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da imprensa em torno de delitos que ocorrem em áreas nobres exerce certa pressão sobre a
polícia, contribuindo para a concentração do policiamento nesses espaços. Conforme os
depoimentos abaixo,
[...] a repercussão pública só acontece na área nobre. [...]. Digamos que na
Palitolândia [favela na periferia] entram na casa de uma senhora e roubam
tudo o que ela tem. Ela não tem muita coisa, mas o pouco que ela tem é
muito pra ela. Então [...] se roubarem o que ela tem, aquilo ali não vai ser
repercutido de maneira alguma, ninguém nem vai ficar sabendo, só nós aqui
da polícia, só vai entrar na estatística. Agora, se entrarem na casa de uma
pessoa rica da zona leste, todo mundo vai ficar sabendo, e vai ser manchete
de jornal [...]. Então, a área que mais necessita da polícia é a área da
população carente. Essa é que merecia ter uma atenção especial. (Capitão
PM 2).
Nós que estamos na rua, e que realmente sabemos da situação, a gente tenta
atender a todos da forma mais adequada possível, tanto aqueles de nível mais
abastado quanto do nível mais baixo possível. Só que a gente percebe que,
muitas vezes, até por parte da própria imprensa, até por parte de outros... de
outros órgãos do Estado que... Acaba-se observando que um roubo que
acontece numa casa de determinado cidadão, que é mais abastado, tem uma
repercussão muito maior do que um roubo de um cidadão de uma
comunidade pobre, porque o que acontece é que essa repercussão acaba de
certa forma atingindo a polícia porque, por exemplo, o pessoal da
comunidade pobre quase toda semana é roubado, quase durante toda semana
ocorre algum tipo de ato ilícito lá. Só que não é mostrado, não é divulgado,
não há uma revolta por parte da comunidade tão grande como se, por
exemplo, ocorresse uma entrada na casa de um cidadão da área nobre. Então,
essa é a grande diferença e esse é um dos grandes problemas que a gente
enfrenta aqui. Isso acaba repercutindo, não vou deixar de dizer, acaba
repercutindo justamente na forma de policiamento muitas vezes. Às vezes,
inclusive, é dada uma atenção maior, por exemplo, na área nobre há
situações onde há possibilidade de roubo devido às circunstâncias, devido à
situação de fluxo de dinheiro, é muito maior, por exemplo, em porta de
banco, acaba tendo uma atenção maior do que, por exemplo, numa
comunidade dessas. A gente só acaba se voltando pra lá, às vezes, quando
tem, por exemplo, um assalto, quando acontece uma situação que, realmente,
não é uma informação certa, e não faz o policiamento rotineiro como deveria
ser feito, justamente pela questão da necessidade de recursos que, muitas
vezes, a gente não tem, falta de viatura, falta de policiamento que, às vezes,
dê para atender a todas as áreas. Aí, acaba se voltando mais pela questão da
própria repercussão. Nas comunidades pobres, quase diariamente, tem um
assalto, determinadas situações, mas vá perceber a repercussão que dá!? Na
área nobre, com certeza, é muito maior! E a força... a força que o pessoal...
por ser mais esclarecido, por ser mais educado, e até por ter uma noção
assim de saber reclamar até maior do que as comunidades pobres, não
menosprezando, claro, acaba tendo uma força muito maior de tentar utilizar
isso a seu benefício, porque a segurança é pra todos, mas só que eles sabem
de uma forma mais adequada, vamos dizer assim, de uma forma mais forte,
exigir esse direito à segurança, que a gente acaba... nós da polícia militar
acaba oferecendo a toda a comunidade, mais especificamente... esse é um
grande problema também. (Tenente PM 2)