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Não vejo outro caminho para a dramaturgia voltada para os problemas de
nossa gente, refletindo uma realidade objetiva do que uma definição clara ao
lado do proletariado, das massas exploradas. [...] Não há meios de fugirmos
a uma definição político-ideológica se quisermos realmente, como artistas,
expressar com exatidão o meio em que vivemos. (GUARNIERI, 1981, p. 07)
Gianfrancesco Guarnieri entrou no Arena em 1956, quando o Teatro Paulista
do Estudante (TPE), fundiu-se a ele. O TPE era um grupo amador integrado por
estudantes secundaristas e universitários, do qual Guarnieri era o presidente. Este
grupo tinha uma concepção de cultura, que tinha como base os problemas sociais,
políticos e econômicos, articulado com a política cultural do Partido Comunista
Brasileiro, propunha a união entre o teatro e a militância política. Um teatro
desalienante, popular e nacional. Conforme afirmou Guarnieri:
O Arena surgiu da Escola de Arte Dramática, em 1952, da primeira turma de
formados. Agora, a modificação que eu acho que houve, interna e de
conteúdo, no Teatro de Arena, veio quando o Teatro de Arena se fundiu com
o teatro Paulista do Estudante. Esse Teatro foi fundado como resultado de
uma discussão muito grande da Juventude Comunista e do Partido
Comunista a respeito da atuação de seus membros, de sua militância no
campo cultural e no movimento estudantil [...] (GUARNIERI, 2001, p. 64).
Com a montagem da peça Eles Não Usam Black-Tie, em 1958, tem início
uma nova fase no Teatro Arena. A peça foi não só um inesperado sucesso como
também a salvação do Teatro de Arena de São Paulo que estava à beira do colapso
financeiro. Segundo Guarnieri, a peça surgiu de jorro, conforme o diálogo era posto
no papel, os personagens apareciam de repente, iam criando forma e a história
pouco a pouco se estendia e formava sentido. [...] Black-Tie (a peça) parte de uma
visão romântica do mundo. A história desenvolve-se em uma favela, que pela
primeira vez, deixou de lado o aspecto exótico, e apresentou a dura realidade da
periferia. A história se atém ao cotidiano de uma família de operários, os problemas
familiares, o envolvimento da personagem Otávio com o movimento operário e o
PCB (Partido Comunista do Brasil), suas divergências ideológicas com o filho Tião, a