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UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ
Esmeralda de Fatima Santos Silva
(RE)SENTIMENTO E ANGÚSTIA: FIOS NA TECITURA DAS
REPRESENTAÇÕES DOCENTES ACERCA DA FORMAÇÃO
CONTINUADA
TAUBATÉ- SP
2010
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1
UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ
Esmeralda de Fatima Santos Silva
(RE)SENTIMENTO E ANGÚSTIA: FIOS NA TECITURA DAS
REPRESENTAÇÕES DOCENTES ACERCA DA FORMAÇÃO
CONTINUADA
Dissertação apresentada como parte dos
requisitos para obtenção do título de Mestre em
Linguística Aplicada pelo Programa de Pós-
graduação em Linguística Aplicada da
Universidade de Taubaté.
Área de concentração: Língua materna e
Línguas estrangeiras
Orientadora: Profa. Dra. Elisabeth Ramos da
Silva
TAUBATÉ- SP
2010
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Santos
-
Silva, E. F.
(Re)sentimento e angústia: fios na tecitura das
representações docentes acerca da formação
continuada./E. F. Santos-Silva. 2010.
151f.
Dissertação (mestrado) - Universidade de Taubaté,
Departamento de Ciências Sociais e Letras, 2010.
Orientação: Profª Drª Elisabeth Ramos da Silva,
Departamento de Ciências Sociais e Letras
1. Formação continuada. 2. Cognição.
3. Afetividade. 4. Angústia. 5. Ressentimento. I. Título.
2
ESMERALDA DE FATIMA SANTOS SILVA
(RE)SENTIMENTO E ANGÚSTIA: FIOS NA TECITURA DAS
REPRESENTAÇÕES DOCENTES ACERCA DA FORMAÇÃO
CONTINUADA
UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ, TAUBATÉ-SP.
Data: 04/ 03/ 2010
Resultado:_____________________________________________________
COMISSÃO JULGADORA
Profa Dra Elisabeth Ramos da Silva
Assinatura: ____________________________________________________
Profa Dra Maria José Milharezi Abud
Assinatura: ____________________________________________________
Profa Dra Áurea Maria Paes Leme Goulart
Assinatura: __________________________________________________
3
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho:
Ao meu marido, Antonio, por sempre acreditar em
minha capacidade.
Aos meus filhos, Thiago e Guilherme, pela
compreensão às minhas ausências.
Ao meu neto, Rodrigo Augusto, simplesmente
por existir.
À minha mãe, Jacyra, pela luta em continuar
conosco, apesar de todo o sofrimento.
Ao meu pai, José Augusto, que vive em outro
plano, mas continua presente em meus pensamentos.
4
AGRADECIMENTOS
A Deus,
por conduzir os caminhos de minha vida e mostrar que todos os momentos de
dificuldades e sofrimento trazem sempre algum aprendizado;
À minha família,
Marido, filhos e neto, por darem sentido a minha vida e compreenderem as minhas
ausências;
À minha orientadora,
mais que amiga, Profa Dra Elisabeth Ramos da Silva, por acreditar em minha
capacidade e me ensinar o valor da afetividade;
Aos queridos professores alfabetizadores
,
sujeitos dessa pesquisa, por aceitarem, gentilmente, participar comigo deste
empreendimento;
A todos os professores do Departamento de Pós-Graduação
em Linguística Aplicada,
em especial às professoras Dra Juliana Santana Cavallari, Maria Aparecida Lopes
Rossi e Elzira Yoko Uyeno, pela humildade em partilhar comigo seus
conhecimentos;
Aos queridos amigos da turma de 2008,
pelo apoio incondicional nos momentos de desânimo e incertezas;
A todos,
que de alguma maneira me ajudaram nesta árdua tarefa.
5
A chave do mal-estar docente está na desvalorização do
trabalho do professor, evidente no nosso contexto social, e
nas deficientes condições de trabalho do professor na sala
de aulas, o que o obrigam a uma atuação medíocre, pela
qual acaba sempre por ser considerado culpado
(ESTEVE,
1991, p. 120).
6
RESUMO
Esta pesquisa teve como objetivo a identificação e a análise das representações
sociais de professores alfabetizadores acerca da formação continuada no entremeio
da cognição e da afetividade, procurando verificar a relevância desta última na
constituição da subjetividade do sujeito-professor. Assim sendo, este estudo
contempla a natureza social dos processos psíquicos no intercâmbio razão/emoção.
Partindo de autores que, ao longo da história, defenderam a indissociabilidade
razão/emoção, chegamos ao conceito de significado, segundo análises de Vigotski
sobre a linguagem, como “um ato de pensamento” no qual se unem o intercâmbio
social e o pensamento generalizante. O autor distingue dois componentes no
significado da palavra: o significado propriamente dito e o sentido. Este último refere-
se ao significado da palavra para cada indivíduo, o qual é composto por relações
que dizem respeito não só ao contexto de uso, mas também às vivências afetivas do
sujeito. Tal concepção nos permitiu conjeturar que ressentimento e angústia estão
presentes no discurso docente acerca da formação continuada, adquiridos pelas/nas
amarras das representações culturais, e que afloram a partir da palavra
“capacitação”. Os dados foram obtidos por meio de um questionário respondido por
professores alfabetizadores de uma determinada rede de ensino da cidade de
Taubaté e analisados pelos dispositivos da Análise de Conteúdo de Laurence
Bardin. A técnica frequencial, utilizada nas respostas fechadas, permitiu a
caracterização do perfil do sujeito pesquisado, e a técnica de categorias temáticas,
utilizada nas respostas abertas, orientou as análises das representações docentes
acerca da própria formação. As regularidades temáticas que emergiram no discurso
docente nos permitiram associar os conceitos de ressentimento e angústia. A busca
por um respaldo científico acerca desses afetos levou-nos aos conceitos da
Psicanálise. Esta pesquisa, portanto, ancora-se em alguns aportes teóricos, que,
embora aparentemente antagônicos, associaram-se a partir da análise dos corpora.
A análise dos enunciados, além de comprovar nossa hipótese inicial de que o
ressentimento e a angústia são deflagrados no discurso docente pelas
representações adquiridas no/pelo contexto histórico e ideológico, permite-nos
elucubrar que estes são afetos intercambiáveis na defesa narcísica do eu: o sujeito-
professor (res)sentido, recusa-se ao trabalho de luto pelo objeto perdido
(valorização) processo necessário para que o eu retome a posição de sujeito de
desejo. Então, a angústia, instalada com a perda do objeto, não consegue recorrer à
fantasia para, novamente, corporalizar o objeto causa do desejo. O sujeito
ressentido e angustiado fica, portanto, preso ao eu ideal. Assim, não percebe que o
ideal do eu subjaz naquele que tem poder/saber de construir e transformar. O que se
faz necessário, portanto, é centrar a formação continuada na figura do próprio
professor, suas necessidades, realidades e afetividades. Talvez assim, entendendo
o docente como sujeito de sua prática, dando-lhe “voz” e “vez” para que ele mostre
seus anseios e culpas, consigamos restituí-lo efetivamente na ordem de sujeito do
desejo.
Palavras-chave
: formação continuada; cognição; afetividade; angústia;
ressentimento.
7
ABSTRACT
This research had as main objective the identification and analysis of the social
relations of literacy teachers with the follow-up studies about cognition and affectivity,
trying to verify the relevance of the latter in the constitution of the subject-teacher’s
subjectivity. Therefore, this study is based on the historical-cultural approach,
prioritizing the social nature of psychic processes in the exchange reason/emotion.
From authors who along history have defended the indissociability reason/emotion,
we reached the concept of significance, according to Vygotsky’s analysis on the
language, as "the act of thinking", which connects the social exchange and the
generalized thinking. The author distinguishes two components of the meaning of the
word: the meaning itself and the sense. This last one refers to the meaning of it to
each individual, which is composed of relationships that are not related to the context
of use only but also to and also to the affective experiences of the subject. Such
conception allowed us to surmise that resentment and anguish are present in the
teachers’ discourse about follow-up studies and that they were acquired by chains
related to cultural representations that come from the word "training". The data were
obtained through a questionnaire answered by some literacy teachers of an
education network of the city of Taubaté and were analyzed in accordance with the
Content Analysis Method by Lawrence Bardin. The frequency technique, used in
closed answers, permitted the characterization of the researched subject, and the
thematic categories technique, used in open-ended answers, guided the analyses of
the teachers’ representations about their own education. The regularity of themes
which emerged from the teachers’ discourse enabled us to associate the concepts of
both resentment and anguish. The search for scientific basis about these feelings led
us to Psychoanalytical concepts. Therefore, this research is based on theoretical
framework which even though, apparently, antagonistical, were associated in the
analysis of corpora. The discourse analysis, besides proving our initial hypothesis
that the resentment and the anguish are set in the teachers’ discourse by
representations acquired in/through the historical and ideological context, allowed us
to figure out that they are interchangeable endearments in a narcissistic defense: the
resentful subject-teacher refuses to mourn the lost object (recognition) which is a
required process for the “I” to take back the position as the subject that desires.
Thus, the anguish installed with the loss of the object can’t resort to fantasy to get the
object of desire back. The subject who is resentful and anguish stays then stuck to
the idealization of the “I”. So, he does not realize that this fact makes someone, who
has the power/knowledge to build and transform, be left behind. What is needed,
therefore, is to focus the follow-up studies on the teacher's own figure, his needs,
realities and affectivities. Perhaps, understanding the teacher as the subject of his
own practice and giving him the opportunity to show his aspirations and faults, we will
be able to effectively put him back in the position of the subject that desires.
Keywords:
follow-up studies; cognition ; affectivity; anguish; resentment.
8
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Idade dos participantes...........................................................................84
Quadro 2 – Formação Acadêmica.............................................................................85
Quadro 3 – Tempo de efetivo exercício na profissão................................................88
Quadro 4 – Tempo em que leciona na rede de ensino.............................................90
Quadro 5 – Para você, formação continuada e capacitação são sinônimos.............91
Quadro 6 – Como você define “formação continuada”?............................................92
Quadro 7 – Como você define “capacitação”?..........................................................94
Quadro 8 – O que você espera dos encontros bimestrais, conhecidos
como “capacitação”, entre os professores?...........................................99
Quadro 9 – O que lhe agrada nos encontros de formação continuada?.................106
Quadro 10 – O que lhe desagrada nos encontros de formação continuada?.........109
Quadro 11 – Nos encontros, o que deveria ser trabalhado? Teoria ou prática?
Por quê?.............................................................................................111
Quadro 12 – Em sua opinião, esses encontros são necessários? Sim, não,
por quê?.............................................................................................113
Quadro 13 – Se a sua participação nos encontros fosse opcional, você
participaria? Sim, não, por quê?.........................................................114
Quadro 14 – Quais as características pessoais/intelectuais indispensáveis para
que um formador/capacitador consiga bons resultados nesses
encontros?..........................................................................................116
Quadro 15 – “Você considera adequado nomear esses encontros de
“capacitação docente”?......................................................................120
Quadro 16 – Se sua resposta foi não, que nome daria a esses encontros
bimestrais entre os professores? ......................................................120
9
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Idade dos participantes...........................................................................85
Gráfico 2 – Formação Acadêmica.............................................................................86
Gráfico 3 – Tempo de efetivo exercício na profissão................................................89
Gráfico 4 – Há quanto tempo leciona na rede?.........................................................90
Gráfico 5 – Categorias pessoais/intelectuais indispensáveis ao formador/
Capacitador..........................................................................................118
10
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CEFAMS – Centros Específicos de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério
HTPC – Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo
LA – Linguística Aplicada
LDB – Lei de Diretrizes e Bases
PIII – Professores que lecionam a partir do 6º ano do Ensino Fundamental
RFP – Referenciais para Formação de Professores
RNFC – Rede Nacional de Formação Continuada
SAEB – Sistema de Avaliação da Educação Básica
UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
11
SUMÁRIO
RESUMO......................................................................................................................6
ABSTRACT..................................................................................................................7
LISTA DE QUADROS .................................................................................................8
LISTA DE GRÁFICOS.................................................................................................9
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS....................................................................10
INTRODUÇÃO...........................................................................................................13
CAPÍTULO I: FORMAÇÃO CONTINUADA...............................................................24
Apresentação do capítulo...............................................................................24
1.1 Formação Continuada - conceituação............................................................24
1.2 Capacitação……………………………………………………………………......26
1.3 Formação Continuada no contexto legal…………………………………….....27
1.4 Orientações para a Formação Docente………………………………...........…34
CAPÍTULO II: CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS ACERCA DA RELAÇÃO
COGNIÇÃO AFETIVIDADE.......................................................................................39
Apresentação do capítulo.............................................................................39
2.1 Cognição, afetividade e sujeito......................................................................39
2.2 Espinosa e as afecções……………………………………………………….....41
2.3 Piaget e a energética…………………………………………...........................45
2.4 Wallon e a teoria das emoções……………………………………...................48
2.5 Damásio e as evidências clínicas……......………………....………................52
2.6 As concepções de Vigotski………………………………………………...……54
12
2.6.1 Sentido e Significado………………….........…………………………….57
2.7 Abordagem Histórico-Cultural.......................................................................60
CAPÍTULO III: RESSENTIMENTO E ANGÚSTIA: AFETOS INTERCAMBIÁVEIS
NAS REPRESENTAÇÕES DOCENTES .................................................................64
Apresentação do capítulo............................................................................64
3.2 Psicanálise…………………………………………………………………......…64
3.2.1 Ressentimento e angústia: defesas pela integridade narcísica
do eu…................................................................................................66
3.3 Representações Sociais....……………….....…………………........................71
CAPÍTULO IV: ANÁLISE DO CORPUS....................................................................74
Apresentação do capítulo.............................................................................77
4.1 Sujeitos da pesquisa.....................................................................................74
4.2 Instrumento...................................................................................................77
4.3 Procedimentos..............................................................................................78
4.4 Dispositivos de análise..................................................................................79
4.5 Resultados e discussões...............................................................................84
CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................122
REFERÊNCIAS........................................................................................................127
ANEXO A.................................................................................................................134
ANEXO B.................................................................................................................136
ANEXO C.................................................................................................................150
ANEXO D.................................................................................................................151
13
INTRODUÇÃO
[...] Ano novo, após as férias, os primeiros momentos de seu
retorno à escola são de comentários sobre o descanso e os passeios,
todos se cumprimentam e contam as novidades. É, mas as férias findaram
e é hora de pôr a mão na massa. Descansado, ele tem muitas idéias que
deseja pôr em prática, precisa de um tempo para conversar com os
colegas e juntos planejarem o início do trabalho, como será o primeiro
contato com os novos alunos, como diagnosticar o novo grupo de trabalho
para saber de onde partir antes de determinar aonde poderá chegar.
A primeira semana é toda de reuniões, o que ele acha inviável.
Melhor seria se deixassem pelo menos um dia de planejamento para
depois de algum tempo de contato com a classe, mas isso não é ele quem
decide.
Primeiro dia: informes administrativos, quem fica, quem sai, quem
muda de função, horários etc. Também é o momento em que ele fica
sabendo que três classes foram fechadas, três de seus colegas ficarão
sem trabalho e ele terá um número maior de alunos, e, se não era fácil
com trinta e cinco, agora com quarenta, cinqüenta é melhor nem pensar,
mas ele se preocupa e procura um meio de atendê-los, sabe que deve
haver alguma solução, talvez formando grupos... Ele está apreensivo e
temeroso com a nova situação, mas é início de ano, ele está bastante
disposto e animado, o desafio o estimula a refletir.
Segundo dia: aprovar o calendário escolar que está pronto e que
de certa forma acaba sendo imposto. Para cumprir duzentos dias letivos
apela-se para as festas aos sábados. Quatro, seis, oito sábados em que
deverá trabalhar. Ele não se nega a trabalhar nas festas, pois sabe que
elas têm um valor social de integração da comunidade, mas contesta que
esses eventos contem no calendário como dia letivo; afinal, a folga aos
sábados é um direito adquirido a duras penas e montar o calendário dessa
forma é dar brecha à perda desse direito.
Terceiro dia: o serviço de secretaria está atrasado, ainda não
verificaram se a documentação dos alunos está completa nas pastas.
Também não foi definido o espaço físico, que classe ocupará cada sala
etc. Mas... professor está sempre disposto a colaborar, e hoje é dia de
solicitarem a ele que execute essas tarefas para que se comece o trabalho
com a parte burocrática em dia. Realmente ele atende ao pedido, porém
pergunta-se: esta semana não seria reservada para o planejamento?
Quando teremos tempo para elaborar o que vínhamos pensando a respeito
da continuidade dos projetos iniciados no ano anterior? Estávamos tão
animados ao final do ano, nas férias as idéias amadureceram em nossas
cabeças. Quando poderemos conversar a respeito? Ele está ansioso.
Quarto dia: retomada das avaliações finais do ano anterior. Ele se
anima, agora vamos traçar juntos os objetivos gerais da escola. Doce
ilusão... eles estão prontos, ele discute, concorda com algumas coisas,
discorda de outras, é polêmico o assunto e, ao final, ele descobre que até
o plano está pronto e que o tema central a ser trabalhado está definido.
Não adianta chiar, ele não tem escolha. Ele se decepciona, as coisas não
vão acontecer como havia planejado...
Quinto dia: finalmente chegou a hora de planejar, mas não é o
diagnóstico como ele desejava. Ele terá de planejar em um único dia, para
o ano todo, por ciclo e por área dentro de um tema que ele não escolheu,
que não pesquisou, do qual não tem idéia nenhuma formada em sua
14
cabeça, e as coordenadoras não se fazem presentes nesse momento pois
estão ocupadas com outros afazeres.
Ele tenta, discute, esbraveja cheio de dúvidas, enfim decide fazer
como acredita que deva ser, embora pressinta a necessidade de melhoras,
e leva o planejamento para que o coordenador avalie e oriente. Este mal
olha e diz que está ótimo.
Ele volta confuso e indignado. Não consegue entender. O discurso
não bate com a ação. Dizem que ele tem de partir do que o aluno sabe e
dar condições para que ele cresça e construa seu conhecimento. Para ele,
isso é uma nova prática, ele ainda está aprendendo, ele tem dúvidas sobre
o que fazer, mas tem muitas idéias que precisam ser compartilhadas e
discutidas, mas como se não lhe dão tempo nem espaço? Como ele vai
tirar dúvidas? Quem vai construir esse conhecimento com ele? Ninguém
considerou seus planos, mas ele é criativo e dará um jeito de colocá-los
em prática mesmo dentro das condições impostas. É início de ano, e ele
está com toda energia e disposição, ele está em alta.
Definida a sua sala de trabalho, ele verifica que as carteiras e
cadeiras continuam sem as borrachinhas que ele solicitou durante todo o
ano anterior. Parece bobagem, mas ele gosta de trabalhar em grupos e o
movimento das carteiras faz muito barulho, atrapalha as outras classes e,
ao final do ano, fica estressado.
Quarenta e dois alunos, tenta colocá-los em círculo, mas o espaço
não é suficiente. Com paciência, ajeita-os em dois círculos e começa a
trabalhar, precisa conhecê-los. Primeira observação do grupo como um
todo: duas turmas extremamente distintas, uma que acompanha, rende
e logo se agita, pois tem de esperar que os demais terminem, e estes não
terminam, precisam de auxílio individual. O que fazer agora? Procura os
colegas e estão todos no mesmo conflito. Ouviram dizer que isso é bom,
que as crianças aprendem umas com as outras, mas como trabalhar essas
diferenças? Ele não sabe, sente-se impotente e amedrontado, mas sabe
que alguma coisa precisa ser feita.
Na sala dos professores um bilhete das Coordenadoras
Pedagógicas: “Estaremos com vocês no mês que vem”.
A raiva lhe toma de súbito. Ele sabe que durante o ano lerão textos
para refletir, textos que dizem que ele não trabalha ou que não sabe
trabalhar. Ele não pode negar que existam os acomodados, mas estes não
ouvem o que é lido nem participam das discussões, eles não refletem nem
mudam porque não querem mudar. E ele, que faz, que pensa, que se
preocupa tem de ouvir e se enraivecer. Por que não lhe dão a mão? Por
que não lêem textos que o valorizem, que o estimulem? Por que não o
elogiam? É início de ano e ele que chegou tão animado está em baixa
[...] (SANTOS, 2000, p. 89-93).
Em que medida esses (re)sentimentos, tão presentes no fazer
docente, constituem o sujeito-professor?
Nos últimos anos, muito se tem discutido acerca da formação continuada dos
profissionais da educação. Estamos vivendo num mundo globalizado, mediado pelo
avanço, quase que diário, da tecnologia e, portanto, do conhecimento, o que exige
15
uma constante atualização profissional em todas as áreas. No entanto, no que tange
à prática docente, as exigências são mais prementes. Isto porque, os resultados de
pesquisas nacionais e internacionais apontam para a baixa qualidade de ensino
1
e,
consequentemente, para a desqualificação do professor.
A partir da LDB (BRASIL, 1996), a formação continuada passou a ser um
direito docente e hoje é vista como um dos pré-requisitos para a melhoria da
qualidade de ensino. a crença de que essa melhoria esteja atrelada unicamente
à política de formação, tanto inicial quanto continuada
2
. Assim, todos os
investimentos políticos que visam à qualidade do ensino recaem no fazer docente.
Embora os Referenciais para Formação de Professores (BRASIL, 2002),
doravante RFP, afirmem que o fato de se priorizar a formação continuada docente
não significa atribuir unicamente aos professores a responsabilidade pela
insuficiência da aprendizagem escolar, mas sim de considerar a sua formação como
inadequada e ineficiente; uma das exigências que se coloca para o profissional
docente, de acordo com a proposta de Diretrizes para a Formação Inicial de
Professores da Educação Básica, em Cursos de Nível Superior (BRASIL, 2000, p. 2)
é a de “responsabilizar-se pelo sucesso da aprendizagem dos alunos”. Será que os
professores ficam imunes a esse contexto? Que sentimentos envolvem essa relação
de culpa e dívida?
Historicamente, somos marcados por uma concepção dualista, que separa o
ser humano em corpo e mente, em cognição e afetividade. Por séculos, prevaleceu,
na forma de compreender o ser humano, a supremacia da razão sobre os
sentimentos. No entanto, as questões que envolvem a afetividade do professor não
o constituem? Não interferem nas suas ações ou representações?
1
Segundo Azenha (2006, p. 244-245): “Em 2003, a Unesco e a Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico realizaram uma pesquisa com jovens na faixa etária de quinze anos, de
escolas blicas e particulares, em quarenta e um países. No teste de leitura, as crianças brasileiras
ficaram em 37º lugar, nas provas de matemática e ciências, em 40º. Em 2004, o SAEB – Sistema de
Avaliação do Ensino Básico constatou que 55,4% dos alunos da série do Ensino Fundamental
não sabiam ler direito ou entendiam frases simples e curtas, e apenas 4,8% dos alunos estavam
em condições de aprovação”.
2
Francisco Imbernón (2001, p. 44) afirma que a “formação é um elemento importante de
desenvolvimento profissional, mas não é o único e talvez não seja o decisivo”.
16
Atualmente, muitas reflexões teóricas têm sido feitas sobre a questão das
emoções e dos sentimentos numa perspectiva monista razão e emoção como
processos distintos, mas entrelaçados e complementares. Entender o indivíduo,
hoje, significa considerar razão e emoção como processos intercambiáveis.
Segundo Arantes (2003, p. 15-16), “no campo da afetividade encontra-se uma
multiplicidade de termos emoções, paixões, afetos, sentimentos aos quais são
atribuídos diferentes significados em distintos autores, momentos históricos e
abordagens teóricas [...]”. Assim como a autora, esta pesquisa adota o termo
afetividade de forma genérica, como um “âmbito do funcionamento psicológico que
tem sido mapeado como sendo distinto do âmbito do intelecto, da cognição ou da
razão”. Eximimo-nos, portanto, de uma definição conceitual a qual seria impossível
devido a uma imprecisão terminológica dos autores abordados. Ressaltamos a
concepção da afetividade e da cognição como aspectos indissociáveis do
funcionamento psicológico humano e, ambos, adquiridos pela constituição cultural.
Acreditamos na necessidade de se considerar a dimensão afetiva na
constituição do sujeito e de suas representações acerca dos fenômenos sociais. No
que se refere ao sujeito-professor e sua formação, os aspectos afetivos tornam-se
visíveis, pois, segundo Nóvoa (2007, p. 9), “não é possível separar o ‘eu’ pessoal do
‘eu’ profissional, sobretudo numa profissão impregnada de valores e de ideais [...]”.
É nesse sentido que nos aproximamos, por meio da psicanálise, dos conceitos de
ressentimento e angústia. O sujeito do inconsciente se constitui na/pela linguagem,
que deixa de ser apenas um instrumento de comunicação, mas também a própria
tecedura na qual se entrelaçam sujeito e representações. Logo, acreditando que é
na linguagem que a mediação entre sujeito e realidade social perfaz-se de maneira
intrínseca, adotamos o questionário como forma de coleta de dados. Acreditamos
que o sujeito professor deixa-se perceber em todos os aspectos, principalmente os
afetivos, quando materializa linguisticamente seus pensamentos e vivências. Assim,
torna-se fundamental uma breve explanação acerca da formação continuada para
entendermos até que ponto o contexto histórico pode ter influenciado as
representações docentes.
Quando falamos em Formação, referimo-nos à Formação Inicial e à
Formação Continuada, que, embora aconteçam em momentos divergentes,
17
apresentam uma relação de interdependência, pois a segunda pode e deve
complementar a primeira. No entanto, esta pesquisa focaliza os momentos de
Formação Continuada, ou seja, em serviço, comumente chamados de Capacitação:
encontros esporádicos, de curta duração, oferecidos pelas Instituições de Ensino,
que têm como objetivo auxiliar a prática docente.
A preocupação com a formação docente não é atual. Segundo Candau
(1996), ela tem estado presente em todas as mudanças da política educacional ao
longo da história. Na década de 80, as instituições ofereciam cursos de
“reciclagem” aos professores. No entanto, foi a partir da LDB que cresceram os
investimentos na formação continuada: no tulo VI, artigo 61, declara o direito à
formação continuada a todos os professores do ensino básico, ressaltando o
fundamento da “associação entre teorias e práticas, inclusive mediante a
capacitação em serviço“ (BRASIL, 1996, p. 24, grifo nosso). O termo “capacitação”
ficou então conhecido como sinônimo de formação continuada e, hoje, é
amplamente utilizado nas várias instituições de ensino.
Após a LDB, criou-se no país a necessidade de se instituir um programa
eficiente de formação contínua. Contudo, ainda é perceptível o quadro de
deficiências que se estabelece nos âmbitos político, administrativo e metodológico
que envolve a formação continuada. Como afirma o documento relativo aos
Referenciais para a Formação de Professores - RFP (BRASIL, 2002) -, falta de
articulação entre várias instâncias, falta de incentivos salariais ou institucionais para
que os professores participem dos programas de formação e inexistência de tempo
previsto no calendário escolar para formação em serviço. Embora se normatizem
ações para a implementação de atividades de formação, sabe-se que, na realidade,
uma precariedade de recursos humanos e materiais, dentro das instituições, para
que se assuma essa responsabilidade.
A proposta de Diretrizes para a Formação Inicial de Professores da Educação
Básica, em Cursos de Nível Superior (BRASIL, 2000) afirma que o papel do
professor vem sendo questionado e redefinido de diversas maneiras, principalmente,
em decorrência das novas concepções sobre educação e das inovações nas teorias
de desenvolvimento e aprendizagem. Segundo os RFP (2002, p. 31), “conforme vão
se evidenciando os níveis inaceitáveis de fracasso escolar dos alunos, intensifica-se
18
a crítica aos professores como responsáveis pela ineficiência do sistema
educacional”. Kullok (2000, p.13) afirma que os professores são considerados
culpados pelo fracasso da educação, pela falência do sistema educacional e pela
não aprendizagem dos seus alunos. Esta situação conflituosa de exigências e de
cobranças gera o que Esteve (1999) nomeou de “mal-estar docente”: sentimentos de
caráter negativo, que afetam a personalidade do professor. Quais seriam então os
sentimentos do professor ao ser apontado como o único culpado pelo insucesso de
suas crianças? Até que ponto o termo capacitação, cunhado na LDB, usado
frequentemente em cursos oferecidos por sistemas de ensino, de corroborar esta
concepção negativa, pois, dicionarizada, a palavra significa tornar-se apto, habilitar-
se (HOUAISS, 2004, p.132). Com isso, subentende-se que o indivíduo não seja
habilitado, não seja capaz, até que faça a capacitação.
Assim considerando, esta pesquisa tem por objetivo identificar, analisar e
interpretar as representações de professores alfabetizadores acerca da formação
continuada na interface dos aspectos cognitivos e afetivos, pois acreditamos na
congruência desses aspectos na constituição profissional. Para tanto, buscar-se-ão
as respostas para as seguintes perguntas: quais são as representações docentes
acerca da formação continuada e que sentimentos envolvem a relação professor x
formação nesse contexto, aparentemente, de culpa?
A afetividade é um tema muito debatido e considerado nos meios
educacionais. Entretanto, em pesquisas no campo da Linguística Aplicada (LA),
constitui preocupação relativamente recente. Silva (2008) afirma que tal fato justifica-
se pela tradição cartesiana que embasou os trabalhos da Linguística ao longo dos
anos: a visão dicotômica entre afetividade e cognição. Para a autora, o interesse
pelos aspectos afetivos surgiu em LA devido às pesquisas que focalizaram o ensino
e a aprendizagem de línguas, pois tais preocupações abarcam relações que
suplantam as cognitivas. Nas relações humanas, aspectos afetivos e cognitivos
estão imbricados. Assim, é necessário considerar os interesses, as motivações, as
vontades e as frustrações na constituição humana e nas interações sociais. Desse
modo, segundo Silva (2008, p.133), entende-se porque a LA “precisou conferir um
tratamento interdisciplinar a suas análises, mantendo sempre o foco de interesse na
19
linguagem, mas igualmente atentando para outras questões relevantes à
interpretação dos dados obtidos em pesquisas”.
Celani (1992, p. 21) defende que a LA, por direcionar estudos na solução de
problemas humanos derivados dos vários usos da linguagem, enquadra-se num
contexto dinâmico ao envolver toda a complexidade do relacionamento humano na
qual, sabemos, efetiva-se na congruência dos aspectos emocionais e racionais.
Entender o sujeito constituído por aspectos afetivos e cognitivos permite o estudo
das representações desse indivíduo acerca de sua realidade e justifica o foco desta
pesquisa. Portanto, este estudo insere-se no campo da LA, pois se utiliza da
materialidade linguística para interpretar as representações docentes acerca da
formação continuada.
A motivação para este estudo surgiu quando, além de professora
3
, passei
também a conduzir
4
os encontros de formação docente a convite dos dirigentes. O
“lugar” ocupado como formadora permitiu-me analisar aspectos antes não
observados. Percebi como é contraditória a visão dos professores sobre a formação
continuada e o quanto seus sentimentos, principalmente ressentimento e angústia,
“emergem” a partir de suas falas.
Durante todo o ano de 2007, uma das reivindicações dos professores,
nomeados PIII
5
, da rede de ensino na qual trabalho, foi a de que os encontros de
capacitações docentes
6
fossem conduzidos por seus pares: profissionais com
experiência e que conhecessem a realidade de sala de aula. Assim, no final de
2007, devido a uma iniciativa inovadora da Instituição, fui convidada para ser
“capacitadora” dos professores de Língua Portuguesa.
Sob outra perspectiva, pude colocar em prática aquilo que empiricamente
acreditava. Constatei que houve uma participação mais efetiva por parte da maioria
dos docentes, e a troca de experiências, por mim defendida, foi amplamente
3
Elucidamos a necessidade de se usar a primeira pessoa em alguns momentos durante a escrita
desse estudo, pela singularidade na vivência dos fatos.
4
Cabia a mim a responsabilidade de selecionar, organizar e apresentar os conteúdos a serem
trabalhados durante os encontros com professores de Língua Portuguesa.
5
Professores que lecionam a partir do 6º ano do Ensino Fundamental.
6
Os encontros de capacitação eram realizados no último sábado de cada bimestre, conduzidos por
profissionais de outro estado. Tinham por objetivo orientar o trabalho docente em relação ao material
apostilado e associá-lo a atividades práticas do conteúdo de cada disciplina.
20
aprovada. Percebi também a necessidade de se estabelecer uma relação de
confiança entre formador e docente, porém não sabia quais aspectos deveriam ser
considerados para que essa confiança pudesse se instaurar.
Muitas eram as minhas dúvidas, porém as mudanças estavam acontecendo.
Entretanto, essas mudanças aconteciam para os professores do ao ano,
pois a velha formatação permanecia para os docentes dos anos iniciais do Ensino
Fundamental. Essa foi a motivação para a minha pesquisa. Acredito que os
resultados possam subsidiar a Instituição na formatação de suas práticas de
capacitação além de também me ajudarem a entender melhor a dinâmica da
formação continuada, o que favorecerá meu trabalho como “capacitadora”.
Por ser professora de Língua Materna, minha preocupação não se restringe
aos professores de Língua Portuguesa, mas também, e principalmente, aos
professores alfabetizadores. Por constituírem o alicerce educacional, entendemos
esses professores como prioritários em qualquer política de formação. Santos-Silva
e Lisboa (2005) apontaram a necessidade de uma maior atenção aos primeiros
anos de escolaridade. Assim, a pesquisa foi direcionada aos professores de e
anos do Ensino Fundamental.
A partir da gravação de uma conversa informal, com algumas professoras
alfabetizadoras da unidade escolar na qual trabalho, sobre o tema
“capacitação/formação continuada”, elaboramos as perguntas do questionário que
constitui o corpus desse estudo. Este questionário, composto por perguntas abertas
e fechadas (vide anexo), aplicado aos professores alfabetizadores, como recurso
para coleta de dados, foi analisado pelos dispositivos da Análise de Conteúdo de
Laurence Bardin (1977).
Uma das primeiras constatações, a partir da conversa, foi a de que as
professoras não consideravam formação continuada e capacitação como termos
semelhantes. Ficou evidente a falta de conhecimento do profissional sobre as
políticas de formação continuada realizadas ao longo dos últimos anos, o que
justifica o primeiro capítulo dessa pesquisa: a formação continuada no contexto
histórico e legal. Por esse fio condutor procuramos orientar o docente para o
21
reconhecimento dos respaldos legais que envolvem a sua formação. Além das Leis,
Referenciais e Diretrizes buscamos os últimos estudos sobre Formação continuada.
No segundo capítulo,
iluminando a hipótese das representações no entremeio
da cognição e da afetividade, estabelecemos algumas considerações históricas
acerca dessa relação, na constituição humana, sob a perspectiva filosófica e
psicológica, priorizando os estudos de autores que conceberam a cognição e a
afetividade como aspectos indissociáveis: Espinosa, Piaget, Wallon, Damásio e
Vigotski. O conceito de significado, segundo a teoria de Vigotski sobre a linguagem
como “um ato de pensamento”, no qual se unem o intercâmbio social e o
pensamento generalizante, encaminhou-nos aos conceitos de ressentimento e
angústia: afetos que afloravam nos dizeres docentes a partir da palavra
“capacitação”. O autor distingue dois componentes do significado da palavra: o
significado propriamente dito e o sentido, este último refere-se ao significado da
palavra para cada indivíduo, o qual é composto por relações que dizem respeito não
só ao contexto de uso, mas também às vivências afetivas do sujeito.
De acordo com as análises, estávamos diante de dois “afetos” distintos:
ressentimento e angústia. Poderíamos apontar a existência desses afetos e finalizar
a pesquisa. No entanto, sabíamos que havia “algo mais”, bastava apenas encontrar
respaldo científico para estudar tais afetos. De início, foram as definições
dicionarizadas que nos permitiram associar os termos psicanalíticos ressentimento e
angústia na constituição do sujeito-professor em relação às suas representações
sobre formação continuada.
Sabíamos das dificuldades que poderíamos encontrar ao abordar autores,
aparentemente de áreas e/ou abordagens diversas, todavia o conceito vigotskiano
de “sentido”, que abrange tanto dimensões afetivas e cognitivas quanto processos
individuais e coletivos na formação psicológica do sujeito, foi a “porta de entrada”
para buscarmos, na Psicanálise, as definições de ressentimento e angústia.
Acreditamos que, apesar da existência de dicotomias clássicas
7
entre alguns
conceitos, essa aproximação nos foi permitida e, por que não dizer, conduzida pelo
corpus que analisávamos. Ratificamos os dizeres de Verr e Valsiner:
7
Dicotomias apontadas por Santos (2003, p.2): “sujeito/objeto, corpo/alma, objetividade/subjetividade,
razão/pulsão, consciência/inconsciência”.
22
[...] de uma maneira geral, poderia-se dizer que Vygotsky – que
sempre foi muito crítico em relação ao pensamento freudiano
nunca condenou o sistema como um todo, mas ao contrário,
enfatizou suas contribuições fundamentais para a ciência
psicológica (2002, p. 126, grifo nosso).
Assim considerando, esse estudo, no terceiro capítulo, procura conceituar
ressentimento, angústia e representações. Buscamos em Nietzsche e em Kehl a
definição e a origem do ressentimento, o que nos levou ao conceito de narcisismo
primário ou constituição do “eu ideal” – momento em que surge o sujeito lacaniano
ou sujeito ($): sujeito constituído pelo outro e o meio cio-histórico e que, segundo
Lacan, vive no trânsito entre a incompletude e o desejo de ser completo. Essa busca
pela completude traz o conceito de angústia, pois é ela que recorre à fantasia para
corporificar o desejo. Para o conceito de representações, utilizamos a teoria de
representação social de Moscovici, que entende o sujeito constituído pelas/nas
relações sociais, fato permitido pela linguagem. O conceito de themata (temas),
defendido pelo autor, corrobora a análise das categorias temáticas que emergiram
nos dizeres, como meio para se conhecer as representações docentes acerca da
formação continuada.
No quarto capítulo, procedemos à análise do corpus na qual apresentamos,
interpretamos e discutimos os resultados obtidos. Definimos a metodologia utilizada,
descrevemos o tipo de pesquisa e os sujeitos pesquisados. Procuramos, durante as
análises, coligir corpus e teorias estudadas.
Nas considerações finais, retomamos nosso objetivo e hipóteses, traçamos
brevemente nosso percurso ao longo da pesquisa e procuramos evidenciar alguns
pontos da análise. As referências e os anexos finalizam este estudo.
23
O homem não é, por natureza, o que é ou deseja ser; por
isso necessita formar-se, ele mesmo, segundo as
exigências de seu ser e de seu tempo, voltado para além
do que decorre no dia-a-dia da existência e no reino das
motivações imediatas. Necessita cada homem reatravessar
a história do nero humano e da cultura, para delas fazer-
se parte viva e operante. Necessita ele assumir o sentido
da própria vida, com a capacidade de articular na
intersubjetividade da palavra e da ação sua própria
experiência biográfica
(MARQUES, 2000, p. 41).
24
CAPÍTULO I – FORMAÇÃO CONTINUADA
Apresentação do capítulo
Este capítulo apresenta algumas orientações sobre a formação continuada no
contexto histórico e legal, os pressupostos que permeiam sua organização e as
recentes diretrizes em documentos oficiais.
1.1 Formação continuada – conceituação
Poucas são as pesquisas acerca da formação continuada, André (2004), em
um levantamento de temas sobre o assunto, constatou que, do total dos trabalhos
estudados, apenas 17% referiam-se à formação contínua. No entanto, considerada
por muitos como a mola propulsora da melhoria da educação no país, a formação
continuada tornou-se foco central de políticas públicas e privadas. Assim, embora a
formação docente encontre atualmente respaldo legal, muitas são as dúvidas que
envolvem sua organização. Na própria nomenclatura utilizada, não encontramos um
consenso em relação aos termos: formação continuada, formação permanente e
formação em serviço, todos são utilizados constantemente como sinônimos, o que
dificulta a conceituação adequada.
Primeiramente, precisamos definir a palavra formação: adotando o conceito
de Kullok (2000, p.11), significa “estar se formando”, o uso do gerúndio, proposital,
aponta para o fato de ser inconcluso. Assim, a formação continuada faz parte de um
processo ininterrupto de desenvolvimento profissional. Imbérnon (2001, p. 44) atenta
para o perigo de confundirmos termos e conceitos referentes à formação do
professor. O autor exemplifica com os termos formação permanente
8
e
desenvolvimento profissional. Segundo o autor, não podemos afirmar que o
desenvolvimento profissional do professor deva-se exclusivamente ao seu
desenvolvimento pedagógico, pois a profissão docente desenvolve-se por diversos
fatores entre os quais a sua formação continuada. Ele conclui: “a formação é um
8
Aqui também entendido como formação continuada.
25
elemento importante de desenvolvimento profissional, mas não é o único e talvez
não seja o decisivo” (2001, p. 44).
No processo de desenvolvimento profissional encontram-se, além de outros
fatores, a formação inicial e a continuada, e esta compreende a formação de
professores em exercício
9
- formação de professores que exercem sua
profissão e possuem a qualificação exigida
10
.
A formação inicial é fundamental no processo de profissionalização docente.
No entanto, o que presenciamos é uma constante queda na qualidade da graduação
em geral. A redução da carga horária dos cursos de licenciatura é um forte exemplo
que justifica essa crítica. Esse fato implicaria a necessidade de uma formação
continuada sistemática e eficiente. Entretanto, não podemos tratar a formação
continuada unicamente como “complemento” da formação inicial, perspectiva que
Kullok (2000, p.17) afirma prevalecer nos órgãos normativos. Para a autora, essa
“perspectiva do déficit” constitui pressuposto das práticas de formação comumente
chamadas de reciclagem e/ou treinamento
11
.
Christov (2000, p. 09) orienta que o termo formação continuada traz uma
forte crítica aos antigos programas de treinamento, capacitação ou reciclagem que
não incentivavam a autonomia intelectual docente, uma vez que consistiam em
propostas previamente elaboradas e impostas aos professores. Embora
concordemos com a autora, acreditamos que formação continuada é um termo
amplo que abarca um conjunto de diferentes ações: cursos, seminários, simpósios,
congressos, encontros, oficinas, HTPC, estudos individuais, entre outros. Assim, não
uma única modalidade de formação em exercício, podemos encontrar eventos
dentro e fora da escola, de longa duração e pontuais
12
, presenciais ou a distância.
Adotando a definição de Placco e Silva (2000
,
p. 26-27), formação continuada
resume-se em:
9
Os RFP (BRASIL, 2002, p. 131) orientam para que não se confunda a formação em serviço com a
formação para titulação de professores em exercício.
10
Atualmente oferecida em nível superior ou a antiga, oferecida também em nível médio, na
modalidade normal.
11
Atribuímos aí também os modelos de formação nomeados de capacitação.
12
Cursos, oficinas, seminários e palestras.
26
[...] um processo complexo e multideterminado, que ganha
materialidade em múltiplos espaços/atividades, não se restringindo a
cursos e/ou treinamentos, e que favorece a apropriação de
conhecimentos, estimula a busca de outros saberes e introduz uma
fecunda inquietação contínua com o conhecido, motivando viver a
docência em toda a sua imponderabilidade, surpresa, criação e
dialética com o novo.
Acreditamos que um dos graves problemas que envolvem a educação refere-
se aos radicalismos: substituir totalmente um modelo antigo por um novo nem
sempre é solução eficiente. Muitos autores defendem a escola como locus de
formação (BRUNO, 2000; CHRISTOV, 2000; IMBERNÓN, 2001; KULLOK, 2000),
porém ela não deve ser o único. O que percebemos é que algumas instituições
adotaram um único modelo de formação continuada HTPC e esqueceram as
outras modalidades. Fusari (2000, p. 17) orienta para que se evite o erro do
passado, quando a formação ficou centrada em atividades fora da escola; segundo o
autor, é necessário ressituar as ações dentro e fora do ambiente escolar. Os RFP
ratificam essa afirmação:
A atualização, o aprofundamento dos conhecimentos profissionais e
o desenvolvimento da capacidade de reflexão sobre o trabalho
educativo deverão ser promovidos a partir de processos de formação
continuada que se realizarão na escola onde cada professor trabalha
e em ações realizadas pela Secretarias de Educação e outras
instituições formadoras, envolvendo equipes de uma ou mais
escolas
(
BRASIL, 2002, p. 131, grifo nosso).
Assim, concluímos que formação continuada é um termo amplo que abarca
muitas modalidades, entre as quais esses momentos esporádicos e fragmentados
conhecidos como capacitação.
1.2 Capacitação
Esta pesquisa tem seu foco na modalidade conhecida como capacitação:
encontros esporádicos, no final do bimestre, com a presença de todos os
professores da Instituição e, na realidade dos sujeitos desta pesquisa, realizados
aos sábados, conduzidos por professores de outros estados.
27
A capacitação docente recebeu várias outras denominações ao longo dos
anos: treinamento, reciclagem, aperfeiçoamento profissional, entre outros. Embora
tenha sido utilizada nos anos 70, somente nos anos 80 que seu uso se intensificou.
No entanto, ainda não assumiu um modelo padronizado e convencional, pois foi
adquirindo formatos diversos de acordo com os objetivos pretendidos e o tempo
disponível das instituições. É por isso que encontramos eventos movidos pelo
improviso, e professores insatisfeitos.
Esses momentos de formação contínua assumiram um papel de “ensino”: o
professor formador, mais “capacitado”, trazia os novos conhecimentos que deveriam
ser apreendidos pelos professores e aplicados em sala de aula. Embora as
inovações geralmente fossem inadequadas à realidade, elas deveriam ser
transpostas à práxis docente. As próprias nomenclaturas da formação refletiam essa
concepção: treinamento, reciclagem, aperfeiçoamento e capacitação.
O que entendemos é que, nessas formatações, uma falta de compromisso
dos órgãos competentes com as reais necessidades que envolvem o fazer docente.
Perrenoud (2002, p. 22) afirma que “não nenhum motivo para renunciar de modo
radical a tais fórmulas, que conservam seu sentido se forem utilizadas com
discernimento”, desde que haja adequação entre os anseios docentes e as ações
institucionais, desde que se criem vínculos entre as propostas e a práxis docente.
Talvez assim os problemas enfrentados nessa modalidade de formação sejam
superados.
1.3 Formação continuada no contexto legal
Os anos 80 foram marcados por reformas educativas em vários países do
mundo, inclusive no Brasil. As discussões sobre formação de professores tiveram
seu início nessa cada. No entanto, devido à inflação, tratava-se de uma fase
marcadamente infeliz para os profissionais da educação no sentido da
desvalorização salarial. nessa cada se falava do fracasso escolar do alunado
28
brasileiro reforçado pelo índice de reprovação e evasão o que levou à criação
dos CEFAMS
13
.
A crise educacional permaneceu inalterada nos anos 90. Entretanto, a
Constituição recém-promulgada, que incorporava em seus princípios a valorização
do magistério, estimulou a sociedade na busca por melhorias. O artigo 205, no
capítulo III da Constituição, institui que:
A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será
promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando
ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício
da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 1988).
Durante os anos, nas emendas constitucionais, a preocupação com o ensino
tornou-se mais visível: no artigo 214, a Lei estabeleceu o Plano Nacional de
Educação que visava, entre outras coisas, à integração das ações do Poder Público
que conduzissem à “melhoria da qualidade do ensino”.
A luta da década de oitenta culminou na Declaração Mundial de Educação
para Todos, realizada em 1990 na Tailândia: um compromisso internacional firmado
por vários países, dentre os quais o Brasil, que previa a urgente melhora da
educação, pois:
[...] apesar dos esforços realizados por países do mundo inteiro para
assegurar o direito à educação para todos, persistem as seguintes
realidades:
Mais de 100 milhões de crianças, das quais pelo menos 60
milhões são meninas, não têm acesso ao ensino primário;
Mais de 960 milhões de adultos - dois terços dos quais
mulheres - são analfabetos, e o analfabetismo funcional é um
problema significativo em todos os países industrializados ou em
desenvolvimento;
Mais de um terço dos adultos do mundo não têm acesso ao
conhecimento impresso, às novas habilidades e tecnologias, que
poderiam melhorar a qualidade de vida e ajudá-los a perceber e a
adaptar-se às mudanças sociais e culturais;
Mais de 100 milhões de crianças e incontáveis adultos não
conseguem concluir o ciclo básico, e outros milhões, apesar de
13
Criados em 1988, os CEFAMS surgiram como um projeto especial da rede pública da Secretaria de
Estado da Educação de São Paulo para formar, em nível médio, professores da primeira à quarta
série do ensino fundamental. Nos CEFAMS era preciso estudar quatro anos, em período integral,
para obter o diploma para o magistério.
29
concluí-lo, não conseguem adquirir conhecimentos e habilidades
essenciais
14
(UNESCO, 1990, p. 01).
O documento também previa a necessidade de medidas em relação à
formação continuada, profissão, carreira e salário, ética profissional, direitos e
deveres e condições mínimas para o exercício docente. No entanto, assim como os
princípios da constituição, os itens da Declaração não foram efetivados. Arriscamo-
nos a dizer que os professores até hoje não têm conhecimento desse documento.
A partir dos anos 90, a busca pela qualidade da educação a fim de assegurar
às crianças o direito a suas essenciais aprendizagens se intensificou. A escola
passou a ser vista como lócus de desenvolvimento das capacidades cognitivas,
afetivas, físicas, éticas, estéticas, de inserção social e de relação interpessoal. E a
aprendizagem, processo de construção e reconstrução de conhecimento.
Em 1993, uma grande mobilização nacional levou-nos à elaboração do Plano
Decenal de Educação para Todos que acarretou no pacto de Valorização do
Magistério e Qualidade da Educação, firmado por vários órgãos educacionais, cujo
objetivo era estabelecer e implantar uma política de longo alcance para a
profissionalização do magistério com vistas à elevação dos padrões de qualidade da
educação básica.
Nesse mesmo ano, a UNESCO instaurou a Comissão Internacional sobre a
Educação para o século XXI e, em 1996, divulgou seu relatório final. Conhecido
como “Relatório Jacques Delors”, o documento estabelece os quatro pilares sobre
os quais se define a educação brasileira: aprender a conhecer, aprender a fazer,
aprender a viver junto e aprender a ser.
[...] a educação deve organizar-se em torno de quatro aprendizagens
fundamentais que, ao longo de toda vida, serão de algum modo para
cada indivíduo, os pilares do conhecimento: aprender a conhecer isto
é adquirir os instrumentos da compreensão; aprender a fazer, para
poder agir sobre o meio envolvente; aprender a viver juntos, a fim de
participar e cooperar com os outros em todas as atividades humanas;
finalmente aprender a ser, via essencial que integra as três
precedentes. É claro que estas quatro vias do saber constituem
14
Embora dezenove anos tenham se passado desde o acordo firmado entre os países, muitas das
realidades apontadas no documento ainda prevalecem.
30
apenas uma, dado que existem entre elas múltiplos pontos de
contato, de relacionamento e de permuta
(UNESCO, 1999).
Embora muitas discussões envolvessem a formação docente, até a
promulgação da nova LDB (BRASIL, 1996), nada de efetivo havia sido realizado. Foi
apenas a partir dessa lei que cresceram os investimentos em relação à formação
continuada. A LDB, no título VI (Dos Profissionais da Educação), artigo 61, postula
como um dos fundamentos para a Formação de profissionais da educação: “a
associação entre teorias e práticas, inclusive mediante a capacitação em serviço”
(BRASIL, 1996, p. 24, grifo nosso). A mesma Lei, no artigo 63, orienta que os
institutos superiores de educação manterão “programas de educação continuada
para os profissionais de educação dos diversos níveis” (BRASIL, 1996, p. 25, grifo
nosso).
No artigo 67, institui que os sistemas de ensino promoverão a valorização
dos profissionais da educação, assegurando-lhes também o aperfeiçoamento
profissional continuado, inclusive com licenciamento periódico remunerado para
esse fim” (BRASIL, 1996, p. 25, grifo nosso). Concluímos, portanto, que embora o
termo capacitação fosse utilizado por algumas instituições de Ensino, foi com a
LDB que se propagou tornando-se sinônimo de formação continuada.
Os RFP (BRASIL, 2002) apresentam diretrizes para a formação, tanto inicial
quanto continuada, dos profissionais da Educação Infantil e dos primeiros anos do
Ensino Fundamental. A primeira versão do texto foi tornada pública em dezembro de
1997. No entanto, ao procurarmos o documento nos departamentos estaduais e
municipais de educação da cidade de Taubaté, não o encontramos. Foi com grande
surpresa que constatamos que sua existência era desconhecida mesmo depois de
decorridos mais de dez anos de sua elaboração e sete de sua promulgação. Com o
auxílio de um dos funcionários da Diretoria de Ensino da cidade, conseguimos
adquirir o arquivo pela internet acessando o site “Domínio Público”. Só então o
documento foi anexado aos arquivos do Departamento. Afirmamos, portanto, o
desconhecimento do professor acerca dos aspectos legais que envolvem sua
formação. Embora oficialmente o documento existisse, na época
15
, nem os
dirigentes da Diretoria de Ensino sabiam de sua existência. Entretanto, o principal
objetivo dos Referenciais é:
15
Início da pesquisa em fevereiro de 2008.
31
[...] provocar e, ao mesmo tempo, orientar transformações na
formação de professores. [...] Espera-se [também] que gere reflexões
por parte dos formadores de professores e seja usado nos âmbitos
de gestão do sistema educativo e das instituições formadoras, como
subsídio para a tomada de decisões políticas (BRASIL, 2002, p. 15).
O citado documento, embora não explicitamente, parece apontar o professor
como culpado pelo fracasso escolar dos alunos brasileiros:
É consensual a afirmação de que a formação de que dispõem os
professores hoje no Brasil não contribui suficientemente para que
seus alunos se desenvolvam como pessoas, tenham sucesso nas
aprendizagens escolares [...] (BRASIL, 2002, p. 16).
O documento, portanto, prevê mudanças na formação inicial, mas também, e
principalmente, na formação continuada para todos os professores. Ratificando os
dizeres da LDB, um dos pressupostos dos RFP é colocar o desenvolvimento
profissional permanente
16
como uma necessidade intrínseca à atuação e, por isso,
um direito de todo professor.
Formação permanente, segundo o documento, inclui a formação inicial e a
continuada: a inicial ocorre nos cursos de habilitação e a continuada refere-se à
formação dos professores em exercício, em programas dentro e fora da escola.
Assim, toda iniciativa das instituições escolares no intuito de promover a
“profissionalização docente” caracteriza-se formação continuada: cursos, palestras,
seminários, entre outros. De acordo com os RFP:
[...] a formação continuada de professores destaca-se como um tema
crucial e, sem dúvida, uma das mais importantes dentre as políticas
para a educação, pois os desafios colocados à escola exigem do
trabalho educativo outro patamar profissional, muito superior ao hoje
existente (BRASIL, 2002, p. 26).
Assim:
Além de uma formação inicial consistente, é preciso proporcionar
aos professores oportunidades de formação continuada: promover
seu desenvolvimento profissional é também intervir em suas reais
condições de trabalho (BRASIL, 2002, p. 26).
16
Aqui, o desenvolvimento profissional permanente é considerado tanto a formação inicial, como
também a formação em exercício e a formação para titulação em exercício.
32
É importante ressaltar que, embora o documento apresente algumas
contradições, ora afirmando que o professor é o culpado pelo fracasso escolar, ora
afirmando o contrário, ele orienta que o se pode colocar a formação profissional
como fator único para o sucesso das aprendizagens que cabe à escola garantir.
Segundo os referenciais, várias são as condições necessárias para assegurar a
qualidade educacional, dentre elas a qualidade da formação inicial dos professores e
o desenvolvimento profissional contínuo por meio de ações internas e externas.
Segundo os RFP:
O processo permanente de desenvolvimento profissional a que todos
os educadores têm direito envolve formação inicial e continuada,
sendo que a formação continuada ocorre com o professor já no
exercício de suas atividades (BRASIL, 2002, p. 40).
Embora os estudos atuais não consigam comprovar uma relação unívoca
entre formação profissional do professor e aprendizagem das crianças, é
inquestionável o fato de que profissionais com boa formação são mais bem
sucedidos, isso em todas as áreas. O documento afirma que a questão que se
coloca atualmente é a qualidade da formação que o professor recebe ao longo da
carreira, e que, embora insuficiente, é uma condição sine qua non para sua
profissionalização. Todavia, para tanto, faz-se necessário promover transformações
radicais tanto nas formas quanto nos conteúdos das práticas atuais
17
. O professor
permanece no papel de mero “receptor de informações e executor de propostas”
(BRASIL, 2002, p. 42).
O Ministério da Educação, em 2005, institucionaliza a formação continuada de
professores com a criação da Rede Nacional de Formação Continuada (BRASIL,
2005), doravante RNFC que legaliza os movimentos de formação contínua e aponta
a responsabilidade dos órgãos normativos na sua realização. Com o objetivo de
associar a prática de formação docente na articulação com a pesquisa e produção
acadêmica desenvolvida nas Universidades, a RNFC tem como princípios:
17
Práticas atuais caracterizadas por eventos pontuais e esporádicos que não vão ao encontro das
reais necessidades docentes, não levam em consideração seus interesses, motivações ou
experiências.
33
A formação continuada é exigência da atividade profissional no mundo
atual;
A formação continuada deve ter como referência a prática docente e o
conhecimento teórico;
A formação continuada vai além da oferta de cursos de atualização e
treinamento;
A formação para ser continuada deve integrar-se no dia-a-dia da
escola;
A formação continuada é componente essencial da profissionalização
docente.
De acordo com o documento, a formação continuada deve visar ao
desenvolvimento profissional do professor, mas alerta para que não se
desconsiderem as dimensões pessoais, pois a subjetividade é parte intrínseca à
profissão. No entanto, não é o que presenciamos nas práticas atuais de formação
docente. Percebemos que, em qualquer das modalidades, as necessidades, os
interesses e os anseios docentes, são sempre negligenciados. Segundo o
documento:
[...] se a formação continuada supõe cursos, palestras, seminários,
atualização de conhecimentos e técnicas, ela não se restringe a isso,
mas exige um trabalho de reflexão teórica e crítica sobre as práticas
e de construção permanente de uma identidade pessoal e
profissional em íntima interação. [...] Deve-se considerar o professor
como sujeito, valorizando suas incursões teóricas, suas experiências
profissionais e seus saberes da prática, permitindo que, no processo,
ele se torne um investigador capaz de rever sua prática, atribuir-lhe
novos significados e compreender e enfrentar as dificuldades com as
quais se depara (BRASIL, 2005, p. 25).
A RNFC exemplifica a formação pedagógica na interligação com o cotidiano
escolar com reuniões entre os professores, o diretor da unidade escolar e alguém
responsável pelo apoio pedagógico da escola para “realizar estudos, partilhar
dúvidas, questões e saberes num processo contínuo e coletivo de reflexão sobre os
problemas e as dificuldades encontradas e o encaminhamento de soluções”.
(BRASIL, 2005, p. 25).
18
18
Estes encontros são chamados de HTPC.
34
Esta breve explanação da formação continuada no contexto legal nos permite
apreender que a formação docente constituiu e constitui preocupação constante dos
órgãos superiores em educação. No entanto, na prática, poucas mudanças se
efetivaram. Acreditamos que os professores não têm conhecimento do respaldo
legal que envolve a sua própria formação e das novas diretrizes que a orientam.
1.4 Orientações para a formação docente
O artigo 13, da LDB (BRASIL, 1996), estabelece as incumbências atribuídas
hoje ao professor. Podemos perceber, a partir dos itens elencados, que a profissão
docente adquiriu um amplo campo de atuação. Tradicionalmente, a única
incumbência docente referia-se ao ensino. No entanto, agora, exigem-se
competências diversas ao exercício da profissão. Perrenoud (2000) ampliou ainda
mais e elencou dez competências para se ensinar. O autor coloca a formação
continuada como a última das dez competências exigidas ao docente. A formação
seria, portanto, catalisadora das outras competências e, ao mesmo tempo, a via pela
qual se daria a aquisição de todas elas.
Portanto, pode-se concluir que a formação continuada deve garantir ou
propiciar ao professor o desenvolvimento dessas competências. Dentre as várias
competências arroladas pelos RFP destacam-se:
Orientar suas escolhas e decisões metodológicas e didáticas por
princípios éticos e por pressupostos epistemológicos coerentes;
Gerir a classe, a organização do trabalho, estabelecendo uma relação
de autoridade e confiança com os alunos;
Analisar situações e relações interpessoais nas quais estejam
envolvidos com o distanciamento profissional necessário à sua
compreensão;
Investigar o contexto educativo na sua complexidade e analisar a
prática profissional, tomando-a continuamente como objeto de
reflexão para compreender e gerenciar o efeito das ações propostas,
avaliar seus estudos e sistematizar conclusões de forma a aprimorá-
las;
Analisar o percurso de aprendizagem formal e informal dos alunos,
identificando características cognitivas, afetivas e físicas, traços de
personalidade, processos de desenvolvimento, formas de acessar e
processar conhecimentos, possibilidades e obstáculos;
Criar, planejar, realizar, gerir e avaliar situações eficazes para a
aprendizagem e para o desenvolvimento dos alunos [...];
35
Utilizar diferentes e flexíveis modos de organização do tempo, do
espaço e de agrupamento dos alunos para favorecer e enriquecer
seu processo de desenvolvimento e aprendizagem;
Manejar diferentes estratégias de comunicação dos conteúdos [...];
Desenvolver-se profissionalmente e ampliar seu horizonte cultural [...]
(BRASIL, 2002, p. 82).
É perceptível que essas competências e todas as outras citadas pelo
documento subjazem um trabalho coletivo. Elas podem ser desenvolvidas,
acreditamos, partindo do princípio da troca de experiências.
Segundo Imbérnon (2001), a formação permanente do professor tem como
eixos principais:
Reflexão prático-teórica sobre a própria prática;
A troca de experiências entre iguais;
A união da formação a um projeto de trabalho;
A formação como estímulo crítico;
O desenvolvimento profissional da instituição educativa mediante o
trabalho conjunto para transformar essa prática.
Assim:
A formação terá como base uma reflexão dos sujeitos sobre sua
prática docente, de modo a permitir que examinem suas teorias
implícitas, seus esquemas de funcionamento, suas atitudes etc.,
realizando um processo constante de auto-avaliação que oriente seu
trabalho [...] Isso supõe que a formação permanente deve estender-
se ao terreno das capacidades, habilidades e atitudes e que os
valores e as concepções de cada professor e professora e da equipe
como um todo devem ser questionados permanentemente (2001, p.
48-49).
O autor afirma que a formação permanente atual deve oferecer um processo
que dote o professor de conhecimentos, habilidades e atitudes para criar
profissionais reflexivos. Assim, ela deveria ter como uma das funções, questionar e,
segundo o autor, legitimar o conhecimento profissional posto em prática.
Essa consolidação do conhecimento profissional mediante a prática perfaz-se
pela reflexão e intervenção sobre situações reais de ensino e aprendizagem num
contexto específico. Torna-se essencial, portanto, que a formação permanente parta
da prática do professor para realizar um “processo de prática teórica” (IMBÉRNON,
36
2001, p. 70), compartilhar problemas, sucessos e fracassos com os colegas,
elaborar projetos de trabalho conjunto e, para que isto se efetive, o autor afirma que
a formação deva acontecer no lugar de trabalho, na própria instituição educacional.
É preciso revisar criticamente os conteúdos e os processos da
formação permanente do professor para que gerem um
conhecimento profissional ativo e não passivo não dependente de
um conhecimento externo nem subordinado a ele (2001, p. 72).
O que defendemos, portanto, é que os encontros de formação continuada,
aqui entendidos como capacitação, possam ser conduzidos também por professores
atuantes em sala de aula profissionais experientes, conhecedores das reais
necessidades que envolvem o fazer docente. assim, conseguiremos transformar
as práticas de formação, substituindo os modelos tradicionais. Entendemos que a
formação continuada deva ir ao encontro das necessidades do sistema de ensino,
mas também, e principalmente, responder aos desejos docentes.
Os RFP (BRASIL, 2002) orientam que as modalidades de formação devem
prever combinações de ações internas às escolas com ações destinadas a reunir
professores de várias escolas diferentes porque aquelas contribuem diretamente ao
desenvolvimento do projeto educativo da escola e estas oferecem oportunidades de
intercâmbio com professores de realidades diferentes ampliando possibilidades de
troca e socialização de experiências.
O mesmo documento, citado acima, institui a necessidade de se promover a
formação dos profissionais responsáveis pela capacitação docente, pois:
[...] a competência profissional se desenvolve em grande medida na
interação com profissionais experientes que dialogam sobre a
complexidade do trabalho que realizam (BRASIL, 2002, p. 66).
De acordo com essa concepção, os RFP inovam dispondo que os sistemas
educacionais devem criar possibilidades para que professores experientes possam
assumir atividades de formação sem abandonar a regência de suas classes.
Portanto, os docentes formadores seriam responsáveis por acompanhar professores
iniciantes, receber estagiários, realizar um trabalho auxiliar ao da coordenação
37
pedagógica da escola
19
. Esse profissional, sem abandonar a função de professor
20
,
atuaria junto aos professores na “preparação de materiais, planejamento de
atividades, análise das produções dos alunos, na reflexão de sua prática e
principalmente nas questões particulares de cada professor frente ao desafio
profissional.” (BRASIL, 2002, p. 67).
Novamente afirmamos que, embora tenham passado sete anos da
promulgação dos Referenciais, os professores não têm conhecimento desta
possibilidade. Entendemos que os Referenciais não m caráter normativo, logo,
sabemos que os sistemas de ensino não são obrigados a adotar esse esquema. No
entanto, inovações devem ser feitas, devem-se priorizar as verdadeiras
necessidades docentes. Para tanto, é preciso que saibamos o que o próprio
professor pensa e sente acerca de sua formação.
Fusari afirma que:
Para ser bem sucedido, qualquer projeto de formação contínua
realizado na escola ou em outro local precisa ter assegurado
algumas condições. É preciso que os educadores sejam valorizados,
respeitados e ouvidos devem expor suas experiências, idéias e
expectativas. É preciso também que o saber advindo de sua
experiência seja valorizado [...] (2000, p. 22).
Portanto, é imprescindível que o professor seja considerado sujeito de sua
prática, o que significa entendê-lo como um ser cognitivo e afetivo. Um processo
profícuo de formação contínua pressupõe um trabalho que viabilize a construção, a
socialização e a troca de conhecimentos entre os pares. São esses pressupostos
que podem viabilizar o caminho ao desenvolvimento profissional.
19
Incluímos aqui a condução de encontros de formação continuada.
20
Em um dos períodos, assumiria a regência de uma sala e, no outro, elaboraria o trabalho de
formação.
38
Enquanto sujeito que aprende, constituído pelo que
aprende, o homem não pode desvincular o que faz no
mundo daquilo que faz de si mesmo, por sua capacidade
de reflexão. Na articulação dessas duas instâncias o eu e
o mundo – consiste a capacidade de reflexão, isto é, a
posse de seu saber sobre si mesmo e seu mundo.
(
MARQUES, 2000, p. 41).
39
CAPÍTULO II – CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS ACERCA DA
RELAÇÃO COGNIÇÃO E AFETIVIDADE
Apresentação do capítulo
Nosso objetivo aqui é apresentar os principais conceitos de autores que, ao
longo da história, defenderam a indissociabilidade cognição/afetividade na
constituição humana e mostrar a importância demonstrada por eles a esta última no
desenvolvimento psicológico e, consequentemente, na constituição do sujeito.
2.1 Cognição, afetividade e sujeito.
Pensar em formação continuada exige a compreensão de muitos fatores,
dentre os quais, o próprio professor: esse sujeito, segundo a psicanálise, incompleto,
em constante (trans)formação. Segundo Eckert-Hoff:
[...] pensar em formação de professores é uma questão norteadora
de sentidos, de sujeitos e de saberes – três derivas que asseguram a
constituição da historicidade na socialização do conhecimento e na
formação de novos cidadãos. Porque sem escola o saber não tem a
mediação necessária entre o que está posto e o que está por vir.
Pensar em formação é, portanto, pensar em constituição de sujeitos
e de sentidos para a vida (2008, p.19).
E a constituição de sujeitos subentende o entrelaçamento da cognição e da
afetividade: não estruturas cognitivas sem as afetivas. São as experiências
vivenciadas com outras pessoas interação social que confere às pessoas, aos
objetos, aos momentos e às situações um sentido afetivo. É esse sentido que
emerge na materialidade linguística, pois, segundo Vigotski, é no sentido da palavra
que está a vivência afetiva do indivíduo.
Uma pesquisa que pressupõe a afetividade na constituição do sujeito e na
formação de suas representações contrapõe-se a anos de tradição cartesiana na
cultura científica. No entanto, segundo Silva (2008), a questão da afetividade tem
40
sido contemporaneamente tema de pesquisas em LA devido ao enfoque dado ao
processo ensino e aprendizagem de línguas que, de acordo com a autora, abarca
dimensões tanto racionais quanto afetivas.
[...] os sujeitos de pesquisa, alunos ou professores, não se
resumiam a aspectos racionais ou cognitivos; pelo contrário, havia
interesses, motivações, frustrações, desejos, entre outras
manifestações afetivas, que sempre tornavam nítido o papel da
afetividade [...] (SILVA, 2008, p. 133).
Ao destacarmos o papel da afetividade na constituição do sujeito,
coadunamos com a concepção de Arantes (2004, p. 1) de que “pensar e sentir são
ações indissociáveis”. Para a autora, uma intrínseca relação entre os processos
cognitivos e afetivos no funcionamento humano, pois o conhecimento dos
sentimentos e das emoções demanda ações cognitivas, da mesma maneira que as
ações cognitivas requerem a presença de aspectos afetivos. Assim, não divisão
entre os saberes racionais e os saberes emocionais.
Muitos pensadores e filósofos postularam, ao longo da história, a ideia da
divisão entre razão e emoção. Vasconcelos (2004) cita Eurípedes
21
afirmando que
suas peças teatrais já apresentavam o conflito razão/emoção. Arantes (2004) refere-
se a: Platão e a crença de que a virtude consistia na troca de todas as paixões pelo
pensamento, este, considerado por ele, um valor universal, ligado à imutabilidade
das formas eternas; Descartes, ao criar a frase “penso, logo existo” e Kant, que
considerava as paixões como enfermidades da alma. Tais premissas atribuem ao
pensamento (razão) o valor de excelência em detrimento da emoção (afetividade).
Essa concepção dicotômica, que concebe a emoção como um aspecto diferente e,
às vezes, oposto e inferior à razão, predomina até hoje e infiltrou-se em quase todas
as áreas do conhecimento. Até no senso comum, percebemos a errônea ideia de
que as emoções são aspectos inferiores na constituição humana. É comum
ouvirmos alguém dizer:
“Não deixe a emoção dominar você, pense melhor”;
“Não tome nenhuma atitude agora, você não está no seu estado perfeito”.
21
O autor exemplifica com a exclamação de Medeia no momento de assassinar seus filhos: “sei que
crimes vou cometer, mas a cólera é mais forte que minha vontade”.
41
Arantes, (2004, p. 02) ainda cita algumas metáforas que ouvimos
frequentemente:
“Não haja com o coração”;
“Coloque a cabeça para funcionar”;
“Seja mais racional”.
Essa ideia do senso comum pressupõe a anulação dos aspectos afetivos na
tomada de decisões.
Uma ferrenha tradição filosófica que impõe a dicotomia emoção/razão nos
traz a necessidade de uma explanação das teorias de autores que, de alguma
maneira, tentaram questionar esse dualismo e buscaram integrar cognição e
afetividade, razão e emoção como processos intrínsecos na constituição do sujeito.
2.2 Espinosa e as afecções
Ao contrário de filósofos contemporâneos, Espinosa não considera os afetos
um erro e nem um aspecto oposto e inferior à razão. O que o autor defende é que as
emoções ou os afetos são um reflexo da relação do homem com o mundo no qual
convive.
Nossos afetos são frutos, portanto, de causas externas.
Segundo Martins:
[...] não vendo mais o indivíduo como composto de corpo e alma,
mas como corpo e alma sendo dois aspectos do indivíduo, idéias e
pensamentos afetam e são afetados pelas coisas e pelos corpos, os
transformando e sendo por eles transformados; de modo que o
homem é animal também em sua razão, assim como seu corpo é
propriamente humano (2000, p. 189).
42
Por essa perspectiva, entendemos que não há um controle total dos afetos
que são motivados por causas exteriores. Espinosa propõe, então, segundo Martins
(2000), que conheçamos nossos afetos para que possamos transformar as causas
externas que os motivaram. Entretanto, é neste ínterim que se encontra o cerne do
maior problema do relacionamento humano: a incapacidade de compreender o fluxo
dos próprios afetos. Tal dificuldade corrobora a instabilidade da relação social.
Para Espinosa (apud GLEIZER, 2005), o homem é constituído por uma
relação intrínseca entre o modo finito do pensamento infinito (alma/mente) e o modo
finito de extensão infinita (corpo). Assim, numa oposição à tradição cartesiana,
desenvolve uma teoria imanente da vida humana, na qual defende a união
corpo/alma.
Gleizer (2005) orienta que Espinosa, desiludido com a busca dos bens
mundanos (riqueza, prazer), direciona seus estudos no projeto de encontrar um bem
supremo que consiste no conhecimento da união que a alma tem com a natureza
inteira, ou como ele diz, com Deus. Para Espinosa, a Substância (natureza/Deus),
por essência livre, é única e infinita, portanto, nada existe fora da Substância. No
entanto, o Deus – Substância – de Espinosa não é o Deus transcendental da
tradição judaico cristã. Seu Deus é imanente à natureza, o conhecimento da união
com ele significa o nosso próprio conhecimento intelectual. Segundo o filósofo, como
explica Gleizer (2005), a Substância pode ser vista de infinitas maneiras, mas o
homem a percebe apenas por dois atributos: o pensamento e a extensão, chamados
por Espinosa de modos. A Substância é constituída por muitos modos. O modo é
material, finito e mantém relações com tudo o que é exterior a ele, ou seja, outro
modo. Essa relação com outros modos é chamada de afecção. Um modo afeta e é
afetado por outro. São esses afetos que aumentam ou diminuem a expressão dos
modos.
De acordo com a teoria espinosana, quando vivemos pensamos, agimos,
afetamos e somos afetados um total equilíbrio entre as duas realidades
(corpo/alma). Portanto, tudo o que nos afeta, afeta simultaneamente corpo e alma.
Essas afecções, assimiladas pelo homem nas interações sociais, despertam
sentidos que podem aumentar ou diminuir a sua capacidade de agir. São esses
sentidos que designam os afetos. Assim, é em meio às afecções, que o homem
43
passa a conhecer-se e a relacionar-se. Para Gleizer (2005, p. 23), “um indivíduo
composto pode sofrer múltiplas variações, afetar e ser afetado de várias maneiras
pelos corpos exteriores, conservando sua individualidade através das trocas com o
meio circundante.”
Espinosa, segundo Gleizer (2005), aponta a existência de afetos oriundos de
causa adequada e de causa inadequada, enquanto os primeiros (por exemplo, a
alegria) ampliam a nossa capacidade de agir, os segundos (ódio, ciúme)
enfraquecem essa mesma capacidade. Quando um afeto aumenta o poder de
expressão acontece uma paixão alegre, e quando diminui acontece uma paixão
triste. Alegria e tristeza são os afetos primitivos, outros sentimentos o derivados
destes.
Nossos afetos, frutos de causas externas, alteram o nosso conatus
22
. Gleizer
(2005) explica que, para Espinosa, conatus é o princípio vital intrínseco a todo
indivíduo, a pulsão originária de vida, o esforço para aumentar a potência de agir ou
experimentar paixões alegres.
Segundo Bittencourt:
O aumento da nossa potência de agir se origina diretamente da
ocorrência de um bom encontro, que decorre, por sua vez, da nossa
capacidade de, mediante a compreensão do fluxo de afetos que são
gerados através das impressões das causas externas, utilizamos
essa relação como suporte para ampliação do sentimento de alegria
na nossa alma, posto que esse afeto se transformou em causa ativa,
da qual temos pleno domínio de seu modo constituinte (2008, p. 89).
Isso implica que, ao conhecer nossos afetos, podemos favorecer os bons
encontros. Os modos não podem evitar os afetos, mas podem, portanto, transformá-
los pelo pensamento em afetos alegres e, assim, aumentar o poder de expressão.
Portanto, procurar os afetos alegres é atingir a beatitude. No entanto, essa tarefa,
segundo Bittencourt (2008), é considerada por Espinosa como árdua, devido à
batalha que se trava contra a imaginação, que associa de maneira errônea as ideias
fazendo muitos afetos serem sentidos como afetos tristes.
22
Segundo Gleizer (2005, p. 29), conatus é um termo latino que significa esforço.
44
Para Espinosa, afirma Gleizer (2005), a Substância não tem poder, tem
potência, que consiste em existir e pensar. Assim, cada modo é grau de potência da
Substância.
De acordo com Espinosa, o conatus quando se refere apenas à alma, chama-
se vontade. Quando se refere à alma e ao corpo simultaneamente, isto é, ao
homem, chama-se apetite. Este, quando vem acompanhado da consciência, chama-
se desejo. Portanto, o desejo
23
é a própria essência do homem, pois “quer o homem
tenha ou não consciência de seu apetite, o apetite é sempre o mesmo” (ESPINOSA,
1973, apud GLEIZER, 2005, p. 32).
Gleizer (2005) afirma que, para Espinosa, um afeto é uma afecção que
interfere positivamente ou negativamente na potência de agir. Os afetos primitivos
para o filósofo são a alegria, a tristeza e o desejo. Os afetos são denominados ações
quando se explicam exclusivamente pelas leis de nossa natureza, e paixões, quando
sua presença em nós depende de causas exteriores.
Os afetos ativos, sendo oriundos das ideias adequadas são aqueles que
nascem de nossa potência intelectual, portanto, sempre alegres; os afetos passivos,
por dependerem de causas alheias ao homem, poderão ser alegres ou tristes em
função da consciência que se tem deles.
Entendemos, portanto, que não oposição entre razão e afetividade.
Segundo Gleizer (2005), a razão é dotada de uma afetividade que lhe é peculiar,
mas adverte que entre ambas não relação de subordinação. O autor salienta que
as paixões, por serem advindas de causas exteriores, caracterizam-se pela
instabilidade e trazem a marca de nossa dependência. No entanto, as ações, por
resultarem da nossa própria natureza, caracterizam-se pela constância e trazem a
marca de nossa autonomia.
Entendemos que o conhecimento intelectual pode interagir com as paixões
transformando nossa vida afetiva, porém não se trata de controle, mas de
autoconhecimento, ou de paralelismo, usando o termo espinosano. Segundo
Gleizer:
23
Aqui, podemos, apesar de ousadamente, relacionar o desejo espinosano ao desejo lacaniano, pois
ambos são considerados como um impulso primordial na constituição do homem.
45
[...] um afeto que é uma paixão deixa de ser uma paixão logo que
formamos dele uma ideia clara e distinta. Assim, quanto mais
conseguirmos clarificar nossas paixões, menos passivos seremos em
relação a elas, e mais os afetos ativos oriundos do conhecimento
virão substituí-las (2005, p. 55).
Concluímos que cabe ao sujeito-professor identificar os motivos que o levam
ao ressentimento, para que esse afeto deixe de ser passivo (paixão) e se transforme
em ativo (alegria), pois segundo Gleizer (2005), não paixão sobre a qual não se
possa formar reflexivamente alguma ideia adequada. É essa transformação que
permitirá o aumento da sua potência de agir e, consequentemente, da superação de
sua angústia.
2.3 Piaget e a energética
Segundo Pulaski (1986), Piaget não desmerece ou nega a importância dos
sentimentos afetos, de acordo com sua terminologia. Para Piaget, todo ato
inteligente é acompanhado por sentimentos, e são esses que trazem a motivação e
a energia necessária que ativa o crescimento intelectual. “A emoção é o que torna a
inteligência dinâmica, dirigida, sempre em busca de um equilíbrio melhor; a emoção
e a inteligência são os dois lados de uma só moeda” (PULASKY, 1986, p. 139).
Souza (2003) demonstra que Piaget, embora pouco tenha escrito sobre a
afetividade, ao apresentar o desenvolvimento psicológico como uno, em suas
dimensões afetivas e cognitivas, admite o rompimento da dicotomia razão/emoção.
Essa visão monista reconhece que cada ação envolve um aspecto estrutural
ou cognitivo e um aspecto energético ou afetivo. Segundo a autora, foi em 1945,
com a obra “A formação do Símbolo na criança”, que Piaget iniciou a apresentação
de sua tese acerca da relação entre afetividade
24
e inteligência. Ambas são
indissociadas e integradas no desenvolvimento psíquico do indivíduo. Souza (2003)
24
Para Piaget, a afetividade não se restringe às emoções e aos sentimentos, mas também às
tendências e à vontade.
46
afirma que Piaget recorre às relações entre afetividade, inteligência e vida social
para explicar a gênese da moral. Segundo Piaget:
Três espécies de sentimentos ou de tendências afetivas capazes de
interessar à vida moral se apresentam inicialmente na constituição
mental da criança. Em primeiro lugar, uma necessidade de amor, que
irá desempenhar um papel essencial desenvolvendo-se sob uma
multiplicidade de formas, desde o berço até a adolescência. Um
sentimento de medo, por outro lado, em relação aos maiores e mais
fortes que ele, tendência que desempenha um papel que não é de
desprezar nas condutas de obediência [...] um sentimento misto, em
terceiro lugar, composto de afeição e de temor: é o sentimento do
respeito (1975, p. 72).
Piaget (apud SOUZA, 2003), ao falar do papel da afetividade e da inteligência
nas condutas, retoma a ideia de que toda conduta visa à adaptação. Nessa
perspectiva, o papel da afetividade é funcional a afetividade é a fonte de energia,
da qual a cognição se utiliza para seu funcionamento. Como motor ou como
energético da ação, a afetividade se manifesta por uma necessidade. Quando a
necessidade é satisfeita, o regresso ao equilíbrio expressa-se pela satisfação.
Portanto, as noções de equilíbrio e desequilíbrio têm, para Piaget, um significado
fundamental tanto para o ponto de vista afetivo quanto para o cognitivo, e isso o
levou a refletir sobre os processos de assimilação e acomodação afetivas (SOUZA,
2003). A assimilação refere-se ao interesse que tem como fonte o “eu” e a
acomodação é relativa ao interesse pelo objeto como tal. A adaptação representa
um equilíbrio temporário entre assimilação e acomodação. Assim, do ponto de vista
do autor, todos os objetos são ao mesmo tempo cognitivos e afetivos.
A inteligência fornece a estrutura para a ação, enquanto os
sentimentos fornecem a sua dinâmica. Como os dois são
interdependentes, o desenvolvimento emocional requer o mesmo
processo contínuo de adaptação necessário ao desenvolvimento
cognitivo. As emoções precisam assimilar situações novas do mundo
externo e acomodar-se a elas para criar novos “esquemas afetivos”,
ou modos de reação (PULASKI, 1986, p.140).
A autora exemplifica com as respostas que um bebê ao ser tratado com
afeto ou com hostilidade. Segundo ela, essas respostas emocionais envolvem
inteligência e raciocínio.
47
Pulaski (1986) orienta que, para Piaget, os aspectos motivacionais do
comportamento (interesse, curiosidade, vontade, determinação) e os sistemas de
valor (padrões morais, ideias, objetivos, aspirações) são partes da vida emocional.
Assim, quando se descreve a vida emocional de um bebê, deve-se incluir além dos
reflexos emocionais primários de amor, raiva e medo, também a sua luta instintiva
pelo alimento, bem-estar e dominação.
À medida que o bebê se dá conta de que não faz parte de sua mãe, que ela é
uma pessoa além dele e fonte de alimento, do calor e atenção, passa a depender
mais dela e menos de si mesmo. Segundo a autora, ele volta-se do auto-interesse
narcisista para uma percepção maior e direcionada à mãe, e em seguida, às outras
pessoas do mundo externo. A mãe se torna seu objeto de amor ou “escolha do
objeto”, segundo a terminologia psicanalítica.
É por meio da conscientização da mãe que a criança aprende a diferenciar-se
em relação à realidade externa, não intelectualmente como também
emocionalmente. Pulaski afirma que é pelo interesse em agradar à mãe o que a
autora considera como o despontar da motivação que se o início da vida
emocional do bebê.
A evolução dos aspectos cognitivos e afetivos -se da mesma maneira: no
início, centradas no sujeito e suas necessidades, depois no outro e nas relações
interpessoais.
No período sensório-motor (0-2 anos) a afetividade é manifestada nas
emoções primárias, como o medo, e nas sensações de dor e prazer. São
considerados afetos egocêntricos, sem a consciência do eu.
No período intuitivo ou pré-operacional (2-7 anos) ocorre o desenvolvimento
dos sentimentos interindividuais (afeições, simpatias). Surgem os sentimentos
morais. Neste período, segundo Piaget, a criança adquire novos interesses. Embora
esses interesses sejam uma extensão das necessidades primitivas do bebê, são
ampliadas pelas atividades simbólicas que compreende o crescimento intelectual – a
linguagem por exemplo. Fica pertinente nos reportarmos à importância da auto-
imagem para Piaget. Segundo o autor, a proporção de interesse e motivação
48
demonstrada pela criança tem relação com sua auto-imagem. Quanto mais se sente
valorizada, mais a criança se valoriza.
Para La Taille (1992), há, implicitamente, nas ideias de Piaget sobre juízo
moral, certa concepção da relação entre afetividade e cognição. Piaget (1994, p. 02)
afirma que “toda moral consiste num sistema de regras e a essência de toda
moralidade deve ser procurada no respeito que o indivíduo adquire por essas
regras”. La Taille (1992) afirma que, para Piaget, os jogos coletivos de regras são
paradigmáticos da moralidade humana, isso comprovado por três razões: por
representarem uma atividade interindividual necessariamente regulada por certas
normas que podem ser modificadas pelos próprios jogadores; por envolverem
questões de justiça e honestidade e por munirem-se de mútuos acordos entre os
participantes.
Segundo La Taille (1992), Piaget divide a evolução da consciência da regra
em três etapas: a anomia, na qual as crianças ainda não seguem regras coletivas; a
heteronomia, na qual, embora haja certo interesse da criança em participar de
atividades coletivas e regradas, ainda não concebem as regras como necessárias
para regular e harmonizar as ações do grupo, e, por isso, não as seguem como
deveriam; e, por último, a autonomia, que corresponde à concepção adulta do jogo –
as crianças jogam seguindo as regras, compreendendo o respeito a elas como
decorrente de mútuos acordos entre os jogadores. Para Piaget, o desenvolvimento
do juízo moral seguiria as mesmas etapas da consciência das regras dos jogos.
2.4 Wallon e a teoria das emoções
Segundo Galvão (2003), a teoria psicogenética de Henri Wallon confere à
emoção e à afetividade um papel essencial no desenvolvimento humano, pois a
evolução da afetividade depende das construções cognitivas (inteligência), assim
como a evolução da inteligência depende das construções afetivas. E são essas
construções – decorrentes da interação – que perfazem o desenvolvimento humano.
O autor defende que a constituição humana se efetiva pelo entrelaçamento de vários
fatores: ato motor, afetividade, inteligência e as relações estabelecidas com o meio.
49
Portanto, assim como Vigotski, elabora sua teoria fundamentada na abordagem
socio-cultural.
Wallon defende a indissociabilidade emoção/intelecto e reafirma o papel da
emoção na origem da cognição. Assim, de acordo com a teoria walloniana, os
aspectos cognição/emoção e social/biológico constituem pólos intrínsecos ao
desenvolvimento humano. No entanto, Wallon (apud GALVÃO, 2003) diferencia a
emoção de outros afetos como o sentimento e a paixão. As emoções, para o autor,
são manifestações propriamente expressivas enquanto os outros afetos são
dependentes da representação simbólica.
Especificamente o tema das emoções ocupa papel preponderante nos
estudos de Wallon, que se volta aos primeiros anos de vida para explicar sua
importância e confirmar que seu surgimento precede ao surgimento da
representação simbólica.
Galvão (2003) afirma que, segundo Wallon, o desenvolvimento humano dá-se
pela construção sucessiva e progressiva de estágios nos quais se percebe o
predomínio alternativo de aspectos afetivos e cognitivos. Embora os fatores
orgânicos sejam responsáveis pela sequência que se observa entre os estágios do
desenvolvimento, estes o totalmente condicionados às circunstâncias sociais nas
quais se insere cada indivíduo e suas deliberações voluntárias.
No estágio denominado impulsivo-emocional, que se estende no primeiro ano
de vida, é a emoção que estabelece a relação indivíduo/meio. Wallon (apud
GALVÃO, 2003) justifica que pela natural dependência do outro, o indivíduo
desenvolve aptidões de expressão as quais intermedeiam sua relação com as
pessoas. De acordo com Wallon:
Os únicos atos úteis que a criança pode fazer constituem no fato de,
pelos seus gestos, pelas suas atitudes, pelas suas gesticulações,
chamar a mãe em seu auxílio [...] Portanto, os primeiros gestos [...]
não são gestos que lhe permitirão apropriar-se dos objetos do mundo
exterior [...] são gestos dirigidos às pessoas [...] (1978, p. 201).
50
É a partir da experiência e da convivência que essas expressões vão
assumindo significados e, posteriormente, passam a constituir emoções mais
diferenciadas. Nesse processo, além de enfatizar o caráter expressivo das emoções,
Wallon também enfatiza sua dimensão subjetiva, pois, segundo Galvão (2003), pela
capacidade de modelar o próprio corpo, a emoção permite a primeira percepção
infantil das realidades externas ou, com outras palavras, uma primeira organização
mental. Essa percepção, no início apenas corporal, passará após o domínio da
linguagem, a constituir a representação simbólica. É aí que entendemos a
imbricação razão/afeto, pois:
A passagem dessa percepção corporal que se sob a forma de
atitudes posturais à capacidade de representação mental se fará
mediante a intervenção da linguagem à qual a criança pequena tem
acesso muito antes de dominá-la, pelo simples fato de estar em
conexão permanente com o ambiente. Sendo a vida emocional a
condição primeira das relações interindividuais, podemos dizer que
ela está tamm na origem da atividade representativa, logo, da vida
intelectual (GALVÃO, 2003, p. 74).
Portanto, para Wallon, são a cultura e a linguagem as fontes de instrumentos
responsáveis pela evolução do pensamento.
Percebemos, no primeiro estágio, a predominância dos aspectos afetivos,
no segundo (estágio sensório-motor e projetivo), obedecendo à alternância de
predomínio, os aspectos cognitivos acentuam-se. Esse estágio, que compreende até
o terceiro ano de vida, caracteriza-se pelo interesse da criança para a exploração
sensório-motora do mundo físico. Galvão (2000) exemplifica com a aquisição da
marcha e da preensão, conquistas que trazem autonomia na relação indivíduo/meio.
Nessa fase também acontece o desenvolvimento da linguagem, que reduziria a
dimensão puramente expressiva.
O estágio do personalismo, dos três aos seis anos, compreende a formação
da personalidade. No qual se dá, portanto, o surgimento da consciência de si, com a
volta do predomínio dos aspectos afetivos.
O estágio categorial inicia-se após os seis anos e caracteriza-se pela
consolidação da função simbólica o que acarreta avanços no aspecto intelectual.
51
Na adolescência, com predominância da afetividade, uma redefinição da
personalidade, isso ocasionado pelas modificações corporais e simbólicas do
indivíduo. Essa alternância dos aspectos afetivos e cognitivos é denominada por
Wallon de predominância funcional.
Segundo Galvão:
O predomínio do caráter intelectual corresponde às etapas em que a
ênfase está na elaboração do real e no conhecimento do mundo
físico. A predominância do caráter afetivo e, consequentemente, das
relações com o mundo humano, corresponde às etapas que se
prestam à construção do eu (2000, p. 45).
Apesar da alternância dos aspectos, percebemos que a afetividade e a
cognição não se excluem. Para Wallon, em cada fase do desenvolvimento, uma
apropriação das conquistas realizadas no estágio anterior. Assim, no entrelaçamento
da cognição e da afetividade, as conquistas afetivas são intercaladas às conquistas
cognitivas e vice-versa. Podemos entender, portanto, que a afetividade incorpora as
construções da inteligência e tende a se racionalizar, ampliando suas formas de
manifestação. Num primeiro momento, podemos ter a impressão equivocada de que
uma superioridade da cognição no sentido de “controle dos afetos”, mas
entendemos que, como Espinosa, Wallon não atribui a esses aspectos critérios de
valor.
Wallon admite haver um aperfeiçoamento do qual resultam atitudes mais
conscientes. Dessa maneira, aproximamo-nos do autoconhecimento espinosano.
Assim como os outros autores citados, também Wallon defende o papel da
afetividade ao longo do desenvolvimento humano e, consequentemente, na
constituição do sujeito.
52
2.5 Damásio e as evidências clínicas
O neurocientista Damásio não só defende a indissociabilidade entre
razão/emoção, como apresenta fortes evidências clínicas para essa comprovação.
Desafiando o tradicional dualismo do pensamento ocidental, ele oferece uma visão
integrada do ser humano.
Para o autor, uma estreita relação de interdependência entre sentimentos,
razão e corpo. Ele afirma:
[...] os sentimentos parecem depender de um delicado sistema com
múltiplos componentes que é indissociável da regulação biológica; e
a razão parece, na verdade, depender de sistemas cerebrais
específicos, alguns dos quais processam sentimentos. Assim, pode
existir um elo de ligação, em termos anatômicos e funcionais, entre
razão e sentimentos e entre esses e o corpo (DAMÁSIO, 1996, p.
276).
Cabe aqui, ressaltar as definições que Damásio atribui às expressões emoção
e sentimento. Para o autor, emoções o conjuntos complexos de reações químicas
e neurais, determinadas biologicamente e dependentes de mecanismos cerebrais.
Há, portanto, um encontro com a definição de Wallon.
Araújo (2003) declara que, para Damásio, as emoções usam o corpo como
teatro e afetam o modo de operação de inúmeros circuitos cerebrais. Assim, as
emoções podem ser entendidas como estados internos do organismo que têm o
poder de atuar no funcionamento corporal e psíquico. Em outras palavras, as
emoções são indispensáveis para a vida racional.
As emoções, como a alegria, a tristeza e a raiva, afloram tanto de estímulos
internos quanto de externos e têm a função de garantir nossa sobrevivência e bem-
estar.
Segundo Damásio (apud ARAÚJO, 2003), o termo sentimento refere-se à
experiência mental privada de uma emoção. Ele explica:
53
Em organismos superiores, como é o caso do ser humano, a
consciência permite que tais emoções sejam “sentidas” e, portanto,
sejam conhecidas na forma de sentimentos. Ele entende as relações
entre emoções e sentimentos em um continuum funcional em que
sentimos nossas emoções e sabemos que as sentimos por meio da
consciência (ARAÚJO, 2003, p. 153-154).
Torna-se relevante dizer que Damásio não considera a razão menos
importante que a emoção. Neste ponto, as ideias do autor coadunam-se com as dos
outros autores estudados. Há, segundo ele, uma “paixão pela razão”, um impulso
que se origina no cérebro e emerge sob a forma de sentimento ou predisposições
que orientam a tomada de decisão.
O autor aponta, entretanto, a preocupação de se aceitar a importância das
emoções sem a compreensão necessária de sua complexa maquinaria biológica e
sociocultural e afirma que “o fortalecimento da racionalidade requer que seja dada
uma maior atenção à vulnerabilidade do mundo interior” (DAMÁSIO, 1996, p. 278).
Percebemos, novamente, a congruência razão/emoção como processos
intrínsecos à constituição do sujeito. Tal constatação fez com que Damásio
apresentasse a obra “erro de Descartes”. O autor inicia sua crítica, a partir do cogito
“penso, logo existo”, afirmando que pensar e ter consciência não são os verdadeiros
substratos de existir. Para Damásio o que ocorre é o inverso. A partir do momento
em que nosso corpo passa a existir em sua plenitude, passamos a pensar e
mantemos nossa racionalidade. Ele conclui: “existimos e depois pensamos e
pensamos na medida em que existimos, visto o pensamento ser na verdade
causado por estruturas e operações do ser” (1996, p. 279). Portanto, o erro de
Descartes foi defender a total separação entre corpo e mente. Essa divisão
cartesiana ainda se impõe nos dias de hoje.
Repetindo os dizeres de Damásio, “a alma e o espírito, em toda a sua
dignidade e dimensão humana, são os estados complexos e únicos de um
organismo” (1996, p. 282).
54
2.6 As concepções de Vigotski
Influenciado pela teoria de Espinosa, Vigotski igualmente se contrapõe à
visão cartesiana que separa corpo/mente ou sentimento/razão. Para o autor, a
compreensão do pensamento humano é possível quando se considera sua base
afetivo-volitiva, pois o pensamento tem sua origem na motivação, que inclui, entre
outros fatores, os interesses, o afeto e a emoção. Segundo Vigotski:
A fertilidade de nosso método pode ser demonstrada também em
outras questões concernentes às relações entre as funções, ou entre
a consciência como um todo [...] Referimo-nos à relação entre
intelecto e afeto [...] A análise em unidades [...] demonstra a
existência de um sistema dinâmico de significados em que o afetivo e
o intelectual se unem (1989, p. 6 - 7).
Por toda a obra de Vigotski (1991, 1989, 2000, 2004) encontramos
fragmentos que deflagram a sua concepção monista entre cognição e afeto. No
entanto, não um estudo aprofundado sobre o tema afetividade, fato observado
por Oliveira (1992) que procurou nos conceitos vigotskianos “portas de entrada” para
compreender sua abordagem sobre a dimensão afetiva no funcionamento
psicológico.
Acreditamos que os postulados do autor nos indicam a sua visão contrária
às ideias cartesianas referentes à separação entre razão e sentimento, corpo e
alma. Segundo Oliveira (1992) dois pressupostos complementares na teoria de
Vigotski que permitem afirmar que o autor não trata a afetividade e a cognição como
dimensões dicotômicas: o primeiro, refere-se à sua visão monista, que se opõe a
qualquer cisão das dimensões humanas; e o segundo, refere-se à sua abordagem
holística, que busca a totalidade do indivíduo.
Para que consigamos perceber a relevância que Vigostski atribui às emoções
no processo de desenvolvimento humano, faz-se necessário uma breve explanação
de seus principais conceitos. Embora espalhados por suas obras, são esses
conceitos que implicam uma inter-relação entre cognição/afetividade.
55
Para Vigotski, o homem é um ser social, constituído pelas e nas relações
sociais que estabelece entre si e os outros e entre si e o meio. O sujeito é, portanto,
produtor e produto das relações sociais dentro de um processo histórico. Fica
pertinente aqui nos reportarmos ao momento histórico vivido pelo autor na Rússia
pós-revolução, no início de seus estudos, para entendermos o conceito de sujeito
por ele adotado. Segundo Oliveira (2003, p. 22), Vigotski e seus seguidores
baseavam seus estudos na crença da emergência de uma nova sociedade,
consequentemente, no surgimento de um novo homem: “[...] seu objetivo mais
amplo era a busca do ‘novo’, de uma ligação entre a produção científica e o regime
recém-implantado” (2003, p. 22).
Segundo Oliveira (2003), no entusiasmo de criar uma nova sociedade,
Vigotski focou seus estudos na construção de uma teoria psicológica
transformadora. De interesses estéticos (arte e literatura), nasceu sua necessidade
de construir esta nova psicologia.
Vigotski buscava a construção de uma nova psicologia que consistisse numa
síntese entre as duas fortes tendências do início do culo XX: a psicologia como
ciência natural e a psicologia como ciência mental. A primeira procurava explicar os
processos elementares sensoriais e os reflexos, e a segunda, os processos
psicológicos superiores. A síntese vigotskiana integrava, portanto, corpo e mente
o homem como ser biológico e social, atuante num processo histórico. Portanto:
[...] a cultura não é pensada por Vygotsky como um sistema estático
ao qual o indivíduo se submete, mas como uma espécie de “palco de
negociações” em que seus membros estão em constante processo
de recriação e reinterpretação de informações, conceitos e
significados (OLIVEIRA, 1992, p. 80).
E esta atuação está diretamente relacionada ao desenvolvimento das funções
psicológicas superiores, que se referem, segundo Oliveira (1992, p. 79), a processos
voluntários, ações conscientemente controladas e mecanismos intencionais. São,
portanto, funções tipicamente humanas que se desenvolvem ao longo da vida como
resultado da inserção no contexto sócio-histórico. O autor define, assim, as quatro
dimensões que caracterizam o desenvolvimento psicológico: a filogenética, que é a
história da espécie animal, a ontogenética, bastante ligada à primeira, mas que se
56
refere à história do próprio indivíduo, a sociogenética, que é a história cultural na
qual esse indivíduo está inserido, e por fim, a microgenética, que trata da formação
de cada processo psicológico específico e das experiências vividas pelo indivíduo.
Sabemos, portanto, que Vigotski não completou sua (re)construção, ele apenas
(re)definiu alguns conceitos. A saber:
diferentes níveis de funcionamento psicológico com características
específicas entre os processos mentais superiores e os elementares;
O pensamento e a consciência são influenciados por atividades externas
amparadas pela relação social;
A relação social se por meio de instrumentos e signos, dentre os quais, a
linguagem tem papel fundamental.
O homem se constitui, portanto, a partir da relação com o outro. A
aprendizagem tem a função de impulsionar os “vários processos internos de
desenvolvimento, que são capazes de operar somente quando a criança interage
com pessoas em seu ambiente e quando em cooperação com seus companheiros”
(VYGOTSKY, 1991, p. 101). Assim, a aprendizagem acontecerá quando houver a
intervenção de um terceiro elemento dentro dessa relação. Essa intervenção é
denominada de mediação simbólica.
Vigotski considera dois tipos de mediadores: os instrumentos e os signos. Os
instrumentos constituem objetos concretos que medeiam a relação do homem com o
mundo, os signos apresentam-se num caráter psíquico e necessitam passar por
um processo de internalização. De acordo com Oliveira:
A passagem do nível interpsicológico para o nível intrapsicológico
envolve, assim, relações interpessoais densas, mediadas
simbolicamente, e não trocas mecânicas limitadas a um patamar
meramente intelectual. Envolve também a construção de sujeitos
absolutamente únicos, com trajetórias pessoais singulares e
experiências particulares em sua relação com o mundo [...] (1992, p.
80).
57
A autora afirma, portanto, que o processo de internalização corresponde à
própria formação da consciência, pois como orienta Vigotski:
A internalização das atividades socialmente enraizadas e
historicamente desenvolvidas constitui o aspecto característico da
psicologia humana; é a base do salto qualitativo da psicologia animal
para a psicologia humana (VYGOTSKY, 1991, p. 65).
Segundo Oliveira (1992), as ideias de Vigotski a respeito do conceito de
consciência o centrais em sua concepção acerca da relação afeto/intelecto. No
processo de internalização, que corresponde à formação da consciência, coexiste o
processo de constituição da subjetividade (a partir de situações de
intersubjetividade) o que envolve a construção de sujeitos únicos, com experiências
pessoais singulares. A consciência representaria, portanto, um salto qualitativo na
filogênese, a própria essência da psique humana, constituída pela relação entre
intelecto e afeto.
Importante perceber como os conceitos vigotskianos apresentam uma
“amarração”, não sendo possível falar sobre um conceito sem nos reportarmos a
outros. A questão da formação da consciência e da subjetividade a partir da
internalização remete-nos à importância da mediação simbólica no desenvolvimento
psicológico humano e, consequentemente, ao valor da linguagem nesse processo.
Nos conceitos de sentido e significado, como componentes essenciais à palavra,
percebe-se a intrínseca relação entre os aspectos afetivos e os cognitivos na
formação da consciência.
2.6.1 Sentido e Significado
Tradicionalmente, compreendia-se pensamento e linguagem como elementos
autônomos de desenvolvimento. Vigotski, ao contrário, uniu os conceitos por meio
do significado da palavra:
[...] o significado é parte inalienável da palavra como tal, e dessa
forma pertence tanto ao domínio da linguagem quanto ao domínio do
58
pensamento. Uma palavra sem significado é um som vazio, que não
mais faz parte da fala humana (1989, p. 4).
A relação pensamento-palavra defendida por Vigotski deve ser entendida
como um processo vivo, pois o pensamento nasce por meio das palavras, que
surgem ao longo do desenvolvimento e se modificam. Portanto, ao mesmo tempo
em que a linguagem tem uma função organizadora e planejadora do pensamento,
também tem uma função social, porque comunicativa (VYGOTSKY, 1989, 1991).
Segundo o autor (1991), o desenvolvimento da linguagem ocorre em três estágios:
linguagem externa, linguagem egocêntrica e linguagem interna. A primeira tem a
função de comunicação, de relação social; a segunda permite a organização do
pensamento para se planejar a ão e a terceira caracteriza o pensamento verbal.
Neste último, Vigotski enfatiza a linguagem como principal meio de representação
simbólica
25
que o ser humano dispõe por constituir duas funções básicas: a
comunicação e o pensamento generalizante.
Segundo Delari Junior (2000, p. 117), “o modo fundamental pelo qual os seres
humanos unem-se e confrontam-se uns com os outros é a própria linguagem”. Para
o autor, além de possuir um papel constitutivo nas relações sociais, a linguagem é a
base da gênese da consciência, pois o homem, como ser histórico, “atualiza a
própria especificidade material de sua existência quando sua materialidade se
constitui num movimento que se realiza enquanto palavra” (2000, p. 128).
Vigotski (2000) distingue dois planos inerentes à linguagem: o aspecto
semântico interior e o aspecto físico e sonoro exterior que, embora constituam uma
unidade, têm cada um as suas leis de desenvolvimento. Para o autor, a unidade da
linguagem é uma unidade complexa e não homogênea. Em relação aos diferentes
modos de significação, Vigotski introduz os conceitos de “fala interior” e “fala
exterior”. Para o autor, a “fala exterior” materializa o pensamento em palavras, e a
“fala interior” interioriza a fala em pensamento, operando preferencialmente com a
semântica e não com a fonética.
25
“A linguagem fornece os conceitos e as formas de organização do real que constituem a mediação
entre o sujeito e o objeto de conhecimento.” (OLIVEIRA, 1992, p. 80).
59
A principal característica semântica da “fala interior” é a predominância do
sentido sobre o significado (VIGOTSKI, 2000), que são aspectos indissociáveis da
palavra. O autor exemplifica a diferença entre esses aspectos reportando-se à
palavra final “dance” da fábula de Krilov “A libélula e a formiga”. A palavra dance tem
um sentido permanente definido, único para qualquer contexto em que venha a ser
utilizado, afirma o autor. No entanto, no contexto da fábula adquire um sentido
intelectual e afetivo muito mais expressivo
26
.
Esse enriquecimento das palavras que o sentido lhes confere a partir
do contexto é a lei fundamental da dinâmica do significado das
palavras [...] o sentido real de cada palavra é determinado, no fim
das contas, por toda a riqueza dos momentos existentes na
consciência e relacionados àquilo que está expresso por uma
determinada palavra (VIGOTSKI, 2000, p. 465-466).
Delari Junior (2000) resume a definição de significado como a estrutura
interna de operação do signo, o modo pelo qual a palavra realiza uma generalização
e a definição de sentido como relativo aos aspectos gerais provocados por um signo
e/ou que compõem o processo de formação de um signo. Assim, é no sentido que
se agregam os fatos psicológicos e emocionais que se originam a partir da
compreensão do significado de uma palavra. O emocional, o volitivo e o cognitivo
estarão presentes em uma mesma palavra, formando uma ferrenha articulação.
Entendemos, assim, que são os significados das palavras, concebidos aqui como
elementos constituídos por sentidos e significados, que medeiam o pensamento
antes de sua materialização (em palavras). Esse caminho entre pensamento e
palavra é mediado internamente pelas representações que o indivíduo adquire a
partir de suas relações sociais. Vigotski (2000, p. 479-478) afirmou que “por trás do
pensamento existe uma tendência afetiva e volitiva” e a plena compreensão do
pensamento humano se “torna possível quando descobrimos a sua eficaz causa
profunda afetivo-volitiva”.
Para analisar o discurso do sujeito professor acerca da formação continuada,
precisamos entender o seu pensamento e isso significa “rastrear” sua motivação. E
isso só se torna possível pela palavra: pois, pronunciada, materializa todo o caminho
26
No contexto da fábula, segundo Vigotski, a palavra “dance” significa ao mesmo tempo “divirta-se e
morra”.
60
que foi percorrido do pensamento ao discurso, mas também viabiliza a percepção do
caminho do discurso ao pensamento. De acordo com Vigotski (2000, p. 409), “o
pensamento não se exprime na palavra, mas nela se realiza”.
Sabemos que o significado da palavra é construído individualmente, porém,
forjado nas relações sociais e que o sentido de cada palavra é amplo e contraditório.
No entanto, a partir da análise do conteúdo utilizado pelos professores no discurso é
possível perceber a relação docente com o contexto histórico e social que envolve a
formação continuada.
Para Vigotski (2000, p. 48), “ela [a palavra] é o pequeno mundo da
consciência. A palavra consciente é o microcosmo da consciência humana”, o que a
coloca como unidade de análise para o estudo das representações humanas. De
tudo o que foi exposto, concluímos que a gênese do sentido está na relação com os
significados socialmente constituídos, pois sentir e pensar existem na dinâmica
social de significações: somos únicos e singulares na multiplicidade das interações.
Reiteramos as palavras de Delari Junior:
A partir da visão vigotskiana é possível dizer que se contrapõe
fortemente qualquer noção de uma autonomia absoluta; e toda a
liberdade possível pode ser vista com relação às condições
materiais das relações sociais possíveis num determinado contexto
histórico (2000, p. 202).
Podemos concluir, a partir do exposto, que a concepção de Vigotski acerca do
desenvolvimento das emoções está intimamente ligada à concepção de
desenvolvimento das funções psicológicas superiores e, consequentemente, ao
funcionamento psicológico.
2.7 Abordagem Histórico-Cultural
Fica pertinente nos reportarmos à abordagem histórico-cultural, teoria que
busca explicar, ao longo da história do homem, a formação e o desenvolvimento das
características tipicamente humanas de seu comportamento. Esta vertente teórica
61
nasceu numa União Soviética s-revolução fundamentada pela teoria marxista e
teve Vigotski como precursor. Na busca de um novo homem, procurava-se estudá-
lo e a seu universo psíquico como uma construção histórica e social da humanidade.
Como afirmamos, para esse estudioso, tudo o que se constitui tipicamente
humano tem sua origem nas interações sociais, assim, nosso mundo psíquico vive
em transformação decorrente da construção social e histórica da humanidade. As
representações, a percepção, os sentimentos, ou seja, todo o complexo do
funcionamento psicológico forma-se a partir da relação com o outro. Relação essa
mediada por instrumentos e signos.
É nesse processo interativo que as reações naturais
27
, intercaladas aos
processos culturalmente organizados, entrelaçam-se na constituição da
subjetividade de cada indivíduo.
Desde o nascimento, a criança reconhece e participa do mundo pela
interação com o outro, e esta interação é mediada pela linguagem. Como afirma
Vigotski: “[...] essa estrutura humana complexa é o produto de um processo de
desenvolvimento profundamente enraizado nas ligações entre história individual e
história sócia” (Vygotsky, 1991, p. 33).
Portanto, é na relação com o outro que o indivíduo se apropria das
manifestações socialmente construídas. É o grupo social que permite o acesso pelo
indivíduo das formas culturais de perceber e atuar na realidade. A esse processo dá-
se o nome de internalização. É na internalização que a atividade interpessoal
transforma-se em intrapessoal. Assim, podemos concluir que a abordagem cultural
entende que a função psicológica se organiza por meio de dois planos: o da relação
entre os sujeitos e, depois, no próprio sujeito.
Segundo Fontana e Cruz:
[...] para Vygotsky, as origens e as explicações do funcionamento
psicológico do homem devem ser buscadas nas interações sociais. É
que o indivíduo tem acesso aos instrumentos e aos sistemas de
signos que possibilitam o desenvolvimento de formas culturais de
atividade e permitem estruturar a realidade e o próprio pensamento
(1997, p. 61).
27
Essas reações naturais, como a percepção e a memória, são herdadas biologicamente.
62
Esta compreensão da totalidade do ser humano implica entender que “o
afetivo é ‘quase social’, e o social é ‘quase psicológico’, inserindo definitivamente ‘a
sociedade no homem, o biológico no psicológico e vice-versa” (SAWAIA, 2002, p.
10).
Nosso objetivo é captar o que o sujeito-professor pensa e sente acerca da
formação continuada e isso significa ir além das palavras ditas. Como disse Vigotski:
Um pensamento pode ser comparado a uma nuvem parada, que
descarrega uma chuva de palavras, é por isso que o processo de
transição do pensamento para a linguagem é um processo
sumamente complexo de decomposição do pensamento e sua
recriação em palavras. Exatamente porque um pensamento não
coincide não só com a palavra, mas também com os significados das
palavras [devido ao sentido?] [...] No nosso pensamento, sempre
existe uma segunda intenção, um subtexto oculto (2001, p. 478).
É este subtexto que procuramos nas análises dos dizeres docentes. A partir
do que foi escrito, entendemos que o sujeito é um indivíduo real, constituído pela
interação social e que se presentifica pela linguagem.
63
O homem que pensa
Tem a fronte imensa
Tem a fronte pensa
Cheia de tormentos.
O homem que pensa
Traz nos pensamentos
Os ventos preclaros
Que vêm das origens.
O homem que pensa
Pensamentos claros
Tem a fronte virgem
De ressentimentos.
Sua fronte pensa
Sua mão escreve
Sua mão prescreve
Os tempos futuros.
Ao homem que pensa
Pensamentos puros
O dia lhe é duro
A noite lhe é leve:
Que o homem que pensa
Só pensa o que deve
Só deve o que pensa.
VINICIUS DE MORAES
64
CAPÍTULO III RESSENTIMENTO E ANGÚSTIA: AFETOS
INTERCAMBIÁVEIS NAS REPRESENTAÇÕES DOCENTES
Apresentação do capítulo
Este capítulo, assumindo o conceito de Psicanálise como todo de
investigação, procura conceituar ressentimento, angústia e representações. Para
tanto, faz uma breve explanação sobre o termo psicanálise; relaciona os conceitos
ressentimento e angústia, como defesas pela integridade narcísica do eu e define
representação social dando ênfase ao conceito de themata: concepção que
corrobora a análise das categorizações temáticas nos dizeres docentes.
3.2 Psicanálise
Em termos amplos, a palavra psicanálise é usada para se referir a uma teoria,
a um método de investigação e a uma prática profissional. Para essa pesquisa,
referimo-nos à psicanálise como um método de investigação, que aliada aos
construtos da Análise de Conteúdo, permite-nos, caracterizada pelo método
interpretativo, buscar o significado oculto daquilo que se manifesta por meio das
palavras.
Segundo Bock, Furtado e Teixeira (2002), de acordo com a teoria
psicanalítica, três sistemas ou instâncias psíquicas: inconsciente, pré-consciente
e consciente. O inconsciente é constituído por conteúdos reprimidos, o pré-
consciente constitui tudo aquilo que ainda não está no consciente, e este último,
representa o sistema do aparelho psíquico que recebe as informações do mundo
exterior e as do mundo interior.
A característica primordial da investigação psicanalítica, segundo os autores,
refere-se à interpretação do inconsciente e à integração de seus conteúdos
desconhecidos e inconscientes que determinam em grande parte o comportamento
e os sentimentos humanos.
65
A Psicanálise estabelece uma relação imediata e necessária com a
linguagem. Para Lacan, a linguagem tem função constitutiva no homem, pois é meio
pelo qual se faz a mediação com o mundo externo e interno.
Segundo Castro (1992), o inconsciente obedece a leis formais análogas às
leis linguísticas, pois o homem não domina a ordem do significante, sendo antes
esta ordem que o constitui enquanto homem. Em outras palavras, há uma
autonomia da função simbólica em relação ao sujeito. É nesse sentido que Lacan
afirma que o inconsciente é a linguagem, pois o sujeito, muitas vezes à sua revelia,
deixa escapar os equívocos da língua, ou o desejo inconsciente. Como afirma Fink:
A palavra [...] à medida que aparece na mensagem [...] em vez de
simplesmente designar quem está falando, parece nos dizer algo a
respeito do falante, em outras palavras, que ele não está
completamente de acordo com o que está dizendo. Parece apontar
para um falante ambivalente que diz sim e não ao mesmo tempo,
que enquanto diz uma coisa, insinua outra (1998, p.61).
Para Mello e Athayde (2008, p.255), a divisão entre consciente e inconsciente
pode ser confirmada a partir da análise do discurso, pelas “pistas oferecidas pelo
discurso”. De acordo com os postulados lacanianos, afirmam os autores, é
possível atingir o inconsciente por meio do consciente, ou seja, “a enunciação em si
mesma pode não revelar o sujeito do inconsciente, mas pode oferecer um caminho
mais seguro ao analista no sentido de (re)construí-lo pelo discurso” (MELLO;
ATHAYDE, 2008, p. 255).
Na busca pelo sentido oculto nos dizeres docentes faz-se necessário
descobrir o que está abaixo da superfície do discurso, “escapar à palavra,
explorando-lhe a profundidade” [...] (SILVA, 1996, p. 10).
66
3.2.1 Ressentimento e Angústia: defesas pela integridade narcísica
do eu
O tema ressentimento vem contrariar uma ferrenha tradição filosófica que
defende a superioridade da razão, pejorando toda e qualquer forma de afeto ou
emoção. Entretanto, tomamos o tema à luz da teoria de Espinosa (1988) que, ao
contrário de outros filósofos, não considerava as emoções um erro, mas um
elemento indissociável da constituição humana.
Haddad (2003) afirma que Nietzche também se preocupou em explicar o
ressentimento, pois de acordo com a sua visão antropológica e histórica do início da
humanidade, o ser humano, chamado de “a besta loira”, precisou perder sua
liberdade para poder viver em grupo. Tal convivência foi sustentada por meio da dor
e do sofrimento, que segundo o filósofo, criou uma relação de credor e devedor
entre o homem e a humanidade. Quando o indivíduo se sente em dívida com a
humanidade, surge a consciência de culpa, que Nietzsche denomina de
consciência, ou seja, a consciência do dever não cumprido.
Haddad afirma:
Questionando-se eternamente pela sorte e pelo destino
invariavelmente frustrante, o ressentido apresenta um discurso
magoado e na maioria das vezes rancoroso [...] o que causa um
desconforto aos ouvidos é o fato de ser uma retórica recorrente onde
o modo de contato com o mundo é sempre o de legitimar o lugar de
vítima e justificar o rancor (2003, p. 6).
Para Nietzsche (1998, p. 28), ressentimento é a inconformidade com a
realidade, “esta inversão do olhar que estabelece valores – este necessário dirigir-se
para fora, em vez de voltar-se para si é algo próprio do ressentimento” A
inconformidade ante a realidade configura-se, então, em uma reação do indivíduo na
busca pela mudança
.
Ao responderem as perguntas sobre formação continuada, os professores
deixam aflorar seus (re)sentimentos. Percebemos a presença da culpa no discurso
magoado. A sensação do dever não cumprido, descrita por Nietzsche, caracteriza o
sentimento docente. Entretanto, esse sentimento é consciente? Os professores
67
percebem quais são as causas externas que influenciaram e influenciam esses
afetos? Se há a percepção, o que os docentes podem fazer para mudar a situação?
Segundo Kehl (2004), o ressentimento não é uma categoria da clínica
psicanalítica. Este faz parte do campo de afetos do senso comum e se diferencia de
outros afetos pela possibilidade de ser acionado por um ato de vontade ligado ao
domínio do eu. De acordo com a autora, as queixas repetitivas, próprias do
ressentimento, servem ao mecanismo de defesa narcísica. Ela orienta: “O ressentido
reconhece seu sofrimento, mas atribui toda a responsabilidade a um outro, mais
poderoso que ele, suposto agente do mal que o vitimou” (KEHL, 2004, p. 33).
Esta posição de vítima se fortalece quando os motivos de queixa encontram
validação na realidade social a que pertence o sujeito ressentido. Quanto mais se
coloca no papel de vítima, mais difícil se torna ao sujeito indagar sobre sua
responsabilidade quanto ao que lhe faz sofrer.
Para Kehl (2004, p. 35-36), as identidades grupais, quando são vítimas de
injustiças e discriminações, criam um “campo de crenças”
28
compartilhadas
socialmente que fortalece as imagens do ressentido e corrobora a repetição
queixosa. Esse discurso ressentido pode ser considerado um mecanismo em defesa
da integridade narcísica do eu
29
. A psicanalista afirma que, embora Freud não tenha
tratado diretamente do tema ressentimento, este pode ser associado às
manifestações da melancolia, pois ambos melancolia e ressentimento tratam-se
da “recusa ativa do sujeito em aceitar uma perda”. A autora afirma:
O ressentido, assim como o melancólico, mantém uma atitude
amarga e pouco esperançosa diante da vida, e parece tão preso ao
passado quanto aquele, impossibilitado de esquecer as supostas
causas de sua infelicidade (KEHL, 2004, p. 36).
O sujeito não acusa a si mesmo e nem reconhece a sua responsabilidade, o
que ele reivindica é o reconhecimento de seu suposto valor. O conceito de
narcisismo primário, segundo Kehl, pode nos fornecer uma pista para entender a
28
Também nomeadas de representações.
29
Daí entende-se o “ato de vontade” ao qual se refere Kehl.
68
natureza do ressentimento a partir do lugar que a criança ocupa nas fantasias
inconscientes dos pais.
Aliar ressentimento e angústia na trama discursiva dos professores acerca da
formação continuada implica conceber o sujeito constituído pelo outro/Outro e o
meio sócio-histórico, no trânsito entre a incompletude e o desejo de ser completo.
Essa definição de sujeito, constituído pela multiplicidade e pela alteridade,
margem ao conceito da falta, pois é por meio dela que surgem os equívocos no
significante. Portanto, é no discurso
30
que a constituição heterogênea do sujeito se
materializa.
Authier-Revuz (1982 apud FERNANDES, 2007) refere-se ao Outro lacaniano
para explicar a manifestação do desejo na linguagem. Segundo ela, o outro designa
o exterior, o semelhante com o qual nos relacionamos, e o Outro refere-se ao desejo
do outro como constitutivo do desejo do eu. Aqui, fica pertinente nos reportarmos à
metáfora do espelho, utilizada por Lacan, para explicar o momento da constituição
do eu.
O “estádio do espelho” procura explicar o processo da constituição do eu
diante de uma imagem. É em frente ao espelho, como um outro, que o sujeito se
e se reconhece como eu pela primeira vez. Porém, paradoxalmente, é neste
momento que se institui um permanente processo de desconhecimento quanto à
verdade do ser. Roure (2006, p. 194) conclui: “será na relação do sujeito consigo
mesmo como um outro mediante uma imagem, que encontraremos a razão de sua
constituição”. É neste momento que se a constituição do “eu ideal”- imagem
idealizada do eu - que Freud denomina de narcisismo primário. A imagem do “eu
ideal” é construída pelo discurso do Outro e o desejo do Outro e contrapõe-se a
imagem do “ideal do eu” que é o que regula o sujeito castrado. “É nesse sentido que
o sujeito lacaniano é um sujeito cindido e sua totalidade é apenas imaginária”
(UYENO, 2007, p. 1138). O “estádio do espelho” institui a primeira relação narcisista
do sujeito consigo mesmo, porém incondicionalmente marcado pelo outro. Segundo
Kehl:
30
“O discurso não é a língua(gem) em si, mas precisa dela para ter existência material e/ou real”
(FERNANDES, 2007, p. 18).
69
O eu ideal é a tradução, para os termos do narcisismo primário, da
imagem do próprio corpo cuja perfeição a criança descobre no
mesmo momento em que se conta de que ela (imagem) não lhe
pertence pertence ao olhar do Outro, do qual o sujeito se torna
eternamente dependente: “o que ele deseja de mim”
(2004, p. 46).
Para Kehl, a criança, antes de nascer (desde que ela tenha lugar no desejo
de um dos pais), representa a realização dos ideais infantis de perfeição narcísica
aos quais os pais tiveram de renunciar. O desejo da realização desses ideais
perdidos confere à criança o seu lugar no mundo, ou seja, ser o objeto que falta ao
Outro ser o falo para o Outro. “Ser o falo para o Outro é o gozo dessa posição,
predestinada à perda” (KEHL, 2004, p. 47).
Aquilo que a criança representa no desejo inconsciente dos pais
precede seu nascimento e lhe confere um lugar que ela virá a sentir
como de direito, o seu lugar no mundo. Este é o lugar de onde se
constitui a certeza imaginária a respeito do que ele é. Ser, neste
caso, equivale a ser o falo para o Outro. Em outras palavras: ser o
objeto que falta ao Outro, capaz de impedir que a falta se evidencie –
no Outro e consequentemente, na criança (KEHL, op. cit., p. 47).
O sujeito lacaniano ($)
31
surge na perda do lugar do gozo pela imposição da
função paterna – o Nome-do-Pai. É nesse ínterim que surge o objeto a, objeto causa
do desejo. Assim, entendemos que a causa do desejo é a perda do gozo,
representada por um objeto perdido, que não é senão o próprio sujeito, em posição
de objeto do gozo do Outro.
Todo esse processo de perda do lugar do gozo faz-se necessário para que o
indivíduo entre na ordem da linguagem e se constitua como sujeito de um desejo.
Portanto, esse sujeito é constituído pela falta – acima colocada como perda.
Ratificando dizeres acima, embora o ressentimento não seja um conceito da
psicanálise, acreditamos poder atribuir a ele a função de mecanismo de defesa pela
integridade narcísica do eu ao associá-lo às manifestações ocorridas na melancolia.
A repetição queixosa, própria do ressentimento, “visa à perpetuação de um estado
de desgosto e a uma recusa ao desligamento de um objeto perdido”
31
Símbolo que representa na Psicanálise o sujeito barrado pela imposição paterna. É a concepção
lacaniana de sujeito.
70
(MAPURUNGA, 2006, p. 01, grifo nosso). Para a autora, uma recusa ao trabalho
de luto
32
, processo necessário para que o eu volte a ser livre depois de uma perda
libidinal.
O ressentimento instala-se quando o sujeito se recusa a esquecer aquilo que
o faz sofrer, lamentando e acusando repetidamente, em outras palavras, quando o
sujeito se recusa ao trabalho de luto. Isto se constitui numa modalidade de gozo e
ao mesmo tempo um mecanismo de defesa pela integridade narcísica do eu, pois o
sujeito entende a falta ou a perda como um prejuízo e atribui a responsabilidade
sempre a um outro.
Embora encoberto pela exigência ao reconhecimento que nunca será
verbalizado pelo sujeito – também é possível detectar, no ressentimento, a perda da
autoestima do eu. Tal configuração denuncia um sujeito cujo valor foi antecipado e
garantido pelo Outro (por isso a renúncia ao luto). O sujeito reivindica o
reconhecimento desse suposto valor.
Arriscamo-nos a colocar ressentimento e angústia como afetos
intercambiáveis na defesa narcísica do eu: o sujeito, quando (res)sentido, recusa-se
ao trabalho de luto pelo objeto perdido
33
, porém, trata-se de um processo necessário
para que o eu retome a posição de sujeito de desejo. Assim, a angústia, instalada
com a perda do objeto, não consegue recorrer à fantasia
34
para dar outra
“vestimenta” ao objeto causa do desejo. O sujeito ressentido e angustiado fica preso
ao eu ideal.
Para Lacan, a angústia é um afeto, no sentido de um impulso, que move o
sujeito na busca de algo, daí a intrínseca relação angústia x objeto x fantasia.
Azevedo (2006) orienta que, para Lacan, é a fantasia que formas e contornos ao
desejo, dando-lhe condições de existência. A angústia aparece na falta da fantasia,
consequentemente, na falta da falta, pois sabendo que o desejo não é o desejo do
32
“O luto é considerado como estado afetivo [...] trata-se das vicissitudes de um investimento de
ordem narcísica, em sua relação com a realidade, quando dela se excluído seu objeto, por perda
ou abandono” (HAUFMANN, 1996, p. 316).
33
No caso do ressentimento lembramos que o objeto significa um lugar.
34
Mecanismo de defesa que proporciona uma satisfação ilusória para os desejos que não se podem
realizar o inconsciente cria uma satisfação-substituta que fica em lugar da realidade. Através da
satisfação-substituta e omitindo a realidade, a fantasia pode ajudar a resolver os conflitos e prevenir a
progressão da angústia” (HTTP://www.portaldapsique.com.br).
71
sujeito e sim o desejo do Outro, na falta do objeto que é a causa do desejo, surge
um vazio, provocado pela ausência do Outro. Isso faz com que a própria angústia
recorra “à dimensão da fantasia, como forma de matizar o insuportável vazio
provocado pela ausência de garantia por parte do Outro” (AZEVEDO, 2006, p. 68).
Plon (2006) explica que se o desejo do sujeito é o desejo do Outro, por
natureza inatingível e ilocalizável, o fundamento da angústia se firma por não se
saber o que se representa para esse Outro O que ele quer de mim? O que sou
para ele?
Por isso, a angústia é o afeto que não engana, ela mostra ao sujeito que ele é
constituído pela incompletude, e seu desejo é a “mola” propulsora de sua vida.
Desejo este que nunca serealizado, visto ser ilusório (mas necessário). Assim, a
primeira função da fantasia é dar forma e substância ao desejo oferecendo algo para
se desejar. Logo, a fantasia pode ser entendida como um mecanismo estrutural e ao
mesmo tempo alimentador do desejo. No entanto, para que se entre na ordem de
sujeito de desejo é necessário que se faça o trabalho de luto processo impossível
quando o ressentimento se instala.
3.3 Representações Sociais
Como percebemos a realidade a nossa volta? De que maneira os objetos e as
ideias tornam-se comuns ao pensamento coletivo? Como as pessoas compartilham
conhecimentos e desse modo constituem sua realidade?
Segundo Moscovici (2005, p. 217), o único acesso que temos da realidade
que nos circunda são as representações que dela se engendram sob a forma de
“conteúdos de pensamento”. Assim, ao objetivar a análise das representações
docentes acerca da formação continuada, buscamos uma maior compreensão da
relação professor/formação, pois, de acordo com Durkheim (1985 apud
MOSCOVICI, 2005, p. 218), “o que representações coletivas expressam é a maneira
como o grupo pensa a si mesmo em suas relações com os objetos que o afetam”.
72
Este estudo parte, portanto, do conceito de Representação Social de Serge
Moscovici (2005), que explica os fenômenos de ordem humana a partir de uma
perspectiva que engloba tanto o coletivo quanto o individual. Contrariando a tradição
da época que dividia entre a Psicologia e a Sociologia os estudos sobre o indivíduo
e a sociedade, Moscovici elaborou sua teoria como uma forma Sociológica de
Psicologia Social. Para o autor, o sujeito constitui e é constituído pelas/nas relações
sociais, fato permitido e conduzido pela linguagem. Segundo Moscovici:
Isso significa que representações sociais são sempre complexas e
necessariamente inscritas dentro de um referencial de um
pensamento preexistente; sempre dependentes, por conseguinte, de
sistemas de crença ancorados em valores, tradições e imagens do
mundo e da existência. Elas são, sobretudo, o objeto de um
permanente trabalho social, no e através do discurso [...]
(MOSCOVICI, 2005, p. 216, grifo nosso).
Segundo Alexandre (2004), o conceito de Representação Social é introduzido
por Moscovici a partir da noção de representação coletiva de Durkheim. No entanto,
esta última admite que as categorias básicas do pensamento originam-se apenas na
sociedade, ou seja, a individualidade humana é produto único da sociedade. Tal
conceito concebe a transmissão da herança coletiva dos antepassados como função
primordial das Representações Coletivas. É nessa questão que Moscovici, de
acordo com Alexandre (2004), diverge de Durkheim: na Representação Social, a
herança coletiva dos antepassados não é transmitida de maneira determinista e
estática. O indivíduo constitui e é constituído pela sociedade, tendo “um papel ativo
e autônomo no processo de construção da sociedade, da mesma forma que é criado
por ela” (ALEXANDRE, 2004, p. 131).
Entendemos assim que as representações sociais são passíveis de
mudanças. A inquietação do professor acerca da palavra “capacitação e a sua
aparente resistência reforçam tal conceito. Para Moscovici, as Representações
Sociais são meios dos quais os homens se utilizam para tornarem a realidade física
e social inteligíveis. Segundo o autor:
Representar significa, a uma vez e ao mesmo tempo, trazer
presentes as coisas ausentes e apresentar coisas de tal modo que
satisfaçam as condições de uma coerência argumentativa, de uma
73
racionalidade e da integridade normativa do grupo (MOSCOVICI,
2005, p. 216).
Portanto, representação social pode ser entendida por um conjunto de
conceitos, explicações, definições e imagens que se forma na vida diária, pelas e
nas relações sociais e indubitavelmente emerge por meio da linguagem.
Embora a representação seja uma construção do sujeito no coletivo,
enquanto sujeito social, ela é também uma expressão da individualidade. Assim,
aspectos afetivos, cognitivos e sociais estão inter-relacionados. Como afirma Spink:
Dois aspectos são particularmente relevantes. Em primeiro lugar, o
posicionamento sobre a relação indivíduo-sociedade, que foge tanto
ao determinismo social onde o homem é produto da sociedade
quanto ao voluntarismo puro, que o sujeito como livre agente.
Busca um posicionamento mais integrador que, embora situando o
homem no processo histórico, abre lugar para as forças criativas da
subjetividade, traz para o centro da discussão a questão do afeto: as
representações não são, assim, meras expressões cognitivas, são
permeadas, também, pelo afeto (1993, p. 4).
A percepção das pessoas e dos objetos é sempre mediada pelas
representações e, portanto, permeada pelos afetos. Nessa constituição ideológica
(mediada pela cognição e pelo afeto) se organizam as relações do indivíduo com o
exterior. Assim, na intrínseca relação indivíduo/sociedade, são as representações
que determinam os comportamentos, os pensamentos e os sentimentos humanos.
Segundo Moscovici, “nossas idéias, nossas representações são sempre
filtradas através do discurso de outros, das experiências que vivemos, das
coletividades às quais pertencemos” (2005, p. 221).
E nesse sistema de interpretação da realidade:
[...] a linguagem exerce papel de destaque, à medida que tipifica as
experiências, dota-as de significado, categorizando-as numa
totalidade dotada de sentido, através da construção de campos
semânticos, que vão determinar o acervo social de conhecimento, o
que por sua vez permite a localização e manejo dos indivíduos no
campo social (ALEXANDRE, 2004, p. 127).
74
Podemos concluir, com o exposto, que as representações são construídas a
partir da troca de experiências, da convivência em grupo e, por isso, são fenômenos
complexos que apenas podem ser compreendidos se estudados pela perspectiva
cognitiva e afetiva. E, ratificando os dizeres de Moscovici (2005, p. 219), “não
representações sociais sem linguagem, do mesmo modo que sem elas não há
sociedade”, entendemos a necessidade de se analisar as representações docentes
acerca de sua formação a partir de seu discurso.
Embora definir Representação Social não seja uma tarefa fácil, Moscovici
reconhece que esta pode ser considerada como:
[...] modos de pensamento que a vida cotidiana sustenta e que são
historicamente mantidos por mais ou menos longos períodos
(longues durées), modos de pensamento aplicados a “objetos”
diretamente socializados, mas que, de maneira cognitiva e
discursiva, as coletividades são continuamente orientadas a
reconstruir nas relações de sentido aplicadas à realidade e a si
mesmas (2005, p. 218).
O autor orienta que, em uma coletividade, existem conteúdos potenciais não
expressos, mas ativados com o objetivo de representar um objeto (ou ideia)
presente ou ausente, fenômeno perceptível a partir das thematas canônicos
35
. É por
meio dessa perspectiva que o autor propôs o conceito de themata (temas) para
responder às exigências da análise cognição/comunicação.
Assim, há, de acordo com Moscovici, um laço profundo entre cognição e
comunicação, e é essa condição que explica a formação e a evolução das
representações. Para o autor (2005, p. 224), tudo que é dito abarca temas que não
podem ser apagadas, mas “colocadas em parênteses”, pois as análises temáticas
presentes no discurso expressam uma regularidade de estilo, uma repetição seletiva
de conteúdos que foram criados pela sociedade e que, portanto, podem representá-
la. No entanto, nossas representações provêm de muitos outros discursos (e
representações) elaborados anteriormente. Por isso, existe a necessidade de
priorizar o contexto histórico e social: o sujeito se constitui na coletividade e na
individualidade inserido num contexto histórico.
35
As thematas são definidas como unidades semânticas de base do senso comum, resistentes e
estáveis, podendo ser caracterizadas como conceitos-imagens.
75
Entendemos que as representações se estruturam e se deixam perceber pela
linguagem, seja no sentido cognitivo ou no sentido do inconsciente, como defende
Lacan. Cada sujeito, na sua singularidade, representa a sociedade que o constitui.
Segundo Moscovici:
[
...] ao tornar algo temático, relevante a sua consciência, os
indivíduos o transformam ao mesmo tempo em um objeto para eles
próprios ou, mais precisamente, em um objeto pertencente a uma
realidade escolhida entre todas as outras realidades possíveis ou
anteriores (2005, p. 227).
Assim, a noção geral de temas designa, de acordo com o autor, a
estruturação de um campo de conhecimento e os possíveis sentidos compartilhados
pelo grupo: nossas representações são sustentadas por uma representação social
específica que se dá por meio de relações internas ao discurso. E é essa concepção
que nos permite analisar as categorias temáticas que emergem do discurso docente
acerca da formação continuada como meio de se conhecer suas representações.
76
Sempre evitei falar de mim,
falar-me. Quis falar de coisas.
Mas na seleção dessas coisas
não haverá um falar de mim?
Não haverá nesse pudor
de falar-me uma confissão,
uma indireta confissão,
pelo avesso, e sempre um pudor?
A coisa de que se falar
até onde está pura ou impura?
Ou sempre se impõe, mesmo
impuramente,
a quem dela quer falar?
Como saber, se há tanta coisa
de que falar ou não falar?
E se o evitá-la, o não falar,
forma de falar da coisa?
João Cabral de Melo Neto
77
CAPÍTULO IV – ANÁLISE DO CORPUS
Apresentação do capítulo
Este capítulo apresenta, analisa e discute os resultados obtidos a partir da
análise do corpus relacionando-os aos autores e teorias estudadas. Inicialmente,
evidenciamos os sujeitos da pesquisa, definimos o instrumento utilizado e o
procedimento de aplicação. Em seguida, explicamos os dispositivos de análise e
concluímos com os resultados e a discussão.
4.1 Sujeitos da pesquisa
Os sujeitos da pesquisa compreendem trinta professores alfabetizadores,
portanto, de e anos do Ensino Fundamental (antigos Pe rie) de uma
determinada rede de ensino da cidade de Taubaté. Todos os trinta participantes do
sexo feminino
36
.
4.2 Instrumento
Para que pudéssemos analisar as representações docentes acerca da
formação continuada escolhemos como instrumento metodológico um questionário
constituído por perguntas fechadas e abertas, pois estas permitiriam a análise das
representações e aquelas, a caracterização do perfil do profissional alfabetizador da
rede estudada. Assim, nossa pesquisa apresenta tanto resultados qualitativos
quanto quantitativos.
36
Grandin (2008) afirma que, por motivos históricos e culturais, raros são os homens que se
aventuram ao magistério das crianças pequenas.
78
Para a elaboração das perguntas do questionário, apoiamo-nos na gravação
de uma conversa informal com alguns professores
37
sobre o tema
capacitação/formação continuada.
4.3 Procedimentos
A aplicação do questionário deveria ser efetuada, de acordo com orientações
dos dirigentes da rede, em um curso de pós-graduação lato-sensu em
Psicopedagogia. Esse curso, oferecido aos sábados gratuitamente aos professores
alfabetizadores, fazia parte de um programa de formação continuada desenvolvido
pela Instituição. Embora o curso fosse administrado por professores pesquisadores
que deveriam entender as dificuldades que um pesquisador enfrenta para a coleta
de dados, fui orientada para que explicasse os objetivos de minha pesquisa,
entregasse os questionários e os recolhesse na semana posterior. Talvez por esse
motivo, dos quarenta questionários entregues, apenas onze foram devolvidos.
Durante um mês, insistentemente, compareci ao curso na espera da entrega dos
outros questionários, entretanto conseguimos recolher apenas mais oito, ficando, no
total, dezenove questionários devidamente preenchidos.
Não satisfeita com o número de instrumentos, passei a percorrer algumas
escolas deixando os questionários com as diretoras, responsáveis pelas unidades
escolares, que ficavam com a incumbência de explicar os objetivos aos professores,
recolher os questionários respondidos e, após isso, entregá-los a mim. Com isso,
não tive contato direto com algumas professoras.
Ao longo da pesquisa, percebemos que, longe de dificultar a análise, esses
contratempos fizeram com que as representações se tornassem mais visíveis. O
sujeito-professor sentiu-se “livre” na “interpretação das perguntas e, com mais
tempo para organizar seu pensamento e elaborar suas respostas, deixou aflorar,
naturalmente, os sentimentos envolvidos, corroborando nossa concepção de que a
37
Essa conversa informal aconteceu com professores alfabetizadores atuantes na mesma unidade de
ensino na qual leciona a pesquisadora.
79
afetividade é parte constitutiva nas representações docentes acerca da formação
continuada.
Fica pertinente dizer que os professores, sujeitos dessa pesquisa, podem
representar várias escolas da cidade de Taubaté.
4.4 Dispositivos de análise
Quanto à análise dos dados, baseamo-nos nos construtos da Análise de
Conteúdo de Bardin (1977) que prioriza a comunicação e busca seu entendimento
para além dos significados imediatos. Segundo a autora, qualquer comunicação,
desde que transporte significações de um emissor para um receptor, pode ser objeto
de estudo na Análise de Conteúdo. Embora tenha a linguagem como ponto de
partida, o que se busca, na metodologia, é uma correspondência entre as estruturas
semânticas ou linguísticas e as estruturas psicológicas ou sociológicas dos
enunciados, pois como afirma Franco:
As mensagens expressam as representações sociais na qualidade
de elaborações mentais construídas socialmente, a partir da
dinâmica que se estabelece entre o sujeito e o objeto do
conhecimento. Relação que se na prática social e histórica da
humanidade e que se generaliza via linguagem (2007, p. 12).
Baseada em uma concepção crítica e dinâmica de linguagem, a Análise de
Conteúdo se legitima como instrumento metodológico aos estudos da LA. Isto
porque a LA está diretamente relacionada à resolução de problemas práticos na
realidade linguística das sociedades. Sua área de investigação abrange todos os
setores de pesquisa linguística e adota teorias e práticas de toda e qualquer área
que possa beneficiar e ser beneficiada por meio de estudos sobre a natureza da
linguagem.
Como é flevel, a LA o descarta por completo os métodos de investigação
de base positivista. Utiliza métodos quantitativos e qualitativos, positivistas e
interpretativistas, conforme lhe seja conveniente. O fato de não estar fechada a um
só modelo, permite a escolha metodológica para esta pesquisa.
80
Bardin (1977, p. 38) conceitua a Análise de Conteúdo como um “conjunto de
técnicas de análise das comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e
objetivos de descrição do conteúdo das mensagens”. Segundo a autora, não se trata
de apenas um instrumento de análise, mas de um “leque de apetrechos; ou com
maior rigor, seum único instrumento, mas marcado por uma grande disparidade
de formas e adaptável a um campo de aplicação muito vasto: as comunicações”
(Bardin, op.cit, p. 31).
O ponto de partida da análise de conteúdo será sempre a mensagem e sua
intenção será a inferência, decorrente de indicadores, que podem ser quantitativos
ou não, de conhecimentos relativos às condições de produção. Assim, a análise das
mensagens vai além do que está expresso nas palavras. Para Franco (2007, p. 14),
“é indispensável conhecer novas possibilidades de identificação e de uma análise
consistente e substantiva do conteúdo das mensagens que expressam crenças,
valores e emoções a partir de indicadores figurativos”.
De acordo com conceitos vigotskianos, toda mensagem expressa um
significado e um sentido. Para Franco:
O significado de um objeto pode ser absorvido, compreendido e
generalizado a partir de suas características definidoras e pelo seu
corpus de significação. o sentido implica a atribuição de um
significado pessoal e objetivado que se concretiza na prática social e
que se manifesta a partir das Representações Sociais, cognitivas,
subjetivas, valorativas e emocionais, necessariamente
contextualizadas (2007, p. 13).
São esses pressupostos que permeiam a concepção de linguagem na
perspectiva da Análise de Conteúdo: uma construção social que reflete a vivência
humana numa imbricação entre linguagem, pensamento e ação.
Para Bardin, as cnicas de análise visam a obter indicadores quantitativos
e/ou qualitativos que nos levem às inferências de conhecimentos sobre as condições
de produção/recepção das mensagens. Assim, uma das vantagens de se utilizar o
método é a possibilidade de se trabalhar com grandes quantidades de dados. Para
tanto, é preciso assinalar e classificar, segundo a autora, de maneira exaustiva e
objetiva todas as unidades de registro e de contexto perceptíveis no texto.
81
Geralmente as técnicas propostas pelo método são do tipo temático e frequencial,
embora existam outros indicadores. Para este estudo, utilizamos as duas técnicas,
pois nos possibilitaram a análise de aspectos tanto qualitativos como quantitativos.
Bardin considera a análise de conteúdo como empírica, não sendo, portanto,
possível defini-la a partir de um modelo padrão. Contudo, algumas regras devem ser
seguidas: uma delas é a relação entre as estruturas semânticas que existem na
superfície do texto articulada com fatores externos como o contexto cultural. Por
meio da escolha entre as unidades de registro (palavra, tema) e/ou de contexto é
possível estabelecer a diferenciação significado/sentido inerentes à linguagem.
O objetivo do método é a análise do conteúdo que está subentendido na
mensagem. Nas abordagens quantitativas as preocupações recaem na frequência
com que alguns elementos se repetem no conteúdo do texto, as abordagens
qualitativas preocupam-se com o conjunto das características que emergem como
regularidades temáticas. Essas regularidades subjazem “núcleos de sentido”
(BARDIN, 1977, p. 105) que permitem o estudo de representações, crenças, valores,
atitudes e opiniões. Portanto, o tema, como unidade de registro, é muito utilizado em
pesquisas que apresentam questões abertas.
O processo de análise organiza-se em torno de categorizações, que são,
segundo a autora, classes ou rubricas as quais reúnem um grupo de elementos,
agrupados a partir de caracteres comuns, sob um título genérico. As categorizações
podem seguir critérios semântico, sintático, léxico ou expressivo
38
. No conjunto das
técnicas da Análise de Conteúdo, a análise por categorias é a mais utilizada e dentre
as várias possibilidades de categorizações, sobrepõe-se a análise temática.
Independente da técnica a ser trabalhada, o processo organizacional da
análise compõe-se de três momentos:
Pré-análise fase de organização e sistematização das ideias,
momento em que ocorrem: a escolha dos documentos a serem
analisados; a definição das hipóteses e a elaboração dos objetivos da
38
Esta pesquisa adotou o critério semântico ao priorizar as categorias temáticas que emergiram no
discurso docente. Tais categorias possibilitaram a análise das representações acerca da formação
continuada.
82
pesquisa. Bardin o conceitua como um período de intuições. Esta fase
geralmente é dividida em cinco etapas: a leitura flutuante, na qual se
estabelece o primeiro contato com o material, (que deve ser exaustivo)
e que permitirá a percepção de impressões e orientações; a escolha
dos documentos e a constituição do corpus; a formulação de hipóteses
e objetivos; a elaboração de indicadores na qual se fará os recortes do
texto em unidades comparáveis de categorização para a análise
temática e de modalidade de codificação para o registro dos dados; e,
por último, a preparação do material que consiste numa sistematização
que permita a análise
39
.
No percurso dessa pesquisa, esse momento consistiu na elaboração de uma
planilha (vide anexo) com todas as perguntas e suas respectivas respostas, cujo
objetivo foi o de facilitar a visualização para as possíveis inferências.
Esse primeiro contato com os corpora possibilita, segundo Franco (2007), a
percepção, por parte do pesquisador, de impressões, representações, emoções,
conhecimentos e expectativas que permitirão o direcionamento da pesquisa. O
próximo momento dá-se pela:
Exploração do material fase na qual os dados são codificados para
chegar à compreensão da mensagem. Essa codificação se dá por
recortes, contagens, classificações ou enumerações.
Dependendo da organização do primeiro momento, este consistirá apenas na
administração sistemática das decisões tomadas. Esta fase caracteriza-se por ser
longa e trabalhosa, pois exige a confecção de quadros, tabelas ou gráficos que
representem a frequência de ocorrências nos enunciados. Este momento tem
extrema ligação com o próximo, no qual se validará os dados obtidos.
Tratamento dos resultados e interpretação os dados são submetidos
a operações estatísticas para se validarem as informações. Neste
39
Esta etapa, segundo Bardin (1977), consiste na transcrição das entrevistas gravadas ou na
organização das respostas abertas de questionários em planilha, para melhor visualização dos
dados.
83
momento torna-se possível a proposição de inferências por meio das
quais o investigador realiza sua interpretação.
Operações estatísticas simples ou mais complexas permitem estabelecer
comparações entre os resultados, o que evidencia as informações fornecidas pelas
análises. É neste momento que as inferências tornam-se necessárias. Segundo
Franco (2007, p. 29), “produzir inferências é, pois, La raison detre da Análise de
Conteúdo”. O pesquisador, a partir dos dados coletados, pode propor inferências e
proceder às interpretações de acordo com os objetivos propostos anteriormente ou a
partir de descobertas inesperadas.
A organização da codificação, no caso dessa pesquisa (quantitativa e
categorial), compreendeu três escolhas: o recorte escolha das unidades; a
enumeração escolha das regras de contagem; a classificação e a agregação
escolha das categorias. Escolhemos o tema como unidade de registro, pois segundo
Franco (2007), uma questão temática incorpora o aspecto pessoal atribuído pelo
respondente acerca de um determinado assunto, e isto significa o envolvimento de
aspectos racionais, ideológicos, afetivos e emocionais. Tal fato corrobora os
objetivos de nossa pesquisa e apontam para a verificação de nossa hipótese.
Os temas que emergiram no discurso docente acerca de sua formação, foram
agrupados em categorias sob um título genérico. Estas categorias não foram
definidas a priori, elas emergiram do conteúdo das respostas
40
, o que implicou um
trabalho minucioso de leitura entre o material de análise e as teorias que
fundamentam o estudo.
O questionário que compõe o corpus dessa pesquisa compreende quatorze
questões, das quais apenas cinco o consideradas questões fechadas. A análise
dessas últimas nos permitiu, por meio de comparações entre gráficos e quadros,
traçar um breve perfil dos sujeitos de pesquisa. As questões consideradas abertas,
por darem margem às múltiplas respostas, levaram-nos às categorizações e podem
nos apontar as representações docentes acerca de sua formação. Para cada uma
das questões abertas foram arroladas as categorias temáticas que emergiram do
40
A vivência profissional do pesquisador também influenciou na escolha das categorizações.
Sabemos ser impossível a total imparcialidade quando a leitura da realidade é a mesma para sujeito-
pesquisado e sujeito-pesquisador.
84
discurso. E, embora sejam questões distintas, é possível visualizar o que o sujeito
professor pensa e sente em relação a sua formação.
4.5 Resultados e Discussão
A análise dos dados permitiu a abordagem de aspectos qualitativos e
quantitativos. Os dados quantitativos nos foram úteis no sentido de poder traçar um
perfil do professor alfabetizador na rede estudada.
Como dito anteriormente, todos os trinta sujeitos da pesquisa são do sexo
feminino. No quadro1 apresentamos a relação em porcentagem da frequência de
ocorrência da idade dos participantes e em seguida, para melhor visualização,
representamo-la em um gráfico.
IDADE
FREQUÊ
NCIA
PORCENTAGEM
20 A 25 ANOS 2 6,6
25 A 30 ANOS 6 20
30 A 40 ANOS 17 56,6
ACIMA DE 40 ANOS 5 16,6
TOTAL
30
100
QUADRO 1: Idade dos participantes
85
GRÁFICO 1: Idade dos participantes
Do total de participantes, mais de 50% concentram-se na faixa etária entre 30
e 40 anos. Portanto, não uma grande variação. Entendemos, portanto, que os
sujeitos de pesquisa não podem ser considerados muito jovens. Mais de 70% dos
respondentes estão acima dos trinta anos.
No quadro 2 apresentamos a porcentagem em relação à frequência de
ocorrência do último curso completado pelo professor na sua formação acadêmica,
também representada em um gráfico.
CURSO
FREQUÊ
NCIA
PORCENTAGEM
MAGISTÉRIO 4 13,3%
PEDAGOGIA 13 43,3%
NORMAL SUPERIOR 2 6,6%
OUTRA LICENCIATURA 5 16,6%
ESPECIALIZAÇÃO 6 20%
MESTRADO 0 0%
86
DOUTORADO 0 0%
TOTAL
30
100
%
QUADRO 2: formação acadêmica
GRÁFICO 2: formação acadêmica
Torna-se relevante o resultado deste gráfico ao apontar a preocupação
docente com a sua formação acadêmica. Percebemos que apenas 13,3% dos
sujeitos pesquisados continuam apenas com a titulação do magistério. Entendemos
que o contexto político, a partir da promulgação da LDB, fez com que os professores
se sentissem obrigados a concluir o curso de Pedagogia ou Normal Superior para
ingressarem ou continuarem como docentes dos primeiros anos do Ensino
Fundamental. É importante destacar as muitas discussões e contradições que
surgiram acerca da titulação mínima exigida para esses profissionais. Os artigos 62
87
e 87 da referida lei traziam contraditoriamente como exigência para a formação
profissional a modalidade Magistério oferecida no Ensino Médio e a formação em
nível Superior:
Art. 62. A formação de docentes para atuar na educação básica far-
se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação
plena, em universidades e institutos superiores de educação,
admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na
educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino
fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal.
Art. 87. § 4º Até o fim da Década da Educação somente serão
admitidos professores habilitados em nível superior ou formados por
treinamento em serviço.
Tal fato desorientou os profissionais, tanto os que atuavam quanto os que
viriam a exercer a profissão. Houve, a partir daí, uma “corrida” dos profissionais na
busca de uma formação em nível superior devido à crença de que, após a Década
da Educação, quem não tivesse formação Superior estaria fora do mercado. Em
1999, o artigo 2º do decreto 3.276, exigindo a formação mínima, “exclusivamente”
em cursos normais superiores, assustou ainda mais quem estava cursando
Pedagogia. Segundo Grandin (2008), o decreto recebeu diversas críticas de
Faculdades de Educação de todo país. A autora afirma que:
Tais críticas tinham como sustentação a premissa de que a base do
curso de Pedagogia é o ensino e também que os cursos normais
superiores configuram-se como cursos de baixo custo, com tempo
reduzido de formação, baixa qualidade, pouca identidade, além de
não propiciarem a pesquisa (GRANDIN, 2008, p. 17).
A palavra “exclusivamente” só foi substituída pela “preferencialmente” em
2000, o que manteve o curso de Pedagogia também como requisito para exercer a
profissão docente nos primeiros anos do Ensino Fundamental.
Com relação ao item “outra licenciatura”, torna-se relevante mencionar outra
contradição da LDB que levou a uma errônea interpretação por parte dos
profissionais: como a primeira redação da lei exigia a formação em nível superior em
curso de licenciatura, porém não delimitava nenhum curso, muitos professores
88
procuraram a formação em Letras, História ou Geografia, acreditando que isso
bastaria para que continuassem ou pudessem ingressar na docência dos anos
iniciais. Assim, pela análise dos dados, constatamos que houve duas ocorrências de
professores que, após o magistério, procuraram a formação em nível superior em
outras licenciaturas. No entanto, em três ocorrências, essa procura deu-se após a
Pedagogia. Este fato pode comprovar que, embora alguns professores tenham
procurado sua formação a partir da imposição da lei, outros, realmente se
preocupam com a sua formação permanente
41
.
No quadro 3 apresentamos a porcentagem em relação à frequência de
ocorrência dos anos de efetivo exercício na profissão.
TEMPO
FREQUÊ
NCIA
PORCENTAGEM
MENOS DE 5 ANOS 4 13,3%
ENTRE 5 E 10 ANOS 8 26,6%
ENTRE 10 E 20 ANOS 15 50%
ACIMA DE 20 ANOS 3 10%
TOTAL
30
100%
QUADRO 3: tempo de efetivo exercício na profissão
41
Muitos professores estão completando sua formação universitária nos cursos de Pedagogia
oferecidos, gratuitamente, por um programa de incentivo que envolve a rede e as instituições de
ensino superior da cidade. Os cursos de especialização oferecidos são amplamente
concorridos
tendo que, infelizmente, passarem por um critério de seleção.
89
GRÁFICO 3: tempo de exercício na profissão
Percebemos, pelo gráfico, que 50% dos pesquisados têm mais de 10 anos de
exercício na profissão, o que mostra que são profissionais experientes,
provavelmente com saberes tanto práticos quanto teóricos. De acordo com Pimenta
(2005), três saberes são necessários à prática docente: a experiência, o
conhecimento e os saberes pedagógicos. Acreditamos, portanto, que nossos
sujeitos de pesquisa, devido ao tempo de exercício na profissão e à sua formação
acadêmica, podem apresentar os três saberes elencados pela autora.
No quadro 4, apresentamos a porcentagem em relação à frequência de
ocorrência ao tempo em que o professor leciona na atual rede de ensino.
90
TEMPO
FREQUÊ
NCIA
PORCENTAGEM
MENOS DE 5 ANOS 13 43,3%
ENTRE 5 E 10 ANOS 10 33,3%
ENTRE 10 E 20 ANOS 7 23,3%
ACIMA DE 20 ANOS 0 0%
TOTAL
30
100%
QUADRO 4: tempo em que leciona na rede de ensino.
GRÁFICO 4: tempo em que leciona na rede de ensino.
Um dado aparentemente contrastante, perceptível na análise desses dados,
refere-se à ocorrência de tempo na atual rede de ensino: 50% dos respondentes
lecionam há mais de dez anos. Entretanto, na atual rede de ensino, mais de 40%
dos professores lecionam menos de cinco anos. Dizemos aparentemente
91
contrastante, pois menos de cinco anos houve, nesta rede, um concurso público
de provas e títulos para provimentos de cargos. Essa verificação nos permite
contrariar uma crença do senso comum que afirma a facilidade de aprovação em
concursos por pessoas mais jovens
42
. Fica perceptível a relação entre a experiência
e a aprovação em concurso. Novamente, reafirmamos que nossos sujeitos de
pesquisa apresentam pelo menos um dos saberes considerados essenciais ao fazer
docente: a experiência.
Com esses dados conseguimos traçar um perfil dos participantes, sujeitos
dessa pesquisa: professores na sua totalidade do gênero feminino, 90% deles acima
dos 25 anos, mais de 85% com formação universitária em graduação e 20% em pós-
graduação lato sensu, mais de 40% ingressados na rede de ensino há menos de
cinco anos, possivelmente aprovados no último concurso.
Passaremos, agora, a análise das respostas relacionadas às perguntas
abertas. Acreditamos que são elas que permitem a percepção das representações
docentes acerca da formação continuada. Para tanto, fizemos o levantamento das
categorias temáticas que emergiram no discurso docente. Segundo Moscovici:
[...] para compreender melhor a relação que se estabelece entre o
comportamento humano e as representações sociais, devemos partir
da análise do conteúdo das representações e considerar,
conjuntamente, os afetos, as condutas, os modos como os atores
sociais compartilham crenças, valores, perspectivas futuras e
experiências afetivas e sociais
(2003, apud FRANCO, 2007, p. 12).
Observemos no quadro 5 a relação de porcentagem nas respostas:
Respostas
F
requê
ncia
P
orcentagem
Não 28 93,3%
Sim 1 3,3%
Acho que não 1 3,3%
QUADRO 5. Para você, formação continuada e capacitação são sinônimos?
42
Jovens recém formados, possuidores de teorias, consideradas fresquinhas”, que têm o poder de
facilitar a aprovação em concursos.
92
Com relação a essa pergunta nossa primeira constatação foi a de que os
professores não consideram formação continuada e capacitação como termos
semelhantes. No entanto, em termos gerais, a política de formação continuada de
professores sempre esteve voltada para a prática pedagógica, por meio da
capacitação em serviço. Assim, entendemos que formação continuada é um termo
geral que abrange o termo específico capacitação – cunhado na LDB.
Nas respostas para se definir formação continuada é possível perceber
segurança nas definições. Não houve, portanto, digressões.
Categorias F % Exemplos
Estudo, sequencial e
contínuo
15 50
É um estudo contínuo.
É um estudo constante, um
acompanhamento teórico e prático do
que se faz.
Abrange algo contínuo, que não tem
fim, você vai se aprimorando cada vez
mais.
É feita a cada ano, com cursos durante
este ano todo, palestras, etc.
Troca de
experiências
5 16,6
Troca de experiências.
Troca de experiências vivenciadas.
Atualização 4 13,3
Para mim, formação continuada refere-
se a atualização e aproveitamento de
conhecimento [...].
É quando o profissional está em
constante atualização.
Reflexão 2 6,6
Análise e reflexão da prática docente.
93
“Tudo” o que um professor precisa ter
durante sua carreira profissional.
Entendo que a formação continuada
propicia a construção de novos
saberes, reflexões e um repensar
constante sobre a prática educativa.
QUADRO 6. Como você define formação continuada?
Para a maioria dos professores, formação continuada refere-se a uma
formação contínua, ao longo da vida, voluntária e individual. Alguns exemplificam
com os cursos de graduação e pós-graduação, como no excerto abaixo:
P28
43
- “Formação continuada para mim são cursos universitários, s-
graduação, mestrado, doutorado e especializações [...]”.
A conceituação de formação continuada, em algumas respostas, traz as
representações docentes que foram formadas ao longo dos cursos da graduação e
da especialização. Em alguns excertos percebemos o discurso pedagógico
hegemônico presente em cursos de licenciatura: análise e reflexão da prática
docente.
Baccega (1995, p. 22) ao ressaltar o papel da palavra no intercâmbio social
afirma que não existe uma “mera reprodução” do discurso apreendido, pois “a
subjetividade nada mais é que o resultado da polifonia, das muitas vozes sociais que
cada indivíduo ‘recebe’ e tem a condição de ‘reproduzir’ (paciente) e/ou de
reelaborar (agente)”. Para a autora, a constituição da subjetividade do sujeito se
por essa condição de paciente/agente que lhe é inerente. Assim, o sujeito, resultante
de suas vivências no âmbito social, não fica imune aos discursos que lhe
constituem.
43
Esclarecemos: P significa professor; o número corresponde à ordem escolhida para análise; os
enunciados serão destacados em itálico e com aspas para melhor identificação.
94
A subjetividade é formada a partir da materialidade constituída pela
manifestação dos vários discursos, instituindo um eu plural, o qual,
por sua vez, manifestará, num movimento espiralado, sua
reelaboração desses discursos, utilizando-se, para isso, da matéria-
prima com a qual os discursos os que ele ‘recebeu’ e os que ele
elaborou – se formaram: as palavras, os signos da sociedade em que
esses discursos circulam (BACCEGA, 1995, p. 22).
Podemos perceber, pelo discurso docente, que o sujeito professor deixa
transparecer o que gostaria que fosse a formação continuada: análise e reflexão da
prática e troca de experiências subjazem numa prática valorizada. O que o professor
defende é a valorização de sua práxis, o “aproveitamento” de seu conhecimento, ou,
como no dizer de P16: “[...] aprimorar aquilo que já conhece [...]”.
No quadro sete, apresentamos as escolhas temáticas em relação à pergunta
“como você define capacitação”.
Categorias F % Exemplos
Indefinição do termo 4 13,3
O termo capacitação é muito forte,
como se nós educadores não
soubéssemos nada.
Não aceito bem a nomenclatura (antes
do professor assumir uma sala de aula
ele é preparado e capacitado para
ocupar seu lugar) então quando o
professor recebe um curso de
“capacitação” quer dizer que não está
preparado?
Treinamento 7 23,3
É um treino por tempo determinado que
capacidade a pessoa de exercer
determinada função.
Treinamento para realizar um trabalho
específico
95
Cursos rápidos 4 13,3
Cursos mais rápidos (horas, dias ou
alguns meses)
Tornar capaz
alguém que não
sabe
12 40
Ensinar algo a alguém que não sabe,
tornando-o capaz.
QUADRO 7: Como você define capacitação?
As respostas obtidas a partir desta pergunta sugerem haver um ressentimento
do professor quanto ao termo utilizado. É perceptível a não aceitação da palavra
“capacitação”. O sujeito professor aceita tranquilamente o termo formação e, no
entanto, não passivamente o termo capacitação. Que “pesada carga social”
44
esta palavra traz às representações docentes?
Para Vigotski, é no significado da palavra que se encontra a unidade do
pensamento e da linguagem. O pensamento não se exprime na palavra, mas,
segundo o autor, nela se realiza. Assim, “todo pensamento procura unificar alguma
coisa, estabelecer uma relação entre coisas” (VIGOTSKI, 2000, p. 409). O autor
distingue dois componentes do significado da palavra: o significado propriamente
dito e o sentido, este último refere-se ao significado da palavra para cada indivíduo,
composto por relações que dizem respeito não ao contexto de uso, mas também
às vivências afetivas do sujeito. Portanto, no sentido subjaz toda soma dos “fatos
psicológicos” que a palavra desperta em nossa consciência.
A palavra incorpora, absorve de todo o contexto com que está
entrelaçada os conteúdos intelectuais e afetivos e começa a
significar mais ou menos do que contém o seu significado quando a
tomamos isoladamente e fora do contexto [...] (VIGOTSKI, 2000, p.
466).
Tornamos a perguntar: que pesada carga social a palavra “capacitação”
guarda em seu sentido que faz emergir certo ressentimento do sujeito professor?
44
Expressão utilizada por Baccega (1995).
96
Nós acreditamos que a força da exterioridade, por meio das avaliações nacionais e
internacionais, acusa constantemente o professor de não saber a sua função e/ou
de não exercê-la adequadamente, o que acarreta essa carga negativa da palavra.
Nos excertos abaixo, essa indagação ganha forma e consistência:
P1 “O termo capacitação é muito forte, como se nós educadores não
soubéssemos nada.”
“P7 – “Não aceito bem a nomenclatura (antes do professor assumir uma sala de aula
ele é preparado e capacitado para ocupar seu lugar) então quando o professor
recebe um curso de” capacitação” quer dizer que não está capacitado?”
P9 – “Não gosto da palavra capacitação, pois se subentende estar incapacitado para
algo”.
P10 “É tornar alguém habilitado para o desempenho de uma função, é qualificar a
pessoa para determinada função. Eu acho que meu diploma fez isso por mim.
Será que estou enganada?”
P12 “Para mim capacitação significa “tornar capaz” e somos, não precisamos
nos capacitar.”
P16 “Oportunizar momentos que capacitem o indivíduo para exercer algo, pois a
ideia oculta é que este não possui quesitos necessários para desenvolver uma dada
função, assim é preciso capacitá-lo.”
As regularidades nos remetem às representações dos professores acerca do
termo capacitação, o que parece levar à conclusão de que o (re)sentimento
compartilhado é determinado pelo imaginário coletivo. O último excerto parece
resumir o que está subentendido na palavra “capacitação”, a “ideia oculta” que existe
a partir dela: o professor não é capaz, por isso deve ser capacitado.
Kehl afirma que uma das condições centrais do ressentimento é que o sujeito
instaure uma relação de dependência
45
com o outro, supostamente mais forte,
aquele que deveria protegê-lo, premiar seus esforços e reconhecer seu valor.
[...] no ressentimento, o Outro é representado pelas figuras que, na
infância, tinham o poder
efetivo para proteger, premiar ou punir a
criança. É a face imaginária do Outro, à qual se endereçam demanda
de amor e reconhecimento [...] (2004, p. 14).
45
A autora definiu como dependência infantil.
97
Sabemos que a função docente envolve muitos fatores e que o sucesso da
aprendizagem não depende apenas da ação do professor
46
, no entanto:
Atualmente, os professores são acusados de quase tudo. São
culpados pelo fracasso da educação, da falência do sistema
educacional, da não aprendizagem dos seus alunos, entre outros
(KULLOK, 2000, p. 13).
Assim, o professor, considerado culpado por todos (e, às vezes, por ele
mesmo), não consegue (ou não pode) reagir, pois não como identificar o
responsável pelo agravo – quem é que o culpa?
A análise da materialidade linguística parece revelar também a presença de
conflitos: não há apenas a afirmação da capacidade, há também interrogativas,
como se o professor, por meio da pergunta, precisasse convencer a si mesmo e ao
outro do que está falando. As interrogativas podem nos mostrar uma procura pela
concordância do outro, pela reivindicação de reconhecimento, pois está instituído no
imaginário que a profissão docente conheceu, um dia, a valorização. O sujeito-
professor quer o reconhecimento que, segundo acredita, se efetivou algum dia: fica
“preso”, portanto, a esse suposto reconhecimento que, acredita, perdeu.
Reconhecimento em relação a quê? Não esperem que ele o diga:
para o ressentido, isto deveria ser evidente por si mesmo, sem que
ele tivesse de trabalhar para demonstrá-lo. Digamos que as
evidências de seu valor não deveriam passar pela palavra [...] a
reivindicação do ressentido é de que reconheçam que ele vale por si,
pelo que ele “é”, sem que este valor precise se realizar no mundo [...]
(KEHL, 2004, p. 43).
A presença da marca linguístico-discursiva “não” (que aparentemente
funciona como uma negação) parece, nestes excertos, apontar para uma afirmativa.
Negando, o sujeito-professor afirma: P1 “O termo capacitação é muito forte, como
se nós educadores não soubéssemos nada.” Fica perceptível a cobrança pelo
reconhecimento de um saber que o sujeito-professor supõe não seja valorizado.
46
Segundo Vigotski (2004, p. 445), é preciso “elucidar as leis e influências a que está sujeita a
educação, uma vez que ela depende da criança”.
98
Mesmo com a presença do ponto de interrogação (ou até por causa dele)
pode-se perceber um protesto e amesmo um desabafo quando P10 afirma que a
capacitação “É tornar alguém habilitado para o desempenho de uma função, é
qualificar a pessoa para determinada função. Eu acho que meu diploma fez isso
por mim. Será que estou enganada?”
O ressentimento do sujeito-professor se direciona pelo verbete “capacitação”,
mas seque apenas esta palavra poderia ocasionar tal sentimento? Sabemos que
as expressões treinamento, reciclagem, aperfeiçoamento, entre outras, fizeram
parte do contexto do sistema educativo, e todas elas subentendem “a
desconsideração da prática concreta dos professores no cotidiano e,
consequentemente, a desvalorização do saber docente [...]” (TEIXEIRA, 2002, p.
37). Ratificando os dizeres de Coracini:
Sabemos que a nomenclatura não é inocente: “reciclagem” produz o
efeito de sentido de esfacelamento e posterior transformação ou
reconstituição: o professor é comparado, assim, a um material
reciclado e o curso, a uma máquina de triturar. “Treinamento” carrega
um sentido técnico e pouco humano, pouco inteligente, que
costumamos treinar animais para que eles obedeçam a seu treinador
[...] O termo “atualização” parece introduzir a ideia de que o professor
está defasado, desconhece o que há de novidade no mundo do
ensino-aprendizagem de línguas. Todos os termos podem
provocar no (a) professor (a) o sentimento de incompetência e
inferioridade (2007, p. 30, grifo nosso).
Segundo Kullok (2000, p.14), “os professores enfrentam sua profissão com
uma atitude de desilusão e de renúncia, que se tem desenvolvido na medida em que
se vem degradando sua imagem social”. Esse (re)sentimento do sujeito-professor foi
nomeado como um “mal-estar”
47
. Para a autora:
[...] entende-se por “mal-estar docente” os efeitos permanentes, de
caráter negativo, que afeta a personalidade do professor como
resultado das condições psicológicas e sociais em que exerce a
docência (2000, p. 14-15).
Kullok ainda defende que esse “mal estar”: “[...] ocorreu por conta da
descrença referente ao trabalho do professor, que se expressa na falta de apoio e
de reconhecimento do seu trabalho (2000, p. 14-15, grifo nosso).
47
Sobre esse mal-estar ver Franchi (1995).
99
Com relação à pergunta sobre o que os professores esperam dos encontros
de formação, observa-se a concepção dicotômica entre teoria e prática com a
valorização desta em detrimento daquela. Todos os professores pedem “troca de
experiências”, “algo novo”, “ideias”, ou seja, eles buscam a prática, como pode ser
observado nas categorias temáticas do quadro 8.
Categorias F % Exemplos
Ideias novas
16
53,3
Espero ideias novas. O que não tem
acontecido.
Primeiro que não sejam massacrantes
como têm sido e segundo, que eu
possa sair de lá com ideias para
trabalhar com meus alunos.
Espero que me traga algo novo para
aplicar com meus alunos em sala de
aula, que me traga ideias diferentes
onde eu possa aprender algo novo.
Troca de
experiências
13 43,3
Espero que seja um momento de trocas
de atividades e experiências.
Espero algo produtivo. Que reúna os
professores para uma troca de
experiências. E não para mais uma
reunião de “recados”.
Espero que possam acontecer “trocas”
entre os pares e que traga benefícios à
formação docente.
Solução para os
problemas
6 20
Que se leve em consideração nossas
“ricas experiências” e verdadeiramente
as dificuldades que encontramos; que
esses encontros permitam ser aliados a
nossa prática, quer seja como
possibilidade de construção, mudança
100
ou na solução de problemas.
Muitas vezes um socorro, experiências
parecidas vividas e algumas possíveis
soluções de nossos problemas.
Espero compartilhar experiências e
busco algumas respostas para algumas
situações “problema” na minha
atuação. Busco ficar mais capaz para
exercer minha função com
compromisso e competência.
Produção de
materiais
2 6,6
Gostaria que esses encontros
possibilitassem um momento para
elaboração de projetos que
complementassem o trabalho com as
apostilas.
[...] o que eu gostaria é que tivéssemos
oportunidade de produzir materiais para
serem usados na sala de aula. Ser
orientadas a, partindo de um conteúdo,
produzir situações didáticas e material
para essas situações. Penso que esse
exercício, em conjunto e orientado,
pode nos fazer avançar em nossas
competências.
QUADRO 8: O que você espera dos encontros bimestrais, conhecidos como
“capacitação”, entre os professores?
Mais de 50% dos respondentes esperam ideias novas e/ou diferentes para se
trabalhar, ou seja, percebemos o discurso hegemônico que prioriza a prática em
detrimento da teoria. Entendemos que as representações docentes acerca da
101
formação continuada são frutos da história que as produziram. Assim, a concepção
de professor como aplicador de propostas prontas, sempre à espera de
“receituários”, foi engendrada pelo modelo atual de formação no país. Embora o
professor se considere pronto para o seu fazer, ele espera das instâncias
formadoras uma forma(ta)ção (ECKERT-HOFF, 2008). É essa busca constante por
uma receita pronta que percebemos no discurso docente.
Eckert-Hoff (2008) evidenciou a ocorrência do enunciado “novo” no dizer
docente como resultado das ltiplas vozes que constituem o sujeito-professor.
Segundo a autora, está constituído no imaginário docente que o professor deve
inovar, pois a ênfase dada para o novo, reforçada pelos cursos de formação, está na
memória discursiva do sujeito. Por meio desse adjetivo e seus similares percebe-se
um “fetiche, o que pressupõe, no tocante à profissão-professor, que ocorre um
fracasso profissional e, conseqüentemente, um apelo por um outro modo de fazer
e de ser professor” (ECKERT-HOFF, 2008, p. 84, grifo nosso).
A busca constante por algo novo, no discurso docente, evidencia a
constituição incompleta do sujeito. O professor coloca o formador de uma
capacitação no lugar de quem ele acredita que possui a chave do seu segredo: o
saber daquilo que lhe falta.
Esses comentários ganham consistência nos dizeres de P10, aparentemente,
contraditórios: ao responder como definiria capacitação, o sujeito-professor afirma
estar pronto para exercer a sua profissão: “É tornar alguém habilitado para o
desempenho de uma função, é qualificar a pessoa para determinada função. Eu
acho que meu diploma fez isso por mim. Será que estou enganada?”. No entanto,
no seguinte excerto, ao dizer o que espera dos encontros, declara: ideias para
trabalhar com os alunos”. Dizemos aparentemente contraditórias, pois sabemos que
o conceito de ideias novas está inserido nas representações docentes.
Os marcadores algo novo, “ideias diferentes”, “ideias novas” nos remetem à
voz do Outro que constitui o sujeito. A busca constante pela completude faz com que
o professor não se considere pronto (como se isso fosse possível), embora o afirme.
A completude, acredita ele, virá da capacitação. Observamos nestes pequenos
recortes a natureza conturbada que constitui o sujeito: (re)sentido pelas exigências
102
de sua profissão, mas percebendo-se incompleto, não consegue reconhecer
(inconscientemente) que algo falta, não consegue dar forma e “substância” ao
desejo, fica preso, portanto, ao sadismo do eu ideal
48
. O conceito da falta
psicanalítica pode ser percebido nos dizeres docentes, pois, segundo Riolfi (1999), é
na linguagem que a falta se presentifica. É esse algo novo, diferente, que trará a
completude e a perfeição (ilusória) ao sujeito-professor.
Observamos, nos excertos abaixo, marcas de resistência pela insatisfação
com os modelos utilizados pela formação contínua. Modelos que se apresentam
como pacotes prontos desvinculados das reais necessidades docentes. O professor
não admite mais modelos de formação nos quais os formadores sejam
“terceirizados”. Os RFP afirmam:
[...] esse tipo de “terceirização”, na medida em que se passou a
contratar serviços de profissionais de fora da rede [...] nem sempre
produz bons resultados, pois as Secretarias de Educação, muitas
vezes, perdem o controle sobre as ações desenvolvidas e, em alguns
casos, acabam delegando até mesmo a definição do planejamento
dos programas – tarefa que lhe cabe, como gestora de políticas
públicas para a educação (2002, p. 46).
Colocando os próprios pares como formadores, os docentes procuram e
desejam mostrar que sucesso (também) no seu fazer. Busca-se, portanto, a
valorização do sujeito-professor enquanto agente de sua formação:
P1 Que seja realmente uma troca de experiências, algo com ideias mais
concretas e não só teoria, que não condiz com nossa realidade”.
P7 –“Que se leve em consideração nossas ‘ricas experiências’ e
verdadeiramente as dificuldades que encontramos; que esses encontros permitam
48
Os vinte e cinco anos atuando nessa profissão me permitiram constatar a existência de dois tipos
de profissional: o animado, que inicia o ano letivo com muitas ideias e projetos, que se envolve
afetivamente com os alunos e com os demais professores, que sempre “inventa” algo para melhorar
seu desempenho profissional, que dificilmente se lamenta ou reclama, mesmo quando alguma coisa
não dá certo, que, segundo uma Diretora muito querida, “tem um brilho diferente no olhar”; e o
desanimado, aquele que inicia o ano letivo reclamando por ter voltado muito cedo, que se lamenta
das salas que lhe foram atribuídas, da escola que o recebeu, dos alunos que “sempre serão
insuportáveis”, dos projetos, que nunca darão certo. Agora consigo perceber o quanto o
ressentimento impede que esse profissional conheça realmente as maravilhas de sua profissão.
103
ser aliados à nossa prática quer seja como possibilidade de construção, mudança ou
nas soluções dos problemas”.
P9 “O que foi citado acima, um momento de troca de informação sobre o
que deu certo fazer na sala de aula”.
Na categoria temática “produção de materiais”, também percebemos a busca
pela completude. O sujeito-professor acredita que é isso que lhe falta para se sentir
completo. Essa busca incessante pela completude traz à tona o conceito lacaniano
de angústia. O sujeito necessita corporificar o objeto causa do desejo. É essa
corporificação que é buscada nos encontros de formação. Quando o sujeito
consegue corporificar seu desejo, dando-lhe uma “vestimenta”, o sentimento de
completude se instala. É nesse ponto que acreditamos haver a presença de
resistência. O sujeito-professor não admite mais a formação tradicional. Quando
ele pede que valorize as “ricas experiências” e que haja “troca entre os pares”
percebe-se um grito de basta. O ressentimento docente, adquirido pelo contexto
cultural e aflorado pela palavra “capacitação”, atinge o ponto de resistência.
Segundo Nietzsche:
A rebelião escrava na moral começa quando o próprio sentimento se
torna criador e gera valores: o ressentimento dos seres aos quais é
negada a verdadeira reação, a dos atos, e que apenas por uma
vingança imaginária obtêm reparação (1998, p. 28).
Essa rebelião pode apontar um pequeno sinal na superação do
ressentimento, pois, embora ainda se perceba, nestes dizeres, a defesa pela
integridade narcísica do eu, fica evidente a não passividade do sujeito.
Ainda com relação às respostas ao que se espera dos encontros de
capacitação, podemos perceber a angústia constitutiva da profissão docente.
Angústia deflagrada em vários aspectos que ganham presença nos seguintes
excertos:
P11 “Que sejam objetivos, deem exemplos de atividades que facilitem o
aprendizado das crianças e se possível tenham também base teórica”.
104
P13 “Muitas vezes, um socorro, experiências parecidas vividas e algumas
possíveis soluções de nossos problemas”.
P18 Espero compartilhar experiências e busco algumas respostas para
algumas situações ‘problema’ na minha atuação. Busco ficar mais capaz para
exercer minha função com compromisso e competência”.
P28 “[...] O que eu gostaria é que tivéssemos oportunidade de produzir
materiais para serem usados na sala de aula. Sermos orientadas a, partindo de um
conteúdo, produzir situações didáticas e material para essas situações. Penso que
esse exercício, em conjunto e orientado, pode nos fazer avançar em nossas
competências”.
Retomando o que dissemos acerca da angústia, ela é o afeto que não
engana, pois mostra ao sujeito que ele é da ordem da falta, e que a busca (ilusória)
da sua completude se faz por meio do desejo. Assim, faz-se necessário que o eu
recorra à fantasia para dar “corpo” ao desejo, para que o sujeito reconheça, mesmo
que ilusoriamente, qual é a falta que o constitui. Quando, por algum motivo, não se
consegue “corporalizar” o desejo, quando a fantasia não se efetiva, a angústia
instala-se.
Como dissemos vários são os aspectos que abarcam a angústia docente: no
dizer de P13, podemos perceber tal afirmativa. Ao esperar da capacitação “um
socorro”, o sujeito-professor não esclarece: o quê? como? para quê?
Portanto, a própria angústia propicia ao professor um desabafo, pois na busca
ilusória do eu ideal, o sujeito se “desamparado”: não há nada para “se desejar”
(ou talvez haja muitas coisas e, por isso, o desamparo). Isso expressa o “dado
fundamental da vontade humana, o seu horror vacui (horror ao vácuo): ele precisa
de um objetivo [objeto?] e preferirá ainda querer o nada a nada querer
(NIETSZCHE, 1998, p. 87-88).
Nos dizeres de P13 e P18, podemos observar que, pela impossibilidade de se
definir o que lhe falta, o sujeito-professor coloca um outro, um de seus pares, no
lugar de sujeito-suposto-saber: aquele que além de “lhe dizer” o que falta à sua
completude, ainda lhe trará soluçõese “respostas”. Novamente, podemos perceber
105
o aprisionamento ao eu ideal. Para que o professor encontre o ponto de satisfação
ideal do eu –, ele precisa assumir a sua responsabilidade pelo que lhe faz sofrer.
Outro aspecto da angústia do sujeito-professor faz-se presente no embate
entre teoria e prática, perceptível nos seguintes recortes: “O que eu gostaria é que
tivéssemos oportunidade de produzir materiais para serem usados na sala de aula”
e “Que sejam objetivos, deem exemplos de atividades que facilitem o aprendizado
das crianças e se possível tenham também base teórica”. Dizemos embate porque,
nas representações do professor, teoria e prática constituem duas concepções
dicotômicas e sempre conflituosas.
Azenha (2006), discorrendo sobre as angústias dos professores, afirma ser
fundamental que o professor saiba o que fazer com a(s) falta(s) que o constitui. A
autora relata o caso de um professor doutor que, ao proferir uma palestra,
apresentou um objeto (material) que havia desenvolvido com o intuito de facilitar o
ensino acerca do teorema de Pitágoras. A afirmação de que na infância a
inexistência de tal objeto dificultou-lhe a aprendizagem, faz com que entendamos
que: o aluno, sujeito do desejo, sabia que algo lhe faltava; angustiado, deu formas
ao seu desejo, criando, então, o tal objeto.
Não é curioso, no entanto, que o palestrante não se desse conta de
que talvez tenha sido essa falha
49
/falta que tenha estruturado sua
vida profissional e feito com que ele percorresse toda a carreira
acadêmica, para, finalmente, construir o objeto que lhe faltava? [...]
(AZENHA, 2006, p. 250-251).
Entendendo que é a busca constante da completude que nos faz
“corporificar” o desejo, perguntamo-nos por que o sujeito-professor clama por “um
socorro”, “soluções de nossos problemas”, “respostas”: O professor sabe que algo
lhe falta, porém, por não conseguir materializá-lo, fica enredado pela/na angústia.
No quadro 9, apresentamos as categorias temáticas arroladas acerca da
pergunta: o que lhe agrada nos encontros de formação continuada?
49
A falha é atribuída aos professores que teve ao longo dos anos e que não pensaram na confecção
do objeto.
106
Categorias F % Exemplos
Encontro com os
amigos
10
33,3
O encontro com as colegas, o momento
de interação com elas.
O encontro com as nossas amigas que
trabalham na rede.
Rever amigos.
Ideias novas
adequadas à
realidade
9 30
Quando vem ideias práticas e que nos
a oportunidade de realizarmos com
nossos alunos, no dia-a-dia.
Atividades práticas dirigidas, atividades
(em folha) desafiadoras; teorias (textos)
que fundamentem as práticas bem
sucedidas.
Quando apresentam diversidade de
jogos e ideias para serem trabalhadas
em sala de aula.
Troca de
experiências
7 23,3
Troca de experiências positivas,
desabafo de dificuldades encontradas e
soluções conquistadas.
Nos intervalos, troca de experiências
com os professores conhecidos que
estão em outras unidades escolares.
Trocar ideias com as colegas e saber
como elas estão trabalhando com
determinado assunto.
Organização do
capacitador
4 13,3
Um formador que conheça o dia-a-dia
de uma sala de aula e a complexidade
de fatores que perpassam a nossa
107
rotina educacional, aliando desta forma
seus estudos e teorias a nossa prática.
Agrada-me quando o dirigente do
encontro é dinâmico e traz sugestões
de trabalho e oficinas.
Quando a formadora é humorada e
apaixonada pelo ensinar sempre torna
os encontros agradáveis e envolventes.
QUADRO 9: O que lhe agrada nos encontros de formação continuada?
Nosso objetivo ao elaborar esta pergunta foi o de observar a relevância da
afetividade nos encontros de formação. Podemos perceber na respostas o quanto os
aspectos razão/ emoção são intercambiáveis. Procuramos averiguar quando os
aspectos foram priorizados um em detrimento do outro e quando foram priorizados
concomitantemente. Percebemos que em 10 ocorrências coexistiram os dois
aspectos, em 5 houve a prevalência apenas do aspecto cognitivo e em 10 apenas
do afetivo. Assim, em 20 ocorrências deu-se primazia ao aspecto afetivo e em 15 ao
aspecto cognitivo. Apenas essa constatação seria suficiente para mostrarmos a
relevância da afetividade nos momentos de formação continuada.
O excerto abaixo pode mostrar a congruência desses aspectos:
P15 “Agrada-me quando o dirigente do encontro é dinâmico e traz
sugestões de trabalho e oficinas”.
Vários são os estudos que apontam a afetividade exercendo papel
fundamental no funcionamento cognitivo humano (ARANTES, 2003; ARAÚJO, 2003;
SILVA E ABUD, 2007). O papel exercido pela afetividade seria mais que
motivacional. Por isso, a impossibilidade de separá-los. Segundo Araújo:
[...]
do ponto de vista intrapsíquico, nossos pensamentos,
sentimentos e ações são organizados pela articulação de elementos
cognitivos, afetivos, biológicos e socioculturais, mediados
108
simbolicamente ou não pela consciência e pelo inconsciente (2003,
p. 155).
No excerto abaixo também podemos perceber os aspectos afetivos e
cognitivos interagindo:
P28 “Quando a formadora é humorada e apaixonada pelo ensinar sempre
torna os encontros agradáveis e envolventes”.
No entender de P28, os aspectos cognitivos estão intrinsecamente ligados
aos aspectos afetivos. A formação continuada é vista (ainda) como um momento de
transmissão de conhecimentos. Assim, no dizer do sujeito-professor, a
aprendizagem é facilitada pelos aspectos afetivos que envolvem a relação
formador/professor.
Uma das categorias que emergiram do discurso docente foi o encontro com
os amigos. Entendemos, portanto, que o professor, por um aspecto afetivo, sente-
se motivado a participar de um encontro de formação. Assim, torna-se relevante a
preocupação com tais aspectos, pois, segundo Silva e Abud:
O fato de evidenciar características das personalidades dos
professores, vinculadas aos demais propósitos da formação do
aluno, significa que a influência de tais características pode
potencializar a mobilidade e o esforço necessário no processo
dinâmico da edificação do conhecimento (2007, p. 281).
Todas as categorias temáticas elencadas na análise estão permeadas de
aspectos tanto afetivos quanto cognitivos e fazem emergir as representações
docentes acerca do que lhes agradam na formação continuada: um momento que
possibilite a troca de experiências, conduzido por um formador organizado que traga
ideias novas adequadas à realidade. A combinação desses elementos pode trazer,
repetindo os dizeres de P17: “o envolvimento e o interesse dos professores que
participam dos encontros”.
No quadro 10, apresentamos as categorias em relação à pergunta: O que lhe
desagrada nos encontros de formação continuada:
109
Categorias F % Exemplos
Falta de inovação
13
43,3
Todo encontro ter o momento de
apresentação se já nos conhecemos;
sempre termos que apresentar as
atividades acabando que fica na
mesmice de sempre não tendo
inovação.
Muitas pessoas falando o que
sabemos.
Conteúdos que já estamos “carecas” de
saber, ficar apenas ouvindo sem ter
algo dinâmico; assuntos que foram
debatidos nos outros encontros.
Imposição 6 20
A imposição do que se quer passar e
não perguntar o que o professor está
precisando.
A obrigatoriedade.
O regime “militar”.
110
Não adequação à
realidade
7 23,3
Às vezes, o discurso é fora da
realidade.
Propostas e teorias incabíveis e
desvinculadas para a realização das
atividades pedagógicas [...].
Falta de lógica nos temas propostos,
aplicabilidade do que se faz na
capacitação distanciada da realidade
de classes com muitos alunos.
Despreparo do
professor
7 23,3
Quando o dirigente não domina o
assunto, não traz sugestões e fica
preso somente a conteúdos teóricos.
Desorganização de grande parte dos
capacitadores [...] parecem não vir
preparados adequadamente para o
encontro.
A falta de conteúdos e objetivos claros.
A aparência de que é para “encher
linguiça”.
QUADRO 10: O que lhe desagrada nos encontros de formação continuada?
As categorias temáticas parecem apontar a insatisfação docente com a atual
formatação dos encontros. A falta de inovação, a imposição, a não adequação à
realidade e o despreparo do formador são constantemente abordados como focos
de reclamação de professores acerca da formação contínua. Os RFP listam algumas
características do atual modelo, que embora questionáveis, tornaram-se
convencionais:
A concepção é autoritária, cabendo ao professor um papel
passivo de receptor de informações e executor de propostas [...];
111
Não um processo paralelo de formação dos formadores de
professores, para que construam, também eles, um novo modelo de
ação;
Não se organiza a partir de uma avaliação diagnóstica das
reais necessidades e dificuldades pedagógicas dos professores;
Cada nova política, projeto ou programa parte da “estaca zero”,
desconsiderando a experiência e o conhecimento já acumulados
(2002, p. 42).
É perceptível a coerência no discurso docente acerca dos fatores que lhes
agradam e desagradam nos encontros de formação, uma harmonia entre as
categorias.
A categoria “imposição” refere-se ao fato de os encontros acontecerem aos
sábados sem que fosse permitida, ao sujeito-professor, a liberdade de escolher se
gostaria de participar ou não. No entanto, o encontro com os amigos, o momento de
interação, suplantava a insatisfação. As categorias “falta de inovação” e “não
adequação à realidade” estão estritamente ligadas a “ideias novas adequadas à
realidade” e “troca de experiências”. E a categoria “despreparo do formador” liga-se
a categoria “organização do capacitador”. Assim, entendemos que os aspectos
afetivos e os cognitivos constituem o professor e suas representações acerca da
formação continuada. E concluímos que a afetividade não pode ser desconsiderada.
É preciso que os encontros de formação não sejam vistos apenas como uma
atividade formal e rígida, faz-se necessário que se considere “o vínculo afetivo, a
comunicação, o jogo, o riso, o entretenimento” (RFP, p. 43).
Respostas
Frequê
ncia
Porcentagem
TEORIA 0 0%
PRÁTICA 12 40%
AMBOS 18 60%
QUADRO11: Nos encontros, o que deveria ser trabalhado? Teoria ou prática?
Por quê?
112
A porcentagem de frequência nas respostas a essa pergunta reflete uma
aparente contradição nas representações docentes: ao serem indagados sobre o
que esperam nos encontros de formação, os professores, em suas respostas,
apontam categorias que priorizam a prática ideias novas, troca de experiências,
soluções de problemas e produção de materiais. No entanto, no quadro 11,
percebemos que, segundo os professores (60%), o que deveria ser trabalhado nos
encontros, seria os dois: teoria e prática. Assim, o que eles esperam da capacitação
é a prática, mas o que deveria ser trabalhado é a junção teoria e prática. Dizemos
aparente contradição porque podemos entender que, nessa questão, o sujeito-
professor responde o que acredita que deveria responder como professor, embora
não concorde plenamente com a resposta.
A visão dicotômica entre esses dois processos, construída historicamente,
infiltrou-se nas representações docentes. No entanto, sabemos que a construção
dos saberes inerentes ao fazer docente perfaz-se pela análise crítica das práticas
realizadas no cotidiano escolar juntamente com a ressignificação das teorias que
elas interligam. O sujeito-professor reconhece a necessidade de se conceber teoria
e prática como processos complementares, porém, devido a anos de “racionalidade
técnica”, prioriza a prática. Essa afirmativa ganha consistência nos dizeres abaixo:
P2 “Ambos, pois um reforça o outro. Mas a prática deveria ser trazida para
nós e não nos fazer desenvolvê-las uma vez que estamos cansadas devido ao
trabalho semanal e acaba não sendo produtivo”.
P7 “Os dois: desde que a teoria realmente atenda a necessidade e
dificuldades que a prática apresenta”.
Podemos perceber, nos dizeres docentes, a busca pela completude, o desejo
de obturar a falta que lhe constitui. É a crença (ilusória) de que a prática (de outrem)
tamponará essa falta.
P25 “Prática daqueles professores que vivenciaram situações difíceis em
sala de aula e que conseguiram obter resultados”.
P13 – “Prática. Experiências que funcionaram em sala de aula. Inclusive
sobre disciplina”.
113
Nesses excertos, também podemos perceber a angústia do professor, pois é
na relação com a falta que a angústia lacaniana ganha forma. É a procura constante
por esse algo que lhe falta, que faz com que o sujeito-professor consiga sobreviver
na sua profissão, que o faz testar, acertar, errar, avaliar e seguir adiante. Desse
modo que entendemos essa contradição como aparente: acreditamos ser
imprescindível que o sujeito-professor dê primazia à prática.
Muitas são as contradições e as controvérsias que envolvem a relação
professor/formação. No entanto, paradoxalmente, a maioria dos docentes acredita
na necessidade desses encontros e participaria voluntariamente caso não fossem
obrigatórios. É o que podemos observar nos gráficos e quadros abaixo:
Respostas
Frequê
ncia
Porcentagem
SIM 19 63,3%
NÃO 0
0%
NÃO, DEVIDO AO ATUAL
FORMATO
11 36,6%
QUADRO 12: Na sua opinião, esses encontros o necessários? Sim, não, por
quê?
Os docentes apontaram apenas dois motivos que justificariam a necessidade
da existência dos encontros de capacitação: aprender e interagir. Vemos as
representações na congruência dos aspectos afetivos e cognitivos: os momentos de
capacitação são importantes, pois permitem que se adquira conhecimento, mas
esse processo é facilitado pela interação com os amigos e com formadores
“organizados”.
De acordo com o dizer de P9:
114
“Sim. Aprendemos muito com o outro, através de encontros “bem feitos”
podemos retirar exemplos para sanar eventuais dificuldades de determinados
alunos”.
As justificativas dos sujeitos-professores que disseram que os encontros o
são necessários, devido ao atual formato, foram: a falta de inovação e a falta de
organização. Estas categorias coincidem com o que lhes desagrada nos encontros
de capacitação. As mesmas categorias aparecem nos motivos que fariam com que
os professores não participassem dos encontros, caso eles fossem opcionais. Há,
como pudemos observar, coerências nas respostas dos sujeitos-professores.
Respostas
Frequê
ncia
Porcentagem
SIM 16 53,3%
NÃO 3 10%
NÃO, SE MANTIVESSE O
ATUAL FORMATO
11 36,6%
QUADRO 13: Se a sua participação nos encontros fosse opcional, você
participaria? Sim, não, por quê?
Apenas três dos docentes não participariam realmente dos encontros, dois
deles pelo fato de ser realizado no sábado e um, por não haver remuneração; mais
de 50% dos docentes participariam pelos mesmos motivos que consideram os
encontros necessários: para aprender, para interagir e, consequentemente, melhorar
a prática; e os 36,6% restantes, não participariam devido ao atual formato pelas
seguintes categorias: falta de inovação e organização o que, segundo eles, tornam
os encontros cansativos.
115
No discurso docente emergem as representações sociais acerca da formação
continuada. Uma delas refere-se à relação entre formação continuada e a melhoria
da prática docente, o que pode ser percebido nos seguintes excertos:
P1 “Sim. Participaria desde que seja uma formação contínua e que esteja
melhorando a minha prática como professora”.
P27 “Sim. Porque acho que esses momentos são importantes para o
desenvolvimento de nosso trabalho”.
O sujeito-professor acredita que sua prática pode ser melhorada a partir dos
cursos e/ou encontros de formação. Outra representação social que pode ser
percebida é a necessidade do estudo contínuo: o professor não pode parar de
“aprender”, ele precisa se “aperfeiçoar” sempre, como diz P9:
P9 “[...] na profissão de educadora a opção de não querer aprender mais
deve ser descartada [...]”.
O discurso hegemônico que aponta o professor como o culpado pelo fracasso
escolar, faz com que o professor procure e anseie por conhecimentos novos. O que
podemos entender é que talvez o sujeito-professor precise desse acúmulo de
conhecimentos para ele próprio se sentir capaz. No entanto, percebemos novamente
um resquício de resistência, que ganha forma no dizer de P18:
P18 – “[...] se eu quero executar o meu trabalho com compromisso, tenho que
buscar coisas novas e se tenho uma experiência quero compartilhar”.
Percebemos um embate entre a representação social do professor como
incapaz e a busca pela sua valorização. Acreditamos que não uma aceitação
passiva do sujeito-professor, ele sabe o que não quer do atual modelo de
formação, basta que deem voz (vez) para que ele se posicione.
No quadro 14, apresentamos as categorias temáticas acerca das
características pessoais/intelectuais que os professores consideram indispensáveis
para um bom formador.
116
Categorias
intelectuais
F % Exemplos
Conhecimento
prático
12 40
Dinamismo, simpatia, conhecimento
prático e teórico.
Boa formação e bastante experiência
prática com diferentes tipos de
realidades.
Conhecimento
teórico
6 20
O capacitador deve estar embasado
teoricamente, portanto deve ter cursos
de s-graduação nas áreas que atua.
Também deve estar interado das
expectativas dos professores que
participam dos cursos.
Conhecimento de bons teóricos e sobre
a prática.
Domínio do assunto 12 40
Nos diferentes encontros achei uma
capacitadora que era simpática,
educada, profissional, atuante que
dominava o material que expunha e
acrescentava novidades à sua prática,
dividindo-as conosco.
O capacitador deve ter clara a sua
proposta, deve “dominar” o assunto,
mas deve ser flexível, humilde para
aceitar que os outros também possuem
muitas ideias e ter criatividade para
induzir o grupo ao seu objetivo.
117
Conhecer a
realidade dos
alunos-professores
8 26,6
Apresentar humildade pedagógica e um
domínio dos temas a serem discutidos,
considero relevante, aliás, muito
relevante que ele atue, vivencie a sala
de aula, buscando conosco alternativas
favoráveis de construirmos e
aprimorarmos assim nossa prática no
que diz respeito aos processos
complexos que são a relação
professorXaluno e o processo de
ensinoXaprendizagem.
Carismático, alegre, que saiba as
aspirações da nossa rede de ensino, “a
nossa realidade, que permita o diálogo,
tenha o domínio do assunto “teoria-
prática”
QUADRO 14: Quais as características pessoais/intelectuais indispensáveis
para que um formador/capacitador consiga bons resultados nesses
encontros?
Sublinhamos nos exemplos as características pessoais, pois fica perceptível a
impossibilidade de separar tais categorias, pois os aspectos pessoais e os
intelectuais estão imbricados. Consideramos mais proficiente apresentar as
categorias por meio de um gráfico, devido ao número excessivo que emergiram nos
dizeres docentes:
118
GRÁFICO 5: Categorias pessoais indispensáveis ao formador/capacitador
Com relação às características intelectuais, elas comprovam a representação
social do professor competente: aquele que domina o conteúdo (teoria), que o tenha
aplicado no cotidiano escolar (prática) e que esta teoria e esta prática estejam
coerentes com a realidade do aluno-professor. Antevemos uma representação
social de ordem afetiva: o professor (formador) centrado na figura do aluno (aluno-
professor), ou seja, aquele que reconhece e considera as necessidades de seus
discípulos. Portanto, as características intelectuais não são consideradas suficientes
para que o formador exerça sua função e obtenha bons resultados, também é
119
necessária uma gama de características pessoais (afetivas) que para além de
facilitarem o processo de ensino/aprendizagem
50
, garantem o sucesso do encontro.
Os aspectos afetivos e os cognitivos estão entrelaçados nas representações
docentes acerca da formação continuada. Essas representações fazem aflorar o
ressentimento e a angústia como afetos constitutivos do sujeito-professor
construídos pelo/no contexto histórico-social.
O professor-aluno atribui a humildade como uma característica pessoal
indispensável para o formador e, acrescenta:
P10 “[...] e não veja as professoras da rede [...] como docentes
inexperientes e sem formação”.
P28 “[...] humildade para não se dirigir aos professores como se fossem
“menores” [...]”.
Podemos perceber no discurso o ressentimento do professor-aluno por
acreditar ter sido considerado incapaz por antigos formadores. Fica perceptível que
a dimensão pessoal e afetiva não pode ser desconsiderada nos encontros de
formação, principalmente no que se refere à figura do formador. Segundo os dizeres
docentes, o formador ideal precisa ser uma pessoa: com conhecimento teórico
atualizado, que reconheça por experiência as dificuldades docentes, que acredite e
goste do que faz e que seja capaz de se relacionar de forma humilde. Tal afirmativa
pode ser comprovada no seguinte excerto:
P12 Ser comunicativo, gostar do que faz, ter domínio do assunto e
liderança”.
No dizer de P8: “trabalhar numa sala de aula com grande número de alunos e
conseguir fazer o milagre da aprendizagem acontecer a todos”, podemos antever a
angústia no fazer docente. Esse milagre que o sujeito-professor espera e que,
acredita, trará a sua completude (ilusória).
50
Cabe apresentar aqui que essa visão tecnicista de ensino-aprendizagem ainda prevalece nos
encontros de formação, isso comprovado pelas representações sociais que emergem no discurso
docente. Embora o discurso acadêmico seja outro, nos encontros continuamos com o mesmo
formato.
120
Com relação à última pergunta, se o sujeito-professor considera adequado
nomear esses encontros de “capacitação” e se não, que nome daria aos encontros,
80% dos respondentes disseram que não é adequado, como pode ser percebido no
quadro 15. Em seguida, apresentamos os nomes escolhidos pelos docentes.
Respostas
Frequê
ncia
Porcentagem
SIM 6 20%
NÃO 24 80%
QUADRO 15: Você considera adequado nomear esses encontros de
“capacitação docente”?
QUADRO 16: Se sua resposta foi não, que nome daria a esses encontros
bimestrais entre os professores?
Nomes escolhidos F %
Encontro 13 43,3
Formação continuada 4 13,3
Curso 2 6,6
Não tenho resposta 2 6,6
Reunião 1 3,3
Aprendendo com o outro 1 3,3
Palestra 1 3,3
Trocar faz bem 1 3,3
HTPC bem elaborado 1 3,3
121
Novamente percebemos a insatisfação docente com a palavra “capacitação” e
o sentido que ela absorveu: qualquer nome seria adequado ao momento, menos
“capacitação”.
Os encontros entre professores, como uma forma de formação continuada,
são vistos como essenciais pelos docentes, pois segundo os dizeres de P27:
[...] nós somos capazes de desenvolver o nosso trabalho, mas devemos
estar sempre em constante estudo e repensando sobre nossas práticas e o
resultado do nosso trabalho”.
O sujeito-professor não questiona a validade da formação permanente, seja
ela por meio de cursos pontuais (palestras, encontros) ou estudo contínuo
(graduação e pós-graduação). Ele acredita no aperfeiçoamento de sua profissão, da
necessidade de conhecer práticas que obtiveram sucesso. O ressentimento que
emerge no discurso docente acontece a partir da palavra “capacitação” que,
possivelmente, traz à tona toda a culpa que é atribuída ao professor pelo fracasso
da educação.
Por que não chamar de “capacitação docente?”:
P8 “[...] passa a impressão de que os professores que ali estão não são
capazes, por isso que estão ali. Acredito que deveria chamar: encontro de
professores, somente, pois é o que acontece”.
122
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nosso objetivo neste estudo consistiu em analisar as representações
docentes acerca da formação continuada, especificamente da modalidade
conhecida como “capacitação”: na realidade dos sujeitos dessa pesquisa, encontros
pontuais e esporádicos, planejados por formadores de outro estado, que aconteciam
sempre no último sábado do bimestre, com presença obrigatória.
Percebíamos, nos dizeres docentes, a presença constante de dois afetos:
ressentimento e angústia. Nossa hipótese era que esses sentimentos foram
adquiridos pelo/no contexto histórico social o qual atribuía ao professor toda a culpa
pelo fracasso escolar. No entanto, estávamos diante de um tema bastante recente
em estudos da LA: afetividade. Era preciso, pois, procurar respaldos que
sustentassem nossa hipótese. A partir de uma conversa informal com algumas
professoras alfabetizadoras, percebemos a inquietação docente com a palavra
“capacitação”. Foi, portanto, no conceito vigotskiano que diz que o sentido da
palavra interliga seu significado objetivo ao contexto de uso e aos motivos afetivos e
pessoais de seus usuários, que encontramos o apoio que precisávamos para iniciar
nossa pesquisa. Entretanto, como definir ressentimento e angústia?
Nossa primeira iniciativa foi explorar os significados atribuídos nos dicionários.
Ressentir, entre outros significados é “sentir os efeitos (geralmente ruins) de algo”
(HOUAISS, 2004, p. 643) e angústia é “carência, falta” (HOUAISS, 2004, p. 44-45).
Os significados dicionarizados nos levaram aos conceitos psicanalíticos. Sabíamos
das dificuldades que encontraríamos, pois relacionar conceitos, autores e áreas de
estudo aparentemente distintos seria muito ousado. No entanto, apoiamo-nos no
que Wittegenstein (1975) chama de semelhanças de família, referindo-se a
conceitos cujas aplicações não seriam inconciliáveis entre si, e nos deixamos ousar.
Num primeiro momento, procuramos autores que, ao longo da história,
defenderam a união razão/emoção na constituição do indivíduo. A defesa à visão
holística, na constituição humana, corroborou nossa hipótese inicial de que
ressentimento e angústia se entrelaçam nas representações docentes acerca da
formação continuada.
123
Muitas são as representações sociais adquiridas pelo professor ao longo de
sua vida, mas todas elas são constituídas afetivamente, pois é impossível separar o
“eu pessoal” do “eu profissional”. É assim que entendemos o ressentimento como
um afeto constitutivo do sujeito-professor, provocado pela representação de
professor incapaz. Razão e emoção imbricados na formação do/de sujeito.
No entanto, o ressentimento que parece emergir no discurso docente não se
refere à formação continuada, mas ao formato atual de formação, nomeado de
capacitação, que subentende um professor sem competência. O professor acredita
na necessidade da formação permanente, mas numa formação que valorize sua
experiência, que o veja como agente de sua profissão. No entanto, também espera
inovações, ideias, porém para acrescentar à sua prática e não para substituir. É
que entendemos a angústia como constitutiva do sujeito-professor. Concebemos o
conceito lacaniano de angústia que diz sermos sujeitos do desejo, sujeitos da falta.
É essa falta que nos motiva a atingir nossos objetivos. Estamos sempre em busca
da nossa completude (ilusória). Precisamos corporificar, dar forma e substância ao
desejo que nos constitui. O sujeito-professor acredita que estas inovações trarão a
perfeição, a completude profissional.
À guisa de conclusão, acreditamos que a análise dos enunciados produzidos
pelos docentes parece revelar o (re)sentimento adquirido ao longo da história,
provocado pelas representações adquiridas no/pelo contexto histórico e ideológico.
Essa revelação, para além de comprovar nossa hipótese inicial de que o
ressentimento e a angústia o deflagrados no discurso docente, permite-nos
conjeturar que o impedimento do sujeito-professor de elaborar o trabalho de luto
(necessário para que o eu volte a ser livre depois de uma perda libidinal) advém do
próprio ressentimento. Desse modo, impossibilita a angústia de recorrer à fantasia
para corporificar novamente o desejo dando-lhe condições de existência.
Arriscamo-nos, portanto, a elucubrar que ressentimento e angústia podem prender o
sujeito ao eu ideal. No entanto, esse ressentimento, que é deflagrado pela palavra
“capacitação”, permite ao sujeito-professor um desabafo. É essa “imensa carga
negativa” do sentido da palavra que pode trazer à tona toda a culpa direcionada ao
professor pelo fracasso escolar. Acreditamos que é esse desabafo que permite tirar
o professor da passividade, dando-lhe “forças” para reivindicar por mudanças. É a
124
“rebelião escrava na moral”, segundo Nietzsche, que ganha consistência nos dizeres
docentes.
Além do ressentimento, é perceptível a angústia docente em todos os
aspectos que envolvem a Formação Continuada. Defendemos que tal angústia,
entre outros fatores, é causada e sustentada por certo ressentimento do sujeito-
professor “cujo valor foi antecipado e garantido pelo Outro” (KEHL, 2004, p. 43), que,
portanto, soube o “que significa ter sido o falo para o Outro e não foi capaz de
simbolizar esta perda” (KEHL, 2004, p. 44). Assim, entendemos que tanto a angústia
quanto o ressentimento podem ser considerados como mecanismos de defesa pela
integridade narcísica do eu no sentido de que ambos “prendem” o sujeito nas tramas
do eu ideal.
Na busca constante pela completude, na necessidade de preencher a falta
que lhe é constitutiva, o professor fica enredado nas tramas do ressentimento e da
angústia. Preso ao eu ideal, não percebe que o ideal do eu subjaz naquele que tem
poder/saber de construir e transformar: na ilusão do eu ideal ocorre a frustração do
ideal do eu que, embora se saiba incompleto, não percebe a existência do Outro:
não dá formas e contornos ao Outro. Acreditamos, porém, que o sujeito-professor ao
“verbalizar” esse ressentimento começa a superá-lo; pois, como defende
Espinosa, é preciso que conheçamos os afetos para poder transformá-los. O sujeito-
professor precisa conhecer e nomear seus afetos para poder transformá-los em
afetos ativos, corroborando, assim, seu poder de expressão. Essa transformação
permitirá o aumento de sua potência de agir, o que trará a superação da angústia.
Retomando os postulados de Piaget, entendemos que a afetividade, como
motor ou como energético da ação, manifesta-se por uma necessidade. Quando a
necessidade é satisfeita, o regresso ao equilíbrio expressa-se pela satisfação. O
sujeito-professor necessita reconhecer seus afetos, para reconhecer sua
necessidade (objeto a?).
Segundo Wallon, a evolução da afetividade depende das construções
cognitivas, assim como a evolução da inteligência depende das construções afetivas
razão e emoção imbricadas no desenvolvimento humano. Para o autor, cognição/
emoção e social/biológico constituem pólos intrínsecos na formação da subjetividade
125
do indivíduo, o que nos permite afirmar a impossibilidade de conhecer as
representações docentes acerca da formação continuada sem considerar os
sentimentos (ou afetos) que as permeiam. O mesmo afirma Damásio, para quem as
emoções são indispensáveis à vida racional. No entanto, ele adverte para a
necessidade de compreender sua complexa maquinaria biológica e sociocultural.
Para o autor, o “fortalecimento da racionalidade requer que seja dada uma maior
atenção à vulnerabilidade do mundo interior” (DAMÁSIO, 1996, p. 278, grifo nosso).
Vigotski também afirma que “por trás do pensamento existe uma tendência
afetiva e volitiva” (2001, p. 479), e orienta que, para se compreender o discurso de
alguém, faz-se necessário entender o motivo que o levou a emiti-lo, ou seja, quais
sentidos emergem a partir dos significados das palavras ditas. Foi isso que nos
propusemos ao longo da pesquisa. Essa “vulnerabilidade do mundo interior”
apresenta-se por meio do ressentimento e da angústia, presentes nos dizeres
docentes, os quais afloram a partir da palavra “capacitação”.
O que pudemos depreender, a partir da análise dos dados, é que se faz
necessário centrar a formação continuada na figura do próprio professor: suas
necessidades, realidades e afetividades. Talvez assim, entendendo o docente como
sujeito de sua prática, dando-lhe “voz” e “vez”
51
para que ele mostre seus anseios e
culpas, consigamos restituí-lo efetivamente na ordem de sujeito do desejo.
Não temos a ilusão de corrigir esquemas já definidos da formação continuada,
o que buscamos é a compreensão do sujeito professor, suas múltiplas vozes e os
sentidos que emergem no seu discurso. Só assim poderemos entendê-lo como
cindido, convivendo entre a incompletude e o desejo de ser completo. Concordamos
com Eckert-Hoff:
[...] a trama aqui urdida também carrega a falta, a incompletude, visto
que esta trama é atravessada pela subjetividade do sujeito-analista
[...] quando pensamos haver alfinetado o sentido, este se desloca [...]
que não é “possível atingir toda a verdade”, que “as pessoas...
ainda não foram terminadas... vão sempre mudando... afinam ou
desafinam” (2008, p.144).
51
Expressões já usadas por Teixeira (2002) no título de sua Tese de Doutorado.
126
Não queremos dizer aqui que seja possível livrar-nos todo o tempo da
angústia, ou que seja fácil sempre “corporificar” o desejo, visto sermos sujeitos
complexos, constituídos pela multiplicidade. O que procuramos é tentar entender o
que afeta o discurso do sujeito-professor acerca da Formação Continuada e buscar
caminhos – ilusórios – para que eles (nós) saibam (saibamos) lidar com a sua
(nossa) diversidade.
127
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134
ANEXO A – QUESTIONÁRIO
1. SEXO: ( ) FEMININO ( ) MASCULINO
2. IDADE: ( ) 20 – 25 ANOS
( ) 25 – 30 ANOS
( ) 30 – 40 ANOS
( ) MAIS DE 40 ANOS
3. FORMAÇÃO: ( ) MAGISTÉRIO
( ) PEDAGOGIA
( ) NORMAL SUPERIOR
( ) OUTRA LICENCIATURA
( ) ESPECIALIZAÇÃO
( ) MESTRADO
( ) DOUTORADO
4. HÁ QUANTO TEMPO LECIONA? ( ) MENOS DE 5 ANOS
( ) ENTRE 5 E 10 ANOS
( ) ENTRE 10 E 20 ANOS
( ) ACIMA DE 20 ANOS
5. HÁ QUANTO TEMPO LECIONA NA REDE MUNICIPAL? ( ) MENOS DE 5 ANOS
( ) ENTRE 5 E 10 ANOS
( ) ENTRE 10 E 20ANOS
( ) ACIMA DE 20 ANOS
6. PARA VOCÊ, FORMAÇÃO CONTINUADA E CAPACITAÇÃO DOCENTE SÃO
SINÔNIMOS?
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
7. CASO SUA RESPOSTA, NA QUESTÃO ACIMA, TENHA SIDO NÃO, RESPONDA:
a) COMO VOCÊ DEFINE FORMAÇÃO CONTINUADA?__________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
b) COMO VOCÊ DEFINE CAPACITAÇÃO?_____________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
8. O QUE VOCÊ ESPERA DOS ENCONTROS BIMESTRAIS, CONHECIDOS COMO
“CAPACITAÇÃO”, ENTRE OS PROFESSORES?________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
9. O QUE LHE AGRADA E DESAGRADA NOS ENCONTROS DE FORMAÇÃO
CONTINUADA?
135
A) AGRADA_______________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
B) DESAGRADA___________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
10. NOS ENCONTROS, O QUE DEVERIA SER TRABALHADO? TEORIA OU PRÁTICA? POR
QUÊ?_____________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
11. EM SUA OPINIÃO, ESSES ENCONTROS SÃO NECESSÁRIOS?
( ) SIM ( ) NÃO
POR QUÊ?_________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
12. SE A PARTICIPAÇÃO NOS ENCONTROS FOSSE OPCIONAL, VOCÊ PARTICIPARIA?
( ) SIM ( ) NÃO
POR QUÊ?_________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
13. QUAIS AS CARACTERÍSTICAS PESSOAIS / INTELECTUAIS INDISPENSÁVEIS PARA
QUE UM FORMADOR / CAPACITADOR CONSIGA BONS RESULTADOS NESSES
ENCONTROS?
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
14. VOCÊ CONSIDERA ADEQUADO NOMEAR ESSES ENCONTROS DE “CAPACITAÇÃO
DOCENTE”?
( ) SIM ( ) NÃO
SE SUA RESPOSTA FOI NÃO, QUE NOME VOCÊ DARIA A ESSES ENCONTROS
BIMESTRAIS ENTRE OS PROFESSORES?_____________________________________________
136
ANEXO B – PLANILHA DE RESPOSTAS DO QUESTIONÁRIO
6 . Para você,
formação
continuada e
capacitação são
sinônimos?
1.Não, porque formação continuada é um estudo que continua,
capacitação “seria” para capacitar alguém que não sabe.
2.Não
3.Não, porém deveriam ser sinônimos.
4.Não, pois acredito que são distintos, pois há outras maneiras de se fazer
cada uma delas.
5.Não. Em uma formação continuada há uma análise e reflexão da prática
docente. Enquanto isso, entendo capacitação docente como uma
orientação de uso de material.
6.Não.
7Não.
8Não.
9Não.
10Não.
11.Acho que não.
12.Não.
13Não.
14Não.
15.Não. Formação continuada seria troca de experiências e capacitação
docente, treinamento de algum assunto desconhecido.
16.Não.
17.Não são sinônimos pois formação continuada entendo por um estudo
profundo sobre temas na educação e capacitação entendo por explicação
para realizar um trabalho específico.
18.Não.
19Sim.
20.Não, pois ser ou receber formação continuada não está se assegurando
“capacitar”, uso do qual foi informado na prática do dia-a-dia.
21.Não.
22.Formação continuada pode ser para qualquer funcionário e a
capacitação docente é dirigida aos professores que atuam em sala de aula.
23.Não.
24.Não.
25.Não.
26.Não. Capacitação docente acontece em momentos específicos,
enquanto formação continuada, no cotidiano da sala de aula.
27.Não.
28.Não. Formação continuada para mim são cursos universitários, pós-
graduação, mestrado, doutorado e especializações e capacitação costuma
ser o que nos é oferecido em forma de oficinas de vez em quando, tanto
teóricas quanto práticas.
29.Não. Formação continuada, o próprio nome diz, é um processo
contínuo, sequencial e gradual. Capacitação, ultimamente tem servido
pra resolver problemas emergenciais.
30.Não.
137
7
.a. Como você define
formação continuada?
1.É um estudo contínuo.
2.É um estudo constante, um acompanhamento teórico e prático
do que se faz.
3.Para mim, formação continuada refere-se a atualização e
aproveitamento de conhecimento. É a oportunidade de rever a
prática e aprimorá-la.
4.É feita a cada ano com cursos, durante este ano todo, palestras,
etc.
5.Análise e reflexão da prática docente.
6.Abrange algo contínuo, que não tem fim, você vai se
aprimorando cada vez mais.
7.”Tudo” o que um professor precisa ter durante sua carreira
profissional. Entendo que a formação continuada propicia a
construção de novos saberes, reflexões e um repensar constante
sobre a prática educativa.
8.A formação continuada é uma sequencia (começo, meio e fim).
9.São estudos por meio dos quais o professor poderá embasar sua
prática de forma teórica.
10.Deve ter como objetivo a melhoria da formação dos
professores, a troca de experiências.
11.Cursos mais longos como graduação, mestrado, doutorado.
12.Formação continuada envolve novas técnicas para uma melhor
aprendizagem dos alunos, trocas de experiências, reciclagem de
ideias e conceitos.
13.Troca de experiências.
14.E um estudo contínuo, tem encontros que se complementam,
dão continuidade aos assuntos tem o mesmo grupo de estudos.
15.Troca de experiências vivenciadas.
16.Processo no qual o profissional está inserido, tendo como
objetivo maior a continuidade da sua formação, ou seja aprimorar
aquilo que já conhece.
17.Estudo profundo sobre temas voltados para educação.
18.Sequência específica para a formação profissional, podendo
ser em diferentes áreas: faculdade, especialização, mestrado,
encontros, congressos. Ela define e atualiza as áreas de atuação
profissional.
19.
20.Para mim, está relacionada a temas que seguem uma
sequência de conhecimentos em determinada área.
21.Formação continuada defino como continuação e
aperfeiçoamento dos estudos.
22.Aprendizado de algo que você conhece e amplia as
informações.
23.É quando o profissional está em constante atualização.
24.Como uma formação que está sendo sempre atualizada,
segundo as mudanças e até mesmo se aperfeiçoando.
25.Aprimorar o conhecimento já adquirido.
26.Formação continuada acontece no cotidiano da sala de aula.
27.É quando é realizado um trabalho continuo com os professores
a fim de trocar experiências, onde todos aprendem e ensinam.
138
28.Já o fiz acima.
29.Como dito anteriormente, é um processo continuo, gradual e
que tem uma sequência lógica e objetivos a serem atingidos como
por exemplo a melhoria da capacidade do profissional.
30.Um trabalho contínuo.
7.b. Como você
define capacitação?
1.O termo capacitação é muito forte, como se nós educadores
não soubéssemos nada.
2.É um treino por tempo determinado que capacidade a
pessoa de exercer determinada função.
3.Capacitar para mim é preparar, tornar apto ou capaz. No caso
de nós professores, a capacitação deveria ser um trabalho prévio,
anterior a docência.
4.1 vez a 2 no ano.
5.Orientação didática para uso de material.
6.Acredito que se relaciona com habilitação, com ter qualidade
para um determinado fim, ser apto para utilizar determinado
material.
7.Não aceito bem a nomenclatura (antes do professor assumir
uma sala de aula ele é preparado e capacitado para ocupar seu
lugar) então, quando o professor recebe um curso de
“capacitação’ quer dizer que não está capacitado?
8.Capacitar alguém que não sabe fazer algo.
9.Não gosto da palavra capacitação, pois subentende estar
incapacitado para algo, mas acredito em troca de experiências,
oficinas em que os próprios professores possam construir e
reconstruir o conhecimento.
10.É tornar alguém habilitado para o desempenho de uma
função, é qualificar a pessoa para determinada função. Eu acho
que meu diploma já fez isso por mim...será que estou enganada?
11.Cursos mais rápidos (horas, dias ou alguns meses).
12.Para mim capacitação significa “tornar capaz” e já somos,não
precisamos nos capacitar.
13.Ensinar algo novo a alguém que não sabe, tornando-o capaz.
14.Um encontro ou curso que vai preparar o professor para fazer
algo (trabalhar de determinada maneira).
15.Capacitar alguém sobre um assunto desconhecido,
treinamento.
16.Oportunizar momentos que capacitem o indivíduo para
exercer algo, pois a ideia oculta é que este não possui quesitos
necessários para desenvolver uma dada função, assim é preciso
capacitá-lo.
17.Treinamento para realizar um trabalho específico.
18.São momentos que toda empresa permite aos funcionários
para melhorar, aperfeiçoar a sua atuação através de assuntos
específicos e de interesse da empresa. Convencer formas e
atitudes em busca da competência profissional “profissional
139
competente//empresa de confiança”.
19.
20.Um dia no qual se apresentado, terá como foco uma
unidade de um determinado conteúdo. Ex: uso do cálculo
matemático mental, com didática apropriada para enriquecer a
prática do professor em sala a fim de que obtenha sucesso.
21.Para mim capacitação dá sentido de capacitar alguém que não
tem o conhecimento de alguma coisa.
22.Aprendizado de algo novo.
23.É quando o profissional não é capaz de realizar a atividade
relacionada com seu serviço.
24.Um curso de poucas horas para tratar de assuntos específicos.
25.Ensinar algo novo a alguém.
26.Capacitação acontece em momentos específicos de acordo
com os objetivos.
27.É quando é necessário tornar capaz o profissional para atuar
em determinada área.
28.Já o fiz acima.
29.A capacitação ultimamente tem funcionado como meio para
resolver problemas imediatos que necessitam de soluções
imediatas, ou seja, a curto prazo.
30.Algo para alguém que não tem capacidade.
8. O que você espera dos
encontros bimestrais,
conhecidos como
“capacitação”, entre os
professores?
1.Que seja realmente uma troca de experiências, algo com ideias
mais concretas e não teoria, que não condiz com nossa
realidade.
2.Momentos agradáveis onde sejam mostradas atividades novas,
modos diferentes de se trabalhar as atividades propostas na
apostila.
3.Espera-se que estes encontros venham “acrescentar” à nossa
prática. Ao contrário disso, eles são repetitivos e monótonos.
4.Sempre busco ter novos conhecimentos, mas infelizmente não
é isso que acontece.
5.Que sejam discutidas as relevâncias e objetivos dos exercícios
propostos do material.
6.Espero compreender como utilizar da melhor forma possível o
material apostilado que hoje faz parte do cotidiano de nossas
escolas. Procuro dividir, ou melhor, compartilhar práticas que
obtiveram êxito e tornar a sala de aula um ambiente agradável
propício à aprendizagem.
7.Que se leve em consideração nossas “ricas experiências” e
verdadeiramente as dificuldades que encontramos; que esses
encontros permitam ser aliados a nossa prática, quer seja como
possibilidade de construção, mudança ou nas soluções de
problemas.
8.Espero ideias novas. O que não tem acontecido.
140
9.O que foi citado acima, um momento de troca de informações
sobre o que deu certo fazer na sala de aula.
10.Primeiro que não sejam massacrantes como têm sido e
segundo, que eu possa sair de com ideias para trabalhar com
meus alunos.
11.Que sejam objetivos, deem exemplos de atividades que
facilitem o aprendizado das crianças e se possível tenham
também base teórica. Tratem também de temas variados como
saúde física e mental do professor, crianças com necessidades
especiais, primeiros socorros na escola. etc. com especialistas da
área.
12.Espero que me traga algo novo para aplicar com meus alunos
em sala de aula, que me traga ideias diferentes, onde eu possa
aprender algo novo.
13.Muitas vezes um socorro, experiências parecidas vividas e
algumas possíveis soluções de nossos problemas.
14.Sempre espero que vai ser diferente, que neste encontro
vamos ter ideias novas, novos assuntos e etc.
15.Espero que seja um momento de trocas de atividades e
experiências.
16.Espero que esses nos tragam atividades diferenciadas;
práticas bem sucedidas; algo que venha a somar com o que já
conhecemos.
17.Gostaria que estes encontros possibilitassem um momento
para elaboração de projetos que complementassem o trabalho
com as apostilas.
18.Espero compartilhar experiências e busco algumas respostas
para algumas situações ‘problemas” na minha atuação. Busco
ficar mais capaz para exercer minha função com compromisso e
competência.
19.Espero que sejam mais objetivos e práticos, com propostas
para o trabalho pedagógico.
20.Espero a discussão de temas ligados à uma prática com maior
eficácia. Estes temas que normalmente são pontuais e não
continuados.
21.Espero que continuidade e informações novas para serem
utilizadas no dia-a-dia da sala de aula.
22.Ser orientada para novos desafios.
23.Espero algo produtivo. Que reúna os professores para uma
troca de experiências. E não para mais uma reunião de
“recados”.
24.Sempre espero aprender métodos novos, assuntos
diversificados e trocas de ideias, mas infelizmente não vejo
mudanças nas capacitações, não são trabalhados os assuntos da
educação que realmente são relevantes.
25.Troca de experiências e mais apoio aos professores quanto
aos problemas em sala de aula.
26.Espero que possa acontecer “trocas” entre os pares e que
traga benefícios à formação docente.
27.Momentos de confraternização, troca de experiências,
141
aflições, angústias e alegrias vividas no nosso dia-a-dia.
28.O que nos é oferecido é bastante variável, depende do
capacitador. Alguns mais voltados à teoria e outros voltados para
a prática, dão sugestões de atividades práticas. O que eu gostaria
é que tivéssemos oportunidade de produzir materiais para serem
usados na sala de aula. Sermos orientadas a, partindo de um
conteúdo, produzir situações didáticas e material para essas
situações. Penso que esse exercício, em conjunto e orientado,
pode nos fazer avançar em nossas competências.
29.Trocas de experiências que levem de fato ao enriquecimento
de conteúdo e estratégias que levem a atingir os objetivos
propostos.
30.Algo inovador e que venha de acordo com a realidade vivida.
9. a. O que lhe agrada nos
encontros de formação
continuada?
1.Quando vem ideias práticas e que nos a oportunidade de
realizarmos com nossos alunos, no dia-a-dia.
2.O encontro com as colegas, o momento de interação com elas.
3.O encontro com as nossas amigas que trabalham na rede.
4.O horário somente que diminuiu.
5.Algumas vezes conseguimos trocar informações.
6.Troca de experiências positivas, desabafo de dificuldades
encontradas e soluções conquistadas.
7.Um formador que conheça o dia-a-dia de uma sala de aula e a
complexidade de fatores que perpassam a nossa rotina
educacional, aliando desta forma seus estudos e teorias a nossa
prática.
8.Rever amigos.
9.
10.Sugestões para a nossa clientela. (são raras).
11.Encontrar antigas colegas, revê-las.
12.Professores preparados para transmitir ideias novas.
13.Nos intervalos, troca de experiências com os professores
conhecidos que estão em outras unidades escolares.
14.trocar ideias com as colegas e saber como elas estão
trabalhando com determinado assunto.
15.Agrada-me quando o dirigente do encontro é dinâmico e traz
sugestões de trabalho e oficinas.
16.Atividades práticas dirigidas, atividades (em folha)
desafiadoras; teorias (textos) que fundamentam as práticas bem
sucedidas.
17.O envolvimento e interesse dos professores que participam
dos encontros.
18.Poder compartilhar experiências, conhecer novas colegas de
trabalho, conhecer outras realidades de ensino.
19.Quando apresentam diversidade de jogos e ideias para serem
trabalhadas em sala de aula.
20.Ideias que me garantam formas dinâmicas de abordar
determinados conteúdos com meus alunos.
21.Novidades, algumas atividades que nos estimulem a melhorar
142
nossos conceitos.
22.Conhecimento.
23.Nada.
24.Encontro com outros profissionais do ramo da educação.
25.As experiências dos professores da rede.
26.Oportunidade para conhecer melhor os colegas.
27.O encontro com os amigos, os momentos de trocas,
dinâmicas, etc.
28.Quando a formadora é humorada e apaixonada pelo ensinar
sempre torna os encontros agradáveis e envolventes.
29.O encontro com os professores.
30.Nada.
9.b. O que lhe desagrada
nos encontros de formação
continuada?
1.Quando chegam e ficam dizendo que tem que fazer assim ou
assado, que é muito longe de nossa realidade.
2.Todo encontro ter o momento de apresentação se nos
conhecemos; sempre termos que apresentar as atividades
acabando que fica na mesmice de sempre, não tendo inovação.
3.A repetição com as nossas amigas que trabalham na rede.
4.Muitas pessoas falando o que já sabemos.
5.Às vezes, o discurso é fora da realidade.
6.Desorganização de grande parte dos capacitadores; muitos
não conhecem o material apostilado e parecem não vir
preparados adequadamente para o encontro.
7.Propostas e teorias incabíveis e desvinculadas para a
realização das atividades pedagógicas. O tempo longo e sem
aproveitamento das ideias e discussões, como possibilidade
de cumprir a carga horária também muito me desagrada.
8.Saber que passei horas e horas num determinado lugar e não
aprendi nada e o pior ,saber que as formadoras ou
capacitadoras” ganham bem para não fazer quase nada.
9.A imposição do que se quer passar e não perguntar o que o
professor está precisando.
10.Ler a apostila! Já sou alfabetizada e letrada.
11.Muitas dinâmicas de grupo repetitivas (a maioria já se
conhece e perde-se muito tempo) ficar muito tempo na
mesma atividade (enrolação) não apoiar-se na apostila (“os
capacitados são do expoente”) não trabalhar nada de
alfabetização nos cursos de séries iniciais.
12.A obrigatoriedade.
13.O fato de ser uma obrigação e tratar de assuntos e outras
realidades de sala de aula que não é a nossa.
14.Não falam sobre alfabetização e suas dificuldades, a
formadora sempre dá um tema e espera que os professores
desenvolvam, expliquem e acaba sempre repetindo ideias, que
conhecemos a muito tempo.
15.Quando o dirigente não domina o assunto, não traz
sugestões e fica preso somente a conteúdos teóricos.
143
16.Conteúdos que estamos “carecas” de saber, ficar apenas
ouvindo sem ter algo dinâmico; assuntos que foram
debatidos nos outros encontros.
17.As atividades apresentadas são voltadas para o trabalho com
a apostila, mas não fazem parte de um projeto elaborado com
cuidado para complementar o que falta nelas.
18.Às vezes é um assunto que domino e fica cansativo.
Quando, durante a capacitação, é levantado assuntos que dizem
respeito a administração da educação da nossa cidade e os
capacitadores, que são de fora, ficam constrangidos e sem
respostas.
19.Quando se perde muito tempo numa única atividade.
20.Falta de lógica nos temas propostos, aplicabilidade do que se
faz na capacitação distanciada da realidade de classes com
muitos alunos.
21.O regime “militar”.
22.Falar, falar e não acrescentar nada.
23.Recados.
24.Falta de preparação de cursos com assuntos relevantes e
interessantes para o dia do profissional da educação.
25.As experiências dos professores que vieram de outra
realidade escolar. Alunos mais comportados e que querem
aprender realmente.
26.A falta de conteúdos e objetivos claros. A aparência de que é
para “encher linguiça”.
27.Ser no fim de semana algumas “palestras” que não
enriquecem muito nosso trabalho.
28.Textos para serem lidos e atividades cansativas nas quais
devemos realizar atividades que seriam simples até para os
alunos.
29.A expectativa que se cria e nada de novo é apresentado.
30.Tudo.
10. Nos encontros, o que
deveria ser trabalhado?
Teoria ou prática? Por
quê?
1.Pode ser trabalhada as duas, uma em decorrência da outra.
2.Ambas, pois uma reforça a outra. Mas a prática deveria ser
trazida para nós e não nos fazer desenvolvê-la, uma vez que
estamos cansadas devido ao trabalho semanal.
3.A teoria e a prática, pois uma justifica a outra. Porém, tudo
deve ser dosado para que não seja cansativo.
4.Prática, pois estaria proporcionando mais enriquecimento
pedagógico.
5.Prática. Todo o material deve ser analisado e inserido em sala
de aula com certas adaptações coerentes à realidade do aluno.
6.Acredito que a união das duas. É importante entender quais
são os objetivos do material e das atividades em questão, não
somente tornando prático o que faremos em sala de aula, mas
sim dando base: por que faremos aquilo com nossos alunos?
7.As duas: desde que a teoria realmente atenda a necessidade e
dificuldades que a prática apresenta.
144
8.Prática. Porque teoria é maravilhosa, mas a prática não é a
mesma coisa.
9.Capacitação: prática. Formação continuada: teoria
relacionada à prática.
10.As duas. A teoria é importante para sabermos (se
concordamos ou não é outra história...) de quem partiu tal
pensamento, método, teoria, mas como pôr em prática também
é importante.
11.Um pouco de cada, porque ambas se complementam.
12.Prática, pois teoria temos e a prática nos ajuda no dia-a-
dia.
13.Prática. Experiências que funcionaram em sala de aula.
Inclusive sobre disciplina.
14.As duas, pois uma não acontece sem a outra.
15.Prática, porque temos teoria nos htpc e prática para
podermos atingir nossos alunos por todos os mecanismos,
principalmente de forma lúdica.
16.Acredito que ambas, pois uma boa prática fundamenta-se
numa teoria e uma boa teoria existe porque houve uma
prática bem sucedida.
17.Os dois aspectos devem ser trabalhados, pois um
complementa o outro.
18.Ambas, pois teoria e prática devem caminhar juntas. Acho
importante aqui citar que esta teoria/prática deve estar coerente
com a realidade de ensino da rede da nossa cidade, não
podemos ter medo de problemas, temos que enfrentá-los.
19.Prática, porque em meio as teorias da faculdade e agora do
htpc, é o que está faltando.
20.As duas, pois não se concebe uma prática eficaz,
“desconectada” da teoria que a justifica.
21.Prática, pois teoria já temos e sabemos que não é nossa
realidade.
22.As duas coisas, para entender melhor e saber como utilizar
no dia-a-dia.
23.As duas.
24.Ambas, porque a teoria pode ser encontrada em livros de
fácil acesso, porém aplicar na prática é mais difícil e trabalhar
conforme a realidade dos alunos.
25.Prática daqueles professores que vivenciam situações
difíceis em sala de aula e que conseguiram obter resultados.
26.As duas, pois ambas são necessárias e devem caminhar
juntas, ou seja: teoria embasando a prática.
27.Prática, pois os encontros devem servir para nos ajudar no
dia-a-dia.
28.Alguma fundamentação teórica sempre vai bem porque
temos que admitir, precisamos dela para compreender todos os
processos envolvidos no fazer pedagógico. Mas penso que
oficinas de confecção de material seriam também bastante
interessantes.
145
29.Ambas. A prática decorre da teoria.
30.Prática e troca de experiências, que serão muito válidas para
minha prática.
11. Na sua opinião, esses
encontros são necessários?
sim, não, por quê?
SIM:19
NÃO:11
1.Sim. Porque sempre é momento para aprendermos e de trocar
ideias com outros profissionais, assim enriquecendo nossa
docência.
2.Sim. Justamente pela interação com as professoras de outras
escolas e a possibilidade de se ter ideias novas. Mas os
encontros se tornam necessários ao se tornarem interessantes.
3.Não. Muitos dos nossos encontros se resumem em observar o
conteúdo que aparece na apostila.
4. Não. Pois não vejo enriquecimento algum.
5.Não. Acredito que poderiam ser feitas reuniões para análise
do material, planejado com o grupo de trabalho (da própria
rede) a melhor maneira de utilizá-lo.
6.Não. Enquanto os capacitadores não dominarem o material do
qual falam não adianta ficar horas “enrolando” sobre práticas
que já dominamos.
7.Sim. Favorecem-nos momentos de reflexão, um repensar, um
planejar e um aprendizado que certamente vão interferir na
práxis docente.
8.Não. Da forma que se vem aplicando os cursos, não está
acrescentando nada, principalmente no meu caso que estou a 3
anos com a mesma série. não fica tudo repetido, quando são
as professoras da rede ...que apresentam os trabalhos.
9.Sim. Aprendemos muito com o outro, através de encontros
“bem feitos” podemos retirar exemplos para sanar eventuais
dificuldades de determinados alunos.
10.Não. No atual formato não.
11.Sim. É importante que os professores tenham orientação de
profissionais mais graduados ou experientes.
12.Sim. Tem professores que não tem experiência nenhuma de
sala de aula, acabam a graduação e vão para o mercado de
trabalho e os encontros trazem experiências boas para eles,
principalmente a troca de experiências.
13.Não. Assim como são feitos, acrescentam pouco.
14.Sim. Porque precisamos conhecer coisas novas. Embora não
seja assim.
15.Sim. Pois é importante a união da classe para discussões,
troca de opiniões e experiências.
16.Sim. Porque por mais que seja, vamos dizer, repetitivo,
sempre terá algo para acrescentar.
17.Sim. É uma oportunidade para trocarmos ideias e refletir
sobre o trabalho.
18.Sim. Todo profissional deve se atualizar e trocar
experiências para melhorar sua atuação. Trabalho de qualidade
146
e confiança com reconhecimento.
19.No início sim, para se trabalhar com a apostila, mas agora os
assuntos estão se tornando um pouco saturados.
20.Sim. São momentos únicos de professores das mesmas
séries, anos, trocarem experiências, do que tem sido positivo
em sua salas. *embora haja pouco espaço para a troca.
21.Sim. Deveriam ser um meio de reciclar nossos
conhecimentos.
22.Sim.Para atualização de informações.
23.Não. Porque nunca o que foi realizado foi aplicado à prática.
24.Sim. Se forem bem organizados, sem dúvida trazem boa
bagagem de conhecimento.
25.Sim. São necessários para haver trocas e estímulos positivos.
26.Não. Da forma como estão acontecendo não tem
acrescentado quase nada.
27.Sim. Para que os professores possam ter um momento de
confraternização, desabafo e ajuda mútua.
28.Sim. São oportunidades de reunir os professores que atuam
num mesmo nível e trabalhar com eles, fazê-los produzir.
Possibilitar que entrem em contato com novas possibilidades de
atuação e penso que favorecem a reflexão do papel do
professor. (minhas colegas vão me matar se souberem que disse
sim a essa questão.)
29.Não Porque os últimos encontros quase nada ou nada se
acrescentou em nossa formação.
30.Não. Esses que temos atualmente não, pois o acrescentam
nada a nossa prática.
12. Se a participação nos
encontros fosse opcional,
você participaria? Sim,
não, por quê?
Sim: 16
Não:14
1.Sim. Participaria desde que seja uma formação contínua e que
esteja melhorando a minha prática como professora.
2.Sim. Porque gosto de estar sempre em contato com assuntos
novos e rever assuntos antigos com novos olhos. Porém, não
está ocorrendo isso nos últimos encontros
3.Não. Muitos dos nossos encontros se resumem em observar o
conteúdo que aparece na apostila.
4. Não. Pois não vejo enriquecimento algum.
5.Não. Até agora não apresentei minhas ideias e experiências
pessoais com o material.
6. Não. Acredito que os encontros precisam ser melhor
planejados pela equipe que os proporciona.
7.Sim. (Desde que o tema viesse ao encontro de minhas
expectativas). Particularmente “eu” não tenho condições
financeiras de estudar e valorizo essas oportunidades para
aperfeiçoar meu trabalho.
8.Não. Tenho coisas mais interessantes para fazer no sábado.
9.Sim. Acredito que na profissão de educadora a opção de não
147
querer aprender mais deve ser descartada, pois vivendo aprendo
muito.
10.Não. São cansativos, sem novidades, as atividades
propostas, em sua maioria, não são aplicáveis em nossas salas
(falta de recursos, alto número de alunos por sala, etc.).
11. Não. Nos encontros do ... não, porque não tenho gostado.
12.Sim. Acho importante estar preparada para desenvolver bem
o meu trabalho.
13.Não. São cansativos e não correspondem as nossas
expectativas.
14.Sim. Pois acredito que pode ser diferente.
15.Sim. Talvez não fosse em todas por serem aos sábados, mas
iria a alguns para interagir com meus colegas.
16.Sim. Pois acredito que sempre haverá algo de novo para
conhecer, mesmo que seja a pessoa que ministre o encontro.
17.Sim. Acredito que o trabalho docente não pode ser realizado
isoladamente, tem que ser planejado coletivamente.
18.Sim. Se eu quero executar o meu trabalho com
compromisso, tenho que buscar coisas novas, e se tenho uma
experiência, quero compartilhar. Afinal sou uma educadora e
acredito na educação.
19.Não. Pois esses encontros estão se tornando cansativos.
20.Sim. Porque acredito que aprendemos muito com a troca de
experiências.
21.Sim. Acho importante termos oportunidade de adquirir
novas informações.
22.Sim. É sempre bom aprender.
23.Não. Porque não ganhamos hora extra.
24.Não. Porque sempre saio insatisfeita dos cursos, são sempre
abordados os mesmos assuntos.
25.Sim. Nunca será opcional. Sempre tem alguém observando.
26.Não. Por falta de estímulos.
27.Sim. Porque acho que esses momentos são importantes para
o desenvolvimento de nosso trabalho.
28.Sim. Porque sempre fui assim. Busquei cursos, capacitações,
faculdade após os 40 anos e agora pós-graduação.
Conhecimento é o que me atrai e melhorar o fazer pedagógico
também.
29.Não. Porque há momentos que se fazem necessário priorizar
a convivência familiar que só é possível nos finais de semana.
30.Não. Não acrescenta e também não enriquece a minha
experiência.
1.Quando o capacitador realmente tenha feito e acredita naquilo
que ele está transmitindo, porque somente teoria não dá, (teoria
lê nos livros).
2.Dinamismo, simpatia, conhecimento prático e teórico.
3. Primeiramente ele deve conhecer muito bem o assunto que
abordará, precisa ser dinâmico e coerente.
148
13. Quais as
características
pessoais/intelectuais
indispensáveis para que
um formador/capacitador
consiga bons resultados
nesses encontros?
4. Conhecimentos de bons teóricos e sobre a prática.
5.Conseguir refletir e analisar o que é válido para nossos
alunos.
6.Nos diferentes encontros achei uma capacitadora que era
simpática, educada, profissional, atuante que dominava o
material que expunha e acrescentava novidades à sua prática,
dividindo-as conosco.
7. Apresentar humildade pedagógica e um domínio dos temas a
serem discutidos, considero relevante, aliás, muito relevante,
que ele atue, vivencie a sala de aula entendendo os conflitos, os
receios, anseios, as dificuldades que enfrentamos na sala de
aula, buscando conosco alternativas favoráveis de construirmos
e aprimorarmos assim nossa prática no que diz respeito aos
processos complexos que são a relação prof X aluno e o
processo de ensino X aprendizagem.
8. Trabalhar numa sala de aula com grande número de aluno e
conseguir fazer o milagre da aprendizagem acontecer a todos.
9.O capacitador deve ter clara a sua proposta, deve “dominar” o
assunto, mas deve ser flexível, humilde para aceitar que os
outros também possuem muitas idéias e ter criatividade para
induzir o grupo ao seu objetivo.
10.Gostaria imensamente de ter encontros com a presença de
fonoaudiólogos, psiquiatras, psicopedagogos que pudessem nos
esclarecer dúvidas sobre determinados comportamentos e até
nos ajudar a resolver alguns menos complicados. Pessoas
dinâmicas, que sabem expressar-se sem exageros.
11. Tenha conhecimento na área da educação, experiência com
bons resultados e não veja as professoras da rede municipal
de...como docentes inexperientes e sem formação.
12.Ser comunicativo, gostar do que faz, ter domínio do assunto
e liderança.
13.Vivência em sala de aula na realidade em que vivemos.
14.Tenha experiência no assunto, conheça nossa realidade de
trabalho e tenha algo para oferecer aos professores como
sugestões e exemplos.
15..Dominar o assunto a ser tratado, ser dinâmico e trazer
atividades, oficinas, para que os encontros não se tornem
cansativos.
16..Acredito que um formador deva ter uma boa retórica e ser
envolvente, ser simpático e ter empatia.
17.O capacitador deve estar embasado teoricamente, portanto
deve ter cursos de pós-graduação nas áreas que atua. Também
deve estar interado das expectativas dos professores que
participam dos cursos.
18.Carismático, alegre, que saiba as aspirações da nossa rede de
ensino, “a nossa realidade”, que permita o diálogo, tenha o
domínio do assunto “teoria-prática”.
19.Ir ao encontro dos interesses da maioria.
20.Ser acessível, flexível, tenha inteligência inter-pessoal,
ganhe a atenção e confiança do grupo, pelo conhecimento que
149
demonstrar do assunto. “O respeito do grupo, vem pelo
conhecimento”, domínio do assunto e segurança.
21.Conhecer bem o assunto e ter vivenciado na prática.
22.Ser dinâmico, atualizado e capacitado.
23Primeiramente que ele conheça a realidade do local onde o
encontro acontecerá.
24.Boa formação e bastante experiência prática com diferentes
tipos de realidades.
25Experiências reais de resultados em sala de aula. Pessoa mais
humana.
26.Que ele tenha conhecimento e domínio do conteúdo a ser
trabalhado. Seja dinâmico e apresente com clareza o tema
sugerido.
27.Saber da realidade que vivemos na sala de aula.
28.Ter humor, humildade para não se dirigir aos professores
como se fossem “menores”, mostrar que dominaram o que
pretendem nos mostrar; que saibam nos chamar à reflexão, que
saibam orientar oficinas interessantes.
29.Pessoais: que seja uma pessoa que cative. Intelectuais: que o
formador domine o conteúdo e que tenha se preparado.
Improvisos e surpresas denigrem a visão que se tem do
formador.
30.Estar, ou melhor, conhecer a realidade das nossas escolas.
150
ANEXO C –
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Você está sendo convidado a participar de uma pesquisa a ser realizada por uma
aluna do Programa de Pós-graduação em Lingüística Aplicada da Universidade de Taubaté
UNITAU -, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Lingüística
Aplicada.
Informamos que sua participação não acarretará quaisquer danos a sua pessoa, não
constando seu nome ou qualquer outro dado que possa identificá-lo na Dissertação final ou
em qualquer publicação que possa resultar desta pesquisa. Após ser esclarecido(a) sobre
as informações a seguir, no caso de aceitar fazer parte do estudo, assine ao final deste
documento, elaborado em duas vias de um só teor. Uma delas é sua e a outra é do
pesquisador responsável. Em caso de recusa você não será penalizado(a) de forma alguma.
Seguem informações gerais sobre a pesquisa e fica esclarecido que quaisquer
outras informações poderão ser obtidas a qualquer momento junto à pesquisadora,
Esmeralda de Fatima Santos Silva, ou à orientadora do trabalho, Profa. Dra. Elisabeth
Ramos da Silva.
Título do Projeto: Representações de alfabetizadores acerca da formação
continuada: interface de aspectos afetivos e cognitivos nos depoimentos docentes.
Pesquisador Responsável: Esmeralda de Fatima Santos Silva
Telefone para contato: (12) 36-242885
(12) 91-798314
Tema da pesquisa: Formação Continuada
Objetivo geral da pesquisa: analisar e interpretar as representações de
professores alfabetizadores da Rede Municipal de Ensino da cidade de
Taubaté acerca da formação continuada.
Procedimentos de coleta dos dados: Questionário com perguntas abertas e
fechadas.
Sua participação: nas respostas do questionário.
Período de sua participação na pesquisa: durante a aplicação do
questionário.
Taubaté, 02 de agosto de 2008
_____________________________
assinatura da pesquisadora
-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Tendo ciência das informações sobre a pesquisa acima mencionada, eu,
________________________________________,
R.G._________________________autorizo a utilização, na dissertação a ser apresentada
ao Programa de Pós-graduação em Lingüística Aplicada da Universidade de Taubaté
UNITAU e em publicações dela resultantes, de autoria da pesquisadora Esmeralda de
Fatima Santos Silva, dos dados por mim fornecidos à pesquisa, nos termos acima
especificados. Fui devidamente informado(a) e esclarecido(a) pela pesquisadora sobre a
pesquisa, os procedimentos nela envolvidos e benefícios decorrentes de minha participação.
Foi-me garantido que posso retirar meu consentimento a qualquer momento, sem que isso
leve a qualquer penalidade, e que minha identidade não será revelada em qualquer
publicação sobre a pesquisa.
Taubaté, 02 de agosto de 2008
_________________________________
assinatura do sujeito da pesquisa
151
ANEXO D – PROTOCOLO DO COMITÊ DE ÉTICA
152
Autorizo cópia total ou parcial desta obra apenas para fins
de estudo e pesquisa, sendo expressamente vedado
qualquer tipo de reprodução para fins comerciais sem
prévia autorização da autora.
Taubaté, março de 2010.
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