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1
VANDERLEI MATEUS TALLINI JUNIOR
DESENVOLVIMENTO DE NOVOS MATERIAIS CERÂMICOS A PARTIR DE
LODO DE ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ÁGUA, MICRO ESFERAS DE
VIDRO DE JATEAMENTO, SAIS DE NEUTRALIZAÇÃO DE ÁCIDOS DE
BATERIAS E AREIA DE FUNDIÇÃO.
CURITIBA
2009
Dissertação apresentada como requisito
parcial à obtenção do grau de Mestre ao
Programa de Pós-Graduação em Engenharia
(PIPE), Área de concentração: Engenharia e
Ciência dos Materiais, do Setor de Tecnologia
da Universidade Federal do Paraná.
Orientador: Prof. PhD. Vsevolod Mymrine
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VANDERLEI MATEUS TALLINI JUNIOR
DESENVOLVIMENTO DE NOVOS MATERIAIS CERÂMICOS A PARTIR DE
LODO DE ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ÁGUA, MICRO ESFERAS DE
VIDRO DE JATEAMENTO, SAIS DE NEUTRALIZAÇÃO DE ÁCIDOS DE
BATERIAS E AREIA DE FUNDIÇÃO.
CURITIBA
2009
Dissertação apresentada como requisito
parcial à obtenção do grau de Mestre ao
Programa de Pós-Graduação em Engenharia
(PIPE), Área de concentração: Engenharia e
Ciência dos Materiais, do Setor de Tecnologia
da Universidade Federal do Paraná.
Orientador: Prof. PhD. Vsevolod Mymrine
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iii
Dedico este trabalho as pessoas mais
importantes de minha vida, meus pais
Vanderlei e Normélia, e minha namorada
Cristiane Stacechen.
iv
AGRADECIMENTOS
Em especial ao professor PhD. Dsc. Vsévolod Mymrine, pela orientação,
compreensão, incentivo, amizade, paciência e dedicação em todas as fases do
desenvolvimento deste trabalho.
Ao Prof. Dr. Haroldo de Araújo Ponte, pelo incentivo e possibilidade de
utilização dos equipamentos e materiais do Laboratório de Tecnologia Ambiental
– LTA e de outros Laboratórios do Grupo de Eletroquímica Aplicada – GEA.
Ao Prof. JoManuel, coordenador do Laboratório de Análises de Minerais
e Rochas da UFPR, pela possibilidade de realização de alguns ensaios, sem os
quais não seria possível a realização desta pesquisa. Agradeço também a sua
equipe, principalmente ao Rodrigo e a Luciane pela gentileza e presteza que
sempre fui recebido.
A Profa. Graciela, coordenadora da pós-graduação em Engenharia
Florestal, que disponibilizou os equipamentos necessários para realização dos
ensaios de resistência mecânica à flexão no Laboratório de Anatomia e Qualidade
da Madeira.
Agradeço aos funcionários do Laboratório de Absorção Atômica do
LACTEC pelas análises realizadas e aos funcionários do Centro de Microscopia
Eletrônica da UFPR.
Aos membros do GEA, Artem, Nice, Patrícia, Cláudia, Lílian, Alek,
Jéferson, Vanessa, Luciana e Cléber pelo apoio e companheirismo, em especial
ao Ricardo Ribeiro, pela amizade e auxílio na realização deste trabalho.
Enfim, agradeço todos aqueles que contribuíram direta ou indiretamente
para a realização deste trabalho.
v
RESUMO
O objetivo deste trabalho é o desenvolvimento de cerâmica vermelha a partir de
resíduos industriais como alternativa de reciclagem para as empresas geradoras.
Os resíduos industriais que neste trabalho foram utilizados como matéria prima
foram: Lodo de Estações de Tratamento de Água, areia de fundição, micro
esferas de vidro de jateamento, sais de neutralização de ácidos de baterias e
argila. A cerâmica elaborada com 80% de resíduos industriais, destes, utilizando
50% de lodo de ETA apresentou uma resistência xima a flexão de 10,8 MPa a
1000°C, com o aumento da temperatura para 1050°C ho uve um decréscimo da
resistência para 9,6 MPa. As amostras das cerâmicas foram submetidas à análise
de raios-X difratometria e verificou-se a formação de novas estruturas minerais
que o constavam nas matérias primas iniciais. A nova cerâmica apresentou um
alto valor de resistência mecânica, o que torna possível e viável a utilização
destes resíduos para a produção de cerâmica vermelha.
PALAVRAS-CHAVE: Resíduos Industriais, Cerâmica Vermelha, Lodo de ETA,
Areia de Fundição, Vidro Residual, Sais de Neutralização.
vi
ABSTRACT
This work aims at the red ceramics development from industrial residues as
alternative of recycling for the generating companies. The industrial residues that
in this work had been used as substance cousin had been: water treatment plant
sludge, glass residues, residual salts and clay. The chemical, mineralogical and
structural compositions of the residues used as raw material and the new ceramic
compounds were analyzed and studied using XRF, XRD, SEM and chemical
microanalysis (EDAX). The results obtained indicate that the ceramic prepared
with 80% of residues presented the highest strength (10,8 MPa) at 1000°C. The
results showed high flexural strength and low values of water absorption and linear
retraction, characterizing the good sintering of the materials and vitreous formation,
ensuring low values of solubilization and leaching.
KEY-WORDS: Red Ceramic, WTP Sludge, Glass Residues, Residual Salts
vii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Difratograma do lodo de ETA.............................................................. 54
Figura 2 – Microimagem do lodo de ETA através do método de microscopia
eletrônica de varredura (MEV) ...................................................................... 55
Figura 3 – Difratograma da areia verde................................................................ 56
Figura 4 Microimagem da areia de fundição através do método de microscopia
eletrônica de varredura (MEV) ...................................................................... 57
Figura 5 – Difratograma do vidro de jateamento galvânico.................................. 59
Figura 6 Microimagem das micro esferas de vidro através do método de
microscopia eletrônica de varredura (MEV).................................................. 60
Figura 7 – Difratograma dos sais de neutralização.............................................. 61
Figura 8 Microimagem dos sais de neutralização através do método de
microscopia eletrônica de varredura (MEV).................................................. 62
Figura 9 – Difratograma da argila......................................................................... 64
Figura 10 Microimagem da argila através do método de microscopia eletrônica
de varredura (MEV)....................................................................................... 65
Figura 11: Difratograma da amostra da cerâmica - DRX ..................................... 71
Figura 12 Microimagem da cerâmica verde e queimada através do método de
microscopia eletrônica de varredura (MEV).................................................. 72
Figura 13 Microimagem das cerâmicas queimadas através do método de
microscopia eletrônica de varredura (MEV).................................................. 73
viii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Composição química do lodo de Estação de Tratamento................... 21
Tabela 2 – Classificação dos revestimentos cerâmicos: NBR 13817................... 40
Tabela 3 – Classificação do produto cerâmico e o uso recomendado................. 40
Tabela 4 – Classificação de tijolos maciços NBR 7170........................................ 40
Tabela 5 – Composições dos CP’s ...................................................................... 46
Tabela 6 – Melhores composições....................................................................... 66
Tabela 7 – Principais componentes do lodo de ETA (%) ..................................... 53
Tabela 8 – Identificação dos picos do difratograma do lodo de ETA.................... 54
Tabela 9 – Análise química da areia verde .......................................................... 56
Tabela 10 – Identificação dos picos do difratograma da areia verde ................... 57
Tabela 11 – Análise química do vidro de jateamento galvânico........................... 58
Tabela 12 – Análise química dos sais de neutralização....................................... 61
Tabela 13 – Identificação dos picos do difratograma dos sais............................. 62
Tabela 14 – Análise química da argila ................................................................. 63
Tabela 15 – Identificação dos picos do difratograma da argila............................. 64
Tabela 16 – Resultados da resistência mecânica à flexão................................... 67
Tabela 17 – Valores de retração linear após queima........................................... 68
Tabela 18 – Valores de absorção de água........................................................... 69
Tabela 19 – Valores de massa específica aparente............................................. 70
Tabela 20 – Resultado de lixiviação (composição 1) ........................................... 73
Tabela 21 – Resultado de solubilização (composição 1) ..................................... 74
ix
LISTA DE SIGLAS
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
CMMAD Comissão Mundial Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
SEMA Secretária do Meio Ambiente e Recursos Hídricos
ONU Organização das Nações Unidas
ABETRE Associação Brasileira de Tratamento de Resíduos
ECO 92 Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento (CNUMAD)
RAF Resíduos de Areia de Fundição
CBUQ Concreto Betuminoso Usinado a Quente
ABC Associação Brasileira de Cerâmica
CETESB Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental – SP
PR Paraná
SP São Paulo
LTA Laboratório de Tecnologia Ambiental
UFPR Universidade Federal do Paraná
PIPE Programa de Pós Graduação em Engenharia
CP Corpo de Prova
ETA Estação de Tratamento de Água
LAMIR Laboratório de Análises de Minerais e Rochas
LACTEC Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento
x
LISTA DE SÍMBOLOS
pH Potencial Hidrogeniônico
µm Micrômetro ou mícron – Unidade de comprimento
% Percentagem
°C Graus Celsius
cm Centímetro – Unidade de comprimento
Kg Quilograma – Unidade de Peso
g Grama – Unidade de Peso
MPa Mega Pascal – Unidade de Tensão
MEV Microscopia Eletrônica Varredura
Ton Toneladas – Unidade de Peso
Mesh Mesh Tyler – Medida de abertura de peneira
Abs Absorção de água
RL Retração Linear
MEA Massa Específica Aparente (%)
PA Porosidade Aparente (%)
Mi Massa do corpo de prova imerso em água (g)
Ms Massa do corpo de prova seco (g)
Mu Massa do corpo de prova úmido (g)
MRF Módulo de Resistência a Flexão (kgf/cm2)
g/cm
3
gramas/ centímetro cúbico – Unidade de medida de volume
P.F. Perda ao fogo
DQO Demanda Química de Oxigênio
DBO Demanda Biológica de Oxigênio
xi
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS .............................................................................................vii
LISTA DE TABELAS ............................................................................................ viii
LISTA DE SIGLAS .................................................................................................ix
LISTA DE SÍMBOLOS.............................................................................................x
RESUMO.................................................................................................................v
ABSTRACT............................................................................................................vi
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................. 15
1.1 OBJETIVOS................................................................................................ 17
1.1.1 Objetivo Geral ...................................................................................... 17
1.1.2 Objetivos Específicos........................................................................... 17
1.2 APRESENTAÇÃO DO TRABALHO............................................................ 18
2. REVISÃO DA LITERATURA............................................................................ 20
2.1 LODO DE ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ÁGUA (ETA).................... 20
2.2 FORMAS DE DISPOSIÇAO FINAL DO LODO DE ETA............................. 22
2.2.1 Lançamento em Rios ........................................................................... 22
2.2.2 Aterro Sanitário .................................................................................... 23
2.2.3 Estações de Tratamento de Esgotos (ETES)....................................... 24
2.2.4 Indústrias de Cimento .......................................................................... 25
2.2.5 Concreto............................................................................................... 26
2.2.6 Cerâmica.............................................................................................. 27
2.2.7 Agricultura............................................................................................ 29
2.2.8 Compostagem...................................................................................... 30
2.2.9 Disposição no Solo............................................................................... 30
2.3 AREIA VERDE DE FUNDIÇÃO.................................................................. 31
2.4 MICRO ESFERA DE VIDRO PARA JATEAMENTO .................................. 32
2.5 SAIS DE NEUTRALIZAÇÃO DE ÁCIDOS.................................................. 34
2.6 CERÂMICA................................................................................................. 35
2.7 PROPRIEDADES DO MATERIAL CERÂMICO.......................................... 37
2.7.1 Retração Linear.................................................................................... 37
2.7.2 Absorção de Água................................................................................ 37
xii
2.7.3 Porosidade........................................................................................... 38
2.7.4 Massa Específica Aparente.................................................................. 38
2.7.5 Resistência Mecânica .......................................................................... 39
2.8 CLASSIFICAÇÃO DOS PRODUTOS CERÂMICOS .................................. 40
3. MATERIAIS E MÉTODOS................................................................................ 42
3.1 COLETA E PREPARAÇÃO DOS RESÍDUOS E ARGILA .......................... 42
3.1.1 Lodo de Estações de Tratamento de Água.......................................... 42
3.1.2 Micro Esferas de Vidro......................................................................... 42
3.1.3 Sais de Neutralização .......................................................................... 42
3.1.4 Areia de Fundição................................................................................ 43
3.1.5 Argila.................................................................................................... 43
3.2 PREPARO DOS CORPOS-DE-PROVA (CP’S).......................................... 45
3.3 COMPOSIÇÕES E TEMPERATURAS UTILIZADAS ................................. 46
3.4 CARACTERIZAÇÃO DOS ENSAIOS LABORATORIAIS ........................... 47
3.4.1 Perda ao Fogo ..................................................................................... 47
3.4.2 Fluorescência de Raios-X .................................................................... 48
3.4.3 Difração de Raios-X............................................................................. 48
3.4.4 Microscopia Eletrônica de Varredura ................................................... 49
3.4.5 Retração Linear.................................................................................... 49
3.4.6 Absorção de Água................................................................................ 50
3.4.7 Massa Específica Aparente.................................................................. 50
3.4.8 Resistência Mecânica .......................................................................... 51
3.4.9 Lixiviação ............................................................................................. 51
3.4.10 Solubilização...................................................................................... 51
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES ..................................................................... 53
4.1 CARACTERIZAÇÃO DAS MATÉRIAS PRIMAS ........................................ 53
4.1.1 Lodo de ETA ........................................................................................ 53
4.1.1.1 Fluorescência de Raios-X.............................................................. 53
4.1.1.2 Difração de Raios-X....................................................................... 54
4.1.1.3 Microscopia Eletrônica de Varredura............................................. 55
4.1.2 Areia Verde .......................................................................................... 55
4.1.2.1 Fluorescência de Raios-X.............................................................. 55
xiii
4.1.2.2 Difratometria de Raios-X ............................................................... 56
4.1.2.3 Microscopia Eletrônica de Varredura............................................. 57
4.1.3 Vidro de Jateamento Galvânico ........................................................... 58
4.1.3.1 Fluorescência de Raios-X.............................................................. 58
4.1.3.2 Difratometria de Raio X ................................................................. 58
4.1.3.3 Microscopia Eletrônica de Varredura............................................. 59
4.1.4 Sais de Neutralização .......................................................................... 60
4.1.4.1 Fluorescência de Raios-X.............................................................. 60
4.1.4.2 Difratometria de Raios-X ............................................................... 61
4.1.4.3 Microscopia Eletrônica de Varredura............................................. 62
4.1.5 Argila.................................................................................................... 63
4.1.5.1 Fluorescência de Raios-X.............................................................. 63
4.1.5.2 Difratometria de Raios-X ............................................................... 64
4.1.5.3 Microscopia Eletrônica de Varredura............................................. 65
4.2 RESULTADOS DO EXPERIMENTO.......................................................... 66
4.2.1 Resistência Mecânica à Flexão............................................................ 66
4.2.2 Retração Linear.................................................................................... 68
4.2.3 Absorção de Água................................................................................ 69
4.2.4 Resultados dos Ensaios de Massa Específica Aparente ..................... 70
4.2.5 Difração de Raios-X da Cerâmica........................................................ 70
4.2.6 Microscopia Eletrônica Varredura ........................................................ 71
5. CONCLUSÕES ................................................................................................ 77
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................... 80
CAPÍTULO 1
- INTRODUÇÃO -
15
1. INTRODUÇÃO
O aumento populacional, a industrialização e o incremento nas atividades
foram os principais motivos da multiplicação dos resíduos. O crescimento
acelerado da população implica na expansão automática da industrialização para
atender às novas demandas, o que significa um aumento considerável no volume
de resíduos gerados, tanto do ponto de vista doméstico quanto industrial. O
tratamento não adequado desta quantidade de resíduos pode representar um
aumento na degradação ambiental em detrimento da qualidade de vida (SENAI-
RS, 2003).
Os resíduos industriais e urbanos vêm se tornando um dos mais rios
problemas que a sociedade moderna enfrenta. Sua deposição de forma
inadequada provoca a degradação do meio ambiente e a contaminação dos
mananciais de água e do solo (MENEZES et al., 2002).
Durante a ECO/92, realizada no Rio de Janeiro, em 1992, houve destaque
sobre a necessidade de mudança dos padrões não sustentáveis de produção e
consumo, como gerenciamento dos resíduos sólidos concentrados em quatro
áreas: reduzir ao mínimo a geração; aumentar ao máximo a reutilização e a
reciclagem; providenciar depósitos e tratamentos ambientalmente corretos e
ampliar os serviços que se ocupam dos resíduos.
No Brasil, o gerenciamento dos resíduos sólidos industriais ainda é
inexpressivo. Segundo dados da Associação Brasileira de Tratamento de
Resíduos - ABETRE, mais de 70% do lixo industrial acabam em lugares
inapropriados, ou seja, “a maioria dos descartes industriais é feita de forma
inadequada, misturada em lixões domésticos, sejam eles municipais ou
clandestinos” (FURTADO, 2005). Uma das formas de solucionar este problema é
através da reciclagem, que proporciona a utilização do resíduo como matéria
prima para fabricação de outros bens de consumo. A reciclagem de resíduos
industriais ainda possui índices insignificantes frente ao montante de resíduos
produzidos (MENEZES et al., 2002).
A prática da reciclagem através da utilização de resíduos industriais como
principal componente na fabricação de materiais de construção civil, pode trazer
16
inúmeros benefícios ambientais, pois, substitui a utilização de recursos naturais
por resíduos reciclados.
Alguns técnicos da indústria cerâmica se deparam com a escassez de
reservas de matérias-primas de boa qualidade em locais economicamente viáveis
de exploração (MENEZES et al.,2002).
Estima-se que o setor da construção civil é responsável pelo consumo de
até 75% dos nossos recursos naturais, o que a torna uma consumidora em
potencial de grande parte dos resíduos gerados nos diferentes setores industriais.
(JOHN, 2000; PINTO,1999; LEVY, 1997).
As indústrias gradativamente estão buscando novas alternativas para a
disposição de seus resíduos sólidos industriais, devido às pressões dos órgãos
ambientais ou pelo fato de adquirirem certificações ambientais para se tornarem
mais competitivas diante ao mercado.
O tratamento de água também é considerado uma indústria, pois, para se
obter a água tratada (potável) que é o produto final, gera-se o lodo durante o
tratamento. O resíduo gerado neste processo de tratamento no decantador e filtro
é denominado de lodo de ETA. A composição química do lodo de ETA é bem
diversificada, contendo diversos metais e podendo variar de acordo com o tipo de
coagulante e auxiliares utilizados no tratamento da água. Devido a sua
composição química, o lodo de ETA trata-se de um resíduo sólido o inerte que
necessita de uma disposição final adequada. Atualmente um grande desafio das
empresas de saneamento é o de encontrar alternativas viáveis economicamente e
tecnicamente, para dispor o lodo de ETA sem causar danos ao meio ambiente.
Devido às características físico-químicas do resíduo (lodo de ETA), a
alternativa proposta neste trabalho é a utilização do lodo associada á outros
resíduos na fabricação de cerâmica vermelha. Os demais resíduos, areia de
fundição, microesferas de vidro e os sais de neutralização de ácidos de baterias
empregados na massa cerâmica, podem ser usados basicamente para reduzir o
tempo de queima (fundente), economizando energia, e para melhorarem as
características mecânicas da cerâmica, tornando-a mais vítrea e
conseqüentemente reduzindo a lixiviação e solubilização de metais pesados.
17
1.1 OBJETIVOS
1.1.1 Objetivo Geral
Desenvolver novos materiais cerâmicos e tecnologias de fabricação, a
partir de resíduos industriais, como alternativa de disposição final adequada para
o lodo gerado nas Estações de Tratamento de Água, resíduos de vidro de
jateamento, sais de neutralização de ácido de baterias automotivas e areia de
fundição.
1.1.2 Objetivos Específicos
Os objetivos específicos deste trabalho são:
Determinar quais as melhores combinações de incorporação destes
resíduos em massa cerâmica.
Verificar o desempenho físico e mecânico da cerâmica por meio de
ensaios de resistência a flexão em três pontos, retração linear e
absorção de água.
Avaliar a qualidade ambiental da cerâmica desenvolvida, por meio de
ensaios de solubilização e lixiviação.
Caracterizar a formação de novas estruturas minerais obtidas após a
sinterização.
18
1.2 APRESENTAÇÃO DO TRABALHO
Para melhor compreensão do presente trabalho, neste tópico os capítulos
são brevemente descritos para que o leitor entenda a estrutura da dissertação.
A Revisão da Literatura fornece uma descrição sobre a origem e
composição química do Lodo das Estações de Tratamento de Água, assim, como
alternativas de disposição final encontradas na bibliografia, como forma de
minimizar o impacto ambiental ocasionado pela destinação incorreta deste
resíduo. Além, de uma sucinta descrição dos demais resíduos utilizados na
composição da cerâmica, e um breve histórico sobre as alternativas de utilização
destes resíduos. O capítulo aborda também, uma caracterização sobre as
propriedades dos materiais cerâmicos com suas principais classificações.
No capítulo de Materiais e Métodos está descrita toda a metodologia
experimental adotada durante a pesquisa, bem como as técnicas, os materiais e
os equipamentos empregues durante a execução do trabalho.
Em seguida, no capítulo Resultados e Discussões são apresentados e
discutidos todos os resultados obtidos por meio das técnicas descritas no capítulo
anterior.
O capítulo seguinte, Conclusões, apresenta as principais conclusões
obtidas no decorrer da pesquisa, demonstrando a possibilidade do material
desenvolvido ser utilizado na fabricação de materiais de construção, com
inúmeras vantagens sobre os materiais de construção convencionais.
19
CAPÍTULO 2
- REVISÃO DA LITERATURA -
20
2. REVISÃO DA LITERATURA
2.1 LODO DE ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ÁGUA (ETA)
Em cidades urbanizadas como Curitiba e região metropolitana, a água dos
rios e rregos é usada para carrear efluentes industriais, resíduos domésticos,
excrementos da população, papéis, detergentes, etc. Estes resíduos são
misturados, nos cursos d'água, com sólidos inorgânicos, como argilas e areias, e
outros poluentes lavados das superfícies de escoamento. Como resultado da
purificação destas águas, nas Estações de Tratamento de Água, obtêm-se lodos
decantados, parcialmente desidratados, constituídos essencialmente por sólidos
inorgânicos e muitos microorganismos patogênicos vivos ou mortos que podem
multiplicar-se à custa de inúmeras espécies de substâncias orgânicas presentes.
Segundo Grandin, Além Sobrinho E Garcia Jr, (1993) o lodo de ETA é
constituído, basicamente, de resíduos sólidos orgânicos e inorgânicos
provenientes da água bruta, tais como: algas, bactérias, vírus, partículas
orgânicas em suspensão, colóides, areias, argila, siltes, cálcio, magnésio, ferro,
manganês, etc. Estes constituintes são observados em formas de hidróxidos de
alumínio em grande quantidade, provenientes da adição de produtos químicos e,
em alguns casos, polímeros condicionantes também utilizados no processo
(SILVA, BIDONE E MARQUES, 2000).
O processo de tratamento de água convencional, utilizado na grande
maioria dos sistemas de abastecimento produz, na fase de sedimentação e
filtração, um resíduo composto basicamente com as características da água bruta,
acrescido de hidróxidos de alumínio ou ferro e carbonatos.
Além disso, os lodos podem conter materiais tóxicos como metais pesados
(cobre, níquel, estanho, mercúrio, cromo, etc.), descartados nos esgotos
industriais. Os principais elementos detectados no Lodo, segundo Portella, 2003
são os óxidos: de alumínio (Al
2
O
3
), silício (SiO
2
), ferro (Fe
2
O
3
), titânio (TiO
2
),
magnésio (MgO), cálcio (CaO), sódio (Na
2
O), potássio (K
2
O) e pentóxido de
difósforo (P
2
O
5
), conforme números constantes na Tabela 1.0, contendo dois tipos
de amostras de lodo de ETA e a média dos principais óxidos.
21
Tabela 1 - Composição química do Lodo de Estação de Tratamento
de Água
Fonte: Portella, 2003
Barroso e Cordeiro, (2001) descrevem que alguns metais como cobre,
zinco, níquel, chumbo, cádmio, cromo e manganês e, em especial, o alumínio,
presente no lodo de ETA, possuem ação tóxica, podendo apresentar efeitos
positivos ou negativos nas técnicas de tratamento, disposição final e, até mesmo,
na reutilização destes resíduos.
Segundo Silva e Isaac, (2002) a quantidade de lodo originária dos
decantadores representa cerca de 60 a 95% da quantidade total de resíduos
produzidos na ETA, sendo o restante oriundo do processo de filtração. Gerado em
todas as estações de tratamento de água, o volume de lodo produzido representa
de 0,2 – 5,0 % do volume tratado de água.
De acordo com Reali, (1999), o lodo de sulfato de alumínio tem coloração
marrom, com viscosidade e consistência que lembram chocolate quido, além de
apresentar dificuldade para sua sedimentação ou flotação em seu estado natural.
Segundo Richter, (2001), este lodo é basicamente líquido, com o teor de
sólidos totais presentes em um lodo de ETA variando entre 1.000 a 40.000 mg/l
(0,1 a 4%), sendo 75 a 90% de sólidos suspensos e 20 a 35% de compostos
Elementos (%) Lodo 01 Lodo 02 Média
SiO
2
14,10 12,75 13,425
Al
2
O
3
23,62 20,8 22,21
TiO
2
0,35 0,68 0,515
Fe
2
O
3
8,39 7,58 7,985
MgO 0,15 0,42 0,285
CaO 0,33 0,36 0,345
Na
2
O
< 0,02 0,1 0,06
K
2
O
0,11 0,27 0,19
P
2
O
5
0,34 0,69 0,515
Outros elementos não detectados 3,60 5,23 4,415
22
voláteis, apresentando, portanto, uma pequena porção biodegradável que pode
ser prontamente oxidável.
Deve-se considerar também que os dados mais recentes apontam que
cerca de 10% das estações possui alguma forma de disposição final, e outras
10% estão com projeto/obras em andamento. Estima-se que para equacionar o
problema com as soluções clássicas existentes, seriam necessários investimentos
significativos e que atualmente não estão disponíveis(TSUTIYA; HIRATA, 2001).
Um dos grandes desafios é a busca de alternativas economicamente e
tecnicamente viáveis, e ambientalmente vantajosas de destinação final do lodo de
ETA. A utilização benéfica do lodo de ETA pode ser considerada uma
oportunidade para aumentar a receita das empresas de saneamento, mas,
principalmente, reduzir custos e impactos ambientais associados a este resíduo
(TSUTIYA; HIRATA, 2001).
Cordeiro, (2000) complementa que a utilização de lodo de ETA como
matéria prima pode reduzir a quantidade de recursos naturais utilizados, além
de deixar de ocupar espaços em aterro sanitário.
Segundo Richter, (2001), o destino final para o lodo de ETA é uma das
tarefas mais difíceis no tratamento de água, pois envolve transporte e restrições
ambientais. Entre as alternativas mais utilizadas de disposição final, são
destacadas: lançamento em curso d’água; lançamento no mar; lançamento na
rede de esgoto sanitário; lagoa; aplicação no solo; e aterro sanitário.
2.2 FORMAS DE DISPOSIÇAO FINAL DO LODO DE ETA
2.2.1 Lançamento em Rios
De acordo com Cordeiro, (2003), a maioria das estações de tratamento de
água brasileiras lança os seus resíduos sólidos nos corpos d’água mais próximos
ou na rede de águas pluviais, sem nenhum tipo de tratamento. Este procedimento
favorece o aumento do grau de poluição dos corpos d’água e contribui para uma
maior degradação do meio ambiente.
O lançamento direto do lodo de ETA nos corpos d’água, acarreta no
aumento na quantidade de sólidos, provocando assoreamento indesejável do
23
corpo hídrico, mudanças de cor, turbidez e alterações em termos de composição
química e DQO (Demanda Química de Oxigênio), (YUZHU, 1996).
Segundo Barbosa et al., (2000), os principais parâmetros que influenciam o
aumento desta degradação o: turbidez, rie de lidos, nitrogênio, fósforo,
DQO e metais, principalmente alumínio, manganês e ferro.
Cornwell et al., (1987) e Cordeiro, (1981), alertam sobre a tendência do
resíduo sedimentar próximo ao local de lançamento, formando bancos de
sedimentos de lodo. Esta situação de acordo com os autores resulta no aumento
da DBO, inibição da atividade biológica, criar condições anaeróbias, causar
redução de pH, resultar na solubilização de metais contidos no lodo, liberar
odores e reduzir o oxigênio dissolvido imprescindível para a vida aquática.
Segundo Cordeiro et al., (2003), mesmo sem o conhecimento necessário
dos efeitos adversos causados por este procedimento, estima-se que cerca de
2.000 toneladas diárias de sólidos são lançados em coleções de água brasileiras,
sem nenhum tratamento (proveniente de 7500 ETAs). Este dado alarmante
justifica a importância de se discutir e encontrar alternativas para a disposição e o
uso benéfico do lodo proveniente das ETAs brasileiras.
2.2.2 Aterro Sanitário
Para que o lodo seja disposto em aterros sanitários, em células
impermeabilizadas e recoberto com terra, é necessário que ele siga padrões e
não ultrapasse alguns valores máximos especificados para certos parâmetros. É
de extrema importância que ele não seja classificado como resíduo perigoso,
assim, não pode ser tóxico, corrosivo, inflamável, irritante, sensibilizador forte ou
material que produz calor ou pressão através da decomposição (CORDEIRO,
1993).
Deve-se evitar que existam líquidos livres em sua composição. Assim, não
haverá percolação e nem a possibilidade de elementos carreados contaminarem
águas subterrâneas ou comprometerem a qualidade do solo. Além destas
características, Cordeiro, (1993), destaca que ele seja desaguado até que
apresente um teor de sólidos superior a 25%. Somente com estas análises será
24
possível garantir que o lodo pode ser disposto junto com os outros resíduos
sólidos sem causar impactos negativos.
Silva, Bidone e Marques, (2000) afirmam que no Brasil o aterro sanitário
também pode ser uma alternativa viável para disposição final dos Iodos de ETAs,
principalmente em cidades de pequeno e dio porte, com disponibilidade de
áreas economicamente acessíveis. A aplicação dos lodos em aterros é
considerada, por muitos, a mais segura no sentido de conter a contaminação ao
ambiente.
No entanto, deve-se considerar que, no Brasil, a maioria dos aterros não
é capaz de receber os resíduos sólidos domiciliares. Além disto, as altas taxas
cobradas pelos aterros, para recebimento do lodo, torna recomendável o estudo
de alternativas de disposição do lodo de ETAs. Para Richter, (2001), a disposição
do lodo de ETA em aterros sanitários deve ser a última alternativa a ser
considerada.
2.2.3 Estações de Tratamento de Esgotos (ETES)
Uma alternativa de destinação do lodo de ETA é o lançamento deste na
rede coletora de esgoto doméstico. Porém, suas características diferem muito das
que possuem os esgotos domésticos. Caso as análises químicas apontem
toxicidade do lodo de ETA, este tipo de disposição pode comprometer o bom
funcionamento da ETE e afetar a qualidade do corpo d´água que recebe o
efluente do tratamento.
Esta prática é muito comum na Europa e nos EUA, sendo exigido um pré-
tratamento do lodo de ETA antes do lançamento na rede coletora. A ASCE;
AWWA; USEPA (1996), afirmaram que os requisitos mais comuns, indicados
pelas concessionárias, para a aplicação do lodo de ETA na ETE são: equalização
do volume a ser disposto; ajuste do pH quando necessário; atendimento aos
limites para recebimento de efluentes não domésticos em sistema público de
esgotos, tais como sólidos totais, metais pesados, sulfatos, sulfetos, etc.
As principais limitações para esta prática se devem: à aplicação de padrões
mais rígidos no pré-tratamento de esgotos, à baixa capacidade das estações de
tratamento de esgoto para receber este resíduo sólido, a possíveis impactos no
25
desempenho dos digestores e a necessidade de atender padrões de emissão
mais restritivos para o efluente final.
Outra limitação, que pode tornar inviável esta disposição, é a tarifa aplicada
pelas concessionárias para recebimento deste tipo de resíduo.
2.2.4 Indústrias de Cimento
O lodo de ETA apresenta diversos elementos em sua composição
semelhantes ao cimento, de acordo com Richter, (2001), os principais
componentes do cimento encontrados também nos Iodos de ETA, o o CaO,
SiO e Fe
2
O. O lodo de ETA pode ser utilizado em determinadas proporções como
fonte de menor custo de óxidos.
Além disso, ele possui grande quantidade de areia e argila em sua
composição, o que pode ampliar seu uso. Os materiais naturais usados na
produção do cimento são calcário, xisto e argila. Os elementos cruciais para a
produção do cimento são: lcio, sílica, alumínio e ferro. O calcário, que
corresponde a 70 a 80% do total de matéria prima utilizada, contém baixos teores
de Al, Si e Fe.
Para atingir as quantidades ideais de cada elemento, as indústrias de
cimento adicionam outros materiais como argilas, xistos, minério de ferro e
bauxita. A diminuição de matéria prima requerida pode reduzir os custos da
indústria (RICHTER, 2001).
Por outro lado, existem algumas propriedades químicas associadas ao lodo
que são danosas à produção de cimento, como a de matéria orgânica, de
antracito e/ou carvão ativado granular (CAG), enxofre, permanganato de potássio
e altas concentrações de metais pesados.
A Taiheiyo Cement Corporation (2003) afirmou que nas 10 indústrias de
cimento da corporação, localizadas no Japão, são utilizados, 6,64 milhões de
toneladas de resíduos e subprodutos como matéria prima e combustível. Isto,
representa 280kg de resíduo para cada tonelada de cimento produzida. A meta
desta companhia para 2010 é atingir a quantia de 400kg de resíduo por tonelada
de cimento. A preocupação da Taiheiyo Cement em efetuar a reciclagem de
26
resíduos deve-se, principalmente, aos problemas que o Japão enfrenta com a
falta de espaço para aterros sanitários.
A viabilidade comercial da inclusão destes resíduos no cimento, a garantia
de abastecimento regular de matéria prima e a economia com transporte foram
consideradas detentoras da mesma importância que a composição qualitativa dos
resíduos. Este estudo de viabilidade foi recomendado para trabalhos futuros.
2.2.5 Concreto
A incorporação do lodo de ETA em matriz de concreto é outra alternativa
considerada por Cordeiro, (2000), pois além de ser uma prática ecologicamente
correta de disposição final do resíduo, pode trazer benefícios para as estruturas.
Ensaios de resistência axial e absorção realizada por Sales e Cordeiro, (2001) em
amostras de concreto com adição de lodo seco, demonstraram que este tipo de
concreto é recomendado para aplicações não-estruturais, como: construção de
contra piso, argamassas para assentamento de componentes e confecção de
blocos de concreto de uso não-estrutural, além de outras aplicações que não
exijam resistências elevadas.
Conforme Hoppen et al., (2003), a incorporação do lodo centrifugado de
ETA em matriz de concreto pode ser uma alternativa para minimizar os impactos
ambientais oriundos da disposição inadequada em corpos d’água, porém,
destaca-se que mesmo que o concreto no qual foi adicionado lodo de ETA
atingisse os padrões necessários para utilização em concreto estrutural, este uso
deveria ser evitado pelo desconhecimento das interações químicas existentes
entre o mesmo e o concreto e, principalmente, pela provável ocorrência de
atividade corrosiva.
27
2.2.6 Cerâmica
O reaproveitamento de resíduos provenientes de processos industriais
para obtenção de produtos cerâmicos na construção civil. É uma das soluções
para o problema ambiental associado ao descarte de resíduos poluentes
(OLIVEIRA e HOLANDA, 2004).
Dentro do segmento da construção civil, o lodo de ETA , além de ser
utilizado na fabricação de cimento e concreto, pode ser aplicado na confecção de
peças cerâmicas, tais como tijolos, telhas e outros blocos.
Vários são os resíduos industriais absorvidos pela indústria cerâmica,
podendo se citar os resíduos de mineração, da indústria do papel e celulose,
metalúrgica etc. que, independente de sua origem, têm utilização cada dia maior
como matérias-primas alternativas na indústria cerâmica. As massas utilizadas na
indústria de cerâmica tradicional são de natureza heterogênea, geralmente
constituídas de materiais plásticos e não plásticos, com um vasto espectro de
composições, motivo pelo qual permitem a presença de materiais residuais de
vários tipos, mesmo em porcentagens significantes (OLIVEIRA e HOLANDA,
2004).
Segundo Tsutiya E Hirata, (2001), as propriedades físico-químicas do lodo
de ETA são semelhantes às encontradas nas argilas naturais, comumente
utilizadas nas olarias para fabricação de peças cerâmicas. O lodo de ETA
consiste basicamente em argila, silte e areia, além de matéria orgânica e outros
compostos químicos formados durante a coagulação, resíduos de alumínio e ferro,
dependendo do tipo de coagulante utilizado. Além disso, os lodos podem conter
materiais tóxicos como metais pesados (cobre, níquel, estanho, mercúrio, cromo,
etc.), que são descartados indevidamente nos esgotos industriais.
A aplicação do lodo de ETA pode ser realizada durante o processo de
fabricação de tijolos ou indiretamente na própria jazida onde a argila é extraída.
O sucesso ou falha da utilização do lodo em peças cerâmicas segundo
Cornwell et al., (2000), depende dos seguintes fatores: proximidade entre a
indústria cerâmica e a estação de tratamento de água, características
físicoquímicas dos resíduos, coagulantes e outros produtos químicos utilizados no
28
processo de tratamento, aceitação deste resíduo pelos ceramistas e os impactos
que este uso possa causar nas operações normais da indústria.
A composição granulométrica das massas de cerâmica vermelha exerce
papel fundamental no processamento e nas propriedades dos diversos tipos de
produtos. A introdução de materiais não-plásticos, como a areia e o de carvão,
que o lodo de ETA pode possuir, em maior ou menor quantidade, altera a
granulometria das massas, podendo haver alterações em seu comportamento,
durante o processo. Isto ocorre porque a areia e o de carvão são constituídos
de partículas de tamanhos consideravelmente maiores que as das argilas
(CORNWELL et al., 2000),
Ainda segundo o autor, a umidade contida no resíduo é muito importante
para seu manuseio e incorporação no processo de obtenção de materiais
cerâmicos.
Em seus estudos, Teixeira, (2002) verificou que em geral a adição do lodo à
massa cerâmica sempre piora suas propriedades, dependendo das
características deste lodo, da concentração utilizada e da temperatura de queima,
entretanto, as suas características permanecem dentro dos limites aceitáveis para
tijolos.
Mais recentemente, em estudos realizados pelo autor, com a adição de 0, 10,
20 e 30% de lodo em massa cerâmica, demonstraram que a resistência mecânica
á flexão diminui em função do aumento da concentração de lodo à massa
cerâmica (TEIXEIRA, 2006).
A Companhia de Saneamento do Paraná também desenvolveu uma série de
estudos visando à utilização do lodo de ETA em pequenas proporções, de 0,2 a
4% em massa cerâmica, como forma de disposição final do resíduo.
David et al., (2002), realizaram ensaios de incorporação de lodo da ETA
Cubatão na argila, em diferentes dosagens, para confecção de blocos cerâmicos
pela mistura de lodo mais argila. Com estes estudos foi verificado que a
incorporação deve ser feita caso a caso de modo a verificar a compatibilidade
entre os materiais e os processos de fabricação envolvidos.
Conforme estudo de caso apresentado por Cornwell et al., (2000), as
cidades Cary e Apex na Carolina do Norte entraram em acordo com indústrias
29
cerâmicas da região, a fim de substituir a disposição do lodo em aterros pelo uso
na produção de materiais de construção. A mistura do resíduo às outras matérias
primas era feita ainda na jazida. A contribuição do lodo da ETA como matéria
prima era insignificante. Porém, tanto a indústria cerâmica quanto a estação
concordaram que esta aplicação era ambientalmente correta e que poderia
preservar espaço valioso nos aterros sanitários.
Outro estudo de caso apresentado por Cantó et al., (2002) foi realizado em
Barcelona na ETA Saint Joan Despí. A aplicação do lodo na fabricação de tijolos
tornou-se uma opção para esta ETA porque a legislação ambiental espanhola
tornou-se mais restritiva.
2.2.7 Agricultura
A aplicação na agricultura é uma das formas de disposição de lodo de
ETAs comumente utilizada. rios estudos (CORNWELL et al., 2000; WHORTON
et al. 2002; GODBOLD et al., 2003) demonstraram que a aplicação de lodos de
ETAs na agricultura o provoca impactos significativos ao crescimento das
espécies vegetais. Alguns benefícios associados à adição de resíduos de ETAs
em solos agricultáveis são: melhoria da estrutura, ajuste do pH, adição de traços
de minerais, aumento da capacidade de retenção de umidade e aeração do solo.
Este tipo de disposição também apresentou aspectos negativos tais como: a
tendência do ferro do resíduo de capturar o fósforo disponível para a planta e do
alumínio causar problema de toxicidade para a mesma, caso o pH do solo não
fosse mantido em valores iguais ou inferiores a 6,5 (CORNWELL et al., 2000;
WHORTON et al. 2002; GODBOLD et al., 2003).
A aplicação de lodo no solo pode ser feita na forma quida ou desaguada.
Neste último caso, é importante considerar: a distância entre a estação de
tratamento e o local de aplicação, a disponibilidade de áreas para estocagem, a
quantidade de água contida no resíduo e as preferências do agricultor que fa
uso do lodo. Outro cuidado que se deve ter com a aplicação do resíduo,
principalmente na forma líquida, é realizar análises para garantir que o haja
30
elementos tóxicos, que possam ser carreados, contaminando o solo e o lençol
freático.
Dillon et al. (1996) apud Godbold et al., (2003) registraram que a adição de
resíduos de estação de tratamento de água, condicionados com cal, a um solo
ácido, trouxe benefícios ao crescimento de plantas. O aumento de pH resultante
compensou qualquer decréscimo na disponibilidade de fósforo, geralmente
constatado quando há aplicação de coagulantes de alumínio no solo.
Em solos onde são cultivadas plantas cítricas como limão e laranja,
normalmente existem deficiências de ferro. O ferro é vital para o desenvolvimento
das culturas de tricos e pode ser suprido através da aplicação no solo de lodos
das ETAs. Entretanto é necessário que a estação de tratamento utilize como
coagulante o sulfato de ferro (TSUTIYA, 2001).
2.2.8 Compostagem
O processo de compostagem é utilizado para preparar o lodo de ETA que
será aplicado na agricultura. Este processo possibilita uma transformação
biológica na fração orgânica que leva à estabilização e redução no peso e volume
do produto final o composto. O material final obtido é de natureza orgânica,
sendo estável e muito similar ao húmus (UNIVERSIDAD DE ALICANTE, 2004).
Este processo é ecológico, dinâmico e complexo e a temperatura e
assimilação de nutrientes são variáveis com a atividade microbiana. Com o
objetivo de uso agrícola, o lodo deve ser processado para reduzir a umidade,
aumentar a proporção Carbono/Nitrogênio (C/N), alterar a estrutura física e
diminuir a presença de microrganismos patogênicos.
2.2.9 Disposição no Solo
O resíduo de ETA pode ser usado na recuperação do solo, a fim de
reabilitá-lo para o crescimento de plantas, ao contrário do uso na agricultura, onde
ele funciona como um condicionador. Esta prática pode ser adotada em áreas
susceptíveis a erosões, como locais que foram utilizados para extração de mineral
31
ou onde se desenvolveram outras atividades, nas quais era necessária a remoção
do solo de superfície (CORNWELL et al., 2000).
Este tipo de aplicação pôde ser realizado, pois, apesar do resíduo da
estação de tratamento de água possuir poucos nutrientes, ele contém argila, areia,
silte e traços de minerais que podem ajudar no crescimento das plantas. Segundo
SCALIZE (2003), este método de disposição tem limitações com relação à
concentração de certos metais e a possível contaminação que pode causar.
O Departamento de Saúde Pública e Ambiente do Colorado (COLORADO,
2004) elaborou um documento para regulamentar e assegurar que a aplicação do
lodo de ETA no solo constitui um uso benéfico que não afeta negativamente a
saúde pública. Tal documento estabelece regras e normas para o projeto e a
operação de locais de disposição deste tipo de lodo.
O mesmo documento determinou ainda que o lodo de tratamento de água
não deve ser usado em raízes comestíveis, em plantas frutíferas rasteiras ou em
verduras destinadas ao consumo humano direto.
2.3 AREIA VERDE DE FUNDIÇÃO
A areia de fundição é conhecida como areia de sílica, constituídas de
partículas extremamente pequenas (1 a 10 µm) (BARTH, 2003).
O processo de fabricação de peças fundidas utiliza grande quantidade de
areia para confecção dos moldes e machos. O índice de consumo de areia,
dependendo do tipo de peça, varia de 800kg a 1000kg de areia para cada 1000
kg de peças produzidas.
Essa areia normalmente é extraída de jazidas de cava ou rios, com
granulometrias variadas. No preparo dos moldes, a areia é misturada com
materiais ligantes como a Bentonita Sódica Ativada, de carvão, outros aditivos
e água, para obtenção da areia verde, utilizada na produção de peças de menor
peso e tamanho. Na maioria dos processos é adicionada resina fenólica,
dificultando sua recuperação e reutilização, gerando assim, grande quantidade de
areia a ser descartada em aterros industriais.
32
Bonet (2002) estudou o reaproveitamento dos resíduos de areia de
fundição RAF nas massas asfálticas do tipo concreto betuminoso usinado a
quente (CBUQ). Os resultados foram satisfatórios comprovando à viabilidade
técnica da incorporação de 8% dos RAF no traço de massa asfáltica em CBUQ.
A CETESB (2003) dissemina e incentiva a adoção de medidas de
Produção mais Limpa no Estado de São Paulo com estudo de Reuso de Areia de
Fundição e Reciclagem de Resíduos da Recuperação da areia de fundição.
Hörlle, Baseglio e Bergmann (2004) desenvolvem um trabalho com areias
provenientes de processo de fundição (areia verde, macharia do processo Cold
Box, e macharia do processo CO
2,
,
conhecido como Magazine, e de exaustão)
para incorporação na argila vermelha na intenção de minimizar este tipo de
resíduos nos aterros industriais.
2.4 MICRO ESFERA DE VIDRO PARA JATEAMENTO
A poeira de jateamento é gerada nas câmaras de jateamento no setor de
limpeza mecânica, que é a primeira etapa da maioria das peças que são
submetidas ao processo de tratamento de superfície. Este equipamento lança em
alta velocidade, microesferas de vidro contra as pecas metálicas com o objetivo
de retirar, através de efeito abrasivo, carepas e asperezas, assim como sujidades
presentes na superfície da peça. Após as microesferas de vidro terem sido
usadas no processo de limpeza mecânica, elas partem-se, após algumas vezes
de reuso, perdendo sua propriedade de remoção, sendo então descartadas
(BORGO, 2005).
Sua classificação segundo a ABNT NBR-10004/2004 é Resíduo Sólido
Inerte, classe II B, porém é um rejeito industrial que não pode ser reaproveitado
no próprio processo, pois se misturado às matérias-primas, para produzir o
próprio vidro, é suspenso ao ar devido à ação de queimadores que sopram sobre
os constituintes da mistura para que ocorra a fusão do mesmo. Além disso, o pó
adicionado gera bolhas no material porque possui ar adsorvido nas partículas. É
considerado um material inerte, mas se disposto em rios pode aumentar o pH e a
33
turbidez da água (LUZ e RIBEIRO, 2004) além de não ser biodegradável
diminuindo a vida útil de vários aterros e assoreando rios.
O vidro é obtido pela fusão de rochas e minerais, seguida por resfriamento
rápido, que não permite a cristalização. Certos materiais são mais adequados
para este procedimento, por exemplo, a sílica (SiO
2
), na forma de quartzo,
proveniente de arenitos. Como o ponto de fusão do quartzo é muito elevado
(1713°C), adicionam-se certos ingredientes, como ca lcário (CaCO
3
), carbonato de
sódio (NaCO
3
) e rax (Na
2
B
4
O
7
), para reduzir a temperatura de fusão (SKINNER,
1996).
De acordo com o Boletim Técnico do produto comercialmente denominado
Micro esfera de Vidro, fornecido pela empresa Abraspar Comercial de Abrasivos
Ltda, o material é constituído por micro esferas de vidro produzidas com vidro
incolor de alta qualidade do tipo Soda-Cal, com teor de sílica nunca inferior a 65%.
Contém padrão de esfericidade de no mínimo 80%, limpeza e uniformidade de
tamanho. Possuem ausência de material contaminante como ferro (Fe), carbono
(C), chumbo (Pb) e outros, sendo assim, um material inerte e atóxico. São
utilizadas em tintas para sinalização, com efeito retro reflexivo, em pistolas de alta
pressão, com efeito abrasivo uniforme e delicado (BORGO, 2005).
Luz e Ribeiro (2004) desenvolveram trabalhos analisando a incorporação de
de vidro na argila em substituição ao feldspato como fundente, concluindo que
o vidro é um bom fundente, permitindo a queima das amostras em temperaturas
menores do que as encontradas na literatura quando comparadas ao feldspato.
Bragança e Bergmann (2004) comparam as propriedades mecânicas de
uma porcelana que utiliza vidro alcalino como fundente, com uma porcelana
tradicional (utilização de feldspato de potássio como fundente) e constataram que
apesar da incorporação do vidro na massa diminuir o módulo de ruptura e a
densidade da porcelana, apresentou a vantagem por ter a temperatura de queima
reduzido em 100 º C.
Godinho, et al., (2004) investigaram o efeito da adição de de vidro de
diferentes tipos (vasilhame, vidro de janela e funil de tubo de imagem de TV) na
concentração de 6% em massa cerâmica. Observou-se que a adição diminui a
absorção de água enquanto que a retração linear e a tensão de ruptura à flexão
34
aumentam. Este comportamento foi explicado pelos autores devido a quantidade
de óxidos fundentes dos vidros adicionados e da quantidade da dispersão das
partículas de pó de vidro na argila.
OLIVEIRA, et al (2004) fizeram ensaios de incorporação de vidro nas
concentrações de 3%, 5%, 7% e 10% na cerâmica vermelha observando a
diminuição da retração linear de secagem e queima, e a diminuição do ponto
crítico de secagem (curva de Bigot).
2.5 SAIS DE NEUTRALIZAÇÃO DE ÁCIDOS DE BATERIAS AUTOMOTIVAS
A bateria ácida de chumbo é um produto industrial complexo, composto pôr
distintos materiais: componentes metálicos, solução ácida, plásticos e polímeros.
(JOLLY et al.,1994). A Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica
(ABINEE), em parceria com várias empresas produtoras de baterias automotivas
no Brasil, desenvolveu um trabalho de orientação para minimizar os resíduos
gerados no processo de reciclagem das baterias automotivas, sendo uma das
recomendações deste estudo, à neutralização do ácido sulfúrico.
Para que as baterias dos automóveis sejam descartadas de forma
ambientalmente correta, torna-se necessária a neutralização do ácido contido em
seu interior antes que este material seja descartado. São usados neste caso
hidróxidos de sódio Na(OH)
2
que possuem alto potencial alcalino, neutralizando
assim, os ácidos contidos nas baterias.
Estes sais contêm pequenas porcentagens de metais pesados,
principalmente chumbo, dificultando e encarecendo sua disposição final.
Uma forma encontrada de reutilização dos resíduos de sais foi apresentada
por Ribeiro (2008), que utilizou estes sais na composição da massa cerâmica com
o objetivo de reduzir a temperatura de queima. Em seus estudos ficou
comprovada a ação fundente dos sais, sendo mais eficaz que o feldspato de
potássio, comumente utilizado como fundente pela indústria cerâmica.
35
2.6 CERÂMICA
O termo “cerâmica” vem da palavra grega keramikos, que significa
“matéria-prima queimada”, indicando que as propriedades desejáveis destes
materiais são normalmente atingidas por mrio de um processo de tratamento
térmico a alta temperatura conhecido como ignição (CALLISTER, 2002).
Os materiais cerâmicos são compostos de elementos metálicos e não-
metálicos, para os quais as ligações interatômicas ou são totalmente iônicas ou
parcialmente iônicas com alguma natureza covalente. Eles são frequentemente
óxidos, nitretos e carbetos. Estes materiais o tipicamente isolantes à passagem
de eletricidade e calor, e são mais resistentes a altas temperaturas e ambientes
abrasivos do que os metais e polímeros. Com relação ao comportamento
mecânico, os cerâmicos são duros, porém mais quebradiços (CALLISTER, 2002).
Uma das propriedades que as argilas apresentam, que favorecem a
inertização de resíduos, é a capacidade de troca de cátions, fazendo com que os
metais encontrados na forma de íons, sejam adsorvidos pela argila em uso,
porém não garante a possibilidade de estarem completamente inertes, tornando-
se necessária a realização dos ensaios de lixiviação e solubilização no produto
final após a adição do resíduo. Outra vantagem é que o processo térmico
potencializa as reações químicas entre os metais da argila e os demais
componentes da massa (BALATON, GONÇALVES e FERRER, 2002) apud
(BORGO, 2005).
A argila é uma matéria-prima utilizada na fabricação de uma série de
produtos cerâmicos. As razões para isto são: a) apresenta plasticidade; b)
apresenta resistência mecânica após queima adequada para uma série de
aplicações; c) possibilita a aplicação de técnicas de processamento simples; e d)
é disponível em grandes quantidades.
A argila é um material natural, terroso, de granulação fina, que pode ser
aglomerado ou um pó, que geralmente adquire, quando umedecido com água,
certa plasticidade (SOUZA e SANTOS, 1989).
Plasticidade em argilas é essencialmente resultante das forças de atração
entre partículas de argilominerais e a ação lubrificante da água entre as partículas
36
(SOUZA e SANTOS, 1989). Diversos experimentos demonstraram que quanto
maior a superfície específica do material, maior a sua plasticidade.
A cor de um material queimado depende exclusivamente do conteúdo em
óxidos corantes presentes na composição, principalmente de óxidos de ferro. Este
fato condiciona o tipo de matéria-prima a ser empregada e, portanto, é
responsável pela diferença existente entre as composições que se utiliza na
fabricação dos materiais de queima vermelha e branca (CASAGRANDE, 2002).
Os materiais com elevados teores de ferro resultam em uma cor vermelha após a
queima.
Segundo a Associação Brasileira de Cerâmica, cerâmica vermelha
compreende aqueles materiais com coloração avermelhada empregados na
construção civil (tijolos, blocos, telhas, elementos vazados, lajes, tubos cerâmicos
e argilas expandidas) e também utensílios de uso doméstico e de adorno. o
materiais que possuem argila em sua composição e que devido a este fator
apresentam cor avermelhada, justificando sua nomenclatura.
A partir de argilas naturais ou como matéria-prima separada, o quartzo é
um dos minerais mais abundantes e está presente na maioria das massas
empregadas em cerâmicas. Os materiais que possuem quartzo desempenham
funções nas massas e nos produtos cerâmicos, como diminuição da plasticidade
da mistura de matérias-primas e aumento da permeabilidade da peça crua e do
coeficiente de expansão térmica linear da peça queimada, evitando assim que
esta se deforme ou se retraia demasiadamente, tanto a seco como durante a
queima (FERNANDES, 2002).
Além das características técnicas que devem ser satisfeitas, outro fator
muito importante em se tratando de cerâmica vermelha é a exigência do baixo
custo das matérias-primas, considerando que o produto final geralmente possui
um baixo valor agregado (DOS SANTOS et al., 2005).
37
2.7 PROPRIEDADES DO MATERIAL CERÂMICO
As propriedades dos materiais cerâmicos são determinadas pelas
características atômicas e microestruturais dos materiais que os compõem. Estas
características podem ser controladas pela seleção das matérias-primas,
processo de fabricação e produto; é fundamental o controle para que os defeitos
microestruturais sejam minimizados (REED, 1995).
2.7.1 Retração Linear
A retração linear de queima depende fundamentalmente da densidade
aparente da peça prensada, da composição da massa e das condições de queima
(MELCHIADES et al., 2001).
O volume da peça prensada seca é a soma do volume das partículas
sólidas e dos poros entre as mesmas. Na queima, durante o aquecimento, inicia-
se um processo de formação de fases líquidas no interior do produto, em
decorrência da fusão parcial dos componentes menos refratários presentes na
massa. O aumento da temperatura provoca a redução da viscosidade das fases
líquidas, facilitando assim o seu “escorrimento” para dentro dos espaços vazios
entre as partículas que ainda não se fundiram, resultando em uma diminuição do
volume de poros e na retração da peça.
2.7.2 Absorção de Água
A absorção de água do material cerâmico queimado é um parâmetro
utilizado para medir a porosidade aberta e avaliar a fundência do material. A
absorção da água é definida como o ganho em peso, expresso em porcentagem,
que a peça apresenta quando introduzidas em água em ebulição durante um
período de tempo determinado, segundo Casagrande, (2002).
Segundo Chih-Huang et al., (2003), a absorção de água é um fator chave
no efeito da durabilidade do tijolo. A menor infiltração de água nos mesmos,
determina maior durabilidade e resistência ao ambiente natural ao qual o material
é exposto. Assim, a estrutura interna do tijolo precisa ter uma superfície capaz de
evitar a entrada de água.
38
2.7.3 Porosidade
A porosidade final do produto queimado é influenciada pela porosidade
inicial do material recém formado verde, seco, da formação da fase líquida na
queima, e o rearranjo das fases cristalinas (SANCHEZ-MUNÕZ et al., 2002).
Quanto maior a porosidade de uma amostra, mais fácil será a sua
penetração por líquidos e vapores. Usualmente, a penetração do líquido (em geral
água) é acompanhada por um dano potencial na estrutura do material (JONES et
al., 1985). Logo, tijolos e telhas (usualmente bastante porosos) estarão sujeitos à
penetração de água, com conseqüências danosas à resistência mecânica do
material. Um alto grau de porosidade é útil em materiais que deverão por
natureza ser isolantes (ao calor).
A porosidade também afeta o módulo de elasticidade do material. O
aumento da porosidade sempre resulta num decréscimo do módulo de
elasticidade (RICHERSON, 1982). Logo, o aumento da porosidade aumenta a
fragilidade dos materiais, diminuindo a sua resistência mecânica, por potencializar
o surgimento de falhas no material. Uma propriedade bastante relacionada com a
porosidade é a absorção de água.
2.7.4 Massa Específica Aparente
O aumento da massa específica aparente (densidade) durante a
compactação é uma decorrência da deformação plástica dos grânulos que ao se
deformarem passam a ocupar os espaços vazios que havia entre eles
(porosidade intergranular).
Portanto, a densificação depende da facilidade com que os grânulos se
deformam plasticamente, ou seja, da sua plasticidade. Ao se aumentar a pressão,
aumenta-se o grau de deformação, mas o efeito plastificante de água continua
sendo o mesmo. Entretanto, ao se aumentar a massa específica aparente
(densidade), o volume de espaços vazios entre as partículas por unidade de
volume da amostra diminui e, com ele, a mobilidade das partículas. Assim sendo,
resta um volume cada vez menor para que a água adicionada, além de revestir a
39
superfície das partículas e torná-las plásticas, possa se movimentar sobre elas
(CASAGRANDE, 2002).
Como a massa específica aparente do compacto é dada pela razão entre a
massa e o volume do mesmo, e a massa permanece constante durante a
compactação, a única forma de se aumentar a massa específica aparente
(densidade) é através da redução do volume (PAULA et al., 1997). A massa
específica aparente é uma propriedade importante no processo cerâmico que está
relacionada com os valores de resistência à flexão das peças, absorção de água
e retração linear.
2.7.5 Resistência Mecânica
De uma maneira genérica, os materiais cerâmicos apresentam alto módulo
de elasticidade, são frágeis e bastante duros. A presença de fase vítrea e
porosidade nas cerâmicas tradicionais reduzem consideravelmente a resistência
mecânica (PADILHA, 1997, apud CASAGRANDE, 2002).
Durante o aumento da temperatura de queima, antes mesmo de atingir a
temperatura máxima (ideal), ocorre modificação das fases cristalinas da argila. Na
temperatura máxima ocorrem reações químicas e com isso a formação de nova
fase cristalina e fusões parciais (fase líquida); finalmente consolidação do material
através da formação de uma estrutura, que em processo de resfriamento se torna
rígido e com mais resistência que o material seco.
40
2.8 CLASSIFICAÇÃO DOS PRODUTOS CERÂMICOS
As normas para classificação de produtos cerâmicos definem os parâmetros
de absorção de água e resistência mecânica. A Tabela 2 apresenta a
classificação dos revestimentos mecânicos segundo a ABNT – NBR 13817.
Tabela 2 – Classificação dos revestimentos cerâmicos: ABNT –NBR 13817
Grupo Absorção de Água
(%)
Resistência Mecânica
(kgf/cm
2
)
Definição do
Grupo
BIa 0 < Abs = 0,5 350 a 500 Porcelanato
BIb 0,5 < Abs = 3 300 a 450 Grês
BIIa 3 < Abs = 6 220 a 350 Semi-grês
BIIb 6 < Abs = 10 150 a 220 Semi-poroso
BIII Abs > 10 150 a 220 Poroso
Segundo CASAGRANDE (2002), o uso recomendado para o produto pela
ISO 13006 - 6 - Especificações, está definido na Tabela 3.
Tabela 3 – Classificação do produto cerâmico e o uso recomendado
Definição do Grupo Uso Recomendado
Porcelanato Piso e parede
Grês Piso e parede
Semi-grês Piso e parede
Semi-poroso Parede
Poroso Parede
Na Tabela 3, estão os valores para os produtos cerâmicos estruturais
segundo a ABNT NBR 7170, de tijolo maciço cerâmico para alvenaria. MENEZES
et al., (2002).
Tabela 4 – Classificação de tijolos maciços ABNT –NBR 7170
Classificação do tijolo maciço Resistência mecânica à Flexão
(kgf/cm
2
) MPa
Tijolo maciço > 15 > 1,5
Classe A 15 < 25 1,5 < 2,5
Classe B 25 < 40 2,5 < 4,0
Classe C > 40 > 4,0
41
CAPÍTULO 3
- MATERIAIS E MÉTODOS -
42
3. MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 COLETA E PREPARAÇÃO DOS RESÍDUOS E ARGILA
Os resíduos industriais que neste trabalho serão utilizados como matérias
primas na fabricação de cerâmica vermelha, foram obtidos em distintas empresas
e preparados no Laboratório de Tecnologia Ambiental.
3.1.1 Lodo de Estações de Tratamento de Água
O lodo de ETA foi fornecido pela empresa de saneamento do Paraná
(SANEPAR) da estação de tratamento de água Passaúna (Curitiba-PR) que gera
aproximadamente 12 ton/dia deste resíduo. O lodo coletado apresentava uma alta
umidade, 80% aproximadamente, por este motivo, foi seco a temperatura
ambiente por uma semana, e em seguida, submetida à estufa (100°C) durante 48
horas. Após esta secagem, os torrões de lodo foram desagregados, pulverizados
em moinho de carbeto de tungstênio e submetidos à peneira com abertura de
500µm, e acondicionado em recipiente plástico com identificação.
3.1.2 Micro Esferas de Vidro
O vidro residual foi fornecido por uma indústria galvânica, que utiliza micro
esferas de vidro como abrasivo para a limpeza das peças metálicas, antes do
tratamento galvânico. O vidro não necessitou passar pelo moinho de mandíbulas,
por se tratar de um extremamente fino. Foi diretamente submetido à estufa
para secagem permanecendo por um período de 24 horas a 100 - 110º C e
peneirado posteriormente em peneira com abertura de 500µm e acondicionado
em recipiente plástico identificado.
3.1.3 Sais de Neutralização
Os sais gerados nos tanques durante o processo de neutralização da
solução ácida das baterias automotivas, foram fornecidos por uma empresa
recicladora de chumbo em Londrina (PR). A utilização dos sais na composição da
43
cerâmica tem por finalidade solucionar o problema de descarte do resíduo, além,
de reduzir a temperatura de queima da cerâmica, visto que ele age como um
fundente devido a sua composição química. Estes sais se apresentam na forma
de “torrões” bastante coeso. Devido a isto, foi necessário submeter este material a
um moinho de mandíbulas até apresentar granulometria inferior a 1 cm e então
secá-lo em uma estufa a 100°C por aproximadamente 2 4 horas.
Após o material estar seco foi levado ao moinho de carbeto de tungstênio
até que adquirisse granulometria inferior a malha com 500µm de abertura, sendo
depois armazenado em recipiente plástico identificado.
3.1.4 Areia de Fundição
O resíduo de areia utilizado nesta pesquisa denomina-se areia verde.
Oriunda da indústria de fundição, que a utiliza na fabricação de moldes que são
utilizados para dar forma às peças metálicas. Este resíduo foi coletado na forma
de moldes, que necessitaram ser desagregados antes de ser submetido à peneira
de abertura de 500µm.
A utilização deste resíduo na formulação da cerâmica foi atribuído ao seu
potencial de contaminação, quando disposto ou armazenado inadequadamente,
além, de possuir grande quantidade de Si, na forma de quartzo em sua
composição, que atua como estabilizador de tamanho da peça cerâmica,
reduzindo sua retração linear.
3.1.5 Argila
Como único componente natural da cerâmica vermelha, será utilizada em
pequenas proporções argila proveniente de São José dos Pinhais (RMC) que é
comumente utilizada pelas olarias locais na produção de cerâmica vermelha.
Coletada logo após a extrusão, a amostra de argila foi seca a temperatura
ambiente por uma semana, e em seguida, submetida à estufa (100°C) durante 48
horas. Após esta secagem, os torrões de argila foram desagregados, pulverizados
em moinho de carbeto de tungstênio e submetidos à peneira com abertura de
500µm.
44
Foram utilizados os seguintes equipamentos:
Balança digital Marte AS5500 C com capacidade de 5000g e com
sensibilidade de 0,01g;
Estufa FANEM modelo Orion 515 com controle de temperatura entre 0° e
300°C;
Peneira Bertel com abertura 32 mesh;
Agitador mecânico de peneiras Bertel;
Vidrarias e utensílios de laboratório como béquer, pipeta, espátulas,
almofariz, etc.;
Moinho de carbeto de tungstênio AMEF AMP1-M;
Prensa uniaxial para prensagem manual BOVENAU para até 15 Ton;
Molde de aço temperado com dimensões de 60x20 mm;
Banho de areia LABSTORE com controle de temperatura de até 320°C;
Forno Linn Elektro Therm com controle de temperatura de até 1300°C,
termopar de Pt-Pt/Rh e cones pirométricos com variação de 5°C;
Paquímetro digital DIGIMESS 150 mm;
Equipamento universal de ensaios EMIC, modelo DL 10000;
Equipamento Raios-X Difratometria Philips modelo PW 1830;
Equipamento Raio X Fluorescência Philips modelo PW 2400;
Metalizador de ouro SCD 030 BALZERS UNION SL 9496 com
evaporação catódica à vácuo;
Microscópio Eletrônico Varredura JEOL – JSM-6360 LV;
Agitador rotativo para não voláteis TECNAL TE-743;
Bomba a vácuo TECNAL TE-058;
Sistema de filtração TECNAL TE-0591;
pHmetro pH 330i/SET WTW.
45
3.2 PREPARO DOS CORPOS-DE-PROVA (Cp’s)
A preparação dos corpos de prova foi realizada no LTA-UFPR (Laboratório
de Tecnologia Ambiental) com o auxílio dos equipamentos necessários, (balança
digital, molde metálico, prensa hidráulica, estufa, forno, etc.).
Para cada composição determinada, foram confeccionadas 10 amostras
(Corpos de Prova – Cp’s) com o objetivo de representar estatisticamente os
resultados obtidos nos ensaios. Cada corpo de prova foi preparado de modo que
seu peso seco fosse igual a 20g. Os materiais foram pesados em balança digital
com precisão de 0,01g e colocados em um almofariz de porcelana para
incorporação de água na concentração de 10% do peso de cada Cp.
Após a mistura ter sido homogeneizada com um pistilo, umedecida e
novamente homogeneizada, a mistura foi então pesada e colocada no molde
metálico retangular (60x20mm) para compactação, através de uma prensa
uniaxial por 45 segundos com 20 MPa.
Após a compactação o Cp foi desmoldado, identificado e colocado para
secagem em uma bandeja metálica no banho de areia, com temperatura entre 50
e 60ºC por 24 horas. Os Cp’s após saírem deste período de secagem no banho
de areia, tinham suas dimensões verificadas e anotadas as antes da queima, com
o intuito de calcular posteriormente a retração linear e densidade da amostra.
Para a queima, os Cp’s foram acomodados no forno elétrico sobre uma
base refratária coberta com caolim, respeitando uma distância mínima entre os
Cp’s, para não haver diferenças no gradiente de temperatura. O forno era
programado para que atingisse a temperatura desejada através de estágios de
queima, sendo:
a) 2 horas para atingir 450 ºC;
b) Mais 4 horas para atingir a temperatura desejada (800, 850, 900, 950
ou 1000°C).
c) Fixação na temperatura desejada durante 6 horas;
d) Resfriamento até temperatura de 250 ºC;
e) Desligamento e resfriamento até temperatura ambiente.
46
Ao serem retirados do forno os Cp’s eram identificados com fita adesiva e
verificado e anotado suas dimensões para avaliar a retração linear, absorção,
massa aparente e resistência à flexão.
3.3 COMPOSIÇÕES E TEMPERATURAS UTILIZADAS
As composições, 1 a 20, foram elaboradas objetivando compreender a
influência e o comportamento de cada componente na massa cerâmica,
estabelecendo um limite de utilização para os elementos.
O lodo de ETA, principal constituinte da massa cerâmica, foi utilizado em
concentrações entre 30 e 60%, com variações de 5%. O vidro residual e os sais
foram incorporados à massa cerâmica em concentrações de 15, 20 e 25%. A
areia de fundição foi utilizada (5, 10 e 15%) apenas em algumas composições,
para verificar sua interferência na retração linear das peças. A concentração total
de resíduos na massa cerâmica neste grupo de amostras foi de 65, 70, 75, 80 e
85%, conforme demonstra a Tabela 5.
Tabela 5 – Composições dos CP’s
Composição
Lodo de ETA
(%)
Vidro (%) Sais (%) Areia de
Fundição (%)
Argila (%)
1 50 15 15 - 20
2 30 25 15 - 30
3 35 20 15 15 15
4 30 20 15 20 15
5 35 15 15 20 15
6 40 15 15 15 15
7 30 25 15 5 25
8 30 20 15 5 30
9 35 20 15 5 25
10 40 20 15 5 20
11 40 20 15 - 25
12 45 20 15 - 20
13 45 15 15 - 25
14 35 15 15 - 35
15 30 20 20 - 30
16 30 25 15 - 30
17 50 20 10 - 20
18 60 15 10 - 15
19 55 15 10 - 20
20 40 20 20 - 20
47
Todas as composições foram queimadas em diferentes temperaturas,
durante seis horas, com variação de 50°C, sendo ela s: 900, 950, 1000 e 1050ºC.
Além das combinações supracitadas, elaborou-se uma rie de amostras
com 100% de argila, denominada de A, para servir como referência para os
resultados dos ensaios mecânicos.
3.4 CARACTERIZAÇÃO DOS ENSAIOS LABORATORIAIS
Os ensaios laboratoriais foram realizados objetivando conhecer as
características químicas, mineralógicas e morfológicas das matérias primas
utilizadas e caracterização mecânica, mineralógica e morfológica dos corpos de
prova confeccionados.
As análises de perda ao fogo, difração de Raios-X e fluorescência de
Raios-X foram realizadas sob supervisão no Laboratório de Análises de Minerais
e Rochas da Universidade Federal do Paraná (LAMIR-UFPR). Os testes de
resistência mecânica foram realizados no Instituto de Tecnologia para o
Desenvolvimento LACTEC e no Laboratório de Anatomia Vegetal da UFPR. A
microscopia eletrônica de varredura foi realizada no Centro de Microscopia da
Universidade Federal do Paraná .Os demais ensaios, retração linear, absorção de
água, massa específica aparente, foram realizados no Laboratório de Tecnologia
Ambiental (LTA – UFPR).
3.4.1 Perda ao Fogo
Na perda ao fogo PF as matérias primas pulverizadas em moinho de
carbeto de tungstênio são colocadas em estufa a 100 - 110°C por
aproximadamente 24 horas. Após secos os materiais são pesados em cadinhos
de porcelana e submetidos à mufla a temperatura de 990 - 1010°C por
aproximadamente 24 horas. Após este período o cadinho é pesado novamente
para se obter a diferença de peso.
48
3.4.2 Fluorescência de Raios-X
O espectrômetro de fluorescência de raios-x é um instrumento que
determina quantitativamente os elementos contidos em uma determinada amostra,
através da aplicação de raios-X na superfície da amostra e posterior análise dos
fluorescentes.
Para a preparação das amostras, o material após ter sido pulverizado e
seco em estufa por aproximadamente 24 horas a uma temperatura média de
100°C, foi pesado uma porção de 7g e adicionado 1,4g de resina, após uma
mistura manual este material foi submetido a uma prensagem automática. O
material prensado em forma de pastilhas é analisado por feixes de raios-X no
equipamento PHILIPS ANALITICAL modelo PW 2400/00.
3.4.3 Difração de Raios-X
A técnica de difração de raios-x é utilizada para a determinação das fases
cristalinas onde estão presentes os elementos químicos. Quando o feixe de Raio-
X difrata em um cristal desconhecido, a medida do ângulo de difração do raio
emergente pode elucidar a distância dos átomos no cristal e, conseqüentemente,
a estrutura cristalina.
Com a utilização de um dispositivo capaz de detectar os raios difratados,
pode-se definir a forma da estrutura gerada pelo espalhamento que refletiu e
difratou os raios-X, gerando o difratograma.
Para a preparação das amostras, o material após ter sido pulverizado e
seco, é colocado em um molde de metal e pressionado manualmente com o
auxílio de uma placa de metal e de vidro, para que se possa obter uma superfície
plana. Após a leitura da amostra no equipamento modelo PW-1830, marca
PHILIPS ANALITICAL foi utilizado um software (X’Pert HighScore Report)
interpretar os resultados e auxiliar na identificação das fases cristalinas dos
materiais.
49
3.4.4 Microscopia Eletrônica de Varredura
A Microscopia Eletrônica de Varredura MEV foi utilizada para caracterizar
a morfologia das matérias primas e analisar a estrutura do material cerâmico
quanto à porosidade e superfície vítrea. Para esta caracterização os materiais
foram secos em estufa a 100 - 110°C por 24 horas e metalizados a vácuo com
uma camada de ouro. O microscópio utilizado foi da marca JEOL, modelo JSM-
6360 LV e o material foi metalizado em um equipamento SCD 030 BALZERS
UNION SL 9496.
3.4.5 Retração Linear
A retração linear pós queima RL, não é um parâmetro que tem sua
classificação cerâmica normalizada pela NBR’s, mas é um importante parâmetro
industrial. Quando a cerâmica apresenta-se porosa é caracterizada por baixa
retração, na ordem de 3%, o semiporoso é caracterizado por uma retração de 4-
6% e o gresificado por uma retração linear de 8%. BORLINI (2002) apud BORGO
(2005).
Para o cálculo da RL foi utilizada a fórmula de Galdino, Silva e Nogueira
(2004), expresso na Equação 1:
RL =
Onde:
RL = Retração Linear (%)
L
1
= Comprimento do corpo de prova seco (mm)
L
2
= Comprimento do corpo de prova queimado (mm)
L
1
– L
2
L
1
100
(Eq. 1)
50
3.4.6 Absorção de Água
A determinação da absorção de água foi feita conforme descreve a NBR
13818/1997 Anexo B. A equação 2 demonstra como foi calculado o percentual
de absorção de água.
Abs =
Onde:
Abs = Absorção de água (%)
m
1
= massa seca (g)
m
2
= massa saturada (g)
3.4.7 Massa Específica Aparente
A massa específica aparente é uma propriedade importante no processo
cerâmico que está relacionada com os valores de resistência à flexão das peças,
absorção de água e retração linear CAMPREGHER (2005). A massa específica é
dada pela Equação 3.
MEA =
Onde:
MEA = massa específica aparente (g/cm
3
)
Ms = massa do corpo de prova seco (g)
Mu = massa do corpo de prova úmido (g)
Mi = Massa do corpo de prova imerso em água (g)
m
2
– m
1
m
1
100
Ms
Mu - Mi
(Eq. 2)
(Eq. 3)
51
3.4.8 Resistência Mecânica
Para a determinação do módulo de resistência à flexão das placas foram
seguidos os procedimentos conforme descreve a NBR 13818/1997 Anexo C. A
Equação 4 demonstra como foi calculado o módulo de resistência à flexão.
MRF =
Onde:
MRF = Módulo de resistência à flexão (MPa)
F = Força de ruptura (Kgf)
L = Distância entre as barras de apoio (cm)
b = Largura do corpo de prova (cm)
h = Mínima espessura do corpo de prova (cm)
3.4.9 Lixiviação
Realizou-se a preparação do extrato lixiviado no Laboratório de Tecnologia
Ambiental seguindo a Norma Técnica Brasileira NBR 10005/2004 -
Procedimento para obtenção de extrato lixiviado de resíduos sólidos. Depois de
preparado, o extrato lixiviado foi analisado pelo Espectrofotômetro de Absorção
Atômica do Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento – LACTEC, para
verificar se a nova cerâmica atende os padrões de lixiviação de metais.
3.4.10 Solubilização
Realizou-se o ensaio de solubilização no Laboratório de Tecnologia
Ambiental seguindo a Norma Técnica Brasileira NBR 10006/2004 -
Procedimento para obtenção de extrato solubilizado de resíduos sólidos. Depois
de preparado, o extrato solubilizado foi analisado pelo Espectrofotômetro de
Absorção Atômica do Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento LACTEC,
para verificar se a nova cerâmica atende os padrões de solubilização de metais.
3 x F x L
2 x b x h
2
(Eq. 4)
52
CAPÍTULO 4
- RESULTADOS E DISCUSSÕES -
53
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1 CARACTERIZAÇÃO DAS MATÉRIAS PRIMAS
4.1.1 Lodo de ETA
Os resultados a seguir apresentados fornecem as características químicas,
mineralógicas e morfológicas do lodo de ETA, proporcionando obter um maior
conhecimento sobre este resíduo, objetivando incorporá-lo na maior concentração
possível na massa cerâmica.
4.1.1.1 Fluorescência de Raios-X
Os principais elementos constituintes do lodo de ETA foram detectados
através do método fluorescência de raio-X, sendo constatado os óxidos como os
principais elementos: de alumínio (Al
2
O
3
) , silício (SiO
2
), ferro (Fe
2
O
3
) nas maiores
concentrações, compreendendo 54,47%, titânio (TiO
2
), manganês (MnO), cálcio
(CaO), enxofre (SO3), sódio (Na
2
O), potássio (K
2
O) e pentóxido de difósforo
(P
2
O
5
), conforme valores constantes na tabela 6.
Tabela 6 – Principais componentes do lodo de ETA (%)
Elemento % E.A. Elemento % E.A.
Al
2
O
3
24,46 0,05 Cl 0,32 0,005
SiO
2
17,01 0,06 K
2
O 0,18 0,001
Fe
2
O
3
13,00 0,03 BA 0,12 0,001
MnO 3,20 0,02 BR 0,03 0,001
SO
3
0,61 0,007 Na << -
CaO 0,46 0,006 MG << -
P
2
O
5
0,44 0,005 Sr << -
TiO
2
0,40 0,005 P.F. 39,77 -
54
4.1.1.2 Difratometria de Raios-X
Através da utilização do método de difratometria de Raios-X foram
pesquisadas as fases minerais presentes no lodo de ETA, que apresentou três
fases semelhantes das argilas, como podem ser observados na figura 1 e na
Tabela 7: Quartzo (SiO
2
), Caolinita Al
2
Si
2
O
5
(OH)
4
e a Gibbsita Al (OH)
3
.
Figura 1 – Difratograma do Lodo de ETA
Tabela 7 – Identificação dos picos do difratograma do Lodo de ETA
Código de
Referência
ICP
Nome do
Composto
Fórmula Química
29-1488 Kaolinite Al
2
Si
2
O
5
(OH)
4
79-1911 Quartzo (SiO
2
)
07-0324 Gibbsita Al (OH)
3
55
4.1.1.3 Microscopia Eletrônica de Varredura
As figuras 2-A e 2-B tratam-se de imagens bem representativas da
morfologia do lodo de ETA, onde é possível verificar um material com as
partículas dispersas, com formatos irregulares, distribuídas sem estrutura e
ligação com muitos poros visíveis.
A x 1000 20 µm B x 1000 20 µm
Figura 2 – Microimagem do Lodo de ETA através do método de microscopia
eletrônica de varredura (MEV)
4.1.2 Areia Verde
Os resultados a seguir apresentados fornecem as características químicas,
mineralógicas e morfológicas da areia verde, proporcionando obter maior
conhecimento do referido material para incorporá-lo a massa cerâmica como
estabilizador de tamanhos, reduzindo a retração linear das amostras.
4.1.2.1 Fluorescência de Raios-X
Na análise química da areia verde pode-se observar na Tabela 8 a grande
predominância de SiO
2
(91,15%,). Existem também teores menores de outras
substâncias como Al
2
O
3
e Fe
2
O
3
de aproximadamente 2%.
Este material apresenta teores de Cr e TiO
2
cujo somatório é de 0,23%,
acima do que permitem as normas brasileiras. A soma de todos os outros
elementos constituintes da areia verde não chega a 1%.
56
Tabela 8 – Análise química da Areia Verde
Elemento % E.A. Elemento % E.A.
Na
2
O 0,26 0,01 Cr 0,12 0,003
MgO 0,24 0,01 Mn << -
Al
2
O
3
2,26 0,01 Fe
2
O
3
1,96 0,01
SiO
2
94,65 0,10 Cl << -
SO
3
0,19 0,004 BA << -
K
2
O 0,08 0,003 P << -
CaO 0,14 0,004 Sr << -
TiO
2
0,13 0,004 P.F. 3,7 -
4.1.2.2 Difratometria de Raios-X
Os resultados da Fluorescência de Raios-X são comprovados pelo
difratograma da Figura 3, que apresenta somente picos clássicos de quartzo em
sua composição.
Position2Theta]
10 20 30 40 50 60
Counts
0
400
1600
3600
Quartz low, syn
Quartz low, syn
Quartz low, syn
Quartz low, syn
Quartz low, syn
Quartz low, syn
Quartz low, syn
Quartz low, syn
Quartz low, syn
Quartz low, syn
Quartz low, syn
Quartz low, syn
Quartz low, syn
Quartz low, syn
48505A.CAF
Figura 3 – Difratograma da Areia Verde
57
Tabela 9 – Identificação dos picos do difratograma da Areia Verde
Código de
Referência
ICP
Nome do
Composto
Fórmula Química
65-0466 Quartzo Si O
2
4.1.2.3 Microscopia Eletrônica de Varredura
Observa-se na imagem de MEV da Figura 4 A, com magnificação de 77
vezes os grãos de diferentes tamanhos, mas com predominância de partículas
com diâmetros próximos a 200 µm. Os grãos apresentam-se arredondados e sem
nenhuma ligação entre eles.
A x 77 200 µm B x 250 100 µm
Figura 4 – Microimagem da areia de fundição através do método de microscopia
eletrônica de varredura (MEV)
Observa-se na Figura 4 B, com magnificação de 250 vezes, que na
superfície do grão existe uma camada de material semelhante a escamas que
não está completamente ligado ao corpo da partícula. Este fenômeno é resultado
de choques térmicos durante o processo de moldagem do metal liquido com
temperaturas de até 1300° C. As camadas externas du rante o choque térmico
transformam-se do estado cristalino para o estado amorfo.
58
4.1.3 Vidro de Jateamento Galvânico
Os resultados a seguir apresentados fornecem as características químicas,
mineralógicas e morfológicas do vidro de jateamento, proporcionando obter maior
conhecimento do referido material para incorporá-lo a massa cerâmica como
material fundente das amostras, auxiliando no encapsulamento dos metais
pesados.
4.1.3.1 Fluorescência de Raios-X
Através da análise química do vidro de jateamento galvânico observa-se na
Tabela 10 a predominância de SiO
2
(76,31%), e
de forma decrescente Na
2
O
(8,75%), CaO, MgO até Fe
2
O
3
(2,24%). As somatórias dos outros elementos não
alcançam 2% do total analisado pelo Raio-X.
Tabela 10 – Análise química do vidro de jateamento galvânico
Elemento % E.A. Elemento % E.A.
Na
2
O 8,75 0,05 Cr << -
MgO 2,50 0,02 MnO << -
Al
2
O
3
0,85 0,01 Fe
2
O
3
2,24 0,01
SiO
2
76,31 0,1 Cl << -
SO
3
0,26 0,005 Zr 0,01 0,001
K
2
O 0,31 0,006 PB 0,11 0,002
CaO 8,31 0,03 Sr 0,01 0,001
TiO
2
<< - P.F. 0,34 -
4.1.3.2 Difratometria de Raio X
O DRX do vidro de jateamento galvânico (Figura 5) demonstra
praticamente completa ausência de materiais cristalinos. No DRX existem apenas
dois picos pequenos:
59
Position [°2Theta]
10 20 30 40 50 60
Counts
0
4
16
36
64
52205B.CAF
Figura 5 – Difratograma do Vidro de Jateamento Galvânico
O primeiro pico em 26,5° de 2 θ representante do quartzo e o segundo em
44,5° em 2 θ representa o alumínio metálico proveniente do suporte da amostra
quando submetido ao aparelho de DRX.
Observa-se também um halo de grande intensidade de matéria vítrea entre
11° e 3 em 2 θ. Abaixo do halo (entre linha zero da curva do DRX e a linha zero
no gráfico) tem-se somente material amorfo.
4.1.3.3 Microscopia Eletrônica de Varredura
Na Figura 6 A observa-se claramente que se trata de micro esferas de
vidro, além de fragmentos provenientes da quebra de algumas esferas, de areia
que é misturado junto com o vidro para aumentar o poder abrasivo e impurezas
provenientes da limpeza das peças para o processo de galvanização.
60
A x 300 50 µm B x 1000 10 µm
Figura 6 – Microimagem das micro esferas de Vidro através do método de
microscopia eletrônica de varredura (MEV)
Com o aumento da magnificação para 1000 vezes (Figura 6 – B) as
sujeiras são mais claramente visíveis além de algumas crateras e pedaços de
vidro.
4.1.4 Sais de Neutralização
A utilização deste resíduo ocorreu primeiramente pelo seu potencial
fundente devido a presença de Sódio em sua composição, reduzindo a
temperatura de fundição dos constituintes da composição em torno de 100° C,
fazendo com que haja considerável economia de energia no processo de
produção e evite o uso de materiais mais nobres como o feldspato de potássio.
Outro fator para adição deste material nas misturas foi o fato de se tratar de um
resíduo industrial com alto potencial poluidor e por este motivo agregar maior
valor à pesquisa uma vez que dá destino adequado a este material.
4.1.4.1 Fluorescência de Raios-X
Através da Fluorescência de Raios-X demonstrada na Tabela 11, pode-se
observar que o SO
3
apresenta-se com maior concentração (29,39%) seguido pelo
Na
2
O (18,67%) e pelo Cl (4,56%). A perda ao fogo dos sais foi de 44,64%.
61
Tabela 11 – Análise Química dos Sais de Neutralização
Elemento
% E.A. Elemento % E.A.
Na
2
O 33,72 0,07 Sb 0,38 0,001
Sn 0,25 0,001 BA 0,18 0,001
SiO
2
0,34 0,005 Fe
2
O
3
0,36 0,004
P
2
O
5
0,40 0,003 Cl 8,24 0,02
SO
3
53,10 0,04 As 0,47 0,003
K
2
O 1,16 0,008 PB 1,25 0,003
Ca << - BR 0,04 0,001
I 0,11 0,001 P.F. 44,64 -
4.1.4.2 Difratometria de Raios-X
A neutralização dos ácidos contidos nas baterias automotivas (H
2
SO
4
)
ocorre por meio da aplicação de hidróxido de sódio (NaOH) e por este motivo no
fim da interação recebe-se dois tipos de sais: ternardita de dio (Na
2
SO
4
) e
Halita (NaCl), ambos visíveis na Figura 7 e na Tabela 12.
Position [°2Theta]
10 20 30 40 50 60
C ounts
0
100
400
Thenardite, syn
Thenardite, syn
Halite
Thenardite, syn
Thenardite, syn
Halite
Thenardite, syn
Thenardite, syn
Thenardite, syn
Thenardite, syn
Halite
Thenardite, syn
Thenardite, syn
Thenardite, syn
Thenardite, syn
Thenardite, syn
Thenardite, syn
Thenardite, syn
Halite
Thenardite, syn
Thenardite, syn
Thenardite, syn
Thenardite, syn
Thenardite, syn
Thenardite, syn
Halite
Thenardite, syn
52205D .C AF
Figura 7 – Difratograma dos Sais de Neutralização
62
Tabela 12 – Identificação dos picos do difratograma dos Sais
Código de
Referência
ICP
Nome do
Composto
Fórmula Química
74-1738 Thenardita Na
2
SO
4
75-0306 Halita Na Cl
4.1.4.3 Microscopia Eletrônica de Varredura
Nas figuras 8 A e 8 B observa-se que a granulometria das partículas dos
sais são bastante homogêneas sendo todas arredondadas e ligadas entre si com
grandes poros de diferentes tamanhos e formas.
A x 1000 20 µm B x 3000 10 µm
Figura 8 – Microimagem dos sais de neutralização através do método de
microscopia eletrônica de varredura (MEV)
63
4.1.5 Argila
Os resultados a seguir apresentados fornecem as características químicas,
mineralógicas e morfológicas da argila, proporcionando obter maior conhecimento
do referido material para incorporá-lo a massa cerâmica como único material
natural das amostras, auxiliando no encapsulamento dos metais pesados devido
a suas propriedades plásticas e ligantes.
4.1.5.1 Fluorescência de Raios-X
Através da Fluorescência de Raios-X apresentada na Tabela 13, observa-
se que o óxido de maior concentração é o SiO
2
com 54,82%, seguido pelo Al
2
O
3
(18,77%), Fe
2
O
3
(11,90%) e K
2
O (4,13%). A soma das porcentagens dos outros
elementos não chega a 2,5%, porém verifica-se a presença de metais pesados
(TiO
2
, Zr e Rb). A perda ao fogo desta argila foi de 8%.
Tabela 13 – Análise Química da Argila
Elemento % E.A. Elemento % E.A.
Na << - Ag << -
MgO 1,35 0,01 Mn << -
Al
2
O
3
20,4 0,05 Fe
2
O
3
12,93 0,03
SiO
2
59,59 0,1 Y <<
Rb 0,022 0,001 Zr 0,022 0,001
K
2
O 4,13 0,02 P
2
O
5
0,195 0,004
Ca << - S << -
TiO
2
1,02 0,01 P.F. 8,0 -
64
4.1.5.2 Difratometria de Raios-X
A pesquisa das fases mineralógicas presentes na argila natural (Figura 9 e
Tabela 14) demonstram a presença de três materiais principais: quartzo, illita e
magnetita. Observa-se também grande teor de substâncias amorfas como
resultado de processos geológico da argila
Position [°2Theta]
10 20 30 40 50 60
Counts
0
100
400
Illite-2\ITM\RG#2 [NR]
Illite-2\ITM\RG#2 [NR]; Magnetite
Illite-2\ITM\RG#2 [NR]
Quartz; Illite-2\ITM\RG#2 [NR]
Illite-2\ITM\RG#2 [NR]
Quartz; Illite-2\ITM\RG#2 [NR]
Illite-2\ITM\RG#2 [NR]
Magnetite
Illite-2\ITM\RG#2 [NR]
Illite-2\ITM\RG#2 [NR]; Magnetite
Quartz; Illite-2\ITM\RG#2 [NR]; Magnetite
Illite-2\ITM\RG#2 [NR]
Quartz; Illite-2\ITM\RG#2 [NR]
Quartz; Illite-2\ITM\RG#2 [NR]
Quartz; Magnetite
Quartz; Illite-2\ITM\RG#2 [NR]
Quartz
Quartz; Illite-2\ITM\RG#2 [NR]
Illite-2\ITM\RG#2 [NR]
Quartz
Magnetite
Quartz
Quartz
52205A.CAF
Figura 9 – Difratograma da Argila
Tabela 14 – Identificação dos picos do difratograma da Argila
Código de
Referência
ICP
Nome do
Composto
Fórmula Química
83-0539 Quartzo Si O
2
43-0685 Illita K Al
2
( Si
3
Al ) O
10
( O H )
2
89-0951 Magnetita Fe
3
O
4
65
4.1.5.3 Microscopia Eletrônica de Varredura
Nas figuras 10-A e 10-B observa-se através das microimagens que a argila
utilizada nesta pesquisa, devido a estar em forma de pó, apresenta diversos poros
entre as partículas com diferentes granulometrias e formas laminares.
A x 1000 20µm B x 3000 10µm
Figura 10 – Microimagem da argila através do método de microscopia eletrônica
de varredura (MEV)
66
4.2 RESULTADOS DO EXPERIMENTO
Após a etapa de sinterização os melhores corpos-de-prova, ou seja, os que
apresentavam melhor aparência e resultados quanto às características mecânicas
(retração linear e resistência mecânica), foram selecionados. Outro fator levado
em consideração nesta etapa foi selecionar as amostras com as maiores
concentrações totais de resíduos. Para que os resultados tivessem valores de
referência foi elaborada uma combinação denominada de A, com 100% de argila
que será utilizada como amostra controle.
Para o grupo de amostra escolhido como sendo o melhor e mais
representativo, tabela 15, avaliaram-se mais detalhadamente os demais
parâmetros mecânicos, tais como: absorção de água, retração linear e massa
específica.
Tabela 15 – Melhores composições
Composição
Lodo de
ETA (%)
Vidro
(%)
Sais (%) Areia de
Fundição (%)
Argila (%)
1 50 15 15 - 20
2 30 25 15 - 30
3 35 20 15 15 15
5 35 15 15 20 15
7 30 25 15 5 25
10 40 20 15 5 20
13 45 15 15 - 25
14 35 15 15 - 35
4.2.1 Resistência Mecânica à Flexão
Os resultados obtidos de resistência mecânica à flexão referem-se a uma
média de 10 corpos-de-prova gêmeos e podem ser observados na tabela 16, com
o respectivo desvio padrão, que demonstra a resistência mecânica para cada
temperatura testada. Cabe frisar, que segundo a classificação de tijolos maciços
(tabela 4), a resistência mínima que a peça cerâmica deve possuir é de 1,5 MPa
para assegurar sua utilização.
67
Através da análise dos valores obtidos na Tabela 16 pode-se observar que a
composição 2, foi a que obteve maior valor do MRF (20,0 Mpa), valor obtido a
1050° C durante 6 hs. Este fato pode ser explicado, pois se trata da amostra com
a maior quantidade de argila e vidro, sem a adição de areia em sua composição.
As menores resistências observadas (3,4 e 3,0 MPa) foram verificadas nas
composições 3 e 5 a 900°C, em função das maiores co ncentrações de resíduos,
85%, e de areia 15 e 20% respectivamente. Porém, as duas composições
apresentam um salto crescente nos valores de resistência, nas temperaturas de
1000° para 1050°C, em virtude do início da sinteriz ação do quartzo presente na
areia.
Tabela 16 – Resultados da Resistência Mecânica à Flexão
Lodo de
ETA (%)
Vidro
(%)
Sais
(%)
Areia
(%)
Argila
(%)
900°C
MPa
950°C
MPa
1000°C
MPa
1050°C
MPa
1 50 15 15 - 20 6.6 ±1,2 7,6±1,8 10,0,7 9,6±1,9
2 30 25 15 - 30 8.1±2,1 14,1±2,4 14,0±1,5 20,0±2,6
3 35 20 15 15 15 3.4±0,7 5,8±1,3 6,2±1,7 11,6±1,9
5 30 15 15 20 15 3.0±1,1 4,3±1,1 5,5±0,8 11,5±0,8
7 30 25 15 5 25 7.2±1,7 12,5±0,9 12,6±1,1 15,1±1,3
10 40 20 15 5 20 5.1±1,7 7,0±1,6 7,4±1,3 10,2,1
13 45 15 15 - 25 7.1±2,2 8,6±2,3 12,1,5 16,9±2,3
14 35 15 15 - 35 8.7±1,9 8,7±2,1 17,2,6 15,3±1,7
A - - - - 100 3.9±0,5 6,1±0,9 6,7±1,2 4,5±0,7
A cerâmica elaborada com 80% de resíduos (composição 1), destes,
utilizando 50% de lodo de ETA apresentou uma resistência crescente entre 900°,
950° e 1000°C, onde apresentou uma resistência máxi ma a flexão de 10,8 MPa a
1000°C. A composição 13, que utiliza 5% menos lodo e 5% mais argila que a
composição 1, também apresentou valores crescentes de resistência em função
da temperatura de queima, porém, a diferença na concentração de lodo e argila
em 5% na composição, fez com que os valores de maneira geral fossem bem
superiores (16,9 MPa – 1050°C) que a composição 1.
Com uma concentração total de resíduos de 75%, destes, 45% de lodo de
ETA, a composição 13 apresentou uma resistência crescente em todas as
68
temperaturas de queima, sendo a máxima resistência (16,9 MPa) obtida a 1050°C,
tornando-se a maior resistência obtida em função da concentração de lodo de
ETA.
A composição 14, composta de 65% de resíduo, destes, 35% de lodo de
ETA também apresentou um alto valor de resistência, sendo de 17,1 MPa a
1000°C. Este valor de resistência não se apresentou crescente em função da
temperatura e decaiu para 15.3 MPa quando sinterizada a 1050°C.
Os resultados de resistência mecânica da amostra denominada como A,
com 100% de argila, apresentaram-se bem inferiores as demais composições
testadas, sendo que o valor máximo obtido para esta amostra foi de 6.7 MPa em
1000°C
4.2.2 Retração Linear
O ensaio de retração linear para classificação cerâmica não é um
parâmetro norrmatizado pelas NBR´s, mas é um importante parâmetro e deve ser
levado em consideração, pois quando a cerâmica apresenta-se porosa, ela é
caracterizada por baixa retração, na ordem de 3%, o semi-poroso é caracterizado
por uma retração de 4-6% e o gresificado por uma retração linear de 8%
(BORLINI, 2002).
Tabela 17 – Valores de Retração Linear Após Queima
Lodo de
ETA (%)
Vidro
(%)
Sais
(%)
Areia
(%)
Argila
(%)
900°C
(%)
950°C
(%)
1000°C
(%)
1050°C
(%)
1 50 15 15 - 20 6,6±0,3 7,3±0,4 7,8±0,8 8,5±0,5
2 30 25 15 - 30 5,8±0,8 6,6±0,6 7,0±0,5 7,5±0,2
3 35 20 15 15 15 5,3±0,6 5,7±0,3 6,3±0,9 6,7±0,6
5 35 15 15 20 15 5,1±0,5 5,4±0,8 5,9±0,8 6,3±0,7
7 30 25 15 5 25 5,5±0,9 6,2±0,8 6,5±0,4 6,9±0,4
10 40 20 15 5 20 5,9±0,9 6,4±0,5 7,0±0,6 7,9±0,8
13 45 15 15 - 25 6,8±0,6 7,1±0,3 7,7±1,1 8,4±0,7
14 35 15 15 - 35 6,0±0,7 6,6±0,7 7,3±0,8 8,0±0,9
A - - - - 100 3,9±0,7 4,6±0,7 5,3±0,7 6,1±0,7
69
De acordo com esta classificação, a cerâmica caracteriza-se como sendo
predominantemente semi-poroso e gresificado. Os resultados apresentados na
tabela 17 demonstram que os valores de retração linear das amostras
permaneceram na faixa de 5,1 a 8,5%. Com o aumento da temperatura houve um
acréscimo nos valores de retração linear em todas as combinações, devido ao
aumento da fase vítrea. De maneira geral, as amostras contendo areia
apresentaram os menores valores de retração linear. Sendo registrados, os
maiores valores a 1050°C nas combinações com as mai ores concentrações de
lodo de ETA.
4.2.3 Absorção de Água
Os resultados obtidos demonstram que a maioria das amostras se
enquadram de acordo com a (tabela 2) classificação dos revestimentos cerâmicos,
como sendo semi-poroso. Exceto as composições 5, a 900, 950 e 1000°C e 3, a
1000°C que devido aos valores de absorção de água s uperiores a 10%,
classificam-se como sendo poroso. Os altos valores de absorção, acima de 10%,
para as composições 3 e 5 podem ser atribuídos às concentrações de 15 e 20%
areia respectivamente nas composições. A composição A, também se classifica
como porosa, pois apresentou valores de absorção de água superiores a 10%,
em todas as temperaturas experimentadas.
Tabela 18 – Valores de Absorção de Água
Composição
Lodo de
ETA (%)
Vidro
(%)
Sais
(%)
Areia
(%)
Argila
(%)
900°C
(%)
950°C
(%)
1000°C
(%)
1050°C
(%)
1 50 15 15 - 20 8,9 8,1 7,9 7,5
2 30 25 15 - 30 8,0 7,3 7,1 6,3
3 35 20 15 15 15 10,1 9,5 8,8 7,8
5 35 15 15 20 15 10,7 10,2 10,1 8,1
7 30 25 15 5 25 8,3 7,5 7,3 6,9
10 40 20 15 5 20 9,8 8,7 8,4 7,9
13 45 15 15 - 25 8,3 8,9 7,7 6,7
14 35 15 15 - 35 8,3 8,7 6,5 6,9
A - - - - 100 11,3 10,9 10,3 9,9
70
4.2.4 Resultados dos Ensaios de Massa Específica Aparente
Analisando-se os valores da tabela 19, observa-se que com o aumento da
temperatura de queima, houve um acréscimo nos valores de massa específica
aparente, decorrentes do aumento da fase líquida no interior da amostra e
conseqüente fechamento dos poros.
Ao se aumentar à massa especifica aparente (densidade), o volume de
espaços vazios entre as partículas por unidade de volume da amostra diminui e,
com ele, a mobilidade das partículas (CASAGRANDE 2002).
Tabela 19 – Valores de Massa Específica Aparente
Composição
Lodo de
ETA (%)
Vidro
(%)
Sais
(%)
Areia
(%)
Argila
(%)
900°C
g/cm
3
950°C
g/cm
3
1000°C
g/cm
3
1050°C
g/cm
3
1 50 15 15 - 20 2,4±0,3
2,7±0,2
2,8±0,6
3,4±0,3
2 30 25 15 - 30 2,4±0,5
2,5±0,4
2,9±0,4
3,2±0,5
3 35 20 15 15 15 2,3±0,5
2,3±0,3
2,5±0,4
2,8±0,4
5 30 15 15 20 15 2,0±0,2
2,2±0,1
2,5±0,5
2,7±0,4
7 30 25 15 5 25 2,5±0,6
2,1±0,2
2,6±0,3
3,1±0,3
10 40 20 15 5 20 2,6±0,3
2,7±0,2
2,9±0,6
3,2±0,2
13 45 15 15 - 25 2,6±0,4
2,8±0,5
2,8±0,1
3,3±0,2
14 35 15 15 - 35 2,2±0,2
2,5±0,4
2,9±0,5
3,1±0,3
A - - - - 100 1,6±0,3
1,9±0,2
2,0±0,1
2,3±0,3
4.2.5 Difração de Raios-X da Cerâmica
A amostra de cerâmica referente à composição 1, com 50% de lodo de ETA,
foi escolhida em função da maior concentração de lodo, preparada e submetida à
análise de raios-X difratometria e verificou-se a síntese de dois tipos de estruturas
treas e cristalinas. Isto pode ser observado através da interpretação do
difratograma (figura 11), que demonstra uma grande altura entre a linha de base e
o eixo horizontal, e, a presença de pequenos picos em relação com a altura do
fundo da parte amorfa do material.
71
Position 2Theta]
10 20 30 40 50 60
Counts
0
100
400
Lazurite
Quartz low; Nepheline
Nepheline
Lazurite
Nepheline
Hematite; Lazurite
Corundum, syn
Quartz low
Nepheline
Lazurite; Nepheline
Hematite
Lazurite
Corundum, syn
Hematite; Lazurite
Quartz low; Lazurite; Nepheline
Corundum, syn; Nepheline
Hematite; Nepheline
Hematite; Lazurite; Nepheline
Quartz low; Corundum, syn; Lazurite; Nepheline
Hematite
04306D.CAF
Figura 11: Difratograma da amostra da cerâmica - DRX
A estrutura vítrea destaca-se como sendo de predominante ocorrência na
estrutura da amostra, devido à altura e característica do fundo do difratograma.
Os altos valores de resistência obtidos podem ser atribuídos em grande parte
principalmente a esta formação predominante, embora haja a síntese de novos
minerais após a queima da mistura inicial, como: Lazurite (Na
8.56
( Al
6
Si
6
O
24
) ( S
O
4
)
1.56
S.
44
) , Magnetite (Fe
3
O
4
), Nosean (Na
8
Al
6
Si
6
O
24
S O
4
) , Hematite (Fe
2
O
3
), Alumina (Al
2
O
3
) e Nepheline (Na
3
K ( Si0
.553
Al
0.447
)
8
O
16
).
4.2.6 Microscopia Eletrônica Varredura
Através da análise realizada com a utilização do método da microscopia
eletrônica varredura foi possível atestar visualmente a interpretação da análise de
72
raios-x difratometria, pois, todas as amostras apresentaram diferentes níveis de
vitrificação e interação química nas diferentes temperaturas.
Os diferentes níveis de vitrificação podem ser observados analisando as
microimagens da figura 12 – A e 12 B, que demonstram uma amostra de
cerâmica verde após compactação e uma amostra de cerâmica submetida a
900°C. Observa-se na imagem 12 A que todas as par tículas se apresentam
desagregadas, sem interação entre si, com diferentes tamanhos e formas. Ao
contrário, na figura 12 B, correspondente a uma amostra sinterizada a 900°C
pode-se observar que as partículas possuem alguma ligação através de uma fase
vítrea. É possível observar também na figura, que a 900°C as micro esferas de
vidro não se fundiram, encontram-se praticamente inteiras, justificando a baixa
resistência de algumas amostras a 900°C.
A x 500 50 µm B x 5000 5 µm
Figura 12 – Microimagem da cerâmica verde e queimada através do método de
microscopia eletrônica de varredura (MEV)
A máxima resistência obtida 20 MPa na composição 2, a 1050°C, pode ser
aumentada através de mudanças nos regimes de queima, porque a micrografia
demonstra que apesar da boa formação vítrea a amostra não se apresenta
totalmente homogenia na sua superfície (especialmente Figura 13 - C) ,
possuindo muitos poros e aparentes zonas de fraqueza na sua estrutura.
Nas demais imagens correspondentes à figura 13 A-B e D pode-se
observar claramente a predominância de matéria vítrea contínua, com poros
fechados e abertos, basicamente semi-esféricos ou ovais.
73
A x 3000 5 µm B x 300 50 µm
C x 100 10 µm D x 1000 10 µm
Figura 13 – Microimagem das cerâmicas queimadas através do método de
microscopia eletrônica de varredura (MEV)
74
4.2.7 Resultados dos Ensaios de Lixiviação
A amostra de cerâmica referente à composição 1 (1.00C), com 50% de
lodo de ETA, foi escolhida para realização dos ensaios de lixiviação e
solubilização, em função da maior concentração de lodo de ETA.
Os resultados de lixiviação obtidos, apresentados na Tabela 19 demonstram
que a cerâmica desenvolvida principalmente com resíduos industriais, apresenta
estabilidade química após sinterização no que diz respeito às ligações geradas
entre os diferentes resíduos utilizados e a argila.
Todos os metais analisados apresentaram baixos valores de lixiviação em
comparação com os limites estabelecidos pela NBR 10004. Com relação ao
chumbo, que apresentou uma concentração mais elevada, porém abaixo do limite
estabelecido pela norma, os valores de lixiviação podem ser reduzidos,
aumentando-se a temperatura e o regime de queima, ou simplesmente
diminuindo a porcentagem de sais na composição cerâmica.
Tabela 20– Resultado de Lixiviação (Composição 1)
Os baixos resultados de lixiviação obtidos resultam da interação química
extremamente forte entre os resíduos utilizados e argila, após a sinterização a
1000°C, originando uma estrutura cristalina e predo minantemente vítrea,
conforme comprovado nos ensaios de microscopia eletrônica de varredura e
difração de raios-X.
Unidade Limites
NBR 10004/04
Composição 1
Arsênio mg/L 1,0 < 0,001
Bário mg/L 70,0 < 0,1
Cádmio mg/L 0,5 < 0,005
Chumbo mg/L 1,0 < 0,62
Cromo mg/L 5,0 < 0,01
Mercúrio mg/L 0,1 < 0,0002
Selênio mg/L 1,0 < 0,001
75
4.2.8 Resultados dos Ensaios de Solubilização
Os resultados de solubilização também se apresentaram baixos e dentro
dos limites exigidos pela ABNT NBR 10004 2004 anexo G, como pode ser
observado na Tabela 21, a seguir:
Tabela 21 - Resultado de Solubilização (Composição 1)
Quase todos os metais analisados apresentaram-se dentro do limite da
sensibilidade do método de absorção atômica.
Unidade Limites NBR 10004/04
Amostra 1
Alumínio mg/L 0,2 < 0,1
Arsênio mg/L 0,01 < 0,001
Bário mg/L 0,7 < 0,1
Cádmio mg/L 0,005 < 0,005
Chumbo mg/L 0,01 < 0,01
Cromo mg/L 0,05 < 0,01
Ferro mg/L 0,3 0,05
Manganês mg/L 0,1 < 0,01
Mercúrio mg/L 0,001 < 0,0002
Zinco mg/L 5,0 0,15
76
CAPÍTULO 5
- CONCLUSÕES -
77
5. CONCLUSÕES
1. Com esta pesquisa foi comprovada a possibilidade de utilização como matéria
prima cerâmica, diferentes tipos de resíduos industriais em diferentes proporções,
tais como: Lodo gerado nas Estações de Tratamento de Água (30 a 60%), areia
de fundição (5 a 20%), resíduos de vidro de jateamento (15 a 25%) e sais de
neutralização de ácido de baterias automotivas (10 a 20%). A melhor combinação
deve ser definida em função da geração de resíduos, devendo ser respeitadas as
relações estabelecidas.
2. Os materiais cerâmicos obtidos nesta pesquisa possuem as seguintes
propriedades mecânicas: módulo de resistência à flexão em três pontos de 3,0 a
20,0 MPa, massa específica aparente de 2,0 a 3,4 g/cm
3
, absorção de água de 6,3
a 10,2% e retração linear de 5,1 a 8,5%. As novas cerâmicas desenvolvidas
apresentam propriedades mecânicas superiores às convencionais, principalmente
no referente a resistência mecânica a flexão.
3. O estudo dos processos físico-químicos de interação destes materiais durante a
sinterização através dos métodos de Difração de Raios-X e Microscopia Eletrônica
de Varredura, possuem como resultado a sinterização de novas formações, com
estruturas vítreas e pequenas inclusões de novas formas cristalinas, tais como:
Lazurite (Na
8.56
( Al
6
Si
6
O
24
) ( SO
4
)
1.56
S.
44
) , Magnetite (Fe
3
O
4
), Nosean (Na
8
Al
6
Si
6
O
24
SO
4
) , Hematite (Fe
2
O
3
), Alumina (Al
2
O
3
) e Nepheline (Na
3
K ( Si0
.553
Al
0.447
)
8
O
16
).
4. Os materiais cerâmicos obtidos nesta pesquisa apresentaram resultados de
lixiviação e solubilização satisfatórios, ou seja, todos os metais analisados estão
dentro dos padrões estabelecidos pela norma ABNT-NBR 10004, garantindo a
qualidade ambiental da cerâmica desenvolvida com resíduos industriais.
5. Entre os objetivos desta pesquisa não foram incluídos os cálculos de eficiência
econômica, mas, é provável que a utilização de resíduos industriais em
78
substituição as matérias primas naturais, tendo em vista o baixo custo dos
resíduos em comparação com os materiais tradicionais, pode ser lucrativo. Cabe
frisar, que esta pesquisa foi realizada a nível laboratorial, necessitando de mais
estudos e adaptações tecnológicas para a aplicação dos resultados em escala
industrial.
6. A maior importância para a utilização dos resultados obtidos neste projeto pode
ser para o meio ambiente, tendo em vista a real possibilidade de utilização de
diversos resíduos industriais como matéria prima, como forma adequada de
destinação final, prevenindo uma possível contaminação do meio ambiente, e
minimização da extração de recursos naturais para a fabricação de cerâmicas.
79
CAPÍTULO 6
- REFERÊNCIAS -
80
REFERÊNCIAS
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Sólidos: classificação. Rio de Janeiro, 2004a.
ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 10.005: Procedimentos
para obtenção do extrato lixiviado de resíduos sólidos. Rio de Janeiro, 2004b.
ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 10.006: Procedimentos
para obtenção do extrato solubilizado de resíduos sólidos. Rio de Janeiro,
2004c.
ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 13816. Placas
cerâmicas para revestimento – Terminologia. Rio de Janeiro, 1997a.
ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 13817. Placas
cerâmicas para revestimento – Classificação. Rio de Janeiro, 1997b.
ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 13818. Placas
cerâmicas para revestimento Especificação e métodos de ensaios. Rio de
Janeiro, 1997c.
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83
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