Utilizando-se do exemplo do rio Carioca, no Rio de Janeiro, a intenção é
estudar a apropriação dos espaços adjacentes ao rio e a partir daí,
observar as relações que se estabelecem entre o rio e usuário e os
reflexos dessa relação nas adaptações formais e espaciais que aí se
verificam. Com isso, a autora pretende entender melhor a dinâmica da
paisagem, o papel da arquitetura neste contexto, buscando que
significados podem surgir do desenho urbano e que influências exercem
na memória dos habitantes e na identidade local.
Apesar da importância da presença dos rios nos tecidos urbanos das
cidades, Melo (2003) mostra que sob o ponto de vista ambiental,
ecológico e paisagístico, eles vêm sendo paulatinamente deteriorados,
pela ação do homem, através do processo de urbanização das cidades.
Neste trabalho ela relata de forma breve, algumas pesquisas sobre as
transformações das paisagens de alguns recursos hídricos em
decorrência das relações culturais estabelecidas entre os habitantes das
cidades e esses elementos naturais, e em seguida, relata o estudo sobre
as paisagens do rio Capibaribe, principal curso d’água da bacia
hidrográfica do Capibaribe, representando o sistema hidrográfico mais
importante do município do Recife, capital do Estado de Pernambuco,
localizado na região nordeste do Brasil. Segundo a autora este rio possui
extrema importância para a cidade do Recife, pois se configura como
elemento hídrico definidor da sua fisiografia: contribuindo para o processo
de formação, estruturação e expansão da cidade; além de ser um
elemento marcante na paisagem e um ecossistema que atua no equilíbrio
físico-natural da mesma.
Com este estudo, a autora pretende contribuir para o processo de
compreensão das relações estabelecidas entre os habitantes desta cidade
e seu rio, o Capibaribe. Este processo é importante, pois fornecerá
subsídios ao planejador urbano e ambiental para direcionar suas
propostas de regeneração da qualidade ambiental das paisagens desse
rio, buscando (re)integrá-lo ao cotidiano da cidade. Seja através da
conscientização dos habitantes sobre os problemas urbanos e ambientais
que envolvem esse elemento hídrico, seja pelo envolvimento deles na
resolução desses problemas. Assim sendo, o tema principal de Melo
(2003) são os significados da paisagem do rio Capibaribe.
Para entender a paisagem cultural, a autora se baseia no enfoque dado
pela Nova Geografia Cultural, que tem por objetivo “descrever e entender
as relações entre a vida humana coletiva e o mundo natural, as
transformações feitas por nossa existência no mundo da natureza, e
acima de tudo, os significados que as culturas atribuem para sua
existência e para as suas relações com o mundo natural”. (Cosgove,
1994:387; apud Melo, 2003) Nessa perspectiva de abordagem, para a
autora, a paisagem apresenta dois componentes, um objetivo que
compreende o processo de apropriação e transformação dessa paisagem
pela ação do homem e outro subjetivo que são os significados dessa
paisagem para os diversos grupos sociais, sejam os que ocupam as
margens deste rio e/ou aqueles que não o vivenciam no cotidiano, mas
que são observadores do mesmo.
Numa bacia hidrográfica de 7.400 km2 de extensão, o rio Capibaribe é o
principal curso d’água, sendo o sistema hidrográfico mais expressivo do
município do Recife. Essa unidade hidrográfica possui 59,1 km de sua
área inseridos na cidade do Recife. Da nascente a foz ele encontra
montanhas, vales, canaviais e pastagens e percorre 44 municípios.
Complementando os fatores supracitados sobre a importância do rio
Capibaribe para a cidade do Recife, ele contribuiu como suporte para as
atividades econômicas e utilitárias, pois era usado para o escoamento do
açúcar, para o transporte dos moradores dos engenhos e dos núcleos de
povoação, assim como para fonte de abastecimento d’água. Devido a
esses tipos de uso estabeleceu-se uma relação entre os moradores das
suas margens e o rio. Com relação ao processo de expansão da cidade, o
rio contribuiu na medida em que sua morfologia direcionava o processo de
ocupação, desde o século XVII, como resultado do povoamento e da
expansão da cidade que foram feitos acompanhando os meandros do rio.
Segundo a autora o sítio fluvial foi quem determinou o traçado urbano da
cidade do Recife, pois além de ter sido construída sobre ilhas, era ladeada
por muitas terras alagadiças. Assim as paisagens foram sendo
construídas ao longo dos séculos, XVII e XIX, através do trajeto desse rio,
como resultado da relação estabelecida pelos diversos grupos culturais
com esse elemento hídrico. O fato de ser um elemento marcante na
paisagem é reforçado pelo fato dele cortar 21 bairros da cidade de Recife.