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I
RECUPERAÇÃO AMBIENTAL DE RIOS URBANOS
DIRETRIZES PARA O RIO BOTAS NA BAIXADA FLUMINENSE
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II
Foto da capa:
Criança tomando banho nas águas poluídas do Rio Botas.
Fonte: Grupo de Pesquisa Britto, 2006
III
FLÁVIA DE SOUZA ROYSE
RECUPERAÇÃO AMBIENTAL DE RIOS URBANOS
DIRETRIZES PARA O RIO BOTAS NA BAIXADA FLUMINENSE
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Urbanismo, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da
Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, como parte dos
requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em
Urbanismo, área de concentração Ambiente Urbano e Paisagismo.
Orientadora: Profª. Drª. Ana Lúcia Nogueira de Paiva Britto
RIO DE JANEIRO
2009
IV
Royse, Flávia de Souza.
R892
Baixada Fluminense / Flávia de Souza Royse. Rio de Janeiro: UFRJ / FAU,
2009.
xx, 291 f.: il.; 30 cm.
Orientadora: Ana Lúcia Nogueira de Paiva Britto.
Dissertação (mestrado) UFRJ / PROURB / Programa de Pós-
Urbanismo, 2009.
Referências bibliográficas: f. 259-262.
1. Paisagens urbanas
Sustentabilidade. 5. Planejamento ambiental. I. Britto,
Paiva
Urbanismo, Programa de Pós-Graduação em Urbanismo. III. Título.
V
FLÁVIA DE SOUZA ROYSE
RECUPERAÇÃO AMBIENTAL DE RIOS URBANOS
DIRETRIZES PARA O RIO BOTAS NA BAIXADA FLUMINENSE
Dissertação submetida ao corpo docente do Programa de Pós Graduação em Urbanismo, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo,
da Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em
Urbanismo:
Aprovada por:
______________________________________________________________________________
Profª. Drª. Ana Lúcia Nogueira de Paiva Britto orientadora (PROURB FAU UFRJ)
______________________________________________________________________________
Profª. Drª. Rosa Maria Formiga Johnsson (examinador externo, DESMA UERJ)
______________________________________________________________________________
Profª. Drª. Lúcia Maria Sá Antunes Costa (examinador interno, PROURB FAU UFRJ)
______________________________________________________________________________
Prof. Dr. Paulo Roberto Ferreira Carneiro (examinador interno, PROURB FAU UFRJ)
RIO DE JANEIRO
2009
VI
Agradecimentos
Em primeiro lugar agradeço a Deus pela conclusão de mais esta etapa em minha vida.
Aos meus familiares, amigos e a todos aqueles que torceram e contribuíram de alguma forma para a realização deste trabalho.
Em especial a minha querida avó Erly pelas constantes palavras de força e incentivo; aos meus pais por estarem sempre ao
meu lado me incentivando e por tornarem a realização de mais este sonho algo concreto; minha mãe, Sandra, sempre
companheira e disposta a ajudar e meu pai, Antonio, pelo carinho e suporte financeiro. A minha irmã Fernanda por chamar
minha atenção e me ajudar a manter sempre o foco. Pelo auxílio nas traduções e pela aceitação do computador ligado durante
as madrugadas. Ao meu padastro e amigo, Renato pela estadia durante alguns dias de algumas muitas semanas que foram
fundamentais para o andamento de todo processo.
Ao meu namorado, João Marcelo, pela paciência, compreensão, estímulo e apoio em todo processo de realização deste
trabalho.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNPq, pela bolsa de estudos concedida durante o
mestrado.
A Ana Lúcia Britto pela orientação que com seu empenho e dedicação foi fundamental para a concretização deste trabalho.
Pelo seu incentivo ao desenvolvimento deste tema e seu valioso aporte desde a graduação.
A Eliane Bessa e a Lúcia Costa pelas preciosas sugestões na qualificação. Em especial a Eliane sempre presente nos
trabalhos do grupo de pesquisa e disposta a contribuir para o crescimento deste trabalho.
A todos os meus queridos colegas de pesquisa do grupo organizado pela professora Ana Lúcia Britto (UFRJ) pelo suporte nos
trabalhos de campo e nas discussões sobre o tema. Em especial a Valesca pela assistência para tabular os dados dos
questionários. A Carolina Helena Silva sempre companheira nas pesquisas de campo, projetos, trabalhos acadêmicos e pelo
auxílio na elaboração dos mapas. A Cristiane Hübner e Paula Barbosa pela disposição e sugestões acerca do tema. E ao
Ricardo Mathias sempre presente para auxiliar no que fosse preciso.
E por fim, a todos os entrevistados pela disposição e paciência, em responder os questionários e relatar um pouco sobre suas
expectativas e experiências de vida, pois contribuíram para o enriquecimento do trabalho.
VII
Resumo
ROYSE, Flávia de Souza, Recuperação ambiental de rios urbanos: diretrizes para o rio Botas na Baixada Fluminense”,
Rio de Janeiro, 2009. Dissertação (Mestrado em Urbanismo) Programa de s-Graduação em Urbanismo, Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2009.
Este trabalho apresenta uma discussão sobre diferentes metodologias de recuperação de rios urbanos e tenta mostrar a
importância do projeto urbano como uma ferramenta essencial e aliada nos processos de intervenção e recuperação da
natureza. Neste sentido nosso foco se mantém sobre o rio Botas localizado na Baixada Fluminense, que tem suas
margens densamente e indevidamente ocupadas. Reconhecendo seu potencial ambiental, paisagístico e para o lazer,
este trabalho buscou entender o processo que culminou na degradação deste recurso hídrico de modo que a população
usufrua de suas margens, suas águas e ajude na conservação de seu ecossistema.
Palavras chaves: Rios Urbanos, Metodologias de Intervenção, Baixada Fluminense e Rio Botas.
VIII
Abstract
ROYSE, Flávia de Souza, “Recuperação ambiental de rios urbanos: diretrizes para o rio Botas na Baixada Fluminense”, Rio de
Janeiro, 2009. Dissertação (Mestrado em Urbanismo) Programa de Pós-Graduação em Urbanismo, Faculdade de Arquitetura
e Urbanismo, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2009.
This thesis presents a discussion of different methods of recovery of urban rivers and attempts to show the importance of urban
design as an essential tool and ally in the process of intervention and return to nature. In this sense, our focus remains on the
river Botas located in the Baixada Fluminense, which has its banks thick and improperly employed. Recognizing the potential
environmental, landscape and recreation, this study sought to understand the process that led to the degradation of water
resources so that people enjoy its banks, its waters and help in the conservation of its ecosystem.
Keywords: Urban rivers, Methods of Intervention, Baixada Fluminense e Botas river.
IX
SUMÁRIO
I INTRODUÇÃO
1.1 Apresentação ............................................................................................................................................
03
1.2 Objetivos ....................................................................................................................................................
03
1.3 Objeto da pesquisa
1.3.1 Recuperação Ambiental de Rios Urbanos ........................................................................................
04
1.3.2 Objeto Empírico o Rio Botas ..........................................................................................................
06
1.4 Justificativa ................................................................................................................................................
07
1.5 Metodologia da pesquisa ...........................................................................................................................
08
1.6 Estrutura da Dissertação ...........................................................................................................................
09
II RIOS URBANOS: METODOLOGIAS DE INTERVENÇÃO ....................................................................................
011
2.1 Intervenção Tradicional .............................................................................................................................
018
2.2 Revitalização .............................................................................................................................................
026
2.3 Restauração ..............................................................................................................................................
061
2.4 Proposta Utópica .......................................................................................................................................
065
III PROCESSO DE OCUPAÇÃO URBANA NA BACIA DO RIO BOTAS ...................................................................
079
3.1 Origem e evolução da cidade as margens do rio Botas ............................................................................
083
3.2 Nova Iguaçu e Belford Roxo hoje: problemas ambientais urbanos ..........................................................
104
IV CONTEXTUALIZAÇÃO EMPÍRICA DO RIO BOTAS ...........................................................................................
131
V DIRETRIZES PARA O BOTAS E CONSIDERAÇÕES FINAIS
5.1 Diretrizes para recuperação ambiental do Botas ......................................................................................
223
5.2 Considerações Finais ................................................................................................................................
255
Bibliografia ....................................................................................................................................................................
259
Índice de Ilustrações .....................................................................................................................................................
263
X
Fotos da página 11:
1. Rio Tibre em uma cheia, Roma Itália. Fonte: Wikipedia, 2007.
2. Vista do rio Sena, Paris França. Fonte: o autor, 2008.
3. Vista do estuário do Tejo, Lisboa Portugal. Fonte: Wikipedia, 2007.
4. Rio Tamanduateí - São Paulo, 1862. Fonte: FotoPlus, 2006.
5. Rio Carioca - Rio de Janeiro, 1831. Fonte: FotoPlus, 2006.
1
Capitulo I
INTRODUÇÃO
2
Rumorando feliz, entre a verde folhagem,
ziguezagueando vai o alegre riachinho,
a refletir o azul (entre as nuvens de arminho)
de um céu primaveril, e o verdor da ramagem.
Mas nem tudo é beleza em sua longa viagem,
da nascente ao chegar ao final do caminho,
pra no rio desaguar - pois o efeito daninho,
da humana insensatez, encontra em sua passagem:
- a contaminação por lixo, pesticidas,
e substâncias letais para o ciclo da vida,
a se desenvolver apenas no seu orto;
porque, pelo caminho, a vida vai-se embora,
e do ledo riachinho, então, só resta agora,
tristonho, a se arrastar, um riacho quase morto...
(Eloah Borda, 2008)
1
1
Poesia “O Riacho” retirada do Blog de Eloah Borda, postada em maio de 2008, capturado em janeiro de 2009.
http://eloahborda.blogspot.com/2008/05/o-riacho-eloah-borda-rumorando-feliz.html
3
1.1. Apresentação
“Vital e mortal, ignorada onde abunda, aguardada com
veneração quando sazonal e brutalmente disputada se
escassa, a água se tornou preocupação atual, privilégio
mais restrito e mercadoria que se generaliza.”
(Murillo Marx, apud Kahtouni, 2004).
Esta pesquisa estuda a questão da água nas cidades, especificamente no
que diz respeito aos rios urbanos, buscando principalmente suas relações
com o ambiente urbano, a fim de demonstrar a importância do projeto
urbano como uma ferramenta essencial e aliada nos processos de
intervenção e recuperação da natureza. Além disso, a intenção é tentar
perceber como estes projetos podem ser influenciados e enriquecidos por
fatores sociais e culturais contribuindo para criação de paisagens com
mais identidade e em conseqüência disso mais valorizadas. É importante
deixar claro que uma proposta de recuperação deste porte funciona se
estiver interligada com políticas públicas de habitação para relocar as
populações que vivem em áreas de risco e com a constante fiscalização
das prefeituras para que o problema não torne a acontecer. Esta
dissertação não pretende esgotar o assunto, porém, apresentar os alguns
dos principais conceitos técnico-científicos imprescindíveis para tratar do
tema da recuperação de rios urbanos
1.2. Objetivos
1.2.1. Objetivo Geral:
O objetivo geral dessa dissertação é entender a importância do papel dos
rios urbanos na estruturação das cidades e discutir experiências de
recuperação ambiental de rios urbanos que contribuam para sua
recuperação e revitalização.
1.2.2. Objetivos Específicos:
A intenção é apresentar uma proposta metodológica de recuperação
ambiental para um rio urbano que tire partido do projeto urbano e que
esteja em harmonia com o ambiente, tanto construído como natural. A
dissertação está centrada num estudo de caso, o do rio Botas localizado
nos municípios de Nova Iguaçu e Belford Roxo no Rio de Janeiro. É
necessário deixar claro a complexidade e a necessidade de uma equipe
multidisciplinar para uma a elaboração de uma proposta deste porte.
Portanto, nossa intenção é mais modesta e tem como foco principal o
tratamento e ordenamento das margens utilizando o apoio das
metodologias estudadas. Nosso objetivo é desenvolver uma metodológica
que seja complementar aos projetos desenvolvidos até então para o rio
Botas que visam apenas o controle de inundações e urbanização. A
proposta que procuramos desenvolver busca ser flexível para que tenha
aplicabilidade a outros rios da sub-bacia do Iguaçu-Sarapuí, onde o Botas
está inserido. A intenção é que através da proposta metodológica de
recuperação ambiental para o Rio Botas, possamos desobstruir e tratar as
margens, criar espaços propícios para que a população tenha contato com
o rio e possam utilizar estes espaços potenciais para o lazer, buscando
apoio em outras experiências realizadas. Para isto é necessário
entender quão complexo é sua inserção no ambiente construído e buscar
soluções aplicáveis a cada caso.
Buscamos com este trabalho elaborar um instrumento prático a
assessores técnicos municipais, aos apaixonados pelo meio ambiente e
principalmente para a população, pois nestas páginas poderão encontrar
esclarecimentos para a abordagem da questão ambiental e para o trato
das águas com relação aos rios urbanos.
Os diversos exemplos que serão citados nas metodologias do capítulo II
nos fazem perceber que a tendência atual é de intervenções que indiquem
o caminho da sustentabilidade e que abordem as técnicas da engenharia
ambiental, de modo que possam contribuir para a preservação e para a
integração entre homem e rio.
4
1.3. Objeto da Pesquisa
1.3.1. Recuperação Ambiental de Rios Urbanos
Como primeiro passo para o desenvolvimento deste trabalho procuramos
levantar e revisar trabalhos sobre recuperação e revitalização de rios
urbanos. Existe sobre esse tema uma vasta literatura dentre a qual
destacamos os trabalhos de Roy Mann, Ian McHarg, Lúcia Costa, bio
Duarte, Saide Kahtouni, dentre outros.
Fundamentados pela literatura acima, procuramos discutir algumas das
diferentes metodologias existentes para recuperação ambiental de rios
urbanos e comparar seus princípios para que possamos definir a
metodologia que adotamos, estando esta baseada na importância do
tratamento dos rios urbanos na paisagem. Para tal, e de modo a tornar
viável o trabalho, identificamos 4 metodologias, que datam de um período
compreendido entre o início da década de 30 até os dias atuais. A década
de 30 foi definida como ponto de partida por se tratar do período em que
se iniciam as ações sistemáticas do Estado sobre os rios na Baixada
Fluminense. As metodologias selecionadas tiveram contribuições
fundamentais em épocas distintas. Por isso é importante entender o
contexto em que estas idéias foram apresentadas e aplicadas, para que
possamos perceber que condições propiciaram o seu desenvolvimento.
A primeira metodologia denominamos intervenção tradicional. Ela começa
a ser utilizada nos rios da Baixada Fluminense por volta da década de 30
e está presente ainda nos dias atuais. Esta metodologia utiliza-se de
recursos como a retificação do curso do rio, a canalização e a
impermeabilização, conseqüentemente uma perda da vegetação
ribeirinha alterando as características naturais do curso hídrico,
aumentando a velocidade de escoamento das águas pluviais causando
graves enchentes. É importante destacar que a questão da
impermeabilização não se restringe a canalização, ela abrange também o
tecido urbano. Na década de 30, quando esta metodologia marca as
intervenções nos rios da Baixada, não se considerava a importância
ambiental dos rios urbanos e nem seu valor estético, eles eram vistos
apenas como uma solução ao problema de drenagem de áreas alagadiças
e pantanosas para prevenir a proliferação de doenças contagiosas. A
partir desta época, muitos rios foram canalizados, perdendo sua beleza
natural e assim tornaram-se meros corredores de drenagem e receptores
dos efluentes domésticos e industriais.
Como procuraremos explicitar no capítulo 2 dessa dissertação, a origem
deste padrão de intervenção está no século XIX, dentro das políticas e
ações do higienismo, voltadas para resolver os problemas sanitários
decorrentes do crescimento acelerado e não planejado das cidades. No
final do século XIX, as águas dos rios que cruzavam o centro da cidade
eram consideradas insalubres e sinônimo de doenças, com isso muitas
técnicas foram desenvolvidas para sanear áreas alagadiças e controlar os
rios. “O nascer do século XX concretiza na cidade de São Paulo uma
febre de dessecamentos, canalizações, aterros e obras de redução das
grandes superfícies de água aparente” (Kahtouni, 2004, pp. 67).
Segundo Kahtouni, as novas tecnologias de canalização e retificação
primeiramente desenvolvidas por questões sanitárias, antes da primeira
década de 1900, passam a ser largamente utilizadas para ganhar terras
dos rios, que se tornam bens de consumo vendidos em séries de lotes.
Duas lógicas eram utilizadas: (I) controlar os rios para evitar inundações e
alagamentos, e formação de áreas pantanosas, e (II) ganhar terras para a
ocupação urbana.
O final dos anos 60 e início dos 70 é o período do surgimento da
consciência ecológica e ambiental, voltada para a proteção dos espaços
naturais e para a conservação dos recursos. Desde a origem desta
perspectiva ambientalista, surgem dois movimentos distintos, refletindo
duas formas de pensar a relação homem natureza: o conservacionismo,
que visa à proteção do meio ambiente para assegurar a continuidade dos
recursos naturais, numa perspectiva a longo prazo, acreditando no uso
racional e sustentável dos ecossistemas, e o preservacionismo, mais
radical, voltado para o impedimento da extinção de espécies, com caráter
explicitamente protetor, garantindo a intocabilidade. A partir desta
mudança de percepção sobre a esgotabilidade dos recursos naturais
surge a necessidade de preservação da natureza, e assim podemos
chamar atenção para construção paulatina de uma nova forma de tratar a
questão dos recursos hídricos.
5
Neste contexto surgem vários autores como Ian McHarg (1969) que em
seu trabalho Projectar com la Naturaleza”, critica a forma como o homem
tem modificado a natureza e propõe um programa prático para uma nova
e saudável relação entre natureza e ambiente construído. Surgem a partir
daí as propostas de revitalização dos rios urbanos. Estas propostas se
baseiam na compreensão dos processos que configuram a paisagem,
tentando utilizá-los como fundamento de projeto.
Um dos legados mais relevantes deixado por McHarg foi o da importância
do planejamento do uso e cobertura do solo de acordo com o valor
ecológico e a sensibilidade de cada paisagem, sendo que a distribuição
dos espaços abertos deveria responder aos processos naturais,
permitindo o desenvolvimento sem o rompimento dos processos
ecológicos (LITTLE, 1990; SMITH & HELLMUND, 1993; apud Giordano &
Riedel). Outro ponto que se destaca é sua metodologia de incorporar
preocupações ambientais em desenhos, utilizando-se da técnica de
sobreposição de mapas, que quando sobrepostos, geram um mapa onde
apareceram áreas em branco, o que segundo ele são as mais aptas ao
desenvolvimento.
Concomitantemente a McHarg, Philip Lewis, utilizando o método de
sobreposição de imagens, observou que muitas vezes as áreas escuras
dos mapas situavam-se nos vales de rios e em áreas de topografia
pronunciada, gerando como resultado áreas denominadas por ele de
corredores ambientais, com fundamental importância para o planejamento
ecológico regional (SMITH & HELLMUND, 1993; apud Giordano & Riedel).
Desde então, a compreensão das questões ambientais está cada vez
mais sofisticada, tendo-se a consciência de que os processos naturais e
humanos são assuntos extremamente interligados. E é nesta perspectiva
que se insere o trabalho de Hough. Em “Cities and Natural Process”,
Hough (2000) discute sobre o projeto tradicional que moldou a paisagem
física da cidade e que pouco contribuiu para a sua saúde ambiental, além
de expressar a necessidade desta perspectiva ambiental quando nos
aproximamos do desenho urbano. Neste livro, Hough apresenta os casos
do rio Tâmisa em Londres, Inglaterra e do rio Don em Toronto, Canadá.
Na mesma linha está o trabalho de Anne Spirn (1995), o “Jardim de
Granito”, que critica projetos urbanos superficiais criados apenas para
embelezar a natureza da cidade. Para a autora são necessárias
mudanças radicais que busquem reconhecer e aproveitar as
potencialidades naturais existentes nas cidades.
Mais recentemente o livro “Restoring Streams in Cities” de Ann Riley
(1998), discute a importância da restauração como alternativa ao
tradicional, ao ambientalmente destrutivo e ao projeto de altos custos. A
restauração implica em realizar ações ambientais voltadas para um
retorno do rio a um estado natural, num sentido literal. Riley preocupa-se
prioritariamente com a restauração da forma do córrego, seus bancos,
meandros, piscinas, corredeiras e vegetação das margens. Segundo ela,
quando esses atributos são restabelecidos, a melhoria da qualidade da
água é conseqüência.
Muitos córregos e rios foram responsabilizados por prejuízos causados à
propriedades pelas enchentes, e por isso foram canalizados. A principal
ameaça de integração entre um córrego e o ambiente urbano são o
crescimento e a ocupação desordenada do solo na sua faixa marginal,
que ocasiona, muitas vezes, problemas relacionados aos prejuízos das
propriedades por enchentes e erosão. Este pensamente se dava porque a
cidade era percebida como algo separado da natureza e em muitos casos
era vista como problema. Esta percepção influenciou na maneira como a
cidade foi construída, o que agravou e até causou muitos dos problemas
ambientais urbanos já citados anteriormente.
Com o crescimento das cidades, esses problemas tomaram proporções
maiores, e continuam a ser tratadas como fenômenos isolados, e não
como conseqüência das ações humanas. Segundo Spirn, a natureza tem
sido vista mais como um embelezamento superficial, do que como uma
força essencial que permeia a cidade, assim, sua intenção é descrever
mais opções para o tratamento de córregos urbanos do que são
usualmente considerados pelos projetos de engenharia convencionais.
Em nossa revisão bibliográfica nos deparamos com outra proposta que
chamou nossa atenção. No livro, “Utopia e Cidades: Proposições” Denise
Pessoa (2006) propõe a utopia como solução, para a degradação dos rios
6
urbanos, o que consequentemente nos leva a pensar sobre os possíveis
caminhos e metas a serem alcançados para a transformação da cidade.
Ela desenvolve sua proposta para rio Tiête em São Paulo, que sofreu as
conseqüências de um conjunto de obras e intervenções que o levaram
em conta suas características naturais. Sendo assim, a cidade de São
Paulo perdeu uma grande área verde e de contato com a água, tão
importante para o equilíbrio da cidade. Atenta a qualidade de vida, ela
busca compreender a área em estudo, o percurso das intervenções já
realizadas, pensando a cidade e em sua relação com a natureza e à
habitação, visando uma cidade ideal.
Podendo ser um ponto de partida para o planejamento urbano, devemos
pensar a cidade com um olhar visionário, buscando corrigir os erros sem
medidas paliativas. Pensar utopicamente não é propor algo impossível,
mas buscar um caminho viável dentro do caos urbano, prevendo soluções
e mudando o curso da história, mesmo que as idéias utópicas apontem
uma transformação mais radical do é possível executar.
“As cidades novas, construídas num terreno livre onde nunca
existiu uma cidade, tal como foram propostas inúmeras vezes,
não constituem a utopia de hoje. A utopia atual é a cidade nova
sobre a existente, lidando com todas as suas dificuldades.”
(Pessoa, 2006, p.141)
Segundo Pessoa a única coisa que torna o projeto utópico irrealizável é o
interesse em manter as coisas como elas são. Apesar das constantes
transformações a que estão sujeitas as cidades, ainda assim é possível
apresentar equilíbrio entre natureza e cidade construída.
Apesar de todas as metodologias apresentadas serem relevantes e
contribuírem pontualmente para a construção da proposta metodológica
de recuperação ambiental de rios urbanos, a que mais se adequa a este
território em estudo é a revitalização, que esta sub-bacia se encontra
densamente habitada. A intenção é buscar alternativas mesmo que
radicais para aproveitar as potencialidades naturais existentes e tentar
fazer conviver em harmonia a natureza e a cidade, através da
compreensão dos processos que configuram a paisagem. E ainda buscar
restabelecer a saúde do recurso drico levando-o de volta ao convívio da
cidade como um elemento essencial da paisagem e da vida urbana não se
atendo a curtos prazos.
1.3.2. Objeto Empírico:
O Rio Botas
O rio Botas possui aproximadamente 20 km de extensão. Ele nasce em
uma área de pastagem próximo a Rodovia Presidente Dutra, no município
de Nova Iguaçu e deságua no Rio Iguaçu, no município de Belford Roxo.
Em sua extensão, o rio atravessa o tecido urbano passando por áreas
bastante diferenciadas, onde podemos observar trechos em que a ação
do homem degradou seus recursos ambientais, trechos onde o tecido
urbano está consolidado sejam de baixa ou de alta densidade, ocupações
irregulares que muitas vezes localizam-se na faixa marginal ou até mesmo
dentro da calha do rio e trechos em que a beleza natural encontra-se
preservada.
7
Localização do Rio Botas. Fonte: o autor, 2007.
Além da ocupação das margens e do leito menor, são observados
diversos problemas como: o lançamento de esgoto “in natura”, a
impermeabilização do solo, o assoreamento, lançamento de lixo no leito
do rio e suas margens como depósitos, ligações de água clandestinas, o
estreitamento do leito menor e a limitação das ações da prefeitura.
1.4. Justificativa
A temática da água está sendo amplamente discutida nos dias atuais, e é
tema prioritário a partir do momento em que, grande parte dos corpos
hídricos sofre processo de degradação, pois o desmatamento para
atividades econômicas e/ou assentamentos humanos, a falta de
saneamento, impactam negativamente áreas de nascentes e matas
ciliares, comprometendo a conservação e a qualidade dos recursos
hídricos. O projeto contribui na medida em que se propõe a elaborar uma
proposta metodológica com foco no projeto urbano que possa ser
complementar a um plano maior como o Projeto Iguaçu que visa o
controle de inundações, urbanização e recuperação ambiental. Esses são
problemas que assolam a população destas cidades que sofrem grandes
prejuízos materiais e morais.
O projeto poderá promover e induzir outros projetos ambientais
locais/regionais. Em parceria com o poder público e a população pode
funcionar como paradigma de qualidade, pois na medida em que a
população tem contato direto com o rio, ela passa a ter uma nova postura
desenvolvendo com ele uma relação de afetividade, e com o estímulo
pedagógico podem consequentemente tornar-se defensoras da qualidade
ambiental do mesmo. As diferentes abordagens conceituais apresentadas
sobre este tema trazem uma maior possibilidade de análise e crítica.
Rios e córregos necessitam de seu espaço natural de escoamento que
deve ser suficiente para evitar danos provocados pelas inundações e
enchentes, para isso, é necessário entender a problemática que envolve o
rio Botas, pois em diversos trechos ao longo de seu percurso podemos
observar a ocupação do leito menor do rio. Fato este, que pode ter duas
explicações, uma pelo processo de ocupação, onde várias unidades
habitacionais foram construídas nesta área, e outra pelo fato destas
unidades habitacionais pertencerem a uma população mais pobre, que
sem condições de se estabelecer na cidade formal é obrigada a ocupar
estes vazios residuais mais frágeis do ponto de vista ambiental. Para
reduzir esses constantes riscos é indispensável devolver ao rio estes
espaços. (lembrar que a proposta funciona ser for acompanhada de
políticas de habitação voltadas para a população de baixa renda excluída
do mercado imobiliário e fiscalização da prefeitura)
A intenção é construir uma metodologia que tire partido do projeto urbano
em consonância com o meio ambiente, de forma que estes se
complementem. Utilizar as margens para atividades de lazer, de
recreação passiva, para ciclovias, pode promover uma mudança
comportamental, através do contato direto com o rio.
Hough (2005) propõe estratégias recreativas e educacionais que estejam
em harmonia com a natureza. Propondo ao longo das margens do rio
atividades recreativas passivas, lugares de descanso para contemplar a
água entre outras atividades que promovam o contato entre população e o
8
recurso hídrico. Com relação às margens, segundo Britto e Costa (2006),
o tratamento enquanto espaços livres públicos traz uma importante
mudança conceitual no tratamento do rio. Esta continuidade espacial que
é construída por estes espaços livres fortalece a dinâmica natural e traz
identidade.
Com isto podemos concluir que não bastam os resultados técnicos e
operacionais, é necessária uma escala de valores que possa tratar esta
questão desde o monitoramento sustentável, passando por uma questão
ética e educacional para que haja uma mudança nos padrões de
comportamento no que se refere ao uso e ao reuso da água.
O rio Botas encontra-se bastante degradado e vem sendo tratado ao
longo dos anos como um receptáculo de esgoto e lixo, além disso, ele é
causa de riscos decorrentes dos problemas de inundação. As autoridades
têm tomado apenas medidas paliativas e a população continua a sofrer as
conseqüências a cada chuva mais forte. Com isso, pode-se dizer que a
intenção de elaborar uma proposta metodológica de recuperação
ambiental do Rio Botas, torna-se ainda mais importante na medida em
que esta não se restrinja a este estudo de caso e possa ser aplicável a
outros rios da sub-bacia do Iguaçu-Sarapuí.
Além disso, o Rio Botas faz parte de um programa de intervenções
financiadas com recursos oriundos do PAC (Programa de Aceleração do
Crescimento), para o projeto de Controle de Inundações, Urbanização e
Recuperação Ambiental das Bacias dos Rios Iguaçu, Botas e Sarapuí,
que tem previsão orçamentária total de R$ 800 milhões divididos entre as
etapas de projeto.
1.5. Metodologia
Para o desenvolvimento desta pesquisa, procuramos seguir as seguintes
etapas:
1. Revisão bibliográfica, levantamento, sistematização e leitura
de trabalhos referentes ao tema (os rios e a cidade,
revitalização de rios urbanos, gestão integrada da água,
propostas de intervenção em margens de rios urbanos),
2. Reconhecimento do processo histórico e das questões que
foram fundamentais para a atual configuração do espaço
urbano da Sub-bacia do Botas,
3. Reconhecimento da área, para que possamos entender sua
inserção urbana através de imagens, mapas e plantas
cadastrais em diferentes escalas,
4. Investigação e problematização da área da Bacia do rio Botas,
examinando os impactos ambientais do processo de
ocupação e as potencialidades da área,
5. Caracterização da área, definindo quais seriam os padrões de
ocupação existentes ao longo da extensão do rio Botas,
6. Pesquisa de campo com aplicação de questionários para
investigar a percepção dos moradores com relação ao rio e os
principais problemas identificados por eles,
7. Investigação de metodologias e instrumentos que propiciem a
qualidade desse recurso hídrico,
8. Discutir e apresentar uma proposta que se adeque aos
diferentes problemas e que possam minimizar os impactos
ambientais.
Ao longo deste período também houve importantes contribuições de
seminários, em especial “Águas da Baixada: direitos e desafios para
gestão pública” e “Metodologias e instrumentos para elaboração dos
planos municipais de saneamento ambiental: desafios na perspectiva da
universalização dos serviços”, pois pelo fato dos cursos serem voltados
para a população da Baixada Fluminense, boa parte dos participantes
tinha uma relação direta com os municípios de Nova Iguaçu, Belford Roxo
e/ou com o rio Botas. Isto será um fator importante para estabelecer
contato com moradores que farão uma conexão entre a pesquisa e o rio,
para que possamos criar um equilíbrio entre a observação de um
pesquisador e a de um morador que conhece a problemática real na
prática inserida em seu cotidiano.
9
1.6. Estrutura da Dissertação
Este trabalho está estruturado em cinco capítulos. O primeiro é a
introdução a cerca do tema, que trata da questão da água como tema
central, mostrando os motivos que nos guiaram e quais os objetivos que
queremos alcançar. Além disso, mostra os motivos que nos conduziram a
escolha destes objetos de estudo, com uma breve descrição sobre os
objetos teóricos e empírico.
O capítulo II trata da abordagem teórica da pesquisa discutindo a
importância da água e da presença dos rios nas cidades. Este capítulo
apresenta o conhecimento teórico sobre intervenções nos rios urbanos, e
está subdividido em 4 metodologias abordadas. A primeira se refere à
Intervenção Tradicional, que se utilizava de recursos muito duros e
bastante invasivos como a retificação dos cursos d’água, a canalização e
a impermeabilização. Este tipo de intervenção marca a década de 30 na
Baixada Fluminense. A segunda se refere à Revitalização, período onde
acontece o surgimento da consciência ecológica e ambiental voltada para
proteção e conservação dos recursos naturais. Neste período é feita uma
crítica muito grande a forma como o homem modificava a natureza, sem
compreender seus processos naturais, consequentemente pouco se
contribuiu para a saúde ambiental. A terceira é a Restauração que se
discutir um retorno total a um estado natural do recurso hídrico.
Restaurando suas formas, meandros e vegetação. A quarta e última é a
Proposta Utópica que pensa a cidade com um olhar visionário, buscando
corrigir os erros sem medidas paliativas, e em geral não se atendo a
valores econômicos.
O capítulo III faz referência a evolução do processo histórico e de
ocupação urbana na sub-bacia do Botas, que é extremamente atrelada a
evolução da Baixada Fluminense. Atrelada a todos os processos
econômicos da região, a intenção é entender como se deu a degradação
dos rios urbanos, em especial o do rio Botas.
O capítulo IV trata das questões referentes aos trabalhos de campo e do
grupo de pesquisa. Contêm todas as informações observadas “in loco”,
imagens e os resultados das pesquisas empíricas obtidas dos
questionários aplicados. Estes dados revelam as experiências e os
conflitos cotidianos desta população que vive no entorno do Botas. Esta
descrição é feita a partir de 6 trechos selecionados ao longo do rio,
seleção esta que será devidamente explicada neste capítulo.
O capítulo V compreende conceitos teóricos e diretrizes que orientam a
elaboração de uma proposta de desenho urbano para o rio Botas com
aplicabilidade a outros rios desta bacia hidrográfica. Este último capítulo
traz ainda as considerações finais, descrevendo a importância da água e
do rio Botas para as cidades de Nova Iguaçu e Belford Roxo. Destacando
a necessidade de considerar seu valor histórico e ambiental nos
processos de planejamento urbano e a importância das possibilidades de
uso para a conservação do recursos hídrico.
10
Fotos da página 11:
1. Aproveitamento das Margens do Rio Sena para atividades de lazer. Paris França.
Foto: o autor, 2008.
2. Canalização do rio Vuachère Suíça. Foto: o autor, 2008.
3. Tratamento Paisagístico das margens do Lago Léman Suíça. Foto: o autor, 2008.
4. Pólo Turístico do Lago Aydat Clermont Ferrand França. Foto: o autor, 2008.
5. Projeto Beira-Rio em Piracicaba/SP. Fonte: Portal Vitruvius, 2006.
11
CAPÍTULO II
Rios Urbanos e suas Metodologias de Intervenção
12
“É na terra - nas margens e nas áreas de bacia hidrográfica - do rio
urbano que o homem dos campos, cidades, indústrias e serviços têm seus
padrões próprios ao longo da história. Aqui, o seu processo histórico e seu
legado arquitetônico podem ser encontrados. E são nas margens de rios
que ele tem criado belas paisagens para unir suas próprias criações as da
natureza.”
(MANN, 1973:14).
13
Este capítulo trata da abordagem introdutória para este estudo a cerca
dos rios urbanos que se inicia com um aprofundamento do conhecimento
teórico das metodologias de intervenção relacionadas a esta temática.
Após uma breve introdução sobre a importância estratégica de localização
das cidades as margens dos rios, a importância da água para a
sobrevivência e o de uma população que se integra a dinâmica dos
processos naturais de cheias de um rio, apresentaremos as metodologias
que serão aprofundadas destacando os supostos benefícios apresentados
por cada uma delas.
As metodologias que serão discutidas a seguir visam analisar as
paisagens fluviais na perspectiva de diferentes disciplinas e profissões,
com um recorte temporal, onde buscaremos parâmetros para avaliar a sua
contribuição para o reconhecimento e para valorização da paisagem. A
primeira, que aqui chamaremos de Intervenção Tradicional, data (para
Baixada Fluminense) do início da década de 30 e aborda o tema de forma
mais tecnicista.
a segunda chamada de Revitalização inicia-se no final dos anos 60 e
início dos 70 com o surgimento da consciência ecológica ambiental, que
traz uma nova forma de tratar os rios urbanos. A terceira metodologia é a
Restauração que implica em realizar ações ambientais voltadas ao retorno
do estado natural do rio. Esta metodologia seria uma alternativa às
intervenções tradicionais, consideradas ambientalmente destrutivas e aos
projetos de altos custos.
E a quarta e última é a Proposta Utópica, desenvolvida por Denise
Pessoa, no livro publicado em 2006, “Utopia e Cidades: Proposições”
onde a autora, com a parceria de outros pensadores, propõe a utopia
como solução projetual e mostra como o pensamento utópico pode ser um
instrumento para se pensar soluções para os problemas da cidade.
14
2. RIOS URBANOS: METODOLOGIAS DE INTERVENÇÃO
Rios e córregos envolvem muito mais que água, são espaços vitais para
muitas espécies da flora e fauna e permitem múltiplos aproveitamentos
pelo homem (SELLES, 2001). Ao longo da história, assim como a
proximidade ao mar, os rios foram considerados estruturas estratégicas
para a implantação das cidades, pois propiciavam o abastecimento da
população, irrigação, suas periódicas cheias fertilizavam as margens
favorecendo a agricultura, criavam facilidades para o escoamento de
matérias primas e produtos negociados com outras localidades através da
navegação e conseqüentemente representavam o sustento da sociedade.
A abundância de água era considerada fator imprescindível para a
sobrevivência e para fixação definitiva de um grupo social em determinada
região.
Podemos citar o exemplo de várias cidades que surgiram e se
desenvolveram as margens de rios como: Eridu, Ur, Nippur e Kish
localizadas ao longo dos rios Tigre e Eufrates na Mesopotâmia; Roma,
fundada no ano de 753 a.C., na Itália onde seu núcleo urbano se
desenvolveu ao longo do rio Tibre; Paris, na França localizada as margens
do rio Sena, que vem sendo ocupada pelo homem durante ao menos
40000 anos; Lisboa, a capital de Portugal, fundada por volta do ano 1200
a.C., situada às margens do rio Tejo, de onde partiram as Naus e as
Caravelas dos descobrimentos Portugueses.
Rio Tibre em uma cheia, Roma Itália. Fonte: Wikipedia. Data: 16-11-2007
Link do mapa: http://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:Tiber.PNG Link da imagem:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:Tevere_Isola_Tiberina_-_piena_051130.JPG
15
Vista do rio Sena, Paris França. Fonte: o autor, 2008.
Link do mapa: http://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:France.seine.350pix.jpg
Vista do estuário do Tejo, Lisboa Portugal. Fonte: Wikipedia. Data: 16-11-2007
Link do mapa:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:Mapa_de_Portugal.png
Link do foto: http://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:Estu%C3%A1rio_do_Tejo.jpg
16
No Brasil, também não foi diferente e podemos citar o exemplo de São
Paulo, que estava estrategicamente localizada numa colina alta e plana,
que era cercada por dois rios, o Tamanduateí e o Anhangabaú. No Rio de
Janeiro, o rio Carioca era de grande importância tanto para as populações
indígenas que viviam aqui antes do descobrimento (Schlee, 2002 apud.
Fontenelle 2003), quanto para os pioneiros europeus que se abasteciam
em sua foz na praia do Flamengo (Cruls 1965, apud. Fontenelle 2003). O
rio Carioca foi à primeira fonte de abastecimento de água da cidade que
se instalou inicialmente próxima a suas margens. Posteriormente o
assentamento se transferiu para o Morro do Castelo, mas as águas do rio
Carioca continuaram a abastecer a cidade, agora através de um aqueduto
e chafariz.
Os são portanto importante elementos de estudo que nos ajudam a
compreender as estruturas ambientais e sociais das cidades. Os rios
podem ser utilizados para entender as relações entre a cidade e suas
águas, as atitudes da população urbana em relação a estas águas, bem
como a arquitetura e a paisagem resultantes desta dinâmica. (Fontenelle
2003).
Para exemplificar as relações sociais e ambientais que se constroem a
partir dos rios citamos o texto de Altenhofen e Maltchik (2006) que chama
a atenção por destacar um excelente exemplo de vida sustentável,
totalmente integrada ao meio ambiente, onde relatam um processo de
adaptação do homem as esporádicas inundações. Neste texto eles tratam
das famílias ribeirinhas que vivem nas áreas úmidas do rio dos Sinos no
Rio Grande do Sul, devido a processos históricos, socioeconômicos e
culturais.
Para permanecerem nestas áreas os ribeirinhos são obrigados a reagir
com estratégias para minimizar em maior ou menor grau de
sustentabilidade os impactos dos eventos causados pelas inundações
sobre o seu modo de vida. O estudo realizado investigou as estratégias
dos moradores locais (escolhidos em função dos distintos usos e formas
de ocupação do ambiente) frente ao problema das cheias.
Assim como na maioria dos casos, as primeiras ocupações ribeirinhas
estavam diretamente relacionadas a questão do aproveitamento do rio
como via de transporte. Na atualidade este perfil é marcado pela
crescente migração de populações marginalizadas; os moradores atuais
desses ambientes mesclam elementos característicos das sociedades
urbano-industrias com aspectos de uma cultura específica, que incorpora
as alterações ambientais em seu modo de vida. (ALTENHOFEN e
MALTCHIK, 2006)
Os ribeirinhos incorporaram em seu modo de vida as dinâmicas hídricas,
reconhecem e interpretam os processos ambientais das áreas úmidas.
Eles se adaptam a estes eventos através de estratégias culturais, de
organização familiar e econômica que visam à sobrevivência. Enquanto
que a maioria predominante dos modelos de ocupação urbana e de
grandes propriedades agrícolas se baseia no controle de inundações
através de meios tradicionais e de engenharia (como a construção de
diques, aterros e drenagens), esta comunidade se adapta as cheias e não
impedem a inundação das áreas úmidas. Os autores citam estratégias
utilizadas no cotidiano dessa população, que vão desde a localização das
casas, ao sistema construtivo, até seus meios de subsistência e a inter-
relação entre individualidade e coletividade.
Esta atitude traz importantes conseqüências no que diz respeito à
preservação do ambiente. Para Altenhofen e Maltchik (2006) esta atitude
assegura importantes funções de preservação como o armazenamento de
água superficial, a recarga de aqüíferos (depósitos de água subterrâneos),
a retenção de nutrientes, a estabilidade climática e outras. Apesar das
inundações serem fatores limitantes para muitas atividades diárias dos
ribeirinhos, suas estratégias permitem a ocupação do local de diversas
maneiras.
As unidades habitacionais seguem basicamente dois sistemas
construtivos: os habitantes as constroem em locais naturalmente mais
altos aonde as águas dificilmente chegam esta estratégia é chamada
pelos autores de resistência (não alterar as características); a segunda
solução é classificada de resiliência (recuperar-se após a inundação) onde
as casa são construídas sobre palafitas de modo a evitar que as águas
atinjam seu interior, calculando a altura média a partir das maiores cheias.
Segundo os autores existe uma variação, na qual a casa tem duas partes,
17
uma das quais fica em um nível mais baixo e a outra, usada durante as
cheias, em um nível mais alto.
Com relação aos meios de subsistência são relatadas diversas formas
subdivididas em dois grupos: nas áreas rurais a agricultura, a pecuária
ou o trabalho em olarias; e nas adjacências urbanas a catação (em
depósitos de lixo urbano, regulares ou não) e uso de resíduos sólidos para
a alimentação de suas criações e separação dos materiais recicláveis
para comercialização.
As soluções para o problema das cheias são criativas. No que diz respeito
à criação de animais, na época das cheias com a redução das áreas de
pastagens os mesmos são deslocados para áreas mais elevadas
reservados para este período. Ou é feito um esquema de permuta entre
os vizinhos, no período das inundações os animais são transferidos as
áreas mais altas não atingidas, e no período das secas os animais vão
para os terrenos mais baixos com melhores pastagens. Nas áreas
totalmente inundadas a única solução é a construção de jiraus em
madeira acima do nível das inundações para abrigar pequenos currais de
gado, baias de cavalos, galinheiros, caixas de colméia de abelhas, plantas
cultivadas em vasos.
Assim como para os animais, eles usam de algumas estratégias para o
cultivo agrícola. Apenas os moradores das áreas mais elevadas cultivam
diretamente no solo. Já os que vivem nas áreas inundáveis plantam
espécies adaptadas ou cujo ciclo de plantio-colheita se enquadre na
dinâmica do rio. Para evitar as possíveis perdas utiliza-se muito o cultivo
de diferentes espécies vegetais de pequeno porte (hortaliças e plantas
medicinais, condimentares e aromáticas) em caixas, latas ou vasos, sobre
jiraus. Para obtenção da lenha retiram madeira da vegetação das margens
pelo corte de galhos de maneira que possam brotar novamente e utilizam
também troncos trazidos pelas inundações. A caça é ocasional, mas a
pesca é bastante difundida principalmente entre os com menos recursos
financeiros, o que garante parte do sustento. Eles criam peixes em
viveiros submersos nos rios devido a ausência de geladeira e até mesmo
de energia elétrica em muitas moradias.
Para os autores incorporar as inundações como inerentes às áreas
úmidas e entender que o ser humano deve se adaptar a elas, ao invés de
tentar impedi-las, são atitudes dos ribeirinhos que devem ser adotadas em
políticas públicas de conservação desses ambientes. Mas para que esse
tipo de iniciativa obtenha sucesso, é necessário além de decisões
administrativas, o envolvimento dos diferentes setores da sociedade, e a
participação das populações que habitam e fazem uso direto das áreas
úmidas.
Dentro dessa ótica, o envolvimento dessas populações ribeirinhas em
propostas conservacionistas surge como uma alternativa sensata e com
boas chances de atingir eficácia. (ALTENHOFEN e MALTCHIK, 2006).
Apesar do modelo ambientalmente favorável, à medida que os ribeirinhos
se tornam mais suscetíveis às influências culturais e socioeconômicas
externas à persistência do sistema diminui. A tendência de aumento do
consumo de bens industrializados leva a uma alteração em seu modo de
vida integrado ao meio ambiente, colocando em risco não o sistema
social, mas a própria conservação das áreas úmidas. Hoje em alguns
trechos, segundo os autores, já é possível ver a forte pressão humana sob
tais ambientes.
Mas diferentemente deste exemplo de atividades naturalmente
sustentáveis, o empenho consciente em favor da sustentabilidade e da
vida integrada ao meio ambiente é muito recente. E devido a isto, muitos
rios e córregos foram modificados com o único intuito de acelerar o
processo de drenagem das baixadas úmidas para utilização das terras
para a agricultura e para ampliação dos assentamentos humanos. É
dentro dessa visão, orientada por objetivos exclusivamente econômicos
que se estrutura a primeira metodologia de intervenção em rios urbanos
que apresentamos a seguir.
18
2.1. INTERVENÇÃO TRADICIONAL
Ao longo da história humana, a água disponível em quantidade e
qualidade sempre foi considerada fator preponderante para garantir a
sobrevivência de todas as espécies. Com o crescimento das cidades e
conseqüentemente da população houve a necessidade de aumentar o
volume de águas para o abastecimento. A partir do final do século XVII,
torna-se bastante popular a teoria dos miasmas baseada no princípio de
que as doenças seriam transmitidas por gazes e por cheiros de coisas
estragadas e podres. A higiene, nos hábitos cotidianos e no ambiente em
que as pessoas vivem, passa a ser considerada fundamental para a
prevenir doenças e conservar a saúde. Passa-se a dar grande importância
à ventilação das residências, para que seu ar seja renovado e purificado,
ao destino dos dejetos e matérias em putrefação, e ao acesso à água,
elemento essencial para promover a higiene (BRITTO, 2008). Novas
técnicas tornaram possível o abastecimento por rede.
Ao longo do século XIX, as teorias miasmáticas vão sendo superadas e os
problemas de contaminação das águas começaram a ser identificados.
Foi a partir dos estudos e descobertas de Jonh Snow, em Londres, em
1831, sobre epidemiologia, mais especificamente sobre o cólera que
houve uma mudança no que se pensava sobre sua contaminação. Snow
foi um médico britânico, e também é considerado um dos pais da
epidemiologia por ter identificado a cadeia de transmissão do vibrio
cholerea, o responsável pela cólera. Segundo RPA (2005), as suas
anotações levam Snow progressivamente a desenvolver a idéia de que as
doenças eram provocadas por “parasitas invisíveis”, muito antes de Louis
Pasteur, em 1860, ter demonstrado experimentalmente que os
microrganismos poderiam ser os responsáveis. Mas é somente a partir de
1835 que Snow confirma todas as suas suspeitas ao analisar uma
epidemia de cólera em Londres. Ele verificou que a disseminação da
doença devia-se à água de um poço situado na Rua Broad, onde a maior
parte das vítimas recolhia água para consumo.. Logo depois, descobriu a
existência de um vazamento da linha de esgotos que passava junto ao
poço e drenava justamente a casa onde havia sido registrado o primeiro
caso de cólera, o que o levou a associar a disseminação da doença com a
água contaminada. (site Doutrina Linear (2009),
Snow ao analisar os sintomas apresentados pelos doentes, que
apresentavam queixas digestivas como denominador comum, afastava a
idéia dos “miasmas” como agente causador do contágio, em que esperaria
queixas de foro respiratório. Para ele a contaminação por alimentos e pela
água eram hipóteses mais prováveis. Suas suspeitas iam mais longe, ele
acreditava que a contaminação se fazia através das fezes do doente
quando drenadas para a rede de esgotos, que por sua vez estavam em
proximidade com as fontes de captação de água para o consumo
doméstico. Apesar das evidencias e dos esforços de Snow, quando morre
em 1858, as idéias miasmáticas ainda prevaleciam na comunidade
médica, mas estes foram os primeiros passos para se identificar a causa
do problema do cólera, mesmo sem conhecer o seu agente.
As suspeitas de Snow foram confirmadas por Pasteur que era químico e
biólogo, francês, foi o inventor do processo de pasteurização e era célebre
por suas pesquisas sobre doenças infecciosas, meios de contágio,
prevenção e controle. Em 1865 Pasteur voltou-se ao estudo das moléstias
contagiosas causadas pela ação de microorganismos. Ele demonstrou
empiricamente a existência dos microorganismos, provou que muitas
doenças eram provocadas por eles e que poderiam ser transmitidas a
outros indivíduos através da pele, pelo ar e pelas excreções dos doentes.
Com o refutamento da abiogênese por Pasteur em 1865, os rios passaram
a ser vistos como vetores de doenças devido a suas águas contaminadas.
Mas este não era o único problema, existia ainda o problema do constante
mau cheiro e dos freqüentes alagamentos. Devido ao processo de
intensificação da ocupação urbana decorrente da necessidade de
expansão das cidades, muitos rios tiveram seus cursos alterados, e a
erosão foi uma conseqüência deste processo. Expandindo-se sobre o
território dos rios, muitas cidades lhes voltam às costas. E estes,
anteriormente cobiçados pela beleza de suas paisagens e por suas águas
cristalinas, de tanto serem explorados tornam-se menos volumosos e
passam a ser vistos como o fundo dos lotes. Como conseqüência passam
a ser usados apenas para transportar os dejetos produzidos pela
população para fora dos domínios da cidade, e por isso muitas vezes
tornaram-se ocultos na paisagem urbana. Com o despejo maciço de
efluentes os rios tornaram-se mal cheirosos, suas águas apresentavam-se
19
cobertas por lixo, insetos se proliferavam e agora eram considerados os
vetores de doenças.
As primeiras ações sobre rios urbanos desenvolvem-se no campo do que
viria a ser chamado de engenharia hidráulica, onde, para ganhar terras
para ocupação urbana e evitar inundações muitos rios foram canalizados,
perdendo sua beleza natural. Os rios tornaram-se assim meros corredores
de drenagem e receptores dos efluentes domésticos e industriais. No
Brasil, estas intervenções se articulam a um conceito de saneamento
formulado pelos engenheiros formados pelas politécnicas ainda no século
XIX, onde a idéia central era preparar o espaço para a expansão da
cidade. Para tal utilizava-se de técnicas para o controle das enchentes,
canalizavam os rios para o rápido escoamento das águas das cheias,
consequentemente aterravam essas áreas antes inundáveis, e
procuravam eliminar as áreas consideradas de risco.
Esta metodologia começa a ser utilizada nos rios da Baixada Fluminense
por volta da década de 30 e esteve presenteaté muito recentemente. A
aqui chamada Intervenção Tradicional utiliza-se de recursos como a
retificação do curso do rio, a canalização e a impermeabilização,
conseqüentemente uma perda da vegetação ribeirinha alterando as
características naturais do curso hídrico, aumentando a velocidade de
escoamento das águas pluviais causando graves enchentes. As
intervenções feitas por esta metodologia não contemplam fatores
culturais, sanitários, ecológicos, urbanísticos e paisagísticos, possui
características extremamente pontuais e imediatistas.
Nestas obras de transformação ou de expansão da cidade entre o final do
século XIX, e as primeiras décadas do século XX se desenvolveram ações
urbanísticas que tinham por objetivo controlar a natureza. Não se
considerava a importância ambiental dos rios urbanos e nem seu valor
estético, ele era visto apenas como uma solução ao problema de
drenagem de áreas alagadiças e pantanosas para prevenir a proliferação
de doenças contagiosas. Este padrão de intervenção surge, no século
XIX, dentro das políticas e ações do higienismo, voltadas para resolver os
problemas sanitários decorrentes do crescimento acelerado e não
planejado das cidadesComo assinala Andreata, referindo-se ao processo
de desenvolvimento urbano do Rio de Janeiro, “nas obras de
transformação ou de expansão da cidade no século XIX, (...) o que
realmente se consolidou foi uma engenharia de alteração da topografia,
drenagem de lagoas e brejos, demolição de montes e grandes obras de
condução de águas, estradas de ferro e urbanização.” (ANDREATTA,
2006)
No final do século XIX e nas primeiras décadas do século XX, devido à
insalubridade das águas dos rios, muitas tecnologias foram desenvolvidas
para sanear as áreas alagadiças e controlar os rios. Sendo que o
tratamento dado aos rios através da metodologia da engenharia hidráulica
acabou por modificar completamente a paisagem, e em muitos casos o rio
tornou-se oculto, dentro de calhas subterrâneas e canalizações, cuja
função inicial era evitar as enchentes e promover a ocupação urbana.
Com relação ao mesmo período (início século XX) na Baixada Fluminense
Simões (2007) diz que as obras de engenharia ao longo da ocupação da
região criaram uma série de barragens e represas nas partes altas,
drenaram as áreas inundáveis ao longo dos rios e os retilinizaram nos
seus baixos cursos, modificando as características naturais. Associados a
estas alterações muitos rios tiveram seus leitos assoreados devido ao
desmatamento, a ocupação urbana e a impermeabilização do solo. Essas
alterações modificaram a configuração original da bacia hidrográfica.
Apesar das intenções iniciais, o que se é justamente o contrário, o
emprego constante das canalizações, retificações e consequentemente a
perda da vegetação ciliar, acabaram por contribuir para um posteriormente
aumento destas inundações. Na cidade do Rio de Janeiro, segundo Britto
& Silva (2006), existiam muitos rios que apresentavam um lento
escoamento de suas águas, devido sua localização em áreas de baixada,
conseqüentemente suas faixas marginais permaneciam alagadiças por
mais tempo. Assim o sistema de canalização adotado buscava direcionar
e conduzir as águas das enchentes o mais rápido possível rio abaixo,
esperando assim controlar o problema das infestações. Assim, podemos
dizer que o volume de água era conduzido com maior velocidade à
jusante, com intuito de minimizar os efeitos locais das inundações, além
disso, foi descoberta a possibilidade de explorar essas terras que surgiram
com o recuo do rio. Donde podemos concluir que, os problemas a
montante eram transferidos a jusante.
20
Em São Paulo, como mostra Kahtouni, o início do século XX é
caracterizado por uma febre de dessecamentos, canalizações, aterros e
obras de redução das grandes superfícies de água aparente” (KAHTOUNI,
2004, p. 67). Segundo a autora, as novas tecnologias de canalização e
retificação primeiramente desenvolvidas por questões sanitárias, antes da
primeira década de 1900, passam a ser largamente utilizadas para ganhar
terras dos rios, as terras das antigas curvas e sinuosidades, que se
tornam bens de consumo vendidos em séries de lotes.
Neste tipo de intervenção ocorre um sério comprometimento da fauna e
flora devido à perda de vegetação ribeirinha. Além disso, ocorrem outros
problemas como a redução do leito dos rios, o que ocasiona o aumento da
velocidade de escoamento das águas, levando à erosão e ao
assoreamento à jusante, acarretando graves enchentes,
consequentemente surge à necessidade de novas obras para manter o
curso do rio retificado, além da necessidade de constantes ações de
dragagem e desassoreamento.
No território que corresponde hoje a Região Metropolitana do Rio, a
ferrovia veio alterar o cenário, pois as indústrias procuravam se instalar
próximas as estações e aos portos. Para Andreatta, as linhas de bonde, a
chegada das estradas de ferro e a instalação de novas indústrias, aliadas
as intervenções de Pereira Passos, acabaram por acarretar o
deslocamento das populações menos favorecidas do Centro para áreas
periféricas. Estes deslocamentos acabam por ser elementos marcantes
para o destino industrial e popular dos bairros da zona norte e dos
subúrbios do Rio de Janeiro no futuro. O crescimento dessas áreas, que
acompanhava as redes de bondes e posteriormente de trens, iniciou um
processo de expansão da cidade que mais tarde, através da ferrovia, se
estenderia até a Baixada Fluminense.
Segundo Abreu (1988) o período que se inicia em 1858 e vai até 1902
representa para o Rio de Janeiro a primeira fase da expansão acelerada
da malha urbana, marcada principalmente pela necessidade de
reprodução de certas unidades do capital, este período de transformações
é marcado pela inauguração do primeiro trecho da Estrada de Ferro Dom
Pedro II (atual Central do Brasil) que a partir de 1861 permitiu a rápida
ocupação das freguesias suburbanas por onde passava. Outro veículo
que facilitou a expansão da cidade, sendo que em direção a zona sul foi o
bonde de burro, implantado a partir de 1868.
Baseando-nos na exposição de Abreu, podemos dizer que a expansão
física da cidade do Rio de Janeiro está diretamente ligada aos transportes
controlados em grande parte pelo capital estrangeiro, os trens e os
bondes.
Trens e bondes foram, sem dúvida, indutores do desenvolvimento urbano no Rio
de Janeiro. (...) o bonde fez a zona sul, porque as razões de ocupação seletiva da
área eram “realidade” (...) Já o trem veio responder a uma necessidade de
localização de pessoas de baixa renda e de atividades menos nobres (indústrias,
por exemplo). (ABREU, 1988:44)
Segundo Abreu (1988) diferentemente dos bondes introduzidos em áreas
que vinham sendo urbanizadas ou “retalhadas em chácaras”, os trens
foram responsáveis pela rápida transformação de freguesias que formam
o território hoje conhecido como Baixada Fluminense que, até então, se
mantinham exclusivamente rurais.
O primeiro trecho da Estrada de Ferro Dom Pedro II, ligando a freguesia
de Santana a Queimados (distrito de atual município de Nova Iguaçu) foi
inaugurado em 1858. Neste mesmo ano inauguraram as estações de
Cascadura e Engenho Novo (no Rio de Janeiro) e de Maxambomba (atual
distrito sede de Nova Iguaçu). Em 1859, foram inauguradas, por sua vez,
as estações de São Cristóvão e Sapopemba (atual Deodoro), enquanto a
São Francisco Xavier foi aberta em 1861.
Sapopemba e Maxambomba eram nessa época, pequenos núcleos
isolados com uma população rural esparsa. Apesar de Cascadura e
Engenho Novo também serem áreas rurais, estas já mantinham contato
constante com as freguesias centrais, relações estas intensificadas com a
inauguração do serviço regular de trens até Cascadura. Este serviço de
trens fez intensificar o processo de ocupação do espaço intermediário
entre a Estação de Cascadura e o Centro. Começaram a surgir pequenos
vilarejos, pessoas eram atraídas em busca de moradia barata o que
elevou a demanda pelo transporte e consequentemente a necessidade de
ampliar seu número de composições e estações. E em 1868 inauguraram
a estação Todos os Santos e 1869 a estação Riachuelo.
21
O processo de ocupação inicial do subúrbio se deu de forma linear
acompanhando o traçado da ferrovia, nas estações eram os locais onde
havia maior adensamento, com o passar dos anos foram surgindo ruas
perpendiculares à ferrovia. Seguindo este processo de expansão urbana
em direção aos subúrbios, citaremos o surgimento de duas novas
ferrovias de extrema importância para este crescimento e para a
ocupação da Baixada na década de 1880.
A primeira delas foi a Estrada de Ferro Rio D’Ouro, inaugurada em 1883,
em caráter provisório. Esta ligava a Quinta Imperial do Caju à represa do
Rio D’Ouro, na Baixada Fluminense. Esta Ferrovia passava por o
Cristóvão, Engenho Novo, Inhaúma e Irajá, foi construída para transportar
material para as obras de construção da nova rede de abastecimento de
água da cidade do Rio de Janeiro que era captada na Serra do Mar, em
Tinguá e Xerém.
Em 1870, a linha Cascadura ganha mais 2 trens diários, e agora os
horários dos trens passam a ser mais adequados aos horários de entrada
e saída dos locais de emprego no centro da cidade. Consequentemente
ao desenvolvimento da faixa que ia do Centro a Cascadura, inaugurou-se
diversas estações como as de: Engenho de Dentro, Piedade, Rocha,
Derby Club, Sampaio Quintino, Méier, Mangueira e Encantado e em
1890, a de Madureira.
Após a construção da adutora, esta ferrovia inicialmente era utilizada
apenas para manutenção do sistema construído. Somente depois passou
a fazer serviço regular de passageiros; apesar de o ter a mesma
importância como indutor de crescimento, por seu ponto terminal estar
longe do centro. Isso não impediu que pequenos núcleos se
desenvolvessem ao longo de suas linhas, que era possível alcançar o
centro da cidade através de baldeações para os trens da Dom Pedro II na
altura de São Francisco Xavier.
Área Metropolitana (Área Conurbada) do Rio de Janeiro: localização das Estradas de Ferro.
Fonte: ABREU, 1988.
A segunda linha inaugura foi a Rio de Janeiro Northern Railway Company,
que segundo Abreu (1988) também era chamada de Estrada do Norte
(futura Leopoldina Railway) em 1886 que atravessa terras mais baixas,
sujeitas a periódicas inundações e teve papel de indução mais importante
que a Rio D’Ouro. Inicialmente ligava São Francisco Xavier a Mirity (atual
Duque de Caxias), além disso, acelerou o crescimento de diversos
núcleos semi-urbanos preexistentes (como Bonsucesso, Ramos, Olaria,
Penha, Brás de Pina, Cordovil, Lucas e Vigário Geral) devido à
acessibilidade ao centro da cidade do Rio de Janeiro.
E finalmente em 1893 foi inaugurado o primeiro trecho da Estrada de
Ferro Melhoramentos do Brasil, por volta de 1903 recebe o nome de Linha
Auxiliar, agora incorporado à Central do Brasil. Este trecho ligava
Madureira a Sapopemba (atual Deodoro).
22
Cumpre ressaltar ainda a existência de diversas fábricas na Baixada
Fluminense, próximas as quedas d’aguas da Serra do Mar (em Pau
Grande e na subida da serra de Petrópolis), para atraídas pela
oportunidade de geração de energia hidráulica. (ABREU, 1988:57). Em
1933, o Governo de Getúlio Vargas cria a Comissão de Saneamento da
Baixada Fluminense com o propósito de realizar tarefas de retificação de
leito de rios com a conseqüente consolidação dos terrenos lindeiros,
(Andreatta, 2006). Segundo Britto; Royse e Silva (2008) estes propósitos
iam além da retificação, previam também a dragagem de rios e canais
visando melhorar a ligação fluvial entre a região e o litoral, relacionavam-
se à drenagem de áreas alagadas.
Todo o território da Baixada Fluminense passa por um conjunto de
intervenções que visavam sanear a região e promover ações que
viabilizassem sua ocupação urbana e a criação de um “cinturão verde”
para abastecer a capital de hortifrutigranjeiros. A insalubridade da área era
um problema considerado grave, que comprometia sua ocupação e seu
desenvolvimento econômico. Muitos rios, antes cheios de meandros,
passam a ter seus cursos retificados, aumentando a velocidade de
escoamento das águas.
As obras realizadas pela Comissão de Saneamento da Baixada
Fluminense caracterizam-se pelo padrão de intervenção da engenharia
hidráulica. Até meados do século XIX, os rios da região da Baixada eram
usados para o transporte de cargas e mercadorias, sendo a região dotada
de diferentes portos fluviais. Com construção do eixo ferroviário que
atravessa a região em 1854 (Estrada de Ferro Dom Pedro II - atual
Central do Brasil), as mercadorias passam a ser transportadas pela
ferrovia, e os portos entram em decadência. Todo este processo de
construção da ferrovia teve um importante impacto nos corpos hídricos e
na qualidade do ambiente urbano da região.
Além disso, rios também tiveram seus cursos seccionados, muitos
pontilhões foram construídos em cotas demasiadamente baixas o que
dificultava o uso do rio como meio de transporte, além de bueiros
construídos em cotas elevadas ou com seção insuficiente para a vazão
das águas. Por outro lado, os problemas de alagamento da região já
existentes, decorrentes da situação topográfica de baixada e das intensas
chuvas que ocorrem no verão, se agravaram, com a construção de aterros
que atuavam como verdadeiras barragens impedindo o livre escoamento
das águas. Estas medidas acabaram formando pântanos que se tornaram
focos de mosquitos transmissores de malária e outras doenças.
Com a redução do transporte fluvial houve como conseqüência a
negligência e o abandono das obras de conservação e drenagem dos rios,
que os mantinham limpos. Com isso, durante o verão, período em que
aumentava a quantidade de chuva, ocorria um extravasamento da água
dos rios, formando extensas áreas pantanosas. Progressivamente, devido
ao esgotamento dos solos e à crise de mão de obra decorrente da
abolição da escravatura, as culturas de cana, base da economia na
época, foram abandonadas e a região entra em fase de estagnação
econômica.
O café, uma cultura importante no Estado do Rio, que ocupa terrenos em
encostas, não conseguiu prosperar na Baixada, pois as encostas da
região eram muito sujeitas à erosão e a perda da fertilidade do solo. A
retomada das atividades econômicas se deu com o ciclo da laranja,
cultura que começou a se expandir na região a partir de 1926, com a
intensificação das exportações para a Europa. Este ciclo perdurou até a
década de 40, quando as exportações entram em colapso em função da
2ª. Guerra, e inicia-se o processo de ocupação urbana da região através
do fracionamento do solo em lotes.
As obras realizadas na Baixada pela Comissão de Saneamento são
características de um padrão de intervenção aplicado aos rios urbanos
que permanece dominante tanto no Brasil quanto no cenário internacional
até a década de 60. Somente a partir do final dos anos 60 e início dos
anos 70 que se inicia um processo de estruturação de uma crítica a este
padrão de intervenção, orientada pelo surgimento da chamada
consciência ecológica e ambiental que visava à proteção dos espaços
naturais e a conservação dos recursos.
O tratamento equivocado dado aos rios da Região Metropolitana do Rio
de Janeiro não é exclusivo desse Estado, o mesmo aconteceu com outras
capitais brasileiras como é o caso de S.Paulo, Porto Alegre, Recife, dentre
outras. A realização de intervenções e a tomada de decisões incoerente
23
com o processo natural, mas que condiziam com os conhecimentos
técnicos e científicos da época, atinge também diversos outros países
como é o caso dos Estados Unidos da América, que exemplificaremos a
seguir.
HILL (2000) trata do Rio Chicago que inicialmente era um córrego limpo.
Mas devido ao crescimento urbano, populacional e industrial este era visto
apenas como um meio conveniente para receber os dejetos da cidade e
passou a ser um esgoto a céu aberto. Suas margens antes recobertas por
gramíneas e canoas passaram a dar lugar a uma fartura de docas e
navios. No inicio desta evolução alguns líderes preocupados com os
rumos que este crescimento estava tomando devido à lenta evolução da
natureza, previram diversos problemas de saúde e de drenagem.
Segundo a autora em 1833, a pequena cidade tomava medidas para
tentar proteger sua água potável e evitar os fortes odores através de uma
portaria, onde os cidadãos eram proibidos de usar o rio como um
receptáculo de lixo ou qualquer substância ofensiva.
Em 1844 no meio de um surto de lera a cidade aprovou uma nova
portaria mais rigorosa, mas quando este susto se amenizou, substâncias
prejudiciais foram lançadas no corpo hídrico e por volta de 1845, o rio
Chicago tinha se tornado imundo, e recebia lixo de matadouros. Dois dos
principais problemas que afetavam a cidade era a questão da obtenção de
um fornecimento seguro de água potável (a grande prioridade) e a
eliminação segura de seus resíduos. Em 1830 “water peddlers” começou
a fornecer água potável a partir do lago, que melhorava lentamente, mas
os dejetos domésticos foram um problema permanente devido à
necessidade de eliminação. Segundo HILL (2000) nos primeiros anos as
empresas que realizavam este serviço apenas tirava o problema das
vistas da cidade. Mas com o aumento populacional e a diversidade
industrial, ficou óbvio que este serviço era ineficiente, portanto a solução
para o problema seria um governo centralizado que assumisse a
responsabilidade pela modernização de ambos os sistemas.
No período entre 1846 e 1847 houve um grande aumento populacional
que provocou bases para um surto de lera e varíola, que eclodiu em
1848, com proporções epidêmicas. Para tentar sanar o problema do
abastecimento de água, em 1851 a cidade substitui a Companhia Privada
“Chicago Hydraulic” pela recém criada “Chicago City Hydraulic Company”.
Mas apesar dessa mudança, ela não seria rápida o suficiente para evitar a
morte de quase seis por cento da população da cidade em 1854 devido à
cólera. Mas este fato desencadeou a criação do Conselho de Esgoto de
Chicago a “Chicago Board of Sewerage Commissioners”.
A situação era critica, muitas localidades eram fétidas. Em 1849, calhas
haviam sido abertas na rua para servir de centro de esgotos, e apenas
nas principais ruas foi feito um forro em madeira para recobrir as calhas.
Os resultados estavam muito distantes do satisfatório e na maioria das
ruas o esgoto ficava exposto. A única solução para preservar a saúde
seria uma forma regular e completa de um sistema de drenagem. A
expectativa para 1850 era que a população duplicasse em três anos,
portanto medidas deveriam ser tomadas rapidamente. Segundo HILL
(2000) em 1852 o estado de Illinois designou uma Comissão de
Drenagem que começou a trabalhar na dissecação de terrenos
pantanosos ao sul e um pouco ao norte e ao oeste da cidade, tornando a
terra mais habitável e disponível para a agricultura. As águas drenadas
eram lançadas no rio Chicago ou no rio Calumet.
A partir de 1855, a cidade nomeia uma Comissão de Esgotos, e Ellis
Sylvester Chesbrough, então engenheiro da cidade de Boston é
encarregado de desenvolver um Plano Global de Esgoto. Segundo a
autora seu plano tinha como objetivos remover o esgoto e a drenagem
superficial. Suas diretrizes eram o canal e a construção da ferrovia. Não
possuía experiência com o trato de sistemas de esgoto, na América pouco
havia se discutido sobre o assunto. Os maiores debates e
experimentações haviam acontecido na Europa, Londres havia
construído um sistema de interceptação de esgotos para evitar a poluição
do rio Tamisa.
Em 1856, Ghesbrough foi a Europa conhecer de perto as soluções
adotadas e elaborou um manual que se tornou um padrão de construção
de esgotos para época. Mesmo antes de sua viagem a Europa ele
considerava quatro possíveis alternativas para Chicago: (1) Transformar
resíduos em adubo utilizando o esgoto, (2) despejar o resíduos não
diluídos no Lago Michigan, (3) direcionar os resíduos para o “Des Plaines”
e o rio Illinois, através do rio Chicago e do canal, e (4) drenar o esgoto
24
para o rio Chicago onde seria diluído antes de ser lançado para o Lago
Michigan.
Drenar o esgoto diretamente para o Lago Michigan custaria muito caro na
época, pois teria de ser construído um canal. A única opção que o restou
foi drenar o esgoto para o rio que seria consequentemente drenado para o
Lago. Neste período a ciência ainda não havia avançado o suficiente para
provar a relação de doenças com a má qualidade da água. Preocupado
que o esgoto pudesse comprometer o Lago Michigan, reservatório de
água potável, ele propõem construir um canal vinte pés de largura e seis
metros de profundidade. Segundo autora, todos os canais construídos
pelo futuro Distrito Sanitário de Chicago seguiriam seu modelo de puxar
água do lago para diluir o esgoto do rio.
Para a implantação do sistema de esgotamento da cidade, Chesbrough,
enfrentou dificuldades com relação à maneira com a cidade havia sido
implantada. Numa cota que impossibilitava a implantação do sistema, a
solução encontrada foi elevar a cota da cidade, que o esgoto deveria
ser drenado por gravidade, além de ser suficientemente profundo para
não congelar no inverno. Solução que hoje talvez fosse considerada
incabível. O que se pode perceber com essa solução aparentemente
desesperada é que a situação era de extrema gravidade. E a partir de
1856, por um período de duas décadas, Chicago teve suas ruas elevadas.
Agora que o esgoto era lançado no Michigan (que fornecia água potável a
cidade) através do rio Chicago, a contaminação foi inevitável e ficou fora
de controle. Houve ainda um crescimento das indústrias que não
respeitavam as determinações da lei e eliminavam seus subprodutos
indesejáveis nas águas do rio. Havia muitas indústrias de corte de gado
que jogavam sangue e as vísceras no rio provocando um cheiro
insuportável. Com o passar dos anos a superfície do rio parecia sólida. E
um dos subprodutos da indústria que se estabeleceu nas margens do rio
Chicago foi infelizmente, a poluição. Houve ainda um crescimento da
indústria
Em 1877, um novo comissário da saúde, gerou um apoio suficiente para
acusar os poluidores que confessaram ser culpados. No entanto, o
tribunal não encontrou precedente, e obrigou apenas uma empresa a
alterar as suas práticas, apenas multas foram cobradas. Uma atitude de
mudança estava chegando, embora lentamente.
Para HILL (2000) o rio é uma continuidade no tempo e no espaço, que liga
a cidade com a periferia, geração com geração, e os seres humanos com
a natureza e uns aos outros. Como seres humanos, vamos mexer com o
rio sempre dentro do contexto do nosso tempo e habilidades tecnológicas.
Tem-se um rio Chicago artificial e ainda hoje continuam tentando recriá-lo,
embelezando seus bancos para fazer caminhos ao longo dele e torná-lo
acessível ao público. São buscados os melhores processos para restaurá-
lo. Embora atuando com otimismo, segundo a autora é preciso lembrar
que a história do rio Chicago ainda não acabou e ele pode desafiar nossos
melhores planos. Mas com relação à remodelação do rio, hoje,
intencionalmente ou não, vamos continuar a fazê-la para o amanhã.
O rio de Los Angeles é um outro exemplo típico de recursos que foi
explorado indevidamente, servindo de abastecimento primário para as
comunidades que se desenvolveram a sua volta, logo se tornou fonte de
irrigação para a agricultura durante grande parte do século XIX.
Entretanto, no começo do século XX passou a receber resíduos industriais
de fábricas que se localizavam no corredor industrial que margeava parte
do rio.
Duas grandes enchentes, em 1934 e outra em 1938, foram
preponderantes para acabar com os investimentos para o rio, o que
culminou em sua canalização, transformando-o em uma fonte de escape
para as águas da cidade com o intuito de evitar futuras inundações. De
acordo com Riley (1998) o rio teve 48 milhas de concreto com o projeto de
canalização desenvolvido pelo U.S. Army Corps of Engineers. Foi um dos
primeiros projetos desenvolvidos pelo exército no controle de inundações.
A enorme vala de concreto que varia de 45 a 300 pés de largura tem sido
usada para perseguições de carro no cinema Hollywood e para treinar a
polícia de Los Angeles na arte de dirigir em alta velocidade. Segundo
Riley, muitos não sabem que esta área de concreto é um canal do rio.
Com essa intervenção o rio perdeu muito do seu sentido de lugar e fato
observado pela sociedade em geral.
25
Rio Los Angeles Barragem Sepulveda em Van Nuys (2006). Perda da vegetação ribeirinha
e da identidade local. Acessado em novembro de 2009.
Disponível em: http://councilcommittee.lacity.org/lariver/beforeandafter.htm
Rio Los Angeles Rua no Centro de Los Angeles (2006). Perda da vegetação ribeirinha e da
identidade local. Rio fica confinado na canalização e entre a ferrovia construída ao longo de
suas margens. Acessado em novembro de 2009.
Disponível em: http://councilcommittee.lacity.org/lariver/beforeandafter.htm
26
Rio Los Angeles Tujunga Wash (2006). Perda da vegetação ribeirinha e da identidade
local. O rio fica confinado na canalização, restringindo o acesso da população. Acessado em
novembro de 2009.
Disponível em: http://councilcommittee.lacity.org/lariver/beforeandafter.htm
Assim, diversas entidades não governamentais e grupos de moradores
insatisfeitos com a situação, começaram a apontar problemas e
apresentar soluções, pressionando o governo e utilizando a mídia pública
para chamar atenção para a causa. Toda essa iniciativa resultou em um
Master-Plan, que prevê revitalização das águas e das margens do rio, que
será comentada no próximo item sobre revitalização.
2.2. REVITALIZAÇÃO
O final dos anos 60 e início dos 70 é o período do surgimento da
consciência ecológica e ambiental, voltada para a proteção dos espaços
naturais e para a conservação dos recursos. Desde a origem desta
perspectiva ambientalista, surgem dois movimentos distintos, refletindo
duas formas de pensar a relação homem natureza: o conservacionismo,
que visa à proteção do meio ambiente para assegurar a continuidade dos
recursos naturais, numa perspectiva em longo prazo, acreditando no uso
racional e sustentável dos ecossistemas; e o preservacionismo, mais
radical, voltado para o impedimento da extinção de espécies, com caráter
explicitamente protetor, garantindo a intocabilidade. A partir desta
mudança de percepção sobre a esgotabilidade dos recursos naturais
surge a necessidade de preservação da natureza, e assim podemos
chamar atenção para construção paulatina de uma nova forma de tratar a
questão dos recursos hídricos.
É neste contexto que começa a se construir nos países da Europa e
Estados Unidos, uma nova forma de tratar os rios urbanos, onde
diferentes autores começam a tratar da relação entre rios e cidades,
chamando atenção para as transformações e os processos de
degradação sofridos por estes rios. Os trabalhos discutidos a seguir visam
analisar as paisagens fluviais na perspectiva das várias disciplinas e
diferentes profissões, buscando parâmetros para avaliar sua contribuição
para o reconhecimento e valorização da paisagem. Apesar de alguns
serem apenas conceituais e outros empíricos, todos partem do princípio
de que os rios são uma parte vital do nosso ambiente natural e que
precisam de proteção para abordagens que se utilizam em excesso do
concreto como no passado. Para compreender as paisagens fluviais, é
necessário unir as diferentes áreas de conhecimento e profissões para
que consigamos assegurar a qualidade dos rios e de suas paisagens,
além de buscar atingir o que seria ideal que é a sustentabilidade
ambiental.
Ainda na década de 60, Ian L. McHarg publica o livro “Projectar com la
natureza”, (1969) no qual critica a forma como o homem tem modificado a
natureza. Onde aponta a necessidade do tratamento da paisagem como
sistema ecológico, sendo imperativo compatibilizar processos sociais e
27
naturais nas intervenções paisagísticas, propondo um programa prático
para uma nova e saudável relação entre natureza e ambiente construído,
através da compreensão dos processos que configuram a paisagem,
tentando utilizá-los como fundamento de projeto.
Um dos legados mais relevantes deixados por McHarg foi o da
importância do planejamento do uso e cobertura do solo de acordo com o
valor ecológico e a sensibilidade de cada paisagem, sendo que a
distribuição dos espaços abertos deveria responder aos processos
naturais, permitindo o desenvolvimento sem o rompimento dos processos
ecológicos (LITTLE, 1990; SMITH & HELLMUND, 1993; apud Giordano &
Riedel). Devemos destaque também a sua metodologia de incorporar
preocupações ambientais em desenhos, utilizando a técnica de
sobreposição de mapas, onde cada aspecto fisiográfico, como por
exemplo, declividade, várzeas, afloramentos rochosos, rios ou linhas de
cumeada, são desenhados em diferentes transparências. Essas
transparências, quando sobrepostas e vistas sobre um fundo branco,
geram um mapa onde apareceram três tipos de áreas diferentes. Áreas
em branco, o que indica as áreas aptas ao desenvolvimento, ou seja, sem
restrições; áreas com pouca sobreposição de cores, que são as áreas
com algumas restrições; e naquelas onde aparece muita sobreposição de
cores não se recomenda o desenvolvimento.
Concomitantemente a McHarg, Philip Lewis, utilizando o método de
sobreposição de transparências, observou que muitas vezes as áreas
escuras dos mapas situavam-se nos vales de rios e em áreas de
topografia pronunciada, gerando como resultado áreas denominadas por
ele de corredores ambientais, com fundamental importância para o
planejamento ecológico regional (SMITH & HELLMUND, 1993; apud
Giordano & Riedel). Desde então, a compreensão das questões
ambientais está cada vez mais sofisticada, tendo-se a consciência de que
os processos naturais e humanos são assuntos extremamente
interligados.
Um pouco mais tarde, um dos primeiros trabalhos que tratam da questão
da relação entre os rios e a cidade é o de Mann (1973), “Rivers in the city”,
que apontava o intenso intercâmbio que se estabelece entre os cursos
d’água e os estabelecimentos humanos. O autor demonstra como rios e
cidades vêm se modificando mutuamente ao longo dos séculos,
chamando ateão para as profundas repercussões desta relação nos
modos de vida de seus habitantes.
Nesta obra, o autor trata do mais intensamente usado e mais freqüente
abusado dos recursos da terra - o rio da região urbana. Ele chama
atenção tanto para os valores ambientais e para os problemas que
existem nas áreas urbanas próximas as margens dos rios, como para a
maneira em que estas margens foram sabiamente utilizadas ou
tipicamente abusadas em diferentes regiões do oeste da Europa e do
sudeste dos Estados Unidos. Devido a este abuso, a poluição das águas
da região urbana é sem dúvida um dos problemas ambientais mais crítico
da atualidade, e segundo Mann (1973), isto afeta não somente a saúde o
e bem estar das populações próximas, mas, todo o sistema hídrico
relacionado: águas subterrâneas, os mares, a saúde e o bem-estar dos
seres vivos em todo mundo.
Mann (1973) mostra que a margem pode ser uma zona de conflitos. Pois
apesar dos rios urbanos terem extrema inclinação como áreas de grande
potencial para vida ao ar livre (seja para o lazer, o desporto ou a solidão),
nas margens de planícies aluviais e estuários onde o solo é nivelado, o
terreno torna-se convenientemente acessível à instalação de ferrovias,
rodovias, vias aéreas e navais. Sendo assim, a margem é o local
apropriado para abrigar estruturas e usos de todos os tipos.
Mas para o autor, estes conflitos entre o valor dos recursos e o descuido
com os quais são tratados não são intrínsecos. Muitos dos primeiros
assentamentos do homem viviam em harmonia com a margem d’água,
cada um aperfeiçoando a sua própria linguagem urbanística ao longo do
tempo. A velocidade das mudanças tecnológicas era suficientemente lenta
para permitir que os problemas fossem controlados.
Contudo, com o aumento crescente da população, com desenvolvimento
econômico e tecnológico e a falta de compreensão pública dos efeitos do
crescimento sobre o ambiente trouxeram graves conseqüências, pois não
foi possível controlar os problemas naturais de uso e abuso dos rios. Além
disso, grandes estruturas industriais, estações de tratamento de águas
residuais, instalações para disposição de resíduos sólidos, portos, por
28
exemplo, são estruturas que tradicionalmente ocupam a margem, donde
se conclui que tanto o peso da tecnologia quanto o crescimento
desordenado ameaçam o litoral das regiões urbanas.
Para Mann (1973) qualquer estrutura que se instale imediatamente a
margem de um rio cria um impacto direto sobre a composição natural, que
segundo ele prejudica a preservação dos valores ecológicos, recreativos e
visuais. Para preservar estes valores, estas indústrias poderiam ser
facilmente localizadas a distâncias seguras da água, mesmo que isso
implique num custo mais elevado para a implantação, que os prejuízos
a margem, a várzea e as zonas úmidas adjacentes também implicam
custos ambientais e sociais que não podem mais ser considerados
externos a economia dos projetos. “A única abordagem que faz sentido
econômico em longo prazo e tem maior interesse do público é aquele que
prevê o máximo possível de conservação dos recursos naturais enquanto
- conservação dos recursos indispensáveis ao crescimento.” (MANN,
1973, p.15)
Podemos dizer que passa a existir um novo paradigma, pois segundo
Mann (1973), uma nova compreensão deve ser estabelecida: a de
maximizar a compacidade e localizar as infra-estruturas apenas onde a
compatibilidade com o ambiente natural seja alta. Apesar dos diversos
desafios ambientais enfrentados pela tecnologia, o foco é claro: a
tecnologia deve respeitar a necessidade da máxima conservação dos
recursos naturais para o mínimo impacto sobre a paisagem.” (MANN,
1973, p.18)
Além disso, segundo este autor são necessários novos e eficazes
instrumentos de planejamento, que são tão essenciais quanto à eficácia
da regulação e da execução, mas precisam estar integrados para
assegurar a proteção de áreas ribeirinhas, margens e ainda fornecer
locais mais adequados e critérios de construção compatíveis com o
desenvolvimento da margem. É importante utilizar-se do planejamento
ecológico e paisagístico de maneira eficaz para que possamos prevenir
velhos erros sob novas formas.
Muitos projetos apenas substituem usos, e apesar de terem uma nova
aparência mais atraente, permanecem como obstáculos impedindo o
acesso visual da água em relação à cidade, ou em relação ao acesso
público direto e ao uso recreativo. É importante que haja medidas de
controle para garantir a proteção ecológica e estética e o mais amplo
acesso possível do público à região ribeirinha, e ao mesmo tempo
conciliando locais adequados para o uso econômico. Além disso, é
importante manter a vista da paisagem do rio para a cidade, evitando a
construção de muros e edificações que possam bloquear este contato.
Rios são os últimos vales aberto dos terrenos urbanos, o último
remanescente caminho onde o homem pode voltar a criar os seus
direitos de acesso e diversão. Eles são também o sistema
ecológico que exige a mais alta prioridade na conservação e
proteção da qualidade. Mais do que qualquer outro catalisador, as
margens detêm a maior esperança para começar uma retomada
de confiança no ambiente urbano físico. (MANN, 1973, p. 20;
traduzido por Flávia Royse)
Muitos córregos e rios foram responsabilizados por prejuízos causados a
propriedades pelas enchentes, e por isso foram canalizados. A principal
ameaça de integração entre um córrego e o ambiente urbano são o
crescimento e a ocupação desordenada do solo na sua faixa marginal,
que ocasiona, muitas vezes, problemas relacionados aos prejuízos das
propriedades por enchentes e erosão.
Se em outrora tivéssemos tido consciência das conseqüências de nossas
atitudes e tivéssemos tomado medidas que além de solucionar os
problemas do saneamento, estivessem em consonância com o meio
ambiente, muitos dos problemas atuais poderiam ter sido evitados. Ao
longo do tempo outros autores do campo da geografia e do paisagismo
formularam suas críticas sobre a forma como se estrutura a relação
cidade x natureza, partindo do pressuposto de que a cidade deve ser
reconhecida como parte integrante da natureza, e de que os projetos e
intervenções urbanas devem respeitar esse princípio.
Nesta linha destacamos o trabalho de Anne W. Spirn (1995), em “O
Jardim de Granito” que aponta para uma série de danos decorrentes de
intervenções sobre rios urbanos que não respeitam esse princípio, e a
cidade era percebida como uma entidade separada da natureza e em
29
muitos casos era vista como problema. Este pensamento de cidade e
natureza são entidades separadas, influenciou a maneira como a cidade
foi construída agravando e até causando muitos dos problemas
ambientais urbanos que enfrentamos hoje, como: água e ar poluídos,
recursos desperdiçados ou irrecuperáveis, enchentes mais freqüentes e
mais destrutivas. Estes problemas podem ser relacionados tanto às
intervenções do homem como a falta de fiscalização dos órgãos
competentes, o que nos faz pensar sobre como podemos identificar e
aproveitar o potencial ambiental para que a natureza e o ambiente
construído estejam convivendo harmoniosamente.
Com o crescimento das cidades, esses problemas tomaram proporções
maiores, e continuam a ser tratadas como fenômenos isolados, e não
como conseqüência das ações humanas. A partir da afirmação de que a
natureza tem sido vista mais como um elemento de embelezamento
superficial, do que como uma força essencial que permeia a cidade, Spirn
tem a intenção de descrever mais opções para o tratamento de córregos
urbanos do que são usualmente considerados pelos projetos de
engenharia convencionais.
Segundo Spirn, os rios, quando canalizados e cobertos, desaparecem dos
mapas modernos, transformam-se em sistema de drenagem subterrâneo,
contribuindo potencialmente às enchentes. Ao criticar projetos urbanos
superficiais, a autora aponta a necessidade de mudanças radicais que
busquem reconhecer e aproveitar as potencialidades naturais existentes
nas cidades. A autora revisa estratégias tanto para mudanças radicais,
mais facilmente implementadas em áreas de expansão; como soluções de
desenvolvimento mais apropriadas ao redesenho gradual de centros
urbanos já consolidados.
A urbanização pode ainda aumentar a taxa média anual de enchentes, em
razão da rápida drenagem das enxurradas, das várzeas mais estreitas e
rasas, e do leito comprimido por prédios e diques, além de estarem
entulhados de sedimentos. No que concerne aos princípios de projeto,
Sprin destaca a necessidade de analisar o modo como a água se move
através do seu ciclo hidrológico, de se considerar a possibilidade de um
sistema de drenagem mais lento que não sobrecarregue os cursos d’água,
de se adotar o uso de pavimentação permeável que permita que a água
da chuva se infiltre no solo, de se prever o armazenamento das águas de
enchente, da criação de parques lineares que resguardem as áreas de
várzea, melhorando a qualidade da água e prevenindo enchentes, e da
implantação de estações de tratamento de esgoto que podem, inclusive,
ser conjugadas aos parques públicos.
Mantendo esta mesma linha de reflexão podemos citar o trabalho de
Michael Hough (1995), Cities and Natural Process” que também
apresentou importantes contribuições. Hough (1995) discute como os
projetos e intervenções urbanas tradicionais, que moldaram a paisagem
física da cidade e que pouco contribuiu para a sua saúde ambiental. O
autor expressa a necessidade da adoção de uma perspectiva ambiental
nas intervenções nas cidades e, sobretudo nos projetos urbanos.
Ao tratar do elemento água na cidade o autor afirma a necessidade de
tratar o rio não como elemento isolado, mas inserido no ciclo hidrológico e
na bacia hidrográfica. Um conjunto de estratégias é apresentado para a
revitalização de rios urbanos que se baseiam em várias linhas de ação
inter-relacionadas, tendo como objetivo central o restabelecimento da
saúde e da diversidade do recurso hídrico. Dentre estas estratégias
destacam-se aquelas que buscam dar visibilidade e acessibilidade aos
rios, de modo que estes possam ser apreciados e experimentados como
uma parte valiosa e essencial da vida urbana.
Antes de dar continuidade aos exemplos de revitalização, aprofundaremos
os conceito de bacia hidrográfica e ciclo hidrológico procurando entender
porque o rio não pode ser tratado como elemento isolado. O conceito de
Bacia Hidrográfica representa toda área de contribuição superficial que a
água escoa por gravidade até a seção do rio.
Foi a partir da década de 70 que o conceito de bacia hidrográfica começou
a ser difundido no mundo, devido à necessidade de promover a
recuperação ambiental e a manutenção dos recursos naturais escassos
como a água. Para superar problemas de poluição, escassez e conflitos
pelo uso, a bacia hidrográfica foi reconhecida como um sistema ecológico.
Foi necessário entender como os sistemas naturais estão interligados e
são dependentes. Passou-se a pensar que qualquer tipo de intervenção
tem sérias conseqüências, como por exemplo: a impermeabilização do
30
solo provoca o aumento do volume do escoamento das águas superficiais
para outra área provocando enchentes; para livra-se do problema do
esgoto algumas populações lançam seus esgotos diretamente nas águas
e o provocam conseqüentemente a poluição de trechos a jusante.
A Lei 9.433/97 estabelece que a bacia hidrográfica é a unidade territorial
para a implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e
atuação do Sistema de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Pensar a
Unidade de Planejamento como Bacia Hidrográfica vai além das divisões
políticas definidas pela sociedade que não comportam a dinâmica natural.
Algumas das atitudes degradantes citadas acima impulsionaram a
necessidade de reconhecer a dinâmica das águas (escoamento,
drenagem, ciclo hidrológico) e a determinar a Bacia Hidrográfica como
Unidade de Planejamento. Além disso, esta nova maneira de pensar a
Unidade de Planejamento, possibilita a promoção do desenvolvimento
sustentável e administra os interesses comuns de determinadas regiões
sobre o direito de utilizar a água para determinados fins.
Toda a água do planeta se mantém em constante movimento, passando
de um estado (sólido, liquido, gasoso) a outro e, assim, sustentando a vida
na Terra. Ou seja, é esse fenômeno de circulação da água entre a
superfície terrestre e a atmosfera, impulsionado fundamentalmente pela
energia solar associada à gravidade que chamamos de ciclo hidrológico.
Sendo que isso implica na troca de água em seus diferentes estados
físicos e está relacionada com as águas superficiais, subterrâneas, dos
mares, das calotas polares e da atmosfera. Esta troca só é possível
graças ao sol, que fornece energia para transformar a água líquida em gás
(processo de evaporação). Esta água em forma de vapor é transportada
até a atmosfera onde condensa e graças à gravidade está água
condensada precipita até a superfície.
Parte da água precipitada é absorvida pelos solos, rochas (escoamento
subterrâneo) e a outra parte circula superficialmente até os rios e oceanos
(escoamento superficial). Nem toda a água precipitada alcança a
superfície terrestre, que uma parte, pode ser interceptada pela
vegetação e evapora novamente. Parte da água que se infiltra no solo
pode evaporar de forma direta para a atmosfera, ser absorvida pela
vegetação que é devolvida a atmosfera através da transpiração ou atinge
a zona saturada do subsolo e entra na circulação subterrânea contribuindo
para o reabastecimento dos aqüíferos.
Ciclo Hiidrológico. Fonte:
http://www.ufrrj.br/institutos/it/deng/leonardo/downloads/APOSTILA/HIDRO-Cap2-CH.pdf
31
Movimentação da água no perfil do solo Fonte:
http://www.ufrrj.br/institutos/it/deng/leonardo/downloads/APOSTILA/HIDRO-Cap2-CH.pdf
No entanto esta água subterrânea pode ressurgir na superfície através de
nascentes, alimentando as linhas de água ou pode ainda ser
descarregado diretamente no oceano. A água que permanece na
superfície alimenta os rios, lagos, lagoas e mares. A interferência humana
através da impermeabilização dos solos, da retirada da cobertura vegetal
e da poluição atrapalha este ciclo natural da água que é de extrema
importância para a manutenção da vida e do clima na Terra.
Os trabalhos destes grandes estudiosos e projetistas da paisagem
acabaram por influenciar e modificar a maneira como a engenharia age no
ambiente dos rios urbanos sendo agora denominada de engenharia
ambiental. Agindo de forma integrada com outros profissionais como
biólogos, paisagistas, geógrafos e planejadores urbanos, a engenharia
ambiental busca: a aplicação de obras hidráulicas adaptadas à natureza, e
a conservação e recuperação de áreas de inundação quando possível.
Nessa nova perspectiva são definidas ações sobre rios em áreas urbanas
voltadas para o controle de inundações, mas, sobretudo para a
revitalização desses rios. Assim esta visão, que muitas vezes via os rios
apenas como corredores de saneamento, está sendo gradativamente
substituída por uma postura de planejamento e projeto que busca valorizar
a importância ambiental e o papel social dos rios urbanos. (BRITTO;
COSTA, 2006) Esta nova visão passa a ser discutida no Brasil a partir da
década de 90, a partir de projetos de cooperação técnica com outros
países.
Nas discussões mais recentes sobre o meio ambiente, a questão da água
tem sido tema recorrente, pois é um dos mais indispensáveis recursos, o
que torna evidente a importância de estudos relacionados a ela,
principalmente no que diz respeito aos rios urbanos, que é na cidade
onde atualmente se concentra a maior parte da população.
Além do valor funcional, de matar a sede, auxiliar na higiene, regular a
temperatura no ambiente urbano, a água possui valor estético, cultural e
de lazer. Ela pode ser uma aliada e utilizada como potencial estético para
embelezar praças, parques e jardins, ou ainda, ao restabelecer a saúde
de um rio e criar um parque linear em suas margens pode-se unir todos
estes valores. Com isso, percebe-se a importância de ter consciência em
nossas tomadas de decisões, para que ações feitas em determinado
tempo que representam progresso e prosperidade não tenham
conseqüências danosas para o futuro do meio ambiente.
Apesar dos danos causados aos rios urbanos, estes não devem ser vistos
como um problema, afinal foi à intervenção do homem que tornou
conflitante a convivência entre recurso hídrico e cidade. Para que o valor
social da natureza seja reconhecido, é necessária uma mudança de
postura, tanto ética quanto de tratamento técnico. Ao invés de
canalizarmos os corpos hídricos, deveríamos buscar soluções
alternativas, menos agressivas, para que possamos recuperar não sua
mata ciliar e sua diversidade ecológica, mas também sua identidade e seu
papel social, e quando possível, o seu desenho original.
É importante entender o conceito do que vem a ser mata ciliar e sua
importância para o equilíbrio ecológico. As áreas de matas ciliares
encontram-se degradadas em todo Estado do Rio de Janeiro. De acordo
com KAGEYAMA (2001) esta degradação reflete o grande
32
desconhecimento da sociedade da importância dessas formações
arbóreas para a manutenção dos ecossistemas característicos das
margens e áreas adjacentes.
“A vegetação ciliar pode ser definida como aquela característica de margens ou
áreas adjacentes a corpos d’água, sejam esses rios, lagos, represas, córregos ou
várzeas; que apresenta em sua composição espécies típicas, resistentes ou
tolerantes ao encharcamento ou excesso de água no solo. Essa vegetação recebe
diversas denominações, como mata ciliar, floresta ou mata de galeria, veredas,
mata de várzea, floresta beiradeira, entre outras.” (KAGEYAMA, 2001)
Estas matas ciliares permitem ainda, habitat e refúgio à fauna terrestre, e
alimento à fauna aquática através das folhas e frutos que caem na água.
Essa vegetação ribeirinha ainda atua como corredor ecológico, auxiliando
na manutenção do microclima e da qualidade da água. Além disso, elas
ainda auxiliam na estabilidade dos solos, minimizando os processos
erosivos das margens, ajudam na retenção natural das águas, o que
contribui para o amortecimento das enchentes.
Não a mata ciliar, mas também a mata de várzea é importante para
auxiliar na retenção das águas superficiais, principalmente nos períodos
de cheias, que o amortecimento das águas de enchentes ajuda na
redução dos prejuízos causados por ela. Além disso, a vegetação ciliar de
acordo com KAGEYAMA (2001) reduz o impacto de fontes poluidoras a
montante, minimizam os processos de assoreamento dos corpos d’água,
a contaminação por lixiviação e o escoamento superficial de defensivos
agrícolas e fertilizantes.
Partindo do princípio de que existe a necessidade de uma mudança de
postura tanto comportamental como educacional, Britto e Costa (2006)
mostram que o tratamento das margens enquanto espaços livres públicos
traz uma importante mudança conceitual no tratamento do rio. Segundo
elas, esta continuidade espacial que é construída por estes espaços livres
e vegetados, fortalece a dinâmica natural e traz identidade, assim, as
pessoas passam a se relacionar com o rio de forma mais próxima.
Conseqüentemente ocorre o fortalecimento do papel social dos rios
urbanos, que delimitam no espaço da cidade um conjunto de normas,
direitos e deveres que condicionam o comportamento dos usuários e
acabam por desenvolver processos de socialização.
Apesar disso, ainda nos dias atuais podemos ver implantados em nossa
cidade um padrão de tratamento que despreza as funções biológicas do
rio, e não dá o devido valor ao seu papel ambiental, social e simbólico. Em
contrapartida a estas soluções ultrapassadas, alguns estudos
acadêmicos multidisciplinares vêm sendo desenvolvidos com intuito de
questionar as soluções extremamente técnicas que se utilizam
exageradamente do concreto como solução de projeto e acabam por
ignorar a natural sutileza do rio. O trabalho de Fontenelle traz uma revisão
de alguns estudos contemporâneos que têm atentado para novas formas
de apropriação destes espaços, buscando embasar projetos que
privilegiem a paisagem, seja do ponto de vista técnico, estético ou
ambiental, considerando a relevância das relações entre indivíduo e
natureza. (FONTENELLE, 2003)
Dentre os estudos revistados por Fontenelle (2003) destaca-se o de
trabalho de Penning-Rowsell e Burgess (1997). Para esses autores as
paisagens dos rios são componentes cada vez mais importantes, tanto
dos ambientes rurais quanto urbanos, mas apesar disso, muitos se
tornaram degradados pelo excesso de engenharia e negligência. A partir
daí, é necessário reanimá-los, utilizando o leque de disciplinas relevantes
que destaquem tais valores através da sustentabilidade. Hoje já existem
diversos estudos que podem somar competências para interpretar e
analisar os valores e diferenças sobre a natureza e a paisagem.
Muitos destes estudos destacam maneiras inovadoras de se pensar quais
as razões da importância das paisagens fluviais e como estas poderiam
ser mais bem geridas para satisfazer as exigências que fazemos destes
ambientes. Podemos dizer que a importância destas paisagens a cerca
dos rios se devido à riqueza ecológica de habitats de suas
características geomorfológicas e biológicas. Além disso, eles foram
bastante utilizados para atividades de lazer; e em alguns casos, tornando
suas águas extremamente simbólicas. “As pessoas acham as cenas
visuais dos rios locais significativos, estimulantes e relaxantes, combinado
ao movimento da água, um lócus para ocupação humana”.(Rowsell-
Penning, 1982; Fordham et al., 1989, apud Rowsel-Penning & Burgess,
1997; traduzido por Flávia Royse).
33
Muitos se tornaram extremamente degradados devido à ação do homem,
foram canalizados para navegação, proteção contra cheias, para
eliminação de efluentes, sem levar em conta suas características naturais.
A vegetação foi descartada para potencializar o fluxo das águas no intuito
de controlá-las e defender-se das inundações. Tratados como bueiros,
foram constrangidos e destruídos no que diz respeito as suas
características naturais, unicamente para drenar as águas superficiais e
controlá-las.
Um dos pontos importantes levantados por Rowsel-Penning & Burgess
(1997) é sobre a questão da percepção de que muitos rios têm
significados diferentes para diferentes grupos de pessoas e tais
significados estão profundamente enraizados em nossa cultura. Assim
sendo, podemos dizer que existe uma série de imagens simbólicas que
estão associadas aos rios, onde na atualidade julga-se de extrema
importância entender estes processos e sentimentos que moldaram o
comportamento do povo e que pode influenciar a forma como irão agir a
qualquer proposta de mudança para melhor gerir os canais fluviais e
reduzir o risco de inundação.
“There is an appreciation of the unique qualities of river landscapes among people
living in cities as in the countryside, and those pleasures do seem to draw most of
their strength from a sense of sharing one’s self with nature. Almost everyone will
talk of the sensuous, physical pleasures of being close to water moves, which has
its own distinctive smells and sounds, and, is inhabited by distinctive birds and
animals.” (Rowsel-Penning; Burgess, 1997)
A captação da escala deve ser o ponto de partida para Rowsel-Penning &
Burgess (1997). Para gerir os rios é necessário trabalhar juntamente com
o planejamento de terras, ao invés de trabalhar o rio localmente. É
necessário formular políticas neste domínio complexo e interativo de
gestão da água e do solo. “Sem esta aproximação multipartidária,
multifacetada, a paisagem fluvial não irá prosperar, uma vez que a saúde
e a qualidade destas paisagens podem representar a síntese de todos os
esforços de sustentabilidade.” (Rowsel-Penning; Burgess, 1997; traduzido
por Flávia Royse)
O artigo de Manning, (1997:67-94), também citado por Fontenelle (2003)
aborda a importância dos rios como contexto para o desenvolvimento do
projeto paisagístico e ressalta que os valores humanos e naturais devem
estar sempre juntos. Embora isso possa nos levar a um leque de
possibilidade ele foca seu trabalho na manipulação física da paisagem
fluvial que segundo ele são para fins recreativos e estéticos. Sua
preocupação principal é mostrar como o bom projeto paisagístico para o
rio pode aumentar as suas possibilidades de deleite em muitos tipos e
níveis. Para isso ele defende que nenhum tratamento ou utilização de um
rio deva excluir o seu valor recreativo, estético e afastar o uso humano,
donde podemos concluir que o projeto deve unir as necessidades
humanas e do meio ambiente aproveitando ao ximo seus valores
recreativos e estéticos.
Para Manning (1997) o projeto deve fazer mais do que apenas controlar o
uso. Ele é um processo criativo que pode restaurar uma paisagem
degradada e seus valores perdidos, ou ainda criar novos recursos em um
ambiente cada vez mais ameaçado pela destruição. Para o autor o
cenário é muito significativo, além de complementar a água como
elemento, pois eles fazem parte de todo onde um não pode existir sem o
outro. O usuário não desfruta apenas da água, mas de todo o entorno
cujas margens podem ter infindáveis variações de forma. Para o projeto
as margens não devem representar uma barreira ou uma mera
oportunidade de rota. Alem disso, cada rio tem duas margens, contínuas e
paralelas, perto o suficiente para serem vistas ainda que em alguns casos
sejam distantes para serem atravessadas por um salta. Portanto os
cruzamentos receberam especial atenção por Manning (1997), não
somente pelo fato da engenhosidade da forma para se atravessar o rio,
mas pelo agradável acontecimento em si, pela experiência.
São as margens que fornecem os principais usos humanos. Projetados
para o convívio harmonioso entre homem-natureza torna-se um ambiente
potencialmente rico para reforçar usos existentes ou para criar novos.
Para o autor a experiência estética dos rios envolve-nos de diversas
maneiras: podemos assistir o fluxo a distância ou existe aqueles que
preferem ter o contato físico com a água.
34
Manning (1997) explora temos como a complexidade
1
da paisagem, o
acesso
2
e o desenho
3
. No geral as atividades de um projeto são
desenvolvidas em resposta as necessidades humanas de controlar o
ambiente natural. Mas como resultado surgiram paisagens estéreis, com
rios retificados, canalizados, o que economicamente tornou disponível
diversos terrenos que sofriam com a pressão humana. Para Manning
(1997) o uso da geometria formal não justifica a esterilidade da paisagem
e reparar esses malefícios do abuso do passado ajuda-nos a tirar lições
para os desafios dos futuros projetos.
Ele chama atenção ao romântico pastoral que não deve ser aplicado em
oposição à geometria como a forma mais adequada que este também
não é natural e por isso foi amargamente criticado pela sua suavidade e
pelo pitoresco. Alternativas a intervenção tradicional que reprime o ciclo
natural devem levar em conta a crescente pressão humana sobre o meio
ambiente. Para tal, Manning (1997) gera e explora 2 conceitos: a
densidade e a complexidade que segundo ele são ingredientes essenciais
de um ambiente eficaz.
Ao falar da diversidade ele diz que este conceito pode ser explorado
através da maximização dos meandros das margens e dos efeitos da
vegetação. “A tarefa do criador não é necessariamente a criação de novos
meandros, mas refletir e explorar o que naturalmente deve existir.”
(MANNING, 1997: 74; traduzido por Royse, 2009)
A vegetação é vital, mas a uniformidade o contribui com a diversidade
desejada pelo autor. A densidade pode ser uma barreira e impedir o
acesso ou o até mesmo o contato visual com o rio. Para Manning (1997)
pontos de contato visual podem parecer de pouca importância, mas são
eventos focais. Zonas de contato físico são o ponto onde podemos
realmente tocar e usar o rio através da pesca, do nado, remo etc. Estes
usos variam muito e dependem da relação que as pessoas tem com a
1
Resume todos os valores da paisagem de um rio, seu caráter, conteúdo e layout.
2
Engloba até mesmo seu relevo e vegetação.
3
A forma como paisagens projetadas são concebidas ou implementadas, seja por
engenharia artificial ou naturalismo.
água e principalmente da sua qualidade. Essa qualidade influência
demasiadamente a relação que as pessoas têm com a água, no caso de
um rio poluído estas não tem nenhum tipo de apego ao recurso natural e
pelo contrário o negam como um elemento da paisagem.
Às vezes para se adaptar ao uso, como, por exemplo, criar uma praia, é
necessário se remover parte da vegetação da margem. Mas esses
espaços formados são usados pelas pessoas para se reunirem, o que
acaba criando uma identificação com o lugar. Mesmo quando essas zonas
recebem grandes instalações como quiosques, banheiros,
estacionamentos para automóveis, dispensou-se a rigidez urbana e a
forma menos artificial de tratar o rio contra a pressão humana é sempre a
mais bem vinda.
Este autor ainda cita a segurança como um elemento relevante. Tornar o
ponto de contato com a água seguro é necessário para se evitar
acidentes, mas deve-se ter cuidado para não destruir as características
essenciais do rio. As precauções devem estar relacionadas com o
contexto. Quanto às travessias, o cruzar as águas são considerados
pontos centrais quanto à funcionalidade, estas permitem tanto visadas
dela quanto a partir dela, muitas vezes encorajando o contato com o rio e
permitindo a circulação ao longo dele. “A ponte pode ser o mais valioso
artifício humano, em toda uma paisagem.” (MANNING, 1997: 81; traduzido
por Royse 2009) Embora possua muitas formas não é a única maneira de
atravessar um rio e a imagem a seguir nos mostra algumas das
possibilidades.
35
A experiência da travessia. Elevada, destacada; ou baixa e próxima, em contato com o
mundo da água.
O problema da altura livre. Pontes baixas bloqueiam o rio; estruturas extensas bloqueiam a
margem.
A continuidade da beira rio. Necessário para o exercício pleno da margem. Mais fácil de
conseguir quando a topografia é favorável.
Complexidade cívica. Movimento ao longo, sobre e através: tudo deve ser
interligado a fim de possibilitar experiências ricas. Fonte: Manning, 1997.
A altura de uma travessia em relação à água o deve ser pensada
apenas em função das embarcações, mas também em função da
continuidade do percurso ao longo das margens, de modo que estas não
criem uma barreira. Para Manning (1997) fica óbvio que sua função é
ligar, mas para perceber sua importância não é necessário atravessá-la.
Estes pontos de passagem estão onde as coisas acontecem, onde as
pessoas se reúnem.
Ao discutir sobre os rios urbanos Manning (1997) diz que estes são fontes
naturais de vida e oferecem oportunidades para neutralizar a dureza e a
esterilidade dos ambientes urbanos. O objetivo desta discussão o é
explorar todos os aspectos da presença dos rios urbanos mas apontar
alguns possíveis caminhos para otimizar suas qualidades especiais.
Intervenções na paisagem fluvial como grandes ou pequenas vias,
passarelas, pontos de contemplação, áreas para jogar e pontos de contato
são possíveis sem que haja a necessidade de reduzir o teor natural de um
rio. A diversidade é a chave para a maximização dos valores.
36
Estruturas que bloqueiam a continuidade da margem. Fonte: Manning, 1997.
Durante séculos obras de proteção contra inundações tornaram a maior
parte dos nossos canais fluviais inativos, conseqüentemente o trabalho de
Newson (1997) preocupa-se não somente com as paisagens fluviais, mas
com o que está acontecendo com elas em longo prazo. Newson destaca a
importância de se considerar no projeto a geomorfologia, que segundo ele
é por natureza interdisciplinar, pois é um campo resultante da geografia e
da geologia. Para este autor, a base para uma compreensão científica das
paisagens fluviais é a geomorfologia fluvial
4. Nela os sistemas fluviais são
vistos como um sistema natural de transportes, onde existe constante
movimentação.
Devido a esta constante movimentação é importante destacar a fragilidade
destas paisagens fluviais devido à inconstância dos rios, principalmente se
estiverem sem o aporte de estudos que possam ajudar a evitar possíveis
catástrofes naturais. Para Newson (1997), pelo fato das paisagens fluviais
não serem estáticas, destacar o dinamismo e a inconstância dos rios é de
extrema importância, pois são estes que em longo prazo promovem a
alteração da paisagem, o que reforça a necessidade de estudos
específicos sobre estas mudanças.
4
geomorfologia fluvial = geomorfologia + hidrologia
A fragilidade das bacias hidrográficas também é enfatizada pelo autor, que
as considera num futuro imediato ecossistemas sensíveis devido às
alterações climáticas que as influenciam diretamente. Além destas ações
naturais, a ação humana influencia diretamente sobre o corpo hídrico,
podendo ser a paisagem fluvial um importante critério para orientar a
utilização sustentável das bacias hidrográficas. Com relação ao uso
sustentável, Newson (1997) julga necessária uma mudança cultural sobre
o ambiente dos rios, o somente em suas áreas adjacentes, mas em
toda bacia de drenagem contribuinte.
A gestão sustentável
5 deve usar o poder da natureza e seguir a forma
como ela se manifesta ou segundo Newson utilizar moderadamente a
coerção para dirigir sua atenção noutros locais. Para este autor forçar um
resultado artificial é um oneroso heroísmo. Para que isso não ocorra, é
indispensável que gestores avaliem as condições do presente e passado
do rio antes de tomar qualquer tipo de decisão, mesmo que seja para
promover a recuperação. Para controlar a qualidade da água dos recursos
hídricos ou ter controle sobre as cheias e as áreas de drenagem é
importante ter conhecimento de causa que possa justificar qualquer
medida a ser tomada.
Newson (1997) conclui que apesar da necessidade de um grande esforço
multidisciplinar para compreender a dinâmica dos processos dos sistemas
fluviais, podemos inserir em nossos projetos e planejamentos o trato da
natureza das paisagens fluviais de forma mais proveitosa através da
simplicidade, da observação cuidadosa e da informação. Para ele a
vegetação surge como uma espécie de estabilizador da erosão das
5
Para Britto (2008) gestão sustentável da água em regiões metropolitanas é a
gestão integrada dos recursos hídricos e dos serviços de saneamento ambiental.
Isso implica em conciliar três dimensões da sustentabilidade: dimensão ambiental,
relativa ao uso racional e preservação dos recursos hídricos e da qualidade do
ambiente; dimensão econômica que concerne à viabilidade econômica dos
serviços baseada na perspectiva de um financiamento pelos usuários; dimensão
ética e democrática que concerne o acesso a serviços adequados para todos e a
participação dos usuários na gestão dos serviços. (Trecho retirado da entrevista de
Britto ao Caderno Metrópolis sobre o Seminário Águas Urbanas, 2008)
37
encostas, além de dar exuberância à paisagem fluvial. Esta exuberância
pode ser conseguida através de um bom projeto paisagístico, que pode
criar canais estáveis geridos pela vegetação, e em conseqüência disto,
podemos diminuir as intervenções através da engenharia dura.
Para Fontenelle (2003), Newson (1997) busca uma nova forma de
manutenção dos rios, tendo a dinâmica da paisagem como ponto de
partida, para que possa reestruturar os processos fluviais e tornar os rios
urbanos novamente ativos.
Parque em Denver, construído desde 1995. Combate as inundações, cria habitat aos
animais selvagens e aproxima as pessoas. Fonte: OTTO, 2004.
Criação de passeios agradáveis ao longo das margens. Fonte: OTTO, 2004.
Margens mais naturais. A vegetação aproxima as pessoas e fornece ao rio habitat.
Fonte: OTTO, 2004.
38
Existem diversos estudos que destacam a importância dos rios urbanos
como um elemento estruturador do território. No texto apresentado por
Glimet (2001), “O córrego Miguelete no Plano Montevidéu”, o autor
destaca a função do rio como elemento chave atual e potencial da
estrutura da cidade de Montevidéu. O córrego Miguelete é um rio
predominantemente urbano que sofreu numerosas intervenções em suas
margens e, atualmente enfrenta sérios problemas de poluição. O presente
sistema de saneamento urbano não cobre a totalidade da bacia e
apresenta mau funcionamento. A implantação em sua bacia de
numerosas indústrias que despejam dejetos sem processar, os despejos
do sistema de saneamento urbano e o processo de urbanização informal
em suas margens tem contaminado suas águas, tornando-as impróprias
para qualquer tipo de atividade e convertendo-as num latente perigo
sanitário e ambiental.
Córrego Miguelete, Montevidéu. Fonte: GILMET (2001).
Segundo Gilmet (2001) a Prefeitura Municipal de Montevidéu es
empenhada na implementação do Plano Montevidéu Plano de
Planejamento Territorial (1998-2005). Onde as margens e bordas urbanas
do córrego Miguelete conformam uma franja verde, de grande potencial
estruturador do território, na qual o Plano propôs um parque linear,
suporte de novas atividades e usos sociais públicos. Resumindo os
principais objetivos do Plano podemos citar com relação à margem: a
criação de parques equipados e a realocação dos assentamentos
irregulares. Além disso, a recuperação da qualidade ambiental e da
paisagem urbana.
Plano de Planejamento Territorial Córrego Miguelete Franja Verde estruturadora do
território. Fonte: GILMET (2001).
Segundo Gilmet (2001), a intenção era criar planos especiais estratégicos
cujo impacto positivo em uma determinada porção do território acabaria
por desencadear uma melhora arquitetônica, urbanística, ambiental e em
geral uma melhora da condição de vida de todos os montevideanos.
Como a cidade deu as costas ao córrego, e converteu-o num lixão
endêmico, a intenção é de que a cultura urbana coletiva deva construir e
integrar um novo córrego Miguelete e uma nova relação com o curso
d’água.
O autor cita ainda a importância de um esforço de articulação entre as
atuações sobre o meio físico e biológico e aquelas dirigidas à população,
39
suas atividades, sua cultura. A participação dos atores sociais locais
constitui uma peça fundamental para o êxito da proposta.
De acordo com Valladares (2008) um dos primeiros exemplos brasileiros
de Parque Fluvial foi o Parque da Ponta Negra, inaugurado em 1995 na
cidade de Manaus, as margens das águas escuras do Rio Negro. O
parque foi implantado num balneário intensamente freqüentado pelos
manauaras, onde nos períodos de seca amazônica uma ampla praia de
areias claras é revelada. O Projeto original é de Severiano Mário Porto,
mas que não foi implantado na integra. O projeto original previa itens que
contextualizavam a realidade local e como a implantação de pergulados
que protegiam o calçadão do sol forte, a preservação da mata nativa e a
construção de um centro cultural com formas curvilíneas de madeira e
palha, materiais consagrados nas aldeias amazônicas. Segundo
Valladares (2008) esta atitude do poder público é uma tendência histórica
de importar modelos consagrados nacional ou internacionalmente,
renegando disfarçadamente uma paisagem e valores culturais que o
projeto pretendia reafirmar.
Para Valladares (2008) apesar de não seguir na integra o projeto, esta
experiência reinaugura uma nova etapa de investimento em infra-estrutura
urbana, onde os projetos de parques e orlas fluviais são novamente
trazidos à pauta.
Um outro exemplo de intervenção que destaca a importância do rio como
elemento estruturador do território foi o bem sucedido Parque da
maternidade, localizado na cidade de Rio Branco, Amazonas. O córrego
da maternidade que corta as proximidades do centro da cidade
encontrava-se degradado pelo esgoto sanitário, favelização de suas
margens e alguns trechos, assoreamento e pouca ou nenhuma
acessibilidade a suas águas. Alvo de interesse público, as propostas
iniciais datavam da década de 80 e possuíam propostas mais tradicionais,
entretanto o projeto implantado e inaugurado em 2002 buscou entender as
dinâmicas da estruturação urbana e propôs um parque linear ao longo de
6 Km do seu curso.
O projeto previu a implantação de um eixo viário e ciclovias, foram
implantados diversos equipamentos urbanos voltados ao lazer, esportes,
atividades culturais e gastronômicas. O projeto buscou a utilização de
materiais locais para reafirmar a identidade local. Um projeto de tal porte
revalorizou o espaço urbano e hoje constitui um dos principais cartões
postais da cidade.
Ações deste tipo acabam por alavancar novas intervenções no tecido
urbano mesmo que de menor porte, mas que forma geral são
significativas para requalificação dos espaços de uso comum. De acordo
com Valladares (2008), o Parque da Maternidade foi alavanca para a
revitalização de alguns espaços públicos de Rio Branco. Um exemplo de
intervenção alavancado pelo Parque da Maternidade foi o Parque
Tucumã, inaugurado em 2005, que apresenta diversas das características
de sua antecessor como: a associação de pistas de transito leve ao
parque público. Este projeto busca se harmonizar com o seu meio
ambiente.
O trabalho de Jaulino (2004), “Rios do Rio”, onde o autor cita os rios como
belezas naturais pouco ou mal utilizadas, desconhecidas e o pior,
degradados na cidade do Rio de Janeiro. O autor fala sobre o conflito de a
cidade ter se voltado unicamente para as praias, concretando e
escondendo seus cursos d’água. Apesar do privilégio de belas praias, o
autor crê ser insensato ignorar espaços com tantas possibilidades.
Segundo ele, os rios e lagos têm lugar em manchetes apenas quando são
responsabilizados por inundações ou outros desastres ambientais, quando
não pela poluição das praias. A situação é de extremo conflito, onde
parece que as pessoas, ricas ou pobres, sem nos esquecermos do
governo, preferem conviver com o mau cheiro a buscar dar destino correto
a seus dejetos.
Jaulino (2004), também defende a criação de parques lineares e acredita
que o panorama poderia ser outro, pois estes elementos poderiam cortar a
cidade em todas as direções, ligando os maciços cariocas as praias, com
longas trilhas, ciclovias e sistemas alternativos de transporte fluvial. A
organização do espaço e a presença do poder público se fazem
necessárias para que a população tenha consciência e colabore, pois sem
isso, sente-se incapaz de sozinha mudar esta situação.
40
Além da função estruturadora de conectar os espaços da cidade através
do aproveitamento das margens para a criação de parques voltados para
o lazer, outro bom motivo está na possibilidade de se criar uma proteção
contra os freqüentes alagamentos de leito durante as chuvas de verão.
Esses parques podem funcionar como barreiras à ação danosa das
águas, formando uma bacia de acumulação com áreas previamente
planejadas para serem inundadas impedindo que água atinja as áreas
habitadas.
Apesar de termos áreas densamente povoadas, que impediriam a
implantação das idéias acima descritas na integra, é importante pensar
nas grandes extensões que ainda estão por serem habitadas, no intuito de
garantir aos futuros habitantes um padrão de vida melhor se estas
preocupações forem observadas. Além disso, mesmo nas áreas já
consolidadas, sempre espaço para melhorias. Jaulino (2004) chama o
poder público a sua responsabilidade, pois ele deve ser o incentivador.
Segundo ele é necessário que haja o pontapé inicial por parte do poder
público, para recuperarmos os ambientes degradados e convidarmos a
população a conhecer e a usar o espaço criado, no sentido de
conscientizá-los para a importância dos rios.
O aproveitamento das margens não requer nada elaborado apenas conservação. Um rio em
Salzburgo, aonde apenas uma ciclovia, calçada com guarda-corpo e vegetação. Fonte:
JAULINO (2004)
41
Rios canalizados, em locais estreitos com falta de espaço para parques não são realmente
problemas desde que sejam bem cuidados e estejam limpos como é o caso de Amsterdã.
Fonte: JAULINO (2004)
Exemplo de aproveitamento de corpo d’água no Hyde Park, Londres. Fonte: JAULINO (2004)
Alguns estudos têm apontado tanto para a importância dos rios urbanos
como elementos estruturadores da paisagem quanto para o seu papel na
construção da imagem da cidade, buscando identificar sua importância no
imaginário da população e ressaltando seu valor como memória urbana.
A exemplo disto podemos citar Bley (1996), cuja intenção neste trabalho é
tentar ultrapassar a paisagem como aspecto visual para chegar ao seu
significado e valor. Segundo o autor uma das formas de entender a
paisagem é considerá-la em suas inter-relações com a sociedade, isto é,
em seus aspectos sociais, históricos, políticos, culturais etc. Para Santos
(1982: 37) apud Bley (1996) “A paisagem nada tem de fixo, de imóvel,
cada vez que a sociedade passa por um processo de mudança (...) a
paisagem se transforma para se adaptar às novas necessidades da
sociedade.”
Ao discorrer sobre o meio ambiente valorizado, Gold & Burguess (1982:1-
5) apud Bley (1996) afirmam que todos buscamos um meio que satisfaça
nossas necessidades básicas: abrigo no qual vivemos e morremos; locais
que nos propiciam prazer; lugares que marcaram nosso passado e aos
quais está ligado nosso futuro.
Segundo Whyte (1978:24-25), apud Bley (1996), todas as estratégias para
avaliação da paisagem envolvem três pressupostos importantes:
elementos visuais de uma paisagem; elementos visuais significativos e a
relação entre os componentes selecionados de uma paisagem e seus
valores percebidos sofrem influência cultural.
A partir destes pressupostos Bley norteou a escolha da estratégia e do
desenho da pesquisa que desenvolveu sobre a cidade de Morretes, no
Paraná. Os objetivos de sua pesquisa foram: reconhecer os pontos de
vista em que a paisagem é considerada de maior beleza cênica;
determinar as qualidades que a fazem especialmente valorizada;
identificar os níveis em que ela pode ser manejada e utilizada sem que
perca seu valor. Pelo fato da natureza dos valores ser muito complexa e
sua classificação extremamente controvertida, o autor adota o princípio
42
axiológico
6
, de que “os valores não são, os valores valem” e, portanto,
todas as paisagens, em todos os seus pontos de vista, têm valor.
Para Lacoste (1977:3) apud Bley (1996), a paisagem não é somente um
valor estético, simbólico, um procedimento de valoração ideológico, mas,
também, um valor de mercado. Com relação aos valores utilitários,
podemos dizer que a cidade de Morretes tem evidente valor recreativo, de
turismos e transporte ferroviário. Apesar disto, não é aproveitada como
recurso econômico. Para Bley a noção de utilitário vincula-se ao valor de
uso, não de trocas, isto é, os valores atribuídos à paisagem de Morretes
não são definidos em termos financeiros.
Para este autor a participação ativa da sociedade é de extrema
importância, pois a coleta de opiniões dos usuários, que devem ter poder
na definição do planejamento e controle da paisagem valorizada, ajuda a
evitar o divórcio que se instala entre a resignação do usuário e o
planejamento técnico. Como afirmam Burgess & Gold (1982:1-5) apud
Bley (1996), é nos verbos criar e possuir que encontramos o verdadeiro
significado da paisagem vivida valorizada. Criar no sentido de dotar a
paisagem vivida de um significado pessoal e possuir como abrigar e
oferecer segurança e proteção.
A atribuição de valor à paisagem está intimamente ligada com a solução
de problemas relacionados às necessidades básicas, os residentes não
podem valorizar a paisagem em que vivem quando falta água encanada,
rede de esgoto, pavimentação de ruas, coleta de lixo. Entre outros
problemas ambientais avulta a questão do Rio Nhundiaquara, componente
percebido mais fortemente na paisagem, que para ter seu valor
reconhecido deve ser protegido do assoreamento e da poluição.
O rio é um elemento fortemente percebido na paisagem, e isso
provavelmente se deve a sua função histórica, por ter sido navegável e
responsável pelo desenvolvimento econômico de Morretes. Atualmente
ele é o responsável por algumas enchentes catastróficas e quando deixou
de ser navegável a cidade deu-lhe as costas. A cidade voltava-se para
6
Baseado em valores intrínsecos ou fundamentais, ou que os envolve.
ele, a rua principal, hoje a Quinze de Novembro, uma antiga estrada de
saída da cidade, foi no século passado a da margem do rio. As
edificações da margem direita dão os fundos para o rio e fachada para
uma rua estreita. O rio parecia ter perdido todo o valor na paisagem vivida.
Apesar disso, ele desperta a relação de afetividade com os moradores, e
conseqüentemente uma preocupação com a poluição de suas águas, pois
o consideram o cartão de visitas da cidade e o principal componente
paisagístico.
Podemos perceber então, como os valores simbólicos e culturais estão
presentes na construção do espaço. E com este exemplo podemos ver
como a revalorização do passado se faz presente como importante valor
cultural. Conforme diz o autor, “é melhor recriar o passado do que inventar
o futuro”.
Para Castello (1996), a partir da década de 80, no Brasil, a percepção
como área científica, tem assumido um papel cada vez mais destacado
nas atividades que envolvem análise e projetação ambientais. Não o
urbanismo vem sendo contemplado nas preocupações que envolvem
questões de subjetividade e suas relações com a percepção, mas também
no campo projeto, que vem ressaltando a importância da percepção para
a interação comportamental entre homem e ambiente.
Castello (1996) considera que o ambiente é uma síntese das inter-
relações entre possibilidade e oportunidade, significado e norma, não
podendo ser concebido como um produto, nem como determinante das
ações humanas, mas como contexto, que está embutida uma grande
quantidade de fenômenos psicológicos, sociais e culturais. O autor
utilizou-se do rio Guaíba em Porto Alegre para referencial empírico, que
a cidade começava a acumular algumas atitudes e experiências
ecológicas sérias e a constatação da ocorrência de problemas ambientais
graves entre a cidade e seu recurso hídrico.
A partir daí, dois antecedentes deram margem á realização desta
pesquisa, a constatação do rompimento de relações entre a cidade e o
seu rio; e a implementação de projeto governamental de saneamento,
tratando da regeneração bioquímica do rio. Na escala metropolitana, a
ruptura das relações manifestava-se pelo alto índice de contaminação
43
hídrica. Na escala do centro, o rompimento era identificado pelo
isolamento do rio na paisagem, reforçado pela construção de muros de
proteção contra inundações, pela linha férrea eletrificada do metrô de
superfície que se transformaram em barreiras físicas e visuais
intransponíveis. Além disso, após sucessivos aterros, a cidade terminou
por voltar suas costas ao rio, não havendo mais a visualização de suas
águas dos espaços públicos no centro.
Para Castello (1996) o rio Guaíba é um elemento obrigatório na
constituição da paisagem, e sua presença está enraizada no contexto da
cidade, já que ela cresceu e se desenvolveu mantendo relações com o rio.
Entretanto, com o passar dos anos, algumas relações foram diminuindo,
outras se deterioraram ou até desapareceram, indicando a necessidade
de investigar possibilidades em estabelecer inter-relações e em “re-
estabelecer” relações. A primeira abordou o elemento natural, o rio, como
um recurso material, direcionando-se para estratégias de nível micro-
regional. a segunda, o rio, foi abordado como elemento cultural,
voltando-se para estratégias associadas ao centro histórico da metrópole.
A percepção da importância do rio detectada na pesquisa como
subentendido na mente da população acabou sendo ativada por sua
divulgação na mídia, no meio técnico e político, enfim nas esferas
formadoras de opinião. Segundo Castello torna-se estimulante a
convergência do enfoque morfológico-funcional: comportamento e espaço
se aproximam para apontar valores comuns e explicitar o sentido de um
lugar.
Ainda seguindo a linha de raciocínio sobre a importância dos rios no
imaginário da população e ressaltando seu valor como memória urbana,
podemos citar Vieira (2001), e Duarte (2006). A primeira trata do estudo
da paisagem urbana enquanto processo dinâmico de combinação entre
forças naturais e forças urbanas. Enquanto que o segundo defende que,
quando respaldo no imaginário urbano, existente ou construído, as
intervenções urbanas têm maiores chances de envolverem o público em
ações a favor do projeto.
Nesta pesquisa Vieira (2001) busca compreender as relações entre os
sistemas da natureza e as ações humanas, dirigindo atenção aos rios
urbanos na paisagem urbana, e utiliza-se especificamente do caso do rio
Sanhauá, no bairro de Varadouro, na cidade de João Pessoa.
Ela investiga a maneira como a administração pública vem conduzindo a
presença do rio na cidade e administrando seu tratamento, as
repercussões ambientais desses projetos e planejamento, a maneira
como a população percebe e se apropria desses espaços e quais os
desejos e expectativas da população para está área. A partir dos
resultados dessa análise, pretende obter uma melhor compreensão das
questões relativas ao valor e significado do rio para a cidade e para a
população, buscando a importância de sua inserção paisagística, além da
elaboração de uma proposta de intervenção paisagística, com a intenção
de contribuir para a recuperação do ecossistema ribeirinho e para a
revalorização do entorno.
Vieira (2001) afirma que além da importância histórica de abrigar em suas
margens o centro histórico da cidade, o rio Sanhauá possui grande valor
paisagístico. A análise limita-se a estudar a linha de contato com a água,
que compreende o rio, o manguezal e os espaços livres do seu entorno,
ou seja, a franja do tecido urbano localizado ao longo do rio. Esta área foi
determinada pela relevância da paisagem, pela presença do rio Sanhauá
e pela configuração dos espaços livres públicos, constituindo o foco da
pesquisa.
Apesar da importância do rio para a cidade, atualmente, uma
desconexão do conjunto histórico com o rio Sanhauá, evidenciando que o
processo de urbanização nem sempre valorizou a presença das águas na
estruturação da cidade. Segundo Vieira (2001), apesar da tradição
histórica e paisagística da cidade com os rios urbanos, este ainda não foi
efetivamente integrado e disponibilizado para o uso da população. E para
piorar esta situação, uma seqüência de espaços fragmentados, praças
desarticuladas entre si, áreas livres residuais, que contribuem para a
degradação e ocultam o entorno desta área, ao invés de valorizar e
resgatar suas qualidades.
Para resgatar o valor paisagístico da área, Vieira (2001; 2006) acredita no
potencial do projeto urbano para promover esta revalorização do espaço,
principalmente através do manejo de espaços livres públicos, em especial
44
os localizados a margem do rio; da recomposição do ecossistema
degrado; e da análise da experiência das pessoas nestes espaços.
Portanto, o interesse da proposta refere-se à recuperação, restauração e
valorização das áreas ribeirinhas impactadas pelo planejamento
desordenado, com o intuito de reforçar a necessidade de considerar o
valor do recurso hídrico nos processos de planejamento e desenho
urbano, através da promoção de acessibilidade física e visual às suas
águas. “Os desafios ambientais e a necessidade de preservação e
valorização da diversidade natural nas cidades fazem das águas urbanas,
em seus vários formatos, um recurso de significativa importância para as
cidades contemporâneas.” (VIEIRA, 2006:160)
Na busca da valorização da paisagem do rio através de seu contato visual
permitido pelo passeio as suas margens ou pelo contato físico
experimentado por suas praias podemos citar o exemplo da intervenção
iniciada em 2001, na Orla de Alter do Chão, citado por Valladares (2008,
111) que teve suas margens revitalizadas nos moldes de passeio fluvial,
que possui uma localização estratégica próximo ao centro histórico de
Santarém.
Em janeiro de 2006 foi inaugurado o Parque Público Mangal das Garças,
um parque urbano em Belém, no Pará, que requalificou a área degrada à
beira do rio Guamá. O parque foi concebido com caráter naturalístico onde
o tema central foi a água em todas as suas diferentes formas, ou seja,
fontes, cascatas e cursos d’água desembocando em lagos. O parque
conta com diversos equipamentos, caminhos da água, área de várzea
recuperada e a vegetação implantada representa os estratos da flora do
Pará: a vegetação de várzea, que penetra todo o espaço, a vegetação de
campo e a da floresta de serra firme.
O projeto foi promovido pela Secretaria de Cultura do Estado do Pará, nas
administrações do arquiteto Paulo Chaves como Secretário. A área foi
cedida ao Governo do Estado para a implantação do parque, do qual a
solicitação do cliente era a elaboração de projeto de um parque urbano
através da ampliação da área de aterro sobre os últimos espaços de
várzea ainda existentes, chegando com terra firme até a beira d’água.
Sendo que a vegetação nativa do lugar já estava muito degradada.
O entorno degradado era ocupado por Aningas que eram
sistematicamente podadas para não atingirem alturas maiores que 1,50m
a 1,80m. Ao analisar a área a conclusão foi que a mesma não deveria ser
aterrada e que a vegetaçexistente possuia um grande potencial para o
desenvolvimento do projeto e para manutenção de espaço de carater
natural em pleno centro, que havia sido poupado pela urbanização. As
Aningas, uma vez preservadas, poderiam chegar a medir de 7 a 8 metros
de altura.
O Estudo Preliminar definiu o partido do projeto, e sua inserção no setor
urbano: o rio, a cidade, o Arsenal da Marinha, a praça urbana e um dos
canais de drenagem, característicos da cidade de Belém podem ser
observados nas imagens a seguir. O Parque foi desenvolvido baseando-
se na recuperação e preservação, explorando a questão educacional e o
turismo.
Estudo Preliminar: o entorno. Fonte: KLIASS, 2007.
45
Estudo Preliminar: o parque. Fonte:
KLIASS, 2007
O partido estabelecia como princípio a intenção de fazer com que
a água passasse a ser um tema paisagístico do espaço penetrando
novamente na área, agora como elemento de desenho. Fazia parte do
programa um local para exposições e vendas, uma pequena loja de venda
de plantas e lembranças, e um farol que não estava nos estudos iniciais.
Além disso, o projeto implantado conta com um restaurante de dois
pavimentos, que unido por uma passarela, avança sobre o aningal
chegando a um belvedere que permite uma vista deslumbrante da área.
Anteprojeto: perspectiva do parque. Fonte: KLIASS, 2007.
Vista geral do conjunto implantado com a cidade ao fundo.
Foto: João Ramid. Fonte: KLIASS, 2007.
46
Duarte (2006), em “Rastros de um rio urbano cidade percebida e cidade
comunicada” defende que, quando há respaldo no imaginário urbano,
existente ou construído, as intervenções urbanas têm maiores chances de
envolverem o público em ações a favor do projeto. Ele toma como estudo
o caso do rio Belém, na cidade de Curitiba e apresenta uma metodologia
para a análise de como um ambiente está presente e é construído no
imaginário urbano. “A análise do modo como às pessoas vivenciam a
cidade e como as regiões fazem parte do imaginário urbano é uma das
questões mais importantes para o sucesso de um projeto de intervenção
urbana” (CERTEAU, 1996, apud. Duarte, 2006).
Segundo Duarte (2006), no caso do rio Belém, presente na formação da
cidade, passou de um importante eixo estruturador do traçado urbano
para se tornar um problema ambiental e urbano, quando a cidade avançou
sobre suas margens provocando alagamentos, além disso, foi retificado,
canalizado e urbanizado nas últimas décadas. O rio Belém é um rio quase
que inteiramente morto. Porém, há um movimento crescente de pesquisas
e ações sociais para sua recuperação. Por isso, ele considera a análise da
presença do rio no imaginário urbano de grande relevância para qualquer
projeto de recuperação e de sua reintegração na paisagem de Curitiba.
Análises da paisagem urbana vêm sendo feitas a partir das
representações que os usuários fazem da cidade, usando por base os
trabalhos de Kevin Lynch. Estes trabalhos que são baseados em
entrevistas, depoimentos, desenhos e fotografias, revelam a variedade e a
riqueza da apreensão de um ambiente urbano pelos olhos daqueles que o
vivenciam. A esta perspectiva metodológica, Duarte (2006) chama cidade
percebida, que privilegia o presente e o modo como às pessoas percebem
o ambiente urbano. Para o autor é importante entender como uma região
está presente no imaginário urbano por características históricas que vão
se sedimentando na cidade, e também como esse imaginário é construído
com projeções para um futuro.
Com isso, ele considera necessário buscar indícios na concretude da
cidade de usos e vivências anteriores de uma região. A este
encaminhamento metodológico ele chama rastros urbanos. Aquela se faz
por reflexão ou projeção é a cidade comunicada. Na reflexão analisa-se
como determinada região aparece nos meios de comunicação e
conseqüentemente como é revelada de volta para a cidade. na
projeção é analisado como os projetos são construídos e publicados para
que se insira uma cidade desejada na cidade presente.
A partir da noção de que a cidade é um objeto concretizado de processos
urbanos que se acumulam, sobrepõem, apagam e transformam no tempo,
Duarte (2006) vai a campo buscar indícios que nos faça entender a
conformação de um território, o porquê da cidade ser como é. No campo,
foram encontrados rastros de uma transformação da cultura urbanística
que teve início na quarta parte do século XX. Quando os rios urbanos
deixaram de servir de esgotamento sanitário ou foram canalizados, para
se integrarem ao contexto da cidade em um equilíbrio entre áreas verdes,
circulação não poluente (como ciclovias) e parques lineares entremeados
à malha urbana.
Quanto ao rio Belém, existem momentos em que ele se desliga do tecido
urbano e submerge sob Avenidas, o que segundo o autor indicia uma
completa alteração no modo como o rio é encarado na cidade. Duarte
segue para o Passeio Público, que foi o primeiro parque urbano de
Curitiba, criado para controlar a vazão desordenada das águas do rio.
Este parque revela uma postura urbanística consolidada em controlar os
rios urbanos.
Este rio, que atravessa parques, é escondido como um canal de
esgotamento no centro da cidade que emerge e corre, por alguns
quilômetros, por meandros urbanos. Ao voltar para a superfície ele passa
por um antigo pátio de manobras da ferrovia, por um estádio e segue junto
a conjuntos habitacionais de interesse social e favelas, passa pelo
campus da PUC e segue seu curso por bairros mais pobres até desaguar
no rio Iguaçu.
Na análise da cidade comunicada, através de notícias sobre o rio, Duarte
cita que apesar do rio emergir sem vida, os conjuntos habitacionais
populares são mostrados de forma preconceituosa como responsáveis
pela poluição do rio. Segundo Duarte, analisar o rio por seus rastros
permite-nos ver que a cidade sofre com problemas causados por ele,
devido ao seu processo de ocupação.
47
Com relação à cidade percebida foram feitas entrevistas, que focaram em
como o rio é percebido pela população, desde a primeira imagem que lhe
vem à cabeça quando pensa no rio Belém, passando pelo teor das
notícias que ouviu sobre o rio, e pela percepção de marcos urbanos ao
longo do rio, através de desenhos do rio Belém. A poluição é unanimidade
na percepção dos entrevistados, aparecendo tanto na cidade percebida
quanto na comunicada.
Para Duarte (2006), o espaço da cidade é formado por processos
urbanos que tanto se sucedem na história quanto se inter-relacionam em
uma mesma época. A cidade é policrônica, seu tempo não é linear. Com a
análise de cidade percebida, comunicada e rastros urbanos, o autor
procura mostrar as implicações de cada uma delas nas vivências urbanas,
em como os habitantes usam, percebem e imaginam sua cidade. A
história da cidade é vista por seus elementos (físicos e normativos) ainda
presentes e que condicionam usos bloqueados pelo imaginário de um uso
passado que, mesmo que tenha perdido sua função, ainda é presente na
percepção urbana.
Costa & Monteiro (2002) de forma mais abrangente, trabalham as inter-
relações que se estabelecem entre o sistema da cultura e o da natureza,
com olhar para as águas urbanas e sua inseão paisagística nas cidades.
Com foco nos rios, córregos e canais da cidade do Rio de Janeiro buscam
compreender as transformações de design, as repercussões ambientais e
seus usos, que os rios têm sido tratados como fundo de lote,
degradados, poluídos e simbolicamente excluídos pela população.
Neste artigo Costa & Monteiro (2002) tratam dos rios urbanos e de sua
inserção paisagística no tecido das cidades, reconhecendo sua
importância ecológica e seu valor como paisagem cultural. Apresentando
como estudo de caso o Rio Cachoeira, no Rio de Janeiro, que atravessa
áreas residenciais bastante diferenciadas, desde uma favela até uma área
residencial de alta renda, onde todas se encontram de costas para suas
águas, muitas vezes escondendo-o da paisagem circundante. Essa
postura segundo as autoras revela que o rio é visto como um problema e
não como patrimônio e que a visibilidade é uma importante atitude
projetual na direção de um comportamento ambientalmente responsável.
O Rio Cachoeira, segundo as autoras, ao longo de todo seu percurso
recebe um péssimo tratamento, e isso é evidenciado num trecho perto a
sua foz, onde ele apresenta-se poluído, sujo, suas águas são rasas e seu
leito estreito, com grandes áreas cobertas por capim-colonião. Em alguns
trechos o rio apresenta-se entrincheirado pelos altos muros que delimitam
os lotes. Toda está degradação apresenta-se como contraste ao alto
padrão das residências em suas margens. “O papel dos rios como
corredores biológicos, e, portanto, fonte de experiência enriquecedoras no
contato direto com a natureza urbana, tem sido destacado em diversos
estudos sobre os valores dos rios (por exemplo Tapsell 1997; Manning
1997).” Costa & Monteiro (2002:295)
“(...) o projeto urbano e de paisagismo deve integrar valores utilitários e
ecológicos com previsões de intenso uso pela população, ressaltando a
importância dos acessos” (MANNING, 1979). No caso do Rio Cachoeira,
“como paisagem pública, o rio é visível a partir de uma pequena ponte
situada no início das duas ruas, que apenas o cruza, sem permitir acesso
a ele”. (COSTA & MONTEIRO, 2002) Para as autoras nossas paisagens
são reveladoras das inter-relações entre as intenções humanas e os
processos naturais, o que as determina como paisagens culturais,
constantemente reestruturadas em função dos valores que são atribuídos
a ela.
Tendo em vista os danos causados ao rio e a sua situação atual de
degradação, devido aos processos de ocupação, seja pelo desenho
urbano que bloqueia sua visibilidade, pela poluição de suas águas, por
projetos tecnicistas que os canalizaram ou cobriram totalmente, tornando-
o totalmente oculto na paisagem, o ideal seria restabelecer sua
visibilidade como medida de revalorização.
Fontenelle (2003), cujo trabalho citamos anteriormente nesse capítulo
trata da questão das águas a partir de seu viés paisagístico, procurando
analisar como a paisagem, em especial a dos rios urbanos tem sido
tratada, e busca demonstrar a importância do projeto urbano como
ferramenta essencial nos processos de intervenção na natureza e como
as atribuições simbólicas e culturais podem influir nestes projetos a fim de
criar paisagens valorizadas.
48
Utilizando-se do exemplo do rio Carioca, no Rio de Janeiro, a intenção é
estudar a apropriação dos espaços adjacentes ao rio e a partir daí,
observar as relações que se estabelecem entre o rio e usuário e os
reflexos dessa relação nas adaptações formais e espaciais que aí se
verificam. Com isso, a autora pretende entender melhor a dinâmica da
paisagem, o papel da arquitetura neste contexto, buscando que
significados podem surgir do desenho urbano e que influências exercem
na memória dos habitantes e na identidade local.
Apesar da importância da presença dos rios nos tecidos urbanos das
cidades, Melo (2003) mostra que sob o ponto de vista ambiental,
ecológico e paisagístico, eles vêm sendo paulatinamente deteriorados,
pela ação do homem, através do processo de urbanização das cidades.
Neste trabalho ela relata de forma breve, algumas pesquisas sobre as
transformações das paisagens de alguns recursos hídricos em
decorrência das relações culturais estabelecidas entre os habitantes das
cidades e esses elementos naturais, e em seguida, relata o estudo sobre
as paisagens do rio Capibaribe, principal curso d’água da bacia
hidrográfica do Capibaribe, representando o sistema hidrográfico mais
importante do município do Recife, capital do Estado de Pernambuco,
localizado na região nordeste do Brasil. Segundo a autora este rio possui
extrema importância para a cidade do Recife, pois se configura como
elemento drico definidor da sua fisiografia: contribuindo para o processo
de formação, estruturação e expansão da cidade; além de ser um
elemento marcante na paisagem e um ecossistema que atua no equilíbrio
físico-natural da mesma.
Com este estudo, a autora pretende contribuir para o processo de
compreensão das relações estabelecidas entre os habitantes desta cidade
e seu rio, o Capibaribe. Este processo é importante, pois fornecerá
subsídios ao planejador urbano e ambiental para direcionar suas
propostas de regeneração da qualidade ambiental das paisagens desse
rio, buscando (re)integrá-lo ao cotidiano da cidade. Seja através da
conscientização dos habitantes sobre os problemas urbanos e ambientais
que envolvem esse elemento hídrico, seja pelo envolvimento deles na
resolução desses problemas. Assim sendo, o tema principal de Melo
(2003) são os significados da paisagem do rio Capibaribe.
Para entender a paisagem cultural, a autora se baseia no enfoque dado
pela Nova Geografia Cultural, que tem por objetivo “descrever e entender
as relações entre a vida humana coletiva e o mundo natural, as
transformações feitas por nossa existência no mundo da natureza, e
acima de tudo, os significados que as culturas atribuem para sua
existência e para as suas relações com o mundo natural”. (Cosgove,
1994:387; apud Melo, 2003) Nessa perspectiva de abordagem, para a
autora, a paisagem apresenta dois componentes, um objetivo que
compreende o processo de apropriação e transformação dessa paisagem
pela ação do homem e outro subjetivo que são os significados dessa
paisagem para os diversos grupos sociais, sejam os que ocupam as
margens deste rio e/ou aqueles que não o vivenciam no cotidiano, mas
que são observadores do mesmo.
Numa bacia hidrográfica de 7.400 km2 de extensão, o rio Capibaribe é o
principal curso d’água, sendo o sistema hidrográfico mais expressivo do
município do Recife. Essa unidade hidrográfica possui 59,1 km de sua
área inseridos na cidade do Recife. Da nascente a foz ele encontra
montanhas, vales, canaviais e pastagens e percorre 44 municípios.
Complementando os fatores supracitados sobre a importância do rio
Capibaribe para a cidade do Recife, ele contribuiu como suporte para as
atividades econômicas e utilitárias, pois era usado para o escoamento do
açúcar, para o transporte dos moradores dos engenhos e dos núcleos de
povoação, assim como para fonte de abastecimento d’água. Devido a
esses tipos de uso estabeleceu-se uma relação entre os moradores das
suas margens e o rio. Com relação ao processo de expansão da cidade, o
rio contribuiu na medida em que sua morfologia direcionava o processo de
ocupação, desde o século XVII, como resultado do povoamento e da
expansão da cidade que foram feitos acompanhando os meandros do rio.
Segundo a autora o sítio fluvial foi quem determinou o traçado urbano da
cidade do Recife, pois além de ter sido construída sobre ilhas, era ladeada
por muitas terras alagadiças. Assim as paisagens foram sendo
construídas ao longo dos séculos, XVII e XIX, através do trajeto desse rio,
como resultado da relação estabelecida pelos diversos grupos culturais
com esse elemento hídrico. O fato de ser um elemento marcante na
paisagem é reforçado pelo fato dele cortar 21 bairros da cidade de Recife.
49
Apesar da poluição, o Capibaribe ainda consegue ser um elemento de
equilíbrio ao ecossistema, na medida em que contribui para amenizar o
clima através da penetração dos ventos alísios e, pela existência da fauna
e da flora.
Este rio apresenta uma dicotomia, pois ao mesmo tempo em que é
sustento para uma parte dos moradores, é extremamente castigado pela
poluição das cidades onde passa, que lançam em seu leito resíduos sem
nenhum tratamento, lixo e os esgotos domésticos. Assim como a maioria
dos rios, o Capibaribe, sofreu diversos aterros da suas áreas de rzeas e
mangues para ampliar o espaço urbano, conseqüentemente a morfologia
desse rio passou por um processo de modificação para atender aos
interesses de um determinado grupo social cultural.
Ao ocupar indevidamente estas áreas que tem por função natural servir de
depósito de sedimentos; e de planícies de inundação, tanto para a maré
alta no movimento diário dos rios como para as chuvas, o leito do rio foi-se
estreitando em ambas as margens, na ilha e no continente, e
conseqüentemente as enchentes foram-se sucedendo, com se o rio
buscasse resgatar seu leito original.
Para ocupar esta área é necessário ter em mente que haverá a
necessidade de se submeter à vida própria da várzea e tentar conviver
com seus períodos de inundações. Quando o homem tentou dominar o
meio-ambiente sem levar em consideração seus processos naturais
tiveram como conseqüência às cheias calamitosas que passaram a fazer
parte da vida recifense.
A população sofreu com diversas cheias e em 1854 havia consciência
de que esses problemas tinham como fonte os aterros mal construídos
que contribuíram para estreitar o leito do rio dificultando a vazão natural
de suas águas. Neste ano foi publicada uma matéria intitulada
“Comunicado” onde o autor relacionava os problemas de enchentes com
suas causas citadas acima. Com o passar dos anos as cheias aconteciam
com maior freqüência, e 1975 ocorreu a mais calamitosa, causando
muitos danos à população.
Esta cheia foi o estopim para a tomada de algumas providencias para
amenizar estes problemas e sofrimento da população, como: a construção
de diversas barragens como as de Carpina, Goitá e Jucazinho; a
retificação dos meandros do rio, o que mudou significativamente sua
morfologia na área urbana de Recife. Segundo a autora todas essas
alterações acabaram por modificar seu fluxo natural, interferindo no
regime de escoamento do rio ocasionando a degradação de suas águas,
pois o volume de água havia diminuído, conseqüentemente houve uma
maior concentração de esgoto, provocando um problema cada vez maior.
Segundo Melo, esta degradação acontece desde o século XIX, pois o rio
era tratado como ponto de despejo de dejetos, pela inexistência de um
sistema de eliminação de esgotos. E somente em 1910, com a
coordenação de Saturnino de Brito é que foi implantado um sistema de
esgotamento sanitário que visava solucionar as questões de saúde
pública e atendeu a quase totalidade da população da cidade. Sendo que
com o passar dos anos essa população aumentou e não houve
investimentos neste setor, e segundo a autora em 1970 apenas 22% da
população era contemplada por este serviço. Atualmente a cidade de
Recife tem 33% de área saneada.
Para Melo, foi na década de 70 do século XX, que a degradação atingiu
seu ponto crítico, provocado pelos despejos industriais, com a
intensificação da produção do álcool pelas destilarias e dos esgotos
domésticos sem tratamento, em decorrência dos elevados índices de
urbanização. Neste período começa a haver uma modificação na relação
das pessoas com o rio, pois devido ao aumento da poluição as casas
antes voltadas para o rio geralmente com um cais de atracamento, agora
são construídas de costas para o rio. Muros foram construídos para isolar
o rio da paisagem, apesar dele continuar como importante elemento no
imaginário das pessoas.
Diante deste quadro de degradação, os ribeirinhos romperam suas
relações com o rio, pois não existe mais uma relação de sobrevivência
que dependa do rio. o é possível mais pescar e a retirada de areia foi
proibida. Em 1980m houveram várias denuncias contra a poluição hídrica
causada pelos resíduos industriais que estava destruindo os peixes, a
50
fauna e flora. Devido à pressão popular e a cobrança de multas, a
poluição por vinhodo da produção de álcool já estava quase sob controle.
Alguns coordenadores do Movimento Recapibaribe criam uma exposição
com elementos retirados do rio, criam uma espécie de “Casa Cor”
chamada “Casa Cap” e mostram que o lixo atirado ao rio não pertence
apenas à população de baixa renda. Para limpeza do rio eles acham
importante a mobilização popular, pois acham que integração é
fundamental. Assim segundo Melo vem crescendo a mobilização de
alguns grupos sociais para defesa do rio e buscam conscientizar as
pessoas sobre a importância de regenerar o rio Capibaribe.
Atualmente existem vários outros grupos lutando por esta mesma causa.
A ONGs23 entraram com uma ação pedindo que Recife respeite o código
florestal com relação à ocupação da faixa próxima a cursos de água. A
Universidade Federal busca conscientizar seus alunos sobre a
importância do rio Capibaribe e em parceria com o Ibama têm
desenvolvido ações para repovoar de peixes suas águas. Em parceria
com a Universidade Rural a Prefeitura tem promovido um trabalho de
replantio das margens de mangues ao longo das margens do rio
Capibaribe desde 1986. Segundo Melo (2003), o rio passou a ser alvo de
preocupação de vereadores envolvidos com a questão ambiental. O poder
público busca incorporar o rio a dinâmica da cidade através de projetos
como o “SOS Capibaribe”, o “Circuito das águas” e o “Apipucos: uma
janela para o Capibaribe”.
Apesar desta mobilização, a qualidade das águas do rio Capibaribe, está
cada vez mais distante da limpidez de que falavam os viajantes no século
XIX, com o rio fazendo o seu trajeto de forma mais lenta, pois transporta,
através do seu leito, os detritos trazidos desde o interior. (MELO, 2003)
Apesar disso, Melo julga importante colocar em foco a temática da
regeneração das paisagens dos rios urbanos para resgatar sua função
ecológica, estética e simbólica, contribuindo para a melhoria da qualidade
ambiental das cidades.
Ao longo dos anos, o desenho urbano desenvolvido não tem levado em
conta aos processos naturais, e conseqüentemente privilegiam soluções
tecnicistas que contribuem de maneira deficiente para a integração entre
as cidades e o ambiente em que estão inseridas. O desenho urbano
acaba por contribuir para degradação deste ambiente, quando na verdade
deveria valorizar e resgatar suas qualidades.
Mas a canalização não precisa ser necessariamente uma solução estéril
do ponto de vista estético e ambiental. O projeto de revitalização do rio
Los Angeles nos mostra soluções integradas ao meio ambiente, onde o
desenho contribui para a restauração e conservação do ecossistema.
Ainda melhora a qualidade da água, cria acesso público e seguro a água,
cria área para um maior armazenamento das águas provenientes das
enchentes, consequentemente valoriza e resgata suas qualidades
perdidas ao longo dos anos em que foi drasticamente degradado.
Um ponto de venda para a restauração deste rio que tem recebido amplo
apoio é a idéia de que o rio une vários bairros distintos e tem o potencial
para criar uma identidade unificadora para a área. A seguir veremos uma
seqüência de imagens que mostra a situação atual do rio seguida de uma
projeção baseada no projeto.
51
Atualmente
Rio Los Angeles Canoga Park (2006). Intervenção tradicional.
Canalização trapezoidal com margens totalmente impermeabilizadas e conseqüente perda
da vegetação ciliar. Acessado em novembro de 2009. Disponível em:
http://councilcommittee.lacity.org/lariver/beforeandafter.htm
Imagens ao lado:
Projeção em duas etapas.
Imagem 1 Etapa 1 - medidas imediatas.
Imagem 2 Etapa 2 - solução em longo prazo.
Acessado em novembro de 2009. Disponível em:
http://councilcommittee.lacity.org/lariver/beforeandafter.htm
Projeção a curto e longo prazo
52
Atualmente
Rio Los Angeles Barragem Sepulveda em Van Nuys (2006). Perda da vegetação ribeirinha
e da identidade local. Acessado em novembro de 2009. Disponível em:
http://councilcommittee.lacity.org/lariver/beforeandafter.htm
Imagens ao lado:
Projeção em duas etapas. Tentativa de tornar o concreto mais ecológico.
Imagem 1 Etapa 1 - medidas imediatas com acesso por uma das margens.
Imagem 2 Etapa 2 - solução em longo prazo com acesso por ambos os lados.
Acessado em novembro de 2009. Disponível em:
http://councilcommittee.lacity.org/lariver/beforeandafter.htm
Projeção a curto e longo prazo
53
Atualmente
Rio Los Angeles Rua no Centro de Los Angeles (2006). Perda da vegetação ribeirinha e da
identidade local. Rio fica confinado na canalização e entre a ferrovia construída ao longo de
suas margens. Acessado em novembro de 2009. Disponível em:
http://councilcommittee.lacity.org/lariver/beforeandafter.htm
Projeção em longo prazo
Projeção de acesso à água por ambas as margens, resgate de sua identidade local e de seu
ecossistema. Ilustração do potencial do canal com sua mata ciliar restaurada. Imagem
Acessado em novembro de 2009. Disponível em:
http://councilcommittee.lacity.org/lariver/beforeandafter.htm
54
Atualmente
Rio Los Angeles - Tujunga Wash (2006). Perda da vegetação ribeirinha e da identidade local.
O rio fica confinado na canalização, restringindo o acesso da população. Acessado em
novembro de 2009.
Disponível em: http://councilcommittee.lacity.org/lariver/beforeandafter.htm
Projeção em longo prazo
Imagens ao lado: Ilustração de uma trilha que fornece lazer e tem a vantagem de ser
sombreado. Acessado em novembro de 2009. Disponível em:
http://councilcommittee.lacity.org/lariver/beforeandafter.htm
55
o trabalho de Mello (2005) não tem a intenção de abarcar todas as
dimensões inerentes à contribuição do olhar urbanístico para a
abordagem das margens de cursos d’água. Entretanto ele indica as
possibilidades desse olhar que deve ser agregado ao aprofundamento da
investigação sobre os aspectos biofísicos que variam em função das
especificidades de cada localidade.
Mello inicia este artigo falando sobre a questão dos impactos ambientais
resultantes da ocupação irregular de uma população excluída do mercado
imobiliário formal. Sem condições de comprar lotes formais no mercado
imobiliário estas pessoas ocupam áreas frágeis do ponto de vista
ambiental como as margens de rios, encostas, topos de morros, mangues
e dunas.
Devido a esta vulnerabilidade, estas áreas são definidas pela Lei Federal
4.771/65 como Áreas de Preservação Permanente (APP)
7. Segundo
Mello, o modelo de exclusão sócio-espacial brasileiro compromete
gravemente os recursos ambientais. Os riscos de desabamento de
barracos em encostas são facilmente percebidos em épocas de chuva,
entretanto existem outros mais graves considerados riscos ambientais
coletivos advindo dessas ocupações irregulares.
Dentre os quais a autora destaca os impactos sobre os cursos de água,
poluição pelo lançamento de esgoto e lixo, mas, além disso, a ocupação
indiscriminada e sem critérios dessas áreas frágeis acarreta sérios
impactos no meio ambiente como erosão, alagamentos, assoreamento e
colmatação de nascentes. Mas a ocupação destas áreas não é uma
prática apenas das populações mais pobres. Segundo a autora registra-
se, em todo o País, a prática irregular da edificação e do parcelamento de
média e alta renda, sobre essas áreas ambientalmente vulneráveis.
7
Em outras palavras segundo o Código Florestal (Lei no 4.771, de 15/09/65,
alterada pela Lei no 7.803, de 8/08/93), em seu artigo define como Área de
Proteção Permanente: “área protegida (...) coberta ou não por vegetação nativa,
com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a
estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger
o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas”.
Rio Beberibe: Olinda. Estado lastimável de conservação do recursos hídrico, ocupação das
margens, lançamento de esgoto. Fonte: Mello (2005)
A complexidade das relações entre a ocupação urbana em uma dada
bacia hidrográfica e a preservação do volume de água dos corpos hídricos
envolve fatores diversos, relacionados à retirada da cobertura vegetal,
erosão do solo, impermeabilização e impedimento da drenagem natural
das águas pluviais. (MELLO, 2005) A ocupação indiscriminada sem
fiscalização e sem qualquer tipo de proteção gera sérios problemas ao
meio ambiente e um deles citado pela autora é a questão do racionamento
de água a que estão submetidas diversas cidades brasileiras.
56
Riacho Doce: Belém. Casas em palafita construídas dentro do rio, vegetação praticamente
ausente, lixo depositado nas margens. Fonte: Mello (2005)
Ainda segundo a autora este quadro decorre da conjugação de diversos
fatores relacionados à Gestão Urbana que deve promover o adequado
ordenamento territorial, mediante o planejamento e o controle do uso, do
parcelamento e da ocupação do solo urbano; a Aspectos Legais onde a
concepção da legislação ambiental e urbanística é bastante desarticulada,
refletindo e induzindo a prática dissociada e inviabilizando o
desenvolvimento urbano sustentável; e a Educação Ambiental onde a
informação deve ser à base do controle social essencial para a efetiva
proteção dos recursos ambientais, pois na maioria das vezes não se sabe
por que determinadas áreas devem ser protegidas.
Sobre as Áreas de Proteção Permanente (APP) ressaltamos que estas
são áreas de grande importância ecológica e não devem ser ocupadas,
pois se deve manter sua vegetação natural. Isto de certa forma é
estratégia para conservação ambiental, já que esta vegetação contribui
para evitar os processos erosivos e de assoreamento dos rios,
consequentemente garantem a qualidades dos recursos hídricos, ajudam
a manter a fauna, a paisagem e a biodiversidade. Em outras palavras
segundo o Código Florestal (Lei no 4.771, de 15/09/65, alterada pela Lei
no 7.803, de 8/08/93), em seu artigo define como Área de Proteção
Permanente: “área protegida (...) coberta ou não por vegetação nativa,
com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a
estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora,
proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas”.
Exemplificando as possíveis APP temos: as áreas de mananciais, as
encostas com mais de 45 graus de declividade, os manguezais e as
matas ciliares. A ocupação de uma APP sem autorização é considerada
crime ambiental e prevê detenção e a aplicação de multa calculada por
hectare destruído.
Vale a pena destacar algumas peculiaridades desta Lei no que cerne a
questão dos cursos d’água, quando de seu Art. considera preservação
permanente as florestas e demais forma de vegetação natural situadas:
“a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d'água desde o
seu nível mais alto em faixa marginal cuja largura mínima
será: (Redação dada pela Lei nº. 7.803 de 18.7.1989)
1 - de 30 (trinta) metros para os cursos d'água de
menos de 10 (dez) metros de largura;
2 - de 50 (cinquenta) metros para os cursos
d'água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta)
metros de largura;
3 - de 100 (cem) metros para os cursos d'água
que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos)
metros de largura;
4 - de 200 (duzentos) metros para os cursos
d'água que tenham de 200 (duzentos) a 600
(seiscentos) metros de largura;
57
5 - de 500 (quinhentos) metros para os cursos
d'água que tenham largura superior a 600
(seiscentos) metros;
b) ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d'água
naturais ou artificiais;
c) nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados
"olhos d'água", qualquer que seja a sua situação
topográfica, num raio mínimo de 50 (cinquenta) metros de
largura;
d) no topo de morros, montes, montanhas e serras;
e) nas encostas ou partes destas, com declividade
superior a 45°, equivalente a 100% na linha de maior
declive;
f) nas restingas, como fixadoras de dunas ou
estabilizadoras de mangues;”
(Lei no 4.771, de 15/09/65, alterada pela Lei no 7.803, de
8/08/93)
Com relação às áreas urbanas esta Lei cita que se deverá observar o
disposto nos respectivos plano diretor e lei de uso do solo, desde que
respeitados os princípios e limites a que se refere o artigo segundo. No
que tange nosso estudo de caso vale ressaltar alguns itens mencionados
no Artigo que considera Área de Preservação Permanente as florestas
e demais formas de vegetação destinadas:
“a) a atenuar a erosão das terras;
e) a proteger sítios de excepcional beleza ou de valor
científico ou histórico;
g) a manter o ambiente necessário à vida das populações
silvícolas;
h) a assegurar condições de bem-estar público.”
(Lei no 4.771, de 15/09/65, alterada pela Lei no 7.803, de
8/08/93)
Devido à constatação desta deficiência, o foco de Mello é sobre as áreas
de preservação a margem dos corpos hídricos, e seu projeto de pesquisa
do Programa de Pós Graduação da Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de Brasília se denomina “Ocupações urbanas
em beira d’água – articulação dos enfoques ambiental e urbanístico”.
Segundo Mello, pode-se computar, hoje, alguns sucessos no sentido da
integração entre as abordagens ambiental e urbana no Brasil. Entretanto
existe grande dificuldade para reverter este “falso conflito”, pois segundo a
autora se tratam de dois planetas distintos. São distintos os atores, as
linguagens, as formas de pensar e, por conseguinte, as práticas, a base
legal, as políticas públicas. (MELLO, 2005) Para ela é perceptível que em
discursos a necessária integração entre dimensão urbanística e ambiental
apareçam com tanta freqüência, embora na prática haja pouca disposição
de flexibilizar a abordagem e tentar enxergar as duas lógicas. Com
relação a esta dicotomia entre os conceitos ela cita que a gestão urbana
se baseia no conceito de propriedade, o direito ambiental se
fundamenta na esfera pública, no bem coletivo.
Ao falar sobre a integração entre os enfoques ambiental e urbanístico,
Mello apresenta algumas divergências entre alguns autores. Mello cita
Walter Lima que diz que a definição de APP ainda está longe de ser
completa, onde os estudos sobre o estabelecimento das larguras das
faixas de mata ciliar para a proteção do curso d’água, não são
conclusivos, pois são limites muito variáveis. Devido a esta multiplicidade
não faz sentido determinar uma largura predefinida para realidades muito
divergentes. Para Carla Montgomery (apud Mello, 2005) recomenda a não
ocupação por edificações na planície de inundação do rio, que varia de
lugar para lugar em função de diversos fatores naturais como: a área de
drenagem da bacia a montante, o volume e freqüência de precipitações, a
58
declividade do terreno, a vegetação ou sua ausência, as características
geológicas, tipo de solo (grau de infiltração).
Sob o ponto de vista topológico, os corpos d'água localizados nas cidades
são ricos elementos de referência espacial para os cidadãos. (Mello,
2005) Em muitas cidades os rios são vistos como marcos estruturadores
da malha urbana, por isso que a urbanização em seu entorno sempre foi
objeto de valorização da paisagem urbana e de promoção do convívio
social. Para Mello a manutenção de matas fechadas ao longo de rios, em
áreas urbanas centrais, implica a constituição de barreiras visuais,
resultando na sensação de insegurança.
Esta sensação gera conseqüentemente espaços desvalorizados,
degradados que acabam virando depósito de lixo. A autora também
destaca a importância do envolvimento da população na preservação dos
recursos ambientais para sua efetiva proteção. Isto pode acontecer
através da valorização das margens, com a criação de espaços que
permitam o convívio social e desperte na população o sentimento de
pertencimento.
Múltiplos aspectos semânticos estão envolvidos na relação entre
assentamentos humanos e a presença da água. (Mello, 2005) A autora
pretende avaliar os aspectos da sintaxe espacial, que oferece ferramentas
importantes para elucidar aspectos relacionados a barreiras e
permeabilidades relativas aos rios urbanos. Para tal, ela adotou o estudo
de caso do rio das Almas na cidade de Pirenópolis, situada no so da
Serra dos Pireneus que é um divisor continental das bacias Tocantins e
Paraná. No alto da Serra nascem dezenas de córregos formando, de um
lado, o Rio Corumbá, afluente do Paranaíba (Bacia Paraná) e do outro
lado o Rio das Almas que mais ao norte se torna um grande afluente do
Rio Tocantins.
O Rio das Almas segundo a autora é o berço da constituição do núcleo
urbano, em função da atividade de garimpo de ouro e a partir de 1733, a
expansão da cidade se de forma radial, ao redor da Igreja Matriz em
direção às margens do rio. Atualmente o Rio das Almas corta a cidade
sendo um elemento estruturador da malha urbana, com apenas dois
pontos para travessia de pedestres e veículos.
Mapa de Pirenópolis 2000. Indicando as duas travessias existentes, a ponte antiga de
madeira (A) e a ponte mais recente de concreto (B). Fonte: Mello (2007)
Quanto ao rio ele possui praias em alguns pontos de suas margens,
sendo que devido ao processo histórico de ocupação a malha urbana
relaciona-se mais diretamente com a margem esquerda, onde existem
áreas públicas de utilização coletiva. a margem direita, predomina uma
ocupação mais recente onde os terrenos a margem do rio são em sua
maioria de ordem privada, mas que conservam ainda a mata fechada sem
o acesso público.
Localizada próximo à ponte antiga existe uma praia muito freqüentada,
que segundo a autora, torna-se uma importante referência espacial e de
convívio social devido a sua beleza cênica e sua inserção no centro
histórico.
59
Ponte antiga em madeira. Fonte: Mello (2007)
Rio das Almas, praia vista da ponte. Fonte: Mello (2007)
Apesar da poluição causada por esgoto doméstico, o rio continua sendo
usado para banho. Bares foram implantados irregularmente as suas
margens. Em outros trechos do rio (Vila Matutina citado pela autora) existe
além dos usos para banho e lazer, o uso doméstico como lavar roupa,
hábito comum entre as famílias mais carentes. De forma geral a ocupação
urbana respeita a faixa mínima de 30m referente à faixa de APP, salvo
algumas exceções. Para analisar os espaços das margens Mello utiliza-se
do conceito de espaços convexos e espaços axiais da Sintaxe Espacial.
Hillier e Hanson
8
propuseram que o sistema de espaços abertos pode ser
descrito de duas maneiras, relativas a esses conceitos: “Eles consistem
dois tipos de abstração que operamos em relação ao espaço das cidades,
abstração essa que nos permite revelar, como veremos, atributos
fundamentais do meio ambiente urbano.”(MELLO, 2005)
Mello procura fazer uma avaliação das transições aberturas: portas,
portões entre o espaço fechado, de domínio público; e os espaços
abertos, de domínio privado. Ao analisar os espaços às margens do Rio
das Almas ela verifica que existem duas categorias básicas de espaços
bem marcadas. Na margem direita do rio existem predominantemente
espaços fechados; já a margem esquerda, em sua maioria, é formada por
espaços abertos.
Com relação aos espaços abertos, ao longo do rio que também é
considerado um espaço aberto, que é de domínio publico segundo
Mello (2005) existem dois tipos de configuração: os espaços abertos de
uso público coletivo, que são formados pelas praias e/ou caminhos ao
longo da beira-rio ou os espaços abertos de uso restrito, que são aqueles
localizados nos fundos de lotes, formados por mata ciliar. Os trechos onde
não há uma utilização pública coletiva são mais propícios à ocupação
irregular. Donde se conclui que a apropriação pública das margens é uma
estratégia para a proteção do rio.
Mello (2005) sugere algumas diretrizes para o planejamento da
configuração das margens do rio das Almas: resguardar as faixas mínimas
8
Bill Hillier e Julienne Hanson, The social logic of space, apud Frederico de Holanda, apud
Mello (2005), O espaço de exceção.
60
de trinta metros, de cada lado do rio, definindo-se, entretanto, com base
em estudos mais detalhados as formas de utilização possíveis;
estabelecer os trechos cuja sensibilidade física determine a necessidade
de manutenção integral das matas; a partir de uma análise mais
aprofundada sobre a relação do rio com a malha urbana, definir os trechos
das margens que são próprios ao uso público coletivo, propondo para os
mesmos a configuração do tipo 1, mais detalhadas a seguir.
O que seriam a configuração do tipo 1: espaços abertos, constituídos por
aberturas dos lotes voltados para eles; espaços que, respeitando a
dinâmica hídrica, ora permitam o acesso para banho ora mantenham a
vegetação; possuam caminhos ao longo das margens, permitindo o
acesso da população e o controle da fiscalização, impedindo invasões;
resguardem o caráter bucólico hoje existente, adotando-se o máximo de
áreas permeáveis, evitando-se a pavimentação com materiais
impermeáveis (manter, por exemplo, a solução atual de vias em areia).
Através da análise de mapas de axialidades formado pelo registro de
eixos e linhas axiais de todas as vias da cidade, a autora analisa os
impactos que a abertura desses caminhos ao longo do rio pode causar
sobre o fluxo de veículos da cidade. O foco da análise desenvolvida para
este estudo de caso, refere-se à integração. Com auxílio do programa
XPACE, que a permitiu conhecer o grau de integração que uma
determinada via tem com relação a todas as outras vias da cidade.
Após analisar a autora conclui que: 1. devem ser respeitados os limites
das faixas atuais estabelecidas pelo Código Florestal; 2. em áreas
urbanas é importante definir os usos dessas faixas. A partir da definição
do grau de vulnerabilidade de cada trecho do curso d’água, devem ser
estabelecidos aqueles que devem permanecer intangíveis e aqueles que
podem ter utilização pública, coletiva e sustentável. 3. A gestão das
margens deve ter como princípio o envolvimento da comunidade,
despertando na comunidade o sentimento de “pertencimento”, de
consciência do rio como um bem comum, de campanhas de disseminação
de informações sobre as razões de proteção, assim a população passa a
ser a principal guardiã do rio.
Praia ao lado da ponte antiga. Fonte: Mello (2005)
Caminhos ao longo do rio. Fonte: Mello (2005)
61
2.3. RESTAURAÇÃO
Além dos autores que propõem estratégias para revitalização dos rios
urbanos, existem aqueles que levam estas propostas ao extremo,
levantando a necessidade de uma ação mais profunda de restauração de
rios urbanos. No livro “Jardim de Granito”, Anne Whiston Spirn (1995), a
autora mostra o que a cidade poderia ser, se fosse projetada de acordo
com os processos naturais, e não os ignorando ou opondo-se a eles.
Spirn revisa estratégias tanto para mudanças radicais, mais facilmente
implementadas em áreas de expansão, como soluções de
desenvolvimento mais apropriadas ao redesenho gradual de centros
urbanos já consolidados.
Anteriormente a cidade era percebida como algo separado da natureza
que em muitos casos era vista como problema. Esta percepção
influenciou na maneira como a cidade foi construída, o que agravou e até
causou muitos dos problemas ambientais urbanos citados
anteriormente. Com o crescimento das cidades, esses problemas
tomaram proporções maiores, e continuam a ser tratadas como
fenômenos isolados, e não como conseqüência das ações humanas.
Segundo Spirn, a natureza tem sido vista mais como um embelezamento
superficial, do que como uma força essencial que permeia a cidade,
assim, sua intenção é descrever mais opções para o tratamento de
córregos urbanos do que são usualmente considerados pelos projetos de
engenharia convencionais.
No trabalho “Restoring Streams in Cities” de Ann Riley (1998), discute a
importância da restauração como alternativa às intervenções tradicionais,
ao ambientalmente destrutivo e ao projeto de altos custos. A restauração
implica, segundo a autora, em realizar ações ambientais voltadas para um
retorno do rio a um estado natural, num sentido literal.
Riley preocupa-se prioritariamente com a restauração da forma do
córrego, seus bancos, meandros, piscinas, corredeiras e vegetação das
margens. Segundo ela, quando esses atributos são restabelecidos, a
melhoria da qualidade da água é conseqüência. A autora faz uma
distinção entre restauração e paisagismo. A criação de “jardins naturais” e
o plantio de árvores ao longo de projetos de canalização não é, segundo
Riley, restauração. Na metodologia de restauração é preciso determinar o
momento histórico ideal do rio, considerando a formação natural e a
ocupação humana, e a partir daí definir o que é possível restaurar.
Muitos córregos e rios foram responsabilizados por prejuízos causados a
propriedades pelas enchentes, e por isso foram canalizados. A principal
ameaça de integração entre um córrego e o ambiente urbano são o
crescimento e a ocupação desordenada do solo na sua faixa marginal,
que ocasiona, muitas vezes, problemas relacionados aos prejuízos das
propriedades por enchentes e erosão. Para Riley (1998) rios e córregos
inspiram práticas desportivas, recreativas, trilhas, corredores verdes,
parques que contribuem para aumentar os valores das áreas comerciais e
dos centros de bairro da cidade.
A vegetação ribeirinha ao longo dos córregos ganha destaque que tem
um importante valor para a estética, sombra e habitats naturais. Os usos
agrícola e industrial tendem a dominar o uso e a gestão dos rios já que
geralmente são os que produzem maior retorno financeiro. Entretanto
Riley (1998) menciona um modesto conjunto de literatura ainda em
desenvolvimento que atribui valores monetários ao lazer, a estética, a vida
selvagem e a comunidade ribeirinha dos rios e córregos. E segundo ela
talvez seja necessário contar com algum exemplar desta literatura para
convencer os órgão políticos da importância dos valores ambientais dos
rios.
De acordo com Riley (1998) uma publicação do National Park Service
apresenta dados quantificáveis que corredores verdes aumentam o valor
de propriedades nas proximidades, ajudam a recreação, atraem turistas,
gastos dos governos, corporações e ainda reduzem os custos com
serviços como estradas, esgotos e controle de inundação. Eles utilizam
como medidas econômicas para quantificar o valor de lugares públicos, os
benefícios intrínsecos de peixes, animais selvagens e dos recursos
ribeirinhos. Os métodos utilizados para quantificar estes valores incluem
informações diretas sobre a disponibilidade do público em pagar pela
valorização do pescado, pelos valores da vida selvagem, e pela
observação indireta de atividades recreadoras e despesas relacionadas
com os recursos.
62
Um outro estudo citado por Riley (1998) foi um relatório escrito para o
Departamento do Interior da Universidade de Kentucky que abordou
especificamente a questão de avaliar o potencial estético e recreativo de
pequenos córregos localizados na cidade ou perto dela. Os rios
analisados foram avaliados pelos seus valores para acampar, fazer
piquenique, trilhas, prazer estético, anelo cênico recursos e recursos
históricos.
A pesquisa sugere que a recuperação de córregos canalizados é uma
forma prática para aumentar a base tributária da comunidade. De acordo
com Riley (1198) o maior valor de um projeto de restauração, pode ser a
restauração de um sentimento de orgulho da comunidade. Com soluções
que privilegiam o uso indiscriminado do concreto, as áreas urbanas estão
cada vez mais desprovidas de qualquer tipo de ambiente natural, o que
afasta a população dessa experiência com a natureza. Devido a este
afastamento entre homem e a natureza, Riley afirma que os conceitos de
ecologia e educação ambiental tornam-se abstratos. Pyle ilustra como
esta extinção de experiência nas áreas urbanas tem contribuído para a
perda de biodiversidade do país. (RILEY, 1998)
Um rio muitas vezes nem é percebido na paisagem, as pessoas não se
interessam com o que pode ser feito dele. Entretanto elas não percebem
que bem explorados os recursos oferecidos podem colocar a cidade no
mapa através de seu potencial para o turismo ou até mesmo quando
usado para aulas ao ar livre de escolas primárias e secundárias. O que
Riley chama atenção é que independente das razões de nosso interesse
em restaurar um rio, primeiramente é necessário se familiarizar com os
problemas físicos do rio e as necessidades do cenário político local.
Riley (1998) cita algumas preocupações que devem ter aqueles cujo
objetivo é restaurar a saúde de rio. Uma de nossas primeiras
preocupações deve ser a de salvar córregos existentes que ainda estejam
saudáveis dos impactos da nova gestão de desenvolvimento urbano,
criando uma regulamentação de uso do solo. Se a situação existente for
conciliar os conflitos entre um córrego e as estruturas existentes, a
preocupação deverá era a de utilizar a tecnologia mais ecológica e
esteticamente sensíveis disponíveis para proteger tanto o fluxo quanto a
estrutura. Uma outra necessidade é de negociar práticas ambientalmente
sensíveis à manutenção do canal por profissionais de engenharia. Tudo
isso exige a interação de profissionais de várias disciplinas.
Primeiramente é necessário identificar os problemas do rio. Riley dicas
de como cada indivíduo pode se comportar caso queira participar
ativamente da restauração de um rio. Ela cita que não devemos assumir
que as pessoas não estarão interessadas ou que têm sentimentos
negativos com relação ao rio, devemos bater a porta dos vizinhos e trocar
idéias. Alguns dos projetos mais inovadores de restauração que viu,
ocorreram em áreas economicamente desfavoráveis. Essas comunidades
estavam usando a limpeza e a restauração do interior dos rios da cidade
para melhorar seus valores de propriedade, atrair empresas para a área, e
reforçar a localização central do centro de negócios que tinha caído em
declínio. Os espaços verdes das cidades além do benefício ambiental
formam uma barreira contra os ruídos causados pelo trânsito.
Tamminga (2007) trata de três projetos de restauração urbana em que
participou, todos relacionados com córregos e corredores de vales
degradados, os do rio Don e do Rouge Park, ambos em Toronto, e do
Nine Mile Run, em Pittsburgh. Inicialmente ele uma visão geral sobre
os três projetos e posteriormente ele liga os estudos de caso a idéias mais
amplas de atividades humanas, introduzindo oito princípios de como se
organizar e se engajar na regeneração urbana.
Segundo o autor sabemos como restaurar fisicamente e bio-geo-
quimicamente, mas ainda deixamos a desejar no campo social, político e
econômico, que são menos compreendidos, talvez por serem mais
complexos. Para ele, as questões centrais estão no campo individual e
coletivo de percepção e valores. Na experiência de Tamminga, “a
restauração de valor duradouro não acontece sem a compreensão do que
leva comunidades e investidores a aceitar mudanças. Portanto, modificar
a natureza urbana é muito mais um processo de modificação da natureza
cívica”. (TAMMINGA, 2007)
Falando sucintamente sobre cada estudo de caso, o primeiro projeto é o
Parque Rouge em Toronto, onde as terras entre os rios Rouge e Little
Rouge ao longo da margem leste da cidade eram uma lacuna no tecido
urbano. Com aproximadamente 200 hectares, não haviam sido ocupados
63
devido a sua topografia irregular e por se localizarem entre os dois rios.
Além disso, os governos municipal e regional eram donos de maior parte
das terras na parte alta do vale, onde a maioria estava reservada para
implantar uma comunidade planejada e um segundo aeroporto. Devido a
vários protestos dos cidadãos isto não se concretizou e as terras
encontravam-se abandonadas.
Dentre várias organizações, a mais importante era a “Save the Rouge
Valley Inc” (Salvem o Vale Rouge), sem fins lucrativos, eles se aliaram a
vários grupos locais e ambientalistas. E assim convenceram o governo a
fazer uma reserva natural urbana, visando preservar a região quase
intacta, e restaurar centenas de hectares de paisagens infraestruturais e
agrárias, e vários quilômetros de margens dos rios. Devido à “colcha de
retalhos” de terras públicas e privadas, adjetivo utilizado pelo autor, o
único caminho para colocar em prática estas idéias seria o diálogo.
Após três anos de negociações, a Aliança do Parque do Rouge foi
formada, e esta seria a responsável por planejar e administrar o parque,
baseando-se em uma parceria inovadora, com representações de uma
ampla parte dos grupos civis envolvidos e todos os níveis do governo.
O segundo caso é o do Rio Don, que atravessa o coração da cidade de
Toronto. O autor inicia seu texto com um discurso saudosista,
relembrando o tempo em que salmãos de água gelada nadavam por toda
a extensão do Rio Don, onde lontras brincavam ao longo de suas
margens, e crianças pescavam e nadavam por todo ele. Era um lugar
bucólico que gerava seus próprios mitos e poesia.
Tamminga (2007), faz uma breve comparação ao Rio Carioca, no Rio de
Janeiro, e diz que assim como no Rio Carioca, ele recebe em suas
cabeceiras água limpa, mas passa por subúrbios até desaguar em um
canal de concreto. O Rio Don possui a maior parte dos 300Km² sua bacia
ocupada. Em suas partes baixas, que foram canalizadas após as
enchentes do início dos anos 90 e em 1954 causadas pelo furacão Hazel,
estão localizadas fábricas, auto-estradas e linhas de trem.
Em 1969, a “Pollution Probe” (Prova de Poluição), uma organização sem
fins lucrativos organizou a simulação do funeral do Rio Don, que previa o
aumento da consciência ecológica gerando novos compromissos públicos
com outros ambientes degradados da cidade. Os defensores do Rio Don,
encorajados por Jack Layton um carismático conselheiro da cidade,
convenceram a prefeitura a designar uma Força Tarefa para trazer o Rio
Don de volta em 1989, e encaminharam um relatório que visava o restauro
do rio marcando uma nova abordagem de planejamento urbano. Esta
nova abordagem trabalharia com processos naturais, ao invés de ir contra
eles, e se transformou em um símbolo de propor sob uma ótica de formas
inovativas e sustentáveis de se refazer a cidade para o século 21.
A Força Tarefa defendia um Don limpo, verde e acessível. Ao longo dos
anos, ganhou apoio crescente desenvolvendo várias estratégias para sua
restauração: foram plantados milhares de árvores e arbustos, vários
alagadiços foram restaurados, saídas de esgoto foram removidas, e
muitas áreas degradadas foram restauradas. Esta foi uma iniciativa que
deu certo e ano após ano recebe recursos financeiros e apoio pessoal,
além disso, é procurado constantemente pela população que usam suas
trilhas para caminhar, andar de bicicleta e por canoístas que buscam as
águas do Don para o encontro anual “Paddle the Don”. Em pensar que
trinta anos atrás ele era considerado um rio morto.
O terceiro e último projeto é o Nine Mile Run, no coração da cidade do
cinturão do aço, Piitsburgh. O Nine Mile Run é um pequeno vale de
córrego que era usado como depósito de resíduos pelas siderúrgicas
locais mais de 80 anos, estando quase totalmente soterrado nos seus
17 km² de bacia. As últimas centenas de metros do córrego antes dele
confluir com o rio Monongahela compreendem o único córrego a céu
aberto da cidade.
Devido à combinação dos fluxos de esgoto com tratamento insuficiente e
de esgoto sanitário ilegal suas águas e margens estavam poluídas. Na
metade da década de 90 a idéia da Agência de Desenvolvimento Urbano
de Piitsburgh era transformar a área em residencial. Seus consultores
tinham em mente um ponto de vista questionável, enterrar o córrego como
uma causa perdida. Mas alguns reagiram e viram o Nine Mile Run como
uma oportunidade de introduzir noções de planejamento baseadas em
ecossistemas e na recuperação de áreas industriais, mantendo a história
64
local da cidade que fez sua reputação no poder corporativo e na paisagem
como uma mercadoria industrial.
Em 2001, foi criada a Associação de Bacia do Nine Mile Run, e
atualmente conta com mais de 300 membros e, segundo Tamminga é
considerada modelo para restauração de cursos d’água em Piitsburgh.
Foram tomadas medidas para preservar traços e artefatos industriais
existentes, que fazem parte e ajudam a contar a história da herança
industrial de Piitsburgh, além disso, houve um incentivo a exposições e
excurssões que reafirmam esta intenção.
Os três projetos apresentados possuem várias características em comum:
além de serem cortados por águas poluídas e de serem considerados
depósitos de lixo, os rios em questão tinham pessoas que se importavam
com eles e que compartilhavam da mesma idéia, que aprenderam como
os defender e como atrair recursos, onde todos foram convidados a
participar do processo. Ao analisar os precedentes dos casos estudados,
Tamminga (2007), distingue vários princípios regenerativos que eles têm
em comum.
Princípio 1 Reconhecimento e inclusão.
A regeneração de paisagens e águas urbanas degradadas demanda
assertividade e exige investimentos, mas segundo o autor, além disso, ela
é um ato de fé coletiva gerada pela compreensão de que o futuro urbano é
modificável e que cabe a nós decidirmos como as cidades se
desenvolverão. As melhores estratégias de regeneração devem refletir o
desejo coletivo de investidores e população que vive nestas paisagens
degradadas, onde a palavra participação deve ser colocada em prática.
Princípio 2 Visionários, alianças e cidadania intencional.
Em cada estudo de caso havia defensores visionários que surgiram de
suas respectivas comunidades, escutando os murmúrios da consciência
comunitária, e por falarem a língua local e terem status de residentes,
tinham credibilidade. A regeneração trata de paisagens negligenciadas e
marginalizadas, e tem que ser vista de forma positiva na vida dos
moradores. Para o autor os cidadãos devem ser vistos como autoridade
moral no projeto de regeneração, pois é feito para o povo com a ajuda
dele, além dos especialistas e governantes.
Princípio 3 Formas de organização e capacidade.
A intenção é que a regeneração una também as instituições (Governos
estaduais, regionais e locais) que têm um papel a cumprir, para que não
haja competições e desentendimento onde a comunidade e meio
ambiente saiam perdendo.
Princípio 4 Transdisciplinaridade.
Múltiplas disciplinas trazem diferentes habilidades e perícias para o
processo de solucionar os problemas, havendo inter-relações entre
ciência e sociedade, com uma abordagem interdisciplinar que permite que
diferentes disciplinas se aproximem e entrem em sinergia.
Princípio 5 A idéia e a estética da regeneração.
Podemos ver ecossistemas degradados através de várias lentes
conceituais e estéticas. Ao pensarmos sobre os processos e resultados da
regeneração, pensamos em “ecologia”. Enxergar a regeneração como
uma chance de trazer novamente vida aos processos ecológicos é o
primeiro princípio. Podemos enxergar a “beleza ecológica” nos processos
e padrões naturais pelo que eles são: diversos, sustentadores da vida, e
até mesmo desconcertantes.
Segundo Tamminga (2007), podemos tratar deste tema a partir da
expressão “metáfora e arte”, onde a regeneração como obra de arte pode
instigar os moradores a agir. Podendo dar forma a idéia práticas fáceis,
alternativas, que sejam ao mesmo tempo frágeis e resilientes. O apoio
técnico pode contribuir para reconectar as pessoas e a natureza, além de
fazer cumprir o projeto de um ecossistema mais saudável e de águas
limpas. A convivência” afeta a justiça social e a igualdade cultural, sendo
muito mais do que fazer uma festa cívica.
65
Ainda segundo Tamminga (2007) a regeneração também inclui um “ritual”
criativo e afirmador da vida, que faz com que as pessoas se unam com
um objetivo em comum, para criar uma conexão consciente que facilita a
transformação pessoal e coletiva. Rituais de plantar árvores, retirar
amostras de águas, incêndios controlados, remover lixo das margens e
dos córregos podem ser um engajamento ativo, construtivo e ritualístico
com os ambientes restaurados.
Princípio 6 Regeneração como pesquisa.
espaço suficiente para abordar novos temas de pesquisa em
regeneração urbana, onde talvez a mais profunda, seja a noção de que
cada projeto de regeneração significativo é original.
Princípio 7 Regeneração como desenvolvimento comunitário.
Projetos de regeneração que se resumem a projetos de engenharia
infraestrutural perdem oportunidade de fazer a diferença na vida diária dos
moradores locais. Todas as oportunidades de gerar desenvolvimento
econômico que respeitam a função ecossistêmica e a beleza devem ser
exploradas, apoiando a capacitação local.
Princípio 8 Regeneração e educação como uma peça de teatro.
O autor acredita que somos marcados pelas paisagens de nossa infância.
Assim, devemos regenerar pelas nossas crianças, assegurando o
envolvimento divertido e inquisitivo delas com estas paisagens e cursos
d’água. Conseqüentemente, ao fazermos isto, investimos nas relações
que sustentam os lugares urbanos regenerativos através dos tempos.
2.4. PROPOSTA UTÓPICA
Quando a situação é tão caótica que parece não haver uma saída,
que se recorrer a utopia para que se possa vislumbrar uma
perspectiva que norteie o pensamento e a ão. (PESSOA,
2006:173)
Esta proposta de intervenção sobre rios urbanos será estudada através do
livro, “Utopia e Cidades: Proposições”, de Denise Pessoa (2006). A
autora propõe a utopia como solução e mostra como o pensamento
utópico pode ser um instrumento para se repensar a arquitetura e o
desenho das cidades, o que consequentemente nos leva a pensar sobre
os possíveis caminhos e metas a serem alcançados para a transformação
da cidade. Seu enfoque principal é nas grandes metrópoles, por
apresentarem problemas de uma magnitude tal, que somente uma
mudança mais radical e profunda poderia reverter o estado crítico em que
se encontram.
A autora desenvolveu um projeto utópico para o trecho retificado do rio
Tiête, localizado em São Paulo. Esta área foi escolhida porque sofreu as
conseqüências de um conjunto de obras e intervenções que o levaram
em conta suas características naturais apresentando grande degradação
ambiental. Sendo assim, a cidade de São Paulo perdeu grande área verde
e de contato com a água, tão importante para o equilíbrio da cidade.
Atenta a qualidade de vida, Pessoa busca compreender a área em estudo,
o percurso das intervenções realizadas pensando a cidade e sua
relação com a natureza e à habitação, visando uma cidade ideal.
Apesar das constantes transformações a que estão sujeitas as cidades,
ainda assim é possível apresentar equilíbrio entre natureza e cidade
construída. Em sua proposta, Pessoa (2006) acredita que é necessário
admitir que a retificação do rio Tiête é problemática e continuará sendo,
pois entra em choque com a natureza do rio. A intenção de sua proposta é
criar possibilidades onde possamos conviver, valorizar e recriar o Tietê,
com todos os seus espaços que sempre lhe perteceram, para isso ela
propõe um retorno ao seu desenho original, com seus meandros, mesmo
que muitas construções existentes sejam removidas. Destas construções,
as que mais agridem o meio ambiente são as avenidas marginais que
66
seccionam a malha urbana, isolando a cidade do contato direto com o rio,
criando-se uma barreira física e simbólica entre sociedade e o rio,
impossibilitando seu aproveitamento pela população.
Mattew Shirts (apud Pessoa, 2006) cita sua esperança de melhoria da
cidade de São Paulo, e diz que a cidade daria um salto se o rio Tiête fosse
despoluído e as áreas ao seu redor recuperadas. Ele diz que a cidade
ganharia orgulho e autoconfiança, ficaria mais delicada e humana,
conseqüentemente diminuiria as taxas de criminalidade.
A leitura do trabalho de Pessoa nos mostra que o fato de um rio
atravessar uma cidade deve ser encarado como um privilégio e não como
um problema ou um elemento segregador. Devemos pensar a proposta
utópica com o objetivo de trazer a natureza para dentro da cidade,
restabelecendo a saúde dos recursos hídricos, tentando tornar a água
potável de modo que o rio volte a ser fonte de vida, símbolo de saúde e
lazer. Além disso, é importante contar com a participação e o
comprometimento da população para se obter êxito em uma proposta com
o porte do rio Tiête.
Para compreender a essência do pensamento utópico e detectar
elementos reincidentes Pessoa (2006), faz um breve estudo de diversas
utopias e projetos visionários, e neste capítulo a autora sugere a
existência de dois aspectos importantes a serem considerados numa
utopia. O primeiro é a ênfase das questões urbanas, conferindo uma
indissociabilidade entre utopia e cidade, onde o traçado da cidade, suas
ruas e edificações são parte integrante de um trabalho utópico. O segundo
é a maneira como o homem lida com a natureza e como ela é inserida no
traçado da cidade.
Utopia segundo o dicionário Aurélio se origina do grego [Do gr. o u, ‘não’,
+ -top(o)- + -ia: ‘de nenhum lugar’.] Sendo que segundo Pessoa, a partir
de 1516, a designação de utopia passou a ser “lugar onde tudo está bem
com a publicação de Thomas More, em Louvain (1516). Sua utopia foi a
primeira obra no gênero da Renascença. A utopia era um “país imaginário,
criação de Thomas More, (...) onde um governo, organizado da melhor
maneira, proporciona ótimas condições de vida a um povo equilibrado e
feliz”. (DICIONÁRIO AURÉLIO, 1975)
Para Pessoa (2006), faz parte da utopia uma crítica ao sistema político,
econômico e social vigente, pois é a partir da indignação de ver as coisas
como são que surge a utopia. O equilíbrio pretendido abrange a
organização social, a distribuição da riqueza, o assentamento urbano e a
maneira como este assentamento integra o ambiente construído e o
natural. A idéia de utopia vinculada à realidade, segundo a autora é
gerada para tornar esta realidade suportável e menos hostil. Apesar disso,
muitas vezes surge um julgamento equivocado que a utopia de forma
pejorativa.
A hipótese de trabalho de Pessoa, como dito anteriormente, é que uma
utopia pode ser um método para definir metas e direções, sendo assim o
primeiro passo que a autora segue é tentar compreender a área em
estudo e o percurso das intervenções que foram realizadas. Portanto
falaremos brevemente sobre o processo de retificação do rio Tietê,
tentando identificar quais os principais problemas apontados por Pessoa
sobre estas intervenções.
A partir do século XIX as várzeas dos rios Tietê, Pinheiros e Tamanduateí
passam a configurar um limite natural para a expansão da área urbana da
cidade que era impulsionado pelo café e posteriormente pela
industrialização. Com o crescimento acelerado da cidade a partir de 1870,
as áreas de várzea começam a serem vistas como áreas potenciais para
ocupação urbana, embora houvesse a necessidade de obras de
drenagem, que o Tietê com seu leito sinuoso e cheio de meandros,
possuía cheias freqüentes. Com uma grande área de inundação, a várzea
do rio era pouco habitada. As poucas casas que existiam neste local
pertenciam a uma população menos abastada.
Uma característica marcante da área de várzea antes da retificação do rio
era seu uso para o lazer e a intensa interação social que acontecia ao
redor do rio, existiam campos de futebol, clubes, competições de remo e
natação que foram interrompidas devido a inadequação das águas. Um
dos argumentos defendidos para a retificação do rio era a necessidade de
sanear o local, insalubre no período das cheias, apesar de se ter
conhecimento de que este não era o mais importante. A credita-se que
este argumento foi utilizado para justificar o interesse da especulação
imobiliária sobre está área. Segundo Pessoa (2006), desde o início do
67
século XX falava-se em retificar os rios Pinheiros e Tietê sob o pretexto de
sanear a cidade. Os primeiros registros que mostram esta necessidade
datam de 1866 e apontam a intenção de usar a várzea para o crescimento
da cidade. A drenagem da várzea e a retificação dos rios Tietê e Pinheiros
constituíram um processo de criação de terra urbana com grandes
possibilidades de ganho para os investidores. (PESSOA, 2006)
A retificação do rio Pinheiros teve como propósito a produção de energia e
foi gerida pela Light, que apresentou a retificação como única alternativa
plausível para resolver os problemas das recorrentes enchentes e da
insalubridade da várzea. Para Pessoa o único interesse da Light era que
seu projeto fosse altamente rentável.
No caso do rio Tietê o projeto ficou sob a responsabilidade da Prefeitura
do município de São Paulo que utilizou a várzea para projetos sociais.
Movidos pela especulação e pela falta de uma legislação fundiária
eficiente, com a justificativa de sanear em face ao crescimento da
população urbana, segundo Pessoa (2006), alternativas poderiam ter sido
adotadas para drenar a várzea sem alterar radicalmente o curso do Tietê,
como: sistema de coleta e tratamento de esgoto adequado concomitante
ao adensamento da malha urbana já existente.
As obras no Tietê foram realizadas nas décadas de 50 e 60, no entanto
mesmo com a canalização as inundações continuaram acontecendo. Além
disso, o assoreamento tornou-se um grave e constante problema a ser
solucionado pelas administrações municipais. Outra questão de igual
importância eram os detritos retirados, pois havia o custo do transporte, o
destino final com a deterioração ambiental de alguma área. Estes
problemas eram ainda agravados pelo crescimento da população urbana
que acaba por alterar o ciclo hidrológico devido as grandes áreas agora
impermeabilizadas.
As obras de retificação do rio Tietê coincidem com a implantação da
indústria automobilística no Brasil e com o plano rodoviário nacional
iniciado no governo Dutra em 1945. O plano incentivava a aquisição de
automóveis particulares. Como os rios e as áreas de várzea eram vistos
como problema ao desenho da cidade, estas áreas foram definidas para
abrigar o sistema viário que faria a conexão entre os dois lados separados
pelo rio.
“Como os rios eram encarados como canal para deposição da
sujeira da cidade e não como fonte de vida, lazer etc., o sistema
viário foi implantado o mais próximo possível desses canais, sem
que tivesse havido qualquer preocupação em deixar uma área
vazia entres eles e o sistema viário, para que constituíssem
elementos de possível preservação de vida que poderia um dia
ser recuperada. Assim, o Tietê ficou sufocado entre duas
avenidas com sete pistas de cada lado, sem qualquer condição de
ser usado pela população para um uso mais nobre como há
menos de cem anos parecia ser sua vocação: a prática de
esportes, a pesca, o lazer... A várzea dos rios e seus mais de mil
campos de futebol, berço da cultura do futebol brasileiro, seus
clubes de regatas, seus barcos, foram tragados pela força da
industrialização, da necessidade da geração de energia elétrica,
da imposição do escoamento da produção industrial, das pistas de
alta velocidade, ligando as várias estradas que partem da cidade
de São Paulo.” (PESSOA, 2006: 118)
Todas essas transformações trouxeram grande degradação urbana. O
constante uso do automóvel torna o sistema viário cada vez mais
sobrecarregado, os limites da cidade ficam cada vez mais distantes
aumentando o desejo pelo automóvel. Todo o processo de tomada de
decisões equivocadas na várzea do Tietê acabou por tornar a situação da
cidade de São Paulo caótica, no entanto, para Pessoa se a várzea fosse
recuperada, a cidade proporcionaria a seus habitantes uma melhora
significativa na qualidade de vida.
Muitas propostas foram feitas para amenizar esta situação caótica em que
se encontra o Tietê, onde estão concentrados os piores problemas,
contudo, esta área é vista como área de grande potencial urbanístico.
Pessoa (2006) apresenta treze projetos para reurbanização do local
calcados em diferentes estratégias. Uns buscam atender o mercado
imobiliário, preocupados em criar solos urbanizáveis a baixo custo, e
outras com caráter utópico priorizam a aproximação homem/natureza em
detrimento das áreas edificáveis.
68
A mais antiga proposta é de Saturnino de Brito cuja intenção era sanear a
várzea do Tietê para resolver o problema das enchentes. Em 1925 ele
iniciou o relatório para melhoramentos do rio Tietê entre Osasco e penha.
Ele propôs retificar o rio, reduzindo seu percurso, projetou diques laterais
para receber a água das cheias, propôs o aprofundamento da calha. Este
trabalho serviu de base para a posterior retificação do rio.
Projeto de melhoramentos do rio Tietê. Fonte: TOLEDO, Benedito Lima de. Prestes Maia e
as Origens do Urbanismo Moderno em São Paulo. São Paulo, Empresa das Artes, 1996;
apud Pessoa, 2006.
Em 1925 João Ulhoa Cintra, além da construção de diques, propõe o
alargamento do canal e a construção de logradouros públicos nas
margens do rio. Segundo Pessoa ele sugere que o traçado seja
regularizado, mas mantendo uma sinuosidade. A intenção dele era criar
uma Avenida Parque margeando esta infra-estrutura.
Proposta de Ulhoa Cintra. Fonte: desenho Denise Falcão Pessoa; apud Pessoa, 2006.
Em 1930 é elaborado o Plano de Avenidas por Prestes Maia para
organizar a ocupação territorial da cidade. Sua proposta constava de três
avenidas perimetrais articuladas com avenidas radiais. Para as marginais
do Tietê ele prevê avenidas de trânsito rápido com prédios monumentais,
instalações esportivas e o aeroporto da cidade.
69
Plano de Avenidas de Prestes Maia. Fonte: TOLEDO, Benedito Lima de. Prestes Maia e as
Origens do Urbanismo Moderno em São Paulo; apud Pessoa, 2006.
Jorge Wilheim, com a colaboração do paisagista José Cordeiro,
apresentou em 1967 um trabalho para reurbanização do Vale do Tietê. A
proposta constava da criação de uma via perimetral que ligava as rodovias
Presidente Dutra, Fernão Dias e Anhanguera. Criou um sistema de
retornos e propôs ampliar o sistema verde, que foi realizado em parte em
1975 com a criação do Parque Ecológico Tietê projetado por Ruy Ohtake
e Burle Marx.
Plano de Prestes Maia. Fonte: TOLEDO, Benedito Lima de. Prestes Maia e as Origens do
Urbanismo Moderno em São Paulo; apud Pessoa, 2006.
O Parque Anhembi de Jorge Wilheim. Fonte: Projeto Tietê. Documento IAB SP. São Paulo,
Ed Pini, 1991; apud Pessoa, 2006.
70
Cândido Malta Campos Filho em 1937 elaborou uma proposta para o
Tietê cujo objetivo segundo Pessoa era organizar corredores
metropolitanos englobando as principais funções da cidade que para eles
eram: habitar, recrear, trabalhar e circular. Sua proposta baseava-se no
transporte ferroviário, pois apresentava menor custo em relação ao
rodoviário.
Estudo de Cândido Malta. Fonte: Projeto Tietê. Documento IAB SP. São Paulo, Ed Pini,
1991; apud Pessoa, 2006.
Proposta de Cândido Malta. Fonte: Projeto Tietê. Documento IAB SP. São Paulo, Ed Pini,
1991; apud Pessoa, 2006.
71
em 1977 é projetado o Parque Ecológico do Tietê com proporções
metropolitanas por Ruy Ohtake e equipe que propunha proteger o Tietê
através da valorização da relação entre cidade e rio. A intenção era
despoluir o rio, sanear a cidade, recuperar as margens tentando corrigir o
equivoco, que para eles foi a construção de avenidas marginais muito
próximas ao rio.
Parque ecológico de Ruy Ohtake. Fonte: Projeto Tietê. Documento IAB SP. São Paulo, Ed
Pini, 1991; apud Pessoa, 2006.
Paulo Mendes da Rocha em sua proposta em 1980, busca tornar São
Paulo numa cidade porto-fluvial, através da criação de portos fluviais e de
sua integração com o sistema ferroviário, do qual tenta retomar.
Projeto de Paulo Mendes da Rocha. Fonte: Projeto Tietê. Documento IAB SP. São Paulo, Ed
Pini, 1991; apud Pessoa, 2006.
Um outro trabalho que tinha como enfoque recuperar os espaços verdes
através da criação de um Parque para o Tietê era o de Oscar Niemeyer e
equipe de 1986, cuja intenção era remover o lado sul da avenida marginal
e implantar áreas verdes com infra-estrutura de esporte, lazer, clubes,
restaurantes, habitações, escritórios, centro cultural e cívico.
Proposta de Oscar Niemeyer. Fonte: Projeto Tietê. Documento IAB SP. São Paulo, Ed Pini,
1991; apud Pessoa, 2006.
72
Proposta de Oscar Niemeyer. Fonte: Projeto Tietê. Documento IAB SP. São Paulo, Ed Pini,
1991; apud Pessoa, 2006.
Décio Tozzi em 1988 propõe a retirada das marginais do entorno imediato
dos rios e a criação de um parque linear urbano dotado de ciclovias,
quadras para esportes, um grande calçadão, assim ele pretende conferir
uma nova imagem a paisagem das calhas dos rios através deste
programa de convívio e de lazer.
Tietê por Décio Tozzi. Fonte: Projeto Tietê. Documento IAB SP. São Paulo, Ed Pini, 1991;
apud Pessoa, 2006.
Roberto Loeb em 1990 apresenta uma proposta mais ousada onde busca
desenvolver um sistema metroviário aéreo, com a construção de edifícios
de serviços de 60 pavimentos. Estas torres seriam a estrutura que
suportaria os cabos para as linhas do metrô, além de funcionarem como
estações elevadas. Estas deveriam abrigar em sue programa escritórios,
lojas, cinemas e habitações.
Tietê projetado por Roberto Loeb. Fonte: Projeto Tietê. Documento IAB SP. São Paulo, Ed
Pini, 1991; apud Pessoa, 2006.
Seguindo nesta mesma linha utópica citamos Marcos Acayaba que em
1990, faz sua proposta baseando-se na “costura” da estrutura
metropolitana de São Paulo através de edifícios pontes, que aumentariam
a densidade da cidade e conectariam os dois lados do rio. Com relação ao
programa dos edifícios, estes teriam estacionamentos e áreas comerciais
nos andares mais baixos e habitações nos pavimentos mais altos.
Em 1996 a Prefeitura do município de São Paulo fez um concurso
nacional de idéias para o redesenvolvimento do entorno dos rios Tietê e
Pinheiros, do qual o projeto de Bruno Padovano foi vencedor. Segundo
Pessoa (2006) ele tinha a intenção de repensar a relação entre as partes
do território para organizar o meio ambiente urbano adotando estratégias
para reverter o processo de degradação do meio ambiente, preservando a
paisagem e a natureza. A proposta consistia na despoluição dos rios e na
sua utilização para a navegação e transporte de carga, criação de lagos
73
artificiais, redesenho dos transportes integrando o trem, metrô, transporte
fluvial e individual.
O último projeto mencionado por Pessoa é o de Alexandre Delijaicov de
1998, que elabora uma orla fluvial para Grande São Paulo, integrando o
rio a cidade, destacando as funções de porto fluvial, parque e habitação.
Segundo Pessoa (2006) ele critica as ferrovias, as canalizações e as
avenidas marginais que isolam o rio da cidade.
Canal de derivação de Delijaicov. Fonte: Os rios e o desenho da cidade: Proposta de Projeto
para a Orla Fluvial da Grande São Paulo. Dissertação; apud Pessoa, 2006.
Após apresentar cada projeto Pessoa faz uma análise geral e critica a
amaneira como todos os projetos com a exceção de Niemeyer não tocam
na questão principal que é o isolamento do rio provocado pelas avenidas
marginais que seccionam o espaço da várzea e ainda impedem a
aproximação das pessoas para que possam ter contato direto com as
águas dos rios e utilizar suas margens para o lazer.
Todos os trabalhos adotam a situação atual do rio como imutável, pouco
refletem sobre os erros de intervenções anteriores no processo de
ocupação da várzea, ainda que muitos reconheçam está invasão. Para
Pessoa eles tratam esta importante questão superficialmente, pois além
de aceitarem a permanência das 14 pistas marginais, aceitam todos os
elementos que formam a área degradada como inalteráveis. Niemeyer
percebe a necessidade de se retirar a Avenida Marginal, mesmo que em
apenas um dos lados da margem. Alguns projetos apesar de sugerirem
um rio navegável, o pensaram na inviabilidade desta questão caso as
avenidas marginais permaneçam e a retificação do rio for mantida.
Para Pessoa (2006), apesar do projeto de Prestes Maia estar coerente
com a época de sua concepção, hoje podemos confirmar que o modelo
que constrói avenidas no fundo de vale destrói a possibilidade de
integração dos rios que são fortes elementos naturais da paisagem. o
projeto de Jorge Wilheim toca em apenas um dos problemas do rio que é
aliviar o trânsito das marginais. Apesar de Ruy Ohtake reconhecer o
problema da construção das marginais substituindo-as por um parque que
protegeria o rio, este parque constituiria um limite marcante entre as zonas
da cidade.
Após compreender a área de estudo através de sua história, intervenções
e projetos propostos, Pessoa (2006) propõe a elaboração de uma
proposta utópica que segundo ela dificilmente seria implantada pelo fato
da área em estudo ser densamente urbanizada e a implantação deste
projeto implicaria na retirada da grande parte das construções existentes
que possui usos bastante diversificados.
Em sua proposta Pessoa recusa as condições atuais e todas as
intervenções equivocadas realizadas como: a retificação do rio, a
ocupação da várzea e a implantação das marginais junto ao canal. Além
disso, segundo a autora, a cidade é desprovida de lugares aprazíveis e o
que fixa a população neste local é a oferta de emprego e as possibilidades
de sustento.
A abordagem utópica permite que se compreenda a essência do problema
e então se proponha uma solução transformadora e definitiva,
contemplando os reais anseios dos cidadãos. (PESSOA, 2006) A intenção
74
é que a utopia hoje possa ser um ponto de partida para o planejamento
urbano. Devemos pensar a cidade com um olhar visionário, buscando
corrigir os erros na origem, sem medidas paliativas, sem nos ater a
valores econômicos, o que nos limita a resolver os problemas
superficialmente na maioria das vezes. Mesmo que o projeto não seja
totalmente aproveitado, este pode indicar um rumo na direção correta a
ser adotada. Pensar utopicamente não é propor algo impossível, mas
buscar um caminho viável dentro do caos urbano, prevendo soluções e
mudando o curso da história, mesmo que as idéias utópicas apontem uma
transformação mais radical do é possível executar.
“As cidades novas, construídas num terreno livre onde
nunca existiu uma cidade, tal como foram propostas
inúmeras vezes, não constituem a utopia de hoje. A
utopia atual é a cidade nova sobre a existente, lidando
com todas as suas dificuldades.”
(Pessoa, 2006, p.141)
A autora defende o projeto utópico como realizável e diz que utopia como
uma coisa impossível de ser concretizada é uma visão equivocada. A
única coisa que torna o projeto utópico irrealizável é o interesse em
manter as coisas como elas são.
Atualmente a cidade de São Paulo e outras grandes metrópoles
encontram-se diante de uma situação extremamente conflitante e
calamitante com relação a degradação da paisagem, que propor
mudanças superficiais para aliviar uma pressão momentânea e pouco
profunda não seriam suficientes para amenizar o clima hostil e a falta de
perspectiva para as soluções.
O Tietê vinha sofrendo com a degradação de suas águas antes da
retificação devido ao lançamento de lixo e esgoto. Com uma visão que
não levava em conta o valor natural desta paisagem nem o bem-estar da
população fazendo valer apenas os interesses econômicos, a cidade de
São Paulo perdeu grande área verde e de contato com a água para a
especulação imobiliária com a retificação do Tietê, que eliminou seus
meandros, reduziu seu comprimento, modificou drasticamente a
velocidade de suas águas e a fauna e flora local.
Rio Tietê perto de Mogi das Cruzes. Fonte: OHTAKE, Ricardo. O Livro do Rio Tietê; apud
Pessoa, 2006.
A retificação aliada a poluição das águas acabaram por gerar diversos
problemas como: a falta de oxigênio das águas que impedem a vida
aquática, o aumento da velocidade das águas e o concreto que dificulta a
existência de vegetação para abrigar os peixes, a falta dos meandros que
torna o rio desapropriado para o habitat dos peixes, desova e alimentação.
A vida social que existia as margens do rio foi derrocada, os esportes
náuticos foram cancelados, os campos de futebol extintos e a dinâmica
social interrompida.
São Paulo perdeu a escala do pedestre, o andar a é pouco viável e
geralmente não es integrado aos meios de locomoção do trajeto do
cidadão, assim as relações sociais tornaram-se cada vez mais escassas
sendo continuamente prejudicadas pela maneira como a cidade se
articula. A concretização da cidade oscila entre o mundo real e o utópico.
Quanto mais seu desenho se aproxima do utópico, melhor será a cidade.
(PESSOA, 2006) São Paulo raramente vislumbrou momentos de utopia,
sendo seus alicerces calçados no lucro de investimentos imobiliários, sem
levar em conta o bem estar da coletividade.
75
Para resolver o problema do Tietê, para que ele restabeleça sua saúde é
necessário admitir que a retificação é, e sempre será um problema tendo
em vista que entra em conflito com as características naturais do rio. A
retificação aumenta a velocidade das águas, que provoca assoreamento
devido ao material trazido pela violência das águas, o que diminui a calha
causando mais inundações. Consequentemente existe a constante
necessidade de a Prefeitura estar promovendo ações de
desassoreamento a cada chuva mais forte.
Portanto Pessoa (2006) propõe que o rio volte a ter seu desenho original,
com seus meandros, removendo as construções existentes que forem
necessárias, inclusive às avenidas marginais que se apresentam
extremamente agressivas ao meio ambiente, isolando o rio e seccionando
a malha urbana. A intenção é retirar este obstáculo intransponível que
impossibilita qualquer perspectiva de uso.
Traçado atual e anterior à retificação do rio Tietê. Fonte: Pessoa, 2006.
Área do projeto utópico do rio Tietê. Fonte: Pessoa, 2006.
Segundo a autora a baixa qualidade de vida em São Paulo está
diretamente ligada a precariedade dos deslocamentos da população. O
grande número de veículos é uma questão preocupante e graças a ele a
cidade cada vez mais expande suas fronteiras, muitas vezes invadindo
áreas de preservação ambiental, mananciais enquanto o centro da cidade
esvazia-se. Mas diminuir a frota dos veículos particulares não resolve o
problema que o transporte de carga também se mostra bastante
significativo. Para este problema Pessoa (2006) cita como solução um
rodanel, e para os transportes de carga que inevitavelmente abasteceriam
a cidade a autora não cita nenhuma solução apenas diz que estes
deverão ser acomodados de alguma forma caso a cidade mantenha a
mesma população.
Quanto ao rio, este não deverá receber nenhum tipo de dejeto para que
possa se recuperar e voltar a ter peixes, pássaros e vegetação. O esgoto
deve ser devidamente tratado. Assim o rio poderá voltar a ser um lugar
para a prática de esportes náuticos, natação e lazer. A área de várzea
novamente reconquistada com a remoção das avenidas marginais deverá
ganhar um parque linear, que deverá permear a malha urbana,
integrando-se ao desenho da cidade e oferecendo a população contato
direto com o verde. A autora pretende desenvolver a área do rio, a escala
humana e recuperar os campos de futebol perdidos. Consequentemente
pretende-se restabelecer a possibilidade de contato com a água, tentando
devolver à população a possibilidade de contato com a água através de
usos náuticos já empreendidos anteriormente.
A intenção é fazer da bicicleta uma opção de transporte para quem mora e
trabalha na região através da criação de ciclovias no parque e em áreas
adjacentes, estas deverão estar conectadas ao metrô que deverá ter
estacionamento para bicicletas e vagões adequados para o transporte de
passageiros e suas bicicletas. Pontes para pedestres e ciclistas ocorreram
em diversos pontos para a travessia sobre o rio, com distancias sempre
menores que 400m estas deverão ser baixas para que as pessoas
possam pescar sobre elas e se debruçarem para ver a paisagem. Para
manter o nível da água sempre constante serão construídos lagos e
canais de derivação, estes canais assim como o Tietê deverão ser usados
para a navegação principalmente de carga.
76
Atualmente existe um Parque Ecológico do Tietê no trecho leste da cidade
que separa Guarulhos de São Paulo, que este possui poucos acessos,
e apesar de ser uma importante área verde, o está conectada com a
malha urbana dos dois municípios. O projeto proposto por Pessoa (2006)
tem a função de conectar a zona norte ao resto da cidade com avenidas
ligando o norte e o sul da cidade, formando uma área de convívio para
todos os habitantes da cidade.
Devido à dimensão desse projeto para a implantação faz-se necessário o
envolvimento da sociedade que precisa entender a proposta e desejar que
ela se concretize. Infelizmente a maior parte das intervenções urbanas
realizadas pelas municipalidades favorece a interesses econômicos de
pequenos grupos e mesmo diante dessa situação a população de São
Paulo tem sido omissa.
A população teria um papel decisivo nesse tipo de intervenção se
reivindicasse para si o direito de escolher o que melhor lhe
convém, e não delegasse esse enorme poder para
administradores municipais que frequentemente têm uma visão
imediatista, seja para favorecer um determinado grupo ou para
marcar sua administração. (SIMONNDS: 1978, p.138; apud
Pessoa: 2006, p. 157)
Sobre o Tietê para Pessoa (2006) qualquer argumento que inviabilize uma
obra de retomada de seu curso original devido às construções hoje
existentes é fútil se olharmos sob a ótica de sua trajetória natural. Como
objetivos a proposta de Pessoa para o rio Tietê terá as seguintes bases:
(I) trazer a natureza para dentro da cidade, (II) fazer com que o Tietê volte
a ser fonte de vida, água potável, saúde e lazer, (III) contar com a
participação da população da cidade de o Paulo, que deve
compreender a proposta, envolver-se com a causa e lutar por ela.
Após apresentar as idéias que embasam a Proposta Utópica e baseando-
se nos três objetivos explicitados acima Pessoa faz algumas proposições
para o rio Tiête:
I Recompor o traçado original do rio, com suas curvas e meandros
com isso espera-se recuperar o ecossistema destruído pela retificação,
baixando a velocidade das águas, restabelecendo a vegetação das
margens e a fauna.
II Retirar as avenidas marginais dos dois lados do rio que são uma
barreira entre o rio e a cidade, que por serem vias expressas
inviabilizam a passagem do pedestre. Para tal é necessário rever o
sistema de transporte que as avenidas são de grande importância para
a circulação de veículos da cidade. A intenção da autora é investir na
substituição de aproximadamente 50% de transporte individual pelo
público.
III Transformar a área de várzea do rio num parque linear ainda que
com algumas construções. A cota determinada é a de 725m, escolhida por
ser a cota das ferrovias e por estar próxima ao nível máximo registrado da
enchente de 1929.
IV Fazer com que a cidade se integre ao rio a idéia é que em alguns
trechos a malha urbana possa tocar as águas do rio, entrelaçando
ambiente natural e construído o que ajudará a intensificar o uso do
parque.
V Criar diques e canais de derivação no encontro dos rios afluentes para
conter as águas das cheias, buscando manter o vel do rio constante
com este problema de difícil solução, as cheias, os diques construídos ao
longo do rio serão fortes elementos paisagísticos usados para lazer,
prática de esportes náuticos e pesca.
VI Recuperar os 1000 campos de futebol outrora existentes a idéia é
tornar a prática do esporte mais acessível já que os campos públicos na
cidade de São de Paulo são cada vez mais escassos, além disso, os
campos estão ligados a idéia de promover saúde através da prática de
esportes, além do futebol estes espaços poderiam ser usados para
caminhos.
VII Construir um sistema viário local para atender às diversas áreas
abrigadas pelo parque de modo que este não impossibilite o uso da área
para o lazer.
77
VIII Desenvolver a rede de metrô tanto subterrâneo quanto de
superfície para integrar a cidade.
IX Criar uma rede cicloviária integrada ao metrô na área do parque
onde o metrô deve possuir vagões próprios para o transporte de bicicletas
junto a seus usuários, além da existência de estacionamentos para
bicicletas.
X Implantação de edifícios-torre residenciais, com aproximadamente
300m de altura para abrigar uma parte da população retirada da área de
várzea, além de residências, estes devem abrigar usos comerciais e
institucionais. A existência de muitos edifícios residenciais ajuda a garantir
o uso e a manutenção do parque.
XI Manter algumas das grandes indústrias que empregam muita mão-
de-obra na área do parque não existe a necessidade de se retirar todas
as indústrias desta área.
XII Bloquear a ligação leste/oeste na área do parque esta ligação deve
ocorrer fora dos domínios do parque devendo se dar tanto a norte quanto
ao sul, através de duas avenidas do tipo bulevar e não vias expressas.
Devem, portanto ter semáforo, cruzamento e travessias de pedestre.
XIII Criar um sistema de segurança para o parque com um sistema de
monitoramento com equipamentos eficientes como sistema de
comunicação, helicópteros e helipontos para se chegar rapidamente ao
local de ocorrência do crime. O próprio uso permanente fará com que a
segurança seja efetiva. Os moradores e usuários serão os guardiões do
parque.
XIV Construir um coletor tronco para captar o esgoto da cidade e levá-lo
para uma estação de tratamento adequada a despoluição dos rios da
cidade é fundamental para que o parque seja viável.
Projeto Utópico para o Rio Tietê. Fonte: Pessoa, 2006.
Trecho do Parque Utópico do Rio Tietê. Fonte: Desenho Sylvia Dobry; apud Pessoa, 2006.
Para a autora é importante evidenciar que a proposta do Parque Utópico
do rio Tietê é viável com uma grande diminuição de veículos
particulares e a conseqüente transformação do sistema viário. Haveria
dentro do parque um sistema viário para dar acesso aos edifícios
existentes, para evitar que sejam usados como alternativa para atravessar
a área terão um traçado tortuoso. Estações de metrô no parque garantirão
o acesso de todos ao parque e ao rio. A criação de um canal de derivação
ao sul do Tietê, fará com que as águas dos rios afluentes sejam captadas
antes de atingir o rio. Este juntamente com lagos artificiais ajudarão a
manter o nível do rio constante.
78
A intenção é que com a retirada das marginais e com a construção de
uma rede metroviária a cidade assuma uma postura predominante de
pedestres e ciclistas. Com a diminuição da frota de automóveis nas ruas,
a autora pretende diminuir o leito carroçável e ampliar as calçadas.
Pessoa (2006) acredita que a construção do Parque Utópico do Rio Tietê
trará conseqüências benéficas, não para a área da várzea, mas para
toda a cidade e ainda pode servir de exemplo a um nível mundial.
que se buscar um equilíbrio entre as polaridades da
metrópole. Deve haver uma balança entre ambiente
construído e ambiente natural, solo impermeável e solo
permeável, veículos e pedestres, assim por diante. As
grandes metrópoles, principalmente as que tiveram um
crescimento muito rápido, tendem a apresentar graves
problemas urbanos. As megalópoles do século XX tiveram
crescimento desordenado. Os planos diretores vieram
com atraso, na tentativa, muito mais de diminuir falhas
existentes, do que ordenar seu crescimento. (PESSOA,
2006:173)
A proposta apresentada é bastante viável e em sua intenção es o
conceito original de utopia que é conseguir um mundo melhor e possível.
A utopia urbana pode ser útil na tentativa de buscar o embelezamento
para a cidade através de intervenções sem caráter imediatista os quais
muitas vezes o planejamento urbano está submetido. O tempo deixa de
ser o período das administrações públicas e passa a ser o tempo
necessário para se resolver o problema na integra.
Apesar de a utopia incentivar grandes transformações, estas não
precisam ocorrer de forma traumática, devem ser executadas com
planejamento gradativo de que as intervenções e custos tornem-se
viáveis. Para Pessoa a utilidade de uma utopia, no que se refere ao
desenho da cidade, é colocar em discussão a cidade e seu destino num
determinado momento histórico. Assim como aconteceu com Le Corbusier
quando elaborou o Plan Voisin, que buscava uma cidade industrial melhor
do que as que estavam sendo feitas. Nesta mesma perspectiva podemos
citar Frank Loyd Wright, que criou a Broad Acre City onde ele criticava as
grandes aglomerações urbanas e propunha um desadensamento.
Para Pessoa (2006), apontar um caminho sem basear-se na utopia é
quase impossível que este não seja apenas um paliativo. E em longo
prazo este caminho pode tornar-se ainda, mais um obstáculo. A autora
defende o uso da utopia como ferramenta para o planejamento urbano. Ao
discorrer sobre esta abordagem ela trás a tona algumas discussões como,
por exemplo: a recuperação dos meandros que se torna tão artificial
quanto foi sua retificação, mais este deixa claro que esta recuperação de
seu desenho tem importância simbólica e permite ao rio um
comportamento semelhante ao que teve no passado. A recuperação da
várzea com a criação de um parque permite que o rio por si execute
novos desenhos, e este corredor verde ainda ajudará na manutenção da
vida de algumas espécies animais.
A critica feita por Pessoa (2006) o se restringe à área do Parque, ela
abrange toda São Paulo que o projeto tem influencia metropolitana. O
projeto devolve a cidade o espaço público, que atual conjuntura vem
sendo privatizado, o que acaba por restringir o uso em função de
interesses comerciais das empresas que os administram. A intenção de
Pessoa é que haja a socialização do solo, o parque deverá ser totalmente
permeável pelo pedestre independente de uma determinada área sendo
usada por uma fábrica, por exemplo. A proposta prevê a diminuição
drástica do numero de veículos particulares na cidade e o aumento do
transporte coletivo.
Apesar de propor uma utopia, Pessoa afirma que aquele que elabora uma
utopia sabe bem que ela não se concretizará, pois o que se obtém de
concreto não é sua realização, mas a manutenção da oposição, o que não
a torna menos relevante, ao contrário, reafirma seu papel de crítica. A
maneira como construímos a cidade terá impacto nas gerações futuras.
Se o que se tem feito o surte efeito, a necessidade de se buscar
outros caminhos. E ao término do projeto, Pessoa diz ter percebido que
não só é urgente uma transformação como a que propõe como é insano
não rumar para a direção em que o projeto aponta.
79
CAPITULO III
Processo de ocupação urbana na bacia do Rio Botas
80
Fotos da página 79:
1. Estrada de Ferro. Fonte: IPAHB. Disponível em: http://www.ipahb.com.br/queima.php
2. Igreja Santo Antônio da Prata. Fonte: Panorama. Disponível em:
http://www.panoramio.com/photo/276557
3. Torre Sineira da Igreja de N. S. de Piedade de Iguassu Nova Iguaçu.
Fonte: http://www.turisbaixada.com.br/patrimoniohistorico.htm
4. Belford Roxo. Fonte: IPAHB, 2006.
81
"Nada no mundo, talvez, haja tão bello quanto os arredores do Rio de
Janeiro (...). Aqui, a vegetação nunca repousa, e em todos os mezes do
anno, bosques e campos estão ornados de flores. (...) Florestas virgens,
tão antigas quanto o mundo, ostentam sua magestade ás portas da capital
brasileira a contrastarem com o trabalho humano. (...) O trato que percorri
para alcançar Aguassú (do engenho de Santo Antonio de Jacutinga à Villa
Iguassú) é menos habitado do que o que atravessei hontem. Coberto de
matta; tornase cada vez mais montanhoso. (...) Mais adiante
desenvolvem-se as montanhas (serra do Tinguá), em semi-círculo, e
offerecem nas encostas majestoso amphiteatro de matta virgem."
(AUGUSTO DE SAINT-HILAIRE,1822)
10
10
O texto supracitado se refere à segunda viagem do naturalista francês, AUGUSTO DE
SAINT-HILAIRE, que saiu do Rio de Janeiro com destino a Minas Gerais e a São Paulo em
1822. O texto nos permite perceber um passado onde o “verde” era constante na região.
Trecho foi retirado do Plano Diretor de Recursos Hídricos da Bacia do Rio Iguaçu/ Sarapuí,
Caderno de Caracterização da Vegetação e Histórico de Ocupação da Bacia Iguaçu/
Sarapuí, IG-RE-005-R0, Convênio SERLA COPPE/UFRJ, 1994.
82
O conhecimento dos processos de formação histórico e cultural da cidade
é essencial para a reflexão e a investigação do desenho urbano existente
(LAMAS, 2000; apud Guilardi, 2004). É importante destacar que a história
da ocupação na Sub-bacia do Iguaçu-Sarapuí-Botas, está relacionada à
história do município de Nova Iguaçu, que desde a sua criação em 1833,
continha as terras que hoje pertencem aos municípios de Duque de
Caxias, São João de Meriti, Nilópolis, Japeri, Queimados, Mesquita e
Belford Roxo.
Neste capítulo pretendemos entender a maneira como a paisagem urbana
correspondente ao território dessa bacia hidrográfica foi construída. Além
disso, entender como ocorreu o processo de transformação e degradação
dos rios urbanos em especial do Rio Botas, recorrendo à história do
processo de ocupação do território que corresponde a essa bacia
hidrográfica, na região da Baixada Fluminense, fazendo uma análise
interpretativa desta evolução, enfatizando seus valores e significados
atribuídos aos rios pelo poder público e pela população. Na última parte
abordaremos os principais problemas ambientais que identificamos hoje
neste território.
83
3. Processo de ocupação urbana na bacia do Rio Botas
3.1 Origem e evolução da cidade as margens do rio Botas:
A história de Nova Iguaçu começa no século XVI, com a doação da
Capitania de São Vicente (1532) a Martim Afonso de Souza, pela Coroa
portuguesa. Dela faziam parte as terras no vale dos rios Iguaçu, Meriti,
Sarapuí e Estrela (Inhomirim), habitada pelos índios tupinambás. Estas
eram constituídas de terrenos alagadiços (baixada), pantanosos, e das
serras de onde desciam muitos rios. A partir de 1566, os colonizadores
foram se estabelecendo pelos vales dos rios que drenam a Baixada
Fluminense, principalmente ao longo do rio Iguaçu.
Antes dos portugueses chegarem ao Rio de Janeiro por volta de 1503, os
índios Jacutingas já habitavam a margem ocidental do rio Iguaçu. No
processo de ocupação e de uso das terras que se desenvolveu a
colonização está à origem de muito dos graves problemas ambientais que
vemos hoje na bacia dos rios Iguaçu, Sarapuí e Botas, especialmente os
que estão relacionados às freqüentes inundações. A ocupação
inadequada e os ciclos econômicos que se seguiram afetaram o equilíbrio
ecológico de forma irreversível em grande parte da bacia, trazendo à tona
a extrema fragilidade do rompimento do ciclo morfodinâmico
11
.
Toda região era coberta por florestas, que tinham a importante função de
conter os processos naturais de erosão e ainda regulavam o ciclo
hidrológico, com o continuo desmatamento desta cobertura natural os
processos de erosão e os ciclos hidrológicos foram sendo drasticamente
afetados agravando as condições das inundações dos terrenos. O
primeiro ciclo econômico contribuiu para o agravamento deste problema,
foi o ciclo de exploração do pau-brasil (Cesalpineae echinata), que possui
como característica o fato de ser extremamente predatório, e graças a isto
teve curta duração, pois a espécie foi levada rapidamente à extinção.
11
Referente a morfodinâmica que significa - sf (morfo¹+dinâmica) Biol Estudo das condições
atuais e intrínsecas que determinam a forma dos organismos e a sua evolução morfológica.
Com a extinção do pau-brasil, a cana-de-açúcar passou a ser à base da
colonização dentro deste contexto de evolução do histórico econômico da
colonização brasileira. O ciclo da cana tem início em 1532 quando Martin
Afonso de Souza trouxe mudas de cana doce da Ilha da Madeira para sua
capitania, a de São Vicente. Somente em 1611 a cana começou a ser
cultivada em Iguaçu. A ocupação açucareira foi sendo desenvolvida
concomitantemente ao corte da floresta para extração de madeira, lenha e
instalação da monocultura de cana, além de outras culturas secundárias
como arroz, feijão, milho e mandioca.
Em 1555 acontece uma invasão francesa que tinha por objetivo fundar a
França Antártica, para servir de refúgio aos fiéis perseguidos na Europa.
Em 1567 ocorre a expulsão dos franceses e as capitanias voltam ao
domínio da Coroa portuguesa. Os colonizadores resolveram povoar o
Recôncavo Fluminense. Para garantir o povoamento e evitar novas
invasões, o doadas as primeiras sesmarias e a do Iguaçu cabe a Brás
Cubas, Antônio Vaz e Manoel Ribeiro, entre outros. Estes começaram a
se fixar às margens dos grandes rios, em especial os rios Iguaçu, Sarapuí,
Meriti, Saracuruna, Jaguaré, Pilar e os vales dos rios Marapicu, Jacutinga,
Mantiqueira e Inhomirim. Chegam com eles os primeiros colonos
portugueses que começam o cultivo das terras, com plantações de arroz,
milho, feijão, mandioca e cana-de-açúcar nas encostas da serra. Nas
áreas inundadas foram sendo implantadas olarias, que aproveitavam a
excelente plasticidade do barro.
Em 1575, o capitão-mor Belchior Azeredo construiu uma pequena capela
em louvor a Santo Antônio, no sode uma colina a 750 metros da maior
curva do rio Santo Antônio (atual rio Sarapuí) em terras jacutingas. Neste
local ele fundou o Engenho de Santo Antonio da Aldeia de Jacutinga
(atual município de Belford Roxo), próximo ao local estabelecido para
atividades portuárias. Nas décadas posteriores, a capela foi alçada à
categoria de capela colada, de capela curada e finalmente de igreja matriz
(freguesia), e neste local permaneceu por mais de 130 anos, até a década
de 1700.
84
Hidrografia da Baixada Fluminense - em destaque o rio Botas. Fonte: Atlas PCNI, 2004.
A partir do final do século XVI, com a ocupação da bacia dos rios Iguaçu,
Sarapuí e Meriti efetivada, as tradicionais trilhas indígenas viraram
estradas. Uma delas, a longa trilha dos indígenas jacutingas, foi
transformada na Estrada Geral, e ligava a Freguesia de Nossa Senhora
da Conceição de Marapicu (atual Marapicu) à Freguesia de Santo Antônio
da Aldeia dos Jacutingas (atual Belford Roxo, próximo à atual fábrica da
Bayer). A Estrada Real seguia em direção à freguesia da Candelária
passando antes pelo território da Freguesia de São João do Orago do Rio
Merity, do porto da Pavuna, de Inhaúma e da Freguesia de Nossa
Senhora da Apresentação do Irajá.
Estes caminhos constituíram, por longo tempo, a melhor opção terrestre
para adentrar o recôncavo fluminense, já que o acesso era dificultado pela
grande quantidade de pântanos e rios caudalosos de considerável largura
que formavam obstáculos naturais. A colonização da região exigia rotas
para o escoamento da produção dos engenhos. Inicialmente, isso foi
possível graças às vias fluviais, quando os rios serviam de estradas, uma
vez que as trilhas indígenas (e as estradas derivadas delas) eram rústicas
e os rios eram o modo mais fácil de adentrar no recôncavo fluminense
para a sua colonização.
Quando se começou a explorar ouro em Minas Gerais, este era levado até
a Freguesia de Nossa Senhora dos Remédios de Parati em Paraty por via
terrestre e depois até o Rio de Janeiro por via marítima, de onde seguia
para Portugal. O caminho que se iniciava em Parati e seguia para o Rio
era conhecido por “Caminho dos Guaianás”. Sobre este caminho PERES
(1993) apud Oliveira (2007), comenta a visita do governador:
“jornada longa e penosa, exigindo embarque e desembarque
dentro da Baía de Sepetiba, apresentando perigos decorrentes do
estado do mar e da presença de baleias e piratas entre Angra e
Parati. [...] Artur de levou 99 dias, sendo 43 de marcha para
chegar às Minas. Em carta ao rei expõe os planos para abertura
de uma nova estrada, mencionando-lhe o projeto do bandeirante
paulista Garcia Rodrigues Pais, que reduziria a 15 dias o tempo
que se gastava em 3 meses de viagem, sendo o mesmo aprovado
por sua majestade.”
(Peres, 1993; apud Oliveira, 2007).
85
Ruínas da igreja de Nossa Senhora da Piedade, freguesia de Nossa Senhora da Piedade do
Iguaçu (foto com data indeterminada, certamente início do século XX) Fonte: Wikipedia
Ruínas de Iguaçu Velho. Torre sineira da igreja de Nossa Senhora da Piedade e, ao fundo,
cemitério de Nossa Senhora do Rosário de 1875 (foto de cerca de 1970) Fonte: Wikipedia
Com o litoral infestado por corsários e piratas, foi necessário criar um
caminho terrestre alternativo para escoar o ouro das Minas Gerais até o
Rio de Janeiro. Essa ligação foi criada por Garcia Rodrigues Paes, no
século XVII, e ligou a Paraíba do Sul ao porto Pilar do Iguaçu. Por isso foi
chamada de Caminho do Pilar, ou popularmente conhecida por Caminho
Novo das Minas, por ser alternativo ao antigo Caminho de Parati. Do porto
Pilar, localizado no rio de mesmo nome, podia-se navegar até o rio Iguaçu
(rio onde se localiza a foz do rio Botas) que desemboca no interior da Baía
de Guanabara, que era área mais protegida contra ataques de piratas e
corsários devido as fortificações existentes. No que concernente ao
traçado deste novo percurso, Gerson (1970, p.18); apud Oliveira (2007),
descreve com detalhes o Caminho aberto por Garcia Rodrigues Pais:
“O seu Caminho Novo, partindo de Borda do Campo, passava
pela Garganta de João Aires, na Mantiqueira, e pelas terras de
João Gomes (hoje Palmira), pelas de Matias Barbosa (bêrço de
Juiz de Fora), por Serraria, Entre Rios e Paraíba do Sul, Barra do
Piraí, Macacos (lugar de outra de suas sesmarias) e descendo
pela Serra da Estrêla, um tanto para o lado da do Tinguá, atingia a
planície nas proximidades do sítio que depois seria Posse, onde
haveria o engenho do Capitão Mor Francisco Gomes Ribeiro, o
Môço, com sua capela de N. S. de Cássia (perto da atual Fábrica
Nacional de Motores) e para fazer ponto final no porto fluvial de
Pilar, que era de onde o viandante podia prosseguir para o Rio, ou
por mar, em pequenos veleiros ou barcos a remo, ou por terra,
tomando o atalho que levava a capela de N. S. da Piedade do
Iguaçu (perto da fazenda dos monges beneditinos), e da de
Iguaçu à de S. Antonio de Jacutinga margem do quilômetro 13
da atual Rodovia Dutra), e de Jacutinga à de S. João Batista de
Meriti e à de N. S. de Apresentação de Irajá.”
(Gerson, 1970, p.18; apud Oliveira, 2007).
Com o Caminho Novo das Minas, que era mais eficaz com relação ao
encurtamento das distâncias do que o anterior, o Caminho de Parati entra
em decadência e passa a ser chamado Caminho Velho. O tempo dessa
viagem se reduz de 90 para 15 dias. (SIMÕES, 2007) Apesar da
importância que adquiriu este novo caminho, o trânsito no Caminho do
Pilar tinha trechos de difícil acesso, com áreas muito ingrimes e
86
despenhadeiros pedregosos, tornando o transporte perigoso. Com todos
estes problemas novos caminhos surgiram, e com a redução de seu uso
logo passou a ser chamado de Caminho Velho.
Os novos caminhos que surgiram foram o Caminho do Proença, também
conhecido como Caminho Novo do Inhomirim, desbravado por Bernardo
Soares de Proença no início da segunda década do século XVIII,
concluído em 1724; e o Caminho Novo do Tinguá, também conhecido
como Caminho da Terra Firme ou do Mestre Estevão Pinto surgido em
1728, liderado por Estevão Pinto. O Caminho do Proença encurtou a
viagem para apenas 11 dias e fugia das áreas ingrimes, tornando a
viagem mais tranquila e menos custosa. O Caminho de Terra Firme Este
caminho recebeu este apelido, pois o caminho que fazia para transpassar
a Serra do Mar em direção as “Minas Gerais” não passava pelas planícies
inundadas e pantanosas, nem se utilizava nenhuma via fluvial. Este fato
foi fundamental para que servisse de leito para a ferrovia nos meados do
século XIX. (SIMÕES, 2007)
Sem dúvida a mineração trouxe importantes contribuições e alterações da
economia no Rio de Janeiro, além disso, trouxe (...) a valorização de
núcleos urbanos, o aumento de comércio e a dominação de uma classe
burguesa que se nutria a sombra do progresso das trocas mercantis, (...),
através dos portos fluviais da Baixada Fluminense e sua rede de
caminhos (...)” (PERES, 2000, p.18-9; apud Oliveira, 2007).
O cultivo da cana de açúcar e o ouro foram outras atividades que
impulsionaram a ocupação na região fluminense, contribuindo tanto para a
maximização dos fluxos dos rios da região de Iguaçu, quanto para a
abertura de vários caminhos do ouro. Mas segundo Oliveira (2007), foi a
economia cafeeira trouxe avanços expressivos à organização espacial em
Iguaçu, pois antes disso ela era apenas um ponto de passagem no
caminho entre o Rio de Janeiro e o porto Pilar ou Estrela. Seu espaço se
encontrava organizado nos limites de influência da Igreja N. S. da Piedade
do Iguaçu e do Porto de Iguaçu, juntamente com algumas moradias”.
(OLIVEIRA, 2007)
Caminhos e Freguesias em Iguaçu
Fonte: Oliveira, 2007
87
Ao redor o porto de Iguaçu as margens do rio Iguaçu, nasceu o Arraial de
Nossa Senhora da Piedade do Iguaçu, que em 1750, foi elevada a
categoria de freguesia por Marques de Pombal. Devido à intensa
movimentação dos tropeiros pelo Caminho Novo, o porto de Piedade de
Iguaçu prosperou. No final do século XVII, Piedade do Iguaçu tornou-se o
principal povoado da região, mas até o início do século XIX, era
dependente administrativa e política da cidade do Rio de Janeiro, apesar
de demonstrar um bom desenvolvimento econômico, aumento da
população e crescimento do comércio. Os rios desempenhavam papel
fundamental e os povoados da região concentravam-se principalmente as
suas margens.
O início do ciclo do café no Vale do Paraíba, após um curto
período de plantio na baixada Fluminense, realçará ainda mais
essa função de passagem dessa região. Com o crescimento da
produção de café e o seu escoamento através do porto do Rio de
Janeiro, os velhos caminhos ganham nova importância, Neles são
realizadas melhorias tais como a drenagem, retificação e
pavimentação com macadame, como foi o caso do caminho do
Inhomirim entre 1800 e 1809. Os portos fluviais também
ganharam uma sobrevida neste período com a reativação do
transporte fluvial que havia entrado em decadência com o
assoreamento dos rios. Para resolver esse problema foram
realizadas obras de dragagem e limpeza dos canais. (SIMÕES,
2007, 80)
Em 1811 o café é a grande riqueza agrícola da época que propiciou o
surgimento do que viria a ser a primeira estrada brasileira aberta para o
transporte desse grão, a Chamada Estrada Real do Comércio, aberta
graças à necessidade de maior agilidade e rapidez. Ela começava no
Largo dos Ferreiros, no perímetro urbano da Vila de Iguassu, indo até as
terras do Barão de Ubá, em Paraíba do Sul. Sua abertura foi fundamental
para o desenvolvimento econômico de Piedade do Iguaçu que cresceu
ainda mais. No limiar do século XVIII, o Engenho de Santo Antônio de
Jacutinga foi desmembrado, surgindo, então, o Engenho Maxambomba
(Nova Iguaçu) e o Engenho Caxoeira (Mesquita). em meados do
mesmo século, as terras do Engenho Santo Antônio voltaram a ser
desmembradas para formação de novos Engenhos, como: Engenho do
Porto de Iguassu. Acessado em: fevereiro, 2009.
Disponível em: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=759182
Porto de Iguassu Iguaçu Velho. Acessado em: fevereiro, 2009.
Disponível em: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=759182
88
Poce (atual Posse), Engenho do Brejo e Engenho do Sarapuí. E no
mesmo período as terras do Engenho Maxambomba foram
desmembradas para formação do Engenho do Madureira (Bairro de Nova
Iguaçu).
Em 15 de janeiro de 1833 Iguassu, foi elevada a categoria de Vila de
Iguaçu a partir de decreto assinado pelo regente Nicolau Pereira de
Campos Vergueiro, em nome do Imperador Dom Pedro II. Em 29 de julho
do mesmo ano, foi instalada a Câmara dos Vereadores, com sete
representantes. Tudo isto graças a Estrada Real do Comércio e as ótimas
condições para a criação de um entreposto comercial, que gerou a
necessidade de criar um município. O novo município foi formado pelas
freguesias de Nossa Senhora da Piedade do Iguaçu (definida como a
capital do município), Santo Antônio de Jacutinga, Nossa Senhora do
Pilar, São João de Meriti e Nossa Senhora da Conceição do Marapicu.
“Iguassu é uma rua comprida e mal calçada que à esquerda
segue para o porto e à direita termina numa bifurcação. se
comprimem os armazéns, as construções, as casas dos
consignatários que exportam para o Rio. É a bolsa, o mercado, o
entreposto. É a vida de Iguassu. Consta de duas mil almas a
população desse burgo-capital... No porto, o rio é estreito e baixo.
Os cavaleiros da jarreteira poderiam passá-lo facilmente. Os
barcos carregados são impelidos a vara até o mar...” (Charles
Ribeirolles, 1859; apud Wikipedia, 2009)
O progresso dos primeiros anos após a independência administrativa da
vila de Iguaçu se deu em função da cultura da cana-de-açúcar. Outros
rios começam a ter mais destaque na economia do município, como: o rio
Apeterei (atual Maxambomba), Riachão (atual rio Botas e presente estudo
de caso desta dissertação) e o rio Caxoeira (atual rio da Prata). Chamado
posteriormente de Maxambomba, o rio Apeterei, era assim denominado
pelos índios Jacutingas (antigos donos das terras) pois em tupi-guarani
este nome significa “rio do meio”. O rio Apeterei era assim chamado
devido a sua localização por estar situado entre dois rios maiores, o
Riachão e o rio Caxoeira. O rio Maxambomba nasce na Serra de
Maxambomba (atual Serra de Madureira), cruza as terras do antigo
Engenho Maxambomba, onde atualmente está canalizado sob os
quarteirões situados entre as ruas Luis Guimarães / Nilo Peçanha e a Rua
Otávio Tarquíno.
A chalana ou chalupa, era uma canoa de fundo chato, o transporte mais
apropriado para navegar o talvegue raso do curso água utilizado pelo
engenho como via fluvial para transporte. No século XVII o
engenho Maxambomba surgiu surgiu em razão do desmembramento do
engenho de Santo Antônio de Jacutinga, localizado nas terras da antiga
aldeia dos índio.
Jacutingas. Ele foi desmembrado e extinto no século XIX, com as terras
integradas ao Engenho do Brejo (Belford Roxo) e Engenho Maxambomba
(Nova Iguaçu). A produção do Engenho Maxambomba escoava através de
um pequeno porto existente no rio da Prata, que é afluente do rio Sarapuí.
O carregamento também seguia através do rio Maxambomba,
principalmente quando o rio da Prata estava obstruído por árvores caídas
ou desmoronamentos das margens o que provocava assoreamento
acidental. O rio Maxambomba tem sua foz no rio Botas, que por sua vez
tem sua foz no rio Iguaçu que desemboca na Baía de Guanabara.
A substituição da mata nativa para o plantio da cana-de-açúcar, cultura
que não se adaptou ao solo, ajudou no processo de erosão do solo
desmatado e de assoreamento dos rios, pois suas raízes fracas e finas
não eram suficientes para reter a terra durante os períodos de chuvas
torrenciais. Com isso a terra depositada no fundo dos rios se sedimentava,
o que diminuía sua profundidade, prejudicando diretamente a navegação.
Através de um pequeno porto existente no rio Maxambomba, a produção
de açúcar escoava até o Porto dos Saveiros (em Tinguá) ou via rio da
Prata até o Porto do rio Sarapuí, onde era novamente colocada em
embarcações maiores, com destino ao Cais dos Mineiros, no Rio de
Janeiro (que se situava ao lado do Arsenal de Marinha, na Rua Primeiro
de Março).
Para escoar a produção do Engenho Maxambomba existiam dois
pequenos portos fluviais, um deles se localizava no rio da Prata, no atual
Bairro da Vila Nova e o outro se localizava à montante do rio
Maxambomba, próximo a atual Rua Floresta Miranda, no centro de Nova
89
Mapa da Vila Iguaçu (1837). Fonte: Wikipédia Nova Iguaçu. Acessado em: 14-01-2009
Legenda:
Iguaçu. Assim, ao redor do pequeno porto e na periferia do engenho
Maxambomba gradativamente foi se desenvolvendo um pequeno
comércio seguido de um pequeno núcleo populacional que prosperou e se
tornou o arraial de Maxambomba.
A economia açucareira entrou em decadência na segunda metade do
século XIX. Podemos citar alguns causas, mas a principal foi a abolição
da escravatura também ajudou no declínio da economia do município.
Também contribuíram para nesse processo as epidemias de cólera,
varíola e malária.
A importância que o rio Iguaçu tinha para a comunicação entre a Vila
Maxambomba e o Rio de Janeiro diminuiu com a implantação das
estradas de ferro, que eram um meio de transporte mais rápido, barato e
seguro para o escoamento da produção. Na época do segundo Império a
população da Vila Maxambomba assistiu entusiasmada a chegada das
locomotivas à vapor, popularmente conhecidas por "Maria-fumaça". Em 29
de março de 1858 a Estrada de Ferro Dom Pedro II (atual Estrada de
Ferro Central do Brasil) foi inaugurada pelo próprio Imperador Pedro II e
ligou o Campo da Aclamação (no Rio de Janeiro) ao Pouso dos
Queimados (atual Município de Queimados). No ano seguinte a ferrovia
chegou a Belém (atual Japeri).
A segunda ferrovia a atravessar a Baixada foi a Estrada de Ferro Rio
D’Ouro criada para viabilizar a captação de água no maciço de Tinguá e
na serra do Mar para abastecer a cidade do Rio de Janeiro. Criada para
auxiliar no desenvolvimento das obras de captação da água transportando
todo material necessário e posteriormente usada para manutenção do
sistema construído. A partir de 1896 segundo Simões (2007) o serviço
regular de passageiros foi firmado, mas apesar disso esta ferrovia não
conseguiu ter a mesma importância que a Estrada de Ferro Dom Pedro II,
pois não chegava ao centro da cidade do Rio de Janeiro, sendo o usuário
obrigado a fazer uma baldeação na Estação São Francisco Xavier caso
quisesse chegar ao centro.
1 - Morro da Cadeia
10 - Largo dos Ferreiros
19 - Morro Demetriano
2 - Caminho da Serra
11 - Armazém Soares e Melo
20 Brejo Cambambé
3 - Porto do Pinto
12 - Porto de Iguaçu
21 Marambaia
4 - Porto do Viana
13 - Morro do Pessoa
22 - Caminho dos Velhacos
5 - Porto Soares e Mello
14 - Morro do Marinho
23 - Caminho para Tinguá
6 - Porto dos Passageiros
15 - Largo do Vítor
24 - Estrada do Comércio
7 - Porto dos Saveiros
16 - Largo Lava-pés
25 - Estrada do Cambambé
8 - Câmara (Paço) Municipal
17 - Matriz de N.S. da Piedade
26 - Córrego Mangangá
9 - Cadeia de Iguaçu
18 - Morro M. Lima
27 - Estrada da Olaria
90
Trecho da estrada de Ferro Rio D'Ouro. Fonte: IPAHB. Acessado em: 10-2006
Mapa da Linha do Centro e da Linha Auxiliar, da Estrada de Ferro Central do Brasil, em
1928. Fonte: Site Estações Ferroviárias do Brasil Data: dezembro 2008. Disponível em:
http://www.estacoesferroviarias.com.br/efcb_rj_linha_centro/mapa_linhacentro_rj.htm
91
Sua pouca importância levou a “a desativação de suas linhas, ocorrida no
começo da década de 70, a maior parte do seu leito foi utilizada para a
implantação da Linha 2 do Metrô que, gradativamente, foi se expandindo
até atingir, em 1998, a sua atual estação final, Pavuna.” (Macedo, 2004;
apud Simões, 2007)
A produção da Fazenda Maxambomba após a implantação da ferrovia
passou a ser embarcada para a corte na parada ferroviária de
Maxambomba. O desmatamento que vinha ocorrendo trouxe uma
diminuição no volume do curso de água de Iguaçu. A partir deste
momento a Vila começa a perder importância e a produção antes escoada
pelo rio Iguaçu passa agora para o Porto Estrela, que era mais da rota de
café. Muitos portos fluviais foram extintos.
Devido ao processo de abandono, principalmente com relação à limpeza,
o rio Iguaçu torna-se assoreado, e conseqüentemente tudo a sua volta era
um imenso alagado. Esse descuido associado à improdutividade das
terras e ao avanço do desmatamento da região leva a Baixada a sofrer
com grandes inundações, com formação de brejos e pântanos,
aumentados pelo represamento das ferrovias.
Os terrenos alagadiços transformaram-se em criadouros de mosquitos
levando a um esvaziamento da Vila beira rio em direção aos terrenos mais
seguros na margem da ferrovia. Por este motivo, a Freguesia de Santo
Antonio de Jacutinga teve sua matriz transferida para o Pouso
Maxambomba que, assim foi transformado em Arraial. Além disso, com a
implantação da Estrada ferroviária o comércio local aumentou e a
atividade no Arraial começou a prosperar, assim em 1862, a Matriz da
Freguesia de Santo Antônio de Jacutinga foi transferida para perto da
Estação.
Estrada de Ferro Mauá e Estrada de Ferro D. Pedro II. Fonte: Oliveira, 2007
92
Mas para Simões (2007) a ferrovia por si não foi geradora da
urbanização como poderia se pensar. que no final do século XIX as
ferrovias serviam apenas para o transporte de cargas. O transporte de
passageiros é instituído aos poucos e mesmo assim em poucos horários
sujeitos a atrasos e com tarifas diferenciadas de acordo com as distâncias
o que induzia uma ocupação mais próxima ao núcleo urbano do Rio de
Janeiro. A ferrovia terá maior importância como indutora de urbanização
na virada para o século XX, quando as populações mais pobres passarão
a ocupar as antigas freguesias rurais através dos loteamentos populares.
(SIMÕES, 2007, 88)
Em agosto de 1876 foi iniciada a construção de uma outra estrada de ferro
importante, a do Rio do Ouro, que começava no bairro do Caju, no Rio de
Janeiro e seguia até a localidade de Rio D’Ouro, em Nova Iguaçu. Sua
construção foi concluída em 1883, e em 1886 foi adaptada para o
transporte também de passageiros, que em seus 53Km contava com 3
ramais: Xerém, Tinguá e São Pedro. Mas, por volta dos anos 60 a Estrada
de Ferro acaba por ser aos poucos desativada, devido à falta de
lucratividade que não compensava os custos operacionais e de
manutenção.
A ponte que foi construída sobre o rio Iguaçu em 1886 na localidade de
São Bento acabou de vez com a importância do rio para o
desenvolvimento da região, pois impediu o tráfego dos saveiros e faluas.
Além disso, a chegada da ferrovia na região, a proclamação da lei Áurea
no dia 13 de maio de 1888 que causou a ruína de parte da aristocracia
rural. Com a redução das atividades econômicas pelas vias fluviais, as
obras de conservação e drenagem dos rios, que mantinham limpos os
curso de água e os canais junto às áreas de cultivo, foram descuidadas e
abandonadas. Com isso, aliado a improdutividade das terras, muitas áreas
sofreram grandes inundações, formando extensas áreas pantanosas,
onde começou a se propagar as epidemias de cólera, varíola e malária,
isso fez com que a população da Vila de Iguaçu abandonasse o local,
transferindo-se para o Arraial de Maxambomba. A cultura de cana foi
abandonada devido ao esgotamento dos solos e a crise de mão de obra
decorrente da abolição da escravatura, com isso a região entra em fase
de estagnação econômica.
Devido principalmente a estes fatores, em de maio de 1891, foi
assinado o decreto que transferia a sede do município da Vila Iguaçu para
Maxambomba que foi elevada a categoria de Vila. Assim, a Vila Iguaçu
passa a ser chamada de Iguaçu Velha. A agora Vila de Maxambomba
recebeu oficialmente o nome de Nova Iguassú, e posteriormente após
algumas reformas ortográficas da língua portuguesa, sua grafia mudou
para Nova Iguaçu.
Este momento é marcado por grandes mudanças na organização
espacial. Com a construção da estrada de ferro em outro extremo
do município em tela, a dinâmica econômica e a população
começaram a se deslocar para as margens da linha férrea. Tal
mudança de eixo econômico e o esvaziamento populacional
levaram a decadência e o abandono às áreas próximas dos portos
fluviais, que, posteriormente, perderam status de sede do
município para a freguesia mais próxima da estação de
Maxambomba a de Santo Antônio.
(Oliveira, 2007)
O café, nunca teve boa produtividade na Baixada, pois era cultivado em
encostas sujeitas a erosão e a rápida perda da fertilidade. Após o declínio
da agricultura da cana-de-açúcar, em meados do século XIX, a retomada
das atividades econômicas se deu com a cultura da laranja que passou a
ser a mais importante para o município, pois encontrou solo ideal em Nova
Iguaçu. A exportação da laranja começou a ocorrer no ano de 1891,
juntamente com a intensificação da exploração e do desmatamento de
madeiras de lei para produção de lenha e carvão.
Desde o final do século XIX, o poder público vem criando várias
comissões para a execução de obras de saneamento na Baixada. Os
prejuízos por assim dizer ambientais, na região da Baixada, só serão
abordados claramente pela Comissão Federal de Saneamento da Baixada
Fluminense (1910-1916) 55 anos após o inicio das obras da ferrovia.
(FADEL, 2009) A própria estrada de ferro constituiu um problema para a
Baixada, ao passo que ela se tornou uma barreia para o escoamento das
águas pluviais. Uma outra questão relevante levantada por Fadel (2009) é
o caso do desmatamento das florestas tropicais para a obtenção de lenha
93
para abastecer os moinhos agora a vapor e até mesmo as marias-
fumaças.
Entre os vários fatos que podemos observar nesse confronto
destaca-se o prosseguimento do recuo da floresta tropical com
expansão da lavoura pelos vales e encostas e o aproveitamento
das matas para o fornecimento de madeira de construção, lenha
ou carvão vegetal. A franja florestal, próxima a raiz da Serra, cada
vez mais estreita na Baixada em virtude do crescente consumo de
combustível, principalmente após surgir à estrada de ferro,
consumidora de lenha tão voraz como o engenho.
(Mendes, 1948, p.73; apud Fadel, 2009, p.104)
Segundo Simões (2007) o cultivo da laranja começa quando as primeiras
obras de saneamento surtem efeito, eliminando os brejos e alagados na
região próxima a Maxambomba, permitindo a ocupação dessas áreas
antes alagadas, que os rios estavam sendo retificados nos seus médios
e altos cursos. A laranja exigia grande quantidade de mão de obra que na
época estava escassa devido à abolição da escravatura, como
conseqüência os latifundiários encontravam-se descapitalizados, já que
não estavam produzindo. A solução encontrada foi fragmentar as
propriedades, o que segundo Simões (2007) facilitava a venda, que
outros produtores, apesar de estarem abalados com esta crise, contavam
a mão de obra familiar.
É preciso deixar claro que esta fragmentação foi acompanhada de
uma intensa luta pela terra. Uma parte considerável das terras
vendidas e arrendadas pelos grandes proprietários estava sendo
ocupadas por posseiros desde o seu abandono, inclusive por ex-
escravos abandonados a própria sorte por seus senhores quando
da abolição. (Simões, 2007) Esta retomada nem sempre se deu
de forma pacífica e inúmeros conflitos se instalaram na região, até
por que com a sua valorização a região passa a ser interessante
para a atuação de grileiros.
(Alves, LCS 2003; apud Simões, 2007)
A cultura da laranja na região ganhou um novo impulso a partir de 1926,
com a intensificação das exportações para a Europa. Praticamente toda a
produção de laranjas era exportada, trazendo para o município um grande
desenvolvimento econômico. O auge da citricultura em Nova Iguaçu
acontece entre os anos 30 e 50. Ao mesmo tempo, crescia também a
atividade industrial, que começou com as olarias nos terrenos pantanosos.
A existência das estruturas ferroviárias permitiu um grande salto
econômico para o município. Um outro fator que propiciava esta expansão
da cultura da laranja era o fator relacionado às condições naturais como: o
clima quente e úmido e o solo fértil.
O núcleo urbano era essencialmente comercial, já que todas suas
atividades econômicas estavam concentradas em atender a população
rural que vivia no seu entorno. o se construía na época habitações no
núcleo urbano exceto para as elites locais. “Embora tenha havido um
crescimento do núcleo urbano no período laranjeiro, a Nova Iguaçu da
laranja era um acanhado aglomerado urbano em meio a um mar de
laranjeiras”. (Simões, 2007, 128)
Na segunda metade do século XX, a construção de casas de
beneficiamento e embalagem da produção trouxe novo fôlego para a
exportação. Porém, com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, houve
a interrupção do transporte marítimo, impedindo a exportação das
laranjas, o que decretou o fim do ciclo da laranja. Sem câmaras frigoríficas
que conservassem os frutos por mais tempo, estes apodreceram nos pés
e a citricultura foi abandonada. Embora a indústria fosse crescente neste
período o pensaram em utilizá-la para transformar a laranja em
produtos manufaturados como: sucos; geléias; compotas e assim evitar
que a laranja apodrecesse no pé.
Com a derrocada do ciclo da laranja, na segunda metade do século XX,
algumas chácaras tentam substituir a produção por outros produtos, mas
não encontram a mesma rentabilidade, muitos produtores vão à falência.
Com poucas alternativas aqueles que não faliram acabam por vender as
terras que seriam transformadas em loteamentos. Aos poucos os laranjais
deixam a paisagem Iguaçuana, que começa a ser substituída por uma
paisagem de abandono.
A paisagem rural dessas antigas regiões da Baixada era de
completa desolação e abandono, pois salvo as pequenas culturas
94
de árvores frutíferas (...) muito pouca cousa indicava a existência
de uma atividade humana. Onde outrora havia uma vida rural
muito movimentada, população relativamente densa, grandes
plantações, engenhos fumegando em plena atividade, barcos,
carros e tropas animando a paisagem, somente imperava a ruína
nos fins do século XIX. Era como que um retrocesso, uma volta à
paisagem natural com a expansão dos brejos, dos carrascais e
das capoeiras através das terras conquistadas pelos antigos
colonizadores após árdua luta contra a floresta e o pântano. (...).
Somente as estradas de ferro revelaram a presença do homem
nessa paisagem de desolação; os trens, contudo, atravessavam a
região abandonada como se percorressem um deserto, sem
participar da vida local, pois as vias férreas tinham sido
construídas para ligar a cidade e o pôrto do Rio de Janeiro ao
planalto e aos campos dos Goitacazes.
( Mendes, 1948, p.78; apud Fadel, 2009, p. 106)
Na década de 30, acompanhando o ciclo da laranja, a região da Baixada
Fluminense, é marcada por um conjunto de intervenções realizadas pela
Comissão de Saneamento da Baixada Fluminense, criada pelo o Governo
Federal em 1933, que impulsiona a produção de cítricos. Dentre as ações
empreendidas pela Comissão de Saneamento estavam drenagem de
áreas alegadas, retificação e dragagem de rios e canais. Estas ações
vieram acabar com a insalubridade que reinava na região, permitindo
assim seu desenvolvimento econômico com a expansão dos laranjais que
passaram ocupar também as áreas antes inundadas pertencentes aos
rios, que eram focos de doenças.
A ocupação da região ainda era essencialmente rural; os laranjais se
uniam ao pequeno e mido núcleo urbano de Nova Iguaçu, como
podemos ver na imagem acima. Devido a ocupação urbana ainda
incipiente na região, e ao projeto de ocupação baseado no cinturão verde,
a Comissão de Saneamento não incluiu no seu plano de obras as redes
de água e esgotamento. (BRITTO e COSTA, 2006)
Citricultura em Nova Iguaçu. Fonte: IPAHB, 2006.
O aspecto de Nova Iguaçu em 1922. Fonte: Portal da Baía de Guanabara, 2009.
95
Analisando as ações da Comissão de Saneamento da Baixada
Fluminense, Carneiro (2003) mostra que esta esteve na origem do
Departamento Nacional de Obras de Saneamento (DNOS), órgão que
órgão logrou empreender um conjunto de intervenções de ampla
magnitude, obedecendo a um rigoroso planejamento até então inédito na
região. (CARNEIRO, 2003:36) Criado em 4 de julho de 1940, através do
Decreto-Lei nº2367, foi o Departamento Nacional de Obras de
Saneamento (DNOS), tinha entre suas responsabilidades estavam: a
execução de uma política nacional de saneamento, defesa contra
inundações, controle de enchentes, recuperação de áreas para o
aproveitamento agrícola ou instalação de indústrias e fábricas, combate a
erosão, controle da poluição das águas e instalação de sistemas de água
e esgoto. Apesar de ter alcance nacional seu foco foi na Baixada
Fluminense. Segundo Carneiro (2003) o órgão teve sua origem calcada na
necessidade de vencer doenças provocadas pelos pântanos. Desde que
as ciências médicas relacionaram a presença de águas estagnadas com a
existência de algumas enfermidades, a eliminação dos pântanos passou a
ser sinônimo de saneamento. (CARNEIRO, 2003:42) As obras realizadas
pelo DNOS eram diques, abertura de canais, dragagem e regularização.
Antes da criação do DNOS, a Comissão de Saneamento da Baixada
Fluminense, comandada a partir de dezembro de 1933, pelo engenheiro
Hildebrando de Araújo Góes, iniciou suas atividades com as atribuições de
examinar toda documentação existente das antigas comissões da Baixada
Fluminense, desde 1894; inspecionar a região em que tinham sido
realizados os trabalhos de drenagem; determinar os locais que deveriam
ser objetos de novas intervenções com base na avaliação do valor das
terras; e avaliar as necessidades de aparelhamento do órgão e custo das
ações, visando ao saneamento e aproveitamento da área abrangida pela
Baixada Fluminense. (CARNEIRO, 2003:37)
Percebe-se que as pretensões da Comissão de Saneamento superam em
muito a tarefa de realizar obras de saneamento e drenagem na Baixada
Fluminense. (...) instituía-se, naquele momento, um órgão com ampla
capacidade de influir na economia regional, realizando um extenso plano
de obras voltadas para os interesses da agroindústria. Em grande medida,
essas novas atribuições foram conseqüência do esforço de Góes para que
a Comissão assumisse um programa maior de serviços que aqueles
determinados anteriormente quando da sua criação. (Carneiro, 2003:38).
Ao final da década de 30 a Comissão foi transformada em Diretoria de
Saneamento da Baixada Fluminense. Em apenas cinco anos haviam
sido executados um amplo conjunto de intervenções com visíveis
modificações na fisiografia regional. Hildebrando de Góes publicou, ao
final desse período um sucinto relatório informando sobre os serviços
realizados. Este documento subdividiu a região estudada em 4 zonas
parciais: Baixada de Goitacazes, Baixada de Araruama, Baixada da
Guanabara e Baixada de Sepetiba. Sendo que para este estudo
tocaremos apenas na Baixada de Guanabara.
Cabia à Comissão projetar, executar ou fiscalizar quaisquer obras de
saneamento na Baixada Fluminense; realizar os estudos necessários para
o conhecimento do regime dos rios; elaborar um plano de
desenvolvimento econômico na região; para a aplicação do plano citado
anteriormente seria necessário levantar o cadastro imobiliário de toda a
região da Baixada Fluminense. Além disso, ainda seria necessário sugerir
as bases de uma legislação especial com o objetivo de aliviar o governo
do ônus do saneamento e da preservação das obras que fossem
executadas.
O relatório se organizava em 12 capítulos, dos quais subdivididos em itens
para cada Baixada, foram grupados e distribuídos entre 7 engenheiros
que se seguem: Francisco Saturnino Braga, Paulo Pinto Ferreira da silva,
Procópio de Mello Carvalho, Bento santos de Almeida, Rubens reis, José
Sobral da silva Morais, Mario Eloy da Costa. O engenheiro Paulo Pinto
Ferreira da Silva foi o responsável pela hidrografia da Baixada da
Guanabara, parte do período anterior a 1894, o estudo das comissões da
Baixada da Guanabara e parte das questões econômicas. Góes (1934)
julgou conveniente abordar as questões relativas a geologia, fisiologia,
climatologia, recursos econômicos, salubridade, transporte e colonização
da Baixada Fluminense para compreensão integral do problema.
Góes (1934) atribui o problema da insalubridade da região Fluminense ao
abandono da conservação dos cursos d’água em conseqüência da
libertação dos escravos, isso propiciou as inundações e favoreceu as
96
epidemias de cólera em 1854 e de tifo em 1878. O relevo da Baixada era
um dos fatores que causaram as inundações, pois as depressões que
havia no terreno permitiam o acúmulo de água que davam origem a
lagoas e brejos permanentes. Além disso, o solo possui uma camada
superficial de argila quartanária impermeável.
De acordo com Góes (1934) existiam outros fatores como: (1) a
configuração topográfica, pois a inclinação dos terrenos era insuficiente
para drenar as águas; (2) as chuvas; (3) a insuficiência das seções
transversais de vazão dos rios para escoar os grandes volumes de água,
por conta de fortes chuvas. Esta influência se agravava ainda mais devido
à existência de algumas obstruções como: vegetações aquáticas, troncos
de árvores, currais de peixes e bancos de areia.
Estas obstruções modificam, consideravelmente, o escoamento das
águas, de modo que, antes de quaisquer obras, se impõe a sua retirada.
“Além da sua insuficiência de seção, notam-se, mais, numerosos e longos
meandros que diminuem a declividade, e, portanto, a velocidade da
corrente, e, em conseqüência o valor da descarga”(GÓES, 1934:18). O (4)
fator são as estradas de ferro e de rodagem, pois os sucessivos aterros
das estradas funcionam como barragem impedindo o livre escoamento de
água. Góes ainda cita a questão de boeiros e pontilhões construídos em
cotas insuficientes para drenar a água, conseqüentemente formam-se
pântanos permanentes. Com o objetivo de melhorar as condições de
salubridade da Baixada, os Governos Federal e Estadual nomearam
várias comissões e que oneraram grandes quantias. Góes enumera 14
atos praticados pelo Governo para sanear a Baixada:
97
Item
Data de
inicio
Data de
renovação
Data final
Ato
Responsável
inicial
Responsável
posterior
Iniciativa Objetivo Observação
1 1883 - -
Comissão do Major
Rangel de
Vasconcellos
Major Rangel de
Vasconcellos
-
Governo
Imperial
- -
2
16 ABR
1889
16 MAR
1891
Caducou
22 JAN
1897
Concessão do
engenheiro civil
João Teixeira
Soares e ao Dr.
Joaquim Pereira
dos Santos
Engenheiro civil
João Teixeira
Soares e ao Dr.
Joaquim Pereira
dos Santos
-
Governo
Fluminense
Dragagem dos rios e
drenagem das terras
adjacentes em tod
os
os pontos da Baixada
do Norte do estado,
desde o rio Macacú
-
3 1894 - 1902
Comissão de
Estudos e
Saneamento da
Baixada do Estado
do Rio
Engenheiro João
Teixeira Soares
Engenheiro
Marcelino Ramos
da Silva
Governo
Fluminense
- -
4
26 MAI
1902
-
22 JAN
1904
Concessão ao Dr.
Francisco Ribeiro
de Moura Escobar
Dr. Francisco
Ribeiro de Moura
Escobar
-
Governo
Fluminense
- -
5
26 FEV
1910
-
30 JUN
1916
Comissão Federal
de Saneamento da
Baixada
Engenheiro
Marcelino Ramos
da Silva
Engenheiro Fabio
Hostilio
de
Moraes Rego
Governo
Federal
- -
6
21 SET
1912
-
31 DEZ
1912
Comissão do Porto
de S. João da Barra
e Baixada do
Noroeste do Estado
do Rio de Janeiro
Engenheiro José
Martins Romeu
- - - -
98
Item
Data de
inicio
Data de
renovação
Data final
Ato
Responsável
inicial
Responsável
posterior
Iniciativa Objetivo Observação
7
3 JUL
1918
- -
Comissão de estudos
para o restabelecimento
do Canal de Macaé a
Campos
Engenheiros
Lucas
Bicalho,
Cândido
Borges e J.B.
de Morais
Rego
- - -
Em 29 ABR 1922 foi
anexada a
Fiscalização da
Baixada Fluminense”
8
22 MAR
1920
-
19 DEZ
1921
Comissão de Estudos e
obras de desobstrução
do rio Guandu e seus
afluentes
Engenheiro
Oscar da
Cunha Corrêa
- - - -
9
22 MAR
1920
-
31 DEZ
1920
Comissão de
Melhoramentos da Baía
do Rio de Janeiro
Engenheiro
João Batista
de Morais
Rego
-
Organizada
pela extinta
Inspetoria
Federal de
Portos, Rios
e Canais
- -
10
31 DEZ
1921
- -
Fiscalização da Baixada
Fluminense
- -
Criada pelo
novo
regulamento
da
Inspectoria
Federal de
Portos, Rios
e Canais
-
Em 14 MAR 1932 foi
incorporada a
Fiscalização do
Porto do Rio de
Janeiro. Em 29 de
ABR 1922 foram
anexadas a esta
fiscalização, as
comissões número 7
e 8.
99
Item
Data de
inicio
Data de
renovação
Data final
Ato
Responsável
inicial
Responsável
posterior
Iniciativa Objetivo Observação
11
11 MAR
1921
-
2 FEV
1931
Empresa de
Melhoramentos da
Baixada Fluminense
Engenheiro
Alencar Lima
e ao Banco
Português do
Brasil
-
Concessão
Federal
- -
12
JUL 1925
-
31 JAN
1928
Comissão de Estudos e
Obras contra as
inun
dações da Logoa
Feia e Campos de Santa
Cruz
Engenheiro
Lucas Bicalho
-
Organizada
pela extinta
Inspetoria
Federal de
Portos, Rios e
Canais
- -
13
JUN 1929
- 1930
Comissão de
Saneamento do Estado
do Rio de Janeiro
- -
Organizada
pelo Estado
- -
14
1 AGO
1933
- -
Comissão de
Saneamento da Baixada
Fluminense
Engenheiro
Alfredo
Conrado de
Niemeyer
Engenheiro
Hildebrando de
Araújo Góes
Departamento
Nacional de
Portos e
Navegação
- -
Tabela elaborada pela autora a partir de dados apresentados por Góes (1934).
100
Segundo Góes (1934) em quase todos os trabalhos feitos, os estudos são
deficientes, principalmente sobre o regime dos cursos d’água naturais. Os
trabalhos de retificação e as seções transversais eram projetados sem
que se fizesse referência às descargas, exceto nos trabalhos de Santa
Cruz e no projeto de Saturnino de Brito para o Paraíba. De acordo com
Góes, verifica-se ainda a deficiência de estudos na abertura de alguns
canais ligando rios na baixada de Guanabara; conseqüentemente em
alguns casos os resultados foram contrários ao esperado.
Outra grave deficiência é a má compreensão do problema. Na Baixada da
Guanabara havia uma preocupação constante em dragar a parte
marítima. Segundo Góes não seria difícil concluir que estas intervenções
teriam resultado práticos insignificantes, que o fator determinante é a
declividade superficial, assim em pouco tempo as profundidades
retornaram à sua situação primitiva. Existia ainda o problema da falta de
continuidade administrativa, as verbas na maioria das vezes eram
reduzidas e dispersas.
Com relação aos rios, o objetivo da Comissão de Saneamento da Baixada
Fluminense liderada por Hildebrando Góes era fazer primeiramente uma
limpeza nos rios já que seus leitos encontravam-se obstruídos por troncos
de árvores caídos, galhos e vegetações aquáticas, o que provoca depósito
de materiais sólidos. A limpeza já foi suficiente para facilitar o escoamento
da água o que fez desaparecer alguns dos brejos. “A maioria dos técnicos,
portanto, é unânime em declarar que a limpeza e desobstrução dos cursos
d’água naturais é o primeiro passo a ser dado quando se cogita de
melhoramentos de rios” (GÓES, 1934:29)
Esta atitude aparece constantemente nos relatórios de várias comissões,
que também apontam os benefícios conquistados mas, pelo fato de não
ter conservação, os rios voltariam à situação inicial de abandono. Para
Góes (1934) era necessário desobstruir os inúmeros rios que cortam a
Baixada, conservá-los e em seguida realizar as obras mais urgentes. As
justificativas usadas para o saneamento da Baixada era a possibilidade de
tornar salubre uma grande área próxima a capital da República e ainda a
possibilidade de seu aproveitamento agrícola.
O principal problema a ser resolvido pela equipe de Góes era evitar
inundações dos rios durante o período das chuvas e fazer o
“exaguamento” dos brejos existentes em suas bacias hidrográficas. O
“exaguamento” das águas estagnadas nas depressões eram feitas através
de valas ou canaletas superficiais, que a drenagem exigia a execução
de uma rede subterrânea.
Em 1938 ocorre a construção das linhas de transmissão da Light que
seccionam o núcleo urbano de Nova Iguaçu, no trecho compreendido
entre as linhas de transmissão e a via férrea acabam por se tornar
predominantemente um centro de comércios e serviços. A eletrificação do
eixo ferroviário em 1935, a instituição da tarifa ferroviária única
contribuíram para o processo de parcelamento do solo com fins de
ocupação urbana da região.
Segundo Simões (2007) a partir de 1940 a Prefeitura de Nova Iguaçu se
torna uma aliada no processo de retalhamento da terra, à medida que
reduz ao mínimo as exigências legais para a criação de loteamento e
praticamente abandona a fiscalização nas áreas periféricas. “A facilidade
legal de se lotear e a necessidade premente dos chacareiros e
exportadores a beira da falência em Nova Iguaçu se juntam a aceleração
do processo migratório para o Rio de Janeiro e um acirramento do
problema habitacional no núcleo da metrópole.” (SIMÕES, 2007, 132)
O que favoreceu este retalhamento da terra foi a explosão populacional
que acontecia no Rio de Janeiro no mesmo período, o advento das
estradas de ferro que facilitavam o trânsito entre esta cidade do Rio de
Janeiro e a Baixada Fluminense. Esses fatores levaram a expansão dos
aglomerados urbanos na imensa extensão territorial do município de Nova
Iguaçu, através de um intenso processo de parcelamento da terra e venda
de lotes. Mas sem a devida fiscalização os lotes não respeitavam as
condições mínimas de habitabilidade. Com a explosão demográfica houve
o crescimento da pressão para o desmembramento de certas áreas mais
importantes. Nova Iguaçu perde sucessivamente partes importantes de
seu território, emancipadas para formar outros municípios, e se torna uma
espécie de município mãe da maior parte das unidades da Baixada
Fluminense.
101
Diversas emancipações de distritos que queriam independência
administrativa de Nova Iguaçu marcaram a história do município. O
primeiro desmembramento foi o de Duque de Caxias que ocorreu em 31
de dezembro de 1943. Nesta época São João integrava o município de
Caxias. Em 1947 Nilópolis se emancipou, e neste mesmo ano São João
se separou de Caxias.
Na década de 1950, inaugura-se a Rodovia Presidente Dutra (BR-116)
ligando Rio de Janeiro e o Paulo, as duas maiores metrópoles
brasileiras. Esta ligação secciona novamente o território Iguaçuano, mas
apesar disso, propiciou um crescimento populacional e um maior
desenvolvimento econômico para a Baixada Fluminense. Além disso, com
a intensificação do uso do automóvel, a ocupação do espaço urbano
acaba por ter sua estrutura modificada, antes concentrada ao redor das
estações de trem, agora começa a se dispersar pelo território.
A febre imobiliária que caracteriza a região a partir da década de 50 é
marcada pela proliferação de loteamentos precários, desprovidos de infra-
estruturas, próximos aos cursos de água e, em muitos casos, nas próprias
calhas secundária e principal destes rios e canais. O quadro a seguir
mostra o aumento significativo do número de loteamentos na década de
50.
Número de loteamentos na Baixada Fluminense
Fonte: Cardoso, Araujo, Coelho (2007, p. 63)
Nova Iguaçu no inicio da década de 40. Fonte: Atlas PCNI, 2004.
Município
Até 1949
1950-1959
1960-1969
1970-1980
Total em 1980
Duque de
Caxias
57.206
85.642
60.038
27.988
230.874
Nova Iguaçu
35.290
244.357
84.982
66.378
431.007
S. João de
Meriti
24.811
20.913
3.369
1.244
50.337
102
De fato, “é no período entre 1950 e 1980 que acontece um amplo
processo migratório para a Baixada Fluminense proveniente,
principalmente, do Município do Rio de Janeiro e do nordeste brasileiro,
que somado à omissão e ao descaso do poder público, resultou na
ocupação desordenada e no adensamento populacional em áreas
desprovidas de infra-estrutura urbana”. (Relatório sobre a Localização dos
Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (2006:24).
Nesse período, a facilidade de escoamento da produção graças, às
rodovias que cortam o município, uma das mais importantes é a BR-116,
conhecida por Rodovia Presidente Dutra, os terrenos a preços baixos e
mão de obra barata, deram suporte ao início do desenvolvimento de um
parque industrial e de uma grande atividade comercial.
Todavia, é importante destacar que o processo de ocupação do território
em Nova Iguaçu se deu sem qualquer tipo de controle por parte do poder
público e sem ser acompanhado pela implantação de sistemas adequados
de infra-estrutura de saneamento. As obras que haviam sido realizadas
pelo DNOS foram voltadas, sobretudo para infra-estrutura como a
construção de diques, abertura de canais, dragagem e regularização. O
resultado foi um crescimento urbano marcado pela falta de infra-estrutura
urbana e pela ocupação de áreas inadequadas.
Somente a partir de meados da década de 80 é que a região da Baixada
passou a ser objeto de intervenções mais sistemáticas voltadas para a
implantação de serviços de saneamento e para o controle de inundações.
Entre 1983 e 1986 foi elaborado o Plano Global de Saneamento da
Baixada Fluminense (PEBs), que incluía um conjunto de obras voltadas
para implantação de sistemas de coleta de esgoto na região. Foi
formulado um relatório denominado "Esgotamento Sanitário da Baixada
Fluminense e São Gonçalo: Estudo Preliminar". Neste relatório estão
caracterizadas as principais bacias hidrográficas da Baixada Fluminense:
Sarapuí, Pavuna-Meriti e Botas. Estão delimitadas também as zonas de
ocupação mais densa, as zonas onde o sistema existente era considerado
aceitável, e as zonas sujeitas às inundações freqüentes.
A partir desta caracterização foram definidas as zonas prioritárias para
investimentos: a bacia do Sarapuí, seguida das bacias do Pavuna-Meriti e
do Botas. Além da instalação de rede de coleta de esgotos o plano previa
a implantação de sistemas de micro-drenagem nas zonas baixas, que
deveriam funcionar como proteção às redes de coleta de esgotos a serem
implantadas. A falta de recursos financeiros, decorrentes da crise do
sistema que financiava o plano, fez com que apenas uma pequena parte
da obras fosse realizada, sendo que a Bacia do rio Botas não chegou a
ser beneficiada.
No início dos anos 90 ocorreram novas emancipações que marcaram a
economia de Nova Iguaçu. Foram emancipados os seguintes distritos:
Belford Roxo, que apesar de ser um dos menores era um dos mais
populosos; Queimados onde se localizava o pólo industrial de Nova
Iguaçu; e um ano mais tarde foi a vez de Japeri. Em 1999, Mesquita se
emancipa. Todas as emancipações trouxeram um “baque” econômico
para o município de Nova Iguaçu, que teve sua população e arrecadação
reduzidas.
Apesar das dificuldades, Nova Iguaçu continua sendo considerada uma
das cidades mais atrativas da região metropolitana. Em 1999, foi lançado,
pela prefeitura um Plano Estratégico, cujo objetivo principal era tornar a
cidade um centro metropolitano gerador de oportunidades comerciais, de
serviços e industriais. Além disso, a intenção era também melhorar a
qualidade dos serviços públicos, da estrutura urbana, do patrimônio
ambiental, histórico e cultural. Um Plano Estratégico é uma ação
intencional e organizada que se fundamenta na participação e integração
do cidadão e instituições na concepção de um modelo de município que
seja melhor para se viver e trabalhar.
Dentro do Plano buscou-se fazer um diagnóstico dos problemas de Nova
Iguaçu e apresentar possíveis soluções. Foram propostas ações voltadas
para atrair novos investidores para a região para que possa haver oferta
de emprego e geração de renda para população, uma das ações
desenvolvidas foi à reforma do centro comercial da cidade e a criação de
um pólo logístico.
103
Configuração do território da Baixada Fluminense após as emancipações.
Fonte: o autor, 2009.
De fato, Nova Iguaçu não é formada apenas por uma população pobre
destacando-se como centralidade econômica da Baixada Fluminense,
embora, não baseada em um modelo de desenvolvimento sustentável,
democrático e includente, o que se traduz numa enorme desigualdade
entre as áreas centrais e o resto da cidade, pois o centro da cidade
concentra a população de renda mais alta. Cheia de contrastes e
diversidades, podemos encontrar comunidades com altos índices de
qualidade de vida, que não deixam a desejar em nada aos mais
equipados centros urbanos do país convivendo com comunidades
extremamente pobres. Existem diversas áreas onde a ação do homem
degradou muitos de seus recursos naturais ambientais, mas ainda assim
existem áreas de exuberante biodiversidade onde suas belezas naturais
encontram-se preservadas.
Para perceber está distribuição não é necessário recorrer a tabelas e
gráficos, basta uma caminhada pela cidade para observar a diferenciação
dos padrões construtivos e até mesmo os tipos de investimentos públicos,
pois é no centro onde se concentram os equipamentos e serviços
urbanos, enquanto as demais áreas da cidade compartilham um quadro
de precariedade muito maior, principalmente com relação ao saneamento
ambiental. Observa-se, por exemplo, uma concentração de serviços e
equipamentos urbanos em certas regiões, enquanto noutras,
praticamente, não existe qualquer infra-estrutura. Talvez esta grande
104
diferenciação possa ser o motivo direto sobre as altas taxas de violência,
das quais o município é conhecido.
Belford Roxo no que tange a está diferenciação visual dos padrões
construtivos em seu território, é um pouco mais complicado de se
identificar, pois este município apresenta-se mais uniforme, com uma
massa constante de pobreza, onde não é possível identificar nuances
entre ricos e pobres, a população pobre predomina o espaço. É muito
comum observar no espaço construções de tijolos aparentes sem
revestimento, o que reforça está imagem de pobreza, além disso, a falta
de fiscalização da prefeitura permite o caos no espaço urbano, onde
pessoas ocupam áreas de risco, constroem sem acompanhamento
técnico, avançam sobre o espaço público.
Com relação à desigualdade e a pobreza no território é perceptível que as
populações com níveis de renda mais baixos em geral ocupam as áreas
periféricas, desprovidas do acesso a serviços e equipamentos urbanos.
Com relação a infra-estrutura urbana de forma geral, tanto Nova Iguaçu
quanto Belford Roxo são extremamente dependentes do município do Rio
de Janeiro, assim como a maior parte da Baixada Fluminense. Apesar de
Nova Iguaçu ser uma centralidade econômica, ela o consegue absorver
toda população ativa da Baixada Fluminense e não possui uma infra-
estrutura consolidada e totalmente independente e auto-suficiente,
necessitando da complementação do Rio de Janeiro para a oferta de
trabalho, além da oferta de serviços, lazer e de equipamentos culturais.
3.2- Nova Iguaçu e Belford Roxo hoje: problemas ambientais urbanos
Nova Iguaçu e Belford Roxo contam com diversos rios, córregos e canais
que constituem as sub-bacias dos rios Iguaçu e Sarapuí (que,
regionalmente, integram a bacia hidrográfica
12
da Baía de Guanabara) e a
do rio Guandu (que integra a bacia da Baía de Sepetiba). A sub-bacia do
12
Basicamente, a Bacia hidrográfica pode ser definida como o conjunto de terras e rios (rio
principal e seus afluentes) cujas águas escoam para um ponto comum. A bacia hidrográfica
é uma área limitada pela linha dos seus pontos altos (linha de cumeada) que a separa das
bacias vizinhas. Fonte: Atlas PCNI, 2004.
rio Iguaçu abrange os rios Botas (objeto dessa dissertação), Paiol, das
Velhas, Maxambomba, Ana Felícia, Tinguá, Barreiras, Boa Esperança e
Adrianino. A sub-bacia do rio Sarapuí é constituída pelos rios
Maxambomba, da Prata e Dona Eugênia. A sub-bacia do rio Guandu
abrange os rios Santana, São Pedro, Santo Antônio, D’Ouro, Sarapó,
Ipiranga, Cabuçu, Cabenga e Guandu-Mirim. A maior parte dos rios
encontra-se poluída pela ausência de saneamento.
Considerando os serviços de saneamento, verificamos que a responsável
pelos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário nos
municípios de Nova Iguaçu e Belford Roxo é a CEDAE (Companhia
Estadual de Águas e Esgotos). Os serviços de manejo de águas pluviais e
de resíduos sólidos são de responsabilidade da prefeitura municipal. Os
serviços de esgotamento sanitário são quase que inexistentes, e as
galerias de águas pluviais são usadas para o lançamento das águas
servidas. Segundo dados da CEDAE, inseridos no SINS, no município de
Nova Iguaçu o serviço de abastecimento de água atende 53,8% da
população e o serviço de esgotamento sanitário atende 0,4%. “A
desigualdade entre centro e periferia com relação ao abastecimento de
água é uma das características do município de Nova Iguaçu, onde os
indicadores são melhores nos bairros próximos ao centro e piores nas
áreas mais ao norte e a oeste do Município.” (BRITTO, 2009)
Em muitos casos, nos bairros periféricos menos de 70% da população
residente é abastecida por um fornecimento de água adequado. Segundo
o diagnóstico de Nova Iguaçu apresentado por Pinto (2008) no que dizer
respeito aos problemas relacionados à falta de água, existem diversas
áreas com carência de água, embora na maioria haja a infra-estrutura que
permitiria a chegada da água. Para o autor o que gera a falta de água em
algumas localidades é a distribuição é irregular.
De acordo com Britto (2009) a CEDAE não forneceu dados sobre a
cobertura de serviços em Nova Iguaçu para o SNIS
13
em 2006 e em 2007.
13
Sistema Nacional de Informação sobre Saneamento. É um sistema que reúne
informações e indicadores sobre a prestação dos serviços de água e esgotos provenientes
de uma amostra de prestadores que operam no Brasil. Em 1994, o Governo Federal,
mediante o Programa de Modernização do Setor Saneamento PMSS, decidiu construir um
sistema de informações sobre a prestação dos serviços de água e esgotos no Brasil a partir
105
Dados apresentados pela prefeitura em 2005 indicavam que a CEDAE
atendia com abastecimento de água apenas 53,8% da população urbana.
Segundo estudo sobre habitabilidade realizado pela Prefeitura em
2005, o atendimento do abastecimento de água por rede da
CEDAE abrange 68% dos domicílios permanentes, o que implica
que as demais situações de abastecimento por rede geral são
realizadas por meio de operações clandestinas principalmente por
derivações inadequadas nas adutoras.
(PMNI/Via Pública, 2005; apud Britto, 2009)
Britto (2009) afirma que existe uma forte discrepância nos dados oficiais
relativos ao abastecimento de água em Nova Iguaçu. Entretanto de
acordo com os dados fornecidos pelos técnicos das prefeituras e pela
população, apenas o centro da cidade de Nova Iguaçu é uma área bem
atendida pelos serviços de abastecimento de água. O problema da falta
d’água é uma constante em boa parte da cidade, que o abastecimento
de água em algumas localidades é muito baixo. lugares aonde a água
só chega a noite. Algumas obtêm água por ligações clandestinas no
sistema da CEDAE, principalmente em derivações inadequadas nas
adutoras. Esta situação acaba por ocasionar variações de pressão
significativas nas instalações domiciliares, além de elevar os índices de
perdas físicas e financeiras da CEDAE. Outra parte da população busca
como alternativa a obtenção de água através de poços perfurados nos
lotes, muitas vezes em situações inadequadas quando consideramos as
medidas seguras em relação ao esgoto. Existem ainda aqueles que
canalizam as águas diretamente das nascentes.
Os serviços de coleta e tratamento do esgoto em Nova Iguaçu são ainda
mais precários que os de água, pois é ineficiente tanto do ponto de vista
quantitativo quanto qualitativo. De acordo com Britto (2009) os dados da
da coleta de informações das empresas estaduais e de algumas empresas municipais de
água e esgotos. Após 1995, o SNIS ingressou em um processo de aperfeiçoamento
contínuo. Ano após ano, novos prestadores de serviços passaram a integrar a amostra;
novas informações foram solicitadas aos prestadores e novos indicadores foram calculados.
(informações colhidas no site do Programa de Modernização do setor de Saneamento
SNIS Ministério das cidades http://www.pmss.gov.br/snis/faq.php
, 2009)
prefeitura em 2005 apontam para um percentual de 0,4% dos domicílios
servidos por esgoto em sistema separador. Já os dados do IBGE de 2000
reforçam a idéia de que a região central de Nova Iguaçu é mais bem
servida por esgotamento sanitário adequado que as demais áreas da
cidade. Os números apresentados são de 30 a 40% dos domicílios estão
ligados a rede geral, que é a de drenagem.
Segundos dados apresentados por Pinto (2008), 75% da área urbana do
município de Nova Iguaçu é servida por galerias de águas pluviais,
utilizadas também para o escoamento dos esgotos, tecnicamente dizemos
que a rede funciona com um sistema unitário (drenagem e esgotamento
sanitário). Infelizmente o destino final destes resíduos é seu lançamento
sem qualquer tipo de tratamento nos cursos de água de cortam a cidade
como é o caso do rio Botas. Ao percorrer a cidade podemos observamos
em alguns casos a presença de esgoto a céu aberto, que também tem o
mesmo destino final, os cursos de água. A parcela da população que não
tem acesso à rede pluvial ou ao rio para lançar seus efluentes, utiliza
fossas sépticas seguidas ou não de sumidouro. Para Pinto (2008) a
situação do saneamento em Nova Iguaçu é crítica e não muito diferente
da realidade de outras cidades pobres brasileiras, o que diante destes
fatos fica impossível discordar.
Em Nova Iguaçu, nos locais onde a CEDAE implantou a rede coletora
existem três Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs): a Lagoinha,
Palmares e Andrade de Araújo. Todavia estas se encontram inoperantes.
Implantadas em uma área urbana, estas ETEs utilizam um processo
inadequado para o local por gerar forte odor desagradável, o que causa
constantes reclamações das populações próximas. Este pode ter sido um
dos fatores que levaram a desativação das unidades. “A prefeitura admite
a dificuldade de implantação de um sistema separador no território
municipal” (Britto,2009)
Todas as intervenções de urbanização que vem sendo feitas pela
Prefeitura de Nova Iguaçu abarcam esgoto, drenagem e pavimentação,
apesar dos poucos recursos. O fator recurso acaba por limitar o tipo de
serviço implantado e a rede de esgoto executada é do tipo unitária. é
feito sistema separador quando conseguem recursos externos para
financiar tal empreendimento. Entretanto o sistema unitário é uma
106
realidade consolidada no município. Segundo a prefeitura de Nova Iguaçu
as tubulações utilizadas na drenagem são em concreto vibrado
inadequado para sistemas de esgotamento sanitários que requerem
tubulações em concreto centrifugado, portanto a mesma já está
contornando este problema e toda nova instalação de drenagem/ esgoto
está sendo feita com o material devido.
Este uso inadequado ataca o concreto das tubulações deixando-os
deteriorados, isto devido aos gases liberados pelos esgotos sanitários.
Além disso, não existe manutenção dessas redes coletoras, não
limpeza nem desobstrução, fato que contribui para o assoreamento das
tubulações e para redução da capacidade de escoamento das mesmas.
Existem ainda casos de depreciação do patrimônio pela população,
tampas de bueiros são roubadas, entulho é lançado em poços de visitas.
As obra que estão sendo feitas pela prefeitura de Nova Iguaçu na região
próxima ao Rio Botas se resumem a drenagem e a pavimentação. O
conceito de saneamento aplicado é extremamente restritivo e não
soluciona de forma eficaz o problema desta população, deixando a
margem soluções para a questão do esgotamento. Estes fatos foram
confirmados em entrevistas junto às prefeituras de Nova Iguaçu e de
Belford Roxo (Municípios onde se localiza a bacia do rio Botas). Hoje as
principais ações da prefeitura com relação ao Rio Botas são apenas ações
paliativas de limpeza e a dragagem.
A prefeitura de Nova Iguaçu está estudando possibilidades para tratar seu
esgoto e separá-lo da drenagem, com foco na redução do lançamento de
sedimentos e de esgoto. Além disso, a intenção da prefeitura é associar
esta redução ao Programa de reflorestamento da Serra de Madureira.
Todas estas soluções impactariam positivamente sobre o rio Botas.
Tratando seu próprio esgoto Nova Iguaçu poderia restaurar a saúde do rio
do Botas e viabilizaria o mesmo processo em Belford Roxo.
A situação de Belford Roxo em relação aos serviços de abastecimento de
água e de esgotamento é ainda mais precária. Conforme Britto (2009),
existem no município 3 reservatórios de água: Lote XV (10.000),
construído no âmbito do programa Nova Baixada, Belford Roxo ( 10.000)
e Retiro Feliz (5.000) construídos pelo PDBG, estes dois últimos, nem
chegaram a ser ativados e encontram-se em um estado lastimável de
conservação. De acordo com dados da CEDAE o município ainda seria
beneficiado por mais três reservatórios Graça, Jardim Meu Retiro e Miguel
Couto, que estariam implantados no município vizinho, Nova Iguaçu.
Placa da Prefeitura - foto de um trecho próximo a Rua Cmte. Rocha. Foto: o autor, 2006.
Fonte: Grupo de pesquisa Britto.
107
Mapa do percentual de domicílios abastecidos pela rede geral.
Fonte: Grupo de Pesquisa de Gestão Sustentável da água em áreas urbanas, 2009.
108
Mapa do percentual de domicílios abastecidos pela rede geral.
Fonte: Grupo de Pesquisa de Gestão Sustentável da água em áreas urbanas, 2009.
109
Assim como em Nova Iguaçu, em Belford Roxo o sistema de esgotamento
sanitário da cidade é ineficiente, e quase não possui sistema separador
absoluto. Assim, infelizmente o destino final do esgoto sem tratamento
adequado são os corpos hídricos da cidade. O município de Belford Roxo
faz parte do sistema de esgotamento denominado Sarapuí, sendo que
parte do seus esgotos deveriam ser tratados pela ETE Sarapuí, contruida
dentro do Programa de despoluição da Baía de Guanabara. A ETE
Sarapuí localiza-se à margem esquerda do Rio Sarapuí, no bairro de
Jardim Gláucia, no município de Nova Iguaçu. A ETE funciona com
capacidade mínima, pois os 303 km de rede e coletores tronco previstos
para conectar a rede de esgotos à ETE ainda estão só foram parcialmente
instalados.
Além da ETE Sarapui, que serve a outros municípios da Baixada, existem
ETEs de abrangência municipal, Orquídea e Joinville. Ambas estão
localizadas nas proximidades do rio Botas (uma área que não será
alcançada pela ETE Sarapuí). Projetadas para atender demandas
localizadas, elas são de pequeno porte e mais simples, mas também não
estão desempenhando seu papel, porque não se encontram em
funcionamento. A ETE Joinville localizada no bairro do Lote XV, nem
chegou a ter toda infra-estrutura necessária ao seu funcionamento e foi
totalmente depredada. a ETE Orquídea localizada em Heliópolis,
segundo informações da CEDAE em inicio de operação, assim nas outras
estações não existem troncos coletores para levar o esgoto à estação,
portanto esta opera precariamente, captando água no rio Botas.
No caso especifico de nosso estudo de caso o rio Botas, é necessário que
haja uma parceria entre Nova Iguaçu e Belford Roxo, pois sozinha Belford
Roxo não alcançaria resultados significativos caso Nova Iguaçu (cidade a
montante) continuasse a poluir o Botas.
Além das questões do saneamento, existem ainda as deficiências na rede
de transporte, que comprometem a mobilidade urbana; a necessidade de
melhoria da qualidade urbanística; a necessidade de fortalecimento das
centralidades regionais e sua qualificação urbana; a necessidade de
conter o contínuo crescimento horizontal, que ameaça as áreas rurais e de
proteção ambiental, sendo necessário conter a abertura de loteamentos
precários e estimular a ocupação de terrenos vazios e glebas ociosas.
(BRITTO & CARNEIRO, 2009)
110
Mapa do percentual de domicílios abastecidos pelo sistema de esgotamento sanitário. Fonte:
Grupo de Pesquisa de Gestão Sustentável da água em áreas urbanas, 2009.
111
Mapa do percentual de domicílios abastecidos pelo sistema de esgotamento sanitário. Fonte:
Grupo de Pesquisa de Gestão Sustentável da água em áreas urbanas, 2009.
112
Panorama geral do percentual de domicílios abastecidos pelo sistema de esgotamento
sanitário ao longo do Botas. União dos mapas acima pela autora para mostrar o panorama
geral. Fonte: Grupo de Pesquisa de Gestão Sustentável da água em áreas urbanas, 2009.
113
ETEs localizadas no território da Bacia do Botas.
Autor: Ricardo Mathias Fonte: grupo de Pesquisa Britto, 2009.
114
Em Nova Iguaçu e Belford Roxo a presença de indústrias poluidoras
também contribui para a poluição dos recursos hídricos. Em Nova Iguaçu,
a indústria de cosméticos tem a segunda maior concentração de fábricas
dessa área no país. Algumas dessas indústrias estão localizadas as
margens do Rio Botas, onde seus resíduos muitas vezes sem tratamento
adequado são lançados diretamente nas águas do rio, e segundo relatos
dos moradores este lançamento acaba por alterar a cor e o cheiro das
águas, fato que será comentado com mais enfoque posteriormente. (Ver
imagem a seguir Indústrias localizadas na bacia do rio Botas).
Apesar da ausência de infra-estrutura de saneamento e da presença de
indústrias poluidoras, é crescente, no município a preocupação com o
meio ambiente, existe o esforço de ONG’s e da própria população,
algumas vezes, com apoio da Prefeitura para preservar a natureza.
Existem ações voluntárias para reflorestar áreas desmatadas e para
preservar nascentes dos rios recolhendo lixo. Apesar destas ações serem
levadas a sério por muitos, ainda não é o suficiente, necessita-se de um
maior esforço para que haja uma mudança cultural da população que
polui, para que se passe a respeitar e a preservar a natureza.
com relação aos resíduos sólidos a situação é menos caótica, pois
segundo as duas prefeituras há um elevado índice de coleta na área
urbana e existe, em Nova Iguaçu um aterro sanitário operando de maneira
satisfatória. Localizado fora da área urbana e recebendo resíduos sólidos
produzidos no município, hoje é o único credenciado a vender créditos de
carbono até o momento.
115
Indústrias localizadas na Bacia do rio Botas.
Autor: Paula Barbosa. Fonte: Grupo de pesquisa Britto, 2009.
116
Mapa do percentual de domicílios abastecidos pela rede geral.
Fonte: Grupo de Pesquisa de Gestão Sustentável da água em áreas urbanas, 2009.
117
Mapa do percentual de domicílios abastecidos pela rede geral.
Fonte: Grupo de Pesquisa de Gestão Sustentável da água em áreas urbanas, 2009.
118
Quanto às situação da drenagem e ao problema das inundações, a
situação se torna grave nas épocas de chuvas fortes, já que em sua
quase totalidade os corpos hídricos apresentam-se numa situação
precária, decorrente do assoreamento causado pelo lançamento de
dejetos; pela degradação das encostas, que a cada chuva arrastada
sedimentos para corpo hídrico o tornando mais raso, o que
conseqüentemente ajuda a aumentar a velocidade de suas águas; além
das ocupações irregulares das margens que provoca o estrangulamento
da capacidade de escoamento do rio. O Rio Botas destaca-se
negativamente no diz respeito às enchentes, apresentando todos os
problemas citados anteriormente, ele percorre toda área central e mais
densa das cidades de Nova Iguaçu e Belford Roxo, sendo constantemente
oprimido pela ocupação urbana.
As prefeituras de Nova Iguaçu e Belford Roxo possuem uma parceria com
o INEA, antiga SERLA, para a execução de dois Programas, um anual
desenvolvido no período das chuvas e um perene. Estes programas
contemplam a dragagem e a limpeza dos rios. Segundo a Prefeitura essas
intervenções ajudaram a reduzir significativamente o problema das
inundações, mas muito ainda deve ser feito.
Para as populações que vivem nessas áreas de risco sujeitas à
inundações a Prefeitura de Nova Iguaçu paralelamente ao Projeto Iguaçu
está construindo um número de moradias semelhante ao do Projeto para
reassentar as famílias. A Prefeitura tem um programa especifico para o
reassentamento de famílias que vivem em áreas de risco e continua com
seus programas e pretende reassentar 600 famílias, assim como o
Estado. Ela retirou famílias de áreas de risco e que ocupava acima da
cota cem da Serra de Madureira.
De acordo com a ONG FASE (2009), a Baixada Fluminense possui um
longo histórico de lutas dos movimentos sociais por saneamento. Mesmo
com diversos investimentos realizados o ficit ainda é grande. Ainda de
acordo com a ONG FASE (2009), dentre os programas mais importantes
destacam-se em ordem cronológica: (1) o Projeto Reconstrução Rio
(1988-1996), elaborado pelo Governo do Estado que visava obras
emergenciais de prevenção de enchentes, tinha como principais áreas de
intervenção os rios e canais. Visava a realização do esgotamento
sanitário, o reassentamento de famílias, o reflorestamento de encostas e
margens de rios, tratamento de resíduos sólidos e a educação
ambiental;(2) o Programa de Despoluição da Baía de Guanabara,
também conhecido por PDBG, iniciado em 1995 até os dias atuais, busca
recuperar o ecossistema no entorno da Baía de Guanabara e resgatar a
qualidade dos rios que deságuam na Baia; (3) Programa Baixada Viva
(1995-1998) renomeado posteriormente como Nova Baixada que previa a
construção de redes de distribuição de água, sistemas de coleta e
tratamento de esgoto sanitário, melhorias na drenagem, desenvolvimento
de projetos urbanísticos, dentre outros.
Em 1994, dando continuidade ao Reconstrução Rio, foi montada, com
apoio do BIRD e do PNUD, uma equipe técnica para elaborar o Plano
Diretor Integrado de Controle de Inundações da Bacia do Rio Iguaçu-
Botas Sarapui, que ficou conhecido como Projeto Iguaçu. O objetivo era
estruturar um plano que orientasse as ões das prefeituras e do governo
do estado no médio e longo prazo.
O Projeto Iguaçu elencou um conjunto de ações que deveriam ser
realizadas na bacia, complementando as obras do Reconstrução Rio.
Estas ações envolviam obras e também planejamento do uso do solo,
além de montagem de uma nova estrutura institucional para este
planejamento, articulando as diferentes prefeituras da sub-bacia e o
governo do estado.
O plano, que na sua elaboração contou com um acompanhamento de um
Comitê formado por representação de moradores, governos municipais e
governo estadual, seria um importante instrumento para a gestão dos
recursos hídricos na região. Todavia, poucas ações previstas foram
efetivamente realizadas. O projeto permaneceu durante muito tempo nos
arquivos do governo do estado, que ao longo das administrações
subseqüentes não chegou a considerá-lo quando fazia intervenções nas
região. Em 2007, diante da possibilidade de obtenção de recursos para
obras de saneamento através do PAC, Plano de Aceleração de
Crescimento, do governo federal, o governo do estado encaminhou ao
governo federal o projeto formulado em 1996, o Plano Diretor Integrado de
Controle de Inundações da Bacia do Rio Iguaçu-Sarapui Atualmente o
Projeto Iguaçu está em desenvolvimento, sendo responsabilidade do
119
Governo do estado do RJ, juntamente com a Secretaria do Ambiente e o
INEA que pretende prevenir as enchentes e recuperar ambientalmente as
margens dos rios Iguaçu, Botas e Sarapuí. Foi atualizado pela mesma
equipe da COPPE/UFRJ que havia formulado o projeto de 1996 ,
A situação da Baixada ao longo dos anos é bastante crítica, que se
acumulam as conseqüências das constantes inundações e do
assoreamento. Somente em setembro de 2008 iniciaram-se as obras da
primeira fase do Projeto Iguaçu, com recursos oriundos do PAC, que
dispõe um total de R$284 milhõs, sendo R$ 200 milhões para
investimentos em obras de revitalização dos rios e R$84 milhões para
ações de urbanização e assentamentos. O prazo estipulado para a
conclusão das obras é novembro de 2010.
O Projeto está divido em 3 fases: a primeira são as obras emergenciais, a
segunda as que envolvem a execução das obras de desassoreamento e a
e a terceira as obras de urbanização.
De acordo com Carneiro (2008) as intervenções do Projeto Iguaçu como
um todo vão beneficiar direta e indiretamente 3 milhões de moradores da
Baixada Fluminense. E dentre as ações realizadas as mesmas abrangem:
a recuperação de 80 Km de margens degradadas de cursos d’água; a
construção ou a recuperação de aproximadamente 70 Km de ruas ao
longo das áreas de intervenção; a recuperação/ ampliação de travessias,
pontes, adutoras, compotas e polderes; implantação de parques fluviais e
áreas de lazer; plantio de mais de 200 mil árvores ao longo das margens
dos rios; e o reassentamento de 2090 famílias para conjuntos residenciais.
O Projeto possui como benefícios: a redução dos riscos de inundação nas
bacias, redução de doenças por veiculação hídrica; proteção da infra-
estrutura urbana, buscando reduzir significativamente as perdas materiais
e sociais; participação da população exercendo o controle social das
obras; o beneficiamento dos moradores citado anteriormente.
As principais ações sobre os rios urbanos da Baixada Fluminense estão
sendo: a regularização da calha do rio; a limpeza de galerias e canais
abertos; a recuperação de comportas e a implantação de parques fluviais
e áreas de lazer. Dentre as medidas não-estruturais implantadas no
Projeto Iguaçu destaca-se as ações articuladas voltadas à manutenção de
espaços livres de urbanização na bacia, evitando o agravamento das
inundações nas áreas urbanas. Que de acordo com Carneiro são: a
regulação e o controle de uso do solo, por meio do estabelecimento de
APAs estaduais; a implantação de parques urbanos; a criação de uma
agência regional voltada ao planejamento integrado de políticas públicas
de interesse plurimunicipal e a revisão e adequação dos instrumentos de
planejamento urbano e municipal.
Dentre as tipologias discutidas no Projeto Iguaçu para parques urbanos
temos: “(1) Parque Urbano Fluvial que são parque longitudinais cuja
finalidade é a proteção das margens dos cursos dágua; (2) Parque
Urbano Inundável parques longitudinais, implantados propositalmente
em áreas com cotas baixas, de modo a permitir freqüentes inundações,
que contribuirão para laminar as cheias. (3) parque Urbano de
Preservação Ambiental parques de maiores dimensões, planas ou não,
com finalidade de preservação e valorização ambiental.” (CARNEIRO,
2008)
No que concerne à preservação ambiental de florestas e mananciais, o
município de Nova Iguaçu está numa posição privilegiada, pois possui boa
parte do seu território ocupado por áreas de florestas de Mata Atlântica.
Possui diversas unidades de conservação: uma de nível Federal como a
Reserva Biológica do Tinguá, e duas a nível estadual que são a Área de
Proteção Ambiental (APA) do Gericinó-Mendanha e a APA Guandu. Além
dessas existem ainda nove unidades de conservação municipais: Parque
Municipal de Nova Iguaçu, APA do rio São Pedro de Jaceruba, APA do
Iguaçu-Tinguá, APA Rio D’ouro, APA Tinguazinho, APA do Morro Agudo,
APA Retiro, APA Gunadu-Açu e APA do Morro de São José, além de duas
unidades de conservação privadas a Reserva Particular do Patrimônio
Natural (RPPN) Centro de Ecologia e Cidadania de Tinguá e a RPPN Sítio
Paiquerê. Com todas estas áreas de proteção que correspondem
aproximadamente a 50% do território coloca Nova Iguaçu numa posição
privilegiada no que diz respeito à preservação ambiental. Apesar disso,
diversas outras áreas foram devastadas devido ao seu processo de
ocupação.
120
Na APA Gericinó-Mendanha, também conhecida por APA da Serra de
Madureira, encontra-se o Parque Municipal de Nova Iguaçu, que é o
primeiro geoparque
14
do Estado do Rio de Janeiro, criada em 5 de junho
de 1998. O parque é uma unidade de conservação, instituída pelo Poder
Público Municipal, que abriga valores ecológicos, históricos e culturais,
além de locais representativos da história geológica da região.
Com relação a arborização da cidade, ela existe, mas é
predominantemente privada, sendo significativa a ausência de arborização
nos espaços públicos. Em alguns casos esta ausência se justifica por
espaços públicos mal dimensionados o que impede o plantio. Além destes
pontos negativos, existem ainda: a questão dos espaços públicos que
geralmente são desqualificados e abandonados, o que cria brechas para a
ocupação irregular; a falta de mobiliário urbano e a falta de identidade
local; aliado a isto se soma a fragilidade das políticas públicas e o
despreparo técnico. O ideal seria tratar a sistema hidrográfico, buscando a
renaturalização dos rios da cidade e na cidade; além de reflorestar áreas
de proteção ambiental existente investindo no potencial turístico da
cidade.
Inserido num contexto maior, de estruturação urbana da cidade, a
prefeitura de Nova Iguaçu desenvolveu um diagnóstico sobre a
problemática da arborização e montou uma proposta que é basicamente o
14
Segundo a definição da UNESCO, um geoparque é um território de limites bem definidos
com um território suficientemente grande para servir de apoio ao desenvolvimento sócio-
econômico local. Devem abranger um determinado número de sítios geológicos de relevo ou
um mosaico de entidades geológicas de especial importância científica, raridade e beleza,
que seja representativa de uma região e da sua história geológica, eventos e processos.
Poderá possuir não só significado geológico, mas também ao nível da ecologia, arqueologia,
história e cultura. Além disso, deve prover educação ambiental, treinamento e
desenvolvimento de pesquisa científica nas várias disciplinas das Ciências da Terra, e dar
destaque ao ambiente natural e às políticas de desenvolvimento sustentáveis. Com a
implantação de um geoparque, o impacto local é imediato, reforçando a identificação da
população com sua região e promovendo o renascimento cultural. Respeitando o meio
ambiente, os Geoparques estimulam, por exemplo, a criação de empreendimentos locais
inovadores, pequenos negócios, indústrias de hospedagem e novos empregos, gerando
novas fontes de ganhos (por ex. geoturismo, geoprodutos). Proporciona-se, assim, ganhos
suplementares para a população local e a atração de capital privado, além do
desenvolvimento científico inerente à função dos geoparques.
que estão desenvolvendo atualmente. Segundo a prefeitura, a proposta
inicial tem 3 planos setoriais: o primeiro se refere à sinalização urbana; o
segundo a arborização e reflorestamento; e o terceiro a iluminação pública
que a prefeitura não tinha. Dentro deste estudo em termos do que fazer
sob o ponto de vista urbano foram definidas 3 prioridades: (1) a
urbanização de centros e eixos viários importantes; (2) a infra-estrutura
urbana; e (3) a requalificação ambiental, reflorestamento e renaturalização
de rios. De acordo com prefeitura já foram feitas 30% das obras de infra-
estrutura que se previu neste projeto.
Unidades de Conservação em Nova Iguaçu.
Fonte: Plano Diretor Participativo de Nova Iguaçu.
121
Vegetação Urbana de Nova Iguaçu. Fonte: Costa, 2005
122
Com relação ao segundo Plano Setorial, o de Vegetação Urbana e
Reflorestamento, os objetivos que se esperam alcançar são: apontar
oportunidades e diretrizes para a implantação de vegetação; maximizar a
contribuição da vegetação na qualidade de vida e sustentabilidade do
município; contribuir para uma melhor legibilidade do espaço urbano e
construção de uma identidade paisagística; proteção ambiental e
recomposição paisagística; e, geração de trabalho e renda. A intenção da
Prefeitura é o plantio de aproximadamente 20.000 árvores no tecido
urbano, num prazo a ser definido juntamente com o poder público
municipal.
Vista do Centro de Nova Iguaçu.
Fonte: Costa, 2005.
Padrão de urbanização em Nova Iguaçu
Fonte: Plano Diretor Participativo de Nova Iguaçu
123
Para tentar combater esta situação de precariedade as prefeituras buscam
soluções legais para mudar definitivamente este quadro. Neste sentido em
Nova Iguaçu o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Sustentável
(PDDUS) criado pela lei n° 006/97 foi revisto e o novo Plano Diretor
encontra-se em fase da aprovação na Câmara de Vereadores. o novo
Plano Diretor de Belford Roxo foi aprovado em 2007.
Carneiro, analisando os planos diretores, afirma que em relação aos
planos anteriores obteve-se grandes avanços principalmente no que se
refere aos recursos hídricos, entretanto é necessário um aperfeiçoamento
para a promoção da gestão integrada da água e para a sustentabilidade
ambiental. O cenário identificado é o de ausência de planejamento
regional, algumas proposta para Nova Iguaçu podem transferir o problema
para Belford Roxo. Além disso, Belford Roxo não pode colocar seus
esforços no tratamento de efluentes sobre o Botas se Nova Iguaçu não o
fizer, já que Nova Iguaçu é a cidade mais a montante.
Para Carneiro (2008) a análise do PDs mostrou que a escala da bacia
hidrográfica, fundamental para o tratamento dessas questões, ainda não
foi corretamente incorporada no planejamento municipal, além das
diretrizes serem às vezes muito genéricas e superficiais.
Por outro lado, as diretrizes contidas nos planos são ainda muito
genéricas e não revelam interações com o planejamento de
setores estratégicos para o controle e gerenciamento dos recursos
hídricos como, por exemplo, o setor de transporte e de infra-
estrutura viária. Da mesma forma, as diretrizes relativas ao
saneamento ambiental são ora superficiais, ora incongruentes e
pouco qualificadas tecnicamente. Fica a expectativa com relação
à elaboração dos planos municipais de saneamento básico,
conforme determina a lei 11.445. (BRITTO & CARNEIRO, 2009)
Para que haja uma gestão integrada das águas é necessário um
melhoramento técnico da gestão municipal, que uma das fragilidades
das prefeituras da baixada Fluminense é a ausência de corpo técnico
permanente e tecnicamente qualificado. Coloca-se, também, a
necessidade da criação de estruturas cooperativas, não apenas entre os
vários municípios de uma mesma área metropolitana, mas também entre
estes municípios e o Estado. (BRITTO & CARNEIRO, 2009).
Ao investigar o processo de formação das cidades da Baixada Fluminense
e sua estruturação urbana na Bacia do Botas, podemos dizer que estes
foram fatores determinantes e que até hoje influenciam no processo de
degradação dos recursos hídricos. Com uma política que não valoriza a
questão ambiental e que não fiscaliza seus recursos, estes se tornam
cada vez mais poluídos, principalmente pela grande deficiência de
sistemas adequados de coleta e tratamento do esgoto. Cada vez mais
degradados os rios da Baixada Fluminense de forma geral não têm seus
potenciais ambientais, culturais e históricos explorados e são usados
apenas como canais de escoamento do esgoto. Serpenteando a
paisagem da cidade, ora aparentes ora escondidos na massa urbana,
causam pânico a população a cada chuva mais forte.
Os rios ao longo de muitos anos foram indevidamente explorados e
tiveram suas margens ocupadas sem controle, consequentemente em
seus períodos de cheias acabam trazendo prejuízos materiais
devastadores aos moradores, já que a cidade ocupou a várzea, sem infra-
estrutura de drenagem adequada. A impermeabilização do tecido urbano
contribui de forma negativa para maximizar estes problemas. Cabe a nós
cidadãos chamar a responsabilidade para nós mesmos, já que o rio já
existia no território quando a cidade se estabeleceu. Contudo podemos
dizer que não é o rio que invade as casas, mas as casas que invadiram o
rio, que tenta a cada cheia recuperar o que é seu por direito, a várzea.
Como conseqüência do crescimento desordenado da malha urbana de
Nova Iguaçu e Belford Roxo, surgiram no território da Bacia do rio Botas
lotes que não apresentavam condições mínimas de habitabilidade. Com o
crescimento acelerado da ocupação e a falta de infra-estrutura, a poluição
causada pelo esgoto é um dos graves problemas do rio Botas. Em
diversos trechos visitados, pode-se observar com freqüência a presença
de tubulações que lançam o esgoto “in natura” no corpo hídrico.
124
Casas construídas dentro do rio Botas sem condições de habitabilidade. Foto: o autor, 2007.
Lançamento de esgoto “in natura” no rio Botas. Autor: o autor, 2007.
Seu processo histórico de emancipações causou um enfraquecimento
político em Nova Iguaçu, que a atual Prefeitura está tentando recuperar
através de estratégias de Estruturação Urbanística. Estratégia esta que
procura levar aos bairros mais carentes infra-estrutura de saneamento
15
,
pavimentação e iluminação; e nos bairros consolidados fortalece suas
15
A definição clássica de saneamento é o conjunto de medidas que
visam a modificar as condições do meio ambiente, com a finalidade de
prevenir doenças e promover a saúde” (MENEZES, 1984, p.26). Menezes
(1984) faz uma distinção entre “saneamento básico”, que seria uma
restrição do conceito para designar as ações direcionadas ao controle dos
patogênicos e seus vetores, e “saneamento ambiental” que teria um
sentido mais amplo, para alcançar a administração do equilíbrio ecológico,
relacionando-se, também, com os aspectos culturais, econômicos e
administrativos e medidas de uso e ocupação do solo. Para Moraes
(1993) saneamento é o conjunto de ações e medidas que visam à
melhoria da salubridade ambiental, com a finalidade de prevenir doenças
e promover a saúde. Como saneamento básico ele define o conjunto de
ações, entendidas fundamentalmente como de saúde pública,
compreendendo o abastecimento de água em quantidade suficiente para
assegurar a higiene adequada e o conforto, com qualidade compatível
com os padrões de potabilidade; coleta, tratamento e disposição
adequada dos esgotos e dos resíduos sólidos; drenagem urbana de águas
pluviais e controle ambiental de roedores, insetos, helmintos e outros
vetores e reservatórios de doenças (ibid., s.p.). A noção de saneamento
está ligada à de higiene e, uma vez que a palavra higiene significa algo
relativo à saúde (FERREIRA, 2000), então, a noção de saneamento
relaciona-se à noção de saúde. Diversos autores e instituições definiram o
saneamento ambiental (MORAES, 1993; FUNASA, 1999). Recentemente,
a Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental, do Ministério das
Cidades, ao propor a Política Nacional de Saneamento Ambiental (PNSA),
definiu saneamento ambiental como: “[...] o conjunto de ações técnicas e
socioeconômicas, entendidas fundamentalmente como de saúde pública,
tendo por objetivo alcançar níveis crescentes de salubridade ambiental,
compreendendo o abastecimento de água em quantidade e dentro dos
padrões de potabilidade vigentes, o manejo de esgotos sanitários,
resíduos sólidos e emissões atmosféricas, a drenagem de águas pluviais,
o controle ambiental de vetores e reservatórios de doenças, a promoção
125
centralidades e requalifica seus espaços públicos, melhorando as
articulações viárias, a mobilidade e os serviços.
Apesar deste empenho em tentar equipar o território com infra-estrutura
pudemos verificar um problema conceitual na abordagem do vem a ser
saneamento. Segundo um funcionário da Prefeitura de Nova Iguaçu são
feitas obras apenas de drenagem. Ou seja, a obra que está sendo feita na
região próxima ao Rio Botas se resume a drenagem e a pavimentação.
No âmbito das ações da prefeitura de município de Nova Iguaçu, o projeto
hoje apresentado como referência é o Projeto Bairro Escola, inserido em
um programa maior de estruturação urbanística da cidade, busca criar na
Educação uma vertente para promover a universalização do ensino
público de qualidade, aliado a um programa de requalificação dos espaços
públicos que integram esta rede. A intenção do projeto analisado por Pinto
(2008) é utilizar equipamentos existentes em cada bairro como: clubes,
igrejas, comércios, associações; e aproveitá-los em sinergia com as
escolas públicas para que alunos pudessem desfrutar dos espaços com
orientação pedagógica em tempo integral. O trabalho de Pinto ainda faz
uma reflexão sobre a cidade existente e seus desafios, e segundo o
próprio autor tem uma perspectiva de denunciar algumas tendências que
permitam um melhor desenvolvimento das práticas urbanas. Estas
tendências indicam novas e melhores possibilidade de atuação dos
planejadores e gestores dentro da cidade heterogênea e diversa.
sanitária e o controle ambiental do uso e ocupação do solo e prevenção e
controle do excesso de ruídos, tendo como finalidade promover e
melhorar as condições de vida urbana e rural" (SNSA, 2003. s.p.). Todas as
informações sobre Saneamento contidas nesta nota foram retiradas do texto de
Borja & Moraes (2005).
Municípios vizinhos à Nova Iguaçu e seus respectivos centros de bairro.
Fonte: o autor, 2009.
126
Em seu trabalho Pinto traz elementos que ajudam a caracterizar o quadro
sócio-econômico atual de Nova Iguaçu. Segundo Pinto (2008) o setor de
maior destaque é o terciário, e apesar de todas as emancipações o seu
centro de bairro continua sendo o de maior importância para a região,
marcado pelo comércio varejista, segundo Pinto os gêneros alimentícios
são os que mais se destacam. Além de possuir uma baixa oferta de
emprego a mão de obra disponível não possui qualificação o que dificulta
ainda mais.
De acordo com Góes (1934), de forma geral os rios da Baixada
Fluminense, com exceção do Paraíba, tinham um desenvolvimento
relativamente pequeno, sendo raros os que ultrapassam cem quilômetros
de extensão. Freqüentemente, estes rios divagam, em meandros
caprichosos, entre pântanos e brejais, sem leitos perfeitamente definidos
(GÓES, 1934:78) Nos trechos a montante observavam cheias repentinas
e fortes causadas pelas grandes chuvas. Por não encontrarem vazão
suficiente, transbordavam, inundando as planícies adjacentes. Para Góes
o problema de saneamento da Baixada consistia, além do exaguamento
dos brejos permanentes, em evitar que estas inundações se
reproduzissem.
As principais bacias hidrográficas pertencentes à cidade têm inicio no seu
próprio território. Não há contribuição negativa de outros municípios, o que
pode permitir à cidade gerir seu próprio destino sobre esse tema. (PINTO,
2008:36) O problema da poluição hídrica é causado pela contribuição da
própria cidade, agravado pela dificuldade de implantação de um sistema
de saneamento. Segundo informações da prefeitura de Nova Iguaçu a
contribuição da cidade para o rio Botas hoje é de 70% da população.
Com relação à poluição, o atual quadro dos rios da cidade é a contribuição
negativa da própria cidade, em parte causada pela ausência de
saneamento. No caso especifico de nosso objeto de estudo o rio Botas, é
necessário que haja uma parceria entre Nova Iguaçu e Belford Roxo, pois
sozinha Belford Roxo não alcançaria resultados significativos caso Nova
Iguaçu (cidade a montante) continuasse a poluir o Botas.
Hidrografia no território de Belford Roxo. Fonte: Prefeitura de Belford Roxo, 2009.
127
Hidrografia no território de Nova Iguaçu.
Fonte: Atlas PCNI, 2004.
128
Em Nova Iguaçu está implantado a Estação de Tratamento de Água (ETA)
que utiliza água do rio Guandu. Desta ETA partem sistemas adutores que
abastecem a própria cidade de Nova Iguaçu e os municípios próximos,
inclusive o Rio de Janeiro. Mas este sistema de adutoras não abastece
toda a população, obrigando parte dela a buscar outras fontes de
abastecimento.
Segundo dados do relatório da II Conferência das Cidades, Etapa Nova
Iguaçu
16
o índice de hidrometração das ligações é muito baixo, estando
na faixa de 57%. Além disso, não setorização do sistema de
distribuição de água o que provoca pressões inadequadas. Com um
sistema de reservação insuficiente, o município necessita de ampliações.
Com toda esta problemática no sistema as perdas são uma constante no
faturamento do sistema de abastecimento de água de Nova Iguaçu, em
2003 foi superior a 65%. Isso quer dizer que em cada 100m³ da água
produzida, 65 m³ não são faturadas pela CEDAE.
Existe uma discordância entre diversos órgãos com relação aos dados de
abastecimento de água em Nova Iguaçu. Segundo Britto (2009) os dados
do SNIS de 2006 mostram que a população urbana seria atendida em sua
totalidade. quanto aos dados do senso de 2000, estes declaram que
27,8% dos domicílios possuem um serviço de abastecimento de água
inadequado e 21,1% possuem deficiência no esgotamento. A disparidade
entre o serviço de abastecimento de água e o serviço de esgotamento
sanitário é elevada, podendo ser confirmada pelos dados apresentados
pelo SNIS de 2006, de acordo com Britto (2009) a população abastecida
por água é de 344.492, enquanto que a abastecida por esgoto é de
apenas 4.988.
16
A II Conferência das Cidades, Etapa Nova Iguaçu, tem por objetivo definir
democraticamente uma Política Nacional de Desenvolvimento Urbano. Este
encontro norteará as ações dos poderes públicos e definirá a redação final do
documento que o município apresentará na Etapa Estadual da Conferência
Nacional das Cidades.
Os serviços de limpeza urbana, coleta, transporte e disposição final dos
resíduos sólidos do município de Nova Iguaçu são realizados pela própria
prefeitura municipal.
Com um território extenso, Nova Iguaçu possui algumas áreas ainda
rurais e com ocupação bastante dispersa o que dificulta ainda mais a
implantação de sistemas de infra-estrutura adequados, já que a baixa
densidade não justifica os altos custos para a implantação do sistema.
“Em 2005 foi iniciado o projeto PAT-PROSANEAR beneficiando
2.143 famílias da região de Cabuçu/Jardim Laranjeiras, com
saneamento básico. Em 2007, no âmbito do PAC o município foi
contemplado com um verbas para desenvolvimento de obras
Saneamento integrado e urbanização nas favelas dos bairros de
Rodilvânia, Parque Imperial, Cabuçu, Três Marias, Ipiranga,
Jardim Guandu e Comendador Soares. Ao todo o 88 km de
redes de água, 585 km de redes de esgoto, 96 km de drenagem,
126 km de pavimentação, dez elevatórias de esgoto e 13
estações de tratamento de esgotos. As obras foram divididas em
quatro lotes. Lote 1 - Jardim Guandu e Prados Verdes, Lote 2 -
Palhada, Jardim Palmares e Jardim Alvorada Lote 3 - Cacuia,
Inconfidência e Rodilândia e Lote 4 - Jardim Laranjeiras e Jardim
Cabuçu. Em alguns bairros os recursos do PAC não foram
suficientes para contemplar todas as ruas do bairro, sendo as
obras realizadas em parte das ruas. Jardim Laranjeiras e Jardim
Cabuçu foram novamente objeto de obras, segundo a prefeitura,
porém a situação merece um levantamento de campo mais
aprofundado, pois os bairros haviam sido objeto de obras
projeto PAT PROSANEAR.” (BRITTO, 2009)
129
Densidade demográfica de Nova Iguaçu Habitantes por quilômetro quadrado.
Fonte: PCNI
Detalhe do mapa sobre a Densidade demográfica de Nova Iguaçu - Bacia do Botas.
Fonte: PCNI
Legenda:
130
131
CAPITULO IV
Contextualização Empírica do rio Botas
132
Fotos da página 131:
1. Ponte baixa, lixo e o assoreamento. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto, 2006.
2. Linha Férrea seccionando o rio Botas. Foto: o autor, 2006. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
3. Casas construídas dentro do rio Botas. Foto: o autor, 2006. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
4. O assoreamento do rio Botas. Foto: o autor, 2006. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
5. Casas construídas dentro do rio Botas. Fonte: o autor, 2006. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
6. Trecho da bacia do rio Botas. Fonte: Google, 2006.
133
O Rio Botas é um dos principais afluentes do rio Iguaçu. O clima da sub-
bacia do rio Botas é quente e úmido com estação chuvosa no verão. O
período chuvoso se estende de novembro a abril, sendo dezembro o mês
de maior pluviosidade. O período seco compreende os meses de maio a
outubro, sendo junho e julho o bimestre mais seco. A sub-bacia do rio
Botas assim como as demais da Baixada Fluminense, pelas condições
naturais determinadas pelo relevo e clima, são freqüentemente atingidas
por fortes temporais que, geralmente, provocam inundações, cujas
conseqüências são agravadas pelo processo de ocupação do território.
Devido às precárias condições ou até mesmo pela inexistência de
sistemas de controle de inundações a grande maioria da população fica
exposta a este risco. Localizado na Bacia Hidrográfica da Baia de
Guanabara, o Rio Botas e seus afluentes formam uma das sub-bacias
desta macro bacia.
Imagem Bacia Hidrográfica da Baia de Guanabara. Autor: Carolina Helena Silva, 2006.
Fonte: Grupo de pesquisa Britto
Imagem Sub-bacia Iguaçu-Sarapuí. Autor: Carolina Helena Silva, 2006.
Fonte: grupo de pesquisa Britto
Imagem Sub-bacia do Rio Botas. Autor: Carolina Helena Silva, 2006.
Fonte: grupo de pesquisa Britto
134
A Tabela a seguir mostra a população diretamente atingida pelas
inundações por sub-bacia, e o número de habitações construídas nas
faixas marginais de proteção dos cursos d'água. Pode-se verificar que as
inundações provocadas por temporais de verão (novembro a março)
atingem diretamente uma população estimada em 332.200 habitantes.
População diretamente atingida por Inundações, por Sub-bacias, e
número de habitações situadas dentro da Faixa Marginal Proteção
(FMP)
Sub-bacia
População atingida
durante as chuvas
nº. de habitações
dentro da FMP
Sarapuí
193.200
908
Iguaçu-Botas
139.000
1.239
Total da Bacia do
Iguaçu
332.200
2.147
Fonte: “Relatório de Avaliação das Bacias como um Todo (Projeto Conceitual)”, Projeto
Reconstrução Rio, Serla, 1991.
A poluição ambiental vem se contrapondo seriamente ao bom
aproveitamento dos corpos d'água, causando danos à saúde da
população e ao ecossistema local, além dos prejuízos econômicos. Não
diferente dos outros cursos d'água que constituem a bacia do rio Iguaçu, o
Botas caracteriza-se como uma verdadeira canalização de esgoto a céu
aberto, recebendo grandes contribuições de esgotos domésticos,
despejos industriais e de lixo. A questão da infra-estrutura (água e esgoto)
é certamente o maior desafio, dentre todos os problemas da Sub-bacia do
Botas, já que esta gestão se apresenta de forma ainda fragmentada.
Os estudos da Bacia do Botas se iniciaram em 2006, quando eu ainda era
bolsista de iniciação científica. Foi nesse período que participando do
Grupo de Pesquisas coordenado pela minha então orientadora, a Prof.
Dra. Ana Lúcia Britto, surgiu meu interesse de trabalhar com a questão
dos rios urbanos, em especial o Rio Botas.
Além disso, o rio Botas es inserido numa das bacias da região
metropolitana do Rio de Janeiro mais problemáticas do Estado; com amplas
áreas rurais sofrendo um processo de urbanização; zonas de ocupação do
solo conflitantes com as condições de habitabilidade, principalmente no que
se refere à ineficiência da drenagem; e a questão dos problemas relacionados
as inundações.
Primeiramente fizemos uma visita de campo para reconhecimento da área em
estudo. Percorremos o rio Botas, seu entorno imediato e alguns de seus
afluentes analisando quais os problemas a população era obrigada a
enfrentar em seu cotidiano. Além disso, procuramos observar quais ações
humanas poderiam comprometer a qualidade desse corpo hídrico e como era
a atuação dos órgãos competentes. Todos os pontos percorridos foram
georeferenciados (marcados com GPS) e em laboratório foram transcritos
para imagens de satélite, que nos ajudavam na localização, organização do
material recolhido e no retorno a estes pontos em novas visitas de campo.
Nas visitas posteriores fomos orientados pela Prof. Dra. Ana Lúcia Britto, a
utilizar a metodologia de Costa (2002) e procurar identificar nos trechos
percorridos (1) a possibilidade de se caminhar ao longo de suas margens; (2)
possibilidades de cruzar o rio através de pontes, pinguelas, embarcações ou
qualquer outro meio e a (3) possibilidades de acesso público à água, para que
pudéssemos estabelecer os padrões de ocupação das margens do rio Botas.
135
O Rio Botas e sua Bacia Hidrográfica distribuído sobre o território de Nova Iguaçu e Belford Roxo
Fonte: Grupo de pesquisa Britto, 2006.
136
Trecho preservado em Belford Roxo. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto, 2006.
Margens ocupadas e a inexistência de mata ciliar. Foto: o autor, 2006. Fonte: Grupo de
Pesquisa Britto
Impermeabilização do solo afluente Botas. Foto: o autor, 2006. Fonte: Grupo de Pesquisa
Britto
Assoreamento. Fonte: o autor, 2006. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
137
Lançamento de lixo no leito do rio. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto, 2006.
Ligações de água clandestinas afluente Botas. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
Estreitamento do leito menor. Foto: o autor, 2006. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto.
Limitação das ações da prefeitura, trecho recentemente dragado. Foto: o autor, 2006. Fonte:
Grupo de Pesquisa Britto
138
Lançamento de esgoto rio Botas. Foto: o autor, 2006. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
Lançamento de esgoto rio Botas. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto, 2006.
Ruas sem pavimentação. Foto: o autor, 2006. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
Ponte de acesso a rua sobre o rio. Foto: o autor, 2006. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
139
Britto adquiriu para o grupo de pesquisa uma base de imagens de satélite
chamada Iconos, da Bacia Hidrográfica do rio Botas para que
pudéssemos aprofundar os estudos. Em laboratório cruzamos as imagens
de satélite Iconos com a mancha de inundação da área correspondente. A
mancha de inundação utilizada pertence ao Sistema de Informação de
Recursos Hídricos, da Bacia do Iguaçu, versão 1.0, elaborado pelo
Laboratório de Hidrologia COPPE/UFRJ. O resultado obtido, não foi
surpresa, pois pode ser claramente observado em campo. Uma
quantidade considerável da malha urbana dos municípios de Nova Iguaçu
e Belford Roxo que se localizam próximas ao Botas está dentro da
mancha de inundação, ou seja, sofrem com este problema
constantemente a cada chuva mais forte. A área no entorno imediato do
Rio Botas não deveria ter sido ocupada por se tratar de uma área
chamada Área de Proteção Permanente (APP), mas fatores históricos e
econômicos, discutidos no capítulo anterior, contribuíram para a atual
composição urbana que apresentam estes dois municípios.
Em campo percebemos diversos pontos de inundação, embora o relatório
final do Plano Diretor de Recursos Hídricos da Região Hidrográfica da
Baía de Guanabara aponte que “em Nova Iguaçu, ocorrem inundações em
duas áreas às margens do Rio Botas, sendo uma próxima do bairro
Comendador Soares, conhecida como Santa Eugênia, e a segunda nas
comunidades de Caiuba e Viga, localizadas próximo a divisa com o
município de Belford Roxo.” (PLANO DIRETOR DE RECURSOS
HÍDRICOS DA REGIÃO HIDROGRAFICA DA BAÍA DE GUANABARA,
2005, p. 68)
no município de Belford Roxo o mesmo relatório identifica “(...) vários
pontos de alagamento ao longo do rio Botas, em zonas residenciais e de
ocupação mista. Na sua porção leste, junto ao canal de cintura do rio
Iguaçu, foram identificadas duas áreas sujeitas à inundação, no Vale do
Ipê e perto do canal do canteiro, no Lote XV. O precário estado de
conservação do sistema de compotas do rio Iguaçu contribui para o
agravamento das inundações nesses locais.” (PLANO DIRETOR DE
RECURSOS HÍDRICOS DA REGIÃO HIDROGRAFICA DA BAÍA DE
GUANABARA, 2005, p. 67)
As enchentes que ocorrem nesta região da Baixada Fluminense são
fenômenos naturais devido às características do relevo e a fatores climáticos
como as chuvas intensas em determinadas épocas do ano. É nesta planície
onde os rios mudam de regime de escoamento, perdem velocidade e acabam
por depositar o material sólido carregado de trechos a montante,
consequentemente vão se formando meandros e brejos. “Trata-se, portanto, a
Baixada, de uma área naturalmente inundável.” (PLANO DIRETOR DE
RECURSOS HÍDRICOS DA REGIÃO HIDROGRAFICA DA BAÍA DE
GUANABARA, 2005, p. 67)
Apesar de termos percorrido alguns dos braços do rio Botas para
reconhecimento, este estudo se limita apenas ao corpo principal deste rio.
Com todos os pontos georeferenciados, fizemos uma pré-seleção entre todos
os pontos visitados, agrupamos os mais próximos e criamos trechos para
dinamizar as análises, já que as características vistas em campo desses
pontos próximos eram muito parecidas. Ao agrupar os pontos definimos 10
(dez) trechos. A partir destes, criamos uma tabela que possui a identificação
do trecho, o município, o bairro e10 (dez) características observadas em
campo (ver tabela a seguir).
Antes de selecionar em quais áreas faríamos a aplicação do questionário,
localizamos os 10 (dez) trechos pré-definidos sobre a imagem criada pelo
grupo de pesquisa, a imagem do cruzamento da base Iconos com a Mancha
de Inundação da bacia do rio Botas. As informações obtidas através da união
dos dados da tabela com o resultado do cruzamento das imagens nos
auxiliou a selecionar os trechos onde aplicaríamos os questionários. Dentre
os 10 (dez) trechos, os 8 (oito) primeiros estão localizados no município de
Nova Iguaçu, o (nono) está na divisão entre os municípios de Nova Iguaçu
e Belford Roxo e o 10º (décimo) está localizado no município de Belford Roxo.
140
Cruzamento da base Iconos com a mancha de inundação. Fonte: Iconos Autor: Grupo de
pesquisa Britto, 2007. Localização dos 10 trechos pré-selecionados na bacia do rio Botas Autor:
Flávia Royse, 2007.
141
definição dos padrões
Trechos
selecionados
Município
Bairro
Características
Área de
vázea
Ponto de
inundação
Lançamento
de esgoto"in
natura"
Ocupação
da faixa
marginal
Assorea-
mento
Lançamen-
to
de Lixo
Estreitamen-
to
do leito
Impermea
-
bilização
Obstáculo
Ação
Popular
T1
Nova
Iguaçu
Jardim Roma X X X X X X X
T2
Nova
Iguaçu
Riachão X X X X X X
T3
Nova
Iguaçu
Palhada X X X X X X
T4
Nova
Iguaçu
Ouro Preto X X X X X
T5
Nova
Iguaçu
Belterra X X X X X X X X
T6
Nova
Iguaçu
Comendador
Soares
X X X X X X
T7
Nova
Iguaçu
Santa Eugênia X X X X X
T8
Nova
Iguaçu
Jardim da Viga
X X X
T9
Nova
Iguaçu
Nova Luz X X X X X X
T10
Belford
Roxo
Vila Entre Rios
X X X X X X
Tabela com os 10 trechos pré-selecionados e as características observadas em campo.
142
Como podemos notar na tabela acima, muitas das características
observadas em campo se repetem em quase todos os trechos, contudo,
alguns trechos apresentam particularidades. Como é o caso dos trechos
T1, T2 e T3, que possuem as mesmas características, sendo que o trecho
T1 possui como diferencial uma vasta área de várzea, além de ser o
trecho visitado que se localiza mais a montante. Sendo assim, este foi o
primeiro trecho selecionado para aplicação dos questionários.
Os trechos T4, T5 e T6 também foram selecionados para aplicação de
questionários, devido a suas particularidades. No trecho T4 existe a
participação de um morador que torna este trecho único em toda a bacia
do Botas. Conhecido por “Velho do rio” cuida do rio neste trecho, recolhe o
lixo que vem de lugares a montante, plantou as margens,
conseqüentemente neste trecho a população não joga lixo no rio. A
particularidade do trecho T5 é a existência da Linha Férrea que cruza o
Botas. Neste ponto o rio teve suas margens impermeabilizadas e seu leito
estreitado. No trecho T6 existe uma ponte que foi mal dimensionada para
o local, em dias de muita chuva quando o volume de água aumenta, o lixo
jogado no leito do rio fica preso sob a ponte, agravando as conseqüências
das enchentes.
Os trechos T7, T8 e T9 possuem características semelhantes, sendo
que o escolhido para a aplicação dos questionários foi o trecho T8, pois a
ocupação da faixa marginal é pequena comparada a todos os outros
trechos apresentados. Em outras palavras existem poucas unidades
habitacionais na Área de Proteção Permanente (APP), o que torna este
trecho uma área de grande potencial para o projeto urbano, que não
exigiria um reassentamento maciço e por ter bastante área livre.
O trecho T10 foi o único trecho localizado integralmente no município de
Belford Roxo, somente por este fator seria escolhido. Mas, sua
importância vai, além disso, ele apresenta características muito
particulares que serão explicadas a seguir. Localizado na confluência do
Rio Botas com seu braço chamado de rio Maxambomba, este trecho
possui uma grande área livre que serve de bacia de acumulação nos
períodos de cheias.
Dentre os 10 trechos pré-selecionados ao longo do rio Botas, foram
escolhidos 6 para a aplicação dos questionários, identificados na tabela
acima pela cor verde. A seguir veremos uma imagem dos cruzamentos
descritos anteriormente para auxiliar na seleção dos trechos com a
identificação em vermelho dos 6 (seis) trechos selecionados para a
aplicação dos questionários. Esta marcação nos ajuda a ver quais são os
pontos mais críticos e qual o alcance de nossa pesquisa. É importante
deixar claro que a aplicação dos questionários deste grupo de pesquisa
não tem valor estatístico, e sim qualitativo.
Neste trabalho discutiremos apenas algumas das questões do
questionário que julgarmos contundente ao tema que esta sendo
discutido. que o tema aqui apresentado trata-se apenas um
desdobramento de uma pesquisa maior que trata da
sustentabilidade e
integração na gestão das águas na Região Metropolitana do Rio de Janeiro:
143
Cruzamento da base Iconos com a mancha de inundação e a localização dos 6 trechos
selecionados na bacia do rio Botas para a aplicação dos questionários.
144
Para esclarecer melhor todas as informações analisadas e decisões
tomadas que foram citadas acima, apresentaremos uma seqüência de
imagens dos 6 (seis) trechos selecionados para o aprofundamento do
estudo através da aplicação dos questionários.
Após localizarmos os seis trechos selecionados na bacia hidrográfica do
rio Botas (imagem anterior), daremos um zoom em cada um deles para
que possamos ver suas especificidades citadas na tabela. O primeiro
mapa apresentado será um mapa Google de 2007, com a identificação
dos nomes das ruas para nos ajudar na localização dentro do bairro.
A imagem seguinte,trata-se de um mapa mais específico elaborado em
laboratório. Esta imagem surgiu do cruzamento da base Iconos com a
criação de uma mancha da Área de Proteção Permanente (APP),
correspondente às especificidades de cada trecho da bacia hidrográfica
do rio Botas, baseando na legislação correspondente. Nesta imagem
podemos observar a grande quantidade de unidades habitacionais
construídas dentro da APP. Na seqüência, a imagem seguinte localiza os
pontos fotografados neste trecho. Para melhor visualização, novamente
damos um zoom em cada ponto fotografado, onde identificamos cada
visada com suas imagens correspondentes.
Cada foto tirada em campo receberá um código alfanumérico, onde (T)
corresponde ao trecho de localização dentro da bacia hidrográfica do rio
Botas, (P) é o ponto fotografado dentro do trecho e (V) são as visadas
17
dentro de cada ponto que estabelecem um percurso.
17
Ato de visar, de dirigir a vista ou o olhar para, mirar.
T1-P 1-V 1
Trecho
Ponto
Visada
145
Trecho 1 (T1) O rio Botas e a localização das ruas de seu entorno no bairro Jardim Roma.
Fonte: Google, 2007.
146
PONTO 1
PONTO 2
PONTO 3
Trecho 1 (T1) O rio Botas e a mancha da área de proteção permanente. Autor: Carolina
Helena Fonte: Base Iconos Grupo de Pesquisa Britto
Trecho 1 (T1) Pontos fotografados (P1, P2 e P3). Autor: Flávia Royse
Fonte: Base Iconos Grupo de Pesquisa Britto
147
Trecho 1 (T1) Ponto 1 (P1): Visadas fotografadas (V1 e V2). Autor: Flávia Royse
Fonte: Base Iconos Grupo de Pesquisa Britto
T1-P1-V1 Mostra nitidamente a ocupação das faixas marginais, o assoreamento e
lançamento de esgoto. Foto: o autor, 2006. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
T1-P1-V2 Placa da prefeitura de Nova Iguaçu referente às obras de saneamento e
pavimentação. Foto: o autor, 2006. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
Na foto T1-P1-V1 podemos observar que as casas construídas estão
ocupando a faixa marginal que é uma área de proteção permanente. A
foto T1-P1-V2 é uma aproximação da placa que aparece na foto T1-P1-
V1, esta placa identifica as ações que a prefeitura tem feito na área, mas
que apesar de estar escrito “obras de saneamento e pavimentação”,
segundo nossas pesquisas o saneamento contempla apenas a drenagem.
O esgotamento continua sendo uma questão sem solução.
148
Trecho 1 (T1) Ponto 2 (P2): Visadas fotografadas (V3, V4 e V5). Autor: Flávia Royse
Fonte: Base Iconos Grupo de Pesquisa Britto
T1-P2-V3 Área de várzea próxima ao rio Botas. Foto: o autor, 2006. Fonte: Grupo de
Pesquisa Britto
A foto T1-P2-V3 mostra uma área de várzea inundada próxima ao rio
Botas, importante para o equilíbrio hídrico, pois ajuda a suavizar os efeitos
nocivos das enchentes que acumula grande volume de água que será
absorvido lentamente pelo solo.
149
T1-P2-V4 Ocupação da faixa marginal na Rua Marina Freire. Fonte: Grupo de Pesquisa
Britto, 2006.
A foto T1-P2-V4 com visada para a Rua Marina Freire expõe uma das
criativas soluções dos moradores para se adaptar as dificuldades
cotidianas. Nos lotes a direita da imagem com seus limites localizados
praticamente na calha principal deste pequeno córrego que desemboca no
Botas, os moradores são obrigados a criar uma ponte sobre o córrego
para acessar rua. Esta solução se repete em vários outros lotes desta rua.
T1-P2-V5 Ponte mal dimensionada, áreas alagadas e tubulações de água clandestina.
Fonte: Grupo de Pesquisa Britto, 2006.
Na foto T1-P2-V5 aparece uma ponte que conecta os dois lados da Rua
Bruno Lecini que é seccionada por uma braço do Botas. Segundo o relato
dos moradores em dias de chuva forte esta rua fica inundada e a água
invade as casas. Em nossa segunda visita de campo ao Trecho 1
encontramos praticamente todas as ruas deste trecho asfaltadas e o
pequeno braço do Botas na Rua Marina Freire mostrado na imagem T1-
P2-V4 foi canalizado.
150
É possível observar as intervenções feitas na imagem a seguir. Mas ao
conversar com os moradores descobrimos que apesar das melhoras
perceptíveis, o perigo ainda ronda os moradores dessa região. Durante
uma chuva forte uma criança que brincava na rua próxima ao início do
manilhamente deste córrego (identificado em laranja na imagem) sem
nenhum tipo de proteção foi arrastada para dentro da canalização. Os
vizinhos desesperados correram até o Botas no final da rua e
conseguiram resgatar o menino que sofreu apenas um grande susto.
As ruas que foram asfaltadas e o córrego canalizado no Trecho 1. Autor: Flávia Royse
Fonte: Google Maps Data: 21-10-2009.
A foto seguinte ilustra o trecho canalizado (identificado em laranja na
imagem anterior) que se inicia sob uma ponte na Rua Bruno Lecini. Esta
imagem mostra crianças brincando sobre o inicio do manilhamento para
onde o menino foi arrastado. Podemos dizer que é uma prática muito
comum o uso das margens pelas crianças para o lazer, mas infelizmente o
bairro não apresenta infra-estrutura para abrigar com segurança tal uso.
Crianças brincando nas águas poluídas do rio Botas sem se dar conta do iminente perigo de
cair e ser arrastado pelas águas para dentro da canalização. Foto: Carolina Helena, 2008.
151
Trecho 1 (T1) Ponto 3 (P3): Visadas fotografadas (V6, V7 e V8). Autor: Flávia Royse
Fonte: Base Iconos Grupo de Pesquisa Britto
T1-P3-V6 Apesar da poluição da água crianças arriscam a saúde tomando banho no rio.
Fonte: Grupo de Pesquisa Britto, 2006.
Na foto T1-P3-V6 o que mais chama atenção é a presença de uma
criança tomando banho nas águas poluídas do rio, além disso, pode-se
observar a presença de lixo e o assoreamento das margens.
152
T1-P3-V7 Ocupação das margens, assoreamento, presença de lixo nas margens.
Fonte: Grupo de Pesquisa Britto, 2006.
Na foto T1-P3-V7 a presença de casas construídas ainda é espaça em
relação a outros pontos, mas aqui se percebe o assoreamento do rio.
T1-P3-V8 Assoreamento, presença de lixo nas margens. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto,
2006.
Na foto T1-P3-V8 podemos perceber uma vasta área verde, de vegetação
ao fundo relativamente densa, mas com lixo em suas margens,
provavelmente trazidos de lugares a montante.
153
Trecho 4 (T4) O rio Botas e a localização das ruas de seu entorno no bairro Ouro Preto.
Fonte: Google Data: 2007
154
Trecho 4 (T4) O rio Botas e a mancha da área de proteção permanente. Autor: Carolina
Helena, 2006. Fonte: Base Iconos Grupo de Pesquisa Britto
Trecho 4 (T4) Ponto fotografado (P1) entre a Rua dos Quartéis que atravessa o Botas e a
Rua João Goulart paralela ao rio. Autor: Flávia Royse. Fonte: Base Iconos Grupo de
Pesquisa Britto
Trecho 4 (T4) Ponto 1 (P1): Visadas fotografadas (V1, V2 e V3). Autor: Flávia Royse Fonte:
Google, 2009.
T4-P1-V1 Ocupação parcial das margens, assoreamento, presença de lixo nas margens.
Fonte: Grupo de Pesquisa Britto, 2006.
155
T4-P1-V2 Ocupação parcial das margens. Plantio de vegetação nas margem, iniciativa de
um morador. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto, 2006.
T4-P1-V3 Ocupação parcial das margens. Trecho do plantio nas margens ainda em
crescimento. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto, 2006.
Os problemas se repetem a cada trecho estudado, sendo que neste
trecho a ocupação das margens acontece em menor proporção. A foto T4-
P1-V1 apresenta a ocupação indevida de suas margens, o depósito de
terra as margens trazidos pelas chuvas o que diminui a vazão e a
profundidade do rio contribuindo para enchentes futuras. as fotos T4-
P1-V2 e T4-P1-V3 mostram uma intervenção iniciada por um antigo
morador, conhecido “velho do rio” que não chegamos a conhecer
pessoalmente. Este morador plantou as margens do rio Botas com flores,
que trouxeram novos ares ao bairro, apesar de aparentemente pequenas,
suas intervenções fizeram muito por este ponto do rio Botas.
Esta experiência paisagística e estética ajudou a conscientizar a
população a não jogar lixo no rio, conseqüentemente a paisagem tornou-
se mais agradável. Foi um choque positivo para o grupo de pesquisa
quando nos aproximamos desta área. Acostumados a ver paisagens
extremamente degradas, com muito lixo nas margens e a mata ciliar
substituída por unidades habitacionais, esta paisagem tornou-se
discrepante em todo cenário percorrido. Esta pequena ação desenvolvida
por um único morador nos mostra como é possível trazer qualidade de
vida e influenciar positivamente o comportamento social através de
pequenas ações. Estasações podem ter dimensões mais abrangentes se
tiver integração entre as políticas públicas, prefeituras e investimento
público e privado.
156
Trecho 5 (T5) O rio Botas e a localização das ruas de seu entorno no bairro Belterra.
Fonte: Google, 2007.
157
Trecho 5 (T5) O rio Botas e a mancha da área de proteção permanente. Autor: Carolina
Helena, 2006. Fonte: Base Iconos Grupo de Pesquisa Britto
Trecho 5 (T5) Pontos fotografados (P1 e P2). Autor: Flávia Royse Fonte: Base Iconos
Grupo de Pesquisa Britto
158
Trecho 5 (T5) Ponto 1 (P1): Visadas fotografadas (V1, V2 e V3).
Autor: Flávia Royse Fonte: Google, 2009.
159
T5-P1-V1 Ocupação das margens, conseqüente estreitamento do leito, lançamento de
esgoto “in natura” no rio. Foto: o autor, 2006. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto.
Detalhe da foto T5-P1-V1 (acima) que evidencia os encanamentos de esgoto que são
lançados diretamente no rio.
T5-P1-V2 Ocupação das margens. Foto: o autor, 2007. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto.
T5-P1-V3 Ocupação e erosão das margens e acúmulo de lixo. Foto: o autor, 2006. Fonte:
Grupo de Pesquisa Britto.
160
As margens deste trecho do Botas encontram-se densamente ocupadas e
com pouquíssima arborização como podemos observar nitidamente na
imagem acima que localiza o ponto 1 e suas visadas. Este fato impede
tanto o acesso visual como o físico ao percorrer as ruas do bairro. Este
acesso é possível quando passamos por algumas ruas transversais ao
rio. Se não fossem as esporádicas cheias e o mau cheiro de esgoto, a
presença do rio passaria despercebida, que ele é um fenômeno que
segue seu curso a parte deste tecido urbano. Neste trecho é notável que a
cidade virou totalmente as costas para este recurso hídrico, que anseia
desesperadamente que população e autoridades tomem consciência de
sua importância para o equilíbrio das dinâmicas naturais tão importante
para manutenção da vida.
A foto T5-P1-V1 ilustra um dos poucos acessos visuais ao rio deste
trecho. Sobre uma ponte que atravessa o rio na Rua Min. Lafayete de
Andrade podemos observar a parede” formada pelas construções sobre
as margens, que retiram quase que totalmente a vegetação. O número de
casas cresce de forma assustadora, e com um tecido urbano
intensamente ocupado e com terrenos livres limitados, as construções
começam a avançar sobre o rio. Como podemos ver no detalhe da foto
T5-P1-V1, que uma das casas cria uma varanda sustentada por estruturas
de concreto que avançam sobre o rio.
Esta inconseqüente ocupação das margens diminui o leito do rio, sua área
de inundação e contribui de maneira negativa para as enchentes que
tendem a ser piores conforme o tecido urbano se adensa sem que
medidas preventivas sejam tomadas. Outro fator muito ruim para o meio
ambiente e para a qualidade de vida da própria população são os
constantes lançamentos de esgoto sem qualquer tipo de tratamento
diretamente nas águas do Botas, fato que é bem aparente no detalhe da
foto T5-P1-V1, que mostram diversos encanamentos que saem de
diferentes casas. As fotos T5-P1-V2 e T5-P1-V3 mostram os mesmos
problemas já citados neste ponto.
161
Trecho 5 (T5) Ponto 2 (P2): Visadas fotografadas (V4, V5 e V6). Autor: Flávia Royse
Fonte: Google, 2009
162
T5-P2-V4 Linha Férrea cruzando o rio Botas, ao fundo uma ponte para veículos
aparentemente baixa para vazão das águas em dias de chuvas fortes. Fonte: Grupo de
Pesquisa Britto.
T5-P2-V5 Bueiro lançando liquido negro nas águas do rio Botas, provavelmente esgoto.
Foto: o autor, 2006. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto.
163
T5-P2-V6 Vista oposta tirada do mesmo ponto. Foto: o autor, 2006. Fonte: Grupo de
Pesquisa Britto.
O ponto 2 do trecho 5 apresenta uma particularidade, pois o rio foi
seccionado pela estrada de ferro que diminui sua seção. Ao dificultar a
passagem da água para o outro lado, está se acumula e sem um local
alternativo para se escoar, acaba por aumentar as conseqüências das
enchentes. Além de mais estreito, este trecho perdeu totalmente sua mata
ciliar e teve seu leito recoberto pelo concreto que ajuda a aumentar a
velocidade das águas, reforçando a devastação causada pelas enchentes.
Do mesmo modo, ao fundo da imagem T5-P2-V4 podemos ver uma ponte
para veículos que se apresenta aparentemente em um nível baixo para
escoar todo o volume de água em dias de chuva forte, pois a água ganha
velocidade ao passar pelo leito recoberto por concreto e se acumula na
ponte baixa, conseqüentemente contribui para o aumento do nível das
inundações neste trecho. Além disso, a Ferrovia ainda representa uma
barreira no território da cidade, seccionando-a em duas partes.
Reforçando está sensação de barreira imposta pela presença da ferrovia
que é cercada por muros altos, estão presentes em cada lado da ferrovia
avenidas de tráfego intenso, de um lado uma via que conecta o bairro ao
centro de Nova Iguaçu e a outra que conecta o bairro a Rodovia
Presidente Dutra.
164
Trecho 6 (T6) O rio Botas e a localização das ruas de seu entorno no bairro Comendador
Soares. Fonte: Google Data: 2007
165
Trecho 6 (T6) O rio Botas e a mancha da área de proteção permanente. Autor: Carolina
Helena. Fonte: Base Iconos Grupo de Pesquisa Britto
Trecho 6 (T6) Ponto fotografado (P1). Autor: Flávia Royse Fonte: Base Iconos Grupo de
Pesquisa Britto
166
Trecho 6 (T6) Ponto 1 (P1): Visadas fotografadas (V1, V2 e V3). Autor: Flávia Royse Fonte:
Google, 2009.
167
T6-P1-V1 Assoreamento e o conseqüente acúmulo de lixo no leito do rio. O lixo pode criar
uma barreira para a passagem da água. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
T6-P1-V2 Assoreamento e acúmulo de lixo sobre a vegetação. Fonte: Grupo de Pesquisa
Britto
168
T6-P1-V3 Presença de resíduos sólidos nas margens. Ocupações irregulares nas
margens. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
O ponto 1 do trecho 6 apresenta as margens um pouco mais liberadas de
construções irregulares e reaparece na paisagem. Neste ponto aparece
nas margens vegetação um pouco mais densa. Apesar desses pontos
positivos, este trecho não es livre de problemas e apresenta
assoreamento e a presença de resíduos sólidos presos a vegetação das
margens. Este acúmulo de lixo ao encontrar uma ponte demasiadamente
baixa pode não conseguir passar e formar uma barreira impedindo que a
água siga seu fluxo e comece a transbordar.
169
Trecho 8 (T8) O rio Botas e a localização das ruas de seu entorno no bairro Jardim da
Viga. Fonte: Google Data: 2007
170
Trecho 8 (T8) O rio Botas e a mancha da área de proteção permanente. Autor: Carolina
Helena. Fonte: Base Iconos Grupo de Pesquisa Britto
Trecho 8 (T8) Ponto fotografado (P1). Autor: Flávia Royse Fonte: Base Iconos Grupo de
Pesquisa Britto
171
Trecho 8 (T8) Ponto 1 (P1): Visadas fotografadas (V1, V2 e V3). Autor: Flávia Royse Fonte:
Google, 2009
172
T8-P1-V1 Área de grande potencial paisagístico e de lazer, trecho com as margens livres
de construções irregulares. Foto: o autor, 2006. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
T8-P1-V2 Área de grande potencial paisagístico e de lazer, trecho com as margens livres
de construções irregulares. Foto: o autor, 2006. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
Apesar de ser uma área com bem menos ocupações nas margens do
Botas, ainda podemos ver algumas construções dentro da APP do rio.
Como dito anteriormente, este fato contribui para agravar as enchentes.
Mas este trecho com suas margens pouco ocupadas apresentam grande
potencial paisagístico e de lazer. As águas poluídas não oferecem
nenhum lazer, e este se concentra nas margens, representado pelo
campo de futebol.
173
T8-P1-V3 Presença de resíduos sólidos nas margens. Área de grande potencial
paisagístico, trecho com as margens livres de construções irregulares. Foto: o autor, 2006.
Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
Este trecho possui as margens vegetadas, entretanto por espécies
invasoras como o capim capião e a mamona, que não mata ciliar
que é tão importante para o equilíbrio hídrico e para reduzir os prejuízos
causados pela erosão, É possível ver nas imagens o lixo flutuando sobre a
água ou preso avegetação das margens, provavelmente vindos de regiões
a montante. Neste trecho não encontramos lixo jogado as margens, que
se encontradesocupada. Apesar do grande potencial para o lazer, este
trecho apresentou uma característica muito marcante e bastante
diferenciada de todo o percurso que fizemos na bacia do Botas, que foi a
presença da violência.
Este bairro possuía em seu histórico a violência como característica
marcante, onde o caso mais conhecido foi à morte de uma freira
franciscana, que fazia parte do Instituto de Educação Santo Antônio,
escola onde cursei todas as séries antes da faculdade. Esta freira fazia
trabalhos voluntários na comunidade e ajudava as famílias a reerguer
suas casas após cada enchente. Mas passado tanto tempo, havia a
esperança de que tal situação tivesse mudado. que visualmente este
parecia um dos trechos mais agradáveis do rio.
A população foi receptiva ao chegarmos, nos recebeu bem, responderam
aos questionários, mas quando tocávamos no assunto violência se
sentiam pouco a vontade para responder as questões. Até que algumas
pessoas nos alertaram, para o que ainda estava acontecendo no bairro,
saímos quase que fugidos e assustados. Essas pessoas nos abordaram
da seguinte forma: “Vocês são doidos de virem com todas essas meninas
para cá? (se referindo ao grupo de pesquisa) É perigoso! Não devia estar
falando nada, mas se fosse vocês iria embora daqui. Estão assaltando a
luz do dia, quando as pessoas saem para o trabalho. Tem casos até de
estupros.”
Com esta declaração não tivemos alternativa se não sair dali. Este foi o
único trecho onde não conseguimos atingir a meta inicialmente estipulada
da aplicação de questionários, mas isso não afetou nossa análise, pelo
contrário a enriqueceu e nos mostrou que é preciso uma estratégia
integrada em diferentes níveis para garantir a qualidade de vida dessa
população. Devemos manter nosso foco no rio, mas sem esquecer outras
medidas que devem ser pensadas e uma delas é a segurança. Pois de
que adiantaria um rio totalmente recuperado se a população não pudesse
usufruir por causa da violência.
174
Trecho 10 (T10) O rio Botas e a localização das ruas de seu entorno no bairro Vila Entre
Rios. Fonte: Google, 2009.
175
Este trecho foi o único visitado na cidade de Belford Roxo. É uma zona de
confluência entre o rio Botas o seu afluente o Maxambomba, talvez por
isso o bairro seja conhecido como Vila Entre Rios. Este trecho foi
interessante, pois aqui o Projeto Iguaçu já começava a ser implantado e já
tínhamos as definições das casas que seriam removidas e pudemos
conversar um pouco com a população sobre isso. A imagem a seguir
mostra o percurso que fizemos neste trecho, iniciado na Av. Atlântica e
seguindo em direção as setas. Fizemos um percurso fechado que teve
inicio e fim no mesmo lugar, que nos permitiu visualizar as duas margens
e suas particularidades.
Para manter nossa metodologia de identificação das imagens em campo,
na imagem seguinte, unimos o percurso à delimitação das áreas dos
pontos fotografados, que neste caso foram seis. Como este trecho
apresenta muitos pontos fotografados, elaboramos a imagem
subseqüente que mostra apenas os pontos fotografados com suas
respectivas visadas, que mantêm a numeração de acordo com o percurso
seguido. Por este motivo as fotos que serão apresentadas por pontos,
nem sempre terão seus números na ordem seqüencial, que algumas
visadas estão localizadas em lados opostos do rio. Isso nos ajuda a ter
uma visão geral da relação entre visadas e seus respectivos pontos.
Seguindo nossa gica de apresentação após os mapas gerais de
identificação dos pontos e visada nos trecho, mostraremos as imagens
individuais referentes a cada ponto com as fotos de suas visadas.
Trecho 10 (T10) O rio Botas e o percurso feito ao longo de suas margens. Autor: Flávia
Royse. Fonte: Google, 2007.
176
Trecho10 (T10) Pontos fotografados (P1, P2, P3, P4, P5 e P6) ao longo do percurso feito.
Autor: Flávia Royse Fonte: Google, 2007.
177
Trecho10 (T10) Pontos fotografados (P1, P2, P3, P4, P5 e P6) ao longo do percurso feito e
suas respectivas visadas. Autor: Flávia Royse Fonte: Google, 2007.
178
Trecho 10 (T10) Ponto 1 (P1): Visadas fotografadas (V1, V2 e V3). Autor: Flávia Royse
Fonte: Google, 2009.
179
T10-P1-V1 Depósito de resíduos sólidos nas margens e no leito do rio, assoreamento.
Foto: o autor, 2009. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
T10-P1-V2 Depósito de resíduos sólidos nas margens e no leito do rio, com presença
significativa de pneus no leito do rio. Foto: o autor, 2009. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
T10-P1-V3 Depósito de resíduos sólidos nas margens e no leito do rio, assoreamento, a
vegetação no leito do rio devido ao assoreamento cria uma barreira para o lixo que se
acumula cada vez mais. Foto: o autor, 2009. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
No ponto inicial do percurso deste trecho, ponto 1, encontramos a
presença marcante do depósito de resíduos sólidos nas margens e no
leito do rio, encontramos muitos pneus e alguns sofás. O assoreamento é
perceptível e já começa a formar uma “ilha” no leito do rio, onde cresce a
vegetação. Diminuindo a profundidade do rio essa “ilha” cria uma barreira
onde se acumula cada vez mais lixo, agravando a situação do
assoreamento. Na margem oposta existe uma grande área vazia (o delta
entre os rios Botas e Maxambomba) aparentemente ocupada pela criação
de gado, é uma importante área de inundação.
180
Setas indicam a localização dos pneus visíveis no leito do rio Botas. Foto: o autor, 2009.
Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
181
Trecho 10 (T10) Ponto 2 (P2): Visadas fotografadas (V4, V5 e V22). Autor: Flávia Royse
Fonte: Google, 2009.
182
T10-P2-V4 Vista panorâmica - deste ponto é possível ver melhor a área do delta a direita
da imagem. Construções muito próximas ao rio. Foto: o autor, 2009. Fonte: Grupo de
Pesquisa Britto
T10-P2-V5 Vista panorâmica deste ponto é possível ver a presença de lixo nas margens,
tubulações de esgoto, perda da vegetação ribeirinha, casas construídas na APP. Foto: o
autor, 2009. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
183
Estas visadas permitem ver o rio de cima, com um pouco mais de
amplitude. Na foto T10-P2-V4 podemos ver com melhor nitidez o delta
entre os rios Botas e Maxambomba, aparentemente ocupado por uma
pequena criação de gado. Esta área é uma importante zona de absorção
do excesso de água pluvial. Na foto T10-P2-V5 é possível observar a
presença de lixo nas margens do rio Botas, tubulações de esgoto, perda
de parte da vegetação ribeirinha. Além disso, existe a presença de
inúmeras habitações construídas dentro da área de APP. A seguir
imagens dessas visadas em dias de chuva forte. Com o aumento do
volume de água a avenida marginal, Av. Atlântica, some sob as águas do
Botas que acaba por invadir as casas.
Visada V4 (T10-P2-V4) em dia de chuva forte. Imagem retirada de um vídeo no site youtube.
Data: agosto, 2008.
Disponível em: http://br.youtube.com/watch?v=WIAc6HrO26g&feature=related
Visada V5 (T10-P2-V5) em dia de chuva forte. Imagem retirada de um vídeo no site youtube.
Data: agosto, 2008.
Disponível em: http://br.youtube.com/watch?v=WIAc6HrO26g&feature=related
184
T10-P2-V22 Assoreamento, perda da mata ciliar. Foto: o autor, 2009. Fonte: Grupo de
Pesquisa Britto
A foto T10-P2-V22 fecha o percurso do trecho 10, e nela podemos
observar o assoreamento, a ausência da vegetação ciliar. Desta visada
podemos ter uma noção de quanto o volume de água do Botas aumenta
em dias de chuva forte, já que a imagem anterior mostra este mesmo
ponto completamente inundado, de forma que não podemos nem
distinguir a rua marginal do rio. Em períodos de enchentes tudo (rio e rua)
se tornam um só.
185
Trecho 10 (T10) Ponto 3 (P3): Visadas fotografadas (V6, V20 e V21). Autor: Flávia Royse.
Fonte: Google, 2009.
186
T10-P3-V6 Todas as construções a direita da imagem são irregulares e serão removidas
pelo Projeto Iguaçu. Foto: o autor, 2009. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
T10-P3-V20 Margens como depósito de lixo. Ao fundo construções irregulares. Foto: o
autor, 2009. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
187
T10-P3-V21 Carcaça de diferentes carros as margens do rio. Na outra margem
construções irregulares e lixo. Foto: o autor, 2009. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
A foto T10-P3-V6 mostra a direita, na outra margem do rio, construções
irregulares que bloqueiam totalmente a visibilidade do Botas e que serão
removidas pelo Projeto Iguaçu. Construídas sobre a área de inundação do
rio, os moradores dessas casas sofrem graves perdas materiais a cada
cheia. De costas para o rio, negam totalmente seu valor estético e seu
potencial de lazer. Para estas pessoas o rio é uma desgraça que invade
suas casas a cada chuva mais forte. Devemos chamar o homem a sua
responsabilidade. O rio invade as casas ou foram as pessoas que
invadiram o território do rio?
Hoje o Botas não possui suas áreas de inundação, nem sua mata ciliar
necessárias para abrigar o excesso de água em dias de chuva e reduzir a
velocidade das águas, além disso, a cidade torna-se cada vez mais
impermeável. Os muros as margens do Botas criam uma barreira
impedindo de certa forma que a água invada diretamente as casas. Mas
isso não os isenta das enchentes, pois a água busca alternativas para
extravasar seu volume em excesso, e transborda pelas ruas transversais
e pelos terrenos que não possuem muros alcançando a rua paralela ao rio
e conseqüentemente as casas. Segundo o relato dos moradores as águas
do Botas entram pelo portão da frente.
188
Esquema de inundação das casas as margem do Botas, baseado no relato dos moradores.
Neste trecho as construções bloqueiam (em amarelo) a água, conseqüentemente as ruas
(azul claro) são inundadas e alcançam as casas pela frente (setas vermelhas). Fonte:
entrevistas com moradores. Autor: Flávia Royse Fonte: Google, 2009.
189
Trecho 10 (T10) Ponto 4 (P4): Visadas fotografadas (V7, V8, V9 e V10). Autor: Flávia
Royse. Fonte: Google, 2009.
190
T10-P4-V7 Lixo jogado na margem, construções na APP, uma das margens recoberta por
concreto. Foto: o autor, 2009. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
T10-P4-V8 Margem como depósito de lixo, construções irregulares na APP.
Foto: o autor, 2009. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
191
T10-P4-V9 Assoreamento, vegetação densa. Ao fundo construções irregulares.
Foto: o autor, 2009. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
T10-P4-V10 Presença de construções irregulares e lixo.
Foto: o autor, 2009. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
Na imagem T10-P4-V7 a margem é utilizada como depósito de lixo, o que
contribui para acabar com a vegetação ribeirinha existente. A margem a
esquerda da imagem foi retificada e revestida por pedras. Em todas as
visadas deste ponto existem diversas casas construídas na Área de
Proteção Permanente. As visadas 9 e a 10 são marcadas por uma
vegetação um pouco mais exuberante que em outros pontos, mas o lixo
ainda se faz presente.
192
Trecho 10 (T10) Ponto 5 (P5): Visadas fotografadas (V11, V12, V13, V17, V18 e V19).
Autor: Flávia Royse Fonte: Google, 2009.
193
T10-P5-V11/ T10-P5-V12/ T10-P5-V13 Este trecho do rio foi retificado. a presença de
assoreamento e de uma vegetação um pouco mais densa. Ao fundo construções irregulares.
Foto: o autor, 2009. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
T10-P5-V17 Placa de advertência proibindo jogar lixo. Foto: o autor, 2009. Fonte: Grupo
de Pesquisa Britto
T10-P5-V17 Lixo jogado sob a placa de advertência. Foto: o autor, 2009. Fonte: Grupo de
Pesquisa Britto
194
Os problemas ao longo do rio se repetem, nestas três visadas (V11, V12 e
V13) que formam uma panorâmica é possível observar o uso que
atualmente a população faz das margens, depósito de lixo, que durante as
chuvas é arrastado para o leito e fica preso na vegetação. Na foto T10-P5-
V17 apesar de a placa advertir que é proibido jogar lixo neste local, a
população cria um depósito de lixo em baixo da placa, apesar das
pesquisas mostrarem que existe coleta domiciliar regularmente. É possível
ainda perceber que entre o lixo, existe uma vala de esgoto que corre para
o leito do rio.
T10-P5-V18 Margens utilizadas como depósito de lixo. Foto: o autor, 2009. Fonte: Grupo
de Pesquisa Britto
A foto T10-P5-V18 mostra um outro ponto de acumulo de lixo. O volume
de lixo jogado nas margens do Botas neste ponto é muito intenso. A
impressão que nos passa é que as pessoas não tem consciência de suas
ações, não pensam que todo lixo jogado na margem pode parar a
qualquer momento dentro do rio e com uma enchente retornar para dentro
das casas, ou que isto é um dos fatores para agravar as conseqüências
das enchentes. É incompreensível fazer uso das margens como depósito
de lixo se existe a coleta domiciliar regularmente três vezes por semana.
T10-P5-V19 Assoreamento, vegetação densa. Ao fundo construções irregulares. Foto: o
autor, 2009. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
195
Trecho 10 (T10) Ponto 6 (P6): Visadas fotografadas (V14, V15 e V16). Autor: Flávia Royse
Fonte: Google, 2009.
196
T10-P6-V14 Margem mais livres permitindo a visibilidade do Botas. Presença de lixo.
Foto: o autor, 2009. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
T10-P6-V15 Assoreamento e vegetação mais densa a direita da imagem.
Foto: o autor, 2009. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
T10-P6-V16 Assoreamento, vegetação densa. Ao fundo construções irregulares.
Foto: o autor, 2009. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
Neste ponto (P6) de forma geral o rio possui visibilidade, embora não haja
possibilidade de acesso direto a água por ambos os lados da margem. Na
visada que se refere a foto T10-P6-V14 a margem apresenta uma
pequena parte um pouco mais livre que as demais visadas. Mas apesar
desta área livre a margem, esta o é valorizada, e seu uso também é
para depósito de lixo. Mesmo na margem oposta que é concretada,
podemos ver na área demarcada na foto T10-P6-V14 a presença de
vários saquinhos sobre o guarda corpo e o lixo lançado na margem. Na
foto T10-P6-V15 existe a presença de material depositado na margem que
diminui a calha e a vazão do rio, mas apesar deste problema neste ponto
as margens encontram-se bem vegetadas, embora por vegetação
invasora.
197
T10-P6 Localização da Rua Brasil no Ponto 6 do Trecho 10.
Autor: Flávia Royse. Fonte: Google, 2009.
Rua Brasil tomada pelas águas do rio Botas. Imagem retirada de um vídeo no site youtube.
Data: agosto, 2008.
Disponível em: http://br.youtube.com/watch?v=kf9CKP3R9Yo&NR=1
A cada enchente os prejuízos são incalculáveis. Estas imagens se referem
à enchente de 24 de outubro de 2007, e mostram a Rua Brasil totalmente
inundada pelas águas do rio Botas. Apesar de distante do leito do rio
estas casas também foram afetadas pela enchente.
198
Área predominantemente verde com baixíssimo adensamento a jusante do Botas.
Fonte: Base Iconos Grupo de Pesquisa Britto
A área a jusante do Botas identificada na imagem acima, é uma área
predominantemente verde com baixíssimo adensamento e de extrema
importância para o equilíbrio hídrico, pois desempenha a função de bacia
de acumulação natural para as cheias e conseqüentemente desacelera a
velocidade das águas, protegendo os núcleos urbanos que se localizam
após esta área. Devido essa característica é importante que esta área
seja mantida sem ocupação urbana, pois as conseqüências podem ser
desastrosas. A importância desta área é indicada por Carneiro (2008) que
defende que ela seja transformada em Área de Proteção Ambiental (APA).
Estudos desenvolvidos por este autor mostram que a ocupação desta
área traria drásticas conseqüências com relação às enchentes,
prejudicando as populações a jusante.
Após apresentarmos os seis trechos selecionados para a aplicação dos
questionários e expormos suas particularidades notadas em campo,
trataremos de analisar as respostas de algumas questões obtidas a partir
dos questionários e faremos uma comparação com o que observamos em
campo e com as pesquisas nos órgãos competentes. É importante
reafirmar que os questionários aplicados o têm valor estatístico e sim
qualitativo. Procuraremos também entender o que se passa no imaginário
da população, que expectativas ela apresenta com relação ao rio Botas,
seu vel de conhecimento quanto às possibilidades de recuperação, o
que nos ajuda a criar diretrizes projetuais com alicerces um pouco mais
sólidos.
Aplicamos um total de setenta questionários nos seis trechos
selecionados ao longo do rio Botas. Cada questionário possui um total de
125 questões, abertas ou diretas, que faz parte de uma pesquisa maior.
Dentre este universo global que analisa questões sociais, habitacionais,
abastecimento de água, esgoto e lixo, drenagem e poluição, 14 questões
foram desenvolvidas especificamente sobre o rio Botas para esta
pesquisa.
Para analisar os resultados obtidos, utilizamos o programa de tabulação
de dados chamado “Sphinx”. Com este programa é possível realizar
pesquisas ou analisar dados, ele facilita as atividades de coleta, de
análise e de interpretação de dados internos e externos nas organizações,
configurando conjuntos de tabelas, gráficos, filtros dinâmicos e análises.
Após a aplicação dos questionários, os dados foram digitados em uma
central de dados do programa. Ao término do processo de inclusão de
dados, geramos tabelas e gráficos dos resultados obtidos com nossa
pesquisa de campo, do qual trataremos a seguir. O questionário aplicado
possui um total de 125 questões divididas em 9 grupos que se referem a:
(1) dados pessoais, (2) habitação, (3) avaliação parcial do bairro, (4) água,
(5) esgoto, (6) resíduos sólidos, (7) drenagem, (8) poluição e o (9) rio
Botas. Abaixo apresentaremos a questão do questionário seguida pelos
gráficos e tabelas gerados pelo Sphinx.
199
22. Quantas casas possui este terreno?
23. Este domicílio é?
24. Este terreno é?
Podemos perceber que sua maioria os terrenos das pessoas
entrevistadas possuem apenas uma casa, mas o número de pessoas que
responderam que possuem 2 ou 3 casas no terreno é bastante
significativo. Em sua grande maioria a e a casa surgem quando a
família aumenta, quando os filhos casam e constroem suas casas no
próprio terreno da família. Mais da metade (52,9%) dos terrenos são
próprios e com escritura, sendo que uma parcela considerável dos
terrenos (30%) é própria e sem escritura. Ainda existem aqueles terrenos
que foram cedidos (11,4%) ou ainda invadidos (2,9%). Com relação ao
domicilio, os adquiridos e auto-construídos apresentam porcentagens bem
próximas, 48,6% e 41,4% consecutivamente.
Com isso podemos concluir que em sua maioria os terrenos apesar de
muitos serem localizados em zonas de APP do rio Botas, estes foram
adquiridos no mercado formal e são próprios com escritura, embora boa
parte não possua esta documentação. As maiorias das pessoas
compraram suas casas prontas embora uma parcela muito próxima tenha
construído suas casas.
200
31. Há quantos anos você mora neste domicílio?
34. Qual o principal fator considerado na escolha deste bairro?
36. O que você mais gosta do lugar onde você mora?
A maioria dos entrevistados (40%) mora a mais de 30 anos no mesmo
domicilio e o principal fator citado para a escolha do bairro foi a
proximidade com a família (30%) e a possibilidade de adquirir a casa
própria (12,9%), seguida pela falta de opção (10%), pelo fator preço
(7,1%) e pela tranqüilidade do bairro (5,7%). A questão da tranqüilidade foi
reforçada quando perguntamos sobre o que as pessoas mais gostavam
do lugar onde moravam, onde 14,3% das pessoas responderam que
gostavam da tranqüilidade do bairro. Empatada com a tranqüilidade a
vizinhança também foi destacada como fator importante.
201
37. Você considera que o seu bairro está:
38. Por quê?
Quando perguntamos se consideram que o bairro está mudando, a
maioria absoluta, 72,9% respondeu que o bairro esta melhorando e dentre
as justificativas positivas para a melhoria do bairro 27,1% responderam
que a melhoria se refere ao asfalto. Já 22,9% responderam que está
mantendo-se na mesma situação e apenas 2,9% responderam que esta
piorando. E dentre estes 25,8% que responderam que está na mesma
situação ou piorando, apenas 1,4% justificou dizendo que a cada chuva
nada muda e não obras da prefeitura e outros 1,4% responderam que
“ainda está meio ruim”. Dentre as justificativas 15,7% não souberam
responder.
202
Após conhecermos o que está melhorando no bairro, passamos para as
questões sobre os problemas no bairro. A primeira pergunta é aberta e se
refere aos dois principais problemas do bairro, a segunda é uma
questão fechada múltipla com uma lista com dezenove problemas
existentes no bairro. A intenção é relacionar as duas e analisar a
coerência das respostas e poder perceber se a percepção dessas
pessoas pode ser induzida pela lista de possibilidade dos problemas.
Perceber se as respostas serão completamente distintas ou apenas
complementares.
40. Quais os 2 principais problemas do seu bairro?
Na questão 45 será mantida a lista de possibilidades de respostas, pois o
gráfico gerado pelo Sphinx suprime os itens menos votados e cria um item
geral que as engloba.
45. Na lista abaixo, quais os problemas que você considera graves
no seu bairro?
1. Qualidade da água
2. Quantidade da água
3. Valas de esgoto a céu aberto/ esgoto não coletado
4. Enchentes
5. Risco de des lizamento
6. Lixo não coletado
7. Lixão próximo
8. Falta de arborizão
9. Despejo de lixo em terreno baldio
10. Poluição dos cursos de água
11. Poluição do ar
12. Poluição sonora
13. Ausência de praças/ parques/áreas verdes
14. Trânsito
15. Precariedade/ ausência de iluminação pública
16. Precariedade do sistema de transporte público
17. Falta de creches
18. Falta de Escolas
19. Violência
20. nada
203
Na questão sobre quais os dois principais problemas do seu bairro, o
problema das enchentes apareceu em 35,6% das respostas, sendo que
21,4% enumeraram a enchente como único e principal problema. Os
outros 14,2% das respostas que contemplam a questão das enchentes se
distribuem como: 7,1% Enchentes e Saúde, 2,9% Enchente e Transporte,
1,4% Enchente e Lazer, 1,4% Enchente e Lixo e 1,4% Enchente e
Poluição do rio.
O rio Botas foi citado em 7,2%, sendo 4,3% responderam o rio
acompanhado da questão da saúde e 2,9% responderam apenas o rio,
neste caso tratado como valão. Outros problemas foram citados por
35,7% dos entrevistados. O que chama a atenção é que 7,1% dos
entrevistados responderam que o bairro não apresenta nenhum problema.
Sobre a questão fechada múltipla os que mais aparecem nos
questionários são: enchentes, 90%; ausência de praças, parques e áreas
verdes, 77,1%; poluição dos cursos hídricos, 65,7%; falta de creches
55,7%; valas de esgoto a céu aberto, 48,6%; despejo de lixo em terreno
baldio, 37,1%; precariedade do sistema de transporte público, 35,7% e
falta de arborização, 28,6%.
204
De acordo com as respostas apresentadas pelas duas questões
anteriores que se referiam aos problemas do bairro, podemos dizer que
foram compatíveis e complementares, não apresentando nenhum
paradoxo. Algumas questões apenas mudaram de posição quando
comparadas as porcentagens de votos. A questão das enchentes foi a
mais citada, e em ambos os casos aparecem o problema do transporte,
lazer, da poluição do rio e do lixo. A tabela a seguir ilustra em que posição
ficou cada problema em cada questão.
Ranking dos problemas das questões 40 e 45.
Ordem
Questão 40 aberta
Questão 45 fechada
múltipla
Problema
(%)
Problema
(%)
1
Enchente
35,6
Enchente
90
2
O rio
7,2
Lazer
77,1
3
Saúde
7,1
Poluição do rio
65,7
4
Transporte
2,9
Creches
55,7
5
Lazer
1,4
Esgoto
48,6
6
Lixo
1,4
Lixo
37,1
7
Poluição do rio
1,4
Transporte
35,7
8
Arborização
28,6
205
46. Você já teve conhecimento de algum tipo de violência no seu
bairro?
47. Que tipo de violência?
Com relação à questão da violência 65,7% dos entrevistados tiveram
conhecimento de algum tipo de violência no bairro, 30% responderam que
não tiveram conhecimento e 4,3% disseram não ter conhecimento de tal
fato. Mas o contato com a população nos levou a perceber o desconforto
dos moradores falarem sobre os fatos que conheciam, estes se sentiam
coagidos ao responder questões dessa natureza.
Dentre as 46 pessoas que disseram que tinham conhecimento de algum
tipo de violência no bairro, apenas uma não se sentiu a vontade para dizer
que tipo de violência já havia visto ou escutado falar. Dentre as respostas
a mais citada “morte” aparece em primeiro lugar com 15,7%, “assassinato”
aparece em segundo com 12,9%, seguidas por “tiroteio” 4,3%, “roubo”
2,9% e “assalto” 2,9%. Apesar das pessoas mencionarem os fatos de
violência com que tiveram contato, a resposta sempre vem seguida de
uma justificativa mencionando que isso foi muito tempo e que hoje
não acontece mais.
206
Os gráficos a seguir se referem especificamente ao Trecho 8, no bairro
Jardim da Viga, onde tivemos um universo de apenas 7 questionários,
que tivemos que sair às pressas do local devido ao alerta da população
com relação à violência que acontecia no bairro. Apesar disso achamos
interessante mostrar as amostras especificas desse trecho onde a
violência se fez presente.
Assim como no espaço amostral geral, a maioria dos entrevistados tem
conhecimento de algum tipo de violência no bairro. Sendo que neste
trecho a resposta foi quase que unânime. Quanto aos problemas
encontrados com relação à violência, o assassinato foi apontado por 60%
das pessoas entrevistadas. Sendo que os outros tipos de violência
também estão diretamente relacionados e este que são homicídio e morte.
Isso nos leva a considerar que a violência faz parte do cotidiano dessas
pessoas. A seguir veremos os dados sobre a água.
46. Você já teve conhecimento de algum tipo de violência no seu
bairro?
Tabela e gráfico feitos no Excel pela autora, 2009.
47. Que tipo de violência?
Tabela e gráfico feitos no Excel pela autora, 2009.
207
A principal forma de abastecimento de água é feita pela rede oficial da
CEDAE, 70% dos entrevistados disseram que suas casas são abastecidas
pela CEDAE. Mas apesar da grande maioria, existem outras formas de
abastecimento de água na bacia do rio Botas, como: ligações feitas pela
comunidade com 12,9%; ligações não oficiais 12,9%; poço ou nascente
7% e aqueles que não souberam responder 2%.
O que mais choca é que uma parte significativa dos entrevistados não
toma nenhuma precaução com água para o consumo. Ao perguntar se
filtram e/ou fervem a água para o consumo, 28,6% dos entrevistados
disseram não fazer nenhum dos dois processos para melhorar a qualidade
da água. Apesar deste número significativo, a grande maioria 58,6% dos
entrevistados filtra a água. Uma parcela bem pequena ferve a água.
52. Quais as formas de abastecimento de água da sua casa?
66. Você costuma filtrar ou ferver a água?
Apesar de 70% dos entrevistados terem ligação oficial da CEDAE, apenas
34,3% pagam pela água consumida, a maioria esmagadora de 62,9% não
pagam conta de água. Mas isto se deve ao fato de nem todas as casas
possuírem hidrômetro. De acordo com os questionários, somente 35,7%
dos domicílios possuem hidrômetro, 2,9% não souberam responder, 7,1%
não responderam e 54,3% não possuem hidrômetro. Em apenas 17,1%
dos casos a conta apresenta variações ao mês, em 27,1% permanece o
mesmo valor mensal. E a grande maioria não utiliza a água para
atividades que gerem renda.
69. Você paga conta de água?
70. A sua casa tem hidrômetro (medidor de água)?
71. O valor que você paga de conta de água varia a cada mês?
72. Você ou alguém em sua casa usa água para alguma atividade que
gere renda?
208
75. Qual o destino final do esgoto de sua casa?
86. Qual o destino do esgoto coletado na sua rua?
80. O sistema de esgotamento existente funciona de maneira:
Apenas 17,1% dos entrevistados não souberam o destino final de seu
esgoto; 22,9% responderam que o esgoto de suas casas vai para rede de
esgotamento da CEDAE; 17,1% têm destino para rede de esgotamento
construída pela comunidade e outros 17,1% têm como destino a rede
drenagem. Uma parcela considerável 14,3% disse que o esgoto vai para
valas, lembrando que parte dessa população considera o rio Botas como
valão e 11,4% usam fossas.
Ao mudarmos um pouco a pergunta, nos referindo ao destino dos esgotos
coletados pelo sistema implantado na sua rua, as respostas foram
diferentes. Apesar de a maioria dizer que o seu esgoto vai para a rede da
CEDAE, eles tem consciência que este esgoto vai parar no rio e os dados
a seguir nos revelam isso. Das pessoas que disseram que o destino final
do esgoto coletado era o rio foi um total de 60% dos entrevistados, além
disso, mais 15,7% responderam o valão. Com isso concluímos que 75,7%
da população sabem que o seu esgoto vai parar no rio Botas, embora
algumas o reconheçam como rio e outras como um valão, mas essa
valoração atribuída ao rio Botas será discutida posteriormente. De forma
geral o sistema de esgotamento existente segundo os moradores funciona
de maneira satisfatória, apesar de alguns casos em dias de chuva a água
retornar pela tubulação para dentro das casas.
209
90. Como é feita a retirada de lixo de sua casa
91. Com que freqüência ela é feita à coleta domiciliar?
Apesar de termos encontrado lixo em diversos pontos as margens do
Botas, de acordo com os moradores o serviço de coleta de resíduos
sólidos é regular e o caminhão que faz esse serviço passa na porta para
recolhê-lo em 81,4% dos casos analisados e 5,7% jogam em terrenos
baldios ou no rio. Quanto à freqüência do serviço, 78,6% dos
entrevistados responderam que a coleta é feita três vezes na semana e
10% respondeu 2 vezes na semana. Os 11,4% restantes responderam 1
vez na semana, todo dia, não sabiam ou não responderam. Portanto a
partir desta análise podemos concluir que não a real necessidade de
se fazer às margens do rio como depósito de lixo, pois o serviço acontece
de forma regular, acredita-se ser um problema cultural e educacional.
210
102. Existe rede de escoamento das águas de chuva na sua rua?
104. Existem problemas de inundações quando chove forte?
Na rua de 67,1% dos entrevistados existe o sistema de drenagem, mas
este não é suficiente para dar vazão ao excesso de água em dias de
chuva forte. Isso acaba por contribuir para o agravamento da situação
com relação às enchentes. Em dias de chuva 55,7% dos entrevistados
enfrentam problemas relacionados à inundação, 20% responderam que
enfrentam este tipo de problema às vezes e 12,9% responderam
frequentemente. Donde podemos concluir que 88,6% dos entrevistados
passam por este problema. Somente 8,6% disseram não passar por
problemas relativos a enchentes.
211
105. Que iniciativas você toma para se proteger das inundações?
A pergunta 105 se refere a que tipo de medidas preventivas essas
pessoas tomam para se proteger das enchentes, dentre diversas soluções
a mais citada foi, levantar os móveis, por 34,1% dos entrevistados.
212
Para melhor facilitar nossa análise às três questões que se seguem terão
sua ordem alterada. Apresentaremos primeiro o resultado da questão 113
(Existem problemas de poluição do rio?), seguida das questões 112
(Como você identifica este corpo hídrico, como rio ou valão?) e 121
(Como você imagina um rio ideal?). O questionário seguiu esta estrutura
devido ao fato da questão 113 possuir a palavra “rio” no corpo de sua
oração, isto poderia interferir nos resultados da questão 112.
113. Existem problemas de poluição do rio?
112. Como você identifica este corpo hídrico, como rio ou valão?
Com relação ao rio Botas, 94,3% dos entrevistados reconheceram a
poluição deste recurso hídrico. Para tentar entender o que o rio representa
para esta população perguntamos à forma como estas pessoas
identificam o corpo hídrico e 58,6% dos entrevistados o identificam como
um valão e apenas 38,6% vêem o Botas como um rio. Analisando as
respostas da questão 121 que foi uma questão aberta, podemos discutir
porque esta população não considera o Botas como um rio.
121. Como você imagina um rio ideal?
A partir do momento em que perguntamos como essas pessoas imaginam
um rio ideal, podemos dizer que para essas pessoas o conceito de “rio
esbarra em qualidades presentes no seu imaginário. E como atributos
para que o recurso hídrico seja considerado um rio, 24,3% dos
entrevistados indicou um rio limpo; 2,9% água limpa e 2,9% água limpa e
clara. Como a questão é aberta o programa Sphinx cria variáveis
diferentes para atributos com grafia diferentes, mas que se referem à
mesma coisa, portanto os três atributos citados acima se referem
concomitantemente a questão de um rio limpo. Consequentemente a
amostra passa a ser de 30,1% dos entrevistados. A questão do rio limpo
ainda foi citada por mais 8,6% dos entrevistados, sendo que foi acrescida
a presença de peixes, como podemos observar na tabela e no gráfico da
questão 121.
213
Em terceira posição surge a questão da poluição, onde 4,3% disseram
que um rio ideal é aquele sem poluição. Empatados com 1,4% surgem
mais 10 qualidades que devem ter um rio ideal de acordo com essa
população. Chama a atenção que dentre essas 10 qualidades, às
intervenções tradicionais estão presentes como únicas alternativas em
8,4% das respostas.
Isso nos leva a refletir que a população não possui parâmetros
referenciais de outras possibilidades de intervenção e que não percebem
a sua própria culpa em todo o processo de degradação do recurso hídrico.
É necessário colocar o homem no centro desta questão e chamar a
responsabilidade da construção de um futuro melhor para nós mesmos.
Deste modo, com pequenas atitudes podemos fazer grandiosos atos para
a proteção desse recurso natural, que é o rio urbano.
Percebemos que a necessidade de implementação maciça da
Educação Ambiental, pois 94,3% dos entrevistados percebem a poluição
no rio; e identificam suas fontes poluidoras, mas não chamam para a si a
responsabilidade de tentam mudar essa situação. Ao perguntarmos o que
elas identificam como fonte de poluição do rio, o lixo aparece em 57% das
respostas e o esgoto em 49,7%. Portanto é difícil compreender porque as
pessoas mesmo com a coleta domiciliar regular, feita com a freqüência de
3 vezes por semana em 78,6% dos casos, o lixo continua sendo deixado
às margens do lixo. O que nos deixa mais perplexos é que 10% dos
entrevistados usam o rio para jogar seu lixo fora.
Apesar da maioria, 88,6%, não fazer nenhum tipo de uso do rio é
necessário conscientizar essa população do mal que cometem ao meio
ambiente ao manter essa prática. E ainda buscar propostas de
intervenção que ajude a desenvolver o envolvimento da população com o
rio, criar as margens espaços de lazer para uma população carente de
usos. Com relação ao esgoto cujos serviços de coleta e tratamento ainda
são precários seria necessária a construção de sistemas adequados e
integrados de coleta, tratamento e disposição final dos esgotos.
114. O que você identifica como fonte de poluição do rio?
117. Você usa o rio de alguma forma? Qual?
Tabela e gráfico feitos no Excel pela autora, 2009.
214
116. Você sabe o nome do rio que passa próximo a sua casa?
Tabela e gráfico feitos no Excel pela autora, 2009.
115. Que cor e que cheiro você acha que tem o rio?
Cor
Tabela e gráfico feitos no Excel pela autora, 2009.
Cheiro
Tabela e gráfico feitos no Excel pela autora, 2009.
Com a intenção de perceber se as pessoas possuem algum tipo de
envolvimento com o rio perguntamos se elas tinham conhecimento do
nome do rio que passava próximo a suas casas 54,3% dos entrevistados
responderam corretamente, 28,6% não sabia o nome do rio e 14,3% não
responderam e 2,4% erraram. Ao perguntar sobre que cor e que cheiro o
rio tem, foi possível perceber a aversão que as pessoas sentem,
principalmente quando se referiam ao cheiro. Com relação à cor as
respostas que mais apareceram foram 51,43% responderam preto;
18,57% escuro e 15,71% negro.
com relação ao cheiro surgiram 14 diferentes respostas, todas
pejorativas. A grande maioria 32,9% respondeu Ruim; seguida de 11,4%
Fedorento; 10% Podre; 8,6% desagradável; 7,1% mau cheiro e 4,3%
esgoto. Curiosamente outros 4,3% responderam que o rio não tem cheiro,
embora a maioria absoluta 88,6% tenham dado alguma resposta
associando o cheiro do rio sempre a alguma coisa ruim.
215
118. Você conhece alguém que usou o rio para o lazer no
passado? Quando?
Com relação à questão 118 que se refere ao uso dado ao rio no passado,
a grande maioria conheceu alguém que fazia uso do rio quando ele não
era poluído. Ele era usado para pesca, lavar roupas e para nadar. Ainda
hoje mesmo com a poluição as crianças em dias de chuva quando o
volume do rio aumenta, tomam banho no Botas. Mas o período em que as
pessoas mais usavam o rio de acordo com as respostas foi a 30 anos
atrás ditos por 8,6% dos entrevistados; 7,2% responderam 40 anos
atrás e 2,9% não fizeram referência numérica, mas responderam há muito
tempo atrás.
Crianças que usam as águas do Botas para o lazer nos dias atuais. Fonte:
Grupo de Pesquisa Britto, 2006.
216
119. Você tem vontade de vê-lo recuperado?
120. O que você poderia fazer para ajudar nesta recuperação?
A intenção de vê-lo recuperado foi demonstrada por 92,9% dos
entrevistados, o que é bom para os processos de recuperação dos rios
urbanos, pois o engajamento da sociedade é considerado como fator
primordial. Apenas 2,8% não querem ver o rio recuperado e 1,4% desses
2,8% gostaria que o rio sumisse. Somente 1,4% não expressaram a
vontade de -lo recuperado por não acreditarem nessa possibilidade.
Apesar disso, fizemos uma questão aberta e perguntamos o que poderiam
fazer para ajudar na recuperação e surgiram diferentes respostas, da qual
a mais citada foi não jogar lixo dito por 17,1%. Uma parcela alta dos
entrevistados 12,9% respondeu que fariam nada, seguida de 5,7% que
responderam que ajudariam a conscientizar a população a não poluir mais
e 4,3% canalizariam. As respostas citadas podem ser vistas na tabela
abaixo.
Com essa conscientização de que cada um pode ajudar de alguma forma,
perguntamos se a postura em relação ao rio mudaria se ele fosse
recuperado e 75,7% dos entrevistados responderam que sim, mas uma
parcela significativa 21,4% respondeu negativamente afirmando que
manteriam seus hábitos. Perguntamos quais usos à população faria para
podermos identificar quais novos usos seriam desenvolvidos. Uma parcela
expressiva de 18,6% não faria nenhum uso, 21,4% não responderam e
60% citaram diversas possibilidades de usos dos quais podem ser
observados na tabela a seguir.
217
122. Se o rio fosse bem tratado, sua postura em relação a ele seria
diferente?
123. Que tipos de usos você poderia fazer em relação ao rio se ele
fosse restaurado?
124. Se você tivesse poder, que ações você proporia para o rio
Botas?
Perguntamos ainda que tipos de intervenções essas pessoas fariam para
analisarmos o nível de conhecimento dos entrevistados com relação às
possibilidades de intervenção e para avaliar que tipo de potencial eles
vêem no rio. A limpeza foi citada por 7,1% da respostas, e canalizar
aparece em 8,5%, embora em 4,2% esteja unida a uma outra intervenção
como arborização, dragagem e criação de uma avenida. É interessante
observar que 2,9% cobririam o rio e colocariam uma praça em cima, isso
nos mostra que parte da população não vê no rio potencial para o lazer, e
não pensam usar as margens para criar tal infra-estrutura. Apenas 1,4%
se referiram as margens, e 2,9% mostraram consciência de que as casas
as margens do rio são prejudiciais e proporam a sua retirada.
218
125. Você tem conhecimento das intervenções que estão sendo
propostas para o rio Botas?
125.1. Quais intervenções?
É equilibrado o número de pessoas que tem (50%) e que não tem
conhecimento (48,6%) das atuais intervenções que estão sendo
realizadas no rio Botas pelo Projeto Iguaçu. O alto número de não
respostas (40%) para a questão 121 está diretamente relacionado ao
número de pessoas que disseram não ter ciência das intervenções, ainda
temos 10% de pessoas que responderam não ter conhecimento.
Entretanto 21,4% responderam dragagem como uma das intervenções
que estão sendo realizadas. Em segunda posição aparece a retirada das
casas das margens do rio (5,7%); 2,9% responderam dragagem e limpeza
e outros 2,9% responderam dragagem e retirada das casas das margens
do rio.
De modo geral os rios das áreas urbanas foram imensamente modificados
e com a ocupação desenfreada muitas áreas foram impermeabilizadas
contribuindo para aumentar diretamente a vazão dos cursos de água. No
Botas não é diferente. Com muitas casas construídas as margens do rio,
os maiores prejudicados são os próprios moradores, que com a
intensificação da expansão urbana sofrem com os progressivos prejuízos
causados pelas enchentes cada vez mais desastrosas. As conseqüências
não são apenas materiais como pertences perdidos, mas abarcam
prejuízos muito maiores como famílias desabrigadas e pessoas
desaparecidas.
Ao longo dos anos as administrações públicas negligenciaram a
necessidade do espaço ao longo das margens dos rios e permitiram a
ocupação maciça dessas áreas definidas como Áreas de Proteção
Permanente (APP). Hoje o Botas não é utilizado por suas múltiplas
funções, serve apenas como drenagem e corredor de esgoto. Como vimos
nas imagens de campo é constante a presença de casas que lançam
diretamente no rio seu esgoto sem qualquer tipo de tratamento. A
preocupação maior é o risco da disseminação de doença pela veiculação
hídrica já que em períodos de cheia o transbordamento é inevitável.
Apesar de termos encontrado em nossas visitas de campo crianças que
usam as águas do Botas para o lazer, estas não devem ser usadas com
este fim em hipótese nenhuma, já que suas águas se encontram
extremamente poluídas e, portanto representa um risco a saúde. Uma
solução viável para diminuir a poluição do rio seria recolher e tratar todo o
219
esgoto antes de lançá-lo ao rio, e aos novos empreendimentos deve-se ter
o cuidado de prever a questão do tratamento de esgoto.
Além do esgoto outro grave problema é a questão do lixo, que lançados
“in natura” no corpo hídrico agravam cada vez mais a sua situação
ecológica e sanitária. A prática de lançamento de lixo no córrego foi muito
observada. O que é muito estranho, pois na grande maioria dos
questionários aplicados foi respondido que existe a coleta de lixo e que ela
acontece 3 vezes na semana. Acreditamos que seja uma questão cultural
e educacional. Portanto conscientizar a população da necessidade de
dispor corretamente seu lixo é indispensável para garantir a saúde do rio.
O transporte também contribuiu de maneira negativa para o problema das
enchentes, pois para abrigar esta infra-estrutura é feito um estreitamento
do leito do rio ou em muitos casos são construídas pontes muito baixas.
Este estreitamento aliado à ponte baixa em épocas de enchentes torna-se
uma barreira que impede a fluidez da água.
Todos estes problemas podem influenciar as autoridades a tomarem
decisões menos apropriadas para o meio ambiente, mais que resolve
temporariamente e pontualmente o problema. Como solução imediatista
para sanar a questão muitos rios foram canalizados ou pior foram
colocados em galerias e escondido definitivamente da paisagem. Estas
medidas são desastrosas do ponto de vista ambiental, paisagístico e para
o imaginário da população. Este tipo de intervenção apenas transfere o
problema para trechos a jusante do rio e os danos são progressivos.
Quando enterrado é esquecido pela população e lembrado apenas
durante as enchentes quando as galerias não dão conta da vazão
excessiva. Mas isso não impede sua recuperação. Na Europa existem
exemplos de rios que foram canalizados em determinados momentos e
voltaram ao convívio da população com programas de revitalização que
buscaram recuperar a morfologia natural. Mas no rio Botas como não
existem trechos em galerias a situação é mais favorável.
220
221
CAPITULO V
Diretrizes para o Botas e Considerações Finais
222
Imagens da página 221:
1. Passarela suspensa Telok Blangah Hill Park. Fonte: archdaily, 2009.
2. Análise Trecho 1. Fonte: o autor, 2009. Fonte mapa: Google, 2009.
3. Proposta para o Bota| Referencias projetuais. Fonte: o autor, 2009.
4. Rio Botas Revitalizado| Proposta de diferentes usos. Fonte: o autor, 2009.
5. Proposta de equipamento para a margens do rio Botas. Fonte: o autor, 2009.
223
5.1. Diretrizes para recuperação ambiental do Botas
A intenção é que este trabalho seja um instrumento prático a assessores
técnicos municipais, aos apaixonados pelo meio ambiente e
principalmente para a população. Pois poderão encontrar nessas páginas
esclarecimentos para a abordagem da questão ambiental e para o trato
das águas com relação aos rios urbanos. Os diversos exemplos citados
nas metodologias do capítulo II nos fazem perceber que a tendência atual
é de intervenções que indiquem o caminho da sustentabilidade e que
abordem as técnicas da engenharia ambiental, de modo que possam
contribuir para a preservação, para o desenvolvimento da biodiversidade e
para a integração entre homem e rio.
Consideramos que seria necessária uma equipe multidisciplinar para dar
bases sólidas a uma proposta de revitalização do Rio Botas que deveria
calcar as diretrizes em diferentes dimensões: físicas, que devem buscar
consolidar e qualificar os espaços urbanos e as margens do rio Botas
através da criação do parque linear; sócio-culturais que devem prever
investimentos em cultura e educação, criar oportunidades de emprego e
renda; políticas que devem prever políticas públicas integradas com uma
gestão integrada prevendo a continuidade das propostas num governo
seguinte, buscando parâmetros para o fortalecimento da cidadania; e em
dimensões ambientais ligadas a políticas voltadas para o saneamento
ambiental, o reflorestamento, a preservação e a recuperação dos recursos
hídricos.
As diretrizes para recuperação ambiental do rio Botas devem compreender dimensões como
as enumeradas no gráfico acima, que devem estar integradas e acontecer
concomitantemente.
Como esse trabalho é uma dissertação de mestrado, não teríamos
condições de construir uma proposta aprofundada de revitalização do
Botas. Mesmo assim, a partir da análise realizada nos capítulos
anteriores, nos propomos a apontar alguns caminhos que poderiam
orientar essa revitalização, que apresentamos a seguir.
“Se, planejamos para um ano, plantamos arroz.
Se, planejamos para dez anos, plantamos árvores.
Se, planejamos para cem anos, preparamos pessoas.”
(Antigo ditado chinês).
224
5.1.1. Possibilitar o conhecimento e o envolvimento da
população no processo de revitalização
Infelizmente de maneira geral, a população da Baixada desconhece
métodos como a restauração ou a revitalização como alternativa para
acabar com os recorrentes problemas causados pelas enchentes. Talvez
pelo fato de para essa população os rios serem sinônimo de problema,
enchente, perdas materiais e como uma barreira, ao invés de ser um
elemento de integração e beleza. Em sua maioria as pessoas não pensam
nos métodos, apenas nas soluções e as únicas soluções esperadas são
as que acabam com os problemas imediatos como: drenar o brejo, acabar
com o barro, com o mau cheiro. Além disso, essa população não possui
referenciais projetuais que as mostre a possibilidade de restabelecer a
saúde do recurso hídrico.
Este fato foi confirmado empiricamente, que alguns questionários
apresentaram um paradoxo que é interessante destacar. Quando
perguntamos se as pessoas gostariam de ver o rio recuperado em sua
grande maioria disseram: “sim, gostaria que a água fosse limpa para
poder nadar”. E quando perguntamos se elas tivessem poder para intervir
que medidas tomariam, essas mesmas pessoas responderam: “fecharia o
rio”, “faria galerias subterrâneas e construiria uma praça em cima”.
Isso nos evidencia o despreparo e o desconhecimento da população para
exigir seus direitos embasados na qualidade de vida, na sustentabilidade
e na questão da preservação do meio ambiente. O que nos faz crer que é
necessário informar essa população sobre os novos métodos existentes,
que em outros países e até mesmo em cidades brasileiras estão
complementando e até mesmo substituindo a engenharia tradicional.
Podemos dizer que a valorização das margens é o novo paradigma.
Projetos de ocupação das margens como parques lineares é uma prática
recente que inclui novas maneiras de pensar a relação entre a cidade e
seus recursos hídricos e acaba por intensificar as relações existentes na
vida urbana e por valorizar o espaço físico da cidade. Pois estes espaços
devolvem a população o prazer de estar em contato direto com a água
seja ele, físico ou apenas visual.
Como dito anteriormente, é necessário colocar o homem no centro desta
questão e chamar a responsabilidade da construção de um futuro melhor
para nós mesmos. Deste modo, com pequenas atitudes podemos fazer
grandiosos atos para a proteção desse recurso natural, o rio urbano. Ao
falar sobre a conservação e a revitalização dos cursos d’água Selles
(2001) cita que é importante reconhecer que: os rios e córregos são mais
que meros transportadores de água.
225
5.1.2. Instalar sistemas adequados de esgotamento
sanitário
A principal medida a ser tomada na Bacia do rio Botas está relacionada ao
esgotamento. Seria necessária a construção de sistemas adequados e
integrados de coleta, tratamento e disposição final dos esgotos. Este
sistema deveria ser desenvolvido de forma articulada com os municípios
pertencentes a esta Bacia para obter resultados mais abrangentes. Se
apenas as ETEs existentes estivessem em pleno funcionamento, seria
um avanço muito importante para resolver esta questão. É dever das
prefeituras, instituírem mecanismos que incentivem a adoção de conexões
ao sistema, sejam eles domiciliares ou industriais.
Além disso, deve ficar a cargo das prefeituras a fiscalização e a punição
para aqueles que não aderirem ao sistema de esgotamento sanitário. E no
caso de indústrias além da aplicação de multas e punições, o fechamento
da unidade caso lancem seus dejeto no rio. Outra questão se refere à
disposição dos resíduos sólidos, é necessário melhorar o sistema de
coletas, ao mesmo tempo em que, introduzir a coleta seletiva e a
reciclagem. Devemos proteger os rios contra a disposição de lixo nas
margens e no leito e contra o lançamento de esgotos sem tratamento
visando à saúde.
ETE Sarapuí - Estação de tratamento de esgotos que atende 430 mil habitantes de Nova
Iguaçu, Belford Roxo e São João de Meriti. Fonte: Centro de informações da Baía de
Guanabara Governo do Estado do Rio de Janeiro. Disponível em:
http://www.cibg.rj.gov.br/galeria_design.asp?img=27
226
5.1.3. Adotar um sistema de drenagem sustentável
Devemos pensar também na implementação de um sistema de drenagem
sustentável, aliado a um paisagismo coerente que permita o aumento da
capacidade de infiltração e retenção das águas pluviais no solo. Isto ajuda
a elevar o nível do lençol freático e a diminuir as descargas diretas nos
rios evitando os processos erosivos e diminuindo assim a intensidade das
inundações, um dos maiores problemas enfrentados pela população da
Baixada Fluminense. A drenagem sustentável está baseada basicamente
em 3 ações: (1) evitar o desmatamento, erosão e assoreamento dos rios e
lagos; (2) na Gestão Urbana e (3) na manutenção dos recursos hídricos e
na qualidade das águas superficiais e subterrâneas.
Exemplo de um jardim de chuva na Rua Siskiyou em Portland. Fonte: Bunn; Matos e Silva,
2007
Exemplo de um canteiro pluvial no Mercado New Seasons. Fonte: Bunn; Matos e Silva,
2007.
Exemplo de bacia de acumulação na Bacia do Rio Essone - França. Fonte: Christian
Speissmann, 2008. Trabalho apresentado no Seminário de Águas Urbanas.
227
5.1.4. Implantação de Ecobarreiras
Outra iniciativa paliativa, mas que tem apresentado resultados positivos
são as ecobarreiras, construídas com material flutuante (bombonas e
garrafas plásticas) para conter o avanço do lixo lançado na água. Medida
simples que se adequa bem a realidade vivida na bacia do Botas, ainda
pode gerar emprego e renda para aqueles que quiserem se tornar
Ecogaris.
O Projeto “Rio ama os rios” do INEA oferece treinamento especializado
para aqueles que quiserem atuar na coleta e separação do lixo que fica
preso nas ecobarreiras. Os equipamentos e materiais necessários para a
atividade como balança e equipamento de segurança individual são
doados por Cooperativas de Reciclagem. O projeto possui unidades
instaladas, conhecidas por “Ecopontos”, onde é feito todo o processo de
recepção, separação, pesagem e prensagem dos resíduos coletados.
Geralmente instalados próximo as Ecobarreiras, esta unidade também
compram lixo reciclável dos moradores da região, para incentivar a
população a não jogar o lixo em locais inadequados. Todo material
selecionado é encaminhado para a reciclagem.
Ecobarreira para impedir que o lixo e as gigogas cheguem à praia do Pontal. Fonte: Luan
Seixas, 2009. Disponível em: http://cidadedabarra.blogspot.com/2009/08/eco-
barreiras.html
Ecobarreira feitas de garrafas pet. Fonte: Planeta Sustentável, 2009. Disponível em:
http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/ambiente/ecobarreiras-despoluicao-rios-projeto-
rio-ama-491290.shtml
228
5.1.5. Tratamento adequado das margens do rio e de seus
canais afluentes
Nas margens o uso do concreto deve ser restrito. É importante utilizar
alternativas para o concreto como barreiras permeáveis, que podem ser
feitas com troncos, rochas, bambu, dentre outras soluções que a
engenharia ambiental hoje apresenta. Proteger os espaços livres e/ou
verdes ao longo das margens dos rios é de extrema importância para
conservar os cursos d’água. Para isso, são necessárias ações proativas
que impeçam a reocupação das margens do Botas, conseqüentemente
mantendo os espaços naturais para as enchentes. Com tantas alternativas
de grande valor estético e importante função ecológica, medidas drásticas
como as canalizações podem ser usadas com menos freqüência.
Proteção das margens com entrançamento de varas. Fonte: Selles, 2001.
229
De fácil aplicabilidade, com custos reduzidos, estas medidas exigem
apenas uma boa manutenção, limpeza constante das áreas e a
preservação da vegetação. Estas têm por fim compatibilizar obras e os
interesses como a proteção contra enchentes, drenagem, irrigação,
recreação, esportes aquáticos e proteção das espécies. Decorrente disso
há uma diminuição nos impactos ambientais sobre o recursos hídrico.
Proteção das margens com estacas de madeira
Fonte: Selles, 2001
Proteção das margens com troncos de árvores ancorados com estacas. Fonte: Selles, 2001
Estacas de broto de árvore. Proteção das margens com faxinas presas por estacas. Fonte:
Selles, 2001
230
Proteção das margens com a instalação de uma faxina de tela de arame, tecido de coco,
pedras e plantas vivas. Fonte: Selles, 2001
Com relação às margens Selles (2001) apresenta um esboço com alguns
exemplos de recuperação das margens, de forma que o grau de
recuperação depende da área disponível.
Esboço de seções transversais de cursos d’água cujo tipo de recuperação depende da área
disponível. Fonte: Selles, 2001.
231
Para os trechos canalizados, devemos promover sua melhoria,
buscando a valorização de suas margens e da paisagem circundante,
adaptando-os para seu pleno aproveitamento, principalmente para usos
como recreação e lazer. A canalização de um rio não deve ser um
impedimento para se propor melhorias, mesmo com toda dificuldade,
aproximá-lo das condições naturais pode trazer melhorias ambientais e
para a paisagem. Um excelente exemplo de projeto que tira partido da
canalização é do rio Cheonggyecheon, em Seul, na Coréia do Sul.
Um trecho de córrego em zona urbana, canalizado, com recuperação espontânea da feição
natural (Itanhanguá, Rio de Janeiro) Fonte: Selles, 2001.
Canalização do rio Vuachère Suíça. Fonte: o autor, 2008.
232
Recuperação do rio Cheonggyecheon, feita pela prefeitura de Seul, na Coréia do Sul.
Fonte: Oliveira, 2009.
Outro trecho da mesma intervenção no rio Cheonggyecheon
Fonte: Oliveira, 2009.
5.1.6. Desobstrução das margens do Botas
Com relação à desobstrução física e visual das margens do rio Botas, é
imprescindível retirar as populações que vivem nessas áreas de risco,
para que possamos recuperar a visibilidade, o acesso ao rio e até mesmo
a qualidade de vida desta população. Esta população deve ser relocada
para áreas próximas, dentro do próprio bairro. É imprescindível portanto
uma articulação da ão de revitalização com um programa de
reassentamento da população que vive junto à margens do rio. Esta
retirada faz-se necessária, pois os rios necessitam de seu espaço natural
de escoamento, suficiente para evitar os danos provocados pelas
enchentes. Além disso, as margens são áreas de uso potencial para
recreação, prática esportiva, lazer e contemplação. Para recuperar a
visibilidade e o acesso, serão criadas áreas de contato com a água ao
longo do rio.
Existe ainda a possibilidade de melhorar e recuperar ambientalmente as
áreas ocupadas na região da Bacia , e buscar o ordenamento nas áreas
que ainda não foram ocupadas ou que ocupação ainda está em fase
inicial.
233
5.1.7 O tratamento urbanístico das margens do Botas e o
Parque Linear
As ações projetuais para o tratamento e ordenamento das margens do rio
Botas e seus afluentes devem prever o controles das cheias, erosões e o
assoreamento. Um dos aspectos centrais que orientam os projetos sobre
rios urbanos na atualidade é a perspectiva de utilização dos espaços livres
pela população. Por isso é importante criar medidas que garantam a
proteção ecológica e estética, mas que ao mesmo tempo criem espaço
adequados para o uso econômico. A criação de um parque linear as
margens do Botas ajudaria a evitar que novas construções fossem
erguidas, além de ajudar a recuperar o valor histórico e a identidade da
cidade em relação à importância do rio.
Seguindo o rio Botas, o projeto de um parque linear com ampla infra-
estrutura, com a criação de equipamentos para a população, promoveria a
paisagem e a conservação da área através de sua constante utilização.
Buscando restaurar sua integridade ecológica, o projeto deve explorar o
potencial paisagístico e as características geográficas do rio. Este tipo de
intervenção é de extrema complexidade, pois envolvem diversos projetos
complementares, como de esgotamento, drenagem, abastecimento de
água, iluminação pública, transporte, arquitetura e paisagismo.
A proteção dos rios urbanos se viabiliza quando os habitantes estão
envolvidos e reconhecem o recurso hídrico como patrimônio a ser
preservado. Este processo de reconhecimento é favorecido quando o rio
deixa de ser uma ameaça à segurança da população, quando as pessoas
passam a ter um contato positivo com a água, aprendendo a valorizar
seus atributos ambientais, seus potenciais de lazer e convivência social.
Reforçar a idéia do rio como patrimônio é o importante papel da educação
ambiental, que, além disso, incentiva a população a rever seus conceitos
e a perceber a importância e o significado da água. que a escassez no
futuro se faz cada vez mais presente. Não faz sentido jogar o esgoto na
água em que bebemos, acabamos por gastar muito dinheiro com
processos químicos para restabelecer sua pureza. A educação ambiental
ajuda a manter vivo no imaginário da população o valor do rio como
memória.
Atualmente, a gestão de recursos hídricos inclui, obrigatoriamente, os
usos múltiplos da água. (SELLES, 2001) É importante destacar que os
rios e córregos são locais vitais para a biota
18
, além de permitirem
múltiplos usos pelo homem, consequentemente precisam ser recuperados
para que possam ser novamente introduzidos no cotidiano da população.
Para que sua reintegração seja integral é importante reconhecer que os
córregos são mais do canais transportadores de lixo e esgoto. Quando
possível, devemos proporcionar uma evolução gradual dos cursos d’água
acrescentando-lhes áreas para que recuperem a morfologia mais próxima
ao seu estado natural.
Com uma cultura arraigada sobre o futebol, as margens do Botas foi
palco para centenas de campos de futebol na Baixada Fluminense,
extintos aos poucos pela ocupação desordenada. A intenção é retomar
essa identidade da área e restabelecer alguns dos campos de futebol,
estes desempenhariam também funções técnicas e serviriam como bacias
de inundação. A conseqüente valorização da área ajudaria ainda no
processo de adensamento desses espaços, evitando que a ocupação
urbana se torne cada vez mais dispersa, dificultando as ações da
prefeitura.
Pensar em soluções simples, muitas vezes de baixo custo, é primordial
para o desenvolvimento da proposta. Pois as melhores soluções não o
necessariamente rebuscadas. Para uma população que possui
predominantemente uma renda abaixo de 5 salários mínimos, é
importante indicar atividades e oportunidades que gerem renda, para
ajudar a desenvolver a auto estima. O projeto deve buscar urbanizar as
duas margens quando possível, ser dividido em fase de execução de
acordo com o programa a ser implementado, já que a área é bem extensa.
Esta indicação de fases deve ser definida com uma discussão mais
aprofundada da proposta, baseada no julgamento de todas as disciplinas
envolvidas.
18
Biota é o conjunto de seres vivos de um ecossistema, o que inclui a flora, a fauna, os fungos e
outros grupos organismos.
234
5.1.7. Estudo Preliminar e suas referências projetuais
Atualmente como uma barreira física, com pouca travessias para conectar
os centros de bairro, os serviços e vizinhos, o Botas é sinônimo de
destruição. Devemos resgatar a idéia do rio como um criador de vida, de
relações. O conceito central deste estudo baseia-se no rio como elemento
estruturador, que lança seus braços pelo tecido urbano costurando os
centros de bairro, os espaços vazios, dando-lhes novas funções. Ao
costurar os dois lados do rio, criando um parque linear com novas
passagens e novos usos, buscaríamos eliminar a idéia que hoje é muito
forte do rio como um elemento de segregação da paisagem. É importante
ainda criarmos um sistema de conexão entre os espaços vegetados,
partindo do parque, permeando as ruas do bairro e conectando as áreas
de praças.
Ao criar uma imagem positiva, o projeto poderia ser visto como ancora e
induzir o desenvolvimento das cidades vizinhas, utilizando o mesmo
conceito de unir através de corredores verdes os centros de bairro e as
áreas vazias transformadas em praças. A retomada de uma imagem
positiva para o rio traria maior qualidade de vida para esta população.
Apesar de delimitado na faixa entre o rio e a massa urbana, se expandido
um pouco mais quando possível, seus valores se estendem por áreas
adjacentes da cidade. Como se o parque fosse permeando todo o tecido
urbano da cidade consolidada, o que ajuda a estruturar a cidade carente
de espaços verdes, equipamentos e áreas de lazer.
235
O conceito “Costurar as áreas vazias e os centros de bairros
através do parque linear nas margens do Botas”
Esta imagem representa o conceito do costurar o tecido urbano e as áreas
verdes e com pouca densidade. A intenção é unir os centros de bairro (em
vermelho), aos espaços verdes (representados por diversos tecidos
coloridos) através da criação de uma parque linear as margens do Botas
(em azul), que permearia o tecido urbano através de seus afluentes (em
azul mais claro) e das vias principais da cidade. A costura (em laranja)
representa a idéia de conectar estes espaços através do rio Botas.
A idéia do estudo está baseada em alguns outros conceitos, além do
conectar. Está fundamentado nos conceitos de acessibilidade, visibilidade
e multiplicidade. Ao invés de se criar grandes áreas onde se concentram
um único uso, a intenção é criar espaços em uma menor escala e dar
variedade de formas e funções para facilitar o cotidiano da população.
236
Uma análise da área
O trecho selecionado foi o mais a montante, que neste trabalho
denominamos trecho 1, localizado no bairro Jardim Roma. Os motivos que
nortearam esta escolha foram: (1) é o trecho mais próximo da nascente;
(2) possui baixos índices de domiciliares de abastecimento dos serviços
de esgotamento sanitário, como podemos verificar no mapa a seguir; (3)
como é o mais próximo da nascente não recebe contribuições de outros
bairros, (4) possui em certo grau uma boa conexão com as principais vias
da cidade, com Estrada de Madureira ao da APA do Gericinó-
Mendanha e com a Rodovia Presidente Dutra (BR116).
Situação do esgotamento no trecho 1 Nova Iguaçu. Fonte: Grupo de pesquisa de Gestão
Sustentável da água em áreas urbanas.
A imagem a seguir faz referência a bacia do Botas e a análise dos centros
de bairro e dos vazios urbanos. Devido à escolha do trecho 1 para
representar as diretrizes, o foco das analises está no território de Nova
Iguaçu. A localização dos centros de bairro ilustrados nos mapas a seguir
foi retirada do trabalho de Pinto (2008), representados pelas bolinhas em
vermelho. Para os centros de bairro de maior importância foi mantida a
cor, mais estes ganharam uma mancha maior referente à sua área de
abrangência. Cabe destacar a grande quantidade de centros de bairros
que se estabelecem em zonas próximas ao rio Botas.
As áreas em verde denominadas “vazio” são áreas verdes com baixíssimo
adensamento. Excetuando-se pela área verde localizada na parte inferior
da imagem que se refere à APA do Gericinó-Mendanha. O “vazio” a
jusante, localizada no município de Belford Roxo, é uma área de várzea
muito importante para a dinâmica fluvial do rio Botas e do rio Iguaçu, pois
desempenha a função de bacia de acumulação natural para as cheias.
Por isso, propomos defini-la como uma APA para que possamos evitar
sua ocupação urbana, resguardar sua função e conseqüentemente
proteger os aglomerados localizados a jusante. Como citado no capitulo
anterior estudos desenvolvidos por Carneiro (2008) mostram que a
ocupação desta área traria drásticas conseqüências com relação às
enchentes, prejudicando as populações a jusante.
Ainda com relação à vegetação, principalmente no tecido urbano, esta é
extremamente escassa, possuindo o território pouquíssimas áreas
públicas vegetadas, sendo bastante árido. Existem pouquíssimas praças e
áreas públicas de lazer na cidade. Nas ruas a situação é ainda mais
precária, além da falta de vegetação existem outros graves problemas
como a falta sinalização, calçadas cheias de buracos, falta de mobiliário
urbano, ruas sem pavimentação.
A imagem mostra ainda os principais eixos de transporte desta região: a
Rodovia Presidente Dutra, a Via Light, a Estrada de Madureira e o Eixo
Ferroviário. Em destaque a área escolhida para a aplicação das diretrizes
apontadas neste trabalho. O tecido urbano da cidade de Nova Iguaçu
apresenta-se bastante fragmentado por suas principais estruturas viárias.
Com poucas transposições que conectem os dois lados destas estruturas
e com função de conectar grandes distancias fora da cidade acabam por
237
fortalecer esse obstáculo. Nesta categoria de obstáculos urbanos
podemos incluir o rio Botas, que se enquadra tanto como uma barreira
física como simbólica. Além disso, as construções irregulares em suas
margens configuram uma barreira física e visual.
A imagem conseguinte é uma aproximação do Trecho selecionado para
ilustrar as diretrizes, esta mostra um estudo sobre os acessos e as
conexões viárias da região. E evidencia a fragmentação do território,
seccionado pela ferrovia, pelo rio Botas e seus afluentes, pela via Light e
pela Rodovia Presidente Dutra. A terceira imagem identifica os trechos
percorridos em campo, sendo que os em vermelho que estão em
vermelho houve a aplicação de questionários.
238
Centros de bairros e vazio urbanos
239
Acessos e conexões viárias
240
Identificação dos trechos no território analisado
241
A próxima imagem faz uma análise do trecho 1 apresentando suas
principais conexões viárias compostas pela Estrada da Paca e Estrada do
Palhada, estas se conectam a Estrada de Madureira e a Rodovia
Presidente Dutra. A margem do Botas está indicado à área que precisa
ser desocupada para liberar a APP do rio, trecho será implantando o
parque linear.
Com a retirada da população ribeirinha, a intenção é que estas pessoas
sejam locadas dentro do próprio bairro, e em amarelo uma análise das
áreas vazias disponíveis para abrigar esta relocação. Existem ainda
diversas quadras que devem ser adensadas, estas estão marcadas em
laranja, além de áreas adjacentes não contempladas nesta imagem.
O projeto como um todo deve prever unidades de lazer, cultura, espaços
de convivência e para prática de esportes. Como programa, deve estar
previstas praças; anfiteatros; centros cultura de resgate da identidade;
sede da administração do parque; centros de treinamento para jovens
guias; centros de reflorestamento com estufa para criação de mudas;
“Ecopontos”; centros de arte, dança, música; escolas de artesanatos com
áreas para exposição e venda das peças produzidas; áreas esportivas;
escola de remo; quiosques; restaurantes; ciclovias; passeios para
pedestres e todo mobiliário urbano que devem estar distribuídas ao longo
do Botas. Estes equipamentos além de deixar a cidade mais bonita,
podem configurar uma atração turística para a cidade.
É preciso criar uma infra-estrutura de equipamentos urbanos que possam
atender esta população. É necessário que sejam implantadas escola,
creche e áreas de comércio, além do lazer que será proporcionado pelo
parque. Na imagem da proposta geral do trecho 1, começa-se a definir a
localização desses equipamentos e das áreas de lazer, sejam estas
praças no meio do tecido urbano ou o parque linear em si.
242
Análise do Trecho 1
243
Proposta Geral para o Trecho 1
244
A próxima imagem trata especificamente do Parque Linear e das praças
no tecido urbano que deverão estar conectadas. O Estudo Preliminar para
este trecho apresentará imagens das referências projetuais para esta
proposta. Como referências projetuais usamos: o Parque Telok Blangah
Hill em Singapura,
A área vazia onde se localiza a nascente do rio Botas deverá se tornar um
parque contíguo ao parque linear. Nesta área a intenção é criar um parque
nos moldes do Parque Natural Municipal de Nova Iguaçu e restabelecer
nesta área a vegetação de Mata Atlântica. Nesta área se localizaria uma
das sedes do parque, com uma área de estacionamento. Dentro do
parque a intenção é criar uma passarela suspensa que percorra esta área
que será reflorestada. A altura desta infra-estrutura deve ser melhor
estuda para que esteja de acordo com a vegetação que será plantada, de
forma que observado possa ver a copa das árvores.
A intenção é proporcionar um novo ponto de contato visual para que os
usuários possam admirar a paisagem e ter noção da promoção da
qualidade de vida que o parque linear pode trazer para a cidade. Esta
infra-estrutura ainda traz acessibilidade a todos aqueles que gostariam de
estar em contato com a natureza e que muitas vezes são impedidos pelos
desníveis do terreno.
Alternativamente para todos aqueles que preferem um contato mais direto
a intenção é criar um circuito de trilhas que hora acompanham a passarela
suspensa e hora se misture na mata onde deverão estar identificadas as
espécies de árvores nativa da região. Esta trilha tem inicio no final da
ciclovia/caminho de pedestres onde deverá ter equipamentos urbanos
como bicicletário para todos aqueles que quiserem adentrar o espaço do
parque.
A intenção é que estes espaços verdes possam desenvolver
potencialidades ecoturísticas para a região e reforçar a necessidade de
preservação do meio ambiente. Estes espaços podem e devem ser
usados para caminhadas leves e moderadas, atividades educativas e
acadêmicas, observação da fauna, da flora, e da paisagem. Com o passar
dos anos, e com a retomada da saúde hídrica do Botas, a intenção é
desenvolver um circuito das águas no Botas, onde os passeios e ciclovias
possam conectar as áreas propícias ao banho.
245
Proposta/ Referências Projetuais - Trecho 1
246
Proposta Parque Linear - Trecho 1
247
Proposta Parque Linear - Trecho 1
Localização dos detalhes apresentados a seguir.
248
Detalhamento - DE1
Croqui da área reflorestada, passarelas e atividades de lazer. Ao lado croqui do rio
com suas margens revitalizadas. Fonte: o autor, 2009.
249
Detalhamento DE2
250
Detalhamento DE3
Croqui da vista interna do Mercado Municipal. Ao lado em cores, a vista externa da estrutura em lona
tensionada do Mercado Municipal com seu deck a beira rio. Fonte: o autor, 2009.
251
Detalhamento DE4
252
Detalhamento DE5
253
Detalhamento DE6
254
Detalhamento DE7
255
5.2. Considerações Finais
“O rio é assim uma estrutura viva, e, portanto mutante. É
principalmente uma estrutura fluida, que pela sua própria natureza
se expande e se retrai, no seu ritmo e tempo próprios. (...) Ao fluir,
seu percurso vai riscando linhas na paisagem, como um pincel de
água desenhando meandros, cercos e curvas. (...) não é mais
aceitável pensar em retificar um rio, revestir seu leito vivo com
calhas de concreto, e substituir suas margens vegetadas por vias
asfaltadas, como uma alternativa de projeto para sua inserção na
paisagem urbana.” (COSTA, 2006)
Neste trabalho procuramos discutir princípios e medidas para a
revalorização dos rios urbanos. O desenvolvimento do Projeto de Controle
de Inundações e Recuperação Ambiental das Bacias dos rios
Iguaçu/Botas e Sarapuí é uma excelente oportunidade para ampliar esta
discussão, envolvendo o governo do estado através do Instituto Estadual
do Ambiente, conhecido por INEA e da CEDAE, governos municipais,
centros de pesquisa universitária associações de moradores e
organizações não governamentais. A responsabilidade pelos rios, alvo do
supracitado Projeto Iguaçu, é do órgão estadual de meio ambiente, o
INIEA, cabe ele o licenciamento e a fiscalização de atividades poluidoras.
Acreditamos que as medidas aqui sugeridas para a recuperação do Rio
Botas, que são aplicáveis a outros rios da bacia Iguaçu-Sarapuí podem
trazer contribuições para este debate.
Este trabalho nos ajuda primeiramente a compreender a importância da
água na fluidez da dinâmica da cidade como um elemento fundamental
para estruturar o tecido urbano. Vital e mortal, ignorada onde abunda,
aguardada com veneração quando sazonal e brutalmente disputada se
escassa, a água se tornou preocupação atual, privilégio mais restrito e
mercadoria que se generaliza. (Murillo Marx, apud Kahtouni, 2004). A
água como recurso natural renovável, está se tornando escassa, graças à
forma abusiva e degradante de como o homem a tem usado. Sem a
valorização da população e dos governantes, os rios têm sido tratados,
em geral, como complementação do sistema de esgoto e drenagem,
sofrendo com constantes agressões.
Além dos fatores supracitados, o processo histórico, econômico e o
crescimento urbano desordenado que não levava em conta aspectos
culturais e ambientais contribuiu essencialmente para a degradação do rio
Botas e fez com que a cidade lhe virasse as costas. Sem a pretensão de
esgotar o assunto, esta dissertação procura, porém, apresentar os alguns
dos principais conceitos técnico-científicos imprescindíveis para tratar do
tema da recuperação de rios urbanos. A exposição das diversas
experiências e possibilidades de intervenção para a recuperação
ambiental de rios urbanos, a compreensão da evolução do processo de
ocupação urbana na bacia do Botas, a contextualização empírica do
Botas, e a forma como as pessoas em o rio e como gostariam de vê-lo
nos impulsionaram a desenvolver as diretrizes aqui apresentadas. E nos
fizeram ver que é possível com medidas nem sempre drásticas promover
qualidade ao ambiente urbano.
Entender a importância do papel dos rios urbanos na estruturação das
cidades e discutir as diversas experiências e possibilidades de intervenção
para a recuperação de rios urbanos foi imprescindível para que
pudéssemos buscar as melhores formas para recuperar a identidade
cultural e física da paisagem, buscando manter o foco no tratamento e
ordenamento das margens. A possibilidade concreta de trazer bem estar
para uma população tão sofrida com as constantes perdas materiais
causadas pelas enchentes e que ainda assim mantêm a esperança, a
receptividade, o bom humor e o caráter intactos, nos faz acreditar em dias
melhores.
Isso nos impulsiona a rever conceitos, e a perceber que pensar de forma
global acaba por satisfazer também nossos anseios individuais como
cidadãos. Juntos podemos buscar a melhor forma de integrar o homem ao
seu habitat de forma racional, equilibrada e consciente, procurando
explorar a natureza em toda sua plenitude e opulência mais de forma
respeitosa. Para tal, o trabalho deve ser integrado, todos devem ter a
oportunidade de alterar a dura realidade a que estão sujeitas estas
populações ribeirinhas para que possam desenvolver o orgulho de serem
cidadãos e a proporcionar-lhes uma vida mais digna.
Essa integração deve contar com uma equipe multidisciplinar para dar
bases sólidas a esta intervenção. Este trabalho revela algumas formas
256
simples e inovadoras de intervenção que proporcionam as pessoas uma
forma mais digna de tratar as águas e habitar o mundo, reunindo
fundamentos e métodos de diferentes áreas como o paisagismo,
arquitetura, urbanismo, geografia, biologia, engenharia ambiental,
engenharia sanitária, dentre outros.
A proposta metodológica de recuperação ambiental para o rio Botas
buscou tirar partido do projeto urbano, visando sempre a harmonia com o
ambiente, tanto construído como natural. Mesmo com uma intenção mais
modesta que tem como foco o tratamento e ordenamento das margens
apoiando-se nas metodologias aqui estudadas, o projeto mostrou
potencial para complementar os projetos que estão sendo desenvolvidos
para a bacia do rio Botas, como o Projeto Iguaçu que foco o controle de
inundações e o bairro-escola que tem como foco a melhoria da qualidade
de vida através da educação, e assim como nossa proposta possui foco
também no projeto urbano como ferramenta de intervenção.
Com o foco voltado aos recursos hídricos, nossa proposta buscou a
flexibilidade de aplicação, deixando claro a necessidade de analisar cada
caso separadamente. Procuramos entender a complexidade de inserção
do rio Botas em sua paisagem urbana já totalmente consolidada,
buscando alternativas que viabilizassem a desobstrução e o tratamento de
suas margens, conseguimos criar espaços de maior qualidade e propícios
ao lazer, permitindo a população o contato ora visual, ora direto com a
água.
São conhecidas as dificuldades de gestão, administrativas e financeiras
que estão no caminho para realizar uma intervenção de tal porte. Mas é
necessário dar um passo a frente e deixar de lado os paradigmas já
ultrapassados. Devemos ter consciência de que é necessário apresentar
propostas técnicas de maior porte, que visem resultados a curto e em
longo prazo, tendo com preceito a sustentabilidade e o respeito às
dinâmicas do meio ambiente. É possível construir paulatinamente um
ambiente urbano saudável e sustentável através da tecnologia, de
políticas públicas integradas e da criatividade.
A inexistência de políticas integradas contribui para agravar esta situação
de precariedade. Além disso, na região da Baixada Fluminense um
histórico de políticas voltadas para interesses particulares.
“A cidade de Nova Iguaçu, mesmo tendo passado por uma
mudança política, possui ainda uma estrutura institucional frágil.
Por mais que se tenha interesse e boa vontade, a máquina
administrativa ainda é “pesada” e sofre de grande imobilismo
como é costume nos órgãos públicos em geral. A reação a
mudanças e a um novo ritmo de administração é sempre grande,
impedindo um melhor desenvolvimento dos trabalhos.” (PINTO,
2008:65)
Pensar nas intervenções sobre o tecido urbano como contíguas e
complementares nos auxiliariam a evitar contradições discursivas, que
na práticas muitas dessas intervenções não tem o efeito esperado de
democratização do espaço público, que acabam por valorizar
determinadas áreas e consequentemente por expulsar os menos
favorecidos. Além dos benefícios técnicos, nossa intenção é promover a
justiça ambiental e a melhoria na qualidade de vida urbana.
Temos que buscar a coesão social e o desenvolvimento sustentável pela
prática de uma visão integrada de políticas e de planejamento que
possuam uma postura coerente com a realidade local, levando em conta
as questões existentes no território, sejam estas de ordem social,
cultural, ambiental ou histórica.
Garantir esta coesão, buscando o envolvimento de todos os atores
(sociais, técnicos e políticos) nos processos de elaboração do projeto,
garante decisões consesuais o que reduz as incertezas de sucesso de
uma intervenção de tal porte. Além disso, ajuda a definir e a deixar claro
as responsabilidades de cada um. A intenção não é buscar uma
intervenção global com uma unidade conceitual, que tornaria a cidade e o
maio ambiente totalmente artificializado, mais buscar um consenso que
seja flexível que busque soluções específicas para cada caso.
Pois a Baixada Fluminense é um território rico em desafios, dentre os
quais podemos citar: a fragmentação de suas cidades, seus problemas
257
sociais, a falta de qualidade ambiental, o grave problema do saneamento,
e principalmente as questões político-administrativas. uma grande
dificuldade de gestão do poder local, principalmente por que em muitos
casos não uma prática ou em casos ainda piores não planejamento
e políticas públicas urbanas.
A questão política na Baixada é muito frágil, de acordo com Pinto (2008)
os interesses políticos individuais acabam por dificultar o processo, a
divisão e o estabelecimento claro de responsabilidades ainda é um
problema, fincando isto a mercê de afinidade e negociações políticas.
Assim concluímos que é visível a necessidade de uma mudança de
postura política
Após todo processo de análise, indicar das diretrizes e mostrar sua
aplicabilidade em um dos trechos estudados através da criação do parque
linear, com foco no tratamento e ordenamento das margens nos ajuda a
demonstrar a importância do projeto urbano como uma ferramenta
essencial e aliada nos processos de intervenção e recuperação da
natureza.
Apesar das experiências tentadas, introduzir projetos de parques
fluviais como complementares a toda infra-estrutura criada pelo Projeto
Iguaçu seria uma ação projetual inovadora para a Baixada Fluminense, na
medida em que um projeto de tal porte deve buscar compreender o meio
urbano e natural como complementares, como elementos que fazem parte
de um mesmo contexto e que não podem ser vistos isoladamente.
Apesar da forma de pensar o urbano no que concerne seu cunho
ecológico, paisagístico e hídrico, ter sofrido grandes transformações,
propor intervenções focadas somente nestes itens se tornam
extremamente limitadas. Para resolver os problemas ambientais mais
complexos encontrados em nossa área de estudo é necessário enfrentar
tudo o que envolve a questão social, que deve ser vista como um
elemento principal de intervenção ou pelo menos como um item
indispensável para se chegar aos objetivos de recuperação ambiental,
que a área é bastante fragilizada, seja por motivos históricos ou pelo fato
das camadas sociais menos favorecidas estarem expostas aos maiores
riscos ambientais.
Dado o grau de devastação em que se encontra o Bioma da Mata
Atlântica e os recursos hídricos em solo fluminense estas ginas
pretendem servir àqueles que desejam ver mitigada a crescente perda das
matas ciliares e a poluição dos rios e de outras formações hídricas
fluminenses devido a tantas atividades e empreendimentos realizados de
forma ecologicamente incorreta. Além disso, não podemos esquecer da
busca por mitigar as questões que se referem a carência de espaços
públicos de lazer com qualidade.
Questões relevantes como as técnicas desejáveis na recuperação de
matas ciliares e de microbacias na Mata Atlântica, de coleta de sementes,
além da importância dos animais para a sustentabilidade do ecossistema
restaurado, estão aqui em destaque.
A proposta busca restabelecer o equilíbrio da cidade através do
tratamento das margens do Botas e de seu entorno imediato, criando
espaços livres vegetados e de infra-estrutura integrados em todo o tecido
urbano usando o conceito da multiplicidade. Assim como a ave mitológica
que renasce das cinzas, a fênix, a intenção é ressurgir o Botas do esgoto.
E junto ao Projeto Iguaçu torná-lo ícone dessa transformação,
recuperando também todas as questões culturais envolvidas neste
processo.
Integração em diversos vieses é uma palavra chave para este projeto. É
necessário integrar objetivos, sonhos, necessidades, além de políticas
com uma gestão séria, com profissionais técnicos habilitados e
principalmente com uma população sedente por ver e participar dessas
transformações. É importante definir prioridades, decidindo quais ações e
infra-estruturas serão implantadas a curto, médio e longo prazo,
garantindo a concentração de esforços na execução do programa. Mas
estas prioridades devem ser estabelecidas com estudos mais
aprofundados e com a participação de todos os profissionais competentes.
É importante destacar que nossas habilidades tecnológicas estão
relacionadas a um determinado tempo e a características físicas
existentes no presente momento. Dependemos de tentativas e
experiências para tornar essas habilidades viáveis e acessíveis, que
temos consciência de que não é possível dominar a natureza. Tentar
258
compreendê-la e respeitá-la é um dos melhores caminhos para
reconquistar a beleza do recurso hídrico, que o rio como elemento vivo
possui um processo singular e de evolução inabalável que desafia
constantemente nossos melhores planos.
Sem a pretensão de esgotar o tema aqui discutido, podemos dizer que
este trabalho é instrumento prático a assessores técnicos municipais, a
todos os apaixonados pelo meio ambiente e principalmente para a
população, pois nestas páginas poderão encontrar esclarecimentos para a
abordagem da questão ambiental e para o trato das águas com relação
aos rios urbanos. Os diversos exemplos citados nas metodologias do
capítulo II nos fazem perceber que a tendência atual são intervenções que
indiquem o caminho da sustentabilidade e que busquem contribuir para a
preservação e para a integração entre homem e rio.
“Cidades invadindo as águas, e águas invadindo as cidades –
situações pendulares, cíclicas, geradas a partir de antigos
conflitos entre os sistemas da cultura e os sistemas da natureza.”
(COSTA, 2006)
259
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263
ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES
001
Criança tomando banho nas águas poluídas do Rio Botas.
Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
, 2006.
Capa
002
Rio Tibre em uma cheia, Roma Itália.
Fonte: Wikipedia, 2007.
Pág. 1
003
Vista do rio Sena, Paris França.
Fonte: o autor, 2008.
Pág. 1
004
Vista do estuário do Tejo, Lisboa Portugal.
Fonte: Wikipedia, 2007.
Pág. 1
005
Rio Tamanduateí - São Paulo, 1862.
Fonte: FotoPlus, 2006.
Pág. 1
006
Rio Carioca - Rio de Janeiro, 1831.
Fonte: FotoPlus, 2006.
Pág. 1
007
Localização do Rio Botas. Fonte: o autor, 2007.
Pág. 7
008
Aproveitamento das Margens do Rio Sena para atividades
de lazer. Paris
França.
Foto: o autor, 2008.
Pág. 11
009
Canalização do rio Vuachère Suíça.
Foto: o autor, 2008.
Pág. 11
010
Tratamento Paisagístico das margens do Lago Léman
Suíça. Foto: o autor, 2008.
Pág. 11
011
Pólo Turístico do Lago Aydat Clermont Ferrand França.
Foto: o autor, 2008.
Pág. 11
012
Projeto Beira-Rio em Piracicaba/SP. Fonte: Portal Vitruvius,
2006.
Pág. 11
013
Rio Tibre em uma cheia, Roma Itália.
Fonte: Wikipedia. Data: 16
-11-2007.
Disponível em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:Tevere_Isola_Tiberina_
-
_piena_051130.JPG
Pág. 14
014
Mapa da Itália.
Fonte: Wikipedia. Data: 16
-11-2007.
Disponível em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:Tiber.PNG
Pág. 14
015
Vista do rio Sena, Paris França. Fonte: o autor, 2008.
Pág. 15
016
Mapa da França. Fonte: Wikipedia. Data: 16-11-2007.
Disponível em:
ht
tp://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:France.seine.350pix.jpg
Pág. 15
017
Vista do estuário do Tejo, Lisboa Portugal.
Fonte: Wikipedia. Data: 16
-11-2007
Disponível em:
http://p
t.wikipedia.org/wiki/Imagem:Estu%C3%A1rio_do_Tejo.jpg
Pág. 15
018
Mapa Portugal. Fonte: Wikipedia. Data: 16-11-2007.
Disponível em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:Mapa_de_Po
rtugal.png
Pág. 15
019
Área Metropolitana (Área Conurbada) do Rio de Janeiro:
localização das Estradas de Ferro.
Fonte: ABREU, 1988.
Pág. 21
020
Rio Los Angeles Barragem Sepulveda em Van Nuys (2006).
Perda da vegetação ribeirinha e da identidade
local. Data:
novembro de 2009.
Disponível em:
http://councilcommittee.lacity.org/lariver/beforeandafter.htm
Pág. 25
264
021
Rio Los Angeles Rua no Centro de Los Angeles (2006).
Perda da vegetação ribeirinha e da identidade local. Rio fica
confinado na canalização e entre a ferrovia construída ao longo
de suas margens. Data:
novembro de 2009.
Disponível em:
http://councilcommittee.lacity.org/lariver/beforeandafter.htm
Pág. 25
022
Rio Los Angeles Tujunga Wash (2006). Perda da vegetação
ribeirinha e da identidade local. O rio fica confinado na
canalização, restringindo o acesso da população. Data:
novembro de 2009.
Disponível
em:
http://councilcommittee.lacity.org/lariver/beforeandafter.htm
Pág. 26
023
Ciclo Hidrológico. Data: Julho 2009. Disponível em:
http://www.ufrrj.br/institutos/it/deng/leonardo/downloads/APOSTILA/HID
RO
-Cap2-CH.pdf
Pág. 30
024
Movimentação da água no perfil do solo Fonte:
http://www.ufrrj.br/institutos/it/deng/leonardo/downloads/APOSTILA/HID
RO-Cap2-CH.pdf
Pág. 31
025
A experiência da travessia. Elevada, destacada; ou baixa e
próxima, em contato com o mundo da água.
Fonte: Manning,
1997.
Pág. 35
026
O problema da altura livre. Pontes baixas bloqueiam o rio;
estruturas extensas bloqueiam a margem.
Fonte: Manning,
1997.
Pág. 35
027
A continuidade da beira rio. Necessário para o exercício pleno
da margem. Mais fácil de conseguir quando a topografia é
favorável.
Fonte: Manning, 1997.
Pág. 35
028
Complexidade cívica. Movimento ao longo, sobre e
através: tudo deve ser interligado a fim de possibilitar
experiências ricas. Fonte: Manning, 1997.
Pág. 35
029
Estruturas que bloqueiam a continuidade da margem.
Fonte: Manning, 1997.
Pág. 36
030
Parque em Denver, construído desde 1995. Combate as
inundações, cria habitat aos animais selvagens e aproxima as
pessoas. Fonte: OTTO,
2004.
Pág. 37
031
Criação de passeios agradáveis ao longo das margens. Fonte:
OTTO, 2004.
Pág. 37
032
Margens mais naturais. A vegetação aproxima as pessoas e
fornece ao rio habitat.
Fonte: OTTO, 2004.
Pág. 37
033
Córrego Miguelete, Montevidéu. Fonte: GILMET, 2001.
Pág. 38
034
Plano de Planejamento Territorial Córrego Miguelete
Franja Verde estruturadora do território. Fonte: GILMET, 2001.
Pág. 38
035
O aproveitamento das margens não requer nada elaborado
apenas conservação. Um rio em Salzburgo, aonde apenas
uma ciclovia, calçada com guarda-corpo e vegetação. Fonte:
JAULINO, 2004.
Pág. 40
036
Rios canalizados, em locais estreitos com falta de espaço
para parques não são realmente problemas desde que sejam
bem cuidados e estejam limpos como é o caso de Amsterdã.
Fonte: JAULINO, 2004.
Pág. 41
037
Exemplo de aproveitamento de corpo d’água no Hyde Park,
Londres. Fonte: JAULINO, 2004.
Pág. 41
038
Estudo Preliminar: o entorno. Fonte: KLIASS, 2007
Pág. 44
039
Estudo Preliminar: o parque. Fonte: KLIASS, 2007
Pág. 45
040
Anteprojeto: perspectiva do parque. Fonte: KLIASS, 2007
Pág. 45
265
041
Vista geral do conjunto implantado com a cidade ao fundo.
Foto: João Ramid. Fonte: KLIASS, 2007
Pág. 45
042
Rio Los Angeles Canoga Park (2006). Intervenção
tradicional. Canalização trapezoidal com margens totalmente
impermeabilizadas e conseqüente perda da vegetação ciliar.
Data: novembro de 2009. Disponível em:
http://councilcommittee.lacity.org/lariver/beforeandafter.htm
Pág. 51
043
Etapa 1 - medidas imediatas.
Data: novembro de 2009. Disponível em:
http://councilcommittee.lacity.org/l
ariver/beforeandafter.htm
Pág. 51
044
Etapa 2 - solução em longo prazo.
Data: novembro de 2009. Disponível em:
http://councilcommittee.lacity.org/lariver/beforeandafter.htm
Pág. 51
045
Rio Los Angeles Barragem Sepulveda em Van Nuys (2006).
Perda da vegetação ribeirinha e da identidade local.
Data: novembro de 2009. Disponível em:
http://councilcommittee.lacity.org/lariver/beforeandafter.htm
Pág. 52
046
Projeção em duas etapas. Tentativa de tornar o concreto mais
ecológico. Etapa 1
-
medidas imediatas com acesso por uma
das margens. Data: novembro de 2009. Disponível em:
http://councilcommittee.lacity.org/lariver/beforeandafter.htm
Pág. 52
047
Projeção em duas etapas. Tentativa de tornar o concreto mais
ecológico. Etapa 2 - solução em longo prazo com acesso por ambos
os lados. Data: novembro de 2009. Disponível em:
http://councilcommittee.lacity.org/lariver/beforeandafter.htm
Pág. 52
048
Rio Los Angeles Rua no Centro de Los Angeles (2006).
Perda da vegetação ribeirinha e da identidade local. Rio fica
confinado na canalização e entre a ferrovia construída ao
longo de suas margens. Data: novembro de 2009. Disponível
em:
http://councilcommittee.lacity.org/lariver/beforeandafter.htm
Pág. 53
049
Projeção de acesso à água por ambas as margens, resgate
de sua identidade local e de seu ecossistema. Ilustração do
potencial do canal com sua mata ciliar restaurada. Data:
novembro de 2009. Disponível em:
http://councilcommittee.lacity.org/lariver/beforeandafter.htm
Pág. 53
050
Rio Los Angeles - Tujunga Wash (2006). Perda da vegetação
ribeirinha e da identidade local. O rio fica confinado na
canalização, restringindo o acesso da população. Data:
novembro de 2009. Disponível em:
http://councilcommittee.lacity.org/lariver/beforeandafter.htm
Pág. 54
051
Imagens ao lado: Ilustração de uma trilha que fornece lazer e
tem a vantagem de ser sombreado. Data: novembro de 2009.
Disponível em:
http://councilcommittee.lacity.org/lariver/beforeandafter.htm
Pág. 54
052
Rio Beberibe: Olinda. Estado lastimável de conservação do recursos
hídrico, ocupação das margens, lançamento de esgoto. Fonte: Mello,
2005.
Pág. 55
053
Riacho Doce: Belém. Casas em palafita construídas dentro do
rio, vegetação praticamente ausente, lixo depositado nas
margens. Fonte: Mello, 2005.
Pág. 56
054
Mapa de Pirenópolis 2000. Indicando as duas travessias
existentes, a ponte antiga de madeira (A) e a ponte mais
recente de concreto (B). Fonte: Mello, 2007.
Pág. 58
055
Ponte antiga em madeira. Fonte: Mello, 2007.
Pág. 59
056
Rio das Almas, praia vista da ponte. Fonte: Mello, 2007.
Pág. 59
057
Praia ao lado da ponte antiga. Fonte: Mello, 2005.
Pág. 60
058
Caminhos ao longo do rio. Fonte: Mello, 2005.
Pág. 60
059
Projeto de melhoramentos do rio Tietê. Fonte: TOLEDO,
Benedito Lima de. Prestes Maia e as Origens do Urbanismo
Moderno em São Paulo. São Paulo, Empresa das Artes, 1996;
apud Pessoa, 2006.
Pág. 68
060
Proposta de Ulhoa Cintra. Fonte: desenho Denise Falcão
Pessoa; apud Pessoa, 2006.
Pág. 68
061
Plano de Avenidas de Prestes Maia. Fonte: TOLEDO,
Benedito Lima de. Prestes Maia e as Origens do Urbanismo
Moderno em São Paulo; apud Pessoa, 2006.
Pág. 69
062
Plano de Prestes Maia. Fonte: TOLEDO, Benedito Lima de.
Prestes Maia e as Origens do Urbanismo Moderno em São
Paulo; apud Pessoa, 2006.
Pág. 69
063
O Parque Anhembi de Jorge Wilheim. Fonte: Projeto Tietê.
Pág. 69
266
Documento IAB SP. São Paulo, Ed Pini, 1991; apud Pessoa,
2006.
064
Estudo de Cândido Malta. Fonte: Projeto Tietê. Documento
IAB SP. São Paulo, Ed Pini, 1991; apud Pessoa, 2006.
Pág. 70
065
Proposta de Cândido Malta. Fonte: Projeto Tietê. Documento
IAB SP. São Paulo, Ed Pini, 1991; apud Pess
oa, 2006.
Pág. 70
066
Parque ecológico de Ruy Ohtake. Fonte: Projeto Tietê.
Documento IAB SP. São Paulo, Ed Pini, 1991; apud Pessoa,
2006.
PÁG. 71
067
Projeto de Paulo Mendes da Rocha. Fonte: Projeto Tietê.
Documento IAB SP. São Paulo, Ed Pini, 1991; apud Pessoa,
2006.
PÁG. 71
068
Proposta de Oscar Niemeyer. Fonte: Projeto Tietê.
Documento IAB SP. São Paulo, Ed Pini, 1991; apud Pessoa,
2006.
PÁG. 71
069
Proposta de Oscar Niemeyer. Fonte: Projeto Tietê.
Documento IAB SP. São Paulo, Ed Pini, 1991; apud Pessoa,
2006.
PÁG. 72
070
Tietê por Décio Tozzi. Fonte: Projeto Tietê. Documento IAB
SP. São Paulo, Ed Pini, 1991; apud Pessoa, 2006.
PÁG. 72
071
Tietê projetado por Roberto Loeb. Fonte: Projeto Tietê.
Documento IAB SP. São Paulo, Ed Pini, 1991; apud Pessoa,
2006.
PÁG. 72
072
Canal de derivação de Delijaicov. Fonte: Os rios e o desenho
da cidade: Proposta de Projeto para a Orla Fluvial da Grande
São Paulo. Dissertação; apud Pessoa, 2006.
PÁG. 73
073
Rio Tietê perto de Mogi das Cruzes. Fonte: OHTAKE, Ricardo.
O Livro do Rio Tietê; apud Pessoa, 2006.
PÁG. 74
074
Traçado atual e anterior à retificação do rio Tietê. Fonte:
Pessoa, 2006.
PÁG. 75
075
Área do projeto utópico do rio Tietê. Fonte: Pessoa, 2006.
PÁG. 75
076
Projeto Utópico para o Rio Tietê. Fonte: Pessoa, 2006.
PÁG. 77
077
Trecho do Parque Utópico do Rio Tietê. Fonte: Desenho
Sylvia Dobry; apud Pessoa, 2006.
PÁG. 78
078
Estrada de Ferro. Fonte: IPAHB. Disponível em:
http://www.ipahb.com.br/queima.php
PÁG. 79
079
Igreja Santo Antônio da Prata. Fonte: Panorama. Disponível
em:
http://www.panoramio.com/photo/276557
PÁG. 79
080
Torre Sineira da Igreja de N. S. de Piedade de Iguassu Nova
Iguaçu.
Fonte:
http://www.turisbaixada.com.br/patrimoniohistorico.htm
PÁG. 79
081
Belford Roxo. Fonte: IPAHB, 2006.
PÁG. 79
082
Hidrografia da Baixada Fluminense - em destaque o rio Botas.
Fonte: Atlas PCNI, 2004.
PÁG. 84
083
Ruínas da igreja de Nossa Senhora da Piedade, freguesia de
Nossa Senhora da Piedade do Iguaçu (foto com data
indeterminada, certamente início do século XX) Fonte:
Wikipedia
PÁG. 85
084
Ruínas de Iguaçu Velho. Torre sineira da igreja de Nossa
Senhora da Piedade e, ao fundo, cemitério de Nossa Senhora
do Rosário de 1875 (foto de cerca de 1970) Fonte: Wikipedia
PÁG. 85
085
Caminhos e Freguesias em Iguaçu
Fonte: Oliveira, 2007
PÁG. 86
086
Porto de Iguassu. Acessado em: fevereiro, 2009.
Disponível em:
http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=75918
2
PÁG. 87
087
Porto de Iguassu Iguaçu Velho. Acessado em: fevereiro,
2009.
Disponível em:
http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=759182
PÁG. 87
088
Mapa da Vila Iguaçu (1837). Fonte: Wikipédia Nova Iguaçu.
Acessado em: 14-01-2009
PÁG. 89
267
089
Trecho da estrada de Ferro Rio D'Ouro. Fonte: IPAHB.
Acessado em: 10
-2006
PÁG. 90
090
Mapa da Linha do Centro e da Linha Auxiliar, da Estrada de
Ferro Central do Brasil, em 1928. Fonte: Site Estações
Ferroviárias do Brasil Data: dezembro 2008. Disponível em:
http://www.estacoesferroviarias.com.br/efcb_rj_linha_centro/mapa_lin
hacentro_rj.htm
PÁG. 90
091
Estrada de Ferro Mae Estrada de Ferro D. Pedro II. Fonte:
Oliveira, 2007
PÁG. 91
092
Citricultura em Nova Iguaçu. Fonte: IPAHB, 2006.
PÁG. 94
093
O aspecto de Nova Iguaçu em 1922. Fonte: Portal da Baía de
Guanabara, 2009.
PÁG. 94
094
Nova Iguaçu no inicio da década de 40. Fonte: Atlas PCNI,
2004.
PÁG.101
095
Configuração do território da Baixada Fluminense após as
emancipações.
Fonte: o autor, 2009.
PÁG.103
096
Placa da Prefeitura - foto de um trecho próximo a Rua Cmte.
Rocha. Foto: o autor, 2006. Fonte: Grupo de pesquisa Britto.
PÁG.106
097
Mapa do percentual de domicílios abastecidos pela rede geral.
Fonte: Grupo de Pesquisa de Gestão Sustentável da água em
áreas urbanas, 2009.
PÁG.107
098
Mapa do percentual de domicílios abastecidos pela rede geral.
Fonte: Grupo de Pesquisa de Gestão Sustentável da água em
áre
as urbanas, 2009.
PÁG.108
099
Mapa do percentual de domicílios abastecidos pelo sistema
de esgotamento sanitário. Fonte: Grupo de Pesquisa de
Gestão Sustentável da água em áreas urbanas, 2009.
PÁG.110
100
Mapa do percentual de domicílios abastecidos pelo sistema
de esgotamento sanitário. Fonte: Grupo de Pesquisa de
Gestão Sustentável da água em áreas urbanas, 2009.
PÁG.111
101
Panorama geral do percentual de domicílios abastecidos pelo
sistema de esgotamento sanitário ao longo do Botas. União
dos mapas acima pela autora para mostrar o panorama geral.
Fonte: Grupo de Pesquisa de Gestão Sustentável da água em
áreas urbanas, 2009.
PÁG.112
102
ETEs localizadas no território da Bacia do Botas. Autor:
Ricardo Mathias Fonte: grupo de Pesquisa Britto, 2009.
PÁG.113
103
Indústrias localizadas na Bacia do rio Botas. Autor: Paula
Barbosa. Fonte: Grupo de pesquisa Britto, 2009.
PÁG.115
104
Mapa do percentual de domicílios abastecidos pela rede geral.
Fonte: Grupo de Pesquisa de Gestão Sustentável da água em
áreas urbanas, 2009.
PÁG.116
105
Mapa do percentual de domicílios abastecidos pela rede geral.
Fonte: Grupo de Pesquisa de Gestão Sustentável da água em
áreas urbanas, 2009.
PÁG.117
106
Unidades de Conservação em Nova Iguaçu.
Fonte: Plano Diretor Par
ticipativo de Nova Iguaçu.
PÁG.120
107
Vegetação Urbana de Nova Iguaçu. Fonte: Costa, 2005
PÁG.121
108
Vista do Centro de Nova Iguaçu.
Fonte: Costa, 2005.
PÁG.122
109
Padrão de urbanização em Nova Iguaçu
Fonte: Plano Diretor Participativo de Nova I
guaçu
PÁG.122
110
Casas construídas dentro do rio Botas sem condições de
habitabilidade. Foto: o autor, 2007.
PÁG.124
111
Lançamento de esgoto “in natura” no rio Botas. Autor: o autor,
2007.
PÁG.124
112
Municípios vizinhos à Nova Iguaçu e seus respectivos centros
de bairro. Fonte: o autor, 2009.
PÁG.125
113
Hidrografia no território de Belford Roxo. Fonte: Prefeitura de
Belford Roxo, 2009.
PÁG.126
268
114
Hidrografia no território de Nova Iguaçu. Fonte: Atlas PCNI,
2004.
PÁG.127
115
Densidade demográfica de Nova Iguaçu Habitantes por
quilômetro quadrado.
Fonte: PCNI
PÁG.129
116
Detalhe do mapa sobre a Densidade demográfica de Nova
Iguaçu - Bacia do Botas. Fonte: PCNI
PÁG.129
117
Ponte baixa, lixo e o assoreamento. Fonte: Grupo de
Pesquisa Britt
o, 2006.
PÁG.131
118
Linha Férrea seccionando o rio Botas. Foto: o autor, 2006.
Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
PÁG.131
119
Casas construídas dentro do rio Botas. Foto: o autor, 2006.
Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
PÁG.131
120
O assoreamento do rio Botas. Foto: o autor, 2006. Fonte:
Grupo de Pesquisa Britto
PÁG.131
121
Casas construídas dentro do rio Botas. Fonte: o autor, 2006.
Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
PÁG.131
122
Trecho da bacia do rio Botas. Fonte: Google, 2006.
PÁG.131
123
Imagem Bacia Hidrográfica da Baia de Guanabara. Autor:
Carolina Helena Silva, 2006. Fonte: Grupo de pesquisa Britto
PÁG.133
124
Imagem Sub-bacia Iguaçu-Sarapuí. Autor: Carolina Helena
Silva, 2006. Fonte: grupo de pesquisa Britto
PÁG.133
125
Imagem Sub-bacia do Rio Botas. Autor: Carolina Helena Silva,
2006. Fonte: grupo de pesquisa Britto
PÁG.133
126
O Rio Botas e sua Bacia Hidrográfica distribuído sobre o
território de Nova Iguaçu e Belford Roxo Fonte: Grupo de
pesquisa Britto, 2006.
PÁG.135
127
Trecho preservado em Belford Roxo. Fonte: Grupo de
Pesquisa Britto, 2006.
PÁG.136
128
Margens ocupadas e a inexistência de mata ciliar. Foto: o
autor, 2006. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
PÁG.136
129
Impermeabilização do solo afluente Botas. . Foto: o autor,
2006. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
PÁG.136
130
Assoreamento. Fonte: o autor, 2006. Fonte: Grupo de
Pesquisa Britto
PÁG.136
131
Lançamento de lixo no leito do rio. Fonte: Grupo de Pesquisa
Britto, 2006.
PÁG.137
132
Ligações de água clandestinas afluente Botas. Fonte: Grupo
de Pesquisa Britto
PÁG.137
133
Estreitamento do leito menor. Foto: o autor, 2006. Fonte:
Grupo de Pesquisa Britto.
PÁG.137
134
Limitação das ações da prefeitura. Foto: o autor, 2006. Fonte:
Grupo de Pesquisa Britto
PÁG.137
135
Lançamento de esgoto rio Botas. Foto: o autor, 2006. Fonte:
Grupo de Pesquisa Britto
PÁG.138
136
Lançamento de esgoto rio Botas. Fonte: Fonte: Grupo de
Pesquisa Britto, 2006.
PÁG.138
137
Ruas sem pavimentação. Foto: o autor, 2006. Fonte: Grupo
de Pesquisa Britto
PÁG.138
138
Ponte de acesso a rua sobre o rio. Foto: o autor, 2006. Fonte:
Grupo de Pesquisa Britto
PÁG.138
139
Cruzamento da base Iconos com a mancha de inundação e a
localização dos 10 trechos pré-selecionados na bacia do rio
Botas Fonte: Iconos Autor: Flávia Royse, 2007.
PÁG.140
140
Cruzamento da base Iconos com a mancha de inundação e a
localização dos 6 trechos selecionados na bacia do rio Botas
para a aplicação dos questionários.
PÁG.143
141
Trecho 1 (T1) O rio Botas e a localização das ruas de seu
entorno no bairro Jardim Roma. Fonte: Google, 2007.
PÁG.145
269
142
Trecho 1 (T1) O rio Botas e a mancha da área de proteção
permanente. Autor: Carolina Helena Fonte: Base Iconos
Grupo de Pesquisa Britto
PÁG.146
143
Trecho 1 (T1) Pontos fotografados (P1, P2 e P3). Autor:
Flávia Royse. Fonte: Base Iconos Grupo de Pesquisa Britto
PÁG.146
144
Trecho 1 (T1) Ponto 1 (P1): Visadas fotografadas (V1 e V2).
Autor: Flávia Royse Fonte: Base Iconos
Grupo de Pesquisa
Brit
to
PÁG.147
145
T1-P1-V1 Mostra nitidamente a ocupação das faixas
marginais, o assoreamento e lançamento de esgoto. Foto: o
autor, 2006. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
PÁG.147
146
T1-P1-V2 Placa da prefeitura de Nova Iguaçu referente às
obras de saneamento e pavimentação. Foto: o autor, 2006.
Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
PÁG.147
147
Trecho 1 (T1) Ponto 2 (P2): Visadas fotografadas (V3, V4 e
V5). Autor: Flávia Royse. Fonte: Base Iconos Grupo de
Pesquisa Britto
PÁG.148
148
T1-P2-V3 Área de várzea próxima ao rio Botas. Foto: o
autor, 2006. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
PÁG.148
149
T1-P2-V4 Ocupação da faixa marginal na Rua Marina
Freire. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto, 2006.
PÁG.149
150
T1-P2-V5 Ponte mal dimensionada, áreas alagadas e
tubulações de água clandestina. Fonte: Grupo de Pesquisa
Britto, 2006.
PÁG.149
151
As ruas que foram asfaltadas e o córrego canalizado no
Trecho 1. Autor: Flávia Royse
Fonte: Google Maps Data: 21-10-2009.
PÁG.150
152
Crianças brincando nas águas poluídas do rio Botas sem se
dar conta do iminente perigo de cair e ser arrastado pelas
águas para dentro da canalização. Foto: Carolina Helena,
2008.
PÁG.150
153
Trecho 1 (T1) Ponto 3 (P3): Visadas fotografadas (V6, V7 e
V8). Autor: Flávia Royse. Fonte: Base Iconos Grupo de
Pesquisa Britto
PÁG.151
154
T1-P3-V6 Apesar da poluição da água crianças arriscam a
saúde tomando banho no rio. Fonte: Grupo de Pesquisa
Britto, 2006.
PÁG.151
155
T1-P3-V7 Ocupação das margens, assoreamento, presença
de l
ixo nas margens.
Fonte: Grupo de Pesquisa Britto, 2006.
PÁG.152
156
T1-P3-V8 Assoreamento, presença de lixo nas margens.
Fonte: Grupo de Pesquisa Britto, 2006.
PÁG.152
157
Trecho 4 (T4) O rio Botas e a localização das ruas de seu
entorno no bairro
Ouro Preto. Fonte: Google Data: 2007
PÁG.153
158
Trecho 4 (T4) O rio Botas e a mancha da área de proteção
permanente. Autor: Carolina Helena, 2006. Fonte: Base
Iconos Grupo de Pesquisa Britto
PÁG.154
159
Trecho 4 (T4) Ponto fotografado (P1) entre a Rua dos
Quartéis que atravessa o Botas e a Rua João Goulart paralela
ao rio. Autor: Flávia Royse. Fonte: Base Iconos
Grupo de
Pesquisa Britto
PÁG.154
160
Trecho 4 (T4) Ponto 1 (P1): Visadas fotografadas (V1, V2 e
V3). Autor: Flávia Royse Fonte: Google, 2009.
PÁG.154
161
T4-P1-V1 Ocupação parcial das margens, assoreamento,
presença de lixo nas margens. Fonte: Grupo de Pesquisa
Britto, 2006.
PÁG.154
162
T4-P1-V2 Ocupação parcial das margens. Plantio de
vegetação nas margem, iniciativa de um morador. Fonte:
Grupo de Pesquisa Britto, 2006.
PÁG.155
163
T4-P1-V3 Ocupação parcial das margens. Trecho do plantio
nas margens ainda em crescimento. Fonte: Grupo de
Pesquisa Britto, 2006.
PÁG.155
164
Trecho 5 (T5) O rio Botas e a localização das ruas de seu
entorno no bairro Belterra. Fonte: Google, 2007.
PÁG.156
270
165
Trecho 5 (T5) O rio Botas e a mancha da área de proteção
permanente. Autor: Carolina Helena, 2006. Fonte: Base
Iconos
Grupo de Pesquisa Britto
PÁG.157
166
Trecho 5 (T5) Pontos fotografados (P1 e P2). Autor: Flávia
Royse Fonte: Base Iconos Grupo de Pesquisa Britto
PÁG.157
167
Trecho 5 (T5) Ponto 1 (P1): Visadas fotografadas (V1, V2 e
V3).
Autor: Flávia Royse Fonte: Google, 2009.
PÁG.158
168
T5-P1-V1 Ocupação das margens, conseqüente
estreitamento do leito, lançamento de esgoto “in natura” no
rio. Foto: o autor, 2006. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto.
PÁG.159
169
Detalhe da foto T5-P1-V1 acima que evidencia os
encanamentos de esgoto que são lançados diretamente no
rio.
PÁG.159
170
T5-P1-V2 Ocupação das margens. Foto: o autor, 2007.
Fonte: Grupo de Pesquisa Britto.
PÁG.159
171
T5-P1-V3 Ocupação das margens e acúmulo de lixo. Foto: o
autor, 2006. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto.
PÁG.159
172
Trecho 5 (T5) Ponto 2 (P2): Visadas fotografadas (V4, V5 e
V6). Autor: Flávia Royse Fonte: Google, 2009.
PÁG.161
173
T5-P2-V4 Linha Férrea cruzando o rio Botas, ao fundo uma
ponte para veículos aparentemente baixa para vazão das
águas em dias de chuvas fortes.
Fonte: Grupo de Pesquisa
Britto.
PÁG.162
174
T5-P2-V5 Bueiro lançando liquido negro nas águas do rio
Botas, provavelmente esgoto. Foto: o autor, 2006. Fonte:
Grupo de Pesquisa Britto.
PÁG.162
175
T5-P2-V6 Vista oposta tirada do mesmo ponto. Foto: o
autor, 2006. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto.
PÁG.163
176
Trecho 6 (T6) O rio Botas e a localização das ruas de seu
entorno no bairro Comendador Soares. Fonte: Google Data:
2007
PÁG.164
177
Trecho 6 (T6) O rio Botas e a mancha da área de proteção
permanente. Autor: Carolina Helena. Fonte: Base Iconos
Grupo de Pesquisa Britto
PÁG.165
178
Trecho 6 (T6) Ponto fotografado (P1). Autor: Flávia Royse
Fonte: Base Iconos Grupo de Pesquisa Britto
PÁG.165
179
Trecho 6 (T6) Ponto 1 (P1): Visadas fotografadas (V1, V2 e
V3). Autor: Flávia Royse Fonte: Google, 2009.
PÁG.166
180
T6-P1-V1 Assoreamento e o conseqüente acúmulo de lixo
no leito do rio. O lixo pode criar uma barreira para a passagem
da água. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
PÁG.167
181
T6-P1-V2 Assoreamento e acumulo de lixo sobre a
vegetação. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
PÁG.167
182
T6-P1-V3 Presença de resíduos sólidos nas margens.
Ocupações irregulares nas margens. Fonte: Grupo de
Pesquisa Britto
PÁG.168
183
Trecho 8 (T8) O rio Botas e a localização das ruas de seu
entorno no bairro Jardim da Viga. Fonte: Google Data: 2007
PÁG.169
184
Trecho 8 (T8) O rio Botas e a mancha da área de proteção
permanente. Autor: Carolina Helena. Fonte: Base Iconos
Grupo de Pesquisa Britto
PÁG.170
185
Trecho 8 (T8) Ponto fotografado (P1). Autor: Flávia Royse
Fonte: Base Iconos
Grupo de Pesquisa Britto
PÁG.170
186
Trecho 8 (T8) Ponto 1 (P1): Visadas fotografadas (V1, V2 e
V3). Autor: Flávia Royse Fonte: Google, 2009
PÁG.171
187
T8-P1-V1 Área de grande potencial paisagístico e de lazer,
trecho com as margens livres de construções irregulares.
Foto: o autor, 2006. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
PÁG.172
188
T8-P1-V2 Área de grande potencial paisagístico e de lazer,
trecho com as margens livres de construções irregulares.
Foto: o autor, 2006. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
PÁG.172
271
189
T8-P1-V3 Presença de resíduos sólidos nas margens. Área
de grande potencial paisagístico, trecho com as margens
livres de construções irregulares. Foto: o autor, 2006. Fonte:
Grupo de Pesquisa Britto
PÁG.173
190
Trecho 10 (T10) O rio Botas e a localização das ruas de seu
entorno no bairro Vila Entre Rios. Fonte: Google, 2009.
PÁG.174
191
Trecho 10 (T10) O rio Botas e o percurso feito ao longo de
suas margens. Autor: Flávia Royse. Fonte: Google, 2007.
PÁG.175
192
Trecho10 (T10) Pontos fotografados (P1, P2, P3, P4, P5 e
P6) ao longo do percurso feito. Autor: Flávia Royse Fonte:
Google, 2007.
PÁG.176
193
Trecho10 (T10) Pontos fotografados (P1, P2, P3, P4, P5 e
P6) ao longo do percurso feito e suas respectivas visadas.
Autor: Flávia Royse Fonte: Google, 2007.
PÁG.177
194
Trecho 10 (T10) Ponto 1 (P1): Visadas fotografadas (V1, V2
e V3). Autor: Flávia Royse Fonte: Google, 2009.
PÁG.178
195
T10-P1-V1 Depósito de resíduos sólidos nas margens e no
leito do rio, assoreamento. Foto: o autor, 2009. Fonte: Grupo
de Pesquisa Britto
PÁG.179
196
T10-P1-V2 Depósito de resíduos sólidos nas margens e no
leito do rio, com presença significativa de pneus no leito do
rio. Foto: o autor, 2009. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
PÁG.179
197
T10-P1-V3 Depósito de resíduos sólidos nas margens e no
leito do rio, assoreamento, a vegetação no leito do rio devido
ao assoreamento cria uma barreira para o lixo que se acumula
cada vez mais. Foto: o autor, 2009. Fonte: Grupo de Pesquisa
Britto
PÁG.179
198
Setas indicam a localização dos pneus visíveis no leito do rio
Botas. Foto: o autor, 2009. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
PÁG.180
199
Trecho 10 (T10) Ponto 2 (P2): Visadas fotografadas (V4, V5
e V22). Autor: Flávia Royse.
Fonte: Google, 2009.
PÁG.181
200
T10-P2-V4 Vista panorâmica - deste ponto é possível ver
melhor a área do delta. Construções muito próximas ao rio.
Foto: o autor, 200
9. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
PÁG.182
201
T10-P2-V5 Vista panorâmica deste ponto é possível ver a
presença de lixo nas margens, tubulações de esgoto, perda
da vegetação ribeirinha, casas construídas na APP. Foto: o
autor, 2009. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
PÁG.182
202
Visada V4 (T10-P2-V4) em dia de chuva forte. Imagem
retirada de um vídeo no site youtube. Data: agosto, 2008.
Disponível em:
http://br.youtube.com/watch?v=WIAc6HrO26g&feature=related
PÁG.183
203
Visada V5 (T10-P2-V5) em dia de chuva forte. Imagem
retirada de um vídeo no site youtube. Data: agosto, 2008.
Disponível em:
http://br.youtube.com/watch?v=WIAc6HrO26g&feature=related
PÁG.183
204
T10-P2-V22 Assoreamento, perda da mata ciliar. Foto: o
autor, 2009. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
PÁG.184
205
Trecho 10 (T10) Ponto 3 (P3): Visadas fotografadas (V6,
V20 e V21). Autor:
Flávia Royse. Fonte: Google, 2009.
PÁG.185
206
T10-P3-V6 Todas as construções a direita da imagem são
irregulares e serão removidas pelo Projeto Iguaçu. Foto: o
autor, 2009. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
PÁG.186
207
T10-P3-V20 Margens como depósito de lixo. Ao fundo
construções irregulares. Foto: o autor, 2009. Fonte: Grupo de
Pesquisa Britto
PÁG.186
208
T10-P3-V21 Carcaça de diferentes carros as margens do
rio. Ao fundo construções irregulares. Foto: o autor, 2009.
Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
PÁG.187
209
Esquema de inundação das casas as margem do Botas.
Neste trecho as construções bloqueiam (em amarelo) a água,
conseqüentemente as ruas (azul claro) são inundadas e
PÁG.188
272
alcançam as casas pela frente (setas vermelhas). Autor:
Flávia Royse Fo
nte: Google, 2009.
210
Trecho 10 (T10) Ponto 4 (P4): Visadas fotografadas (V7, V8,
V9 e V10). Autor: Flávia
Royse. Fonte: Google, 2009.
PÁG.189
211
T10-P4-V7 Lixo jogado na margem, construções na APP,
uma das margens recoberta por concreto. Foto: o autor, 2009.
Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
PÁG.190
212
T10-P4-V8 Margem como depósito de lixo, construções
irregulares na APP. Foto: o autor, 2009. Fonte: Grupo de
Pesquisa Britto
PÁG.190
213
T10-P4-V9 Assoreamento, vegetação densa. Ao fundo
construções irregulares. Foto: o autor, 2009. Fonte: Grupo de
Pesquisa Britto
PÁG.191
214
T10-P4-V10 Presença de construções irregulares e lixo.
Foto: o autor, 2009. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
PÁG.191
215
Trecho 10 (T10) Ponto 5 (P5): Visadas fotografadas (V11,
V12, V13, V17, V18 e V19). Autor: Flávia Royse Fonte:
Google, 2009.
PÁG.192
216
T10-P5-V11/ T10-P5-V12/ T10-P5-V13 Este trecho do rio foi
retificado. a presença de assoreamento e de uma
vegetação um pouco mais densa. Ao fundo construções
irregulares. Foto: o autor, 2009. Fonte: Grupo de Pesquisa
Britto
PÁG.193
217
T10-P5-V17 Placa de advertência proibindo jogar lixo. Foto:
o autor, 2009. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
PÁG.193
218
T10-P5-V17 Lixo jogado sob a placa de advertência. Foto: o
autor, 2009. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
PÁG.193
219
T10-P5-V18 Margens utilizadas como depósito de lixo.
Foto: o autor, 2009. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
PÁG.194
220
T10-P5-V19 Assoreamento, vegetação densa. Ao fundo
construções irregulares. Foto: o autor, 2009. Fonte: Grupo de
Pesquisa Britto
PÁG.194
221
Trecho 10 (T10) Ponto 6 (P6): Visadas fotografadas (V14,
V15 e V16). Autor: Flávia Royse Fonte: Google, 2009.
PÁG.195
222
T10-P6-V14 Margem mais livre permitindo a visibilidade do
Botas. Presença de lixo.
Foto: o autor, 2009. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
PÁG.196
223
T10-P6-V15 Assoreamento, vegetação densa.
Foto: o autor, 2009. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
PÁG.196
224
T10-P6-V16 Assoreamento, vegetação densa. Ao fundo
construções irregulares.
Foto: o autor, 2009. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto
PÁG.196
225
T10-P6 Localização da Rua Brasil no Ponto 6 do Trecho 10.
Autor: Flávia Royse. Fonte: Google, 2009.
PÁG.197
226
T10-P6 Localização da Rua Brasil no Ponto 6 do Trecho 10.
Autor: Flávia Royse. Fonte: Google, 2009.
PÁG.197
227
Rua Brasil tomada pelas águas do rio Botas. Imagem retirada
de um vídeo no site youtube. Data: agosto, 2008.
Disponível em:
http://br.youtube.com/watch?v=kf9CKP3R9Yo&NR=1
PÁG.197
228
Rua Brasil tomada pelas águas do rio Botas. Imagem retirada
de um vídeo no site youtube. Data: agosto, 2008.
Disponível em:
http://br.youtube.com/watch?v=kf9CKP3R9Yo&NR=1
PÁG.197
229
Área predominantemente verde com baixíssimo adensamento
a jusante do Botas. Fonte: Base Iconos
Grupo de Pesquisa
Britto
PÁG.198
230
Crianças que usam as águas do Botas para o lazer nos dias
atuais.Fonte: Grupo de Pesquisa Britto, 2006.
PÁG.215
231
Crianças que usam as águas do Botas para o lazer nos dias
atuais.Fonte: Grupo de Pesquisa Britto, 2006.
PÁG.215
232
Passarela suspensa Telok Blangah Hill Park. Fonte:
archdaily, 2009.
PÁG.221
273
233
Análise Trecho 1. Fonte: o autor, 2009. Fonte mapa: Google,
2009.
PÁG.221
234
Proposta para o Bota| Referencias projetuais. Fonte: o autor,
2009.
PÁG.221
235
Croqui Rio Botas Revitalizado| Proposta de diferentes usos.
F
onte: o autor, 2009.
PÁG.221
236
Croqui Proposta de equipamento para a margens do rio
Botas. Fonte: o autor, 2009.
PÁG.221
237
ETE Sarapuí - Estação de tratamento de esgotos que atende
430 mil habitantes de Nova Iguaçu, Belford Roxo e São João
de Meriti. Fonte: Centro de informações da Baía de
Guanabara Governo do Estado do Rio de Janeiro.
Disponível em:
http://www.cibg.rj.gov.br/galeria_design.asp?img=27
PÁG.225
238
Exemplo de um jardim de chuva na Rua Siskiyou em Portland.
Fonte: Bunn; Matos e Silva, 2007
PÁG.226
239
Exemplo de um canteiro pluvial no Mercado New Seasons.
Fonte: Bunn; Matos e Silva, 2007.
PÁG.226
240
Exemplo de bacia de acumulação na Bacia do Rio Essone -
França. Fonte: Christian Speissmann, 2008. Trabalho
apresentado no Seminário de Águas Urbanas.
PÁG.226
241
Ecobarreira para impedir que o lixo e as gigogas cheguem à
praia do Pontal. Fonte: Luan Seixas, 2009. Disponível em:
http://cidadedabarra.blogspot.com/2009/08/eco-barreiras.html
PÁG.227
242
Ecobarreira feitas de garrafas pet. Fonte: Planeta Sustentável,
2009. Disponível em:
http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/ambiente/ecobarreiras-
despoluicao
-rios-projeto-rio-ama-491290.shtml
PÁG.227
243
Proteção das margens com entrançamento de varas. Fonte:
Selles, 2001.
PÁG.228
244
Proteção das margens com estacas de madeira
Fonte: Selles, 2001
PÁG.229
245
Proteção das margens com troncos de árvores ancorados
PÁG.229
com estacas. Fonte: Selles, 2001
246
Estacas de broto de árvore. Proteção das margens com
faxinas presas por estacas. Fonte: Selles, 2001
PÁG.229
247
Proteção das margens com a instalação de uma faxina de tela
de arame, tecido de coco, pedras e plantas vivas. Fonte:
Selles, 2001
PÁG.230
248
Esboço de seções transversais de cursos d’água cujo tipo de
recuperação depende da área disponível. Fonte: Selles, 2001.
PÁG.230
249
Um trecho de córrego em zona urbana, canalizado, com
recuperação espontânea da feição natural (Itanhanguá, Rio de
Janeiro) Fonte: Selles, 2001.
PÁG.231
250
Canalização do rio Vuachère Suíça. Fonte: o autor, 2008.
PÁG.231
251
Recuperação do rio Cheonggyecheon, feita pela prefeitura de
Seul, na Coréia do Sul.
Fonte: Oliveira, 2009.
PÁG.232
252
Outro trecho da mesma intervenção no rio Cheonggyecheon
Fonte: Oliveira, 2009.
PÁG.232
253
O conceito “Costurar as áreas vazias e os centros de bairros
através do parque linear nas margens do Botas”. Fonte: o
autor, 2009.
PÁG.235
254
Situação do esgotamento no trecho 1 Nova Iguaçu. Fonte:
Grupo de pesquisa de Gestão Sustentável da água em áreas
urbanas. Fonte: o autor, 2009.
PÁG.236
255
Centros de bairros e vazio urbanos. Fonte: o autor, 2009.
PÁG.238
256
Acessos e conexões viárias. Fonte: o autor, 2009.
PÁG.239
257
Identificação dos trechos no território analisado. Fonte: o
autor, 2009.
PÁG.240
258
Análise do Trecho 1. Fonte: o autor, 2009.
PÁG.242
259
Proposta Geral para o Trecho 1. Fonte: o autor, 2009.
PÁG.243
274
260
Proposta/ Referências Projetuais - Trecho 1. Fonte: o autor,
2009.
PÁG.245
261
Proposta Parque Linear - Trecho 1. Fonte: o autor, 2009.
PÁG.246
262
Proposta Parque Linear - Trecho 1 - Localização dos detalhes.
Fonte: o autor, 2009.
PÁG.247
263
Detalhamento DE1. Fonte: o autor, 2009
PÁG.248
264
Croqui da área reflorestada, passarelas e atividades de lazer.
Fonte: o autor, 2009.
PÁG.248
265
Croqui do rio com suas margens revitalizadas. Fonte: o autor,
2009.
PÁG.248
266
Detalhamento DE2. Fonte: o autor, 2009
PÁG.249
267
Detalhamento DE3. Fonte: o autor, 2009
PÁG.250
268
Croqui da vista externa da estrutura em lona tensionada do
Mercado Municipal com seu deck a beira rio. Fonte: o autor,
2009.
PÁG.250
269
Croqui da vista interna do Mercado Municipal. Fonte: o autor,
2009.
PÁG.250
270
Detalhamento DE4. Fonte: o autor, 2009
PÁG.251
271
Detalhamento DE5. Fonte: o autor, 2009
PÁG.252
272
Detalhamento DE6. Fonte: o autor, 2009
PÁG.253
273
Detalhamento DE7. Fonte: o autor, 2009
PÁG.254
274
Plantio de vegetação nas margem do rio Botas, iniciativa de
u
m morador. Fonte: Grupo de Pesquisa Britto, 2006.
PÁG.275
275
“Se planejamos para um ano,
plantamos arroz.
Se planejamos para dez anos,
plantamos árvores.
Se planejamos para cem anos,
preparamos pessoas.”
(Antigo ditado chinês)
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