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história cultural de tudo: sonhos, comida, emoções, viagem, memória, gesto, humor, exames e
assim por diante.
Diante das explanações que Burke faz sobre o povo e a cultura pode-se estabelecer um
diálogo com Bosi
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(2008) para o qual, uma definição da cultura hoje se torna particularmente
difícil, pois ela pode ser estudada dos mais variados pontos de vista e seria preciso escolher
uma perspectiva para poder defini-la. Daí a necessidade de buscar o primeiro original da
palavra cultura na tradição romana que tem sua origem no verbo colo que significa eu moro,
eu ocupo a terra, e, por extensão, eu trabalho, eu cultivo o campo (BOSI, 2008).
Inicialmente, a palavra cultura, por ser um derivado de colo, significava,
rigorosamente, “aquilo que deve ser cultivado”. Era um modo verbal que tinha sempre alguma
relação com o futuro; tanto que a própria palavra tem essa terminação – ura –, que é uma
desinência de futuro, daquilo que vai acontecer, da aventura. Então a cultura seria,
basicamente, o campo a ser arado, na perspectiva de quem vai cultivar a terra.
Nesta mesma linha, Santos (2006) reforça essa idéia e diz que a origem do conceito
cultura vem do riquíssimo verbo latino colo, que tem o sentido original de “cultivar” de
“cuidar de”, “tratar de”, “querer bem”, “ocupar-se de”, “adornar”, “enfeitar”. Depois vem o
sentido de “civilização”, de “educação” e, também, o sentido de “adorno”, “moda”,
“decoração”.
Para Bosi, o significado material da palavra, relacionado com a sociedade agrária,
durou séculos e a respeito diz:
E os gregos tinham já uma palavra para o desenvolvimento humano, que era Paidéia,
ou seja, conjunto de conhecimentos que se devia transmitir às crianças – paidós
(criança é paidós) – daí Pedagogia, que é a maneira de levar a criança ao
conhecimento. Dessa raiz é que se criou Paidéia, que por volta do primeiro século
antes de Cristo, o momento forte da helenização de Roma, passou para o Império
Romano e carecia de uma tradução em latim. Os romanos sabiam o que era Paidéia,
pois os seus pedagogos eram escravos gregos que iam para a Itália; alguns
contratados e outros como escravos deveriam trabalhar para os seus donos e tinham
a função de ensinar grego e retórica para os meninos das famílias patrícias (2008, p.
1).
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Nasceu em São Paulo, em 1936, filho de Teresa Meli, Alfredo Bosi, paulista de raízes toscanas e venetas
Cursou Letras Neolatinas na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.
Estudou Filosofia da Renascença e Estética na Facoltà di Lettere de Florença. Lecionou Literatura Italiana na
USP, onde defendeu doutoramento sobre a narrativa de Pirandello e livre-docência sobre poesia e mito em
Leopardi. Voltando-se para os estudos brasileiros, passou, desde 1971, a integrar a área de Literatura Brasileira
da USP, onde é professor titular. Foi professor convidado na École des Hautes Études en Sciences Sociales, de
1996 a 1999, e diretor do Instituto de Estudos Avançados entre 1997 e 2001. Membro da Academia Brasileira de
Letras, a partir de 2003, onde ocupa a cadeira nº 12. Atualmente é editor da revista Estudos Avançados. BOSI,
Alfredo. Entrevista com Alfredo Bosi. Revista de Cultura e Extensão: Disponível em:
<http://www.usp.br/prc/revista/entrevista.html>. Acesso em: 18 Dez. 2008.