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DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR:
DILEMAS E DESAFIOS D O PROFESSOR INICIANT E
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2009
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OELHO
DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR:
DILEMAS E DESAFIOS D O PROFESSOR INICIANT E
Dissertação apresentada ao Programa de
Mestrado em Educação da Universidade
Estadual de Londrina, como requisito para
a obtenção do título de Mestre.
Orientadora: Profª. Dra. Maura Maria
Morita Vasconcellos
Londrina – Paraná
2009
Catalogação na publicação elaborada pela Divisão de Processos Técnicos da
Biblioteca Central da Universidade Estadual de Londrina .
Dados Internacionais de Catalogação -na-Publicação (CIP)
C672d Coelho, Emilia Aparecida Durães.
Docência no ensino superior : dilemas e desafios do professor
iniciante / Emilia Aparecida Durães Coelho. Londrina, 2009.
218 f.
Orientador: Maura Maria Morita Vasconcellos.
Dissertação (Mestrado em Educação)
Universidade Estadual de
Londrina, Centro de Educação, Comunicação e Artes, Programa de Pós -
Graduação em Educação, 2009.
Inclui bibliografia.
1. Ensino superior Formação de professores Teses. 2. Professores
iniciantes Ensino superior Teses. I. Vasconcellos, Maura Maria
Morita. II. Universidade Estadual de Londrina. Centro de Educação,
Comunicação e Artes. Programa de Pós -Graduação em Educação.
III. Título.
CDU 371.13
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ILEMAS E DESAFIOS DO PROFESSOR INICIANTE
Dissertação apresentada ao Programa
de Mestrado em Educação da
Universidade Estadual de Londrina,
como requisito para a obtenção do
título de Mestre.
COMISSÃO EXAMINADORA
:
__________________________________
Profª. Dra. Maura Maria M. Vasconcellos
UEL - Londrina - PR
_______________________________
Profª. Drª.Mara Regina Lemes de Sordi
Unicamp - Campinas - SP
Profª. Drª. Neusi Aparecida N. Berbel
UEL - Londrina - PR
Londrina, _____ de ______________ de 2009.
AGRADECIMENTOS
Agradeço, primeiramente, a Deus por me fortalecer
e me conduzir nesta caminhada.
À minha família que em muitos momentos
soube compreender a minha ausência.
Às professoras Draª. Mara Regina Leme de Sordi
e Draª. Neusi Aparecida Navas Berbel
pelas importantes sugestões no momento da qualificação.
À professora Dra. Maura Maria Morita Vasconcellos
por sua orientação e sugestões indispensáveis
auxiliando no direcionamento do trabalho.
Aos professores participantes da pesquisa
que acreditaram na proposta do estudo
.
COELHO, Emilia Aparecida Durães.
Docência no ensino superior:
dilemas e desafios do
professor iniciante. 2009. 218f. Dissertação (Mestrado em Educação) Universidade
Estadual de Londrina, Londrina.
RESUMO
O foco deste trabalho é sobre a constituição da docência universitária dos professores
iniciantes no ensino superior. A pesquisa é de cunho qualitativo e desenvolveu -se em torno
do seguinte problema: quais são os problemas/desafios enfrentados pelo professor no início
da docência no ensino superior? O objetivo geral foi analisar o processo de desenvolvimento
profissional do professor iniciante no ensino superior, identificando problemas e desafios
vivenciados, tendo em vista o aprimoramento da atuação docente neste nível de ensino.
Para isso, recorremos a um estudo exploratório -descritivo, com consulta aos professores
com até cinco anos de docência no magistério superior de uma instituição privada da região
de Londrina, por meio de questionários e entrevistas. A discussão e análise dos aspectos
relevantes dos dados pelo método hermenêutico -dialético revelaram que o início da
docência possui características próprias e merece atenção na constituição da formação
docente. Os docentes sentem falta de uma formação pedagógica específica para o ensino
superior e reconhecem a necessidade de continuar a formação na pós-graduação. Além
disso, indicam como problemas ou desafios, entre outras questões, a necessidade de:
vencer a insegurança que a falta de experiência gera; desenvolver uma autonomia docente;
administrar melhor o tempo na sala de aula; dedica r mais tempo ao preparo de aulas ;
aprender a lidar com a heterogeneidade e diversidade dos alunos que chegam hoje aos
bancos escolares, e com salas de aula numerosas; superar dificuldades em relação à
avaliação da aprendizagem e, ainda, a necessidade de dialogar com os pares para
compartilhar experiências e aprendizagens. Destacaram também as dificuldades geradas
pela questão salarial em nosso país. O estudo realizado enfatizou que a autonomia docente
é um processo em construção e se desenvolve com a experi ência adquirida no exercício da
própria docência. Confirmou também a necessidade de uma formação pedagógica
específica para atuar no ensino superior, desde o início da carreira, bem como a
continuidade dessa formação para a qualidade do ensino.
Palavras -chave: ensino superior, professores iniciantes, formação pedagógica.
COELHO, Emilia Aparecida Durães.
Teaching in higher education:
dilemmas and
challenges of the novice teacher. 2009. 218f. Dissertation (Master's Education) -– University
State of Londrina, Londrina.
ABSTRACT
The focus of this study is on the constitution of university teachers starting their higher
education teaching career. The qualitative research was developed around the following
question: What are the problems/challenges face d by teachers in the beginning of their
higher education teaching career? The general objective of this study was to analyze the
professional development process of teachers starting their higher education teaching
career, by identifying problems and chall enges experienced, to improve teachers
performance at this level. In order to achieve this goal, we reported to a descriptive -
exploratory study consulting college teachers with a five year -experience of teaching in a
private institution from the region of Londrina through questionnaires and interviews.
Discussion and analysis of the elevant aspects of the data collected by the hermeneutic -
dialectic method showed that since the very beginning, higher education teaching has
specific characteristics and thus deserves close attention. Teachers miss a specific
pedagogic education for higher education and acknowledge the need to continue with their
studies at the graduate level. Moreover, it pointed out as problems and challenges, among
others, the need to overcome the felling of insecurity generated by lack of experience; to
develop teaching autonomy; to dedicate more time to class preparation ; to manage
classroom time and to learn to get along with the heterogeneity and diversity of those who
come to school, to deal with overcrowded classrooms; to overcome difficulties related to the
assessment of learning contents and, last but not least, the need to have a dialogue with his
/her peers in order to share teaching and learning experiences. Results also emp hasized the
difficulties generated by the wages question in our country. This study has also pointed out
that teacher’s autonomy is a process and is developed through experience gained by his/her
own teaching. It also confirmed the need for a specific high er education pedagogic education
since the beginning of their careers as well as the continuity of this education for the quality
of teaching.
Key-words: higher education, novice teachers, pedagogic development.
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Termos utilizados para a formação continuada de professores .................... 77
Quadro 2: Distribuição de gênero e idade dos docentes ................................ ............... 91
Quadro 3: Distribuição da titulação dos docentes iniciantes ................................ ..........94
Quadro 4: Distribuição dos dados coletados de ingresso na docência .......................... 96
Quadro 5: Principais problemas/desafios para um docente iniciante no ensino superior
................................ ................................ ................................ .................. 116
Quadro 6: Distribuição das respostas no que se refere à ajuda da instituição com
sugestões para a qualidade no ensino superior ................................ ......... 117
Quadro 7: Distribuição das respostas no que se refere a ajuda da
Instituição com sugestões para qualidade no Ensino Superior .................. 175
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ADM Administração
ANPEd Associação Nacional de Pós -Graduação e Pesquisa em Educação
BM Banco Mundial
CAPES Coordenação de Aperfeiçoamen to de Pessoal de Ensino Superior
CAPES Campanha Nacional de Aperfeiçoamento de Pessoa de Nível Superior
CES Conselho de Educação Superior
CFE Conselho Federal de Educação
CNE Conselho Nacional de Educação
CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Cient ífico e Tecnológico
DEAES Diretoria de Estatísticas e Avaliação da Educação Superior
ENDIPE Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino
EUA Estados Unidos da América
FAPESP Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
FIES Financiamento Estudantil
FORGRAD Fórum Brasileiro de Pró -Reitores de Graduação
ICMS Imposto de Circulação sobre Mercadorias e Serviços
IES Instituição de Educação Superior
IFES Instituições Federais de Ensino Superior
INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacio nais
LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
MEC Ministério da Educação e Cultura
OMC Organização Mundial do Comércio
PPP Parceria Público Privada
PPP Projeto Político Pedagógico
PROUNI Programa Universidade para todos
SBPC Sociedade Brasileira para O Progresso da Ciência
SESU Secretaria da Educação Superior
SINAES Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior
UDF Universidade do Distrito Federal
UEL Universidade Estadual de Londrina
UNE União Nacional dos Estudantes
USAID Agência Americana para o desenvolvimento Internacional
USP Universidade de São Paulo
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
................................ ................................ ................................ .............. 09
CAPÍTULO 1 - ENSINO SUPERIOR: UM DIFÍCIL COMEÇO
................................ ..... 17
1.1 A P
RIMEIRA
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NIVERSIDADE
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RASILEIRA
– USP E O
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ENTROS
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E
P
ESQUISA
............ 21
1.2 E
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................................ .... 24
1.3 F
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D
EAL
................................ ................................ ................................ ................ 28
CAPÍTULO 2 - O PROFESSOR INICIANTE NO ENSINO SUPERIOR E A
CONSTITUIÇÃO DA DOCÊNCIA UNIVERSITÁRIA
................................ ............46
2.1 O P
ROFESSOR
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NICIANTE
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S
UPERIOR
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ROCESSO
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E
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ESENVOLVIMENTO
D
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ROFISSIONAL
................................ .................... 54
2.2 O P
APEL
D
A
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ORMAÇÃO
C
ONTINUADA
N
A
C
ONSTITUIÇÃO
D
A
D
OCÊNCIA
U
NIVERSITÁRIA
................................ ................................ ................................ .......62
CAPÍTULO 3 - O CONTEXTO DA PESQUISA: SEU CENÁRIO, SEUS
PROTAGONISTAS, SEU S DILEMAS E DESAFIOS
................................ ...........81
3.1 R
ECORTE
D
O
E
STUDO
................................ ................................ .............................. 86
CAPÍTULO 4 - DILEMAS E DESAFIOS DE PROFESSORES INICIANTES NO
ENSINO SUPERIOR: REFLEXÕES PERTINENTES
................................ .........89
4.1 D
ISCUTINDO AS FALAS
,
OS MEDOS
,
OS ANSEIOS
...
................................ ...................... 183
4.2 D
ESAFIOS
D
A
F
ORMAÇÃO
D
O
E
NSINO
S
UPERIOR
: A
LGUNS
C
AMINHOS
........................ 187
CONSIDERAÇÕES FINAIS
................................ ................................ .......................... 193
REFERÊNCIAS
................................ ................................ ................................ ............200
APÊNDICES
................................ ................................ ................................ ................211
A
PÊNDICE
A – C
ARTA
A
O
D
IRETOR
D
A
I
NSTITUIÇÃO
................................ ........................ 212
A
PÊNDICE
B – Q
UESTIONÁRIO
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ROFESSORES
D
A
I
NSTITUIÇÃO
..........213
A
PÊNDICE
C – T
ERMO DE
C
ONSENTIMENTO
E
SCLARECIDO
................................ ................. 217
A
PÊNDICE
D – R
OTEIRO
D
E
E
NTREVISTA
S
EMI
-E
STRUTURADA
................................ ...........218
9
9
INTRODUÇÃO
O presente estudo teve como referência os questionamentos que
fazíamos em relação à nossa trajetória pessoal e profissional, quando iniciamos
atividades docentes no ensino super ior.
Ao término da graduação, buscamos dar continuidade aos estudos
realizando uma pós-graduação e, cada vez mais, percebíamos a necessidade de
constantes estudos, isto é, quanto mais nós estudávamos mais percebíamos que
precisávamos continuar. Assim, cur sar o mestrado estava entre nossos ideais.
No entanto, antes de concretizar esse objetivo, iniciamos atividades
docentes na educação superior, a convite de uma ex -professora. Os dilemas
começaram então a surgir porque o desejo de realizar um bom trabal ho não
sustentava a necessária qualificação para a ação docente.
O receio de o realizar um bom trabalho e a vontade de ensinar de
modo que os alunos aprendessem nos faziam pensar: como adquirir experiência
sem vivenciar o cotidiano da sala de aula? Esse questionamento nos levou a Dewey:
“Não se pode conhecer sem agir, não se pode agir sem conhecer“ ( apud ALARCÃO,
2000, p. 179). E também a Freire (2007, p.23): “não há docência sem discência”.
O sentimento que nos acometeu, ao iniciar a docência, revel a, de
certa forma, um querer estar comprometida com a educação, o que procuramos
manter.
O diálogo com os pares atenuou algumas carências, mas não o
suficiente, pois certas necessidades exigem maior aprofundamento e continuidade
na formação. Leituras pont uavam nossas angústias e necessidades: a formação, a
insegurança, o despreparo para esse nível de ensino, a andragogia etc.
O trabalho como coordenadora de um Centro de Educação Infantil
forneceu alguns parâmetros para, pelo menos, termos um norte inicial , uma vez que
trabalhamos com professores em serviço. Nesse aspecto, aprendemos que as
necessidades dos professores devem ser respeitadas, pois “ensinar exige saber
escutar” (FREIRE, 2007, p.113). Não que isso fosse pressuposto de que a prática
cotidiana nos concederia a apropriação desse saber plenamente. Para alcançar a
práxis, havia a necessidade de pensar sobre essa prática de forma refletida, de
modo a buscar nas teorias existentes os possíveis caminhos para superar as
10
dificuldades, os dilemas, as carê ncias e agregar os diferentes saberes para a
atuação docente.
É interessante ressaltar que, quando iniciamos os estudos como
aluna especial do Mestrado em Educação, também iniciamos a docência no ensino
superior. Sabíamos de nossas necessidades, desejávam os supri-las, mas não
tínhamos muito claro como organizar o que buscávamos.
Foi na disciplina de Didática e Fundamentos do Ensino Superior que
começamos a organizar as idéias nesse sentido, pois a professora da disciplina
solicitou que apontássemos o foco daquilo que nos incomodava como docente. Isso
foi fundamental para que pudéssemos expressar as angústias como docente do
ensino superior, até então reprimidas. As necessidades existem, mas nem sempre
temos a coragem para expô -las.
Pensando no percurso de cada disciplina cursada e na atuação dos
docentes do Mestrado em Educação, percebemos que essa formação tem sido
fundamental. Com o curso, começamos a realmente aprender a ser uma educadora.
Essa mesma percepção foi manifestada por quatorze dos docentes co m os quais
tivemos contato durante o levantamento de dados, por meio de entrevista, para este
trabalho. Eles reafirmaram a importância de se cursar o mestrado para a atuação no
ensino superior.
No entanto, mesmo sem ter concluído o mestrado, assumimos
disciplinas e realizamos um trabalho docente. O que nos nutria, na ocasião, era a
vontade de realizar um bom trabalho. Era o que desejávamos e continuamos a
desejar. Porém, à medida que fomos compreendendo o universo do ensino superior,
percebemos sua comple xidade e que, em razão disso, vários fatores precisam ser
pensados.
Para que o professor atinja os objetivos a que se propõe, é preciso
considerar sua forma de atuação, bem como a compreensão da organização da
instituição de ensino da qual faz parte e sua relação com os pares, sua formação
pessoal e profissional. É o que afirmam Pimenta e Anastasiou (2002):
O avançar no processo de docência e do desenvolvimento
profissional mediante a preparação pedagógica, não se dará em
separado de processos de desenvo lvimento pessoal e institucional:
este é o desafio a ser hoje considerado na construção da docência
no ensino superior (p. 259).
11
Além disso, o professor não pode ignorar seu entorno político, social
e econômico, que demanda os sistemas de produção sempre prontos a atender à
concepção dominante que repercute na educação e, consequentemente, na
formação dos professores. Para formar nosso repertório de entendimento das
questões educacionais, é necessário respaldo teórico que o fundamente.
Nesse aspecto, para a construção do referencial teórico das
questões educacionais, temos os cursos de licenciatura. Os cursos de bacharelado,
em decorrência de seus objetivos, não priorizam essa formação. Em relação ao
preparo ou formação para o ensino, frequentemente nos d eparamos com a idéia de
que “quem sabe, sabe ensinar”, da qual nos fala Masetto (2003, p. 11).
Entretanto, mesmo na licenciatura, não generalizando, mas
denunciando a própria formação, não se trabalha para aprender a fazer uma análise,
ou, mesmo quando se faz, esta não é suficiente para desenvolver uma postura
crítica. passamos a nos questionar quando lidamos com a realidade e
percebemos as deficiências de nossa formação. Além disso, é preciso considerar
que a formação em Pedagogia objetiva preparar os a cadêmicos para atuar na
educação infantil e séries iniciais do ensino fundamental.
Autores que se dedicam ao tema da formação de professores, como
Gadotti (1985), Alarcão (2001), Nóvoa (2002), Pimenta e Anastasiou (2002) e outros,
indicam que esta situação embaraçosa da deficiência da formação tem se agravado
de maneira tal que nos obriga, como educadores a refletir sobre a nossa formação, a
nossa história da educação.
A sociedade contemporânea exige que a educação escolarizada
seja um direito de todo cida dão. Mas esse conhecimento sistematizado, formal, do
qual as instituições de ensino são responsáveis, requer as transformações
necessárias e cabíveis, situando o momento histórico, para atender as necessidades
dos estudantes, e reconhecendo esse direito.
Sabemos que a instituição escolar, inclusive a de ensino superior,
tinha uma clientela oriunda de uma classe social abastada, consequentemente,
única. Com a nova LDB 9394/96, ressurge a luta pelo ensino público e gratuito. Nas
últimas décadas, a escolariza ção se estendeu às diversas camadas sociais, sem
que se considerasse que, para atender essa heterogeneidade, o preparo do
professor e mesmo do espaço educativo precisariam ser repensados, e muitos
problemas emergiram.
12
A realidade mostra que tais aspectos , desde então, o obtiveram a
atenção devida e necessária. Desse modo, o professor não tem conseguido atender
as exigências sociais, mesmo porque tem de lidar com diversidades e diferenças
para as quais não foi preparado. Revela -se a necessidade de o prof essor repensar
as questões educacionais e suas implicações. Portanto, exige -se um perfil crítico
para ter claro a quem vai ensinar, o que ensinar e para que vai ensinar. Por isso
sentimos a necessidade de trazer à luz uma breve abordagem da trajetória do
ensino superior, bem como a formação da docência nesse nível de ensino.
Mesmo com algumas medidas empreendidas, as políticas públicas
para a educação superior têm sido paliativas e nem sempre dignas de êxito,
praticamente decididas por burocratas que não co nvivem no âmbito de uma
instituição de ensino, o que denota a insensibilidade desses para sentir os
problemas do contexto educativo. Tais problemas deveriam ser solucionados pelos
profissionais da educação que convivem com os mesmos no dia -a-dia da instituição.
Não é o que acontece. Cobra -se dos docentes, mas não se adotam políticas
direcionadas para suprir suas carências e necessidades, principalmente no ensino
superior.
Nesse sentido, ressaltamos a necessidade de políticas públicas
direcionadas para o magistério superior. Vale mencionar que uma sólida formação e
uma formação continuada no início na docência, com apoio pedagógico, podem dar
maior segurança profissional aos docentes. É o que sentimos no exercício da
docência no ensino superior e o que relat ou a maioria dos docentes que
participaram do estudo. Nessa linha de pensamento, Libâneo ressalta:
[…] É verdade que muitos professores manifestam especial
tendência e gosto pela profissão, assim como se sabe que mais
tempo de experiência ajuda no desempe nho profissional. Entretanto,
o domínio das bases teórico -científicas e técnicas e sua articulação
com as exigências concretas do ensino, permitem maior segurança
profissional, de modo que o docente ganhe base para pensar sua
prática e aprimore sempre mais a qualidade do seu trabalho
(LIBÂNEO, 1994, p. 28).
A afirmação de Libâneo (1994) reforça nossa preocupação que recai
na atuação do professor iniciante do ensino superior, que ainda não consolidou seu
repertório formativo e enfrenta problemas/desafios n a construção do
desenvolvimento da carreira profissional.
13
Receitas e modelos não existem, é o que alerta Pimenta (2005) ao
se posicionar sobre a formação do professor:
A profissão de professor exige de seus profissionais alteração,
flexibilidade, imprevisibilidade. Não modelos ou experiências
modelares a serem aplicadas. A experiência acumulada serve
apenas de referência, nunca de padrão de ações com segurança de
sucesso. Assim, o processo de reflexão, tanto individual como
coletivo, é a base para sist ematização de princípios norteadores de
possíveis ações nunca de modelos (PIMENTA, 2005, p. 6).
O fato de não existirem receitas ou modelos nos incita à buscar
esforços e ações possíveis que contribuam para melhor qualificar o exercício da
docência no ensino superior. Nesse aspecto, a maioria dos docentes pesquisados
também concorda. Com essa linha de pensamento realizamos esta investigação.
O sujeito em formação, professor ou aluno, é um ser que pensa e
com isso obtém o direito de construir seu saber. Se o professor tiver uma formação
contínua, pode refletir sobre sua atuação. Segundo Freire (2007, p. 39), “na
formação permanente dos professores, o momento fundamental é o da reflexão
crítica sobre a prática”. E aprender a refletir sobre a prática des de o início do
exercício da docência é uma importante condição de se auto -avaliar, de refletir como
é a sua formação e o seu desenvolvimento pessoal e profissional.
Quem atua na educação precisa ter claro que sua formação é um
processo permanente, mas ter um mínimo de preparo para iniciar a atuação docente
no ensino superior deveria ser um imperativo. As próprias Instituições de Educação
Superior - IES, para ter qualidade no ensino que oferecem, poderiam direcionar
propostas para essa formação, investindo na qualificação dos docentes, para melhor
atuarem como profissionais do ensino. Assim, também contribuiriam para uma
postura reflexiva dos professores. Estar em constante formação para melhor
qualificação profissional é uma exigência do contexto atual, uma vez que o ensino
superior expandiu-se quantitativamente. O cuidado nessa formação dos docentes
recai sobre a concepção de educação adotada pelas IES, isto é, que aluno irá
formar e a qualidade dessa formação.
Desse modo, também aumentaram os estudos em r elação ao ensino
superior. Pimenta e Anastasiou (2002) consideram que o número crescente de
estudos referentes à ação docente no ensino superior pode ter relação com o
14
aumento de IES pelo país e consequentemente, com o crescimento do número de
docentes em atuação.
É o que de modo geral acontece: o professor do ensino superior
muitas vezes inicia a docência sem ter os conhecimentos específicos para esse nível
de ensino e esse tem sido um foco de pesquisadores preocupados com essa
questão. Tardif (2005) res salta que o processo ensino/aprendizagem tem o professor
no papel central, uma vez que ele não mobiliza como produz saberes na sua
atuação profissional. Destarte, o professor precisa adequar sua capacidade
metodológica visualizando o ensino como um proc esso em construção permanente.
Marcelo Garcia (1999) argumenta que o início da docência é o
período dos primeiros anos, que compreende a transição de alunos a docentes. É
uma fase conturbada com a aquisição de intensas aprendizagens em realidades
adversas, quando os professores ainda precisam adquirir o conhecimento da
profissão e não se abalar emocionalmente.
Pelas razões apresentadas anteriormente, elegemos como problema
de nossa pesquisa o seguinte:
Quais são os problemas/desafios enfrentados
pelo professor no início da docência no ensino superior?
O objetivo geral da investigação foi
analisar o processo de
desenvolvimento profissional do professor iniciante no ensino superior de
uma faculdade particular da região de Londrina, identificando problemas e
desafios vivenciados, tendo em vista o aprimoramento da atuação docente
neste nível de ensino.
Para atingir o objetivo geral, elegemos como objetivos específicos:

oportunizar ao professor iniciante no ensino superior de uma faculdade
particular da região de Londrina, reflexões sobre seus principais
problemas e desafios no início da carreira docente;

identificar e discutir os problemas e desafios enfrentados por
professores iniciantes no ensino superior de uma faculdade particular
da região de Londrina;

analisar os problemas e desafios do início da carreira docente dos
professores iniciantes no ensino superior de uma faculdade particular
da região de Londrina.
Justificando nosso trabalho, constatamos que estudos específicos
sobre professores iniciantes no ensino superior são escassos, mas consideramos
15
que, em muitos aspectos, foi produtivo nos valermos de autores que tratam dos
professores iniciantes em outros níveis de ensino. O trabalho de Mariano (2006), por
exemplo, trouxe uma importante contribuição n esse sentido. Além disso, o autor
sugeriu, entre outros temas para investigação, que devem ser realizadas pesquisas
sobre as políticas de formação profissional dos professores iniciantes, bem como
sobre seus desdobramentos para a autonomia profissional.
Com o presente estudo, esperamos contribuir com subsídios que
revelem os problemas e desafios enfrentados pelo professor iniciante do ensino
superior e com os estudos a respeito da complexa tarefa daqueles que abraçam a
docência neste nível de ensino.
Organizamos nosso relatório de pesquisa em quatro capítulos. Após
a Introdução, o primeiro capítulo trata do ensino superior no Brasil: um difícil
começo. Apresentamos alguns dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais INEP, referentes ao c rescimento da demanda das instituições de
ensino superior no país, bem como o aumento dos docentes nesse nível de ensino,
cuja formação ainda não recebe a merecida atenção mesmo com a expansão da
educação superior. Lembramos a implantação da Universidade de São Paulo -
USP, um dos primeiros centros de pesquisa, e a sua importância para o
desenvolvimento da pesquisa no país. Também, nesse capítulo, apresentamos o
que alguns autores escreveram sobre a formação docente e suas concepções para
atuar no ensino superior.
No segundo capítulo, realizamos a análise em torno do professor
iniciante no ensino superior e a constituição da docência universitária. Buscamos
também pontuar uma reflexão sobre a questão da autonomia do professor iniciante
do ensino superior e investimos no tema a respeito da formação continuada, com
apoio na literatura da área. No terceiro capítulo a discussão gira sobre o contexto da
pesquisa: seu cenário, seus protagonistas, seus dilemas e desafios. Relatamos a
nossa metodologia de estudo, u ma pesquisa de cunho qualitativo, de caráter
exploratório-descritivo, com levantamento de dados sobre os professores iniciantes
com menos de cinco anos de docência no ensino superior. Delimitamos também o
universo da pesquisa, nosso recorte da realidade e justificamos nossa forma de
análise dos dados reunidos.
Os dilemas e desafios de professores iniciantes no ensino superior é
o título do quarto capítulo. Nesse capítulo, por meio dos questionários e entrevistas
16
com os professores, desenvolvemos o assunto n as situações que afligem/desafiam
os docentes iniciantes nesse nível de ensino. Manifestamos também nossa
percepção sintetizando uma análise sobre os dados, e no mesmo capítulo
visualizamos alguns caminhos possíveis para contribuir nesse aspecto com
exemplos de propostas que se efetivaram em algumas instituições. Apresentamos
ainda novas propostas elaboradas por estudiosos da educação superior de renome
nacional que almejam o aprimoramento da educação universitária.
Encerramos o trabalho, não propriamente com uma conclusão, mas
sim com algumas considerações sobre o estudo e os resultados obtidos com o
mesmo, reconhecendo a necessidade de novas pesquisas que venham a contribuir
com a formação dos docentes que ingressam na docência universitária.
17
CAPITULO 1- ENSINO SUPERIOR NO BRASIL: UM DIFÍCIL COMEÇO
Sem a curiosidade que me move, que me inquieta, que
me insere na busca, não aprendo nem ensino.
Paulo Freire (1997)
A docência universitária tem suscitado discussões, pois se exige
qualidade do ensino, ma s ao mesmo tempo não se têm claro a questão do ensinar e
a formação didático-pedagógica do professor. Cada instituição de ensino responde
por essa formação, ou mesmo as iniciativas individuais dos próprios docentes que
buscam dar continuidade à sua formaçã o. Segundo Veiga, as políticas públicas não
estabelecem um plano diretor para a formação didático -pedagógica do magistério
superior, pois, para a autora:
O governo (MEC/Sesu/Capes/Inep) determina os parâmetros de
qualidade institucional de educação supe rior, e muitas instituições de
educação superior organizam e desenvolvem um programa de
preparação
para seus docentes, orientadas por tais parâmetros.
Nesse bojo ainda devemos considerar as transformações
institucionais ocasionadas pelas políticas econômic as e sociais e
seus contextos históricos (
VEIGA, 2006, p. 89)
(grifo da autora).
As políticas públicas estabelecem parâmetros de qualidade, mas
não trazem claro como deve ser a formação pedagógica dos docentes. Por isso,
mudanças são imprescindíveis, bem como novos paradigmas e articulação com
orientações nesse sentido para a qualidade do ensino superior.
O texto que trata da Política Nacional de Graduação diz que a
formação é necessária para o exercício da docência no ensino superior, mas a
titulação não basta. O título confere ao professor o conhecimento científico dentro de
um determinado campo. “[...] o exercício do magistério de educação superior deve
ser desempenhado por doutores e mestres, com evidente prioridade para os
primeiros” (FORGRAD, 2004 , p. 242). O conhecimento pedagógico não é ignorado.
Nesse aspecto Veiga (2006) ressalta que a formação requer a pós -graduação
"stricto sensu", preferencialmente no nível do doutorado, com permanente
atualização, além da titulação da sua área de conhecimen to. Para isso, é
18
fundamental as IES apoiarem não os programas de pós -graduação, mas
oferecerem formação continuada aos seus docentes, “a fim de garantir a síntese
entre titulação e bom desempenho” (p. 91).
Porém, devido à expansão das IES, a combinaçã o da titulação e do
bom desempenho está longe da realidade brasileira. Os números do INEP deixam
isso claro. Em 2006, dos 302.006 docentes cadastrados, somente 22,4% possuíam
o doutorado e 36,1% eram mestres. “Nas políticas institucionais e órgãos
reguladores e ou de fomento como o Ministério da Educação e Cultura - MEC, a
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior - CAPES e o
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq não se
encontram dispositivos que valorizam o aprimoramento da docência” (ISAÍA, 2006,
p. 66). Sem contar que as questões didático -pedagógicas, segundo Isaía (2006),
Pachane (2006), Veiga (2006), entre outros, não são contempladas.
Na década de 1990, o Estado assume uma posição avaliativa sobre
a educação, particularmente sobre a atuação docente, e a sociedade também volta
sua atenção para o desempenho dos professores (MOROSINI, 2001; BAZZO, 2006).
Entretanto, desde o Brasil Colônia até os dias atuais, por meio das
políticas públicas, os governos apr ovam leis, efetuam reformas, mas não tratam de
forma explícita a questão da formação docente. A cada ano, novos professores
ingressam no exercício da docência, devido ao número de instituições privadas de
nível superior que surgiram e ainda surgem no país. Não se pode ignorar também o
entorno político, econômico e social que, segundo Sguissard, provoca:
[...]
a avalanche neoliberal na economia, na reforma do Estado e na
concepção do conhecimento e do ensino superior como bem privado,
quase-mercadoria, serviço educacional regulamentável no âmbito da
Organização Mundial do Comércio (OMC) que irão condicionar, nos
últimos anos, a nova configuração da universidade em nosso país e
no exterior, também sob o ponto de vista dos modelos universitários
(SGUISSARD, 2006, p. 84).
Segundo estudo realizado pelo INEP, 2.270 instituições participaram
do censo 2006 da educação superior; sendo 2.022 (89%) privadas e 248, pouco
mais de 10%, públicas (105 federais; 83 estaduais e 60 municipais). Os dados
revelam um aumento de 7% de 2005 para 2006.
19
É considerável o aumento no número de instituições no país desde a
década de 1990. É a iniciativa privada que avança mais. A legalidade dos sistemas
privados no ensino superior teve início com a primeira Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional a LDB de 1961, que concedeu participação livre da iniciativa
privada nesse nível de ensino.
Com a Constituição Federal de 1988, de forma efetiva, assegurou -se
que a iniciativa privada participasse na oferta de ensino em todos os níveis ,
conforme o Art. 209, que traz o seguinte texto:
O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as seguintes
condições:
I – cumprimento das normas gerais da educação nacional;
II – autorização e avaliação de qualidade pelo Poder Público.
Algumas iniciativas se consolidaram de forma positiva. No entanto,
outras estruturas não primaram em oferecer um ensino superior de qualidade, o que
resulta em profissionais desqualificados. Além disso, a pesquisa não tem se
configurado de forma a contribuir para o des envolvimento econômico e social do
país para uma transformação social. Buarque (2003) alerta que, a partir da década
de 1990, as universidades têm formado profissionais que servem as minorias
privilegiadas ou elites minoritárias que estão alienados em rela ção à outra parte da
sociedade, isto é, às grandes massas.
A universidade tem um papel social que é aproximar -se da
comunidade, pois seu caráter é público, o que se configura um desafio ético e
político. Nesse aspecto, Dias Sobrinho (2005) explica que:
A educação superior é um patrimônio público na medida em que
exerce funções de caráter político e ético, muito mais que uma
simples função instrumental de capacitação técnica e treinamento de
profissionais para as empresas (DIAS SOBRINHO, 2005, p. 170).
A educação superior, como patrimônio público, deve se
comprometer com as demandas sociais. Para isso, segundo o mesmo autor, é
necessário que professores, pesquisadores e alunos, juntos, definam as prioridades
sociais para a produção e a socialização do con hecimento metódico, científico que
atenda as necessidades sociais e não simplesmente legitimar o mercantilismo e a
globalização neoliberal (DIAS SOBRINHO, 2005, p.171).
20
Nessa perspectiva, o ensino, a pesquisa e a extensão devem se
constituir como um tripé para êxito da educação superior e efetivo compromisso
social.
Em busca da almejada qualidade no ensino, a educação, frente a
tantas mudanças como globalização, tecnologias da informação, modernização
acelerada, entre outros, realiza amplas reformas. Entr e estas, o aval para a
expansão do ensino superior privado. Entretanto, tanta oferta revela mais
investimentos na quantidade do que na qualidade na formação dos professores. Tal
fato nos leva a pensar que a situação se cristaliza por interesses externos, somados
aos internos, que resulta no que hoje se constitui a educação superior brasileira.
Cada período se manifestou de forma a atender esses interesses. A LDB - 9394/96
estabelece a necessidade de credenciamento e recredenciamento, tanto para
reconhecimento e renovação de reconhecimentos. Vejamos o que trata o Art. 46 da
LDB: “A autorização e o reconhecimento de cursos, bem como o credenciamento de
instituições de educação superior, terão prazos limitados, sendo renovados,
periodicamente, após processo re gular de avaliação” (BRASIL, 1996, p. 62).
Além do controle estatal, sofremos as pressões externas, conforme
explica Sguissardi:
Examinando-se as reformas tópicas em curso no Brasil, que vão da
legislação (LDB, Decretos, Portarias Ministeriais, Propostas de
Emendas Constitucionais sobre a autonomia, contratos de gestão,
projetos de desenvolvimento institucional, etc.) ao financiamento
(montantes e percentuais sobre o PIB aplicados em educação
superior pelo Fundo Público), passando pela questão da natureza
das IES, como demonstrado por diversos estudos, é inevitável sua
associação às diretrizes e recomendações do Banco Mundial - BM
(SGUISSARDI, 2000, p. 9 -10).
As políticas educacionais são direcionadas para o mercado de
trabalho, mantendo assim estreita relação com o neoliberalismo (APPLE, 2005;
CORAGGIO, 1996; TORRES, 1998). São diversos atos políticos que definem a
educação e, se formos pensar a respeito, isso o revela nenhuma surpresa. O
governo neoliberal atua na educação de forma estratégica, ao ap oiar as instituições
privadas. Assim, responde aos anseios de mercado e prepara os jovens para o
mercado de trabalho. As instituições, por sua vez, competem com a diversificação de
cursos para suprir as necessidades de mercado. A educação cumpre o seu pape l de
21
alimentar o neoliberalismo e semear para a globalização, que é a demanda das
políticas atuais.
Percebemos que se exige cada vez mais da escola a preparação
para o mundo do trabalho. A educação escolar que o aluno recebe é para que venha
a contribuir nessa direção. A sociedade, na sua configuração hegemônica, desde o
surgimento do capitalismo, delega esse papel à escola. E a educação assume essa
missão de estar presente na evolução e transformação histórica do homem.
1.1 A P
RIMEIRA
U
NIVERSIDADE
B
RASILEIRA
– USP E O
S
C
ENTROS
D
E
P
ESQUISA
A primeira universidade brasileira foi a Universidade de São Paulo,
criada em 1934 pela vontade de intelectuais brasileiros com intelectuais franceses. A
USP, segundo Oliven (2002), construiu seu projeto político, a lmejou ter um alto
padrão acadêmico e científico e ser o maior centro de pesquisa do país. A criação
dessa universidade foi um marco para o ensino superior brasileiro, com docentes e
professores pesquisadores estrangeiros, provenientes da Europa (BUARQUE, 2003,
p. 41).
Sguissard (2006, p. 73) relata que,
No caso da USP nascida, sob certa ótica, como produto da
revanche política das elites de um Estado que saíra derrotado da
Revolução de 32
, mas fruto também, como a UDF, do espírito
inovador de um grande intelectual, no caso, Fernando de Azevedo –,
a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, pensada como centro
aglutinador da busca e crítica do saber na universidade, embora
numa instituição criada para a formação das elites, foi logo objeto da
reação conservadora das escolas profissionais. O resultado foi o
restabelecimento ou a manutenção dos traços comuns ao modelo
profissional/napoleônico, frustrando -se, em grande medida, a
experiência inovadora que se tentou implantar no seio da cidade e
unidade federativa mais dinâmicas da nação (grifo do autor).
Ainda assim persistiu o ensino profissional, com resistência aos
ideais de uma universidade. Mesmo com um corpo docente bastante qualificado, a
demanda foi restrita aos cursos que a instituição oferecia. A pr eferência da elite
22
paulistana recaía sobre os cursos profissionais de Medicina, Engenharia e Direito.
Sguissard (2006, p.74) adverte que:
Essa luta intestina do “velho” contra o “novo” modelo, que se torna
evidente nos exemplos da USP e da UDF, não iria ter um cenário
mais favorável a esse modelo nas novas universidades federais ou
nas confessionais que a partir de então se constituíram. A legislação
iria facilitar o processo de formação de novas universidades por
simples aglutinação de faculdades profiss ionais preexistentes,
fazendo de suas reitorias e conselhos superiores órgãos
essencialmente burocráticos e formais. Nem a autonomia nem a
produção científica se constituíam em seus traços mais marcantes.
No caso das confessionais, além de obedecer à legis lação federal,
elas se submetiam às diretrizes de suas respectivas confissões em
relação ao ensino e à ciência.
As medidas financeiras, econômicas e cambiais fortaleceram
empresas nacionais e estrangeiras e, assim, os setores privados da economia se
organizaram e aproveitaram as possibilidades para substituir as importações. Dessa
forma, o setor privado da educação se beneficiou indiretamente por tais medidas.
Houve apoio para a criação de estabelecimentos de ensino superiores particulares
que possibilitou uma política de ampliar esse nível de ensino às camadas médias
urbanas, sem que, com isso, o poder público se onerasse com custos (BUARQUE,
2003; OLIVEN, 2002; VILLAS BOAS, 2004).
Nitidamente percebe-se a privatização do ensino superior, que
crescia vertiginosamente, com a conivência do governo. Oliven (2002) argumenta
que, no ano de 1980, os alunos matriculados em estabelecimentos isolados do
ensino superior eram mais da metade, isto é, 86% em faculdades privadas. “O setor
público foi responsável pelo de senvolvimento da pós-graduação e das atividades de
pesquisa e modernizou um segmento importante do sistema universitário” (p. 40).
Segundo Sguissard (2006), foi também na década de 1980 que se
teceram os caminhos de um modelo napoleônico/profissional para a adaptação de
um modelo que mais se aproximasse do humboldtiano de pesquisa, o tripé:
pesquisa, ensino e extensão. Entretanto, é importante citar que alguns eventos
precederam esse fato e merecem destaque pela sua representatividade. Como
afirmação do pensamento científico, em 1948 nasce a Sociedade Brasileira para o
Progresso da Ciência SBPC, momento em que cientistas europeus e da América
Latina formaram uma associação em prol da ciência. Por isso foi marcante
23
A trajetória da SBPC em defesa de política s científicas adequadas ao
desenvolvimento do país e da liberdade de pesquisa, seja a básica
ou a aplicada, no interior da universidade, e especialmente sua
atuação durante as duas décadas autoritárias, tiveram, sem dúvida,
uma inegável e profunda influênc ia nas transformações por que
passou a universidade no país
(SGUISSARD, 2006, p. 75).
O autor argumenta que não foi diferente com o Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq e com a Campanha Nacional
de Aperfeiçoamento de Pesso al de Nível Superior CAPES, com algumas
ressalvas, criados em 1951, e alguns anos depois a FAPESP. Por serem órgãos do
Estado, tratava-se de uma questão de autonomia. No início do mesmo ano, em 15
de janeiro, foi criado o Conselho de Pesquisa Científica para coordenar e amparar a
pesquisa científica.
Em 11 de julho de 1951, tendo à frente Anísio Teixeira, que era o
secretário geral da comissão, foi criada a CAPES, com o objetivo de ter pessoas
especializadas para prover empreendimentos públicos e privado s que colaborassem
no desenvolvimento do país. No início, a atenção era para os professores com
bolsas no exterior. Em 1965, o foco passa a ser a pós -graduação criada no país,
cujas atividades a CAPES passa a elaborar, avaliar, acompanhar e coordenar. a
FAPESP foi instituída em 23 de maio de 1962, mas foi com a Constituição Estadual
de 1989, que se alterou o repasse mensal, proveniente da receita do Estado
(Imposto de Circulação sobre Mercadorias e Serviços - ICMS). Antes era somente
de 0,5%, passou a 1%. Sguissard (2006, p.77) enfatiza que:
A Fapesp, embora sediada em São Paulo, tem importância nacional,
por sua influência sobre quase 50% dos pesquisadores do país,
sediados nas três universidades estaduais paulistas, nas duas
federais do estado e em tan tas outras instituições universitárias ou
institutos e centros de pesquisa.
Oliven (2002) alerta que foram muitos os debates em defesa da
educação pública, com ensino laico e gratuito em todos os níveis. Com a
Constituição Federal de 1988, se estabelece u um percentual de 18% da receita
anual, oriundos de impostos da União, destinados para o desenvolvimento e
manutenção do ensino público em todos os níveis, nos estabelecimentos oficiais. A
Constituição traz também em seu texto, no artigo 207, a reafirmaçã o da
24
indissociabilidade das atividades de ensino, pesquisa e extensão na universidade,
bem como sua autonomia.
Entretanto, Franco (1991 p.33) escreve que no Brasil:
[...] a idéia de indissociabilidade do ensino e da pesquisa, na prática,
nunca vingou. Tanto é verdade, que até hoje, a pesquisa enquanto
busca de novos conhecimentos continua sendo realizada, quase que
somente pelas universidades públicas e nelas, especialmente nos
cursos de pós-graduação que, em não poucas situações, operam
desarticulados da graduação.
Apesar de termos atravessado praticamente quase duas décadas,
desde a afirmação de Franco (1991), nos atrevemos a concordar que, mesmo na
atualidade, o tripé ensino, pesquisa e extensão, na educação superior, não funciona
em sintonia. As instituições primam ou pelo ensino, ou pela pesquisa. Não devemos
generalizar, mas são raras as exceções, se considerarmos o mero de instituições
superiores em atividade no país, alimentadas pelas exigências de mercado para a
formação de profissionais. O ensin o superior, apesar da ascensão em quantidade,
ainda precisa avançar na busca da qualidade envolvendo os três aspectos. Nesse
sentido é necessário pensar na formação docente que não recebeu atenção
específica. Percebemos pelo esboço da trajetória descrita q ue as políticas não
contemplaram a formação docente, o que tem resultado em desigualdades de
formação.
1.2 E
XPANSÃO
D
O
E
NSINO
S
UPERIOR
: A
VANÇO
E
M
Q
UANTIDADE
Em 2000, formavam o sistema de ensino superior brasileiro 1.180
instituições de educação sup erior. Destas, 1.004 eram particulares e representavam
82% do total das IES (faculdades, escolas ou institutos). No entanto, ocorreu um
declínio no período de 1990 a 1997, mas teve novo crescimento em 1998,
totalizando 782 em 2000 (VILLAS BOAS, 2004, p. 10 0).
Essa privatização da universidade, segundo Buarque (2003),
ocorreu de duas formas: “a predominância das instituições privadas no número total
25
de alunos e a perda de um projeto social nacional por parte das universidades
públicas” (p. 43).
A grande expansão da privatização do ensino superior ocorreu para
absorção dos estudantes, em busca dos cursos noturnos, que não passavam nos
vestibulares das IES públicas.
A Constituição Federal em seu art. 5º, estabelece que a educação
seja um direito de todos e d ever do Estado e da família, contando com a
colaboração da sociedade, para o desenvolvimento pleno da pessoa, para o
exercício da cidadania e qualificação para o trabalho (BRASIL, 1988). O ensino é
tratado na Constituição Federal em seu art. 211, § 1 e 4, que determina que a União
tenha o dever de organizar os sistemas de ensino federal, bem como a dos
territórios. Deve ainda financiar as instituições públicas federais e, em matéria
educacional, como função redistributiva e supletiva, para assim garantir eq ualização
de oportunidades educacionais, bem como um padrão mínimo de qualidade do
ensino. Para isso, disponibilizou a assistência técnica e financeira ao Distrito Federal
e aos Municípios. A responsabilidade dos Municípios é com o ensino fundamental e
a educação infantil, e os Estados e o Distrito Federal respondem pelo ensino
fundamental e médio, definindo formas de colaboração para que seja assegurada a
universalização do ensino obrigatório. Oliven (2002) ressalta que “Nos últimos anos
Estados e Municípios passaram a atuar, também, no ensino superior” (p. 43).
Depois da promulgação da atual Constituição, Oliven (2002) cita que
o país passou por um processo de debate e discussão para aprovar a nova Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional LDB 9496/96, que redefiniu os níveis
escolares e as modalidades de ensino. A educação básica é composta pela
educação infantil, ensino fundamental e ensino médio. A educação superior,
ministrada em instituições de ensino superior - públicas ou privadas, atende os
egressos do ensino médio ou equivalente, após passar por processo seletivo. A
educação formal é complementada por outras modalidades de educação como:
Educação de jovens e adultos, Educação profissional, Educação especial, Ensino
presencial, Ensino semipr esencial, Educação à distância e Educação continuada.
A nova configuração do mercado de trabalho exige que os
profissionais tenham formação no ensino superior. Por isso as instituições de nível
superior necessitam se estruturar para atender essa demanda. Apesar da autonomia
para a organização dos cursos que oferecem, as IES não são isentas de um
26
controle. A Lei 10.861, de 14 de abril de 2004, do Sistema Nacional de Avaliação da
Educação Superior SINAES, articula a avaliação interna e externa das institu ições
superiores e, independentemente das concepções das instituições, tem um ponto
forte: é o fato de revelar uma preocupação no que se refere à responsabilidade
social.
Desse modo, não se configura na questão da avaliação do
desempenho dos estudantes , da avaliação dos cursos e das instituições. Tal
controle interessa à população, que pode contar com um sistema de educação que
cumpra os seus propósitos na questão do avanço do conhecimento e da formação
de profissionais qualificados. Além disso, devido à expansão do setor privado, que
deve seguir as mesmas diretrizes estabelecidas, o controle pode possibilitar a
qualidade do ensino ofertado.
Dando continuidade à retirada estratégica de o Estado bancar o
ensino superior, três leis são criadas, hipotetic amente, “como eventuais
fortalecedoras, direta ou indiretamente, dos traços da universidade neoprofissional
heterônoma e competitiva
[...]“ (SGUISSARD, 2006, p.87) grifos do autor.
Sguissard (2006) descreve que a primeira é a Lei 10.973 (Lei de
Inovação Tecnológica), criada em 02 de dezembro de 2004; a segunda é a Lei
11.079 de 30 de dezembro de 2004, que trata da licitação e contratação de Parceria
Público-Privada (PPP) na esfera pública. A terceira é a Lei 11.096, de 13 de janeiro
de 2005 que institui o Programa Universidade para Todos (PROUNI), “que regula a
atuação de entidades bene ficentes de assistência social no ensino superior”
(SGUISSARD, 2006, p.88). A Lei de Inovação Tecnológica objetiva a integração
universidade-empresa. Assim, os recu rsos públicos, ou seja, a tecnologia, resultado
do trabalho de pesquisadores, se destinariam às empresas para projetos inovadores.
a Lei 11.079 “Permite a parceria do Estado com empresas privadas nas mais
diferentes áreas da produção, comércio de bens e serviços de natureza pública e
coletiva” (SGUISSARD, 2006, p. 87). O PROUNI, segundo o autor, “encobre uma
das mais perversas medidas que, pretextando a “publicização” do privado, acabam
por fortalecer as instituições privadas comerciais de ensino” (p. 88).
Segundo Villas Boas (2004), para lidar com a escassez de alunos,
as IES privadas procuraram diversificar as carreiras, além de oferecer os cursos
noturnos, “historicamente mais abundantes e variados nas IES particulares” (p. 108).
27
Sguissard (2006) aponta que, ao invés da criação de vagas nas IES
públicas no ensino noturno, pois existiria o espaço físico, “aprovou -se a
possibilidade de troca de cerca de 10% das vagas das instituições privadas ou 8,5%
da receita bruta, na forma de bolsas para alunos egressos de escolas públicas, entre
outros, pela isenção de um conjunto de impostos” (p.88).
Ainda ocorreu a implantação do sistema de cotas (Lei 3627/2004)
para estudantes egressos de escolas públicas, negros e indígenas, nas instituições
públicas federais de educação superior que tem se estendido às instituições
estaduais de ensino superior.
Tais medidas têm gerado controvérsias na sociedade. A questão
não é simples e mereceria um estudo específico e aprofundado que não cabe no
âmbito deste trabalho. A referência é oportuna, pois se trata de um dos aspectos
com o qual o professor do ensino superior se depara no cotidiano da sala de aula, o
aluno que ingressa no ensino superior preparado ou não. Muitas vezes é
matriculado em um curso, de uma IES privada , que lhe possibilitou acesso ao ensino
superior, mas na verdade não é o curso de sua vontade.
Hoje, no Brasil, o sistema de educação superior é “complexo e
diversificado de instituições públicas e privadas com diferentes tipos de cursos e
programas, incluindo vários níveis de ensino, desde a graduação até a pós -
graduação, lato e stricto sensu” (OLIVEN, 2002, p. 45).
Além das leis e normas que definem o sistema de organização de
ensino superior, temos os organismos governamentais que coordenam, controlam e
fiscalizam esse nível de ensino de forma hierárquica. Dessa forma o Estado é o
avaliador.
Nessa configuração hierárquica de organismos que trata da
supervisão e avaliação das IES, um dos atores principais é o professor. Com a
expansão e a diversidade do ensino de nível superior, a heterogeneidade dos
egressos do nível médio, a globalização, a velocidade da informação e não sendo
somente a escola o único lugar para se ter acesso ao conhecimento, como está a
formação do professor para trabalhar nesse nível de ensino?
Marcelo García (1999, p.11) aponta três fatores que influenciam e
decidem a importância da formação na sociedade contemporânea: “o impacto da
sociedade da informação, o impacto do mundo científico e tecnológico e a
internacionalização da economi a.” Segundo o autor, a formação atinge todas as
28
instâncias da esfera social e o o contexto da escola. Diz ainda que a formação
é suscetível de múltiplas perspectivas mas, de modo geral, a maioria coaduna com a
idéia de formação para o desenvolvimento pessoal.
Partindo dessa premissa, podemos dizer que a idéia de formação
para o desenvolvimento é dinâmica e faz parte de uma rede de relações que se
interconectam, se reelaboram, se reestruturam a cada ação, a todo o momento, tal
qual uma espiral em const ante movimento. Nesse contexto dinâmico, uma gama de
autores, como Veiga (2006), Isaía (2006), Anastasiou (2006), Morosini (2006), entre
outros defende a necessidade de uma formação pedagógica para o docente do
ensino superior.
Revendo a história do ensino superior no país, percebemos que
apesar das leis e reformas que ocorreram para esse nível de ensino, ao longo do
tempo, ainda não se tem claro o processo de formação pedagógica. Reforçamos a
questão, pois nos prendemos a ela como argumentação, uma vez qu e a expansão
do ensino superior em quantidade se fortaleceu nas últimas décadas.
No Brasil a pedagogia universitária é exercida por professores que
não têm uma identidade única. A cultura da instituição e a política que ela
desenvolve é que exercem influ ência na atuação do professor universitário
(MOROSINI, 2001). Além disso, uma grande maioria dos docentes que atuam na
educação universitária, em sua formação acadêmica, não teve uma preparação para
o ensino superior, com exceção daqueles professores das á reas de Educação ou
Licenciaturas que abordaram questões referentes ao ensino e aprendizagem de
crianças e adolescentes.
1.3 F
ORMAÇÃO
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E
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É fato que as políticas públicas não mantêm ações dir ecionadas
para a formação do magistério do ensino superior, o que fica a critério das próprias
instituições. Autores como Morosini (2001; 2006), Zabalza (2004) e Masetto (2000,
2003) ressaltam que as instituições sabem que os docentes são os formadores d os
29
futuros profissionais e mesmo assim a maioria das IES e as políticas voltadas para a
educação superior não valorizam a formação desses docentes. Para Morosini
(2006), o descaso se comprova devido aos critérios adotados para a seleção e
progressão funcional, que estão centradas nos títulos e na produção científico -
acadêmica. Isso, não é necessariamente, uma educação de qualidade.
A partir da LDB 9394/96, são as instituições de ensino superior que
estruturam o processo de formação inicial e continuada dos seus professores, na
organização de palestras, semanas pedagógicas e outros eventos, para a
profissionalização docente (ANASTASIOU, 2006; CANDAU, 1997). Retomando a
história do ensino superior no país, percebemos um momento de sensível
preocupação quando surgiram as primeiras escolas de ensino superior e, mesmo
depois, quando buscamos o conhecimento nos países mais desenvolvidos, com
bolsas de estudos para capacitar nossos docentes.
Ao implantar os cursos de aperfeiçoamento, especialização e
também o Mestrado e o Doutorado para o ensino e a pesquisa, que culminaram com
o início da Universidade Brasileira, o governo também demonstrou essa
sensibilidade.
No entanto, com a diversidade e a expansão da iniciativa privada,
conforme relatamos, houve um desc aso com a educação superior, pois não se
pensou numa forma de atender essa nova estruturação, ampla e diversificada.
Pensamos que o descaso ocorre por falta de elementos que
apontem a relevância da questão, uma vez que prevalece o mito de que os
profissionais, os técnicos que dominam sua área de conhecimento, são competentes
para ensinar. Nesse sentido é oportuno mencionar o que aponta Isaía (2006, p. 65):
Chama atenção a ausência de compreensão de professores e de
instituições sobre a necessidade de pre paração específica para
exercer a docência. Assim, os docentes, mesmo estando cientes de
sua função formativa, não consideram a necessidade de uma
preparação específica para exercê -la. Como se o conhecimento
específico desenvolvido nos anos de formação ini cial e/ou ao longo
da carreira e também o exercício profissional bastassem para
assegurar um bom desempenho docente. Essa constatação vai ao
encontro de outras pesquisas como as de Zabalza (2004); Marcelo
Garcia (1999); Mizukami et al. (2002); Behrens (199 6).
A atual LDB Lei 9394/96, que trata dos profissionais da educação,
traz em seu texto, no art. 65, que a formação docente precisa de no mínimo
30
trezentas horas de prática,
com exceção do ensino superior
(grifo nosso). O
artigo seguinte, o art. 66, tra ta da formação com o seguinte texto: “A preparação
para o exercício do magistério superior far -se-á a nível de pós-graduação,
prioritariamente em programas de mestrado e doutorado” (BRASIL, 1996, p. 68).
Segundo Veiga (2006, p. 88), “será preparado (e não formado)” (grifo da autora).
No entanto, a Resolução 142/2001 do Conselho Nacional de
Educação - CNE/CES, homologada em 15 de março de 2001, pelo ministro da
Educação, fixa normas para o funcionamento da Pós -graduação lato e stricto
sensu e ignora as 60h para a formação didático -pedagógica que a resolução anterior
determinava. Acrescentamos a isso o que diz Araújo (2005, p.42) ao ressaltar que a
formação stricto sensu destina-se à formação de pesquisadores e não de docentes.
E assim segue o ensino super ior, desguarnecido de ações e
políticas direcionadas para a formação pedagógica da maioria de seus docentes.
Morosini (2000) relata que, ao final da década de 1990, as orientações
internacionais marcam um grande número de normatizações que modelam as
relações entre Estado e Universidade. Para a autora,
A principal característica dessa legislação sobre
quem é o professor
universitário,
no âmbito da sua formação didática, é o silêncio.
Enquanto nos outros níveis de ensino o professor é bem identificado,
no ensino superior parte-se do princípio de que sua competência
advém do domínio da área de conhecimento, na qual atua
(MOROSINI, 2000, p. 12) (grifo da autora).
É nesse sentido que Masetto (2003, p. 11) expressa o seguinte:
“quem sabe, sabe ensinar”, isso porque o ensino superior do Brasil sempre
considerou o domínio dos conhecimentos e as experiências profissionais como
suficientes para o magistério no ensino superior.
Ristoff (2006) ressalta que “a função do professor na educação
superior é, em grande pa rte, uma função
usurpada”
(p. 10) (grifo do autor). Essa
afirmação do autor é percebida claramente, até por leigos nas questões
educacionais, uma vez que profissionais de diferentes áreas tornam -se professores.
Constata-se, nesse contexto, que basta ter um a graduação para
atuar no ensino superior. Neste aspecto, questionamos se mesmo com uma pós -
graduação se garante a eficiência e a competência do docente. Pensamos que a
formação de professores é necessária para um ensino de qualidade. Segundo
31
Nóvoa (1997, p. 9), “Não há ensino de qualidade, nem reforma educativa, nem
inovação pedagógica, sem uma adequada formação de professores”.
Os estudos de Vasconcellos (2005) com professores doutores
revelam a crença de que a competência docente é resultado do conhecim ento
profundo em determinada área do conhecimento e, com isso, muitos destes
docentes relegam para uma posição secundária os saberes diretamente
relacionados com a ação docente. Portanto, o estudo revelou que, na visão de
muitos professores consultados, “O docente universitário competente é também
aquele que transmite o conhecimento com segurança, que produz conhecimento e
consegue repassá-lo com clareza” (p. 151).
Para a autora, a competência envolve as dimensões ética e política
e o educador deve pensar a escola e a sociedade como parte integrante do
processo ensino-aprendizagem. Ao assumir -se politicamente, o educador também
terá uma postura ética nas suas ações educativas, uma vez que a responsabilidade
e o compromisso docente são para uma prática educa tiva de transformação social.
Além disso, o docente precisa “ter uma consciência crítica de seu papel e de ser e
estar no mundo” (VASCONCELLOS, 2005, p. 158).
Nesse sentido é imprescindível recorrer a Rios (2005) no que se
refere à questão da competência:
[…] não posso qualificar de competente o professor que apenas
conhece bem o que precisa ensinar ou que domina bem alguns
recursos técnicos ou que tem um engajamento político, é militante do
sindicato de sua categoria profissional. Não faço referência a u ma
“competência técnica”, uma “competência política” ou uma
“competência ética” não se trata de três competências, mas de três
componentes de uma competência (grifos da autora) (p. 89).
Segundo a autora, ser competente é saber fazer o que se vai fazer.
Para isso precisa compor vários saberes. Mas, como docente, é necessário que
assuma um posicionamento do que é preciso e desejável fazer numa dada situação.
Acrescente-se a isso a práxis historicamente construída pelo sujeito, uma vez que a
competência se revela na ação.
Assim, compreendemos que é necessário um comprometimento e,
ao mesmo tempo, que o docente é o ser que se situa num momento histórico, em
contínua construção. Freire (2007, p. 47) alerta que “ensinar não é transferir
32
conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua
construção”.
Para Rios (2005, p. 90), “A competência não é algo que se adquire
de uma vez por todas, pois
vamos nos tornando competentes”
(grifo da autora).
Apesar da formação docente do ensino supe rior não estar
contemplada na LDB 9394/96 (ARAUJO, 2005) observamos que a lei esboça um
sensível cuidado, ao abordar a pós -graduação para essa preparação,
prioritariamente em programas de mestrado e doutorado (BRASIL, 1996).
Isaía (2006, p. 66) chama a at enção que:
pelos critérios adotados pela cultura acadêmica, o ingresso na
carreira docente pressupõe mestrado e doutorado. Em razão disso,
os professores iniciam a carreira docente em níveis avançados de
progressão funcional, mas continuam sem preparação prévia para a
docência, o que demanda a necessidade de constituí -la ao longo do
tempo. Contudo, eles esbarram na falta de iniciativas institucionais
para auxiliá-los e no próprio desconhecimento de que a formação
docente é um processo complexo que necessit a da construção de
estratégias sistematicamente organizadas, que envolva esforços
pessoais e institucionais concretamente desenvolvidos.
Portanto, não uma formação para a docência de nível superior.
cursos de especialização que tratam a ação docen te, como o curso de
Metodologia da Ação Docente, mas não uma formação específica para o ensino
superior. E na pós-graduação, stricto sensu, mestrado e doutorado a prioridade é a
pesquisa.
É uma constatação que a valorização e o prestígio acadêmico estão
na pesquisa. Segundo Lima (2007), para uma formação continuada, uma formação
inicial e práticas em outros níveis de ensino não bastam. Comunga com a autora,
Isaía (2006, p. 66) e aponta a valorização da titulação e a produção técnico -científica
como prioritárias. Além das políticas institucionais, também os órgãos reguladores e
ou de fomento como o MEC, a CAPES e o CNPq não contemplam e valorizam a
docência do ensino superior. Recorremos a Veiga (2006) para esclarecer que:
[…] formar professores universitá rios implica compreender a
importância do papel da docência, propiciando uma profundidade
científico-pedagógica que os capacite a enfrentar questões
fundamentais da universidade como instituição social, uma prática
social que reflete as idéias de formação, reflexão, crítica (p. 88).
33
O que a realidade mostra é o ritmo acelerado das matrículas, pois
em 2006 atingiu-se um total de 4.676.646 matrículas na graduação, sendo 1.209.304
(25,9%) alunos nas IES públicas e 3.467.342 (74,1%) nas IES privadas. São
302.006 professores (com mestrado 108.965 = 36,1% e com doutorado 67.583 =
22,4%) (DEAES/INEP/MEC CENSO DO ENSINO SUPERIOR, 2006). Será que
esses professores estão didaticamente preparados?
Os cursos de licenciatura preparam os professores para atuarem na
educação básica e os cursos de bacharelado objetivam a aquisição de
conhecimentos técnicos e científicos para as futuras profissões. Assim, o magistério
superior não é prioridade, é o que ressalta Isaía (2006). Segundo a autora, nos
diversos cursos de graduaçã o ou mesmo de pós-graduação lato sensu ou stricto
sensu, o foco não é o magistério superior que, “apenas está presente na forma de
disciplinas esparsas, quando ocorrem, ou iniciativas mais atuais de contemplar a
docência como preparação inicial para o níve l superior” (p.66).
Por tudo isso, a formação pedagógica é fundamental para a
valorização do exercício da docência e consequentemente da qualidade do ensino.
O comprometimento do educador com a educação é mais que conhecimento, é mais
do que utilizar técnicas e instrumentos, é ser um educador, como diferencia Rubem
Alves (1987) em sua obra “Conversas com quem gosta de ensinar”, quando se
refere a jequitibás e eucaliptos. O autor faz a distinção entre educador e professor.
Aquele que tem amor pelo que faz e o faz de forma consciente, exercendo seu
trabalho com ética e comprometimento, é o educador. Não agindo desta forma, o
professor é um reprodutor do sistema através da educação. Freire (2007, p. 98) faz
um alerta ao afirmar que “Ensinar exige compreender qu e a educação é uma forma
de intervenção no mundo”.
Os estudos com bacharéis doutores exercendo a docência mais
de cinco anos, na Universidade Estadual de Londrina, mostraram que a maioria dos
docentes pesquisados valoriza a pesquisa, e a preocupação é com o preparo
pedagógico e o instrumental técnico. Portanto, os problemas decorrentes do ensino,
para uma maioria dos pesquisados, é uma questão de metodologia, de estratégias e
técnicas de aprendizagem, mas sem alusão ao contexto histórico, educacional e
social. A articulação entre os saberes escolares e a realidade dos alunos que reflita
os aspectos políticos é o grande desafio para o professor (VASCONCELLOS, 2005).
34
A sociedade contemporânea impõe muitos desafios aos docentes
universitários e às instituiç ões de ensino superior. O professor não pode se limitar a
ser um repassador de informações atualizadas, que as informações nos
surpreendem a todo o instante e nem sempre temos condições de estar cientes de
tudo. Segundo Masetto (2003), os professores já reconhecem que não são os únicos
que detêm o saber. Diante desse cenário, é preciso refletir e propor mudanças.
Nesse sentido, alguns aspectos merecem atenção. O grau de
autonomia das universidades é que responde pelos seus modelos, assim como as
prioridades de cada país e instituição.
Em nosso país, para atender o setor produtivo dominante, segundo
Pimenta (2001), prevalece a concepção de treinamento dos profissionais, o que
acarreta a mínima participação dos docentes nas decisões que envolvem os
currículos. Dessa forma, o trabalho docente se limita ao espaço disciplinar e dificulta
o desenvolvimento das habilidades pedagógicas e consequentes questionamentos
no sentido de se opor às contradições de formação dos discentes, como também
discutir novas possibilidades.
Vasconcellos (2005) vislumbra que os estudos apontem caminhos
que busquem responder aos anseios, necessidades e expectativas dos docentes
que devem manter-se em constante formação. Começa pela mudança de
mentalidade em relação à educação, ao ens ino e à universidade; passa pelas
mudanças nas políticas educacionais para o ensino superior e pelo compromisso da
instituição, como um todo, em capacitar os docentes. Considera -se ainda que ser
professor não é ter o domínio dos conteúdos, mas é necessá rio também refletir
“sobre concepções de mundo, de homem, de ciência, de ensinar e de aprender,
complementada pelo conhecimento de técnicas que integram a formação do
professor” (GRILLO; FERNANDES, 2003, p. 230).
Diferentes autores como Pimenta e Anastasio u (2002), Isaía (2006),
Veiga (2006), entre outros, fornecem indicativos da necessidade de uma formação
pedagógica para os professores, além do domínio dos conteúdos. Também
acreditamos ser de suma importância um trabalho de preparação, de formação
pedagógica para atuar nesse nível de ensino.
A educação formal tende a valorizar o conteúdo, tanto quantitativo
como qualitativo. Não que não seja importante, mas ter domínio dos conteúdos não
garante que o docente seja eficiente em seu trabalho. O ensino superi or é
35
ministrado, na grande maioria das vezes, por meio de aulas expositivas. Dessa
forma, o conhecimento chega praticamente pronto, formatado e o aluno não tem a
possibilidade de pensar, de questionar, de relacionar com a realidade.
Anastasiou (2006) explica esse modelo, com aulas expositivas, com
o conhecimento formatado para o aluno, como jesuítico, uma vez que o conteúdo
chega pronto e acabado. Essa transmissão passiva, descontextualizada, não
garante uma aprendizagem significativa. A prática pedagógica não pode ser
concebida como mera transmissão de conhecimentos, desvinculados da realidade
social. Em seus trabalhos, como pesquisadora e consultora de instituições públicas e
privadas, a autora fala em “insuficiência pedagógica acerca dos saberes docentes
(p.147). Completa que os docentes acabam repetindo o que vivenciaram como
alunos e, assim, o ensino torna -se repetitivo.
O professor tem o conhecimento da matéria, mas o faz de forma
expositiva, o que exige memorização dos estudantes para êxito nos exa mes. Além
disso, essa prática contraria a LDB 9394/96 e diretrizes decorrentes, fugindo de
propósitos institucionais de construção coletiva, com propostas de projetos que
abordam questões regionais e universais, bem como “comprometendo as
possibilidades de avanços dos que ensinam e dos que cursam graduação na
educação superior” (ANASTASIOU, 2006, p.148).
Também nos estudos de Vasconcellos (2005), vários docentes
pesquisados comungam com a ideia de que o professor universitário competente
ensina o aluno a pensar, a indagar, a buscar soluções para resolver um problema.
Portanto, o aluno é ativo no processo ensino -aprendizagem. Para a autora, a
competência docente deve incluir algumas características técnicas como ter o
domínio do saber escolar e gerenciar est e saber de forma que o aluno aprenda. No
entanto, para se falar em competência é importante considerar as dimensões:
técnica, estética, política e ética. Mas o fundamental é a dimensão ética, uma vez
que as outras se guiam segundo os princípios éticos.
Observando a literatura, parece -nos que essa questão da formação
docente acompanhou a expansão quantitativa do ensino superior desde o final da
década de 1960. As IES se expandiram, mas os professores ingressaram no
magistério superior despreparados e sem po líticas públicas direcionadas para essa
formação. Segundo Scheibe (apud Vasconcelos, 1996, p. 3), a subestimação do
trabalho pedagógico “emana tanto das instituições como do próprio professor”.
36
Segundo Vasconcelos (1996), os professores contratados no fina l da década de
1960 não possuíam experiência e não eram preparados para trabalhar no ensino
superior.
Mesmo assim, sem estar preparado ou em formação para atuar no
ensino superior, o professor inicia nesse nível de ensino. Pensamos que os
docentes comprometidos com a educação almejam sanar as deficiências, desde que
admitam a si próprios seus déficits, por menores que sejam e se mobilizem no
sentido de mudança. É o que defende Vasconcellos (2005) quando ressalta que
deve partir dos próprios docentes a col aboração nas propostas de formação
docente. “Sem olhar para si mesmo e para sua própria prática não é possível
receber
um
treinamento,
como supõem muitos docentes” (p. 230) (grifos da
autora).
Não se trata das IES oferecerem cursos aligeirados e momentâne os,
mas sim oferecer uma formação que possa suprir as carências dos docentes. É
importante que estes percebam que o grande desafio “é a articulação entre o saber
escolar e as condições concretas dos alunos, o que reflete um aspecto político”
(VASCONCELLOS, 2005, p. 230).
Pachane (2006, p. 98) relata que as críticas aos professores
universitários são sempre as mesmas, pela falta de didática. Essa comprovação se
deu por seus estudos em diferentes cursos com alunos de diferentes tipos de
instituições. A autora levantou trabalhos específicos de autores como: Balzan (1988),
Cunha (1989) Comvest (1996), Masetto (1998), Pachane (1998) e Leite et al. (1998).
As críticas se condicionaram à postura do professor que tem conhecimento da
matéria, mas não consegu e ensinar e não se importa; não tem uma proximidade
com o aluno; considera-se o dono da verdade ou então prioriza a pesquisa em
detrimento da docência, uma vez que a pesquisa é mais valorizada no meio
acadêmico. É interessante ressaltar que essas questões são muito freqüentes,
parecem ser algo natural e fazer parte da cultura das instituições de nível superior.
Ao se discutir a formação docente, é imprescindível mencionar a
questão da concepção de educação que deve permear o trabalho do professor
pautado numa ação reflexiva, articulada com a realidade social. Quanto à
racionalidade técnica, não deve ser desprezada, pois muitas das técnicas utilizadas
em sala de aula precisam ser dominadas. Mas a ação docente é complexa e pode
37
ser um trabalho que visa à repr odução para legitimar o sistema social vigente ou de
transformação.
No que se refere à concepção de educação, Isaía (2006) enfatiza as
“concepções sobre a docência que envolvem criação mental, compreensão e
dinâmicas em que se articulam processos reflexivo s e práticas efetivas, em
permanente movimento construtivo ao longo da carreira docente” (p. 74). Para a
autora, estas concepções o oriundas das vivências e trazem os saberes implícitos
e explícitos do senso comum e da cientificidade. São permeadas por sentimentos
que envolvem as relações interpessoais com elo afetivo, valorativo e ético. “São
essas concepções que orientarão o modo como os professores desenvolvem suas
diferentes atividades docentes” (p. 74) (
sic
).
Quanto à reflexão, a colocamos como con dição sine qua non nas
práticas educativas. Autores como: Perrenoud (1997); Schön (2000); Alarcão (2000)
e Freire (2007) comungam com a opinião da autora de que os professores que
refletem sobre suas efetivas práticas terão maiores possibilidades de êxito nas
situações educativas. Isaía (2006, p.78) explica que:
A reflexão sobre a própria prática pode ser entendida como condição
de formação profissional. É preciso enfatizar que a prática por si
não gera conhecimento. A reflexão na prática, e sobre el a, vai
agregar novas formas de atuação docente, em termos individuais ou
coletivos; neste último caso, quando espaço institucional para
tanto.
Quando se é professor, a reflexão é um exercício obrigatório, para
poder enfrentar os novos desafios e adeq uar as soluções, uma vez que no mundo
em que vivemos não existe uma verdade absoluta e final. Fazemos parte de uma
realidade que nos manipula, e a reflexão possibilita sair de uma posição passiva e
ampliar o campo de visão no sentido de conhecer diferentes paradigmas e rever
conceitos para discutir a formação de professores. Defendemos a reflexão por ser
fundamental levantar questionamentos da importância sobre a mesma em sala de
aula, e estabelecer uma relação com o mundo, articular e constituir esse elo, que
repercute no compromisso com o processo ensino/aprendizagem e não na
superficialidade da transmissão de conhecimentos.
Pérez Gómez (1997, p. 105) explica que os processos de reflexão
sobre a ação, supõem um conhecimento -na-ação e uma análise sobre a r eflexão-na-
38
ação, constituem
o pensamento prático do profissional
(nesse caso o professor),
que se depara com situações que divergem na prática” (grifo do autor). Vale
ressaltar que os três processos são interdependentes e se completam para garantir
uma efetiva intervenção. O tempo faz com que a prática se torne repetitiva e rotineira
e, por isso,
[…] o conhecimento-na-acção é cada vez mais tácito, inconsciente e
mecânico, o profissional corre o risco de reproduzir automaticamente
a sua aparente competênc ia prática e de perder valiosas
oportunidades de aprendizagem pela reflexão na e sobre a acção.
Desta forma, o seu conhecimento prático vai -se fossilizando e
repetindo, aplicando indiferentemente os mesmos esquemas a
situações cada vez menos semelhantes (P ÉREZ GÓMEZ, 1997, p.
105).
Para o autor, isso significa que o profissional não consegue conciliar
um diálogo criativo numa situação complexa e real. Passa a ser insensível às
características que fogem aos padrões do seu pensamento prático empobrecido e
não percebe os erros cometidos.
Pachane (2006) afirma que é consenso na literatura, com base em
diversos autores por ela estudados como: Balzan (1988), Cunha (1989), Comvest
(1996), Masetto (1998), Pachane (1998), Leite et al. (1998), entre outros, citad os,
a necessidade da formação pedagógica para os professores e sugere que possa “vir
a se constituir em uma exigência do sistema educacional” (p.99). Mas a autora alerta
para que isso não seja feito de forma indiscriminada, nos cursos de pós -graduação,
com informações suplementares, desintegrado de outras disciplinas, sem um elo que
associe teoria e prática, mas simplesmente para cumprir exigências legais. Isso nos
leva a trazer a observação de Vasconcelos (1996), quando ela lembra que, na
década de 70, mesmo com uma política de formação para o ensino superior, com o
Plano Nacional de Pós -Graduação (1º PNPG) com o objetivo de qualificar os
professores, a ênfase fica para a pesquisa e não há valorização do pedagógico.
Retomando a lei que trata da prepa ração, nos cursos de pós -
graduação, stricto e lato sensu, como enfatiza Veiga (2006), desde o princípio da
implantação desses cursos prevaleceu o enfoque e a valorização da pesquisa ou
então a questão da competência técnica.
Podemos dizer que a grande maio ria dos professores que atua no
ensino superior domina os conhecimentos nas áreas em que atua, mas não possui
39
uma formação pedagógica. Para defender nossa idéia, citamos a posição de
Pimenta e Anastasiou (2002) quando argumentam que, apesar de os professor es
universitários possuírem experiências significativas na área em que atuam, ou
mesmo o domínio teórico, de um modo geral, eles não têm uma preparação
pedagógica, ou o conhecimento científico do que seja um processo de
ensino/aprendizagem.
Aqueles que m uma formação nas áreas de licenciatura têm
acesso aos conhecimentos teóricos do processo ensino/aprendizagem mesmo que
para outros níveis de ensino. Entretanto, nos cursos de bacharelado, a formação
técnica é a prioridade, não valorizando a docência como um campo teórico de
conhecimentos. Essa não valorização da formação pedagógica para o ensino
superior também não constou nas leis e reformas educacionais anteriores do país. O
conhecimento científico da área profissional era o suficiente.
Isaía (2006) faz um alerta bastante pertinente, com base em
pesquisa que fez em uma IES federal, bem como em IES particulares e
comunitárias, sobre o professor de licenciatura e suas concepções de docência.
“Estou chegando a conclusão que ele tem mais resistência que o p rofessor de
bacharelado para aceitar sua falta de preparação específica para o magistério
superior” (p. 263).
A autora conclui que, pelo fato de ter alguma experiência em outra
área, o professor da licenciatura não se com deficiência para atuar no ensi no
superior, enquanto o professor de bacharelado sente que falta uma formação na sua
ação didática, pedagógica ou educacional. Sem contar que, tanto em nível nacional
como internacional, não encontramos estudos sobre a andragogia e sobre a
aprendizagem do aluno universitário. É o que adverte Anastasiou (2006, p. 294):
Estive procurando materiais de andragogia para trabalhar com os
professores, até porque um dos determinantes do processo de
profissionalização é a aprendizagem do adolescente e/ou adulto. E,
quando você vai discutir a aprendizagem, você fica no eixo: ou
trabalha com os estágios de desenvolvimento, ou trabalha com teoria
de desenvolvimento. Esse é um campo a ser sistematizado e
ampliado em nossas pesquisas acerca da docência na universidade.
40
Acreditamos que o fato de não ter as políticas públicas voltadas para
a importância de uma formação para a atuação no magistério da educação superior,
os estudos sobre andragogia ainda não são entendidos como necessários.
A posição de Vasconcelos (1996) é semelhante, ao pontuar que a
formação pedagógica dos professores que cursam as licenciaturas visa o
ensino/aprendizagem da criança e do adolescente. Mas, para atuar com o adulto,
eles não recebem formação, nem na graduação nem na pós -graduação.
Sua denúncia prossegue ao relatar que os cursos de Licenciatura
têm uma insignificante valorização, tanto por partes dos alunos como das próprias
instituições. Com raras exceções, os cursos não têm prestígio e seus conteúdos são
empobrecidos. Com esse conceito, os professores da licenciatura ministram aulas
sem conhecer as características do curso de bacharelado, e, aos docentes que
ministram conteúdos específicos do bacharelado, faltam -lhes os conhecimentos
pedagógicos necessários para formar o futuro docente. Soma do a isso, o professor
se depara com inúmeros alunos por turma, com os horários para as disciplinas que
não são os melhores, “demonstrando claramente o descaso com a formação dos
recursos humanos para o magistério” (VASCONCELOS, 1996, p. 20).
Para Gauthier et al. (1998, p. 17), “O ensino é um ofício universal”.
Apesar de se tratar de um ofício que remonta à Antiguidade, sendo exercido em
todos os cantos do mundo, muito a descobrir sobre ele. A interação entre alunos
e professores e conhecer os vários el ementos que compõem o saber docente se
revelam fundamentais para que o ofício seja exercido com competência. Nesse
sentido, o que é necessário saber para ensinar? As pesquisas, nas duas últimas
décadas, do conjunto de conhecimentos para a prática pedagógic a se mostraram
com vários incentivos “para que o docente se conheça enquanto docente, como uma
série de tentativas de identificar os constituintes da identidade profissional e definir
os saberes, as habilidades e as atitudes envolvidas no exercício do magi stério”
(GAUTHIER et al., 1998, p. 18).
São tantas as possibilidades, no sentido de destacar as deficiências,
as necessidades, as expectativas, as possíveis soluções em busca de qualidade,
que o estudo nesse nível de ensino revela -se vasto e merece atençã o a todas as
questões que foram levantadas, porque pensar a docência no ensino superior exige
pensar na formação dos futuros profissionais das mais diferentes áreas que atuarão
41
na sociedade. Os professores formadores têm nas mãos a grande responsabilidade
de exercer sua docência com qualidade e competência.
No entanto, na maioria das IES, apesar de estas também serem as
responsáveis pela formação dos seus docentes, que também formarão os futuros
profissionais, não existe ainda uma valorização para essa for mação (MASETTO,
2000, 2003), (MOROSINI, 2001) e (ZABALZA, 2004).
A legislação para a docência no ensino superior se restringe ao que
é tratado No Art. 66 da LDB 9394/96: "A preparação para o exercício do magistério
superior, far-se-á em nível de pós-graduação, prioritariamente em programas de
mestrado e doutorado" (BRASIL, 1996 ). Portanto, não a exigência de formação
específica para atuar nesse nível de ensino.
Todavia, a formação docente pode acontecer em contextos reais
onde se exerce a ação educat iva. Para Masetto (2000), a sala de aula constitui o
espaço no qual professores e alunos são sujeitos de um processo de aprendizagem,
pois se encontram para realizar uma série de ações. Na concepção de Cunha
(1997), a sala de aula é um “espaço revelador de intencionalidades, carregada de
valores e contradições” (p. 81). Desse modo não mais como o professor atuar
esperando que o aluno “escute, leia, decore e repita” (BEHRENS, 1998, p. 62).
Mas quem é o professor universitário?
No ensino superior, o profe ssor é, a princípio, um profissional que
tem o conhecimento técnico de uma área específica. A exceção é com os
professores de Educação, Licenciaturas e outros níveis de ensino, que requisitam
uma habilitação pedagógica. Para Cunha (2005), o professor unive rsitário é o
técnico que aulas. “A idéia de que quem sabe fazer sabe ensinar, deu
sustentação à lógica do recrutamento dos docentes” (CUNHA, 2005 p. 70).
Apesar da persistência de uma visão direcionada para a
racionalidade técnica, presume -se que, para trabalhar nesse nível de ensino, é
necessária uma formação compromissada que atenda às necessidades dos alunos
para o exercício de sua profissão. Essa formação passa pela valorização da
profissão e das suas condições de trabalho. A esse respeito, Pimenta e Anastasiou
(2002, p. 13) advertem que:
Esse processo de valorização envolve formação inicial e continuada,
articulada, identitária e profissional. Essa formação identitária é
42
epistemológica, ou seja, reconhece a docência como um campo de
conhecimentos específicos configurados em quatro grandes
conjuntos, a saber: 1) conteúdos das diversas áreas do saber e do
ensino, ou seja, das ciências humanas e naturais, da cultura e das
artes; 2) conteúdos didático -pedagógicos, diretamente relacionados
ao campo da prática profissional; 3) conteúdos ligados aos saberes
pedagógicos mais amplos do campo teórico da prática educacional;
4) conteúdos ligados à explicitação do sentido da existência humana
individual, com sensibilidade pessoal e social. E essa formação
identitária é também profissional.
Não podemos esquecer que o professor é um ser humano, uma
pessoa que se depara com questões também complexas de ordem sócio -
econômica, política, tecnológica que se tornam conflitantes para pensar a ação
docente. Ao se preparar para essa ação docente, o professor não tem como se
despir de seus desafios, seus conflitos, seus medos, suas angústias, suas tristezas,
suas alegrias perante tantas incertezas.
O mundo atual, que passa por profundas transformações sociais,
com a evolução tecnológica, por meio das tecnologias da informação e
comunicação, exige que o jovem domine esses conhecimentos e cabe à educação
prepará-los, uma vez que é a resposta defendida para suprir a exigência
mercantilista do mundo do trabalho.
No ensino superior, o responsável para responder a esses desafios
do cenário acadêmico é o professor, que é um profissional da educação, mas acima
de tudo uma pessoa humana, com sentimentos, valores e saberes que personificam
sua forma de ser a pessoa do professor. É o q ue explicita Nóvoa (1995, p.7):
Hoje sabemos que não é possível separar o eu pessoal do eu
profissional, sobretudo numa profissão fortemente impregnada de
valores e ideais e muito exigente do ponto de vista do
empenhamento e da relação humana. Houve um te mpo em que a
possibilidade de estudar o ensino, para além da subjetividade do
professor, foi considerada um sucesso científico e um passo
essencial em direção a uma ciência de educação. Mas as utopias
racionalistas não conseguiram pôr entre parênteses a es pecificidade
irredutível da ação de cada professor, numa óbvia relação com as
características pessoais com as suas vivências profissionais como
escreve Jennifer Nias:
O professor é a pessoa; e uma parte
importante da pessoa é o professor
(grifo do autor).
Santos Neto (2002, p. 44) afirma que “A formação tradicional não
cuidou de forma sistemática desses aspectos humanos”. Os aspectos humanos a
43
que se refere o autor estão relacionados à competência docente, e fica a cargo do
docente a responsabilidade indi vidual para sanar suas deficiências e promover o
próprio desenvolvimento profissional. É importante e necessária a preocupação
particular do docente, porém seria mais efetiva se facilitada e articulada pelas
políticas públicas, com maior sistematização no processo formativo (SANTOS
NETO, 2002, p. 45).
No entanto, o autor aponta que alguns estudos têm avançado nesse
sentido e cita as contribuições de alguns autores como: Nóvoa (1995); Ferrarotti
(1988); Tardif, Lessard, e Lahaye (1991); Tavares (1999); Hube rman (1995); Josso
(1988); Snyders (1997); Assmann (1995; 1998); Fazenda (1994); Espírito Santo
(1998); Pimenta (1998); Gallo (2000); Byington (1996); Moraes (1997); Santos Neto
(1998) e Morin (1991). Os trabalhos citados pelo autor trazem os aspectos huma nos
nos processos formativos dos professores de forma sistemática e profunda
(SANTOS NETO, 2002, p. 47).
Quando se fala de formação docente, são várias as configurações
que a permeiam. O professor necessita de uma preparação de qualidade para
responder com êxito ao processo ensino/aprendizagem, bem como ao seu
desenvolvimento profissional. Os professores que tomam essa iniciativa caminham
solitários. Nem todas as IES, apesar de terem a autonomia para a capacitação e
formação contínua de seus professores, s e ocupam dessa formação. Entretanto o
rumo que o ensino superior tem trilhado tem ocasionado a necessidade de eventos e
iniciativas para reverter o quadro atual.
Uma proposta para assumir esse compromisso de forma concreta é
com o Projeto Político Pedagó gico - PPP, se estruturado de forma compartilhada
para construir os significados de todos os envolvidos (MOROSINI, 2006).
O PPP é um documento provisório e viável, se formado por adesão
voluntária e em que, com os próprios conhecimentos, os professores p articipantes
sejam capazes de refletir e propor soluções. O PPP traduz as intenções, projeções,
inovações, mudanças e rupturas “no esforço de definir e configurar uma nova
identidade à instituição” (GRILLO, 2003, apud MOROSINI, 2006, p.56).
Debater ideias, praticar o diálogo, a reflexão, esse é o universo do
qual o professor deve fazer parte e ao qual deve aderir dentro e fora da instituição. O
sujeito em formação, professor ou aluno, é um ser que pensa e com isso obtém o
44
direito de construir seu saber. Se o professor tiver uma formação contínua, pode
refletir sobre sua atuação. Segundo Freire (2007), o professor em formação
permanente vive o momento ideal da reflexão sobre a prática. E aprender a refletir
sobre a prática, desde o início do exercício da do ncia, é uma importante condição
de se auto-avaliar, de refletir como é a sua formação e o seu desenvolvimento
pessoal e profissional.
Pimenta; Anastasiou; Cavallet (2002, p. 213) argumentam que nos
meios educativos tem aumentado a preocupação com a formaç ão e o
desenvolvimento profissional dos docentes do magistério superior. Cresce a cada
dia o número de eventos como congressos, seminários, reuniões que tratam do
assunto. Uma explicação é a expansão em termos quantitativos do ensino superior e
outra que os docentes desse nível de ensino, por sua vez, na sua maioria, são
despreparados, tanto para a função de pesquisadores como para a função docente.
Mas como poderíamos definir a formação de professores?
Marcelo Garcia (1999, p. 26) explica que:
A formação de professores é a área de conhecimentos, investigação
e de propostas teóricas e práticas que, no âmbito da didáctica e da
organização escolar, estuda os processos através dos quais os
professores - em formação ou em exercício - se implicam
individualmente ou em equipa, em experiências de aprendizagem
através das quais adquirem ou melhoram seus conhecimentos,
competências e disposições, e que lhes permite intervir
profissionalmente no desenvolvimento de seu ensino, do currículo e
da escola, com o objectivo de melhorar a qualidade da educação que
recebem os alunos.
Para tratar da questão da formação de professores é importante citar
que os professores contabilizam saberes, uma vez que estes são oriundos de
diferentes momentos da história de vida pessoal e profissional, bem como de várias
fontes. Os saberes são plurais e heterogêneos e vão se constituindo ao longo da
vida e identidade das pessoas (TARDIF, 2005). Portanto, uma formação é
fundamental para lidar com as questões da prática docente.
Uma gama de professores ingressa no magistério superior sem ter a
consciência dessas idéias, o que contribui para exercer uma docência, com respaldo
do senso comum e na experiência obtida como alunos do ensino superior.
Os estudos e análises de Morosini (2000) aponta m que a formação
dos professores é realizada de forma indireta. Os parâmetros de qualidade
45
institucional são determinados pelo governo, e as IES, com base nesses parâmetros,
estruturam a capacitação dos seus docentes. uma diversidade e uma
complexidade sem precedentes, pois o ensino superior brasileiro tem instituições
públicas e privadas, universidades e não universidades, distribuídas nas cinco
regiões do país, cujas características étnicas, sociais e econômicas são diferentes.
O governo instituiu em 2004 o Sistema Nacional de Avaliação do
Ensino Superior - SINAES, com o objetivo de assegurar a qualidade no ensino
superior, com índices de avaliação para definir essa qualidade. Apesar de não ter
estabelecido normas de capacitação didática do docente, o utros indicadores revelam
o êxito ou não da pedagogia universitária. O papel de normatizador e fiscalizador
são do governo e cabe às IES desenvolver os parâmetros para uma política de
capacitação docente.
Morosini (2000) explica que, com a chegada do Esta do Avaliativo, as
instituições, por meio de cursos de pós -graduação, elaboram políticas para capacitar
seus docentes. Antes essa formação docente baseava -se no princípio de laissez-
faire. Com o Estado Avaliativo constataram -se também medidas para a qualifi cação
didática de seus professores, pois com as políticas implantadas busca -se avaliar o
desempenho dos alunos da instituição. Dessa forma se constata a relação de
desempenho didático do professor e consequentemente do aluno. A autora ressalta
ainda:
Não podemos esquecer que os desafios acima resumidos terão suas
questões agravadas, pois a sociedade da informação desloca o eixo
do sucesso da posse do bem para a posse do conhecimento, e isto
implica capacitação continuada dos recursos humanos. A duplicação
das matrículas no ensino superior projetada para 2004, e o
conseqüente crescimento acelerado no número de professores
universitários far-se-á necessário (MOROSINI, 2000, p. 19).
Portanto, a capacitação contínua daqueles que trabalham com o
conhecimento é fundamental para validar essa transferência da posse do bem, ou
seja, a valorização é para o conhecimento, que consequentemente pode vir a
conquistar o bem.
46
CAPITULO 2 - O PROFESSOR INICIANTE NO ENSINO SUPERIOR E A
CONSTITUIÇÃO DA DOCÊNCIA UNIVERSITÁRIA
"O conhecimento exige uma presença curiosa do sujeito em face do mundo.
Requer uma ação transformadora sobre a realidade. Demanda uma busca constante.
Implica em invenção e em reinvenção".
Paulo Freire (1983)
A formação de professores é um campo de es tudos vasto e
abrangente, mas são poucos os trabalhos que tratam, de modo específico, do
professor iniciante do ensino superior. Morosini (2000, p. 5) alerta que a produção
científica sobre identidade, formação e docência do professor do ensino superior
“tem se caracterizado por poucos estudos, isolados e descontínuos. Pode -se afirmar
que o tema do professor do ensino superior não se constitui área sólida de produção
científica”. A autora adverte que o Brasil ainda é mais carente. Não deveria, visto
que temos uma expansão acelerada de instituições de ensino superior.
Diante desses indicativos, questionamos se os professores iniciantes
enfrentam as mesmas situações na constituição de suas carreiras. É a indagação de
Huberman (1995, p. 35):
[…] Será que um grande número de professores passam pelas
mesmas etapas, as mesmas crises, os mesmos acontecimentos -tipo,
o mesmo tempo de carreira, independentemente da “geração” a que
pertencem, ou haverá percursos diferentes, de acordo com o
momento histórico da car reira?
Nesta investigação, temos interesse em desvelar e verificar se as
situações dos docentes iniciantes são semelhantes.
Em estudos realizados por Huberman (1995) sobre o ciclo de vida
dos professores do ensino secundário, ficou demonstrado que a ca rreira docente
passa por fases. A primeira fase, que se refere aos três primeiros anos, seria a
entrada na carreira, caracterizada como um período de descoberta e sobrevivência.
O choque com a realidade se configura como a sobrevivência. O professor se
depara com a complexidade e a imprevisibilidade do locus educativo, havendo um
espaço vazio entre os ideais da educação e a realidade dos alunos e das escolas, e
47
com outros aspectos a gerir como a gestão da sala, falta de material didático, entre
outros. Nem todos os professores iniciantes encaram o período como penoso, pois o
entusiasmo supera o período inicial e as dificuldades são suprimidas pela
descoberta.
Do quarto ao sexto ano da docência, ocorre a fase da estabilização,
momento em que o professor se c ompromete com a profissão e se estabiliza. É uma
fase positiva. Segundo Huberman (1995, p. 40 -41), nesta fase, ainda não
conseguem superar todos os desafios, mas são mais eficazes e utilizam melhor os
recursos técnicos. Por ser um momento mais independente da profissão, selecionam
materiais e métodos mais apropriados aos interesses dos alunos.
A fase da diversificação situa -se entre o sexto e o décimo quinto ano
da carreira. Nesse período, a maioria das respostas dos professores recai sobre a
coragem de diversificar o material didático, bem como as formas de avaliar e agrupar
os alunos em sala e como conduzir o programa. É um período que caracteriza
também as incertezas em relação à continuidade da docência, devido ao sentimento
emergente de cair na rotina.
uma fase também em que as pessoas se questionam. A
sensação de rotina gera uma crise existencial. Os docentes têm dúvidas em relação
à própria atuação, é a busca de uma situação profissional estável. Nesta fase se
caracterizam dois grupos distintos de docentes: o grupo que apresenta serenidade e
distanciamento afetivo e o grupo que apresenta o conservadorismo e as
lamentações. Os professores do primeiro grupo não são tão preocupados com as
situações do cotidiano da sala de aula, mas também não detêm o m esmo
entusiasmo de antes. Já no segundo grupo ocorre a relação entre a idade e o
conservadorismo. Os professores são mais rígidos, com uma prudência acentuada,
sendo resistentes às inovações.
Ainda a fase do desinvestimento, momento em que os docentes
pensam no encerramento da carreira (HUBERMAN,1995, p. 46). Como nas outras
profissões, os professores estão sujeitos aos mesmos elementos de evolução,
desinvestindo progressivamente. Tudo dependerá da forma como se preparam para
o término da carreira.
Nossa preocupação é especificamente com o início da docência
universitária e o processo de construção da identidade docente, uma vez que,
quando iniciamos a docência nesse nível de ensino, sentíamos que não tínhamos
48
preparo e buscávamos complementar nossa for mação. Segundo Pimenta e
Anastasiou (2002, p. 105):
A construção da identidade com base numa profissão inicia -se no
processo de efetivar a formação na área. Assim, os anos passados
na universidade funcionam como preparação e iniciação ao
processo identitário e de profissionalização dos profissionais das
diferentes áreas. Quando passam a atuar como professores no
ensino superior, no entanto, fazem -no sem qualquer processo
formativo e mesmo sem que tenham escolhido ser professor.
Acreditamos que o iníci o da carreira é um importante momento que
tem particularidades merecedoras de investigação. Para Marcelo Garcia (1999,
p.112), “[...] a fase da iniciação ao ensino possui características próprias que
permitem analisá-la de modo diferenciado”. Considera o a utor que esta etapa de
formação profissional é a que se processa formalmente em uma instituição
específica de formação de professores, na qual o futuro professor adquire
conhecimentos pedagógicos de disciplinas acadêmicas, assim como efetua práticas
de ensino.
A formação inicial é um tema vulnerável, suscetível de atenção e de
mais pesquisas sobre o assunto. Para corroborar a relevância do assunto, citamos
Fernandes (2006), que mencionou o trabalho desenvolvido pelo professor
Hanushek, da Universidade de S tanford (EUA), um estudioso da educação. O
trabalho de Hanushek é pesquisar quais os fatores na escola que interferem
diretamente na aprendizagem do aluno. Concluiu, com base nos estudos, que o que
diferencia uma escola eficiente de uma escola não eficient e é o professor. “Apesar
de essas pesquisas estarem relacionadas à educação básica, [...] o resultado pode
ser generalizado para a educação superior” (FERNANDES, 2006, p. 7).
As descobertas do professor Hanushek, para diferenciar um bom
professor de outros, não se refere às características de sua formação docente, ou à
questão salarial, idade, experiência profissional, ou ainda se cursou uma pós -
graduação ou não. Segundo as pesquisas do professor Hanushek, os dois primeiros
anos de magistério são cruci ais, pois é o período em que o professor mais aprende.
“Depois dessa fase, ao fim de sua atividade, ele mantém a mesma eficiência que
tem ao término dos dois primeiros anos de experiência”. Isso levou o professor
Hanushek a concluir que a formação inici al do professor é determinante para o êxito
49
dos alunos, e ressalta como fundamental os programas de formação continuada e o
acompanhamento profissional para os professores (FERNANDES, 2006, p. 7).
O início da docência inclui intensas aprendizagens ao mesm o tempo
que o professor iniciante precisa superar desafios e necessidades. Parece que os
primeiros anos da docência são decisivos para sua prática profissional que ainda
está se estruturando. Segundo Cavaco (1995, p. 179),
Trata-se de um período de tensõ es, desequilíbrios e de
reorganizações freqüentes, de ajustamentos progressivos das
expectativas e aspirações ocupacionais ao universo profissional. É
ainda muitas vezes, uma época de desenvolvimento pessoal e social
acelerado, mas que passa, no docente, p or uma fase de acentuado
egocentrismo. A preocupação de criar uma imagem de sucesso que
facilite a integração no corpo profissional leva a uma
sobrevalorização das questões de manutenção da disciplina, de
acesso aos recursos pedagógicos, de gestão de progr amas, todos
centrados na pessoa do professor.
Se pensarmos que o desenvolvimento profissional é um processo,
os primeiros anos de docência deveriam ter uma atenção especial, pois é preciso
considerar que os primeiros anos serão determinantes para definir como será esse
profissional. Para Tardif e Raymond (2000), o início do magistério é marcante para o
professor, pois é nesse começo de carreira que toda a prática profissional pode se
estruturar e cristalizar as ações educativas que o acompanharão por tod a a carreira
docente.
Com relação ao ensino superior, outros autores internacionais
deixam claro que os cuidados com a formação pedagógica dos professores
universitários iniciantes não é exclusividade de um ou de outro país, como o Brasil
ou a Espanha, por exemplo.
Marcelo Garcia (1999) usou a seguinte frase se referindo ao seu
país, a Espanha: “Esta é uma realidade que não é exclusiva de nosso país”. A falta
de preparação para a docência é apontada por Gray e Hoy (1989 apud MARCELO
GARCIA 1999, p. 248) n a seguinte afirmação: “não existiu até hoje a tradição de
treino profissional no ensino superior, e os professores jovens sempre foram
deixados sós, excepto talvez um breve curso de iniciação”.
A formação docente abarca toda a carreira docente e represent a
exigências pessoais, profissionais, organizacionais, contextuais, psicológicas etc.,
específicas e diferenciadas, como também “passa por diferentes etapas (pré -
50
formação, formação inicial, iniciação e formação permanente) (FEIMAN apud
MARCELO GARCIA, 1999 , p. 112).
O período de iniciação da docência, para o mesmo autor, é o
período dos primeiros anos, que reúne tensões e intensivas aprendizagens. Os
professores ainda se encontram na situação de conflito no rito de passagem de
alunos para professores. E, n esse início, é preciso adquirir o conhecimento
profissional, sem perder o equilíbrio pessoal num contexto, que os professores
muitas vezes, ainda desconhecem.
Não podemos ignorar que os cursos de licenciatura formam seus
professores para atuar na educação básica e os cursos de bacharelado formam os
seus alunos para serem os futuros profissionais nas mais diferentes áreas. Portanto,
a licenciatura e o bacharelado não se ocupam da formação para o exercício do
magistério superior. Isaía (2006) aponta que, alé m de não ser preocupação nos
diversos cursos de graduação e na pós -graduação, tanto lato quanto stricto sensu,
as disciplinas não o organizadas de forma a favorecer uma formação pedagógica,
mesmo nas iniciativas mais atuais que privilegiam a docência or ientada como
preparação inicial para o nível superior. Contudo, tais iniciativas não garantem a
intenção de preparar efetivamente os docentes para uma das destinações básicas
das instituições superiores, que é a formação de futuros profissionais.
Para Imbernón (2006), os professores recebem na formação inicial
um preparo insuficiente para aplicar uma nova metodologia, ou mesmo métodos
desenvolvidos teoricamente na prática da sala de aula. O autor aponta também que
os professores iniciantes não receberam at enção para saber como desenvolver,
implantar e avaliar processos de mudança. O autor defende que “[…] a formação
inicial é muito importante que é o início da profissionalização, um período em que
as virtudes, os vícios, as rotinas etc. são assumidos com o processos usuais da
profissão” (IMBERNÓN, 2006, p.41).
Na grande maioria das vezes os professores principiantes recorrem
aos seus pares mais experientes para auxiliá -los, uma vez que a formação que
receberam não foi suficiente para lidar com o início do exercício da docência.
Behrens (1996, p. 229) afirma que: "[…] o professor precisa aliar -se
aos seus pares, na própria escola, com sua própria realidade, para buscar caminhos
alternativos de superação da reprodução para a produção de conhecimento".
51
O professor iniciante, que ainda não tem uma trajetória vivenciada
nesse nível de ensino como lida com essa situação? Pimenta e Anastasiou (2002)
nos auxiliam nesse aspecto:
[…] o professor universitário aprende a -lo mediante um processo
de socialização em parte intuitiva, autodidata ou (...) seguindo a
rotina dos “outros”. Isso se explica, sem dúvida, devido à inexistência
de uma formação específica como professor universitário. Nesse
processo, joga um papel mais ou menos importante sua própria
experiência como aluno, o modelo de ensino que predomina no
sistema universitário e as reações de seus alunos, embora não
que se descartar a capacidade autodidata do professorado. Mas ela
é insuficiente (BENEDITO apud PIMENTA; ANASTASIOU, 2002 p.
36).
Bireaud (1995) chama de isomorfismo e significa que o aluno se
torna um professor e exerce as práticas pedagógicas do jeito que aprendeu na sua
formação com seus formadores. É um círculo vicioso, pelo fato de não existirem
políticas públicas e educacionais que tratem da questão da formação pedagógica do
professor universitário. O professor universitário aprende a -lo, em grande parte,
mediante os modelos que o formaram.
Os resultados revelam que a formação inicial e continuada é
fundamental para valorização do exerc ício da docência e consequentemente da
qualidade do ensino. Freire (1998, p.110) faz um alerta ao afirmar que “Ensinar exige
compreender que a educação é uma forma de intervenção no mundo”.
Nesse aspecto, é importante o professor apreender os
conhecimentos teóricos necessários para identificar a sua postura pedagógica, para
ter clara a sua intencionalidade quanto ao aluno que irá formar. Ainda nesse
processo ensino/aprendizagem o professor deve refletir sobre quais são os
paradigmas que fundamentam sua ação docente.
Portanto, esses conhecimentos partem de uma preparação com um
arcabouço teórico para fundamentar e inspirar a sua ação docente. Essa preparação
parte do princípio de conhecer as teorias da educação, propostas por Saviani (2002)
ou tendências pedagógicas como, denominam Libâneo (1994) e Luckesi (1991), ou
ainda ensino: as abordagens do processo de Mizukami (1986).
Zabalza (2004, p. 108) contribui nesse aspecto ao afirmar que
52
[…] a docência implica desafios e exigências: são necessários
conhecimentos específicos para exercê -la adequadamente, ou, no
mínimo, é necessária a aquisição dos conhecimentos e das
habilidades vinculados à atividade docente para melhorar sua
qualidade
.
A docência exige que o professor seja preparado com formação
específica para enfrentar os desafios da sala de aula, pois desempenha sua ação
docente, na maioria das vezes, com turmas numerosas e heterogêneas. Por isso a
formação desses profissionais é digna de atenção pelas políticas públicas de
educação. Nesse sentido, Pachane (2005, p.16) alerta:
O sistema educacional tem observado um movimento no sentido de
democratização do acesso ao ensino superior, ocasionando a
expansão do número de vagas e proporcionando maior
heterogeneidade do público que se dirige às faculdades e
universidades. Este processo leva os professores à necessidade de
saber lidar com uma diversidade cultural antes não tão acentuada e
com turmas cada vez mais numerosas, pois a baixa correlação
aluno/professor, antes tomada como indicador de qualidade, hoje
passa a identificar a “ineficiência do sistema”.
Na busca da democratização para o acesso ao ensino superior, com
a expansão e a heterogeneidade, não se observou a necessidade da formação dos
docentes para lidar com essas mudanças. Embora a prática educativ a seja particular
e pessoal, necessita dos condicionantes externos para efetiva atuação e
desenvolvimento profissional dos docentes. Para Nóvoa (1992), a forma como cada
docente ensina está diretamente dependente do que se é como pessoa quando se
exerce o ensino. A questão da autoconsciência que este autor defende tem relação
com o processo de reflexão sobre a ação docente que o professor faz, colocando -a
numa dimensão crítica da profissão docente, fundamental para se inovar e realizar
mudanças.
Estudos que tratam de modo particular do início da docência no
ensino superior são escassos. Lima (2007), em suas investigações, encontrou
apenas seis trabalhos, mas os que tratam mais especificamente do início da
docência se resumem em três.
Diante disso, esperamos ampliar e contribuir com a discussão do
professor iniciante no ensino superior no processo de seu desenvolvimento
profissional. Esperamos também compreender um pouco mais sobre a docência
53
nesse nível de ensino e ter mais elementos para discutir e analisa r os dilemas e
desafios enfrentados pelos docentes iniciantes.
Mas o que leva a pessoa a desejar exercer a docência? O que move
esse desejo?
Vasconcelos (1996) objetivou identificar quais são os desafios e
dificuldades do professor universitário formado e m áreas não pedagógicas e
concluiu que os motivos que levam o profissional ao exercício do magistério estão
relacionados ao prazer, à gratificação; mesmo aqueles professores que pretendiam
uma complementação provisória de renda permaneceram na docência. P or outro
lado, os docentes que dedicavam um maior número de horas ao exercício docente
se referiam à profissão de sua formação. Em outras palavras, respondiam que
exerciam a profissão de médico, engenheiro ou outra profissão liberal. Autores como
Schwartzman e Balbachevsky (1997, p. 4) enfatizam que:
[…] a idéia de uma profissão acadêmica é relativamente nova, e
decorre do surgimento das modernas universidades de massa, com
seus milhares de professores que fazem do trabalho universitário sua
identidade mais central. Na universidade brasileira, até
recentemente, os professores se identificavam com suas profissões
de origem médicos, advogados, engenheiros, arquitetos e o título
de professor significava sobretudo um galardão adicional a uma
carreira profissional bem sucedida.
De qualquer forma esses profissionais entram na sala de aula para
exercer a docência universitária. A nossa discussão gira em torno do professor
iniciante, especificamente, no processo de desenvolvimento do início da sua carreira
profissional. O professor iniciante, segundo Marcelo Garcia (1999), enfrenta um
momento de intensas aprendizagens e tensões. Ainda assim, o docente precisa lidar
com decisões dentro da sala de aula, desde a indisciplina, a transposição didática da
matéria, entre outras. Será que ao lidar com tais situações está construindo sua
autonomia?
54
2.1 O P
ROFESSOR
I
NICIANTE
N
O
E
NSINO
S
UPERIOR
E O P
ROCESSO
D
E
D
ESENVOLVIMENTO
D
A
A
UTONOMIA
P
ROFISSIONAL
Ao ter que lidar com decisões, na sala de aula, no que se refere à
sua prática educativa, o docente exerce de certa forma uma autonomia. As decisões
tomadas estão impregnadas de conceitos, crenças, juízos, atitudes, valores e da
visão de mundo que o docente possui. Consideramos assim, nesse processo, q ue a
dimensão ética abrange o modo de pensar e de agir na docência. Recorremos a
Tardif (2005, p.149) para esclarecimentos nesse sentido:
A pedagogia não pode ser outra coisa senão a prática de um
profissional, isto é, de uma pessoa autônoma, guiada por u ma ética
do trabalho e confrontada diariamente com problemas para os quais
não existem receitas prontas. Um profissional do ensino é alguém
que deve habitar e construir seu próprio espaço de trabalho de
acordo com limitações complexas que só ele pode assum ir e resolver
de maneira cotidiana, apoiado necessariamente em uma visão de
mundo, de homem e de sociedade.
Na prática educativa da sala de aula, os docentes têm que agir por
conta própria, apesar das influências externas do seu entorno econômico, políti co e
social. As ações dos professores, dentro da sala de aula, nas tomadas de decisões,
revelam uma postura autônoma. É a opinião de Imbernón (2006, p. 13) ao relatar
que “[…] para ser um profissional é preciso ter autonomia, ou seja, poder tomar
decisões sobre os problemas profissionais da prática”. Mas o que significa a
autonomia? Segundo o dicionário Aurélio (1975, p. 49) significa: “1. faculdade de se
governar por si mesmo […] 3. Liberdade ou independência intelectual”.
Petri (apud ALVES, 2008, p. 157 ) compreende que:
[…]
ter autonomia significa ser autoridade, isto é, ter força para falar
em próprio nome, poder professar (daí o sentido de ser professor)
um credo, um pensamento, ter o que ensinar a outrem, ser possuidor
de uma mensagem a ser proferid a. Em outras palavras, é ser autor
da própria fala e do próprio agir, entre a ação e o conhecimento, isto
é, a não separação desses dois momentos interdependentes.
As autoras lembram que a pedagogia tradicional responde em
grande parte por formar seres p assivos, acríticos, que reproduzissem a ideologia
55
dominante. Os que ousam discordar são excluídos do contexto escolar e social. Os
poucos sujeitos autônomos se concentravam nos centros de pesquisa e nas
universidades onde se produzia o conhecimento.
Entretanto autonomia não significa liberdade absoluta. As
interferências externas, os condicionantes culturais, econômicos, sociais e
pedagógicos delimitam decisões. Segundo as autoras, é necessário promover
espaços de formação para que os docentes reflitam na p rópria história de
aprendizagem e no seu processo de construção de autonomia em um contexto macro
e micro, considerando que tanto a práxis como a subjetividade “são construídas
mediante uma teia de relações” (ALVES, 2008, p. 158).
Desse modo, os saberes o construídos no plano coletivo e depois,
de modo individual, por cada sujeito no exercício da autonomia.
Para Freire (2007, p. 107), “[…] A autonomia vai se constituindo na
experiência de várias decisões que vão sendo tomadas […]. A autonomia enquanto
amadurecimento de ser para si, é processo, é vir a ser […]”. Para o autor uma
pedagogia da autonomia tem que ter o seu foco em experiências estimuladoras da
decisão e da responsabilidade. A capacidade de decidir depende de cada pessoa e
deve se pautar em princípios éticos.
Sacristán (2000) enfatiza que o professor enfrenta situações incertas
e complexas. Para Schön (apud SACRISTÁN, 2000), o docente, ao decidir sobre
casos que são únicos, não pode se utilizar de teorias ou técnicas padronizadas, mas
o faz num processo de reflexão e de escolhas em situações concretas e práticas.
Nesse momento a experiência prévia do professor é importante, assim como o
conhecimento. No entanto o autor explica que “a técnica não se deduz de forma
automática desse conhecimento, ma s do próprio processo de pensar e deliberar na
situação a resolver (p.169)”.
Entendemos, nesse sentido, que, quando o professor pensa por si
próprio, ele tem uma postura de autonomia que vai se fortalecendo à medida que o
docente se depara com variadas e d iferentes situações. Ao tomar as decisões sobre
as situações que se apresentam, o docente exerce sua autonomia. Para Freire
(2007, p. 107), “Ninguém é autônomo primeiro para depois decidir”. São as
experiências que possibilitam tornarmo -nos autônomos.
Nesse aspecto, refletir é uma importante condição, uma vez que
como professores devemos estar em constante formação. Os professores, como
56
profissionais do saber, são os atores principais, mas as políticas públicas podem
contribuir, neste cenário, com proposta s efetivas, para viabilizar essa formação. Os
saberes propostos por Tardif (2005), adquiridos ao longo da vida e da profissão,
constituem-se em um repertório de conhecimentos docentes, mas que precisam ser
realimentados para um constante desenvolvimento pr ofissional e compromisso com
a educação. A proposta de Sacristán (1999, p. 12) nessa perspectiva é:
[…] resgatar uma idéia de ordem racional limitada, contando com a
importância do protagonismo dos agentes principais da educação,
que são os professores, é uma forma de acentuar não o valor da
autonomia, mas também a responsabilidade e de seu compromisso
com a educação.
Compromisso esse fundamentado numa postura reflexiva para uma
efetiva prática docente. Desse modo, a profissão docente exige que seus
profissionais saibam lidar com a alteridade, com a flexibilidade e a imprevisibilidade
(PIMENTA; ANASTASIOU, 2002). Para as autoras, os professores não têm, como
parâmetros, modelos ou experiências modelares para aplicarem. A experiência que
acumulam serve de referência, mas nunca servirá como padrão de ações com
garantia de sucesso. “Assim, o processo de reflexão, tanto individual como coletivo,
é a base para a sistematização de princípios norteadores de possíveis ações, e
nunca de modelos” (PIMENTA; ANAS TASIOU, 2002, p. 199).
Nesse sentido, entendemos a importância da reflexão na prática
docente e na contínua formação dos professores. Para Freire (2007, p. 39), “[…] na
formação permanente de professores, o momento fundamental é o da reflexão
crítica sobre a prática”. “A prática pode reforçar o hábito, mas se não for analisada,
se não for submetida a comparações e se não for modificada poderemos passar a
vida inteira cometendo os mesmos erros” (ZABALZA, 2004). a experiência não
basta para se constituir como formação.
Dewey (1959) alerta-nos sobre a questão da experiência. O autor
explica que o professor, ao possuir 10 anos de experiência, pode se encaixar em
duas situações distintas: pode ter um ano de experiência repetido 10 vezes; ou
pode ter os 10 anos de experiência de fato. A questão é que a experiência pela
experiência constitui-se mais como uma rotina. No entanto, se a reflexão permear
essa experiência, esta se constitui como característica formadora.
57
Essa postura reflexiva num movimento de ir e vir considera que
teoria e prática são as duas faces de uma mesma moeda. Dessa forma, estão
intimamente relacionadas, o que reforça a necessidade de o professor universitário
assumi-la. Desse modo, a ação pedagógica se revela comprometida com o
processo ensino/aprendizagem na conquista da autonomia. Para contribuir nesse
sentido recorremos a Habermas (apud ALARCÃO, 2001, p. 25): “[…] só o EU que se
conhece a si próprio e questiona a si mesmo é capaz de aprender, de recusar de
tornar-se e de obter autonomia […]”.
Não é fácil uma postura para a emancipação docente na construção
da autonomia. A reflexão crítica sobre a prática contribui para a conquista da
autonomia. Mas a autonomia aqui postulada não é individual e isolada, mas
alicerçada no coletivo. Ao m esmo tempo que muitas das decisões dos professores
são autônomas, elas se fortalecem no coletivo. É o que indica Nóvoa (1997):
Práticas de formação contínua organizadas em torno dos
professores individuais
podem ser úteis para a aquisição de
conhecimentos e de técnicas, mas favorecem o isolamento e
reforçam uma imagem dos professores como transmissores de um
saber produzido no exterior da profissão. Práticas de formação que
tomem como referência as dimensões do saber
colectivas
contribuem para a emancipaç ão profissional e para a consolidação
de uma profissão que é autônoma na produção dos seus saberes e
dos seus valores (NÓVOA, 1997, p. 26 -27) (grifos do autor).
A tendência é essa, uma vez que a complexidade do mundo com as
incertezas, as divergências, as dúvidas são elementos constitutivos desse contexto
em que a docência além de diversificada é complexa. A docência não se restringe
mais a transmitir um conhecimento acadêmico ou mesmo trabalhar o conhecimento
do aluno em conhecimento formal. Agora, o prof essor precisa exercer outras
funções: “motivação, luta contra a exclusão social, participação, animação de
grupos, relações com estruturas sociais, com a comunidade... E, é claro que tudo
isso requer uma nova formação: inicial e permanente” (IMBÉRNON, 2006 , p. 14).
A busca de uma reflexão compartilhada é fundamental para uma
verdadeira autonomia profissional. O mesmo autor defende “como característica
primordial a capacidade reflexiva em grupo, mas não apenas como aspecto de
atuação técnica, e sim como pro cesso coletivo para regular as ações, os juízos e as
decisões sobre o ensino […]” (IMBÉRNON, 2006, p. 14).
58
Zeichner (1997, p. 26) salienta que o problema maior é o isolamento
dos professores:
Na minha opinião, um dos problemas mais importantes à formação
de professores é o nosso isolamento em pequenas comunidades
compostas por colegas que partilham orientações idênticas, o que
empobrece o debate e as interacções.
As experiências dos professores precisam ser compartilhadas para
não cair no individualismo e no isolamento, com oportunidades de aprendizagens
significativas nas trocas e reconstrução das formas de ensinar, no confronto das
práticas, pautadas na reflexão.
Contreras (2002) questiona a reflexão no sentido de atender as
questões da pluralidade e de sigualdade rumo a uma prática educativa mais
igualitária. Nesse sentido Imbérnom (2006, p. 15) propõe:
[…] formar o professor na mudança e para a mudança por meio do
desenvolvimento das capacidades reflexivas em grupo, e abrir
caminho para uma verdadeira autonomia profissional compartilhada,
que a profissão docente deve compartilhar o conhecimento com o
contexto. […] já que isolados eles se tornam mais vulneráveis ao
entorno político, econômico e social.
Dessa forma, a autonomia se estrutura como um p rocesso e se
estabelece na relação com os outros profissionais no lócus onde se desenvolve o
trabalho docente, permeada pela reflexão crítica. Não podemos ignorar que, para
viabilizar a reflexão compartilhada, a necessidade de um espaço para consolidá -
la. A mudança de postura para um conhecimento compartilhado não parece fácil,
mas um caminho viável para esse início é o Projeto Político Pedagógico PPP. A
formação docente não pode ficar à margem do PPP da instituição, mas fazer parte
integrante da formação. A formação para o exercício da docência não é estanque, é
dinâmica e não se estabelece um prazo para ser concluída.
Para Veiga (2002), não uma terminalidade para a formação no
exercício da docência, porque ela é dinâmica. Se a formação é dinâmica , o exercício
da docência ocupa o papel central, assim, a formação inicial e continuada bem como
a pesquisa são integrantes dessa formação.
Veiga (2002) aponta que a formação inicial deve dar condições ao
aluno de desenvolver um amplo conhecimento no campo científico, pedagógico,
59
cultural e social, a formação continuada visa atender as vivências do cotidiano do
professor. Nesse sentido, a formação inicial e a continuada devem ser
indissociáveis. A autora explica o papel do homem como um ser inconcluso. E ssa
idéia nos remete a Freire (2007, p. 50): “A maneira radical como me experimento
enquanto ser cultural, histórico, inacabado e consciente do inacabamento. […] Na
verdade, o inacabamento do ser ou sua inconclusão é próprio da experiência vital”.
A formação identifica-se com a idéia de percurso, processo,
trajetória de vida pessoal e profissional. Desse modo, a formação não se conclui, ela
é permanente, como um contínuo essencial na vida dos professores e mesmo da
escola. Para o autor, a formação docente e ngloba o desenvolvimento pessoal e o
profissional. A formação voltada para o desenvolvimento pessoal é no sentido de
produzir a vida do professor, e o desenvolvimento profissional é o de produzir a
profissão docente. ainda o desenvolvimento instituciona l que é produzir a escola.
Significa uma dupla perspectiva nos aspectos: individual e coletivo (NÓVOA, 2002).
Nessa perspectiva se insere a questão da reflexão e da crítica. O
autor considera que a formação se constrói “através de um trabalho de reflexivid ade
crítica nas situações práticas e de uma
(re) construção
permanente de uma
identidade pessoal. Por isso é tão importante investir na pessoa e dar um estatuto
de saber à experiência” (NÓVOA, 1997, p. 25) (grifo do autor).
A consolidação dos espaços de fo rmação mútua é conferida pela
troca de experiências entre os pares como afirma o mesmo autor:
A troca de experiências e a partilha de saberes consolidam espaços
de formação mútua, nos quais cada professor é chamado a
desempenhar, simultaneamente, o papel de formador e de formando
(NÓVOA, 1997, p. 26).
Daí sua proposta de reflexão já apontada por Schön (2000) que
discute os conceitos de reflexão -na-ação, reflexão-sobre-a-ação e reflexão-sobre-a-
reflexão-na-ação. A primeira idéia define o professor como o p rático que aprende a
partir da análise e da interpretação de sua própria ação. A segunda expressão
ocorre quando o professor passa a pensar sobre aquilo que realizou em
determinada situação. No terceiro momento, o professor avança no seu
conhecimento e constrói seu repertório pessoal de conhecer. É a reflexão crítica que
o professor adotou, após análise sobre a própria ação.
60
Ainda com relação ao conhecimento compartilhado, Bolzan (2006,
p.380) afirma que o mesmo
[…] refere-se às trocas entre pares/docente s e o aprofundamento
sobre temas trabalhados coletivamente implicando na autonomia dos
professores, permitindo -lhes, a partir da reestruturação pessoal dos
seus esquemas de conhecimento resolver diferentes situações
didático-pedagógicas e profissionais. O compartilhar de ajuda ou
estímulo envolve a atividade colaborativa, favorecendo o avanço do
professor com relação ao seu desenvolvimento intelectual.
Tardif (2005) contribui na discussão analisando o fato de os
professores mobilizarem e construírem sabere s e considerar que estes não são
homogêneos. Os saberes da experiência são os que mais se destacam para os
docentes. Por meio dos saberes da experiência, os professores analisam e emitem
um julgamento ao que ocorre à sua volta.
Contreras (2002, p. 142) al erta que, se o professor não perceber a
dimensão do papel social e político da instituição educativa, não é possível falar em
autonomia. Nessa perspectiva, Freire (2007) afirma que o professor deve assumir a
educação como um ato político. Portanto a educaç ão não é neutra. Dessa forma, a
busca de emancipação e de autonomia leva a perceber -nos como seres inconclusos,
em constante formação. Perrenoud (2002, p.13) explica:
A autonomia e a responsabilidade de um profissional dependem de
uma grande capacidade de refletir em e sobre sua ação. Essa
capacidade está no âmago do desenvolvimento permanente, em
função da experiência de competências e dos saberes profissionais.
Por isso, a figura do profissional reflexivo está no cerne do exercício
de uma profissão, pelo menos quando a consideramos sob o ângulo
da especialização e da inteligência no trabalho.
Ao exercitar a prática reflexiva, o docente tem maiores condições de
visualizar como definir a sua intenção educativa com vistas a uma transformação,
considerando a dimensão política do projeto pedagógico. Com essa postura, o
professor gerencia efetivamente sua prática docente como ser histórico, intelectual,
e profissional. Apesar das incertezas da profissão docente, o profissional que reflete
sobre sua prática docente não promove a educação com seus alunos, mas se
promove, pois também se educa. Rios (2005, p. 123) adverte que
61
A autonomia não significa independência. Ela é sempre relativa, não
no sentido que o senso comum a esse adjetivo. Afirma -se,
comumente, que alguém tem uma “autonomia relativa”, ou uma
“liberdade relativa”, querendo com isso dizer -se que se tem um
pequeno grau de liberdade ou de autonomia. Ora, a autonomia e a
liberdade são sempre relativas, isto é, elas são algo que se
experimenta em relação ao convívio com outras pessoas.
Para a autora seria falar na ausência de limites para as ações das
pessoas e todas as situações pedem limites, ou seja, a articulação de limites,
mas também de possibilidades. É no respeito à alteridade que se a articulação
entre liberdade e responsabilidade. “Somos responsáveis porque somos livres. E
somos livres respondendo aos outros, que nos interpelam, nos desafiam e, mais
ainda, nos significam com sua presença” (RIOS, 2005, p. 123).
É necessário um respei to mútuo entre as pessoas. Isso é possível
por meio da relação dialética, mas sentido num espaço onde existe
democracia e as relações e ações se pautam em princípios éticos. Para entender a
concepção de Rios (2005), é preciso esclarecer que esse aspe cto está entre os
critérios para a competência e a qualidade na docência. “Em toda a ação docente
encontram-se uma dimensão técnica, uma dimensão política, uma dimensão estética
e uma dimensão moral” (RIOS, 2005, p. 93).
A dimensão ética da docência sust enta as demais dimensões: a
técnica, a estética e a política, pois estas “possuem significado quando, além de
se apoiarem em fundamentos próprios forem guiadas por princípios éticos” (RIOS,
apud VASCONCELLOS 2005, p. 258).
Não é tarefa fácil enredar pe los caminhos da formação docente para
a construção da autonomia. Vários são os elementos que a compõem, incluindo a
questão da subjetividade de cada profissional e suas idiossincrasias. Dentro da sala
de aula, o docente é o responsável pela sua prática ed ucativa e esta se consolida na
articulação dos diferentes saberes propostos por Tardif (2005), com possibilidades
de reorganização conforme as reflexões acima mencionadas, considerando ainda a
dimensão ética em todo o processo. Nóvoa (1997; 2002) e Imbernó m (2006)
contribuem nesta reflexão compartilhada e isso pressupõe um espaço democrático
no qual as relações e ações devem se pautar em princípios éticos, postulados por
Rios (RIOS, 2005).
62
2.2 O P
APEL DA
F
ORMAÇÃO
C
ONTINUADA NA
C
ONSTITUIÇÃO DA
D
OCÊNCIA
U
NIVERSITÁRIA
A formação de professores é um tema que interessa a vários
autores. No Brasil, teve um maior impulso na década de 1990 com autores como:
Nóvoa (1991), Schön (1992), Perrenoud (1993), entre outros. Por ser um tema
complexo, não pode se resumir à participação em palestras, cursos, seminários etc.
(CANDAU, 1997), ou então por “[…] acumulação (de cursos, de conhecimentos ou
de técnicas) […]” (NÓVOA, 1997, p. 25). A própria docência constitui -se em saberes
para o desenvolvimento da formação. A form ação se constrói “através de um
trabalho de reflexividade crítica sobre as práticas e de reconstrução permanente […]”
(NÓVOA, 1997, p. 25). Uma postura crítica sobre as práticas para a reconstrução da
identidade pessoal e profissional se projeta para a for mação continuada na busca de
novos caminhos para o desenvolvimento profissional.
Para discorrer sobre o assunto, pensamos ser prudente esclarecer o
conceito, pois, segundo Zabalza (2004), não há ainda um consenso para essa
questão, sendo o termo bastante genérico. Quando do encontro organizado por The
European Initiative on Lifelong Learning para tratar do tema, em dezembro de 1994,
em Roma, com a presença de renomados especialistas em formação contínua,
muitos deles de países europeus, adotaram a seguinte definição:
Chamamos aprendizagem contínua”, o desenvolvimento do
potencial humano através de um processo de apoio constante que
estimule e capacite os sujeitos a adquirir os conhecimentos, os
valores, as habilidades e a compreensão das coisas que vão
necessitar para saber apli -los com confiança, criatividade e prazer
em quantos papéis circunstâncias e ambientes vejam -se envolvidos
durante toda sua vida. (LONGWORTH apud ZABALZA, 2004, p. 54).
(grifo do autor).
Essa definição, segundo Zabalza (2004), envolve todas as
dimensões do desenvolvimento humano, desde os conhecimentos, os valores até as
habilidades e os significados.
Ser professor implica em um eterno aprender. Implica assumir
responsabilidades, comprometimento com aquele que se está formando. A sala de
aula ou mesmo o contexto educacional refletem a necessidade de formação
63
contínua. Entretanto os docentes também constituem saberes. Tardif (2005) indica
que no exercício da docência os professores não só adquirem, mas mobilizam
diversos saberes docentes como: os saberes da formação profissional, os saberes
das disciplinas, os saberes curriculares e os saberes da experiência. Para o autor,
os saberes da formação profissional são os saberes que as instituições transmitem e
os docentes os incorporam em sua prática.
Quanto os saberes disciplinares, são os saberes oriundos dos
diversos campos do conhecimento que se distribuem em disciplinas nos diferentes
cursos das instituições. os saberes curriculares correspondem aos programas
escolares que os professores devem dominar e aplicar. Estes saberes se configuram
nos discursos, objetivos e métodos constituídos pelas instituições como saberes
eruditos provenientes da cultura erudita definida pela sociedade. Em relação aos
saberes da experiência, os dema is saberes se traduzem na postura do habitus, isto
é, uma forma de agir para praticar o ensino. “[…] eles se manifestam, então, através
de um saber-ser e um saber-fazer pessoais e profissionais validados pelo trabalho
cotidiano” (TARDIF, 2005, p. 49).
Dessa forma, os professores, por meio da prática pedagógica, têm a
possibilidade de vivenciar as diferentes situações e constituir um conjunto de
elementos que contribuem para solucionar diferentes problemas do cotidiano
escolar. Neste cenário é inegável a ne cessidade da formação contínua ou formação
permanente defendida por Freire (1997, p. 20):
A educação é permanente não por que certa linha ideológica ou
certa posição política ou certo interesse econômico o exijam. A
educação é permanente na razão, de um l ado, da finitude do ser
humano, de outro, da consciência que ele tem de finitude. Mas ainda,
pelo fato de, ao longo da história, ter incorporado à sua natureza não
apenas saber que vivia mas saber que sabia e, assim, saber que
podia saber mais. A educação e a formação permanente se fundam
aí.
Quando falamos em formação contínua de professores,
especificamente para o ensino superior, percebemos ser fundamental constar em
nossa legislação educacional as diretrizes norteadoras para a questão. A formação
do docente universitário requer uma sólida formação que abarca os conhecimentos
científicos, mas também o como trabalhar esses conteúdos para a efetiva
aprendizagem dos alunos.
64
Nesse sentido, nos apoiamos em Zabalza (2004, p. 144) ao afirmar
que:
O exercício da profissão docente requer uma sólida formação, não
apenas nos conteúdos científicos próprios da disciplina, como
também nos aspectos correspondentes a sua didática e ao
encaminhamento das diversas variáveis que caracterizam a
docência.
Ao tratarmos da formação contínua, destacamos que se trata de
uma característica inerente ao próprio indivíduo em formação, ou seja, a pessoa
deve desejar para ter sentido. Os condicionantes externos contribuem, mas a
formação terá significado se o sujeito se permit ir formar. Nóvoa (2002, p. 23)
afirma que “O aprender contínuo é essencial e se concentra em dois pilares: a
própria pessoa, como agente, e a escola, como lugar de crescimento profissional
permanente.” Em outras palavras, a formação continuada deve ser des ejo da pessoa
e, concomitantemente, o espaço educativo precisa lhe possibilitar desenvolver
profissionalmente.
Uma formação envolve uma construção coletiva e conduz ao próprio
desenvolvimento profissional. No caso das IES, a formação contínua se desenvolv e
com base nos critérios que as próprias IES adotam para a capacitação dos seus
professores. Ocorrem também as iniciativas individuais. Os professores que buscam
praticar essa formação contínua são solitários. Nóvoa (1997, p. 26 -27) afirma que:
Práticas de formação contínua em torno de
professores individuais
podem ser úteis para a aquisição de conhecimentos e de técnicas,
mas favorecem o isolamento e reforçam uma imagem dos
professores como transmissores de um saber produzido no exterior
da profissão. Práticas de formação que tomem como referência as
dimensões colectivas contribuem para a emancipação profissional e
para consolidação de uma profissão que é autónoma na produção
dos seus saberes e dos seus valores (grifo do autor).
Apesar de as políticas e ações não serem direcionadas para a
formação contínua, é cobrado dos docentes o desempenho, pois como alerta Cunha
(2005, p. 81),
[…] O Estado neoliberal vem definindo políticas educativas
identificadas com a base econômica de produção, é fácil observar
como o pilar da regulação assume muito mais alto prestígio do que o
65
da emancipação. São eles os definidores de prêmios objetivos e
simbólicos que valorizam a docência universitária e reconfiguram a
profissionalidade dos professores, definindo o que é um pr ofessor de
sucesso.
A autora se refere à profissionalidade não como algo que seja
estático, mas dinâmico, em constante movimento, com novas experiências, novos
sentimentos, novas informações, novas interações. Mas a docência se materializa
na idéia de que a função docente é ensinar conhecimentos legitimados e
estabelecidos pela ciência e pela cultura. Essa perspectiva não tem a preocupação
com os sujeitos da aprendizagem e sua realidade, mas com a organização do
conteúdo a ser ensinado e, com isso, os prof essores são os mediadores para
acesso ao conhecimento.
Com apoio em Cunha (2005), acreditamos que a docência, como
uma legítima profissão requer um preparo pedagógico para o seu exercício e que a
formação contínua se revela uma necessidade para o docente . A educação não tem
receitas prontas, mas é exercida num mundo em constantes mudanças, que exigem
o preparo do educador. Tais exigências do mundo não podem ser ignoradas para a
formação universitária que visa formar profissionais qualificados. Zabalza (20 04)
ressalta que a formação continuada é uma necessidade para atender também a
demanda do mercado de trabalho. Atualmente, as tecnologias inovam a todo
instante e se tornam mais acessíveis e disponíveis às pessoas, assim como as
empresas e o mercado de tra balho se reestruturam com novas formas de
organização, novos compromissos com valores, nova sensibilidade, o que não exime
o professor de estar em formação para lidar com essas questões. Desse modo, a
formação contínua precisa ser estruturada de forma a at ender as necessidades dos
professores que, em formação, passam a compreender e a refletir sobre suas ações
e podem visar uma mudança de postura, se necessário. Nesse aspecto, Nóvoa
esclarece que:
[…] a formação
não se constrói por acumulação (de cursos, de
conhecimentos ou de técnicas), mas sim através de um trabalho de
reflexividade crítica sobre as práticas e de (re) construção
permanente de uma identidade pessoal. Por isso é importante
investir na pessoa e dar um estatuto ao saber da experiência
(NÓVOA, 2002, p. 57).
66
Não são as formações aligeiradas que saciarão as necessidades e
deficiências que surgem no cotidiano da sala de aula.
“A troca de experiências e a partilha de saberes consolidam espaços
de formação mútua, nos quais cada professor é cham ado a
desempenhar, simultaneamente, o papel de formador e de formando”
(NÓVOA, 1997, p. 26).
A formação contínua numa configuração coletiva se revela uma
forma de tratar de semelhantes necessidades, uma vez que as trocas de
experiências entre os pares o práticas concretas que fornecem subsídios para um
efetivo trabalho de formação e transformação. Para elucidar esse aspecto, o mesmo
autor explica que
A formação contínua deve ser concebida como uma das
componentes da mudança, em conexão estreita com ou tros sectores
e áreas de intervenção, e não como uma espécie de condição prévia
da mudança. A formação não se faz antes da mudança, faz -se
durante, produz-se nesse esforço de inovação e de procura aqui e
agora dos melhores percursos para a transformação da escola. É
esta perspectiva ecológica de mudança interativa dos profissionais e
dos contextos que dá um novo sentido às práticas de formação
contínua centradas nas escolas (NÓVOA, 2002, p. 59 -60).
É importante refletir sobre as idéias do autor, pois, como alerta
Cunha (2005), é pouca a valorização do conhecimento pedagógico na formação do
professor universitário. A autora ressalta que,
Como a pedagogia universitária é um campo epistemológico inicial e
ainda frágil, estabelece -se um certo vácuo que favore ce o impacto
que as políticas públicas têm tido na definição dos conhecimentos
legitimados que o professor universitário deve alcançar para ser
reconhecido profissionalmente, com fortes repercussões sobre sua
carreira profissional (CUNHA, 2005, p.74).
Além do mais, a trajetória de um profissional pode se configurar
conforme as vivências, as oportunidades que ele materializou durante sua vida. É
preciso considerar as suas escolhas e as condições em que estas aconteceram,
bem como as oportunidades surgidas, pois nem sempre o que desejamos acontece
de acordo com a realidade que se apresenta. Citamos, por exemplo, aqueles
profissionais do ensino superior que, mesmo não tendo uma formação específica
67
para esse nível de ensino, ingressam no exercício da docência u niversitária, na
grande maioria das vezes por se tratar de um profissional competente na sua área
de atuação. A formação desse docente fica sob a sua responsabilidade e da IES na
qual leciona.
Nesse sentido, a formação vai se constituindo “a base de uma
improvisação docente, no âmbito do patrimonialismo prevalecente nas instituições
públicas e privadas” (CUNHA, 2004, p. 797). O autor explica que, nas últimas três
décadas, nas instituições públicas, o ingresso é mediante concurso público e a
exigência é a titulação de mestre e doutor. Lembra o autor que, mesmo nestas
instituições, a preparação específica para o magistério superior é algo desconhecido.
A questão da produção é outro aspecto que faz parte dessa
formação e que, em grande parte, se torna até mai s valorizado do que a formação
pedagógica. uma grande pressão para se publicar, pois um dos critérios de
maior relevância para a avaliação dos docentes é a produção científica.
Demo (1986) alerta que o professor para ensinar deve ter sua
própria produção. Concordamos que o professor precisa se envolver com a
pesquisa. Para comungar com o autor, citamos Freire (2007) quando afirma que
Não ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que
fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino
contínuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque
indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar,
constatando intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para
conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a
novidade (p.29).
A postura do educador nessa concepção não significa apenas uma
prática educativa, mas uma práxis refletida sobre as situações de ensino, na qual a
pesquisa é integrante do processo ensino/aprendizagem. Nessa perspectiva, o
educador assume compro misso com a educação. Essa postura do educador lhe
possibilita assumir também a sua própria formação contínua, uma vez que educa e
se educa em situações de pesquisa e de investigação. Esse processo lhe possibilita
o desenvolvimento pessoal e profissional, por isso precisa estar aberto e curioso por
aprender. Tais atitudes não ampliam, mas possibilitam melhorar a sua prática
docente e considerar a realidade em que atua.
68
Para Marcelo Garcia (1999), o desenvolvimento profissional adotado
se pauta na concepção do professor como um profissional do ensino. Desse modo,
[...] o conceito de desenvolvimento tem uma conotação de evolução
e continuidade que nos parece superar a tradicional justaposição
entre formação inicial e aperfeiçoamento dos professores. Por o utro
lado, o conceito “desenvolvimento profissional dos professores”
pressupõe, [...] uma abordagem de formação de professores que
valorize o seu caráter contextual, organizacional e orientado para a
mudança (MARCELO GARCIA, 1999, p. 137) (grifo do autor).
Essa concepção revela a busca permanente pela qualidade do
ensino e não considera somente o conhecimento científico dos conteúdos, mas
também a realidade educacional. Alarcão (1998) explica a formação contínua como
um processo dinâmico e julga que, com o passar do tempo, o profissional deverá
tratar dessa formação de acordo com as exigências da atividade profissional que
exerce. Na profissão docente, a formação contínua é fundamental, mas deve ser
permeada pela reflexão crítica. No entanto vale destacar que a decisão de assumir a
docência em permanente formação é pessoal, isto é, o profissional precisa querer
estar em contínua formação.
Para Nóvoa, o processo precisa se constituir como elemento
contínuo de reflexão e análise. O autor explica que é fundam ental
[…] valorizar paradigmas de formação que promovam a preparação
dos professores reflexivos, que assumam a responsabilidade de seu
próprio desenvolvimento profissional e que participem como
protagonista na implementação das políticas educativas (NÓVOA ,
1992, p. 27).
A formação do professor deve ser pensada não só no âmbito da sala
de aula, pois o bom ensino advém de uma teoria ou de uma ideologia. A formação
tem seu início desde a graduação ou mesmo antes dela. Segundo Pimenta (1999), a
formação se estrutura em vários tipos de saberes: “saberes de uma prática reflexiva,
saberes de uma teoria especializada, saberes de uma militância pedagógica”. (p.
30).
Dessa forma, a profissão docente reúne saberes únicos, uma vez
que não se resume aos conhecimentos técnicos,
69
[…] pois os problemas da prática profissional docente não são
meramente instrumentais, mas comportam situações problemáticas
que requerem
decisões
num terreno de grande complexidade,
incerteza, singularidade e de conflito de valores (PIMENTA, 19 99, p.
30) (grifo da autora).
O professor enfrenta problemas que requerem decisões para
solucionar situações incertas, desconhecidas e que são sempre únicas. Nessa ótica,
quando se fala de formação é preciso considerar que se trata de
[…] um duplo processo: o de autoformação dos professores, a partir
da reelaboração constante dos saberes que realizam em sua prática,
confrontando duas experiências nos contextos escolares; e o de
formação nas instituições escolares onde atuam. Por isso é
importante
produzir
a escola como espaço de trabalho e formação, o
que implica gestão democrática e práticas curriculares participativas,
propiciando a constituição de
redes
de formação contínua, cujo
primeiro nível é a formação inicial (PIMENTA, 1999, p.30) (grifos da
autora).
Imbernón (2006, p. 69) considera que a formação permanente do
professor não deve ser interpretada simplesmente como uma atualização científica,
pedagógica e cultural, mas enfatizar a descoberta da teoria para uma organização,
fundamentação, revisão e mesmo combatê-la se for necessário. O que o autor quer
dizer é que se deve “remover o sentido pedagógico comum e recompor o equilíbrio
entre os esquemas práticos e os esquemas teóricos que os sustentam”. A docência
exige uma preparação contínua do profess or para a qualidade do ensino, uma vez
que o conhecimento da área de formação não supre as exigências atuais frente à
heterogeneidade e às dificuldades da docência. É necessária uma ampla formação
para envolver ensino e aprendizagem como componentes de um mesmo processo.
Zabalza (2004) enfatiza:
Ensinar é uma tarefa complexa na medida em que exige um
conhecimento consistente acerca da disciplina ou das suas
atividades, acerca da maneira como os estudantes aprendem,
acerca do modo como serão conduzidos o s recursos do ensino a fim
de que se ajustem melhor às condições em que será realizado o
trabalho, etc. (ZABALZA, 2004, p. 111).
A formação contínua deve ajudar o professor a desenvolver um
conhecimento profissional para que seja capaz de avaliar em term os quantitativos e
qualitativos a necessidade da inovação educativa nas instituições; desenvolver
70
habilidades e estratégias básicas de ensino em determinada realidade,
considerando o planejamento e o diagnóstico de avaliação; mobilizar as
competências no sentido de diversificar as atividades educativas de forma contínua
para adaptar à diversidade e à realidade dos alunos; comprometer -se com o meio
social. “Tudo isso supõe uma formação permanente que desenvolva processos de
pesquisa colaborativa para o desen volvimento da organização, das pessoas e da
comunidade educativa que as envolve” (IMBERNÓN, 2006, p. 69).
Para Imbernón (2006), esse processo pressupõe que a base da
formação é a reflexão dos sujeitos sobre sua ação docente, de forma a refletir sobre
as teorias implícitas, analisar como os esquemas funcionam e como são as atitudes,
entre outros, de modo a se auto -avaliar de forma constante, direcionando, assim, um
meio de orientação para o próprio trabalho. Porém a reflexão, para ter sentido,
precisa de uma proposta crítica da intervenção educativa, isto é, analisar a prática,
considerando os pressupostos ideológicos e comportamentais.
E os professores iniciantes que não possuem experiência docente
no ensino superior, como conduzem sua ação educativa? Tard if (2005) advoga que
as vivências anteriores, como as da família, as da escola e as da formação inicial,
reúnem saberes para que o professor principiante desenvolva seu trabalho
educativo. O autor defende que
[…] tudo leva a crer que os saberes adquiridos durante a trajetória
pré-profissional, isto é, quando da socialização primária e sobretudo
quando da socialização escolar, têm um peso importante na
compreensão da natureza dos saberes, do saber fazer e do saber -
ser que serão mobilizados e utilizados em s eguida quando da
socialização profissional e no próprio exercício do magistério
(TARDIF, 2005, p. 69).
O professor toma decisões, muitas vezes incertas, com base nas
próprias vivências. Cunha (2005 p. 90) afirma que “Certamente são influenciados
pelos modelos culturais presentes nas suas trajetórias estudantis”. Segundo estudo
de Cunha et al. (apud CUNHA, 2005), “os saberes de início de carreira se constroem
através da prática, tateando e descobrindo. Em suma, aprende -se no exercício da
própria docência”. Benedito (1995) (apud ANASTASIOU; PIMENTA, 2002) defende
que o professor universitário aprende a exercer o magistério sendo em parte
autodidata ou seguindo modelos de outros professores e, nesse processo, utiliza da
71
sua própria experiência como aluno. O f ato de não haver uma formação específica
como professor universitário leva o professor iniciante a buscar os meios para o
exercício do magistério, mas isso não é suficiente.
Se o professor iniciante pensa suas ações, precisa tomar decisões
antes de iniciar a ação docente, durante a mesma e depois de realizá -la. O que pode
diferenciar é a forma dessa reflexão acontecer. Nesse aspecto, a explicação é o fato
de a reflexão não ser crítica, mas ingênua. Para sair da condição de ingenuidade,
Freire (2007) explica a questão da superação. O autor não fala em reflexão ingênua,
mas em curiosidade ingênua, pois esta tem ainda maior aproximação com o senso
comum. Para Freire (2007), o pensar certo é transitar da ingenuidade para a
curiosidade epistemológica e metódica.
Pensar certo, em termos críticos, é uma exigência que os momentos
do ciclo gnosiológico vão pondo à curiosidade que, tornando -se mais
metodicamente rigorosa, transita da ingenuidade para o que venho
chamando
curiosidade epistemológica
(FREIRE, 2007, p. 29) (grifo
do autor).
Mas o autor alerta que o pensar certo implica o professor não
desrespeitar o senso comum no processo para a superação, isto é, da condição
ingênua para uma postura crítica. Entendemos que o professor precisa pensar de
forma crítica desde o início da docência. Precisa perceber a importância dessa
reflexão para adotá-la de forma permanente. Nesse sentido, Freire (2007, p. 39)
defende que, “na formação permanente dos professores, o momento fundamental é
o da reflexão crítica sobre a prá tica”.
Ao assumir-se como educador e pensar sobre as suas ações,
assume uma postura autônoma. Essa perspectiva nos aproxima da questão da
reflexão-na-ação (SCHÖN, 2000). Isso significa que o docente é capaz de emitir
julgamento sobre sua forma de agir e c om apoio teórico, fazer as modificações
necessárias durante o processo.
Debater o assunto não é tão simples, uma vez que são vários os
condicionantes envolvidos com a questão da formação contínua. Zabalza (2004)
afirma que a formação, para se viabilizar, depende dos recursos social e econômico,
mas, concomitantemente, deve ser entendida como um processo que não se limita à
formação acadêmica, mas perdura por toda a vida. O autor considera ainda que a
formação continuada começa antes mesmo de se chegar à un iversidade e se
72
desenvolve tanto dentro, como fora da sala de aula, e prossegue com a graduação
acadêmica e depois dela, em formação permanente.
Com a promulgação da Lei 9394/96, em dezembro de 1996, ocorre
uma transformação significativa no sistema de ed ucação superior. Aentão cabia
ao Estado a sua sustentação. Com a lei, o sistema, seguindo as diretrizes
internacionais, passa a ter uma expansão diversificada e desordenada e a
privatização toma espaço (M. MOROSINI e MOROSINI, L. 2006, p. 3). A socied ade
passa a exprimir uma nova visão em que se atribui um status privilegiado ao
conhecimento, e o lugar para promover esse conhecimento é a universidade.
Para Ristoff (2006, p. 13), as pessoas buscam a educação superior,
não para promover o avanço da art e e da ciência, mas para ascensão profissional.
“Os indivíduos procuram as IES em função do que estas podem lhes oferecer em
termos de melhorar as suas condições de empregabilidade, competitividade,
mobilidade social e, se possível, sucesso profissional”. Segundo o mesmo autor,
90% dos alunos participantes do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes -
ENADE buscam uma universidade profissionalizante, e o setor empregatício os
respalda nessa questão.
Entretanto a docência universitária, na sua grande ma ioria, segue
despreparada para lidar com a expansão do ensino superior, sem planejamento para
uma formação pedagógica e seguindo critérios econômicos. Diante disso, autores
como Veiga (2006, p. 88) ressaltam que
Formar professores universitários implica c ompreender a importância
do papel da docência, propiciando uma profundidade científico -
pedagógica que os capacite a enfrentar questões fundamentais da
universidade como instituição social, uma prática social que reflete as
idéias de formação, reflexão, crí tica.
Estes argumentos são importantes, pois, segundo Zabalza (2004),
os alunos que ingressam no ensino universitário são adultos que possuem
formações prévias diversas e buscam diferentes objetivos com a formação
acadêmica. a necessidade de rever o co nceito de formação como um processo
que ocorre ao longo da vida, não se restringindo ao término da formação acadêmica,
com uma continuidade especializada e mais específica profissionalmente. A
educação superior fortalece a profissionalização por meio de ce nários formativos
complementares, que são os estágios práticos na empresas, com isso, além dos
73
professores, a formação conta também com o orientador durante o tempo do
estágio.
O novo foco da educação superior, além da formação acadêmica, é
a criação das próprias empresas para produzir bens ou serviços e gerar empregos,
reconhecimento acadêmico, isto é, valorização das competências adquiridas,
experiência no trabalho, auto -aprendizagens etc. O diploma por si só não mais
determina o conhecimento e a competê ncia do egresso. se pensa em incluir no
diploma as competências do diplomado, alterar as formas de ensino na
universidade, uma vez que os adultos que nela ingressam possuem conhecimentos
prévios que precisam ser considerados, além de terem atribuições f amiliares e
profissionais (ZABALZA, 2004).
O mesmo autor propõe também novas configurações para o ensino à
distância ou semipresencial: constar, no currículo, matérias didáticas estruturadas
para os estudantes trabalharem de forma autônoma, além de gerir n ovas dinâmicas
de relacionamento e organização estudantil, entre outras. Outra ideia é a ampliação
da formação, na universidade, com diferentes cursos que sejam comprometidos com
a formação inicial dos alunos. Da mesma forma, gerenciar os cursos de
especialização e pós-graduação ou mesmo de reciclagem para atender a demanda
daqueles que retomarem os estudos.
Diante desses elementos, não como o professor universitário não
pensar em formação contínua. Porém muitos dos professores são solitários na
busca da formação, isto é, são iniciativas individuais. Os professores se arriscam em
programas de pós-graduação stricto sensu, ou mesmo especializações, para
prosseguir com sua formação. Se voltarmos às estatísticas do INEP sobre as
funções docentes em 2006, ver emos que, dos 302.006 docentes cadastrados,
22,4% possui o doutorado e 36,1% são mestres. Ainda há muito a se fazer.
Destacamos que a questão da formação contínua não é algo que
permeia somente a docência universitária brasileira, mas ultrapassa os contin entes e
não poderíamos ignorar o que aponta Zabalza (2004, p.53):
Nos últimos 20 anos, muitas organizações internacionais, com os
mais diferentes objetivos, interessaram -se pela temática da
formação contínua
e nela se envolveram por meio de encontros de
trabalho e informes, como a UNESCO [...], a OCDE [...], o Conselho
da Europa, o Clube de Roma, o G7 ou grupo dos países mais
desenvolvidos (este último recomendava, em sua reunião de
74
Nápoles de 1994, dar força à
cultura da aprendizagem ao longo da
vida
), entre outros exemplos. Desde 1995, algumas organizações
vêm destacando a importância da formação contínua (grifos do
autor).
No contexto atual, o desenvolvimento social e econômico, as novas
tecnologias, as demandas da produção industrial exigem dos profiss ionais
readequação para atuar nos sistemas produtivos. A competitividade acirrada das
empresas não deixa alternativa, a não ser dar continuidade à formação permanente
de seus empregados. A ciência também não poderia ignorar a necessidade
constante de formação e inovação.
Ao mesmo tempo que é um processo particular, pois avança ao
longo da vida, necessita de sistemas de apoio (infra -estruturas, oportunidades,
incentivos etc) “com o objetivo de estimulá -lo (a continuously supportive process ,
conforme a definição)” (ZABALZA, 2004, p. 54).
Desde o início, o sujeito se educa de acordo com os recursos de que
dispõe e segundo sua autonomia. A ideia é uma preparação para administrar sua
própria aprendizagem. É o que Zabalza (2004, p. 54) ressalta: “(esse é o senti do do
empowering individuals que se destaca na definição)”. Não visa responder apenas
às exigências acadêmicas, mas acrescenta aos conteúdos de formação condições
para que os sujeitos superem os obstáculos que venham a enfrentar durante a vida.
Os aspectos de prazer pessoal e auto -estima também se vinculam à formação, e
não apenas à pressão social e ao sofrimento pessoal.
Os resultados estão longe da prática nas universidades, mesmo
diante de um cenário que afeta a vida pessoal, social e profissional e exi ge o ajuste
de nossas expectativas e dos recursos necessários para sua efetivação. “Afinal, a
formação contínua transformou -se em um processo necessário e irreversível”
(ZABALZA, 2004, p. 33).
Estamos diante de um novo cenário em que a sociedade passou de
expectadora para uma sociedade em constantes mudanças e transformações, com
isso seria plausível nomeá -la de sociedade da aprendizagem. Mas a aprendizagem
aqui referida não é o conhecimento tradicional padronizado para superar os exames.
Nessa nova configuração, a formação contínua tem sentido se o conceito de
universidade e da missão formativa atribuído a ela for ampliado. É preciso, ainda,
considerar as dinâmicas da globalização e da formação contínua, porque antes o
75
ensino universitário, na maior pa rte das vezes, era visto como a cultura adquirida
para toda a vida.
Com essa ideia, não se valoriza o intercâmbio universitário, no qual o
aluno poderia cursar uma disciplina equivalente em outra instituição de ensino
superior (ZABALZA, 2004). Alguns prof essores não aceitam que o aluno obtenha o
diploma, sem ter cursado as disciplinas que esses docentes ministram Em outras
palavras, esses professores rejeitam que o aluno curse disciplinas equivalentes às
que ministram com outros professores, em outra insti tuição.
Para o autor, é preciso refletir que o conhecimento também está
além das salas da universidade. Por isso necessidade de assumir o novo aluno
como protagonista, atendendo as suas necessidades e interesses, bem como o
processo de aprendizagem con tínua e não mais se restringir ao período acadêmico;
estabelecer objetivos de médio prazo, num processo constante de busca por
qualificação e capacitação, de forma que habilite o aluno a aprender
autonomamente; manter uma orientação baseada no desenvolvime nto pessoal e
não seletivo, com o objetivo maior de formação e não de seleção.
Assim, é preciso definir a formação como tarefa que continue para o
aluno ao longo da vida, após deixar a universidade; preferencialmente avaliar as
capacidades de alto nível, para não se prender à simples transmissão de conteúdos,
que privilegiem a memória, mas reforçar as capacidades necessárias às pessoas
para se manterem receptivas para a aprendizagem, sabendo lidar com as
informações, com a capacidade de resolver problemas, com a capacidade de
planejar, de criar etc. (ZABALZA, 2004).
Além disso, o autor sugere que são necessárias a atualização e a
dinamização dos conteúdos do currículo formativo, o que abarca um conjunto de
ações sobre o currículo que as universidades oferec em nos dias de hoje, mais
direcionados para a academia e não para a vida.
As ações seriam: dinamizar as metodologias utilizadas, delegando
um papel mais ativo aos professores e orientadores como facilitadores da
aprendizagem; propiciar cenários contínuos d e formação, pois as novas tecnologias
de informação possibilitam o intercâmbio entre universidades, com trocas de
experiências, bem como novas relações com o mundo fora da universidade para que
outros agentes sociais se envolvam no processo de integrar a t eoria e a prática para
uma aprendizagem significativa e que perdure ao longo da vida; integrar ao currículo
76
atividades formativas extracurriculares, considerando que a missão da universidade
vai além de preparar os sujeitos para o mercado de trabalho, mas também prepará-
los para usufruir da cultura e do ócio, que também fazem parte da vida.
Tais elementos, segundo o autor, se referem aos esportes, ao teatro,
à música, à literatura e à arte. Além disso, outras experiências se constituem em
condicionantes importantes para a dimensão intelectual, emocional, social, entre
outras, para a formação dos estudantes: intercâmbios com estudantes de outros
países; atividades de natureza social; animação cultural em áreas com a população
marginalizada; trabalho voluntár io; tutoria para pares com dificuldades ou mesmo
estudantes mais jovens. Pode -se acrescentar ainda o encontro de jovens com
objetivos político, social ou cultural. Todas as iniciativas e ações apontadas por
Zabalza (2004), que poderiam, a nosso ver, transf ormar não a configuração e a
estruturação acadêmica, mas toda uma postura dos alunos como pessoas
envolvidas com o seu entorno político, social e econômico.
Nesse aspecto, muito a se fazer, principalmente, o investimento
na formação docente, seja el a inicial ou continuada.
Os termos para definir uma formação continuada, segundo Prada
(1997 apud COSTA, 2004), não estão destituídos de uma concepção filosófica que
direciona o processo. Além do mais, sofrem influências regionais e também do país,
bem como das instituições envolvidas, entre outras. Vale ressaltar que algumas
expressões são bastante utilizadas em programas de formação. Para uma melhor
compreensão, apresentamos o quadro 1, definido por Prada (1997) (apud COSTA,
2004) dos termos empregados para a formação continuada de docentes.
77
Capacitação
Confere determinada capacidade adquirida pelos professores mediante
um curso; concepção mecanicista que define os docentes como
incapacitados.
Qualificação
Não significa a ausência de capacid ade, mas ainda é
mecanicista, pois o objetivo é tornar melhor apenas algumas qualidades
que já existem.
Aperfeiçoamento
Visa tornar os docentes perfeitos. Associa -se à maioria dos outros
termos.
Reciclagem
Termo utilizado nos processos industriais e se refere à recuperação do
lixo.
Atualização
Ação semelhante à do jornalismo; informar aos docentes para
se atualizarem dos acontecimentos atuais. As críticas se assemelham
às da educação bancária.
Formação
continuada
Galgar níveis mais elevados na educaç ão formal ou
mesmo aprofundar, dando continuidade aos conhecimentos que os
docentes já dominam.
Formação
permanente
Acontece constantemente e objetiva a formação geral da pessoa sem se
preocupar apenas com os níveis da educação formal.
Especialização
É a realização de um curso superior sobre um assunto específico.
Aprofundamento
Aprofundar alguns dos conhecimentos que os docentes já têm.
Treinamento
Adquirir habilidades repetidamente, utilizado para manuseio de
máquinas em processos industriais. No c aso dos docentes,
a interação é com as pessoas.
Re-treinamento
Treinar novamente o que já havia sido treinado.
Aprimoramento
Melhorar a qualidade do conhecimento dos professores.
Superação
Galgar outros patamares ou níveis, como de titulação
Universitária ou pós-graduação, por exemplo.
Desenvolvimento
Profissional
Cursos de curta duração que buscam a “eficiência” do Professor.
Profissionalização
Tornar profissional. Obter uma diplomação ou um título para quem não
tem.
Compensação
Suprir algo que falta. Atividades que visam subsidiar
conhecimentos para complementar a formação anterior.
Fonte: Prada (1997 apud COSTA, 2004, p.4).
Quadro 1 Termos utilizados para a formação continuada de professores
Apesar dos vários termos empregados para a questã o que envolve a
qualidade da formação do trabalho docente, não podemos ignorar que o professor
precisa sanar suas deficiências, inclusive a pedagógica. Uma definição abrangente
no que se refere à formação docente é a proposta por Medina e Domingues (1989 ),
sendo considerada como
a preparação e emancipação profissional do docente para realizar
crítica, reflexiva e eficazmente um estilo de ensino que promova uma
aprendizagem significativa nos alunos e consiga um pensamento -
ação inovador, trabalhando em equ ipe com os colegas para
desenvolver um projeto educativo comum (apud PACHANE, 2005, p.
101).
78
É importante reconhecer a necessidade de os professores estarem
numa contínua formação e que esta seja permeada pela reflexão. Nesse sentido, a
sensibilidade do professor é fundamental para a constante busca da formação. A
participação das instituições seria a de constituir projetos voltados a sanar as
diferentes carências dos docentes, sem desconsiderar seus diferentes saberes. Ao
assumir a formação continuada, o d ocente, com certeza, estará aperfeiçoando sua
prática docente, num processo de ir e vir, isto é, na reflexão e na ação.
Vale destacar que a formação continuada, atendendo aos propósitos
e carências dos docentes, se constitui num processo de conhecimento
compartilhado, em que todos são beneficiados, os docentes, a instituição, os alunos
e a própria sociedade. No entanto, se pensarmos sobre a classificação dos termos
no quadro 1, segundo Prada (apud COSTA, 2004), dois destes termos parecem não
se constituir como uma proposta de formação continuada, na qual os saberes dos
professores são considerados. Os termos são: a capacitação (confere determinada
capacidade adquirida pelos professores mediante um curso; concepção mecanicista
que define os docentes como inc apacitados) e a reciclagem (termo utilizado nos
processos industriais e, se refere à recuperação do lixo). As referidas definições não
exprimem uma proposta de formação. Entendemos que a reflexão deve ser parte
integrante de qualquer proposta nesse sentido . Porém é bastante comum os
professores e educadores, de um modo geral, usarem o termo capacitação ou
mesmo reciclagem quando frequentam um curso ou outro evento visando à
formação docente.
Para Candau (1997, p.52), no entanto, a concepção clássica de
reciclagem, “refazer o ciclo”, é a volta do professor à universidade para atualizar -se.
Esse retorno pode ocorrer em diferentes cursos, nos vários níveis, bem como a
participação em outros eventos como congressos, simpósios, entre outros.
Todavia é importante pensar sobre o que alerta Nóvoa (2007, p. 23):
“É preciso reconhecer as deficiências científicas e a pobreza conceptual dos
programas actuais de formação de professores. E situar a nossa reflexão para além
das clivagens tradicionais […]“.
Para o autor, a formação o se efetiva pelo fato de o professor
acumular cursos, “[…] mas sim através de um trabalho de reflexividade crítica sobre
as práticas e de (re)construção permanente de uma identidade pessoal. Por isso é
tão importante investir na pessoa e dar u m estatuto ao saber da experiência”
79
(NÓVOA, 1997, P. 25). Ao mesmo tempo, o autor explica que é preciso trabalhar na
“[…] diversificação dos modelos e das práticas de formação, instituindo novas
relações dos professores com o saber pedagógico e científico” (p.28).
Esse também é o argumento de Candau (1997, p. 67). Os
programas de formação continuada devem trazer à luz a necessidade de uma
articulação dialética nas dimensões que compõem a profissão docente: os aspectos
psicopedagógicos, técnicos, político -sociais, científicos, ideológicos, culturais e
éticos.
Zabalza (2004) aponta que a sociedade da aprendizagem modifica a
posição e a missão da universidade, no contexto atual, que deve se voltar para o
aprendizado contínuo de seus integrantes. Sua condição é menos auto-suficiente,
mas disposta a consolidar as bases do conhecimento a desenvolvê -lo por completo,
bem como se comprometer com as possibilidades reais de desenvolvimento de cada
pessoa e não privilegiar a seleção, na qual seguiriam adiante apenas os mais
qualificados.
A condição do mundo atual, o desenvolvimento social e econômico,
os sistemas produtivos, as novas tecnologias exprimem a necessidade de formação
contínua. Os profissionais precisam se readequar às novas exigências do mundo no
século XXI. Dessa forma, Imbernón (2006, p. 8 -9) ressalta que
[…] a educação dos seres humanos pouco a pouco se tornou mais
complexa, o mesmo deverá acontecer com a profissão docente. Essa
complexidade é incrementada pela mudança radical e vertiginosa
das estruturas científicas, sociais e educativas (em sentido amplo)
que são as que dão apoio e sentido ao caráter institucional do
sistema educativo.
As questões que permeiam a sociedade, como o conhecimento
científico que teve um desenvolvimento acelerado, segund o Imbernón (2006),
influem no pensamento para as artes e a cultura, assim como as configurações do
modo de composição familiar, de produção e logística refletem os modos de pensar
e agir das gerações mais jovens. São os contextos sociais que determinarão a
educação assim como os conflitos deles resultantes.
Para o autor, os avanços na tecnologia e na comunicação
provocaram mudanças significativas nas instituições abalando a transmissão de
conhecimento, assim como as próprias instituições. A desinformação a tinge muitas
80
pessoas, mesmo com o mito da sociedade da informação, enquanto outras detêm
um arcabouço de conhecimento que utilizam em benefício próprio ou para alguns
poucos. Os docentes já não são os detentores da educação, mas sim toda a
comunidade que se vale de novos modelos relacionais e participativos da prática
educacional.
Uma formação autêntica, segundo Freire (2007, p. 39), exige que as
vivências cotidianas do docente, no que se refere à teoria e à prática, sejam
permeadas pela reflexão e não pe la apreensão. Pensar a prática deve ser um
exercício contínuo para o professor, e que este, busque uma forma eficiente de
aperfeiçoá-la, reconhecendo que toda prática advém de uma teoria que lhe permite
avaliar essa prática e, ao mesmo tempo, seja aporte d e sua formação.
É necessária uma reorganização dos moldes da academia. Dos
docentes, se exige uma maior participação social. O contexto dinâmico com as
inovações tecnológicas e a facilidade das informações por vários meios implicam
numa constante formaçã o do professor. Formação essencial para seu próprio
desenvolvimento profissional e para gerir sua relação com os alunos, que precisam
aprender a lidar com essa nova configuração social.
81
CAPÍTULO 3 - O CONTEXTO DA PESQUISA: SEU CENÁRIO, SEUS
PROTAGONISTAS, SEUS DILEMAS E DESAFIOS
Ninguém pode estar no mundo, com o mundo
e com os outros de forma neutra.
Paulo Freire (2007)
Para a realização desta pesquisa, optamos pela metodologia
qualitativa de caráter exploratório -descritivo.
Minayo (2005, p. 82) ressalta que “a abordagem qualitativa atua
levando em conta a compreensão, a inteligibilidade de fenômenos sociais e o
significado e a intencionalidade que lhe atribuem os atores”. Nesse sentido, o foco
de estudo foi uma realidade próxima, ou sej a, o nosso local de atuação docente,
uma vez que investigar o começo da docência dos professores que ingressam no
ensino superior é o nosso objetivo maior. Sentimos a necessidade de desvelar as
características, os aspectos, os desafios do início da carreir a docente que nos
inquietam desde o primeiro dia como docente no ensino superior. Enfatizamos que
atuamos em uma realidade que se constitui um campo profícuo para a pesquisa,
pois muitos professores nela atuantes são iniciantes nesse nível de ensino.
Para dar cientificidade ao conhecimento, emerge a necessidade de
identificar as operações mentais e técnicas que possibilitaram a sua verificação, o
que torna essencial determinar os métodos adotados nesta pesquisa de cunho
qualitativo (GIL, 2002). Para Minayo (2003, p.15), a pesquisa qualitativa desvela o
mundo dos significados, pois “aborda o conjunto de expressões humanas constantes
nas estruturas, nos processos, nos sujeitos, nos significados e nas representações”.
A abordagem qualitativa delineia o univer so dos significados em que
as ações e as relações humanas não se exprimem em dados estatísticos e pode -se
acrescentar o que afirma Chizzotti (1998, p.78): “[…] a complexidade e as
contradições de fenômenos singulares, a imprevisibilidade e a originalidade criadora
das relações interpessoais e sociais”. Reforçamos que o caminho pela abordagem
qualitativa foi essencial, pois o mesmo autor ressalta que “A abordagem qualitativa
parte do fundamento de que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o
82
sujeito, uma interdependência viva entre o mundo objetivo e a subjetividade do
sujeito” (CHIZOTTI, 1998, p.79).
O caminho da pesquisa qualitativa, segundo Minayo (2003, p.22 -23),
[…] trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações,
crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais
profundo das relações, dos processos, dos fenômenos que não
podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.
Na pesquisa qualitativa, a interpretação dos fenômenos e a
atribuição de significados é o foco principal. Ela não requer o uso de métodos e
técnicas estatísticos, embora seja possível utilizá -los. Sua configuração é
essencialmente descritiva e os pesquisadores tendem a analisar seus dados
indutivamente. O processo e seu significado são os pontos pri ncipais desta
abordagem, bem como um conteúdo comportamental que permeia esse tipo de
investigação.
A nossa definição pelo método exploratório -descritivo se explica pela
necessidade da articulação entre os estudos teóricos e a própria investigação, na
busca de estabelecer relações e significados de uma determinada situação para
assim poder estu-la.
Richardson (2007) alerta quanto aos cuidados que o investigador
deve ter com as técnicas de pesquisa, uma vez que estas não são elementos
neutros, mas os meios para se obter informações.
Temos a nossa carga de valores, os nossos interesses, a visão de
mundo etc., mas o ter consciência da realidade nos possibilita que essa influência
não comprometa o estudo. É a questão da neutralidade, pois todo pesquisador tem
sua ideologia que influirá no trabalho de pesquisa.
Minayo (2003) alerta que a ciência social é intrínseca e
extrinsecamente ideológica. Por isso a autora afirma que “[…] toda ciência é
comprometida” (MINAYO, 2003, p. 14). Em outras palavras, ela está im buída de
interesses e visões de mundo, historicamente construídos, e pode se submeter ou
resistir aos esquemas das políticas de dominação vigentes
.
Dessa forma, é
fundamental ter claro essa ideologia para assumi -la e, ao elaborar os instrumentos
de coleta de dados, para poder compreender a relação entre pesquisador e
pesquisado, que são os protagonistas de um processo de desenvolvimento.
83
Richardson (2007, p. 219) alerta que tanto os questionários como a entrevista não
são um fim em si mesmo, mas imprescind íveis instrumentos de coleta. Utilizá -los de
forma adequada é responsabilidade do pesquisador.
Temos grande preocupação nesse sentido e, para a confiabilidade,
buscamos ter conhecimento do maior número possível de informações sobre o tema
em estudo, bem como conhecer os procedimentos necessários para a aplicação das
técnicas.
O instrumento inicial de nossa coleta de dados foi o questionário
(APÊNDICE B), que permitiu obter as informações iniciais de um número maior de
docentes e, principalmente, seleciona r aqueles que se ajustavam ao universo de
nossa pesquisa.
Para Richardson (2007, p. 205), o questionário, apesar de implicar
em algumas intercorrências nos quesitos da devolutiva e da confiabilidade, ainda
assim é um instrumento que traz uma série de vant agens em relação a outros. a
uniformidade da ordem das perguntas e das instruções. Num espaço curto de
tempo, podemos obter informações de um número considerável de pessoas, em
uma área geográfica de maior abrangência. Também corroboram essa perspectiva
Barros e Lehfeld (2003, p. 74). Tem ainda a questão da tabulação de dados que é
facilitada e mais rápida do que o tratamento de dados obtidos por meio de outros
instrumentos.
As entrevistas (APÊNDICE D) se estruturaram conforme o retorno
dos questionários, bem como a concordância dos sujeitos participantes da pesquisa.
A opção pelas entrevistas explica -se por se tratar de uma técnica
que possibilita desenvolver uma relação pessoal entre pesquisador e pesquisados.
Os professores entrevistados se disponibil izaram a colaborar, conforme nossa
solicitação ao final do questionário. Não impusemos que participassem das
entrevistas, optamos por convidá -los a colaborar, ressaltando a importância do
estudo. Assim, solicitamos o telefone, o endereço e o e-mail para agendar a
entrevista.
A entrevista é apontada por Cunha (1982, p.10) como uma técnica
que “possibilita o contacto direto com o entrevistado, permitindo captar suas
reações, sentimentos, hábitos etc., dando um maior grau de confiabilidade aos
dados coletados”. Richardson (2007, p. 207) também defende a entrevista, por ser
ela capaz de fornecer elementos do que se busca conhecer. Ele afirma que a
84
proximidade entre as pessoas, a interação face a face, fornece condições essenciais
para adentrar a mente, a vida d o outro e buscar uma definição. Em outras palavras,
o entrevistado pode se expor por meio de sua fala, dos seus gestos, de sua
expressividade.
Para iniciar o estudo, buscamos na literatura disponível as pesquisas
e ou artigos que tratam do assunto. Ressal tamos que, sobre o professor iniciante no
ensino superior, tivemos dificuldades em encontrar trabalhos específicos.
Lima (2007), em seus estudos sobre o assunto, encontrou apenas
três trabalhos. Entretanto, autores como Pachane (2006); Cunha (2006); Veiga
(2006); Isaia (2006); Morosini (2000); Pimenta e Anastasiou (2002); Marcelo Garcia
(1999;); Tardif (2005); Nóvoa (2002), entre outros, abordam a formação pedagógica
dos docentes, seja dos iniciantes seja daqueles que estão em formação contínua, e
nos forneceram subsídios para fundamentar a pesquisa.
Entregamos um questionário aos 53 docentes de uma instituição
particular de ensino superior que oferta três cursos acadêmicos: Administração,
Direito e Pedagogia. Para 37 docentes, entregamos pessoalmente e ex plicamos
nosso intento. Aos demais docentes, por não encontrá -los pessoalmente, deixamos
o questionário nos escaninhos, definindo um prazo para a devolução do mesmo.
Vale destacar que o questionário exibia um texto explicativo sobre
a relevância do estudo e a importância dos participantes na pesquisa. O
questionário teve quatro questões fechadas e seis questões abertas. Seu objetivo
foi investigar a idade; o tempo de atuação na docência do ensino superior; a
formação na área de licenciatura ou bacharel ado; se o docente cursara disciplinas
pedagógicas em sua formação; o motivo de o docente estar atuando no ensino
superior; coletar dados sobre os problemas e desafios enfrentados pelo docente
iniciante no ensino superior; se o fato de cursar uma pós -graduação contribuiu para
melhorar sua ação docente; se o docente está satisfeito com a própria prática
pedagógica; em que circunstâncias a instituição poderia ajudar para a qualidade do
ensino superior; e um breve relato da própria experiência.
Quanto à interpretação de dados, buscamos aporte nos escritos de
Minayo (2005, p. 99), enfatizando que métodos e técnicas que expressam as teorias
nunca devem ser absolutizados ou terem um fim em si mesmos.
85
A opção para a análise dos dados do presente estudo é pelo
desenho de cunho hermenêutico -dialético, por se caracterizar em uma articulação
bastante produtiva para fundamentar os estudos qualitativos (MINAYO, 2005, p.89).
A autora explica que o método hermenêutico -dialético tem a
capacidade de uma interpretação que se a proxima bastante da realidade, pois
coloca em seu contexto a fala. Nesse contexto específico e totalizante, essa
comunicação emerge e é possível entendê -la (MINAYO, 2005, 89-90).
A hermenêutica e a dialética não devem ser minimizadas a uma
simples teoria de tratamento de dados, mas sim reafirmadas pela possibilidade de
reflexão, que é fundamental e, ao mesmo tempo, o se separa da práxis, segundo
a mesma autora.
A união da hermenêutica com a dialética faz com que o intérprete
entenda a fala, o texto e o qu e os depoentes expressam; é o resultado do processo
social e do conhecimento que fazem parte de múltiplas determinações, mas cujo
significado é específico. Assim, o modelo hermenêutico -dialético, em síntese, tem
como característica a compreensão e a critic idade. Minayo (2005), ao sugerir a
associação da hermenêutica com a dialética compreende que se complementam.
Isso é possível, pois parte da própria realidade. A hermenêutica penetra no seu
tempo e, por meio da compreensão, procura atingir o sentido do tex to. A “dialética
direciona a diferença, o contraste, o dissenso, a ruptura do sentido e, portanto, para
a crítica” (MINAYO, 2005, p. 90). A hermenêutica destaca a mediação, o acordo e a
unidade do sentido.
A opção pelo método hermenêutico -dialético pode ser explicada pelo
fato de referenciar e nos guiar nessa investigação, ou seja, entender a fala, o texto,
o contexto, o depoimento, elementos essenciais de um processo social e de
conhecimento, oriundos de múltiplas determinações, mas que podem expressar um
significado específico. Dessa forma, a condução geral para o estudo possibilitou
analisar a realidade investigada, bem como vislumbrar a possibilidade de superar os
problemas levantados com o objetivo de delinear uma nova realidade imbuída de
novas perspectivas para melhorá-la. O professor iniciante na docência universitária
tem se revelado um tema que suscita estudos específicos.
86
3.1 O R
ECORTE
D
O
E
STUDO
Escolhemos, como universo para o desenvolvimento da pesquisa,
uma Faculdade particular, da regiã o de Londrina, que ministra três cursos
acadêmicos: Administração, Direito e Pedagogia. Ressaltamos que é nessa
instituição que nos iniciamos no ensino superior ao final do ano de 2004, a convite
de uma ex-professora. Foi uma situação inesperada para a oca sião, uma vez que
tínhamos em mente passar por uma formação que nos propiciasse um melhor
preparo para atuar no ensino superior. Em nosso entendimento, um melhor preparo
seria ingressar num curso de mestrado em educação.
Havíamos concluído a graduação em 2 001 e um curso de
especialização em 2003. A vontade de agarrar uma oportunidade surgida e o receio
de não conseguir realizar um bom trabalho, constituíram -se em um conflito, pois
acreditávamos que ainda tínhamos muito a caminhar nesse sentido.
Entretanto, o desejo de atuar nesse nível de ensino nos instigou com
um misto de curiosidade, receio, motivação e busca em aprender mais. Em 2005,
entramos no mestrado em educação como aluna especial, cursando disciplinas
pedagógicas. Iniciávamos a nossa preparação para a atuação no ensino superior.
Ao mesmo tempo nosso fazer docente se configurava em meio a receios, anseios e
expectativas, sentimentos estes suficientemente significativos para decidirmos
investigar o professor iniciante no ensino superior.
Segundo a LDB Lei 9496/96, a organização acadêmica dos cursos
superiores no Brasil se configura em universidades e não universidades (faculdades
integradas e institutos superiores). O censo do Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas - INEP (2006) aponta que, de um total de 2.270 instituições de ensino
superior no Brasil, 178 são universidades (7,8%) e 2.092 se constituem em outras
organizações acadêmicas (92,2%). Conforme Censo do INEP de 2003, no Paraná,
são 112 instituições privadas e 22 instituições públicas (INEP, 2003).
As pesquisas realizadas pelo INEP não abordam os professores
iniciantes no ensino superior, mas sim a formação com mestrado e doutorado. De
acordo com os estudos do INEP, os professores com mestrado totalizam 108.965
(36,1%) e com doutorado 6 7.583 (22,4%) (INEP, 2006).
87
Se pensarmos que as IES precisam ter em seu quadro 1/3 dos
docentes com formação stricto sensu, ainda são muitos os professores que precisam
obter essa formação. Observamos também que a lei ao mencionar em nível de pós -
graduação, mesmo que em lato sensu, também habilita o docente para atuar no
magistério superior, apesar da preferência pelos mestres e doutores.
É interessante notar que se o docente se destaca em determinada
área e tiver o título de doutorado ministrará disciplin a correspondente, suprindo a
exigência do título acadêmico (BRASIL, 1996).
Para delimitar o estudo nos detivemos, como critério, nos
professores iniciantes com menos de cinco anos de docência no ensino superior,
pois a nossa pesquisa buscou estudar
os dilemas e desafios
enfrentados/vivenciados pelo professor iniciante no ensino superior.
Antes de entregarmos o questionário aos 53 docentes da instituição,
formalizamos uma solicitação (APÊNDICE A) junto ao diretor da Faculdade, que nos
deu apoio para o estudo.
Obtivemos a devolução de 29 questionários (APÊNDICE B).
Observamos que 22 docentes atuam há menos de cinco anos na docência do
ensino superior. Apenas quatro destes não se manifestaram para conceder a
entrevista (APÊNDICE D). Dessa forma, 18 aceitaram p articipar da entrevista. Aos
participantes da entrevista entregamos o termo de consentimento esclarecido
(APÊNDICE C). Desses 18 docentes, quatro atuam no curso de Administração,
quatro no curso de Direito, dois docentes atuam nos cursos de Administração e
Direito e oito docentes no curso de Pedagogia.
Não entregamos todos os questionários pessoalmente, uma vez que
não pudemos ter contato com os docentes devido a seus compromissos, apesar de
nos dirigirmos à faculdade todos os dias da semana, com o objetiv o de entregá-los.
Pareceu-nos haver uma resistência por parte de alguns professores em colaborar
com o estudo. Talvez por falta de tempo, ou por não se interessarem pela proposta
da pesquisa ou mesmo dificuldade em se expor. Quando sentíamos um esboço de
resistência, não insistíamos.
Em algumas abordagens, ao explicar o motivo de nosso contato,
solicitaram que deixássemos nos escaninhos, pois tinham compromissos e tinham
dificuldades em nos atender. Com outros oito docentes, não foi possível manter um
contato direto, pois não os encontramos na faculdade por diferentes motivos:
88
eventos externos (cursos, palestras) ou licença médica. Mas é interessante relatar
que dentre estes docentes, com os quais não fizemos contato pessoal, obtivemos a
devolução do questionário de três deles.
A maioria dos docentes que participou da entrevista revelou
interesse pelo tema proposto para a pesquisa. Alguns enfatizaram ser um assunto
relevante para o ensino superior.
Realizamos as entrevistas na própria instituição de ensino . A maioria
das entrevistas, gravadas em aparelho MP3, autorizadas pelos entrevistados,
aconteceu na saleta do reitor da faculdade que sempre estava disponível. O
ambiente possui uma mesa, três cadeiras, um armário e um aparelho telefônico e é
separada das outras salas, por divisórias de concreto e vidro, divididas dentro de
uma sala maior, com amplas janelas de vidro e persianas.
Algumas entrevistas aconteceram na sala dos professores, que é
uma sala muito ampla, com diversas mesas e cadeiras e foram real izadas antes do
início das aulas ou após o intervalo da primeira aula.
Duas entrevistas não aconteceram nos espaços mencionados. Um
professor foi entrevistado no pátio da instituição, no momento em que os alunos
estavam nas salas de aula. Outra entrevista ocorreu em outro local de trabalho do
docente, próximo à instituição.
As entrevistas duravam em média 60 minutos. O tempo da entrevista
dependia de como o entrevistado se portava respondendo às perguntas e se as
respostas eram esclarecedoras. As entrevista s eram marcadas nos dias em que
ministravam aulas na instituição ou conforme sua disponibilidade de horário. Os
docentes geralmente preferiam marcar a entrevista após a aula quando tinham a
aula no primeiro horário 19h, ou então antes do início da aula d o segundo horário,
- 21h.
Percebemos que, com essa pesquisa, possibilitamos uma
oportunidade de diálogo e reflexão em torno da formação e da prática pedagógica
do professor iniciante do ensino superior.
89
CAPÍTULO 4 - DILEMAS E DESAFIOS DE PROFESSORES INICIANTES NO
ENSINO SUPERIOR: REFLEXÕES PERTINENTES
“Ensinar é uma especificidade humana”.
(Paulo Freire, 2007)
O início da carreira docente, segundo a literatura, é caracterizado
por algumas particularidades, mas muitos professores ingressam na docên cia sem
ter claro o que é esperado deles e do seu ensino. A ideia que prevalece é a de ter
conhecimento e experiência profissional na área de atuação como quesitos para o
exercício da docência no ensino superior.
A pesquisa bibliográfica revelou algumas t eorias interessantes com
relação ao professor iniciante. Para Marcelo Garcia (1999), o início da carreira
docente possui características próprias. Vários autores concordam que os primeiros
anos são marcantes, apenas divergem quanto ao tempo de duração. P ara Tardif
(2005), o período em que o docente é considerado iniciante se estende até os sete
anos. Huberman (1992) reduz esse período para apenas três anos. Fernandes
(2006) menciona o trabalho do professor Hanushek, da Universidade de Stanford
(EUA), que aponta os dois primeiros anos como os cruciais e afirma que são os
primeiros anos que definirão o trabalho do docente ao longo de sua carreira.
Embora esses autores definam os primeiros anos como
determinantes do processo, constatamos a quase inexistênci a de trabalhos
específicos acerca do tema tratado em nossa pesquisa, relacionados ao início da
docência no ensino superior. Esse fato nos faz pensar em nossa imensa
responsabilidade ao analisar os dados.
No entanto, é importante dizer que autores como Pac hane (2006);
Cunha (2006); Veiga (2006); Isaia (2006); Morosini (2000); Pimenta (2001); Marcelo
Garcia (1995,1999); Tardif (2005) e Nóvoa (2002), entre outros, abordam a formação
pedagógica dos docentes, seja dos iniciantes ou daqueles que estão em formaçã o
contínua e nos forneceram subsídios para fundamentar a pesquisa.
Entre os poucos trabalhos que tratam especificamente do início da
carreira, encontramos a dissertação de mestrado de Mariano (2006) que traz como
90
foco central o professor iniciante e seu pr ocesso de aprendizagem profissional, sem,
no entanto, considerar o nível de ensino em que atua. O autor confessou sua
frustração ao constatar que, até a década de 1990, somente três trabalhos se
referem ao professor iniciante. Sua pesquisa no período de 19 95 a 2004, elencando
os trabalhos apresentados nas reuniões anuais da Associação Nacional de Pós -
Graduação e Pesquisa em Educação ANPEd, dos últimos 10 anos e também do
Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino - ENDIPE, dos últimos cinco
anos, que ocorre a cada biênio, confirmou a escassez de trabalhos nesse sentido. O
recorte temporal que fez para sua pesquisa revelou um total de 24 temas, entre
trabalhos e pôsteres, mas não foram abordados assuntos que tratam das políticas
de formação continuad a e do desenvolvimento profissional e das formas de
aprendizagem desenvolvidas pelo professor iniciante, assim como a relação
existente entre o professor iniciante e seus modelos de atuação profissional, entre
outros.
Diante da escassa produção voltada par a o professor iniciante,
Mariano (2006, p. 136) sugere “pesquisas que focalizem as políticas de formação e
desenvolvimento profissional dos professores iniciantes, bem como seus
desdobramentos para a conquista da autonomia profissional”. Com este trabalho ,
esperamos contribuir nessa direção.
Para delimitar o estudo, nos detivemos nos professores que atuam
até cinco anos no ensino superior. Dos 29 docentes que responderam o
questionário (Apêndice B), 22 docentes atuam menos de 5 anos na docência do
ensino superior, sendo 9 do sexo feminino e 13 do sexo masculino. Entretanto, 4
professores não se dispuseram a conceder entrevista (Apêndice D). Dos 18
docentes que aceitaram participar da entrevista, 4 atuam no curso de Administração,
4 no curso de Direito, 2 docentes atuam nos cursos de Administração e Direito e 8
docentes no curso de Pedagogia.
Na análise dos dados coletados por meio do questionário foi
possível constatar, ao mesmo tempo, uma linearidade e uma convergência nas
respostas fornecidas, be m como algumas divergências, mas as diferenças são
representativas em cada caso. Os resultados também apontam que não ocorreram
diferenças significativas entre os professores de bacharelado e de licenciatura.
Com a identificação dos 22 professores com meno s de 5 anos de
docência no ensino superior, observamos que 13 professores são do sexo
91
masculino. Destes, 6 professores têm menos de 30 anos de idade, 3 com mais de
41 anos, 3 professores estão entre 31 e 35 anos e 1 professor tem a idade entre 36
e 40 anos. Quanto às professoras, 4 possuem menos de 30 anos, 2 têm mais de 41
anos, 1 professora tem entre 31 e 35 anos e outras 2 entre 36 e 40 anos, conforme
demonstra o quadro n. 2 a seguir. Vejamos:
( - ) 30 anos
31-35 anos
36–40 anos
41 anos ou
mais
Total
Professores
6
3
1
3
13
Professoras
4
1
2
2
9
Total
10
4
3
5
22
Quadro 2 - Distribuição de gênero e idade dos docentes
O número de professores com menos de 30 anos é notável. É
preciso considerar que, até pouco tempo, eram alunos da graduação. Alé m disso, 8
deles concluíram o mestrado. É como se dormissem alunos e acordassem
professores, uma vez que para atuar no ensino superior, não se exige uma formação
específica, pulam dos bancos acadêmicos para o papel de docente.
Destacamos o alerta de Lel lis (2006, p. 2) no que se refere às
condições de trabalho, às oportunidades da carreira docente, oferecidas pelas
faculdades/centros/institutos. A autora explica que são diferentes e que, cada
instituição tem suas particularidades nas questões da proporçã o de titulação dos
docentes, no tipo de serviço oferecido, assim como nos projetos acadêmicos e
profissionais.
A autora lembra ainda que a faculdade privada é a grande
empregadora dos professores de ensino superior. Na fala dos docentes
pesquisados, a instituição está lhes possibilitando ter a experiência na educação
superior:
Foi uma grande oportunidade que a instituição me proporcionou [...]
estou gostando do ensino superior. Eu acabei o meu mestrado e
quero continuar e fazer o doutorado [...] (P 8).
[...] Apareceu esta chance para trabalhar com o ensino superior e eu
aproveitei, estou gostando, apesar de não gostar muito da área
acadêmica (P 11).
92
Quando me convidaram, eu até pensei eu não vou [...] Mas recebi
muito apoio [...] eu gosto de estar com os alunos, saber que eu fui
um deles [...] a instituição me deu essa oportunidade [...] (P 29).
A instituição possibilita que o professor inexperiente realize seu
trabalho. [...] Eu penso que a minha responsabilidade aumenta pelo
fato de não ter exper iência [...] (P 12).
Brandão e Lellis (apud LELLIS, 2006) explicam que os professores
das escolas isoladas e privadas geralmente trabalham com contrato de tempo
parcial ou em regime de hora/aula. São os profissionais que ocupam “a chamada
periferia
do ensino superior” (LELLIS, 2006, p. 4) (grifo da autora). De um modo
geral, esses professores têm horas/aulas em outras instituições ou mesmo uma
outra profissão paralela.
Outro aspecto para analisar é a questão da idade dos docentes
iniciantes que têm mais de 41 anos. Constatamos que 5 docentes têm mais de 41
anos de idade. Lellis (2006) argumenta que nem todos esses professores que
trabalham nessas instituições privadas, que estão em busca de pós -graduação
stricto sensu Mestrado e Doutorado, serão incorpo rados por meio de concurso
público pelas universidades de maior prestígio. Os quesitos idade, tempo de
titulação serão os pontos destacados para a filtragem “na construção de uma
carreira acadêmica, inclusive com provável ingresso em universidade de pesqui sa”
(LELLIS, 2006, p. 4).
No entanto, 3 dos docentes destacados têm titulação na pós -
graduação. Um docente está concluindo seu doutoramento e atua também em
uma universidade pública conceituada. Quanto aos outros 2 docentes, um concluiu
seu mestrado na área de atuação (Direito) e o outro, na área de educação. Os 2
docentes que não ingressaram na pós -graduação stricto sensu não manifestaram
interesse em prosseguir com esta formação. O professor (P 7) verbalizou:
Eu não tenho vontade de fazer o mestrado, [...] eu estou me valendo
da larga experiência na minha área (P7).
Apesar de suas palavras exprimirem uma satisfação pelo fato de
estar atuando na área acadêmica, por conta da sua experiência profissional, lhe falta
elementos para compreender a dimensão da prática educativa. No caso, a formação
pedagógica. Desse modo, esse profissional, como tantos outros, acredita que o
93
sucesso profissional, na sua área de atuação, é o suficiente para o exercício do
trabalho educativo. Não cabe aqui julgar a docência esp ecífica desse docente, mas
compreender que isso não é nenhuma surpresa. A crença do sucesso profissional é
considerada suficiente para exercer a docência no ensino superior, como
denunciou Masetto (2003, p.11).
Com o outro docente não foi diferente. O s eu argumento é que,
apesar do pouco tempo na área acadêmica, é uma área que, segundo suas
palavras, não lhe atrai: “Eu não gosto muito da área acadêmica, mas gosto de dar
aula” (P11). O docente em questão trabalha com pequenos grupos com o ensino
técnico instrumental. Nesses grupos, os alunos são participativos, envolvidos e
interessados. A área acadêmica para o docente é diferente, pois nem todos os
alunos são participativos, envolvidos e interessados.
Nesse sentido, Pimenta e Anastasiou (2002, p. 235) e nfatizam a
necessidade de “um contrato de trabalho formativo, com responsabilidades
claramente assumidas pelos alunos, os professores e a instituição”. As autoras
explicam que se trata de valores, para um posicionamento do que esses alunos
efetivamente querem com a graduação. Outro aspecto que as autoras abordam se
refere ao “reposicionamento do eu do aluno diante do social, essencial à construção
de um possível processo crescente de cidadania, de exercício profissional
compromissado com a melhoria da quali dade de vida humana em geral” (PIMENTA;
ANASTASIOU, 2002, p. 235 -236). Entretanto, as autoras não são otimistas, pois
alegam que as universidades de mercado, onde os alunos são clientes e pagam por
um produto não dão conta dessa perspectiva.
Com relação aos professores com idade entre 36 e 40 anos (3), dois
já são mestres e o outro professor tem interesse em ingressar no mestrado.
A maioria dos docentes pesquisados tem dado continuidade na sua
formação. Aqueles que ainda não ingressaram na pós -graduação compõem um
número de 5 docentes. Nesse aspecto, destacamos que um docente tem menos de
30 anos, mas já fez duas especializações na sua área (Direito). Outro docente
também tem 31 anos e fez duas especializações, uma em Metodologia do Ensino
Superior e outra na sua área - Direito. Tanto um como o outro pretendem dar
continuidade na formação, como relataram na entrevista.
Os dois docentes com mais de 41 anos verbalizaram que não
desejam ingressar em curso de mestrado, porém, ambos têm uma especialização
94
nas suas áreas: Administração e Educação. O outro docente que está na faixa etária
de 36 a 40 anos, demonstrou interesse em continuar sua formação ingressando no
mestrado em educação, pois tem formação em Pedagogia e também uma
especialização na área de educ ação.
Com relação ao gênero, nossa percepção é de que o número de
docentes do sexo masculino é maior nos cursos de bacharelado. O curso de Direito
tem em seu quadro 5 professores e 2 professoras. No curso de Administração 2
docentes são mulheres e 4 docent es são homens. No curso de Pedagogia 3
docentes são do sexo masculino e 6 do sexo feminino. Observamos que na
licenciatura a figura feminina prevalece. Os estudos de Passos (1997) para a
presença feminina na Universidade Federal da Bahia revelaram que as m ulheres
representam a extensão dos papéis de esposa e mãe. Sua presença é maior
principalmente nos curso de licenciaturas.
No que se refere à titulação, conforme Quadro 3, 14 docentes são
mestres, 1 é doutorando, 5 professores cursaram especialização nas respectivas
áreas de atuação e 1 professor cursou a Metodologia do Ensino Superior. É
interessante mencionar que dos professores que cursaram mestrado, 7 deles
também cursaram a especialização em Metodologia do Ensino Superior e 6
professores cursaram seu mestrado em educação.
Mestrado
em
Educação
Mestrado
área
Metodologia
do Ensino
Superior
Especialização
Doutorando
Educação
Professores
1
6
5
3
1
Professoras
5
2
2
2
-
6
8
7
5
1
Quadro 3 - Distribuição da titulação dos docentes
Dos 4 docentes que atuam no curso de Administração, 3 deles
concluíram o mestrado. Um docente tem especialização na área de Administração e
outro professor tem especialização em Metodologia do Ensino Superior.
No curso de Direito, 3 professores possuem o mestrado. Dois
desses professores também buscaram especialização em Metodologia do Ensino
Superior, assim como um professor que, além da especialização em Metodologia do
95
Ensino Superior fez outra especialização na sua área Direito. Outros 2 professores
fizeram especializações na área jurídica.
Temos ainda 2 docentes que exercem a docência nos dois cursos
acadêmicos: Administração e Direito. Ambos possuem especialização, porém um
professor, além da especialização na área, também cursou a Metodologia do Ensino
Superior. Já o outro professor tem a especialização na área jurídica.
Alguns professores do curso de Pedagogia (6) cursaram o
mestrado em educação. Um deles está concluindo o doutoramento em educação e 1
docente tem especialização na área de educação. Vale ressalta r que 2 outros
docentes cursaram a Metodologia da Ação Docente e outros 5 professores cursaram
uma especialização na área da educação, assim como o professor que faz seu
doutoramento.
É possível observar que os docentes têm buscado complementar
sua formação tanto em lato sensu como em stricto sensu. Os docentes que atuam
em outras instituições com a educação superior, sejam elas públicas ou privadas,
revelaram não participar de uma formação nas instituições nas quais atuam. Apenas
um professor participa de um curso para a formação pedagógica em outra instituição
em que trabalha.
As políticas públicas para o ensino superior, por meio da LDB
9394/96, exigem das IES que no mínimo 1/3 dos docentes tenha a titulação
acadêmica de mestrado ou doutorado. A LDB tamb ém aponta que a preparação
para o magistério superior será nos programas de mestrado e doutorado (BRASIL,
1996). No entanto, a formação privilegia o pesquisador e não o professor.
Ao exercer o ensino, o docente universitário deve focalizar sua
prática docente na aprendizagem do aluno. Para isso deverá preencher as lacunas
que dificultam esse processo. Dessa forma, é necessária, além do conhecimento
dos conteúdos, a formação pedagógica para fazê -lo de modo que o aluno possa
aprender. O professor “conhecer bem a própria disciplina é uma condição
fundamental, mas não é o suficiente [...]” (ZABALZA, 2004, p.11). O autor argumenta
que “[...] ser um bom docente é diferente (porque requer diferentes conhecimentos e
habilidades) [...]” (p.108).
Não podemos ignorar que o contexto do século XXI revela
mudanças dentro da universidade marcada pelo ideário neoliberal e posturas
96
conservadoras, o que repercute em uma nova configuração do sistema educacional,
definidas pelas políticas do mercado (CUNHA, 2006a).
A primeira questão referiu-se à razão do ingresso na docência no
ensino superior. As respostas estão demonstradas no Quadro 4, a seguir:
Respostas
N
Ser professor sempre foi seu desejo
18
A profissão do docente universitário valoriza e confere maior
confiabilidade pelo mercado de trabalho ao profissional que a
exerce
11
A oportunidade surgiu por acaso (indicação/convite)
8
Para complementação de renda
8
Pelo interesse em realizar pesquisa
4
Outra (s) razão (ões) “maior conhecimento da matéria”
1
Outra (s) razão (ões) “indicação de amigo”
1
Outra (s) razão (ões) “incentivo da coordenação grupo de pesquisa”
1
Quadro 4 - Razão do ingresso na docência no ensino superior
As respostas: “ser professor sempre foi seu desejo”, assinalada por
18 dos 22 docentes, e “a profissão do docente universitário valoriza e confere maior
confiabilidade pelo mercado de trabalho ao profissional que a exerce”, indicada por
11 docentes, revelam que a profissão docente é vista como uma profissão que
confere status.
É bastante significativo o número de docentes (18) que desejam o
exercício do magistério, isto é, que querem ser professor. Na concepção de Freire
(2007, p. 33), [...] a prática educativa tem de ser, em si, um testemunho rigoroso de
decência e de pureza”. Para o a utor educar é respeitar a natureza do ser humano.
Desse modo, os conteúdos ensinados não podem desconsiderar a formação moral.
O educador deve trabalhar de modo que o aluno se sinta valorizado (FREIRE, 2007).
O professor precisa dar sentido à sua prática d ocente, pois
[...] O fato de me perceber no mundo, com o mundo e com os outros
me põe numa posição em face do mundo que não é de quem nada
tem a ver com ele. Afinal, minha presença no mundo não é a de
quem a ele se adapta, mas a de quem nele se insere. É a posição de
quem luta para não ser apenas objeto, mas sujeito também da
História (FREIRE, 2007, p.54).
97
Para que isso aconteça, acreditamos que a profissão de docente
precisa ser realmente desejada. É preciso envolvimento e comprometimento. É o
momento oportuno para trazer o que expressaram na entrevista alguns docentes
nesse aspecto:
Eu me preocupo com o aluno. Quando eles não leem, quando não
querem aprofundar num texto, numa discussão […] o professor
precisa ser compromissado para com os alunos […] (P 8).
Nós professores temos um compromisso com os alunos […]
recebendo ou não vamos lá e damos nossa aula […] (P12).
Eu, como profissional do ensino, tenho que me envolver, tenho que
ter uma participação política, ética, tenho que me doar […] (P20).
Comecei a fazer um curso pedagógico […] Agora eu trago o ensino
com responsabilidade […] antes eu chegava dava aula, o que era
feito, como era feito eu não tinha nenhuma preocupação […] (P 17).
Eu gosto de dar aulas, me sinto gratificada quando vejo um alun o
que está num patamar x e ele supera suas limitações, quando você
vê ele está explodindo […] (P 16).
Eu dou aulas porque gosto, me dá satisfação, vou fazer bem […], me
possibilita trabalhar com projetos […] eu ensino meus alunos os
passos para elaborar um projeto. Eu trabalho com eles passo a
passo […] é um vai e volta e, ao final, o projeto está pronto, eles
aprendem […] (P 19).
Eu chamei os alunos para conversar, particularmente, […] queria que
se manifestassem […] (P 4).
O relato dos professores re vela, ao mesmo tempo, uma
preocupação e uma mudança de postura para exercer a docência. A preocupação
com os alunos se manifesta quando o docente declara que deseja melhorar sua
prática educativa. Pimenta e Anastasiou (2002, p. 196) enfatizam o fato de o
professor pesquisar a própria prática porque está realizando uma ação intencional, o
que revela a profissionalidade do docente: “rever a própria prática, debruçar -se e
refletir sobre ela é necessário a toda profissão”. Nesse aspecto, Freire (2007) afirma
que
98
[…] quanto mais me assumo como estou sendo e percebo a ou as
razões de ser de porque eu estou sendo assim, mais me torno capaz
de mudar, de promover -me […]. Para mudar e de cujo processo se
faz necessariamente sujeito também (FREIRE, 2007, p.39).
Por se tratar de professores iniciantes, pensamos que manifestam
um compromisso com o trabalho que realizam. São docentes que se dirigem à
instituição, dão suas aulas, mas são professores e não simplesmente estão
professores.
Essa nossa percepção fica evident e com o relato de um docente que
exprime toda sua angústia ao sentir que não conseguiu atingir seus alunos para a
aprendizagem:
[…] você pergunta em uma aula: pessoal está tudo tranquilo e de
repente para frente alguém fala: “não entendi isso”. Eu me s into
mal, fico muito mal, a falha, eu acho que é um negócio que eu não
consigo lidar muito bem com ela. Você faz sempre buscando o
melhor e quando vê, eu acredito, principalmente, como professor,
machuca pela responsabilidade que o cargo te traz […] (P1).
Outro professor também manifestou semelhante cuidado. Na
entrevista expôs que ao término das aulas sempre consulta seus alunos
perguntando se conseguiram entender sua proposta, pois seu objetivo é realizar o
trabalho de modo que os alunos aprendam aquilo que ele se propõe a ensinar:
Eu sempre faço questão de perguntar ao término da aula: - Vocês
entenderam? Vocês gostaram? […] (P28).
A responsabilidade e o compromisso desses professores com seu
trabalho na sala de aula ficam muito claros. Mas esses profe ssores acabam
assumindo uma culpa que não é toda sua. Não podemos esquecer que muitos
desses alunos, para quem exercem a docência, chegam aos bancos universitários,
principalmente nas instituições privadas, com déficit de conteúdos básicos do ensino
fundamental e médio.
Por outro lado, o docente, por mais que deseje fazer o melhor, pode
não estar fazendo o seu melhor do ponto de vista didático -pedagógico. O docente é
bacharel em direito, portanto não tem uma formação específica para o exercício da
docência. Sabemos que algumas ações precisam ser coletivas e não
99
responsabilidade de um único docente. Pelo fato de ser um professor iniciante, caso
não tenha a oportunidade de compartilhar esse “mal estar” com os pares e com a
instituição pode até vir a desistir do magistério por conta disso. Hubermann (1992)
fala em “descoberta e sobrevivência” e Veenman ( apud MARIANO, 2006) em
“choque da realidade”.
Exercer a docência é muito mais que chegar à sala de aula e dar
aulas. É necessário visualizar todo o contexto, que nem sempre revela alunos ideais,
mas alunos reais, com dificuldades e deficiências, para os quais muitos de nós
docentes não estamos preparados.
Não são poucas as dificuldades que incomodam os docentes no seu
trabalho pedagógico com os discentes como , por exemplo, “não saber lidar com
alunos que chegam aos bancos universitários sem base para aprofundar os
conhecimentos”. Dificuldades que 11 docentes indicaram como um dos problemas
para atuar no ensino superior. Esta alternativa faz parte da questão 2 do
questionário. Nessa mesma perspectiva, 3 docentes descreveram no questionário
situações semelhantes, vejamos:
Má formação dos alunos. (P 13).
O baixo nível de conhecimento básico dos alunos de graduação
(P15).
Não ter tempo de lidar com os alunos se m base que chegam ao
ensino superior (P 16)
As questões retratam como muitos alunos chegam aos bancos da
educação superior. Os docentes que as assinalaram alertaram para a dificuldade de
lidar com tais situações. Alguns docentes sugeriram “realizar um tr abalho paralelo
com os alunos que não possuem base para a assimilação dos conhecimentos”. É
interessante notar que dependendo da situação, os docentes atribuem a culpa ora
para si ora para os alunos. Vejamos o que os docentes escreveram no questionário:
Levo a sério meu trabalho e gostaria que cada aula fosse uma
experiência verdadeira para o aluno, o que nem sempre acontece [...]
não vejo retorno [...] (P9).
Pouco nivelamento entre alunos; muitos alunos por sala [...] (P10).
100
100
Uma das dificuldades encontra das foi lidar com os alunos com
dificuldades básicas (leitura, interpretação, produção de textos) [...] O
alto número de alunos por turma dificulta o trabalho com debates, e
dinâmicas). A falta de empenho de alguns alunos nas atividades
propostas é também uma dificuldade (P12).
[...] frustração com o baixo nível dos alunos, em relação à formação
universitária (vestibular) (P15).
Na entrevista, o professor (P8) fez um desabafo semelhante, assim
como o professor (P12) reforçou os problemas e desafios do iní cio. Vamos aos
relatos:
Meu maior desafio e também uma dificuldade foi a falta de leitura dos
alunos. Por conta disso eu não poder aprofundar, poder avançar num
texto, ou mesmo uma discussão [...] (P8).
Muitas vezes você se prepara com vários autores [.. .] você chama os
alunos para a discussão [...] eu gostaria que a maioria participasse
[...] (P12).
As queixas desses docentes somam -se a outras que apontam os
mesmos problemas e desafios. Para entender o que enfrentam os docentes, se faz
necessário explicar quem são os alunos que frequentam a instituição onde os
docentes atuam. As políticas públicas para o ensino superior facilitaram o acesso a
esse nível de ensino. Lembramos que na década de 1990 aconteceram duas
situações que marcaram e mudaram o cenári o da educação superior: o Estado
diminuiu o investimento para o ensino público superior e a privatização toma espaço,
com a mercantilização da educação superior. Dessa forma, o governo instituiu os
meios Programa de Financiamento Estudantil - FIES e Programa Universidade
para Todos - PROUNI para que as classes menos favorecidas pudessem colocar
seus filhos na educação superior, em instituições privadas.
Os alunos matriculados na instituição são provenientes da escola
pública, mas nem todos chegam com o d omínio dos conteúdos básicos necessários
para cursar o ensino superior. A LDB 9394/96 traz em seu texto que ao término do
ensino fundamental, o aluno tenha o domínio da leitura, da escrita e do cálculo (LDB
9394/96, ART. 32). Para o ensino médio, por meio do Art. 35, o texto é o seguinte: “ a
consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino
fundamental, possibilitando o prosseguimento de estudos” (LDB 9349/96, ART. 35,
101
101
INCISO I). Na prática, porém, muitos alunos provenientes do ensino m édio chegam
defasados desses conteúdos. As falas dos docentes na entrevista revelam essa
defasagem:
[…] O nosso aluno chega aqui muito mal preparado. Ele chega
precisando de muita base, de cultura, de ter a possibilidade de ter
meios de informações difer enciadas. Uma vez perguntei durante a
aula quem tinha ido a uma ópera. Ninguém. Falei que Londrina tem
festival de música, tem festival de teatro, tem concerto de musica
clássica... Ninguém […]. A UEL promove tanta coisa grátis […].
Ninguém. Então o aluno chega com uma formação cultural deficitária.
[…] Tem aluno que chega aqui e praticamente explode, eles
melhoram muito, mas muitas vezes é aquém do que a gente sonha
para eles (P16).
[…] Deveria ter um trabalho que melhorasse o desempenho do
aluno, para que ele se saia melhor, mais preparado no curso (P11).
O importante nessa questão é a participação da instituição e o
envolvimento do grupo de docentes. Não é uma questão simples, mas existem
possibilidades de solução, desde que assumidas em suas especific idades
.
Pimenta
e Anastasiou (2002, p. 39) explicam que
Não se trata de ignorar as dificuldades constatadas; ao contrário,
trata-se de conhecê-las e programar, o mais coletivamente possível,
ações entre docentes e discentes a fim de superarem as dificuld ades
constatadas. Esse projeto pode ser até escalonado conforme as
diversas fases do curso em questão. Quanto mais cedo forem
percebidas as dificuldades e traçadas as linhas de ação, maiores
serão as possibilidades de superação dos problemas no decurso dos
anos, semestres ou fases do curso.
As declarações dos professores mostram, de certa forma, como está
o cenário da educação básica, especificamente do ensino médio. A situação chegou
a esse ponto porque a questão educacional deixou de ser tratada como um tema
intelectual e passou a ser considerado um assunto de ordem técnica ou
administrativa (SCHWARTZMAN, 1991). O autor argumenta que as questões
relacionadas à educação saíram do foco das grandes discussões e debates para
que fossem tratadas por especiali stas, por conflitos de interesses e pelo
envolvimento direto com as instituições educacionais. Os envolvidos são os pais, os
professores, as secretarias e ministérios da educação, funcionários e livreiros. Mas
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um ponto que bastante nos interessa para escla recer a questão é o que enfatiza
Schwartzman (1991, p. 52):
A relativa decadência do tema da educação básica se explica, em
parte, pela progressiva expansão das universidades e do ensino
superior nas últimas décadas, atraindo para si os melhores talent os e
as principais atenções, e relegando o ensino básico para setores
sociais menos privilegiados e menos capazes, consequentemente,
de trazer seus temas e interesses para o foco das atenções.
As questões não se resumem a isso. Os trabalhos de Bourdieu e
Passerom (apud SCHWARTZMAN, 1991) denunciam que os sistemas educacionais
reproduzem as estruturas dominantes da sociedade. Entre os educadores, tais
idéias são reforçadas com a falta de apoio, o desprestígio e o não reconhecimento
de que o vitimados. Es sas frustrações levaram os professores a abandonar quase
que totalmente “as preocupações de natureza pedagógica, substituídas seja pela
militância política, seja pela apatia pura e simples” (p.52).
Pimenta e Anastasiou (2002) alertam que alguns pré -requisitos são
necessários para o aluno acompanhar a graduação, como o domínio da leitura, da
interpretação e da redação, Para que não fique na constatação, é imprescindível
realizar um diagnóstico para desencadear ações em conjunto, com professores e
alunos para a superação das dificuldades. As autoras sugerem a aplicação e a
correção de atividades na própria sala de aula, para que os alunos tomem
consciência de suas dificuldades e assumam coletivamente o caminho a ser trilhado.
Adiar o conteúdo programático estabelecido “por uma ou duas semanas para uma
retomada de itens essenciais, tem sido prática adotada com sucesso, envolvendo
professores e alunos em torno de ações conjuntas e necessárias” (PIMENTA;
ANASTASIOU, 2002, p. 234).
Segundo as referidas autora s, aspectos mais complexos, que
carecem de maior aprofundamento e tempo, merecem especificidade no projeto
pedagógico do curso, podendo ter caráter especial “para alguns grupos ou turmas, e
mesmo generalizáveis para todo o alunado e programados ao longo da s fases ou
anos curriculares” (PIMENTA; ANASTASIOU, 2002, p. 235).
No Brasil, a pedagogia universitária exercida pelos docentes não
tem uma identidade única. Ela é bastante complexa assim como o sistema de
educação superior. Além disso, na educação superi or, temos as instituições públicas
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e privadas, as universidades e não universidades distribuídas nas cinco regiões do
país, de características étnicas, sociais e econômicas diferentes (MOROSINI, 2000,
p. 19).
Além do mais, a literatura tem apontado que a ação docente se
efetiva em modelos positivos de antigos professores e que recorremos ainda ao
habitus. O habitus é definido por Bordieu “como um conjunto de esquemas que
permite engendrar uma in finidade de práticas adaptadas a situaç ões sempre
renovadas sem nunca se constituir em princípios explícitos” (BOURDIEU apud
PERRENOUD, 1997, p.39). Isso significa que o habitus mobiliza os esquemas de
disposições duradouras de todas as experiências passadas e funciona
[…] como uma matriz de percepções, de apreciaç ões e de ações, e
torna possível a concretização de tarefas infinitamente diferenciadas,
graças às transferências analógicas de esquemas que permitem
resolver os problemas da mesma natureza (BOURDIEU apud
PERRENOUD, 1997, p.40).
Desse modo, exercer a prof issão docente implica integrar seus
conhecimentos e sua experiência e desenvolvê -los em contextos educativos. Como
prática social, o ensino deve se efetivar com qualidade, por isso é fundamental,
desde o início do trabalho docente, a formação. Nóvoa (1997, p. 28) faz o seguinte
questionamento:
Formar um professor é possível? Formar não, formar -se! O professor
forma a si mesmo através das suas inúmeras interações, não apenas
com o conhecimento e as teorias aprendidas nas escolas, mas com a
prática didática de todos os seus antigos mestres e outras pessoas,
coisas e situações com as quais interagiu em situações de ensino
durante toda a sua vida.
É Importante destacar que os professores consultados neste estudo
estão situados num contexto com muitas adversid ades que dificultam seu trabalho:
falta de recursos, grande número de alunos por sala, alunos com deficiências de
conteúdos, entre outras.
Mas o que move esses professores para o exercício da docência? É
preciso que haja satisfação pelo trabalho que rea lizam e não um peso árduo nos
ombros a carregar. Concordamos com Alarcão (2000, p. 187) quando adverte:
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Professor, descobre o sentido de tua profissão e descobre -te a ti
mesmo como professor para ajudares os teus alunos [...] e a
descobrirem-se a si próprios como alunos. Acho que vai gostar da
tua descoberta. Mas, se não gostares, tem a coragem de abandonar
a tua profissão antes que ela se torne para ti um fardo demasiado
difícil de suportar.
Não se pode ignorar a questão de que o ingresso de 8 profess ores
na docência universitária ter se efetivado por meio de convite, por serem
profissionais bem sucedidos. Mesmo não tendo uma formação pedagógica
específica, os docentes iniciam o magistério no ensino superior. Não podemos
culpar os professores por essa prática. Para a grande maioria que ingressa no
ensino superior, é um desafio exercer a docência, e esses docentes vão
respaldados no conhecimento que têm dos conteúdos específicos do curso de
formação e “mediante um processo de socialização em parte intuit iva, autodidata ou
[...] seguindo a rotina dos outros [...]” (BENEDITO apud PIMENTA; ANASTASIOU,
2002, p. 36).
Pimenta e Anastasiou (2002) afirmam que “[...] consenso de que
a docência no ensino superior não requer formação no campo de ensinar [...] s eria
suficiente o domínio dos conhecimentos específicos [...]” (p. 36). Nesse aspecto,
prevalece a idéia de repasse de conteúdos e informações. As autoras explicam
ainda que, com relação à docência no ensino superior, é importante considerar que
“a influência das novas configurações do trabalho na sociedade contemporânea
da informação e do conhecimento, das tecnologias avançadas e do Estado mínimo,
reduzindo a empregabilidade” (PIMENTA; ANASTASIOU, 2002, p. 39).
Segundo as autoras, por isso observa -se um afluxo de profissionais
liberais exercendo a docência no ensino superior, que, devido à expansão do
mesmo, ofertam empregos a esses profissionais. O reflexo disso é a oferta de
cursos superiores e de pós -graduação lato e stricto sensu. Ribas (2000, p. 38 )
ressalta que
[…] a formação inicial não é uma fase completa na vida do professor
e sim uma primeira etapa: no entanto se ela preparar bem
(desenvolvendo atitudes de disposição para o estudo, para a busca
de referências na prática e para a inve stigação) o professor transporá
os obstáculos do cotidiano escolar e terá maior segurança nas
decisões, principalmente na fase de socialização que ocorre no
ambiente de trabalho.
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Na docência universitária, o professor iniciante, com formação
pedagógica ou não, se depara com situações instáveis, imprevisíveis e diferentes,
com as quais muitas vezes tem dificuldade de lidar. Grillo (2000, p. 75) explica que
as situações da sala de aula são sempre instáveis e cada uma, de modo singular,
exige uma reinterpretação do professor, mesmo que ele tenha vivenciado outras
experiências anteriormente. Não a garantia de dar certo, pois as condições de
ensino mudam a cada dia. Nesse sentido, “[…] o professor necessita ser um
pesquisador que questiona o seu pen samento e a sua prática, age reflexivamente no
âmbito dinâmico, toma decisões e crias respostas mais adequadas [...]” (p.75).
Para uma grande maioria de professores, o ingresso no exercício da
docência do ensino superior, pode ter se efetivado por difere ntes razões. A questão
da complementação de renda pode ser uma dessas razões. Alguns dos docentes
entrevistados (8) a mencionaram. Como observamos, muitos professores precisam
trabalhar em mais de uma instituição para complementar sua renda.
Pimenta e Anastasiou (2002, p. 128) argumentam que,
No caso dos professores da educação superior, as oportunidades de
emprego vêm aumentando, com a expansão das instituições
particulares de ensino, em todo o território nacional. A esse aumento
numérico de empregab ilidade não estão associados processos de
profissionalização, nem inicial nem continuada [...].
É consenso que muitos docentes atuam no ensino superior para
complementação de renda, ou seja, tratam a profissão como um bico. Se
considerarmos como um bico, vamos ignorar que a maioria dos docentes deseja
exercer a docência porque gosta, mesmo porque a docência no ensino superior não
é a atividade principal desses docentes.
Pimenta e Anastasiou (2002, p. 129) levantam a questão e explicam
que “muitas vezes, a atividade docente é assumida como mais uma atividade para
obtenção de renda, e não como profissão de escolha, os próprios docentes não
valorizam uma formação profissional”. Nesse sentido, “[…] não é problema do
professor, especialmente do universitário, que está ali muitas vezes como uma
concessão, como um favor, como uma forma de complementar o salário, […] como
um bico, etc.“ (PIMENTA; ANASTASIOU, 2002, p. 37).
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No Brasil, de um modo geral, os professores ganham muito pouco.
Por isso, para muitos, a necessidade de trabalhar três turnos para conseguir
complementar a renda.
É importante mencionar que 8 docentes, apesar de assinalarem a
resposta - “para complementação da renda”, também assinalaram a opção - “querer
ser professor sempre foi seu desejo”. C om exceção de um professor que escreveu:
“Mas eu adoro!”.
Não podemos esquecer que o campo de estudo para a pesquisa é
uma instituição de pequeno porte e que, mesmo que os docentes quisessem, não
haveria as condições necessárias para se dedicarem com um m aior tempo às
atividades acadêmicas. Os cursos da instituição não formam mais de uma turma por
período. Isso significa que o professor não repetirá a mesma disciplina em outra
turma.
A média de horas/aulas entre os 22 docentes participantes da
pesquisa é de 7.44 hora/aula. Ainda podem correr o risco de ter reduzida essa
média se as turmas não forem formadas. Para ilustrar esse contexto, no início de
2009, ou seja, no primeiro semestre, a instituição formou uma turma com 20 alunos
para um dos cursos ofertad os - Pedagogia. No entanto, soubemos que em duas
outras instituições particulares não houve a formação de turma no curso em questão.
O que vem ocorrendo, segundo o último Censo da educação
superior de 2007, divulgado em fevereiro de 2009, pelo INEP, reve la que o ensino
superior brasileiro privado está saturado. O crescimento da oferta de vagas das
instituições privadas apresentou uma redução de aproximadamente 5% em relação
aos dados apurados em 2003. O aquecimento anterior das instituições privadas
deve-se ao subsídio do governo, porém não mais essa ajuda nem demanda. Os
alunos não entram porque não conseguem pagar. Apesar disso, houve um aumento
da oferta de vagas, segundo o censo de 2007, pois atingiu a marca de 2.823.942
vagas, ou seja, 194.344 a ma is que no ano de 2006, com a diminuição da oferta
pelas instituições públicas estaduais e municipais.
Dessa forma, as instituições privadas responderam por 196.189
novas vagas. Mas o número de ingressos não acompanhou, o que colaborou para
um total de 1.311.218 vagas ociosas nas instituições privadas (CENSO INEP/MEC,
2007).
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A situação que a instituição atravessa não é muito diferente da de
outras instituições privadas, que enfrentam o mesmo dilema, a falta de alunos.
A instituição particular, segundo Le llis (2006), é a grande
empregadora. Nesse sentido, os docentes desse estudo, lecionam em uma
faculdade privada que oferece três cursos de graduação. A média de horas/aulas é
muito pequena para considerar a questão da renda como relevante nesse contexto.
Pensamos desse modo, pois destacamos que dentre esses 8 docentes, 6 também
mencionaram que o desejo pela docência era uma das razões de ingresso. Já
comentamos essa opção do “desejo em ser professor” (quadro 4), uma vez que foi
bastante significativa, pois 18 docentes a assinalaram. Na entrevista, a questão da
renda foi um assunto mencionado para falar da valorização do professor, isto é,
valorização da profissão de docente.
Vasconcelos (1996, p. 37) explica que o salário é um “ponto crucial”
para o docente da educação superior enfrentar e é o impeditivo para a exclusividade
no exercício do magistério.
Nesse aspecto, é importante mencionar que a instituição efetuou
uma redução de 25% no valor da hora/aula de seus docentes. A medida foi tomada
com a aprovação dos docentes, que entenderam a situação atual que a instituição
atravessa (inadimplência e redução do número de alunos) e votaram unanimemente
pela redução do valor da hora/aula. O fato foi mencionado por apenas 3 docentes:
No mercado, várias profissõ es tiveram aumento [...] nós aqui tivemos
redução de 25%. Até entendo o motivo [...] mas desestimula, por isso
a pessoa tem que gostar muito de ser professor [...] (P 10).
Nós não podemos pensar no salário, mas o que está por trás do
salário? Se for bem remunerado, se estou realizando um bom
trabalho, eu sou reconhecido por isso, por meio desse salário. É
claro que não vou trabalhar em função dele, mas é ele que vai suprir
a minha vida pessoal, de modo que a gente consiga dar menos aulas
(P 12).
Algumas práticas a instituição precisa assumir [...] a realidade muitas
vezes dificulta as ações [...]. Quando eu entrei aqui até celular me
ofereceram [...] Depois as coisas foram mudando, os alunos não
entram em proporção aos que saem [...] então fica muito di fícil [...]
(P17).
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Segundo um professor foi realizado um estudo por três docentes da
área de Administração, que se ofereceram para levantar a real situação da
instituição, entre eles o docente entrevistado, e propor medidas para viabilizar a sua
administração com os próprios recursos, ou seja, as mensalidades dos alunos. Para
ilustrar essa situação, a faculdade vem sendo administrada por familiares do
mantenedor da instituição. O estudo que os professores fizeram revelou que a
receita da instituição é inv iável para o pagamento da hora/aula dos docentes. Apesar
dessa redução de 25%, o professor em questão relatou que o valor da hora/aula que
a instituição paga atualmente ainda está de acordo com o valor de mercado, ou seja,
o valor que as outras instituiçõe s particulares pagam aos seus docentes. Outro
professor também mencionou esse detalhe.
Dois desses docentes exercem somente o magistério. Um é docente
também em uma instituição de educação superior e o outro exerce a docência na
rede estadual de ensino, a tuando no ensino fundamental. o professor que nos
explicou sobre a situação da faculdade exerce o ensino em outra instituição e
também é consultor na sua área – Administração.
Contudo alguns docentes têm um posicionamento em relação ao
bico. Os relatos foram registrados na entrevista. Vejamos:
A gente sabe que muitos professores têm a formação como um bico,
mas se eu pensar que estou lidando com formação humana, não
pode ser um bico […] eu tenho deveres a cumprir na instituição […]
desde os burocráticos, os deveres da cidadania e da ética […]
conhecer o projeto da instituição […] (P20).
Na minha área, Direito, a maioria dos professores tem outra profissão
[…] poucos se dedicam somente à docência […] tem juiz que
aula, tem promotor que aula […] mas porque gosta da sala de
aula (P 16).
Eu penso que cada curso é muito particular. Enquanto na Pedagogia
a técnica pedagógica […] a doação, na Administração, por
exemplo, ninguém como doação. O professor pode ser professor
aqui e em outras duas i nstituições […] então em todas será um bico
[…] É preciso envolver esse professor com a instituição, trazer junto
[…] trabalhar com ele a formação pedagógica. (P 17).
Os docentes acreditam que o fato de ter prazer em fazer o que se
gosta denota um outro sentido e não simplesmente como um bico. O professor
(P17), por exemplo, acredita que, se os docentes se envolverem com a instituição,
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participarem de projetos, de uma formação pedagógica, esses profissionais passam
a dar um outro sentido, porque, se estiv erem motivados, eles se dedicarão. O
referido docente acredita também que é preciso o envolvimento pessoal desses
professores:
Tem que trazer o professor junto, assim ele vai se dedicar, ele vê que
ele pode contribuir, [...] trazer para o campo da amiza de, promover
encontros, mesmo um churrasquinho, por que o dia a dia é
extenuante [...] então você tem que criar um ambiente agradável
(P17).
Outros docentes manifestam que o envolvimento com o colegiado, a
participação em projetos do curso e da instituiçã o, descaracteriza o sentido de
exercer o magistério superior como um bico.
Alguns professores (6) concordam nesse aspecto, pois para esses
docentes é importante o envolvimento com o colegiado do curso, com a instituição,
conhecendo o que os outros profess ores trabalham nas outras disciplinas e o que a
faculdade vem desenvolvendo em termos de projetos. Três professores enfatizaram
a importância de a instituição concretizar a revista eletrônica. Nesse aspecto é
realmente necessário o envolvimento dos docente s, pois os artigos, a produção,
tanto dos docentes como dos discentes, necessitará do compromisso dos
professores.
As coordenações dos três cursos, segundo 4 docentes, têm
manifestado preocupação nesse sentido. Propostas foram oferecidas aos
professores: maior participação no projeto pedagógico do curso, criação de uma
revista eletrônica envolvendo os três cursos acadêmicos, criação de projetos para
formação pedagógica dos docentes, trabalho paralelo com os alunos com
deficiências de conhecimentos, entre outras. As ações propostas, se bem
conduzidas, podem se traduzir em alternativas favoráveis para a qualidade do
ensino superior. Autores como Pimenta e Anastasiou (2002, p. 126) argumentam
que,
Ao participar legalmente de um colegiado, o docente da IES t eria
maior suporte institucional para sua profissionalização continuada. O
trabalho individualizado e solitário a que é habitualmente submetido
em nossa cultura institucional, fica dessa forma mais próximo a “uma
venda de horas/trabalho”, acentuando a poss ibilidade do aumento do
magistério superior como atividade de complementação salarial ou
110
110
bico, como é vulgarmente chamado o respectivo aumento numérico
do profissional
dador de aulas
, absolutamente o oposto do que é
hoje necessário (grifos das autoras).
Todavia, mesmo com um salário que não valoriza devidamente o
exercício do magistério, acrescentando ainda as inúmeras dificuldades e desafios
sobre os quais discorreremos no desenvolvimento deste texto, ainda observamos as
pessoas embarcando nessa carreira de modo parcial ou até integral.
Os estudos de Vasconcelos (1996, p. 42) com profissionais liberais
apontam que os motivos estão ligados ao prazer que “sentem com o exercício do
magistério (conviver com jovens e com o mundo acadêmico; gostar de lecionar;
desejo de viver a experiência)”.
Outro ponto abordado foi: “A profissão de docente universitário
valoriza e confere maior confiabilidade pelo mercado de trabalho ao profissional que
a exerce”. Nesse aspecto 11 docentes assinalaram a alternativa.
O status conferido ao professor universitário “avaliza a competência
do profissional em sua área específica de atuação
Se é professor universitário, é
porque conhece muito bem o seu campo de trabalho
(dado de entrevista) […]
(VASCONCELOS, 1996, p. 43) (grifos d a autora). É com esse conceito que os
docentes são convidados para o exercício da docência. Relembramos que 8
docentes alegaram que receberam convite para exercer o magistério no ensino
superior. São bons profissionais na área em que exercem a profissão. Assim,
prevalece a crença do bom desempenho profissional apontada por Masetto (2003).
A instituição privada, que é uma faculdade isolada, não tem a
obrigação de desenvolver pesquisa, porém alguns docentes manifestaram o desejo
de trabalhar com a pesquisa. Essa foi uma das alternativas da questão n. 1 do
questionário em que os professores mencionaram ser um dos motivos de ingresso
no ensino superior. Nesse sentido, 4 docentes a assinalaram. Na entrevista, 3
docentes se referiram a ela com interesse. O primei ro relato foi descrito pelo docente
no questionário, mas o mesmo não se dispôs a conceder entrevista. Porém
consideramos seu depoimento relevante nesse aspecto.
Lamentavelmente, as instituições de ensino privadas não estão
investindo em pesquisa e/ou valo rizando profissionais qualificados
[...]. (P15).
111
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O relato de outro docente (P19) na entrevista levanta a questão.
Quando há o desejo de se envolver com a pesquisa, é possível, mas, por outro lado,
não se pode ignorar a valorização para a viabilização de p rojetos nesse sentido.
Eu gosto de participar de projetos de extensão […] na outra
faculdade eu coordeno um projeto, acho importante. Tem que ter
esse desejo, do pessoal, de ter a satisfação naquilo que faz. A
instituição ela tem que oferecer isso, tem q ue partir da instituição. As
pessoas que procurarem, elas vão se dedicar porque têm interesse,
podem ter algum projeto engavetado. Mas, não pode ser
compulsório. A Instituição deve promover isso. Mas tem a
valorização e a valorização que eu falo é a remun eração. Mesmo que
seja simbólica, como uma ajuda de custo […] para preparar, ter o
espaço para desenvolver o projeto. […] (P 19).
Algumas explicações podem esclarecer o motivo. Entre elas a
própria fala do professor (P19): “a falta de estrutura e recursos ”. É necessária uma
melhor articulação da instituição para sua promoção e valorização nesse sentido.
Outro aspecto é o que relata o docente (P28):
[…] um pouco é culpa da gente, o tempo que a gente tem. Então a
gente pega várias coisas ao mesmo tempo e marca reunião e o
professor fala: ah, esse dia eu não posso. A gente acaba se
sobrecarregando e acaba não trabalhando isso legal […] (P 28).
Nem sempre a culpa é dos docentes, pois as políticas públicas da
educação fazem com que eles se enredem para se ocuparem de várias obrigações
em mais de uma instituição de ensino, o que o impossibilita de ter tempo para se
envolver ou produzir.
A pesquisa, para Demo (2001), é a forma de o docente ter sua
própria elaboração, ser um profissional pesquisador, mas é p reciso que veja a
pesquisa como aprendizagem e atualização permanentes. Para o mesmo autor, a
pesquisa deve levar o conhecimento aonde está a população, e a universidade é o
local onde se desenvolve esse conhecimento (DEMO, 2004).
A questão é que sem a p esquisa o ensino pode ser mera
reprodução. Mas um docente que ministra boas aulas não tem tido a devida
valorização caso não escreva, produza. Não temos aqui a pretensão de diminuir o
valor da pesquisa, uma vez que deve fazer parte da formação do aluno. Po r outro
lado, a produção confere notoriedade à instituição que desenvolve pesquisa. Mas o
112
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que observamos é que o ensino é que acaba desvalorizado. Nesse sentido
lembramos o relato do professor (P18). O docente verbalizou que uma pressão
para que se produza. aconteceu de lhe solicitarem, em uma das outras
instituições em que trabalha, que produzisse um artigo num prazo de dois dias, com
tantas laudas, sem questionar se há disponibilidade para tal.
Você tem que praticamente passar a noite em claro, ou tras vezes
não pode ter um fim de semana com a família para cumprir o que a
instituição solicitou a produção com tantas laudas […], pois temos
nossas obrigações docentes com os alunos (P18).
As instituições de ensino que acabam se envolvendo com a
pesquisa são as instituições públicas. Não deveria, mas é o que de um modo geral
acontece. Vários autores, entre eles Freire (2007, p.29), ressaltam a importância da
pesquisa para o ensino: “Não ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino.
[…].
Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me educo.
Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a
novidade”. Demo (2003, p.14) afirma que para ensinar é necessário pesquisar.
Consideramos a pesquisa necessária e import ante, mas o ensino
também o é. O que não pode acontecer é conferir uma valorização menor ao ensino,
uma vez que o modelo de educação superior é o tripé ensino, pesquisa e extensão.
Desse modo este tripé deve estar configurado no projeto pedagógico das inst ituições
de educação superior. É consenso que a indissociabilidade do ensino, pesquisa e
extensão expressa o ideal para uma formação acadêmica sólida.
Ao trabalhar a teoria, é necessário o confronto com a realidade, de
modo que as práticas sejam revistas, assim como as teorias que as fundamentam. A
pesquisa possibilita a construção de novos conhecimentos para amparar as teorias e
as práticas do ensino, pois
[...] essa concepção de universidade organizacional se faz presente
por meio da força do modelo met odológico tradicional, da
manutenção da visão moderna de ciência e de um saber escolar
tomado como inquestionável, de um processo predominantemente
expositivo por parte do professor e passivo por parte do aluno,
fundado basicamente na memorização, e das pr óprias relações
individualistas, competitivas e de não -comunicação entre disciplinas
curriculares, assim como entre os alunos (PIMENTA; ANASTASIOU,
2002, p. 170-171).
113
113
Para as autoras, estas são práticas recorrentes nas instituições de
ensino superior. Além disso, é importante trazer à luz que os docentes deste estudo
tiveram redução no valor da hora/aula (25%). Como ainda encontrarão motivação
para desenvolver pesquisa na instituição?
Retomamos a fala de um docente que diz o seguinte:
[…] a valorização que eu falo é a remuneração. Mesmo que seja
simbólica, como uma ajuda de custo […] (P19).
Outros motivos também foram referendados por 3 docentes. Na
mesma questão do quadro 4, “Razão do ingresso na docência no Ensino Superior”,
3 docentes assinalaram a opção “outra (s) razão (ões)” pelo ingresso na docência do
ensino superior. Vejamos:
Maior conhecimento da matéria (P 1).
Insistência de amigos (P 17).
Incentivo da coordenadora do grupo de pesquisa (P 18).
O docente que mencionou a “insistência de a migos” (P17) e o outro,
que citou o “incentivo da coordenadora do grupo de pesquisa” (P18) nos fazem
pensar sobre o sucesso de ambos na área de atuação. No caso do professor (P18),
o grupo de estudos o qual frequenta não deixa de ser também uma formação
contínua, pois o diálogo, a reflexão, as trocas de experiências. O docente em
questão, apesar de frequentar um grupo de estudos, de ter a formação em uma
licenciatura, nos confidenciou que sua formação pedagógica não foi suficiente para
atuar no ensino superior. Para esse docente o ideal é:
[…] vivenciar mais estágios, estar mais em uma sala de aula para
que ao assumir a docência esteja mais preparado para a educação
universitária […] (P18).
A formação pedagógica, como explica Vasconcelos (1996), se
destina aos professores que cursam as licenciaturas visando o ensino/aprendizagem
da criança e do adolescente. Para atuar na graduação, isto é, com o adulto, porém,
114
114
os professores não recebem nenhuma formação pedagógica. Como vimos não
consta na LDB 9394/96 uma formação específica para atuar no ensino superior. A lei
9394/96 fala em “preparação” nos cursos de s -graduação (mestrado e doutorado)
para o docente exercer o magistério superior (BRASIL, 1996).
O professor (P1), que revelou: “maior conhecimento da matéria”,
nos remete a Freire (2007, p. 23) quando este ressalta que “Não docência sem
discência […] Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao
aprender”. A preocupação do referido professor é conhecer profundamente a
matéria que ministra, para dar uma boa aula, mas não se tem a garantia de que isso
se concretize. Nesse sentido Mizukami (2000) adverte:
Aprender a ensinar pode ser considerado um processo complexo
pautado em divergências, experiências e modos de conhecimentos
que se prolonga por toda a vida profissional do professor, envolvendo
entre outros, fatores afetivos, cognitivos, éticos e de desempenho
(MIZUKAMI, 2000, p. 140).
É fundamental dominar o conteúdo que irá ensinar, mas a literatura
aponta que somente o domínio do conteúdo não é suficiente. Para Pimenta e
Anastasiou (2002, p.71) é fundamental o domínio da área de conhecimento, pois
“ninguém ensina o que não sabe”, porém lembramos que outros saberes também se
fazem necessários para o docente:
[…] saberes pedagógicos (pois o ensinar é uma prática educativa
que tem diferentes e diversas direções de sentido na formação
do humano), […] saberes didáticos (que tratam da articulação da
teoria da educação e da teoria de ensino para ensinar nas situações
contextualizadas), […] saberes da experiência do sujeito professor
(que dizem do modo como nos apropriamos do ser professor em
nossa vida). Esses saberes se dirigem às situações de ensinar e
com elas dialogam, revendo -se, redirecionando-se, ampliando-se, e
criando. (PIMENTA; ANASTASIOU, 2002, p. 71).
As autoras explicam ainda que esses saberes serão configurados
conforme a demanda das práticas. Mas estamos tratando dos docentes iniciantes
com pouca ou praticamente nenhuma experiência na docência do ensino superior! O
professor (P 17), apesar de não ter assinalado essa opção, se revela como um
docente que se preocupa com sua prática docente e podemos até dizer que está se
apaixonando pela educação
. Atrevemo-nos a pensar desse modo, pois o
115
115
envolvimento manifesto com as questões da prática docente, a preocupação em ter
uma formação pedagógica, o desejo de colaborar com a instituição para envolver os
docentes, com as questões educativas e de formação pedagógica, bem como a sua
expressão para tratar dessas questões revelou o seu entusiasmo e o seu sentimento
nesse sentido.
Pelo que pudemos compreender, o ensino superior ainda não obteve
a merecida atenção das políticas públicas na questão da formação docente. Em
vista disso, é comum o professor iniciante, ou não, enfrentar problemas e desafios,
na maioria das vezes por conta da não formação pedagógica ou de sua
insuficiência.
Os problemas e desafios fazem parte de nossa abordagem com os
docentes iniciantes e se efetivaram como uma questão relevante para a nossa
pesquisa: “Em sua opinião, quais os principais problemas/desafios para um docente
iniciante no ensino superior”?
Na entrevista, consideramos a questão merecedora de uma maior
aprofundamento para melhor desvelar os mencionados problemas/desafios. Para
isto, precisou ser um pouco mais aprofundada: “Descreva melhor a sua própria
experiência, destacando seus principais problemas/desafios, avaliando sua trajetória
inicial”.
Foi relevante para a análise a concentração das respostas em três
situações específicas: “a falta d e preparo pedagógico para atuar como professor
universitário”, (apontada por 11 docentes); “não saber lidar com alunos que chegam
aos bancos universitários sem base para aprofundar os conhecimentos”, (também
assinalada por 11 docentes) e a “dificuldade par a avaliar o aluno no seu
aprendizado” (apontada por 8 docentes), conforme o Quadro 5 a seguir:
116
116
Respostas
N
A falta de preparo pedagógico para atuar como professor
universitário
11
Não saber lidar com alunos que chegam aos bancos universitários
sem base para aprofundar os conhecimentos
11
Dificuldade para avaliar o aluno no seu aprendizado
8
Não ter o domínio das técnicas e instrumentos para uso em sala de
aula
3
Não ter apoio dos docentes mais experientes para dúvidas ou
esclarecimentos sobre alguma situação em sala de aula
2
Outras “o baixo nível de conhecimento básico dos alunos de
graduação”
2
Outras “Lidar com a diversidade de interesses e motivá -los aos
desafios constantes que é o ato de estudar”.
1
Outras “falta de experiência”
1
Teoria e prática
1
Outras “Não ter tempo de lidar com os alunos sem base que
chegam no ensino superior”.
1
Outras “Má formação dos alunos”
1
Não assinalou nada
1
Não enfrentar nenhum problema
0
Quadro 5 - Principais problemas/desafios para um docent e iniciante no ensino
superior
As três situações nos levam a pensar sobre a importância da
formação do docente universitário, ou melhor, na falta de uma formação específica
para a docência no ensino superior.
Em nosso país sabemos que não uma legislação própria para
formar o professor universitário como argumentamos. A Lei 9394 (1996, art. 66),
fala em preparação e não em formação. A formação do docente do magistério
superior, para Cunha (2006, p. 258),
[...] tem sido entendida, por força da tradição e ratificada pela
legislação, como atinente quase que exclusivamente aos saberes do
conteúdo de ensino. Espera -se que o professor seja, cada vez mais,
um especialista em sua área, tendo -se apropriado, com o concurso
da pós-graduação stricto sensu, do conhecimento legitimado
academicamente no seu campo científico. O domínio do conteúdo,
por sua vez, deve ser alicerçado nas atividades de pesquisa que
garantam a capacidade potencial de produção científica.
Nesse aspecto, a formação p edagógica não é prioridade. Porém os
docentes consideram-na necessária e endossam a sua carência. Buscar respostas
117
117
para essas questões não é o simples, todavia os docentes tiveram a oportunidade
de opinar sobre esses assuntos.
A quarta pergunta do ques tionário possibilitou ao professor sugerir à
instituição no que pode colaborar para a qualidade do ensino. A questão se
configurou da seguinte forma: Em relação à instituição, no que ela poderia ajudar?
Organizamos o Quadro 6 para melhor visualizar o que o s professores pensam a
esse respeito.
Respostas
N
Realizar um trabalho paralelo com os alunos que não possuem base
para a assimilação dos conhecimentos.
14
Não ter um número excessivo de alunos em sala de aula
11
Reuniões periódicas com os professores do curso para um trabalho
integrado.
11
Realizar uma formação pedagógica (capacitação contínua) com os
docentes
11
Fornecer os recursos técnicos, necessários
10
Outras sugestões P4 “Investimento na capacitação emocional do
corpo docente”.
1
Outras sugestões P6 “valorizar os profs. No sentido de incentivá -
los a buscar melhorias no ensino superior, evitando cobranças
descabidas e desnecessárias”.
1
Quadro 6 - Distribuição das respostas no que se refere à ajuda da instituição para a
qualidade da educação superior
Dos docentes, 11 assinalaram no questionário a necessidade de
“realizar uma formação pedagógica (capacitação contínua) com os docentes”. Na
mesma questão (4), no c ampo que possibilita “outras sugestões”, o docente (P4)
escreveu:
Investimento na capacitação emocional do corpo docente (P4).
De qualquer modo, sua sugestão está centrada na formação
docente. O que diferencia é o cuidado do docente com a dimensão hum ana, que
também é um aspecto importante, conforme ressalta Santos Neto (2002). Para o
autor, a formação tradicional não se ocupou dos aspectos humanos nas questões da
competência e do desenvolvimento profissional dos docentes. Os próprios docentes
118
118
assumiram tais aspectos, mas seria mais produtivo para a educação se esse
processo formativo fosse articulado com as políticas públicas.
A questão da formação pedagógica é relevante, pois, no quadro 5,
11 docentes também a assinalaram no questionário. A questão se estruturou do
seguinte modo: “a falta de preparo pedagógico para atuar como professor
universitário”.
A realidade mostra que os professores se iniciam no magistério no
ensino superior mesmo sem formação pedagógica. Nas instituições públicas, de um
modo geral, o peso da titulação. Nas instituições privadas, o ingresso ocorre
muitas vezes, por convite ou indicação, como aponta o Quadro 4 com 8 indicações.
Com os professores participantes da pesquisa não foi diferente. Eles são bem
sucedidos na área que atuam. Os bacharéis na profissão de formação e os
professores das licenciaturas foram ou são docentes em outro nível de ensino ou
mesmo no ensino universitário. Quando convidados ou indicados, realizavam um
trabalho que foi notado por quem os convidou ou indicou. (outros docentes ou
amigos). Alguns docentes, assim que concluíram a formação e uma especialização
ou mesmo com o mestrado, aceitaram contratos de trabalhos com prazo
determinado em IES públicas. Podemos citar os professores (P9) e (P20).
Nossa percepção quanto ao fato dos docentes manifestarem que
lhes falta um preparo pedagógico para o ensino superior é que para esse nível de
ensino a necessidade de uma formação específica que venha de encontro às
características do magistério superior. Os dif erentes interesses, as deficiências da
educação básica, entre outras. Por mais que sejam competentes na sua área de
formação essas especificidades precisam ser aprofundadas pedagogicamente.
Além de não ter uma formação pedagógica, o professor ainda
enfrenta outros desafios atribuídos à sociedade atual. Cunha (2005) observa que
[…] o professor é hoje posto em xeque principalmente pela sua
condição de fragilidade em trabalhar com os desafios da época.
Entre eles, talvez os mais significativos sej am: as novas tecnologias
de informação, a transferência de funções da família para a escola
e a lógica de produtividade e mercado que estão definindo os
valores da política educacional e até da cultura ocidental
contemporânea (p. 6).
119
119
A docência universitária ainda não é compreendida além da
racionalidade técnica e utilitarista, e a formação pedagógica se torna desvalorizada a
ponto de ser considerada uma atividade menor.
Vale mencionar a opção registrada pelo docente (P6), na opção
“outras sugestões”.
Valorizar os professores no sentido de incentivá -los a buscar
melhorias no ensino superior, evitando cobranças descabidas e
desnecessárias (P6).
A explicação do professor nesse aspecto se refere às normas
institucionais nem sempre agradáveis para os docentes como: prazos, pautas etc. O
alerta do docente é que a formação pedagógica é mais importante que esses
aspectos, geralmente enfatizados pela IES.
Quanto à formação docente, a condição da sociedade atual exige
um novo perfil do professor universi rio, o que remete à necessidade de formação
para enfrentar tais desafios.
Pereira (2002, p. 42) explica que o professor não pode ser
considerado o detentor do saber e o ensino entendido como transmissão de um
conhecimento formatado, com verdades absolutas . A complexidade do momento,
com as constantes mudanças, requer uma nova postura para o ensino superior. O
contexto atual exige que o conhecimento se construa em conjunto, professores e
alunos, amparados nas teorias sim, mas revisando -as continuamente nos
questionamentos e leituras da realidade do contexto histórico.
As iniciativas isoladas correm o risco de não terem uma repercussão
digna de êxito. É necessário o envolvimento político da instituição para a efetiva
produção do conhecimento. Segundo Nóvoa ( 1997, p. 26), “A troca de experiências
e a partilha de saberes consolidam espaços de formação mútua, nos quais cada
professor é chamado a desempenhar, simultaneamente, o papel de formador e
formando”. O autor explica ainda:
A formação de professores deve ser concebida como um dos
componentes de mudança, em conexão estreita com outros setores
e áreas de intervenção, e não como uma espécie de condição prévia
de mudança. A formação não se faz
antes da mudança,
faz-se
durante
, produz-se nesse esforço de inova ção e de procura dos
120
120
melhores percursos para a transformação da escola (NÓVOA, 1997,
P. 28) (Grifos do autor).
Compartilhar experiências, refletir sobre a própria prática, entre
outras, são ações que contribuem para a qualidade do exercício docente. Não
existem receitas e modelos para o trabalho cotidiano do docente. Cada situação é
única, mas o professor pode enfrentar e se fortalecer para o seu desenvolvimento
profissional. Nóvoa (1997, p. 27) explica que “As situações que os professores são
obrigados a enfrentar (e a resolver) apresentam características únicas, exigindo
portanto respostas únicas […]”.
É necessária uma mudança de postura para que os docentes
interajam entre si, possibilitando adquirir confiança em si mesmo. Assumir que de
forma coletiva é possível a cooperação e a organização. O diálogo com os pares é
um dos caminhos, pois se constitui em um canal para compartilhar experiências e
saberes do processo ensino/aprendizagem.
Em nossa consulta aos docentes iniciantes, a necessidade de
estabelecer um diálogo com os pares não foi tão evidenciada. A questão foi
estruturada no questionário no Quadro 5 da seguinte forma: “não ter apoio dos
docentes mais experientes para dúvidas ou esclarecimentos sobre alguma situação
em sala de aula”. A questão f oi assinalada por apenas 2 docentes (P1) e (P7).
Na entrevista buscamos mais elementos para a análise também com
3 outros docentes. Vejamos os relatos:
Faz pouco tempo que eu iniciei aqui na instituição […] uns 6 meses
[...] ainda não tenho um diálogo c om os outros professores […] mas,
com o tempo ficarei mais à vontade para isso […] (P1).
O que eu sinto falta muitas vezes é não conseguir estabelecer um
diálogo com os pares. Eu acho que a gente vem para a faculdade dá
a aula e vai embora [...] (P9).
[...] um desafio é a gente estar aos poucos conquistando é em
relação a interação do nosso grupo. Eu sentia muita falta da gente ter
reuniões, da gente conhecer os colegas, estabelecer um diálogo.
Muitas vezes eu trabalhava quinta e sexta, no início, eu não conhecia
quem trabalhava segunda, terça e quarta e não sabia quem eram os
outros professores (P12).
121
121
Nóvoa (1997, p. 26) aponta que “o diálogo entre professores é
fundamental para consolidar saberes emergentes da prática profissional”, com o que
concordamos inteiramente.
Como aponta Freire (2007, p.136), O sujeito que se abre ao mundo
e aos outros inaugura com seu gesto a relação dialógica em que se confirma como
inquietação e curiosidade, como inconclusão em permanente movimento na
história”.
Se refletirmos sobre o significado da fala de Freire (2007),
verificaremos que, quando o autor fala em ”inconclusão permanente”, nos remete ao
sentido de formação permanente. A educação é assim, exigente com aqueles que
lidam com ela. Nóvoa (1997, p. 24) explica que
A formação de professores pode
desempenhar um papel importante na configuração de uma nova profissionalidade
docente”. É fundamental que os professores iniciantes compreendam que a
formação constitui um aspecto significativo na profissão docente, porém o diálogo
com os pares é um aspecto considerável para a socialização profissional.
Quando iniciaram na docência, alguns professores recorreram aos
seus pares para ajudá-los a enfrentar a sala de aula, não só para organizar o
material da disciplina, mas ta mbém a postura na sala de aula.
A questão de buscar modelos ou auxílio junto aos professores mais
experientes é uma prática recorrente citada na literatura. A falta de experiência é um
dos condicionantes para essa prática entre os docentes iniciantes.
Eu não tinha experiência em sala de aula e, na verdade, estava tudo
errado (risos) uma que eu não tinha experiência (risos), tinha
vontade […] (P10).
A fala do docente exprime situações que acometem muitos dos
docentes iniciantes, conforme constatamos na coleta de dados. O mesmo docente
confidenciou que teve um período de estágio de docência no Mestrado de sua área -
Administração, mas se resumiu a apenas cinco aulas. Segundo ele foi muito pouco.
Na entrevista o docente confidenciou que não procurou ajuda dos pares porque
preferiu enfrentar a situação, não por individualismo, mas pela sua personalidade em
enfrentar os desafios.
É oportuno nos referir ao Quadro 6 para trazer o que manifestaram
11 docentes em relação à contribuição da instituição para realiz ar “reuniões
122
122
periódicas com os professores do curso para um trabalho integrado”. Percebemos
que é considerada uma necessidade por uma boa parte dos docentes manter
contato com seus pares. O fato de poderem dialogar é um importante aspecto para o
desenvolvimento da prática docente. A troca de experiências, o auxílio que um
docente pode dar ao outro foram valorizados. Foram 4 os docentes a revelar que
tiveram apoio dos pares no início do magistério superior. Explicaram também que
solicitaram a ajuda deles nes se sentido. Vejamos o que relataram na entrevista:
[…] quem me socorreu foi uma professora amiga minha, que dá aula
em uma universidade […] ela me orientou, deu sugestões […] me
auxiliou para organizar o material didático […] (P 7).
[…] Quando eu comece i, recebi ajuda de amigos professores que
tinham experiência […] deram sugestões, colocaram como
trabalhavam em sala de aula […] (P 14).
[…] eu procurei observar como os outros professores trabalhavam
(P19).
Eu recebi ajuda de duas professoras […] f oi fundamental, deu um
pouco mais de segurança, pelo fato de terem experiência […] (P
28).
Refletindo sobre os relatos desses docentes, percebemos que
procuraram apoio junto aos professores mais experientes, porque as vivências como
alunos universitários, mesmo com lidos conhecimentos da área de atuação, foram
insuficientes. É bom relembrar que, quando se tem a formação pedagógica, esta, na
grande maioria das vezes, é para se trabalhar com crianças e adolescentes.
Contrariando os docentes que recorre ram aos seus pares, o professor (P 10) agiu
de forma diferente. Na entrevista explicou:
Eu não recorri aos professores mais experientes […] não é que eu
seja individualista, mas é porque eu arrisco, enfrento […] (P 10).
Talvez o receio de se expor, de pedir auxílio, seja um empecilho
para os professores iniciantes recorrerem aos pares mais experientes no início da
carreira, uma vez que nem todos admitiram. O fato de enfrentar o início da docência
sem apoio expõe o docente a uma maior insegurança. Seg undo as palavras do
docente:
123
123
Eu não tinha experiência, só tinha vontade […] eu me sentia
inseguro para ensinar […] (P10).
Ao esclarecer que a profissão lhe possibilita exercer boa
comunicação, estar com as pessoas, articulando, conversando, um docente admitiu
na entrevista a sua insegurança. Outro docente, no questionário argumentou que
sua inexperiência se explica por não ter formação pedagógica. Outro ainda
esclareceu que teve insegurança, mas, com o apoio e a ajuda dos pares mais
experientes atenuou tais dificuldades. O mesmo docente também enfatizou que o
tempo foi lhe fornecendo experiência para superar a sua insegurança. Vejamos o
que relataram na entrevista esses 3 docentes:
Tive insegurança de entrar na sala e os alunos não me aprovarem,
[…] eu queria que eles gostassem de mim […] (P6).
No início, insegurança, face à fraca experiência didática [...] (P15)
A falta de experiência e a insegurança foram supridas com o passar
do tempo e a ajuda de alguns professores (P28).
O início da carreira docente, segundo os autores Tardif (2005) e
Marcelo Garcia (1999), acomete os docentes da sensação de insegurança,
ocasionando uma falta de confiança em si mesmos.
Caso os referidos docentes tivessem procurado alguma ajuda, como
fez o professor (P28), ou então vivenciado mais a sala de aula, por meio dos
estágios, como lembraram os docentes (P10) e (P29), ou, ainda, a monitoria,
levantada pelo professor (P18), como veremos oportunamente, provavelmente
algumas situações poderiam ter sido evitadas. São conjecturas, pois bem sabemos
que as receitas não existem, mas as orientações, as tênues experiências podem nos
fornecer elementos que, reorganizados com os diferentes saberes estudados por
Tardif (2005), nos possibilitam agir.
A identidade profissional n o início da carreira docente vai sendo
conquistada à medida que os docentes iniciantes são valorizados pelos pares mais
experientes (MARCELO GARCIA, 1999); (TARDIF, 2005).
O docente (P10) relatou que, mesmo se preparando ainda surgiam
situações que fugiam ao seu controle:
124
124
[…] algumas vezes os alunos faziam umas perguntas […] e, por mais
que você tivesse se preparado […] (P10).
Segundo Tardif (2005) os saberes docentes são plurais. Esses
saberes são: da formação profissional, disciplinares, curriculares e experienciais.
Para o autor, os saberes da formação profissional são um conjunto de saberes
transmitidos pelas instituições formadoras. Os disciplinares são os saberes
provenientes de diferentes campos do conhecimento, organizados nos programas
escolares e disciplinas. Os saberes experienciais, do trabalho cotidiano do professor,
são originários da cultura social e estruturados pela instituição em conteúdos,
objetivos e métodos Cabe ao docente dominar, integrar e mobilizar esse conjunto
de saberes para desenvolver sua prática docente. É um processo dinâmico, pois
esses saberes se colocam em constante renovação e acompanham a carreira do
professor.
O início do magistério é um período marcante para o professor, pois
é no começo de carreira que toda a prá tica profissional pode se estruturar e
cristalizar as ações educativas que o acompanharão por toda a carreira docente
(TARDIF; RAYMOND, 2000).
Delors (2001) explica que a formação contínua é que determina a
qualidade do ensino, mais que a formação inicial . Para o autor a educação ocorre ao
longo de toda a vida, desse modo é uma construção contínua na formação da
pessoa humana (p. 106).
Entendemos que Tardif e Raymond (2000) valorizam o início da
carreira docente, que começa na graduação e, se bem acompanha do, terá uma
base sólida para a continuidade da formação. Nesse sentido, acreditamos que
desde o início da formação, ainda na graduação, é importante o cuidado com a
qualidade da formação. Para muitos docentes iniciantes, o começo da carreira
docente se constitui como desafiador e penoso. Ocorre muitas vezes o choque com
a realidade para o professor iniciante conforme denomina Veenman ( apud
MARIANO, 2006).
A reflexão, segundo Nóvoa (1997), Schön (2000), Freire (2007),
entre outros, é um dos caminhos para a formação não do docente iniciante, mas
dos professores de um modo geral. Quando realizada de modo coletivo possibilita
compartilhar conhecimentos e saberes, pois é no grupal que encontram forças para
125
125
superar dificuldades e propor soluções para enfrentar os problemas da prática
cotidiana.
Outra dificuldade mencionada pelos docentes foi com relação à
avaliação. É um tema bastante delicado, e as dúvidas acometem os docentes em
relação à como avaliar o aluno. A preocupação com a avaliação da aprendizagem
coloca em evidência o próprio despreparo do professor. Por meio do questionário, 8
professores mencionaram a dificuldade em avaliar o aluno no seu aprendizado,
conforme o Quadro 5. Na entrevista, 2 depoimentos retratam essa dificuldade:
Uma das grandes dificuldades que eu tenho é a questão da
avaliação, da avaliação do trabalho. Então, em outros momentos ao
invés de trabalhar com quatro avaliações em um ano, que é o
mínimo exigido, eu trabalhava com oito, dez, doze avaliações no ano,
considerando notas mesmo . […] Quantas avaliações eu dei e pedi
para o aluno refazer […] e ele devolvia igual […] o que é bastante
frustrante (P9).
Uma outra dificuldade que eu tive foi com relação à avaliação. Avalio
a participação do aluno, mas o aluno tímido como é que eu aval io?
(P19)
Os dois professores assinalaram, no questionário, a dificuldade em
avaliar os alunos e, na entrevista, também enfatizaram essa dificuldade de forma
mais detalhada.
A dúvida destes professores não é diferente da de tantos outros.
Pensamos que para a maioria dos docentes ainda predomina a idéia de cobrar o
que foi trabalhado em termos de conteúdos, afinal foi assim que prevaleceu nos
seus anos de estudos até a graduação, e mesmo depois dela. A avaliação é um
tema que merece cuidado e atenção. Apes ar de apenas 2 docentes terem se
manifestado a esse respeito na entrevista, concordamos quando o professor (P17)
adverte:
[…] a deficiência pedagógica que está nos professores de
Administração é inconsciente (P17).
Não está nos professores de Administ ração, mas possivelmente
pode estar naqueles docentes que carecem de uma formação que dê conta de
compreender um tema tão complexo como a avaliação. Por ser um assunto
intrincado, pode ser expresso de diferentes formas, com interesses e concepções
126
126
diversas. O fundamental é o professor definir o que quer avaliar, qual a sua
intencionalidade. A avaliação deve ser entendida como ponto de partida e não
como ponto de chegada, daí a importância de o professor saber por que utilizar -se
de um ou de outro instrum ento. Qual é o sentido da avaliação para o professor?
Aquino (1997, p. 114) ressalta:
Os juízos de valor que dão base à avaliação, são matizados pela
opinião pessoal do professor, por aquilo que ele valoriza, por suas
simpatias, empatias ou antipatias em relação ao aluno, por seus
preconceitos, por suas concepções e crenças. Alguns valorizam
a capacidade de argumentação do aluno, outros a resposta correta,
uns a ortografia, outros a expressão escrita, alguns o conceito, outros
a técnica.
Não se trata de abolir provas e notas, mesmo porque estas também
fazem parte do processo. O que é pertinente nesse ponto é que a concepção de
avaliação é mais ampla, pois envolve a emissão de juízo e contempla os aspectos
qualitativos no processo de aprendizagem . O fato de se utilizar de instrumentos
diferenciados aumenta as possibilidades de garantir essa qualidade. Luckesi (1999)
salienta que são instrumentos de coleta de dados e o, como a grande maioria de
professores nomeia, instrumentos de avaliação.
O texto da LDB 9394/96 trata com obrigatoriedade a avaliação em
um processo contínuo e qualitativo, mediador e se estende às instituições de ensino
superior. É preciso compreender que a avaliação faz parte da proposta pedagógica
de cada curso. A proposta tem uma dimensão política. Nesse sentido, não pode
ignorar a concepção de educação, de homem e de sociedade, o que envolve o
senso reflexivo e crítico.
Nesse aspecto, recorremos a Luckesi (1999) para explicar que a
avaliação educacional escolar está entre as práticas docentes que dimensionam
uma concepção de educação, de homem e de mundo. Para ter sentido deve estar
articulada com o projeto político pedagógico. Mesmo que o docente tenha ou não
essa consciência, ele a expressa na sua ação docente. O que acaba p revalecendo,
principalmente nos cursos de bacharelado, é a aplicação de provas.
Segundo o autor, a pratica avaliativa educacional brasileira opera
mais para a verificação, pois para avaliar é preciso considerar a coleta de dados, a
análise e a síntese dest es dados, a partir de um objeto a ser avaliado. Além disso,
127
127
adotam-se os critérios para a atribuição de valor ou qualidade, tendo um padrão de
qualidade atribuído para aquele objeto a ser avaliado. Ao atribuir um valor ou
qualidade ao abjeto a ser avaliado , se tem uma tomada de posição. Com essa
postura, favorável ou não, com um valor atribuído, se toma uma nova decisão,
para manter do jeito que está ou para atuar sobre o objeto. A avaliação deve ser
entendida como ponto de partida e ponto de chegada, pa ra que a aprendizagem
seja efetiva. Para Luckesi (1999, p.45), é importante “um mínimo necessário de
aprendizagem em todas as condutas que são indispensáveis para se viver e se
exercer a cidadania“.
A avaliação, por ser motivo de dúvidas e preocupação pa ra muitos
professores, precisa ser entendida como um dos componentes da prática educativa.
Para isso, precisa ser aprofundada no que se refere aos seus fundamentos e seus
pressupostos. Haydt (2000) afirma que a avaliação é um meio para que alunos e
professores aperfeiçoem o processo ensino/aprendizagem, por isso não é um fim em
si mesma. É tarefa do professor não verificar, mas também julgar como está o
rendimento dos alunos. Ao avaliar os resultados do ensino, a avaliação está
presente no processo e faz parte da rotina acadêmica, sendo fundamental o
professor repensar as técnicas que utiliza e se estas contribuem para a
aprendizagem. Dessa maneira o docente reflete sobre sua atuação e avalia o seu
próprio trabalho.
É importante lembrar que cada aluno é único no seu aprendizado, e
o professor precisa desenvolver ações para que o aluno aprenda. Desse modo, o
professor, no caso do aluno tímido, não poderá privilegiar somente a avaliação oral,
mas sim mesclar com outros instrumentos. Além disso, a aprendizag em é um
processo dinâmico, assim como a avaliação com permanente interação entre
professor e aluno. Os objetivos dessa interação são para apontar e desenvolver os
conteúdos de ensino/aprendizagem, desde a seleção dos mesmos, quais são as
metodologias utilizadas, bem como a sondagem da realidade social, no sentido de
visualizar a mudança no comportamento do aluno e de seu compromisso com a
sociedade (HAYDT, 2000).
Na sala de aula o docente pode optar por usar o giz, promover aulas
interativas, problematizar, enfim, recorrer a diferentes instrumentos e técnicas para
conduzir a aula. No presente estudo, apenas 3 docentes a assinalaram no
questionário como uma dificuldade: “Não ter o domínio das técnicas e instrumentos
128
128
para uso em sala de aula”. Na questão 4 do questionário, que se refere à instituição
e o que ela pode ajudar, estruturada no Quadro 7, a alternativa que tratou dos
“recursos cnicos, necessários (retroprojetor, data show) para uso em sala de aula”
foi assinalada por 10 docentes. Percebemos que um a grande parte dos docentes
não revelou ter problemas quanto a dominar os recursos, mas sim como poder
utilizar-se dos mesmos. Tanto no questionário como na entrevista não enfatizaram
ter problemas com os recursos. Entre esses docentes, o professor (P2) o
participou da entrevista e o outro docente (P20) explicou o que pensa sobre essa
questão:
Preciso ter maior conhecimento ao explorar os instrumentos, como o
data show […] utilizar melhor o que esse recurso pode oferecer
(P20).
O professor (P20) esclar eceu que se utiliza de outros recursos: retro -
projetor, textos, vídeos etc, entre eles, o data show, o diferencial entre uso de um e
outro depende de seus objetivos. Na entrevista, apesar de não ter assinalado no
questionário, o professor (P9) confessou qu e tem dificuldade ao se utilizar de um
filme, por exemplo. Segundo seu ponto de vista, o conteúdo fica fragmentado.
Vejamos o que o docente revelou:
[…] Na verdade eu devo confessar que não sei diversificar a minha
aula […] Não sei trabalhar com outros re cursos, usar um filme,
envolver com o conteúdo […] (P 9).
Vale mencionar que o docente explicou que na sua formação
acadêmica não freqüentou as aulas da disciplina de Didática. Segundo o docente,
nas aulas de Didática era dispensado para participar de um movimento estudantil.
Segundo suas palavras:
Eu não fui a nenhuma aula de didática […] porque eu participava de
um movimento estudantil e as reuniões eram no horário das aulas de
didática […] não acho que fez muita falta […] Eu participava de algo
que acreditava ser importante para minha formação […] (P9).
Não podemos concordar com o docente nesse aspecto, pois a
disciplina de Didática visa justamente essa articulação com o ensino e a
aprendizagem. A Didática (teoria do ensino) trata dos objetivos, condiç ões e meios
129
129
para a realização do processo de ensino ligando, os meios pedagógicos a objetivos
sócio-políticos (LIBÂNEO, 1994). Para o autor toda intenção pedagógica traz uma
concepção de homem e de sociedade. Outro ponto a considerar é se o docente
tivesse frequentado as aulas de Didática ainda teria as mesmas dificuldades? Nada
podemos afirmar, pois outros docentes que tiveram uma formação em Didática
verbalizaram que foi insuficiente para o magistério superior, conforme analisado
no Quadro 6. Entretant o, o referido docente poderia ter uma outra visão nesse
sentido.
Quanto aos outros docentes, eles escreveram não ter dificuldades
com relação à utilização de meios multimídia. O professor (P 16) mencionou que
seus alunos não gostam das aulas com data show. Vejamos sua fala:
[…] Eles preferem o quadro negro e o giz ou o quadro branco […]
Acho que é específico da área (Direito) ) […] em Londrina ou em
Jacarezinho […] (P 16).
na opinião do professor (P17) alguns docentes do seu curso
Administração; não entendem de pedagogia. Segundo seu parecer, os docentes
pensam que ministrarão uma boa aula se usarem o data show. Vejamos o que
disse o professor na entrevista:
Tanto não entendem que falam da necessidade do data show e nem
sempre precisa ter data show. Concordo que a gente deveria ter dois
ou três no curso e estar disponível […], mas não significa ter que
usá-lo toda aula (P17).
É o que também pensa e adverte outro docente, conforme relato na
entrevista:
É interessante que antes eu via um profes sor usando o data show,
imaginava que estava acontecendo uma super aula. Mas, a partir do
momento que vi o que ele trazia na tela, a fala dos autores, me dei
conta que eu com o giz me dediquei mais preparando tendo as
minhas falas, a minha interação muito mais que aquele que tinha
aquela ferramenta. Não generalizando, mas para muitos existe essa
idéia (P18).
O docente tem razão, porém não foi um aspecto relevante na
pesquisa, pois não foi uma prioridade para os docentes esse assunto. No entanto os
130
130
professores sabem que a instituição não dispõe dessa ferramenta para atender a
todos os docentes. Desse modo, já realizam o planejamento de suas aulas utilizando
outros recursos como o retroprojetor, como comentou o docente (P12).
[…] a gente acaba usando recurs os menos sofisticados como o
retroprojetor […] (P 12).
Diante dos relatos e das referências com relação ao data show,
argumentamos que se trata de mais uma ferramenta de trabalho do professor.
Nesse sentido entendemos que, para não ter um fim em si mesmo, o importante é o
objetivo do uso do data show. Para responder a essa indagação, transcrevemos as
falas do professor (P10), que no questionário escreveu: “a falta de recursos
multimídia” como um de seus problemas e explicou com mais detalhes o seu ponto
de vista para o uso da referida ferramenta na entrevista:
[…] não é determinante, mas você, por exemplo, passa um vídeo […]
A tropa de elite, que está super atual. Os alunos adoram o filme,
passo pelo menos 40 minutos do filme, que é a parte que eu
mostro as disfunções dessa burocracia […] aquelas disfunções que o
filme está mostrando eu aplico na teoria […] ou então tem o estudo
de caso da Brahma (Schincariol x Zeca Pagodinho) […]. Você quer
saber um dado específico, você acessa a internet […] é on line, é
uma coisa mais atual […] (P10).
O caso do professor (P10) não se diferencia muito do caso do
professor (P29). Para o docente, se a tecnologia existe deve ser usada em beneficio
da aprendizagem. O que diferencia nesse caso é a forma como esse instrume nto
será utilizado. Na entrevista argumentou:
O professor tem que se preocupar em ter recursos, ter um
equipamento para melhorar a aula e também se capacitar […] ter
uma visão didática, uma metodologia boa de ensino […]. O professor
tem que estar se prepa rando, se equipando e reestruturando a sua
prática pedagógica […] uma aula de genética, por exemplo,
utilizando o material visual é muito melhor […] (P29).
O professor (P1) tem a opinião de que os alunos também precisam
se envolver com a tecnologia dura nte o processo ensino/aprendizagem. Durante a
entrevista o docente explica que
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[…] é necessário nos dias atuais investir na tecnologia com
ferramentas mais atuais como a internet, não para os docentes,
mas também para que os alunos possam se utilizar e acompanhar a
aula de outra forma (P1).
A reclamação do professor (P12) é por não ter acesso ao recurso
quando necessita. O docente declarou que por mais de uma vez fez a reserva do
data show para suas aulas, mas não conseguiu utilizá -lo, pois o aparelho fora
destinado para atender outro curso ou algum evento na instituição. Vejamos o que
reclamou na entrevista:
A gente reserva o data show, prepara o material, mas ao chegar aqui
não está disponível para trabalhar certos conteúdos […] (P 12).
Concordamos com o docente nesse aspecto, pois certos conteúdos
podem ser mais explorados com a utilização de um recurso mais apropriado, como o
descrito pelos professores (P10) e (P29). No entanto, precisamos aprender a utilizar
os diferentes recursos e estar prepara dos para recorrer aos mesmos, conforme
forem necessários e estiverem disponíveis para atender aos nossos objetivos de
ensino dentro da realidade em que atuamos.
Nessa perspectiva Vasconcellos (2000) explica que os recursos
didáticos utilizados em sala de aula são os meios pelos quais os docentes orientam
os alunos para a aprendizagem. Os docentes buscam dinamizar as aulas com o uso
dos recursos mais atuais como o data show. O questionamento do autor é como os
professores estão utilizando esse recurso didát ico, uma vez que uma grande maioria
dos docentes não tem uma formação didática, como temos observado no presente
estudo. O instrumento em si não é complicado, mas a destinação do seu uso é o
questionamento do autor.
Cada vez mais fica fortalecida como uma grande
dificuldade/problema para os docentes iniciantes, a formação didático -pedagógica.
No questionário, a questão 3 esteve assim estruturada: “Descreva sua própria
experiência, destacando seus principais problemas/desafios, avaliando sua trajetória
inicial”. Na entrevista (questão 1) a intenção foi aprofundá -la.
Para tanto foi solicitado aos professores entrevistados que
descrevessem melhor a sua própria experiência, destacando seus principais
problemas/desafios, avaliando sua trajetória inicial. Na seqüê ncia, complementando
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a primeira questão, questionamos os entrevistados da seguinte forma: “como avalia
sua própria prática pedagógica? Está satisfeito ou procuraria melhorar, em que você
gostaria de melhorar?” No questionário esta é a questão de número 6 q ue também
trata da prática pedagógica e se configurou da seguinte forma: “o que você acha da
sua prática pedagógica?Está satisfeito (a) ou procuraria melhorar, em que você
gostaria de melhorar? Para tratar dos mencionados assuntos, resgatamos os relatos
descritos no questionário que se referem aos problemas/desafios enfrentados pelos
docentes.
Dos 22 docentes que entregaram o questionário, apenas 2
professores nada responderam. Os demais responderam a questão com algumas
similaridades nas respostas. Três docentes revelaram que não encontram
problemas. Um professor não mencionou a influência da profissão liberal para o
exercício da docência. Dois professores escreveram que a experiência na área de
atuação profissional contribuiu para que não tivessem prob lemas no início da
docência. Durante a entrevista tivemos a oportunidade de esclarecer um pouco mais
o assunto e obtivemos algumas respostas:
Sempre tive interesse pela docência no ensino superior e não
encontrei maiores dificuldades no início da referida carreira. Tive uma
ótima aceitação por parte dos alunos, o que me trouxe confiança e
um melhor desempenho em sala de aula (P6).
A minha experiência na docência é muito pouca, apesar de ter
experiência na realização de palestras, encontros e congress os e,
isto é uma coisa muito diferente, mas acredito que a experiência
adquirida na área de RH ao longo de 25 anos ajudou bastante. O
desafio é manter-se em constante atualização (P7).
Quando iniciei a docência possuía ampla experiência profissional,
fato que não me propiciou problemas, ao contrário, ajudou,
ocasionando maior habilidade em sala de aula (P14).
Apesar de os docentes se referirem à deficiência pedagógica para a
atuação docente, alguns professores relatam que não tiveram problemas nesse
aspecto, pois gerenciaram uma forma de trabalhar em sala de aula.
Os docentes cujas falas se pautam na experiência profissional como
condição para uma boa prática docente, no entender de Pimenta e Anastasiou
(2002, p. 211) se referem à questão do paradigm a tradicional.
133
133
O paradigma tradicional do professor palestrante e aluno ouvinte, foi -
nos ensinado pela nossa vivência de alunos, sendo, portanto, o que
sabemos fazer, por experiência ou hábito, em contraposição a uma
crescente necessidade da construção de um paradigma atual, em
que o enfrentamento do conhecimento científico utilize um processo
diferenciado, no qual a construção e a parceria sejam elementos
fundamentais da relação.
O professor (P18) sempre exerceu a docência, porém em outros
níveis de ensino. Pensamos que mesmo sem a experiência no ensino superior, o
docente mobilizou esquemas internos permeados por diferentes saberes explicados
por Tardif (2002) para desenvolver sua docência. Vejamos sua fala:
Na verdade, quando iniciei meu trabalho no en sino superior, posso
dizer que não tive dificuldades, pois ministrei a disciplina de
atletismo. Para mim não foi complicado porque eu pratiquei o
atletismo, vivenciei o atletismo [...]. Então eu procurava incentivar,
motivar os alunos para que se interessa ssem, aproveitassem [...]. A
disciplina tinha uma carga horária teórica e prática, o que também
colaborava para que fosse mais tranquilo [...] (P18).
No questionário o docente não revelou dificuldade, mas menciona
que uma monitoria contribuiria para uma m elhor atuação inicial. A monitoria para o
professor (P18) seria iniciar na docência universitária com a supervisão de um
docente formador. Assim também relatou o professor (P29).
[...] Possuía experiência em educação básica, mas no ensino
superior não. Se tivesse tido um período de monitoria ajudaria em
meu início no ensino superior. (P18).
[...] Deveria ter um período maior de estágio, porque mesmo eu que
tive acompanhamento de um professor de uma disciplina e fiz meu
estágio em docência no mestrado, eu aprendi muito, mas eu acho
que poderia ser trabalhado mais, é pouco [...] (P29).
Consideramos relevante destacar que o professor (P14) argumentou
que, no seu tempo de aluno, seus docentes trabalhavam muito a teoria. O docente,
baseando-se nesse paradigma, não quis repetir o que vivenciou em sala de aula.
Então sua prática docente se pauta num trabalho conjunto entre a teoria e a prática.
O fato de exercer a profissão o beneficia nesse sentido, pois traz para os alunos a
realidade na qual atua. Os alunos se interessam pelo objeto da disciplina e
participam, segundo sua avaliação e feedback dos próprios alunos, que, inclusive,
134
134
solicitam algumas explicações para outros temas. Também comunga dessa idéia o
professor (P7), que se vale da sua “larga experiência na área” para compartilhar tais
experiências aliadas à teoria que trabalha.
Na entrevista, eles enfatizaram esse aspecto da experiência
profissional como fator determinante para que não encontrassem problemas no
início do magistério superior. Essa questão também foi abordada na entrevista por 3
docentes, por ser considerada de grande importância para a atuação do professor
iniciante na educação superior. Os relatos foram os seguintes:
[…] o advogado está sempre lidando com pessoas, articulando,
discutindo, conversando, então não foi nenhum problema […] (P6).
[…] Eu vim para a carreira acadêmica […] mas me valendo muito da
larga experiência que tenho […] nos projetos que eu desenvolvi, nas
empresas que passei […]. Eu percebi que para o professor que
vem só da docência, sem nenhuma experiência prática, é muito mais
difícil passar o ensinamento do que quem já tem a prática […] é
muito mais tranquilo quem tem já a prática […] (P 7).
Eu penso que para ser professor tem que atuar na área que vai
trabalhar a disciplina. […] (P14).
Nessa perspectiva, a literatura aponta que, principalmente nos
cursos de bacharelado, prevalece o mito de que “quem sabe automaticamente sabe
ensinar (MASETTO, 2003, p.11). Pimenta e Anastasiou (2002) explicam que os
professores quando iniciam o exercício da docência trazem uma bagagem com
várias experiências do que é a profissão docente. Isso se deve aos modelos de
professores que foram significativos enquanto alunos.
Apesar de sua tranqüilidade em se tratando da docência, o doce nte
(P6) confessou que teve um problema que o incomodou muito. Foi com relação ao
conteúdo e o tempo para administrá -lo. Segundo o docente, o conteúdo que
preparava poderia ser distribuído em duas, até três aulas. Na entrevista relatou o
seguinte:
Eu não tinha muito essa noção de conteúdo […] Hoje, eu ainda
programo um conteúdo para 20 minutos e às vezes pode se estender
por duas aulas. […] Porque no direito não tem como você falar de
direito sem considerar a história do direito […] Se o aluno não viu
determinado assunto, a gente acaba retomando para que o aluno
entenda […] (P6).
135
135
De certo modo o docente tem trabalhado de acordo com a realidade
que se apresenta. O docente (P6) efetivamente não pode prosseguir com
determinado assunto se os alunos ainda o e ntenderam ou não tiveram elementos
que dessem conta para que o tema trabalhado fosse compreendido. O papel do
docente é conduzir o processo ensino/aprendizagem para que o aluno aprenda.
Dessa forma o professor desencadeou o que Perrenoud (1999) chama de regulação.
Esse termo utilizado pelo autor se refere aos ajustes que o professor efetua para
contribuir na progressão das aprendizagens. O docente teve que conduzir a sua
ação docente para atender a necessidade dos alunos.
A questão do conteúdo também foi destacada no questionário por
outro docente, e a forma como conduziu seu trabalho docente não foi muito
diferente. Vejamos:
A dificuldade é na dosagem de conteúdo a ser passado. Temos que
direcionar a disciplina conforme o curso em questão. Por exemplo :
genética para agronomia é diferente da genética para farmácia […]
(P29).
Ao buscar mais elementos para esclarecer o que o docente
escreveu, na entrevista ele explicou que:
Você ainda não conhece a turma e monta uma ementa e o
cronograma […] depois que você conhece tem que modificar […]
para que a turma tenha aproveitamento […] você imagina que
tiveram o assunto no ensino médio […] você percebe que não têm
[…] o professor iniciante não tem habilidade para lidar com isso,
mas, tem que retomar […] (P 29).
Apesar de o docente (P29) se cobrar nesse aspecto por ser um
professor iniciante, sua preocupação tem sentido. Outro docente (P20) também se
referiu ao conteúdo como relevante. Na entrevista situou a questão dos conteúdos
da seguinte forma:
O conteúdo permeia as nossas relações escolares. [...] se uma coisa
move a estarmos juntos todas as noites no ambiente escolar é o
conteúdo, não uma boa conversa [...] Esse conteúdo não pode ser
esvaziado [...] a forma como eu vou envolver os alunos com esse
conteúdo é o que faz a diferença (P20).
136
136
O fato de o professor assumir aulas em mais de uma instituição e de
se apropriar de diversas atividades resulta em falta de tempo para aprofundar os
conteúdos e para o preparo das aulas, entre outros
.
No questionário o professor (P5)
relatou:
O principal problema que encontrei foi a falta de tempo para poder
preparar as aulas. Tive a sorte de iniciar minha carreira em uma
turma pequena e pegar uma disciplina essencialmente prática, o que
tornou as aulas extremamente ma is interessantes para o aluno.
Penso que minha trajetória inicial tem acontecido sem muitos
problemas (P5).
O professor (P5) não participou da entrevista, mas ficou clara sua
resposta nesse aspecto. citamos as autoras Pimenta e Anastasiou (2002) que
enfatizam a necessidade de o docente trabalhar questões mais próximas à realidade
dos alunos e com turmas pouco numerosas. Parece -nos que o professor direcionou
seu trabalho por esse caminho. Dessa forma seu início na docência não tem lhe
causado dissabores.
Outro docente (P8) também apontou como um problema o fator
tempo, que é um condicionante que o impede de preparar melhor suas aulas e
consequentemente aprofundar os conteúdos. O fato de se ocuparem de muitas
atividades impossibilita os docentes de terem tempo para o preparo das aulas e
mesmo de estudar. Quem levantou essa bandeira na entrevista foi o professor (P8):
Uma coisa que eu gostaria de ter é mais tempo para poder estudar
mais, aprofundar mais, porque o professor trabalha muito [...] (P8).
Outro dado mencionado por dois professores foi a dificuldade que
sentiram para organizar os textos, artigos, materiais e mesmo o conteúdo, quando
iniciam o trabalho docente em uma disciplina.
A falta de material inicial quando começa a trabalhar com a discip lina
e precisa montar uma sólida pasta de textos teóricos que embase o
aluno em sala de aula (P3).
A dificuldade é do material que a gente ainda não tem […] Com o
tempo vamos estruturando melhor esse material para trabalhar a
disciplina […] (P29).
137
137
Nesse aspecto os docentes têm razão, pois na instituição em que
atuam, precisam entregar previamente a ementa e o cronograma a ser desenvolvido
durante o semestre. Logo que iniciam precisam organizar os materiais (livros, textos,
artigos etc.) que deem conta do conteúdo. Outro docente (P7) mencionou que uma
professora amiga sua que ministra aulas em uma universidade o auxiliou também
com os materiais. Vejamos o seu relato:
Eu tive a ajuda de uma amiga minha […] me ajudou com o material
da disciplina […] materia l bacana […] (P7).
Segundo Libâneo (1994, p. 128 -129), os conteúdos de ensino se
referem ao conjunto de conhecimentos, habilidades, hábitos, modos valorativos e
atitudinais de atuação social, organizados pedagógica e didaticamente, tendo em
vista o processo de construção do conhecimento dos alunos e suas relações com a
realidade de que fazem parte. Os conteúdos traduzem a experiência social da
humanidade. “Os conteúdos são organizados em matérias de ensino e dinamizados
pela articulação objetivos -conteúdos-métodos […]” (p. 129).
O autor adverte que o conhecimento é apropriado pelo poder
dominante e a escola que distribui esse saber não valoriza a dimensão política. Não
significa desprezar o conhecimento científico e experiências acumuladas pela
humanidade, mas “[…] submeter os conteúdos ao crivo dos determinantes sociais
[…]” (LIBÂNEO, 1994, p. 137).
Pensar os conteúdos de ensino sobre todos os aspectos apontados
pelo autor não se constitui uma tarefa simples para um docente iniciante. Se o
docente organizar seus conteúdos destituídos dos aspectos mencionados pelo autor
será meramente um transmissor de informações.
Outros docentes manifestaram sua preocupação em trabalhar os
conteúdos nas disciplinas ministradas, mas sob uma outra perspectiva. Os relatos
nas entrevistas são os seguintes:
[…] será que esse tanto de matéria é compatível com o tempo da
aula que eu tenho? Será que eu vou conseguir me organizar e
concluir a matéria antes do semestre? […] organizar esse tempo eu
tenho dificuldade […] (P1).
[...] O tempo muitas vezes engana. Você pensa que terminou o
conteúdo em uma aula e gera debates e discussões dando
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138
continuidade em outra aula, acaba fugindo da programação inicial. A
falta de material inicial quando comecei a trabalhar com a disciplina e
precisei montar uma sólida pasta de textos teóricos para embasar o
aluno em sala de aula […] (P3).
Na entrevista alguns pontos puderam ser mais explorados, como
explicou o professor (P4) ao nos confidenciar que é impossível programar um
assunto e cumpri-lo com um tempo estabelecido.
[…] no momento em que você está na sala de aula surgem muitas
questões e muitos imprevistos, […]. Não consigo fazer um
cronograma e cumprir (P4).
Para esse docente, a questão da seleção de conteúdos/tempo é
mesmo relevante, pois volta ao assunto na questão de número 6 do questionário. O
docente registra o seguinte:
Gostaria de melhorar a questão de seleção dos tópicos e
administração do tempo (P4).
Para o docente, a sala de aula é imprevisível, um receituário não
existe, assim também pensa o professor (P10):
Dentro da sala a gente se perde totalmente […] eu preparava um
conteúdo que daria para trabalhar, duas, três aulas (risos) […] (P10).
De um modo geral, os conteúdos se constituem como um dos
problemas para o trabalho d ocente dos professores iniciantes. Os relatos evidenciam
essa relevância. Pode ser que os docentes ainda não consigam perceber a
dimensão da prática educativa. Por isso, não conseguem visualizar que se
distanciam do aspecto fundamental que é a formação int egral, isto é, do profissional
e da pessoa que será esse profissional. O bom ensino é muito mais do que
trabalhar conteúdos.
O que pudemos analisar é que os docentes mencionados se
preocupam em atender as necessidades dos alunos, ou seja, buscam adequar o
desenvolvimento da aula para que o aluno acompanhe o conteúdo ministrado. Para
isso retomam conteúdos anteriores, para uma regulação da aprendizagem, se
preocupando também com o processo (PERRENOUD, 1999). Esse também é um
139
139
dos motivos porque se demoram c om os conteúdos. Possivelmente desconhecem o
termo “regulação da aprendizagem”, pois a postura adotada pelos docentes não visa
somente o repasse de conteúdos.
A título de ilustração, lembramos que os docentes têm consciência
de que seus alunos (a grande m aioria) chegam com deficiência de conteúdos
básicos. O fato de retomarem conceitos anteriores é importante, pois nesse aspecto
se pautam na qualidade e não na quantidade.
Paquay; Perrenoud; Altet e Charlier (2001, p.12) reforçam que o
profissionalismo de um professor não se pauta apenas no domínio de
conhecimentos profissionais, no que se refere ao conhecimento ensinado, à forma
de analisar as situações, aos conhecimentos concernentes aos procedimentos de
ensino etc., mas, também a esquemas de percepção, d e análise, de decisão, de
planejamento, de avaliação e outros, de modo a recorrer a esses conhecimentos
para uma determinada situação. Os autores enfatizam que
É preciso acrescentar a isso as posturas necessárias ao ofício, tais
como convicção na educabi lidade, o respeito ao outro, o
conhecimento das próprias representações, o domínio das emoções,
a abertura à colaboração, o engajamento profissional (PAQUAY,
PERRENOUD, ALTET e CHARLIER, 2001, p.12).
O professor (P19) no início da sua ação docente també m se pautava
na quantidade de conteúdos ministrados em sala. Com pouco tempo na docência, o
professor (P19) se preocupou com a sua forma de agir, conforme relato:
[…] eu achava que devia chegar na sala de aula e mostrar serviço
para que os alunos me respe itassem […], trazer muito conteúdo […]
preparando […] me respeitariam. Com o tempo isso foi melhorando,
eu fui controlando para que isso não tivesse continuidade (P19).
Consideramos que o docente agiu com flexibilidade e reflexão. No
dizer de Freire (2007, p. 38), “ensinar exige a reflexão crítica sobre a prática”. Schön
(2000) discute os conceitos de reflexão -na-ação, reflexão-sobre-a-ação e reflexão-
sobre-a-reflexão-na-ação. A primeira expressão define o professor como o prático
que aprende a partir da análise e da interpretação de sua própria ação. A segunda
situação ocorre quando o professor passa a pensar sobre aquilo que realizou em
determinada situação. O professor avança no seu conhecimento e constrói seu
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repertório pessoal de conhecer. É a reflexã o crítica que o professor adotou após
análise sobre a própria ação.
Insistimos em nossa posição, pois na continuidade de sua fala o
docente explicou:
Eu sempre acho que devo melhorar, cada turma é diferente. Uma
aula que eu trabalho com uma turma não po sso trabalhar com outra
do mesmo jeito […] eu penso, quando eu saio de uma aula se vou ter
que fazer diferente. Eu sempre penso se o que fiz foi suficiente, ou
se eu preciso modificar (P19).
Quatro professores tiveram como dificuldade inicial na docência
trabalhar os conteúdos em relação ao tempo de duração da aula ou mesmo para
cumprir o semestre letivo. O docente (P10) explicou na entrevista por que tinha
dificuldade de administrar essa relação tempo/conteúdo:
O problema é que ao terminarmos o mestrado , acreditamos que
temos que trabalhar os conteúdos com todos os detalhes para os
alunos [...] depois a gente que não consegue [...] é importante
ensinarmos o aluno a buscar também [...] (P10).
Podemos dizer que essa postura não adveio por ter cursado o
mestrado, mas por ser um professor principiante, inexperiente em face das situações
que lhe são postas.
De um modo geral, espera -se que os alunos mestrandos tenham
uma responsabilidade, uma autonomia pelo aprender, diferente dos alunos da
graduação que precisam de mais orientação nesse sentido. Esses aspectos foram
apontados pelos docentes entrevistados na pesquisa: a imaturidade, os diferentes
objetivos dos graduandos, alunos que chegam com deficiência de conteúdos, alunos
que não aprenderam a pensar , a questionar etc.
Essa questão possibilita muitos olhares, como veremos com o
docente (P9) que reclamou dos alunos quererem respostas prontas e por isso ter
encontrado dificuldades nesse aspecto. Tanto que os alunos foram à coordenação
reclamar de sua postura. Outros docentes também tiveram problemas semelhantes.
Seus relatos na entrevista foram os seguintes:
Os alunos esperam uma resposta fechada de um problema. Eles
querem respostas prontas. Eu quero fazer o aluno pensar […] o
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aluno não está preparado para dialogar, para construir […] ele está
mais preparado para receber […] (P 9).
[…] nem sempre os alunos se interessam em participar de uma
discussão […] eu até poderia dizer que atingi 10%, 15%, mas para
mim é pouco […] (P12).
Eu trago situações par a que os alunos participem [...] para que não
fique a gente falando [...] é raro aquele aluno que questiona [...] o
aluno fica satisfeito com aquilo que você traz [...] (P28).
Pimenta e Anastasiou (2002) apontam que a criticidade é um
elemento muito destacado na descrição das dificuldades que os docentes
identificam em seus alunos. No entanto, na realização de avaliação institucional em
instituições de ensino superior isoladas, nas quais os docentes classificavam os
alunos como acríticos, constataram q ue os alunos pontuaram questões essenciais
do sistema de ensino: “a continuidade da reprodução do conhecimento, o trabalho
docente não integrado, a distância do curso com a realidade, a questão didática, a
questão ética e de postura, etc.” (p.240). Nessa p erspectiva as autoras indagam:
Como reagir quando os aspectos criticados têm que ver com o
desempenho docente, com as dificuldades próprias das disciplinas
ou da fase do curso em que se atua? Em que medida organizam -se
ações nas quais esse juízo crítico possa ser aprendido,
desenvolvido, aprimorado? Os currículos dão margem à flexibilidade
que permita uma ação crítica dos professores? Os elementos de
contradição entre teoria e prática, entre as disciplinas
predominantemente teóricas e/ou reflexivas e as t écnicas, assim
como as situações de estágio são devidamente esgotados pelos
docentes, visando até mesmo possibilitar o desenvolvimento do juízo
crítico pelos alunos? (PIMENTA; ANASTASIOU, 2002, p. 241 -242).
Bem lembram as autoras que os bancos acadêmicos são ocupados
por alunos reais. O ponto de partida para o efetivo trabalho docente é a organização
do projeto pedagógico institucional, visando superar o real na busca do desejável e
necessário ensino para a formação científica, profissional e humana desses alunos.
A ação competente do profissional docente deve ser direcionada para esses alunos.
É imprescindível uma mudança de postura de docentes e alunos
frente ao conhecimento científico. São necessárias alterações nas condições de
trabalho do docente do e nsino superior não na jornada, para possibilitar maior
envolvimento com a instituição no projeto pedagógico coletivo, visando a discussão,
142
142
a avaliação e propondo novas práticas pedagógicas, mas também na postura do
professor no que se refere à profissio nalização e identidade como docentes. É
necessário ainda organizar os currículos e os caminhos da formação desses alunos
no sentido de ampliar as oportunidades de inserção pedagógica de docentes e
alunos no curso em que estão inseridos.
Além disso, as autoras apontam que as IES devem possibilitar aos
professores oportunidades de desenvolvimento profissional por meio de programas
stricto sensu e programas institucionais de formação contínua no próprio espaço
institucional, partindo dos problemas e necessida des identificados nas avaliações
internas e externas (PIMENTA; ANASTASIOU, 2002, p. 242 -243).
Outro aspecto apontado por Pimenta e Anastasiou (2002) se refere
ao crescimento quantitativo do sistema educacional. As autoras alertam que em
termos qualitativos uma grande defasagem, pois proporcionalmente a qualidade
não tem acompanhado a quantidade. Nesse sentido, a educação superior visa
atender ao mercado de trabalho, no qual, por sua vez, prevalece a competitividade,
ficando numa instância inferior o suj eito contestador, transformador, que se
preocupa com as questões sociais.
São diferentes situações com que os docentes iniciantes se
deparam e acabam por aprender nas tentativas de ensaio e erro. Tais situações se
referem às questões institucionais e apont adas por Pimenta e Anastasiou (2002).
O professor (P17) considera que a prática pedagógica deve ser
ensinada, porque segundo ele é muito difícil um professor falar para o outro de suas
deficiências. Para ele
[…] O professor de administração não entende de Pedagogia, mas
esse não entendimento está inconsciente […] (P17).
As situações apontadas pelos docentes revelam a necessidade de
um melhor preparo pedagógico. Masetto (2003, p. 27) indica que, para serem
profissionais do processo ensino -aprendizagem é necessário o domínio de:
no nimo, quatro grandes eixos do mesmo: o próprio conceito do
processo ensino-aprendizagem, o professor como receptor e gestor
do currículo, a compreensão da relação professor -aluno e aluno-
aluno no processo, e a teoria e prátic a básica da tecnologia
educacional.
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Adotar a postura explicitada pelo autor não é simples, principalmente
quando se é um professor iniciante, que não teve uma formação pedagógica na
formação acadêmica ou mesmo depois dela, e ainda lhe falta a experiência p ara o
exercício da docência.
Como observamos, alguns aspectos são mais relevantes para uns
docentes do que para outros, mas a grande maioria confessa algum tipo de
dificuldade no início da docência. Vejamos o que também incomoda os docentes
iniciantes:
Cobrar desses alunos maturidade que eu também não possuía na
época da universidade (P1).
O professor (P1) no questionário se coloca no papel dos seus alunos
ao se referir a sua dificuldade com eles. Outro docente (P8) relatou na entrevista o
seguinte:
[…] O comportamento dos alunos é como se fossem alunos do
ensino médio. Eles não entendem que precisam ter uma outra
postura […] (P8).
Nessa perspectiva encontramos em Pimenta e Anastasiou (2002, p.
229) a identificação de que fala o professor (P1): “[...] s ão as lembranças que o
docente guarda de si, de quando era jovem universitário, ou de seu grupo daquele
período”. Para o professor iniciante, não é nada fácil lidar com tal situação,
principalmente porque não foi formado para isso. As autoras explicam que o
professor deve
[...] desafiar, estimular, ajudar os alunos na construção de uma
relação com o objeto de aprendizagem que, em algum nível, atenda
a uma necessidade deles, auxiliando -os na tomada de consciência
das necessidades apresentadas socialmente a uma formação
universitária (PIMENTA; ANASTASIOU, 2002, p. 215).
O professor (P2) não fala em imaturidade dos alunos, mas lembra o
grande número de alunos por sala, os diferentes objetivos e o fato de não prender a
atenção deles.
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Minha experiência por ho ra é até que tranqüila. Meu principal
problema é uma turma muito grande e com objetivos distintos e não
consigo manter a atenção de todos ou a grande maioria [...] (P2).
Todavia, não podemos esquecer que a sala de aula é um espaço de
ações, eventos e inte rações, impregnadas pelas vivências anteriores que cada
pessoa teve. Nela se configuram diferentes possibilidades e sentidos, portanto não
se constitui como um espaço neutro. Tardif e Lessard (2005, p. 277) explicam:
Entrar numa sala e dar uma aula é mais que simplesmente penetrar
num espaço neutro, é ser absorvido pelas estruturas práticas do
trabalho escolar marcando a vida, a experiência e a identidade das
gerações de professores; é fazer e refazer pessoalmente essa
experiência; apropriar -se dela, prová-la e suportá-la, dando-lhe
sentido para si e para os alunos.
Nessa perspectiva devemos acrescentar que a heterogeneidade e a
diversidade permeiam o universo da sala de aula e o trabalho docente.
No questionário, a questão número 4, do Quadro de número 6, fez
referência a “não ter um número excessivo de alunos em sala de aula”. Nesse
aspecto, 10 docentes se manifestaram assinalando a opção. Se pensarmos em
salas numerosas, maior será a diversidade, os diferentes interesses e objetivos.
Portanto mais dificuldades para os docentes.
Nesse sentido recorremos a Silva (2002, p. 67) para explicar que
[…] as questões da aprendizagem passam a ser entendidas como
produto da diversidade das experiências culturais dos alunos,
devendo ser solucionadas como propostas de ensino que
considerem a sua bagagem sócio -cultural e se apoiem em
intervenções didáticas adequadas aos seus veis e ritmos de
aprendizagens.
No entanto, considerar todos esses aspectos apontados pelo autor
com salas numerosas não é uma tarefa fácil. As dificuldades diante dos desafios em
lidar com a diversidade se revelaram nos depoimentos de professores, como
podemos verificar nos relatos. O docente (P4) respondeu no questionário essa
dificuldade. Já o professor (P20) fez menção do problema na entr evista. Vejamos:
Dificuldade em lidar com grupos, haja vista a diferença de níveis de
interesse, preparação, esforço e capacidade intelectual do corpo
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145
discente, sendo que cada aluno é único em seu sistema de
aprendizagem (P4).
Tanto nós os professores in iciantes, como os professores com mais
tempo, gostaríamos que todos os alunos naquela turma,
homogeneamente, se dedicassem ao estudo conforme nós
desejamos. […] E os problemas começam a surgir, porque,
naquele grupo, cada um, veio com uma intenção difer ente, tem um
projeto diferente de vida […] porque nós não encontramos em livro
algum como é que eu tenho que lidar com toda essa diversidade
(P20).
O professor (P20) descreveu o que acontece no espaço da sala de
aula, de qualquer instituição educativa. A dificuldade em lidar com as questões da
heterogeneidade e da diversidade foi apontada por alguns docentes como uma das
dificuldades do trabalho no exercício da profissão. O professor (P11) não mencionou
esse aspecto no questionário, mas fez uma observação na entrevista. Para o
docente, nem todos se interessam pelo assunto da aula. Como esse docente
trabalha com pequenos grupos com o inglês técnico instrumental sentiu bastante
esse desinteresse. É o que também pontuou o docente (P14) na entrevista:
muita diversidade na sala de aula […] Existem alunos e alunos
[…] alguns não se interessam […] outros até que se esforçam […]
(P14).
Não foi diferente com outro docente. Segundo o professor, suas
ideias eram muitas. Buscou se preparar para as aulas, cheio d e vontade para
ensinar. Relatamos a sua fala:
Foi um choque com a realidade. No começo fiquei assim bem
decepcionada. A palavra é essa fiquei bem decepcionada, eu ficava
horas pesquisando, preparando aula […] eu cheguei toda
empolgada, toda entusiasmada, com um monte de idéias novas para
pôr em prática, infelizmente o negócio não tem nada a ver […] (P16).
A expressão usada pelo professor (P16) não é desconhecida na
literatura, pois Tardif (2005) a chama de choque de transição, que é a passagem do
papel de aluno para o de professor. Veenman (1988, apud MARIANO 2006) exprime
como o choque com a realidade. O professor em questão constatou a dura realidade
do cotidiano da sala de aula, não é o que esperava. Como docente iniciante
explicou:
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[…] eu tinha me preparado tanto (risos) buscado tanta coisa diferente
[…] (P16).
No caso desse professor o preparo, o “buscado tanta coisa diferente”
a que se refere foi para evitar o modo como seus professores ministravam as aulas,
não na formação acadêmica, mas mesmo antes dela, no ensino médio. Segundo
esse professor, seus docentes enchiam o quadro com conteúdo, os alunos
copiavam, depois os professores apagavam, e começava tudo de novo. Não que
quisesse abolir o quadro de giz, mas procurar envolver os alunos, divers ificar etc.
Porém os alunos com os quais iniciou o trabalho docente queriam as aulas
tradicionais, às quais estavam habituados: a transmissão de conhecimentos teóricos.
O docente (P12) explicou essa questão:
Você muitas vezes prepara o material, faz diver sas leituras, vai pega
num livro, pega dois, três, confronta autores, monta, organiza as
situações para que os alunos possam se envolver […] É claro que
alguns alunos até vêm para a discussão, eles tentam, mas acabam
desanimando […] porque são uma minoria […] (P12).
Não é muito diferente do desabafo de um outro professor (P9) ao
mencionar que os alunos não aceitam os desafios que ele promove. O docente
explica que o professor acaba aceitando isso:
[…] Eu vejo certa tendência em aceitarmos isso, mas f ica aquela
profissão de fé […] acho que ele (aluno) tem uma forma de entender
que o professor tem a resposta que ele pediu […] (P9).
O problema não começa no ensino superior. Essa situação vem se
arrastando ao longo da escolarização desses alunos. Segundo o docente (P12), que
também atua no ensino médio e no ensino fundamental, as dificuldades não são
diferentes. Nas reuniões pedagógicas do ensino fundamental e médio, as situações
são semelhantes, com relação a fazer o aluno pensar, questionar, argumentar etc. O
docente (P12) explicou:
Essa alienação […] as leituras que fazemos, os diálogos com outros
professores é que estamos colhendo uma geração de pessoas onde
houve a banalização do ensino […] a gente não consegue
desvincular a escola dos problemas que acontecem ao redor […] a
corrupção que acaba sendo tratada de uma forma normal […] se
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passam 2, 3 meses e esquecem aquele evento […] aparece outro
[…] a memória é curta […] está afetando a educação […] (P12).
Para nos auxiliar na questão, recorremos a Pi menta e Anastasiou
(2002, p. 237):
Sobre a elevada heterogeneidade em cada classe, a diversidade de
maturidade dos alunos e o aluno trabalhador, convém admitir que
lidar com o diferente não é fácil. Embora em nível discursivo se
proclame a importância da diversidade, ao entrar numa sala de aula,
seria mais fácil não ter de lidar com tamanha diversidade quanto ao
domínio do conhecimento. Acreditar e apostar na riqueza das trocas
e usar essa riqueza na organização das atividades na sala de aula é
uma maneira de fazer frente à diversidade.
Segundo as autoras, lidar com o diverso para a teoria pedagógica
requer identificar o mediador nos processos de aprendizagem. O mediador a que se
referem estaria entre o aluno e os processos que nos desafiam, como o conte údo e
a forma de assimilá-lo. Nesse aspecto pode ser o professor, ou mesmo uma
atividade planejada: um filme, uma visita, um estudo de caso, um texto ou então o
próprio colega, que por uma série de circunstâncias e motivos pode possuir uma
competência diferenciada sobre o assunto que está se tratando em sala de aula.
É o caso do aluno trabalhador que atua no mercado referente ao
curso e que por isso pode auxiliar na associação de elementos apontados com a
realidade vivenciada. O aluno trabalhador pode ser u m aliado nesse processo com
toda a turma. Para que ocorra essa contribuição, o professor precisa conhecer seus
alunos e ter estabelecido um nculo com o grupo para assim aproveitar a
experiência de todos (PIMENTA; ANASTASIOU, 2002, p. 238).
São tantas as questões que permeiam a atividade docente que não é
nada fácil um docente iniciante dar conta de todos os aspectos. Para buscar
elementos que tratem com maior profundidade da prática dos docentes iniciantes,
descreveremos o que relataram os docentes sobre a sua prática pedagógica. Ao
responder a questão de número 6 no questionário, 4 docentes se declaram como
satisfeitos com a prática pedagógica. O docente (P16) revelou estar “razoavelmente
satisfeito [...]”.
Procurariam melhorar, diariamente, foi o que responderam no
questionário 8 docentes. Ressaltamos que os docentes esclareceram algumas
respostas, pois, ao apresentar o quadro 6, buscamos aprofundar alguns temas
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abordados na entrevista como a avaliação, por exemplo. No questionário, 4
docentes descreveram a sua prática pedagógica relatando que gostam da forma
como atuam. Vejamos:
Gosto da minha prática pedagógica (P 6).
No momento estou satisfeita (P 11).
Minha prática pedagógica é ótima (P14).
Estou razoavelmente satisfeita com a minha atuação doc ente até
porque a expectativa que os alunos de direito têm em relação ao
professor é muito diferente da expectativa dos alunos de pedagogia
(P16).
Na entrevista tivemos a oportunidade de discutir com os referidos
professores essa questão. O docente (P16) completou que os alunos do curso de
direito dificilmente aceitam inovação nas aulas e que isso pode acomodar o
professor:
[…] Se você faz uma aula diferente o seu aluno não gosta, ele não
quer. Se você faz uma coisa diferente, ele (o aluno) briga com vo
[…] Então a gente se acomoda e perde um pouco do entusiasmo de
pesquisar, de trabalhar com um novo método […] isso causa
insatisfação […] (P16).
Sobre esse assunto, o que observamos com os outros docentes do
curso de direito é que as aulas ministradas praticamente são expositivas. Os
docentes trabalham com exemplos reais de casos conduzidos pela justiça. Tanto
casos em que os próprios docentes atuaram como profissionais liberais como casos
que tiveram repercussão na mídia são discutidos na sala de aula . Nesse aspecto
citamos os comentários feitos na entrevista pelos professores (P4) e (P14):
A minha disciplina direito penal que trata de crimes, homicídio, roubo,
tráfico, estupro [...] são assuntos que geram interesse para muitas
pessoas [...] o interesse dos alunos é maior que nas outras matérias
e eu procuro prender mais a atenção deles com o que de atual está
acontecendo, a realidade [...], a questão do crime, a questão política,
a questão social e vários outros temas que permeiam a questão
criminal [...] (P4).
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Os alunos muitas vezes chegam para mim e perguntam questões de
outras disciplinas [...] eu pergunto a eles por que não pediram
novamente a explicação ao professor. Eles respondem que
perguntaram e continuaram não entendendo e por vergonha não
perguntam de novo. [...] A forma como eu dou a explicação eles
conseguem entender, porque eu tenho a experiência da prática. A
teoria com a prática é a melhor forma de ensinar [...] eu trago
situações, casos concretos para as aulas [...] (P14).
Os dois docentes aliaram a seu favor os exemplos práticos de
situações reais que são significativas para os alunos. Desse modo, despertam a
curiosidade e o interesse desses alunos. Freire (2007, p. 32) tem uma explicação
para isso:
A curiosidade como inquietação indagadora, como inclinação ao
desvelamento de algo, como pergunta verbalizada ou não, como
procura de esclarecimento, como sinal de atenção que sugere alerta
faz parte integrante do fenômeno vital. Não haveria criatividade sem
a curiosidade que nos move e que nos põe pacientemente
impacientes diante do mundo que não fizemos, acrescentando a ele
algo que fazemos.
Masetto (2003) também contribui ao pontuar que, ao tratarmos das
atividades pedagógicas com intuito de propiciar melhores condições para a
aprendizagem dos estudantes, possibilitamos que os mesmos se envolvam com a
sua formação profissional tornando significativo o curso de graduação.
O docente (P1) tem esse objetivo, o que ainda lhe falta é saber como
colocar em prática essa vontade. O objetivo do professor (P19) não é diferente, pois
também deseja encontrar esse caminho com situações que favoreçam a
aprendizagem dos alunos. Os docentes escreveram no questionário o seguinte:
Gostaria de melhorar, principalmente na maneira de fixar conceitos
para os alunos (P1).
Creio que a busca por melhorar é constante. Acredito que melhorei
muito desde que comecei, mas esse é um processo contínuo. Pontos
a melhorar: feedback de avaliação para os alunos com maior
constância; utilização de outras práticas pedagógi cas (material
complementar, técnicas etc.) (P19).
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No questionário o docente (P15) também fez referência a esse
aspecto, porém não nos concedeu a entrevista que poderia nos esclarecer mais.
Este docente escreveu:
Gostaria de melhorar, basicamente nas téc nicas e nos
conhecimentos filosóficos de minha atividade (P15).
O referido docente forneceu pistas de que uma formação
didático/pedagógica contribuiria para melhorar sua prática docente. Ao pontuar
conhecimentos filosóficos e não só as técnicas, revelou ter consciência de que
precisa buscar esses aspectos para melhorar a sua formação docente.
Quanto aos professores (P1) e (P19), percebemos em ambos a
motivação pelo ensino universitário. Na entrevista registramos o que disseram:
Eu vejo que não tenho ain da alguns recursos desenvolvidos para eu
ficar satisfeito com a minha prática pedagógica […] Eu entendo que o
aluno tem que ter no professor apenas um guia e não que traga a
matéria toda digerida […] isso nas primeiras aulas eu não conseguia
[…] eu tentava questionar o aluno e não surtia efeito […] então eu
comecei a forçar o aluno a participar, com simulação de causas,
análise de textos, entre outras […] mas para melhorar eu preciso
investir mais na formação de professor […] (P1).
Eu acho que devo melhor ar […] cada turma é diferente […] trabalhei
uma proposta de debate em uma turma e ao fazer o mesmo em
outra não rendeu, […] vou ter que mudar a metodologia […] eu saio
de uma aula e penso que devo fazer diferente […] a metodologia tem
que ser diferente […] (P19).
O professor (P17) nos auxilia ao mencionar a formação pedagógica
como necessária para o magistério na sala de aula universitária.
Nós professores de ADM não possuímos bagagem pedagógica
satisfatória. Seria interessante reforço pedagógico em aspe ctos
pedagógicos de sala de aula (P 17).
Em algumas situações, o professor precisa da ajuda dos pares, da
instituição e dar continuidade na formação docente. É uma tarefa árdua, mas os
próprios docentes trazem algumas respostas para os problemas. O fato d e proporem
o reforço pedagógico para os professores é uma alternativa.
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O professor (P17) verbalizou na entrevista estar cursando algumas
disciplinas pedagógicas, de um curso em uma instituição em que também é docente.
O docente explicou que a experiênci a na profissão não é suficiente para o
exercício da docência. Sua preocupação é envolver a coordenação do curso e
montar um projeto nesse sentido para uma formação dos docentes do curso.
Prosseguiu dizendo:
Você entra na sala de aula acreditando que aquil o que você conhece
de experiência serve […] (P17).
Para esclarecer a questão, recorremos a Libâneo (1994, p. 177), que
define a aula como
O conjunto dos meios e condições pelos quais o professor dirige e
estimula o processo de ensino em função da ativida de própria do
aluno no processo da aprendizagem escolar, ou seja, a assimilação
consciente e ativa dos conteúdos.
Nesse aspecto, o estudo revelou que, pelo menos para alguns
docentes principiantes, a necessidade de uma devolutiva sobre o trabalho
realizado em sala de aula. Dois docentes, (P1) e (P7), relataram na entrevista que
consideram importante um feedback sobre a prática pedagógica que desenvolvem.
Pelo fato de serem docentes iniciantes, com pouco tempo na instituição, não
conhecem a avaliação int erna que os alunos fazem sobre a instituição e os
docentes, realizada anualmente, conforme SINAES.
Eu sinto falta de um feedback […] dos alunos porque o aluno ele é
parte do processo, queira ou não ele acaba sendo opinião importante
[…] (P1).
Eu ainda não tive um feedback para poder corrigir os pontos
negativos […] seria interessante se tivéssemos um sistema de
avaliação […] se gostam do estilo de nossa aula […] as melhores
pessoas para isso são os alunos […] (P7).
Uma fala significativa foi a pontuada pelo docente (P4). Segundo sua
versão na entrevista, o diálogo com os alunos foi o que buscou como feedback para
melhorar sua prática pedagógica. Mas o diálogo aqui proposto foi o de ouvir os
alunos em suas necessidades para assim mudar sua postura docent e se necessário.
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[…] eu fiz questão de chamar para conversar pessoalmente,
particularmente, porque os alunos, muitas vezes, não têm condições
de expor uma situação perante a sala de aula […]. Se estão
entendendo, se é timidez. São vários pontos que impedem o aluno
de se manifestar [...] principalmente sobre a forma de avaliação,
sobre o trabalho que eu fiz sobre o que eu poderia fazer o que
poderia melhorar. Basicamente eu queria críticas […] porque elas
nos permitem melhorar […] (P4).
Estas afirmações nos remetem ao que diz Freire (2007, p. 113): “O
educador que escuta aprende a difícil lição de transformar o seu discurso, às vezes
necessário, ao aluno, em uma fala com ele”.
Apesar de alguns docentes tentarem resolver sozinhos as questões
que envolvem os alunos, seja “nivelando para baixo” conforme escreveu no
questionário o docente (P10), os docentes buscam alternativas para lidar com as
diferentes situações.
Não posso aprofundar muito os assuntos porque meus alunos
(alguns – a maioria) não conseguirão ac ompanhar (P 10).
Na entrevista o professor (P10) explicou que muitos alunos chegam
com dificuldades e sugere:
Na verdade o ensino médio deveria ser melhor […] mas é o jeitinho
brasileiro de empurrar para frente […] a faculdade é que precisa dar
conta […] é necessário um trabalho paralelo com os alunos, pelo
menos as questões básicas que envolvam leitura, interpretação de
textos, matemática […] (P10).
Alguns pré-requisitos básicos são necessários para o aluno
acompanhar a graduação como o domínio da leit ura, da interpretação de textos e da
redação, entre outros. É importante ainda realizar um diagnóstico para desenvolver
ações nas quais professores e alunos possam superar tais dificuldades (PIMENTA;
ANASTASIOU, 2002).
Ressaltamos que em muitas situações o professor precisa de auxílio
para dar conta de suas atribuições, por isso é preciso desmistificar essa idéia de
toda a culpa recair sobre o professor. a necessidade da realização de um
trabalho integrado com os outros docentes e a instituição de ensin o, que pode ser:
153
153
[…] objeto de especificação do projeto pedagógico do curso,
especialmente para alguns grupos ou turmas, e mesmo
generalizáveis para todo o alunado e programados ao longo das
fases ou anos curriculares (PIMENTA; ANASTÁSIOU, 2002, p. 234 -
235).
As autoras explicam que trabalhos dessa natureza possibilitam
fornecer condições para esses alunos acompanharem os estudos no caminho de
uma formação acadêmica.
Continuando a análise, destacamos um dado interessante que partiu
de 2 professores entrevistados. Ambos alegaram que o fato de serem muito jovens
causou-lhe problemas no início da docência.
O pessoal olha, encara e que é um professor jovem [...] e eu via,
[...] você no olho do aluno - Será que esse cara sabe o que está
falando? (P1).
Quando comecei a lecionar eu era muito jovem e me confundiam
com os alunos; esse era meu principal problema [...] (p16).
Até pouco tempo atrás, esses professores eram alunos. O fato de
serem muito jovens pode pesar, mas talvez a postura que adotam em s ala de aula, a
forma como atuam, seja mais determinante que o fato de serem jovens. É
interessante lembrar ainda que dos 22 docentes participantes da pesquisa, 10 têm
menos de 30 anos. Outro aspecto a considerar é que nem todos os alunos
universitários são jovens na faixa de 18 a 24 anos.
Atualmente, uma diversidade de idades nesse aspecto, pois
segundo dados do INEP de 2000 a 2006 é que ocorreu um aumento de 61,9% de
alunos na faixa etária de 25 a 29 anos entre os universitários brasileiros. Os alunos
com mais de 25 anos em 2000 representavam 35,81% e passaram de 39,73% em
2006. A situação atual revela um universo de alunos de diferentes idades nos
bancos universitários (INEP/MEC 2007).
Enfrentando dificuldades, superando os desafios ou não, os
docentes iniciantes se deparam com inúmeras situações no cotidiano acadêmico,
como, por exemplo, dar continuidade aos trabalhos docentes em casa. Trazemos o
que relatam os professores (P8) e (P28) na entrevista. Os referidos docentes alegam
que o professor leva mu ito serviço para casa. Além do mais os docentes geralmente
trabalham em mais de uma instituição, ou mesmo exercem outra função. Entre os
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professores entrevistados, 14 exercem exclusivamente a docência. Os outros 15
professores exercem outra profissão paral ela.
Nós professores não damos nossas aulas e pronto […] além de
precisar estudar, aprofundar, levamos muito trabalho para casa […]
(P8).
[…] Nosso trabalho não se resume às aulas [...] temos que nos
preparar para as mesmas [...] (P28).
Nas entrevistas algumas soluções para superar os desafios e
dificuldades foram apresentadas, pois mencionaram que necessitam ter mais
encontros com colegas para tratar das questões pedagógicas. Alguns dos
depoimentos abaixo exprimem essa carência:
O colegiado do meu curso fez uma reunião faz três meses [...] até
agora não teve outra reunião pedagógica [...] Reunião pedagógica
para discutir em conjunto: a instituição, os professores, os alunos [...]
(P 6).
É preciso reuniões mais frequentes. [...] Conseguimos faze r uma
reunião para discutir a festa junina [...] é um absurdo não conseguir
discutir sobre a revista pedagógica da instituição! (P 9).
Penso que a quantidade de encontros entre os professores deveria
acontecer mais vezes. Mesmo tendo aumentando de um ano para
cá, deveria ser ampliada a peridiocidade (P 12).
Nas reuniões pedagógicas temos a oportunidade de conhecer o
trabalho dos outros docentes [...], o que podemos contribuir com a
nossa disciplina (P 29).
Para Behrens (1998), oferecer cursos esporadic amente com temas
relativos às práticas docentes como: avaliação, planejamento, entre outros não é
suficiente, pois, para o professor universitário exercitar a prática reflexiva, é
necessário o seu envolvimento em projetos, nos encontros de formação contínu a,
para compartilhar experiências de saberes, de aprendizagens e de carências, de
modo a contemplar a dimensão individual e coletiva, possibilitando a transformação
por meio da intervenção nas ações docentes. A denúncia da autora é confirmada por
alguns docentes investigados.
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155
São poucas as ações promovidas pela instituição, pois se resumem
à semana pedagógica e reuniões com o colegiado dos cursos para que o docente
pense sobre sua prática educativa e, ao mesmo tempo, possa compartilhar suas
incertezas e suas dúvidas. O que pode ser dúvida para um docente pode também
ser para outro.
A instituição tem atravessado momentos de incerteza, uma vez que
depende das mensalidades de seus alunos. Um dado interessante nesse aspecto é
que praticamente todos os alunos da instituição têm, segundo o docente (P 17), um
percentual de desconto que varia de 20% a100%. Muitos dos alunos também são
bolsistas do PROUNI.
Como mencionamos, existe a possibilidade de não composição de
turmas em todos os semestres. Isso signif ica que a formação docente não tem como
ocupar papel central. Parece -nos por isso que a instituição tem realizado o que é
viável, dentro de suas possibilidades. No caso, a instituição, onde atuam os
professores colaboradores da pesquisa é de pequeno porte com três cursos de
graduação.
É pertinente relatar que os problemas enfrentados pela instituição
conforme estudos dos três docentes, quando realizaram um estudo detalhado, ao
final do ano de 2007, revelaram que a instituição tem tido mais alunos egressos do
que alunos calouros.
Tais informações se fazem necessárias para argumentar que a
questão da formação pedagógica fica delegada a uma situação menor, diante da
realidade que se apresenta. É possível perceber que o esforço coletivo dos docentes
tem superado a questão salarial. Para alguns docentes, pelo menos para os
colaboradores da pesquisa, o fato de serem iniciantes é uma oportunidade de ter
experiência no magistério superior como podemos verificar:
Para mim foi muito importante a instituição me dar essa oportunidade
[…] agora que eu terminei o mestrado, quero me dedicar mesmo
(P8).
Apesar de ter trabalhado com pequenos grupos, a experiência na
instituição tem sido algo novo para mim, apareceu a chance e eu
aproveitei […] (P11).
Eu reconheço e tenho a agradecer a oportunidade que a
faculdade está me proporcionando […] (P28).
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Eu fiz estágio em docência no mestrado, mas foi muito pouco, então
a possibilidade de atuar no ensino superior tem sido fundamental. É
uma experiência nova […] (P29).
A competência teórica, técnica e política tem sentido se existir a
paixão por aquilo que se faz (LUCKESI, 1994, p. 117). Essa paixão é o que
sentido, que move o trabalho de muitos docentes que exercem seu ofício com déficit
na formação.
Pimenta e Anastasiou (2002) relatam que em outros países, como
Espanha e Portugal, após o longo período de ditadura da década de 1980, investiu -
se na formação docente e produziu -se uma ampla bibliografia, difundida em nosso
país a partir de 1990, entre estas a obra de N óvoa (1992) Os professores e sua
formação. Pimenta e Anastasiou (2002, p. 129 -130) enfatizam que
[…] os temas nos mencionados países ganharam espaços nas
universidades e nas pesquisas, colaborando para a proposição das
políticas educacionais e de formação de professores, o que ocorreu
também nos sindicatos, às vezes e colaboração com as
universidades e com os sistemas públicos.
A preocupação em torno da formação dos professores não é
exclusiva do Brasil. No entanto, em nosso país, não temos um amparo lega l nesse
sentido, ficando a cargo dos próprios docentes e das instituições a responsabilidade
pela formação, pois,
Desconsiderando as pesquisas sobre a importância da formação
inicial e continuada para a docência na educação superior, tanto em
nível nacional quanto internacional, a formação docente para o
ensino superior ainda fica a cargo de iniciativas individuais e
institucionais esparsas, que não se referem a um projeto nacional ou
da categoria docente. (PIMENTA; ANASTASIOU, 2002, P.154)
Os docentes então buscam cursos, especialmente na área da
educação, uma vez que se nota uma ausência da formação para a docência
superior nos programas de pós -graduação das demais áreas (PIMENTA;
ANASTASIOU, 2002, p. 40).
As instituições de ensino superior no segundo ano de vigência
deverão contar com 15% dos seus professores com titulação na pós -graduação
stricto sensu, destes, 15% pelo menos, devem ser doutores; na vigência do quinto
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ano o percentual deve subir para 25%, assim como o número de doutores sobe para
10% e, no oitavo ano de vigência, um terço dos professores com formação stricto
sensu, 15% deve ser de doutores pelo menos (BRASIL, 1996).
A não exigência de formação específica para esse nível por parte da
lei, acarreta o aumento da oferta de cursos de espec ialização - lato sensu, ou, então,
inclui-se nos mesmos a disciplina, Metodologia do Ensino Superior ou Didática do
Ensino Superior, propostas para a formação docente. A titulação serve para cumprir
a lei de forma parcial, “mas também tem sido estimulada p or instituições de ensino
superior por significar salários mais baixos do que os que seriam exigidos por
titulados em stricto sensu“ (PIMENTA; ANASTASIOU, 2002, p. 41).
A formação stricto sensu foi abordada no questionário na questão de
número 5 e esteve assim estruturada: “e você possui mestrado ou doutorado,
considera que este fato contribui para melhorar sua atuação docente”?
Dos docentes que responderam ao questionário, 2 escreveram que o
fato de possuir uma pós -graduação é o que possibilitou sua at uação profissional no
ensino superior.
Sim, acredito que as disciplinas do mestrado são uma das bases
teóricas para eu estar hoje atuando no ensino superior, ou seja,
devido aos inúmeros textos, livros, artigos, que lemos e escrevemos
durante os dois anos são fundamentais para utilizar na sala de aula.
(P3).
Sim, o mestrado me deu mais segurança além de me abrir as portas
para o ingresso no ensino superior. (P5).
Um deles, o docente (P3) defendeu na entrevista a ideia de que
deveriam exercer a ação d ocente no ensino superior os professores que tivessem
concluído o mestrado ou doutorado e explicou sua opinião:
[…] Eu acho que um professor que não tem o mestrado não deveria
atuar no ensino superior, porque só a especialização não basta […] a
gente muito e facilita você se expressar, escrever […] você
consegue ter uma noção mais ampliada […] e devemos continuar
[…] depois com o doutorado […] (P3).
158
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As respostas dos docentes foram praticamente unânimes em
classificar a formação com mestrado ou doutor ado como necessária e fundamental
para a qualidade do trabalho docente conforme relatos no questionário. Vejamos:
Sim, porque o mestrado respaldo e incentiva a produção e
conhecimento científico, o que faz com que o docente busque
transmitir o interesse nessas áreas aos alunos (P6).
Sim, a maestria e o doutoramento são essenciais para o
desenvolvimento da técnica de ensino e, também, aperfeiçoamento
da pesquisa e segurança profissional (P15).
Sim, para entrar em um desses cursos é necessário uma melho r
qualificação que a graduação não possibilita, e estar nestes
programas possibilita uma maior relação com as áreas de
conhecimento (P18).
Sim, a proposta do mestrado é bastante exigente no que tange a
adaptabilidade do saber acadêmico teórico, bem como n o papel que
os professores desempenham em serem mais provocadores de
idéias e de desafios, do que de respostas prontas. Os sucessivos
estágios de ler, escrever, planejar, aplicar, replanejar, construir e
desconstruir foram cansativos e até tediosos, mas ta mbém foram
fundamentais para que meus projetos educativos fossem refinados e
até meus questionamentos me dotaram de saberes que me permitem
analisar o que ocorre no cotidiano escolar e arriscar algumas
soluções (P20).
Constatamos que os 6 docentes que n ão responderam à questão
não cursam ou cursaram o mestrado. Nossa concepção é que não formalizaram
uma ideia a respeito. Entretanto, um desses docentes (P7), que é especialista na
sua área, nos confidenciou que não tem vontade de cursar o mestrado. Dois o utros
docentes responderam o seguinte:
Sim, fundamenta! (P10).
Melhorar (P11).
O professor (P9) pensa um pouco diferente. Para ele, a titulação
por si só não faz melhor um docente. Outros condicionantes permeiam a ação
docente. Ele escreveu o segui nte:
159
159
Acho que depende. Não acho que a titulação me fez um melhor
docente, mas o percurso de construção do texto favorece a reflexão
da mesma forma que a vivência em sala de aula também
problematiza minha ação. Talvez seja mais o aperfeiçoamento
contínuo, a troca de experiências que seja definitiva (P9).
Percebemos que a formação docente, indiscutivelmente, é uma
preocupação dos docentes consultados, seja uma pós -graduação stricto sensu ou
uma formação permanente. Foram 13 docentes que pontuaram no question ário a
necessidade de uma continuidade na formação.
Segundo Veiga (2006), o documento da Política Nacional de
Graduação - FORGRAD determina que o magistério superior deverá ser
desempenhado por mestres e doutores, com prioridade para os doutores. O
documento ainda apregoa que a titulação é necessária, mas não é suficiente para o
bom desempenho da docência. A autora explica que o diploma confere o
conhecimento no campo científico, porém os conhecimentos pedagógicos precisam
ser dominados. Para isso, as inst ituições de educação superior devem apoiar os
programas de pós-graduação stricto sensu e também oferecer programas de
formação continuada aos seus professores.
Para Morosini (2000), Veiga (2006) e outros, a preparação para o
ensino superior de que trata a LDB não privilegia a formação para o magistério
superior. A lei fala em preparação nos programas de pós -graduação. Porém nos
programas stricto sensu geralmente a prioridade é delegada para a formação de
pesquisador, salvo raras exceções. No universo dos p rogramas que conhecemos,
podemos incluir entre estas exceções o Programa de Mestrado em Educação da
Universidade Estadual de Londrina que oferece disciplinas pedagógicas que
contribuem sobremaneira para o exercício docente.
Outro ponto importante do estudo foram as respostas com relação à
autonomia. A questão de número 9 no questionário se estruturou assim: “Em sua
opinião como ou quando o professor universitário iniciante estabelece sua
autonomia profissional?”
Segundo dados da pesquisa, apesar de variadas , as respostas
apontam a experiência como elemento preponderante. A experiência é que
propiciaa autonomia profissional do docente. Essa perspectiva no questionário foi
considerada por 11 docentes. Vejamos alguns relatos:
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Após um período de experiência de pelo menos 1 ano, onde você
se sente mais seguro (P2).
Na prática e no estudo da área de conhecimento a qual ministra (P8).
Cada aula é uma aula, pois, por mais que você se prepare, se você
não tem experiência em sala, no começo sofre, porque tem umas
perguntas, algumas coisas, umas situações em sala que com o
tempo. […] Quanto mais aulas você dá, mais você vai ficando pronto,
é questão de pegar um pouco da prática mesmo (P10).
É dicil dar uma data precisa ou um fato evidenciador da autonomia
profissional. Contudo, acredito que ela ocorra progressivamente
quando o docente adquire experiência em sala de aula e busca
aperfeiçoamento constante (P15).
No questionário o professor (P10) respondeu: “Não entendi”. Mas na
entrevista foi possível eluci dar sua resposta. Na opinião do docente, a
experiência na docência vai fazer com que o professor aprenda a lidar com as
diferentes situações. o docente (P29) não mencionou no questionário a questão
da experiência. Entretanto na entrevista isso ficou evidente, pois sua posição foi a
seguinte:
No começo falta a experiência que no início a gente não tem […]
Com o tempo, […] vamos nos capacitando […] em uma formação
continuada […] (P29).
Além disso, o docente nos faz pensar sobre o inacabamento de que
lembra Freire (2007, p. 50): “[…] Na verdade, o inacabamento do ser ou sua
inconclusão é próprio da experiência vital”. Em outras palavras, sempre estaremos
em constante aprendizagem, consequentemente em contínua formação,
ressignificando nossas experiênc ias.
Os docentes mantiveram sua posição na entrevista, reforçando a
questão da experiência em sala de aula como significativa para adquirir a autonomia
profissional. Não foi mencionada pelos docentes a questão da reflexão.
Marcelo Garcia (1999), nos estu dos com professores, levantou que
os docentes geram conhecimentos práticos, mas a partir da reflexão sobre as
experiências. A dimensão reflexiva é um aspecto fundamental para o
desenvolvimento profissional dos docentes. Autores como Nóvoa (1997) e Schön
(2000) defendem a reflexão sobre a prática nos processos de ensino/aprendizagem.
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Alguns docentes, apesar de não se referirem à reflexão, costumam buscar
momentos de reflexão sobre o trabalho em sala de aula e trocam ideias com os
pares. O professor (P28) enf atizou esse aspecto:
É importante eu procurar os docentes mais experientes para discutir
nossa prática […] o objetivo é sempre melhorar minha prática
pedagógica […] (P28).
Na opinião dos docentes (P11) e (P13), a autonomia acontece desde
que o professor entra em sala de aula.
A partir do momento em que entra na sala de aula, como todos os
outros (P11).
No meu caso desde o 1º dia em sala (P13).
Para entender melhor o que escreveram os dois docentes no
questionário, buscamos a posição do professor (P 11), pois o docente (P13) não
esteve entre os entrevistados. O fato de trabalhar com grupos de pessoas para o
ensino técnico de inglês instrumental facilitou sua entrada em sala de aula.
Eu trabalho com adultos dez anos […] eu gosto de trabalhar com
adultos […] tive aquela sensação de começar o novo […] mas ao
entrar na sala de aula o professor já tem a sua autonomia […] (P11).
Entretanto, o docente (P20) relatou que não está certo se o professor
alcança autonomia profissional. Para ele, os profes sores adquirem certas
habilidades que favorecem algumas ações, uma vez que a vida profissional do
docente necessita de constante aprofundamento e continuidade. No questionário o
docente fez o seguinte relato:
Não estou certo de que se alcance autonomia na profissão docente.
Acho que em certas situações adquirimos habilidades que favorecem
a ação. No entanto, a profissão de professor requer esforço
concentrado para articular conhecimento científico, articulado ao
profissionalismo com (conhecimento) compromi sso ético e social,
seja no início da carreira ou não, isto é construído ao longo de toda a
vida profissional, necessitando constantemente de complementação,
continuidade e aprofundamento (P20).
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Para melhor compreender o que pensa o professor (P20),
recorremos a Rios (2005), que considera a autonomia relativa, assim como a
liberdade também é relativa. Isso acontece porque lidamos com pessoas. É preciso
respeito à alteridade, que se pauta na articulação da liberdade e da
responsabilidade. Um outro aspecto d essa perspectiva, segundo a autora, é que em
toda a ação docente encontramos a dimensão técnica, a dimensão política, a
dimensão estética e a dimensão moral.
Na entrevista a posição do professor (P20) se manteve. Porém o
docente explicou que a autonomia ta mbém se relaciona com o desenvolvimento
profissional. A continuidade na formação é fundamental. Além disso, o professor
precisa se ver como um profissional da educação. Vejamos:
Eu preciso me ver como profissional da educação [...] tenho que
dominar aquilo que me proponho a fazer [...] com ética, participação
[...] (P20).
Três docentes concordam com o professor (P20). Na entrevista, ao
esclarecer o que escreveram no questionário, explicaram:
O aperfeiçoamento profissional nos leva a isso […] a experiênci a ela
fortalece cada vez mais a questão da autonomia […] (P3).
A experiência te condições de resolver os problemas que surgem
[…] Quanto maior for a experiência, mais autonomia docente […]
(P6).
[…] Acho que temos que sempre estar estudando, aprofunda ndo,
pelo compromisso que devemos ter com a educação […] assim
chegaremos à autonomia […] (P8).
Para Freire (2007, p. 107), as várias experiências sobre as decisões
tomadas é que possibilitarão conquistar a autonomia. É um vir a ser: “[…] A
autonomia vai se constituindo na experiência de várias decisões que vão sendo
tomadas […]. A autonomia enquanto amadurecimento de ser para si, é processo, é vir
a ser […]”. Além disso, se pauta em princípios éticos. Como processo é o
entendimento do professor (P18). No entanto, esse docente explica que a autonomia
não é absoluta. Apesar de não se referirem à questão da autonomia como processo,
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os docentes (P7) e (P9) também vão por esse caminho, conforme seus relatos no
questionário.
Entendo que autonomia é um processo, um caminho a seguir,
poderá alcançar autonomia em um aspecto e outro não, ou seja, a
autonomia completa sempre será um caminho a ser percorrido (P18).
Acredito que o professor universitário adquire autonomia profissional
quando se propõe a estar em const ante desenvolvimento,
acompanhando as mudanças ambientais do setor e de sua disciplina
(P7).
O tempo é variável. Iniciei achando que sabia muito e hoje acho que
aprendo mais do que ensino. Aprendi a falar em primeira pessoa
com o trabalho mesmo, responden do aos estudos e às questões que
os alunos colocavam. Saber que não há resposta também nos liberta
porque o “certo” tem que ser aprendido. Não adianta alguém falar
porque é uma resposta construída por ele. penso que nasce a
autonomia (P9).
À medida que o docente lida com as situações de sala de aula com
possibilidades de reflexão e não descuida de sua formação continuada, conquista
sua autonomia. Para tratar das situações práticas da sala de aula e tomar decisões,
é necessário ter autonomia (IMBERNÓN, 2 006).
Marcelo Garcia (1999) e Tardif (2005) pontuam que a busca para se
estabelecer a identidade profissional no início da carreira docente se efetiva quando
os docentes o reconhecidos pelo pares mais experientes. O docente (P19) definiu
bem a questão da autonomia. Vejamos:
Quando consegue contribuir, de fato, para enriquecer os conteúdos
de suas disciplinas e, também, quando percebe que é respeitado
pelos alunos e pelos seus pares (P19).
Contreras (2002) configura como três as dimensões da
profissionalidade para se alcançar a autonomia na prática educacional: a obrigação
moral, que remete ao compromisso com o ensino; o compromisso com a
comunidade, que significa o fato de o professor estar comprometido com a
comunidade social onde realiza a prática prof issional; e a competência profissional
da qual o compromisso moral e o social são integrantes. Ao analisar o que diz o
autor, entendemos que o compromisso assumido com as questões educativas é
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marcante ou mesmo um aliado para lidar com as questões incertas e imprevisíveis
que surgem no cotidiano da sala de aula, às quais os docentes, iniciantes ou não,
precisam aprender a solucionar. Os docentes (P16) e (P5) não identificam a
temporalidade, pois para ambos depende mais da pessoa do professor. Vamos aos
relatos:
Acho que o próprio professor, mediante a postura que adota em sala
de aula adquire ou não sua autonomia. A autonomia depende dos
valores em que o professor acredita (P16).
É difícil responder esta questão, pois não existe uma regra.
Estabelecer a autonomia profissional varia de uma pessoa para
outra. Penso que não para definir nem o “como” e muito menos o
“quando” (P5).
Para se chegar à autonomia profissional, percebemos que os
professores passam por um processo. Cada professor responde a isso d e um modo
diferente. Tardif (2005) afirma que os professores constituem saberes, e todas as
experiências, os conhecimentos diferirão de um professor para outro durante o
processo. Segundo Imbernón (2006, p. 41),
É preciso desenvolver novas práticas alter nativas baseadas na
verdadeira autonomia e colegialidade como mecanismos de
participação democrática da profissão que permitam vislumbrar
novas formas de entender a profissão, revelar o currículo oculto das
estruturas educativas e descobrir outras maneiras de ver a profissão
docente, o conhecimento profissional necessário, a escola e sua
organização educativa.
A atividade docente envolve diferentes questões que repercutem
além da sala de aula como aponta Imbernón (2006). Desse modo, o docente deve
estar atento para não se desvincular dessas questões e repensar sua prática
educativa.
Pela declaração do professor (P1), nossa percepção nesse aspecto
é que não é só a experiência em sala de aula que é o determinante para a
autonomia do professor, mas o traba lho que produzir na pesquisa, nos estudos e
aquilo que conquistar em função disso. O professor se torna experiente, não pela
docência, mas pelas produções, ou seja, envolvimento com a pesquisa e divulgação
da sua produção. O docente escreveu:
165
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Não sei. Talvez com convites para congressos (P1).
A referida autonomia teve diferentes perspectivas, mas o que
pontuou o professor (P1), de certo modo, se aproxima do que o docente (P12)
destacou: a questão da formação. Ele explicou que isso se torna possível pela
competência que o professor vai administrando:
Quando adquire independência, ou seja, quando o professor
consegue organizar e dirigir situações de aprendizagem, quando
consegue perceber e avaliar o desenvolvimento dos alunos, quando
trabalha em equipe, q uando utiliza diferentes recursos
adequadamente, quando procura estar sempre se “formando” e se
“informando” […] (P12).
O relato acima pode ser relacionado com as dez novas
competências para ensinar, segundo Perrenoud (2000):
1) organizar e dirigir situaç ões de aprendizagem;
2) administrar a progressão das aprendizagens;
3) conceber e fazer com que os dispositivos de diferenciação evoluam;
4) envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho;
5) trabalhar em equipe;
6) participar da administração da escola;
7) informar e envolver os pais;
8) utilizar novas tecnologias;
9) enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão;
10) administrar a própria formação contínua.
O docente se referiu ao domínio das competências para obter sua
autonomia. Perrenoud (2002) não fala em autonomia, mas na responsabilidade
de o profissional ser reflexivo sobre sua ação. Além disso, o profissional precisa
buscar um desenvolvimento permanente para a obtenção da sua autonomia “em
função da experiência de co mpetências e dos saberes profissionais” (PERRENOUD,
2002, p. 13).
Com outras palavras, Imbernón (2006, p.66) corrobora Perrenoud
(2002) e nos auxilia nesse momento ao afirmar que:
A
formação inicial deve dotar de uma bagagem sólida nos âmbitos
científico, cultural, contextual, psicopedagógico e pessoal que deve
166
166
capacitar o futuro professor ou professora a assumir a tarefa
educativa em toda sua complexidade, atuando reflexivamente com a
flexibilidade e o rigor necessários, isto é, apoiando suas ações em
uma fundamentação válida para evitar cair no paradoxo de ensinar a
não ensinar.
o docente (P17) atribui a autonomia à própria profissão. O fato de
ser professor contempla a questão da autonomia. Porque na sala de aula o
docente realiza o trabalho so zinho, mesmo que, anteriormente, tenha recorrido aos
pares mais experientes ou se pautado em modelos de seus professores. O docente
escreveu o seguinte no questionário:
Acredito que a característica da profissão lhe autonomia em sala
de aula. Porém a autonomia financeira depende do mercado. (P17).
O mesmo docente mencionou a questão da autonomia financeira
que, para se efetivar, depende de um condicionante externo, o mercado. O professor
(P10) comentou que, pelo fato de ter uma grande demanda de profes sores, ao se ter
a formação se trafega na contramão. As palavras do docente na entrevista foram as
seguintes:
[...] mas essa contramão por quê? O excesso de cursos de mestrado,
o mestrado ficou meio fácil fazer. Então é um negócio que ampliou, e
você tem um aumento de professores no mercado, então acaba
puxando o salário para baixo [...] (P10).
Para o docente (P10), ao se preparar mais, passará a ganhar
menos. Não concordamos que excesso de cursos de mestrado, uma vez que os
números do Inep (2006) mos tram que ainda há a necessidade de formação de
muitos docentes. O censo de 2006 informou que somente 36,1% dos professores
das IES possuem mestrado.
No entanto, esse fator de que fala o professor (P10) pode ser
explicado pelo crescimento de oferta de cur sos de pós-graduação lato sensu.
Segundo Pimenta e Anastasiou (2002) essa titulação, em nível de especialização,
no mercado de empregos cumpre parcialmente a lei que regulamenta o Sistema
Federal de Ensino. Por outro lado, “também tem sido estimulada por i nstituições de
ensino superior, por significar salários mais baixos do que os que seriam exigidos
167
167
por titulados em cursos stricto sensu (p.41). Isso significa que professores
especialistas sem a titulação stricto sensu, custam menos para as IES privadas.
A terceira ou última questão da entrevista se configurou da seguinte
forma: “Pela sua experiência, o que você considera necessário/importante para que
a docência no ensino superior seja uma atividade com maior qualidade em relação
aos seguintes aspectos: p essoal, profissional e institucional”. É importante registrar
que alguns docentes se desviavam do foco da pergunta. Pensamos que uma das
explicações é o fato de não terem muito tempo para pensar a respeito. No entanto,
para outros, a questão foi muito sim ples e responderam rapidamente.
As falas dos docentes exprimiram as expectativas que sentem em
relação à instituição e como os aspectos pessoal e profissional se situam, dentro e
fora da instituição.
A questão das especificidades da instituição foi pauta presente nas
entrevistas. Alguns docentes que exercem o magistério superior ou outras
modalidades de ensino em diferentes instituições, explicaram:
[...] tem diferença de uma instituição para outra [...] cada qual com
suas próprias características [...] (P3).
[...] Cada instituição tem suas especificidades, suas particularidades
e suas exigências e temos que aprender a trabalhar em cada uma
delas. […] (P18).
[...] comecei em uma faculdade pública (2 anos), e depois ingressei
em faculdades particulares . Notei que, nas privadas, tive que
desenvolver minha didática para
mastigar
os conteúdos. Percebi
também que cada IES tem uma cultura; saber lidar com diferentes
culturas foi fundamental para mim de forma geral [...] (P19).
Os relatos expressam também o entendimento de outros docentes.
A maioria dos entrevistados relatou que cada IES tem suas peculiaridades, com
suas normas internas e sua cultura. O professor precisa conhecer a
operacionalização e a filosofia de trabalho da instituição na qual atua.
Um aspecto pontuado por outros docentes para a pergunta na
entrevista foi a questão da autonomia que a coordenação do curso delega aos
docentes. E o fato de a instituição oferecer essa possibilidade confere maior
responsabilidade à ação docente.
168
168
Particularmente essa instituição eu percebo que ela uma
liberdade razoável para nós professores. Eu gosto muito dessa
postura adotada pela instituição (P4).
Eu vejo que a instituição, por meio da coordenação, tem confiança no
meu trabalho, naquilo que eu faço […]. Quando trago uma proposta
nova, tenho a liberdade de aplicar, de executar, mesmo que não
atinja o esperado, que existe a situação do erro, mas devido à
liberdade, lógico a responsabilidade aumenta [...] (P18).
Para fundamentar a fala dos docentes pela val orizada autonomia,
citamos Pimenta e Anastasiou (2002, p. 217):
Ensinar é um projeto coletivo. Embora cada professor, em sua sala
de aula, possua autonomia para desenvolver sua disciplina, esta é
parte integrante de um percurso formativo dos alunos.
A autonomia apontada pelos docentes lhes possibilita decidir sobre
as várias situações em sala de aula, como a forma de desenvolver as aulas, os
recursos utilizados, os trabalhos de campo com os alunos, a avaliação, entre outros.
O ambiente institucional tamb ém mencionado por 4 docentes foi
enfatizado como um grande fator para a permanência dos docentes na instituição,
frente a muitos desafios, como falta de recursos básicos para o trabalho docente.
[…] o relacionamento que temos aqui na instituição com os co legas e
mesmo com os alunos […] não é nem em relação à palavra, mas o
compromisso que assumimos envolve muito a questão pessoal, o
ambiente de trabalho com os pares […] (P12).
[…] Institucionalmente, eu acho que é o ambiente de trabalho […] o
material que você tem de trabalho também. Às vezes chega a ser
mais importante do que o salário em si […] (P16).
[…] A nossa convivência num ambiente em que as pessoas se
respeitam e se gostam, também nos faz bem […] é preciso trazer o
pessoal (professores) junto p ara um ambiente de amizade, agradável
[…] (P17).
O ambiente pode proporcionar satisfação pelo reconhecimento dos
pares, dos alunos. Esse reconhecimento também é fundamental
(P18).
A questão ética, de compromisso com o aluno, com o ensino
também foi pontuada pelos docentes. Os docentes se expressaram de maneiras
169
169
diferentes, mas ficou muito evidente, durante a entrevista, o comprometimento como
educadores.
[...] a gente tem um compromisso, […] recebendo ou não vamos
desenvolver a aula, do mesmo jeito […] vamos nos empenhar,
buscar, correr atrás de material […] Uma das coisas é o sentido ético
que a gente tem […] (P12)
[...] o que acontece aqui eu também posso acrescentar a questão do
compromisso, do comprometimento com os alunos e com os outros
colegas professores [...] (P18).
O profissional está muito envolvido porque eu tenho que ter uma
participação política, eu tenho que ter ética, eu tenho que saber qual
é o meu papel aqui nessa instituição. […] (P20).
A educação exige um compromisso com aqueles que aprendem.
Nesse sentido Freire (2007, p.96) alerta: “Ensinar exige comprometimento”. Para o
autor esse compromisso é:
Saber que não posso passar despercebido pelos alunos, e que a
maneira como me percebam me ajuda ou desajuda no cumprimento
de minha tarefa de professor, aumenta em mim os cuidados com o
meu desempenho (FREIRE, 2007, p. 96).
O compromisso da profissão docente envolve aspectos humanos,
por isso as questões da dialogicidade, da interatividade e da reflexividade permeiam
a ação do professor (ALARCÃO, 2001).
O compromisso se revela também no depoimento do professor (P6).
A preocupação é com relação aos alunos que precisam de um trabalho pedagógico
paralelo. Segundo o docente, que trabalha com as turmas que estão prestes a se
formar, existem defasagens. Para o docente a formação deve ser criteriosa e não
deve ser resolvida ao fim de um curso de quatro ou cinco anos.
[…] Institucional eu acho então que deveria ter um trabalho com os
alunos para ficarem mais preparados, desde que iniciam a fac uldade
[…] mas não pode acontecer de modo isolado, tem que ser com a
participação de todos, da instituição e dos professores […] (P6).
Na colaboração da instituição, o professor (P8) tem o mesmo
cuidado que o professor (P6). Para o docente, a instituição deve promover formas
170
170
de trabalharem com o aluno nas suas dificuldades e em parceria com os outros
docentes, para ser mais produtivo e eficiente. Defende a mesma idéia o professor
(P12).
E a instituição ela pode colaborar dando mais condições para nós
professores trabalhar com os alunos […] nas deficiências desses
alunos […]. O trabalho que eu faço ou o que outro professor faz tem
que ser em conjunto […] sozinho o professor faz um trabalho de
formiguinha […] (P8).
A instituição precisa desenvolver formas de trabalharmos com os
alunos que chegam despreparados para o ensino acadêmico […] é
necessário o envolvimento dos pares, da instituição […] é importante
solucionar no início […] (P12).
Pimenta e Anastasiou (2002) esclarecem:
O inaceitável, entre profe ssores universitários, é estar
acompanhando alunos que entram com certas dificuldades concluem
seus cursos, obtendo um diploma com a nossa conivência, sem
terem superado as dificuldades inicialmente constatadas, mesmo
tendo passado quatro ou cinco anos na universidade. (PIMENTA;
ANASTASIOU, 2002, p. 239 -240).
As práticas docentes se bem conduzidas podem sanar as
defasagens apontadas pelos docentes, mas, para isso, alguns pontos devem ser
considerados. Os docentes mencionaram a questão de envolver os pares, o que
demonstra consciência de desenvolver um processo coletivo. Ainda se faz
necessária a reflexão docente para permear tais ações. Para Pimenta e Anastasiou
(2002, p. 258):
O alargamento intencional da compreensão do processo de se
construir continuamente como professor, da compreensão do
processo coletivo e da compreensão do aluno como parceiro é
essencial à reflexão dos docentes. Nesse sentido, os saberes da
experiência são tomados como ponto de partida e de chegada e
fundamentais na construção do processo identitário.
Nesse aspecto a questão da reflexão também pode promover
mudanças com vistas à qualidade da atuação docente. Freire (2007, p. 39) nos
auxilia nesse aspecto, quando afirma que “É pensando criticamente a prática de hoje
que se pode melhorar a próxima prática”
171
171
É interessante o relato do professor (P3) no aspecto pessoal. Sua
opinião é quanto ao relacionamento com o aluno. Para o docente não pode existir
barreira entre professor e aluno.
Pessoal, eu acho que o professor tem que se apro ximar do aluno,
tirar aquela barreira “eu sou professor, você é o aluno” […] é mostrar
que nós somos iguais, embora tenhamos um conhecimento maior
que ele, mas que estamos ali para auxiliá -lo […]. Com essa barreira
derrubada o processo de aprendizagem tamb ém é melhor, é a minha
opinião (P3).
Segundo Freire (2007), a postura do professor é de respeito ao
aluno, pois “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para
a sua própria produção ou a sua construção” (p. 47). A dimensão huma na também
se faz presente nessa questão porque “ensinar é uma especificidade humana”
(FREIRE, 2007, p. 91). No entanto, nem sempre o distanciamento entre mestre e
aluno é rompido, “quanto mais solidariedade exista entre educador e educandos no
trato
deste espaço, tanto mais possibilidades de aprendizagem democrática […]”
(FREIRE, 2007, p. 97) (grifo do autor).
Para o professor (P20) não como separar o eu pessoal do eu
profissional. Comunga com sua idéia o professor (P8). Ao entrar na sala de aula,
entra o professor e a pessoa do professor. O pessoal está aliado ao profissional.
Com outras palavras, outros professores emitiram a mesma opinião.
A questão pessoal eu acho que é gostar daquilo que faz. Se eu faço
aquilo que gosto me satisfação, vou fazer bem e o profissional
também vai ser bom (P19).
O pessoal é a pessoa fazer o que realmente gosta […] naturalmente
ela faz bem feito, porque é uma coisa que ela faz com prazer […] o
pessoal e o profissional eles estão bem relacionados, porque um
influencia no outro […] (P29)
E o pessoal e o profissional eles não podem se separar, […] não tem
como, é um equilíbrio necessário, você não pode descuidar de
nenhum […] (P4).
A explicação dos docentes nos remete à Nóvoa (1997), quando
afirma que não como separa r o eu pessoal do eu profissional, pois ambos se
inter-relacionam. Nessa perspectiva está a dimensão do que a pessoa estabeleceu
172
172
na sua trajetória pessoal e profissional, o seu processo de formação e as
experiências formativas construídas e a construir ao longo do percurso de sua vida.
A valorização do trabalho por meio da remuneração esteve presente
na fala dos docentes para explicar o aspecto profissional, trouxemos alguns relatos:
Profissional […] Com relação ao salário […], ocorreram algumas
discussões: Ah a gente não pode pensar só no salário! Mas, na
realidade o que está por trás do salário é a gente entender a nossa
valorização. […] (P12).
Agora, pessoalmente também eu vejo […] que precisa de uma boa
remuneração […] que depende […], porque voc ê tem vínculo em
mais de uma instituição e você gostaria de desempenhar outras
atividades […] e aqui você aula […] então depende muito de
cada professor […] (P17).
[…] porque o salário do professor hoje, a gente não pode negar que
ele é complicado, o professor, ele tem que ganhar bem […] eu
trabalho em instituições particulares […] não é fácil, principalmente
se a instituição é pequena […] (P29).
A desvalorização do trabalho docente não é de agora. No capítulo
que tratamos do ensino superior, percebemos essa desvalorização ao longo da
história da educação em nosso país. Na década de 1970, segundo Berbel (1994),
quantitativamente, ocorreram ações voltadas para a formação de docentes
universitários, que mesmo assim não atenderam de modo satisfat ório a formação
pedagógica. Entendemos que esta situação pode ter relação com a questão da
remuneração do professor.
Quanto ao aspecto institucional, na opinião do professor (P9), essa
ajuda pode ser barrada por conta da burocracia. Para o docente a bur ocracia
emperra o processo.
[…] você quer tirar cópias, por exemplo. Você assina um papel e
demora três dias […] eu vou lá, eu pago. […] Essa coisa de ter que
fazer a prova em tal dia […] é a morte profissional e a morte pessoal
[…] é antipedagógico, ens inamos aos nossos alunos a não ser
flexível […] eu tenho que seguir a instituição porque é a instituição
[…] eu tenho que seguir as regras, as normas […] (P9).
É possível perceber, com isso, que a qualidade do ensino o pode
estar centrada somente no pro fessor, outros condicionantes devem ser observados,
173
173
como o envolvimento institucional nas questões que permeiam as dificuldades dos
alunos, a formação permanente, bem como o desenvolvimento de projetos como
pontua outro docente.
A instituição, ela tem que viabilizar os docentes para a participação
em projetos de extensão da instituição. A instituição deve promover
isso […] eu participei de duas avaliações do MEC e os avaliadores
sempre bateram na mesma tecla, que, mesmo em faculdade
pequena, é importante desenvolver projetos, fazer pesquisa […] P19.
A contribuição da instituição para a formação docente foi outro
elemento citado pelos docentes. A opinião dos professores é que há necessidade de
constante atualização e formação docente. O professor (P7) exp lica que, se a
instituição possibilitar aos docentes a atualização, a formação etc., isto repercutirá
em favor da instituição. No caso do professor (P11), a contribuição da instituição
também é na formação. A questão pedagógica é crucial, pois não o alu no é
contemplado, mas o nome da instituição. O professor (P4) esclarece que, suprindo
as necessidades de formação docente, a qualidade do ensino tende a melhorar. Da
mesma forma pensa o docente (P3). Vejamos seus relatos:
A pessoa tem que sempre estar em desenvolvimento, […] estar
sempre se atualizando, olhando o que há de melhor nas práticas, nas
tendências mercadológicas para trazer para o ambiente acadêmico
[…] do mundo mercadológico, do mundo administrativo. Enfim,
conciliar uma coisa com a outra […] a pessoa que pensa assim ela
se desenvolve pessoalmente e profissionalmente e também traz
nome para a instituição […] (P7).
[…] penso que a questão da formação dos profissionais é
fundamental […] nisso a instituição pode colaborar […] às vezes o
professor pode saber muito, mas não sabe desenvolver para o aluno
[…] esse aluno se forma em uma instituição […] (P11).
Para a instituição, uma sugestão seria na formação pessoal do
professor, questões como equilíbrio emocional, questões como
técnicas didáticas, realmente um apoio pedagógico para melhorar a
qualidade do ensino […] (P4).
[…] para melhorar a qualidade é a questão da pós -graduação, do
mestrado, depois o doutorado […] porque na minha opinião a gente
estuda muito, muito […] isso é muito bom para a qualidade do
ensino superior e facilita você professor se expressar, você escrever
[…] Para melhorar a qualidade do ensino é sempre o professor estar
se aperfeiçoando […] (P3).
174
174
Ao promover os espaços de interação entre as dimensões pessoal e
profissional, a instituição possibilita aos docentes apropriarem -se de seus processos
de formação (NÓVOA, 1997). Alarcão (2001), voa (1997) e Pimenta e Anastasiou
(2002) apontam que o espaço escolar é o lócus privilegiado para a formação e o
desenvolvimento profissional.
A questão da formação é fundamental para a qualidade do trabalho
docente. Freire (2007, p. 23) alerta: “[...] quem forma se forma e re -forma ao formar
e quem é formado forma -se e forma ao ser formado [...]”.
O professor (P14) considera que um bom trabalho docente
retorno à instituição. Nas questões pessoal e profissional, defende o reconhecimento
pelo trabalho docente desenvolvido.
Pessoal e profissional, você é valorizado pelo seu trabalho, pela
forma como você atua em sala de aula. O retorn o vem para a
instituição. A consequência disso é o retorno para a faculdade em ver
o seu aluno formado. Quando eu participei da banca de TCC,
tivemos trabalhos comprados. Fomos atrás para saber onde
conseguiram comprar. Simulamos que queríamos comprar um
trabalho […]. Teve um pessoal da instituição que foi atrás. […] O
escritório tinha uma equipe de advogados para fazer trabalhos
acadêmicos […] é preciso seriedade naquilo que nos propomos a
fazer (P14).
Neste sentido Imbernón (2006, p.47) nos oferece uma explicação:
Considerar o desenvolvimento profissional mais além das práticas de
formação e vinculá-lo a fatores não formativos e sim profissionais
supõe uma redefinição importante. Significa também analisar a
formação como elemento de estímulo e de luta pelas melhorias
sociais e profissionais e como promotora do estabelecimento de
novos modelos relacionais na prática da formação e das relações
com o trabalho.
É Importante enfatizar que muitos alunos que buscam formação
acadêmica frequentemente estão ma is preocupados com a formação profissional
para o mercado de trabalho. Mas nem por isso o docente deve abdicar de outras
questões como as sociais. Para entender a dimensão dessas práticas, a questão da
formação se configura como um possível caminho.
Na questão número 8, os professores puderam recorrer a mais de
uma alternativa, enumerando em ordem de prioridade. A questão versou sobre:
175
175
“Qual a principal função do ensino na atualidade?”, conforme mostra o Quadro n. 7 a
seguir:
Ordem e nº das escolhas
Alternativas
2 ª
Preparar o aluno para o mercado de trabalho
4
3
3
2
0
Produzir e propagar conhecimento
4
1
4
1
3
Formar indivíduos críticos, participativos e
envolvidos politicamente
5
7
4
0
0
Preparar o aluno para aprender a aprender e
articular a evolução tecnológica do país para
competir no mundo globalizado
3
3
1
4
0
Formar cidadãos que objetivam construir e
participar de uma sociedade mais justa e
igualitária
2
3
4
2
3
Outra (s)
Quadro 7 - Principal função do ensino universitário na atualidade na opinião
dos docentes iniciantes
As respostas dos docentes foram diversificadas. “Preparar o aluno
para o mercado de trabalh o” teve a preferência de 4 docentes como primeira opção,
foi assinalada como segunda e terceira opção por 3 docentes e 2 a escolheram
como quarta opção.
Esse resultado não é surpreendente, pois os alunos buscam nos
bancos acadêmicos a formação profissiona l. O mercado competitivo exige uma
formação e impulsiona as pessoas a buscarem na escolarização a preparação para
o mercado de trabalho. Vale lembrar que os bancos acadêmicos não são mais
ocupados pela faixa etária de 18 a 24 anos. Esse aspecto foi coment ado
anteriormente.
É oportuno também comentar o que escreveu o professor (P3):
“Tudo isso depende do aluno, não apenas do ensino superior”. Na entrevista o
docente explicou:
[…] os alunos precisam entender que a graduação exige uma
postura diferente do Ensino Médio […] precisam se envolver, assumir
176
176
responsabilidade […] entender que se trata de uma graduação, na
qual se tornarão profissionais […] (P3).
O relato do professor expressa o que comentou outro docente, o
professor (P8), em relação a isso. Pim enta e Anastasiou (2002, p. 215) explicam que
é importante auxiliar os alunos com desafios, estímulos, para que tomem
consciência das necessidades sociais que requerem uma formação universitária.
Para isso, é preciso considerar a real necessidade desses al unos na relação com o
objeto de aprendizagem. A questão exige também participação e articulação coletiva
de propostas entre docentes e instituição
A questão seguinte, “produzir e propagar conhecimento”, foi
assinalada como primeira opção por 4 professore s. Apenas 1 docente a escolheu;
como terceira, 4 docentes; como quarta, 1 docente; como quinta, 3 docentes a
escolheram.
A questão, de certo modo, tem relação com o que os docentes
entendem sobre pesquisa. Pelo fato de ser uma instituição pequena, conform e o
desenvolvimento do estudo, verificamos que os docentes dedicam poucas horas à
instituição, e em grande parte delas em sala de aula. Desse modo, não tempo
para o envolvimento com a pesquisa e com divulgação da mesma. O professor (P10)
tem essa opinião. Seu argumento é a não valorização docente. O professor (P19)
argumenta que mesmo a instituição particular tem que se envolver com projetos e
com a pesquisa, mas, para isso, é necessário valorização por meio da remuneração,
mesmo que pequena.
Na alternativa seguinte, “formar indivíduos críticos, participativos e
envolvidos politicamente”, ficaram mais evidentes as escolhas dos docentes, pois 5
professores a assinalaram como prioritária. Nessa mesma questão, como segunda
opção, o número foi maior, pois 7 p rofessores a escolheram. Foi assinalada como
terceira opção por 4 professores.
Nesse aspecto, percebemos que os docentes deixam a entender
que os alunos não são participativos e críticos. Pimenta e Anastasiou (2002, p. 241)
argumentam que estudos em algum as IES isoladas mostraram que os alunos sabem
bem apontar situações em que a crítica ficou evidente. O problema, segundo as
autoras, recaiu exatamente sobre as condições da prática docente, destacando
pontos essenciais do sistema de ensino percebidos pelos alunos.
177
177
A alternativa “preparar o aluno para aprender a aprender e articular a
evolução tecnológica do país para competir no mundo globalizado” foi prioridade
para 3 docentes; Três professores a definiram como segunda escolha; Um professor
a considerou como terceira opção; Quatro docentes a elegeram como quarta
preferência e não ocorreu nenhuma citação como quinta escolha.
Os docentes consultados explicaram que os alunos chegam à
instituição com defasagem de conteúdos do ensino médio e fundamental. Por s uas
respostas, colocar esses alunos nessa perspectiva não constitui tarefa fácil. Bem
lembram 2 docentes que é uma satisfação esses alunos avançarem, evoluírem.
Mas, para colocá-los num nível de competitividade, é necessário que a instituição e
os docentes se mobilizem, com novas práticas, novas formas de envolver esses
alunos, conforme propostas de Pimenta e Anastasiou (2002) com vistas a superar
tais deficiências.
Em relação à questão seguinte: “formar cidadãos que objetivam
construir e participar de uma sociedade mais justa e igualitária”, não foi possível
fortalecer uma definição, pois os docentes ficaram divididos. Como primeira escolha
teve a preferência de 2 docentes. Como segunda opção foi a escolha de 3
professores. Quatro professores a assinalara m como terceira escolha. Dois
decidiram como quarta e 3 professores colocaram como última escolha.
Acreditamos que a questão significa também o envolvimento com a
pesquisa. Bem vimos no desenvolvimento do estudo que esse aspecto apesar de
citado por poucos docentes, não tem sido relevante dentro da instituição, pois faltam
propostas para viabilizar o desenvolvimento da pesquisa.
Ponderamos que o contexto atual exige profissionais que possam
lidar com as mais variadas situações e incertezas. Pensando dessa forma, a questão
do desenvolvimento pessoal e profissional é fundamental. Nas palavras de Alarcão
(2001, p. 10), é possível resumir tais aspectos:
Neste contexto de profunda mudança ideológica, cultural, social e
profissional aponta-se a educação como o cerne de desenvolvimento
da pessoa humana e da sua vivência na sociedade, sociedade na
qual se espera um desenvolvimento econômico acrescido de uma
melhor qualidade de vida. Nesse mundo de maravilhas, vive -se
também o risco e a incerteza.
178
178
A autora discute a questão de desenvolvimento da pessoa humana.
Se pensarmos que o ensino é uma especificidade humana, o docente não pode
ignorar seu papel e responsabilidade nesse sentido. Para tanto precisa estar em
constante formação e em reflexão compartilhada com se us pares na busca de
possibilitar soluções para os dilemas e desafios que enfrenta na tarefa educativa.
É interessante situarmos a questão, pois os docentes que
participaram da pesquisa de um modo geral responderam a isso com as sugestões
da questão de número 7 do questionário. As sugestões foram diversificadas, mas
ficou evidente a questão da capacitação por meio de estudos, leituras e formação
continuada, o que reforça os dados do questionário e os relatos das entrevistas que
apontam a continuidade da for mação para atuação docente no ensino superior.
Vejamos alguns relatos:
Estudar cada dia mais para ir à sala de aula preparado e buscar
cursos, técnicas para melhorar a parte pedagógica (P2).
Buscar uma capacitação diferenciada na área de pedagogia e ou d e
comunicação (P4).
Que busquem atualizar seus conhecimentos através de
aprofundamento de seus conhecimentos científicos, especificamente
cursando especializações stricto sensu. (P6).
Sugiro o caminho do mestrado e doutorado (P15).
Sugiro realizar mestrado, ou ao menos uma pós em metodologia da
ação docente. Mas acredito que o mestrado é que legitima o
professor de nível superior (P19).
[...] que busquem uma formação específica na área, que leiam
materiais (livros, artigos,...), que favoreçam noções b ásicas para
atuarem de forma efetiva (P12).
As sugestões dos professores revelam os caminhos possíveis para
uma formação para a ação docente no ensino superior. Nesse sentido, outros relatos
se destacaram:
Buscar uma forma de se desenvolver para se adapt ar ao ensino de
nível superior (P7).
179
179
Se abrir para aprender coisas com os alunos. Acho que eles, sem
saber, nos ensinam muito, porém temos sempre que estar abertos a
eles. Tanto dos elogios como das críticas. Isso é essencial (P9).
A posição do docente é de não ficar acima dos alunos, mas, como
nos alerta Freire (2007), ao explicar que o educador deve ser humilde e persistente:
“Não docência sem discência […] Quem ensina aprende ao ensinar e quem
aprende ensina ao aprender “ (FREIRE, 2007, p.23).
Tanto esta proposta quanto as demais, de alguma forma, não
diferem do que propõe o professor (P9). As ações dos docentes visam um trabalho
docente no qual o aluno seja o agente no processo ensino/aprendizagem.
No meu caso eu fiz CEMAD/UEL, antes de começar a dar aula e isso
me ajudou muito; então sugiro aos professores que procurem alguma
especialização nesse tipo (P16).
Não conheço cursos específicos para tal. Seria importante termos
cursos de formação pedagógica para todos os professores do curso
superior (P17).
Que conversem com professores experientes (P12).
São diferentes olhares que observamos, mas almejam a qualidade
do ensino. Nos depoimentos seguintes, a ideia se fortalece para um objetivo comum,
a qualidade para o trabalho na docência do ensino su perior:
Entrarem em um grupo de pesquisa/estudo de sua área de atuação
(P18).
Não encarar a docência como uma “atividade complementar do
orçamento”; procurar compreender como ocorre a aprendizagem,
com base nas teorias que explicam o movimento cognitivo dos
alunos; ir em busca de formação didático -pedagógica e de
conhecimentos metodológicos; d) manter o sonho e o entusiasmo,
pois sempre vale a pena investir tempo e trabalho naquilo em que se
acredita (P20).
Na entrevista, tais aspectos foram discutidos n o desenvolvimento do
texto, conforme se identificavam com outras questões do questionário ou da
entrevista.
180
180
No questionário, além das perguntas, também foi proporcionado aos
professores consultados um espaço livre para comentar ou acrescentar o que
quisessem. Nesse sentido, destacamos o relato de 3 docentes. Nessa etapa, no
entanto, 14 professores nada responderam. Porém outros docentes se colocaram à
disposição concedendo as entrevistas. Além disso, um dos docentes consultados, no
questionário se referiu ao estudo como uma “ótima pesquisa” e frisou sua fala na
entrevista ao colocar que se trata de um assunto interessante e necessário para os
docentes do ensino superior. Vejamos os relatos:
[…] Estamos vivenciando um
apagão educacional
em que as
instituições adotam técnicas e estratégias de mercado e os alunos e
profissionais são tratados como mercadorias e atendentes
respectivamente (P15) (grifo do autor).
Não pudemos avançar mais no relato do docente, pois não o
tivemos entre os entrevistados. Entretant o seu desabafo é oportuno e revela uma
face sombria da educação superior. Sabemos que as instituições particulares
dependem das mensalidades dos alunos e não podemos negar que visam à
obtenção de lucro. Entretanto, atualmente, vem ocorrendo uma perda desse s alunos
pelas IES particulares, tanto por inadimplência como pelo acesso. Os alunos não
entram porque não podem pagar. Quando as turmas são formadas, normalmente
são salas numerosas, com 60 alunos ou mais, dificultando o trabalho docente e o
aprendizado dos alunos. O investimento na produção de conhecimento e a
valorização docente ficam negligenciados. Tais aspectos foram mencionados em
análises anteriores.
Por outro lado, docentes cujos olhares estão mais preocupados
com o processo de ensino/aprendi zagem. O argumento do professor (P29), por
exemplo, revela esse aspecto:
O docente não pode pensar que, com o passar dos anos de
experiência e titulações, o aluno também pode ser mais explorado.
Ele (docente) deve sempre pensar que aquele sujeito (aluno) está
começando a delinear uma profissão e precisa começar do básico
(P29).
Ao esclarecer a questão, o docente explicou que muitos professores
têm seus títulos, são doutores no assunto e se esquecem que os alunos não
181
181
dominam, muitas vezes, até conhecimento s básicos. No processo
ensino/aprendizagem, é preciso detectar o que o aluno sabe e o que ainda não sabe
sobre o tema ou assunto trabalhado para êxito da aprendizagem.
[...] O título é uma coisa, agora o professor praticar essa docência ter
uma visão didática, uma metodologia de ensino é totalmente
diferente [...] (P29).
Lembramos aqui o depoimento de um professor quando explicou
sua demora com os conteúdos por retomar conceitos anteriores. Em outras
situações a necessidade de envolver o grupo de prof essores e a instituição para
viabilizar essas questões realizando um trabalho com esses alunos que apresentam
deficiências de conteúdos. Segundo Pimenta e Anastasiou (2002), o professor
doutor ou não precisa ter essa sensibilidade para não julgar e condena r o aluno,
mas possibilitar sua aprendizagem. Para isso precisa conhecer os alunos e se
comunicar com eles. Em se tratando de comunicação, o professor (P4) faz uma
interessante sugestão:
Sugiro a utilização da programação neurolínguística como ferramenta
de autoconhecimento e de boa comunicação para a formação do
docente, pois atualmente curso pós -graduação na área e posso
confirmar sua eficácia (P4).
O que observamos é que as sugestões apresentadas são propostas
para tratar de situações do dia a dia da s ala de aula, nas quais os docentes sentem
ou sentiram na própria pele as dificuldades e os desafios.
Apesar de os docentes possuírem experiências significativas na sua
área de conhecimentos, o que lhes falta é uma formação específica para o que seja
o processo ensino/aprendizagem, mas mesmo assim, respondem por este assim
que entram em uma sala de aula (PIMENTA; ANASTASIOU, 2002, p. 37). A busca
para suprir essa formação por meio de cursos ou mesmo uma formação contínua
acontece por iniciativas e compromiss os individuais (MOROSINI, 2001).
Os docentes consultados nesta pesquisa demonstraram
solidariedade ao participarem de nosso estudo. Alguns se expressaram de modo
direto, conforme relatos:
182
182
Apenas me coloco à disposição. Espero ter ajudado (P9).
Coloco-me à disposição para qualquer esclarecimento mediante
entrevista (P16).
Os professores se mostraram interessados também pelo resultado
do estudo, pois desejam sanar as deficiências e superar os desafios, para isso
buscam respostas.
A formação pedagógica, a liada à reflexão individual e compartilhada,
se constitui como um dos caminhos dessa superação. Nessa perspectiva
reservamos o que relatou na entrevista um de nossos docentes consultados. A
sugestão do docente, no caso da instituição, é a integração dos 3 cursos. Cada um
deve ter sua participação sem perder sua especificidade. Sua ideia vai ao encontro
das propostas apresentadas por Nóvoa (1997; 2002) e Imbernóm (2006), no que se
refere à reflexão compartilhada. O professor argumenta que, pelo fato de se tr atar de
uma instituição pequena, sua sugestão é viável.
[...] em alguns momentos precisamos nos reunir para discutir os
problemas que cada um tem e encontrar uma solução coletiva. [...]
nos outro cursos que não tem o foco bem definido poderiam se
colocar também (Administração e Direito) [...] seriam diferentes
visões para o mesmo fato. O curso de Pedagogia tem um foco bem
definido que é trabalhar com a educação infantil e as séries iniciais
[...] temos aqui um campo favorável porque temos uma escola de
ensino fundamental [...] Por exemplo, a questão da indisciplina no
ensino fundamental, qual o olhar do administrador sobre o problema?
Qual o olhar do pessoal de direito para o problema? [...] cada um
dentro de sua área propor soluções [...] seria um forma d os cursos
estarem integrados no que é o processo de ensino e educação [...]
não seria difícil porque o direito lida com questões de violência
familiar que a escola também lida [...] os atores seriam diferentes [...]
o direito poderia trabalhar com o pai e a mãe [...] teria uma influência
direta no que estas pessoas prestam [...] assim se estudaria casos
com diferentes olhares [...] se faria uma ponte se pensarmos em
produção intelectual [...] nós temos nos autores soluções que
conta dos problemas que viv enciamos, mas essa produção
intelectual ela não sai do livro, da revista [...] para intervir nessa
realidade, isso acaba declinando na qualidade [...] como eu faço essa
transposição dos autores e como isso volta para a realidade [...] às
vezes nem volta [...] seria uma forma de melhorar a qualidade
fazendo essa integração (P20).
É interessante a proposta apresentada pelo professor (P20), pois
outro professor lembrou na entrevista que, nas duas instituições que trabalha, houve
183
183
a avaliação do MEC e os avalia dores bateram na mesma tecla: desenvolver projetos
de pesquisa. Em suas palavras: “mesmo a faculdade pequena é importante
desenvolver projeto, fazer pesquisa” (P19).
A sugestão pontuada pelo docente (P20) se configura como uma
possibilidade a ser pensada e administrada pelos coordenadores e docentes dos
três cursos. A busca pela qualidade do ensino requer uma mudança de postura não
na questão da reflexão, mas também no esforço coletivo de todos os envolvidos
com o ensino, frente às adversidades do contex to atual.
4.1 D
ISCUTINDO AS FALAS
,
OS MEDOS
,
OS ANSEIOS
...
Considerar a própria realidade, e nela atuar, se constitui como um
campo profícuo para desenvolver ações que possam contribuir para a qualidade do
ensino oferecido pela IES. Os diálogos com os autores revelaram possibilidades de
soluções, assim como os próprios docentes entrevistados pontuaram algumas
sugestões. Entretanto, algumas ações, para serem implementadas dependem de
mudanças nas políticas públicas para alcançarem maior amplitude.
Acreditamos que o trabalho revela algumas carências,
necessidades, problemas e desafios que permeiam o universo do professor iniciante
no ensino superior. Quando nos propusemos a investigar os problemas/desafios
enfrentados pelo professor no início da docênci a no ensino superior, sentimos na
pele o choque com a realidade de que fala Veenman ( apud MARCELO GARCIA
1999).
Buscamos viabilizar a pesquisa nos aproximando dos docentes
iniciantes por meio de um questionário e convite para uma entrevista. As repostas
obtidas, acreditamos, foram de certa forma ao encontro do problema proposto: quais
são os problemas/desafios enfrentados pelo professor no início da docência no
ensino superior? Apesar de não fornecermos receitas ou modelos para resolver os
problemas, obtivemos, nos relatos e depoimentos dos docentes, evidências sobre as
situações que os afligem, bem como seu posicionamento com sugestões para lidar
com essas questões. Desta forma, podemos considerar que alcançamos nosso
objetivo maior que foi o de analisar o processo de desenvolvimento profissional do
184
184
professor iniciante no ensino superior, identificando problemas e desafios
vivenciados, com vistas ao aprimoramento da atuação docente neste nível de
ensino.
Com o apoio da literatura, as questões que emergiram com a
pesquisa mostraram que as situações que acometem os docentes não são
exclusivas de nosso país. Os estudos apontam que as soluções são possíveis, mas
serão dignas de êxito se as IES, os docentes e as políticas blicas atuarem em
conjunto. O estudo revelou que os problemas, as deficiências, as carências do início
da docência na educação superior existem e, por isso, é fundamental uma atenção
nesse sentido.
Autores como Tardif (2005) e Marcelo Garcia (1999) enfatizam que
no início os docentes são ac ometidos por uma grande insegurança. A insegurança
pontuada pelos docentes deste estudo se refere à falta de experiência como
professores uma vez que não tiveram uma formação especifica para atuar no ensino
superior. Outros docentes alegam que a experiênci a profissional é que lhes
possibilita exercer a docência com qualidade. As opiniões sobre o papel da
experiência profissional foram contraditórias, pois, para alguns docentes, uma
minoria, essa experiência é que lhes possibilita ser um bom professor. Para outros, a
experiência por si não é suficiente e a formação pedagógica também é
necessária. Nesse aspecto, podemos dizer que os demais docentes a consideraram
fundamental para a prática docente universitária.
Foi possível constatar também que a grande ma ioria desses
docentes está preocupada com sua formação, e que um comprometimento por
parte deles em apontar alternativas possíveis no sentido de melhor qualificar o
trabalho docente para que os alunos tenham uma formação acadêmica compatível
com o esperado nesse nível de ensino. As questões éticas se expressam na postura
dos docentes nessas questões. O comprometimento com o trabalho educativo foi
significativo, pois foi enfatizado por vários docentes.
Pudemos verificar que os docentes se preocupam com o s alunos
que chegam aos bancos acadêmicos desprovidos dos conhecimentos básicos para
cursar uma graduação. Consideram a possibilidade de trabalhar com esses alunos
para que tenham condições de ter suas necessidades supridas para acompanhar os
conteúdos acadêmicos. Além disso, vários docentes confessaram a dificuldade em
avaliar os alunos no seu aprendizado.
185
185
A heterogeneidade e a diversidade dos alunos foi assunto em pauta.
Os docentes se dizem despreparados para lidar com os diferentes interesses em
sala de aula, bem como trabalhar com turmas numerosas.
A não valorização do trabalho docente, por meio de uma melhor
remuneração, foi um elemento destacado entre alguns docentes. No entanto, além
da desvalorização geral que assola o magistério em todos os níveis em nosso país,
não podemos ignorar o contexto desta instituição privada que atravessa um
momento incerto com a redução de alunos nos bancos acadêmicos, também
pontuada pelos professores pesquisados.
Mesmo assim, observamos que os docentes ingressam no en sino
universitário, pois isto confere status profissional, uma vez que o profissional atuante
no ensino superior é bem sucedido na área em que atua. Constatamos que, até
bem pouco tempo, muitos professores eram alunos e iniciaram no magistério
superior sem uma formação específica para seu exercício.
Bastante significativo foi o fato de a maioria dos participantes da
pesquisa revelarem que sempre foi seu desejo ser professor, mas os resultados das
análises mostraram que os docentes, de um modo geral, sent em a falta de uma
formação pedagógica específica. É interessante observar que os docentes têm essa
deficiência algumas vezes de forma inconsciente, mas ao se depararem com as
situações que lhes são postas, passam a identificá -la e a ter consciência desse
aspecto e da necessidade de buscar uma formação.
A questão do domínio de conteúdo é um aspecto considerado
relevante para os docentes iniciantes, pois acreditam que dominar os conteúdos é
fundamental para a realização do trabalho docente. O conteúdo é impo rtante,
entretanto o modo como esse conteúdo é desenvolvido com os alunos é que
diferencia em termos de qualidade, por isso apontam a questão da formação
pedagógica.
A necessidade do uso da tecnologia a serviço do ensino foi um
ponto mencionado por alguns professores. Os docentes explicam que é importante
se atualizar tecnologicamente e usufruir dos benefícios dessa ferramenta.
A administração do tempo na sala de aula foi um aspecto levantado
por alguns docentes. Outro ponto nessa questão do tempo foi a f alta desse tempo
para o preparo das aulas e de estudo do professor, que precisa aprofundar os
conhecimentos.
186
186
Muito enfatizada também foi a continuidade da formação na pós -
graduação. Os docentes, em sua grande maioria, defendem a continuidade nos
programas stricto sensu, como mestrado e doutorado para melhorar a sua atuação
docente. Alegam que a formação na graduação é insuficiente para a atuação no
magistério superior e desconhecem a responsabilidade das IES para com a
formação docente. O que acontece são iniciativas isoladas ou individuais para a
complementação da formação. Nesse sentido, a maior parte deles mostrou -se
favorável a continuar com a sua formação.
Os docentes das IES privadas geralmente são contratados por
regime de hora aula, pois trabalham em outras IES ou possuem uma profissão
paralela. Isto dificulta o envolvimento com a instituição para o desenvolvimento de
projetos de pesquisa. Além disso, IES com oferta de poucos cursos não conseguem
a dedicação exclusiva, mesmo de uma minoria de docent es, para viabilizar essa
questão.
Hoje, a faculdade privada é a grande empregadora dos professores
do ensino superior. Nesse aspecto, a oportunidade que a instituição de ensino
concedeu contratando professores inexperientes para a docência universitária f oi
lembrada pelos docentes, que agradeceram o fato e expressaram o desejo de
continuar no magistério superior. Somente um docente disse não ter gostado da
área acadêmica, mas a explicação que deu se refere ao desinteresse dos alunos.
Esse aspecto foi discutido remetendo à questão da formação docente.
Na questão da autonomia docente, prevaleceu o conceito de que
esta é um processo, é uma construção e se desenvolve com a experiência adquirida
no exercício da própria docência. À medida que o docente lidar com diferentes
situações e tomar decisões no cotidiano da sala de aula irá, conquistando a sua
autonomia, que deve ser complementada com a contínua formação.
Como dissemos Freire (2007) enfatiza que as experiências nos
possibilitam tornarmo-nos autônomos. A reflexão se faz necessária nas ações
docentes, tanto individual como compartilhada. Essa questão da reflexão ainda não
se revelou como consciente entre os docentes, apesar de demonstrarem sua prática
em situações do cotidiano da sala de aula, ao reformul arem suas práticas educativas
em função do que consideraram que poderiam melhorar.
Os professores expressaram também que o diálogo, a troca de
experiências com os pares se configuram como de grande importância na atuação
187
187
docente. É o que defende Nóvoa (1997). Eles estão certos, pois o trabalho coletivo
ganha força. Ao compartilhar idéias, trocar experiências, promoverem ações em
conjunto, as possibilidades de êxito são maiores, pois as iniciativas isoladas são
mais difíceis de serem concretizadas.
Lembramos ainda que os participantes da pesquisa se mostraram
interessados pelo o estudo e, manifestaram desejo de ter acesso aos resultados da
pesquisa como forma de obterem respostas para os seus anseios. Os docentes
também reconhecem suas necessidades e carênc ias, mas acabam atribuindo ora
para si, ora para os alunos os problemas decorrentes do exercício do magistério
superior.
Para a superação desses e de outros problemas/desafios, há a
necessidade de uma conscientização geral e de um compromisso por parte de todos
os envolvidos com este nível de ensino, assumindo as lutas necessárias em prol do
aprimoramento das práticas pedagógicas no ensino superior.
4.2 D
ESAFIOS
D
A
F
ORMAÇÃO
D
O
E
NSINO
S
UPERIOR
: A
LGUNS
C
AMINHOS
P
OSSÍVEIS
Quando se trabalha com a educaçã o e se tem compromisso com o
ensino, pensar os caminhos e possibilidades é fundamental para reverter uma
situação que revela deficiência e necessidades, mas não é uma condição suficiente.
Esse pensar não pode acontecer de forma isolada, mas integrado com o s envolvidos
para buscar respostas e soluções. Uma possibilidade é buscar no conhecimento
elaborado as explicações, as respostas para as situações que precisam ser
modificadas. No entanto “precisamos reconhecer que a ciência não nos explica o
mundo, não nos revela a verdade, apenas nos aproxima dela” (VASCONCELLOS M.
M., 2005, p. 310). Nesse sentido, os estudos, as pesquisas, os debates respaldados
pela ciência têm o seu valor na busca para a qualidade do ensino.
Uma iniciativa interessante, oportuna e que merece ser considerada
foi o evento Educação Superior em Debate Volume 5, realizado em Brasília, nos
dia e 2 de dezembro de 2005. Desse evento participaram nomes conceituados
que trabalham ou tratam de ações direcionadas ao ensino superior como: R eynaldo
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188
Fernandes do INEP/MEC; Dilvo Ristoff da DEAES – Diretoria de Estatísticas e
Avaliação da Educação Superior, do INEP/MEC; Jaime Giolo do INEP/MEC; Marilia
Costa Morisini do CNPq e da ANPED Associação Nacional Pós -graduação e
Pesquisa em Educação, da /PUC Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande
do SUL; Silvia Maria de Aguiar Isaía da UFRGS Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, UFSM da Universidade Federal de Santa Maria e do CNPq; Ilma
Passos Alencastro Veiga da UnB Universidade de Brasília, do Centro Universitário
de Brasília e do CNPq; Graziela Giuste Pachane Unitri Centro Universitário do
Triângulo; Léa das Graças Camargo Anastasiou da UNOESC, Vera Lúcia Bazzo
UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina, entre outros.
Os vários docentes, especialistas que dominam um vasto
conhecimento e possuem uma ampla experiência com o ensino superior, se
reuniram e, juntos, debateram ideias no sentido de contribuir para a qualidade desse
nível de ensino. Visualizaram as várias defic iências, carências, necessidades e
possibilidades em busca de melhor qualificar o magistério superior. É o que revelou
o evento promovido pelo INEP. O mote do encontro foi a docência universitária.
Morosini (2006) argumenta que um dos objetivos das mesas -
redondas era integrar os olhares entre governo e pesquisadores. A intenção foi
lançar um olhar mais apurado sobre os dados dos cadastros dos docentes para que
os pesquisadores fizessem estudos analíticos para pensar a educação brasileira. Os
dados se referem ao cadastro dos docentes que ministravam disciplinas e/ou
estivessem ligados a alguma IES no país.
É uma desafiante oportunidade se considerarmos o
desconhecimento sobre a matéria numa realidade sistema de
educação superior, extremamente mutável e e m explosão numérica
e diversificada. Assim será muito proveitoso para nós investigadores
e o Inep e, obviamente, para a nação brasileira se pudéssemos
incluir alguma perguntas sobre o pedagógico no próximo cadastro
(p.306).
Com os dados em mãos, os espe cialistas, oriundos de todas as
regiões do Brasil, buscariam a identificação de um perfil dos docentes em muitos
aspectos. Segundo Morosini (2006) seria uma oportunidade para aprimorar o
instrumento utilizado pelo INEP, para colaborar na elaboração de polí ticas públicas e
de questões sobre a capacitação pedagógica dos docentes.
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O referido instrumento, segundo Giolo (2006) é o cadastro docente
que o INEP encaminha para as IES, que os consolidam. É obrigatório, sob pena de
terem suspensos seus cursos, de tere m negado o pedido de autorização de novos
cursos e adesão ao PROUNI e FIES.
Um ato legal estabelece cada instrumento, bem como o seu
preenchimento e determina uma punição pelo não cumprimento. Todas as
instituições, atualmente, têm dois pesquisadores inst itucionais, responsáveis pelo
preenchimento dos cadastros: da instituição, dos cursos, do censo e do cadastro
docente. É com estes pesquisadores que o INEP se comunica, mas o reitor da IES é
o maior responsável pelas informações (GIOLO, 2006).
Anastasiou (2006) indica haver a necessidade de informações mais
detalhadas sobre o ingresso do docente nas IES, bem como sobre a sistematização
dos saberes adquiridos, se em mestrado ou doutorado, e as horas dessa formação,
pois, “às vezes, em nenhum momento do mest rado ou doutorado estes saberes
foram sistematizados” (p. 316). Além disso, propõe compor o instrumento com
informações sobre a formação inicial ou continuada do docente se esta prossegue
na instituição e de que forma: palestra, grupo de estudo, estudo pe ssoal etc.
Nessa mesma linha de pensamento, Dias Sobrinho (2006) sugeriu
também incluir no instrumento detalhes de como o docente inicia o magistério
superior, sua formação, quando iniciou, se houve alguma formação específica, se a
IES tem preocupação com capacitação docente, além de questionar outros dados a
respeito do professor, suas leituras, lazer etc. Por sua vez, Giolo (2006) respondeu
que acredita ser possível e que verificaria junto à área jurídica a possibilidade de
anexar essas informações ao c adastro docente. Caberia à instituição zelar pela
aplicação do instrumento que poderia ser bianual.
Para que o fique na coleta de dados, Giolo (2006) ressalta que
a ideia é reunir os grupos de pesquisa do Brasil para analisar todos os dados
disponíveis. Seriam grupos articulados com o INEP, mas com incentivos para
realizar esse trabalho. “Talvez o próprio INEP tenha condições de fazer isso. Fazer
um edital para determinados estudos, por exemplo, e publicar os resultados” (p.
318).
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Além das discussões elencadas, Bazzo (2006) anotou algumas das
propostas resultantes dessas mesmas discussões:
Necessidade de formação inicial para os professores de ensino
superior, na pós-graduação. Articulação graduação e pós -graduação.
Discutir os critérios de recrutame nto. Editais de concurso com força
da lei. Avaliações da carreira poderiam considerar a questão da
ascensão em relação à participação em processo de formação
continuada. Valorização em nível de Estado e em nível institucional
local. MEC regulamentaria a pr ofissão de professor do ensino
superior; é o primeiro que tem que valorizar ou não o magistério, se
não acontecer a valorização pelo MEC, então o Inep deveria
encaminhar essas sugestões ao MEC (BAZZO, 2006, p.325).
O grupo propôs também reformular os ca mpos do Lattes para
acondicionar e valorizar as atividades de ensino, bem como os temas do magistério
superior; estudos sobre organização profissional do docente e estudos sobre a
aprendizagem dos adultos andragogia; editais para estímulos de pesquisas n essas
áreas; formação de pesquisadores em torno da docência do ensino superior; criar o
articulador pedagógico; grupos de docentes que formem os formadores, com
professores de todas as áreas. Quanto ao CNPq, teria a atribuição de valorizar as
questões da docência, bem como pontuar a produção pedagógica docente. À
CAPES, caberia fomentar pesquisas nessa área.
Também fazem parte dos encaminhamentos: a docência orientada
com seminários que tratem das questões da docência, não só para os bolsistas, mas
para todos os alunos; espaços de compartilhamento e pesquisas sobre o mal -estar
docente na IES; a pontuação de atividade de ensino para recebimento de bolsas nas
comissões de avaliação como também outras bolsas das mais variadas espécies.
Sugerem, ainda, um grand e projeto nacional que seja liderado ou fomentado pela
SESU Secretaria da Educação Superior seria como uma pró -docência universitária
brasileira. Morosini (2006) sugere, ainda, o fomento à cultura da pedagogia
universitária, como integradora do ensino, d a pesquisa e da extensão.
Foram articuladas várias propostas para desencadear mudanças
nas políticas públicas e, consequentemente, melhorar a qualidade da docência no
ensino superior. Vale lembrar que o representante do MEC/INEP, Jaime Giolo, se
revelou receptivo para prosseguir com os encaminhamentos ao MEC/INEP e
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organizar grupos de pesquisa para analisar e mesmo viabilizar as propostas. Tais
iniciativas trazem esperança para propor possíveis soluções, mas estas não podem
ser isoladas, para efetiva conso lidação.
São propostas que, se concretizadas, serão muito importantes para
o aprimoramento do magistério superior, mas outras ações, mesmo que isoladas
têm se efetivado com o intuito de fornecer capacitação pedagógica para os docentes
do ensino superior que superam obstáculos e desafios durante o processo de seu
desenvolvimento e formação profissional.
Segundo Malassise (2007), no IV encontro sobre a Metodologia da
Problematização, organizado pelo Mestrado em Educação da Universidade Estadual
de Londrina, a coordenadora pedagógica de uma universidade próxima a Londrina,
disse que o compromisso da Universidade é um bom começo para a capacitação
pedagógica dos docentes, criando núcleos de apoio pedagógico. É uma forma de
trabalhar com os docentes nas suas ca rências e expectativas pedagógicas.
Malassise (2007) explicou que os professores não o obrigados a participar, mas a
maioria tem procurado o núcleo de apoio pedagógico para melhorar a qualidade de
sua ação docente. Iniciativas semelhantes, por parte ins tituições de ensino superior,
deveriam contemplar todos os professores em contínua formação, no seu local de
trabalho.
A UEL também tem um núcleo de apoio pedagógico, porém com
características muito específicas, mais vinculado à tecnologia educacional. Um a
dificuldade é a articulação dos pedagogos com os professores de outras áreas,
sejam licenciados ou bacharéis, para um diálogo relativo à qualidade de ensino na
universidade. (VASCONCELLOS, 2005)
Assim como outros Programas de Pós -Graduação em Educação
existentes em boas universidades no país, o Programa de Mestrado em Educação
da UEL é um espaço importante de formação docente. Em decorrência de nossa
experiência pessoal, gostaríamos de citar a disciplina de Didática e Fundamentos do
Ensino Superior, ministrada pela professora Dra. Neusi Aparecida Navas Berbel, que
contribui para a formação docente do ensino superior trabalhando com alunos de
diferentes áreas, assim como a disciplina Estudos Avançados em Processos de
Formação Docente, ministrada pela profes sora: Dra. Maura Maria Morita
192
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Vasconcellos, que inclui em seu programa a discussão de caminhos para colaborar
na formação docente no ensino superior.
Podemos citar também o curso de Agronomia da Universidade
Federal do Paraná - UFPR, que foi pioneira em i mplantar o programa: “Avaliação do
docente pelo discente”. Isso fez com que a formação dos professores do ensino
superior se tornasse contínua. Foram implementadas várias atividades para os
docentes com o objetivo de oportunizar espaços de reflexão articul ada de forma a
contribuir com a formação inicial dos professores, bem como com a formação
continuada (PIMENTA, 2001).
Outra ação relevante, segundo Pimenta (2001), é a do Centro
Universitário de Jaraguá do Sul - UNERJ. Trata-se de uma pesquisa feita nos a nos
de 2000 e 2001, que envolveu 140 docentes universitários em processo de formação
continuada, realizada concomitantemente ao projeto institucional. A formação
continuada, por meio de um projeto coletivo dentro do espaço institucional,
possibilita a revisão das práticas pedagógicas, com reflexões sistemáticas da ação
docente sobre as necessidades detectadas de forma coletiva, bem como colocar os
docentes em condições de reverem e reelaborarem seus saberes. Pesquisam a
própria prática e confrontam suas ver dades com as práticas cotidianas, por meio de
textos estudados ou por análise de filmes ou de outras atividades.
Apresentamos aqui, a título de exemplos, algumas propostas das
quais temos conhecimento, o que não significa, de maneira alguma, que sejam as
únicas existentes. Sabemos que outras IES no Brasil tomaram esta iniciativa,
desenvolveram ou desenvolvem programas de formação e manifestam preocupação
com a formação de seus docentes, mas, mesmo assim, acreditamos que ainda
muito a fazer nesse camp o.
São propostas que apontam possíveis caminhos para a formação de
docentes para atuar no ensino superior. Não porém, uma sintonia em termos de
Brasil, pois as ações acontecem isoladas, muito particularizadas. A problemática é
maior e, por ser maior, n ecessita de grandes decisões, no sentido de atingir todo o
universo acadêmico do ensino superior.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao realizar a pesquisa em uma instituição particular de ensino
superior, especificamente, estabelecemos como objetivos: oportunizar ao professor
iniciante no ensino superior reflexões sobre seus principais problemas e desafios no
início da carreira docente; identificar e discutir os problemas e desafios enfrentados
por professores iniciantes no ensino superior e analisar o começo da ca rreira dos
docentes nesse nível de ensino.
Revendo um pouco da história do ensino superior no país
percebemos que, depois da demora para se instituir os primeiros cursos, e apesar
da expansão da oferta ter se intensificado na rede privada nas últimas décad as, não
se pensou nos professores, que ingressaram e ingressam no magistério superior
sem a formação para esse nível de ensino. Os cursos de pós -graduação ainda são
insuficientes para formar os docentes que ainda não possuem uma titulação stricto
sensu, frente à grande demanda do magistério superior. Vale lembrar que nem
sempre uma alta titulação é suficiente para trabalhar com a sala de aula
universitária. Além disso, nem toda a oferta de cursos stricto sensu se ocupa da
formação pedagógica, havendo priori dade para a pesquisa.
Nos dias atuais, com a velocidade da informação influenciando os
vários campos do conhecimento é imprescindível uma formação acadêmica. Por
isso, cada vez mais a procura pela graduação superior. A sala de aula
universitária não atende mais somente a elite, pois os bancos acadêmicos também
passam a ser ocupados por alunos das camadas populares, de diferentes idades,
com diferentes interesses.
Para lidar com toda essa diversidade e heterogeneidade na sala de
aula é fundamental uma continuidade na formação docente, que deve ser sólida e
possibilitar reflexão sobre a própria prática ressignificando -a, dentro e fora da sala de
aula universitária, pois, como se trata de um processo, deve considerar as
demandas da sociedade atual. Demand a essa que requer um conhecimento no qual
o tripé: ensino, pesquisa e extensão estejam unificados para uma efetiva prática
social.
A educação é uma prática social, mas essa prática se concretiza
na medida em que a instituição promover um ensino de qual idade, que repercuta no
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profissional que está se formando. Consideramos que a formação acadêmica não se
pauta somente nos conteúdos, mas deve valorizar os aspectos éticos e humanos na
formação do aluno.
Com o Estado Avaliativo, a cobrança pela qualidade é intensificada e
as IES precisam se adequar com um quadro docente que atenda aos quesitos de
formação, ou seja, a formação stricto sensu, com prazo para essa adequação.
uma pressão sobre as IES e docentes com a avaliação do sistema de educação
superior e do desempenho global do sistema de educação superior, analisando as
áreas de conhecimento, bem como o tipo e a natureza das IES. Cobra -se também o
desempenho de cada IES em suas funções universitárias, a avaliação do ensino de
graduação, e a avaliação d a pós-graduação stricto sensu.
Os professores pesquisados valorizam a formação stricto sensu e a
consideram necessária para a docência universitária. Eles estão corretos nesse
aspecto, mas a titulação não lhes atesta uma boa docência. São aspectos que
devem ser pensados quando o assunto é formação docente.
Pensamos que existe uma mal estar docente pelo fato da ainda faltar
um empenho mais acirrado das políticas públicas para uma formação inicial e
continuada de professores para o magistério superior. O contexto revela uma
estrutura de poder no qual os professores, individualmente, não medem esforços, e
muitas vezes sacrificam a si e a família para desenvolver sua formação devido a
falta de apoio das IES. Eles não têm outra saída a não ser investir no
desenvolvimento profissional e na formação por conta própria. Por outro lado, é uma
posição cômoda para as IES essa postura dos docentes, pois ficam absolvidas
dessa responsabilidade institucional, que não direcionam meios para efetiva
formação de professores.
Fazendo um balanço do trabalho realizado, acreditamos que, com o
desenvolvimento da pesquisa, trouxemos elementos para discussão e possibilitamos
realmente aos professores iniciantes uma oportunidade de reflexão sobre sua
própria prática pedagógica, pois, ao responderem sobre os problemas, desafios,
necessidades e carências do início da carreira, inevitavelmente precisaram refletir.
Acreditamos também que conseguimos identificar e analisar com o
estudo muitas das necessidades, dos problemas, das carê ncias e dos desafios
vivenciados pelos docentes iniciantes no ensino superior. Isso, não significa que
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outros problemas e carências não existam, mas trilhamos um caminho que pode
levar a outros para tratar dessa questão.
O que consideramos relevante no es tudo foi a questão da formação
docente, que permeia a maior parte dos dilemas e desafios que enfrentam os
docentes iniciantes. Seria muito simplista responder à questão dessa forma. Porém,
a formação docente seria um caminho possível para responder aos mui tos anseios
dos docentes participantes da pesquisa, que a apontam como deficiente.
Buscar as alternativas para solucionar questões como essa se
revela fundamental para a qualidade do ensino superior, uma vez que não uma
formação específica para esse ní vel de ensino. Prevalece a idéia de que se for bem
sucedido na área de atuação pode ensinar na graduação. Para pontuar alternativas,
ou possíveis caminhos também incluímos no trabalho, a contribuição de
especialistas e estudiosos desse nível de ensino, que buscam maneiras de tratar
essa questão.
Nossa intenção, ao iniciar este trabalho, foi trazer elementos para
contribuir com os estudos a respeito da qualidade da educação superior, mas neste
espaço devemos reconhecer que o presente estudo com certeza reper cutiu muito
também em proveito pessoal, uma vez que o aprendizado foi enorme.
Percebemos, com esta pesquisa, que é possível desvelar muitos
aspectos do início da docência no ensino superior e o que fica em evidência é a
questão da formação, da preparação p ara a docência, que grande parcela dos
docentes aponta como fundamental para o trabalho efetivo na sala de aula
universitária. Assim, buscamos na literatura suporte para tratar da formação docente,
que tem sido tema de muitos estudos atualmente.
O conhecimento para atuar na docência no ensino superior envolve
múltiplos olhares como a andragogia, a dificuldade em realizar a avaliação, o aluno
que chega aos bancos acadêmicos desprovidos de conhecimentos que deveriam ter
sido construídos ainda na da educação b ásica etc., entre outros. São argumentos
mais dos que suficientes para que o início da docência universitária mereça uma
atenção das políticas públicas e de todos os evolvidos com o ensino superior
alunos, professores, IES e a própria sociedade.
Sabemos que é preciso avançar e muito nas investigações que
abordem aspectos relevantes da docência na educação superior. Percebemos
nosso trabalho como mais uma pequena semente que lançamos no campo fértil da
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pesquisa acadêmica, que poderá frutificar com mais es tudos nessa mesma
perspectiva, pois o contexto é dinâmico, assim como a prática docente.
Acreditamos que, com este trabalho, podemos contribuir para a
motivação de outros estudos que desvelem mais problemas e desafios dos
professores iniciantes no ensino superior. É importante que surjam novos estudos a
respeito do mesmo tema, pois é possível buscar mais elementos que contribuam
para a qualidade do ensino na educação superior, uma vez que especificamente a
respeito do início da docência há muito que inve stigar e analisar.
Realizamos a pesquisa em uma instituição particular de pequeno
porte. Seria interessante um estudo semelhante em uma universidade pública, com
possibilidades de trazer outros elementos para estudos.
Foi interessante e bastante produtiv o realizar o estudo, pois como
professora iniciante no ensino superior nos preocupamos com a qualidade do ensino
universitário. A maioria dos professores participantes da pesquisa manifestou que
vivencia problemas e desafios no inicio do ensino superior e espera alguma
mudança que venha ao encontro às suas expectativas e necessidades.
Esperamos que nosso trabalho contribua para despertar interesse
sobre a formação do professor iniciante, sinalizando que a formação inicial é um
importante momento da vida do profissional docente. Acreditamos que para atuar no
magistério superior é necessário muito mais que uma formação acadêmica, ou
experiência na área de conhecimento, pois se trata de uma profissão dinâmica na
qual os docentes se deparam a cada dia com novos desafios, para os quais não
existem receitas, pois cada momento da sala de aula é único.
Sabemos que a literatura mostra que os anos iniciais da docência
são fundamentais, pois definirão a prática docente futura (TARDIF; RAYMOND,
2000). Além disso, com o passar dos anos na atividade docente os professores
passam por fases com características particulares e o início da carreira é um
importante momento de intensas aprendizagens e desafios. Mesmo assim, esta fase
não recebe atenção.
Desse modo, acreditamos q ue a formação inicial e continuada dos
docentes de ensino superior em nosso país não é satisfatória. As matrículas da
graduação no setor privado são maiores do que nas IES públicas. Assim, a grande
empregadora é a instituição particular, sendo a maior part e dos alunos matriculados
dos cursos noturnos oferecidos em instituições não universitárias.
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Os alunos que ingressam nas IES particulares, em sua grande
maioria, embora originários do ensino público, não conseguiu acesso nas IES
públicas, o que acaba send o um paradoxo. Muitos desses alunos chegam aos
bancos acadêmicos com deficiências da educação básica. No entanto, muitas das
IES particulares carecem ainda de professores qualificados, com formação
pedagógica para enfrentar e superar os desafios na sala de aula universitária.
Os colaboradores desta pesquisa relataram aspectos relativos à
deficiência de conteúdos da educação básica desses alunos e disseram estar
despreparados para lidar com essas questões. É preciso pensar também que ao
mesmo tempo em que a s IES privadas contribuíram com a formação universitária
desses estudantes trouxeram outro problema – a graduação deficiente.
Para lidar com essa complexidade de situações é necessário que se
pense na formação docente. A maioria dos professores consultado s também se
manifestou favorável a uma formação docente para o magistério superior. O
problema é que muitos professores, ainda não entendem o que seja realmente o
processo ensino/aprendizagem. O fato do ensino não ter recebido a merecida
valorização e por ser confundido com uma mera transmissão de conhecimentos,
possibilitou que por muito tempo prevalecesse um modelo de ensino jesuítico que
exige a memorização do conteúdo transmitido. O aluno dos dias atuais não se
enquadra mais nesse modelo de ensino e ai nda herdam uma educação básica
precária.
É importante apontar que muitas IES privadas conseguiram driblar
problemas dessa natureza conforme mencionado pelas autoras Pimenta e
Anastasiou (2002) investindo na formação docente e realizando um trabalho
pedagógico paralelo com os alunos.
Outro ponto a considerar é que se existe tanta oferta de cursos nas
IES privadas com sobra de vagas o diferencial será a qualidade oferecida pelas
instituições. Investir na formação docente e estruturar um PPP compatível com as
deficiências e dificuldades de cada realidade com propostas para sanar tais
dificuldades, serão dignas de êxito com a participação efetiva do corpo docente,
numa reflexão compartilhada.
A maioria dos docentes iniciantes colaboradores da pesquisa ap onta
que um déficit de formação para atuar no ensino superior. A docência
universitária tem se constituído com base na experiência da própria formação do
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professor como aluno e no enfrentamento da sala de aula. A prática docente vai se
estruturando cotidianamente nos erros e acertos. Os docentes, ao manifestarem a
necessidade de uma formação pedagógica para o ensino superior, sugeriram que a
instituição deveria promover ações para uma formação docente. No entanto, esses
docentes desconhecem que as políti cas públicas responsabilizam as IES por essa
formação. Na prática isso não vem ocorrendo. Pensamos que as IES perdem uma
ótima oportunidade de se sobressaírem nesse aspecto, porque ao se pensar sobre a
formação docente se investe na qualidade da educação o ferecida.
Um dos docentes colaboradores da pesquisa apontou esse aspecto
ao mencionar que a instituição geralmente é conceituada pela avaliação de seu
corpo docente. Defendemos que um profissional nunca termina sua formação, por
isso deve se formar conti nuamente. A formação a que nos referimos deve considerar
além das questões didáticas e metodológicas os aspectos éticos e políticos
pontuados por diferentes autores. É preciso desmistificar a idéia de que conhecer
profundamente a área de estudo é sufici ente para ser um bom professor. É com a
formação pedagógica e também de conhecimentos que se promove o
desenvolvimento pessoal e profissional.
Entretanto, é necessário um esforço coletivo para superar as
questões que dificultam uma formação docente de qua lidade, o que tem sido foco de
muita discussão. O trabalho coletivo reforça as iniciativas, mas, é preciso que os
docentes façam uma leitura de sua realidade e da própria formação numa reflexão
compartilhada. É relevante pensar essa formação como um ato po lítico para uma
mudança e transformação.
Nesse sentido, os docentes estão à mercê das instituições que não
estão se empenhando de forma efetiva para a sua formação. Vale lembrar que o
contexto do estudo, uma faculdade particular, como tantas outras, até o momento da
realização deste estudo não apresentava ações efetivas para a formação docente, o
que não quer dizer que não esteja já, neste momento, demonstrando sinais de
preocupação nesse sentido. Mesmo que os motivos sejam a falta de recursos, a
instituição ao oferecer um ensino universitário, por maiores que sejam as
adversidades, não pode negligenciar a formação docente.
As IES privadas atendem os alunos que buscam uma formação
superior, mas recebem estudantes que chegam aos bancos acadêmicos
despreparados para esse nível de ensino. É necessário assumir a responsabilidade
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com esses estudantes viabilizando propostas que operem para sua formação
acadêmica.
Os docentes, por sua vez, manifestaram dificuldades para lidar com
esses alunos e sugerem que a inst ituição realize um trabalho pedagógico paralelo
para superar suas defasagens. Não se trata de uma tarefa fácil, mas o que não pode
continuar a acontecer é o ensino ser tratado, em alguns casos, de forma
prioritariamente mercantil, e os alunos ao deixarem a s IES, obterem um certificado
de graduação que os coloca em risco de serem rejeitados pelo mercado de trabalho,
por possuírem uma formação universitária que deixa a desejar.
Até que ponto é real se falar em democratização do ensino se este
não é oferecido com qualidade? Quem se quer enganar? Quem procura o ensino
superior privado para adquirir uma formação ou quem ensina no ensino superior
privado?
Depois da implementação de políticas públicas que incentivaram a
expansão desse nível de ensino, o Estado Avaliativo adota uma postura mais
severa, mas o aluno que não pode pagar o ensino universitário ainda pode recorrer
ao crédito educativo ou ao PROUNI, por exemplo. Existem os incentivos para o
acesso ao ensino superior, mas, o que se faz necessário é a ado ção de políticas que
contemplem propostas para atender esses alunos que chegam com defasagem da
educação básica. Neste sentido, é importante melhorar a qualidade da educação
básica, uma vez que a educação merece atenção em todos os níveis de ensino, e
quando problemas desta natureza prejudicam o desenvolvimento de um bom ensino
na graduação é preciso assumir responsabilidades. É impossível se pensar em
qualidade sem investir na formação docente.
Assim pensando, ao finalizarmos nosso trabalho, temos a int enção
de desenvolver na instituição em que atuamos, um projeto com os docentes
iniciantes em parceira com professores mais experientes no magistério superior para
discutir políticas de formação docente, começando quem sabe uma rica experiência
para a qualidade desse nível de ensino.
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TARDIF, Maurice; LESSARD, Claude.
O trabalho docente
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TARDIF, Maurice; RAYMOND, Danielle. Saberes, tempo e aprendizagem do
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<http://www.publicacoes.inep.gov.br/arquivo s/%7B928C27BC-D549-4EC3-8F69-
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211
211
APÊNDICES
212
212
APÊNDICE A
CARTA AO REITOR DA FACULDADE NORTE PARANAENSE
Londrina, 1º de abril de 2008.
Ilmo. sr.
Diretor da
Instituição de Ensino Superior
Nesta
Venho solicitar a gentileza de seu apoio, na realização de minha pesquisa de
mestrado pela Universidade Estadual de Londrina - UEL, que tem o título provisório
de: O processo de desenvolvimento profissional do professor iniciante no ensino
superior na construção da sua autonomia.
O objetivo principal de meu trabalho é contribuir para a melhoria do desempenho
dos professores iniciantes na sala de aula universitária. E, para concretização de
minha proposta, necessito consultar os docentes iniciantes sobre questões do
ensino superior. A opção por consultar os professores iniciantes é pela
caracterização da pesquisa que busca elementos, que se fazem necessários, nesse
início da carreira docente universitária, carente de pesquisa.
Para viabilizar minha abordagem aos docentes, agradeceria se os coordenadores
dos cursos pudessem incluir em sua agenda o pedido de colaboração junto aos
docentes na resposta ao instrumento anexo para seu conhecimento.
Contando com sua compreensão e colaboração, agradeço an tecipadamente,
___________________________
Emilia Aparecida Durães Coelho
Docente do curso de Pedagogia
Mestranda em Educação - UEL
213
213
APÊNDICE B
QUESTIONÁRIO DISTRIBUÍDOS AOS DOCENTES DA INSTITUIÇÃO
Caro (a) professor(a),
Solicito a sua colaboração para responder este questionário que faz parte de minha
pesquisa de mestrado pela Universidade Estadual de Londrina - UEL, com o título provisório
de: O processo de desenvolv imento profissional do professor iniciante no ensino superior na
construção da sua autonomia.
O objetivo principal de meu trabalho é
discutir e analisar o processo de
desenvolvimento profissional do professor iniciante no ensino superior na construção
de sua autonomia
. Para tanto, sua participação é muito importante e desde agradeço
sua colaboração.
__________________________
Emília Aparecida Durães Coelho
INFORMAÇÕES GERAIS
PROFISSÃO: __________________________________
SEXO: feminino ( ) Masculin o ( )
IDADE:
( ) menos de 30 anos
( ) 31-35 anos
( ) 36-40 anos
( ) 41 anos ou mais
CURSO: ___________________________________
ÁREA (prioritária de atuação): ___________________________________________
DISCIPLINA (s): ___________________________ ___________________________
TEMPO DE DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR: ___________________________ NESSA
INSITUIÇÃO: _____________ REGIME DE TRABALHO: ________ HORAS
EXCLUSIVAMENTE PROFESSOR? ( ) sim ( ) não
Em caso de resposta negativa indicar a outra atividade correlata que exerce: ______
___________________________________________________________________
FORMAÇÃO
FORMAÇÃO INICIAL: Graduação em: __________________________________________________
Bacharelado ( ) Licenciatura ( )
ESPECIALIZAÇÃO / ano de conclusão: _________________________________________________
214
214
MESTRADO ( ) Em área de conhecimento específica em Educação ( )
DISCIPLINA PEDAGÓGICA CURSADA: ____________________________________________ ____
Metodologia do Ensino Superior ( ) Didática ( ) Nenhuma ( )
Outra (s) :________________________________________________________________________
QUESTÕES
Nas questões de 1 a 2 e 4 assinalar todas as alternativas se for necessário.
1. O INGRESSO NA DOCÊNCIA UNIVERSITÁRIA VOCÊ ATRIBUI A QUE:
( ) Ser professor sempre foi seu desejo.
( ) A oportunidade surgiu por acaso (indicação/convite).
( ) Para complementação da renda.
( ) A profissão de docente universitário valori za e confere maior confiabilidade pelo mercado de
trabalho ao profissional que a exerce.
( ) Pelo interesse em realizar pesquisa.
( ) Outra (s) razão (ões): ___________________________________________________________
2. EM SUA OPINIÃO, Q UAIS OS PRINCIPAIS PROBLEMAS/DESAFIOS PARA UM DOCENTE
INICIANTE NO ENSINO SUPERIOR?
( ) A falta de preparo pedagógico para atuar como professor universitário.
( ) Dificuldade para avaliar o aluno no seu aprendizado.
( ) Não ter o domínio das técni cas e instrumentos para uso em sala de aula.
( ) Não saber lidar com os alunos que chegam aos bancos universitários sem base para aprofundar
os conhecimentos.
( ) Não ter apoio de docentes mais experientes para dúvidas ou esclarecimentos s obre alguma
situação em sala de aula.
( ) Não enfrenta nenhum problema.
( ) Outros _______________________________________________________________________
3. DESCREVA SUA PRÓPRIA EXPERIÊNCIA, DESTACANDO SEUS PRINCIPAIS
PROBLEMAS/DESAFIOS, A VALIANDO SUA TRAJETÓRIA INICIAL.
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________ ____________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________ _______
4. EM RELAÇÃO À INSTITUIÇÃO, NO QUE ELA PODERIA AJUDAR?
( ) Realizar uma formação pedagógica(capacitação contínua) com os docentes.
( ) Não ter um número excessivo de alunos em sala de aula.
( ) Fornecer os recursos técnicos, necessários (retroprojetor, data show) para uso em sala de aula.
215
215
( ) Realizar um trabalho paralelo com os alunos que não possuem base para a assimilação dos
conhecimentos.
( ) Reuniões periódicas com os professores do curso para um trabalho integra do.
( ) Outras sugestões:_____________________________________________________________
5. SE VOCÊ POSSUI MESTRADO OU DOUTORADO, CONSIDERA QUE ESTE FATO
CONTRIBUIU PARA MELHORAR SUA ATUAÇÃO DOCENTE?
( ) Sim ( ) Não
Por que? _________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________ ___
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
6. O QUE VOCÊ ACHA DA SUA PRÁTICA PEDAGÓGICA? ESTÁ SATISFEITO (A) OU
PROCURARIA MELHO RAR EM QUE VOCÊ GOSTARIA DE MELHORAR?
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_____________________________________________________ ____________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
7. O QUE VOCÊ SUGERE AOS DOCENTES QUE INGRESSAM NO ENSINO SUPER IOR QUE NÃO
TIVERAM UMA FORMAÇÃO ESPECÍFICA PARA ATUAR NESSE NÍVEL DE ENSINO?
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
8. QUAL A PRINCIPAL FUNÇ ÃO DO ENSINO UNIVERSITÁRIO NA ATUALIDADE?
(Caso tenha mais de uma alternativa, enumere -as em ordem de importância. Ex. 1 a mais
importante).
( ) preparar o aluno para o mercado de trabalho.
( ) produzir e propagar conhecimento.
( ) formar cidadãos que objetivam construir e participar de uma sociedade mais
justa e igualitária.
( ) preparar o aluno para aprender a aprender e articular a evolução tecnológica do
país para competir no mundo globalizado.
216
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( ) formar indivíduos críticos, participativos e envolvidos politicamente.
( ) Outra (s) _____________________________________________________________________
9. EM SUA OPINIÃO, COMO E/OU QUANDO O PROFESSOR UNIVERSITÁRIO
INICIANTE, ESTABELECE SUA AUTONOMIA PROFISSIO NAL?
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
10. CASO QUEIRA COMENTAR OU ACRESCENTAR ALGO, O ESPAÇO É LIVRE.
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_____________________________________________ ____________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
__________________________________________________________ _______________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
Se julgarmos necessário maiores esclarecimentos ou mesmo aprofundar alguma das questões, o
professor (a) se disponibilizaria para uma entrevista? Em caso afirmativo, fico imensamente grata.
Indicar abaixo as formas de contato:
Nome:____________________________________________________________________________
Fone: ______________________________ e -mail: ________________________________________
Horário conveniente para contato: _____________________________________________________
Observação: Por favor, deixe este questionário no escaninho de:
Emilia Aparecida Durães Coelho,
até _____/ _____/______, quando devo recolhê -los.
Muito obrigada.
217
217
APÊNDICE C
TERMO DE CONSENTIMENTO ESCLARECIDO
A pesquisa de mestrado junto ao Programa de Mestrado em Educação da
UEL intitulada: O PROFESSOR INICIANTE DO ENSINO SUPERIOR NO PROC ESSO DE
CONSTRUÇAÕ DE SUA AUTONOMIA PROFISSIONAL , tem por finalidade aprofundar
conhecimentos a respeito do processo de formação dos docentes iniciantes que atuam no
ensino superior colhendo subsídios que possam contribuir para a orientação de políticas
públicas e programas de formação em instituições de ensino superior.
Para tanto, é muito importante que sejam realizadas entrevistas com os
professores da instituição, selecionados aqueles com até quatro anos de docência, a respeito
de questões relativas à f ormação do docente iniciante nos aspectos: pessoal, profissional e
institucional, considerando -os como parceiros na tarefa de discutir os problemas/desafios do
início da carreira docente e avaliar sua trajetória inicial.
A pesquisadora compromete -se a manter total anonimato em relação aos
dados de identificação dos professores, assim como assegura o direito do entrevistado de, a
qualquer momento, retirar seu consentimento para uso de dados.
Ao mesmo tempo, solicita sua colaboração, participando desta pesq uisa.
Em / / 2008
___________________________________
Profª Emilia Aparecida Durães Coelho
Concordo em colaborar com a Pesquisa,
nos termos acima.
Nome: ______________________________________________
Assinatura: ____________________ ______________________
218
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APÊNDICE D
ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMI -ESTRUTURADA A PROFESSORES
INICIANTES NO ENSINO SUPERIOR COM MENOS DE CINCO ANOS DE
MAGISTÉRIO SUPERIOR.
1) Descreva melhor a sua própria experiência, destacando seus principais
problemas/desafios e avaliando sua trajetória inicial.
2) Como você avalia sua própria prática pedagógica? Está satisfeito ou procuraria
melhorar, em que você gostaria de melhorar?
3) Pela sua experiência, o que você considera necessário/importante para que a
docência no ensino superior seja uma atividade com maior qualidade em relação aos
aspectos: pessoal, profissional e institucional?
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