Capitulo I
A questão do Patrimônio Cultural Edificado
O Patrimônio Cultural Edificado e a Transferência do Direito de Construir
2008, p.25). Entretanto houve um longo caminho para se chegar à noção abrangente de
patrimônio cultural qual se tem hoje, onde este tipo de patrimônio abarca não somente
edifícios monumentais, mas também todo o “meio ambiente cultural”
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em suas
manifestações materiais e imateriais.
Este caminho percorrido para a concepção contemporânea do patrimônio cultural tem
sua origem ligada à imagem de monumento, que é um termo evoluído do “latim
monumentum, que por sua vez deriva de monere (advertir, lembrar), aquilo que traz a
lembrança a alguma coisa” (CHOAY, 2001, p.17), estando assim ligado à idéia de
rememoração, portando, também características materiais excepcionais. O próprio conceito de
monumento tem sua evolução, que vai levar a adição do adjetivo histórico, a partir do
Renascimento, no século XV, “quando o passado começa a ser analisado sob uma perspectiva
histórica até então inédita” (SANT‟ANNA, 1985, p.22) e deixa-se de edificar monumentos
para olhar-se para os monumentos históricos existentes
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. Porém de acordo com Fonseca, a
preservação destes monumentos históricos, no início mais conhecidos como “antiguidades”,
apesar de ter sido sentida como necessária por alguns indivíduos e grupos, se manifestou até o
século XVIII apenas por algumas iniciativas isoladas, formadoras do que chama “o sentido do
patrimônio” (FONSECA, 2005, p. 55).
As primeiras preocupações oficiais com a preservação dos monumentos históricos,
surgiram apenas no decorrer no século XVIII, no denominado Século das Luzes, onde os
valores históricos e estéticos do monumento foram amadurecidos e a idéia de nação foi
alterada pelos recém formados Estados Nacionais, que buscaram garantir a coesão do seu
grupo, através da “criação e consolidação de símbolos nacionais” (MARCHESAN, 2007, p.32
e 36). Segundo Marchesan (2007, p. 33) , pode-se tomar como marco deste processo
institucional de preservação o advento da Revolução Francesa
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que “desencadeou diversos
movimentos em torno da questão patrimonial, com ela surgindo políticas públicas necessárias
à preservação e valorização dos bens imóveis representativos da nação”. Contudo, durante
esta Revolução o termo patrimônio foi “forjado para designar bens pertencentes à nação” (o
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Este conceito atualmente é estudado e empregado em obras de autores na área de direito ambiental e urbano, na medida em
que eles entendem o meio ambiente como “a interação do conjunto de elementos naturais, artificiais, e culturais que
propiciam o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas” (José Afonso da Silva apud Manzato, 2007). Para
maiores conhecimentos sobre esta questão pode-se buscar as obras de Manzato (2007), Marchesan (2007), Reisewitz (2004) e
Richter (1999).
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De acordo com A. Reigl (apud Choay, 2001) em obra do no começo do século XX, “o monumento é uma criação
deliberada cuja destinação foi pensada a priori, de forma imediata, enquanto o monumento histórico não é, desde o principio,
desejado e criado como tal; ele é constituído a posteriori pelos olhares convergentes do historiador e do amante da arte, que o
selecionam na massa dos edifícios existentes, dentre os quais os monumentos representam apenas uma pequena parte”.
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A Revolução Francesa é o nome que se deu ao conjunto de acontecimentos que alteraram o quadro político e social da
França, entre os anos de 1789 e 1799.