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UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA CATARINA – UNOESC
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS – CCSJ
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM EDUCAÇÃO
DENISE SIQUEIRA BRANDÃO
A HISTÓRIA DO GRUPO ESCOLAR GUSTAVO RICHARD DO MUNICÍPIO DE
CAMPOS NOVOS
CAMPOS NOVOS
2010
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1
DENISE SIQUEIRA BRANDÃO
A HISTÓRIA DO GRUPO ESCOLAR GUSTAVO RICHARD DO MUNICÍPIO DE
CAMPOS NOVOS
Dissertação de Mestrado apresentada à
Universidade do Oeste de Santa Catarina
UNOESC, como requisito à obtenção do
Título de Mestre em Educação, sob a
orientação do Prof. Dr. Santino Hoff.
CAMPOS NOVOS
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2010
AGRADECIMENTOS
Chego ao final de mais uma etapa educacional, sem dúvida um sonho e um
grande desafio. Cursar o Mestrado foi sem dúvida um grande passo de minha vida.
Para finalizar agradeço à Coordenação do Curso de Mestrado da UNOESC -
Campus Joaçaba. A todos os funcionários que passaram, à Caren Scalabrin,
Camila Franco e ao Thiago Vendramini, pela atenção e cordialidade.
Ao Dr. Sandino Hoff, meu orientador, pela sua dedicação, paciência e acima
de tudo educação, pois é sem dúvida um mestre no trato e atenção aos seus
orientandos.
Às diretoras Edir Maria Gomes Ribeiro Retore e Ana Lúcia Thibes da Escola
de Educação Básica Paulo Blasi, que não mediram esforços para eu realizar esta
pesquisa.
À administradora Geni Motta e todos os profissionais cnicos e professores,
que sempre cederam suas salas e os materiais para realização deste trabalho.
Às minhas diretoras Rosemary Pasqualoto, Suly de Oliveira e Vonecy Darold
pelo apoio e compreensão.
Às minhas diretoras Terezinha Favaretto, Sônia Gris Santos e Elizabete
Machado pelo apoio e compreensão.
Ao Secretário Regional de Campos Novos, por ter permitido a minha
ausência, no período das aulas.
Às professoras Maria Schirley Fagundes Moraes (Diretora de 1962 a 1966),
às professoras Jocelina Santina da Silva Fagundes, Tereza Francisca Gonçalves,
Evanilda Corrêa e Vera Lúcia Santos Brolezzi, pela disponibilidade e carinho com
que me receberam para as entrevistas.
Às minhas amigas de trabalho Maria Elizabete Rigo Lemos, Terezinha
Gonçalves, Adiles Balbosco, e os colegas Ari da Silva e Everton Rogério Cavalheiro,
que sempre me incentivaram para essa tarefa.
A todos os colegas da Secretaria Regional de Campos Novos e aos colegas
da Escola Básica Municipal Novos Campos e Santa Júlia Billiart.
3
Às amigas ia Baggio, Elizete ster, Sônia Maria Zoldam, Nédis Surdi e
Suleide G. Gomes, pelo carinho e incentivo.
À minha grande amiga Enedy Padilha da Rosa, por ter sido uma irmã, amiga
e colaboradora nesta dissertação.
À minha amiga Maria das Vitórias ri Mantovani pela dedicação em digitar e
corrigir esta pesquisa.
Aos meus sobrinhos, Priscila, João Vitor, Dimas, Ana Paula, Felipe, Andréia,
Juliana, Jacqueline e Janaina, os quais foram grandes incentivadores nesse projeto.
Quero agradecer especialmente à minha família, em especial minha mãe
Maria Elizabete, minha irmã Daniélli e meu cunhado Roberto, pela paciência e
dedicação que sempre tiveram comigo; juntamente com meus irmãos Walter,
Rômulo, Ana, Paulo Roberto e José; e as cunhadas Maria Milane, Niria, Célia e
Celina.
Muito obrigada a todos. Juntos somos fortes e alcançamos os nossos
objetivos, sozinhos não somos nada.
4
RESUMO
Esta dissertação tem por objetivo descrever a História do Grupo Escolar Gustavo
Richard do município de Campos Novos, o qual surgiu no segundo período de
instalação dos Grupos Escolares em Santa Catarina, na primeira metade do século
XX. Os Grupos escolares foram os precursores das escolas atuais, que tinham como
principal meta educar o povo brasileiro para os interesses da República. O período
delimitado é de 1934 a 1971, até a sua extinção a partir da Lei 5692/71. O papel
desempenhado pelos Grupos Escolares, as funções sociais, seu ideário e práticas
pedagógicas, foram elementos analisados no decorrer desta investigação. Esta foi
realizada através de levantamento bibliográfico, entrevistas, em documentos e
materiais existentes na escola, hoje a Escola de Educação Básica Paulo Blasi. A
importância do trabalho do professor/a, eles fizeram do Grupo Escolar Gustavo
Richard o educandário mais significativo do município de Campos Novos na primeira
metade do século XX, ressaltando que sendo o primeiro estabelecimento de ensino
estadual, passou a disputar espaço com os estabelecimentos de ensino particulares
que já existiam em nosso município. Este foi o local onde o Departamento de
Educação da época, fazia todas as suas reuniões pedagógicas, repassava as
orientações pedagógicas e as leis que vinham da capital. Também acabou sendo o
referencial para as Escolas Isoladas, uma vez que anexo ao Grupo, funcionava a
Escola Normal Luís Pacífico das Neves, que foi inaugurado em 1941, sendo o
espaço formador dos docentes que veriam a ser professores nas Escolas Isoladas e
no Grupo Escolar Gustavo Richard. A escola estruturada e organizada evoluiu
pouco, mas a Cultura Escolar seus hábitos, costumes e características são a sua
história e os seus rituais o que constrói todos os dias a História da Educação.
Palavras-Chave: História das Instituições Escolares; Cultura Escolar; História da
Educação.
5
ABSTRACT
This thesis aims at describing the history of Gustavo Richard Elementary School in
the city of Campos Novos, which appeared in the second period for installation of
School Groups in Santa Catarina, in the first half of the twentieth century. The school
groups were the forerunners of today's schools, which had as main goal to educate
the people of Brazil for the interests of the Republic. The period is limited from 1934
to 1971, until its extinction from the Law 5692/71. The role played by school groups,
social functions, his ideas and teaching practices were evidence examined during
this investigation. This was accomplished through a bibliographic survey, interviews,
documents and materials in existing school, now the School of Basic Education Paul
Blasi. The important work of the teacher, they have made to the School Gustavo
Richard the most significant primary school in the city of New Fields in the first half of
the twentieth century, noting that as the first educational establishment in the state,
began to compete with providers of space teaching individuals that already existed in
our county. This was the site of the Department of Education at the time, did all their
pedagogical meetings, went over the pedagogical guidelines and laws that came
from the capital. It also turned out to be the benchmark for isolated schools, as
annexed to the Group, operated at the Normal School of Pacific Luís Neves, who
was inaugurated in 1941, while the space trainer of teachers they would be teachers
in isolated schools and School Group Gustav Richard. The school has evolved
somewhat structured and organized, but the School Culture habits, customs and
characteristics are its history and its rituals what builds every day the History of
Education.
Keywords: History Institutions Students; School Culture, History Education.
6
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 7
2 OS GRUPOS ESCOLARES NO BRASIL E EM SANTA CATARINA ................... 15
3 CAMPOS NOVOS E SEU PRIMEIRO GRUPO ESCOLAR ................................... 24
4 A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO NO G. E. GUSTAVO
RICHARD .................................................................................................................. 34
4.1 OS ESTATUTOS ............................................................................................. 36
4.2 OS MODELOS PEDAGÓGICOS ..................................................................... 41
4.3 OS PROGRAMAS ESCOLARES E OS CURRÍCULOS .................................. 51
4.4 OS RITOS CÍVICOS ........................................................................................ 59
4.5 O MOBILIÁRIO E OS MATERIAIS DIDÁTICOS UTILIZADOS ........................ 61
4.6 OS AGENTES ENCARREGADOS DO FUNCIONAMENTO ........................... 64
5 O IDEÁRIO PEDAGÓGICO DA INSTITUIÇÃO ..................................................... 76
CONCLUSÃO ........................................................................................................... 84
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 89
ANEXOS ................................................................................................................... 92
7
1 INTRODUÇÃO
Ao realizar a pesquisa cujo objeto é o Grupo Escolar Gustavo Richard, parti
do recorte do componente curricular em que atuo, ou seja, da História. Assim, posso
representar a importância do Grupo Escolar Gustavo Richard para a vida da
população de Campos Novos, faz parte da história do município, inclusa no
conteúdo que ministro nas escolas.
A história, a cultura, os fatos, que trago à tona sobre a história dessa
instituição camponovense, é uma forma de agradecer a esta terra que o sendo
natal, fez-se minha pelo valor humano e pela ciência de meus educadores, mestres
e, principalmente, pela acolhida que tive e amizade que aqui construí.
O objetivo proposto foi analisar a história do Grupo Escolar Gustavo Richard
desde suas origens, 1934 até 1971, compreendendo-o no contexto da sociedade em
que está inserido. O período delimitado compreende a data de sua fundação até a
extinção dos grupos escolares pela Lei 5.692/71. A escola instalada, o papel por ela
desempenhado, as funções sociais, seu ideário e suas práticas pedagógicas, foram
elementos analisados no decorrer desta investigação. Para tanto, tracei os seguintes
objetivos específicos: a) reconstituir o processo de implantação do Grupo Escolar,
identificando seu espaço físico e sua estrutura organizacional; b) descrever e
analisar os modelos pedagógicos, o programa, os estatutos, o currículo, os ritos
cívicos, a disposição dos agentes encarregados do funcionamento, o mobiliário e o
material didático utilizado; c) apreender o ideário pedagógico que definiu a
identidade da instituição.
Os Grupos Escolares fizeram parte da História da Educação Pública do final
do século XIX, especificamente em Santa Catarina, desde 1910, até o ano de 1971.
Meu interesse em pesquisá-los surgiu na palestra do professor/pesquisador Paolo
Nosella, um italiano naturalizado brasileiro, que trouxe à tona a questão da história
das instituições escolares no I Colóquio Internacional de 2007, realizado pela
UNOESC, suscitando-me a necessidade de conhecer e pesquisar mais sobre o
universo escolar, tão rico e instigante, no qual estou envolvida. Para Nosella e Buffa
(2007), as instituições escolares fundamentam um componente crucial na formação
8
de toda uma sociedade. A escola passa a ser a garantia de mudança ou ascensão
social ao mesmo tempo em que colabora para a manutenção de valores tidos como
essenciais para a ordem capitalista estabelecida.
O Grupo Escolar Gustavo Richard funcionava, inicialmente, em salas de
catequese da Igreja Matriz de São João Batista; salas de madeira e com pouca
estrutura. Recebeu o prédio novo e, posteriormente, aumentou seu espaço físico.
Os grupos escolares diferenciavam-se das escolas isoladas e das escolas
reunidas. Nestas, uma professora ensinava simultaneamente a todos os alunos
agrupados conforme a faixa etária e o nível de aprendizagem. Modernos, os grupos
escolares por sua vez, possuíam uma sala de aula para cada turma, com um/a
professor/a ensinando a partir de novos todos, com uma pedagogia inovadora
que privilegiava a visualização e o uso de material concreto. Esta Pedagogia nova
foi o Método Intuitivo ou Lições de Coisas, como cita Schelbauer (2006, p.133):
Se a intuição é o meio de conhecimento mais natural do qual dispomos, é
este, entre todos, que convirá ao ensino e por excelência ao ensino
primário. Se, dentro da própria intuição, o que há de mais simples e fácil é a
intuição pelos sentidos, é esta que deverá servir melhor à instrução
elementar e começar de alguma forma a obra da educação infantil em todas
as áreas. Enfim [...] se esta maneira de proceder é inerente ao espírito
humano e constitui por sua vez o modo de afirmação mais legítimo e mais
acessível a todos, será então realmente o método do ensino popular (1912,
p.882, TL-grifo meu).
Foi na segunda metade do século XIX que o método foi difundido nos Estados
Unidos da América e na França, como se lê no Dicionário de Buisson. Sua criação e
seu desenvolvimento foram atribuídos a Pestalozzi. Sendo todo ele baseado na
intuição, os sentidos seriam a melhor forma de ensinar às crianças, especialmente
as crianças de classes populares e de pais assalariados, após a segunda Revolução
Industrial. Em seu artigo Schelbauer (2005, p. 136) assim escreve:
Como um saber pedagógico em circulação, o método intuitivo desembarcou
na realidade brasileira na bagagem de nossos intelectuais ilustrados:
homens públicos, reformadores, juristas, proprietários de escolas, diretores
e professores, e se constitui num dos principais elementos de renovação
educacional por eles propostos nos projetos de reforma, pareceres,
conferências pedagógicas e experiências educacionais de vanguarda,
vinculadas a iniciativas governamentais ou de particulares, as quais
acreditavam poder modificar o cenário da nação, modificando-o através da
educação.
9
O elemento de ensino foi essencialmente o Método Intuitivo, desde a criação
dos grupos escolares. Um segundo aspecto a ressaltar foi a sua estrutura
organizacional.
O grupo escolar contava com um diretor, professores responsáveis por cada
classe, secretária e inspetor do Departamento de Educação. A formação e
capacitação para os professores e os instrutores, também fazia parte dessa nova
organização.
A dinâmica educacional assumida pelos grupos escolares chega a Campos
Novos com a instalação do Grupo Escolar Gustavo Richard, no ano de 1934. O
objeto deste estudo tem a finalidade desvelar a origem e o desenvolvimento do
ensino público, revelando os seus limites e suas possibilidades.
A pesquisa baseou-se no levantamento bibliográfico e em documentos e
materiais, encontrados na escola, como livros de Atas de Reuniões Pedagógicas,
Livros de Inspeção, Livros Caixa, Registros de Matrículas, Exposições,
Inaugurações, Diários de Classe, de Exames, Fotos e ainda, Mobiliário que se
encontra na escola até hoje. Foram realizadas entrevistas com ex-alunos, ex-
professores e funcionários da escola. Estas trouxeram uma riqueza imaterial
surpreendente, ou seja, as vidas de muitas pessoas, principalmente aquelas que
sentiram a importância da escola em suas vidas, ao mesmo passo em que
trouxeram amizades, alegrias, tristezas, boas e más impressões sobre o que foram
repassadas, como estas pessoas receberam e repassaram a outras gerações.
Lócus desta investigação, o Grupo Escolar Gustavo Richard constitui-se como
um dos prédios históricos da cidade de Campos Novos, SC, posto que tenha sido
reformado e aumentado com novas construções posteriores. A escolarização na
cidade no período anterior ao grupo foi comentada por Thomé (2002, p. 65):
Localizados no setor Meridional da Região do Contestado, os municípios de
Curitibanos e de Campos Novos eram os mais atrasados do Estado, em
termos de escolarização. No final do século XIX, recém desmembrados de
Lages, contavam com minguadas escolas de primeiras letras (primário) que
serviam apenas às famílias nas vilas. Cerca de 95% das suas populações,
que viviam no campo nas fazendas e nos arraiais periféricos
permaneceram desprovidas da educação escolar por muitos anos, num
triste quadro de analfabetismo que, timidamente, só começou a mudar
depois de 1917.
Criado para atender aos interesses republicanos da época, o Grupo Escolar
Gustavo Richard abriu as portas aos filhos de todas as classes, das mais abastadas
10
às menos favorecidas da sociedade camponovense. Campos Novos nesse
momento histórico era um município essencialmente agropecuário, prevalecendo os
grandes latifúndios, sendo a terra a principal riqueza e o líder político o coronel.
Sendo que até hoje a maior parte da população se encontra na zona rural.
Inaugurado em 15 de julho de 1934, o Grupo Escolar Gustavo Richard
funcionava nos fundos da Igreja Matriz, naquela época, uma construção em
madeira, a qual possuía quatro salas, construída especificamente para esse fim,
pelos padres Scalabrinianos; quando da sua abertura não há registros do número de
alunos, mas a primeira visita da inspeção em 21 de junho de 1935, fez constar 46
alunos matriculados, com uma freqüência de 34 alunos. Percebe-se pelos livros de
Freqüência que estão na escola havia no inicio de seu funcionamento um número
aproximado de 38 alunos, o qual teve um aumento no ano de 1940. A pequena
valorização que a escola possuía em nosso município provinha do fato de, nesse
período, Campos Novos ser essencialmente um município agropecuário, cuja
população não sentia muita necessidade de estudo.
A mudança de nome ocorreu em 1984, por indicação de vereador municipal,
aprovada por unanimidade em 15/02/1984. Na Assembléia Legislativa do Estado, a
mudança foi aprovada em 11/12/1984 e sancionada pela Lei 6.506 de mesma
data, pelo então governador do Estado Esperidião Amin, passando a denominar-se
Colégio Estadual Paulo Blasi. Se junta a essa informação a política do então
governador em valorizar a História Regional, o que aconteceu, também, com o
incentivo governamental na programação de estudos dos pioneiros e dos revoltosos
do Contestado nas escolas oficiais.
Paulo Blasi
1
que deu nome ao colégio em 1984 era filho de descendentes
dos italianos que se radicaram no RS e, também um dos primeiros habitantes do
município de Campos Novos. De 1930 aa sua morte, Paulo Blasi dedicou-se ao
conhecimento, era muito inteligente e autoditada, lia muito e se dedicava a recortar e
1
Ajudava o pai no estabelecimento comercial; realizou o curso ginasial em Caxias do Sul e continuou
os estudos em Lages. Casou, em 1914, com a filha do Coronel Henrique Rupp. Paulo Blasi foi
tropeiro, atravessando estados do RS, SC, PR, até Sorocaba, SP, Posteriormente tornou-se
agropecuarista em seu sítio nos arredores de Campos Novos, atual Fazenda Andreazza, na
conhecida Chapada dos Rupp. Entre 1927 e 1930 foi Conselheiro Municipal (Vereador nos dias de
hoje), Era Superintendente Municipal (prefeito) o Coronel Francisco Alves Fagundes. Foi ainda Juiz
de Paz e um político que se orgulhava de dizer ser um dos poucos em sua região que era seguidor
de Rui Barbosa.
11
guardar dados de Santa Catarina e especialmente de Campos Novos, tornando-se
historiador regional.
Conforme a literatura local, o Grupo Escolar Gustavo Richard formou muitos
cidadãos ilustres, que hoje atuam nos mais diversos segmentos da sociedade.
Refere-se a todas as pessoas que fizeram da instrução, recebida no Grupo, o
suporte para sua formação e construção de sua cidadania. Contudo, esta afirmação
suscita algumas questões: Quais eram os usuários desta instituição nos primeiros
anos de seu funcionamento? que classes sociais pertenciam as crianças
matriculadas no Grupo Escolar Gustavo Richard? Filhos de trabalhadores urbanos
ou provenientes das zonas rurais? Havia outras oportunidades de escolarização
concomitantemente ao Grupo Escolar? Outros questionamentos surgem: Por que o
grupo recebeu o nome de Gustavo Richard? Qual a importância dele para a
população camponovense? Por que a cidade de Campos Novos foi contemplada
com a implantação de um grupo escolar? Em que medida o Grupo Escolar Gustavo
Richard favoreceu a vida cultural da cidade? Existem aspectos que evidenciam o
seu favorecimento ao projeto republicano de expansão do ensino? Que saberes
disseminaram? Como a História do Grupo Escolar repercutiu na memória coletiva da
cidade de Campos Novos? Quais são as peculiaridades de sua origem, de seu
desenvolvimento e de sua identidade?
Responder às questões que nortearam o desenrolar de nossa pesquisa
implicou uma pesquisa bibliográfica e documental. A exploração de fontes primárias
relatórios anuais da direção, atas das reuniões pedagógicas, e termos de visita
das inspeções escolares, livros-caixa, livros de registro de exames e de matrículas e
jornais. Pertencentes ao Arquivo da própria Escola constituem-se recurso
indispensável ao entendimento da história do Grupo Escolar. O que é bastante
intrigante para o historiador, ou seja, causa muitas indagações a mim e aos demais
pesquisadores é a forma de apresentação de todas as Atas das Reuniões
Pedagógicas e os Termos de Visitas, onde todos os inspetores registram que as
reuniões pedagógicas ocorriam de forma exemplar, havendo, pois, reuniões
constantes; encontramos os livros de atas das reuniões pedagógicas, a partir do
dia 18 de fevereiro de 1948; antes dessa data, encontramos o Livro de Visitas e
de Inspeção. Parece que, na passagem do prédio velho para o novo, muita coisa foi
extraviada ou queimada.
12
Delimitamos o período da pesquisa, de 1934 a 1971, por ser o ano inicial e
final do Grupo Escolar Gustavo Richard, de Campos Novos.
No item 4 que descrevemos o Trabalho Pedagógico do Grupo Escolar
Gustavo Richard, aparecem as normas, regras e métodos de ensino que
caracterizaram esta tão distinta instituição de ensino.
No item 4.1 - apresentamos os Estatutos, as normas que eram altamente
cobradas pelos diretores/as do grupo escolar, onde o sino de entrada, respeito aos
professores e direção, disciplina jamais deviam ser esquecidas por todos os
professores e funcionários do Grupo. Principalmente as saídas no turno vespertino
onde era comum devido ao clima muito frio de nossa região; o cuidado com o prédio
público o qual muitas vezes era danificado, fazendo com que os dirigentes tivessem
que empreender recursos para recuperá-lo. Infelizmente um fato que até hoje
envergonha a nossa educação.
No item 4.2 nos modelos pedagógicos aparece como referência de ensino
da época, o todo Intuitivo ou Lições de Coisas, o qual era o modelo de ensino
aprendizagem a ser seguido pelos professores desse período histórico, este método
de Pestalozzi o qual o americano Calkins o divulgou para a América, baseava-se no
olhar e na observação, onde o professor/a deveria ensinar os seus alunos através
dos sentidos, sendo necessária para isso muita orientação pedagógica e variado
material escolar. Percebe-se que este é um fator de suma importância para a
educação.
No item 4.3 são citados os programas de escolares e os currículos, sendo
estes descritos como bem desenvolvidos pelos inspetores, de inicio o Grupo teve
alguma dificuldade de se adaptar onde que da primeira visita de inspeção em 1937,
mas na de 1939, pelo mesmo inspetor foi classificado como dentro do que era
exigido estava sendo cumprido. Destaca-se aqui a ordem dos diários, a forma como
eram ministradas as aulas, especialmente na Leitura, Linguagem oral e escrita,
Aritmética, Geometria, Geografia e Cartografia, História, noções de Ciências,
Caligrafia e Ditado. Sendo sempre ressaltado que a Língua Portuguesa fosse muito
bem ministrada e cobrada, pois era à base das outras. O ensino de Aritmética fosse
trabalhado com números reais, sempre ligados a sua vivência e meio. O ensino de
Geografia com mapas e demonstração prática; a História sempre com muito
entusiasmo para despertar o patriotismo, localizando o aluno no tempo e no espaço.
13
As Ciências sempre procurando levar o aluno a entender e respeitar a natureza;
sempre pedindo cuidados com a caligrafia e a educação de todos os alunos.
No item 4.4 dos Ritos Cívicos por ser um período de adaptação da
República, no nosso caso durante a Era Vargas e todo o período dos governos
democratas de Juscelino Kubitschek e João Goulart, seguidos de toda a Ditadura de
1964, a Pátria e os heróis nacionais, deviam sempre ser muito bem trabalhados e
referenciados; uma vez que a educação como alicerce da sociedade tinha que
mostrar o quanto o cidadão brasileiro deveria respeitar e seguir os seus dirigentes.
Merece destaque aqui também o asseio e a postura do aluno e do professor, sendo
estes muito citados como modelo para a formação da sociedade.
No item 4.5 O mobiliário e os materiais didáticos, sempre fizeram parte
desse grande universo escolar, mas nesse período as dificuldades de mobiliar as
escolas eram muito grandes, a distância, as dificuldades de recursos e
principalmente a pouca importância que dava a educação, é muito bem
representada. Um fato bem intrigante é que no Grupo Escolar Gustavo Richard o
número de carteiras e cadeiras era suficiente, mas muito estragado, mesmo após a
construção do prédio definitivo em 1940, o mobiliário era o mesmo, sendo sempre
citado pelos inspetores como muito ruim, o que o atendia aos preceitos
pedagógicos. O material didático, muito velho e estragado era outro fator muito
citado, pois para a aplicabilidade do Método Intuitivo esta era de fundamental
importância, sendo a visualização e a observação fundamentais para aprendizagem;
estes sem condições de uso inviabilizavam as orientações do Departamento de
Educação.
No item 4.6 dos Agentes encarregados do Funcionamento surgem novos
personagens com o Grupo Escolar dando-lhe uma nova estrutura para a aplicação
dos novos ideais educacionais; com o Grupo Escolar as turmas são seriadas
aparecendo um professor para cada classe, não mais uma professora para várias
turmas como nas Escolas Isoladas, outro fato era a figura do diretor, onde este
passa a ser um orientador do processo ensino aprendizagem, juntamente com o
organizador da parte burocrática ao mesmo tempo em que é o fiscalizador do
Estado. Mais tarde aparece o secretário de escola e o auxiliar de direção, os quais
irão dividir o trabalho do diretor, ao mesmo tempo em que irão dar um aspecto mais
organizacional para a escola.
14
no item 5 O Ideário Pedagógico da Instituição, apresentamos o quanto o
Grupo Escolar Gustavo Richard participou da construção social e política da
sociedade do município de Campos Novos. A instituição escola foi determinante
para a construção de uma identidade muito característica de nossa sociedade, pois
muitos de nossos líderes políticos especialmente os de hoje estudaram no Grupo
Escolar Gustavo Richard, sendo o caminho para uma manutenção ou ascensão
social, aqui mais especificamente a manutenção local de um poder que vinha se
estruturando desde início da formação histórica de nosso município.
15
2 OS GRUPOS ESCOLARES NO BRASIL E EM SANTA CATARINA
Ao abordar a história das instituições escolares, Sanfelice (2006, p. 24)
acentua que elas devem ser investigadas de forma historicizada a fim de interpretar
o sentido que “elas formaram, educaram, instruíram, criaram e fundaram, enfim, o
sentido da sua identidade e da sua singularidade”. Nessa perspectiva, tentamos
caminhar: buscar a identidade e a singularidade da história e das atividades
escolares realizadas no Grupo Escolar Gustavo Richard.
Os grupos escolares foram, inicialmente, implantados no Estado de São
Paulo. Conforme Marcílio (2005, p. 138), a primeira reforma republicana do ensino
paulista ocorreu em 1892, dando origem aos Grupos Escolares e, com ele, uma
nova concepção pedagógica, arquitetônica e social de escola primária. Com isso,
São Paulo tornou-se modelo para todo o país:
Com o empenho e a determinação dos intelectuais do primeiro momento da
República, São Paulo realizou a sua primeira reforma paulista da Instrução
Pública, em 1892, criando um primeiro e aperfeiçoado sistema escolar, [...].
Ela tornou-se o paradigma para todo o país (MARCILIO, 205, p. 137-138).
Para Souza (2006a, p. 35):
De fato, no final do século XIX, a universalização do ensino primário era um
fenômeno consolidado em muitos países europeus e nos Estados Unidos
da América. No bojo desse processo a escola primaria foi (re) inventada”:
novas finalidades, uma outra concepção educacional e uma outra
organização do ensino. O método individual cedeu lugar ao ensino
simultâneo; a escola unitária foi, paulatinamente, substituída pela escola de
várias classes e vários professores, o método tradicional cedeu lugar ao
método intuitivo, a mulher encontrou no magistério primário uma profissão,
os professores e professoras tornaram-se profissionais da educação.
Conforme a autora, os grupos escolares tornaram-se um novo modelo de
escola “instituído como símbolo de modernização do ensino, em sintonia com
expectativas em relação ao desenvolvimento social e econômico” (SOUZA, 2006b,
p.115).
Faria Filho (2000, p. 21) destaca que:
16
Esse movimento de afirmação de uma nova forma escolar, que vinha se
dando desde meados do século XIX, produz como seu símbolo mais
acabado, os grupos escolares, cuja representação, nos documentos
analisados, é construída em estreita relação com a forma de organização
anterior da instrução pública as escolas isoladas -, sugerindo sempre,
através da utilização de um “esquema lógico” binário e polarizado, que o
movimento se faz do “arcaico” para o “moderno”, do “velho” para o novo”,
dos pardieiros para os palácios, ou ainda, que, nos grupos escolares,
finalmente, a instrução e os diversos outros aspectos da educação
contemporânea lograriam realizar-se numa única e autorizada instituição,
num mesmo tempo e lugar, como educação escolar.
Na fase áurea de implantação dos grupos escolares, os terrenos eram muito
bem escolhidos e os prédios suntuosos, “situados em regiões nobres, esses
edifícios marcam definitivamente, pela imponência e localização, seu significado no
tecido urbano” (BUFFA, PINTO, 2002, p.43-44).
Estevam de Oliveira, um inspetor escolar mineiro de formação militar, ficou
impressionado em sua visita a um grupo escolar paulista. Conforme Faria Filho
(2000, p. 29), o contato de Estevam de Oliveira e de outros inspetores com essa
forma de organização escolar produziu uma nova representação:
Possível para alguns através de visitas e estudos fora do país e, para
outros, através de visitas comissionadas a outros estados brasileiros, como
no caso de Estevam de Oliveira, o contato com as inovações pedagógicas,
aliado ao exercício mesmo da inspeção, possibilitava a alguns inspetores,
aos professores e mesmo aos políticos mineiros produzirem uma
representação dos grupos escolares como a instituição que, materializando
as perspectivas e expectativas mais inovadoras e modernas em termos de
instrução primária, significaria um rompimento definitivo com a escola
imperial, tradicional e arcaica, cuja representação acabada era a escola
isolada.
Faria Filho (1990, p. 27) traz à tona a grande preocupação de se romper com
os laços ou resquícios do período Imperial em nosso país:
Em Minas Gerais, como em outras regiões brasileiras, a educação e a
instrução primária eram vistas como uma das mais poderosas armas no
combate às supostas conseqüências maléficas deixadas pelo Império e pelo
trabalho escravo: a apatia do povo frente à vida pública (e à república de
uma maneira geral), a aversão ao trabalho manual, dentre outros. (FARIA
FILHO, 2000, p. 27)
Em Santa Catarina não foi diferente:
17
Na primeira década do século XX, o governador de Santa Catarina, Gustavo
Richard (1906-1910), considerado um republicano ardente, busca
implementar algumas ações afinadas com o desenho daquilo que vinha
sendo construído nos estados de São Paulo e Minas Gerais, tidos, nesse
período, como referência de modernidade (principalmente o primeiro) em
termos de ensino. (SILVA, 2006, p. 343)
Contudo, os primeiros registros acerca dos grupos escolares no Estado datam
de 1904, na Reforma Pública do Estado.
Essa mesma lei registra um projeto de escolarização para o estado, o de
substituir gradualmente as “escolas singulares” por grupos escolares. [...] A
lei, como sinal da evolução que se firma, sinaliza a unidade que marcava os
dois projetos: o dos grupos escolares e o das Escolas Normais (SILVA,
2006, p. 342).
Em 1907, a Lei 765 autoriza Gustavo Richard “a contratar para lecionar na
Escola Normal e reorganizar o respectivo curso um professor de comprovada
competência no exercício do magistério” (SILVA, 2006, p. 344). É com esse intuito
que Orestes Guimarães, renomado professor paulista, é contratado pelo governador
para dirigir o Colégio Municipal de Joinville.
Nascido em Taubaté, a 27 de fevereiro de 1871, Orestes Guimarães formou-
se professor pela Escola Normal da Capital paulista. Iniciou o magistério em uma
escola rural de sua cidade. Foi diretor do Grupo Escolar Dr. Lopes Chaves em
Taubaté. Organizou e dirigiu Grupos Escolares do ensino público paulista. Conforme
Nóbrega (2003, p. 261), em 1907, quando Orestes Guimarães foi designado para
dirigir o colégio Municipal de Joinville, ele “era profissional da confiança da Diretoria
da Instrução Pública daquele Estado [...] experiente e familiarizado com as diretrizes
do ensino primário de seu Estado”.
Dessa forma, adentramos um pouco na modernização da educação escolar,
ocorrida na Primeira República. Servimo-nos do exemplo de uma região catarinense,
vizinha do Paraná, cuja maior exportação era o mate. A modernização da instrução
pública primária no norte do estado de Santa Catarina, cujo centro, Joinville, estava
muito ligado às transformações econômicas, teve como reformador Orestes de
Oliveira Guimarães, contratado pelo grupo político no poder em 1907,
especificamente pelo prefeito Oscar Schneider e pelo seu genro Abdon Batista,
coronel político, líder do Conselho dos Intendentes, dono da Abdon Batista & Cia e
denominado “oligarca do mate”. O professor paulista procurou por em prática uma
nova organização do ensino público primário numa perspectiva moderna de
18
educação de acordo com as diretrizes do ensino primário do estado de São Paulo,
onde ele atuava. Tudo indica que Orestes não conseguiu fazer a reforma como ele
sonhava, o somente por questões financeiras, mas também por falta de apoio do
governo e de o-de-obra capacitada: “Deixo de fazê-lo devido à inoportunidade”,
escreve o próprio. (GUIMARÃES, 1909, p. 1). Dois anos após, o primeiro grupo
escolar de Santa Catarina foi inaugurado em Joinville, conforme noticia o JORNAL
DO COMMERCIO de Joinville, de 12 de agosto de 1911:
Para adquirir característica de grupo escolar, o Colégio Municipal de
Joinville passou por uma sensível modificação, ficando com oito salões
espaçosos para aulas, um gabinete para o director, salas de depósito e
arrecadação e galpões para os dias lidos ou chuvosos. O edifício será
forrado e novamente pintado e caiado e terá um porteiro e um servente.
Orestes introduziu os quadros negros nas paredes das classes com o objetivo
de facilitar “muitíssimo o ensino de todas as matérias, principalmente aquellas que
dependerem do processo tabulário” (GUIMARÃES, 1909, p. 15). Além dos quadros
negros, outros materiais completavam a mobília escolar carteira e cadeira
individuais para os alunos o que era encarado como fator de higiene e disciplina.
Orestes, porém, critica a reforma do Collegio Municipal de Joinville, quando ainda
não havia sido alçado a grupo escolar: “visto a mobília actual ser a mais anti-
higiênica, incommoda e impprópria á disciplina” (GUIMARÃES, 1909, p. 15),
acrescentando que a criança não aprende quando sentada durante cinco horas em
cima de “taboas duras e sem encosto”. Orestes retornou a Taubaté em 1909.
Em 1910, retorna à Santa Catarina na condição de Inspetor Geral da
Instrução em novo entendimento entre as administrações dos dois Estados para
dar nova organização ao ensino público primário do Estado. O convite foi do
governador Vidal Ramos, pertencente à família conservadora de fazendeiros do
planalto catarinense, que transformou o Colégio Municipal de Joinville em grupo
escolar e construiu o Grupo Escolar Lauro Müller, inaugurado em 1912 e o Grupo
Escolar Vidal Ramos, em Lages, sua cidade natal, inaugurado em maio de 1913,
com dois andares. Foi o maior e o mais suntuoso prédio escolar construído no
período Vidal Ramos. Construiu, também, o Grupo Escolar Victor Meirelles na
cidade de Itajaí. Construiu, ainda, o grupo escolar de Laguna, Jerônimo Coelho e
Luiz Delfino de Blumenau.
19
A partir de então, os grupos escolares configuraram um novo cenário de
construção social, moral e ética, integrando o projeto republicano catarinense de
reinvenção das cidades.
Para Nóbrega (2003, p. 253), os grupos escolares podem ser entendidos
como:
[...] as primeiras escolas públicas primárias que no Brasil utilizaram-se de
uma forma de organização administrativa, programática, metodológica e
espacial baseadas nas concepções educacionais de tipo “moderno” [...]
fundadas num ideal de racionalização, pode-se dizer numa economia
escolar, dominantes na Europa e nos EUA na segunda metade do século
XIX e início do século XX.
Instaurados no regime republicano, esse novo modelo de organização
escolar, tipicamente urbano, deveria estabelecer uma relação de identidade entre a
instrução pública e o novo regime político, conforme relata Nóbrega (2003, p. 258):
Sob o regime republicano desenvolveu-se uma retórica educacional oficial
que procurou identificar o ensino público e suas reformas à constituição ou
ao fortalecimento da nacionalidade, da cidadania e da democracia,
associando-os ao novo, à eficácia administrativa e ao moderno,
representados pelo regime republicano; em oposição ao velho, ineficaz e
retrógrado, representados pelas instituições do regime imperial.
As escolas primárias, ou de primeiras letras, típicas do período imperial,
foram, gradativamente, substituídas por outro modelo de organização escolar,
conforme descreve Saviani (2006, p. 24):
Na estrutura anterior, as escolas primárias, então chamadas também de
primeiras letras, eram classes isoladas ou avulsas e unidocentes. (...) E
estas escolas isoladas, uma vez reunidas, deram origem, ou melhor, foram
escolares substituídas pelos grupos
.
Os grupos escolares reuniam características bem distintas das escolas de
primeiras letras, também chamadas escolas isoladas, conforme demonstra Souza
(2006b, p. 114):
[...] fundamentava-se essencialmente na classificação dos alunos pelo nível
de conhecimento em agrupamentos supostamente homogêneos, implicando
a constituição de classes. Pressupunha, também, a adoção do ensino
simultâneo, a racionalização curricular, o controle e a distribuição ordenada
dos conteúdos e do tempo [...], a introdução de um sistema de avaliação, a
divisão do trabalho docente e um edifício escolar compreendendo várias
salas de aula e vários professores.
20
Nesse sentido, a instauração de tais instituições requeria uma nova forma de
organização administrativa, programática, metodológica e espacial: material escolar,
livros didáticos, disciplina, ensino, programa, novos prédios, novas mobílias.
Atendendo às novas necessidades sociais, uma nova forma de organização do
trabalho pedagógico se fez necessária e, conseqüentemente novas funções sociais
foram assumidas.
Por organização do trabalho pedagógico, ou conforme Alves (2005),
organização do trabalho didático, entende-se tanto a prática docente que envolve a
relação professor/aluno, quanto o planejamento curricular, as metodologias
utilizadas, os recursos aplicados, como também a organização do espaço físico no
qual se desenvolve a prática educativa. As necessidades e as funções se
relacionam diretamente com a origem e o desenvolvimento; as instituições escolares
tiveram origem a partir de uma necessidade histórica e seu desenvolvimento ocorreu
aliado às funções que foi chamada a desempenhar na sociedade.
Para Alves (2005, p. 10-11), a análise da organização do trabalho didático
envolve três aspectos:
a) ela é, sempre, uma relação educativa que coloca, frente a frente, uma
forma histórica de educador, de um lado, e uma forma histórica de
educando(s), de outro; b) realiza-se com a mediação de recursos didáticos,
envolvendo os procedimentos técnico-pedagógicos do educador, as
tecnologias educacionais pertinentes e os conteúdos programados para
servir ao processo de transmissão do conhecimento, c) e implica um espaço
físico com características peculiares, onde ocorre.
Se no período imperial, nas escolas isoladas, um só professor ministrava
aulas a um grupo de alunos de diferentes idades e em diferentes níveis de
aprendizagem, nos grupos escolares essa relação educativa mudou: os alunos
foram agrupados por idade e de acordo com o nível de aprendizagem: “em cada
sala de aula uma classe referente a uma série; para cada classe, um professor”
(SOUZA, 2006b, p. 114).
Santa Catarina seguia o curso da história. Segundo Silva (2006, p. 347), “a
Reforma da instrução catarinense autorizada em 1910 e levada a efeito em 1911
sob o comando de Orestes Guimarães é tida como a mais importante reforma do
ensino desse Estado”.
Orestes introduziu nos grupos escolares o que considerava de fundamental
importância. Para ele, a organização da escola moderna apoiava-se nos itens
21
seguintes: Prédio Escolar, Mobília Escolar, Material Escolar, Livros Didáticos,
Disciplina, Ensino e Programa.
O prédio escolar o Grupo Escolar deveria apresentar uma simetria
bilateral, de modo que as seções masculinas e femininas ficassem em lados opostos
e separados por um pátio interno, com compartimentos internos espaçosos,
arejados, com amplas janelas, de modo que a claridade incidisse adequadamente
na carteira do aluno. Poderia ter de oito a doze salas de aulas, metade para cada
seção, além das salas de depósito, galpões e gabinete do diretor (NÓBREGA, 2003,
p. 253-255).
Equipou o grupo escolar com o gabinete de física e química, o museu natural,
mapas, murais para o ensino de ciências naturais, mapas para o ensino de
geografia, globo terrestre, quadros de Parker para o cálculo mental. Esse material
escolar serviria de apoio para a aplicação das lições de coisas que realizava o
ensino a partir do objeto concreto, da coisa, ou de sua representação material para,
depois, chegar-se à conceituação dela. Afirma Guimarães: “Este material adaptado
nas escolas de São Paulo, feito sob a direcção do Pedagogium Brazileiro, é dos
melhores e resiste a qualquer critica, como material didactico” (GUIMARÃES, 1909,
p.16).
A “litteratura didactica” – isto é o manual didático deveria caracterizar-se por
ser “attrahente, facil, seriada, passional proporcionalmente ás forças do alumno,
enfim, correcta, quanto à forma e quanto ao fim” (GUIMARÃES, 1909, p.17). Era
fundamental porque “com um livro de leitura escolhido, o professor faz a leitura
propriamente, a linguagem, a historia, a geographia, a educação cívica e pode dar
amplas licções de cousas” (GUIMARÃES, 1909, p. 23).
A disciplina é outro elemento essencial na racionalidade da “moderna
pedagogia”, na medida em que ela, além de expressar certa visão de
comportamento social, tornaria possível a aplicação do ensino simultâneo, em
oposição ao ensino individual ou ao ensino mútuo. Guimarães assim se expressa a
respeito: “Fonte de inexgottaveis aproveitamentos educativos; base geral e
primordial das organizações escolares: ordem para ter progresso é, pois para a
disciplina que deve convergir às vistas de todos os directores a par do ensino
propriamente dito” (GUIMARÃES, 1909, p.18). A disciplina deveria ser determinada
pelo poder público. Daí, a grande difusão com a reforma de regulamentos,
regimentos internos, etc.
22
Conforme Silva (2006, p. 345) essas modernas instituições foram projetadas
para abrigar os pressupostos do método intuitivo ou lição de coisas.
É preciso recordar que existia, desde a segunda metade do século XIX, nos
Estados Unidos, uma reflexão sobre as práticas pedagógicas como destaca
Valdemarin (2001, p. 158):
No cerne da renovação pedagógica, encontra-se a elaboração e difusão de
um novo método de ensino: concreto, racional e ativo, denominado “ensino
pelo aspecto”, lições de coisas” ou “ensino intuitivo”. O novo método pode
ser sintetizado em dois termos: observar e trabalhar. Observar significa
progredir da percepção para a idéia, do concreto para o abstrato, dos
sentidos para a inteligência, dos dados para o julgamento. Trabalhar
consiste em fazer do ensino e da educação na infância uma oportunidade
para a realização de atividades concretas, similares àquelas da vida adulta.
Aliando observação e trabalho numa mesma atividade, o método intuitivo
pretende direcionar o desenvolvimento da criança de modo que a
observação gere o raciocínio e o trabalho prepare o futuro produtor,
tornando indissociáveis pensar e construir.
Pelo método intuitivo ou lições de coisas o ensino ocorreria de forma
simultânea utilizando recursos como mapas, gravuras, jogos, coleções. Teive (2008,
p. 117) complementa:
Para além da palavra do/a mestre/a ou do compêndio, propunha-se então o
contado direto com as coisas, ou seja, as lições de coisas, as quais
deveriam converter-se segundo Rui Barbosa, no “espírito do programa da
escola primária”, não devendo, por esta razão, ser tratadas como “um
assunto especial do plano de estudos: é um método de estudo; não se
circunscreve a uma secção do programa: abrange o programa inteiro; não
ocupa a classe, um lugar separado, como a leitura, a geografia, o cálculo
ou as ciências naturais: é o processo geral, a que se devem subordinar
todas as disciplinas professadas na instrução elementar. (TEIVE. 2008 p.
117).
Segundo ela, os conhecimentos de Orestes Guimarães seguem a
transformação da educação centrada na formação do professor e não apenas na
mudança do Método, uma vez que o professor acabava reproduzindo o ensino como
ele recebeu em seu tempo escolar, enquanto aluno.
A pedagogia moderna é sedimentada na crítica a memória, considerada
uma faculdade humana primitiva, compartilhada com organismos inferiores
na escala da evolução e com práticas educativas violentas e dogmáticas
associadas à cultura erudita e a formas de disciplinas intelectuais e moral.
Vista pelos republicanos como a principal responsável pelo atraso da
instrução brasileira e, conseqüentemente, pelo atraso no desenvolvimento
econômico da nação, a prática da memorização e do verbalismo, carro-
chefe do antigo método de ensino deveria ser substituída pelo método
23
intuitivo, fundado numa nova forma de conceber o conhecimento, iniciada
no século XVII, a qual preconizava que a origem do conhecimento são os
sentidos humanos. Para além da memorização e da repetição de palavras e
de textos, o novo método de ensino propunha o contato direto da mente
com a coisa, com o objeto, com a natureza: intueri, intuitus. E foi justamente
para assegurar aos modernos/as professores/as a sua aplicação nas
escolas primárias renovadas que surgiram, no final do século XIX, os
chamados manuais de lições de coisas, escritos por pedagogos
pestalozzianos. Foi através desses manuais, especialmente o de autoria do
professor norte-americano Norman Allison Calkins, que o professorado
brasileiro e catarinense, em particular, tiveram acesso ao novo método.
(TEIVE, 2008, p. 34).
Segundo Silva (2006, p. 354) “os quadros negros, as carteiras e cadeiras
individuais eram novidades pedagógicas que entravam com pompa nos grupos
escolares”. Conteúdos, métodos, organização espacial, assepsia, organização do
tempo, materiais pedagógicos, programas de ensino, organização administrativa,
foram aspectos alguns novos, outros transformados que adentraram a instituição
escolar a partir da criação dos grupos escolares.
Santa Catarina não estava fora desse movimento:
As obras didáticas a serem usadas nas escolas públicas também integram o
esforço de organização de uma nova estrutura administrativo-pedagógica
para as escolas catarinenses. Os livros de leitura são alvos constantes de
controle do Estado. (SILVA, 2006, p. 358).
Frente ao ideário educacional republicano, buscou-se, nessa investigação, o
ideário político-pedagógico que definiu a identidade do grupo Escolar Gustavo
Richard. Saviani (2007, p. 24) posiciona-se: “Propor-se a reconstruir historicamente
as instituições escolares brasileiras implica admitir a existência dessas instituições
que, pelo seu caráter durável, tem uma história que nós não apenas queremos como
necessitamos conhecer”.
Nesse sentido, ao levantar a história do Grupo Escolar Gustavo Richard, de
Campos Novos, tentamos desvelar sua origem e seu desenvolvimento, descrever e
analisar como a instituição organizou seu trabalho pedagógico e que ideário político-
pedagógico assumiu. Para tanto, recorremos à pesquisa bibliográfica e documental,
utilizando os princípios do referencial da ciência da história, partimos do singular a
história do Grupo Escolar Gustavo Richard em suas particularidades para o
universal, ou seja, buscamos desvendar a história de uma instituição singular em
suas relações com a sociedade que a acolheu.
24
3 CAMPOS NOVOS E SEU PRIMEIRO GRUPO ESCOLAR
O Município de Campos Novos, situado no Planalto Sul Catarinense, ocupado
anteriormente pelos indígenas, possui, atualmente uma população de 28.447
habitantes, segundo dados do IBGE 2008, originada da miscigenação ocorrida entre
os primeiros habitantes, os descendentes de europeus (portugueses, espanhóis) e
os africanos, nas primeiras décadas do século XIX. No final da década de 1800,
vieram alemães, italianos, ítalo e teuto-brasileiros à região. Sua história econômica
alicerçou-se nas atividades agropecuárias.
Campos Novos integrou o território lageano, em 1854, e curitibanense, a partir
de 1869, quando Curitibanos emancipou-se de Lages. Tornou-se município em 30
de março de 1881, ainda na época do regime imperial no Brasil, no governo de Dom
Pedro II.
Campos Novos, início do século XX
Fonte: Acervo do Arquivo Histórico e Museu Municipal de Campos Novos.
Os primeiros povoadores, atraídos pelas terras férteis dos campos,
construíram suas moradias nas respectivas posses, que, posteriormente lhe foram
asseguradas e legalizadas em caráter gratuito pelo Governo da Província (BLASI,
1994, p. 23). Nesse período, a educação era particular com professores contratados
que muitas vezes, recebiam o dinheiro e acabavam sumindo do local devido à falta
de infra-estrutura. Sendo assim, a educação era privilégio de poucos; além do que
não havia, ainda, a necessidade social em adquirir maiores conhecimentos. Aos
homens cabia aprender a ler, contar e escrever o seu nome; assim ele saberia
25
negociar a compra de gado e terras, para as mulheres havia necessidade de
aprender somente as “prendas domésticas”. ( Acervo da Historiadora Enedy Padilha
da Rosa)
Durante os primeiros anos da República, o Brasil passou por um período de
revoltas, crises financeiras e políticas, principalmente pelo descontentamento da
população. Em Santa Catarina isso se evidenciou com a Guerra do Contestado
(1912-1916). O Estado reivindicou o território que o Paraná considerava de sua
propriedade. O litígio recrudesceu com os impostos sobre a erva-mate cobrados
pelos dois estados. A região contestada ficou acordada em 1916 com a
determinação dos limites atuais. Paralelamente, ocorreu a revolta dos sertanejos e
dos caboclos, desapropriados de suas terras, de seus ervais e de sua madeira. O
que cimentou a revolta foi à messiânica, diferenciada da católica oficial. Os
caboclos foram atacados pelo exército nacional, vencendo a batalha do Irani. José
Maria o líder dessa primeira fase da Guerra do Contestado chegou a curar em
Campos Novos a esposa do coronel Francisco Almeida, através de ervas, após ela
ter dado à luz a seu filho. Assim toda a população começou a seguir seus
ensinamentos e a tomar os chás que o monge José Maria ensinava; pois havia
passado e pregado nessa região o monge João Maria, o qual também recitava
versos bíblicos e conclamava o povo para a luta contra a opressão.
A educação brasileira vivia, nesse momento, um período de transição com a
substituição das escolas isoladas pelas escolas reunidas e pela criação dos grupos
escolares. Em Santa Catarina, a implementação das reformas educacionais seguia o
modelo do Estado de São Paulo, conforme afirma Silva (2006, p. 344):
Por essa mesma lei [Lei nº 765, de 17 de setembro de 1907], ficou o
governador Gustavo Richard autorizado a contratar, para lecionar na Escola
Normal e reorganizar o respectivo curso, um professor de comprovada
competência no exercício do magistério, em alguns dos estados em que a
instrução tivesse “conseguido mais adiantamento”. Atos posteriores indicam
que São Paulo se efetivou como estado de referência. A contratação de um
educador disponibilizado pelo governo paulista selaria essa intenção. [...]
Como relembra a professora Inês, “no tempo de Vidal Ramos ele conseguiu
de São Paulo um educador de muito valor: Orestes Guimarães. Foi ele
quem estabeleceu tudo sobre educação (...) dali por diante tudo estava
documentado (...)”.
Na região do meio oeste de Santa Catarina o processo de escolarização era
deficitário. Havia apenas escolas particulares; o ensino público, mantido pelos
municípios, era precário, atendendo a poucos. Ter conhecimento significava ter
26
poder, uma vez que a minoria tinha acesso à instrução acadêmica. Em Campos
Novos, somente os filhos dos coronéis, de grandes proprietários rurais (chamados
de fazendeiros) ou de comerciantes freqüentavam escola. Segundo Blasi (1994), a
primeira escola desse município teria sido o Colégio Serrano, criado em 1907, de
propriedade do professor Eurico Bacellar. Sobre esse estabelecimento de ensino,
Blasi (1994, p. 110 e 111), afirma:
Mantinha curso primário e secundário, compreendendo-se a educação,
moral e intelectual. Nota publicada no Jornal “A VANGUARDA” de 8 de
dezembro de 1907, informava que no primeiro ano, o ensino da Constituição
era obrigatório, em lugar do “francês” que seria administrado no segundo.
O Colégio Serrano, criado antes do G. E. Gustavo Richard era particular e
não existia mais quando da inauguração do G. E. Gustavo Richard. Foi à instituição
de ensino mais antiga da cidade. Suas mensalidades para o ano de 1908 eram de
18$000 (dezoito mil réis) para o curso preliminar e 35$000 (trinta e cinco mil réis)
para o curso secundário e teriam que ser pagas adiantadas. No curso preliminar,
eram ministradas as seguintes disciplinas: Aritmética, Geografia, História do Brasil,
Noções de Português, Caligrafia e Leitura. Faziam-se exames finais no Colégio
cujos resultados eram apresentados em solenidades nas quais compareciam pais de
alunos e autoridades. Cita Blasi (1994, p. 111), que na solenidade de 1907, na
entrega dos resultados finais, estava presente o Superintendente Municipal (prefeito
municipal), Coronel Francisco Alves Fagundes. Deu-se, na ocasião, a premiação
dos alunos Lauro Rupp (formou-se engenheiro agrônomo e foi o primeiro prefeito de
Joaçaba, SC) e Antonio Bottini (médico), ambos filhos de grandes proprietários
rurais.
Outras instituições de ensino ministravam aulas no município, todas
particulares, como a escola das Irmãs do Sagrado Coração de Jesus que se
chamava Colégio Nossa Senhora de Notre Dame, o qual estava localizado onde
hoje está a atual Prefeitura
2
.
2
Em entrevista, a professora da rede estadual de ensino e funcionária pública conta sobre o requinte
que era viver nesse educandário. O lote era grande, havia lugar para criação de vacas para o leite, de
porcos e galinhas para o consumo. Relata, com muito carinho e admiração, os ensinamentos que
recebeu das Irmãs. O terror também estava presente, contam as entrevistadas: quadros, nas paredes
do segundo andar do prédio, traziam a figura do demônio com o garfo e as correntes. Serviam para
disciplinar; quem não cumprisse suas obrigações seria levada para uma sala escura onde se
localizava o quadro; desta forma, ninguém ousava desrespeitar as normas do colégio. A ex-aluna
lembra os hinos que eram decorados e muito bem cantados em todos os atos cívicos.
27
Relata Blasi (1994, p. 113) que, o então 2º Superintendente Municipal Capitão
Francisco Alves Fagundes, em seu relatório de janeiro de 1908, descreve sua
preocupação com a educação em Campos Novos:
É simplesmente lastimável o abandono em que se acha a Instrução pública
neste município. Tivemos duas escolas municipais e atualmente
subvencionamos uma terceira, no quarteirão de Canoas; entretanto 1.200
creanças sedentas de luz e saber choram por escolas. As dificuldades que
tem o honrado chefe de governo do Estado, em encontrar professores que
venham até aqui é explicável pelo exíguo ordenado que recebem. O
município subvenciona o Colégio Serrano, porém ali pode ter entrada
seis meninos, por conta da Superintendência, eram justo que creasseis uma
escola na Villa, ou autorizásseis a entrada de maior número de crianças
naquele Colégio. (Relatório de Francisco Alves Fagundes. Apud BLASI,
1994:113).
Ainda na obra de Blasi (1994, p. 116) encontramos a informação de que, por
volta de 1924, chegou a Campos Novos, uma professora normalista. Ela exerceu a
profissão na região de Lages, São Joaquim e Campos Novos. Lageana de
nascimento administrava uma escola num barracão ao lado da Igreja Matriz com
uma auxiliar. Conforme Blasi (1994, p. 117) ela “conseguia manter em absoluta
ordem um grande número de alunos do 1º, e anos primários num único horário
de atividade e numa única sala de aula”. Posteriormente a escola mudou-se para a
“casa de Pedra” que fora do Sr. Francisco Blasi. Em dezembro de 1924, o jornal “O
Município” anunciava, com destaque, a realização dos exames da única escola
pública existente na vila, regida pela exma. “Professora”.
Existiam em Campos Novos apenas escolas particulares e uma escola
pública municipal que não atendiam à crescente demanda de pessoas que
passavam pelo município e acabavam se instalando devido à abundância de terras,
fáceis de tomar posse ou de comprar por preços muito baixos. Assim, as pessoas
foram tomando posse. Além do tropeirismo que era muito forte na região, a partir
dos movimentos como a Revolução Farroupilha e Federalista do Rio Grande do Sul,
o número de estrangeiros começara a aumentar significativamente na região.
A vinda dos imigrantes e o movimento dos tropeiros, que traziam produtos de
Sorocaba para trocar por charque e couro no Rio Grande do Sul provocaram o
crescimento das vilas e um novo delineamento de seus povoados. Novas
necessidades começaram a surgir; melhorias na organização política, seguida pela
religiosidade e depois a escola. Embora muitos dos habitantes contratassem
professores para seus filhos, conforme conta uma ex-professora em entrevista, sua
28
mãe e suas tias tiveram aulas em casa com professores particulares, isso nas
décadas de 20 e 30, do século passado. Ela própria estudou em escola
multisseriada, na época chamada escola isolada, na 1ª e 2ª séries, e o restante no
Grupo Escolar Gustavo Richard. Com o crescimento populacional a criação de
novas escolas tornava-se uma necessidade premente.
Nesse contexto é criado o Grupo Escolar Gustavo Richard, situado na região
sudeste da cidade, fundado em 15 de julho de 1934, no segundo momento da fase
de expansão dos grupos escolares em Santa Catarina. Na inauguração estavam
presentes, conforme consta no Livro de Visitas, de 08 de junho de 1934 (ANEXO
6), além do Interventor Municipal, o senhor Professor Luis Sanches da Trindade,
Diretor da Instrução Pública do Estado; o Sr. Dr. Pedrosa, digníssimo Juiz de Direito
de Indaial, fez-se representar pelo Sr. Professor Elpídio Barbosa, Inspetor Escolar. O
primeiro foi o autor da Reforma Educacional, denominada Reforma Trindade e o
último foi escolhido para nome do Grupo Escolar de Fraiburgo, inaugurado em 1962.
Godói (2009, p. 3) escreve que os prédios dos grupos escolares, enquanto
símbolos da cultura leiga e popular e do regime político que valorizava a educação
foram construídos sob uma arquitetura imponente e a escolha das cidades obedecia
a critérios variados:
A escolha das cidades a serem contempladas, logo nos anos iniciais da
Reforma, obedeceu a critérios que variaram desde a densidade de crianças
em idade escolar, passando pelas influências políticas e pressões, até a
importância econômica do município. Com funcionalidade marcante, os
grupos escolares foram projetados para propiciar uma formação integral
(física, intelectual e moral dos alunos), obedecendo a princípios de higiene e
de salubridade, e também um ambiente agradável à criança.
No entanto, continua a autora, “o alto crescimento demográfico de uma
sociedade que caminhava para o desenvolvimento urbano-industrial exigia mais e
mais escolas [...]. Aos poucos, os grupos escolares foram perdendo o prestígio das
primeiras décadas de sua institucionalização [...]”. É nessa fase que em Campos
Novos instalou-se seu primeiro grupo escolar.
O G. E. Gustavo Richard funcionava, inicialmente, em um prédio pertencente
aos padres, conforme relata o inspetor José Joaquim de Lima Oliveira, em visita à
escola em junho de 1935:
4 – Prédio e suas dependências: o prédio pertence aos padres; e, apesar de
haver sido construído para um colégio, apresenta defeitos tais como:
algumas salas de aula mal ventiladas, janelas sem vidraças, uma escada
29
com muitos degraus, etc. o seu estado de conservação é regular. O pateo
de recreio é vasto, mas não tem galpão.
5 Mobiliário: o mobiliário e o material didático estão em bom estado de
conservação.
Torna-se indispensável, porém, a aquisição de vidraças e cortinas, em
número suficiente, 11a fim de evitar que o sol penetre nas salas,
prejudicando o estado do mobiliário e perturbando o trabalho dos alunos.
(Livro Termo de Visita de 27/06/1935)
O Grupo homenageou o ex-governador do Estado, Gustavo Richard, um
grande defensor da educação blica. Natural do Rio de Janeiro, foi vice-presidente
de Santa Catarina, tendo assumido o governo de 8 de outubro de 1890 a 12 de
junho de 1891 (substituindo Lauro Müller) e de 21 de novembro de 1906 a 28 de
setembro de 1910.
No curto espaço de seu primeiro governo duração de oito meses quando
substituiu Lauro Muller, já manifestou sua preocupação com a instrução pública:
Um dos ramos mais importantes do serviço público, que a meu ver, não tem
dado os resultados que se esperava dos sacrifícios feitos para consegui-lo é
a instrucção publica.
[...]
Para levantar o ensino do abatimento em que jaz, seria de toda urgência
uma reforma profunda, e muito concorreria para isso a creação de uma
Escola Normal onde se preparassem candidatos aptos para o magistério e
conhecedores dos methodos mais adiantados da pedagogia moderna
(Mensagem do coronel Gustavo Richard, governador do estado de Santa
Catarina, na abertura do congresso constituinte a 28 de abril de 1891.
(WIKIPÉDIA, 2009)
No último ano de seu segundo mandato escreveu:
Tenho procurado durante a minha administração dar grande
desenvolvimento á instrucção primaria, creando o maior número de escolas
de accordo com os recursos orçamentários, e me sinto feliz em comunicar-
vos que os meus esforços foram coroados pelo resultado satisfactorio que
obtive. A matricula que, em 1906, era 4.979 alumnos elevou-se em 1909 a
7.792, sendo que a frequencia media daquelle anno de 3, 471 alumnos
passou a ser neste de 6.041, mostrando uma differença em quatro annos de
2570 ou mais de 43% (Mensagem lida pelo exmo. Sr. coronel Gustavo
Richard, governador do estado, na sessão ordinária da legislatura do
congresso representativo em 17 de setembro de 1910. (WIKIPÉDIA, 2009)
Em 9 de dezembro de 1940, seis anos após sua implantação, foi inaugurado
o novo prédio do G. E. Gustavo Richard. O local deveria ser, obrigatoriamente, no
centro, em local de destaque e de fácil acesso. Segundo a ex-diretora, que dirigiu o
grupo de 1964 a 1966 e a historiadora Enedy Padilha da Rosa, no local havia um
cemitério, que foi abrigo dos caboclos na Guerra do Contestado, sendo esta área
30
próxima da fazenda do Coronel, cuja esposa foi curada pelo monge José Maria.
Conforme consta no Anexo 2, a ata ressalta a presença do senhor Interventor do
Estado Dr. Nereu Ramos o qual seguiu os passos de seu pai Vidal Ramos,
incentivando a educação no Estado de Santa Catarina.
O novo prédio, de alvenaria, no estilo do tipo U, possuía 8 salas de aula e 4
gabinetes pequenos, com banheiros ou aparelhos sanitários como está descrito no
Livro de Visitas, março de 1941:
1º) Nos galpões e aparelhos sanitários havia boa ordem e asseio; a bomba
funcionava bem e havia água em abundância.
2º) As áreas dos recreios estavam sendo bem cuidadas; nas áreas internas,
destinadas aos festejos, encontrei uns canteiros floridos e recomendo que
se faça com o restante da dita área, bem como dos canteiros junto a cerca
que rodeia o terreno, incumbindo-se de tal o clube agrícola a se fundar
neste estabelecimento.
Analisando-se os documentos, podemos afirmar que a mudança foi
significativa, mesmo faltando cortinas nas janelas e um mobiliário adequado à nova
estrutura. O G. E. Gustavo Richard iniciava uma nova fase em sua história, agora no
alto da parte sul do município, ostentando uma grandiosa construção em pedra de
basalto, cuja frente foi mantida na reforma de 2005.
A partir daí o Grupo passaria a atender um número maior de alunos. Para sua
manutenção foram criadas as Associações, juntamente com um aparato de recursos
mínimos advindos do Estado. As Associações eram chamadas Peri-escolares, as
quais foram formadas para dar sustentação ao trabalho pedagógico da nova
estrutura escolar que estava sendo formada a partir do novo prédio. Elas estavam
constituídas da seguinte forma, em 1941: a) O Caixa Escolar, b) A Biblioteca, c) O
Pelotão da Saúde, d) A Liga Pliga Nacional, e) Jornal Escolar, f) A Cooperativa
Escolar, g) O Clube Agrícola, h) A Liga da bondade, i) Os Clubes da leitura “D.
Pedro II” e “Fagundes Varela”. Um dos professores responsabilizava-se por cada
associação, durante o ano letivo.
O trabalho das associações, além de se um grande suporte para
aprendizagem estava empenhado para angariar recursos, como para adquirir
material para os alunos carentes, do material escolar ao uniforme. Outro fato
interessante são os livros caixas, nos quais estão descritos todas as aquisições que
eram feitas, e todo o movimento do dinheiro que o Grupo Escolar recebia do
governo de estado de Santa Catarina. O Grupo Escolar mantinha as suas
31
instalações, ao mesmo tempo necessitava equipar e dar uma visibilidade ao
educandário, pois ele era um diferencial para a educação camponovense. As
associações transcendiam os muros escolares, incumbia-se de trazer à comunidade
a escola. Ajudavam na manutenção do grupo e sugeriam diretrizes para o bom
andamento da sociedade. Quais foram às associações criadas? Como elas
ajudavam na manutenção do Grupo?
O G. E. Gustavo Richard foi criado para atender a classe mais abastada e
esclarecida do município, mas, abrigava também filhos das classes pobres. Vinha
atender ao ideário da República e às necessidades de desenvolvimento do
município. Era a primeira instituição camponovense de ensino público estadual e
apresentava-se como uma nova possibilidade de ascensão social. No entanto,
apesar do número de matrículas ter aumentado a evasão e as faltas constituíam um
grave problema, conforme relata o inspetor Olivo Dellagiustina, na inspeção de 31
de outubro de 1949:
É de se notar a dificuldade em se conseguir uma boa freqüência neste
Grupo. Alunos que vão às fazendas ou sítios e voltam quando melhor
lhes parece, interessando-se pouco os pais e, sobretudo os tutores, que são
muitos, pela educação dos filhos. Quando chamados para justificar as faltas
dos filhos, a maioria não aparece. Durante o inverno que, em geral é
rigoroso, baixa ainda mais a freqüência. A pontualidade dos alunos também
deixa a desejar. Lutando contra todos esses obstáculos, podemos dizer que
o resultado nos estudos ainda é muito bom. (Livro de Visita de 31/10/1949).
A leitura dos Relatórios de Visitas revela que o ensino era muito bom, mas,
inexistia o apoio da família, o que gerava infrequência e evasão.
Embora existissem os colégios particulares, Notre Dame, Colégio da
Congregação de Santa Júlia Billiart e, mais tarde, o Colégio Auxiliadora, o Grupo
Escolar Gustavo Richard, com todas as dificuldades relatadas nas atas de 1948 a
1969, mudou os rumos da educação em Campos Novos, pois, satisfez uma
necessidade da elite em formação. Este educandário serviu para fazer com que a
educação atingisse um número maior de pessoas, mas na realidade, serviu àqueles
que tinham o poder em suas mãos e, assim, continuavam mantendo-o em suas
mãos. Criado para servir a uma elite dominante na época, ele também serviu para
dar um rumo na política do município. Ao pesquisar os livros de registros de
matrícula, é possível destacar que grande mero de políticos do município e do
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estado foi educado e receberam sua formação acadêmica no Grupo escolar Gustavo
Richard.
Sendo Campos Novos, um município essencialmente agropecuário, com o
poder altamente centrado na terra, o Coronelismo era a forma da manutenção do
poder político, aliado ao poder econômico. O município de Campos Novos precisava
manter o novo sistema político que se estabelecia no país. Como Campos Novos
situa-se no interior do Estado, o poder era muito centralizado nas mãos dos grandes
fazendeiros. Assim, os Grupos Escolares, davam uma idéia da igualdade social e do
acesso às mesmas coisas, em especial à educação, algo tão proclamado tanto pela
Igreja Católica e religiões cristãs, quanto pelo ideal republicano.
Observa-se que no período de 1960 a 1969, todos os termos de visita relatam
a precariedade do prédio, construído em 1940. Os inspetores destacam a
necessidade de ampliar em no mínimo quatro salas de aula, denunciam a
precariedade dos sanitários, do galpão e da cozinha. Em 1967, a escola ficou sem
merenda por falta de verba, sendo distribuído apenas leite aos alunos.
O Grupo Escolar Gustavo Richard, depois Colégio Estadual Paulo Blasi,
atualmente Escola de Educação sica Paulo Blasi, conta hoje com 24 salas de
aulas, 1 biblioteca, 2 laboratórios de Informática, 1 ginásio de esportes, quadra de
areia e atendia a Educação Infantil a2006. O prédio possui três pavimentos os
quais estão distribuídos em dois Cursos Profissionalizantes de Ensino Médios
Magistério e Técnico em Comércio, Ensino Fundamental e Médio Regular. O prédio
passou por várias reformas e ampliações. Em 2006 foi reestruturado, não
perdendo suas características, pois a sua frente é toda de pedra basalto, o seu
formato em “U”, na sua base, e dois pavimentos em um segundo bloco. Na
atualidade, a escola conta com 1389 alunos.
33
Escola de Educação Básica Paulo Blasi – Antigo Grupo Escolar Gustavo Richard.
Fonte: Arquivo da E.E.B. Paulo Blasi
34
4 A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO NO G. E. GUSTAVO
RICHARD
Para melhor esclarecer a educação pública em Campos Novos, utilizamos as
idéias de Gilberto Luis Alves, transcrição de seu livro “O Trabalho Didático na Escola
Moderna”:
A organização do trabalho didático constitui-se, conceitualmente, nos limites
de outras categorias mais centrais, tais como trabalho, e as implica. Daí,
também, a sua riqueza, pois, ao embutir categorias centrais importantes
para a revelação das relações sociais, permite que a discussão da
educação e da escola desvele as características mais profundas que as
permeiam. (ALVES, 2005a, p.256)
A organização do trabalho pedagógico nos grupos escolares constitui-se
fecundo campo de análise. Muitos pesquisadores catarinenses tomaram como
objeto de estudo a história da educação catarinense; no entanto, poucos estudaram
os grupos escolares de segunda e terceira geração, localizados no interior, acima da
serra, de Santa Catarina. Dallabrida (2003, p. 295) explica:
Nos grupos escolares catarinenses procurava-se implementar o tempo
fabril, cronometrado pelo relógio mecânico. As aulas realizavam-se de
segunda-feira a sábado, no turno matutino, e deveriam oscilar entre 15 e 40
minutos e serem quebradas pelo recreio geral” de meia hora. (...) O tempo
do recreio, o período em que os alunos permaneciam nos pátios antes da
“entrada geral” e durante o “recreio geral” e o tempo das aulas eram bem
marcados pelas “formaturas”. O Regime Interno dos Grupos Escolares
prescreviam o “toque do silêncio”, seguido do “toque de formar”, quando
cada professor deveria “formar a sua classe”. O artigo 166 dizia claramente:
os diretores e os professores se esforçarão a fim de conseguirem
formaturas rápidas, perfeitas, homogêneas, considerando que a criança
deve se habituar à ordem e à disciplina nas menores cousas.
Nesse sentido, encontram-se nos relatórios de inspeção, nas atas de reuniões
pedagógicas e em outros documentos vasto material, permitindo a descrição dos
modelos pedagógicos, do programa, os estatutos, do currículo, dos ritos cívicos, do
mobiliário, do material didático utilizado, da disposição dos agentes encarregados do
funcionamento.
Partimos do conceito e de uma descrição do que era o Método Intuitivo e as
Lições de Coisas, tendo por referência Teive (2008, p. 109):
35
Intueri, intuitus significa olhar, observar. Estas duas sintetizam o significado
do novo método de ensino, que foi alçado pelos organizadores dos sistemas
nacionais de ensino europeus e norte-americanos à principal saída para a
criação de uma escola primária popular, alicerçada nos princípios da
gratuidade, obrigatoriedade, secularização, liberdade e higienização,
considerados signos do progresso e da modernidade pedagógica.
A autora cita do Dictionaire de Pedagogie et d’Instruction Primaire, publicado
em 1978 por Ferdinand Buisson, professor de cadeira de Ciência da Educação da
Sorbonne:
Se a intuição é o meio de conhecimento mais natural do qual dispomos, é
este, entre todos, que convirá e por excelência ao ensino primário. Se,
dentro da própria intuição, o que de mais simples e fácil é a intuição, o
que de mais simples e fácil é a intuição dos sentidos, é esta que deverá
servir melhor a instrução elementar e começar de alguma forma à obra de
educação infantil em todas as áreas. Enfim (...) se esta maneira de proceder
é inerente ao espírito humano e constitui por sua vez o modo de afirmação
mais legítima e mais acessível a todos, será então realmente o método do
ensino popular. (BUISSON. Apud TEIVE, 2008, p. 109)
Podemos perceber que o novo método de ensino atendia as novas classes
sociais que surgiram após a Revolução Francesa e a Revolução Industrial. Pois,
com o sistema republicano brasileiro, a política teria que mostrar o porquê lutou
tanto para se instalar nas grandes cidades do mundo, reforçando cada vez mais os
alicerces do modo de produção capitalista. Tornava-se, então, necessário instruir a
população para que pudesse servir aos interesses dessa nova ordem social, sendo
a escola a instituição mais apropriada para atender a esses anseios.
Nas capitais famosas européias e da América do Norte, realizavam
exposições educacionais. Teive (2008, p. 110) relata:
A primeira exposição universal aconteceu em Londres, no ano de 1851. Em
1889 coube a França sediá-la, em homenagem ao centenário da Revolução
Francesa. A Torre Eiffel, especialmente construída para abrilhantar o
evento, é indicativo da grande importância conferida a estas exposições. O
Brasil sediou a de 1922, no Rio de Janeiro, capital da República, organizada
em comemoração ao centenário da independência. Nestas exposições
eram exibidas em as potencialidades e o grau de civilização das nações
participantes, o progresso, a ciência e a técnica alcançada, ou seja, tratava-
se de “uma incomparável lição de coisas”, como consta na convocatória do
Seminário “Lições de coisas: o universo das exposições do século XIX”
promovido pelo Programa de Estudos Americanos do Instituto de Filosofia e
Ciências da Universidade Federal do Rio de Janeiro e pelo Museu Imperial,
no ano de 1993.
Nesse período expandiram-se no Brasil escolas particulares, as quais
utilizavam e divulgavam o uso desse método de ensino. Teive (2008, p. 111)
36
destaca a reforma do ensino primário e secundário da Corte, consolidada pelo
Parecer 7.247 de 19 de abril de 1879, assinada pelo ministro do império Carlos
Leôncio de Carvalho. Nesta reforma, pela primeira vez, aparece no ensino primário
brasileiro à prática das lições de coisas, incluído no currículo da Escola Normal do
rio de janeiro a disciplina “Prática do ensino intuitivo ou das lições de coisas”.
O método de ensino empírico revelou uma verdadeira aprendizagem, iniciada
com a observação das coisas. Aprender tornou-se muito mais interessante,
juntamente com o desenvolvimento da criança e as novas disciplinas cientificas
anexadas ao currículo.
Rui Barbosa traduziu o livro de Calkins Lição de Coisas, adaptando à língua
portuguesa. Em seu artigo, intitulado O Método Intuitivo e Lições de Coisas no Brasil
do Século XIX, Schelbauer (2006, p. 137) relata a polêmica que o Decreto 7247,
Reforma Leôncio de Carvalho, estabelece, configurando as lições de coisas como
uma disciplina específica do programa. Rui Barbosa em um dos pareceres assinala
as Lições de Coisas e do Método Intuitivo e assim descreve; “[...] Da nossa escola
popular, escrava e vítima da rotina está proscrito o conhecimento direto das coisas,
isto é, da realidade sensível. Trivialidades [...] que a nossa pedagogia ainda não
compreendeu”. (BARBOSA, 1947 apud SCHELBAUER, 2006, p. 137).
4.1 OS ESTATUTOS
Na Ata das Reuniões Pedagógicas (1948), observa-se a rigidez no
cumprimento das normas da escola: “os alunos devem entrar em classe, marchando,
ficando ao encargo da professora de Educação Física, fazê-los romper a marcha”.
Praticamente em todas as atas das décadas de 1940 e 1950, são
encontrados e/ou cobrados alguns princípios, como o uso do uniforme para os
alunos e professores; a saída dos alunos somente com ordem expressa dos pais ou
responsável; quanto à disciplina em aula, destaca-se que o aluno deve ser retirado e
encaminhado para a direção somente após ter esgotado todas as medidas do
professor. Outro destaque é com relação aos cuidados e acompanhamento do
recreio, cobrando sempre a ordem ao sair da sala.
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As normas da escola eram enfatizadas em todas as reuniões, conforme se
observa na reunião pedagógica do dia 19/04/1952, na qual também estava presente
o inspetor Godolfino Nunes de Sousa:
A Sra. Diretora salientou a importância da “Liga de Bondade”, a qual deve
ser mais ativa. Portanto, o professor deve fazer comentários sempre
observar uma falha, frisando sempre que tiver ocasião os deveres de um
bom (cidadão) e disciplinado como aluno tais como: - Vestir-se
asseadamente. - Comparecer as aulas e reuniões à hora certa. - Observar
os preceitos de Saúde. - Cumprir as determinações do professor e diretor. -
Tratar com amizade seus colegas, evitando brinquedos prejudiciais,
denúncias e queixas. Não trazer para o grupo, objetos que não sejam do
material escolar. - Zelar o material escolar, trazendo seus livros encapados
e em ordem, o lápis apontado em casa; os cadernos não serão dobrados e
enrolados. – Não danificar o edifício escolar escrevendo nas paredes e
muros. Recreio. - Cooperação social Novamente foi comentado pela
senhora diretora que o recreio é muito mais que um descanso ao ar livre e
por isso não será hora de algazarras, brigas e desordens; portanto é a hora
em que o professor tem melhor oportunidade de observar as tendências de
seus discípulos. Não é permitido jogo de bolas, correrias, saltos ou
empurrões; pelo contrário é a hora que o aluno deverá fazer o lanche em
ordem. Não jogar papéis e outros detritos no chão. - Sinais de entrada e
saídas - O aluno deve obedecer melhor os respectivos sinais. É comum ver-
se principalmente na hora de entrada, a servente dar os três sinais e os
alunos continuarem em recreio (Livro Ata das Reuniões Pedagógicas, abril
de 1952)
Em ata do dia oito de julho de 1952, aparece a questão dos castigos físicos e
a exclusão definitiva do aluno, após ter esgotado todas as alternativas possíveis e
comunicado aos pais. Estes preceitos estavam no Decreto Lei 3.735 de 1951,
transcritos a seguir:
5º) Artigo 203- O aluno que não cumprir com seus deveres para com a
escola ficará sujeito as penalidades seguintes:
a) Admoestação; b) notas más; c) repreensão, que será comunicada aos
pais ou responsável. Não conseguindo o bom comportamento do aluno com
as penalidades acima mencionadas, então o professor deve recorrer outros
meios como; suspensão de 1 a 5 dias ou exclusão definitiva. Nenhuma
outra penalidade pode ser aplicada mesmo que haja autorização dos pais
ou responsáveis. Ficando determinado que o professor deve seguir as
penalidades acima, sem empregar outras penas, como seja, castigos físicos
ou até mesmo bater em alunos.
A organização disciplinar da escola é um aspecto constantemente lembrado.
No Termo de Orientação Pedagógica, de 6 de abril de 1962, aparecem alguns itens
que objetivam um melhor andamento da instituição:
- Evitar e mesmo proibir retirada dos alunos das salas de aula, para
ensaios de festas escolares, reuniões de associações ou outros misteres.
Tais assuntos devem ser tratados aos sábados ou depois das aulas.
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4º - Obediência aos sinais, principalmente no turno vespertino.
- Fechamento do estabelecimento após as aulas Decreto 3735,
podendo, no entanto sofrer pequenas modificações a critério da diretora do
estabelecimento, em virtude do clima muito frio desta região.
Na ata de 1963, uma reunião pedagógica extraordinária, datada de 28 de
fevereiro, sob a direção da senhora Dilma Granzotto, fornece o retrato de como
estava organizado o ensino, o trabalho do professor e a postura esperada dos
alunos:
1- Ao iniciar a reunião a Sra. Diretora cumprimentou o corpo docente,
desejando-lhe um feliz ano letivo, coroado de pleno êxito.
2 Os cadernos Síntese do Professor” devem ser feitos e apresentados
mensalmente com o movimento mensal.
3 – Quanto aos novos livros de leitura para todas as classes do curso
primário, foram discutidas as providências a dotar.
4 – Disse a senhora diretora, que a disciplina nas salas de aula é um reflexo
da ão do professor; ordem dos cadernos, a ornamentação da classe, o
gosto artístico da mesma, refletem o interesse do professor pela classe.
5 – A professora deve falar com a voz natural e em som ao alcance de toda
a classe ao ministrar suas aulas.
6 Para o bom andamento do ensino, a Senhora Diretora recomendou:
uniformidade nos livros entregues; notas dadas com critério e justiça,
economia dos cadernos dos alunos.
7- Quanto à matéria de religião deve ser ministrada diariamente durante 15
minutos ao iniciar a 1ª aula.
8 A Senhora Diretora colocou-se à disposição das senhoras Professoras
para o que precisarem devendo estas dirigir-se ao gabinete, e
principalmente tratando-se de aluno indisciplinado ou sobre qualquer outro
assunto escola, terão todo o apoio.
9 – Encontrando sua sala de aula, suja ou em desordem a professora
regente deve levar imediatamente ao conhecimento da Senhora Diretora.
10 – O uniforme deverá ser usado desde o dia de aula, pois o mestre é o
espelho do aluno. A não ser as professoras novas que ingressaram este
ano – serão dispensadas até o dia 15 do próximo mês.
11 No corrente ano o Grupo Escolar Gustavo Richard” funcionará com
três turnos, sendo assim discriminado:
1º turno: das 7h40min ás 11h40min
2º turno: das 11h50min ás 15h50min
3º turno: das 16h ás 19h.
12 - Todos os segundos sábados de cada mês serão reservados:
a) Reunião das Associações, no período das 07h40min às 08h40min;
b) Ensaio de Canto Orfeônico das 08h40min às 9hs;
c) Homenagem à Bandeira das 9hs às 09h30min
d) 09h30minh Reunião Pedagógica
e) Os outros sábados terão aulas regulares.
13 Para o corrente ano a Sra. Diretora distribuiu as classes da seguinte
maneira:
5º ano – Professora Vera De Negri Lopes.
anos Professoras: Francisca Carvalho, Devair Mena Barreto, Marlene
G. De Negri.
3º anos – Professoras: Teresa Rupp, Vera Lúcia Andonini e Marilene Rupp.
2º anos Anália Thibes, Marena F. Silvestrin, Maria Helena Stefanes,
Lurdes Ampessam e Adria C. L. Nora.
39
anos: Professoras: Nair Silva, Nilda Stefanes, Zely Alberge, Amélia
Ludving, Idalvina C. Rambo, Terezinha T. Lemos, Regina I. Rupp e Eva
Mary Silva.
14 A mestra deve ser modelo dos alunos nos costumes piedade e no
comportamento onde quer que seja. (LIVRO DE ATAS DE 1963).
Referindo-se aos programas e disciplinas, o Livro de Atas das Reuniões
Pedagógicas de 1966, exatamente em uma reunião extraordinária de 25 de agosto
1966, faz constar que estavam presentes os Inspetores Regionais Manoel do Lago
Almeida, da 20ª Região e os Senhores Inspetores Escolares da 3Região e 66ª
Região Nestor Westrupp e Domingos Fontana, componentes do CROP-Centro
Regional de Professores desta cidade. Nesta ata encontra-se:
O Sr. Inspetor Escolar da 30ª Circunscrição pediu às orientadoras do
CROP que instruíssem as Professoras do Grupo escolar quanto à
introdução da criança na Escola Primária, passou a palavra a orientadora da
disciplina de Ciências:
Disse que toda professora do ano deve ser carinhosa, jovial, dinâmica e
muito observadora, principalmente nesta matéria. O programa deve ser
flexível. Deve as Professoras conhecer o estado de saúde física de seus
alunos, defeitos de visão, audição, pois isto influi no processo da
aprendizagem. Frisou ainda que devam os observar as seguintes
condições:
1º - Ambientar o aluno dentro da própria escola
2º - Enriquecer seus conhecimentos
3º - Ambientar os sentidos
4º - Favorecer os bons hábitos
Para melhor entender o item três, ambientar os sentidos voltamos o nosso
olhar para o entendimento sobre o Método Intuitivo ou Lições de Coisas, que inicia o
ensino com os sentidos. Teive destaca os cinco sentidos. A autora anuncia
Pestalozzi:
Diz-se que as bases das lições de coisas ou lições sobre objetos foram
estabelecidas por Pestalozzi a partir de um episódio por ele vivenciado em
uma de suas escolas. Estaria ele ensinando aos seus alunos a forma de
uma escada através de uma imagem retirada de um livro, quando um dos
meninos o interpelou sugerindo que poderiam compreender melhor
examinando a escada que havia no curral. Pestalozzi então exclamou:
“Tiene razón El muchacho; guardénse lãs estampas, y em adelante enséne
solo por médio de objetos verdaderos, de lãs realidades”. E a partir daí os
móveis e demais objetos da sala de aula, os animais, as plantas, o corpo
humano, tudo quanto tinha ao seu alcance, foi do que se serviu o pedagogo
suíço para criar os exercícios de intuição que tanta fama lhe dariam.
(TEIVE, 2008, p 117-118).
40
No Grupo Escolar Gustavo Richard, a aplicabilidade do Método Intuitivo ou
Lições de Coisas, estava prescrito desde sua criação em 1934. Nas atas das
reuniões pedagógicas e nos termos de visitas o método foi citado em sua
obrigatoriedade. Ambientar os sentidos o primeiro passo do método. A partir do
momento em que o professor (a) entendesse a sua aplicação, estaria realizando o
que de fato seria o processo de ensino aprendizagem. Foi o que ocorreu com
excursões, visitas a museus e parques, onde se realizou o conhecimento através
dos sentidos. Inspetores e diretores insistiam na correta aplicação do Método
Intuitivo. As Reuniões Pedagógicas aconselhavam os professores a respeitar o
tempo das crianças.
As classes fracas necessitam de mais tempo. As atividades recomendadas
devem ser planejadas e apor meio de programas, com atividades relacionadas.
Conversar diariamente com as crianças. Planejar com os alunos um passeio, uma
excursão a um monumento. Observar o trato dos animais e plantas. Dar muita
importância à criatividade da criança. Apresentar teatro de fantoche. As correções
deverão ser feitas após a apresentação. Sugerem as seguintes observações nas
atividades para o período preparatório:
a) Fatores físicos
b) Fatores intelectuais
c) Fatores emocionais
d) Comportamento dos alunos.
A seguir, foram dadas as orientações sobre o período preparatório da Leitura:
Ao iniciar, salientou que este período preparatório da leitura requer muito
cuidado, mas que terá facilidade no estudo de outras matérias. A
observância do fator emocional é um dos pontos de vista principal, pois
nota-se que os primeiros dias de aula alguns alunos choram, outros são
teimosos, outros tímidos. Para cativar-lhes a amizade, devemos falar sobre
os pais, assunto que todas gostam e manter muita conservação com as
crianças. Devemos assegurar-lhes um ambiente agradável. alunos que
tem aptidões diversas; o caso de um aluno da roça e outro da cidade. Os
que têm mais dificuldade necessitarão de um período preparatório maior.
São indicadas também as excursões, as visitas em outras salas, ao
gabinete, cozinha, estação rodoviária, etc., pois tra grandes benefícios.
Não esquecer de considerar os fatores físicos, o meio que vive em casa,
idade mental, visão, audição, cor, tamanho e, forma.Dar em primeiro lugar
as noções e preparar a criança na coordenação motora. Em seguida, foi
explanado sobre a Matemática: falou sobre as experiências que, cada
criança traz ao entrar na escola de sua vida no lar. Geralmente todas têm
noção de quantidade, um conhecimento da matéria. Mas, não é noção
concreta e nem sabe o que representa tal quantidade. Deverá, portanto ser
observada esta experiência que cada aluno traz de casa. Frisou que a
41
professora deve preparar a criança para que tenha a noção necessária. São
poucas as crianças que não distinguem; os que vêm de ambiente melhor,
de pais instruídos, têm mais facilidade. Deve ter também observar a
capacidade mental de cada um. A criança de 7 anos pode dizer qual a
quantidade menor e maior; outros, porém, já não saberão dizer. Conversar
e perguntar bastante a eles e dar atenção especial aos que sentem mais
dificuldade. De acordo com a capacidade da classe vai trazendo os
exemplos claros e simples. Sugeriu o uso de gravuras para a distinção das
formas, quantidades e posições. Haverá quem não saiba ou fique indeciso.
Observar quais os que não se manifestam. Este período durará de 3 a 4
semanas. Procurara desenvolver cada vez mais a experiência que eles
trazem de casa e prepará-los para receberem a noção de número, pois, se
não forem preparados não receberão com entusiasmo a matéria. Devem ter
em vista o conhecimento concreto e não abstrato da disciplina. (Livro Ata da
Reunião Pedagógica, maio de 1948)
4.2 OS MODELOS PEDAGÓGICOS
O aluno sempre foi o centro ou deveria ser o centro do processo ensino
aprendizagem. Para iniciar os apontamentos sobre os modelos pedagógicos
utilizados no grupo escolar aqui pesquisado, apresentarei as idéias citadas por Teive
sobre como a aprendizagem foi colocada deste os tempos do império.
A aprendizagem através do contato da criança com as coisas era
vista como condição sine qua non para as aprendizagens posteriores, para
as abstrações, como pode ser constatado na afirmação feita pelo diretor do
Colégio Abílio, de propriedade de Abílio César Borges, o Barão de
Macaúbas, considerado por muitos como o pioneiro da pedagogia moderna
do Brasil, por ter colocado em prática ainda no período imperial, alguns dos
princípios pedagógicos modernos, tal como a abolição dos castigos
corporais, o ensino direto das línguas vivas, o ensino prático e outras
inovações: “Não é verdade que um bom material de ensino, concreto, abre
caminho ao abstrato? Principalmente nos primeiros graus da educação
deve ele ser empregado, desde que princípios ou verdades abstratas não
podem ser compreendidos pelo espírito novel sem uma suficiente e extensa
base de fatos concretos. (TEIVE, 2008, Página 118)
Nos livros de Atas é possível identificar o método intuitivo adotado no Grupo
Escolar Gustavo Richard. Seguindo as orientações da Secretaria de Estado da
Educação. No Livro de Atas Pedagógicas da reunião do dia 09 de abril de 1949, o
senhor Diretor Edvard Fernandes, faz observação sobre a leitura tropeçada das
crianças e pede que as palavras sejam lidas corretamente pela professora, evitando
que os alunos pronunciem as mesmas de forma errada e destaca a observação que
fez na aula ministrada por uma das senhoras professoras:
42
O senhor Diretor disse ter achado a classe pouco ativa; que a professora,
ao ter distribuído os bilhetes, deveria pedir aos próprios alunos que
formassem as sentenças; que na correção de uma palavra ou sentença
deve chamar atenção da classe toda e não só do aluno que cometeu o erro.
Ainda, que o método adotado foi o analítico e o o intuitivo; que utilizou o
desenho feito no quadro parietal (uma menina brincando com o gatinho);
que a aula de linguagem oral esteve muito a desejar, razão, do não
aproveitamento do referido desenho, onde entraria em função a aplicação
do método intuitivo, que não foi aproveitado pela professora;que a leitura
dos alunos não foi observada dentro dos princípios da pedagogia moderna.”
(LIVRO Ata das Reuniões Pedagógicas 1949)
As Atas deixam claro que cabia ao diretor e ao inspetor a responsabilidade
pelo bom andamento do processo, ao mesmo tempo em que especifica a parte que
cabia ao professor como executor do método.
Conforme o inspetor José Joaquim de Lima Xavier, nas Atas de 21, 22, 23,
25, 26 e 27 de junho de 1935, “os professores, além de aptos, revelando perfeito
conhecimento dos métodos de ensino recomendados nos grupos escolares,
demonstram grande dedicação aos seus misteres”. O inspetor registra algumas
considerações que poderiam elevar ainda mais o bom conceito desta casa de
ensino, recomendando ao diretor: a) interceder junto aos pais dos alunos que faltam
habitualmente, visando o desaparecimento dessa irregularidade; b) cumprir
rigorosamente as prescrições do Regimento Interno na parte relativa à disciplina
escolar; c) recomendar aos professores que empreguem o máximo cuidado quer em
classe, quer durante os recreios, na linguagem falada dos seus alunos, procurando
desperta-lhes o amor pela pureza e elegância da nossa língua.
No dia 20 de setembro de 1937, o então inspetor Hermínio Heusi da Silva,
destaca que os métodos e processos de ensino são bons, afirmando que a escola,
nesse momento, segue as normas educacionais previstas nas normas dos Grupos
Escolares do estado de Santa Catarina.
Sobre a importância e a devida aplicação dos todos de ensino esclarece o
inspetor Germano Wagenführ:
a) que as aulas sejam sempre muito práticas e intuitivas, exigindo sempre,
quando possível, a cooperação dos alunos, a fim de haver mais interesse
dos mesmos no trabalho escolar;
b) se a aula for bem dada e se mantiver no limite da compreensão dos
alunos, será atraente para os mesmos e, naturalmente, toda a classe
prestará atenção e acompanhará os trabalhos e por seu turno a disciplina
será boa e efetiva; pois a falta de disciplina em aula é causada, na quase
totalidade dos casos, por aulas mal dadas ou enfadonhas. Com boa
disciplina haverá bom aproveitamento;
43
c) as aulas de linguagem oral, em todas as classes, devem merecer um
cuidado especial, - deve-se exigir a correção nas falas dos alunos, clareza
na pronúncia, obrigando principalmente nos primeiros anos alunos a
responderem em sentenças completas, corrigindo-lhes nessa ocasião sem
vexá-los, os erros de pronúncia e vícios de linguagem.
d) ensinar gramática, não por regras decoradas, mas a mão dos fatos que
ocorrerem na leitura ou em casos inteligentemente apresentados pelo
professor.
e) em aritmética não passar exercícios com números astronômicos, nem
problemas irreais ou charadas, - mas sim sempre que possível ligado ao
meio; os termos devem ser claros, reais e com números comedidos; a fim
de esclarecer melhor a relação que existe entre as diversas quantidades.
f) que exijam dos alunos nos seus cadernos muita ordem e asseio, sendo,
outrossim, econômicos no uso do material;
g) que afinal os seus professores devem estudar e pôr em prática as
indicações contidas nos programas de ensino com referência a cada
disciplina. (Livro de Visitas, ATA do dia 14 de março de 1941).
A questão dos todos de Ensino veio à tona no Brasil após o Decreto
7.247 de Leôncio de Carvalho de 1879, o qual marcou o início da organização da
escola pública. Após ter ocorrido várias exposições no mundo sobre o Método
Intuitivo ou Lições de Coisas, Rui Barbosa irá ser um árduo lutador para que o
ensino em nosso país passe a ter um método, que este seja bem elaborado,
aplicado a partir das idéias de Calkins, o qual ele foi o tradutor mais fiel para Língua
Portuguesa.
Valdemarin, em seu artigo para a revista Educar 18 de 2001 destaca a
importância que os métodos pedagógicos passavam a ter nesse momento histórico:
Neste contexto, a introdução do método de ensino intuitivo e das lições de
coisas no Brasil como estratégia para a renovação das práticas pedagógicas
pode ser detectada na legislação educacional, no debate e na circulação de
idéias entre educadores (professores, dirigentes e proprietários de escola),
na tradução e importação de um grande número de manuais, cujo título
menciona a expressão lição de coisas, e na divulgação através de textos
específicos. (VALDEMARIN, 2001, p. 139).
O Método partia da observação e do olhar, onde ele era e é cil de falar,
explicar, mas difícil de aplicar; assim no seu livro “As Lições de Coisas”, Valdemarin
(2004a) descreve que o próprio autor, Calkins, baseado nas idéias de Pestalozzi e
Fröebel, trabalha muito os sentidos, exemplificando que a História nos mostra que
se o homem aprendesse a trabalhar e construir seus instrumentos mecanicamente,
nós não teríamos o mundo e as facilidades que temos hoje. Ele via seu Método
como uma “Interpretação da Natureza”, citação de Vera Valdemarin, segue a que ela
descreve do parecer do método pelo autor:
44
Nosso método, contudo é tão fácil de ser apresentado quanto difícil de ser
aplicar. Consiste no estabelecer os graus de certeza, determinar o alcance
exato dos sentidos e rejeitar, na maior parte dos casos, o labor da mente
calcado muito de perto sobre aqueles, abrindo e promovendo, assim, a nova
e certa via da mente, que, de resto, provém das próprias percepções
sensíveis. (VALDEMARIM, 2001, p. 47)
Cabe destacar que na seqüência de sua reflexão sobre o método,
Valdemarim descreve brilhantemente o processo de alfabetização segundo a Lição
de Coisas.
Na realidade o método de ensino tinha o intuito de ensinar a pensar, refletir
sobre o que se estava aprendendo, justamente em um momento em se tinha a
necessidade de se formar cidadãos, pois estávamos em pleno auge da
industrialização mundial, no Brasil passávamos pelo fim da escravidão, assim, a
escola e as novas formas pedagógicas serviriam para tornar esse ideal apropriado
ao momento. Contudo, era necessário se deixar de lado a memorização, aproveitar
o que a criança trazia consigo de seu primeiro ambiente educacional, a família; mas
para isso os professores precisavam entender o processo, deixando de lado os
métodos pelos quais vinham aplicando anos em suas classes; por outro lado as
escolas isoladas e multisseriadas, não possuíam a estrutura de um Grupo Escolar, e
muito menos materiais didáticos apropriados para sua aplicação. Já os Grupos
Escolares com sua nova estrutura, onde o Estado era o grande interessado nas
mudanças educacionais, fará todo o possível para que o ensino passe a ser mais
criativo e relevante, ao mesmo tempo em a aprendizagem se efetive, pois o aluno
passa aos poucos a fazer parte desse processo, obedecendo aos seus ritmos e
também a descobrir a importância da compreensão e não mais a dar valor à
memorização, prática muito comum nesse período.
Mas vale ressaltar que esse aprendizado também será limitado, não rico em
saberes e muito menos em liberdade, pois sempre a educação serviu e serve para
algum grupo, nesse caso o Estado; portanto a educação, como instrução seria um
passo para a construção de uma “cidadania” limitada, mas mesmo assim formou e
forma cidadãos muito competentes, claro que não na mesma escala com que a
Escola particular forma, pois o limite sempre existiu.
No ano seguinte, o mesmo inspetor destaca que os procedimentos
pedagógicos estavam em ordem, conceituando de boas a muito boas a regência das
aulas. As visitas de inspeção eram muito esperadas e dava ao grupo Escolar certo
45
grau de distinção, visto que para a sociedade e para os professores o parecer
positivo dava sustentáculo ao trabalho docente e à missão da escola.
A leitura da Ata de 01 de maio de 1948 revela que a adequada aplicação do
método era acompanhada pelo diretor do grupo escolar que orientava o corpo
docente no sentido de melhorar seu desempenho. Nas reuniões pedagógicas o
plano de aula e uma comunicação eram apresentados por professores previamente
escalados sendo assistidos e comentados pelos demais professores e diretor. Na
Ata de 15/05/1948, por exemplo, o diretor cita que a professora que apresentou o
Plano de Aula fez pouca associação do assunto, ou seja, a professora deveria ter
usado o tema de sua aula para explorar todos os assuntos relacionados ao tema,
relacionando as disciplinas e os conteúdos de forma que o aluno além do interesse
pudesse aprender sobre o tema e aliá-lo a sua vida. Como foi citado em outro
capítulo, nesse momento os Grupos Escolares deveriam seguir o Método Intuitivo,
ou Lições de Coisas, os quais partiam da observação, despertando no educando
uma visão empirista do que lhe era ensinado, formando assim o seu conhecimento.
O Sr. Presidente passou a palavra à professora A, para que lesse o plano
de aula. Em seguida os professores foram interrogados a respeito do dito
plano; todos o acharam bem elaborado. O Sr. Presidente reclamou que a
associação deveria ter sido feita em separado, de acordo com as instruções
do Departamento de Educação. O programa, regulamento e plano de
trabalho devem permanecer sobre a mesa durante as aulas. (LIVRO de Ata
de Reuniões Pedagógicas 1948).
Nas descrições das atas e nos termos de visitas, aparece muito a palavra
associação. Aqui é possível constatar que a relação entre o que era conceituado
deveria ser amplamente relacionado e explorado pelo professor (a). Na ata de 19 de
Junho de 1948, observa-se que ao apresentar o Plano de Aula da Reunião
Pedagógica, a professora obteve a seguinte anotação do Diretor:
Assistindo, com a docência, a execução do plano de aula sobre o assunto
geográfico: Bacias fluviais do Brasil, no quarto ano, observaram o seguinte:
que seguiu a risca, a marcha do aludido plano; que ao falar sobre a
extensão do rio Amazonas, não especificou, isto é, falou de um modo vago
e relativo; - que o aproveitou o interesse da classe, para explicação, ao
citar as palavras maré, porto fluvial. Que houve abundância de assuntos
ministrados, isto é, que em quarenta minutos, incluindo associação, que
esteve boa, falou sobre dois temas ou pontos: Bacia Amazônica e bacia
Platina. Somente sobre a primeira, bacia Amazônica, assunto, todo ele
importante e imprescindível à classe de quarto ano, para ocupar, com
facilidade, atenção do mestre e o interesse do aluno, dentro de um período
de quarenta minutos. “Mesmo porque o mestre não se esmera na
46
quantidade de assuntos, mas, sim, na qualidade e na natureza dos mesmos
no sentido de um interesse permanente, de uma atenção voluntária e de
uma assimilação rápida de seus alunos.” (LIVRO de Atas Pedagógicas,
1948).
A associação foi bem feita, diz o diretor. Reclama, porém, que a professora
“não aproveitou o interesse da classe, para explicação, ao citar as palavras maré,
porto fluvial”. Está a indicar que a professora associou bem o observado com o
nome e o conceito, mas, não navegou do concreto para o abstrato, neste caso.
Muito se fala nas Atas sobre o centro de interesse, mas a questão da
associação, sempre está presente, visto que nesse período os todos
pedagógicos estavam passando por mudanças. No Grupo Escolar Gustavo Richard,
cobra-se muito o Método Intuitivo, sinal de que não estava sendo bem aplicado,
conforme observação presente na Ata das Reuniões Pedagógicas de 09 de abril de
1949, quando estava em discussão um plano de aula da professora de alfabetização
que aplicou o método analítico e não o prescrito método intuitivo:
Ainda, que o método adotado foi o analítico e não o método intuitivo, que
não utilizou o desenho feito no quadro parietal (uma menina brincando com
um gatinho); que a aula de linguagem esteve muito a desejar, razão, do não
aproveitamento do referido desenho, onde entraria em função a aplicação
do método intuitivo, que não foi aproveitado pela professora”, (LIVRO de
Atas de Reuniões Pedagógicas, 1948).
Como está descrito na citação do Livro de Atas, a professora não conseguiu
fazer o processo de alfabetização conforme as instruções da Secretaria da
Educação. Na referida citação a diretora descreve que o método utilizado foi o
analítico e não o intuitivo; na realidade eles são os mesmos e o que aconteceu foi o
não entendimento do método de ensino, como descreve (VALDEMARIM, 2004, p.
128)
Costumam alguns preceptores circunscrever as suas lições a espécimes
de gabinetes de curiosidades; de onde provém tornarem-se puramente
mecânicos esses exercícios, assim que se acaba a novidade dos objetos
que compõem a coleção. Às vezes tais espécimes são raridades, que
dificilmente aos meninos se deparará ensejo de ver, e não despertam a
curiosidade de examinar objetos mais comuns, nem cultivam, portanto, os
hábitos que hão de levar a criança a interessar-se pelo conhecimento das
coisas que a rodeiam (VALDEMARIM, 2004, p. 470)
TEIVE (2008, p. 122) cita Garcia a escrever que, o se atendendo a
questões básicas, corre-se o “risco de cair no formalismo didático”
47
Nessa perspectiva, encontra-se no Livro de Visitas de 06 de abril de 1962 que
a inspetora Zenaide Maria Pereira da Costa deixa no Termo de Orientação
Pedagógica a recomendação de que todas as orientações governamentais devem
ser observadas:
1º) Esquemas de todos os pontos, de todas as matérias, com explicações
detalhadas sobre os mesmos, as séries, antes de passá-los aos alunos.
2º) Deveres para os alunos, para casa, diariamente, de Linguagem e
Aritmética. (LIVRO de Visita, p. 10, 1962).
Em 1964, tem início o ensino pré-escolar. A professora Sara Fadel, que
possuía aperfeiçoamento específico para este nível, foi a regente da classe e utilizou
o modelo pedagógico de Fröebel, cuja base está na criação de jardins de infância
porque, no seu dizer, as crianças têm sede de saber.
Ao conhecer a história de Fröebel e sua visão de educação, entende-se como
funciona a Educação Infantil, e se percebe claramente a influência da religião, no
seu caso o Cristianismo, na modalidade da Reforma. Ao ser o criador dos jardins de
Infância, Fröebel, justifica sua ligação com a religião, como também a sua
valorização de ser humano. (FROEBEL, 2001).
Bastos (Apresentação. Fröebel, 2001, p. 8) escreve:
O homem cultivado deve saber que constitui um todo relacionado dos três
domínios da vida – a natureza, o homem e Deus;
Toda educação se funda sobre a religião [...]
O jogo é a forma mais pura da atividade intelectual da criança [...]
Deve-se permitir à criança, toda atividade espontânea [...].
Para situar melhor sobre o início da educação infantil no Grupo Escolar
Gustavo Richard, acredito ser importante relatar as considerações de Valdemarim
sobre as idéias de Fröebel, seguidor de Pestalozzi, onde descreve como suas idéias
fundamentaram suas ações e a importância dessa primeira fase no processo de
ensino de aprendizagem nas crianças menores de seis anos. Onde a autora
apresenta como o trabalho da infância deve ser realizado a partir de muito material
didático e de objetos manipulados pelas crianças.
O trabalho na infância, por sua vez, consiste na expressão de um
pensamento, ainda incipiente, por meio das construções reduzidas, feitas
com material adequado a esta faixa etária. Por isso, todas as atividades
propostas devem motivar o aprimoramento da observação e da inteligência
consistindo em imitações das formas e objetos existentes no cotidiano da
48
criança: os jogos com sólidos, cubos, prismas, bastões, tábuas, anéis,
mosaicos etc. permitem reproduzir construções, móveis e utensílios
familiares, aliados ao prazer na aprendizagem. (VALDEMARIN, 2001, p.
108)
Para dar seqüência às idéias sobre a educação infantil, devemos ainda
destacar que os primeiros manuais didáticos foram traduzidos, partindo de
Pestalozzi e Fröebel.
O primeiro manual didático a ser analisado com o objetivo de evidenciar o
processo de transposição didática por meio do qual a teoria do
conhecimento é desdobrada em lições e atividades é o Méthode intuitive.
Exercises et travaux pour lês enfants selon La méthode et lês procedes de
Pestalozzi et de Fröebel (Delon, 1892 e Delon & Delon, 1913) elaborado
com o objetivo de orientar a prática pedagógica de professores de escolas
infantis, pois, segundo os autores, uma organização não se improvisa
prontamente e a experiência não se adquire senão com tentativas
reiteradas, impondo-se, portanto, a necessidade de um guia, de um manual
diretor para que as inovações possam ser efetivadas. Assim, os exercícios
apresentados nesse compêndio têm por objetivo exemplificar a estrutura
das lições a serem ministradas, descrever os passos metódicos do
processo de ensino, sugerindo também uma ordenação ou seqüência das
atividades a serem desenvolvidas diariamente, isto é, um gerenciamento do
tempo escolar.O foco de análise desses manuais será nas diretrizes gerais
do método intuitivo, nos objetivos apresentados para educação infantil e nos
resultados educacionais e sociais que, segundo os autores, podem ser-lhes,
esperançosamente, creditados. (VALDEMARIN, 2001, p. 105)
Os modelos pedagógicos estão presentes quando as atas abordam a questão
do método. O método utilizado no ano de 1964 foi o Analítico. Os métodos Sintéticos
e o Globalizado foram citados, conforme as orientações, com destaque ao uso de
material concreto e flanelógrafo. Aqui aparecem os métodos elogiáveis e os que
precisam mudar drasticamente. Assim aparecem:
As primeiras aulas foram apáticas, sem ação, desprovidas de recursos
áudios-visuais. Sinceramente tivemos a impressão de que a professora
estava executando um trabalho sem importância. A disciplina, como
conseqüência lógica da falta de motivação declinava e a anarquia reinava
entre os alunos começa a reinar.
As aulas são maravilhosas em todos os pontos de vista. Os processos
intuitivos que adota tornam-nas interessantes e atraentes e prendem a
atenção dos alunos de início ao fim do período escolar. (LIVRO de Atas de
Reuniões Pedagógicas, 1965).
É importante ressaltar que todos esses métodos citados foram relevantes,
mas são todos iguais, a sua aplicabilidade é que se distinguia; mas o todo era o
49
mesmo. O que significa que a compreensão do professor (a) e sua forma de aplicar
é que variava assim vale ressaltar:
O “método objetivo” ou intuitivo”, de ensinar a ler principia, dirigindo a
atenção dos alunos e usos lhes sejam familiares. Sempre que exeqüível
for, nas primeiras lições de leitura, se mostrará
o objeto, discorrendo a seu
respeito, e proferido-lhe o nome; após o que exibirá o mestre uma estampa
desse objeto, ou desenhará no quadro preto, induzindo os alunos a
notarem como essa é a imagem ou pintura dele. Em seguida se lhe
imprimirá por inteiro o nome no quadro preto, ou apresentará impresso
numa carta ou mapa. Então apresentará o discípulo a distinguir o objeto, a
sua imagem a palavra que nomeia; assim, por exemplo: “a xícara, a
imagem da xícara, a palavra xícara”. Destarte podem-se ensinar muitos
vocábulos, antes de estrearem os sons ou letras de cada um.
(VALDEMARIM, 2004, p. 422).
Essa descrição revela a postura pedagógica das duas professoras do Grupo
Escolar e suas atitudes se refletem como a inspeção atuava de maneira insistente,
pois a turma da primeira professora, na mesma visita, passa a ser elogiada por ter
seguido as recomendações dadas pela inspeção. Por outro lado, a turma elogiada
havia passado na o de vários professores, não havia obtido boa aprendizagem e,
agora, nas mãos de uma professora que seguiu as orientações, houve o retorno da
auto-estima e da aprendizagem. Nesse episódio aparece a falta de entendimento
entre os professores, os quais não aceitaram os novos métodos e seguiram o que
sempre fizeram na forma de ensinar. Se a forma de alfabetizar com sílabas sempre
teve resultado por que experimentar novos métodos? Entende-se o que em 1938,
afirma Lourenço Filho (2002, p. 78) sobre a ação educativa intencional que,
conforme ele, “rege-se pelas convicções que o homem possa ter sobre o mundo, a
vida e o seu próprio destino. O trabalho educacional visa a um dever-ser”.
A Inspeção, como uma especifica forma de controle, surge no cenário
brasileiro no Ratio Studiorum, conforme o Plano Geral dos jesuítas após a morte
de Nóbrega em 1570 e que passou a vigorar em todos os Colégios da Companhia
de Jesus a partir de 1599. Este Plano composto de regras relativas às
responsabilidade de todos os agentes diretamente ligados ao ensino, salienta a
figura do “prefeito de estudos” como assistente da autoridade máxima o Reitor
para auxiliá-lo na “boa ordenação dos estudos” Saviani (2006c, p. 21) O conjunto
das regras do Ratio Studiorum no Plano Geral dos jesuítas configura a idéia de
supervisão e de inspeção, inspeção esta, que controla as regras fornecidas pelas
autoridades educacionais.
50
O controle da qualidade da educação, como garantia de efetivação de uma
forma de cidadania tem sido “ferramenta” imprescindível para a
concretização da educação, de uma determinada educação, longas
décadas. Já no Estado Novo e, mesmo antes, este controle era exercido,
não sob a forma de gestão democrática como nas últimas décadas se
exercita e cultiva, na formação de profissionais da educação e nas práticas
educacionais, mas como controle vertical e pontual exercido pela inspeção
que controlava, literalmente, questões pontuais nas escolas, questões
estas que garantiam à formação de um tipo determinado de cidadania
considerada a necessária para a época, através de visitas de profissionais
que exerciam este cargo com estas responsabilidades. (SAVIANI, 2006, p.
21)
Ao inserir Lourenço Filho, este estudo dirige-se à presença obrigatória da
inspeção no estabelecimento. Anísio Teixeira e Fernando de Azevedo o
defenderam. É um encargo antigo, praticado ainda no Império que teve enorme
valorização pelo trio da Pedagogia Nova. Em termos de Santa Catarina, a exigência
da inspeção escolar foi de Stodieck, Trindade, João Roberto Oliveira e de Elpídio
Barboza. Isso, nas décadas de 1930 e 1940, quando cuidavam da nacionalização do
ensino e do método a ser utilizado no ensino escolar. O inspetor escolar continuou
sendo o liame entre as políticas governamentais e a prática pedagógica nas
décadas seguintes. Assim, têm-se no Grupo Escolar em estudo as inspetoras de
ensino a posicionar-se em 1965.
Na inspeção de 13 de agosto de 1965, duas inspetoras estavam presentes:
uma da 66ª Circunscrição, a professora Diva Correia da Rosa e uma da 3
Circunscrição, a professora Dilma Terezinha Granzotto. Elas registraram que os
métodos utilizados eram ótimos e elogiaram o número de materiais concretos e
ilustrativos com que as professoras trabalhavam em suas aulas. É importante
ressaltar que, nesse momento, a escola contava com três auxiliares de regência que
atuavam como apoio pedagógico da direção. Segue a descrição do material:
Língua Nacional Oral com sistemas de fichas, foi feita a leitura, sendo que
reconheceram bem a junção de sílabas. Apesar de serem a maioria, alunos
tardos, esforço da Professora, na confecção de material didático e ao
ministrar suas aulas. Em Estudos Sociais a professora movimentou a
classe, fazendo-a reconhecer as cores, num ótimo material didático,
constante de um cartaz onde cada aluno pintava um retângulo com
determinadas cores. (LIVRO de Visita, 1965, p. 61).
No registro das inspetoras, consta que a professora conta com variadas
coleções de material didático, confeccionado por ela mesma, Aritmética
51
aproveitamento em Aritmética conforme os exercícios dados houve fixação e
aprendizagem observadas nos problemas e nos joguinhos. Com abundância de
recursos áudios-visuais, os alunos aprendem com facilidade.
No Relatório de inspeção de agosto de 1966 o aspecto do método é
conceituado como muito bom e regular e os professores orientados a utilizar
materiais ilustrativos e concretos. Seguem algumas recomendações:
a) Quando escrever no quadro não soletre e sim, leia a palavra toda.
b) Procure interessar as crianças, através de histórias mostrando-lhes, se
possível, alguma coisa de concreto em relação ao assunto.
c) A leitura é aconselhável preparar no quadro negro.
d) Dar mais exercícios escritos, não esquecendo corrigi-los.
e) Usar material didático em abundância a fim de tornar suas aulas mais
concretas.
f) Fazer com que cada aluno fale por sua vez.
No relatório de inspeção de 10 de maio de 1969, o último dos registros
encontrados no arquivo da escola, as observações são muito parecidas com as de
1966. A então diretora em 1966 foi elevada a cargo de inspetora da 66ª
Circunscrição. Observa-se que muitas alunas eram do Curso Normal Regional, fato
este que destaca a importância do Curso Normal Regional, anexo ao Grupo Escolar
Gustavo Richard. Por isso, a recomendação sobre a boa utilização das técnicas de
ensino O elemento novo nesse relatório são as indicações ao uso de dramatização,
reforçando o uso dos materiais concretos e ilustrativos juntamente com o maior
número de tarefas.
4.3 OS PROGRAMAS ESCOLARES E OS CURRÍCULOS
Nos Relatórios de Inspeção encontram-se registrados os conceitos que os
inspetores de ensino deram à aplicação dos programas escolares no G. E. Gustavo
Richard. No Relatório de Inspeção de 20 de setembro de 1937 o professor Hermínio
Heusi da Silva registra que o programa em todas as disciplinas está mais ou menos
desenvolvido e que os todos e processos de ensino são bons. A leitura desses
relatórios indica em sua maioria, que o cumprimento dos programas era bom,
destacando que o ensino era ministrado com clareza e desembaraço. Em 16 de
junho de 1939, o mesmo inspetor relata que o ensino está regularmente
52
desenvolvido em todas as classes, sendo boa a impressão geral do Grupo Escolar
Gustavo Richard.
No livro Termo de Visitas das Autoridades Escolares, no relatório que data de
10 a 14 de março de 1941, o inspetor Germano Wagenführ destaca que na reunião
pedagógica tratou dos seguintes assuntos:
a) A escrituração do livro de chamada.
b) Como em geral devem ser dadas as aulas.
c) A pergunta do professor e a resposta do aluno.
d) A técnica do ensino de leitura, linguagem oral e escrita, aritmética e
geometria, geografia e cartografia, história, educação, noções de
ciências, caligrafia e ditado.
e) Ligeiras orientações quanto às organizações peri-escolares.
f) Cooperação social do corpo docente nas horas do recreio dos alunos.
No item b, o inspetor detalhou como deveria ser ministrado cada programa de
ensino das disciplinas existentes, conforme segue:
a) que as aulas sejam sempre muito práticas e intuitivas, exigindo sempre,
quando possível, a cooperação dos alunos, afim de haver mais
interesse dos mesmos no trabalho escolar;
b) se a aula for bem dada e se mantiver no limite da compreensão dos
alunos, será atraente para os mesmos e, naturalmente, toda a classe
prestará atenção e acompanhará os trabalhos- e por seu turno a
disciplina em aula é causada, na quasi totalidade dos casos, por aulas
mal dadas ou enfadonhas. Com boa disciplina haverá bom
aproveitamento.
c) as aulas de linguagem oral, em todas as classes, devem merecer um
cuidado especial, deve-se exigir correção no falar dos alunos, clareza
na pronúncia, obrigando, principalmente nos primeiros anos, os alunos
a responderem em sentenças completas, corrigindo-lhes nessa ocasião,
vexá-los, os erros de pronúncia e vícios de linguagem.
d) ensinar a gramática, não por regras decoradas, mas a mão de fatos que
ocorrerem na leitura, ou em casos inteligentemente apresentados pelo
professor;
e) em aritmética não passar exercícios com números astronômicos, nem
problemas irreais ou mosaicos, charadas”, mas sim sempre que
possível ligados ao meio; os termos devem ser claros, reais e com
números comedidos; estes problemas devem ser muitas vezes
concretizados, a fim de esclarecer melhor a relação que existe entre as
diversas quantidades;
f) o ensino de geografia deve ser sempre acompanhado da demonstração
prática, junto ao mapa, ou senão acompanhado de uma ligeira
cartografia do assunto a estudar;
g) a história deve ser dada com o devido entusiasmo para incentivar o
patriotismo dos alunos quanto aos fatos dignos de imitar, e todas as
explicações serão acompanhadas com vistas relativas ao assunto e
mostrando no mapa o local onde se deu o fato histórico;
h) no ensino de ciências os professores farão os alunos interessarem-se
por todos os fenômenos e tudo que observarem, tornando-os mais
perspicazes e, portanto, acompanharão melhor as explicações dos seus
professores
quando fizerem as demonstrações práticas dos fenômenos
53
ou do espécime a estudar; também provocará assim, o interesse dos
alunos a trazerem para o grupo tudo que possa auxiliar o ensino, - e
será assim organizado um museu escolar com os objetos trazidos, mas
selecionados;
i) que dêem um cuidado especial às aulas de caligrafia dos alunos, sendo
afinal todas as aulas escritas também aulas de caligrafia, pondo em
prática as instruções relativas que dei.
Na inspeção de 14 de setembro de 1942, o mesmo inspetor cobra dos
professores mais redações livres, maior atenção na correção dos erros de português
e mais atividades de aritmética. Lembrando que o inspetor assistia às aulas em
todas as classes deixando exemplos claros, destaca a leitura oral e a uma boa
escrita e frisa o asseio e a boa ordem. Todas as atas seguem a mesma linha, uma
vez que na maioria delas eram os mesmos professores. O Relatório do dia 20 de
setembro de 1945 aponta para uma turma do segundo ano que ele considerou fraca:
os cadernos eram irregulares em escrita e caligrafia; também o asseio merecia
melhorar; recomendou melhorar as aulas de história usando mais gravuras e figuras;
maior treinamento da tabuada; maior assistência direta aos alunos em linguagem;
cobrança para que os alunos se esforçassem para melhorar a caligrafia, a ordem e o
asseio nos cadernos.
Aqui merece destaque que o papel do inspetor não era apenas de fiscalizador
da República, mas também de um apoio pedagógico que auxiliasse na
concretização do novo Método de ensino que estava sendo divulgado no país. É
claro que de novo ele o tinha nada, pois desde o final do século XIX, Rui Barbosa
vinha insistindo para que os professores utilizassem melhor todo de ensino
aprendizagem até então conhecido. Por outro lado não podemos deixar de enfatizar
que a educação sempre serviu para atender aos interesses ideológicos de uma
determinada classe política ou de um ideário sociológico.
A partir de agosto de 1947, a escola passa a ser inspecionada pelo senhor
Olivo Dellagiustina. Sobre o modelo pedagógico instrui:
a) Dá-se convenientemente a matéria que se tiver de ensinar e
desenvolva-se cada assunto de acordo com a madureza mental da
classe;
b) Dê-se caráter prático ao ensino, apresentando, sempre que possível, o
objeto de estudo (ou pelo menos gravuras do mesmo) aos alunos, para
que possam examinar. Os quadros fornecidos pelo Departamento de
Educação e, principalmente, os centros de interesse organizados com
a colaboração dos próprios alunos, são de grande utilidade.
c) Antes de entrar no assunto é preciso despertar o interesse dos alunos
para o mesmo. O que o aluno aprende é uma nova experiência que ele
54
adquire e não se pode impor experiência a ninguém. Conclui-se daí
que aprende o aluno que quer aprender e esse querer é
despertado pelo interesse em uma aula prática, vivida e não apenas
assistida pelo aluno. Uma aula oral é, pois uma troca de idéias entre o
professor e o escolar, cabendo ao primeiro a orientação para alcançar
o fim colimado e ao segundo, a maior atividade.
d) Em uma boa classe deve predominar o bom humor e a vivacidade, sem
prejuízo para a disciplina que é indispensável para a aprendizagem.
(LIVRO de Visita, p. 40, 1934 a 1952).
O Decreto Lei 3735 de 1951 proibia os professores de exigir dos alunos a
decoração, conforme reza o artigo 74:
É proibido o uso dos alunos decorarem compêndios ou mesmo
apontamentos fornecidos ou ditados pelo professor. Os pontos devem ser
explicados devidamente pelo professor, depois feito um esquema sobre o
assunto o qual o aluno deverá desenvolver. Isto deve ser feito
principalmente nos primeiros anos.
Os artigos 137 e 142 versam sobre a avaliação e a classificação dos alunos,
conforme segue:
(((Artigo 137 haverá todos os meses, exceto em novembro, provas
escritas nas classes de 2º, e anos alternadamente; a) Linguagem e
Aritmética; b) Geografia; c) Conhecimentos Gerais aplicado a vida social, a
educação para saúde e o trabalho.
Artigo 142 Classificação dos alunos. O professor deve fazer a
classificação dos alunos nos respectivos livros de chamada ou fichas.
Considerando fortes” os alunos que obtiverem notas de 75 a 100; médios”
os que obtiverem notas de 50 a 70; e “fracos” aqueles com notas inferiores
a 50.
No Termo de Visita de 30 de setembro de 1960, o inspetor Licurgo Aleixo
Nora, relata o trabalho de cada professor. “Darei a seguir a impressão que tive de
cada funcionário no desempenho de suas funções específicas. Sobre o esforço,
capacidade e eficiência”:
Professora regente 01: 1 ano A
Matrícula: M 21- F 17- T 38
Freqüência: M 21- F 15- T 34
Classificação: MF 11- MM 6 – MT 4 – FF 2- FM 11 – FT 4
Provas mensais: em dia
Aulas Assistidas: Leitura, Linguagem oral e escrita, aritmética e caligrafia.
Método de ensino: Muito bom
Desenvolvimento: Muito boa
Tarefas diárias: em dia.
Cooperação da regente nos recreios: boa
Ordem e gosto artístico na organização da sala de aula: bom
Impressão oral recebida: ótima
Recomendações: nada tenho a recomendar.
Professora regente 02: 1º ano B
55
Matrícula: M 14 – F 19 –T 33
Freqüência: M 13- F 14 –T 33
Classificação: MF 1- MM 10- MT 3- FF 0- FM 15- FT 4
Provas mensais: Foram feitas regularmente.
Aproveitamento: Pode ser considerado de um modo geral bom.
Aulas Assistidas: As do programa.
Método de ensino: Analítico sintético e, linguagem. Nas demais disciplinas,
bom.
Desenvolvimento do programa: bom
Tarefas diárias: em dia
Cooperação da regente nos recreios: deve ser melhor.
Escrituração geral da classe: feita com coração e capricho.
Cooperação com orientação das associações auxiliares: com discreta
atuação (orienta o Clube de Leitura).
Disciplina: boa
Impressão geral recebida: boa
Recomendações: a) que siga rigorosamente a orientação e recomendações
que deixei. (TERMO de Visita, 1960).
O mesmo inspetor registra a avaliação de uma segunda professora:
Professora regente 03: 1º ano X
Matrícula: M 22- F 18- T 40
Freqüência: M 15- F 16- T 39
Classificação: MF- MM 10- MT 12- FF 0- FM 8- FT 8
Provas mensais: Foram feitas mensalmente
Aulas assistidas: as do programa
Aulas ministradas: as do programa
Aproveitamento: sofrível
Método de ensino: péssimo
Desenvolvimento do programa: foi feito, porém, sem resultado.
Tarefas diárias: inexpressivas.
Cooperação da regente nos recreios: regular.
Disciplina: Deixa muito a desejar.
Como orientadora da Liga Pró Língua Nacional: indiferente.
Gosto estético e artístico na organização da sala de aula: regular
Outras observações: Ao findar a inspeção visitei novamente a classe da
professora em tela e observei com satisfação, que a mesma adotou as
sugestões da Inspetoria e passou a ministrar aulas vivas, intuitivas e
interessantes.
Impressão geral recebida: A essa altura, boa, pois a professora demonstrou
a disposição de envidar esforços no sentido de melhorara o aproveitamento
de seus alunos.
Recomendações: que siga rigorosamente as recomendações e orientação
que deixei. (TERMO de Visita, 1960)
Uma terceira e uma quarta foram avaliadas pelo inspetor, na forma de um
formulário padrão:
Professora regente 04: 2º ano V
Matrícula: M 18- F 13- T 31
Freqüência: M 16- F 13- T 29
Classificação: MF 0- MM 4- MT 14- FF 2- FM 2- FT 11
Provas mensais: Foram realizadas mensalmente.
Aproveitamento: Sofrível.
Aulas assistidas: As do programa.
56
Método de ensino: Bom
Desenvolvimento do programa: Foi feito, porém sem êxito.
Tarefas diárias: Em dia.
Como orientadora das associações auxiliares- Tem desenvolvido um
trabalho muito bom.
Nota: A regente o é responsável pela atual situação da classe, por ter
gozado licença para a gestação a contar de março a julho.
Impressão geral recebida: boa
Recomendações: que siga as orientações que deixei.
Professora regente 05: 2º ano Z
Matrícula: M 14- F 17- T 31
Freqüência: M 11- F 17- T 31
Classificação: MF 2- MM 8- MT 4- FF 2- FM 7- FT 7
Provas mensais: Em dia.
Aproveitamento: Regular.
Aulas assistidas: As do programa.
Método de ensino: Regular.
Desenvolvimento do programa: Em dia, porém se êxito.
Cooperação da regente nos recreios: regular.
Na orientação das associações: Coopera com
Jornal Escolar: Regular.
Escrituração geral da classe: em dia.
Tarefas diárias: Deixam muito a desejar.
Disciplina: Deixa muito a desejar.
Impressão geral recebida: De regular a boa.
Recomendações: a) que a correção dos exercícios deve ser feita com mais
rigor, apontando os erros praticados pelos alunos e comentá-los
acompanhados da correção que deverá ser feita no quadro negro; b) que
siga rigorosamente a orientação que deixei.
A organização do trabalho pedagógico está posta conforme os métodos e das
técnicas provenientes das normas governamentais, inspecionadas e avaliadas
rigorosamente pela inspetoria do ensino. O registro do inspetor deixa claro o que ele
considera correto e apresenta a cada professora uma avaliação pessoal. As
recomendações, dadas por ele, têm o direcionamento do currículo prescrito que é
levado ao professor.
Entende essa análise que o currículo prescrito, posto que os registros
referem-se especificamente aos métodos e às técnicas de ensino – orientação
proveniente do PABAEE Programa de Assistência Brasileiro-Americana ao Ensino
Elementar, cujas determinações o governo catarinense aderiu - chegou aos
professores que não o assimilaram; ou seja, não entenderam na prática como
aplicá-lo, pois este seguia as determinações norte-americanas de ensino e com a
insistência da inspeção; aos poucos, os professores aderiram aos métodos
impostos. O método americano visava minimizar a reprovação, evasão e dar um
novo sentido a escola, partindo da formação dos professores, este teve seu início no
Brasil em 1954, em Belo Horizonte no estado de Minas Gerais. A idéia era partir das
Escolas Normais dando a elas condições de formar professores mais dinâmicos e
57
conhecedores de métodos que levassem os seus alunos a aprendizagem, aqui o
Método Intuitivo ou Lições de Coisas começava a ser superado. Ao final da
inspeção do professor Licurgo Aleixo Nora, tem-se registrado que ele retorna à
classe da professora que, na primeira visita, não havia cumprido as determinações,
afirmando que “ao findar a inspeção visitei novamente a classe da professora em
tela e observei, com satisfação, que a mesma adotou as sugestões da Inspetoria e
passou a ministrar aulas vivas, intuitivas e interessantes”. É uma comprovação da
insistência do inspetor no cumprimento das orientações governamentais, da
eficiência da inspeção e das normas prescritas. A eficiência não abriga apenas a
aceitação dos métodos e das cnicas impostos aos professores, mas, tornou-se, ao
menos nesta parte da inspeção, uma prática pedagógica na ação dos professores.
Nessa perspectiva e nesse episódio, pode-se concluir por uma organização
do trabalho didático, instituída e praticada na ação docente.
No Termo de Visita de 10 de março de 1962, a inspetora Zenaide M. S.
Pereira da Costa faz observações relevantes quanto ao Programa e ao Currículo:
1º) Ensino de Aritmética: Sempre fui e continuo sendo de opinião que es
fraco em nosso grupo escolar. Tenho esperanças, que baseadas nos livros
que a direção indicou aos professores, no corrente ano (apesar de não ter
sido, no começo do ano letivo) e havendo ainda troca de autores entre as
classes do mesmo grau de ensino, levando à risca toda a matéria do
programa mínimo, tal falha será superada facilmente. Exigir muito
raciocínio.
2º) Caligrafia: Sem querer ferir a sensibilidade de ninguém, esta é uma
falha, que só poderá ser sanada com o empenho de todas as professoras,
de todas as classes. As crianças concluem o curso primário e continuam
pela vida afora, com letra feia, desleixada, imperfeita. Corrigir a grafia, nos
mínimos detalhes, sem permitir floreios ou imperfeições não existentes nas
regras caligráficas.
3º) Ao ministrar uma aula, ou fazer determinada pergunta, nunca dizer meia
palavra para o aluno concluí-la. Sei que tal procedimento talvez se prenda
ao instinto maternal de que somos dotadas, com o intuito de auxiliar, não
ver sofrer nossos alunos, mas é improdutivo. Por ex.: Quem foi o imperador
da França, vencido na Batalha de Waterloo? Foi Napoleão... Aos alunos
coube apenas a última sílaba da resposta. É exigir pouco demais de nossos
alunos.
4º) Todo o trabalho de desenho, estará pronto quando tiver: data, nome
do aluno, classe, nota, e isto deve ser feito antes de começar o trabalho.
5º) Primeiro formular a pergunta para depois chamar o aluno. Procedendo
ao contrário, provocará a preguiça mental dos não solicitados.
6º) A correção nos cadernos deve ser feita exclusivamente com tinta
vermelha, devendo-se dar preferência à tinta de tinteiro, em vez da
esferográfica (pela estética, apesar de não ser tão cômoda).
58
Percebe-se que a inspetora avaliou não somente aquele momento do Grupo,
mas fez uma avaliação mais geral, o que foi relevante para elencar as falhas que
necessitavam mudanças para a melhoria do ensino.
Em 1963 o G. E. Gustavo Richard passou por graves problemas pedagógicos,
conforme aponta o inspetor Licurgo Aleixo Nora, no Relatório de Inspeção de agosto
de 1963. As críticas do inspetor dirigem-se ao não cumprimento do Programa de
Trabalhos Manuais e Desenho conforme as orientações do Departamento de
Educação de 1949; a não utilização de materiais concretos e ilustrativos nas aulas
de Cartografia, Geografia e História; e ressalta que a direção não tem cumprido o
seu papel de orientar os professores em classe e ministrar aulas. Destaca-se que,
nesse momento, a diretora do Gustavo Richard estava afastada para estudos, fato
raro entre os professores naquela época. Acerca das funções do diretor de um grupo
escolar, a citação de Silva (2006, p. 364) é esclarecedora:
O diretor, além de referência administrativa, seria uma referencia
pedagógica no grupo escolar, cabendo-lhe a função de ministrar aulas a fim
de que os professores observassem os métodos e processos de ensino que
deveriam seguir.
Frente aos problemas encontrados nesse período, o inspetor recomenda:
a) Observar rigorosamente o programa de desenho e trabalhos manuais.
b) Tomar conhecimento do decreto 506 de 20 de maio de 1949 que consta
da coletânea de programas de ensino primário, pag.65.
c) A Geografia deixa muito a desejar, pois os alunos demonstram
incapacidade de localizar os conhecimentos geográficos e cartográficos
mais elementares; nem sequer os Estados do Brasil com suas capitais.
Houve muito pouco trabalho cartográfico.
d) A composição deve ser encarada com muita atenção e exercitá-la o
maior número de vezes, abordando oralmente e por existir os mais
variados assuntos; sugerimos pelo meio onde a criança reside.
e) Todo o trabalho gráfico deve revelar progresso na ordem, meio e na
economia de papel e boa apresentação estética.
f) Não esquecer que a aprendizagem ideovisual é a mais eficiente.
g) Não há aula mais eficiente que aquela em que o aluno é posto diante da
realidade.
h)
Para alunos noção de como funciona o sistema democrático, no que diz
respeito ao poder legislativo, levar os alunos á assistirem uma sessão
da Câmara Municipal. (RELATÓRIO de Inspeção de 26 de agosto de
1963).
59
4.4 OS RITOS CÍVICOS
De forma contrária às exposições, nas quais a escola mostrava aos pais e à
comunidade as atividades realizadas durante o semestre ou ano letivo, e que tinham
por objetivo dar visibilidade à instituição, os ritos cívicos eram promovidos sem
aparato e tinham outro objetivo, conforme revela Silva (2006, p. 371): “nas vésperas
dos feriados, os professores e diretores deveriam promover solenidades que
infiltrassem na alma das crianças o amor e o respeito à pátria”.
Aos bados, os alunos, além de cumprirem suas atividades, deviam
enaltecer a pátria. Havia, então, a homenagem à Bandeira cuja organização ficava a
cargo das turmas, começando com o ano, em seguida o e assim
sucessivamente, conforme consta em várias atas: “todos os sábados haverá uma
festinha em homenagem a Bandeira, ficando a professora do ano encarregada de
organizar para o próximo sábado; a seguir as demais classes, na ordem
decrescente”. Na Ata do dia dez de setembro de 1949, consta a exigência quanto à
organização: “o professor encarregado de apresentar a festinha semanal de
homenagem à Bandeira, deve organizar o programa com antecedência, para que o
mesmo possa ser bem preparado”.
Além da homenagem à Bandeira Nacional que ocorria todos os sábados, o
dia 7 de setembro e o dia 19 de novembro eram comemorações grandiosas, estas
com a presença dos pais e da comunidade.
No livro da Atas datado de 01 de maio de 1948 e na Ata do dia 15 de maio de
1948, encontramos uma citação, pertinente e ao mesmo tempo bastante
questionadora. Assim, a seguinte citação na ata merece destaque: “todos os alunos
devem conhecer o Hino Nacional. Devem-se aproveitar as aulas de canto para
ensaiar também, novos hinos. As festas escolares devem conter números variados,
evitando, sempre o excesso de poesias; intercalando cantos e outros números.” Os
números nas festas mais tradicionais acabam sendo sem graça e repetitivos; claro
que para os pais, enquanto as crianças são pequenas, tudo fica muito bonito e os
crivos da avaliação acabam sendo bem menores.
Em 1949, um Telegrama Circular de 19 de setembro avisa sobre a
promulgação da lei que determina a homenagem aos professores:
60
A lei 145 de 12 de outubro de 1948 institui o “dia do professor”, a 15 de
outubro, sendo este dia considerado feriado escolar. O Departamento de
Educação sugere, pela Circular 8, que esta data seja festejada
condignamente, em todos os estabelecimentos de ensino.
As datas cívicas, os fatos e os personagens heróicos eram enaltecidos,
servindo como base de sustentação e fundamentação da República. Nesse sentido,
a disciplina de História, articulada à Instrução Moral e Cívica, foi explicitamente
utilizada para alcançar o objetivo de reforçar os sentimentos patrióticos dos alunos.
O governo Vargas cuidou “da constituição da galeria dos heróis nacionais, pela
instituição tanto de feriados e festas cívicas quanto da seleção dos personagens a
serem cultuados” (NADAI 1992/1993, p. 151).
No termo de inspeção de 19 de agosto de 1967, destacam-se as Festas
Escolares realizadas: 1 - Pan-americanismo, 2 - Tiradentes, 3 - Descobrimento do
Brasil, 4 - Dia das Mães, 5 - Dia dos Escravos, 6 - Batalha de Tuiuti, 7 - Batalha do
Riachuelo, 8 - Dia dos Pais. As festas em homenagem à Bandeira foram distribuídas
de forma que todas as professoras do Estabelecimento ficassem responsáveis por
uma.
Na Ata da Reunião Pedagógica de 20 de agosto de 1966, cita o pedido da
diretora sobre o dia 7 de setembro:
2 Pediu a colaboração das professoras para os festejos do dia 7 de
setembro. Todas sem distinção deverão ajudar na vigilância dos
alunos durante o desfile e providenciar o quanto antes o uniforme
completo – sapatos pretos e meias brancas.
Observa-se aqui que as datas cívicas eram sempre reverenciadas, fazendo
com que a Bandeira fosse sempre homenageada, fato este que até hoje as escolas
em suas comemorações colocam em destaque. Mas, o impressionante era que as
batalhas eram muito destacadas, dando uma forte conotação ao Estado, ao mesmo
tempo em que estávamos em plena ditadura militar. Como estávamos em plena
Ditadura Militar, a referência as Batalhas, ao Exército era uma forte indicação de
esta instituição representava o poder, a segurança e a disciplina para fazer dos
educandos cidadãos conscientes e obedientes a seus governantes.
61
4.5 O MOBILIÁRIO E OS MATERIAIS DIDÁTICOS UTILIZADOS
Nóbrega (2003, p. 268) relata que os quadros-negros foram uma incorporação
de grande importância pedagógica na estrutura dos prédios que abrigam os grupos
escolares. Outra novidade foi o mobiliário:
A mobília escolar destinada ao aluno era composta de carteira e cadeira
individuais também uma novidade e era encarada como grande fator de
higiene e disciplina: “Como, pois exigir-se que uma criança se torne quieta e
atenciosa, enfim, bom aluno, se o colocamos cinco horas em cima de
tábuas duras e sem encosto?” (NOBREGA, 2003, p. 268)
A citação acima se refere à fase áurea da criação dos grupos escolares. No
entanto, conforme dissemos no início deste relatório, o G. E. Gustavo Richard foi
inaugurado no segundo momento da expansão da rede pública de ensino
catarinense, quando os grupos escolares pendiam para sua abertura aos filhos das
outras classes sociais. Isso implicou a inauguração do Gustavo Richard em um
prédio cedido pelos padres, com problemas estruturais e, conseqüentemente,
relacionados, também, à mobília. Conforme pode ser observado no Relatório de
Inspeção de 20 de setembro de 1937 no qual o inspetor Hermínio Heusi da Silva
relata: “o material escolar, em número suficiente, está muitíssimo estragado. Há falta
de duas mesas para professores, dois estrados e mapas da Europa, Ásia, África,
América e Oceania”.
O Relatório constante no Livro de Visitas das Autoridades Escolares/1934,
datado de 21 de Junho de 1935, o inspetor José Joaquim de Lima Xavier, descreve
o mobiliário completo. Na ata de 27 de Junho de 1935, o mesmo inspetor relata que
o mobiliário e o material didático estão em bom estado de conservação.
Mesmo quando o Grupo passou a funcionar no novo prédio foi relatada a
precariedade do material didático e do mobiliário, então considerados velhos. Esse
relato está bem claro no primeiro Relatório de Inspeção do novo prédio que foi
inaugurado em 1940. Escreveu o inspetor Germano Wagenführ na página 9 do Livro
(Livro de Visita 1934):
O mobiliário existente é velho e muito estragado, havendo até três salas
mobiliadas, duas com bancos antiquados e outra improvisada com taboas
toscas, feitas mesas; todas estas salas absolutamente não satisfazem as
exigências pedagógicas. Torna-se, pois, necessário ser adquirido mobiliário
novo e apropriado para êste estabelecimento. Faltam também cortinas para
62
todas as salas de aula e gabinetes, sendo necessário 135m de pano a
1m40 de largura
Falta ainda o seguinte material permanente: mapas da América, Europa,
Ásia, África e Oceania, um Mapa Mundi, globo; quadros anatômicos da
circulação, respiração, digestão, sistema nervoso e ósseo, dos órgãos dos
sentidos, quadros histórico e material para o ensino de ciências físicas e
naturais.
Dois anos depois a situação muda. Durante a inspeção ao Grupo Escolar
Gustavo Richard, entre os dias 05 a 14 de setembro, o mesmo inspetor relata:
O mobiliário era todo novo e em muito bom estado de asseio e
conservação; foi fornecido em meados do ano passado.
O material permanente fornecido pelo Departamento de Educação, em
novembro do ano passado, está em perfeito estado de conservação e nos
mapas e quadros foram colocados reguinhas.
Nos relatórios correspondentes aos anos de 1943 a 1949, o mobiliário é
descrito como em ótimo estado de conservação e o material permanente bem
cuidado e guardado. No Termo de Inspeção de 26 de outubro de 1946, o inspetor
Edward Borufilva relata que teve uma ótima impressão do estabelecimento escolar,
quando assistiu à aula de Educação Física, elogiando a professora que regia esta
disciplina desde 1943.
Considerando os relatórios de inspeção, podemos afirmar que de 1942 até a
década de 1960 não houve substituição do mobiliário escolar, o que consta nos
relatos dos inspetores a partir de 1960. Licurgo Aleixo Nora, em inspeção em 30 de
setembro de 1960, descreve que o mobiliário está muito estragado e em número
insuficiente, dando o seu parecer para aquisição de novo material. Quanto ao
material pedagógico permanente em estado de insuficiência, tanto quanto o
mobiliário. Segue seu parecer:
O mobiliário quantitativamente insuficiente, qualitativamente precaríssimo,
muito danificado pelo longo uso. Sou de parecer que o grupo esà altura
de ser equipado com um mobiliário novo e atual, após uma reforma,
distribuí-lo pelos estabelecimentos do interior que mais necessitem.
Material didático permanente - Existem apenas uns quatro mapas do Estado
e uns quatro mapas do Brasil em bom estado de conservação. Em péssimo
estado: um mapa-múndi, um das Américas, que além de serem danificados
pelo longo uso são antiquados. É uma pena que os nossos grupos e demais
estabelecimentos estejam tão esquecidos no que diz respeito ao
indispensável material didático ilustrativo, quando se recomenda o ensino
intuitivo. Observei o fracasso na orientação da aprendizagem de geografia,
retrocesso que atribuo à falta de material intuitivo adequado, ou seja:
quadros ilustrativos de indicação geográfica, mapa-múndi, etc.
63
Em 1962, a inspetora Zenaide relata o mesmo quadro referente ao mobiliário,
juntamente com a falta de material didático pedagógico adequado às necessidades
do ensino. Merece destaque o empenho dos professores em confeccionar material,
reforçando o caráter intuitivo da aprendizagem. Escreve a inspetora:
O ensino intuitivo requer material didático ilustrativo e é pequeno o material
disponível, confeccionado pelas professoras, com sacrifícios, para melhorar
o ensino e a aprendizagem. Nota-se diversos centros de interesse, porém
há falta de Quadros intuitivos de Linguagem, Higiene, Alimentação, Animais,
Geográficos, Históricos, etc.etc. (LIVRO de Visita, 1960).
Os Relatórios de 1963 reafirmam a precariedade da mobília e a inadequação
ou a falta mesmo dos materiais didáticos. O inspetor lembra com saudosismo o
tempo em que os alunos podiam conhecer a forma dos continentes. As escolas não
recebiam os materiais didáticos para operar as cnicas de ensino prescritas pelo
PABAEE.
Nesse aspecto vale destacar as idéias de Teive, quando descreve que o
Método Intuitivo ou Lições de Coisas necessitava de materiais pedagógicos usuais
para a professora utilizar.
Não foi à toa que a produção de materiais escolares propagou-se final do
século XIX e início do século XX, invadindo rapidamente as salas de aula,
transformando-se em novos instrumentos de trabalho do/a professor/a e em
facilitadores da aprendizagem dos/as alunos/as. As salas de aula, mormente
as dos grupos escolares, enchenram-se de luz, cor e formas: gravuras,
mapas, coleções de insetos, globo terrestre, abecedários de madeira,
esqueletos humanos, imagens de homens ilustres, etc., “faziam as delícias
da pequenada”, como assinalou Cazuza em suas memórias de um menino
de escola, ao mesmo tempo em que, silenciosamente lhes ensinava os
valores morais-cívico-patrióticos da República. (TEIVE, 2008, p. 118)
No Termo de Visita de 8 de maio de 1964, o mobiliário e os materiais
didáticos permanentes são citados como precários e com necessidade urgente de
substituição, porém a recomendação é de que ao serem substituídos, esses
materiais precários, velhos e inadequados sejam levados para as classes do interior.
Assim está descrito no termo de visita: “Mobiliário é antiquado e muito danificado
pelo longo uso. A nosso ver, salvo melhor juízo, existe a necessidade da
substituição do atual por um mobiliário novo e atualizado e o existente, após os
necessários reparos, poderá ser aproveitado nas escolas isoladas do interior”.
64
(Termo de Visita, 1964). Esta última frase comprova a hierarquia das escolas na
mentalidade de um representante do governo estadual.
As visitas dos inspetores/as nos anos de 1965 a 1968 revelam que nem o
mobiliário, nem o material didático haviam sido substituídos por novos. Em 1965
existia no Grupo escolar Gustavo Richard apenas, e bem gastos: as bandeiras do
Brasil e do Estado; mapas do Brasil e de Santa Catarina; um mapa-múndi, um globo;
figuras geométricas de madeira e ábaco. A necessidade urgente de uma reforma e
de equipamentos novos era apontada por todos os inspetores. Em agosto de 1967,
os inspetores responsáveis assim relataram: “VI Mobiliário - é velho, merecendo a
substituição completa. VII – Material Didático Permanente - falta quase na sua
totalidade”. A precariedade do mobiliário, a inadequação do material didático e, a
partir daí, a falta desse material didático é denunciada em praticamente todos os
Relatórios. Lembremo-nos de que ainda se estava sob os métodos e as técnicas do
PABAEE.
4.6 OS AGENTES ENCARREGADOS DO FUNCIONAMENTO
Uma nova organização administrativa foi necessária. Se nas escolas isoladas
havia somente o professor e, talvez, o material didático usado e reformado do Grupo
Escolar. O professor além de ensinar administrava e limpava, e o inspetor, nos
grupos escolares essas tarefas seriam divididas. Portanto novas funções deveriam
se instalar no interior deles: diretores, secretárias, merendeiras, serventes, zeladores
passariam a circular junto aos professores, inspetores e alunos.
Os inspetores de ensino faziam o levantamento de todo o funcionamento da
unidade escolar, fiscalizavam, orientava e avaliava o trabalho de todos os
funcionários da escola. Inclusive, ministravam aulas no intuito de mostrar como se
deve fazer na prática docente. Fiscalizavam, também, os diretores que
administravam a instituição e ministravam aulas objetivando orientar os professores,
reforçando o pensamento de que, para poder cobrar, tem que saber fazer. Os fiscais
permaneciam nas escolas inspecionadas por, no mínimo, uma semana. Seus
relatórios estão descritos nos livros de visita e de inspeção encontrados nos
arquivos.
65
A leitura dos Relatórios de Inspeção permite concluir é que o trabalho desses
funcionários estatais era altamente fiscalizador e pedagógico. Eles traziam aos
professores os novos métodos e os materiais didáticos para serem utilizados,
juntamente com a legislação, perfazendo o que Sacristán (2008, p. 104) denomina o
currículo prescrito: “Em todo sistema educativo [...] existe algum tipo de prescrição
ou orientação do que deve ser seu conteúdo, principalmente em relação à
escolaridade obrigatória”. Em grande parte, eram os inspetores que apresentavam
aos professores este currículo prescrito; além deles, os manuais didáticos cumpriam
essa missão. O “currículo moldado pelos professores” que, na idéia de Sacristán
(2008, p. 105), se apresenta como proposta chegada aos professores e este,
enquanto “agente ativo muito decisivo na concretização dos conteúdos e
significados dos currículos”, moldava a proposta, a partir “de sua cultura
profissional”, tornando-se um “tradutor”. No episódio analisado do Gustavo Richard,
a “tradução” ou a “moldagem” do professor, em sua ação docente, dimensionava-se
sob pressão, controle e avaliação intensa do inspetor.
No mesmo sentido, orientavam o diretor e verificavam se os regimentos,
métodos e instruções eram seguidos e se o material didático era utilizado.
Aos diretores cabia, além de administrar, ministrar aulas e assistir a elas, no
primeiro caso, para ensinar e, no segundo, para fiscalizar, zelar pelo bom
funcionamento e conservação do prédio, dentre outras funções. O diretor que atuava
no Gustavo Richard, em 1946, foi elogiado pelo inspetor: “muito pontual, dedicado e
zeloso no desempenho de suas funções e dedica o melhor de seu esforço para o
perfeito funcionamento deste estabelecimento”.
Consta em todas as atas das reuniões pedagógicas a obrigatoriedade de os
professores, a cada reunião pedagógica, terem que apresentar um plano de aula
que era analisado e comentado pelos colegas e pelo diretor. Isso era prescrito nas
normas educacionais, vindas do Departamento de Educação. Desta forma, sempre
era seguido essa ordem, e outro colega apresentava uma comunicação, assim à
oratória era avaliada pelo diretor, que ao ouvir analisava a entonação do professor,
sua retórica e sua gramática. Fazia assim o cumprimento de seu papel, aliado às
fiscalizações das diretrizes exigidas pelo Departamento de Educação.
Nos livros de inspeção de 1935 a 1969, observa-se o papel preponderante
exercido pelos diretores do G. E. Gustavo Richard: eles ministravam aulas, dando a
sua contribuição aos professores, assistiam às aulas, organizava as reuniões
66
pedagógicas nas quais exigiam dos professores a apresentação de planos de aula e
de comunicações: “O Sr. Presidente fez as seguintes designações: a professora
Ema deve apresentar um comunicado; e a professora Nadir um plano de aula, o
assunto fica a critério das respectivas professoras”.
Na dissertação de Fernanda Cristina Campos da Rocha, com o título Grupo
Escolar Paula Rocha Sabará: O Corpo Docente e As Reuniões Pedagógicas na
Primeira Metade do Século XX, esta faz uma descrição muito interessante sobre os
comunicados:
O espaço das Reuniões, muitas vezes, era organizado em dois momentos: no
primeiro acontecia a leitura e discussão de um texto e no segundo o (a)
diretor (a) dava os informes e tratava de questões administrativas. Com a
intenção de qualificar/ aperfeiçoar as práticas docentes e de divulgar as
propostas didáticas é que no início das reuniões pedagógicas, uma das
professoras ou mesmo o diretor do grupo fazia a leitura oral de um trecho ou
texto de assuntos diversos: leitura, escrita, educação moral, aritmética,
desenhos, Educação física, dentre outros. Em 1939 era o diretor do grupo,
Afonso Lamounier de Andrade, quem designava a professora responsável
pela leitura da reunião seguinte. na primeira reunião de 1940 a escolha da
professora passa a ser feita por sorteio. Após a leitura, muitas vezes a
professora responsável pela apresentação, ou o diretor ou ainda, alguma
outra professora fazia um comentário sobre o assunto lido. Esta prática
também foi comum no Rio Grande do Sul, como foi possível observar com a
leitura da tese de Peres (2000)15, o que indícios de que isto pode ter sido
um fenômeno nacional e não somente mineiro. A Revista do Ensino de Minas
Gerais e os comunicados/circulares do Governo foram os mais significativos
suportes materiais de divulgação e difusão das propostas pedagógicas
presentes nas Reuniões. Estas foram, sem dúvida, uma importante
experiência de leitura como estratégia que fazia circular entre as professoras
do GEPR as idéias pedagógicas presentes no período. (ROCHA, 2007, p. 9)
Por comunicado, entendia-se um tema, dado por um professor ou pela
direção, que devia ser preparado e desenvolvido na Reunião Pedagógica, como, por
exemplo, está na ata: “A professora X deve apresentar um comunicado”. O plano de
aula também era apresentado, analisado e aprovado na Reunião Pedagógica, como
se : “a professora Y um plano de aula, o assunto fica ao critério das respectivas
professoras”. A orientação geral feita nas reuniões sempre foi que o título do
comunicado “deve ser dito o mais breve possível”. Três dias antes da reunião,
deverá ser apresentada a cópia desse trabalho. “Dois dias após a reunião, o corpo
docente assistiu à aula dada pela professora Y”.
Na ata da reunião seguinte, a professora Y apresentou o plano de aula que foi
comentado por todos os professores; houve a aprovação geral, mas, a diretora
“reclamou que faltava associação, o que, de fato, foi olvidado”. A professora X leu o
67
seu comunicado que recebeu o apoio geral. Em outra ata (Ata da Reunião
Pedagógica, 19 de junho de 1948), o comunicado gera polêmica. O tema do
comunicado escolhido foi “interesse do aluno”. A tese desenvolvida foi que “a
criança aprende somente aquilo por que se interessa e, quando interessada pelo
trabalho que executa, fica atenta e, portanto, consegue aprendizagem”. A polêmica
começa quando uma professora discorda e afirma que não se deve dar permissão
ao aluno, porque este, com o tempo, “cria um complexo de superioridade”. A
diretora, por fim, fecha a questão dizendo que, “é inadmissível uma classe sem
interesse”.
Em 1951, pela primeira vez, uma mulher assume a direção do G. E. Gustavo
Richard. Assim a professora B inicia seu trabalho frente ao Grupo, nos seguintes
termos:
Reunindo-vos, hoje pela primeira vez, sob minha orientação neste
educandário, quero inicialmente na qualidade de vossa diretora amiga,
rogar ao Altíssimo, a Deus todo poderoso pedindo o que de necessário e
bom, tecendo, possa interessar nossa infância, na aprendizagem. Espero
ter encontrado aqui, um corpo docente unido pelo mais puro sentimento de
cordialidade, de sinceridade, docilidade e cooperação. Assim unidos, sem
ressentimentos particulares, possamos de braços dados conseguirem um
trabalho proveitoso no setor educacional. (ATA de Reunião Pedagógica 29
de setembro de 1951).
Os agentes encarregados pela organização da instituição são o diretor, os
auxiliares do diretor e professores, cada qual em sua função, sob a orientação e
avaliação dos inspetores. Os funcionários do estabelecimento completam a
organização escolar.
Às secretárias, que aparecem nos registros da escola a partir de 1948, cabia
redigir as atas das reuniões pedagógicas, fazendo também todo o trabalho de
escrituração da escola. Cabe lembrar que tudo era manuscrito. Em 1952, aparece a
figura do auxiliar de direção, o que o ocorria nos anos anteriores. Os professores
foram chamados para auxiliar o trabalho do diretor que estava sobrecarregado.
Observa-se que, em 1967, a escola tinha, devido ao elevado número de alunos, três
auxiliares para a direção.
O trabalho das merendeiras, serventes e zeladores também são citados nos
Relatórios de Inspeção: “17 - A servente C é extremamente esforçada e dedicada no
exercício do seu cargo e traz este estabelecimento e dependências em muito bom
estado de asseio e ordem” (Relatório de inspeção de 14 de setembro de 1942). No
68
ano seguinte, ela ganha um auxiliar: “16 A servente C é bem assídua, serviçal e
fiel cumpridora dos seus deveres, trazendo este grupo e dependências em boa
ordem e asseio. Nestes serviços é auxiliada pelo zelador D, que também possui
boas qualidades” (Relatório de inspeção de 21 de outubro de 1943). O Relatório de
agosto de 1944 relata que o senhor D é bem esforçado no exercício do seu cargo e
tem facilidade em fazer os serviços de pedreiro, marceneiro ou outro operário.
Mesmo no período de 1960 a 1969 em que as condições precárias do prédio não
contribuíam para o bom desempenho do trabalho, as merendeiras, serventes e
zeladores são enaltecidos pelo asseio e capricho, apesar da precariedade.
A citação a seguir revela o papel que os professores deveriam assumir.
Também sobre eles recaia o maior número de cobranças das normas
governamentais:
Entre muitos dos deveres dos professores, encontravam-se os deveres de:
educar física, moral e intelectualmente os alunos; o residir fora da sede
do grupo escolar; dar exemplo de moralidade e polidez em seus atos, tanto
na escola quanto fora dela; manter em suas classes o máximo de disciplina;
interessar-se pela boa guarda e pela conservação dos móveis e utensílios
escolares da sua classe; fazer com zelo, sem borrões, raspaduras e
emendas à escrituração que lhes estivesse afeta; consultar e requerer ao
governo somente por intermédio do diretor; seguir os métodos e processos
de ensino recomendados pelo diretor; comparecer às festas escolares,
embora em dias feriados; cumprir fielmente os programas e os horários; não
discutir ordens do diretor (SILVA, 2006, p. 367).
A leitura dos documentos pertencentes ao arquivo da escola explicita a
prática no cumprimento desses deveres no cotidiano escolar do Gustavo Richard. A
Ata do dia treze de agosto de 1949 apresenta um bom exemplo. O diretor faz
observações quanto ao trabalho pedagógico dos professores, enfatizando a
disciplina como essencial no processo ensino aprendizagem:
5º- O Sr. Diretor passou a falar sobre o seguinte:
a) Guarda-pó é obrigatório o uso de uniforme diário para os professores
de Grupos Escolares;
b) Cadernos de exercícios de aula nesses cadernos deverão ser feitos
freqüentes e variados exercícios;
c) Disciplina o professor deve trabalhar muito para melhorar a disciplina
de sua classe, porque é da disciplina que depende o aproveitamento dos
alunos; a disciplina deve ser conseguida pelo respeito eo pelo temor que
tira a espontaneidade da criança.
d) Retirada dos alunos estes só poderão se afastar do estabelecimento,
com a prévia ordem da Direção. O aluno que tiver que se retirar da aula,
antes do seu término, deverá apresentar um bilhete do pai ou responsável.
69
A professora ou o professor era o exemplo, sendo muito cobrada sua
conduta, postura e seu modo de vida. Em um dos Livros de Ata de 1963 registra-se:
“A mestra deve ser o modelo dos alunos nos costumes, piedade e no
comportamento”. Fica evidente que não bastava apenas ser professora, era
necessário ser exemplo de vida. Outro termo que chama muito a atenção é a
palavra “piedade”, o que caracteriza a grande influência da educação cristã, essa
sem dúvida alguma o cerne do ensino do nosso país, é bem descrito em todos os
livros atas, principalmente o pedagógico, que havia muita necessidade de intervir na
aprendizagem.
Esse fato de ser a professora um exemplo de conduta, também merece
destaque no estado de Minas Gerais, quando da dissertação de Fernanda Cristina
Campos Rocha, sobre o Grupo Escolar Paula Rocha Sabará, onde a postura e os
dotes necessários aos professores eram muito evidenciados. Mesmo esta
dissertação sendo de um Grupo Escolar do início do século XX, e o meu, ser de
quase final da primeira metade, é possível identificar muitas relações, das quais as
normas e regras eram as mesmas. Assim utilizo-me de uma citação de seu resumo:
Dona Ritinha é um exemplo do que se considerava como profissional
competente, ela possuía as qualidades que se esperava de uma boa
professora, era dedicada, assídua, pontual, inteligente, mantinha a disciplina
de seus alunos dentre outras coisas. Esta professora foi considerada, no
período em que lecionou no grupo (1907-1925), a melhor professora do
grupo, tanto por alguns inspetores, quanto pela diretora Maria José dos
Santos Cintra. (ROCHA, 2009)
A primeira Reunião Pedagógica de que se tem registro é do ano letivo de
1948. A ata deixa claro que todos deveriam envolver-se e comprometer-se com o
bom andamento do Grupo Escolar e, também, que as normas deveriam ser muito
bem observadas. Eis um exemplo:
Todos os membros do corpo docente devem cooperar para maior
socialização dos alunos no recreio. Ensinar jogos interessantes e ao mesmo
tempo educativos que estimulem a praticar o bem e a cumprir o dever.
O Sr. Presidente pediu as professoras que falassem [com seus alunos] da
falta de freqüência e chegadas tardias, que essas duas causas redundam
em perdas consideráveis para o aluno.
Na saída para o recreio, as classes devem observar o seguinte horário: o
primeiro sinal é dado cinco minutos antes da hora, logo após, formam
dentro da aula, com o segundo sinal os alunos saem acompanhados pelas
professoras e formam no galpão, somente depois do terceiro sinal é que
debandam. A saída dos alunos é feita com canto até o portão (ATA da
Reunião Pedagógica do dia 18 de fevereiro de 1948).
70
O envolvimento dos professores não se resumia às suas atividades docentes.
A eles cabia também assumir a organização e a coordenação das ligas e dos clubes
existentes nos grupos escolares, quais sejam: Caixa Escolar, Liga da Bondade,
Clube de Leitura, Liga Pró-Língua Nacional, Biblioteca, Pelotão da Saúde e Clube
Agrícola. No Gustavo Richard, a designação de professores para essas tarefas
ocorria na primeira reunião pedagógica do ano letivo. Em vários lugares das atas,
denominam-se “associações Peri-escolares”. Foram associações internas e algumas
foram externas à organização do trabalho pedagógico da instituição e, como tais,
mantinham estrita ligação com a relação educativa (a relação específica entre
aluno/professor), com os recursos didáticos utilizados para a transmissão do
conhecimento e com o espaço físico e o mobiliário do estabelecimento.
Aqui confirma o que foi citado no inicio desse item, o que, também, aguça a
curiosidade sobre alguns itens: primeiro, que a distribuição do Comunicado e do
Plano de Aula devia ser bem coletivo; segundo, que as normas para a saída
organizam-se com a fila, a partir da sala de aula, terceiro, que as associações eram
muito presentes e que cada professora ficava responsável e prestava conta de seu
trabalho nas reuniões e, mais especificamente, ao inspetor, que, em suas visitas,
sempre relata como estes estavam sendo conduzidos os trabalhos.
O relatório, descrito no Termo de Inspeção de 20 de setembro de 1937,
confirma a utilização dos recursos arrecadados pela Caixa Escolar: “a caixa escolar
tem socorrido vários alunos com uniforme e com material. atualmente um saldo
em caixa de duzentos e tantos mil réis”. Nesse mesmo relatório, o inspetor acusa
que o Grupo Escolar não possui Biblioteca, jornal nem o Clube Agrícola.
Dois anos após, essas faltas estavam supridas: Em contrapartida na
inspeção de 16 de junho 1939, já é descrito:
A Caixa Escolar, organizada de acordo com as leis estaduais, vem
favorecendo a grande número de alunos pobres e tem em caixa um saldo
de mais de 500$000.
A Biblioteca, recriada, está já com cem volumes. O seu movimento tem sido
bastante animador.
O Escotismo o Sr, diretor convocou os pais dos alunos para uma reunião,
a fim de ser criado o escotismo.
A função que cabia às ligas e aos clubes pode ser observada no Livro de
Visitas de 14 de setembro de 1942. O inspetor cita, no item 7, as associações Peri-
escolares: “Peri-escolares: um conjunto de pessoas que contribuíam com os grupos
71
escolares, através de associações, sendo dentro e fora do espaço escolar.
Ajudavam na construção da cidadania”. A seguir, lê-se:
a) A Caixa Escolar conta atualmente com 80 sócios contribuintes, sendo
beneficiados com o resultado destas contribuições 62 alunos pobres com
todo o material escolar, lanche e uniforme. A renda total foi de 1:112$400 e
a despesa de 1:051$500, havendo um saldo em caixa de 60$900.
b) A Biblioteca, orientada pela Irmã Clemência (Marta Müller), possue
atualmente 149 livros de leituras recreativas para os alunos, além de certo
número de revistas e folhetos. Neste ano houve 251 retiradas de livros
pelos alunos. Recomendo que esta Biblioteca seja registrada no Instituto
Brasileiro do Livro e para aumentar ainda mais o número de obras desta
instituição convém serem executadas as instruções que dei a respeito.
c) O Pelotão da Saúde está agindo nas diversas classes e arredores do
estabelecimento quanto ao asseio e ordem no mesmo; possuem também
uma pequena caixa com os principais medicamentos para atender a
ferimentos leves. Todos os alunos deste Grupo foram vacinados pelo Sr.
Delegado de Higiêne nesta cidade. É orientador desta associação o Sr.
Professor José Santos Maciel e recomendo que sejam escolhidos monitores
que devem ter um distintivo, agindo estes na sua auto-educarão e de seus
colegas para criar neles bom hábitos de higiene.
d) A Liga Pró Língua Nacional, orientada pela Irmã Ainês (Zeferina
Stefani), esorganizando álbuns em todas as classes, que o mostrados
com as necessárias explicações aos colegas menores, durante as horas do
recreio. Em cada classe se encontra num quadro a biografia do patrono da
sala de aula e uma saudação à Bandeira. No varandão um quadro com
as anotações semanais dos fatos históricos ocorridos nos diversos dias. Os
sócios mantém também a correspondência com o Sr. Professor Luiz
Trindade. Recomendo ainda organizar sessões comemorativas de fatos
históricos ou em homenagem a um grande patriota.
e) Do jornal Escolar “Girassol” encarregou-se de sua orientação o Sr.
Diretor. Regularmente saiu um número por mês e que é lido perante todas
as classes.
f) A Cooperativa Escolar está fundada desde o ano passado, mas
ainda não recebeu o registro definitivo. É orientador desta instituição o Sr.
Professor Altino A. Rocha. No ano passado verificou-se um lucro total de
77$200. Neste ano o total e quotas partes subscritas e realizadas foram de
110$000 e as vendas realizadas até esta data alcançaram a quantia de
129$100. Recomendo legalizar a situação desta associação e reorganizá-la
de acordo com as instruções dadas a respeito.
g) O Clube Agrícola D Pedro I”, cujo orientador é o Sr. Diretor Pedro
Scharf, possue uma área cultivada, situada atrás do galpão, onde se
encontram canteiros com repolho, ervilhas e sementeiras para produzir
mudas aos demais canteiros; se encontra também uma estrumeira. Os
canteiros da frente do Grupo e área central foram feitos pelos alunos do
Clube e que continuam zelando dos mesmos. Combateu-se a saúva que
prejudicáva o desenvolvimento da horta.
h) A Liga da Bondade fora organizada neste Grupo pela sra. Professora
Iracema R. Maciel, mas com a sua licença foi substituída nessa ação pela
professora Maria de Lourdes Fernandes.
i) Os Clubes de Leitura D. Pedro II” e “Fagundes Varela”,
respectivamente dos e anos, são orientados pelo Sr. Professor Altino
Rocha. Estes fazem semanalmente as suas sessões nas classes e
mensalmente numa sessão para todo o estabelecimento. (LIVRO de Visitas
de 14 de setembro de 1942)
72
A Ata da 4ª Reunião Pedagógica de 1949 reforça a responsabilidade dos professores
frente às ligas e associações:
A presidente da Liga Pró Língua Nacional fica incumbida de elaborar o
programa para a Festa de enceramento do primeiro período letivo. O Hino
Nacional deve ser melhor ensaiado, procurando-se corrigir a pronúncia
incorreta de certas palavras desse hino. Dar mais aulas de caligrafia,
insistindo no modo correto de sentar-se e pegar a caneta. As aulas de
leitura devem ser mais intensas. Os professores devem evitar a consulta de
compêndios ao ministrar as aulas. (ATA da Reunião Pedagógica de 30
de junho de 1949).
Em todas as atas e nos livros de inspeção, fica muito clara a importância de
arrecadar fundos para a Caixa Escolar, juntamente com as Associações. Na ata dos
vinte dias do mês de abril aparece uma nova entidade, criada dentro da escola,
expressa na circular sem número, de três de abril de 1951: “sobre a Campanha -
Prol Fundação Laureana”.
Na investigação das fontes, identificamos que a Campanha Laureana era em
homenagem a Napoleão Rodrigues Laureano, médico que iniciou a Campanha de
Combate ao Câncer no Brasil, paraibano, que sofreu com a doença e doou parte de
seus bens para a criação de um Instituto de Combate ao Câncer na Paraíba. Este
brasileiro ilustre fez ecoar a luta contra a doença em todo o país; em nosso
município foi através dos Grupos Escolares que ela se propagou, especialmente
através das associações, as quais davam suporte aos Grupos, juntamente com a
ajuda aos necessitados, marca da nossa educação cristã, e o apoio financeiro a
escola. Como ele faleceu em 31 de maio de 1951, aparece nos Termos de Visita
mais essa Associação Escolar nas associações Peri-escolares ou, talvez, apenas
uma campanha.
Nas atas da década de 1960, o trabalho das associações é bastante
enfatizado, pois, ainda sob a incumbência de um professor, muito auxiliava no
intenso trabalho da direção, num momento em que a precariedade das condições
materiais do prédio estava acentuada.
A cobrança quanto à manutenção da disciplina no horário do recreio é
constante nas atas das reuniões pedagógicas. Cabia aos professores mantê-la:
9 - Cooperação social nos recreios O recreio sendo um descanso da
criança ao ar livre, não é permitido aos alunos correrias, algazarras, etc.
Para impedir tais desarmonias, é preciso a presença do professor, e não
professores indiferentes a tudo, que às vezes permanecem nas salas de
73
aula. O professor não pode ficar em pelasse, salvo no curso, haver alunos
presos, e isto mesmo durante pouco tempo. Este ponto fora, bem
recomendado pela senhora diretora, devido ter observado professores que
se conservam, nas salas durante os recreios, deixando os alunos a vontade.
(LIVRO de Atas de 1948/ Ata do dia de vinte de outubro de 1951).
indícios claros de que a primeira diretora um novo sentido à questão
pedagógica. Nossa afirmação deve-se ao fato de partir dela a mais rigorosa
cobrança sobre o corpo docente, conforme está expresso na ata do início do ano
letivo de 1952:
1º - É de obrigação de cada professor apresentar seu plano de trabalho, a
o dia 15 do corrente, com a divisão da matéria de quinzena em quinzena,
com o fim de facilitar o ensino.
- O professor deve permanecer no estabelecimento desde 15 minutos
antes do horário de entrada.
- Incentivar as associações auxiliares da escola, porque é do professor
que depende o progresso das mesmas.
4º - Zelar e uniformizar a disciplina, bastante disforme.
- Estimular os alunos o mais possível pela boa freqüência, prometendo
passeios, etc. Chegada no horário, abolindo o mais que puder as chegadas
tarde.
- Usar o uniforme diário e de gala nos termos do regulamento, para o
professor e aluno.
7º - Organizar diariamente no quadro parietal, o quadro de freqüência.
8º - É contra o regulamento o professor discutir ordens superiores.
- A escrituração escolar deve ser feita com regularidade e ordem, tais
fichas, movimentos mensais, boletins de alunos, etc. A chamada deve ser
feita no início, isto é, na hora da entrada e depois do recreio, afim de serem
marcadas as chegadas tardes.
10º - O professor não deve dar preferência, durante as aulas, de uma
determinada matéria e deixar outro de lado.
11º - Manter em classe a máxima disciplina conforme a orientação da
Direção. É culpa do professor toda e qualquer indisciplina.
12º - Os professores devem cooperar socialmente nos recreios, não fazer
reuniões no pátio durante os mesmos, com o fim de manter mais ordem.
Não permanecer na cozinha, para isso o café deverá ser servido 15 min.
antes da saída.
13º - Melhor disciplina dos alunos em fila, neste ponto o professor deverá
tomar uma atitude de mais energia.
14º - Ordens para os sinais de entrada após o recreio: silêncio após o
terceiro sinal. Ordem na entrada e melhor distribuição dos alunos ao entrar
em classe.
15º - Proibir aos alunos durante o recreio a andarem de bicicleta no pátio,
para não acarretar mais desordem.
16º - Chamar a atenção dos alunos, proibindo a entrada pela frente, as
escritas nos muros, nas paredes e mesmo no varandão do estabelecimento.
17º - Todo aluno deve usar uniforme adequado, nas aulas de Educação
Física; recomendação feita à professora da disciplina.
18º - Os professores não devem fazer reuniões na portaria antes das aulas;
preparar e não improvisar as mesmas, porque assim acarretará o professor
ao fracasso, com a falta de motivação nas aulas.
19º - É expressamente proibida a entrada de estranhos no Grupo, durante o
período escolar; e o professor deve colaborar neste ponto. (PRIMEIRA
Reunião Pedagógica de 1952).
74
Os registros que se têm demonstram que a década de 1960 não foi um
período fácil na história do G. E. Gustavo Richard. Além da precariedade do prédio e
do aumento das atividades administrativas, outro fato agrava a situação: crescia o
número de professoras que abandonavam o trabalho como professoras para
exercerem outras funções, conforme está relatado no termo de inspeção de
setembro de 1960:
Dirige o Estabelecimento a Diretora de Carreira, Florinda. Tem procurado
dar ao estabelecimento aquela harmonia e espírito de cooperação tão
necessária e que em tempos idos, lamentavelmente, tem deixado a desejar.
É um elemento competente e esforçada. Tem enfrentado sérios problemas
na organização da docência, pois, por incrível que pareça nada menos que
cinco professoras normalistas preferiram abandonar o magistério,
dedicando-se a outras funções que exigem menos sacrifício e são mais
compensadoras.
Como se vê, faz muito tempo que o magistério vem perdendo o seu valor e
seu destaque na sociedade.
Na inspeção de 23 de agosto de 1961 registrou-se que a diretora havia
abandonado a escola, sem maiores explicações. no ano anterior, o inspetor havia
descrito um clima no estabelecimento nada favorável à convivência e ao ensino. No
relatório da inspeção consta que a auxiliar de direção desempenhou as funções com
louvor:
Auxiliar de Direção F - normalista, vem desempenhando suas funções com
dedicação e eficiência. Goza de alta estima da parte da Direção e
admiração da parte dos colegas. Deixo, portanto, os sinceros louvores pela
brilhante apresentação. (LIVRO de Visita 1960 a 1969).
Anos após, em 1965, a Ata da Reunião Pedagógica, ocorrida em 16 de
outubro, revela que os problemas no G. E. Gustavo Richard extrapolavam a esfera
da precariedade material. O alto número de faltas entre os professores e a
preparação das aulas acarretava maiores cobranças sobre o corpo docente:
1 Assiduidade e pontualidade são deveres do mestre, porém neste
estabelecimento ultimamente vem deixando muito a desejar por parte de
algumas professoras. Quando convocadas para as festas do
estabelecimento e as reuniões, não comparecem. As professoras que
lecionam no Ginásio “São João Batista” têm que cumprir primeiro a
obrigação com a classe que rege.
2 Não faltar às aulas por qualquer motivo, pois professoras que faltam
muito, por motivos o justificados, não tendo senso de responsabilidade
para com suas classes e alunos.
75
3 Procurar não lecionarem sentadas, pois é antipedagógico e estar
sempre com a porta de sua sala de aula aberta.
4- Assinar o ponto e ir imediatamente para o pátio atender os alunos, o
ficar conversando na portaria.
5 Quando for organizadas Unidades de Trabalho, as entrevistas devem
ser incluídas dentro do horário de aula.
6 Ao bater o sinal as professoras devem estar no local em que sua classe
vai formar, para melhor manter a disciplina.
7 Cuidar da disciplina nos corredores, o deixando os alunos
permanecerem nos mesmos e fazerem gritarias. (LIVRO de Visita, 1960 a
1969)
A advertência da inspetoria está a revelar que, neste período, os professores
recorriam à duplicação da carga horária, trabalhando no Grupo Escolar Gustavo
Richard e no Ginásio São João Batista, como recurso para aumentar seus
rendimentos.
76
5 O IDEÁRIO PEDAGÓGICO DA INSTITUIÇÃO
No momento em que foi implantado o Grupo Escolar Gustavo Richard, o país
vivia o período denominado Segunda República, mudando os vícios e os poderes
locais de alguns coronéis que haviam se multiplicado durante a Primeira República.
A educação era considerada a tábua de salvação, procurando formar crianças e
jovens mais patrióticos, éticos e capazes de fazer parte de uma sociedade mais
cidadã.
A citação a seguir, embora um pouco extensa, é necessária para a boa
compreensão da repercussão do ideário republicano no Estado de Santa Catarina:
A reinvenção do espaço urbano [a autora refere-se à remodelação pela qual
passou Florianópolis] abriu espaço para a reinvenção da escola,
considerada pelos republicanos como um instrumento de regeneração” da
nação, de moralização e civilização do povo e, evidentemente, como um
instrumento para a estabilização do novo regime, uma vez que, com a
instituição do sufrágio universal, o Estado passou a necessitar de cidadãos
que soubessem não apenas ler e escrever, mas compreender, pensar e agir
de uma “nova” forma. A instituição escolar passou, então, a constituir-se
numa exigência à modernização social pretendida, no principal meio de
acesso ao modelo urbano de socialização desejado, sendo
responsabilizada pela consolidação dos novos hábitos de pensamento na
população, transformando-se, portanto, num projeto político do Estado. A
escola deveria civilizar e moralizar as crianças, disciplinando seus corpos e
suas mentes para a modernidade, incutindo-lhes esquemas interpretativos
passíveis de serem aplicados em diferentes campos do conhecimento e de
ação e, para tal, fazia-se necessário o florescimento de uma nova cultura
escolar (TEIVE, 2003, P. 226).
No contexto da República, embora a citação seja para designar a Primeira e
não a segunda, muito de característico se apresenta, ou seja, ela está descrevendo
o que em um município do interior do estado vivenciava, tornando a formação como
o sustentáculo para formar cidadãos cultos e capazes de tornar o país mais
desenvolvido, os grupos escolares assumiram uma função primordial:
A criação dos grupos escolares integra o projeto republicano catarinense de
“reinvenção das cidades”, as quais deveriam se adequar aos padrões de
urbanidade dos grandes centros, ou dos centros que encarnassem de forma
mais visível os padrões urbanos de modernidade. Sua localização
geográfica oferece indicativos de que estes não atendiam a um conjunto
alargado da população, mas serviam como símbolos importantes que
demarcavam força política, registravam ação governamental e
disseminavam um ideal de escola que prometia o alcance do progresso, a
modernidade, a redenção. (SILVA, 2006, p. 344-345)
77
Nessa nova forma de organização escolar, conforme Silva (2006, p. 354):
A ordenação espacial e didático-pedagógica era “calculada” de forma a
favorecer a formação de cidadãos quietos, atenciosos, que tivessem no
professor a autoridade, a referência maior, tudo isso ocupando um lugar que
primava pela assepsia, uma assepsia que deveria ocupar o só o espaço
físico, mas também os corpos e a mente.
Como esse ideário se concretizava no interior do Gustavo Richard? Alguns
excertos extraídos das Atas das Reuniões Pedagógicas permitem desvelar o tema:
A História deve ser dada com o devido entusiasmo para incentivar o
patriotismo dos alunos quanto aos fatos dignos de imitar, e todas as
explicações serão acompanhadas com vistas relativas ao assunto e
mostrando no mapa o local onde se deu o fato histórico. (Ata da reunião
Pedagógica de março de 1941).
Aulas de educação moral - são aulas geralmente deixadas de lado pelo
mestre e as quais o aluno muito necessita; quando deve ser ele
inteligentemente estimulado principalmente no sentido de melhorar sua
conduta, tanto na escola como fora dela. (Ata da Reunião Pedagógica de 19
de abril de 1952).
A concepção de Grupo Escolar evidencia as transformações do processo
pedagógico naquele momento. Sua institucionalização confirma o ideário de que à
educação caberia a normatização social, formando cidadãos aptos a viver e interagir
em uma nova formação político-social. Ao pesquisar e entrevistar as pessoas que
tiveram ligação com o Grupo Escolar Gustavo Richard pode-se perceber o quanto as
lembranças mexem com o emocional das mesmas.
Silva (2006, p. 345) esclarece que a localização geográfica fornece indicativos
de que os grupos escolares não atendiam a uma grande parcela da população.
”Quem sentasse em seus bancos teria lugar ‘assegurado’ na tessitura social”. Em
Campos Novos não foi diferente. Os estudos sobre o Grupo Escolar Gustavo
Richard evidenciam que as classes altas e dias eram as mais beneficiadas. Em
seu período áureo, eram os filhos das classes mais abastadas que freqüentavam o
Grupo, justificado pela necessidade de manter o seu poder e garantir uma
significativa melhora em sua condição social. Tal fato evidencia o quanto Gustavo
Richard era importante na vida da sociedade camponovense. Se por um lado
moldava os espíritos, por outro era utilizado pelas classes mais abastadas em
beneficio próprio.
78
Na entrevista com ex-aluna do Grupo Escolar Gustavo Richard, ela se
recorda de uma situação no mínimo constrangedora. Não recorda o nome do aluno,
mas lembra que o mesmo dois anos após o fato faleceu, vitima de leucemia. A
entrevistada estava cursando a terceira série primária quando ela e esse colega
brigaram em sala de aula, o menino apertou o seu braço e ela bateu nele com uma
régua. A professora vira-se do quadro e bate nela sem questionar os motivos. A
entrevistada considera o fato como um posicionamento “machista” que era dado à
educação escolar. Desenvolve mais sua opinião, posicionando-se para além do fato
isolado: os meninos podiam fazer o que quisessem; as meninas eram obrigadas a
sujeitarem-se às normas e regras da sociedade.
Ao pesquisar a trajetória do Grupo Escolar Gustavo Richard, a cultura escolar
tão comentada pelos autores que li vem à tona. Sendo um espaço de grande
importância para o município de Campos Novos; é possível identificar que um traço
de destaque aqui é mais interessante, pois boa parte da população camponovense,
principalmente as mais abastadas, pagava escola particular para seus filhos, e logo
os enviava para os colégios internos de Lages, e outros no estado do Rio Grande do
Sul, em especial Caxias do Sul e Porto Alegre. Esse fato, muito me chamou
atenção, pois somente as classes médias, estas advindas de classes mais
abastadas, assim os pobres na sua grande maioria, agia como os pais de pouca
instrução que levam seus filhos para a escola por exigências legais, devido a
emprego e vantagens que os mesmos têm quando da manutenção de seus filhos na
escola. Isso se torna intrigante, uma vez que o abandono por parte de muitos
alunos verifica-se que eram de pais menos abastados e muitas vezes carentes, que
achavam que seus filhos deveriam apenas aprender a ler e escrever isso era
suficiente.
Contudo a escola não representava uma necessidade de melhoria social, não
se tinha a visão que somente a educação poderia melhorar as condições de vida
dos mesmos. A procura pela escola, no inicio do Grupo Escolar Gustavo Richard era
de poucos alunos, visto que a população também não era muito grande; sendo que
o interior de nosso município sempre foi muito grande, e nesse período era ainda
maior, pois tínhamos vários distritos que hoje são municípios, como: Vargem, Monte
Carlo, Abdon Batista, Zortéa, Joaçaba, Videira; justifica-se também que a formação
cabocla de nossa cidade tem muito haver com isso, visto que a formação
portuguesa, indígena e espanhola foi muito forte em nossa região, aliada ao
79
tropeirismo com os caboclos paulistas; tendo a presença alemã e italiana bem mais
tarde, principalmente com a revolução Federalista de 1893, e os levantes internos
dos estados vizinhos.
Mas o que é bastante interessante é que para o estado do Paraná mais
camponovenses se deslocaram daqui, do que vieram de lá, sendo que temos
cidades que tiveram sua fundação com camponovenses, como é o caso de Pinhão,
no estado do Paraná.
Porque escrever isso nesse ideário? Porque aqui posso afirmar que o quanto
a educação transforma a vida das pessoas, e como a escola acaba sendo um local
muitas vezes de criar condições para que o mundo se abra, fazendo com que
tenham outra visão de mundo. A educação administrada no Grupo Escolar foi tão
marcante, que precisava ver a satisfação dos entrevistados de falarem com orgulho
do tempo que estudaram no Grupo Escolar, suas referências aos professores e
demais funcionários aos quais acabaram influenciando nas suas vidas,
principalmente nas profissionais, onde todas as entrevistadas tornaram-se
professoras devido aos seus professores.
Portanto mais uma vez, merece destaque o quanto é importante o profissional
ter vocação e saber o quanto é responsável pelo seu trabalho, o quanto influencia na
vida das pessoas e traz marcas para todo sempre.
Eu entrevistei três professoras, sendo uma diretora em um determinado
período; e três ex-alunas, sendo que todas hoje são professoras, sendo duas
aposentadas, mas continuam trabalhando como secretária de uma instituição de
Ensino Superior e outra como Supervisora Pedagógica de uma escola particular. A
que ainda trabalha, atualmente é diretora de uma escola estadual, onde revela a sua
admiração pelo educandário e como a sua mãe que havia tido professor em casa,
na fazenda onde residia, repassou para os filhos a importância do estudo e ao
mesmo tempo o valor da educação.
Para melhor situar a educação nos dias atuais, utilizo-me de Pacheco e
Moraes (2001), em artigo sobre as Políticas Educacionais nos anos 90: a formação
docente, onde faz uma descrição interessante sobre o tema, segue:
O elevado grau de competitividade no mundo de hoje faz da educação a
alavanca do conhecimento e da informação (LASH, 1999), que se
oferecem como alternativa à sociedade industrial marcada pelas relações
de produção estáveis. As novas tecnologias, presentes na sociedade da
informação, que resultam da fragmentação das cadeias de produção,
80
levam à configuração e distribuição espacial dos processos produtivos,
com particular incidência nas novas teias de relações político-institucionais
e nas constantes inovações no processo de divulgação e globalização do
conhecimento, transformando num investimento sujeito às regras de
mercado. Como produto, bem ou serviço, a educação converte-se num
alicerce central não confinada ao espaço escolar, mas ampliada para os
processos gerais da educação permanente e do desenvolvimento ao longo
da vida, eleita como fator estratégico na construção dessa nova sociedade.
A escola tradicional, a educação formal e os antigos parâmetros
educacionais tornaram-se rapidamente obsoletos. Procura-se, agora, uma
nova pedagogia, um projeto educativo de outra natureza. A reestruturação
produtiva em curso, dessa perspectiva, exige que se desenvolvam
capacidades de comunicação, de raciocínio lógico-formal, de criatividade,
de articulação de conhecimentos múltiplos e diferenciados
,
de modo a
capacitar o aluno-cidadão a enfrentar sempre novos e desafiantes
problemas. Mas ainda, diante da velocidade das mudanças, as
requalificações tornam-se imperativas e a especialização flexível
transforma-se no paradigma de formação exigido pelo mercado. O
desenvolvimento dessas “competências” (transferable skills) exige níveis
sempre superiores de escolaridade, visto que repousam no domínio
teórico-metodológico que a mera experiência é incapaz de garantir
(PACHECO; MORAES, 2001, p. 185-186).
Nesse contexto, verifica-se o quanto à educação é importante. Mas, ao
mesmo tempo o quanto ela também precisa fazer para transformar a sociedade.
Partindo de uma pesquisa histórica, como esta, observa-se o quanto as políticas
públicas são responsáveis pela melhoria desta; não podemos esquecer que aqui a
figura do professor torna-se central, uma vez que, sem ele o processo educacional
não acontece, fazendo com que a sociedade seja capaz de traçar novos caminhos;
onde deva aparecer e construir valores hoje tão escassos e sem nenhum mérito
social.
A educação foi e sempre se um grande aliado da humanidade, o maior
problema e que como dizia Fernando Pessoa: “o saber dói”, assim, muitas vezes é
melhor viver na ignorância, fazendo de conta que o se não se sabe; muitas
pessoas preferem viver sem conhecer o outro lado, principalmente as vantagens e
regalias que a política inescrupulosa de nosso país vivencia. Onde o conhecimento
incomoda, pois faz do cidadão consciente de seus direitos um ser que luta e
reclama pelos mesmos, e não é isso que nossos governantes querem; pois muitos
deles jamais estariam no poder, se todas as pessoas fossem altamente
esclarecidas.
Em todas as pessoas entrevistadas, sendo todas mulheres e professoras, a
escola foi à forma de ser cidadã nessa sociedade onde o ter, é muito melhor que o
ser, o fato de termos os grupos escolares em períodos políticos de alicerce, ou seja,
81
de sustentação, pois a república necessitava de uma instituição que se prepara as
próximas gerações para a propagação de seus ideais, fazendo das leis, ritos cívicos
e normas sociais uma manutenção desse poder e, por conseguinte uma seqüência
desta nova forma de poder.
Também podemos salientar o quanto o Grupo Escolar Gustavo Richard,
serviu de espaço para a construção dos ideais políticos que se criaram no final do
século XIX e XX, em nosso caso especial após a Revolução de 30, quando da posse
do senhor presidente Getúlio Dorneles Vargas, que tentou de todas as formas
modernizar o país, sem perder o poder já estabelecido pela República. Assim,
percebe-se que um educandário ou instituição de ensino é sem dúvida o que mais
reflete as ideologias vigentes, juntamente com o estabelecimento de todos os
moldes sociais que um grupo dentro da sociedade lidera e domina.
Ao descrever a importância que as entrevistadas dão a educação, suscita-nos
que o ideário republicano deu certo, uma vez que a educação para elas foi sem
dúvida um degrau para a construção da cidadania, ao mesmo tempo em que,
mesmo elas não sendo de classes pobres, foram determinante para sua participação
na sociedade, sem a educação recebida no grupo escolar Gustavo Richard, talvez
tivessem tomado outros rumos em suas vidas, sendo apenas donas de casa, não
que isso seja ruim, mas com a emancipação da mulher, a educação e a participação
da família tornasse imprescindível nesse processo.
Para as entrevistadas A e B, sem dúvida alguma, podemos perceber que o
que a República traçou como meta na construção do Estado foi muito bem sucedido,
a educação demonstra que infelizmente o seu lado negativo também existe, onde
ela serve a uma determinada parcela da sociedade, sendo esta a que domina,
fazendo com que a escola esteja a serviço desse processo. Tendo outro olhar
percebemos que ainda são poucos os que entendem que a escola, surgiu pela
necessidade de manter ou de transformar a sociedade, para assim manter os
privilégios de uma minoria.
Mas sou muito otimista, penso que chegará o momento em que teremos mais
pessoas esclarecidas, onde o poder se distribuirá melhor e estará a serviço da
maioria e não da minoria, pois se não for desta forma para que serve a educação?
Por que estudamos tanto enquanto professores? Os questionamentos ficam para
que possamos sempre buscar mais situações de dignidade e de valor para a
educação.
82
Como fiz minhas entrevistas com profissionais e ex-alunos do Grupo, pude
perceber que as normas e regras exigidas pela inspeção, juntamente com a direção
eram respeitadas, mas também havia alunos/as que revidavam ou questionavam
as atitudes de discriminação, como no caso da aluna B, que percebia a
discriminação machista, onde os meninos eram sempre privilegiados; também havia
nas homenagens cívicas os alunos que falavam melhor é que sempre declamavam
as poesias, mas se eram sempre os mesmos, será que não tinham outros/as que
também falassem bem? Nas inspeções e nas reuniões percebe-se que havia uma
regra única sem respeitar a individualidades; é claro que uma escola não pode criar
muitos precedentes, mas ela deve estar atenta às mudanças que a sociedade
atravessa e mudar alguns hábitos para melhor.
No início se falava muito em evasão, as salas de aula eram muito pouco
ocupadas, mas não se fazia nada para trazer esse aluno para a escola, sua família
não sabia o valor da educação, as entrevistadas citam que seus pais eram os
maiores incentivadores de seus estudos, não sendo a escola somente a responsável
pela sua presença. Também vale ressaltar, que era muito evidente a questão de
formar alunos atenciosos, patriotas, honestos, principalmente durante a Ditadura
Militar e no governo de Getulio Vargas, mas no período da cada de 50, a questão
da disciplina era muito enfatizada, fazendo com que o professor além de dar
exemplo de conduta, era responsável por exigir e fazer cumprir, mas não podemos
nos esquecer que a escola é uma instituição, onde o seu principal papel é de instituir
pessoas, ou seja, formá-las fazendo com que a sociedade demonstre melhorias
após suas turmas formadas; portanto os valores éticos e morais repassados pela
escola são exemplo de que a educação é muito importante, pois sem ela em que
tipo de sociedade estaríamos vivendo? O papel da escola como reguladora e
mantenedora da sociedade deve ser questionado, mas sem ela seria muito pior para
humanidade. Portanto, cabe a nós educadores, fazermos da educação um pilar de
tanta necessidade que seja impossível viver sem ele, transformando os nossos
alunos em grandes personalidades, cobrando de nossos líderes o verdadeiro espaço
que merecemos na sociedade, pois assim veremos que sem dúvida os grandes
filósofos e pensadores sempre tinham toda a razão quando se fala de educação e
transformação da sociedade.
83
Esse fato relembrado demonstra quão relevante foi à educação escolar na
vida da ex-aluna. Qual o papel do Gustavo Richard na vida delas? A entrevistada B
chegou, posteriormente, a ser diretora da escola e, ela relata como era prazerosa
ser membro deste educandário. Ela, também, destaca que os problemas que
existiram acabaram sendo superados, uma vez que os professores exerciam com
muita relevância e comprometimento os seus trabalhos.
84
CONCLUSÃO
Este trabalho de dissertação de Mestrado em Educação seguiu os passos de
uma pesquisa bibliográfica e de campo, com entrevistas a alguns profissionais que
trabalharam na unidade escolar e alguns alunos que fizeram seus estudos no
mesmo. Segui através de uma organização em consenso com o orientador, o qual,
pela sua vasta experiência e competência, foi sem dúvida, de suma importância para
a realização do meu trabalho. Partindo de uma citação de Souza e Faria Filho creio
ser uma demonstração do que foram os Grupos Escolares.
Os grupos escolares constituíram-se numa nova modalidade de escola
primária, uma organização escolar mais complexa, racional e moderna.
Implantadas no Brasil no início do período republicano, tornaram-se, ao
longo do século XX, no tipo predominante de escola elementar encarnando
o sentido mesmo de escola primária no país. Dessa maneira, a história dos
grupos se confunde com a história do ensino primário e está no centro do
processo de institucionalização da escola pública. No entanto,
compreendendo uma história institucional articulando aspectos internos e
externos à escola, os grupos têm posto em questão os dispositivos
estáveis que têm configurado a escola moderna desde meados do século
XIX ou, como sugere Viñao Frago (1995), os elementos organizadores que
conformam a cultura escolar. É, de fato, nesse fértil terreno de análise que
essas modelares instituições educativas nos permitem interrogar e
aprofundar o conhecimento acerca da democratização da escola pública e
das permanências e mudanças da em educação a instituição de novas
idéias e práticas e a imperturbável reprodução de procedimentos de ensino
ao longo do tempo, o embate entre o velho e o novo, o tradicional e o
moderno em educação. (VIDAL, 2006, p. 344)
Através de toda a leitura e interpretações possíveis, consigo agora entender
como a escola precisa ser trabalhada por um conjunto de profissionais responsáveis,
ao mesmo tempo em que são comprometidos com o ensino e a aprendizagem, os
educadores possuem uma responsabilidade que muitas vezes o levam a exaustão
ou muitas vezes ao fracasso. Os termos de visitas refletem a imagem que o grupo
escolar demonstrava para a sociedade camponovense juntamente com a imagem
que o inspetor levava para a Circunscrição Regional e para o Departamento de
Educação, fazendo com que a educação do município fosse elevada e responsável
na educação.
Embora instalado em condições precárias, o Grupo Escolar Gustavo Richard
foi, desde sua implantação até a sua extinção, elemento de grande importância para
85
a educação em Campos Novos, fato que torna ainda mais relevante esta pesquisa,
pois conforme Faria Filho; Vidal (2000, p. 21):
Ao analisar o processo de escolarização primária no Brasil, atentando para
questões referentes aos espaços e tempos escolares e sociais (e aos
métodos pedagógicos), temos a possibilidade de interrogar o processo
histórico de sua produção, mudanças e permanências, contribuindo para
descobrirmos infinitas possibilidades de viver e, dentro da vida, formas
infinitas de fazer a e do fazer-se da escola e de seus sujeitos.
Pude entender o quando a escola foi e é importante na vida das pessoas.
Também pude perceber a importância do trabalho do professor/a, eles fizeram do
Grupo Escolar Gustavo Richard o educandário mais significativo do município de
Campos Novos na primeira metade do século XX, ressaltando que sendo o primeiro
estabelecimento de ensino estadual, passou a disputar espaço com os
estabelecimentos de ensino particulares que existiam em nosso município.
Também trouxe para os professores da época a status de ser educador deste
educandário, por outro lado foi o local onde o Departamento de Educação da época
fazia todas as suas reuniões pedagógicas, repassava as orientações recebidas e as
leis que vinham da capital. Também acabou sendo o referencial para as Escolas
Isoladas, uma vez que anexo ao Grupo ou juntamente funcionava a Escola Normal
Luís Pacífico das Neves, que foi inaugurado em 1941, sendo o espaço formador dos
docentes que veriam a ser professores nas Escolas Isoladas e no Grupo Escolar
Gustavo Richard.
O ideário pedagógico que marcou o período pesquisado foi o método Intuitivo
ou Lições de Coisas, como foi citado nessa pesquisa, foi um método de ensino
que estava fazendo muito sucesso na Europa e nos Estados Unidos, onde a partir
da idéias de Pestalozzi e Fröebel, passou a ser a tentativa de fazer do Brasil um
país moderno, deixando os resquícios do império no passado; trazendo juntamente
com a república uma nova forma de educar cidadãos, seguindo os ideais dos
grandes pensadores modernos. Em seu artigo o Ensino da leitura no método
intuitivo, Vera Teresa Valdemarin descreve o porquê da implantação do método:
Inserindo-se nesse esforço renovador, a adoção de método de ensino
intuitivo ou lições de coisas no ensino brasileiro, que remonta ao decênio
de 1880, expressa, simultaneamente, a influência exercida pelas idéias
estrangeiras e a tentativa de adotar um método didático consoante com o
modelo político que se pretende implantar no país. No Brasil, mais do que a
modernização interna da escola, esse método simboliza a pretensão de
86
criar, por meio da renovação da instrução, as condições necessárias às
transformações sociais, políticas e econômicas que se avolumam no final
do Império. (VALDEMARIM, 2001, p. 159)
Resgatar um material tão rico e tão bem preservado pelas pessoas que
estão à administradora escolar, a diretora e a Assessora de direção que não
mediram esforços em abrir a escola para que eu pudesse realizar esta dissertação,
meu muito obrigado.
O fato que mais chamou a atenção foi à questão de como a escola
estruturada e organizada evoluiu, talvez pouco, mantendo muito daquilo que se no
século passado era maléfico, discriminatório, destrutivo; ainda hoje se percebe o
quanto a educação precisa ser entendida em sua Cultura, sendo as suas memórias
e o repasse de seu conhecimento suas maiores contribuições para a construção de
uma sociedade diferente, capaz de minimizar à influência dos fatores políticos
partidários, aliados a dificuldade que o neoliberalismo e a globalização impuseram à
sociedade brasileira, nos países pobres e em desenvolvimento.
Por outro lado, a escola era o centro das transformações, juntamente com o
direcionamento da sociedade, pois até nos dias atuais temos questões que são
brilhantes no papel, mas não acontecem na realidade, pois as políticas públicas não
ficam claras, ou não devem mesmo o ser. Fato que acabaria desvirtuando a
sociedade e mais diretamente o trabalho do professor.
Isso vem mostrar o quanto o Grupo Escolar Gustavo Richard representou
para o município, dando sinais de que o trabalho ali desenvolvido merecia elogios,
ao mesmo tempo em que dava sinais de uma melhora significativa na sociedade
camponovense, uma vez que nesse período tínhamos mais escolas públicas,
juntamente com as escolas particulares, as quais sempre estiveram presentes, mas
não obtiveram o prestígio do Grupão como era chamado pelos moradores e alunos.
Sem dúvida a história desse estabelecimento traz em seus livros existentes e nas
pessoas entrevistadas, ótimas lembranças e um clima de dever cumprido.
Traçar a história de um Grupo Escolar é, sem dúvida, trazer à tona todos os
seus atores, tanto internos quanto externos. Problematizar situações descritas nos
livros de registros, procurar dar vida a fatos que muitas vezes dividiram opiniões, ao
mesmo tempo em que acabaram por criar a identidade da instituição; nos faz
perceber o quanto o conhecimento e a cultura escolar precisam ser estudados para
o entendimento da educação.
87
Ao realizar esta dissertação, consegui perceber e entender o quanto a
educação foi e é importante, quando do levantamento dos itens pelo meu orientador
me parecia que seria impossível levantar e descrever tantos itens que agora
passarei a fazer um breve relato.
Através do material levantado, e da riqueza encontrada na escola; foi possível
identificar aspectos que fazem da escola um espaço privilegiado, onde as relações
de poder estão descritas de uma forma tão sutil que muitas vezes nem nos percebe-
mos da manipulação que os nossos lideres nos fazem; um exemplo claro são os
recreios monitorados onde os professores atendem das crianças em troca da saída,
quinze minutos antes, acontece que isto faz com que o professor não tenha tempo
de trocar idéias com seus colegas, não pensem, não discutam os problemas
vivenciados na unidade escolar. Até mesmo as instalações, o espaço, o material e a
gestão escolar propriamente dita, estão sempre em discussão. Nas atas
pesquisadas, havia muito a questão dos professores não ficarem de conversa na
secretaria, quando entravam para assinar o ponto, o mesmo no recreio para não
fazer grupos, pois nesse momento eles corriam o risco de serem subversivos
arruaceiros uma vez que estávamos em plena Ditadura Militar.
Portanto, a instituição escola, com todos os seus percalços, é sem dúvida um
ambiente que possui uma cultura valiosa para toda a humanidade, não é a toa que a
escola ultrapassou várias gerações e vários conflitos e se mantém como um espaço
de formação que mais influencia na vida das pessoas, perde para a família, a
qual é a nossa primeira escola.
Espero assim poder ter contribuído para fazer uma pequena parte na
construção do ideário escolar e, acima de tudo, contribuir para a história do
município de Campos Novos, que por muitos anos ficou sem memória, é claro que o
que aqui se apresenta é apenas uma pequena parte da história dessa Instituição
Escolar, e que muito ainda pode e deve ser feito, especialmente as questões
pedagógicas envolvidas, pois levantei alguns dados, mas o estabeleci todas as
relações possíveis; visto que a minha intenção era resgatar a História do Grupo
Escolar, juntamente com as relações sociais e educacionais que aconteceram nesse
espaço.
Por outro lado, os métodos e as metodologias, relatados e analisados,
revelaram que os professores atuavam em todas as disciplinas do programa, não
havendo o privilégio de algum professor querer ensinar apenas Português ou
88
Matemática, deixando as Ciências, História e Geografia para os professores do 6º ao
9º ano, ou da 5ª a 8ª séries dos oito anos escolares do Ensino Fundamental.
Não podemos descartar que sempre houve aquelas disciplinas que mais
afinam com cada professor, mas, sem dúvida, elas são imprescindíveis para a o
aprendizado e para a construção da cidadania. O que me fez fazer este destaque, é
que o inspetor acabava assistindo a todas as aulas com o aval do diretor, que, nesse
período, realizava com empenho o seu papel pedagógico, sendo o administrativo
muito menor e com muito menos importância; hoje as coisas se inverteram, o diretor
faz muito mais administrativo do que pedagógico.
Para finalizar quero registrar o quanto ir para dentro dos livros antigos da
escola, me fizeram entender que o conhecimento e a cultura escolar se constroem
todos os dias, juntamente com a vivência humana, as relações sociais, éticas e
morais que se desencadeiam nas mesmas; mas que infelizmente os professores
ainda não se alertaram para a importância de seu trabalho, para a construção da
cidadania e de um mundo melhor.
89
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VALDEMARIN, V.T. Ensino de leitura no método intuitivo: as palavras como unidade
de compreensão e sentido. Educar em Revista. Curitiba, n. 18, p. 157-182. 2001.
_______. Estudando as Lições de Coisas: análise dos fundamentos filosóficos do
Método de Ensino Intuitivo. Campinas, São Paulo: Autores Associados, Coleção
Educação Contemporânea), 2004a.
VIDAL, D.G. (Org.). Grupos Escolares: Cultura escolar primária e escolarização da
infância no Brasil (1893-1971). Campinas, São Paulo: Mercado de Letras, 2006.
92
ANEXOS
93
ANEXO 1
Certidão do terreno onde está localizada á escola hoje.
Fonte: Cartório de Registro de Imóveis – CN
94
ANEXO 2
Livro Didática Magna - 1956- Rafael Grisi - Ed. do Brasil - Manual utilizado pelos professores
durante os Grupos Escolares.
Fonte: Acervo particular de Enedy Padilha da Rosa
95
ANEXO 3
Livro Didática Magna - 1956- Rafael Grisi - Ed. do Brasil - Manual utilizado pelos professores
durante os Grupos Escolares.
Fonte: Acervo particular de Enedy Padilha da Rosa
96
ANEXO IV
Auxiliar de serviços gerais Anita Fontes Cordeiro (in memorian) Professora Marlene de Negri
(hoje advogada) e Dilma Granzotto; ano de 1962.
Fonte: Acervo particular de Enedy Padilha da Rosa
97
ANEXO V
Dona Maria Schiley Fagundes e sua irmã Eva Fagundes Tessaro, com suas amigas.
Fonte: Arquivo Pessoal da Sra. Maria Schiley Fagundes
Dilma Granzotto (Professora), Marlene De Negri (Hoje Advogada) e Anita Fontes Cordeiro
(Merendeira) (in memorian).
Fonte: Arquivo Pessoal da Sra. Maria Schiley Fagundes
98
ANEXO VI
Dona Maria Schiley Fagundes com sua irmã Eva Fagundes Tessaro e alunas.
Fonte: Arquivo Pessoal da Sra. Maria Schiley Fagundes
Dona Maria Schiley Fagundes e festa com professores na festa de seu aniversário 1962.
Fonte: Arquivo Pessoal da Sra. Maria Schiley Fagundes
99
ANEXO VII
Dona Maria Schiley Fagundes e festa com professores na festa de seu aniversário 1962.
Fonte: Arquivo Pessoal da Sra. Maria Schiley Fagundes
Desfile Cívico do Grupo Escolar Gustavo Richard da década de 60, na Praça Lauro Müller.
Fonte: Arquivo E.E.B Paulo Blasi
100
ANEXO VIII
Ata da inauguração do grupo escolar Gustavo Richard de Campos Novos.
Fonte: Arquivo E.E.B Paulo Blasi
101
ANEXO IX
Ata da instalação do grupo escolar Gustavo Richard
Fonte: Arquivo E.E.B Paulo Blasi
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