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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FFCLRP – DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA COMPARADA
Reprodução e cultivo de bivalves límnicos ameaçados
de extinção: uma estratégia para a conservação do
gênero Diplodon (Mollusca, Hyriidae)
Ricardo Cunha Lima
Orientador: Prof. Dr. Wagner Eustáquio Paiva Avelar
Tese apresentada à Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras de
Ribeirão Preto, Universidade de São
Paulo, como parte das exigências
para obtenção do título de Doutor em
Ciências, área: Biologia Comparada.
Ribeirão Preto - SP
2010
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Lima, Ricardo Cunha
Reprodução e cultivo de bivalves límnicos ameaçados de
extinção: uma estratégia para a conservação do gênero
Diplodon (Mollusca, Hyriidae) / Ricardo Cunha Lima - Ribeirão
Preto, 2010.
xiv, 140 p.
Tese apresentada à Faculdade de Filosofia, Ciências e
Letras de Ribeio Preto, Universidade de São Paulo.
Orientador: Avelar, Wagner Eustáquio Paiva
1. Hyriidae, 2. Reprodução, 3. Conservação
4. Biodiversidade, 5. Aquicultura
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“Ao falar de evolução,
Hoje, nunca está bom,
Amanhã, sempre será melhor"
Richard Dawkins
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Dr. Wagner Eustáquio Paiva Avelar por sua insistência,
paciência e colaboração.
Aos meus pais que sempre me apoiaram, mesmo às vezes sem
compreender o que faço.
A minha esposa, Cynthia, por seu apoio incondicional e por manter-me
atento ao mundo real.
As minhas meninas, Alicia, Bruna e Giovana, se não fosse por elas eu
provavelmente terminaria a tese na metade do tempo, porém não seria um
trabalho completo.
A Profa. Dra. Maria Helena Goldman, por ceder seu espaço físico e
equipamentos, além de sempre estar disposta a tirar minhas dúvidas.
Ao Prof. Dr. Wagner Ferreira dos Santos por permitir a utilização de seu
microscópio commera acoplada.
A Profa. Dra. Prof. Dra. Sonia Helena Sipauba, e ao Prof. Dr. João
Batista Kochenborger Fernandes do CAUNESP/UNESP, Jaboticabal, por ceder
as cepas de microalgas e os peixes, respectivamente, necessários para a
pesquisa.
A Profa. Dra. Maria Cristina da Silva Pranchevicius pela sua contribuição
na elaboração dos meios de culturas.
Ao Prof. Dr. Luiz Ricardo Lopes Simone do Museu de Zoologia
(MZUSP), pela supervisão, conversa, troca de idéias e apoio.
A Nina pelo seu constante bom humor e preocupação, uma segunda
mãe.
Ao cnico Álvaro S. Costa pelo auxílio nas coletas, pelas conversas e
pelo apoio.
Ao técnico Paulo Rosa Jr, por seu lema “tudo a favor da pesquisa”.
A toda equipe do Departamento de Biologia e Secretaria do Programa
de Biologia Comparada que direta e indiretamente me auxiliaram,
principalmente o Prof. Dr. Fernando Mantelatto, por suas sugestões e
conselhos.
Aos meus colegas do laboratório, Fernando Frachone Neves, Aline
Matsushita, Daniel Cavalari, Elisa Troncon e Marina Vianna.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior
(CAPES) e a Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo
(FAPESP) pela bolsa e auxílio financeiro concedidos.
E por último, porém não menos importante, aos meus amigos que
acompanharam todo meu desenvolvimento, angústias e alegrias por que
passei durante todo o percurso dos últimos quatro anos.
v
SUMÁRIO
Lista de figuras ...................................................................................................... vi
Lista de tabelas ..................................................................................................... i
Resumo ................................................................................................................. xii
Abstract ................................................................................................................. xiii
Prólogo .................................................................................................................. 01
Introdução ............................................................................................................. 21
Objetivos ............................................................................................................... 34
Material e Métodos ................................................................................................ 36
Resultados ............................................................................................................ 58
Discussão ............................................................................................................. 98
Conclusão ............................................................................................................. 116
Referências Bibliográficas ..................................................................................... 117
Anexos .................................................................................................................. 137
Anexo A ................................................................................................................ 137
Anexo B ................................................................................................................ 140
vi
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Diagrama das cinco categoriais de fusão do manto em sua porção
posterior. e, abertura exalante; i, abertura inalante; sa, abertura supranal.
Fonte: mussel project ........................................................................................ 13
Figura 2. Anatomia dos Unioniformes. A, Margaritifera margaritifera; B,
Fusconaia rubiginosa; C, Anodontites patagonicus; D, Diplodon trifidus; E,
Castalina nehringi; F, Spatha kamerunensis. ai, abertura inalante; ae,
abertura exalante; h, palpos; i, demibrânquia interna; o, demibrânquia
externa; p, pé; sa, abertura supranal; t, diafragma. Desenhos modificados
de Ortmann (1912b, 1921). ............................................................................... 19
Figura 3. Fases da pesquisa e etapas do trabalho. .......................................... 37
Figura 4. Metodologia para transporte dos espécimes coletados. ................... 39
Figura 5. Diagrama das características externas da concha de um bivalve
de água doce hipotético. am, margem anterior; b, bico (umbo); bs, escultura
umbonal; d, disco; dm, margem dorsal; gl, linhas de crescimento; pm,
margem posterior; pr, costela posterior; ps, depressão posterior; rm, linhas
de crescimento; ss, escultura da concha; vm, margem ventral; w, asa.
Modificado de McMichael e Hiscock (1958). ..................................................... 40
Figura 6. Manutenção das cepas de microalgas, com luminosidade e
aeração constante. ............................................................................................ 44
Figura 7. Esquema da unidade de manutenção, onde os espécimes de
Anodontites trapesialis foram mantidos suspensos e enterrados. Foto com
detalhe da bolsa de nylon com dois indivíduos ................................................. 46
Figura 8. Acondicionamento dos animais recém coletados, individualmente,
para a observação da eliminação e coleta dos gloquídios. ............................... 48
vii
Figura 9. Conquiliometria da valva gloquidial. a, altura; , ângulo; b, borda;
c, comprimento; cld, comprimento da linha dorsal; dg, dente gloquidial; dpv,
deslocamento da ponta ventral; pv, ponta ventral. Modificado de Mansur e
Campos-Velho (1990). ...................................................................................... 50
Figura 10. Infestação artificial dos peixes, Astyanax altparanae, com
gloquídios do gênero Diplodon (cultivo in vivo). ................................................ 51
Figura 11. Manuteão dos gloquídios, em incubadora, com o meio artificial de
cultura com M 199, fonte protéica e antibticos/antimicóticos (cultivo in vitro). ........ 55
Figura 12. Cultivo de juvenis do gênero Diplodon. À esquerda em placas de
Petri, e à direita em becker com aeração. ......................................................... 56
Figura 13. Localização da Bacia Hidrográfica do rio Mogi Guaçu. Fonte:
http://mapas.znc.com.br/sos_bacias_sp/index.php. .......................................... 58
Figura 14. Local onde foram realizadas as coletas (rio Mogi Guaçu,
município de Porto Ferreira, SP, 21º50’36,1” S e 47º29’44,5” W). As fotos A
e B foram tiradas na época de seca, e as fotos C e D em época de chuva. ..... 60
Figura 15. Representação gráfica da variação dos parâmetros abióticos
entre outubro/2007 a outubro/2008. Os valores referentes à vazão do rio
correspondem a uma média de 10 anos (1996 a 2006). ................................... 62
Figura 16. Espécies coletadas no rio Mogi Guaçu, Porto Ferreira, SP
(21º50’36,1” S e 47º29’44,5” W). A, Diplodon expansus; B, Diplodon
fontainianus; C, Diplodon rotundus gratus; D, Diplodon martensi; E,
Diplodon sp.; F, Castalia undosa undosa; G, Anodontites trapezeus; H,
Fossula fossiculifera. Escala = 1 cm. ....................................................... 67
Figura 17. Foto da variação das conchas de D. expansus, coletadas no rio
Mogi Guaçu, município de Porto Ferreira, São Paulo. ...................................... 69
viii
Figura 18. Detalhes dos dentes pseudocardinais das valvas do grupo 1 de
Diplodon expansus. À esquerda o dente pseudocardinal da valva esquerda,
e a direita o dente pseudocardinal valva direita. ............................................... 71
Figura 19. Detalhes dos dentes pseudocardinais das valvas do grupo 2 de
Diplodon expansus. À esquerda o dente pseudocardinal da valva esquerda,
e a direita o dente pseudocardinal valva direita. ............................................... 72
Figura 20. Características anatômicas dos três grupos de Diplodon
expansus. .......................................................................................................... 73
Figura 21. Espécie de microalga isolada do rio Mogi Guaçu e cultivada em
larga escala no laboratório (Chlamydomonas sp.). ........................................... 75
Figura 22. Crescimento da densidade populacional de Chlamydomonas sp.
cultivada em diferentes meios de cultivo. .......................................................... 76
Figura 23. Gloquídios das espécies do gênero Diplodon que foram
liberados em laboratório. A, Diplodon fontainianus; B, Diplodon martensi; C,
Diplodon rotundus gratus; D, Diplodon expansus var. 1, var. 2 e var. 3.
Escala = 100 µm. ................................................................................... 80
Figura 24. Fotos das culturas de gloquídios contaminadas. A, incubação
apenas com meio de cultura; B, incubação com meio de cultura e plasma de
peixe. ................................................................................................................ 88
Figura 25. Fotografias dos juvenis recém metamorfoseados. A, Diplodon
expansus var. 1; B, Diplodon expansus var. 2; C, Diplodon martensi; D,
Diplodon rotundus gratus. Escala = 200 µm. .......................................... 92
Figura 26. Fotografias dos juvenis. A, Diplodon expansus var. 1 com 5 dias;
B, Diplodon expansus var. 2 com 5 dias; C, Diplodon martensi com 5 dias;
D, Diplodon rotundus gratus com 5 dias. As fotografias A, B e D foram
tiradas com microscopia de epifluorescência. Escala = 500 µm. ............ 94
Figura 27. Fotografias dos juvenis. A, Diplodon expansus var. 1 com 15
dias; B, Diplodon expansus var. 2 com 10 dias; C, Diplodon martensi com
15 dias; D, Diplodon rotundus gratus com 15 dias. A fotografia A foi tirada
com microscopia de epifluorescência. Escala = 500 µm. ........................ 96
Figura 28. Fotografias dos juvenis. A, Diplodon rotundus gratus com 30
dias; B, Diplodon martensi com 30 dias; C, Diplodon martensi com 60 dias;
D, Diplodon martensi com 90 dias. As fotografias A, B e D foram tiradas com
microscopia de epifluorescência. Escala = 500 µm................................. 97
x
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Localidades e coordenadas onde foram realizadas as coletas
preliminares dos bivalves. ................................................................................. 38
Tabela 2. Concentrações (g/ml) de fósforo, potássio e nitrogênio em cada
diluição testada para o cultivo de fitoplâncton. .................................................. 43
Tabela 3. Combinação de antibiótico e fungicida na formulação do produto
da Invitrogen (Cod. prod. 15240-062). .............................................................. 53
Tabela 4. Bivalves límnicos nativos coletados do rio Mogi Guaçu, município
de Porto Ferreira, São Paulo, Brasil, entre março/2008 e setembro/2009. ....... 68
Tabela 5. Peso, em gramas (médias e desvios padrão), dos espécimes de
Anodontites trapesialis mantidos enterrados e suspensos. .............................. 78
Tabela 6. Espécies coletadas no rio Mogi Guaçu, no município de Porto
Ferreira (21º50’36,10” S e 47º29’44,5” W) e número de indivíduos que
desovaram no laboratório. ................................................................................ 81
Tabela 7. Número de horas que a viabilidade dos gloquídios de Diplodon
expansus var. 2 permaneceu acima de 75 %. Períodos dentro de uma linha
seguidos por letras diferentes foram significativamente diferentes (p < 0,05). .. 83
Tabela 8. Número de horas que a viabilidade dos gloquídios de Diplodon
rotundus gratus permaneceu acima de 75 %. Períodos dentro de uma linha
seguidos por letras diferentes foram significativamente diferentes (p < 0,05). .. 83
Tabela 9. Medidas morfométricas das conchas dos gloquídios de Diplodon
expansus var. 1, D. expansus var. 2 e D. rotundus gratus. ............................... 85
xi
Tabela 10. Duração do período de infestação e porcentagem de
metamorfose, em Astyanax altparanae, de acordo com a espécie de bivalve
e de temperatura do experimento. .................................................................... 87
Tabela 11. Tempo de sobrevivência dos gloquídios de Diplodon
fontainianus e D. expansus var. 2 incubados a 18 ºC com plasma de
diferentes espécies de peixe como fontes protéicas na composição do meio
de cultura. ......................................................................................................... 90
Tabela 12. Porcentagem de sobrevivência (e porcentagem de metamorfose)
dos gloquídios de Diplodon rotundus gratus, D. expansus var. 2 e D.
martensi incubados a 18 ºC com diferentes fontes protéicas na composição
do meio de cultura. ............................................................................................ 90
Tabela 13. Sobrevivência dos juvenis pós-metamórficos do gênero
Diplodon. Os valores de sobrevivência representam uma média entre as
espécies testadas. ............................................................................................ 92
Tabela 14. Sobrevivência dos juvenis com 5 dias após a metamorfose do
gênero Diplodon. Os valores de sobrevivência representam uma média
entre as espécies testadas. .............................................................................. 93
Tabela 15. Sobrevivência dos juvenis com 15 dias após a metamorfose do
gênero Diplodon. Os valores de sobrevivência representam uma média
entre as espécies testadas. .............................................................................. 95
xii
RESUMO
Os bivalves límnicos, ou náiades da ordem Unionoida, representam a
maior radiação dos bivalves na água doce, com seis famílias, 181 gêneros e
800 espécies, sendo encontrados em todos os continentes, e atualmente,
representam o grupo de animais de água doce em maior risco de extinção. A
causa mais dramática do declínio e extinção dos bivalves dulcícolas é a
modificação e destruição do seu habitat, as mudanças climáticas globais e a
introdução de animais aquáticos exóticos (não nativos)
Este táxon é o único membro da classe Bivalvia reconhecido por
apresentar um estágio larval parasita em seu ciclo de vida, o qual envolve uma
relação obrigatória com um hospedeiro vertebrado, normalmente um peixe, e
uma larva altamente modificada, o gloquídio ou lasídio. Esta característica do
ciclo de vida é um componente principal de qualquer plano de conservação dos
bivalves límnicos.
Com a finalidade de propagar as espécies que estão em perigo de
extinção, pretendeu-se desenvolver técnicas viáveis para a obtenção de formas
juvenis em laboratório, através do cultivo artificial (in vitro) dos gloquídios.
Através da metodologia empregada foi possível obter indivíduos juvenis
com mais de 30 dias das escies D. expansus, D. rotundus gratus e D.
martensi. Além desse resultado, o presente trabalho desenvolveu um novo
meio de cultura para as larvas gloquidiais, baseado em um extrato liofilizado de
peixe.
xiii
ABSTRACT
The freshwater mussels, or naiades of the order Unionoida, represents
the largest radiation of the bivalves in freshwater, with six families, 181 genera
and 800 species, are found on all continents, and currently represent the group
of freshwater animals in higher risk of extinction. The most dramatic decline and
extinction of freshwater mussels are the modification and destruction of habitat,
global climate change and the introduction of exotic aquatic animals (not
native).
This taxon is the only member of the class Bivalvia recognized for having
a parasitic larval stage in their life cycle, which involves a compulsory
relationship with a vertebrate host, usually a fish, and a highly modified larva,
the glochidium or lasidium. This feature of the life cycle is a major component of
any plan for the conservation of freshwater mussel.
In order to propagate the species that are endangered, we sought to
develop viable techniques for obtaining juveniles in the laboratory by artificial
cultivation (in vitro) of gloquídios.
Through the methodology used was obtained juveniles over 30 days of
the species D. expansus, D. rotundus gratus and D. martensi. Beyond this
result, this study developed a new medium for the glochidias larvae, based on
an extract of dried fish.
1
PRÓLOGO
Os Bivalvia, atualmente sob o grupo Diassoma, são moluscos sem uma
região cefálica definida, com um pé simples aderido à massa visceral, um par
de brânquias, e cada indivíduo apresenta duas valvas, compostas por
carbonato de lcio, ao redor do corpo. A classe inclui cerca de 20.000
espécies vivas encontradas em ambientes marinhos e de água doce que, em
sua maioria, possuem alimentação micrófaga ou suspensívora (Brusca e
Brusca, 2007).
Apesar de existirem algumas incongruências entre os esquemas de
classificação dos Bivalvia, a maioria dos arranjos é consistente com o táxon,
dividido em dois subtáxons: Protobranchia e Autobranchia (=Isofilibranchia +
Pteriomorpha + Anomalodesmata + Heterodonta + Palaeoheterodonta). Os
Palaeoheterodonta atuais contemplam apenas uma ordem marinha,
Trigonioida, e a ordem Unionoida (Giribet e Wheeler, 2002; Graf e Cummings,
2006). A divisão entre os Autobranchia e a inclusão dos Unionoida entre os
Palaeoheterodonta foi baseada, tradicionalmente, sobre a morfologia da
charneira (Thiele, 1934), escultura umbonal (Modell, 1964), e morfologia do
ctenídio (Newell, 1969).
Entre os Palaeoheterodonta existe um xon muito peculiar, os bivalves
límnicos, ou náiades da ordem Unionoida, representando a maior radiação dos
bivalves na água doce. Esta assembléia diversa está dividida em seis famílias,
181 gêneros e 800 espécies (Graf e Cummings, 2006). Estas famílias são
encontradas em todos os continentes, com exceção da Antártida (Haas, 1969),
apesar de ter sido encontrado um ssil paleozóico de bivalve límnico neste
2
continente (Anthracosioidea) (Bradshaw, 1984); e atualmente, representam o
grupo de animais de água doce em maior risco de extinção (Bogan, 2008).
Esta radiação é única na classe Bivalvia, formando um táxon
provavelmente monofilético, suportado pela restrição à água doce,
ovoviviparidade, e um estágio larval parasita que deve infestar um hospedeiro
apropriado, normalmente um peixe, para completar sua metamorfose (Boss,
1982; Kat, 1984; Schneider, 2001; Wachtler et al., 2001). Existem exceções,
tanto na incubação, com o gênero Rhipidodonta apresentando uma larva com
desenvolvimento direto (Bonetto, 1962), como no parasitismo, com a espécie
Lampsilis cardium parasitando uma espécie de salamandra (Watters e O´dee,
1998).
Baseado em várias escolas de taxonomia malacológica (Simpson, 1900,
1914; Ortmann, 1910, 1911, 1912, 1921; Frierson, 1927; Modell, 1942;
Morrison, 1956, 1973; McMichael e Hiscock, 1958; Pain e Woodward, 1961;
Parodiz e Bonetto, 1963; Haas, 1969; Heard e Guckert, 1971; Davis e Fuller,
1981; Boss, 1982; Korniushin, 1998) podemos afirmar que os Unionoida estão
representados por seis famílias: Margaritiferidae, Unionidae, Hyriidae,
Iridinidae, Mycetopodidae, e Etheriidae.
Segundo Parodiz e Bonetto (1963), as primeiras três destas famílias são
reunidas sob a superfamília Unionoidea, e as últimas três pertencem à
superfamília Etherioidea. Estas superfamílias foram agrupadas somente pelo
tipo de larva que apresentam: os Unionoidea apresentam uma larva tipo
gloquídio e a os Etherioidea apresentam larva tipo lasídio (Parodiz e Bonetto,
1963; Boss, 1982; Wachtler et al., 2001).
3
Graf (2000) testou a monofilia dos Etherioidea sensu Parodiz e Bonetto
(1963) incluindo os Hyriidae entre os Unionoida, codificando 38 caracteres da
concha e anatomia das partes moles o que possibilitou inferir que o táxon
Unionoidea não é monofilético e que o grupo dos Hyriidae é parte de um táxon
natural quando incluído entre os Etherioidea. Graf e O’Foighil (2000)
hipotetizaram uma filogenia semelhante utilizando análises moleculares.
Portanto, Etherioidea sensu Graf (2000) e Graf e O’Foighil (2000) [= (Hyriidae +
(Iridinidae + Etheriidae))] é sinonímia de Mutelidae de Ortmann (1912, 1921),
Thiele (1934) e McMichael e Hiscock (1958).
Como reforço adicional desta separação existe a zoogeografia destes
dois táxons, com os Unionoidea no hemisfério norte, e os Etherioidea
apresentando uma distribuição Gondwânica (Ortmann, 1921; Graf, 2000).
A primeira aparição das náiades ocorreu no Trssico (Carniano /
Rhaetiano) e Neógeno (Mioceno / Plioceno), após a extinção em massa no fim
do Permiano (Graf, 2007). Em contrapartida, quase todas as outras famílias de
bivalves que se originaram no Cretáceo (Aptiano / Cenomaniano) e Paleógeno
(Daniano / Thanetiano) eram marinhas (Newell, 1969). Isto parece coincidir
com o ciclo Wilson correspondendo à agregação (com formação de ambientes
fluviais e lacustres de água doce) e separação continental (com formação de
mares e oceanos jovens de água salgada). Ou seja, a agregação continental
tende a produzir faunas de água salobra/doce, e a separação de continentes
pode causar evolução da fauna marinha (Kondo e Sano, 2009).
As pesquisas sobre os bivalves límnicos revelaram alguns padrões
macroevolucionários. Os Unioniformes são um grupo cosmopolita, antigo e
estritamente continental. Dado que estes padrões são acurados e que a
4
separação geográfica contribui para a diversificação dos organismos (Mayr,
1963), se esperado que a biogeografia, a evolução dos caracteres, assim
como a filogenia dos bivalves de água doce deve refletir a evolução das
massas continentais durante o Mesozóico e Cenozóico.
Parodiz (1969) fez uma excelente revisão sobre a malacofauna terrestre
fóssil da América do Sul, fornecendo uma lista de espécies para várias
localidades, e resumindo a natureza dos registros geológicos de cada parte do
continente. O registro fóssil descrito por Parodiz suporta a divisão de Pilsbry
(1911) da fauna em três grupos: as espécies autóctones, as espécies que
entraram a partir da América do Norte no Cretáceo tardio, e as formas antigas
com distribuição global e de origem incerta (ex, Sphaeriidae).
A maioria dos fósseis recentes das áreas brasileiras apresenta
afinidades com grupos africanos ou do Velho Mundo, e aqueles encontrados
nas localidades austrais são de origem norte americana (Parodiz, 1982).
A interpretação destas introduções recentes não oferece problemas,
porém a dualidade da origem de vários registros paleocênicos mostra uma
aparente homogeneidade, característica da fauna Neotropical, devido ao
completo isolamento da América do Sul durante quase todo o Terciário (Haas,
1969; Parodiz, 1982). A comunicação com a América do Norte foi
descontinuada imediatamente após o início do Paleoceno, e não foi
restabelecida a o final do Plioceno, por uma nova conexão através da
América Central com o soerguimento do Istmo do Panamá (Rosen, 1978).
Durante a maioria do Eógeno (Oligoceno inferior) o escudo cristalino da
América do Sul (chamado de Brasília por Ihering, 1890) estava separado das
terras ao sul (região Patagônica) por um curso de mar conectando o
5
recentemente formado Oceano Atlântico com o que foi depois o Pacífico leste
(Fitzgerald, 2002). A linha divisória do mar corria obliquamente no sentido
noroeste a sudeste, desde o sul do Peru para baixo até a área conhecida como
Pampas, e segundo Parodiz (1982), é em parte coincidente com a divisão
fisiográfica atual do continente entre a zona tropical e a temperada. Esta massa
austral de terra foi chamada por Ihering (1890) de Archiplata. A cicatriz ou
sutura entre Brasília e Archiplata é visível na estrutura geológica da região
entre os rios Colorado e Negro ao norte da Patagônia (Visconti et al., 2003). A
maioria das localidades paleocênicas onde os sseis dos bivalves de água
doce são encontrados estão nas formações ao longo do cordão Archiplata, mas
completamente ausentes no lado oposto, a costa sul da Brasília oriental
(Parodiz, 1982).
Portanto, a malacofauna que se desenvolveu em Brasilia e Archiplata,
não é apenas diferente em sua composição, mas também em sua origem. A
maioria das espécies da Archiplata no Paleoceno, conhecida desde a
Patagônia até o oeste da Bolívia, apresenta afinidades, e em alguns casos são
do mesmo gênero que àquelas conhecidas na América do Norte, do período
pré-Triássico. O grupo mais surpreendente são os Hyriidae, aparecendo,
primeiramente no Triássico na Pensilvânia e embora tenha se tornado extinto
nesta região reaparece repentinamente no Paleoceno na Patagônia (Parodiz e
Bonetto, 1963; Parodiz, 1982).
Na América do Sul, à parte da grande Bacia Amazônica, com suas
principais origens no oeste, e a drenagem do rio Orinoco, na Venezuela, ambas
apresentando restrições distribucionais peculiares das espécies, os principais
sistemas hidrográficos da parte centro-leste do continente são o rio São
6
Francisco, com suas nascentes no platô de Minas Gerais, e o sistema Paraná -
La Plata, com seus vários tributários correndo ao sul (Parodiz, 1982).
Figueiredo et al. (2009), utilizando novos dados bioestratigráficos,
concluíram que o rio Amazonas tornou-se um rio transcontinental cerca de 11
milhões de anos atrás e alcançou sua forma e tamanho atual durante o
Plioceno tardio. Antes do Mioceno tardio existia uma plataforma continental que
conduzia o curso dos rios para o Pacífico.
Os rios Paraná e São Francisco apresentam vários elementos em
comum em seus inícios, porém a abundância e diferenciação dos gêneros e
espécies aumentam enormemente em direção ao Uruguai e o rio La Plata. As
famílias Hyriidae e Mycetopodidae não apresentam nenhum registro fóssil de
qualquer idade na região dos Pampas e a seção média inferior do rio Paraná
contém apenas alguns poucos fósseis holocênicos (Parodiz, 1982). O sistema
Paraná Paraguai Uruguai - La Plata não existia antes do final do
Pleistoceno. E cerca de 11.000 anos atrás ocorreu uma grande falha,
correlacionada com a terceira fase da orogenia dos Andes. A margem oeste
ficou vários metros mais baixa que o lado leste. Uma breve ingressão do mar
foi seguida imediatamente pelos efluentes das correntes vindas do norte,
através da depressão, formando um novo sistema de drenagem e, portanto o
novo estuário (Martinez e Del Rio, 2002). Segundo Parodiz (1982), a fauna
límnica introduzida nesta nova bacia sofreu uma pida especiação. E segundo
o mesmo autor, na família Hyriidae, várias espécies reconhecidas
taxonomicamente apresentariam uma afinidade filogenética, devido ao seu
ancestral comum recente, formando grupos equivalentes a superespécies. A
7
hibridização, em tais casos, não é possível como ocorre na realidade
(Parodiz, 1973).
A invasão das espécies do norte, no sistema inferior do rio La Plata,
provavelmente ocorreu recentemente, através da conexão dos tributários do rio
Paraguai superior com os do rio Amazonas. Nenhuma espécie de
Mycetopodidae é conhecida a oeste dos Andes, no Peru e Chile, uma área que
é ocupada pelos Hyriidae do gênero Diplodon (Parodiz e Bonetto, 1963).
Os mais antigos Diplodon conhecidos estão representados por várias
espécies do Triássico na Pensilvânia e Texas. Na América do Sul os registros
da família Hyriidae surgem no Oligoceno na Colômbia e especialmente no
Mioceno no Equador (Parodiz, 1982). Outro grupo fóssil é encontrado no
Paleoceno e Eoceno na América do Sul (sul da Argentina e Chile). Todos
esses fósseis o geralmente menores que a maioria das escies recentes,
exceto pelas formas chilenas do Eoceno, que diferem muito pouco da espécie
atual Diplodon patagonicus. Também são conhecidos outros fósseis de
Diplodon do início do Terciário desde a Colômbia até o sul da Argentina
(Parodiz e Bonetto, 1963).
Martinez et al. (1993) descrevem Tacuaremboia, um Unionoidea na
Formação Tacuarembó, no Uruguai, em depósitos de idade Triássico-
Jurássico. Morton e Herbst (2001) descrevem Diplodon na Formação La
Matilde, do Jurássico Médio, na província de Santa Cruz na Argentina.
Wesselingh et al. (2006) citam a ocorrência de Castalia ambigua, Callonaia sp
e D. longulus nos rios Purus e Acre, Estado do Acre, Brasil, na Formação
Solimões, do Mioceno tardio.
8
A comparação da distribuição das espécies de Hyriidae recentes e do
Terciário mostra que a expansão ocorreu de oeste para leste (as formas mais
antigas distribuídas ao longo dos Andes) e posteriormente, especialmente, do
sudoeste ao nordeste entre o norte da Patagônia e os rios do sistema Paraná
(Bonetto, 1960a, 1961c; Bonetto et al., 1962; Parodiz, 1982).
Os rios que atravessam a região dos Pampas, tributários do Paraná,
apresentam uma maior concentração de sais que os tributários do leste, e de
acordo com Bonetto (1961c) e Parodiz e Bonetto (1963), este é um fator que
teria restringido a dispersão dos Hyriidae.
A superfamília Unionoidea (= Unionidae + Margaritiferidae) é diversa
(686 sp) e está distribuída amplamente através do hemisfério norte; a
superfamília Etherioidea (= Hyriidae + Etheriidae + Mycetopodidae + Iridinidae)
é relativamente menos especiada (154 sp), e a diversidade das famílias dos
Etheriidae está geralmente particionada entre os continentes ao sul (Bogan,
2008).
O grupo irmão dos Unionidae, a família Margaritiferidae, compartilha
uma distribuição Holártica similar, porém com uma diversidade
significantemente menor (12 sp).
A assembléia de bivalves de água doce da região Afrotropical (85 sp)
está composta por três famílias. Existem duas famílias dominantes, os
Unionidae (41 sp) e os Iridinidae (43 sp), e uma única espécie amplamente
distribuída dos Etheriidae, Etheria elliptica (Graf e Cummings, 2007).
A região Indotropical é a segunda com maior diversidade, com 219
espécies de bivalves límnicos em três famílias. Apenas uma destas espécies,
Pseudomulleria dalyi na Índia, representa os Etherioidea (Bogan e Hoeh, 2000;
9
Graf e Cummings, 2006). O restante das espécies Indotropicais representam
os Unionoidea e o hemisfério norte.
A maior família dos Etheriidae, os Hyriidae (71 sp) é conhecida
atualmente apenas na Australásia e América do Sul (McMichael e Hiscock,
1958; Simone, 2006; Graf, 2007). Os Mycetopodidae (36 sp) e seu grupo irmão
Iridinidae (43 sp) são conhecidos na região Neotropical e Afrotropical,
respectivamente.
Estima-se em 43 espécies de unionídeos na região da Australásia. A
diversidade nesta região é dominada pelos Hyriidae com oito gêneros e 28
espécies (Bogan, 2008). Os Hyriidae estão restritos à Austrália, Tasmânia,
Nova Zelândia, Nova Guiné e Ilhas Solomon.
A fauna de bivalves límnicos sulamericanos é de origem Gondwânica
(Graf, 2000), representando três famílias endêmicas aos fragmentos do super
continente acima citado. Em geral, são reconhecidas 74 espécies da América
do Sul (Haas, 1969; Simone, 2006), As duas famílias dominantes são os
Mycetopodidae (32 sp) e os Hyriidae (40 sp), cada um provavelmente
representando uma radiação monofilética a partir de um ancestral Gondwânico
(Graf, 2007).
Autores mais antigos (Say, 1817; Rafinesque, 1820; Hupe, 1857; Adams
e Adams, 1858; Pilsbry, 1911) classificaram as formas sulamericanas das
náiades junto com os antigos gêneros coletivos, Unio e Anodonta. E a esse
grupo juntavam Monocondylaea, Hyria e Castalia.
Ihering (1890) reconheceu que existem diferenças entre os espécimes
do hemisfério norte e sul sob a sinonímia de Anodonta, e que este último grupo
compartilhava características com os espécimes africanos (Mutela e Spatha). E
10
o denomina Glabaris Gray = Anodontites Bruguière. Porém o autor deixou as
outras formas sob a denominação de Unio.
Simpson (1900) separa o grupo Unio, que agrupava todas as espécies
de unionídeos das Américas e utiliza o nome Diplodon Spix para os espécimes
do hemisfério sul, e os une com as náiades australianas.
Ortmann (1911) corroborou com a hipótese de Simpson (1900)
indicando diferenças anatômicas entre Diplodon (assim como Hyria e Castalia)
e os Unionidae do hemisfério norte associando-os a Glabaris, formando assim
a família Mutelidae (=Etherioidea), subdividida em duas subfamílias, Hyriinae e
Mutelinae.
O grupo mais primitivo, Hyriinae, é encontrado em toda América do Sul,
tornando-se mais raro na região norte (Colômbia e Venezuela), não sendo
encontrado na América Central, porém sendo encontrado na Austrália também
(Ortmann, 1921).
Parodiz e Bonetto (1963) descrevem que, na América do Sul, as famílias
Hyriidae e Mycetopodidae ocupam áreas sobrepostas, apesar de nas zonas
marginais existirem apenas um grupo ou outro. Os Mycetopodidae são mais
restritos em sua distribuição austral, ocupando áreas ao norte, leste e
periféricas da região dos Pampas, e alguns tributários que cruzam esta região
e deságuam no rio Paraná. Nos afluentes do lado esquerdo do rio Paraná, os
Mycetopodidae apresentam um maior desenvolvimento que os Hyriidae. Na
direção noroeste eles se distribuem até a América Central e México, onde os
Hyriidae estão ausentes (Bonetto, 1961c).
Os Mycetopodidae, composto por quatro subfamílias endêmicas
(Mycetopodinae, Monocondylaeinae, Leilinae, Anodontitinae), foram
11
recentemente hipotetizados como sendo grupo irmão dos Iridinidae afro
tropicais (Bogan e Hoeh, 2000; Graf e Cummings, 2006). E as tribos endêmicas
dos Hyriinae, Prisondontini, Diplodontini, e Castaliini formariam um clado irmão
de Hyridellini, da Australásia, formando a família Hyriidae (Graf e O’Foighil,
2000). A distribuição atual da família Hyriidae, segundo Simone (2006) pode
ser observada no anexo A.
Simpson (1900, 1914) foi o primeiro a propor um sistema de
classificação para o nero Diplodon, separando as formas arredondadas
(Cyclomya) das demais. Porém foi Ortmann (1921), através de estudos
anatômicos e de um grande número de exemplares de cada tipo, que
conseguiu separar o gênero em grupos, com características bem definidas.
Mas o mesmo autor em seu trabalho admite que existam formas transitórias
entre os grupos que são de difícil classificação.
Os autores Ortmann (1921), Bonetto (1960, 1961a, 1961b, 1962, 1964,
1965), Bonetto e Ezcurra (1963), Parodiz e Bonetto (1963) e Mansur (1973)
citam que, além das características das conchas, algumas particularidades da
morfologia das partes moles, posição do marsúpio e a descrição do gloquídio
seriam de grande utilidade para a identificação das espécies.
O manto é um órgão que reveste a massa visceral, e na maioria dos
moluscos cresce durante o desenvolvimento formando dobras (lobos) na borda
do manto, junto às conchas. O espaço entre o manto e a massa visceral é
denominado cavidade do manto ou palial. Os bivalves possuem uma grande
cavidade do manto, com o e a massa visceral no centro. Os lobos do manto
seguem a borda da concha lateralmente, originando posteriormente a abertura
12
inalante e exalante, através das quais a água entra e sai da cavidade do
manto.
São reconhecidas cinco categoriais de fusão do manto em sua porção
posterior, simplificado como Tipos I-V (Yonge, 1957) (figura 1).
O tipo I é a condição mais simples. Neste tipo o lobo posterior é não
fundido, e o diafragma separando a câmara infrabranquial da suprabranquial é
grosseiramente incompleto. A divisão da cavidade do manto é funcionalmente
alcançada via sulcos paliais (Ortmann, 1911).
No Tipo II não há fusão do manto entre as aberturas inalantes e
exalantes, mas os ctenídios são fundidos ao manto adjacente ao longo de seu
comprimento, formando um diafragma levemente incompleto. As pregas
internas do manto o fundidas por uma pequena extensão, dorsal a abertura
exalante, e então re-abre para formar uma terceira abertura, a abertura supra-
anal.
No tipo III as pregas internas do manto são fundidas entre as aberturas
inalantes e exalantes. Enquanto que no Tipo IV, além da fusão entre as
aberturas, também existe uma fusão das pregas internas do manto dorsal da
abertura exalante, frequentemente formando um sifão exalante. A principal
distinção entre os tipos III e IV é que, no primeiro, as pregas internas não são
unidas independentemente das pregas externas do manto acima da abertura
exalante. Em certos gêneros com a fusão palial do tipo IV, frequentemente
uma pequena associação das pregas ventrais internas com a abertura inalante.
A presença desses pequenos anexos parece variar com as espécies, porém
nunca está associado com o sinus palial.
13
O Tipo V é caracterizado por sifões inalante e exalante retráteis e um
sinus palial. A abrangência completa de morfologia de aberturas leva à
formação de sifões do Tipo A de Yonge (1957, 1982).
Figura 1. Diagrama das cinco categoriais de fusão do manto em sua porção
posterior. e, abertura exalante; i, abertura inalante; sa, abertura supranal.
Fonte: Mussel Project.
A água que entra na cavidade palial pelas aberturas e/ou sifões
inalantes, banha as brânquias, atinge a cavidade suprabranquial e sai pelas
aberturas e/ou sifões exalantes. Neste trajeto, o material em suspensão que
entra na cavidade palial é retido, ocorrem as trocas gasosas e os produtos de
excreção, defecação e sexuais são eliminados.
Os cílios dos ctedios geram a corrente de água, e o aumento da
eficiência para a tomada de alimento foi alcançado através de várias
modificações dos ctenídios. A modificação principal foi a conversão das placas
pequenas e triangulares originais em filamentos em forma de V com extensões
em ambos os lados. A lamela deste filamento em forma de V que está aderida
ao eixo central do ctenídio é chamada de lamela descendente; a lamela
formando a outra metade do V é a lamela ascendente. Normalmente, a lamela
ascendente está conectada por contatos ciliares ou junções do tecido ao teto
14
do manto, ou à massa visceral. Tomados em conjunto, os dois filamentos em
forma de V formam uma estrutura em forma de W, quando observadas em uma
secção transversal.
Conforme a água passa através dos espaços interfilamentares, as
partículas em suspensão, presentes na água, são retidas na superfície dos
filamentos. Uma vez sobre a superfície, as partículas são movidas, geralmente,
em direção ao canal alimentar na borda livre do ctenídio, e depois
anteriormente para os palpos labiais. Os palpos selecionam o material,
passando-o para a boca. As partículas rejeitadas caem das brânquias ou
palpos na cavidade do manto como pseudofezes (Atkins, 1937).
O sistema natural das náiades expressa uma tendência de
desenvolvimento e especialização de três características anatômicas principais,
que por sua vez estão conectadas com certas funções. Estes são: a separação
de uma câmara branquial simples original em duas câmaras, infrabranquial e
suprabranquial, pelo diafragma; a restrição das aberturas inalante e exalante
para partes definidas da borda do manto, com uma tendência para formar
sifões; e o desenvolvimento das brânquias em órgãos para carregar os ovos e
larvas (marsúpio), e a especialização e adaptação das brânquias para esse
propósito (Ortmann, 1912, 1921).
No desenvolvimento do diafragma três tipos podem ser distinguidos. O
estado mais primitivo está representado por Margaritiferidae, onde o diafragma
está formado pelo crescimento conjunto da lamela ascendente da
demibrânquia interna em ambos os lados do corpo, e a fusão da lamela
ascendente da demibrânquia externa com o manto. Mas aqui o diafragma
ainda está incompleto, de forma que a extremidade posterior da lamela
15
ascendente da demibrânquia externa permanece livre, não se conectando com
o manto em sua margem posterior (figura 2A). Em todos os outros casos o
diafragma é completo, e se estende até ou próximo à margem posterior do
manto, onde ele separa a abertura inalante da exalante. São reconhecidos dois
tipos, Unionidae (América do Norte e Ásia) com o diafragma formado pelas
brânquias sozinhas, e Etherioidea (América do Sul e África) com o diafragma
formado anteriormente pelas brânquias, mas posteriormente pela união do
próprio manto.
As bordas do manto o originalmente livres em toda volta. Mas uma
tendência desenvolve-se para originar duas aberturas distintas, os sifões
(Yonge, 1957). A condição mais primitiva é encontrada em Margaritiferidae,
onde as duas aberturas são distinguidas apenas pelo desenvolvimento de
papilas.
Mas a tendência geral, entre os Unionidae, é não apenas juntar as
bordas do manto pelo diafragma, separando a abertura inalante e exalante.
Mas também limitar dorsalmente a abertura exalante, pela junção das bordas
do manto, formando uma abertura supranal, a qual apenas em casos raros
torna se fechada (figura 2B). A abertura inalante nos Unionidae nunca está
definida ventralmente por um crescimento conjunto das margens do manto
(Ortmann, 1911, 1912).
Na outra superfamília, Etherioidea, as duas aberturas estão sempre
separadas entre si por um diafragma completo, formado pelo manto (Ortmann,
1921). Em alguns casos as bordas do manto o livres do resto (ex.,
Anodontites) (figura 2C). Em outros casos a abertura exalante está definida
dorsalmente por uma junção das margens do manto (ex., Diplodon), mas neste
16
grupo uma abertura supranal nunca é formada (figura 2D). Além disso, foi
encontrado um passo a mais de desenvolvimento neste grupo, que consiste na
demarcação da abertura inalante, ventralmente, pelo crescimento conjunto das
bordas do manto (ex., Castalia) (figura 2E).
A formação do marsúpio apresenta uma variedade grande. É difícil dizer
qual es relacionada com a condição primitiva, mas segundo Ortmann (1911),
originalmente todas as quatro demibrânquias serviam como um receptáculo
para os ovos.
Fora desta condição original estruturas mais avançadas se
desenvolveram, as quais geralmente exibem a tendência de localizar o
marsúpio em certas brânquias ou partes das brânquias, e dividir o espaço
interlamelar em compartimentos (ovisacos e tubos aqüíferos). Nos diferentes
grupos este propósito foi alcançado de formas diferentes e em diferentes graus
(Ortmann, 1921).
Em Margaritiferidae as demibrânquias não possuem partições e,
aparentemente o são encontrados ovisacos e tubos aqüíferos.
Consequentemente são primitivas a este respeito.
Nos Unionidae mais primitivos (subfamília Unioninae), todas as quatro
demibrânquias ainda servem como marsúpio, e preservaram, portanto, a
condição original, ou somente a demibrânquia externa serve a esse propósito.
Ainda nestes, o espaço interlamelar é dividido por septos, em compartimentos
pouco regulares, dispostos verticalmente à borda das brânquias, e paralelos
aos filamentos branquiais. Os mesmos caracteres fundamentais, restrição do
marsúpio às demibrânquias externas e desenvolvimento de ovisacos e tubos
aqüíferos, o encontrados nos Unionidae mais altamente desenvolvidos
17
(subfamílias Anodontinae e Lampsilinae), mas nestes grupos as
especializações encontradas, podem estar principalmente ligadas a
adaptações a um período reprodutivo prolongado, e a uma peculiar maneira de
liberar os gloquídios (Graf e OFoighil, 2000).
No grupo Afro-Sulamericano das náiades (Etherioidea), os bivalves
apresentam o marsúpio restrito às demibrânquias internas. Dois tipos principais
podem ser distinguidos entre eles, segundo sua diferenciação interna da
brânquia marsupial. Em um caso, a parte marsupial da demibrânquia interna
está um pouco restrita à porção mediana, e tubos aqüíferos intercomunicantes
bastante incompletos são formados por conexões interlamelares; no outro
caso, septos fortes e completos formam tubos aqüíferos isolados. Em nenhum
destes casos a estrutura da bnquia marsupial é idêntica àquela dos
Unionidae, apesar dos septos e tubos aqüíferos mostrarem alguma analogia.
Ortmann (1911) considera isso um caso de convergência da estrutura.
Os unioniformes norte americanos se diferenciam dos tipos Africanos e
Sul Americano, na junção anterior das demibrânquias internas e o formato dos
palpos. A diferença mais significativa entre Margaritiferidae e as demais formas
de unionídeos norte americanos está na conformação das aberturas inalante e
exalante. Na primeira, as aberturas inalante e exalante formam uma grande e
ininterrupta abertura (Ortmann, 1912).
Anatomicamente, os unioniformes da América do Norte estão
caracterizados por apresentar uma diminuição perceptível da largura da
demibrânquia interna em direção a sua extremidade anterior; esta está mais ou
menos à frente da extremidade anterior da demibrânquia externa, e está
aderida, em distâncias maiores ou menores, na porção ascendente da linha de
18
adesão do manto, mas está sempre separada distintamente da extremidade
posterior do palpo, geralmente por um intervalo considerável. O formato do
palpo não é um caráter tão bem marcado, mas eles são mais ou menos
falciformes, com a ponta unida posteriormente. A margem posterior dos dois
palpos pode ser mais ou menos conectada ou quase livre (figura 2B) (Ortmann,
1911, 1912).
As formas asiáticas se assemelham às norte-americanas no que diz
respeito às aberturas inalante e exalante, o diafragma, os palpos e
demibrânquias. A única diferença está na separação das aberturas anal e
supranal, que é um pouco mais longa, na junção da lamela ascendente da
demibrânquia interna com a massa visceral. Externamente, o principal caráter
conchologico são as esculturas radiais (Ortmann, 1911).
As náiades africanas se diferenciam dos bivalves de água doce da
América do Norte e Ásia pela junção da lamela ascendente da demibrânquia
interna com a porção ascendente da linha de adesão do manto, sendo aderido
ao longo de todo seu comprimento, fazendo contato entre sua extremidade
anterior com a extremidade posterior dos palpos (figura 2F) (Ortmann, 1912).
Os palpos são largos e curtos, com uma ponta bem insignificante atrás,
e não totalmente falciformes; suas margens posteriores não estão conectadas.
As aberturas inalante e exalante estão bem separadas por uma ponte,
formada pela união firme das bordas do manto, formando posteriormente um
diafragma, com as brânquias não alcançando a margem posterior do manto.
A abertura exalante é fechada acima pela união da borda interna do
manto sem deixar uma abertura supranal.
19
Os septos, dos bem desenvolvidos tubos aqüíferos, são afastados um
dos outros e fortes. Nas fêmeas apenas as demibrânquias internas são
utilizadas como marsúpio, os septos se alargando.
A B
C D
E F
Figura 2. Anatomia dos Unioniformes. A, Margaritifera margaritifera; B,
Fusconaia rubiginosa; C, Anodontites patagonicus; D, Diplodon trifidus; E,
Castalina nehringi; F, Spatha kamerunensis. ai, abertura inalante; ae, abertura
exalante; sa, abertura supranal; p, pé; o, demibrânquia externa; i,
demibrânquia interna; h, palpos; t, diafragma. Desenhos modificados de
Ortmann (1912b, 1921).
20
As náiades sul-americanas da subfamília Hyriinae, estão divididas pelas
características da concha, mas tamm pelas características da estrutura da
brânquia e marsúpio, em três tribos Prisodontini, Castaliini e Diplodontini,
incluindo oito gêneros (Ortmann, 1921; Bonetto, 1961a, 1964).
A tribo Prisodontini está caracterizada por uma concha subromboidal, bi-
alada ou não, porém sempre com uma grande expansão posterior. Escultura
umbonal radial bem forte, com coalescência conspícua das costelas verticais;
raramente a escultura pode ser não conspícua. Sulco posterior bem marcado.
A abertura inalante não está completamente fechada anteriormente, sendo
contínua com a abertura podal. Gloquídios triangulares (isósceles), com dentes
mais curtos e menos curvados que Diplodontini, terminando em 2-3 pontas
agudas. Gêneros Prisodon, Paxyodon e Triplodon.
A concha da tribo Castaliini é espessa, subquadrangular, com o umbo
elevado e a cavidade umbonal profunda. Escultura do umbo com
desenvolvimento variável, às vezes bastante obsoleta. Abertura inalante torna-
se perfeitamente fechada anteriormente, exibindo a tendência de formar um
sifão desenvolvido. Gloquídios subtriangulares (equilaterais ou isósceles), com
dentes triangulares, retos e curtos, largos em sua base, mas não divididos na
extremidade final, cirros agrupados em forma de tufos; sem filamento larval.
Gêneros Castalia, Castaliella e Callonaia.
A tribo Diplodontini é caracterizada por uma concha com formato regular,
não alada, e sempre com costelas radiais na região umbonal, porém com
crescimento variável. Um sulco posterior fracamente desenvolvido, com
exceção de algumas formas mais alongadas e mais agudas posteriormente
(ex., D. parallelipipedon ou D. parodizi). Abertura inalante similar a Prisodontini.
21
Seus gloquídios são subtriangulares (escaleno), com dentes em forma de S,
curvados e terminando em um par de espículas; apresentam um filamento
larval longo e com 2-4 cirros sensitivos. Espécies com desenvolvimento direto
não apresentam dentes ou ganchos na concha embrionária, mas uma, ou
várias, bandas de crescimento marcadas. Gêneros Diplodon e Rhipidodonta.
Na tribo Diplodontini as espécies apresentam uma variação individual e
ecológica extraordinária (Parodiz, 1982), frequentemente repetida ou mesclada
entre as numerosas populações locais, porém sem valor taxonômico (Ortmann,
1921; Mansur, 1972; Parodiz e Bonetto, 1963). Divisões subgenéricas foram
propostas baseadas somente em características transitórias das conchas. A
separação mais convincente está baseada primariamente na condição
parasítica ou o da larva; e em uma segunda etapa, grupos de espécies
podem ser reconhecidos por caracteres conquiliológicos. Apesar disto, às
vezes, apresentam sérias dificuldades de identificação devido às variações
intermediarias que os grupos apresentam.
INTRODUÇÃO
A biologia, ecologia, aspectos reprodutivos e sistemáticos dos bivalves
de água doce da superfamília Etherioidea, principalmente no estado de São
Paulo, são ainda escassos e em muitos aspectos desconhecidos. Assim,
podemos citar: anatomia comparada de Anodontites trapesialis e A. trapezeus
(Hebling, 1976), características anatômicas e sistemática de A. trapesialis
(Simone, 1994), anatomia funcional de D. rotundus gratus (Hebling e Penteado,
1974), Fossula fossiculifera (Avelar, 1993), Castalia undosa undosa (Avelar e
22
Santos, 1991), D. rhombeus fontainianus (Avelar e Cunha, 2009), ciclo
gametogênico de D. rotundus gratus (Avelar e Mendonça, 1998).
Quanto às formas larvais vários autores, entre eles; Ortmann (1921),
Bonetto (1959a, 1959b, 1960a, 1960b, 1961a, 1961b), Bonetto et al. (1962),
Mansur e Campos-Velho (1990), Mansur e Silva (1999) e Mansur e Campos-
Velho (2000), estudaram alguns aspectos da biologia, anatomia e ou merísticos
dos gloquídios, das espécies de Hyriidae Sul-Americanas.
Segundo Mansur (1970) os trabalhos de cunho sistemático foram feitos
com dados superficiais das conchas, originando um grande mero de
sinonímias e citações de espécies para um mesmo sítio, quando de fato, são
variações ecológicas. Para Parodiz (1982), estas variações não existem, mas
se duas ou mais formas de uma simples espécie considerada habitar o mesmo
nicho ecológico, elas dificilmente poderão ser chamadas ecológicas. Uma visão
taxonômica conhecida das espécies na área permitiria o reconhecimento de
formas híbridas.
O gênero Diplodon é considerado por Bonetto e Ezcurra (1963) como
sendo o mais primitivo, sendo que não existe ainda, uma classificação
satisfatória para agrupar as espécies. A grande variabilidade na forma da
concha e diferentes tipos de ambientes que eles ocupam na grande extensão
da malha hidrográfica têm gerado discussões com relação ao número de
espécies e as sinonímias (Bonetto, 1951, 1961a, 1961b, 1961c; Mansur e
Anflor, 1981). Estudos de morfologia interna de estômago comparando
exemplares-tipo a exemplares identificados com base apenas nas
características conquiliológicas demonstram que o trabalho de determinação de
espécies do gênero Diplodon pode ser equivocado (Mansur e Anflor, 1981).
23
De acordo com Bonetto, (1961a, 1961b), além de conhecer
conquiliologia e caracteres morfológicos do adulto, o ideal para se estudar a
sistemática do gênero Diplodon é conhecer as características morfológicas dos
gloquídios, fase parasitária de espécies do gênero, que necessita de um
hospedeiro intermediário para completar o ciclo reprodutivo. Segundo o autor,
as características gloquidiais são sempre preservadas em qualquer que seja a
distribuição geográfica e o meio em que as espécies vivem.
As características gloquidiais ajudam na identificação e classificação
desse grupo de moluscos no qual indivíduos juvenis ou adultos frequentemente
não fornecem critérios diagnósticos interespecíficos (Mansur e Silva, 1999).
Outra forma de abordagem seria através de análises moleculares (Graf e
O´Foighil, 2000; Graf, 2002; Graf e Cummings, 2006).
Para o Estado de São Paulo, não existe ainda nenhuma contribuição no
sentido de estudar profundamente as formas larvais das espécies nativas. O
estudo dos gloquídios, a posição e estrutura do marsúpio o caracteres de
fácil distinção para muitas espécies (Bonetto, 1965).
Devido às inúmeras controvérsias taxonômicas envolvendo as espécies
do gênero Diplodon, cuja identificação está relacionada em grande parte as
características simples da concha, torna-se cada vez mais necessário agregar
conhecimentos da morfologia e da biologia dos bivalves de água doce,
justificando-se assim, o estudo para uma correta diagnose específica e para a
preservação das espécies deste grupo tão interessante e ao mesmo tempo o
ameaçado de extinção.
O modo como os organismos se reproduzem e se dispersam podem
provocar profundos efeitos sobre a estrutura genética e o processo
24
demográfico das populações (Kat, 1984). Igualmente, a forma de reprodução e
dispersão pode desempenhar um papel importante na longevidade das
espécies, distribuição geográfica e taxa de especiação (Mayr, 1971; Kat, 1984;
Graf, 1997; Wachtler et al., 2001). Os bivalves límnicos da Ordem Unionoida
são os únicos membros da classe Bivalvia que são conhecidos por apresentar
um estágio larval parasita em seu ciclo de vida, o qual envolve uma relação
obrigatória com um hospedeiro vertebrado, normalmente um peixe, e uma larva
altamente modificada, o gloquídio ou lasídio. Este parasitismo é considerado
atípico, pois estes organismos apresentam apenas sua etapa larval parasita,
enquanto que os adultos são de vida livre (Kat, 1984; Wachtler et al., 2001).
Durante o período de desova, os machos maduros liberam grandes
quantidades de gametas na água. Para que ocorra a fertilização, estes
gametas devem passar pela abertura inalante de fêmeas, da mesma espécie,
sexualmente maduras. Os gametas masculinos o através da abertura até a
câmara suprabranquial, onde são mantidos os óvulos. Os ovos fertilizados são
transferidos para as câmaras brânquias. Tal câmara forma um saco incubador
modificado, chamado marsúpio. Na formação do marsúpio, ambos ou apenas
um par de demibrânquias pode estar envolvido. Durante sua permanência no
marsúpio, os ovos fertilizados desenvolvem-se em embriões e metamorfoseiam
para uma forma larval (Mackie, 1984).
As larvas parasitárias podem ser de duas formas gerais. Enquanto
Unionoidea possui somente gloquídio, Etherioidea sensu Ortmann apresenta
tanto gloquídio como lasídio. Os gloquídios são pequenos (70-350 µm),
constituídos de um músculo adutor simples e células do manto fechados por
duas valvas calcárea ligadas por uma charneira (Arey, 1932). Eles se aderem
25
ao tecido hospedeiro fechando suas valvas sobre o epitélio exposto das
brânquias ou nadadeiras. O tecido hospedeiro encista a larva do molusco, e é
dentro deste cisto que o gloquídio se metamorfoseia em juvenil (Kat, 1984;
Graf, 1997). Os gloquídios geralmente pertencem a uma das duas variedades:
(1) subcircular a suboval e sem ganchos ou (2) subtriangular e com ganchos
(Coker et al., 1921; Hoggarth, 1999), embora exista variação dentro destes
tipos (Potamilus; Roe e Lydeard, 1998). Os gloquídios, tamm podem possuir
uma estrutura similar a um longo fio de bisso (Mansur, 1999; Wachtler et al.,
2001). Os lasídios também são pequenos (85-150 µm, sem incluir o bisso
larval), mas são larvas trilobadas com concha univalve e não calcificada. Assim
como nos gloquídios podem se apresentar sob duas formas: (1) tipo lasídio e
(2) tipo haustório (Bonetto e Ezcurra, 1963). Embora diferentes em sua
morfologia e tamanho, a distinção fundamental entre as duas variedades de
lasídio é que enquanto o primeiro adere ao hospedeiro através da formação de
cistos, o tipo haustório se adere por apêndices tubulares (Fryer, 1954, 1961;
Parodiz e Bonetto, 1963; Wächtler et al., 2001).
Os gloquídios podem ser liberados após algumas semanas, ou os
gloquídios maturos são mantidos no marsúpio por meses, dependendo da
espécie (Kat, 1984; Mackie, 1984).
A liberação dos gloquídios pode ocorrer de formas diferentes, o que
reflete os vários graus de adaptação envolvidos tanto na atração do peixe
hospedeiro como no aumento da probabilidade de aderir-se (Kat, 1984). Na
maioria das espécies, o gloquídio passa do marsúpio para o canal
suprabranquial, e é liberado através da abertura exalante. Quando liberado
desta forma, os gloquídios estão mais ou menos agrupados por uma capa de
26
muco, a qual ou se dissolve logo após a liberação ou mantêm os gloquídios
nos chamados conglutinados, que podem ser de rias formas e cores
(Ortmann, 1910; Arey, 1932; Graf, 1997; Pillow et al., 2008). Entre algumas
espécies de Lampsilinae, os gloquídios são liberados em massas irregulares
através de aberturas especiais na base do marsúpio, e são liberados através
da abertura inalante por uma rápida aducção das valvas (Ortmann, 1910; Graf,
2000).
Após sua liberação, os gloquídios devem entrar em contato com seus
hospedeiros, os peixes. E depois de um período de incubação, que é variável
segundo a espécie, os gloquídios sofrem uma metamorfose transformando-se
em juvenis de vida sedentária, similar ao modo de vida dos bivalves adultos.
A fauna de bivalves límnicos tem mostrado um declínio acentuado
durante o último século (Watters, 1996; Cosgrove e Hastie, 2001; Villella et al.,
2004; Christian et al., 2004; Bogan, 2008), o mesmo vem ocorrendo com a
fauna nativa do Brasil (Beasley et al., 2000; Beasley, 2001; Almeida, 2006). O
consenso é que a causa mais dramática do declínio e extinção dos bivalves
dulcícolas é a modificação e destruição do seu habitat. Isto pode ocorrer devido
aos efeitos das barragens, canalização, mudanças da profundidade da água
(dragagem dos rios), devido a mudanças no fluxo de água ou mudanças na
deposição de partículas finas (silte e areia). Estas modificações afetam não
apenas os bivalves, mas tamm os peixes que são utilizados durante a fase
parasítica dos bivalves límnicos. Como impactos adicionais existem a utilização
da água para a indústria e irrigação, a poluição; a criação de áreas
impermeabilizadas, sem percolamento, devido à urbanização e construção de
estradas (Bogan, 2008) e as mudanças climáticas globais (Hastie et al., 2003).
27
A introdução de animais aquáticos exóticos (não nativos) tamm
compõe um grande perigo para os moluscos de água doce nativos. As
espécies introduzidas se reproduzem rapidamente, competindo com os
moluscos nativos por alimento e espaço. Um exemplo bem conhecido é a
invasão dos rios e lagos da América do Norte pelo mexilhão zebra, Dreissena
polymorpha (Ricciardi et al., 1998), e a recente introdução, no Brasil, das
espécies Limnoperna fortunei (Mansur et al., 2003) e Corbicula fluminea
(Beasley et al., 2003).
Uma alternativa seria utilizar o cultivo destes moluscos para manter os
estoques naturais. A aquicultura pode auxiliar na preservação da
biodiversidade quando, como uma atividade econômica com êxito, ela puder
prover assistência local para a pressão nas espécies aquáticas comumente
exploradas (Secretariat of the Convention on Biological Diversity, 2004). Para
que a atividade da aqüicultura seja sustentável ela deve atender a alguns
requisitos básicos, tais como, sempre produzir mudanças não negativas nos
estoques de recursos naturais e na qualidade ambiental (Sachs, 1993; Assad e
Bursztyn, 2000).
Com esse propósito, alguns pesquisadores, na Europa e América do
Norte, iniciaram uma série de pesquisas com o intuito de reproduzir estes
bivalves de água doce e mantê-los em laboratório para posterior liberação no
meio ambiente (Young e Williams, 1984; Buddensiek, 1995; Gatenby et al.,
1997; Kirk e Layzer, 1997; O’Beirn et al., 1998; Tankersley e Butz, 1998;
Neves, 1999; Beck, 2001; Henley, 2002; Zimmerman e Neves, 2002; Mummert,
2006). Contudo, tais trabalhos implicam no conhecimento do peixe hospedeiro
para a obtenção das formas juvenis dos bivalves.
28
Ao contrário dos bivalves marinhos, as náiades necessitam, geralmente,
de um peixe hospedeiro com o propósito de completar seu ciclo de vida. Como
parasitas, uma parcela da sua nutrição é derivada do hospedeiro (Fisher e
Dimock, 2002), mas a maioria dos unionídeos não cresce durante o
encistamento (Lefevre e Curtis, 1912). A fixação dos gloquídios não causa
nenhum prejuízo aos peixes hospedeiros (Henley e Neves, 2001), entretanto,
se o parasitismo ocorrer em grandes quantidades pode levar o hospedeiro à
morte (Silva-Souza e Eiras, 2002).
Caso o gloquídio se fixe em um peixe hospedeiro compatível, o tecido
epitelial de células hospedeiras do peixe migra sobre a larva, encapsulando-a
em um cisto, dentro do qual ocorre o desenvolvimento e metamorfose da larva
em juvenil. A larva permanece encistada por dias a meses, dependendo da
espécie e da temperatura, e se transforma em indivíduos juvenis,
desenvolvendo uma cavidade pericárdica completa, trato digestivo, e um
musculoso. Quando a metamorfose está completa, o juvenil se desprende e
inicia uma vida sedentária independente, tornando-se suspensívoros
bentônicos (Arey, 1932; Young e Williams, 1984a; Mansur, 1999).
Os gloquídios que se fixam às espécies incompatíveis (não hospedeiras)
são destacados dentro de poucos dias após a fixação porque eles ou falham ao
ser encistados ou são subsequentemente desprendidos do hospedeiro antes
que a transformação se complete (Rogers-
Lowery et al., 2007).
Kirk e Layzer (1997) e Henley e Neves (2001) mostraram que existe uma
resposta imunológica do peixe ao encistamento do gloquídio. E que este,
quando não se adere à espécie hospedeira específica, não completa seu
desenvolvimento satisfatoriamente. Esta mesma resposta espécie-específica
29
entre as larvas de bivalves e seus peixes hospedeiros também foi encontrada
por outros autores, como Zale e Neves (1982), Young e Willians (1984b), Kat
(1984), Williams et al. (1993) e Wächtler et al. (2001).
A especificidade do hospedeiro, do ponto de vista imunológico, envolve
a adaptação dos gloquídios a sobreviver às respostas defensivas inatas do
peixe hospedeiro. Respostas imunes inatas são aquelas que não necessitam
uma exposição prévia do indivíduo hospedeiro aos antígenos parasita. Os
peixes também podem adquirir uma imunidade aos gloquídios via uma
resposta imune adaptativa, incluindo a produção de anticorpos. Entretanto, a
produção de anticorpos e a imunidade adaptativa desenvolvem-se lentamente
no peixe e aparentemente afetam os gloquídios geralmente depois de múltiplas
infestações (Meyers et al., 1980; Bauer e Vogel, 1987; Rogers e Dimock, 2003;
Dodd et al. 2005, 2006).
Uma resposta inata do hospedeiro é a encapsulação dos parasitas
fixados pelas células epiteliais, chamadas queratócitos (Arey, 1932; Rogers-
Lowery e Dimock, 2006). Esse processo é essencial para o êxito do
parasitismo pelos gloquídios, mas paradoxalmente, a encapsulação parece ser
uma resposta anti-ectoparasita e anti-ferida. Após a encapsulação, as defesas
celulares como os granulócitos e fagócitos são concentradas na cápsula e
podem matar os gloquídios incompatíveis. Os gloquídios incompatíveis tamm
são liberados quando a cápsula se degenera ou se desgruda como uma
pequena massa de tecido (Arey, 1932; Meyers et al., 1980; Waller e Mitchell,
1989).
As náiades exibem rios graus de especificidade de hospedeiros. A
proporção de gloquídios que sofre metamorfose com sucesso pode variar
30
bastante entre as espécies hospedeiras. A maioria das espécies de
unioniformes o é capaz de utilizar uma ampla variedade de espécies de
peixes. Em geral, poucas espécies bem relacionadas de hospedeiros, ou
populações dentro de espécies, irão suportar o desenvolvimento dos gloquídios
de várias espécies (Zale e Neves, 1982; Neves et al., 1985; Yeager e Neves,
1986).
Vários estudos foram feitos para identificar as espécies hospedeiras
específicas desses bivalves (Hoggarth, 1992; Watters e O’Dee, 1996; Haag e
Warren, 2003). Em contato com bons hospedeiros, 90% dos gloquídios fixados
podem metamorfosear-se com sucesso em juvenis, enquanto que apenas uma
pequena porção terá êxito em espécies hospedeiras marginais (Bigham, 2002;
Barnhart et al., 2008).
Durante o seu ciclo de desenvolvimento natural, a taxa de mortalidade
das larvas é muito alta devido à necessidade de encontrar um peixe
hospedeiro, predação, remoção para hábitat inapropriado pelas correntes,
doenças bacterianas e fungais durante parasitismo no peixe e finalmente
assentamento em sedimentos não apropriados para o bivalve juvenil. Young e
Williams (1984a), na Escócia, estimaram em acima de 99% a mortalidade de
larvas gloquídias, na natureza, do bivalve perlífero Margaritifera margaritifera
entre a incubação na fêmea e encistamento no peixe e entre desprendimento
do peixe e assentamento no fundo do rio.
Esta característica do ciclo de vida é um componente principal de
qualquer plano de conservação dos bivalves límnicos, mas os peixes
hospedeiros de rias espécies não são conhecidos ou não foram totalmente
investigados (Zale e Neves, 1982; Watters, 1996; Watters e O’Dee, 1998).
31
Uma forma de contornar o problema encontrado seria o cultivo artificial
(in vitro) das larvas dos bivalves límnicos (Lefevre e Curtis, 1912; Isom e
Hudson, 1982; Hudson e Isom, 1984; Young e Williams, 1984b; Keller e Zam,
1990; Hudson e Shelbourne, 1990; Uthaiwan et al., 2001, 2002, 2003). O
cultivo artificial de bivalves de água doce tem sido pouco explorado nas últimas
duas décadas. Os poucos estudos que foram feitos não obtiveram êxito ou são
proibitivos do ponto de vista de metodologia e consumo de tempo (Isom e
Hudson, 1982; Keller e Zam, 1990). O grau de sucesso obtido, atualmente,
indica que a produção de quantidades suficientes de indivíduos viáveis para a
preservação e uma exploração comercial, em potencial, é possível (Uthaiwan
et al., 2001, 2002, 2003).
Apesar das pesquisas com meios artificiais terem iniciado com a mistura
de componentes a partir da concentração de componentes encontrados no
plasma do peixe como guia; Isom e Hudson (1982) também reportaram êxito
utilizando meios de culturas celulares disponíveis comercialmente (Eagles e
meio M 199), meios estes que contem praticamente todos os aminoácidos em
concentrações tão altas ou até maiores que aquelas encontradas no plasma do
peixe.
Heard e Hendrix (1964) constataram que o fechamento da valva em três
espécies de Lampsilinae era afetado pelo sangue e por aminoácidos de várias
espécies de peixes. Young e Williams (1984b) observaram que o movimento de
abertura e fechamento das valvas dos gloquídios de M. margaritifera
aumentava consideravelmente quando estes eram postos em contato com o
muco, sangue, brânquias ou tecido das nadadeiras do seu hospedeiro, a truta
marrom, Salmo trutta. O meio original foi elaborado a partir de uma solução de
32
Ringer para Unionídeos com os aminoácidos essenciais e não-essenciais de
Eagles contendo NaHCO
3
para o controle do pH, vitaminas, antibióticos, e
glicose como a porção artificial, e o plasma do peixe como fonte natural de
proteína, em uma relação final de dois terços de meio artificial para um terço de
plasma (Isom e Hudson, 1982). Outras formulações foram testadas por Hudson
e Shelbourne (1990) em um esforço para melhorar os resultados em mais
espécies de bivalves, resultando em uma comparação de 64 combinações de
diferentes meios. Keller e Zam (1990) reportaram a transformação de
gloquídios em juvenis em um meio de cultura in vitro que incluía apenas soro.
Hudson e Shelbourne (1990) mostraram que a taxa de transformação para os
gloquídios aumentou com a inclusão do plasma do peixe. Hudson e Isom
(1984) relataram a importância de adicionar plasma de peixe a um meio
artificial, assim como demonstraram que a transformação dos gloquídios
poderia ocorrer em um meio artificial com o plasma de espécies de peixes não
confirmadas como hospedeira. Uthaiwan et al. (2001, 2002, 2003)
desenvolveram uma técnica simples de cultura de gloquídios em meio artificial,
que resultou em uma alta taxa de metamorfose, trabalhando com Hyriopsis
myersiana. Resultados semelhantes foram obtidos com a espécie européia
Anodonta cygnea, que apresentaram uma sobrevivência larval de 34,3%,
enquanto que a proporção de larvas que sofreram metamorfose foi de 60,8%
(Lima et al., 2006).
O trabalho de Tankersley (2000) indica que os níveis de lipídios nos
gloquídios e juvenis variam conforme cada pool de reprodutores, sendo,
portanto, influenciado pelo estado nutricional parental. Além disso, ele indica
que o tipo do meio de cultura utilizado no cultivo in vitro influencia o conteúdo
33
lipídico dos gloquídios e subseqüentes juvenis. Em Utterbackia imbecillis,
Fisher e Dimock (2006) encontraram que as larvas aderidas ao peixe
hospedeiro acumularam lipídios e glicogênio nas células do manto larval,
enquanto que as larvas cultivadas in vitro não apresentaram este acúmulo.
Os projetos de recuperação para as espécies de bivalves em perigo
recomendam a propagação e a reintrodução como forma de conservar as
populações (Mummert, 2006). Devido à complexidade do ciclo de vida das
náiades, o cultivo artificial (in vitro) poderia oferecer meios de contornar os
obstáculos presentes no ciclo de vida natural desses animais, contribuindo
desta forma para a manutenção da biodiversidade nos ambientes límnicos.
34
OBJETIVOS
No Brasil, a fauna de bivalves indígenas vem sofrendo, atualmente,
impactos antropogênicos e competições interespecíficas devido à invasão das
espécies exóticas, Corbicula fluminea e Limnoperna fortunei. Tais bivalves, de
origem asiática, competem tanto pelo habitat como pelo alimento. Além disso,
seus mecanismos reprodutivos, que não envolvem uma espécie hospedeira e
são contínuos ao longo do ano, favorecem as espécies invasoras em
detrimento das nativas.
Com a finalidade de propagar as espécies que estão em perigo de
extinção, pretendeu-se desenvolver técnicas viáveis para a obtenção de formas
juvenis em laboratório, através do cultivo artificial (in vitro) dos gloquídios,
denominação das formas larvais, do gênero Diplodon. Concluída esta etapa,
forneceremos à comunidade científica parâmetros para futuras pesquisas
voltadas para ações preservacionistas, em uma tentativa de reconstituir a fauna
de bivalves característica de cada uma das bacias hidrográficas.
Para alcançar o objetivo de realizar a reprodução in vitro das náiades do
gênero Diplodon, foram levantadas as seguintes hipóteses:
1) H
0
: a manutenção dos bivalves adultos do gênero Diplodon em
laboratório não interfere na liberação das larvas gloquidiais.
2) H
0
: a viabilidade dos gloquídios, em laboratório, antes do processo de
encistamento no peixe hospedeiro é maior se o muco for removido.
3) H
0
: existe uma especificidade entre a espécie de bivalve e o hospedeiro.
35
4) H
0
: os gloquídios sofrem metamorfose quando incubados em meio
artificial, assim como quando colocados artificialmente na presença dos
peixes hospedeiros.
5) H
0
: a substituição da fonte protéica do meio de cultura artificial, plasma
de peixe por extrato liofilizado de peixe, fornece um meio adequado para
que ocorra o desenvolvimento e metamorfose dos gloquídios.
6) H
0
: é possível cultivar os juvenis do gênero Diplodon obtidos através do
cultivo in vitro dos gloquídios.
36
MATERIAIS E TODOS
1. Fases da Pesquisa
A figura 3 ilustra as etapas da pesquisa. A primeira fase, a definição do
local de coleta, consistiu de várias coletas preliminares nos rios próximos a
Ribeirão Preto, com o objetivo de identificar uma população de bivalves que
fosse de fácil acesso e de bom tamanho. Após a definição do local de estudo
passou-se a realizar um levantamento bibliográfico sobre a região, assim como
sobre as citações sobre a ocorrência das espécies do gênero Diplodon.
A partir deste ponto, durante a segunda fase, a pesquisa apresentou
duas vertentes: uma priorizando a identificação dos espécimes adultos, e outra
voltada para a propagação das espécies em laboratório.
Para a identificação dos exemplares coletados foram buscados os
trabalhos com as descrições originais das espécies, criando-se, desta forma,
um banco de dados com a literatura consultada, porém nem sempre citada.
Devido à falta de informação sobre o grupo de estudo, tanto bio-
ecológica como para o manejo destes bivalves em laboratório, na América do
Sul, foi necessário desenvolver um protocolo com novas metodologias para
lograr o êxito na reprodução deste grupo sob condições artificiais. Com esta
informação em mente, a metodologia foi sistematizada de uma forma
cronológica. Nem todas as variáveis testadas puderam ser aplicadas
simultaneamente. Com a finalidade de obter um protocolo, sempre o
tratamento que resultava em maior êxito, e que fornecia a melhor sobrevivência
dos semaforontes, era mantido. Não sendo assim possível verificar as
interações entre as variáveis simultaneamente.
37
Em uma última etapa, foram gerados os resultados, representados por
gráficos, tabelas e imagens, bem como a interpretação dos mesmos, com a
finalidade de agregar um pouco mais de conhecimento sobre a fauna de
bivalves límnicos da família Hyriidae do Estado de São Paulo.
Fase 1
COLETAS PRELIMINARES
SELEÇÃO ÁREA DE COLETA
LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO
IDENTIFICAÇÃO
PESQUISA BIBLIOGRÁFICA
CONQUILIOLOGIA
ANATOMIA
PROPAGAÇÃO
CULTIVO
CULTIVO
CULTIVO JUVENIS
IN VIVO
IN VITRO
Fase 2
RESULTADOS
CONCLUSÕES
Fase 3
Figura 3. Fases da pesquisa e etapas do trabalho.
38
2. Coleta
Com o objetivo de localizar uma comunidade de bivalves estabelecida foi
realizada uma série de coletas preliminares nos rios Mogi Guaçu, Pardo e
Sapucaí, em um reservatório e em um lago. As coordenadas dos pontos de
coleta estão listadas na tabela 1.
Tabela 1. Localidades e coordenadas onde foram realizadas as coletas dos bivalves.
LOCALIDADE
MUNICÍPIO
COORDENADAS
rio Mogi Guaçu
Pirassununga
21º55’14,4” S e 47º23’05,1” W
21º55’39,1” S e 47º22’44,0” W
21º55’41,3” S e 47º22’31,3” W
21º55’41,3” S e 47º22’22,1” W
Luiz Antonio 21º36’45,2” S e 47º49’09,6” W
Porto Ferreira
21º50’36,1” S e 47º29’44,5” W
21º49’62,1” S e 47º30’06,1” W
córrego Beija Flor Luiz Antonio
21º36’54,1” S e 47º48’52,4” W
21º36’50,1” S e 47º49’01,2” W
rio Pardo
Serrana 21º10’44,9” S e 47º34’30,5” W
Jardinópolis 21º04’02,4” S e 47º49’27,2” W
Ribeirão Preto 21º07’ S e 47º45’ W
rio Sapucaí São Joaquim da Barra 20º31’34,8” S e 47º49’42,9” W
Reservatório Galo Bravo
Ribeirão Preto
21º07’06,9” S e 47º49’32,1” W
Lago Monte Alegre (USP) 21º11’ S e 47º43’ W
As coletas foram realizadas com permiso concedida pelo Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IBAMA (# 10207/2007).
39
Dos pontos amostrados foi escolhido como local de estudo o rio Mogi
Guaçu, no município de Porto Ferreira, estado de São Paulo, Brasil.
No local de coleta foram realizadas as medidas dos fatores abióticos:
condutividade da água com auxílio de um Condutivímetro – YSI Model 30
Handheld Salinity, Conductivity e Temperature System; Oxigênio dissolvido e
Temperatura com o auxílio de um oxímetro YSI Model 52 D.O. Meter; e
turbidez com auxílio de um Turbidímetro portátil modelo 2100P. Os dados
sobre a vazão do rio Mogi Guaçu, no ponto de coleta, foram extraídos do banco
de dados da Agência Nacional das Águas (ANA).
Os bivalves foram coletados tateando o fundo do rio com as mãos e pés,
e quando necessário com auxílio de equipamento de mergulho uma vez que,
vivem enterrados no sedimento e existe uma grande variação da coluna de
água do rio principalmente nas épocas de intensa precipitação.
Os espécimes coletados foram acondicionados, individualmente, em
frascos com boca larga de 200 ml, colocados em uma caixa térmica com gelo e
transportados para o Laboratório de Malacologia, do Departamento de Biologia
da FFCLRP-USP (figura 4), onde foram mantidos vivos, individualmente, em
aquários a uma temperatura constante. Em um primeiro momento, devido a
falta de equipamento apropriado para a aclimatação dos animais, a
temperatura variou entre 22 ºC e 26 ºC, porém após a melhoria do sistema de
ar condicionado foi possível manter uma temperatura de 20 ºC.
Figura 4. Metodologia para transporte dos espécimes coletados.
40
3. Identificação
A triagem de todo o material coletado foi feita em laboratório; alguns
exemplares foram fixados em álcool a 70 % (concha e partes moles) enquanto para
outros, apenas a concha foi preservada. Todos os animais foram medidos e
fotografados e, quando possível, identificados a o nível de espécie utilizando como
refencia os trabalhos de Ortmann (1921), Mansur et al. (1987) e Simone (2006).
A identificação do material coletado foi feita, primeiramente, separando
os bivalves por caracteres conquiliológicos, isto é, morfologia e formato da
concha, escultura externa e escultura umbonal (figura 5).
Figura 5. Diagrama das características externas da concha de um bivalve de
água doce hipotético. am, margem anterior; b, bico (umbo); bs, escultura
umbonal; d, disco; dm, margem dorsal; gl, linhas de crescimento; pm, margem
posterior; pr, costela posterior; ps, depressão posterior; rm, linhas de
crescimento; ss, escultura da concha; vm, margem ventral; w, asa. Modificado
de McMichael e Hiscock (1958).
41
Em uma segunda etapa, alguns exemplares foram dissecados para
observação de algumas características anatômicas macroscópicas, tais como a
abertura inalante e exalante, brânquias e palpos.
A identificação dos espécimes, coletados no rio Mogi Guaçu, município
de Porto Ferreira, foi confirmada através de visitas ao acervo malacológico do
Museu de Zoologia (MZUSP), sob supervisão do Prof. Dr. Luiz Ricardo Lopes
Simone, e consulta ao acervo do projeto BIOTA/FAPESP existente no
laboratório de Malacologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de
Ribeirão Preto.
Os espécimes devidamente identificados serão depositados no Museu
de Zoologia (MZUSP) e na coleção da Faculdade de Filosofia Cncias e Letras
de Ribeirão Preto.
4. Propagação de bivalves em laboratório
4.1. Produção de fitoplâncton
4.1.1. Isolamento de cepas de microalgas
Amostras do fitoplâncton foram coletadas no rio Mogi-Guaçu
(21º50’36,10” S e 47º29’44,5” W), no Reservatório Galo Bravo (21º07’06,9” S,
47º49’32,1W) e no Lago Monte Alegre, no Campus de Ribeirão Preto/USP,
com o auxílio de uma rede de plâncton de malha de 30 µm de diâmetro. As
amostras foram colocadas em meio de cultivo com finalidade de identificar a
composição fitoplanctônica e assim selecionar possíveis espécies passiveis de
cultivo e que fizessem parte da dieta alimentar dos bivalves. Através de
diluições repetidas e com auxílio de uma micropipeta foram selecionadas as
cepas para cultivo dos seguintes gêneros: Chlamydomonas sp., Chaetoceros
42
sp., Monoraphium sp., Chlorella sp., Nitzschia sp., Phaeodactylum sp. e
Scenedesmus sp.
As cepas das espécies de microalgas foram repicadas a cada 4-5 dias,
sempre respeitando a concentração inicial de 1/5 de inoculo para o volume final
(por exemplo, 1 litro de inoculo/4 litros de meio de cultivo). O meio de cultivo
utilizado para a manutenção das cepas foi autoclavado (20 minutos a 120 ºC)
antes de ser utilizado, enquanto que o meio de cultivo da produção massiva
(volume > 5 litros) não sofreu nenhum tratamento.
4.1.2. Meio de cultura para cultivo de microalga
Foram testados dois fertilizantes, como meio de cultivo: esterco bovino e
um inorgânico (NPK), (fertilizante agrícola Sempre Verde®, doado pela
empresa Bonigo Ltda), com concentrações de nitrogênio: fósforo: potássio de
12:6:6.
O meio de cultivo orgânico foi preparado utilizando o esterco seco e
curtido. Este foi peneirado utilizando uma malha de 125 µm, e colocado em
uma estufa a 80 ºC durante 24 horas. Após este período o esterco era diluído
em água destilada (45 gramas de esterco/ 5 litros de água) e submetido à
aeração constante durante 24 horas. O meio de cultivo, então, era filtrado em
malha de 100 µm de abertura e utilizado para o cultivo das microalgas.
O meio de cultivo enriquecido com adubo inorgânico foi elaborado em
diferentes diluições com água destilada: 0,5/200; 1/200; 5/200; 10/200 e 20/200
(Tabela 2).
43
Tabela 2. Concentrações (g/ml) de fósforo, potássio e nitrogênio em cada
diluição testada para o cultivo de fitoplâncton.
Concentração (g/ml)
Proporção
N
P
K
0,5/200 0,18 x 10
-
4
0,09 x 10
-
4
0,09 x 10
-
4
1/200 0,36 x 10
-
4
0,18 x 10
-
4
0,18 x 10
-
4
5/200 1,8 x 10
-
4
0,9 x 10
-
4
0,9 x 10
-
4
10/200 3,6 x 10
-
4
1,8 x 10
-
4
1,8 x 10
-
4
20/200 7,2 x 10
-
4
3,6 x 10
-
4
3,6 x 10
-
4
Legenda: N, nitrogênio; P, fósforo; K, potássio.
Após o preparo do meio de cultivo, foi adicionada cepa de microalgas na
quantidade de 20 ml em erlenmeyer de 250 ml. Os cultivos permaneceram
expostos à luz fluorescente (04 mpadas luz branca 36 W), ininterrupta, com
aeração constante.
As análises das culturas foram realizadas diariamente, durante oito dias,
sendo retirada uma alíquota de 5 ml de cada cultivo e adicionada uma gota de
lugol (4 %) com objetivo de fixar as microalgas. Para cada alíquota foram feitas
oito leituras, utilizando-se um hematocímetro com câmara de Neubauer. O
resultado diário da densidade celular foi determinado pela média aritmética das
oito contagens celulares, obtidas através da fórmula:
DC = cel x 10
4
x Fator de Diluição,
onde DC corresponde a densidade celular (células/mililitro) e cel corresponde
ao número de células contadas.
44
Os valores de densidade celular para cada tratamento foram
comparados através do período experimental de oito dias por uma Análise de
Variância (ANOVA), seguida por um teste de Tukey, a um nível de significância
de 95%. As transformações matemáticas, quando necessárias, e a ANOVA
foram feitas com o programa Statistica (StatSoft, Inc., 1998).
4.1.3. Manutenção da microalga
A manutenção do cultivo de microalgas foi feita em frascos de 10 (dez)
litros, mantidos em sala climatizada com temperatura de 20 ºC, com aeração e
intensidade luminosa constante (04 mpadas fluorescentes luz branca 36 W),
sem fotoperíodo, em condições o axênicas (figura 6). As cepas das algas
foram repicadas a cada 07 dias tendo sido utilizado o fertilizante inorgânico,
com concentrações de nitrogênio: fósforo: potássio de 12:6:6, em uma
proporção de 1/200.
Figura 6. Manutenção das cepas de microalgas, com luminosidade e aeração
constante.
45
Foram mantidas colônias fitoplanctônicas em crescimento das espécies
Chlamydomonas sp., originária do rio Mogi Guaçu e isolada em laboratório; e
Ankistrodesmus sp., gentilmente cedida pela Prof. Dra. Sonia Helena Sipauba,
do CAUNESP/UNESP, Jaboticabal, e cultivada segundo a metodologia
descrita.
4.2. Manutenção dos bivalves adultos em laboratório
4.2.1. Experimentos preliminares
Para desenvolver uma metodologia para a manutenção dos bivalves
adultos em laboratório foi utilizada a espécie Anodontites trapesialis, que habita
lagos e tanques em abundância, não ocasionando, desta forma, aumento da
pressão já existente sobre as espécies ameaçadas do gênero Diplodon.
Espécimes de A. trapesialis foram coletados na região marginal da lagoa
do Galo Bravo (21º07’06,9” S e 47º49’32,1” W), no município de Ribeirão Preto,
SP. Os espécimes foram acondicionados em uma caixa térmica, com água do
local suficiente para cobri-los, e transportados ao laboratório de Malacologia,
do Departamento de Biologia da FFCLRP-USP.
Os bivalves foram submetidos a dois tratamentos. Um grupo (N=50) foi
colocado em bolsas de nylon com 32x28 cm (abertura da malha de 10x3 mm),
com três animais cada. As bolsas foram mantidas suspensas em uma caixa de
fibro-cimento de 250 l com água da mina e aeração constante. Outro grupo
(N=50) foi colocado em outra caixa de fibro-cimento de 250 l, com uma camada
de 10 cm de sedimento (areia fina) (figura 7).
46
Figura 7. Esquema da unidade de manutenção, onde os espécimes de
Anodontites trapesialis foram mantidos suspensos e enterrados. Foto com
detalhe da bolsa de nylon com dois indivíduos
Diariamente foi oferecida uma dieta de microalgas (Chlamydomonas sp.)
ad libitum, e semanalmente era efetuada a troca total da água das caixas.
Mensalmente os animais foram retirados da água e pesados, em uma balança
eletrônica Gehaka BG 400, com precisão de 0.01 g.
Na análise estatística, a mortalidade dos dois grupos foi comparada pelo
teste qui-quadrado de Pearson. Para avaliar o crescimento, em peso, foi
utilizado um modelo ANOVA com medidas repetidas considerando dois fatores:
grupo com 2 níveis (enterrado e suspenso) e momento de avaliação com 5
níveis (inicial, 1º, 2º, e mês). As comparações entre grupos e intra-grupo
foram avaliadas por contrastes ortogonais. O nível de significância adotado foi
0,05. O programa estatístico utilizado foi o SAS, versão 9.0.
4.2.2. Manutenção dos bivalves coletados do gênero Diplodon
Os exemplares transportados para o laboratório que não liberaram
gloquídios, após cinco dias, foram suspensos em bolsas de nylon com 32x28
47
cm (abertura da malha de 10x3 mm), com dois animais cada, em intervalos de
15 cm entre as bolsas, a 50 cm do fundo da unidade de manutenção. A
unidade consiste de uma caixa de fibro-cimento de 250 litros, com um sistema
de fluxo contínuo de água (fluxo médio de 10,0 L/min), localizada em um
ambiente com temperatura constante (20 °C) e um ciclo de 12 horas claro e 12
horas escuro. Para promover a suspensão das algas fitoplanctônicas na coluna
de água foram usados dois difusores de ar de 5,0 cm.
Os bivalves foram alimentados com as algas verdes unicelulares
Chlamydomonas sp. e Ankistrodesmus sp. (na proporção 1:1), em uma
densidade de 400.000 lulas/ml, uma vez ao dia, e mensalmente a água foi
trocada e os animais limpos. A escolha em utilizar estas espécies de
microalgas foi devido a seu fácil manejo e crescimento rápido em nosso
laboratório. Além disso, ambas apresentam um tamanho apropriado para larvas
e adultos.
A água utilizada para o cultivo de fitoplâncton e para a unidade de
manutenção deriva de um sistema de minas do Campus da Universidade de
São Paulo em Ribeirão Preto.
4.3. Obtenção dos gloquídios
4.3.1. Liberação
Os animais, recém coletados e previamente aclimatados, foram
acondicionados, ainda individualmente, em um aquário de 50 l, com água da
mina e aeração constante, em temperatura ambiente de 20 ºC (figura 8).
Quando observada a eliminação das larvas os animais foram separados e os
gloquídios eliminados, envolvidos em muco, foram retirados com o auxílio de
48
uma pipeta, colocados em Becker de 100 ml para posterior utilização. Os
animais que liberaram as larvas foram preservados em álcool a 70 %, para
correta identificação e aqueles que não estavam grávidos, foram mantidos no
laboratório e posteriormente devolvidos ao local de coleta.
Figura 8. Acondicionamento dos animais recém coletados, individualmente,
para a observação da eliminação e coleta dos gloquídios.
4.3.2. Viabilidade dos gloquídios
A viabilidade dos gloquídios foi testada, utilizando-se uma solução de
cloreto de sódio em uma sub-amostra de gloquídios de cada tratamento
(Lefevre e Curtis, 1912). Os gloquídios quando viáveis ficam posicionados com
as valvas aberta, porém quando expostos a uma solução salina contraem o
músculo adutor fechando suas valvas. A partir da sub-amostra, uma contagem
inicial de 25 gloquídios foi feita. Após a adição da solução salina, e após 10-20
segundos, os 25 gloquídios foram recontados e o número de indivíduos abertos
e fechados anotados. Os animais que permaneceram abertos após a adição do
cloreto de sódio foram considerados como sendo funcionalmente mortos.
A sobrevivência dos gloquídios (vivo/morto) foi modelada por uma
análise de regressão logística, não sendo necessária nenhuma correlação, pois
novos gloquídios foram usados em cada amostragem (Zimmerman e Neves,
49
2002). Três plicas, em Becker de 100 ml, foram usadas para cada
temperatura e para cada tratamento dos gloquídios.
Os gloquídios de cada tratamento foram submetidos a diferentes
temperaturas: em uma incubadora a 18 °C, em uma sala com temperatura
controlada a 22 °C e em temperatura ambiente 25 ± 1 °C.
Os modos de exposição incluíram um tratamento com muco, no qual os
gloquídios foram utilizados diretamente após a liberação natural; e um
tratamento sem muco, que se refere àqueles gloquídios que foram expelidos e
depois processados para a retirada do muco.
Um dos processos utilizados foi a lavagem dos gloquídios recém
coletados, através de cuidadosas e repetidas trocas da água do Becker. Foram
utilizadas água da mina autoclavada, água destilada e água deionizada. Outro
processo foi realizar esta lavagem sobre uma rede de nylon com abertura de
malha de 50 µm. Como tratamento final, os gloquídios eram lavados com uma
solução de antibiótico e fungicida da Invitrogen
®
(Cod. prod. 15240-062).
4.3.3. Conquiliometria dos Gloquídios
Para a medição dos gloquídios, após a separação do muco através de
repetidas lavagens com água destilada, foram preparadas lâminas
permanentes segundo metodologia de Mansur e Campos-Velho (1990), que
consiste em eliminar os tecidos do gloquídio com oito gotas de hipoclorito de
sódio comercial 5 % NaOC para 10 ml de água destilada durante cinco minutos
após o que o material era lavado com trocas sucessivas de água destilada.
Após desidratar rapidamente por uma série de álcool etílico de 50 %,
60%, 70 %, 80 %, 90 % até 96 %, o material foi submetido a dois banhos de
50
álcool isopropílico, e finalmente as valvas foram pipetadas sobre laminas e
montadas com Entelan e cobertas com lamínulas.
Os gloquídios foram observados e fotografados. O procedimento de
captura de imagem foi realizado no Laboratório de Neurobiologia e Peçonhas,
do Prof. Dr. Wagner Ferreira dos Santos, utilizando-se um sistema constituído
por uma mera digital colorida da Leica (DFC300 FX) conectada a um
microscópio de (DM 5000 B, Leica Microsytems Alemanha) e a um
computador. O programa Q-Win (Leica Microsytems Alemanha) foi utilizado
para medir os gloquídios. As medidas foram feitas segundo Bonetto (1959b),
onde são traçados transectos sobre a imagem dos gloquídios a fim de medir o
comprimento maior, a altura, o comprimento da linha dorsal, o deslocamento da
ponta ventral em relação ao centro da linha dorsal, e o ângulo de obliqüidade.
Este último é a medida entre a reta que une a ponta ventral ao meio da linha
dorsal e a perpendicular que sai desta linha em direção a ponta ventral (figura
9). Utilizaram-se 40 gloquídios de cada fêmea desovada.
Figura 9. Conquiliometria da valva gloquidial. a, altura; , ângulo; b, borda; c,
comprimento; cld, comprimento da linha dorsal; dg, dente gloquidial; dpv,
deslocamento da ponta ventral; pv, ponta ventral. Modificado de Mansur e
Campos-Velho (1990).
51
4.4. Cultivo “in vivo” de gloquídios
Como os gloquídios são parasitas de peixes, experimentos de laboratório
foram realizados no sentido de encontrar hospedeiros potencialmente passiveis de
serem infestados pelas larvas das espécies dos bivalves coletados, do gênero
Diplodon. A maioria dos peixes foi coletada no rio Mogi Guu, município de Porto
Ferreira, o Paulo, Brasil. o elas: Astyanax altparanae, Gymnotos sp., Randia
queli, Hyphessobrycon eques, Cheirodon sp., Geophagus brasiliensis, Poecilia sp. e
Papiliochrommis ramirezi. Também foi utilizada a espécie exótica Oreochromis
niloticus. O tamanho dos exemplares de peixes variou entre 3 a 7 cm.
Os gloquídios liberados naturalmente foram removidos com uma pipeta
e lavados para a retirada do muco e outros resíduos.
A infestação artificial foi feita utilizando, quando possível, três peixes de
cada espécie. Para tal, foram colocados em contato com os peixes cerca de
200 gloquídios/peixe em aquários medindo (40,00 x 20,00 x 15,00 cm) com 10 l
de água de mina, devidamente arejado, em temperatura ambiente controlada
de 20, 22 e 24 ºC (figura 10). A cada dois dias o fundo do aquário era sifonado
para detectar a presença de juvenis, sendo feita a troca de 2/3 da água do
aquário, e os peixes eram alimentados com ração comercial.
Figura 10. Infestação artificial dos peixes, Astyanax altparanae, com gloquídios
do gênero Diplodon (cultivo in vivo).
52
4.5. Cultivo “in vitro” de gloquídios
4.5.1. meio cultura (M 199 + antibiótico/fungicida)
Para fazer 1 litro de solução de meio de cultura M 199, um pacote de M
199 em pó (Invitrogen
®
, Cod. prod. 31100-035) foi colocado em um Becker de 1
litro com água deionizada em um agitador. Foram adicionadas dois gramas de
NaHCO
3
e o pH do meio de cultura foi ajustado para 6,8, valor encontrado no
ponto de coleta dos bivalves, utilizando NaOH 1,25 M ou HCl 1 M (Keller e
Zam, 1990). Depois do pH ajustado, a solução foi filtrada, com filtro de celulose
de 0,45 e 0,22 µm, respectivamente. A solução é viável por semanas, desde
que mantida sob refrigeração (6-8 °C) e condições assépticas.
Nos experimentos da temporada de 2008, foi adicionada ao meio de
cultura, antes da filtragem, uma solução tampão de HEPES em uma
concentração de 5960 mg/l, pois sua utilização elimina a necessidade de uma
atmosfera enriquecida com CO
2
(Prof. Dra. Maria Cristina da Silva
Pranchevicius, comunicação pessoal). Porém, em 2009, após um intercambio
com pesquisadores norte americanos, o HEPES foi abolido da formulação, pois
segundo Lee e Mora (2005) e Owen et al. (2009) esta solução tamo tem um
efeito tóxico sobre os gloquídios.
Foi utilizada uma combinação de antibiótico e fungicida, para inibir a
contaminação dos cultivos, da Invitrogen®, listada na tabela 3. A solução foi
congelada em alíquotas de 2 ml, e somente a quantidade necessária era
descongelada na hora da sua utilização.
53
Tabela 3. Combinação de antibiótico e fungicida na formulação do produto da
Invitrogen (Cod. prod. 15240-062).
Composto Concentração
g/ml)
Antibióticos
Penicilina G (UI) 10000
Sulfato de estreptomicina 10000
Antimicóticos
Anfotericina B 25
4.5.2. Fonte protéica
4.5.2.1. Plasma de peixe
Foram testados plasmas de espécimes de peixes de ocorrência no local
de coleta dos bivalves e de espécies exóticas. As espécies Oreochromis sp.,
Colossoma sp. e Cyprinus sp. foram gentilmente cedidas pelo
CAUNESP/UNESP de Jaboticabal, através do Prof. Dr. João Batista
Kochenborger Fernandes. Os espécimes de ocorrência regional, Astyanax
altparanae, foram adquiridos em uma loja que comercializa iscas vivas.
Para obtenção do plasma, o sangue dos peixes foi retirado com auxílio
de uma seringa com agulha n
o
22 (0,70x25), da veia caudal, e colocado em
tubos, previamente lavados com heparina sódica (2000 UI). O sangue foi
transportado em caixas rmicas com gelo até o Laboratório de Biologia
Molecular de Plantas da Profa. Dra. Maria Helena de Souza Goldman, onde foi
centrifugado a 1000 rpm por 10 minutos, depois passado para outro tubo e
54
centrifugado novamente a 3000 rpm por 10 minutos. A porção do plasma foi
separada e filtrada em filtro de celulose de 0,45 e 0,22 µm, respectivamente,
sendo congelada para utilização posterior.
4.5.2.2. Extrato liofilizado de peixe
Foram macerados três espécimes de A. altparanae (tamanho médio de 5
cm). Posteriormente o material foi liofilizado a -40ºC, e guardado para uso
posterior em refrigerador (6-8 °C). Uma alíquota de 0,6 mg do material
liofilizado (0.3 % do extrato liofilizado de peixe após a filtragem) foi
ressuspendido em 1000 ml de água deionizada e agitada em vortex por 4
horas. A suspensão foi filtrada em filtro de celulose de 0,45 e 0,22 µm,
respectivamente, e guardada no refrigerador até seu uso.
4.5.2.3. Plasma bovino
O sangue de boi, oriundo do frigorífico Oranges (Município de
Sertãozinho, SP), foi colocado em frascos previamente lavados com uma
solução de heparina sódica. O sangue foi transportado em caixas térmicas com
gelo até o Laboratório de Biologia Molecular de Plantas da Profa. Dra. Maria
Helena de Souza Goldman, onde foi centrifugado a 3000 rpm por 10 minutos,
depois passado para outro tubo e centrifugado novamente a 4000 rpm por 10
minutos. A porção do plasma foi separada e filtrada em filtro de celulose de
0,45 e 0,22 µm, respectivamente, sendo congelada para utilização posterior.
4.5.3. Cultivo dos gloquídios
Os gloquídios foram separados do muco através de repetidas lavagens
com água destilada e sua viabilidade foi testada sob microscopia ótica (100x),
55
pela observação da abertura/fechamento das valvas. Cerca de 50-100
gloquídios foram colocados em placas de Petri (60 X 15 mm), sob condições
estéreis, com meio de cultivo constituído de solução M 199 (Sigma®), fonte
protéica e antibiótico/antimicótico, na proporção de 2:1:0,5.
As placas de Petri foram mantidas em incubadora (figura 11) com
temperatura controlada até a transformação em juvenis (observação da
distensão do para fora da concha é um indicador), com uma troca do meio
de cultivo a cada 06 dias, e adição de 1 ml de água destilada 24 horas antes da
metamorfose (Uthaiwan et al., 2002, 2003; Lima et al, 2006). Foram feitos
experimentos nas temperaturas de 18, 20 e 23 ºC.
Figura 11. Manutenção dos gloquídios, em incubadora, com o meio de cultura
artificial com M 199, fonte protéica e antibióticos/antimicóticos (cultivo in vitro).
Quando possível foi utilizado um arranjo completamente aleatório entre
os tratamentos e oito réplicas foram utilizadas. A análise dos dados foi feita
usando uma Análise de Variância (ANOVA), seguido por um teste de Tukey, a
um nível de significância de 95%. As transformações matemáticas, quando
necessárias, e a ANOVA foram feitas com o programa Statistica (StatSoft, Inc.,
1998).
56
4.6. Cultivo de juvenis
Após a metamorfose dos gloquídios, incubados por 18-22 dias, os
juvenis recém metamorfoseados foram removidos do meio de cultura, lavados
com uma mistura de água da mina autoclavada e M 199, e submetidos a
diversos tratamentos em placas de Petri (60x15 mm) e Beckers, de 150 ml,
com aeração (figura 12).
Figura 12. Cultivo de juvenis do gênero Diplodon. À esquerda em placas de
Petri, e à direita em Becker com aeração.
Os juvenis foram mantidos em água da mina autoclavada, sem receber
uma complementação alimentar; com adição de 15.000 células/ml da microalga
Chlamydomonas sp. em dias alternados; com uma camada de 1 mm de
sedimento arenoso fino (partículas < 125 µm); e em um último tratamento, com
o sedimento e alimento.
Em dias alternados, os juvenis eram observados em lupa
estereoscópica, os indivíduos mortos eram retirados e contados. A
porcentagem de sobrevivência dos juvenis foi transformada matematicamente
e os tratamentos foram comparados através de um test T.
57
4.6.1. Juvenis pós-metamórficos
Os juvenis recém metamorfoseados foram submetidos aos tratamentos,
citados acima, imediatamente após a metamorfose. O mero de indivíduos
em cada tratamento foi estipulado dividindo-se o número total de juvenis
metamorfoseados (cultivo in vivo e in vitro) pelo número de tratamentos.
Quando houve pouca disponibilidade de juvenis metamorfoseados, foi testado
apenas um tratamento (alimento ou sedimento, placa de Petri ou Becker) de
cada vez, com cada lote.
4.6.2. Juvenis com 5 dias
Nas liberações subseqüentes de gloquídios, foi mantido o tratamento
que apresentou a maior taxa de sobrevivência anterior e após cinco dias os
tratamentos foram repetidos (adição de alimento, presença de sedimento e tipo
de recipiente).
4.6.3. Juvenis com 15 dias
Idem item anterior, porém iniciando os tratamentos após 15 dias.
4.6.4. Juvenis com 30 dias ou mais
Os juvenis com 30 dias foram mantidos em Becker, de 150 ml, com 1
mm de sedimento arenoso, com aeração constante, fotoperíodo natural e
temperatura de 20 ºC. A cada dois dias foi feita a troca de 2/3 da água do
Becker, com a adição de microalga.
A concentração do alimento variou de 15.000 a 90.000 células/ml, conforme
os juvenis foram crescendo. A partir dos 60 dias acrescentou-se à dieta a escie
Ankistrodesmus sp., oferecida na proporção de 1:1 com a outra microalga.
58
RESULTADOS
1. Coleta
1.1. Caracterização do local de coleta
Na caracterização a nível federal, a bacia hidrográfica do rio Mogi Guaçu
pertence à Região Hidrográfica do Paraná que é constituída pela bacia
hidrográfica do rio Paraná, situada no território nacional. No Estado de São
Paulo, a bacia hidrográfica do rio Mogi Guaçu (UGRHI-09) localiza-se na região
nordeste do Estado. Essa UGRHI apresenta limites com as UGRHI’s:
Piracicaba/Capivari/Jundiaí; Tietê/Jacareí; Tietê/Batalha; Turvo/Grande; Baixo
Pardo/Grande; e Pardo (figura 13).
Figura 13. Localização da Bacia Hidrográfica do rio Mogi Guaçu. Fonte:
http://mapas.znc.com.br/sos_bacias_sp/index.php
A imagem não p ode ser exibida. Talvez o compu tador não tenha memória suficiente para abrir a imagem ou talvez ela esteja corrompida. Reinicie o c omputador e abra o arqu ivo novamente. Se ainda assim aparecer o x vermelho, poderá ser necessário excluir a imagem e inseri-la nov amente.
59
O rio Mogi Guaçu nasce no município de Bom Repouso (22°2815 S,
46 842 W), ao sul do Estado de Minas Gerais, Brasil, e sua bacia hidrográfica
possui uma área de drenagem total de 18938 km
2
(CORHI, 1999). Sua
nascente esta localizada no Monte Curvado, 1700 metros acima do mar. Seu
curso tem 473 km de extensão, percorrendo 95,5 km no Estado de Minas
Gerais, através de uma garganta na Serra da Mantiqueira, a uma altitude
média de 825 metros acima do mar. Para posteriormente percorrer mais 377,5
km no Estado de São Paulo, desaguando no rio Pardo, a 490 metros acima do
mar, no município de Pontal (21°122 S, 48°213 W). Seus principais afluentes
pela margem direita são os rios: Onça, Itupeva, Claro e Jaguari Mirim; pela
margem esquerda, os rios: Eleutério, do Peixe, do Roque, Bonito, Araras e
Mogi Mirim.
O compartimento com maior densidade de área de drenagem é o do rio
do Peixe, seguido do compartimento do rio Jaguari Mirim, ambos localizados
nas partes altas em áreas de relevo ondulado a forte ondulado do Planalto
Atlântico. A menor densidade de área de drenagem é justamente na área do
compartimento Baixo Mogi, região de relevo suave ondulado na sua maioria,
intensamente utilizado para a agricultura.
O ponto de coleta escolhido apresenta suas margens, em parte
preservadas, porém, em sua grande maioria bem degradada com a colocação
de pneus, canos de PVC de deságües clandestinos e lixo (figura 14).
60
Figura 14. Local onde foram realizadas as coletas (rio Mogi Guaçu, município
de Porto Ferreira, SP, 21º50’36,1” S e 47º29’44,5” W). As fotos A e B foram
tiradas na época de seca, e as fotos C e D em época de chuva.
1.2. Ação Antrópica na bacia Mogiana:
Chegada do Tupi-Guarani na Bacia Mogiana, entre os séculos XVI-XVII,
principalmente, na região de Cachoeira de Emas, onde permaneceu até por
volta de 1880.
O primeiro mapeamento do rio Mogi Guaçu data de 1766 e o documento
original se encontra no MZUSP, em São Paulo. O segundo mapeamento do
Mogi é do ano de 1773 e o documento original se encontra no Arquivo Histórico
Colonial, Torre do Tombo, Lisboa, Portugal.
A região de Pirassununga começou a ser povoada, pelos pioneiros
brancos, a partir de 1809. No inicio da ocupação, a região apresentava uma
cobertura vegetal de 2/3 de mata atlântica e 1/3 de campo cerrado. No ano de
61
1999, com cerca de 65000 habitantes na região, restaram apenas 1/3 da
cobertura vegetal original.
Desde o século XIX, o cultivo de café na região impulsionou as
derrubadas das matas nativas. Em 1878, ocorre a chegada da estrada de ferro
e com isso novas derrubadas de matas (para a lenha como combustível da
locomotiva, dormentes, assentamento dos trilhos, etc.),
A partir de 1883 e até 1917, em um trecho de 200 km, entre Porto
Ferreira e Pontal, na foz do Mogi Guaçu, começou a haver navegação fluvial.
Ao longo desse trecho foram construídos 15 portos fluviais, chegando a existir,
no auge da sua atividade, 11 vapores e 54 chatas para o transporte de
passageiros e de cargas de mercadorias.
Na atualidade, o rio Mogi Guaçu está caracterizado pela ausência de
atividade de indústria e mineração capaz de alterar a dinâmica
hidrossedimentológica. Porém sua mata ciliar se encontra comprometida com a
alocação irregular de ranchos (Neves, 2005).
1.3. Fatores abióticos
Os parâmetros abióticos medidos, condutividade, temperatura, oxigênio
dissolvido e turbidez, mostram uma variação bem marcada dependendo da
época do ano (anexo B). Sendo possível visualizar o período das cheias, de
novembro a março, não somente pelo aumento da vazão do rio (figura 15).
62
Figura 15. Representação gráfica da variação dos parâmetros abióticos entre
outubro/2007 a outubro/2008. Os valores referentes à vazão do rio
correspondem a uma média de 10 anos (1996 a 2006). Fonte: Neves, 2010.
1.4. Ocorrência do gênero Diplodon no rio Mogi Guaçu
Ihering (1893) descreveu a ocorrência de D. fontainianus, D. caipira e D.
paulista, em Piracicaba; e D. martensi no Estado de São Paulo, porém sem
precisar qual bacia hidrográfica. Também descreveu uma nova espécie, D.
greeffeanus, na localidade tipo de Campinas e Piracicaba. Simpson (1914)
descreveu D. trivialis para a região de Jaboticabal. Para a mesma localidade,
Ortmann (1921) descreveu uma nova espécie, D. mogymirim.
Ortmann (1921) estendeu a ocorrência de D. paulista e D. fontainianus
para as bacias hidrográficas do norte do Estado de São Paulo.
Bonetto (1959, 1961) estudando os escimes de Diplodon da mesma
bacia na região de Pirassununga, SP, encontrou as mesmas espécies citadas por
Ortmann (1921) e estendeu a distribuição de D. expansus (Küster, 1856) de
ocorrência no rio Conigo, Nova Friburgo (RJ), para a região de Pirassununga.
63
Chama a atenção também para a ocorrência de D. paulista e D. fontainianus,
descritos inicialmente para a rego de Piracicaba, na Cachoeira das Emas,
Pirassununga.
Parodiz (1973) relata a existência de uma grande abundância de D.
expansus na região de Piracicaba, Pirassununga, e o sul de Minas Gerais. E cita a
ocorrência de D. paulista no rio Mogi Mirim, um triburio do rio Mogi Guu.
O projeto BIOTA/FAPESP coletou, entre os anos de 2000 e 2002, várias
espécies da família Hyriidae no rio Mogi Guaçu. Entre as espécies do gênero
Diplodon foi citado a ocorrência de D. fontainianus, D. greeffeanus, D. rotundus
gratus e D. mogymirim.
2. Identificação dos bivalves coletados
Um total de 510 espécimes vivos pertencentes a duas famílias e oito
espécies (tabela 4) foi coletado do rio Mogi Guaçu, entre março de 2008 e
setembro 2009. A riqueza de espécies de cada família na região central da
bacia do Mogi Guaçu esta representada pelos Hyriidae (cinco espécies) e
Mycetopodidae (duas espécies).
Dentre as espécies coletadas foram identificados D. fontainianus, D.
expansus, D. rotundus gratus, D. martensi, Diplodon sp., C. undosa undosa, F.
fossiculifera, e A. trapezeus. Os caracteres conquiliológicos de cada espécie
são listados abaixo.
Diplodon expansus (Küster, 1856) (figura 16A)
Diagnóstico
: Concha elíptica, equivalve, com a margem anterior, normalmente,
arredondada a partir do final de uma lúnula muito curta até a margem ventral.
64
Valva esquerda com dentes pseudocardinais divididos em duas peças, a
anterior maior com a borda crenulada, e o posterior sendo um dente com uma
ponta aguda; e com dois dentes laterais paralelos e arqueados, dos quais o
inferior é mais largo. A valva direita apresenta seus dentes pseudocardinais
bifurcados em uma direção longitudinal obliqua. A cor do perióstraco é marrom,
mas torna-se bastante escura próxima às margens. Descrição de Kuster
(1856).
Diplodon fontainianus (Orbigny, 1835) (figura 16B)
Diagnóstico
: Concha ovalada a subtrapezoidal, quase circular, com o maior
diâmetro na porção mediana da concha. Linha dorsal fortemente curvada, linha
dorsal curvada ats do umbo. Valva esquerda com um ou dois pseudocardinais e
com dois dentes laterais curvos; valva direita com dois dentes pseudocardinais
alongados, o inferior sendo maior, e um dente lateral. Perióstraco castanho escuro
a preto, e superfície interna nacarada de cor branca azulada. Descrão de Avelar
e Cunha (2009)
Diplodon rotundus gratus (Lea, 1860) (figura 16C)
Diagnóstico: Concha subovalada, equivalve e eqüilateral, com as bordas dorsal
e posterior retas. Charneira com aparência frágil, com os dentes não tão
desenvolvidos, com um dente pseudocardinal e dois laterais na valva esquerda
e dois pseudocardinais e dois laterais na valva direita. Tamanho máximo de
4,50 cm. O perióstraco é de cor escura, marrom esverdeado. A superfície
interna é lisa e esbranquiçada, com certa iridiscência púrpura. Descrição de
Hebling e Penteado (1974).
65
Diplodon martensi (Ihering, 1893) (figura 16D)
Diagnóstico
: Concha em forma elíptica retangulóide, com região anterior curta
e levemente mais baixa que a posterior. Borda dorsal regularmente arqueada e
ventral reta ou levemente arqueada. Dentes pseudocardinais lamelares e
curtos, sendo o posterior levemente reforçado. Perióstraco castanho-escuro.
Descrição de Mansur et al. (1987).
Diplodon sp. (figura 16E)
Diagnóstico: Concha retangulóide, equivalve, com a região anterior
arredondada, e com o umbo posicionado no primeiro terço. Borda ventral reta,
com um bico na região posterior, e com um espessamento na região anterior.
Dentição robusta, a valva esquerda apresenta dois dentes laterais longos, e um
dente pseudocardinal, serrilhado no sentido oblíquo, que termina abruptamente
na cicatriz do músculo adutor anterior. A valva direita apresenta um dente
lateral e dois dentes pseudocardinais, sendo o mais dorsal pequeno e o mais
ventral bem desenvolvido. Perióstraco de coloração marrom dourado e
superfície interna nacarada, com manchas de cor amarela iridiscente.
Castalia undosa undosa (Martens, 1827) (figura 16F)
Diagnóstico: Concha subtriangular, equivalve e inequilateral, com uma carena
proeminente que é truncada na região posterior. Lúnula facilmente visível.
Charneira bem desenvolvida, com dois dentes cardinais em cada valva. O
dente cardinal anterior é maior que o posterior, com várias cúspides bem
desenvolvidas. A superfície interna e externa do dente cardinal da valva
66
esquerda é crenulada, enquanto que na valva direita as crenulações estão
presentes apenas na superfície interna. Na valva direita existe um dente lateral
com ambas as superfícies apresentando crenulações, e na valva esquerda
existe um lado de igual tamanho cuja superfície interna é crenulada. Descrição
de Avelar e Santos (1991).
Anodontites trapezeus (Spix, 1827) (figura 16G)
Diagnóstico
: Concha subcircular, equivalve e eqüilateral, com as bordas dorsal
e traseira quase reta. Duas costelas não proeminentes partem do umbo em
direção a região posterior, das quais a mais dorsal termina na região do
diafragma, entre as duas aberturas. As valvas são infladas, tocando-se ao
longo de toda borda externa, e a junção não apresenta dentes. O umbo é
distendido, partindo de acima da linha de junção. Descrição de Hebling (1976).
Fossula fossiculifera (Orbigny, 1835) (figura 16H)
Diagnóstico: Concha com contorno subcircular, equivalve e inequilateral, com
uma borda posterior alada partindo acima do umbo. Duas costelas levemente
marcadas se originam no umbo e estendem-se até a região ventral, sendo que
a posicionada mais dorsalmente termina na região do diafragma. Charneira
bem desenvolvida, com um dente pseudocardinal na valva esquerda e dois
dentes pseudocardinais na valva direita. Cavidade umbonal rasa. Descrição de
Avelar (1993).
67
Figura 16. Espécies coletadas no rio Mogi Guaçu, Porto Ferreira, SP
(21º50’36,1” S e 47º29’44,5” W). A, Diplodon expansus; B, Diplodon
fontainianus; C, Diplodon rotundus gratus; D, Diplodon martensi; E, Diplodon
sp.; F, Castalia undosa undosa; G, Anodontites trapezeus; H, Fossula
fossiculifera. Escala = 1 cm.
68
Tabela 4. Bivalves límnicos nativos coletados do rio Mogi Guaçu, município de
Porto Ferreira, São Paulo, Brasil, entre março/2008 e setembro/2009.
Ordem Familia Espécie Quantidade
Unionoida Hyriidae Diplodon expansus 129
Diplodon martensi 5
Diplodon fontainianus 27
Diplodon rotundus gratus 13
Diplodon sp 2
Castalia undosa undosa 286
Mycetopodidae
Anodontites trapezeus 27
Fossula fossiculifera 21
Deve ser citado que em algumas regiões da área de estudo Corbicula
fluminea, uma espécie exótica, representou quase 90 % dos bivalves
coletados. Apesar disso, a estrutura da comunidade nativa pode ser descrita
como 90,6 % pertencendo a família Hyriidae, principalmente C. undosa undosa
(61,9 %) e D. expansus (27,9 %). Entre os Mycetopodidae coletados foi
encontrado um equilíbrio numérico entre as espécies.
Em nossas coletas foi observado que os representantes da espécie D.
expansus, apresentavam uma grande plasticidade da concha, sendo possível
diferenciar dois grupos, com suas formas intermediárias (figura 17).
69
Figura 17. Foto da variação das conchas de D. expansus, coletadas no rio
Mogi Guaçu, município de Porto Ferreira, São Paulo.
Para a identificação utilizamos tanto caracteres conquiliológicos como
anatômicos.
Os caracteres conquiliológicos que definiram um grupo foram:
Concha é equivalve, inequilateral, com a margem dorsal reta, sendo
ovalada na região anterior e subquadrada na região posterior, apresentando
um ligamento anfidélico forte. Valvas achatadas (platicúrticas). Umbo localizado
no primeiro terço da região anterior, sendo pouco proeminente e com o
perióstraco desgastado. Com uma nula estreita, sendo que em exemplares
maiores a lúnula é mais larga. Perióstraco com coloração castanho-
amarronzada, com tons que variam do marrom tendendo ao preto, conforme as
conchas apresentam um maior tamanho. A superfície interna é lisa,
esbranquiçada. Linha palial bem marcada, com início na região posteroventral
do músculo adutor posterior e terminando na região ventral do músculo adutor
anterior.
70
Partindo do umbo em direção posterior até a margem da concha existe
um sulco pouco acentuado que se alarga até a região da abertura anal.
Apresenta uma costela a partir do lado posterior do umbo até a margem da
concha na região do diafragma. E uma segunda ornamentação, mais sutil,
superior à primeira até região mediana da concha. Linhas de crescimento
concêntricas ao umbo, terminando em uma linha reta na região anterior.
Charneira curta, delicada, posterior ao umbo, do tipo esquizodonte.
Comprimento do ligamento vai desde o istmo ligamental, anteriormente, até o
fim do dente pseudocardinal.
A valva esquerda apresenta um dente pseudocardinal lamelar, estriado
obliquamente em direção anterior, tanto externa como internamente. Segundo
dente pseudocardinal subdesenvolvido, com vários dentículos na borda. Porém
nunca sobrepassando a metade do primeiro dente pseudocardinal, mais dorsal.
E dois dentes laterais lamelares. A superfície interna do dente lateral ventral
lisa, e a superfície voltada para a região interdentum estriada. Dente lateral
dorsal com superfície interna e externa lisa, menor que o dente lateral ventral.
A valva direita apresenta dois dentes pseudocardinais. Um dorsal, de
estrutura lamelar, estriado obliquamente em direção anterior, com sua
superfície externa lisa, e com pequenas crenulações na borda. E um ventral
também é estriado obliquamente em direção anterior, com a superfície externa
lisa e com borda crenulada, sendo este dente mais espesso que o dente
pseudocardinal dorsal. O dente lateral inicia-se no umbo posteriormente e vai
até a região dorsal do músculo adutor posterior, sendo levemente estriado na
porção superior terminal, com a superfície externa lisa e a superfície interna
rugosa na porção terminal (borda do dente).
71
Figura 18. Detalhes dos dentes pseudocardinais das valvas do grupo 1 de
Diplodon expansus. À esquerda o dente pseudocardinal da valva esquerda, e a
direita o dente pseudocardinal valva direita.
E o segundo grupo foi definido pelos exemplares com:
A concha equivalve, inequilateral, com região anterior arredondada e
região posterior subquadrada, apresentando um ligamento anfidélico forte.
Região dorsal praticamente reta e com a região posterior mais larga que a
anterior. Valvas um pouco infladas, com região umbonal o muito elevada,
normalmente erodida. Lúnula, nem sempre observada. Perióstraco castanho
escuro e camada nacarada lisa, esbranquiçada, com raios azulados. Concha
espessa. Na superfície externa das valvas existe um sulco iniciando no umbo
em direção a região posteroventral, terminando próximo da região das
aberturas inalantes e exalantes, as linhas de crescimento são concêntricas
bem marcadas.
Valva esquerda com um dente pseudocardinal com estriações, mais
grosseiras na face interna, e um segundo dente pseudocardinal quase vestigial.
Início do dente pseudocardinal logo após o umbo, terminando acima do
72
músculo adutor anterior. Apresenta dois dentes laterais lamelares. O dente
lateral interno, externamente é liso e internamente estriado apenas na região
terminal. O dente lateral exterior é liso tanto externo como internamente. O
dente lateral interno é levemente maior que o externo, deixando aparecer
apenas a porção terminal evidenciando suas estrias, ele é mais comprido,
porém com a mesma altura do dente externo.
Valva direita com dois dentes pseudocardinais e um dente lateral. O
dente pseudocardinal dorsal é curto e robusto, com estriações em ambas as
faces. O ventral é lamelar, estriado obliquamente em direção anterior, na face
voltada para interdentum, a outra face é lisa.
Figura 19. Detalhes dos dentes pseudocardinais das valvas do grupo 2 de
Diplodon expansus. À esquerda o dente pseudocardinal da valva esquerda, e a
direita o dente pseudocardinal valva direita.
Quando foram utilizados os caracteres anatômicos e comparados com
aqueles conquiliológicos foi possível identificar um terceiro grupo.
73
Figura 20. Características anatômicas dos três grupos de Diplodon expansus.
Anatomia grupo 1:
Abertura exalante em forma de fenda, com sua porção acima fechada.
Abertura exalante tão comprida quanto à inalante, separada dela por uma
conexão do manto sólida. Abertura inalante com papilas distintas. Palpo
moderado, subtriangular, margem posterior conectada por cerca de um terço
do seu comprimento.
Demibrânquia interna subtrapezoidal, mais alta e mais larga que a
externa, com sua porção anterior conectada ao palpo e com sua margem
ventral arredondada. Demibrânquia externa subtriangular, com ocupando 4/6
da interna. Porção posterior mais alongada que a demibrânquia interna e
região anterior bem afilada, deixando a demibrânquia interna totalmente
exposta. Lamela interna da brânquia interna totalmente conectada com o saco
abdominal.
74
Anatomia grupo 2:
Manto delgado, bem pigmentado na borda, salmão alaranjado,
pigmentação mais evidente na região das aberturas. A borda da região das
aberturas é cor marrom escuro tendendo a preto, e a borda do manto é mais
grossa que o meio. Abertura inalante inteira aberta, com pequenas papilas,
abertura exalante separada da inalante por um diafragma forte, de cor preta.
Palpo arredondado na região anterior e um pouco afilado na região
posterior, pigmentação laranja bem forte. A parte externa palpo apresenta
pregas na borda desde a região anterior até a região posterior, a parte mais
dorsal do palpo não apresenta pregas, apenas a parte ventral pregueada. A
parte interna do palpo inteira pregueada, não apenas na borda. As pregas da
parte interna do palpo vão desde a abertura da boca até a borda posterior do
palpo. A pigmentação e do lado externo do palpo, a borda dorsal do palpo é um
pouco mais espessa que a borda ventral do palpo.
Demibrânquia interna e externa com formato subtrapezoidal, ambas
apresentam a margem ventral reta. Demibrânquia externa levemente menor na
região anterior, porém com a mesma altura na região posterior, cobrindo
totalmente a interna.
Anatomia grupo 3:
Manto delgado, não muito pigmentado, com um espessamento na borda.
Abertura inalante e exalante de tamanho similar, porém a inalante apresenta
uma série de papilas na região próxima ao diafragma. Pé de coloração escura.
Palpo subtriangular com pregas na borda, mais compridos que largos.
Demibrânquia interna e externa subtriangular, com a mesma altura.
75
Demibrânquia externa um pouco maior na região posterior, apresentando uma
espécie de franjeado em sua porção posteroventral.
Convencionou-se, então, denominar os exemplares como D. expansus
var. 1, D. expansus var. 2 e D. expansus var. 3, para fins de identificação para
os experimentos de propagação.
3. Propagação de bivalves em laboratório
3.1. Isolamento, cultivo e manutenção de microalgas
Dentre as rias espécies de algas coletadas a espécie mais
representativa e que teve um desenvolvimento mais acentuado no laboratório
foi Chlamydomonas sp. (figura 21). Sendo bem aceita pelos bivalves, e com
uma maior resistência às contaminações bacterianas e/ou por protozoários nas
culturas, portanto sendo selecionada para a produção massiva.
Figura 21. Espécie de microalga isolada do rio Mogi Guaçu e cultivada em
larga escala no laboratório (Chlamydomonas sp.).
O meio de cultura com fertilizante inorgânico na concentração de 20/200
alcançou sua maior densidade celular no quarto dia, enquanto que todos os
outros tratamentos apresentaram o pico populacional entre o sétimo e oitavo
dia (p < 0,05) (figura 22).
As densidades celulares mais elevadas foram observadas em cultivos
com fertilizante inorgânico (na proporção 1/200 e 5/200) e esterco de vaca,
76
com valores de 1230, 1170 e 1380 x 10
4
células/ml, respectivamente, não
apresentando diferença significativa entre eles (p < 0,05).
As outras concentrações, 0,5/200, 10/200 e 20/200, permitiram que a
densidade populacional dos cultivos alcançasse valores menores, de 710, 420
e 239 x 10
4
células/ml, respectivamente.
Figura 22. Crescimento da densidade populacional de Chlamydomonas sp.
cultivada em diferentes meios de cultivo.
Tanto o meio de cultivo como os procedimentos empregados na
produção de microalgas propiciaram uma produção de 500 litros mensais de
alimento.
BRANCO
ESTERCO
SV1
SV2
SV3
SV4
SV5
TEMPO
Densidade celular (10
4
cels/ml)
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
1 2 3 4 5 6 7 8
77
3.2. Manutenção dos bivalves adultos em laboratório
3.2.1. Experimentos preliminares
O grupo dos animais mantidos suspensos apresentou uma maior
sobrevivência em relação aos enterrados (p < 0,05), com a morte de apenas
dois animais (4%) no período de 120 dias. Os bivalves enterrados terminaram o
período experimental com 22% de mortalidade (11 animais).
Apesar da alocação aleatória, os animais enterrados eram, em média,
mais pesados que os suspensos desde o início do período de observação
(diferença média de 26,8 g, I.C. (95%) = [11,5; 42,1], p = 0,0005).
No modelo ANOVA, o efeito de interação foi significante (p < 0,001)
indicando que o crescimento dos animais é diferente nos dois grupos. No grupo
de animais suspensos, houve uma perda de peso no 1
o
mês (p < 0,001) e a
partir disso o ganho de peso foi gradativo com todas as diferenças
estatisticamente significantes (p < 0,001). No grupo de enterrados, houve uma
perda de peso significante no 1
o
e no 2
o
mês (p < 0,001), no entanto não houve
diferença entre o 2
o
e 3
o
mês (p=0,1226), nem entre o 3
o
e 4
o
mês (p=0,6963).
Em todos os momentos de avaliação, a média de peso no grupo enterrado foi
maior que no grupo suspenso (p < 0,01) (tabela 5).
78
Tabela 5. Peso, em gramas (médias e desvios padrão), dos espécimes de
Anodontites trapesialis mantidos enterrados e suspensos.
Momento de avaliação
Inicial mês mês 3º mês 4º mês
Enterrado
140,1
(44,3)
138,5
(44,4)
133,4
(41,0)
136,2
(41,2)
134,2
(40,5)
Suspenso
113,3
(31,8)
111,6
(31,9)
113,5
(32,2)
114,4
(32,1)
115,7
(31,8)
Em resumo, em ambos os grupos uma perda de peso no 1
o
mês. Os
animais suspensos conseguem recuperar o peso gradativamente enquanto que
os animais enterrados, além da perda ser maior, o peso se mantém baixo
(inferior ao peso inicial).
Em valores percentuais, comparando os pesos medidos no início e no
final do período de observação, foi observado um ganho médio de 2,1% no
grupo suspenso e uma perda média de 1,4% no grupo enterrado.
3.2.2. Manutenção dos bivalves coletados
Tanto a metodologia empregada como a dieta propiciada pelas espécies
de microalga cultivadas se mostrou eficiente para a manutenção dos
exemplares dos bivalves, mantidos em laboratório. O peso dos animais se
manteve constante durante o período em foram alimentados com a dieta
oferecida (Chlamydomonas sp. e Ankistrodesmus sp.). Foi possível manter C.
undosa undosa, D. rotundus gratus, D. expansus, D. fontainianus, D. martensi,
F. fossiculifera e A. trapezeus, com uma mortalidade inferior a 5%.
79
Foi observado que a escie C. undosa undosa apresentava uma maior
sobrevivência com um fluxo mais constante de água, enquanto que as espécies,
pertencentes à família Mycetopodidae, F. fossiculifera e A. trapezeus, o
apresentaram uma diferença na sobrevivência em condições de água parada.
3.3. Obtenção dos gloquídio
3.3.1. Liberação de gloquídios
Dos indivíduos coletados da espécie D. fontainianus apenas 12 animais
(44,44%) liberaram gloquídios (figura 23A) em laboratório, sendo que o maior
número de liberações foi registrado com animais coletados em agosto (tabela
6).
Dois exemplares de D. martensi (40%) liberaram seus gloquídios (figura
23B), naturalmente, em setembro (tabela 6).
A liberação dos gloquídios de 46,15% dos espécimes coletados de
D. rotundus gratus (figura 23C), ocorreu entre junho e julho (tabela 6).
Como identificação das variedades de D. expansus foi possível
apenas através da observação da anatomia interna, faz-se difícil precisar a
porcentagem de indivíduos que liberaram seus gloqdios no laborario.
Sendo possível apenas apresentar o número absoluto dos animais que
liberaram gloqdios, foi observado que 7, 14 e 8 exemplares de D.
expansus var. 1, 2 e 3 liberam seus gloquídios (figura 23D) entre julho a
setembro (tabela 6).
80
Figura 23. Gloquídios das espécies do gênero Diplodon que foram liberados
em laboratório. Legenda: A, Diplodon fontainianus; B, Diplodon martensi; C,
Diplodon rotundus gratus; D, Diplodon expansus var. 1; E, Diplodon expansus
var. 2; F, Diplodon expansus var. 3. Escala = 100 µ.
A liberação de 26,57% dos indivíduos de C. undosa undosa coletados
ocorreu entre os meses de outubro e novembro (tabela 7).
As espécies de Diplodon cujos gloquídios estavam aptos a serem
liberados ou em via de liberação dos marsúpios, iniciaram a eliminação entre
12 e 48 horas depois de acondicionados em laboratório. A maneira pela qual as
espécies liberam os gloquídios mostrou comportamento diferente; D. rotundus
gratus a liberação é contínua e ocorre através da abertura exalante em forma
de fita mucosa com duração de cerca de 10 a 12 horas. Em D. expansus a
liberação ocorre, também via abertura exalante, em pulsos regulares que
duraram mais de 24 horas.
81
Tabela 6. Espécies coletadas no rio Mogi Guaçu, no município de Porto
Ferreira (21º50’36,10” S e 47º29’44,5” W) e número de indivíduos que
desovaram no laboratório.
espécie coletados
desovados
D. expansus var. 1
129
7
D. expansus var. 2 14
D. expansus var. 3 8
D. fontainianus 27 12
D. martensi 5 2
D. rotundus gratus 13 6
C. undosa undosa 286 76
A. trapezeus 27 3
F. fossiculifera 21 10
3.3.2. Viabilidade dos gloquídios
A viabilidade dos gloquídios, de D. expansus var. 2 e D. rotundus gratus,
ao longo do tempo foi similar e consistente. Para a comparação dos
tratamentos e espécies, foi selecionado como umbral inferior o valor de 75 %
de viabilidade. Apesar de arbitrário, valores inferiores, segundo Zimmerman e
Neves (2002), negariam qualquer benefício quando comparado com a
viabilidade in situ dos gloquídios. Em todos os casos, os tratamentos
submetidos a temperaturas mais baixas resultaram em uma maior
sobrevivência que àqueles submetidos a temperaturas mais elevadas (tabela 7
e 8).
82
Os tratamentos com água destilada e deionizada não apresentaram
diferenças significativas (p < 0,05) entre as temperaturas testadas com D.
expansus (tabela 7). nos experimentos com D. rotundus gratus apenas na
temperatura de 18 ºC a utilização de água deionizada proporcionou uma maior
viabilidade das larvas (p < 0,05) (tabela 9).
A utilização de uma solução de antibiótico/fungicida, após o processo de
lavagem fez com que a viabilidade dos gloquídios perdurasse por um maior
período de tempo. E que tal lavagem prévia dos gloquídios impedia a
ocorrência de fungos durante o período de incubação, aumentando desta forma
a sobrevivência das larvas.
Aqueles gloquídios que não sofreram nenhum tipo de processo (com
muco) apresentaram uma baixa viabilidade decorrente de uma forte
contaminação bacteriana logo nas primeiras 24 horas. Outro tratamento que se
mostrou ineficaz foi a utilização de uma tela de 50 µm, que ocasionou a
mortalidade total dos gloquídios, provavelmente devido ao choque mecânico
que as larvas sofreram durante a processo.
83
Tabela 7. Número de horas que a viabilidade dos gloquídios de D. expansus
var. 2 permaneceu acima de 75 %. Períodos dentro de uma linha seguidos por
letras diferentes foram significativamente diferentes (p < 0,05).
Temperaturas (°C)
Tratamento dos gloquídios 18 22 24
Com muco 32
a
28
a
26
a
Água da mina autoclavada 148
a
96
b
72
b
Água destilada 175
a
132
b
108
c
Água deionizada 178
a
140
b
108
c
Tela 50 µm 48
a
44
a
44
a
Solução antibiótico/antimicótico 196
a
175
b
157
c
Tabela 8. Número de horas que a viabilidade dos gloquídios de D. rotundus
gratus permaneceu acima de 75 %. Períodos dentro de uma linha seguidos por
letras diferentes foram significativamente diferentes (p < 0,05).
Temperaturas (°C)
Tratamento dos gloquídios 18 22 24
Com muco 32
a
28
a
26
a
Água da mina autoclavada 122
a
96
a
64
c
Água destilada 158
a
128
b
100
c
Água deionizada 164
a
130
b
104
c
Tela 50 µm 52
a
48
a
44
a
Solução antibiótico/antimicótico 187
a
146
b
122
b
84
3.3.3. Conquiliometria dos Gloquídios
O gloquídio de D. rotundus gratus apresentou as maiores médias das
medidas tomadas, com exceção do ângulo de obliqüidade, com valores de
comprimento de 294,2 µm, altura de 240,35 µm, comprimento da linha dorsal
de 215,35 µm, deslocamento da ponta ventral de 38,47 µm e um ângulo de
obliqüidade de 16°. Os gloquídios de D. expansus var.1 e var.2 apresentaram
valores médios de comprimento de 279,72 µm e 276,46 µm, de altura de
224,76 µm e 226,6 µm, do comprimento da linha dorsal de 192,55 µm e 193,3
µm, do deslocamento da ponta ventral de 26,55 µm e 18,3 µm, e do ângulo de
obliqüidade de 18,41° e 18,5°, respectivamente (tabela 9).
85
Tabela 9. Morfometria das conchas dos gloquídios de D. expansus var. 1, D.
expansus var. 2 e D. rotundus gratus.
Diplodon expansus var. 1
n = 40 variação moda média
desvio
padrão
cv %
Comprimento
263,3 - 300 273,3 279,72 1,65 0,5898
Altura
206,6 – 253,3 226,6 224,76 3,3 1,4682
CDC
140 - 220 193,3 192,55 13,35 6,9333
DPV
6,6 – 66,6 13,3 26,55 13,35 50,2872
A°
12 – 23,5 17 18,41 2,5 13,5777
Diplodon expansus var. 2
n = 40 variação moda média
desvio
padrão
cv %
Comprimento
260 – 293,3 280 276,46 7,56 2,7359
Altura
210 – 246,6 226,6 226,6 0 0
CDC
180 – 213,3 200 193,3 6,7 3,4661
DPV
6,6- 60 26,6 18,3 1,7 9,2896
A°
10 - 23 18 18,5 2,96 16,0161
Diplodon rotundus gratus
n = 40 variação moda média
desvio
padrão
cv %
Comprimento
276,9 – 311,5 290,4 294,83 16,91 5,7367
Altura
226,9 – 253,8 238,5 243,07 3,07 1,2650
CDC
176,9 – 253,8 207,7 219,24 3,86 1,7606
DPV
15,4 – 61,54 30,8 42,31 11,54 27,2749
A°
12 - 20 15 16,25 2,85 12,9161
Legenda: CDC, comprimento dorsal da concha; DPV, deslocamento do ponto
ventral; A°, ângulo de obliqüidade; cv, coeficiente de variação.
86
3.4. Cultivo “in vivo” de gloquídios
Entre as espécies coletadas de peixes, no rio Mogi Guaçu, Geophagus
brasiliensis, Hyphessobrycon eques, Cheirodon sp. e Papiliochrommis ramirezi
não se mostraram como hospedeiras para as iades das espécies de D.
rotundus gratus, D. expansus var. 1, D. expansus var. 2 e D. martensi, que,
independentemente da temperatura utilizada, não apresentaram nenhum
gloquídio aderido ao corpo. O mesmo ocorrendo com a espécie exótica
Oreochromis niloticus.
Já as espécies Gymnotos sp. e Randia queli, quando expostas aos
gloquídios de D. expansus var. 2 na temperatura de 24 ºC, apresentaram os
cistos 24 horas após a infestação artificial. Os gloquídios se aderiram à
nadadeira caudal e aos barbilhões de Gymnotos sp. e Randia queli,
respectivamente. A primeira espécie citada, após cinco dias, com os cistos
rasgou sua própria nadadeira, eliminando os gloquídios. a segunda espécie
apresentou algum tipo de resposta imunológica e os gloquídios se soltaram dos
barbilhões após quatro dias.
As espécies que se apresentaram como hospedeiras em potencial para
as espécies do gênero Diplodon coletadas e testadas foram Astianax
altparanae e Poecilia sp. Esta última por apresentar tamanho muito reduzido
(1-2,5 cm) não suportou o desenvolvimento das larvas até a metamorfose,
vindo a perecer após 7-10 dias.
A porcentagem de gloquídios metamorfoseados das diferentes espécies
testadas e o tempo de incubação das mesmas, quando postas em contato com
A. altparanae, pode ser visualizada na tabela 10.
87
Tabela 10. Duração do período de infestação e porcentagem de metamorfose,
em Astyanax altparanae, de acordo com a espécie de bivalve e de temperatura
do experimento.
Espécie
bivalve
Temperatura
(ºC)
Período
infestação (dias)
Metamorfose
(%)
D. rotundus gratus
20 15 5,3
22 13 3,6
D. expansus var. 1
22 12 1,2
24 9 0,8
D. expansus var. 2
20 15 1,8
24 10 1,0
D. martensi 20 18 2,4
3.5. Cultivo “in vitro” de gloquídios
3.5.1. Meio de cultura (M 199 + antibiótico/fungicida)
Os gloquídios que foram cultivados com o meio de cultura que
apresentava a solução tampão HEPES tiveram uma morte súbita durante seu
desenvolvimento (resultados nas tabelas referentes ao cultivo de gloquídio,
subitem 3.5.3.), independentemente da espécie, temperatura ou fonte protéica
utilizada. Com a retirada da solução supra mencionada, foi obtido êxito no
cultivo in vitro dos bivalves límnicos do gênero Diplodon.
A utilização da combinação antibiótico/fungicida não impediu a formação
de colônias de fungos e o aparecimento de protozoários nas culturas, mesmo
quando foi utilizado apenas o meio, sem a inclusão do plasma de peixe (figura
24).
88
Figura 24. Fotos das culturas de gloqdios contaminadas. A, incubão apenas
com meio de cultura; B, incubão com meio de cultura e plasma de peixe.
3.5.2. Fonte protéica
3.5.2.1. Plasma de peixe
A extração de sangue a partir da veia caudal foi satisfatória, já que foi
possível obter sangue de espécies de grande e pequeno porte (ex, Colossoma
sp. e A. altparanae, respectivamente) e ao mesmo tempo manter os peixes
vivos para utilizá-los novamente. Foi obtida uma média de 7 ml de sangue/kg
de peixe. A porcentagem de plasma, após a centrifugação do sangue, variou
entre 65 a 30 %, dependendo da espécie utilizada.
3.5.2.2. Extrato liofilizado de peixe
A preparação do extrato liofilizado de peixe é extremamente simples,
sendo que a manutenção/conservação deste extrato é bem menos trabalhosa
quando comparado com o preparo e conservação do plasma de peixe.
3.5.2.3. Plasma bovino
A obtenção do sangue bovino foi feita pelos funcionários do frigorífico e
as condições de assepsia não foram controladas. Após a obtenção do plasma,
este se mostrou viável (em contaminação ou coagulação) por um período muito
curto, de 15 dias, mesmo estando congelado.
89
3.5.3. Cultivo dos gloquídios
Os gloquídios incubados tanto a 24 ºC como a 20 ºC apresentaram uma
forte contaminação bacteriana, com mortalidade total no quarto dia de cultivo.
com a incubação dos gloquídios feita a 18 ºC foi possível cultivá-los até a
metamorfose.
A utilização do plasma de Colossoma sp., Oreochromis sp. e Cyprinus
sp., como fonte protéica para o meio de cultura, permitiu que os gloquídios de
D. fontainianus e D. expansus var. 2 se desenvolvessem até no máximo seis
dias, ocorrendo a mortalidade total após este período (tabela 11). Quando foi
utilizado o plasma de A. altparanae, extrato liofilizado de A. altparanae e
plasma bovino, como fonte protéica, os gloquídios de Diplodon martensi, D.
rotundus gratus e D. expansus var. 2 se desenvolveram até a metamorfose
(tabela 12). Com a utilização do extrato liofilizado de A. altparanae, para o
cultivo de D. rotundus gratus a taxa de sobrevivência e metamorfose foi,
respectivamente, de 40 % e 20 %. Para D. expansus var. 2 a taxa de
sobrevivência foi de 50 % com 15 % de indivíduos metamorfoseados.
Nos gloquídios de D. rotundus gratus e D. expansus var. 2 percebeu-se
uma extrusão celular a partir do dia 12, a qual permaneceu até o dia 20, sendo
posteriormente substituída pelo aparecimento do manto. nos gloquídios
aderidos ao peixe hospedeiro foi verificada que também ocorria uma extrusão
celular, porém apenas 1-2 dias após a metamorfose. O aparecimento dos arcos
branquiais foi notado nos gloquídios cultivados in vitro no dia 19-21. E os
gloquídios apresentaram um pé ciliado no dia 22 do cultivo, indicando a
metamorfose para a fase juvenil.
90
TABELA 11. Tempo de sobrevivência dos gloquídios de Diplodon fontainianus
e D. expansus var. 2 incubados a 18 ºC com plasma de diferentes espécies de
peixe como fontes protéicas na composição do meio de cultura.
D. fontainianus
D. expansus
var. 2
Plasma da
espécie
tempo de
sobrevivência
(horas)
tempo de
sobrevivência
(horas)
Colossoma sp.
36 36
Oreochromis sp.
144 120
Cyprinus sp.
144 120
A. altparanae nt 528
Legenda: nt, não testado.
TABELA 12. Porcentagem de sobrevincia (e porcentagem de metamorfose) dos
gloqdios de Diplodon rotundus gratus, D. expansus var. 2 e D. martensi incubados
a 18 ºC com diferentes fontes protéicas na composão do meio de cultura.
Fonte protéica
D. rotundus
gratus
D. expansus
var. 2
D. martensi
Plasma bovino
1 (0,1) 1 (0,08) nt
Extrato liofilizado
40 (20) 50 (15) 40 (35)
Plasma A. altparanae
nt 50 (5) nt
Legenda: nt, não testado.
91
3.6. Cultivo de juvenis
As espécies cultivadas, D. rotundus gratus, D. expansus var. 1 e var. 2, e D.
martensi, apresentaram o mesmo comportamento durante seu crescimento,
permitindo, desta forma, criar um protocolo para o cultivo de juvenis do nero
Diplodon. Foi verificada a necessidade de utilizar diferentes sistemas de cultivo para
cada etapa do desenvolvimento, e este foi dividido em cultivo de juvenis pós-
metamórficos, juvenis com cinco dias, juvenis com 15 dias, e juvenis com mais de
30 dias. As tabelas com os resultados da sobrevincia dos juvenis submetidos aos
diversos tratamentos foram elaboradas com as médias de sobrevivência das
diferentes espécies testadas.
3.6.1. Juvenis pós-metamórficos (figura 25)
Os juvenis pós-metamórficos que foram mantidos nas placas de Petri
apresentaram uma melhor sobrevivência quando comparados com aqueles
mantidos nos Beckers (tabela 13). Quando comparados os tipos de
tratamentos aos quais os gloquídios foram submetidos, os melhores resultados
foram obtidos nos tratamento sem adição de alimento, independente do
recipiente utilizado. Já aqueles gloquídios que foram colocados em contato
com o sedimento apresentaram uma mortalidade significativamente maior.
92
Tabela 13. Sobrevivência dos juvenis s-metamórficos do nero Diplodon. Os
valores de sobrevivência representam uma média entre as escies testadas.
placa de
Petri
Becker
DIA
SAL
MIC
SED
MIC+SED
SAL
MIC
SED
MIC+SED
0
20 20 15 15
15 15 15 15
2
19 10 10 5
13 7 10 7
4
19 10 7 0
12 5 4 0
6
15 0 3 0
10 0 2 0
Legenda: SAL, sem alimento; MIC, adição de microalga;
SED, presença de sedimento; MIC+SED, com alimento e sedimento.
Figura 25. Fotografias dos juvenis pós metamórficos. A, Diplodon expansus
var. 1; B, Diplodon expansus var. 2; C, Diplodon martensi; D, Diplodon
rotundus gratus. Escala = 200 µ.
3.6.2. Juvenis com 5 dias (figura 26)
Os juvenis que foram mantidos nas placas de Petri com a adição de
30000 células/ml da microalga Chlamydomonas sp, apresentaram uma maior
sobrevivência, porém sem apresentar uma diferença significativa com aqueles
93
que foram mantidos nas placas de Petri com a adição de sedimento, mantendo
uma sobrevivência de 80 %, 72 % e 80 %, nos tratamentos com adição de
alimento, apenas com sedimento e com adição de alimento e sedimento,
respectivamente (tabela 14).
Os indivíduos com mais de cinco dias que foram mantidos em Becker
com aeração apresentaram uma alta taxa de mortalidade. Sendo que o
tratamento com sedimento mostrou-se significativamente mais viável, com uma
sobrevivência de 66,66 %, após doze dias de experimentação.
Tabela 14. Sobrevivência dos juvenis pós-metamórficos do gênero Diplodon.
Os valores de sobrevivência representam uma média entre as espécies
testadas.
placa de Petri
Becker
DIA
SAL
MIC
SED
MIC+SED
SAL
MIC
SED
MIC+SED
0
10 25 25 25
10 15 15 15
2
7 24 22 22
5 11 14 14
4
5 24 20 22
5 11 13 13
6
2 23 20 22
0 7 10 11
8
2 20 19 20
0 7 10 11
10
0 20 19 20
0 4 10 11
12
0 20 18 20
0 4 10 10
Legenda: SAL, sem alimento; MIC, adição de microalga; SED,
presença de sedimento; MIC+SED, com alimento e sedimento.
94
Figura 26. Fotografias dos juvenis. A, Diplodon expansus var. 1 com 5 dias; B,
Diplodon expansus var. 2 com 5 dias; C, Diplodon martensi com 5 dias; D,
Diplodon rotundus gratus com 5 dias. As fotografias A, B e D foram tiradas com
microscopia de epifluorescência. Escala = 500 µ.
3.6.3. Juvenis com 15 dias (figura 27)
Os juvenis após 15 dias de cultivo apresentaram um comportamento
diferente, com uma maior sobrevivência daqueles que foram mantidos em
Beckers com aeração (tabela 15). Entre os tratamentos testados aquele que
apresentou o melhor resultado foi o com a adição de microalga e sedimento,
com uma sobrevivência de 85 %, sendo significativamente maior que os
demais, onde a sobrevivência não ultrapassou os 40 %.
95
Tabela 15. Sobrevivência dos juvenis com 15 dias após a metamorfose do
gênero Diplodon. Os valores de sobrevivência representam uma média entre
as espécies testadas.
Placa de Petri
Becker
DIA
SAL
MIC
SED
MIC+SED
SAL
MIC
SED
MIC+SED
0
10 15 20 20
10 15 20 20
2
10 15 20 20
9 15 18 20
4
8 15 18 17
5 11 18 19
6
3 14 14 17
2 11 17 19
8
0 11 14 17
1 11 17 17
10
0 4 8 14
1 8 11 17
12
0 4 8 14
0 8 11 17
14
0 1 8 12
0 8 8 17
16
0 1 7 5
0 8 8 17
Legenda: SAL, sem alimento; MIC, adição de microalga; SED,
presença de sedimento; MIC+SED, com alimento e sedimento.
96
Figura 27. Fotografias dos juvenis. A, Diplodon expansus var. 1 com 15 dias;
B, Diplodon expansus var. 2 com 10 dias; C, Diplodon martensi com 15 dias; D,
Diplodon rotundus gratus com 15 dias. A fotografia A foi tirada com microscopia
de epifluorescência. Escala = 500 µ.
3.6.4. Juvenis com 30 dias ou mais (figura 28)
Seguindo o protocolo de trabalho, os gloquídios recém
metamorfoseados foram mantidos em Placas de Petri (60x15 mm) com água
da mina autoclavada, previamente agitada com difusores de ar, em uma
densidade máxima de 20 juvenis/placa. A partir do quarto dia de cultivo foi feita
a adição, em dias alternados, de Chlamydomonas sp. Antes de alimentar os
juvenis, eram trocados 2/3 da água em cada Placa de Petri.
No 12
o
dia, os juvenis foram transferidos para Placas de Petri com uma
camada de 1 mm de sedimento arenoso (partículas < 125 µm), recebendo
alimento em dias alternados, com a troca de 2/3 da água a cada adição de
microalga. E no 20
o
dia os juvenis foram colocados em um Becker, de 150 ml
(densidade máxima de 50 juvenis/Becker), com 1 mm de sedimento, e
difusores de ar para manter as microalgas na coluna de água e oxigenar o
meio. Os recipientes eram lavados e o sedimento trocado quinzenalmente.
97
Com a metodologia empregada foi possível obter juvenis com mais de
30 dias para as espécies D. rotundus gratus, D. martensi e D. expansus var. 2.
Os juvenis de D. martensi apresentaram uma taxa de mortalidade de 65 % até
os 100 dias de cultivo, D. expansus var. 2 foi cultivado até os 65 dias com uma
mortalidade de 40 %. E os juvenis de D. rotundus gratus permaneceram vivos
até os 62 dias de cultivo.
Figura 28. Fotografias dos juvenis. A, Diplodon rotundus gratus com 30 dias;
B, Diplodon martensi com 30 dias; C, Diplodon martensi com 60 dias; D,
Diplodon martensi com 90 dias. As fotografias A, B e D foram tiradas com
microscopia de epifluorescência. Escala = 200 µ.
98
DISCUSSÃO
A reintrodução é uma ferramenta para a recuperação dos ambientes
degradados (Neves e Zale, 1982; Watters, 2000). Porém a capacidade de
produção de bivalves juvenis em laboratório será de pouco valor para a
conservação da biodiversidade se estes indivíduos não sobreviverem após o
lançamento (Zimmerman, 2003). A chave para esta questão é a identificação
de locais adequados para a liberação. Atualmente existem muitos locais onde
as populações são extremamente baixas ou foram extintas, mas que podem
mais uma vez apoiar populações viáveis através do aumento ou reintrodução
dos bivalves (Henley e Neves, 1999).
A preocupação com a depressão e a perda de alelos raros alimentou a
oposição à introdução de juvenis criados em cativeiro (Hoeh et al., 2009,
Rogers, 1999). Além disso, uma vez que a degradação do habitat e má
qualidade da água são duas das principais razões para o declínio inicial, não é
certo que os indivíduos propagados poderiam sobreviver e se reproduzir.
Questões de genética da conservação e qualidade do habitat, no entanto,
devem ser ponderadas contra a urgência da recuperação e da ameaça de
extinção. As reintroduções de espécies em locais históricos podem aumentar o
número de populações saudáveis e, assim, reduzir a possibilidade da extinção
de espécies perante um evento estocástico (McMahon e Bogan, 2001). Os
objetivos de restauração em longo prazo devem incluir medidas de proteção
para evitar o declínio da população, além de medidas que inclua a restauração
de habitats, a variedade de espécies de peixes que co-habitam com as
99
populações de bivalves e a propagação dos juvenis para reintrodução
(Zimmerman, 2003).
A propagação das náiades nos Estados Unidos começou no início de
1900 com a utilização de cnicas muito semelhantes às utilizadas hoje. Esta
experiência forneceu aos cientistas uma base para o entendimento para pelo
menos os requisitos básicos deste complexo grupo de invertebrados. Os
esforços de propagação estão atualmente limitados a técnicas in vivo, que
incluem o peixe hospedeiro (Lefevre e Curtis, 1912) e outra, in vitro, usando
meios de cultura artificiais (Isom e Hudson, 1982). No entanto, a utilização de
meios de cultura artificial pode ser a única maneira para que alguns bivalves
sobrevivam à extinção (Ahlstedt, 1981; Neves et al., 1997). Compreender a
história de vida deste grupo exclusivo de invertebrados tamm nos obriga a
analisar a história de vida, fisiologia, bioquímica e imunoquímica dos peixes
hospedeiros. Essa compreensão da fisiologia dos peixes hospedeiros foi um
pré-requisito para o desenvolvimento dos meios de cultura artificial (técnica in
vitro) no início de 1980, fornecendo informações sobre os requisitos específicos
de nutrientes para o suporte do desenvolvimento e crescimento dos gloquídios
(Farris e Van Hassel, 2006).
Técnicas para a determinação dos peixes hospedeiros têm sido
relatadas e utilizadas por diversos pesquisadores ao longo de décadas
(Howard, 1915; Coker et al., 1921; Penn, 1939; Cope, 1959; Giusti et al., 1975;
Jenkinson, 1982; Hove e Neves, 1991; Hoggarth, 1992; Watters e O’Dee, 1996;
Haag e Warren, 2003), enquanto alguns hospedeiros não convencionais (por
exemplo, anfíbios) também têm sido identificados como apoio à metamorfose
dos gloquídios (Seshaiya, 1969; Watters e O´dee, 1998). Algumas espécies
100
têm mostrado um grau de sucesso relativamente bom no uso de técnicas de
peixes hospedeiros, enquanto outros têm provado ser mais difícil (Jones et al.,
2006).
Através da infestação das espécies de peixes coletadas no rio Mogi
Guaçu, Geophagus brasiliensis, Hyphessobrycon eques, Cheirodon sp. e
Papiliochrommis ramirezi não foram obtidos juvenis de Diplodon rotundus
gratus, D. expansus var. 1, D. expansus var. 2 e D. martensi, pois os cistos se
desprendiam dos peixes antes de completarem a metamorfose. Esse resultado
pode ser indicativo de que há uma especificidade entre o gloquídio e o peixe.
Zale e Neves (1982), Kat (1984), Watters e O’Dee (1996) e O’Connel e Neves
(1999) afirmaram que a especificidade da associação gloquídio / peixe varia
com a espécie de bivalve. Assim, se um gloquídio se fixa a um peixe não-
hospedeiro, um cisto anormal se forma e cai após poucos dias de infestação.
Esse processo é atribuído a uma imunidade natural do peixe não-hospedeiro
às espécies de bivalve (Arey, 1932; Meyers et al., 1980; Waller e Mitchell,
1989; Kirk e Layzer; 1997). Entretanto, Dudgeon e Morton (1984) ao estudarem
a intensidade de parasitismo, em larvas de Anodonta woodiana, encontraram
uma incincia maior em peixes exóticos do que em espécies nativas.
Técnicas para determinar a viabilidade de peixes hospedeiros incluem o
uso de tanques com aeração, a colocação direta na brânquia, bem como a
utilização de anestésicos para reduzir o estresse sobre o peixe (Zale e Neves,
1982; Henley e Neves, 1999; Zimmerman, 2003). Apesar de modificações
nessas técnicas terem sido relatadas por vários pesquisadores, a abordagem
fundamental é a mesma. Tanques com aeração são frequentemente utilizados
quando gloquídios viáveis, e o utilizadas rias espécies de peixes com
101
escalões etários. No entanto, se os gloquídios são limitados e / ou os peixes
são de menor tamanho ou m brânquias de pequeno porte, a colocação direta
na brânquia, utilizando pipetas, é uma alternativa viável às técnicas com
tanques com ar para fixação dos gloquídios. Anestesiar os peixes antes do
encistamento é incerto, uma vez que os possíveis efeitos do anestésico podem
inadvertidamente, danificar a adesão dos gloquídios e sua posterior
metamorfose.
O encistamento dos gloquídios pode variar de alguns dias a vários
meses, dependendo da espécie de bivalve, da saúde dos peixes (se o
indivíduo está estressado ou doente devido a outros fatores ambientais), da
temperatura da água, e talvez de outras variáveis atualmente desconhecidas
(Mansur, 1999; Zimmerman e Neves, 2002; Zimmerman, 2003).
Em nosso estudo, os gloquídios de D. rotundus gratus e D. martensi, D.
expansus var.1 e D. expansus var. 2 permaneceram encistados por 9-18 dias
em Astyanax altparanae (tabela 11). D. charruanus, segundo Bonetto (1954),
permaneceu encistado por um período de 10 a 20 dias em Hoplias
malabaricus. No entanto, Bonetto e Ezcurra (1963) encontraram um período
parasitário mais longo para D. delodontus delodontus, de 25 a 30 dias. Mansur
(1999) infestou espécimes de Gymnogeophagus gymnogenys com gloquídios
de D. martensi, os quais permaneceram encistados por 30 dias.
Foi possível observar que existe uma relação entre a temperatura e o
período de incubação, assim, em temperaturas mais baixas, o período de
infestação é relativamente maior (tabela 11). Nos experimentos de Bonetto
(1954) e Bonetto e Ezcurra (1963) não houve menção quanto às temperaturas
em que foram realizadas as infestações. Dudgeon e Morton (1984) realizaram
102
infestações com gloquídios de Anodonta woodiana e encontraram períodos de
infestação que variam de 14 a 25 dias em 15 ºC; de 8 a 12 dias em 22 ºC; e de
6 a 11 dias em 27 ºC. Tompa (1979) em infestações realizadas em Poecilia
reticulata com larvas de Lasmigona compressa a 20 ºC obteve um período de
10 a 12 dias de parasitismo. Zale e Neves (1982) utilizaram gloquídios de
Villosa nebulosa a 24,7 ºC e encontraram um período de infestação que variou
de 10 a 21 dias. O período de parasitismo mais longo, 40 a 50 dias, foi obtido
por Telda e Fernando (1969) que usaram larvas de Lampsilis radiata
siliquoidea a 15ºC.
Alternativamente, a sobrevivência dos peixes pode ser comprometida
pela infestação excessiva dos gloquídios resultando na limitação das trocas
gasosas através das lamelas branquiais. Enquanto a relação de 50-100
gloquídios por brânquia para peixes com 15-25 cm de comprimento, tem sido
relatada como adequada (Hove et al., 2000), em nosso estudo foi utilizada uma
relação de 200 gloquídios por peixe (com tamanho médio de 5 cm). Porém,
outros autores têm infestado os peixes hospedeiros com milhares de gloquídios
e conseguido sucesso na metamorfose e mantido a viabilidade dos peixes,
uma vez removidos dos tanques (Milam et al., 2000; Winterringer, 2004).
A quantidade de indivíduos metamorfoseados utilizando-se as técnicas
in vivo de cultivo normalmente é muito baixa. No presente estudo, através das
infestações de várias espécies do gênero Diplodon em A. altparanae, foi obtido
uma porcentagem de metamorfose de apenas 5,3 a 0,8 % (tabela 11). Bigham
(2002), estudando as espécies Venustaconcha ellipsiformis, Etheostoma
spectabile e E. caeruleum cita uma taxa de metamorfose média menor que 5
%. Em outro estudo realizado por Gray e colaboradores (2002) com Strophitus
103
undulatus, utilizando diversas espécies de peixes hospedeiros, a porcentagem
de metamorfose obtida, após um período de 10 dias de incubação, variou de 2
a 51 %.
De certa forma, o cultivo in vivo de bivalves tende a imitar a natureza.
Porém esta pretensão envolve um alto labor e custo para a realização de testes
de viabilidade de potenciais peixes hospedeiros (Hove et al., 2000), assim
como, o conhecimento dos mesmos (Henley e Neves, 1999). Entretanto, tanto
na natureza como em laboratório, é observada uma alta taxa de mortalidade
causada por bactérias, fungos e protozoários (Young e Williams, 1984a, b), o
que levou os pesquisadores a buscarem outra alternativa, o cultivo artificial ou
in vitro.
Os cultivos de gloquídios in vitrom-se revelado bastante eficiente
quando comparado com os cultivos in vivo. Neste estudo, D. rotundus gratus
apresentou quatro vezes mais juvenis metamorfoseados e D. expansus var. 2
7,5 vezes quando cultivados com o liofilizado de peixe e comparados com o
cultivo in vivo. Estudos semelhantes produziram cerca de dez a vinte vezes
mais juvenis a partir de vários meios de cultura artificial (Hudson e Isom, 1984;
Hudson e Shelbourne, 1990).
O interesse em aumentar a produção de bivalves através da utilização
de cultura artificial foi visto no início do século XX, quando Ellis e Ellis (1926)
relataram o sucesso da primeira cultura para a transformação de gloquídios
após excisão destes a partir do tecido branquial dos seus peixes hospedeiros.
Infelizmente, os detalhes de suas soluções nunca foram publicados (Farris e
Van Hassel, 2006). Muito mais tarde, no início de 1980, o interesse na cultura
artificial de gloquídios foi revista por Isom e Hudson (1982), que relataram o
104
sucesso na transformação de várias espécies, sem a utilização de um
hospedeiro. Esta técnica começou como uma modificação de técnicas
modernas de cultura celular e fez uso de uma mistura de aminoácidos,
vitaminas e glicose em solução Ringer de Unionídeo (Ellis et al., 1930),
juntamente com a adição de plasma de peixes como uma fonte de proteínas,
além de estimulantes de crescimento, hormônios, etc. Embora este trabalho
começasse através da mistura desses componentes a partir do zero (usando
as concentrações encontradas no plasma dos peixes como orientação),
Hudson e Isom (1984) tamm relataram o sucesso usando pré-misturas,
comercialmente disponíveis como meio de cultura de células (solução de
Eagles com aminoácidos essenciais e o essenciais e M 199), que contém
quase todos esses aminoácidos em concentrações elevadas ou superiores aos
encontrados no plasma dos peixes.
Essa mistura tem sido usada para produzir milhares de bivalves juvenis
(Johnson et al., 1993; Hudson et al., 1994; Hudson et al., 1996; Barfield et al.,
1997; Clem, 1998), sendo, porém pouco conveniente para o uso em alguns
laboratórios devido à exigência de um pronto fornecimento de peixe para que o
sangue possa ser extraído e separado em plasma e não componentes do
plasma. Devido a este inconveniente e porque a utilização de plasma de peixes
apresenta grande variação nos resultados, devidos às condições destes,
Hudson e Shelbourne (1990) tentaram desenvolver um meio alternativo que
fosse livre de soro / plasma ou um meio com soro disponível comercialmente.
Keller e Zam (1990) abordaram pela primeira vez a modificação da cultura de
gloquídios, demonstrando que outros soros podem ser substituídos pelo
plasma de peixes, com o soro de cavalo produzindo os melhores resultados.
105
Mas trabalhos realizados por Uthaiwan et al. (2001, 2002) confirmaram uma
maior afinidade dos gloquídios por plasma de peixe quando comparado com
um meio contendo soro de cavalo. A utilização de extrato liofilizado de peixe, A.
altparanae, neste trabalho, demonstrou ser possível o cultivo in vitro, de
maneira simples, econômica e eficiente.
Na técnica de cultura com meio artificial os gloquídios são removidos,
como descrito por Hudson e Isom (1984), ou de preferência usando uma
seringa com água para retirar as larvas do marsúpio (Uthaiwan et al., 2001,
2002; Lima et al., 2006), porém, neste trabalho, preferiu-se optar pela liberação
natural dos gloquídios para evitar a utilização de gloquídios o maduros. No
entanto, diferente das publicações anteriores, onde os gloquídios são lavados
três a quatro vezes em água de rio autoclavada ou água reconstituída e uma
lavagem final com solução de Ringer para Unionídeo ou uma solução de Hank
(Hudson e Isom, 1984; Milam et al. 2000), os gloquídios foram lavados
repetidas vezes com água destilada e uma lavagem final com uma solução de
antibióticos, sendo, posteriormente, colocados para incubar em meio de
cultura.
O meio original era composto de uma solução de Eagles com
aminoácidos essenciais e não essenciais em um Ringer para Unionídeo
contendo NaHCO
3
para controle de pH, vitaminas, antibióticos e glicose como
parte artificial, e plasma de peixes como fonte de proteína natural, em uma
proporção final de dois terços de meio artificial e de um terço de plasma (Isom
e Hudson, 1982). Como mencionado anteriormente, outros meios foram
testados por Hudson e Shelbourne (1990), tendo sido testadas as variações
dos seguintes componentes específicos do meio artificial:
106
Equilíbrio iônico: inicialmente, Isom e Hudson (1982) usaram uma modificação
do Ringers para Unionídeo descrito por Ellis et al. (1930), porém, os testes
mostraram que preparados de soluções salinas equilibradas como solução de
Earle ou de Hank (Sigma) são úteis na lavagem dos gloquídios, bem como na
sua transformação artificial, embora o rendimento possa ser ligeiramente
inferior.
Fonte protéica: o plasma de peixe foi utilizado por Isom e Hudson (1982) como
aditivo protéico. Hudson e Shelbourne (1990) trabalhando com U. imbecillis
demonstraram que o soro de coelho tamm pode ser empregado como fonte
protéica. Demonstraram ainda que, o desempenho do soro de coelhos é
melhor do que de suíno, eqüino, ovino, de frango, bovino e soro fetal Estes
resultados diferem dos achados de Keller e Zam (1990) que relataram que o
soro de cavalo era mais eficiente como aditivo protéico. A combinação dos
soros e plasmas mencionados tamm foi testada por Hudson e Shelbourne
(1990), os quais sugerem utilizar a combinação de plasma de peixes / soro de
coelho a qual promove um desenvolvimento normalmente igual, ou melhor, do
que plasma de peixe sozinho. Uma vez que alguns laboratórios não têm
acesso a plasma de peixes, e uma vez que as taxas de infecção são menores
quando se utiliza soro estéril obtido a partir de empresas de fornecimento de
bioquímica, o soro de coelho foi considerado como a melhor alternativa por
Farris e Van Hassel (2006). Em um caso, gloquídios de Elliptio angustata
cultivados em soro de coelho superou significativamente o plasma de peixes
nas taxas de transformação (Hudson e Shelbourne 1990). Embora os valores
encontrados no presente estudo, com a utilização do extrato liofilizado de
peixe, sejam menores do que os encontrados na literatura, eles foram bem
107
superiores aos valores de metamorfose obtidos através da infestação dos
peixes hospedeiros. Além disso, a preparação e conservação do extrato são
bem mais simples e não requer a manutenção de peixes no laboratório.
Antibióticos / Antimicóticos: várias lavagens dos gloquídios retirados do
marsúpio, como descrito anteriormente, o essenciais para reduzir a taxa de
infecções por bactérias e fungos. Tamm ajudam a garantir uma baixa taxa de
infecção os antibióticos (por exemplo, penicilina e estreptomicina) e
antimicóticos (por exemplo, a anfotericina B). Estes que são normalmente
encontrados na maioria das culturas celulares e foram os primeiros a serem
utilizados no desenvolvimento dos meios para a manutenção e metamorfose
dos gloquídios (Isom e Hudson, 1982). Melhorias dessas técnicas foram feitas
por isolamento e cultivo de culturas de bactérias provenientes dos gloquídios e
medindo as zonas de inibição de cerca de uma dúzia de antibióticos
disponíveis comercialmente (Hudson e Isom, 1984). Os três antibióticos (ie,
carbenicilina, sulfato de gentamicina e rifampicina) com os melhores efeitos
inibitórios foram relatados por Isom e Hudson (1982) e atualmente o aqueles
usados em todos os laboratórios que trabalham com culturas de gloquídios.
Muito mais tarde, as bactérias que foram isoladas, pela técnica de swab, das
brânquias de Amblema plicata, P. catarata, e U. Imbecillis foram identificadas e
medidas para efeitos inibidores (por exemplo, o crescimento) por quinze
antibióticos (Loveless et al., 1999). O pressuposto deste trabalho é que a
contaminação da cultura artificial de gloquídios provavelmente vem do tecido
branquial do pai, que abriga estes gloquídios. Os antibióticos mais eficazes
contra as dezenas de bactérias isoladas foram neomicina, ciprofloxacina e
polimixina B. Uma vez que o efeito destes nunca foi avaliado no sucesso da
108
metamorfose, uma mistura de antibióticos, incluindo dois destes novos
antibióticos foi testada contra um controle de antibióticos padrão no efeito sobre
a transformação de U. Imbecillis (Hudson e Isom, 1984). Uma vantagem de
usar este aumento do número de antibióticos seria que um largo espectro de
bactérias pode ser mais bem controlado do que com o uso dos antibióticos
originalmente descritos por Isom e Hudson (1982). A solução antimicótica /
fungicida da Invitrogen (tabela 3) não continha toda a gama de antibióticos
citados pelos autores anteriores, o que pode ter sido um dos fatores de
contaminação durante a incubação dos gloquídios (figura 24).
Outros componentes do meio: a maioria dos outros componentes do meio
permaneceu a mesma como descrito primeiramente por Isom e Hudson (1982).
Os aminoácidos essenciais e o essenciais da solução de Eagles são
misturados com o Ringer de Unionídeo com a adição de taurina e ornitina. As
culturas parecem seguir bem sem a adição destes dois últimos aminoácidos,
mas uma vez que estes são encontrados no plasma de peixes e uma vez que
algumas espécies de bivalves podem exigir esses dois aminoácidos, eles ainda
são utilizados na maioria das culturas. L-glutamina deve ser adicionada
semanalmente, devido à sua incapacidade de manter-se estável em solução.
Outros meios de cultura (por exemplo, M 199) tamm foram bem sucedidos
na transformação, mesmo que sua composição varie ligeiramente do meio
modificado de Eagles (Isom e Hudson, 1982, Keller e Zam, 1990).
Gloquídios desenvolvidos artificialmente parecem ter um menor teor de
lipídios do que aqueles em desenvolvimento aderidos aos peixes (Fisher e
Dimock, 2002). Tankersley (2000) mostrou que os níveis lipídicos em
gloquídios e juvenis variam de acordo com cada desova, sendo influenciado
109
pelo bivalve-mãe. Além disso, indicou que o tipo de meio de cultura influenciou
o teor de lipídios dos gloquídios e desenvolvimento dos juvenis subseqüentes.
Fisher (2002) demonstrou que gloquídios desenvolvidos em meio artificial, com
soro de coelho como fonte protéica, apresentaram menores teores de lipídios
do que aqueles metamorfoseados nos peixes hospedeiros. Hudson e Isom
(1984) compararam as taxas de transformação com meios contendo óleo de
lula (Artemate, Argent Chemical Laboratories) e óleo de fígado de bacalhau.
Embora as taxas variem, o óleo de fígado de bacalhau parecia ser melhor do
que o óleo de lula e tamm resultou em menores taxas de infecção fúngica.
Pensa-se que a adição deste óleo aumenta o armazenamento de lipídios dos
gloquídios (Tankersley, 2000).
Com a utilização do extrato liofilizado de A. altparanae, no o cultivo de D.
rotundus gratus a taxa de sobrevivência e metamorfose foi, respectivamente,
de 40 % e 20 %. Para D. expansus var. 2 a taxa de sobrevivência foi de 50 %
com 15 % de indivíduos metamorfoseados. Isom e Hudson (1982) e Hudson e
Shelbourne (1990) mostraram que a taxa de transformação dos gloquídios com
a inclusão do plasma do peixe, variou entre 50 a 78 % de indivíduos
metamorfoseados. Uthaiwan e colaboradores (2001, 2002, 2003)
desenvolveram uma técnica simples de cultura de gloquídios em meio artificial,
que resultou em uma alta taxa de metamorfose (85 a 100 %), trabalhando com
H. myersiana. Resultados semelhantes foram obtidos com a espécie européia
A. cygnea, que apresentaram uma sobrevivência larval de 34,3 %, enquanto
que a proporção de larvas que sofreram metamorfose foi de 60,8 % (Lima et
al., 2006).
110
Mesmo não conseguindo os valores de sobrevivência e metamorfose
que autores anteriores obtiveram a utilização de extrato de liofilizado de A.
altparanae, como fonte protéica do meio de cultura, forneceu os componentes
necessários para o desenvolvimento dos gloquídios das espécies testadas.
Apesar de não dispormos da composição de aminoácidos essenciais e não
essenciais de A. altparanae, apenas a composição corporal, 13,45 % de
proteína e 6,05 % de gordura (Cotan et al., 2006), nossos resultados sugerem
uma eficncia na sobrevivência pós-metamórfica, com sobrevivência de 75%
após 30 dias. Autores como Hudson e Isom (1984), não conseguiram manter
os juvenis pós-metamórficos por mais de uma semana trabalhando com as
espécies de L. ovata, Fusconaia ebena, Ligumia recta, Pleurobema cordatum e
Carunculina moesta. Uthaiwan et al. (2001) utilizando meio de cultura M 199
com plasma de Oreochromis niloticus e soro de cavalo, não conseguiu manter
os juvenis pós-metamórficos de H. myersiana por mais de 10 dias. Uthaiwan et
al. (2002), comparou o efeito do plasma de rias espécies de peixe,
encontrando valores de sobrevivência pós metamórfica de 2 meses, 1 mês, 2-3
semanas e 1-2 semanas com carpa comum, Tilápia do Nilo e hibrido catfish,
soro de cavalo e striped catfish, respectivamente. Estudos de Lima et al. (2006)
utilizando A. cygnea, cultivada em meio M 199 com plasma de C. carpio logrou
uma sobrevivência pós-metamórfica de 15 dias.
Um estudo realizado por Hudson e Isom (1984) foi talvez a primeira
tentativa bem sucedida para o cultivo de juvenis de bivalves de água doce em
laboratório. Desde então, os esforços por Buddensiek (1995), Gatenby et al.
(1997), O'Beirn et al. (1998), Hanlon (2000), Jones et al. (2005) e outros
estudos não publicados têm diversificado e melhorado as cnicas de cultura.
111
Gatenby et al. (1997) utilizaram placas de Petri com ar para cultivar juvenis de
Villosa iris, enquanto O'Beirn et al. (1998) utilizou sistemas de recirculação para
estudos com L. fasciola. Os juvenis do gênero Diplodon apresentaram uma boa
sobrevivência quando mantidos em placas de Petri e apenas após 15 dias
serem transferidos para frascos maiores, com aeração. Provavelmente os
resultados são devido à alimentação podal que os juvenis apresentam logo
após a metamorfose (Yager et al., 1994), e ao menor estressse causado pelas
borbulhas de ar (Gatenby et al., 1997). Jones et al. (2005) projetaram um
sistema de recirculação tipo "mesocosmo" para uma variedade de espécies de
bivalves. O mesocosmo é um sistema de recirculação com estágios
incorporando vários processos biológicos naturais, incluindo o crescimento de
bactérias e a decomposição de detritos. Esta abordagem de mesocosmo tenta
imitar um riacho natural e proporciona uma dieta mais diversificada para os
jovens recém-metamorfoseados. Todos estes sistemas, no entanto, necessitam
de manutenção freqüente e suplementação alimentar com algas cultivadas.
Juvenis de U. Imbecillis e Epioblasma triquetra foram cultivados com sucesso
em um meio com água do rio exposta ao sol por 1-4 dias para aumentar a
concentração de algas. Além disso, a adição de silte melhorou o crescimento
dos juvenis em ambas as espécies, enquanto que a alimentação artificial,
cultura mista de três espécies de algas resultou em inanição (Hudson e Isom,
1984). Uma observação apoiada por estudos realizados por Yeager et al.
(1994) sugerem que os juvenis pós-metamórficos se alimentam principalmente
de água intersticial do sedimento, através do sulco podal, de modo que o silte e
microdetritos e bactérias associados podem ser sua principal fonte de alimento.
112
No entanto em experimentos com sedimentos do rio, os juvenis mostram
uma sobrevida de 50-60% em relação aos juvenis mantidos em uma cultura
simples e estática por 90 dias (Hudson e Roberts, 1997, Hudson e McKissic,
1999). Beck (2001) e Gatenby et al. (1997) demonstraram a importância do
sedimento nos cultivos de juvenis de bivalves. O mesmo foi constatado para os
juvenis do gênero Diplodon. Porém a utilização de sedimento mostrou-se eficaz
somente quando utilizado em juvenis com 12 dias de vida (tabela 16).
A causa de maior mortalidade no cultivo dos juvenis, no presente
trabalho, foi devido à predação por Turbellaria e Protistas. Outros autores citam
a predação como causa da dificuldade do cultivo. A taxa média de predação de
Macrostomum tuba (Platyhelminthes, Turbellaria) em juvenis de bivalves
(número de juvenis consumidos por verme por hora) foi de 0,26 ± 0,17 quando
o substrato estava ausente e 0,43 ± 0,18 quando o substrato estava presente
(Delp, 2002). Barnhart et al. (2008) relata que tanto Macrostomum e
Microstomum ingerem juvenis de unionídeos. Henley et al. (2001) descreveu M.
tuba como sendo um problema na instalação da cultura de náiades no Virginia
Polytechnic Institute.
Técnicas que incluem o uso de peixes hospedeiros (in vivo) e métodos in
vitro m gerado juvenis viáveis para vários objetivos, incluindo testes de
toxicidade, monitoramento in situ, bem como ajudar a estabilizar o declínio das
populações através dos planos de recuperação de espécies e habitats
degradados (Jacobson et al., 1993; Yeager et al., 1994).
A geração de juvenis também pode auxiliar na identificação taxonômica
das espécies. Segundo Bonetto, (1961a), além de conhecer conquiliologia e
caracteres morfológicos do adulto, o ideal para se estudar a sistemática do
113
gênero Diplodon é conhecer as características morfológicas dos gloquídios,
pois estas são sempre preservadas em qualquer que seja a distribuição
geográfica e o meio em que as espécies vivem.
As características gloquidiais ajudam na identificação e classificação
desse grupo de moluscos no qual indivíduos juvenis ou adultos frequentemente
não fornecem critérios diagnósticos interespecíficos (Mansur e Silva, 1999).
Uma característica de valor taxonômico, citada por Bonetto (1959b) e
Mansur e Campos-Velho (1990), seria a morfometria da concha gloquidial.
Os valores para todos os parâmetros medidos nas três espécies
estudadas encontram-se muito próximos dos encontrados por Mansur e Silva
(1999) para cinco espécies de Diplodon: D. martensi, D. berthae, D. koseritzi,
D. ihering e D. charruanus. As espécies D. expansus var. 1 e D. expansus var.
2 apresentaram variação de comprimento semelhante a D. ihering, com 260 µm
a 300 µm de comprimento. No que diz respeito à altura, D. berthae, com
variação de 210 µm a 250 µm, foi aquele que mais se assemelhou às espécies
do presente estudo.
Os deslocamentos da ponta ventral de D. expansus var. 1 e D. expansus
var. 2 são menores do que os valores encontrados por Mansur e Silva (1999)
nas outras espécies de Diplodon, enquanto que os ângulos de obliqüidade são
maiores. O gloquídio de D. rotundus gratus foi o que apresentou as maiores
dimensões entre as três espécies estudadas, exceto pelo ângulo de
obliqüidade. Através do teste ANOVA foi possível inferir que D. rotundus gratus
apresenta diferença significativa em relação D. expansus var. 1 e D. expansus
var. 2 para p< 0,01. No entanto, os ângulos de obliqüidade de D. expansus var.
1 e D. expansus var. 2 não o significativamente diferentes. Mansur (1999)
114
não realizou testes estatísticos para as medidas morfométricas das larvas
encontradas nas espécies de Diplodon que estudou.
Essa dificuldade de identificação das espécies do gênero Diplodon ficou
evidenciada nos resultados observados no presente trabalho, no caso de D.
expansus (figura 17). Porém a discussão em relação a grande plasticidade da
espécie D. expansus é anterior.
A descrição de D. expansus feita por Kuster (1856), feita inteiramente
baseada na concha, é muito similar às descrições feitas por Ihering (1893) para
D. greeffeanus. A localidade tipo da descrição de Kuster foi rio Conigo, Nova
Friburgo, enquanto que a espécie descrita por Ihering provem do rio Piracicaba,
São Paulo.
Ortmann (1921) fez uma série de revisões na identificação das espécies
de náiades da América do Sul, e através da anatomia macroscópica
(brânquias, palpos, manto), dividiu o grupo do D. expansus em D. expansus, D.
mogymirim e D. greeffeanus. E desta forma, descreve a espécie D. mogymirim,
com características da concha muito similar a D. greeffeanus, mas com uma
anatomia das aberturas, bnquias e palpos diferentes. A abertura exalante é
parecida com uma fenda, fechada dorsalmente; a porção fechada o é mais
que duas vezes a porção aberta. Abertura exalante tão comprida quanto a
inalante, separada dela por uma conexão sólida do manto. Abertura inalante
com papilas distintas. Palpo moderado, subtriangular, margem posterior
conectada por cerca de um terço do seu comprimento. Demibrânquia externa
subtriangular, levemente mais larga que a interna posteriormente; a interna
subtrapezoidal, mais larga que a externa anteriormente, sua porção anterior
115
imediatamente atrás do palpo. Lamela interna da brânquia interna totalmente
conectada com o saco abdominal.
Simone (2006), seguindo a proposta feita por Haas (1945) e Bonetto
(1965), agrupa D. mogymirim e D. greeffeanus sob D. expansus, como
sinonímias. Porém, como ressaltado por Bonetto (1965), Haas distinguiu esta
espécie compreendendo nela um conjunto de formas bem heterogêneas. Tais
conclusões foram feitas com base em características conquiliológicas,
normalmente sobre a escultura umbonal.
Os três grupos de D. expansus apresentaram características
morfológicas das brânquias bem distintas (figura 20), porém o mero reduzido
de animais dissecados não permitiu extrair nenhuma conclusão.
116
CONCLUSÃO
Com base nos resultados obtidos, foi possível estabelecer uma
metodologia para a reprodução e o cultivo dos bivalves do gênero Diplodon. De
forma resumida, a metodologia consta:
- lavagens dos gloquídios, eliminados naturalmente, com água destilada e uma
lavagem final com uma solução de antibiótico / antimicótico.
- incubação dos gloquídios (100-150 gloquídios/placa) em placa de Petri (60x15
mm), com meio artificial composto de dois terços de meio de cultura M 199 e
um terço de uma solução de extrato liofilizado de peixe, como fonte protéica,
mais a adição de antibióticos e antimicóticos.
- os gloquídios recém metamorfoseados o mantidos em placas de Petri com
água da mina autoclavada, previamente agitada com difusores de ar
- no quarto dia de cultivo é feita a adição de alimento.
- no décimo segundo dia os juvenis são transferidos para placas de Petri com
uma camada de 1 mm de sedimento arenoso.
- e no vigésimo dia são colocados em Becker, com 1 mm de sedimento, e
difusores de ar para manter as microalgas na coluna de água e oxigenar o
meio.
Apesar dos resultados satisfatórios na reprodução dos bivalves,
incubação e metamorfose dos gloquídios e cultivo de juvenis das espécies de
bivalves límnicos do rio Mogi Guaçu, para um plano de repovoamento fica
evidenciada a necessidade de estudos taxonômicos mais aprofundados. E
justamente pela falta desses estudos, todo o programa de reintrodução deve
preocupar-se em utilizar os animais de sua própria bacia hidrográfica.
117
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137
ANEXOS
ANEXO A. Distribuição atual da família Hyriidae, no Brasil, segundo Simone (2006)
Superfamília UNIONOIDEA
Família HYRIIDAE
Sub família HYRIINAE
Gênero
Triplodon
Triplodon chodo Bacia do Amazonas, Bacia das Guianas
Gênero Prisodon
Prisodon corrugatus Bacia do Amazonas
Prisodon obliquus Bacia do Amazonas
Gênero Paxyodon
Paxyodon syrmatophorus Bacia do Amazonas
Gênero Callonaia
Callonaia duprei Bacia do Amazonas
Gênero Castalia
Castalia ambigua Bacia do Amazonas, Tocantins, São Francisco, Paraná e Prata
Castalia inflata Bacia do Paraná
138
Castalia martensi Bacia do Baixo Paraná, Sul do Brasil, Uruguai e Microbacias Atlântico
Castalia multisulcata Antilhas, Venezuela, Guianas, Colombia, Acre, Microbacias Atlântico
Castalia nehringi Bacia do Alto Paraná
Castalia orinocensis Rio Orinoco
Castalia psamoica Bacia do Paraná
Castalia undosa Bacia do Alto Paraná
Gênero Castaliella
Castaliella sulcata Guiana, Suriname, Bacia do Amazonas
Gênero
Diplodon
Diplodon besckeanus Microbacias Atlântico (BA a SP)
Diplodon delodontus Bacia do Paraná, Microbacias Atlântico (RS a Uruguai)
Diplodon ellipticus
Bacia do Alto São Francisco, Bacia do Alto Paraná, Microbacias Atlântico
(ES a RS)
Diplodon expansus Bacia do Alto Paraná, Microbacias Atlântico (RS a Uruguai)
Diplodon fontainianus Bacia do Alto Paraná, Microbacias Atlântico (ES a PR)
Diplodon granosus Bacia do Amazonas, Bacia do Paraná, Microbacias Atlântico (BA a SP)
Diplodon multistriatus Bacia do Amazonas, Bacia do Paraná, Microbacias Atlântico (BA a SC)
Diplodon parallelipipedon Bacia do Amazonas, Bacia do Paraná
Diplodon parodizi Bacia do Amazonas, Bacia do Paraná
Diplodon patagonicus Patagônia, Argentina
139
Diplodon rhuacoicus
Bacia do Amazonas, Bacia do Paraná, Microbacias Atntico (RJ a
Uruguai)
Diplodon wymanii Bacia do Médio-Baixo Paraná
Gênero Rhipidodonta
Rhipidodonta burroughiana Bacia do Amazonas, Bacia do Paraná
Rhipidodonta charruana Bacia do Paraná, Microbacias Atlântico (SP a Uruguai)
Rhipidodonta funebralis Bacia do Baixo Paraná
Rhipidodonta grata Bacia do Paraná
Rhipidodonta hylaea Bacia do Amazonas, Bacia do Paraná
Rhipidodonta rhombea Bacia do Amazonas, Bacia do São Francisco
Rhipidodonta suavidica Bacia do Amazonas, Bacia do São Francisco
Rhipidodonta variabilis Bacia do Paraná
140
Anexo B. Parâmetros abióticos medidos no ponto de coleta no rio Mogi Guaçu, município de Porto Ferreira, São Paulo.
2007 2008
Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out
Turbidez
(NTU)
15,9 50,5 50,0 167,0 147,0 157,0 87,0 38,9 32,4 28,4 37,1 24,1 19,3
Oxigênio dissol.
(g/ml)
6,2 6,9 7,3 7,6 8,2 7,9 7,2 9,5 9,2 8,8 9,1 9,1 10,2
Temperatura
(ºC)
25,7 25,8 28,0 23,0 25,0 21,5 21,4 19,0 20,2 19,1 20,2 22,4 23,1
Condut. elétrica
(US)
106,7 107,3 103,4 107,1 96,2 66,8 69,4 76,4 68,7 75,3 79,2 67,8 72,3
Vazão do rio
(m
3
/s)
90,40 154,98
297,97
294,86
229,60
152,63
120,79
106,27
79,54
61,69
63,01 66,99
Obs: os dados da vazão do rio são referentes a uma média mensal entre os anos de 1997 a 2007.
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