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imprime, ou então, agir, preso, porém, em quadros ou partidos, onde é
necessário mentir e sacrificar o recolhimento à agitação e à eloquência. Eis
aqui um primeiro plano, em que vejo a ação se oferecer a mim sem causar
detrimento (Mounier, 1963, t. IV, p. 444).
De 1931 a 1932, participou, em Meudon, das reuniões mensais de
intelectuais católicos, protestantes e ortodoxos, coordenadas por Jacques
Maritain.
Nestas reuniões, passa a ter contato mais profundo com os problemas
europeus.
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Inicia seu professorado em 1929, no Colégio Santa Maria de Neuilly. De
1931 a 32, leciona filosofia no Liceu de Saint-Omer. Deste período magisterial,
inúmeros testemunhos de alunos, colegas de estudo e amigos apontam as
tendências de Mounier em não medir esforços para transmitir um ensino
objetivo e transparente. Além disso, diziam ser ele dotado de um enorme senso
de humildade e carisma, como nas palavras de Moix: “um despertador de
almas” e nas de Jean Guitton (1928, apud Moix, 1968, p.13): “Sois destes
seres privilegiados que herdaram a simplicidade... basta que apareçais, e logo
todos se agrupam em torno de vós”.
O clima de instabilidade social e política, assim como a crise econômica
de 1929 se alastram na Europa. A insegurança e a opressão tornam-se o cotidiano.
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Eram realizadas no apartamento dos Maritain, em Meudon, as reuniões mensais. Estas
reuniões se tornaram célebres frente aos grandes problemas da cultura. Eram inúmeros os
participantes, dentre eles temos: Georges Rouault, Henri Ghéon, Henri Massis, Stanilas Fumet,
François Mauriac, Jacques Madaule, Jean Pierre Altermann, René Schwob, Pe. Garrigou-
Lagrange, Pe. Michel Riquet, Georges Auric, Nicolai Berdiaef, Charles Du Bos, Gino Severini, o
príncipe Vladimir Ghika (que depois se tornou padre), Charles Journet (depois se tornou
cardeal), Louis Massignon, Jean Cocteau, Jacques Froissard (o futuro Pe. Bruno de Etudes
carmélitaines), Gabriel Marcel, Marc Chagall, Jean Hugo, Igor Stravinski, Pierre Reverdy, Julien
Green, Raíssa, Emmanuel Mounier, dentre outros. Importante lembrar que tais encontros não
tinham apenas a finalidade cultural. Seus membros viveram momentos de tensão, de crise,
principalmente com a condenação pela Igreja da Action française (1926). Foi também durante
este período de permanência dos Maritain em Meudon que Jacques publicou muitas obras,
dentre as quais citamos: Primado do Espiritual (1927), Religião e Cultura (1930), Distinguir para
unir ou Os graus do saber (1932) - a sua obra mestra -, Humanismo Integral (1936) - a obra
mais conhecida -, Situação da poesia (1938) - juntamente com Raíssa. Attilio Danese mostra
em seu artigo que “Com os amigos de Maritain que se reuniam em Meudon, Mounier havia
colaborado na dissertação do texto Pour le bien commun onde persistia a duplicada recusa do
comunismo e do fascismo, em favor de uma ‘terceira força’, que seria assumida nas
responsabilidades do bem comum”. Mounier procurava instrumentos para modificar a
democracia burguesa. Juntamente a ele, pensavam Sturzo, Ignazio Silone e Simone Weil, que
temiam uma democracia orientada para o individualismo burguês. O documento citado por
Danese refere-se ao manifesto publicado em 19 de abril de 1931: Pour le Bien Commun, Les
responsabilités du chrétien et le moment présent. Paris: Desclée de Brouwer, 1934 (Cf.
Danese, 2007, p.37).