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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
FACULDADE DE ENGENHARIA ELÉTRICA
PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA
DESENVOLVIMENTO E IMPLEMENTAÇÃO DE UM SENSOR HIBRIDO NÃO
INVASIVO DE ELETROMIOGRAFIA E MECANOMIOGRAFIA PARA
REGISTROS DE POTENCIAIS DE AÇÃO DE UMA UNIDADE MOTORA
NAYARA NASCIMENTO MORAES
Uberlândia
2010
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1
NAYARA NASCIMENTO MORAES
DESENVOLVIMENTO E IMPLEMENTAÇÃO DE UM SENSOR HIBRIDO NÃO
INVASIVO DE ELETROMIOGRAFIA E MECANOMIOGRAFIA PARA
REGISTROS DE POTENCIAIS DE AÇÃO DE UMA UNIDADE MOTORA
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em
Ciências da Universidade Federal de Uberlândia, como
requisito parcial à obtenção do título de Mestre em
Ciências.
Orientador: Prof. Dr. Eduardo Lazaro Martins Naves.
Co-orientador: Prof. Dr. Adriano Alves Pereira.
Uberlândia
2010
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2
Aos meus pais Adélio e Márcia, e ao meu
irmão João Gabriel.
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus pais e ao meu irmão pelo apoio incondicional na realização
dos meus sonhos e conquista dos meus objetivos. Aos meus amigos, namorado e familiares
pela força e ajuda em todas as circunstâncias. Aos estudantes e docentes do Biolab, os quais
contribuíram muito para o desenvolvimento deste trabalho, cada um a sua maneira. Aos meus
orientadores professores Adriano Alves e Eduardo Naves pelo exemplo de dedicação e
competência, e pela paciência e confiança em mim dedicadas. A Marcilia, Adelino, Meire e à
secretaria em geral, pela atenção e carinho, sempre me ajudando prontamente muito mais que
o necessário à realização deste trabalho. Um agradecimento especial à Cinara e ao professor
Alexandre Cardoso pelo imenso apoio durante toda a realização do mestrado e por tornarem
possível a realização dessa defesa. Ao CNPq pelo apoio financeiro durante o desenvolvimento
do trabalho.
4
A mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará ao seu tamanho original.
(Albert Einstein).
5
RESUMO
Mais de 40 tipos de distrofias musculares são atualmente conhecidos, dados de 2003
indicavam que cerca de 80 mil brasileiros eram acometidos por estas disfunções. Um tipo de
exame usado no auxílio ao diagnóstico dessas distrofias musculares é a eletroneuromiografia,
a qual visa avaliar a atividade elétrica no músculo. A realização desse exame conta com a
utilização de eletrodos de agulha, os quais analisam a morfologia dos potenciais de ação das
fibras musculares bem como seu padrão de recrutamento. Apesar do caráter invasivo dos
eletrodos usados, métodos como a eletromiografia de superfície não têm se mostrado eficazes
no registro individual de potenciais de ação. Neste sentido, a proposta deste trabalho é
desenvolver um sensor hibrido de eletromiografia e mecanomiografia que registre potenciais
de ação de uma unidade motora por meio de métodos não invasivos. O sensor de
eletromiografia construído é constituido de dois eletrólitos confeccionados por meio de uma
liga de prata-cloreto de prata, de 99% de pureza, área de 1mm² (1mm de lado) e a distância
inter-eletrodo de 3mm. O eletrodo é ativo e utiliza a configuração bipolar, apresentando ganho
de 20 vezes e CMRR superior a 120dB. o sensor de mecanomiografia conta com um
transdutor de acelerometria, cujo circuito integrado usado foi o MMA7260 da Freescale. Este
apresenta 800mV/g de sensibilidade, nível de ruído de 350µg/(Hz)
½
e banda de freqüência de
350Hz. Os testes realizados mostraram a eficiência do sensor desenvolvido para registros de
potenciais de ação de uma unidade motora em condições de baixa atividade muscular e
músculos superficiais.
Palavras-chave: Sensor, Eletromiografia, Mecanomiografia, Potencial de Ação.
6
ABSTRACT
More than 40 types of muscular dystrophy are currently known, which in 2003 had affected
more than 80,000 brazilians. One type of medical test used as an aid in the diagnosis of these
muscular dystrophies is the electroneuromyography, which aims to evaluate muscle electrical
activity. To performance this test needle electrodes are used, which analyze the morphology
of muscle fibers action potentials and their recruitment pattern. Despite the invasive nature of
the used electrodes, methods such as surface electromyography have not been effective in
individual action potentials records. Thus, this study proposed to develop a hybrid
electromyography and mechanomyography sensor which records a motor unit action potential
through noninvasive methods. So, the EMG sensors are built up of two electrolytes prepared
using an alloy of silver-silver chloride, 99% purity, area of 1mm ² (1mm side) and the inter-
electrode distance of 3mm. The electrode is active and the configuration used is bipolar, with
gain of 20 times and CMRR exceed 120dB. The mechanomyography sensor has an
accelerometry transducer, whose used chip was Freescale MMA7260. It features 800mV/g of
sensitivity, noise level of 350μg/Hz
½
and 350Hz frequency band. The tests performed show
the efficiency of the developed sensor to record motor unit action potentials in low muscle
activity levels and superficial muscles.
Keywords: Sensor, Electromyography, Mechanomyography, Action Potential.
7
Lista de Acrônimos
ADP Adenosine Diphosphate
ATP Adenosine Triphosphate
BIOMED II Biomedical Health and Research Program
CCD Charge Coupled Device
CI Circuito Integrado
CMOS Complementary Metal Oxide Semiconductor
CMRR Common Mode Rejection Ratio
MVC Maximum Voluntary Contraction
EMG Eletromiografia
FWEMG Fine Wire Electromyography
MMG Mecanomiografia
MU Motor Unit
MUAP Motor Unit Action Potential
NEMG Needle Electromyography
RMS Root Mean Square
SENIAM Surface Electromyography for the Non-Invasive Assessment of
Muscles
SEMG Surface Electromyography
8
Lista de Figuras
Figura 2.1 Concentrações de íons nos fluídos extra e intracelular ..................................................... 19
Figura 2.2 Tipos de transporte de substâncias através da membrana celular ................................... 19
Figura 2.3 Transporte passivo - canais de sódio e potássio ............................................................... 21
Figura 2.4 Potenciais de repouso de membrana ................................................................................ 21
Figura 2.5 Transporte ativo Bomba de sódio e potássio ................................................................. 22
Figura 2.6 Forma de onda do potencial de ação ................................................................................ 25
Figura 2.7 Etapas do potencial de ação .............................................................................................. 26
Figura 2.8 Forma de onda do potencial de ação registrado na pele .................................................. 27
Figura 2.9 Composição do músculo esquelético ................................................................................ 28
Figura 2.10 Junção neuromuscular fenda sináptica ........................................................................ 29
Figura 2.11 Túbulos transversais ........................................................................................................ 30
Figura 2.12 Sarcômero........................................................................................................................ 31
Figura 2.13 Composição do filamento de actina ................................................................................ 31
Figura 2.14 Composição do filamento de miosina ............................................................................. 32
Figura 2.15 Mecanismo de contração muscular ................................................................................ 33
Figura 3.1 Sinal eletromiográfico ........................................................................................................ 34
Figura 3.2 Sistema nervoso central e periférico ................................................................................. 35
Figura 3.3 Origem do impulso motor ................................................................................................. 36
Figura 3.4 Registro de força e EMG e respectivo espectro no tempo e freqüência .......................... 38
Figura 3.5 Eletrodo de agulha concêntrico descartável ..................................................................... 41
Figura 3.6 Eletrodo de agulha monopolar .......................................................................................... 42
Figura 3.7 Processo de mecanomiografia .......................................................................................... 45
Figura 3.8 Sinal mecanomiográfico .................................................................................................... 46
Figura 3.9 Mecanografia por meio de sensor laser ............................................................................ 48
Figura 3.10 Comparação entre sinais MMG registrados por sensores de acelerometria e distâcia
laser ....................................................................................................................................................... 52
Figura 4.1 Circuito equivalente dos eletrodos.................................................................................... 61
Figura 4.2 Relação entre impedância e freqüência dos eletrodos ..................................................... 62
Figura 4.3 Técnica de amplificação diferencial ................................................................................... 66
Figura 4.4 Eletrodos ativos ................................................................................................................. 68
Figura 4.5 Configurações básicas de eletrodos atívos ........................................................................ 68
Figura 4.6 Eletrodos passivos ............................................................................................................. 69
Figura 4.7 Esquema para implementação dos filtros ......................................................................... 73
Figura 5.1 Sensor implementado ....................................................................................................... 75
Figura 5.2 Sistema de aquisição de dados utilizado ........................................................................... 75
Figura 5.3 Localização anatômica dos músculos de atividade elétrica mensurada ........................... 76
Figura 5.4 Registro analógico de potenciais de ação do primeiro interósseo dorsal ......................... 77
Figura 5.5 Registro digital de potenciais de ação do corrugador do supercílio ................................. 78
Figura 5.6 Registro do potencial de ação de uma fibra muscular isolada do músculo Sartório ........ 79
Figura 5.7 Localização do músculo Sartório ....................................................................................... 79
Figura 5.8 Espectro do sinal eletromiográfico .................................................................................... 80
9
Figura 5.9 Eletrodo adesivo descartável ............................................................................................. 81
Figura 5.10 Posicionamento dos eletrodos ........................................................................................ 81
Figura 5.11 Sinal eletromiográfico amostrado por intermédio dos eletrodos desenvolvido e
descartável comercial ............................................................................................................................ 82
Figura 5.12 Ampliação da área de baixa contração da Figura 5.10 .................................................... 82
Figura 5.13 Sinal eletromiográfico amostrado por intermédio dos eletrodos desenvolvido e
descartável comercial em condições de contração voluntária máxima ............................................... 83
Figura 5.14 Espectro dos sinais eletromiográficos registrados a partir dos eletrodos desenvolvido e
descartável ............................................................................................................................................ 84
Figura 5.15 Sinais de aceleração medidos no eixo x, sensibilidade 1,5g ............................................ 86
Figura 5.16 Sinais de aceleração medidos no eixo y, sensibilidade 4g ............................................... 86
Figura 5.17 Sinais de aceleração medidos no eixo z, sensibilidade 6g ............................................... 86
Figura 5.18 Registro simultâneo de eletromiografia e mecanomiografia .......................................... 88
Figura 5.19 Espectro do sinal mecanomiografico .............................................................................. 88
Figura 5.20 Registros de EMG e MMG usando o sensor hibrido........................................................ 89
Figura 5.21 Registros de potenciais de ação através do uso do sensor híbrido................................. 90
10
Lista de Tabelas
Tabela 4.1 Potenciais de meia-célula dos diferentes materiais ......................................................... 59
Tabela 4.2 Relação entre propriedades físicas e elétricas dos eletrodos .......................................... 62
Tabela 4.3 Comparativo entre acelerômetros usados em registros de MMG ................................... 72
Tabela 5.1 Cálculo da aceleração em experimentos de queda livre .................................................. 87
11
Sumário
CAPITULO 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 13
1.1 Objetivo ............................................................................................................................................. 15
1.2 Estrutura da Dissertação .................................................................................................................... 15
CAPITULO 2 FISIOLOGIA DA GERAÇÃO DO SINAL EMG ................................................... 17
2.1 Eletrofisiologia da Membrana Celular ................................................................................................ 18
2.1.1 Transporte de Substância Através da Membrana Celular ................................................................... 18
2.2 Potenciais de Membrana e Potenciais de Ação .................................................................................. 23
2.2.1 Potencial de Membrana ...................................................................................................................... 23
2.2.2 Potencial de Ação ................................................................................................................................ 24
2.3 Contração dos Músculos Esqueléticos ............................................................................................... 28
2.3.1 Aspectos Fisiológicos e Anatômicos do Músculo Esquelético ............................................................. 28
2.3.2 Excitação dos Músculos Esqueléticos e Princípios Gerais da Contração Muscular ............................. 29
2.3.3 Princípios Moleculares da Contração Muscular .................................................................................. 31
CAPITULO 3 SENSORES E SINAIS ............................................................................................. 34
3.1 Eletromiografia .................................................................................................................................. 34
3.1.1 Unidade Motora .................................................................................................................................. 35
3.1.2 Recrutamento de Unidades Motoras e Freqüência de Disparo .......................................................... 37
3.1.3 Potencial de Ação de Unidades Motoras e seus Reflexos em Enfermidades ...................................... 38
3.1.4 Eletrodos Invasivos .............................................................................................................................. 40
3.1.5 Eletrodos Não-Invasivos ...................................................................................................................... 42
3.1.6 Desafios da Eletromiografia de Superfície ........................................................................................... 44
3.2 Mecanomiografia .............................................................................................................................. 45
3.2.1 Relação entre MMG e Força ................................................................................................................ 46
3.2.2 Técnicas de Detecção do Sinal MMG................................................................................................... 47
3.2.3 Comparação entre Diferentes Sensores .............................................................................................. 50
3.3 Sensores Hibridos .............................................................................................................................. 52
3.3.1 Vantagens da Utilização de Sensores Híbridos .................................................................................... 52
3.3.2 Complementaridade das Informações dos Sinais EMG e do Acelerômetro ........................................ 54
CAPITULO 4 DESENVOLVIMENTO DOS SENSORES ............................................................ 56
4.1 Sensores de Eletromiografia de Superficie ......................................................................................... 56
4.1.1 Registro dos Biopotenciais na Superfície da Pele ................................................................................ 57
12
4.1.2 Definição do Material Usado nos Eletrólitos ....................................................................................... 58
4.1.3 Definição da Forma do Eletrodo .......................................................................................................... 60
4.1.4 Distância entre as Superfícies de Detecção ......................................................................................... 63
4.1.5 Tipos de Eletrodos e Técnicas de Minimização de Ruídos ................................................................... 64
4.2 Sensores de Mecanomiografia ........................................................................................................... 70
4.2.1 Características Elétricas Avaliadas para Escolha do Acelerômetro ..................................................... 70
4.2.2 Condicionamento Requerido pelo Sistema ......................................................................................... 73
CAPITULO 5 RESULTADOS E VALIDAÇÃO ............................................................................. 74
5.1 Sensores de Eletromiografia .............................................................................................................. 74
5.1.1 Músculos Analisados e Posicionamento dos Eletrodos ....................................................................... 76
5.1.2 Registros dos Potenciais de Ação ........................................................................................................ 77
5.1.3 Comparação de Eletrodos ................................................................................................................... 80
5.2 Sensores de Mecanomiografia ........................................................................................................... 84
5.2.1 Medição do Erro de Registro ............................................................................................................... 85
5.2.2 Registros de Mecanomiografia ............................................................................................................ 87
5.3 Sensor Híbrido de Eletromiografia e Mecanomiografia...................................................................... 89
CAPITULO 6 CONCLUSÕES E TRABALHOS FUTUROS ........................................................ 91
6.1 Conclusões ......................................................................................................................................... 91
6.2 Trabalhos Futuros .............................................................................................................................. 92
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 94
13
Capítulo 1
Introdução
Distrofias musculares é o nome dado a um conjunto de doenças genéticas as quais
provocam o enfraquecimento progressivo dos músculos. Segundo dados do Ministério da
Saúde (www.saude.gov.br), no ano de 2003 o número de brasileiros que sofriam dessas
distrofias musculares já somavam 80 mil.
Atualmente, são conhecidos mais de 40 tipos de distrofias musculares, as quais
são diferenciadas por meio de critérios como a idade em que se manifestam os primeiros
sintomas, gravidade dos sintomas, velocidade de progressão da doença, músculos que são
preferencialmente afetados e mecanismo de herança genética.
Dentre os tipos de distrofia, o mais comumente manifestado na população é a
Distrofia de Duchenne e, segundo dados da ONG Parent Project Muscular Dystrophy
(www.parentprojectmd.org), é a doença genética diagnosticada mais fatal na infância e
acomete aproximadamente 1 a cada 3500 nascimentos de crianças do sexo masculino. Isso
significa cerca de 20000 novos casos a cada ano.
Estas disfunções podem ser detectadas por meio da atividade muscular, pois em
indivíduos saudáveis, os músculos apresentam silêncio elétrico durante o repouso muscular.
em indivíduos que sofreram de alguma lesão no sistema neuromuscular, a exemplo das
distrofias musculares, a presença de fibrilações e ondas positivas é freqüente, particularmente
14
na fase sub-aguda. Patologias musculares, especialmente miopatias inflamatórias, também
podem apresentar esse tipo de atividade.
As fibrilações, resultado de uma atividade anormal dos músculos, podem ser
detectadas, juntamente com o histórico clinico do paciente, por meio de um exame
diagnóstico chamado eletroneuromiografia, a qual é composta por uma série de testes
neurofisiológicos que visam o estudo funcional do sistema nervoso periférico, da junção
neuromuscular e dos músculos. Esse tipo de avaliação é habitualmente composto pelas etapas
de neurocondução e eletromiografia. Visto que este trabalho visa o desenvolvimento de
sensores para registro da atividade muscular, o enfoque será dado à etapa de eletromiografia.
Esta se constitui do estudo da atividade elétrica muscular, em diferentes estágios de ativação e
é realizada normalmente, no caso de eletroneuromiografia, com um eletrodo invasivo na
forma de agulha. Durante a contração, são analisados morfologicamente os potenciais de ação
das unidades motoras e o padrão de recrutamento das mesmas.
A partir de estudos morfológicos dos potenciais de ação registrados nas
neuropatias crônicas, observa-se um aumento da amplitude e duração dos potenciais das
unidades motoras em conseqüência do processo de reinervação, além do recrutamento de
poucas unidades operando em alta freqüência. Nas miopatias, ocorre uma diminuição da
amplitude e da duração dos potenciais devido à perda de fibras musculares sadias. O
recrutamento, nesta situação, é precoce e excessivo. O aumento da freqüência de potenciais
polifásicos é uma anormalidade inespecífica, que pode ocorrer em ambas as situações.
A importância dos exames realizados com a eletroneuromiografia levou a
Associação Médica Brasileira e o Conselho Federal de Medicina [75] a afirmarem que este
tipo de avaliação não deve ser rotulado simplesmente como um exame complementar.
Conforme essa associação isso seria reduzir um ato médico muito mais amplo, ao contrario da
eletromiografia de superfície, a qual ainda é considerada apenas como exame complementar,
não apresentando larga utilização em aplicações clínicas. Apesar de se mostrar um processo
não invasivo, a eletromiografia de superfície por si ainda não se mostra eficaz em
aplicações envolvendo disfunções neuromusculares, visto a dificuldade de visualização dos
potencias de ação, tanto em termos de amplitude e forma, bem como padrão de recrutamento
das fibras [72].
Além da eletromiografia, método comumente utilizado na literatura para registros
de potenciais de ação, desde a década de 70, tem sido estuda uma nova técnica de avaliação
15
dos músculos através de vibrações musculares produzidas na contração muscular: a
mecanomiografia (MMG).
A mecanomiografia expressa em geral as mesmas características do EMG, porém
cada um apresenta suas especificidades e melhor rendimento em situações distintas. É
encontrado na literatura [71] casos onde apesar da atividade muscular não ser detectada
através da eletromiografia, essa foi registrada através do MMG.
A partir do cenário exposto verifica-se a necessidade de uma melhor visualização
dos potenciais de ação, bem como extrair características das fibras musculares através de
métodos não invasivos. Porém, é sabido que devido à distância entre o ponto de detecção
(superfície da pele) dos sinais e o ponto de geração dos mesmos (membrana da fibra
muscular), se torna muito difícil a visualização da atividade de apenas uma fibra muscular
pelo sensor, ainda que a superfície de contato do mesmo seja pequena.
1.1 OBJETIVO
Desenvolver um sensor hibrido não invasivo de eletromiografia e
mecanomiografia capaz de visualizar potenciais de ação na superfície da pele em músculos
superficiais e sob condições de baixa atividade muscular.
1.2 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO
A metodologia utilizada para alcançar o objetivo principal deste trabalho, citado
anteriormente, será descrita nos capítulos subseqüentes, os quais seguem a seguinte estrutura:
No Capítulo 2 serão discutidos os princípios biológicos envolvidos no processo de
contração muscular, necessários à compreensão dos sinais registrados.
no Capítulo 3 serão apresentadas características dos sinais de mecanomiografia
e eletromiografia, bem como descritos alguns tipos de sensores para registros desses sinais.
Além disso, serão apresentadas algumas vantagens do desenvolvimento de um sensor hibrido.
16
O Capitulo 4 conterá propriamente o desenvolvimento dos eletrodos, com a
especificação de todas as características envolvidas no processo de desenvolvimento.
No Capítulo 5 será realizada a avaliação dos sensores e sua validação para o
registro de potenciais de ação.
A dissertação será finalizada com o Capítulo 6, o qual trata das principais
conclusões. Neste também serão elucidadas as contribuições deste trabalho, bem como as
sugestões de trabalhos futuros.
17
Capítulo 2
Fisiologia da geração do sinal EMG
Estudos relativos à decomposição, interpretação e aplicações usando biopotenciais
têm fascinado engenheiros e fisiologistas visto o grande desafio que se mostra a decodificação
e extração de informações a partir desses sinais.
Para que seja então possível a associação desses sinais a determinados processos
fisiológicos, permitindo a identificação e descrição dos mesmos, se faz necessário
primeiramente o entendimento de como esses processos afetam o sinal eletromiográfico
(EMG). Deve-se ressaltar que a origem desses sinais se no sistema nervoso central, sendo
conduzidos ao sistema muscular através de nervos, passando por junções nervo musculares
até chegarem à ativação muscular propriamente dita. Assim, este capítulo busca fornecer
diversos fatores e fenômenos básicos que contribuem para a formação do sinal EMG.
Inicia-se o capitulo discorrendo sobre os princípios elementares, a nível celular e
molecular, fundamentais para a compreensão dos potenciais de membrana e potencial de
ação. A seguir explicam-se os mecanismos de contração muscular e características dos
potenciais de unidades motoras.
18
2.1 ELETROFISIOLOGIA DA MEMBRANA CELULAR
A membrana da célula do tecido muscular esquelético é a base do fenômeno
bioelétrico, visto que é a região onde ocorrem as trocas iônicas que resultam no potencial
registrado como EMG. Portanto para um melhor entendimento deste sinal, esta sessão do
trabalho se dedica ao estudo da movimentação iônica que ocorre na região da membrana
celular e os potenciais ali gerados.
2.1.1 Transporte de Substância Através da Membrana Celular
As células são compostas por substâncias que coletivamente são denominadas
protoplasma, o qual é composto principalmente por cinco elementos básicos: água, íons,
proteínas, lipídios e carboidratos.
O meio líquido principal da célula é a água, que está presente na maioria das
células. Lipídios são normalmente encontrados juntamente com proteínas (além de em outras
diversas formas) na membrana celular, que pela sua insolubilidade na água age como uma
barreira que separa os meios intra e extracelular. Já em relação aos íons, os mais importantes
são o potássio, magnésio, fosfato, sulfato, bicarbonato, e pequenas quantidades de sódio,
cloreto e cálcio, os quais são necessários para o funcionamento de alguns dos mecanismos de
controle celular. Alguns desses mecanismos serão melhor descritos ainda nesta sessão.
A Figura 2.1 apresenta as concentrações aproximadas de íons nos líquidos extra e
intracelular. Nota-se que o líquido extracelular contém uma grande quantidade de sódio, mas
apenas uma pequena quantidade de potássio, exatamente o oposto do fluido intracelular.
Essas diferenças de concentração iônicas são mantidas pelas características da
membrana celular lipoproteica (insolúvel), que constitui uma barreira contra o movimento das
moléculas de água e substâncias solúveis em água entre os compartimentos extracelular e
intracelular de fluido. No entanto, como mostrado na Figura 2.2 pela seta à esquerda, algumas
substâncias podem penetrar nessa bicamada lipídica, difundindo diretamente através da
própria substância lipídica. Este tipo de transporte é denominado difusão simples e a energia
19
Figura 2.1 Concentrações de íons nos fluídos extra e intracelular
Fonte: GUYTON, Arthur C. Textbook of Medical Physiology. Elsevier Saunders, 2006, p. 46
utilizada para tanto é somente aquela do movimento cinético normal da matéria. Deve-se
ressaltar que o transporte pode acontecer tanto no sentido de passagem de moléculas em
direção ao meio intracelular como ao extracelular, desde que a passagem seja a favor de seu
gradiente de concentração.
Figura 2.2 Tipos de transporte de substâncias através da membrana celular
Fonte: GUYTON, Arthur C. Textbook of Medical Physiology. Elsevier Saunders, 2006, p. 46.
20
as moléculas de proteínas presentes na membrana celular têm propriedades
completamente diferentes daquelas apresentadas pelos lipídeos com relação ao transporte de
substâncias. Suas estruturas moleculares interrompem a continuidade da bicamada lipídica,
constituindo uma via alternativa através da membrana celular, podendo funcionar como
proteínas de transporte.
Algumas dessas proteínas apresentam espaços aquosos os quais permitem a livre
circulação de água, bem como de determinados íons ou moléculas. Elas são denominadas
canais protéicos e caracterizam outro tipo de transporte por difusão simples. Outras proteínas,
essas chamadas proteínas carregadoras, se ligam às moléculas ou íons a serem transportados
através de uma ligação química. A esse transporte dá-se o nome de difusão facilitada. Ambos
os tipos de proteínas com os respectivos tipos de transporte são mostrados na Figura 2.2 e
geralmente são altamente seletivos no tipo de moléculas ou íons que estão autorizados a
atravessar através membrana.
Um exemplo de canais protéicos de extrema importância para a compreensão do
potencial de ação e do processo de contração muscular como um todo são os canais
específicos para o transporte de íons sódio e potássio. Como mostrado na Figura 2.3, os canais
de sódio são normalmente fechados, possuem dimensão especifica (relacionadas às dimensões
dos íons sódio) e são carregados negativamente. Dessa forma quando o meio externo possui
uma alta concentração de íons sódio, a parte superior que fecha a passagem de íons através do
canal (de carga negativa) é atraída pela polaridade positiva do meio extracelular, abrindo
assim a circulação através do canal para os íons sódio para o meio intracelular. Da mesma
forma acontece para os canais de potássio quando a concentração de potássio no meio
intracelular é alta.
Deve-se ressaltar que esses canais são abertos devido à polaridade dos meios
extracelular no caso do sódio e intracelular no caso do potássio. Isso quer dizer que eles são
dependentes de voltagem. Isso significa dizer que os íons sódio sofrerão um influxo, por meio
dos canais passivos de sódio, até que o gradiente de concentração diminua a ponto de reduzir
a diferença de potencial existente entre os meio extra e intracelular a valores inferiores a
61mV (para células nervosas em mamíferos), conforme mostra a Figura 2.4. O mesmo ocorre
com os íons potássio, porém em sentido contrario (efluxo para o meio extracelular), com um
potencial de limiar de -94mV para humanos, considerando o potencial de referência como
sendo o meio intracelular.
21
Figura 2.3 Transporte passivo - canais de sódio e potássio
Fonte: GUYTON, Arthur C. Textbook of Medical Physiology. Elsevier Saunders, 2006, p. 47.
Figura 2.4 Potenciais de repouso de membrana
Fonte: GUYTON, Arthur C. Textbook of Medical Physiology. Elsevier Saunders, 2006, p. 58.
Entretanto existem processos fisiológicos que necessitam de grandes
concentrações de íons no meio intracelular, mesmo que o fluido extracelular contenha apenas
pequenas concentrações desses íons. Dessa forma outro tipo de transporte se faz necessário, e
como ele se contra o gradiente de concentração, uma fonte de energia se faz necessária. A
esse tipo de transporte é dado o nome transporte ativo.
22
A bomba de sódio e potássio é o exemplo mais importante de transporte ativo para
o entendimento do processo de contração muscular, que é um processo onde íons sódio são
bombeados para o meio extracelular enquanto os íons potássio para o meio intracelular. Essa
bomba é responsável por manter constante as diferenças de concentração entre os meio intra e
extracelular (como visto anteriormente na Figura 2.1).
Como mostra a Figura 2.5, quando dois íons de potássio se ligam no exterior da
proteína transportadora e três de sódio se ligam no interior, a função ATPase da proteína é
ativada. Esta se cliva então a uma molécula de ATP, dividindo-a em adenosina difosfato
(ADP) liberando um íon fosfato e energia. Postula-se que esta energia liberada causa um
produto químico e uma mudança conformacional na molécula de proteína transportadora, que
gira e expulsa os três íons de sódio no exterior e os dois íons potássio no interior da célula
[GUYTON].
Figura 2.5 Transporte ativo Bomba de sódio e potássio
Fonte: GUYTON, Arthur C. Textbook of Medical Physiology. Elsevier Saunders, 2006, p. 63.
As diferentes concentrações iônicas no interior e exterior celular, bem como sua
variação através dos processos de transporte de íons através da membrana; alteram a diferença
de potencial existente entre esses dois meios. Para compreensão da importância desses
potenciais e a geração do potencial de ação mais detalhes serão expostos na próxima sessão.
23
2.2 POTENCIAIS DE MEMBRANA E POTENCIAIS DE AÇÃO
Existem potenciais elétricos através das membranas de praticamente todas as
células do corpo. Além disso, algumas células, como lulas nervosas e musculares, são
capazes de gerar impulsos eletroquímicos usados para transmitir sinais ao longo do nervo ou
células musculares, mudando rapidamente o potencial em suas membranas.
Enfatiza-se que a discussão atual está preocupada com os potenciais de membrana
gerado tanto em repouso quanto durante a ação de células nervosas e musculares.
2.2.1 Potencial de Membrana
Como foi visto na sessão 2.1.1, as concentrações de íons (principalmente de sódio
e potássio) são diferentes nos meios intra e extracelular, predominando uma concentração de
íons sódio no meio extracelular e de potássio no meio intracelular, que são mantidas pela
insolubilidade da membrana lipoproteica e pelos mecanismos ativos de transporte. É
importante ressaltar que a bomba de sódio e potássio, mecanismo de transporte ativo mais
importante, é considerada uma bomba eletrogênica, visto que mais cargas positivas são
bombeadas para o meio extra em relação ao meio intracelular (três íons Na para o exterior
para cada dois íons K bombeados para o interior), deixando um déficit líquido de íons
positivos no interior. Isso faz com que exista um potencial negativo dentro da membrana
celular.
Considerando portanto que a célula se encontre em repouso (as concentrações
iônicas não são fortemente alteradas), a membrana possui um potencial de repouso, devido ao
estabelecimento de determinadas diferenças de concentrações iônicas. Conforme mostrado no
inicio deste capitulo, as concentrações dos íons de sódio de potássio no interior e exterior da
célula são aproximadamente:
Na
+
exterior
: 142 mEq/L
Na
+
interior
: 14 mEq/L
K
+
exterior
: 4 mEq/L
24
K
+
interior
: 140 mEq/L
Assim, as proporções das concentrações desses íons no interior em relação ao
exterior são:
Na
+
interior
/ Na
+
exterior
= 0.1
K
+
interior
/ K
+
exterior
= 35.0
Dessa forma, considerando a razão dada pela diferença de concentração dos íons
sódio e potássio nos meio intra e extracelular, bem como o déficit negativo gerado pela
bomba de sódio e potássio supracitada, o potencial de repouso da membrana é aproximado
para -90mV com relação ao meio extracelular.
2.2.2 Potencial de Ação
Para que se consiga voluntariamente mover determinado músculo do corpo, sinais
nervosos devem ser transmitidos a esse músculo para promover o movimento desejado. Esses
sinais nervosos são transmitidos através de potenciais de ação, que são rápidas mudanças no
potencial da membrana que se espalham rapidamente. Cada potencial de ação começa com
uma mudança brusca no potencial de repouso da membrana (normalmente negativo) para um
potencial positivo e, em seguida, termina com uma alteração de volta para o potencial
negativo, quase tão rápida quanto a primeira.
Desde que a membrana da fibra nervosa permaneça intacta, nenhum potencial de
ação é desencadeado em determinada fibra. No entanto, se algum evento grande o suficiente
causa um aumento inicial no potencial de membrana de cerca de 15 a 30 milivolts, é
desencadeado um potencial de ação. Isto significa dizer que este potencial de ação obedece à
lei do “Tudo ou Nada”, ou seja, se determinado estimulo recebido ultrapassar um limiar de
tensão este potencial é desencadeado. Caso esse estímulo não seja grande o suficiente, a
membrana permanece com seu potencial de repouso. Dessa forma a intensidade do potencial
de ação não varia com a intensidade do estimulo aplicado.
25
Então, antes que tal célula seja excitada, ela permanece com o potencial de
membrana constante, e esse estado é denominado polarizado devido ao potencial de -90mV
indicado. Quando esta recebe um estimulo, ela se torna extremamente permeável a íons sódio,
permitindo um influxo de células positivas para o interior de seu axônio, o qual neutraliza o
potencial negativo com um rápido crescimento no sentido positivo. Este aumento do potencial
recebe o nome de despolarização. Após algumas centenas de microssegundos, esses canais de
sódio se fecham e mais canais de potássio se abrem, e um rápido efluxo de íons restabelece o
potencial de repouso negativo da célula. A este ultimo é dado o nome de estado de
repolarização da membrana. Essas etapas do potencial de ação são ilustradas da Figura 2.6.
Figura 2.6 Forma de onda do potencial de ação
Fonte: GUYTON, Arthur C. Textbook of Medical Physiology. Elsevier Saunders, 2006, p. 61.
Em se tratando da propagação do potencial de ação ao longo da membrana, como
mostrado na Figura 2.7, sabe-se que uma ação provocada em qualquer ponto de uma
membrana excitável geralmente estimula porções adjacentes da membrana. A Figura 2.7-A
mostra uma fibra nervosa normal em repouso, e a Figura 2.7-B apresenta uma fibra excitada
em sua porção central, a qual subitamente desenvolve uma permeabilidade aumentada ao
sódio. As setas indicam o sentido do fluxo de corrente das áreas de despolarização da
membrana para as áreas adjacentes, as quais ainda estão em repouso. Isso é, as cargas
elétricas positivas são transportadas pelos íons de sódio que são difundidos para o interior da
célula. Estas cargas positivas aumentam a tensão em uma região da fibra, a qual mede em
torno de 1 a 3 milímetros, influenciando assim a abertura dos canais vizinhos. Assim, os
canais de sódio abrem imediatamente nessas novas áreas, como mostrado na Figura 2.7-C e
D. Estas áreas recém-despolarizadas induzem novas despolarizações em suas áreas vizinhas
26
causando progressivamente a despolarização em todo o comprimento da fibra. Esta
transmissão do processo de despolarização ao longo de um nervo ou de fibras musculares é
chamado de impulso nervoso ou muscular.
Figura 2.7 Etapas do potencial de ação
Fonte: GUYTON, Arthur C. Textbook of Medical Physiology. Elsevier Saunders, 2006, p. 65.
Quando um eletrodo é inserido longe da fibra muscular, ou seja, na superfície da
pele, a forma de onda do potencial de ação registrado à medida que este se propaga ao longo
da fibra se assemelha ao mostrado na Figura 2.8. À medida que a despolarização da
membrana viaja pela fibra, primeiramente esta se aproxima do eletrodo negativo fazendo
como que a diferença de potencial registrada pelo sensor inicialmente se apresente de forma
crescente no sentido positivo. Ao se aproximar do eletrodo positivo o potencial registrado
27
passa a diminuir até que atinja o valor zero, quando os dois eletrodos se encontram sobre uma
parte da membrana despolarizada. Ao passo que essa despolarização se afasta do eletrodo
negativo e fica apenas sobre o eletrodo positivo, os registros continuam a aumentar em
modulo porém no sentido negativo. À medida que a repolarização vem restabelecendo o
potencial de repouso da célula, essa diferença de potencial registrada entre os eletrodos volta a
ser nula.
Figura 2.8 Forma de onda do potencial de ação registrado na pele
Fonte: http://fisio.ib.usp.br/fisioteorica/artigos/fisio2/
Algumas considerações devem ser feitas a respeito da condução do impulso
nervoso e as características geométricas da fibra muscular. Devido a características
anatômicas e fisiológicas dos músculos, o diâmetro da fibra pode ser um empecilho à
propagação do impulso no interior da mesma. No entanto, para provocar a contração muscular
máxima, a corrente deve penetrar profundamente na fibra muscular.
Para que seja possível a compreensão do processo de contração muscular,
aspectos anatômicos dos músculos e moleculares da contração muscular devem ser
detalhados.
28
2.3 CONTRAÇÃO DOS MÚSCULOS ESQUELÉTICOS
2.3.1 Aspectos Fisiológicos e Anatômicos do Músculo Esquelético
Os músculos esqueléticos, como mostrado na Figura 2.9, são compostos de
diversas fibras cujos diâmetros variam de 10 a 80 micrômetros. Cada uma dessas fibras por
sua vez é formada por subunidades sucessivamente menores, denominadas miofibrilas.
As miofibrilas têm uma forma cilíndrica e estão presentes em todo comprimento
da fibra muscular. As estrias das fibras musculares esqueléticas são formadas pela colocação
de miofilamentos dentro das unidades de miofibrilas chamados sarcômeros. Estes contêm dois
tipos de miofilamentos proteícos. Os filamentos grossos são constituídos de uma proteína
chamada miosina e os filamentos finos são formados por uma proteína chamada actina. As
interações desses dois filamentos, juntamente com íons cálcio, produzirão a contração
muscular.
Figura 2.9 Composição do músculo esquelético
Fonte: Modificado de MADER, Sylvia. Understanding Human Anatomy & Physiology. The McGraw-Hill,
2004, p. 115.
29
2.3.2 Excitação dos Músculos Esqueléticos e Princípios Gerais da Contração Muscular
As fibras musculares são inervadas, isto é, são estimuladas a contrair por meio de
neurônios motores cujos axônios são encontrados nos nervos. O axônio de um neurônio motor
tem vários ramos e pode estimular algumas fibras musculares de um músculo específico. A
fibra nervosa forma ramificações de terminais nervosos que invaginam na superfície da fibra
celular e se ligam a parte externa do sarcolema (membrana da célula muscular). Essa estrutura
formada pelo neurônio motor e as fibras por ele inervadas recebe o nome de placa motora.
Um pequeno espaço, chamado de fenda sináptica, separa o bulbo do axônio do
sarcolema. Toda esta região é chamada de junção neuromuscular como mostrado na Figura
2.10.
Figura 2.10 Junção neuromuscular fenda sináptica
Fonte: MADER, Sylvia. Understanding Human Anatomy & Physiology. The McGraw-Hill, 2004, p. 118.
Os terminais dos axônios contêm vesículas sinápticas que são preenchidos com o
neurotransmissor acetilcolina (ACh). Quando os impulsos nervosos que viajam em
determinado um neurônio motor chegam a um terminal axonal, as vesículas sinápticas liberam
tal neurotransmissor na fenda sináptica, o qual rapidamente se difunde através da fenda e se
liga a receptores no sarcolema. A acetilcolina atua sobre a membrana da fibra muscular para
Neurônio Motor
Acetilcolina
Fenda Sinaptica
Vesicula sinaptica
30
que canais de sódio sejam abertos. Dessa forma, uma grande quantidade de íons sódio se
difundem para o interior da membrana da fibra muscular, iniciando o potencial de ação nesta
membrana. O potencial de ação despolariza a membrana da célula muscular e, para que esse
potencial se propague também no interior de toda a fibra, esses potenciais são transmitidos ao
longo de túbulos transversais (túbulos T) que penetram através da fibra muscular de um lado
da fibra para o outro, conforme ilustrado na Figura 2.11. Os potenciais de ação dos túbulos T
causam a liberação de íons cálcio no interior da fibra muscular nas proximidades das
miofibrilas, íons esses essenciais ao processo de contração muscular, como será mostrado na
próxima sessão. Após a contração muscular, os íons cálcio são novamente bombeados para o
reticulo sarcoplasmático, onde são armazenados até que um novo potencial de ação
desencadeie nova contração muscular.
Figura 2.11 Túbulos transversais
Fonte: GUYTON, Arthur C. Textbook of Medical Physiology. Elsevier Saunders, 2006, p. 90.
31
2.3.3 Princípios Moleculares da Contração Muscular
A contração muscular propriamente dita ocorre pela redução do tamanho do
sarcômero por meio do deslizamento de filamentos de actina sobre os filamentos de miosina.
Conforme mostrado na Figura 2.12, existe a redução do tamanho do sarcômero apesar da
manutenção dos tamanhos dos filamentos de actina e miosina.
Figura 2.12 Sarcômero
Fonte: MADER, Sylvia. Understanding Human Anatomy & Physiology. The McGraw-Hill, 2004, p. 117.
A nível molecular, como mostrado na Figura 2.13, nota-se que o filamento de
actina é composto na verdade por duas outras proteínas além da actina: a troponina e a
tropomiosina. As moléculas de tropomiosina permanecem sobre os sítios ativos dos
filamentos de actina no estado de repouso, de modo a impedir a atração entre os filamentos de
actina e miosina, e conseqüentemente a contração muscular. Já a troponina possui três
subunidades cada uma apresentando uma forte afinidade para um elemento. Uma dessas
unidades é fortemente atraída pela actina, outra pela tropomiosina e uma terceira por íons
cálcio.
Figura 2.13 Composição do filamento de actina
Fonte: GUYTON, Arthur C. Textbook of Medical Physiology. Elsevier Saunders, 2006, p. 76.
32
As moléculas de miosina por sua vez são formadas por uma dupla hélice, que
forma sua cauda, e uma extremidade dobrada a qual é chamada de cabeça da miosina, como
mostrado na Figura 2.14. Nota-se da figura que tanto a cabeça da miosina quanto parte do
corpo do filamento de miosina se desligam do mesmo formando braços, e recebem o nome de
pontes cruzadas. Esses braços articulados permitem que a cabeça seja estendida para longe do
filamento do corpo da miosina, ou ser trazida para perto dele permitindo assim que as cabeças
da miosina participem no processo real de contração muscular.
Figura 2.14 Composição do filamento de miosina
Fonte: GUYTON, Arthur C. Textbook of Medical Physiology. Elsevier Saunders, 2006, p. 75.
Entendidas as características moleculares desses dois filamentos, torna-se possível
a descrição do mecanismo de contração muscular mostrado na Figura 2.15.
Com a sensibilização da fibra muscular, os potenciais de ação desencadeados
causam a liberação de íons cálcio no interior da fibra muscular. A subunidade da troponina
que possui alta afinidade a íons cálcio se liga a esse íon, agora abundante no interior da célula,
provocando alterações estruturais na posição da tropomiosina. Esta ultima por sua vez expõe
os sítios ativos da actina, os quais atraem a cabeça da miosina, formando as pontes cruzadas.
Essas cabeças da miosina funcionam como uma enzima que quebra a molécula de
ATP, armazenando energia e uma molécula de ADP e um íon fosfato, que ficam ligados à
cabeça da miosina. Com a união, a energia armazenada é convertida em movimento,
deslocando o filamento de miosina sobre o de actina, e a molécula de ADP e o íon fosfato são
liberados.
Uma nova molécula de ATP se liga à cabeça da miosina, fazendo com que essa se
desconecte do sitio ativo da actina. Assim o ATP sofre hidrólise liberando energia, a qual é
armazenada na cabeça da miosina, permitindo que esta repita o ciclo ligada a um sítio ativo
antes mais distal.
33
Figura 2.15 Mecanismo de contração muscular
Fonte: http://fisio.ib.usp.br/fisioteorica/artigos/fisio2/Atividade%20El%E9trica%20do%20Mioc%E1rdio.pdf
34
Capítulo 3
Sensores e Sinais
3.1 ELETROMIOGRAFIA
Segundo De Luca (1997), o sinal mioelétrico ou eletromiográfico é a
manifestação de uma atividade neuromuscular associada à contração muscular, proveniente
dos potenciais de ação que percorrem as diversas fibras musculares. Este sinal é resultado do
somatório dos potenciais de ação das miofibrilas em ativação, como mostrado na Figura 3.1.
Figura 3.1 Sinal eletromiográfico
Fonte: http://fisio.ib.usp.br/fisioteorica/artigos/fisio2/
35
É sabido que um neurônio motor alpha pode inervar mais de uma miofibrila. Ao
conjunto do neurônio motor e das fibras por ele inervadas é dado o nome de unidade motora.
Os potenciais dessas unidades motoras, bem como sua medição e suas aplicações serão
discutidas no decorrer deste capitulo.
3.1.1 Unidade Motora
O sistema muscular esquelético humano possui uma demanda bem diversificada,
incluindo variações na regulação de força, precisão de movimento, manutenção da postura
ereta, locomoção, expressões da face, dentre outros, onde cada uma dessas atividades possui
particularidades no controle desse sistema muscular. Este capítulo propõe a apresentação em
caráter geral desse controle, enfocando o sistema locomotor, o qual pode ser considerado
como função principal do sistema muscular.
Na Figura 3.2 temos um diagrama esquemático do sistema motor central e da
geração das unidades motoras (MU).
Figura 3.2 Sistema nervoso central e periférico
Fonte: GUYTON, Arthur C. Textbook of Medical Physiology. Elsevier Saunders, 2006, p. 688.
Como se pode notar das Figuras 3.2 e 3.3 o sistema nervoso central se organiza de
forma hierárquica, sendo a geração do impulso motor primeiramente no córtex cerebral (área
36
pré-motora, área motora suplementar e outras áreas associadas do córtex), convergindo no
córtex motor primário juntamente com outras entradas do cerebelo e do gânglio basal,
promovendo assim a excitação ou inibição de neurônios do córtex motor primário, os quais
têm grande influência sobre inter e motoneurônios do cérebro e medula espinal.
Figura 3.3 Origem do impulso motor
Fonte: GUYTON, Arthur C. Textbook of Medical Physiology. Elsevier Saunders, 2006, p. 686.
Uma unidade motora consiste em um motoneurônio alpha na medula espinal e a
fibra muscular a qual este inerva. O motoneurônio alpha é o ponto final de somação de todas
as entradas que descem através da medula espinal. A corrente induzida neste motoneurônio
pelos vários sítios de inervação sináptica determina o padrão de disparos dessa unidade
motora, ou seja, a atividade da MU.
O número de MUs por músculo em humanos, bem como a freqüência de disparos
de potenciais de ação, pode variar de 100 disparos por segundo para pequenos músculos da
mão à mais de 1000 para os grandes músculos dos membros [1], o que influencia muito na
capacidade de geração de força, forças essas que podem ter módulos até 100 vezes superiores
para diferentes MUs [2][3]. Tal fato pode ser explicado pela vasta quantidade de propriedades
morfológicas e eletrofisiologicas apresentadas tanto pelos neurônios motores quanto pelas
fibras musculares por estes inervadas.
Em seres humanos tem sido notada uma dificuldade de classificação desses
neurônios motores quanto às suas propriedades fisiológicas, apesar de alguns estudos já
determinarem classificações quanto a velocidade de contração e sensibilidade a fadiga [4].
37
Entretanto a identificação de conjuntos de fibras musculares através da histologia de sua
sessão transversal é um critério comumente adotado.
3.1.2 Recrutamento de Unidades Motoras e Freqüência de Disparo
Em contrações voluntarias, a força é modulada pela combinação de recrutamento
de MUs e mudanças em sua freqüência de ativação através de uma relação direta [5][6][7].
Quando apresentado um recrutamento de todas as unidades motoras, um músculo apresenta
força de aproximadamente 2 a 5kg/cm² independente de espécie, gênero, idade ou mesmo
condicionamento físico [8][9].
Estudos comprovam a dependência do recrutamento de MUs e sua freqüência de
disparo com o nível de força e velocidade de contração. Quando baixos limiares de MUs são
recrutados, baixas amplitudes de força são geradas assim como uma alta resistência a fadiga.
Ao aumentar os níveis de força requeridos ou mesmo a velocidade de contração desejada,
unidades motoras de altos índices de sensibilidade à fadiga são recrutadas [10][1].
Dificuldades técnicas associadas ao registro individual de unidades motoras em
altos níveis de força e a dificuldade de geração de forças controladas em experimentos com
animais limitam a determinação precisa do número de unidades motoras recrutadas e de sua
freqüência de disparo.
O número de fibras recrutadas e a freqüência média de descarga de excitação
determinam a atividade elétrica em um músculo, o que significa que essa ultima sofre as
mesmas influencias que a força muscular [11][7]. Dessa maneira pode ser expressa uma
relação direta entre o EMG e a força exercida. A Figura 3.4 representa um registro típico de
força e EMG simultâneos durante contração isométrica. Pode ser notado que a atividade
eletromiográfica aumenta progressivamente com o aumento da força gerada, sugerindo um
aumento gradual do recrutamento de MUs e de sua taxa de disparo para que se possam ser
alcançados os níveis de força desejados. O aumento da freqüência média do espectro do sinal
pode ser em parte explicado pelo aumento do recrutamento de MUs [7].
Entretanto, a mudança em um EMG de superfície não pode ser automaticamente
atribuída ao recrutamento ou à freqüência de disparos das MUs visto que a amplitude de tal
38
sinal também é influenciada pelo potencial individual das fibras musculares, grau de
sincronização, e fadiga [11][12][13][14][15][16].
Figura 3.4 Registro de força e EMG e respectivo espectro no tempo e freqüência
Fonte: Bigland-Ritchie, B.[11].
Diversos fatores afetam esse recrutamento e disparo de MUs. Dentre eles citam-se
o tipo de atividade muscular (movimentos excêntricos produzem maiores amplitudes de força
que movimentos concêntricos ou isométricos [17][18]) e fadiga muscular (aumento da
amplitude do sinal EMG com o aumento de tempo de fadiga [11][7][16]).
3.1.3 Potencial de Ação de Unidades Motoras e seus Reflexos em Enfermidades
Uma unidade motora é composta por um neurônio motor e pelas fibras por ele
inervadas. Esse número de fibras pode variar de 10 a 15 nos músculos da região dos olhos
para até 500 fibras nos músculos dos membros, como por exemplo o gastrocnêmio. O
somatório, no tempo e no espaço, dos potenciais de ação gerados por cada uma dessas fibras é
definido como potencial de ação de uma unidade motora.
O somatório dos potenciais de ação gerados por diferentes fibras musculares em
uma unidade motora não são perfeitamente sincronizados. Isto se deve aos diferentes tempos
39
de condução que cada impulso leva para sair de uma extremidade da fibra até o eletrodo de
captação, devido a diferentes velocidades de condução entre os nervos e as fibras e percursos
distintos. Dessa forma, devido à grande variedade das características das unidades motoras,
diferentes registros de potenciais de ação de unidades motoras (MUAPs) apresentam grandes
variações em sua morfologia.
Entretanto um grande número de MUAPs foi estudado no sentido de obter uma
amostra representativa, para que se tornasse possível a associação de características desse
sinal à aspectos fisiológicos e, então associá-lo no diagnostico de determinadas doenças do
sistema neuromuscular.
A amplitude desses sinais, geralmente medida pico a pico, reflete o número de
fibras de uma unidade motora que tem sua atividade captada pelo sensor e o grau de
sincronismo dos disparos. O número de 2 a 5 fibras representa a maior contribuição para a
forma do sinal. A amplitude desses sinais aumenta em unidades motoras maiores, mais densas
e sujeitas a reinervação e diminui em miopatias.
A duração medida entre o inicio da fase inicial da MUAP e o fim da fase terminal
lenta reflete o número de fibras detectadas. Contrariamente a pressupostos iniciais, a duração
da MUAP não apresenta grandes variações com a dessincronização das fibras, somente em
casos extremos.
O número de oscilações de tensão e fases apresentadas reflete a dispersão
temporal de diferentes potenciais de ação na unidade motora. Esse número aumenta com o
aumento da diferença de tempo na condução do impulso entre as ramificações do terminal
nervoso e particularmente ao longo da fibra muscular para os casos de variação do diâmetro
da fibra muscular como é visto em miopatias.
Variações anormais da forma dessas MUAPs podem ser resultado de bloqueios
intermitentes de potenciais de ação de fibras individuais, ou grupos de potenciais de ação.
Uma condução indevida pode acontecer em um axônio ainda imaturo e portanto a transmissão
pode ser interrompida.
Em lesões nervosas, onde o músculo perde certo número de neurônios motores de
inervação, o músculo se torna denervado. Com o passar do tempo os axônios restantes passam
a crescer e reinervar as reges vizinhas, alterando as características metabólicas e
eletrofisiológicas originais desse neurônio. Apesar desse músculo ainda se encontrar
deficiente, ele apresenta uma melhora significativa em termos de sincronização das
contribuições para a MUAP.
40
As MUAPs de uma unidade motora reinervada apresenta aumento na amplitude e
duração, devido à adição de fibras musculares, e uma forma polisica devido ao atraso da
propagação dos impulsos ao longo de fibras musculares recém adquiridas.
Os registros dessas MUAPs têm usualmente sido feito por meio de eletrodos
invasivos como eletrodos de agulha e fio, porém estudos têm sido realizados no sentido de
verificar a atividade elétrica dessas MUAPs usando eletrodos de superfície, não invasivos.
3.1.4 Eletrodos Invasivos
Ao aumentar o esforço na realização de uma contração voluntária, as taxas de
disparos das unidades motoras ativas aumentam, bem como o número de fibras recrutadas, os
quais podem ser notados no sinal coletado. Assim, MUAPs tendem a se sobrepor tornando-se
cada vez menos discerníveis individualmente em uma atividade elétrica intensa, devido à
interferência de padrões.
É sabido que o recrutamento de novas unidades pode ser atrasado em algumas
disfunções neuromotoras, ou mesmo quando ocorre reinervação de fibras. Porém nem sempre
esse atraso pode ser evidenciado quando os registros englobam diversas unidades motoras
simultaneamente. Dessa forma faz-se necessário o uso de eletrodos que captem potenciais de
ação de unidades motoras individualmente. Os eletrodos atualmente mais usados na prática
para esses registros são os eletrodos de agulha ou fio.
Um eletrodo de agulha de qualquer tipo inserido em uma área de disparo de
unidades motoras registra a atividade das fibras musculares ativas naquela região de captação.
Entretanto, em eletromiografia clínica, dois tipos de eletrodos de agulha são usados para
medir contrações voluntárias, espontâneas ou mesmo estimuladas. São eles os eletrodos de
agulha concêntricos e os monopolares.
41
3.1.4.1 Eletrodos de Agulha Concêntricos
Desenvolvido por Adrian e Bronk em 1929, os eletrodos de agulha concêntricos
são ainda um dos tipos de eletrodos mais comumente usados para registros de eletromiografia
clinica. O eletrodo tem uma superfície elíptica ativa (aproximadamente 150x580µm)
localizada na ponta chanfrada de um fino tubo de metal. A diferença de potencial é registrada
entre a superfície ativa e o potencial de referência da cânula. A Figura 3.5 mostra um eletrodo
de agulha concêntrico comercializado.
Figura 3.5 Eletrodo de agulha concêntrico descartável
Fonte: http://www.jarisupply.com/disposable-concentric.html
A característica de assimetria da superfície chanfrada sugere que se rotacione tal
eletrodo para maximizar as amplitudes dos potenciais de ação registrados. Simulações
realizadas mostram que a amplitude dos sinais registrados é diretamente relacionada ao
número e tamanho das fibras musculares localizadas num raio de 0.5mm da ponta do eletrodo.
Em média, o número de fibras registradas através do uso de eletrodos de agulha concêntricos
varia entre 15 e 20 em uma unidade motora, a qual varia conforme a área de captação do
eletrodo.
42
3.1.4.2 Eletrodos de Agulha Monopolares
O eletrodo de agulha monopolar consiste de um pino solido de Teflon, conforme
mostrado na Figura 3.6, cuja superfície ativa tem a forma pontiaguda. A área dessa superfície
pode variar de 0.15 a 0.20mm².
Figura 3.6 Eletrodo de agulha monopolar
Fonte: http://www.jarisupply.com/disposable-detachable-monopolar.html.
A principal diferença entre esse tipo de eletrodo com relação ao eletrodo
concêntrico é baseada no fato de que o primeiro registra sinais de mais fibras de uma unidade
motora, gerando sinais mais polifásicos, com maior duração e valores de amplitude mais
elevada. Em média, 20 a 30 fibras podem ser analisadas em um único sitio de inserção.
Apesar de menos utilizados, os eletrodos monopolares apresentam os mesmos níveis de
eficiência dos eletrodos concêntricos e podem ser empregados para os mesmos fins.
3.1.5 Eletrodos Não-Invasivos
Avaliação eletromiográfica através de EMG de agulha (Needle EMG, NEMG), em
combinação com estudos de condução nervosa, é atualmente a metodologia padrão na
43
avaliação de características neurofisiológicas de doenças neuromusculares. Além disso, o
EMG de fio (Fine Wire EMG, FWEMG) muitas vezes tem sido utilizado na avaliação dos
distúrbios da marcha, estudos cinesiológicos e pesquisa, sendo também considerado um
padrão. No entanto, NEMG e FWEMG são invasivos e dolorosos, o que limita sua utilização
quando diversos músculos precisam ser monitorados simultaneamente.
3.1.5.1 Eletrodos de Superfície
A eletromiografia de superfície (Surface EMG, SEMG) é uma técnica para medir
a atividade muscular não invasiva, com eletrodos de superfície colocados sobre a pele que
recobre a musculatura. A SEMG difere da NEMG e FWEMG no que diz respeito às
exigências cnicas e propriedades elétricas. Ao contrário da NEMG, a SEMG registra a
atividade elétrica de uma vasta área do território do músculo, tem uma banda relativamente
estreita (escala de 20-500 Hz), com resolução de sinal mais baixa, e é altamente suscetível a
artefatos de movimento.
A SEMG pode registrar atividade muscular voluntária e involuntária, além de
potenciais musculares externamente estimulados, como por exemplo potenciais evocados
motores, ainda que a amplitude dos sinais registrados seja atenuada devido à intervenção dos
tecidos moles, especialmente quando o músculo ativo se localiza a mais de 10 mm da pele
[19].
Existem várias aplicações de SEMG em que esta técnica é considerada padrão, a
exemplo da medição de velocidades de condução nervosa após a estimulação elétrica de um
nervo periférico [20]. Da mesma forma, SEMG é o padrão para gravação de potenciais de
ação muscular após a estimulação magnética transcraniana ou periférica. A EMG tem sido
utilizada décadas como uma técnica para estudar o movimento humano [21-32], que em
virtude da natureza não-invasiva e indolor, o método pode ser considerado uma aplicação
muitas vezes superior a qualquer NEMG ou FWEMG.
Apesar das diversas aplicações da SEMG, ao se tratar de doenças
neuromusculares, como por exemplo a denervação de um músculo, a SEMG não apresenta
desempenho equivalente a NEMG. Isto é devido a sua resolução espacial limitada, a qual
44
resulta na infidelidade do registro dos sinais de alta freqüência, como potenciais polifásicos e
potenciais de fibrilação [33]. Além disso, devido ao cross-talk, a SEMG não consegue
identificar a origem do sinal elétrico quando dois ou mais músculos, que estão em estreita
proximidade um do outro, estão ativos simultaneamente. Entretanto, alguns estudos têm
proposto que a SEMG poderá ser um complemento útil na avaliação de fasciculação,
particularmente na avaliação de pacientes com doença neuromuscular [34].
No sentido de viabilizar a avaliação de doenças neuromusculares por meio da
eletromiografia de superfície, sensores específicos para esse fim têm sido desenvolvidos.
Entretanto, estes ainda se mostram limitados a aquisicionar MUAPs quando submetidos a
pequenos níveis de ativação muscular. Para níveis mais altos de ativação muscular, técnicas
de decomposição de sinais EMG devem ser utilizadas. Contudo o uso desses sensores
específicos para coleta do sinal EMG pode facilitar bastante o processo computacional de
decomposição.
3.1.6 Desafios da Eletromiografia de Superfície
A eletromiografia de superfície tem se mostrado uma ferramenta amplamente
utilizada e sugerida em analises, como por exemplo, na diferenciação dos tipos de tremores,
na análise cinesiológica dos distúrbios do movimento, na avaliação dos distúrbios da marcha e
postura, dentre outras tantas aplicações. Entretanto, visto sua limitação na aquisição de
potenciais de ação de unidades motoras, essa ainda tem se mostrado bastante limitada como
ferramenta de auxilio a diagnósticos referentes a disfunções neuromusculares.
Conforme constatado na literatura [72], a SEMG ainda é considerada inaceitável
como uma ferramenta clínica para o diagnóstico de doenças neuromusculares e dores
lombares, visto que sua utilização se mostrou ineficaz, ao contrario da NEMG.
Nesse sentido esse trabalho propõe o desenvolvimento de um sensor capaz de
detectar, por meio de eletromiografia de superfície, potenciais de unidades motoras.
45
3.2 MECANOMIOGRAFIA
Desde o inicio do século XIX o fisiologista francês Marey registrava gráficos da
atividade muscular relacionadas a mudanças no diâmetro da fibra. Até mesmo durante uma
contração isométrica voluntaria, ou seja, quando a unidade tendão músculo mantém seu
comprimento constante, o deslizamento dos filamentos de miosina sobre os de actina
determina uma redução no tamanho dos elementos contráteis [35]. Uma vez que o músculo
pode ter seu volume considerado aproximadamente constante [36], estas mudanças no
comprimento muscular são então paralelas no eixo transversal, causando portanto variações
no diâmetro da fibra.
Essas análises das mudanças no diâmetro da sessão transversal da fibra têm sido
usadas para descrever o processo de contração muscular em diversos livros de fisiologia desde
o inicio do século XX [37].
Essas alterações dimensionais da fibra muscular têm sido descritas então como
eventos mecânicos de oscilação na superfície do músculo, as quais podem ser detectadas por
diversos tipo de sensores, como por exemplo sensores de contato piezelétrico, microfones,
acelerômetros e sensores laser de distância. Para ressaltar a natureza mecânica da geração do
sinal estudado sugere-se o emprego do termo mecanomiografia (MMG), independentemente
do sensor a ser empregado na realização das medidas.
Durante o processo de contrações voluntarias, as fibras ativas em determinada
unidade motora geram ondas de pressão as quais determinam oscilações especificas na
superfície do músculo, como mostrado pela Figura 3.7.
Figura 3.7 Processo de mecanomiografia
Fonte: BASKIN, R. J. [36]
46
Esses movimentos gerados devido à atividade de uma única unidade motora foram
pioneiramente detectados usando sensores piezelétricos na década de 1940, e um exemplo de
captura é mostrado na Figura 3.8, na qual é apresentada a eletromiografia do músculo
orbicular do olhos e sua respectiva mecanomiografia.
Figura 3.8 Sinal mecanomiográfico
Fonte: AKATAKI, K. [38].
De modo geral, durante a eletroestimulação o MMG fornece informações sobre
mecanismos musculares, podendo-se citar a estimativa da quantidade de fibras atuantes em
determinada contração, bem como a taxa de disparo de unidades motoras.
Considerando aplicações clínicas, as possibilidades de uso do sinal MMG são
vastas. Akataki et al. [38] aplicaram MMG para uso em pacientes com paralisia cerebral. É
bem possível que MMG possa ser um instrumento útil, embora ainda não testada a aplicação
no diagnóstico e acompanhamento de outras doenças neuromusculares. Assim, a inclusão de
MMG nos estudos de marcha e equilíbrio podem fornecer informações não obtidas com
instrumentos de medição tradicionais (por exemplo, EMG, captura de movimento de vídeo ou
força).
3.2.1 Relação entre MMG e Força
Devido ao registro do sinal de mecanomiografia estar relacionado ao movimento
de estruturas fisiológicas (deslizamento dos filamentos de actina e miosina) de extrema
47
importância na intensidade da força aplicada, sugere-se que o sinal MMG possa refletir alguns
aspectos do processo de geração de força.
Orizio et al. [58] analisaram os sinais de força (F) e MMG do músculo tibial
anterior em humanos antes e imediatamente após fatiga induzida por eletro-estimulação.
Através de sensores de acelerometria, a mecanomiografia foi correlacionada com a segunda
derivada da força (d²F/dt²) durante o período de contração e expressaram uma relação linear.
A F/dt² reflete a intensidade do estado de atividade muscular relacionada à
quantidade de íons cálcio liberados pelo reticulo sarcoplasmático no interior da célula [59].
Desta maneira Orizio et al. [58] concluem que a diminuição das amplitudes do sinal MMG,
aquisicionado quando músculo se encontrava em fadiga, refletem uma diminuição do influxo
de íons cálcio durante essa contração muscular.
A relação entre força e registros de MMG, obervadas através de um sensor laser,
também foram detectados durante contração isométrica na porção medial do músculo
gastrocnêmio de gatos por meio de eletro-estimulação [39]. Variando a taxa de disparo e o
número de fibras recrutadas a força variava e também a amplitude do sinal MMG.
Com relação à comparação de força e sinais MMG considerando apenas a
atividade de uma unidade motora, foi analisada a relação entre parâmetros ligados à contração
muscular e a amplitude do sinal MMG, coletado por meio de sensores piezelétricos [60]. O
experimento foi realizado pela estimulação se uma única unidade motora do gastrocnêmico de
um rato. Os resultados indicaram uma relação da amplitude do sinal MMG com a velocidade
das mudanças de força durante a fase de contração de cada tipo de unidade motora. A
velocidade era baixa para unidades motoras de contração lenta, intermediaria para MUs de
contração rápida e resistentes à fadiga, e rápida para MUs de contração rápida e não
resistentes à fadiga. Dessa forma o experimento mostra a relação do MMG com as
características contrateis e funcionais das unidades motoras.
3.2.2 Técnicas de Detecção do Sinal MMG
Apesar dos tipos de sensores mais usualmente empregados na detecção de MMG
serem os acelerômetros, em alguns casos sensores de distancia a laser, microfones ou ainda
48
sensores piezelétricos são também usados. Esta sub-sessão relata portanto os tipos de sensores
usados bem como uma comparação entre eles.
3.2.2.1 Detecção de MMG por meio de Sensores de Distância a Laser
Sensores ópticos para medição da distância mantêm uma relação de
proporcionalidade entre a tensão de saída do transdutor com a distância entre o feixe laser
emitido e a superfície refletora do músculo alvo. Dessa forma, a medida que a superfície do
músculo se movimenta em direção à fonte emissora dos feixes laser ou mesmo em sentido
contrario, os feixes refletidos trazem a informação da nova posição da superfície desse
músculo. Assim o sinal elétrico fornece uma informação que é proporcional à posição
absoluta do músculo.
Figura 3.9 Mecanografia por meio de sensor laser
Fonte: ORIZIO, C.[39]
Como mostra a Figura 3.9 Orizio et al. [39] [40] usaram o sensor para medida de
distância a laser MEL M5L/20, com sensibilidade de 1V/mm para detecção de MMG para
estudo da força e mudanças geométricas durante contração muscular estimulada no músculo
gastrocnêmio medial em gatos.
O uso de sensores laser para a detecção de MMG de superfície permite que o
músculo avaliado varie sua posição sem um componente inercial adicional devido ao
49
transdutor, bem como fornece uma medida de deslocamento em milímetros, a qual pode ser
comparada a outros estudos. Deve ainda ser ressaltado que esses sensores conseguem captar
resoluções de aproximadamente 6µm.
3.2.2.2 Detecção de MMG por meio de Acelerômetros
Os primeiros estudos a cerca da detecção de MMG por meio de acelerometria se
deu na década de 70 com o trabalho de Jorgensen e Lammert [41], o qual era capaz de
detectar a contribuição de unidades motoras na oscilação da superfície muscular.
Aplicações mais atuais usam acelerômetros de massa inferior a 2g, afixados
através de fitas dupla-face, as quais adicionam pressão quase nula, não interferindo assim na
dinâmica da contração muscular. Esta técnica foi utilizada na detecção tanto de contração
voluntaria [42][43] quanto estimulada [44][45][46][47][39][48][49][50].
Assim como os sensores ópticos supracitados, estes sensores também propiciam a
comparação de resultados com outros estudos, visto que a aceleração pode ser expressa em
unidades físicas, independentemente das características do sensor.
3.2.2.3 Detecção de MMG por meio de Sensores Piezelétricos
Sensores piezelétricos têm sido muito usados desde a década de 80, porém suas
dimensões físicas (massa de aproximadamente 40g, diâmetro e altura em torno de 30mm)
limitam suas aplicações a grandes músculos. Entretanto, sua alta velocidade de resposta para
os registros do sinal de MMG de superfície devem ser levados em conta.
As limitações desses sensores não se restringem somente as dimensões físicas,
mas também deve ser ressaltada a pressão a qual este deve estar submetido para que haja um
correto acoplamento entre o sensor e o músculo a ser avaliado. Este acoplamento mecânico é
geralmente realizado através de fitas elásticas ou suportes externos, os quais têm o intuito de
impedir o movimento entre a pele e o eletrodo, assim como manter o posicionamento do
50
eletrodo para que ele seja submetido ao aumento de pressão durante a contração muscular por
meio das mudanças topográficas da superfície do músculo. Por esta razão a força exercida
sobre estes sensores é limitada a 2N.
Estudos de Smith e Stokes [51] comprovam que a amplitude do sinal MMG é
proporcional à pressão do acoplamento pele-sensor. Com uma pressão de 1200Pa um sinal de
maior amplitude foi registrado se comparado à pressões de acoplamento de 180 ou 790Pa,
para a mesma intensidade de contração. Nesse mesmo estudo concluiu-se que para a
comparação de resultados avaliando as amplitudes do sinal MMG os sinais devem ser
detectados usando o mesmo sensor bem como o mesmo sistema de acoplamento.
3.2.2.4 Detecção de MMG por meio de Microfones
A literatura que trata de MMG reporta uma ampla utilização de microfones
capacitivos para a detecção de mecanografia de superfície. A maneira de afixar esses sensores
aos músculos é similar ao usado para os sensores piezelétricos, porém o acoplamento entre a
superfície muscular e o microfone pode ser dada pelo ar [52], gel para ultra-som [53], ou
ainda por cimento cirúrgico [54], o qual preenche os espaços da cavidade onde o sensor é
colocado.
Assim como nos sensores piezelétricos, a pressão exercida no acoplamento
mecânico com o músculo também influencia a amplitude do sinal aquisicionado, limitando
também a comparação com resultados verificados na literatura.
3.2.3 Comparação entre Diferentes Sensores
Os primeiros artigos comparando performances de sensores de MMG foram
publicados no fim da década de 80 [55], comparando sensores de microfone com o
acoplamento pelo ar e sensores de contato piezelétricos, os quais apresentaram sinais
51
similares nos testes realizados, porém o microfone apresentou forte dependência da pressão
aplicada entre o mesmo e a pele.
Watakabe et al. [56] compararam a detecção de sinais MMG coletados a partir de
sensores piezelétricos e acelerômetros durante uma contração muscular voluntaria e durante
uma excitação mecânica senoidal. Uma das conclusões obtidas foi que o sensor piezelétrico se
comporta como um medidor do deslocamento da superfície muscular, visto que o conteúdo
espectral desse sinal era muito semelhante àquele apresentado pelo espectro da integral dupla
do sinal medido pelo acelerômetro. Entretanto esta conclusão deve ser analisada com cuidado,
visto que considerando um deslocamento constante da superfície muscular o sensor
piezelétrico não consegue estabelecer um valor estável de tensão. Este fenômeno pode
prejudicar uma descrição precisa do MMG para pequenas taxas de deslocamento da superfície
muscular.
Mais recentemente Watakabe et al. [57] compararam o sinal MMG detectado por
um microfone com acoplamento via ar de um MMG detectado via acelerometria. Desse
estudo concluiu-se que o espectro da integral dupla do sinal do acelerômetro se assemelha ao
sinal de MMG detectado pelo microfone. Como conseqüência, concluiu-se que o microfone
parece atuar como um medidor do deslocamento da superfície muscular. Este estudo também
demonstra que as respostas temporais e frequenciais do sinal MMG do microfone são muito
influenciadas pela geometria da cavidade de ar entre a superfície do músculo e do elemento
sensível. Uma vantagem do uso do microfone como sensor de MMG seria sua menor
sensibilidade aos artefatos de movimento, sendo inclusive indicado para registros de MMG
mesmo durante movimento dos membros [57].
Estudos entre os laboratórios de fisiologia da Universidade de Brescia em
cooperação com o Departamento de Bioengenharia da Politécnica de Milão avaliaram
também as performances dos sensores de distancia a laser e acelerômetros. Como mostrado na
Figura 3.10, a segunda derivada do sinal MMG coletado pelo sensor óptico e o sinal de MMG
do acelerômetro, ambos submetidos ao mesmo processo de filtragem e normalização,
evidenciam que ambos os sensores monitoram o mesmo fenômeno, com o mesmo conteúdo
espectral. Isto evidencia que o movimento da superfície muscular pode ser detectado por
diferentes instrumentos de medida.
52
Figura 3.10 Comparação entre sinais MMG registrados por sensores de acelerometria e
distâcia laser
Fonte: LUCIANI, L. [37]
Assim, a detecção via acelerometria e por meio de sensores ópticos se mostram
mais recomendáveis durante contrações isométricas, visto que suas características físicas não
interferem na dinâmica muscular. Além disso, os métodos de acoplamento entre transdutor e
músculo têm pouca influência sobre os resultados obtidos bem como produzem sinais com
grandezas físicas (m/s² para o acelerômetro e mm para o sensor laser) os quais podem ser
comparados com resultados da literatura. Entretanto, devido a sua baixa sensibilidade aos
artefatos de movimento, os sensores de microfone com acoplamento pelo ar parecem ser mais
adequados para detecção de MMG em contrações musculares dinâmicas.
Considerados os tipos de sensores usados em mecanomiografia e suas vantagens,
o sensor produto deste trabalho se baseará no principio de acelerometria.
3.3 SENSORES HIBRIDOS
3.3.1 Vantagens da Utilização de Sensores Híbridos
Quando se deseja avaliar ou controlar algum processo, quanto maior for o número
de características relevantes monitoradas durante seus diferentes estágios mais confiabilidade
se pode atribuir ao resultado. Com o avanço da ciência, os processos em análise têm se
53
tornado cada vez mais complexos. Portanto, para viabilizar o seu controle, novos sistemas de
monitoramento têm sido desenvolvidos, aumentando a demanda por sensores híbridos.
Apesar de ainda não serem considerados como um dos principais objetivos na
área de automação, o uso de sensores híbridos de pequenas dimensões está em ascensão. Mais
usuários finais de sistemas robóticos acreditam que sensores híbridos têm um importante
papel na produção. Os dispositivos são especialmente úteis para prover vários tipos de
informações de parte dos processos industriais robotizados.
Em 2006, a Robotic Industries Association (RIA, www.roboticsonline.com), Ann
Arbor, Michigan, a única associação comercial norte-americana dedicada exclusivamente à
robótica, trabalhou no sentido de explorar o potencial do mercado para os sensores híbridos.
Os dados mostram que quase 75% dos entrevistados acreditavam que os sensores híbridos
seriam úteis em suas plantas.
O uso desses sensores híbridos faz com que informações ambíguas dadas por um
sensor possam ser confirmadas pela informação do outro, cada um deles complementando a
atividade do outro, diminuindo assim as limitações do sistema de monitoramento e
aumentando sua eficiência. Tecnologias que anteriormente eram interpretadas como
concorrentes passam a ser empregadas de forma colaborativa, aproveitando as melhores
características de cada uma delas, a exemplo das tecnologias CCD e CMOS.
A tecnologia CCD, usada como sensor de imagem, viabilizou a primeira câmera
fotográfica digital e proporcionou grandes avanços científicos. Apesar das tecnologias CCD e
CMOS terem surgido na mesma época, o baixo ruído, o tamanho menor dos pixels e a alta
sensibilidade da tecnologia CCD fizeram com que a indústria deixasse de lado o
desenvolvimento de sensores CMOS. No entanto, o baixo consumo, o alto nível de
integração, o baixo custo e o acesso aleatório da tecnologia CMOS, vêm, desde a década
passada, motivando laboratórios acadêmicos e industriais a investirem na fabricação desses
dispositivos.
Contrario ao pensamento inicial de que a tecnologia CMOS viria no sentido de
substituir a CCD, empresas têm investido no desenvolvimento de sensores híbridos. Pode se
citar a Panasonic, que patenteou em 2004 um sensor, hoje comercializado com o nome de
Live MOS e usado em máquinas da Leica da Olympus e da própria Panasonic, os quais
oferecem altos padrões de qualidade de imagem propiciados pelo CCD somado a melhores
propriedades de processamento eletrônico de sinais analógicos e digitais oferecidos pelo
CMOS.
54
De forma análoga ao citado para as tecnologias CCD e CMOS, os sinais de EMG
e MMG podem ser usados de forma complementar em análises de força e potência muscular,
ou mesmo para ampliação da extração de informações usualmente adquiridas usando
eletromiografia para ambiente onde essa se torna inviável (ambientes submetidos a altos
índices de ruído eletromagnético).
3.3.2 Complementaridade das Informações dos Sinais EMG e do Acelerômetro
Durante os processos de contração muscular, o padrão de ativação de unidades
motoras de músculos específicos é basicamente controlado por dois fatores: o recrutamento de
MUs e sua taxa de disparo. A eletromiografia de superfície mostra que o seu valor RMS (raiz
dos mínimos quadrados) aumenta de valores baixos à máxima contração voluntaria (MVC)
conforme o aumento desses dois fatores [61]. O conteúdo espectral é fortemente influenciado
pela forma do potencial de ação da unidade motora, o qual possui grande parte de sua
potência concentrada em torno de 40Hz, e picos menores abaixo desse valor relacionadas à
freqüência de disparo [61], quando registrados usando eletrodos invasivos. Nesse sentido, é
possível interpretar o aumento da freqüência dia ou mediana do espectro do sinal EMG
como um aumento da velocidade de condução das fibras ativas devido ao maior recrutamento
de unidades motoras [62]. Quando todas as fibras foram recrutadas, somente um aumento na
freqüência de disparos pode produzir um aumento na força gerada pela contração muscular
[63][5], a qual pode ser registrada através da razão entre a freqüência média e os níveis
normalizados de MVC [64][65][66]. Esses padrões, no entanto, são influenciados pela
localização das unidades motoras, a qual pode ser fornecida por exemplo pelo MMG.
Outros trabalhos, como por exemplo o de Cramer et al. [61], concluem que os
sinais de MMG e EMG podem juntos fornecer importantes aspectos mecânicos e elétricos
sobre força e potência. Estes investigadores sugerem que a potência é melhor refletida pelos
sinais de MMG enquanto os sinais de EMG de superfície melhor refletem o torque. Assim,
sempre que possível, MMG e EMG de superfície devem ser registrados como dados
complementares.
55
Recentemente, estudos começaram a aplicar MMG ao reflexo Hoffman (reflexo
H) [67][68]. Ao contrário da EMG, os sinais MMG não são suscetíveis ao artefato de eletro-
estimulação e parece fornecer uma fonte de sinal complementar para os estudos do reflexo H.
Cramer et al. [68] também concluíram que o sinal de MMG pode ser útil para determinar a
força de máxima contração muscular e a intensidade do estímulo correspondente quando o
torque ou a força de medidas não são exeqüíveis. Portanto o uso de sensores híbridos
permitiria que as características extraídas de um EMG pudessem ainda ser analisadas em
ambientes com altos níveis de ruídos eletromagnéticos.
Estudos têm mostrado aplicações de registros de eletromiografia e
mecanomiografia simultâneos na detecção de distrofias miotônicas [69]. A relação entre o
valor RMS da amplitude do sinal EMG e a amplitude do sinal MMG mostrou diferenças
estatísticas significativas na eficiência do acoplamento eletromecânico se comparado com o
grupo controle.
Considerando estudos sobre tremor humano, principalmente quando manifestado
de forma sutil, é notado uma dificuldade de apresentação de um diagnostico clinico objetivo.
Assim, um sistema de sensoriamento foi desenvolvido para quantificar o tremor patológico no
membro superior humano, o qual funde informações de acelerometria e eletromiografia de
superfície baseados em filtro de Kalman [73]. Os resultados iniciais utilizando dados do
tremor de dois pacientes com doença de Parkinson mostram um futuro promissor nesta fusão
de sensores. O sistema de detecção e os algoritmos propostos são úteis para compensar o
tremor ativamente e ajudar os médicos no diagnóstico de tremor.
Estudos utilizam a interpretação e utilização de EMG e acelerometria para
monitoração e identificação de atividades da função motora em indivíduos cujos movimentos
são improvisados, sem restrições, e tomam lugar no mundo "real". Este sensor híbrido permite
que atividades do dia-a-dia sejam reconhecidas, viabilizando o monitoramento dos indivíduos
no desempenho de suas atividades diárias [74]. Este mesmo sensor foi utilizado para
identificação dos estágios em que se encontravam pacientes que sofriam da doença de
Parkinson, durante realização de atividades cotidianas.
56
Capítulo 4
Desenvolvimento dos Sensores
Talvez o projeto de eletrodos possa ser considerado o aspecto mais crítico dos
aparelhos eletrônicos que serão utilizados para a obtenção de sinais bioelétricos. A fidelidade
da detecção do sinal EMG pelo eletrodo influência todo o seu tratamento subseqüente. É
muito difícil melhorar a fidelidade e a relação sinal-ruído da amostra se uma boa coleta não
tenha sido feita. Portanto, é importante elaborar um eletrodo que provenha o mínimo de
distorção e maior relação sinal-ruído.
É nesse sentido que este capitulo aborda todos os aspectos relevantes ao
desenvolvimento dos sensores, desde os processos de transdução dos fenômenos químicos
envolvidos até a analise dos dados.
4.1 SENSORES DE ELETROMIOGRAFIA DE SUPERFICIE
Captar potenciais de grandeza da ordem de dezenas de milivolts, resultado da
somação dos potenciais de ação desencadeados em várias unidades motoras sobre a superfície
da pele, tem se mostrado por si um grande desafio. À medida que o número de fibras em
atividade reduz, a amplitude desses sinais também diminui, dificultando o processo de
registro desses sinais com boa qualidade, expressa pela relação sinal ruído. Ao passo que a
57
amplitude dos sinais é reduzida e os ruídos ao qual o sistema de coleta é submetido
permanecem os mesmos, diminui-se o poder de discriminação do sinal em relação ao ruído.
A forma com que os eletrodos de superfície registram os biopotenciais, os
desafios que se apresentam ao registro desses potenciais bem como as estratégias usadas para
reduzir seus efeitos sobre os sinais coletados serão discutidos nas subseções deste capítulo.
Deve também ser ressaltado o que é o projeto SENIAM, o qual será muito citado
neste capítulo. Um acrônimo para Eletromiografia de Superfície para avaliação não invasiva
dos músculos, o projeto SENIAM é uma ação da União Européia na área de Saúde e
Programa de Pesquisa Biomédica (BIOMED II). Ele foi criado na tentativa de normalizar as
metodologias de utilização da eletromiografia de superfície, para que isto não seja um
empecilho à utilização dessa técnica. Notou-se que embora seus princípios tenham sido
desenvolvidos no início do século XX e rapidamente tenha se tornado popular durante os
últimos dez anos, a SEMG ainda não é uma técnica amplamente utilizada. Assim, observando
que a maioria dos estudos dessa técnica tiveram lugar espalhadas pelo mundo em
determinados grupos científicos, pensou-se que a variação da metodologia utilizada nesses
grupos poderia ser um fator discriminante para sua baixa utilização. Dessa forma o projeto
SENIAM hoje é uma referência em eletromiografia de superficie, e suas recomendações
foram levadas em conta na determinação das características deste sensor.
4.1.1 Registro dos Biopotenciais na Superfície da Pele
Fenômenos bioelétricos podem ser associados a quase todos os órgãos do corpo
humano. No entanto, uma grande proporção desses sinais não é especialmente útil em
medicina clínica, e devido aos seus baixos níveis de amplitudes não são facilmente
mensuráveis na prática. Há, no entanto, vários sinais que são de grande importância
diagnóstica ou que fornecem um meio de avaliação eletrônico para auxiliar na compreensão
dos sistemas biológicos, como é o caso dos sinais eletromiográficos.
Para que se torne possível o registro dos potenciais gerados pelo fluxo iônico
através da membrana celular, se faz necessária a transdução de correntes iônicas em correntes
elétricas, essenciais a instrumentação eletrônica. Esta função de transdução é realizada por
58
eletrodos que consistem de condutores elétricos em contato com a solução aquosa iônica do
corpo. A interação entre elétrons e íons nos eletrodos no corpo pode afetar significativamente
o desempenho destes sensores, e exige considerações específicas relativas à sua aplicação
prática.
Na interface entre um eletrodo e uma solução iônica, reações de oxido-redução
devem ocorrer para que cargas elétricas possam ser transferidas entre o eletrodo e a solução.
Estas reações podem ser representadas, em geral, através das seguintes equações:
(4.1)
(4.2)
Onde n é a valência do cátion C do material e m é a valência do ânion A.
Para a maioria dos sistemas de eletrodos, os cátions presentes na solução e no
metal dos eletrodos são os mesmos, de modo que os átomos C são oxidados quando liberam
elétrons e vão para a solução na forma de íons carregados positivamente. Esses íons são
reduzidos quando o processo ocorre no sentido inverso. No caso da reação de ânions, Eq.
(4.2), as reações de oxidação e redução ocorrem na direção inversa. Para um melhor
funcionamento dos eletrodos, estas duas reações devem ser reversíveis, isto é, ambos
materiais podem oxidar e reduzir.
Dessa forma, à medida que cargas elétricas são liberadas no eletrodo uma corrente
elétrica, proporcional à corrente iônica gerada pelos processos fisiológicos, pode ser
estabelecida, concluindo assim o processo de transdução da corrente iônica.
4.1.2 Definição do Material Usado nos Eletrólitos
Sabe-se que a transdução da corrente iônica em corrente elétrica se faz por meio
da interação de uma solução iônica e um metal, através de reações de oxidação-redução.
Entretanto, essa interação produz uma mudança local de concentração dos íons na solução
próxima à superfície do metal. Isso faz com que a neutralidade de carga se mantenha em toda
região, fazendo com que o eletrólito em torno do metal apresente potenciais elétricos
59
diferentes daqueles apresentados no resto da solução. Assim, uma diferença de potencial
conhecida como potencial de meia-célula é estabelecida entre o metal e o eletrólito, conforme
apresentado na Tabela 4.1.
Tabela 4.1 Potenciais de meia-célula dos diferentes materiais
Metal e Reação
Potential de meia-célula (V)
Al Al
3+
+ 3e
1.706
Ni Ni
2+
+ 2e
0.230
H
2
2H
+
+ 2e
0.000 (por definição)
Ag + Cl
AgCl + e
+ 0.223
Ag Ag
+
+ e
+ 0.799
Au Au
+
+ e
+ 1.680
Verifica-se da Tabela que para cada material é estabelecido um potencial de meia-
célula distinto. O conhecimento do potencial do eletrólito pode ser importante quando se
utiliza eletrodos para aferir sinais de baixa freqüência ou medições de componentes continuas.
Vale ressaltar que esse potencial de meia célula assume esses valores quando
nenhuma corrente elétrica flui através do eletrodo. Esse potencial é dado pelo simples contato
entre o material do eletrodo e o meio iônico.
Se, no entanto, uma corrente elétrica, estes potenciais podem ser alterados. A
diferença entre o potencial de corrente zero e os potenciais medidos enquanto a corrente está
passando é conhecida como a sobretensão, e é resultado da alteração na distribuição de carga
na solução em contato com os eletrodos. Esse efeito é conhecido como polarização e pode
contribuir negativamente para o desempenho do eletrodo, especialmente sob condições de
movimento.
Eletrodos perfeitamente polarizáveis permitem a passagem de uma corrente entre
o eletrodo e a solução eletrolítica, por meio da alteração da distribuição de carga no interior da
solução próxima ao eletrodo. Assim, nenhuma corrente atravessa a interface eletrodo-
eletrólito. os eletrodos não-polarisáveis permitem que a corrente passe livremente através
dessa interface, sem alterar a distribuição de carga na solução eletrolítica adjacente ao
eletrodo. Vale lembrar que embora esses tipos de eletrodos possam ser descritos teoricamente,
eles não podem ser fabricados na prática. É possível, no entanto, chegar a estruturas de
eletrodo que se aproximam dessas características.
60
Eletrodos constituidos de metais nobres, a exemplo da platina, são muitas vezes
altamente polarizados. Nestes eletrodos, a distribuição de carga encontrada na maior parte da
solução eletrolítica difere daquela presente na solução próxima à superfície do eletrodo. Essa
distribuição pode criar sérias limitações quando o movimento está presente, ou mesmo
quando os sinais possuem componentes de baixa freqüência, ou ainda sinais contínuos Se
existe movimento do eletrodo em relação à solução eletrolítica, mesmo que pequeno, a
distribuição da carga na solução adjacente à superfície do eletrodo é diferente, o que provoca
uma mudança de tensão medida pelo eletrodo. Essa diferença de tensão aparece no sinal
registrado como artefatos de movimento. Assim, para medições de biopotenciais, eletrodos
não-polarisáveis são mais indicados.
Para a construção do eletrodo implementado neste trabalho, assim como na
maioria das aplicações para registros de biopotenciais, o material selecionado foi prata-cloreto
de prata. Isto se deve ao fato de que este material apresenta características semelhantes
àqueles dos materiais perfeitamente não-polarizáveis. A adição do cloreto de prata à liga de
prata se faz para reduzir a facilidade dos íons prata a oxidarem e diminuir a sua solubilidade
em água, tornando a superfície do eletrodo mais estável. Como a polarização é mínima, os
artefatos de movimento se mostram em níveis reduzidos se comparados a eletrodos de platina
por exemplo. Além disso, estes apresentam baixos potenciais de meia-célula e menor
interferência de ruídos intrínsecos de baixa freqüência.
4.1.3 Definição da Forma do Eletrodo
Para a definição da forma do eletrodo a ser desenvolvido, duas características
importantes devem ser consideradas: as características elétricas, mais precisamente a
impedância, e a detecção de potenciais de ação. Primeiramente serão apresentadas as
características elétricas.
61
4.1.3.1 Características Elétricas dos Eletrodos
As características elétricas desses eletrodos são geralmente não-lineares, as quais
variam em função da densidade de corrente que atravessa sua superfície. Assim, visto que
estes dispositivos são representados por modelos lineares, é necessário que eles sejam
estudados em baixos potenciais e correntes. Nestas condições ideais, os eletrodos podem ser
representados por um circuito equivalente, como o mostrado na Figura 4.1.
Figura 4.1 Circuito equivalente dos eletrodos
Fonte: BRONZINO, Joseph D. The Biomedical Engineering Handbook CRC Press LLC, 2000.
Neste circuito R
d
e C
d
são componentes que representam a impedância associada à
interface eletrodo-eletrólito e a polarização nessa interface. R
s
é a resistência série relativa à
resistência do material e propriedades geométricas do eletrodo em si, bem como a empecilhos
na própria interface, como por exemplo células mortas ou presença de pêlos. Ressalta-se que
cuidados como a preparação da pele (limpeza e tricotomia) podem reduzir o valor assumido
por essa resistência. A fonte E
hc
representa o potencial de meia-célula anteriormente descrito.
Conforme mostrado na Figura 4.2 a impedância do eletrodo será dependente da
freqüência, visto que seu modelo de representação possui elementos que armazenam energia.
Em baixas freqüências a impedância resultante é dada pela associação em série de R
s
e R
d
,
visto que o capacitor se comporta como um circuito aberto. em freqüências mais elevadas,
a impedância formada pela capacitância C
d
tende a zero, desprezando o efeito da resistência
R
d
, de modo que a impedância resultante estará próxima de Rs.
Vale lembrar que características elétricas dos eletrodos são afetadas por muitas
propriedades físicas desses elementos. A Tabela 4.2 lista algumas das propriedades físicas
62
mais comuns de eletrodos e qualitativamente indica a forma como estes podem afetar a
impedância do eletrodo.
Figura 4.2 Relação entre impedância e freqüência dos eletrodos
Fonte: BRONZINO, Joseph D. The Biomedical Engineering Handbook CRC Press LLC, 2000.
Tabela 4.2 Relação entre propriedades físicas e elétricas dos eletrodos
Propriedade
Impedância do Eletrodo
↑ Área da Superfície
↑ Polarização
↑ Rugosidade da superfície
↑ Raio de curvatura
↑ Contaminação da Superfície
Portanto, para que se tenha a menor impedância de eletrodo possível, de maneira a
diminuir os impedimentos à transferência do potencial da pele para o eletrodo, o ideal seria
que se tivesse a maior superfície de contato possível, usando eletrodos planos (raio de
curvatura infinito), com materiais não-polarizáveis perfeitos e de pureza elevada.
No entanto existem outros desafios que devem ser considerados, por exemplo o
fato de que se almeja a visualização de potenciais de unidades motoras. Quando se aumenta a
área do eletrodo, aumenta-se com ela a área de captação do eletrodo, ou seja, o número de
fibras avaliadas. Para que seja então possível a visualização do potencial de apenas uma
unidade motora, o eletrodo deve tentar registrar a atividade de apenas uma fibra. Dessa forma,
sua área deve ser reduzida.
63
Com relação à forma adotada na construção dos eletrodos, o projeto SENIAM não
encontrou critérios claros e objetivos de recomendações. Na literatura tanto os eletrodos
retangular (quadrado) quanto circular (oval) são usados no registro de SEMG. Quando as
diferenças existem apenas na forma, ou seja, quando a área de superfície total para os dois
eletrodos é a mesma, não é comprovada qualquer diferença no desempenho desses sensores.
A visão de ambos os eletrodos será praticamente a mesma, assim como a impedância da pele.
A área dos eletrodos recomendada pelo SENIAM varia de 1mm
2
a alguns cm
2
.
Tendo em vista o exposto, neste trabalho optou-se por desenvolver um eletrodo
constituído de uma liga de prata-cloreto de prata, de pureza 99%, cuja superfície de contato
com a pele tem área de 1mm
2
. A forma utilizada é quadrada de 1mm de lado. Ressalta-se que
essas dimensões aplicam-se ao eletrodo ativo.
4.1.4 Distância entre as Superfícies de Detecção
Tem-se claro que a distância entre as superfícies dos dois eletrólitos de detecção
afeta a largura de banda e amplitude do sinal EMG. Pequenos deslocamentos da distância
entre esses eletrodos podem deslocar o espectro de freqüência do sinal EMG para valores
superiores de freqüência, além de diminuir a amplitude dos sinais captados. Por esta razão, o
ideal é que a distância entre eles se mantenha fixa, de modo que as comparações quantitativas
entre as gravações possam ser realizadas tanto entre músculos, quanto entre indivíduos.
Outra consideração na determinação da distância da superfície de detecção é a
distância entre os eletrólitos. Ela deve ser estabelecida de forma que amplie sua utilização nos
diferentes músculos do corpo, sendo úteis no registro da eletromiografia de pequenos
músculos, como os da mão, bem como sobre músculos maiores.
Ainda que se almeje obter uma amostra representativa do sinal EMG, não se faz
necessário a separação das duas superfícies de detecção por um grande espaço, uma vez que
as fibras de uma unidade motora são distribuídas ao longo de um volume muito grande de
músculo (nos gatos este volume é normalmente um terço do músculo).
Aumentar as distâncias inter-eletrodo, resultam em superfícies de eletrodos
fisicamente maiores, as quais apresentam desvantagens consideráveis quando a detecção se
64
realiza em músculos relativamente pequenos, onde o crosstalk torna-se importante. Crosstalk
refere-se a contaminação de um sinal EMG por outros sinais provenientes de músculos
adjacentes.
Segundo o projeto SENIAM, a influência da distância entre eletrodos é um item
relevante na determinação da área de detecção e nos níveis de crosstalk. Dessa forma é
aconselhada uma distância não superior a um quarto do comprimento do músculo, sendo
considerado como padrão o valor de 20mm.
Como os sensores de eletromiografia desenvolvidos por esse projeto objetivam o
registro de sinais de músculos pequenos, como os da região dos olhos, os quais podem
assumir dimensões de até 1,5 cm, a distância inter eletrodo adotada foi de 3mm. Os eletrólitos
desse eletrodo foram construídos sobre uma placa fixa a qual mantém constante a distância
entre os eletrodos durante todo o processo de medida.
4.1.5 Tipos de Eletrodos e Técnicas de Minimização de Ruídos
É sabido que o potencial de ação, representativo da atividade muscular e sinal
alvo de registro, acontece na membrana das células musculares. Entretanto, seu registro
através da SEMG é medido na superfície da pele. Isso significa que além dos baixos valores
de potenciais gerados na membrana, desde a sua geração esse sinal tem sua amplitude
reduzida por diversos fatores inerentes à estrutura do corpo humano. Para exemplificar podem
se citar a impedância da pele, a influência dos canais sudoríparos, presença de pêlos, células
mortas dentre outros.
Portanto, para que se possa estudar as técnicas de minimização de ruídos,
primeiramente se faz necessário um estudo das principais fontes de ruído que influem na
qualidade da aquisição de biopotenciais.
65
4.1.5.1 Características dos Ruídos Elétricos
Os ruídos que influenciam no sinal EMG podem ser advindos de fontes diversas
fontes. Os que mais influenciam a coleta de biopotenciais são: ruídos dos componentes
eletrônicos usados nos sistemas de aquisição, ruídos do ambiente, artefatos de movimento e
instabilidade inerente ao sinal EMG.
Com relação aos ruídos inerentes aos sistemas de aquisição devido aos
componentes eletrônicos utilizados, esses podem ser somente minimizados, não excluídos. O
uso de componentes eletrônicos de alta qualidade e técnicas específicas para layouts de
circuitos eletrônicos para aquisição de potenciais de baixas amplitudes contribuem
positivamente para o registro de biopotenciais e minimização desse tipo de ruído. A faixa de
freqüência desses ruídos se localiza entre 0 e milhares de hertz.
Em se tratando dos ruídos do ambiente, esses são provenientes de fontes de
radiação eletromagnética, podendo se citar aparelhos celulares, linhas de transmissão de
energia, rádio ou mesmo as lâmpadas fluorescentes. Até mesmo a superfície do corpo humano
está constantemente inundada pela radiação eletro-magnética. Esse tipo de ruído tem sua
freqüência em 60Hz e pode ter amplitudes que são da ordem de três vezes a magnitude do
sinal EMG.
No que concernem aos artefatos de movimento, esses podem ser advindos de duas
fontes distintas: o movimento do eletrodo com relação à superfície de detecção ou com
relação ao movimento dos cabos que levam a informação do eletrodo ao sistema de
condicionamento do sinal. Ambos podem ser diminuídos por meio de bons projetos de
circuitos e principalmente do eletrodo. A faixa de freqüência gerada por esses ruídos pode
assumir valores até 20 Hz.
O sinal EMG por ser considerado de natureza quasi-aleatória, possui uma
instabilidade inerente. Em freqüências inferiores a 20Hz esse sinal se mostra particularmente
mais instável, visto que os sinais são afetados pela natureza quasi-aleatória da taxa de disparo
das unidades motoras que, na maioria das condições, possui taxa de disparo nessa banda de
freqüência. Assim na tentativa de aumentar a relação sinal-ruído, essa faixa de freqüências é
geralmente retirada do sinal desejado.
66
4.1.5.2 Amplificação Diferencial
Dessa forma, visto o grande número de ruídos intrínsecos ao sistema e os baixos
valores de amplitude dos sinais registrados, estratégias devem ser usada na tentativa de
minimizar os ruídos externos, diminuindo ao menos a influência desses ruídos externos no
sinal aquisicionado.
A fim de eliminar o ruído de fontes de alimentação de linha, uma configuração
diferencial de detecção é empregada. A técnica de amplificação diferencial está representada
esquematicamente na Figura 4.3.
Figura 4.3 Técnica de amplificação diferencial
Fonte: http://robotics.hulcoop.com/4.html
Na tentativa de eliminação dos ruídos externos, o sinal é detectado em dois locais
distintos e um amplificador de instrumentação subtrai os dois sinais e amplifica a diferença.
Como resultado, os sinais que são comuns a ambos os sítios de detecção (leia-se ruído) serão
removidos enquanto que os sinais propriamente ditos, os quais terão uma diferença de fase,
serão amplificados. Qualquer sinal que se origina longe dos locais de detecção irá aparecer
como um sinal comum. Assim, sinais de ruído da rede elétrica serão removidos e os sinais
EMG serão amplificados.
67
Esta operação de subtração, no entanto, requer a disponibilidade de um subtrator
de alta precisão. Na prática, apesar dos grandes avanços na área de eletrônica, ainda é muito
difícil subtrair perfeitamente os sinais. A precisão com que o amplificador diferencial pode
subtrair o sinal é medida pela Razão de Rejeição de Modo Comum (CMRR). Um subtrator
perfeito teria um CMRR infinito. Valores de CMRR superiores a 32 mil ou 90 dB são
geralmente suficientes para eliminar ruídos elétricos externos [De Lucca, 1997].
Deve ser lembrado que esta configuração é usada independentemente do tipo de
eletrodo usado. A diferença básica é que em alguns tipos de eletrodo essa subtração é
realizada na própria região de detecção, enquanto em outros é feita na entrada do sistema de
aquisição e condicionamento do sinal.
4.1.5.3 Tipos de Eletrodos
Como discutido anteriormente, a junção da pele e superfície de detecção apresenta
uma impedância, que varia com as características geométricas do eletrodo, e podem variar de
alguns milhares de ohms a megohms para a pele seca. A fim de evitar a atenuação e distorção
do sinal detectado, devido ao efeito capacitivo gerado pelos cabos na transmissão do sinal do
eletrodo de entrada, por exemplo, a impedância de entrada do sistema de aquisição do sinal
deve ser tão grande quanto possível.
Entretanto, a exigência dessa alta impedância de entrada apresenta um problema
conhecido como capacitância de acoplamento. Uma pequena capacitância entre os cabos de
transmissão do sinal para a entrada do sistema de aquisição e os cabos de alimentação irá
introduzir um ruído no sinal aquisicionado. A solução para este problema é então colocar um
amplificador diferencial tão próximo quanto possível da superfície de detecção do eletrodo.
Esta solução se tornou conhecida como eletrodo ativo. Outra vantagem desta configuração é
que a impedância de saída do amplificador diferencial pode ser da ordem de 10 ohms.
Portanto, qualquer movimento do cabo da saída do eletrodo não irá gerar níveis significativos
de ruído ou até mesmo sinais de ruído notáveis. Alguns eletrodos ativos encontrados
comercialmente são mostrados na Figura 4.4.
68
Figura 4.4 Eletrodos ativos
Fonte: http://www.bleng.com/emg-electrodes/product
Como mostrado na Figura 4.4 e ressaltado na Figura 4.5, os eletrodos ativos
podem assumir duas configurações básicas, as chamadas bipolar ou diferencial e a duplo
diferencial. A primeira implementa a subtração entre os sinais captados nos dois eletrólitos. Já
a segunda realiza inicialmente a diferenciação entre os dois pares de eletrólitos, cuja distancia
intereletrodo é d (a-b e b-c), e em seguida a subtração dos sinais resultantes ((a-b) (b-c)).
Figura 4.5 Configurações básicas de eletrodos atívos
Fonte: BARBOSA, Kety Rosa. Metodologia para Classificação se Sinais EMG para Controle de Próteses.
Ressalta-se que o uso de eletrodos ativos por si aumenta a relação sinal-
ruído, visto que desde sua aquisição um maior nível de sinal será apresentado em toda a
transmissão do sinal, para os mesmo níveis de ruído externo.
Apesar das inúmeras vantagens apresentadas pelo uso de eletrodos ativos, existem
aplicações que não requerem o uso dessess, sendo suficiente a utilização de eletrodos
passivos, a exemplo da eletrocardiografia e em alguns casos na própria eletromiografia, para
registros da atividade dos músculos maiores dos membros. Alguns desses eletrodos podem ser
visualizados na Figura 4.6.
69
Figura 4.6 Eletrodos passivos
Fonte: BARBOSA, Kety Rosa. Metodologia para Classificação se Sinais EMG para Controle de Próteses.
Entretanto, quando o amplificador não se encontra próximo à superfície de
detecção algumas outras estratégias são usadas para a redução da impedância interface pele-
eletrodo. Técnicas como o uso de abrasivos na limpeza da pele, bem como realização da
tricotomia (raspagem dos pêlos) na região de posicionamento dos eletrodos são algumas das
estratégias usadas. Além dessas, o uso de gel ou pasta condutora, contendo cátion e ânions do
metal de fabricação do eletrodo para a potencialização das reações de oxidação e redução na
interface do eletrodo, podem também ser estratégias usadas na redução da impedância da pele.
A configuração escolhida para implementação no eletrodo desenvolvido neste
trabalho foi o uso de eletrodos ativos (ganho de 20 vezes), em configuração bipolar. Adotou-
se o uso de gel condutor contendo íons prata e cloreto de prata. Essas configurações foram
escolhidas dada a alta performance e tamanho reduzido da eletrônica moderna, de modo que
os eletrodos satisfaçam os requisitos supracitados sem necessidade de qualquer preparo
abrasivo da pele.
70
4.2 SENSORES DE MECANOMIOGRAFIA
Quando os músculos alvo de registro possuem dimensões reduzidas ou
simplesmente o número de fibras em atividade não é muito grande, o sinal mecânico
resultante dos movimentos dos sarcômeros de cada miofibrila possui baixa amplitude, o que
dificulta o processo de medição. Para tanto, um sistema de detecção bem sensível precisa ser
projetado, de forma que o sinal medido seja uma boa representação do fenômeno fisiológico
em questão.
Nesse sentido algumas características como sensibilidade, níveis de ruído
introduzidos nos sinais (devido aos componentes eletrônicos do sistema), largura de banda do
sinal, dimensões, devem ser criteriosamente analisadas na escolha do sensor a ser utilizado.
Uma busca dos sensores de acelerometria mais usados para o registro de mecanomiografia
será realizada, bem como uma comparação entre eles, para decidir qual sensor será escolhido
na construção do sensor, alvo deste projeto.
Ressalta-se que independentemente das características do acelerômetro escolhido,
cuidados especiais com o processo de coleta devem ser tomados, no sentido de introduzir o
mínimo possível de ruído ao sinal. Sinais fisiológicos como por exemplo os movimentos
respiratórios, batimento cardíaco, o movimento de piscada do olho ou mesmo o fluxo
sanguíneo são importantes geradores de ruído nos registro do sinal MMG. O protocolo de
coleta estabelecido deve evitar, sempre que possível, o registro de sinais de mecanomiografia
onde esses sinais possam deteriorar muito a relação sinal-ruído.
4.2.1 Características Elétricas Avaliadas para Escolha do Acelerômetro
A importância de algumas características elétricas essenciais à escolha do
acelerômetro usado nesse trabalho será inicialmente explicitada. Em seguida, uma tabela
comparativa entre os acelerômetros comumente usados em mecanomiografia será
apresentada.
71
No passado, uma limitação do processo de registro dos sinais MMG era as
dimensões físicas dos sensores de medida, cujos pesos e tamanhos poderiam interferir no
processo de contração muscular. Apesar de atualmente esta característica não ser um fator
limitante ao registro dos sinais MMG, sensores leves e de tamanho reduzidos devem ser
preferidos no registro desses sinais.
Em um comparativo com o sinal EMG, o sinal MMG apresenta uma faixa de
freqüência muito inferior ao sinal elétrico. Enquanto este último possui a maior parte de sua
energia concentrada até cerca de 500Hz, o sinal de MMG tem concentração de sua energia em
freqüências de até 25Hz. Assim para o registro de um sinal MMG de qualidade os
acelerômetros devem fornecer repostas em freqüências de até 60Hz.
Ressalta-se que existem duas principais contribuições para que essa freqüência
seja inferior. Primeiramente, tal fato pode ser explicado pela propagação mecânico do sinal
gerado no interior da fibra muscular até a superfície da pele, onde ele é registrado. Outra
possibilidade é em relação ao próprio registro da mecanomiografia. Quando iniciada uma
contração muscular no interior da fibra, uma vibração é iniciada. Entretanto o sensor na
superfície da pele registra como essa vibração afeta as células superficiais da pele. Essas
células por sua vez vibram por meio da movimentação das moléculas de água em seu
sarcoplasma [70], e portanto freqüências bastante inferiores a 500Hz são registradas.
Como anteriormente citado, os sinais de registro em MMG apresentam baixos
valores de amplitudes. Dessa forma se faz essencial uma alta sensibilidade dos sensores.
Quanto maior for essa sensibilidade, oscilações de menor amplitude podem ser registradas,
reproduzindo com mais precisão a vibração das fibras.
O mesmo critério usado para justificar a alta sensibilidade dos sensores, justifica o
cuidado com a inserção de ruídos pelo próprio acelerômetro. Se níveis altos de ruídos forem
inseridos, torna-se praticamente impossível discriminar se uma oscilação foi ou não
produzida.
Outro aspecto analisado foi a variedade de sinais de saída. Tem-se que os
acelerômetros podem registrar vibrações em diversos eixos. Existem aqueles que apresentam
variações em um, dois ou três eixos de oscilação. Quanto mais eixos forem avaliados, mais
informações podem ser extraídas, as quais podem ser usadas, por exemplo, para identificar e
tentar eliminar ruídos devido ao movimento do músculo avaliado.
72
No sentido de avaliar os critérios supracitados bem como outros critérios também
relevantes, a tabela 4.3 mostra um comparativo entre os acelerômetros mais comumente
presentes na literatura para registro de sinais MMG.
Tabela 4.3 Comparativo entre acelerômetros usados em registros de MMG
MMA 7260
ADXL 202
3031
ADXL 330
Tamanho
6mm x 6mm x 1,45mm
9,9mm x 10mm x 5,46mm
7,6mm x 7,6mm x 2,5mm
4mm x 4mm x 1,45mm
Banda
350 Hz
0,1 Hz - 5 kHz
-
550 Hz
Ruído
350 ug/Hz
½
500 ug/Hz
½
50 uV
350 ug/Hz
½
Corrente
500 uA
600 uA
800 uA
320 uA
Sensibilidade
800 mV/g @ 1,5g
312 mV/g
0,6 mV/g
300 mV/g
Sleep mode
3 uA
-
-
-
Sensibilidade
seletiva
1,5g/2g/4g/6g
2g/10g
-
-
Eixos
3
2
1
3
Devido às boas características do chip MMA7260 da Freescale, este foi
selecionado para o projeto em pauta, o qual objetiva a medição da acelerometria no sentido de
registrar sinais MMG. Fatores como a alta sensibilidade e baixos níveis de ruído foram
determinantes na escolha do uso deste circuito integrado.
A sua sensibilidade (a qual se mostra mais de duas vezes maior àquelas
apresentadas pelos outros acelerômetros) compensa a maior banda em freqüência apresentada
por outros CIs, visto que a banda apresentada pelo chip escolhido satisfaz as condições
necessárias ao registro de sinais mecanomiográficos (350Hz, enquanto a freqüência dos sinais
MMG medida é de até 60Hz). As dimensões apresentadas pelo CI escolhido, apesar de não
serem as menores encontradas, são suficientes para fazê-lo desprezível em termos de sua
influência na contração muscular, não se fazendo um aspecto considerável frente às vantagens
da alta sensibilidade. Enfatiza-se que essas dimensões foram inclusive bastante convenientes
para os processos manuais de soldagem utilizados.
Além dessas, propriedades como o baixo consumo de potência, bem como a
existência do sleepmode são também vantagens importantes do uso desse acelerômetro não só
em sensores, como também em sistemas embarcados em geral. A possibilidade de variação da
sensibilidade em vários níveis também diversifica as possibilidades de utilização do sensor.
A principal desvantagem da utilização deste circuito integrado foi o
encapsulamento no qual este é fornecido. Neste, os pinos se encontram na parte inferior, sob o
73
chip, impedindo o processo de soldagem por meio do uso de ferros de solda. Esse processo de
soldagem foi realizado usando sopradores térmicos auxiliados por termômetros, os quais
tentavam evitar a queima do chip por sobreaquecimento. Ainda assim foi encontrada
dificuldade no processo de identificação do sucesso desse processo de soldagem, visto a
dificuldade de acesso aos pinos do chip. Essa identificação foi conseguida somente pelo
sucesso dos testes de medição da acelerometria.
4.2.2 Condicionamento Requerido pelo Sistema
O condicionamento do sinal fornecido pelo acelerômetro se resume a
implementação de filtros passa-baixa na saída, para eliminação de ruídos de alta freqüência,
visto que o sinal vem condicionado. Os filtros implementados têm seu esquema
apresentado na Figura 4.7 e é sugerido na folha de dados do componente.
Figura 4.7 Esquema para implementação dos filtros
Fonte: Datasheet MMA7260 Freescale
74
Capítulo 5
Resultados e Validação
Após o desenvolvimento e a construção do sensor, segundo as características
citadas no capitulo 4, alguns testes foram realizados no sentido de realizar sua avaliação e
validação do sensor desenvolvido. Inicialmente serão mostrados os teste individuais
realizados para os sensores de eletromiografia e mecanomiografia, validando-os cada um em
sua proposta de medida. Posteriormente eles serão avaliados operando em conjunto em
diferentes situações.
5.1 SENSORES DE ELETROMIOGRAFIA
O sensor de eletromiografia construído, conforme descrito no capitulo anterior, se
constitue de dois eletrólitos confeccionados a partir de uma liga de prata-cloreto de prata, com
99% de pureza. Cada um os eletrólitos possui 1mm² de área (1mm de lado) e a distancia entre
eles mede 3mm. Os eletrodos são ativos, apresentando ganho de 20 vezes. O amplificador
utilizado apresenta CMRR superior a 120dB. Uma foto do mesmo é mostrada na Figura 5.1.
75
Figura 5.1 Sensor implementado
O equipamento usado para a aquisição e condicionamento do sinal coletado pelo
sensor foi o EMG411C, fabricado pela empresa EMG System do Brasil. Com relação à
amplificação, o sistema apresenta quatro chaves seletoras as quais variam o ganho que o
hardware aplicará sobre o sinal. Cada uma das chaves indica um dos seguintes valores: 10,
100, 300 e 600 vezes. O ganho pode, portanto, assumir quaisquer valores resultantes das
somas dessas constantes. O ganho usado na aquisição dos sinais aqui expostos foi de 1010
vezes (multiplicadas ao ganho de 20vezes do eletrodo ativo). Ressalta-se que o sistema
apresenta uma CMRR superior a 120dB. Com relação à implementação de filtros em
hardware, o sistema conta com um filtro Butterworth passa-faixa de segunda ordem com
freqüências de corte de 20 e 2000Hz. A Figura 5.2 mostra o sistema de aquisição usado.
Figura 5.2 Sistema de aquisição de dados utilizado
76
Deve-se ressaltar que tanto o sistema de condicionamento quanto o computador
utilizado nas coletas estavam sendo alimentados por baterias, de forma a evitar uma maior
influência dos ruídos da rede (pricipalmente 60Hz) no sinal coletado.
5.1.1 Músculos Analisados e Posicionamento dos Eletrodos
Os sensores desenvolvidos objetivam o registro de potenciais de ação. Salienta-se
que, como anteriormente referido, os registros de potenciais de ação de unidades motoras
através de eletromiografia de superfície podem ser realizados sob condições especificas: em
músculos pequenos e superficiais, ou submetidos a pequenos esforços. Assim, serão
realizadas coletas referentes à atividade dos músculos primeiro interósseo dorsal, mostrado na
Figura 5.3 a, responsável pela abdução do dedo indicador da mão e corrugador do supercílio,
ilustrado na Figura 5.3 b, os quais apresentam dimensões menores, e do músculo bíceps
braquial, apresentado na Figura 5.3 c, para que seja possível a comparação de performance
com outros sensores, sob condições de baixa atividade muscular ou não.
Figura 5.3 Localização anatômica dos músculos de atividade elétrica mensurada
Fonte: Modificado de http://www.clinicareabilitar.com.br/
a)
b)
c)
77
Com relação ao posicionamento dos eletrodos, independentemente do músculo
avaliado, este foi posicionado paralelamente às fibras musculares e na região do ventre
muscular, entre a zona de inervação e a junção miotendinosa para aumentar os níveis de
amplitude registrados [De Lucca 1994]
5.1.2 Registros dos Potenciais de Ação
Nesta subseção serão mostrados os registros analógicos e digitais dos potenciais
de ação dos músculos supracitados, bem como uma comparação desses sinais com suas
características apresentadas nas literaturas. O espectro de freqüência também secalculado
para verificação de que os sinais registrados são de fato eletromiografia.
A Figura 5.4 mostra o registro analógico de potenciais de ação resultantes da
atividade do primeiro interósseo dorsal, por meio do uso de um osciloscópio conectado à
saída analógica do condicionador de sinal.
Figura 5.4 Registro analógico de potenciais de ação do primeiro interósseo dorsal
78
A Figura 5.5 mostra sinais da atividade do músculo corrugador do supercílio, em
sua representação digital, após aplicação de um filtro passa-faixa Butterworth de ordem de
freqüências de corte de 20 e 500Hz.
10.45 10.5 10.55 10.6 10.65
-6
-4
-2
0
2
4
Tempo (s)
Tensão (V)
Figura 5.5 Registro digital de potenciais de ação do corrugador do supercílio
Os sinais registrados, tanto analógicos quanto digitais, mostram que os potenciais
de ação têm duração de aproximadamente 3ms e amplitudes que originalmente (eliminando o
ganho de aproximadamente 20.000 vezes aplicado) variam desde 25 a 200µV pico a pico.
Ressalta-e que variações na amplitude são esperadas, visto que entre diferentes indivíduos,
músculos mais profundos ou superficiais ou mesmo posicionamento do eletrodo em posições
distintas no músculo, podem alterar a impedância entre a membrana da fibra muscular e o
local de captação na superfície da pele. Isso se deve a, por exemplo, diferentes espessuras da
camada de gordura, concentração de pêlos no local de coleta, dentre outros fatores. São
também notórias as variações da amplitude do sinal registrado com a pressão do acoplamento
pele sensor (amplitudes aumentam com o aumento da pressão no acoplamento).
Pelas Figuras 5.4 e 5.5, se comparadas ao registro dos potenciais de unidades
motoras do músculo sartório apresentado na literatura, como ilustra a Figura 5.6, notam-se
semelhanças tanto na forma dos sinais apresentados quanto na duração. A Figura 5.7 mostra a
79
localização do músculo sartório, a partir do qual foram registrados os potenciais mostrados na
Figura 5.6.
Figura 5.6 Registro do potencial de ação de uma fibra muscular isolada do músculo Sartório
Fonte: BRONZINO, Joseph D. The Biomedical Engineering Handbook CRC Press LLC, 2000.
Figura 5.7 Localização do músculo Sartório
Essa duração dos potenciais de ação também apresenta variações entre músculos e
indivíduos, porém deve ficar na ordem de milissegundos. A superioridade de duração dos
sinais registrados pelo sensor em relação ao apresentado está relacionada ao número de fibras
visualizados pelo sensor. O sinal da literatura apresenta o registro de apenas uma fibra isolada
enquanto o sinal registrado é resultado do somatório do potencial de várias fibras. Como
anteriormente explicitado o aumento da duração do potencial de ação se principalmente
pelo aumento do número de fibras recrutadas.
Sartorio
80
Com relação ao espectro do sinal eletromiográfico, é sabido que a maior parte do
seu sinal se concentra em freqüências de até 500Hz. A Figura 5.8 mostra o espectro do sinal
mostrado na Figura 5.5, o qual possui sua banda de freqüência dentro daquelas esperadas para
o sinal eletromiográfico.
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
0
0.5
1
1.5
2
2.5
x 10
-3
Frequência (Hz)
Figura 5.8 Espectro do sinal eletromiográfico
5.1.3 Comparação de Eletrodos
Esta sessão se dedica a comparar a performance do eletrodo desenvolvido neste
trabalho com outro eletrodo já utilizado e comercializado. Para que a comparação fosse
realizada apenas entre os sensores propriamente ditos, todo o sistema de aquisição e
condicionamento bem como os próprios cabos e sistema de pré-amplificação no eletrodo
foram mantidos. Ressalta-se que o termo comparação é usado nesta sub-seção somente no que
se refere ao registro de potenciais de ação através de métodos não invasivos.
O eletrodo utilizado para a comparação foi o eletrodo adesivo descartável Solidor.
Este não precisa da adição de gel, visto que o mesmo é inserido no processo de fabricação
do eletrodo. O eletrodo tem forma circular e 1,5 cm de raio como mostrado na Figura 5.9.
Para a configuração bipolar, a distancia inter-eletrodo usada foi de 4cm.
81
Figura 5.9 Eletrodo adesivo descartável
Ambos os eletrodos foram posicionados no ventre muscular do músculo bíceps
braquial, como mostra a Figura 5.9, e os registros do sinal eletromiográfico de ambos os
eletrodos foram realizados simultaneamente. O músculo bíceps foi escolhido para permitir a
realização dos testes usando os eletrodos descartáveis, que o tamanho dos mesmos limita o
seu registro a músculos de dimensões maiores.
Foram realizadas contrações isométricas voluntárias, inicialmente a baixos níveis
de ativação muscular (a partir da realização de baixos esforços), e em seguida em contração
máxima.
Figura 5.10 Posicionamento dos eletrodos
A Figura 5.11 mostra o sinal coletado pelos eletrodos desenvolvido e descartável
em condições de contração voluntaria, intercalando situações de baixos e altos indices de
82
contração muscular. A Figura 5.12 mostra um trecho amplificado (“zoom”) do sinal mostrado
na Figura 5.11, o qual representa uma contração muscular a baixos níveis de ativação.
0 5 10 15 20 25 30
-20
-10
0
10
20
Tempo (s)
EMG (V)
Sensor Descartavel
0 5 10 15 20 25 30
-10
-5
0
5
10
Tempo (s)
EMG (V)
Sensor Desenvolvido
Figura 5.11 Sinal eletromiográfico amostrado por intermédio dos eletrodos desenvolvido e
descartável comercial
2.295 2.3 2.305 2.31 2.315 2.32 2.325 2.33
x 10
4
-3
-2
-1
0
1
2
3
Numero de Amostras
Amplitude sinal EMG (Volts)
Eletrodo Descartavel
Eletrodo Desenvolvido
Figura 5.12 Ampliação da área de baixa contração da Figura 5.10
83
a Figura 5.13 é análoga às Figuras 5.11 e 5.12, porém para condições de
contração voluntaria máxima.
0 5 10 15 20 25 30
-5
0
5
Tempo (s)
EMG (V)
Sensor Desenvolvido
0 5 10 15 20 25 30
-10
-5
0
5
10
Tempo (s)
EMG (V)
Sensor Descartavel
Figura 5.13 Sinal eletromiográfico amostrado por intermédio dos eletrodos desenvolvido e
descartável comercial em condições de contração voluntária máxima
Em condições de baixos esforços nota-se que o sensor desenvolvido permite a
visualização com clareza dos potenciais de ação, enquanto que com o eletrodo adesivo essa
não é possível. Isto se deve ao fato de que a área ativa de captação desse segundo eletrodo se
mostra bem superior à do primeiro, visualizando dessa forma mais unidades motoras as quais
tem seus potenciais de ação somados. Dessa forma, torna-se mais difícil a visualização de
potenciais individuais usando o segundo eletrodo.
Já em relação ao registro em condições de contração máxima voluntária, ambos os
eletrodos apresentam resultados semelhantes. Entretanto valores menores de amplitudes são
registrados para o eletrodo desenvolvido, visto que o sinal por este aquisicionado representa a
atividade muscular de um grupo menor de fibras.
Assim como observado para as amplitudes, os espectros desses sinais se mostram
dentro do esperado em termos de eletromiografia de superfície (até 500Hz), como pode ser
notado na Figura 5.14. Entretanto o sinal registrado pelo sensor desenvolvido apresenta um
84
espalhamento espectral, tendo sua energia concentrada até em torno de 400Hz, ao contrario do
sinal registrado pelo eletrodo descartável, que como esperado tem sua energia concentrada
entre 50 e 150Hz.
Acredita-se, que assim como em registros de eletroneuromiografia (através de
eletrodos de agulha), a banda de freqüência desse sinal seja maior devido às mesmas
influências do registro individual de potenciais de ação de unidade motora sofridas pela
própria eletroneuromiografia.
0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000
0
0.02
0.04
0.06
0.08
PSD
Eletrodo Descartavel
0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000
0
0.002
0.004
0.006
0.008
0.01
Frequencias (Hz)
PSD
Eletrodo Desenvolvido
Figura 5.14 Espectro dos sinais eletromiográficos registrados a partir dos eletrodos
desenvolvido e descartável
5.2 SENSORES DE MECANOMIOGRAFIA
Como citado nas seções anteriores deste trabalho, existem diversos tipos de
transdutores usados para o registro de sinais mecanomiográficos. Considerando que os
sensores de acelerometria apresentam vantagens devido à sua facilidade de comparação de
resultados com aqueles apresentados na literatura, esse tipo de transdutor foi o escolhido para
implementação neste projeto.
85
Dessa forma, para se escolher o melhor transdutor para colher esses sinais
vibracionais dos músculos, fatores como nível de ruído, banda de freqüência e principalmente
sensibilidade dos sensores levaram à escolha do chip MMA 7260 do fabricante Freescale.
Assim, na tentativa de avaliar a performance desse sensor, primeiramente os seus
níveis de precisão foram calculados a partir da realização de experimentos físicos. Em seguida
esse sensor foi avaliado em termos de seus registros de mecanomiografia, os quais serão
detalhados nas subseções seguintes.
5.2.1 Medição do Erro de Registro
Para que fosse possível comparar os valores esperados de acelerometria com os
valores medidos, foram realizados experimentos físicos, nos quais a aceleração envolvida era
conhecida, tornando assim possível a determinação dos valores de erro de medida desse
acelerômetro usado. O experimento realizado constitui-se de um movimento de queda livre de
um corpo rígido, no qual a aceleração envolvida seria apenas a aceleração da gravidade.
O corpo rígido usado nos experimentos era constituído de uma caixa, cujo interior
foi preenchido com areia. A caixa era revestida internamente com papel filme e sua massa era
de 835 gramas. Na realização dos experimentos o corpo foi abandonado de uma altura de
70cm.
O experimento foi realizado para cada eixo medido pelo acelerômetro, em cada
uma de suas sensibilidades, visto que o acelerômetro usado registra variações de
acelerometria em três eixos e possui 4 valores distintos de sensibilidade. Três coletas
sucessivas foram realizadas para cada eixo e sensibilidade, totalizando um montante de 36
sinais, e as médias entre as sucessivas coletas foram calculadas.
Os sinais apresentados nas Figuras 5.15, 5.16 e 5.17 representam os sinais de
aceleração medidos para cada um dos eixos, em algumas das sensibilidades apresentadas pelo
transdutor.
86
0 0.2 0.4 0.6 0.8
-2
-1.5
-1
-0.5
0
0.5
1
1.5
2
0 0.2 0.4 0.6 0.8
-2
-1.5
-1
-0.5
0
0.5
1
1.5
2
0 0.2 0.4 0.6 0.8
-2
-1.5
-1
-0.5
0
0.5
1
1.5
2
Aceleração (g)
Eixo x
Eixo zEixo y
Tempo (s)
Figura 5.15 Sinais de aceleração medidos no eixo x, sensibilidade 1,5g
0 0.2 0.4 0.6 0.8
-2
-1.5
-1
-0.5
0
0.5
1
1.5
2
0 0.2 0.4 0.6 0.8
-2
-1.5
-1
-0.5
0
0.5
1
1.5
2
0 0.2 0.4 0.6 0.8
-2
-1.5
-1
-0.5
0
0.5
1
1.5
2
Aceleração (g)
Eixo x
Eixo zEixo y
Tempo (s)
Figura 5.16 Sinais de aceleração medidos no eixo y, sensibilidade 4g
0 0.2 0.4 0.6 0.8
-2
-1.5
-1
-0.5
0
0.5
1
1.5
2
0 0.2 0.4 0.6 0.8
-2
-1.5
-1
-0.5
0
0.5
1
1.5
2
0 0.2 0.4 0.6 0.8
-2
-1.5
-1
-0.5
0
0.5
1
1.5
2
Aceleração (g)
Eixo x
Eixo zEixo y
Tempo (s)
Figura 5.17 Sinais de aceleração medidos no eixo z, sensibilidade 6g
A aceleração de cada sinal foi calculada pela subtração da média do sinal em
repouso pela média do sinal em queda livre e, os resultados obtidos são mostrados na tabela
5.1.
87
Tabela 5.1 Cálculo da aceleração em experimentos de queda livre
Sesibilidade
Eixo
Desvio Padrão
Média do
Desvio
Média
Média Geral
1,5g
X
0,0209
0,0214
0,0224
0,021566667
0,9955
1,015
0,9955
1,002
Y
0,0139
0,0218
0,021
0,0189
1,0075
1,0119
0,9987
1,006033333
Z
0,021
0,0196
0,0142
0,018266667
0,9938
1,0153
1,0049
1,004666667
2g
X
0,0191
0,0225
0,0232
0,0216
1,0239
0,989
0,9976
1,0035
Y
0,0187
0,0122
0,0173
0,016066667
0,9971
0,9965
1,0051
0,999566667
Z
0,0101
0,0176
0,0121
0,013266667
0,9986
1,0081
1,0069
1,004533333
4g
X
0,0285
0,0286
0,026
0,0277
1,0057
0,991
0,9862
0,9943
Y
0,1985
0,022
0,0232
0,081233333
0,9589
1,021
1,0229
1,000933333
Z
0,0184
0,0198
0,0202
0,019466667
1,0176
1,0105
1,0226
1,0169
6g
X
0,0326
0,03
0,0343
0,0323
0,9869
1,0224
0,9879
0,999066667
Y
0,0223
0,022
0,0225
0,022266667
1,0124
1,0207
1,0082
1,013766667
Z
0,0194
0,0167
0,025
0,020366667
1,0122
1,0144
1,0011
1,009233333
0,026083333
1,004541667
Da Tabela 5.1 verifica-se que, de forma geral, as variações em termos de
sensibilidade e eixo de medida não foram significantes para o calculo do erro. Nesse sentido,
a partir do cálculo da média entre todos os experimentos realizados, constatou-se que o valor
do erro de medida desse acelerômetro foi de 1g ± 0,026 (média ± desvio padrão). Esse valor
indica que o desvio padrão das medidas foi de 2,6% o qual se mostra pouco representativo.
Vale ressaltar que o intervalo 1g ± 0,026 engloba em torno de 68,26% dos valores medidos,
aproximando-se os valores obtidos no experimento realizado por uma curva normal, conforme
o Teorema Central do Limite.
5.2.2 Registros de Mecanomiografia
Os registros de mecanografia foram inicialmente coletados no músculo bíceps
braquial. A contração voluntária desse músculo foi avaliada e os resultados tanto no domínio
do tempo quanto da freqüência podem ser visualizados na Figura 5.18. Simultaneamente
foram registrados sinais eletromiográficos (usando os eletrodos descartáveis supracitados),
somente para identificar os períodos de atividade muscular.
88
500 1000 1500 2000 2500 3000
-0.8
-0.6
-0.4
-0.2
0
0.2
0.4
0.6
0.8
1
Numero de amostras
Volts
EMG
MMG
Figura 5.18 Registro simultâneo de eletromiografia e mecanomiografia
Deve-se ressaltar que existe uma latência entre os registros dos sinais
eletromiograficos e mecanomiograficos. Entretanto, essa latência foi eliminada somente a
titulo de melhor visualização dos sinais. Além disso, os sinais eletromiográficos mostrados
foram normalizados.
0 10 20 30 40 50 60
1
2
3
4
5
6
7
x 10
-6
Frequências (Hz)
PSD
Figura 5.19 Espectro do sinal mecanomiografico
Com relação ao espectro de freqüência, mostrado na Figura 5.19, nota-se uma
concentração do sinal até a freqüência de até 20Hz, freqüência essa inferior a 60Hz. Na
literatura é descrito que o sinal de MMG possui freqüências máximas de cerca de 60Hz. Vale
ressaltar que a freqüência de amostragem utilizada para a coleta do sinal MMG foi de 125Hz.
89
O registro desses sinais será apresentado em outras situações usando o sensor
hibrido.
5.3 SENSOR HÍBRIDO DE ELETROMIOGRAFIA E MECANOMIOGRAFIA
validados individualmente os sensores de eletromiografia e mecanomiografia
utilizados, serão apresentados registros de potenciais de ação de uma unidade motora através
do uso do sensor híbrido, o qual reúne os dois transdutores supracitados.
O registro de potenciais de ação foi realizado usando esse sensor híbrido
posicionado no músculo bíceps braquial, enquanto esse realiza movimentos de pequena
amplitude, o que implica em uma baixa atividade muscular. Os resultados tanto da
eletromiografia quanto acelerometria são apresentados nas Figuras 5.20 e 5.21. Ressalta-se
que a Figura 5.21 apresenta uma amplificação “zoom” de uma parte do sinal mostrado na
Figura 5.20. Também, observa-se que a Figura 5.21 apresenta do lado direito uma
amplificação “zoom” de uma parcela especifica de parte dos sinais ilustrados em seu lado
esquerdo.
1000 1500 2000 2500 3000 3500
-0.4
-0.2
0
0.2
0.4
0.6
Numero de Amostras
Volts
EMG
MMG
Figura 5.20 Registros de EMG e MMG usando o sensor hibrido
90
4.12 4.13 4.14 4.15 4.16 4.17 4.18
x 10
4
-2
0
2
4
2560 2570 2580 2590 2600
-0.05
0
0.05
0.1
0.15
3.6 3.8 4 4.2
x 10
4
-2
0
2
Amplitude (V)
2200 2300 2400 2500 2600 2700
0
0.1
0.2
Numero de Amostras
Figura 5.21 Registros de potenciais de ação através do uso do sensor híbrido
91
Capítulo 6
Conclusões e Trabalhos Futuros
6.1 CONCLUSÕES
Neste trabalho foi desenvolvido um sensor híbrido de eletromiografia e
mecanomiografia, com o objetivo de registrar potenciais de ação de uma unidade motora
através de métodos não invasivos. Para tanto foram avaliados critérios construtivos do sensor
de eletromiografia bem como justificada a seleção de um chip de mecanomiografia com
relação àqueles usados na literatura para tal registro.
O sensor implementado mostrou-se capaz de detectar potenciais de ação, em
músculos superficiais sob condições de baixa atividade muscular, conforme apresentado na
sessão de resultados.
Com relação à eletromiografia, seu registro foi validado inicialmente através da
comparação da morfologia do sinal registrado com o apresentado na literatura específica. Em
termos espectrais, essa validação também foi possível. Quanto à mecanomiografia, os
potenciais de ação também foram percebidos. Além disso, a validação espectral para esse
registro também foi verificada.
92
Com relação ao sensor hibrido, sua construção foi justificada pela necessidade da
aplicação em detecção de potenciais de ação em presença de eletroestimulação, na qual as
informações dos registros de EMG e MMG se complementam na detecção dos potenciais de
ação.
Devido à maior sensibilidade do sensor de MMG se comparado ao EMG,
registros de atividade muscular de baixas intensidades passam a ser observadas com maior
clareza. Visto que para o registro de potenciais de ação o músculo deve se encontrar em
condições de baixa atividade muscular, na qual poucas fibras musculares são recrutadas, o
registro mais sensível dado pela mecanomiografia pode se mostrar um diferencial aos
registros não invasivos de potenciais de ação.
Com a implementação deste sensor hibrido, ressalta-se também o
desenvolvimento de um sensor que propicia um maior número de registros, os quais podem
ser usados como entrada de algum sistema a ser controlado. Visto que este sensor fornece
mais de um tipo de sinal, os mesmos podem ser usados tanto como diferentes sinais de
controle desse sistema, como também em conjunto de maneira a confirmar informações
através de técnicas de redundância.
O sensor desenvolvido pode também ser utilizado no monitoramento de atividades
do dia-a-dia, analisando os movimentos realizados no sentido de detectar disfunções, por
exemplo, verificação dos níveis de tremor para definição do estagio da doença.
Dessa maneira, os resultados obtidos, bem como as inúmeras possibilidades de
aplicação deste sensor, elucidam o potencial do sensor desenvolvido.
6.2 TRABALHOS FUTUROS
Ainda que a viabilidade de utilização do sensor para o registro de potenciais de
ação tenha sido verificada, algumas comparações para avaliação de sua performance com
relação ao eletrodos invasivos poderia ainda ser realizada.
Na literatura, verifica-se o estudo da mecanomiografia principalmente na direção
perpendicular às fibras musculares. Seria interessante sua verificação também nos dois outros
eixos medidos pelo sensor de acelerometria usados, visto que a atividade muscular implica em
93
um movimento dos sarcômeros da direção das fibras, bem como um aumento do volume
muscular, quando este se encontra contraído. Essas alterações podem ser verificadas e
analisadas.
Na literatura encontra-se estudos os quais mostram a menor variabilidade da
amplitude do sinal mecanomiografico entre indivíduos. Dessa forma, seria interessante
verificar a relação entre mecanomiografia e força, e sua variabilidade entre indivíduos.
Visto a potencialidade da utilização da mecanomiografia e eletromiografia no
registro da onda M, seria interessante o estudo simultâneo de ambos, considerando variações
na amplitude e latência entre os dos sinais, para estudos da dor.
94
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