
2
de escritório temporário para os diversos profissionais. As pessoas do projeto (120
profissionais) se mudaram para a cidade para facilitar os contatos.
Utilização de softwares de gestão
É utilizado um protocolo de comunicação, um document control”, controle de
documentos, que centraliza todos os documentos enviados, registrando a hora, com
minutos e segundos no momento em que isto ocorre. Toda a informação contratual,
inclusive desenhos, cartas contratuais, “non conformance report” (relatório de não-
conformidade) etc. Essa armazenagem de dados, um Web site, Aconnect, faz esse
registro e a comunicação. Além , se usa email (20.000 emails) e telefonemas.
Familiaridade com a Web
Alguns do grupo usam Skype, mas ele não é oficialmente utilizado como sistema de
comunicações, e é considerado desnecessário, que estão todos na mesma cidade.
Não se usa chats pelo mesmo motivo. O Google Docs é usado profissionalmente por
OLA, de forma bastante eficaz. A empresa percebeu que dirimir as dúvidas de
especificação ou detalhes de projeto consumiam muito tempo. Antes havia reuniões
semanais, depois diárias sobre os detalhes, então se resolveu abrir uma tabela no
Google Docs, para ser usada por toda a equipe, para organizar as dúvidas e pendências,
e definir as respostas que deviam ser dadas ao construtor. uma coluna de perguntas,
ela pode ter três cores (laranja se está entendida completamente, por exemplo).
colunas de quem tem que responder (qual grupo de trabalho); outra com a data que o
construtor pede para que a resposta seja dada; mais outra coluna onde se tem que
responder e informar diariamente; e uma última coluna que o número do desenho ou
da instrução que contém a resposta. (ver planilha do Google Docs abaixo)
Utilização de softwares de representação gráfica
O Archicad começou a ser utilizado por Osmond Lange três anos, em substituição
ao Autocad. Para o início do projeto, nos desenhos de estudo preliminar utilizou-se
software de apresentação, e outros para renderizar e incorporar fotografias. O Archicad
foi usado para o processo de desenvolvimento do modelo e será usado até o final, pois
ele serve para modelar a um nível muito grande de detalhes. Archicad é um software
113
tridimensional e paramétrico que tem vinte anos de mercado, mas é minoritário, a
vantagem deste software é que ele foi desenvolvido por e para arquitetos.
DESCRIÇÃO DO PROCESSO COLABORATIVO COM O USO DE BIM
Para destacar a experiência de processo colaborativo com o uso de BIM, que é utilizado
por um dos escritórios entrevistados, Osmond Lange, procedeu-se à descrição da
experiência no desenvolvimento do modelo para o terminal de passageiros do aeroporto
na cidade de Durban, África do Sul. Como relatado, este escritório de arquitetura participa
com mais quatro outros escritórios de um consórcio chamado ILEMBE, para o projeto de
todo o aeroporto.
● O gerenciamento do BIM, que no caso específico é o Archicad, é muito importante para
o desenvolvimento do projeto. Os limites do modelo são: o tamanho do arquivo gerado; o
número de polígonos que o desenho contém (as tubulações merecem atenção especial);
e o número de usuários conectados usando um único arquivo. Trinta pessoas não podem
usar ao mesmo tempo o modelo porque o arquivo implode. O arquivo tem que ser
controlado com muito cuidado. Por isto tem-se uma função que é o CAD manager, que é
um arquiteto responsável por fazer o gerenciamento do arquivo do projeto. Correções e
limpezas diárias são necessárias. No início do projeto havia o procedimento semanal de
limpar tudo o que não interessava para o projeto. Manutenção e supervisão da
integridade do arquivo, mesmo que a equipe seja competente para não produzir erros.
● O Modelo em Archicad para o terminal de passageiros é desenvolvido por um grupo de
26 profissionais de arquitetura, além de mais seis profissionais de apoio. Esta divisão do
modelo foi feita não só por causa das limitações do software, mas por causa do programa
e da sua forma de construção.
● O grupo 1 ficou encarregado de desenvolver a estrutura, a parte de concreto, o
esqueleto do prédio, e é responsável por liberar a planta para os outros grupos
trabalharem. O grupo 2 trabalha com o planejamento interno, que são os interiors”, os
arquitetos que projetam em cada nível, os módulos, as paredes. Este grupo movimenta
as paredes para ajustá-las e “assentar” a planta, e trabalha muito ligado com o grupo 1,
da estrutura, porque a posição dos elevadores, a mudança do local de banheiros, afetam
os furos na laje anteriormente definidos, e vão afetar também a posição das paredes e
das divisórias. Neste grupo também estão o projeto de escadas, escadas rolantes e
elevadores, que são estruturas fixas, e sua definição é estratégica e precisa ocorrer no
início do projeto, pois impacta no fluxo de passageiros. Depois o grupo 3, de “services
coordenation”, de cinco pessoas, cuja função é exclusivamente a de modelar todos os
serviços de especialistas que estão em AutoCAD em duas dimensões. Os especialistas
114
em instalações, os engenheiros de ar condicionado, eletricidade, hidráulica etc. e também
checar estas instalações com as estruturas. E comunicar prioridades, qual instalação irá
por cima, por baixo, pela esquerda, ou direita. É como um controle de tráfego. O outro
grupo, o grupo 4, é encarregado de resolver, detalhar o “envelope” do prédio, que são as
fachadas. Há um miniescritório trabalhando só as fachadas e os tetos. Este grupo
também tem interface com o grupo de estruturas. O grupo 5 tem a função de
“procurement”, que especifica materiais e equipamentos e faz interação com o setor de
compras que está adquirindo estes produtos para o empreendimento. Este grupo não
produz desenho, mas que é super importante na fase inicial do projeto cuja função é
tomar decisões e comunicar quais materiais e serviços serão empregados no projeto.
Esta questão se torna primordial porque o Bim carece destas informações na definição
dos elementos construtivos. É difícil definir a especificação de um projeto no seu início
que é quando se está resolvendo questões estratégicas (por isso um grupo dedicado
para fazê-lo). O arquiteto exemplificou que pensamos globalmente e vamos detalhando
aos poucos. Decidimos que vamos sair. Depois resolvemos qual o restaurante, e etc.”
Não é fácil tomar todas as decisões no início, daí precisa-se de uma equipe para pensar
só na especificação.
● Como informado acima, os parceiros especialistas não usam o Archicad, e a equipe de
escritório tem que transformar seus desenhos de duas dimensões para o modelo. Em um
futuro próximo, haverá a exigência de que todos os parceiros trabalhem com o Archicad.
Existe uma subutilização do Archicad pelo escritório quanto ao seu uso para gerar listas
de materiais, com orçamento e custo, uma vez que ainda cultura no país do uso de
orçamentistas. Brevemente se pretende usar os recursos de orçamentação do software.
A área de coordenação de arquivos do “service coordination” é extremamente
complexa. E mesmo podendo ter apenas cinco usuários no máximo dentro deste arquivo,
ele é, eu acho, dez vezes mais pesado que os outros arquivos juntos. A tubulação tem
um monte de polígonos. É uma unidade de processamento de dados. A forma como o
programa opera é que se pode ter todos os arquivos separados, mas pode-se conectá-
los. Quando se está examinando o prédio, todos os arquivos estão juntos, mas não estão
acessíveis. Ou seja, não se pode mexer neles naquele momento. Para uma pessoa do
grupo de fachadas mexer em uma área com paredes, ela tem que pedir permissão. Você
tem toda a realidade do modelo para ver o relacionamento entre as partes, mas sem
alterá-las. Isto é importante sob o ponto de vista da colaboração, pois você esta sempre
dependendo do outro. No comando de software “Team Work”, pode-se compartilhar
informações com outras pessoas. Mas o fundamental é que as pessoas precisam falar! É
a comunicação no final da história. Desta forma: “eu tenho este elemento, eu estou
mexendo daqui para lá, e não amole até que eu termine e saia daqui”. Isto não é um jogo,
115
é uma guerra... A intenção é fazer um pacto, mas é uma guerra... No uso do software se
controla a área. Colaboração implica deixar de fazer o que você está fazendo para
fazer o que o grupo ou outro usuário precisa. obrigações e objetivos pessoais.
Exemplo: tenho que terminar a escada amanhã, mas se eu não libero uma mudança em
uma laje, o trabalho de outro não ficará pronto e estará faltando concreto segunda-feira
na obra. Para você facilitar o desenvolvimento da obra (objetivo geral) você tem que
perder suas obrigações pessoais de curto prazo. Você tem que perder o seu “dead line”
(prazo). Isto é difícil... Por isso precisa-se de comunicação.
Na página seguinte, apresenta-se a tabela:
Tabela 4 – Tabela de distribuição de tarefas do projeto de arquitetura de Osmond Lange
executado com o software Archicad – original em inglês
Fonte: Osmond Lange Architects & Planners
116
117
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