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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
FACULDADE DE ENFERMAGEM
HELINY CARNEIRO CUNHA NEVES
EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL: O OLHAR DOS
TRABALHADORES DE ENFERMAGEM EM UM HOSPITAL
UNIVERSITÁRIO
GOIÂNIA, 2009
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Termo de Ciência e de Autorização para Publicação de Teses e Dissertações
Eletrônicas (TEDE) na Biblioteca Digital da UFG
Na qualidade de titular dos direitos de autor, autorizo à Universidade Federal de Goiás – UFG a disponibilizar
gratuitamente através da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações – BDTD/UFG, sem ressarcimento dos direitos
autorais, de acordo com a Lei nº 9610/98,
o documento conforme permissões assinaladas abaixo, para fins de
leitura, impressão e/ou download, a título de divulgação da produção científica brasileira, a partir desta data.
1. Identificação do material bibliográfico: [ X ] Dissertação [ ] Tese
2. Identificação da Tese ou Dissertação
Autor(a): Heliny Carneiro Cunha Neves
RG: CPF: E-mail: [email protected]m.br
Afiliação:
Título: Equipamentos de proteção individual: o olhar dos trabalhadores de enfermagem em um hospital universitário
Palavras-chave: Equipamentos de proteção; Precauções universais; Enfermagem; Grupos focais
Título em outra língua: Personal protective equipment: the view of the nursing workers at a university hospital
Palavras-chave em outra língua: Protective Devices; Universal Precautions; Nursing; Focus Groups
Área de concentração: A Enfermagem no cuidado à saúde humana
Número de páginas: 110 Data defesa: 14/05/2009
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Enfermagem
Orientador(a): Adenícia Custódia Silva e Souza
CPF: E-mail:
Co-orientador(a):
CPF: E-mail:
Agência de fomento: Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino
Superior
Sigla: CAPES
País: UF: CNPJ:
3. Informações de acesso ao documento:
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1
[ X ] total [ ] parcial
Em caso de publicação parcial, assinale as permissões:
[ ] Capítulos. Especifique: _____________________________________________________
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__________________________________ Data: _____ / _____ / _____
Heliny Carneiro Cunha Neves
1
Em caso de restrição, esta poderá ser mantida por até um ano a partir da data de defesa. A extensão deste prazo
suscita justificativa junto à coordenação do curso. Todo resumo e metadados ficarão sempre disponibilizados.
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HELINY CARNEIRO CUNHA NEVES
EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL: O OLHAR DOS
TRABALHADORES DE ENFERMAGEM EM UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em
Enfermagem da Faculdade de Enfermagem
da Universidade Federal de Goiás como um
dos requisitos para obtenção do título de
Mestre em Enfermagem.
Área de concentração: A Enfermagem no cuidado à Saúde
Humana
Linha de pesquisa: Prevenção, controle e epidemiologia das
infecções associadas à cuidados em saúde e das doenças
transmissíveis
Área temática: Adesão às medidas de precauções padrão
Orientador: Prof. Dra. Adenícia Custódia Silva e Souza
GOIÂNIA, 2009
Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio
convencional ou eletrônico para fins de estudos e pesquisa, desde que citada a
fonte.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
GPT/BC/UFG
N518e
Neves, Heliny Carneiro Cunha.
Equipamentos de proteção individual [manuscrito]: o
olhar dos trabalhadores de enfermagem em um hospital
universitário / Heliny Carneiro Cunha Neves. -2009.
110 f. : il., figs.
Orientadora: Profª. Drª. Adenícia Custódia Silva e Souza.
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Goiás,
Faculdade de Enfermagem, 2009.
Bibliografia.
Inclui lista de figuras, abreviaturas, siglas.
Apêndices.
1. Enfermagem - Equipamentos de Proteção 2.
Precauções Universais - Enfermagem 3. Grupos Focais –
Proteção. I. Título.
CDU: 613.6:616-083
FOLHA DE APROVAÇÃO
HELINY CARNEIRO CUNHA NEVES
EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL: O OLHAR DOS
TRABALHADORES DE ENFERMAGEM EM UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em Enfermagem
Faculdade de Enfermagem da Universidade
Federal de Goiás para obtenção do título de
Mestre em Enfermagem.
Aprovada em 14 de maio de 2009
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dra. Adenícia Custódia Silva e Souza – Presidente e orientadora
Faculdade de Enfermagem – Universidade Federal de Goiás
Prof. Dra. Diana Lúcia Moura Pinho - Membro efetivo externo
Faculdade de Ciências da Saúde - Universidade de Brasília
Prof. Dr. Marcelo Medeiros – Membro efetivo
Faculdade de Enfermagem – Universidade Federal de Goiás
Prof. Dra. Anaclara Ferreira Veiga Tipple – Membro suplente
Faculdade de Enfermagem – Universidade Federal de Goiás
Prof. Dr. José Rodrigues do Carmo Filho – Membro suplente
Departamento de Enfermagem e Fisioterapia– Universidade Católica de Goiás
Este estudo foi desenvolvido junto ao Núcleo
de Estudos e Pesquisa em Infecção Hospitalar
da Faculdade de Enfermagem da Universidade
Federal de Goiás e contou com o apoio da
Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Ensino Superior – CAPES.
DEDICATÓRIA
Aos meus pais Bolivar e Maria José, que com
amor, dedicação e amizade me apoiaram ao
longo da minha trajetória. Amo vocês!;
Ao meu amado esposo Isac, pelo apoio
incondicional, incentivo, compreensão e
companheirismo. Te amo!;
Ao meu irmão Hernany, à sua esposa
Cristiane e minha sobrinha/afilhada Laura, que
estiveram sempre presentes em minha
trajetória de vida e que ajudaram direta ou
indiretamente na construção deste trabalho.
AGRADECIMENTOS ESPECIAIS
À Professora Doutora Adenícia Custódia Silva e Souza, por quem eu tenho muita
admiração, pela acolhida desde a graduação como bolsista de iniciação científica
até a construção deste trabalho. Pelo carinho, a amizade, a compreensão, o apoio, a
orientação, os conselhos, a confiança e o estímulo. Obrigada por estar sempre
presente, ajudando-me a trilhar o meu caminho, enfim, por tudo aquilo que
vivenciamos e que possibilitou o meu crescimento como pessoa e profissional;
À Professora Doutora Denize Bouttelet Munari, exemplo de simplicidade e
disposição para ensinar, pelo desprendimento em me ajudar a concretizar esse
trabalho, pela amizade e por sempre estar ao meu lado com carinho e dedicação.
Sou muito grata por sua confiança e seus ensinamentos. A você meu carinho,
respeito e admiração;
À Professora Doutora Anaclara Ferreira Veiga Tipple, pela amizade, o carinho, o
respeito, a confiança e pelas valiosas contribuições para o desenvolvimento desse
trabalho. Conviver com você tem sido um grande aprendizado;
Ao Professor Doutor Marcelo Medeiros, pela dedicação, pelo conhecimento
compartilhado e disponibilidade em me ajudar a montar este quebra-cabeça. A você
meu respeito e admiração;
À Luana Cássia Miranda Ribeiro, auxiliar desta pesquisa e bolsista do NEPIH, pela
amizade que construímos ao longo desta estrada. Sonhamos juntas esta conquista,
por isso, compartilho com você esse título.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus, pela vida e por ter me concedido a oportunidade de chegar
até aqui;
Aos meus sogros João Alves e Maria Cardoso e ao Matheus, pelo apoio,
dedicação e força;
A todas as companheiras e amigas da turma do mestrado em Enfermagem UFG
2008, em especial a Katiane, pela amizade e companheirismo.
À Faculdade de Enfermagem por ter me acolhido desde a graduação e promover
um ensino de excelência;
Ao Programa de pós-graduação da Faculdade de Enfermagem, na pessoa da
Professora Doutora Maria Márcia Bachion, pela competência e pela oportunidade
de aprimorar meus conhecimentos;
A todos os professores do Programa de Pós-graduação pelo apoio;
Aos funcionários da Faculdade de Enfermagem pela dedicação e carinho,
especialmente ao Gabriel, secretário do Programa de pós-graduação, Luciano e
Renato;
Aos profissionais que se prontificaram a fazer parte desta pesquisa, pelo carinho e
receptividade. Sem vocês esse sonho não seria possível. Muito obrigada;
Ao NEPIH (Núcleo de Estudos e Pesquisa em Infecção Hospitalar), amigos,
parentes e todos que direta ou indiretamente contribuíram para a construção deste
estudo;
A CAPES (Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior), pelo
apoio financeiro, em bolsa de estudo, no período da pesquisa.
"O importante não é estar aqui ou ali, mas ser.
E ser é uma ciência delicada, feita de
pequenas e grandes observações do cotidiano,
dentro e fora da gente. Se não executarmos
essas observações, não chegamos a ser:
apenas estamos, e desaparecemos."
Carlos Drummond de Andrade
SUMÁRIO
Lista de ilustrações .................................................................................................. 10
Lista de abreviaturas e siglas .................................................................................. 11
Resumo ................................................................................................................... 12
Abstract ................................................................................................................... 13
Resumen ................................................................................................................. 14
Introdução ............................................................................................................. 15
1. Objetivo .............................................................................................................. 20
2. Referencial teórico ............................................................................................ 21
2.1. Precauções padrão ....................................................................................... 21
2.2. A adesão ao EPI na prática da enfermagem ................................................. 29
2.3. Modelo de Crenças em Saúde ...................................................................... 35
2.4. Pressupostos do estudo ................................................................................ 38
3. Trajetória metodológica .................................................................................... 39
3.1. Caracterização do estudo ............................................................................. 39
3.2. Campo de estudo ......................................................................................... 40
3.3. Trabalho de campo ....................................................................................... 41
4. Resultados e discussão ............................................................................... 50
4.1. Atores do estudo e a dinâmica das sessões grupais .................................... 50
4.2. A proteção para os trabalhadores da enfermagem ....................................... 52
4.2.1. Segurança no trabalho ........................................................................ 53
4.2.2. Relacionamento interpessoal .............................................................. 80
5. Considerações finais ........................................................................................ 93
6. Referências bibliográficas ................................................................................ 96
Apêndice
Anexo
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1: Exemplo de colocação do EPI de forma segura ....................................... 28
Figura 2: Exemplo de remoção do EPI de forma segura ......................................... 28
Figura 3: Na corda bamba ........................................................................................ 74
Figura 4: Caixinha de surpresas ............................................................................... 74
Figura 5: Liberdade e tranquilidade .......................................................................... 77
Figura 6: Equilíbrio ................................................................................................... 77
Figura 7: EPI como embalagem ............................................................................... 78
Figura 8: A armadura ................................................................................................ 78
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AIDS Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
CAT Comunicação de Acidente de Trabalho
CCIH Comissão de Controle de Infecção Hospitalar
CDC Centers for Disease Control and Prevention
CEC Centro de Educação Continuada
CME Centro de Material e Esterilização
EPI Equipamento de Proteção Individual
EUA Estados Unidos da América
HEPA High Efficiency Particulate Air
HVB Vírus da Hepatite B
HVC Vírus da Hepatite C
HIV Vírus da Imunodeficiência Humana
IACS Infecções Associadas aos Cuidados em Saúde
IH Infecção Hospitalar
MRSA Methicillin Resistant Staphylococcus aureus
NEPIH Núcleo de Estudos e Pesquisa em Infecção Hospitalar
NR Norma Regulamentadora
PAS Profissionais da Área da Saúde
PI Precauções e Isolamento
PP Precauções Padrão
PS Pronto Socorro
PU Precauções Universais
SAS Serviços de Assistência à Saúde
SCIH Serviço de Controle de Infecção Hospitalar
UFG Universidade Federal de Goiás
UTI Unidade de Terapia Intensiva
UFTM Universidade Federal do Triângulo Mineiro
RESUMO
NEVES HCC. Equipamentos de proteção individual: o olhar dos trabalhadores de
enfermagem em um hospital universitário. [dissertação]. Goiânia: Faculdade de
enfermagem, Universidade Federal de Goiás; 2009. 110 p.
As recomendações das precauções padrão desde que incluíram os conceitos das
precauções universais, têm sido aplicadas há mais de 15 anos. Essa prevenção
primária das exposições ocupacionais continua sendo eficaz e eficiente na proteção
dos profissionais da área da saúde (PAS). No entanto, verificamos que a adesão a
essas medidas é, por vezes, descontínua e contraditória e leva a uma
potencialização dos riscos e aumento substancial de exposições ao material
biológico. Isso nos leva a indagar sobre outros fatores que podem contribuir para
esse tipo de comportamento por parte dos PAS. Nessa perspectiva, investigar os
aspectos subjetivos que influenciam nas condutas e atitudes dos profissionais da
enfermagem à adesão ao equipamento de proteção individual (EPI) torna-se
importante. Assim, o objetivo deste estudo foi analisar as razões, atitudes e crenças
dos trabalhadores de enfermagem referentes à adesão aos equipamentos de
proteção. Estudo qualitativo realizado em dezembro de 2008 em um hospital
universitário de grande porte do município de Goiânia. Foram observados os
aspectos ético-legais. Os dados foram coletados por meio da técnica do grupo focal
utilizando-se de questões norteadoras. Participaram desse estudo 15 profissionais
da área da enfermagem, os quais constituíram três grupos focais com cinco
participantes em cada grupo. Os dados foram analisados à luz do Modelo de
crenças em saúde, de Rosenstock e pelo Método de Interpretação de Sentidos,
segundo os temas Segurança no trabalho e Relacionamento Interpessoal. Foi
possível identificar que as relações interpessoais interferem nas questões da
segurança e proteção individual, em vários níveis no ambiente de trabalho, tanto nos
aspectos organizacionais e gerencias, quanto na relação com as outras categorias
profissionais e com os outros setores do hospital. Essa relação mostrou-se uma via
de mão dupla e não podemos desconsiderar os fatores individuais e a percepção do
risco, que também interligadas com o ambiente de trabalho, influenciam na proteção
individual. As dificuldades como a sobrecarga de trabalho, estresse, falta de
motivação, comunicação e estrutura física inadequadas, não disponibilidade e difícil
acesso ao EPI, falta de rotinas e do fluxograma de atendimento pós-exposição a
material biológico, entre outros, interferem na adesão a esses equipamentos de
segurança, porém não os determinam. A adesão ao EPI é impregnada tanto pelo
contexto vivenciado no ambiente de trabalho, como também pelos valores e crenças
individuais, mas a decisão do uso do EPI é pessoal. As inúmeras barreiras
percebidas no ambiente laboral são forças contrárias que anulam as forças
impulsoras para a adesão aos equipamentos de proteção individual. Verificamos que
a abordagem qualitativa e a técnica do grupo focal forneceram-nos subsídios para a
análise e reflexão em relação à adesão ao EPI, além de direcionar possíveis
estratégias e medidas eficazes na prevenção e controle de infecções e na melhora
da adesão aos equipamentos de segurança.
Descritores: Equipamentos de proteção; Precauções universais; Enfermagem;
Grupos focais.
ABSTRACT
NEVES HCC. Personal protective equipment: the view of the nursing workers at a
university hospital. [dissertation]. Goiânia: Faculdade de enfermagem, Universidade
Federal de Goiás; 2009. 110 p.
The recommendations from the standard precautions that included the concepts of
universal precautions have been applied for more than 15 years. This primary
prevention of occupational exposure remains efficient and effective in protecting
professional health care (PHC). However, we found that adherence to these
measures is sometimes discontinuous and contradictory and leads to an
enhancement of the risks and substantial increase in exposure to biological material.
This leads us to inquire about other factors that may contribute to this kind of
behavior on the part of PHC. From this perspective, investigating the subjective
aspects that influence the behaviors and attitudes of nursing professionals to join the
personal protective equipment (PPE) becomes important. The objective of this study
was to analyze the reasons, attitudes and beliefs of nursing staff regarding
adherence to PPE. Qualitative study conducted in December 2008 in a large
university hospital in the city of Goiania. We observed the ethical-legal aspects. Data
were collected through focus group technique using guiding questions. The study
included 15 professionals of nursing, which formed three focus groups with five
participants in each group. Data were analyzed by the model of health beliefs (MCS)
of Rosenstock (1974b) and the method of interpretation of meaning, according to
security issues at work and Interpersonal Relationship. We could identify that
interpersonal relationships interfere with issues of safety and personal protection at
various levels in the workplace, both in the organizational and manage, and in
relation to other professions and other sectors of the hospital. This relationship
proved is a two-way process and we cannot ignore the factors and individual risk
perception, which is connected with the work environment, influence the individual
protection. Difficulties such as work overload, stress, lack of motivation,
communication, and inadequate physical infrastructure, lack of availability and limited
access to PPE, lack of routines and the assistance process after exposure to
biological material, among others, interfere with adherence to such safety equipment,
but not determine them. Joining the PPE is impregnated by the context as
experienced in the workplace, but also by individual values and beliefs, but the
decision to use the PPE is personal. The numbers of perceived barriers in the work
environment are opposing forces that cancel the driving forces for adherence to
personal protective equipment. We note that the qualitative and focus group
technique provided us with input for analysis and reflection on the accession to the
PPE as well as direct possible strategies and effective measures to prevent and
control infections and improve adherence to safety equipment.
Key words: Protective Devices; Universal Precautions; Nursing; Focus Groups.
RESUMEN
NEVES HCC. Equipos de seguridad: La visión de los trabajadores de enfermería em
uno hospitale universitario. [dissertación]. Goiânia: Faculdade de enfermagem,
Universidade Federal de Goiás; 2009. 110 p.
.
Las recomendaciones de las precauciones estándar que incluía los conceptos de las
precauciones universales, se han aplicado más de 15 años. Esta prevención
primaria de la exposición en el trabajo sigue siendo eficiente y eficaz en la protección
profesional de la salud (PS). Sin embargo, encontramos que la adhesión a estas
medidas es a veces discontinua y contradictoria y conduce a un aumento de los
riesgos y aumenta sustancialmente la exposición a material biológico. Esto nos lleva
a preguntar acerca de otros factores que pueden contribuir a este tipo de
comportamiento por parte de PS. Desde esta perspectiva, la investigación de los
aspectos subjetivos que influyen en los comportamientos y actitudes de los
profesionales de enfermería para adherir al equipo de protección individual (EPI) se
vuelve importante. El objetivo de este estudio fue analizar las razones, actitudes y
creencias del personal de enfermería en relación con la adhesión a los EPI. Estudio
cualitativo realizado en diciembre de 2008 en un gran hospital universitario en la
ciudad de Goiânia. Hemos observado los aspectos ético-legales. Los datos fueron
recolectados a través de la técnica del grupo focal utilizando preguntas guía. El
estudio incluyó a 15 profesionales de enfermería, que formaron tres grupos de
discusión con cinco participantes en cada grupo. Los datos fueron analizados por el
modelo de creencias de salud (MCS) de Rosenstock (1974b) y el método de
interpretación del significado, de acuerdo a las cuestiones de seguridad en el trabajo
y Relaciones Interpersonales. Se pudo identificar que las relaciones interpersonales
relacionadas con las cuestiones de seguridad y protección personal a diversos
niveles en el lugar de trabajo, tanto en la organización y gestión, y en relación a
otras profesiones y otros sectores del hospital. Esta relación demostró ser un tramo
de doble mano y no podemos ignorar los factores y la percepción del riesgo
individual, que también está conectada con el medio ambiente de trabajo, y influyen
en la protección individual. Dificultades tales como la sobrecarga de trabajo, el
estrés, la falta de motivación, la comunicación y la infraestructura física inadecuada,
falta de disponibilidad y acceso limitado a el EPI, la falta de rutinas y el proceso de
asistencia después de la exposición a material biológico, entre otros, interfieren con
la adhesión a equipo de seguridad tal, pero no determinan. La adherencia al EPI
está impregnada por el contexto, como sucedió en el lugar de trabajo, sino también
por los valores y creencias, pero la decisión de utilizar el EPI es personal. El número
de barreras que se perciben en el ambiente de trabajo, son fuerzas que se oponen a
las fuerzas impulsoras para la adhesión a los equipos de protección personal.
Tomamos nota de que la calidad y técnica del grupo focal nos proporcionó
información para el análisis y la reflexión sobre la adhesión al programa ampliado de
prevención, así como dirigir las estrategias posibles y las medidas efectivas en la
prevención y control de infecciones y en la mejorar de la adhesión a los equipos de
seguridad.
Palabras clave: Equipos de Seguridad; Precauciones Universales; Enfermería;
Grupos Focales.
15
INTRODUÇÃO
No decorrer da nossa trajetória acadêmica no curso de enfermagem,
despertamos para os riscos relativos à ocorrência de infecções hospitalares (IH) bem
como às medidas de controle como as precauções padrão (PP). Quando
ingressamos no Núcleo de Estudos e Pesquisa em Infecção Hospitalar (NEPIH) da
Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás (UFG), começamos a
aprofundar os conhecimentos, por meio de pesquisas quanto ao uso e manuseio dos
equipamentos de proteção individual (EPI), que compõem as medidas de
precauções padrão.
Chamavam-nos a atenção os discursos e as práticas realizadas pelos
profissionais da área da saúde (PAS), pois poucos valorizavam a prevenção de
infecções associadas aos cuidados em saúde (IACS), renegando assim a própria
proteção e a do paciente.
Na Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) de um hospital de
Goiânia, no Estado de Goiás, como voluntária, desenvolvemos atividades diárias e
sistematizadas de busca ativa e passiva de IACS, as quais proporcionaram-nos a
observação também das práticas dos PAS em relação ao equipamento de proteção
individual. As nossas percepções relacionadas à dificuldade de adesão aos EPI se
confirmaram, revelando a fragilidade do conhecimento dos profissionais da área da
enfermagem acerca desses equipamentos de segurança.
Essa inconsistência de conhecimentos somados aos fatores indicados como
desestimulantes para o seu uso como o desconforto físico, a não disponibilidade
destes nos serviços de assistência à saúde (SAS), a interferência no desempenho
técnico, entre outros, colocam esses profissionais em riscos de exposição a material
biológico, evidenciando a vulnerabilidade no exercício de suas profissões.
Ao participarmos do programa de bolsistas de Iniciação Científica, nos
dedicamos aos estudos referentes à adesão ao EPI buscando respostas a essas
indagações na pesquisa quantitativa. Em um dos estudos realizados (SOUZA et al.,
2008a), que objetivou verificar a compreensão dos alunos do último ano do curso de
enfermagem do Estado de Goiás acerca do uso EPI, bem como a contribuição das
instituições formadoras para a construção desse conhecimento, revelou múltiplas
condutas dos alunos referentes ao uso e manuseio de avental, luvas, máscara,
16
óculos e gorro. Embora relatassem fazer uso de EPI, não conheciam suas
finalidades de uso, ainda que tenham sido abordadas em disciplinas curriculares. O
conhecimento mostrou-se inconsistente e sinalizou falha no processo de ensino, o
que propicia uma vulnerabilidade aos acadêmicos em relação à prevenção de
infecções adquiridas ocupacionalmente.
Dos graduandos de enfermagem direcionamos nosso foco para os PAS dos
serviços de endoscopia do município de Goiânia para vislumbrarmos melhor a
prática em relação ao uso de EPI, bem como os fatores que levavam a não adesão.
Os resultados evidenciaram que as luvas de procedimentos, avental de tecido e
sapatos fechados, obtiveram maior adesão pelos profissionais durante a realização
dos exames de endoscopia e da limpeza e desinfecção do endoscópio. Porém, os
óculos protetores, máscara química e avental impermeável obtiveram índices
extremamente baixos, demonstrando que os profissionais estão expostos tanto ao
risco biológico quanto ao químico devido ao mau uso dos EPI (NEVES et al., 2008).
As dificuldades de adesão ao EPI relatadas na literatura são atribuídas à má
qualidade do equipamento, não disponibilização deste pelos SAS, falta de tempo e
situações de emergência, sobrecarga de trabalho, incômodo, calor, falta de
conhecimento do uso e manuseio e principalmente, à falta de conscientização e
subestimação do risco (FLORÊNCIO et al., 2003; MELO et al., 2006; SOUZA, 2001;
SOUZA et al., 2008a).
A percepção do risco é um forte fator motivador para determinar se as PP
devem ou não ser seguidas (CUTTER; GAMMON, 2007). O que mais preocupa é
que apesar dos riscos visíveis a que os trabalhadores de enfermagem estão
expostos, eles desempenham suas atividades, muitas vezes, sem equipamentos de
proteção individual, até mesmo desprovidos de quaisquer questionamentos sobre
sua segurança pessoal. Ao que parece, tudo já é tão familiar que não representa
risco algum (SOUZA, 2001).
A ocorrência de situações de risco leva à percepção da susceptibilidade a
esses riscos, desencadeando estímulos para a ação, sendo que a possibilidade de
tomar uma decisão em direção ao comportamento preventivo é maior do que
quando ele subestima o risco ou não se percebe exposto (ROSENSTOCK, 1974a).
O primeiro passo para prevenir riscos no local de trabalho é conhecer esses
riscos, de que forma eles ocorrem, quem está exposto a eles e que medidas podem
ser adotadas a fim de preveni-los ou minimizá-los. A percepção do risco de acidente
17
é que levará o trabalhador a aderir às medidas sabidamente eficazes para a sua
proteção (SOUZA, 2001).
Contudo, a não adesão ou a baixa adesão às recomendações quanto a
utilização de barreiras de proteção é a realidade atual. Sadoh et al. (2006)
constataram que menos de dois terços dos profissionais da enfermagem usavam o
EPI. O estudo de Ganczak e Szych’s (2007) demonstrou que somente 5% das
enfermeiras do centro cirúrgico utilizavam todos os EPI quando em contato com
material potencialmente infectante. Esses dados nos levam a indagar sobre outros
fatores que podem contribuir para esse tipo de comportamento por parte dos PAS,
muitos ainda desconhecidos.
Apropriadas estratégias podem beneficiar a adesão ao EPI e reduzir os riscos
de infecção, porém é imprescindível entendermos porque a adesão é tão baixa. As
recomendações das precauções padrão desde que incluíram os conceitos das
precauções universais, têm sido aplicadas há mais de 15 anos. Essa prevenção
primária das exposições ocupacionais continua a ser eficaz e eficiente na proteção
dos trabalhadores da saúde, no entanto, verificamos que a adesão a essas medidas
é, por vezes, descontínua e contraditória e leva a potencialização dos riscos e
aumento substancial de exposições ao material biológico.
As atividades educativas têm se revelado como boa estratégia diante da
adesão às PP, especialmente ao EPI, porém os efeitos da educação permanente
frente às medidas de controle de infecção hospitalar são de curta duração
(CUTTER; GAMMON, 2007; HINKIN; GAMMON; CUTTER, 2008; NEVES et al.,
2006; RASKIND et al., 2007).
O estudo de Brevidelli e Cianciarulo (2006) constatou que apesar da
educação ter tido forte influência sobre o comportamento dos profissionais da saúde,
apontam a necessidade de re-elaborar seu foco de atenção para a criação de uma
consciência sobre o risco envolvido na prática clínica. Sugerem também, uma
abordagem educativa associada aos riscos ocupacionais e aos procedimentos de
trabalho, de tal forma que os profissionais sejam capazes de perceber o uso de
todos os equipamentos de proteção individual.
Diante disso, consideramos que as intervenções educativas necessitam ser
abordadas sob o enfoque problematizador que, a partir das vivências dos próprios
profissionais, possam discutir fragilidades, potencialidades e construir, de forma
consciente, estratégias capazes de mudar a prática de segurança na assistência.
18
Melhorar a adesão envolve mudança de comportamento e incluem múltiplas
variáveis como razões, crenças, atitudes e percepção do risco dos PAS. A
identificação desses fatores, assim como a incorporação destes às intervenções no
âmbito do controle de infecção, proporcionará mudanças individuais de
comportamento frente à proteção e segurança no trabalho.
Apesar de fácil compreensão, a implementação das PP para a enfermagem
ainda representa um desafio. Dentre os motivos que interferem na adesão a estas
medidas para os profissionais estão os aspectos da subjetividade como crenças,
valores, percepções e atitudes (GIR et al., 2004; MELO et al., 2006). Teoricamente
as normas de biossegurança são aceitas por todos, no entanto elas ainda não
permeiam a prática diária com a mesma intensidade. Valores diferenciados são
atribuídos ao risco de infecção conforme a categoria profissional, a atividade
executada e o tempo de experiência na assistência a pacientes considerados de
risco.
As propostas dos programas de incentivo às práticas de biossegurança,
dentre elas as relacionadas ao uso do EPI, focalizam predominantemente os
aspectos epidemiológicos, biológicos e econômicos, deixando de lado os fatores
históricos, sócio-culturais e psicológicos dos PAS. No nosso ponto de vista, falar em
políticas de controle de infecção e adesão a essas medidas implica em considerar
os determinantes das práticas cotidianas, dos profissionais da área da enfermagem,
atreladas às crenças, atitudes, valores e normas.
A adesão ao equipamento de proteção individual, portanto, como fenômeno
complexo, não pode ser reduzido a apenas aspectos da lógica racional, devendo ser
consideradas também as influências sócio-culturais, psicológicas, emocionais e
principalmente, as relações interpessoais.
Nessa perspectiva, investigar os aspectos do universo simbólico desses
trabalhadores expressados pela forma como produzem o trabalho a partir de regras,
códigos e convenções inseridos em um processo sócio-histórico, o qual interfere no
modo de produção do trabalho e sua segurança, torna-se importante, no sentido de
contribuir para a melhora da adesão aos equipamentos de proteção individual.
E quais são os determinantes desse universo simbólico que influenciam na
adesão ao EPI? Com essa inquietação, ingressamos no Mestrado em Enfermagem
com o intuito de entender a problemática verificada na adesão aos EPI. Alicerçadas
pela pesquisa qualitativa, visamos à compreensão desses fatores que impulsionam
19
ou não a adesão ao equipamento de proteção individual, pelos trabalhadores da
área da enfermagem.
20
1. OBJETIVO
- Analisar as razões, atitudes e crenças dos trabalhadores de enfermagem
referentes à adesão aos equipamentos de proteção individual.
21
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1. Precauções padrão
Na década de 80 com a emergência de novos patógenos e de
microrganismos multidrogaresistentes e a situação de epidemia e endemia
relacionadas a infecção nosocomial, levaram a indagações que culminaram com a
criação do “Guideline for Isolation Precautions in Hospital”, publicado em 1983
(GARNER; SIMMONS, 1983).
Essas precauções incluíram a proteção contra os vírus HIV, hepatite B (VHB)
e outros patógenos veiculados pelo sangue durante a exposição ocupacional e
continha muitas mudanças importantes. Uma das mais relevantes foi em relação a
maior ênfase dada às tomadas de decisões por parte dos profissionais da área da
saúde. As CCIH poderiam escolher entre as categorias específicas de doença ou
específicas de isolamento e até mesmo desenvolver um sistema exclusivo de
isolamento adequado às suas necessidades e circunstâncias de acordo com as
orientações dos Centers for Disease Control and Prevention (CDC) (GARNER;
SIMMONS, 1983).
Outro ponto importante foi em relação à proteção individual. Essa estratégia
encorajava a tomada de decisão por parte do profissional, definindo a necessidade
do uso de EPI, mediante exposição a materiais contaminados (GARNER;
SIMMONS, 1983).
Um fato que inegavelmente revolucionou as medidas de precauções e
isolamento foi o advento da aids. A transmissão da aids ocupacional tomou maior
dimensão para os trabalhadores da saúde a partir do primeiro caso comprovado
ocorrido com uma enfermeira em um hospital da Inglaterra em 1984 (NEEDLESTICKS
TRANSMISSION OF HTLV-III
, 1984).
A expansão dessa doença na década de 80 e as intervenções pouco
eficazes para seu controle provocaram questionamentos dos modelos
epidemiológicos vigentes e dos modelos de prevenção, sendo determinantes para
que se pudesse repensar o conceito de risco e avançar nas questões da
vulnerabilidade (NICHIATA et al., 2008).
22
Assim em 1987, na tentativa de diminuir o risco de transmissão ocupacional
de patógenos veiculados pelo sangue, os CDC publicaram as Precauções
Universais (PU). Essas precauções se destacavam por reconhecer a universalidade
do risco e a necessidade de adoção de medidas preventivas no atendimento a todo
e qualquer paciente, independente do diagnóstico (CDC, 1987, 1988).
As PU incluíam o uso de barreiras para a proteção do profissional como o
avental, luvas, óculos, com grande ênfase para a lavagem de mãos e cuidado com
material perfurocortante (CDC, 1987, 1988).
Porém, as PU não se aplicavam a fezes, urina, secreções nasais, escarro,
suor, lágrimas ou vômitos, uma vez que esses fluidos não foram associados de
forma epidemiológica à transmissão de patógenos (CDC, 1987, 1988).
Concomitantemente ao surgimento das PU, foi proposto o sistema de
Isolamento de substâncias orgânicas que estendia a aplicação de precauções ao
manuseio de todos os fluidos orgânicos, incluindo aqueles que não estavam
contidos nas precauções universais. Um ponto polêmico dessas medidas era a
utilização indiscriminada de luvas como barreiras de proteção ao manusear fluidos
orgânicos, em detrimento da lavagem de mãos (GARNER, 1996).
Em 1996, após revisão, as precauções universais foram re-editadas com o
nome de Precauções Padrão (PP) sintetizando a maioria das PU e das precauções
com fluidos orgânicos. Tal norma amplia os cuidados não apenas para o sangue,
mas também para todas as secreções orgânicas com exceção de lágrimas e suor.
Inclui também apropriada higienização das mãos e precauções do tipo barreira, com
o uso de luvas para o manuseio de todos os fluidos orgânicos, dentre outros
(GARNER, 1996).
Porém, somente as PP não são suficientes para assegurar a proteção do
PAS. Associadas a essas condutas, neste manual de 1996, foram estabelecidas
práticas adicionais específicas, baseadas no mecanismo de transmissão das
doenças, que incluíram as precauções respiratórias para gotículas, precauções
respiratórias para aerossóis e precauções de contato (GARNER, 1996).
Essas medidas devem ser adicionais às PP e adotadas no atendimento a
pacientes sob suspeita ou diagnóstico confirmado de doenças transmitidas por
patógenos epidemiologicamente importantes como, por exemplo, M. tuberculosis,
vírus do sarampo, MRSA, dentre outros (GARNER, 1996).
23
As precauções respiratórias para gotículas são indicadas para pacientes
portadores de microrganismos transmitidos pela via respiratória (partículas maiores
que 5 micra), nas quais podem ser geradas por meio de tosse, espirro, fala ou na
realização de alguns procedimentos que envolvem o manuseio do trato respiratório
(GARNER, 1996; SIEGEL et al., 2007).
Os agentes infecciosos para os quais são indicadas essas precauções
incluem patógenos como o vírus da influenza, adenovírus e N. meningitides. Para
esta situação é indicado o uso de máscara cirúrgica para o PAS e quarto privativo
para o paciente. Quando estritamente necessário, para o transporte dos pacientes
com precauções para gotículas, deve-se utilizar uma máscara cirúrgica, visando à
proteção coletiva (GARNER, 1996; SIEGEL et al., 2007).
As precauções respiratórias para aerossóis são medidas utilizadas para evitar
a transmissão de agentes infecciosos que podem ser dispersados para outros
ambientes do meio intra-hospitalar e permanecerem alocados no ambiente por
várias horas como, por exemplo, M. tuberculosis e vírus da varicela (CDC, 2005).
Essas medidas devem ser adotadas em pacientes sob suspeita ou
portadores de microrganismos transmitidos por aerossóis (partículas menores que 5
micra). Para essa situação são indicados quarto privativo para o paciente com
controle do ar, pressão negativa, sistema com trocas de ar/hora, saída apropriada do
ar ou filtro High Efficiency Particulate Air (HEPA), bem como manutenção de portas
fechadas. Para o PAS é recomendada a proteção respiratória por meio da máscara
N95 no momento da assistência ao paciente e durante o tempo de permanência no
quarto. Quando estritamente necessário, para o transporte do paciente, deve-se
utilizar uma máscara cirúrgica (CDC, 2005).
As precauções de contato visam evitar a transmissão de agentes infecciosos
epidemiologicamente importantes, como o vírus do herpes e escabiose, por meio do
contato direto e indireto. São indicadas em todas as situações que houver contato
com o paciente colonizado ou infectado por esses patógenos (GARNER, 1996;
SIEGEL et al., 2007).
Para essa precaução é indicado quarto privativo para o paciente e para o
PAS, o uso de avental e luvas em todas as interações que houver contato direto ou
indireto com o paciente. Os equipamentos de proteção devem ser colocados antes
de entrarem no quarto e retirados imediatamente após saírem, ao término da
assistência (GARNER, 1996; SIEGEL et al., 2007).
24
Com a transição do sistema de saúde do ambiente hospitalar para o extra-
hospitalar, como o atendimento domiciliar, ambulatorial e em relação aos cuidados
de longa duração, vislumbrou-se a necessidade de aplicar os princípios de controle
de infecção em todas as situações independente do local. Nesse contexto, em 2007
com a revisão das PP, foram publicadas as Precauções de Isolamento (PI) e o termo
infecção hospitalar (IH) foi ampliado para infecção associada a cuidados em saúde
(IACS) (SIEGEL et al., 2007).
Devido a experiência bem sucedida das PP, as diretrizes do novo manual
vêm reafirmá-las e adicionar as práticas seguras de injeção. Essas práticas incluem
a utilização de dispositivos de segurança, devido ao risco representado para os
pacientes, especialmente em relação aos frascos de multi-dose e ao crescente
número de surtos de pacientes e de PAS infectados com os vírus HIV, HBV e HCV
(SIEGEL et al., 2007).
As PP têm se mostrado eficazes na redução de IACS tanto na saúde dos
pacientes quanto dos PAS (BREVIDELLI; CIANCIARULO, 2006; CULLEN et al.,
2006; HINKIN; GAMMON; CUTTER, 2008; MELO et al., 2006; SIEGEL et al., 2007;
SOUZA et al., 2008a).
Para Melo et al. (2006) as PP são um conjunto de ações planejadas, que
objetivam a proteção dos pacientes e profissionais. Dessa forma, o uso das PP
constitui-se uma prevenção primária da exposição a material biológico, sendo
considerada uma maneira segura e necessária para reduzir a exposição ocupacional
a sangue e outros fluidos corpóreos.
As PP incluem o uso de EPI visando a proteção coletiva e em especial, a do
profissional da saúde. Os equipamentos de proteção referem-se a barreiras
utilizadas isoladamente ou em combinação para promover a proteção das
membranas mucosas, vias aéreas, pele e vestuário dos PAS, sempre que houver
possibilidade de exposição a material biológico ou contato com agentes infecciosos.
A seleção desses equipamentos deve ser de acordo com a natureza da interação
com o paciente e/ou provável modo de transmissão (MELO, 2005; SIEGEL et al.,
2007).
Os equipamentos de segurança são elementos fundamentais necessários
para a prevenção da transmissão de agentes infecciosos nos cuidados em saúde e
de acordo com o guia dos CDC de 2007 (SIEGEL et al., 2007), incluem:
25
Luvas: usadas para prevenção de contaminação das mãos dos PAS quando:
contato direto antecipado a sangue ou fluidos corpóreos, membranas mucosas, pele
não intacta e outros materiais potencialmente contaminados; contato direto com
pacientes que são colonizados ou infectados com patógenos transmitidos pelo
contato direto, como por exemplo, Methicillin Resistant Staphylococcus aureus
(MRSA); o manuseio ou toque de superfícies ou artigos potencialmente
contaminados utilizados no cuidado ao paciente.
As luvas quando usadas em combinação com outros EPI devem ser as
últimas a serem colocadas e as primeiras a serem retiradas. Reduzem a transmissão
de microrganismos veiculados pelo profissional tanto para a equipe de trabalho,
quanto para os pacientes, além de promover proteção ao paciente, sobretudo em
procedimentos que exigem os princípios da assepsia.
As luvas devem ser substituídas, no mesmo paciente sempre que houver
mudança de sítio para prevenir contaminação cruzada; a cada paciente; e quando a
interação envolver cuidados ao paciente e ao manuseio de equipamentos. São de
uso único e não devem ser reutilizadas, pois sua integridade não é garantida (REIS
et al., 2008; SIEGEL et al., 2007).
A proteção evidenciada pelas luvas diante de um acidente com material
perfurocortante ainda não é determinada, mas sabe-se que ela reduz o volume de
sangue que entra em contato com o PAS (LIMA; PINHEIRO; VIEIRA, 2007; SIEGEL
et al., 2007).
Avental: tem a finalidade de proteger os braços, o corpo e o vestuário do
PAS da contaminação com sangue, fluidos corporais e outros materiais
potencialmente infecciosos. Deve ser usado sempre em combinação com as luvas e
os outros EPI em todas as situações que houver a possibilidade de contato com
sangue, líquidos corporais, secreções, excreções ou artigos contaminados, ou nas
situações de assistência a pacientes em precauções de contato e isolamento.
Nos SAS vários tamanhos de avental devem estar disponíveis para garantir
adequada proteção. O avental é a primeira peça a ser colocada e deve ser removido
de forma a evitar a contaminação da pele e roupas do profissional.
Esse equipamento de proteção reduz a possibilidade de transmissão de
microrganismos para o profissional, equipe e pacientes, sendo assim, imprescindível
a utilização deste ao atender os pacientes (MELO, 2005). Eles devem ser trocados
26
por período de atendimento ou, no máximo, diariamente, e sempre que estiverem
visivelmente sujos (TIPPLE et al., 2003). A literatura evidencia que uma pequena
redução na transmissão de MRSA é atribuída ao aumento do uso do avental
(GRANT et al., 2006).
Máscara: as mucosas da boca, nariz e olhos são portas de entrada
suscetíveis à infecção pela exposição durante a realização de procedimentos.
Portanto, a utilização de EPI para proteger estes sítios do corpo é um componente
importante das precauções padrão.
As máscaras são utilizadas para proteger o PAS quando há a possibilidade de
respingos e aerossóis de sangue, fluidos corporais, secreções e excreções na face
ou na mucosa durante o atendimento ao paciente. Podem ser usadas em
combinação com os óculos protetores, propiciando uma proteção mais ampla.
Conforme o procedimento realizado, considerando o tamanho da partícula
aérea infectada ou passível de contaminação, há indicação de diferentes tipos de
máscaras de acordo com a sua capacidade e devem ser selecionadas de acordo
com o nível de exposição. As máscaras possuem diferentes formas, modelos,
tamanhos, eficiência de filtração, e método de fixação (por exemplo, laços,
elásticos).
Nos SAS diversos tipos de máscaras são necessários para satisfazer
necessidades individuais dos PAS. As máscaras devem ser utilizadas de forma a
cobrir boca e nariz, trocadas entre clientes sempre que possível e descartada
imediatamente após o uso.
Protetores oculares e faciais: eles devem ser utilizados sempre que houver
possibilidade de respingo e/ou aerossóis de sangue ou fluidos corpóreos. É
necessária a disponibilização de diferentes tipos, estilos e tamanhos dos óculos de
proteção, bem como serem confortáveis, suficientes para permitirem uma visão
periférica, além de ajustáveis para garantir uma segurança adequada.
Lentes de contato e óculos corretivos não substituem os óculos protetores e,
há modelos que são perfeitamente adaptáveis aos óculos de correção (BRASIL,
2005; SIEGEL et al., 2007; SOUZA et al., 2008a).
Embora os óculos ofereçam uma proteção eficaz às mucosas oculares, os
protetores faciais proporcionam uma ampla proteção além dos olhos, quando há
27
possibilidade de grande quantidade de aerossóis e respingos. Vale salientar que os
protetores faciais não substituem o uso de máscara. Mesmo que não haja aerossóis
recomenda-se a utilização desses equipamentos para patógenos específicos do
trato respiratório.
A remoção dos protetores faciais e oculares pode ser realizada com
segurança após a retirada das luvas, sendo imprescindível a higienização das mãos
em seguida. Os laços, peças nas orelhas e/ou cabeça utilizados para fixar o
equipamento são considerados "limpas” e, portanto, seguros para tocar com as
mãos. No entanto, a frente de uma máscara, óculos e protetor facial são
considerados contaminados.
Os óculos protetores são artigos reutilizáveis e requerem limpeza com água e
sabão entre os atendimentos (SOUZA et al., 2008a) e quando há exposição a
secreções, como ocorre com os aerossóis, a desinfecção é aconselhada (GARNER,
1996).
Os sapatos fechados também são considerados EPI obrigatórios para os
PAS, de acordo com a NR 32/2005 do Ministério do Trabalho, pois têm a finalidade
de eliminar os riscos de exposição a material biológico e evidenciar maior proteção a
esses trabalhadores (BRASIL, 2005).
Equipamento de proteção individual é fundamental para uma prática segura
em serviços de assistência à saúde. Entretanto, essa segurança se efetivará não
apenas pela adoção destes equipamentos, mas pela forma como são utilizados e
manuseados (TIPPLE et al., 2003). Diante disso, Siegel et al. (2007) recomendam a
forma de colocação e remoção desses equipamentos.
Ao colocar os equipamentos de proteção primeiramente devemos colocar o
avental, seguido das máscaras, posteriormente os protetores oculares e faciais e por
último as luvas (Figura 1).
28
Figura 1: Exemplo de colocação do EPI de forma segura.
Fonte: Siegel JD, Rhinehart E, Jackson M, Chiarello L. Health Care Infection Control Practices Advisory
Committee. Guideline for Isolation Precautions: Preventing Transmission of Infectious Agents in Health
Care Settings. Am J Infect Control. 2007;35(10 Suppl 2):S65-164.
Da mesma forma, a sequência para retirar os equipamentos deve ser
observada. As luvas são as primeiras a serem retiradas, em seguida os protetores
faciais e oculares, posteriormente o avental e por último a máscara (Figura 2).
Figura 2: Exemplo de remoção do EPI de forma segura. Fonte: Siegel JD, Rhinehart E, Jackson M,
Chiarello L. Health Care Infection Control Practices Advisory Committee. Guideline for Isolation
Precautions: Preventing Transmission of Infectious Agents in Health Care Settings. Am J Infect Control.
2007;35(10 Suppl 2):S65-164.
29
Desenvolver e validar um protocolo para a remoção do EPI que evita a
contaminação da pele e das roupas do PAS é uma importante chave que tem como
intuito interromper a transmissão nosocomial de agentes infecciosos.
Casanova et al. (2008), ao avaliarem a remoção do EPI para verificar a
contaminação do PAS com patógenos, demonstraram que o protocolo estabelecido
pelo CDC ainda é insuficiente para proteger PAS de contaminação durante a
remoção do equipamento de proteção.
Assim sugerem alternativas para prevenir essa contaminação, tais como o
uso de duas luvas, para não manusear o EPI sem luvas; a utilização de protocolos
cirúrgicos para remoção e EPI impregnado com um agente antimicrobiano,
reduzindo ou eliminando a contaminação da pele e roupas dos PAS (CASANOVA et
al., 2008). Entretanto, vale salientar o grande progresso e avanço nas questões
referentes à segurança e à proteção dos PAS com a criação de um protocolo de
colocação e remoção desses equipamentos para o estabelecimento de
padronização de rotinas.
É importante ressaltar que a higienização das mãos deve ser sempre
realizada antes da colocação do EPI e após a remoção e eliminação destes
(CASANOVA et al., 2008; SIEGEL et al., 2007).
2.2. A adesão ao EPI na prática da enfermagem
O trabalho, por ser uma atividade eminentemente social, exerce um papel
fundamental nas condições de vida do homem. Produz efeito positivo quando é
capaz de satisfazer às necessidades básicas de subsistência, de criação e de
colaboração dos trabalhadores. Por outro lado, ao realizá-lo, o homem expõe-se
constantemente aos riscos presentes no ambiente laboral, os quais podem interferir
diretamente em sua condição de saúde (MELO, 2005).
Entre os trabalhadores da área da saúde, os profissionais da enfermagem são
indivíduos expostos aos variados riscos, tais como os causados por agentes
químicos, físicos, biológicos, psicossociais e ergonômicos. O grupo de maior
percentual de acidentes com material biológico são os profissionais da enfermagem,
pois permanecem mais tempo e em contato direto com os pacientes durante a
30
assistência, em virtude da rotina profissional (ALMEIDA; BENATTI, 2007;
BALSAMO; FELLI, 2006; GIR et al., 2008; LEIGH et al., 2008; MOURA; GIR;
CANINI, 2006; PAULINO; LOPES; ROLIM, 2008).
Jovic-Vranes et al. (2006) constataram que de acordo com as frequentes
exposições percutâneas e o contato da pele com sangue ou outros materiais
contendo líquidos corpóreos, a enfermagem foi a categoria profissional mais exposta
ao risco biológico. Entretanto, revelou os menores índices de auto-proteção.
Diante do risco biológico, as infecções mais preocupantes são aquelas
causadas pelos vírus da aids (HIV), da hepatite B (HBV) e da hepatite C (HCV)
(BREVIDELLI; CIANCIARULO, 2006). A principal via de transmissão ocupacional
aos vírus HIV, HBV e HCV é por meio da exposição a sangue via acidente
percutâneo. A literatura também evidencia que mais de 60 patógenos podem ser
veiculados por essa via de transmissão incluindo vírus, bactéria/rickettsia, parasitas
e leveduras (TARANTOLA; ABITEBOU; RACHILINE, 2006).
Os riscos de exposição ao HIV, HBV e HCV são proporcionais ao manuseio
de materiais perfurocortantes e fluidos orgânicos, sendo que o risco médio de
infecção pelo HCV após acidente ocupacional percutâneo é de 1,8%, podendo variar
de 0 a 7%. Em relação ao HBV, quando o paciente fonte é HbeAg positivo o risco
está estimado entre 6 a 30%, podendo atingir até 60%, quando nenhuma medida
profilática for adotada. Quando o paciente-fonte é positivo para o vírus HIV, o risco é
de aproximadamente 0,3 em exposição percutânea e de 0,09% após exposição de
membrana mucosa. E nas exposições com pele íntegra esse risco, embora exista, é
muito baixo e ainda não foi quantificado (BRASIL, 2006; CDC, 2001).
Existem fatores de risco que favorecem a contaminação pelos vírus HIV, HBV
e HCV, como a presença de lesão profunda, sangue visível no dispositivo, alta carga
viral (acima de 30.000 cópias), agulha previamente aplicada em veia ou artéria,
presença de lesões da pele ou mucosa exposta (como dermatites, corte e
queimaduras), maior tempo de exposição a secreções e área extensa exposta
(BRASIL, 2004; BRASIL, 2006; CDC, 2001).
O risco biológico representa 81% do total dos riscos a que os PAS estão
expostos no ambiente de trabalho (GIMENO et al., 2005). Em um estudo realizado
por Iwamoto et al. (2008), no Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional
da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) no período de 2005 e 2006,
identificou que, de acordo com a classificação dos trabalhadores segundo os riscos,
31
a maior parte desses trabalhadores 1.851 (60,14%) foram incluídos no grupo de
risco biológico.
Em 392 notificações de acidentes sofridos pelos trabalhadores de
enfermagem do estado do Paraná, entre os anos de 1997 a 2002, o risco biológico
representou 54,7% dos 717 acidentes notificados, evidenciando que o risco da
enfermagem é o dobro do risco de todos os outros trabalhadores, confirmando a
relevância do problema (SÊCCO; ROBAZZI, 2007).
Os acidentes acontecem em situações em que as medidas preventivas nem
sempre foram adotadas (ALMEIDA; BENATTI, 2007), sendo que as circunstâncias
mais frequentes que envolvem esses acidentes para os profissionais da
enfermagem são descarte de perfurocortante, administração de medicamentos,
reencape de agulha, coleta de sangue, punção venosa, aspiração orotraqueal e
limpeza, desinfecção ou esterilização de material (GALON; ROBAZZI; MARZIALE,
2008; OLIVEIRA; CAVALLI KLUTHCOVSKY; KLUTHCOVSKY, 2008; PAULINO;
LOPES; ROLIM, 2008).
Balsamo e Felli (2006), em estudo que objetivou caracterizar os trabalhadores
do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo, que sofreram acidentes de
trabalho com exposição aos líquidos corporais, identificaram que em 73% dos
acidentes houve presença de sangue e 20,83% dos trabalhadores informaram que
não estavam usando o equipamento de proteção individual.
No estudo de Galon, Robazzi e Marziale (2008) em 81 (86,17%) acidentes,
houve presença de sangue, os olhos ocuparam o segundo lugar como a região do
corpo mais atingida durante o acidente com 15 exposições e quando analisados os
formulários de notificação de acidentes, 89% não apresentavam informações quanto
ao uso do equipamento de proteção individual.
Essa situação é relevante, uma vez que esses acidentes são considerados
evitáveis graças ao uso dos óculos de proteção. Diante disso, o não uso dos óculos
protetores é vislumbrado na literatura, revelando uma baixa adesão dos profissionais
a esse equipamento, variando de 2% a 78% (BREVIDELLI; CIANCIARULO, 2006;
MANIAN; PONZILLO, 2007).
É recomendado que os PAS devam usar o EPI para qualquer contato com
sangue ou fluidos corpóreos, independente do diagnóstico. No entanto, a pesquisa
de Ganczack e Szych (2007) identificou que apesar do risco associado com o
contato com sangue, a adesão das enfermeiras ao EPI foi mínima, sendo que o uso
32
de luvas foi 83%, óculos de proteção 9% e em relação ao avental apenas um terço
informaram usarem regularmente.
As luvas funcionam como barreiras mecânicas e auxiliam na diminuição do
risco de contato com patógenos veiculados pelo sangue, reduzem o volume de
sangue injetado por agulhas, dado que, os fatores de risco para aquisição de vírus
depois da exposição ocupacional dependem da quantidade e do grau de contato do
trabalhador com o sangue inoculado. Entretanto, muitas vezes os PAS
desconhecem essa informação e acreditam que o uso deste EPI não diminui a
inoculação de sangue, o que tem sido uma barreira para a adequada utilização da
luva (ZAPPAROLI; MARZIALE; ROBAZZI, 2006).
Nishide, Benatti e Alexandre (2004) ao identificarem os acidentes de trabalho
ocorridos com os trabalhadores de enfermagem da Unidade de Terapia Intensiva de
um hospital universitário, verificaram que os acidentes de maior incidência (50%)
foram o contato de pele e mucosas com sangue e excretas. Em relação à utilização
dos EPI no momento do acidente, 60% dos trabalhadores não faziam uso.
Segundo Pinheiro e Zeitoune (2008) a utilização de EPI pela equipe de
enfermagem foi de 68,2%. Evidencia-se também a não utilização do EPI (FARIAS;
ZEITOUNE, 2005), dados que vêm ao encontro dos resultados da pesquisa de Gir et
al. (2008) sobre a análise das exposições com material biológico potencialmente
contaminado, dos quais em 114 (67,1%) dos casos, não havia informação sobre o
uso do equipamento de proteção e seis (3,5%) relataram que não usavam nenhum
tipo de equipamento no momento do acidente.
O EPI é o maior facilitador para a prevenção de acidentes, no entanto, a
resistência do profissional em utilizá-lo em decorrência da falta de adesão e ao uso
incorreto são as principais barreiras para prevenir esses acidentes (MALAGUTI et
al., 2008).
Os EPI, como as luvas, óculos de proteção, máscara, sapatos fechados e
aventais são essenciais medidas que evitam ou reduzem os riscos de exposição.
Entretanto, mesmo com a disponibilidade desses equipamentos nos locais de
trabalho, os PAS não os utilizam devido a fatores como, o desconforto, incômodo,
descuido, esquecimento, falta de hábito, inadequação dos equipamentos,
quantidade insuficiente do mesmo e a não utilização por achar desnecessário
(NISHIDE; BENATTI; ALEXANDRE, 2004; SOUZA et al., 2008a, 2008b; TIPPLE et
al., 2007).
33
Somados a esses fatores individuais do não uso do EPI observamos na
literatura também que essa baixa adesão é agravada pela precária infraestrutura,
aspectos organizacionais do trabalho, falta de EPI, falta de conhecimento devido a
não existência de educação permanente, assim como sobrecarga de trabalho,
estresse, cansaço físico e falta de tempo (CASTRO; FARIAS, 2008; DAMASCENO
et al., 2006; GIMENO et al., 2005; JOVIC-VRANES; JANKOVIC; VRANES, 2006;
LEIGH et al., 2008; RIBEIRO; SHIMIZU, 2007)
Em face do conhecimento do risco, a exposição ocupacional a material
biológico é uma das questões mais proeminentes na área de Segurança
Ocupacional (BREVIDELLI; CIANCIARULO, 2006). A gravidade do problema levou o
Brasil a instituir em 2005 a Norma Regulamentadora (NR 32), que estabelece as
diretrizes básicas para a aplicação de medidas de proteção à segurança e à saúde
dos trabalhadores dos serviços de saúde, com a finalidade de melhorar as
condições laborais nesses setores e minimizar os vários problemas ocupacionais
existentes (BRASIL, 2005).
Essa norma preconiza ainda que os serviços de assistência à saúde (SAS)
devem disponibilizar os EPI necessários em quantidade e qualidade suficientes à
execução das atividades, instruir os PAS em relação ao uso, bem como a
fiscalização do uso desses equipamentos de proteção, sendo dever dos
profissionais usá-los (BRASIL, 2005).
Farias e Zeitoune (2005) referem à percepção dos riscos pela equipe de
enfermagem e a ideia de que são inevitáveis devem ser modificadas, pois esses são
passíveis de prevenção. É de extrema relevância conhecê-los para que a
enfermagem desenvolva mecanismos de controle e proteção adequados,
objetivando a promoção da própria saúde e a dos demais profissionais da área da
saúde.
A prevenção de transmissão ocupacional de patógenos requer medidas
diversificadas para reduzir o risco. Sendo assim, as precauções padrão são
consideradas como uma das principais medidas preventivas para se evitar a
exposição e o apropriado uso do EPI pode minimizar consideravelmente esses
riscos.
Portanto, realizar a prevenção e o controle das infecções ocupacionais
relacionadas aos processos assistenciais à saúde é promover ações que têm como
fim a promoção e proteção à vida de seres humanos.
34
Porém, a aplicação das precauções não é suficiente para garantir as medidas
de prevenção, devendo fazer parte das estratégias as reflexões a respeito das
mudanças de comportamento e as causas dos acidentes (BALSAMO; FELLI, 2006).
Observamos que a adesão ao uso de EPI está intimamente relacionada à
percepção que os profissionais têm acerca dos riscos a que estão expostos e da
susceptibilidade a estes riscos. Os profissionais da área da enfermagem que
autoavaliam o risco de sofrerem acidentes percutâneos como “baixo” ou “médio”, em
seu setor de trabalho, têm maior chance de se acidentar, quando comparados com
aqueles que avaliam o risco como “alto” (CANINI et al., 2008).
Keller et al. (2005) identificaram que o equipamento de proteção era utilizado
pelas enfermeiras de maneira diferenciada, sendo seu uso baseado no nível de risco
durante o trabalho e de acordo com a interação com o paciente.
A relação entre o conhecimento e a adesão ao uso de barreiras de proteção
muitas vezes não é convergente. Os PAS conhecem os riscos de forma genérica,
porém esse conhecimento não se transforma numa ação segura de prevenção de
acidentes e doenças ocupacionais, apontando para a necessidade de uma ação que
venha modificar essa situação.
A falta de conhecimento e a fraca percepção do risco levam os profissionais
a utilizarem os equipamentos de segurança apenas mediante a confirmação do
diagnóstico. Essa falsa segurança aumenta significativamente a probabilidade de
aquisição de infecções transmitidas ocupacionalmente (CAIXETA; BARBOSA-
BRANCO, 2005; TIPPE et al., 2007).
Assim, diante dos riscos a que os PAS estão expostos e das práticas
observadas em relação à adoção das medidas de segurança recomendadas,
compreender os fatores que influenciam na tomada de decisão para a (des)
proteção torna-se imprescindível para que possamos refletir a prática dessas
medidas no cotidiano da equipe de enfermagem e direcionar estratégias que
propiciem a incorporação destas nos SAS.
35
2.3. Modelo de Crenças em Saúde
Alguns modelos teóricos tentam explicar a adoção de comportamentos
preventivos ao estabelecer relações entre o comportamento e as crenças
individuais. Dentre esses modelos elegemos para esse estudo o Modelo de Crenças
em Saúde (MCS) proposto por Rosenstock (1974a).
O MCS foi desenvolvido na década de 50, por um grupo de psicólogos
sociais, com o intuito de elucidar o comportamento em saúde das pessoas em
relação à reorientação do serviço de saúde pública dos EUA, que priorizou
programas de prevenção e detecção em detrimento do tratamento de doenças
(ROSENSTOCK, 1974a).
Essa reorientação, segundo Rosenstock (1974b), evidenciou a baixa
participação e a resistência das pessoas em aderir à prevenção das doenças, assim
como aos testes para a detecção precoce de doenças como tuberculose, câncer
cervical, febre reumática, poliomielite e influenza. Mesmo quando essas medidas
preventivas eram oferecidas a população gratuitamente ou a baixo custo, a baixa
adesão era observada.
O MCS foi publicado por Rosenstock (1966), e revelou a influência das
crenças e outras variáveis como idade, sexo, raça e classe social, no
comportamento preventivo em saúde.
Segundo esse modelo, a adoção de um comportamento preventivo depende:
do indivíduo se considerar suscetível a um problema de saúde, ou seja, acreditar
que esse problema pode afetá-lo (percepção da suscetibilidade); de o indivíduo
associar o problema de saúde à gravidade de suas consequências (percepção da
severidade); e acreditar que o problema de saúde pode ser prevenido com ações
(percepção de benefícios), cujos benefícios superam os aspectos negativos, tais
como impedimentos financeiros, desconforto, vergonha (percepção de barreiras)
(ROSENSTOCK, 1974b).
Os benefícios da ação são avaliados em função das barreiras para realizá-la.
Além disso, a presença de estímulos para a ação é importante para desencadear as
percepções de susceptibilidade e severidade, e motivar o indivíduo a agir
(ROSENSTOCK, 1974b).
36
A tomada de decisão em saúde, segundo Rosenstock (1974b) é um processo
mediado por quatro dimensões: suscetibilidade percebida, severidade percebida,
benefícios percebidos e barreiras percebidas.
Susceptibilidade percebida
Refere-se ao risco percebido de contrair uma doença. A aceitação da
susceptibilidade à doença sofre influência de fatores sócio-demográficos, varia entre
os indivíduos em três aspectos. Há aqueles que têm medo de toda e qualquer
possibilidade de contrair uma doença; outros que admitem a possibilidade estatística
de ocorrência de uma doença, mas a considera como uma possibilidade que
provavelmente não venha acontecer; e finalmente aqueles que expressam um
sentimento de que está realmente em perigo de contrair a doença.
Severidade percebida
A percepção da severidade está relacionada à percepção do perigo, ao medo
de adquirir a doença e às consequências que o indivíduo acredita que esta poderia
provocar em sua vida. A intensidade da severidade da doença é avaliada tanto pelo
grau de estimulação emocional criado em torno dela, como pelas consequências
biológicas, sociais, emocionais e financeiras que ela poderá acarretar.
A severidade de um determinado problema de saúde pode variar de pessoa
para pessoa e inclui implicações mais amplas e mais complexas como os efeitos da
doença sobre o seu trabalho, sobre a sua vida familiar, social e suas relações.
A percepção da susceptibilidade e da severidade da doença possui forte
componente cognitivo sendo, portanto, dependente do conhecimento.
Benefícios percebidos
Relacionam-se aos aspectos da ação em saúde percebidos como benéficos
para a tomada de decisão.
A percepção da susceptibilidade e da severidade da doença pode motivar o
indivíduo a tomar uma determinada conduta, porém não define o curso da ação a
ser realizada. O que direciona a ação são as crenças pessoais relativas à eficácia
37
das alternativas conhecidas e disponíveis para diminuir a ameaça da doença ou a
percepção dos benefícios de se tomar a ação.
Seu comportamento depende de quanto benefício ele acredita ter nas várias
alternativas em relação ao seu caso. Uma alternativa é vista como benefício quando
se refere à redução da susceptibilidade da pessoa ou da severidade da doença e
pode ser determinada pelas normas e pressões do grupo social.
Barreiras percebidas
Um indivíduo pode acreditar que uma dada ação será efetiva na redução da
ameaça da doença e, ao mesmo tempo, ver que aquela escolha remete aos
aspectos negativos, que impediriam ou impulsionariam a tomada de decisão. Pode
ser que traga desconforto, cause transtorno, seja desagradável e demande tempo.
Esses aspectos negativos das ações de saúde ou percepção de barreiras
podem agir como impedimentos para a adoção dos comportamentos recomendados
e podem gerar conflitos na tomada de decisão.
Assim, se a prontidão do indivíduo para realizar a ação for alta e os aspectos
negativos forem fracos, a ação preventiva provavelmente será realizada. Se, por
outro lado, houver fraca prontidão para a ação e os aspectos negativos forem vistos
como fortes, os aspectos negativos funcionaram como barreira para a ação
preventiva.
Quando há alta prontidão para a ação e as barreiras para esta são também
grandes, o conflito será mais difícil de resolver.
Quanto maior for a susceptibilidade, a severidade e a percepção dos
benefícios na ausência de barreiras, maiores serão as probabilidades do indivíduo
empreender um comportamento preventivo, o qual poderá traduzir-se em uma
modificação do comportamento.
Assim, a adesão ao EPI é um processo mediado pelas crenças (percepção da
suscetibilidade, severidade, benefícios e barreiras) e por outras variáveis de origem
extrínsecas e intrínsecas que direcionarão o comportamento em saúde.
38
2.4. Pressupostos do Estudo
Partimos do pressuposto de que o universo simbólico dos profissionais de
enfermagem construído de forma sócio-histórica determina o processo de trabalho, é
expresso de forma intencional, convencional, estrutural, referencial e contextual e
influencia na tomada de decisão em relação a (des) proteção desses profissionais
no ambiente laboral.
Acreditamos que as entrevistas realizadas por meio dos grupos focais e o
referencial teórico abordado nos permitirão compreender este complexo contexto no
qual se desenvolve o processo de trabalho e trarão indícios e subsídios que nos
possibilitarão aprofundar nas questões relacionadas à segurança no trabalho.
39
3. TRAJETÓRIA METODOLÓGICA
3.1. CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO
Estudo exploratório, de abordagem qualitativa. A razão pela qual optamos por
estudar o objeto de estudo proposto nessa perspectiva, se ampara na necessidade
de compreender o universo simbólico que permeia a adesão dos profissionais da
saúde aos EPI.
A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela
trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das
aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes. Esse conjunto
de fenômenos é entendido aqui como parte da realidade social, pois
o ser humano se distingue não só por agir, mas por pensar sobre o
que faz e por interpretar suas ações dentro e a partir da realidade
vivida e partilhada com seus semelhantes (MINAYO; DESLANDES;
GOMES, 2007, p.21).
Acreditamos que ao percorrermos esse caminho, será possível buscarmos
subsídios que possibilitem a apreensão da subjetividade, não somente das ações
humanas, mas também das relações que envolvem essa problemática.
Consideramos também que esta abordagem permite a imersão nos dados por
meio de uma perspectiva interpretativa, o que possibilita a elucidação das práticas
relacionadas à adesão dos profissionais de saúde ao equipamento de proteção
individual.
A investigação realizada nessa perspectiva se justifica ainda, pela tendência
observada nas pesquisas da área de controle de infecção que estudam o uso dos
equipamentos de proteção individual, que em sua maioria, são de caráter
quantitativo. Estas revelam índices preocupantes em relação à segurança e
proteção dos profissionais da área da saúde, porém não focalizam o ponto de vista
do sujeito, seus significados e comportamentos em relação às infecções (SOUZA et
al. 2008a, 2008b).
Temos observado que os estudos epidemiológicos a colocam como um
problema simples, de relação causa-efeito, entretanto, há uma série de fatores ainda
não conhecidos sobre o porque da baixa adesão aos equipamentos de proteção.
40
Diante disso, faz-se necessário analisarmos essa problemática por meio de uma
ótica diferenciada, não podendo ser reduzida apenas a quantificação.
Assim, apreender as percepções que envolvem essa questão é fundamental
para tornar compreensível a experiência humana em sua fonte mais complexa, rica
e profunda que se expressa em pensamentos, condutas, emoções e ações (DAVEL;
VERGARA, 2000), que possam estar relacionadas a adesão ou não dos
equipamentos de proteção individual.
3.2. CAMPO DE ESTUDO
O estudo foi desenvolvido em um hospital geral de grande porte, público e de
ensino da região Centro-Oeste, que tem como missão promover assistência
humanizada e de excelência à saúde do cidadão, integrando-se às políticas públicas
de saúde, servindo de campo moderno e dinâmico para ensino, pesquisa e
extensão. Toda a atividade assistencial desenvolvida neste hospital está voltada
para o ensino, dando suporte à produção de conhecimento por meio de atividades
de pesquisas.
A referida instituição desenvolve um trabalho de assistência à saúde de ampla
repercussão social e realiza tanto procedimentos de alta complexidade, como
cirurgias cardíacas, ortopédicas quanto patologias incluídas no grupo de atenção
primária e secundária.
Além do atendimento à comunidade local, o hospital se constitui como pólo de
deslocamento de assistência das regiões norte e nordeste do país. Conta com nove
unidades de internação, além da assistência em várias especialidades médicas bem
como o atendimento ambulatorial. Possui ainda Comissão de Controle de Infecção
Hospitalar (CCIH), Serviço de Infecção Hospitalar (SCIH) e Comissão de Educação
Continuada (CEC) em atividade.
A decisão de proceder a pesquisa neste serviço de assistência à saúde (SAS)
se deu por possuir uma Comissão de Controle de Infecção Hospitalar, ter
implementado programas e rotinas preestabelecidas para o controle de infecção.
41
3.3. TRABALHO DE CAMPO
Para a realização do estudo foram cumpridas as diretrizes para pesquisas
envolvendo seres humanos, constantes na Resolução 196/96 do Conselho Nacional
de Saúde (BRASIL. MS, 1996). Este estudo foi submetido a apreciação e aprovação
no Comitê de Ética em Pesquisa Médica Humana e Animal do Hospital das Clínicas
da Universidade Federal de Goiás, com número do protocolo 015/08 (Anexo A).
Após leitura e esclarecimentos dos objetivos, finalidades, desenvolvimento do
estudo, bem como a liberdade de se desligar da pesquisa caso seja vontade do
sujeito, foi solicitado aos participantes a assinatura do Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (Apêndice A) no momento das sessões grupais. Esse documento
foi impresso em duas vias, permanecendo uma com a pesquisadora e outra com o
sujeito da pesquisa.
Participaram do estudo trabalhadores da enfermagem que atuavam em
qualquer setor do hospital em estudo, que mostraram interesse pela temática e
voluntariedade. Optamos por estudar somente esse grupo, pelo fato de constituírem
uma das principais profissões sujeitas à exposição por material biológico. Esse
número elevado de exposições relaciona-se ao fato desses trabalhadores terem
contato direto na assistência aos pacientes e também ao tipo e a frequência de
procedimentos realizados (SÊCCO; ROBAZZI, 2007).
Para a seleção dos sujeitos, a pesquisa foi divulgada no hospital por meio de
visitas da pesquisadora às diversas unidades: clínica médica, clínica cirúrgica, UTI
médica, UTI cirúrgica, pronto socorro adulto e infantil, maternidade, clínica
pediátrica, clínica tropical, Centro de Material e Esterilização e Centro cirúrgico, nos
turnos matutino e vespertino.
Optamos que a estratégia para a coleta de dados seria por meio do grupo
focal. Os profissionais de enfermagem foram convidados a participarem do grupo, e
informados de que iríamos discutir sobre biossegurança. O tema não foi
completamente exposto para que o sujeito da pesquisa não chegasse à sessão
grupal na coleta de dados com ideias pré-concebidas sobre o assunto proposto na
investigação. Os profissionais que se dispuseram constituíram uma lista, na qual
constava a disponibilidade de horário de cada um para a participação no grupo, bem
como telefone para contato, clínica de origem e categoria profissional.
42
Essa lista foi composta por 57 profissionais que se mostraram interessados
em participar da pesquisa, sendo predominantemente técnicos de enfermagem. A
partir da disponibilidade sugerida pelos profissionais foi definido o início da manhã e
da tarde como os horários mais propícios para a realização do grupo. Após essa
definição, entramos em contato com os interessados, por telefone, a fim de informá-
los o dia e o horário da sessão grupal, momento este em que 35 profissionais
confirmaram sua participação.
Nos dias aprazados para o grupo focal em virtude de razões pessoais e
organizacionais pela impossibilidade de se ausentarem da sua unidade naquele
momento puderam comparecer 15 profissionais que foram os sujeitos desta
pesquisa.
Como método de coleta de dados utilizamos o grupo focal, por este
possibilitar reflexão crítica do tema abordado e por se mostrar eficaz e pertinente na
abordagem de aspectos subjetivos que envolvem o conhecimento das
representações, crenças, hábitos, valores, restrições, preconceitos, linguagens e
simbologias (GATTI, 2005).
Segundo Westphal, Bógus e Faria (1996, p.147),
Grupo focal é uma técnica de pesquisa que utiliza sessões grupais
como um dos foros facilitadores da expressão de características
psicossociológicas e culturais, diz respeito a uma sessão grupal em
que os sujeitos do estudo discutem vários aspectos de um tópico
específico.
Nesse sentido, os grupos focais podem ser definidos como uma modalidade
de entrevista em grupo e permitem que as falas de um possam ser confrontadas
com as dos outros (MINAYO; DESLANDES; GOMES, 2007).
A utilização de grupos focais foi proposta e aplicada pela primeira vez no
campo das ciências sociais por Merton, Fiske e Kendall em uma investigação sobre
o potencial de persuasão da propaganda durante a Segunda Guerra Mundial
(WESTPHAL; BÓGUS; FARIA, 1996).
A partir dos anos 80 essa técnica passou a despertar o interesse de
pesquisadores em outras áreas do conhecimento, como a área da saúde, que a tem
utilizado com maior frequência em trabalhos de pesquisa e de avaliação (GATTI,
2005).
43
O grupo focal permite compreender processos de construção da realidade por
determinados grupos sociais, práticas cotidianas, ações e reações a fatos e eventos,
comportamentos e atitudes (GATTI, 2005). Tem ainda a qualidade de permitir a
formação de consensos sobre determinado assunto ou de cristalizar opiniões
díspares, a partir de argumentações, ao contrário das entrevistas que costumam
ocorrer de forma solitária (MINAYO; DESLANDES; GOMES, 2007). Por meio do
grupo, o indivíduo adquire a sua identidade, conseguindo da realidade, reconhecer
sua própria forma, como um espelho que reflete a sua imagem (CASTILHO, 1998).
O grupo focal é utilizado quando se busca uma interação grupal, que fomenta
respostas mais ricas permitindo a construção de idéias e a observação desse
processo, propiciando a apreensão de conhecimentos diretamente relacionados ao
comportamento, atitudes, linguagens e percepções do grupo (DEBUS, 1997).
A aprendizagem no grupo se dá por meio do processo interativo e da
comunicação que se estabelece entre os participantes, em razão da troca e
interação de saberes e experiências fundamentadas na estrutura cultural de cada
membro do grupo (DALL’AGNOL et al., 2008).
Abordagens grupais permitem a oportunidade de salientar assuntos de
interesse da coletividade em grupo, propiciando discussões e reflexões que podem
repercutir positivamente nas condições de vida dos participantes, possibilitando
assim um crescimento e desenvolvimento grupal (MOTTA; MUNARI, 2006).
A dinâmica da reunião no grupo focal não se restringe à simples alternância
entre perguntas de um pesquisador e respostas dos participantes. É uma sessão
grupal em que os sujeitos discutem vários aspectos de um tópico específico
(WESTPHAL; BÓGUS; FARIA, 1996). Para que a pesquisa em grupo atinja os
resultados previstos, uma série de medidas deve ser tomada para a garantia da
qualidade dos dados, entre elas a adequação do espaço/ambiente em que será
realizada a coleta.
Munari et al. (2008) sugerem que o ambiente propicie conforto aos
participantes, evitando contratempos que possam colocar em risco o manejo grupal,
bem como a pesquisa. A equipe de coordenação também é de fundamental
importância e deve ser composta de um moderador e de um observador.
O número de participantes deve garantir, pelo menos, o mínimo do conforto
visual, propiciando um melhor controle da discussão e do fluxo de informações,
44
sendo que o ideal é de 12 a 15 participantes (MUNARI et al., 2008; WESTPHAL;
BÓGUS; FARIA, 1996).
A condução do grupo foi realizada tendo como base um guia de discussão,
contendo as questões norteadoras que incorporaram o objetivo da pesquisa
(Apêndice B). Estas questões foram exaustivamente discutidas pelos pesquisadores
e após, realizado um ensaio com onze (11) sujeitos, alunos do último ano do curso
de graduação em enfermagem da turma de 2008 da Universidade Federal de Goiás,
o qual demonstrou a coerência das questões na geração das informações
desejadas.
Além das questões norteadoras, os sujeitos foram estimulados a buscar suas
respostas relacionando-as com algumas figuras, escolhidas aleatoriamente pelos
pesquisados, e que remetiam a cenas do cotidiano, ilustrando situações do trabalho
e da vida em comum que sensibilizassem os sujeitos a relacionar os aspectos
subjetivos contidos nas mesmas, articulando-as às questões da investigação.
Esse recurso iconográfico ajuda o sujeito a não ficar no lugar comum ou na
racionalização do tema colocado, evitando as respostas prontas e os clichês. Assim,
cada participante tem maior tempo para introjetar a pergunta feita, refletir, pensar
nas possibilidades e relacionar com a figura que está disponível para o grupo como
objeto intermediário (MOTTA; MUNARI, 2006; MOTTA et al., 2007; MUNARI et al.,
2008).
As discussões geradas nas sessões grupais foram registradas por meio de
escrita manual e gravação e compuseram o banco de dados utilizados para análise.
A validação das falas foi realizada durante o desenrolar dos encontros por meio de
questionamentos com a finalidade de confirmar o seu conteúdo, adequação,
coerência e pertinência aos objetivos do estudo.
Os Grupos Focais
Foram constituídos três grupos focais com cinco participantes em cada, sendo
que um realizou-se no período matutino e os outros dois no período vespertino.
A previsão era de três sessões grupais com cada grupo focal, estando essas
sujeitas a mudanças, pois para Dall’Agnol e Ciampone (1999) o número de sessões
45
deve permitir a ampliação e o detalhamento do tema, sendo que a sistemática
repetição das idéias ou informações é um indício de que a coleta foi eficiente.
Neste estudo, cada grupo se reuniu uma única vez. Consideramos que o
número de participantes (cinco) em cada grupo, contribuiu para a discussão
exaustiva, o que permitiu o alcance dos objetivos propostos, devido ao
aprofundamento da temática. Há situações em que um único momento grupal é
suficiente para se levantar e discutir questões que explorem o tema de forma tal que
o pesquisador sinta-se contemplado em seus objetivos (MUNARI et al., 2008).
A coleta de dados ocorreu nos meses de novembro e dezembro de 2008, no
auditório do hospital, com uma média de duração das sessões de uma hora e
quarenta minutos cada. Nesse período foi considerado o aquecimento do grupo para
a tarefa, uma vez que este é fundamental para atingirmos bons níveis de interação,
refletindo, portanto, na qualidade do debate. Por outro lado, quando excedemos o
tempo limite preconizado de duas horas, pode haver fadiga entre os participantes ou
intelectualizações excessivas acerca do tema e, em decorrência, desgaste (DEBUS,
1997).
Considerando a importância do manejo grupal para potencializar o
desenvolvimento do grupo, a pesquisa contou ainda com a supervisão de uma
especialista em Gestão e Coordenação de Grupo, cuja tarefa foi supervisionar o
planejamento, execução e avaliação dos resultados.
A dinâmica dos encontros nessa pesquisa teve por base os passos citados
por Dall’Agnol e Ciampone (1999), adaptada para a pesquisa em questão,
constituindo em:
1. Abertura da sessão e apresentação da equipe de coordenação
Os sujeitos da pesquisa foram recebidos pela moderadora com uma
mensagem de boas-vindas, seguida da apresentação da equipe de coordenação
para o grupo.
Neste estudo a pesquisadora assumiu o papel de moderadora do grupo, uma
auxiliar de pesquisa do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Infecção Hospitalar
(NEPIH) da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás, foi a
observadora não participante e contamos ainda com uma observadora participante,
no intuito de auxiliar a moderadora a objetivar a coleta de dados.
46
O moderador é um facilitador do debate e deve estar atento aos indivíduos
permitindo que se expressem de modo espontâneo, lembrando que este tem o papel
de ajudar o grupo a expor suas ideias, opiniões, sem interferir ou julgar o conteúdo
das falas (MUNARI et al., 2008).
Já os observadores foram responsáveis pelo registro do movimento do grupo,
gestual e expressões dos participantes, bem como comunicações verbais e não
verbais em um diário de campo. Eles auxiliaram a moderadora no controle do tempo,
equipamento de gravação e identificação das falas dos sujeitos, facilitando a
transcrição. Também reuniram-se com a moderadora após as sessões grupais para
realizar um feedback sobre como transcorreu o encontro.
2. Apresentação dos participantes entre si
Solicitamos aos participantes que se apresentassem pelo nome, a clínica
onde trabalham, bem como quanto tempo de atuação na área da enfermagem. Após
as apresentações distribuímos um crachá com o nome de cada participante, para
melhor visualização e facilitação da comunicação entre os sujeitos.
3. Entrega, leitura e assinatura do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE), bem como esclarecimento dos aspectos éticos
referentes a investigação
Após a entrega do TCLE realizamos a leitura do termo e solicitamos a
assinatura deste. Os objetivos e finalidades da pesquisa e a técnica para a coleta de
dados foram explicitados aos participantes. Após permissão dos sujeitos, a
apreensão das informações se deu por meio da gravação em áudio de todas as
sessões com os grupos focais utilizando como recurso dois gravadores, um Mp4 e
as anotações dos observadores.
4. Estabelecimento do contrato grupal
A delimitação do contrato do desenvolvimento do trabalho no grupo foi
realizada entre a pesquisadora e os participantes. Nesse contrato estabelecemos
que a sessão teria uma duração, de no máximo, duas horas e que não haveria
47
intervalos. Também foi acordado o respeito e a ética em relação ao que foi discutido
no grupo e aspectos referentes ao uso de celulares durante a sessão grupal.
5. Leitura, apresentação e fixação em local visível das questões norteadoras
A moderadora leu as questões norteadoras e as afixou em local visível, para
que os sujeitos pudessem visualizá- las e engatilhar reflexões acerca do tema.
As questões norteadoras foram:
a) O que é EPI na sua prática cotidiana?
b) Quais são os fatores pessoais que os motivam e desencorajam a utilizar o
EPI?
c) Para você quais são os fatores facilitadores e dificultadores do uso do EPI?
6. Discussão do grupo
A discussão do grupo iniciou com a distribuição de 40 figuras, dispostas no
chão e cada sujeito escolheu as figuras que representassem o que era EPI e o que
os motivavam a usar o equipamento de proteção.
Esse recurso iconográfico foi utilizado para propiciar o aquecimento do grupo
e proporcionar a geração de ideias para a discussão do tema proposto, sendo que,
algumas falas foram estimuladas a partir das figuras. Para ilustrar, utilizamos
algumas dessas figuras com as falas emergentes, para melhor compreensão do
tema em análise.
7. Encerramento da sessão e avaliação do encontro pelos sujeitos da
pesquisa
Ao término das sessões, os sujeitos foram convidados a avaliar por meio de
uma palavra a discussão ocorrida no grupo.
Esta atividade proporcionou-nos compreender que as discussões suscitaram
nos participantes reflexões sobre suas práticas em relação ao equipamento de
proteção individual.
48
A equipe de coordenação para finalizar agradecia a presença de todos os
presentes e dialogava com os participantes, franqueando a possibilidade de novas
participações, caso fossem necessárias.
Cada encontro foi seguido de uma reunião entre a equipe de coordenação e a
orientadora da pesquisa, para analisarmos o que havia acontecido e quais as
discussões foram suscitadas nas sessões. Para garantirmos a fidedignidade dos
dados, estes foram transcritos logo após cada grupo focal, com vistas a preservação
de sua qualidade e veracidade.
Organização e Tratamento dos dados
Os dados foram analisados utilizando-se o método de interpretação de
sentidos proposto por Minayo (2006), considerando o referencial de Modelo de
Crenças em Saúde de Rosenstock (1974b).
[...] o método de interpretação de sentidos é uma tentativa de
avançar mais na interpretação, caminhando além dos conteúdos de
textos na direção de seus contextos e revelando as lógicas e as
explicações mais abrangentes presentes numa determinada cultura
acerca de um determinado tema. Nesse método é de fundamental
importância que se estabeleça confrontos entre a dimensão subjetiva
e posicionamentos de grupo; textos e subtextos; texto e contexto;
falas e ações mais amplas; cognição e sentimento dentre outros
aspectos. Nele, ancorados numa base teórica conceitual que procura
articular concepções da filosofia e das ciências sociais, tenta-se
caminhar tanto na compreensão (atitude hermenêutica) quanto na
crítica (atitude dialética) dos dados gerados de uma pesquisa
(MINAYO; DESLANDES; GOMES, 2007, p.105).
A preparação do material para análise foi iniciada com a transcrição áudio-
gravadas dos momentos grupais, realizada pela própria pesquisadora com a ajuda
da auxiliar de pesquisa. A transcrição foi realizada com o auxílio dos dados
registrados manualmente e de outras informações captadas pelos observadores.
A estrutura da análise foi desenhada em três etapas. Inicialmente foi realizada
uma leitura flutuante e exaustiva dos dados transcritos e organizados, com o intuito
de nos impregnar do conteúdo e apreender-nos às ideias centrais das falas dos
participantes dos três grupos focais.
49
Posteriormente, realizamos uma lista das ideias centrais retiradas das falas
agrupando-as, formando assim os quatro temas: proteção individual, ambiente de
trabalho, sentimentos e relacionamento interpessoal, uma vez que expressam
particularidades comuns dos sujeitos do estudo.
Esses temas foram agrupados em duas categorias temáticas que apresentam
sentidos mais amplos, porém articuladas em torno das temáticas identificadas
anteriormente. Dos três primeiros temas surgiu a categoria “Segurança no trabalho”
e do último tema a categoria “Relacionamento Interpessoal”.
Assim, os relatos apresentados nos resultados e discussão foram
selecionados, tendo-se por critério, aqueles que melhor caracterizavam as
categorias.
Os relatos foram identificados por G1(grupo 1), G2 (grupo 2) e G3 (grupo 3),
sendo consideradas as falas do grupo e não dos sujeitos. Nas falas, ajustamos
somente a concordância verbal, quando necessário, para melhor compreensão das
mesmas.
50
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1. Atores do estudo e dinâmica das sessões grupais
Neste estudo contamos com a participação de 15 profissionais da área de
enfermagem das unidades de clínica cirúrgica, unidade de terapia intensiva (UTI),
maternidade, pronto socorro (PS), centro de material e esterilização (CME) e Serviço
de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH), sendo dez técnicos (três homens e sete
mulheres) e cinco enfermeiras. Em relação ao turno de trabalho, seis participantes
eram do turno da tarde, seis da manhã e três realizavam plantões de doze horas.
Em geral, os sujeitos desse estudo trabalham na área da enfermagem há
aproximadamente dez anos e trazem em sua história de vida, tanto pessoal quanto
profissional, traços marcantes da vulnerabilidade aos riscos e da exposição a
material biológico que o ambiente hospitalar proporciona ao desenvolver suas
atividades relacionadas ao cuidado.
Os grupos foram heterogêneos, formados por enfermeiros e técnicos, ou seja,
por níveis hierárquicos diferentes, considerando que no cotidiano profissional as
relações se dão entre diferentes níveis hierárquicos, e que as situações grupais são
reproduções do universo simbólico destes profissionais (WESTPHAL; BÓGUS;
FARIA, 1996).
Percebemos que o fato de reunir enfermeiros e técnicos/auxiliar de
enfermagem não interferiu na expressão livre de ideias e contribuiu para explicitar
atitudes que ocorrem de forma oculta na relação profissional e também para
esclarecer razões que levam a determinados comportamentos.
Durante a realização das sessões grupais, pudemos observar o grande
interesse dos atores em relação à temática, ao desejo de participar e ao sentimento
de valorização ao ser sujeito da pesquisa.
Apesar de reunirmos uma única vez com cada grupo, percebemos que houve
no decorrer das sessões, a construção de uma relação de confiança, união,
cobrança acerca da mudança de comportamento em relação à proteção individual e
respeito entre os participantes do grupo.
51
Realizado o vínculo inicial e estabelecida a confiança com os atores nas
entrevistas grupais, observamos facilidade e disponibilidade na expressão das
percepções e experiências vivenciadas. A seguir, apresentamos um panorama geral
da dinâmica dos encontros.
O primeiro grupo focal ocorreu no início da manhã e de doze sujeitos
confirmados para a sessão compareceram ao encontro cinco participantes, (três
enfermeiras e dois técnicos de enfermagem) além da equipe de pesquisadores.
Houve um atraso muito grande por parte dos participantes, além disso, tivemos
intercorrências em relação à sala em que realizaríamos a coleta de dados, sendo
esta ocupada por outras pessoas, mesmo tendo sido previamente reservada para
nosso estudo. Por manifestação do interesse em discutir o assunto e colaborar com
a pesquisa o próprio grupo sugeriu realizarmos a sessão grupal em uma sala
disponível no pronto socorro.
Mesmo com essa intercorrência destacamos que a mudança de local não
interferiu na coleta de dados, considerando a contribuição dos sujeitos para a
discussão do tema proposto. Os sujeitos participaram expondo suas ideias,
destacando suas percepções em relação ao EPI, especialmente, nos aspectos
referentes à influência do ambiente do trabalho, assim como, nos aspectos
gerenciais e organizacionais que interferem para a adesão aos equipamentos de
segurança.
O segundo grupo focal foi realizado no período vespertino, no auditório. Dos
quatorze confirmados compareceram cinco participantes, todos técnicos em
enfermagem, do sexo feminino. Havia profissionais que não trabalhavam no período
vespertino, mas vieram ao hospital, exclusivamente, para participar do encontro,
revelando assim, interesse e compromisso tanto com o grupo quanto com a
pesquisadora. Nesse grupo ficaram evidentes as discussões referentes às relações
no trabalho. Após as discussões, no final da sessão, o próprio grupo estava
cobrando um do outro uma mudança de comportamento em relação ao uso do
equipamento de proteção individual.
O terceiro grupo focal foi realizado no período vespertino, e dos nove
confirmados, compareceram cinco sujeitos, sendo três técnicos de enfermagem (um
homem e duas mulheres) e duas enfermeiras. Nesse grupo também tiveram
profissionais que estavam de folga e se deslocaram de grandes distâncias para
estarem presentes no grupo. Em meio à discussão surgiram dúvidas relacionadas a
52
algumas rotinas do hospital, sendo estas esclarecidas por componentes do próprio
grupo. No decorrer do encontro percebemos o aprofundamento das questões
referentes à proteção individual e aos aspectos que interferem no uso do
equipamento de proteção.
Assim, os relatos expressos nesse estudo ilustram as percepções, sentidos e
significados que esses profissionais de enfermagem atribuem às crenças, atitudes e
razões que impulsionam ou não o uso do EPI. Esses relatos distribuídos nas duas
categorias abordam toda a complexidade desse tema.
4.2. A proteção para os trabalhadores da enfermagem
Dos temas evidenciados a partir das falas dos grupos, emergiram duas
categorias temáticas, que foram denominados de “segurança no trabalho” e
“relacionamento interpessoal”.
Essas categorias temáticas permitiram identificar que as relações
interpessoais interferem nas questões da segurança e proteção individual, em vários
níveis no ambiente de trabalho, tanto nos aspectos organizacionais e gerencias,
quanto na relação com as outras categorias profissionais e com os outros setores do
hospital.
A relação entre estas categorias mostrou-se uma via de mão dupla, ou seja, a
segurança no trabalho interfere no relacionamento interpessoal e vice-versa,
refletindo, portanto na adesão aos equipamentos de proteção. Contudo, não
podemos desconsiderar os fatores individuais, como as crenças, atitudes,
conscientização do risco, que no contexto do ambiente de trabalho, influenciam na
proteção individual.
Para caracterizar melhor essa relação passamos a discutir separadamente,
as duas categorias temáticas que apresentam interligações entre si.
53
4.2.1. Segurança no trabalho
Apesar do conhecimento sobre a exposição aos riscos, o uso do equipamento
de proteção individual é evidenciado, para alguns destes profissionais, somente nas
situações inesperadas, de risco iminente, medo, pânico, confirmação de diagnóstico
de doença infecto-contagiosa. Na maioria das vezes, os profissionais priorizam o
cuidado do paciente em detrimento da própria proteção.
Evidenciamos também nas falas dos grupos que o EPI proporciona bem-
estar, tranquilidade e equilíbrio. Contudo, o seu uso não exclui a chance de
contaminação. Os participantes do estudo destacam os aspectos organizacionais,
gerenciais, precária estrutura física e o ambiente de trabalho, como fatores
importantes que interferem na segurança do trabalho, influenciando para a (des)
proteção.
Outros aspectos discutidos pelos grupos foram a realidade da segurança, o
papel da gerência em relação à disponibilidade e acessibilidade ao EPI e a
sobrecarga de trabalho, os quais intervêm na questão da adesão aos equipamentos
de segurança e acarretam em maior susceptibilidade aos riscos ocupacionais.
[...] o ambiente que a gente trabalha tem todos os dificultadores
possíveis, porque a gente trabalha com uma sobrecarga de trabalho
muito pesada, com pacientes crônicos... com falta de material
demais, a distância de buscar os materiais, a farmácia que atrasa,
que demora ... tudo dificulta (G2).
[...] a gente tem uma descrença de que vai melhorar, de que vai dar
certo, que a gente vai ter um ambiente de trabalho melhor para a
gente trabalhar. Tudo isso a gente desacredita (G2).
[...] são inúmeras as problemáticas da clínica Z que estressam quem
está trabalhando. Isso gera um risco de maior de se acidentar. Mas
ainda não tiro a culpa de que nós como profissionais temos que ter
consciência de que o EPI é uma proteção pra gente (G3).
Percebemos nas falas acima que o ambiente de trabalho, influenciado pelas
práticas gerenciais e organizacionais, constitui-se em uma barreira que impede e
dificulta a aplicação das PP, dentre elas a adesão dos profissionais aos EPI. As
barreiras são aspectos negativos relacionados à modalidade de ação, e o valor
54
atribuído a eles varia de indivíduo para indivíduo, assim como nas demais
dimensões do modelo de crenças em saúde (ROSENSTOCK, 1974a).
Os grupos evidenciam o descompromisso e o desrespeito para com a
proteção, indicando que, por essa razão, se tornam descrentes, insatisfeitos e
desmotivados diante das condições de trabalho oferecidas.
A existência dos riscos ocupacionais e, principalmente, a ocorrência de
acidentes com material biológico, não são problemas relacionados única e
exclusivamente a fatores individuais de risco ou proteção, mas fortemente
influenciados pelo ambiente no qual os trabalhadores estão inseridos, bem como
pela estrutura organizacional da instituição, que deve oferecer condições para a
implementação e adoção de medidas seguras pelos seus trabalhadores (CANINI et
al., 2008).
O estudo de Ribeiro e Shimizu (2007) relaciona a baixa adesão ao EPI à falta
de treinamento e de capacitação de funcionários, aos ambientes físicos inadequados
e à falta de material apropriado em quantidade e qualidade para a realização dos
procedimentos.
Stone et al. (2004) em uma avaliação da contribuição das condições de
trabalho da enfermagem para os riscos de acidentes ocupacionais com
perfurocortantes, concluíram que uma estrutura organizacional inadequada e altas
cargas de trabalho estão associadas com 50% a 200% de aumento na incidência de
injúrias percutâneas.
Há evidências de que as características organizacionais como, por exemplo, a
criação de uma cultura de segurança, intervêm na saúde dos PAS e na adesão às
práticas de controle de infecção recomendadas. Estas são, portanto, fatores
importantes na prevenção da transmissão de agentes infecciosos, os quais devem
ser conduzidos com maior ênfase por meio de ações administrativas, visando a
participação de todos no desenvolvimento e apoio dos programas de controle de
infecção (SIEGEL et al., 2007).
A cultura de segurança refere-se a um ambiente de trabalho onde há uma
partilha do compromisso, na qual o empregador disponibiliza os recursos
necessários e os tornam de fácil acesso, e os empregados os utilizam e manuseiam
de forma correta. Essa cultura pode ser criada por meio de ações e programas
gerenciais para melhorar a segurança no trabalho com a participação dos PAS no
planejamento dessas ações. Uma boa comunicação entre os membros da equipe e
55
educação permanente, respaldada na disponibilidade de equipamentos de proteção
adequados, contribuem para a organização do processo de socialização dessas
medidas necessárias à cultura de segurança (SIEGEL et al., 2007).
Estudos revelam uma diminuição das exposições a sangue e a fluidos
corpóreos devido a implantação dessa cultura de segurança no ambiente de
trabalho (CLARKE et al., 2002; NIEVA; SORRA, 2003).
O próprio modelo organizacional vigente na área da saúde adota medidas e
normas disciplinares que tornam o processo de trabalho segmentado, marginaliza o
trabalhador e o subordina a forte hierarquia. Isso leva à baixa conscientização do
risco e da importância das medidas de proteção, que interferem na qualidade de
vida e na segurança ocupacional desses trabalhadores.
A implementação de medidas de PP implica em uma estrutura organizacional
e de trabalho que permita a sua efetivação (MELO, 2005; MELO et al., 2006). A
estrutura organizacional e gerencial deve colaborar e estimular a tomada de decisão
para o uso dos equipamentos de proteção individual de forma a anular as barreiras
inerentes ao seu uso e as crenças dos profissionais. Assim, torna-se imprescindível
a conscientização para a melhoria das condições de trabalho, bem como dos
trabalhadores que devem ser envolvidos nos processos de decisão, elaboração e
divulgação dos programas de prevenção e controle de infecção.
A precarização do trabalho nos serviços de assistência à saúde tem sido uma
realidade, gerando estresse, insatisfação no trabalho (FERNANDES; MEDEIROS;
RIBEIRO, 2008) e, em consequência, maior risco de exposição ocupacional durante
a assistência (OLIVEIRA; CAVALLI KLUTHCOVSKY; KLUTHCOVSKY, 2008).
A identificação das condições de trabalho e das fontes estressoras que levam
a (des) proteção do trabalhador é primordial para promover mudanças que tornem o
cotidiano do enfermeiro mais produtivo, menos desgastante e com maior valorização
enquanto ser humano (CALDERERO; MIASSO; CORRADI-WEBSTER, 2008).
O estresse ocupacional implica em impacto negativo para o bem-estar dos
trabalhadores e, consequentemente, para a segurança no trabalho. Uma das
maiores causas de estresse identificada no estudo de Batista e Bianchi (2006) foram
as condições de trabalho e as atividades relacionadas à administração de pessoal,
assim como a escassez de materiais.
Outro fator que se mostra como uma barreira e que impede os profissionais a
aderirem ao EPI é a questão da acessibilidade, ou seja, os equipamentos quando
56
próximos dos profissionais, dispostos em vários locais estratégicos das unidades
facilitam e favorecem o uso.
Eu acho que ter equipamentos próximos já é um facilitador (G2).
A gente procura usar o máximo (EPI) que a gente pode, até porque
lá é mais fácil da gente usar do que lá na clínica Z, porque assim, o
material fica em todo canto, como é pequenininho, então assim, “a
gente não usa”, se não quiser (G3).
A gente não tem e cada vez que a gente precisa deles tem que ir
atrás... se a gerência fizesse controle, não sei se semanais, mensais
ou diários desses equipamentos, seria um facilitador... não deixar
faltar ou então até mesmo ver equipamentos que coubessem melhor
na gente (G2).
De certa maneira falta, com frequência não, por exemplo, luvas eu
lembro que um tempo atrás nós ficamos duas semanas sem luvas de
procedimento (G1).
Os grupos relacionam alguns fatores que facilitam o uso do EPI: provisão e
controle dos equipamentos, proximidade do local de uso, estrutura física e
gerenciamento adequado. Contudo, não se eximem da responsabilidade pessoal
para o uso.
Entretanto, quando não há uma contrapartida da instituição, um fácil acesso a
esses equipamentos de segurança, o profissional se sente desmotivado. Soma-se a
isso, a sobrecarga de trabalho e a não disponibilidade desses equipamentos. O
ambiente e a assistência se tornam inseguros, predispondo aos erros com os
consequentes agravos.
No estudo de Malaguti et al. (2008) a disponibilidade dos EPI para a
prevenção de acidentes foi referida por 149 (44%) dos trabalhadores da área da
enfermagem, sendo considerada a maior facilidade encontrada por estes
enfermeiros.
Para Tipple et al. (2007) e Spagnuolo, Baldo e Guerrini (2008) a
disponibilidade de EPI foi maior que o uso, contrapondo com o estudo de Ganczack
e Szych (2007), no qual a indisponibilidade do EPI foi a principal razão para a não
adesão.
Esses estudos evidenciam a complexidade da adesão ao EPI, pois mesmo
quando esses equipamentos são disponíveis, os PAS não os utilizam. A adesão vai
além da disponibilidade, o que confirma a interferência dos fatores individuais, das
57
crenças e das relações no ambiente de trabalho na tomada de decisão para a (des)
proteção.
As estratégias já propostas pela NR 32/2005, para a saúde dos trabalhadores
servem como fonte de saber para repensar a saúde do trabalhador de enfermagem
e propor alternativas de mudanças. A referida norma, que foi um grande avanço na
área da Segurança ocupacional no Brasil, regulamenta os direitos dos trabalhadores
e estabelece que os empregadores forneçam todos os equipamentos de proteção
necessários em quantidade e qualidade suficientes, além de instruir os
trabalhadores em relação ao uso (BRASIL, 2005).
Porém, diante da falta do equipamento e da estrutura física inadequada, a
improvisação fica arraigada na rotina, tanto dos profissionais, quanto do SAS. Esta
estratégia se deve à consciência do risco e aos aspectos éticos e morais dos
integrantes dos grupos. Contudo, a improvisação não garante segurança nem para o
outro nem para si, promove apenas a sensação do dever cumprido, ainda que em
detrimento de sua proteção.
Diante da sobrecarga de trabalho e da falta de materiais, os profissionais
passam a exercer diversas funções concomitantemente, em breve espaço de tempo,
tendo que algumas vezes improvisar seu trabalho por falta de recursos
(CALDERERO; MIASSO; CORRADI-WEBSTER, 2008).
A frequência com a qual ocorre a improvisação no SAS torna-a rotineira e
cristaliza essa cultura, tanto em nível de gestão quanto da assistência. Esses
aspectos diminuem a motivação, o interesse e a disposição para o enfrentamento
dessa situação que, acima de tudo, representa um aspecto bioético da assistência.
Aí a gente improvisa com o que você tem, não tem o avental, o
capote, então você pega um vestido, ele não vai ter as mangas, mas
eu posso lavar os meus braços. Se eu tiver de jaleco, depois que eu
usei no paciente, tira aquele vestidinho e posso lavar os braços
depois. Luvas, quando não tem luvas de procedimentos, vou usar
luvas estéreis (G1).
Já aconteceu de não ter máscara N95, e eu colocar máscara comum
e uma compressa por debaixo da máscara e colocar uma máscara
comum no paciente também (G1).
[...] aí você tem que improvisar, pega o lençol do paciente, não tem o
capote você tem que improvisar (G3).
58
Ocorrem adaptações tão amplas, que embora sejam fundamentadas nos
mesmos princípios do controle de infecção, como o lençol no lugar do capote,
configuram-se como modalidades distintas das recomendadas e não confortáveis e
seguras para a finalidade proposta.
Os aventais têm como função a proteção diante da possibilidade de
transmissão de microrganismos para o profissional, equipe e pacientes, sendo
imprescindível a utilização deste ao atender os pacientes (GARNER, 1996; SIEGEL
et al., 2007).
A qualidade desse equipamento deve ser mensurada pelo tipo de tecido, e o
modelo deve promover a proteção dos braços e da roupa utilizada pelo profissional.
As mangas longas são necessárias para a proteção dos braços, entretanto,
dificultam a higienização das mãos. Talvez a solução seja o uso de punhos elásticos
que se ajustem às mangas e permitam seu afastamento para a higienização das
mãos (SOUZA et al., 2008a).
Da mesma forma, a compressa por baixo da máscara descartável não confere
a devida proteção que o profissional teria, se estivesse usando a N95, sem levar em
consideração o grande incômodo que isso representa.
As precauções adicionais baseadas na transmissão incluem a proteção
respiratória para se evitar agentes infecciosos transmitidos pela via aérea (aerossóis
ou gotículas) como, por exemplo, o Mycobacterium tuberculosis.
Para proteção respiratória eficiente contra esses patógenos, as
recomendações são para se utilizar a máscara N95 (SIEGEL et al., 2007),
classificação em que a letra N caracteriza máscaras projetadas para uso em
ambientes e o número 95 é a eficácia, em percentual, na filtração de partículas em
suspensão com até 0,3 mm de diâmetro (GONÇALVES, 2001). Essas máscaras
devem ser distribuídas individualmente, cabendo ao profissional a responsabilidade
de zelar pela sua integridade.
A máscara descartável também tem seu papel, reduzindo a dispersão de
partículas no momento em que são geradas. No entanto, não conferem a segurança
necessária para o profissional diante de patógenos que medem até 0,3 mm de
diâmetro e são veiculados pelo ar.
Chama a atenção um relato que expressa a substituição das luvas de
procedimento, quando estão em falta, pelas luvas estéreis. É importante alertar
sobre a relação custo/benefício ao utilizar luvas estéreis. O custo adicional para o
59
SAS é alto e essa relação tem sido decisiva na aquisição dos insumos utilizados no
cuidado em saúde.
No entanto, na improvisação diante da falta deste EPI, a única opção para a
proteção dos profissionais é a utilização das luvas estéreis, mesmo que isso gere
custos adicionais. Estas situações evidenciam falhas nos aspectos organizacionais e
gerenciais, em todos os níveis hierárquicos e representam prejuízos para a
segurança do trabalhador, por gerar estresse, ações inseguras, insatisfações,
sobrecargas e desgaste das relações de trabalho.
Desconsiderar a relação custo/benefício na provisão de recursos materiais
para a assistência priva o usuário dos serviços de assistência à saúde, da
disponibilidade de todos os insumos necessários, aos quais tem direito para o seu
cuidado.
Vale lembrar que a responsabilidade legal e ética pelo cumprimento rigoroso
dos aspectos técnicos, científicos, éticos, legais, econômicos e pela qualidade dos
produtos usados nos SAS é das instituições e dos PAS (REIS et al., 2008).
Uma das possibilidades levantadas para a não improvisação e,
principalmente, maior segurança nas atividades do cuidado é a não realização dos
procedimentos quando não há os equipamentos adequados para a execução
destas.
[...] o que falta, o problema nosso é que a gente vai improvisando
com o que tem, porque a gente faz assim mesmo, a gente vai
fazendo. Se a gente deixar de fazer e relatar que não foi feito por
falta disso ou daquilo as coisas mudam. É porque nós temos a mania
de querer resolver o problema sem ter condições de resolver... (G3).
Os profissionais têm a consciência de que a recusa em realizar os
procedimentos, devido a ausência dos EPI, poderia ser um instrumento utilizado
para iniciar um processo de discussão e de mudança da prática. Porém, o medo de
perder o emprego, o distanciamento entre quem gerencia e quem atua na linha de
frente da assistência e a responsabilidade ética da profissão, estimula o
comportamento submisso de não reclamar e continuar a executar os cuidados de
forma insegura. Esse distanciamento leva a não percepção do outro como um
parceiro que tem potencial ético e que deve ser respeitado na sua integridade física,
moral e psicológica.
60
Assim, a atitude da gerência, nos serviços de enfermagem e de assistência à
saúde, poderia ser comparada ao movimento das “elites” que, segundo Freire (2001)
dá por estabelecido que os trabalhadores converteram-se ao seu modo de viver, e
apostando nesse consenso imaginário, agem com a desenvoltura dos que
caminham no fio da navalha, sem consciência dos riscos que correm.
O texto de Freire (2001) citado acima apresenta dois importantes conceitos da
filósofa Hannah Arendt: o alheamento em relação ao outro e a irresponsabilidade em
relação a si. Embora esses conceitos se remetam à sociedade de um modo geral,
podemos fazer uma analogia, transpondo esses conceitos para o contexto hospitalar
vivenciado pelos trabalhadores da enfermagem em relação a problemática da
adesão aos equipamentos de proteção.
Observamos nesta pesquisa também a improvisação diante da acessibilidade:
[...] agora eu aprendi, pego aqueles saquinhos de apanhar diurese e
encho de luva e de máscara e ponho na minha mesinha da
enfermaria. Então você vai vendo que no passar do tempo é
necessário (G2).
P
ara facilitar o uso e o acesso ao EPI, os profissionais utilizam os coletores de
diurese para armazenar as luvas de procedimentos em locais de difícil acesso.
Também nessa situação destacamos a relação custo/benefício, pelo não
planejamento e organização do serviço.
As luvas têm por finalidade proteger as mãos dos profissionais do contato
com sangue e fluidos corpóreos e reduzir a transmissão de microrganismos
veiculados pelo profissional tanto para a equipe de trabalho, quanto para os
pacientes. Devem ser substituídas a cada procedimento/paciente, no mesmo
paciente sempre que mudar de sítio e serem descartadas logo após o uso, sendo
procedida a higienização das mãos em seguida (GARNER, 1996; SIEGEL et al.,
2007).
Se esse EPI não estiver em locais de fácil acesso, os PAS ficam
impossibilitados de seguir essa recomendação. Muitos já não utilizam as luvas para
realizar os procedimentos e sequer fazem a higienização das mãos a cada paciente.
A estrutura física do SAS também é fundamental para o sucesso das medidas
de controle e prevenção das IACS, tanto para o paciente quanto para o profissional
(MELO, 2005). As discussões dos grupos também evidenciaram esse aspecto.
61
Lá na clínica K é muito abafado, não tem janela lá, geralmente o
pessoal não usa jaleco, então é muito difícil da gente estar cobrando
(G1).
[...] o ambiente muito fechado incomoda, transpira as mãos, lugar
quente abafado. É comum ver o uso do EPI, seja de forma adequada
ou inadequada, o mais comumente visto é o uso em ambiente
aberto. A cliníca Z já é muito abafada por si só, e quando se usa o
EPI, no caso a máscara, abafava mais ainda (G1).
[...] no nosso setor, em relação ao equipamento de proteção, até
mesmo pelo próprio ambiente, por exemplo, é impossível fazer um
isolamento lá. Não tem a mínima condição. Então a gente trabalha
com pacientes que precisam de isolamento e eles ficam dentro do
consultório, seis pacientes sentados em cadeira porque não tem
maca. Então as vezes a gente tem essa dificuldade de não ter onde
colocar o paciente mais confortável, você imagina em relação a
proteção da gente (G2).
O calor e o incômodo gerados pelo uso do EPI são relatados pelos grupos,
pois devido a falta de ventilação e iluminação, tornam a estrutura física
inadequada. Soma-se a isso o fato de estarmos em um país tropical, onde as
temperaturas em condições ambientais já são altas. Esses aspectos são barreiras
percebidas pelos PAS que interferem diretamente na adesão ao uso do EPI.
Estudos apontam como fatores intervenientes ao uso do EPI, o calor e o
incômodo, principalmente, da máscara e dos aventais (FLORÊNCIO et al., 2003;
SOUZA et al., 2008a, 2008b; TIPPLE et al., 2007)
Para Tipple et al. (2007) o fator mais impeditivo à adesão do EPI foi a
estrutura física. Gir et al. (2004) também identificaram práticas inadequadas das
precauções devido a falta de condições mínimas para uma prática efetiva, sendo a
arquitetura hospitalar um fator dificultador.
Em relação às dificuldades referentes aos isolamentos, os grupos apontam
que os transtornos são diversos: superlotação das unidades; longo tempo de
permanência dos pacientes, já que a clientela atendida é de pacientes crônicos; e
leitos insuficientes, que acabam por aumentar a vulnerabilidade e susceptibilidade
aos riscos ocupacionais.
O grupo 1 discutiu que em ambientes abertos, como o pré-hospitalar, o uso
do EPI gera menos incômodo do que em ambiente intra-hospitalar. O fato também
de não saber o diagnóstico e o medo de contaminação induz a uma maior proteção
nesse tipo de ambiente.
62
Eu também trabalho na rua com o serviço de socorro de urgência e
emergência. O EPI é um detalhe quase que assim vital, a gente não
faz atendimento sem EPI. Talvez a adrenalina do momento, o
ambiente, tudo isso propicia a estar sempre lembrando o uso, a não
estar se sentindo incomodado, porque é um ambiente aberto,
diferente do intra-hospitalar (G1).
[...] no hospital você trabalha já com a queixa do paciente, na rua
você não sabe o que vai atender, às vezes ele pode estar
desacordado e sem ninguém por perto, você não sabe o que ele tem
(G1).
O atendimento pré-hospitalar é definido como toda e qualquer assistência
realizada, direta ou indiretamente, fora do âmbito hospitalar e constitui-se em
importante componente da assistência à saúde (MAFRA et al., 2008). Os
profissionais do atendimento pré-hospitalar, independente da categoria profissional,
estão expostos a riscos ocupacionais relacionados à exposição a sangue e fluidos,
devendo, portanto, possuir conhecimento sobre esses riscos e como proteger a si e
ao paciente.
No estudo de Lopes et al. (2008) nenhuma das categorias do atendimento
pré-hospitalar atingiu o percentual de adequação desejável para o uso de máscara
facial, óculos de proteção e utilização adequada de EPI durante os atendimentos.
As falas dos grupos acima indicam que o comportamento dos sujeitos desse
estudo em relação ao uso do EPI, varia de acordo com o conhecimento do
diagnóstico dos pacientes. As PP, dentre elas o EPI, devem ser adotadas para o
atendimento a todos os clientes, independente do conhecimento do seu estado
infeccioso em todos os serviços de assistência à sáude (SIEGEL et al., 2007).
Tanto o ambiente intra quanto o extra-hospitalar expõe os PAS ao risco,
embora esses profissionais subestimam mais os riscos do ambiente hospitalar,
talvez pela maior possibilidade de confirmação do diagnóstico.
A valorização do profissional está implícita na declaração do profissional que
também atua na área extra-hospitalar. Culturalmente são reconhecidos como heróis
que no momento certo, chegam para salvar vidas. Na representação social de herói
usam sempre uma vestimenta específica, no caso os equipamentos de proteção
individual.
Diferentemente, no ambiente de estabelecimentos de saúde, os profissionais
da assistência fazem parte de um resíduo social invisível, marcados para trabalhar
63
com a dor e o sofrimento crônicos, para quem são transferidos toda a ansiedade e
expectativas sobre a vida do outro. Em caso de insucesso, carregam toda a
responsabilidade, mas quando se atinge os objetivos de cura ou recuperação, o
mérito é sempre do outro que está em uma relação hegemônica.
Essa invisibilidade determinada pelas representações sociais sobre a
enfermagem gera uma opressão e uma violência subliminar, que interferem nas
ações do próprio sujeito e nas relações hierárquicas.
Outro fator discutido pelos grupos foi o papel da gerência na provisão dos
equipamentos de proteção individual.
Eu acho dificultador a parte da gerência, mas eu também não coloco
a culpa toda só no sistema, só na unidade. A gente tem a nossa
parcela de culpa em relação a EPI, ou porque eles são difíceis de
serem usados, ou porque a pessoa não tem medo de se acidentar
(G2).
[...] não sei de quem é a responsabilidade, se é a gerência imediata a
nós ou a superior, mas assim o interessante e o correto é que tivesse
todos os EPI necessários para o risco que você corre (G2).
[...] ir no gerente para providenciar imediatamente o equipamento,
porque o hospital tem que disponibilizar para o trabalhador pra ele
poder ser cuidador. Se não como ele pode ser cuidador, se não tem
o equipamento mínimo necessário para trabalhar com o paciente
(G1).
É inclusive dessa última vez nós conversamos isso (provisão de EPI)
com ela (gerente), falamos olha está impossível. Ela falou, então
vamos pedir toda semana um quantitativo, ela ficou de ver isso...
(G3).
As falas apontam que a ingerência dos gestores é um fator dificultador para a
adesão ao uso do EPI, principalmente, quando não são realizados o controle e a
provisão desses equipamentos. Quando não são oferecidos os EPI, os sujeitos se
sentem desrespeitados, colocando em risco também a coletividade. Contudo, não
são excluídos os fatores individuais para a baixa adesão às medidas de proteção.
A disponibilidade dos equipamentos de proteção foi significantemente
associada à adesão no estudo de Nichol et al. (2008). Diante disso, a gerência deve
planejar e conduzir intervenções que melhorem as respostas da baixa adesão aos
equipamentos de proteção, principalmente, em relação ao provimento de material e
64
elaboração de rotinas, para que possamos observar transformações na prática
assistencial, por parte dos PAS, em direção a uma ação e atitude preventivas.
A falta de gerenciamento organizacional não direcionada para a diminuição
dos fatores que influem na saúde física e mental dos profissionais no contexto
hospitalar gera sobrecarga de trabalho e não aderência às medidas de segurança,
suscitando o desgaste no profissional (CAVALCANTE et al., 2006).
Os discursos analisados neste estudo mostram que as atividades
administrativas são fundamentais no processo produtivo da enfermagem e em
relação à adesão ao EPI. Diante disso, as funções do enfermeiro gerencial são a
organização e planejamento das ações de cuidado como elaboração de rotinas,
educação em serviço, coordenação, execução e avaliação dos serviços assistências
de enfermagem, provimento de pessoal, material e equipamentos, bem como a
responsabilidade pelos processos assistenciais e administrativos dessas unidades
(SILVA; ERDMANN; CARDOSO, 2008).
Assim, diante das funções que o enfermeiro gerencial deve executar é
extremamente relevante que as gerências adquiram instrumentos que possibilitem
melhor gerenciamento, buscando conhecimento, atitude e habilidades que lhes
permitam realizar um planejamento condizente com a realidade e as necessidades
do SAS, assumindo o seu papel de orientador, direcionador e facilitador diante dos
programas de controle de infecção e da segurança ocupacional (CAMPOS; MELO,
2007; LIBERALI; DALL’AGNOL, 2008).
Os relatos indicam que se houvesse uma atuação mais enfática, uma
motivação maior por parte da gerência na questão da segurança ocupacional e
diminuição das barreiras, os sujeitos da pesquisa poderiam aderir melhor ao EPI.
Tipple et al. (2007) apreenderam situações de reconhecimento das precauções que
poderiam ser cumpridas, mas que foram negligenciadas por falta de supervisão.
Contudo, para que haja a melhora da adesão ao EPI, os trabalhadores
precisam sentir que estão participando das tomadas de decisões, recebendo
incentivos e sendo valorizados por suas chefias. Entretanto, não é isso que
evidenciamos nesse estudo.
Nos relatos a seguir identificamos que há uma falta de rotina para o uso e
manuseio do EPI, tão pouco participação na elaboração desta, que quando realizada
é feita por estagiários:
65
O uso acaba não sendo uniforme para todos usarem o EPI de forma
adequada. Um dos motivos é que você não tem uma sistematização
(G1).
Eu mesma tive muita dificuldade quando entrei aqui porque não tinha
uma rotina, uma fiscalização (G1).
[...] às vezes quando tem interno, lá tem muito interno, muito
estagiário, aí eles colocam, fazem cartazes com tudo explicadinho,
tudo arrumadinho e a gente coloca na porta dos isolamentos (G3).
[...] Como é que eu vou cobrar do meu funcionário se eu não passei
para ele isso. Não tem normas e rotinas eu não vou cumprir (G2).
A padronização e socialização das rotinas quanto ao uso e manuseio do EPI
são imprescindíveis para que os PAS tenham os subsídios necessários para
promover a segurança no ambiente de trabalho, bem como orientar as práticas em
relação ao controle e prevenção das IACS e adotar comportamentos adequados
frente ao risco.
As falas dos grupos também mostram que diante dos gerentes, que não são
pró-ativos em relação às rotinas, os estagiários as elaboram, expressam a
preocupação com a segurança e proteção tanto dos profissionais quanto dos
pacientes. Isso sinaliza que o ensino tem proporcionado aos futuros profissionais da
área da saúde uma consciência acerca dos riscos, assim como da importância do
seu papel como gestor.
Essas situações mostram as dificuldades enfrentadas pelos profissionais para
aderir às medidas de segurança, devido as barreiras existentes entre o provimento
de materiais e a falta de rotinas padronizadas no SAS.
Na declaração abaixo percebemos melhor o quanto a rotina influencia para a
adesão ao EPI.
Facilita, porque às vezes eles (profissionais) estão ali e nem olham
às vezes a papeleta, mas ver a rotina na porta, eles já sabem que
não pode, sem os paramentos não podem ir (G3).
Os grupos expressam que as rotinas quando estabelecidas tornam-se um
facilitador e impulsor para o uso dos equipamentos de segurança, principalmente,
quando são fixadas em locais estratégicos e visíveis, como no caso de isolamento.
Entretanto, os fatores individuais são mais preponderantes do que a existência de
uma padronização do uso de EPI.
66
Não, vai a circunstância da individualidade. Eu posso garantir que
eu sigo o protocolo (G1).
Apropriando da ideia de Freire (2001) para o micro-espaço da assistência,
esse comportamento repercute na omissão de enfrentar os conflitos sociais,
relacionais e organizacionais. Essa subjetivação da realidade reduz o mal-estar a
questões de competência ou incompetência individual, e remete os sujeitos para a
solução que tem a sua disposição, ou seja, a improvisação salvacionista.
Vale salientar que a elaboração de rotinas juntamente com os PAS e a sua
socialização são formas de explicitar a realidade e enfrentar os conflitos existentes,
construindo caminhos que convirjam para a competência coletiva.
No entanto, na prática assistencial, observamos que estas são construídas
apenas para cumprir requisitos administrativos, são engavetadas e não estão ao
alcance de quem é de direito. Assim, cada profissional imprime o seu estilo de
trabalho, de acordo com o seu conhecimento, crença e consciência profissional.
Essa prática leva a ações inseguras, por parte dos profissionais, e ainda reforça a
cultura de acusação do profissional, como único responsável pelo ato inseguro que o
expôs ao risco.
O grupo G3 revelou também que quando há a possibilidade de planejar a
assistência do cuidado, a adesão e o uso do EPI são facilitados. Porém, em
situações urgência/emergência, nem sempre o planejamento é viável, favorecendo a
desproteção.
Diferente das enfermarias, que primeiro você planeja. Eu vou pegar
para meu paciente, vou levar isso, vou levar isso, eu vou levar aquilo
outro. Já sai com tudo planejadinho. E emergência não, você chega
lá e dá de cara com aquilo, o que você vai fazer? (G3).
Se tivéssemos essa condição de planejar, teríamos condições de
executá-lo. Nós não temos isso. Você pode até planejar muito
bonitinho, mas na hora você não tem condições. É uma coisa assim
tão... que não temos espaço físico adequado na clínica Z. A maioria
das coisas são todas improvisadas. As clínicas são muito pesadas,
aqui todo mundo trabalha muito... (G3).
A inobservância das normas de segurança e a não disponibilização de EPI
em quantidade suficiente agregada à dinâmica de atendimento, a escala de serviço
desgastante e ao estresse no ambiente de trabalho são fatores que reforçam a ação
67
e atitude de desproteção dos PAS. Nas falas abaixo, podemos evidenciar melhor a
influência da sobrecarga de trabalho na segurança dos profissionais.
É, você corre muito e é mais risco na questão do acidente (G2).
É você tomar conta de uma unidade de observação e tomar conta da
traumato. É você estar dentro de uma reanimação e você ter que
cuidar do material para levar e para buscar. São duas escalas
mesmo. E isso é diferente e você tem que dar conta porque senão a
sua colega chega a tarde e ela não tem material. Então você tem que
ver tudo isso, e conseguir conciliar essas coisas todas (G3).
Com certeza, acaba assumindo atribuições que não são nossas, isso
gera estresse (G2).
As falas dos grupos destacam que a escassez de recursos humanos pode
ocasionar a dobra de plantões em que aos trabalhadores executam mais de uma
escala de trabalho. Ao sobrecarregar o profissional, essa situação também torna
mais vulnerável o próprio trabalho e a segurança do trabalhador.
A rotina de serviço de enfermagem, a sobrecarga e o estresse gerados pelo
ambiente de trabalho, têm se mostrado como fatores relacionados aos altos índices
de acidentes e são as primeiras razões para a não adesão ao EPI (DAMASCENO et
al., 2006; HINKIN; GAMMON; CUTTER, 2008; PINHEIRO; ZEITOUNE, 2008;
TIPPLE et al., 2007).
Tipple et al. (2007) também identificaram instituições onde um mesmo
trabalhador estava escalado em mais de um setor, dificultando assim, a adoção de
medidas de prevenção.
Vieira e Padilha (2008) identificaram dois fatores predisponentes à ocorrência
de acidentes com material perfurocortante. Os fatores associados às condições de
trabalho (institucionais) e os relacionados ao comportamento individual dos
trabalhadores, dentre eles a adesão ao EPI. Em relação às condições de trabalho
destacaram a falta de programa de capacitação profissional, sobrecarga de trabalho
e falta de materiais e equipamentos de segurança.
Diante disso, é possível pensarmos que a sobrecarga, a pressa e as precárias
condições de trabalho, além das questões organizacionais e sócio-relacionais
discutidas anteriormente, contribuem para o descuidado desses profissionais para
com a própria segurança, culminando, muitas vezes, no desenvolvimento de uma
doença ocupacional.
68
[...] quando desocupa o aparelhinho na clínica ... são cinco horas, é
hora de fazer o último hgt, antes do paciente jantar. Já estava no
meio do caminho, falei moço, não come agora não, deixa eu fazer o
hgt. Corri fui lá e peguei o aparelhinho. Saí correndo, cadê o
aparelhinho, aí que eu achei, o homem já estava lá esperando para
comer, aí cheguei e fiz. Peguei o dedinho dele e fiz, pus a agulha em
cima da cama, ela correu e caiu em cima do meu pé, e falei, ah meu
Deus, agora eu vou morrer, o homem tinha Hepatite C (G2).
A desproteção para a realização de procedimentos como HGT tem se
mostrado revelador nesse estudo. Talvez pela minimização do risco, associada a
sobrecarga de trabalho, falta do aparelho de HGT em quantidade suficiente para a
demanda do SAS e o descarte inadequado de perfurocortantes.
Os resultados e as discussões baseadas nas falas dos grupos, evidenciam o
quanto a proteção do profissional fica vulnerável diante da falta de planejamento e
provisão de infraestrutura e insumos.
O contexto das atividades assistenciais conduz o profissional de enfermagem
a trabalhar em um ritmo acelerado, a fim de que todas as ações previstas possam
ser executadas durante as suas horas de trabalho. Por essa razão, muitos
profissionais executam o cuidado sem uma reflexão sobre o seu fazer, o que pode
comprometer a qualidade e impedir um planejamento para o desempenho das suas
inúmeras atribuições, podendo desta forma, gerar desgaste do trabalhador,
expondo-o a acidentes de trabalho (OLIVEIRA; CAVALLI KLUTHCOVSKY;
KLUTHCOVSKY, 2008).
Nesse estudo constatamos que o alto risco ocupacional dos trabalhadores de
enfermagem, além de outros fatores, pode ser decorrente da falta de rotinas e
orientações que deveriam ser dadas à equipe antes de iniciar suas atividades
profissionais e de uma política de educação permanente.
As discussões levaram a reflexões interessantes que apontam para algumas
soluções como: planejar melhor as atividades, distribuindo-as melhor nas 24 horas,
estabelecer prioridades, pois na correria os profissionais acabam se descuidando do
uso do EPI, manuseiam objetos perfurocortantes de forma inadequada e acabam
vulneráveis a acidentes.
69
A gente não precisa fazer tudo de uma vez. Se não deu para fazer
aquele hgt naquele horário, o paciente ta com fome vai almoçar....
não precisar fazer tudo de manhã. Vamos priorizar o que é mais
urgente. Se não for mais urgente, se der para fazer tudo bem. Se não
der, vamos dividir com o período da tarde e noite. Porque nessa
correria querendo fazer tudo de uma vez, você acaba manejando o
material de forma inadequada, com pressa e se acidenta. Foi o que
aconteceu comigo (G1).
Devemos ressaltar que o estabelecimento das prioridades que envolvem o
trabalho no ambiente hospitalar deve levar em consideração a coletividade, o bem-
estar e o cuidado dos pacientes. Independente do valor técnico científico da prática
do HGT, ou de outro cuidado, pode haver o mito da salvação individual, sem
considerar o universo coletivo responsável pela sinergia de forças para o cuidado
em si.
Os grupos desse estudo se revelaram duplamente expostos: primeiro por não
terem como se protegerem dos riscos devido aos fatores intrínsecos (crenças,
valores, razões, conhecimento) e extrínsecos (organizacional, gerencial, relacional)
ao ambiente de trabalho e em segundo, porque quando se acidentam não conhecem
o fluxo de atendimento ao profissional acidentado, ou não encontram facilidades
nesse atendimento.
Porque aí eu fui lá na triagem e a menina falou que não era lá mais.
Ela falou que eu tinha que falar com a enfermeira do Pronto Socorro
para pedir o residente para me atender. Aí na hora que eu vi do jeito
que tava (superlotação) desisti (G2).
Eu acho que tinha que ficar claro para todos, essa rotina de acidente
(G2).
E a gente observa também que tanto em uma instituição privada
quanto em uma instituição pública, há falta de conhecimento do
protocolo para acidente com perfurocortante e acidente com material
biológico. Você fica perdido, a hora vai passando, o tempo vai
passando... então a gente nota isso daí, o não fornecimento do
protocolo (G1).
Podemos identificar na primeira fala que o fluxograma de atendimento ao
profissional deste serviço não está bem estruturado e leva os profissionais a
dependerem de favores, que aliado à grande demanda de atendimento no setor,
leva à desistência do profissional. Esses fatores contribuem para aumentar o
70
número de subnotificação de acidentes com material biológico, a desproteção e
insegurança do profissional acidentado.
É função gerencial promover o cumprimento da NR32 (2005) em relação ao
fluxograma de atendimento, o qual deve ser acessível em todos os locais de
trabalho.
Pinheiro e Zeitoune (2008) evidenciaram que 41% dos profissionais da
enfermagem não souberam responder como deveriam proceder em caso de
acidentes. A falta de conhecimento, a complexidade do fluxograma de atendimento,
o medo dos resultados das sorologias, a culpabilidade que se sente em relação a
esse evento, a organização inadequada das ações no serviço de atendimento ao
trabalhador e a não importância do acidente são motivos relatados para a não
notificação dos acidentes (DAMASCENO et al., 2006; MARZIALE; NISHIMURA;
FERREIRA, 2004; RIBEIRO; SHIMIZU, 2007).
A notificação desses acidentes é de fundamental importância para se
conhecer a epidemiologia e elaborar o planejamento das estratégias de educação
permanente nos serviços de assistência à saúde. Além disso, esse procedimento
protege legalmente o trabalhador. A portaria 777/ 2004 estabelece o acidente com
material biológico como evento de notificação compulsória (BRASIL, 2004).
A subnotificação também se torna preocupante, pois nos casos de acidentes
envolvendo pacientes HIV positivos ou de sorologia não conhecida, a profilaxia deve
ser iniciada imediatamente, dentro de, no máximo, duas horas após a exposição e
com duração de, pelo menos, quatro semanas para se obter um resultado favorável
(BRASIL, 2006).
Segundo o Ministério da Saúde, o profissional acidentado com material
biológico deve comunicar à chefia da unidade onde trabalha, sobre o acidente, em
seguida deve ser preenchida a comunicação de acidente de trabalho (CAT), ser
investigada a gravidade do acidente, o fluido corpóreo envolvido na exposição, e
rapidamente realizados os exames necessários (BRASIL, 2006).
O acidentado deve ser encaminhado o mais rápido possível para avaliação e
conduta, seguido de acompanhamento clínico, sorológico e psicológico, quando
necessário, bem como o apoio e respaldo da gerência diante dessa situação
(BRASIL, 2006).
Nesse sentido, destacamos que a administração e a gestão não devem medir
esforços para propiciar a segurança e a saúde do trabalhador nos SAS, do mesmo
71
modo que deve manter um programa de educação permanente, visando aumentar
os conhecimentos e a consciência desses profissionais quanto à tomada de decisão
em direção a um comportamento preventivo.
Os grupos discutiram a relevância da educação em serviço para a formação
da consciência dos profissionais sobre os riscos do ambiente de trabalho, assim
como o uso e importância dos equipamentos de proteção individual.
[...] a orientação, mostrar a importância de cada equipamento, saber
que tem que ser usado...Então eles têm que fazer um trabalho de
educação maior... conscientizar mesmo as pessoas, por meio de
palestra falando a importância do equipamento de proteção individual
e coletiva. Sabe, eu acho que assim, se tiver uma maior ênfase em
cima disso, por exemplo, das gerências...(G2).
[...] a instituição tem que te dar o conhecimento para usar o
EPI...(G1).
Essas falas remetem à importância da gestão incluir a educação do
profissional no serviço de assistência à saúde. Embora a sugestão do grupo seja
para a utilização da palestra como forma de transmitir informações, discutimos que
essa não necessariamente, influencia na mudança de comportamento. Assim, um
grande desafio na área da segurança ocupacional é eleger modelos educativos que
estimulem os profissionais a perceberem a real situação de risco a que estão
sujeitos, para que os mesmos, adotem comportamentos preventivos conscientes em
suas práticas diárias.
O estudo de Gir et al. (2004) sobre a adesão de enfermagem às PP apontou
que a falta de credibilidade à eficácia das medidas de proteção, inclusive com
relação ao EPI, associada às dificuldades de capacitação de pessoal, ao desrespeito
às normas pré-estabelecidas e ao desinteresse do trabalho, por parte dos
trabalhadores da enfermagem, são as situações mais enfrentadas no cotidiano.
O estudo de Calderero, Miasso e Corradi-Webster (2008) identificou que
67,56% dos profissionais da enfermagem não receberam qualquer tipo de
qualificação quanto ao uso e manuseio do equipamento de proteção individual.
Dentre os que receberam, metade foi submetida apenas ã qualificação prática e sem
supervisão.
72
Estudos mostram que a educação permanente somada à experiência prática
no trabalho influencia de maneira positiva na adesão e uso do equipamento de
proteção (GANCZACK; SZYCH, 2007; SIEGEL et al., 2007).
A educação é a intervenção primária para melhorar a adesão ao EPI. Embora
transformações significativas não sejam observadas na prática, os PAS detêm o
conhecimento, no entanto, as mudanças do comportamento são limitadas.
As estratégias da educação permanente devem ser voltadas à
problematização das situações vivenciadas no cotidiano de trabalho para que esses
PAS possam consolidar melhor esses conhecimentos.
Os dados desse estudo discutidos até aqui, revelam inúmeros fatores
conjunturais e estruturais que contribuem para a não adesão ao equipamento de
proteção. Nesse sentido, não podemos apontar apenas a educação como
responsável para impulsionar os profissionais em direção a esse comportamento
preventivo.
A participação da gerência compartilhada com os trabalhadores na educação
permanente é de suma importância, pois ao conhecerem a complexidade e dinâmica
do serviço, poderão desenvolver estratégias de prevenção à exposição ocupacional
mais eficazes, elaboradas a partir das dificuldades (MALAGUTI et al., 2008) e
pactuadas no coletivo.
A valorização do profissional e o “empoderamento” da equipe de enfermagem
na discussão, resolução dos problemas e tomadas de decisões relativas ao uso do
EPI influenciam positivamente para atitudes de proteção tanto individual, quanto
coletiva.
O “empoderamento” implica no reconhecimento da necessidade de se criar
mecanismos que possibilitem a indivíduos e comunidades tornarem-se protagonistas
de suas próprias histórias, oferecendo as ferramentas necessárias para a condução
do processo de negociação com aqueles que tomam as decisões, seja no nível
micro ou macroestrutural (GOHN, 2004).
Acreditamos que essas mudanças necessárias só ocorrerão a partir do
momento em que houver uma gestão pactuada entre os diferentes níveis
hierárquicos, e com a compreensão da magnitude dos aspectos relacionados à
saúde, buscando condições dignas e seguras de trabalho.
A desconstrução da percepção de invulnerabilidade aos riscos no exercício
profissional deve ser trabalhada, no contexto das ações desenvolvidas para o
73
cuidado, a fim de que haja uma transformação da realidade e as práticas de risco
sejam substituídas por comportamentos que resultem em uma assistência de
qualidade ao usuário e na maior proteção do trabalhador da saúde.
A avaliação feita pelos participantes, ao final de cada encontro revelou, que o
grupo foi um espaço privilegiado de diálogo entre enfermeiros e técnicos de
enfermagem, permitindo a troca de experiências vivenciadas em diferentes unidades
e reflexões sobre a prática do uso do equipamento de proteção individual. Houve a
construção do conhecimento e apontamento de soluções para os problemas.
[...] Surgem soluções para resolver cada problema. Isso aqui é uma
semente que está sendo plantada (G1)
[...] foi muito bom as indagações esclarecidas durante as discussões.
Isso estimulou outros assuntos. Se todos os encontros fossem de tal
forma... (G1)
[...] é importante a troca de experiência, ajuda a refletir as ações
também, não só as nossas, mas dos colegas (G3).
Os grupos também expressaram, no fim das sessões, os sentimentos
vivenciados durante as discussões e revelaram uma tomada de decisão e uma ação
em direção a um comportamento preventivo, sugerindo possível mudança de
comportamento em relação ao uso do equipamento de proteção.
Com certeza amanhã o meu dia vai ser diferente, porque eu vou
chegar e vou lembrar do que foi dito aqui. É impossível não lembrar
(G2).
[...] eu vou começar a colocar em prática na minha vida. Vou chegar
no meu trabalho e vou tentar fazer um pouco do que eu discuti, do
que eu aprendi (G2).
[...] contribui para você refletir mais na prática, na hora de fazer o
procedimento (G3).
[...] surgem soluções para resolver cada problema (G1).
Esses relatos nos fazem pensar no grupo focal para além de uma técnica de
coleta de dados, mas como um espaço privilegiado para se construir uma práxis
sobre comportamentos preventivos seguros.
Quando analisamos os discursos dos grupos, percebemos que sentimentos
como o medo da morte e da contaminação, o pânico, a preocupação com a família e
a dúvida, são alguns dos determinantes que impulsionam esses profissionais à
74
adesão ao equipamento de proteção individual. As falas e as figuras abaixo revelam
essa percepção dos entrevistados. Para melhor compreensão do tema em análise,
ilustramos a seguir as figuras, as quais foram utilizadas como recurso iconográfico,
com as respectivas falas emergentes.
FIGURA 03- Na corda bamba
É o medo, medo. Eu trabalho toda cheia de
equipamento. É o capote, máscara, luvas. Gorro
não temos. Então a gente tenta se proteger com o
que tem. (G2)
[...] é através do uso do EPI que estamos evitando
a nossa cova, porque é aquela coisa, ou você usa
ou tem o risco de 50% de se contaminar. (G3)
Agora a situação que a gente observa é que assim, o pessoal se
lembra quando está em pânico. (G3)
[...] eu tenho um bebê pequeno e eu me preocupo demais, depois da
minha filha, de fazer um procedimento sem um equipamento e eu me
contaminar por falta de cuidado...(G2).
FIGURA 04- Caixinha de surpresas
O que me motiva é porque o trabalho é sempre
uma caixinha de surpresas (G1).
75
Observamos que o foco das preocupações para esses profissionais é a
exposição ocupacional, o risco de adquirir uma doença e isso gerar consequências
nos âmbitos pessoais, psicológicos, sociais e familiares.
As vivências do trabalhador em seu ambiente de trabalho repercutem em seu
contexto social e na vida familiar (CASTANHA; MACHADO; FIGUEIREDO, 2007).
Nesse sentido, a preocupação em adquirir alguma doença transmitida
ocupacionalmente e isso gerar uma possível reação negativa aos familiares, exerce
influência pró-ativa para a proteção e uso dos equipamentos.
As infecções causadas pelos vírus da hepatite B e C e HIV, vieram
revolucionar conceitos, valores, crenças em várias instâncias sociais, acerca do
processo saúde/doença, e representa uma preocupação no exercício profissional
(MELO et al., 2006).
Ganczack e Szych (2007) identificaram, em sua pesquisa, que houve
significante associação entre o medo de adquirir HIV no trabalho e a adesão ao EPI,
sendo o medo, o principal motivador para que os profissionais mudassem seus
comportamentos.
No que se refere a essa proteção individual relatada pelos grupos,
evidenciamos uma susceptibilidade aos riscos (percepção subjetiva dos riscos), bem
como a severidade (percepção das consequências, gravidade e repercussões da
doença/risco na própria vida), expressas nos sentimentos e nas condutas adotadas.
A aceitação da susceptibilidade pessoal ao risco, a percepção da vulnerabilidade e a
crença de que ele é perigoso, produzem uma força que induz ao comportamento
preventivo (ROSENSTOCK, 1974b).
Uma das implicações envolvidas na prática diária de profissionais da saúde é
a possibilidade de infecções com patógenos através de um acidente com material
biológico. Outro fator importante é a percepção da vulnerabilidade pessoal, que
parece colocar o profissional em intenso conflito, configurando um momento de
angústia e temor frente ao futuro (RISSI; MACHADO; FIGUEIREDO, 2005).
A percepção do risco é um tema complexo e abarca não somente os
comportamentos, mas também os sentimentos, significados e sua interação com os
fatores da vida cotidiana e os determinantes do ambiente do trabalho.
76
Entendemos que a maioria dos sujeitos desse estudo, possui conhecimento
sobre os riscos e percepção da susceptibilidade e severidade, porém, isso não se
transforma em uma ação segura para o uso do equipamento de proteção.
Para alguns profissionais a falta do medo de se contaminar e a crença de que
nada irá acontecer com ele, reforça o sentimento da autoconfiança e propicia a (des)
proteção. Essa questão é abordada nos relatos a seguir:
O problema maior não é nem a gente não ter o equipamento, mas na
grande maioria é o medo, é a falta de medo por exemplo. Ah, eu não
vou me acidentar entendeu! Eu sou boa no que eu faço, então eu
não preciso usar isso (EPI) entendeu? (G2)
[...] sem contar que nós também temos uma culpa em relação a
equipamentos, porque a gente não usa sempre, por exemplo, em
punção difícil eu não uso luva, porque eu tenho na minha concepção
de que eu não vou me acidentar porque eu tenho uma facilidade
muito grande em puncionar veia (G2)
A pessoa confia demais (G1)
É a autoconfiança, é um fator que dificulta o uso do EPI,
principalmente, na hora que vai fazer punção. Eu falo, coloca a luva,
e a colega responde, não! sou craque nisso daqui! (G1).
[...] a tendência da gente é achar que somos bons demais. Vou fazer
a punção aqui e não vou tocar no sangue, mesmo que ele fluir, sair,
extravasar. Acontece que vai ter um momento que se contamina
(G3).
Os relatos acima evidenciam uma percepção mediana da susceptibilidade e
da severidade dos riscos, que somada com a autoconfiança, adquirida no cotidiano
do trabalho, induz a uma frágil ação em direção ao comportamento preventivo.
A autoconfiança desenvolvida pela experiência é evidenciada na prática
assistencial pelo descaso no uso do EPI, mesmo quando em contato com sangue
e/ou fluidos corpóreo (VIEIRA; PADILHA, 2008). Seguir as precauções interfere nas
habilidades do profissional e influencia no cuidado ao paciente (BEEKMANN;
HENDERSON, 2005).
Correa e Donato (2007), que estudaram as atitudes dos profissionais da
equipe de enfermagem em uma UTI, mostram que na prática assistencial, a adoção
às medidas de biossegurança são ações de pouca importância.
Contudo, todo ser humano é vulnerável, em todas as suas dimensões, tanto
física, quanto psicológica e socialmente. A vida, o trabalho, as ações, os
77
pensamentos e os sentimentos são vulneráveis. Apesar dessa vulnerabilidade, o ser
humano tem a capacidade de se proteger (WALDOW; BORGES, 2008).
Apesar dessa capacidade inerente ao ser humano, fatores já discutidos nesse
trabalho, como estrutura organizacional e de gestão, a autoconfiança e a baixa
percepção nas dimensões das crenças em saúde, atuam como forças adversárias
que anulam essa capacidade.
Contudo, essa capacidade de se proteger quando potencializada pela
percepção dos benefícios conferidos pelos EPI, exprimem no profissional
sentimentos como o bem-estar, tranquilidade, equilíbrio e proteção
FIGURA 05 – Liberdade e tranquilidade
EPI é alegria. A gente vivi isso, eu, por exemplo, na
enfermagem sou feliz (G2).
[...] o que me motiva é sair daqui e não ter nenhuma
doença, não adquirir nada, poder viver minha vida,
ficar livre e tranquila (G1).
FIGURA 06 - Equilíbrio
O que leva a gente a usar é o equilíbrio, porque se
a vida é um jogo, eu tenho que tomar a decisão
certa pra que isso não cause dano nem para mim
nem para os outros (G3).
78
FIGURA 07- EPI como embalagem
[...] é como se a gente fosse o produto e o EPI a
embalagem (G3).
[...] eu estou me protegendo e protegendo o
paciente também (G2).
Quando utilizados adequadamente, o EPI serve de aliado dos profissionais,
livrando-os dos riscos possíveis relacionados ao tipo de atividade que estão
executando, bem como a proteção para os pacientes (CORREA; DONATO, 2007).
FIGURA 08 – A armadura
Pra mim EPI realmente é proteção completa,
totalmente completa, para eu poder fazer um
trabalho bem feito, ficar tranquila e protegida, sem
preocupar, que eu não vou ser contaminada (G1).
79
A armadura expressa na figura representa essa segurança completa que o
EPI representa para os grupos. Entretanto, apesar da percepção dos benefícios, os
sujeitos apontam que o EPI não os protegem totalmente durante a execução das
atividades.
Mas o EPI não isenta 100%. A gente usa a luva, mas, mesmo assim
o perfurocortante vai perfurar a luva e pode contaminar. Usamos os
óculos, mas a secreção pode ir aos olhos (G1).
[...] mesmo utilizando o EPI a gente tem risco de estar exposto.
Agora não utilizando a gente está pior (G3).
[...] já aconteceu lá na outra unidade um acidente com a pessoa toda
paramentada, tudo certinho, e a gotícula ir lá, passar e cair no olho
(G2).
Os sujeitos dos grupos percebem a importância do EPI, no entanto,
reconhecem que o seu uso não elimina completamente o risco de transmissão. O
EPI não deve ser negligenciado em nenhuma das situações que exigem o seu uso,
pois a não adesão pode acarretar em graves consequências na vida do trabalhador.
Contudo, além do uso do EPI, os PAS devem executar suas tarefas com
concentração, atenção e cuidado para que não ocorram acidentes na realização da
assistência que possam prejudicar a saúde do trabalhador e do paciente.
Salientamos que as luvas têm como finalidade primordial a proteção dos PAS
à exposição ao sangue ou a outros fluidos corporais, como secreções e excretas. O
seu uso reduz o contato direto das mãos do profissional com tecidos do paciente,
lesões, membranas, mucosas e na realização de procedimentos invasivos. Apesar
de não evitar os acidentes com perfurocortantes, minimizam o volume de sangue
inoculado (SIEGEL et al., 2007).
Cada um dos sentimentos expressos pelos grupos imprime uma disposição e
uma direção para a ação tanto para a proteção quanto para a (des) proteção. Essa
disposição segundo Rosenstock (1974b) pode ser concretizada ou não, dependendo
da percepção dos benefícios representados pelos EPI, mas também pelas barreiras
representadas pela sua falta ou inadequacidade ao trabalhador.
Os sentimentos e emoções são poderosos, e determinam muito mais do que
se imagina nas decisões e ações humanas. Eles guiam o ser humano no
enfrentamento dos riscos e nos desafios da profissão. A decisão para a ação quanto
80
ao uso do EPI deve considerar os sentimento e as emoções, ao invés de deixá-las
apenas a cargo da razão.
4.2.2. Relacionamento interpessoal
Nesta categoria temática os membros dos grupos enfatizam a influência do
relacionamento interpessoal e da comunicação, entre as categorias profissionais e
entre a gerência, na adesão ao equipamento de proteção individual. As falas dos
grupos expressam uma falta de motivação para o uso do EPI em ambientes de
trabalho onde as relações não são saudáveis.
[...] acho que as pessoas que trabalham ali, são treinadas para
dificultar, não para ajudar (G3).
Tem o estímulo para o uso e o estímulo para o desuso. Assim, para
a não aderência do serviço, é um vir e falar, “saiu da faculdade
ontem e está querendo te dar uma ordem esdrúxula! Acorda! Para
que isso, nunca aconteceu com você?” (G1).
Essa questão de você ser um formador, um formador de opinião é
muito válido nesse sentido. Por exemplo, vira e mexe tem alguém lá
me cutucando, usa a luva, olha gente usa a luva! (G2).
De acordo com as falas, a questão das relações no ambiente laboral é
determinante e muitas vezes, decisiva para a tomada de decisão diante da (des)
proteção e atua diretamente no ambiente de trabalho, pois cada indivíduo é
responsável pelo estabelecimento da harmonia no seu trabalho, devendo, para tal,
estabelecer uma relação profissional que propicie um ambiente satisfatório e seguro.
Nos relacionamentos, cada um coloca um pouco de si, mostra seu modo de
agir e exerce sobre o outro, uma influência positiva ou negativa (CUNHA;
ZAGONEL, 2008).
[...] nós temos sabe, aquela panelinha de pessoas com mais idade,
então a gente se preocupa, muito, uns com aos outros e com quem
ta entrando a gente orienta muito sabe, faz assim é melhor para
você. Muitas vezes você orienta e não faz, mas você orienta o certo,
porque isso não fazem questão de passar, mas a gente sim, faz
questão de passar umas as outras, a se ajudarem. Então eu acho
81
que o que facilita para nós, no meu horário é isso, o relacionamento
entre o colega de profissão (G2).
Eu acho que a consciência é fundamental no uso de EPI,
biossegurança para o profissional. Ele tem consciência, será que ele
sabe realmente para que ele serve? Qual a importância do uso do
EPI? Então a gente tem que ser educador a cada dia né! É orientar o
colega que está do nosso lado, senão ele pode mesmo se acidentar
ou acidentar você, então a responsabilidade é sua (G1).
Ao orientar o certo, mas fazer o errado, como declarado na fala acima, o
profissional estava exercendo sua capacidade moral, de proteger o ser mais frágil e
necessitado. Isso tem relação com o outro que, por sua vez, também se relaciona
com o cuidado no sentido de se colocar no lugar do outro, de apoiá-lo (WALDOW;
BORGES, 2008). Contudo, o ser humano aprende mais o que vivencia e
experiencia, do que propriamente o que ouve.
De forma subliminar aparece a falta de orientação por parte dos gestores, aos
recém-ingressos, quanto aos riscos inerentes ao local de trabalho e as medidas
preventivas que devem ser adotadas. Assim, o próprio grupo assume a
responsabilidade do (des) amparo e, ao mesmo tempo em que “orienta o certo”,
oferece o exemplo agindo de forma (in)segura.
O relacionamento entre os profissionais envolvidos no ambiente de trabalho,
para ser positivo, deve promover o crescimento e o bem estar do outro, pautados no
respeito, bem como na aceitação das diferenças e particularidades de cada um.
Dessa forma podem ajudarem-se mutuamente (BAGGIO, 2007).
Zapparoli, Marziale e Robazzi (2006) também identificaram em um estudo
sobre uso de luvas para punção periférica, que colegas de trabalho influenciam de
maneira positiva ou negativa na conduta de promoção da saúde.
Da mesma forma que profissionais influenciam e motivam os outros colegas à
proteção, os entrevistados relataram que há também aqueles que impulsionam para
um comportamento de risco. Muitas vezes por falta de supervisão, motivação, por
medo de perder o amigo, ou para fazer parte do grupo, ele deixa de se proteger
propagando assim, a ação de (des) cuidado consigo e com os outros colegas de
profissão.
[...] na prática ele vê no senso comum, todo mundo fazendo de forma
incorreta, então ele pensa, bem não chamou atenção, nunca
aconteceu nada comigo de diferente, eu não vou querer ser o patinho
feio, e não vou querer ser o peixe que voa. Então ele vai se apegar,
82
aquele pessoal, aqueles que já fazem de forma incorreta e vai se
desvirtuar (G1).
[...] porque teve gente, colegas que eu não vou citar, que falou, não!
Isso é coisa a toa (o EPI), você põe uma máscara e vai, você trata
disso, é o nosso dia-a-dia (G2).
Quando um novo membro é integrado ao grupo de enfermagem, como no
primeiro relato, automaticamente os sujeitos envolvidos iniciam a fase de
identificação e (re) conhecimento entre si. Durante a etapa da familiarização entre os
sujeitos são vários os sentimentos experimentados e atitudes apontadas (BAGGIO,
2007).
No entanto, essa experiência pode ser positiva para uns e negativa para
outros. Nesse processo, o recém-ingresso identifica-se com um colega por
afinidades, receptividade, e este por sua vez, passa a ser a sua referência quanto ao
desenvolvimento de suas atividades práticas, inclusive no uso ou não dos
equipamentos de proteção.
O profissional ao ser admitido, em uma instituição, deve ser provido de todas
as orientações necessárias para o desenvolvimento de suas atividades,
principalmente, em relação às rotinas e às medidas de biossegurança. Ressaltamos
aqui também a importância dos exames admissionais e anuais, para que esse
trabalhador tenha um acompanhamento, assim como a educação permanente.
Essas atividades são funções do enfermeiro gerencial, mas também cabe aos
colegas de profissão auxiliá-lo nesse processo
É por meio das relações humanas no trabalho, que é construído um ambiente
saudável, que induz o profissional a se proteger e se preocupar com a proteção do
outro. Isso proporcionará satisfação e prazer aos trabalhadores e contribuirá para
um comportamento preventivo.
Atividades de trabalho que não se revelam interessantes, ou que sejam
estressantes e conflituosas, geram desmotivação e apresentam-se como fatores
determinantes para a não adesão aos equipamentos de proteção, o que expõe mais
ainda os profissionais aos riscos ocupacionais e acidentes no trabalho.
Eu acho que todo o estresse que a gente vive, todos os problemas,
por exemplo, laboratório, o RX, que são as interligações do ambiente
de trabalho que a gente tem, nutrição, farmácia, tudo isso propicia
estresse para gente, se não tiver uma ligação, uma mesma
comunicação para que flua tranquilamente. Gera estresse,
83
descontrola emocionalmente a um ponto que você se propicia a mais
acidente (G2).
O estresse referenciado pelos grupos tem uma relação direta com os
aspectos da comunicação e da resolutividade dos serviços de apoio do SAS,
conferindo estreita relação com a sobrecarga da equipe de enfermagem na
resolução desses problemas.
O ambiente de trabalho contribui significantemente para o (des) cuidado, dada
a grande demanda de atividades, exigências, sobrecarga de trabalho e tarefas a
cumprir (BAGGIO; FORMAGGIO, 2008).
A comunicação e as relações interpessoais envolvem a equipe de saúde tanto
na assistência, quanto na gestão, as quais têm repercussão nas ações e atitudes
dos profissionais diante da adesão ao equipamento de proteção.
Essa comunicação tem como papel ser facilitadora para o conhecimento
pessoal e interpessoal, tendo o poder de relacionar os membros da equipe (CUNHA;
ZAGONEL, 2008), contudo a falta dessa ferramenta, ou a sua inadequacidade, pelo
não entendimento do que está sendo comunicado, estabelece conflitos, estresse e
(des) proteção.
Calderero, Miasso e Corradi-Webster (2008) identificaram que uma das
principais fontes de estresse para os profissionais da área da enfermagem é o
relacionamento interpessoal no trabalho. O trabalho se desenvolve pela interação
entre pessoas, seja entre colegas de mesmo nível hierárquico, seja entre
empregados e clientes.
Na prática, existe uma equipe multiprofissional responsável pelo atendimento
ao usuário, contudo, formam um agrupamento de diferentes profissionais que não
desempenham suas ações de forma coordenada e a maioria das ações é
desenvolvida de forma individual, interferindo na qualidade da assistência e na
segurança.
[...] isso é uma questão de sintonia porque no meu outro trabalho,
falando de gerenciamento, às vezes as pessoas que compram nem
sabem o que se usam naquele local e às vezes não é requisitado,
porque não tem uma sintonia de quem está administrando. Às vezes
vai material que você nunca precisa dele e fica faltando outro que
você usa, mas é inadequado para o local de trabalho ... quem está
comprando ou encaminhando ou quem está requisitando não tem
sintonia com o serviço (G3).
84
[...] no meu caso eu trabalho lá (no outro hospital) à noite, eu não
tenho contato com a chefe e nem com quem requisita para poder
reclamar. Quem trabalha lá durante o dia, durante a semana, parece
que não se incomoda ou não tem coragem de expor o problema
(G3).
Estas falas remetem a idéia de que a comunicação restrita é um aspecto
negativo para a construção de um ambiente laboral harmonioso e seguro para o
desempenho das atividades relacionadas aos cuidados em saúde. Por outro lado, as
falas soam como um apelo, no sentido de pertencer à equipe, ser ouvido e contribuir
para a melhoria da qualidade do serviço.
As mesmas sinalizam ainda a desarticulação da gestão com os profissionais
que efetivamente, na prática, utilizam os artigos e equipamentos adquiridos para o
cotidiano da assistência. Isso leva a prejuízos para a instituição e, ao mesmo tempo
para os trabalhadores que, na maioria das vezes, por não serem ouvidos, não
dispõem de equipamentos de qualidade para a sua proteção e nem para uma
assistência de qualidade.
[...] então falta motivação de várias espécies, não necessariamente
financeira (G1).
A racionalização, a mecanização e a burocratização excessiva do trabalho,
impedem que o trabalhador desenvolva sua capacidade crítico-criativa e atuam
como “desumanizantes”. Como cuidar adequadamente do outro, se quem se
reconhece como cuidador é desrespeitado no seu saber, e sequer é ouvido quanto
às necessidades materiais do seu ambiente de trabalho?
Uma forma de cuidado de quem administra, seria prover material e pessoal
suficientes com adequado preparo profissional para promover um atendimento de
qualidade. Esse cuidado inclui o apoio no planejamento, respeito e motivação para o
desenvolvimento das ações cuidativas de enfermagem.
Estratégias como a advertência e a fiscalização acarretam em
constrangimento para o profissional que não está utilizando o EPI e também para
quem o adverte. No entanto, são os únicos e, muitas vezes, os últimos recursos
utilizados pela gerência para obter alguma adesão do profissional quanto ao uso do
equipamento de proteção individual.
85
[...] então o que eu fiz, advertência verbal. Liguei na secretaria e
perguntei se poderia fazer, proceder dessa maneira, se eu estava
respaldada legalmente. Aí falaram que o estatuto do servidor te
respalda dessa maneira. Então foi uma maneira que a pessoa
começou a usar o EPI quando precisava (G1).
[...] Usa pouco a advertência porque será? Eu acho que deve ser o
medo de constranger a pessoa de se sentir constrangido, porque eu
tive que conversar com essa funcionária eu também me senti
constrangida, tanto que liguei antes para outra pessoa que era minha
chefe, para saber se eu podia fazer isso, como eu podia fazer isso.
Então eu também me senti constrangida e ela também (G1).
A capacidade de saber se expressar exerce influência no processo de
comunicação interpessoal (BAGGIO, 2007). A abordagem realizada ao trabalhador
que não está usando o EPI deve ter caráter construtivo e não destrutivo. Apesar de
ser uma advertência, deve ressaltar os aspectos positivos da ação, não acusando o
trabalhador, mas valorizando-o enquanto ser capaz de se proteger.
O ambiente conflituoso e de relações individualistas deixam os profissionais
abalados física, emocional e psicologicamente, com maior propensão a acidentes
com exposição a material biológico. E ao se acidentarem não encontram apoio e
amparo para que essa situação seja resolvida da melhor forma possível.
[...] quando me acidentei procurei a enfermeira ... ela virou para mim
e falou assim, agora é só Deus! Aí eu falei, só ele mesmo! Eu queria
uma conivência dela, eu fui atrás disso...(G2).
[...] porque você espera um apoio e você não tem! Então, nós que
nos acidentamos é que temos que sair correndo, procurando. Na
época que eu acidentei não, correram comigo na hora (G3).
Os relatos explicitam que o cuidador em situação de risco, necessita e espera
ser cuidado. E quem cuida do cuidador? Ao invés do amparo e atenção, muitas
vezes, há o desprezo e até mesmo a acusação do profissional acidentado. Essa
imperícia gerencial, além de não contribuir para melhorar a adesão, leva a
desgastes nas relações de trabalho.
Para que as relações sejam humanas nesse local, é imprescindível aliar a
capacitação e aperfeiçoamento técnico-científico à conscientização e ao
aprimoramento da perspectiva humana e espiritual ao cuidar (CUNHA; ZAGONEL,
2008), principalmente, ao cuidar do cuidador. Quem cuida de modo adequado de si
encontra-se em condições de relacionar-se, de conduzir-se adequadamente na
relação com os demais.
86
O profissional que detêm o conhecimento de como agir diante dos acidentes é
capaz de tomar as providências necessárias, até mesmo, diante das situações
estressantes, uma vez que este tem conhecimento dos riscos. Ao mesmo tempo em
que se propõe a cuidar da saúde dos outros, ele deve cuidar e se preocupar também
com a própria saúde (PINHEIRO; ZEITOUNE, 2008).
Observamos tanto na produção científica sobre acidentes de trabalho com
material biológico (DAMASCENO et al., 2006; LIMA; PINHEIRO; VIEIRA, 2007;
OLIVEIRA; CAVALLI KLUTHCOVSKY; KLUTHCOVSKY, 2008) quanto no
planejamento das medidas assistenciais e de intervenção, uma dificuldade em
perceber o sujeito acidentado, o profissional que cuida. Os acidentes de trabalho são
as mais visíveis mostras do desgaste do trabalhador (RIBEIRO; SHIMIZU, 2007).
As consequências biopsicossociais deixam evidentes que a exposição
ocupacional a material biológico potencialmente contaminado tem repercussão na
vida social e familiar, prejudicando o desempenho e as relações no ambiente de
trabalho. O espaço social e pessoal é invadido de forma desorganizadora pelo
impacto do acidente (CASTANHA; MACHADO; FIGUEIREDO, 2007).
O mundo do tecnicismo, da burocratização, da imposição de normas está
sendo criado em detrimento do relacional (MERHY; FRANCO, 2003; OLIVEIRA;
COLLET; VIEIRA, 2006). Essa nova concepção tem determinado outro estilo de
convivência, que gera violência nas relações do trabalho solidário, substituindo-o
pelo alheamento em relação ao outro e levando a irresponsabilidade em relação a si
(FREIRE, 2001).
A maioria das relações é estabelecida com base nos papéis que
desempenhamos na sociedade e uma couraça é criada pelo indivíduo como forma
de embutir seus sentimentos, de não querer se relacionar com o outro.
Facilitar a expressão de sentimento, potencializar a pessoa, promover a
comunicação, a flexibilidade, a compreensão e a valorização do ser humano são
aspectos fundamentais para promover um bom relacionamento interpessoal.
Cavalheiro, Moura Júnior e Lopes (2008) relacionam como causas de
estresse para os profissionais da enfermagem, as relações com a chefia, a solidão
nas tomadas de decisões, falta de poder e influência e desvalorização.
[...] já que as supervisoras não dão muita importância, a gente
procura se ajudar uma as outras (G2).
87
Não é bem assim que eles (médicos) pensam de nós, porque tinha
um enfermeiro que trabalhou no hospital Y. Ele me contava sempre
que o diretor de lá deixou de contratar auxiliar de enfermagem...
falava que auxiliar de enfermagem é bactéria ambulante, quer dizer
que é a gente que não tem precaução (G3).
Proteção de médico, não tem não! Você está fazendo o seu curativo
bonitinho e ele chega e regassa, tira sem luva, sem nada (G2).
As falas mostram os sentimentos de desprezo, no caso, decorrentes da
hegemonia médica e do enfermeiro sobre a equipe que tem se perpetuado ao longo
da história da saúde.
A opressão gerada pela hegemonia profissional na saúde leva a conflitos e
estresse que são potencializados, segundo a expressão do grupo, por atitudes
profissionais como: recusa em atender quando se encontram no repouso, falta de
coleguismo, falta de percepção sobre o risco para o outro e a quebra de princípios
assépticos na realização de curativos.
Essas situações de conflitos, descasos e incoerências funcionam como
barreiras que impedem a tomada de decisões quanto ao uso de medidas protetoras,
apesar desses profissionais apresentarem alta percepção dos riscos. Segundo
Rosenstock (1974b) para que o profissional tome uma atitude positiva em relação à
proteção é necessário que tenha percepção da susceptibilidade aos riscos, encontre
poucas barreiras que o impeça de concretizar a ação e acredite nos benefícios
representados pelas medidas de proteção.
Consideramos que a gerência do serviço tem grande responsabilidade no
sentido de manter um ambiente laboral que contribua para elevar a percepção
individual e coletiva dos riscos. Também deve imprimir uma dinâmica de trabalho
respeitosa e ética que resulte na diminuição das barreiras, encontradas na prática,
para a adoção de medidas protetoras.
Esse apoio gerencial, além de dar respaldo moral e legal, incentivará o
profissional em direção a uma tomada de decisão para a proteção. Gerenciar
significa desenvolver talentos, incentivar a criatividade, apoiar a participação,
estimular inovações com ética e respeito ao outro (BRAGA; DYNIEWIEZ; CAMPOS,
2008).
Alguns gerentes conseguem estabelecer um vínculo positivo com o
profissional e, ainda, são autênticos no sentido de imprimir uma prática coerente
88
com o seu discurso e nível de exigência. Esses profissionais acabam por exercer um
papel de modelo que é reforçador positivo para a tomada de ação em direção a
comportamentos preventivos.
[...] Nós temos uma supervisora, uma profissional assim exemplar e
acessível. Mas também ela não senta não. Ela chega lá e trabalha.
Já aconteceu dela adoecer, eu acho que é em questão desse
estresse que ela fica (G3).
[...] eu acho muito importante o papel que a XX (supervisora) faz. Eu
troquei de horário por causa dela, eu achava que ela estava pegando
demais no meu pé, porque ela estava atrás de mim o tempo todo,
mandando eu sair, desencostar, me dando luva. Então eu pensei
poxa, eu não sou mais criança. Aquilo me irritou tanto que eu troquei
de horário e hoje eu sinto falta disso. No horário que eu trabalho não
existe isso, você se quiser deita, não só encosta como deita. Você
usa luva se quiser, sai quantas vezes quiser e isso não é bom! Hoje
eu sei que não é bom, o que era bom eu deixei (G2).
A comunicação e as relações são tão difusas que muitas vezes o profissional
não compreende a preocupação do outro em relação a sua segurança, sendo
frequente os sentimentos de inadequação, raiva e cobrança, visualizando essa
atitude mais como uma fiscalização do que uma ajuda, ou até mesmo, um apoio.
Podemos vislumbrar que os esforços individuais no ambiente de trabalho,
embora importantes, não são suficientes para se obter êxito em relação à adesão ao
equipamento de proteção individual. É preciso ir além, trabalhar no coletivo,
compreender e aplicar os princípios da ética e das relações humanas.
Um dos aspectos que surgiu nos relatos, relacionado ao não uso das
barreiras protetoras, é a percepção de que a adoção do EPI não se aplica a
determinadas situações, e a segurança pessoal fica em segundo plano, sendo
prioridade o cuidado ao paciente.
[...] e na hora de uma parada eu vou correr para resolver a situação
do paciente. Mas a gente acaba esquecendo de usar as luvas,
máscara... Depois... oh, usa luva! Usa luva! Porque eu quero resolver
o problema do paciente e acabo esquecendo de mim, naquela
emoção danada (G1).
Na hora a gente não pensa muito não. Eu por exemplo, fico muito
preocupada com o paciente, mas depois vem aquele medo. Nossa!
Me sujei toda de sangue, mas aí já foi. E não tem como a gente
deixar o paciente e acontece muito isso (G2).
89
Notamos a crença dos sujeitos de que em situações de emergência o cuidado
ao paciente deve ser realizado em detrimento da própria proteção. Essa situação de
emergência é evidenciada na literatura como uma barreira para o uso do EPI, sendo
expressa como uma dificuldade existente na prevenção e proteção, devido a
dinâmica dos atendimentos e o ritmo imposto nestas situações (FLORÊNCIO et al.,
2003; OLIVEIRA; CAVALLI KLUTHCOVSKY; KLUTHCOVSKY, 2008; SOUZA et al.,
2008a, 2008b).
O profissional de enfermagem consciente do seu compromisso com o
trabalho e com o cuidado, sente-se culpado em faltar com seu dever e diante dessa
situação é impulsionado a proteger o paciente, ainda que se desproteja. Esse
cuidado está intrínseco nos valores expressos pelos grupos. A negação da ameaça
expressa dos riscos, diante dos riscos da vida do outro, leva à desproteção
profissional não percebida na realidade cotidiana.
Não considerar a universalidade do risco e a necessidade do uso do EPI é
expor-se além do que o próprio exercício profissional proporciona (MELO, 2005).
A adesão ao uso do EPI tem relação com a percepção da susceptibilidade
dos riscos. Muitas vezes, os profissionais consideram rotineira a exposição
ocupacional a material biológico, não sabendo, em sua maioria, identificar as
consequências que resultam do não uso das medidas de prevenção (ZAPPAROLI;
MARZIALE; ROBAZZI, 2006).
No entanto, há profissionais diante da mesma situação que são conscientes
do risco, percebem a vulnerabilidade e os benefícios do uso do EPI, sendo o maior
deles a proteção.
Não, mas numa situação por exemplo, de urgência e emergência, eu
nunca que vou pegar o paciente. Digamos que ele está com
hemorragia digestiva, vomitando sangue para tudo quanto é lado, eu
não vou tocar naquilo, você entendeu? Eu vou colocar uma luva para
eu poder fazer algum procedimento, para prestar algum cuidado.
Então assim, a gente precisa sempre ter esse raciocínio, esse
pensamento crítico, se eu não cuidar de mim como que eu vou cuidar
do outro? (G3).
Esses profissionais entendem o princípio da universalidade dos riscos e das
PP (precauções padrão), que devem ser usadas diante de todas as situações. Essa
é uma compreensão que os facilitadores da prevenção e controle de infecção
associada aos SAS, e grupos preocupados com a seguridade ocupacional vêm
90
trabalhando, junto aos profissionais da área da saúde, com a finalidade de despertar
para a situação de exposição existente, bem como estabelecer a cultura da
segurança (MELO et al., 2006; SIEGEL et al., 2007).
A natureza do trabalho da enfermagem exige muita atenção, o que pode fazer
com que o profissional esqueça-se de si mesmo e principalmente, não tenha
consciência do risco do outro. Existe uma distância entre o cuidado de si e o cuidado
com os demais profissionais. Isso pode ser evidenciado nas falas abaixo:
[...] você jogou uma agulha contaminada no lixo comum, então você
não tem noção e não tem consciência do outro. Olha os problemas
que acarretaram aquele pequeno detalhe. Então a gente chama isso
de consciência. Será que eu conheço, tenho consciência do outro?
(G1).
O funcionário não atenta para o risco do outro também. Pensa assim,
ah, terminei meu procedimento tudo bem comigo e com o outro?
(G3).
[...] os “doutores”, nossos colegas de trabalho, ou até, sei lá mais
quem, fazem os procedimentos e tal e embrulham lá muitas vezes as
suas bandejinhas. Quando uma outra pessoa vai manusear... eu já
tive um acidente dessa forma no setor onde eu trabalho (G3).
Os profissionais precisam ser estimulados a pensar nas ações cuidativas para
com o outro colega, e indispensavelmente, para si, podendo assim, se beneficiar
futuramente ao realizar o exercício do cuidado e ao implementar o cuidado não só
da clientela, mas também entre si, com os colegas de equipe e por si (BAGGIO,
2007).
A não adoção das medidas de segurança torna vulnerável a segurança dos
sujeitos envolvidos no processo assistencial, sendo, primeiramente o próprio
profissional, e na sequência, os demais colegas de trabalho e os pacientes.
O cuidado envolve uma atitude relacionada ao sentimento humano de um ser
humano para com outro, fundamentado num processo interativo. Deve ser realizado
respeitando a dimensão existencial do ser e valorizando a expressão da experiência
da vida de ambos, no momento do cuidar (CUNHA; ZAGONEL, 2008).
Ressaltamos, diante dos relatos dos grupos, o agravante de acidentes
provocados por agulhas deixadas inadvertidamente em meio a campos cirúrgicos,
misturados ao material nos pacotes de curativos, e que terminam por ferir o
trabalhador, o qual, mesmo utilizando os equipamentos de proteção acaba se
91
acidentando. Vale lembrar que com essas atitudes, além de desrespeitar o direito de
proteção do outro, está infringindo a legislação Brasileira que determina na NR-32
(BRASIL, 2005), a responsabilidade do descarte ao profissional que utilizou o artigo
perfurocortante.
Outro ponto destacado pelos participantes é o fato de que o profissional ao
utilizar os equipamentos de proteção em todas as situações, não negligenciando o
seu uso, bem como o manuseio desses equipamentos, torna-se um exemplo e um
modelo a ser seguido, influenciando na atitude e ação dos colegas de trabalho.
Eu procuro dar o exemplo sempre. Com o jaleco, transpirando, mas
sempre estou usando dando o exemplo. Posso cobrar porque eu
também uso muito. Eu tento muito para usarem sapato fechado. Eu
estou conseguindo muito lá, vejo o pessoal de tênis, sapato mais
confortável, o jaleco é mais difícil... (G1).
Isso é tão engraçado, tem uma colega lá que ela sempre tinha
problema de unha, a unha dela não aguentava nem ver um sapato
fechado que doía. Como ela agora é enfermeira e precisa ser
exemplo, ela mudou totalmente o comportamento. Eu até estava
observando. Depois que ela passou a supervisionar, ela não vai mais
de sapato aberto. Para você ver, ela passou para o outro lado e viu
que realmente é importante a gente ser o exemplo e usar sapato
fechado (G3).
Ser um profissional modelo, talvez seja uma das estratégias que podemos
utilizar para conseguir a melhora da adesão ao EPI. Como evidenciado nas
declarações, o enfermeiro, principalmente o supervisor de enfermagem, deve ser
esse exemplo, porém não podemos desconsiderar que esse profissional tenha
aliada à sua prática profissional as competências técnicas, gerenciais e,
principalmente, a competência interpessoal para que essa estratégia possa ser
estabelecida com eficiência e eficácia.
O caminho que leva o indivíduo a se infectar é determinado por um conjunto
de condições, como a comunicação, o relacionamento interpessoal, a falta de
consciência do risco do outro e de si mesmo no ambiente de trabalho, e
principalmente, o comportamento. Não há como pensar em intervenções voltadas
somente para o indivíduo, sem considerar o universo simbólico do processo de
trabalho que interfere nesses comportamentos, que impreterivelmente, podem
apoiar e direcionar as pessoas numa perspectiva de maior autoproteção.
92
Para que haja o sucesso na implementação das PP, em especial do EPI, é
necessário compreender o significado das forças existentes entre as crenças do
profissional e os fatores intrínsecos e extrínsecos ao ambiente de trabalho. Essa
compreensão poderá resgatar a valorização profissional necessária, capaz de
motivar os indivíduos a estabelecerem práticas éticas para a prevenção e controle
das infecções, bem como uma mudança de comportamento.
93
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A abordagem qualitativa utilizada nesse estudo possibilitou-nos aprofundar na
subjetividade dos sujeitos e na dinâmica do trabalho, além de nossas expectativas.
Forneceu-nos subsídios para a análise e reflexão da problemática verificada na
adesão aos equipamentos de proteção individual pelos trabalhadores de
enfermagem.
O referencial de crenças em saúde de Rosenstock (1974b) permitiu explorar
as percepções dos grupos sobre EPI nas seguintes dimensões: susceptibilidade,
severidade, benefícios e barreiras, as quais foram analisadas considerando o campo
de forças impulsoras e contrárias à adesão.
Considerando este referencial teórico e sustentado pela abordagem
qualitativa, buscamos analisar as razões, atitudes e crenças dos trabalhadores de
enfermagem para a adesão aos equipamentos de proteção individual, e acreditamos
termos alcançado o objetivo proposto pelo estudo. De uma forma geral, assim como
acreditávamos e explicitamos em nossos pressupostos foi possível identificarmos
que o universo simbólico dos profissionais de enfermagem influencia na tomada de
decisão em relação a (des) proteção desses profissionais no ambiente laboral.
Nesse estudo, percebemos que os grupos conhecem os riscos a que estão
expostos no ambiente de trabalho, mas nem sempre esse conhecimento é suficiente
para evitar a exposição, revelando uma média susceptibilidade ao risco.
Apresentam alta percepção da severidade ao compreenderem que o não uso
dos equipamentos de proteção individual representa uma possibilidade de aquisição
de doença ocupacional, podendo lhes trazer graves consequências nos âmbitos
sociais, familiares, psicológicos, relacionais e no ambiente de trabalho. Significa até
mesmo um risco de morte e invalidez.
O medo de adquirir uma doença ocupacional, a preocupação com a família e
a maternidade são sentimentos expressos pelos sujeitos que imprimem uma tomada
de decisão em direção à proteção.
Apesar das inúmeras barreiras referidas para a adesão aos equipamentos de
proteção, os profissionais reconhecem os seus benefícios, mas têm a consciência
de que o seu uso não exclui o risco de exposição e aquisição de infecção por
patógenos veiculados pelo sangue e pelo ar.
94
Os grupos percebem como benefícios a proteção conferida pelo uso do EPI, o
apoio dos colegas de trabalho e a autenticidade de alguns gerentes, que agem de
acordo com seu discurso. Esses fatores promovem tranquilidade, equilíbrio e bem-
estar.
As barreiras apontadas para a não adesão ao EPI estão relacionadas aos
aspectos organizacionais, gerenciais e relacionais que foram explicitados por:
estrutura física inadequada; disponibilidade e acessibilidade aos EPI; sobrecarga de
trabalho; estresse; improvisação; ausência de educação permanente; situações de
urgência/emergência; desgaste nas relações de trabalho; desvalorização
profissional; falta de rotinas e de um fluxo para o atendimento ao profissional em
situação de pós-exposição a material biológico.
Apesar da clareza das barreiras existentes para a adesão, os profissionais
não se eximem da responsabilidade pessoal para o uso dos equipamentos de
proteção individual. A adesão a estes equipamentos é um comportamento individual
e pessoal, mas fortemente determinado pelas crenças em saúde, especialmente, da
dimensão das barreiras percebidas, na tomada de decisão a esta medida preventiva
A percepção da susceptibilidade e da severidade aos riscos de exposição no
ambiente laboral destes profissionais, somadas à percepção do benefício dos
equipamentos de proteção, são forças positivas que contribuiriam para a tomada de
decisão quanto ao uso dos equipamentos de proteção.
Entretanto, as inúmeras barreiras percebidas por estes trabalhadores no
ambiente laboral para o uso dos equipamentos de proteção individual, anulam as
forças positivas, e influenciam negativamente a tomada de decisão para essa
medida preventiva. Isso contribui para a baixa adesão ao uso dos equipamentos de
proteção individual.
Assim, acusar o trabalhador pelo não uso do EPI torna-se mais uma violência
moral e ética, se considerarmos os aspectos desestruturantes que agem como
forças contrárias no ambiente laboral.
Consideramos que a organização do trabalho, a implantação de uma cultura
de segurança e um serviço de educação permanente estruturado, podem
desenvolver atitudes e ações nos PAS, que refletirão uma mudança de
comportamento de risco para um preventivo.
Reavaliar a organização espacial é outro aspecto imprescindível, pois
possibilitará melhores condições de trabalho, diminuição do estresse dos
95
profissionais, assim como um planejamento das ações e cuidados, priorizando as
medidas de controle e prevenção das IACS.
É necessário também que os gerentes sejam pró-ativos tanto em relação à
provisão, disponibilização do EPI, elaboração de protocolos e rotinas, quanto na
discussão dos problemas e na socialização das tomadas de decisão com os
profissionais, no sentido de buscar um bom relacionamento e o resgate da
valorização dos profissionais.
O estudo mostrou que o grupo focal utilizado para a coleta de dados permitiu
a reflexão das ações e atitudes tomadas em relação ao uso dos EPI. Os
participantes expressaram que a participação e discussão em grupo, contribui para
uma maior consciência sobre os riscos de exposição e os benefícios dos EPI,
sinalizando mudanças de comportamento.
O grupo focal, portanto, revelou-se como uma estratégia alternativa que
poderá ser utilizada na política de educação permanente, para a discussão do
processo de trabalho e dos problemas relacionados às medidas de segurança.
Estudos poderão ser desenvolvidos para validar essa técnica enquanto estratégia a
ser utilizada na educação permanente.
Consideramos limitações do nosso estudo o número de participantes, o
número de encontros e o fato da pesquisa ter sido realizada apenas em um hospital
de ensino, o qual possui características diferenciadas das demais instituições.
Acreditamos que a realização de pesquisas na modalidade pesquisa-ação, que
inclua outras categorias profissionais poderá trazer subsídios importantes para
compreendermos melhor essa problemática da adesão ao EPI.
96
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Aprova a Norma Regulamentadora nº 32. Segurança e Saúde no Trabalho em
Estabelecimentos de Saúde. Brasília (Brasil): Ministério do Trabalho e Emprego; 2005.
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106
APÊNDICE A
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Você está sendo convidado (a) para participar, como voluntário, em uma
pesquisa.
Após ler este documento, ser esclarecido (a) sobre as informações a seguir,
no caso de aceitar fazer parte do estudo, assine ao final do documento, que está em
duas vias. Uma delas é sua e a outra do pesquisador responsável. Em caso de
dúvida sobre a pesquisa, você poderá entrar em contato com as pesquisadoras
responsáveis, nos respectivos telefones: Mestranda Heliny Carneiro Cunha Neves
(8405-5800), Drª. Adenícia Custódia Silva e Souza (9977-4003), e a auxiliar de
pesquisa Luana Cássia Miranda (8443-6820). Em caso de dúvidas sobre os seus
direitos como participante nessa pesquisa, você poderá entrar em contato com o
Comitê de Ética em Pesquisa Médica Humana e Animal do Hospital das Clínicas da
Universidade Federal de Goiás, no telefone: (62) 3269-8338/ 3269-8426
INFORMAÇÕES SOBRE A PESQUISA
Título do Projeto: O olhar dos trabalhadores de enfermagem acerca do equipamento
de proteção individual em um hospital universitário.
Pesquisador responsável: Drª. Adenícia Custódia Silva e Souza
Telefone para contato: (62) 3209-6181/ 8405-5800
Objetivos:
Caracterizar as razões, atitudes e crenças que impulsionam os trabalhadores
de enfermagem a usar ou não os equipamentos de proteção individual;
Analisar a exposição a material biológico como fator de adesão ao uso de
equipamento de proteção individual.
Serão sujeitos da pesquisa os profissionais da área da enfermagem que
trabalham no Hospital. Para a coleta de dados elegeu-se a técnica de grupo focal.
As sessões serão gravadas em fitas de áudio. As fitas serão transcritas e mantidas
107
por cinco anos conforme preconizado pelo Conselho Nacional de Ética em Pesquisa
(CONEP). Caso concorde em participar do estudo solicitamos a sua assinatura neste
termo.
Será garantido o sigilo e o anonimato (seu nome não aparecerá), tanto seu,
quanto da instituição. Esclarecemos que a realização da pesquisa não envolverá
possíveis riscos ou prejuízos aos participantes. Informamos que sua participação é
livre, sem nenhum ônus (custo) financeiro, podendo desistir no momento que julgar
conveniente sem nenhum dano ou constrangimento.
As pesquisadoras não se vinculam hierarquicamente na instituição, havendo
garantia de que a inserção no campo de estudo, para coleta de dados, não exercerá
nenhum tipo de influência quanto às relações empregatícias dos participantes.
Os sujeitos da pesquisa terão suas dúvidas e questionamentos esclarecidos,
sendo posteriormente informados do resultado da pesquisa.
A sua participação como sujeito dessa pesquisa contribuirá para a análise e
reflexão da problemática verificada na adesão aos equipamentos de proteção
individual pelos trabalhadores de enfermagem no intuito de desenvolver possíveis
estratégias e medidas eficazes na prevenção e controle de infecções.
Os dados serão destinados à elaboração de uma pesquisa vinculada ao Núcleo
de Pesquisa em Infecção Hospitalar (NEPIH) e a dissertação de mestrado, vinculada
ao Programa de Pós-graduação em Enfermagem da Faculdade de Enfermagem da
Universidade Federal de Goiás e, posteriormente, publicada em periódicos de
Enfermagem e congressos afins. Garantimos aos sujeitos do estudo que esses
dados coletados serão utilizados apenas para estas pesquisas e não serão
armazenadas para estudos futuros.
CONSENTIMENTO DA PARTICIPAÇÃO DA PESSOA COMO SUJEITO DA
PESQUISA
Eu, __________________________, RG/CPF_____________, abaixo assinado,
concordo em participar do estudo como sujeito voluntário. Fui devidamente
informado e esclarecido pela pesquisadora Heliny Carneiro Cunha Neves sobre a
pesquisa, os procedimentos envolvidos, assim como riscos e benefícios decorrentes
da minha participação. Foi me garantido que posso retirar meu consentimento a
qualquer momento, sem que isto leve a qualquer penalidade.
108
Local e data:_____________________________________________
Nome ou Assinatura do sujeito responsável:____________________
Nome ou Assinatura do Pesquisador responsável:________________
Presenciamos a solicitação do consentimento, esclarecimentos sobre a pesquisa e
aceite do sujeito em participar.
Testemunhas (não ligadas à equipe de pesquisadores):
Nome:____________________________ Assinatura:____________
Nome:____________________________ Assinatura:____________
109
APÊNDICE B
QUESTÕES NORTEADORAS
1. O que é o EPI na sua prática cotidiana?
2. Para você, quais são os fatores facilitadores e dificultadores do uso do EPI?
3. Quais são os fatores pessoais que os motivam e desencorajam a usar o EPI?
GUIA DE DISCUSSÃO PARA O GRUPO FOCAL
1. Conceito de EPI
2. Uso do EPI na prática cotidiana
3. Situações em que o EPI deve ser utilizado
O EPI deve ser usado em todas as situações?
4. Fatores que motivam o uso do EPI
5. Fatores que desencorajam o uso do EPI
6. Fatores facilitadores para o uso do EPI
7. Fatores dificultadores para o uso do EPI
8. Já aconteceu com você algum acidente por não estar usando o EPI?
9. Você já se sentiu protegido durante um procedimento porque estava usando o
EPI?
10. Já sentiu algum benefício do uso do EPI?
11. Quando não usa o EPI, você se vê em risco?
12. Quando você entrou em contato com material biológico, o que pensou?
13. A influência de colegas interfere no uso do EPI?
110
ANEXO A
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